texto seminário de integração lucionara

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SISTEMA JURISDICIONAL DA UNIÃO EUROPEIA LUCIANARA ANDRADE FONSECA 1 1. CONTEXTO: OS INSTRUMENTOS JURÍDICOS DE FORMAÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA O estudo da União Europeia é complexo devido aos vários tratados que a constituem. Tendo em vista que todo o poder da organização deriva deles, faz-se necessária uma contextualização, a priori, desses tratados, pois são eles que definem a competência e regulam os procedimentos do Tribunal de Justiça da União Europeia 2 . A origem da União Europeia remonta ao ano de 1951, com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA). Desde então, os tratados que a constituem foram modificados de modo a acompanhar a evolução da sociedade. A partir de então, discorrendo em ordem cronológica, tem-se que, em 1957, foram concluídos os Tratados de Roma, compreendidos pelo Tratado que institui a Comunidade Econômica Europeia (CEE) e pelo Tratado que institui a Comunidade Europeia de Energia Atômica (EURATOM). Em 1993, entrou em vigor o Tratado de Maastricht, também chamado de Tratado da União Europeia 3 . Além de constituir a União Europeia, ele estabeleceu os chamados três pilares da organização. O primeiro pilar compreendia as Comunidades Europeias, isto é, a Comunidade Econômica Europeia, que a partir desse tratado passou a ser denominada Comunidade Europeia, e a Comunidade Europeia de Energia Atômica 4 . O segundo pilar foi uma inovação do Tratado da União Europeia e referia-se às disposições relativas à política externa e de segurança comum. Por fim, havia o terceiro pilar, que tratava de disposições relativas ao domínio da cooperação policial e judiciária em matéria penal. Mais recentemente, em 1997, foi assinado o Tratado de Amsterdã, o qual emendou o Tratado da União Europeia e os Tratados que instituem as Comunidades Europeias 5 . Em 2001, foi assinado o Tratado de Nice, que também reforma e consolida as versões do Tratado da União Europeia e dos Tratados que instituem as Comunidades Europeias 6 . O Tratado de Lisboa, o qual entrou em vigor em novembro de 2009, introduz as mais recentes modificações à estrutura da organização 7 . O novo tratado procura atender à necessidade de modernização da União Europeia e possui um conteúdo aproximado daquele da Constituição para a Europa 8 . Esta havia sido assinada em Roma, no ano de 2004. No entanto,

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SISTEMA JURISDICIONAL DA UNIÃO EUROPEIA

LUCIANARA ANDRADE FONSECA1

1. CONTEXTO: OS INSTRUMENTOS JURÍDICOS DE FORMAÇÃO DA UNIÃOEUROPEIA

O estudo da União Europeia é complexo devido aos vários tratados que a constituem. Tendoem vista que todo o poder da organização deriva deles, faz-se necessária uma contextualização,a priori, desses tratados, pois são eles que definem a competência e regulam os procedimentosdo Tribunal de Justiça da União Europeia2.

A origem da União Europeia remonta ao ano de 1951, com a criação da ComunidadeEuropeia do Carvão e do Aço (CECA). Desde então, os tratados que a constituem forammodificados de modo a acompanhar a evolução da sociedade.

A partir de então, discorrendo em ordem cronológica, tem-se que, em 1957, foramconcluídos os Tratados de Roma, compreendidos pelo Tratado que institui a ComunidadeEconômica Europeia (CEE) e pelo Tratado que institui a Comunidade Europeia de EnergiaAtômica (EURATOM).

Em 1993, entrou em vigor o Tratado de Maastricht, também chamado de Tratado da UniãoEuropeia3. Além de constituir a União Europeia, ele estabeleceu os chamados três pilares daorganização. O primeiro pilar compreendia as Comunidades Europeias, isto é, a ComunidadeEconômica Europeia, que a partir desse tratado passou a ser denominada Comunidade Europeia,e a Comunidade Europeia de Energia Atômica4. O segundo pilar foi uma inovação do Tratadoda União Europeia e referia-se às disposições relativas à política externa e de segurançacomum. Por fim, havia o terceiro pilar, que tratava de disposições relativas ao domínio dacooperação policial e judiciária em matéria penal.

Mais recentemente, em 1997, foi assinado o Tratado de Amsterdã, o qual emendou o Tratadoda União Europeia e os Tratados que instituem as Comunidades Europeias5. Em 2001, foiassinado o Tratado de Nice, que também reforma e consolida as versões do Tratado da UniãoEuropeia e dos Tratados que instituem as Comunidades Europeias6.

O Tratado de Lisboa, o qual entrou em vigor em novembro de 2009, introduz as maisrecentes modificações à estrutura da organização7. O novo tratado procura atender ànecessidade de modernização da União Europeia e possui um conteúdo aproximado daquele daConstituição para a Europa8. Esta havia sido assinada em Roma, no ano de 2004. No entanto,

passou a ter um futuro incerto após sua rejeição na França e nos Países Baixos, levando àsnegociações do atual Tratado de Lisboa. Este tratado alterou, sem os substituir, os doisprincipais instrumentos constitutivos da União Europeia: o Tratado da União Europeia e oTratado que institui a Comunidade Europeia, o qual passou a ser chamado de Tratado sobre oFuncionamento da União Europeia. Entre as modificações introduzidas pelo Tratado de Lisboa,cabe mencionar a eliminação do sistema de pilares estabelecido pelo Tratado de Maastricht.Além disso, foi conferida personalidade jurídica à União Europeia, a qual substituiu e sucedeu aComunidade Europeia9.

2. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIAO sistema jurisdicional da União Europeia é chamado de Tribunal de Justiça da União

Europeia. Este é uma das sete instituições que compõem a organização, juntamente com oParlamento Europeu, o Conselho Europeu, o Conselho, a Comissão Europeia, o Tribunal deContas e o Banco Central Europeu10.

O Tribunal de Justiça da União Europeia possui a função de assegurar a observância dodireito na aplicação e na interpretação dos principais tratados relacionados à organização. Ele écomposto por três jurisdições: o Tribunal de Justiça, o Tribunal Geral e os tribunaisespecializados, nos quais se enquadra o Tribunal da Função Pública.

O Tribunal de Justiça foi criado pelo Tratado instituindo a Comunidade Europeia do Carvãoe do Aço e tornou-se uma instituição independente a partir da entrada em vigor dos Tratados deRoma, os quais conferiam poderes a serem exercidos por um tribunal único e comum a todoseles11.

O Conselho das Comunidades Europeias, percebendo o incremento de petições e aincapacidade do Tribunal de Justiça de julgar todos os casos que lhe eram apresentados,solicitou, em 1988, a criação do então chamado Tribunal de Primeira Instância dasComunidades Europeias, tendo este o propósito singular de ajudar o primeiro Tribunal12. Com aentrada em vigor do Tratado de Lisboa, ele passou a ser denominado Tribunal Geral. Eleauxilia o Tribunal de Justiça na medida em que descentraliza as atividades petitórias,aumentando a celeridade dos processos13.

Completando o sistema jurisdicional europeu, existem os tribunais especializados, os quaisforam introduzidos pelo Tratado de Nice sob a forma de câmaras jurisdicionais14. Essestribunais estão adstritos ao Tribunal Geral e podem ser instituídos pelo Conselho e peloParlamento para conhecer, em primeira instância, certas categorias de recursos em matériasespecíficas15. Essa é a origem do Tribunal da Função Pública da União Europeia, que decide oslitígios entre a organização e os seus agentes16.

2.1. Tribunal de Justiça

2.1.1. ComposiçãoO Tribunal de Justiça é composto de um juiz por Estado-Membro17. Assim, ele é integrado

hoje por vinte e sete juízes que, na maioria dos casos, são oficiais de alta posição nos gabinetesministeriais dos governos dos respectivos Estados-Membros18. O Tribunal é composto ainda de

oito advogados-gerais que, assim como os juízes, são eleitos por comum acordo19. Tanto osjuízes quanto os advogados-gerais devem ser escolhidos dentre pessoas de independênciainquestionável e que possuam as qualificações necessárias para ocupar os mais altos cargosjudiciais em seus respectivos países, ou que sejam juristas de reconhecida competência20.

O advogado-geral possui a função de assistir o Tribunal ao submeter, em corte aberta e comcompleta imparcialidade e independência, opiniões fundamentadas nos casos que requereremseu envolvimento21. Diversas razões levaram à sua instituição, como a impossibilidade dosjuízes do Tribunal de publicarem qualquer opinião separada ou dissidente22. Tem-se ainda quea opinião independente do advogado-geral pode esclarecer ou mesmo reforçar a decisão doTribunal, seja opondo-se, seja juntando-se a ela, pois, ao mesmo tempo que possui um estilodialógico e argumentativo, ela ressalta e organiza os pontos essenciais do caso. Além disso, osadvogados-gerais manifestam um discurso mais inclusivo, representando a posição de todos quepodem ser afetados pelo resultado do caso em questão23. Vistos como os guardiões da norma,eles têm o papel de zelar pelo direito da União. Ressalta-se que uma decisão do Tribunalcontrária ao discurso dos advogados-gerais é considerada até mesmo audaciosa24.

O Tribunal, por sua vez, pode reunir-se em seções compostas de três ou cinco juízes, em umagrande seção composta de treze juízes ou mesmo de forma plena. O Tribunal reunir-se-á deforma plena quando seu Estatuto ou os Tratados assim o previrem, como acontece na hipótesede demissão de um membro da Comissão Europeia. Ainda, se considerar que o caso é deimportância excepcional, o Tribunal pode decidir, ouvido o advogado-geral, transferir o casopara o Tribunal pleno25.

2.1.2. CompetênciaO Tribunal de Justiça possui a função de assegurar a correta interpretação e aplicação dos

tratados pelas instituições da União Europeia e pelos Estados Membros, e sua competênciaestende-se aos tratados da União Europeia, da Comunidade Europeia de Energia Atômica e doEspaço Econômico Europeu.

Ele possuía competência diferenciada em relação a cada um dos pilares estabelecidos peloTratado de Maastricht, sendo que sua competência apenas era plena para o primeiro pilar,referente às Comunidades Europeias. No entanto, o Tratado de Lisboa eliminou o sistema depilares, o que expandiu a competência do Tribunal de Justiça para o direito da União Europeiacomo um todo, a não ser que os Tratados constitutivos disponham de outra forma.

Em relação ao segundo pilar, isto é, à política externa e de segurança comum, o Tribunal nãopossuía competência alguma26. Não houve muitas modificações, pois, no sistema estabelecidopelo Tratado de Lisboa, ainda que os pilares tenham desaparecido, o domínio de políticaexterna e de segurança comum continua sujeito a regras e procedimentos específicos27. Nessesentido, o Tribunal de Justiça não tem competência com relação a atos adotados com base nessedomínio, com exceção (i) da possibilidade de controlar a delimitação entre as competências daUnião e a política externa de segurança comum, cujo exercício não deve afetar o exercício dascompetências da União28 e (ii) da competência para a fiscalização da legalidade das decisõesque estabeleçam medidas restritivas contra pessoas singulares ou coletivas29.

Nas disposições relativas ao domínio da cooperação policial e judiciária em matéria penal,

que correspondia ao terceiro pilar, o Tribunal adquiriu competência prejudicial genérica, poisregras que restringiam sua competência foram eliminadas pelo Tratado de Lisboa. No antigosistema, o Tribunal podia exercer sua jurisdição para questões prejudiciais nesse domínio, tãosomente, se um Estado Membro houvesse consentido com a capacidade ou com o dever de suascortes de requisitar tais decisões preliminares30. Dessa forma, no que diz respeito à cooperaçãopolicial e judiciária em matéria penal, a competência do Tribunal a título prejudicial tornou-seobrigatória.

No que diz respeito à cooperação judiciária em matéria civil, todos os órgãos jurisdicionaisdos países membros da União Europeia passam a poder recorrer ao Tribunal de Justiça, e nãomais apenas os órgãos jurisdicionais superiores. Assim, o Tribunal adquiriu maior atuação emmatéria de concessão de vistos, de asilo, de imigração e de outras políticas relativas àcirculação de pessoas.

Ressalta-se, também, que o Tratado de Lisboa introduziu a Carta dos Direitos Fundamentaisda União Europeia no direito primário europeu31. Assim, ela passa a ser equivalente aosTratados e fazer parte das normas e princípios aos quais o Tribunal pode recorrer ao adjudicar.Os únicos países que não aderiram à Carta foram o Reino Unido e a Polônia. Dessa forma, asdisposições dela não aumentam a competência do Tribunal de Justiça em relação a esses países.Além disso, o protocolo relativo à aplicação da Carta à Polônia e ao Reino Unido estabeleceque “[a]s disposições da Carta que façam referência às legislações e práticas nacionais só sãoaplicáveis à Polônia ou ao Reino Unido na medida em que os direitos ou princípios nelasconsignados sejam reconhecidos na legislação ou nas práticas desses países”32.

O Tribunal de Justiça também possui competência em relação ao Acordo sobre o EspaçoEconômico Europeu (EEE)33. No âmbito do EEE, a União Europeia34 ou um Estado Membro doacordo do EEE podem levar uma disputa ao Comitê Misto do EEE35. Caso esse Comitê nãoresolva a disputa dentro de três meses, as partes envolvidas podem requerer uma interpretaçãoao Tribunal de Justiça36. A corte interna de um Estado-Membro do Espaço Econômico Europeutambém pode requerer uma interpretação do instrumento que instituiu o EEE perante o Tribunalde Justiça, desde que tal Estado tenha feito uma declaração assim o consentindo37.

Registra-se ainda que o Tribunal de Justiça é competente para decidir com fundamento emcláusula compromissória constante de contrato concluído pela União ou por sua conta, seja elegovernado por direito público ou privado38. Além disso, ele pode dar uma opinião consultivarequisitada pelo Parlamento Europeu, pelo Conselho, pela Comissão ou por qualquer Estado-Membro a respeito da compatibilidade de um possível acordo em relação às disposições doTratado39.

Por fim, cabe notar que o Tribunal de Justiça também analisa os recursos das decisõesproferidas pelo Tribunal Geral e pode, a título excepcional, reapreciar as decisões desterelativas a recursos interpostos contra as decisões dos tribunais especializados40.

2.1.3. Espécies de ações2.1.3.1. Reenvio prejudicial

O reenvio prejudicial é essencial para garantir a aplicação uniforme do direito da UniãoEuropeia. Nessa ação, o Tribunal de Justiça é competente para decidir, a título prejudicial,

sobre a interpretação dos Tratados e sobre a validade e a interpretação dos atos adotados pelasinstituições, órgãos ou organismos da União41.

Indivíduos apenas têm acesso a essa ação indiretamente, isto é, como partes nos casos dascortes nacionais, as quais referem ao Tribunal de Justiça os casos em que necessitam doesclarecimento acerca da interpretação ou aplicação do direito da União ou dos atos adotadospelos órgãos, organismos e instituições dela. Desse modo, há uma cooperação direta entre oTribunal de Justiça e as cortes dos Estados-Membros, sendo que essas últimas se vinculam àsdecisões do Tribunal42.

Mediante esse procedimento, o Tribunal de Justiça decide a questão material dentro doprocesso, deixando a decisão final para as cortes nacionais. Desse modo, consegue-se um nívelgrande de aceitação e execução das decisões, uma vez que isso se faz por meio das cortes dosEstados-Membros43.2.1.3.2. Ações diretas

As ações diretas abarcam a ação por descumprimento de obrigação, o recurso de anulação ea ação por omissão. Ao serem trazidas perante o Tribunal, são publicadas no Jornal Oficial daUnião Europeia, e o demandado tem um mês para apresentar sua defesa, a contar da notificaçãoda decisão44. Um juiz relator e um advogado-geral são indicados para monitorar o progresso docaso, o qual compreende um procedimento escrito e um procedimento oral45. Durante aaudiência, o caso é apresentado perante todos os juízes e o advogado-geral, sendo que todoseles podem fazer as perguntas que considerarem apropriadas para as partes46. Após essa fase doprocedimento oral, o advogado-geral dá sua opinião individual sobre a maneira como o casodeve ser resolvido, a qual pode ser dispensada se o Tribunal decidir que o caso não apresentanenhuma nova questão de direito47. Após essas etapas, o Tribunal delibera com base no esboçofeito pelo juiz relator.

A ação por descumprimento de obrigação pode ser ajuizada por um Estado-Membro oupela Comissão. Ressalta-se que a falta em cumprir uma obrigação apenas pode ser observadaquando há uma situação contrária ao direito europeu que pode ser objetivamente atribuída aoEstado em questão48. Tal falta pode compreender não apenas a recusa de implementar umanorma comunitária na lei nacional, como também sua inadequada ou insuficienteimplementação49.

No caso da ação por descumprimento, o procedimento judicial deve ser precedido de trâmitedesencadeado pela Comissão. Quando considera que um Estado-Membro descumpriu umaobrigação de direito da União, ela primeiramente inicia conversações informais com esseEstado. Caso esse procedimento não ofereça resultados, submete uma demanda escrita para queo Estado dê sua posição a respeito do problema. Se ela não se contentar com a respostaoferecida pelo Estado, pode requerer ao Estado que tome medidas dentro de um prazodeterminado. Se o Estado não agir de acordo com a posição da Comissão dentro do prazo porela determinado, esta pode trazer o assunto perante o Tribunal de Justiça50.

Um Estado-Membro também pode trazer a questão perante o Tribunal de Justiça seconsiderar que outro Estado-Membro falhou em cumprir a obrigação que tinha dentro da União.Entretanto, antes de fazê-lo, ele deve levar o tópico à Comissão, que, do mesmo modo,

entregará a opinião fundamentada, depois de dar aos Estados envolvidos a oportunidade desubmeterem suas observações51. Caso a Comissão não emita seu parecer no prazo de três mesesa contar do pedido feito pelo Estado, isso não impedirá o assunto de ser trazido perante oTribunal de Justiça52.

Na ação de anulação, o Tribunal tem competência para fiscalizar a legalidade dos (i) atoslegislativos, (ii) dos atos do Conselho, da Comissão e do Banco Central Europeu, desde quenão sejam recomendações ou pareceres, (iii) dos atos do Parlamento Europeu, do ConselhoEuropeu e dos órgãos ou organismos da União destinados a produzir efeitos jurídicos emrelação a terceiros53. O Tribunal de Justiça pode declarar a nulidade do ato e, desse modo, oórgão cujo ato foi declarado nulo deverá tomar todas as medidas necessárias para cumprir ojulgamento54.

Na ação de anulação, uma objeção de ilegalidade pode ser levantada por um Estado-Membro, pelo Parlamento, pelo Conselho ou pela Comissão com o fundamento na falta decompetência, na violação de formalidades essenciais, na violação dos Tratados ou qualquerregra de direito relacionada à aplicação deles, ou em desvio de poder. Nas mesmas condições,o Tribunal também é competente para decidir a respeito das ações de anulação ajuizadas peloTribunal de Contas, pelo Banco Central Europeu e pelo Comitê das Regiões, com o objetivo desalvaguardar as respectivas prerrogativas55.

Destaca-se que o Tratado de Lisboa estabeleceu a competência do Tribunal de Justiça parase pronunciar sobre a legalidade de um ato adotado pelo Conselho Europeu ou pelo Conselho,em caso de violação das disposições processuais previstas no art. 7º do Tratado da UniãoEuropeia56. Esse artigo dispõe sobre os procedimentos de constatação de risco manifesto deviolação grave, por parte de um Estado-Membro, dos valores encontrados no art. 2º do mesmoTratado57. Nesse caso, o Estado-Membro em questão é o único que poderá ajuizar a ação.

Também é preciso registrar algumas características das ações de anulação baseadas emviolação do princípio da subsidiariedade58. Nesse caso, a ação pode ser ajuizada pelo Comitêdas Regiões59 ou pelos Estados-Membros. Estes podem estar agindo de iniciativa própria, ousimplesmente transmitindo a ação em nome dos respectivos parlamentos nacionais ou uma desuas câmaras. O Comitê das Regiões, por sua vez, pode apresentar ações dessa naturezarelativas a atos legislativos em cujo processo de adoção ele precise ser consultado60.

Por fim, nota-se ainda que, se a Comissão, o Parlamento Europeu, o Conselho, o ConselhoEuropeu ou o Banco Central Europeu se abstiverem de pronunciar-se e, se assim o fazendo,tenham violado os tratados, os Estados-Membros e as outras instituições da União podem trazeruma ação perante o Tribunal de Justiça, chamada ação por omissão. No entanto, essas açõesapenas serão consideradas admissíveis se a instituição em questão tiver sido primeiramenteconvocada a agir e se, depois de dois meses de tal convocação, essa instituição ainda não tiverdefinido seu posicionamento. As mesmas regras se aplicam aos órgãos e organismos da Uniãoque se abstenham de pronunciar-se.61

Quadro Comparativo das Principais Ações perante o Tribunal de Justiça

Tipo deação

Reenvio prejudicialAção pordescumprimentode obrigação

Ação deanulação Ação por omissão

Capacidadeativa Órgão jurisdicional nacional

Estados-Membros ouComissão

• Estados-Membros,ParlamentoEuropeu,Conselho,Comissão• Tribunal deContas,Banco CentralEuropeu eComitê dasRegiões62

Estados-Membros einstituições da União

Capacidadepassiva

Não se aplica; contudo, as partes já presentes nosórgãos jurisdicionais nacionais, os Estados-Membros e as instituições da União podemparticipar no processo perante o Tribunal de Justiça

Estados-Membros

Instituições,órgãos eorganismosda União

Comissão, ParlamentoEuropeu, Conselho, ConselhoEuropeu e Banco CentralEuropeu; assim como órgãose organismos da União

Objeto daação

• Interpretação dos Tratados;• Validade e interpretação dos atosadotados pelas instituições, órgãos ouorganismos da União

Descumprimento dodireito da União

Ato de umainstituição, de umórgão ou de umorganismo da União

Omissão, contráriaaos Tratados, porparte dasinstituições, órgãos eorganismos da União

Medidaoferecidapelaprestaçãojurisdicional

A resposta se dá mediante acórdão oudespacho. A decisão vincula o órgãojurisdicional nacional destinatário, assimcomo outros órgãos jurisdicionaisnacionais aos quais um problema idênticoseja submetido

Se o Estado não cumpriro acórdão, poderá sercondenado ao pagamentode uma quantia fixa ou desanção pecuniáriacompulsória

Anulação do ato. OTribunal podeindicar quais osefeitos do atodevem serconsideradossubsistentes

As instituições emquestão devem tomaras medidasnecessárias àexecução do acórdãodo Tribunal deJustiça

2.2. Tribunal Geral

2.2.1. ComposiçãoO Tribunal Geral é composto por vinte e sete juízes63. Sua divisão em seções segue, em

grande escala, a divisão descrita para o Tribunal de Justiça64.No que diz respeito à função do advogado-geral, o Tribunal Geral não dispõe de advogados-

gerais permanentes, mas essa função pode ser atribuída a um dos membros do Tribunal, caso seconsidere que a dificuldade jurídica ou a complexidade da matéria de fato o exigem65. Dessemodo, os membros do Tribunal Geral podem ser chamados a exercer a função de advogado-geral, a qual deverá ser exercida com imparcialidade e independência, ao submeter suas

conclusões fundamentadas perante o Tribunal. Ressalta-se que, ao exercer a função deadvogado-geral, não é permitida a participação na elaboração do acórdão66.

2.2.2. CompetênciaO Tribunal Geral pode exercer sua jurisdição em assuntos relacionados à União Europeia, ao

Espaço Econômico Europeu e à Comunidade Europeia de Energia Atômica67. É interessantenotar que os principais temas julgados são aqueles ligados às ações de caráter comercial, comopropriedade intelectual68, práticas de dumping, concorrência e relações de mercado em geral69.

A competência do Tribunal abrange: (i) todas as ações diretas instauradas por pessoasfísicas ou jurídicas contra atos ou omissões dos órgãos, organismos e instituições da União70;(ii) as ações ajuizadas pelos Estados-Membros contra a Comissão71; ou (iii) pelos Estados-Membros contra o Conselho em relação aos atos adotados por este no domínio dos auxílios deEstado, às medidas de defesa comercial e aos atos mediante os quais o Conselho exercecompetências de execução72; (iv) ações de reparação por danos causados pelas instituições daUnião Europeia ou pelos seus agentes73; (v) ações baseadas em cláusulas compromissórias decontratos celebrados pela União Europeia, nas quais esteja prevista a competência do Tribunal;e (vi) análise dos recursos das decisões do Tribunal da Função Pública da União Europeia, doInstituto Comunitário das Variedades Vegetais e da Agência Europeia das SubstânciasQuímicas74. Por fim, ressalta-se que não são da competência do Tribunal Geral as hipóteses decompetência dos tribunais especializados ou de competência exclusiva do Tribunal de Justiça75.

O Tribunal Geral também seria competente para conhecer das questões prejudiciais emmatérias específicas a serem definidas pelo Estatuto76. No entanto, essas matérias ainda nãoforam determinadas77; e uma grande discussão gira em torno da razoabilidade e possibilidadede transferência da competência de matérias em questões prejudiciais para o Tribunal Geral78.

As possíveis ações instauradas por pessoas físicas ou jurídicas abarcam a ações de omissãoe de anulação. Em relação às ações de omissão, qualquer pessoa singular ou coletiva poderecorrer ao Tribunal para acusar uma das instituições, um dos órgãos ou um dos organismos daUnião de não lhe ter dirigido um ato, desde que esse ato não seja recomendação ou parecer79.

No que diz respeito às ações de anulação, é preciso fazer uma distinção entre atos e atosregulamentares. No caso de atos das instituições, dos órgãos e dos organismos da UniãoEuropeia, é preciso que o indivíduo seja destinatário do ato ou que este lhe diga respeito diretae individualmente. Por outro lado, quando se tratar de atos regulamentares , é necessário queeles lhe digam diretamente respeito e não necessitem de medidas de execução80.

Aqui cabe apontar a modificação realizada pelo Tratado de Lisboa em relação à antiga regra.Antes da inovação, não havia distinção entre atos em geral e atos regulamentares. Em relaçãoaos atos regulamentares, não é preciso que uma pessoa prove que os atos lhe dizem respeitoindividualmente, bastando que eles lhe digam respeito diretamente e não necessitem de medidasde execução. Ressalta-se, no entanto, que não há uma clara definição do que sejam atosregulamentares no direito da União81. Cabe destacar, ainda, que a legitimidade ativa em relaçãoaos atos em geral é limitada pela Fórmula Plaumann, assim chamada em função do casoPlaumann v. Comission, no qual se definiu que:

Pessoas outras que aquelas às quais uma Decisão é dirigida apenas podem alegar seremindividualmente interessadas se essa Decisão as afeta em função de certos atributos que lhessão peculiares ou em função de circunstâncias pelas quais elas são diferenciadas de todas asoutras pessoas e, em virtude desses fatores, as distingue individualmente, assim como nocaso da pessoa destinatária (tradução livre)82.

No caso em questão, Plaumann, um importador de clementinas83, ajuizou uma ação contrauma decisão Comissão Europeia, a qual negava autorização à Alemanha para suspender direitosaduaneiros aplicáveis a clementinas. O Tribunal de Justiça negou legitimidade ativa àPlaumman, pois considerou que a atividade comercial exercida por ele poderia ser exercida porqualquer pessoa a qualquer tempo. Dessa forma, ele não seria individualmente afetado, ou seja,não possuía atributos necessários para distingui-lo das outras pessoas em relação à decisão. Osfatos do caso permitem compreender o enorme alcance da restrição derivada da citada fórmula,utilizada até hoje pelo Tribunal de Justiça, uma vez que não é razoável afirmar que a posição deimportador de clementinas pode ser exercida por qualquer pessoa a qualquer tempo84.

2.2.3. Procedimento perante o Tribunal GeralAs partes em uma controvérsia perante o Tribunal Geral devem orientar-se pelo Regulamento

de Processo do Tribunal85. O procedimento compreende uma fase escrita e uma fase oral esegue os mesmos moldes do Tribunal de Justiça. Destaca-se que o regime linguístico doprocesso, assim como no Tribunal de Justiça, também corresponde às línguas dos Estados-Membros da União Europeia86.

2.3. Tribunal da Função PúblicaO Tribunal da Função Pública foi criado como um órgão jurisdicional específico para o

contencioso da função pública. Ele foi constituído originalmente sob a forma de câmarajurisdicional junto ao Tribunal de Primeira Instância87. Com a entrada em vigor do Tratado deLisboa, as câmaras jurisdicionais foram substituídas pelos tribunais especializados, e oTribunal de Primeira Instância passou a se denominar Tribunal Geral. Dessa forma, hoje sepode afirmar que o Tribunal da Função Pública é um tribunal especializado criado paraconhecer, em primeira instância, de litígios entre os agentes e as instituições, os órgãos e osorganismos da União Europeia88.

O Tribunal é composto por sete juízes e reúne-se em seções compostas por três juízes89. Emcertos casos, pode decidir em plenário, ou em seção composta de cinco juízes ou de juizsingular90. Assim como no Tribunal Geral e no Tribunal de Justiça, a tramitação dos processoscompreende uma fase escrita e uma fase oral. Das decisões do Tribunal da Função Pública,cabe recurso ao Tribunal Geral91.

3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIACom a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, o direito comunitário passou a ser o direito da

União Europeia, pois esta incorporou as competências anteriormente conferidas à ComunidadeEuropeia. No entanto, a expressão “direito comunitário” será utilizada ao se fazer referência àjurisprudência dos Tribunais anterior à entrada em vigor do Tratado de Lisboa.

O regime criado pelo direito europeu é por vezes caracterizado como um self-containedregime, pois cria um subsistema no qual existem princípios e normas criadores de obrigações,de direitos e de remédios próprios que vão além do direito internacional geral92. Por essemesmo motivo, apesar de alguma divergência na doutrina em relação à natureza do regimecriado93, muitos autores chegam a afirmar que esse sistema possui uma natureza constitucional94,ou seja, que o direito da União seria um direito constitucional sem uma constituição.

Os mesmos princípios e normas jurídicas que levam a essas conclusões podem derdestacados por serem fundamentais ao processo de integração da União Europeia. Essencial nasua consolidação foi a evolução jurisprudencial do Tribunal de Justiça, cujos objetivospolíticos podem ser resumidos na necessidade de dar efetividade e uniformidade ao direito daUnião, assim como no imperativo de proteger o indivíduo como sujeito de direitos dentro daorganização95.

Ao consagrar esse subsistema, caracterizado pelo Tribunal como uma nova ordem do DireitoInternacional96, ele estabeleceu três princípios que acabam por identificar o direito da UniãoEuropeia como tal: (i) o efeito direto do direito da União nos Estados-Membros, (ii) o primadodo direito da União em relação ao direito interno e (iii) o regime de responsabilidade estatal.

O primeiro princípio acima mencionado foi estabelecido, em 1963, no famoso caso VanGend & Loos, no qual o Tribunal de Justiça permitiu que uma empresa de transportes pudesseinvocar direito comunitário perante as cortes domésticas dos Estados-Membros97. Apesar deesse caso já tangenciar a questão da precedência do direito comunitário, a importância doprimado apenas foi expressamente estabelecida e reforçada em casos subsequentes,particularmente no acórdão Costa. Nessa ocasião, o Tribunal reafirmou as especificidades dosistema legal comunitário, que havia se tornado parte integral do sistema jurídico dos Estados-Membros. Assim, baseando-se nisso, e tendo em vista a reciprocidade inerente ao sistemacomunitário, o Tribunal decidiu que os Estados-Membros não poderiam dar precedência amedidas unilaterais que fossem inconsistentes com as obrigações incorridas por eles em funçãodo direito comunitário98.

Os fundamentos desse direito completam-se com o regime de responsabilidade estatal, o qualconstitui um mecanismo de sanção para as violações de direito da União cometidas pelosEstados-Membros. Com o acórdão Francovich, fica assente que indivíduos têm o direito deintentar ações de indenização contra os Estados-Membros por danos resultantes de uma infraçãodo direito comunitário99.

O alcance dessas normas é ainda amplificado pelo sistema de precedentes desenvolvido pelajurisprudência do Tribunal de Justiça, na qual se destacam os casos Foto-Frost100 e CILFIT101.Esse sistema é composto de três regras básicas: (i) existe o primado do direito da União, (ii) emrelação ao qual o Tribunal é a última instância julgadora, e (iii) matérias de direito da Uniãoque já foram objeto de análise pelo Tribunal não precisam ser referidas a ele novamente pelascortes internas.

Em suma, cada indivíduo pode invocar o direito da União perante as cortes internas erequerer indenização do Estado em caso de violação desse direito. As cortes internas, aoaplicar o direito da União, devem não apenas observar o seu primado, como também observar ajurisprudência do Tribunal de Justiça.

4. UMA ANÁLISE DA INTERCESSÃO ENTRE DIREITO INTERNACIONAL EDIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

Existem várias áreas em que o direito internacional e o direito da União Europeia setangenciam, levando a uma influência mútua102. A título de exemplo, os Tribunais já decidiramque os tratados internacionais para a proteção dos direitos humanos para os quais os Estados-Membros haviam colaborado, ou haviam assinado, poderiam dar diretrizes que deveriam serseguidas dentro do quadro do direito comunitário103.

A influência é recíproca, pois os Tribunais, por meio de uma evolução jurisprudencial,desenvolveram princípios importantes para o direito internacional geral. Por exemplo, há oprincípio da devida diligência, que tem sido de extrema importância para o desenvolvimento dodireito em relação aos atos de órgãos das organizações internacionais em geral104. Os Tribunaisapresentam uma grande contribuição para tal desenvolvimento a partir da aplicação doprincípio para os atos das instituições da União Europeia, sempre com o objetivo de obter umaadministração eficiente e confiável dos assuntos da organização105.

Outra grande contribuição pode ser vista no ramo do direito internacional ambiental. Sabe-seque a legislação ambiental no direito da União, apesar de reputada fraca em alguns pontos,desenvolveu-se de forma expressiva, sendo considerada uma importante contribuição para odesenvolvimento progressivo do direito internacional ambiental no âmbito regional e global106.A título de exemplo, a importância do trabalho do Tribunal de Justiça pode ser percebida nodesenvolvimento de uma jurisprudência referente à aplicação do princípio daproporcionalidade para balancear a integração econômica com a proteção ambiental107. Nessesentido, é clara a decisão do Tribunal de Justiça no caso PreussenElektra, no qual reafirmou aregra de que a implementação das diretrizes da organização deve ser integrada com osrequisitos de proteção ambiental108.

A jurisprudência do Tribunal também consolidou princípios importantes no âmbito dosdireitos sociais. Baseando-se em objetivos de integração da União Europeia, o Tribunal elevoumuito daquilo que era entendido como uma simples política econômica ao caráter de direitofundamental109. Um exemplo dessa atuação pode ser encontrado no caso Bulent-Kurz, que dizrespeito à tentativa de expulsão de nacionais turcos por parte da Alemanha. Nessa ocasião, oTribunal declarou que ao direito de trabalhar dos nacionais turcos correspondia um naturaldireito de residência e, ao fazê-lo, levou em consideração a necessidade de integração dosnacionais no Estado hospedeiro110. Adicionalmente, no caso Baumbast, o Tribunal declarou queum indivíduo possuía o direito de residir num Estado-Membro para se educar, pela garantia dolivre movimento de pessoas111.

5. A RELAÇÃO ENTRE O DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA E O DIREITODOMÉSTICO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A INTEGRAÇÃO REGIONAL

O Tribunal de Justiça possui um papel basilar na integração regional, na medida em queestende para dentro dos sistemas internos dos Estados-Membros a interpretação do direito daUnião. Para tanto, foi de fundamental importância consagrar a supremacia do direito da União,no exercício das competências que foram atribuídas a ela.

A supremacia do direito da União já se encontra tão fortificada, que nem mesmo normasconstitucionais podem ser invocadas como exceção a uma lei comunitária diretamenteaplicável112. É importante ressaltar que tal fato provoca alguns conflitos com as cortesconstitucionais dos Estados-Membros113, mostrando que a cessão da soberania ainda nãoocorreu de forma plena. Dessa maneira, o Tribunal tenta manter um espaço de autonomia para ascortes nacionais, de maneira a não entrar num conflito aberto que poderia prejudicar sua próprialegitimidade. Assim, na existência de lei doméstica conflitante com direito da União, nãosignifica que a primeira deva ser considerada inválida, mas sim que as cortes nacionaispossuem a obrigação de não aplicar a norma nacional de maneira a restringir o direitoindividual conferido pela lei da União. Trata-se de uma primazia de aplicação do direito daUnião, e não de uma primazia de validade. A mesma lei ainda pode ser aplicada e ser válida emrelação a Estados que não são membros da organização114.

O direito doméstico, por sua vez, também influencia a formação do direito comunitário, hojedireito da União Europeia. O Tribunal de Justiça já declarou, por exemplo, que o respeito aosdireitos fundamentais compõe parte integral dos princípios gerais de direito protegidos peloTribunal de Justiça115. Ao fazê-lo, o Tribunal afirmou que deveria inspirar-se nas tradiçõesconstitucionais comuns aos Estados-Membros e ressaltou que medidas incompatíveis com osdireitos fundamentais protegidos e reconhecidos pelas constituições nacionais não poderiam sersustentadas por ele116.

Desse modo, são de notória importância as tentativas dos Tribunais da União de manter aunidade dentro da diversidade que é a União Europeia. Tenta-se manter a uniformidade pelasupremacia do direito da União sobre o direito interno, supremacia que, por sua vez, deve serbalanceada pelo Tribunal, de modo a não restringir a soberania dos Estados-Membros de talmaneira que chegue a prejudicar seu objetivo primordial: manutenção da integração regionalcom base no direito.

1 Bacharela em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais.2 Neste trabalho, são empregados os termos utilizados nas traduções oficiais para o português da União Europeia.3 Tratado da União Europeia. JOUE, n. C 191, 29 jul. 1992. Entre os Tratados de Roma e o Tratado da União Europeia existiram doistratados intermediários: o Tratado de Fusão e o Ato Único Europeu. O primeiro entrou em vigor em 1967 e instituiu uma Comissão e umConselho únicos para as três Comunidades Europeias existentes na época. O segundo entrou em vigor em 1987 e estabeleceu algumasadaptações necessárias para a realização do Mercado Interno Comum. Ver Single European Act. JOUE, n. L 169, 29 jun. 1987. Ver,também, Merger Treaty. JOUE, n. 152, 13 jul. 1967.4 Também abarcava a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, mas o respectivo tratado expirou em 2002.5 Tratado de Amsterdão que altera o Tratado da União Europeia, os Tratados que instituem as Comunidades Europeias e alguns atosrelativos a esses tratados. JOUE, n. C 340, 10 nov. 1997. Entrou em vigor em 1999.6 Tratado de Nice que altera o Tratado da União Europeia, os Tratados que instituem as Comunidades Europeias e alguns atos relativosa esses Tratados [Doravante Tratado de Nice]. JOUE, n. C 80, 10 mar. 2001. Entrou em vigor em 2003.7 Tratado de Lisboa que altera o Tratado da União Europeia e o Tratado que institui a Comunidade Europeia. JOUE, n. C 306, 17 dez.2007.8 Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa. JOUE, n. C 310, 16 dez. 2004.

9 Versão Consolidada do Tratado da União Europeia [Doravante Versão Consolidada do TUE]. JOUE, n. C 83, 30 mar. 2010, arts. 1º e47. A Comunidade Europeia de Energia Atômica, por sua vez, continua a existir.10 Versão Consolidada do TUE, supra nota 8, art. 13.11 BAUDENBACHER, Carl. Judicialization: can the european model be exported to other parts of the world?, Texas InternationalLaw Journal, [S.l.], 381-399, Spring, 2004, p. 383.12 DECISÃO DO CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA. Decisão de 24 de outubro de 1988, estabelecendo o Tribunal de PrimeiraInstância das Comunidades Europeias. JOUE, n. L 313/1 (1988).13 WOUDE, Marc van der. The Court of First Instance: The First Three Years. Fordham International Law Journal, [S. l.], 412-469,Seventh Annual Issue on European Community Law, 1992/1993, p. 413.14 Tratado de Nice, supra nota 5, art. 32.15 Versão Consolidada do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia [Doravante Versão Consolidada do TFUE], JOUE, n. C83, 30 mar. 2010, art. 257.16 DECISÃO DO CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA. Decisão de 2 de novembro de 2004. Institui o Tribunal da Função Públicada União Europeia. JOUE, L 333/7, 2004.17 Versão Consolidada do TUE, supra nota 8, art. 19; Tratado instituindo a Comunidade Europeia de Energia Atômica [DoravanteTratado da CEEA] Mar. 25, 1957, 298 United Nations Treaty Series 167, art. 137. Disponível na versão consolidada em: < http://eur-lex.europa.eu/pt/treaties/dat/12006A/12006A.html>. Acesso em: 29 jan. 2011.18 BAUDENBACHER, supra nota 10, p. 384.19 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 252; Tratado da CEEA, supra nota 16, art. 106-A. Ressalta-se que tal númeropode ser aumentado pelo Conselho, caso isso seja requisitado pelo Tribunal.20 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 253; Tratado da CEEA, supra nota 16, art. 106-A. Cabe notar ainda que os juízese advogados-gerais do Tribunal de Justiça e do Tribunal Geral gozam de imunidade de jurisdição e outros privilégios. Estatuto do Tribunalde Justiça da União Europeia [Doravante Estatuto]. JOUE, n. C 115, arts. 3 e 8.21 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 252; Tratado da CEEA, supra nota 16, art. 106-A.22 Dentre as razões para essa impossibilidade, está a que os juízes poderiam ficar expostos às pressões governamentais. VerBAUDENBACHER, supra nota 10, p. 384.23 ROSENFELD, Michel. Comparing constitutional review by the European Court of Justice and the U.S. Supreme Court.International Journal of Constitutional Law, Oxford University Press e New York University School of Law, 618-651, October, 2006,p. 642-643.24 RITTER, Cyril. A new look at the role and impact of Advocates-General. Columbia Journal of European Law, [S. l.], 751-774,Summer, 2006, p. 762.25 Estatuto, supra nota 19, art. 16.26 MURPHY, Daniel T. Closer or enhanced cooperation: Amsterdam or Nice. Georgia Journal of International and ComparativeLaw [S. l.], 265-318, Winter, 2003, p. 317.27 Versão Consolidada do TUE, supra nota 8, art. 24.28 Versão Consolidada do TUE, supra nota 8, art. 40.29 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 275.30 O antigo art. 35 do Tratado da União Europeia, o qual continha essa previsão e outras restrições, foi revogado pelo Tratado deLisboa.31 Ele também prevê a adesão da União Europeia à Convenção Europeia para a Protecção dos Direitos do Homem e das LiberdadesFundamentais. Versão Consolidada do TUE, supra nota 8, art. 6º.32 Protocolo número 30 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, relativo à aplicação da Carta dos Direitos Fundamentaisda União Europeia à Polônia e ao Reino Unido. JOUE, C 83/314, 30 mar. 2010.33 Acordo sobre o Espaço Econômico Europeu [Doravante Acordo do EEE], JOUE, L 1, 3.01.1994, art. 111, par. 3. Disponível em:<http://secretariat.efta.int/>. Acesso em: 29 jan. 2011. O Acordo sobre o Espaço Econômico Europeu foi estabelecido pelos então dozemembros da União Europeia e membros da Associação Europeia de Livre Comércio, com o objetivo de criar uma área econômicahomogênea na Europa. Isso se explica pelo fato de a Associação Europeia de Livre Comércio ser uma associação entre Estadosestabelecida em 1960, composta por países que não são membros da União Europeia. Atualmente a Associação Europeia de LivreComércio é composta pela Islândia, pela Noruega, pela Suíça e por Liechtenstein. Desses países, apenas a Suíça não faz parte doEspaço Econômico Europeu. Ver RIECHENBERG, Kurt. The Merger of Trading Blocks and the Creation of the European EconomicArea: Legal and Judicial Issues. Tulane Journal of International and Comparative Law, [S. l.], 63-98, Winter, 1995, p. 63 et seq.34 O Tratado faz menção à Comunidade Europeia. No entanto, lembramos que, de acordo com o Tratado de Lisboa, ela foi sucedidapela União Europeia.35 Esse comitê é composto por representantes dos Estados-Partes e tem a função de assegurar a efetiva implementação e operação doAcordo do EEE. Ver Acordo do EEE, supra nota 32, arts. 92 e 93. Entre outras funções do Comitê Misto também se encontra a degarantir a homogeneidade do Espaço Econômico Europeu, o qual foi estabelecido sobre os dois pilares, quais sejam, a União Europeia e o

Espaço Econômico Europeu. Para tanto, ver também: Acordo do EEE, supra nota 32, arts. 105-106.36 Acordo do EEE, supra nota 32, art. 111, par. 3.37 Acordo do EEE, supra nota 32, art. 107.38 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 272; Tratado da CEEA, supra nota 16, art. 106-A.39 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 218. No caso da Comunidade Europeia de Energia Atômica, ver Tratado daCEEA, supra nota 16, arts. 103 e 104.40 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 256; Tratado da CEEA, supra nota 16, art. 106-A.41 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 267.42 Caso Amministrazione delle finanze dello Stato: Reference for a preliminary ruling: Tribunale civile e penale di Milano.Amministrazione delle finanze dello Stato v. Denkavit italiana Srl. Caso 61/79 (1980), par. 16. A uniformidade ainda é garantida pelanotificação da requisição por uma questão prejudicial a todos os Estados-Membros e a todas as instituições da União, e isso é feito apóssua tradução para todas as línguas oficiais da organização. Dessa maneira, as partes, os Estados-Membros e as instituições podemsubmeter observações escritas à Corte. Ver Estatuto, supra nota 19, art. 23.43 HALTERN, U. Europarecht: Dogmatik im Kontext, Tübingen: Mohr Siebeck, 2. Auflage, 2007, p. 208.44 Versão consolidada do Regulamento de Processo do Tribunal de Justiça [Doravante Regulamento de Processo do Tribunal deJustiça]. JOUE, n. C 177, 2 jul. 2010, art. 40.45 Estatuto, supra nota 19, art. 20.46 Regulamento de Processo do Tribunal de Justiça, supra nota 43, art. 57.47 Estatuto, supra nota 19, art. 20.48 EDWARDS, Vanessa. European Court of Justice Environmental Cases 2002. Journal of Environmental Law, Oxford UniversityPress, 87-96, 2003, p. 93.49 Failure of a Member State to fulfill obligations: Commission of the European Communities v. United Kingdom of Great Britain andNorthern Ireland. Opinion of Advocate General Kokott, Caso C-484/04 (2006), par. 51.50 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 258; Tratado da CEEA, supra nota 16, art. 106-A. Ver também HALTERN, p.180.51 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 259; Tratado da CEEA, supra nota 16, art. 106-A.52 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 259; Tratado da CEEA, supra nota 16, art. 106-A.53 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 263. Neste ponto também merece atenção o art. 288, o qual estabelece que“[p]ara exercerem as competências da União, as instituições adoptam regulamentos, directivas, decisões, recomendações e pareceres”.Os regulamentos, apesar do caráter geral, obrigam em todos os seus elementos e são diretamente aplicáveis nos Estados-Membros. Asdiretivas, particularmente, vinculam os Estados-Membros em relação ao resultado a ser atingido, mas deixam às autoridades nacionais ométodo e a forma de atingir os resultados. Por outro lado, a decisão é obrigatória em todos os seus elementos e quando designadestinatários, só é obrigatória para estes. Por fim, os pareceres e recomendações não são vinculantes e não podem ser objeto de umrecurso de anulação.54 Contudo, se considerar necessário, o Tribunal pode indicar quais efeitos do ato devem se considerar subsistentes.Versão Consolidadado TFUE, supra nota 14, arts. 264 e 266.55 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 263.56 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 269.57 O artigo 2º estabelece: “A União funda-se nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, a democracia, da igualdade,do Estado de direito e do respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias. Estes valores sãocomuns aos Estados-Membros, numa sociedade caracterizada pelo pluralismo, a não discriminação, a tolerância, a justiça, a solidariedadee a igualdade entre homens e mulheres”. Versão Consolidada do TUE, supra nota 8, art. 2º.58 O princípio da subsidiariedade é definido no artigo 5º do TUE: “Em virtude do princípio da subsidiariedade, nos domínios que nãosejam da sua competência exclusiva, a União intervém apenas se e na medida em que os objectivos da acção considerada não possamser suficientemente alcançados pelos Estados-Membros, tanto ao nível central como ao nível regional e local, podendo contudo, devido àsdimensões ou aos efeitos da acção considerada, ser mais bem alcançados ao nível da União”.59 O Comitê das Regiões é um órgão consultivo da União Europeia, “composto por representantes das autarquias regionais e locais quesejam quer titulares de um mandato eleitoral a nível regional ou local, quer politicamente responsáveis perante uma assembleia eleita”.Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 300.60 Protocolo n. 2 relativo à aplicação dos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade. JOUE, C 83/208, 30 março 2010, art. 8º.61 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 265.62 Os recursos interpostos pelo Tribunal de Contas, pelo Banco Central Europeu e pelo Comitê das Regiões têm o objetivo desalvaguardar as respectivas prerrogativas.63 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 254; Estatuto, supra nota 19, art. 48.64 Versão Consolidada do Regulamento de Processo do Tribunal Geral [Doravante Regulamento do Tribunal Geral]. JOUE, n. C 177, 2jul. 2010, arts. 10-14.

65 Regulamento do Tribunal Geral, supra nota 63, art. 18.66 Estatuto, supra nota 19, art. 49.67 Regulamento do Tribunal Geral, supra nota 63, art. 1º.68 Regulamento do Tribunal Geral, supra nota 63, título IV.69 BAUDENBACHER, supra nota 10, p. 383.70 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, arts. 256, 263 e 165; Tratado da CEEA, supra nota 16, art.106-A.71 Ressalta-se que, na hipótese de abstenção da Comissão concernente à cooperação reforçada, o Tribunal de Justiça tem competênciaexclusiva. Estatuto, supra nota 19, art. 51.72 Estatuto, supra nota 19, art. 51.73 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, arts. 256, 268 e 340; Tratado da CEEA, supra nota 16, art. 106-A.74 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 256, Tratado da CEEA, supra nota 16, art. 106-A.75 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 256, Tratado da CEEA, supra nota 16, art. 106-A.76 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 256, Tratado da CEEA, supra nota 16, art. 106-A.77 RITTER, p. 755.78 Afirma-se que o Tribunal Geral não possui uma estrutura operacional independente de maneira suficiente para assegurar auniformidade das decisões. Ver Reference for a preliminary ruling: College juridictionnel de la Region de Bruxelles-Capitale –– Belgium.François De Coster v. College des bourgmestre et echevins de Watermael-Boitsfort.Caso C-17/00 (2001), Opinion of AdvocateGeneral Ruiz-Jarabo Colomer, 2001, par.73.79 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 265.80 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 263.81 ELIANTONIO, Mariolina; STRATIEVA, Nelly. From Plaumann, Through UPA and Jégo-Quéré, to the Lisbon Treaty: The LocusStandi of Private Applicants Under Article 230 (4) EC Through a Political Lens, Maastricht Faculty of Law Working Paper , v. 5, n.13, 2009, p. 10-11.82 “Persons other than those to whom a Decision is addressed may only claim to be individually concerned if that Decision affects themby reason of certain attributes which are peculiar to them or by reason of circumstances in which they are differentiated from all otherpersons, and by virtue of these factors distinguishes them individually just as in the case of the person addressed.” Caso Plaumann:Action for annulment: Plaumann & Co. v. Commission of the European Economic Community. Caso 25/62 (1963), p. 95.83 Clementina é uma fruta semelhante à tangerina.84 BIERNAT, Ewa. The Locus Standi of Private Applicants under article 230 (4) EC and the Principle of Judicial Protection in theEuropean Community. NYU School of Law, Jean Monnet Working Paper 12/03, p. 9 et seq.85 Regulamento do Tribunal Geral, supra nota 63, Título II, Capítulo 1 e 2.86 Se o demandado for um Estado-Membro ou uma pessoa singular ou coletiva de um Estado-Membro, a língua do processo é a línguaoficial desse Estado e, no caso de existirem várias línguas oficiais, o demandante tem a faculdade de escolher a que lhe convier.Regulamento do Tribunal Geral, supra nota 63, art. 35.87 Decisão do Conselho de 2 de Novembro de 2004 que institui o Tribunal da Função Pública da União Europeia. JOUE, n. L 333/7, 9nov. 2004.88 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, arts. 257 e 270.89 Estatuto, supra nota 19, Anexo I, art. 1º.90 Estatuto, supra nota 19, Anexo I, art. 4º.91 Versão Consolidada do TFUE, supra nota 14, art. 257.92 SIMMA, Bruno; PULKOWSKI, Dirk. Of planets and the universe: self-contained regimes in international law. European Journal ofInternational Law, [S. l.], 483-529, June, 2006, p. 490 et seq.93 HOMSI, Christian Sano. “Self-contained Regimes” –– No cop-out for North Korea! Suffolk Transnational Law Review, [S.l.], 89-123, Winter, 2000, p. 104; ARANGIO-RUIZ, G. Fourth report on State responsibility, International Law Commission Yearbook , v. I,UN Doc.A/CN.4/444 and Add.1-3, 1992, p. 35-36.94 SWEET, Alec Stone. Constitutionalism, Legal Pluralism, and International Regimes. Indiana Journal of Global Legal Studies, 621-645, Summer, 2009, p. 636; PERNICE, Ingolf. The Treaty of Lisbon: Multilevel Constitutionalism in Action, Columbia Journal ofEuropean Law, Summer, 2009, p. 57 et seq.95 HALTERN, supra nota 42, p. 312-313.96 Caso Van Gend & Los : Reference for a preliminary ruling: Tariefcommissie –– Pays-Bas. NV Algemene Transporten ExpeditieOnderneming van Gend & Loos v. Netherlands Inland Revenue Administration. Caso 26/62 (1963).97 Idem.98 “The law stemming from the Treaty, an independent source of law, could not because of its special and original nature, be overriddenby domestic legal provisions, however framed, without being deprived of its character as Community law and without the legal basis ofthe Community itself being called into question.” Caso Flaminio Costa: Reference for a preliminary ruling: Giudice conciliatore diMilano –– Italy. Flaminio Costa v. E. N. E. L. Caso 6/64 (1964).

99 Caso Francovich: Reference for a preliminary ruling: Pretura circondariale di Vicenza –– Italy. Andrea Francovich v ItalianRepublic. Caso 479/93 (1995).100 Caso Foto-Frost: Reference for a preliminary ruling: Finanzgericht Hamburg –– Germany. Foto-Frost v Hauptzollamt Lübeck-Ost.Caso 314/85 (1987).101 Caso CILFIT: Reference for a preliminary ruling: Corte suprema di Cassazione –– Italy. Srl CILFIT and Lanificio di Gavardo SpAv. Ministry of Health. Caso 283/81 (1982).102 CasoGrand Duchy of Luxemburg : Failure of a Member State to fulfil obligations. Commission of the European Communities v.Grand Duchy of Luxemburg. Caso C-193/05 (2006), par. 45; Caso Commonwealth citizens residing in Gibraltar: Failure of a MemberState to fulfil obligations. Commonwealth citizens residing in Gibraltar and not having citizenship of the Union. Kingdom of Spain v.United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland. Caso C-145/04 (2006), par. 85; Caso Marks & Spencer: Reference for apreliminary ruling: High Court of Justice (England & Wales), Chancery Division –– United Kingdom. Marks & Spencer plc v DavidHalsey (Her Majesty’s Inspector of Taxes). Caso C-446/03 (2005), par. 36. No que diz respeito às obrigações derivadas da Carta dasNações Unidas, o encontro dos dois direitos merece um destaque. O Tribunal já afirmou que as obrigações dos Estados-Membrosderivadas da Carta das Nações Unidas, o que inclui as decisões obrigatórias emanadas do Conselho de Segurança, prevalecem sobre asobrigações decorrentes do direito da União. Para tanto, ver Caso Ahmed Ali Yusuf : Action for annulment. Ahmed Ali Yusuf and AlBarakaat International Foundation v. Council of the European Union and Commission of the European Communities. Caso T-306/01(2005), par. 240 e 149; Caso Leonid Minin: Action for annulment: Leonid Minin v Commission of the European Communities Court ofFirst Instance. Caso T-362/04 (2007), par. 101. Apesar de tal regra já ser garantida pelo artigo 103 da Carta das Nações Unidas, talassertiva é de importância fundamental para a coerência das obrigações internacionais assumidas pelos Estados-Membros.103 Caso ASML Netherlands BV: Reference for a preliminary ruling: Oberster Gerichtshof –– Austria. ASML Netherlands BV v.Semiconductor Industry Services GmbH (SEMIS). Caso C-283/05 (2006), par. 26; Caso Laserdisken SpA: Reference for a preliminaryruling: Ostre Landsret –– Denmark. Laserdisken ApS v. Kulturministeriet. Caso C-479/04 (2006), par. 61.104 INTERNATIONAL LAW ASSOCIATION. Accountability of International Organisations. Final Report, Berlin Conference(2004), p. 15.105 Caso AFCon Management Consultants: Action for damages: AFCon Management Consultants. Patrick Mc Mullin and SeamusO’Grady v. Commission of the European Communities. Caso T-160/03 (2005); Caso Autosalone Ispra Snc: Action for damages:Autosalone Ispra Snc v. European Atomic Energy Community. Caso T-250/02 (2005), par.53; Caso Air One SpA: Action for failure toact: Air One SpA v. Commission of the European Communities. Caso T-395/04 (2006), par. 61.106 SANDS, Philippe. European Community Environmental Law: The Evolution of a Regional Regime of International EnvironmentalProtection. Yale Law Journal, [S.l.], 2511-2523, June, 1991, p. 2522-2523.107 JACOBS, Francis. The Role of the European Court of Justice in the Protection of the Environment. Journal of EnvironmentalLaw, Oxford University Press, 185-205, 2006, p. 185. Ver também: Caso Commission v. Republic of Austria : Failure by a MemberState to fulfil its obligations. Commission of the European Communities v Republic of Austria. Caso C-320/03 (2005), par. 91.108 Caso PreussenElektra: Reference for a preliminary ruling: Landgericht Kiel –– Germany. PreussenElektra AG v Schhleswag AG,in the presence of Windpark Reußenkoge III GmbH and Land Schleswig-Holstein. Caso C-379/98 (2001), par. 76.109 MARCUS, David. The Normative Development of Socioeconomic Rights through Supranational Adjudication. Stanford Journal ofInternational Law, [S. l.], 53-101, Winter, 2006, p. 78-79.110 Caso Bulent Kurz: Reference for a preliminary ruling: Verwaltungsgericht Karlsruhe –– Germany. Bulent Kurz, ne Yuce v. LandBaden-Wurttemberg. Caso C-188/00 (2002), par. 27.111 Caso Baumbast: Reference for a preliminary ruling: Immigration Appeal Tribunal –– United Kingdom. Baumbast and R v Secretaryof State for the Home Department.Caso C-413/99 (2002), par. 95.112 Caso Simmenthal SpA: Reference for a preliminary ruling: Pretura di Susa –– Italy. Amministrazione delle Finanze dello Stato v.Simmenthal SpA. Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Caso 106/77 (1978), paras.24-26; SHAW, Malcolm N. InternationalLaw. 5. ed. Reino Unido: Cambridge University Press, 2003, p. 162.113 ROSENFELD, supra nota 22, p. 634. A esse respeito, também é importante registrar a polêmica decisão do Tribunal ConstitucionalPolonês, segundo a qual, caso haja conflito entre normas de direito comunitário e a Constituição polonesa, não se deve pressupor asupremacia do primeiro. Nesse sentido, o Tribunal afirmou que “[t]he principle of interpreting domestic law in a manner ‘sympathetic toEuropean law’, as formulated within the Constitutional Tribunal’s jurisprudence, has its limits. In no event may it lead to resultscontradicting the explicit wording of constitutional norms or being irreconcilable with the minimum guarantee functions realised by theConstitution. In particular, the norms of the Constitution within the field of individual rights and freedoms indicate a minimum andunsurpassable threshold which may not be lowered or questioned as a result of the introduction of Community provisions”. Ver PolishConstitutional Tribunal. Judgment of 11th May 2005, K 18/04, Poland’s Membership in the European Union (The Accession Treaty),par. 13-14.114 HALTERN, supra nota 42, p. 447.115 Caso Friedrich Kremzow: Reference for a preliminary ruling: Oberster Gerichtshof –– Austria. Friedrich Kremzow v. RepublikOsterreich.Caso C-299/95 (1997), par.14.116 Caso Nold, Kohlen- und Baustoffgroßhandlung : Action for annulment: Nold, Kohlen- und Baustoffgroßhandlung v. Commission

of the European Communities. Caso 4/73 (1974), par. 13. Ressalta-se ainda que o Tribunal não utilizou o método de nivelar asconstituições dos membros da UE, seja estabelecendo um padrão alto ou um padrão mínimo. Pelo contrário, procurou desenvolver seupróprio rol de direitos fundamentais, apenas tomando os direitos fundamentais dos países membros como inspiração. Ver Caso KlausKuhn: Reference for a preliminary ruling: Verwaltungsgericht Neustadt an der Weinstraße v. Germany. Klaus Kuhn vLandwirtschaftskammer Rheinland-Pfalz. Caso 44/79 (1993).