a antiguidade tardia em textos - pensamento e literatura - andré bueno

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  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    Pensamento e Literatura

    . A Herana do Mundo Antigo- O pensamento pago e seupapel filosfico na Antiguidade Tardia.

    . O Elo entre dois mundos: Santo Agostinho- m te!to"re#e so"re o autor $ue construiu a ideologia crist daidade m%dia.

    . Os pensadores dos &tempos som"rios&- Os continuadores

    do pensamento cristo aps Santo Agostinho' durante aantiguidade tardia.

    http://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/02/herana-do-mundo-antigo.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/04/o-elo-entre-dois-mundos-santo-agostinho.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/04/os-pensadores-dos-tempos-sombrios.htmlhttp://2.bp.blogspot.com/__tpvm2sAn44/R_OyrSSTGGI/AAAAAAAAAEs/xTVGi-htaSM/s1600-h/CodeAlexandrinusFol65vExplLuke.jpghttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/02/herana-do-mundo-antigo.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/04/o-elo-entre-dois-mundos-santo-agostinho.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/04/os-pensadores-dos-tempos-sombrios.html
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    . E!egetas menores gregos dos s%cs. #-#i- por Moreschini( Morelli.

    . Historiografia )rega *rist- por Moreschini ( Morelli

    . Outros Escritores da Antiguidade Tardia- por +.,onder

    . A Era das in#ases ,/r"aras no Ocidente- por Moreschini( Morelli

    . A 0iteratura dos 1einos 1omano-,/r"aros do Ocidente-por Moreschini e Morelli

    .Os Escritores da )/lia- por Moreschini ( Morelli

    . Os Escritores do 1eino 2isigodo- por Moreschini (Morelli

    A Herana do Mundo Antigo

    O grande 3 est/ morto.

    43lutarco 4567-895' ;a defeco dos or/culos.

    A id%ia de $ue a

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    *a"eria aos monges guardar essa rel$uia' tarefa a $ue se

    entregariam a um s tempo com =elo e ignorBncia. *onseguiram

    sal#/-la' % certo' da destruio "/r"ara $ue se seguiu @ $ueda do

    ia do

    pensamento antigo mantinha-se intocada' oculta e es$uecida a no

    ser por a$uelas almas piedosas $ue no refCgio dos mosteiros

    copia#am-lhe as formas. Mesmo estes copiadores dedicados

    mantinham-se indiferentes ao seu conteCdo' perdidos no deleite

    das iluminuras ou no fer#or das preces.

    3or de= s%culos a semente do sa"er permaneceu em som"ras'

    en$uanto se discutia o se!o dos an>os' e foi necess/rio $ue os

    humanistas do 1enascimento fi=essem tremer o mundo para $ue'

    redesco"erta' ela #oltasse a germinar. 3o"re e' pode ser $uestionada em mais de um

    aspecto.

    ;A FAT1EGA A METAIS

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    Muito distantes esta#am >/ os anos da )r%cia *l/ssica' onde

    surgiram os grandes sistemas filosficos' especialmente os de

    Scrates' 3lato e Aristteles' considerados seus maiores

    e!poentes. A con$uista macedJnica difundiu a cultura de Atenas

    pelo mundo antigo' esta"elecendo uma ponte entre esta e os no#os

    e mais florescentes centros como 3%rgamo' Antio$uia e Ale!andria.

    ;esse contato surge a cultura helenstica $ue' em"ora

    imensamente tri"ut/ria ao pensamento grego' ter/ caracteres $ue

    lhe so estranhos.

    K >/ no perodo helenstico $ue' a par das escolas fundadas por3lato e Aristteles' surgem no#as correntes filosficas como o

    epicurismo' o estoicismo e o ceticismo. Ale!andria transformara-se

    no maior centro de intercBm"io comercial e espiritual do Oriente'

    unindo todas as correntes oriundas dos diferentes po#os $ue o

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    $uestes so colocadas ao paganismo ocidental: o sentimento de

    degenerao le#a a um profundo pessimismo em relao ao futuro'

    a um senso aguado da fragilidade humana' e a id%ia da morte

    torna-se o"sessi#a.

    A esta sede de so"renatural $ue germina#a' nem a religio romana

    - com seu culto oficial ou a crena nos pe$uenos deuses dom%sticos

    -' nem as correntes filosficas $ue at% ento ha#iam predominado -

    o epicurismo e o estoicismo - eram capa=es de satisfa=er.

    ,usca#a-se um ;eus $ue se pudesse amar' $ue protegesse nesse

    mundo e ao mesmo tempo garantisse a sal#ao eterna. Os romanos#olta#am-se de no#o para o Oriente' de onde >/ irradia#a o #igor

    intelectual $ue mantinha o udasmo e do cristianismo' $ue mantinham-se

    intransigentes em mat%ria de f%.

    Essa o"cecante preocupao com o destino da alma' a e!ig?ncia de

    sua sal#ao' penetra' corno no poderia dei!ar de ser' a filosofia'

    $ue >/ perdera ali/s grande parte do seu 3restgio. Tam"%m a' amaioria e os maiores filsofos do perodo eram orientais de

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    nascimento e' im"udos da$uele mesmo misticismo' dedica#am-se

    cada #e= mais @ especulao metafsica. A filosofia transformara-se

    gradati#amente em %tica e religio' a"andonando o esprito de

    in#estigao $ue a caracteri=ara.

    Em resposta a essas no#as e!ig?ncias - $ue su"stituem o ideal do

    santo ao do s/"io' a meditao da morte @ da #ida' a aspirao de

    ;eus @ contemplao do mundo - surgem outras #ertentes

    filosficas' como o estoicismo romano' a escola >udaico-

    ale!andrina' o neopitagorismo' $ue tendem a desen#ol#er suas

    especulaes religiosas so" a autoridade dos grandes filsofos

    antigos' particularmente 3lato e 3it/goras' numa mescla $ueguarda#a poucas semelhanas com as doutrinas originais.

    3ressionados pela e!panso crist' os defensores do paganismo'

    cu>o campo de ao esta#a sendo progressi#amente estreitado'

    mo"ili=aram deuses e filsofos ilustres para a defesa de sua causa'

    permanecendo' contudo' no campo da antiga cultura e do #elho

    politesmo. Ela"oraram assim uma sistemati=ao de toda filosofia

    religiosa pag - o neoplatonismo. O conflito entre essas duasconcepes 4paganismo e cristianismo seria marcado a um s

    tempo pela ao 1ecproca e pela assimilao de elementos

    doutrinais.

    EOS ;ESE SE OS*AM

    O neoplatonismo % a Cltima escola filosfica do mundo antigo.

    Surgiu no s%culo

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    Os neoplatJnicos representa#am o mundo como emanao da fora

    di#ina' pro#eniente de um a"soluto inalcan/#el 4no. O primeiro

    passo dessa emanao era o mundo da ra=o' o mundo espiritual

    das id%iasL o segundo' era o mundo ps$uico' da almaL e o Cltimo

    era o mundo material. *ada passo representa#a uma $ueda

    sucessi#a da fora pro#eniente do no e por esse moti#o ao mundo

    material s chega#a um p/lido refle!o de sua lu=. A mat%ria seria'

    portanto' fonte de todo o mal' a"soluto no ser' e o descenso dos

    seres encontra a seu Cltimo limite' cessando a decad?ncia. 3or

    outro lado por%m' o mundo corpreo % #i#ente e seu #erdadeiro ser

    % a alma $ue' por sua nature=a' tende a retomar @ fonte original

    4no. 1einicia-se desse modo o ascenso at% $ue se atin>a o pontode partida e o crculo se feche.

    Os neoplatJnicos coloca#am em cada fase da emanao os deuses e

    os demJnios das religies orientais e grecoromanas' dando #ida a

    um sincretismo comple!o e fant/stico' Cltima etapa do

    desen#ol#imento da religio e da filosofia antigas. A mstica' a

    adi#inhao' os >e>uns e as preces' le#ados at% o ?!tase com o fim

    de &fundir-se& com o no' tinham tam"%m muita importBncia' ealgumas dessas pr/ticas seriam adotadas pelos cristos'

    particularmente pelos eremitas.

    Em"ora #encido' o neoplatonismo so"re#i#eu' de certa forma' ao

    seu prprio tempo. 2/rios de seus temas foram fonte de inspirao

    para os primeiros pensadores cristos. A caracteri=ao do no

    en$uanto simplicidade' autosufici?ncia' infinitude e a"soluta

    li"erdadeL sua identificao como causa primeira e "em supremo

    de onde tudo pro#%m e do $ual depende' apro!ima#a-se

    surpreendentemente da id%ia crist de ;eus.

    Outros temas ainda refora#am essa pro!imidade: a Fature=a

    entendida como #estgio do sa"er di#inoL a presena do no na

    humanidade e sua #iso como lu= interior $ue recomenda#a o

    &*onhece-te a ti mesmo&L a alma como possuidora de duplanature=a - intelecti#a e sensiti#a - etc. 3or tais semelhanas' era

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    comum passar-se dos filsofos neoplatJnicos @s Escrituras' a tal

    ponto $ue certos autores chegaram a considerar o neoplatonismo

    uma antecipao pag do cristianismo.

    Esse portanto o #erdadeiro legado $ue o mundo medie#al rece"eu

    diretamente dos Antigos. ma sntese refinada so" certos aspectos'

    mas tam"%m empo"recida. Fo #asto tra"alho de amalgamar tantas

    correntes de pensamento' de tingi-las com um misticismo e uma

    religiosidade $ue lhe eram estranhos' de adapt/-las a

    circunstBncias completamente di#ersas da$uelas em $ue foram

    originalmente criadas' o neoplatonismo despo>ou o pensamento

    cl/ssico de algumas caractersticas preciosas. A refle!o >/ no eraem si filosfica mas metafsicaL o homem e a nature=a >/ no eram

    o centro das especulaes' mas apenas intermedi/rios em um

    processo de conhecimento $ue tinha no no sua origem e seu

    o">eti#o CltimoL a mat%ria' o mundo natural' no eram seno fonte

    de todo erro' de todo mal' de todo pecado...

    Antes mesmo $ue o cristianismo triunfasse e $ue o grande

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    personalidade indi#idual do homem 4e @ sua li#re #ontade a

    responsa"ilidade pelo mal e pelo "em' pelo pecado e pela

    redeno. Assegura#a-se assim a possi"ilidade de sal#ao e refCgio

    eterno da alma' oferecida por um ;eus preocupado com as

    de"ilidades' sofrimentos e aspiraes de suas criaturas.

    3or outro lado' o cristianismo apresenta#a-se como re#elao de

    #erdades so"renaturais' $ue no resulta#am das refle!es humanas'

    e em"ora conti#esse uma concepo da #ida e do destino do

    homem garantida pela re#elao di#ina' no podia afirmar-se como

    filosofia. O conteCdo do E#angelho era um sa"er de sal#ao e no

    de conhecimento pois a rigor dispensa#a' para ser compreendido eaceito' o au!lio de $ual$uer filosofia.

    ;esde muito cedo' uma dupla atitude desenhou-se entre os padres

    da a: uns re>eitaram em "loco a herana dos filsofos pagosL

    outros esforaram-se para sal#ar dela tudo o $ue poderia ser

    preser#ado sem dano para a autoridade da re#elao. Esta Cltima

    postura foi gradati#amente fortalecendo-se @ medida $ue os

    cristos #iam-se o"rigados a tomar posio em face da sa"edoriapag' fosse para com"at?-la' a"sor#?-la ou utili=/-la na formulao

    do dogma e na defesa da f%. *oloca#a-se assim o grande pro"lema

    das relaes entre f% e ra=o $ue iria permear todo o perodo

    medie#al.

    *ompelidos' na luta contra o paganismo e as heresias' ao esforo

    de formulao conceitual do dogma' os escritores cristos dos

    primeiros s%culos recorreram aos instrumentos de $ue dispunham

    4pensamento helenstico' tratando de utili=ar a filosofia a fim de

    aprofundar o conhecimento das Sagradas Escrituras ou para

    resistirem com a sua a>uda @s in#estidas dos ad#ers/rios $ue dela se

    #aliam nos ata$ues ao cristianismo.

    A patrstica pode ser caracteri=ada como uma tentati#a de

    apresentar o cristianismo como doutrina no oposta @s #erdadesracionais do pensamento hel?nico. 3artindo do pressuposto de $ue

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    a sa"edoria pag era o"ra da ra=o e' en$uanto tal' tam"%m uma

    o"ra de ;eus' os Santos 3adres utili=aram a filosofia a ser#io da

    f%' tentando ela"orar uma filosofia crist.

    As caractersticas do pensamento patrstico decorrem das

    circunstBncias histricas em $ue surgiu. A doutrina ela"orada

    difundiu-se no am"iente cultural do helenismo durante o

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    Compreender para crer, cr para compreender

    Aurelius Augustinus nasceu em Tagaste' Fumdia 4atual Arg%lia'

    pro#ncia romana da Qfrica do Forte' em 8 de no#em"ro de 5.

    e= seus primeiros estudos em Madaura e Tagaste' e os superiores

    em *artago' tornando-se gram/tico e retor.

    ;espertou para a filosofia aos 8U anos' ao ler Hortensius' de *cero'

    o"ra ho>e perdidaL seu dese>o de encontrar uma doutrina a um s

    tempo religiosa e racional apro!imou-o do mani$uesmo' corrente

    $ue a"raou por no#e anos. 3osteriormente' desiludindo-se'

    atra#essou uma fase in$uieta e "re#e' marcada pela descrena.

    Em"ora no tenha estudado nos melhores centros da %poca 4Atenas

    e Ale!andria' conseguiu sucesso na carreira de professor de

    retrica' lecionando em sua cidade de origem' em *artago' 1oma e

    Milo' onde atingiu o /pice da carreira por #olta de U' ocupando

    o cargo de orador oficial da *orte. Sua passagem por esta cidade

    mudaria drasticamente o rumo de sua #ida.

    At% ento' Agostinho manti#era-se distante do cristianismo apesar

    dos constantes apelos de sua me' crente fer#orosa. O caminho

    para a con#erso te#e incio $uando' le#ado por uma curiosidade

    liter/ria' Agostinho dei!ou-se sedu=ir pelo neoplatonismo cristo

    $ue os sermes de Am"rsio' "ispo de Milo' lhe re#elaram.

    ;o contato com essas no#as id%ias produ=iu-se em Agostinho uma

    intensa e profunda luta espiritual' fruto do conflito entre os #alores

    cristos e a #ida #oltada para os pra=eres do mundo $ue at% ento

    le#ara. A forma como encontrou a resposta para suas in$uietaes

    foi determinante para a posterior construo de sua imensa o"ra.

    Em suas *onfisses' ele nos conta $ue' tomado de grande angCstia

    e depresso' retirara-se para o >ardim de sua resid?ncia' clamando

    a ;eus $ue lhe mostrasse o #erdadeiro caminho para a sal#ao. Eis$ue de sC"ito ou#iu um canto infantil $ue repetia: &Toma e l?L

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    a filosofia pag fosse possuidora.

    Os filsofos $ue Agostinho desapossou foram principalmente os

    neoplatJnicosL como no lesse grego -lngua mais culta da %poca -

    te#e $ue ater-se @s tradues latinas de certas o"ras de 3lotino e

    de 3orfrio feitas por M/rio 2ictorino. Tam"%m em traduo latina'

    leu as *ategorias' de Aristteles' mas no te#e acesso @

    indispens/#el introduo de 3orfrio.

    a=endo uma leitura crist desses filsofos' Agostinho coroou os

    esforos intentados pelos Santos 3adres. Ao morrer 46' aps ter-

    se dedicado por mais de 6 anos @ a' dei!ou uma sntesefilosfica $ue predominaria durante s%culos no pensamento

    ocidental.

    ;O T1A,A0HO ;

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    seminais& e destinadas a se desen#ol#erem atra#%s dos tempos.

    ;essa forma' por e#oluo' se originaram: da mat%ria "ruta todos

    os animais e at% o corpo do primeiro homem. Essa #iso implica $ue

    todo o uni#erso % dotado de capacidade e#oluti#a ainda $ue essa

    e#oluo' em #irtude das &ra=es seminais&' no apresente um

    aspecto ino#ador propriamente ditoL ao criar o mundo &de uma s

    #e=&' ;eus cria#a tam"%m o seu futuro.

    Ainda "aseando-se na re#elao' Agostinho afirma#a $ue a criao

    se deu fora do tempoL mundo e tempo &comearam& uma #e= $ue

    ;eus' como imut/#el' no poderia estar su"metido @ mudana

    implcita na pree!ist?ncia do tempo:*riastes todos os tempos e e!istis antes de todos os tempos 4 ...

    Fo hou#e tempo nenhum em $ue no fi=%sseis alguma coisa' pois

    fa=eis o prprio tempo. 4*onfisses' Xa. ;eus por%m est/

    acima de todos os seres e acima de sua prpria ordem' sendo' nessa

    medida' transcendente como >/ afirmara 3lotino.

    ;entro dessa ordem hier/r$uica' e!istem tr?s funes de

    e!cel?ncia crescente $ue correspondem a tr?s g?neros de criaturas:

    o ser dos corpos inanimados 4p. e!.: pedraL o #i#er dos seres #i#os

    sem ra=o 4p. e!.: animais irracionaisL o compreender das

    criaturas espirituais como o homem. Fo se pode' contudo' possuir

    uma dessas funes sem reunir as precedentes mas a posse de uma

    no acarreta o"rigatoriamente a das seguintes' donde uma

    gradao ascendente das criaturas:

    ;essas tr?s coisas: o ser' a #ida' a intelig?ncia' a pedra tem o ser' oanimal a #ida' mas sem $ue a pedra tenha' % claro' a #ida' nem o

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    animal a intelig?nciaL mas $uem tem a intelig?ncia tem tam"%m'

    sem dC#ida nenhuma' o ser e a #ida. 4;o li#re ar"trio.

    Assim como 3lato' #ia tam"%m no homem um microcosmo onde

    reprodu=-se toda a hierar$uia do uni#erso: o homem % composto de

    esprito' alma e corpo' sendo uma alma racional ser#ida por um

    corpo terrestre. Este' no entanto' contrariamente @ afirmao

    platJnica' no representa a priso ou tCmulo da alma. K essencial

    por%m o"ser#ar $ue todo corpo % inferior a $ual$uer alma' pois a

    ordem % ontolgica e no moral' fundando-se na nature=a e no no

    m%rito.

    En$uanto criatura pri#ilegiada' a alma de $ue o homem % dotado

    desdo"ra-se em tr?s faculdades $ue correspondem @s tr?s pessoas

    da Santssima Trindade: a memria' a intelig?ncia ou sa"edoria e a

    #ontade. ;e todas essas faculdades' a mais importante % a #ontade'

    inter#indo em todos os atos do esprito e constituindo o centro da

    personalidade humana.

    O SA,E1 ;OS SEFT

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    ela "usca tam"%m compreender e nesse mo#imento % ultrapassada

    pela intelig?ncia $ue su"sistir/ eternamente. A f%' em"ora

    purificante' % transitria' pois a$uele $ue sa"e >/ no precisa crer.

    Mas $ual seria o fundamento do conhecimento humano7 Fa tradio

    platJnica' o mundo sens#el' en$uanto mero refle!o do mundo das

    id%ias' no poderia ser fonte de #erdadeiro conhecimento.

    Agostinho' entretanto' considera#a a percepo da apar?ncia ao

    menos como ponto de apoio para a certe=a' afirmando: &Eu sei $ue

    isto me parece "rancoL limito-me @ minha percepo e encontro

    nela uma #erdade $ue no me pode ser negada&. Muito diferente

    seria afirmar apenas: &

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    transitoriedade. S em ;eus e nas coisas $ue esto em ;eus

    podemos' segundo Agostinho' encontrar o #erdadeiro

    conhecimento' uma #e= $ue ;eus % "ondade' sa"edoria e #erdadeL

    esses no so apenas seus atri"utos.

    As id%ias' formas origin/rias' ra=es est/#eis e imut/#eis das coisas'

    esto contidas na mente di#ina e no nascem nem morrem' mas

    tudo o $ue nasce e morre % por elas formado. As id%ias no so

    criaturasL antes participam da Sa"edoria eterna' mediante a $ual

    ;eus criou o mundo e $ue % id?ntica a ele. Assim' conhecer

    #erdadeiramente seria #oltar-se para as id%ias' onde se funda a

    nature=a das coisas e os >u=os #erdadeiros $ue delas formamos.

    O acesso a essas #erdades eternas no % totalmente #edado ao

    homem em funo de sua dupla nature=a: se ele possui um corpo'

    este est/ su"ordinado a uma alma $ue' pela sua prpria nature=a'

    guarda maior semelhana com ;eus. Mesmo assim' a humanidade

    no pode' por si s' alcanar esse conhecimento perfeitoL %

    necess/ria a inter#eno di#ina.

    EM ,S*A ;O MEST1E

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    #erdadeira compreenso. A ati#idade cogniti#a por e!cel?ncia

    consistiria em conferir o $ue se #?' l?' escuta e sente com a

    #erdade intelig#el $ue est/ na sua prpria alma' apresentada por

    ;eus.

    Assim' no % poss#el $ue se ensine a #erdade a outrem pois' al%m

    de sua "usca ser um ato de #ontade e logo uma ati#idade

    indi#idual' ela s pode ser encontrada no ntimo de cada um'

    consultando a$uele a $uem Agostinho denomina &Mestre

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    a$uisio do conhecimento segundo a teoria agostinianaL estaria

    tam"%m intimamente #inculada ao li#re-ar"trio humano e @

    prpria sal#ao.

    1E;EFPO 3E0A )1AA

    O homem nasceu perdido' pois o pecado original desYuiu nossa

    li"erdade' impedindo-nos de dei!ar de pecar ainda $ue o pecado

    no se>a necess/rio. 3ara Santo Agostinho' ao contr/rio do $ue

    ocorria na tradio platJnica' ;eus' $ue % tam"%m ,ondade' no

    pode ser causa do mal. O mal seria' em realidade' uma

    transgresso da lei di#ina' um pecado cu>a responsa"ilidade recai

    e!clusi#amente so"re o li#re-ar"trio humano:

    3rocurei o $ue era a maldade e no encontrei uma su"stBncia' mas

    sim uma per#erso da #ontade des#iada da su"stBncia suprema - de

    2s' Z ;eus - e tendendo para as coisas "ai!as. 4*onfisses' 2

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    fato como conse$]?ncia do a"andono dos costumes e di#indades

    tradicionais por parte dos romanos em fa#or do cristianismo. Em

    defesa deste' Agostinho escre#eu A cidade de ;eus' onde

    e!amina#a os pro"lemas da histria das sociedades e sua relao

    com a di#ina pro#id?ncia' pretendendo demonstrar $ue os

    acontecimentos $ue afligiam a seus contemporBneos tinham um

    significado particular $ue se funda#a' em Cltima instBncia' na

    predestinao di#ina.

    1etoma nessa o"ra' so" enfo$ue cristo' a antiga id%ia de $ue o

    homem % cidado de duas cidades: a de seu nascimento e a cidade

    de ;eus. E!plicitando o sentido religioso dessa distino >/ sugeridaanteriormente por S?neca e Marco Aur%lio' o hiponense a atri"ua @

    dupla nature=a humana: o ^homem' como corpo e esprito' seria a

    um s tempo cidado deste mundo e da cidade celestial' di#idindo

    suas atenes entre os interesses terrenos 4centrados no corpo e os

    ultraterrenos 4pertencentes @ alma:

    ;ois'Amores fi=eram duas cidades: a terrena f?-la o amor de S< ate

    ao despre=o de ;eusL a celeste' f?-la o amor de ;eus at% aodespre=o de si. 4A cidade de ;eus' X

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    A cidade terrena % o reino do ;ia"o e de todos os homens maus' ao

    passo $ue a celestial % a comunho dos redimidos neste mundo e no

    futuro. Santo Agostinho' contudo' no considera#a essas duas

    cidades como #isi#elmente separadasL eram cidades msticas'

    espirituais e encontra#am-se mescladas em toda a #ida terrena'

    separando-se apenas no u=o inal. K necess/rio' portanto' cautela

    ao aplicar-se essa teoria aos fatos histricos >/ $ue' segundo o

    hiponense' as instituies humanas no podem de modo algum

    identificar-se precisamente com nenhuma das duas cidades: a

    a no % o mesmo $ue o reino de ;eus e tampouco o go#erno

    secular % id?ntico aos poderes do mal.

    O aparecimento da a teria marcado um momento decisi#o para

    o desen#ol#imento do plano de sal#ao di#ina pois a partir de

    ento a unidade da esp%cie passou a significar a unidade da f%

    crist so" a direo da a. Entretanto' nada nos permite afirmar

    $ue para Agostinho o Estado de#esse transformar-se em simples

    &"rao secular& da$uela. Suas id%ias $uanto @s relaes entre os

    poderes temporal e espiritual no so claras mas' sem dC#ida'inserem-se na tradio caracterstica desen#ol#ida pelos

    pensadores cristos da %poca patrstica' implicando uma

    organi=ao e direo duais da sociedade humana em interesse das

    duas grandes classes de #alores $ue de#eriam ser conser#ados.

    Os interesses espirituais e a sal#ao eterna esta#am so" a guarda

    da a e forma#am a instBncia particular do ensino' dirigida pelo

    cleroL os interesses temporais ou seculares e a preser#ao da pa='

    da ordem e da >ustia correspondiam @ guarda do go#erno ci#il'

    constituindo os fins $ue de#eriam ser alcanados mediante os

    esforos dos magistrados. Entre am"as as ordens' clero e

    magistrados ci#is' de#eria pre#alecer um esprito de mCtua

    cola"orao' limite este $ue s poderia ser ultrapassado

    legitimamente em caso de emerg?ncia $ue ameaasse com a

    anar$uia no plano temporal ou com a corrupo' no espiritual.

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    Apesar da indefinio' pensa#a-se $ue essas ocasies e!-

    traordin/rias no destruam o princpio de $ue am"as as >urisdies

    de#eriam permanecer in#ioladas' respeitando cada uma os direitos

    ordenados por ;eus para a outra. Essa concepo' conhecida comoY

    Ydoutrina das duas espadas&' con#erteu-se em tradio aceita

    durante toda a Alta

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    transitrio e do eterno.

    Agostinho foi um homem da Antiguidade' mas sua o"ra dominou a

    cultura medie#al' garantindo os dois princpios fundamentais da

    especulao desse perodo: o lao entre f% e ra=o e o uso da

    dial%tica na teologia. Sua concepo de uma comunidade crist'

    >unto a uma filosofia da histria $ue a compreendia como ponto

    culminante do desen#ol#imento espiritual do homem' $ue unia

    Estado e a na luta pela pure=a da f%' enrai=ou-se no

    pensamento cristo' predominando durante grande parte da

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    seguida' dos te!tos dos Santos 3adres' escritores cristos dos

    primeiros s%culos' cu>a autoridade era unanimemente aceita.

    inalmente' dos te!tos antigos progressi#amente cristiani=ados.

    Esses di#ersos te!tos continham um sa"er $ue de#eria ser

    apropriado e transmitido' como ensinara Santo Agostinho' e

    compunham o principal legado $ue os pensadores medie#ais

    puderam rece"er do mundo antigo' transformando-se os mosteiros

    em seus deposit/rios.

    K certo $ue o mona$uismo latino % uma importao relati#amente

    tardia' se comparado ao seu cong?nere oriental' >/ organi=ado nos%culo

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    discorrer consigo mesmo.

    Os te!tos eram in#ocados para ser#ir a uma #erdade $ue eles no

    poderiam esgotar' mas para o esclarecimento do $ual poderiam

    contri"uir. Eram um caminho para a sa"edoria e' em"ora seus

    conteCdos de#essem ser superados' permaneciam como um

    preliminar indispens/#el @ refle!o.

    Fo se limita#a por%m' a ati#idade intelectual' a copiar e #enerar

    os te!tosL a / ressaltado' o

    paradigma da filosofia medie#al at% o s%culo X

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    $uase imposs#el o estudo:

    Os tempos so to confusos para nsD 3ode-se pensar em escre#er

    so" os golpes do inimigo' $uando se #? serem de#astados' diante de

    ns' cidades e campos' $uando % preciso fugir atra#%s dos perigos

    do mar e $ue o prprio e!lio no #os coloca ao a"rigo de toda a

    apreenso7

    ;urante muito tempo o Ocidente #i#eria so" o signo do medo: medo

    da fome' da destruio' da morte tra=ida pelo inimigo ou pelos

    animais fero=es $ue #aguea#am pelos lugares desertos e in#adiam

    por #e=es os campos culti#adosL medo das pestes' dos elementosnaturais $ue arruina#am as colheitas' dos sa$ues e #iolaes dos

    &"/r"aros&L e' por fim' um medo so"renatural da noite' da tentao

    e do pecado $ue colocaria a perder a Cnica certe=a do homem

    cristo medie#al - a de $ue tinha uma chance de encontrar' no

    reino de ;eus' uma #ida sem medo.

    A o"ser#ao no rece"ia' portanto' nenhum encora>amento e

    mesmo nos mosteiros' onde se go=a#a de uma relati#a segurana etran$]ilidade' a Fature=a parecia muito mais fonte de desgraas

    $ue de sa"edoria. O conhecimento pree!istia na alma humana' mas

    necessita#a de iluminao di#ina para tornar-se intelig#el para o

    homem' como afirmara Agostinho' o $ue recomenda#a muito mais a

    contemplao' o di/logo mudo com o Mestre / perdida' destruda pela

    de#astao $ue fe= ruir o prprio / $uase desconhecida - e mesmo as tradues latinas

    apresenta#am o"st/culos: algumas' como a do Timeu de 3lato

    4feita por *alcdio no s%culo

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    ;esgraado se>a o nosso tempo' pois o estudo das letras pereceu

    entre ns e >/ no se encontra ningu%m $ue possa tradu=ir por

    escrito os acontecimentos presentes.

    Muitos por%m perse#eraram' tradu=indo' comentando' especulando

    ou meramente multiplicando com as pacientes 'pias as poucas

    o"ras dispon#eis. So acusados de falta de originalidade' de

    mostrarem um pensamento est%ril. Mas' o $ue poderia ser mais

    original $ue de"ruar-se atentamente so"re esses escritos'

    #ertendo-os de uma lngua desconhecida para outra $ue >/ poucos

    compreendiam' acrescentando-lhes coment/rios $ue atuali=a#amsuas pro"lem/ticas' especulando so"re as formas de pensar' so"re

    os tipos de ci?ncias e!istentes' so"re a criao do mundo' en$uanto

    ao seu redor' esse mesmo mundo parecia chegar ao fim7

    2/rios desses tra"alhos foram sucessi#amente perdidos' mas alguns

    e!emplos do $ue deles nos chegaram so suficientes para a#aliar a

    grande=a da tarefa a $ue esses homens se propuseram e a

    importBncia #ital $ue ti#eram no pensamento cristo ocidental.

    OS MOF)ES [A1EZ0O)OS\

    *onsiderado por muitos &o Cltimo romano e o primeiro escol/stico&'

    ,o%cio 4V6-55 no foi um homem da a. *ontudo' foi

    considerado por seus psteros como um cristo' tornando-se um

    m/rtir da f% por ter sido e!ecutado so" acusao de magia. Sua

    o"ra inclui tradues e coment/rios a o"ras lgicas cl/ssicas e

    alguns opCsculos de teologia. oi atra#%s dele $ue os medie#ais

    conheceram' ainda $ue com certos traos neoplatJnicos' os

    tratados lgicos de Aristteles $ue constituram' durante muito

    tempo' o Cnico conhecimento $ue se te#e dos escritos do grande

    filsofo antigo' >/ $ue sua fsica' metafsica e %tica s seriam redes

    co"ertas a partir de meados do s%culo X

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    modelo de e!plicao precisa e minuciosa' acompanhada de largas

    digresses' $ue seria amplamente difundido no ensino medie#o.

    ;e suas o"ras pessoais' a mais apreciada e comentada foi a

    *onsolao da filosofia' escrita na priso' e uma das principais

    fontes do platonismo medie#al. Algumas de suas definies' como a

    de eternidade entendida en$uanto &posse inteiramente simultBnea

    e perfeita de uma #ida intermin/#el& ou a de "eatitude como

    &estado $ue de#e sua perfeio @ reunio de todos os "ens&'

    atra#essariam todo o perodo.

    ,o%cio influenciou so"remaneira os pensadores posteriores' $uercomo e!emplo' $uer como incitao @ in#estigaoL ser#iu de

    #eculo @ lgica aristot%lica e @ parte da cosmologia e teologia

    platJnicasL ela"orou uma significati#a classificao das ci?ncias e

    ainda legou a definio da filosofia como amor da sa"edoria.

    Ao lado de ,o%cio' *assiodoro 4VV-5V6 pode ser considerado um

    dos fundadores do pensamento medie#al propriamente dito.

    uerendo tam"%m dar a conhecer a seus contemporBneos aproduo do pensamento grego' fundou na *al/"ria o monast%rio

    de 2i#arium 4555' onde foram produ=idas #/rias cpias de o"ras

    cl/ssicas' $ue se difundiram pelo Ocidente. Ela"orou um programa

    de estudos para seus monges' sistemati=ado na o"ra

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    Se esses pensadores' $ue pouco se tinham distanciado do mundo

    antigo' guarda#am ainda certos traos do perodo anterior'

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    importante Histria eclesi/stica do po#o ingl?s' e atri"ui-se ainda a

    ele a utili=ao do nascimento de *risto como marco inicial da

    nossa era.

    / em Teodoreto de *iro' a cu>a produo intermin/#el

    no correspondia uma ade$uada ri$ue=a de id%ias' mas uma

    not/#el repetiti#idade. O menor significado da produo e!eg%tica

    crist no s%culo 2 de#e-se tam"%m ao fato de ela ter-se perdido em

    grande parte' o $ue nos impede de reconstruir os perfis desses

    escritores com suficiente segurana. 3or isso' tam"%m seremoso"rigados a apresentar pouco mais $ue um magro repertrio de

    notcias.

    A;1

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    2

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    Es$uio tal#e= se destinasse @ liturgia.

    Es$uio dedicou-se tam"%m ao coment/rio dos li#ros prof%ticos: co-

    mentou unto' %

    interessante por$ue nos informa so"re a maneira como o autor

    procedia em seu tra"alho: ;i#iso em est$uios dos do=e profetas

    de

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    por #olta da metade do s%culo 2. Esta parece ser sua correta

    colocao cronolgica' em"ora outras tenham sido propostas 4foi

    um outro AmJnio' $ue #i#eu mais tarde' o autor de um *oment/rio

    ao He!ameron e de uma o"ra contra os monofisitas. O de

    Ale!andria a $uem nos referimos de#eria ser identificado com um

    AmJnio cu>o nome aparece fre$]entemente como autor de inter-

    pretaes em #/rias *atenas e!eg%ticas do Antigo e do Fo#o

    Testamento. E citado por algumas o"ser#aes so"re os Salmos e

    so"re ;aniel' estas Cltimas mais numerosas' $ue deri#am

    pro#a#elmente de um coment/rio propriamente dito $ue se perdeu'

    ou de um ciclo de homilias dedicadas @$uele te!to prof%tico. ma

    parte not/#el dessas % dedicada @ histria de Su=ana e' no todo'elas re#elam um consider/#el interesse pelo conteCdo formal do

    li#ro. Mais amplo e mais rico % o *oment/rio ao E#angelho de oo'

    formado de esclios $ue se encontram nas *atenas. Ele se

    apresenta $uase como um coment/rio completo' e parece ser um

    slido tra"alho de e!egese. AmJnio e!aminou tam"%m e!plicaes

    $ue considera#a e$ui#ocadas e procurou esta"elecer o conteCdo

    dogm/tico do te!to' para re>eitar #/rios erros doutrinais.

    ragment/rios e em parte pass#eis de reconstruo a partir das*atenas so outros dois tra"alhos de e!egese: o *oment/rio aos

    Atos dos Apstolos e as Anotaes so"re a primeira epstola de

    3edro.

    *om a passagem do s%culo 2 ao 2

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    pro#eni?ncia diferente' colocadas uma aps a outra $uase como se

    formassem uma corrente. O autor dessas catenas preferiu comentar

    cada passagem do te!to ""lico selecionado dirigindo-se aos

    comentadores $ue o precederam' escolhendo de cada um deles os

    coment/rios relati#os' reunindo-os e acrescentando s o nome do

    autor.

    Al%m disso' go=a de um crescente sucesso uma outra forma liter/ria

    $ue >/ ha#ia comeado h/ tempos' a das &3erguntas e 1espostas&

    so"re pro"lemas de conteCdo religioso' $uase sempre dogm/tico e

    e!eg%tico. Tam"%m esse g?nero liter/rio passar/ a ter importBncia

    fundamental no sistema cultural "i=antino. A e!egesepredominante continua a ser a alegrica' depois $ue os crit%rios do

    literalismo e da crtica histrica se esgotaram.

    31O*Z3

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    a primeira ha#ia atingido dimenses e!cessi#as. Fesse coment/rio'

    ele no cita mais as opinies dos e!egetas precedentes' mas as

    resumeL ainda $ue a estrutura no se>a mais a da catena' continua

    a ser um coment/rio $ue' na ess?ncia' reCne e!egeses alheias. A

    *atena propriamente dita' da $ual % deri#ado o *oment/rio' no

    chegou at% nsL da segunda redao rece"emos' em grego' apenas

    um fragmento relati#o a )n 8-8V' desco"erto pelo cardeal Mai.

    Outras catenas compiladas por 3rocpio so:

    - uma So"re os $uatro li#ros dos 1eis e so"re os dois li#ros dos

    3aralipomenos' $ue se perdeu $uase inteiramente' com e!ceo dealgumas citaesL

    - uma So"re

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    su"stancialmente po"res de conteCdo: cont?m elogios da retrica e

    da filosofia' consolaes de amigos' recomendaes >unto aos

    poderosos e outros temas an/logos.

    O0a' &na#egador da India&' depois de

    ter reali=ado uma #iagem $ue o le#ou ao *eilo' para onde sedirigira como mercador. Fa #erdade' seu prprio nome' *osma' %

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    sim"lico' por$ue de#e ser relacionado ao grego bosmos' ou se>a' o

    mundo $ue ele ha#ia descrito em sua o"ra. Mas nem o nome de

    *osma nem o so"renome de &ulg/-la ulgar na e!presso' $ue ignora at% a sinta!e corrente&.

    *osma tornou-se famoso por sua o"ra geogr/fica' $ue tem o nome

    de Topografia crist: no % uma o"ra geogr/fica em sentidocientfico' mas de e!egese da cosmografia ""lica. O escritor' de

    fato' polemi=a com os gegrafos' os astrJnomos e os matem/ticos

    pagos' e se remete @s cosmografias de Mois%s e dos escritores

    sagrados.

    3ortanto' a terra' sustenta ele com "ase no primeiro e no segundo

    li#ro da Escritura' no % uma esfera' mas um disco' e essas

    afirmaes so demonstradas mais amplamente no terceiro e no

    $uarto li#ro. O $uinto li#ro cont%m um resumo da histria ""lica e

    tam"%m um comp?ndio da ci?ncia ""lica de sua %poca' en$uanto

    trata dos propsitos e dos conteCdos da Escritura. Os cinco li#ros

    seguintes t?m o o">eti#o de eliminar as dificuldades e as dC#idas

    $ue os primeiros ha#iam suscitado o se!to se fi!a na grande=a do

    solL o s%timo na durao do c%uL o oita#o no cBntico de E=e$uias' o

    rei de ud/' e no eclipse solar mencionado por

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    testemunhos dos padres. Segue-se uma inesperada descrio das

    "ele=as da ilha de Tapro"ana 4*eilo. Tal#e= esse d%cimo primeiro

    li#ro se>a e!trado de uma &descrio da terra&' $ue *osma ha#ia

    escrito e $ue ele mesmo *

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    a""ada celeste' ao altoL acima e!iste o reino dos c%us' incor-

    rupt#el e eterno. Essa doutrina das duas condies parecia ter

    deri#ado' em Cltima an/lise' da escola e!eg%tica de Antio$uia' e'

    mais precisamente' da contemporBnea a nosso escritor' a escola

    nestoriana de Fsi"e.

    A e!egese de *osma parece muito simplista se comparada @ de per-

    sonalidades "em mais cultas e mais profundas $ue a sua' contudo

    e!istiu tam"%m uma e!egese do te!to sagrado mais humilde e

    simples' por$ue dela no se ser#iram apenas os eruditos e os

    religiosos' mas tam"%m os incultos e as pessoas de pouco esprito

    critico' $ue da#am importBncia ao mara#ilhoso. 3or isso a o"ra de*osma encontra' tam"%m nesse Bm"ito' uma >ustificao.

    E*MWF

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    *omentario so"re o Apocalipse e precedido de um pref/cio em $ue

    o autor' referindo-se @s autoridades dos 3adres precedentes'

    defende a canonicidade e a autenticidade do Apocalipse'

    fre$]entemente contestada no Oriente.

    AF;1K ;E *ESA1K

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    3or MO1ES*H

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    id%ias $ue nos acontecimentos $ue a"alaram a a do s%culo / aos 96 anos mudou-se para *onstantinopla' onde

    permaneceu pelo resto de sua #ida' a no ser para fa=er uma

    #iagem @ 3alestina.

    1esidindo em *onstantinopla' escre#eu uma Histria da a' $ue

    se propJs continuar em 89 li#ros a o"ra homJnima de Eus%"io' at% o

    ano 95L esta foi concluda por seu autor em . ;efensor

    entusiasta do arianismo mais radical' ilostrgio esta#a con#encidode $ue os maiores cristos de sua %poca ha#iam sido' precisamente'

    os arianos A%cio de Antio$uia e EunJmio de *=icoL $ue Atan/sio

    le#ara a a @ runa e $ue a #erdadeira ortodo!ia era a dos

    anomeus.

    Sua histria' infeli=mente' chegou at% ns fragment/ria. Esta#a

    ainda completa nos tempos de cio' $ue lou#a seu estilo

    re$uintado e elegante' mas o"ser#a como o relato de ilostrgio

    est/ em contradio com o dos outros historiadores da a' na

    medida em $ue ele e!alta#a todos os arianos' ao passo $ue acusa#a

    e insulta#a os ortodo!os' de modo $ue' conclui cio' &sua histria

    no % tanto uma histria' $uanto uma cele"rao dos hereges e

    uma a"erta acusao e ofensa aos ortodo!os&.

    SZ*1ATES

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    Temos poucas informaes so"re esse historiador. Fasceu e cresceu

    em *onstantinopla' onde passou tam"%m os Cltimos anos de sua

    #ida. 3ro#a#elmente nunca saiu de *onstantinopla para se informar

    melhor so"re os fatos narrados. Funca fala de seu oficio. Os

    manuscritos do a ele o so"renome de &escol/stico&' $ue

    normalmente % entendido como &procurador legal& ou tam"%m

    como &>urista&.

    *om certe=a no pertence ao clero da capital' em"ora tenha

    rece"ido de um &homem de ;eus&' de nome Teodoro' a inspirao

    para escre#er sua o"ra. Segundo alguns estudiosos' esse Teodoro

    teria sido um encarregado oficial do imperador' $uase umsuperintendente dos ar$ui#os' nomeado entre os integrantes da

    comisso $ue de#ia ocupar-se da redao do *ode! Theodosianus'

    dese>ado pelo imperador Teodsio

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    , OS *1u=o so"re as fontes $ue emprega.

  • 8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno

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    SOGMEFO

    ;e Salamanes Hermas So=Jmeno 4este teria sido seu nome comple-

    to' segundo as notcias de cio temos tam"%m poucas

    informaes. uando esta#a escre#endo sua Histria da a' ele

    era 4assim nos informa scholastibos' ou se>a' como Scrates'

    ad#ogado ou >urisconsulto' em *onstantinopla. *ontudo' no era

    origin/rio da capital' mas do pe$ueno #ilare>o de ,et%lia' pr!imo

    da antiga cidade dos filisteus' )a=a' onde nascera por #olta do ano

    de U6 de uma famlia de antiga f% crist' con#ertida graas aos

    milagres do famoso anacoreta Hilario' cu>a #ida % narrada por

    erJnimo.

    A A Ha' durante o

    perodo entre e `.

    A Histria da a % narrada em no#e li#ros' a comear do ano do

    terceiro consulado de *%sar *rispo e *onstantino 49' e de#eria

    ter chegado' segundo o pro>eto' ao d%cimo s%timo consulado do

    imperador Teodsio l

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    A o"ra de So=Jmeno $uer ser uma narrao dos acontecimentos

    posteriores a *onstantino' $ue interpreta segundo a f% ortodo!aL

    mas' em"ora o tema e o ttulo se>am an/logos aos de Eus%"io'

    So=Jmeno no % um #erdadeiro continuador do "ispo de *esar%ia'

    por$ue % um leigo e considera a histria da a com crit%rios

    profanos' no religiosos' e no retoma as concepes de Scrates.

    Ele tem diante da histria da a o mesmo comportamento $ue

    teria diante de $ual$uer histria' de $ual$uer Estado: no dese>a

    desco"rir' como fi=era Scrates' a presena de ;eus nos

    acontecimentos $ue narraL os "ispos no so apenas os homens da

    religio' mas tam"%m os homens $ue fa=em a histria da$uelestempos.

    O pro?mio da o"ra de So=Jmeno foi considerado um dos momentos

    de maior consci?ncia metdica demonstrada por um historiador

    antigo' de#ido' so"retudo' ao interesse dedicado aos documentos

    de ar$ui#o e @ #alori=ao deles. ;e fato' So=Jmeno no s declara

    $ue % necess/rio praticar a autpsia das fontes' como' no fundo' >/

    afirmara Scrates 4e' naturalmente' outros antes deles' em"ora ahistoriografia antiga no tenha sido muito sens#el a esse crit%rio'

    $ue muitas #e=es permanecia apenas uma enunciao terica' mas

    e!pe tam"%m $uais so as normas a ser seguidas para uma

    a#aliao crtica dessas fontes.

    , SZ*1ATES E SOGMEFO

    *omo Scrates se ocupou do perodo 65-R' So=Jmeno de 9R

    4ou 8' somos instados a perguntar so"re as relaes recprocas

    entre as duas o"ras.

    3ode-se notar $ue' por longos trechos' a narrao dos dois historia-

    dores caminha lado a lado' $uer concordem' $uer discordem em

    relao a detalhes. So"re uma e#entual depend?ncia de um escritor

    do outro' >ulgou-se #er em So=Jmeno o imitador. Trata-se' por%m'de uma imitao $ue tem finalidades "em precisas' ou se>a' #isa

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    mais @ di#ersificao $ue @ repetio. So=Jmeno ser#iu-se da o"ra

    de Scrates como modelo' conferindo-a com os documentos'

    ampliando-a e corrigindo-a' na medida em $ue recorreu at% @s

    mesmas fontes empregadas por Scrates' @s #e=es apro#eitando-as

    com mais amplitude. ;iferentemente de Scrates' $ue em geral a

    cita' So=Jmeno no menciona a fonte principal' mas nomeia os $ue

    fornecem notcias de car/ter su"sidi/rio. / se disse $ue Scrates %

    prdigo no emprego de documentos' $ue reprodu= literalmente' ao

    passo $ue So=Jmeno enfati=a a narrao histrica propriamente

    dita. Ao contr/rio de Scrates' por outro lado' ele elimina o mais

    poss#el as dataes cronolgicas precisas. Fo con>unto' a o"ra de

    So=Jmeno manifesta uma seculari=ao da histria da aL aomesmo tempo' ele mostra' mais $ue Scrates' um relati#o interesse

    pelos acontecimentos da parte ocidental do imp%rio'

    acontecimentos $ue considera' se>a como for' segundo a

    perspecti#a de um "i=antino. A seculari=ao da histria e#idencia-

    se ainda mais' na medida em $ue So=Jmeno dedica uma ateno

    especial @ legislao imperial' $ue precisamente na$ueles anos era

    reunida e organi=ada criticamente no *ode! Theodosianus. A

    histria de So=Jmeno % contemporBnea' pode-se di=er' @pu"licao deste' e o *ode! podia muito "em ter fornecido ao

    historiador todas as leis $ue ele precisasse consultar.

    * O EST

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    TEO;O1ETO ;E *

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    Ser#e de ap?ndice a esse li#ro o Tratado so"re a di#ina e santa

    caridade' $ue dese>a demonstrar $ue ha#ia sido o amor por ;eus

    $ue encora>ara e tornara os ascetas capa=es de seus feitos.

    Tradicionalmente essa o"ra costuma ser datada do ano .

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    acontecimentos do sagrado snodo de Fic%ia' ou mais simplesmente

    Histria do *onclio de Fic%iaL mais recentemente' Histria da

    a.

    A o"ra de )el/sio % constituda de tr?s li#ros' e no nos informa

    tanto so"re o conclio de Fic%ia $uanto so"re a histria da a no

    Oriente so" *onstantino. O primeiro li#ro narra a #ida de

    *onstantino' dos primeiros anos de seu principado at% sua #itria

    so"re 0icnio em 9. O segundo % dedicado @ histria do conclio

    de Fic%ia' e o terceiro' $ue no chegou at% ns inteiro' narra#a' se

    for correto o $ue cio nos di=' o restante da #ida de *onstantino

    at% seu "atismo e sua morte em V.

    ;esde a %poca de cio' )el/sio % criticado como escritor "anal e

    de estilo po"reL contudo' do ponto de #ista histrico' sua o"ra pode

    ostentar o m%rito de ter tido acesso a fontes $ue desconhecemos

    ou $ue no so mais acess#eis. Fas passagens em $ue ele segue

    escritores $ue ainda podemos ler' como Eus%"io' Scrates e

    Teodoreto' podemos #erificar $ue )el/sio se ser#e delas sem

    acrescentar nenhuma considerao pessoal' mas muito ao p% daletra' colocando uma citao aps a outra de maneira

    a"solutamente montona e ornando-a de em"ele=amentos

    e!teriores' sem nenhuma medida.

    GA*A1

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    pro#a#elmente era irmo do prprio 3rocpio. Escre#endo a

    "iografia do monofisita Se#ero de Antio$uia' de $uem foi aluno' ele

    nos informa so"re seus primeiros anos. Seu discipulado ocorre por

    #olta do ano U5' em Ale!andria' onde se dedicou aos estudos

    liter/rios e retricos e participou das discusses so"re os pro"lemas

    teolgicos. Em UV comeou seus estudos >urdicos e passou a

    fre$]entar a famosa escola de direito em ,eritoL em seguida' em

    R9' transferiu-se para *onstantinopla' onde foi &retor&' ou se>a'

    orador' e &escol/stico&' isto %' ad#ogado. Em *onstantinopla

    con$uistou um certo renome e' por fim' foi designado "ispo de

    Mitilene' na ilha de 0es"os. *omo tal' ele participou em 5` do

    snodo de *onstantinopla' $ue condenou os monofisitas' entre os$uais Se#ero de Antio$uia 4Gacarias se afastara' portanto' de seu

    mestre.

    A A H

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    uma defesa do prprio mestre monofisita' acusado de #/rias faltas'

    entre as $uais se inclua a de paganismo. Outras "iografias so a

    2ida de o original grego ainda conser#amos. A mais famosa

    % a ;iscusso em pol?mica com os filsofos a propsito da criao

    do mundo' um di/logo' escrito em ,erito e ali am"ientado. Fele'

    Gacarias defende a doutrina crist da criao do mundo reali=ada

    por ;eus' em um de"ate com um discpulo do neoplatJnico

    ale!andrino AmJnio' $ue' seguindo a doutrina da$uela escola

    filosfica' considera#a $ue o mundo fosse co-eterno a ;eus.

    A ;iscusso contra os mani$ueus' suscitada pela condenao $ue o

    imperador ustiniano reali=ara em 59V contra a$uela seita' em

    contrapartida' chegou at% ns fragment/ria.

    TEO;O1O 0E

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    redu=indo-as a apenas uma' $ue fornecesse uma narrao mais

    clara' mais agrad/#el no plano retrico' e mais confi/#e8. A

    Histria da a di#idida em tr?s partes 4 o ttulo foi dado pelos

    modernos' por$ue Teodoro a chamou simplesmente Histria da

    a' foi tradu=ida em latim pelo monge EpifBnio' do monast%rio

    de 2i#arium' so" a super#iso de *assiodoro' e te#e muito sucesso

    na a

    continuar os tr?s historiadores do s%culo 2' ento considerados

    con>untamente' Scrates' So=Jmeno e Teodoreto. Teodoro 0eitor

    no % nomeado e E#/grio pro#a#elmente no o conhece' pois afirma

    $ue desde a metade do s%culo 2 no e!istira mais nenhum

    historiador.

    E#/grio % um ortodo!o rigoroso: pro#inha de uma regio 4a de Apa-

    m%ia na Sria fiel ao dogma de *alcedJnia e hostil ao patriarca

    Se#ero de Antio$uia' $ue era monofisita. A narrao % um pouco

    proli!a' mas ampla e e!tensa' e o estilo % agrad/#el' tendendo aum tom arcai=ante' uma #e= $ue o ideal estilstico de E#/grio %

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    TucdidesL conse$]entemente' o #oca"ul/rio % escolhido com

    cuidadoL mesmo cio o aprecia#a. Fo segundo e no terceiro li#ro'

    ele se ser#e da Histria da a de Gacarias' $ue ainda podia ler

    no original grego. 3ara a parte no estritamente crist' ele se

    "aseia em historiadores profanos' como 3rocpio de *esar%ia'

    retomado muito amplamente' e oo' o 1etor' ou se>a' oo

    Malala' de $ue falaremos da$ui a pouco. E#/grio tam"%m foi lido e

    retomado pelos historiadores "i=antinos.

    ,ASI0a' &separado&' pois

    era monofisita. Siraco de nascimento' parece ter sido

    contemporBneo mais #elho de ,aslio de *ilcia. Tam"%m ele'

    segundo cio' teria escrito uma Histria da a' em de= li#ros.

    Os cinco primeiros li#ros iam de 9R 4final da histria de Scrates'

    So=Jmeno e Teodoreto @ %poca do imperador Geno 4V-R8. Es-

    critos em estilo claro e #ariado' go=aram de certo apreo. Alguns

    fragmentos de sua Histria foram conser#ados pelos historiadores

    "i=antinos' ao $ue parece >/ desde Teodoro 0eitor.

    OPO MA0A0A

    2amos concluir o e!ame da historiografia eclesi/stica com algumas

    informaes so"re um autor $ue' rigorosamente' no seria um

    historiador' mas um &cronologista&: pertenceria' portanto' a umg?nero liter/rio 4a cronografia $ue >/ ha#ia sido culti#ado pela

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    mais antiga historiografia crist' mas $ue foi um tanto o"scurecido

    pela historiografia propriamente dita' e por fim #oltou ao auge na

    era "i=antina.

    oo' origin/rio de Antio$uia' onde e!ercia a profisso de retor 4e

    como tal conheceu E#/grio Escol/stico' rece"eu o so"renome de

    &Malala&' $ue em siraco significa#a' precisamente' &retorY. Esse

    so"renome le#a-nos a pensar $ue ele no pertencia @ populao

    grega de Antio$uia' mas @ siraca. Algumas aluses de car/ter

    auto"iogr/fico informam-nos $ue oo #i#eu na metade do s%culo

    2

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    AMar. Esta"eleceu-se finalmente em 1oma' tal#e= por #olta de

    U. Atra#%s de uma carta de congratulaes escrita por 0i"Bnio'

    sa"emos $ue em R9 >/ pu"licara parte de sua histria.

    Ao registrar a histria contemporBnea' Amiano usou suas prprias

    anotaes e as de outras pessoas' "em como todos os relatos

    escritos dispon#eis 4#er Eun/pio. Escre#eu cuidadosamente' numlatim &liter/rio&' re"uscado e tpico do fim do ulgamentos por traio' usurpaes. *omo Herdoto' fe=

    digresses so"re os assuntos $ue o interessa#am - descries de

    pro#ncias romanas e po#os estrangeiros' indisciplina no e!%rcito'

    desonestidade dos ad#ogados' ci?ncias populares 4adi#inhaes'hierglifos egpcios' arco-ris' eclipse' terremoto' construo de

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    m/$uinas de guerra. O resultado % muito rico e agrad/#el de lerL

    mas Amiano % tam"%m not/#el como historiador'

    e!traordinariamente e!ato e imparcial: por isso' critica#a seu heri

    uliano e registra#a atos $ue fa=em honra a pessoas de $uem no

    gosta#a. Omitiu a histria religiosa por $uestes de segurana ou'

    tal#e=' por no ser cl/ssicaL era pago' mas reprimia suas crenas

    pessoais e limita#a suas crticas @ cristandade aos des#ios das

    prprias normas da moralidade crist. Amiano comeou seu

    tra"alho onde T/cito parara' numa homenagem ao mestre' e dentre

    os Cltimos historiadores $ue escre#eram em latim' % o Cnico $ue

    pode ser comparado a ele: no estilo e na ordenao do material'

    T/cito % "em superior' mas Amiano o ultrapassa em amplitude eimparcialidade.

    ASF

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    semana' principais cidades do unto' formam a maior fonte de

    histria social de seu tempoL e tam"%m uma ode ao casamento'

    montada com trechos de 2irglio' para competir com outra' com-

    posta por 2alentiniano aneiro de R` d.*.' *laudiano >/ ha#ia iniciado sua

    mais importante encomenda po%tica' uma apologia de Estilico' em

    seu poema so"re o terceiro consulado de Honrio. ;essa %poca at%

    6 d.*.' % poss#el estudar as disputas polticas da corte ocidental

    atra#%s de suas poesias. *laudiano usa' de modo not/#el' a

    in#ecti#a no poema *ontra 1ufino' escrito em duas partes e

    pro#a#elmente recitado em RV' aps o assassinato de 1ufino. A

    )uerra )ildJnica 4)ildonicum "ellum' %pico histrico so"re a

    re#olta de )ildo' conde da frica' #em em seguidaL em RR'

    escre#e *ontra Eutrpio' um ata$ue ao eunuco Eutrpio' ministro-

    chefe de Arc/dio' e uma das mais sel#agens denCncias >amaisescritas. Fo ano 66' foi recitado o So"re o consulado de EstilicBo

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    4e' as 2idas dos

    sofistas 4posteriores a R` d.c.' narrao das #idas &santas& de

    intelectuais e literatos neoplatJnicos. Em 8' Eun/pio pu"licou

    uma #erso moderada da Histria' $ue estendia a narrati#a at% o

    ano 6 d.c.

    ESK,

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    para o Egito' onde ficou preso por uns tempos. Tornou-se "ispo de

    *esar%ia por #olta de 8' e $uando se inflamou a contro#%rsia

    so"re o arianismo' por #olta de 8R d.*.' Eus%"io ligou-se ao

    origenista Qrio e tornou-se um importante ariano moderado' como

    Eus%"io de Ficom%dia. Fo *onclio de Fic%ia' em 95 d.*.' tomou

    posio a fa#or de um compromisso' mas sem sucessoL foi

    finalmente persuadido a unir-se @ maioria $ue condenou Qrio. Fo

    ano de 5' esta#a no *onclio de Tiro $ue condenou Atan/sio.

    Eus%"io era amigo de *onstantino' a $uem lou#ou num discurso no

    >u"ileu desse mesmo ano. ;epois da morte de *onstantino 4V'

    Eus%"io escre#eu um panegrico' 2ida de *onstantino' fonte impor-

    tante - em"ora nem sempre confi/#el so"re e#entos do seu reinado.A o"ra mais importante de Eus%"io % a Histria da a' $ue

    a"rangia desde os primeiros tempos at% os acontecimentos

    contemporBneos 4apro!. 9 d.*.. Fessa o"ra' ele fa= um uso com-

    pleto' ainda $ue pouco crtico' de muitos documentos $ue foram'

    assim' preser#ados. O primeiro imperador cristo aparece em sua

    o"ra como o ponto culminante da histria. 1ufino de A$uil%ia

    tradu=iu a Histria da a para o latim' e continuou-a de modo a

    a"ranger os acontecimentos at% o ano R5 d.*. Outros tra"alhos deEus%"io incluem: 3reparao para o E#angelho' $ue re>eita#a a

    filosofia gregaL ;emonstrao do E#angelho' coment/rios ""licos

    "aseados no 2elho TestamentoL *ontra Hi%roclesL e uma *rJnica

    4tradu=ida para o latim e continuada por erJnimo.

    ET1Z3o estilo simples e muito claro fe= dela' durante

    s%culos' um li#ro de te!tos para iniciantes do estudo do latim.

    Eutrpio era gaul?s' pro#a#elmente de ,ordeau!' e tra"alhou no

    Oriente. Escre#eu a sntese $uando diretor dos redatores pC"licos

    na corte de 2alente: em V8NV9 go#ernou a Qsia' mas foi forado'

    por seu sucessor esto' a se aposentar. 0ogo depois foi nomeadopor Teodsio < prefeito pretoriano da

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    SIMA*O 4Smmachus 4apro!. 6-apro!. 69 d.*.' literato.

    uinto Aur%lio Smaco' apesar de seu nome' era um aristocrata de

    nascimento ilustre e porta-#o= do Senado romano da d%cada de `6

    at% sua morteL era considerado por seus contemporBneos um orador

    eminente e um estilista da prosa romana. Os panegricos em honra

    de 2alentiniano < e )raciano 4`R-V6' apresentados na corte

    4onde Smaco conheceu AusJnio em nome do Senado' foram

    recompensados com sua nomeao como go#ernador da Qfrica

    4V. Fo &degelo& $ue se seguiu @ morte de 2alentiniano 4V5' S-maco mante#e estreitas relaes com personagens influentes na

    corte' mas ocupou apenas os cargos tradicionais de sua classe: foi

    prefeito ur"ano 4U e' apesar de seus elogios ao usurpador

    M/!imo' foi cJnsul em R8. Sua correspond?ncia oficial como

    prefeito ur"ano so"re#i#eu' e % a principal fonte de informaes

    so"re os de#eres de um funcion/rio graduado na condio de lder

    do Senado' >ui= de apelao em 1oma e no sul da

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    e!teriores' so de leitura cansati#a.

    Smaco era um senador medianamente ricoL mesmo assim' era

    propriet/rio de grandes e!tenses de terra na Siclia e na Qfrica'

    al%m de #inte herdades em 1oma e no sul da e considera-se $ue ele

    foi prefeito pretoriano da

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    A Era das inas'es ()rbaras no Ocidente

    O pro"lema dos "/r"aros surge no s%culo 2 com uma urg?ncia $ue asituao da era de Teodsio' concluda em R5' no permitia

    entre#er. Mas foram e!atamente as grandes in#ases' $ue se

    iniciaram em 6`-6U e se sucederam' #ertiginosas' durante todo o

    s%culo' $ue caracteri=aram a #ida do mundo mediterrBneo'

    particularmente no Ocidente de lngua latina. Fa realidade' depois

    da fragorosa derrota romana em Adrianpolis 4em VU' o imp%rio

    >/ comeara a #acilar' adotando' por um lado' a diplomacia' dando

    o ttulo de &aliados& aos "/r"aros e aceitando-os dentro dasfronteiras. At% mesmo os intelectuais se #iram em uma posio de

    incerte=a: para alguns deles' os "/r"aros representa#am uma fora

    no#a a ser canali=ada e ma!imamente desfrutada. 3ara outros' eles

    no eram nada al%m de sinJnimo de destruio.

    A partir do s%culo 2' fica "astante claro $ue as hordas dos in#asores

    tinham fora suficiente para dominar 4e oprimir e $ue os cidados

    romanos no tinham escolha. 3erdidas a Espanha' a )/lia e a

    Qfrica' apenas a

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    So #inculados @ figura do "ispo de Hipona os nomes de Orsio'

    M/rio Mercator' uod#ultdeus e Tron 3rspero.

    O1ZS

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    Aparece um Mercator na epstola 8R de Agostinho 4dat/#el do ano

    8U: ele teria escrito um ensaio contra os pelagianos e tam"%m

    teria compilado uma s%rie de testemunhos escritursticos contra

    a$ueles hereges. 3ro#a#elmente a compilao de testemunhos

    antipelagianos pode ser identificada com o Hpomnesticon contra

    3elagianos et *aelestianos 4Memorial contra os seguidores de 3el/-

    gio e de *el%stio' $ue nos foi transmitido entre as o"ras

    agostinianas. Mercator escre#eu outros #olumes' #oltados a refutar

    a heresia de 3el/gio e de *el%stio e escritos em *onstantinopla.

    0em"remos $ue *el%stio e uliano de Eclano tinham encontrado

    refgio >ustamente na$uela cidade' onde "usca#am o apoio do

    imperador Teodsio / suficientementee!austi#a' e escre#eu o ;e haeresi"us 4cf. p. 58`. ;epois $ue a

    Qfrica foi in#adida pelos #Bndalos' uod#ultdeus refugiou-se na

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    citaes dos autores cl/ssicos pro#?m de 0actBncio e' mais uma

    #e=' de Agostinho' mas a $uarta %cloga de 2irglio e a Eneida

    rece"em um tratamento completamente no#o.

    TI1OF 31ZS3E1O

    3ro#eniente da A$uitBnia' Tron 3rspero endereou ao "ispo de

    Hipona' >unto com Hil/rio de 3oitiers' duas cartas 4as de numero

    995 e99`' referentes ao chamado &semipelagianismo&. oi assim

    definido' em tempos recentes' a atitude da$ueles $ue no

    concorda#am com a total condenao de 3el/gio por parte de

    Agostinho. Esses crticos do pensamento agostiniano sustenta#am'

    entre outras coisas' $ue a graa de ;eus % concedidaproporcionalmente aos merecimentos do homem' conceito

    inaceit/#el para Agostinho. Muitas o"ras de 3rspero foram escritas

    na inteno de defender Agostinho dos ata$ues dos semipelagianos.

    1ecordemos' por e!emplo' o 3ro Augustino responsiones ad capitula

    o"iectionum )allorum calumniantium e o 3ro Augustino

    responsiones ad capitula o"iectionum 2incentianarum 41espostas

    em fa#or de Agostinho aos captulos das o">ees dos gauleses $ue

    o critica#am e de 2icente de 0%rins. 3elo termo &gauleses&entendam-se letrados de Marselha. 3or outro lado' no 3ro Augustino

    responsiones ad e!cerpta )enuensium' 3rspero refuta dois

    pres"teros geno#eses $ue tinham e!trado trechos do ;e

    praedestinatione sanctorum e do ;e "ono perse#erantiae de

    Agostinho 4dedicados ao prprio 3rspero' mas deturpando seu

    significado. *ontra oo *assiano' normalmente considerado o

    fundador da corrente dos semipelagianos 4p. 59U' 3rspero

    escre#eu' em -' um tratado so"re A graa de ;eus e so"re o

    li#re-ar"trio contra os escritores de &collationeSY 4entenda-se por

    collationes &con#ersaes&.

    A E!egese dos Salmos 4 E!positio 3salmorum: do 58866 ao S< 85 O %

    >ustamente uma compilao das e!plicaes e!tradas das

    E!plicaes dos Salmos de Agostinho. 3or sua #e=' o 0i#ro das

    sentenas e!tradas das o"ras de Santo Agostinho 4Sententiarum e!operi"us Sancti Augustini deli"aratarum li"er' uma s%rie de R9

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    sentenas' pretende ser uma summa da teologia de Agostinho.

    3rspero tam"%m escre#eu composies po%ticas com propsito de

    ensino. Fo carme em he!Bmetros dirigido A sua mulher' ele rela-

    ciona as cat/strofes da )/lia in#adida pelos "/r"aros' para depois

    passar a e!ortar a consorte' em dsticos' a #i#er uma #ida de

    penit?ncia' dedicando-se @s coisas de ;eus. O longo carme

    intitulado Acharistoi 4Os ingratos' ou se>a' &os inimigos da graa&'

    narra condenaes infligidas aos pelagianos e sua o"stinao' al%m

    do ressurgimento dessa heresia na forma do neopelagianismo. K de

    impressionar a correo m%trica e prosdica de 3rspero em um

    momento em $ue a lngua falada desen#ol#ia-se sempre em direoaos ritmos $uantitati#os. a= refer?ncia @ o"ra homJnima de

    erJnimo' a *rJnica 4escrita em tr?s redaes e pu"licada em 55'

    mas demonstra originalidade' por%m' no cuidado com $ue trata as

    heresias e os dogmas. A principal fonte para a parte $ue se refere a

    esses temas de#e ter sido o tratado So"re as heresias' de Agostinho.

    O *HAMA;O ;E TO;AS AS )EFTES

    Fo am"iente da discusso entre agostinianos e &semipelagianos&' si-tua-se uma o"ra anJnima' dotada de "ons dotes liter/rios' $ue

    pretende e!aminar O chamado de todas asgentes 4;e #ocatione

    gentium. O autor da o"ra' $ue atualmente $uase todos concordam

    em identificar com 3rspero' o autor da *rJnica' e!aurido pelas

    discusses entre os defensores do li#re ar"trio e os paladinos da

    graa de ;eus' $uer encontrar uma soluo $ue satisfaa as duas

    partes em disputa. A o"ra' $ue #olta a percorrer as #/rias etapas da

    histria sagrada' foi escrita por #olta da metade do s%culo 2.

    H

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    Sua o"ra d/ se$]?ncia @ de erJnimo' recomeando no ano em $ue

    o Estridonense parou 4VU e chegando at% o ano de `U. Os

    acontecimentos le#ados em considerao so so"retudo os

    acontecimentos da histria da a 4as heresias: arianismo'

    priscilianismo e mani$uesmo' chegando at% os fenJmenos naturais

    4ter^ remotos' eclipses' cometas etc.. Essa o"ra % muito

    importante para a reconstruo da histria da Espanha no s%culo 2.

    ES*1unto % redu=ida'

    completamente centrada na relao entre a a e os "/r"aros'sem demonstrar interesse algum pelas relaes entre os "/r"aros e

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    o imp%rio' $ue' por seu lado' foram muitas #e=es concreti=adas em

    acordos e tratados.

    A lngua' mesmo com certas tend?ncias populari=antes do falar co-

    mum' % a das camadas cultas cartaginesas do s%culo 2. O escritor'

    mesmo repleto de pomposidade retrica e presa da proli!idade'

    consegue ser um narrador eficiente.

    2/ ha#iam o">etado aos nicenos. A o"ra

    @ $ual 2iglio de Tapso se refere % o ;i/logo contra os arianos' os

    sa"elianos e os fotinianos' no $ual discutem Atan/sio' Qrio' Sa"%lio'

    tino e 3ro"o' $ue fa= as #e=es de >ui= 4*ontra Arianos'

    Sa"ellianos et 3hotinianos dialogus' Athanasio' Ario' Sa"ellio'

    3hotino et 3ro"o iudice interlocutori"us. A o"ra re#ela um "om

    conhecimento das contro#%rsias religiosas' mesmo das contro#%rsias

    do s%culo anterior' e "oas $ualidades liter/rias.

    A fama de 2iglio de Tapso foi imensa na

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    ;1A*F

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    dedicada a cantar Os lou#ores de ;eus' em he!Bmetros. O primeiro

    li#ro' $uase integralmente ocupado pela narrao da criao do

    mundo' % uma composio de epop%ia ""lica e pertence ao g?nero

    liter/rio culti#ado na mesma %poca de ;racJncio' mesmo $ue em

    outros am"ientes' por SedClio' *l/udio M/rio 2itrio' *ipriano )alo.

    Ao lado dessa epop%ia ""lica' % percept#el uma segunda

    importante fonte de inspirao' ou se>a' o hino' considerado como

    instrumento para cantar os lou#ores de ;eus. O li#ro dos Salmos

    constitua o modelo para todos os poetas cristos $ue se dedica#am

    @ hinologia. *ontudo' ao lado da inspirao crist' ;racJncio' poeta

    e retor $ue era' tam"%m se inspirou largamente na poesia pag e'

    naturalmente' em seus principais representantes' isto %' 2irgilio'O#dio e 0ucano.

    3OETAS A1u=o do Senhor 4Ad la#ium elicem de

    resurrectione mortuorum et de iudicio ;omini em he!Bmetros. A

    origem africana do poema aparece no nome do destinat/rio' um

    poeta $ue #i#eu em *artago nos tempos do rei Trasamundo 4R`-59.

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    As in#ases "/r"aras $ue se desencadearam na )/lia na primeira

    d%cada do s%culo 2 e $ue le#aram @ constituio dos reinos

    romano-"/r"aros' dei!ando' como Cnica ilha de ci#ili=ao romana'

    a pro#ncia 4isto %' a 3ro#ena' na parte meridional da regio' no

    ti#eram no plano social cultural a mesma efic/cia desastrosa $ue

    te#e a in#aso da Qfrica. Elas pro#ocaram' % certo' de#astao e

    runa' mas esses efeitos desastrosos no foram gerais e imediatos

    em todos os $uadrantes. Os "/r"aros con$uistaram a )/lia aos

    poucos e' assim' mesmo sendo ine#it/#el o surgimento de

    contrastes entre o elemento romano-g/lico pree!istente' e isso

    entre as camadas mais ele#adas' e o elemento in#asor' de origem

    germBnica' 4a tanto pag como crist continuou a so"re#i#er e seconser#ou um "om n#el artstico' graas tam"%m @ presena de

    numerosas escolas de retrica. A situao' contudo' parece mais

    fa#or/#el na primeira metade do s%culo 2. Mais tarde' at% mesmo a

    )/lia entra em um perodo de decad?ncia econJmica e cultural. oi

    fundamental o florescimento do mona$uismo. Os con#entos 4por

    e!emplo' os de Marselha' 0%rins' e Saint-Honor% foram centros

    culturais de importBncia capital.

    OPO *ASS

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    oo *assiano tam"%m conhecia perfeitamente o latim e o grego

    4coisa muito mito rara em seu tempo. Escre#eu o ;e institutis

    coeno"iorum ET octo principalium #itiorum capitalium remediis 4As

    instituies dos cen"ios e os rem%dios para os oito #cios capitais'

    em 89 li#ros. Os primeiros $uatro li#ros nos do importantes

    notcias so"re a #ida mon/stica 3alestina e no Egito' da $ual oo

    *assiano fora testemunha.

    As collationes 4con#ersaes' por sua #e=' recolhem as

    con#ersaes de *assiano e do amigo germano com famosos

    fundadores de cen"ios. ... oo cassiano % um escritorsofisticado e' em seu estilo' emprega' com muita moderao' os

    meios da retrica $ue aprendeu >/ na idade adulta. Mas no se tem

    nele um latim artificial' no natural. O narrar' simples e agrad/#el'

    e a instantaneidade da e!presso fa=em de oo *assiano um dos

    maiores escritores latinos do s%culo 2.

    3or MO1ES*H

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    relaes recprocas e de relaes com o Oriente' torna-se

    &nacional&. Fo por$ue e!prima conscientemente a pertin?ncia a

    determinado lugar' mas por$ue peculiar @$uele reino e

    intimamente ligada a suas circunstBncias. Al%m disso' figuras como

    a de )regrio Magno pertencem dora#ante @

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    o"rigou ulg?ncio e outros `6 "ispos catlicos a irem para o e!lio

    na Sardenha. Em *agliari' por fim' ulg?ncio de 1uspe pJde fundar

    um mosteiro' >unto com alguns amigos seus' e e#angeli=ou a regio.

    3or outro lado' ele permanecia como ponto de refer?ncia para os

    "ispos da Qfrica' $ue o solicita#am como /r"itro de contro#%rsias

    dogm/ticas. Fo ano de 585' Trasamundo o chamou a *artago para

    $ue ele discutisse pu"licamente com os telogos do lado ariano. A

    #itria lhe #aleu um no#o e!lio na Sardenha' em 58V. A morte de

    Trasamundo e a sucesso ao trono do tolerante

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    2andalos Arrianos 4Salmo contra os #Bndalos arianos' $ue parece

    "em colado ao 3salmus contra paLtem ;onati' de Sto. Agostinho.

    *om efeito' o "ispo de Hipona % o mestre indiscutido de ulg?ncio

    de 1uspe' o modelo $ue ele $uer seguir.

    3or seus escritos antipelagianos' ulg?ncio de 1uspe passou a ser

    conhecido na

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    rac =o pela $ual essa atri"uio foi posta recentemente em

    dC#ida. *ontudo' mesmo $ue essa #ida no se>a aut?ntica'

    realmente e!istiu um errando' di/cono de *artago' $ue mante#e

    contatos com ulg?ncio de 1uspe. 3or #olta do ano 55' errando

    de *artago teria sido en#ol#ido na contro#%rsia dos Tr?s *aptulos'

    $ue a"ordaremos ao falar de acundo de Ermiana.

    errando de *artago escre#eu uma ,re#e coletBnea de cBnones

    4,re#iatio canonum' ou se>a' uma e!posio sistem/tica de direito

    eclesi/stico com "ase em numerosos conclios gregos e africanos'

    dos $uais reuniu uma s%rie de e!tratos e resumos.

    Tam"%m chegaram at% ns sete cartas' $ue so claramente "re#es

    tratados em forma de carta. As duas primeiras t?m ulg?ncio de

    1uspe como destinat/rio e lhe apresentam algumas perguntas e

    dificuldades de car/ter dogm/tico. Fas tr?s cartas posteriores'

    errando de *artago trata pessoalmente de alguns pro"lemas de

    conteCdo an/logo ao dos escritos de ulg?ncio de 1uspe 4so"re as

    duas nature=as de *risto' contra as posies dos arianos' so"re o

    fato de $ue *risto pertence @ santa e indi#is#el Trindade. Maissignificati#as so as duas Cltimas. A se!ta carta e!pe o parecer de

    errando de *artago' $ue lhe fora solicitado pelos di/conos

    romanos 3el/gio e Anatlio' $ue #em em defesa da doutrina dos

    Tr?s *aptulosL mas ele refuta o monofisismo. A s%tima carta %

    continuao de uma carta anterior' en#iada por ulg?ncio de 1uspe

    a um pouco conhecido conde 1egino' e e!pe como se de#e

    comportar em guerra o comandante respeitoso da f% crist.

    A*F;O ;E E1M

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    *onstantinopla para maiores informaes.

    Fo fim do ano 55' ou em princpios do ano 55' o imperador

    ustiniano' para acalmar a posio dos monofisitas' apresentara

    uma e!posio da reta f%' ao termo da $ual se impunha o an/tema

    @ pessoa e aos escritos de Teodoro de Mopsu%stia' de Teodoreto de

    *ira e a seus escritos contra *irlo de Ale!andria e o sm"olo de

    Kfeso' e @ carta' igualmente #oltada contra *irlo e o sm"olo

    ef%sio' en#iada pelo "ispo Hi"a de Edessa ao persa Mari. ;ado $ue

    comumente os an/temas de um edito eram chamados &captulos&'

    so indicados' nesse caso' com o termo &Tr?s *aptulos& as pessoas

    e os escritos punidos com o an/tema. Ainda uma carta imperial'datada do dia 5 de maio de 55' en#iada ao $uinto conclio

    ecum?nico de *onstantinopla' $ue foi inaugurado >ustamente

    na$ueles dias' pedia a ateno dos 3adres para as figuras de

    Teodora de Mopsu%stia' Teodoreto de *iro e Hi"a de Edessa.

    3ois "emD *hegado a *onstantinopla' acundo de Ermiana aplica-se

    a escre#er um li#ro Em defesa dos Tr?s *aptulos' $ue ainda no

    esta#a concludo $uando chegou @ capital do

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    mostra $ue' a#aliado pela perspecti#a da m%trica cl/ssica' como

    ainda se podia fa=er em certa medida `6 anos antes para ;racJn-

    cio' ele % muito defeituoso.

    Mencionemos apenas outros tr?s personagens ligados aos

    acontecimentos dos Tr?s *aptulos. Trata-se de 0i"erato de

    *artago' 2itor de Tunnuna e 3rim/sio de Hadrumeto. 0i"erato de

    *artago tentou enfrentar o pro"lema "uscando suas origens nos

    conflitos $ue' 866 anos antes' ha#iam oposto nestorianos e

    euti$uianos. Escre#eu' portanto' entre os anos 555 4ano em $ue

    morreu o papa 2iglio e 55` 4ano em $ue morreu Teodsio' o

    patriarca de Ale!andria' um *omp?ndio da causa dos nestorianos e

    da causa dos euti$uianos. 2tor de Tunnuna foi um dos $ue seopuseram @ condenao dos Tr?s *aptulos e por essa ra=o foi

    e!ilado pela autoridade imperial ali pelo ano 555. Escre#eu uma

    *rJnica uni#ersal' apesar de se tratar de um te!to dedicado

    so"retudo @ histria da a. 3rim/sio de Hadtumeto'

    diferentemente de 2tor de Tunnuna' cedeu @s presses da

    autoridade imperial e renunciou @ oposio $ue fi=era ao decreto

    imperial so"re os Tr?s *aptulos. ;e#emos a ele um *oment/rio ao

    Apocalipse' no $ual se #?em muitas citaes do coment/rio an/logodo donatista TicJnio' $ue se perdeu. 3rim/sio seleciona

    atentamente na o"ra de TicJnio a$uilo $ue lhe parece imune @

    heresia donatista.

    FI0

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    Fascido em 1oma' por #olta do ano V5' de famlia muito no"re'

    ,o%cio te#e' graas aos des#elos do senador uinto Aur%lio M?mio

    Smaco' uma acurada educao' $ue ele tal#e= tenha aperfeioado

    ainda mais indo para Ale!andria do Egito' para a escola do

    neoplatJnico AmJnio.

    Eram os anos nos $uais a

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    godos' e o elemento romano' entre os it/licos ortodo!os e os godos

    arianos' o e$uil"rio se rompeu. Teodorico passou a temer uma

    aliana entre o elemento latino da

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    e!plicitamente crists fossem espCrias.

    Esse m%todo de pes$uisa foi a"andonado' h/ no muito tempo. ,o-

    %cio % um leigo perfeitamente cristo' profundamente con#icto de

    sua f%. O neoplatonismo fornecia' no s%culo 2

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    $uadr#io.

    Fesse n#el de pes$uisa est/ includa a o"ra so"re Os fundamentos

    da aritm%tica' "aseada em um tratado do pago FicJmaco de

    )erasa 4s%culos

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    programa gigantesco' $ue teria desestimulado $ual$uer pessoa e

    $ue nem ele prprio conseguir/ completar: tradu=ir para o latim e

    comentar as o"ras de Aristteles e as de 3lato.

    Mencionemos apenas a traduo e o coment/rio das *ategorias de

    Aristteles 4o coment/rio tem duas redaes: a primeira' mais

    sucinta' do ano 586-588 e a segunda' mais ampla' do ano 585-58`L

    a traduo e o coment/rio dos AnalticosL a composio de um

    tratado So"re os silogismos categricos e de um So"re os silogismos

    hipot%ticosL a traduo dos Tpicos de Aristteles' um coment/rio a

    eles e um coment/rio aos Tpicos de *ceroL a traduo dos Elencos

    sofsticos e a composio de um tratado So"re diferenas tpicas.K' como se #?' um con>unto impressionante de tratados lgicos.

    AS O,1AS TEO0Z)

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    se>am "oas pelo simples fato de e!istirem' mesmo $ue no se>am

    "oas segundo a su"stBncia7 4uomodo su"stantiae in eo $uod sint

    "onae sint cum non sint su"stantialia "ona.

    Ainda de#emos recordar com grande considerao o tratado *ontra

    Wuti$ues e Festrio 4*ontra Eutchen et Festorium' $ue constitui

    uma das mais significati#as 4e seguramente uma dos mais originais

    contri"uies ocidentais @ definio da cristologia. Mas nem mesmo

    a$ui ,o%cio se #incula @ tradio eclesi/stica em sentido estrito:

    ele pressupe como ratificadas as decises dos conclios do s%culo

    2' $ue deli"eraram so"re o pro"lema' e no retoma as discusses

    da$uelas assem"l%ias. O $ue ele pretende % discutir a #alidade dasoluo da a para a $uesto das duas nature=as e de uma s

    pessoa em *risto do ponto de #ista filosfico. 3ortanto' ele

    e!amina os conceitos de &nature=a& e de &pessoa&' apresentando'

    portanto' as heresias de Festrio e de Wuti$ues' e por fim situa

    entre os dois erros' um contr/rio ao outro' as #erdades da f% crist.

    ma Cltima o"ra' dedicada @ e!posio de Af% catlica 4;e fide

    catholica' % mais simples e intelig#el' de car/ter e!positi#o' e poresse moti#o foi durante muito tempo considerada como no sendo

    da la#ra de ,o%cio' mas a dC#ida no % "em fundamentada. A

    simplicidade de a"ordagem deri#a do fato de $ue a pe$uena o"ra

    pretende ser uma esp%cie de e!posio do sm"olo da f%.

    *om essas o"ras ,o%cio re#elou ser um cristo informado e atento.

    2aleu-se da ci?ncia filosfica em funo da f%' e isso fe= com $ue

    suas o"ras fossem lidas com muita ateno na

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    a"sol#io. Essa moti#ao confere @ o"ra uma atmosfera

    particular: o leitor se d/ conta de $ue a$ui ,o%cio &no fa=

    literatura& no pior sentido do termo' mas fala pelos outros e por si

    mesmo. Ele $uer encontrar a consolao $ue a filosofia % capa= de

    pro#er' por$ue so"re ele pesa uma condenao @ morte $ue est/

    para ser ratificada. A pergunta $ue algu%m se fa= imediatamente %

    naturalmente esta: por $ue a consolao da filosofia e no a

    consolao da religio ou da f%7

    Esse % o pro"lema $ue se nos apresenta. Se ele no se apresentou a

    ,o%cio' de#emos e#identemente seguir sua atitude fundamental e

    aceitar o fato de $ue tam"%m a filosofia' e no e!clusi#amente af%' parecia a um cristo ser capa= de &consol/-lo&' ou se>a' de dar

    resposta a suas $uestes fundamentais: o por$u? do mal no mundo'

    por $ue ;eus permite $ue um inocente se>a perseguido' $ual seria a

    funo ou at% mesmo se e!iste o li#re-ar"trio humano' se ;eus

    inter#inha 4como depois #eremos $ue realmente o fa= em defesa

    do "em a$ui na terra. E#identemente ,o%cio acredita#a $ue a

    filosofia fosse capa= de dar uma resposta a todos esses pro"lemas'

    e para ela se #olta e dela a o"t%m. A pergunta de por $ue afilosofia e no a religio' podemos responder o"ser#ando $ue a

    filosofia em $ue ,o%cio se inspira no decorrer da *onsolatio %'

    su"stancialmente' a filosofia religiosa' sntese de neoplatonismo e

    de f% crist' $ue desde alguns s%culos fora aceita pelos intelectuais

    cristos. oi dessa filosofia $ue ,o%cio se apro!imou' tra=endo sua

    contri"uio pessoal. Em segundo lugar' ele se apro!imou dela em

    sua posio de leigo' com a forma mentis do leigo e no do homem

    da a. 3or fim 4e tal#e= se>a este o ponto mais importante' os

    pro"lemas $ue ,o%cio te#e de enfrentar eram pro"lemas

    essencialmente filosficos' para os $uais no e!istiam o"ras de

    escritores cristos' mas uma #asta literatura especfica' cu>os

    componentes remonta#am ao helenismo' melhor ainda' a 3lato e a

    Aristteles. 3ortanto' era lgico $ue ,o%cio e!aminasse todos esses

    pro"lemas en$uanto filsofo' tanto mais $ue em suas o"ras

    anteriores' nos Opuscula Theologica' o escritor enfrentaraen$uanto filsofo' isto %' de um ponto de #ista leigo e com

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    grandes satisfaes' para depois passar a uma considerao da

    insta"ilidade e da #olu"ilidade da fortuna' $ue reina no mundo: o

    s/"io no de#e admirar-se com as repentinas #ira#oltas da sorte'

    nem de#e confiar aos "ens e!ternos' nem mesmo aos mais no"res

    deles' como o dese>o de glria' a prpria felicidade' #isto $ue

    e!atamente a glria % a coisa mais caduca e a mais ilusria.

    ;epois $ue esses dois primeiros li#ros apresentaram esses argu-

    mentos consolatrios de tipo tradicional' deri#ados da filosofia

    estica e da filosofia cnica' no terceiro li#ro' a ilosofia comea a

    e!plicar a ,o%cio $ue ele no tem moti#os para lamentar a prpria

    des#entura' agora' por%m' partindo de urna considerao glo"al douni#erso. Trata-se de distinguir o #erdadeiro "em' $ue no coincide

    com os "ens materiais' limitados e insuficientes' mas com ;eus.

    ma #e= esta"elecido $ue ;eus % o sumo "em' de#e-se a#aliar a

    #erdadeira nature=a da$uilo $ue os homens chamam "em e mal'

    para concluir $ue os maus $ue alcanam sucesso na #ida' na

    realidade' no passam de infeli=es' por$ue' mesmo $uerendo-o'

    no podem reali=ar o "em' dado $ue no o conhecem 4li#ro

    $uarto. E $ue