tratamento de esgoto de pequena comunidade...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo BIANCA GRAZIELLA LENTO ARAUJO GOMES TRATAMENTO DE ESGOTO DE PEQUENA COMUNIDADE UTILIZANDO TANQUE SÉPTICO, FILTRO ANAERÓBIO E FILTRO DE AREIA CAMPINAS 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo

BIANCA GRAZIELLA LENTO ARAUJO GOMES

TRATAMENTO DE ESGOTO DE PEQUENA COMUNIDADE UTILIZANDO TANQUE SÉPTICO,

FILTRO ANAERÓBIO E FILTRO DE AREIA

CAMPINAS

2015

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BIANCA GRAZIELLA LENTO ARAUJO GOMES

TRATAMENTO DE ESGOTO DE PEQUENA COMUNIDADE UTILIZANDO TANQUE SÉPTICO,

FILTRO ANAERÓBIO E FILTRO DE AREIA

Dissertação de Mestrado apresentada à

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura

e Urbanismo da Unicamp, para obtenção do

título de Mestra em Engenharia Civil, na

área de Saneamento e Ambiente.

Orientador: Prof. Dr. Adriano Luiz Tonetti

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA

DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA BIANCA

GRAZIELLA LENTO ARAUJO GOMES E ORIENTADA PELO

PROF. DR. ADRIANO LUIZ TONETTI.

ASSINATURA DO ORIENTADOR

___________________________

CAMPINAS

2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E

URBANISMO

Tratamento de Esgoto de Pequena Comunidade Utilizando Tanque Séptico, Filtro Anaeróbio e Filtro de Areia

Bianca Graziella Lento Araujo Gomes

Dissertação de Mestrado aprovada pela Banca Examinadora, constituída por:

Prof. Dr. Adriano Luiz Tonetti Presidente e Orientador

FEC/Unicamp

Prof. Dr. Edson Aparecido Abdul Nour FEC/Unicamp

Prof. Dr. Luiz Sérgio Philippi UFSC

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Campinas, 04 de novembro de 2015

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Aos meus pais, Angela e Valdemar, e aos meus irmãos, Carlos e Sthefany;

que mesmo distantes se fizeram presentes todo o tempo.

Dedico.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que me deu saúde e força para trilhar o caminho que escolhi e

perseverança nos momentos de dúvidas.

A minha família que sempre me incentivou e me amparou em todos os

momentos. Agradeço pelos ensinamentos e educação dados durante toda a vida, os

quais se tornaram fundamentais alicerceis para o desenvolvimento do que sou hoje.

Agradeço pela compreensão e paciência, pelos conselhos, pelas palavras de

estímulo, e pelo carinho e atenção quando reunidos ou mesmo através de

telefonemas e mensagens.

A minhas queridas e grandes amigas, Jéssica Dias, Amanda Rocha, Viviane

Batista, Marília Carvalho, Paula Borges, Sophia Lacerda, Aline Blumer, Lilian

Ferreira, Talita Correa, Helena Marcon, Izabela Caldeira, Gabriela Goulart, e ao

querido Vinícius Leite; pelos longos anos de amizade, pela companhia sempre tão

agradável e por me apoiarem sempre que precisei.

Às companheiras de república campineira Mariana Oliveira, Angélica

Herling, Lucila Andrade, Caroline Simões e Elisa Ferreira, pela convivência alegre,

pelas conversas noite afora e pelas ideias únicas e incabíveis.

Aos colegas de curso e do grupo de pesquisa, em especial à Luana Cruz,

Jeniffer Silva, Lays Leonel, Denise Vasquez, Amanda Oliveira, Renata Moretto,

Vanessa Urbano, pelas sugestões e apoio, pela ajuda com análises e estudos; ao

Francisco Madri pela colaboração com a manutenção do sistema de tratamento, e

ao Daniel Bueno por, além disso, também ter elaborado a maioria dos esquemas

ilustrativos utilizados neste trabalho. E a todos pelas palavras amigas e pelo

companheirismo dentro e fora da faculdade.

Ao Prof. Dr. Adriano Luiz Tonetti por acreditar e confiar em meu trabalho,

dando-me a oportunidade de desenvolvê-lo na Unicamp. E também pela orientação,

conselhos e ensinamentos concedidos durante todo o mestrado.

Aos Técnicos do Laboratório de Saneamento, Fernando Pena, Enelton

Fagnani e Lígia Domingues pela disponibilidade em ajudar e esclarecer minhas

dúvidas. E ao Carlos da oficina do Laboratório de Hidráulica por ajudar com os

reparos do sistema e empréstimo de ferramentas.

Também agradeço aos alunos de bolsa trabalho e iniciação científica: Aline,

Érik, Junia, Alan e Simone pelo auxílio nas análises laboratoriais.

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Ao Prof. Dr. Edson Nour e à Prof. Dra. Tânia Forster pelos conselhos e

contribuições durante o exame de qualificação.

Aos funcionários da Secretaria de Pós-graduação da FEC, Eduardo, Diego e

Rosana, pelas informações e pelo pronto atendimento.

Ao Charles Vicente por permitir a construção do sistema de tratamento no

espaço utilizado por sua empresa (Villa Stone Comércio e Indústria de Materiais

Básicos para Construção Ltda.), e seus funcionários Walcir, Flávio e Osvaldo que,

por vezes, me ajudaram com o monitoramento e manutenção do sistema.

Às agências de fomento CAPES pela concessão de bolsa durante o

mestrado e à FAPESP e CNPq pelo auxílio à pesquisa.

E a todos que, de alguma forma, contribuíram para a concretização deste

trabalho.

Muito Obrigada.

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A curiosidade, instinto de complexidade infinita, leva por um lado a escutar as portas e por outro a descobrir a América; - mas estes dois

impulsos, tão diferentes em dignidade e resultados, brotam ambos de um fundo intrinsecamente precioso, a atividade do espírito.

Eça de Queiroz. Notas Contemporâneas.

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RESUMO

A falta de esgotamento sanitário ainda é um problema recorrente em países

em desenvolvimento. A carência por saneamento torna-se ainda maior em áreas

rurais e em pequenas comunidades. Os estudos na área são, muitas vezes,

conduzidos em escala de bancada, apresentando uma carência de pesquisas em

condições de campo. A fim de contribuir para melhoria desta situação, este trabalho

buscou avaliar o tratamento de efluente doméstico por um sistema em escala real

composto por um tanque séptico, um filtro anaeróbio preenchido com cascas de

coco verde (Cocos nucifera) e um filtro de areia. O efluente a ser tratado era

proveniente de uma pequena comunidade a qual abrigava duas residências, um

estabelecimento comercial e uma fábrica produtora de pisos para calçamento. O

sistema foi monitorado por 15 meses, em que se acompanharam a operação,

manutenção e a eficácia do tratamento através de parâmetros físicos e químicos e

biológicos. O filtro anaeróbio foi responsável pela remoção de, em média, 50% e

71% da demanda bioquímica de oxigênio (DBO5) e demanda química de oxigênio

(DQOtotal), de até 87% de sólidos suspensos totais (SST) e 80% da turbidez afluente.

O efluente final se adequou aos limites estabelecidos pela legislação vigente

apresentando faixa de pH entre 7,5 e 7,7; condutividade de 1,19±0,13 dSm-1, SST

de 17±12 mgL-1, DQOtotal de 85±28 mgL-1, DBO5 de 18±9 mgL-1 e turbidez inferior a

17 uT. As concentrações de nitrogênio amoniacal e fósforo foram superiores aos

limites permitidos para lançamento em corpo hídrico, mas apresentaram potencial

para reúso na agricultura. A qualidade do efluente final atendeu aos limites definidos

pela NBR 15900:2009 para água de reúso destinadas ao amassamento de concreto,

mostrando-se, também, passível de aproveitamento em demais usos não potáveis,

requerendo desinfecção simples (como uso de cloro) para não contaminação

durante o contato direto.

Palavras-chave: Sistema simplificado; escala real; pequenas comunidades; tanque

séptico; filtro anaeróbio; filtro de areia; cascas de coco verde; reúso.

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ABSTRACT

The lack of sanitary sewage is a recurring problem at developing countries

where the shortage of sanitation is usually greater in rural areas and in small

communities. The studies of shortages of sanitation are often conducted in bench

scale, showing a scarcity research in field conditions. Therefore, in order to contribute

to improve this situation, this investigation aimed to evaluate the domestic

wastewater treatment system in full-scale. This consisted of a septic tank, an

anaerobic filter with green coconut husks (Cocos nucifera) and a sand filter. The

wastewater was generated by a small community formed by two residences, one bar

and a small factory producer of materials for pavement. The system was monitored

for 15 months, at this stage the operation maintenance and the efficiency of

treatment by physical, chemical and biological parameters were evaluated. The

anaerobic filter was responsible for removing on average 50% and 71% of

biochemical oxygen demand (BOD5) and chemical oxygen demand (CODt), up to

87% of total suspended solids (TSS) and 80% of affluent turbidity. The final effluent

was in accordance with Brazilian standards and showed pH range 7.5 - 7.7; turbidity

less than 17 NTU, and average conductivity, TSS, CODt and BOD5 concentrations of

1.19 ± 0.13 dSm-1, 17±12 mgL-1, 85±28 mgL-1, 18±9 mgL-1, respectively.

Ammoniacal-N and phosphorus concentrations were higher than the allowed limits

for release in the water body, but had potential for reuse in agriculture. Quality of the

final effluent fulfills the levels recommended by NBR 15900:2009 for recycled water

intended for concrete kneading. Can be destined too for other non-potable uses after

simple disinfection (e.g. by chlorine) for avoid contamination during direct contact.

Key-words: Simplified system; full scale; small communities; septic tank; anaerobic

filter; sand filter; green coconuts husks; reuse.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Representação espacial do índice de atendimento urbano por rede

coletora de esgoto, distribuído por faixas percentuais, segundo município (Brasil –

2013) ......................................................................................................................... 26

Figura 2 - Tanque séptico retangular de câmara única ............................................. 34

Figura 3 - Imagem aérea da área de estudo ............................................................. 52

Figura 4 - Imagens das construções presentes na propriedade: Bar (A); Residências

dos proprietários (B e C); e Fábrica (D). ................................................................... 52

Figura 5 - Instalação da tubulação de coleta e conexão ao tanque séptico .............. 54

Figura 6 - Esquema em corte lateral do sistema completo e foto sequencial de cada

unidade estudada ...................................................................................................... 55

Figura 7 - Esquema ilustrativo do tanque séptico ...................................................... 58

Figura 8 - Esquema ilustrativo e vista superior da caixa de coleta ............................ 59

Figura 9 - Esquema ilustrativo da estrutura interna do filtro anaeróbio ..................... 61

Figura 10 - Placa de contenção com perfurações pré-demarcadas .......................... 61

Figura 11 - Tubo perfurado........................................................................................ 62

Figura 12 - Cascas de coco verde da espécie Cocos nucifera antes e após o corte 62

Figura 13 - Esquema do filtro anaeróbio em operação ............................................. 63

Figura 14 - Esquema ilustrativo em corte lateral e vista superior da caixa de

passagem sifonada ................................................................................................... 64

Figura 15 - Esquema da caixa de passagem e do sifão ............................................ 65

Figura 16 - Esquema ilustrativo do filtro de areia adotado na pesquisa .................... 68

Figura 17 - Etapas de preenchimento do filtro de areia ............................................. 69

Figura 18 - Ponto de distribuição no centro do filtro de areia .................................... 70

Figura 19 - Vista da tubulação de aeração externa e interna ao filtro ....................... 71

Figura 20 - Vista da tubulação de captação e detalhe do encaixe para o tubo de

exaustão .................................................................................................................... 71

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Figura 21 - Amostras de areia nova reservadas para o ensaio de granulometria ..... 72

Figura 22 – Consumo de água diário (m3dia-1) na área de estudo ............................ 77

Figura 23 - Variação da temperatura ambiente e dos efluentes estudados em função

do tempo ................................................................................................................... 79

Figura 24 - Variação do pH dos efluentes séptico, anaeróbio e aeróbio em função do

tempo, e indicação dos momentos de manutenção do filtro de areia ........................ 82

Figura 25 - Concentração de ácidos orgânicos voláteis no tanque séptico e no filtro

de areia ..................................................................................................................... 85

Figura 26 - Variação da condutividade elétrica dos efluentes provenientes do Tanque

Séptico, Filtro Anaeróbio e Filtro de Areia em função do tempo ............................... 87

Figura 27 - Representação em box-plot da Condutividade Elétrica dos efluentes do

tanque séptico, filtro anaeróbio e filtro de areia ......................................................... 88

Figura 28 – Turbidez presente nos efluentes do Tanque Séptico, Filtro Anaeróbio e

Filtro de Areia em função do tempo .......................................................................... 89

Figura 29 - Representação em box-plot da Turbidez presente nos efluentes

estudados .................................................................................................................. 90

Figura 30 – Aspecto visual dos efluentes do Taque Séptico (EB), Filtro Anaeróbio

(FA) e Filtro de Areia (EA) coletados durante a 26ª semana de monitoramento. ...... 90

Figura 31 – Variação da concentração de Oxigênio Dissolvido nos efluentes do

Tanque Séptico, Filtro Anaeróbio e Filtro de Areia .................................................... 91

Figura 32 – Representação em box-plot da concentração de oxigênio dissolvido

durante todo o período analítico e comparação às classes de corpos d’água

(CONAMA 357, 2005) ............................................................................................... 92

Figura 33 – Variação da concentração de Sólidos Suspensos Totais em função do

tempo ........................................................................................................................ 94

Figura 34 – Representação em box-plot da concentração de DQO durante todo o

período analítico e comparação a Legislações Nacional (Decreto nº 6200/1985)

europeia (Directive 271/1991) ................................................................................... 96

Figura 35 - DQO total, solúvel e coloidal nos efluentes estudados e médias de

remoção pelo Filtro Anaeróbio (FA), Filtro de Areia (F. Areia) e Global .................... 97

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Figura 36 – Comparação entre os valores médios da concentração de DQOtotal e

suas frações (%) solúvel e coloidal nos efluentes do Tanque Séptico, Filtro

Anaeróbio e Filtro de Areia ........................................................................................ 98

Figura 37 - Representação em box-plot da concentração de DBO durante todo o

período analítico e comparação à Legislação Estadual (SÃO PAULO, Decreto nº

8468/1976) e à norma europeia (Directive 271/1991) ............................................. 100

Figura 38 - Representação em box-plot da concentração de NTK durante todo o

período analítico e comparação à Legislação Estadual (CONSEMA nº 128/2006) . 103

Figura 39 – Nitrificação, redução da concentração de amônia pelo filtro de areia e

remoção global verificadas entre os períodos de manutenção do filtro de areia. .... 104

Figura 40 – Evolução da concentração de N-amoniacal afluente (Filtro Anaeróbio) e

efluente (Filtro de Areia), e de nitrato no efluente final durante o período analítico 106

Figura 41 – Representação em box-plot da concentração de fósforo e comparação

ao limite de emissão estabelecido por Legislação Estadual (CONSEMA 128, 2006)

................................................................................................................................ 107

Figura 42 – Evolução da concentração de fósforo em função do tempo e indicação

dos períodos de manutenção .................................................................................. 107

Figura 43 - Perfil de areia (altura da camada removida) ......................................... 113

Figura 44 - Substituição da areia colmatada por areia nova e indicação do bypass

................................................................................................................................ 113

Figura 45 – Evolução da mancha negra desenvolvida sob a superfície do filtro até a

total colmatação ...................................................................................................... 115

Figura 46 – Amostra do perfil do filtro de areia ........................................................ 116

Figura 47 - Esquema da distribuição dos tubos no filtro para o teste de percolação

................................................................................................................................ 119

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tecnologias possíveis de aplicação para tratamento de esgoto doméstico

segundo as normas técnicas NBR 7229:1993 e NBR 13969:1997 ........................... 30

Tabela 2 - Comparação entre sistemas aeróbios e anaeróbios ................................ 32

Tabela 3 - Mecanismos e fenômenos envolvidos na filtração ................................... 43

Tabela 4 - Compostos residuais típicos de efluentes tratados e seus efeitos ........... 47

Tabela 5 - Aplicação de água de reúso segundo a NBR 13969:1997 ....................... 49

Tabela 6 - Fluxograma do projeto ............................................................................. 54

Tabela 7 - Dados para a construção do tanque séptico baseados na NBR 7229:1993

.................................................................................................................................. 57

Tabela 8 - Dados para a construção do filtro anaeróbio baseados na NBR

13969:1997 ............................................................................................................... 60

Tabela 9 - Dados para a construção do filtro de areia ............................................... 66

Tabela 10 - Análises envolvidas na pesquisa e frequência ....................................... 74

Tabela 11 - Manutenções e períodos ........................................................................ 76

Tabela 12 - Médias e desvio padrão do consumo de água e geração de esgoto na

área de estudo .......................................................................................................... 78

Tabela 13 - Temperaturas média, mínima e máxima ambiente e dos efluentes

estudados .................................................................................................................. 80

Tabela 14 - Valores médios e desvio padrão de Alcalinidade Parcial (AP),

Intermediária (AI) e Total (AT) dos efluentes estudados, e razão de tamponamento

(AI/AP) ....................................................................................................................... 83

Tabela 15 – Sólidos em Suspensão e suas frações nos efluentes do Tanque Séptico,

Filtro Anaeróbio e Filtro de Areia ............................................................................... 95

Tabela 16 – Valores médios e desvio padrão da concentração de DBO, eficiência de

remoção e relação DQOtotal/DBO ............................................................................ 100

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Tabela 17 – Média e desvio padrão para valores dos compostos nitrogenados

analisados ............................................................................................................... 102

Tabela 18 - Médias e desvio padrão da concentração de Coliformes Totais e E. coli

encontrados para os efluentes do filtro anaeróbio e filtro de areia. ......................... 110

Tabela 19 - Estimativa da concentração de ovos de helminto (ovos/L) nas amostras

de lodo do tanque séptico (Lodo TS) e do filtro anaeróbio (Lodo FA) após 05 meses

de operação. ........................................................................................................... 111

Tabela 20 – Características da areia utilizada......................................................... 114

Tabela 21 - Valores de porcentagens médias e desvio padrão para Sólidos Totais

Fixos (STF) e Sólidos Totais Voláteis (STV) na areia. ............................................ 118

Tabela 22 – Rebaixamento da coluna d’água conforme intervalos de 30 minutos.. 120

Tabela 23 - Características físico-químicas do efluente final e requisitos para

amassamento de concreto segundo a NBR 15900:2009 ........................................ 121

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

AFNOR Association Francese de Normalization

AI Alcalinidade Intermediária

AOV Ácidos Orgânicos Voláteis

AP Alcalinidade Parcial

APHA American Public Health Association

AT Alcalinidade Total

CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

Cd Coeficiente de Desuniformidade

CE Condutividade Elétrica

CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

CONSEMA Conselho Estadual de Meio Ambiente

COPAM Conselho Estadual de Política Ambiental

COT Carbono Orgânico Total

CT Coliformes Totais

Cu Coeficiente de Uniformidade

Cv Coeficiente de Vazios

DAE Revista do Departamento de Águas e Esgoto

D10 Diâmetro efetivo do meio filtrante (correspondente a 10% da

massa que passa pela peneira)

DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio em 5 dias a 20 ºC

DQO Demanda Química de Oxigênio

DTU Document Technique Unifié

E.coli Escherichia coli

ETE Estação de Tratamento de Esgoto

FA Filtro Anaeróbio

FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura

F. Areia Filtro de Areia

FEC Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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K Coeficiente de Permeabilidade

LABSAN Laboratório de Saneamento

NBR Norma Brasileira

NTK Nitrogênio Total Kjeldahl

OD Oxigênio Dissolvido

ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

OMS Organização Mundial da Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

pH Potencial Hidrogeniônico

PLANSAB Plano Nacional de Saneamento Básico

PNSB Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

PROSAB Programa de Pesquisas em Saneamento Básico

PVC Policloreto de Polivinila

RAFA Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente

SANASA Sociedade de Abastecimento de Água S/A

SM22 Standard Methods 22sd edition

SNIS Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

SST Sólidos Suspensos Totais

TDH Tempo de Detenção Hidráulica

TS Tanque Séptico

UASB Upflow Anaerobic Sludge Blanked

USEPA United States Environmental Protection Agency

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UNICEF United Nations Children’s Fund

UNPD United Nation Population Division

WEF Water Environmental Federation

WHO World Health Organization

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 20

2. OBJETIVOS .............................................................................................................. 23

2.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 23

2.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 23

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................... 24

3.1 Populações Urbana e Rural ............................................................................. 27

3.2 Tratamento de Esgoto em Pequenas Comunidades ........................................ 29

3.3 Tratamento Anaeróbio ..................................................................................... 31

3.3.1 Tanque Séptico ............................................................................................ 33

3.3.2 Filtro Anaeróbio ............................................................................................ 37

3.4 Filtro de Areia ................................................................................................... 41

3.5 Disposição e possibilidades de reúso do efluente tratado ............................... 46

4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................ 51

4.1 Local de implementação do projeto ................................................................. 51

4.1.2 Abastecimento de água e origem do efluente .............................................. 53

4.2 Aspectos operacionais e etapas do projeto ..................................................... 54

4.3 Tanque Séptico ................................................................................................ 56

4.4 Filtro Anaeróbio ................................................................................................ 59

4.4.1 Material Suporte ........................................................................................... 62

4.5 Caixa de passagem sifonada ........................................................................... 64

4.6 Filtro de Areia ................................................................................................... 66

4.6.1 Tubulação de aeração.................................................................................. 70

4.7 Características da areia ................................................................................... 71

4.8 Coleta de Amostras e Análises Laboratoriais .................................................. 72

4.8.1 Análises Físicas e Químicas ........................................................................ 73

4.8.2 Análises Microbiológicas .............................................................................. 75

4.9 Forma de análise dos resultados ..................................................................... 75

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 76

5.1 Consumo hídrico e geração de esgoto ............................................................ 77

5.2 Parâmetros físicos e químicos ......................................................................... 79

5.2.1 Temperatura ................................................................................................. 79

5.2.2 pH, Alcalinidade e Ácidos Orgânicos Voláteis .............................................. 81

5.2.3 Condutividade .............................................................................................. 86

5.2.4 Turbidez ....................................................................................................... 88

5.2.5 Oxigênio Dissolvido ...................................................................................... 91

5.2.6 Sólidos Suspensos ....................................................................................... 93

5.2.7 DQO e DBO ................................................................................................. 96

5.2.8 Série de Nitrogênio .................................................................................... 101

5.2.9 Fósforo ....................................................................................................... 107

5.3 Parâmetros biológicos .................................................................................... 109

5.3.1 Coliformes Totais e Escherichia coli .......................................................... 110

5.3.2 Helmintos ................................................................................................... 111

5.4 Manutenção do filtro de areia ......................................................................... 112

5.4.1 Análise da areia ......................................................................................... 114

5.5 Decaimento de material orgânico na areia removida ..................................... 117

5.6 Permeabilidade no filtro de areia colmatado .................................................. 119

5.7 Reúso na construção civil ............................................................................. 121

5.8 Considerações Finais ................................................................................... 122

6. CONCLUSÕES ....................................................................................................... 125

7. RECOMENDAÇÕES ............................................................................................... 127

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 128

9. ANEXOS ................................................................................................................. 138

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1. INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para

a Infância (UNICEF) estimam que existam cerca de 2,5 bilhões de pessoas no

mundo sem acesso a instalações de saneamento básico; e um bilhão de pessoas

desprovidas de qualquer tipo de instalação sanitária (cujos dejetos são lançados

diretamente no ambiente) (WHO; UNICEF, 2014). Identificada como uma ameaça à

qualidade do meio ambiente e ao bem estar social, a falta de saneamento foi

debatida por dirigentes mundiais durante a Cúpula do Milênio nos anos 2000 e

declarada como um obstáculo a ser vencido para o progresso da humanidade. Ainda

que alguns países estejam alcançando as metas para abastecimento de água e

saneamento estipuladas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), a

permanência de grandes disparidades geográficas, socioculturais e econômicas,

envolvendo grupos vulneráveis e marginalizados, faz com que o acesso a tais

serviços não ocorra de maneira igualitária. Observa-se que onde a infraestrutura

passa a ser implantada, mesmo que apenas parcialmente, as redes de coleta de

esgoto se concentram, principalmente, em porções da cidade mais densamente

povoadas e em bairros de maiores níveis socioeconômicos (WHO; UNICEF, 2014;

ANDREOLI, 2009).

As comunidades isoladas, bem como as comunidades rurais, por se

caracterizarem como núcleos habitacionais com baixa densidade e localizados

distantes dos grandes centros urbanos, requerem uma abordagem diferenciada para

implantação e operação de sistemas de saneamento. Porém, a realidade é outra.

Estima-se que exista um bilhão a mais de pessoas sem saneamento básico em

áreas rurais do que em áreas urbanas, sendo que nove entre cada dez pessoas que

vivem em área rural não possuem qualquer tipo de sanitário (WHO; UNICEF, 2014).

A carência de atendimento a essas comunidades, muitas vezes, se justifica pela

dispersão física e/ou pelo relevo irregular onde estão localizadas, mas, sabe-se que

o fator financeiro é o grande influenciador, uma vez que os altos custos para

execução de obras de coleta de esgoto em áreas rurais e em comunidades isoladas

se contrapõem ao baixo retorno, tornando-se um empecilho para difusão dos

sistemas coletivos (PLANSAB, 2013; HOSOI, 2011).

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Diante deste cenário, os sistemas descentralizados tornam-se uma

alternativa para atendimento unifamiliar ou de pequenos grupos residenciais. Tais

sistemas apresentam diferentes possibilidades construtivas e operacionais, as quais

buscam aumentar as chances de sucesso dos modelos propostos por meio da

simplificação, redução de custos e maior autonomia da comunidade.

Dentre as unidades de tratamento desenvolvidas, o tanque séptico é a mais

simples. Utilizados como um sistema local de disposição de esgoto, os tanques

sépticos, também chamados de decanto digestores, são reatores capazes de tratar o

esgoto através de processos de digestão, sedimentação e flotação. Quando bem

operados chegam a diminuir de 40 a 70% da demanda bioquímica de oxigênio

(DBO) e de 50 a 80% dos sólidos suspensos totais (SST) (ANDREOLI, 2009).

Porém, como a remoção de patógenos e de substâncias dissolvidas é baixa,

recomenda-se o pós-tratamento para maior polimento do efluente. Para tanto, a

Norma Técnica Brasileira NBR nº 13.969:1997 (Tanques sépticos - unidades de

tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos - projeto,

construção e operação) apresenta diversas opções de unidades complementares,

como os filtros anaeróbios e os filtros de areia.

O pós-tratamento por reatores anaeróbios torna-se vantajoso devido aos

aspectos técnico-econômicos (baixo custo, simplicidade operacional e reduzida

produção de sólidos) e, no caso de países tropicais, também devido às condições

ambientais predominantes (temperaturas elevadas) (CHERNICHARO, 2007) que

contribuem para o bom desenvolvimento dos micro-organismos atuantes nos

processos biológicos.

A combinação de tanque séptico a filtro anaeróbio pode apresentar eficiência

de 80 a 85% de remoção de DBO e de 80 a 90% de SST (SPERLING, 2005),

produzindo um efluente com baixa carga orgânica e poucos sólidos. Contudo, a

concentração de amônia e fósforo pouco se altera durante o tratamento anaeróbio, o

que requer mais uma etapa para aumentar a qualidade do efluente final. Neste caso,

é possível a inclusão de uma unidade aeróbia, como os filtros de areia.

Os filtros de areia constituem-se em um leito fixo de areia, o qual pode ser

estratificado (composto por camadas com granulometria diferente) ou por apenas

uma camada. O efluente é aplicado na superfície do leito de forma intermitente,

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proporcionando a aeração do filtro pelo arraste de oxigênio entre os poros vazios,

favorecendo o tratamento aeróbio.

Todavia, ainda que representem tecnologias já difundidas, verifica-se que a

falta de pesquisas em países em desenvolvimento leva à aplicação de tecnologias

inapropriadas com relação aos recursos financeiros, o clima e condições físicas

locais. Ademais de subestimar os hábitos culturais e sociais (MASSOUD et al, 2009).

A maioria das pesquisas com sistemas simplificados têm sido desenvolvidas

em escala laboratorial e em condições (operacionais e ambientais) controladas. Os

estudos em escala real são minoria, revelando, como mencionado por Kassab et al.

(2010), maior demanda de aplicação e avaliação em campo do desempenho de

sistemas simplificados de tratamento de esgoto.

Portanto, frente ao exposto, o presente trabalho buscou estudar em aspecto

operacional real a eficiência de tratamento de um sistema combinado composto por

tanque séptico, filtro anaeróbio e filtro de areia, avaliando-se a manutenção e a

operação do conjunto e a qualidade do efluente final produzido.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Avaliar o desempenho e a operação de um sistema construído em escala

real para o tratamento de esgoto doméstico gerado numa pequena comunidade

localizada no distrito de Barão Geraldo, na cidade de Campinas (São Paulo - Brasil).

2.2 Objetivos Específicos

Avaliar o desempenho da combinação de um tanque séptico, um filtro

anaeróbio com recheio de cascas de coco verde (Cocos nucifera) e um filtro de areia

no tratamento de esgoto doméstico;

Avaliar a ocorrência de organismos patogênicos (coliformes totais e E. coli)

nos efluentes e lodo do tanque séptico e do filtro anaeróbio, tendo-se em vista a

disposição final;

Avaliar a possibilidade de se empregar o efluente gerado como água de

reúso em atividades agrícolas e industriais (amassamento de concreto para

produção de pisos).

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Classificada como um bem natural e renovável, as águas teriam seu volume

total relativamente constante no decorrer das eras. Entretanto, sua distribuição tende

a variar no tempo e no espaço, resultando em áreas com água em abundância e

outras em situação de extrema seca. A disponibilidade de água também foi

responsável pelo estabelecimento e desenvolvimento das comunidades desde que o

homem passou a viver de forma sedentária. Logo, o equacionamento de sua

demanda para atendimento das necessidades das populações tornou-se mais

complexo, e culminou no progressivo aperfeiçoamento de tecnologias para captação

e distribuição. No momento em que o controle das reservas de água passou para as

mãos do Estado, rios e represas foram valorizados pelo seu benefício comercial, e

empresas privatizadas adquiriram direitos sobre a água. Grandes projetos de desvio

de água passaram a transferi-la de uma comunidade para outra e de um

ecossistema para outro; atividade essa que, apesar de possibilitar o povoamento de

áreas mais distantes de mananciais, também instigou conflitos complexos em

diversas regiões no mundo, principalmente, por interferirem no balanço entre oferta e

demanda (com crescente deslocamento em direção a demanda) (HELLER; PÁDUA,

2006; SHIVA, 2006).

O consumo de água e demais recursos naturais durante as últimas décadas

foi impulsionado por diversos fatores, dos quais se pode destacar: a expansão da

agricultura, a industrialização e o crescimento populacional acelerado e

desordenado. Tais interferências antrópicas no meio passaram a dificultar a

distribuição de água potável em abundância, não apenas pelo aumento da demanda

hídrica como também pela contaminação das reservas por despejos residuais,

culminando na criação de políticas públicas, agencias reguladoras e dos próprios

Comitês de Bacia Hidrográficas para a conciliação dos diferentes interesses e a

construção coletiva de soluções (ANA, 2011).

Apesar de constatado um aumento na prestação de serviços urbanos

durante a década de 1990, este avanço foi, particularmente, mais rápido em cidades

de países desenvolvidos. Países como Afeganistão, Paquistão, Nepal, Moçambique,

Nigéria e Madagascar, são exemplos de nações onde menos da metade da

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população tem acesso a instalações de saneamento (UN-HABITAT, 2003; WHO;

UNICEF, 2014). E essa falta de infraestrutura recai, principalmente, sobre a

população menos favorecida, que acaba sendo obrigada a adotar as alternativas

possíveis para o destino dos esgotos produzidos (ANDREOLI, 2009).

Assim como muitos outros países em desenvolvimento, que enfrentam

rápidos processos de urbanização, o Brasil também apresenta regiões densamente

povoadas carentes em diversas naturezas e marcadas, principalmente, pela

ausência de serviços públicos urbanos (ABIKO, 2003) como o saneamento básico.

Segundo o Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB, 2013), existe um

déficit no provimento de esgotamento sanitário para cerca de 51% da população

brasileira (na qual o atendimento é precário – coleta de esgoto sem tratamento e/ou

uso de fossas rudimentares) e 9,6% sem atendimento algum. Ainda que

representem dados oficiais, estes percentuais podem variar (para mais ou menos)

em função das bases de dados utilizadas. Como descrito no 19° Diagnóstico dos

Serviços de Água e Esgoto publicado pelo Sistema Nacional de Informações sobre

Saneamento (SNIS), dos 5564 municípios brasileiros, 3730 municípios forneceram

informações sobre o esgotamento sanitário referentes ao ano de 2013. A partir deste

número de participantes, o levantamento apresenta melhor situação para

atendimento urbano por rede coletora de esgoto para os Estados de Minas Gerais e

São Paulo (SNIS, 2014) (Figura 1).

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Figura 1 – Representação espacial do índice de atendimento urbano por rede coletora de esgoto, distribuído por faixas percentuais, segundo município (Brasil – 2013)

(Fonte: SNIS, 2014)

Em São Paulo, a maioria dos municípios apresenta índice médio de

atendimento superior a 70%, a exemplo de Campinas (maior cidade do interior

paulista), onde 89% da população é atendida por coleta e afastamento do esgoto,

possuindo, atualmente, 88% de capacidade instalada para o tratamento de esgoto

(SANASA, 2015). Apesar de índices satisfatórios, 11% da população do Estado não

é atendida por rede de esgoto e, do volume coletado, 38% não é tratado (ANA,

2013).

Outro fato que também merece atenção diz respeito aos municípios com até

50.000 habitantes. Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) o

percentual de esgoto coletado tratado é de apenas 53%, tendo como agravante o

fato de que estes municípios representam 89,8% do total de municípios do país,

sendo predominantemente rurais e com população dispersa (densidade demográfica

menor que 80 hab/km²) (IBGE, 2010).

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Sendo o saneamento definido como um conjunto de ações que buscam

controlar os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer

efeitos deletérios sobre seu estado de bem estar físico, sobre a saúde e a

sobrevivência (WHO, 1950); o não provimento de serviços básicos além de

representar insuficiência na aplicação de políticas públicas também fere um direito

prescrito na Constituição Federal (1988):

Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Desta forma, reconhecendo-se o saneamento básico e o meio ambiente

como condicionantes da saúde (Art. 3º, Lei 8.080/1990) e ratificado o direito a

condições adequadas de salubridade ambiental a populações rurais e isoladas (§ 4º,

art. 49, Lei 11.445/2007), torna-se necessária a implantação de tecnologias

apropriadas de coleta e tratamento de esgoto para atendimento dessas

comunidades, almejando a redução da degradação ambiental e a melhora na

qualidade de vida da população.

3.1 Populações Urbana e Rural

A distinção entre o urbano e o rural tem sido bastante discutida como um

meio para se auxiliar a formulação de políticas públicas, uma vez que interesses

políticos, econômicos e tributários podem prevalecer no momento de demarcar os

territórios. Vale ressaltar que a vigente definição de “cidade” foi estabelecida durante

o Estado Novo pelo Decreto-Lei 311/1938, o qual transformou em cidades todas as

sedes de municípios, sem, contudo, ponderar as características estruturais e

funcionais de cada local. Essa classificação permite questionamentos, pois, além de

pertencer a uma época em que o país era predominantemente rural, através dela

passou-se a considerar urbana todas as sedes (ainda que não passassem de

vilarejos ou povoados), exigindo apenas a existência de no mínimo 200 casas para a

instalação de novas cidades e de 30 moradias para futuras vilas (sedes de distritos)

(BRASIL, 1938; VEIGA, 2001; REIS, 2006).

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Os aspectos considerados mais relevantes para delimitação do território

diferem em cada país, sendo mais conveniente para alguns a manutenção da

dicotomia a partir de uma visão setorial, enquanto que outros consideram mais

pertinente a divisão pela densidade demográfica, ou mesmo pela delimitação

administrativa (a exemplo do Brasil). Não se pode ignorar que as modificações no

modo de exercício das atividades de produção ao longo do tempo, como o

fenômeno de industrialização da agricultura - no caso brasileiro verificado de forma

mais marcante a partir da década de 1980 - juntamente a concepção de urbanização

extensiva e avanço do tecido urbano levam a um questionamento da efetividade de

tais critérios. Muitas vezes, para tornar a população urbana, basta que essa tenha

acesso a infraestrutura e serviços básicos, associando, erroneamente, o meio rural

ao remanescente, ou seja, à parcela do território ainda não atingida pelas cidades

(ABRAMOVAY, 2000).

O levantamento domiciliar realizado em 2010 durante o último

recenseamento geral do Brasil definiu que as áreas rurais são as áreas externas aos

perímetros urbanos, considerando que os domicílios em situação rural também

poderão ser localizados em aglomerados rurais de extensão urbana, povoados,

núcleos e outros aglomerados; e área urbanizada aquela caracterizada por

construções, arruamentos e intensa ocupação urbana. Partindo desta definição, o

estudo registrou que dos 190.755.799 de habitantes, 29.830.007 residem em área

rural, resultando em um grau de urbanização de 84,4% (IBGE, 2013). Tais valores

condizem com um levantamento realizado pela United Nation Population Division

(UNPD), a qual apresenta para o Brasil, durante o mesmo período, um grau de

urbanização de 84,3% (dos 195.210.154 habitantes, cerca de 30 milhões residiam

em área rural) (WHO; UNICEF, 2014). Estes dados tornam a população brasileira,

predominantemente, urbana, reservando à região sudeste o título de região mais

urbanizada do país (92,9%) - seguida pelas regiões centro-oeste e sul (88,8 e

84,9%, respectivamente) -, e àquela com a maior parcela da população brasileira

(21,6%) (IBGE, 2013).

Ainda que não seja possível uma definição universal dos critérios

necessários para organização do território entre áreas urbanas e rurais, pois, cada

realidade sócio-espacial exige adequação e especificação desses conceitos (REIS,

2006), é importante que exista a distinção dessas áreas reservando a cada uma

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diferentes tratamentos, para que assim haja um melhor planejamento e gestão, com

direcionamento de recursos mais adequado e melhor atendimento às demandas que

também são diferentes para cada situação.

3.2 Tratamento de Esgoto em Pequenas Comunidades

As novas tecnologias de tratamento de efluentes são adequadas a grandes

vazões para atendimento de áreas densamente ocupadas e sustentação de

atividades produtivas que demandem muita água. Por outro lado, as pequenas

comunidades e as comunidades rurais, por produzirem baixa quantidade de esgoto,

não recebem a mesma atenção. O esgoto de pequenas comunidades não possui

elevada concentração de compostos poluidores, mas em sua totalidade apresenta

um montante considerável e preocupa pelo lançamento disperso sem tratamento

(SILVA; NOUR, 2005). Nessas localidades predomina-se o uso de fossas, mas em

muitos casos os dejetos são lançados in natura nos corpos hídricos ou escorrem no

próprio arruamento, contribuindo para a deterioração ambiental (TONETTI et al.,

2010) e possibilitando o surgimento de vetores transmissores de doenças feco-orais.

Uma forma de remediar a ausência de redes coletoras de esgoto seria a

implantação de diferentes tecnologias descentralizadas. As normas técnicas

nacionais como a NBR 7229:1993 (Projeto, operação e construção de sistemas de

tanques sépticos) e a NBR 13.969:1997 apresentam as condições exigidas para

projetos de unidades de tratamento e descrevem brevemente os processos atuantes

em cada uma, buscando adequação da qualidade do efluente para situações

diversas (Tabela 1).

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Tabela 1 - Tecnologias possíveis de aplicação para tratamento de esgoto doméstico segundo as normas técnicas NBR 7229:1993 e NBR 13969:1997

Geralmente, o que influencia a seleção da tecnologia de tratamento em

determinado local são as exigências de desempenho (o que se espera do

tratamento), as condições locais e a caracterização do esgoto (vazão média diária,

picos, e variabilidade sazonal). É importante ressaltar que as condições de

gerenciamento de efluentes podem variar muito de uma região para outra. O uso

correto da tecnologia ajuda a proteger a saúde da população e as fontes de água,

agrega valor às propriedades e evita gastos desnecessários com reparos. Os

sistemas mecanizados podem ser mais atrativos por requerem áreas menores se

Tecnologia Descrição

Tanque Séptico

Decanto digestor de fluxo horizontal utilizado no tratamento primário de esgoto para remoção de sólidos suspensos e matéria orgânica através de processos de sedimentação, flotação e digestão

Filtro Anaeróbio de

Leito Fixo

Reator biológico preenchido por material filtrante no qual a biomassa anaeróbia e facultativa se fixa e se desenvolve promovendo a estabilização da matéria orgânica. A submersão do material no efluente provoca a entrada em estado anaeróbio por meio da inexistência de sistema de aeração constante

Filtro Aeróbio

Reator biológico preenchido por material filtrante submerso onde a biomassa se desenvolve para depuração do efluente. Requer a inclusão de um sistema de aeração para oxigenação e manutenção dos organismos aeróbios participantes do processo de tratamento

Filtro de Areia Leitos preenchidos de areia e/ou materiais filtrantes que permitem a percolação do efluente e promovem a retenção física do material particulado e a degradação biológica

Vala de Filtração

Vala escavada no solo, preenchida com meios filtrantes e provida de tubos de distribuição de esgoto e de coleta de efluente filtrado. A remoção de compostos poluentes se dá por ações físicas e biológicas sob condições essencialmente aeróbias

Vala de Infiltração

Vala escavada no solo para depuração e disposição final do esgoto contendo tubulações de distribuição do efluente e material filtrante, cuja eficiência de tratamento se dá por processos físicos e biológicos e pelas características do solo

Lagoa com Plantas

Aquáticas

Lagoas rasas onde micro-organismos fixos às raízes das plantas e as próprias plantas atuam na depuração do efluente

Lodos Ativados por

Batelada

Reatores aeróbios de mistura completa onde ocorre a aeração do efluente aliada à recirculação da biomassa e à aplicação intermitente, apresentando elevados níveis de tratamento

Sumidouro; Poço

Absorvente

Poço escavado no solo, destinado à depuração e disposição final do esgoto no nível subsuperficial. Devido à profundidade do poço, deve-se ter cautela com a distância do nível freático

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comparados aos sistemas não mecanizados. No entanto, é preciso uma análise

criteriosa dos custos e benefícios para considerá-los economicamente viáveis

(MASSOUD et al, 2009) para dada situação.

A instalação de sistemas simplificados e descentralizados para o tratamento

de esgoto das comunidades é uma alternativa viável por adequarem-se às

necessidades e peculiaridades de cada região, propiciando o reúso do efluente

tratado e/ou retornando-o à bacia de origem (MASSOUD et al, 2009; JORSARAEI et

al, 2014). Quando adequadamente elaborados e gerenciados são uma opção

econômica e de longo prazo para o atendimento de áreas menos povoadas

(USEPA, 1997) e, dependendo das opções técnicas e configurações locais, também

poderão operar sem mecanização, simplificando a manutenção e operação, não

requerendo mão de obra especializada para tanto.

3.3 Tratamento Anaeróbio

Desde o começo do século XX até meados da década de 1970, o tratamento

de esgoto voltava-se, basicamente, para remoção de materiais sólidos (grosseiros e

particulados), matéria orgânica biodegradável e organismos patogênicos. Nos

Estados Unidos, após a implementação da chamada “Lei da Água Limpa”, em 1972,

algumas modificações nos processos de tratamento foram estimuladas para

aumento da qualidade do efluente final. Entretanto, a princípio, as concentrações de

poluentes permaneceram altas. A partir disto, outros programas de agências

estaduais e federais passaram a atuar de forma mais efetiva, aperfeiçoando o

conhecimento sobre os impactos causados por despejos residuais no ambiente e

proporcionando melhoras nas condições das águas superficiais (METCALF; EDDY,

2003).

Sendo os organismos anaeróbios capazes de promover a biodigestão de

compostos orgânicos, pode-se compreender sua ação para o tratamento de

diferentes efluentes (agrícolas, industriais, domésticos, dejetos animais, lodos de

estações de tratamento de esgoto). Já a combinação de unidades de operação

(forças físicas) e processos (reações químicas e biológicas) pode proporcionar

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vários níveis de tratamento que, a partir de três etapas essenciais – hidrólise,

acidogênese (incluindo acetogênese) e metanogênese – transformam um complexo

efluente orgânico em metano (CH4), dióxido de carbono (CO2) e água (H2O);

consumindo pouca (ou nenhuma) energia para tanto, vinculando a escolha do

melhor sistema às características do efluente e às condições e necessidades locais

(CHERNICHARO, 2007; METCALF; EDDY, 2003).

No Brasil, o aumento do custo de energia nos anos 1970 impulsionou

pesquisas com reatores anaeróbios, ganhando maior credibilidade após a década de

1980. A ampliação dos conhecimentos na área mostrou que os sistemas modernos

de tratamento anaeróbio apresentam desempenho superior aos clássicos e, em

muitos aspectos, superam os sistemas aeróbios (van HAANDEL; LETTINGA, 1994;

CHERNICHARO, 2007). A Tabela 2 apresenta uma rápida comparação entre as

vantagens e desvantagens de cada processo.

Tabela 2 - Comparação entre sistemas aeróbios e anaeróbios

Processo Vantagens Desvantagens

Aeróbio

Efluente final de boa qualidade

(atendendo os padrões de

lançamento)

Tempo de partida mais rápido

Elevada remoção de matéria

orgânica e nutrientes

Menos sensível às mudanças

climáticas

Complexidade operacional

Elevado nível de mecanização

Consumo energético elevado para

promoção da aeração mecanizada

Produção de lodo pouco estabilizado

Anaeróbio

Menor consumo energético

Menor produção de lodo

Menor exigência de nutrientes

Produção de metano (potencial fonte

de energia)

Redução do volume dos reatores,

baixa demanda de área

Resposta rápida à adição de

substrato após longo período sem

alimentação

Tolerância a elevadas cargas

orgânicas

Simplicidade operacional

Possibilidade de redução de custos

Tempo de partida mais longo para

desenvolvimento de biomassa

Pode requerer a adição de

alcalinizante

Pode não alcançar as exigências de

padrões de lançamento,

necessitando de tratamento

complementar aeróbio

Baixa ou nenhuma remoção de

nitrogênio e fósforo

Mais sensível a variações de

temperatura

Produz gases odoríferos e corrosivos

(Fonte: CHERNICHARO, 2007; METCALF; EDDY, 2003; SPERLING, 2005)

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Os sistemas anaeróbios podem ser divididos em dois grandes grupos:

sistemas convencionais (reatores que operam com baixas cargas orgânicas

volumétricas) e os sistemas de alta taxa (reatores capazes de reter grandes

quantidades de biomassa, operando com baixos tempos de detenção hidráulica). No

primeiro grupo estão inseridos os digestores de lodo, as lagoas anaeróbias e os

tanques sépticos. Estes últimos são utilizados no mundo todo há mais de 150 anos e

até hoje constituem uma das principais alternativas para o tratamento primário de

esgoto de residências e pequenas áreas desprovidas de redes coletoras

(CHERNICHARO, 2007). A permanência do emprego de tanques sépticos é refletida

em levantamentos domiciliares, os quais apontam a utilização de tanques sépticos

ou fossas em aproximadamente 26,1 milhões de domicílios nos Estados Unidos em

2007 (USEPA, 2008) e 24,2 milhões de domicílios no Brasil, em 2008 (IBGE, 2010).

3.3.1 Tanque Séptico

Os tanques sépticos apresentam como função elementar a retenção de

sólidos sedimentáveis e flutuantes contidos no esgoto bruto e também promovem a

digestão parcial da matéria orgânica. O material mais denso se acumula no interior

do tanque, tendo seu volume reduzido conforme a ação da digestão anaeróbia

(cerca de 50% dos sólidos acumulados são degradados, e o restante deve ser

removido periodicamente do tanque). O lodo de fundo chega a ocupar 50% do

volume total do tanque quando esgotado, já os materiais mais leves como óleos,

graxas e sólidos flotáveis se acumulam na superfície formando a escuma que tem

sua passagem impedida pela presença dos defletores (ANDREOLI, 2009; USEPA,

1999, 2000).

A configuração dos reatores varia entre cilíndrica ou prismática-retangular,

apresentando câmara única (Figura 2), câmaras em série ou sobrepostas.

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Figura 2 - Tanque séptico retangular de câmara única

No Brasil, a norma que regulamenta a construção de tanques sépticos é a

NBR 7229:1993, a qual salienta os seguintes aspectos:

- O uso de tanques sépticos é recomendado para áreas desprovidas de rede pública

coletora de esgoto; e também é aceito como uma alternativa de tratamento para

áreas atendidas por rede coletora local; e para retenção prévia de sólidos em casos

onde a tubulação coletora apresente diâmetro e/ou declividade reduzida;

- O sistema de tanques sépticos aplica-se primordialmente ao tratamento de esgotos

domésticos e, em casos plenamente justificados, ao esgoto sanitário;

- O sistema deve ser dimensionado e implantado de forma a receber a totalidade dos

despejos (águas pluviais e provenientes de piscinas e de reservatórios de água não

devem ser encaminhadas aos tanques sépticos);

- A disposição final do efluente e do lodo deve constar no projeto, considerando a

possibilidade de pós-tratamento sempre que necessário;

- Os materiais empregados na construção do tanque devem apresentar resistência

química e mecânica às substâncias presentes no afluente e/ou geradas durante o

tratamento;

- As distâncias mínimas entre os tanques sépticos e demais elementos construídos

ou naturais (como construções, árvores, redes de abastecimento e corpos d’água),

devem ser respeitadas como medida de segurança;

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- A contribuição de despejo deve ser calculada a partir do número de pessoas a

serem atendidas;

- A taxa de acumulação de lodo é dada em função do volume de lodo produzido por

cada usuário, faixa de temperatura ambiente e intervalo de limpezas.

Como exposto, o que torna o tanque séptico mais atrativo do que os demais

sistemas anaeróbios é sua simplicidade construtiva e operacional, não exigindo

equipamentos complexos para construção e mão de obra qualificada para o

monitoramento, permitindo o gerenciamento das águas residuárias na própria

origem. Porém, ainda que vantajoso, seu desempenho dependerá do projeto,

instalação, manutenção e monitoramento, da mesma forma que qualquer outro

sistema de tratamento; incumbindo ao proprietário a responsabilidade pelo

funcionamento do sistema e adequação, no caso de países desenvolvidos, aos

mecanismos reguladores existentes (BUTLER, 1995).

Um exemplo desta condição pode ser visto na Irlanda, onde, desde 2009,

vigoram diretrizes que determinam o aproveitamento dos resíduos e o descarte

adequado. Portanto, para atender à lei, os tanques sépticos presentes em domicílios

irlandeses devem ser registrados, cabendo aos proprietários operá-los e mantê-los

de acordo com os padrões emitidos pelo governo (WITHERS et al, 2012).

As descargas provenientes de tanques sépticos, em muitos casos, são

negligenciadas nos programas de gestão de bacias pela falta de dados referentes às

concentrações de nutrientes lançadas (WITHERS et al, 2011) e ao número exato de

instalações em dada região, contribuindo para poluição difusa e o aumento dos

riscos de eutrofização, uma vez que a eficiência do sistema para remoção da

demanda química de oxigênio (DQO), nutrientes e patógenos ainda é baixa,

requerendo tratamento adicional para adequação do efluente.

A ameaça de contaminação das águas subterrâneas é enfrentada por

diversas aldeias no Egito como resultado da falta de tratamento de esgotos (SABRY,

2010). Elmitwalli et al (2003) relatam que mais de 95% da área rural egípcia não

possui instalações de coleta e tratamento de efluentes. O esgoto produzido nas

residências é encaminhado a tanques sépticos. Diante disto, Sabry (2010) avaliou o

funcionamento de um tanque séptico modificado (tanque séptico de câmara única

construído em escala piloto associado a um reator anaeróbio compartimentado

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preenchido com brita 2) por 315 dias, alcançando resultados favoráveis, com

remoções para DQO, DBO, SST de 84, 81, 89%, respectivamente (para TDH médio

de 20 horas), atingindo concentrações predominantemente menores que os limites

de lançamento exigidos pelas leis egípcias.

Um sistema piloto constituído de um tanque séptico de duas câmaras em

série (com um pequeno filtro de pedras de fluxo ascendente [V= 0,84 m³], acoplado

à segunda câmara em comunicação direta) com volume total de 8,82 m³, seguido

por quatro filtros anaeróbios (V= 3,36 m³ cada filtro) também foi monitorado na ETE

do campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte desde 1997

(ANDRADE NETO et al, 1999). A vazão de 10 m³dia-1 de esgoto doméstico foi

mantida constante desde o início da operação, alcançando no primeiro ano de

monitoramento remoção de 28 e 63% de DQO total; 40 e 47% de DQO solúvel; e 34

e 71% de sólidos suspensos pelas câmaras 1 e 2, respectivamente. Os autores

indicam a primeira câmara como o principal reator biológico (devido ao seu

desempenho na remoção da DQO solúvel) e estimulam o uso do pequeno filtro

ascendente acoplado para amortecimento de sobrecargas esporádicas.

Como descrito acima, é comum a associação de tanques sépticos a outras

tecnologias para a complementação do tratamento. A NBR 13969:1997 cita a

associação do tanque séptico a diferentes tecnologias, abordadas de acordo com

suas vantagens e desvantagens, elencando as características de cada processo.

Dentre as tecnologias propostas pela referida norma estão os sistemas de digestão

anaeróbia. Estes, ainda que primordialmente destinados ao pré-tratamento de

efluentes, progrediram consideravelmente nas últimas décadas (CHAN et al, 2009),

ampliando o leque para novas tecnologias e aprimorando o funcionamento de outras

já em operação.

Unidades anaeróbias, tais como, reatores anaeróbios de fluxo ascendente

(RAFA ou UASB – Upflow Anaerobic Sludge Blanket); leitos fluidizados; lagoas

anaeróbias; separação por membranas; reatores com crescimento [de biomassa]

aderido ou disperso de fluxo ascendente ou descendente são exemplos tipicamente

empregados no pós-tratamento de tanque séptico. Estes, mesmo que operacional e

estruturalmente diferentes, apresentam pré-requisitos básicos de funcionamento,

como a presença de grande massa bacteriana anaeróbia, e o contato intensivo entre

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o material orgânico afluente e o lodo contido no sistema (METCALF; EDDY, 2003;

van HAANDEL; LETTINGA, 1994).

3.3.2 Filtro Anaeróbio

Os primeiros reatores anaeróbios de leito fixo foram denominados filtros

anaeróbios. De forma geral, pode-se descrevê-los como reatores biológicos

preenchidos por material inerte no qual o lodo se acumula e permanece em contato

com o fluxo afluente, cuja retenção de biomassa é obtida pelos micro-organismos

aderidos ao material de preenchimento ou suspenso nos espaços vazios

(MANARIOTIS; GRIGOROPOULOS, 2006). Os estudos sobre este tipo de reator

iniciaram com a publicação de Young e McCarty (1969) que, ao operarem um filtro

anaeróbio alimentado por esgoto sintético, obtiveram eficiência superior a 80% em

termos de redução de DBO (ABREU; ZAIAT, 2008).

A retenção de biomassa ativa no interior de reatores anaeróbios é fator

decisivo para o sucesso do processo de tratamento e depende de vários fatores

operacionais e ambientais. Uma forma de se evitar a perda da biomassa com o

efluente é imobilizando-a no material suporte. Este, por sua vez, contribui para a

formação do biofilme; auxilia no acúmulo de biomassa (desvinculando o tempo de

retenção celular do tempo de detenção hidráulica); aumenta o contato entre efluente

e biomassa; atua como barreira física; e favorece a uniformização do escoamento

(CAMPOS et al, 1999). Também é consensual entre alguns autores que a

estabilização da matéria orgânica em filtros com leito submerso se deve aos sólidos

acumulados nos interstícios do material de enchimento. Portanto, o índice de vazios

(capacidade para acumular lodo ativo) e uniformidade do material de enchimento

(distribuição do fluxo) são muito importantes (ANDRADE NETO et al, 2001).

No Brasil, a norma que preconiza a utilização de filtros anaeróbios para pós-

tratamento de efluente de tanque séptico é a NBR 13.969:1997, a qual elenca

condições gerais e específicas para construção de unidades complementares,

ressaltando os seguintes aspectos construtivos e operacionais:

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- Cada filtro anaeróbio poderá atender um tanque séptico ou um grupo de tanques

sépticos;

- Os materiais empregados na construção dos filtros devem ser inertes e apresentar

resistência química e mecânica às substâncias presentes no afluente e/ou geradas

durante o tratamento, de modo que o surgimento de fissuras permitiria a infiltração

de água externa à zona retentora, prejudicando a eficácia do tratamento;

- Os filtros anaeróbios poderão ser construídos com ou sem fundo falso. Na

ausência deste, o afluente deverá ser introduzido até o fundo do filtro e distribuído

por toda a base através de tubos perfurados;

- Todos os filtros devem possuir um dispositivo de drenagem para manutenção e

esgotamento;

- Os filtros devem possuir uma cobertura em laje de concreto contendo uma tampa

de inspeção;

- A contribuição de despejo deve ser calculada a partir do número de pessoas a

serem atendidas;

- O tempo de detenção hidráulica deve ser determinado em função da vazão e da

temperatura média do ambiente;

- O procedimento de limpeza deverá ser realizado sempre que constatada a

obstrução do leito filtrante;

- O efluente proveniente do filtro anaeróbio deve receber destinação adequada, não

sendo permitido o lançamento em cursos d’água ou em galerias de água pluvial.

Para van Haandel e Lettinga (1994) uma das barreiras para a adoção dos

filtros anaeróbios em escala real refere-se ao custo do material de enchimento, que

pode ter a mesma ordem de grandeza do valor da própria construção do reator. Esta

constatação reforça o fato de que as pesquisas devam considerar as necessidades

e condições locais, e não apenas se basear em práticas de sucesso adotadas em

outros países (MASSOUD et al, 2009). Pensando nisto, pesquisadores da UNICAMP

apoiados pelo Programa de Pesquisas em Saneamento Básico (PROSAB) ao

estudarem sistemas de tratamento de esgotos acessíveis a comunidades carentes,

testaram diferentes materiais alternativos, como anéis de eletroduto, escória de alto-

forno, anéis de bambu, cascas de coco verde e tijolos cerâmicos. Ao aplicá-los em

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escala real, concluíram que os anéis de bambu e cascas de coco verde são leves e

facilmente encontrados nas regiões brasileiras, e permitem, assim, a redução dos

custos para construção dos filtros (TONETTI et al, 2012; CRUZ et al, 2013).

Camargo e Nour (2001) avaliaram o tratamento realizado por dois filtros

anaeróbios de fluxo ascendente preenchidos por anéis inteiros (Filtro B) e meio

anéis (Filtro A) de bambu. Os filtros possuíam volume útil de 500 L cada e foram

instalados em uma ETE localizada na cidade de Limeira (São Paulo), recebendo o

efluente de uma unidade de tratamento preliminar da própria estação, mantendo-se

a carga hidráulica constante. A partir do fundo falso foram instalados seis pontos de

amostragem (0,1; 0,2; 0,3; 0,4; 0,6 e 0,8 metros) para avaliar a remoção de DQO-

total (DQOt), DQO-filtrada (DQOf) e SST em diferentes TDH. A remoção de DQOt e

DQOf pouco diferiu nos dois reatores, variando de 60 a 80% em ambos os casos,

apresentando resultados mais expressivos a partir do ponto 4 (0,4 m de altura).

Quanto a SST, alcançaram-se remoções de 60-80% para o Filtro A e de 70-80%

para os Filtros B. Também foram realizados testes de resistência e compressão do

material de recheio no início do experimento, após um ano e após dois anos de

operação. Verificou-se com os testes que a degradação do bambu, praticamente, se

estabilizou durante o primeiro ano, com menores perdas de resistência pelos anéis

inteiros, revelando-se como um meio satisfatório para desenvolvimento do biofilme,

com eficiência similar a encontrada por outros materiais comumente utilizados, e

economicamente viável.

Manariotis e Grigoropoulos (2006) avaliaram o comportamento de três filtros

anaeróbios de fluxo ascendente em escala de bancada (14 x 80 cm [diâmetro

interno x altura da coluna do filtro]), sendo cada reator preenchido com diferentes

materiais filtrantes (selas cerâmicas, anéis plásticos lisos e pedra britada; dispostos

nas unidades 1, 2 e 3, respectivamente) para o tratamento de esgoto com alta

concentração de matéria orgânica. Os reatores tinham capacidade volumétrica de

12,5 L e operaram por 3 anos. Em todas as unidades foram feitos 3 pontos de

amostragem distribuídos a cada 20 cm. Através da caracterização de amostras

líquidas e de testes de drenagem, buscou-se mensurar a quantidade de biomassa

aderida ao meio filtrante e retida nos espaços vazios. Foram observadas altas

concentrações de DQO e SST no interior dos filtros, com picos de DQO obtidos no

primeiro ponto de coleta (20 cm) iguais a 9.600, 9.980 e 11.500 mgL-1, e de SST de

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3.230, 13.500 e 9.830 mgL-1 para as unidades 1, 2 e 3, respectivamente. Porém,

destaca-se que as concentrações do efluente (saída) foram bem inferiores às do

afluente, com a altura da coluna tendo um efeito significativo na retenção de matéria

orgânica e de sólidos. Os autores reportam que o recheio com 80 cm foi adequado

para as unidades 1 e 2; já o filtro preenchido por brita teve maiores variações.

Contudo, a drenagem da unidade 3 tendeu a recuperar a razão SSV/SST,

demonstrando que a limpeza do filtro é algo viável. Também é ressaltado que a

morfologia dos materiais filtrantes teve influência na distribuição e na retenção de

sólidos que, neste caso, apresentou maior acúmulo de sólidos nas porções

inferiores, sendo as selas cerâmicas mais eficientes para contenção destes.

Outro experimento, também em escala de bancada, foi realizado por Bodík

et al (2002), no qual se avaliou o funcionamento de um reator anaeróbio de fluxo

ascendente com capacidade volumétrica de 1,5 L (7 x 50 cm [diâmetro interno x

altura]) preenchido com pequenos tubos de eletroduto para o pré-tratamento de

esgoto doméstico municipal na região da Bratislava (Eslováquia). Devido à baixa

carga orgânica verificada no esgoto (100 - 250 mgDQOL-1), foram acrescidos glicose

e acetato de sódio, elevando a DQO afluente para 300 mgL-1. O experimento operou

por 20 meses variando-se o TDH (6, 10 e 20 horas) e a temperatura (8, 15 e 24 ºC).

Observou-se que em temperaturas mais baixas, o TDH influenciou a eficiência do

processo, requerendo períodos maiores. Já em temperaturas superiores a 10 ºC, a

remoção de DQO pouco variou entre 10 ou 20 horas de detenção hidráulica.

Durante o estado de equilíbrio (T= 24 ºC e TDH= 20 h) obteve-se concentração final

média de 72, 30 e 20 mgL-1 para DQO, DBO e SS, respectivamente, representando

remoções de 90% de DQO, 95% de DBO e 95% de SS; revelando o potencial de

aplicação do filtro para o pré-tratamento de esgoto de pequenas comunidades.

Ainda variando-se o tipo de material de preenchimento, Abreu e Zaiat (2008)

testaram o funcionamento de um reator anaeróbio de escoamento ascendente e leito

fixo, contendo biomassa imobilizada em espuma de poliuretano (espuma de colchão

comum) disposta em matrizes cúbicas de 1 cm de lado. O reator foi construído em

tubo de acrílico (0,09 x 1,00 m [diâmetro externo x altura]) e capacidade volumétrica

de 6,4 L, cujo leito ocupava, aproximadamente, 5,8 L. Os autores dividiram o

monitoramento em quatro etapas, nas quais variaram o TDH (8, 6, 10 e 12 horas),

sendo que na quarta etapa passaram a aerar parte do reator tornando-o anaeróbio-

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aeróbio. Observou-se maior estabilidade durante a terceira etapa (TDH = 10h) na

qual o efluente apresentou um valor médio para DQO bruta de 137 ± 16 mgL-1, que

se manteve independente das variações da DQO bruta afluente, resultando em

remoção média de 64%. Na quarta etapa, com a inclusão da aeração na parcela

intermediária do reator, notaram-se ganhos tanto na remoção de material particulado

quanto suspenso, atingindo, rapidamente o equilíbrio operacional para o

estabelecimento da nitrificação.

Os estudos reforçam, portanto, que a tecnologia anaeróbia é eficiente, mas

ainda demanda pós-tratamento para a geração de um efluente que atenda aos

padrões estabelecidos na legislação. Neste caso, os filtros de areia podem ser uma

alternativa para cumprir tal função, mantendo o baixo custo e garantindo um efluente

com alta qualidade e compatível aos padrões de lançamento.

3.4 Filtro de Areia

Atualmente, a diversificação de sistemas aerados destinados ao tratamento

de esgotos é grande. A seleção de determinada operação, processo ou mesmo

combinações requer associar fatores técnicos, ambientais e econômicos,

considerando: a natureza do esgoto; a compatibilidade entre as diversas operações

e processos; a viabilidade ambiental e econômica dos diferentes sistemas; o espaço

disponível e a geometria e tipo do reator; e o uso pretendido do efluente tratado

(METCALF; EDDY, 2003).

A combinação de processos anaeróbios e aeróbios permite explorar as

vantagens de cada processo, minimizando-se os aspectos negativos, resultando, por

exemplo, na implementação de sistemas compactos de baixa acumulação de lodo

(reatores anaeróbios) e maior remoção de matéria orgânica (característica de

reatores aeróbios) (ABREU; ZAIAT, 2008). A viabilidade dessa associação, tal como

filtro anaeróbio combinado a filtro de areia, para atendimento de pequenas

comunidades pode ser fortalecida por sua ampla utilização em diferentes países,

como na França, onde mais de 15 milhões de pessoas utilizam filtros de areia para o

tratamento de esgoto (ROLLAND et al, 2009). No Brasil seu uso ainda é limitado,

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mas, para respaldar a difusão, foi elaborada uma norma específica, a NBR

13969:1997, na qual estão dispostos detalhes técnicos que orientam a construção e

operação de diferentes unidades.

Os filtros de areia são leitos preenchidos por areia e outros materiais

filtrantes, onde a depuração ocorre por mecanismos físicos e químicos, e por micro-

organismos que se desenvolvem no meio granular, cuja alimentação poderá ser

realizada por fluxo intermitente descendente e o efluente tratado captado pelo fundo

drenante, não necessitando de operação e manutenção complexas (NBR

13969:1997).

Historicamente, o primeiro filtro de areia desenvolvido para o tratamento de

esgoto foi projetado para filtração lenta, já a filtração rápida foi destinada ao

tratamento de grandes volumes de água em instalações que ocupavam pequenos

espaços (METCALF; EDDY, 2003). A princípio, a aplicação intermitente de esgoto

não era bem definida e altas cargas orgânicas diárias eram dispostas sobre os leitos,

provocando entupimentos frequentes, exigindo maior manutenção e longos períodos

de repouso para recuperação da capacidade de filtração (LEVERENZ et al, 2009).

A alternância entre dosagem e descanso (aplicação intermitente) tem por

finalidade a manutenção da condição aeróbia na estrutura do leito e é um fator

importante para promoção do crescimento bacteriano (que decompõe e extrai

energia dos poluentes), favorecendo, inclusive, o desenvolvimento de bactérias

nitrificantes responsáveis pela transformação do nitrogênio orgânico e amoniacal em

nitrito e nitrato (MENORET et al, 2002; LEVERENZ et al, 2009).

Outro parâmetro operacional de grande importância é a escolha do material

granular. O tamanho efetivo dos grãos e a uniformidade destes influenciam em

vários quesitos da filtração, como: quantidade de esgoto que poderá ser filtrada, taxa

de filtração, profundidade de penetração de material particulado, qualidade do

efluente final e durabilidade do filtro. Se o grão for muito pequeno, a maior parte da

força motriz será desperdiçada para superar a resistência de atrito do filtro,

limitando, também, o volume de líquido filtrado, levando ao entupimento precoce.

Por outro lado, se for muito grande, a maioria das partículas menores irá passar

diretamente pelo filtro, reduzindo o tempo de detenção hidráulica, fazendo com que

decomposição biológica pretendida não seja alcançada, prejudicando a eficiência do

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tratamento (USEPA, 1985; ROLLAND et al, 2009, METCALF; EDDY, 2003). Como

forma de orientação e contribuição para uma operação adequada, a norma técnica

francesa DTU 64.1 (AFNOR, 2007) se mostra mais restritiva à granulometria,

recomendando que o tamanho dos grãos de areia esteja dentro do intervalo de 0,1 a

0,4 mm; já a agência de proteção ambiental dos Estados Unidos (USEPA, 1985)

apresenta limites um pouco maiores, de 0,4 a 1,5 mm; semelhante à norma

brasileira (NBR 13969:1997) cujo intervalo varia de 0,25 a 1,2 mm. Vale acrescentar

que areias de tamanho efetivo similar e coeficiente de uniformidade (Cu) diferente

também podem produzir desempenho significativamente diverso. Segundo a DTU

64.1, o coeficiente de uniformidade não deverá ser inferior a 3 ou superior a 6. Já

para a USEPA (1985) e a NBR 13969 (1997), os filtros de alimentação intermitente

deverão apresentar Cu inferior a 4. Demais mecanismos e fenômenos atuantes no

processo de filtração estão descritos na Tabela 3.

Tabela 3 - Mecanismos e fenômenos envolvidos na filtração

Mecanismos/

Fenômenos Descrição

Fixação

a. Mecânica b. Por contato

a. Partículas maiores que os poros do material suporte são retidas

mecanicamente b. Partículas menores do que os poros ficam presas no filtro pelo contato

com os grãos

Sedimentação Deposição de partículas no meio filtrante

Interceptação Muitas partículas que se deslocam pelas linhas de fluxo são removidas quando entram em contato com a superfície do material filtrante

Adesão As partículas se ligam à superfície do material filtrante à medida que passam por ele. Devido à força do fluxo da água, alguns materiais são arrastados para o fundo do filtro antes que se prendam firmemente

Floculação A floculação pode ocorrer dentro dos interstícios do material filtrante

Adsorção Química e Física1

Uma vez que a partícula tenha entrado em contato com a superfície do material filtrante ou outras partículas, um desses mecanismos, ou ambos, poderá retê-la no material

Crescimento Biológico

O crescimento biológico no filtro reduz o volume dos poros e pode melhorar a remoção de partículas atuando juntamente aos mecanismos de remoção acima citados

(Fonte: METCALF; EDDY, 2003)

1 Forças envolvidas: Ligação e interação química; forças eletrostáticas, eletrocinéticas e de van der

Waals (METCALF; EDDY, 2003).

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Os filtros de aplicação intermitente podem ser usados no pós-tratamento de

efluente de tanque séptico para posterior infiltração no solo ou para reúso. Na

Irlanda é comum a combinação de filtros de areia estratificados de alimentação

intermitente tanto no tratamento secundário como no polimento em locais de

percolação, resultando em menor área requerida (GILL et al, 2009). Como exposto

na Tabela 3, os filtros são capazes de remover o material particulado suspenso

(orgânico e inorgânico, bem como DBO particulada) por processos de tratamento

químico, físico e biológico; e quando utilizados anteriormente a disposição no solo,

também aumentam a capacidade deste para degradação aeróbica dos componentes

orgânicos. No entanto, a remoção de micro-organismos não é completa, bactérias e

vírus são, normalmente, resistentes ao processo de filtração, tornando a desinfecção

muitas vezes necessária (LEVERENZ et al, 2009; METCALF; EDDY, 2003).

Almejando viabilizar o reúso de efluente de laticínio (proveniente da limpeza

dos pátios de ordenha e demais salões por onde transitam gados), Ruane et al

(2014) estudaram o pós-tratamento de esgoto de filtro anaeróbio por filtros de areia

(com e sem estratificação). O filtro não estratificado era composto por uma de

camada de cascalho, 70 cm de areia média, e outra camada de cascalho; já o filtro

estratificado foi dividido (a partir do topo) em: cascalho – areia grossa – cascalho –

areia média – cascalho – areia fina – cascalho. O trabalho se desenvolveu em

escala de bancada (0,30 m de diâmetro x 1,00 m de profundidade para o filtro

estratificado, e 0,90 m para o filtro de camada única) com carga hidráulica de

20 L.m-²dia-1 e carga orgânica sempre inferior a 25 gDQOm-²dia-1. Os resultados

apontaram para melhor desempenho do filtro estratificado quanto à remoção de

DQO solúvel e suspensa (55 e 56%), SS (62%), N-total (57%) e fósforo (74%);

revelando, em ambos os filtros, remoção de coliformes totais superior a 95%.

Ainda no cenário agropastoril, Oliveira et al (2006) avaliaram a eficiência de

um filtro de areia de escoamento horizontal no polimento de lagoa facultativa aerada.

O estudo se desenvolveu no município de Braço do Norte (Santa Catarina) e faz

parte do primeiro experimento em escala real do Brasil para tratamento de dejetos

suínos. O filtro possuía volume útil de 7,2 m³ (3,0 x 6,0 x 0,5 m [largura x

comprimento x profundidade]) e foi preenchido com seixo rolado nas extremidades

de alimentação e saída, e areia grossa na porção central. A vazão média aplicada

era de 1,8 m³dia-1 e taxa hidráulica de 100 Lm-2dia-1. Após passar pela lagoa

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facultativa aerada, a concentração de DQO no efluente encaminhado ao filtro variou

de 900 a 1040 mgL-1, com média de DBO5, NTK e N-NH3 de 790, 1120 e 801 mgL-1,

respectivamente. Após nove meses de monitoramento, a remoção observada para

DQO foi quase nula, sem diferenças significativas entre as concentrações afluente e

efluente. O desempenho para remoção de nitrogênio também foi baixo, apenas 6%

de NTK e 3% de N-NH3 foram removidos. Já para SST, a remoção foi da ordem de

63%. A partir destes resultados os autores supõem que o tratamento realizado pelo

filtro tenha sido predominantemente físico e que a operação tenha sido prejudicada

pelo baixo desempenho da lagoa durante o período estudado. Também ressaltam

possíveis interferências ambientais, uma vez que as unidades monitoradas

compunham um sistema real de tratamento, sujeito às variações das condições

climáticas e operacionais.

Mesmo que os filtros de areia sejam projetados e operados corretamente,

com o passar do tempo, há acúmulo de material nos interstícios dos grãos e perda

de carga, resultando na colmatação. A saturação da condutividade hidráulica e o

acúmulo de matéria orgânica no meio filtrante são mecanismos físicos e químicos

envolvidos neste processo. No entanto, a investigação a respeito dos demais fatores

que também contribuem para a colmatação ainda é pequena. Portanto, é importante

monitorar o desenvolvimento do biofilme juntamente à eficácia do tratamento quando

o filtro de areia está em operação, realizando a manutenção, quando necessária,

através da limpeza ou troca da camada colmatada (RUANE et al, 2014; LEVERENZ

et al, 2009; METCALF; EDDY, 2003). A NBR 13969:1997 recomenda que, após a

secagem da superfície do filtro de areia, deva-se proceder a raspagem e remoção do

material depositado na superfície (incluindo vegetação), juntamente a uma pequena

camada de areia (0,02 m a 0,05 m), sendo a camada de areia removida reposta

imediatamente por areia limpa com características idênticas à anterior.

Esta mesma norma também recomenda que o uso de filtro de areia para o

pós-tratamento de efluente de tanque séptico, deve limitar a taxa de aplicação a

100 Lm-2dia-1 e caso seja proveniente de um processo aeróbio, pode-se dobrar o

valor da taxa. Onde a temperatura média mensal do esgoto for inferior a 10 oC, os

limites serão, respectivamente, 50 e 100 Lm-2dia-1. Já a agência de proteção

ambiental norte-americana, USEPA, apesar de pertencente a um país de clima

predominantemente mais frio, recomenda taxas superiores aos da norma brasileira,

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variando entre 80 e 200 Lm-2dia-1 (2.0 – 5.0 gpd ft-²) quando a alimentação provém

de tanque séptico e de 200 a 400 Lm-2dia-1 (5.0 – 10.0 gpd ft-²) se originária de filtro

aeróbio (USEPA, 1980).

Na UNICAMP, Tonetti et al (2012) desenvolveram estudos com quatro filtros

de areia em escala piloto para o pós-tratamento de efluente anaeróbio proveniente

de filtro preenchido com anéis de bambu, buscando avaliar a eficácia do tratamento

em diferentes condições, contrastando-as aos padrões definidos pelas normas

técnicas. As taxas de aplicação diária variaram de 50 a 200 Lm-2dia-1. O efluente

tratado apresentou baixos teores de sólidos (concentrações inferiores a 50 mgL-1) e

turbidez inferior a 12 uT, revelando robustez do sistema para remoção de matéria

orgânica mesmo em taxas mais altas, sem diferenças significativas para os valores

médios de DBO do efluente dos filtros de areia (remoções globais > 93%). As

médias para as concentrações de E. coli dos filtros de areia foram superiores aos

padrões de corpos hídricos de classes II e III (CONAMA 357, 2005), contudo,

pequenas concentrações de um agente desinfetante seriam suficientes para

adequação do líquido. Segundo os autores, tais estudos indicaram que as

orientações construtivas dadas pela NBR 13.969:1997 são extremamente

conservadoras, visto que os resultados obtidos somados à baixa necessidade de

manutenção do leito sustentam a viabilidade da implantação do sistema em escala

real.

3.5 Disposição e possibilidades de reúso do efluente tratado

A introdução de substâncias estranhas (naturais ou artificiais) no meio

aquático está relacionada ao lançamento de efluentes domésticos e industriais e, em

menor proporção, à lixiviação dos solos agricultáveis (LIBÂNIO, 2010). Contudo,

como apresentado na Tabela 4, o efluente tratado também é suscetível à

permanência de resíduos que interferem na qualidade da água do corpo receptor.

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Tabela 4 - Compostos residuais típicos de efluentes tratados e seus efeitos

Resíduo Efeito

Sólidos suspensos

Pode provocar a deposição de lodo ou interferir na transparência da água;

Pode interferir na desinfecção servindo de escudo para micro-organismos

Sólidos coloidais Pode interferir na turbidez do efluente

Matéria orgânica particulada

Consumo de oxigênio dissolvido;

Pode interferir na desinfecção servindo de escudo para micro-organismos

Carbono orgânico Consumo de oxigênio dissolvido

Amônia

Aumento da demanda de cloro;

Pode ser convertida a nitrato, consumindo oxigênio;

Juntamente ao fósforo, pode levar ao desenvolvimento indesejável de organismos aquáticos;

Tóxica aos peixes

Nitrato Estimula o crescimento algal e de organismos aquáticos;

Pode provocar a metahemoglobinemia em bebês

Fósforo Estimula o crescimento algal e de organismos aquáticos;

Interfere na coagulação;

Biológicos

(Bactérias; cistos e oocistos de

protozoários; e vírus)

Riscos sanitários – propagação de agentes infecciosos e vetores de doenças

(Fonte: METCALF; EDDY, 2003)

A assimilação dos resíduos provenientes de atividades humanas pelo meio

ambiente esta sendo prejudicada ainda mais pelos longos períodos de estiagem e

precipitações irregulares. Logo, a adoção de projetos para tratamento de esgoto que

também abordem possibilidades para reutilização do efluente tratado contribui com a

racionalização e conservação dos recursos hídricos.

O Brasil não apresenta instrumentos legais que estabeleçam padrões de

qualidade para a água de reúso em cada atividade, nem seus respectivos códigos

de prática, critérios para licenciamento e mecanismos de controle (HESPANHOL,

2012). O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) em sua Resolução Nº 54

(2005) estabelece diretrizes e critérios gerais que regulamentam e estimulam a

prática de reúso direto não potável de água em todo território nacional. Tal

deliberação autoriza o reúso desde que a água residuária esteja em conformidade

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aos padrões exigidos para a modalidade pretendida (reúso para fins urbanos;

agrícolas e florestais; ambientais; industriais e aquicultura), porém, não determina

quais são estes padrões, reportando-os a regulamentações futuras.

Enquanto as leis em âmbito nacional sobre a regulação de águas de reúso

não são promulgadas, complementarmente, ocorrem iniciativas regionais através da

instauração de programas municipais para implantação de medidas que versem pela

conservação e reaproveitamento de águas, como a Lei Municipal nº 12.474/2006 da

cidade de Campinas. Por meio desta lei, instituiu-se o Programa Municipal de

Conservação, Uso Racional e Reutilização de Água em Edificações, o qual incentiva

“o reuso das águas provenientes de estações de tratamento de esgoto, para

aplicações compatíveis, tais como: limpeza de ruas, galerias, bueiros, redes de

esgoto e atividades industriais compatíveis” (Art. 4º, inc. V, Lei Municipal de

Campinas 12.474/2006).

Da mesma forma, o Edital 04 do PROSAB (2006) apresenta um

levantamento detalhado sobre modalidades, experiências e marcos regulatórios para

reúso de esgoto sanitário no Brasil e no mundo, a fim de respaldar a discussão e

apresentar uma visão integrada do tratamento e utilização de efluentes para

diversos fins.

A NBR 13.969:1997 também sugere o reúso local do esgoto de origem

essencialmente doméstica para fins não potáveis e sanitariamente seguros. Para

tanto, vincula o grau de tratamento ao uso mais restringente, e apresenta quatro

classes distintas com parâmetros de qualidade do líquido, determinados conforme o

reúso pretendido (Tabela 5).

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Tabela 5 - Aplicação de água de reúso segundo a NBR 13969:1997

Atividade para reúso Limites Tratamento sugerido

Classe 1

Lavagem de carros e demais uso de contato direto (incluindo aspiração de aerossóis)

Turbidez < 5 uT

CF¹ < 200 NMP/100mL

STD² < 200 mgL-1

pH: 6,0 - 8,0;

Cloro³: 0,5 - 1,5 mgL-1

Tratamento aeróbio seguido por filtração convencional (ou membrana filtrante) e cloração

Classe 2

Lavagens de pisos, calçadas, irrigação de jardins, manutenção de lagos e canais para fins paisagísticos (exceto chafarizes)

Turbidez < 5 uT c

CF < 500 NMP/100 mL

Cloro > 0,5 mgL-1

Tratamento biológico

aeróbio seguido de

filtração por filtro de areia (ou membrana filtrante) e desinfecção.

Classe 3 Reúso em descargas de vasos sanitários

Turbidez < 10 uT

CF < 500 NMP/100mL

Água residual de máquinas de lavar roupas seguidas por coloração. Demais casos: tratamento aeróbio seguido de filtração e desinfecção

Classe 4

Reúso em pomares, cereais, forragens, pastagens e outros cultivos através de escoamento superficial ou por sistema de irrigação pontual.

CF < 5000 NMP/100mL

OD: 2,0 mgL-1 ---

1 – Coliforme Fecal (CF); 2 – Sólidos Totais Dissolvidos (STD); 3 – Cloro Residual

O reúso do esgoto doméstico tratado nas próprias residências pode,

portanto, ser destinado a finalidades não potáveis, como descarga de sanitários,

rega de jardins, lavagem de pavimentos e veículos, desobstrução de tubulações; ou

então ser encaminhamento aos serviços públicos para lavagem de logradouros e

combate a incêndios, em projetos de recuperação do meio ambiente, ou para uso na

agricultura e na indústria (AL-GHUSAIN; TERRO, 2003; CNRH - Resolução nº 54,

2005).

Na agricultura, o esgoto sanitário tratado pode ser utilizado para a irrigação,

cultivo de florestas plantadas e fertilização dos solos, pois, constitui-se não apenas

de uma fonte adicional de água, como também oferece nutrientes vegetais (N, P, K)

importantes para o desenvolvimento das culturas, principalmente, em regiões de

clima (semi)árido (van LIER et al, 2002).

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Na indústria, os exemplos mais comuns incluem o reúso para lavagem de

pátios e veículos e resfriamento de máquinas. Mas, também há estudos para o

reaproveitamento do líquido tratado nos próprios processos produtivos e/ou na

composição do produto final, como é o caso do reúso para fabricação de concreto.

Para este último, a quantidade e a qualidade da água são fatores vitais por

influenciarem na resistência e durabilidade do concreto. Logo, águas contendo altas

concentrações de sulfatos, cloretos, argilas, lodo e íons químicos agressivos não

poderão ser utilizadas. A preocupação com a qualidade é grande, ressaltando uma

expressão popular de que se a água é boa para beber é apropriada para fazer

concreto (AL-GHUSAIN; TERRO, 2003; MUNIANDY, 2009). Portanto, a adequação

da água de reúso é de suma importância, tendo em vista que a própria norma

técnica brasileira (NBR 15900:2009 - Água para amassamento do concreto) não

garante a viabilidade do uso generalizado da água proveniente de estações de

tratamento de esgoto e caracteriza a água de esgoto tratado como inadequada para

uso em concreto.

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Local de implementação do projeto

A pesquisa foi desenvolvida no distrito de Barão Geraldo no município de

Campinas (SP) ao norte da macrozona 3 (área de urbanização controlada)

(CAMPINAS, 2006).

A propriedade onde o sistema de tratamento foi construído está localizada

na Estrada da Rhodia, km 14,5, (22°47’15” S, 47°04’58” O, 580 m) a cerca de 6 km

de distância da Cidade Universitária Zeferino Vaz (Unicamp). O terreno possui

aproximadamente 22.000 m² de área, apresentando declividade em toda sua

extensão, tornando-se plano apenas na porção inferior, onde faz fronteira com o

Ribeirão Anhumas (afluente do Rio Atibaia). Esta parte do terreno é utilizada pela

empresa Villa Stone Comércio e Indústria de Materiais Básicos para Construção

Ltda. A empresa produz diferentes pisos para calçamento, possuindo, durante o

período estudado, cerca de cinco operários (tendo perspectiva de extensão para o

quadro completo de 20 funcionários atuando apenas na fábrica). Na propriedade,

além da fábrica, existem duas residências (a primeira construída no limite superior

do terreno e outra na porção central) onde vivem 4 pessoas, e um estabelecimento

comercial (um pequeno bar). A Figura 3 apresenta uma imagem aérea da

propriedade com indicação da localização das áreas construídas, as quais também

estão representadas individualmente na Figura 4.

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Figura 3 - Imagem aérea da área de estudo

(Fonte: Imagens de satélite - Goggle mapas 2014)

Figura 4 - Imagens das construções presentes na propriedade: Bar (A); Residências dos proprietários (B e C); e Fábrica (D).

(Fonte: Elaborada pela autora)

A princípio, o sistema de tratamento foi projetado para atender apenas o

volume de esgoto produzido no perímetro ocupado pela fábrica. Porém, devido à

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incompletude do quadro de funcionários e à ausência de uma rede coletora de

esgotos no momento da instalação do projeto, todo o efluente produzido na

propriedade passou a ser encaminhado ao sistema de tratamento.

4.1.2 Abastecimento de água e origem do efluente

O abastecimento de água na propriedade, bem como no bairro, é efetuado

por rede geral de distribuição sob responsabilidade da empresa SANASA

(Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento). O consumo de água na

propriedade pôde ser mensurado pelo acompanhamento dos três hidrômetros

instalados no local: um para atendimento do estabelecimento, outro para as casas e

o terceiro para a fábrica.

Nas casas residem quatro pessoas que permanecem durante o dia todo na

propriedade e consomem água apenas para realizarem atividades domésticas. No

bar, o consumo se deve a presença de dois banheiros (um vaso sanitário e uma pia

em cada), uma pia para limpeza de utensílios dentro do estabelecimento e uma

torneira conectada a uma mangueira para uso externo.

No que diz respeito à fábrica, a demanda é suprida por diferentes fontes: a

água destinada aos processos produtivos é captada de uma cisterna que armazena

água da chuva e uma parcela menor tem origem de um poço também presente na

propriedade. Já a água provida pela rede de abastecimento é destinada aos dois

banheiros (um chuveiro, um vaso sanitário e uma lavatório em cada) e à torneira de

uso externo; sendo apenas este consumo registrado pelo hidrômetro.

O esgoto a ser tratado é proveniente de atividades domésticas, relacionadas

à higiene dos moradores e funcionários (limpeza de alimentos e utensílios

domésticos, lavatórios, descargas e banhos), e dos frequentadores do bar (pias e

sanitários), não adentrando ao sistema a parcela do efluente industrial (produção de

pavimentos).

O esgoto produzido na área de estudo passa por caixas de gordura

(instaladas nas respectivas tubulações de saída – uma atendendo ao bar e outra às

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residências) e é transportado por gravidade através de uma tubulação de 0,10 m de

diâmetro até o tanque séptico (Figura 5).

Figura 5 - Instalação da tubulação de coleta e conexão ao tanque séptico

(Fonte: acervo pessoal Luana Cruz, 2013)

4.2 Aspectos operacionais e etapas do projeto

Os estudos para planejamento do projeto (Tabela 6) e a concretização das

obras compreenderam um período de sete meses (entre novembro de 2011 e junho

de 2012).

Essa primeira etapa corresponde ao trabalho elaborado por Cruz (2013) no

qual se avaliaram a partida e a operação do sistema composto por tanque séptico

Filtro Anaeróbio

Tanque Séptico

Esgoto Bruto

Efluente Tratado

Filtro de Areia

Tabela 6 - Fluxograma do projeto

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associado a filtro de areia (entre julho de 2012 e fevereiro de 2013). Neste período, o

filtro anaeróbio foi mantido inoperante desviando-se o efluente do tanque séptico e o

encaminhando diretamente ao filtro de areia.

O presente estudo buscou avaliar o tratamento realizado pela associação de

uma unidade de tanque séptico, um filtro anaeróbio e um filtro de areia (Figura 6).

Para tanto, foi preciso apenas restabelecer a ligação entre o tanque séptico e o filtro

anaeróbio através do desbloqueio da tubulação presente na caixa de passagem

(não havendo modificações estruturais no sistema, uma vez que todas as unidades

de tratamento já estavam previstas no projeto original, como apresentado pela

Tabela 6).

Figura 6 - Esquema em corte lateral do sistema completo e foto sequencial de cada unidade estudada

(Fonte: Elaborada pela autora)

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Como descrito nos itens 4.1 e 4.1.2, o terreno era relativamente íngreme e o

esgoto proveniente das casas e do bar pôde ser transportado pela ação da

gravidade até o tanque séptico, contribuindo para não mecanização do sistema. No

caso da fábrica, estando as instalações de esgoto em área plana, foi preciso

posicionar as tubulações (tanto o coletor predial quanto os tubos internos às

unidades de tratamento) com certa declividade permitindo o transporte do líquido

sem intervenção de bombas.

Para viabilizar o posterior reúso e/ou disposição final do efluente tratado, foi

construído um tanque simples de armazenamento e, apenas neste caso, devido à

profundidade do tanque, recorreu-se ao uso de bomba (Bomba THEBE, modelo

B-12, ½ CV) para recalcar o líquido até a superfície do terreno.

4.3 Tanque Séptico

O projeto deste reator foi baseado nas condições gerais e específicas

descritas na NBR 7229:1993, no espaço disponível para construção do tanque e no

número de pessoas contribuintes (considerando o quadro completo de funcionários

estimado para os próximos anos), utilizou-se a fórmula (Equação 1) disponibilizada

pela supracitada norma e os dados apresentados na Tabela 7 para o

dimensionamento estrutural e volumétrico do reator.

Onde,

V = volume útil,

N = número de pessoas contribuintes,

C = contribuição de despejos,

T = período de detenção,

K = taxa de acumulação de lodo digerido e

Lf = contribuição de lodo fresco.

Equação 1

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Tabela 7 - Dados para a construção do tanque séptico baseados na NBR 7229:1993

Item Unidade Valor Adotado

Pessoas Contribuintes (N) Funcionários e

moradores 20

Contribuição de Despejos (C), segundo o tipo de prédio e de ocupante

L/pessoas.dia 70

Período de Detenção (T), segundo a faixa de contribuição diária

dia 2

Taxa de Acumulação de Lodo Digerido (K), baseada no intervalo entre limpezas e temperatura do mês mais frio

dia-1 57

Contribuição de Lodo Fresco (Lf), segundo o tipo de prédio e de ocupante

L/pessoas.dia 0,30

Volume Calculado para o Tanque Séptico (V) m3 4,14

Volume Adotado para o Tanque Séptico (V) m3 4,39

A partir dos dados apresentados, a contribuição diária de despejos seria de

1400 L, o que corresponderia a um período de detenção de 1 dia conforme

determinação da norma técnica. Porém, devido ao tamanho das manilhas de

concreto adquiridas para estruturação do tanque séptico e à profundidade que estas

foram fixadas, optou-se por aproveitar o volume disponível desta primeira unidade,

aumentando o TDH para 2 dias. A pequena diferença entre o volume calculado e o

adotado também está relacionada ao uso de estruturas pré-moldadas, cuja

inflexibilidade do material não permitiu a construção do tanque com volume igual ao

calculado.

A NBR 7229:1993 também recomenda que em situações onde a população

contribuinte seja inferior a 30 pessoas, o reator deverá ser compartimentado em

múltiplas câmaras em série, devido ao menor volume de esgoto produzido. Porém,

buscando facilitar a construção e instalação do reator, optou-se por um design

simples, de apenas uma câmara e formato cilíndrico; com diâmetro interno medindo

1,90 m e profundidade total de 2,34 m. Para permitir a continuação da passagem do

efluente para os demais reatores por gravidade, e mantendo-se o volume próximo ao

calculado, posicionou-se a tubulação de saída a 1,55 m da laje inferior do tanque

(Figura 7), proporcionando um volume útil de aproximadamente 4,40 m³.

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Figura 7 - Esquema ilustrativo do tanque séptico

Como a estrutura do tanque séptico fica predominantemente abaixo do nível

do terreno e devido, também, a laje superior ser composta por concreto armado, de

difícil remoção, foi acrescida ao projeto uma caixa de passagem que recebe o

efluente imediatamente após o tanque séptico, servindo, também, como ponto de

coleta. A caixa tem formato quadrado, com 0,32 m de largura interna e 0,20 m de

profundidade útil, conectando-se ao tanque séptico e ao filtro anaeróbio por

tubulações de 0,05 m de diâmetro (Figura 8). Há também uma tubulação de desvio

que conduz o efluente diretamente à caixa sifonada para alimentação do filtro de

areia. Este bypass foi planejado para possibilitar a avaliação do tratamento realizado

pela associação do tanque séptico ao filtro de areia, mas também permite a

manutenção do filtro anaeróbio sem interrupção do fluxo de efluente quando o

sistema está em operação.

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Figura 8 - Esquema ilustrativo e vista superior da caixa de coleta

4.4 Filtro Anaeróbio

O dimensionamento do filtro anaeróbio também foi baseado em normas

nacionais (NBR 7.229:1993 e NBR 13.969:1997) nas quais se encontram as

condições gerais e específicas para construção de tanques sépticos e unidades

complementares de tratamento. Desta forma, considerando as informações

disponibilizadas pela norma e os dados da Tabela 8, utilizou-se a Equação 2 para o

cálculo do volume útil do filtro anaeróbio:

Onde,

Vu = volume útil (em litros),

N = número de pessoas contribuintes,

C = contribuição de despejos,

T = tempo de detenção hidráulica.

Equação 2

(Fonte: Elaborada pela autora)

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Tabela 8 - Dados para a construção do filtro anaeróbio baseados na NBR 13969:1997

Item Unidade Valor Adotado

Pessoas Contribuintes (N) Funcionários e

Moradores 20

Contribuição de Despejos (C) L/pessoas.dia 70

Tempo de Detenção Hidráulica (T) dia 1 (15 a 25°C)

Volume Calculado para o Filtro Anaeróbio (V) m3 2,24

Volume Adotado para o Filtro Anaeróbio (V) m3 1,57

Mais uma vez pode-se observar que o volume adotado para a construção do

filtro em estudo difere do valor calculado através da fórmula. Neste caso, a

modificação se deve à diminuição do tempo de detenção hidráulica de 1 dia para

16,8 horas (0,7 dia). Tal alteração se ampara em resultados satisfatórios obtidos

anteriormente por Alem Sobrinho e Said (1991) e Tonetti et al. (2011), os quais

observaram remoção de matéria orgânica em filtros anaeróbios operando com

tempos de detenção hidráulica inferiores aos sugeridos pela NBR 13969:1997.

Mantendo-se o intuito de simplificação construtiva e operacional, optou-se

pela construção de um reator anaeróbio de fluxo ascendente e configuração não

híbrida (ausência de fundo falso). Para tanto, foram utilizados cinco anéis pré-

moldados de concreto, com 1,38 m de diâmetro interno e 0,50 m de altura. Contudo,

apesar de dispor de 2,42 m de profundidade interna, para que o transporte do líquido

e preenchimento do filtro ocorresse pela ação da gravidade, a zona de

empacotamento ocupou apenas 41% do reator, sendo o espaço limitado pela

fixação de uma placa de concreto de 0,04 m de espessura a 1,00 m de altura (a

partir da laje inferior) (Figura 9).

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Figura 9 - Esquema ilustrativo da estrutura interna do filtro anaeróbio

As perfurações (orifícios de 0,030 m de diâmetro) foram distribuídas por toda

a área superficial da placa, permitindo a passagem do efluente e impedindo o

arraste das unidades constituintes do meio suporte (Figura 10).

Figura 10 - Placa de contenção com perfurações pré-demarcadas

(Fonte: acervo pessoal Luana Cruz, 2013)

Sendo o fundo falso um componente não obrigatório, a NBR 13.969:1997

recomenda que, na ausência deste, o esgoto afluente seja introduzido até a base do

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filtro e distribuído por tubos perfurados. Portanto, para proporcionar uma distribuição

homogênea do afluente utilizou-se uma tubulação de 0,05 m de diâmetro, com

perfurações de 0,03 m de diâmetro (espaçadas a cada 0,06 m) por toda sua

extensão, a qual avançava 0,76 m sobre a base da laje inferior em direção ao centro

(Figura 11). O mesmo procedimento foi realizado na tubulação de saída (fixada sob

a placa de concreto na porção superior).

Figura 11 - Tubo perfurado

(Fonte: acervo pessoal Luana Cruz, 2013)

4.4.1 Material Suporte

Cascas de coco verde da espécie Cocos nucifera foram utilizadas como

meio filtrante para este estudo. Para aumentar a superfície de contato e expor o

feixe de fibras, os cocos foram seccionados em quatro a cinco partes (Figura 12).

Contudo, conforme verificado por CRUZ (2009), para facilitar o corte - devido à

estrutura enrijecida do coco verde - as cascas ficaram expostas ao ambiente (mas

ao abrigo da chuva) por uma semana. Após este período, com a desidratação do

material, tornou-se mais fácil e rápido fracionar os cocos (Figura 12).

Figura 12 - Cascas de coco verde da espécie Cocos nucifera antes e após o corte

(Fonte: acervo pessoal Luana Cruz, 2013)

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Outro ponto importante que também deve ser ressaltado envolve o

preenchimento do filtro e a presença do tubo guia. Devido à ausência de um fundo

falso, tomou-se o cuidado de preencher toda a zona filtrante com as cascas de coco

verde sem, contudo, prensá-las umas as outras, deixando espaços livres entre as

mesmas. Assim, no momento em que o filtro começasse a operar e permanecesse

saturado, as cascas flutuariam até a placa de concreto, liberando certo volume da

base onde poderia ocorrer acúmulo de lodo. Logo, para drenagem deste lodo e/ou

esgotamento do reator, fixou-se um tubo guia (com 0,10 m de diâmetro) no centro do

filtro, permitindo a introdução de um mangote a partir da área externa (acesso pela

laje superior), mantendo a tampa lacrada e evitando o revolvimento do recheio. A

Figura 13 apresenta um esquema do filtro anaeróbio preenchido e seus elementos

construtivos.

Figura 13 - Esquema do filtro anaeróbio em operação

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4.5 Caixa de passagem sifonada

O efluente que deixava o filtro anaeróbio era direcionado imediatamente a

uma caixa de passagem construída em alvenaria na qual se projetou um sifão. A

caixa tem formato quadrado com largura interna de 0,32 m e 0,90 m de profundidade

total, sendo a tubulação de entrada localizada a 0,20 m da base da caixa e o tubo de

saída a 0,18 m, resultando em volume útil de 0,020 m3 (Figura 14).

Figura 14 - Esquema ilustrativo em corte lateral e vista superior da caixa de passagem sifonada

(Fonte: Elaborada pela autora)

Como mencionado no item 4.3, devido à presença do bypass entre as caixas

de passagem e sifonada, também é possível alimentar o filtro de areia com o

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efluente do tanque séptico, independentemente do funcionamento do filtro

anaeróbio. Contudo, durante o período estudado, está tubulação foi mantida

bloqueada.

A presença do sifão nesta segunda caixa de passagem foi uma alternativa

encontrada para alimentação do filtro de areia em fluxo intermitente sem

automatização do processo. Para que o sifão ocorresse foi preciso adaptar a

tubulação, reduzindo-se o diâmetro dos tubos de entrada e saída (de 0,050 para

0,025 m). Dessa forma, apenas quando o nível d’água atingia 0,20 m de altura, a

caixa sifonada era imediatamente esgotada e seu conteúdo era vertido sobre o filtro

de areia (Figura 15) em aplicações alternadas durante o dia, contribuindo com a

manutenção da condição aeróbia do filtro de areia.

Figura 15 - Esquema da caixa de passagem e do sifão

(Fonte: Elaborada pela autora)

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4.6 Filtro de Areia

O filtro de areia constitui, neste estudo, a última etapa do tratamento do

líquido, seu dimensionamento se baseia em trabalhos desenvolvidos por Tonetti

(2010) e Tonon (2015). Tonetti avaliou a eficiência de filtros de areia no tratamento

de efluente proveniente de filtro anaeróbio, variando-se as profundidades do leito

(0,25; 0,50; 0,75 e 1,00 m) e também a carga aplicada, obtendo melhor tratamento

para camada de 0,75 m de areia. Partindo desta constatação, Tonon (2015) avaliou

o desempenho operacional de filtros de areia (com 0,75 m de profundidade de leito)

- também como pós-tratamento de efluente anaeróbio - em relação a aplicações de

altas taxas diárias (300; 400; 500; 600; 700 e 800 Lm-2), alcançando resultados

satisfatórios para remoção de matéria orgânica e turbidez em todas as condições

testadas, como queda, apenas, na capacidade de nitrificação quando na aplicação

de taxas superiores a 600 Lm-2d-1. Em suma, os autores constataram que mesmo

com disposições maiores que o limite máximo recomendado pela norma (NBR

13969:1997), foi possível obter um efluente adequado aos padrões de lançamento.

Considerados os estudos supracitados e as características da população

(Tabela 9), calculou-se a área superficial necessária para a aplicação diária de 500 L

de afluente anaeróbio (Equação 3).

Onde, A = área requerida (m²), Q = vazão afluente (Ldia-1) Ls = taxa de aplicação superficial (Lm-2d-1)

Tabela 9 - Dados para a construção do filtro de areia

Item Unidade Valor Adotado

Pessoas Contribuintes (N) Funcionários e

Moradores 20

Contribuição de Despejos (C) L/pessoas.dia 70

Volume Diário de Contribuição (V) L 1400

Área Superficial para Taxa de 500 L.m-2d-1 m2 2,80

Área Superficial Adotada m2 2,84

Equação 3

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Assim como nas demais unidades de tratamento, também foram utilizados

anéis pré-moldados de concreto para a estrutura do filtro de areia. Isto justifica a

ligeira diferença entre a área superficial calculada e a adotada, uma vez que os

anéis possuem diâmetro interno de 1,90 m, aumentando a área superficial para

2,84 m².

Para a composição do leito foram empregadas três camadas estratificadas a

partir da base do reator. A primeira possuía 0,20 m de profundidade composta por

lajotas cerâmicas e pedaços de entulho da construção civil; a segunda camada

possuía 0,05 m de brita 1 com diâmetro efetivo (D10) igual a 7,51 mm, coeficiente de

desuniformidade (CD) de 1,66 e coeficiente de vazios (Cv) de 44,1 0,4 %. A terceira

camada foi inicialmente composta por 0,40 m de areia popularmente denominada de

média, classificada de acordo com o procedimento apresentado pela NBR

6502:1995, possuindo D10 de 0,18 mm, coeficiente de uniformidade (Cu) de 2,27 e

porosidade (n) de 57,5 ± 0,8%. Após a segunda manutenção do filtro (remoção da

camada colmatada) realizou-se a substituição da areia média por areia grossa, a

qual possuía D10 de 0,18 mm, Cu de 6,67, e porosidade (n) de 58,6% (Anexo 1);

sendo esta areia utilizada até o final do estudo. A Figura 16 ilustra o esquema do

filtro de areia com a disposição das camadas.

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Figura 16 - Esquema ilustrativo do filtro de areia adotado na pesquisa

As camadas de material grosseiro (tijolos, entulho e brita 1) foram

empregadas para fixar e cobrir a tubulação perfurada, impedindo seu deslocamento

e o arraste dos grãos de areia para fora da estrutura do sistema. A Figura 17

apresenta as etapas de preenchimento do filtro a partir da laje inferior.

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Figura 17 - Etapas de preenchimento do filtro de areia

(Fonte: acervo pessoal Luana Cruz, 2013)

Cabe ressaltar que não foi possível atribuir a profundidade de areia

recomendada por Tonetti (2010) de 0,75 m, pois, além da adaptação do sifão com

tubos menores nas extremidades também foi preciso aumentar o desnível entre as

geratrizes inferiores dos respectivos tubos para o correto funcionamento do sifão e,

consequentemente, sustentação da proposta de não mecanização (transporte do

líquido entre os reatores pela ação da gravidade). Portanto, adotou-se a

profundidade de 0,40 m que, segundo o mesmo autor, também tem eficiência no

tratamento.

Definida a altura da camada filtrante, buscou-se uma alternativa para

otimizar o espalhamento do afluente sobre a superfície do leito. Como estratégia,

para dificultar a formação de caminhos preferenciais e/ou pequenas valas, foi

colocada uma lajota de concreto (ᴓ = 0,25 m) no centro do filtro. Desta forma, o fluxo

inicial (mais forte) teria sua velocidade amortecida, distribuindo o líquido pelas

1ª 2ª

3ª 4ª

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extremidades da lajota. Esperava-se, também, que a presença da lajota posicionada

imediatamente abaixo da tubulação de entrada provocasse um choque do líquido

sob o material maciço, formando-se gotículas que também dispersariam sobre o leito

e contribuiriam com a oxigenação no filtro (Figura 18).

Figura 18 - Ponto de distribuição no centro do filtro de areia

(Fonte: Elaborada pela autora)

4.6.1 Tubulação de aeração

Para manutenção da condição aeróbia do filtro, além da aplicação

intermitente pela ação do sifão, projetou-se uma tubulação de exaustão para a

passagem de ar atmosférico.

O tubo de PVC possuía 0,05 m de diâmetro interno e foi instalado na lateral

do filtro de areia. Sua extremidade superior ficava exposta ao ambiente (na qual

havia outro tubo menor com formato de “T” que impedia a entrada de água pluvial)

(Figura 19) e a extremidade inferior foi encaixada à tubulação de captação do

efluente na base do filtro (Figura 20). Visou-se, com este dispositivo, auxiliar a

aeração natural do leito até as camadas mais profundas.

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71

Figura 19 - Vista da tubulação de aeração externa e interna ao filtro

(Fonte: Elaborada pela autora)

Figura 20 - Vista da tubulação de captação e detalhe do encaixe para o tubo de exaustão

(Fonte: acervo pessoal Luana Cruz, 2013)

4.7 Características da areia

Para caracterização da areia foram coletadas amostras da areia nova

(material virgem) e da areia presente na camada superficial do filtro (parcela

colmatada a ser substituída).

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As amostras de areia nova foram coletadas em recipientes de vidro (Figura

21) e levadas ao Laboratório de Mecânica dos Solos e Estradas da Faculdade de

Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC-Unicamp), onde foram preparadas

de acordo com a norma técnica brasileira NBR 6457:1986 (Amostras de Solo –

Preparação de Ensaios para Compactação e Ensaios de Caracterização) e

submetidas a ensaios de granulometria em concordância a NBR 7181:1984 (Solo –

Análise Granulométrica) a fim de caracterizá-las (Anexo 1), determinando, também,

o coeficiente de uniformidade (Cu), o diâmetro efetivo (D10), o índice de vazios e a

porosidade.

Figura 21 - Amostras de areia nova reservadas para o ensaio de granulometria

A areia colmatada não era descartada, e cerca de ¼ de volume removido do

filtro era separado, permanecendo exposto ao ambiente, mas protegido da chuva. A

partir desta fração coletavam-se amostras compostas, as quais foram levadas ao

Laboratório de Saneamento (LABSAN) da FEC-Unicamp para avaliação de sólidos

totais (APHA et al., 2012) imediatamente após a manutenção do filtro. Demais

coletas continuaram ocorrendo nos dias subsequentes com o intuito de se monitorar

o decaimento de matéria orgânica pela determinação de sólidos voláteis.

4.8 Coleta de Amostras e Análises Laboratoriais

As coletas ocorreram semanalmente, sendo as amostras provenientes dos

seguintes pontos: efluente do tanque séptico (coletado na caixa de passagem), do

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filtro anaeróbio (coletado diretamente da tubulação de saída com acesso pela caixa

de passagem sifonada) e do filtro de areia (coletado diretamente da tubulação de

saída com acesso pelo tanque de armazenamento), ao longo do período

experimental durante 15 meses (de maio de 2013 até julho de 2014).

Os frascos utilizados para análises químicas e físicas imediatas (pH,

alcalinidade, condutividade, oxigênio dissolvido, turbidez, série de sólidos, demanda

bioquímica de oxigênio, demanda química de oxigênio, compostos nitrogenados –

exceto NTK) possuíam volume de 2 L (tipo PET) e os frascos para as demais

análises que requeriam digestão (fósforo e NTK) possuíam volume de 0,5 L. Todos

eram lavados com acido clorídrico (1:1) e, em seguida, com água destilada,

buscando a remoção de interferentes e adequando-os ao procedimento para

determinação de fósforo. Já os frascos de vidro destinados às coletas para análises

biológicas possuíam volume de 250 mL e passaram por tratamento térmico

(autoclavagem) anteriormente ao uso.

4.8.1 Análises Físicas e Químicas

Para cada amostra foram realizadas as seguintes análises: pH, alcalinidade,

ácidos orgânicos voláteis (AOV), condutividade, oxigênio dissolvido (OD), turbidez,

série de sólidos, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de

oxigênio (DQO) (bruta, solúvel e coloidal), compostos nitrogenados, e fósforo. Todas

as análises foram realizadas no Laboratório de Saneamento da Faculdade de

Engenharia Civil da UNICAMP (LABSAN), baseadas, em sua maioria, nos

procedimentos descritos no Standard Methods for the Examination of Water and

Wastewater (APHA et al., 2012).

As exceções se devem às metodologias utilizadas para análises de ácidos

orgânicos voláteis, a qual seguiu os procedimentos descritos por DiLallo e Albertson

(1961), e para nitrato, que se empregou o método colorimétrico de redução de

cádmio utilizando-se saches NitraVer 5® da empresa HACH.

Para reduzir as interferências ocasionadas pela presença de material em

suspensão, cor e turbidez durante a determinação das frações de DQO (filtrada,

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solúvel e coloidal), as amostras foram previamente filtradas utilizando-se membranas

de fibra de vidro (Ɵ = 1,2 µm) e de celulose (Ɵ = 0,45 µm). A fração solúvel é

resultado da filtração das amostras previamente filtradas em membrana de 1,2 µm,

em membrana de 0,45 µm. O mesmo procedimento de filtração foi utilizado para

determinação de nitrito, nitrato. Já a DQO coloidal foi obtida pela diferença entre a

DQO filtrada (< 1,2 µm) e DQO solúvel.

Os parâmetros analisados, o método utilizado e a frequência das análises

estão organizados na Tabela 10.

Tabela 10 - Análises envolvidas na pesquisa e frequência

Nome Metodologia Frequência

Ácidos Orgânicos Voláteis DiLallo e Albertson, 1961 semanal

Alcalinidade SM22 2320 B semanal

Condutividade SM22 2510 B semanal

DBO SM22 5210 B quinzenal

DQO SM22 5520 D semanal

Coliformes Totais SM22 9223 B quinzenal

E. coli SM22 9223 B quinzenal

Fósforo Total SM22 4500 E semanal

Nitrato Colorimétrico-NitraVer 5-HACH semanal

Nitrito SM22 4500 NO2 B semanal

Nitrogênio Amoniacal SM22 4500 NH3 C semanal

Nitrogênio Total Kjeldahl SM22 4500 N-Org B semanal

Oxigênio Dissolvido SM22 4500 O B semanal

pH SM22 4500 H+ B semanal

Sólidos Suspensos Fixos e Voláteis SM22 2540 E semanal

Sólidos Suspensos Totais SM22 2540 D semanal

Sólidos Totais SM22 2540 B semanal

Sólidos Totais Fixos e Voláteis SM22 2540 E semanal

Turbidez SM22 2130 B semanal

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75

4.8.2 Análises Microbiológicas

As análises biológicas foram realizadas no mesmo dia da coleta, não sendo

necessário refrigerar as amostras. Para determinação de bactérias do grupo

coliforme utilizou-se o método de Substrato Cromogênico Definido ONPG-MUG, (kit

Colilert®) que promove a detecção simultânea de coliformes totais e Escherichia coli

a partir de substratos hidrolisáveis.

Adicionalmente, verificou-se a presença e a redução da viabilidade de ovos

de helmintos nos lodos do tanque séptico e do filtro anaeróbio. As amostras foram

coletadas no momento de esgotamento do tanque séptico e do filtro anaeróbio,

permitindo acesso ao lodo de fundo pela introdução de um mangote até a base das

unidades, de onde foram extraídos cerca de 5 litros, reservando-se 1 litro de cada

unidade para verificação de ovos de helmintos. As amostras foram levadas ao

Laboratório de Protótipos Aplicados ao Tratamento de Águas e Efluentes

(LABPRO/FEC-Unicamp) e analisadas segundo a metodologia preconizada pela

USEPA (2003) - Environmental Regulations and Technology: Control of Pathogens

and Vector Attraction in Sewage Sludge. Appendix I: analytical method for viable

helminth ova.

4.9 Forma de análise dos resultados

Os resultados obtidos foram comparados a trabalhos técnicos nacionais e

internacionais e as concentrações finais comparadas aos padrões de lançamento

estabelecidos por legislações pertinentes.

Os dados foram estatisticamente analisados fazendo-se uso do Programa

Bioestat 5.0 (AYRES, 2007) para avaliação da variância, cujos valores médios foram

comparados através do teste de Kruskal-Wallis ao nível de 5% (p ≤ 0,05).

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O sistema de tratamento objeto de estudo do presente projeto de pesquisa

foi monitorado durante 15 meses contados desde a partida do filtro anaeróbio

(realizada no início do mês de maio de 2013) até julho de 2014.

As amostras eram coletadas uma vez por semana (com exceção do

parâmetro fósforo que foi monitorado duas vezes por semana para

acompanhamento de sua evolução conforme a colmatação do filtro de areia)

compreendendo um período amostral de 59 semanas. Deste total, devido a

paralisações momentâneas para manutenção do sistema, incluindo, também,

suspensões em datas comemorativas (feriados nacionais) e atividades acadêmicas,

gerou-se uma série de dados equivalente a 43 coletas distintas para cada ponto

amostral (e 76 coletas para fósforo).

Durante o monitoramento do sistema foram realizadas três manutenções no

filtro de areia (remoção e substituição da camada colmatada) e uma manutenção no

tanque séptico e filtro anaeróbio para a remoção do lodo acumulado (Tabela 11).

Tais intervenções serão discutidas com mais detalhes nos itens 5.4 e 5.6.

Tabela 11 - Manutenções e períodos

Data Descrição Tempo em operação

16/04/2013 Substituição de 0,05 m de areia Início

18/07/2013 Substituição de 0,05 m de areia 14 semanas

01/10/2013 Esgotamento do tanque séptico e do filtro anaeróbio

13 meses

11/10/2013 Substituição de 0,10 m de areia 10 semanas

21/02/2014 Substituição de todo o leito (0,40 m) 16 semanas

26/06/2014 Fim do monitoramento 17 semanas (sem sinais de

colmatação até a referida data)

Complementarmente, destaca-se que, como abordado no item 4.2, o tanque

séptico e o filtro de areia estavam em operação há cerca de 10 meses anteriormente

à partida do filtro anaeróbio. E este, por sua vez, teve sua primeira coleta realizada

após uma semana em operação, dando início à série de dados.

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77

5.1 Consumo hídrico e geração de esgoto

Os dados referentes ao consumo de água foram coletados pela manhã duas

vezes por semana (as terças e quintas) através do monitoramento dos hidrômetros

presentes na área de estudo (dois instalados na área externa próximos aos portões

e um na área da fábrica). Já o acompanhamento do volume de efluente produzido foi

condicionado ao preenchimento do tanque de armazenamento. Para tanto, ao

acionar a bomba, todo o líquido recalcado passava por um hidrômetro, e assim, ao

esgotar o tanque, também era possível mensurar o volume de efluente tratado (não

havendo pré-definição dos intervalos (dias) entre os registros).

Na Figura 22 está apresentado em diagramas de caixa o consumo diário de

água registrado pelos hidrômetros H1 (residências), H2 (estabelecimento), H3

(fábrica) e o consumo na área de estudo (Total).

Figura 22 – Consumo de água diário (m3dia-1) na área de estudo

Percebe-se que dentre os três pontos monitorados, as residências

apresentaram maior consumo, e o bar, o menor. Enquanto a maioria dos resultados

da fábrica (75%) foi inferior ao consumo mínimo das residências. Considerando-se

que a faixa típica de consumo de água para uma cidade de grande porte é de 150 a

300 Ldia-1 por habitante, e de 50 a 80 Ldia-1 por empregado para uma indústria

(SPERLING, 2005), os valores obtidos tornam-se condizentes ao número de

habitantes nas residências, com consumo médio de 225 Ldia-1 por cada um dos

quatro moradores; e para a fábrica, de 50 Ldia-1 por operário (baseando-se em

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

1.40

1.60

1.80

2.00

H1 (residências)

H2 (estabelecimento)

H3 (fábrica)

TOTAL

m3 d

ia-1

75%

50%

25%

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quatro funcionários cuja frequência foi constante durante todo o desenvolvimento do

estudo) (Tabela 12).

Tabela 12 - Médias e desvio padrão do consumo de água e geração de esgoto na área de

estudo

m³dia-1

Consumo pelas residências 0,9 ± 0,3

Consumo no bar 0,1 ± 0,1

Consumo na fábrica 0,2 ± 0,1

Consumo na área de estudo 1,1 ± 0,4

Geração de efluente 0,3 ± 0,25

O consumo hídrico total variou de 0,4 a 2,6 m³dia-1 enquanto a geração de

efluente observada foi de apenas 0,1 a 1,5 m³dia-1. Considerando-se os valores

médios, o coeficiente de retorno (C) obtido foi de apenas 27,3%. Este valor é muito

inferior ao sugerido pela norma técnica NBR 9649:1986 (Projeto de redes coletoras

de esgoto sanitário) de C = 80% para cálculo de projeto. No entanto, como

mencionado por Sperling (2005), em pequenas comunidades, com pequena área

ocupada do lote, cuja principal contribuição de esgoto deriva das bacias sanitárias, o

C pode apresentar valores tão baixos quanto 40%. No caso da área estudada, outra

possível interferência relacionada à baixa vazão de esgoto tratado observada seriam

perdas nos tubos coletores e a presença de pequenas fissuras internas ao sistema,

como no próprio tanque de armazenamento. Logo no início do monitoramento, parte

da tubulação externa requereu manutenção devido ao esmagamento do tubo pelo

tráfego de caminhões na propriedade, o que levanta a hipótese de vazamentos

menores desenvolvidos da mesma forma posteriormente. Ou ainda, como

mencionado por Cruz (2013), a menor geração de esgoto teria relação com os

hábitos dos moradores de armazenar a água da máquina de lavar para rega do

jardim e limpeza de pisos, principalmente nos períodos de seca.

Baseando-se no volume médio de água consumida na propriedade, a taxa

de aplicação no filtro de areia foi de 106 Lm-², o que corresponde a apenas 1/5 da

taxa calculada para o projeto (500 Lm-²). Este fato está relacionado ao número

reduzido de contribuintes na fábrica, pois, ainda que o número de funcionários tenha

aumentado para sete pessoas em maio de 2014 (e perdurado por apenas duas

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semanas), a expectativa para o quadro completo de funcionários (20 operários) não

foi atingida em nenhum momento e a demanda por água permaneceu baixa.

Percebe-se também que, mesmo agregando ao sistema as contribuições das

residências e do estabelecimento, não foi possível atingir a taxa de aplicação

esperada.

5.2 Parâmetros físicos e químicos

5.2.1 Temperatura

As temperaturas ambiente (T Amb.) e dos efluentes do tanque séptico (TS),

filtro anaeróbio (FA) e filtro de areia (F. Areia) foram registradas semanalmente ao

longo de todo o período de estudo e estão representadas na Figura 23.

Figura 23 - Variação da temperatura ambiente e dos efluentes estudados em função do tempo

As coletas foram realizadas sempre pela manhã (entre 7:30 e 8:30 horas). A

temperatura ambiente medida no local onde o sistema de tratamento foi instalado

manteve-se abaixo dos 27° C, com média de 21,7 ± 3,3 °C, mínima de 15 °C durante

o inverno e máxima de 27 °C durante a primavera.

Com relação ao esgoto, é possível observar certa similaridade nos três

pontos de coleta em que as variações na temperatura do líquido afluente e efluente

mantiveram-se muito próximas (sem diferenças significativas - Kruskal-Wallis, 5%)

0

5

10

15

20

25

30

35

5 9 11 14 16 18 20 25 27 29 31 37 39 42 44 46 48 50 52 55 59

Tem

pera

tura

(°C

)

Tempo (semanas)

T Amb.

TS

FA

F Areia

Inverno Primavera Verão Outono

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80

durante o período amostral, revelando sofrer certa influência do ambiente externo,

com temperaturas mais baixas observadas na 13ª semana, correspondentes a 19,

18 e 18 °C durante o inverno e mais altas na 40ª semana, correspondentes a 28, 28

e 28,5 °C durante o verão, para TS, FA e F. Areia, respectivamente. Porém, não

foram obtidos valores inferiores à temperatura mínima ambiente (Tabela 13),

indicando resistência à perda de calor em períodos mais frios.

Tabela 13 - Temperaturas média, mínima e máxima ambiente e dos efluentes estudados

Média (°C) Mínima (°C) Máxima (°C)

Ambiente 21,7 ± 3,3 15 27

Tanque Séptico 24,1 ± 2,7 19 29

Filtro Anaeróbio 23,7 ± 3,0 18 28

Filtro de Areia 23,9 ± 3,1 18 28

A temperatura afeta o crescimento bacteriano e é um dos fatores físicos

mais importantes na seleção de espécies. Sua influência sob o metabolismo

bacteriano tem consequências diretas sobre as taxas de conversão de matéria

orgânica. No caso de reatores anaeróbios, apesar da formação microbiana de

metano ocorrer numa faixa bastante ampla (0° a 97°C), sendo elevadas

temperaturas desejadas (pois a taxa de crescimento específica máxima da

população microbiana cresce com o aumento da temperatura até o ponto ótimo), é

aconselhável que a temperatura mantenha-se uniforme dentro do reator, devido à

sensibilidade do processo anaeróbio às mudanças bruscas (CHERNICHARO, 2007).

Sua oscilação também afeta a termodinâmica de diversas reações. Quando em

reatores aeróbios, a elevação da temperatura reduz a solubilidade do oxigênio no

meio líquido acelerando os processos de absorção do mesmo (SPERLING, 2005),

revelando, novamente, a importância do monitoramento deste parâmetro.

Experiências sobre a influência da temperatura no tratamento anaeróbio

indicam que o processo não é capaz de alcançar alta eficiência na remoção de

material orgânico quando tratando efluentes em temperaturas abaixo da faixa

mesófila (25° a 40° C) (DAGUE et al, 1998). Observando-se a Figura 23, percebe-se

que as temperaturas dos efluentes séptico e anaeróbio variaram,

predominantemente, entre 22° e 27 °C, enquadrando a operação na referida faixa.

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81

Gerardi (2002), também faz referência sobre a influência da temperatura sobre o

crescimento das bactérias nitrificantes, indicando a faixa de 28° a 32 °C como ótima

para que o processo de nitrificação ocorra. A faixa observada no efluente aeróbio foi

um pouco inferior à indicada por Gerardi (2002), variando de 23° a 28 °C na maioria

das medições. Contudo, como será discutido no item 5.2.8, não foram verificadas

interferências sobre o processo de nitrificação no reator aeróbio operando neste

intervalo de temperatura.

5.2.2 pH, Alcalinidade e Ácidos Orgânicos Voláteis

O pH dos efluentes do tanque séptico e do filtro anaeróbio apresentou

comportamento similar e variações sutis durante todo o monitoramento. Como

apresentado na Figura 24, o intervalo obtido em ambos os reatores foi de 7,0 a 7,9

(valores mínimo e máximo) e coeficiente de variação (CV) igual a 3%, sendo 7,3 e

7,1 os valores de maior frequência (moda) verificados para o tanque séptico e para o

filtro anaeróbio, respectivamente. Isso indica que os índices de pH nessas unidades

de tratamento mantiveram-se próximos à neutralidade, condição esta que, segundo

van Haandel e Lettinga (1994) beneficia tanto a população de bactérias

fermentativas (mais resistentes) quanto metanogênicas (mais sensíveis).

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82

Figura 24 - Variação do pH dos efluentes séptico, anaeróbio e aeróbio em função do tempo, e indicação dos momentos de manutenção do filtro de areia

As oscilações nos níveis de pH exercem influência sob o tratamento

biológico e afetam, no caso do filtro de areia, a nitrificação. Em pH baixo, há inibição

da atividade enzimática das bactérias nitrificantes (e um efeito secundário sobre a

disponibilidade de alcalinidade), cujo processo de nitrificação passa acelerar em

pH > 6,7, tendo faixa ótima entre 7,2 e 8,0 para que a nitrificação ocorra em taxa

constante (GERARDI, 2002). Neste sentido, pôde-se notar que, até a 30ª semana, o

pH do efluente proveniente do filtro de areia esteve, com exceção da 3ª semana,

sempre superior ao pH das unidades anaeróbias, variando, predominantemente,

entre 7,5 e 7,7. A partir deste momento, notam-se oscilações mais acentuadas, com

valores mais baixos aos encontrados anteriormente, apresentando média de

7,3 ± 0,3 e CV igual a 4%. Supõe-se que até a segunda manutenção do filtro de

areia, ainda que a alcalinidade tenha sido consumida durante a nitrificação, um

possível tamponamento químico foi capaz de manter o pH sempre acima de 7,0. Já

nos períodos subsequentes, este tampão veio a ser consumido pelas maiores taxas

de nitrificação, interferindo na estabilidade do pH.

Não houve diferença significativa entre as médias do efluente do filtro de

areia e dos demais reatores (Kruskal-Wallis 5%), sendo os valores condizentes à

faixa de pH entre 5,0 e 9,0 estabelecida pela Resolução CONAMA 430/2011 (Dispõe

sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a

6.3

6.5

6.7

6.9

7.1

7.3

7.5

7.7

7.9

8.1

1 5 9 11 14 16 18 20 25 27 29 31 37 39 42 44 46 48 50 52 55 59

pH

Semanas

Tanque Séptico Filtro Anaeróbio Filtro de Areia

1ª manutenção 2ª manutenção 3ª manutenção

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83

Resolução nº 357/2005) e presente no Decreto do Estado de São Paulo

nº 8468/1976 (Aprova e regulamenta a Lei nº 997/1976, que dispõe sobre a

prevenção e o controle da poluição do meio ambiente) para o lançamento de

efluentes em corpos hídricos receptores.

Os valores médios e desvio padrão referentes à alcalinidade parcial (AP),

intermediária (AI), total (AT) e a razão de tamponamento (AI/AP) estão dispostos na

Tabela 14.

Tabela 14 - Valores médios e desvio padrão de Alcalinidade Parcial (AP), Intermediária (AI) e Total (AT) dos efluentes estudados, e razão de tamponamento (AI/AP)

Efluente AP

(mgCaCO3.L-1)

AI

(mgCaCO3.L-1)

AT

(mgCaCO3.L-1)

AI/AP

Tanque Séptico 372 ± 95 126 ± 27 498 ± 114 0,35

Filtro Anaeróbio 407 ± 92 108 ± 21 515 ± 101 0,27

Filtro de Areia 246 ± 108 67 ± 25 314 ± 129 0,30

O valor médio verificado no efluente do tanque séptico foi superior à faixa

típica documentada na literatura para esgoto sanitário (100- 250 mgCaCO3L-1)

(SPERLING, 2005; CHERNICHARO, 2007). Acredita-se que, neste caso, a presença

de sanitários no estabelecimento e na fábrica tenha contribuído para a formação de

um esgoto mais rico em compostos nitrogenados (urina) que forneceram alcalinidade

ao sistema pela formação de amônia e bicarbonato (decorrentes da hidrólise da

ureia) e pela conversão de nitrogênio orgânico a nitrogênio amoniacal

(amonificação). Como será discutido no item 5.2.8, a concentração de NTK nas

amostras do tanque séptico e do filtro anaeróbio também era alta, e composta,

predominantemente, por N-Amoniacal. Como descrito por van Haandel et al (in:

MOTA e SPERLING, 2009), ao ser convertido, cada mol de amônia (14 gN)

amonificado produz 3,57 mgCaCO3 de alcalinidade, o que caracteriza a correlação

entre estes dois parâmetros.

Da mesma forma, vê-se que a alcalinidade não é consumida no filtro

anaeróbio, para o qual se constataram valores similares e, muitas vezes, superiores

aos verificados no tanque séptico, mas sem diferenças significativas entre as médias

(Kruskal-Wallis, 5%). Fato que também pode estar relacionado ao processo de

amonificação.

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84

As altas concentrações nos primeiros reatores não foram prejudiciais à

operação dos mesmos. Como apresentado na Tabela 14, a razão de tamponamento

(AI/AP) referente a ácidos voláteis (alcalinidade intermediária) e bicarbonato

(alcalinidade parcial), esteve próxima a 0,3. Segundo Ripley et al (1986), esta

relação revela a estabilidade do processo, sendo valores de AI/AP ˃ 0,3, em esgoto

doméstico, um indicativo de distúrbios no processo de digestão anaeróbia.

Concentrações de alcalinidade mais elevadas no afluente do filtro de areia

também podem ter contribuído para manutenção dos valores de pH, uma vez que

pequenos abaixamentos de pH (medido em escala logarítmica) implicam no

consumo de elevada quantidade de alcalinidade. Dessa forma, ao ocorrer o

processo de nitrificação houve perda de alcalinidade, porém, o tampão residual foi

suficiente durante todo monitoramento, não requerendo a adição de substâncias

alcalinas. Diferentemente do que ocorreu no estudo desenvolvido por Silva (2014)

que, ao trabalhar com o mesmo sistema em escala piloto e aplicar 200 Lm-2dia-1 de

efluente anaeróbio no filtro de areia, obteve total nitrificação, necessitando adicionar

226 mgL-1 de carbonato de sódio em barrilha para garantir alcalinidade no meio e

manutenção da reação.

Outro indicador da condição bioquímica de um digestor é a concentração de

ácidos orgânicos voláteis (AOV). Estes ácidos são produzidos durante a

acidogênese e são utilizados como substrato pelas bactérias acetogênicas e

metanogênicas. Seu acúmulo pode representar desequilíbrio no sistema devido a

sobrecargas orgânicas (aumento súbito da carga aplicada) e/ou hidráulicas (arraste

das bactérias metanogênicas), sobrecarga tóxica e variações bruscas de

temperatura e pH (SOUZA, 1984). Portanto, passou-se a acompanhar a evolução da

concentração de AOV a partir da quinta semana de operação do filtro anaeróbio.

Observa-se, pela Figura 25, que a concentração de AOV no filtro anaeróbio

teve aumento gradativo (exceto pelas variações bruscas durante a 11ª e 13ª

semanas) até a 25ª semana. Ao perceber a tendência ao aumento de ácidos,

passou-se a acompanhar a concentração dos mesmos no afluente ao filtro (efluente

do tanque séptico) a partir da 17ª semana.

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85

Figura 25 - Concentração de ácidos orgânicos voláteis no tanque séptico e no filtro de areia

Os valores obtidos até a 30ª semana no efluente anaeróbio são

considerados altos se comparados aos níveis mais elevados obtidos em estudos

similares que também avaliaram o pós-tratamento de efluente sanitário por filtros

anaeróbios (CAMARGO, 2000; SILVA, 2014), e às faixas documentadas na

literatura, em que se admitem concentrações de 200 mgHAc L-1 (CHERNICHARO,

2007) a 250 mgHAc L-1 (USEPA, 2002). Notou-se que a concentração de AOV que

adentrava ao filtro anaeróbio já estava elevada e permaneceu, predominantemente,

maior à verificada no efluente. Este fato poderia prejudicar a partida e o tratamento

no filtro anaeróbio tornando-o ácido e tóxico para as bactérias metanogênicas.

Contudo, acredita-se que a alcalinidade presente no reator foi suficiente para

tamponar o efeito ácido, visto que os valores de pH estiveram próximos à

neutralidade (7,1 – 8,0) e suficientes para manter os ácidos orgânicos em sua forma

ionizada (não tóxica para as bactérias metanogênicas).

Acredita-se que o aumento na concentração de AOV esteja relacionado ao

tempo de manutenção do tanque séptico. O esgotamento do tanque séptico foi

planejado para frequências anuais, completando um ano, desde a última

manutenção, na 19ª semana de monitoramento. O lodo e escuma acumulados,

associados às condições favoráveis de temperatura e pH, podem ter beneficiado a

ação de bactérias fermentativas e acetogênicas, as quais produziram uma

quantidade de ácidos orgânicos muito superior à que as bactérias metanogênicas

poderiam metabolizar, extravasando esse excesso para o filtro anaeróbio. Ao

0

50

100

150

200

250

300

350

400

5 9 11 14 16 18 20 25 27 29 31 37 39 42 44 46 48 50 52 55 59

AO

V (m

gH

Ac.L

-1)

Semanas

Tanque Séptico

Filtro Anaeróbio

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86

realizar o esgotamento do tanque séptico e do filtro anaeróbio, a concentração de

AOV tendeu a reduzir e na 31ª semana notou-se uma queda súbita em ambas as

unidades de tratamento, revelando, mais uma vez, a influência do afluente sobre a

concentração presente no filtro anaeróbio.

Pela Figura 25 é possível notar que, a partir da 31ª semana até o final do

período estudado, a concentração de ácidos orgânicos no efluente do filtro

anaeróbio foi sempre menor à do tanque séptico, indicando que os mesmos

passaram a ser adequadamente metabolizados durante a metanogênese,

transformando-se em produtos finais da digestão anaeróbia, sem acúmulo no reator.

Revelando, também, o rápido estabelecimento do equilíbrio dinâmico aparente do

reator se considerada a estabilização da concentração de AOV nas semanas

subsequentes.

5.2.3 Condutividade

O valor médio da Condutividade Elétrica (CE) para o efluente do tanque

séptico foi de 1306 ± 178 µScm-1 e do efluente anaeróbio, 1338 ± 171 µScm-1, sem

diferença significativa entre as mesmas (Kruskal-Wallis, 5%). A média da CE

referente ao tanque séptico se enquadra à faixa definida para esgoto doméstico, a

qual varia de 50 a 1500 µScm-1 (WEF, 2007), correspondendo a um efluente de alta

carga, segundo a composição típica apresentada por Metcalf e Eddy (2003).

A CE encontrada no efluente do tanque séptico é superior aos valores

apresentados por Tonetti (2008) e Tonon (2011), os quais obtiveram valor médio

para CE do esgoto bruto sanitário de 708 ± 139 e 791,5 ± 108,1 µScm-1,

respectivamente. Acredita-se que a permanência do esgoto no tanque séptico

projetada para 2 dias possa ter favorecido o processo de mineralização da matéria

orgânica, suscitando no aumento de sais e íons em solução como o íon amônio e

fosfato, progredindo no filtro anaeróbio, o qual, na maioria dos casos, apresentou CE

superior à do tanque séptico (Figura 26).

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Figura 26 - Variação da condutividade elétrica dos efluentes provenientes do Tanque Séptico, Filtro Anaeróbio e Filtro de Areia em função do tempo

Até a 20ª semana, os valores da CE nas três unidades estudadas pouco

diferiram um dos outros. Após a segunda manutenção do filtro de areia (24ª semana)

a CE diminui, coincidindo com a queda verificada nos valores de alcalinidade, fosfato

e nitrogênio amoniacal. Anami et al (2008), ao avaliarem o efeito da aplicação de

água residuária da suinocultura no solo, notaram uma tendência ao aumento da CE

conforme o aumento da concentração de nitrato e fosfato, correlacionando tais

parâmetros. Partindo desta constatação, a condutividade no filtro de areia também

tenderia a subir, pois, observou-se aumento na concentração de nitrato,

principalmente, nos períodos próximos a troca da areia. Contudo, tem-se que as

condutividades equivalentes do nitrogênio amoniacal e do nitrato são muito

semelhantes, e por esse motivo, ao ocorrer a nitrificação, não se notam diferenças

significativas nos valores entre o afluente e o efluente (LIDE, 2008 apud TONETTI,

2008).

Em média, o valor da CE no efluente final (saída do filtro de areia) foi de

1193 ± 132 µScm-1 (1,19 ± 0,13 dSm-1) (Figura 27), apresentando diferença

significativa (Kruskal –Wallis, 5%) entre as médias da CE inicial (tanque séptico) e

do filtro anaeróbio.

800

950

1100

1250

1400

1550

1700

1850

1 5 9 11 14 16 18 20 25 27 29 31 37 39 42 44 46 48 50 52 55

Condutivid

ade (

µS

/cm

)

Tempo (semanas)

Tanque Séptico

Filtro Anaeróbio

Filtro de Areia

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88

Figura 27 - Representação em box-plot da Condutividade Elétrica dos efluentes do tanque séptico, filtro anaeróbio e filtro de areia

Segundo o órgão fiscalizador e licenciador paulista CESTESB, a CE do

esgoto doméstico tratado deverá estar abaixo de 2,9 dSm-1 (a 25° C) para limitar o

risco de salinização do solo. Mancuso e Santos (2003), ressaltam que teores

excessivos de sais dissolvidos, expressos notadamente pelo aumento da CE, podem

resultar em redução da pressão osmótica do solo, que diminui a absorção de água

pela planta, e degradam as características físicas do solo. Portanto, efluentes que

apresentam condutividade elétrica entre 0,75 e 2,9 dSm-1, somente poderão ser

utilizados para aplicação em solos bem drenados, e em espécies que apresentem

alta tolerância salina (CETESB, s/d). Logo, a CE final alcançada estaria abaixo do

limite estipulado pela CETESB e em conformidade à água de reúso destinada à

irrigação com grau de restrição leve a moderado (0,7 a 3,0 dSm-1) segundo as

recomendações fornecidas pela FAO (1994).

5.2.4 Turbidez

Os valores de turbidez dos efluentes do tanque séptico e do filtro anaeróbio

apresentaram variação de 100 a 700 uT, e de 39 a 360 uT (Figura 28), e média de

265 ± 123 uT e 122 ± 71 uT, respectivamente; revelando diferença significativa entre

as mesmas (Kruskal-Wallis, 5%).

800

1000

1200

1400

1600

1800

Tanque Séptico Filtro Anaeróbio Filtro de Areia

Condutivid

ade (

µS

/cm

)

75%

50%

25%

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Figura 28 – Turbidez presente nos efluentes do Tanque Séptico, Filtro Anaeróbio e Filtro de Areia em função do tempo

Através da Figura 28 também é possível notar uma grande oscilação dos

dados referentes ao tanque séptico até a 20ª semana, apresentando CV igual a

40%. Este período antecede a manutenção (esgotamento) do tanque séptico e do

filtro anaeróbio, logo, é provável que o arraste de sólidos decantados, bem como o

desprendimento de pequenas partículas das cascas de coco, durante a partida do

filtro anaeróbio, tenham influenciado os valores de turbidez até aquele momento.

Também é importante salientar que as amostras coletadas do tanque séptico

ocorriam diretamente da caixa de passagem e, por possuir pequena profundidade,

ao introduzir o frasco de coleta, os sólidos presentes no líquido armazenado na

caixa eram facilmente misturados, o que justificaria o pico obtido logo no início do

monitoramento (8ª semana).

A partir da 24ª semana houve uma redução considerável na turbidez dos

efluentes séptico e anaeróbio, sendo este último responsável por até 80% de

remoção da turbidez afluente durante a 27ª semana, e de 50% em média, se

considerado os valores obtidos durante todo o período amostral.

Após a passagem pelo filtro de areia, os valores de turbidez reduziram

substancialmente, permanecendo em uma faixa sempre inferior a 17 uT (Figura 29),

o que, baseando-se apenas neste parâmetro, seria equivalente ao valor de turbidez

presente em corpos de água doce Classe 1 (CONAMA 357, 2005).

0

100

200

300

400

500

600

700

800

1 5 9 11 14 16 18 20 25 27 29 31 37 39 42 44 46 48 50 52 55

Turb

idez (

uT

)

Tempo (semanas)

Tanque Séptico

Filtro Anaeróbio

Filtro de Areia

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Figura 29 - Representação em box-plot da Turbidez presente nos efluentes estudados

Se comparado aos valores de turbidez do filtro anaeróbio, o tratamento pelo

filtro de areia representou 91% de remoção, aumentando para 96% quando

comparado ao efluente do tanque séptico. Isto demonstra que apesar das variações

nas unidades anteriores, a camada de areia utilizada no filtro foi suficiente para

remover os sólidos suspensos e fornecer um efluente final clarificado (Figura 30),

sem perda da eficiência causada pela troca da camada de areia nos momentos de

colmatação do filtro.

Figura 30 – Aspecto visual dos efluentes do Taque Séptico (EB), Filtro Anaeróbio (FA) e

Filtro de Areia (EA) coletados durante a 26ª semana de monitoramento.

Por fim, além de apresentar um aspecto esteticamente mais agradável, é

importante obter um efluente tratado de baixa turbidez, principalmente, quando se

almeja o reúso, uma vez que os sólidos suspensos podem servir de abrigo a micro-

organismos patogênicos e interferir na desinfecção.

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91

5.2.5 Oxigênio Dissolvido

O valor médio da concentração de oxigênio dissolvido (OD) para o esgoto

bruto foi de 0,4 ± 0,2 mgO2L-1, e de 0,5 ± 0,2 mgO2L

-1 para o filtro anaeróbio. Nota-

se pela Figura 31 que o OD presente nas respectivas unidades foi sempre inferior a

1,0 mgO2L-1, exceto por uma aferição correspondente à 55ª semana em que a

concentração de OD no efluente anaeróbio foi de 1,34 mgO2.L-1, sendo este um

caso isolado.

Figura 31 – Variação da concentração de Oxigênio Dissolvido nos efluentes do Tanque Séptico, Filtro Anaeróbio e Filtro de Areia

A faixa de variação no efluente proveniente do filtro de areia foi de 2,9 a

6,7 mgO2L-1, com média de 4,4 ± 1,0 mgO2L

-1. A concentração de OD no filtro de

areia foi suficiente para remover matéria orgânica e proporcionar a oxidação

biológica de nitrogênio amoniacal que, segundo Metcalf e Eddy (1997), requer

4,57 mgO2 para cada mol de nitrogênio na forma de amônia convertido a nitrato

durante a nitrificação. A capacidade de aeração do filtro de areia não foi totalmente

consumida pelo tratamento aeróbio e permitiu a produção de um efluente final com

concentrações de OD, predominantemente, superiores a 4 mgO2L-1 (Figura 32).

0

1

2

3

4

5

6

7

8

5 9 11 14 16 18 20 25 27 29 31 37 39 42 44 46 48 50 52 55 59

Oxig

ênio

Dis

solv

ido (

mg.L

-1)

Tempo (semanas)

Tanque Séptico Filtro Anaeróbio Filtro de Areia

1ª manutenção 2ª manutenção 3ª manutenção

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92

Figura 32 – Representação em box-plot da concentração de oxigênio dissolvido durante todo o período analítico e comparação às classes de corpos d’água (CONAMA 357, 2005)

Percebe-se pelas Figuras 31 e 32 que os valores encontrados no efluente

final foram superiores (cerca de 75% das análises) ao limite mínimo determinado

pela Resolução CONAMA 357 (2005) para rios de classe 3, superando, em alguns

momentos, o limite para rios de classe 2, e apenas em duas ocasiões, o limite para

classe 1.

Contudo, as concentrações finais de OD obtidas foram inferiores às

alcançadas por filtros de areia em escala piloto estudados por Tonetti (2008) e

Tonon (2011), os quais relatam valores sempre superiores a 5 mgO2L-1 para taxas

de aplicação diárias de até 200 e 300 Lm-2, respectivamente. Apesar dos filtros

possuírem um volume menor (0,78 m³) e meio filtrante de maior profundidade

(0,75 m), acredita-se que a manutenção da oxigenação esteja relacionada aos

intervalos estabelecidos entre cada alimentação e não às dimensões do filtro.

Schwager e Boller (1997) avaliaram o transporte de oxigênio em um leito de areia de

0,90 m e relatam que em sistemas menores a distribuição do líquido é mais

uniforme. Os fluxos hídrico e de ar são forçados verticalmente, e ocorrem de forma

mais intensa até camadas mais profundas nos primeiros 10 minutos após a

descarga. Porém, em sistemas maiores (escala real), há interferência pelo

alagamento temporário da superfície, provocando a movimentação do ar (também)

horizontalmente. Segundo os autores, isto pode alterar o transporte do ar e resultar

em fluxos mais baixos de oxigênio. No caso do filtro de areia estudado, as taxas de

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

Tanque Séptico Filtro Anaeróbio Filtro de Areia

Oxig

ênio

Dis

solv

ido (

mg.L

-1)

Classe 3

Classe 2

Classe 1

Classe 4

Padrão de qualidade para corpos d'água (CONAMA 357, 2005)

75%

50%

25%

Outlier

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93

aplicação diária e o intervalo entre as aplicações do afluente anaeróbio não foram

controlados, variando conforme o consumo de água na propriedade durante o dia.

Logo, maiores frequências podem ter interferido na difusão do ar no filtro.

5.2.6 Sólidos Suspensos

Segundo a descrição fornecida pela APHA (2012), sólidos dissolvidos

referem-se à porção de sólidos que passa através de um filtro de porosidade

nominal de 2 µm (ou menor), sob condições específicas; já sólidos suspensos

referem-se à porção retida no filtro.

O valor médio da concentração de sólidos suspensos totais (SST) no

efluente do tanque séptico foi de 141 ± 59 mgL-1 e do filtro anaeróbio de

55 ± 41 mgL-1. Estes dados indicam conformidade à concentração média típica

presente em esgoto doméstico apresentada por Sperling (2005) após o tratamento

por apenas tanque séptico (100 - 150 mgL-1) e após complementação por filtro

anaeróbio (30 – 60 mgL-1).

Observam-se na Figura 33 concentrações de SST mais elevadas até a 20ª

semana. Como indicado na própria figura, este período antecede à manutenção do

tanque séptico, o que permite supor que parte do lodo em processo de digestão e/ou

decantado estava sendo arrastado com o efluente. Também se levanta a

possibilidade de que o material suspenso acumulava-se na caixa de passagem,

pois, como mencionado na discussão sobre os valores de turbidez, o revolvimento

de partículas nos momentos de coleta era perceptível.

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94

Figura 33 – Variação da concentração de Sólidos Suspensos Totais em função do tempo

Durante as primeiras semanas após a partida do filtro anaeróbio, notou-se

grande variação na concentração de SST no efluente desta unidade que, em alguns

momentos, pouco diferiu da concentração afluente. Tal comportamento pode estar

associado ao desprendimento de materiais presentes no próprio recheio, visto que

com o tempo, não foram obtidos valores altos semelhantes aos verificados até a 14ª

semana. Após o esgotamento dos reatores, verificou-se um ganho significativo na

eficiência do filtro anaeróbio, alcançando percentuais de remoção iguais a 83, 69, 81

e 87% da 25ª a 28ª semana, revelando a capacidade de filtração do material (cascas

de coco) e da camada filtrante empregados. A altura de 1,00 m empregada no

presente estudo corrobora a eficiência encontrada por Manariotis e Grigoropoulos

(2006). Os autores avaliaram a influência da altura da camada filtrante em filtros

anaeróbios de fluxo ascendente para 3 diferentes recheios (selas cerâmicas, anéis

plásticos e brita), e obtiveram resultados mais expressivos, nos três casos, a partir

de 0,60 m, alcançando valores de remoção superiores a 80% em camadas de 0,80 e

0,90 m.

Como apresentado na Figura 33 e na Tabela 15, após a passagem pelo filtro

anaeróbio a concentração de SST foi reduzida para valores constantemente

inferiores a ½ da concentração afluente, com remoção média de 61%. Esta

eficiência já se adequaria às condições e padrões específicos para lançamento

direto do efluente tratado em corpos hídricos segundo a Legislação mineira COPAM

n°10/1986 (COPAM, 1986), a qual condiciona 100 mgL-1 como concentração

máxima diária e média mensal de 60 mgL-1; e à concentração máxima permitida pela

0

50

100

150

200

250

300

350

3 8 10 13 15 17 19 25 27 31 37 39 42 44 46 48 50 52

SS

T (m

g.L

-1)

Tempo (Semanas)

Tanque Séptico

Filtro Anaeróbio

Filtro de Areia

Esgotamento do Tanque Séptico

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95

Legislação gaúcha CONSEMA nº 128/2006 (CONSEMA, 2006) de 180 mgSST.L-1,

para a menor vazão de lançamento diária (< 20 m³dia-1) de efluente doméstico

tratado.

Vale salientar que após a limpeza do reator, o valor médio para

concentração do efluente anaeróbio (34 ± 16 mgL-1) foi menor do que as

concentrações típicas verificadas em sistemas como lagoa aerada facultativa

(60 - 90 mgL-1) e reator UASB (60 - 100 mgL-1), e próxima à de lodos ativados

convencional (20 - 40 mgL-1) (SPERLING, 2005), indicando a viabilidade do filtro

anaeróbio perante tais sistemas.

Tabela 15 – Sólidos em Suspensão e suas frações nos efluentes do Tanque Séptico, Filtro Anaeróbio e Filtro de Areia

Sólidos Suspensos Totais

Sólidos Suspensos Fixos

Sólidos Suspensos Voláteis

Média (mgL-1)

Remoção em relação à etapa

anterior (%)

Remoção Global (%)

Média (mgL-1)

%* Média

(mgL-1) %*

Tanque Séptico

141 ± 59 - - 19 ± 18 14 122 ± 52 86

Filtro Anaeróbio

55 ± 41 61 - 9 ± 17 17 45 ± 27 83

Filtro de Areia

17 ± 12 63 86 5 ± 3 27 12 ± 10 73

* em relação a SST

Com relação às frações de sólidos suspensos fixos (SSF) e voláteis (SSV),

percebe-se um pequeno ganho na concentração de SSF conforme a passagem

pelas unidades de tratamento, passando de 14% no tanque séptico para 27% no

filtro de areia. Este aumento pode ser associado à mineralização de compostos

orgânicos, que levam à diminuição da parcela volátil (SSV) e, consequentemente,

elevam os SSF, principalmente, no caso do filtro de areia. Como citado por Ruane et

al (2014), um dos principais mecanismos de remoção de sólidos suspensos em

filtros de areia aeróbios, além da própria interceptação física, é a mineralização.

A concentração de SST no efluente do filtro de areia foi sempre inferior a

32 mgL-1, com média de remoção de 63% em relação ao afluente anaeróbio,

revelando eficiências similares para os dois reatores (Kruskal-Wallis, 5%).

Comparando-se ao estudo com filtros de areia simples (camada única) e

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estratificado desenvolvido por Ruane et al (2014) para o pós-tratamento de filtro

anaeróbio, a eficiência obtida seria equivalente à verificada no filtro estratificado de

62% (32 ± 6 mgSST.L-1) e superior à do filtro simples de 52% (41 ± 8 mgSST.L-1).

Quanto à remoção global verificada ao final do tratamento, obteve-se média

de 86%, e concentração de 17 ± 12 mgSST.L-1 para o período analítico. Estes

resultados satisfazem as exigências previstas para tratamento secundário descritas

pela USEPA, a qual determina o limite de 30 mgSST.L-1 para média mensal e

45 mgSST.L-1 para média semanal, definindo ainda a remoção de no mínimo 85%

da concentração afluente (WEF, 2007).

5.2.7 DQO e DBO

A Figura 34 apresenta em diagramas de caixas os valores de DQO total

presentes nos efluentes estudados e na Figura 35 estão expostos os valores obtidos

para DQOtotal, suas frações dissolvidas (solúvel e coloidal) e a eficiência de remoção

verificada durante o período analítico.

Figura 34 – Representação em box-plot da concentração de DQO durante todo o período analítico e comparação a Legislações Nacional (Decreto nº 6200/1985) europeia

(Directive 271/1991)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Tanque Séptico Filtro Anaeróbio Filtro de Areia

DQ

O (

mgO

2.L

-1)

75%

50%

25%

Outlier

Limite de 150 mgO2L-1

definido

pela legislação alagoana

(Decreto nº 6200/1985)

Limite de 125 mgO2L-1

definido

pela legislação europeia

(Directive 271/1991)

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97

Figura 35 - DQO total, solúvel e coloidal nos efluentes estudados e médias de remoção pelo Filtro Anaeróbio (FA), Filtro de Areia (F. Areia) e Global

Os dados de DQOtotal do tanque séptico apresentaram amplitude de

505 mgL-1, com valores variando de 242 a 747 mgL-1 e média de 436 mgL-1, a qual

condiz com a concentração média típica (400 – 450 mgL-1) verificada em esgoto

doméstico após tratamento primário (SPERLING, 2005). Como apresentado pelas

Figuras 34 e 35, após o tratamento anaeróbio, o valor de DQOtotal foi reduzido pela

metade do valor afluente, apresentando evolução satisfatória desde a partida até a

10ª semana de monitoramento. A partir deste momento, notou-se um

comportamento mais estável, com menores variações na concentração efluente e

valores aproximados de remoção de DQO, fato que, segundo Campos (1999), pode

ser interpretado como um indício do encerramento do período de partida do reator

anaeróbio.

Com relação ao filtro de areia, o valor médio da concentração de DQOtotal foi

de 85 ± 28 mgL-1, com remoção de 60 ± 15% do valor afluente e remoção global de

80 ± 7%. Acredita-se que a baixa amplitude na variação dos dados desde o início do

monitoramento esteja relacionada ao uso do filtro de areia durante o estudo anterior

desenvolvido por Cruz (2013), o que permitiu o estabelecimento de micro-

organismos em camadas mais profundas do leito, visto que não houve perda da

eficiência em períodos próximos a manutenção filtro, nos quais se removeu a

parcela superior colmatada. Como apresentado pela Figura 34, a homogeneidade do

51%

41%

7%

60%

46%

68%

81%

68% 70%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

0

100

200

300

400

500

600

DQO total DQO solúvel DQO coloidal

Rem

oção

Concentr

ação (

mgL

-1)

Tanque Séptico Filtro Anaeróbio Filtro de Areia

Remoção FA Remoção F. Areia Remoção Global

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tratamento para remoção de DQOtotal forneceu um efluente final em consonância aos

padrões de qualidade estabelecidos pelo Decreto Estadual nº 6200 (ALAGOAS,

1985) o qual define o valor máximo de 150 mgO2L-1 para o lançamento de efluente

tratado no oceano e à Deliberação Europeia nº 271 (Official Journal of the European

Communities, 1991) que exige dos Estados membros a garantia de tratamento dos

efluentes em nível secundário ou equivalente, com valor máximo para DQOtotal de

125 mgO2L-1 ou remoção mínima de 75% da carga afluente para lançamento em

corpos receptores.

Analisando as Figuras 35 e 36 percebe-se que a matéria orgânica presente

nos efluentes encontrava-se predominantemente dissolvida, visto que as parcelas

solúveis correspondiam por mais de 40% da concentração de DQOtotal. Esse fato

está de acordo com os resultados obtidos por ABREU e ZAIAT (2008) os quais

avaliaram o desempenho de reatores anaeróbio e anaeróbio-aeróbio (em escala de

bancada) em diferentes condições de TDH (6, 8, 10 e 12 horas), observando

predominância da parcela solúvel em qualquer condição operacional e aumento

desta conforme a redução do TDH; comportamento este que os autores associaram

à presença de material solubilizado na etapa hidrolítica e não utilizado

posteriormente, e de polímeros extracelulares persistentes à degradação.

Figura 36 – Comparação entre os valores médios da concentração de DQOtotal e suas

frações (%) solúvel e coloidal nos efluentes do Tanque Séptico, Filtro Anaeróbio e Filtro de Areia

41%

50%

67%

17%

26%

16%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

Tanque Séptico Filtro Anaeróbio Filtro de Areia

Fra

ções d

e D

QO

Concentr

ação (

mgL

-1)

DQO Total DQO Solúvel DQO Coloidal

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99

Durante todo o período analítico não foram verificados valores para

DQOsolúvel efluente maiores ou iguais aos afluentes, tanto no caso do filtro anaeróbio

quanto no filtro de areia, indicando a assimilação do material solubilizado em ambas

as unidades e diferença significativa (Kruskal-Wallis, 5%) entre as médias. A

utilização do material solubilizado também foi semelhante para ambas as unidades,

apresentado remoção de 41% da concentração de DQOsolúvel afluente pelo filtro

anaeróbio e de 46% pelo filtro de areia. Estes dados estão em consonância ao

comportamento descrito por Elmitwally et al (2003) que, ao analisarem a operação

de um tanque séptico híbrido-anaeróbio (tanque séptico + filtro anaeróbio preenchido

por placas de espuma de poliuretano), observaram um ganho de 10% e 22% na

remoção de DQOtotal e DQOsuspensa pela presença do filtro anaeróbio e perda da

eficiência para remoção de DQOdissolvida+coloidal, ao que os autores associaram ao

aumento de matéria orgânica dissolvida e coloidal decorrente da hidrólise parcial dos

sólidos retidos nos poros da espuma. Percebe-se, portanto, que o tratamento

realizado pelo filtro de areia não se restringiu a ações mecânicas de fixação,

interceptação e adsorção proporcionadas pela filtragem, houve também degradação

e consumo do material solúvel.

Com relação à DBO5, o valor médio para concentração no efluente do

tanque séptico foi de 148 mgL-1, variando de 100 - 222 mgL-1, semelhante à faixa

documentada por Moussavi et al (2010) de 118 - 268 mgL-1 para tanque séptico em

escala piloto com TDH de 24h.

A Figura 37 apresenta a variação da concentração da DBO para as

diferentes unidades de tratamento e a compara aos valores máximos para

lançamento segundo normas nacional e internacional pertinentes.

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100

Figura 37 - Representação em box-plot da concentração de DBO durante todo o período analítico e comparação à Legislação Estadual (SÃO PAULO, Decreto nº 8468/1976) e à

norma europeia (Directive 271/1991)

A Tabela 16 apresenta os valores médios para concentração de DBO, a

remoção alcançada pelas respectivas unidades de tratamento e o valor da razão

DQOtotal/DBO obtidos durante o período analítico.

Tabela 16 – Valores médios e desvio padrão da concentração de DBO, eficiência de remoção e relação DQOtotal/DBO

DBO5

(mgL-1)

Remoção

(%)*

Remoção

Global (%)

DQOtotal

(mgL-1) DQOtotal/DBO

Tanque Séptico 148 ± 34 - - 436 2,9

Filtro Anaeróbio 41 ± 16 71 - 213 5,2

Filtro de Areia 18 ± 9 54 87 85 4,7

* Em relação à etapa anterior

Como expresso na Tabela 16, o desempenho do filtro anaeróbio para

remoção de DBO foi mais satisfatório do que o observado para DQOtotal. O filtro

anaeróbio propiciou uma remoção média de 71 ± 11% da DBO afluente, um pouco

abaixo da eficiência média de remoção averiguada para a combinação tanque

séptico + filtro anaeróbio de 80 - 85% segundo a literatura nacional especializada

(SPERLING, 2005). Porém, considerou-se um desempenho satisfatório visto que a

concentração no efluente manteve-se dentro da faixa típica de 40 - 80 mgL-1

0

50

100

150

200

250

Tanque Séptico Filtro Anaeróbio Filtro de Areia

DB

O (

mgO

2.L

-1)

75%

50%

25% Outlier

Limite de 60 mgL-1 definido pela legislação paulista (Decreto nº 8468/1976)

Limite de 25 mgL-1 definido pela legislação europeia (Directive 271/1991)

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101

esperada para este tipo de tratamento (SPERLING, 2005) e abaixo do limite

estabelecido pelo Decreto nº 8468 (1976) para emissão em corpos d’água no Estado

de São Paulo, com eficiência média de remoção de 71%, também superior à mínima

(60%) determinada pela Resolução CONAMA 430 (2011) para lançamento em

corpos receptores.

O filtro de areia, por sua vez, foi responsável por remover, em média, 54%

da DBO afluente (proveniente do filtro anaeróbio), resultando em um efluente final

com concentração igual a 18 ± 9 mgL-1 e remoção global de 87%. Dessa forma, a

qualidade alcançada para o efluente final atenderia às condições mínimas de

redução de 70 - 90% e à concentração máxima de 25 mgL-1 requeridas pela

Deliberação Europeia nº 271 (1991) para descargas de efluentes de estações de

tratamento.

A relação DQOtotal/DBO para o esgoto proveniente do tanque séptico foi de

2,9, aumentando para 5,2 no filtro anaeróbio, tornando a reduzir para 4,7 no filtro de

areia. Todos os três valores são superiores à faixa de variação de 1,8 a 2,2

apresentada por van Haandel e Lettinga (1994) como valores comuns a esgoto

doméstico. A mesma tendência ao aumento após a passagem pelos filtros foi

verificada nos estudos com unidades piloto analisadas por Tonetti (2008) e Tonon

(2011). Van Haandel e Lettinga (1994) explicam que, durante os processos

biológicos, uma parte do material biodegradável do afluente (que tem uma

determinada DBO) se transforma em resíduo endógeno, que não é biodegradável e,

portanto, não tem DBO. Logo, a razão DQO/DBO superior aos valores típicos pode

representar a atuação do tratamento biológico principalmente sobre a matéria

orgânica mais facilmente biodegradável, gerando, por conseguinte, material não

biodegradável no sistema de tratamento (passível de oxidação por via química).

5.2.8 Série de Nitrogênio

No que se refere a compostos nitrogenados, foram realizadas análises para

determinação nitrogênio total Kjeldahl (NTK), N-amoniacal, nitrito e nitrato; sendo a

concentração de nitrogênio orgânico obtida pela subtração do valor de nitrogênio

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102

amoniacal do valor de NTK. Os valores médios relativos a todo período analítico

estão dispostos na Tabela 17.

Tabela 17 – Média e desvio padrão para valores dos compostos nitrogenados analisados

Tanque Séptico Filtro Anaeróbio Filtro de Areia

NTK (mgL-1) 118 ± 26 114 ± 23 74 ± 22

N-Amoniacal (mgL-1) 100 ± 21 102 ± 21 69 ± 21

N-Orgânico (mgL-1) 18 ± 7 12 ± 6 6 ± 7

Nitrito (mgL-1) ~ 0 ~ 0 4,9 ± 6,1

Nitrato (mgL-1) 3,3 ± 1,3 2,7 ± 1,5 46,0 ± 37,2

N total (mgL-1) 117 ± 33 114 ± 29 121 ± 47

A concentração de NTK no efluente do tanque séptico apresentou variação

de 84 a 169 mgL-1. Estes valores são superiores à faixa apresentada por Mota e

Sperling (2009) como típica para esgoto de origem doméstica, a qual varia de 40 -

60 mgL-1 para NTK; sendo o menor valor obtido, também, já superior ao limite

máximo apontado por Sperling (2005), de 35 – 60 mgL-1, e pela WEF (2007), de 20 –

85 mgL-1, para nitrogênio total em esgoto doméstico. Este acréscimo pode ser

atribuído à presença de sanitários no estabelecimento e na fábrica os quais

contribuíram para a formação de um esgoto com maior carga de ureia provocando,

consequentemente, aumento na concentração de NTK. Já a concentração dos

compostos oxidados manteve-se próximo de 0 para nitrito e abaixo de 4,6 mgL-1 para

nitrato, no tanque séptico e no filtro anaeróbio.

Analisando a Figura 38 percebe-se que o filtro anaeróbio também

apresentou comportamento semelhante ao tanque séptico no tocante à variação da

concentração de NTK, cujas médias foram de 118 ± 26 mgL-1 e 114 ± 23 mgL-1,

respectivamente, sem diferença significativa entre as mesmas (Kruskal-Wallis, 5%).

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103

Figura 38 - Representação em box-plot da concentração de NTK durante todo o período analítico e comparação à Legislação Estadual (CONSEMA nº 128/2006)

Como apresentado pela Tabela 17, os valores de NTK eram constituídos,

basicamente, por nitrogênio em sua forma amoniacal, o qual correspondia por cerca

de 85% da concentração de NTK. Isto ocorre porque nos processos de tratamento

biológico dos esgotos, o nitrogênio orgânico é rapidamente, e quase

quantitativamente, convertido em nitrogênio amoniacal (amonificação) (MOTA e

SPERLING, 2009), podendo, inclusive, iniciar o processo de conversão nos próprios

tubos condutores, tendo continuidade nas unidades de tratamento.

Após a passagem pelo filtro de areia houve a redução de, em média, 35% da

concentração de NTK e aumento de 17 vezes a concentração de nitrato, revelando a

capacidade de nitrificação do leito de areia. Contudo, ao analisar os quatro períodos

entre as manutenções do filtro, observam-se diferentes níveis de eficiência, tanto

para remoção de nitrogênio amoniacal quanto para nitrificação (Figura 39).

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Tanque Séptico Filtro Anaeróbio Filtro de Areia

NT

K (

mgL

-1)

75%

50%

25%

Limite de 20 mgL-1 definido pela legislação gaúcha (CONSEMA 128/2006)

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104

Figura 39 – Nitrificação, redução da concentração de amônia pelo filtro de areia e remoção global verificadas entre os períodos de manutenção do filtro de areia.

Onde: 1 = 92 dias; 2 = 58 dias; 3 = 128 dias; e 4 = 140 dias.

Para elaboração da Figura 39, subdividiu-se o período analítico em quatro

momentos em função das manutenções realizadas no filtro de areia (remoção da

camada colmatada). Para cada um dos quatro períodos, avaliaram-se a ocorrência

do processo de nitrificação (Equação 4), a redução da concentração de N-NH4 pelo

filtro de areia em relação à afluente, e a redução global.

Equação 4

Onde:

N-NH+4i = Concentração inicial de N-amoniacal (mgL-1)

N-NO-3f = Concentração final de Nitrato (mgL-1)

Dessa forma, como demonstrado pela Figura 39, o processo de nitrificação

ocorreu durante todo funcionamento do filtro de areia, de forma mais significativa nos

dois últimos períodos, em que a remoção de N-amoniacal também foi mais alta. De

maneira geral, se considerados os valores de todo o período analítico, do N-total

presente no efluente do tanque séptico, em média, 85% correspondia a N-amoniacal

e apenas 3% a nitrato; ao final do tratamento, 57% correspondia a N-amoniacal e

36% a nitrato, revelando significativa diferenciação (Kruskal-Wallis, 5%) entre os

valores de entrada e saída.

29%

12%

43%

58%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

1 2 3 4

Rem

oção N

-NH

4+

Nitrificação

Períodos entre manutenções

Filtro de Areia Remoção pelo Filtro de Areia Remoção Global

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105

A alcalinidade afluente ao filtro de areia durante os dois primeiro períodos foi

de, em média, 430 e 438 mgCaCO3L-1, respectivamente. Durante o processo de

nitrificação são produzidos 2 moles de prótons de hidrogênio (H+) para cada mol de

nitrato formado, consumindo, 7,14 mg de alcalinidade em forma de CaCO3 para

cada mgN (MOTA e SPERLING, 2009). Com base nessas informações, haveria

alcalinidade disponível para conversão de cerca de 60 mgN-amoniacal. Mas, na

prática, cerca de 33 mgN foram convertidos. Visto que a alcalinidade não foi

totalmente consumida no filtro de areia, e que o pH esteve sempre próximo à

neutralidade (Item 5.2.2), estes parâmetros não foram considerados fatores

limitantes nos dois primeiros períodos.

A concentração afluente de DQO mais alta nos primeiros meses também

não prejudicou a relação DQO/N-NH4+. Para os períodos 1, 2, 3 e 4 foram obtidos

valores médios de 1,2; 1,1; 1,4; 1,4, respectivamente; mantendo-os todos dentro da

faixa de 1,0 a 1,5 sugerida por Metcalf e Eddy (2003) para melhor conversão de N-

amoniacal a nitrato. Segundo os autores, esta faixa oferece melhores condições de

desenvolvimento dos micro-organismos nitrificantes (autótrofos), pois a massa de

micro-organismos nitrificantes produzida por unidade de massa de substrato

metabolizado é inferior ao crescimento celular dos micro-organismos heterotróficos

(responsáveis pela remoção de matéria carbonácea). Logo, valores mais altos da

relação DQO/N-NH4+, favoreceriam os micro-organismos heterotróficos que

competem com os autotróficos nitrificantes pelo oxigênio e nutrientes (METCALF e

EDDY, 2003).

Como o filtro de areia já vinha sendo operado durante o estudo anterior

desenvolvido por Cruz (2013), supõe-se que o acúmulo de matéria orgânica em

camadas de areia mais profundas às removidas nos dois primeiros períodos tenha

proporcionado o desenvolvimento de um ambiente anóxico na interface

efluente/areia e dificultado a oxidação do íon amônio nessa camada. A manutenção

do leito de areia será discutida com mais detalhes no item 5.4. Porém, para

respaldar a hipótese levantada, na Figura 40 é apresentada a variação da

concentração de nitrato no efluente do filtro de areia conforme a substituição das

camadas colmatadas.

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106

Figura 40 – Evolução da concentração de N-amoniacal afluente (Filtro Anaeróbio) e efluente (Filtro de Areia), e de nitrato no efluente final durante o período analítico

Nos dois primeiros períodos, a camada de areia removida tinha 0,05 m de

altura. Para início do terceiro período foram substituídos 0,10 m de areia e no quarto,

substitui-se todo o leito (0,40 m). Percebe-se que, ao remover uma camada maior

(3º período), a concentração de nitrato aumenta até a 27ª semana, decaindo

conforme a colmatação da superfície do filtro. Ao substituir toda a areia do filtro por

areia nova houve queda de N-amoniacal e aumento de nitrato até a 50ª semana,

atingindo 150 mgNO-3L-1. Porém, a nitrificação foi menor do que o percentual

esperado para um filtro de areia que opera adequadamente, o qual, segundo a

USEPA (1999) pode nitrificar 80% ou mais do N-amoniacal afluente.

Por fim, o efluente final apresentou sempre concentrações mais altas ao

limite máximo de 20,0 mgL-1 para N-amoniacal permitido pela Resolução CONAMA

430 (2011) para o lançamento de efluentes e superou em 59% das amostras o limite

de 30 mgL-1 em termos de concentração de nitrato estabelecido pela FAO (1994),

apresentando grau de restrição severo para o efluente se destinado ao reúso na

agricultura. Se considerada apenas valores de concentração, faz-se necessário a

complementação do tratamento para aumentar o nível de remoção de N-amoniacal e

a desnitrificação buscando melhorar a qualidade do efluente final, adequando-o às

normas vigentes para lançamento e reúso. Mas, se admitida a vazão diária de 0,1 a

1,5 m³dia-1 de esgoto tratado produzido, o aporte de nitrogênio não representaria

uma ameaça a determinados cultivos (p. ex.: plantio de arroz, cana-de-açúcar,

algodão e milho) e serviria como adubo.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

3 8 10 13 15 17 19 24 26 28 30 36 38 40 43 45 47 49 51 53 58

mgL

-1

Tempo (Semanas)

N-Amoniacal afluente N-Amoniacal efluente Nitrato

1º 2º 3º 4º

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107

5.2.9 Fósforo

A concentração de fósforo foi verificada duas vezes por semana para

acompanhamento de sua evolução conforme a colmatação do filtro de areia. O valor

médio obtido para o efluente do tanque séptico durante o período analítico foi de

9,5 ± 2,9 mgL-1 e de 9,3 ± 2,8 mgL-1 para o filtro anaeróbio, sem diferença

significativa entre os valores (Kruskal-Wallis, 5%), sendo essa variação condizente à

faixa típica para fósforo de 4 - 15 mgL-1 presente em esgoto doméstico (SPERLING,

2005). Também é possível verificar pelas Figuras 41 e 42 que a amplitude e

evolução dos dados para as referidas unidades de tratamento foram bastante

semelhantes.

Figura 41 – Representação em box-plot da concentração de fósforo e comparação ao limite

de emissão estabelecido por Legislação Estadual (CONSEMA 128, 2006)

Figura 42 – Evolução da concentração de fósforo em função do tempo e indicação dos períodos de manutenção

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Tanque Séptico Filtro Anaeróbio Filtro de Areia

P-P

O4-3

(m

g.L

-1)

75%

50%

25%

Limite máximo de 4 mgL-1 para Q < 100 m³dia-1 definido pela legislação gaúcha (CONSEMA 128/2006)

Limite máximo de 2 mgL-1 definido pela legislação europeia (Directive 217/1991)

0.0

3.0

6.0

9.0

12.0

15.0

18.0

P-P

O4-3

(m

g.L

-1)

Tempo (semanas)

Tanque Séptico Filtro Anaeróbio Filtro de Areia

1º 2º período 3º período 4º período

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108

Este comportamento insatisfatório para remoção de fósforo pelo reator

anaeróbio era esperado e condiz com os estudos em escala piloto conduzidos por

Tonetti (2008) e Tonon (2011). Como descrito na literatura técnica, a eficiência de

remoção de nutrientes por reatores anaeróbios é baixa e, no caso do fósforo, há

uma estimativa de que a incorporação microbiana seja de apenas 1/5 a 1/7 daquela

estabelecida para nitrogênio (CHERNICHARO, 2007). Além disso, também é

possível que aumentos na concentração de fósforo ocorram no filtro anaeróbio

devido à mineralização de compostos orgânicos (protéicos), interferindo nas taxas

de remoção (van HAANDEL e LETTINGA, 1994).

Com relação ao filtro de areia, percebe-se pela Figura 42 que após a

substituição da camada de areia colmatada há uma queda na concentração de

fósforo. Gill et al (2009) citam que a remoção de fósforo nos filtros ocorre

basicamente pelo conteúdo mineral da areia e é controlada principalmente pela

adsorção e pelas reações de precipitação mineral. A capacidade de adsorção é

regulada pela ocorrência de minerais naturais como ferro, cálcio e alumínio, mas

também é afetada por características químicas do efluente (potencial redox e pH)

dentro do filtro. Contudo, essa capacidade de adsorção de fósforo pela areia é finita

(RODGERS et al, 2005) podendo ocorrer o desprendimento do mesmo ao ser

atingido o limite. Condição esta verificada conforme o entupimento da camada

superficial do filtro em que a capacidade para remoção de fósforo saturava,

apresentando concentração efluente superior à afluente (10ª, 21ª e 40ª semanas -

Figura 42).

Apesar da oscilação durante o período analítico, houve diferença

significativa (Kruskal-Wallis, 5%) entre a média da concentração de fósforo final e

inicial (proveniente do filtro anaeróbio e/ou do tanque séptico). Ao dividir o

monitoramento em períodos delimitados entre as manutenções do filtro de areia,

verifica-se que o melhor desempenho de remoção foi alcançado durante o

3º período, com média de 47 ± 24%. Além da troca de areia, este período

(23ª semana) inicia com o esgotamento do tanque séptico e do filtro anaeróbio,

repercutindo em uma diminuição da concentração de fósforo, possivelmente, pela

incorporação do mesmo pelas células em crescimento; retornando aos níveis

verificados inicialmente na 35ª semana (12 semanas após o esgotamento).

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109

Após a substituição de todo o leito de areia (4º período), não houve um ganho

significativo para remoção de fósforo, cuja média correspondente ao período foi de

15 ± 9%, sendo inferior à fase inicial, porém, com concentração efluente

significativamente menor à afluente (Kruskal-Wallis, 5%). Rodgers et al (2005)

alcançaram altos índices de remoção desde o início da operação de um filtro

estratificado tanto para camada de 0,425 m quanto para a de 0,900 m, como

eficiência de 70 e 83%, respectivamente, após 400 dias de operação. No entanto, os

autores controlaram o pH afluente em 3,7, favorecendo a precipitação do fósforo por

ferro e alumínio. Vê-se, dessa forma, que a presença de um biofilme bem

desenvolvido possa ser mais significante para a remoção de fósforo do que a

adsorção química da areia quando o efluente possuir pH próximo à neutralidade.

Como apresentado na Figura 41, a concentração de fósforo no efluente final

foi predominantemente superior ao limite máximo permitido pela Deliberação

Europeia nº 271 (1991) de 2 mgL-1 para lançamento de efluentes tratados em áreas

sensíveis e pela Legislação Estadual do Rio Grande do Sul (CONSEMA nº 128,

2006) de 4 mgL-1 para a menor vazão de lançamento (Q < 100 m³dia-1), atendendo

em momentos isolados a eficiência de remoção mínima de 75% exigida por ambas

as normas.

Se houver intenção de reúso do efluente na agricultura, a concentração final

de fósforo pode ser vantajosa, dependendo apenas da cultura a ser irrigada e o tipo

de solo. Mas, por se caracterizar como um fator potencializador de eutrofização,

juntamente ao nitrogênio, a emissão em corpos d’água exigirá baixa concentração.

5.3 Parâmetros biológicos

Para verificação e quantificação de organismos indicadores de

contaminação fecal foram analisadas as densidades de Coliformes Totais (CT) e

Escherichia coli (E. coli) durante sete meses (abrangendo duas etapas de

manutenção do filtro de areia) nos efluentes do filtro anaeróbio e do filtro de areia.

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110

De forma complementar, também se avaliou a presença de ovos de helminto

nos lodos do tanque séptico e do filtro anaeróbio após 05 meses de monitoramento

do sistema, compreendendo a fase intermediária do período estudado.

5.3.1 Coliformes Totais e Escherichia coli

Na Tabela 18 são apresentados os valores médios da concentração de

coliformes totais e de E. coli nas amostras dos efluentes provenientes do filtro

anaeróbio e do filtro de areia e a eficiência de remoção obtida por este último.

Tabela 18 - Médias e desvio padrão da concentração de Coliformes Totais e E. coli encontrados para os efluentes do filtro anaeróbio e filtro de areia.

Unidade de Tratamento

Coliformes Totais (NMP100mL-1)

Remoção (unidade

logarítmica)

E coli

(NMP100mL-1)

Remoção (unidade

logarítmica)

Filtro Anaeróbio

2,0 x 105 ± 3,1 x 105a ---- 1,8 x 105 ± 2,2 x 105a -----

Filtro de Areia

2,7 x 104 ± 3,0 x 104b 1 log 1,0 x 103 ± 2,4 x 103b 2 log

Médias na vertical seguidas por letras minúsculas diferentes diferem estatisticamente entre si (Kruskal-Wallis, 5%).

A concentração média de Coliformes Totais no efluente do filtro anaeróbio

de 2,0x105 ± 3,1x105 NMP100mL-1 é mais baixa do que a faixa típica de

106 a 107 NMP100mL-1 reportada por SPERLING (2005) para esgoto doméstico

após tratamento por sistema composto por tanque séptico e filtro anaeróbio. Já a

concentração encontrada para E. coli de 1,8x105 ± 2,2x105 NMP100mL-1 condiz com

um estudo em escala piloto realizado por Leonel (2014), no qual a autora avaliou o

tratamento de esgoto doméstico realizado por filtros anaeróbios preenchidos com

anéis de bambu, obtendo média de 3,3x105 ± 6,9x105 NMP100mL-1 para E. coli.

Após a passagem pelo filtro de areia houve a remoção de 1 unidade

logarítmica na concentração de coliformes totais e de 2 unidades logarítmicas de

E. coli. Esses valores estariam em conformidade à concentração máxima definida

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111

para águas doces Classe 2 no tocante aos valores máximos previstos para E. coli de

1,0x10³ NMP100mL-1, e para Classe 3 no que se refere a coliformes totais ou E. coli

de 2,5x10³ NMP100mL-1 (recreação de contato secundário) e 4,0x10³ NMP100mL-1

(demais usos) (CONAMA nº 357, 2005).

Para reúso em lavagem de pisos, calçadas, irrigação de jardins e vasos

sanitários (limite de 5,0x10² NMP100mL-1, recomendado pela NBR 13969:1997) e/ou

equiparação a águas próprias para balneabilidade (recreação de contato primário)

na categoria “muito boa” (limite de 4,0x10² NMP100mL-1, estabelecido pela

Resolução CONAMA nº 274, 2000) seria necessária adequação por meio de

desinfecção. Segundo teste realizado por Cruz (2013), uma pequena dose de cloro

(1,15 mgL-1) seria suficiente para tanto, desde que mantido o tempo de contato de

60 minutos. A desinfecção também poderia ser favorecida pela baixa turbidez do

efluente final, dado que alta turbidez de origem orgânica pode proteger os micro-

organismos dos efeitos da desinfecção e até mesmo estimular o crescimento

bacteriano.

5.3.2 Helmintos

Os testes para avaliação da presença/ausência de ovos de helminto foram

realizados a partir de amostras de lodo do tanque séptico (TS) e do filtro anaeróbio

(FA) (Tabela 19).

Tabela 19 - Estimativa da concentração de ovos de helminto (ovos/L) nas amostras de lodo do tanque séptico (Lodo TS) e do filtro anaeróbio (Lodo FA) após 05 meses de

operação.

Lodo TS Lodo FA

Resultado ND ND

ND = Não detectado

Como expresso na Tabela 19, obteve-se resultado negativo para avaliação

das amostras de lodo, o que pode estar relacionado à baixa concentração de ovos

que adentram ao sistema, impossibilitando a detecção pela técnica escolhida, ou

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112

devido à ausência de indivíduo(s) infectado(s) usuário(s) dos sanitários durante o

período estudado.

A não detecção dos parasitas não garante ausência dos mesmos, uma vez

que a presença no esgoto doméstico de helmintos e demais organismos capazes de

provocar doenças está vinculada ao estado de saúde da comunidade local podendo

variar sazonalmente e, no caso dos biossólidos, também sofrer influência das

reduções obtidas pelos processos de tratamento (USEPA, 2003), exigindo maior

periodicidade nos testes para avaliação deste parâmetro em específico.

5.4 Manutenção do filtro de areia

O monitoramento operacional do filtro de areia também envolveu sua

manutenção. Durante o período de coleta, procurou-se observar o funcionamento da

alimentação pelo sifão, e a efetividade do uso da placa de concreto para choque e

espalhamento do líquido. Acompanhou-se, também, a evolução da mancha negra

desenvolvida sob a superfície do filtro até a total colmatação.

Para proceder com a raspagem sem interrupção do funcionamento do

sistema, foi feito um bypass (utilizando tubo de PVC de 1’’) ligando a tubulação de

alimentação à tubulação de aeração. Assim, a cada acionamento do sifão, todo o

líquido era encaminhado diretamente ao tanque de armazenamento.

A raspagem ocorria apenas quando a superfície do leito encontrava-se seca

e procedia manualmente (com auxílio de pás) avançando até a camada não

colmatada, sendo a profundidade variável e determinada conforme a observação do

perfil a cada manutenção (Figura 43).

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113

Figura 43 - Perfil de areia (altura da camada removida)

A parcela de areia retirada era colocada em uma área aberta para exposição

ao sol e secagem definitiva, e o volume removido era imediatamente reposto com

areia nova (Figura 44).

Figura 44 - Substituição da areia colmatada por areia nova e indicação do bypass

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114

5.4.1 Análise da areia

No início do monitoramento e durante a primeira manutenção, a areia

utilizada para substituição da camada superficial do filtro de areia foi a

comercialmente conhecida como “areia média”. A partir da segunda manutenção, a

areia utilizada foi a “areia grossa”. A caracterização do material seguiu as instruções

descritas pela NBR 7181:1984 e é apresentada na Tabela 20.

Tabela 20 – Características da areia utilizada

Parâmetro Início da operação e 1ª manutenção

2ª e 3ª manutenções

Classificação da areia Média Grossa

Coeficiente de uniformidade (Cu) 2,27 6,67

Uniformidade característica Uniforme Parcialmente uniforme

Diâmetro efetivo (D10) 0,18 mm 0,18 mm

Porosidade (n) 57,5 % 58,6%

Segundo a NBR 13969:1997, dentre os fatores determinantes para o projeto

e operação dos filtros de areia, está a especificação do material para filtração,

recomendando para o Diâmetro efetivo (D10) uma faixa de 0,25 mm a 1,2 mm e

índice de uniformidade (Cu) inferior a 4,0. Verifica-se pela Tabela 20 que, no início da

operação e durante a 1ª troca de areia, foi utilizada areia média com tais

características sugeridas pela norma. Estes dois períodos tiveram durabilidade de 14

e 10 semanas, respectivamente, até que fosse preciso substituir a camada

colmatada. Cruz (2013), operando o mesmo filtro, realizou manutenções a cada 2

meses, em média. Porém, o filtro recebia efluente diretamente do tanque séptico e a

autora removia 0,05 m de areia a cada colmatação. Diante desta constatação, houve

um ganho de 2 a 6 semanas no tempo decorrido entre os períodos de manutenção,

que pode ser atribuído à presença do filtro anaeróbio.

Durante a segunda manutenção, foram removidos 0,10 m de areia média e

substituídos por areia grossa que, apesar de apresentar D10 igual ao da areia média,

possuía partículas muito mais variadas, com Cu de 6,67 (superior ao recomendado

pela norma) capazes de interferir na distribuição do líquido. Este terceiro período

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115

teve duração de 16 semanas. A evolução do entupimento do filtro de areia também

foi acompanhada neste momento e esta representada pela Figura 45.

Figura 45 – Evolução da mancha negra desenvolvida sob a superfície do filtro até a total colmatação

A camada de cobertura, anteriormente à aplicação do afluente anaeróbio,

possuía coloração clara característica de areia virgem e pouco úmida, com grãos

visivelmente desagregados (mais facilmente escavados) que facilitavam a formação

de pequenas valas conforme a aplicação do líquido, revelando a importância de uma

melhor distribuição do afluente, principalmente, nas primeiras aplicações. No

decorrer das descargas, iniciou-se o desenvolvimento de uma mancha com

coloração escura a partir do ponto de distribuição (entorno da lajota de concreto)

(Figura 45.A), evoluindo para porções mais distantes do centro do filtro (Figura

45.B). Após 14 semanas notou-se que a infiltração já estava mais lenta, iniciando a

formação de poças (Figura 45.C). E duas semanas depois ocorreu o entupimento

total do filtro (Figura 45.D) criando uma película líquida permanente sobre a

superfície, comprometendo as trocas gasosas e a percolação do líquido.

Após 5 semanas (A) Após 9 semanas (B)

Após 14 semanas (C) Após 16 semanas (D)

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116

A terceira manutenção procedeu, inicialmente, da mesma forma que a

segunda (substituição de 0,10 m de areia grossa), contudo, decorridos 3 dias, o filtro

estava novamente entupido. Optou-se, portanto, pela substituição de toda a areia.

Mas, para averiguar o perfil, foram utilizados 3 tubos de PVC (diâmetro interno de

35 mm) de 0,25 m de altura, os quais foram introduzidos em 3 pontos distintos do

filtro, sendo, posteriormente, cortados longitudinalmente, revelando a estratificação

do leito (Figura 46).

Figura 46 – Amostra do perfil do filtro de areia

As amostras revelaram uma camada de areia de coloração escura a cerca

de 0,15 m abaixo da superfície do leito na qual, havia também, acúmulo de grãos de

areia mais finos. Considerando o período decorrido desde a partida do filtro de areia

realizada durante o estudo desenvolvido por Cruz (2013), o momento da terceira

manutenção equivaleria a um ano e sete meses de operação. Isto demonstra que,

após certo tempo de uso, o carreamento de partículas mais finas do que às de

cobertura podem contribuir para a colmatação de camadas mais profundas, mesmo

realizando a raspagem e substituição da camada de areia superficial em cota

superior à recomendada pela norma de 0,02 a 0,05 m (NBR 13969:1997) quando

observado o entupimento do filtro.

Leverenz et al (2009) ressaltam que o processo de colmatação envolve

diversos fenômenos, dos quais destacam: (a) redução dos espaços porosos pelos

sólidos suspensos; (b) reabertura dos espaços porosos pela decomposição

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117

bacteriana dos sólidos retidos; (c) redução dos espaços porosos pelo crescimento

bacteriano nos sólidos retidos e/ou aderidos; e (d) reabertura dos espaços porosos

pelo declínio do crescimento bacteriano durante a secagem ou falta de alimentação

(sólidos orgânicos, suspensos ou dissolvidos). Visto que o filtro de areia era coberto

por laje, não havendo incidência direta de luz solar, o período de repouso pode ter

sido insuficiente para secagem de camadas mais profundas, impedindo a reabertura

dos poros pelo decaimento bacteriano.

Após a substituição de toda a areia, o filtro operou até o término do

monitoramento, totalizando 17 semanas sem indícios de entupimento.

5.5 Decaimento de material orgânico na areia removida

Como descrito no item 4.7, imediatamente após a 3ª manutenção do filtro de

areia, cerca de ¼ do volume superficial removido do filtro foi separado e armazenado

em ambiente aberto e protegido da chuva para averiguação da quantidade de

sólidos presentes na camada colmatada.

Devido à mistura do material retirado do filtro, as amostras caracterizaram-se

por amostras compostas, as quais eram coletadas a cada 3 a 6 dias e levadas ao

laboratório para acompanhamento do decaimento de matéria orgânica pela

determinação de sólidos totais fixos (STF) e voláteis (STV). Buscou-se com esta

análise monitorar o tempo necessário de exposição da areia colmatada para que a

parcela orgânica fosse naturalmente degradada. A Tabela 21 resume os valores

médios obtidos em triplicatas durante 51 dias de monitoramento.

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118

Tabela 21 - Valores de porcentagens médias e desvio padrão para Sólidos Totais Fixos (STF) e Sólidos Totais Voláteis (STV) na areia.

Dias % STF % STV

1 95,2 ± 0,59ª 5,10 ± 0,59ª

5 99,5 ± 0,16ªb 0,63 ± 0,14ab

8 99,3 ± 0,09b 0,26 ± 0,08b

12 99,9 ± 0,01b 0,32 ± 0,04b

15 99,9 ± 0,01b 0,15 ± 0,01b

19 99,9 ± 0,001b 0,29 ± 0,01b

22 99,9 ± 0,002b 0,31 ± 0,03b

28 99,9 ± 0,002b 0,18 ± 0,01b

34 99,9 ± 0,004b 0,17 ± 0,04b

37 99,9 ± 0,01b 0,17 ± 0,03b

41 99,9 ± 0,004b 0,13 ± 0,01b

47 99,9 ± 0,01b 0,20 ± 0,02b

51 99,9 ± 0,001b 0,15 ± 0,01b

Médias na vertical seguidas por letras minúsculas iguais não diferem estatisticamente entre si (Kruskal-Wallis, 5%).

A hipótese inicial era de que a degradabilidade do material orgânico

ocorreria de maneira gradual e, portanto, não foi estabelecido um prazo para o

término do acompanhamento. Porém, como apresentado pela Tabela 21, após 5

dias, cerca de 99% da massa já correspondia a material inerte, revelando diferença

significativa (Kruskal-Wallis, 5%) sobre o valor inicial após 8 dias. A partir do 12º dia

praticamente 100% do material era constituído por STF, não havendo alteração

significativa dos valores nas demais determinações. Este dado corrobora o resultado

obtido por Cruz (2013) que alcançou 100% de STF após 13 dias de exposição da

parcela de areia colmatada.

Dessa forma é possível demonstrar que a areia removida pode ser

reutilizada, desde que respeitado o tempo de secagem para degradação da

biomassa aderida e concomitante recuperação da porosidade; fortalecendo a

importância do repouso de filtros que operam em períodos intercalados e se

mostrando como uma opção para redução de custos com a manutenção do sistema.

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5.6 Permeabilidade no filtro de areia colmatado

A determinação da capacidade de percolação do filtro quando colmatado foi

realizada através do ensaio de permeabilidade descrito no Anexo “A” (Procedimento

para estimar a capacidade de percolação do solo) da NBR 13.969:1997. Algumas

modificações pontuais foram feitas na metodologia apresentada, de maneira que

fosse possível a execução de um teste similar, diante dos equipamentos disponíveis,

mão de obra e tempo para realização dos testes.

A princípio considerou-se a possibilidade de se escavar valas para

realização do teste. Contudo, a camada de areia no filtro possuía apenas 0,40 m de

altura e a abertura de valas com 0,30 m de profundidade (como determinado pela

norma) provocou instabilidade no leito já úmido misturando o material da superfície

com o da base do filtro. Diante desta constatação, como medida alternativa, foi

utilizado um tubo de PVC com diâmetro de 0,15 m (condizente ao diâmetro do trado

determinado pela norma) para limitar as áreas testadas e conservar a estratificação

já desenvolvida. O tubo foi particionado em três unidades de 0,50 m de altura, as

quais foram posicionadas em diferentes pontos do filtro adentrando 0,30 m no leito

(Figura 47). Como o filtro ainda estava saturado (pelo recente entupimento), dispôs-

se sobre as superfícies testadas uma camada de 0,05 m de brita nº 1 e,

imediatamente após o preenchimento dos tubos com 0,15 m de água, deu-se início

ao teste.

Figura 47 - Esquema da distribuição dos tubos no filtro para o teste de percolação

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A velocidade de percolação foi monitorada da seguinte forma: a cada 30

minutos media-se o rebaixamento do nível (tomando como base o topo da camada

de brita) em cada ponto, e em seguida preenchiam-se novamente os tubos até a

margem de 0,15 m. O procedimento foi continuamente executado até que a

diferença entre duas medidas sucessivas apresentasse valor inferior a 0,015 m. O

ensaio teve duração de 2 horas, correspondendo a quatro valores de infiltração da

coluna d’água, os quais estão agrupados na Tabela 22.

Tabela 22 – Rebaixamento da coluna d’água conforme intervalos de 30 minutos

Rebaixamento (m)

Tempo (minutos) Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3

30 0,06 0,07 0,07

60 0,03 0,05 0,04

90 0,03 0,04 0,04

120 0,04 0,05 0,02

Para determinação da taxa de percolação foi utilizada a Equação 5

disponibilizada pela NBR 13969:1997, como segue:

Onde,

Pt =Taxa de percolação do solo (min/m);

Tleituras = Intervalo temporal entre as leituras de nível (min);

ΔHfinal = Rebaixamento da última determinação (m).

As taxas de percolação foram iguais a 750, 600 e 1500 min.m-1, para os

Pontos 1, 2 e 3, respectivamente; resultando em um valor médio de 950 min.m-1.

Considerando este valor médio e convertendo-o em m.s-1, obteve-se um coeficiente

de permeabilidade (K) igual a 1,75 x 10-5 m.s-1, correspondendo a condições de

drenagem ruins, características de areia muito finas, silte e areias siltosas, ao passo

que areias limpas apresentam intervalos de valores para K de 10-4 a 10-2

(WHITLOW, 1995). Neste sentido, seria preciso implantar intervalos superiores a

1,5 horas entre cada alimentação para que o líquido infiltrasse pela camada de

Equação 5

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0,10 m de areia colmatada (equivalente a parcela removida), ou superiores a 6 horas

para toda coluna (0,40 m), caso esta apresentasse o mesmo K que a parcela

superficial.

5.7 Reúso na construção civil

Para fins de comparação à Norma Técnica NBR 15900:2009 foram

realizadas análises para determinação da concentração de cloreto, sulfato, ferro,

chumbo e zinco presentes no efluente do filtro de areia durante a fase final do

monitoramento do sistema. A Tabela 23 apresenta o valor médio de duplicatas para

estes parâmetros e as concentrações máximas obtidas para fosfato, nitrato,

alcalinidade, sólidos totais (ST) e sólidos suspensos totais (SST) até abril de 2014.

Tabela 23 - Características físico-químicas do efluente final e requisitos para amassamento de concreto segundo a NBR 15900:2009

Descrição Teor máximo

(NBR 15900:2009)

Concentração máxima

Até abril de 2014

Fosfato 100 mgL-1 17 mgL-1

Nitrato 500 mgNO3-L-1 150 mgNO3

- L-1

Cloreto

500 mgCl- L-1 para concreto protendido ou graute

1000 mgCl- L-1 para concreto armado

4500 mgCl- L-1 para concreto simples (s/ armadura)

113 mgCl- L-1

Sulfato 2000 mgSO4-2 L-1 50 mgSO4

-2L-1

Alcalinidade 1500 mgL-1 Parcial: 374 mgCaCO3 L

-1

Total: 463 mgCaCO3 L-1

Material Sólido 50000 mgL-1 SST: 70 mgL-1

ST: 840 mgL-1

Ferro Não especificado pela norma 0,33 mgL-1

Chumbo e Zinco

100 mgL-1 Traços (< 0,1 mgL-1)

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Observa-se pela Tabela 23 que a concentração de cloreto e sulfato é bem

inferior ao teor máximo permitido, indicando baixo risco de ataque químico ao

concreto. Da mesma forma, os parâmetros fosfato, nitrato, chumbo e zinco,

considerados fatores de contaminação prejudicial e passíveis de alteração do tempo

de pega e resistência do concreto, apresentam concentração muito inferior aos

teores máximos, principalmente zinco e chumbo, em que foram detectados apenas

traços.

O parâmetro ferro foi verificado apenas por uma questão estética, devido ao

fornecimento de cor e turbidez quando suas formas iônicas são oxidadas. Contudo,

sua concentração foi baixa (0,33 mgL-1), próxima à verificada em corpos d’água

Classe I (0,3 mgL-1) (CONAMA 357, 2005).

Visto que os parâmetros analisados estão em conformidade às exigências

da norma técnica para água destinada ao amassamento de concreto, a viabilidade

do reúso do efluente tratado poderá ser confirmada através dos testes físicos para

tempo de pega e resistência à compressão, os quais estão previstos em um estudo

posterior.

5.8 Considerações Finais

A partir das observações realizadas durante a instalação do sistema, dos

dados obtidos durante sua operacionalização e das manutenções requeridas, são

apresentadas neste item considerações relevantes ao planejamento e operação

para projetos em escala real.

O sistema de tratamento poderá ser construído em alvenaria ou por

unidades pré-moldadas em materiais resistentes (como estruturas em fibra de vidro

ou mantas geotexteis). Deve-se atentar à presença de pequenas fissuras e testar a

estanqueidade de cada unidade para se evitar vazamentos durante a operação.

Neste ponto, também é importante a avaliação da estabilidade do solo, pois,

movimentações poderão provocar trincas e/ou deslocamento dos tubos conectores.

Para facilitar o transporte do líquido e independência de bombas de

recalque, sugere-se que o sistema seja implantado em uma área mais baixa às

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edificações presentes na propriedade (respeitando-se as distâncias mínimas

recomendadas pela NBR 7229:1993). Para uma família de padrão médio composta

por cinco pessoas, a área necessária para construção de um sistema semelhante ao

estudado (unidades cilíndricas espaçadas 0,30 m e presença de uma caixa sifonada

anterior ao filtro de areia) seria de 7,8 m² (5,2 m de comprimento x 1,5 m de largura).

Em pequenas comunidades é comum encontrar porções aladeiradas no terreno e,

por serem pouco utilizadas pelos moradores, estas áreas poderiam servir para

implementação do sistema de tratamento. Se em terreno plano, será necessário

escavar valas ou construir estruturas rígidas tomando o devido cuidado com o

desnível entre as unidades (sugere-se ao menos 2% de declividade) para viabilizar a

passagem do líquido pela ação da gravidade. Contudo, em ambos os casos, deve-

se atentar para a acessibilidade até a área escolhida, tanto para entrega dos

materiais necessários para construção do sistema quanto para manutenção do

mesmo (p. ex. acesso de caminhões limpa fossa). Outro ponto que merece atenção

é a instalação de caixas de gordura juntamente à tubulação de águas cinza

provenientes das cozinhas. Este item contribui retendo boa parte dos resíduos

gordurosos e evita incrustações nos tubos coletores, mas requer inspeções

periódicas para remoção do material retido para um bom funcionamento.

Não há necessidade de isolamento da área (grande distanciamento das

residências) devido à preocupação com a geração de odores. Uma vez que as

unidades de tratamento permaneçam devidamente vedadas, não há eliminação de

gases odoríferos para o ambiente em quantidade suficiente para provocar incômodo

à população do entorno. O sistema poderá permanecer predominantemente

enterrado desde que as tampas/lajes de cobertura sejam facilmente encontradas

para inspeção e manutenção.

Se forem instaladas caixas de inspeção ou, como no caso deste estudo,

caixas sifonadas, é importante deixá-las protegidas por telas mosqueteiras para

evitar a entrada insetos, lagartixas e proliferação de moscas. O que também é válido

para tanques de armazenamento.

Com relação ao filtro anaeróbio, o material de recheio, como as cascas de

coco verde, é facilmente encontrado em áreas comerciais onde existam lanchonetes

e restaurantes. A aquisição das cascas não gera custos pois são caracterizadas

como resíduo sólido de pouco reaproveitamento, fadadas ao descarte comum.

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O filtro de areia poderá ser constituído por uma unidade de superfície

exposta ao ambiente (mas protegida da chuva). Por ser uma unidade aeróbia, se faz

necessário um modo de alimentação intermitente para oxigenação do leito. Esta

intermitência poderá ser implantada pela presença de uma caixa sifonada ou de uma

bomba com temporizador, as quais garantem um período de repouso entre cada

aplicação. Filtros de areia requerem, normalmente, maior periodicidade de

manutenção do que outras unidades (como tanque séptico e filtro anaeróbio) para

remoção da parcela colmatada. Logo, é importante salientar que quanto mais

profunda estiver a superfície do leito em relação ao nível do solo, maior será a

dificuldade em substituir a areia antiga por material novo. Ainda no tocante à

manutenção do filtro de areia, para que a operação não seja interrompida por muito

tempo, é plausível adquirir areia para reposição com antecedência, e de preferência,

com as mesmas características da que vinha sendo utilizada. Deve-se considerar,

também, a reutilização da areia removida, reservando uma área para secagem e

posterior estocagem.

A qualidade do efluente final deverá ser observada conforme o destino

pretendido. Mas, para a prevenção de contaminação por doenças de transmissão

feco-oral é possível promover a desinfecção no próprio tanque de armazenamento

pela aplicação de cloro nas devidas proporções em função do volume de efluente

tratado reservado.

De acordo com a área requerida, a combinação de unidades de tratamento

apresentada mostra-se viável para atendimento de famílias em comunidades

isoladas, caracterizadas por chácaras, sítios, condomínios residenciais ou

comunidades ribeirinhas. Nessas localidades, apesar de apresentarem diferentes

configurações e usos do solo, normalmente, há de espaço suficiente nos lotes para

construção de sistemas individuais ou coletivos.

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6. CONCLUSÕES

A implantação de um sistema simplificado constituído por tanque

séptico, filtro anaeróbio e filtro de areia é viável para o tratamento de esgoto

doméstico de uma pequena comunidade, não requerendo mão de obra

especializada para construção e operação;

As cascas de coco verde (Cocos nucifera) se mostraram satisfatórias

como material de recheio do filtro anaeróbio, não interferindo no pH em uma faixa

adequada às bactérias fermentativas e metanogênicas, sem acúmulo de AOV,

sendo responsável pela remoção de, em média, 50% e 71% de DBO e DQO, de até

87% de SST e de 80% da turbidez afluente;

A presença do filtro de areia como unidade aeróbia foi providencial

para produzir um efluente final adequado ao lançamento em corpos hídricos quanto

aos parâmetros pH, condutividade, turbidez, OD, SST, DQO e DBO. Já as

concentrações de nitrogênio e fósforo estiveram, na maioria das análises, acima do

limite máximo permitido pelas legislações para reúso na agricultura e lançamento;

As concentrações finais de coliformes totais e de E. coli foram

reduzidas em 1 log e 2 log, respectivamente, aproximando a qualidade do líquido à

verificada em corpos d’água Classe 3, segundo a concentração estabelecida pela

legislação brasileira (CONAMA nº 357, 2005) para esses parâmetros biológicos.

O resultado para o teste de presença/ausência de ovos de helminto

nos lodos do tanque séptico e do filtro anaeróbio foi negativo, revelando a provável

inexistência de indivíduos infectados usuários dos sanitários durante o período

estudado;

Os intervalos entre a manutenção do filtro de areia utilizando areia

média foram de 10 a 14 semanas. Após a substituição por areia grossa, houve um

ganho de 2 a 3 semanas até o entupimento da camada superficial;

A parcela de material orgânico presente na areia colmatada removida

do filtro é rapidamente degradada quando exposta ao ambiente, levando 12 dias

para predomínio (~100%) de STF, permitindo posterior reúso;

A qualidade do efluente final está de acordo aos limites estabelecidos

pela norma técnica nacional (NBR 15900:2009) para água de reúso para

amassamento de concreto. Também apresentou índices favoráveis ao uso na

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agricultura para disposição no solo (com exceção apenas dos compostos

nitrogenados), necessitando desinfecção para contato direto.

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7. RECOMENDAÇÕES

Estudar diferentes possibilidades de aplicação do efluente sobre o filtro

de areia para melhor distribuição;

Avaliar a eficiência do filtro de areia quando em superfície exposta

(protegida da chuva);

Avaliar o reúso da areia colmatada após secagem, comparando-se o

tempo entre as manutenções ao da areia nova e eficiência obtida nos dois casos;

Realizar testes físicos (como tempo de pega e resistência à

compressão) para avaliação do reúso do efluente tratado em diferentes proporções

no amassamento de concreto para fabricação de pisos;

Analisar o custo-benefício do projeto diante da economia de água

disponível para reúso na produção de pisos.

Incluir nos projetos em escala real a etapa de comunicação e

informação destinada às pessoas envolvidas (proprietários, funcionários, moradores,

etc.) para auxiliar na gestão do sistema de tratamento quanto à aplicabilidade do

mesmo e cuidados de manuseio do efluente tratado.

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9. ANEXOS

Curva Granulométrica