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“Nada causa mais horror à ordem do que homens e mulheres que sonham.” PEDRO TIERRA GTNM/RJ JORNAL DO GRUPO TORTURA NUNCA MAIS/RJ - ANO 22 - Nº 64 - MARÇO 2008 Homenageados: Pça. da República, 173 - Centro Rio de Janeiro Arquivo Nacional CHICO MENDES de Resistência 2008 2008 2008 2008 2008 Dia 1º de abril às 18 horas Centro de Mídia Independente na figura de Brad Will (in memorian) Graciela Daleo Deley de Acari Dyrce Drach Dr. João Luiz Duboc Pinaud Ex-integrantes da Comissão de DH da OAB/RJ - De jan. á jul. 2007 Heloneida Studart (in memorian) João Massena Melo (in memorian) Líbero Giancarlo Castiglia (in memorian) Movimento de Luta Antimanicomial Padre João Daniel de Castro (in memorian) Raízes em Movimento Valmir Mota de Oliveira (Keno) (in memorian) 20ª Medalha Homenagem Especial: Vera Silvia Magalhães (in memorian) e militantes de 68 EDITORIAL: ESTADO DE EXCEÇÃO, FASCISMO SOCIAL E INSURGÊNCIAS 02 MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO (MTST) NO RIO DE J ANEIRO 03 RUA HOMENAGEIA TORTURADOR 04 20ª MEDALHA CHICO MENDES 05 E 06 O J UIZ, A POLÍCIA E O MALANDRO 12

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Page 1: de Resistência 2008 - Grupo Tortura Nunca Mais RJ | O Grupo Tortura Nunca Mais do … · 2013-11-04 · Página 2 • JORNAL DO GTNM/RJ 64 - MARÇO / 2008 EDITORIAL POR CORRESPONDÊNCIA

“Nada causa mais horror à ordem do que homens e mulheres que sonham.” PEDRO TIERRA

GTNM/RJJORNAL DO GRUPO TORTURA NUNCA MAIS/RJ - ANO 22 - Nº 64 - MARÇO 2008

Homenageados:Pça. da República, 173 - Centro Rio de Janeiro

Arquivo Nacional

CHICO MENDESde Resistência 20082008200820082008

Dia 1º de abril às 18 horas

Centro de Mídia Independente na figura de Brad Will (in memorian)

Graciela DaleoDeley de AcariDyrce DrachDr. João Luiz Duboc PinaudEx-integrantes da Comissão de DH da OAB/RJ - De jan. á jul. 2007

Heloneida Studart (in memorian)

João Massena Melo (in memorian)

Líbero Giancarlo Castiglia (in memorian)

Movimento de Luta AntimanicomialPadre João Daniel de Castro (in memorian)

Raízes em MovimentoValmir Mota de Oliveira (Keno) (in memorian)

20ª Medalha

Homenagem Especial:

Vera SilviaMagalhães

(in memorian)

e militantes de 68

EDITORIAL: ESTADO DE

EXCEÇÃO, FASCISMO SOCIAL EINSURGÊNCIAS

02

MOVIMENTO DOS

TRABALHADORES SEM TETO

(MTST) NO RIO DE JANEIRO

03

RUA HOMENAGEIA

TORTURADOR

04

20ª MEDALHA CHICO MENDES

05 E 06

O JUIZ, A POLÍCIA E OMALANDRO

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Página 2 • JORNAL DO GTNM/RJ 64 - MARÇO / 2008

POR CORRESPONDÊNCIAEDITORIAL

Expediente

Edição: Marcelo CajueiroDiagramação: Diagrama Comunicações Ltda.Tel.: (21) 2232 [email protected]ções: Carlos SennaFotos: Custódio CoimbraImpressão: Monitor Mercantil

“GTNM” é uma publicação do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ,sediado na Rua General Polidoro, 238 - sobrelojaBotafogo - Rio de JaneiroTel.: (021) 2286-8762 - Fax: (021) 2538-0428

E-mail: [email protected]

Site: www.torturanuncamais-rj.org.br

Tiragem: 5.000 exemplares

Artigos assinados são de responsabilidade exclusivados autores.

Direção do GrupoPresidente: Cecília M. B. Coimbra1º Vice: Victória L. Grabois Olímpio2º Vice: Elizabeth Silveira e Silva1º secretário: Joana D’Arc F. Ferraz2º secretário: Maysa P. Machado1º tesoureiro: Sebastião A. da Silveira2º tesoureiro: Flora Abreu Henrique da CostaSuplentes: Tânia Roque e Vitória Pamplona

Coordenação geral e redação: Ana Miranda, CecíliaCoimbra, Jane Q. Nobre de Mello, Joana D’Arc F. Ferraz,e Victória Grabois.

Digitação: Zélia Lima

Colaboraram nesta edição: Sérgio Silva, Vera Vital Brasil,Juliana de Oliveira Carlos, Miguel Baldez e CarolinaDellamore.

O GTNM/RJ não é uma ONG, somos um movimento social. No momento, passamos por dificulda-des financeiras e corremos o risco de não editarmos o próximo número do jornal.

Aceitamos qualquer contribuição em nossa conta: Banco Itaú, Ag. 0389 C/C 77791-3

social: tudo é criminalizado, tudo é judiciariza-do!

É neste contexto de Estado de Exceção querealizamos a 20ª Medalha Chico Mendes deResistência – 2008.

Em um contexto onde cada vez mais ouvi-mos os “cantos de sereia” desse Estado de Exce-ção, onde um número considerável de “ex-com-panheiros militantes” são enfeitiçados por taiscantos, pois permanecer defendendo princípiostem sido cada vez mais difícil e minoritário.

Difícil, delicado, sofrido se faz este momen-to! Mas, ele se faz também desses nossos 14homenageados deste ano. Homenageados deontem e de hoje que vêm se insurgindo diantedos constrangimentos, afirmando novas manei-ras de estar neste mundo, por vezes, de formaruidosa e, em outras, sendo invisibilizados.

Passando por defensores de direitos huma-nos de hoje – alguns assassinados pelo capital,tanto no campo como nas cidades – e percor-rendo os atingidos pela ditadura militar, próxi-mos dos mortos, presos, perseguidos, criminali-zados de hoje.

Como muitos outros, ainda invisibilizados,estes companheiros e companheiras aqui ho-menageados são algumas das forças insurgen-tes que estão entre nós. Há que embarcar ne-las! Há que fortalecê-las! Há que nos fortale-cer! Há que sempre estar indagando: “o queestamos ajudando a fazer de nós mesmos?”(Deleuze).

Pela Vida, Pela Paz,Tortura Nunca Mais!Março, verão de 2008.

Diretoria do GTNM/RJ

Cada vez se torna mais difícil e, até mesmo,um desafio falar sobre a violência que nosacompanha cotidianamente. A forma como estetema vem sendo tratado tem produzido, não poracaso, alguns efeitos extremamente danosos.Sua banalização, naturalização e, ao mesmotempo, um clima paranóico, terrorífico e alar-mante que é criado, ao exigir uma eficaz e com-petente segurança, está em realidade apelan-do não só para a lei, a ordem, mas fundamen-talmente para uma maior e mais forte repres-são. Repressão representada por leis, penas etratamentos mais duros, pelo policiamento ar-mado e ostensivo e, em muitos momentos, peloapelo às Forças Armadas. Produzem-se com-petentes cortinas de fumaça e a população emgeral passa a acreditar que o “tratamento” paraa violência inclui necessariamente medidas re-pressivas, duras, arbitrárias, brutais e, até mes-mo, a prática da tortura. O estado de violênciae a luta contra ele passa a justificar qualqueração, qualquer desrespeito e mais violência ain-da, tornada necessária para alguns.

Não por acaso, cada vez mais se fortalecemas associações entre pobreza, periculosidadee criminalidade. Os meios de comunicação demassa alardeiam monocordiamente essas asso-ciações, através de discursos/ações que pregamo uso da força, de tratamentos degradantes ecruéis, da utilização da tortura como necessá-ria, como um “mal menor”, de leis e penas maisseveras e da pena de morte para esses consi-derados perigosos para a “nossa segurança”.

Com todos esses ingredientes vem, portanto,se fortalecendo vertiginosamente o Estado Pe-nal, que lança suas malhas por todo o tecido

Estado de exceção, fascismo social e insurgências Caros Representantes do

Grupo Tortura Nunca Mais/RJ,Com muito orgulho e vontade assumimos

a Secretaria Geral da Executiva Nacional dosEstudantes de Arquivologia (ENEA), que terácomo principal tarefa a de representar nacio-nalmente os estudantes de arquivologia.

Gostaríamos de informar que, no últimoENCONTRO NACIONAL DOS ESTUDANTESDE ARQUIVOLOGIA (XI-ENEARQ), formula-mos políticas frente aos Arquivos da DitaduraMilitar. Nossas propostas: a Campanha: “PELAABERTURA DOS ARQUIVOS DA DITADURAMILITAR”; montar e levar propostas em con-junto com entidades ou associações que lu-tam pela abertura dos arquivos da ditadura;(...) fortalecer a parceria com o GTNM/RJ; queas escolas - DAs, CAs e Diretoria da ENEARQpromovam palestras ou debates sobre A Aber-tura dos Arquivos da Ditadura Militar (...).

Renato Motta, por e-mail

Prezada(o)s companheira(o)s

do GTNM/RJ,Venho por meio deste expressar o mais pro-

fundo agradecimento às manifestações de so-lidariedade que tenho recebido. De antemãoinformo-lhes que estou fisicamente bem, e psi-cologicamente fortalecido com apoios tão sin-ceros e valiosos.

Os desafios para a superação da barbáriepor vezes são maiores do que concebemos.No entanto, este grave atentado não afastará anós, e tampouco os movimentos sociais e en-tidades, da defesa intransigente dos DireitosHumanos. Um fraternal abraço do

João Tancredo, por e-mail

Companheiros,Denunciar a arbitrariedade da manutenção

da adolescente de 15 anos numa cela com 20homens, mostra também a situação calamito-sa em que se encontram as prisões dos homense os internatos para adolescentes. Parabéns!

Marli Parada, por e-mailCoordenadora da Violência contra a Mulher,

Comissão da Mulher Advogada OAB/SP

Companheiros,Gostaria de parabenizar o GTNM/RJ pelo

trabalho feito. Semana passada vi na tv, emum canal universitário na NET, o trabalho devocês e pensei em fazer parte ou ir a palestrasque vocês promovam (...). Não sou daquelaépoca, nasci em 1984, mas com certeza mor-reria para ter a minha liberdade e o meu direi-to de expressão. As pessoas que eles tortura-ram e mataram para mim são os verdadeirosheróis, pois tiveram coragem de bater de fren-te contra o sistema e lutar pelos seus ideais (...).Um abraço a todos,

vlw, por e-mail

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se fez uma ação coordenada pelo ConselhoPopular, através de uma assembléia na praça,na qual os moradores decidiram lutar pela pos-se da terra. Foi a partir da organização do povoque se definiu a via jurídica da luta.

Poderia explicar o que é o Conselho Popular ecomo ele funciona?

Segundo a FAFERJ e a Pastoral de Favelas, oRio de Janeiro se distribui em oito regiões. Coma organização do Conselho, cada uma dessasregiões realiza assembléias populares (já foramrealizadas 6 assembléias), que elegem repre-sentantes, que vão compor o Conselho. Valeexplicar que a expressão presentantes signifi-ca dizer que o povo dispensa representantes eo conselho é o próprio movimento em ação.Além dos Conselheiros, o Conselho popular temem si três Câmaras ou Assessorias. AssessoriaPolítico-Jurídica, Assessoria Institucional e As-sessoria Parlamentar. Cada uma delas formadapor companheiros envolvidos com a luta dascomunidades que reconhecem neles o legíti-mo interesse na construção de uma cidadaniaparticipativa. Ressalte-se que nos Conselhos asdecisões são todas dos conselheiros e os inte-grantes das três Câmaras só atuam ou por con-vocação do Conselho ou nas reuniões abertas,sempre sem direito a voto.

É importante alertar a população do Rio paraas obras o PAC e eu pediria atenção principal-mente para os fatos que já se deram no Com-plexo do Alemão. São os alvos desta ação, quepode ser predatória, sob o ângulo da segurançapública, as comunidades de Manquinhos e daRocinha. Se não houver uma grande mobiliza-ção popular corre-se o risco, há o exemplo doComplexo do Alemão, de um banho de sangueno Rio de Janeiro.

Está havendo uma onda de criminalização dosmovimentos sociais, como você vê esta questão?

A criminalização dos movimentos sociaisestá no comportamento de todas as instânciasda mídia. Costumo dizer que a criminalizaçãohoje não se dá pela tipificação legal do crime,mas pela persistente atuação da mídia, cuja efi-cácia é fácil de ser comprovada pela corres-pondência entre o seu comportamento e as prá-ticas próprias da estrutura do Estado. Tanto nocampo federal, como nos campos estadual emunicipal.

Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (Mtst)no Rio de Janeiro

jurídico-normativa, pois o movimento cria umasubjetivação coletiva indispensável para alcan-çar efeitos democráticos no processo históricobrasileiro. Essa construção do MST inevitavel-mente vai ser estendida aos movimentos urba-nos. Eu nem faço uma distinção de tempo, poistenho notícia de ocupações urbanas contem-porâneas ou até mais antigas que essas cons-truídas pela prática do Movimento dos SemTeto. Entretanto, atualmente o MST vem se con-frontando com a reconceituação do latifúndiopela agro-exportação.

Cite um exemplo de uma luta bem-sucedidahoje.

Hoje, podemos tomar como demonstraçãodisso o que se fez na Barra da Tijuca, em Jaca-repaguá - RJ, com tradicionais comunidades, emfunção da obra do PAN, em face da valoriza-ção de áreas ocupadas por moradores tradicio-nais (...). O caso do Anil pode servir de referên-cia da importância da organização do povo. Lá

Joana Ferraz: Quando surge e quais as princi-pais conquistas do Movimento dos Sem Teto(MTST)?

Miguel Baldez: O Movimento dos Trabalha-dores Sem Teto surge por volta das décadas de70/80 do século passado. Nasceu de uma lutaorganizada de vários segmentos empenhadosna luta por moradia, especialmente no Rio deJaneiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia, PortoAlegre, Belém e Rio Branco. As conquistas, doponto de vista legal e constitucional, são frutodo período da elaboração da Constituição de1988. A mais importante delas está na previsãoconstitucional da reforma urbana, fato concei-tual novo no direito positivo brasileiro, com re-ferência especial para o usucapião urbano (ad-missão efetiva) do usucapião de terras públicas.Embora na própria Constituição haja restriçãoexpressa ao usucapião de terras públicas, háum outro dispositivo que admite, além do títulode domínio, típico de ações de usucapião, queem determinadas situações o título seja a con-cessão rural de uso. Se o título pode ser a con-cessão real de uso, esse título pressupõe terrasde outra natureza e a única que sobra para anossa aferição são as terras públicas na sua fei-ção dominical (terras que o poder público pos-sui como se fora privado). Outra conquista im-portante, que também foi objeto da articulação,foi a constitucionalização da Defensoria Públi-ca, que estendeu para todos os estados do Bra-sil esse importante órgão de acesso à Justiça.Antes, somente existia no Rio de Janeiro. Noestado do Rio de Janeiro a Defensoria Públicatem sido de extrema importância nas açõescoletivas do povo.

Poderia estabelecer as proximidades entre aluta do Movimento dos Sem Terra e a luta doMovimento dos Sem Teto.

O Movimento Sem Terra (MST) criou um fatode grande relevância política e jurídica: a ocu-pação de terra, cuja desqualificação é talvez aprincipal constante da mídia que, ao invés dereconhecer os efeitos renovadores da ocupa-ção para a produção da vida, sempre as tratacomo se fora uma predadora invasão. (...) Aocupação traz em si um efeito político de fazerda terra e da propriedade objetos estratégicosde uma luta maior pela construção de uma so-ciedade solidária e igualitária. E, também, oefeito jurídico de infirmar o conceito tradicio-nal, burguês, da propriedade privada e da sub-jetivação individualizante da nossa estrutura

Entrevista com o assessor dos movimentos populares, advogado e professor Miguel Baldez, em 14 de março de 2008

Toda favela tem um pouco de senzala!Todo camburão lembra um navio negreiro!Toda ocupação tem um quê de quilombo!

Imagem retirada do site do MTST: http://www.mtst.info

Ver a entrevista na íntegra em nosso site:www.torturanuncamais-rj.org.br

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Visite nosso site: www.torturanuncamais-rj.org.br

por sua destacada atuação na prisão dosestudantes no Congresso de Ibiúna e na em-boscada e execução de Carlos Marighe-la, e também por seus crimes nos “esqua-drões da morte” (grupos paramilitares queexecutavam os chamados perigosos). ARua Sérgio Fleury recebeu esse nome emmaio de 1980. Em 2002, o município apro-vou uma lei que proíbe a mudança de no-mes de logradouros públicos, exceto noscasos em que houver vontade da maioria(75%) de seus moradores, expressa atra-vés de plebiscito ou abaixo assinado.

Além dos protestos dos Grupos TorturaNunca Mais do Rio de Janeiro e de SãoPaulo (ver Alerta Urgente no site doGTNM/RJ: www.tortura nunca mais-rj.org.br), o Movimento Nacional de Direi-tos Humanos também expressou seu repú-dio à iniciativa de homenagear o homemque “comandou as torturas mais cruéis du-rante o regime militar”. Casos como o deSão Carlos não são tão raros. Um exem-plo disso é a existência de ruas com o nomede Filinto Muller (famoso torturador da di-tadura getulista) nas cidades de Coxim(MS), Bonito (MS), Cuibá (MS), Dourados(MS) e Várzea Grande (MT).

* Socióloga formada pela UNICAMP– Universidade de Campinas.

O Parlamento espanhol aprovou no dia13 de dezembro de 2007 a Lei da Memó-ria Histórica, que condena o regime mili-tar do general Franco e determina a inde-nização das famílias das vítimas 70 anosdepois da Guerra Civil. A lei prevê a rea-bertura das valas comuns onde foram en-terrados os condenados pelo regime a par-tir da Guerra Civil (1936-1939), permiteàs famílias homenagear as vítimas e tam-bém força a retirada de todos os símbolosdo franquismo de locais públicos. Até hojeexistem praças, ruas e monumentos emhomenagem ao regime liderado pelo ge-neral. Em Madri, uma avenida ainda temo nome de Caudillo, em homenagem aFranco, e uma outra tem o nome da divi-são de soldados que Franco mandou paraajudar os nazistas. Em Santander há umaestátua eqüestre de Franco. Mas o maispolêmico dos símbolos do franquismo é oVale dos Caídos: um mausoléu construídopor 50 mil presos políticos, onde está o tú-mulo do general Francisco Franco. Loca-lizado na serra de Madri, é um dos monu-mentos com maior número de visitas dopaís e deverá receber outra utilização.

No Brasil, mais de vinte anos após ofim do regime militar, há ainda inúmerasruas, avenidas e praças que seguem por-tando nomes de pessoas ligadas à dita-dura e, portanto, direta ou indiretamente, liga-das à repressão e à violência que esse regimeimpôs ao país. No Rio, a meta é mudar o nomedo viaduto “31 de Março”, em Botafogo: a datase refere ao dia do golpe militar de 1964. Nointerior de São Paulo, há várias lutas pela mu-dança de nomes de ruas que homenageiam tor-turadores.

Em 18 de fevereiro desse ano, a Câmara deRibeirão Preto (SP) aprovou o projeto de seupresidente Leopoldo Paulino (PMDB) que pre-vê a mudança do nome da Rua Salim NicolauMina. De acordo com Leopoldo, Mina (que eradelegado de polícia nos anos 1980) foi tortura-dor de presos políticos, durante o regime mili-tar. Ele teria participado do interrogatório e dastorturas de militantes locais da ALN (Ação Li-bertadora Nacional) e da FALN (Forças Arma-das de Libertação Nacional). Ex-delegados dacidade contestam a acusação de Paulino. Um

Rua homenageia torturadorJuliana de Oliveira Carlos*

deles, Renato Soares, declarou que vai proces-sar Leopoldo por também ter sido acusado dehaver sido torturador durante a ditadura, de terprendido e torturado madre Maurina (usando,inclusive, de violência sexual) – o que teria sidocausa de sua excomunhão. Soares de fato foiexcomungado, mas sua excomunhão foi retira-da em 1975. No dia 28/02, o Fórum dos Ex-Pre-sos Políticos do Estado de São Paulo esteve naCâmara de Ribeirão Preto, com outras entida-des de direitos humanos como os grupos Tortu-ra Nunca Mais de São Paulo e do Rio de Janei-ro, para participar de um ato de desagravo aPaulino, devido às manifestações contrárias aseu projeto de lei.

Em São Carlos (SP) há uma rua com o nomedo ex-delegado do Departamento de OrdemSocial e Política (Dops) Sérgio F. ParanhosFleury. Além de notório torturador durante o re-gime militar brasileiro, Fleury ficou conhecido

CAMPANHA NACIONAL

Recentemente o vereador Wilson LeitePassos (Democratas, antigo PFL/RJ), no seu8º mandato, redigiu um projeto de Lei – apro-vado em janeiro deste ano – no qual defen-de que os nomes de ruas e logradouros pú-blicos que tenham sido dados há mais de vin-te anos não podem ser modificados.

Esta lei tenta evitar que continuem as lu-tas pela retirada das homenagens aos parti-cipantes da ditadura como a que o GTNM/RJ está lançando. Uma Campanha Nacio-nal com os seguintes pontos:

- que sejam levantados e retirados os no-mes de ruas e logradouros públicos que ho-menageiam representantes da ditadura;

- nos municípios brasileiros nos quaisexistam leis desta natureza já aprovadas,que sejam revogadas.

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Projeto Memóriaverno federal com base nesta lei. Após intensacampanha dos Grupos Tortura Nunca Mais paraque o prazo da referida lei fosse ampliado, osprocessos foram analisados em separado, tendosido deferidos. As denúncias de seqüestro, regis-tradas nos requerimentos apresentados à Comis-são Especial foram amplamente divulgadas pelaimprensa brasileira e argentina.

Lorenzo Ismael Viñas– Estudante universitário do curso de CiênciasSociais nasceu em 20/06/1955, era casado e ti-nha uma filha.

Devido às perseguições e à repressão políti-ca argentina, Lorenzo e sua família sairam dopaís. O plano do casal era morar na Itália, ondejá viviam os pais de Lorenzo. Este embarcou emBuenos Aires, em um ônibus com destino ao Riode Janeiro, no dia 26/06/1980. Um mês depois,sua esposa Claudia percorreu o mesmo trajeto,pois os dois haviam combinado se encontrar nacapital carioca e juntos viajarem para Itália.

Ao chegar, Claudia, não encontrou o mari-do e começou, imediatamente, a buscar infor-mações. Descobriu que Lorenzo havia embar-cado, mas não conseguiu ir além de Uruguaia-na. Na documentação apresentada à ComissãoEspecial, constam informações sob o seu em-barque, com o nome falso de Nestor ManuelAyala, chegando a cruzar a fronteira do Brasil.

Argentinosdesaparecidos no Brasil

No apagar das luzes de 2007, a justiça italia-na pediu a custódia cautelar de 146 membros doaparato repressivo latino-americano envolvidosnos desaparecimentos de cidadãos italianos pe-las ações da Operação Condor, nos anos de 1980.Nesse número, lembramos os argentinos desa-parecidos no Brasil, alguns deles atingidos dire-tamente pela Operação Condor. São eles:

Horacio Domingo Campliglia eMônica Susana Pinus de Binstock

Militantes no Movimento Peronista Monto-neros foram seqüestrados no aeroporto Interna-cional do Galeão, no dia 12/03/1980, quandochegaram ao Rio de Janeiro procedentes da ci-dade do México.Horacio Campliglia nasceu em Buenos Airesem 06/06/1949, era estudante de Medicina ecasado com Pilar Calveiro, com quem teve duasfilhas.Mônica Binstock nasceu no ano de 1953, naArgentina e foi casada com Edgardo IgnácioBinstock, com quem teve dois filhos.

Como esses desaparecimentos ocorreram emdata não abrangida inicialmente pela Lei 9.140/95, os requerimentos de reparação foram inde-feridos pela Comissão Especial formada pelo go-

Jorge Oscar Adur– Religioso e montonero veio ao Brasil, em ju-lho de 1970, para acompanhar a primeira visitaque o papa João Paulo II realizou ao país. Nãohá informações sobre datas e local precisos doseu desaparecimento.

Liliana Inês Goldemberg eEduardo Gonzalo Escabosa

Aluízio Palmar, no livro “Onde foi que vo-cês enterraram nossos mortos” se refere à mor-te de Liliana e Eduardo, ocorrida entre PortoMeira, em Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú, namargem direita do rio Paraná:

“Foi num sábado, 02 de agosto de 1980, Lili-ana de 27 anos loura e franzina, e seu compa-nheiro Eduardo, de 30 anos, embarcaram na lan-cha Caju IV (...). No barco havia dois policiaisbrasileiros que apontaram suas armas para ocasal (...).

Assim que perceberam que haviam caído emuma cilada, Liliana e Eduardo se ajoelharamdiante de um grupo de religiosos que estavama bordo e gritaram que eram perseguidos políti-cos e preferiam morrer a serem torturados. Emseguida abriram um saco plástico, tiraram oscomprimidos e os engoliram bebendo a águabarrenta do rio Paraná. Morreram em trinta se-gundos, envenenados por uma dose fortíssimade cianureto”.

HEITOR PEREIRA

Morreu aos 90 anos, neste mês de feverei-ro, o companheiro Heitor Pereira, petroleiro,um bravo lutador pela soberania nacional,defensor das reservas de petróleo e gás.

Seu exemplo de luta e garra deve ser umreferencial para nosso combate em defesa doBrasil e da unidade latino americana, dos po-vos do mundo contra o império e as transnaci-onais, na defesa da paz e contra a guerra.

Até sempre, Heitor!

ARMANDO GAUCHO

Faleceu em Goiânia, no dia 17 de feverei-ro de 2008, Armando Gaúcho. Em 1970, par-tiu para o Chile onde pediu asilo e, posterior-mente, exilou-se na Bélgica.

Era portador do mal de Alzheimer em faseavançada, não se reconhecendo mais, nem aosamigos e parentes. Deixa a viúva Dagmar Pe-reira e duas filhas. Até sempre, Gaúcho!

LEDA SHEFFER VIEGAS

Faleceu em 4 de outubro de 2007, Ledaque, no início da década de 1960, foi casada

Saudadecleo parlamen-tar de oposiçãoao regime mili-tar na décadade 70. Oradorcon tag ian te ,articulista, fielaos seus ideais,Chico Pinto fezhistória na lutapela democra-cia antes, du-rante e depoisda ditadura mi-litar brasileira.

Em 14 demarço de 1974, Pinto discursou na Câmaracontra a presença do ditador Pinochet – sím-bolo da tirania no continente – na posse doditador Geisel. O discurso inflamado do de-putado Chico Pinto (MDB-BA), denunciandoas atrocidades cometidas pelo ditador chi-leno, rendeu-lhe a perda do mandato e maisuma prisão, mas manteve a coerência dassuas ações políticas.

Até sempre, Chico Pinto!

com o companheiro Pedro Viegas, preso eexilado.

De grande solidariedade, Leda entregou-se à ajudar perseguidos políticos pelo regimeinstalado em 1964. Teve sua casa invadida por“um bando fardado”, esteve presa por duasvezes e foi torturada.

Escreve seu ex-companheiro sobre ela:“Nada disto impediu que ela seguisse sua es-trada solidária, ora escondendo pessoas, oraatendendo a necessidades de familiares, (...)muitas vezes cruzando fronteiras acompa-nhando perseguidos em busca de auxílio”.

Até sempre, Leda!

DEPUTADO CHICO PINTO

Morreu em Salvador, em 19 de fevereiroúltimo, o advogado, jornalista, ex-prefeito deFeira de Santana (eleito em 1963 e deposto epreso com o golpe de 64) e ex-deputado fede-ral Chico Pinto, que atuou na Câmara entre1971 e 1991.

Foi um dos fundadores do chamado “gru-po autêntico” do MDB, o mais combativo nú-

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de Barão de Mesquita, o famigerado DOI-CODI,onde ficou preso e foi torturado durante dois dias.

Há vinte anos participa da militância políticacontra a violência do Estado e contra a violaçãodos direitos humanos.

JOÃO MASSENA MELO

Pernambucano de Palmares, filho de pai car-pinteiro e de mãe costureira, nasceu em 16 deagosto de 1919. Começou a se interessar porpolítica, ainda na adolescência.

Iniciou sua militância entre os anos de 1932 e1933, no Rio de Janeiro, quando trabalhava nafábrica de tecidos Nova América. Durante o Es-tado Novo esteve preso em Fernando de Noro-nha. Elegeu-se vereador pelo Partido Comunistaem 1947. Teve por duas vezes seu mandato cas-sado: uma em 1948 e outra em 1964 pelo AtoInstitucional número I.

Em 1970, foi preso e barbaramente torturado,enviado para a Ilha das Flores, depois para a Ilhadas Cobras, no Rio.

Liberado em fevereiro de 1973, permaneceucom a família até viajar para São Paulo onde foipreso no dia 3 de abril de 1974, estando desapa-recido desde então.

Movimento Nacional de LutaAntimanicomial

No final dos anos de 1970, nasce o Movimen-to dos Trabalhadores em Saúde Mental denun-ciando a violência existente nos hospitais psi-quiátricos, violência esta não apenas contra aspessoas em sofrimento psíquico, vítimas das for-mas mais brutais de desrespeito aos direitos hu-manos, mas também contra vários brasileiros quelutaram contra o regime militar. Muitas denún-cias referiam-se a presos políticos que eram in-ternados em hospícios.

No final dos anos de 1980, o movimento seconsolidou como uma das mais importantes e

timos mortos pela ditadura poucos anos depois.Este e outros fatos marcaram a vida do Padre

João Daniel e nos fazem compreender o medoque os homens da ditadura tinham dele.

JOÃO LUIZ DUBOC PINAUD

No dia 31 de janeiro de 1931, em Niterói,nasceu João Luiz Duboc Pinaud. Se algum diafor escrita a história dos direitos humanos no Bra-sil, certamente um capítulo será dedicado à ele.

Inimigo declarado do Golpe de 1964, foi cas-sado da cadeira de direito “prostitucional” – comocostumava ensinar aos seus estudantes em audi-tórios lotados – que ocupava na UniversidadeFederal Fluminense. Foi impedido de lecionar atéa Anistia, em 1979. Em 1968, foi também cassa-do do cargo de juiz de direito do Estado do Riode Janeiro, que exercia desde 1962.

Com a luta pela chamada democratização,participou ativamente dos debates da Constitu-inte de 1989. Vale destacar ainda sua presençaà frente da Secretaria de Estado de Direitos Hu-manos-RJ e da Comissão Especial de Mortos eDesaparecidos.

Em 2005, foi convidado como representantede Direitos Humanos da América do Sul, paraparticipar da Missão de Solidariedade ao Povodo Haiti. É um crítico forte à missão brasileira.

HELONEIDA STUDART

Heloneida Studart dedicou-se de corpo e almaà defesa das causas mais generosas e à defesaincondicional dos trabalhadores, das mulheres edos excluídos. Jornalista, escritora, ensaísta, tea-tróloga, líder feminista e deputada estadual porseis mandatos, sempre honrando o voto popularatravés de sua atuação incansável e de um lon-go acervo de leis da maior importância.

Heloneida foi uma das indicadas, em 2005,ao Prêmio Nobel da Paz.

Em 1973, ao lado de outras lideranças fundouo Centro da Mulher Brasileira, entidade pioneirana luta feminista em nosso país.

Heloneida Studart faleceu no dia 3 de dezem-bro de 2007. Sua perda deixa uma enorme sauda-de e também um riquíssimo exemplo de condutaética e de militância a ser seguido por todos nós.

DELEY DE ACARI

Vanderley da Cunha, nasceu no interior doEstado do Rio, em 1954. Veio para a capital com6 anos de idade, indo morar com sua avó, em umapequena favela chamada Vila Norma, em SãoJoão de Meriti, na Baixada Fluminense. Desde adécada de 70, participa de diversos grupos de te-atro, da ala de compositores de escolas de sam-ba, do movimento de mulheres e do movimentonegro. Em 1977, uma peça de teatro que ele diri-gia foi proibida pela censura. Depois de respon-der a um “interrogatório” na Censura da PraçaMauá foi levado a outro interrogatório no quartel

DYRCE DRACH,uma advogada solidária

Nascida no Rio de Janeiro em 1930, de ori-gem judaica, Dyrce cedo se interessa pelas idéiassocialistas. Formou-se em 1954 pela Faculdadede Direito do Distrito Federal, atual UERJ, pas-sando a secretariar Jorge Amado por indicaçãodo Movimento da Paz. Vai trabalhar no Ministé-rio de Educação (MEC) em Brasília, em 1960.

Quando – em 1969 – o número de amigos pre-sos pelas forças da repressão se torna muito gran-de, ela retoma sua carreira de advogada, torna-se uma requisitada defensora.

A partir de 1975 integra o grupo fundador daComissão Pastoral da Terra (CPT) e passa a atuarem questões agrárias, fundiárias e de direitoshumanos.

Em 1992 assume a Coordenação do Centrode Defesa Dom Luciano Mendes (CDDLM) quepresta assistência jurídica a crianças e adoles-centes em “risco social”. É membro da Comis-são de Direitos Humanos da OAB/RJ.

GRUPO SÓCIO-CULTURALRAIZES EM MOVIMENTO

Um Movimento surgido na própria comunida-de do Complexo do Alemão (zona da Leopoldinado Rio de Janeiro), em 2001, tem tido como uma desuas principais preocupações trabalhar junto comas múltiplas e diferentes comunidades que fazemparte dessa região. Aproveita para isso a riquezahumana, social e cultural presente nessas comuni-dades, fortalecendo a participação dos atores lo-cais como protagonistas que são desses processos.

O forte dos trabalhos coletivos tem sido o gra-fite e a fotografia.

PADRE JOÃO DANIEL DE CASTRO

Padre João Daniel de Castro, nascido na pri-meira metade dos anos de 1940, era um mestiçoalto, forte e muito risonho. Tinha uma doçuramuito peculiar. Todos da paróquia Nossa Senho-ra Medianeira, em Oswaldo Cruz, queriam con-versar com ele após a missa. Admiração e cari-nho envolviam aquelas manhãs de domingo.

Em 1970, os militares receberam uma denún-cia anônima de que ali naquela Paróquia haviaum “antro de comunistas’. Entraram em sua Pa-róquia quebraram tudo e prenderam todos. A suamãe, Dona Marlene, era secretária da Câmarados Deputados, e conseguiu a sua liberdade.Quando ele estava saindo da prisão perguntouao carcereiro: – onde estão os outros fiéis queforam presos comigo. O carcereiro respondeuque eles não sairiam, que somente ele tinha con-seguido a liberdade. Então, ele disse para o car-cereiro: – por favor, me leve para a minha cela,eu não vou sair sozinho. Só saio daqui com aminha Paróquia. Com ele foram presos, dentreoutros, Fátima Setúbal e seus dois irmãos, Januá-rio e Antônio Marcos Pinto de Oliveira, estes úl-

Pela vigésima vez, neste 1º de abril de 200GTNM/RJ com o apoio de várias entidades

Medalha Chico Mendes de Resistência que vtêm se destacado nas lutas de resistência

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estava sempre disposto a ajudar e a cumprir astarefas mais difíceis. Está desaparecido desde oataque às forças guerrilheiras, no Natal de 1973.

O governo da Itália tem feito gestões formaisao governo brasileiro, manifestando interesse nalocalização dos restos mortais de Castiglia, ain-da desconhecida.

Ex-integrantes daComissão de Ddhh da Oab/Rj

Período Janeiro a Julho/2007

A Comissão de Direitos Humanos e Acesso àJustiça da OAB/RJ, do período de janeiro a julhode 2007, cujo presidente era o advogado JoãoTancredo, desempenhou um papel importante naluta pela defesa dos direitos humanos em nossoestado, intervindo diretamente na luta contra di-versos tipos de violações aos direitos humanos.Participou da visita ao Complexo do Alemão, nodia 28/06/07, no dia seguinte à ação policial queresultou na morte de 19 pessoas.

Em julho de 2007, o presidente desta Comis-são, advogado João Tancredo, foi destituído docargo pela presidência da OAB fato que gerou ademissão voluntária de 41 membros desta Co-missão de Direitos Humanos da OAB, no perío-do de janeiro e julho de 2007.

Os 41 voluntários dessa comissão que se demiti-ram são: Aderson Carvalho Bussinger, Adriano deLima, Alessandra Page, Ana Carolina Quintão Ut-zeri, Ana Mary da Costa Lino Carneiro, Ana MariaMuller, André Luiz Conrado Mendes, Andréa Prat-tes, Antônio Cláudio Cunha, Carlos Alberto Felicia-no, César Augusto Dória dos Reis, Clarisse Toscanode Araújo Gurgel, Cristina Leite Cardoso, Ednéia deOliveira Matos Tancredo, Felipe Brito, FernandaMaria da Costa Vieira, Fernando Barjora Moura, Ig-nacio Cano, Jadir Anunciação de Brito, João LuizDuboc Pinaud, Joyce Enzler, Jussara Freire, Leonar-do do Egito Coelho, Luciana Silva Garcia, MarceloBraga Edmundo, Márcia Adriana Oliveira Fernan-des, Marcos Antonio Silva, Maria Meira Canedo,Millena Fontoura, Moisés Muniz de Araújo, PedroStrozemberg, Ricardo Soares, Roberta Duboc Pe-drinha, Scheila Guimarães Frederico de Souza, Tai-guara Líbano Soares e Souza, Thais Duarte, Thiagode Souza Melo, Thiago Bottino do Amaral, VanyLeston Pessione, Wilson Dufles de Almeida

KENO (Valmir Mota de Oliveira)

Valmir Mota de Oliveira, o Keno, tinha 34 anose deixou a todos o exemplo da sua militânciaincansável, como membro da Via Campesina edo MST. Do Paraná para o Brasil, Keno organi-zou brigadas e acampamentos pelos estadosonde passou: Sergipe, Maranhão e Bahia.

Por acreditar na Reforma Agrária, na defesado meio ambiente, na resistência da agriculturacamponesa e na construção de uma sociedademais justa, sem exploradores e explorados, jáhavia sido ameaçado de morte várias vezes por

amplas resistências sociais do país.O dia 18 de maio ficou conhecido como o Dia

Nacional da Luta Antimanicomial. Tal comemo-ração têm como objetivo despertar a sociedadepara a questão da violência manicomial, da lutapela superação do estigma, do preconceito, dasegregação e da exclusão.

Brad Will (1970-2006) eCMI – Centro de Mídia Independente

Bradley Roland Will era anarquista, vídeodocumentarista, correspondente do Centro deMídia Independente (CMI) de Nova York. Esteveenvolvido em várias grandes manifestações dochamado “movimento de ação global” de cunhoanticapitalista: Seattle, Quebec, Praga e Améri-ca Latina.

No Brasil, ao lado do Centro de Mídia Inde-pendente brasileiro, registrou a luta dos sem-tetoem Goiânia. Brad estava lá e registrou a violen-ta ação da polícia. Com a câmera na mão traziaa voz dessa gente invisibilizada pelos grandesmeios de comunicação.

No dia 27 de outubro de 2006 em Oaxaca, noMéxico, foi covardemente assassinado por pa-ramilitares a serviço de Ulises Ruiz, um gover-nador corrupto que a população rejeitava.

Libero Giancarlo Castiglia

Italiano da cidade de San Lúcido, na Calá-bria, Líbero chegou ao Brasil com a mãe ElenaCastiglia, e os três irmãos, em 1955. Tinha ape-nas 11 anos de idade. O pai, o pedreiro, LuigiCastiglia, já havia desembargado no Rio de Ja-neiro em 1949.

O jovem italiano tornou-se membro do Parti-do Comunista do Brasil seguindo os passos deseus pais: comunistas e socialistas.

No Natal de 1967, chegou ao Araguaia, esta-belecendo residência na área da Faveira. Segun-do relato de seus companheiros, era solidário,

milícias a serviço da Sociedade Rural do Oestedo Paraná, o Movimento dos Produtores Rurais ea Syngenta. No dia 21 de outubro de 2007 asameaças se cumpriram e Valmir foi executadopor pistoleiros no acampamento Terra Livre, naárea de experimentos ilegais da Syngenta, emSanta Tereza do Oeste, Paraná.

Graciela Daleo

Militante peronista, em outubro de 1977, Gra-ciela Daleo foi seqüestrada por repressores daEscola de Mecânica da Armada, ESMA, o maiorcampo de concentração da Argentina, onde es-teve até 1979. É uma, dentre os cerca de 150sobreviventes da ESMA. Exilou-se na Venezue-la e na Espanha. Retornou à Argentina em maiode 1984 e, desde então, participa ativamente daluta contra a impunidade, identificando os res-ponsáveis pelas atrocidades cometidas.

Como represália a estas denúncias Gracielafoi processada e presa em 1988. Em 1989, foi-lhe imposto um indulto com que o então presi-dente Menem pretendia tornar impunes os dita-dores. Rechaçou o indulto, o que fez com quereabrissem as perseguições. Por isto, exilou-seno Uruguai e voltando à Argentina em 1995, in-corporou-se à Associação de Ex-Detenidos De-saparecidos. É socióloga e coordenadora da Cá-tedra Livre de Direitos Humanos da Universida-de de Buenos Aires.

Vera Sílvia de Araújo Magalhãese Militantes de 68

A economista Vera Sílvia nasceu em 1948.Ainda secundarista, iniciou sua militância polí-tica. Ingressou na Faculdade de Economia daUFRJ em 1967. Em março de 1970, foi presa comum tiro de raspão na cabeça. Muito torturada,as marcas do horror sofrido a perseguiram du-rante os anos que se seguiram: ‘Herdei da tor-tura um estado de dor. Eu vivo com dor. Nãoparei de ser torturada. Há noites em que nãodurmo’ – dizia.

Em julho de 1970 Vera Sílvia foi banida dopaís, na troca pelo embaixador alemão seqües-trado no Brasil.

Retornou com a anistia parcial, em 1979. Man-teve-se viva, chamando a atenção para as atro-cidades cometidas ontem e hoje em nome doEstado brasileiro e jamais nominadas e/ou res-ponsabilizadas.

Morreu em 4 de dezembro de 2007. Certa vez,em depoimento emocionado sobre porque con-tinuaram as lutas na época, disse: “Eram meusamigos, era minha vida – e minha morte. Essacontradição eu tinha de viver.”

Seus companheiros da geração de 68 e seusmuitos e muitos amigos assim registraram em jor-nal: ‘À eterna rebelde Vera Silvia, em homena-gem àquela que nunca se submeteu a injustiçase caretices...’

08, estaremos realizando o evento anual dos de direitos humanos do Rio de Janeiro: avem homenageando pessoas e entidades queontem e hoje. Este ano os agraciados são:

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Notas Indignadas

Washington defende ouso da tortura

O secretário de Justiça dos Estados Unidos,Michael Mukasey, negou-se ontem a iniciaruma investigação penal dentro da Agência Cen-tral de Inteligência (CIA) pelo uso de “submari-no” ou simulação de afogamento nos interro-gatórios de suspeitos de terrorismo.

Mukasy tampouco investigará qualquer ou-tro tipo de tortura – pelas chamadas “técnicasde interrogação intensificadas” – nem deixaráque o Congresso tenha acesso a um memoran-do preparado pelo Escritório de Conselho Le-gal do Departamento de Justiça no qual se con-clui que estas práticas eram legais.

(William Fisher, da IPS)

O Satânico Sr. BushO presidente dos Estados Unidos, George

W. Bush, vetou a legislação aprovada peloCongresso que proibiria a CIA de simular afo-gamento e outras técnicas controversas de in-terrogatório.

Os legisladores incluíram a medida antitor-tura em uma lei mais ampla sobre o que seriapermitido nas atividades da inteligência ameri-cana.

“Como o perigo continua, nós temos que as-segurar aos nossos funcionários da inteligênciatodas as ferramentas que eles precisem paraconter os terroristas”, disse Bush.

Continuam as ameaças

O Batalhão de Operações Especiais (Bope)está novamente em evidência. Depois da pre-miação do filme “Tropa de elite” com o Ursode Ouro, em Berlim “o grupo de elite da PolíciaMilitar fluminense” volta às rodas de discussãopor conta do polêmico projeto de lei do deputa-do estadual Flávio Bolsonaro (PP-RJ), que pre-tende tombar o uniforme preto e o símbolo dacorporação – a caveira atravessada por pisto-las – como patrimônio cultural do estado. Bol-sonaro (é filho do ex-capitão do Exército JairBolsonaro) justifica o seu pedido para preser-var a memória do Batalhão.

Major Curió

Em matéria publicada na revista “Isto É’ (27/0208), Sebastião Rodrigues de Moura, conhe-cido com Curió, declarou: “Eu não tenho o di-reito de levar para a sepultura os dados que te-nho e que eu sei”. Segundo ele – que semprese negou a esclarecer o que ocorreu aos guer-rilheiros do Araguaia – a história dos desapare-cimentos dos opositores do regime militar deveser relatada.

O militar que participou das operações mili-tares contra a Guerrilha do Araguaia, depois demais de 35 anos, tenta tumultuar as investiga-ções que se fazem acerca da localização e cir-cunstâncias das mortes dos guerrilheiros.

.Enquanto os governos de vários países lati-no-americanos responsabilizam militares envol-vidos em torturas, infelizmente, no Brasil mem-bros do aparelho repressivo do regime militar,vêm a público confundir as incipientes investi-gações realizadas por setores do governo, porfamiliares e grupos de direitos humanos.

Trabalho Escravo

Mais de sessenta cicatrizes recentes de fer-ro quente marcam o trabalhador de cerca de30 anos que denunciou trabalho escravo emuma fazenda de Paragominas, no Leste doPará, à Superintendência do Trabalho e Em-prego (SRTE) do Pará. O relato é de Iberê The-nório no sítio da Agência Repórter Brasil, 18-02-2008.

A SRTE esteve na fazenda denunciada, ecomprovou parte das informações passadas pelotrabalhador. Foram encontradas 35 pessoas emsituação análoga à escravidão.

A propriedade, que fica a 75km de Parago-minas, chama-se Bonsucesso e pertence a Gil-berto Andrade. O fazendeiro já está na ListaSuja do trabalho escravo.

Criação do Departamentode Contra Terrorismo

Juristas e entidades de direitos humanos vêmcom enorme preocupação a notícia veiculadapor alguns meios de comunicação de massa queo governo brasileiro, ao assumir a luta contra ochamado terrorismo internacional, pretendereestruturar a Agência Brasileira de Inteligên-cia (ABIN), criando, entre outros órgãos, o De-partamento de Contra-Terrorismo (DCT). Anova estrutura, segundo as notícias (JB de 27/10/2008), irá elaborar política de prevenção earticular o intercâmbio de informações com asprincipais agências internacionais que atuamno combate ao terrorismo.

Este projeto, ao propor a unificação dos ser-viços de informação brasileiros, nos faz lem-brar dos tenebrosos DOI-CODIs que funciona-ram em nosso país durante o período de Terro-rismo de Estado. Da mesma forma, nos lembra-mos da Operação Condor, pelo intercâmbio ecolaboração que estão previstos com as agên-cias de informação internacionais.

Ver Alerta Urgente sobre a questão no sitedo GTNM/RJ: www.torturanuncamais-rj.org.br

Temor pela segurança dacomunidade Guaranikaiowá

A comunida-de GuaraniKaiowá deÑanderu Ma-rangatu, no mu-nicípio de An-tonio João, noestado de MatoGrosso do Sul,com cerca 700membros, estásob perigo imi-nente. Cercade 30 seguran-ças que trabalham para fazendeiros locais têmameaçado repetidamente a comunidade, ati-rando para o ar. Os guardas de segurança tam-bém são acusados de estuprar três mulheresindígenas somente este ano. O clima de cons-tante medo e intimidação impede que a co-munidade possa levar uma vida normal.

Os Movimentos de Direitos Humanos solici-tam que sejam enviados apelos para as autori-dades brasileiras, expressando preocupação

pela segurança da comunidade guarani kaio-wá de Ñanderu Marangatu, que se encontra sobameaça de violência. É importantíssimo que asautoridades adotem medidas urgentes para pro-teger esta comunidade.

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Aconteceudo Araguaia.

A base da representação é o artigo 321 doCódigo Penal Militar, segundo o qual é crime“extraviar livro oficial, ou qualquer outro docu-mento (...)”.

O episódio da destruição de documentosreferentes à guerrilha não está coberto pelaLei de Anistia, de 1979, segundo o presidenteda OAB. A decisão de recorrer ao STM foitomada pelo Conselho Federal da OAB em fe-vereiro passado, por unanimidade, por pro-posta do jurista Fábio Konder Comparato, quedefendeu “o direito da cidadania brasileira aoconhecimento de sua história, da qual a Guer-rilha do Araguaia é considerada um capítulosignificativo”.

Human Rights pedeAbertura dos Arquivos daDitadura

A organização não-governamental HumanRights Watch criticou a impunidade como umdos principais problemas brasileiros. “As viola-ções de direitos humanos no Brasil são rara-mente levadas a julgamento”, informou o rela-tório anual da entidade, publicado em 31 dejaneiro último. Mais de 20 anos após o fim daditadura militar (1964-1985), a ONG afirmou queo Brasil nunca puniu os responsáveis pelos cri-mes cometidos durante o regime.

A Human Rights Watch lembra que a Co-missão Especial sobre Mortos e DesaparecidosPolíticos, após 11 anos de investigação, não foicapaz de esclarecer os crimes cometidos naépoca e tampouco indicou o paradeiro da mai-oria dos desaparecidos políticos. “As forçasarmadas brasileiras nunca abriram arquivos-chave sobre os anos do regime militar”, embo-ra o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha de-terminado a abertura dos arquivos confidenci-ais referentes à guerrilha do Araguaia, afirma oRelatório.

Direitos Humanos emDebate

Foi criado, no ano passado, um novo espaçode debate em nossa sede, sempre aberta aopúblico e que pretendemos continue mensal-mente.

O tema do debate do dia 19 de fevereiro foia ESMA – Escola Superior de Mecânica da Ar-mada, utilizada como o maior dentre os 500campos de concentração clandestinos de de-tenção da última ditadura argentina (1976-83).Atualmente, no local onde desapareceram cer-ca de 5.000 militantes políticos, foi criado o ‘Es-paço para a Memória e para a Promoção eDefesa dos Direitos Humanos’, que está aber-to à visitação. O que foi a ESMA? Como funcio-nava? Como está hoje? Estas e outras questõesforam discutidas.

O debate ocorreu mediante as fotos e os re-latos de Luciana Knijnik e Vera Vital Brasil, querecentemente estiveram na Argentina.

Araguaia: restos dedesaparecidos estariamem 11 locais

Um grupo de ex-soldados que há quatro anosinvestiga o paradeiro dos militantes do PC do Bdesaparecidos durante a Guerrilha do Araguaialistou, ao Jornal do Brasil, 11 pontos onde esta-riam localizados cemitérios clandestinos comrestos mortais dos 58 militantes desaparecidosna região. Os locais foram apontados por guiasque serviram ao Exército durante o período doconflito no Bico do Papagaio, entre 1972 e 1975,e que ainda moram na região.

Os próprios soldados são testemunhas de quemuitos guerrilheiros que hoje figuram na listados desaparecidos foram levados ainda vivospara as bases do Exército.

OAB pede inquéritopolicial-militar para oCaso do Araguaia

O presidente da OAB - Federal, Cezar Brit-to, encaminhou, em 12 de março último, re-presentação ao presidente do Superior Tribu-nal Militar, para que seja instaurado inquéritopolicial militar com o objetivo de investigar ejulgar a responsabilidade de militares supos-tamente envolvidos na destruição e extraviode documentos oficiais referentes à Guerrilha

Liberdade para os cincocubanos

Em setembro de 1998, Antonio Guerrero,Fernando González, Gerardo Hernández, Ra-món Labañino e René González foram presosem Miami. Eles haviam se infiltrado nas organi-zações da máfia cubano-americana para co-nhecer os planos terroristas contra Cuba.

Após um julgamento arbitrário realizado pormagistrados ligados aos mafiosos e ameaça aosjurados, foram condenados por atentado à se-gurança nacional dos EUA. Gerardo foi conde-nado a duas prisões perpétuas e mais 15 anos;Ramón, à prisão perpétua e mais 19 anos; René,a 15 anos; Antonio, à prisão perpétua mais 10anos e Fernando a 19 anos.

Em vários países difunde-se uma campanhapela libertação dos cinco presos políticos doimpério ianque.

Acesse a página do comitê de São Francis-co: www.freethefive.org e receba boletins so-bre o caso.

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Cultura pelas beiradas LIVRO:

Violência contra MovimentosSociais no Brasil

Recente-mente, a jor-nalista Na-tália Vianalançou o li-vro-denún-cia “Planta-dos no chão- Assassina-tos políticosno Brasilhoje” (Edito-ra Conrad,2007). O livro reporta a seis diferentes casos,tanto no espaço rural quanto no urbano, de as-sassinatos de militantes e pessoas ligadas a al-guma luta social atual. O livro coloca em pautaa violência da qual os diversos movimentos so-ciais são alvos rotineiramente.

A inexistência de uma definição de assassi-nato político dificultou a tarefa da autora que,assim, necessitou criá-la. Definiu como sendoa violência praticada contra aqueles que – in-seridos em organizações sociais – lutam pordireitos coletivos, como o passe livre, a refor-ma agrária, direitos trabalhistas, demarcação deterritório indígena etc.

A motivação de tal publicação foi devido àinvisibilidade midiática desses casos, que con-tinuam a se repetir e cujos responsáveis per-manecem impunes.

Essa iniciativa também visa agregar novasdenúncias de casos através de um blog, queserá em breve lançado.

Pode-se encontrar o livro na íntegra paracópia em www.conradeditora.com.br/plantadosnochao.html.

Estação Paraíso‘As idéias teimam em não envelhecer. A uto-

pia se renova nos poemas que expressam umaexperiência de vida singular, numa perspecti-va dos que sabem da necessidade de resgatara memória histórica e fazer a crítica ao passa-do e presente, condições essenciais para evi-tar a repetição da tragédia e construir o futu-ro’, escreveu o Professor Antonio Ozaí da Sil-va para a Revista Espaço Acadêmico (n. 81,fev 2008), na resenha do recém lançado livroEstação Paraíso.

O personagem central do livro é Lola, com-panheira de luta pela construção de uma socie-dade igualitária, justa e livre, e que foi brutal-mente assassinada há 35 anos atrás pela dita-dura militar. A dedicatória a ela e seu papel li-terário se estende às outras militantes. AntonioOzaí continua: ‘Os poemas do Alípio expres-sam uma época em que a morte rondava os que,como Lola (Aurora Maria Nascimento Furtado),anunciavam um novo tempo. Mas ele nos falado nosso tempo, do presente’.

O poeta se mantém fiel às idéias pelas quaislutou. É um modo de honrar a memória de Lolae de tantos outros que pereceram nos porõesda ditadura militar.

Alípio Freire. São Paulo: Expressão Popular,2007, 128p, R$ 10,00.(www.expressaopopular.com.br)

Lançamento do livro

“CACO: 90 Anos de História”No dia 13 de março último o Centro Acadêmico Cândido de

Oliveira - CACO e a Coordenadoria de Comunicação da UFRJlançaram o livro “CACO: 90 Anos de História”, que reuniu en-trevistas com alguns dos maiores personagens de sua históriaque contribuíram para a construção dos quase 92 anos de vidada entidade.

O livro surgiu e se desenvolveu a partir da iniciativa de dire-torias recentes do C.A. que, nos últimos anos, se dedicaram aresgatar relatos e experiências que marcaram a trajetória delutas e conquistas do CACO. As entrevistas narram momentoshistóricos, grandes mobilizações e campanhas e a vida do alu-nado da Faculdade Nacional de Direito ao longo de tantas ge-rações.

Esse esforço resultou em uma publicação de 340 páginas,condizente com a grande história desse glorioso Centro Acadê-mico e do movimento estudantil brasileiro.

Lançamento do documentário:

‘Brad Will – uma noitemais nas barricadas’

O diretor do filmeMiguel Bastos nos con-ta a história do amigoBrad Will, jornalistaamericano assassinadona rebelião popular deOaxaca, México, em2006.

‘Quando os parami-litares dão um tiro defuzil no peito de Brad,a câmera cai, mas con-

tinua gravando. Essa câmera passa de mão emmão, contando a história de Brad. E um poucodesse “movimento de movimentos” de cunhoanti-capitalista conhecido como ação global.Das ocupações urbanas em Nova York a umpiquete ecologista no Oregon, à batalha de Se-attle, Praga, Quebec, Gênova, Quito, Oaxaca...

Por trás da câmera estão os amigos de Bradque, como ele, se dedicam a mostrar o que nãoaparece na TV.’

Ver mais em www.midiaindependente.org (àvenda em DVD).

Lançamento do documentário“Porque Lutamos!

Resistência à Ditadura Militar”

O documentário “Porque Lutamos! Resistên-cia à Ditadura Militar”, da jornalista FernandaIkedo, tráz, por meio de sete depoimentos, ahistória do estudante sorocabano AlexandreVannuchi Leme que desafiou o autoritarismo daditadura e pagou caro por isso: foi preso em 16de março de 1973, torturado e amanheceu mor-to numa das celas do temido DOI-CODI/SP.

O documentário tem 55 minutos e foi produ-zido com o apoio institucional da Prefeitura deSorocaba.

Fernanda Ikedo publicou em 2003 o livro-reportagem “Ditadura e repressão em Soroca-ba: histórias de quem resistiu e sobreviveu”.

Contatos com Fernanda pelo e-mail:[email protected]

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Nossa América Latina

O Grupo TorturaNunca Mais/RJ agra-dece à Comissão Eu-ropéia o apoio quetem dado ao ProjetoClínico-Jurídico.

URUGUAIMilitar da repressão uruguaia

processa jornalistaO jornalista uru-

guaio, Roger Rodriguez,reconhecido como me-lhor investigador doscasos que envolvem vi-olações dos direitos hu-manos está sendo pro-cessado por difamaçãoe injúria pelo militaraposentado uruguaioEnrique Mangini Usera.

Roger denunciou pu-blicamente o major porter participado do assassinato de um estudanteem 1972. É lamentável que na América Latinagrupos e defensores de direitos humanos conti-nuam, ainda hoje, sendo ameaçados.

EUAGuantánamo, até quando?

É pouco dizer que a prisão de Guantánamoé um verdadeiro atentado, uma violação aosDiretos Humanos. Manifestações de todo omundo para o seu fechamento, dentre elas daRed Latinoamericana de Salud y DerechosHumanos, fizeram que o governo americano,frente à proximidade de suas eleições presiden-ciais, abrisse suas portas para jornalistas inter-nacionais, tentando suavizar as denúncias quesobre ela pesavam: torturas sistemáticas, trata-mentos cruéis e desumanos, prisões sem denún-cias formais, violações em nome da guerra con-tra o terrorismo. Informações recentes apontama permanência de 275 detentos, sendo que, emseis anos, mais de 750 pessoas estiveram pre-sas. Treze delas foram acusadas formalmentede algum crime e os demais nem sequer possu-em acusação.

O advogado londrino, Stafford, diretor daONG Reprieve, que representa 33 presos destaprisão, recentemente fez declarações de quelá se mantém os presos em “piores condiçõesque o corredor da morte e está cheio de genteinocente”. São pessoas entregues aos america-nos no Afeganistão e Paquistão em troca de re-compensa. Denuncia ainda, que os EUA come-tem crime ao comprar presos, e que países daComunidade Européia, como Portugal e Espa-nha, têm sido coniventes com estas violaçõesao permitirem a utilização de seu espaço aé-reo e bases para o transporte ilegal de presospara Guantánamo. Clama providências urgen-tes à Comunidade Européia.

É bom lembrar que o Parlamento Europeucontou o total de 1.245 vôos da CIA em seu es-paço aéreo, e que em 2006 o Conselho da Eu-ropa acusou a Polônia e a Romênia de abrigarcárceres secretos para suspeitos, o que foi ad-mitido logo em seguida por Bush.

COLÔMBIAUm ataque à soberania equatoriana.A decisão do presidente Uribe da Colômbia

de entrar em território do Equador e assasinarmembros da FARC, indica claramente a inten-ção deste governo da manutenção e irradiaçãoda lógica da guerra, inspirada e apoiada pelogoverno norte americano através do Plano Co-lômbia, e interrompe as negociações em cursopara a libertação dos reféns.

Esta ação nos faz relembrar o Plano Condorem que as ditaduras do Cone Sul realizaramimpunemente seqüestros, roubos e assassinatos,atravessando fronteiras entre países vizinhos.No passado recente sob a forma de guerra con-tra o comunismo e no presente, sob a forma deguerra preventiva, a influência da política nor-te americana marca as de seu “quintal”, seme-ando a violência e a guerra.

A Colômbia vive há mais de 50 anos em cli-ma de violência. Experimentou inúmeros pro-jetos frustrados de pacificação que terminaramem massacres, se realimenta das políticas derepressão e violência que se abatem sobre oslutadores sociais e sobre os milhões de “deslo-cados”, todos afetados diretos pela política be-licista.

APT pede que países daAmérica Latina acelerema criação dosMecanismos dePrevenção à Tortura

A Associação para a Prevenção da Tortura,APT, em uma audiência na Comissão Interame-ricana de Direitos Humanos, pediu que estaComissão se encarregasse de impulsionar o pro-cesso de criação do mecanismo nacional deprevenção. Dentre os nove países que ratifica-ram o Protocolo Facultativo da Convenção Con-tra a Tortura, apenas dois – México e Costa Rica– designaram seus mecanismos de prevenção.O governo brasileiro, apesar de ter ratificado oProtocolo Facultativo, ainda não designou aentidade nacional independente de vigilânciaque, junto com um comitê internacional, forma-do por “experts” em várias disciplinas, fará vi-sitas aos centros de detenção para coibir os abu-sos, torturas e violações e fazer recomendaçõesàs autoridades.

Em nome do “Combate ao Terrorismo”, a violência se dissemina pela América Latina

Page 12: de Resistência 2008 - Grupo Tortura Nunca Mais RJ | O Grupo Tortura Nunca Mais do … · 2013-11-04 · Página 2 • JORNAL DO GTNM/RJ 64 - MARÇO / 2008 EDITORIAL POR CORRESPONDÊNCIA

GRUPO TORTURA NUNCA MAIS/RJ

Rua Gal. Polidoro, 238 sl. - Botafogo22280-000 RJ/Brasil – Tel/Fax (021) 2538 0428

IMPRESSO

como juiz federal e minha identificaçãofuncional está dentro da minha carteira, no bolsoda bermuda”. Imediatamente, o policialnovinho, que se identificou como André e naDP disse se chamar Cristiano meteu a mão nomeu bolso, pegou a minha carteira e a colocouem um dos bolsos de suafarda preta. Então oi m p e n s á v e la c o n t e c e u !Disseram:“ J u i z

Federal é o c..., tu é malandro e vai para acaçapa do camburão”.

Fui atirado na mala do camburão (...) alge-mado, porém, com o celular no bolso e os trêspoliciais do CORE da Policia Civil do Estado doRio de Janeiro, dizendo que no máximo eu de-veria ser “juiz arbitral ou de futebol”. Temendopela vida (…), peguei o celular do bolso mes-

Segunda-feira de carnaval, saio de casa (…)para encontrar a namorada na porta do CircoVoador, na Lapa. Lá chegando, saio do táxi fa-lando ao celular para encontrá-la. (…). Alémde tênis, bermuda e camisa, usava um chapéu,desses vendidos em todos os cantos da cidade(…).

Então, atravesso a rua e quase sou atropela-do por um camburão com luzes e lanternas apa-gadas com a inscrição CORE, no carro. No mes-mo momento o motorista grita “ Ô malandro” eeu, assustado, dou um pulo para a calçada, peçodesculpas e viro as costas, continuando ao ce-lular e andando, já na calçada.

Ai, percebo que a viatura andava ao meulado, com três policiais de preto, ao queescuto, em alto e bom som: “Saia darua, seu malandro e bêbado”. Nessemomento, pensei: Isto não é jeito detratar as pessoas na rua e respondi:“Não sou bêbado nem malandro; sevocês não estiverem em operação,está errado andarem com essa via-tura preta e apagada, pois quase meatropelaram e vão acabar atropelan-do alguém!”

Oportunidade em que os homensde preto descem da viatura dizendo:“Ô malandro, tu é abusado, tápreso”. Ato contínuo, diante da vozde prisão, estendo os dois braços paraser algemado. Pergunto ao mais novo dos três,que estava completamente alterado: “Qual omotivo da prisão?” Resposta: “Desacato”.Pergunto novamente: “O que os senhoresentendem como desacato?” Resposta: “Até a DPa gente inventa, se a gente te levar pra lá”.Neste exato momento, percebendo a gravidadeda situação, disse: “Estou me identificando

O Juiz, a Polícia e o MalandroRoberto Schuman*

mo algemado e liguei para a Assessoria de Se-gurança da Justiça Federal informando a situa-ção, bem baixinho, e que não sabia se seria le-vado para DP, pedindo para acionar a PM elocalizar a viatura do CORE que estava circu-lando pela Lapa comigo jogado algemado namala (…).

O fato é que já na presença do delegado asalgemas foram retiradas e, vinte minutos depois,um dos policiais de preto vem ao meu encontroe me pede: “Excelência, desculpas, nós agimosmal, podemos deixar por isso mesmo?” Respon-

di: “Primeiro. Não me chame de Exce-lência, pois até há pouco vocês me cha-mavam de malandro. Segundo. Não,não pode ficar por isso mesmo. Como éque vocês tratam assim as pessoas narua, como se fossem bandidos. Tercei-ro. Vocês três não honram a farda queestão vestindo. Quarto. Desde a abor-dagem policial agi apenas como cida-dão, no que fui desrespeitado e, depoisde ter me identificado como juiz fede-ral, fui mais ainda, logo, um crime deabuso de autoridade seguido de outrode desacato”.

Pensei, por fim: “Se como juiz fede-ral fui ameaçado por três homens defardas pretas com pistolas automáticas,algemado e jogado (...) na mala de umcamburão, simplesmente por tê-los re-preendido, de forma educada, comoconvém a qualquer pessoa (...), o queaconteceria a um cidadão desprovidode autoridade e de conhecimento dosseus direitos?” Duas coisas são certas,de minha parte: Não permitirei nada

“passar” em branco, pois são fatos sérios e gra-ves que partiram daqueles que têm o dever dezelar pela segurança da sociedade e, no próxi-mo carnaval, não usarei o presente da namora-da, o tal “chapéu”. É perigoso. Pode ser coisade malandro.

* Cidadão e Juiz Federal noEstado do Rio de Janeiro

O Juiz Federal da Sétima Vara Federal Criminal, Dr. Marcello Granado determinou, dia 12/

02/2008, o afastamento dos policiais responsáveis por ter dado voz de prisão ao Juiz Fede-

ral Roberto Schuman. Na decisão, o Juiz determinou também que fossem recolhidas as

armas de fogo pertencentes à Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro que porventura

estivessem em poder dos acusados. (Processo 2008.51.01.806030-1)