tortura nunca mais - red

4
1 Ensino médio Coletânea / Texto dissertativo Tortura nunca mais? Formada por sete membros e catorze auxiliares, nomeados pela presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, foi instalada em maio de 2012 a Comissão da Verdade, que deverá atuar por dois anos. Essa comissão visa inves- tigar violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, no Brasil, por agentes do Estado. Embora tenha o direito de convocar vítimas ou acusados das violações para depoimentos e ver todos os arquivos do poder público sobre o período, não terá o poder de punir ou recomendar que acusados de violar direitos humanos sejam punidos. Leia os textos que remetem ao tema. Texto 1 Quarenta anos depois Países que têm contas a acertar com ditaduras que se desfazem, ou com inimigos derrotados em guerra, têm à sua escolha dois, e só dois, caminhos. Ou julgam e punem imediatamente os condenados por crimes cometidos durante a ditadura ou a guerra — e, tendo feito isso, encerram o assunto de uma vez por todas. Ou, então, não agem na hora, por não terem a força indispensável para punir, ou porque preferem deixar as decisões para depois — e, nesse caso, não acertam as contas nunca mais. O Brasil de hoje, com a sua Comissão Nacional da Verdade, imagina que pode descobrir uma terceira via. [...] Ajustes verdadeiros com o passado são um assunto sério — é coisa para quem realmente quer, e para quem pode. O exemplo mais notável desse tipo de ação na história moderna talvez seja o Tribunal de Nuremberg — uma série de julgamentos políticos feitos pelos Estados Unidos e seus aliados contra autoridades da Alemanha nazista, que tinham acabado de derrotar na Segunda Guerra Mundial. HTTP://POLITICANACIONAL-SALE.BLOGSPOT.COM.BR

Upload: pepeu908

Post on 03-Feb-2016

215 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

1

TRANSCRIPT

Page 1: Tortura Nunca Mais - REd

1

Ensino médio Coletânea / Texto dissertativo

Tortura nunca mais?

Formada por sete membros e catorze

auxiliares, nomeados pela presidenta do

Brasil, Dilma Rousseff, foi instalada em

maio de 2012 a Comissão da Verdade, que deverá atuar por dois anos. Essa comissão visa inves-

tigar violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, no Brasil, por agentes do Estado.

Embora tenha o direito de convocar vítimas ou acusados das violações para depoimentos e ver

todos os arquivos do poder público sobre o período, não terá o poder de punir ou recomendar que

acusados de violar direitos humanos sejam punidos. Leia os textos que remetem ao tema.

Texto 1

Quarenta anos depois

Países que têm contas a acertar com ditaduras que se desfazem, ou com inimigos derrotados em

guerra, têm à sua escolha dois, e só dois, caminhos. Ou julgam e punem imediatamente os condenados

por crimes cometidos durante a ditadura ou a guerra — e, tendo feito isso, encerram o assunto de uma

vez por todas.

Ou, então, não agem na hora, por não terem a força indispensável para punir, ou porque preferem

deixar as decisões para depois — e, nesse caso, não acertam as contas nunca mais. O Brasil de hoje, com

a sua Comissão Nacional da Verdade, imagina que pode descobrir uma terceira via. [...]

Ajustes verdadeiros com o passado são um assunto sério — é coisa para quem realmente quer, e

para quem pode. O exemplo mais notável desse tipo de ação na história moderna talvez seja o Tribunal

de Nuremberg — uma série de julgamentos políticos feitos pelos Estados Unidos e seus aliados contra

autoridades da Alemanha nazista, que tinham acabado de derrotar na Segunda Guerra Mundial.

HTT

P://

PO

LITI

CA

NA

CIO

NA

L-S

ALE

.BLO

GS

PO

T.C

OM

.BR

Page 2: Tortura Nunca Mais - REd

2

O tribunal começou a funcionar em outubro de 1945, logo após a rendição alemã; em apenas um ano,

deu todas as sentenças que lhe cabiam e encerrou seu trabalho. Dos 22 acusados principais, doze foram

condenados à morte e executados; outros três pegaram prisão perpétua. [...]

E agora, em 2012: o que pode fazer nossa Comissão Nacional da Verdade? [...] A missão que lhe foi

atribuída é impossível: teria de examinar delitos cometidos entre 1946 e 1988. [...] Que dons sobrenaturais

teriam os sete membros desse comitê para descobrir nada menos que a verdade? O único fato realmente

positivo em toda essa discussão, até agora, foi a posição da presidente Dilma Rousseff — presa e tortu-

rada aos 22 anos de idade, durante o regime militar, por participar de um grupo armado de combate ao

governo. Em suas últimas palavras sobre o tema, disse que o problema não são os torturadores, e sim a

tortura; é ela que tem de ser eliminada.

J. R. Guzzo, Veja, 4 jul. 2012.

Texto 2

Exposição “Ocupação Angeli”. Avenida Paulista, 149, São Paulo.

Texto 3

O bêbado e a equilibrista

[...] Que sufoco!

Louco!

O bêbado com chapéu-coco

Fazia irreverências mil

Prá noite do Brasil.

Meu Brasil!...

Que sonha com a volta

Do irmão do Henfil.

Com tanta gente que partiu

Num rabo de foguete

Chora!

A nossa pátria

Mãe gentil

Choram Marias

E Clarices

No solo do Brasil. [...]

Música composta por Aldir Blanc e João Bosco, lançada no LP Linha de passe, em

1979, gravada por Elis Regina, e que se tornou o hino da anistia.

Page 3: Tortura Nunca Mais - REd

3

Texto 4

Comissão da Verdade apurará morte de 140 vítimas da ditadura

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) divulgou nesta segunda-feira uma lista com 140 nomes de

vítimas da ditadura militar que serão temas de dossiês a partir das investigações dos crimes cometidos

à época. A lista inclui 21 desaparecidos e 80 mortos no estado de São Paulo, centro de maior repressão

do regime, principalmente entre os anos 1969 e 1976. Entre os nomes estão ainda 11 mortos e 28 desa-

parecidos fora de São Paulo, mas que nasceram no estado. [...]

Na reunião de hoje, ficou decidido que a Comissão Estadual da Verdade, criada pela Assembleia Le-

gislativa de São Paulo, funcionará como uma subseção da comissão nacional, com poderes, atribuições,

divisão de trabalho e responsabilidades. Haverá a assinatura de um termo de cooperação entre as duas

comissões, prevista para a segunda semana de outubro. [...]

No estado, as comissões pretendem rever as certidões de óbito das vítimas, a exemplo da revisão na

certidão de Vladimir Herzog. Já aquelas vítimas tidas como desaparecidas, que ainda não têm certidão

de óbito, ganharão o documento. [...]

http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI6177123-EI306,00-Comissao+d

a+Verdade+apurara+morte+de+vitimas+da+ditadura.html

Texto 5

A 2a Vara de Registros Públicos do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou nesta segunda-feira a

retificação do atestado de óbito do jornalista Vladimir Herzog. Segundo a retificação, sua “morte decorreu

de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (Doi-Codi)”.

[...]

Herzog foi preso no dia 25 de outubro de 1975, no período do regime militar, e levado para interro-

gatórios nas dependências do Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de

Defesa Interna (Doi-Codi), do 2o Exército.

Na versão das autoridades da época, ele teria cometido suicídio na prisão. No laudo da época, assinado

pelo legista Harry Shibata, consta que Herzog morreu “por asfixia mecânica” — expressão utilizada para

casos de enforcamento.

http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2012-09-25/justica-retifica-registro-de-obito-de-vladimir-herzog.html

Page 4: Tortura Nunca Mais - REd

4

Proposta de RedaçãoO período da ditadura militar remete a anos de repressão, morte, censura, medo e perseguição.

Por isso é um período que, para muitas pessoas, deve ser esquecido e remexê-lo é abrir feridas ci-

catrizadas. Consideram que a anistia — ampla, geral e irrestrita — instituiu o perdão para todos os

crimes cometidos, tanto pela direita como pela esquerda, e abriu espaço para a redemocratização do

país. No entanto, significativa parte da população brasileira acredita que muitas perguntas ficaram

sem resposta e é necessário colocar luz nesse período obscuro da política brasileira. E você, o que

pensa? Escreva um texto expondo seu ponto de vista sobre o tema, baseando-se, principalmente,

nos textos da coletânea. Lembre-se, um bom aproveitamento da coletânea não significa referência

a todos os textos. Selecione apenas os elementos que julgar pertinentes para o desenvolvimento

do seu ponto de vista. Seu texto não deve ultrapassar 30 linhas e deve ter um título atrativo.

Neusa Maria Araújo

Professora de língua portuguesa no ensino médio