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Textos dinamizadores dos Círculos de Cultura e das Sessões de Pôsteres

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  • Textos dinamizadores dos Crculos de Cultura e das Sesses de Psteres

  • III Seminrio Internacional Dilogos com Paulo FreireO pensamento poltico-pedaggico de Paulo Freire: Dilogos com a educao no sculo XXI

    2015 50 anos de Educao Popular no Brasil

    Realizao

    Apoio

    Natal/RN/Brasil2015

  • E-book do III Seminrio Internacional Dilogos com Paulo FreireO pensamento poltico-pedaggico de Paulo Freire: Dilogos com a educao no sculo XXI

    2015 50 anos de Educao Popular no Brasil

    Organizao

    Claudia Cristina dos Santos AndradeInez Helena Muniz Garcia

    Lidia Maria Ferreira de Oliveira

    Arte/DiagramaoAriel Lima

    III Seminrio Internacional Dilogos com Paulo Freire - O pensamento poltico-pedaggico de Paulo Freire: Dilogos com a educao no sculo XXI/2015 50 anos de Educao Popular no Brasil. Natal: SINTERN, 2015.

    1295 p. ISBN 978-1-312-94427-5

  • SINTERN

    Direo

    Coordenao GeralJos Teixeira da SilvaMaria de Ftima Oliveira CardosoJos Rmulo Arnaud AmncioDiretoria de OrganizaoFrancisco de Assis SilvaMaria Vicncia A. dos SantosDiretoria de Administrao e FinanasMaria Luzinete Leite de Oliveira PintoCristiane Medeiros DantasDiretoria de Assuntos JurdicosMilton Urbano AiresVera Lcia Alves MessiasDiretoria de ComunicaoIonaldo Tomz da SilvaFrancisco Leopoldo NunesDiretoria de Relaes Sindicais e InteriorMarcondes Alexandre da SilvaFrancisco Alves Fernandes FilhoDiretoria de Formao Sindical e EducacionalEliane Bandeira e SilvaAlcivan Medeiros da SilvaDiretoria de Cultura e LazerMaria Beatriz de LimaJoildo Lobato BezerraDiretoria de Organizao da CapitalSergio Ricardo C. de OliveiraEnoque Gonsalves VieiraDiretoria de Relaes de GneroMaria Ins de Almeida MoraisMaria Gorete dos SantosDiretoria dos AposentadosMarlene Sousa de MouraJos de Arimatia Frana Lima

  • Diretoria de Organizao dos Funcionrios da EducaoRaimunda Nadja de V. CostaJoo Willams da SilvaDiretoria de Organizao da Educao InfantilSandra Regina MouraGidlia Ferreira de AlmeidaDiretoria de Administrao da Casa do Trabalhador em EducaoSimonete Carvalho de Almeida

    Os textos aqui publicados so de inteira responsabilidade de seus autores

  • SUMRIOO VENTO ANIMADOR PARA A EDUCAO qUE VEM DE NATAL/RN NOS DILOGOS COM PAULO FREIRE 25

    COM qUANTAS VOzES SE CONSTRI UMA UTOPIA? 29

    AS CONTRIBUIES DE PAULO FREIRE PARA A FORMAO DOCENTE NA EDUCAO DE JOVENS, ADULTOS E IDOSOS E O PROCESSO DE CONSTRUO DOS CONHECIMENTOS ACERCA DO SISTEMA DE ESCRITA ALFABTICA. 32

    SINDICATO DOS SERVIDORES DA PREFEITURA DE AMARGOSA SISEPA: UM ESPAO DE EDUCAO POPULAR E MOBILIzAO SOCIAL 39

    PRTICA PEDAGGICA E A CONSTRUODA IDENTIDADE DO SUJEITO COGNOSCENTE 47

    POLTICAS PBLICAS E A JUVENILIzAO DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS: UM OLHAR PARA A DIVERSIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR 55

    DILOGOS E VIVENCIAS COM A LEI 10.639/2003 A PARTIR DA PROPOSTA FREIRIANA 63

    PENSARES, DIzERES E FAzERES NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS 71A FORMAO DE PROFESSORES EM CAMPO PRODUTIVO DE TRABALHO: OS EDUCADORES COMO SUJEITOS PENSANTES, AUTNOMOS E POITICOS 81

  • SUMRIOEDUCAO AMBIENTAL FREIREANA NA PERSPECTIVA DOS CONFLITOS AMBIENTAIS 91

    O DILOGO COMO INTERLOCUTOR NA CONSTRUO DE UMA PRTICA PEDAGGICA PENSADA COM AS CRIANAS: CONTRIBUIES DE PAULO FREIRE 98

    DA CONDIO DE OPRESSO DOCENTE FORMAO PERMANENTE: UMA POSSIBILIDADE CONCRETA PARA A EMANCIPAO 105

    A EDUCAO POPULAR COMO INSTRUMENTO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS: UMA ESTRATGIA DE FORMAO POLTICA E CIDAD NO ACAMPAMENTO EDIVAN PINTO/RN 111

    FORMAO DOCENTE DA EJA: PRTICAS PEDAGGICAS EM CONSTRUO 118

    EDUCAO DIALGICA COMO PRESSUPOSTO PARA A EFETIVAO DA DEMOCRACIA BRASILEIRA 127

    COMO DEVO ATUAR PROFISSIONALMENTE NO SCULO XXI 136

    ENCONTROS FORMATIVOS DO PIBID: MEMRIAS DE APRENDIzAGENS LEITORAS 146

    CRCULO DE CULTURA: DILOGOS FREIRIANOS NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS 153

  • SUMRIOA RELAO ENTRE TEORIA E PRTICA NA FORMAO DE PROFESSORES:O qUE DIzEM OS GESTORES DA EDUCAO INFANTIL MUNICIPAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 160

    VNCULOS AFETIVOS, FORMAO PERMANENTE DE PROFESSORES: UMA REVISO BIBLIOGRFICA. 170

    PAULO FREIRE E SUA CONTRIBUIO NAS PESqUISAS: UM PANORAMA DAS DISSERTAES E TESES PUBLICADAS NO PPGE/UFPB 179

    DOCNCIA COMPARTILHADA: UMA VIVNCIA DE LIDERANAS PARTILHADAS 191

    DIALOGAR SOBRE A NEGAO DO PRPRIO DILOGO 197

    A PRTICA DOCENTE NA PERSPECTIVA FREIRIANA: UMA REFLEXO 203

    A AUTOESTIMA DO ALUNO NO PROCESSO DE APRENDIzAGEM, EM SALA DE AULA, NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 210

    TICA NA ATUAO DOCENTE 219

  • SUMRIOPROFESSORES DA EJA E A OPO PELO MAGISTRIO: EU NO ME VEJO EM OUTRA PROFISSO 226

    IDENTIDADE CULTURAL E A EDUCAO ESCOLAR DOS RIBEIRINHOS DE ABAETETUBA/PA: A OPO FREIREANA NA PRTICA EDUCATIVA 237

    O DILOGO ENqUANTO MODO DE ENSINAR E PESqUISAR: REFLEXES DE DUAS ESTUDANTES E EDUCADORAS, A PARTIR DOS ENSINAMENTOS FREIREANOS 248

    AS NARRATIVAS E AS RODAS NA FORMAO DE PROFESSORES 258

    CONCERTOS DE LEITURA NA EJA: UM TRABALHO POLTICO-PEDAGGICO DE TRADUO 267

    A INCLUSO DE ALUNOS SURDOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE CAMPUS FLORESTA: REMOVENDO BARREIRAS PARA O ACESSO E PERMANNCIA NO ENSINO SUPERIOR 275

    O PAPEL DO PROBLEMA NA (RE)SIGNIFICAO DAS PRTICAS PEDAGGICAS 286

    O MTODO PAULO FREIRE E O PAPEL DO EDUCADOR NO PROCESSO DE ALFABETIzAO DE ADULTOS 294

  • SUMRIOTECENDO UMA VIVNCIA NO ENSINO DE BIOLOGIA NA EDUCAO DE JOVENS, ADULTOS E IDOSOS. 294

    AUTONOMIA E AFETIVIDADENA APRENDIzAGEM: FORMAO DE SUJEITOS A PARTIR DE UMA EDUCAO TICA E CRTICA 304

    SENTIDOS HUMANIzADORES E FORMAO DOCENTE: REFLETINDO SOBRE A LICENCIATURA EM INFORMTICA DO IFRN-CAMPUS IPANGUAU 320

    A EDUCAO DO CAMPO E DIREITOS HUMANOS: O CASO DOS CURSOS DE PEDAGOGIA E PEDAGOGIA DO CAMPO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA 327

    POSSVEIS APROXIMAES ENTRE O LEGADO FREIREANO E O ENSINO DE LIBRAS COMO SEGUNDA LNGUA (L2) 338

    APRENDENDO E ENSINANDO - RELATO DE EXPERINCIA NAS AULAS DE TEATRO DA ESCOLA LIVRE DO GRUPONTAP DE TEATRO DE UBERLNDIA/MG 346

    O ENCONTRO COM O OUTRO EM SALA DE AULA CAMINHOS PARA UM MUNDO MAIS REDONDO 355

  • SUMRIO PRXIS NA FORMAO CONTINUADA: REFLEXES SOBRE A PROPOSTA DO CURSO DE APERFEIOAMENTO EM EDUCAO qUILOMBOLA DA UFERSA 362

    EDUCAO POPULAR E MOVA BRASIL: UMA RELAO PARA ALM DAS LETRAS E DOS NMEROS 369

    RELATO DE EXPERINCIAS DIDTICO-PEGAGGICAS DO PACTO PELO FORTALECIMENTO DO ENSINO MDIO, 15 DIREC, PAU DOS FERROS. 377

    MAXARANGUAPE/RN: A SITUAO ATUAL DO TRATAMENTO DOS RESDOS SLIDOS URBANOS, E A CONTRIBUIO DA PEDAGOGIA FREIRIANA NA CONSTRUO DE UMA CONSCINCIA AMBIENTAL 385

    UMA ANLISE DO MAL-ESTAR NA SOCIEDADE CONTEMPORNEA A PARTIR DO PENSAMENTO DE PAULO FREIRE 394

    PAUTA DE DISCUSSO E FORMAO: UM MOVIMENTO DE CONSTRUO DE PERFIL DOCENTE NA EJA MEDIANTE A ESCRITURA DE CARTA AVALIATIVA E RELATRIO DE ESTGIO 404

    FREIRE E A DISCIPLINA DE CURRCULO NA FORMAO DE PEDAGOGOS: UM DILOGO NECESSRIO 415

  • SUMRIOO IMAGINRIO SOCIAL DOS EDUCADORES EM MOVIMENTO (DCADA DE 1980) 426

    DIALOGICIDADE NA EDUCAO FSICA NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE ENSINO MDIO NO MUNCIPIO DE CAUCAIA NO CEAR. 433

    EDUCADOR SUJEITO PENSANTE E O ESTGIO SUPERVISIONADO NA TRAJETRIA DA FORMAO 443

    A DIALOGICIDADE EM PAULO FREIRE 453

    AS TRAMAS FREIREANAS E SUA DISCUSSO SOBRE A FORMAO POLTICA NA EDUCAO 459

    AS TRAMAS FREIREANAS E OS INTERCMBIOS CULTURAIS PRTICA EDUCATIVA NA RECOSEC 472

    PRTICAS PEDAGGICAS PARTICIPATIVAS LUz DE PAULO FREIRE: CONTRIBUIES PARA A CONSTRUO DA AUTONOMIA DOS SUJEITOS HUMANOS 484

    PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: REFLEXES EM TORNO DE SUAS CONTRIBUIES PARA A FORMAO DO PROCESSO EDUCATIVO 495

  • SUMRIOEDUCAO DIALGICA NA CRECHE: O qUE REVELAM AS CRIANAS? 501

    A FORMAO PERMANENTE DE PROFESSORES E A (RE) SIGNIFICAO DO ENSINO MDIO 513

    PRTICAS PEDAGGICAS DE PROFESSORES DE PEDAGOGIA: UMA PRTICA EDUCATIVA FREIREANA? 525

    UMA REFLEXO SOBRE A EDUCAO PBLICA E O DESAFIO DE SER E DE FORMAR UM SUJEITO PENSANTE 533

    IMPLICAES DAS IDIAS FREIRIANAS NA FORMAO DOCENTE 541

    O EDUCADOR LIBERTADOR DE PAULO FREIRE: UMA CONTINUAO NECESSRIA. 551

    O EDUCADOR LIBERTADOR DE PAULO FREIRE: UMA CONTINUAO NECESSRIA. 557

    UM OLHAR ETNOGRFICO: PRTICA EDUCATIVA DO ENSINO DE SOCIOLOGIA NA ESCOLA ESTADUAL BERILO WANDERLEY/RN 563

  • SUMRIOEDUCAO POPULAR E EXTENSO RURAL: PRTICAS EDUCATIVAS EM ASSENTAMENTOS RURAIS NO MUNICPIO DE CANIND, NO CEAR1. 572

    NEUTRALIDADE E MUDANA: UMA PROVOCAO AOS PROFESSORES DE LE 583

    A FILOSOFIA OBRIGATRIA: PAULO FREIRE, GRAMSCI E A LEI 11684/2008 590

    PEDAGOGIA DA COMUNICAO: FUNDAMENTOS EPOSSIBILIDADES DE UMA COMUNICAO SOCIAL DE CUNHO COMUNITRIO COMO AUTNTICA AO DE CARTER EDUCATIVO E POPULAR 600

    A (RE) FORMULAO DO PROJETO POLTICO PEDAGGICO DAS ESCOLAS DE EDUCAO BSICA EM UM MUNICPIO DO RIO GRANDE DO SUL: EDUCADORES COMO SUJEITOS PENSANTES DO PROCESSO. 611

    PACTO NACIONAL PELO FORTALECIMENTO DO ENSINO MDIO: MOMENTO DE FORMAO DE EDUCADOR COM PRTICA REFLEXIVA 620

  • SUMRIOCONHECIMENTO CONSTRUDO NO DILOGO ENTRE EDUCADOR E EDUCANDO A PARTIR DA REALIDADE VIVENCIADA 628

    APORTES TERICOS SOBRE A FORMAO DE PROFESSOR NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS. 636

    TRAJETRIAS AUTO/TRANSFORMATIVAS DOS DOCENTES DO IF FARROUPILHA CMPUS JLIO DE CASTILHOS 647

    DISCUTINDO OS MOTIVOS DA EVASO ESCOLAR NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS 658

    REFLEXES SOBRE O COMPONENTE CURRICULARPEDAGOGIA PAULO FREIRE PARA A DISCUSSO DAS POLTICAS EDUCACIONAIS 668

    REPRESENTAES SOCIAIS E ALFABETIzAO: CONTRIBUIES PARA A PRTICA EDUCATIVA DOS PROFESSORES DE EJA 677

    TRANSMISSO OU CONSTRUO DE SABERES? UMA PRTICA EDUCATIVA ANALISADA SOB UMA

  • SUMRIOPERSPECTIVA FREIRIANA, EM CONTRASTE IDEOLGICO COM ALGUNS AUTORES. 686

    AFRICANIDADES: SER NEGRO E SER CAMPONS NA AMAzNIA MATO-GROSSENSE 693

    MULHERES qUILOMBOLAS DA LAGOINHA:CANTIGAS DE RODA 704

    A LIBERTAO COGNITIVA EM AMLCAR CABRAL E PAULO FREIRE: DESCOLONIzAR AS MENTES E OS CORAES 715

    EDUCAO INTEGRAL AMPLIANDO O TEMPO DE SER E DE RE-SER 734

    MOVIMENTOS SOCIAS DO CAMPO E A BUSCA POR UMA EDUCAO EMANCIPATRIA: A DIVERSIDADE COMO BASE DOS PROCESSOS EDUCACIONAIS 744

    CONSTRUINDO OUTRAS NARRATIVAS: A EXPERINCIA COM O PROJETO ALTERNATIVAS VIOLNCIA (PAV) NO CENTRO DE ATENDIMENTO SCIO-EDUCATIVO (CASE) DE PASSO FUNDO - RS - BRASIL 753

    DIRETRIzES CURRICULARES NACIONAISPARA A EDUCAO EM DIREITOS HUMANOS, O SISTEMA DE COTAS E O CURRCULO DOS CURSOS DE GRADUAO DA UFPB 760

  • SUMRIOPEDAGOGIA LIBERTADORA: EDUCAO POPULAR NA CAMPANHA DE P NO CHO TAMBM SE APRENDE A LER EM NATAL-RN 771

    A EVASO ESCOLAR NA ESCOLA ESTADUAL ANTONIO CARLOS EM CARABAS: DESAFIOS E REFLEXES 782

    CONHECER A HISTRIA DAS PESSOAS GRANDES PARA PENSAR A EDUCAO DAS CRIANAS PEqUENAS 791

    UMA RODA DE CHIMARRO ENTRE O EDUCADOR BRASILEIRO (PAULO FREIRE) E O HISTORIADOR ALEMO (JRN RSEN) 779

    O CASTELO DE VALENTINA: UMA REPRESENTAO LITERRIA DA FAVELA 802

    JOVENS NEGROS TRABALHADORES: UM ESTUDO SOBRE TRAJETRIAS DE ESCOLARIzAO E RESILINCIA NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS DE RIBEIRO DAS NEVES 818

    ANLISE CRTICA DOS DISCURSOS DE ENCERRAMENTO DO CURSO DE ALFABETIzAO REALIzADO EM ANGICOS NO ANO DE 1963 828

  • SUMRIOPOESIA, RETRATO DE NS: O TEXTO POTICO NA ESCOLA E A FORMAO DO LEITOR LITERRIO 841

    O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA EM PAULO FREIRE: EXPERINCIAS EM qUE ME ENVOLVI EM UM COLGIO DA REDE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO 848

    CIDADE DE DEUS, O AVESSO DO AVESSO: 854

    A CONVERSAO NA INTERNET VIA WHATSAPP: UMA PROPOSTA DIDTICO-PEDAGGICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL II 863

    (ENTRE)VISTAS CAMINHANTES: DA LEITURA DE MUNDO A ESCRITURA NO ESPAO POR MULHERES 875

    FREIRE E HABERMAS: AS DIMENSES DO DILOGO E DO AGIR COMUNICATIVO PRTICA EDUCATIVA DO EDUCADOR SUJEITO PENSANTE 883

    PEDAGOGIA DO DILOGO: UMA PROPOSTA COM O GNERO ORAL ENTREVISTA 893

    ALFABETIzAO E LETRAMENTO: ALGUMAS REFLEXES 904

  • SUMRIOAPRENDER E (RE) APRENDER NO ENSINO SUPERIOR: NARRATIVAS (AUTO) BIOGRFICAS DE DISCENTES SOBRE AS LIES CONSTRUDAS NO PARFOR DO CAP/UERN 915

    MEMRIAS qUE MARCAM: A VALORIzAO DAS NARRATIVAS DAS DISCENTES ENTREVISTADAS 919

    A REINVENO DO SERTO SERIDOENSE NAS MEMRIAS LITERRIAS DE DONA COTA 926DILOGO E AMOROSIDADE NA CONDIO DE APRENDIz 938

    O EDUCADOR DO SCULO XXI E SUA CONTROVERSA RELAO COM O USO DAS TECNOLOGIAS 947EDUCAO: ANTAGONIAS E RECONCILIAES NA ESCOLA DO SCULO XXI 955

    O USO DAS TICs NA EDUCAO POPULAR E SUAS IMPLICAES NO PROCESSO DE APRENDIzAGEM 962

    A ERA DIGITAL PROVOCA MUDANAS DE PARADIGMAS NA EDUCAO 970

    PROJETO SER-TO: EXPERINCIAS DE EDUCAO POPULAR NO SEMIRIDO NORDESTINO 979

  • SUMRIOANALISANDO A FORMA COMO A TECNOLOGIA UTILIzADA NAS ESCOLAS PBLICAS DO ENSINO MDIO NO ESTADO DA PARABA A PARTIR DAS PROPOSTAS INOVADORAS DE PAULO FREIRE 988

    TDICs E EDUCAO POPULAR: UM DESAFIO PARA O EDUCADOR DO SCULO XXI 996

    LABORATRIO DE COMUNICAO ESCOLAR LACE: ABRINDO POSSIBILIDADES PARA O DILOGO NA ESCOLA 1005

    SUPERAO DIALTICA DA CONTRADIO EDUCADOR-EDUCANDO NA APROPRIAO PEDAGGICA DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE REDE: CONTRIBUIES FREIREANAS EDUCAO DO SCULO XXI 1017A FORMAO INICIAL DO PROFESSOR DE MATEMTICA SOB A PERSPECTIVA DA EDUCAO POPULAR 1030

    ETNOMATEMTICA COMO PROPOSTA PARA UM CURRCULOS CONTEXTUALIzADOS NO ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICPIO DE BRAGANA-PA 1036

    RESULTADOS DA PROPOSTA DA CONTEXTUALIzAO DO CURRCULO ESCOLAR NA REDE MUNICIPAL DE BRAGANA-PA 1040

    CONVIVENDO COM A MATEMTICA: APRENDENDO A APRENDER 1044

  • SUMRIOALFABETIzAO MATEMTICA: CONTRIBUIO DA EDUCAO POPULAR 1054

    CRCULO DE CULTURA EM PAULO FREIRE: INICIANDO UMA DISCUSSO 1064

    PRXIS EDUCATIVA DE LEITURA E DE ESCRITA POSSIBILIDADES E PERSPECTIVAS FREIRIANAS EM UMA ESCOLA PBLICA DE ERECHIM/RS 1072

    PAULO FREIRE: EDUCAR PARA LIBERTAR 1083

    AS TRAVESTIS, O NO USO DO NOME SOCIAL NA ATENO PRIMRIA SADE E A EDUCAO POPULAR COMO POSSIBILIDADE DE MUDANA. 1093

    CONTEXTUALIzANDO O CORPO NA EDUCAO FSICA ESCOLAR: A PRXIS CORPORAL NA FORMAO DE CORPO (S) CONSCIENTE(S) 1103

    EXPERINCIA E MEMRIAS DO ESTGIO SUPERVISIONADO NA EDUCAO INFANTIL:IDENTIDADE DO EDUCADOR E DA CRIANA NA EDUCAO INFANTIL 1113

  • SUMRIOELEVAO DA ESCOLARIDADE E FORMAO PROFISSIONAL: DISCUTINDO A EJA E EDUCAO PROFISSIONAL 1120

    O PROGRAMA BOLSA-FAMLIA: SEUS EFEITOS ECONMICOS NO PROCESSO DE NCLUSO OU EXCLUSO SOCIAL 1128

    EDUCAO PARA O HOMEM INACABADO: CONFRONTO COM AS IDEIAS POSITIVAS E NEOPRAGMTICAS. 1136

    A(S) HISTRIA(S) DE VIDA COMO INSTRUMENTO(S) DE CIDADANIA: OS ESTUDANTES DA EJA COMO AUTORES DE SI. 1143

    A CONSTRUO DAS HISTRIAS DE VIDA DOS ESTUDANTES COMO FIOS CONDUTORES DA RELAO DOS CONHECIMENTOS EXTRAESCOLARES AOS ESCOLARES, UM CASAMENTO qUE DEU CERTO. 1151

    FORMAO DOCENTE: ALGUMAS CONTRIBUIES DE PAULO FREIRE 1154

    EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS NO ESPAO CARCERRIO: CRIAO DO NEEJACP PRISIONAL NA PERG 1161

  • SUMRIOEDUCAO E SEGURANA PBLICA: ENFRENTAMENTO DA VIOLNCIA DENTRO DA ESCOLA. 1170

    EM qUESTO: A PERMANNCIA 1174

    O PAPEL DA MULHER/ESTUDANTE DA EJA NA VALORIzAO DO CONHECIMENTO ESCOLAR NA COMUNIDADE CAMPONESA DO CASTELO, BRAGANA, PAR, BRASIL. 1191O ENSINO DE ADMINISTRAO COMO UM APARELHO IDEOLGICO A PRODUzIR CORPOS DCEIS: UMA PROPOSTA DE REINTERPRETAO 1203

    PEDAGOGIA DO OPRIMIDO OU PRTICA DA LIBERDADE? 1213

    PROJETOS EDUCATIVOS E PREVENTIVOS: A EXPERINCIA DO CMPUS SANTOS DUMONT 1220

    INOVAO PEDAGGICA COMO OPO DE MUDANA 1239

    AT PRA PLANTAR RVORE TEM DE TER CULTURA: SABERES POPULARES, SABERES ACADMICOS E A PRODUO DO CONHECIMENTO EM COMUNIDADES RURAIS DA REGIO DE CATALO-GO 1248WDIALOGO ENTRE O FILOSOFO ATEISTA HOLBACH E PAULO FREIRE: A PROPOSTA EDUCACIONAL POLTICO

  • SUMRIOPEDAGGICA DE FREIRE NO DESENVOLVIMENTO DA PLENITUDE AUTNTICA DO SER 1256

    A RELAO DIALGICA NO PROCESSO DE ENSINAR E APRENDER EM PAULO FREIRE 1263

    A FOTOGRAFIA EM DILOGO COM A HISTRIA:A ARTE COMO UMA POSSIBILIDADE DE INTERDISCIPLINARIDADE. 1270

    EMPREGANDO DADOS DA REALIDADE ALIENANTE EM PROCESSOS DE EMANCIPAO REFLEXIVA: SUGESTES METODOLGICAS DE PRXIS PEDAGGICAS PARA CONSTRUO COLETIVA DO CONHECIMENTO 1277

    OS MTODOS DIDTICOS TRABALHADOS EM SALA DE AULA NA PEDAGOGIA FREIREANA 1291

  • 25

    ApReSentAO O vento animador para a Educao que vem de Natal/RN nos Dilogos com Paulo Freire

    Cecilia M. A. Goulart/UFF

    Estar no mundo sem fazer histria, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem tratar sua prpria presena no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, das guas, sem usar as mos, sem esculpir, sem filosofar, sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer cincia, ou teologia, sem assombro em face do mistrio, sem aprender, sem ensinar, sem ideias de formao, sem politizar no possvel. (Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia)

    A grandeza do homem pensado por Paulo Freire se entrev no pequeno texto citado: um ser humano inteiramente sintonizado com a realidade histrica e com sua criao, mobilizado com o ser e estar no mundo assombrado com sua complexidade, formado em aes e atitudes ligadas ao constante ensinar-aprender crtico. Um ser humano que se politiza na vida vivida que se faz e refaz marcando sua presena no mundo.

    So esses homens e mulheres vivos, encarnados, comprometidos que as trs edies do Seminrio Internacional Dilogos com Paulo Freire visa. E como visa? Visa, trazendo para o campo de trabalho, de luta com a palavra, profissionais de vrias reas de conhecimento e de atuao com este mesmo perfil. Visa, incitando e convidando para estar juntos outros profissionais que, j de algum modo mordidos pela crena da transformao social possvel, aceitam a viagem proposta nos objetivos declarados de cada um dos Seminrios.

    O I Seminrio Internacional Dilogos com Paulo Freire, realizado em 2013, teve como plataforma um tema de profundo significado poltico-educacional: Angicos 50 anos depois: reflexes e contribuies prtica pedaggica, realizao do SINTE/RN e do Palavramundo, envolvendo outros diferentes apoios, foi marcado por muitas mos coletivamente organizadas. que prticas poltico-pedaggicas se forjavam h 50 anos atrs? De que modo tais prticas se manifestam hoje em diferentes vozes e espaos e como so encaradas? Os objetivos, em 2013, eram aprofundar a compreenso do legado de Paulo Freire e sua atualidade; dialogar com as mltiplas possibilidades de prticas educativas e culturais fundamentadas no pensamento freireano; e propiciar trocas de experincias entre participantes locais, estaduais, regionais, nacionais e internacionais; estabelecer dilogos que nos ajudem a compreender melhor o saber feito da experincia. O resultado foi uma fecunda convulso de ideias, de debates e de propostas que engenhosamente se misturavam, fazendo reviver um pouco a borbulhante dcada de 1960, quando as discusses polticas e educacionais eram intensas e densas, imantadas com a questo da cultura. Como separar educao e cultura?

  • 26

    Em mesas de dilogos, sesses de apresentao de psteres e apresentaes culturais, os encontros ganhavam corpo, inundando de esperana ativa aqueles que l estavam. A obra de Paulo Freire precisa continuar viva, encharcando o iderio nacional da importncia da vontade poltica para a efetivao de propostas nacionais em que o saber tcnico tenha importante lugar carreado pelo relevante conhecimento poltico.

    O II Seminrio Internacional Dilogos com Paulo Freire, em 2014, foi marcado pelo tema Ensinar, aprender: leitura do mundo, leitura da palavra. Organizado pelo SINTE/RN em parceria com a UFRN e IFRN, o evento visou colocar em discusso a relaes entre saberes docentes e saberes discentes e entre saber feito de experincia e os processos de ensino-aprendizagem, processo de construo de novos saberes. Como dialogam na escola os sujeitos cidados com os conhecimentos que a escola considera importantes que eles aprendam? O que se faz na escola com o saber de experincia feito, este saber to autntico, to constitutivo de nossos modos de ser? instigante o convite que consta ao final do texto de abertura do folder do evento: Convidamos voc a paulofreirear conosco, a esperanar conosco.

    E nas mesas de dilogos, nos crculos de cultura, nas atividades culturais, na sesso de psteres e nos minicursos, este convite se concretiza por meio das acaloradas discusses (e por que no apaixonadas?) indicando o quanto a rea da educao pode ser mobilizadora para continuamente pensarmos os desafios da sociedade e da educao, atravessados pela cultura em suas diferentes expresses.

    A realizao do I e do II Seminrio Internacional se deu cercada de muito empenho poltico de realizar eventos que transbordassem em engajamento e compromisso com a educao brasileira, acendendo e reacendendo caminhos trilhados e a trilhar, dentro de seus limites e possibilidades. Acontecer no Nordeste, em Natal/RN, no uma escolha trivial de local. Tem a ver com a histria e o trabalho de Paulo Freire, e tambm com a histria e o trabalho de um grupo que no desiste de sonhar e planejar novos sentidos para a vida, especialmente para a vida das classes populares brasileiras. No sonhar e planejar em separado do cotidiano das classes populares, mas sonhar e planejar com eles, discutindo formas de ao e de luta, modos de resolver dilemas e problemas, buscando formas coletivas de deciso e de comunho, como um mtodo poltico de trabalho, de viver no mundo e constru-lo.

    Chegamos ao III Seminrio Internacional Dilogos com Paulo Freire, em 2015, tambm organizado pelo SINTE/RN. Motivados pelos bons frutos das edies anteriores e por uma corrente poltico-educacional PE professores, principalmente, que vem se formando em torno deste evento, o tema que conduz o seminrio O pensamento poltico-pedaggico de Paulo Freire: Dilogos com a educao no sculo XXI/2015 50 anos de Educao Popular no Brasil. De enorme abrangncia e importncia, o tema, por um lado, pontua o alcance da obra de Paulo Freire, atravessando para o sculo XXI e destaca, de outro lado, a pertinncia de se pensar a educao na perspectiva das classes populares. No para nelas ficar, mas para compreender que o conhecimento legtimo se produz complexamente e diferentemente por grupos sociais diferentes. Modos, tempos e espaos de produo tambm se diferenciam e contrastam. O objetivo de Seminrio colocar na berlinda formas hegemnicas de pensar tanto os processos de gerao de conhecimentos quanto o valor dos diferentes conhecimentos e suas formas de produo. Como aceitar o pragmatismo de propostas metodolgicas que nivelam os conhecimentos de tal modo que obscurecem seus sentidos sociais, instrumentalizando-os? que sujeitos polticos, crticos, podemos formar nestes contextos? Como fomentar a

  • 27

    formao de sujeitos de ao, de participao, para a contnua transformao social? Para que aprender novos conhecimentos? Para que aprender a ler e a escrever? Vale a pena fazer uma pausa com Bartolomeu Campos de queirs:

    Eu aprendi a escrever para deixar gravado o tamanho do meu desejo, a minha dvida, do meu medo. Escrever jamais poder negar o pensado. Escrever afirmar novamente me contei que a incompletude nos aproxima por nos revelar que o humano um ser de relaes.Lendo, ainda na escola, descobri que dentro das palavras moram histrias. Tambm elas no suportam a solido e vivem uma para as outras. Cada palavra uma frase, alm de ser uma orao. E, por muitas vezes, a palavra me pedia para lhe desamarrar o que andava aprisionado. Uma palavra capaz de desenrolar uma conversa. Escrever me pareceu tambm um jogo. Escrever , de repente, se espantar ao descobrir que tambm as palavras falam. E eu, menino, brincava de libertar: (...)

    Nenhuma palavra vive sozinha. Toda palavra composta. Se escrevo mar, nessa palavra rolam ondas, viajam barcos, cantam sereias, brilham estrelas, algas, conchas e outras praias. Se digo pai, aquele que me ama ou aquele que no conheci ou aquele, ainda, que me abandonou. Toda palavra brinca de esconder outras palavras. quando se l uma palavra, o corao escreve mais outras. Escrever escutar a palavra e registrar o que ela nos pede. a palavra que nos inscreve. (Bartolomeu Campos de queirs. Para ler em silncio. SP: Moderna, 2007)

    Para onde iro as nossas histrias considerando atividades que j tm respostas certas, em escritas que no abrem espao para as singularidades dos alunos? Em leituras que no cabem interpretaes, mas cpias e localizao de informaes? Para onde iro nossas palavras tecidas no nosso corpo, no dia-a-dia de nossos cotidianos, muitas vezes cheios de sombras e nuvens? Como nos inscrevermos nas palavras que falamos, ouvimos, lemos e escrevemos?

    A meta do evento est bem clara no material de divulgao do III Seminrio: a terceira edio do Seminrio Internacional Dilogos com Paulo Freire uma aposta na crtica radical educao instrumental como condio para a educao humanizada e democrtica, que contribua para a formao de sujeitos crticos e livres. Em um perodo em que a avaliao em larga escala e a meritocracia ditam normas para o trabalho pedaggico, precisamos perguntar: de que modo o pensamento poltico-pedaggico de Paulo Freire contribui para a reflexo e propostas para a educao do sculo XXI?

    Seis eixos temticos orientaram a organizao do Seminrio e a inscrio de trabalhos (comunicao oral e pster): 1- Prtica educativa e educador sujeito pensante; 2- A histria como possibilidade; 3- Usos da linguagem: a busca do momento esttico na vida e na arte; 4- Educao popular e tecnologia da informao; 5- H uma forma matemtica de estar no mundo; e 6- Trabalho e produo de conhecimento. Os eixos compem a concepo do Seminrio de certo modo, dando-nos o carter de sua abrangncia temtica.

  • 28

    Freire, em seu texto Educao e Mudana (1979), nos diz em relao ao sujeito que:

    quanto mais for levado a refletir sobre sua situacionalidade, sobre seu enraizamento espao-temporal, mais emergir dela conscientemente carregado de compromisso com sua realidade, da qual, porque sujeito, no deve ser simples espectador, mas deve intervir cada vez mais.

    Com alegria, aceitei o convite para escrever a parte de Apresentao deste E-Book e com alegria tambm passo a palavra agora queles cujos trabalhos foram selecionados para serem apresentados e discutidos no III seminrio. Peo licena a vocs entretanto para trazer dois pargrafos do artigo Carta de Paulo Freire aos Professores que foi publicado no peridico Estudos Avanados, n.15, de 2001, e est disponvel na internet. Paulo Freire est exemplificando a ultrapassagem da experincia sensorial de uma adulta em sua leitura de mundo para chegar a compreender o valor do trabalho que estava realizando, como uma experincia cultural.

    Certa vez, uma alfabetizanda nordestina discutia, em seu crculo de cultura, uma codificao que representava um homem que, trabalhando o barro, criava com as mos, um jarro. Discutia-se, atravs da leitura de uma srie de codificaes que, no fundo, so representaes da realidade concreta, o que cultura. O conceito de cultura j havia sido apreendido pelo grupo atravs do esforo da compreenso que caracteriza a leitura do mundo e/ou da palavra. Na sua experincia anterior, cuja memria ela guardava no seu corpo, sua compreenso do processo em que o homem, trabalhando o barro, criava o jarro, compreenso gestada sensorialmente, lhe dizia que fazer o jarro era uma forma de trabalho com que, concretamente, se sustentava. Assim como o jarro era apenas o objeto, produto do trabalho que, vendido, viabilizava sua vida e a de sua famlia.

    Agora, ultrapassando a experincia sensorial, indo mais alm dela, dava um passo fundamental: alcanava a capacidade de generalizar que caracteriza a experincia escolar. Criar o jarro como o trabalho transformador sobre o barro no era apenas a forma de sobreviver, mas tambm de fazer cultura, de fazer arte. Foi por isso que, relendo sua leitura anterior do mundo e dos que-fazeres no mundo, aquela alfabetizanda nordestina disse segura e orgulhosa: Fao cultura. Fao isto. (FREIRE, p. 261)

    que estes trs seminrios sejam a semente de muitos outros no trabalho por uma educao humanizadora de uma sociedade democrtica. Boas leituras!

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    Com quantas vozes se constri uma utopia?

    Um livro de muitas mos, inclusive Castro Alves:

    Oh! Bendito o que semeiaLivros... livros mo cheia...O livro caindo nalma germe que faz a palma, chuva que faz o mar.

    Uma estreia: em um nico livro, um conjunto dos dizeres. O Seminrio Internacional Dilogos com Paulo Freire est hoje em sua terceira edio, e neste III Seminrio, um desejo se faz real: publicamos o e-book que concentra os trabalhos produzidos pelos participantes. Realizar um seminrio internacional que celebrasse as ideias de Paulo Freire nasceu da utopia e foi crescendo em ao.

    O primeiro, em 2013, realizou-se com palestrantes internacionais, nacionais, e alguns minicursos. ramos cerca de 400 pessoas, trs argentinas uma portuguesa e um cubano, os demais do Rio Grande do Norte e do Rio de Janeiro. O encontro desses dois rios parece ter irrigado esse solo, da, ento, o segundo seminrio se abriu para outras vozes: aconteceram os crculos de cultura, espaos de reconstruo do dilogo freireano. Ficamos mais potentes: em torno de 500 participantes, agora de outros lugares do pas, ainda timidamente representados. Este terceiro traz representantes de quase todos os estados brasileiros, e tambm de Moambique, Portugal, Colmbia e Argentina. Foram quase 200 trabalhos para serem apresentados nos crculos de cultura ou em forma de pster. Aps avaliao da comisso cientfica, foram aceitos para apresentao, 153 trabalhos para as sesses do Crculo de Cultura e 22 psteres.

    Hoje, o j adolescente encontro exige a emergncia do registro. Neste e-book esto os textos de comunicaes e psteres aprovados para publicao. As marcas, antes guardadas em mentes e coraes, agora se tornam perenes pela escrita.

    Com base em princpios flexveis e critrios no-rgidos, adotando, portanto, o rigor flexvel sugerido pelo historiador Ginzburg, a publicao abrange tempos-espaos diferentes de construo, acolhendo a diversidade e a multiplicidade de olhares, de ideias. Foram aceitos e avaliados trabalhos de doutores, mestres, graduandos. A ideia de flexibilidade acompanhou o processo, para que se garantisse a permeabilidade do solo, abrindo-nos aos movimentos sociais e populares, s universidades, s escolas.

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    Ecoam, tambm, nesse dilogo, as vozes daqueles que, generosamente, debruaram-se sobre os artigos e relatos de experincia que compe esta publicao para avali-los e, quando era o caso, indicavam caminhos para que os textos fossem revistos, o que possibilitou que muitos participantes do seminrio exercitassem no s a fala, mas tambm a escuta responsvel.

    Rubem Alves escreveu certa vez que sempre v pessoas oferecendo cursos de oratria, nunca viu ningum oferecendo um curso de escutatria. No nosso seminrio, o que se prope a escutatria/falatria, a partir dos dilogos realizados nos crculos de cultura, que promovem uma falatria, pois todas e todos podem participar e no apenas quem apresenta seu trabalho. O objetivo que este seminrio seja marcado pelo dilogo entre os sujeitos que se escutam e que se falam, incluindo aqueles que no estejam presentes. A publicao desse e-book mira o acontecimento que transcorrer em maro de 2015, mas visa, tambm, ao grande tempo, que o antecede e que o prolonga.

    Fica aqui nosso convite, venha Paulofreirear concosco!

    Cludia Cristina dos Santos AndradeInez Helena Muniz Garcia

    Ldia Maria Ferreira de OliveiraComisso Organizadora do III Seminrio Internacional Dilogos com Paulo Freire

    Coordenao da Comisso Cientfica do III Seminrio Internacional Dilogos com Paulo Freire

  • EIXO 1

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    AS CONTRIBUIES DE PAULO FREIRE PARA A FORMAO DOCENTE NA EDUCAO DE JOVENS, ADULTOS E IDOSOS E O PROCESSO DE CONSTRUO DOS CONHECIMENTOS ACERCA DO SISTEMA DE ESCRITA ALFABTICA.

    Autores: Alcicla Ramos dos Santos- Pedagogia-FE/UFRJ-CFCH.Aluna. Brasil/RJ- [email protected] Dr Ana Paula de Abreu Costa de Moura- FE/UFRJ- CFCH. Brasil/[email protected]

    Orientao: Prof Dr Ana Paula de Abreu Costa de Moura

    Resumo: O presente artigo intitulado As contribuies de Paulo Freire para a formao docente na Educao de Jovens, Adultos e Idosos e o processo de construo dos conhecimentos acerca do Sistema de Escrita alfabtica buscou atravs de uma pesquisa de cunho qualitativo investigar como o educador que se apropria do papel professor-pesquisador contribui para a aprendizagem do sistema de escrita alfabtica dos alunos. Para a anlise dos dados, o estudo foi dividido em quatro etapas: reviso de literatura; elaborao e reflexo de materiais didticos para dar suporte ao trabalho nas classes de alfabetizao do programa; ida s turmas para realizar o trabalho com o material elaborado e anlise das respostas dos alunos s atividades propostas. Dentre os resultados encontrados alguns foram selecionados para constar neste artigo, como o reconhecimento que um som pode ser representado por mais de uma letra.

    Palavras-Chave: EJA, Professor-pesquisador, Sistema de Escrita Alfabtica

    O trabalho com a Educao de Jovens e Adultos, em especial com o processo de alfabetizao, cercado por muitos desafios, que passam pelos diferentes nveis de aprendizagem numa mesma sala de aula, o encontro de diferentes geraes, as atividades didticas, at o entendimento de como os alunos jovens e adultos constroem seus conhecimentos acerca da escrita. Este ltimo, muitas vezes, no tido como relevante pelos educadores que trabalham nesta modalidade. Em seu processo de formao inicial os educadores, so estimulados a se preocupar com o como ensinar, e pouco so convidados a olhar para as construes realizadas pelos alunos adultos.

    Neste sentido, o artigo aqui apresentado parte de meu trabalho monogrfico e tem como objetivo apresentar a importncia do professor enquanto investigador de sua sala de aula, ou melhor, como um pesquisador para que este possa orientar melhor os seus educandos nas aprendizagens propostas. No decorrer da realizao deste trabalho percebi o quanto se faz importante a fala de Paulo Freire (1996) quando este diz que no existe ensino sem pesquisa.

    No h ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda no conheo e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE,1996, p.29)

    O professor ao assumir sua posio de pesquisador, se coloca na posio daquele que no se contenta com o que apresentado e posto, mas se indaga, questiona, investiga e age sobre a sua prtica, fazendo um movimento de ao-reflexo-

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    ao, de recorrer aos estudos tericos e a prticas, que ajudaro a desvendar as questes apresentadas pelo campo, que muitas vezes, no so respondidas isoladamente por leituras feitas sobre o assunto em questo.

    Ao incorporar o papel de pesquisador, o educador se coloca na posio daquele que l nas entrelinhas e no se conforma com o bvio, mas busca respostas que possam dar um melhor suporte ao seu aluno. A pesquisa to importante quanto o ensino, pois ambos devem caminhar juntos, um complementa o outro.

    Este fazer docente, muitas vezes, desprestigiado nas modalidades de ensino, encontra na EJA um espao em que implica tambm em entender o lugar que esta ocupa na sociedade, pois em nosso pas, mesmo com avanos e inseres em novas tecnologias, o nmero de analfabetos ainda apresenta dados alarmantes e preocupantes.

    Se observarmos o Parecer CNE/CEB n 11/2000 , o perfil dos sujeitos que buscam o estudo na EJA, so de pessoas com idades elevadas, que habitam localidades mais pobres, em especial do interior, que apresentam caractersticas afro-brasileiros, pardos e negros na sua maioria. Neste sentido, nosso olhar deve estar voltado para a formao do indivduo, como aquele que traz suas percepes e impresses, acerca da vida e, atravs dela constri novos conhecimentos, junto escola e a professores, j que somos seres que o tempo todo estamos nos reformulando e adquirindo novas aprendizagens. Esse olhar voltado para a sala de aula, pode ser mais aguado se aceitarmos o convite de Freire para ler a sala de aula como se fossem textos:

    Se, para a leitura de textos, necessitamos de instrumentos auxiliares de trabalho como dicionrios de vrios tipos e enciclopdias, tambm para a leitura das classes, como se fossem textos, precisamos de instrumentos menos fceis de usar. Precisamos, por exemplo, de bem observar, bem comparar, bem intuir, bem imaginar, bem liberar nossa sensibilidade, crer nos outros mas no demasiado no que pensamos dos outros. Precisamos exercitar a capacidade de observar, registrando o que observamos. (2003, p.68)

    Desta forma, o professor precisa ser um leitor de sua sala de aula, assim como o faz com um texto, que minuciosamente vai passando uma folha por vez, marcando as partes mais importantes, interpretando aquilo que consegue perceber e ao fazer esse movimento, ele se atentar para as especificidades de cada educando, pesquisando, reprocurando respostas de questes levantadas no cotidiano, mas no com um olhar de afirmao ou julgamentos sobre seus alunos.

    Para esse movimento, Freire nos alerta que s se dar atravs do dilogo, que de suma importncia para uma educao libertadora. Educao esta que se d na prxis, ou seja, a ao que se estabelece a partir da interpretao da realidade e da vida. A ao que decorre da compreenso, possibilita uma interveno transformadora, imprimindo um movimento de ao-reflexo-ao. Segundo o autor, tanto a reflexo, quanto a ao precisam estar sustentadas na verdade, na palavra que anuncia o que autntico a todos, sem distino de classes sociais. Neste sentido, a necessidade de problematizar o mundo se funda no pressuposto de que no no silncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ao-reflexo (FREIRE, 1987, p. 78).

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    Os educandos no podem ser privados de conhecimentos, mas instigados a questionar, refletir sobre a realidade em que vive e no naturalizar as situaes presenciadas no cotidiano. Na dialogicidade trazida por Freire, percebemos o quanto o papel do professor importante, construtivo e transformador, pois no momento em que o educador anuncia a palavra com verdade e no a palavra pela palavra, refletindo em cima dela mesma e a incorporando, o seu educando pronunciar, problematizar e agira com a verdade no s dita, mas incorporada pelo professor.

    Neste sentido, a atuao do professor alfabetizador implica em que o mesmo tenha conhecimentos do Sistema de Escrita Alfabtica - SEA, para que possa conduzir seu aluno na construo da autonomia com a linguagem escrita, pois muitas vezes, encontramos presentes nas prticas alfabetizadoras uma falta de clareza da intencionalidade das atividades que so trabalhadas com os alunos. muito comum, encontrarmos nas salas de EJA, materiais infantilizados, que trabalham os mesmos princpios do SEA, repetidas vezes, de diferentes formas, sem fazer com que o aluno avance em outras construes.

    Para ser um professor alfabetizador, a pessoa a que se destina a esse desafio, precisa ter clareza do fazer pedaggico. Para alfabetizar, no basta estar alfabetizado, preciso ter conhecimentos especficos que transpassam o conhecimento de mundo adquirido em discusses acaloradas, debates polticos, em rodas de conversas formais e informais. necessria uma preparao prvia, onde se tenha uma intencionalidade, um objetivo, alm de o trabalho atender a uma proposta que privilegie os conhecimentos especficos da escrita e os conhecimentos trazidos pelos alunos.

    importante ressaltar, que o trabalho apresentado teve origem no incmodo em responder a questes apresentadas na sala de aula de EJA, onde a todo o momento se percebia a dificuldade tanto dos alfabetizadores em alfabetizar e dos alunos em compreender a construo do sistema de escrita alfabtica. Para tanto, a metodologia foi encaminhada pelo pressuposto terico, que preciso ler a sala de aula como um texto (FREIRE, 1994), onde cabe ao alfabetizador refinar seu olhar sobre cada aluno, no naturalizando as situaes vivenciadas em sua sala, mas investigando na perspectiva de atuar como um alfabetizador-pesquisador, que reflete sobre sua prtica e busca, a partir dessa reflexo desenvolver novas aes. Para o trabalho participaram, as turmas da Vila do Joo, Nova Holanda localizadas no Mar e Boogie Woogie que fica na Ilha do governador, todas situadas no Estado do Rio de Janeiro.

    A pesquisa a que se destina o artigo est vinculada ao Programa Integrado da UFRJ para Educao de Jovens e Adultos, ao qual sou integrante do grupo de pesquisa, que conta com seis projetos, todos voltados para auxiliar o processo de aquisio do cdigo da escrita e leitura, cada qual em suas reas do conhecimento, mas com mesmo objetivo e intencionalidade, atravs do movimento de retorno/resgaste das histrias, j que possvel a valorizao de suas razes e de sua cultura, que muitas vezes renegada pela sociedade.

    Temos cincia que estamos diante de um enorme desafio, pois Alfabetizar no apenas aprender sobre o cdigo, mas tambm compreender um objeto de conhecimento complexo, que exige um trabalho pedaggico voltado para tal fim (LEMLE, 2004, p. 115). Nesse movimento de preocupao na aquisio do cdigo da escrita e logo as hipteses trazidas pelos alunos, destaca-se a presena dos alfabetizadores em tais discusses, de maneira a permitir a criao de materiais pedaggicos de forma contextualizada e intencional.

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    Desta forma, o caminho trilhado para alcanar os objetivos e o desenvolvimento de tal investigao foi atravs de uma abordagem qualitativa, sendo dividida em quatro etapas. Inicialmente foi realizada uma reviso de literatura, trazendo autores que abordam o tema apresentado. A segunda etapa da pesquisa, consistiu na elaborao de material didtico para o trabalho nas classes de alfabetizao. Assim, foi escolhido o tema Mulher para nortear a elaborao das atividades, abordando mais especificamente, os subtemas Cotidiano e Identidade Feminina para dar suporte investigao de forma contextualizada, destacando o uso e o trabalho com textos em sala de aula. Neste momento, os alfabetizadores foram convidados a participarem da elaborao e reflexo do material a ser utilizado em sala, cabendo a estes a funo de desenvolver com os alunos o primeiro material elaborado com questes de interpretao e atividades de escrita.

    Desse modo, a contextualizao da atividade de pesquisa alm de atender ao intuito de tornar o ensino divertido e sedutor, possibilitou ainda que os alunos refletissem a sua realidade, contribuindo assim, para que a turma se apropriasse melhor de seu processo de aprendizado. importante ressaltar que as atividades foram pensadas para serem ldicas e interdisciplinares, potencializando assim a sua produtividade, pois o tema foi escolhido a partir de aulas anteriores dos alfabetizadores que dialogaram com seus alunos e pesquisaram sua sala de aula, investigando que tema poderia contemplar o mundo de seus educandos.

    Na terceira etapa da pesquisa, houve o desenvolvimento das atividades elaboradas junto com os alfabetizadores, que as trabalharam atravs de leituras e interpretaes de textos, em torno do tema selecionado. Aps a contextualizao por parte dos alfabetizadores, os alunos fizeram atividades do segundo material elaborado e tiveram o acompanhamento da equipe de pesquisa, direcionados a investigar as respostas dadas pelos alunos nas atividades, que focavam o Sistema de Escrita Alfabtica (SEA). Neste momento, as aes se voltaram no mergulho no dia-a-dia da sala de aula e nas hipteses dos alunos jovens e adultos sobre a escrita. Verificou-se a importncia de aceitar o convite de Freire (1994) de ler a sala de aula como um texto e buscar perceber como os alunos estavam recebendo as atividades, as expresses de dvidas, entendimentos, contentamento ou indiferena. Vimos a relevncia de ler os sinais e os indcios que os alunos trazem para sala de aula e as aes que o professor faz, pois como assinala Garcia (2003, p. 26), no cotidiano escolar, as leituras realizadas a partir dos indcios so as leituras possveis.

    Por fim, a quarta etapa da pesquisa consistiu na avaliao dos dados coletados e o retorno deles aos alfabetizadores, visando o aprimoramento das prticas pedaggicas desenvolvidas no Programa, num movimento que se pretende de retroalimentao. Muitos foram os aspectos observados, onde numa das atividades construda pelo alfabetizador a partir do subtema cotidiano, havia uma solicitao ao aluno, para que este criasse uma frase com a palavra TEMPO, onde nesta atividade o objetivo era verificar se o aluno tinha se apropriado dos seguintes princpios: relao com a pauta sonora e a escrita; a direo da escrita, da esquerda para direita e, predominantemente, horizontal. Nas respostas foi verificado o no reconhecimento que um som pode ser representado por mais de uma letra, pois no exemplo abaixo, o aluno ao escrever a palavra HOJE coloca com (G) HOGE e CHUVOSO com (z) CHUVOzO. Desta forma, ao olhar para uma simples frase, o alfabetizador consegue, enquanto pesquisador, reconhecer as pistas deixadas pelos alunos, que trazem consigo conhecimentos que so construdos atravs de atividades contextualizadas e com intencionalidade.

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    Verificamos tambm que uma mesma atividade pode abarcar vrios princpios do SEA e at mais do que possamos imaginar, pois o intuito inicial do alfabetizador nesta atividade era trabalhar certos princpios, mas ao educando faz-la verificou-se que na atividade abaixo, conseguiria verificar tambm o reconhecimento que um som pode ser representado por mais de uma letra.

    Esta percepo s foi possvel por que o alfabetizador havia incorporado o papel de professor-pesquisador, caso contrrio, riscaria o G do HOJE e escreveria a letra J, no dando importncia para a construo realizada pelo aluno. Com isto, o aluno se encheu de confiana para superar novos desafios da lngua e o professor se tornou um facilitador e animador da aprendizagem.

    Alm da importncia do professor pesquisador, com esta pesquisa percebemos que preciso que o aluno avance e no fique estagnado em exerccios que trabalham apenas um princpio que ele j se apropriou, por isso, o professor deve planejar o seu trabalho em funo do que os alunos j demonstram saber e do que ainda precisam saber sobre a escrita, promovendo situaes, ao mesmo tempo, difceis e possveis. (WEISz APUD SILVA & ANDRADE, 2005, P. 134) O educador, nesse vis, deve estar atento ao que o aluno ir apresentar, pois no deve desqualificar os conhecimentos da escrita, trazidos por eles, pois os alunos deixam indcios/pistas que podero ser investigados e analisados por ns alfabetizadores, permitindo-nos compreender as aprendizagens j construdas pelo educando. Ao realizar tais observaes, o alfabetizador estar agindo e refletindo sobre sua prtica, permitindo investigar o processo de construo da escrita realizada pelos alunos jovens e adultos, alm de ler a sala de aula como um texto, assim como nos convida Freire, durante seu processo de investigao destes sujeitos.

    Assim, o registro organizado e sistemtico, entendido como uma postura pedaggica inerente ao movimento de ao-reflexo-ao contribui para tomadas de decises, planejamento das aes, avaliao. Alm disso, conceber a profisso de professor como uma profisso que pressupe uma prtica de reflexo e atualizao constante. (WEISz APUD SILVA & ANDRADE, 2005, p. 135).

    Diferente da crena de muitos, entendemos que o aluno da EJA no uma tbua rasa, mas algum que constri saberes, que so e sero necessrios prtica educativa do alfabetizador, pois a prtica se d no dilogo e na troca de conhecimentos cotidianamente entre professor-aluno-objeto de conhecimento. Ao permitir ser levado ao mundo do educando, o alfabetizador se tornar tambm um aprendiz, saindo da posio de portador invulnervel de conhecimento, esse privilegiado por muitas prticas educativas.

    Ao adotar uma prtica de professor - pesquisador, ele pode imprimir um movimento que possibilitar conhecer o campo de estudo da lngua, bem como os conhecimentos advindos de seus alunos, pois, apesar de reconhecermos a seriedade com que os pesquisadores brasileiros vm produzindo uma consistente literatura no mbito da educao, os efeitos de tais avanos pouco se refletem no interior das escolas. (zACCUR, 2002, p. 12).

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    Ao investigar sua sala, o professor dever incorporar os princpios bsicos do sistema de escrita alfabtica (SEA) que devem ser apreendidos por ele e trabalhados em sala, permitindo a apropriao da escrita alfabtica, essa que ser desenvolvida e incorporada pelos alunos atravs de atividades contextualizadas e intencionais, voltadas para cada princpio especfico do sistema de escrita. relevante pensar que cada lngua tem a sua forma escrita, veiculando significados especficos, no caso, da brasileira a organizao espacial e direo se do diferentemente da aprendida no Japo, logo a aprendizagem e princpios se daro de formas diferentes.

    Ao repensar as iniciativas que contriburam para a EJA, um grande precursor, merece destaque Paulo Freire, este que trouxe para a modalidade de ensino, um olhar diferenciado, reflexivo, dinmico, amoroso, de nimo e superao, onde o ensino deveria estar atrelado sempre vivncia social e poltica do aluno. Neste vis se percebeu que ao educar um adulto no se pode utilizar materiais didticos, como livros, cartilhas, textos entre outros, descontextualizados, sem objetivo e intencionalidade, muito menos sem refletir ou criar um dilogo com as experincias trazidas pelos educandos. Percebeu-se ainda, que a pesquisa inerente ao fazer pedaggico qualificado.

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    Referncias Bibliogrficas

    ARROYO, M. A educao de jovens e adultos em tempos de excluso. Alfabetizao e Cidadania, So Paulo: RAAB, n.11, p.9-20, abr. 2001.

    BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional n. 9394/96. Braslia, 20 dez. 1996.

    ESTEBAN, Maria Teresa. zACCUR, Edwiges. A pesquisa como eixo de formao docente. In: Professora-pesquisadora uma prxis em construo/ Maria Teresa Esteban e

    Edwiges zaccur. (Orgs.) Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

    FVERO, Osmar. Lies da histria: os avanos de sessenta anos e a relao com as polticas de negao de direitos que alimentam as condies do analfabetismo no Brasil. In: Educao de jovens e adultos / Ins Barbosa de Oliveira e Jane Paiva (orgs.) Rio de Janeiro: DP&A, 2004. (O sentido da escola).

    _________. Pedagogia do oprimido, 17. Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.

    _________. Professora sim, tia no: cartas a quem ousa ensinar. So Paulo: Olho D gua, 1994.

    _________. Pedagogia da Autonomia: saberes necessrios prtica educativa/Paulo Freire. - So Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleo Leitura)

    GARCIA, Regina Leite (org). Mtodo: pesquisa com o cotidiano. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

    LEAL. Telma Ferraz. A aprendizagem dos princpios bsicos do sistema alfabtico: Por que importante sistematizar o ensino. In: ALBUqUERqUE, Eliana Borges Correia de. A alfabetizao de jovens e adultos em uma perspectiva de letramento. Belo Horizonte: Autntica, 2004.

    LEMLE, Miriam. Guia terico do Alfabetizador. So Paulo Editora: tica, 2009.

    zACCUR, Edwiges. Alfabetizao: Prticas Emancipatrias em vez de velhos mtodos com novos discursos. In: Alfabetizao e letramento: O que muda quando muda o nome. Rio de Janeiro: Rovelli, 2011.

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    SINDICATO DOS SERVIDORES DA PREFEITURA DE AMARGOSA SISEPA: UM ESPAO DE EDUCAO POPULAR E MOBILIZAO SOCIAL

    Adlia Maia SampaioLicenciatura em Pedagogia

    Universidade Federal do Recncavo da BahiaBahia Brasil

    [email protected]

    ria Vannuci Barbosa da SilvaLicenciatura em Pedagogia

    Universidade Federal do Recncavo da BahiaBahia Brasil

    [email protected]

    RESUMO

    Este trabalho tem como objetivo apresentar algumas reflexes a partir do processo educativo desenvolvido pelo Sindicato dos Servidores da Prefeitura de Amargosa - SISEPA, no perodo de 2012 a 2015. O SISEPA uma sociedade civil, sem fins lucrativos, criada em agosto de 1992 que tem como objetivo estatutrio zelar pelos direitos dos servidores do municpio de Amargosa e tem como misso ser o elo entre os Servidores Pblicos Municipal e o Poder Executivo. A vivncia do SISEPA neste perodo tem possibilitado algumas discusses relevantes do ponto de vista do processo de mobilizao social que tem como vertente o desenvolvimento de prticas educativas dialgicas e democrticas direcionadas ao fortalecimento do movimento sindical. O sindicato ao longo deste perodo tem proporcionado algumas reflexes relacionadas luta de classe dos trabalhadores, as quais esto fundamentadas na perspectiva da Educao Popular. Este movimento se constitui a partir da busca de informaes acerca dos direitos trabalhistas vigentes, da apropriao e socializao destas informaes, mas, sobretudo, a partir da produo de conhecimento. Essa experincia nos ajudou a refletir sobre importantes discusses do movimento sindical do ponto de vista da ressignificao da luta de classe na atual conjuntura poltica e social do Brasil. Entre elas esto possibilidade de constituio do Sindicato enquanto espao de Educao popular; A intencionalidade do dilogo como prtica educativa e a mobilizao social enquanto um processo educativo e no uma ao pontual. Portanto, as transformaes sociais no so ingnuas, tampouco, desvinculadas dos enfrentamentos polticos e organizacionais. As reflexes apresentadas neste trabalho refletem a necessidade da concepo de uma educao com responsabilidade social e poltica que pode e deve fazer parte da constituio de espaos coletivos, a exemplo dos sindicatos.

    Palavras-chave: Movimento Sindical. Educao Popular. Mobilizao Social.

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    INTRODUO

    Com o desenvolvimento e a expanso do capitalismo os trabalhadores comearam a se reunir formando associaes com o objetivo de lutar por melhores salrios e principalmente por condies dignas de trabalho. Neste contexto, os trabalhadores possuam apenas sua fora de trabalho que era vendida por um salrio, que no condizia com seu esforo braal.

    Os proletariados comearam a se unir e conseguem organizar-se em torno de um objetivo comunitrio na luta sindical, at ento no existia um amparo legal que os resguardasse em seus direitos. Percebe-se, ao longo da histria, que os trabalhadores vivenciaram situaes degradantes das quais homens e mulheres, durante dcadas, sofreram opresses de capitalistas reacionrios.

    Os sindicatos constituem a organizao de determinado segmento objetivando reunir e unir trabalhadores no intuito de fortalecer as condies necessrias para manuteno de suas vidas. De acordo com Antunes:

    Os sindicatos so, portanto, associaes criadas pelos operrios para sua prpria segurana, para a defesa da usurpao incessante do capitalista, para a manuteno de um salrio digno e uma jornada de trabalho menos extenuante [] que o capitalista obriga o operrio a exercer. (idem.1985, p.13)

    Portanto, este trabalho tem como objetivo apresentar algumas reflexes a partir do processo educativo desenvolvido pelo Sindicato dos Servidores da Prefeitura de Amargosa - SISEPA, no perodo de 2012 a 2015. O SISEPA uma sociedade civil, sem fins lucrativos, criada em agosto de 1992 que tem como objetivo estatutrio zelar pelos direitos dos servidores do municpio de Amargosa e tem como misso ser o elo entre os Servidores Pblicos Municipal e o Poder Executivo.

    Atualmente o SISEPA conta com 132 associados entre os segmentos do corpo de servidores pblicos municipais. Entre estes esto, Auxiliares de Servios Gerais ASG; profissionais do administrativo, profissionais da sade e da educao.

    Sua criao adveio de conversas entre colegas servidores no que se refere necessidade de uma organizao que atendesse as demandas dos servidores, visto que individualmente era difcil reivindicar seus direitos. Na ocasio, sabia-se que em outros municpios os trabalhadores j se organizavam no tocante as questes dos direitos trabalhistas. Assim, de acordo com relatos de dirigentes do SISEPA, as primeiras providncias para a criao do sindicato ocorreram atravs do Sr. Antnio Paulo Silva Bidarte (em memria) e o Sr. Miguel Longo Neto, servidores pblicos municipais e associados fundadores do SISEPA. Para Antunes:

    O sindicato ao tornar-se representante dos interesses de toda classe operria, conseguiu agrupar em seu seio todos os assalariados que no estavam organizados, evitando que o operrio continuasse sua luta isolada e individual frente ao capitalista (1985, p.13).

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    Embora a luta do SISEPA, inicialmente no representava um enfrentamento direto ao modelo de produo capitalista, o cerne de sua discusso se constitua na organizao dos trabalhadores/servidores da Prefeitura Municipal de Amargosa em prol da luta coletiva da classe trabalhadora.

    Neste sentido, a caminhada do SISEPA no perodo de 2012 a 2015 considera a relevncia do processo de mobilizao social que tem como vertente o desenvolvimento de prticas educativas dialgicas e democrticas direcionadas ao fortalecimento do movimento sindical proporcionando discusses que esto envolvidas na luta de classe dos trabalhadores.

    Este trabalho destaca entre outras questes, algumas discusses que esto relacionadas no processo de reflexo do movimento sindical e como a experincia do SISEPA pode contribuir para a ampliao da discusso referente temtica.

    DESENVOLVIMENTO

    Para a compreenso do processo de desenvolvimento das prticas educativas dialgicas e democrticas no SISEPA foi importante considerarmos aspectos fundamentais. Primeiro, que as interaes e as relaes interpessoais, norteadas pelo exerccio do dilogo, se constituam enquanto dimenso educativa. O dilogo , portanto, o caminho indispensvel: diz Jaspers, no somente nas questes vitais para nossa ordem poltica, mas em todos os sentidos da nossa existncia (FREIRE, 1983, pag. 68).

    Segundo, falar de movimento sindical falar de luta de classe que falar, tambm, de relaes sociais, de explorao do trabalho e, sobretudo, de formao poltica. Esta tomada de conscincia potencializa os processos de organizao, mobilizao, articulao e apropriao de conhecimentos enquanto instrumentos de emancipao e empoderamento da classe trabalhadora.

    As lutas da classe trabalhadora tem se caracterizado por uma dinmica de constantes transformaes organizacionais. Isso ocorrer, entre outros aspectos, pela ampla dimenso dos movimentos sociais no Brasil que vo desde os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST aos movimentos de bairros e dos sindicalistas. Tais movimentos, especialmente os movimentos sociais populares, so entendidos enquanto foras sociais e correntes de opinies e proposies sobre o conjunto social que, atuando nos mais diferentes mbitos das problemticas humanas, geram processos de transformao social e garantem sua autonomia (SOUzA, 2007, p. 53).

    O SISEPA, por exemplo, embora no tenha estabelecido um programa educacional ou de formao poltica, a experincia organizacional que a instituio tem vivenciado no perodo de 2012 a 2015, apontou a possibilidade da dimenso educativa do trabalho sindical que tem como fundamento terico a Educao Popular. Freire (2002, p.55) destacou que entendia a Educao Popular como o esforo de mobilizao, organizao e capacitao das classes populares [...] para o exerccio do poder que necessariamente se vai conquistando...

    Como destaca Freire (2003) e Brando (1983), esta concepo no se resume a uma metodologia de educao para classes populares ou a utilizao de tcnicas participativas. Para, alm disso, um movimento de educao que tem como principais vertentes a emancipao, o empoderamento, a autonomia, a transformao e a apropriao dos sujeitos no que se refere

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    realidade em que vivem e as dimenses da vida social, poltica, pessoal, comunitria, ambiental e tica.

    A educao popular se caracteriza, entre outras coisas, pelo processo educativo formativo marcado pelo compromisso com a transformao social e o fortalecimento da coletividade e pode ser considerada como um processo/movimento poltico pedaggico de educao que tem sido um contraponto as concepes tradicionais forjadas na concentrao de poder e de conhecimento. Entre outros aspectos, a educao popular, emprega a interdisciplinaridade e a contextualizao do conhecimento entendendo que a produo deste, no acontece de maneira fragmentada ou parte das relaes construdas entre os sujeitos.

    Nesse sentido, entendemos que podemos considerar que o movimento sindical se fundamenta em um processo de mobilizao social e de educao entendida enquanto especificidade humana, como um ato de interveno no mundo (Freire, 1996, p. 109) uma interveno que almeja mudanas radicais nas estruturas organizacionais da sociedade. Werneck e Toro destacam, ainda, que um processo de mobilizao social tem incio quando uma pessoa, um grupo ou uma instituio decide iniciar um movimento no sentido de compartilhar um imaginrio e o esforo para alcan-lo (idem, 1996, p.43).

    Este contexto nos levou a refletir sobre qual o imaginrio do SISEPA durante o mandato 2012 2015 sob a direo do Sr. Maurcio da Silva Santos . Em entrevista ele destacou que esta gesto estabeleceu como prioridade a busca constante e intensa pelos direitos dos servidores da prefeitura de Amargosa. A minha vontade de ser e estar sendo o presidente do SISEPA buscar de forma legal e bem contundente os direitos de todos os servidores. O SISEPA um rgo representativo a servio do trabalhador que tem a misso de unir classes e solidificar as lideranas com responsabilidade, tica e compromisso (Maurcio da Silva Santos, 2014).

    De acordo com ele um sindicato no pode e nem dever assumir uma postura partidria, pois, o compromisso poltico e social com a garantia dos direitos dos servidores. Afirma estar frente desse segmento com o objetivo de buscar os direitos dos servidores.

    Considerando a misso do SISEPA em defender os interesses econmicos e profissionais dos seus associados, como tambm contribuir no processo de mobilizao e conscientizao sobre a importncia da luta constante em prol dos direitos trabalhistas, o sindicato se constitui enquanto espao educativo de apropriao de saber e produo de conhecimento. Para isso, o processo de sensibilizao contribui para que os sujeitos permaneam em luta constante buscando um ser mais e no acomodar-se e conformar-se com as mazelas da sociedade.

    Freire (2003. P. 127) ao destacar a discusso acerca da mobilizao e organizao ele enfatizou que tanto mobilizar quanto organizar tem, por natureza, a educao como algo indispensvel isso , educao como desenvolvimento de sensibilidade... esta sensibilidade que pode se constituir como um dos primeiros passos para o fortalecimento do movimento sindical.

    Ainda neste sentido, Toro e Werneck (1996) afirmam que um processo de mobilizao passa por dois momentos. O primeiro o do despertar do desejo e da conscincia da necessidade de uma atitude de mudana. O segundo o da transformao deste desejo e desta conscincia em disposio para a ao e na prpria ao (idem,1996, p.43). Este movimento utiliza-se do

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    dilogo enquanto prtica pedaggica no processo de mobilizao e sensibilizao da classe trabalhadora.

    Na pedagogia Freriana o dilogo um componente que permite potencializar aprendizagens que contribuem no processo de construo da conscientizao dos sujeitos em relao compreenso e apropriao de conhecimentos, at ento ignorados. Nessa interao atravs do dilogo, orientaes e trocas culturais que ocorrem as aprendizagens significativas na vivencia do trabalhador. Nesta perspectiva, Freire (1983) afirma que:

    A partir do momento que nos conscientizamos passa-se a ser um conhecimento e no mais uma ignorncia: O saber se faz atravs de uma superao constante. O saber superado j uma ignorncia. Todo saber humano tem em si o testemunho do novo saber que j anuncia. Todo saber traz consigo sua prpria superao. Portanto, no h saber nem ignorncia absoluta: h somente uma relativizao do saber ou da ignorncia (idem, 1983, p. 30).

    Para Freire (1980), o conhecimento permite ao homem apropriar-se de uma conscincia crtica sendo fundamental na superao das dificuldades possibilitando um processo de sensibilizao, interveno e transformao em sua realidade, dando-lhe condies de transformar sua prpria histria irremedivel e fatalista em um pensar a sua histria como possibilidade e no com determinismo.

    O sindicato enquanto espao coletivo de aprendizagens e socializao de saberes e produo de conhecimento vm se constituindo como prtica educativa que pode promover intervenes atravs de estratgias dialgicas e democrticas contribuindo com a concepo do ser mais do homem e da busca da reflexo de si mesmo.

    Na ao que provoca uma reflexo que se volta a ela, o trabalhador social ir detectando o carter preponderante da mudana ou estabilidade, na realidade social na qual se encontra. Ir percebendo as foras que na realidade social esto com a mudana e aquelas que esto com a permanncia. (FREIRE. 1980. Pag. 48)

    Neste movimento de reflexo possvel considerar que as aes e atividades cotidianas desenvolvidas no espao do SISEPA se configuram, tambm, enquanto um processo de educao no formal, onde mesmo no existindo uma proposta educativa sistematizada, sua prtica tem uma intencionalidade direcionada a conscientizao dos servidores acerca dos seus direitos trabalhistas. Gohn (2008), ao mencionar esta discusso, destaca que,

    Os espaos onde se desenvolvem ou se exercitam as atividades da educao no-formal so mltiplas, a saber: no bairro-associao, nas organizaes que estruturam e coordenam os movimentos sociais, nas igrejas, nos sindicatos e nos partidos polticos, nas organizaes no governamentais, nos espaos culturais, e nas prprias escolas, nos espaos interativos dessas com a comunidade etc. (GOHN, 2008, p, 101).

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    De fato, podemos considerar que os sindicatos podem se configuraram enquanto espaos educativos mobilizadores que potencializam a participao dos sujeitos, a promoo de embates polticos e a construo de alternativas de organizao social. Entretanto, no podemos desconsiderar a conjuntura poltica e organizacional atual dos movimentos sociais populares no Brasil.

    CONSIDERAES FINAIS

    A partir da experincia vivenciada junto aos representantes do SISEPA buscamos, neste trabalho, tratar da relevncia das discusses acerca do sindicato enquanto espao de construo coletiva, de apropriao de saberes, mas, sobretudo, de produo de conhecimento e de mobilizao social enquanto instrumentos de fortalecimento do movimento sindical. Neste sentido, consideramos ao longo do trabalho alguns aspectos do ponto de vista da discusso terica da Educao Popular, da mobilizao social, da compreenso do dilogo enquanto prtica educativa, entre outras.

    Estas consideraes caminharam no sentido de compreender a experincia educativa do SISEPA e as possibilidades de construo em um espao coletivo, uma vez que, o movimento sindical, embora fundamentado na luta pelos direitos da classe trabalhadora, o sindicato, enquanto organizao social pode, no apenas ser um fim em si mesmo, ou seja, para alm das conquistas trabalhistas o sindicato pode se constituir como instrumento de emancipao dos sujeitos e de transformaes polticas e sociais.

    Percebemos durante as discusses que a proposta de trabalho desenvolvida no perodo de 2012-2015 se baseia na concepo do dilogo enquanto uma possibilidade de estabelecer e construir relaes entre o movimento sindical e o poder executivo, mas, sobretudo, enquanto prtica pedaggica no processo de mobilizao e sensibilizao da classe trabalhadora.

    Neste sentido, os principais resultados percebidos durante este trabalho esto relacionados ao restabelecimento do dilogo com o Poder Executivo Municipal, a reconstruo da credibilidade da organizao diante dos seus associados, uma vez que, de acordo com o presidente do SISEPA, a prtica do dilogo tem sido fundamental na construo das relaes internas, bem como, tem possibilitado a participao mais efetiva dos associados.

    Embora os resultados deste trabalho ainda sejam incipientes, trazem indcios de que o movimento educativo discutido nesta abordagem pode caminhar na perspectiva do empoderamento do sujeito, bem como, na busca da emancipao individual e coletiva e do fortalecimento da educao enquanto possibilidade de libertao de homes e mulheres de ideologias opressoras e dominantes.

    Refletir sobre as discusses que esto envolvidas nos processos educativos do movimento sindical nos deu a possibilidade de ampliar e aprofundar o enxergar da realidade poltica e social vivenciada pelo movimento social no Brasil. Os desafios, as dificuldades e os limites enfrentados no podem ser desconsiderados ou mesmo ignorados. necessrio no perdermos de vista que os mais importantes avanos e as conquistas e transformaes dos segmentos populares ocorreram a partir da organizao, mobilizao e articulao social.

    Diante disso, algumas questes so consideradas relevantes do ponto de vista da anlise sobre o porqu da desarticulao

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    e do esvaziamento nos movimentos sociais, entre eles, o movimento sindical. Consideramos que os processos educativos de emancipao das massas populares podem resultar na mudana radical

    da estrutura organizacional da nossa sociedade. No entanto, isso no possvel se a classe do proletariado desconsiderar a importncia da luta contra a dominao elitista em nossa sociedade.

    quanto mais as massas populares desvelam a realidade objetiva e transformadora sobre a qual elas devem incidir sua ao transformadora, tanto mais se inserem nela criticamente. [...] Num pensar dialtico, ao e mundo, mundo e ao, esto intimamente solidrios. Mas a ao s humana quando, mas que um puro fazer, quefazer, isto , quando tambm no se dicotomiza da reflexo. (FREIRE, 2011, p.54,55)

    Em outras palavras, no cabe ao movimento sindical, por exemplo, uma viso ingnua e uma condio esttica e imutvel diante da realidade social em que estamos inseridos. A ao transformadora advm de um processo poltico que tem uma intencionalidade educativa. Esta define a quem, contra quem e ao qu serve. Neste movimento, a prtica da reflexo e do dilogo pode constituir e possibilitar tomadas de decises a partir, no de interesses pessoais e particulares, mas, considerando os interesses coletivos.

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    REFERNCIAS

    ANTUNES, Ricardo C. O Que Sindicalismo. Coleo Primeiros passos, So Paulo Brasiliense 1985.

    CENDALES, Lola; MARIN, Germn. Educao no- formal e educao popular: para uma pedagogia do dilogo cultural.So Paulo: Edies Loyola, 2006.

    FREIRE, Paulo. Educao e Mudana. Rio de janeiro: Paz e terra, 1980.

    _____________ Pedagogia da Autonomia - saberes necessrios para a prtica docente. So Paulo, Perspectiva: 1996.

    _____________ Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra: 2011.

    GOHN, Maria da Glria. Educao no-formal e cultura poltica: impacto sobre o associativismo do terceiro setor. So Paulo: Cortez, 2008.

    HORTON, Myles e FREIRE, Paulo. O caminho se faz caminhando: conversas sobre educao e mudana social. Petropolis, RJ: Vozes, 2003.

    TORO, Jose Bernardo e WERNECK, Nisia Maria Duarte Furquim. Mobilizao Social: Um modo de construir a democracia e a participao. UNICEF- Brasil, 1996

    VIANNA, Luiz Werneck. Liberalismo e Sindicalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

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    PRTICA PEDAGGICA E A CONSTRUO DA IDENTIDADE DO SUJEITO COGNOSCENTE

    Alessandra de Oliveira UFAC - Campus Floresta

    Antnia Jociane de Souza Braga UFAC - Campus Floresta

    Jacson da Silva queiroz UFAC- Campus Floresta

    RESUMO:

    A pedagogia freiriana nos apresenta elementos constituintes para compreenso da prtica docente enquanto dimenso social da formao humana. Neste contexto, se insere a proposta do presente artigo, cujo objetivo, apresentar uma reflexo acerca das contribuies do trabalho docente como item indispensvel para a construo de sua identidade como sujeito histrico, social, formador e transformador do meio em que est inserido. Discutiremos aqui, sobre os principais conceitos de uma educao como prtica da liberdade dentro de uma relao dialgica (educador-educando) a partir da teoria educacional de Paulo Freire. Enfatizando que, a educao no neutra e que o processo de construo de identidade dos seus sujeitos desenhado em meio s relaes envoltas no processo de ensino aprendizagem, processo em que o aluno, se torna um sujeito cognoscente, superando o conceito de educao bancria, onde so conduzidos memorizao e mecanizao do que lhes ensinado, e que esta, nega a dialogicidade como essncia da educao. Nesse sentido, o educador no apenas o que educa, mas o que enquanto educa, educado, em dilogo com o educando que, ao ser educado, tambm educa. Torna-se necessrio nesta perspectiva comprometer-se em pensar o dilogo como o pensar verdadeiro, pensar crtico, em que h uma humanizao dos que se relacionam, aprendendo e crescendo na diferena, respeitando um ao outro e assumindo-se como seres inacabados. Lanamos mo da pesquisa bibliogrfica, essencialmente, nas obras de Paulo Freire, por entendermos que seus princpios tericos e prticos constituem-se num cone da educao, da educao de jovens e adultos e, como consequncia, necessrio entender a formao do educador sobre outra tica para alm dos pressupostos tradicionais do ensino.

    Palavras Chave: Formao docente. Sujeito cognoscente. Educao.

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    INTRODUO

    Pensar a educao como processo em que o sujeito (professor) constri e reconstri sua identidade, pressupe, antes, de mais nada, compreendermos o processo histrico em que surgiu a profisso e quais os significados que a mesma vem construindo durante este processo.

    Para tanto, pretendemos atravs deste texto, promover uma breve reflexo acerca das contribuies do trabalho docente

    como item indispensvel para a construo de sua identidade como sujeito histrico, social, formador e transformador do meio em que est inserido.

    Partindo deste pressuposto, Paulo Freire, um dos educadores mais renomados da educao brasileira em seus discursos prope uma educao em que o conhecimento seja reconhecido como uma produo social, que resultado da ao e reflexo, e que a busca desse conhecimento seja o resultado da insatisfao com o que est posto.

    A identidade do profissional docente comea a ser construda desde a escolha da profisso passando pela formao inicial e por todos os ambientes educacionais onde ele desenvolve o seu trabalho, o que lhe confere uma dimenso no tempo e no espao. Sua identidade s ser construda a partir do significado social de sua profisso e dos significados que o mesmo confere a sua atividade docente, como ator e autor ao situar-se no mundo em sua histria, e no sentido que este atribui ao ser professor. Deve ter uma postura que ultrapasse a funo de ministrar aulas. Alm de uma formao profissional de qualidade para o exerccio da sua docncia, a inovao que rompe com a forma conservadora de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar configura-se em uma preocupao de uma formao poltica do educador como educador- educando.

    A pedagogia Freiriana nos apresenta elementos constitutivos para compreenso da prtica docente enquanto dimenso social da formao humana. Em sua obra Pedagogia da autonomia (1996), o mesmo apresenta sugestes sobre as prticas do professor mostrando a possibilidade dos educadores estabelecerem relaes e condies na forma de educar, as relaes entre si e seus educandos. Em uma linguagem bastante potica, instiga uma reflexo sobre a prtica , nos chamando responsabilidade tica, a competncia crtica e o engajamento libertador. Ele nos adverte ainda, a respeito da necessidade de adotarmos uma postura vigilante contra todo tipo de desumanizao.

    Para a elaborao do presente trabalho, lanamos mo de um estudo bibliogrfico, onde os aportes tericos utilizados foram: Freire (1996), Freire (2001), Gadotti (2011), Costa (1995) e Mendona (2007), com o objetivo de conhecer o pensamento Freiriano acerca do papel social do profissional docente. Em seus estudos, nos oferece uma anlise sobre funcionamento de uma educao que seja capaz de humanizar o indivduo. Foi imprescindvel a ateno quanto bibliografia utilizada. MARCONI, LAKATOS (2012, p.43) nos diz que a pesquisa bibliogrfica:

    Trata-se de levantamento de toda bibliografia j publicada, em formas de livros, revistas, publicaes avulsas e imprensa escrita. Sua finalidade colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto, com o objetivo de

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    permitir ao cientista o reforo paralelo na anlise de suas pesquisas ou manipulao de suas informaes.

    Os elementos tericos utilizados neste trabalho nos remetem a abordar as principais situaes de desafio social quanto educao atual, a prtica pedaggica e a construo da identidade dos educandos. Levando em considerao a formao do professor, bem como a sua identidade, sendo esta, elemento indispensvel para a construo de sujeitos crticos, autnomos, cognoscentes. As reflexes aqui suscitadas nos faz construir novos conhecimentos sobre o processo de uma educao como prtica da liberdade fundamentada por Paulo Freire, fluindo assim o mais puro significado da educao, formando cidados conscientes de seus direitos e deveres.

    BREVE HISTRICO

    Os significados atribudos profisso docente se convergem na importncia do ser professor, esta, requer muito mais que conhecimentos, ela requer iniciativa, responsabilidade compromisso e segurana, tendo em vista que o seu trabalho ser realizado sempre em funo do outro o aluno.

    Historicamente a profisso docente se efetivou a partir da ideia de que a educao um processo no qual se constri e se efetiva a identidade dos sujeitos. Com o surgimento da escrita na Grcia antiga amplia-se a possibilidade de articulao entre o que se pensa e o que se faz, permitindo assim o conflito de ideias, propiciando uma maior clareza e rigor a respeito do que se pensa, e com isso estimula-se o desenvolvimento do pensamento crtico. E em Atenas que surge a concepo de educao como um processo de formao do cidado.

    No final do sculo VI a.C. surge as primeiras formas de escola e com elas tambm as primeiras formas de educadores. O pedagogo que tem por funo conduzir a criana ao lugar onde a mesma receber instrues fsicas. O pedtriba, que o instrutor fsico, este, no apenas responsvel pela educao fsica da criana, mais tambm pela sua educao artstica (msica, dana e poesia). O gramtico que tem por funo alfabetizar a criana, ou seja, ensin-la a ler e escrever.

    Nos sculos III e II a.C. a partir do contato com os povos helnicos h a necessidade de aprendizagem da lngua grega, e nesse contexto que surge os cursos dos gramticos para atender aos novos anseios da sociedade em colocar os jovens em contato com os clssicos gregos. Eles levavam de porta em porta as instrues necessrias para a poltica, para os negcios e para os tribunais.

    No sculo I a. C. so criadas as primeiras escolas municipais, dando aos mestres das artes liberais, o direito cidadania, estes passam a ser funcionrios da municipalidade. O imperador Juliano na tentativa de evitar a expanso do cristianismo, no intuito de impedir a contratao de professores cristos exige que toda nomeao de professor seja confirmada pelo estado.

    Os sculos XI, XII E XIII, so marcados pelo surgimento das cidades e com elas o surgimento de uma nova classe, a burguesia e a medida que essa nova sociedade vai se desenvolvendo surge ento, a necessidade de um novo tipo de formao, formao

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    esta, voltada aos interesses da classe em ascenso. Segundo Nvoa (1991, apud Costa 1995), [...] enquanto na idade mdia o importante era a salvao do homem no alm, na insurgente poca moderna a preocupao se desloca para a salvao do homem aqui. Tem incio o desenvolvimento de um modelo escolar cujo objetivo a educao das crianas.

    Neste perodo que se inicia a construo de uma identidade profissional a respeito do trabalho docente, tendo em vista que este trabalho, era considerado pela sociedade como uma vocao e a partir do final do sculo XVIII, trs sculos aps a idade moderna que as atividades de ensino passa por mudanas, configurando-se como uma profisso. Neste contexto a funo docente definida como um corpo de saberes prprios historicamente ligados atuao de tericos e pedagogos.

    No sculo XIX, com a crescente demanda por escolas faz com que os aparelhos ideolgicos de estado se dediquem ao jogo poltico no qual os professores assumem um papel fundamental, o de assegurar a integrao poltica e social atravs da escola. O final deste mesmo sculo marcado pela feminizao do corpo docente, o que contribui para uma desvalorizao significativa da profisso. Neste sculo, a escola concebida como libertadora da ignorncia e como instrumento de igualdade entre os cidados.

    Em Pedagogia da Autonomia, uma das obras mais importantes de Paulo Freire, o mesmo discuti a respeito do papel social do profissional docente, oferecendo-nos uma anlise penetrante do funcionamento de uma educao que seja capaz de humanizar o indivduo. O autor enfatiza, que a formao do professor permanente, assim sendo ele no apenas um formador, mas tambm um sujeito a ser formado no processo ensino aprendizagem. FREIRE (1996, p.23) diz:

    (...) quem forma se forma e re-forma ao formar e quem formado forma-se e forma ao ser formado. nesse sentido que ensinar no transferir conhecimento, contedos nem formar ao pela qual um sujeito criador d forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado.

    Assim sendo, a profisso docente constituda por uma dicotomia, ou seja, no h ensino sem aprendizagem e virse versa. O professor aprende ao ensinar e o aluno ensina ao aprender, portanto, os mesmos esto envoltos em um processo dicotmico em que um inexiste sem o outro. neste processo, que o professor constri e reconstri sua identidade e o aluno a sua conscincia crtica.

    DILOGO NA PRTICA EDUCATIVA

    Diante das exigncias educativas crticas que surgem na sociedade atual o pensamento de alguns autores so sem dvidas inspiraes necessrias prtica educacional transformadora.

    Paulo Freire em Pedagogia da autonomia (1996) nos exorta a respeito da conscientizao ratificadora poltica e a funo social da formao humana. Ele nos apresenta sugestes sobre as prticas do professor mostrando a possibilidade dos

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    educadores estabelecerem relaes e condies na forma de educar (as relaes entre si e seus educandos). Em uma linguagem bastante potica, instiga uma reflexo sobre a prtica , nos chamando responsabilidade tica, competncia crtica e o engajamento libertador. Ele nos adverte ainda a respeito da necessidade de adotarmos uma postura vigilante contra todo tipo de desumanizao.

    Sendo assim preciso refletirmos sobre a dialogicidade, essncia da educao como prtica da liberdade enfatizada por Freire em Pedagogia do Oprimido (2001), especificamente no capitulo 3. quando o individuo encontra a palavra no aprofundamento do dilogo como fenmeno humano lhe possibilitado na anlise do dilogo busca de seus elementos constituintes. Nessa perspectiva, importante refletirmos sobre duas dimenses, a ao e reflexo do trabalho docente o que chamado de prxis pedaggica, esta verdadeira palavra lhe subsidiar na transformao do mundo.

    Percebemos que quando a palavra est em uma dimenso de ao sacrificada automaticamente a reflexo se torna verbalismo. O professor tem uma importante responsabilidade, primeiramente a de se assumir-se como sujeito socialmente ativo, como tambm tornar o outro (aluno), transformador do mundo em que vive. A esse respeito Freire (2011, p.108) diz que:

    A existncia, porque humana, no pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar.

    A palavra que Freire nos faz refletir verdadeiramente o trabalho docente, a prxis, a transformao do mundo, sendo ela

    direito de todos, no apenas de alguns privilegiados. Os oprimidos socialmente, tem por direito uma formao que os garanta a educao como prtica da liberdade, para que possam construir-se sujeitos cognoscentes. A prtica educacional no neutra, por isso a ao docente exige comprometimento e competncia profissional que forme indivduos capazes de superar a heteronomia em nome da autonomia. FREIRE (1996, p.71) , enfatiza que em nome do respeito que devo aos alunos (...) no tenho porque ocultar a minha opo poltica assumindo uma neutralidade que no existe. Esta omisso do professor em nome do respeito ao aluno talvez seja a pior maneira de desrespeit-lo. Nos espaos formativos, onde a prtica do professor acontece, a reflexo sobre a prtica pedaggica ser indispensvel para a transformao da conscincia de seus educandos, dando lhe a possibilidade da construo da identidade do sujeito cognoscente. Um sujeito que seja autnomo, capaz de decidir, escolher e intervir em sua prpria realidade.

    Rompendo com a concepo de educao bancria como instrumento de opresso em que o educador o sujeito que conduz os educandos memorizao mecnica do contedo narrado FREIRE (2011), os professores devem se apropriar da educao dialgica afim de superar uma ao pedaggica reprodutora.

    Tendo em vista o que foi dito, a nova formao do professor deve basear-se no dilogo. Freire (1980, p.23), ressalta que: o dilogo o encontro no qual a reflexo e a ao, inseparveis daqueles que dialoguem, orienta-se para o mundo que preciso transformar e humanizar. A prxis pedaggica do educador de fundamental importncia para o processo ensino

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    aprendizagem, desde que o mesmo assuma o verdadeiro papel da sua profisso, sendo ele o mediador deste processo e no o detentor de conhecimentos. Gadotti (1999, p.2 ), a esse respeito enfatiza que:

    Para por em prtica o dilogo, o educador no pode colocar-se na posio ingnua de quem se pretende detentor de todo saber, deve, antes, colocar-se na posio humilde de quem sabe que no sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto no um homem perdido, fora da realidade, mas algum que tem toda a experincia de vida e por isso tambm portador de um saber.

    O autor fala de como ser professor, ser educador. Para ele, o educador um intelectual dirigente e orgnico, e em uma sociedade dividida, ele no pode adotar uma postura de neutralidade. Numa perspectiva emancipadora, o educador intelectual orgnico das classes populares, a favor dos interesses das pessoas que necessitam de educao.

    A pedagogia dialgica apresentada por Paulo Freire (1980), prope superar o conceito de uma pedagogia tradicional, superando a educao bancria em que os educandos no tem o direito se expressarem criticamente sendo reprodutores dos conhecimentos postos pelos dominantes. O professor como detentor de todo conhecimento ministrava contedos impregnados de ideologias dominantes. Freire (2011), enfatiza que para o educador-bancrio, na sua antidialogicidade, a pergunta, obviamente, no a propsito do contedo do dilogo, que para ele no existe, mas a respeito do programa sobre o qual dissertar a seus alunos O dilogo entre professor e aluno como elemento norteador para a construo do conhecimento em uma dimenso reflexiva.

    A formao do profissional da educao est diretamente relacionada com o enfoque, a perspectiva, a concepo que se tem da sua formao e de suas funes atuais. Gadotti (2011) acrescenta que a formao continuada do professor deve ser concebida como reflexo, pesquisa, ao, descoberta, organizao, fundamentao, reviso e construo terica e no como mera aprendizagem de novas tcnicas.

    Escolher a profisso de professor no escolher um ofcio qualquer. A docncia como aprendizagem da relao, est ligada a um profissional especial, um profissional do sentido, numa era em que aprender conviver com a incerteza. Da a necessidade de se refletir hoje, sobre o nove papel do professor, as novas exigncias da profisso docente, principalmente da formao continuada deste profissional.

    CONSIDERAES FINAIS

    No transcorrer deste trabalho, procuramos articular a reflexo a cerca da importncia da dialogicidade para construo da identidade do sujeito cognoscente, dando nfase ao processo de formao docente como elemento indispensvel nest