textos de história da antiguidade

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A Hiptese Causal Hidrulica e o Conceito de Modo de Produo Asitico Ciro Flamarion S. Cardoso Reabre-se a discusso Wittfogel, ex-membro do Partido Comunista Alemo que, mudando-se para os Estados U nidos, ali ensinara histria da China e fora um delator quando das perseguies da era de McCarthy, public ou, em 1957, Oriental despotism1 4, livro no qual exps sua teoria a respeito das "sociedades h idrulicas", cujas mximas representantes no mundo contemporneo seriam a Unio Sovitica e a China socialista, a s grandes inimigas do Ocidente. 1 WITTFOGEL, Karl A. Despotismo oriental. Trad. F. Presedo. Madrid, Guadarrama, 1966. 2 Ver, sobretudo, ADAMS, Robert M. Early civilizations, subsistence, and environ ment. In: STRUEVER, S., ed. Prehistoric agriculture. New York, The Natural History Press, 1971. p. 591-614; PALERM, Angel & WOLF, Eri c. Agricultura y civilizacin en Mesoamrica. Mxico, Secretaria de Educacin Pblica, 1972. p. 128-48. Wittfogel mescla uma concepo ecologista e tecnicista, semelhante de Plekhanov, ao difusionismo e a outras influncias. Afirma que as condies em que surge a oportunidade -no a necessida de -para que se desenvolvam padres despticos de governo e sociedade, por ele identificados com a " sociedade hidrulica", dependem de certos requisitos: 1. A reao do grupo humano diante de uma paisagem deficitria em gua. 2. Tal grupo tem de estar acima do nvel de uma estrita economia de subsistncia. 3. O grupo deve estar distante da influncia de centros importantes da agricultura de c huva. 4. O nvel do grupo precisa ser inferior ao de uma cultura industrial baseada na propriedade privada . Cumprindo-se todos esses requisitos, o surgimento de uma sociedade hidrulica torn a-se possvel, embora no necessrio; a escolha entre adotar ou no tal forma de organizao permanece em aberto , sempre havendo alternativas. O controle, armazenagem e uso de grandes massas de gua atra vs de obras hidrulicas exigem um trabalho macio, que tem de ser coordenado, disciplinado e dir igido, o que impe a subordinao autoridade reguladora de um Estado forte e eficaz; este acaba por esmag ar a liberdade do grupo que lhe est submetido.

Para Wittfogel, a economia hidrulica primeiramente surgiu nas regies ridas, difundi ndo-se depois pelas semi-ridas e midas, sempre na dependncia da sua aceitao por parte dos grupos humanos aos quais se tenha colocado a opo. Ele acha que possvel a adoo da forma hidrulica de sociedad de Estado, mesmo em regies onde no exista ou seja pouco importante a agricultura hidru lica: a

"sociedade hidrulica marginal". No caso de serem adotadas s parcialmente as caract ersticas do "despotismo oriental", teramos uma "sociedade hidrulica submarginal". Assim, a nec essidade de obras hidrulicas seria condio necessria para o surgimento da sociedade hidrulica em carter ioneiro, sem ser, no entanto, imprescindvel para a difuso de tal forma de organizao social. Por fim, diz o autor que, uma vez esgotadas as possibilidades de desenvolvimento e de mudanas criadoras contidas no modelo da "sociedade hidrulica", esta tenderia repetio estereotipada epigonismo -ou mesmo decadncia. O seu ciclo completo seria: formao, crescimento, maturidade, estag nao, epigonismo e retrocesso institucional.

As idias de Wittfogel tiveram muitos seguidores. Outrossim, uma de suas posturas bsicas, a "hiptese causal hidrulica" - isto , a idia de que a necessidade de controle sobre os grandes trabalhos exigidos pela manuteno de um sistema complexo de irrigao foi o fator central na gerao do Estad "desptico" , era j bem antiga, tendo sido defendida por historiadores como J. Baillet, J. Pi renne, A. Moret, J. Vercoutter e H. W. F. Saggs. Tal hiptese falsa, o que foi evidenciado, sem dvida, por inmeras pesquisas bem apoiadas na arqueologia e em fontes escritas. irnico que uma dessas pesquisas tenha sido realizada por um dos mais incondicionais seguidores de Wittfogel, A. Palerm , que comeou sua investigao arqueolgica e etno-histrica pensando provar a "hiptese causal hidrulica" n caso do Mxico pr-colombiano, mas demonstrou, de fato, o contrrio: que o controle dos sistem as de irrigao competia s comunidades locais, e que s muito tardiamente o Estado desenvolveu uma poltica de grandes obras pblicas de tipo hidrulico.2

Entre os marxistas, o livro de Wittfogel - que provocou grande indignao - constitu iu apenas um entre muitos fatores que deram impulso retomada do interesse pelo conceito de "modo de produo asitico". Outros fatores foram: a "desestalinizao", iniciada pelo XX Congresso do Partido Co munista da Unio Sovitica, que no campo do materialismo histrico desencadeou um ataque noo do uniline arismo evolutivo das sociedades humanas; o progresso dos movimentos de libertao nacional, sobretudo a partir da dcada de 1950, com a admisso sucessiva, s Naes Unidas, de numerosas naes afro-asi s, cujos problemas socioeconmicos especficos exigiam tambm respostas de tipo histrico; a ampla circulao dos Grundrisse, texto de Marx praticamente desconhecido at a mesma dcada, b em como a republicao de seus artigos sobre a ndia e de escritos de Plekhanov, Varga e outros autores acerca das sociedades "asiticas". Nos pases socialistas, na Frana, na Itlia, no Japo e em outras partes do mundo, incl usive na Amrica

Latina - se bem que modestamente, a no ser no caso do Mxico -, os anos 60 e 70 vir am proliferar uma

bibliografia numerosa e variada sobre o "modo de produo asitico", em meio a ativa t roca de idias poder-se-ia mesmo dizer, no contexto de um vivo debate e de agudas divergncias. Entre os temas em torno dos quais se desencadeou a discusso acerca do "modo de pr oduo asitico" que muitos passaram a chamar de "tributrio", "desptico-tributrio", "desptico-aldeo" e tc., por ser obviamente inadequado o adjetivo asitico aplicado a um tipo de sociedade que os p esquisadores julgavam encontrar na histria de regies situadas em todos os continentes - estavam as segui ntes indagaes: Qual a sua organizao interna, sua origem, suas contradies, seu desenvolvimento? Tratar-se -ia de uma forma de transio das sociedades comunitrias tribais s sociedades de classes plenamente des envolvidas, ou de um tipo especfico e bem definido de sociedade de classes? Seria uma formao margi nal restrita somente a certas sociedades, ou universal? As respostas dadas a estas e outras perguntas foram heterogneas segundo autores e tendncias, em parte porque nos prprios textos a que todos recorriam, como diz Melotti, A nfase de Marx se desloca, nas diversas passagens, de um a outro dos (...) aspec tos. Ora afirma que o elemento fundamental do sistema oriental a ausncia da propriedade privada, ora at ribui esta mesma ausncia aos fatores particulares de carter geogrfico e climtico (...). Ora explica o papel eminente do Estado por estes fatores ecolgicos, que impunham a necessidade de grandes trabalh os hidrulicos, ora, pelo contrrio, pela disperso e pelo isolamento das aldeias. Em certas passagens, a tribui este isolamento economia auto-suficiente, garantida pela combinao de agricultura e artesanato domst ico. Em outras, parece adotar contrariamente a idia de que seja a estrutura simples destas aldeia s, e portanto a limitada diviso do trabalho, o que explica a estagnao do sistema oriental. Alhures, sublinha fatores diversos, como a civilizao demasiado rudimentar, o baixo nvel das foras produtivas ou a partic ular estrutura de classes, que alis faz decorrer. por sua vez, da insuficincia da diviso do trabalho. 3 3 MELOTTI, Umberto. Marx e il terzo mondo. Milano, Il Saggiatore, 1972. p. 92. 4 GOBLOT, Jean-Jacques. L'histoire des "civilisations.. et Ia conception marxist e de rvolution sociale. In: PELLETIER, A. & Matrialisme historique et histoire des civilisations. Paris, Ed. Sociales, 1969. p. 57-197. 5 A respeito dos antecedentes do conceito de & LLOBERA, Josep R., eds. The Asiatic modo of prodution, p. 13-23. modo de produo asitico , ver Bailey, Anne

6 MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. La ideologa a/emana. Montevideo, Pueblos Unidos , 1968. p. 25.

O que significa, como j foi mencionado, que Marx no chegou a elaborar uma teoria s istemtica e acabada do "modo de produo asitico". Embora alguns autores (K. A. Antnova, P. Anderson, E. Hindess e P. Q. Hirst, O. K omorczy) conclussem pela inexistncia de tal modo de produo como forma especfica de sociedade, outros (F. Tkei, Godelier, Me- lotti, J. Suret-Canale, J. Chesneaux, R. Bartra etc. ) chegaram concluso cont rria e tambm salientaram a importncia desse conceito para basear uma viso multilinear do desenv olvimento das sociedades humanas, em oposio perspectiva unilinear consagrada por Stalin. Ainda m ais interessante a posio de Goblot, que se ope tanto ao unilinearismo quanto ao multilinearismo, j qu e defende a opinio de que a evoluo das sociedades no linear: o desenvolvimento social, caracteri zado por contatos e influncias, deslocamentos, "novos comeos", no contnuo em cada unidade "et nogeogrfica" - que pode mesmo conhecer estagnaes e involues -, por mais que a continuidade tempor al e lgica daquela evoluo possa ser recuperada quando integramos os diferentes processos evol utivos numa unidade superior. Por isso, diz M. Rebrioux que o historiador deve abandonar a bu sca (absurda) da continuidade geogrfica do desenvolvimento histrico e aprender "a ver o contnuo no d escontnuo".4 Embora seja impossvel seguirmos aqui toda a trajetria do conceito de "modo de prod uo asitico" desde que sua discusso foi retomada, pouco antes de 1960, mister, alm de remeter o leito r aos textos principais gerados em tal discusso,5 recordar que, se bem que at meados da dcada de 1960 ainda fossem comuns os escritos puramente exegticos e tericos a respeito, desde ento temse desenvolvido a perspectiva de que, sem descurar da teoria, essencial proceder ao seu confronto com o material emprico disponvel, infinitamente mais rico do que no sculo passado. Afinal, foram Marx e E ngels que frisaram, referindo-se "sntese dos resultados mais gerais que possvel abstrair do estudo do desenvolvimento histrico": Tais abstraes, tomadas em si mesmas, separadas da histria real, no tm qualquer valor. 6 "Modo de produo domstico" e "modo de produo palatino" As tentativas de aplicao do conceito de "modo de produo asitico" disseram respeito a grande nmero de sociedades e a cortes cronolgicos tambm variados: as civilizaes do antigo Oriente Prximo; algumas das civilizaes da proto-histria mediterrnea (cretense, micnica e, com menos verossimi lhana, a etrusca); ndia, Sudeste Asitico e China pr-coloniais; algumas das culturas da frica negra pr-colonial; as altas culturas da Amrica pr-colombiana. Casos muito controversos, e com graus de p robabilidade muito

mais baixos, so o Imprio Bizantino, o mundo muulmano - insistiu-se mais no caso tur co -, a Rssia tzarista e o Japo.

Aqui nos interessa o antigo Oriente Prximo, visto atravs de dois exemplos: o Egito faranico e os Estados da Baixa Mesopotmia. Por tal razo, apoiar-nos-emos na interpretao da evoluo social pr mo-oriental elaborada, sob inspirao das discusses acerca do "modo de produo asitico", por dois au ores italianos, especialistas na histria dessa regio: M. Liverani e C. Zaccagnini. Por volta de 70 00 a.C. j, existiam, na sia Ocidental, aldeias sedentrias, resultantes do processo que o arquelogo australi ano Gordon Childe props fosse chamado "revoluo neoltica"; esta forma de organizao se generalizou aos po cos no Oriente Prximo. Alguns sculos antes de 3000 a.C., na Baixa Mesopotmia, e por volta dessa data, no Egito, nova transformao - que Childe chamava "revoluo urbana" - se traduziu no surgi mento de cidades, do Estado, e de uma diferenciao social profunda; ou, mais em geral, do que se conv encionou denominar "civilizao".

Liverani, ao interpretar a situao posterior "revoluo urbana", prope um duplo quadro e referncia: o "modo de produo domstico", ou "aldeo", e o "modo de produo palatino". O primeiro seri uma estruturao social cuja origem remonta "revoluo neoltica"; so caractersticas suas a omia de subsistncia, a ausncia de diviso e especializao do trabalho - dando-se, em cada aldei a, a unio da agricultura e do artesanato -, a ausncia de uma diferenciao em classes sociais, a p ropriedade comunitria sobre a terra. O "modo de produo palatino", por sua vez, resultaria da " revoluo urbana", que desembocara no surgimento de complexos palaciais e templrios como centros de nova organizao social. A economia passara a basear-se na concentrao, transformao e redistribuio dos xcedentes extrados por templos e palcios dos produtores diretos - em sua maioria ainda membr os de comunidades aldes -, mediante coao fiscal, configurando tributos in natura e "corvias", ou traba lhos forados por tempo limitado, para atividades civis (trabalhos diversos) e militares; isto man ifestava diviso e especializao do trabalho, com o surgimento de especialistas de tempo integral (art esos, sacerdotes e burocratas dependentes dos templos e palcios), uma diferenciao fortemente hierrquica da sociedade, um sistema j complexo de propriedade que inclua, entre outras formas, as proprieda des dos palcios e dos templos. As comunidades aldes e, em regies marginais, tambm as comunidades trib ais, tomadas em si mesmas, eram o resduo de um modo de produo cujas razes mergulhavam no passado prhistrico; mas constituam, ao mesmo tempo, a base sobre a qual se desenvolvera o no vo modo de produo; este s pde surgir e se expandir explorando o modo de produo mais antigo, que oi subordinado, adaptado e utilizado de acordo com os novos interesses, mas sem per da de todas as suas caractersticas prprias.7

7 LIVERANI, Mario. La struttura politica. In: MOSCATI, Sabatino, ed. L'alba deI Ia civilt, v. 1, p. 277-414. Id. Il modo di produzione, ibid., v. 2, p. 3-126. 8 ZACCAGNINI, Carlo. Modo di produzione asiatico e Vicino Oriente antico. Dialog hi di Archeologia. Para Zaccagnini, a articulao entre estruturas palatinas hegemnicas e estruturas ald es subordinadas mas ainda reconhecveis e com certo nvel de autonomia local - que constitui o "modo de produo asitico", ou "tributrio", tal como existiu no antigo Oriente Prximo. Ele cr tambm que , nos grandes vales fluviais irrigados e urbanizados (Egito, Baixa Mesopotmia), a forte centralizao pal atina levou, j no III milnio a.C., a um redimensionamento to profundo das comunidades aldes, que elas per deram a maior parte de sua autonomia e importncia econmica - talvez tenhamos a uma apreciao exagera da, como veremos. Nas regies menos nucleares do antigo Oriente Prximo (Palestina, Sria, sia M enor, partes da Assria), pelo contrrio, o sistema de comunidades de aldeia teria sobrevivido com f ora, mantendo reconhecvel seu carter comunitrio tradicional at pelo menos 1200 a.C., aproximadamen te.8

Como foi possvel a transio de aldeias indiferenciadas situao de desigualdade e domn que se configurava j claramente desde o III milnio a.C.? Obviamente, o ponto de partida t em de ser um incio de diferenciao funcional no seio das prprias comunidades aldes, tanto devido a fatores internos quanto por impactos externos (comrcio intercomunitrio ou de longo curso, guerra, influncias di versas). Tal diferenciao, ao ocorrer, se cristaliza no plano do prestgio, do ganho e do poder de cisrio: certos "notveis" sados das famlias mais importantes passam a manipular de fato, por sua in fluncia e formas materiais de presso, as decises do "conselho de ancios" da aldeia. A origem primeir a da diferenciao pde decorrer do fato de que certas famlias, mais numerosas que outras, concentrara m o controle de mais lotes de terra comunitria e mais cabeas de gado do que as demais; ou de que as faml ias estabelecidas h mais tempo na aldeia tivessem privilgios negados s mais recentes; ou ainda do res ultado da distribuio desigual de bens provenientes do comrcio intercomunitrio ou de longo curs o. Seja como for, quem alcanasse posies vantajosas tentaria garanti-Ias para seus filhos. Com o tempo , estabelecia-se uma diferena entre os que trabalham e os que dirigem o trabalho alheio; entre os que decidem e os que executam; entre os que realizam trabalhos "comuns" (agrcolas) e "especializados" (de transformao, troca, administrao).

Quando as mudanas desembocam plenamente na urbanizao e na organizao estatal, trs seto es sociais bsicos so perceptveis: 1 - A imensa maioria da populao dedica-se s atividades

agropecurias, consumindo diretamente parte do que produz e entregando o resto ao poder central ; tal populao no participa das decises comuns. 2 - Um grupo muito minoritrio se ocupa com atividade s artesanais, de

troca, de administrao, religiosas; mantido peia redistribuio dos excedentes extrados das aldeias, e no participa das decises comuns. 3 - Um grupo nfimo organiza o trabalho das comunid ades, pelas quais sustentado, e decide por todos; este poder de deciso tende a personalizar-se, a t er como expoente uma s pessoa. A ampliao do corpo social, que passa a englobar numerosas comunidades aldes, mais o s ncleos urbanos, leva a uma coeso cada vez mais artificial e menos automtica; se tal coeso na aldeia decorre de relaes de parentesco e vizinhana e de decises tomadas por representantes das famlias nas confederaes tribais amplas e, mais ainda, num Estado, recorre-se sano divina do pode r e da ordem social. O governante supremo passa a situar-se num plano diferente do que caract eriza o resto da sociedade: a sacralidade facilita a aceitao das decises pela maioria no consultada. A contraparte dos excedentes recebidos das comunidades de tipo administrativo, mas sobretudo ideolg ico: o rei, ou governante, o garantidor da justia - ordem csmica aplicada a casos particulares e da fertilidade da terra e dos rebanhos, utilizando-se, para tal, de meios sobrenaturais.

O palcio e o templo so jmpensveis sem a aldeia, mas esta, ao inserir-se no interior de um sistema palatino, sofre transformaes: j no a aldeia autnoma do Neoltico; assim, os dois nv icos da integrao social so interdependentes. No entanto, as relaes entre eles so de iniciativ exclusiva do nvel superior, manifestando-se na taxao, no recrutamento militar, na represso. Exist e uma tenso, um hiato de interesses e mesmo de compreenso entre ambos os nveis, que a ideologia of iciai tenta ocultar, difundindo a imagem de uma sociedade homognea em que todos - do mais pobre campons ao mais exaltado funcionrio - so "servos" do monarca, que, por direito divino, o senhor de suas vidas e o dispensador da abundncia. Texto extrado do livro: CARDOSO, Ciro Flamarion S. Sociedades do Antigo Oriente P rximo. So Paulo: Ed. tica, 1986, pp. 18-28. (Srie Princpios, n. 47)

O NEOLTICO Antnio Roberto Guglielmo O neoltico Com o significado de "nova idade da pedra", o termo neoltico surgiu no sculo XIX, identificando a idade da pedra polida, assim como o termo paleoltico identificava a idade da pedra lascada . Hoje, no entanto, o termo neoltico no mais identifica mtodos de trabalho em pedra e, sim, de produo de al imentos. Durante o Neoltico o controle sobre a reproduo de plantas e animais e a estocagem de protena animal e vegetal tornou-se possvel com a criao de rebanhos e o cultivo dos campos.

O processo de domestificao envolve uma relao de simbiose entre as populaes humanas (domesticadores) e certas espcies favorecidas de vegetais ou animais (domesticado s). O domesticador afasta dos respectivos habitats a flora e a fauna domesticveis, suprimindo-os de espao, gua, luz solar, nutrientes e interferindo na sua atividade reprodutora para garantir o mximo reto rno dos recursos empregados. A domesticao normalmente causa modificaes genticas nas espcies domesticad s. Exemplos clssicos so os cereais, tais como milho, trigo e aveia, que, sucessivamen te selecionados por mos humanas para obter maiores espigas e maior nmero de gros, perderam completament e a capacidade de se produzir sem a interferncia humana. Em inmeros stios arqueolgicos do Oriente Mdio foram encontradas formas domesticadas de cevada, trigo, cabras e carneiros datadas de 11.000 a 9.000 anos, alm de indcios do cultiv o de leguminosas ervilhas, lentilhas e feijes -domesticadas ao mesmo tempo que os cereais. As reas das transformaes no Oriente Mdio - o chamado crescente frtil -correspondem aproximadamente s regies em q ue as espcies domesticadas ocorriam em estado silvestre. No final do Pleistoceno, as populaes dessas regies incorporaram essas plantas e ani mais sua dieta pela caa e coleta, desenvolvendo um padro cultural tpico do Paleoltico. Da mesma for ma que os povos mesolticos da Europa - onde o recuo das geleiras alterou drasticamente a paisagem , extinguindo a caa de grande porte -, essas populaes foram foradas a consumir maior variedade de pequenos animais, peixes, mariscos, bem como legumes, nozes, frutas e outras plantas. No entanto, havia um a diferena fundamental entre as paisagens europia e do Oriente Mdio: neste a existncia de grandes pastagen s introduziu o hbito do consumo de sementes, inexistentes na Europa, incluindo-se os ancestrais silvestres do trigo, aveia e cevada. E$sa diferena, que levou a um processo de sedentarizao precoce, tal vez explique por que as primeiras grandes civilizaes floresceram no Oriente Mdio.

So numerosas as evidncias de sociedades sedentrias pr-agrcolas no Oriente Mdio, que e tocavam gros para alimentao posterior. A descoberta de vilas pr-agrcolas como a de Jeric, em srael, revolucionou a idia em vigor at 1960, de que a sedentarizao ocorrera com a agricultu ra e no antes. Hoje, no entanto, reconhece-se que caadores e coletores aumentaram sua densidade demogrfica pela sedentarizao. Nas vilas pr-agrcolas, adaptadas para estocar gros, process-los em fari ha e convertlos em alimento, a construo de casas slidas, muros, moinhos, silos etc. representav a um grande investimento de energia humana, que fazia as pessoas relutarem em abandonar tudo e se mudarem. No entanto, o que ocorreu em primeiro lugar: a domesticao de plantas ou a de anima is? Ao que tudo indica, ambos foram domesticados num processo nico. Na medida em que o homem obti nha seu alimento de novas maneiras, novas relaes se deram entre plantas e animais. As pastagens nat urais, com os ancestrais do trigo e da cevada, eram a maior fonte de alimentos de carneiros e cabras. Com as vilas pr.;:i:1grcolas, cada vez mais freqentes nesses campos, bandos de carneiros e cabra s selvagens se aproximavam dos homens. Valendo-se dos ces, as pessoas controlavam os movimentos desses bandos, mantendo-os fora dos limites dos campos de cereais. A caa foi, assim, simplificad a: no era mais necessrio ir ao animal; atrado pelos irresistveis pastos concentrados, o animal vin ha ao caador. Com o incio da agricultura, ovelhas e cabras se alimentavam do feno e sobras das colhei tas. Podiam, pois, ser aprisionadas, ordenhadas e sacrificadas de forma seletiva, preservando-se animai s mais dceis.

A agricultura contribuiu tambm para o crescimento populacional, facilitando o sus tento e manuteno das crianas. Normalmente, nas sociedades de caadores e coletores, as mulheres mantinha m s um filho a cada quatro anos, aproximadamente, devido a dificuldade de transporte nos longos percursos. As crianas eram alimentadas praticamente at a adolescncia, s ento tornavam-se caadores hbeis. Na sociedades agrcolas, no entanto, quanto maior o nmero de crianas, maior o cuidado q ue se podia ter com as plantas e os animais. Desde muito cedo, as crianas eram postas a trabalhar em tarefas simples e literalmente pagavam com trabalho aquilo que comiam. A agricultura reduziu tambm o esforo das mulheres, que, no precisando mais transportar permanentemente os filhos, podiam a tender com mais eficincia um nmero de filhos bem maior. O perodo Neoltico apresentou, portanto, um rpido crescimento demogrfico. Estima-se q ue a populao humana entre 10.000 e 6.000 anos atrs saltou de cerca de 100.000 para 3.2 milhes d e indivduos na regio do crescente frtil. Usualmente a vida no Neoltico tem sido descrita como pacfi ca, segura, auto-

suficiente, igualitria, com lentas mudanas. Embora corresponda quanto as primeiras vilas pr-agrcolas,

essa imagem no se aplica ao perodo todo. Na medida em que novas espcies foram domesticadas, desenvolveram-se aceleradament e ferramentas, tcnicas produtivas e novas formas de vida social. Recentemente descobertas tornam evidente que grandes cidades eram comuns h 10 mil anos, e a presena de muralhas, fossos e torres que as cercavam desmentem a imagem romntica atribuda ao Neoltico. Sua prosperidade indica o desenvo lvimento do comrcio com a exportao de gado e cereais em troca de vrios artigos e matrias-primas. O grau de especializao tanto dentro como entre as cidades neolticas tm surpreendido os arquelog os: casas de construo de mveis, ferramentas, matadouros, curtumes, olarias, etc. indicam diversi ficao e produo em larga escala, sugerindo que o comrcio ocorria, por vezes, entre cidades muito distantes. O maior domnio sobre a natureza libertou o homem dos modelos de sobrevivncia da caa e coleta, dependente da flora e fauna silvestres, em pequenos grupos nmades, tipicamente pa leolticos. A produo do prprio alimento permitiu rpido crescimento populacional e assentamentos permane ntes.

A criao de rebanhos e a estocagem de gros tambm implicaram profundas alteraes econmi e polticas que resultaram do acesso diferenciado a terras frteis, gua e outros recurs os bsicos. Diferenciaes de riqueza e poder surgiram a partir do controle desses recursos. Fin almente, graas ao desenvolvimento agrcola, houve condies para o surgimento das grandes cidades, Estad os e imprios. A revoluo urbana. O desenvolvimento do Estado e das civilizaes

Com a domesticao dos bovinos, inovaes tecnolgicas foram surgindo num processo de rea m cadeia. Arados (cerca de 7.500 anos) intensificaram a agricultura e viabilizaram sua prtica em novas reas, incrementando o crescimento demogrfico. Com o aumento das populaes, surgiam novas v ilas em regies frteis, porm mais secas. Na parte sul da regio do Tigre-Eufrates, atual Iraqu e, por exemplo, em densa concentrao de vilas e cidades se confinava, no incio, s margens dos cursos nat urais dos rios, foi adotada a irrigao artificial para as reas mais afastadas. A arquitetura tomou impul so com a difuso de templos monumentais de tijolos -os chamados zigurates -erguendo-se nos centros d as maiores cidades. Na cidade de Uruk, por exemplo, h 6.000 anos, havia vrios quilmetros quadrados de ruas , casas, templos, palcios e fortificaes, cercados por milhares de hectares de campos irrigados. A tecnologia alcanada, a fiao e a tecelagem, a cermica, as olarias, os navios, os vec u1os com rodas, os calendrios, os sistemas de pesca e medidas e os primrdios da matemtica so apenas alguns

exemplos. Surgiu a escrita, marcando para muitos historiadores a passagem da pr-h istria para a histria. Ao meu ver, no entanto, ela foi apenas uma entre tantas outras transformaes que oc orreram em curtssimo espao de tempo, permitindo o registro de eventos sociais e caractersticas culturais desses povos para as geraes futuras. Nas comunidades, com a diviso entre ricos e pobres, governantes e governados, let rados e analfabetos, camponeses produtores de alimentos e especialistas habitantes das cidades -arteso s, artistas, soldados, sacerdotes e nobres -produziu-se a estratificao social e se desenvolveram instituies hierarquizadas, entre as quais o Estado. No processo de formao do Estado na Mesopotmia -regio compreendida entre os rios Tigr e e Eufrates houve a interao de uma srie de fatores, muitos dos quais tambm ocorreram em outras r egies onde se desenvolveu essa instituio. Assim, o desenvolvimento dos primeiros Estados do Orie nte Mdio explica satisfatoriamente as origens da civilizao.

A regio da Mesopotmia, embora frtil, no tinha uma distribuio regular e abundante de c uvas, tornando a irrigao artificial necessria para a expanso agrcola. Na medida em que a de nsidade populacional aumentava, crescia tambm a competio real dentro e entre os estabelecim entos humanos pelo acesso e controle da gua necessria para a irrigao. A deficincia da Mesopotmia em matrias-primas -pedras, madeiras, minrios etc. -levou a um comrcio bastante desenvolvido com outras regies. Provavelmente, graas necessidade de regul ar as atividades comerciais, aliada, controle dos trabalhos de construo de canais e diques para a i rrigao, surgiu uma hierarquia poltica, religiosa e militar, que daria origem ao ncleo da primeira bur ocracia estatal conhecida. Essa elite assumiu a tarefa de organizar a produo, a distribuio, o comrcio e a defesa , prestando servios na forma de elaborar clculos sazonais, distribuindo raes de emergncia, manten do o trabalho de artesos especializados e realizando os cultos religiosos. Transformou-se em um a classe de dspotas, assentada no monoplio do poder poltico e militar. Impondo impostos de diversos tip os, desviava grande parte do excedente das colheitas de cereais para as transaes A irrigao intensiva consolidava e ampliava o poder da elite dominante sobre as pop ulaes e as fontes de recurso naturais. A propriedade da terra e dos recursos naturais um dos aspectos mais importantes do controle poltico: o acesso desigual aos recursos do meio ambiente implica de algu ma forma de coero dos dominadores sobre os dominados. Muitos estudiosos atribuem existncia de excedente de produo quantidade de alimentos maiores do que a necessria para o consumo imediato - a ev

oluo de diviso social do trabalho.

Excedentes de produo, contudo, no significam produo suprflua, pois os produtores pode iam com ela aliviar os custos de manuteno dos filhos, diminuir sua carga de trabalho ou realiz ar trocas para elevar seu padro de vida. Se os produtores entregam parte de sua produo, porque no tem o poder de no entreg-la. H, pois, estreita relao entre rendimento da terra e taxao, ambos dependend da existncia de um poder coercitivo na forma de exrcito e armas. (GUGLIELMO, Antonio Roberto. A Pr-Histria. Uma abordagem ecolgica. So Paulo: Ed. Bra siliense, 1991, pp. 38/45.)

A Baixa Mesopotmia: da sua ocupao at a Babilnia Cassita* Texto organizado por Lus Manuel Domingues** O meio fsico da Mesopotmia

Os rios que formam a plancie aluvional mesopotmica - o Eufrates e o Tigre - nascem nas montanhas da Anatlia. O primeiro depende do desgelo das neves durante a primavera e de dois af luentes da sua margem esquerda (Balikh e Khabur); o segundo, das chuvas da regio dos montes Zagros e de numerosos rios tributrios (os dois Zab, o Diyala e o Karum). Nos perodos de cheias, os dois rios inundam suas margens e as fertilizam. A cheia do Tigre atinge o mximo em abril, a do Eufrates, em maio, atingindo ambos o nvel mais baixo nos meses de setembro e outubro. O Tigre, mais impetuoso e de curso m uito irregular em relao plancie, menos favorvel a irrigao do que o Eufrates, que corre acima do nv eu vale. Apesar das enchentes dos rios mesopotmicos renovarem anualmente a fertilidade do solo com aluvies, elas ocorrem justamente no momento em se aproxima colheita, sendo necessrio, port anto, proteger os cereais e plantas cultivadas das guas fluviais que transbordam com mpeto.

Em termos geolgicos, a Mesopotmia uma depresso formada pela juno, no Plioceno, da pl ca tectnica da Arbia com a da sia Ocidental, que foi posteriormente recheada de sedime ntos aluviais depositados pelos dois grandes rios. Acreditou-se, durante muito tempo, que os r ios Tigre e Eufrates desembocavam separadamente no golfo Prsico, sem se juntarem, como hoje, no Shatt al-Arab. Esta compreenso adivinha das informaes dos documentos sumrios mencionarem cidades como Ur e Eridu, hoje distantes do golfo, como detentoras de portos martimos. A nova pesquisa tem levado os especialistas a afirmarem que a regio de lagos semipermanentes e pntanos, ao sul das cidades sumr ias, era vista, pelos antigos habitantes, como parte integrante da paisagem ocenica, haja vista q ue os navios martimos podiam atravessar os pntanos e penetrar facilmente no Eufrates at chegar quelas cid ades e seus portos.

Tomando como limite o ponto do seu curso mdio onde o Eufrates e o Tigre mais se a proximam um do outro, possvel considerar duas sub-regies: a Alta Mesopotmia, a noroeste, e a Baixa Mesopotmia, a sudeste. A primeira mais elevada, menos propcia irrigao e, em parte, adequada agri ultura de chuva (no planalto assrio, no lado leste) ou criao (Assria, mais a oeste), contendo, ainda, ricos recurso florestais. A Baixa Mesopotmia pouco servida pelas chuvas, baixa, muito plana e p otencialmente fertilssima - dependendo de um sistema de irrigao artificial para conter as destruies das cheias e da drenagem que evite a salinizao -, mas de todo carente de madeira, pedra e minrios. A terra frtil forma

um conjunto de bacias entremeadas e propcias para o gado, sendo que os vales fluv iais so cercados, para oeste e para leste, por outras faixas estpicas freqentadas por pastores. As z onas pantanosas prximas ao golfo continham pastos extensos e serviam pesca e coleta vegetal. A ar gila de alta qualidade e abundante foi tambm explorada na Antigidade. A navegao fluvial era reali zada atravs dos rios e dos canais maiores e foi o principal meio de comunicao. O transporte terres tre, at a difuso do dromedrio, dependia de caravanas de muares ou carros e trens puxados por bovinos e asinos. Quando de suas cheias anuais, o Eufrates e o Tigre depositam no leito normal os sedimentos mais pesados, formando diques naturais ou leves. Era nestes diques naturais que se con centrava o habitat humano na Baixa Mesopotmia, nos quais desenvolviam preferencialmente a agricultur a irrigada em virtude de apresentarem menos problemas quanto drenagem. Quanto aos problemas relacionad os com as atividades agrcolas estava o da salinizao causada por drenagem insuficiente e o ava no do deserto sobre as terras cultivadas - condio que deve ter motivado as disputas por terras c ultivveis. A ocupao, colonizao e revoluo urbana na Baixa Mesopotmia Durante o terceiro milnio, do ponto de vista lingistico, a Baixa Mesopotmia podia s er dividida em duas partes: ao sul, a Sumria, ou pas de Sumer, onde predominava o sumrio, lngua aglutina nte sem vnculos conhecidos e que deixaria de ser falada no incio do segundo milnio; ao norte, o pas de Akkad, onde se concentrava a maioria da populao que falava o acdio, uma lngua de flexo do grupo semi ta e que predominou, juntamente com o babilnico dele derivado e o aramaico, na regio baixomesopotmica a partir do segundo milnio.

Nos textos, escritos em sumrio e acadiano, ainda no terceiro milnio, constatou-se a presena de palavras no-sumrias e de vocbulos estranho estrutura das duas lnguas faladas na regio baixo-m sopotmica, levando a supor a idia de uma tradio tardia sumria na qual tanto o sumrio como acadia no teriam substitudo uma lngua falada num passado pr-histrico. Foi esta idia que aventou a poss ibilidade da chegado dos sumrios pelo golfo Prsico, por volta de 3100 a.C., mas as pesquisas ar queolgicas os vincularam ao sudoeste do Ir (o Elam, ou Susiana). Recentemente, foi formulada a opinio, luz da lingstica e levando em conta as noes tnicas bem posteriores provenientes da Babilnia, que os habitantes encontrados pelos antepassados dos sumrios fossem a gente de Subaru (A lta Mesopotmia), que arqueologicamente j estavam presentes na Baixa Mesopotmia desde mais ou menos 3500 a.C.; o que implica ter havido na regio um povoamento mais remoto de populaes oriundas das r eas

plenamente neolticas. Enquanto na Anatlia, Siro-Palestina e Alta Mesopotmia a ocupao permanente por aldeia s neolticas

plenamente sedentrias, comunidades que baseavam sua subsistncia numa agropecuria es tvel e no mais na caa, na pesca e na coleta de plantas selvagens, ocorreu no perodo de 9000 a 7000 a.C., a ocupao por cultivadores da Baixa Mesopotmia - potencialmente frtil, mas pouco adequa da agricultura de chuva - s tem incio, de forma espordica, entre 6000 a 4500 a.C., por cultivadore s oriundos dos macios do Curdisto e dos Zagros, formando as culturas de Hasssunah, Samarra e Hala f. S a partir do 5 milnio, a plancie aluvial do Tigre e do Eufraste ser ocupada permanentemente por gr upos de cultivadores oriundos do leste, introduzindo mudanas importantes na atividade agropastoril e p reparando o longo caminho que conduziu ao modo de vida urbano e, consequentemente, ao surgimento d as civilizaes. A mudana importante dessa fase foi o desenvolvimento de tcnicas eficazes de irrigao, p ermitindo a expanso do povoamento.

No 5 milnio, com o surgimento de comunidades nas encostas prximas aos rios que atra vessavam as plancies da Baixa Mesopotmia, simples valas eram construdas para desviar os cursos de gua que corriam para os campos prximos. Esta irrigao em pequena escala era usada de incio co mo preveno contra a seca em reas j alimentadas pela chuva. Entretanto, no decorrer do 5 e 4 miln io, os sistemas de irrigao conhecidos e desenvolvidos permitiram a colonizao de regies ridas, antes f ra do alcance das comunidades agrcolas. Como conseqncia desta empreitada, inmeras pequenas aldeias surgiram s margens da plancie fluvial da Baixa Mesopotmia, rea de enorme potencial agrcola, mas deficiente em madeira, pedra dura e minrios para a produo de utenslios e armas. Por volta de 3100-2900 a.C., quase dois mil anos aps o incio da ocupao efetiva e con struo dos pequenos sistemas de irrigao, a Baixa Mesopotmia estava j urbanizada, apresentando q uatorze cidades mais importantes que subordinavam outras menores e numerosas aldeias. Tr ata-se da mais antiga regio do mundo a urbaniza-se. Portanto, constitui-se na nica regio que efetuo por s i s o processo de urbanizao sem dispor de modelos externos a que se pudesse referir. Ao longo de miln ios, a regio precisou buscar solues para os problemas novos que fossem surgindo, enquanto o mod o de vida urbano vai se delineando e se consolidando. Entre o ano 5000 e 2900 a.C. a Baixa Mesopotmia transitou de uma fase basicamente neoltica para uma poca caracterizada pelo que se convencionou chamar de revoluo urbana. Entre 5000 e 3500 a.C., a regio conheceu a fase de Ubaid, em que o modo de vida era neoltico, com o aparecim ento de cermica pintada, o surgimento dos primeiros objetos fabricados de cobre - a partir de 45 00 a.C.-, e a construo dos primeiros santurios como o de Eridu. A fase seguinte, a de Uruk, de 3500 a 3100 a

.C., caracteriza-se pelo incio da urbanizao, inveno da escrita e dos processos de numerao e pelo aparecimento uma clerezia dedicada ao servio de deus com residncia nos lugares santos e exercendo u m domnio sobre as comunidades rurais. A transio da civilizao urbana completada no perodo de 3100 a 290 a.C., durante a fase de Jemdet-Nasr, marcada pelo desenvolvimento da organizao social e de instituies poltico-administrativas nas cidades, que reconhecem como soberano uma grande divi ndade que personifica uma das foras da natureza (Enlil, o vento; Anu, o cu; Enki, a gua; Ianna, a fertili dade). Ao mesmo tempo, esta fase conhece uma grande concentrao de residncias dos cultivadores nas plancies e o aparecimento de um grande contingente de artesos especializados e trabalhando em tempo integral nas cidades. a fase com a qual comeou a poca Inicial do Bronze. As razes da revoluo urbana na Baixa Mesopotmia

Desde o perodo basicamente neoltico at os incios da urbanizao e das cidades nascentes da Baixa Mesopotmia, as populaes locais tiveram que enfrentar dificuldades considerveis e bus car solues aos problemas em princpio intransponveis. Contudo, foi no enfrentamento das dificuldad es e na busca de solues que a regio transitou para civilizaes urbanizadas com instituies poltico-ins ionais e administrativas.

O povoamento da Baixa Mesopotmia dependia dos rios que cortam as plancies fluviais . A agricultura de chuva, tpica das regies do Levante e da Anatlia, no praticvel na regio. Por outro l , os rios se acham em vazante na parte do ano em que preciso semear. As enchentes possuem um efeito, por um lado, fertilizador, mas, por outro lado, d-se em pocas em que os cereais cultivado s j esto crescidos e, em sua violncia, ameaa lev-los de roldo juntamente com rebanhos e casas. Tinha-se, p ortanto, que dispor de reserva de gua para os meses mais secos do ano, e de obras hidrulicas de proteo contra os efeitos das enchentes fluviais. Estas necessidades obrigaram a construo de um sist ema complexo de barragens, diques, canais de irrigao e drenagem, cuja manuteno e extenso exigiram um enorme e constante esforo. Por outro lado, a Mesopotmia tinha sua volta estepes habitadas por nmades criadore s a oeste e a leste nas montanhas. A plancie frtil do Eufraste e do Tigre tinha que ser disputada com armas nas mos aos pastores nmades que nelas tentavam se estabelecer ou, simplesmente, pilhar os ass entamentos sedentrios. Alm do mais, em virtude da salinizao causada por drenagem insuficiente e ao avano do deserto sobre as terras cultivadas, estes ltimos competiam entre si pelos recurso s naturais: gua, campos, bosques.

Sendo a regio da Baixa Mesopotmia carente em madeira, pedra dura e metais era prec iso suprir os

povoamentos em expanso de materiais bsicos que s podiam ser encontrados em reas elev adas e distantes. As recentes escavaes arqueolgicas comprovam que, desde a fase basicament e neoltica, as comunidades locais efetuavam trocas regulares, s vezes a distncias muito considerve is. A questo pertinente para a histria poltico-institucional e administrativa e de form ao das cidades com espaos urbanos institucionais : quem tinha a responsabilidade de procurar solues par a os problemas apresentados acima? Ante as presses descritas, os vilarejos da Baixa Mesopotmia comearam a organizar rgos colegiados e a caminhar para instituies poltico-institucionais com a responsabilidade de buscar solues. Segundo Ciro Flamarion Cardoso, trs instituies, sucessivas e recentes, encarregaram-se de e nfrentar as dificuldades que apareceram ao longo do processo de urbanizao e, depois, no perodo inicial da vida j totalmente urbana: rgos colegiados com origem nas organizaes tribais, que sobrevivem ao processo de destribalizao; os templos, compreendidos como complexos econmicos e administrativos , alm das funes religiosas; e o palcio real, tambm, um complexo com mltiplas funes. Ao iniciar os tempos histricos, o sul da Mesopotmia estava dividido, ento, em uma dz ia de cidadesEstados bem consolidadas e ciosas de sua independncia. J existiam em cada cidade b aixomesopotmica privilgios fiscais, legais e de jurisdio reconhecidos aos homens livres proprietrios, integrantes do corpo de cidados dotados de direitos bem estabelecidos. Estes traos so compreensveis ao se admitir a origem tribal - e, portanto local e dispersa - dos primeiros rgos colegiados de poder que existiram nas cidades nascentes, anteriores ao surgimento das instituies centraliz adoras e subordinadoras dos complexos templrios e palaciais.

Desde o comeo do processo de urbanizao, os rgos encarregados de tomar as decises mais importantes eram dois: o conselho de ancios (notveis locais) e a assemblia dos home ns livres. S com urbanizao plena, por volta de 3100 a 2900 a.C., surgem os templos como complexos p oltico-econmicos com controle sobre a administrao das cidades-Estados. Mas, s em meados do terceiros milnio, que vai aparecer o palcio real como entidade diferente dos templos, deles separada no espao, e epicentro poltico-administrativo no sul da Mesopotmia. Cada cidade-Estado do sul da Baixa Mesopotmia compreendia trs setores urbanos: a c idade propriamente dita, cercada de muralhas; uma rea perifrica (chamada de cidade extern a em sumrio), ocupada por residncias, estbulos, campos, hortas e pomares, na qual residiam os ha bitantes da cidade; e o porto (fluvial na maior parte dos casos), centro da atividade comercial de lon

ga distncia e lugar de residncia dos mercadores estrangeiros (no admitidos intramuros). A sede urbana con trolava um territrio composto de aldeias, campos, bosques, pastos, e, no muitos raros, outras cidades subordinadas. Cada cidade-Estado tinha uma divindade principal que a possua . O perodo de domnio das cidades-Estados templrias na Baixa Mesopotmia

Uma histria da evoluo poltico-administrativa da Baixa Mesopotmia do momento em que ap arece plenamente urbanizada, perodo de Jemdet Nasr (3100 a 2900 a.C.), at 2500 a.C. apre senta dificuldades acerca de conhecimento, no mnimo razovel, sobre as realidades polticas locais. Os t extos so raros e os que se tem em mo so parcialmente legveis e pouco informativos a esse respeito. A ar queologia a base quase nica de conhecimento direto da primeira poca urbana, sendo, contudo difcil ex trair dela informaes precisas sobre o poder e as instituies. Um dos poucos documentos que nos f ornece informaes sobre os primeiros tempos da urbanizao a Lista real sumria, redigido em p bem posteriormente. O texto fala que a realeza que desceu do cu , pela primeira vez, ant es do dilvio e de que cinco cidades dominaram sucessivamente a cena poltica regional antes do dilvio : Erid u, Badtibira, Sippar, Larak e Shuruppak. O ltimo rei de Shuruppak nesta longnqua fase o heri meso potmico do dilvio, Ubartutut ou Ziusudra. A arqueologia confirma uma inundao fluvial localizad a na localidade onde foi achada a cidade de Shuruppak, mais ou menos em 2900 a.C., podendo esta relac ionada ao dilvio da tradio mesopotmica.

As informaes so mais precisas sobre a histria poltica da Baixa Mesopotmia para o per dinstico primitivo, ou perodo pr-sargnico (2900-2334 a.C.), ocasio em que a realeza desceu do cu depois do dilvio. Para este perodo, de norte a sul, quatorze aglomeraes urbanas mais important es podem ser relacionadas: Sippar, Kish, Akshak, Larak, Nippur, Adab, Shuruppak, Umma, Lagash , Badtibira, Uruk, Larsa, Ur e Eridu. Nem todas as cidades-Estados estavam organizadas segundo um mesmo mo delo. o caso de Nippur, centro religioso de toda a regio, e Sippar, aglomerado de acampamentos co merciais de tribos nmades no extremo norte da zona urbanizada. Outras aglomeraes urbanas menores depen diam das principais. Outras aglomeraes urbanas de tradio sumria esto situadas fora da Baixa Me opotmia, so os casos de: Mari, situada na margem direita do Mdio Eufrates, Assur na Alta Me sopotmia, Tell Khuera na Sria, Tell Asmar no vale do Diyala. Somadas as cidades-Estados mais imp ortantes da Baixa Mesopotmia e mais algumas aglomeraes menores, mas de alguma importncia - sedes de go vernadores de provncias - teremos algumas dezenas. Segundo Ciro Flamarion Cardos, no livro Sete olhares sobre a Antigidade, a evoluo p

olticoadministrativa da Baixa Mesopotmia apresenta duas tendncias persistentes ao longo do terceiro

milnio a.C.: 1. um aparente predomnio das instituies templrias e de rgos colegiados representavam os cidados livres foi cedendo lugar a uma realeza cada vez mais lai ca e poderosa, com o palcio se constituindo numa instituio independente que acabou por superar os templo s no seu grau de controle sobre recursos e pessoas; 2. ocorreu uma alternncia entre fases de indep endncia poltica das cidades-Estados com outras em que se deram tentativas, cada vez mais consistente s, de formao de unidades polticas mais amplas. De incio, a arqueologia e os documentos mais antigos mostram a inexistncia de palci os reais como estruturas separadas. O governante da cidade era chamado de en, senhor., atuando tanto como chefe secular como sumo sacerdote do deus principal (o dono. da cidade), em cujo templo residia. Embora persistisse por muito tempo a designao de en, documentos posteriores evidenciam du as outras formas de referir-se aos governantes da cidade durante o dinstico primitivo: ensi, governado r., e lugal, grande homem., traduzido como rei.. A relao entre os trs ttulos encontra dificuldades de exp licao luz dos documentos e da arqueologia. Em alguns casos, porm, o rei. dominava vrias cidades e tinha sob sua autoridade os respectivos governadores.. provvel que, antes de se separar do cargo de sumo sacerdote e, fisicamente, do te mplo, o governante da cidade era uma espcie de encarnao viva do deus principal da cidade-Estado. Era o encarregado de cerimnias relacionadas com a liturgia do deus da localidade: o casamento sagrado anual, no qual tomava o lugar do deus e se unia sacerdotisa que representava a deusa, operacionalizando uma liturgia que visava liberar as foras da natureza. No cemitrio real de Ur, at pouco antes de 2500 a.C., h comprovao da existncia de uma realeza sagrada constituda de um rei e uma rainha (com o ttulo de nin, senhora.), que eram enterrados com suas riquezas e servidores ritualmente mortos. A partir de 2400 a.C., h provas de que o governante supremo deixou de ser o sumo sacerdote e do surgimento de complexos palaciais independentes do templo (Eridu, Kish e, fora d a Baixa Mesopotmia, Mari), sem, contudo, perder de todo as funes sacerdotais e a justificao religiosa do seu poder. Outras provas de que a realeza se laicizava a manuteno pelos palcios de algumas cidades de milcias permanentes, embora no pudssemos falar de um exrcito profissional, o recrutamento d e milcias era feito entre os dependentes do templo. Os textos de Shuruppak mencionam que o palc io real passou a manter entre 600 e 700 guardas permanentes em servio, alm de carros de guerra puxa dos por muares. Os fatos apontados mostram uma crescente independncia da instituio real em relao ao t emplo, bem como em relao ao conselho de ancios e assemblia dos homens livres influentes das cid

ades-Estados. Em meados do terceiro milnio a.C. as monarquias j eram permanentes e hereditrias, s e levarmos em conta que no passado elas eram eletivas. O perodo dinstico ou sargnico da Baixa Mesopotmia Estas transformaes reformularam em profundidade o domnio sobre as riquezas e as pes soas. O palcio real, aps a sua laicizao, avanou sobre muitas terras, rebanhos e outros bens dos tem plos, como tambm forou particulares a vender-lhes terras, redistribuio de excedentes e distribu indo concesses de terras como forma de pagamento aos servios prestados por funcionrios. Exemplo dest e processo o sistema estatizante da III dinastia de Ur, no qual o palcio controlava a maioria das terras e rebanhos, o comrcio exterior e boa parte da mo-de-obra, sustentada com raes aparentemente nfimas.

A partir de meados do terceiro milnio a.C., as funes dos reis mesopotmicos aparecem com muita clareza. So funes suas: a iniciativa da construo e reconstruo dos santurios; passou r sua atribuio construo e o conserto de canais, diques e reservatrios, apresentando-se com o distribudos da 'gua em abundncia.; manter abertas as rotas de comrcio, tanto a fluvial como a f eita atravs de caravanas de muares, garantindo assim o fluxo de matrias-primas carentes na Baixa Mesopotmia; manter a integridade do territrio e a posse dos recursos naturais. Boa parte destas funes requeria uma ao guerreira crescente ora contra as cidades-Estados vizinhas ora contra os povos e stranhos a regio, que ao que parece se constituiu num dos fatores fundamentais na consolidao de uma realeza independente e forte. A segunda metade do terceiro milnio a.C. caracterizada pela alternncia de fases de descentralizaes com outras em se tentavam unir as cidades-Estados em unidade poltico-territoriais maiores. As cidadesEstados possuda. pelo seu deus, com seus cidados livres mais notveis detendo prerrog ativas e com um clero igualmente privilegiado, um fator poltico que tinha fundas razes polticas e h istricas constitua uma tendncia com bases slidas e reais. Contudo, um conjunto de cidades-Estados sob o c omando nico de um rei poderoso se apresentava, tambm, como uma tendncia slida e real, medida que u m poder concentrado podia garantir melhores as rotas comerciais do comrcio de longa distnc ia, constituir uma barreira mais eficaz aos ataques externos e a possibilidade de garantir um fluxo maior de riquezas como resultado de saques e tributos para a capital. Temos aqui, de certo modo, um con flito entre o particularismo das cidades-Estados e uma conscincia tnica unitria. Entre meados do sculo XXV e final do sculo XXI a.C., possvel delinear quatro grande s fases da histria

poltica da Baixa Mesopotmia: 1. as primeiras tentativas conhecidas de centralizao do poder; 2. o imprio de Akkad; 3. o domnio gtion, seguido de uma volta fragmentao poltica de cidades-Esta os

independente; 4. o

renascimento sumrio. e a III terceira dinastia de Ur.

Na estela dos abutres., o ensi de Lagash, Eannatum (2454-2425 a.C.), relata sua v itria sobre a cidadeEstado vizinha de Umma, em funo de disputas de fronteiras. a seguir fala de vitrias sobre os lemaitas estabelecidos em parte de Sumer e de expedies ao Elam. Ele chegou tambm a obter a r ealeza de Kish e enviar expedies militares ao norte (Mari). Posteriormente, Lagash conheceu um novo perodo de vitrias contra Umma sob o domnio do seu sobrinho Entemena (2404-22375 a.C.), que teria fe ito alianas com o rei de Uruk e Ur, ento reunidas sob um nico governo. A seguir, a Baixa Mesopotmia foi c ontrolado em termos poltico, sucessivamente, por Uruk, Adab e Mari. J na cidade de Lagash, dois sacerdotes de Ningirsu tomaram o poder e avanaram sobre as propriedades dos templos, com as sua s famlias submetendo a populao local a vexames e extorses. Esta situao s foi interrompida pela e reformas do ensi Urukagina (2351-2341 a.C.), que teve a sua carreira interrompid a pela expanso do ensi de Umma, que depois de instalado em Uruk e Lugalzagesi (2340-2316 a.C.), fez-se rei de Sumer e Akkad e tendo ainda, mesmo que passageiramente, dominado a Mesopotmia e a Sria, avanando at o Mediterrneo. Foi aps este perodo que se formou o primeiro imprio na regio, o de Sargo I de Akkad ( 2334-2279 a.C.). A origem de Sargo obscura, inicialmente ele teria prestado servios ao rei Urzababa de Kish, tendo aparentemente destronado-o. Aps dezenas de guerra venceu Lugalzagesi e outros gov ernadores da Baixa Mesopotmia. Dominou toda a Mesopotmia e seus arredores imediatos e, de forma menos direta, parte da Sria, sia Menor regies costeiras do golfo Prsico. Para capital do imprio fundou uma n ova cidade, Akkad - at hoje no localizada pelos arquelogos. Tanto no campo de batalha como no institucional, Sargo I e seus de sucessores ime diatos dispensaram enormes esforos para a estabilizao do imprio. Entre os esforos de consagrar a unidade poltica da regio est o de Sargo ter inaugurado o costume de nomear as filhas do soberano supre mo da Mesopotmia como chefe do clero do deus lunar de Ur na tentativa de aproximar-se d o sul sumrio. Por outro lado, membros da famlia real e outros acadianos foram nomeados governadores de cidades e provncias, embora em certos casos se mantivessem os governantes originais. Ainda com o propsito de manter o controle da administrao do imprio, o rei ampliou as dependncias e capacidad e de servios do palcio real e da burocracia a ele ligado, com o acdio, ao lado do sumrio, assumindo o status de lngua administrativa. Ante o trabalho de grande organizao, especialmente no Elam e na As sria, o exrcito foi muito ampliado e modificado, baseando-se, agora, no mais na falange, mas em arque

iros seguidos por uma infantaria mais leve do que no passado. Contudo, Sargo e os seus sucessores tiveram de lutar contra o separatismo das cid ades-Estados e contra a presso crescente dos montanheses do Elam e dos Zagros (llullubi, gtions), bem co mo de grupos tribais de pastores da sria. No interldio seguinte, algum ponto da Baixa Mesopotmia conheceu o domnio dos gtions e vrias cidades-Estados reassumirem a sua independncia. No perodo 2141-2122 a.C., o ensi G udea de Lagash fomentou importantes construes sagradas em sua cidade, obras de arte e a expanso do comrcio para o exterior, compondo ainda, em sumrio, um belo hino religioso. Aps a vitria sobre os gntions pelo ensi de Uruk, Utuhegal (em 2120 a.C.), o governa dor de Ur, Urnammu, assumiu os ttulos de rei de Ur, de Sumer e Akkad, fundando a III dinastia de Ur, capital do imprio que durou entre 2112-2004 a.C. desta poca a construo da torre de degraus ou ziggurat pa ra servir de base a um santurio, tornando-se por excelncia o smbolo da arquitetura da Mesopotmia. Seus sucessores empreenderam esforos na construo de uma realeza divina, declarando-se deuses, para a qual construram templos em que esttuas do soberano reinante recebiam cultos. O filho e sucessor de Urnammu, Shulgu (2094-2047 a.C.), na metade do seu reinado tentou controlar a situao a leste, guerreando nos Zagros, e, depois, utilizando-se do expediente de c asar sua filha com um dos governantes elamitas, o que no impediu de novas guerras com o Elam. No seu ap ogeu, o imprio chegou a compreender a Mesopotmia, a maior parte do Elma e algumas cidades da Sria e Fencia (Ebla, Mari e Biblos). A principal caracterstica da III dinastia de Ur est em ter tentado um sistema admi nistrativo coerente e homogneo na Baixa Mesopotmia. Separou-se o poder civil do militar, entregando tais postos a funcionrios. Em algumas reas perifricas foram mantidos os governantes de extrao local , mas mesmo nelas tendeu-se a processar o que se vinha operando nas outras partes do imprio: a substituio dos governantes locais por funcionrios do rei. Para tornar mais gil a administrao e a se gurana do imprio foram criadas um sistema de guarnies, correio (mensageiros reais) e aberto e/ou me lhorados as vias de comunicao da regio. A economia era gerada, sobretudo pelo palcio, apesar do comrcio e xterno tenha sido feito em proveito dos altos funcionrios e de comerciantes comissionados. Alm de prata e raes, os grandes funcionrios recebiam terras estatais em usufruto e outras vantagens. Foi tambm institudo um sistema judicirio que recebeu grande ateno, tendo o fundador da dinastia publicado uma srie de precedentes ou julgamentos tpicos (as leis de Urnammu.) com o objetivo de regular

as relaes dos cidados com os Estado e demonstrar que o monarca cumpria a sua funo de promover a

justia nos territrios sob sua administrao, com o imprio arcando com os custos e nomea dos juizes. Aps o reinado de Shulgi, os reis de Ur investiram muitos recursos e esforos na con quista e na organizao do Elam, tentando bloquear as investidas que no passado haviam derrubado o imprio de Akkad e, por conseguinte, devolvendo a Lagash a sua importncia. Contudo, eram ago ra, sobretudo os pastores tribais amorreus (ou amorritas) que ameaavam a oeste o imprio. Ao mesmo t empo, os particularismos locais debilitavam a unificao. Antes mesmos de desaparecer, o impri o foi divido em trs partes: a oeste, uma zona de rebelio, sob o comando de um ex-governador nomeado p or Ur, Ishbierra de Isin conseguiu se por frente dos amorreus; a nordeste, um reino com a capital em Larsa, sob o comando de Naplanum, provavelmente de origem semita; ao sul, reinava o ltimo rei da III d inastia, Ibbisuem (20282004 a.C.), sobre Ur e parte do Estado de Lagash. No ano de 2004 a.C., os elamit as, aliados aos su (ou sua), povo dos Zagros, destruram e saquearam Ur, levando cativo, para o Elam, o lt imo rei da III dinastia de Ur. O perodo de domnio dos grandes Estados na Baixa Mesopotmia

Logo aps a queda de Ur, uma dinastia instalada em Isin recolheu com sucesso a her ana do imprio sumrio. Sob a hegemonia de Isin, os elamitas foram expulso e a economia da Baixa Mesopotmia permaneceu estatizada, com os monarcas mantendo cuidadosamente os padres tradicio nais da realeza sumria. O sumrio foi mantido como lngua oficial e floresceu literariamente, embora a maioria da populao falasse lnguas semticas e o sumrio j tivesse desaparecido como lngua viva. U os reis de Isin retomou a tradio de publicar coleo de preceitos legais ou precedentes judicirios , o chamado cdigo de Lipitishtar. (1934-1924 a.C.). Desde meados do sculo XX a.C., os reis de Isin legislaram no sentido reformista d e abolio das injustias sociais e econmicas devido s dificuldades profundas na regio, ligadas s dvidas e ao a vano dos interesses e atividades privadas. Contudo, por detrs da hegemonia de Isin, escond ia-se uma considervel disperso do poder, principalmente com continuao da entrada macia de amorreus. Uma dinastia amorrita, estabelecida em Larsa, surgiu como nova fora na regio com o rei Gungunun (1932-1906 a.C.), tomando Ur ao rei de Isin e abrindo uma longa disputa pela heg emonia da regio. Esta disputa parece estar ligada, por um lado, ao controle do comrcio do golfo Prsico, e, por outro lado, a tentativa de uma das duas cidades de controlar o sistema de canais da Baixa Meso potmia. A luta quase permanente entre Isin e Larsa teve como conseqncia a pulverizao do pode

r na regio, criando a oportunidade do surgimento de diversas dinastias de chefes amorreus, o s quais, apoiados em suas tribos, tornaram-se reis de Kish, Uruk, Sippar e outras. Uma destas dinasti as se estabeleceu por volta de 1894 a.C. em uma localidade mencionada desde a poca do imprio de Akkad, mas sem grande importncia no passado, de Babilnia. Hammurapi foi o sexto rei amorita da Babilnia (1792-1750 a.C.). Cerca de uma dcada depois de ter subido ao trono, na mesma poca em que caa o Primeiro Imprio Assrio, Hammurapi encont rou um certo equilbrio de poder na Mesopotmia, estabelecido entre si e Larsa e os demais govern antes vitoriosos nos anos anteriores (Rimsin, vencedor de Isin, Ibalpiel de Eshunna, Zimrilim de Mari ). Entre o quinto e dcimo primeiro ano de seu reinado, Hammurapi tratou de aumentar o seu pequeno territrio inicial com a ocupao de Isin, Malgium e outras cidades. Aps estes sucessos militares, voltou-se, duran te quase vinte anos, para a fortificao de cidades, at que, a partir do vigsimo nono ano do seu reinado, comeou a avanar decisivamente, aliando diplomacia a operaes militares limitadas, mas muito bem cal culadas. Depois de vencer cidades ou coalizes de cidades, passou a dominar toda a regio da Baixa Meso potmia, do reino de Mari ao vale do Diyala, estabelecendo ainda uma hegemonia sobre a Alta Mesopo tmia e passageiramente sobre o Elam. Consolidado o seu domnio e hegemonia, Hammurapi se declarou rei das quatro regies do Universo., sem buscar se divinizar. O Imprio Paleobabilnico assim criado foi efmero. J sob Samsuiluna (1749-1712 a.C.), filho e sucessor de Hammurapi, o territrio j havia sido reduzido em boa parte e, sob outros soberan os, at o fim da dinastia em 1595 a.C., no cessou de diminuir. Hammurapi na prtica surge como um do s grandes soberanos de sua poca. Contudo, muitos historiadores tendem a situ-lo em uma categ oria parte pelo seu cdigo. - o mais extenso e importante documento em lngua acdia -, cuja descoberta em 1901-1902 permitiu iluminar um perodo pouco conhecido da histrica mesopotmica. Por outro lado , o seu reinado comeou a importncia da cidade da Babilnia como metrpole poltica, econmica, religiosa cultural da Baixa Mesopotmia. Na estrutura administrativa do Imprio de Hammurapi encontramos remanescentes das cidades-Estados primitivas como a assemblia dos homens livres gozando de plenos direitos (puthum) e o conselho de ancios (shibutum), existente em cada cidade. Prevalecia o princpio de que cidado es tava vinculado, primeiramente, sua cidade: filhos da cidade. (maru alim). No entanto o tais rgos co legiados s tinham certas funes judicirias e funcionavam como corpos assessores do prefeito. (rabianum) da cidade.

Inspirado no sistema administrativo instalado por Shamshiaddu da Assria, dcadas an tes, Hammurapi instalou nas cidades maiores um governador ou um lugar-tenente (shakanakum), sup erior aos prefeitos

mencionados. Os coletores de impostos (makisu) garantiam o fluxo de tributos (ce reais, gado, metais preciosos). As corvias eram requisitadas para diversas atividades civis e militar es. O palcio real, centro da administrao do imprio, compreendia mltiplos escritrios povoados de escribas, permitin do a Hammurapi manter uma correspondncia muito copiosa e constante com os seus subordinados. Adm itia-se o apelo direto ao monarca em matria judiciria ou administrativa. As funes pblicas e as milita res eram remuneradas com a concesso do usufruto de terras pblicas a indivduos ou a grupos: t anto aos servios quanto terra concedida aplicava-se o termo ilkum. Os grandes comerciantes - tamk arum - conduziam negcios do Estado e os prprios, sendo vigiados por superintendentes da administrao pb lica (uaki tamkari). Contudo, os servios dos grandes comerciantes s podiam ser realizados com o recebimento de um documento do rei que autorizava aos mesmos ou aos seus subordinados fazerem e xpedies mercantis ao exterior. O Cdigo de Hammurapi parece ter sido uma proclamao da justia real para servir como e xemplo e precedente, mas com limitado poder de fora de lei. As medidas decididas pelo rei que estabeleciam a justia. (misharum) tinham mais poder de fora de lei que o prprio cdigo, principalmen te quando intervinham esporadicamente no sentido de anular as dvidas e a servido (temporria) por dvidas em que caam pessoas nascidas livres. Como codificao e reforma legal, uma tentativa de unificar o direito durante o seu reinado, O Cdigo de Hammurapi foi precedido por outros cdigos e conjuntos de leis na Baixa Mesopotmia, como o cdigo de Lipitishtar (1934-1924 a.C.), as leis reformistas de Urukagina de Lagash (2351-2 341 a.C.) e as leis da III dinastia de Ur (2112-2004 a.C.). Mesmo com conhecimento da limitao da fora de lei d o Cdigo, ele se revela como o mais extenso, importante e um dos mais completos documentos da Bai xa Mesopotmia para o conhecimento de certos aspectos da economia, vida social, relaes sociais, religio , estrutura social, estrutura familiar e de certos costumes.

O Cdigo de Hammurapi dividido em prlogo, corpo legal e eplogo. Logo nos primeiros p argrafos do prlogo ntida a tentativa de legitimar o Cdigo atravs da reverncia e da consagrao d . A seguir, no seu corpo legal, possvel vislumbrar os seguintes aspectos: a compensao pecuniria que fosse julgada insuficiente podia ser recorrida para reviso junto ao soberano, chegando at a aplicao rgida da pena de talio; interveno no domnio econmico, com estabelecimento de preos correntes e salrios e a manipulao do padro de valor; consagrao da desigualdade social a nvel jurdico-social artir da legitimao jurdica de trs classes sociais (Awilum, Muskenum, Wardum); legitima e regu

la as operaes do tamkarum. Por outro lado, o Cdigo atuava como moderador das tenses sociais ao e stabelecer emprstimos abaixo da taxa autorizada, ajudar os indivduos submetidos servido por dvi da a adquirir a liberdade, instituir o perdo das penas. No entanto, muito destas decises dependiam das medidas deliberadas pelo rei, que estabelecia a justia., e no eram de aplicao automtica pelas instncias jurdicas existentes. Como fonte de conhecimento histrico, o Cdigo nos permitiu identificar a existncia d e trs classes, pelo menos ao nvel jurdico-social: o awilum, homem livre que gozava de plenos direitos polticos (funcionrios, escribas, sacerdotes, profissionais independentes, comerciantes e soldados de pa tente), mas com diferenas sociais entre os seus membros; o muskenum, homem livre de status inferi or e intermedirio entre o awilum e o wardum, compreendendo grande parte da populao (pequenos arrendatrios, pastores, camponeses, saldados de patentes mais simples, libertos) e os indivduos que traba lhavam como jornaleiros; o wardum, integrantes de uma camada nfima da sociedade e com sorte d ependente da vontade de terceiros, compreendiam indivduos submetidos servido, os servos por dvidas e os escravos, sendo que o Cdigo estabelecia diferena entre os escravos (a escrava que dava filhos no l ugar da esposa era privilegiada e os escravos de guerra eram os mais explorados), o limite mximo do tempo de trabalho por dvida, o indivduo submetido servido ou escravido podia casar com o(a) filho(a) de um homem livre e que os filhos do deste casamento eram livres. O Cdigo ainda estabelece sanes do cri me segundo a classe da vtima. Por fim, a partir do Cdigo de Hammurapi possvel observar a existncia de uma estrutu ra familiar com bases no sistema patriarcal. Mesmo a poligamia sendo permitida, o casamento mono gmico era reconhecido e s valia para a primeira mulher do homem que optasse pela poligamia, ficando esta com plenos direitos. O pai escolhia a esposa para o filho e pagava uma espcie de dote , o terhatum, sendo que nas famlias mais ricas, alm do terhatum, pagavam o biblum. A esposa levava consigo para o casamento um dote, o seriktum, que era sua propriedade durante o matrimonio, destinado-o a os filhos aps a sua morte ou levando consigo quando voltava para a casa dos pais caso o contrato mat rimonial fosse rompido. Havia ainda o costume de filiao adotiva entre as famlias.

No ano de 1595 a.C., uma expedio hitita derrubou a primeira dinastia da Babilnia e conseguiram se estabelecer na cidade por um breve tempo, fundando a II dinastia da Babilnia, em cujo governo foi sucedido por reis cassitas ( III dinastia da Babilnia) a partir de 1570 a.C. Mais tarde, no final do segundo milnio a.C., a regio foi controlada pelo Imprio Assrio, at que no sculo VII os caldeu

restabeleceram a domnio da Babilnia sobre a regio, fundado o Imprio Neobabilnico. Neste tempo todo, a estela do

Cdigo de Hammurapi circulou por diversos lugares at se perder, s sendo recuperado n o incio deste sculo e s assim nos permitindo ter um conhecimento mais confivel tanto sobre o perod o de Hammurapi como sobre as pocas anteriores das regies de Sumer e Akkad. Queda do Imprio da Babilnia e a poca kassita*** O Imprio da Babilnia ir afundar-se durante os dois ltimos reinados da primeira dinas tia babilnica. Quatro inimigos o assaltaram, um aps outro: os Semitas, das regies martimas da Sumri a; os Elamitas, dos montes Zagros; os Hititas, vindos do norte; e, por fim, os criadores de cava los kassitas que viviam ao norte do Elam. A vitria coube s tribos martimas que se apoderaram do Sul do imprio e aos kassitas que se estabeleceram no Centro e no Norte da Babilnia. O rei kassita Gandash a fundou uma dinastia. Os seus sucessores submeteram a part e meridional do pas. A dominao dos kassitas durou at o ano 1165 antes da nossa era. Descendo das montanhas e tornando-se senhores da Babilnia, os Kassitas instalaram -se a em comunidades de cl. Aps se terem apoderado de vastas regies despovoadas e dizimadas pelas invases e pelas guerras, eles passam rapidamente agricultura sedentria, utilizando as tcni cas dos Babilnios. Os reis kassitas apoiam-se sobre as suas prprias milcias, mas encontram tambm aliad os entre os sacerdotes da Babilnia, sobretudo os da cidade santa de Nippur.

A poca kassita divide-se em dois perodos. Durante o primeiro, at cerca do ltimo quar tel do sculo XV antes da nossa era, o pas restabelece-se das terrveis devastaes e da runa econmica. S empreendidos grandes trabalhos para reparar a rede de irrigao das guas, reconstruir os diques e construir novos reservatrios.

No fim do sculo XV antes da nossa era comea o segundo perodo, durante o qual a vida econmica se desenvolve intensamente. Estabelece-se um comrcio regular com o Egito e outros pas es, o que impele os reis kassitas a melhorar as rotas das caravanas, empregando grandes esforos para as defenderem dos ladres assaltantes. Ao mesmo tempo continuam a construir-se templos. As comunidad es kassitas desagregam-se e por esse fato consolida-se a propriedade privada das terras Os r eis gratificam perpetuamente os seus senhores com terras obtidas daquelas comunidades (na maior p arte kassitas). Os decretos reais de alienao e de gratificao so geralmente inscritos em pedras chamadas kudurru, colocadas nos limites dos terrenos em questo. As dimenses destes novos domnios so ba stante maiores do que no Antigo imprio da Babilnia (vo de 20 a 200 hectares); mas o seu nmero sem d ida muito inferior ao do tempo de Hammurabi.

O desenvolvimento da economia real e privada devido espoliao das comunidades e dos seus membros, a custo restabelecidos da guerra e da runa. A restaurao do comrcio real pre ssupe um recrudescimento da opresso, do mesmo modo que a ereco de novos templos gera um agra vamento da obrigatoriedade do trabalho braal em benefcio do Palcio. A alienao dos bens comunitri s uma autntica pilhagem feita aos aldees, que nada recebem em troca, pois o pagamento, s e o h, recebido pelos ancios. Este estado de coisas beneficia os usurrios. As suas operaes de rapina tornam-se to descaradas que alguns entre eles tomam risca a cobrana dos impostos reais e rouba m, sem piedade, a populao. Aumenta o descontentamento das comunidades e, em 1345 antes da nossa era, d-se uma sublevao. As gentes kassitas revoltam-se contra o rei Karahindash, matam-no e coloca m no seu lugar um homem obscuro. Os dignitrios e os sacerdotes, incapazes de vencerem os insurre ctos pelos seus prprios meios, pedem o auxlio do rei da Assria, que sufoca a rebelio pelo sangue e r estabelece a dinastia kassita. Estes antagonismos internos debilitam o poder monrquico. Em mea dos do sculo XIII antes da nossa era, o imprio kassita invadido e devastado pelos Assrios. O rei da Assria Tukulti-Inurta I penetra na Babi- lnia, dizima o exrcito kassita, saqueia Babilnia e coloca l um gove rnador. Mas a Babilnia recupera em breve a sua independncia, favorecida por revoltas internas qu e se produziam na Assria. No sculo XII antes da nossa era, o pas sofre a invaso dos Elamitas. Em 1165, despovoado e arruinado, o imprio cai nas mos de um senhor da cidade de Isin, que destronou o lti mo rei kassita e fundou a IV dinastia babilnica. Desde ento, e at queda da Assria, a Babilnia passa p r um longo perodo de decadncia poltica.

(*) O presente texto uma resenha realizada a partir de alguns textos pertinentes (vide bibliografia abaixo) histria da Baixa Mesopotmia. Portanto, trata-se de uma sistematizao de questes, de te ses, de trechos de ensaios e de informaes das obras consultadas, organizados em forma de texto par a uso nas aulas de Histria Antiguidade. (**) Texto organizado pelo Prof. Lus Manuel Domingues, Professor de Histria Antiga do Departamento de Histria da UNICAP. (***) Este texto foi extrado de DIAKOV, V. e KOVALEVE, S. Histria da antiguidade. A sociedade primitiva. O Oriente. Lisboa: Editorial Estampa, 1976, pp. 155-157. (v. I)

Bibliografia CONSULTADA BOUZON, Emanuel. As cartas de Hammurabi. Petrpolis: Editora Vozes, 1986. BOUZON, Emanuel. O cdigo de Hammurabi. Petrpolis: Editora Vozes, 1981. CARDOSO, Ciro Flamarion. Sete Olhares sobre a Antigidade. Braslia: Editora da UNB, 1994. CARDOSO, Ciro Flamarion. Antigidade Oriental: poltica e religio. So Paulo: Editora A tual, 1990. (Coleo Discutindo a Histria) DIAKOV, V. E KOVALEV, S. Histria da Antigidade. A sociedade primitiva. O Oriente. 3. ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1976. (v. I) Lafforgue, Gilbert. A Alta Antigidade: das origens a 550 a.C. Lisboa: Publicaes Dom Quixote, 1979. (Coleo Histria Universal, v.. I)

A Assria e o primeiro ensaio de imprio no Antigo Oriente Prximo Por Lus Manuel Domingues do Nascimento Os rios que formam a plancie aluvional mesopotmica - o Eufrates e o Tigre - nascem nas montanhas da Anatlia. O primeiro depende das neves derretidas na primavera e de dois afluentes da margem esquerda (Balikh e Khabur); o segundo, das chuvas da regio dos montes Zagros e de numeroso s rios tributrios (os dois Zab, o Diyala e o Karum). Em termos geolgicos, a Mesopotmia uma depresso forma da pela juno, no Plioceno, da placa teutnica da Arbia com a da sia Ocidental, que posteriorme nte foi recheada de sedimentos aluviais depositados pelos dois grandes rios.

Tomando como limite o ponto do seu curso mdio onde o Eufrates e o Tigre mais se a proximam um do outro, possvel considerar duas sub-regies: a Alta Mesopotmia, a noroeste, e a Baixa Mesopotmia, a sudeste. A primeira mais elevada, menos propcia irrigao e, em parte, adequada agri ultura de chuva (no planalto assrio, a leste) ou criao (Assria, mais a oeste), contendo, ainda , ricos recursos florestais. A Baixa Mesopotmia pouco servida pelas chuvas, baixa, muito plana e p otencialmente fertilssima - dependendo de um sistema de irrigao artificial para conter as destrues as cheias e da drenagem que evite a salinizao -, mas de todo carente de madeira, pedra e minrios. A terra frtil formam bacias entremeadas que so propcias para o gado, sendo que os vales fluviais so cerc ados, para oeste e para leste, por outras faixas estpicas freqentadas por pastores.

Como na Anatlia e na regio Srio-Palestina, a ocupao permanente na Alta Mesopotmia por aldeias neolticas plenamente sedentrias, comunidades que baseavam sua subsistncia numa agro pecuria estvel e no mais na caa, na pesca e na coleta de plantas selvagens, ocorreu no perod o de 9000 a 7000 a.C., enquanto que a ocupao por cultivadores da Baixa Mesopotmia - potencialmente fr til, mas pouco adequada a agricultura de chuva - s tem incio, de forma espordica, entre 6000 a 450 0 a.C., por cultivadores oriundos dos macios do Curdisto e dos Zagros. S a partir do 5 milnio, a plancie aluvial do Tigre e do Eufrastes ser ocupada permanentemente por grupos de cultivadores oriun dos do leste, introduzindo mudanas importantes na atividade agropastoril e preparando o longo c aminho que conduziu ao modo de vida urbano na regio. As primeiras menes aos governantes na Alta Mesopotmia, mais especificamente na Assri a, esto contida numa lista real assria que menciona em primeiro lugar dezessete reis que v iviam em tendas.. A julgar pelos nomes, parecem que eram chefes tribais hurritas e amoritas. No enta nto, a histria dos assrios est diretamente relacionada a cidade de Assur, localizada as margens do Tigre, qu

e tem o nome do seu deus. A partir do sculo XX a.C., a cidade passou a ser independente e capital de um reino assrio mal conhecido que foi se expandido durante a primeira parte deste sculo, at ento tinha sido o centro de poder dos acdios e depois de Ur na Alta Mesopotmia. No reinado do monarca Ilushuma , meados do sculo XX a.C., empreendeu uma campanha militar vitoriosa, mas sem maiores conseqnci as, na Baixa Mesopotmia. Do fim desse sculo, e sobretudo do sculo XIX a.C., at aproximadamente 1780 a.C., a cidade de Assur passou a explorar por sua conta a grande rota comercial ao longo do seu rio e at ingir uma riqueza que a sua agricultura no podia lhe fornecer. Nas feitorias comerciais assrias, instaladas na sia Menor, junto a cidades e fortalezas de principados locais, foram encontrados arquivos dos merca dores assrios (as famosas Placas da Capadcia) onde esto informaes sobre caravanas de muares carregadas de estanho (proveniente do Elam) e de tecidos de Assur que se dirigiam Anatlia, onde estavam as feitorias assrias, e voltavam Alta Mesopotmia carregadas de ouro, prata e cobre. Tratados que proteg iam cada feitoria e lhe garantiam certa autonomia administrativa eram negociados entre o reino assrio e os numerosos principados anatlicos. Atravs destas feitorias, o soberano da Assria, modestamente se dizia sumo sacerdote de Assur, transmitia as ordens do seu governo e oferecia proteo aos prin cipados locais. No final do sculo XIX a.C., e incio do seguinte, deu-se uma breve expanso que conhe cida como Antigo Imprio Assrio, sob Shamschiaddu (1813-1781 a.C.). Filho mais novo de uma dinastia amorita que reinava na regio do Alto Habur, no mdio Eufrates, este monarca comeou a carreira destronand o o sumo sacerdotes de Assur (1813 a.C.) e toma nesta cidade o ttulo real at a reservado ao deus. Tentou ento uma incurso militar, sem maiores conseqncias, at o Mediterrneo. Mais tarde, aproveita ndo-se do assassnio do rei de Mari, Iahdun-Lim, apodera-se da grande cidade e domina ento to da a Alta Mesopotmia, do Tigre ao Eufrates, subordinando tambm os reinos de Akkad e diz ser rei do universo. Em seguida, dividiu o poder com dois filhos seus, um instalado em Mari e o outro em Ekallatum, cidade do mdio Tigre. Os trs governantes tiveram srios problemas com os nmades, particularment e numerosos, volta de Mari. Trs grupos nmades so mencionados nas fontes: haneus, ben-iamina e suteus. Os heneus formavam, junto com os acdios, a populao mais numerosa do mdio Eufrates e viviam em acampament os e aldeias com chefes prprios. Estavam integrados s estruturas estatais organizadas, mantendo relaes estveis com o governo, sujeitando-se aos censos, pagando tributos e fornecendo soldados para o exrcito. Os ben-

iamina do Klabur e do Eufrates tanto resistiam tenazmente s tentativas de domin-lo s e explor-lo, que tinha o objetivo de sedentariz-los, como tambm se aliaram sempre que possvel aos in imigos dos

assrios. Os suteus aparecem nas fontes como bandidos saqueadores de cidades e car avanas, sendo constantemente reprimidos.

Os trs monarcas assrios mantiveram boas relaes com os reinos e principados da Sria ajuda militar, garantias de pastagens, concesses de minerao, trocas de presentes -, mas relaes difce s com as tribos a oeste, ao norte e a leste da Assria; mas tiveram como principal adversrio o reino de Eshnunna, que no passado chegou a dominar por algum tempo a Assria. Depois da morte de Shamshiaaddu, o Antigo Imprio Assrio se desagregou. Mari voltou aos herdeiros da antiga dinastia amorrita; as colnias assrias na Capadcia desapareceram com a unific ao do pas pelos prncipes hititas; a prpria Assria caiu sob a hegemonia da Babilnia em meados do sculo XVIII a.C.; depois desta, a dinastia amorrita expulsa de Assur, com o territrio sendo reduzid o a pouca coisa e disputado entre usurpadores efmeros. No fim do sculo XII a.C., a Assria encontrava-se numa penosa defensiva face as inc urses dos arameus, que efetuavam pilhagens, reduziam a populao a condio de cativos, levavam rebanhos e, no raramente, destruam e queimavam cidades e aldeias. Os habitantes refugiavam-se na s montanhas, despovoando as cidades. A seguir veio um outro inimigo: eram as tribos que vivia m na atual Armnia, volta do lago Van e ainda mais ao norte. Os assrios chamavam-lhe urartianos (Urar tu). No sculo X a.C., os arameus se estabeleceram entre o Tigre e o Eufrates e avano so bre a Assria diminuiu. J no fim deste sculo a Assria havia reestruturado o seu reino e passou a ofensiva contra os adversrios de ento. So empreendidas campanhas contra os arameus, alternadas com inc urses no Urartu e nos Zagros. Desde ento, calcado num forte movimento nacional e na qualid ade potncia emergente do Oriente Prximo, os exrcitos assrios vo todos os anos cobrar tributos na s cidades submetidas. Caso no ano seguinte as cidades deixassem de pagar os tributos, eram consideradas como rebeldes ao deus Assur e ao rei da Assria e tudo era permitido contra elas, dando lugar ao saque e a operaes militares com um carter de atrocidades at ento desconhecido. Com efeito, o te mperamento nacional, a inquietao de um povo sem fronteiras naturais, habitando uma regio que f oi palco de diversas incurses de povos migrantes e governantes desejosos de expandir seus domnios, e o desejo de vingar das crueldades cometidas pelos pastores arameus foram os fatores que criaram ent res os assrios uma cultura de atrocidades e dio para com todos os outros no-assrios. Mas, por outro la do, raramente os reis assrios do sculo IX a.C. se atentaram para a idia de anexar as cidades vencidas.

Com Assurnatsirapli II (884-859 a.C.), so intensificadas as campanhas militares. Depois de 876 a.C, ele fora a passagem do Eufrates e avana sobre as cidades hititas, arameias e fencias do norte da Sria, chegando at Tiro. A todas as cidades submetidas exige tributos e aquelas que cons eguiram manter uma resistncia prolongada foram saqueadas e destrudas, com a sua populao sendo massacrad a. Um exemplo clssico desta ao a cidade de Dirra, que segundo um relato do prprio Assurnat sirapli II, foi submetida ao saque e destruda, com os seus habitantes sendo objeto das mais varia das atrocidades (empalamentos, decepo de membros do corpo, cremao e extermnio em massa). O seu filho Shulmanasharedu III (859-824 a.C.) anexa o Bit Adini (reino arameu na passagem do Eufra tes), submete os hititas e ataca os arameus; mas feito prisioneiro na batalha de Qurquar, junto a Hamat (85 3 a.C.), por uma coligao sob a direo de Damasco. Ainda em 841 a.C., os assrios voltam a Sria e impe t utos Israel. Contudo, os hititas e arameus continuam a revoltar-se, e logo que os assrios a ab andonam os seus pases recuperam a sua soberania. Os lucros das pilhagens so utilizados basicamente no embelezamento de Calu, capit al desde Assurnatsirapli II. A cidade composta de palcios com decoraes e mobilirios que mostr am os caracteres permanentes da arte assria, totalmente consagrada glorificao do rei, o g rande sacerdote do deus Assur, escolhido durante um milnio numa famlia sagrada. O rei representado co nforme o tipo tnico e na funo de sumo sacerdote dos deuses, com os relevos mostrando ele recebend o tributos, caando animais, banqueteando-se em honra dos deuses e derramando a libao sobre os c adveres. H tambm figuras com cenas de guerra. Por outro lado, so raras as representaes do deus Assur, o deus do imprio, em nome do qual se fazem todas as guerras. S em alguns santurios rupestr es aparece com um aspecto humano, j nos palcios aparece apenas, na parte superior de algumas cena s, os smbolos tradicionais de Assur: a espada ou disco alado, de onde emerge por vezes o busto do deus. A arte assria produz sobretudo baixos-relevos esculpidos no ortoestatos que disfa ram a base de muros de tijolos. A um tratamento estereotipado dos membros do corpo humano, principalmen te das pernas e dos braos, s ocorrendo originalidade e exatido na representao de animais. Um progresso na composio ser verificado durante o reinado de Tukultiapilesharra III (746-727 a.C.), mas se r durante o reinado de Assur-ban-apli (659-627 a. C.) que os relevos de um grande palcio de Nnive atingir am o mximo da escultura assria. Tambm, durante o reinado deste governante, ser construda a Bibliot eca de Nnive, que chegou a reunir mais 5000 placas com uma antologia da literatura e da adivinhao de Sumer e da Babilnia. A estaturia, praticada aps o sculo IX a.C., pesada e convencional. Os afre

scos manifestam um gosto artstico mais seguro. Por fim, os soberanos assrios colecionam marfins re tirados aos povos

submetidos ou trabalhados na Assria por deportados ou nativos formados localmente no trabalho com o marfim.

No fim do reinado de Shulman-asharedu III, os seus filhos envolvem-se numa guerr a civil pela sucesso do trono. O vencedor Shamshi-Adad VI (824-810 a.C.) obrigado a fazer concesses grand e nobreza, com o seu representante se tornando inamovveis nos seus cargos de altos funcionrios e de governadores e exercendo um controle mais estreito sobre a sucesso real, sobre o governo central e sobre a redistribuio dos lucros das pilhagens. Na prtica, so os altos funcionrios, na primeira metade do sculo VIII a.C., que passam a dirigir o imprio assrio, evidenciado pela fundao de cidades com nomes de al tos funcionrios e a ausncia de meno aos reis assrios nas suas inscries. Irritadas com o poderio das gra des famlias e pela poltica de distribuio dos lucros das pilhagens, as revoltas da populao se multip licam no pas, provocadas, basicamente, pela pequena nobreza sem poder e bens e pelos homens li vres despossudos. Este quadro poltico levou a um enfraquecimento da Assria, permitindo a Urartu (scul os IX-VII a.C.) aparecer em primeiro plano na regio como um novo e forte Estado. com Tukultiapilesharra III (746-727 a.C.) que tem incio uma srie de reformas que r estituem todo o vigor Assria. A multiplicao de cargos ulicos e dos governos provinciais enfraquece a alta nobreza, aumentando os seus efetivos. No exrcito so criados corpos permanentes, recrutados entre escravos e os vencidos de vspera, que tendem a substituir as milcias locais, ficando os assrios s aparecendo nas tropas especiais (fortificaes, carros, cavalaria). A cavalaria passa a substituir os carros de guerra como tropa de choque, ficando os carros para o transporte das tropas. A sua poltica ex terna passa ser conseqente: interveno sistemtica nas disputas dinsticas e nas guerras locais; campanh as conduzidas para o esmagamento do adversrio; deportaes locais com o objetivo de quebrar as unid ades culturais e polticas locais.

A nova fase de conquistas e expansionismo assrio redefinido em seus objetivos. Se at ento o propsito maior era garantir um fluxo de riquezas, atravs de saques e da imposio de tributos, redistribudo entre o poder central e os altos funcionrios e a grande nobreza, a conquista de terras pa ssa a ter como propsito o de anex-las ao Estado assrio. Com isto, foi possvel fazer uma redistribuio de terras de terceiros entre os assrios sem posse e criar espaos polticos e condies de obteno de riquezas e de st s pequena nobreza. Ao mesmo tempo, a distribuio do fluxo de riquezas para o centro do imprio foi redefinido de forma a atender a subsistncia de setores no beneficiados at ento com os saques e tri butos. Em outras palavras, o imperialismo assrio vai se caracterizar pela conquista e domnio de reg

ies que garantam recursos bsicos para sua existncia e proporcionar um suprimento de bens de todos o s tipos, objetivando ainda a obteno de territrios que seriam administrados e distribudos entre os assrios. A partir de 743 a.C., os assrios do incio a uma fases de conquistas, invadindo o no rte da Sria e expulsando os urartenses desta regio. A populao local, aps algumas revoltas, deporta da e o pas passa a ser governado por assrios. Em seguida, o Egito (734 a.C.) e Damasco (733 a.C.) so ocupados. Na outra extremidade do Oriente Prximo, os assrios ocupam o norte dos Zagros at o c entro do Ir (737 a.C.), criando uma linha defensiva contra as invases dos medos. Na Baixa