toxicologia ambiental

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE FARMÁCIA TOXICOLOGIA AMBIENTAL JOÃO PAULO BIANCHINI MAUREEN LIANA LADEHOFF

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Page 1: Toxicologia ambiental

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE FARMÁCIA

TOXICOLOGIA AMBIENTAL

JOÃO PAULO BIANCHINIMAUREEN LIANA LADEHOFF

ITAJAÍ (SC), JUNHO 2003

Page 2: Toxicologia ambiental

1 INTRODUÇÃO

Desde que o homem habita a face da Terra, várias de suas ações resultam no

lançamento de substâncias químicas nos diversos compartimentos do meio ambiente. A

partir da descoberta do fogo, as fogueiras contribuíam para o aumento do monóxido de

carbono no ar atmosférico. No início, o incremento dessas substâncias era ínfimo e não

chegava a comprometer o ecossistema. Entretanto, com o crescimento da população, a

industrialização, o desenvolvimento tecnológico e o uso de praguicidas e fertilizantes na

agropecuária, para a produção de mais alimentos, a quantidade de substâncias liberadas

tornou-se de tal vulto, que atualmente há necessidade de medidas adequadas de controle,

de modo a evitar situações que acabem por desequilibrar o ecossistema. O desequilíbrio

causado pode resultar em eliminação de diversas espécies animais ou vegetais e até do

próprio ser humano.

Na área da toxicologia ambiental é necessário conhecer as fontes de poluição; a

interação dos poluentes com os componentes da atmosfera; os mecanismos naturais de

remoção dos mesmos e fatores geográficos e climáticos que aumentam ou diminuem o

risco, com o objetivo de se estudarem os efeitos nocivos decorrentes da exposição a esses

xenobióticos.

A finalidade no âmbito dessa área da toxicologia é verificar as condições de risco,

para propor medidas preventivas, como as monitorizações ambiental e biológica e o

controle das fontes emissoras de poluição.

Page 3: Toxicologia ambiental

2 TOXICOLOGIA AMBIENTAL

A toxicologia ambiental pode ser conceituada como a área em que se estudam os

efeitos nocivos causados em organismos vivos pelas substâncias químicas presentes no

meio ambiente.

Contaminantes ou poluentes são substâncias químicas que excedem as

concentrações naturais e causam efeitos adversos nos seres vivos ou no ecossistema. E

poluição atmosférica é qualquer alteração quali ou quantitativa da constituição normal da

atmosfera suficiente para produzir um efeito mensurável sobre o homem, outros animais,

vegetais e minerais.

A idéia de poluição ambiental abrange uma série de aspectos, que vão desde a

contaminação do ar, água e solo, até a desfiguração da paisagem, erosão de monumentos e

edificações e a contaminação dos alimentos. Pretende-se enquadrar, neste contexto,

poluição ambiental aos fatores do meio ambiente que possam comprometer a saúde e a

sobrevivência do homem.

As fontes de poluição ambiental podem ser de origem natural ou antropogênica e

são a seguir exemplificadas:

a) Naturais – provenientes de fenômenos da natureza:

- atividade vulcânica;

- incêndios florestais, não causados pelo homem;

- maré vermelha;

- acúmulo de arsênio em animais marinhos ou água.

b) Antropogênicas – decorrentes das atividades humanas:

b1) Doméstica e urbana:

- esgoto doméstico;

- lixo doméstico;

- veículos automotores.

b2) Industrial:

- esgoto industrial;

- lixo industrial;

- queima de combustível.

b3) Agropecuária:

- queimadas;

Page 4: Toxicologia ambiental

- fertilizantes;

- praguicidas.

2.1 Poluentes da atmosfera

A atmosfera é a camada de gases que envolve a Terra e é dividida em troposfera,

estratosfera, mesosfera, termosfera ou ionosfera.

A troposfera é a camada da atmosfera próxima à superfície terrestre, e constitui o ar

que respiramos.

O ar é uma mistura de gases, constituído por nitrogênio (78,08%), oxigênio

(20,95%), argônio (0,93%), dióxido de carbono (0,035%) e outros gases. O dióxido de

carbono e o vapor de água têm concentração variável dependendo do local e época do ano.

Milhares de substâncias químicas podem estar presentes no ar poluído; a

composição varia dependendo do tipo da fonte emissora, local e época da emissão.

2.1.1 Classificação dos poluentes do ar

Os poluentes do ar são classificados em primários e secundários. Primários são

aqueles emitidos diretamente na atmosfera por uma fonte identificável. Secundários são

aqueles produzidos no ar, pela interação de um ou mais poluentes primários, com os

constituintes normais da atmosfera.

Os contaminantes ou poluentes primários responsáveis por mais de 98% da

poluição do ar, dos principais centros urbanos do mundo são: monóxido de carbono (CO);

óxidos de enxofre (SOx); hidrocarbonetos (HC); material particulado (MP) e óxidos de

nitrogênio (NOx).

O CO é lançado em maior quantidade, seguido de SOx e dos HC. Porém, em termos

de risco, os SOx são mais nocivos, com risco estimado de 34,6% em relação aos outros

poluentes primários, seguido pelo MP, NOx e HC e depois o CO.

Como exemplos de poluentes secundários têm-se o ozônio, presente em baixas

altitudes, ácido sulfúrico, nitratos de peroxiacila (PAN), etc.

Page 5: Toxicologia ambiental

2.1.2 Classificação das fontes emissoras

As fontes emissoras dividem-se em estacionárias (fixas), como as indústrias, e

móveis, como os veículos automotores.

As fontes estacionárias contribuem com a eliminação, em maior porcentagem, de

SOx e MP, e as fontes móveis com maior eliminação de CO, HC e NOx.

2.1.3 Efeitos tóxicos causados pelos poluentes do ar

Os principais tipos de efeitos tóxicos apresentados pela população exposta são:

Agudos: lacrimejamento, dificuldade de respiração e diminuição da capacidade

física.

Crônicos: alteração da acuidade visual, alteração da ventilação pulmonar, asma,

bronquite, doenças cardiovasculares, enfisema pulmonar e câncer pulmonar.

O grupo de maior risco, entre a população, é aquele mais susceptível a ação dos

poluentes, como os idosos, as crianças e os portadores de deficiência respiratória ou

cardíaca.

2.1.4 Avaliação da poluição do ar

A monitorização ambiental é utilizada como procedimento de controle da qualidade

do ar. Ao se determinar a concentração de um poluente neste compartimento, mede-se o

grau de exposição de receptores, como o homem.

Para evitar ou diminuir os efeitos tóxicos dos poluentes são propostos padrões de

qualidade, ou seja, limites de concentração no ar para estes agentes dispersos na atmosfera.

Um padrão de qualidade do ar define legalmente um limite máximo para a

concentração de um componente atmosférico, que garanta a proteção da saúde e do bem-

estar das pessoas.

São selecionados como indicadores da qualidade do ar, baseando-se na

recomendação de diversas instituições internacionais: dióxido de enxofre (SO2), material

particulado em suspensão (MPS), monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC),

Page 6: Toxicologia ambiental

óxidos de nitrogênio (NO e NO2) e ozônio (O3), como protótipo dos oxidantes

fotoquímicos.

Os objetivos da monitorização ambiental são: avaliar a qualidade do ar em relação

aos limites legais; fornecer subsídios para a proposta de ações adequadas, inclusive ações

de emergência no caso de ultrapassagem dos limites; acompanhar as alterações e as

tendências da qualidade do ar no decorrer do tempo.

2.1.5 Estudo dos principais poluentes da atmosfera

2.1.5.1 Compostos de enxofre (SOx)

A emissão global de SOx de fontes naturais e antropogênicas é mais ou menos

equivalente. As fontes naturais são os vulcões e a destruição da matéria orgânica.

A maior parte do SOx antropogênico provém da combustão de carvão e derivados

de petróleo nas usinas elétricas (carboelétricas e termoelétricas), siderúrgicas,

metalúrgicas, etc. A emissão de SOx por veículos automotores é pequena (Diesel).

O SO2, um gás de odor desagradável e irritante, é o protótipo deste grupo de

compostos. Ele é um poluente primário que se forma na queima de combustíveis que

contenham enxofre, como carvão e óleo combustível.

O SO2 é um gás hidrossolúvel, portanto, é retido nas vias aéreas superiores, onde

pode causar rinite, laringite e faringite, devido à sua ação irritante. Causa, também,

broncoconstrição e aumento da secreção e muco. Leva a um aumento da resistência à

passagem do fluxo de ar.

O H2SO4, contaminante secundário, é também um irritante de vias aéreas superiores

(nasofaringe), podendo causar bronquite crônica.

Os sulfatos formados são também irritantes, sendo que a capacidade irritante está

ligada ao cátion e o local de ação depende do tamanho da partícula. Causam inflamação e

broncoconstrição.

A prevenção é feita pelo controle das fontes de exposição, em geral indústrias,

adotando-se medidas como:

- substituir o carvão por outra fonte de energia;

Page 7: Toxicologia ambiental

- retirar o enxofre dos combustíveis;

- tratar o efluente gasoso com CaCO3 ou Ca(OH)2;

- utilizar chaminés altas.

2.1.5.2 Material particulado (MP)

O material particulado compreende uma série de substâncias químicas lançadas na

atmosfera na forma de partículas sólidas ou líquidas. Sua composição e propriedades

químicas são extremamente variáveis. A maior fonte de MP são as fontes estacionárias

(industriais) como mineração, pedreiras, siderúrgicas, indústria de cimento, etc. As fontes

móveis são responsáveis por menos de 30% do MP lançado no meio ambiente.

O material particulado é classificado em: poeiras, fumos, fumaças, névoas e

neblinas.

Poeiras são dispersóides sólidos gerados por desagregação mecânica. Portanto,

poeira tem a constituição química do material que lhe dá origem. O diâmetro é variável,

desde 0,01 a 100 m. Ex.: talco, asbesto (amianto), óxido de ferro, algodão, linho,

cânhamo, etc.

Fumos são aerodispersóides sólidos gerados em processos de combustão,

sublimação, fundição, etc. Portanto, as partículas sólidas resultantes são diferentes do

material que lhe dá origem. Diâmetro muito pequeno, menor que 0,1 m, como por

exemplo os fumos de metais. É interessante lembrar que a poeira impressiona e suja mais

que o fumo, mas o risco de intoxicação por fumos é maior.

Fumaça são aerodispersóides sólidos formados pela combustão de matéria

orgânica. O diâmetro é menor que 0,5 m, podendo atingir alvéolos pulmonares.

Névoas são partículas líquidas, obtidas por processos mecânicos quaisquer. O

diâmetro é muito variável, dependendo do sistema, por exemplo spray.

Neblina são partículas obtidas por condensação de vapores. Tem-se como exemplo,

neblinas de ácido sulfúrico provenientes do aquecimento de cubas eletrolíticas contendo o

ácido.

As partículas são removidas da atmosfera por sedimentação (deposição seca) ou

arrastadas pela chuva na forma de deposição úmida.

Do ponto de vista toxicológico interessam as partículas com diâmetro menor que 30

m, pois, estas têm condições de serem inaladas e absorvidas, enquanto aquelas com maior

Page 8: Toxicologia ambiental

diâmetro, sedimentam-se facilmente, embora possam causar problemas de contaminação

da água e do solo.

Partículas com diâmetro entre 5 a 30 m depositam-se na região nasofaringe do

trato respiratório, por impactação. Se o diâmetro for de 1 a 5 m ocorre a deposição por

sedimentação, na região traqueobronquial. Partículas menores que 1 m podem atingir os

alvéolos, por difusão (movimento browniano).

O efeito tóxico está relacionado ao tipo de substância presente no material

particulado. Assim, o asbesto pode causar asbestose, a sílica causa silicose.

De uma maneira geral o MP contribui para o aumento da incidência de doenças

respiratórias, como a bronquite e a asma, na população exposta. Quando a quantidade de

MP é muito grande como por exemplo em erupções vulcânicas, ocorre uma diminuição da

luz solar para a superfície da terra, causando resfriamento da mesma, podendo afetar a vida

na terra.

O principal risco associado à emissão de partículas é que as mesmas podem

adsorver gases tóxicos como SOx e NOx, que podem ser carreados, desta maneira, até

alvéolos, e aí causar um dano significativo. O SO2 normalmente é retido e eliminado nas

vias respiratórias superiores, mas quando é adsorvido em partículas muito pequenas, ele

atinge áreas de maior susceptibilidade, ocorrendo um efeito sinérgico.

Como o MP é emitido principalmente por indústrias, o controle da emissão é feito

por equipamentos antipoluição como:

- separadores mecânicos, por gravidade ou centrifugação (ex.: câmaras de

poeira);

- precipitadores eletrostáticos;

- lavadores na saída das chaminés;

- filtros de tela ou carvão ativado.

2.1.5.3 Monóxido de carbono (CO)

O monóxido de carbono é um gás inodoro e incolor, forma-se na combustão

incompleta da matéria carbonada.

O CO é o poluente lançado em maior quantidade na atmosfera. A maior parte é

produto da combustão dos veículos automotores, principalmente dos movidos a gasolina.

Page 9: Toxicologia ambiental

Dentre as indústrias, as siderúrgicas são grandes produtoras de CO. Há, também, as

fontes naturais como atividade vulcânica, descargas elétricas durante tempestades, emissão

de gás natural que levam a uma concentração média mundial de 0,09 ppm. A quantidade

produzida pelo homem, em termos globais, é semelhante a resultante dos processos

biogeoquímicos naturais.

Os motores desregulados produzem grande quantidade de CO. Fornos e fornalhas

emitem uma quantidade bem menor de CO desde que estejam bem regulados.

Podem ser encontradas concentrações significativas de CO em cozinhas e áreas mal

ventiladas onde existam aquecedores, grelhas ou fumantes.

Ele é removido do ar pela lenta oxidação a CO2. A maior taxa de remoção de CO,

cerca de 500 milhões de ton/ano, é feita por microorganismos do solo. Algumas plantas

fanerógamas podem fixar o CO e algumas algas oxidam o CO a CO2.

O mecanismo de ação tóxica ocorre pela reação entre o CO e a hemoglobina, com a

formação de carboxiemoglobina (COHb), que não transporta o O2 para as células,

causando anóxia tecidual. A concentração normal de carboxiemoglobina no sangue de

indivíduos não fumantes é de 0,5%.

Tabela 01: Relação entre a porcentagem de COHb no sangue e efeitos nocivos.

[COHb] Efeito nocivo

< 1% Nada observável

1-2% Alteração sutil do comportamento

2-5% Efeitos sobre o SNC

- diminuição da capacidade de distinguir espaço/tempo

- falhas na acuidade visual

- alterações nas funções motoras

> 5% Alterações cardiovasculares

Page 10: Toxicologia ambiental

Tabela 02: Relação entre teor de CO no ar, de COHb no sangue e sinais e sintomas de

intoxicação.

Conc. de CO (ppm) % de COHb Sinais e sintomas

60 10% Dificuldade visual, cefaléia

130 20% Dores abdominais, cefaléia, desmaios

200 30% Desmaio, paralisia, distúrbios respiratórios, colapso

circulatório

600 50% Bloqueio das funções respiratórias, paralisia, coma

Para o controle das fontes móveis é recomendado:

- regulagem do carburador para que a combustão seja completa;

- reatores nas saídas dos gases do escapamento (catalisadores);

- troca de combustível (ex.: gás natural, álcool);

- carro elétrico.

Para o controle das fontes estacionárias são utilizados:

- reatores catalíticos.

2.1.5.4 Compostos de nitrogênio (NOx)

O óxido nítrico ou monóxido de nitrogênio (NO) e o dióxido de nitrogênio (NO2)

são constituintes normais da atmosfera, provenientes de fontes naturais. Certas bactérias

emitem grande quantidade de óxido nítrico na atmosfera. Esta fonte natural não pode ser

controlada.

Os óxidos de nitrogênio (NOx) são poluentes primários e a maior fonte

antropogênica é a combustão. As fontes móveis são as principais responsáveis pela sua

emissão, mas fontes estacionárias, como usinas geradoras de eletricidade, também liberam

NOx.

Nos gases efluentes de veículos predomina o NO, que é incolor. Já o NO2 é marrom

alaranjado e reduz a visibilidade.

A maioria de NOx é transformada em ácido nítrico e nitratos. Estes compostos

depositam-se sobre a terra e o mar, arrastados pelas chuvas ou pela sedimentação como

macropartículas. Assim, a terra e o mar são o depósito final dos óxidos de nitrogênio.

Page 11: Toxicologia ambiental

Pode ocorrer no ar a fotólise do NO2, com a formação de ozônio a baixas altitudes,

o acúmulo de O3 deve-se a interferência de hidrocarbonetos no ciclo fotolítico.

Apesar de ser lançado em maior quantidade, o NO não causa nenhum efeito

significativo sobre o homem, nas concentrações atingidas na atmosfera.

O NO2 é um gás irritante, lipossolúvel, atingindo por isso as vias aéreas inferiores.

Os efeitos principais são o enfisema pulmonar, a longo prazo, e edema pulmonar no caso

de intoxicação aguda, pois causa peroxidação lipídica.

O ácido nítrico é irritante e é componente da chuva ácida.

O controle das fontes móveis é realizado pelo uso de reatores catalisadores e

regulagem do motor.

2.1.5.5 Hidrocarbonetos (HC)

Os hidrocarbonetos são contaminantes primários e têm importância pela grande

variedade de fontes e volume de suas emissões no ar e, principalmente, pela interferência

no ciclo fotolítico do NO2.

A vegetação e a fermentação bacteriana liberam HC, principalmente metano e

terpenos. Os HC produzidos e liberados pelas atividades humanas constituem cerca de 1/7

do total de HC na atmosfera.

Os HC podem ser liberados por evaporação de combustíveis como a gasolina. Os

HC que não se queimam totalmente durante a combustão da gasolina, petróleo, carvão e

madeira, também vão para a atmosfera.

Os veículos automotores são os principais responsáveis pela liberação HC no meio

ambiente.

Os HC, principalmente os insaturados, interferem no ciclo fotolítico do NO2,

levando a formação de contaminantes secundários, altamente oxidantes como: ozônio,

aldeídos e nitrato de peroxiacila (PAN). Estas substâncias constituem o smog fotoquímico

ou smog oxidante.

Os HC, na sua maioria, não causam efeitos significativos no homem, nas

concentrações que podem ser atingidas no ar. Constituem exceção os hidrocarbonetos

aromáticos policíclicos (PAH), como, por exemplo, o benzo(a) pireno, que são

carcinógenos para o homem.

Page 12: Toxicologia ambiental

Os oxidantes fotoquímicos, como os aldeídos e o PAN, são hidrossolúveis, sendo

irritantes de vias aéreas superiores. O O3 é lipossolúvel, portanto, é irritante de vias aéreas

inferiores, podendo causar edema pulmonar e enfisema, sua ação tóxica dá-se por

lipoperoxidação.

Como as principais fontes emissoras são os veículos automotores, principalmente

os movidos a gasolina, os meios de controle são:

- regulagem do motor;

- utilização de reatores catalisadores;

- troca de combustível (álcool);

- uso de dispositivos especiais que impeçam a evaporação pelo tanque de

combustível.

2.1.6 Fenômenos atmosféricos e a poluição do ar

Além dos problemas decorrentes da poluição terem uma importância localizada,

principalmente em centros urbanos industrializados, a poluição assume um significado

global quando se observam efeitos como: destruição da camada de ozônio, deposição

ácida, efeito estufa, etc.

2.1.6.1 Chuva ácida

Essa precipitação ácida apresenta valores de pH entre 4 e 5, mas pode atingir

valores menores, em alguns casos até pH ao redor de 2.

Essa deposição ácida diminui o pH de lagos, rios e solo e tem um efeito acentuado

em animais e plantas. Em pH 5,9 a população de animais aquáticos decresce e alguns

desaparecem. Em pH 5,4 os peixes não se reproduzem.

A chuva ácida, provoca também destruição de florestas e corrosão de monumentos.

Efeitos nocivos diretos sobre o homem não são conhecidos ao certo, e só se tem

registro que a chuva ácida pode causar irritação do trato respiratório e membranas

mucosas.

Page 13: Toxicologia ambiental

2.1.6.2 Inversão térmica

A temperatura do ar na atmosfera é normalmente mais elevada nas camadas

próximas da superfície terrestre, e diminui à medida que aumenta a altitude.

O ar quente é menos denso e tende a subir para as camadas mais elevadas. Assim,

ocorre um movimento ascendente do ar quente e descendente do ar frio, que é mais denso

(correntes de convecção). Estes movimentos ocorrem normalmente na troposfera e, graças

a esta mobilidade, os poluentes podem subir junto com o ar e dispersar-se nas camadas

superiores.

Em algumas situações, como no inverno, a terra estando mais fria, resfria o ar

próximo ao solo, ficando a camada de ar quente acima, impedindo o movimento de

convecção, formando uma camada de inversão térmica. Na camada de inversão, o ar frio

está embaixo do ar quente, e ela funciona como uma camada estagnada que impede a

dispersão dos poluentes, se eles estiverem presentes.

Com a atmosfera limpa este fenômeno não causa problemas. Mas quando ocorre

inversão, na presença de poluentes, eles não se dispersam, acumulando-se. Essa situação de

inversão térmica pode durar vários dias antes de ser dissipada.

2.1.6.3 Smog

O termo smog surgiu da associação das palavras inglesas smoke (fumaça) + fog

(neblina). O fenômeno significa um acúmulo de poluentes no ar, causado por inversão

térmica, por condições topográficas, ou por persistência de sistemas atmosféricos de alta

pressão.

Há dois tipos característicos de smog, o redutor e o oxidante. O smog oxidante,

também denominado smog tipo Los Angeles ou fotoquímico, é rico em óxidos de

nitrogênio, aldeídos, ozônio e PAN, resultantes da ação da luz sobre o NO2.

O smog redutor, também denominado smog tipo Londres, é rico em óxidos de

enxofre e fuligem, provenientes principalmente da queima do carvão.

Page 14: Toxicologia ambiental

2.1.6.4 Efeito estufa

A troposfera permite a passagem das radiações solares que chegam à Terra, no

entanto, impede a saída da radiação refletida, conservando parte da energia recebida, sendo

responsável pela manutenção da temperatura na superfície terrestre, garantindo a

sobrevivência das espécies animais e vegetais.

O vapor de água, o dióxido de carbono (CO2) e pequena quantidade de outros gases

são os elementos que retêm parte dos raios infravermelhos irradiados da terra. Esse efeito é

conhecido como efeito estufa ou efeito greenhouse.

Um aumento da liberação de CO2 e seu acúmulo na atmosfera levam a um aumento

da temperatura na superfície terrestre. Vários estudiosos alegam que com o aumento da

emissão de CO2, proveniente de queimadas e incêndios florestais, e a utilização de

combustíveis no ritmo atual, haveria um incremento da temperatura de 1 ºC, até o ano 2000

e de 2 ºC para o ano 2040.

Um aumento da temperatura alteraria o modelo de precipitações da chuva,

mudando regiões de agricultura, destruindo algumas espécies animais e vegetais. Pode

ocorrer, também, a desertificação de algumas áreas com a diminuição da produção de

alimentos. Outro perigo seria a fusão da capa de gelo das regiões polares, com o aumento

do nível de água do mar e inundação de cidades litorâneas.

2.1.6.5 Redução da camada de ozônio

O ozônio (O3) existente na estratosfera é formado pela ação da radiação ultravioleta

com o oxigênio.

A concentração de ozônio na estratosfera não poluída permanece relativamente

constante, dentro de variações sazonais e anuais. A camada de ozônio serve de filtro para

as radiações UV, de comprimento de onda entre 200 e 350 nm.

Compostos como clorofluorcarbonos (CFC) podem causar diminuição do O3 da

estratosfera. A partir da década de 30, esses compostos estão sendo utilizados em diversas

aplicações industriais, como propelentes de aerossóis, gases de refrigeração, fluidos de ar

condicionado, fabricação de embalagens de isopor, etc. Os CFC são altamente estáveis,

pouco reativos, não inflamáveis e não tóxicos, que, ao serem liberados na troposfera,

Page 15: Toxicologia ambiental

atingem a estratosfera muito lentamente. Uma molécula do CFC destrói muitas moléculas

de O3.

Os vôos supersônicos que liberam toneladas de NO a grandes altitudes também são

responsáveis pela destruição da camada de O3 da estratosfera.

Um enorme e crescente buraco na camada de ozônio sobre a Antártica foi

descoberto na década de 80, e medidas urgentes devem ser tomadas para tentar solucionar

este problema.

A EPA (Environmental Protection Agency) dos Estados Unidos estima que a

redução de 10% da camada de ozônio, prevista para a metade deste século, causaria cerca

de 2 milhões de casos de câncer de pele a mais do que o esperado por ano. Além disso,

haveria prejuízos na agricultura e na vida aquática.

2.2 Poluentes da água

Os rios, os lagos, os oceanos e os lençóis subterrâneos de água são o destino final

dos poluentes solúveis lançados no ar ou no solo. A matéria orgânica transportada pelos

esgotos faz proliferar os microrganismos, entre os quais bactérias e protozoários, que

utilizam o oxigênio existente na água para a degradação de compostos orgânicos. A

presença excessiva destas bactérias pode provocar uma grave depleção de oxigênio no

meio aquático. Os detergentes sintéticos, nem sempre biodegradáveis, aumentam as

concentrações de fosfatos provocando a eutrofização das algas originando um excesso de

matéria orgânica na água. A presença de uma grande concentração de algas diminui a

entrada de luz na coluna de água tendo como conseqüência a desertificação das zonas mais

profundas.

Ao serem carregados pela água da chuva ou pela erosão do solo, os fertilizantes

químicos usados na agricultura provocam a proliferação dos microrganismos e a

conseqüente redução da taxa de oxigênio nos rios, lagos e oceanos. Os pesticidas

empregados na agricultura são produtos sintéticos de origem mineral, extremamente

recalcitrantes, que se incorporam à cadeia alimentar, inclusive a humana. Entre eles, um

dos mais conhecidos é o inseticida DDT. Mercúrio, cádmio e chumbo lançados à água são

elementos tóxicos, de comprovado perigo para a vida animal.

Page 16: Toxicologia ambiental

Os casos mais dramáticos de poluição marinha têm sido originados por

derramamentos de petróleo, seja em acidentes com petroleiros ou em vazamentos de poços

petrolíferos submarinos. Uma vez no mar, a mancha de óleo, às vezes de dezenas de

quilômetros, se espalha, levada por ventos e marés, e afasta ou mata a fauna marinha e as

aves aquáticas. O maior perigo do despejo de resíduos industriais no mar reside na

incorporação de substâncias tóxicas aos peixes, moluscos e crustáceos que servem de

alimento ao homem. Exemplo desse tipo de intoxicação foi o ocorrido na cidade de

Minamata (Japão) em 1973, devido ao lançamento de mercúrio no mar por uma indústria,

fato que causou envenenamento em massa e levou o governo japonês a proibir a venda de

peixe. A poluição marinha tem sido objeto de preocupação dos governos, que tentam, no

âmbito da Organização das Nações Unidas, estabelecer controles por meio de organismos

jurídicos internacionais.

A poluição da água tem causado sérios problemas ecológicos no Brasil, em especial

em rios como o Tietê, no estado de São Paulo, e o Paraíba do Sul, nos estados de São Paulo

e Rio de Janeiro. A maior responsabilidade pela devastação da fauna e pela deterioração da

água nessas vias fluviais cabe às indústrias químicas instaladas em suas margens.

2.3 Poluentes do solo

O solo, como recurso natural básico, disponibiliza múltiplas funções ou serviços

aos seres vivos em geral e ao homem em particular, constituindo:

Componente fundamental dos ecossistemas e dos ciclos naturais;

Reservatório de água;

Suporte essencial do sistema agrícola;

Espaço para as atividades humanas e para os resíduos produzidos.

Para que o solo mantenha as múltiplas capacidades de suporte dos sistemas naturais

e agrícolas, é fundamental que as suas características estruturais permaneçam em equilíbrio

com os diversos sistemas ecológicos. Este condicionamento é tanto mais determinante

quanto o tipo de solo é frágil e pouco estável.

 A preocupação com os processos de degradação do solo vem sendo crescente, à

medida que se verifica que, para além da clássica desertificação por secura, outros

processos conducentes aos mesmos resultados se têm instalado, devidos a:

Page 17: Toxicologia ambiental

Utilização de tecnologias desadequadas em culturas de sequeiro;

Falta de práticas de conservação de água no solo;

Destruição da cobertura vegetal.

Um dos principais fenômenos de degradação dos solos é a contaminação,

nomeadamente por:

Resíduos sólidos e líquidos provenientes de aglomerados urbanos, na medida

em que a maioria é ainda depositada no solo sem qualquer controle, levando a

que os lixiviados produzidos e não recolhidos para posterior tratamento,

contaminem facilmente solos e águas, e por outro lado, o metano produzido

pela degradação anaeróbia da fração orgânica dos resíduos, pode acumular-se

em bolsas, no solo, criando riscos de explosão;

Águas contaminadas, efluentes sólidos e líquidos lançados diretamente sobre os

solos e/ou deposição de partículas sólidas, cujas descargas, continuam a ser

majoritariamente não controladas, provenientes da indústria, de onde se pode

destacar a indústria química, destilarias e lagares, indústria de celulose,

indústria de curtumes, indústria cimenteira, centrais termoelétricas e atividades

mineira e siderúrgica, assim como aquelas cujas atividades industriais

constituem maiores riscos de poluição para o solo;

Efluentes provenientes de atividades agrícolas , de onde se destacam aquelas que

apresentam um elevado risco de poluição, como sendo, as agropecuárias

intensivas (suinoculturas), com taxa bastante baixa de tratamento de efluentes,

cujo efeito no solo depende do tipo deste, da concentração dos efluentes e do

modo de dispersão, os sistemas agrícolas intensivos que têm grandes

contributivos de pesticidas e adubos, podendo provocar a acidez dos solos, que

por sua vez facilita a mobilidade dos metais pesados, e os sistemas de rega, por

incorreta implantação e uso, podem originar a salinização do solo e/ou a

toxicidade das plantas com excesso de nutrientes;

Uso desmedido das lamas de depuração e de águas residuais na agricultura, por

serem materiais com elevado teor de matéria orgânica e conterem elementos

biocidas que deverão ser controlados para reduzir os riscos de acumulação.

O processo de contaminação, pode então se definir como a adição no solo de

compostos, que qualitativa e/ou quantitativamente podem modificar as suas características

naturais e utilizações, produzindo então efeitos negativos, constituindo poluição. Estando a

contaminação do solo diretamente relacionado com os efluentes líquidos e sólidos neste

Page 18: Toxicologia ambiental

lançados e com a deposição de partículas sólidas (lixeiras), independentemente da sua

origem, salienta-se a imediata necessidade de controle destes poluentes, preservando e

conservando a integridade natural dos meios receptores, como sendo os recursos hídricos,

solos e atmosfera.

2.3.1 Tratamento do solo contaminado

Uma investigação efetuada por um núcleo de investigação em Microbiologia

Ambiental, da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto, em

colaboração com dois laboratórios universitários do Reino Unido, testou a capacidade de

recuperação ambiental de solos e efluentes contaminados, mediante o uso de bactérias e

fungos.

Os poluentes, se fornecidos como fonte de alimento a fungos e bactérias, acabam

por ser degradados. Tanto os efluentes, como os solos por estes contaminados, ficam assim

purificados por tais microrganismos, que consomem, entre outros, compostos

organoclorados, produzidos por muitas indústrias químicas, farmacêuticas, de plásticos e

de pesticidas.

Outra vertente do projeto de investigação, foi o estudo dos fungos micorrízicos, na

sua ação conjunta com bactérias, tendo em vista a revegetação de solos, para a sua

requalificação ambiental.

Os fungos micorrízicos incrementam a absorção de nutrientes e de água pelas

plantas e assumem um papel importante no aprisionamento de metais. Esta característica

torna-os interessantes em aplicações como a despoluição de solos contaminados, através da

revegetação.

Terrenos que sofreram um processo de erosão, estão desertificados ou salinizados,

não suportando comunidades de plantas, também não integram a população natural de

fungos micorrízicos que se associam à vida vegetal. É o caso de solos danificados pela

atividade mineira ou indústria química. Através do repovoamento desses fungos, criam-se

condições para que as plantas autóctones voltem a desenvolver-se.

O interesse destas pesquisas pode estender-se não só a solos degradados por

poluentes orgânicos ou por metais, como também aos que sofrem de stress hídrico ou, por

alguma circunstância, se encontram empobrecidos.

Page 19: Toxicologia ambiental

3 AS NORMAS ISO 14000

O que são?

No início dos anos 90, a ISO (International Organization for Standardization)

reconheceu a necessidade de normalização das ferramentas de gestão no domínio

ambiental. Neste contexto, é criado em 1993 um comitê (Comitê Técnico TC 207) para

desenvolver as normas relacionadas com os seguintes campos ambientais:

Sistemas de Gestão Ambiental

A norma NP EN ISO 14001 é a norma de referência para a implementação de um

Sistema de Gestão Ambiental e especifica os requisitos que podem ser objetivamente

auditáveis para efeitos de certificação.

A norma ISO 14004 é um guia para a implementação de um Sistema de Gestão

Ambiental, funcionando como uma "Ferramenta interna" que providencia orientações para

a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental segundo a NP EN ISO 14001. Esta

norma inclui exemplos, descrições e opções que orientam quer na implementação do

sistema, quer no reforço de integração com o sistema geral de gestão da organização.

 

Auditorias Ambientais

A ISO 14010 estabelece os princípios gerais para a realização de Auditorias

Ambientais e aplica-se a todos os tipos de Auditorias Ambientais.

A ISO 14011 estabelece os procedimentos para planejar e conduzir uma auditoria a

um Sistema de Gestão Ambiental de forma a verificar a sua conformidade com os critérios

pré-definidos.

A ISO 14012 fornece indicações sobre os critérios para a qualificação de Auditores

Ambientais e Auditores Coordenadores e é aplicável quer a Auditorias Internas quer a

Externas.

 

Avaliação da Performance Ambiental

A norma ISO 14031 é uma norma cujo objeto é a definição de um processo de

avaliação do desempenho ambiental dos sistemas das organizações. Inclui exemplos de

indicadores ambientais.

 

Page 20: Toxicologia ambiental

Rotulagem Ecológica

As normas ISO 14020 são normas de referência para a rotulagem ecológica.

 

Análise em Ciclo de Vida

As normas ISO 14040 são normas desenvolvidas com o objetivo de encorajar as

entidades oficiais, as organizações privadas e o público para uma abordagem dos assuntos

ambientais de forma integrada durante todo o seu ciclo de vida ("desde o berço até à

cova").

 

Termos e Definições

A norma ISO 14050 define a terminologia aplicada nesta matéria.

Page 21: Toxicologia ambiental

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OGA, S. Fundamentos de toxicologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2003.

http://www.naturlink.pt/default.asp?iLingua=1