antiguidade clássica

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A julgar pelas aparências, pelo seu progresso material visível a olho nu – novas indústrias e casas de comércio, mais ruas asfaltadas, serviços públicos melhores – Antares é hoje em dia uma comunidade próspera e feliz. Como, porém, nada é perfeito neste mundo, às vezes na calada da noite vultos furtivos andam escrevendo nos seus muros e paredes palavras e frases politicamente subversivas, quando não apenas pornográficas. Os dedicados guardas municipais, sempre alerta, dão-lhes caça dia e noite. Numa destas últimas madrugadas abriram fogo contra um estudante que, com broxa e piche, tinha começado a pintar um palavrão num muro da Rua Voluntários da Pátria. Na calçada, no lugar em que o rapaz caiu, ficou uma larga mancha de sangue enegrecido, na qual a imaginação popular – talvez sugestionada por elementos da esquerda – julgou ver a configuração do Brasil. (É assim que nascem os mitos.) Cedo, na manhã seguinte, empregados da prefeitura vieram limpar a calçada dessa feia mácula, e quando começaram a raspar do muro o palavrão, aos poucos se foi formando diante deles um grupo de curiosos. Aconteceu passar por ali nessa hora um modesto funcionário público que levava para a escola, pela mão, o seu filho de sete anos. O menino parou, olhou para o muro e perguntou : – Que é que está escrito ali, pai? – Nada. Vamos andando, que já estamos atrasados... O pequeno, entretanto, para mostrar aos circunstantes que já sabia ler, olhou

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Page 1: Antiguidade Clássica

A julgar pelas aparências, pelo seu progresso material visível a olho nu – novas indústrias e casas de comércio, mais ruas asfaltadas, serviços públicos melhores – Antares é hoje em dia uma comunidade próspera e feliz. Como, porém, nada é perfeito neste mundo, às vezes na calada da noite vultos furtivos andam escrevendo nos seus muros e paredes palavras e frases politicamente subversivas, quando não apenas pornográficas. Os dedicados guardas municipais, sempre alerta, dão-lhes caça dia e noite.

Numa destas últimas madrugadas abriram fogo contra um estudante que, com broxa e piche, tinha começado a pintar um palavrão num muro da Rua Voluntários da Pátria. Na calçada, no lugar em que o rapaz caiu, ficou uma larga mancha de sangue enegrecido, na qual a imaginação popular – talvez sugestionada por elementos da esquerda – julgou ver a configuração do Brasil. (É assim que nascem os mitos.) Cedo, na manhã seguinte, empregados da prefeitura vieram limpar a calçada dessa feia mácula, e quando começaram a raspar do muro o palavrão, aos poucos se foi formando diante deles um grupo de curiosos. Aconteceu passar por ali nessa hora um modesto funcionário público que levava para a escola, pela mão, o seu filho de sete anos. O menino parou, olhou para o muro e perguntou :

– Que é que está escrito ali, pai?– Nada. Vamos andando, que já estamos atrasados...O pequeno, entretanto, para mostrar aos circunstantes que já sabia ler, olhou para a palavra de piche e começou a soletrá-la em voz muito alta: “Li-ber. ..”.– Cala a boca, bobalhão! – exclamou o pai, quase em pânico. E, puxando com força a mão do filho, levou-o, quase de arrasto, rua abaixo.

Page 2: Antiguidade Clássica

Antiguidade Clássica Cultura greco-romana; Aristóteles e os gêneros literários; Épico, Lírico e Dramático; Narrativo.

Page 3: Antiguidade Clássica

Era Medieval

Trovadorismo e

Humanismo

Page 4: Antiguidade Clássica

Trovadorismo x Humanismo Teocentrismo Feudo Vertical Fechado Cantigas Lírico e Satírico

Antropocentrismo Burgo Horizontal Em abertura Autos Dramático

Page 5: Antiguidade Clássica

Linguagem nas cantigas trovadorescas

Page 6: Antiguidade Clássica

Quer’eu em maneira de proença! fazer agora um cantar d’amor e querrei muit’i loar lmia senhor

a que prez nem fremosura nom fal, nem bondade; e mais vos direi ém: tanto a fez Deus comprida de bem que mais que todas las do mundo val. Ca mia senhor quizo Deus fazer tal, quando a faz, que a fez sabedord e todo bem e de mui gram valor, e com tod’est[o] é mui comunal

ali u deve; er deu-lhi bom sém, e desi nom lhi fez pouco de bem quando nom quis lh’outra foss’igual Ca mia senhor nunca Deus pôs mal, mais pôs i prez e beldad’e loor e falar mui bem, e riir melhor que outra molher; desi é leal muit’, e por esto nom sei oj’eu quem possa compridamente no seu bem falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al.

(D. Dinis )

Quero à moda provençal fazer agora um cantar de amor, e quererei muito aí louvar minha senhora a quem honra nem formosura não faltam nem bondade; e mais vos direi sobre ela: Deus a fez tão cheia de qualidades que ela mais que todas do mundo. Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo quando a fez, que a fez conhecedora de todo bem e de muito grande valor, e além de tudo isto é muito sociável quando deve; também deu-lhe bom senso, e desde então lhe fez pouco bem impedindo que nenhuma outra fosse igual a ela Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal, mas pôs nela honra e beleza e mérito e capacidade de falar bem, e de rir melhor que outra mulher também é muito leal e por isto não sei hoje quem possa cabalmente falar no seu próprio bem pois não há outro bem, para além do seu.

Page 7: Antiguidade Clássica

"Ai flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo! ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado! ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pôs comigo! ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado, aquel que mentiu do que mi há jurado! ai Deus, e u é?"

Page 8: Antiguidade Clássica

Ai, dona fea, fostes-vos queixar que vos nunca louv[o] em meu cantar; mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia! Dona fea, se Deus mi pardom, pois avedes [a]tam gram coraçom que vos eu loe, em esta razom

vos quero ja loar toda via; e vedes qual sera a loaçom: dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei em meu trobar, pero muito trobei; mais ora ja um bom cantrar farei, em que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia! (Joan Garcia de Guilhade )

TraduçãoAi, dona feia, foste-vos queixar que nunca vos louvo em meu cantar; mas agora quero fazer um cantar em que vos louvares de qualquer modo; e vede como quero vos louvar dona feia, velha e maluca! Dona feia, que Deus me perdoe, pois tendes tão grande desejo de que eu vos louve, por este motivo quero vos louvar já de qualquer modo; e vede qual será a louvação: dona feia, velha e maluca! Dona feia, eu nunca vos louvei em meu trovar, embora tenha trovado muito; mas agora já farei um bom cantar; em que vos louvarei de qualquer modo; e vos direi como vos louvarei: dona feia, velha e maluca!

Page 9: Antiguidade Clássica

Marinha, o teu folgar tenho eu por desacertado,e ando maravilhado de te não ver rebentar; pois tapo com esta minhaboca, a tua boca, Marinha; e com este nariz meu, tapo eu, Marinha, o teu;com as mãos tapo as orelhas, os olhos e as sobrancelhas, tapo-te ao primeiro sono; com a minha piça o teu cono;e como o não faz nenhum, com os colhões te tapo o cu. E não rebentas, Marinha? (Afonso Eanes de Coton)

Page 10: Antiguidade Clássica

Entra Todo o Mundo, rico mercador, e faz que anda buscando alguma cousa que perdeu; e logo após, um homem, vestido como pobre. Este se chama Ninguém e diz:Ninguém: Que andas tu aí buscando?

Todo o Mundo: Mil cousas ando a buscar:                         delas não posso achar,                          porém ando porfiando                         por quão bom é porfiar. Ninguém: Como hás nome, cavaleiro?

Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo                         e meu tempo todo inteiro                         sempre é buscar dinheiro                         e sempre nisto me fundo.

Ninguém: Eu hei nome Ninguém,               e busco a consciência.

Belzebu: Esta é boa experiência:             Dinato, escreve isto bem.

Dinato: Que escreverei, companheiro? Belzebu: Que Ninguém busca consciência.              e Todo o Mundo dinheiro.

Page 11: Antiguidade Clássica

Era Clássica

Classicismo

Page 12: Antiguidade Clássica

Amor é fogo que arde sem se ver,é ferida que dói, e não se sente;é um contentamento descontente,é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;é um andar solitário entre a gente;é nunca contentar-se de contente;é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;é servir a quem vence, o vencedor;é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favornos corações humanos amizade,se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Page 13: Antiguidade Clássica

Barroco Características• Pessimismo (dúvida

ou incerteza): “Tu és pó, e ao pó voltarás.” (Gênesis 3,19)

• A morte é preocupação constante (idem Idade Média e Romantismo),incerteza da vida, medo e com dúvidas.

• Religiosidade: conflitos espirituais, conflituosa e tensa.

• A crença no papel vigoroso da Igreja Católica Contra-Reformista.

• Visão do homem, como grande pecador.

• O homem barroco racionalizou a fé, fazendo valer alguns argumentos em busca da salvação.

• Uso de metáforas bíblicas em busca do perdão divino os dogmas religiosos, através da lógica.

Page 14: Antiguidade Clássica

Particularismo: é diferente da Arte Clássica (que é universal em suas projeções e uniforme em seus traços).Ele somente valoriza o que é nacional.Por isso no Barroco existem duas linhas:

A) catolicismo contra-reformista reflete na Inquisição terror religioso e Político.

B) triunfo do protestantismo reformista. Emergência da burguesia capitalista articulada e forte, como aconteceu na Inglaterra e na Holanda.

Feísmo: O equilíbrio clássico foi rompido, ao mesmo tempo se opondo à simetria, harmonia, elegância dos clássicos.

O barroco tem preferência pelos aspectos sangrentos, dolorosos e cruéis, uma atração pelo belo horrendo, pelo espetáculo clássico, acabando com as imagens por causa do exagero.

Page 15: Antiguidade Clássica

Fusionismo: expõe os contrários, querendo incluí-los em analogias sensoriais, de imagens, de metáforas, que mostram a unidade, a identidade, se valendo do jogo do jogo de oposições e contrastes.

Atitude Lúdica: Muitos textos parecem pobres, sem conteúdo ou mensagem.

Mais preocupado em exibir o que sabia, com uma linguagem sobrecarregada de trocadilhos e sutilezas e imagens insólitas.

Não diz o que deve ser dito, somente sugere, através de imagens.

Ex: Sangue é o “rubi do corpo”; Lágrima é o “cristal dos olhos”.

Page 16: Antiguidade Clássica

Cultismo ou Gongorismo: caracterizado pelo jogo de ideias e imagens, de maneira exagerada.

Apoiado em metáforas, pronomes, trocadilhos, palavras, sinestesias, prosopopeia entre outros como omissões, repetições, sonoridade.

Conceptismo ou Quevedismo: Mais voltado para o jogo de ideias e argumentação.

Convence pelo pensamento. Pesquisa sobre a origem dos objetos, busca entender a fase oculta de todas as coisas que só podem ser visíveis pelo pensamento. Opera os mecanismos da lógica.

Atenção: Em um texto Barroco podem-se encontrar elementos Cultistas e Conceptistas.

Page 17: Antiguidade Clássica

PEQUEI, SENHOR...

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, de vossa alta clemência me despido; porque quanto mais tenho delinqüido, vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto um pecado, a abrandar-vos sobeja um só gemido: que a mesma culpa, que vos há ofendido, vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada, glória tal e prazer tão repentino vos deu, como afirmais na sacra história,

eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, cobrai-a; e não queirais, pastor divino, perder na vossa ovelha a vossa glória.

Page 18: Antiguidade Clássica

Define a Sua CidadeDe dois ff se compõeesta cidade a meu ver:um furtar, outro foder.

Recopilou-se o direito,e quem o recopiloucom dous ff o explicoupor estar feito, e bem feito: por bem digesto, e colheito só com dous ff o expõe, e assim quem os olhos põe no trato, que aqui se encerra, há de dizer que esta terra de dous ff se compõe.

Se de dous ff composta está a nossa Bahia, errada a ortografia, a grande dano está posta: eu quero fazer aposta e quero um tostão perder, que isso a há de perverter, se o furtar e o foder bem não são os ff que tem esta cidade ao meu ver.

Page 19: Antiguidade Clássica

O amor é finalmente

O amor é finalmenteum embaraço de pernas,uma união de barrigas,

um breve tremor de artériasUma confusão de bocas,

uma batalha de veias,um reboliço de ancas,

quem diz outra coisa é besta.

Page 20: Antiguidade Clássica

A outra freira, que,satirizando a delgada fisionomia do poeta,

lhe chamou picaflor. 

 Se Pica-flor me chamais, Pica-flor aceito ser,

mas resta agora saber, se no nome, que me dais, meteis a flor, que guardais

no passarinho melhor! se me dais este favor,

sendo só de mim o Pica, e o mais vosso, claro fica,

que fico então Pica-flor.

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ARCADISMO

-Neoclassicismo-

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1) Arcadismo Deriva de Arcádia, região da Grécia onde pastores e poetas, chefiados pelo deus Pã, dedicavam-se à poesia e ao pastoreiro, vivendo em harmonia perfeita com a natureza. No século XVIII o termo Arcádia passou a designar também as academias literárias que foram criadas na Europa.

2) Neoclassicismo Nome que deriva do fato de os escritores da época imitarem os clássicos, quer voltando-se para a Antiguidade greco-romana, quer imitando os escritores do Renascimento.

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Europa, século XVIII – Mudanças

Intenso progresso científico Isaac Newton: Formulação da lei da gravidade Filosofia: empirismo como método de aquisição

do conhecimento Biologia: classificação dos seres vivos Tecnologia: conduz ao aumento da produção Negócios e ciência são campos separados da

religião Enciclopédia: publicada na França, a partir de

1751, coordenada pelos filósofos D'Alembert, Diderot e Voltaire

Page 24: Antiguidade Clássica

Simplicidade e equilíbrio da poesia clássica Pastoralismo: o homem é puro e feliz quando

integrado na natureza. Bucolismo: gosto pela vida dos pastores,

campos e atividades pastoris Poesia verdadeira: se referencia à natureza.

Aparece com frequência idealizada e deslocada. Nativismo: exploração de paisagens e

atividades brasileiras. Ex: Gonzaga, Basílio e Durão.

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Uso de lemas latinos

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Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,E rompe em profundíssimos suspiros,Lendo na testa da fronteira grutaDe sua mão já trêmula gravadoO alheio crime e a voluntária morte,E por todas as partes repetidoO suspirado nome de Cacambo.Inda conserva o pálido semblanteUm não sei quê de magoado, e triste,Que os corações mais furos enternece.Tanto era bela no seu rosto a morte !”

Basílio da Gama – O Uraguai (trecho: A morte de Lindóia)

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Frei José de Santa Rita Durão

Fragmentos de “Caramuru” - Canto VI

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XL

Tão dura ingratidão menos sentira, E esse fado cruel doce me fora, Se a meu despeito triunfar não vira Essa indigna, essa infame, essa traidora!Por serva, por escrava, te seguira, Se não temera de chamar senhora A vil Paraguassu, que, sem que o creia, Sobre ser-me inferior é néscia e feia.

Page 34: Antiguidade Clássica

XLI

Enfim, tens coração de ver-me aflita,Flutuar moribunda entre estas ondas;Nem o passado amor teu peito incitaA um ai somente com que aos meus respondas! Bárbaro, se esta fé teu peito irrita, (Disse, vendo-o fugir), ah! não te escondas Dispara sobre mim teu cruel raio... E indo a dizer o mais, cai num desmaio.

Page 35: Antiguidade Clássica

XLIII

Perde o lume dos olhos, pasma e trema,Pálida a cor, o aspecto moribundo, Com mão já sem vigor, soltando o leme,Entre as salsas escumas desce ao fundo.Mas na onda do mar, que irado freme,Tornando a aparecer desde o profundo:'Ah! Diogo cruel!' disse com mágoa,E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.

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Romantismo

Era Romântica ou Moderna

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Características do Romantismo:1) Individualismo e o subjetivismo: em

oposição ao objetivismo dos clássicos, o que faz com que os românticos vejam o mundo unicamente por meio de seu mundo interior. A 1ª pessoa (eu) é constante na poesia romântica.

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2) O nacionalismo: ao qual se relacionam:a) o culto a da idade média pelos europeus, na qual se

encontravam elementos formadores da nacionalidade de cada povo: os heróis das cruzadas, as damas, os monges, as lendas, as crenças e tradições.

b) O indianismo: que no Brasil, devido à ausência de um passado medieval, foi um dos elementos da sustentação do sentimento nacionalista, acentuado com a proximidade com a Independência.

Page 39: Antiguidade Clássica

3) O culto da natureza: que se supervalorizava, não só constitui um refúgio não contaminado pela sociedade, como também é uma forma de exaltação da terra brasileira. Ao contrário do Arcadismo, em que a natureza é apenas decorativa, para os românticos ela é fonte de inspiração e está intimamente vinculada aos sentimentos do poeta.

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4) Evasão ou escapismo: resultante do conflito do eu com a realidade, o que leva o romântico a evadir-se na aspiração de um outro mundo- situado no tempo e no espaço ( paisagens novas, primitivas ou exóticas) -, onde ele não encontre as dificuldades da realidade a que está vinculado. Resultam daí:

o saudosismo(da infância, do passado, da pátria, dos entes queridos);o sonho (que permite a criação de um mundo pessoal e idealizado);a consciência da solidão (resultante de uma inadaptação ao mundo e da

crença de que é um incompreendido);o exagero, isto é, apelo aos extremos e excesso de figuras de linguagem.O exagero, somado à instabilidade e à ânsia de evasão, provocou o chamado

mal-do-século, expressão que caracterizava o estado de espírito de vários românticos que se entregavam a uma excessiva melancolia e solidão e a um grande pessimismo que conduziu à exaltação da morte. O sobrenatural, o mórbido, a noite e o mistério da existência estão presentes nos textos dos poetas da geração do mal-do-século.

Page 41: Antiguidade Clássica

5) A idealização da mulher e do amor: somando espiritualismo e temperamento sonhador, o poeta romântico reveste a mulher de uma aura angelical, retratando-a como figura poderosa e inacessível. Porém, apesar do espiritualismo, a poesia romântica reflete muitas vezes o sensualismo bem material na descrição feminina.

Page 42: Antiguidade Clássica

Gonçalves Dias - Canção do ExílioMinha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá;As aves, que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,Nossas várzeas têm mais flores,Nossos bosques têm mais vida,Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,Que tais não encontro eu cá;Em cismar - sozinho, à noite -Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para lá;Sem que desfrute os primoresQue não encontro por cá;Sem qu'inda aviste as palmeiras,Onde canta o Sabiá.

Page 43: Antiguidade Clássica

Álvares de Azevedo - Namoro a Cavalo Eu moro em Catumbi. Mas a desgraçaQue rege minha vida malfadada,Pôs lá no fim da rua do CateteA minha Dulcinéia namorada.

Alugo (três mil-réis) por uma tardeUm cavalo de trote (que esparrela!)Só para erguer meus olhos suspirandoÀ minha namorada na janela...

Todo o meu ordenado vai-se em floresE em lindas folhas de papel bordado,Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,Algum verso bonito... mas furtado...

Morro pela menina, junto delaNem ouso suspirar de acanhamento...Se ela quisesse eu acabava a históriaComo toda a Comédia - em casamento...

Ontem tinha chovido... Que desgraça!Eu ia a trote inglês ardendo em chama,Mas lá vai senão quando uma carroçaMinhas roupas tafues encheu de lama...

Eu não desanimei! Se Dom QuixoteNo Rossinante erguendo a larga espadaNunca voltou de medo, eu, mais valente,Fui mesmo sujo ver a namorada...

Mas eis que no passar pelo sobrado,Onde habita nas lojas minha bela,Por ver-me tão lodoso ela irritadaBateu-me sobre as ventas a janela...

O cavalo ignorante de namorosEntre dentes, tomou a bofetada,Arrepia-se, pula, e dá-me um tomboCom pernas para o ar, sobre a calçada...

Dei ao diabo os namoros. EscovadoMeu chapéu que sofrera no pagode,Dei de pernas corrido e cabisbaixoE berrando de raiva como um bode.

Circunstância agravante. A calça inglesaRasgou-se no cair, de meio a meio,O sangue pelas ventas me corriaEm paga do amoroso devaneio!...

Page 44: Antiguidade Clássica

Adeus, meus sonhos! Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! Não levo da existência uma saudade! E tanta vida que meu peito enchia Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! Votei meus pobres dias À sina doida de um amor sem fruto, E minh'alma na treva agora dorme Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus? Morra comigo A estrela de meus cândidos amores, Já que não vejo no meu peito morto Um punhado sequer de murchas flores!

Page 45: Antiguidade Clássica

Casimiro de Abreu - Meus oito anos

Oh ! Que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueiras,À sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais!

Como são belos os diasDo despontar da existência!- Respira a alma inocênciaComo perfumes a flor;

O mar é - lago sereno,O céu - um manto azulado,O mundo - um sonho dourado,A vida - um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,Que noites de melodiaNaquela doce alegria,Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d'estrelas,A terra de aromas cheia,As ondas beijando a areiaE a lua beijando o mar!

Oh ! dias da minha infância!Oh ! meu céu de primavera!Que doce a vida não eraNessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,Eu tinha nessas delíciasDe minha mãe as caríciasE beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,Eu ia bem satisfeito,Da camisa aberta o peito,- Pés descalços, braços nus -

Correndo pelas campinasÀ roda das cachoeiras,Atrás das asas ligeirasDas borboletas azuis!

Naqueles tempos ditososIa colher as pitangas,Trepava a tirar as mangas,Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,Achava o céu sempre lindo,Adormecia sorrindoE despertava a cantar!

Oh ! Que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueiras,À sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais!

Page 46: Antiguidade Clássica

Fagundes VarelaCântico do Calvário

Eras na vida a pomba predileta Que sobre um mar de angústias conduzia O ramo da esperança. — Eras a estrela Que entre as névoas do inverno cintilava Apontando o caminho ao pegureiro. Eras a messe de um dourado estio. Eras o idílio de um amor sublime. Eras a glória, — a inspiração, — a pátria, O porvir de teu pai! — Ah! no entanto, Pomba, — varou-te a flecha do destino! Astro, — engoliu-te o temporal do norte! Teto, caíste! — Crença, já não vives!

Correi, correi, oh! lágrimas saudosas, Legado acerbo da ventura extinta, Dúbios archotes que a tremer clareiam A lousa fria de um sonhar que é morto! Correi! Um dia vos verei mais belas Que os diamantes de Ofir e de Golgonda Fulgurar na coroa de martírios Que me circunda a fronte cismadora! São mortos para mim da noite os fachos, Mas Deus vos faz brilhar, lágrimas santas, E à vossa luz caminharei nos ermos!

Page 47: Antiguidade Clássica

O "adeus" de Teresa

A vez primeira que eu fitei Teresa,Como as plantas que arrasta a correnteza,A valsa nos levou nos giros seusE amamos juntos E depois na sala"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala

E ela, corando, murmurou-me: "adeus."

Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . .E da alcova saía um cavaleiroInda beijando uma mulher sem véusEra eu Era a pálida Teresa!"Adeus" lhe disse conservando-a presa

E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"

Passaram tempos sec'los de delírioPrazeres divinais gozos do Empíreo... Mas um dia volvi aos lares meus.Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!..."Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"

Quando voltei era o palácio em festa!E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestraPreenchiam de amor o azul dos céus.Entrei! Ela me olhou branca surpresa!Foi a última vez que eu vi Teresa!

E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"

Page 48: Antiguidade Clássica

O Navio Negreiro (Tragédia no mar)

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço Brinca o luar — dourada borboleta; E as vagas após ele correm... cansam Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamento Os astros saltam como espumas de ouro... O mar em troca acende as ardentias, — Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos Ali se estreitam num abraço insano, Azuis, dourados, plácidos, sublimes... Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

Page 49: Antiguidade Clássica

II   Que importa do nauta o berço,

Donde é filho, qual seu lar? Ama a cadência do verso Que lhe ensina o velho mar! Cantai! que a morte é divina! Resvala o brigue à bolina Como golfinho veloz. Presa ao mastro da mezena Saudosa bandeira acena As vagas que deixa após.

Do Espanhol as cantilenas Requebradas de langor, Lembram as moças morenas, As andaluzas em flor! Da Itália o filho indolente Canta Veneza dormente, — Terra de amor e traição, Ou do golfo no regaço Relembra os versos de Tasso, Junto às lavas do vulcão!

O Inglês — marinheiro frio, Que ao nascer no mar se achou, (Porque a Inglaterra é um navio, Que Deus na Mancha ancorou), Rijo entoa pátrias glórias, Lembrando, orgulhoso, histórias De Nelson e de Aboukir.. . O Francês — predestinado — Canta os louros do passado E os loureiros do porvir!

Os marinheiros Helenos, Que a vaga jônia criou, Belos piratas morenos Do mar que Ulisses cortou, Homens que Fídias talhara, Vão cantando em noite clara Versos que Homero gemeu... Nautas de todas as plagas, Vós sabeis achar nas vagas As melodias do céu!...

Page 50: Antiguidade Clássica

III

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano Como o teu mergulhar no brigue voador! Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras! É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ... Que cena infame e vil... Meu Deus!Meu Deus! Que horror!

Page 51: Antiguidade Clássica

IVEra um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais ... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece, Outro, que martírios embrutece, Cantando, geme e ri!

Page 52: Antiguidade Clássica

V Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados Que não encontram em vós Mais que o rir calmo da turba Que excita a fúria do algoz? Quem são? Se a estrela se cala, Se a vaga à pressa resvala Como um cúmplice fugaz, Perante a noite confusa... Dize-o tu, severa Musa, Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto, Onde a terra esposa a luz. Onde vive em campo aberto A tribo dos homens nus... São os guerreiros ousados Que com os tigres mosqueados Combatem na solidão. Ontem simples, fortes, bravos. Hoje míseros escravos, Sem luz, sem ar, sem razão...

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VIExiste um povo que a bandeira empresta P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... E deixa-a transformar-se nessa festa Em manto impuro de bacante fria!... Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, Que impudente na gávea tripudia? Silêncio. Musa... chora, e chora tanto Que o pavilhão se lave no teu pranto!...

Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança... Tu que, da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga! Extingue nesta hora o brigue imundo O trilho que Colombo abriu nas vagas, Como um íris no pélago profundo! Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! Andrada! arranca esse pendão dos ares! Colombo! fecha a porta dos teus mares!

São Paulo, 18 de abril de 1869. (O Poeta, nascido em 14.03.1847, tinha apenas 22 anos de idade)

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Realismo

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Dom Casmurro“Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios.”

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Naturalismo

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O Cortiço“Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço,que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir,despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.”

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Parnasianismo

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Velh

o Te

ma

IVi

cent

e de

Car

valh

o Só a leve esperança, em toda a vida,Disfarça a pena de viver, mais nada;Nem é mais a existência, resumida,Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterradaSonho que a traz ansiosa e embevecida,É uma hora feliz, sempre adiadaE que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,Árvore milagrosa que sonhamosToda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamosPorque está sempre apenas onde a pomosE nunca a pomos onde nós estamos.

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As p

omba

sRa

imun

do C

orre

ia Vai-se a primeira pomba despertada...Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenasDe pombas vão-se dos pombais, apenasRaia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortadaSopra, aos pombais de novo elas, serenas,Ruflando as asas, sacudindo as penas,Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,Os sonhos, um por um, céleres voam,Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,E eles aos corações não voltam mais...

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Ola

vo B

ilac

- Um

be

ijoFoste o beijo melhor da minha vida, ou talvez o pior...Glória e tormento, contigo à luz subi do firmamento, contigo fui pela infernal descida! 

Morreste, e o meu desejo não te olvida: queimas-me o sangue, enches-me o pensamento, e do teu gosto amargo me alimento, e rolo-te na boca malferida. 

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo, batismo e extrema-unção, naquele instante por que, feliz, eu não morri contigo? 

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto, beijo divino! e anseio delirante, na perpétua saudade de um minuto...

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Ola

vo B

ilac

Ao c

oraç

ão q

ue s

ofre

Ao coração que sofre, separadoDo teu, no exílio em que a chorar me vejo,Não basta o afeto simples e sagradoCom que das desventuras me protejo.

Não me basta saber que sou amado,Nem só desejo o teu amor: desejoTer nos braços teu corpo delicado,Ter na boca a doçura de teu beijo.

E as justas ambições que me consomemNão me envergonham: pois maior baixezaNão há que a terra pelo céu trocar;

E mais eleva o coração de um homemSer de homem sempre e, na maior pureza,Ficar na terra e humanamente amar.

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Ola

vo B

ilac

Últ

ima

flor

do L

ácio

Última flor do Lácio, inculta e bela, És a um tempo, esplendor e sepultura:ouro nativo, que na ganga impuraA bruta mina entre os cascalhos vela.

Amo-te assim, desconhecida e obscura,Tuba de alto clangor, lira singela,Que tens o trom e o silvo da procelaE o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aromaDe virgens selvas e de oceano largo!Amo-te ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"E em que Camões chorou, no exílio amargo,O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

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Líng

uaG

ilber

to M

endo

nça

Esta língua é como um elásticoque espicharam pelo mundo.No início era tensa,de tão clássica.

Com o tempo, se foi amaciando,foi-se tornando romântica,incorporando os termos nativose amolecendo nas folhas de bananeiraas expressões mais sisudas.

Um elástico que já não se podemais trocar, de tão gasto;nem se arrebenta mais, de tão forte.Um elástico assim como é a vidaque nunca volta ao ponto de partida.

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Caetano VelosoLingua

Gosto de sentir a minha língua roçarA língua de Luís de CamõesGosto de ser e de estarE quero me dedicarA criar confusões de prosódiaE um profusão de paródiasQue encurtem doresE furtem cores como camaleõesGosto do Pessoa na pessoaDa rosa no RosaE sei que a poesia está para a prosaAssim como o amor está para a amizadeE quem há de negar que esta lhe é superiorE quem há de negar que esta lhe é superiorE deixa os portugais morrerem à mínguaMinha pátria é minha línguaFala MangueiraFala!Flor do Lácio SambódromoLusamérica latim em póO que quero que podeEsta língua(3X)

Vamos atentar para a sintaxe paulista

E o falso inglês relax dos surfistasSejamos imperialistasCadê? Sejamos imperialistasVamos na velô da dicção choo de Carmem MirandaE que o Chico Buarque de Hollanda nos resgateE Xeque-mate, explique-nos LuandaOuçamos com atenção os deles e os delas da TV GloboSejamos o lobo do lobo do homemSejamos o lobo do lobo do homemAdoro nomesNomes em ãDe coisa como rã e ímã...Nomes de nomes como Scarlet Moon ChevalierGlauco Mattoso e Arrigo Barnabé, Maria da FéArrigo Barnabé

IncrívelÉ melhor fazer uma cançãoEstá provado que só é possível filosofar em alemãoSe você tem uma idéia incrívelÉ melhor fazer uma cançãoEstá provado que só é possívelFilosofar em alemãoBlitz quer dizer coriscoHollywood quer dizer AzevedoE o recôncavo, e o recôncavo, e o recôncavo

Meu medo!

A língua é minha Pátriaeu não tenho Pátria: tenho mátriaEu quero frátria

Poesia concreta e prosa caóticaÓtica futuraSamba-rap, chic-left com bananaSerá que ele está no Pão de AçúcarTá craude brô, você e tu lhe amoQué que'u faço, nego?Bote ligeiroarigatô,arigatôNós canto falamos como quem inveja negrosQue sofrem horrores no Gueto do HarlemLivros, discos, vídeos à mancheiaE deixa que digam, que pensem,que falem.

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Ola

vo B

ilac

Via

Láct

ea"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... 

E conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. 

Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" 

E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e entender estrelas"

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Simbolismo Misticismo, individualidade, musicalidade (aliteração e assonância), espiritualidade (cor branca), subjetivismo.

Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes 

Cruz e Souza – Violões que choram

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Ah! Toda a alma num cárcere anda presa, Soluçando nas trevas, entre as grades Do calabouço olhando imensidades, Mares, estrelas, tardes, natureza. 

Tudo se veste de uma igual grandeza Quando a alma entre grilhões as liberdades Sonha e, sonhando, as imortalidades Rasga no etéreo o Espaço da Pureza. 

Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo! 

Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério?! 

Cruz e Souza

Cárcere das almas

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Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,Pôs-se na torre a sonhar...Viu uma lua no céu,Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,Banhou-se toda em luar...Queria subir ao céu,Queria descer ao mar...

E, no desvairo seu,Na torre pôs-se a cantar...Estava perto do céu,Estava longe do mar...

E como um anjo pendeuAs asas para voar...Queria a lua do céu,Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deuRuflaram de par em par...Sua alma subiu ao céu,Seu corpo desceu ao mar...

Alphonsus de Guimaraens

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SEMANA DE ARTE MODERNA

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Rompimento com as velhas formas artísticas; Apresentou tendências artísticas europeias; Falta de domínio de tais estéticas; Evento de literatura, música e artes

plásticas;  Oswald de Andrade: "Não sabemos o que

queremos. Mas sabemos o que não queremos.“.

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BNDIGITAL.BN.BR

“Desde a abertura da Semana, com a conferência equivocada de Graça Aranha: A emoção estética na Arte Moderna, até a leitura de trechos vanguardistas por Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e outros, o público se manifestaria por apupos e aplausos fortes.

Porém, o momento mais sensacional da Semana ocorre na segunda noite, quando Ronald de Carvalho lê um poema de Manuel Bandeira, o qual não comparecera ao teatro por motivos de saúde: Os sapos. Trata-se de uma ironia corrosiva aos parnasianos, que ainda dominavam o gosto do público. Este reage através de vaias, gritos, patadas, interrompendo a sessão. Mas, metaforicamente, com sua iconoclastia pesada, o poema delimita o fim de uma época cultural”

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Enfunando os papos,Saem da penumbra,Aos pulos, os sapos.A luz os deslumbra.Em ronco que aterra,Berra o sapo-boi:'- Meu pai foi à guerra- Não foi! - Foi! - Não foi!' O sapo-tanoeiroParnasiano aguadoDiz: - 'Meu cancioneiroÉ bem martelado.Vede como primoEm comer os hiatos!Que arte! E nunca rimoOs termos cognatos.

O meu verso é bomFrumento sem joio.Faço rimas comConsoantes de apoio.Vai por cinqüenta anosQue lhe dei a norma:Reduzi sem danosA formas a forma. Clame a sapatariaEm críticas céticas:'Não há mais poesia,Mas há artes poéticas...'Brada de um assomoO sapo-tanoeiro:'A grande arte é como Lavor de Joalheiro'Urra o sapo-boi:'- Meu pai foi rei - Foi!- Não foi! - Foi! - não foi!'

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MÁRIO DE ANDRADE RESUME: A estabilização de uma consciência criadora

nacional, preocupada em expressar a realidade brasileira;

A atualização intelectual com as vanguardas europeias;

O direito permanente de pesquisa e criação estética.

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FATORES HISTÓRICOS AGREGADOS: 1920 - Tenentismo: oficiais do Exército

descontentes com a política; 1922 - Revolta dos 18 do Forte de Copacabana; Revolução de 1924; 1924 - Comuna de Manaus; Coluna Prestes; Revolução de 1930, influenciada pelos movimentos;

Março de 1922 – Fundação do Partido Comunista.

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PARANÓIA OU MISTIFICAÇÃO? O ESTADO DE S. PAULO, 20/12/1917

  “Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas e em conseqüência disso fazem arte pura, guardando os eternos rirmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. Quem trilha por esta senda, se tem gênio, é Praxíteles na Grécia, é Rafael na Itália, é Rembrandt na Holanda, é Rubens na Flandres, é Reynolds na Inglaterra, é Leubach na Alemanha, é Iorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno daqueles sóis imorredouros. A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos de cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz de escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento.” Monteiro Lobato.

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ALBERTO CAEIROO GUARDADOR DE REBANHOS

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeiaPorque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. (…)O Tejo desce de EspanhaE o Tejo entra no mar em Portugal.Toda a gente sabe disso.Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeiaE para onde ele vaiE donde ele vem.E por isso, porque pertence a menos gente,É mais livre e maior o rio de minha aldeia.Pelo Tejo vai-se ao Mundo.Para além do Tejo há a AméricaE a fortuna daqueles que a encontram.Ninguém nunca pensou no que há para alémDo rio da minha aldeia. O rio da minha aldeia não faz pensar em nadaQuem está ao pé dele está só ao pé dele.

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ÁLVARO DE CAMPOSTODAS AS CARTAS DE AMOR SÃO RIDÍCULAS

Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas. Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas. A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor É que são Ridículas. (Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.)

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BERNARDO SOARESDO LIVRO DO DESASSOSSEGO

"O coração, se pudesse pensar, pararia."

"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cômodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.

Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

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RICARDO REISVem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.) Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, Mais longe que os deuses. Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassosegos grandes. Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar. Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o

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FERNANDO PESSOAMAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal!Por te cruzarmos, quantas mães choraram,Quantos filhos em vão rezaram!Quantas noivas ficaram por casarPara que fosses nosso, ó mar!Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.Quem quere passar além do BojadorTem que passar além da dor.Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu.

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VINÍCIUS DE MORAESO VERBO NO INFINITO

Ser criado, gerar-se, transformarO amor em carne e a carne em amor; nascerRespirar, e chorar, e adormecerE se nutrir para poder chorarPara poder nutrir-se; e despertar Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvirE começar a amar e então sorrirE então sorrir para poder chorar.E crescer, e saber, e ser, e haverE perder, e sofrer, e ter horrorDe ser e amar, e se sentir malditoE esquecer de tudo ao vir um novo amorE viver esse amor até morrerE ir conjugar o verbo no infinito...

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VINÍCIUS DE MORAESPOEMA ENJOADINHOFilhos . . . Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos Como sabê-lo? Se não os temos Que de consulta Quanto silêncio Como os queremos! Banho de mar Diz que é um porrete . . . Cônjuge voa Transpõe o espaço Engole água Fica salgada Se iodifica Depois, que boa Que morenaço Que a esposa fica! Resultado: filho. E então começa A aporrinhação:

Cocô está branco Cocô está preto Bebe amoníaco Comeu botão. Filhos? Filhos Melhor não tê-los Noites de insônia Cãs prematuras Prantos convulsos Meu Deus, salvai-o! Filhos são o demo Melhor não tê-los . . . Mas se não os temos Como sabê-los? Como saber Que macieza Nos seus cabelos Que cheiro morno Na sua carne Que gosto doce Na sua boca! Chupam gilete Bebem xampu Ateiam fogo No quarteirão Porém que coisa Que coisa louca Que coisa linda Que os filhos são!

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JOÃO CABRAL DE MELO NETOMORTE E VIDA SEVERINA -INTRODUÇÃO

— O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mais isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba. Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia.

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MARIO DE ANDRADEODE AO BURGUÊSPAULICÉIA DESVAIRADA

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, o burguês-burguês! A digestão bem-feita de São Paulo! O homem-curva! o homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas! Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros! que vivem dentro de muros sem pulos; e gemem sangues de alguns mil-réis fracos para dizerem que as filhas da senhora falam o francês e tocam os "Printemps" com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto! O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições! Fora os que algarismam os amanhãs! Olha a vida dos nossos setembros! Fará Sol? Choverá? Arlequinal! Mas à chuva dos rosais o èxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura! Morte às adiposidades cerebrais! Morte ao burguês-mensal! ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi! Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano! "–Ai, filha, que te darei pelos teus anos? –Um colar... –Conto e quinhentos!!! Mas nós morremos de fome!"

Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma! Oh! purée de batatas morais! Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas! Ódio aos temperamentos regulares! Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia! Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados! Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos, sempiternamente as mesmices convencionais! De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia! Dois a dois! Primeira posição! Marcha! Todos para a Central do meu rancor inebriante Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio! Morte ao burguês de giolhos, cheirando religião e que não crê em Deus! Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burgês!...

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OSWALD DE ANDRADE- Qué apanhá sordado?- O quê?- Qué apanhá?Pernas e cabeças na calçada.

Quando o português chegouDebaixo de uma bruta chuvaVestiu o índioQue pena!Fosse uma manhã de solO índio tinha despidoO português.

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MANUEL BANDEIRAO BICHO

Vi ontem um bichoNa imundície do pátioCatando comida entre os detritos.Quando achava alguma coisa,Não examinava nem cheirava:Engolia com voracidade.O bicho não era um cão,Não era um gato,Não era um rato.O bicho, meu Deus, era um homem.

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Café com pãoCafé com pão Café com pãoVirge maria que foi isso maquinista?Agora simCafé com pãoAgora simVoa, fumaçaCorre, cercaAi seu foguistaBota fogo Na fornalhaQue eu prescisoMuita forçaMuita forçaMuita forçaOô...

Menina bonita Do vestido verdeMe dá tua bocaPra matá minha sedeOô...Vou mimboraVou mimboraNão gosto daquiNasci no sertãoSou de OuricuriOô...Vou depressaVou correndoVou na todaQue só levoPouca gentePouca gentePouca gente...

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POÉTICA

Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto espediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor. Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. Abaixo os puristas. Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo. De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar &agraves mulheres, etc. Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbados O lirismo dos clowns de Shakespeare. - Não quero saber do lirismo que não é libertação.

Page 90: Antiguidade Clássica

Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia.Que dor de coração me davaPorque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!Levava ele prá salaPra os lugares mais bonitos mais limpinhosEle não gostava:Queria era estar debaixo do fogão.Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...- O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

Page 91: Antiguidade Clássica

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

AmarQue pode uma criatura senão,entre criaturas, amar?amar e esquecer,amar e malamar,amar, desamar, amar?sempre, e até de olhos vidrados, amar?Que pode, pergunto, o ser amoroso,sozinho, em rotação universal, senãorodar também, e amar?amar o que o mar traz à praia,e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?Amar solenemente as palmas do deserto,o que é entrega ou adoração expectante,e amar o inóspito, o áspero,um vaso sem flor, um chão de ferro,e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,doação ilimitada a uma completa ingratidão,e na concha vazia do amor a procura medrosa,paciente, de mais e mais amor.Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossaamar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Page 92: Antiguidade Clássica

As sem-razões do amorEu te amo porque te amo,Não precisas ser amante,e nem sempre sabes sê-lo.Eu te amo porque te amo.Amor é estado de graçae com amor não se paga.Amor é dado de graça,é semeado no vento,na cachoeira, no eclipse.Amor foge a dicionáriose a regulamentos vários.Eu te amo porque não amobastante ou demais a mim.Porque amor não se troca,não se conjuga nem se ama.Porque amor é amor a nada,feliz e forte em si mesmo.Amor é primo da morte,e da morte vencedor,por mais que o matem (e matam)a cada instante de amor.

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No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra

Page 94: Antiguidade Clássica

Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.

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Page 96: Antiguidade Clássica

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Lista aleatória desde 1973: Pereto, Gaúcho, gremista, descendente de italianos, pai,

marido, professor, canhoto.