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TORIANITA DO AMAPÁ
Leonam dos Santos Guimarães
Nos anos 80, mais precisamente entre 1986 e 1989, o
Laboratório de Análise Mineral da Comissão Nacional de
Energia Nuclear – CNEN, a pedido da Secretaria do Conselho
de Segurança Nacional, que estava investigando uma
possível evasão deste minério do norte do País, analisou
amostras de torianita1. A investigação foi conduzida à época
pelo Comandante Quintieri, já falecido2
Este minério é muito semelhante à cassiterita, minério de
estanho, até na forma dos cristais. A torianita já havia sido
encontrada em lotes de exportação de cassiterita (minério de
estanho) como se fosse este minério e também em
apreensões de contrabando por aeronaves destinadas à
Guiana.
As investigações da Secretaria do Conselho de Segurança
foram interrompidas em 1989, não se tendo informações
sobre os resultados alcançados. A origem exata deste minério
também não é de conhecimento público, estando
possivelmente associada à mina de pirolusita (dióxido de
manganês) da Serra do Navio3, no Amapá, atualmente
esgotada.
A análise então feita desse minério, apresentou altíssimo
teores de óxido de tório (acima de 80%), óxido de urânio(4 a
8%) e cerca de 10% de chumbo radiogênico (produto de uma
cadeia de decaimento radiativo) com predominância do
isótopo Pb-2084, descendente do isótopo mais abundante do
tório na natureza, o Th-2325, sobre os outros isótopos naturais
do chumbo que são Pb-204, Pb-206, Pb-207.
O chumbo natural tem, em média, a seguinte composição: Pb-
204 (1.4%), Pb-206 (24.1%), Pb-207 (22.1%) e Pb-208
(52.4%). Entretanto, diferentemente do Urânio, que na
natureza tem uma composição isotópica praticamente fixa, o
chumbo pode ter uma composição isotópica bem variada
dependendo da origem do minério. Note-se que o chumbo
encontrado na torianita é 88% composto pelo isótopo Pb-2086,
ou seja, é “naturalmente enriquecido” neste isótopo.
Notícias de apreensões cargas contrabandeadas do Amapá
com variadas quantidades de torianita tem surgido de forma
recorrente na imprensa. Um consulta Google para as
palavras-chave “torianita” e “Amapá” fornece 815 notícias7.
Dentro do período 2000-2010, essas notícias têm a
distribuição temporal quantitativa mostrada pela figura a
seguir8.
1 http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=11221
2 http://istoevip.terra.com.br/reportagens/paginar/22273_CARTAS/1
3 http://pt.wikipedia.org/wiki/Serra_do_Navio
4 http://www.matpack.de/Info/Nuclear/Nuclids/P/Pb208.html
5 http://en.wikipedia.org/wiki/Thorium-232
6 http://www.chicobruno.com.br/lista.php?idC=12099
7http://www.google.com.br/search?q=torianita+amap%C3%A1&num=10
0&hl=pt-BR&lr=&rlz=1R2ADFA_pt-BRBR383&prmdo=1&source=lnms&ei=2p5wTMSwCcP38AbmjvXwCg&sa=X&oi=mode_link&ct=mode&ved=0CBgQ_AU 8 http://www.google.com.br/search?num=100&hl=pt-
BR&lr=&tbo=1&rlz=1R2ADFA_pt-BRBR383&prmdo=1&tbs=tl%3A1&q=torianita+amap%C3%A1&btnG=Pesquisar&aq=f&aqi=&aql=&oq=&gs_rfai=
Em 1993 a Folha de São Paulo noticiava a apreensão de
1.300 quilos do material numa casa no centro de Belém que
estaria no local “desde outubro de 1992” (vide figura a seguir).
A reportagem especula que o material seria contrabandeado
para o Iraque “que usaria o tório beneficiado para produção de
mísseis nucleares”. Não se tem informações sobre o resultado
das investigações nem sobre a composição do material
apreendido então.
A reportagem investigativa mais ampla identificada foi aquela
publicada pela revista Isto É de 17 de maio de 2006
denominada “O contrabando do urânio brasileiro”9. A
reportagem se refere a uma apreensão de 600 kg feita pela
Polícia Federal em 12/07/200410
. Segundo análise feita pela
CNEN à época, essa torianita possuía 75% de Tório, 7,5% de
Urânio e 10% de Óxido de Chumbo em sua composição.
Conforme o próprio título da reportagem, o autor supõe que o
interesse pela torianita decorra do urânio nela contida. Chega
mesmo a apresentar avaliar o preço do quilo do material “de
US$ 200 a US$ 300”. Note-se que existem pelo menos duas
9http://www.istoe.com.br/reportagens/21854_O+CONTRABANDO+DO+
URANIO+BRASILEIRO?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage 10
http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2004/08/25/15802-policia-federal-no-amapa-apreende-minerio-extraido-ilegalmente.html
TORIANITA DO AMAPÁ
Leonam dos Santos Guimarães
empresas internacionais11, 12
que comercializam pela internet a
torianita bruta, supostamente originária das minas de Sri
Lanka13
, a US$ 450 por quilo.
Estes valores, entretanto, são incompatíveis com os preços no
mercado internacional “spot” do diuranato de amônia – DUA
(yellow cake), que contem mais de 70% de urânio e é
atualmente negociado a valores inferiores a US$ 100 o quilo.
A torianita bruta tem um teor de urânio de 4 a 8%. Ainda que
esse teor seja bastante superior aos teores dos minérios
brutos de urânio em exploração comercial no mundo (inclusive
pela INB na mina de Cachoeira em Caitité na Bahia), ele é
muito inferior ao teor de urânio do yellow cake comercial, com
preço muito inferior. Além disso, o beneficiamento da torianita
para produção de urânio é um processo tecnologicamente
difícil e caro.
Portanto, as possibilidades de que a torianita seria
contrabandeada para extração do urânio nela contido por
países que tivessem dificuldades de obtenção de yellow cake
no mercado internacional, tais como o Iraque na década de 90
e o Iran atualmente, parecem pouco prováveis.
Também careceria de fundamento supor que o interesse pela
torianita viesse do tório nela contido, pois este mineral
radioativo é muito abundante, particularmente nas areias
monazíticas brasileiras e indianas, e tem baixa procura no
mercado. Seu uso como combustível nuclear é ainda
experimental e seu uso como material fértil para produção do
isótopo físsil do urânio U-233, potencialmente aplicável a
artefatos nucleares, é pouco provável, pois os isótopos físseis
U-235 e Pu-239 são muito mais eficazes e de aplicação muito
mais fácil.
A torianita é um minério com uso comercial restrito, sem
cotação no mercado internacional, economicamente inviável
para extração de urânio e tório e que é encontrado na beira de
rios na forma de rochas.
A reportagem levanta ainda a possibilidade de essa torianita
ser usada moída, com o objetivo de adulterar a columbita-
tantalita (coltan)14
, um minério usado na fabricação de óxidos
de nióbio (nome mais comum do colúmbio) e tântalo, utilizado
na produção de ligas especiais em tecnologias de ponta
(informática, aeroespacial, dentre outras), e que tem
significativa procura no mercado e preços bastante elevados,
da ordem de mais de U$ 500 o quilo.
No Brasil, as maiores reservas de coltan encontram-se nos
estados do Amazonas, Roraima (com predominância no sul
do estado) e no Amapá, com quase 52,1% das reservas de
todo o mundo. Entretanto sua exploração atual é feita
somente pela empresa peruana Minsur, detentora da
concessão minerária da mina de Pitinga – AM15
. O minério lá
produzido e levado em caminhões para Pirapora do Bom
Jesus, próximo a São Paulo, onde é beneficiado e exportado.
11
http://www.chinaqualitydigital.com/d-p1117589478965070400-thorianite_crude_powder/ 12
http://trade-metal.com/thorianite-crude-powder-p23297.html 13
http://en.wikipedia.org/wiki/Thorianite 14
http://pt.wikipedia.org/wiki/Coltan 15
http://www.cnen.gov.br/lapoc/tecnica/inspmind.asp
Recentemente foi divulgado na mídia16
que INB discute com a
peruana Minsur, detentora da concessão minerária da reserva
de Pitinga, a possibilidade de desenvolver uma nova rota
tecnológica para explorar o urânio na região, onde, estima-se,
há cerca de 150 mil t do mineral. Uma técnica diferenciada é
necessária porque, nessa área, o urânio encontra-se
associado a outros dois minerais, columbita e cassiterita, o
que tornará o acesso ao elemento mais difícil. A mineradora
peruana já explora nióbio e estanho. O Instituto de Energia
Nuclear da UFRJ será também um potencial aliado no
desenvolvimento da nova rota tecnológica.
Não fica claro, portanto, qual coltan seria adulterado pela
torianita contrabandeada. Não faria muito sentido
contrabandeá-la para o exterior, a não ser que o coltan a ser
adulterado não fosse o nacional, ou que a adulteração do
coltan nacional fosse feita fora do País, possibilidade que,
apesar de não ser descartável a priori, parece pouco provável.
Em 2008 a Folha de São Paulo publica novamente matéria
sobre o tema17
. Nela é levantada a possibilidade de que o
interesse pela torianita decorra do Pb-208 nela contido, que
“seria utilizado para a refrigeração de reatores”, o que é
coerente com pesquisas que vem sendo desenvolvidas na
Rússia18
. Levanta também a possibilidade do interesse
decorre de outro uso do Pb-208 que seria “o revestimento de
bombas de nêutrons19,20,2122
, famosas pelo potencial de matar
seres vivos e ter um impacto menor sobre prédios e
construções”, possibilidade que já havia sido levantada no
passado23
.
A possibilidade de que o interesse despertado pela tantalita do
Amapá, que leva ao seu contrabando a preços elevados,
resida no seu terceiro componente majoritário, que é o
chumbo naturalmente enriquecido no isótopo Pb20824
seja a
mais provável. Note-se que a torianita normalmente
comercializada (vide notas 10 e 11) provêm do Sri Lanka e
Madagascar25
. Os minérios destes locais, entretanto, são
pobres em chumbo (1,8% e 2,29%, respectivamente), em
comparação com o minério brasileiro (cerca de 10%). Existem
também ocorrências deste mineral na Índia, Rússia, EUA,
Canadá, África do Sul e Congo (vide nota 12), mas não foram
obtidas informações sobre os teores de chumbo nesses
minerais.
Cabe ainda registrar que a Rede Globo levou o tema ao
horário nobre dentro da série “Globo Amazônia” apresentada
no “Fantástico” de 04/10/200926
. A reportagem cita que “no
mercado regular, países que obedecem a normas mundiais
podem comprar um quilo de urânio puro por 200 reais. Nas
negociações clandestinas, contudo, o quilo do urânio ainda
misturado à torianita, sem passar por nenhuma purificação,
pode chegar a R$ 2.500 o quilo – 12 vezes mais”. O repórter
16
http://www.energiahoje.com/online/eletrica/termo/2010/12/02/422190/tecnologia-para-uranio-no-am.html 17
http://www.chicobruno.com.br/lista.php?idC=12099 18
http://www.world-nuclear.org/info/inf08.html 19
http://nuclearweaponarchive.org/Nwfaq/Nfaq1.html 20
http://www.financialsensearchive.com/editorials/douglass/2003/0311.html 21
http://nuclearweaponarchive.org/Library/Brown/index.html 22
http://www.fact-index.com/n/ne/neutron_bomb_1.html 23
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=11221 24
http://pintassilgo2.ipen.br/biblioteca/2009/inac/15187.pdf 25
http://www.handbookofmineralogy.org/pdfs/thorianite.pdf 26
http://www.globoamazonia.com/Amazonia/0,,MUL1329170-16052,00-TRAFICANTES+DO+AMAPA+VENDEM+MATERIAL+RADIOATIVO+OBTIDO+ILEGALMENTE.html
TORIANITA DO AMAPÁ
Leonam dos Santos Guimarães
deve ter se referido à relação entre o quilo da torianita bruta e
o quilo do yellow cake comercial, o que faz sentido. Nota-se,
entretanto, que o preço do material contrabandeado teria
aumentado substancialmente desde 2004, quando a
referência de reportagem da época seria “de US$ 200 a US$
300”. O valor de R$ 2.500 também não é compatível com o
preço de US$ 450 obtido atualmente (vide nota 10).
Outro ponto relevante na reportagem do “Fantástico” é a
declaração de um suposto contrabandista que afirma ter como
cliente recente “um pessoal do Iraque”. Ora, certamente esse
“pessoal” nada teria a ver com o Governo do Iraque atual, sob
ocupação americana. A afirmação, entretanto, levanta a
possibilidade de envolvimento de algum país árabe, em
especial o Iran como receptador do material.
A possibilidade de o Iran ser o receptador deste material para
recuperação de urânio é preocupante. Entretanto, para isto
ser verdade, seria necessário que o Iran tivesse desenvolvido
ou adquirido uma tecnologia específica para beneficiamento
deste material que, como já foi dito, seria muito cara e
complexa. Por não se dispor de informações sobre este
aspecto específico, não se pode, descartar essa possibilidade,
principalmente quando se sabe que os estoques de yellow
cake do Iran encontram-se praticamente esgotados desde o
final de 200827, 28
, o que certamente deve estar levando o
Governo de Teheran a buscar fontes de suprimento
“alternativas”, dadas as sanções da ONU às quais está
submetido.
Se este fato se confirmar, isto poderá a colocar o Brasil numa
posição desconfortável junto à comunidade internacional.
Entretanto, ainda que o fato não seja verdadeiro, ou seja, que
a torianita do Amapá tenha outros usos alheios ao urânio e ao
Iran, o Brasil corre ainda o risco de ser envolvido numa
acusação do tipo daquela que foi forjada para implicar o
Iraque de Saddam Hussein numa suposta compra clandestina
de yellow cake do Níger. Esta fraude foi amplamente noticiada
pela imprensa após a invasão do Iraque29, 30
, tendo sido usada
como suposta “prova” do envolvimento de Saddam com
“armas de destruição em massa”, contribuindo como
justificativa para a própria invasão. A situação hoje é muito
semelhante com relação ao Iran, e tal ação de inteligência
poderia se repetir, mas desta vez envolvendo o Brasil.
O chumbo raramente é encontrado no seu estado elementar31
.
O mineral de chumbo mais comum é o sulfeto denominado de
galena (com 86,6% deste metal). Outros minerais de
importância comercial são o carbonato (cerusita) e o sulfato
(anglesita), que são mais raros. Geralmente é encontrado com
minerais de zinco, prata e, em maior abundância, de cobre.
Também é encontrado chumbo em vários minerais de urânio e
de tório, já que vem diretamente da desintegração radioativa
destes radioisótopos. Os minerais comerciais podem conter
pouco chumbo (3%), porém o mais comum é em torno de
10%. Os minerais são concentrados até alcançarem um
conteúdo de 40% ou mais de chumbo antes de serem
fundidos.
27
http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/middle_east/article5576589.ece 28
http://www.isisnucleariran.org/assets/pdf/Iran_Yellowcake.pdf 29
http://en.wikipedia.org/wiki/Niger_uranium_forgeries 30
http://cryptome.org/niger-docs.htm 31
http://pt.wikipedia.org/wiki/Chumbo
O chumbo tem 4 isótopos naturais estáveis que, com a
respectiva abundância natural, são: Pb-204 (1.4%), Pb-206
(24.1%), Pb-207 (22.1%) e Pb-208 (52.4%). O Pb-206, Pb-207
e o Pb-208 são os produtos finais de uma complexa cadeia de
decaimento que se inicia com o U-238, U-235 e Th- 232,
respectivamente. As correspondentes meias-vida destes
esquemas de decaimento são : 4.47 x 109, 7.04 x 10
8 e 1.4 x
1010
anos, respectivamente. Cada um deles é documentado
em relação ao Pb-204, o único isótopo natural radioativo não
radiogênico. As escalas de relações isotópicas para a maioria
de materiais naturais são 14.0-30.0 para Pb-206/Pb-204, 15.0-
17.0 para Pb-207/Pb-204 e 35.0-50.0 para Pb-208/Pb-204,
embora numerosos exemplos fora destas escalas sejam
relatados na literatura32
.
Note-se que métodos de separação e recuperação do Pb-208
dos resíduos de Tório e Terras Raras gerados na Unidade
Piloto de purificação de Nitrato de Tório que operou no Brasil,
mas já foi descomissionada, foram objeto de tese de
doutorado no IPEN33
.
O isótopo Pb-208 tem uma característica física única: ele é o
mais pesado dos isótopos “duplamente mágicos”, que são
helio-4 (He-4), oxigênio-16 (O-16), cálcio-40 (Ca-40), cálcio-48
(Ca-48), níquel-48 (Ni-48) e chumbo-208 (Pb-208)34
. Seus 82
prótons e 126 nêutrons são arranjados em camadas
completas no núcleo atômico, o que lhe dá excepcional
estabilidade, com mínimas seções de choque (probabilidade
de ocorrência) para as reações nucleares, simultaneamente
tendo um elevado peso atômico.
Isto torna o Pb-208 o único material pesado que é
praticamente transparente aos nêutrons. Esta propriedade de
transparência aos nêutrons o torna particularmente
interessante para uso em aplicações nucleares que requeiram
a maximização do fluxo neutrônico, com mínimas perdas por
absorção.
É o caso dos reatores nucleares rápidos resfriados a chumbo
líquido35
, tecnologia desenvolvida pela URSS nos anos 70
para emprego na propulsão nuclear de submarinos (Classe
Alfa) e que hoje está sendo retomada por diversos países
para desenvolvimento da chamada “Generation IV”36
de
usinas nucleares e também para os chamados “Accelerator
Driven Systems – ADS”37
, reatores “incineradores” de
actinídeos menores (rejeitos nucleares de longa vida). O uso
de chumbo enriquecido no isótopo 208 como fluido de
resfriamento do núcleo do reator nessas aplicações traz
grandes vantagens38
. O Pb-208 também é utilizado como
fonte nêutrons para sustentar a reação em cadeia no núcleo
dos ADS39
. Neste caso ele compõe alvos para o acelerador
desses sistemas, gerando nêutrons pela reação de espalação
32
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-50532007000500014&script=sci_arttext 33
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/85/85134/tde-04062007-160337/ 34
http://en.wikipedia.org/wiki/Magic_number_(physics) 35
http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V1R-50GC64W-1&_user=10&_coverDate=11%2F30%2F2010&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=b50ff7885f5872f5bf1975834e11c40a 36
http://www.gen-4.org/Technology/evolution.htm 37
http://www.world-nuclear.org/info/inf35.html 38
http://elibrary.ru/item.asp?id=13601941 39
http://pelicano.ipen.br/PosG30/TextoCompleto/Sergio%20Anefalos%20Pereira_D.pdf
TORIANITA DO AMAPÁ
Leonam dos Santos Guimarães
induzida por prótons de alta energia40
. Não se identifica,
entretanto, uma razão para que a obtenção do Pb-208 para
estas aplicações seja feita por vias ilícitas.
É também o caso de artefatos nucleares “Enhanced Radiation
– ER” que visam maximizar a geração de altos fluxos de
nêutrons com um mínimo efeito de calor, ondas de choque e
geração de produtos de fissão, as chamadas “bombas de
nêutrons”. Os EUA desenvolveram e produziram três ogivas
de nêutrons, uma quarta foi cancelado antes da produção.
Todas foram retiradas de serviço e desmanteladas.
A ogiva W66 para o míssil Sprint foi a primeira a ser
desenvolvida. Ela foi fabricada durante 1974-75, e foi
aposentada em agosto de 1975, após poucos meses de
serviço quando o sistema Sprint foi desativado (cerca de 70
foram feitas). Ela tinha uma energia de vários quilotons (20 kt
foi relatado) e podem ou não ter usado combustível DT
(Deutério-Trítio).
A W70 Mod-3, desenvolvida como ogiva do míssil Lance tinha
uma energia total de cerca de 1 kt de fusão. Ela foi fabricado
durante 1981-83, sendo retirada de serviço em 1992 após
serem fabricadas 380 unidades.
A ogiva W79 Mod-0 foi desenvolvida para projétil de artilharia
de 8 polegadas. Tinha um rendimento variável de 100 t a 1,1
kt. A de menor energia foi uma arma de fissão pura41
, a de
maior energia foi de 800 t de fusão (73%) e 300 t de fissão.
Elas foram fabricadas durante 1981-1986. Essa versão
começou a ser retirada de serviço em meados da década de
80, sendo todas descomissionadas em 1992. Foram
construídos 325 artefatos deste tipo.
O W82 Mod-0 foi desenvolvida para projétil de artilharia de
155 milímetros, com energia variável semelhante à W79. Foi
cancelada em outubro de 1983, sem ir para produção.
A Rússia, China, França e Israel também desenvolveram
projetos de bomba de nêutrons e podem tê-las em serviço.
Algumas fontes afirmam que Israel também teria
desenvolvidos esse tipo de artefato.
Outro conceito de artefato ER seria o tipo fission-free, ou seja,
um artefato de fusão pura, conforme figura abaixo, onde o Pb-
208 poderia ser usado como “heavy metal liner” ou como
“heavy metal driver” (vide figura a seguir). Não se tem
informações se tal artefato efetivamente tenha sido
desenvolvido ou esteja em desenvolvimento por algum dos
países nuclearmente armados.
40
http://www.emc2009.iprj.uerj.br/down.php?fid=295 41
http://nuclearweaponarchive.org/Library/Brown/index.html
O Pb-208 também poderia ainda ser utilizado para a produção
de trítio, material fundamental para a produção de artefatos de
fusão, através de sua irradiação com íons de deutério,
segundo a reação nuclear abaixo42
. Restam, entretanto,
dúvidas quanto à eficiência e capacidade industrial deste
processo produzir quantidades significativas de trítio
necessárias a um artefato de fusão.
No caso da obtenção do PB-208 para essas aplicações em
artefatos nucleares, podem ser identificadas razões para o
uso de vias ilícitas, dado o sigilo que estaria necessariamente
envolvido.
O Pb-208 é também bastante utilizado em pesquisa básica
experimental em física nuclear43
, incluídas nessas pesquisas a
geração de isótopos artificiais estáveis ultra-pesados. Note-se
que existem empresas especializadas que fornecem
comercialmente chumbo enriquecido no isótopo 20844
, porém
em pequenas quantidades. Não se pode, portanto, descartar a
possibilidade destas empresas buscarem sua matéria prima
no “mercado negro”.
42
http://es.wikipedia.org/wiki/Trit%C3%B3n_(qu%C3%ADmica) 43
http://web.if.usp.br/pesquisa/sites/default/files/Microsoft%20PowerPoint%20-%20Rubens_Lichtenthaler2009.pdf 44
http://www.americanelements.com/pb208.html