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III SEMINÁRIO NACIONAL DE INTEGRAÇÃO DA GRADUAÇÃO E PÓS- GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA XVII SEMANA DE GEOGRAFIA XII ENCONTRO DE ESTUDANTES DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA Apoio: PROPG Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Unesp Curso de Geografia Departamento de Geografia Programa de Pós-Graduação em Geografia Ano I. Edição I. 188 páginas ISSN: 1981-1047

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III SEMINÁRIO NACIONAL DE INTEGRAÇÃO DA GRADUAÇÃO E PÓS-

GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA XVII SEMANA DE GEOGRAFIA

XII ENCONTRO DE ESTUDANTES DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

Apoio: PROPG – Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Unesp

Curso de Geografia Departamento de Geografia Programa de Pós-Graduação em Geografia

Ano I. Edição I. 188 páginas

ISSN: 1981-1047

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ANAIS

APRESENTAÇÃO

A Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente – FCT –, da

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, realizou entre os dias 3 e

8 de outubro de 2016 o “III Seminário Nacional de Integração da Graduação e

Pós- graduação em Geografia, XVII Semana de Geografia e XII Encontro de

Estudantes de Licenciatura em Geografia”. O evento foi organizado e

promovido pelo Curso de Graduação em Geografia e pelo Programa de Pós-

Graduação em Geografia da FCT/Unesp de Presidente Prudente/ SP.

O tema debatido durante as mesas-redondas e conferências, além de

minicursos, foi “Geografia, Democracia e Desenvolvimento”, em decorrência

do cenário político e econômico no qual o país se encontra, o que requer

discussões pela Geografia sobre as mudanças ocorridas nos últimos anos e as

perspectivas para o futuro. Neste sentido, o evento buscou abordar a temática do

desenvolvimento sob o enfoque da Geografia, resgatando o processo histórico

que levou o país até a atual situação e colocando em debate a apreensão quanto

à construção de formas de desenvolvimento democráticas, em busca de dirimir as

desigualdades sociais do país. As discussões sublinharam o pensamento

geográfico sobre o tema e o papel do geógrafo e do professor de geografia no

que tange ao atual contexto.

A seguir encontram-se os resumos expandidos apresentados sob a forma oral

durante o evento, divididos nos seguintes eixos:

1 – Educação em Geografia: diálogo docente e ensino na escola;

2 – Teoria e Prática: o trabalho, a saúde e a Geografia;

3 – Região e Cidade: desenvolvimento e urbanização;

4 – Dinâmicas naturais e questões ambientais;

5 – Espaço Rural: questão agrária e relação cidade-campo.

Presidente Prudente, 20 de setembro de 2016.

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COMISSÃO ORGANIZADORA

Coordenação Geral:

Prof. Dr. Eduardo Paulon Girardi; Prof. Dra. Rosangela Aparecida de Medeiros

Hespanhol; Prof. Dra. Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia; Prof. Dr. José Mariano

Caccia Gouveia.

Secretaria Executiva:

Anna Paulla Artero Vilela; Gleice Santana Pereira; Lorena Izá Pereira; Mariana Cristina

Gomes.

Secretaria Geral:

Bruna Guldoni; Felipe Cesar Augusto Silgueiro dos Santos; José Maria do Rosário

Chilaúle Langa; Luis Fernando Colombo; Mateus Fachin Pedroso.

Comissão de organização dos anais:

Carlos Eduardo das Neves; Ellen Tamires Pedriali Colnago; Larissa Araújo Coutinho

de Paula; Lucia Iaciara da Silva; Paulo Roberto Vagula; Nayara Rodrigues da Silva;

Roberta Oliveira da Fonseca.

Comissão Cultural:

Barbara Cardoso da Cunha; Jhonata Prates Estevam; Lucas de Brito Wanderley;

Mateus Vantuir Cardozo Lopes.

Comissão de Divulgação:

Alexandre Antonio Abate; Gabrielli Gimenes da Silva; Ritielle Cristina Aparecido.

Comissão de logística:

Bruna Dienifer Souza Sampaio; Eilane Ramos Gomes

Emanuela Sanches Moreira; Guilherme Silva de Sousa; Hélio Santos Alves Maria;

Jéssica Ribeiro do Carmo Santos; Letícia Fernanda de Lima

Lucas Pauli; Ricardo dos Santos.

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EIXO TEMÁTICO 1: “EDUCAÇÃO EM GEOGRAFIA: DIÁLOGO DOCENTE E

ENSINO NA ESCOLA” ........................................................................................................... 8

A IMPORTÂNCIA DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DA FCT/UNESP NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM.......................................................................................................9 Jéssica Ribeiro do Carmo Santos Bruna Guldoni Daiane Barbosa Giroto A IMPORTÂNCIA DO PIBID PARA A FORMAÇÃO DO DOCENTE DE GEOGRAFIA: RELATOS SOBRE A ATUAÇÃO DO SUBPROJETO “FAZENDO GEOGRAFIA POR MEIO DE PROJETOS DE TRABALHO” NA ESCOLA ESTADUAL FERNANDO COSTA – PRESIDENTE PRUDENTE/SP...........................................................................................................................14 Daiara Batista Mendes Mateus Vantuir Cardozo Lopes A PAISAGEM EM GODARD: CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA...........19 Ana Letícia Peixe Euzébio PEDAGOGIA DE PROJETOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA: UMA EXPERIÊNCIA COM O ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA FLORIVALDO LEAL, PRESIDENTE PRUDENTE – SP................................................................................................................................................24 Carlos Eduardo Almeida Sampaio Gabriel Mendes Araújo Tamires Aparecida Souza Silva POSSIBILITANDO ESPAÇOS EM A HARD DAY’S NIGHT: ENCONTROS ENTRE O CINEMA E A GEOGRAFIA........................................................................................................................30 Jucimara Pagnozi Voltareli PROJETO DE EXTENSÃO GEOGRAFIA VAI À ESCOLA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA ESCOLA FLORIVALDO LEAL EM PRESIDENTE PRUDENTE-SP...........................................................................................................................34 Juliane Elizabeth Deltrejo de Deus Adriano da Silva Oliveira Maria Terezinha Serafim Gomes

EIXO TEMÁTICO 2: “TEORIA E PRÁTICA: O TRABALHO, A SAÚDE E A

GEOGRAFIA” - ................................................................................................40

A MULTIPLICIDADE DO HIV/AIDS EM DIFERENTES ESCALAS: ESTUDOS BRASILEIROS............................................................................................................................41 Mateus Fachin Pedroso PARA ALÉM DO VISÍVEL NOS CANAVIAIS DO PONTAL DO PARANAPANEMA: A SAÚDE DOS TRABALHADORES EM CHEQUE SOB O AVANÇO DO CAPITAL AGROINDUSTRIAL CANAVIEIRO..............................................................................................................................46 Gabriel Ferreira Antonio Thomaz Junior Fredi Dos Santos Bento

EIXO TEMÁTICO 3: “REGIÃO E CIDADE: DESENVOLVIMENTO E

URBANIZAÇÃO” ....................................................................................................................50

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ANÁLISE DOS PROJETOS DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA IIRSA PARA A AMÉRICA DO SUL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES................................................................51 Camila Manoel Pereira Martinelli A SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL: UMA ANÁLISE TEÓRICA A PARTIR DA GLEBA PALHANO EM LONDRINA/PR..................................................................................................57 Felipe César Augusto Silgueiro dos Santos Mariana Cristina da Silva Gomes APONTAMENTOS SOBRE A FORMAÇÃO DE PARQUE TECNOLÓGICO COMO ALTERNATIVA AO DESENVOLVIMENTO REGIONAL............................................................63 João Vítor dos Santos da Silva Gabriel Mendes Araújo CENTRO E CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA EM LONDRINA.......................69 Mariana Aparecida Gazolla INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PRESIDENTE PRUDENTE PARA A REGIÃO DA ALTA SOROCABANA..........................................................................................74 Beatriz Emboaba da Costa Mariana Maia Cruz Fernandes O SISTEMA FERROVIÁRIO NA REGIÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A FERROVIA SOROCABANA.....................................................78 Carlos Eduardo Almeida Sampaio Maria Terezinha Serafim Gomes TENDÊNCIAS DE INVESTIMENTOS NAS REGIÕES DE PRESIDENTE PRUDENTE E SÃO JOSÉ DO RIO PRETO................................................................................................................84 Felipe Augusto Leite Vaz de Lima Maria Terezinha Serafim Gomes TERRITÓRIOS DA INSEGURANÇA: O PROCESSO DE DIFERENCIAÇÃO SOCIOESPACIAL A PARTIR DA DISTRIBUIÇÃO DOS SISTEMAS DE SEGURANÇA E/OU VIGILÂNCIA EM PRESIDENTE PRUDENTE.........................................................................................................91 Luís Fernando Colombo

UMA ANÁLISE NO ESPAÇO – TEMPO DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS DO BANCO NACIONAL DE HABITAÇÃO (BNH) E DO PROGRAMA “MINHA CASA, MINHA VIDA” EM PRESIDENTE PRUDENTE/SP...................................................................................................96 Felipe César Augusto Silgueiro dos Santos

EIXO TEMÁTICO 4: “DINÂMICAS NATURAIS E QUESTÕES AMBIENTAIS” .....101

A GESTÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO: ESTUDO NA ÁREA DO MÉDIO PARANAPANEMA....................................................................................................................102 Larissa Figueiredo Daves Neide Barrocá Faccio. AS CARACTERÍSTICAS TÉRMICAS E HIGROMÉTRICAS DO RURAL PRÓXIMO DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP)...............................................................................................110 Guilherme Silva de Sousa AVALIAÇÃO DOS TIPOS DE TEMPO DE PRESIDENTE PRUDENTE: ANÁLISE DO MÊS DE MARÇO DE 2013......................................................................................................................115 Bruna Guldoni Antonio Jaschke Machado.

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CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE PONTOS AMOSTRAIS NO INTERIOR E NAS BORDAS DO PARQUE ESTADUAL DO MORRO DO DIABO, MUNICÍPIO DE TEODORO SAMPAIO-SP, A APARTIR DE ABORDAGENS CORRELATAS À ECOLÓGIA DA PAISAGEM.........................................................................................................................119 Alisson Rodrigues Santori CONFORTO TÉRMICO EM AMBIENTES EXTERNOS: UMA ANÁLISE DO PARQUE DO POVO EM PRESIDENTE PRUDENTE – SP............................................................................124 Alexandre Antonio Abate Renan Coelho da Silva Ritielle Cristina Aparecido CONTRIBUIÇÕES DA GEOMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA PARA A ANÁLISE DOS PROCESSOS HIDROGEOMORFOLÓGICOS NA BACIA HIDROGRÁFICA CÓRREGO DO VEADO, PRESIDENTE PRUDENTE/SP..................................................................................130 Nayara Rodrigues da Silva Isabel Cristiana Moroz Caccia Gouveia MAPA DOS COMPARTIMENTOS DE RELEVO DO MUNICÍPIO DE MIRANTE DO PARANAPANEMA – SP...........................................................................................................136 Mariana Lopes Nishizima João Osvaldo Rodrigues Nunes

EIXO TEMÁTICO 5: “ESPAÇO RURAL: QUESTÃO AGRÁRIA E RELAÇÃO

CIDADE-CAMPO” - 141

A CANA-DE-AÇÚCAR E SUA EXPANSÃO: O EXEMPLO EM CAIABU/SP..........................142 Lúcia Iaciara da Silva A EXPANSÃO DO AGROHIDRONEGÓCIO CANAVIEIRO E OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS.................................................................................................................147 Maria Joseli Barreto MUDANÇAS TÉCNICO-OCUPACIONAIS NO TERRITÓRIO DO AGROHIDRONEGÓCIO CANAVIEIRO E OS REBATIMENTOS PARA AS MIGRAÇÕES DO TRABALHO PARA O CAPITAL NOS CANAVIAIS DA REGIÃO ADMINISTRATIVA DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP) .........................................................................................................................................151 Fredi dos Santos Bento

JUVENTUDE E GÊNERO: VELHOS SUJEITOS E NOVOS CAMINHOS METODOLÓGICOS PARA A GEOGRAFIA AGRÁRIA............................................................................................156 Ana Lúcia Teixeira

Larissa Araújo Coutinho de Paula

O FINANCIAMENTO PÚBLICO NO SETOR SUCROENERGÉTICO: O PAPEL DO BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (BNDES)...........................161 Roberta Oliveira da Fonseca Antonio Nivaldo Hespanhol O PATRIMÔNIO EM ÁREAS DE ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA DO PONTAL DO PARANAPANEMA.............................................................................................................165 Barbara Cardoso da Cunha POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O FORTALECIMENTO DOS MERCADOS LOCAIS DE ALIMENTOS: O CASO DO PROGRAMA PAULISTA DA AGRICULTURA DE INTERESSE SOCIAL (PPAIS) NO MUNICÍPIO DE TUPI PAULISTA/SP....................................................169 Valmir José de Oliveira Valério

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EIXO TEMÁTICO 6: “OUTROS” - 173

A FALÁCIA DA LIBERDADE ESPACIAL NO AGROHIDRONEGÓCIO CANAVIEIRO DO EDR

DE ARAÇATUBA-SP............................................................................................174 Messias Alessandro Cardoso O OBSERVATÓRIO NEGRO – PRESIDENTE PRUDENTE – SP: PRIMEIROS RESULTADOS..........................................................................................................................179 Vanessa Ap. de Oliveira

VIGILÂNCIA EM SAÚDE: UMA PROPOSTA DE PLANO DE AÇÃO PARA A POPULAÇÃO QUE FREQUENTA A UNESP, CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE-SP........................183

Bruna Dienifer Souza Sampaio Edson Sabatini Ribeiro

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EIXO TEMÁTICO 1: “EDUCAÇÃO EM GEOGRAFIA:

DIÁLOGO DOCENTE E ENSINO NA ESCOLA”

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A IMPORTÂNCIA DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DA FCT/UNESP NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Jéssica Ribeiro do Carmo Santos [email protected]

Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus de Presidente Prudente

Bruna Guldoni [email protected]

Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus de Presidente Prudente

Daiane Barbosa Giroto [email protected]

Graduada em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus de Presidente Prudente

INTRODUÇÃO

As últimas décadas têm sido marcadas pela discussão em torno das

mudanças climáticas, tema este que ganhou grande notoriedade e acabou se

tornando parte do currículo das escolas, do qual seu conhecimento acerca do tempo e

clima se faz de extrema importância para a compreensão dos fenômenos climáticos e

sua atuação em nossa região. Tendo como base essa premissa, a Estação

Meteorológica da FCT/UNESP, construída em 1968, vêm contribuindo com instituições

públicas e privadas, tanto no que se refere à pesquisa e treinamento de pessoas,

como no ensino e aprendizagem do conhecimento geral da climatologia. Suas

principais contribuições são, a medição, o registro e disseminação de dados do tempo

e clima. Temos como objetivo neste trabalho de extensão junto as escolas contribuir

para o aprendizado teórico e prático dos alunos de como uma estação meteorológica

funciona, como os seus dados são coletados e que elementos e fatores climáticos

estão relacionados a essas medições.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para apresentação e entendimento dos alunos sobre os elementos

meteorológicos (temperatura, pressão, umidade relativa, etc.) realizamos um circuito

na Estação onde apresentamos os aparelhos que registram tais elementos, sendo

eles: anemógrafo, barógrafo, barômetro, geotermômetros, pluviógrafo, pluviômetro,

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termômetro de bulbo seco e úmido, termógrafo, evoporímetro de pichè, higrógrafo e

termômetro de relva. A estação conta também com uma maquete didática que

explicita as massas de ar atuantes na América do Sul, facilitando a compreensão e

estimulando o interesse por parte dos alunos.

Figura1: Anemógrafo

Figura2: Abrigo meteorológico

Fonte: Arquivo pessoal

Figura3: Maquete da Circulação Atmosférica na América do Sul

Fonte: Arquivo pessoal

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Figura 4: Projeto de PID aplicado na Estação

Figura 5: Visita escolar na Estação

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 6: Visita escolar na Estação

Figura 7: Vista da Estação

Fonte: Arquivo pessoal

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o ano de 2015 foram realizadas atividades extra estação, que

também contaram com a recepção das escolas do ensino básico. A participação da

Semana do Meio Ambiente, é um exemplo, cujo objetivo era a comemoração do Dia

do Meio Ambiente com a realização de atividades que promovesse interação entre

Universidade/Comunidade, o intuito principal era o de mobilizar alunos, professores e

comunidade em geral promovendo ações ligadas à educação ambiental.

Devido ao que foi proposto nesta semana temática, trabalhamos com o tema

Rios Voadores, que é uma nova terminologia de uma dinâmica atmosférica, que é

definida como “cursos de água atmosféricos formados a partir de massas de ar

carregadas de vapor d‟água, geralmente acompanhadas por nuvens, que são

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arremessadas em nosso continente pelos ventos alísios”, é a teoria da bomba biótica

(Nobre, 2014). A grande responsável por essa dinâmica é a floresta Amazônica, que

movimenta para dentro do continente essa umidade evaporada pelo Oceano Atlântico

e carregada pelos ventos alísios, e assim carregam umidade da Bacia Amazônica para

o resto das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Para a apresentação desse

trabalho foi confeccionada a maquete da América do Sul, onde tinha ilustrado os

biomas do Brasil e também as massas atuantes.

Outra atividade que ocorreu na Estação foi a aplicação de um projeto

desenvolvido em uma disciplina que é oferecida no quarto ano do curso de Geografia.

O trabalho teve como objetivo buscar uma maior aproximação entre os alunos da

escola pública do 2º colegial da E.E. Fatima Aparecida Costa Falcon com a UNESP, a

partir do contato e visita na estação. O objetivo foi despertar nos alunos o interesse,

mostrando as oportunidades que eles possuem ao ingressarem no ensino superior

público. Nossa principal estratégia foi a aproximação dos alunos a partir da

apresentação da Estação Meteorológica, usando alguns conhecimentos que

possuímos de climatologia, modelos explicativos, expondo diferentes instrumentos e

formas de medição das condições do tempo. A previsão do tempo é algo que a

maioria dos alunos possuem contato todos os dias em noticiários de televisão, porém

a forma como esses dados são medidos estão muito distante de seu entendimento,

por isso neste projeto buscamos aproximar tais conhecimentos do cotidiano destes

alunos.

No ano realização deste trabalho, além das atividades que ocorreram na

Estação e fora dela, descritas acima, também ocorreram as leituras diárias e visitas

das escolas, contabilizando um total de 12 visitas com a participação de 438 alunos

dentre eles alunos de escolas particulares, públicas e universidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desse projeto desenvolvido na estação é o de levar o conhecimento

aos alunos e professores que desejam compreender um pouco mais sobre o aspectos

climáticos e os instrumentos de uma estação meteorológica funcional, em resposta à

crescente preocupação com o clima que vêm aumentando devido às mudanças

climáticas globais. O conhecimento da atuação do tempo e clima faz-se necessário

para que possamos observar sua importância e influência em nosso cotidiano, onde o

ensino é primordial, tanto com relação a interação superfície-atmosfera como também

a interação homem-meio, para que possamos assim distinguir as transformações que

ocorrem entre ambas e como estas atinge os seres humanos.

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O objetivo deste projeto de extensão é alcançado, sendo ele o atendimento de

visitas das escolas. Dentro do que foi proposto, o que não temos é um feedback por

parte das escolas constatando se os alunos obtiveram melhor desempenho no

conteúdo abordado na visita, porém, podemos notar que com o retorno das escolas

com outras turmas, compreendemos que os resultados foram alcançados e positivos.

A organização de eventos como a semana do meio ambiente é importante para

que possamos, enquanto futuros educadores, contribuir com o ensino e aprendizagem

dos alunos, mostrando um panorama de terminologias que atualizam-se na ciência,

como a dos Rios Voadores, apresentando também uma perspectiva atual do ensino.

Almeja-se também com esse trabalho, na estação e fora dela, divulgá-la, tentar

dar uma maior credibilidade e visibilidade, pois ela tem sido esquecida no campus, não

possui funcionários, dependendo apenas de alunos bolsistas e voluntários. A sua

existência e funcionamento é de grande importância para alunos, pesquisas científicas

e comunidade em geral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MENDONÇA, Francisco e OLIVEIRA, Inês Moresco Danni. Climatologia noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de texto, 2007; NOBRE, A. D. O Futuro Climático da Amazônia. Relatório de Avaliação Científica. São José dos Campos, 2014; SANT‟ANNA NETO, João Lima; TOMMASELLI, José Tadeu Garcia. O tempo e o clima de Presidente Prudente. FCT-UNESP, Presidente Prudente, 2009; STRAHLER, Arthur N. e STRAHLER, Alan H. Geografia Física. Edição Espanhola, 1987. VENTURI, Luis A. Bittar. Praticando geografia técnicas de campo e laboratório. São Paulo: Oficina de textos, 2005.

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A IMPORTÂNCIA DO PIBID PARA A FORMAÇÃO DO DOCENTE DE GEOGRAFIA: RELATOS SOBRE A ATUAÇÃO DO SUBPROJETO “FAZENDO GEOGRAFIA POR

MEIO DE PROJETOS DE TRABALHO” NA ESCOLA ESTADUAL FERNANDO COSTA – PRESIDENTE PRUDENTE/SP

Daiara Batista Mendes

Email: [email protected] Graduação em Geografia

Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente

Bolsista do PIBID/ CAPES

Mateus Vantuir Cardozo Lopes Email: [email protected]

Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus de Presidente Prudente Bolsista do PIBID/ CAPES

INTRODUÇÃO

O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID - é uma

ação conjunta do Ministério da Educação, regulamentado em junho de 2010, com o

objetivo de apoiar a iniciação à docência de estudantes de licenciatura nas

universidades brasileiras, com o fortalecimento da sua formação para o trabalho nas

escolas públicas.

Este programa busca uma aproximação entre os alunos de cursos de

licenciatura e a escola de educação básica, permitindo a inserção dos futuros

professores no ambiente escolar e dando possibilidades a vivenciar as práticas

pedagógicas. Além disso, mantêm o diálogo entre a Universidade e escola, permitindo

que os estudantes possam contribuir para melhoria da escola pública, do ensino de

Geografia.

O PIBID do curso de Geografia na Faculdade de Ciências e Tecnologia da

UNESP- campus de Presidente Prudente teve início em 2014, com seis bolsistas,

atuando na Escola Estadual Fernando Costa, com o subprojeto “Fazendo Geografia

por Meio de Projetos de Trabalho”, sob a coordenação do Prof. Dr. Nécio Turra Neto e

com a supervisão da Profª Dra. Ana Claudia Dundes. As atividades foram

desenvolvidas com diferentes turmas do ensino médio.

As primeiras propostas partiram da Pedagogia de Projetos de Hernandéz

(1998), que traz uma concepção de currículo, de prática pedagógica, de relação

professor/a - estudante, com vistas a promover aprendizagens menos preocupadas

com o conteúdo e mais preocupadas em serem significativas para os estudantes.

Segundo Hernandéz (1998), o currículo deve ser uma construção entre professor/a e

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estudante na sala de aula, de modo que os conteúdos sejam abordados a partir das

questões problemas levantados. Assim é possível desenvolver o ensino como um

projeto de pesquisa.

No desenvolvimento das atividades, o professor ocupa o papel de orientador,

contribuindo no processo de aprendizagem, respondendo as questões que surgiram

durante o andamento do projeto. Nesta concepção, o professor/a não é o centro do

processo, nem o detentor do conhecimento que deve ser transmitido, mas um

motivador para um trabalho de aprendizagem protagonizado pelos estudantes.

Adotando esta perspectiva, este projeto do PIBID voltou-se para a cidade de

Presidente Prudente, enquanto local de vida dos estudantes do ensino médio. Era a

cidade, sua história, suas desigualdades socioespaciais e problemas ambientais que

deveriam ser problematizados. Com isto, não perdemos de vista as escalas mais

amplas, presentes nos livros didáticos, pois segundo Castrogiovanni (1999), no ensino

de Geografia, o local e o global formam uma totalidade, de modo que o lugar não pode

ser entendido como fora de suas conexões com o mundo. Daí a necessidade do

professor de Geografia buscar estabelecer relações, trazer questões para a análise do

cotidiano dos estudantes, para que eles possam se entender em contexto. Nesse

sentido, o objetivo da ação é trazer uma contribuição ao processo de ensino-

aprendizagem, que motive estudantes a participarem das ações, a compreenderem o

local que vivem, a poderem desenvolver outras leituras da sua realidade cotidiana.

Em muitos casos, no ensino de Geografia nas escolas estaduais, os temas

abordados da disciplina não partem dos problemas locais ou regionais, visto que

trabalham nas escalas nacional e internacional. Portanto, a proposta inicial do projeto

PIBID é produzir, junto aos estudantes, pesquisas no município de Presidente

Prudente sobre temas ligados a Geografia.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Durante o período de preparação para as ações na escola, foram discutidos

diversos textos sobre a juventude (DAYRELL, 1996), o currículo e o espaço escolar

(SILVA E MOREIRA, 1995), sobre ensino de Geografia (CALLAI, 1999;

CASTROGIOVANI, 1999) e sobre o trabalho com projetos na sala de aula

(HERNADEZ, 1998), a fim de preparar os bolsistas e amadurecer suas ideias. Na

etapa posterior, foi realizada uma análise da Proposta Curricular do Estado de São

Paulo, procurando elencar os conteúdos passiveis de serem trabalhados a partir da

realidade do aluno, para montar a intervenção com base neles.

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Após a escolha dos conteúdos, foram feitos levantamentos bibliográficos

sobre os assuntos e a coleta de dados na cidade, em locais como a Prefeitura

Municipal, o Ministério do Trabalho, além de uma pesquisa de campo na Rua Tenente

Nicolau Maffei, o calçadão de Presidente Prudente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do subprojeto do PIBID do curso de Geografia da FCT e a Escola

Estadual Fernando Costa se propôs a fazer várias atividades de intervenção

pedagógica. Tais atividades foram realizadas a partir de um planejamento conjunto

com o coordenador do projeto, a supervisora da disciplina de Geografia da Escola e os

bolsistas, no intuito de atingir os objetivos propostos.

A primeira intervenção foi realizada no contra turno junto a alguns alunos

doensino médio, que se interessaram pela atividade após a divulgação na escola, com

o tema “Leitura da Cidade”, a qual passou por diversos problemas e imprevistos

quanto às execuções das atividades e avaliações dos alunos que participaram das

experiências.

Na segunda proposta, os bolsistas foram divididos em grupos e atuaram nas

salas de aula, com os temas „‟Matrizes Culturais Brasileiras na Formação do Brasil‟‟ e

„‟Questão Ambiental: Manancial de Abastecimento de Presidente Prudente‟‟. Ambas

foram construídas juntamente com estudantes de duas salas distintas do ensino médio

e as atividades decididas ao longo das aulas, como a produção de Raps e grafites,

trabalhos de campo, entre outras relacionadas às temáticas.

A última intervenção do PIBID de Geografia na escola Fernando Costa, que

ocorreu no quarto bimestre de 2015, foi diferente das anteriores. Os seis bolsistas,

com o auxílio de uma voluntária, adentraram uma única sala de aula, para trabalhar o

conteúdo curricular “Imigrantes e Refugiados no Brasil”, tema que, apesar de estar

ligado às relações internacionais e, portanto, remeter à escala global e nacional, nos

colocava o desafio de buscar relações com aquilo que tínhamos conhecimento na

realidade local.

Cada bolsista ficou com um subtema, sendo eles: xenofobia, sírios,

chineses,haitianos, brasileiros no Japão e colombianos. Inicialmente, foi apresentado

um panorama geral da temática e os subtemas foram mostrados aos estudantes, que

se organizaram em grupos de quatro a seis pessoas e escolheram um tutor – bolsista

– para desenvolver o projeto de acordo com o subtema que gostariam de trabalhar.

Na construção do projeto de pesquisa sobre a presença de representantes

destes grupos migratórios em Presidente Prudente, cada tutor junto ao seu grupo teve

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que pensar em um resultado final da pesquisa, para ser apresentado para o restante

da turma, como uma forma de avaliação. Os grupos partiram de um trabalho de

investigação, realizando entrevistas no centro principal da cidade, perguntando opinião

das pessoas sobre temas como os refugiados sírios no Brasil; recolhendo notícias

sobre a chegada de imigrantes em Presidente Prudente e também realizando

levantamentos da quantidade de imigrantes que tiram carteiras de trabalho, no

Ministério do Trabalho.

O papel dos bolsistas foi de orientar os estudantes, mostrando conceitos

geográficos atrelados à imigração no Brasil e fatos que também estão presentes no

município de Presidente Prudente: imigração chinesa, refugiados haitianos, imigrantes

colombianos, japoneses retornados do Japão etc.

A intervenção teve um resultado bastante positivo, pois houve uma maior

proximidade entre bolsistas e estudantes, o que estimulou o envolvimento de cada um

no trabalho coletivo. Como materialização destas trajetórias investigativas, foram

produzidos seminários em Power point, cartazes, mas também pequenos vídeos com

entrevistas e mesmo pequenos documentários.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando estudantes e bolsistas avaliam os resultados, reconhecem a

contribuição do PIBID para sua formação. Aos primeiros, foi proporcionado um contato

com a pesquisa, quase nunca feita na escola e uma interface com os alunos da

graduação, podendo conhecer um pouco do universo acadêmico.

Quanto aos bolsistas, foi oferecido um contato mais profundo com a realidade

da escola, futuro ambiente de trabalho, algo que não fica muito evidente nos estágios

obrigatórios. Além disso, por meio da tutoria, estes puderam ficar mais perto dos

estudantes, conhecerem suas angústias, objetivos de vida, aspectos familiares etc.

Algo também considerado como de extrema importância neste contato com a

escola foi o conhecimento e experimentação de práticas didáticas que funcionam e

outras que não funcionam em sala de aula e, principalmente, uma visão crítica sobre a

educação pública brasileira, em relação à estrutura física do ambiente escolar (as

grades, temperatura da sala de aula, questões de higiene) e sobre a gestão, por

exemplo.

Em suma, o PIBID de Geografia vem cumprindo com maestria seu objetivo de

incentivar os alunos de licenciatura á seguirem a docência no ensino básico em

escolas públicas, pois a partir deste os bolsistas podem experimentar novas formas de

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trabalhar em sala de aula, fazendo com que os estudantes reconheçam a importância

do ensino de Geografia e interajam mais nas aulas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DUNDES, A. C.; SALVI, B. F.; CAMARGO, K. L. P.; GARCIA, M. S.; SILVEIRA, M. F. B. da; LOPES, M. V. C.; TURRA NETO, N. FAZENDO GEOGRAFIA POR MEIO DE PROJETOS DE TRABALHO: a experiência de um subprojeto de Geografia, na UNESP. Trabalho apresentado no I Encontro de Subprojetos do PIBID da FCT/UNESP, em 15 julho de 2015.

HERNÁNDEZ, FERNANDO. Transgressão e Mudança na Educação: os projetos de

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mapas políticos e culturais. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 1995. v. 1. 202 p.

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A PAISAGEM EM GODARD: CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA

Ana Letícia Peixe Euzébio [email protected]

Licenciada em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus de Presidente Prudente

INTRODUÇÃO

Este texto é resultado de pesquisa desenvolvida no Trabalho de Conclusão

de Curso e é desenvolvida no contexto das atividades e estudos articulados pelo

Grupo de Pesquisa Linguagens Geográficas (GPLG), portanto, busca experimentar

outros sentidos dos conceitos estruturadores da linguagem científica da geografia no

encontro com as linguagens artísticas. A obra polêmica e vanguardista do cineasta

Jean-Luc Godard (Paris, 03/12/1930), em sua completude, nos elucida uma pedagogia

da imagem, a qual, para os geógrafos, pode derivar para uma pedagogia da

paisagem, através das variadas composições, formas, maneiras de filmar, montar e

articular referenciais diversos da arte, da literatura, pintura fotografia e do próprio

cinema, assim como pela força política com a qual nos instiga a pensar sobre o que

seu cinema apresenta por meio de imagens e sons.

Com base em Silva (2013), a ideia deste artigo é abordar e trabalhar o cinema nos

currículos escolares não somente como recurso didático, que represente e ilustre os

mais variadas temas e conteúdos obrigatórios a serem trabalhados na sala de aula,

mas tomar o cinema em toda sua potência criativa, ou seja, pela sua linguagem

própria a partir de seus processos históricos de constituição de suas linguagens, suas

tecnologias e, sobretudo, a sua execução enquanto produção de sentido. Isso também

implica na importância de trabalhar o senso estético de jovens e crianças, conhecer as

mediações entre conhecimento e experimentação artística, levando em conta o projeto

atual de escola pública.

[...] sustentamos que a fruição estética audiovisual para uma educação transformadora deve se dar a partir do conhecimento e do reconhecimento dos elementos estéticos e, principalmente, da experimentação de novas possibilidades de criação nas diferentes formas de produzir sentidos com imagens e sons, tanto no conteúdo como na forma. (SILVA, 2013. p. 140-141).

Para Godard, gostar de cinema já seria aprender cinema. Pensar em filmes é

fazer filmes. A pedagogia godardiana se baseia em escrever cinema, criar formas e

sequências a partir de sons e imagens, ou seja, falar, comunicar, expressar a partir da

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arte. O próprio cineasta é um grande curador-criador, ele se reapropria de pinturas,

fotografias, cartazes, recortes de jornais, livros, poesias não para discursar sobre elas,

e sim para ressignifica-las, ultrapassá-las, segundo Daney (2007, apud SILVA, 2013,

p. 143). Para tal, o cineasta desenvolve um outro sentido de método, o qual Leandro

(2003) e vai dizer que

[...] consiste em deixar a obra aparecer diante de nossos olhos, em meio a dúvidas e questionamentos, coloca o espectador em condição de construir, ele mesmo, um saber sobre cinema. A técnica de escrita cinematográfica é apresentada como um conhecimento a alcance de todos, porque ligado à experiência de vida de cada um. O filme nasce das indagações que compartilhamos com o cineasta e é na confissão da fragilidade desse procedimento experimental que reside o essencial da pedagogia godardiana (p.687-688).

A experiência artística, o pensar e fazer cinema, passa pela reapropriação de

elementos, de linguagens, pois implica o cinema como problematizador da cultura, e

essa dimensão problematizadora passa pela educação, sendo essa educação sempre

uma experimentação de novas possibilidades de sentir o mundo, pensar a vida, criar

novos sentidos espaciais. A pedagogia godardiana é a ruptura narrativa do esquema

ensinar-aprender. A prática dessa pedagogia é deixar quem vê se apropriar e

reapropriar, pensar com o corpo, ver o filme com o corpo, deixar a elasticidade do

pensamento transfigurar os instintos.

Há muito se fala no potencial educativo do cinema, começando pelos

chamados "cinema de atração", ou "palestras ilustradas", de caráter informativo,

enciclopédico, cujo objetivo de mapear o mundo visível e consumível está

paralelamente atrelado ao uso de imagens que causam sensações ou emoções.

Godard dizia que o cinema mostra o invisível através do visível, pois se agenciam

dessa maneira todo um fora do até então sentido/pensado, toda uma virtualidade da

vida que pelo cinema se atualiza em sensações, gestos e pensamentos. O quadro, ou

enquadramento, institui as relações entre câmera e objeto, pois é “o quadro que institui

um fora-de-campo, lugar do potencial, do virtual, mas também do desaparecimento e

do esvaecimento: lugar do futuro e do passado, bem antes de ser o do presente"

(AUMONT, 1997, apud SILVA, 2013).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

De todo o amplo espectro de elementos que se pode abordar nos filmes de

Godard, vamos aqui fazer cortes e opções para tornar possível experimentarmos uma

abordagem geográfica. O foco da discussão é a ampliação dos referenciais de

entendimento do conceito de paisagem e de como podemos desdobrar das imagens e

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dos sons que Godard elabora por meio de seus enquadramentos, edição, colagens,

uso de luz, cores e sombras, estabelecendo a narrativa própria de seu cinema a

apresentar as formas dos corpos e fenômenos que nos afetam e nos instigam a

identificar o sentido espacial do que nesse cinema encontramos.

Para exercitar nossos estudos em relação a pedagogia do cinema em

Godard, assim como seu desdobrar no trabalho com o ensino de geografia, optamos

em abordar o filme O Demônio das Onze Horas (França/Itália. Colorido, 115 min.

1965). A estória narrada na trama do filme é simples, uma espécie de road movie.

Ferdinand Griffon (personagem de Jean-Paul Belmondo) está entediado com a vida

em Paris. Certo dia abandona a esposa e os filhos e foge com uma antiga amiga,

Marianne Renoir (Anna Karina), para o Mediterrâneo, mas o casal vai ser perseguido

por mafiosos e se envolver com tráfico de armas e conspirações políticas. A partir

disso, o que nos interessa não é o ambiente de fundo em que a trama se desenvolve

(a cidade de Paris, o litoral mediterrâneo, o relevo e vegetação que os personagens

percorrem), mas como os detalhes, enquadramentos de câmera e sonoridades

relacionadas a esses elementos assim filmados apontam para todo um fora do ali

enquadrado, sendo esse fora o contexto espacial que em nós é atualizado por meio de

nosso imaginário e experiências espaciais já vivenciadas, seja diretamente em nossas

vidas ou por meio de outras imagens, sons e filmes que tivemos contato.

Para analisar essas imagens, fizemos uso dos estudos de Gilles Deleuze

sobre o cinema (1983), de maneira a podermos abordar os tipos de imagens que no

cinema de Godard são criadas. A relação dessas imagens com a educação se dá por

meio de estudos sobre o cinema de Godard (COUTINHO, MAYOR, 2013), e o

desdobrar disso para a especificidade do ensino de geografia é abordado por meio

das ideias presentes em Douglas Santos (2008) e nos trabalhos organizados da Rede

Imagens Geografias e Educação (FERRAZ, NUNES, 2013; CAZETTA, OLIVEIRA JR.,

2013).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como a produção de novos significados se dá no encontro com o filme? A

margem de possibilidades que se encontra no uso da linguagem cinematográfica em

sala de aula sustenta a ideia de construção de uma educação libertária e

emancipatória? Como ampliamos, então, os campos de reflexão para pensar o filme

de forma a absorver a composição imagética e assim produzir novos significados? As

imagens potencializam o sentido filosófico de paisagem? Tais imagens são capazes

de providenciar a reorganização do pensamento para atingir tais objetivos?

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Os resultados são as perguntas, os questionamentos que se tensionam e que

formam os caminhos para se pensar cada vez mais as potencialidades do cinema no

contexto escolar do ensino de geografia. Ao experimentamos esse encontro com o

cinema de Godard, podemos desdobrar das suas imagens aquilo que Douglas Santos

identifica como a forma espacial dos fenômenos, ou seja, a paisagem dos lugares em

que a vida acontece (SANTOS, 2008). A imagem só se constitui paisagem no encontro

do fenômeno com o corpo que o sente/pensa (FERRAZ, NUNES, 2013). Nesse

sentido, o filme de Godard é a própria experimentação de outros sentidos

paisagísticos, para além do extensivamente captado, mas daquilo que intensivamente

podemos elaborar como forma espacial do fenômeno “filme” no contexto da sala de

aula.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do filme, é possível apreender diferentes formas de entendimento,

tornando aquele mosaico de imagens numa multiplicidade de paisagens que

desdobram do filme a partir do encontro com quem observa o mesmo e,

concomitantemente, com as anteriores experiências espaciais individuais, pois ao

perceber os fenômenos que ali acontecem, cria-se outros referenciais espaciais e

imagéticos, buscando criar parâmetro de localização e orientação na perspectiva de

dar sentido à obra visualizada, configurando-a por conseguinte como paisagem.

O que se demonstra hoje é a necessidade de quebra estrutural, de ruptura e

reinvenção, a rearticulação entre a arte e a conjuntura da instituição escola como um

todo. Definir estratégias para intensificar o pensamento criativo, emancipatório de

crianças e jovens. O cinema, enquanto instância de experimentação, aliado a outras

esferas, tanto a tecnológica quanto a cultural, necessita ser integrado aos currículos

educacionais desde suas bases históricas até a prática técnica, experimental, em toda

sua extensão.

Apresentar a história do cinema, as diferentes composições sonoras e

imagéticas, os processos de criação e produção de filmes, do roteiro à montagem,

permite incentivar a escola criar suas próprias narrativas e instaurar a liberdade

criativa e da reinvenção do cinema na escola.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAZETTA, V.; OLIVEIRA JR., W. M. (orgs.). Grafias do Espaço: imagens da educação geográfica contemporânea. Campinas-SP: Editora Alínea, 2013.

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COUTINHO, M. A.; MAYOR, A. L. S. (orgs.) Godard e a Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013

DELEUZE, G. Cinema 1: A imagem-movimento. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983.

FERRAZ, Claudio Benito O.; NUNES, Flaviana G (orgs.) Imagens, Geografias e Educação: intenções, dispersões e articulações. Dourados-MS: Ed. UFGD, 2013

LEANDRO, A. Lições de Roteiro por JLG. Educ. Soc., Campinas, v.24, n.83, p.681-701, 2003.

SANTOS, Douglas. O que é geografia? Inédito, 2008.

SILVA, Maria C. M. A reinvenção do(s) cinema(s) na formação do espectador contemporâneo: pedagogia godardiana. In: COUTINHO, M. A.; MAYOR, A. L. S. (orgs.) Godard e a Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013, p. 139-156.

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PEDAGOGIA DE PROJETOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA: UMA EXPERIÊNCIA

COM O ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA FLORIVALDO LEAL, PRESIDENTE

PRUDENTE - SP1

Carlos Eduardo Almeida Sampaio E-mail:[email protected]

Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia-UNESP

Campus de Presidente Prudente

Gabriel Mendes Araújo E-mail:[email protected]

Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia-UNESP

Campus de Presidente Prudente

Tamires Aparecida Souza Silva E-mail: [email protected]

Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia-UNESP

Campus de Presidente Prudente

INTRODUÇÃO

O presente trabalho vem com intuito de relatar uma experiência de ensino e

aprendizagem vivenciada pelos alunos do curso de Geografia da Faculdade de

Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

(UNESP), por meio do projeto de extensão “Geografia vai à escola”. As atividades

foram realizadas na turma do 8º ano do Ensino Fundamental da Escola Florivaldo

Leal, em Presidente Prudente – SP.

O projeto “Geografia vai à Escola” tem como objetivo estabelecer uma

aproximação entre universidade e escola, por intermédio de intervenções e

participação dos alunos integrantes do projeto, de um jeito alternativo de ensinar o

conteúdo do Caderno do Professor2. A partir do currículo do Estado de São Paulo,

buscamos juntamente com os professores de Geografia e coordenador pedagógico da

Escola traçar os “temas geradores” a serem trabalhados a partir de projeto de

intervenção, no sentido de que a escolha do tema e dos conteúdos é de

responsabilidade de todos e deve ser pensada de forma a contemplar a realidade do

aluno. O projeto em questão está alicerçado na pedagogia de projetos, na qual a

relação ensino/aprendizagem é voltada para a construção do conhecimento de

1Este texto faz parte relatos das atividades desenvolvidas no projeto de extensão “Geografia vai à

escola”, sob a coordenação da Profa. Dra. Maria Terezinha Serafim Gomes. 2O Caderno do Professor traz o conteúdo do Currículo Oficial do Estado de São Paulo e é distribuído pela

Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

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maneira dinâmica, contextualizada, compartilhada, envolvendo efetivamente a

participação de alunos e professores.

Atualmente, no âmbito da educação cada vez mais vem sendo discutido a

pedagogia de projetos3 no processo de ensino-aprendizagem. Os projetos de trabalho

traduzem uma visão diferente do que seja conhecimento e currículo, dessa forma

representam outra maneira de organizar o trabalho pedagógico na escola.

Para o educador espanhol Fernando Hernandez, a pedagogia de projetos

consiste:

[...] em projetos de trabalho não como uma metodologia, mas como uma concepção de ensino, uma maneira diferente de suscitar a compreensão dos alunos sobre os conhecimentos que circulam fora da escola e de ajudá-los a construir sua própria identidade. O trabalho por projetos requer mudanças na concepção de ensino e aprendizagem e, consequentemente, na postura do professor. (HERNANEZ,1998, p.49)

Ainda, Hernandez (1988) enfatiza ainda que o trabalho por projeto não deve

ser visto como uma opção puramente metodológica, mas como uma maneira de

repensar a função da escola. Compartilhando com esse pensamento, Leite (1996)

apresenta os Projetos de Trabalho não como uma nova técnica, mas como uma

pedagogia que traduz uma concepção do conhecimento escolar.

O Projeto é um processo que implica em analisar o presente como uma fonte

de possibilidade futura. É uma atividade humana, da sua forma de pensar em algo que

deseja tornar real, lançado para frente. Requer abertura para o desconhecido, para o

não determinado, ações projetadas evidenciam novos problemas e dúvidas. (MEC,

2013)

A pedagogia de projetos propõe mudanças na postura pedagógica, além de

oportunizar aos alunos um jeito novo de aprender, direcionando o

ensino/aprendizagem na interação e no envolvimento dos mesmos com as

experiências educativas que se integram na construção do conhecimento com as

práticas vividas, no momento da construção e resolução de uma determinada

situação/problema. Nesse sentido, tal proposta possibilita transformar o espaço

escolar em espaço vivo, colaborando com as mudanças significativas no ensino e para

a formação dos alunos como seres autônomos, conscientes, reflexivos e participativos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3 A pedagogia de projetos surge no início do século XX, com John Dewey e outros representantes da

chamada “Pedagogia Ativa " (LEITE, 1996).

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O projeto de extensão realizado em parcerias entre a Universidade (FCT/

UNESP) e a Escola Florivaldo Leal tem o período de duração de um ano, com quatro

intervenções, uma para cada bimestre do ano letivo dos alunos da rede pública. O

tema de cada intervenção foi escolhido de acordo com a dificuldade dos alunos em

assimilar determinado tema que será abordado futuramente no caderno do professor.

Para a escolha do tema foi realizada uma reunião com o professor titular da disciplina,

a coordenadora do projeto e os mediadores do projeto para pensar e elaborar uma

melhor forma de ensino - aprendizagem.

Para o desenvolvimento deste trabalho foram realizadas as seguintes

atividades: revisão bibliográfica sobre a temática de pedagogias de projetos, o

currículo oficial do Estado de São Paulo, bem como sobre os temas escolhidos para o

desenvolvimento das intervenções na escola, entre eles: o ciclo do carbono e recursos

renováveis como fonte de energia; reuniões com o professor de Geografia e

coordenação pedagógica da escola Florivaldo Leal, reuniões semanais para

organização das atividades de intervenção pedagógica com a coordenação do projeto;

realização de colóquios para discussão de temas relacionados ao projeto; realização

de pesquisa e coleta de material para a realização das atividades do projeto de

intervenção pedagógica e elaboração de materiais didáticos, acompanhamento das

aulas de geografia pelos alunos membros do projeto e, por fim, a intervenção

pedagógica. Durante a realização da intervenção foram utilizados os seguintes

recursos pedagógicos: slides no PowerPoint com gráficos, imagens, vídeos e além da

finalização da maquete escolar com a participação dos alunos.

Para a confecção da maquete escolar foram utilizados materiais simples tais

como: impresso colorida, tesoura, cola, isopor (1 m por 80 cm), lápis de cor,tinta

guache, pincéis, cartolinas preta e branca, papel laminado azul, moldes de

construções, bucha natural, árvores artificiais, galhos naturais, animais de brinquedo,

carrinhos, cone de papel higiênico, caixas de perfume, sabonete, creme dental,

remédio, folhas de plantas, entre outros materiais. A montagem da maquete foi

realizada pelos alunos bolsistas do projeto no qual mostraram de forma simples os

diferentes dois tipos de ciclo, o ambiente terrestre e o marinho. A finalização da

maquete ocorreu durante a intervenção com a participação dos alunos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

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O processo de ensino-aprendizagem alicerçado da pedagogia de projetos tem

como fundamento a integração, destacando o papel do educando, a relação com o

cotidiano.

As atividades do projeto de intervenção pedagógica foram desenvolvidas na

turma de 8º ano do ensino fundamental da Escola Florivaldo Leal. Inicialmente, foi

realizada uma reunião entre o professor de titular de Geografia da escola, a

coordenadora do projeto de extensão e os alunos mediadores do projeto para escolha

do tema a ser trabalhado. Privilegiaram-se temas que os alunos tivessem maiores

dificuldades em assimilá-los.

Antes da intervenção pedagógica foi realizado todo um planejamento para

definir as estratégias, as atividades a serem desenvolvidas, o material de pesquisa, a

definição do tempo de duração do projeto, e como será o fechamento do mesmo, além

de questionamentos sobre o tema.

A primeira intervenção na turma do 8° ano do ensino fundamental da escola

Florivaldo Leal teve como tema “O Ciclo do Carbono” 4. A partir da experiência obtida

com os primeiros contatos com a turma, procurou expor aos alunos as características

principais do tema abordado (O ciclo do carbono) através de apresentação em

PowerPoint, vídeos e maquete. Partiu-se de conhecimentos prévios, dúvidas,

questionamentos, curiosidades, objetivando encontrar respostas aos questionamentos

com a realização da intervenção. A intervenção pautou-se em algumas questões

norteadoras: O que é o ciclo do carbono? Como o carbono interfere em nossas vidas?

Qual é a relação do ciclo do carbono e o efeito estufa? Na sala de aula é possível

observar materiais compostos de carbono? Qual é a relação do carbono com o

cotidiano? Nessa intervenção foi abordado o ciclo do carbono terrestre e marinho,

destacando como ocorre sua fixação e liberação, a transformação do ciclo do carbono,

a intervenção humana e o ciclo do carbono, a relação do carbono com nosso

cotidiano, a presença de carbono no petróleo e os produtos feitos a partir do petróleo.

Para melhor compreensão do ciclo do carbono foi elaborada uma maquete escolar

com dois ambientes, o terrestre e o marinho. (Figuras 1 e 2) Os alunos puderam

observar como as ações humanas influenciam no ciclo do carbono, potencializando o

aumento da concentração de CO2 (gás carbônico) na atmosfera.

4 Caderno do professor, volume 1: Situação de aprendizagem 5 “As fontes e formas de energia: a fonte

energética da vida”.

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Fig. 1 – Maquete escolar – ambiente marinho Figura 2 – Maquete escolar – ambiente terrestre

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016. Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016 Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

O projeto foi desenvolvido em uma das turmas consideradas “problemáticas”

da Escola Estadual Florivaldo Leal, a 8º A, no sentido de desempenho e disciplina.

Através da intervenção foi possível analisar e visualizar a melhora no desempenho dos

alunos na matéria de Geografia. Essa análise foi feita a partir das avaliações

realizadas no momento da intervenção com o questionário de quatro perguntas: O que

você entende por ciclo do carbono? Faça uma ilustração (desenho) sobre o ciclo do

carbono. Relacione o efeito estufa com o ciclo do carbono.Quais são os pontos

negativos e positivos da intervenção realizada? Os alunos destacaram a importância

da aula, o uso dos slides, a maquete, fizeram ilustrações da apresentação do tema

Ciclo do Carbono, destacando os tipos do ciclo de carbono. Algumas falas dos alunos:

“gostei muito”, “gostei da maquete”, “aprendi muito”, “aprendi coisas novas”, “gostei

das imagens do telão, que deixaram as aulas mais interessantes”. Posteriormente, foi

realizada uma avaliação em sala de aula pelo professor titular da disciplina, na qual foi

observado melhoria no desempenho dos alunos, além disso eles passaram a

participar da aula.

No projeto de intervenção pedagógica em questão, um ponto importante para o

seu andamento foi o conhecimento sobre o cotidiano dos alunos, os professores da

disciplina Geografia e a escola, sendo de extrema importância para uma melhor

abordagem sobre o tema da intervenção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto “Geografia vai à escola” contribuiu para o aprimoramento na

formação dos alunos do curso de Geografia da FCT/UNESP integrantes do projeto em

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diversos aspectos, oferecendo antes de tudo prática e experiência de como se deve

trabalhar com alunos da escola pública. Além do mais o projeto permitiu o

conhecimento sobre o espaço escolar, bem como o cotidiano e a realidade dos alunos

da rede pública. O projeto também contribuiu para que todos os integrantes

adquirissem um melhor desenvolvimento dentro da sala de aula, ou seja, uma melhor

dinâmica para lidar com os alunos, já que futuramente estarão dentro do ambiente

escolar.

No trabalho por projetos o aluno constrói seu processo de aquisição do

conhecimento com a mediação do educador, assim, alunos e professores têm a

oportunidade de transformar a ação educativa, tornando-a prazerosa e mais

significativa. Essa postura em se trabalhar com Projetos contribui de forma efetiva na

formação integral do educando, criando condições de desenvolvimento cognitivo e

social.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BARBOSA, A. L. Dicionário de química. 2ª edição. Goiânia: AB Editora, 2000. FREIRE, P.Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. HERNANDEZ, F. Transgressão e mudanças na educação:os projetos de trabalho. Porto Alegre, Artes Médicas, 1998. _______.Repensar a função da escola a partir dos projetos de trabalho.Pátio, Porto Alegre, ano 2, n. 6, ago/ out. 1998. INPE. (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).Ciclo do carbono, Julho 2013. Disponível em: http://www.projetos.unijui.edu.br/formacao/_medio/ciencias/03_ciclo_do_carbono/03_ciclo_do_carbono.swf. Acesso em 1 de mai. 2016 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃ0 (MEC).Tecnologia currículo e projeto. 2013.Disponível em http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/1sf.pdf. Acesso em 28 de jul. 2016 OLIVEIRA, C.L.Significado e contribuições da afetividade, nocontexto da Metodologia de Projetos, na Educação Básica.2006. Dissertação de Mestrado em Educação Tecnológica.Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG. PRADO, M. E.B. Britto.;ALMEIDA, M. E. B.;MORAN, J.M.Pedagogia de projetos: fundamentos e implicações, integração das tecnologias na educação. Brasília, artigo cientifico. Ministério da Educação/SEED/TV Escola/Salto para o Futuro,2005,p.12-17. Disponível em:http://www.tvebrasil.com.br/salto. Acesso em: 10 abr. 2016. SILVA, L. P.; TAVARES, H. M. Pedagogia de projetos: inovação no campo educacional.Revista da Católica. v. 2, p. 236-245, 2010. Disponível em: http://catolicaonline.com.br/revistadacatolica2/artigosv2n3/16-Pedagogia.pdf. Acesso em: 10 de jul. 2016. SILVA, V. P.da.Geografia por meio de projetos de pesquisa: experiências em escolas públicas de Uberlândia – MG. Rev. Ensino de Geografia.v. 2, n. 2, p. 23-38, jan./jun. 2011. Disponível em: http://www.revistaensinogeografia.ig.ufu.br/Art%202%20REG%20v2n2.pdf Acesso em: 16 de set. 2016.

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POSSIBILITANDO ESPAÇOS EM A HARD DAY’S NIGHT: ENCONTROS ENTRE O CINEMA E A GEOGRAFIA

Jucimara Pagnozi Voltareli E-mail: [email protected]

. Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus de Presidente Prudente Bolsista PIBIC/CNPQ

INTRODUÇÃO

Esse artigo é o resultado do projeto “Linguagens Geográficas: outros

sentidos espaciais em A Hard Day‟s Night”, que é uma ramificação das propostas de

atividades e experimentações do “Grupo de Pesquisa Linguagens Geográficas

(GPLG)”, a qual possui como pesquisa norteadora “Linguagens Geográficas: entre

imagens e reverberações do ensino”. Ou seja, buscamos experimentar novas leituras

de conceitos geográficos a partir daquilo que se deriva de uma linguagem geográfica

institucionalizada, de maneira a contribuir novas formas de se pensar a pesquisa e

ensino em Geografia. Disso entendemos que nosso objeto seria uma possível analise

das potencias estéticas de uma obra cinematográfica, elaborada para o mercado

consumidor popular a partir de suas sensações, que atualizam e ampliam os

referenciais de um publico, a partir de conceitos da linguagem geográfica. Logo,

discutir possíveis sentidos do conceito de Espaço, de maneira que nos mostra o uso

de imagens e sons que reverberam no imaginário social contemporâneo e brasileiro.

Portanto trata-se de abordarmos a temática a partir do plano epistemológico, o qual se

coloca como um desdobrar de conhecimentos geográficos passíveis de serem criados

no contexto da sala de aula.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Justificando assim a pertinência do estudo por pensarmos que um objeto

artístico é possível de ser trabalhado pela linguagem geográfica, portanto, o referido

filme pode contribuir para melhor compreendermos a lógica territorial da sociedade

atual (MASSEY, 2008; FERRAZ, NEVES, 2012).

Logo, buscamos então a fazer uma pesquisa no plano epistemológico, com

leituras de textos sobre Cinema, Geografia e sobre os Próprios Beatles. Dentre os

textos de geografia que discutem cinema, destacamos David Harvey, para o qual o

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cinema “[...] tem talvez a capacidade mais robusta de tratar de maneira instrutiva de

temas entrelaçados do espaço e do tempo” (1993, p. 277).

Para fazermos essas ligações das linguagens geográficas e artísticas, e

analisar essa temáticas como um todo, precisamos pensar anteriormente nas

possibilidades filosóficas que são possíveis através dos escritos de Gilles Deleuze e

Felix Guattari, que demonstram a pertinência de trabalhar linguagens distintas, mas

que podem estabelecer intercessores no sentido de possibilitar novas formas de

pensar; baseando nisso, temos o conceito de “geofilosofia” (DELEUZE, GUATTARI,

1992) como forma de melhor perceber a força espacializante na criação de

pensamentos, assim como os processos de territorialização, desterritorialização e

reterritorialização desse pensamento enquanto vida imanente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Optou-se em abordar o filme “A Hard Day‟s Night” (Reino Unido. Dir.:

Richard Lester, 1964, preto e branco), o qual expressa processos de construção de

um mito popular juvenil, por estabelecer referenciais de identidade e também de

referenciais espaciais para um contingente populacional em nível mundial. Esses

referenciais são constituídos no processo de espacialização que o produto cultural

toma enquanto mercadoria e enquanto obra de arte, de maneira a estabelecer a

fetichização da mercadoria, capturando os consumidores em clichês imagéticos de

comportamento, gostos e valores, estabelecendo assim um padrão para todos que o

consumem, pelo fato do produto ser um produto mercadológico.

O consumidor que compra esse produto, geralmente um jovem ou

adolescente em idade escolar, se apodera dele e é assim pelo produto apoderado, de

maneira a reproduzir uma política espacial de corpos adaptados e reprodutores da

lógica espacial hegemônica – a lógica consumista do mercadorização capitalista.

Por outro aspecto, pelo fato dessa mercadoria ser uma obra fílmica,

carrega em si uma potência estética inerente a linguagem artística. Assim, por ser

arte, ela é tomada como um bloco de sensações (DELEUZE, GUATTARI, 1992) capaz

de instigar novas sensibilidades e pensamentos a partir do que está de fora do

universo mercadológico e com esse universo se relaciona de forma tensa.

É a partir dessas forças em conflito que o filme pode nos provocar a

atualizar e ampliar referenciais espaciais a partir da linguagem geográfica, ou seja, no

caso do produto A Hard Day‟s Night, temos a identificação do que é ser um jovem em

meio a sociedade atual a partir dos signos corporais identitários inerentes ao produto

ídolo jovem (no caso, os Beatles) que, ao ser consumido, se torna a forma de agir

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“genuinamente”, por conta dos referenciais tomados para si do produto, logo,

percebemos que, para ser esse adolescente é preciso reproduzir os clichês identitários

que o filme instiga. Apesar dos Beatles já não existirem atualmente enquanto banda

musical, a potência virtual de sua obra está sempre a se atualizar enquanto realidade

vivenciada por milhões de corpos no mundo de hoje, seus signos se repetem como

novidade até hoje, e esse tempo se coloca como multiplicidade espacial (MASSEY,

2008), constituindo a geografia de uma territorialidade adolescente.

Essa afirmação se reverbera no aspecto do filme “A Hard Day‟s Night” nos

proporcionar a identificação das potencialidades dessa virtualidade a se atualizar com

outros sentidos espaciais, os Beatles como signo de agenciador e emissor de

parâmetros de localização e orientação espacial através de novos encontros que

podemos experimentar, em especial no contexto escolar e da pesquisa geográfica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, optamos por entender a linguagem como o agenciador dos signos

que fazem nos corpos a criação de sentidos e significados, e forçam a rasura de um

campo linguístico, no nosso caso, o da ciência, quando está em contato com a outra, a

da arte (DELEUZE, GUATTARI, 1992). Essas diferenças, quando tensionadas,

rasuram, e nos leva a pensamentos possíveis, que possibilita a dar sentidos novos a

aquilo que já estava consolidado, tornando a questão da linguagem como uma

potencia criadora de novos signos, que a partir dos corpos se encontrando uma força

transformadora da realidade, estabelecendo assim, sentidos de orientação e

localização na sociedade enquanto vida. Se estabelecermos o cinema como uma

articulação de imagens e sons através do espaço e tempo, acabamos de construir um

sentido de movimento no tempo que acontece na percepção do espaço, que reverbera

no imaginário social que constroem sentidos espaciais conforme a potência criativa

dos sujeitos envolvidos com o produto cinematográfico. Ou seja, como a forma da

indústria cultural cria objetos que possuem potencialidades que mudam a sociedade a

partir da paisagem sonora e imagética criada, no caso desta pesquisa, os Beatles.

Diante disso, podemos traçar linhas de fuga frente a captura de referenciais

identitários que tornam os corpos disciplinados e controlados para reproduzirem os

parâmetros lógicos da espacialidade estabelecida pela lógica mercadológica do

capitalismo. No filme vemos sempre essa dubiedade de captura e crítica, de

reprodução e fuga da lógica dos valores da sociedade consumista. Esses momentos

se reverberam em cenas que, de um lado, os Beatles se colocam como prisioneiros

desse mundo estriado do capital, só restando a eles fugirem ou sucumbirem. No

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entanto, ao mesmo tempo, temos cenas que instigam a angustia e a resistência dessa

situação, como as que eles se encontram cercados e fechados em ambientes

estreitos, ou as que eles dançam livremente num território em aberto.

Analisar essas cenas e buscar nelas sentidos outros é o que nos desafia

enquanto professores de geografia, pois o que temos no filme A Hard Day‟s Night é a

expressão da lógica espacial e os conflitos identitários dos jovens e adolescentes que

os estudantes de hoje vivenciam, buscam ou resistem. Cabe aos professores de

geografia destacar esses elementos para instigar os alunos pensarem como se

localizar e se orientar no mundo de hoje. Os Beatles podem ser um referencial

espacial muito necessário.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DELEUZE, G; GUATTARI, F. O que é a Filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34, 1992. FERRAZ, C. B. O. Imagem e Geografia: Considerações a partir da Linguagem Cinematográfica. Espaço & Geografia, vol.15, n. 2, 2012. ______; NEVES, A. A. (Org.). Filmando em Mato Grosso do Sul: o cinema popular e a formação da identidade regional. Dourados, MS: Editora da UFGD, 2012. HARVEY, D. A construção pós-moderna. São Paulo: Layola, 1993. MASSEY, D. Pelo Espaço: Uma Nova Politica da Espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. OLIVEIRA JR., W. Combates e Experimentações: singularidades do comum. In: FERRAZ, C. B. O.; NUNES, F. G. (Org.). Imagens, Geografias e Educação: intenções, dispersões e articulações. Dourados: Editora UFGD, 2013, p. 303-314.

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PROJETO DE EXTENSÃO GEOGRAFIA VAI À ESCOLA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA ESCOLA FLORIVALDO

LEAL EM PRESIDENTE PRUDENTE-SP

Juliane Elizabeth Deltrejo de Deus

E-mail: [email protected] Aluna do curso de Graduação em Geografia

Faculdade de Ciências de Tecnologia – UNESP – Campus de Presidente Prudente Bolsista PROEX – BAEE II

Adriano da Silva Oliveira

E-mail: [email protected] Aluno do curso de Graduação em Geografia

Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP – Campus de Presidente Prudente

Maria Terezinha Serafim Gomes E-mail: [email protected]

Departamento de Geografia - Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP - Campus de Presidente Prudente

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo apresentar a experiência vivenciada nas

atividades de intervenção realizada nas turmas B e C do 1º ano do Ensino Médio da

Escola Florivaldo Leal, em Presidente Prudente – SP, por meio do Projeto de

Extensão “Geografia vai à Escola” 5.

Este projeto tem como objetivo estabelecer o estreitamento da relação entre

Universidade e Escola, por meio de projeto de intervenção pedagógica, visando à

construção do conhecimento e sua indissociabilidade entre ensino, pesquisa e

extensão. A realização de um projeto de intervenção numa escola de educação básica

da Rede Pública de Ensino surge da necessidade de aproximação dos alunos do

curso de Geografia da UNESP e a Escola, pois na maioria das vezes há um

distanciamento entre elas. A articulação entre a Universidade e Escola de Educação

Básica permite aos futuros professores conhecer o espaço escolar, bem como seu

cotidiano.

A proposta de projetos de intervenção na Educação Básica está calcada na

pedagogia de projetos a partir de Hernandez (1998) e na busca de uma aproximação

maior com a realidade do aluno, tornando a disciplina de Geografia mais interessante,

5 O projeto ”Geografia vai à escola” desenvolve atividades de intervenção pedagógica nas turmas de Ensino Médio e Ensino Fundamental da Escola Estadual Florivaldo Leal, em Presidente Prudente – SP, durante o ano de 2016.

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mais dinâmica, desse modo, contribuindo com o processo de ensino-aprendizagem.

Para Hernandez (1998)

O Projeto é, portanto, a re-significação do espaço escolar, tornando a sala de aula um ambiente dinâmico de interação, de relações pedagógicas e de construção do conhecimento. É mais do que uma forma de organizar o conhecimento escolar, pois, implica numa mudança de currículo e, consequentemente, numa mudança da própria escola; implica no desenvolvimento de um trabalho pedagógico cooperativo, compartilhado e de estudo de conteúdos para além do escolar, ou seja, numa visão de globalização relacional. (HERNANDEZ, 1998 p.50)

O projeto de intervenção buscou a partir de uma análise crítica-reflexiva no

contexto do local ao global, vice e versa trazer para o debate elementos do cotidiano,

no sentido, de mostrar como os problemas afetam as diferentes escalas geográficas.

Desse modo, o aluno aprende a partir de questionamentos, de pesquisas, de

descobertas e estabelecimentos de relações com a realidade em que ele vive.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a realização das atividades do projeto em questão foram realizadas as

seguintes atividades: realização de revisão bibliográfica sobre a temática de

pedagogias de projetos, o currículo oficial do Estado de São Paulo, bem como sobre

os temas escolhidos para o desenvolvimento das intervenções na escola, entre eles:

Sensoriamento remoto, Globalização, redes geográficas e Estrutura e forma do

planeta Terra; reuniões com a coordenadora pedagógica e a professora de Geografia

da Escola Florivaldo Leal, para escolha dos temas geradores das intervenções,

reuniões semanais com a coordenadora do projeto, a fim de discutir os temas, debater

os textos lidos e fichamentos realizados, para planejar as intervenções e preparar a

parte prática. Além disso, a realização de pesquisa e coleta de material para a

realização das atividades do projeto de intervenção pedagógica. Na sequencia foram

realizadas três intervenções nas turmas B e C do 1º ano Ensino Médio da Escola

Florivaldo Leal, em Presidente Prudente – SP entre os meses de maio, junho e agosto

de 2016. A primeira teve como tema “Sensoriamento remoto e a democratização

das informações”, a segunda com o tema “Globalização e redes geográficas” e a

terceira “Estrutura e forma do planeta Terra”. Durante as atividades das

intervenções foram realizadas aulas teóricas com uso de imagens de satélite, de

fotografias aéreas de Presidente Prudente, de mapas temáticos, de vídeos e

pesquisas em sites como o Google Earth, Maps, o CPTEC/INPE: Centro de Previsão

de Tempo e Estudos Climáticos, a NASA (National Aeronautics and Space

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Administration), bem como a realização de experimentos com a participação dos

alunos.

A turma para a realização da intervenção foi escolhida através da parceria

entre a escola e a universidade, mediada pela diretoria de ensino, onde o critério de

escolha foi a dificuldade, o baixo rendimento escolar e o desinteresse de grande parte

dos alunos pela disciplina geografia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o primeiro semestre de 2016 foram realizadas as intervenções

pedagógicas na escola Florivaldo Leal, com a participação dos alunos de graduação

em geografia da UNESP, a professora orientadora do projeto, a professora

responsável pela turma nas aulas de geografia e a coordenadora pedagógica da

escola. Cada intervenção foi realizada a partir de “temas geradores” em consonância

com o currículo oficial do Estado de São Paulo. Os temas foram escolhidos de acordo

com as dificuldades dos alunos, buscando realizar questionamentos e relação com o

cotidiano. As intervenções embasaram-se na pedagogia de projetos, proporcionando

mudanças na postura pedagógica, além de oportunizar ao aluno um jeito novo de

aprender, direcionando o ensino/aprendizagem na interação e no envolvimento dos

alunos com as experiências educativas que se integram na construção do

conhecimento com as práticas vividas.

A primeira intervenção teve como tema “O Sensoriamento Remoto: A

democratização das informações”, partindo das seguintes questões norteadoras: O

que é sensoriamento remoto? Para que serve? Qual a origem do sensoriamento

remoto? Como funciona? Quais os tipos de satélites? Quais são os seus usos e a

relação com o cotidiano? A intervenção foi realizada na sala de informática da escola.

Na primeira parte, foi realizada uma apresentação sobre o tema e relacionando com o

conhecimento a priori dos alunos. Durante a intervenção houve a participação dos

alunos com questionamentos sobre o tema. Na segunda parte, foi realizada a parte

prática da aula/intervenção, na qual os alunos seguiram um tutorial sobre os sites,

como, por exemplo, o CPTEC/INPE: Centro de Previsão de Tempo e Estudos

Climáticos, a NASA (National Aeronautics and Space Administration), o Google Maps,

Earth, entre outros, que disponibilizam informações meteorológicas, climáticas,

ambientais tanto de localizações geográficas distantes quanto do município em que

eles moram. (Fotos 1 e 2). Além das animações de imagens de satélite, também foram

mostradas algumas fotografias aéreas impressas do município de Presidente Prudente

do ano de 1962 e do Parque do Povo, do ano de 1995, destacando a evolução urbana

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e canalização do córrego do Veado e as transformações da área, hoje denominada de

Parque do Povo. Desse modo, durante a intervenção foram utilizados slides, vídeos,

imagens de satélites, fotografias aéreas.

A segunda intervenção como tema “Globalização e Redes geográficas”

ocorreu nos dias 23 e 27 de junho de 2016, para as turmas do primeiro ano do ensino

médio B e C, respectivamente. A intervenção teve como questões norteadoras: O que

é globalização? Quais as implicações da globalização? O que são redes geográficas?

Como funcionam as redes geográficas? Qual é o papel das novas tecnologias da

informação e da comunicação (TIC‟s)? Qual é a relação da globalização e o cotidiano?

Para a realização da intervenção foram utilizados slides, imagens, gráficos, tabelas,

além de um fragmento do documentário “O encontro com Milton Santos:

“Globalização: o mundo do lado de cá”, filme de Silvio Tender, 2006. Na intervenção

buscou-se discutir sobre o processo de globalização e seus impactos econômicos,

sociais, culturais, etc., mostrando o lado perverso da globalização.

A terceira intervenção foi realizada nos dias 25 e 29 de agosto de 2016, já no

segundo semestre de 2016 e teve como tema gerador “Estrutura e forma do planeta

Terra”. Partiu-se de alguns questionamentos: Como é a estrutura e a composição do

planeta Terra? Quais são e como agem os agentes internos e externos de

transformação do relevo? Como funciona a dinâmica atmosférica? Durante a

intervenção buscou-se apresentar fragmentos de vídeo para facilitar a compreensão

da escala geológica e da dinâmica atmosférica. Foram realizados experimentos sobre

geologia e climatologia com a apresentação de uma maquete com erupção vulcânica

(figura 3) e a formação de uma nuvem na garrafa. Os alunos tiveram a oportunidade

Foto 2 – Alunos observando a imagem de satélite do

rompimento da barragem do Fundão em Mariana (MG) Foto 1 – A primeira intervenção na sala de informática

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016 Fonte: Arquivo Pessoal, 2016

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de ter contato com diferentes amostras de rochas que caracterizam e formam a

litosfera terrestre, entre elas uma amostra da rocha magmática extrusiva, o Basalto, da

rocha magmática intrusiva, o Granito e de um Geodo com Ametistas, das rochas

sedimentares, o Arenito e o Varvito e da rocha metamorfizada, o Gnaisse. Assim,

tornou-se possível visualizar como essas rochas são utilizadas no nosso cotidiano, em

suas casas, proporcionando aos alunos a compreensão do mundo através da

geografia. Os alunos relataram que agora sabem sobre as rochas e os fenômenos

naturais e que todas as vezes que virem algo sobre o tema apresentado irá associar

diretamente à geografia. Os experimentos foram realizados com a autonomia dos

alunos e sob a orientação dos monitores.

Foto 3 – Maquete escolar – erupção vulcânica

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016

Com as intervenções, foi possível observar o gradual interesse dos alunos, em

especial na terceira intervenção supracitada. A interação dos alunos com os

experimentos demonstrou um avanço no rendimento escolar e um maior interesse

pela disciplina geografia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto surgiu com o objetivo de introduzir os alunos graduandos do curso de

licenciatura em geografia na dimensão do ambiente escolar, aproximar a instituição de

ensino superior com a educação básica e preparar tais profissionais para possíveis

situações e desafios futuros que existem no exercício da docência. Além disso, o

projeto poderá contribuir para sanar lacunas das questões pedagógicas do curso de

licenciatura em geografia, aproximando os discentes da realidade da educação básica

e principalmente da escola pública. O ambiente escolar da escola pública necessita

ser recriado e a participação no projeto faz perceber o envolvimento dos alunos e da

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instituição escolar sobre a aprendizagem e os conteúdos abordados na disciplina.

Identifica-se que ainda há uma concepção conservadora em determinadas formas de

transmitir o conhecimento e a pedagogia de projetos considera o projeto um recurso à

metodologia de trabalho que destina ao conteúdo desenvolvido atividades que

valorizam os alunos e os respeitem como participantes ativos em sua aprendizagem.

O envolvimento do aluno no processo de construção do conhecimento torna-o um ser

humano que aprimora suas práticas vividas e experiências culturais, transformando-o

em um sujeito crítico, criativo e reflexivo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTROGIOVANNI, A. C. et al. (orgs) Geografia em sala de aula: práticas e

reflexões. Porto Alegre: AGB – Seção Porto Alegre, 1998, p.71 – 76.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São

Paulo: Paz e Terra, 1996.

GEOCIÊNCIAS USP: O que é geologia? Disponível em:

http://www.igc.usp.br/index.php?id=158. Acesso em: 15 de ago. 2016.

HAESBAERT, R. (org.). Globalização e fragmentação no mundo contemporâneo.

Niterói: UFF, 2013.

HERNANDEZ, F. Transgressão e mudanças na educação: os projetos de trabalho.

Porto Alegre, Artes Médicas, 1998.

______________. Repensar a função da escola a partir dos projetos de trabalho.

Pátio, Porto Alegre, ano 2, n. 6, ago/ out. 1998.

MARTINS, J. S. Projetos de pesquisa: estratégias de ensino e aprendizagem em

sala de aula. Campinas: Armazém do Ipê, 2005. 184p.

PPEGEO:Desastres Naturais: Causas e Conseqüências. Disponível em:

<http://ppegeo.igc.usp.br/scielo.php?pid=S0101-

90822008000100022&script=sci_arttext>. Acesso em: 14 ago. 2016

SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência

universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.

SciencesPo Atelier de Cartographie. Disponível em: <http://cartographie.sciences-

po.fr/>. Acesso em: 22 jun. 2016.

SILVA, V. de P. da. Geografia por meio de projetos de pesquisa: experiências em

escolas públicas de Uberlândia – MG. Revista Ensino de Geografia, Uberlândia, v. 2,

n. 2, p. 23-38 jan./jun. 2011. Disponível em:

http://www.revistaensinogeografia.ig.ufu.br/Art%202%20REG%20v2n2.pdf. Acesso em

16 de set. de 2016.

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EIXO TEMÁTICO 2: “TEORIA E PRÁTICA: O TRABALHO,

A SAÚDE E A GEOGRAFIA”

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A MULTIPLICIDADE DO HIV/AIDS EM DIFERENTES ESCALAS: ESTUDOS BRASILEIROS

Mateus Fachin Pedroso E-mail: [email protected]

Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Bolsista FAPESP

INTRODUÇÃO

O surgimento do HIV6/AIDS7 no mundo resultou no envolvimento do meio

científico de diversas áreas do conhecimento, desde as ciências biológicas, até as

ciências humanas, para que houvesse uma melhor compreensão desse novo

fenômeno. O Brasil diagnosticou seus primeiros casos de HIV/AIDS em 1982 nas

grandes metrópoles (São Paulo e Rio de Janeiro), que de início foi caracterizada como

uma doença infecto-contagiosa (SÁ; COSTA, 1994).

Sabe-se que o HIV/AIDS apresenta características muito peculiares de

disseminação e expansão no que se refere a sua manifestação geográfica. Esta

doença atrela-se a fatores que compõem o meio em que estão inseridos, gerando

assim, uma epidemia multifacetada que possui características respectivas às áreas em

que se desenvolve. Como afirma Sadala e Marques (2006) ocorreram várias

mudanças em seu perfil, que veio se metamorfoseando mostrando que o perfil inicial

(masculino transmitido de forma homo/bissexual) adquiriu outras características,

gerando assim, o processo de heterossexualização, dessa forma acometendo

“mulheres, indivíduos de baixa renda, em cidades de pequeno e médio porte”

(SADALA; MARQUES, 2006 p. 2369), ocasionando em decorrência disso os

processos de feminização, pauperização e interiorização da doença.

MATERIAIS E METODOS

Este trabalho está embasado em um levantamento bibliográfico mais amplo e

aprofundado no que se refere à Geografia da Saúde em âmbito nacional, visto que,

este levantamento consiste em todas as dissertações e teses (disponíveis em

repositório eletrônico) com relevância e contribuições, que foram defendidas na área

6 Vírus da Imunodeficiência Humana, do inglês Human Immunodeficiency Virus

7 Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, do inglês Acquired Immunodeficiency

Syndrome

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de Geografia e/ou na área da Saúde. Tal levantamento foi realizado pelo Professor

Raul Borges Guimarães, e está disponível no site do Laboratório de Biogeografia e

Geografia da Saúde (BIOGEOS - http://www.geografiadasaude.com.br/) atualmente

com 223 trabalhos. Desta forma, foi-se apropriado das nove dissertações e teses que

tratam sobre a temática HIV/AIDS, para o desenvolvimento deste trabalho que visa

uma melhor compreensão da situação do HIV/AIDS em um contexto nacional.

Essa percepção pode ser constatada através dos diversos trabalhos

produzidos sobre o tema que tomam como recorte espacial, diferentes áreas do Brasil,

seja em escala nacional, estadual ou local, tendo diversos meios para desempenho de

estudos, visando assim, uma melhor compreensão do fenômeno do HIV/AIDS no

Brasil, (Costa-Couto, 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÔES

A partir de tal levantamento constatou-se que as escalas de análise foram

diversificadas, visto que muitos dos estudos tomam como recorte espacial as cidades

em geral; cidades de médio porte até capitais e metrópoles, como é o caso dos

estudos de Bueno (2010), Marchetti (2011), Oliveira (2007) e Silva (2003).

O estudo de Bueno (2010) buscou por meio de diferentes metodologias

evidenciar o perfil da AIDS na cidade de Piracicaba – SP. Tendo isto como base, a

presente autora analisou os sujeitos em questão por diversos segmentos (sexo,

preferência sexual, uso de drogas, faixa etária e razão por sexo), que elucidaram

assim, o recorte do assistencialismo, atendimento e a mudança constatada no perfil

dos portadores do HIV/AIDS na cidade de Piracicaba – SP, no decorrer dos anos.

Visto que este estudo buscou uma análise que possibilitasse “[...] a construção de

políticas públicas em saúde e o planejamento urbano, com o intuito em investir em

qualidade de vida nas localidades que mais necessitam de atenção, impedindo a

iniquidade social (BUENO, 2010, p. 119)”.

O trabalho de Marchetti (2011) se assemelha com o trabalho citado

anteriormente pelo fato de também tomar como recorte uma cidade de porte médio. O

presente estudo se deu sobre a cidade de Londrina – PR, e objetivou demonstrar a

distribuição de casos presentes na cidade desde o início da epidemia, tal que, foi

investigado os diferentes perfis acometidos que compõem a população londrinense. E

a partir de tal investigação, constatou-se que, a distribuição dos casos “[...] não

restringe-se apenas a uma porção da cidade, ela está presente em todas as regiões

da cidade com realidades socioeconômicas distintas corroborando com a ideia de que

todas as pessoas estão sujeitas a adquirir a doença (MARCHETTI, 2011, p. 151)”.

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Já, o estudo de Oliveira (2011) toma como recorte espacial a cidade de São

Paulo, e teve como objetivo analisar o contexto das infecções por HIV e as mortes em

decorrência da AIDS, tendo como recorte temporal o período de 1996 a 2007. Este

trabalho teve por base uma metodologia estatística que visava demonstrar tendências

ao longo do período analisado, colocando em pauta a distribuição dos centros de

atendimentos contrapostos com os agrupamentos espaciais da doença, com o intuito

de demonstrar as áreas que apresentam maior vulnerabilidade em relação à doença e

o sistema de atendimento. Seguindo tal metodologia, foi possível a realização do

mapeamento dos novos casos de HIV, tanto como a elaboração de mapas que

demonstravam o nível de mortalidade por AIDS, visto que, “as técnicas de varredura

espacial e representação cartográfica permitiram identificar áreas de risco

significativas, para as quais devem ser direcionadas campanhas de prevenção

(OLIVEIRA, 2011, p. 55)”.

O trabalho desenvolvido por Silva (2003) assemelha-se em alguns aspectos

ao trabalho citado anteriormente, isso, devido à forma de análise desenvolvida durante

o estudo, e também pelo fato de se tratar de uma capital de estado, neste caso

Manaus – Amazonas. Este trabalho traz como objetivo demonstrar a particularidade

conferida ao fenômeno do HIV/AIDS que ocorre em Manaus, mostrando que este

possui características que não se assemelham a outros lugares do Brasil. Além disto,

o presente estudo trouxe como preocupação fazer-se conhecer a realidade local e

estabelecer políticas de saúde que vão de encontro à necessidade, para que assim,

possa-se haver controle de tal agravo levando em consideração as singularidades

culturais, geográficas e políticas SILVA (2003, p. 139).

Tendo isto como pressuposto vê-se que são diversas as escalas em que o

HIV/AIDS pode ser analisado, visto que traz-se para debate tais análises em nível de

estado como é o caso dos estudos de Alves (2010) e Prado (2008). Nos estudos de

Alves (2010) tomou-se como recorte o estado de Rondônia, tendo como meio de

entendimento a dinâmica interna do HIV/AIDS por meio da participação dos

municípios. O trabalho apresentou resultados que evidenciaram fenômenos já

apontados em outros trabalhos, visto que a epidemia atingiu Rondônia pelas camadas

menos favorecidas, sendo a transmissão sexual o principal meio de disseminação da

doença, atingindo as pessoas de baixa escolaridade, com forte e crescente incidência

no público feminino.

Fatores como este evidenciam a necessidade de se aprofundar o olhar para o

contexto geográfico no qual o fenômeno está inserido, para que assim, haja uma

melhor leitura do objeto de análise. Este aspecto também está presente nos estudos

de Prado (2008) que toma como recorte de análise o estado de São Paulo. Prado

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(2008) busca compreender a disseminação da HIV/AIDS no estado de São Paulo,

visto que este representa quase que metade dos casos de AIDS notificados no Brasil.

Tal dimensão permite a realização da análise espaço-temporal que tem por objetivo

elucidar as transformações ao longo do tempo. Neste estudo, faz-se uso de análises

espaciais, demonstrando que o uso na área de saúde ainda é restrito, no entanto de

suma importância. Sendo que, assim se permite “estimar associações temporais,

espaciais e efeitos de interação; contribuem para a compreensão dos processos de

disseminação espacial das doenças ao longo do tempo (PRADO, 2008, p. 17)”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo destas interpretações sobre as diferentes manifestações da

epidemia de HIV/AIDS nos trabalhos apresentados anteriormente, é possível concluir

que é imprescindível ter a compreensão de escala como “a medida que confere

visibilidade ao fenômeno. Ela não define, portanto, o nível de análise, nem pode ser

confundida com ele, estas são noções independentes conceitual e empiricamente.

(CASTRO, 2007, p. 123)”. Deste modo, é necessário abordar o conceito de

vulnerabilidade (Garcia e Souza, 2010), pois, este trata sobre as questões que

envolvem as diferentes iniquidades sociais presentes na manifestação do HIV/AIDS.

Desta maneira, parafraseando Ayres et. al (2003), traz-se para debate a questão da

conjuntura, seja ela de forma individual ou coletiva em relação a exposição ao risco e

o acesso as informações e maneiras de se defender e/ou proteger da doença.

Tais estratégias apontam que há a necessidade de um reforço acentuado que

se direciona as políticas de saúde voltadas ao HIV/AIDS, como também se deve

atenção às especificidades de cada área, para que as políticas de saúde se adéquem

conforme a necessidade apresentada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, M. M. M. Distribuição espaço-temporal da Aids no estado de Rondônia, 1994 – 2008. 2010. 78 f. Dissertação (Mestrado em Mobilidade Profissional em Saúde Pública) – Fundação Oswaldo Cruz, FIOCRUZ. AYRES, J. C. R. M. et al. O conceito de vulnerabilidade e as praticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia, D.; FREITAS, C. M. de. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro, FIOCRUZ, 2003. BUENO, N. H. As doenças infectocontagiosas em cidades de médio porte: uma abordagem qualitativa da AIDS em Piracicaba/SP. 2010. 161 f. Dissertação (Mestrado

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em Geografia) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista. CASTRO, I. E. O problema da escala. In: CASTRO, I. E; GOMES, P. C. C; CORRÊA, R. L. Geografia: conceitos e temas.10° ed. Rio de Janeiro – RJ: Bertrand Brasil, 2007, p. 117-140. COSTA-COUTO, M. H. A vulnerabilidade da vida com HIV/AIDS. 2007. 211 f. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Medicina Social. GARCIA, S; SOUZA, F. M. de. Vulnerabilidades ao HIV/AIDS no contexto brasileiro: iniquidades de gênero, raça e geração. Rev. Saúde e sociedade, São Paulo, SP, v. 19, n. 2, p. 9-20, maio. 2010. MARCHETTI, M. C. O perfil da população e a espacialização dos casos registrados de AIDS em Londrina: uma contribuição para a Geografia da Saúde. 2011. 169 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Centro de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Londrina. OLIVEIRA, D. R. A dinâmica da distribuição espacial da infecção por HIV e da mortalidade por AIDS no município de São Paulo de 1996 a 2007. 2011. 100 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. PRADO, R. R. Análise espaço-temporal dos casos de aids no estado de São Paulo – 1990 a 2004. 2008. 106 f. Tese (Doutorado em Ciências – Medicina Preventiva) – Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo. SÁ, C. A. M. de, COSTA, T; Corpo a corpo contra a AIDS. 1. ed. Rio de Janeiro: REVINTER, 1994.

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PARA ALÉM DO VISÍVEL NOS CANAVIAIS DO PONTAL DO PARANAPANEMA: A SAÚDE DOS TRABALHADORES EM CHEQUE SOB O AVANÇO DO CAPITAL

AGROINDUSTRIAL CANAVIEIRO

Gabriel Ferreira

E-mail: [email protected] Graduando em Geografia

Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Bolsista CNPq

Antonio Thomaz Junior

E-mail: [email protected] Professor Adjunto do Departamento de Geografia

Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Fredi Dos Santos Bento E-mail: [email protected]

Mestrando em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

INTRODUÇÃO

A virada do século XX para o século XXI é marcada por uma ofensiva do

capital sobre o trabalho que busca não apenas precarizar as formas de contratação,

pagamento, os salários e as condições de trabalho, mas também capturar a

subjetividade dos trabalhadores (ALVES, 2000), entendida enquanto consciência de

classe e afetividade (SILVA, 2006). Dessa forma, o avanço do capital sob o signo da

reestruturação produtiva e da sua respectiva mundialização, se soma às condições

facilitadas pela era neoliberal.

Esse avanço do capital agroindustrial canavieiro encontrou no Pontal do

Paranapanema território propício para sua reprodução, já que se aproveitou do

histórico de grilagem e seus efeitos nas vantagens comparativas que se fazem

presentes nos menores preços da terra (tanto para aquisição quanto para

arrendamento), e ainda da garantia de mão de obra local, bem como a de

trabalhadores migrantes que se submeteriam às árduas jornadas de trabalho, à

remuneração por produção e toda sorte dos descumprimentos e arbitrariedades

(THOMAZ JUNIOR, 2012).

As bases estratégicas estavam dadas para o expansionismo do

agrohidronegócio canavieiro no Pontal do Paranapanema, como salienta Thomaz

Junior (2009) ao afirmar que foi somente a partir de 2005 que a expansão da cana-de-

açúcar e da atividade agroindustrial canavieira, se expressa de forma marcante,

saltando de 78.000 ha em 2002, para 370.000 ha, em 2009. Todavia, salienta o autor

em estudo posterior, que as dimensões econômicas e política, se juntam para oferecer

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os principais atrativos ao capital nesse território (THOMAZ JUNIOR, 2013). Isto é, de

um lado, tem-se as terras griladas objeto de interesse tanto pelo capital quanto pelos

movimentos sociais envolvidos na luta pela terra e, por outro, o isolamento no qual são

mantidos os trabalhadores (as) assentados ou camponeses, nos assentamentos rurais

oriundos da luta pela terra – via de regra desassistidos pelas políticas públicas – então

mão de obra cativa para o capital agroindustrial canavieiro.

É nesse cenário da ofensiva do capital sobre o trabalho, encimado na

reestruturação produtiva que se tem o agravamento da precarização e da exploração,

a contar com novos expedientes para a captura da subjetividade do trabalho e os

arranjos organizacionais do processo de trabalho. Tudo isso, em meio à crise que

abate o sindicalismo de massa/taylorista/fordista, que encontra na era neoliberal

muitas dificuldades para entender as necessidades e desafios impostos e,

consequentemente, articular e organizar os trabalhadores para as lutas específicas e

gerais.

Diante disso, buscaremos nesse texto apresentar algumas reflexões, que

estão englobadas em nosso objetivo que é fazer algumas ponderações quanto aos

desdobramentos da transição tecnológica do corte da cana, que compreendemos

como aprofundamento e expoente da reestruturação produtiva; na organização política

e econômica dos trabalhadores, entendido aqui na figura dos STR‟s (Sindicato dos

Trabalhadores Rurais), assim como na saúde da classe trabalhadora, mais

precisamente na relação saúde-trabalho em uma perspectiva de determinação social

dos agravos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Em termos de procedimentos metodológicos estamos efetuando revisão

bibliográfica referente à temática em questão, coleta de dados de fonte secundária e

realizando pesquisa de campo no Pontal do Paranapanema, com especial atenção

voltada para os municípios de Presidente Prudente, Caiabu e Mirante do

Paranapanema; para entrevistarmos (utilizando de roteiros semi-estruturados)

trabalhadores adoecidos, representações sindicais e representantes do setor

canavieiro.

Julgamos essencial mencionarmos que estamos no início de nossa pesquisa,

e dessa forma o material resultante de nossas reflexões ainda será aprofudado e mais

adiante disponibilizado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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A primeira reflexão segue na direção do processo de adoecimento dos

trabalhadores que atuam na produção canavieira do Pontal do Paranapanema.

Constata-se que os trabalhadores do setor agroindustrial canavieiro estão cada vez

mais adoecidos.

Se não tentarmos estabelecer um nexo causal com relação ao trabalho que

estes homens e mulheres exercem na agroindústria, cairíamos na mesma análise

isolada, fragmentada, a-histórica e positivista da medicina do trabalho ou de outros

profissionais da saúde. Dessa forma, optamos por uma análise da determinação social

dos agravos por acreditarmos que esta consiga dar conta dessa realidade fluída, e nos

possibilite a compreensão dos motivos que estão levando a população trabalhadora do

Pontal do Paranapanema a adoecerem. Os distritos de Presidente Prudente são muito

didáticos quanto queremos demonstrar essa realidade perversa. A maior parte dos

entrevistados apresentava algum problema de saúde, sejam estes mentais

(depressão, stress, síndromes) ou físicos (alguns tinham perdido os movimentos nas

mãos, ou tinham perdido 50% da sensibilidade nos dedos, apresentavam problemas

na coluna).

Essa situação se agrava quando presenciamos um quadro de refluxo de

trabalhadores sindicalizados nos STR‟s (Sindicato dos Trabalhadores Rurais). Essa

segunda reflexão nos revela a complexidade e gravidade da situação, considerando

que a maneira de dar uma resposta ao avanço do capital sobre o trabalho partiria

sobretudo das organizações da classe trabalhadora, sendo uma das principais

representações desta, os sindicatos.

Os poucos trabalhadores que ainda possuem vínculo com essas entidades

organizativas não se sentem representados, pois estes sindicatos na realidade quase

sempre se posicionam ao lado do patronato. Outro grupo de trabalhadores

simplesmente alega desconhecimento quanto a atuação dos STR‟s da região. Assim

constata-se a existência, para agravar o quadro dos adoecimentos, de uma crise do

sindicalismo que não têm dado conta de dar uma resposta aos anseios dos

trabalhadores que constantemente se sentem traídos por entidades organizativas

mergulhadas na burocracia e frequentemente posicionadas ao lado do patronato.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa tem nos permitido constatar que no Pontal do Paranapanema a

ofensiva do capital em ambiente de reestruturação produtiva tem como expoente e

estratégia para otimização da produção e dos lucros a transição tecnológica.

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Neste cenário, tendo como pano de fundo a luta de classes em um território

marcado historicamente por conflitos pela terra, a saúde e organização dos

trabalhadores mais do que nunca estão colocados em xeque. Sobretudo a saúde dos

trabalhadores rurais, em sua relação com o trabalho nas agroindústrias espalhadas

pelo Pontal.

A questão que se coloca como central e que nos chama a atenção é que

através da transição tecnológica e opção do empresariado paulista pelo uso de

agrotóxicos, se revela uma intensificação das chances dos trabalhadores se

envolverem em “acidentes de trabalho”, adoecerem por causas laborais, ou serem

envenenados pela quantidade absurda de venenos/agrotóxicos utilizados pelas

agroindústrias. Nosso início de pesquisa já nos indica isso. Revelar essa situação

perversa de avanço do capital sobre o trabalho é fundamental para tentarmos

contribuir para uma resposta à altura por parte das entidades dos trabalhadores, como

é o caso dos STR‟s (Sindicato dos Trabalhadores Rurais), muito embora estas

organizações se encontrem em um profundo processo de crise de representatividade,

com redução da taxa de trabalhadores sindicalizados, atolamento na burocratização

sindical, e incapacidade (ou no mínimo dificuldade) de fazer o diálogo entre as

categorias de trabalhadores.

Concluímos assim, a partir das leituras e trabalhos de campo em nosso

recorte, que o quadro de avanço do capital sobre as esferas da vida do trabalhador, e

especialmente a saúde, é factível em todos os lugares do mundo. No Pontal isso

tomou a face de venenos devido à opção do empresariado paulista pelo pacote de

quimificação, e (re) arranjos perversos para a saúde do trabalhador provenientes de

táticas e estratégias inerentes à reestruturação produtiva e seu expoente entendido

por nós como transição tecnológica na realidade territorial do Pontal: a forma de ser do

trabalhador e de se inserir no trabalho, vínculo empregatício, forma de pagamento,

rotina e exploração do trabalho, e os rebatimentos na saúde e formas de

organização/representação, mais do que nunca são colocados à prova.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, G. O Novo e precário mundo do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2000.

SILVA, M. A. M. A morte ronda os canaviais Paulistas. Revista Abra, V.3, N.2, ag/dez, 2006, p. 11- 143.

THOMAZ JUNIOR, A. Dinâmica Geográfica do Trabalho no Século XXI (Limites explicativos, Autocrítica e Desafios Teóricos). Tese (Livre Docência em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista. Presidente

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Prudente, 2009, volumes 1 e 2. Disponível em: <http://www4.fct.unesp.br/ceget/LD/inciar.html>. Acesso: 14 abr. 2012

______. Degradação e Centralidade do Trabalho (As Contradições da Relação Capital x Trabalho e o Movimento Territorial de Classe). Pegada, Presidente Prudente, 2012, V.13, N°2, p. 4-19.

______. A Nova Face do Conflito pela Posse da Terra no Pontal do Paranapanema (SP): Estratégia de Classe do Latifúndio e do Capital Agroindustrial Canavieiro. In: Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil. V.2. ANTUNES, R. (Org.). São Paulo: Boitempo, 2013. pp. 325-340.

EIXO TEMÁTICO 3: “REGIÃO E CIDADE:

DESENVOLVIMENTO E URBANIZAÇÃO”

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ANÁLISE DOS PROJETOS DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA IIRSA PARA A AMÉRICA DO SUL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES 8

Camila Manoel Pereira Martinelli E-mail: [email protected]

Bacharelanda em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus de Presidente Prudente

INTRODUÇÃO

A temática de integração regional vem sendo discutida há décadas por

diversos pensadores, ressurgindo após o término da Segunda Guerra Mundial como

meio de facilitar o desenvolvimento entre os países.

O ideário de integração na América Latina surgiu em meados do século XIX,

com Simon Bolívar, e ficou conhecido como Bolivarianismo. O objetivo era integrar

todo o continente americano, transformá-lo em uma potência e se livrar do

imperialismo Ibérico, o que de fato, não ocorreu.

Ao decorrer de todo o século XX a América Latina foi alvo de algumas

propostas integracionistas. Nos anos de 1948 surgiu a Comissão Econômica para a

América Latina e Caribe (CEPAL). Em 1960 foi criada a Associação Latino-Americana

de Livre Comércio (ALALC), sendo substituída pela Associação Latino-Americana de

Desenvolvimento e Intercâmbio (ALADI) nos anos de 1980, se expandindo com a

adesão de novos países membros. Em 1961 houve a criação de Mercado Comum

Centro-Americano (MCCA), com o objetivo de criar um mercado comum na região. A

criação da Comunidad Andina (CAN) fundamentada em 1969. Em 1973 surgem a

Comunidade do Caribe (CARICOM). Todas essas propostas sob a perspectiva do

“regionalismo fechado”, estritamente comercial.

A partir dos anos de 1990, novas propostas de integração surgem, como, o

Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), em 1991, a Área de Livre Comércio das

Américas (ALCA), em 1992 e o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA)

em 1994. Tais propostas surgem no contexto da adesão do ideário neoliberal sob a

perspectiva do “regionalismo aberto”, baseava na desregulamentação e liberalização

econômica, com o objetivo de aumentar a competitividade para a região.

8Este trabalho faz parte de discussões que vem sendo realizado junto o trabalho de conclusão de curso

Intitulado “Estudo do Desenvolvimento e Integração da Tríplice Fronteira Brasil, Bolívia e Peru, Nas Cidades de Assis Brasil – BR, San Pedro Bolpedra – BO, Iñapari– PE”, sob a orientação da

Profa. Dra. Maria Terezinha Serafim Gomes.

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Mais recente, a partir dos anos 2000, houve a criação da Aliança Bolivariana

para os Povos da Nossa América (ALBA), em 2004, no mesmo ano o surgimento da

Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA/CSN), que a partir de 2008 se tornaria

União de Nações Sul-Americanas (UNASUL). Essas propostas de integração regional

baseada no regionalismo pós-liberal (SERBIN, 2010), agora não, mais estritamente

comercial, envolvendo as dimensões sociais e política, com novos temas, entre eles: a

questão ambiental, segurança, saúde e educação.

Como visto desde o século XX, existiram inúmeras propostas de integração

regional, todavia, nenhuma delas estava direcionada a integrar a partir estrutura

logística da região.

A partir do surgimento de desafios na integração são percebidas dificuldades

de infraestrutura entre os países da América Latina, desta forma, foi lançado em 2000

um processo de integração e cooperação de múltiplos eixos que integra os dozes

países independentes da América do Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,

Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela). O resultado foi à

criação da Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana (IIRSA).

A IIRSA iniciou-se com o objetivo de construir uma agenda comum entre os

países membros para impulsionar projetos de integração e infraestrutura, transporte,

energia e comunicações. O planejamento territorial da IIRSA está organizado em

Eixos de Integração e Desenvolvimento (EID), como pode-se observar na figura 1.

FIGURA 1: Eixos de integração e desenvolvimento da IIRSA. Fonte: IIRSA, 2010.

A figura 1 mostra os Eixos de Integração e Desenvolvimento (EID) da

proposta IIRSA: o Eixo Andino (Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia), eixo de

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Capricórnio (Norte do Chile e da Argentina, Paraguai, Sul do Brasil), eixo do

Amazonas (Colômbia, Peru, Equador, Brasil), eixo do Sul (Sul do Chile/Talcahuano e

Concepción, e da Argentina/Neuquén e Baia Blanca), eixo Interoceânico Central

(Sudeste brasileiro, Paraguai, Bolívia, norte do Chile, sul do Peru), eixo Mercosul-Chile

(Brasil, Argentina, Uruguai, Chile), eixo da Hidrovia Paraguai-Paraná (Sul e sudoeste

do Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai), eixo do Escudo Guiano (Venezuela, Guiana,

Suriname, extremo-norte do Brasil), eixo Andino do Sul (Região Andina de fronteira

Chile-Argentina) e o eixo Peru-Bolívia-Brasil.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este artigo traz os resultados baseados em análise bibliográfica e

documental, buscando fazer ressalvas às propostas de integração e desenvolvimento

da IIRSA, a fim de analisar os projetos de infraestrutura que estão em andamento e os

que foram concluídos. Além disso, realizamos pesquisas em sites como: IIRSA

(Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana), SciELO

(Scientific Electronic Library Online), consultas em alguns sites dos governos centrais

dos países envolvidos e das iniciativas de integração.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Antes referir-se a IIRSA, se faz necessário abordar o que vem a ser

integração. Segundo, Herz (2004) e Hoffmann (2004), a integração é um processo

dinâmico de intensificação em profundidade e abrangência das relações entre atores,

levando à criação de novas formas de governança político-institucionais de escopo

regional.

Para Silva (2013, p 27.) a “integração entre os países por meio da

infraestrutura física facilita o direcionamento dos fluxos de bens, produtos e pessoas o

que pode estabelecer verdadeiros eixos de desenvolvimento”.

Se tratando de integração regional, Quitanar (2003), e López (2003)

ressaltam que:

A integração regional da infraestrutura física é uma realidade possível e desejável, mas não deixa de chamar a atenção o fato de o mesmo objetivo ser compartilhado por governos, empresas e instituições financeiras multilaterais. (Quitanar e López, 2003, p.53).

De acordo com Antunes (2012, p 15.) “os processos de integração trazem

uma nova configuração territorial, econômico e socioespacial para as populações

envolvidas, principalmente para as sociedades que estão na linha divisória”.

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Vimos anteriormente as diferentes propostas de integração regional para

América Latina, todavia um dos grandes desafios tem sido a integração física.

A Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana (IIRSA)

possui como apoio técnico-financeiro o Banco Interamericano de Desenvolvimento

(BID), a Corporação Andina de Fomento (CAF) e Fondo Financiero para el Desarrollo

de la Cuenca del Plata (FONPLATA). Devido a grande disparidade econômica e social

entre e seus membros, cada país contribui de maneira distinta com financiamento das

obras de integração. No contexto os investimentos não necessariamente precisam

financiar obras nos países de origem, ou seja, dinheiro brasileiro pode vir a financiar

obras em outros países.

A partir do governo Lula, em 2002, o Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) atuou como agente econômico brasileiro na IIRSA.

Apesar das limitações do site da IIRSA que disponibiliza poucos dados sobre o

financiamento dos projetos, apenas valores totais de investimento em carteira, sem

dizer o volume por fonte de financiamento, de acordo com o mesmo existem algumas

informações discriminadas qualitativamente entre investimentos na modalidade

público-privado, público ou privado. Porém Segundo Paz (2015, p 3.), existe

“participação também de empresas privadas, principalmente as grandes empresas de

engenharia que realizam as obras para a integração. A Petrobras e a Vale do Rio

Doce também estão investindo recursos próprios, nacionais e internacionais”.

Os eixos de integração foram elaborados de acordo com a possibilidade de

explorar os benefícios de um conjunto de investimentos.

De acordo com o portfólio lançado pela IIRSA no ano de 2010, somando

todos os eixos são contabilizados 524 projetos, onde 46% deles são na área do

transporte. Ainda segundo este portfólio desde o lançamento da iniciativa o número de

obras finalizadas gira em torno de 53, 175 estão em fase de execução. Por sua vez, os

158 projetos em fase de pré-execução, 138 dos projetos que estão em fase de perfil,

ou seja, estão em fase de analise.

Vale ressaltar que alguns eixos se encontram a frente de outros no

andamento dos projetos, são eles: O eixo Andino, eixo Mercosul-Chile, eixo Hidrovia

Paraguai-Paraná e o eixo do Escudo Guiano.

De acordo com dados da IIRSA, o Brasil e a Argentina são os países que

mais investem no financiamento dos projetos de integração, o que leva-nos a crer que

atrelado a este fato está o fato de que a maior parte das obras concluídas e em

execução se localize ao sul do trópico de capricórnio. Ao analisar os dados do portfólio

IIRSA, pode-se inferir que assim como o Brasil, a Argentina tem fortes interesses

econômicos na integração, pois, assim como argentinas, muitas empresas brasileiras

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possuem investimentos em países vizinhos, o que aumenta o interesse e o capital de

investimento na integração de infraestrutura. Como exemplo, temos dos frigoríficos

brasileiros, que segundo Paz (2015, p 11.), possuem 60% do domínio no abates e

exportações do Paraguai e Uruguai.

Na análise do Portfólio observou-se que, o número de projetos aumentou em

56%, entre 2003-2004 e 2010, e o investimento estimado aumentou 157% em termos

nominais no mesmo período. Assim, observou-se um salto muito significativo entre

2005-2006 e 2007, tanto no número de projetos quanto no investimento estimado.

Segundo a IIRSA os inúmeros estudos realizados para a elaboração dos

eixos possibilitou melhor conhecimento da realidade regional, suas potencialidades

atuais e futuras. Gerando cooperação entre os países e valorização do capital. Porém,

cabe-nos ressaltar que estes estudos poderiam ser mais completos se realizados com

a participação da população diretamente afetada com os projetos de integração, e

enfrentará descaracterização de seu território.

Talvez, muitos dos resultados tangíveis da IIRSA teriam acontecido igualmente, em um processo mais lento. Segundo, Costa:

Uma das ideias que podemos extrair desse campo aparentemente dominado pelas incertezas quanto ao futuro da integração regional, é que os atores principais à frente desse processo, não dispõem de outra opção, no campo das estratégias, que não seja o da sua rápida consolidação.

(COSTA, 2009, p. 21)

Áreas fronteiriças possuem seu próprio meio de integração. Ocorrendo antes

mesmo do surgimento de iniciativas governamentais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procurou-se neste ensaio abordar o delicado tema da integração através dos

projetos da IIRSA, bem como as propostas de integração e os projetos concluídos.

Nota-se, que os países mais pobres possuem dificuldade na execução

desses projetos, levando um tempo maior em sua conclusão. Questiona-se, se a

integração ocorre de maneira igualitária para todos os membros da IIRSA, como está

exposto no projeto da iniciativa. Este fato pode acarretar certos desentendimentos e

levar um determinado país exercer hegemonia sobre outros.

Podemos notar que em mais de dez anos de execução da IIRSA ainda é

baixo o número de projetos concluídos e em vigência. Até mesmo através de alto

investimento, integração desse porte leva algum tempo. Desta forma, é permitido

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pensar que esses logros intitulados a IIRSA não sejam necessariamente exclusivos da

mesma.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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IIRSA. 10 anos depois: Suas conquistas e desafios. Disponível em: http://www.iirsa.org/admin_iirsa_web/Uploads/Documents/lb_iirsa_10_anios_sus_logros_y_desafios_port.pdf. Acesso em 21 de Set. 2016. PAZ, G. S. Integração da América do Sul: o BNDES como agente da política regional do governo Lula. 2015. QUITANAR, S; López, R. O Plano de Ação para a Integração da Infraestrutura Regional Sul americana (IIRSA): oportunidades e riscos. Seu significado para o Brasil e a Argentina. 2003. SERBIN, A.; MARTÍNEZ, L. & RAMANZINI JÚNIOR, H. (eds.) (2012). El regionalismo “post-liberal” en América Latina y el Caribe: nuevos actores, nuevos temas, nuevos desafíos. Anuario de la Integración Regional de América Latina y el Caribe. nº 9, pp. 7-15. Buenos Aires: CRIES.Disponível em: http://www.ieei-unesp.com.br/portal/wp-content/uploads/2012/10/2012-Anuario-CRIES-1.pdf. Acesso em: 21 de Set. 2016. SILVA, M. C da. O Eixos De Integração e Desenvolvimento da IIRSA: Uma Análise De Regionalização. 2013.

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A SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL: UMA ANÁLISE TEÓRICA A PARTIR DA GLEBA PALHANO EM LONDRINA/PR

Felipe César Augusto Silgueiro dos Santos E-mail: [email protected]

Licenciatura e Bacharelado em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia

UNESP – Universidade Estadual Paulista Campus de Presidente Prudente

Mariana Cristina da Silva Gomes E-mail: [email protected]

Licenciatura e Bacharelado em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia

UNESP – Universidade Estadual Paulista Campus de Presidente Prudente

INTRODUÇÃO

Neste resumo expandido apresentaremos nossas impressões de uma

temática escolhida como uma atividade realizada para avaliação à disciplina de

“Espaços Urbanos”, ministrada pelo Prof. Dr. Arthur Magon Whitacker no ano de 2014,

na Faculdade de Ciência e Tecnologia UNESP (Universidade Estadual Paulista)

Campus de Presidente Prudente/SP.

A escolha da temática de segregação socioespacial advém da intensa

discussão proferida por inúmeros artigos e textos que debatem este tema de cunho

social e econômico9. O bairro10 escolhido para análise nos chamou a atenção por ser o

reflexo mais próximo do intenso investimento do capital incorporador privado11 em

conjunto com a ação do Poder Público, que cria os mecanismos necessários para a

instalação de empreendimentos que supervalorizam o preço da terra.

Para tal análise sobre a Gleba Palhano é preciso apresentar a formação

da cidade de Londrina/PR e uma breve contextualização histórica, como forma de

9 Destacamos os debates empreendido pelo Grupo de Pesquisa Produção do Espaço e Redefinições

Regionais (GAsPERR), o CEMESPP (Centro de Estudos e de Mapeamento da Exclusão Social para Políticas Públicas) e a ReCiMe (Rede de Pesquisadores em Cidades Médias). 10

Há um debate sobre denominarmos áreas das cidades como bairro ou conjunto habitacional. O leitor ficará atento no decorrer do texto das características da Gleba Palhano, que nós consideramos ser um bairro, pela sua formação antiga e devido a suas características já desenvolvidas como localização e padrão de moradores. Para maior conhecimento deste debate, recomendamos SOUZA (2013, p. 135 – 162). 11

Aqui utilizaremos da ideia de Smolka (1987, apud ALCANTARA 2013, p.255-256) em que o autor retrata que o capital incorporador seria “(...) aquele que desenvolve o espaço geográfico organizando os investimentos privados no ambiente construído, em especial aqueles destinando à produção de habitações”.

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entendermos a estrutura urbana da cidade, a fim de responder as questões: Como? e

Por quê? ocorreram os processos de configuração da segregação socioespacial.

DE LONDRINA/PR À GLEBA PALHANO: ESCALAS DE CONSTRUÇÃO PARA A

SEGREGAÇÃO

A formação da cidade de Londrina/PR advém da expansão da cultura cafeeira

do Estado de São Paulo, em uma época que as cidades eram construídas

rapidamente. A construção da cidade paranaense ficou a cargo da Companhia de

Terras Norte do Paraná (CTNP), de capital financeiro inglês e que vislumbrava um

lucro imediato com a venda dos lotes de terra. (ALCANTARA, 2013).

Não demorou muito e seus limites do plano urbano foram

transpassados devido a seu aumento vertiginoso, decorrido de sua posição como

cidade à frente de uma rede urbana implantada pela própria Companhia de Terras

Norte do Paraná (CTNP):

Mais uma vez explicita-se que esta cidade que começou a ser

construída em 1929, com 250 quadras, foi durante algum tempo, toda

a cidade [...] Contudo as relações econômico-sociais estabelecidas

em Londrina e em grande parte do Norte do Paraná, foram tão

dinâmicas via pequena produção mercantil, que rapidamente o plano

urbano foi ultrapassado, oriundo das primeiras incorporações de

terras de uso rural ao urbano, por meio de loteamentos não

controlados pela CTNP (FRESCA 2007, apud ALCANTARA 2013, p.

259).

Essa expansão não se limitou ao plano e ganhou maior força com a

implementação da ferrovia na cidade, como forma de escoar o café produzido,

colocando Londrina/PR como centro importante de produção e escoamento do café.

Tal fato culminou no processo de modernização da cidade:

Com o sistema ferroviário contribuindo para o transporte da produção

agrícola, principalmente do café, Londrina se tornou a capital mundial

do café, sendo produzida sob o símbolo da modernidade. No

processo de construção da cidade, no entorno da área da ferrovia

encontra-se a Praça Rocha Pombo, estação rodoviária e uma

quantidade razoável de hotéis, já que a maioria do fluxo de pessoas

passava pelo sistema de transporte tanto ferroviário como rodoviário.

Esses hotéis, Berlim e Village principalmente, são resquícios da

quantidade de investimentos que a cidade recebia na época com o

objetivo de tornar a cidade moderna. (PRANDINI, 1954 apud,

CRISTAL, 2008, p.23-24).

Com o processo de verticalização e de modernização da cidade de

Londrina/PR, temos que suas áreas de valorização são caracterizadas pelas suas

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expansões espaciais através de investimentos entre gestores privados e o poder

público.

O processo de duplicação e extensão da Avenida Madre Leônia Milito

até a PR-445 pode ser definida como o início e pré-condição para

essa mudança, sendo próximo da fase da construção do Shopping

Center Catuaí. Tanto a inauguração da nova avenida quanto a

construção do Catuaí, em novembro de 1990, levaram à valorização

da área. Destacamos essas duas obras, pois elas serviram também

para modificar no imaginário do londrinense a associação dessa

região com chácaras e o limite urbano.

[...]

Outro fator que permitiu a valorização da área foi à imagem ambiental

associada aos empreendimentos verticais e horizontais na Gleba

Palhano. Algumas construtoras incorporaram o Lago Igapó II, como

um atrativo a mais para a aquisição de um empreendimento formado

por edifícios altos. (SILVA E CARVALHO, 2011, p.9)

As autoras também destacam um fato de grande importância para

entendermos como funciona a lógica de vendas dos incorporadores imobiliários. Ao

vender um produto que atende desde demandas como, segurança, lazer e

infraestrutura, os mesmos utilizam do fator ambiental para caracterizar a área como

um local ecologicamente correto e aprazível, agregando ainda mais valores a esta

área.

Deste modo, é possível dividir o processo de ocupação da Gleba Palhano em

três momentos distintos: o primeiro é referente à antes da construção da cidade de

Londrina pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), com as incursões de

Mábio Palhano na região, que delimitou as primeiras áreas da Fazenda Palhano,

originária da Gleba Palhano; o segundo momento advém do parcelamento e do

loteamento dos 750 alqueires que seu herdeiro adquiriu, caracterizando a

fragmentação do espaço e por fim a maior característica da terceira fase advém, a

partir de 1992, da inserção da área rural da Gleba Palhano para a parte urbana da

cidade, com obras de melhorias executadas pelo poder público local. (SILVA E

CARVALHO, 2011).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este trabalho culminou no acesso de textos e artigos que contribuem para a

análise referente à temática exposta, com pesquisa entre estes citados, que

resultaram nas considerações expostas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Para a analisarmos o caso da Gleba Palhano em Londrina/PR consideramos

esclarecer e trabalhar pelo viés da segregação socioespacial, um conceito importante

a se estudar por fazer parte do processo de produção do espaço urbano e por estar

ligado diretamente com o estudo de caso além de outros aspectos.

Segundo Vieira e Melazzo (2003, p.162):

O uso generalizado do conceito segregação urbana deu-se,

primeiramente, com os pensadores da denominada Escola de

Chicago, nos anos de 1930/1940, através da qual procuravam

explicar e/ou entender a escolha/preferência pela localização

residencial de diferentes famílias ou indivíduos de diferentes classes

de renda, nos espaços internos das cidades estadunidenses.

A Escola de Chicago tendia a naturalizar processos sociais bem como analisar

a partir apenas da paisagem. O fenômeno de segregação urbana era visto de forma

natural não abarcando assim de forma aprofundada a fim de compreender o papel dos

agentes envolvidos e das forças ideológicas que faziam parte das escolhas dos

indivíduos e das famílias em relação aos lugares distintos e separados pelas classes

sociais no espaço urbano.

No caso da Gleba Palhano em Londrina/PR, poderíamos tratar a segregação

através da expressão “segregação urbana”, pois trata-se de processos relativos aos

espaços dos citadinos, mas escolhemos utilizar a expressão “segregação

socioespacial” porque nesta abarcamos duas dimensões importantes, tanto a atuação

social, quanto a produção espacial pelos mesmos. Esse ponto é defendido a partir de

Sposito (2013, p. 66) quando a autora afirma que é somente no espaço que a

segregação pode se revelar, pois se trata de uma dinâmica socioespacial da cidade e

que em sua essência é um processo.

Embora seja espacial, sua ocorrência não é intrínseca as formas

espaciais ou explicadas por elas, muito ao contrário, como todo

processo ela tem forte relação com as ações que a constituem e que

colocam em marcha (tanto quanto representam) visões de mundo e

sociedade.

Sposito (2013) lança ao debate as novas formas de segregação

socioespacial, que atualmente fazem parte de uma miríade mais complexa nas

discussões teóricas sobre os processos de estruturação do espaço urbano e

apresenta as nomeações para os tipos de segregações como os “enclaves

fortificados” (CALDEIRA, 2000), a “autossegregação” (CORRÊA, 1989), o

“autoenclausuramento” (SOUZA, 2000) e a “formação de territórios exclusivos”

(SEABRA, 2004).

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A segregação ao qual vemos se classifica na ocupação de um bairro por uma

classe social devido ao destino dos empreendimentos que são todos modelos de alto

padrão, demonstrando a separação de uma classe social para com outras classes,

reforçando o sentido de autossegregação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do estudo do caso da Gleba Palhano, observamos como ocorre o

processo de valorização da terra e através desta podemos apreender o processo

espacial de segregação socioespacial que é presente na morfologia urbana, e reforça

a espacialização de bairros de alto padrão, não fechados ao público, mas de difícil

acesso pelo valor elevado.

Por ser um processo de menos de 30 anos, o caso da Gleba Palhano é bem

elucidativo para entendermos como o capital incorporador, neste caso, o imobiliário,

age para a construção da cidade. As áreas não urbanizadas aguardam um processo

de valorização da terra para a construção de novos empreendimentos.

Com isso, fica evidente o processo de segregação socioespacial na cidade de

Londrina/PR, pois, só habita esses lugares, no caso da Gleba Palhano, famílias de alto

poder aquisitivo, enquanto os outros segmentos sociais não possuem acesso a estes,

condicionando o espaço destas pessoas, que acabam compartimentando o espaço

urbano em áreas residenciais fragmentadas através da sua capacidade de consumo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALCANTARA, D. M. Centralidade e dinâmica imobiliária e Londrina (PR): Considerações a partir da Avenida Tiradentes. Caminhos da Geografia, Uberlândia, v.14, n.15, Mar/2013.

ALMEIDA JUNIOR, A.R. WHITACKER, A.M. Segregação Socioespacial em cidades médias. Diferenças ou semelhanças? Um estudo sobre o Jardim Cinquentenário e o Jardim Morada do Sol em Presidente Prudente-SP. Geografia em Atos, Presidente Prudente, v.2. n.7. p. 71-87, 2007.

CRISTAL, J. Análise do processo de verticalização através da modelagem tridimensional em uma região do Bairro Gleba Palhano – Londrina, PR: um instrumento metodológico para o planejamento urbano. 2008. 122f. Monografia (Bacharelado em Geografia). Universidade Estadual de Londrina. Londrina.

PAULA, Rubia Graciela. A verticalização Gleba Palhano – Londrina - PR: Uma análise da produção e consumo da habitação. 2006. Monografia (Bacharelado em Geografia) - Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina/PR. 119p.

SILVA, A. L, CARVALHO, M. Uma Análise da produção do espaço urbano a partir dos empreendimentos de alto-padrão Ecoville e Gleba Palhano: Considerações

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Preliminares. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA URBANA, 12, 2011, Belo Horizonte, Anais... Belo Horizonte, 2011.

SOUZA, M.J.L. Região, bairro e setor geográfico. In: Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013, p. 135 – 162.

SPOSITO, M. E. B. Segregação socioespacial e centralidade urbana. In: CORRÊA, R. L. (Org.) PINTAUDI, S. M. (Org.) VASCONCELOS, P. A. (Org.). A cidade contemporânea: Segregação Socioespacial. São Paulo: Editora Contexto, p.61 – 92, 2013.

SPOSITO, M. E. B. Reestruturação urbana e segregação socioespacial no interior paulista. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2007, vol. XI, núm. 245 (11). http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-24511.htm

VIEIRA, A. B. MELAZZO, E. S. Introdução ao conceito de segregação socioespacial. In: Revista Formação (Presidente Prudente), v.1, n.10, p.161-173, 2003.

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APONTAMENTOS SOBRE A FORMAÇÃO DE PARQUE TECNOLÓGICO COMO ALTERNATIVA AO DESENVOLVIMENTO REGIONAL12

João Vítor dos Santos da Silva

E-mail: [email protected] Graduação em Geografia

Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente

Gabriel Mendes Araújo

E-mail: [email protected] Graduação em Geografia

Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente

INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo discutir o papel dos parques tecnológicos como

agente de desenvolvimento regional a partir de um debate teórico e conceitual sobre a

origem e formação dos parques.

Não existe consenso sobre o conceito de parque tecnológico. Parques

tecnológicos são ambientes de inovação, ou seja, são empreendimentos criados e

geridos com o objetivo de promover pesquisa e inovação na área tecnológica, bem

como estimular a cooperação entre instituições de pesquisa, universidades e

empresas, proporcionando oportunidade para as empresas transformarem as

pesquisas em produtos.

A Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos

Inovadores - ANPROTEC, criada em 1987, considera os parques tecnológicos como

sendo:

[...] um complexo produtivo industrial e de serviços de base científico-tecnológica planejado, de caráter formal, concentrado e cooperativo, que agrega empresas cuja produção se baseia em pesquisa tecnológica desenvolvida nos centros de P&D vinculados ao parque. Trata-se de um empreendimento promotor da cultura da inovação, da competitividade, do aumento da capacitação empresarial, fundamentado na transferência de conhecimento e tecnologia, com o objetivo de incrementar a produção de riqueza de uma região [...] (ANPROTEC, 2003, p. 46).

Nesse sentido, o parque tecnológico funciona como facilitador do processo

inovador, abrigando um tipo específico de empresa, ou seja, aquela empresa que

investe em atividades científicas e tecnológicas objetivando inovar. Dessa forma, se

faz necessário compreender o conceito de inovação, pois inovar é tornou-se

12

Este trabalho faz parte de discussões realizadas junto ao trabalho de conclusão de curso intitulado “Formação do parque tecnológico de Marília: promoção para o desenvolvimento local e regional” e ao projeto de iniciação científica “A formação do parque tecnológico de São José do Rio Preto e seu papel no desenvolvimento regional”, dos respectivos autores, sob a orientação da Profa. Dra.

Maria Terezinha Serafim Gomes.

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indispensável e a procura por novas formas que garantem a inovação, um imperativo.

(MELO, 2015)

De acordo com Melo (2015, p.31), “[...] a inovação pressupõe o surgimento do

novo e pode revelar, no momento de sua manifestação, algo até então inédito”. De

acordo com Melo (2015), a invenção e inovação não são sinônimos, pois o ato de

inventar não significa necessariamente que seus resultados serão utilizados ou trarão

modificações nas configurações vigentes. Nesse sentido, Vale (2012) afirma que “[...]

a invenção consiste numa primeira ideia para se criar um novo produto ou processo,

enquanto inovação é a tentativa de concretização efetiva de uma ideia inicial”

(VALE,2012 apud MELO, 2015,p.31)

Hughes defende a ideia de que:

A fase da invenção pode ser subdividida em radical, quando se inaugura um novo sistema, ou conservadora, quando há melhora ou expansão de sistemas já existentes. Após o processo inventivo, há a incorporação de outras características – econômicas, políticas, sociais – para que a invenção torne-se apta a ser utilizada. É o

processo da transformação da invenção em inovação. (HUGHES, 2008 [1987], p. 122 apud MELO 2015 p. 32)

É de extrema importância ter o conhecimento de um conceito que advém

junto com a questão da inovação, que é o meio inovador, formulado pelo economista

francês Philippe Aydalot no início dos anos 1980. Para ele, é no meio inovador que as

inovações surgem. O meio inovador possui papel determinante como incubador de

inovações e as empresas não podem ser consideradas agentes isolados no processo

de inovação. (MELO, 2015,p.23)

Para Aydalot, a inovação possui ligação com o território, com características

do lugar e, portanto, sua atenção recai mais nas formas de emergência da inovação

que sobre a difusão do progresso técnico. (AYDALOT, 1986, apud MELO,2015,p.43)

Para o Groupe de Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs (GREMI)

criado por Aydalot em 1984, meio inovador é

[...] um conjunto territorializado no qual as interações entre os agentes econômicos se desenvolvem por meio da aprendizagem que eles fazem das transações multilaterais geradoras de externalidades específicas à inovação e pela convergência dessas aprendizagens em formas cada vez mais eficientes na gestão conjunta dos recursos [...]. (MAILLAT, QUÉVIT,SENN, 1993 apud MELO, 2015, p. 44).

Os primeiros parques tecnológicos do mundo surgiram nos Estados Unidos

na década de 1940, entre eles, o mais conhecido é o Vale do Silício, num ambiente

mais notável da “Revolução da Tecnologia da Informação” (CASTELLS, 2000). O

impulso tecnológico no vale se deu quando surge do governo norte-americano, um

esforço para superar os radares alemães durante a segunda guerra mundial. Sendo

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assim, a Universidade de Stanford começou a receber incentivos governamentais para

pesquisas militares e para desenvolver uma escola de Engenharia. Um dos incentivos

foi o licenciamento de propriedade, que facilitou que os alunos da Universidade

iniciassem suas próprias empresas. Houve também, a redução de impostos sobre

ganhos de capital de 48% para 28%, ampliando a disponibilidade de crédito e

permitindo a abertura de empresas como Apple, Netscape, Yahoo! e Microsoft. Alguns

escritórios de advocacia também se mudaram para a região, visando dar suporte legal

às empresas ali instaladas. (ANTROPEC,2010,p.10) Além dessa experiência do Vale

do Silício, outro modelo de parques tecnológicos nos EUA é na Rota 128, em Boston,

impulsionado pelas universidades: Harvard e Massachusetts Institute of Technology

(MTI).

A partir dos anos 1970, influenciados pelo sucesso dos Estados Unidos

surgiram várias iniciativas de parques tecnológicos na Europa, particularmente no

Reino Unido com as universidades Cambridge, na Inglaterra e Heriot-Watt, na

Escócia13 e na França na região de Sophia-Antipolis14, respectivamente, com o

objetivo de promover o processo de interação universidade-empresa, fomentando a

geração de rede de cooperação e inovação. Além dessas experiências, surgiram

outras na Ásia, como Coréia do Sul e Japão, com a criação de technopolis

(tecnópoles) com o objetivo de criar novas tecnologias e desenvolver regiões

atrasadas do país. (CASTELL e HALL, 1994; MELO 2015).

No Brasil, as primeiras iniciativas de “parques tecnológicos” surgem a partir

da criação de um Programa do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa), em 1984, que

passou a apoiar essa iniciativa.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O artigo em questão baseou-se em revisão bibliográfica sobre a temática de

parques tecnológicos, inovação, condições gerais de produção. Além disso,

realizamos pesquisas e coletas de dados em sites da ANTROPEC, SPTec e Ministério

da Ciência e Tecnologia.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

13

As universidades cederam espaço para construção de science park (parques científicos) com objetivo de aproximar a indústria da universidade. (MELO, 2015) 14

Sophia-Antipolis foi planejado para ser uma technopôle.

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No Brasil, os parques tecnológicos surgiram a partir da década de 1980,

graças aos investimentos e incentivos a projetos de inovação, além da criação do

Programa Brasileiro de Parques Tecnológicos pelo Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os projetos de parques

tecnológicos da época não obtiveram os resultados esperados como os de grandes

centros mundiais de inovação, como o Vale do Silício (EUA). Nos anos 1990 há uma

retomada das discussões sobre parques tecnológicos e incubadoras, dada a

necessidade de competitividade das empresas brasileiras frente ao mundo

globalizado. (MELO, 2015) Todavia, foi partir dos anos 2000, com os governos Luiz

Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousself (2011-2016), que foram criadas

várias leis voltadas para o apoio à inovação, como a Lei de Inovação (Lei 10.973/04),

a Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior – PITCE (Lei 11.020/04), o

Programa Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas e aos Parques

Tecnológicos (PNI), em 2009 e o Plano Brasil Maior, em 2011. Nesse período, ocorre

uma aproximação entre a produção de inovação e o desenvolvimento de políticas

públicas. Assim, a partir dos anos 2000 a ideia de Parques Tecnológicos voltou a se

fortalecer como alternativa para promoção do desenvolvimento tecnológico,

econômico e social.

Em 2006, o governo do Estado de São Paulo criou o Sistema Paulista de

Parques Tecnológicos (SPTec), que dá apoio e suporte aos parques tecnológicos,

com o objetivo de atrair investimentos e gerar novas empresas intensivas de

conhecimento ou de base tecnológica, que promovam o desenvolvimento econômico

do Estado. Atualmente, são 28 iniciativas, sendo 13 parques em funcionamento, 7

iniciativas com credenciamento provisório e outras 8 em negociação. (ESTADO DE

SÃO PAULO, 2016).

Segundo a ANTROPEC (2016), atualmente o Brasil possui 80 parques

tecnológicos, com 939 empresas, gerando um total de 29.909 empregos. A maioria

dos parques tecnológicos está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, conforme pode

ser observado na figura 1. Essa concentração deve-se a densidade técnica, científico-

informacional (SANTOS, 1996) e as condições gerais de produção15 (Lencioni, 2007)

presentes nessas regiões, tornando-as algumas cidades capazes de atender a

demanda de sua instalação, como presença de universidades, institutos de pesquisas,

serviços especializados, rede de circulação material e imaterial.

15

O conceito de condições gerais de produção foi recuperado por Lencioni (2007).

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FIGURA 1: Brasil: a presença de Universidades e parques tecnológicos – 2013 Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia (2013, p. 22)

A partir do mapa acima podemos verificar a importância das

universidades/institutos federais de educação para a consolidação de um parque

tecnológico, em todas as fases de um (projeto, implantação ou operação). Na região

oeste do Estado de São Paulo há três projetos de parques tecnológicos em

andamento, Marília, São José do Rio Preto e Araçatuba.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os parques tecnológicos são ambientes de inovação, surgem de parcerias

entre universidades e empresas, juntamente com os incentivos do governo, seja ele

federal, estadual ou municipal. Atualmente, busca-se associar os parques tecnológicos

ao desenvolvimento regional, pois poderá contribuir com o aumento no índice de

emprego, renda e educação de uma determinada região.

A iniciativa dos parques tecnológicos em uma determinada região é tida pelas

variações e condições de um terminado território. Ou seja, a inovação (é o que

promove o funcionamento e as atividades de um parque.) possui ligação com o

território, com características do lugar, tornando seletivos os espaços para a instalação

de um parque tecnológico.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ABDI & ANPROTEC. Parques Tecnológicos no Brasil: Estudo, Análise e Proposições. 2008. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE ENTIDADES PROMOTORAS DE EMPREENDIMENTOS DE TECNOLOGIAS AVANÇADAS - ANPROTEC. Estudo de Projetos de Alta Complexidade: Indicadores de Parques Tecnológicos. Disponível em: http://www.anprotec.org.br/Relata/PNI_FINAL_web.pdf. Acesso em: 16 de setembro 2016 AYDALOT, P. Trajectoires Technologiques et Milieux Innovateurs. Neuchâtel: GREMI. 1986. Disponível em: <http://wwwa.unine.ch/irer/Gremi/Gremi%201.pdf>. Acesso em: 09 de ago. 2016. CASTELLS, M. A sociedade em rede. 4ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2000. HUGHES, T. P. La evolución de los grandes sistemas tecnológicos. In: Actos, actores y artefatos: sociologia de la tecnologia. 1ª. Edição. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes, 2008. LENCIONI, S.Condições gerais de produção: um conceito a ser recuperado para a compreensão das desigualdades de desenvolvimento regional. Revista Scripta Nova. v. XI, n. 245 (07), 1 de ago. 2007. MELO, R. de C.N., Parques Tecnológicos no estado de São Paulo: incentivo ao desenvolvimento regional. 2014. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade de São Paulo (USP). MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Estudo de Projetos de Alta Complexidade: indicadores de parques tecnológicos. Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação- Brasília: CDT/UnB, 2013. Disponível em: http://www.mct.gov.br/upd_blob/0228/228606.pdf. Acesso em: 17 de set. 2016. OLIVEIRA, A. L.; OLIVEIRA, E. A. A. Q; PEREIRA, M. J. Origens dos Parques Tecnológicos e as Contribuições para o Desenvolvimento Regional Brasileiro. Latin American Journal of Business Management. 2016. SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO (SDECTI-SP). Parques Tecnológicos. Disponível em: http://www.desenvolvimento.sp.gov.br/parques-tecnologicos. Acesso em: 27 de abr. 2016 SPOLIDORO, R. Parque Científico e Tecnológico da PUCRS. Porto Alegre, 2008.

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CENTRO E CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA EM LONDRINA

Mariana Aparecida Gazolla E-mail: [email protected]

5º ano de Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus de Presidente Prudente Pesquisa submetida à FAPESP

INTRODUÇÃO

Em meio ao contexto do acelerado processo de urbanização ocorrido nos

países subdesenvolvidos, em meados do século XX, e, consequentemente, o

surgimento de atividades urbanas de baixa produtividade que agregavam a mão-de-

obra não absorvida, surgiram novas teorias que procuravam dar conta dessa nova

realidade. Sendo assim, surgiu a Teoria dos circuitos da economia urbana, proposta

por Milton Santos, na década de 1970, que propunha uma análise levando em

consideração tanto a dimensão histórica, quanto a especificidade do espaço em

análise. Para SANTOS (2008), dentro do sistema urbano existe a presença de dois

subsistemas, que são denominados de circuitos econômicos: o circuito superior e o

circuito inferior da economia urbana.

O circuito superior da economia urbana se utiliza de tecnologia importada e

de alto nível, ou seja, uma tecnologia de capital intensivo, tendo um caráter imitativo.

Ele é constituído por bancos, comércio e indústria de exportação, indústria urbana

moderna, serviços modernos, atacadistas e transportadores. E o circuito inferior da

economia urbana é constituído por formas de fabricação de capital não intensivo,

serviços não-modernos fornecidos à varejo e pelo comércio não-moderno de pequena

dimensão. Devido seu abastecimento ser proveniente, direta ou indiretamente, do

circuito superior da economia, ele é dependente desse circuito (SANTOS, 2008).

Essa pesquisa, sob orientação da Profª. Drª. Maria Encarnação Beltrão

Sposito, propôs uma atualização da Teoria dos dois circuitos da economia urbana, no

sentido de tentar entender como o circuito inferior, atualmente, têm se apropriado de

ferramentas e equipamentos que antes eram pertinentes somente ao circuito superior,

juntamente com outras pesquisas vinculadas ao projeto temático: “Lógicas

Econômicas e práticas espaciais contemporâneas: cidades médias e consumo”, do

qual essa pesquisa faz parte, onde se estuda as lógicas socioeconômicas e

socioespaciais dentro das cidades médias, escolhendo a cidade de Londrina/PR para

tal análise.

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Neste trabalho traremos somente alguns resultados da pesquisa: os ramos

comerciais presentes na área de estudo e sua disposição geográfica em relação ao

camelódromo; e a forma de aquisição e de crédito utilizados pelos consumidores.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a realização dessa pesquisa foram realizados os seguintes

procedimentos metodológicos: levantamento de referencial teórico referente à temática

da pesquisa; e realização de trabalhos de campo para delimitar e mapear a área de

estudo, assim como para a aplicação de enquetes e tomada de depoimentos dos

comerciantes;

A área de estudo, inicialmente, foi a mesma adotada por RIBEIRO (2010),

que delimitava uma área de influência que o camelódromo de Londrina exercia sobre o

comércio popular em seu entorno (figura 1). Após a realização do trabalho de campo,

verificou-se a expansão dessa área de influência do camelódromo, levando a uma

nova delimitação da área de estudo (figura 2).

FIGURA 1 FIGURA 2

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através do levantamento do comércio na área de influência do camelódromo

de Londrina/PR, foi possível classificá-lo de acordo com os ramos de atividades,

conforme podemos observamos no gráfico 1:

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GRÁFICO 1: Àrea de influência por ramos de atividades.

Dentre os ramos com maior representatividade na área de estudo podemos

destacar o setor de vestuário, com 56 estabelecimentos sendo, portanto, o ramo mais

presente na área de influência do camelódromo, representando 33% do total de

estabelecimentos; e os eletrônicos e as galerias, que vendem produtos eletrônicos em

sua grande maioria, que juntos representam 10% dos estabelecimentos. Além dessas

categorias de comércio de bens, elencamos uma categoria chamada outros, que

agrega estabelecimentos que comercializam serviços na área de influência do

camelódromo, além de estabelecimentos que ofereçam comércio de bens que não

possuam mais do que 2 edificações com o mesmo ramo de atividade, que contabilizou

um total de 67 estabelecimentos, representando 34% do total.

A disposição geográfica dos estabelecimentos, em relação ao camelódromo,

não apresenta nenhum padrão e se configura da seguinte forma (mapa 1):

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MAPA 1: Disposição geográfica na área de influência do camelódromo por ramos de atividade

Através das enquetes, foi possível também verificar quais as formas de

pagamento mais utilizadas pelos consumidores desse espaço. Observando o gráfico

2, podemos constatar que mais de 80% dos entrevistados usam dinheiro como a

principal forma de pagamento dos produtos e serviços adquiridos na área; entretanto

há um número bem expressivo de consumidores que utilizam o cartão de crédito como

forma de pagamento (42%), mostrando que o circuito inferior cada vez mais vêm

usufruindo de meios e equipamentos que eram pertinentes somente ao circuito

superior da economia; 2,4% dos entrevistados utilizam outras formas de pagamento,

como por exemplos, crediários em estabelecimentos que ainda oferecem essa

alternativa. Tanto na aplicação de enquetes aos consumidores, quanto na tomada de

depoimentos com os comerciantes desse espaço, não há mais a utilização de

cheques, visto o advento do cartão de crédito.

GRÁFICO 2: Formas de aquisição de crédito dos consumidores da área de influência

do camelódromo de Londrina

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Através da sistematização dos dados e sua posterior análise, tendo como

âncora o referencial teórico debatido nessa pesquisa, podemos perceber uma

mudança na teoria dos circuitos da economia urbana, formulada por Milton Santos na

década de 1970. Mudança essa que o autor prevê visto que afirma que o circuito

inferior da economia vive em permanente processo de transformação e adaptação.

Nesse sentido, podemos afirmar que cada vez mais o circuito inferior vem se

apropriando de ferramentas e equipamentos (leia-se financeirização e creditização)

que antes eram pertinentes somente ao circuito superior, como mostram os dados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, W. V. A produção social do espaço urbano em Londrina - PR: a valorização imobiliária e a reestruturação urbana. 2011. Dissertação (mestrado em Geografia) - Faculdade de Ciências e Tecnologia. UNESP, Presidente Prudente, 2011. RIBEIRO, G. B. Comércio popular e consumo - Articulações entre os circuitos superior e inferior da economia urbana em cidades médias: Presidente Prudente e Londrina. 2016. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia. UNESP, Presidente Prudente, 2016. RIBEIRO, G. da S. A influência do camelódromo de Londrina sobre o comércio formal de seu entorno. 2010. Dissertação (Mestrado em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010. SANTOS, M. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. São Paulo: Edusp, 2008.

SPOSITO, M. E. B. Loteamentos fechados em cidades médias paulistas - Brasil. In: SPOSITO, E. S.; SPOSITO, M. E. B.; SOBARZO, O. (org.). Cidades médias: produção do espaço urbano e regional. São Paulo: Expressão Popular, 2006.

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INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PRESIDENTE PRUDENTE PARA A REGIÃO DA ALTA SOROCABANA

Beatriz Emboaba da Costa

E-mail: [email protected] Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Campus de Bauru – SP

Mariana Maia Cruz Fernandes

E-mail: [email protected] Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Campus de Bauru – SP

INTRODUÇÃO

O presente trabalho (elaborado para este evento) trata do município de

Presidente Prudente-SP, apresentando sua economia pioneira até os dias atuais, com

objetivo de mostrar a influência econômica do município para a região16 (destacando

as modificações econômicas do centro e apontando como os consumidores e

empresas dependem da cidade).

Abreu (1972) explana sobre a economia prudentina desde a alta do café na

década de 20 e 30, o que trouxe a colonização ao município; e algodão e pecuária ao

final da década de 30 e 40, trazendo assim o surgimento das indústrias de

beneficiamento de algodão associando e somando um processo de urbanização.

Presidente Prudente já era considerada um local de referência econômica

para a região desde a década de 20, inclusive, o município exercia influência

comercial ao norte do Paraná, como diz Abreu (1972) ao mencionar a importância da

Estrada do Paraná.

Sobre a urbanização do município, Miño (2004) escreve que o centro de

Presidente Prudente surgiu com o principal objetivo de se implantar um conjunto de

comércios e serviços a partir do loteamento das fazendas e futura venda. Segundo

Abreu, Presidente Prudente teve importância para a vizinhança agrícola existente na

época, tendo o meio urbano uma grande variedade de comércios (farmácias, bares,

açougues, lojas de tecidos, etc.). “[...] a cidade desempenhou desde cedo, o papel de

16

Santo Anastácio, Presidente Venceslau, Presidente Bernardes, Regente Feijó, Martinópolis, Álvares Machado, Alfredo Marcondes, Indiana, Piquerobi, Pirapozinho, Presidente Epitácio, Anhumas, Caiabu, Caiuá, Marabá Paulista, Mirante do Paranapanema, Taciba, Sandovalina, Santo Expedito, Tarabai, Estrela do Norte, Narandiba, Teodoro Sampaio, Rosana, Euclides da Cunha, Emilianópolis e Ribeirão dos Índios.

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mercado abastecedor e receptor da produção agrícola de sua vizinhança.” (ABREU,

1972, p.158)

O município foi classificado como núcleo urbano mais desenvolvido da região

na década de 30; a elevação de Presidente Prudente (distrito, município e comarca) foi

importante economicamente (ABREU, 1972). Na década de 30 formou-se o primeiro

“aparelhamento industrial” da cidade, com empresas como Matarazzo e SANBRA

(GOMES, 2007). As empresas eram instaladas nas margens da ferrovia, em toda Alta

Sorocabana (SILVA, 2002). A proximidade da ferrovia era essencial para a logística de

transporte (chegada da matéria-prima e escoamento dos produtos) e a circulação de

pessoas.

Nas décadas de 40 e 50 surgem indústrias “de origem familiar e capital local”

como Bebidas Funada, ainda em funcionamento. A indústria prudentina dependeu da

agricultura até os anos 70, pois essas empresas dependiam do capital advindo da

agricultura e comércio (ABREU, 1972; GOMES, 2007).

Ocorreu a crise dos produtos agrícolas na década de 60 e 70, encerrando um

ciclo (GOMES, 2007), iniciando o ciclo da frigorificação da carne bovina (SILVA, 2002).

A decadência das ferrovias e ascensão das rodovias também foram importantes para

o encerramento do ciclo e uma nova logística de transporte (MATOS, 1981).

Passou a ser mais importante, as indústrias se localizarem próximo das

rodovias formando os distritos industriais, com algumas vantagens: espaço para

ampliação, incentivo fiscal e doação de terrenos (GOMES, 2007).

Dessa forma, o centro perdeu a concentração industrial e consolidou-se como

centro comercial, tendo influência regional, assim, também, como o Prudenshopping (o

maior centro de compras da região). Miño (2004) destaca que esses locais atuam de

formas diferentes: grupos com maior poder aquisitivo frequentam o Prudenshopping,

enquanto ocorre a popularização do comércio no centro.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho apresentado trata-se de uma revisão bibliográfica, baseada em

conteúdo de conhecimento prévio dos autores, que na condição de arquitetos e

urbanistas, já haviam apresentado estudos sobre Presidente Prudente com ênfase

histórica ou análises urbanísticas. A bibliografia aqui inserida foi estudada, de forma a

se adequar ao eixo temático sugerido pelo evento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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A partir da pesquisa elaborada em torno do início da economia de Presidente

Prudente e de seu desenvolvimento até os dias atuais, é notável a grande importância

econômica do município para a região. Se tornou um grande centro, apresentando

serviços especializados que os municípios vizinhos não são capazes de fornecer.

Ocorreu a mudança de localização das indústrias (antes próximas à estação

férrea e centro, hoje, nas periferias em distritos industriais) e mudança dos produtos

(até a década de 70 eram ligados à agricultura e alimentação). Segundo Silva (2002),

hoje, existem mais de 1000 indústrias em diversos ramos.

Porém também é percebido o surgimento de outros centros comerciais (como

o Prudenshopping) e consequentemente a segregação social; existindo a

diferenciação do poder aquisitivo do público que frequenta o centro e o

Prudenshopping, como apresenta Miño: “Essa relação pôde ser constatada por

Sposito (2001) [...] a centralidade é polinucleada não só do ponto de vista funcional,

mas também socioespacial, em função dos diferentes padrões de consumo que são

estimulados e realizados” (MIÑO, 2004, p.99)17.

O fato de Presidente Prudente ser uma cidade polinucleada18 mostra a

importância econômica em relação à região e como a cidade consegue suportar a

demanda comercial, de serviço e industrial. O centro comercial abrange uma área

maior que o “centro tradicional”19 (LIMA; WHITACKER, 2006)20, e a cidade possui dois

shopping centers. Além disso, Pereira (2002) destaca que as principais avenidas21 têm

a predominância do uso comercial e de serviços (PEREIRA, 2002).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizando este trabalho, tem-se a percepção e entendimento da formação

de um grande polo comercial e econômico, assim como a permanência desse título

por mais de 90 anos. A cidade é polinuclear em relação ao comércio, serviço e

indústria. O centro tradicional, a presença de dois shoppings e a predominância do uso

17

Miño faz uma citação indireta de Sposito. 18

De acordo com Miño (2004, p. 113 e 114), com a acumulação capitalista os espaços se tornam homogêneos, causando assim, no plano intra-urbano, a existência de um centro comercial tradicional, novos centros e shopping centers. 19

Centro tradicional ou principal, de acordo com Miño (2004, p. 97), é aquele onde ocorria o footing, sendo caracterizado por uma interação social, oferecendo lazer à população mais do que comércio, além do importante valor simbólico. Miño destaca que “O centro continua sendo um espaço importante na cidade para o consumo; o que verificamos é uma tendência à segmentação no uso desse espaço [...]” (MIÑO, 2004, p. 99). 20

Lima e Whitacker (2006) escrevem que a expansão do centro tradicional ocorre por diversos fatores como a localização da área central, tamanho da cidade, funções urbanas (os autores usaram como referência a Dissertação de Mestrado de Whitacker, 1997). 21

Avenida Coronel José Soares Marcondes, Avenida Brasil, Avenida Manoel Goulart e Avenida Washington Luiz.

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comercial e de serviços nas principais avenidas reforçam a influência da cidade na

região e a capacidade de absorver a demanda regional.

Além disso, há a compreensão de que um crescimento econômico abrupto,

de forma a atender os desejos atuais da sociedade, é um grande causador da

chamada segregação urbana e social. Problema esse, que quando não tratado e

contido com precisão, pode atingir dimensões tamanhas que fogem ao controle de um

bom desenvolvimento urbano social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, D. S. Formação histórica de uma cidade pioneira paulista: Presidente Prudente. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente, 1972. GOMES, M. T. S. O processo de reestruturação produtiva em cidades médias do Oeste Paulista: Araçatuba, Birigui, Marília, Presidente Prudente e São José do Rio Preto. Tese (Doutorado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras, Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. MATOS, O. N. Café e Ferrovia: A evolução ferroviária de São Paulo e o desenvolvimento da cultura cafeeira. 3ª Edição, 1981. LIMA, M. S.; WHITACKER, A. M. O centro e a centralidade em Presidente Prudente: a consolidação do núcleo central, 2006. MIÑO, O. A. S. Os espaços da sociabilidade segmentada: a produção do espaço público em Presidente Prudente. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia. Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2004. PEREIRA, S. R. Expansão e Estruturação Interna do Espaço Urbano de Presidente Prudente-SP. 2002. SILVA, A. M. Indústria e mudanças tecnológicas: considerações sobre a décima região administrativa de Presidente Prudente. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia. Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2002.

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O SISTEMA FERROVIÁRIO NA REGIÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A FERROVIA SOROCABANA22

Carlos Eduardo Almeida Sampaio E-mail: [email protected]

Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia- UNESP

NUPERG (Núcleo de Pesquisas e Estudos Regionais)

Maria Terezinha Serafim Gomes E-mail: [email protected]

Professora Doutora no departamento de geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia- UNESP

Campus Presidente Prudente NUPERG (Núcleo de Pesquisas e Estudos Regionais)

INTRODUÇÃO

No Brasil, as primeiras ferrovias surgiram em meados do século XIX, em 1858

a Estrada de Ferro Dom Pedro II, no Rio de Janeiro e, 1867, a Estrada de Ferro São

Paulo Railway, em São Paulo, para atender o escoamento da produção de café

destinada à exportação. A construção das ferrovias foi financiada tanto pelos capitais

externos quanto pelos capitais provenientes da monocultura do café, como, por

exemplo, a Estrada de Ferro São Paulo Railway, de capital inglês, em 1867.

No Estado de São Paulo, com o desenvolvimento da cultura do café, surgem

as Companhias ferroviárias, entre elas: a Companhia Paulista (1870), a Companhia

Ituana (1873), a Companhia Sorocabana (1876), a Estrada de Ferro Mogiana (1872) e,

posteriormente a Companhia de Estrada de Ferro Araraquara (1896). Todavia, com a

crise do café no final dos anos 1890 algumas ferrovias foram encampadas pelo Estado

e a partir de 1905 passam a ser arrendadas.

O sistema ferroviário paulista contribuiu para o desenvolvimento de cidades

do interior do estado de São Paulo e algumas ganharam importância regional.

(MONBEIG, 1984). Inicialmente, a ocupação consolidou se em torno da estrada de

ferro, reforçando as funções urbanas de cidades como Presidente Prudente,

Presidente Bernardes, Santo Anastácio, Presidente Venceslau e Presidente Epitácio.

Desse modo, a malha ferroviária passou acompanhar o desenvolvimento das

22

Este texto faz parte de discussões que vêm sendo realizadas no Projeto de Iniciação Científica

Sem bolsa, intitulado “O SISTEMA FERROVIÁRIO NA REGIÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE: UM

ESTUDO SOBRE A FERROVIA SOROCABANA”, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Terezinha

Serafim Gomes.

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plantações de café, ou seja, a “Marcha do café” em direção ao Oeste. (MONBEIG,

1984). Todavia, na segunda metade do século XX com o desenvolvimento das

rodovias, as ferrovias perderam a importância e entraram em estagnação e,

posteriormente em decadência nos anos 1970. (STEFANI, 2007, SILVEIRA, 2002).

Na década de 1970, as ferrovias paulistas foram unificadas pelo governo do Estado,

passando a chamar FEPASA (Ferrovia Paulista S.A).

A partir dos anos 1990 ocorreram as privatizações de ferrovias federais

(RFFSA – Rede Ferroviária Federal S.A, Ferronorte, Norte-Sul, entre outras) e

estaduais (FEPASA – Ferrovia Paulista S/A e FERROPAR – Ferrovia Paraná S/A),

concedidas às empresas privadas, gerando um forte processo de reestruturação

(compra de locomotivas e vagões no mercado internacional, melhora nos sistemas de

logística e de comunicações, desativação de trechos considerados antieconômicos e

formação de oligopólios) no setor ferroviário brasileiro (SILVEIRA, 2002, p.67). Assim,

esse processo de privatização levou a fragmentação das ferrovias e passaram a dar

prioridades aos transportes de minérios e de commodities agrícolas para exportação.

Com o processo de privatização vários trechos de ferrovias foram

desativados, pois segundo as concessionárias não apresentam demanda para sua

manutenção, como é o caso do trecho da antiga ferrovia Sorocabana, entre Presidente

Prudente – Epitácio.

Este trabalho tem como objetivo tecer algumas considerações sobre o

sistema ferroviário no Estado de São Paulo, com ênfase a ferrovia Sorocabana, na

região de Presidente Prudente.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este texto faz parte de um projeto de iniciação científica em fase inicial. Para

atingir os objetivos propostos realizaremos as seguintes atividades: levantamento

bibliográfico nas bibliotecas da UNESP (Universidade Estadual Paulista), USP

(Universidade de São Paulo), UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), entre

outras e sites de revistas nacionais e estrangeiras; realização de revisão bibliográfica

acerca do tema. Além disso, realizaremos pesquisa em sites como: Ministério dos

Transportes; Secretaria dos Transportes do estado de São Paulo, ALL (América Latina

Logística); ANTT (Agência Nacional de transportes Terrestre); Fundação SEADE,

Sindicato dos Ferroviários, etc; realização de entrevistas e aplicação de questionários

em órgãos públicos e privados, como Prefeitura Municipal, Núcleo de

Desenvolvimento Regional de Presidente Prudente, União das Entidades de

Presidente Prudente (UEPP), entre outros.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A região de Presidente Prudente, situada no extremo oeste do Estado de São

Paulo, possui uma população de 849.194 habitantes (SEADE, 2012). Segundo SEADE

(2012), a participação do PIB (produto interno bruto) per capita é de R$ 19.736,51 em

reais correntes, perfazendo 1,17 % do total da participação estadual, já PIB nominal

era 16.568,09 milhões em reais correntes, em 2012. Além disso, a RA de Presidente

Prudente conta com principais rodovias de acesso, a rodovia Assis Chateuabriand

(SP425), que liga o Paraná ao Oeste e Norte do Estado e a rodovia Raposo Tavares

(SP270), que liga a capital ao estado do Mato Grosso do Sul. Também conta com um

aeroporto regional e a ferrovia América Latina Logística-ALL (com trecho desativado),

antiga Sorocabana (Figura 1).

FIGURA 1 – Infraestrutura viária – Estado de São Paulo e RA de Presidente

Prudente

Fonte: Secretaria de Logística e Transportes. Elaboração: SPDR/UAM.

Os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana23 chegaram ao município de

Presidente Prudente, em 1919. Desse modo, com a expansão da Estrada de Ferro

Sorocabana, uma importante forma de penetração e uma via de escoamento da

23

A Estrada de Ferro Sorocabana fundada em 1876, com o primeiro trecho até Sorocaba, se expandindo em 1922 até Presidente Epitácio, na atual região de Presidente Prudente. Em 1903, o governo federal assumiu a ferrovia e vendida ao governo paulista, em 1905. Em 1907 a ferrovia foi arrendada pelo grupo empresarial de Percival Farquhar, passando novamente para o governo do Estado em 1919. Em 1971 com a unificação das ferrovias estaduais, passa a fazer parte da FEPASA.

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produção cafeeira, a colonização tornou-se mais fácil e rápida. Ao longo da ferrovia

multiplicaram-se os núcleos urbanos, dentre os quais Presidente Prudente cuja origem

está ligada a dois coronéis, - os senhores Francisco de Paula Goulart e José Soares

Marcondes24.

As ferrovias tiveram papel fundamental para a região Oeste do Estado de São

Paulo25, pois antes da desativação da ferrovia Sorocabana (2003) a malha ferroviária

era utilizada para o transporte de passageiro para São Paulo (capital) e outras

cidades, bem como para o escoamento da produção local e regional até o porto de

Santos (SP) e Paranaguá (PR), ou seja, a região apresentava uma demanda por esse

tipo de transporte. Todavia, a concessionária responsável pelo trecho da ferrovia

Sorocabana na região de Presidente Prudente afirma que as ferrovias foram

desativadas porque não existe demanda, ou seja, não há o que transportar.

Com a desativação das ferrovias de Presidente Prudente e sua região, a

mesma perdeu um forte mecanismo de transporte para escoamento da sua produção,

além de passageiros. Das ferrovias existentes na região, grande parte está

desativada, sem qualquer possibilidade de ser novamente reativada, outras ainda em

funcionamento, encontram-se abandonadas.

Marques (2009) salienta que, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas

Ferroviárias da Zona Sorocabana, junto com ONG- Proderpp (Núcleo de

Desenvolvimento Regional de Presidente Prudente), e outras entidades regionais e

universidades da região, se mobilizam junto a Agência Nacional e Transportes

Terrestres (ANTT), órgão responsável pelas concessões, exigindo a reativação do

trecho em nome da revitalização da economia regional.

O setor empresarial da região de Presidente Prudente afirma que existe

demanda de produção para o retorno da ferrovia, mas por outro lado, a América Latina

Logística (ALL) sinaliza que a empresa tem interesse em reativar o serviço, caso

realmente haja quantidade de produtos para tanto26.

A retomada da ferrovia na região contribuiria para o escoamento da produção

regional, além de trazer matéria-prima para as empresas, além do transporte de

passageiros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos dias atuais, a maioria dos investimentos em ferrovias está voltado para

atender aos objetivos de exportação de commodities. Porém, as necessidades do

24

Sobre a ocupação de Presidente Prudente, consultar Leite (1972). 25

Sobre o Oeste Paulista, consultar Saes (1981), Oliveira (2003), Silva (2008), Pupin (2008),entre outros. 26

Segundo informações obtidas em g1.globo.com.

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Brasil em transporte vão muito além de atender somente as exportações. É necessário

repensar a situação atual das ferrovias e estabelecer outros usos para o sistema,

como instrumento estruturante do território, promovendo uma maior integração das

regiões através da circulação mais eficiente de mercadorias e pessoas. Além do mais

uma característica do transporte ferroviário de carga é sua grande capacidade de

carga e também o baixo custo de transporte. Desse modo, a reativação do sistema

ferroviário na região de Presidente Prudente poderá contribuir para a promoção da

integração territorial da região, bem como alavancar o desenvolvimento regional. A

ausência do transporte ferroviário causa um grande prejuízo econômico à região, às

empresas, à sociedade como um todo e ao meio ambiente, não só a região de Presidente

Prudente, mas também a todo o Estado de São Paulo. Com a desativação das ferrovias

de Presidente Prudente e sua região, a mesma perdeu um forte mecanismo de

transporte para sua produção.

Enfim, a ferrovia como infraestrutura logística é fundamental na organização

do território, como transporte de mercadorias e de passageiros. Além disso, pode

contribuir para alavancar o desenvolvimento regional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALL – América Latina Logística. Disponível em: http://pt.rumoall.com/default_pti.asp?idioma=0&conta=45. Acesso em: 24 de abril de 2016. ANTF- Associação Nacional dos Transportes Ferroviários. Disponível em: http://www.antf.org.br/index.php Acesso em: 26 de abril de 2016. ANTT- Agência Nacional de Transportes Terrestres. Disponível em: http://www.antt.gov.br/ . Acesso em: 27 de abril de 2016. BRASIL. Ministério dos transportes. Transporte ferroviário. Disponível em: http://www.transportes.gov.br/transporte-ferroviario.html . Acesso em: 25 de abril de 2016. DEVAUX, Pierre. As estradas de ferro. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1964. LEITE, José Ferrari. A alta sorocabana e o espaço polarizado de Presidente Prudente. Presidente Prudente: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1972. 249p. MARQUES, Paulo Passini. Técnica, modernização e produção do espaço: um estudo sobre o papel da estrada de ferro nas transformações sócio-espaciais da zona alta sorocabana. 2009. 179f. Dissertação (Mestrado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. MARQUES, Sérgio de Azevedo. Privatização do sistema ferroviário brasileiro. Brasília: IPEA, 1996.

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MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. São Paulo: Hucitec:Polis, 1984. 392p. SILVA, Marcelo Werner da. A formação de territórios ferroviários no Oeste Paulista, 1868-1892. 2008. 331f. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. SILVA JUNIOR, Roberto F. A formação da infraestrutura ferroviária no Brasil e na Argentina. RA e GA (UFPR), v. 14, p. 19-33, 2007. SILVEIRA, M. R. Transporte e Logística: as ferrovias no Brasil. Geosul (UFSC), Florianópolis/SC, v.17, n.34, p. 118-130, 2002. _______. A Importância das Estradas de Ferro para o Brasil. Revista dos Transportes Públicos. São Paulo/SP, v. 24, n.95, p. 55-70, 2002. _______. Circulação, Transportes e Logística no Estado de São Paulo. 1. ed. Curitiba: Appris, 2014. v. 1. 250p. ________. A importância geoeconômica das estradas de ferro no Brasil. 2003. 454f. Tese (Doutorado em Geografia). Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. STEFANI, Célia Regina Baider. O sistema ferroviário paulista: um estudo sobre a evolução do transporte de passageiros sobre trilhos. 2007. 307f. Dissertação (Mestrado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências, Universidade de São Paulo, São Paulo. VENCOVSKY, V. P. Sistema ferroviário e o uso do território brasileiro: uma análise do movimento de produtos agrícolas. Dissertação de mestrado. São Paulo: Unicamp, Instituto de Geociências, 2005. 167 p.

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TENDÊNCIAS DE INVESTIMENTOS NAS REGIÕES DE PRESIDENTE PRUDENTE E SÃO JOSÉ DO RIO PRETO27

Felipe Augusto Leite Vaz de Lima

E-mail: [email protected] Graduação em geografia

Faculdade de ciências e tecnologia-UNESP Campus Presidente Prudente

Bolsista FAPESP/ Membro do NUPERG (Núcleo de Pesquisas e Estudos Regionais)

Maria Terezinha Serafim Gomes E-mail: [email protected]

Professora Doutora no departamento de geografia Faculdade de ciências e tecnologia-UNESP

Campus Presidente Prudente Coordenadora do NUPERG (Núcleo de Pesquisas e Estudos Regionais)

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, sobretudo a partir do final do século XX, as cidades médias

brasileiras vêm tornando atrativas para novos investimentos empresariais. Essa busca

das empresas por novas localidades está relacionada ao processo de

desconcentração econômica e industrial que vem ocorrendo a partir dos anos 1970.

Nesse período, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) começa a perder

posição na participação da indústria estadual, passando de 43,4% em 1970 para

38,8% em 1975 e para 34,2% em 1980, enquanto que o Interior aumenta sua

participação, passando de 14,7% para 17,1% em 1975 e para 20,2% em 1980,

principalmente as regiões próximas a RMSP, como Campinas, Sorocaba, São José

dos Campos e Baixada Santista, conforme destacou Negri (1996).

Inicialmente, os investimentos vão se concentrar próximo à região

metropolitana de São Paulo, todavia nos últimos anos há uma tendência de

investimentos também no interior mais distante, como as regiões de Araçatuba, São

José do Rio Preto, Marília e Presidente Prudente. Isso deve-se as condições gerais de

produção presentes nessas regiões capazes de atender essa demanda de novos

investimentos.

Este trabalho tem como objetivo abordar a tendência de investimentos para

região Oeste do Estado de São Paulo, com ênfase às regiões de São José do Rio

Preto e Presidente Prudente.

27

Este texto faz parte de discussões que vem sendo realizada junto ao projeto de Iniciação Científica

“Condições gerais de produção como fator locacional na atração de investimentos para as cidades médias de Presidente Prudente e São José do Rio Preto”, ligado ao Projeto “Dinâmica Econômica e desenvolvimento regional: uma análise da Região Oeste Paulista”, sob a coordenação da Profa. Dra.

Maria Terezinha Serafim Gomes.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia baseou-se em revisão bibliográfica sobre o tema, pesquisas

em sites: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Fundação SEADE

(Sistema Estadual de Análise de Dados), para coleta de dados e informações

pertinentes à pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos últimos anos, no contexto da reestruturação produtiva vêm ocorrendo

alterações no padrão de locacional das empresas, com as vantagens proporcionadas

pelas condições gerais de produção presentes em regiões fora do espaço

metropolitano. Analisando o Estado de São Paulo, Negri e Pacheco (1994, p.77)

apontam que as “[...] cidades médias localizadas ao longo dos grandes eixos de

circulação da malha viária do interior, em especial na região de Campinas e nas suas

ligações com Sorocaba e Ribeirão Preto”, como atrativas aos novos investimentos

empresariais, já que está ocorrendo uma tendência de localização industrial em

direção a estas cidades. Isso revela a existência de fatores e vantagens locacionais

adequados, ou seja, possuem “condições gerais de produção” favoráveis à reprodução

do capital em cidades médias.

No que diz respeito ao Interior do Estado de São Paulo esse processo de

desconcentração econômica ocorreu e ocorre de forma diferenciada. Algumas regiões

mais próximas à Região Metropolitana foram mais favorecidas pelas políticas de

descentralização industrial do governo estadual que aquelas mais distantes, como por

exemplo, a região Oeste. (DUNDES, 1998, SILVA, 2001 e GOMES, 2007). As

indústrias da região Oeste Paulista, em sua maioria tem sua origem no capital local

(Gomes, 2007) e são provenientes do capital acumulado nas atividades agrícolas.

Todavia, a partir dos anos 1980 e, sobretudo, nos anos 1990, quando se observa o

processo de reestruturação produtiva impulsionada pela abertura econômica, com

aquisições de empresas e modernização tecnológica. Observa-se a entrada de

empresas de capital de fora e uma reorganização da estrutura produtiva da região.

Essas transformações vão provocar alteração na estrutura produtiva industrial regional

com o surgimento de novos ramos industriais de maior uso de tecnologia, como o de

química de produtos farmacêuticos em São José do Rio Preto, e o crescimento de

agroindústrias do setor sucroalcooleiro, conforme demonstrou Gomes (2007).

Não obstante, a região Oeste Paulista não ser beneficiada com as políticas de

descentralização industrial, nos últimos anos têm atraídos investimentos empresariais

em diversos setores de atividades econômicas. No período de 2012 a 2014 é possível

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perceber a diferença entre as regiões de Presidente Prudente e São José do Rio Preto

na capacidade de atrair investimentos. Essa diferença pode ser evidenciada nas

tabelas 1, 2 e 3, que mostram os tipos de investimentos anunciados para os anos de

2012, 2013 e 2014.

Tabela 1 - investimentos anunciados por setor de atividade econômica - 2012 (em US$

Milhões)

Tabela 2 - investimentos anunciados por setor de atividade econômica - 2013 (em US$ Milhões)

Valor dos investimentos

anunciados no ano de 2013 (em

US$ Milhões)

Total Infraestrutura Indústria Serviços Comércio

Estado de São Paulo 27.694,60 18.162,70 5.419,90 3.784,90 327,00

Região Metropolitana São

Paulo 14.451,50 11.139,50 1.131,00 2.094,00 87,00

Região Administrativa de

Presidente Prudente 10,3 - - 4,2 6.1

Região Administrativa de São

José do Rio Preto 132,1 - 34,1 80,2 17,8

Fonte: SEADE 2015

Tabela 3 - investimentos anunciados por setor de atividade econômica - 2014 (em US$

Milhões)

Valor dos investimentos

anunciados no ano de 2014

(em US$ Milhões)

Total Infraestrutura Indústria Serviços Comércio Outros

Estado de São Paulo 36.503,80 24.333,10 5.799,80 5.230,90 1.136,10 3,90

Região Metropolitana São

Paulo 22.497,00 17.268,60 671,4 3.659,60 897,40 -

Valor dos investimentos anunciados no ano

de 2012 (em US$ Milhões) Total Infraestrutura Indústria Serviços Comércio Outros

Estado de São Paulo 59.767,10 39.254,30 7.628,80 12.042,90 720,9 120,2

Região Metropolitana São

Paulo 25.029,50 17.089,00 558,9 7.205,50 176,1 0,00

Região Administrativa de

Presidente Prudente 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0

Região Administrativa de

São José do Rio Preto 699 13,9 300 333,1 34,3 17,60

Fonte: SEADE 2015

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Região Administrativa de

Presidente Prudente 0,1 - - 0,1 - -

Região Administrativa de São

José do Rio Preto 321 0 - 301,6 19,4 -

Fonte: SEADE 2015

Em 2012, no que se refere aos investimentos por tipos de atividades

econômicas, observa-se que para o estado de São Paulo, do total de 59.767,10 milhões

de dólares, cerca de 39.254,30 foram anunciados para o setor de infraestrutura. A

tendência de investimentos em infraestrutura observada também para região

metropolitana de São Paulo, já para região de Presidente Prudente não houve anúncio de

investimentos. Em São José do Rio Preto os investimentos anunciados tiveram foco na

indústria e serviços, perfazendo um total de 300 e 333,1 milhões, respectivamente, além

de investimentos em todos os outros setores.

No tocante ao ano de 2013, o anúncio de investimentos se manteve para a

região metropolitana de São Paulo, porém temos um destaque de investimento alto na

indústria em São José do Rio Preto com um investimento de 34,1 milhões nesse setor e

também recebeu investimentos consideráveis o setor de comércio e o anúncio de

investimento na ordem de 80 milhões para o setor de serviços, enquanto Presidente

Prudente recebe menos de 10 milhões distribuídos entre serviços e comércios.

No ano de 2014, no que se refere aos investimentos por tipos de atividades

econômicas, observa-se que para o estado de São Paulo, do total de 36.503,80 milhões

de dólares, cerca de 24.333,10 milhões foram anunciados para o setor de infraestrutura,

com destaque para a região metropolitana de São Paulo, já para região de Presidente

Prudente houve uma pequena participação dos investimentos no setor de serviços. Em

São José do Rio Preto, os investimentos anunciados foram para os setores de comércios

(19,4 milhões de dólares) e serviços (301,6 milhões de dólares).

Podemos inferir que essa diferença na atração de investimentos deve-se à

diferença das condições gerais de produção (CGP) presentes nas duas regiões. Segundo

Lencioni:

Podemos afirmar que vem se esboçando uma nova forma de desigualdade territorial, dada a densidade e aglomeração territorial dessas condições gerais. Essas convém dizer, exigem dentre tantos equipamentos e serviços que poderíamos nos referir, a concentração de trabalho intelectual e serviços voltados a gestão do capital. Enquanto isso, outras parcelas do território se caracterizam pela presença de condições gerais de produção voltadas para as

atividades tradicionais. (LENCIONI, 2007, p. 6.)

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Segundo Lencioni (2007), as condições gerais de produção estão ligadas aos

equipamentos de consumo coletivo direto e indireto. Desse modo, as condições gerais de

produção estão relacionadas os equipamentos e serviços especializados, hidrovias,

aeroportos, estradas para a circulação de mercadorias e pessoas, redes de fibras óticas,

rede de telecomunicações e informática, centros de pesquisas e universidades, hospitais,

centro de lazer, entre outros. Presidente Prudente conta com rede de telefonia, aeroporto

regional, rodovias. Além disso, podemos observar a presença de faculdades,

universidades, escolas técnicas, entre elas: escolas técnicas (ETEC, SENAI, SENAC),

Universidades (UNOESTE, UNESP), faculdades (Toledo, UNIESP), etc. São José do Rio

Preto possui uma logística multimodal com a presença de rodovias federal e estaduais,

ferrovias, Aeroporto Regional, Estação Aduaneira do Interior (EADI), além disso, a região

tem acesso à hidrovia Tietê-Paraná. Também conta com escolas técnicas (ETEC, SENAI,

SENAC), universidades (UNESP, UNIP), faculdades (UNIESP, FAMERP), entre outros.

As disparidades existentes nos investimentos anunciados podem ser explicadas

quando observamos à presença de algumas variáveis entre muitas que consideramos

parte das CGP (rodovias, ferrovias, aeroporto, telefonia). Desse modo, as localidades que

possuem uma diversificação e presença maior dessas condiçoes gerais de produção têm

atraído maiores investimentos, principalmente no setor industrial e no setor de serviços

de maior tecnologia agregada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados parciais, a pesquisa revelou a diferença na atração de

investimentos empresariais para os municípios de São José do Rio Preto e Presidente

Prudente. Essa diferença pode estar relacionada à presença de condições gerais de

produção mais atrativas em São José do Rio Preto. Em 2014, em Presidente Prudente

o total de investimentos foi na ordem US$ 0,1 milhão, enquanto São José do Rio Preto

recebeu US$ 321 milhões em investimentos. Assim, nas regiões analisadas, observou-

se que há uma maior presença destas condiçoes gerais de produção na cidade de

São José do Rio Preto, a qual após o ano de 2006 vem crescendo em ritmo acelerado,

pois tem polarizado altos investimentos em diversos setores, enquanto Presidente

Prudente tem se mantido no seu comércio local e recebido pouco investimento em

infraestrutura de maneira que a não presença ou presença limitada das condições

gerais de produção tem encolhido o setor industrial e causando uma retração da

economia ou um crescimento pouco significativo quando comparado a São José do

Rio Preto.

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Em suma, o interior do estado de São Paulo se mostrou apto para receber

novos investimentos empresariais, porém através de investimentos setoriais ou através

das “guerras fiscais”, parcelas do território se mostraram mais aptas que outras, foi o

caso de Presidente Prudente e São José do Rio Preto, sendo Presidente Prudente de

maior importância no início desse processo, porém com o avanço das empresas de alta

tecnologia incorporada na sua produção São José do Rio Preto passa a ser um foco

maior de atração, pois há uma presença maior das condições gerais de produção e

desponta na atração de investimentos, redesenhando, assim, a estrutura produtiva

regional do Oeste Paulista.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Faculdade de Ciência e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2002. SPOSITO, M. E. B.(org.). Cidades Médias: espaços em transição. São Paulo: Expressão Popular, 2007. WHITACKER, A. M. Reestruturação Urbana e Centralidade em São José do Rio Preto – SP. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Estadual Paulista. Presidente Prudente; UNESP, 2003.

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TERRITÓRIOS DA INSEGURANÇA: O PROCESSO DE DIFERENCIAÇÃO

SOCIOESPACIAL A PARTIR DA DISTRIBUIÇÃO DOS SISTEMAS DE SEGURANÇA E/OU VIGILÂNCIA EM PRESIDENTE PRUDENTE

Luís Fernando Colombo E-mail: [email protected]

Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus Presidente Prudente Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP

INTRODUÇÃO

A sensação de insegurança urbana, nos últimos anos, tem crescido em

descompasso com os reais registros de crimes na cidade média de Presidente

Prudente, localizada no oeste do Estado de São Paulo. Tal fato é apresentado como

justificativa para aquisição de sistemas de segurança privada e/ou vigilância pelos

citadinos. Isso nos leva a indagar se o acesso a estes serviços privados, bem como

sua situação geográfica nos espaços residenciais não fechados desta cidade podem

estar associados ao processo de diferenciação socioespacial, ocasionando, em

alguma medida, sua intensificação. As reflexões aqui apresentadas são preliminares,

pois resultam de um projeto de iniciação científica que se encontra em andamento. Por

isso, a posteriori, o emprego de outros procedimentos metodológicos como entrevistas

com os citadinos, além da observação sistemática das áreas serão indispensáveis,

pois fornecerão informações mais conclusivas a respeito do nosso objeto.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Até o presente momento da pesquisa que se encontra em fase intermediária,

desenvolvemos duas atividades principais. São elas: a escolha para as áreas da

pesquisa; e trabalhos de campo.

Na primeira, realizamos uma comparação entre os setores censitários do

município de Presidente Prudente, considerando os conteúdos socioeconômicos

destas áreas com base nos mapas de exclusão social28, metodologia desenvolvida

pelo Centro de Estudos e de Mapeamento da Exclusão Social para Políticas Públicas

28

Os mapas exclusão social são representações cartográficas que sintetizam alguns indicadores sociais disponibilizados pelo censo demográfico do IBGE e adotam o procedimento de classificação por quartis que considera “[...] o menor e o maior percentual de ocorrência de um fenômeno representado na cidade como intervalo para a distribuição dos valores em quatro classes” (DAL POZZO, 2015, p. 344). Informações adicionais sobre o Mapa da Exclusão Social de Presidente Prudente podem ser encontradas

em Melazzo e Guimarães (2010).

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(CEMESPP). Essa comparação sustentou a escolha de duas áreas para nossa

pesquisa.

Posteriormente, realizamos dois trabalhos de campo a fim de contabilizar a

distribuição dos sistemas de segurança e/ou vigilância nessas áreas selecionadas. Os

tipos de dispositivos, sistemas e serviços de segurança que estamos considerando

resulta de uma adaptação da Pesquisa de Vitimização desenvolvida pela Pesquisa

Nacional de Amostras por Domicílio do IBGE, o PNAD (2009), sendo eles: Muros com

dois metros ou mais; cerca elétrica; concertina; cacos de vidro e arames farpados

sobre os muros; alarmes; câmeras de vigilância; serviço de profissional vigilante; e

cachorro de grande porte.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A ideia de que as cidades são a morada da violência e o lugar de sua livre e

progressiva (re) produção tem repercutido em todas as camadas de nossa sociedade,

orientando ações as mais diversas, bem como erigindo discursos que só se sustentam

a partir da manutenção de preconceitos e estereótipos. As incertezas a respeito do

futuro deslocam a atenção para o presente (SPOSITO & GÓES, 2013) e a

insegurança comparece como elemento norteador na produção e consumo dos

espaços das cidades.

Neste sentido, Sposito e Góes (2013) nos convidam a observar a atuação das

entidades empresariais midiáticas, como os jornais, revistas e programas de TV. Estas

empresas, estimuladas por um contexto claramente favorável de “[...] crises

econômicas, hegemonia neoliberal [e seus] tantos desdobramentos, como a

desregulamentação e o encolhimento do mercado de trabalho, privatizações, etc.”

(SPOSITO, M. E. B. e GÓES, 2013, p. 175), de modo geral, tem produzido e

disseminado a ideia de cidade violenta, atendendo “cada vez mais à lógica segundo a

qual o emprego de qualquer recurso que garanta as vendas dos produtos envolvidos

[...] se justifica” (SPOSITO, M. E. B. e GÓES, 2013, p. 174).

Contudo, através da análise dos dados policiais para as cidades de Marília,

Presidente Prudente e São Carlos, no período de 2001 a 2008, Sposito e Góes (2013,

p. 206-08) chamam a atenção para o fato de que, nestas cidades médias, a violência

não tem aumentado, mas, ao contrário, tem progressivamente diminuído. Verifica-se,

portanto, que se estabelece uma relação claramente contraditória, em que o

distanciamento “entre a violência real e a violência percebida” promove

transformações na estrutura dessas cidades.

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Neste sentido, é preciso considerar que, havendo variadas possibilidades

analíticas, dispomo-nos a investigar a situação geográfica dos dispositivos e sistemas

de segurança e/ou vigilância em bairros residenciais não fechados, na cidade média

de Presidente Prudente, pois acreditamos que o consumo diferenciado da segurança

privada entre os grupos sociais é um elemento preponderante no processo de

diferenciação socioespacial, podendo resultar, inclusive, em sua intensificação. Para

isso, a escolha de determinadas áreas que sejam representativas para o que

queremos demonstrar, isto é, que existe uma relação entre a estruturação da cidade e

a concentração de sistemas de segurança e/ou vigilância, é justificável.

Com base em um conjunto de representações cartográficas que foram

elaborados por Dal Pozzo (2015) no âmbito do Grupo de Pesquisa Produção do

Espaço e Redefinições Regionais – GAsPERR, e também à luz do Mapa de Exclusão

Social do município de Presidente Prudente para o ano de 2010, realizamos a seleção

de dois setores censitários da cidade, sendo eles os setores 252 e 294, como pode ser

observado na figura 1. Ademais, tal escolha baseou-se em três critérios principais: a)

que as áreas expressassem usos majoritariamente residenciais; b) que as

características socioeconômicas nestas áreas fossem bem diferentes; e c) que estes

setores não se constituíssem ou que apresentassem dentro de seu perímetro algum

tipo de espaço residencial fechado.

FIGURA 1: Presidente Prudente/SP. Mapa de localização das áreas de estudo. 2016.

O setor 252, localizado na zona sul de Presidente Prudente, é apresentado

por Dal Pozzo (2015) como uma área de inclusão social. Ele reúne em seu perímetro

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três bairros de conteúdos socioeconômicos consideravelmente homogêneos, sendo

eles o Jardim Rio 400, Parque Higienópolis e Chácara do Macuco. Neste setor, foram

coletados 179 pontos de coordenadas, o que significa 179 domicílios que utilizam um

ou mais dispositivos ou sistemas de segurança e/ou vigilância.

Na porção norte da cidade, por sua vez, localiza-se o setor 294. Este setor

corresponde ao bairro Parque Residencial Francisco Belo Galindo, área classificada

como de forte exclusão social (DAL POZZO, 2015). Nesta área, foram coletados 157

pontos de coordenadas. Contudo, através do trabalho de campo pudemos constatar

que, com exceção dos muros com altura superior a 2 metros, praticamente inexistem

outros dispositivos de segurança e/ou vigilância na área. Para se ter uma ideia, todos

os 157 pontos coletados apresentavam apenas o item “muro com 2 metros ou mais”

ou uma combinação dele com outros sistemas de segurança e/ou vigilância.

GRÁFICO 1: Presidente Prudente/SP. Distribuição dos dispositivos ou sistemas de

segurança e/ou vigilância por setor censitário, 2016.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas informações apresentadas, pode-se concluir que os setores

censitários comparados expressam inegáveis diferenças quanto ao consumo de

dispositivos ou sistemas de segurança e/ou vigilância. Tal fato reflete a [...]

justaposição entre uma morfologia social (promovida pela diferenciação das classes

na sociedade) e pela morfologia espacial (produzida pelas diferenças nas formas e

modos de acesso aos espaços da vida, através dos usos)” (CARLOS, 2007, p. 49.

Grifos no original).

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95

Além disso, outro aspecto importante que está relacionado ao setor 252 é a

status que estes dispositivos ou sistemas de segurança e vigilância proporcionam,

tendo em vista a valorização do consumo que caracteriza nossa sociedade. Para

Caldeira (2000), o consumo da segurança privada em espaços residenciais passou a

significar, a partir dos anos de 1990, a disseminação de um novo código estético

nestes espaços, algo que foi chamado por ela de “arquitetura do medo”. Isso nos

possibilita afirmar que a concentração de formas de segurança privada neste setor, tal

como ocorre em espaços residenciais fechados, assumem “o caráter de encenação,

de simulacro da referida segurança, coerente com o significado da própria noção de

status [...]” (SPOSITO & GÓES, 2013, p. 226-227).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALDEIRA, T. Cidades de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: E34 / Edusp, 2000. CARLOS. A. F. A. Diferenciação Socioespacial. In. Cidades. Volume 4. Número 6. 2007. p. 45-60. DAL POZZO, C. F. Fragmentação socioespacial em cidades médias paulistas: os territórios de consumo segmentado de Ribeirão Preto e Presidente Prudente. 2015. 400 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia. MELAZZO, E. S.; GUIMARÃES, R. B. (Orgs.). Exclusão social em cidades brasileiras: um desafio para políticas públicas. São Paulo: Editora Unesp, 2010. SPOSITO, M. E. B.; GÓES, E. M. Espaços Residenciais Fechados: insegurança urbana e fragmentação socioespacial. São Paulo: Editora Unesp, 2013. IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). 2009. ______Metodologia do censo demográfico 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. 712 p. v. 41.

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96

UMA ANÁLISE NO ESPAÇO – TEMPO DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS DO BANCO NACIONAL DE HABITAÇÃO (BNH) E DO PROGRAMA “MINHA CASA,

MINHA VIDA” EM PRESIDENTE PRUDENTE/SP

Felipe César Augusto Silgueiro dos Santos Bacharel em Geografia

Faculdade de Ciências e Tecnologia UNESP – Universidade Estadual Paulista

Campus de Presidente Prudente/SP

INTRODUÇÃO

Este resumo busca debater, de forma sucinta, as ideias formuladas em nosso

trabalho de conclusão de curso como forma de obtenção do título de bacharel em

Geografia. Nosso trabalho teve realização no ano de 2015 com apresentação de suas

reflexões finais no ano de 201629.

Ele surgiu através de nossas inquietações referentes à temática da política

habitacional no Brasil, que possui formas variadas de ação e de execução de suas

atividades e reflete resultados estruturais e sociais nas cidades atingidas, que

geralmente demandam ações de planejamento das escalas políticas de poder.

Para contribuir com a construção do nosso pensamento, utilizamos de uma

análise no Espaço – Tempo que visa compreender, neste caso, como que essas

políticas trazem modificações diretas na produção do espaço urbano das cidades

brasileiras, em especial das cidades médias.

Como forma de análise utilizamos de dois conjuntos habitacionais da cidade

média de Presidente Prudente/SP que se caracterizam por serem os primeiros de

ambos os programas habitacionais de que se originam: o Conjunto Habitacional

Bartolomeu Bueno de Miranda (COHAB)30 do ano de 1978, com financiamento do

Banco Nacional da Habitação (BNH) de 1964 e o Conjunto Habitacional Residencial

Tapajós do ano de 2013, oriundo do Programa “Minha Casa, Minha Vida” de 2009.

Ambos permitem uma análise na atuação dessas políticas através de uma

verificação no Espaço – Tempo, onde observamos o estabelecimento das relações

dos conjuntos habitacionais com a cidade de Presidente Prudente/SP, através de uma

periodização de atividades referentes a estes conjuntos e das especialidades que os

mesmos apresentam no espaço urbano da cidade estudada.

29

O trabalho encontra-se devidamente citado nas Referências deste resumo. O mesmo possuiu orientação do Prof. Dr. Márcio José Catelan. 30

O conjunto habitacional COHAB é de certa forma uma homenagem ao Presidente da COHAB – BAURU da época, construtora do empreendimento, conforme esta notícia demonstra: http://www.imparcial.com.br/site/conjunto-habitacional-pioneiro-cohab-e-querida-por-moradores (Acesso: 14. Set. 2016).

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97

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A realização do trabalho constituiu-se a partir do levantamento de bibliografia

especializada no tocante a política habitacional brasileira. Citamos Grupo de

Arquitetura e Planejamento (GAP) (1983), Villaça (1986), Azevedo (1988), Bonduki

(1994), Shimbo (2010), etc.

Buscamos também, reunir informações sobre a cidade de Presidente

Prudente/SP. Citamos Sposito (1983), Sousa (1992), Nascimento (1999), Fernandes

(2001), Baron (2010), Catelan (2015), etc.

Ainda em Presidente Prudente/SP realizamos trabalhos de campo no

Conjunto Habitacional Bartolomeu Bueno de Miranda (COHAB) e no Conjunto

Habitacional Residencial Tapajós, onde tiramos fotografias e reunimos informações

presentes no trabalho referido neste resumo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As políticas habitacionais no Brasil caracterizam-se por possuírem vários

modelos de implantação de suas ações, com números expressivos na construção de

habitações sociais, que causam toda uma modificação na morfologia urbana das

cidades atingidas por estes programas.

Como exemplo, observamos que na cidade de Presidente Prudente/SP as

políticas habitacionais do Banco Nacional de Habitação (BNH) e do Programa “Minha

Casa, Minha Vida” tiveram importância fundamental na produção de seu espaço

urbano, com a concepção de 11.302 (onze mil e trezentas e duas) habitações sociais31

que apresentaram modificações tanto no intra-urbano quanto nas relações sociais e

econômicas dos citadinos.

Através do Conjunto Habitacional Bartolomeu Bueno de Miranda (COHAB),

com suas 1.017 habitações, verificamos como o bairro32 especializou-se tanto na área

comercial e de serviços. Destacamos o surgimento de uma extensão comercial de sua

principal via, a Avenida Ana Jacinta até a Rua das Espatódeas, concentrando cerca de

119 estabelecimentos comerciais.

31

Todos os dados citados neste resumo estão presentes em SANTOS (2016). 32

Consideramos que, o Conjunto Habitacional Bartolomeu Bueno de Miranda (COHAB) constitui-se em um bairro, devido ao seu maior tempo de existência e pela construção de suas relações sociais. O Conjunto Habitacional Residencial Tapajós, por ser uma construção recente, não estabeleceu tais relações ainda, o que poderá acontecer através dos anos. Para maior conhecimento deste debate, recomendamos SOUZA (2013, p. 135 – 162).

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No Conjunto Habitacional Residencial Tapajós, com suas 227 habitações, foi

possível constatar um avanço ainda tímido nestes setores, com a presença de loja de

roupas33 e nos bairros ao seu entorno, quitandas, postos de combustível, açougues,

entre outros modelos de comércio e serviços.

Assim sendo, a importância das políticas habitacionais para a cidade de

Presidente Prudente/SP não se pauta apenas com relação a sua morfologia urbana,

mas também pelo processo de especialização das ações comerciais e de serviços

realizadas nos conjuntos habitacionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As políticas habitacionais brasileiras possuem relação direta com a

construção das cidades. No caso das cidades médias, a intensa reestruturação urbana

que as mesmas passam reflete diretamente nos conjuntos habitacionais construídos

mediante essas políticas, o que demanda uma nova forma de considerar as cidades e

os seus conjuntos habitacionais.

Na cidade de Presidente Prudente/SP pudemos perceber que o Conjunto

Habitacional Bartolomeu Bueno de Miranda (COHAB) construiu um bairro dotado de

todas as facilidades necessárias para o seu morador34, onde podemos evidenciar a

presença de um forte subcentro no mesmo, caracterizando uma grande singularidade.

No Conjunto Habitacional Residencial Tapajós, vemos a iniciativa de alguns

moradores em construir seu próprio negócio, configurando uma expansão rápida das

relações econômicas do conjunto habitacional mesmo com pouco tempo de

construção.

Essa atenção é facilmente verificada na modificação no Espaço – Tempo que

os conjuntos habitacionais acima estudados passam e continuam passando no

decorrer dos anos, mostrando a necessidade de um aperfeiçoamento do pensamento

de políticas habitacionais no Brasil, verificando as ações que as mesmas podem vir a

permitir através dos anos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, S. Vinte e dois anos de política de habitação popular (1964-1986): Criação, trajetória e extinção do BNH. In: Rev. Adm. Pub. Rio de Janeiro, v. 22, n. 4,

33

Neste caso, a existência de loja de roupas localiza-se nas habitações dos moradores, como forma de expansão de renda familiar. 34

Lembrando que essas facilRades foram construídas a partir do tempo de formação do bairro, pelos próprios moradores.

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1988, p. 107-119. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/viewFile/9391/8458. Acesso em 12. Set. 2016. BARON, C. M. P. Cidade e Habitação em Presidente Prudente: 1964-1986. Tese (Doutorado em Arquitetura), 2010. Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, 2010. BONDUKI, N. G. Origens da Habitação Social. In: Análise Social. São Carlos, v. 29, 1994, p. 711-732. Disponível em: http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223377539C9uKS3pp5Cc74XT8.pdf. Acesso em 11. Set. 2016. CATELAN, M.J. Vida a crédito nas cidades médias/intermediárias brasileiras: Efeitos do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. In: BELLET et al. Urbanização, produção e consumo em cidades médias/intermediárias. Presidente Prudente e Lleida. Universitat de Lleida. 2015. p. 441 – 470. FERNANDES, S.A.S. Políticas habitacionais em Presidente Prudente. In: SPOSITO, M.E.B. (Org.) Textos e contextos para a leitura geográfica de uma cidade média. Presidente Prudente: Pós-graduação em Geografia da FCT/UNESP - GASPERR, 2001, p. 157-182. GAP (Grupo de Arquitetura e Planejamento) (1983), Habitação Popular: Inventário da Ação Governamental, FINEP/Projeto, São Paulo. NASCIMENTO, Rose Maria. Dispersão e difusão: A Constituição do subcentro da COHAB e de sua centralidade. 1999. 81 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia). Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Presidente Prudente – SP. 1999. SANTOS, M. Técnica, Espaço, Tempo: globalização e meio – técnico cientifico informacional. 2º Ed. São Paulo. Hucitec. 1997. SANTOS, F.C.A.S. Espaço, Tempo e Contradições: Do Banco Nacional de Habitação ao Programa “Minha Casa, Minha Vida” em Presidente Prudente/SP. 2016. 124 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia). Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Presidente Prudente – SP. 2016. SHIMBO, L.Z. Habitação Social, Habitação de Mercado: a confluência entre Estado, empresas construtoras e capital financeiro. 2010. 361 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo). Programa de Pós – Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos – 2010. SOUSA, S.A. Políticas de Estado e a Questão da Moradia em Presidente Prudente. 1992. 95 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia). Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Presidente Prudente – SP. 1992. SOUZA, M.J.L. Região, bairro e setor geográfico. In: Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013, p. 135 – 162.

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SPOSITO, M.E.B. O “chão” em Presidente Prudente: a lógica de expansão territorial urbana. Dissertação (Mestrado em Geografia), 1983. Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista. Rio Claro. 1983. VILLAÇA, Flávio. O que todo cidadão precisa saber sobre habitação. São Paulo: Global, 1986. Disponível em: http://www.flaviovillaca.arq.br/livros01.html. Acesso em 01. Set. 2016

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EIXO TEMÁTICO 4: “DINÂMICAS NATURAIS E

QUESTÕES AMBIENTAIS”

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A GESTÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO: ESTUDO NA ÁREA DO MÉDIO PARANAPANEMA

Larissa Figueiredo Daves

Geógrafa e Mestranda no Programa de Pós Graduação em Geografia (PPGG), Faculdade de Ciências e Tecnologia,

Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP) [email protected]

Neide Barrocá Faccio

Profª Livre Docente do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente FCT/UNESP Presidente Prudente, SP

[email protected]

INTRODUÇÃO

O planejamento ambiental é caracterizado como um instrumento que propõe

ações e intervenções de forma adequada ao uso do sistema natural a partir de

políticas ambientais, com base técnica (científica, instrumental e participativa),

utilizando seus procedimentos que facilitam a execução de um conjunto de ações,

sendo esses os alicerces da gestão ambiental. Desse modo, programa o uso do

território de maneira racional, visando o equilíbrio entre o uso de recursos naturais e o

desenvolvimento de determina área para garantir a qualidade do meio biótico, físico e

social.

Segundo Rodriguez (2007) o planejamento ambiental constitui ponto de partida

para diversas decisões, sejam na forma ou intensidade de utilizar o território, em cada

uma de suas partes, incluindo os assentamentos humanos, as entidades sociais e

produtivas.

A gestão ambiental tem como principal objetivo a preocupação com o meio

ambiente, em particular, ou seja, com os sistemas ambientais naturais, a partir da

relação de dois conceitos – o manejo e o gerenciamento ambiental. O manejo trata

dos processos que levam a determinados setores socioeconômicos e tipos específicos

de sistemas ambientais. O gerenciamento ambiental trata das entidades sociais e

empreendimentos que programa determinado objetivo imposto pela gestão ambiental

(RODRIGUES; SILVA, 2013).

O licenciamento ambiental tem por obrigação legal prévia ordenar qualquer

instalação de empreendimento ou atividade potencialmente poluidora que degrade o

meio ambiente, sendo responsável pelo EIA/RIMA.

Diante disso, temos como discussão as normas e o gerenciamento de acordo

com as políticas ambientais envolvidas pelo órgão federal IPHAN (Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para mostrar os procedimentos de

licenciamento ambiental em sítios arqueológicos.

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OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo discutir as normas e o gerenciamento do

patrimônio arqueológico de acordo com as políticas ambientais envolvidas pelo órgão

federal IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A fim de mostrar

os procedimentos de licenciamento ambiental em sítios arqueológicos, justifica-se

como exemplo o Projeto de Salvamento Arqueológico da Usina Hidrelétrica Piraju

(ArqPiraju), localizado na área do Médio Curso do Rio Paranapanema, lado paulista.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Tal análise teve como embasamento teórico obras acerca do Projeto

Paranapanema como Morais (1979; 2010), Pallestrini (1981; 1982; 1984), Faccio

(1992; 1998; 2011) e Caldarelli (1997). A partir de relatórios de campo do ProjPar e

obras acadêmicas sobre arqueologia preventiva de sítios arqueológicos no município

de Piraju, SP.

Dentre os procedimentos destacam-se o embasamento teórico sobre as

normas e diretrizes do patrimônio arqueológico no âmbito federal e estadual;

levantamento bibliográfico sobre o gerenciamento do patrimônio arqueológico na Área

do Médio Paranapanema e, análise de relatórios de arqueologia preventiva no

município de Piraju-SP.

RESULTADOS E DISCUSSÕES Normas e gerenciamento do patrimônio arqueológico: licenciamento ambiental

O patrimônio cultural brasileiro é formado por bens de natureza material e

imaterial entre diversas formas de expressão como tradições culturais e criações

científicas, artísticas e tecnológicas de diferentes grupos sociais.

A Constituição de 1988 elencou no artigo 215 como diversidade cultural

nacional as manifestações culturais de grupos indígenas e afrodescendentes que até

então estava mistificada pela cultura elitista. O conhecimento desses grupos sociais

como patrimônio é de extrema relevância para a sociedade nacional, diante disso

temos como discussão a proteção ambiental de sítios arqueológicos de acordo com o

Estado Brasileiro35.

Dentre os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implementação da

Avaliação de Impacto Ambiental um dos instrumentos da Política Nacional do Meio

35 Art. 216- Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomado

individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos

formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e

científico.

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Ambiente é o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). A legislação que

contempla a proteção do patrimônio cultural de acordo com o CONAMA está na

Resolução nº 001 de 23 de janeiro de 1986, Art. 6º- O estudo de impacto ambiental da

área desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades técnicas:

I. Diagnóstico ambiental de influência do projeto completa descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto, considerando:

c) o meio socioeconômico – o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócio economia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos. (CONAMA, Resolução nº 001 de 23/01/1986).

Porém, em alguns casos os EIAs e RIMAs, sequer fazem menção ao

patrimônio arqueológico, executando empreendimentos em áreas tradicionalmente

conhecidas e ricas em vestígios arqueológicos. As políticas ambientais servem de

instrumento legal e institucional para eliminar ou reduzir ao máximo os possíveis

conflitos ambientais, auxiliando na preservação e conhecimento destes bens

patrimoniais (BASTOS; SOUZA, 2010).

O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) é o órgão de

licenciamento federal responsável pelas leis que regem a proteção do patrimônio, atua

como agente fiscalizador e fomenta de políticas públicas para a gestão do patrimônio

arqueológico.

A Portaria do IPHAN nº 230, de 17/12/2002, aborda que deve apresentar

licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades potencialmente causadores

de um significativo impacto ambiental sujeito à apresentação do EIA/RIMA. Tal portaria

favoreceu para o entendimento de pesquisas arqueológicas no âmbito do

licenciamento para compatibilizar as fases de obtenção de licenças ambientais em

urgência com os estudos preventivos de arqueologia.

A Figura 1 apresenta as etapas da gestão do patrimônio arqueológico de

acordo com o órgão federal (IPHAN).

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Figura 1: Gestão do Patrimônio Arqueológico: Hierarquia e Normas no caso de Licenciamento Ambiental.

Fonte: IPHAN (2016). Organização: DAVES, L. F (2016)

Na Fase de obtenção de licença prévia (EIA/RIMA) realiza-se a

contextualização arqueológica e etno-histórica da área de influência do

empreendimento com dados secundários e levantamento arqueológico de campo.

Caso seja um projeto que afete áreas arqueologicamente desconhecidas deve

providenciar um levantamento arqueológico de campo pelo menos na área de

influência direta. O resultado esperado para essa fase é um relatório de caracterização

e avaliação da situação atual do patrimônio arqueológico da área de estudo a partir do

Diagnóstico (IPHAN, Portaria 230/ 2002).

GESTÃO AMBIENTAL

PLANEJAMENTO AMBIENTAL

LICENCIAMENTO AMBIENTAL

IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico

e Artístico Nacional)

Órgão de Licenciamento Federal

Normas e gerenciamento do patrimônio

arqueológico

Portaria 230/2002

Portaria 28/03

Instrução Normativa nº 001 de 25 de

março de 2015

Proteção do patrimônio cultural

e histórico

Constituição de 1988 (Art. 215

e 216)

Resolução do CONAMA nº

001 de 23 de janeiro de 1986

Âmbito do Patrimônio

SALVAMENTO ARQUEOLÓGICO

Fase de obtenção de licença prévia (EIA/RIMA)

Fase de obtenção de licença de instalação (LI)

Fase de obtenção de licença de operação (LO)

(Diagnóstico arqueológico, prospecções arqueológicas, resgate arqueológico,

educação patrimonial)

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106

De acordo com a Fase de obtenção de licença de instalação (LI) deve

implantar o Programa de prospecção proposto na fase anterior, em compartimentos

ambientais de maior potencial arqueológico na área de influência direta do

empreendimento e locais que sofrerão impactos indiretos potencialmente lesivos ao

patrimônio arqueológico (áreas de reassentamento de população, expansão urbana ou

agrícola, serviços e obras de infraestrutura (IPHAN, Portaria 230/ 2002).

Esta fase tem por objetivo quantificar e delimitar os sítios arqueológicos

existentes na área a ser afetada direta ou indiretamente pelo empreendimento, seja

pela profundidade, diversidade cultural ou grau de preservação nos depósitos

arqueológicos, a fim de detalhar o Resgate Arqueológico proposto pelo EIA, que será

implantado na fase de obtenção da Licença de Operação (LO).

O resultado final desta fase é o Programa do Resgate Arqueológico com

critérios precisos de fundamento científico dos sítios arqueológicos ameaçados e

justificativa da seleção dos sítios que serão estudados.

Nesta última etapa pleiteia-se Licença de Operação (LO), tal mecanismo

permite realizar os trabalhos de salvamento arqueológico dos sítios selecionados na

fase anterior por meio de escavações, registro detalhado de cada sítio e de seu

entorno e coleta do material arqueológico contida em cada sítio. O resultado final

esperado é um relatório apresentando as atividades desenvolvidas em campo e

laboratório e apresentação dos resultados científicos sobre a Arqueologia da área de

estudo e Educação Patrimonial.

Recentemente, a Instrução Normativa nº 001, de 25 de março, de 2015

estabeleceu procedimentos administrativos a serem observados pelo Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, a fim de se manifestar nos processos

de licenciamento ambiental federal, estadual e municipal em razão da existência de

intervenção na Área de Influência Direta - AID do empreendimento em bens culturais

acautelados em âmbito federal.

O IPHAN como órgão ambiental analisará os termos e relatórios referentes aos

bens culturais tombados; valorados e registrados; patrimônio arqueológico para

disciplinar de forma clara os estudos ambientais e aplicar as fases do ordenamento do

licenciamento ambiental para diminuir danos as matrizes do patrimônio histórico, cultural

e arqueológico, a fim de compatibilizar os interesses das esferas públicas na proteção

do ambiente cultural (IPHAN, 2015).

Salvamento Arqueológico da Usina Hidrelétrica de Piraju (ArqPiraju): Sítio Arqueológico Piracanjuba, SP

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Desde 1886 o aproveitamento hidrelétrico no Rio Paranapanema tem sido

estudado pela Comissão Geográfica e Geológica da Província de São Paulo, mas foi

nos anos 1950 que ocorreu a consolidação para inventário do potencial hidrelétrico

que delimitou os principais pontos para a construção de barramentos.

No Município de Piraju, SP, em 1920 foi construída a primeira usina hidrelétrica

no Rio Paranapanema e a partir dos anos 90 se intensificou o interesse da construção

de grandes barramentos, como a tentativa de aprovação do projeto da alternativa 1 da

Usina Piraju (ou Piraju montante), que provocaria a desativação de trecho de canal

natural com o desvio do Rio Paranapanema na cidade. Outra tentativa foi a aprovação

da Usina Piraju 2 (ou Piraju jusante), este reservatório afogaria o último trecho de

canal natural em Piraju (MORAIS, 2010).

A primeira alternativa foi reprovada, pois este projeto seria impactante para a

perspectiva patrimonial e ambiental no município de Piraju. Diante disso, a alternativa

2 que não desviaria o canal do rio foi aprovada de acordo com o Estudo de Impacto

Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA).

De acordo com Morais (2010) a equipe do Projeto Paranapanema, do Centro

Regional de Arqueologia propôs questões de ordem técnica que contribuísse para

impedir este projeto de extremo impacto ambiental. O autor relata também,

São dessa época os estudos que resultaram na criação do Conselho de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, com composição e atribuições suficientes corretas para fazer prevalecer o interesse local, contrário à implantação daquele projeto [...]. Considerando a sensibilidade ambiental em termos de patrimônio arqueológico regional, o programa foi detalhado e competente para resgatar farta documentação arqueológica em campo, adicionando dados importantes ao patrimônio arqueológico do Município de Piraju. (MORAIS, 2010, p. 26).

As primeiras escavações arqueológicas na cidade de Piraju foram realizadas

por Pallestrini (1968; 1969) com o Sítio Alves, Sítio Camargo (PALLESTRINI; CHIARA,

1978), Sítio Nunes (1988), e Sítio Camargo 2 analisado por Morais (1988).

O Sítio Arqueológico Piracanjuba está localizado a jusante do Rio

Paranapanema, no Município de Piraju, SP, descoberto em 1990 durante o projeto de

Salvamento Arqueológico da Usina Hidrelétrica Piraju – ArqPiraju, a partir de uma

parceria entre o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo

(MAE/UNSP) e a Companhia Brasileira de Alumínio, sob a coordenação geral do Profº

Dr. José Luiz de Morais do MAE/USP (MORAIS, 1995) (Figura 1).

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Figura 1: Localização do Sítio Arqueológico Piracanjuba. Município de Piraju, SP.

As etapas de licenciamento ambiental deste sítio arqueológico tiveram como

normas e gerenciamento do patrimônio a Arqueologia Preventiva. O licenciamento

ambiental para as áreas de empreendimentos que façam movimentação de terra ou

promovam a inundação como são os casos de usinas hidrelétricas, no Brasil.

No caso a área estudada da usina hidrelétrica em tela, foi encontrado o Sítio

Piracanjuba. Dessa forma, após a prospecção houve a necessidade de se passar para

o resgate para que o empreendimento pudesse obter a licença de operação (LO).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil o licenciamento ambiental prevê a proteção do patrimônio cultural, no

qual está inserido o patrimônio arqueológico a Arqueologia enquanto área do

conhecimento possui forte conotação patrimonial (pois ela lida com a memória e a

identidade dos povos) (MORAIS, 2010).

O reconhecimento dos vestígios arqueológicos em Piraju teve um papel

bastante significativo no encaminhamento (e solução) de várias questões relacionadas

com a proteção e valorização do meio ambiente e do patrimônio cultural da região.

Sendo considerado um patrimônio cultural e histórico para o município e,

conhecimento do comportamento cultural do grupo Guarani que habitou a região em

tempos pretéritos (MORAIS, 2010).

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Diante do exposto em 2003 foi criada a Portaria 230/2002 do IPHAN e a

Instrução Normativa nº 001 de 25 de março de 2015, que garantem, até certa medida

a proteção do patrimônio arqueológico.

REFERÊNCIAS BASTOS, R.L; SOUZA, M. C. Normas e gerenciamento do patrimônio arqueológico. Superintendência do IPHAN em São Paulo. 3 ed, 2010.

CALDARELLI, S.B. Avaliação dos impactos de grandes empreendimentos sobre a base de recursos arqueológicos da nação: conceitos e aplicações. Atas do Simpósio sobre Política Nacional do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural. Goiânia, 1997, p. 57-65. FACCIO, N. B. Estudo do Sítio Arqueológico Alvim no Contexto do Projeto Paranapanema. Dissertação de Mestrado. São Paulo: FFLCH/USP, 1992. ________. Arqueologia dos Cenários das Ocupações Horticultoras da Capivara, Baixo Paranapanema – SP. São Paulo: FFLCH/USP, Tese de Doutorado, 1998. ________. Arqueologia Guarani na Área do Projeto Paranapanema: estudo dos sítios de Iepê, SP. Volume I. Tese de Livre Docência – Museu de Arqueologia e Etnografia, Programa de Pós-Graduação em Arqueologia – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Instrução Normativa nº 001 de 25 de março de 2015, acesso em 17/06/2016, disponível em http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Instrucao_normativa_01_2015.pdf. MATEO, J.- Aportes a la formulación de una Teoría Geográfica de la sostenibilidad ambiental; Universidad de La Habana, Tesis para la obtención del Grado de Doctor en Ciencias, La Habana, 2007,p. 180. MATEO RODRIGUEZ, J. M.; SILVA, E, V. Planejamento e Gestão Ambiental. Subsidios da Geoecologia das Paisagens e da Teoria Ecossistêmica. Edições UFC, Fortaleza, 2013, p. 370. MORAIS, J.L. Arqueologia, Academia e Mediação de Conflitos. In: Arqueologia Preventiva: Gestão e mediação de conflitos estudos comparativos. Organização de Marise Campos de Souza . São Paulo, SP: Superintendência do Iphan, 2010. ________. A pré-história do munícipio de Pirajú, SP. Revista do Museu Paulista, Nova série, Universidade de São Paulo, São Paulo, vol. XXVI, 1979, p. 219-234. ________. Plano cartográfico do Projeto Paranapanema, São Paulo, 1995. ________. Tópicos de Arqueologia da Paisagem. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 2000, 10:3-30. ________. Arqueologia da Região Sudeste. Revista da USP, n. 44, 194-217, 1999/2000. PALLESTRINI, L.; MORAIS, J. L. Arqueologia pré-histórica brasileira. Editora Universidade de São Paulo - Museu Paulista Fundo de Pesquisas. 2° edição, São Paulo, 1982. PALLESTRINI, L.; PERASSO, J.A. Arqueologia: método y técnicas em superfícies

amplias. Biblioteca Paraguaya de Antropologia, IV. 1984, p. 53.

PALLESTRINI, L.; CHIARA, P.; MORAIS, J.L. Evidenciação de novas estruturas arqueológicas no sítio pré-histórico Camargo, Piraju, SP. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 1981, p. 131-158. Portaria do IPHAN nº 230, de 17/12/2002, acesso em 15/06/2016, disponível em http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Portaria_n_230_de_17_de_dezembro_de_2002.pdf.

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110

AS CARACTERÍSTICAS TÉRMICAS E HIGROMÉTRICAS DO RURAL PRÓXIMO

DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP)

Guilherme Silva de Sousa

E-mail: [email protected]

Graduando em Geografia.

Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP – Campus de Presidente Prudente– SP.

Bolsista de iniciação científica PIBIC/CNPq.

INTRODUÇÃO

Este trabalho se apresenta como resultado final de pesquisa, a nível de

iniciação científica, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq), intitulado "As características térmicas e

higrométricas no rural próximo de Presidente Prudente (SP)".

Na realização dos estudos científicos que tem como objeto de análise o

clima em associação com as dinâmicas e fato urbano, considerando que “o clima

urbano é um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua

urbanização” (MONTEIRO, 1976, p.95) torna-se necessário ir além dos

pressupostos teóricos e metodologias convencionais que classificam a paisagem

rural sob um tipo de visão homogênea.

Assim, considera-se de suma importância a análise e a classificação dos

ambientes rurais próximos a Presidente Prudente (SP), de maneira a comparar a

temperatura e umidade relativa do ar partindo da proposição teórica das Local

Climate Zones (LCZs) de Stewart (2011). Para tanto, buscou-se detalhar as

características das paisagens identificadas no ambiente rural, qualificando seus

elementos constitutivos, de modo a denotá-los de especificidades, bem como de

semelhanças. Deste modo, identificou-se até que ponto seus componentes

interferem na dinâmica térmica e higrométrica do clima próximo a superfície.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados dados

meteorológicos da estação automática A707 do INMET da FCT/UNESP, campus

Presidente Prudente (SP) e dados meteorológicos mensurados por quatro sensores

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Fonte: FCT/UNESP; INMET; DATA LOGGER U23-002 – HOBO. Org: SOUSA, G. S.

DATA LOGGER U23-002 – HOBO (sensor de temperatura e umidade externa com

sonda de 1,8m) localizados no rural próximo de Presidente Prudente (SP).

Foram feitos registros horários da máxima, mínima e média para os

dados de temperaturas do ar e umidade relativa, no mês de junho de 2015, dos

quais foram selecionados os seguintes horários para análise às 15h e às 19h.

As planilhas eletrônicas, procedimentos estatísticos para uso e tratamento

dos dados, elaboração de gráficos de distribuição da temperatura e umidade entre

os pontos e as folhas sínteses Stewart (2011), foram elaborados no aplicativo

Microsoft Office Excel 2013 e para a identificação dos sistemas atmosféricos

atuantes, segundo o paradigma rítmico de Monteiro (1971), utilizou-se o gráfico de

análise rítmica do mês de junho de 2015 para fomentar as análises dos resultados.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nas análises dos resultados optou-se por utilizar um gráficos

representativos da distribuição da temperatura e da umidade entre os pontos para o

período noturno das 19h, com intuito de demonstrar como a distribuição da

temperatura do ar e da umidade relativa varia entre os pontos conforme o horário

de mensuração.

Portanto, as diferenças entre os pontos para os dados da temperatura

apresentaram-se significativas, durante o período noturno.

Como pode-se observar que no dia 11 às 19h, o Urbano registrou 26,1°C,

enquanto o Rural 1 e 2 apresentaram respectivamente as temperaturas de 20,4°C e

21,7C° sob a atuação da massa de ar tropical atlântica continentalizada (Tac) de

características quente e seca, (gráfico 01).

Gráfico 01: Temperatura do ar nos pontos às 19h00 do mês de junho de 2015.

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Fonte: FCT/UNESP; INMET; DATA LOGGER U23-002 – HOBO. Org: SOUSA, G. S.

Fonte: GOOGLE EARTH, 2016. Org: SOUSA, G. S.

Do mesmo modo, para os dados da umidade relativa as diferenças

mostraram-se significativas. No dia 23 às 19h o Urbano registrou 43% de umidade

relativa do ar, enquanto o Rural 1 apresentou, respectivamente, 85%, devido a

presença de cobertura arbórea mais significativa (Fig. 01). O Rural 2 apresentou 66

% enquanto o Rural 3 e 4 apresentaram 55% e 61%, sob a atuação da massa de ar

tropical atlântica (Ta) de características quente e úmida (gráfico 02).

Gráfico 02: Umidade relativa do ar nos pontos às 19h00 do mês de junho de 2015.

Figura 01: Classificação paisagística do ponto Rural 1, LCZ A..

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113

A (Fig. 01) apresenta a ilustração de uma das classificações paisagística

segundo a metodologia de folhas sínteses de Stewart (2011), sendo essa paisagem

classificada como LCZ A – Local Climate Zone A – caracterizada como

significativamente arborizada, presença de árvores espaçadas, vegetação rasteira e

corpos d‟água nas proximidades, apresenta poucas estradas e edificações, com

edifícios pequenos de baixa elevação.

Com relação à cobertura da terra, a LCZ A apresenta alta permeabilidade

devido a presença de cobertura arbórea e rasteira, compreende áreas de

remanescente florestal e uso rural, com fluxo de tráfego baixo no rural próximo à

leste da cidade. A temperatura média do ar para o mês de junho nestas áreas foi de

19°C, e a umidade relativa média do ar foi de 81%.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O resultado mais significativo deste trabalho está concentrado na

necessidade de buscar novas formas de análises teóricas e metodológicas, que

rompam com a dualidade cidade e campo, em que o primeiro é denotado de uma

caracterização paisagística mais complexa e heterogênea enquanto o segundo

tende a uma classificação mais simplista e pouca detalhada, ao nível da superfície,

denotando-o de uma feição homogênea que de certo modo, tal como apresentaram

os resultados não se confirma.

Deste modo, o trabalho aqui apresentado, bem como o fruto de seus

resultados tem como propósito prestar contribuições para futuros trabalhos e

pesquisadores do clima das cidades, tentando apresentar uma teoria e metodologia

alternativa, porém não excludente que extrapole o padrão clássico de

caracterização e diagnóstico de eventuais situações-problemas ou fenômenos

climáticos de escala local, como a ilha de calor urbano, por exemplo, em vista de

suprimir generalizações que os comprometam.

Pode-se também, induzir políticas de planejamento urbano e ambiental,

afim de mitigar situações de caráter impactante ou desconfortável, ocasionadas

pelo clima em associação com as atividades humanas intensificadas no ambiente

urbano, tendo como pressuposto o bem-estar social dos habitantes das cidades

que deve ser gerenciada em uma ação conjunta das instituições, entidades de

pesquisa e poder público.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARDOSO, R. dos S. Classificação de potenciais unidades climáticas em

Presidente Prudente-SP. 2015. 135 f. Dissertação (mestrado) - Universidade

Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, 2015. Disponível em:

<http://hdl.handle.net/11449/138512>.

MENDONÇA, F. de A. O clima no planejamento da cidade: Um desafio aos

urbanistas na defesa da qualidade ambiental. SIMPÓSIO BRASILEIRO DE

CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA, 3, 1998, Salvador. Anais...CD-Rom. Salvador:

Universidade Federal da Bahia, 1998.

MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noções básicas e climas

do Brasil, In: “Circulação e Dinâmica Atmosférica”, São Paulo, Oficina de textos,

2007, p.95- p.100.

MENDONÇA, F; MONTEIRO, C. A. de F. Clima urbano. 2. ed. São Paulo: Contexto,

2011.

MONTEIRO, C. A. de F. Análise rítmica em climatologia. São Paulo: IGEOG/USP,

1971.

______. Teoria e Clima Urbano. São Paulo: IGEOG/USP, 1976. (Série Teses e

Monografias, 25).

STEWART, I. D. Redefining the urban heat island. Vancouver. 2011. 368p. Thesis

(Doctor of Philosophy). The Faculty of Graduate Studies, The University of British

Columbia.

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AVALIAÇÃO DOS TIPOS DE TEMPO DE PRESIDENTE PRUDENTE: ANÁLISE DO MÊS DE MARÇO DE 2013

Bruna Guldoni [email protected]

Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus de Presidente Prudente Bolsista FAPESP, Processo nº 2015/23955-1

Antonio Jaschke Machado

[email protected] Prof. Dr. do Departamento de Geografia

Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente

INTRODUÇÃO

O tema da referente pesquisa sobre “tipos de tempo” constitui ainda um

obstáculo significativo para a Climatologia, visto que se tem uma vaga definição

(PRADELLA, 2014). Tarefas importantes do dia-a-dia, como planejamento urbano,

agrícola, industrial, dependem deste conhecimento. Desse modo, as pessoas

compreendendo a sucessão dos tipos de tempo, conseguem se programar em suas

atividades. Este trabalho tem por objetivo resgatar a primeira classificação dos tipos de

tempo para o Oeste Paulista (TARIFA e MONTEIRO, 1972), e, por conseguinte,

desenvolver um procedimento que agregue observações convencionais em estação

meteorológica a imagens de satélite.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a classificação dos tipos de tempo de Presidente Prudente,

primeiramente coletou-se junto à estação meteorológica dados de insolação e de

chuva do dia todo; temperatura às nove horas; umidade, direção do vento,

nebulosidade e pressão todos esses das nove horas. Após coletados os dados e

passados para planilhas, foram criados os critérios de classificação de todos os

elementos meteorológicos, como o exemplo a nebulosidade:

Encoberto 8, 9 ou 10 partes cobertas

Nublado De 3 a 7 partes cobertas

Claro De 0 a 2 partes cobertas

Após todos os elementos meteorológicos classificados, foi realizada uma

classificação para o dia como um todo, resultando em três tipos de tempo: Tempo

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Bom ou Aberto, Tempo Transitório e Tempo Tempestuoso. Tempo Aberto, quando há

características de céu claro, com pouca nebulosidade, geralmente com pressões altas

e a predominância de anticiclones; Tempo Transitório, após, ou antes, da passagem

de um anticiclone, quando se nota certa instabilidade no tempo, porém, sem presença

de chuvas e Tempestuoso, quando ocorre precipitação, seja dentro ou acima do valor

médio mensal.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir é apresentado uma tabela com a classificação do mês de

Março/2013 e após imagens do Satélite GOES dos dias 23, 24, 25 e 26 de março,

para se fazer a análise do tipo de tempo com a atividade atmosférica ocorrida no

momento de análise, que foram às nove horas da manhã:

Tabela1: Classificação dos tipos de tempo para o mês de março de 2013

Dia/ Elemento Atmosféri

co

Insolação (hs/dia)

Temperatura (ºC) às 9

horas

Umidade (%) às 9 horas

Direção do Vento às 9

horas

Quantidade de nuvens às

9 horas

Precipitação (mm)

Pressão atmosférica

(mb)

Tipo de Tempo

08 Claro Confortável Confortável Anticiclone Claro Sem precipitação

Estável Tempo Aberto

09 Claro Confortável Confortável Pré-Frontal Nublado Sem precipitação

Estável Tempo Aberto

10 Claro Confortável Confortável Pré-Frontal Nublado Sem precipitação

Estável Tempo Aberto

11 Nublado Confortável Confortável Pré-Frontal Nublado Acima do esperado

Instável Tempestuoso

12 Nublado Confortável Confortável Anticiclone Nublado Acima do esperado

Estável Tempestuoso

13 Nublado Confortável Saturado Calmaria Encoberto Acima do esperado

Estável Tempestuoso

14 Encoberto Confortável Saturado Calmaria Encoberto Acima do esperado

Estável Tempestuoso

15 Nublado Confortável Saturado Anticiclone Encoberto Sem precipitação

Estável Tempo Transitório

16 Nublado Confortável Saturado Anticiclone Encoberto Acima do esperado

Estável Tempestuoso

17 Encoberto Confortável Saturado Anticiclone Encoberto Acima do esperado

Estável Tempestuoso

18 Encoberto Frio Saturado Anticiclone Encoberto Dentro do esperado

Estável Tempestuoso

19 Nublado Frio Confortável Anticiclone Nublado Dentro do esperado

Estável Tempestuoso

20 Encoberto Confortável Saturado Anticiclone Encoberto Acima do esperado

Instável Tempestuoso

21 Nublado Confortável Saturado Calmaria Encoberto Sem precipitação

Estável Tempo Transitório

22 Nublado Confortável Saturado Pós-Frontal Claro Sem precipitação

Estável Tempo Transitório

23 Claro Confortável Confortável Anticiclone Claro Sem precipitação

Estável Tempo Aberto

24 Nublado Confortável Saturado Anticiclone Encoberto Sem precipitação

Estável Tempo Transitório

25 Nublado Confortável Confortável Anticiclone Nublado Sem precipitação

Estável Tempo Transitório

26 Nublado Frio Saturado Calmaria Encoberto Dentro do esperado

Estável Tempestuoso

27 Claro Confortável Saturado Pré-Frontal Nublado Sem Estável Tempo

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precipitação Transitório

28 Claro Confortável Saturado Anticiclone Nublado Sem precipitação

Estável Tempo Transitório

29 Claro Confortável Confortável Anticiclone Claro Sem precipitação

Estável Tempo Aberto

30 Claro Confortável Confortável Anticiclone Claro Sem precipitação

Estável Tempo Aberto

31 Claro Confortável Confortável Anticiclone Nublado Sem precipitação

Estável Tempo Aberto

FIGURA 1. Imagem do satélite GOES dos dias 23 (a), 24 (b), 25 (c) e 26 (d) de março de 2013.

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A imagem de satélite (Fig. 1a) confirma a observação realizada na Estação

Meteorológica, de Tempo Aberto. Há duas bandas de nuvens principais, uma ao norte do

estado de São Paulo, aparentando constituir um sistema frontal em conexão com um ciclone

extratropical no oceano Atlântico. Há uma outra banda de nuvens ao sul do estado de São

Paulo sobre a Argentina que parece indicar frontogênese.

No dia 24 (Fig. 1b) a frontogênese sobre a Argentina parece enfraquecer e grandes

núcleos convectivos se formam no interior do Brasil aparentemente associados ao cavado

da frente fria sobre o oceano. O estado de São Paulo fica encoberto por muitas nuvens, que

caracteriza o Tempo Transitório. Na terceira imagem (Fig. 1c) parece haver um

deslocamento da nebulosidade para leste, diminuem as nuvens sobre o estado de São

Paulo, confirmando a transitoriedade do tempo.

Na quarta imagem (Fig. 1d) todo o estado de S.P. aparece novamente coberto por

nuvens que se estendem em conexão com o sistema frontal sobre o oceano, possivelmente

associado a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Olhando em detalhe o oeste do

estado de S.P. na imagem observamos um núcleo de nuvens mais claras caracterizando

atividade convectiva profunda, o que caracteriza a condição tempestuosa do tempo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises das cartas sinóticas, juntamente com as análises dos dados da tabela,

confirma as classificações dos tipos de tempo para este período em Presidente Prudente.

Percebemos a sequência dos tempos em quase todas as outras análises que não estão

contempladas aqui, primeiramente o tempo aberto, logo ele passa a ficar transitório,

variando de 1 a 3 dias por conta da chegada de um sistema frontal e após passa a ser

tempestuoso, onde ocorre a precipitação. Para uma melhor análise deveria ser realizadas

leituras de vários horários do dia, porém seria muito trabalhoso para uma bolsa de iniciação

científica de um ano. Fica a instigação para um próximo trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Disponível em: <http://satelite.cptec.inpe.br/home/novoSite/index.jsp> Acesso em: 08/09/2016. PRADELLA, Henrique Lobo. A construção do conceito de “tipos de tempo” entre os séculos XVII e XXI, no âmbito das Ciências Atmosféricas. 2014, 370 f. Dissertação (Mestrado em Geografia Física) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014; SANT‟ANNA NETO, João Lima; TOMMASELLI, José Tadeu Garcia. O tempo e o clima de Presidente Prudente. FCT-UNESP, Presidente Prudente, 2009. TARIFA, José Roberto; MONTEIRO, Carlos Augusto Figueiredo. Balanço de energia em seqüência de tipos de tempo: uma avaliação no Oeste Paulista (Presidente Prudente) 1698-1969. USP- IG, Série Climatologia n°5, São Paulo, 1972.

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CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE PONTOS AMOSTRAIS NO INTERIOR E NAS BORDAS DO PARQUE ESTADUAL DO MORRO DO DIABO,

MUNICÍPIO DE TEODORO SAMPAIO-SP, A APARTIR DE ABORDAGENS CORRELATAS À ECOLÓGIA DA PAISAGEM

Alisson Rodrigues Santori [email protected]

Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus de Presidente Prudente Bolsista Fapesp

INTRODUÇÃO

O trabalho desenvolvido buscou efetuar análise qualitativa, caracterização e

diagnóstico ambiental, focado nos padrões de conservação ou degradação de pontos de

coleta dos vetores de leishmania e de pontos amostrais de qualidade da agua e sedimentos

no Parque Estadual do Morro do Diabo e na região do pontal do Paranapanema. Tem o

objetivo de identificar pressões e ameaças externas em cada ponto, identificando sua

origem e avaliando seu potencial de risco, intensidade e duração. O processo de coleta

dessas informações se deu por meio de trabalhos de campo e análises feitas com base na

resolução CONAMA 01/1994.

Nesse sentido, as atividades aqui desenvolvidas têm como base a caracterização

ambiental focada essencialmente em determinar o grau de desequilíbrio e impacto que a

agricultura extensiva de cana de açúcar e outras atividades têm causado em determinadas

espécies faunísticas (flebotomíneos), e as perturbações causadas nos corpos d‟agua da

região do pontal. Como bases para esses estudos e correlações estão sendo realizadas

duas abordagens: uma com enfoque técnico, prezando pela análise da legislação ambiental

vigente, analise e elaboração de dados gráficos, sistematizações de dados e trabalhos de

campo; e outra focada no estudo teórico e bibliográfico voltado à ecologia da paisagem que

pode fornecer uma análise geográfica da influência do homem sobre a paisagem e a gestão

do território, contribuindo também para o entendimento das interações que as unidades da

paisagem tem entre si e que contribuem para o seu funcionamento e dinâmicas internas.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho foi dividido em algumas etapas, sendo que a primeira se tratou do

levantamento bibliográfico e cartográfico em escala regional dos pontos de análise, focando

o uso e ocupação do solo, a geomorfologia, pedologia, rede hídrica e outros atributos. Em

outra etapa foram realizados quatro trabalhos de campo nos dias 3, 4, 17 e 18 de maio,

onde foram visitados 20 pontos de coleta e nesses campos foi utilizada uma ficha de

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levantamento com base nos quesitos da resolução CONAMA 01/1994 que dispõem sobre

estágios de vegetação e sucessão ecológica. Nos dias 3 e 4 foram visitados 10 pontos em

cursos d‟agua da bacia do Paranapanema onde foi realizada a coleta de agua e sedimentos

por outras equipes, nos dois últimos dias a caracterização se focou em pontos amostrais de

coleta de flebotomíneos (Mosquito-Palha) no PEMD e suas bordas. Os dados e

informações foram divididos em duas situações chamadas de “dados gerais” e “dados

específicos”.

O levantamento bibliográfico se focou em uma caracterização física previa e geral dos

locais de estudo, voltada principalmente a nível regional, sendo essencial para agrupar

informações referentes à pedologia, geomorfologia, geologia, rede hídrica e uso e ocupação

do solo. A aquisição de dados cartográficos, infográficos e tabelas colaboraram para o

conhecimento das características mais especificas dos locais, sendo observados nesse

momento os padrões de qualidade e quantidade de certos indicadores que estão sendo

utilizados para a realização das relações de impacto e derivações acusadas nas

caracterizações pontuais. Os trabalhos de campo ajudaram na aquisição de informações

pontuais sobre a condição de preservação/degradação das unidades de paisagens

estudadas, considerando o enfoque nos fragmentos vegetais da região, nas áreas de

drenagem e cursos d‟agua, e na influência impactante da cultura canavieira na qualidade

ambiental dos mesmos.

Figura 1: Mapa de localização dos pontos amostrais no Parque Estadual e bordas.

Fonte: Santori, 2016

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados de campo e gabinete levantados e organizados tem o objetivo de fornecer

informações que resultaram em materiais cartográficos ilustrando o cenário de uso e

ocupação da região aliada às formas de pressões antrópicas e a interação dos ambientes.

Os chamados “dados gerais” buscaram caracterizar atributos relacionados às

condições ambientais mais simples dos locais como uso da terra, relevo, característica

predominante do solo e impactos e derivações mais perceptíveis. Esses dados foram

organizados em duas tabelas para os dois campos realizados em maio. Os “dados

específicos” forneceram informações técnicas relativas à legislação ambiental para estágios

de sucessão ecológica (CONAMA 01/1994) que relaciona atributos de analise, entre eles a

fisionomia vegetal, características de estrato lenhoso, produto lenhoso, DAP médio,

diversidade biológica entre outros.

O trabalho vai se focar agora, na ampliação e no aprofundamento da análise dos

resultados obtidos e no fortalecimento das correlações possíveis, estabelecendo então uma

relação entre as condições do ambiente e as variáveis de comparação disponíveis e, como

resultado final, a elaboração de mapas ilustrando as condições ambientais, as formas de

impactos gerados pela cana e/ou outros agentes, como por exemplo, o possível impacto

causado pela atividade de queimada da cana realizada nas proximidades dos fragmentos

vegetais, e a forma como as alterações e consequentes interações entre as paisagens

estudadas se compreendem dentro do pensamento ecológico e como essa relação muitas

vezes impactante interfere diretamente na dinâmica e na relação biótica interna.

Figura 2: Cana queimada entre dois pontos de estudo deste trabalho, na borda norte do

Parque Estadual.

Fonte: Pimenta, 2016.

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Figura 3: Borda do Parque Estadual atingida pelo fogo colocado na cana.

Fonte: Pimenta, 2016

Tabela 1: Dados primários dos pontos de análise do 2° Campo (flebotomíneos).

Pontos Coordenadas Uso da terra Relevo Solo Impactos e derivações

1 22º 36' 59'' S - 52º 10' 19'' O

MD/ME: Unidade de Conservação

Planície Fluvial (Terraços)

Neossolo Flúvico

Estrada de serviço (min)

2 22º 37' 35'' S - 52º 10' 23'' O

MD/ME: Unidade de Conservação

Planície Fluvial (Terraços)

Neossolo Flúvico

Trilha autoguiada

3 22º 37' 27'' S - 52º 10' 31'' O

MD/ME: Unidade de Conservação

Planície Fluvial (Terraços)

Neossolo Flúvico

Trilha autoguiada

4 22º 36' 49'' S - 52º 10' 33'' O

MD/ME: Unidade de Conservação

Planície Fluvial (Terraços)

Neossolo Flúvico

Não registrado

5 22º 36' 31'' S - 52º 10' 6'' O

MD/ME: Pastagem/Moradia

Planície Fluvial (Terraços)

Neossolo Flúvico

Estrada/Fossa/Moradias/Criações

6 22º 36' 22'' S - 52º 10' 31'' O

MD/ME: Pastagem/Pomar

Planície Fluvial (Terraços)

Argissolo Solo exposto/Fossa/Lixo/

Criações

7 22º 35' 11'' S - 52º 10' 29'' O

MD/ME: Pastagem/Pomar

Planície Fluvial (Terraços)

Argissolo Criações/Solo exposto/Lixo

8 22º 34' 43'' S - 52º 10' 37'' O

MD/ME: Pastagem/Pomar

Planície Fluvial (Terraços)

Argissolo Criações/Lixo/Solo impermeabilizado

9 22º 23' 59" S - 52º 30' 56" O

MD: Mata / ME: Cana

Topo Aplainado (Colinas)

Latossolo Cana/Erosões

10 22º 22' 52" S - 52º 31' 4" O

MD/ME: Cana/Pomar/Pastagem

Alta Vertente (Colinas)

Latossolo Erosão/Cana/Criações/Lixo

Fonte: Dados do Autor.

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123

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O avanço deste projeto de pesquisa requer um grande foco nos estudos não somente

relacionados à vegetação, mas a tudo que envolve o meio biótico e abiótico. Portanto, este

trabalho não se foca apenas em caracterizar ambientalmente os pontos amostrais, mas

também criar correlações baseadas em dados e teorias e assim observar as interações e

influências das unidades de paisagem na vida do homem e vice versa, e, além disso, é

importante ressaltar a possibilidades de propostas e intervenções que possam colaborar

para a ampliação da conservação da natureza e da vida do homem . Sendo assim, para os

próximos meses espera-se ter um panorama confiável da qualidade ambiental e do nível de

pressão e impacto antrópico nos pontos de estudos para o Parque Estadual do Morro do

Diabo e seu entorno.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRAIDO, L. M. H.; TOMASELLI, J.T.G. Setorização de fatores ambientais - clima, solos e

relevo para o planejamento ambiental e territorial na região do pontal do Paranapanema -

SP - Brasil. Revista Geonorte, v.3, n.4, p.1268-1282, 2012.

CASAGRANDE, B. et al. Avaliação dos flebotomíneos encontrados no interior e na borda do Parque Estadual do Morro do Diabo, município de Teodoro Sampaio – SP, Brasil. In: I Seminário Temático CETAS, 1, 2015. FCT/Unesp.

METZGER, J. P. O que é ecologia de paisagens. Biota Neotropica, São Paulo, v.1, p. 1-9, 2001.

Plano de Manejo Parque Estadual do Morro do Diabo. Santa Cruz do Rio Pardo, SP :

Editora Viena, 2006.Vários autores.

RESOLUÇÃO CONAMA 01/1994. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=142 >. Acesso em 01 de Outubro de 2016.

SCHIAVETTI, A. O papel da ecológica teórica na delimitação de unidades de conservação. IF Series Registros, São Paulo, 1996, p. 13-20.

TROPPMAIR, H. 2000. Ecologia da paisagem: uma retrospectiva. Anais do I Fórum de debates “Ecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental” (4-8 junho de 2000, Rio Claro). Sociedade de Ecologia do Brasil

TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de janeiro. IBGE, Diretoria Técnica, SUPREN, 1977.

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124

CONFORTO TÉRMICO EM AMBIENTES EXTERNOS: UMA ANÁLISE DO PARQUE DO POVO EM PRESIDENTE PRUDENTE - SP

Alexandre Antonio Abate

E-mail: [email protected]

Graduação em Geografia (Bacharelado e Licenciatura)

Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Presidente Prudente - SP

Bolsista do CNPq

Renan Coelho da Silva

E-mail: [email protected]

Graduação em Geografia (Bacharelado e Licenciatura)

Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Presidente Prudente - SP

Ritielle Cristina Aparecido

E-mail: [email protected]

Graduação em Geografia (Bacharelado e Licenciatura)

Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Presidente Prudente - SP

INTRODUÇÃO

O clima configura-se como um elemento extremamente influenciado pelos fatores

decorrentes da urbanização, como retirada da vegetação original, aumento da circulação de

veículos e pessoas, impermeabilização do solo, densidade de edificações, lançamentos de

material particulado e gases. Estes processos auxiliam na produção do clima das cidades,

as quais são geradoras de um clima próprio (AMORIM, 2013). Para Monteiro e Mendonça

(2003, p.19) “o clima urbano é um sistema que abrange o clima de um determinado espaço

terrestre e sua urbanização”.

Considerando que na contemporaneidade, a maioria da população vive nas

cidades, é imprescindível analisar as relações entre o clima urbano e a vida das pessoas.

Deste modo, o presente estudo insere-se no âmbito de análise do conforto térmico em

ambientes externos. Mediante análise das características térmicas (temperatura do ar e

temperatura da superfície) e higrométricas (umidade relativa do ar), o objetivo da pesquisa

refere-se ao estudo do conforto térmico do Parque do Povo, localizado no município de

Presidente Prudente – SP. Os dados foram coletados nos dias 13 e 14 de agosto de 2015.

O recorte espacial adotado na presente pesquisa é utilizado amplamente pela

população nos três períodos do dia para passeios, realização de atividades físicas

(caminhadas, corridas, exercícios físicos mediante utilização dos aparelhos fornecidos pelo

parque) e encontro da população em eventos oficiais (reconhecidos pela administração

pública) e não oficiais (encontro de jovens em eventos organizados nas redes sociais, por

exemplo). Assim, buscamos identificar se as características do Parque do Povo são

propícias para as diversas atividades humanas que são realizadas nesta porção do espaço

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urbano, partindo do pressuposto de que o organismo humano é sensível às variações

térmicas e higrométricas que ocorrem no ambiente ao longo do dia, sendo que cada

indivíduo é afetado diferentemente pelas variações citadas.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a coleta dos dados de temperatura do ar, umidade relativa e temperatura da

superfície, foram selecionados 12 pontos ao longo do Parque do Povo, conforme o mapa 1.

Para a coleta da temperatura do ar e da umidade relativa, foi utilizado um termohigrômetro

digital, marca MAXIM II, o qual foi instalado dentro de um mini abrigo mantido a uma altura

padrão de 1,50 m da superfície. Ele é construído por ripas de madeira branca, que permitem

uma ventilação natural e ao mesmo tempo permitem criar condições de sombra ao

equipamento, não influenciando, portanto, nos valores obtidos. Para a obtenção da

temperatura da superfície, foi utilizado um termômetro infravermelho de superfície, marca

HANNA, e para a coleta da altimetria, latitude e longitude, um aparelho GPS.

Os dados foram coletados nos dias 13/08/2015 e 14/08/2015, sendo que, ao todo,

seis trabalhos de campo foram realizados. Os dados obtidos referem-se aos seguintes

períodos: entre 7h e 8h; 15h e 16h e entre 19h e 20h. Os dados foram coletados nestes

períodos partindo do pressuposto de que o Parque do Povo é utilizado nos três períodos do

dia. Além disso, os horários/períodos foram escolhidos porque representam ou estão

próximos das diferenças atmosféricas no decorrer do dia. Às 7h, a temperatura do ar nas

cidades começa a aumentar em função do nascer do sol. Às 15h, são registradas as

maiores temperaturas do ar e no período entre 19h e 20h, é possível perceber que a

temperatura começa a diminuir, o que será consolidado às 21h quando não há mais

radiação solar incidindo diretamente, dando início, de fato, ao resfriamento noturno (ORTIZ,

2013). Para a análise do conforto térmico, o índice bioclimático de Thom (Índice de

Desconforto de Thom - IDT) foi adotado como referencial teórico, sendo construída uma

paleta de cores conforme o índice.

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126

MAPA 1: Dispersão dos pontos de coletas de dados no Parque do Povo de Presidente Prudente - SP. O trajeto percorrido foi na direção Norte-Sul.

Org.: NASCIMENTO JÚNIOR, L; SILVA, R.C. Elaboração: 20 ago. 2015.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No dia 13/08/2015, as menores temperaturas do ar foram observadas durante o

período da manhã. Os maiores valores foram obtidos à tarde. O período do dia com maior

radiação solar direta é meio dia, todavia o que aquece o ar não é a radiação solar, mas sim

a radiação terrestre, o que explica as maiores temperaturas do dia que são sempre

registradas nos horários próximos às 15h. Como já era de se esperar, o período noturno

apresentou uma diminuição dos dados referentes à temperatura do ar comparando com o

período da tarde em função do resfriamento noturno. No que tange à temperatura da

superfície, os dados seguiram praticamente a mesma lógica da temperatura do ar, com

valores maiores registrados no período da tarde. Com base na umidade relativa do ar,

percebe-se que os valores maiores foram registrados no período da manhã, pois o índice de

umidade relativa é maior quando a temperatura do ar é menor.

Mediante análise dos dados referentes ao dia 14/08/2015, constatamos os

seguintes resultados: a) o período do dia com temperatura do ar e da superfície menores foi

o diurno, ao passo que os maiores valores foram obtidos à tarde; b) no que concerne à

umidade relativa do ar, ela foi superior no período diurno e inferior no período da tarde, o

que sempre acontece, principalmente no período das 15h às 16h, que é considerado como

crítico pelos especialistas. Neste dia, chamamos a atenção para a umidade relativa do ar no

período da tarde. Em todos os pontos de coleta, ela esteve abaixo de 40%. Nestas

condições, a saúde humana torna-se vulnerável e as pessoas podem enfrentar: 1)

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complicações alérgicas e respiratórias devido ao ressecamento de mucosas; 2)

sangramento pelo nariz; 3) ressecamento da pele; 4) irritação dos olhos.36

Conforme a paleta de cores (quadro 1) feita a partir do Índice de Desconforto de

Thom (IDT), nos dois períodos da manhã (exceto no primeiro ponto do dia 13/08), não foi

constatado desconforto (o IDT está até 21, representado pelo azul mais escuro), o que é

corroborado pelos valores apresentados, ou seja, maiores índices de umidade relativa e

menores temperaturas do ar e da superfície. Com base nos dois períodos da noite, em

todos os pontos (IDT entre 21 e 24, representado pelo azul mais claro), há desconforto

térmico para menos de 50% da população. Nos períodos da tarde dos dois dias,

constatamos os maiores índices de desconforto (IDT entre 25 e 27, representado pelo

amarelo mais claro), sendo que mais de 50% da população sente desconforto nestas

condições. Ressaltamos que no ponto 6 do dia 14/08, no período da tarde, foi constatado o

maior nível de desconforto (IDT entre 28 e 29, representado pelo amarelo um pouco mais

escuro), sendo que neste nível, a situação é extremamente preocupante, no qual a maioria

da população sente desconforto e deterioração das condições físico-sociais (sangramento

do nariz, complicações respiratórias, estresse e dor de cabeça, por exemplo).

Conclui-se, então, que nos períodos da tarde e da noite dos dias 13 e 14 de agosto

de 2015, partindo do referencial teórico proposto por Thom, as características termo-

higrométricas dos doze pontos estudados do Parque do Povo de Presidente Prudente, SP,

não são adequadas para as atividades humanas realizadas, podendo acarretar danos à

saúde da população. Ou seja, identificamos, nestes períodos, desconforto térmico. Nos

períodos da manhã de ambos os dias, as características mencionadas mantiveram-se

dentro do padrão necessário para que a população não sinta desconforto térmico, segundo

o Índice de Thom.

36

ESCALA psicrométrica UNICAMP para indicação de níveis de umidade relativa do ar

prejudiciais à saúde humana. CEPAGRI UNICAMP. Disponível em: <http://www.cpa.unicamp.br/artigos-especiais/umidade-do-ar-saude-no-inverno.html>. Acesso em: 21 ago. 2015.

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128

Quadro 1: Paleta de cores para os dias 13 e 14/08/2015, com base no Índice de

Desconforto de Thom.37

Org.: ABATE, A.A; APARECIDO, R. C.; SILVA, R.C. Elaboração: 20 ago. 2015.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De uma forma geral, verificou-se que as áreas com solo mais impermeabilizado

mediante concreto e sem a presença significativa de vegetação arbórea são mais quentes, e

as áreas mais arborizadas apresentam menores valores de temperatura do ar.

Ressaltamos a necessidade de um planejamento urbano que considere as

questões ambientais para sua efetivação, não tomando como base apenas fatores

infraestruturais de organização do espaço urbano, por exemplo. Um planejamento ambiental

urbano é necessário, principalmente no Parque do Povo, para que os efeitos do clima

urbano sejam amenizados.

Propomos, então, que o Poder Público de Presidente Prudente execute medidas de

incentivo ao plantio de mais árvores no Parque do Povo, pois segundo Amorim (2013, p.

219) “os espaços verdes, além de contribuir para o abrandamento do clima, podem também

favorecer o descanso e o lazer da população [...]”. Partindo da preocupação com a saúde da

população e mediante os valores de temperatura do ar e umidade relativa constatados,

sugerimos a implantação de bebedouros38 para que as pessoas se hidratem no Parque do

Povo. A partir destas medidas que são amplamente divulgadas nos trabalhos científicos, é

possível proporcionar um ambiente com melhores condições para a população, ou seja, um

ambiente no qual o conforto térmico pode ser presenciado. É necessário que haja

comprometimento do poder público e um trabalho coletivo dos gestores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, M.C.D.C.T. Ritmo climático e planejamento urbano. In: ______; SANT' ANNA NETO, J.L; MONTEIRO, A. (Org.). Climatologia urbana e regional - Questões teóricas e estudos de caso. São Paulo: Outras Expressões, 2013.

CARVALHO, V.; MONTEIRO, A. Uma abordagem metodológica para avaliação de eventos climáticos extremos. In: AMORIM, M.C.D.C.T.; SANT' ANNA NETO, J.L; MONTEIRO, A. (Org.). Climatologia urbana e regional - Questões teóricas e estudos de caso. São Paulo: Outras Expressões, 2013.

MONTEIRO, C. A. F.; MENDONÇA, F. (Org.) Clima Urbano. São Paulo: Contexto, 2003, p. 93 – 120.

37

A partir do trabalho de Carvalho e Monteiro (2013) tivemos acesso ao link que nos levou ao site que

fornece a tabela e a legenda referente ao IDT. Disponível em: <Euro Weather.http://www.eurometeo.com/english/read/doc_heat.>. Acesso em: 21 ago. 2015. 38

Em 2015, ano de realização da pesquisa, não constatamos bebedouros no Parque do Povo. No

primeiro trimestre de 2016, alguns bebedouros começaram a ser instalados. Não obstante, até o momento, a quantidade disponibilizada é insuficiente.

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129

ORTIZ, G. F. O campo térmico e higrométrico de Cândito Mota/SP. In: AMORIM, M.C.D.C.T.; SANT' ANNA NETO, J.L.; MONTEIRO, A. (Org.). Climatologia urbana e regional - Questões teóricas e estudos de caso. São Paulo: Outras Expressões, 2013.

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130

CONTRIBUIÇÕES DA GEOMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA PARA A ANÁLISE DOS PROCESSOS HIDROGEOMORFOLÓGICOS NA BACIA HIDROGRÁFICA CÓRREGO DO

VEADO, PRESIDENTE PRUDENTE/SP39

Nayara Rodrigues da Silva E-mail: [email protected]

Vinculo institucional: Graduanda em Geografia Instituição: Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus de Presidente Prudente Bolsista FAPESP

Isabel Cristiana Moroz Caccia Gouveia

E-mail: [email protected] Vinculo institucional: Prof. Dra. da Pós Graduação e Graduação em Geografia

Instituição: Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente

INTRODUÇÃO

O processo de urbanização das cidades brasileiras, orientado pela lógica da

especulação imobiliária, tem alterado de forma quase irreversível as paisagens originais e

como consequências têm-se a supressão de cobertura vegetal nativa, aterramento de

nascentes, retificações e tamponamentos de cursos fluviais e impermeabilização do solo,

dentre outras modificações. Tais intervenções antrópicas causam mudanças de taxas,

frequências e magnitude dos processos hidrogeomorfológicos40. Desta forma, em ambientes

urbanizados, fica evidente que as intervenções antrópicas atreladas à falta de planejamento

urbano adequado resultam no aumento de ocorrência de inundações, alagamentos e

enxurradas nas cidades brasileiras e no comprometimento da dinâmica natural dos rios e

córregos. Por tanto, a ação antrópica deve ser entendida como um conjunto de modalidades

de intervenções que promovem mudanças geomorfológicas (MOROZ -CACCIA GOUVEIA,

2010).

A Geomorfologia Antropogênica considera o homem como um agente modificador do

relevo, assim como os processos naturais (tais como os processos eólicos, pluviais, fluviais

e etc). Faz-se necessário compreender como atua a ação antrópica na modelagem do

relevo ao longo do tempo. De acordo com Rodrigues (2005), para os estudos ambientais no

meio urbano, é necessária a superação de abordagens com ênfase nos elementos

exclusivamente definidos pela natureza e aponta a importância do tratamento simultâneo e

sistemático das interferências antrópicas.

39

Trabalho completo apresentado no XVIII Encontro Nacional de Geógrafos, a construção do Brasil: geografia, ação politica e

democracia. Que ocorreu de 24 a 30 de julho de 2016, em São Luís, Maranhão. 40

Segundo Rodrigues (2010), são considerados como sistemas hidrogeomorfológicos: canais fluviais, planícies de inundação, vertentes, bacias hidrográficas e sistemas lacustres.

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131

O município de Presidente Prudente está localizado no extremo oeste paulista e

pertence à unidade morfoestrutural Bacia Sedimentar do Paraná, sendo o Planalto Ocidental

Paulista a sua morfoescultura (ROSS & MOROZ, 1996). A área de estudo em questão, a

Bacia Hidrográfica do Córrego do Veado (BHCV), pertencente à sub-bacia do Rio Santo

Anastácio e localiza-se integralmente no perímetro urbano de Presidente Prudente/SP.

Segundo Nunes (2006), Presidente Prudente tem como características geomorfológicas

predominantes colinas médias e baixas, com altitudes que variam entre 300 a 600 metros e

declividades entre 10% a 20%. As drenagens apresentam um padrão dendrítico, com

densidades entre baixa a média (MOROZ-CACCIA GOUVEIA & GOUVEIA, 2015).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o desenvolvimento deste trabalho utilizamos a proposta de metodologia de

Rodrigues (2005, 2008, 2014) complementada por Moroz-Caccia Gouveia (2010) Dentre os

princípios e procedimentos mais gerais dessa metodologia norteada pela Geomorfologia

Antropogênica são destacados: a pesquisa dos sistemas físicos em seus estágios sem

intervenção e com intervenções antrópicas diretas; a utilização da cartografia

geomorfológica para reconstituição dos cenários pré e pós-intervenções; a utilização de

documentos históricos, e indicadores de mudanças em sistemas fluviais como referência

(Rodrigues et al., 2014). No presente trabalho iremos abordar a evolução territorial urbana e

as modificações impostas a BHCV, do município de Presidente Prudente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em 1917 foram instalados os primeiros núcleos urbanos que deram origem ao

município, porém em 28 de novembro de 1921 foi criado o município de Presidente

Prudente (LEITE, 1972). A ocupação urbana, inicialmente restrita ao topo aplainado do

espigão, foi-se expandindo pelas áreas de nascentes, exigindo a canalização de alguns

trechos de córregos ou interferindo danosamente sobre vale e canais (GODOY, 1989).

Assim, as características geomorfológicas e hidrológicas originais foram modificadas, pois

se constituíam em empecilhos à expansão urbana e consequentemente, à especulação

imobiliária. No Brasil, na década de 70, a canalização e retificação dos cursos fluviais eram

associadas à abertura de novas avenidas em fundo de vale, pois tais áreas apresentavam-

se planas devido às planícies de inundação. Neste período, se destacam as grandes obras

e, como consequência, a expansão da mancha urbana e da ocupação do solo

transformaram as características da geomorfologia original.

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132

Na figura 1 é apresentada a evolução da malha urbana do município de Presidente

Prudente, inserida na BHCV. Vale notar que os primeiros loteamentos foram inicialmente

instalados nas cabeceiras de nascentes, e em seguida a malha urbana se ampliou para as

vertentes e fundos de vale ao longo dos períodos de expansão.

Figura 1: Mapa de Expansão Territorial do município de Presidente Prudente (1917 – Após

2000).

De acordo com Moroz - Caccia Gouveia (2010), as canalizações de cursos d‟água no

Brasil, a exemplo da cidade de São Paulo, foram realizadas sob o pretexto de afastamento

de dejetos, a fim de esconder e afastar as “imundices”, além de eliminar odores e afastar

ratos e mosquitos. Entretanto, muitas áreas de várzeas foram aterradas e incorporadas pelo

mercado imobiliário. As mudanças impostas pela ação antrópica, quer sejam através das

modificações das formas ou da substituição de materiais superficiais, modifica de maneira

radical e irreversível o ciclo hidrológico e como consequência os processos

hidromorfodinâmicos no sistema físico, sobretudo numa bacia hidrográfica em meio tropical

úmido, onde a dinâmica de circulação da água (na superfície, subsuperfície e atmosfera)

desempenha papel fundamental (MOROZ – CACCIA GOUVEIA 2010).

Na figura 2 é apresentado o “Mapa das intervenções nos canais fluviais na BHCV”.

Vale ressaltar que para demonstrar as modificações impostas aos canais fluviais no decorrer

do processo de expansão do município, foram utilizados três categorias para classificação,

são elas: canalizações fechadas, canalizações abertas e canais semi preservados.

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Foto 2: Mapa das intervenções nos canais fluviais na Bacia Hidrográfica Córrego Veado.

Ao longo do processo de urbanização de Presidente Prudente foram tamponados

cerca de 42,91% de cursos d‟água. No gráfico 1 são apresentadas as modificações dos

cursos d‟água ao longo dos períodos analisados.

Gráfico 1: Percentual das modificações dos canais fluviais.

Elaboração: Silva, N. R. (2016).

Segundo Luz (2014), o processo de urbanização também é responsável pelo

aumento de sedimentos no sistema, seja pela exposição dos solos durante as fases

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134

construtivas da cidade ou pela geração de resíduos sólidos (lixo), e também pela

deterioração da qualidade da água superficial e subterrânea. De acordo com Sudo (1988)

apud Godoy (1989), as possibilidades de inundações no município de Presidente Prudente

são evidenciadas por eventos decorrentes de precipitações convectivas e períodos de chuva

contínua.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados preliminares indicam que a bacia hidrográfica teve seus processos

hidrodinâmicos alterados devido ao processo de urbanização do município. Os problemas

relacionados ao escoamento das águas pluviais e fluviais são decorrentes da

impermeabilização do solo e consequentemente geram desastres naturais como

alagamentos e inundações. Através da Geomorfologia Antropogênica fica claro a

necessidade de estudos voltados às intervenções antrópicas em sistemas

hidrogeomorfológicos, pois proporciona elementos (físicos e temporais) para compreender

as modificações ocorridas nos sistemas e cria possibilidade de novos modelos de

planejamento ambiental e urbano, a fim de buscar o equilíbrio entre sociedade e natureza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, D. S. Formação histórica de uma cidade pioneira Paulista: Presidente

Prudente. Presidente Prudente/SP: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente

Prudente (FFCLPP), Presidente Prudente,1972.

GODOY, M. C. T. F. Mapeamento geotécnico preliminar da região urbana de Presidente

Prudente/SP. Dissertação de Mestrado, Volume I: EESC/USP, São Carlos, 1989.

LEITE, J. F. A Alta Sorocabana e o espaço polarizado de Presidente Prudente.

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente. Presidente Prudente,

1972.

LUZ, R. A. Mudanças geomorfológicas na planície fluvial do Rio Pinheiros, São Paulo

(SP), ao longo do processo de urbanização. Tese de Doutorado (Departamento de

Geografia da FFLCH), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014, 246 p.

MOROZ-CACCIA GOUVEIA, I. C. & GOUVEIA, J. M. C. Estimativa de mudanças nas taxas

de processos hidrodinâmicos em bacias hidrográficas urbanas: Contribuições da cartografia

geomorfológica. In: Anais do XI Encontro Nacional da ANPEGE, Presidente Prudente,

2015, p. 10648-10659.

MOROZ-CACCIA GOUVEIA, I. C. Da originalidade do sítio urbano de São Paulo às

formas antrópicas: aplicação da abordagem da Geomorfologia Antropogênica na

Bacia Hidrográfica do Rio Tamanduateí, na Região Metropolitana de São Paulo. Tese

de Doutorado (Departamento de Geografia da FFLCH), Universidade de São Paulo, São

Paulo, 2010, 363 p.

NUNES, J. O. R.; FREIRE, R; PEREZ, I. U. Mapeamento Geomorfológico do Perímetro

Urbano do Município de Presidente Prudente-SP. Goiânia. Anais do VI Simpósio Nacional

de Geomorfologia/Regional Conference on Geomorphology, SINAGEO, Goiânia, 2006.

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RODRiGUES, C.; MOROZ-CACCIA GOUVEIA, I. C.; BERGES, B. & LUZ, R. A.

Geomorfologia urbana histórica e a avaliação da influência de fatores naturais e antrópicos

na geração de eventos fluviais extremos em São Paulo – Brasil. In: Environnement et

géomatique: approches comparées France-Brésil. Rennes, 2014, p. 332-339.

RODRIGUES, C. Morfologia original e morfologia antropogênica na definição de unidades

espaciais de planejamento urbano: exemplo na metrópole paulista. FFCHL/USP, Revista do

Departamento de Geografia, nº 17, São Paulo, 2005. p. 101-111.

ROSS, J. L. S & MOROZ, I. C. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. Revista do

Departamento de Geografia, nº 10, São Paulo, 1996.

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MAPA DOS COMPARTIMENTOS DE RELEVO DO MUNICÍPIO DE MIRANTE DO

PARANAPANEMA – SP

Mariana Lopes Nishizima E-mail: [email protected]

Graduanda em Geografia pela Faculdade de Ciências e Tecnologia - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus Presidente Prudente.

Bolsista FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Professor Livre-Docente João Osvaldo Rodrigues Nunes

E-mail: [email protected] Professor do Departamento de Geografia na Faculdade de Ciências e Tecnologia-

Universidade Estadual Paulista “Júlio, de Mesquita Filho” Campus de Presidente Prudente.

INTRODUÇÃO

A ciência geomorfológica tem nos fornecido materiais para a compreensão das

dinâmicas dos processos naturais e sociais, os quais agem sobre o relevo. Através da

cartografia geomorfológica é possível compreender a dinâmica de formação das morfologias

mapeadas, conforme a escala, bem como, a identificação dos compartimentos do relevo

(topos de colinas, morfologias de vertentes, planícies aluviais e terraços fluviais, etc). Estas

informações permitem a realização de diagnósticos e prognósticos em áreas urbanas e

rurais, a partir do conhecimento da evolução da ocupação do relevo. Ocupação este que, de

forma intensa e desordenada, pode trazer consequências, principalmente em relação ao

desequilíbrio do meio ambiente. Neste aspecto, Felipe (2015, p 23) descrever que:

“As condições naturais passam a sofrer uma forte pressão, perdendo importantes funções de estabilidade, como proteção do solo, manutenção dos ciclos hidrográficos, entre outros”.

O município de Mirante do Paranapanema – SP, localizado no Extremo Oeste

Paulista (Figura 01), no qual não há documentos cartográficos com ênfase no estudo do

relevo, na escala do planejamento urbano e regional (1:25.000). Os documentos que

envolvem os municípios da região, são representados pelos mapas geomorfológicos do IPT

(1981b) na escala 1:1.000.000 e de Ross e Moroz (1997) na escala de 1:500.000, portanto,

estão voltadas para um planejamento de maior extensão territorial.

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Figura 01: Localização da área de estudo no município de Mirante do Paranapanema-SP.

OBJETIVOS

O objetivo principal deste trabalho é a elaboração do Mapa dos compartimentos de

relevo do município de Mirante do Paranapanema – SP, vinculado aos processos

morfodinâmicos, relacionados à sua formação e dinâmica atual. Como objetivos específicos

tem-se os seguintes pontos: caracterizar o quadro geomorfológico, geológico e pedológico

regional; mapear e caracterizar os principais compartimentos de relevo (topo, vertentes e

fundos de vales) na escala 1:25.000; caracterizar as morfologias do relevo (vertentes

côncavas, convexas e retilíneas, vales em berço e em “V”) mapeando as diferentes feições

do relevo; compreender os processos morfodinâmicos responsáveis pelas transformações

do georelevo; elaborar um quadro síntese analisando as fragilidade e potencialidades dos

diferentes compartimentos de relevo em relação às formas de ocupação humana; e por fim,

trabalho de campo para obter o empírico da realidade mapeada, sanando possíveis dúvidas

e realizando levantamento de coordenadas geográficas com GPS de alta precisão.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para sua elaboração foram realizadas as seguintes etapas: levantamento

bibliográfico, tendo como base os dois primeiros níveis de abordagem proposto por

Ab‟Saber (1969, p 1-23), Compartimentação Topográfica e Estrutura Superficial da

paisagem. Para o planejamento e levantamento dos pontos das coordenadas geográficas

coletados em campo, utilizou-se o receptor GPS. A etapa das atividades práticas realizadas

em laboratório, foi utilizada a técnica de restituição-3D através das imagens ALOS/PRISM

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da região de Mirante do Paranapanema – SP, baseado nos métodos aerofotogramétricos

digitais, que vem sendo desenvolvidos em conjunto com o professor do Departamento de

Cartografia da UNESP – FCT pelo professor Dr. Júlio Kiyoshi Hasegawa (2011, p. 2384).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O processo de extração das feições geomorfológicas a partir das imagens

ALOS/PRISM (ALPSMF072423995-O1B2G_UF e ALPSMB072424105-O1B2G) associado

a revisão bibliográfica, o levantamento das características geológicas, geomorfológicas e

pedológicas regional, permitiram melhor caracterização do relevo do município de Mirante

do Paranapanema – SP. Ressaltando, que esta etapa é de grande importância para o

prosseguimento da pesquisa.

No que diz respeito a metodologia utilizada no projeto, houve um avanço tecnológico

na pesquisa de mapeamento geormorfológico, considerando que, para sua elaboração era

necessário a fotointerpretação de alguns pares de fotografias aéreas para a extração de

feições geomorfológicas na escala de 1:25.000. Para obter a tridimensionalidade utilizava-se

o estereoscópio de espelho (Figura 2). Hoje, com o método anaglífo e utilizando o programa

“Pushboom” desenvolvido pelo professor Dr. Júlio Kiyoshi Hasegawa é possível obter a

visualização da imagem 3D, apenas com alguns equipamentos: Computador e óculos 3D

(Figura 3).

Figura 2: Extração das feições geomorfológicas com a

estereoscopia de espelho, fotointerpretação. Foto: Melina Fushimi (Monografia).

Figura 3: Extração das feições geomorfológicas a partir do método anaglífo.

Esta pesquisa de iniciação científica vem obtendo resultados positivos em todas as

suas etapas para desenvolver o mapa síntese, intitulado “Mapa do compartimento de relevo

do município de Mirante do Paranapanema – SP.” Dessa forma, esses procedimentos

metodológicos têm se mostrado eficaz. O levantamento das coordenadas geográficas com o

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GPS de alta precisão foi fundamental para o georreferenciamento da imagem ALOS,

possibilitando a delimitação das feições (Figura 4), e paralelamente com os trabalhos de

campo que visa, sobretudo, sanar possíveis dúvidas da realidade mapeada.

Figura 4: Pós extração das feições, e exportadas para o programa QGIZ/ArcGiz em arquivo Shape

A dificuldade nesta etapa da pesquisa, diz respeito ao trabalho de campo realizado

para a obtenção das coordenadas com o GPS Geodésico de alta precisão, os 10 pontos

necessários para a realização do georreferenciamento eram muitas vezes distantes entre si,

o que dificultou o deslocamento entre pontos, para além, a forte presença de cultivo da

cana-de-açúcar foi um limitador para acesso a algumas áreas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O planejamento das atividades neste contexto foi fundamental para a realização dos

trabalhos de campo, e ao final deste projeto de pesquisa o produto obtido por meio deste,

servirá de base para o direcionamento de pesquisas tanto no campo acadêmico

interdisciplinar, como para a administração pública local (prefeitura e órgão públicos).

REFERÊNCIA

AB‟SABER, A. N. Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o quaternário. Geomorfologia, São Paulo, no 18, p. 1-23, 1969.

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FELIPE, M. C. de P. Mapeamento dos Compartimentos de Relevo do Município de Estrela do Norte-SP e adjacências. 96 p. Monografia de bacharelado – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, 2015.

FUSHIMI, M. Mapeamento Geomorfológico do Município de Presidente Prudente-SP. 2009. 77p. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Geografia) – Faculdade de Ciência e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente.

HASEGAWA, J.K. Desenvolvimento de um Sistema de Orientação e Restituição de Estereoimagens Orbitais. Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto – SNSR, Curitiba, PR, Brasil, 30 de abril de maio de 2011, INPE p.2383.

INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (IPT). Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo: 1:1.000.000. São Paulo: IPT, vol. II, 1981, p. 6; 7; 21; 70-2; (Publicação IPT 1183).

INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (IPT). Mapa geológico do Estado de São Paulo: 1:500.000. São Paulo: IPT, vol. I, 1981, p. 46-8; 69 (Publicação IPT 1184).

ROSS, J. L. S & MOROZ, I. C. Mapa geomorfológico do estado de São Paulo. São Paulo: FFLCH-USP/IPT/FAPESP, 1997.

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EIXO TEMÁTICO 5: “ESPAÇO RURAL: QUESTÃO AGRÁRIA

E RELAÇÃO CIDADE-CAMPO

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A CANA-DE-AÇÚCAR E SUA EXPANSÃO: O EXEMPLO EM CAIABU/SP

Lúcia Iaciara da Silva41 E-mail: [email protected]

Pós-graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia/UNESP

Campus de Presidente Prudente

INTRODUÇÃO

O presente compilado tem o propósito de elencar alguns aspectos interessantes para

aguçar o debate do desenvolvimento na esfera social, se faz por discutir como se

caracteriza a atividade econômica presente mais marcadamente no município de Caiabu-

SP, e em que medida podemos inferir um real desenvolvimento socioeconômico. Relevante

também frisar que há um discurso existente por trás disso, de que a implantação de uma

unidade signifique unicamente benefícios (o uso massivo de agrotóxicos e doenças

associadas, por exemplo, mostram outro lado da realidade).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o presente trabalho foram considerados dados secundários referentes à

expansão da área de cana-de-açúcar no município de Caiabu/SP (CanaSat), mostrando a

dinâmica de um setor que se mantém também subsidiado pelo governo federal, dados

concernentes às principais receitas municipais, o que se busca é fornecer alguns elementos

para traçar considerações das perspectivas e/ou discursos de desenvolvimento

socioeconômico no município, respaldado pela agroindústria, com efeitos diretos tanto no

campo, homogeneizando as paisagens, quanto na cidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O município de Caiabu começou a se conformar a partir da atividade econômica

cotonicultora, entre 1940 e 1950, sobretudo, seguindo influências internacionais de

demanda, e em proximidade com o polo regional de Presidente Prudente, do qual dista

aproximadamente 40 km (considerando o distrito-sede). Logo, percebemos uma

dependência e hierarquia com relação a este, onde se estabelecem fluxos de pessoas,

migrando quotidianamente para trabalhar.

Foram períodos de culturas do algodão, do amendoim, pecuária, e cana-de-açúcar

(atualmente). Notório, então, essa conformação em prol de interesses bem específicos e de

demandas que ultrapassam escalas geográficas mais próximas.

41

Bolsista CNPq.

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Esta dinâmica de migração pendular pode ser considerada mesmo com relação à

usina sucroalcooleira Alto Alegre (que possui unidades em Presidente Prudente/SP e no

estado do Paraná, em Colorado, Santo Inácio e Florestópolis), como a ilustração abaixo

mostra:

Figura 1: Unidades produtivas da usina Alto Alegre. Fonte: http://www.altoalegre.com.br/unidades.aspx

Com relação à expansão da cana-de-açúcar voltada às finalidades (flexíveis) de

produção tanto de açúcar quanto álcool anidro (e hidratado), em Caiabu, esta tem refletido

os contextos mais amplos no que diz respeito às demandas internacionais e incentivos do

Estado Federal em menor ou maior proporção, bem como também à desaceleração da

economia nacional a partir de 2008. A tabela 1 traz esses dados.

Tabela 1– Área disponível para colheita (ha) em Caiabu – SP

Ano Soca (a) Reformada (b) Expansão (c) Total (a+b+c) Em reforma (ha) Total cultivado (ha)

2003 4122 0 0 4122 1188 5310

2004 3717 1179 160 5056 575 5631

2005 4388 543 47 4978 756 5734

2006 4868 756 820 6444 69 6513

2007 6109 66 70 6245 386 6631

2008 5618 336 547 6501 610 7111

2009 5221 506 461 6188 1526 7714

2010 4380 1486 120 5986 1786 7772

2011 4891 1484 0 6375 1081 7456

2012 5231 960 0 6191 1068 7259

2013 5611 990 78 6679 548 7227

Fonte: http://www.dsr.inpe.br/laf/canasat/cultivo.html.

Observamos, desconsiderando as oscilações de produção, inclusive nas

etapas/classes, que há um crescimento desde 2003 na área ocupada por cana-de-açúcar no

município. De 2003 até 2013, generalizadamente considerando, foram incrementados 1917

hectares na produção em Caiabu, em que, de certo modo, essa área forma uma área

contínua à área norte do município de Presidente Prudente, principalmente, se aproveitando

de um relevo menos acidentado, com colinas mais amplas. Isso acaba colaborando para a

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logística da cadeia produtiva42, por assim dizer, pois que há proximidade geográfica, o que

permite menores custos no transporte da cana-de-açúcar, seus produtos, funcionários,

como também há mão-de-obra abundante que facilita o recrutamento, até mesmo pela

dependência que há por grande parte da população do município, este com 4.072

habitantes, segundo o último Censo Demográfico do IBGE (2010), com relação à unidade

fabril.

Na próxima tabela (2), esperamos colaborar no entendimento dessa dependência de

fato ao que concerne à agroindústria, à medida que, de forma geral, exemplifica o

“comportamento” geral dos recursos nos municípios de acordo com seu porte populacional.

Tabela 2 – Participação da Receita Própria, FPM, ICMS e demais fontes no total da Receita Municipal, por grupos de população dos municípios paulistas – Ano 2000

Grupos de Pop. dos Municípios (em milhares)

Fonte de Receita dos Municípios

Receita Própria FPM ICMS Outras fontes Total Índice de Participação no total da receita municipal (%)

0-5 3,22 42,81 30,13 23,83 100,00 5-10 7,74 27,47 35,49 29,30 100,00 10-20 8,63 26,12 31,11 34,14 100,00 20-50 14,55 18,71 31,54 35,20 100,00 50 ou mais 29,88 17,30 27,77 25,04 100,00

Fonte: IBGE: Carlos Silva Pateis, 2003. Sinopse Preliminar/ Censo 2000 (população); Min. da Fazenda (Finanças).

Fundamental lembrar que em 2013, o Fundo de Participação dos Municípios (FPM)

em Caiabu/SP foi responsável por R$ 2.524.165,21 dos R$ 5.794.968,74 repassados a

Caiabu, este valor (FPM) geralmente é entre metade e o dobro da colaboração do município

para o governo federal, dependendo exatamente do porte populacional do município. Assim,

municípios menores têm maior dependência desse tipo de repasse para sua manutenção,

ao contrário de municípios médios, com receitas mais diversificadas (Tabela 3).

Tabela 3 – Recursos Recebidos do Governo Federal em 2013

Recebidos por área

Encargos Especiais R$ 2.740.123,07 Assistência Social R$ 127.516,00 Educação R$ 52.445,60 Educação Recebidos por ação FPM - CF art. 159 R$ 2.524.165,21 Cota parte dos Estados e municípios R$ 93.797,32 FUNDEB R$ 61.910,17 Royalties R$ 41.767,47 Apoio à merenda escolar na educação básica R$ 25.728,00 Recursos Pagos Direto ao Cidadão

Bolsa Família R$ 127.516,00

Total de recursos recebidos R$ 5.794.968,74

Fonte: http://sp.transparencia.gov.br/Caiabu/.

Dentro dessas considerações nossas, devemos recordar, por exemplo, que para

essa dinâmica de ascensão do cultivo da cana-de-açúcar apontada aqui a partir de dados

42

Consideraremos aqui cadeia produtiva devido à complexidade que há na agroindústria, o que envolve trabalho agrícola, flexibilização das condições e contratos de trabalho, produção própria de energia elétrica a partir do aproveitamento do bagaço da cana, e comercialização do excedente, trabalho fabril, aproveitamento da vinhaça nas etapas de produção, etc.

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de 2003, há um encaixe com o advento dos veículos flex fuel em março do mesmo ano, o

que possibilitou uma substituição massiva àquela época da gasolina pelo álcool (este setor

sempre subsidiado pelo governo federal, como com o benefício de empréstimos promovidos

pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, ou com

aprovações de aumento na mistura de álcool à gasolina).

O Programa Proálcool (Decreto 76.593), por exemplo, financiado pelo governo

federal a partir de 1975, devido às crises do petróleo em 1973 e 1979, também marcou

importante fase de “acomodação” da agroindústria canavieira no Brasil todo. É neste ponto

que há substituição em larga escala da gasolina (controlada em grande parte pela

Organização dos Países Produtores de Petróleo – OPEP) pelo álcool, vistas as altas nos

preços do barril de petróleo no mercado mundial, o que viabilizou que químicos e

engenheiros se esforçassem para criar motores a álcool.

Ainda, sobre essa produção atualmente, que, como vislumbramos, apresentou

alguns decaimentos nos três últimos períodos apresentados na tabela 1 (2011, 2012 e

2013), justificados pela diminuição do apoio do governo federal e pelos “efeitos da crise

econômica mundial”. Se a sustentabilidade dos lucros se dá, por um lado, pela “mão” do

Estado agindo em favor do capitalista, dando condições de ele reproduzir-se por

amenidades criadas, por outro, a flexibilização do trabalho, no período neoliberal acentuada

(a partir da década de 1980), permitiu maneiras mais livres, fluidas de (re)organização das

relações entre chefe e empregado, entre os laços de obrigatoriedade que unem um e outro

em vínculos empregatícios. Ou seja, o que verbalmente é difundido e perpassa a população

local é de que nos últimos anos as contratações têm sido em regime flexível, onde há os

“safristas”, aqueles trabalhadores que atuam em períodos de produção e colheita mais

intensa da cana-de-açúcar, sendo após isso livremente dispensados, o que permite à

empresa ter um ajuste maior entre taxa de lucro, demanda do mercado e produção da safra

(que, em contrapartida, afeta famílias nesse intervalo de tempo, e faz pensar a própria

concepção de desenvolvimento socioeconômico). Dados de 2011 apontavam que 15%

(2177 funcionários) da empresa Alto Alegre estavam com contratos por tempo determinado,

sugerindo esse movimento na economia e comportamento empresarial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Deste breve texto explicitam-se algumas considerações gerais: a dinâmica do que

Thomaz Jr. denomina agrohidronegócio43 envolve atualmente, com contornos mais nítidos,

43

Ora, agrohidronegócio porque envolve, disfarçadamente, não só certo controle da terra e grandes áreas de monocultura homogeneizando a paisagem e envenenando solos e águas com uso intensivo de agrotóxicos, mas também uma territorialização que se traduz em faixas de terras mais suavizadas topologicamente, de preferência, e, sobretudo, assentadas sobre o Aquífero Guarani, uma das reservas de água mais importantes do

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uma flexibilização do trabalho nas unidades fabris e nas lavouras de cana-de-açúcar,

dependência do município em questão pela unidade fabril de Ameliópolis, em Presidente

Prudente/SP (portanto, ainda, sua atuação deve ser considerada positiva). O que houve

também foi um respaldo por parte do Governo Federal para que se desenvolvesse a

contento a cadeia produtiva da cana-de-açúcar no Brasil, com a possibilidade de migrar a

produção de açúcar à do álcool. Conforme vislumbramos no decorrer deste trabalho, Caiabu

possui grande ligação e dependência pela agroindústria sucroalcooleira, já que sendo um

município de porte populacional pequeno (4.072 hab., segundo recenseamento de 2010),

grande parte da população (local) se emprega através de suas atividades, coordenada por

relações globais, tendo ênfase a logística (proximidade geográfica) como fator para essa

realidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, M. J.; JÚNIOR, A. T.; OLIVEIRA, A. M. S. de. A Precarização do Trabalho na Agroindústria Canavieira na Região do Pontal do Paranapanema: Os Casos da Destilaria DECASA e da Usina Alvorada do Oeste. In: XV Encontro Nacional de Geógrafos, 2008, São Paulo. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL: https://www.beneficiossociais.caixa.gov.br/consulta/beneficio/04.01.00-00_00.asp. Acesso em 11 de setembro de 2013. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS – INPE. http://www.dsr.inpe.br/laf/canasat/cultivo.html. PORTAL DA TRANSPARÊNCIA – Caiabu – SP/ Convênios do Governo Federal com o Município: http://sp.transparencia.gov.br/Caiabu/receitas/convenios. Acesso em 31 de julho de 2013. THOMAZ JÚNIOR, A. Disputas territoriais e grilagem no Pontal do Paranapanema (SP) (Histórico de lutas, marco de violência e futuro incerto!). 20??. SILVA, L. I. Estudo de caso das condições de trabalho ao longo do tempo na agroindústria da cana-de-açúcar no Pontal do Paranapanema: Município de Caiabu-SP. In: XXII Encontro Estadual de História da ANPUH, UNESP/Assis, 2016.

Brasil em rochas sedimentares/porosas, de onde, em faixas do país se desenvolvem acirradamente conflitos nítidos acerca da posse de terra e água. Trata-se, a nosso ver, de reserva estratégica (e “insumo” não contabilizado na produção).

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A EXPANSÃO DO AGROHIDRONEGÓCIO CANAVIEIRO E OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS44

Maria Joseli Barreto

E-mail: [email protected] Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em Geografia da FCT/UNESP/Presidente

Prudente.

INTRODUÇÃO

O texto tem como objetivo apresentar algumas considerações sobre os impactos

sociais e ambientais que produção de cana-de-açúcar traz para as regiões onde são

implantadas as unidades agroprocessadoras e seus respectivos canaviais. Em termos de

procedimentos metodológicos nos embasamos em reflexões teóricas sobre a temática em

questão, análise de documentos que abordam as mudanças no processo produtivo da cana-

de-açúcar, dados de fonte secundária e trabalhos de campo nas Regiões Administrativas –

RA de Presidente Prudente e Ribeirão Preto.

De modo geral, temos observado que para justificar sua lógica expansionista, o

agrohidronegócio canavieiro, tem se amparado em mecanismos e estratégias discursivas,

ostentando investimentos de ordem social e ambiental como, a geração de energia limpa e

renovável e a geração de emprego e renda. Entretanto, o que se observa na atual

conjuntura é que os discursos em torno da produção de energias renováveis, tem se tornado

cada vez mais numa atividade produtiva e rentável para o setor canavieiro como um todo45.

Estimulado pela produção e consumo dos automóveis bicombustíveis, o

agrohidronegócio canavieiro também tem investido na construção de novas frentes de

consumo, a partir da cana-de-açúcar, e a cogeração e comercialização da energia elétrica

produzida a partir do bagaço da cana, o terceiro produto das usinas de cana-de-açúcar, que,

além de ser uma atividade lucrativa também está associada ao discurso ambientalista.

A questão desperta o interesse dos países centrais na produção de álcool e outras

agroenergias e, consequentemente, estimula interesses dos produtores de commodities.

Nesse cenário, o Brasil desponta como um centro de referencia no cenário internacional,

seja pela quantidade de terras agricultáveis e recursos hídricos disponíveis, como pelas

44

O texto é fruto da pesquisa que estamos desenvolvendo em nível de doutorado, junto ao Centro de Estudos de Geografia e Trabalho – CEGeT e Coletivo Cetas - UNESP/Campus de Presidente Prudente, intitulada “Novas e velhas formas de degradação do trabalho no agrohidronegócio canavieiro nas Regiões Administrativas de Presidente Prudente e Ribeirão Preto (SP)”. A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP - Processo - 2014/08022-6. Também está vinculada ao Projeto Temático

"Mapeamento e análise do território do agrohidronegócio canavieiro no Pontal do Paranapanema - São Paulo - Brasil”. 45

Estaremos utilizando o conceito de “agrohidronegócio canavieiro” embasados teoricamente em produções que abordam o consumo e a poluição da água por diversos setores na produção de commodities. Mais detalhes ver (MENDONÇA, 2003; THOMAZ JR, 2008, MESQUITA, 2009; CUNHA, 2014).

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tecnologias de produção, investimento financeiro estatal etc. (ÁVILA; ÁVILA, 2007;

BARRETO, 2012).

Desse modo, é relevante observar que no âmbito do agrohidronegócio canavieiro,

assim como em outras commodities (soja, milho, algodão, sorgo etc.), a água ao lado da

terra comparecem como elementos indissociáveis para a produção. (MENDONÇA, 2003;

THOMAZ JR, 2008; MESQUITA, 2009; CUNHA, 2014). Não por acaso, as grandes

empresas nacionais e multinacionais voltadas à produção de commodities, inclusive as

agroprocessadoras de cana-de-açúcar (unidades canavieiras) estão estrategicamente,

implantadas em áreas com vasta disponibilidade de recursos hídricos, superficiais (rios e

lagos) ou subterrâneos (aquíferos). Ou seja, a localização geográfica da empresa,

disponibilidade terra e água são basilares para sua produção e reprodução (Figura 1).

Figura 1: Usina Santa Inês situada ao lado do Ribeirão Sertãozinho Fonte: Google Earth.

As sustentações desses interesses estão explícitas em todas as regiões em que

estão implantadas as unidades canavieiras, sempre cercadas por consideráveis volumes de

recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos. A título de exemplo pode-se citar a RA de

Presidente Prudente, por exemplo, cercada por dois rios (Paraná e Paranapanema),

enquanto que a RA de Ribeirão Preto é abastecida pelas bacias hidrográficas do Mogi-

Guaçú e Pardo. Além disso, ambas estão localizadas na área de ocorrência do Aquífero

Guarani. Nesse sentido, é preponderante que nossas atenções também se voltam para os

níveis de contaminação desses recursos seja por meio dos resíduos industriais ou pela

intensidade de agrotóxicos utilizados nas plantações de cana-de-açúcar.

Nesse viés, Silva (2010) ressalta que os riscos de exploração do solo são

particularmente graves na monocultura canavieira, em razão da intensidade do uso de

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herbicidas e da contaminação das águas subterrâneas. Para a autora, todos estes fatores

de risco ambiental, próprios da lavoura canavieira, adquirem um conteúdo exponencial na

região de Ribeirão Preto, devido sua localização fisiográfica. Na Região de Ribeirão Preto,

especificamente, a distância do Aquífero para a superfície do solo é uma das menores de

toda sua extensão, entre 150 a 300 metros.

O exemplo específico, trazido por Silva (2010), certamente se repete em outras

regiões do país, já que os mecanismos no processo produtivo da cana-de-açúcar são

similares. Ou seja, estamos diante do cenário em que o processo de territorialização do

monopólio das terras pelo agrohidronegócio canavieiro superpõe-se ao controle dos

acessos e exploração dos recursos hídricos disponíveis46.

Mesmo assim, o etanol e a energia produzidos a partir da cana-de-açúcar

permanecem envolvidos na conotação de energia limpa e renovável. O capital polui, destrói

os recursos naturais, e na sequência, desenvolve mecanismos, programas e meios, para se

sobressair e se reproduzir. Nesse contexto, Chesnais e Sertafi (2014) resaltam que o

“capitalismo verde” tem se beneficiado das mudanças climáticas e das „energias

alternativas‟ como mais uma grande oportunidade de mercado e lucros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De modo geral, buscamos apresentar algumas reflexões sobre parte dos resultados

da pesquisa que estamos desenvolvendo nos municípios da RA de Presidente Prudente e

Ribeirão Preto, principalmente no que tange aos impactos sociais e ambientais que

expansão da monocultivo de cana-de-açúcar tem acarretado.

Os trabalhos de campo na região tem sido reveladoras. As visitas nos municípios

canavieiros e o diálogo estabelecido com a população urbana e rural têm revelado os efeitos

que a expansão da monocultura da cana-de-açúcar promove para aqueles que se veem

cercados pelos canaviais, sejam nos núcleos urbanos, assentamentos rurais e pequenas

propriedades rurais.

Para tanto, as consequências estão cada vez mais visíveis na paisagem e nos

depoimentos da população, sobretudo a rural e os trabalhadores que atuam diretamente no

processo de produção. Sendo que as principais observações e reclamações estão voltadas

aos problemas trazidos pelos agrotóxicos utilizados nos canaviais, que tem incomodado e

causado inúmeros prejuízos, os problemas trazidos pela aspersão de vinhaça, resíduo

industrial que tem atraído a mosca do estábulo e causado uma série de transtornos e ainda

os problemas causados pelo fogo, que apesar de ser proibido no Estado de São Paulo ainda

é utilizado, e causa muitos prejuízos.

46

Cf. THOMAZ JÚNIOR, 2013.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÁVILA, M. L. de; ÁVILA, S. R. S. A. de. Cidades, agronegócio e sustentabilidade. Seminário de População, Pobreza e Desigualdade. Belo Horizonte MG - (realizado entre os dias 05 a 07 de novembro de 2007). BARRETO. M. J. Territorialização das Agroindústrias Canavieiras no Pontal do Paranapanema e os Desdobramentos para o Trabalho. 2011. 245 f. (Dissertação de Mestrado em Geografia). Universidade Estadual Paulista/Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente. CHESNAIS, F; SERTAFI, C. “Ecologia” e condições físicas da reprodução social: alguns fios condutores marxistas. Revista Crítica Marxista, n. 16. São Paulo: Boitempo, mar./2003. Disponível em: <http://www. Unicamp.br/cemarx/criticamarxista>. Acesso em: out. 2014. CUNHA, T.; CARVALHAL, M. D. C. Terra – Água – Trabalho: O Agrohidronegócio e a Transposição do Rio São Francisco. Revista Pegada, Vol. 15, No 1 2014. MESQUITA, Helena Angélica de. ONDE ESTÃO AS FLORES, AS CORES, OS ODORES, OS SABERES E OS SABORES DO CERRADO BRASILEIRO? O AGRO/HIDRONEGÓCIO COMEU! Terra Livre, São Paulo/SP. Ano 25, V.2, n. 33 p. 17-30. Jul-Dez/2009. MENDONÇA, M. R.; THOMAZ JR, A. A reestruturação Produtiva do capital e a modernização da agricultura no sudoeste de Goiás. Sociedade & Natureza, UFU, v. 14, p. 173-188, 2003. THOMAZ JR., A. Por uma cruzada contra fome e o agrohidronegócio – nova agenda destrutiva do capitalismo e os desafios de um tempo não adiado. Revista Pegada – vol. 9, n. 1, p. 08-34, junho de 2008.

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MUDANÇAS TÉCNICO-OCUPACIONAIS NO TERRITÓRIO DO AGROHIDRONEGÓCIO CANAVIEIRO E OS REBATIMENTOS PARA AS MIGRAÇÕES DO TRABALHO PARA O

CAPITAL NOS CANAVIAIS DA REGIÃO ADMINISTRATIVA DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP)

Fredi dos Santos Bento

E-mail: [email protected] Mestrando em Geografia

Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

INTRODUÇÃO

O movimento migratório do trabalho para o capital, tem se dado neste início do

século XXI, por conta de inúmeros fatores ligados não apenas a manutenção do trabalhador

camponês na terra, como também em decorrência da sua expropriação, daí falarmos na

proletarização destes, encimados no reordenamento territorial do capital que promove

rebatimentos para o trabalho, promovendo assim a desterritorialização do trabalho.

Nesse sentido, esses trabalhadores tornam-se mão de obra em movimento, sendo

cooptados a venderem sua força de trabalho nos mais diversos pontos do território nacional,

tendo sido atraído principalmente para as grandes obras públicas e para o Polígono do

Agrohidronegócio.

É dessa forma, que podemos entender a ampliação das migrações sazonais para

os canaviais do Pontal do Paranapanema, podendo se fazer uma associação em torno dos

meios e formas que a mesma ocorre, tendo em vista não apenas os interesses do capital

agroindustrial canavieiro na região, como a própria configuração firmada nos últimos anos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para compreendermos o fenômeno em estudo é preciso apreender a

processualidade que nos possibilite sintonizá-la no quadro de degradação e precarização,

porque passam os trabalhadores migrantes que o fazem para as atividades agrícolas da

cana-de-açúcar na 10a Região Administrativa (R.A.) de Presidente Prudente.

Assim, para a realização de tal empreitada, destacamos a realização de

levantamento bibliográfico sobre a temática em apreço, bem como realizamos trabalhos de

campo na área de estudo dada a possibilidade de problematização, tendo em vista

enxergarmos o trabalho de campo enquanto “laboratório por excelência do geógrafo”, que

adjunto das investigações realizadas por meio de entrevistas semiestruturadas também

realizadas, nos tem permitido apreender a trajetória pessoal, laboral e familiar dos

trabalhadores, bem como suas instâncias de representação e aí pensarmos as entrevistas

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realizadas para com os STR‟s (Sindicatos dos Trabalhadores Rurais) (THOMAZ JUNIOR,

2005).

Todavia, temos nos utilizado de entrevistas semiestruturadas, dado o potencial

destas últimas enquanto uma conversa com finalidade, unindo questões abertas e fechadas,

num diálogo sem amarras presentes caso nos utilizássemos de um questionário fechado,

como argumentam Minayo (2005) e Santos et al. (2014).

AS MIGRAÇÕES DO TRABALHO PARA O CAPITAL EM MEIO A MUDANÇA TÉCNICO OCUPACIONAL NOS CANAVIAIS DA 10a REGIÃO ADMINISTRATIVA DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP)

O processo de territorialização do agrohidronegócio aciona o movimento migratório

de trabalhadores, e aí chamamos atenção para as migrações sazonais ou temporárias, ou

ainda a migração do trabalho para o capital neste início do século XXI, na Região

Administrativa de Presidente Prudente (10a R.A.), que diante do atual cenário do setor,

ganham destaque, dada a instalação de unidades processadoras de cana mais tecnificadas,

ou a reativação de plantas industriais antigas, nestas primeiras décadas do século XXI

(BENTO, 2015).

A partir de 2003, o setor agroindustrial canavieiro, após a estagnação da década de

1990, volta a vivenciar um processo de expansão, com a entrada em cena da produção dos

motores flex fuel, dado que desde 2006 a frota com esta tecnologia passou de 2,6 milhões,

em 2006, para 20.772.995 veículos, em 2013(ANFAVEA; UNICA, 2015).

Novaes, et. al. (2007), destaca que esta expansão deve-se, a novas perspectivas

do comércio interno e externo, elevação dos preços internacionais do petróleo, crescimento

da demanda interna por álcool hidratado, em decorrência do sucesso dos novos modelos

flex fuel, “movidos a álcool e gasolina” e os efeitos do Protocolo de Kyoto, que impõe a

redução por parte dos países signatários, das emissões de CO2.

Encimado no ideário ambiental, e num discurso permeado pela sustentabilidade, o

processo de expansão do agronegócio canavieiro, marcam o avanço da incorporação de

terras, bem como do arrendamento das mesmas pelo capital agroindustrial canavieiro na 10ª

Região Administrativa.

Em torno disso se soldam os interesses econômicos que se somam à

disponibilidade desses meios de produção e às condições satisfatórias para a mecanização

das operações agrícolas, tais como relevo predominantemente planos, logística favorável, e

terras baratas, devido à predominância de serem devolutas (THOMAZ JUNIOR, 2014).

Em meio a esta configuração, Thomaz Junior (2009) chama a atenção para

outra face da mecanização das operações agrícolas, que diz respeito ao processo de

mobilidade do trabalho, adentrando também a esfera da circulação das forças de trabalho,

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pensando aqui o migrante, como podendo estar atuando hoje na construção civil, em outro

momento nos canaviais, e futuramente até mesmo na informalidade, configurando o quadro

de plasticidade do trabalho.

Em relação ao avanço da mecanização do corte da cana, com a transição para o

corte mecanizado neste início do século XXI, tem surgido impactos para a mão de obra não

qualificada, devendo se destacar o fato de os trabalhadores que se mantém no corte da

cana, não cortarem cana durante toda uma safra (safristas), bem como a dificuldade ou

mesmo impossibilidade de negociar o preço da cana, dada a concorrência com as

máquinas.

Na perspectiva de ultrapassar esta barreira, tem se ampliado a procura e realização

dos cursos de qualificação, como também a migração de funções dentro dos canaviais, pois

os trabalhadores podem um ano estarem trabalhando enquanto cortadores, em outro obter a

habilitação e realizarem cursos para tratorista, e no ano seguinte, tentarem ofertar sua mão

de obra enquanto operador de colhedeira.

Em contrapartida, não apenas os trabalhadores regionais têm participado destes

cursos, pois temos acompanhado que mesmo a mão de obra migrante temporária, também

tem buscado se qualificar, e isso se expressa nas mudanças existentes na configuração da

mão de obra encontrada nos alojamentos, havendo não apenas o cortador de cana, como

também engatadores, operadores de colhedeira, tratorista, fazendo parte então, da nova

dinâmica que estamos acompanhando.

Dessa forma, essa nova configuração vivenciada pelo agrohidronegócio canavieiro

na 10a R. A. de Presidente Prudente, nos permite nos questionarmos de que forma tem

ocorrido o controle social destes trabalhadores na safra e na entressafra, tendo em vista as

novas configurações que se assumem para os trabalhadores migrantes, bem como de que

forma o discurso da qualificação profissional influi sobre esses trabalhadores? E quais os

sentidos desse processo para a questão sindical, tendo em vista o papel desempenhado

pelos sindicatos vinculados ao setor agroindustrial canavieiro em tempos de transição

tecnológica?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse sentido, faz parte de nossa investigação continuar analisando as

contradições existentes para com o novo cenário que se apresenta na região, tendo em

vista o fechamento de unidades processadoras, enquanto parte do processo de

concentração e centralização do capital agroindustrial canavieiro na região, bem como as

alternativas encontradas pelos trabalhadores diante do novo quadro.

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Todavia, quando pensamos neste novo quadro que tem se configurado para a

região, nos surge à questão do discurso da qualificação profissional, pois além de propalado

pelos grupos canavieiros enquanto oportunidade de os trabalhadores advindos

principalmente do corte da cana manterem-se trabalhando nos canaviais da região. Dessa

maneira, os próprios grupos têm incentivado e organizado a qualificação profissional desses

trabalhadores, que iludidos pelo sonho da melhor remuneração, ou da expectativa de se

manterem empregados, acabam por realizar o mesmo, que como mostramos anteriormente,

tem sido utilizados também enquanto manobras do setor para com os trabalhadores.

Porém, como temos acompanhado nos últimos anos, tais cursos fazem parte do

discurso instituído para com o fim da despalha e do corte manual, com a eventual

substituição do corte manual pelo mecanizado e a mudança para os trabalhadores nas

funções que realizavam até então, sendo os cursos de qualificação vistos enquanto

alternativa para a manutenção desta mão de obra, o que não ocorre nos canaviais, como é

exemplo do Pontal do Paranapanema, em que realizar o curso não é garantia de oferta de

trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENTO, Fredi dos Santos. Migração de trabalhadores para o corte da cana-de-açúcar no Pontal do Paranapanema (SP), no início do século XXI. 2015.248f.Monografia (Bacharelado em Geografia)- Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. MINAYO, Maria Cecília de Souza; ASSIS, Simone Gonçalves de; SOUZA, Edinilsa Ramos de. (orgs.).Avaliação por triangulação de métodos:abordagens de programas sociais.1.ed.Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005,244p. NOVAES, José Roberto; ALVES, Francisco. (orgs.). Migrantes: trabalho e trabalhadores no complexo agroindustrial canavieiro (os heróis do agronegócio brasileiro). 1. ed. São Carlos: EdUFSCar, 2007, 314p. SÃO PAULO, União da indústria de cana-de-açúcar. Balanço 2013. Disponível em: < http://www.unica.com.br/documentos/publicacoes/sid/18797613/>.

______. Levantamento de safra 2015/2016.Disponível em:< http://www.unica.com.br/noticia/25950095920326811142/safra-2015-por-cento2F2016-no-centro-sul-deve-atingir-590-milhoes-de-toneladas-de-cana-processadas-por-cento2C-com-prioridade-para-a-producao-de-etanol/>. SANTOS, J. B. F. dos; OSTERNE, M. do S. F.; ALMEIDA; R. de O. A entrevista como técnica de pesquisa do mundo do trabalho. In: ALVES, G. A. P.; SANTOS, J. B. F. (Orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa sobre o mundo do trabalho. 1 Ed. Bauru: Editora Praxis, 2014. v. 1. 203p. THOMAZ JUNIOR, Antonio. Geografia passo-a-passo: (ensaios críticos dos anos 90). 1. ed. Presidente Prudente: Editorial Centelha/CEGeT, 2005, 176p.

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______. Dinâmica geográfica do trabalho no século XXI. (Limites explicativos, autocrítica e limites teóricos). 2009. 997f. Tese (Livre Docência) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. ______. Redefinições do Trabalho, Reforma Agrária e Soberania Alimentar; Revisitando a luta de classes num ambiente de embates e debates. Xochimilco, Veredas, v. 15, p. 477-52, 2014.

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JUVENTUDE E GÊNERO: VELHOS SUJEITOS E NOVOS CAMINHOS

METODOLÓGICOS PARA A GEOGRAFIA AGRÁRIA

Ana Lúcia Teixeira E-mail: [email protected]

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP

Campus de Presidente Prudente Bolsista FAPESP

Larissa Araújo Coutinho de Paula

E-mail: [email protected] Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia

Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente

Bolsista CNPq

INTRODUÇÃO

É notável que na maior parte das antigas publicações sobre os sujeitos que vivem no

campo, há uma intensa representação da figura masculina, mas há outras facetas que

espelham esse público, que não contêm apenas homens, mas também mulheres, jovens,

crianças, idosos.

Temas como gênero, juventude e geração têm despertado o interesse de muitos

estudiosos sobre o meio rural, alguns estudos despontaram desde os anos 1980, porém

atualmente há uma maior intensificação dos mesmos.

É necessário frisar que estudos que contenham não objetos de pesquisa, mas

sujeitos pesquisados, no caso, mulheres e jovens, exigem abordagens de pesquisa empírica

diferenciadas, com viés qualitativo, já que formas tradicionais de pesquisa nas ciências

geográficas não correspondem às multiplicidades que implicam pesquisas do tipo. Portanto,

têm sido cada vez mais frequentes pesquisas que utilizam não apenas o levantamento de

dados por meio de questionários, mas entrevistas temáticas, entrevistas de história oral,

observação participante, grupos focais e cartografia social.

O intuito deste trabalho é discorrer sobre a potencialidade das metodologias de

pesquisa supracitadas, concatenando-as às pesquisas com enfoque nas relações de gênero

e no público juvenil de assentamentos rurais. Toma-se como base as experiências das

autoras na elaboração de suas respectivas dissertações de mestrado.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Adotamos enquanto metodologia para a realização deste trabalho as leituras,

discussões e reflexões sobre as dissertações de mestrado desenvolvidas pelas autoras.

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Ambos os estudos envolveram pesquisas em assentamentos rurais na região do

Pontal do Paranapanema. Uma das dissertações pautou-se no estudo sobre a produção dos

espaços de vida no Assentamento Nova Conquista, em Rancharia/SP. Já a outra teve como

escopo estudar os efeitos de políticas públicas para mulheres da Organização de Mulheres

do Assentamento Tucano, em Euclides da Cunha Paulista/SP.

Nos respectivos trabalhos foram utilizados metodologias de pesquisa não tão

convencionais. No caso da primeira pesquisa, houve destaque para o procedimento da

cartografia social, enquanto na segunda atentou-se para a história oral.

Baseando-se nessas experiências intenta-se elencar sucintamente as características

e resultados obtidos em cada pesquisa de acordo com as metodologias utilizadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A juventude é uma categoria social que não é limitada apenas pela faixa etária e

classe social, ao ponto que o termo “juventudes”, enfatiza que há vários modos de ser

jovem. (KUHN & BRUNES, 2012). Trata-se de uma categoria de análise que é irredutível a

uma definição estável e concreta. Logo, a juventude rural também apresenta peculiaridades,

sobretudo após a constante diluição de fronteiras entre os espaços rurais e urbanos

(CARNEIRO, 1998).

Entende-se gênero como uma construção social, e não apenas uma constatação

biológica baseada nas diferenças entre os sexos. No âmbito rural, as relações de gênero

refletem uma dimensão da desigualdade social, através da desvalorização do trabalho

feminino, o que é evidente pela baixa participação de mulheres em grupos de decisão ou

liderança de associações (BUARQUE, 2005).

Os grupos que envolveram as pesquisas, jovens e mulheres, possuem

características diferenciadas dentre da composição familiar, na vida e nas atividades

cotidianas do espaço rural. Utilizar apenas metodologias tradicionais, como aplicação de

questionários, por exemplo, não lograria esmiuçar de maneira eficaz a multiplicidade desses

sujeitos. Destarte, foi necessário lançar-se mais intensamente em metodologias de cunho

qualitativo.

O objetivo de entrevistas de história oral foi o de acessar a memória das assentadas

mais idosas, sobretudo no sentido de descrever com fidelidade de que forma ocorreu a luta

pela terra, além criar comparações entre o passado das mesmas e a atualidade, verificando

se elas reconhecem alterações nas relações de gênero estabelecidas em suas respectivas

famílias e assentamentos, e em que medida as políticas públicas contribuem para isso.

A história oral destacou-se na década de 1970 como um fenômeno metodológico e

político, por ser uma técnica que permitia a investigação de questões e camadas sociais

geralmente pouco visíveis na documentação escrita. A base da história oral é a memória

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dos sujeitos estudados, expressa através da oralidade, nos diálogos e entrevistas. Apesar

das possíveis dificuldades, a história oral é uma forma de o pesquisador produzir seu próprio

material de análise (HALL, 1992).

As entrevistas temáticas e de história oral foram semiestruturadas, com roteiros que

abarcaram os temas de maior relevância na pesquisa, e registradas através de gravação de

áudio, posteriormente transcritas, sistematizadas e analisadas. Após as transcrições, a

sistematização dar-se-á através de processos de codificação e de categorização temática,

técnicas propostas por Gibbs (2009). A sistematização e a categorização das informações

podem ser feitas de diversas formas, por linhas, por agrupamento de temas etc. Os trechos

das entrevistas são classificados por temas que definirão códigos para a interpretação,

comparação e análise do material.

Quanto à cartografia social, os mapeamentos podem constituir-se enquanto objetos

da ação política, de modo que os sujeitos que reivindicam o reconhecimento de diversas

tramas, territoriais, fundiárias, étnicas e políticas podem participar ativamente da construção

da representação espacial, de modo a contestar às representações hegemônicas do

espaço, do Estado, ou das grandes empresas. Além de uma ferramenta de luta, pode

subsidiar diagnósticos e estratégias espaciais (ACSELRAD, 2009; BATISTA, 2014).

Figuras 1 e 2: Cartografia Social dos assentados de Nova Conquista, Rancharia. Fonte: Trabalho de campo, 2015.

A primeira figura é uma representação dos sujeitos sobre a territorialização destes no

espaço, pois revela os lotes que foram conquistados pelos assentados que participaram da

luta pela terra, lotes que os filhos deles conseguiram comprar e lotes que “estranhos”

adquiriram mediante a compra. Os sujeitos representaram também no mesmo mapa a

situação referente ao trabalho no assentamento, no que se refere, por exemplo, aos

assentados que trabalham apenas dentro do lote e os que trabalham fora (em usinas, etc). A

segunda figura é o mesmo mapa após o tratamento através de ferramentas de produção

cartográfica.

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Segundo Acselrad (2009), o processo de inclusão de populações locais na produção

de mapas disseminou-se mundialmente desde os anos 1990, através de ações de agências

governamentais, ONGs, organizações indígenas, organismos multilaterais e de cooperação

internacional, fundações privadas, universidades, entre outras. Entre as vantagens da

cartografia social está a possibilidade de mobilização da população no debate sobre

demandas por terras, no planejamento de uso de recursos naturais e afirmar a relevância do

conhecimento tradicional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreendemos que a produção de informação a partir de metodologias qualitativas

nos aproximou dos sujeitos pesquisados e de conceitos como gênero e juventude de modo

que pudemos descortinar parte do universo empírico de nossas pesquisas. A história oral

propiciou um contato sensível com as mulheres dos assentamentos evidenciando os

momentos de luta pela terra e de luta na terra.

A participação de mulheres e jovens através da elaboração de mapas e croquis

auxiliou as autoras na compreensão da produção do espaço nos assentamentos, na medida

em que o próprio sujeito pesquisado pôde representar seu território através da cartografia

social.

As ciências geográficas têm de estabelecer um diálogo metodológico com outras

ciências como a sociologia e a antropologia para que aliada a sua capacidade de

representar o espaço através de metodologias quantitativas e de mapas convencionais

possa dar voz aos sujeitos pesquisados através de metodologias como as qualitativas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACSELRAD, H. Mapeamentos, identidades e territórios. 33° Encontro anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. Caxambu, Minas Gerais, 2009. BATISTA, S.C Cartografia geográfica em questão: do chão, do alto, das representações. Tese (Doutorado em Geografia). Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2014. BUARQUE, C. A dimensão de gênero no mundo rural brasileiro contemporâneo. (IN) MIRANDA, C.; COSTA, C. Série Desenvolvimento Rural Sustentável: Desenvolvimento Sustentável e Perspectiva de Gênero. V. 2. Brasília: IICA, 2005. CARNEIRO, M. J. O ideal rurbano: campo e cidade no imaginário de jovens rurais. In: Francisco Carlos Teixeira da Silva; Raimundo Santos; Luiz flávio de Carvalho Costa. (Org.). Mundo Rural e Política. Rio de Janeiro: Campus, 1998, p. 95-118. GIBBS, G. Análise de dados qualitativos. Porto Alegre: ArtMed, 2009. HALL, M. M. História Oral: os riscos da inocência. In: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO,

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Secretaria Municipal de Cultura, Departamento do Patrimônio Histórico. O direito à memória: patrimônio histórico e cidadania. São Paulo: DPH, 1992. KUHN, C.; BRUMES, K. R. Juventude Rural: diferenças de gênero na escola, no trabalho e na construção de projetos de futuro. In: Anais... XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 2012, Águas de Lindóia- SP.

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O FINANCIAMENTO PÚBLICO NO SETOR SUCROENERGÉTICO: O PAPEL DO BANCO

NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (BNDES)

Roberta Oliveira da Fonseca [email protected]

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia – FCT/UNESP– Campus de Presidente Prudente

Membro do Grupo de Estudos Dinâmica Regional e Agropecuária – GEDRA. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP

Antonio Nivaldo Hespanhol [email protected]

Docente dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Geografia – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente

Líder do Grupo de Estudos Dinâmica Regional e Agropecuária – GEDRA e Pesquisador do CNPq

INTRODUÇÃO

No Brasil, o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, envolto no discurso de

energia renovável e não poluente, atraiu os grupos nacionais e estrangeiros, apoiados e

financiados pelo Estado brasileiro, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES), que se expandiram em parte do território nacional. Na tentativa de

compreender a política de financiamento voltada para o setor sucroenergético empreendida

pelo Estado brasileiro em resposta a crise financeira, sobretudo a partir do triênio 2008-

2010, realizam-se apontamentos preliminares da participação do financiamento público em

projetos vinculados ao referido setor.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os procedimentos metodológicos adotados se basearam em revisão bibliográfica e

no, levantamento, organização e análise de dados de fonte secundária.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O efeito da crise deflagrada em 2008 para o setor sucroenergético foi a participação

de novas empresas e investidores, geralmente de atuação mundial e com uma série de

atividades relacionadas à agricultura capitalista. As consequências da crise desestruturaram

a organização do setor, que implicaram diretamente na operação das usinas. A

concentração de capitais passou a figurar como importante estratégia para o setor,

configuradas pelas fusões, aquisições e participações de novas empresas.

Embora, as fusões e aquisições sejam sim uma estratégia do setor sucroenergético

no período mencionado, há uma questão crucial a ser salientada e que se relaciona

diretamente com a valorização dada à produção dos chamados agrocombustíveis e, dentre

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162

eles um dos protagonistas dessa agroindústria no Brasil, o etanol. Oliveira (2012) nos

chama a atenção para a relação direta entre o aumento do preço das commodities,

(sobretudo de alimentos básicos da produção mundial, como o arroz, o milho e o trigo), que

ficou conhecida como crise dos alimentos em 2008 e a expansão dos agrocombustíveis.

O incentivo à produção de etanol combustível e as condições dadas pelo governo

brasileiro por meio dos aportes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES) correlacionam-se ao que Oliveira (2012) chama de “pegar carona no futuro,

fundado na reprodução do passado”, numa clara referencia ao PROÁLCOOL, ou seja,

aproveitando-se da opção estadunidense de produção de etanol de milho, que é uma

commoditie e também base alimentar de muitas culturas para tentar introduzir o etanol

combustível a partir da cana-de-açúcar (um velho conhecido dos brasileiros) e garantir-lhe a

participação na matriz energética mundial.

É neste patamar que situamos os grandes volumes de financiamentos do Governo

Federal (via BNDES) ao setor sucroenergético. Em análise divulgada pelo próprio BNDES

(2011) sobre seu desempenho no financiamento do setor sucroenergético no último triênio

da década, ou seja, de 2008 até 2010, o desembolso total foi de R$ 20,45 bilhões,

equivalendo a mais de 5% do desembolso global do banco, atingindo em 2008 o pico de 7%

considerado histórico para o setor. No gráfico 1 verifica-se a participação do setor

sucroenergético no total dos desembolsos do BNDES entre 2008 e 2010.

Gráfico 1 – Participação do setor sucroenergético nos desembolsos totais do BNDES- 2008/2010.

Fonte: Informe Setorial – Indústria, nº 21/BNDES, 2011.

A relação que podemos estabelecer entre o período recente de investimentos no

setor sucroenergético e o anterior (entendendo este desde a criação da autarquia do IAA47)

evidencia que grande parte das linhas de financiamento para sua expansão ainda provem

do Governo Federal, via BNDES, portanto, são recursos públicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

47

Instituto do Açúcar e do Álcool, criado em 1933.

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163

O novo momento do setor sucroenergético foi acompanhado de uma reorganização

do território, com a expansão das áreas com cultivo de cana-de-açúcar (inclusive não

tradicionais e áreas do bioma Cerrado) e plantas de produção/processamento

tecnologicamente eficientes. Os efeitos da crise financeira de 2008 demandaram uma

política anticíclica do governo brasileiro, cujo destaque deve ser dado aos bancos públicos.

É neste mesmo patamar que situamos o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES) e o financiamento aos grandes projetos sucroenergéticos.

A resposta à crise foi imediata, tanto por parte dos grupos de investidores na

realização de fusões e aquisições de empresas de atuação nacional e global, alocando e

realocando capitais, quanto do próprio BNDES que disponibilizou recursos consideráveis

para os financiamentos. No entanto, os impactos diferenciados da crise mundial na

economia brasileira não são fruto de virtude inata, corresponderam ao chamado câmbio

flexível, aos elevados índices de superávit primário e de juros, metas de inflação

conservadora e grandes reservas cambiais formadas durante o boom de exportação de

commodities, que apenas demarcaram o lugar ímpar ocupado pelo país na divisão

internacional do trabalho.

Nossas reflexões a respeito do financiamento público ao setor sucroenergético

ainda são preliminares, pretendemos avançar em nossa pesquisa, entendendo o BNDES

como um banco corporatizado, revelando uma contradição com sua principal fonte de

captação de recursos, o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), sendo este um motivo

para a participação e o controle social sobre a gestão de fundos e recursos públicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Relatório Anual 2011, Rio de Janeiro, 2011. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Relatório Anual 2010, Rio de Janeiro, 2010. GATTI, W. O envolvimento de fornecedores no desenvolvimento da tecnologia flex fuel nas montadoras brasileiras. In: Revista gestão & tecnologia, v. 11, n. 1, p. 1-18, jul. 2011. GAZON, L.F.N. Financiamento Público ao desenvolvimento: enclave político e enclaves econômicos. In: Capitalismo globalizado e recursos territoriais, 2010, p. 71- 100. HERMANN, J. O papel dos bancos públicos. Texto para Discussão, CEPAL-IPEA n. 15, 2010. HESPANHOL, A. N. O agronegócio e a reconfiguração espacial das principais lavouras. In: Geonordeste (UFS), v.1, p. 63-86, 2008. NASSIF, L. Os cabeças de planilha: como o pensamento econômico da era FHC repetiu os equívocos de Rui Barbosa. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.

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164

OLIVEIRA, A. U. A mundialização da agricultura brasileira. In: XII Colóquio Internacional de Geocrítica, 2012, p.01-15.

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165

O PATRIMÔNIO EM ÁREAS DE ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA DO PONTAL DO PARANAPANEMA

Barbara Cardoso da Cunha E-mail: [email protected]

Graduanda em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP, Campus de Presidente Prudente-SP.

Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho, buscou articular o Histórico do Pontal do Paranapanema no

contexto agrário e arqueológico do Sítio Arqueológico Roque Paulino, com o foco em áreas

de Assentamentos de Reforma Agrária no Município de Presidente Venceslau, SP (Mapa 1)

resultando na caracterização e o reconhecimento do patrimônio arqueológico no

assentamento Tupanciretã.

Mapa 1: Mapa de localização do Sítio Arqueológico Roque Paulino.

Fonte: Rosa, 2016.

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166

A partir dos estudos realizados, até o momento, pode-se associar a relevância da

Geografia Cultural a partir do conceito de Paisagem ao desdobramento do estudo

Arqueológico local, fortalecendo a integração e conexão da Geografia à Arqueologia.

O objetivo do estudo é compreender o processo histórico do Pontal do

Paranapanema, horizontalizando a discussão arqueológica através da Arqueologia

Participativa e a Educação Patrimonial.

Ao dar ênfase à análise teórica sobre Paisagem, destaca-se a aplicabilidade do

estudo na análise da paisagem em escala local, considerando os aspectos culturais e

físicos, compreendendo os paradigmas da paisagem em sua temporalidade e a partir dos

movimentos que a compõem em cada história de vida na superfície terrestre.

Pontua-se neste estudo, a origem do conceito de patrimônio e a trajetória da

arqueologia na engrenagem do patrimônio cultural, ou melhor, o sítio arqueológico como

Patrimônio cultural.

A doação dos fragmentos arqueológicos para o Museu de Arqueologia Regional

(MAR) possibilitou uma análise do contexto arqueológico local resultando na descrição do

sítio arqueológico e dos vestígios materiais doados.

Por fim, considera-se as ações educativas a partir do processo de mediação,

imbrincados à prática dialógica com a comunidade assentada, cujo objetivo é apresentar o

patrimônio inventariado à comunidade, a fim de valorizá-lo e preservá-lo.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O levantamento do patrimônio arqueológico na área de assentamento, realizou-se a

partir do trabalho de campo envolvendo o assentado Roque Paulino (titular do lote 10 do

P.A. Tupanciretã). O estudo da Paisagem foi realizado a partir dos registros históricos de

vida do passado, e sua interpretação (INGOLD, 2000) trouxe uma contribuição para a

análise da área, aliada à ficha de diagnóstico da paisagem que busca interpretar seus

aspectos físicos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente estudo caracterizou e reconheceu o patrimônio arqueológico do

assentamento Tupanciretã. O contexto do Sítio Arqueológico Roque Paulino encontra-se

perturbado, devido ao seu uso e ocupação até mesmo anterior à instalação do

assentamento. No entanto, os geoindicadores apontam para uma área promissora de

vestígios arqueológicos. Na etapa de reconhecimento da área, foram doados para o Museu

de Arqueologia Regional da UNESP os seguintes vestígios arqueológicos: vinte cinco

fragmentos cerâmicos, um lítico lascado, três laminas de machados polidos, além da

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evidenciação de três manchas pretas. Segue o reconhecimento pontual dos vestígios

arqueológicos (Mapa 2).

Mapa 2: Presidente Venceslau-SP e o Sítio Arqueológico Roque Paulino, dispersão dos vestígios arqueológicos. Fonte: Rosa (2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Realizamos o reconhecimento do Sítio Arqueológico Roque Paulino, localizado em

lote do P.A. Tupanciretã. No trabalho realizado, previmos o resgate arqueológico, oficinas de

pintura em cerâmica e diálogo junto à comunidade assentada sobre a importância da

arqueologia regional e local, com o objetivo de fazê-los conhecer o patrimônio arqueológico

para valorizá-lo e preservá-lo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSGROVE, D. A Geografia está em toda a parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: CORRÊA, R. ROSENDAHL, Z (orgs). In: Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970. INGOLD, T. The temporality of the landascape. In: T. Ingold. The perception of the e environment. Essays in livelihood, dwelling and skill. London, New York: Routledge, 2000.

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LEITE, J. F. A ocupação do Pontal do Paranapanema. São Paulo: HUCITEC/Fundação UNESP. 1998, p. 19-93. MACIEL, M.C. Tupãnciretã: Deus passou por aqui – um estudo sobre as relações entre movimentos sociais nos assentamentos rurais Primavera e Tupaciretã no Pontal do Paranapanema/SP. (Tese de doutorado em Sociologia). Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011.

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169

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O FORTALECIMENTO DOS MERCADOS LOCAIS DE ALIMENTOS: O CASO DO PROGRAMA PAULISTA DA AGRICULTURA DE INTERESSE

SOCIAL (PPAIS) NO MUNICÍPIO DE TUPI PAULISTA/SP

Valmir José de Oliveira Valério E-mail: [email protected]

Doutorando em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Campus de Presidente Prudente Bolsista de doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo –

FAPESP

INTRODUÇÃO

A busca pela aproximação entre os extremos da alimentação, ou seja, entre

produtores e consumidores, compõe um dos elementos básicos para o fortalecimento dos

mercados de alimentos na escala local. O Programa Paulista de Agricultura de Interesse

Social (PPAIS), criado pela Lei nº 14.591, de 14 de outubro de 2011, compõe uma ação do

Governo do Estado de São Paulo que tem por objetivo estimular a produção de alimentos

por meio da garantia de comercialização dos produtos da agricultura familiar. O PPAIS

busca fazer do Estado o principal comprador dos produtos deste tipo de agricultura,

compondo mais uma estratégia de fortalecimento para o setor.

De acordo com o Programa, o governo deverá destinar no mínimo 30% dos

recursos estaduais destinados à compra de alimentos para adquirir gêneros procedentes da

agricultura familiar, in natura e manufaturados, até o limite de R$ 12.000,00 por família/ano

(FUNDAÇÃO ITESP, 2014a). Posteriormente, no final de 2013, a comissão gestora do

Programa aprovou o aumento do teto de venda por agricultor, passando de R$ 12.000,00

para R$ 22.000,00 (SÃO PAULO, 2014).

No PPAIS o governo compra frutas, verduras, legumes, etc. para serem utilizados

no preparo de refeições servidas em órgãos estaduais como escolas, hospitais e presídios,

dentre outras instituições. Todos os agricultores familiares, assentados ou quilombolas

assistidos pelo Itesp, podem participar.

Para tanto, os agricultores familiares devem comparecer a uma unidade da Casa da

Agricultura da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e os assentados e

quilombolas a um escritório do Itesp, no qual deverão solicitar a expedição da Declaração de

Conformidade ao PPAIS. A participação é assegurada por Chamada Pública, com a

divulgação dos editais no Diário Oficial do Estado, jornais de grande circulação (local,

regional ou estadual) ou ainda por outros meios de comunicação (FUNDAÇÃO ITESP,

2014a).

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170

Para uma compreensão um pouco mais detalhada, com base nos dados da

Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP), analisamos a seguir o caso

do funcionamento do PPAIS no município de Tupi Paulista/SP (Mapa 01), tendo como

referência o ano de 2014.

Mapa 01: Localização do município de Tupi Paulista/SP na microrregião da Nova Alta Paulista. Fonte: IBGE, 2007. Elaboração: VALÉRIO, 2015.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para atingir os nossos objetivos, foram utilizados dados e informações secundárias,

obtidas principalmente a partir do site do Itesp na internet (http://201.55.33.20/ppais.php),

além da consulta de Leis e Decretos que embasam a organização do Programa enquanto

ação governamental.

Após a obtenção dos dados referentes ao funcionamento do Programa no

município de Tupi Paulista/SP, elaboramos tabelas de maneira a detalhar produtos,

quantidades e valores comercializados no período analisado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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171

A partir de dados disponíveis no site da Fundação Instituto de Terras do Estado de

São Paulo (ITESP) na internet, é possível verificar que as compras de alimentos realizadas

no âmbito do PPAIS no município de Tupi Paulista/SP são referentes ao atendimento da

demanda de duas unidades prisionais (Penitenciária feminina e Penitenciária masculina) lá

instaladas.

Não obstante o reduzido período disponível para análise (apenas quatro meses),

visando uma melhor compreensão do funcionamento do Projeto no município, analisamos

os dados referentes à compra de alimentos das duas unidades prisionais, entre setembro e

dezembro de 2014 (Tabela 01):

Tabela 01: Alimentos entregues via PPAIS nas Penitenciárias (masculina e feminina) de Tupi Paulista/SP entre os meses de setembro e dezembro de 2014

ALIMENTO QTDE.

(Kg)

VALOR

(R$)

Abobrinha 1.350 1.647,00

Alho in natura 36 241,20

Banana nanica 7.500 8.880,00

Batata comum 6.450 7.089,00

Berinjela 600 888,00

Beterraba 1.350 1.468,50

Cebola 3.750 4.522

Cenoura 1.890 2.156,75

Chuchu 450 463,50

Chuchu 960 787,20

Chuchu 1.410 1.250,70

Limão 60 124,80

Pepino 2.340 2.109,60

Pimentão 300 588,00

Repolho 1.350 1.059,00

Tomate salada 5.400 9.289,50

Vagem 300 1.203,00

TOTAL 35.496 43.767,75

Fonte: FUNDAÇÃO ITESP, 2014b.

Considerando as demandas das duas unidades prisionais existentes no município

e, tendo em vista que os contratos são realizados para a vigência de um quadrimestre, as

demandas totais no ano podem chegar a mais de 100 toneladas, com uma movimentação

superior a R$ 130.000,00 em recursos. No período avaliado, foram contabilizados 17 tipos

de alimentos, entre frutas e legumes diversos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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No PPAIS, o teto para comercialização é o maior entre os três Programas de

incentivo à produção de alimentos em funcionamento no estado de São Paulo. Não

obstante, as ressalvas dos agricultores em relação aos seus principais significados apontam

para a mesma questão presente no caso dos outros Programas existentes (PAA e PNAE),

ou seja, seus limites de venda por agricultor/ano. Por mais que o limite seja de R$

22.000,00, a realidade da demanda local representa um fator limitante para que os

agricultores, individualmente, possam usufruir do limite máximo de venda.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FUNDAÇÃO ITESP. Chamadas públicas para a compra de alimentos. PPAIS – Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social. [ca. 2014b] Disponível em: <http://201.55.33.20/ppais.php>. Acesso em: 03/04/2014. FUNDAÇÃO ITESP. Informações gerais sobre o Programa. PPAIS – Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social. São Paulo, [ca. 2014a]. Disponível em: <http://www.itesp.sp.gov.br/br/parceria.aspx>. Acesso em: 28/06/2014. IBGE. MALHA MUNICIPAL DIGITAL (2007). Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/municipio_2007/>. Acesso em: 03/11/2013. SÃO PAULO. DECRETO nº 60.055, de 14 de janeiro de 2014. Dispõe sobre a regulamentação do Programa Paulista de Agricultura de Interesse Social (PPAIS). São Paulo, 2014. SÃO PAULO. Lei nº 14.591, de 14 de outubro de 2011. Cria o Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social (PPAIS). Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2011/lei-14591-14.10.2011.html>. Acesso em: 12/08/2016. VALÉRIO, V. J. O. A segurança da dependência e os desafios da soberania: expansão da agroindústria canavieira e a geografia do abastecimento alimentar no município de Tupi Paulista/SP. 2015. 230 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente, Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP), Presidente Prudente/SP.

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EIXO TEMÁTICO 6: “OUTROS”

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A FALÁCIA DA LIBERDADE ESPACIAL NO AGROHIDRONEGÓCIO CANAVIEIRO DO EDR DE ARAÇATUBA-SP

Messias Alessandro Cardoso

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia FCT/UNESP

Membro do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeT)

Bolsista FAPESP

INTRODUÇÃO

Perscrutar as ações operadas pelo agrohidronegócio canavieiro na construção de

territórios de produção de commodities nos leva a considerar a forma como a força de

trabalho é arregimentada e explorada. Dessa forma, o sistema do capital utiliza como trunfo

territorial, o processo de mobilidade territorial do trabalho, tendo em vista fazer uso da força

de trabalho nos territórios mais rentáveis ao capital. É este uso possibilitado pela mobilidade

do trabalho, que está na origem da produção de mais-valia e, portanto, da acumulação de

capital.

Podemos dizer que a mobilidade territorial do trabalho sob a lógica destrutiva do

capital está atrelada estruturalmente ao funcionamento do modo de produção capitalista que

para gerar mais valor, exige o trabalho do ser humano e o engendramento de um

ordenamento territorial da força de trabalho, e, se preciso for o seu reordenamento territorial.

Neste trabalho nossos esforços convergiram, para a tentativa de desenvolver algumas

reflexões críticas acerca da mobilidade territorial do trabalho forçada, a que os trabalhadores

migrantes maranhenses e alagoanos são submetidos no agrohidronegócio canavieiro do

Escritório de Desenvolvimento Rural de Araçatuba (SP)48, localizado na região noroeste do

estado de São Paulo. (Mapa1). Assim sendo, estamos propondo focar nossas atenções

para compreensão dos desdobramentos espaciais provocados pelo agrohidronegócio

canavieiro49, com o intuito de entender as contradições implícitas que levam milhares de

trabalhadores a deslocarem-se pelo espaço, em direção de territórios e relações de poder

desconhecidas.

48

O recorte territorial de estudo é composto pelos municípios integrantes do Escritório de Desenvolvimento Rural de Araçatuba (SP). EDR de Araçatuba: Alto Alegre, Araçatuba, Avanhadava, Barbosa, Bilac, Birigui, Braúna, Brejo Alegre, Clementina, Coroados, Gabriel Monteiro, Glicério, Guararapes, Luiziânia, Penápolis, Piacatu, Rubiácea e Santópolis do Aguapeí.

49

Adotamos esta proposição de Thomaz Júnior (2009), para evidenciar que o interesse do capital no

campo não se limita a apropriação da terra, mas também e simultaneamente da água, ou seja, o controle territorial se dá de forma articulada.

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Mapa 1- Localização do EDR de Araçatuba-SP

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para realização dos intentos mencionados estamos utilizando uma metodologia que

concilia as vivências teóricas e práticas. De modo geral, estamos fundamentando e

aprofundando nossas reflexões teóricas através de levantamento bibliográfico e realização

de distintas leituras de livros, teses, dissertação, artigos, revistas, publicação de órgãos

como: Serviço Pastoral do Migrante (SPM) e Centro de Estudos Migratórios (CEM), que

versam sobre a temática do trabalho e especificamente sobre o trabalho migrante nos

canaviais. Utilizamos ainda, o acompanhamento de dados secundários em respeito às

atividades laborais em torno da agroindústria canavieira, junto a órgãos como: IEA,

Fundação Seade, IBGE, MAPA, IPEA, UNICA, FIESP, UDOP, DIEESE, Ministério do

Trabalho e Emprego. Soma-se a esses procedimentos já destacados, a realização de

“experiências concretas” e no caso da ciência geográfica, estamos enfatizando a realização

de trabalhos de campo para o reconhecimento da realidade local, bem como a realização de

visitas e entrevistas aos trabalhadores envolvidos no corte da cana-de-açúcar (migrantes e

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não migrantes). Por fim, com base nas informações primárias e secundárias,

consubstanciamos a presente reflexão teórica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O agrohidronegócio canavieiro uma das personificações do sistema do capital está

encimado no discurso do “desenvolvimento”, da geração de emprego e renda para os

trabalhadores, entretanto seus desdobramentos concretos não atentam para melhoria de

vida das populações mais pobres, e nem de longe este é seu objetivo, nestes termos, ao

invés de ser a “salvação da lavoura” brasileira, este modelo de produção destrutiva,

organizada sob os ditames do sistema do capital, encontra-se completamente tolhido em

sentido para os trabalhadores.

Trata-se, pois, de um desenvolvimento do capital e para o capital, que se pauta no desmantelamento das comunidades e territórios que interessa ao projeto expansionista do capital com vistas a sua valorização, tirando-lhes as condições que lhes são próprias e que foram construídas historicamente, e impondo ações e atitudes que não combinam com as formas anteriores de organização social e de produção. (OLIVEIRA, 2009, p. 344-45).

Para Thomaz Júnior (2009) o interesse do capital no campo não se limita somente

a apropriação da terra, mas também e simultaneamente da água. Nesse sentido, preferimos

adotar a denominação de agrohidronegócio, por evidenciar que o território sobre a égide do

agrohidronegócio tendência a monofuncionalidade do uso da terra, água e das

infraestruturas instaladas exclusivamente para reprodução ampliada do capital, negando a

possibilidade de uso plural do território. Dessa forma, a agricultura capitalista ou

agrohidronegócio, qualquer que seja o eufemismo utilizado, não pode esconder o que está

na sua raiz, na sua lógica de operação: a apropriação destrutiva da terra e da água e a

exploração do trabalho.

É preciso entender que a lógica de desenvolvimento desigual do capital, destacada

por Smith (1988) opera um movimento de vaivém entre os lugares, buscando sempre a

contínua produção, reprodução e acumulação capitalista. Na medida em que o capital não

pode encontrar um fixo espacial na produção de um ambiente imóvel para a produção, ele

recorre à completa mobilidade como um fixo espacial. Nesse desenrolar de seus

movimentos o capital condiciona e subordinada à mobilidade dos trabalhadores, que são

forçados a acompanhar os fluxos da mobilidade do capital.

Sendo assim, o capital movimenta-se, por meio das decisões de seus agentes

econômicos e políticos, procurando territórios e articulando os pontos das redes e

aprofundando as desigualdades das escalas locais às supranacionais. Do mesmo modo, a

força de trabalho tem tido que se deslocar em escalas cada vez mais abrangentes em busca

de trabalho. É desse modo, que o agrohidronegócio canavieiro, vem se valendo da busca e

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177

exploração de força de trabalho migrante para alcançar seus altos índices de lucratividade.

Nesse sentido, o processo de pesquisa e entrevistas com os trabalhadores

migrantes têm nos permitido compreender a essência do processo de mobilidade territorial

do trabalho para o circuito do agrohidronegócio canavieiro no EDR de Araçatuba-SP. De

modo geral, os principais municípios mobilizados e que compõem os principais fluxos

fornecedores de força de trabalho migrante para o agrohidronegócio canavieiro no EDR de

Araçatuba-SP são: Codó-MA, Coroatá-MA, Gonçalves Dias- MA, Jundiá-AL e Maceió-AL.

O sistema do capital, ao gerar trabalhadores separados de seu meio de existência,

cria a necessidade de deslocamentos em busca do trabalho. A disponibilidade de tais

trabalhadores, como reserva de mercado, nos mais diversos pontos do território, torna-se,

por sua vez, condição necessária para a própria existência da acumulação do capital. Para

Gaudemar (1977, p. 172), “toda estratégia capitalista de mobilidade é igualmente estratégia

de mobilidade forçada”. Assim, a migração de trabalhadores nordestinos para o corte de

cana-de-açúcar no agrohidronegócio canavieiro do EDR de Araçatuba-SP, revela ser um

processo de mobilidade territorial do trabalho forçada, pela necessidade que o homem

desprovido dos meios de produção, tem de vender para o capital sua força de trabalho. Ou,

como nos indica Vainer (1984), o que aparece como livre deslocamento de homens livres no

espaço, não é senão a dimensão espacial da subordinação do trabalho ao capital. Dessa

maneira, o deslocamento territorial em questão, não tem nada a ver com liberdade espacial,

ou melhor, tem a ver com sua perda.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sem nenhum rodeio, podemos afirmar, que a liberdade espacial de fato, não se

expressa no processo de mobilidade territorial do trabalho para o agrohidronegócio

canavieiro, o poder de definição e decisão, para quais escalas migrar, quais conteúdos

espaciais construir, não estão centrados nos sujeitos do trabalho, e sim, na estratégia do

capital de ativar seu ciclo reprodutivo, no qual, predominam interações espaciais ancoradas

na exploração do trabalho fonte de toda riqueza existente. Decifrando o discurso dos

trabalhadores migrantes, é possível notar, que na verdade é o sistema do capital em sua

ação irracional e sistêmica que impele e, portanto, forçar os sujeitos do trabalho a

mobilidade territorial forçada.

Nestes termos, o ato de partir, não significa liberdade espacial, no sentido, de que a

partida é condicionada e direcionada para lugares de extração de trabalho não pago e

reprodução ampliada do capital. Ora, a natureza fundamental da liberdade espacial, não

está presente no ato de decidir entre a ou b como opções predefinidas e selecionadas por

outrem, mas sim em poder construir o conteúdo e sentido das escolhas. Logo, a mobilidade

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territorial do trabalho representa o controle do capital sobre a força de trabalho. Portanto, é

possível dizer, que ao invés de uma decisão livre, o direito de migrar se converte em

obrigação compulsória pela sobrevivência: “ir e vir”, longe de ser um ato de liberdade acaba

sendo a revelação do desespero, de quem se vê pressionado pela necessidade de

sobreviver.

REFERÊNCIAS

GAUDEMAR, J. P. de. Mobilidade do trabalho e acumulação do capital. Tradução: Maria do Rosário Quintela. Lisboa: Editorial Estampa, 1977.

OLIVEIRA, A. M. S. de. Reordenamento territorial e produtivo do agronegócio canavieiro no

Brasil e os desdobramentos para o trabalho. Tese de Doutorado- UNESP, Presidente Prudente,

2009.

SMITH, N. Desenvolvimento Desigual. Natureza, Capital e a Produção do Espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.

THOMAZ JÚNIOR, A. Dinâmica Geográfica do Trabalho no Século XXI (limites explicativos, autocrítica e desafios teóricos) (Tese de Livre Docência- UNESP) Presidente Prudente, 2009.

____________. Trabalho e Saúde no Ambiente Destrutivo do Agrohidronegócio Canavieiro no Pontal do Paranapanema (SP) - BRASIL. Presidente Prudente, Revista Pegada, V.14, N°2, 2014, pp. 01-15.

VAINER, C. B. Trabalho, Espaço e Estado: questionando a questão migratória. Rio de Janeiro: IPPUR/UFRJ, mimeo, 1984.

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O OBSERVATÓRIO NEGRO – PRESIDENTE PRUDENTE – SP: PRIMEIROS RESULTADOS.

Vanessa Ap. de Oliveira.

E-mail: [email protected].

Graduanda 1º. ano em Geografia.

Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente – SP.

Bolsista PROEX.

INTRODUÇÃO

Este trabalho se apresenta como resultado parcial do projeto de extensão

acadêmica, intitulado “O Observatório Negro – Presidente Prudente – SP”, cujo objetivo é

produzir um banco de dados sobre os diversos problemas que envolvem a população

negra local. Neste primeiro ano do projeto, o foco está sendo dado aos crimes violentos

envolvendo jovens negros, violência contra a mulher e crimes de injúria racial.

Nos últimos vinte anos, as discussões sobre racismo, discriminação e

preconceito adquiriram significativos espaços de visibilidade, tornando necessária a

tomada de ações afirmativas como, as cotas raciais. Tais ações não só romperam

publicamente com o falso discurso da “Democracia Racial” no Brasil, como também

forçaram o estabelecimento de medidas proativas para o combate e a erradicação do

racismo.

A Lei 10.639/03 é um exemplo de lei afirmativa, que tornou obrigatório o ensino

de África e história da cultura afro-brasileira na educação básica e nos cursos superiores

para a formação de professores. A partir da reflexão supracitada, foi observada a

carência de estudos relacionados a questões étnicos raciais em Presidente Prudente –

SP. Neste sentido, faz-se necessário a abordagem de temas como, Genocídio da

População Negra, crime de racismo, violência contra a mulher negra e crimes de injuria

racial, de modo a inserir experiências da comunidade às analises de cunho acadêmico.

Considerando os temas citados anteriormente, o Observatório Negro –

Presidente Prudente – SP tem o objetivo de servir de respaldo para os estudos que

tenham no cerne dos seus diagnósticos as problemáticas étnicos raciais, já discutidos e

promover a reflexão sobre o papel do Negro na sociedade brasileira e local, como um

processo para enfrentar/combater as desigualdades raciais.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Adotamos como fonte primária para o desenvolvimento da pesquisada, o

levantamento de dados junto à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo

e as delegacias de polícia, considerando boletins de ocorrência, para verificar a

incidência de crimes de injuria racial, violência contra a mulher negra e crimes violentos

que envolvem adolescentes e jovens negros. Esses dados estão sendo sistematizados

em planilhas eletrônicas no Office Excel 2010.

Outro procedimento adotado foi a criação de uma página pública em rede social

(Facebook) com a finalidade de ser uma fonte alternativa, para o fomento do banco de

dados, tendo em vista que muitos crimes de racismo e injúria racial podem não ser

efetivamente denunciados e, portanto, ficam fora das estatísticas oficiais. Outra fonte

secundária de recolhimento de dados são os noticiários da região em formato físico e

virtual.

A partir destas fontes, a intenção é produzir um banco de dados público, que

possa servir de fonte de informação para futuras pesquisas no campo da igualdade racial,

com foco na realidade local.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A apresentação parcial dos resultados se dá sob a proposta de sistematização

dos dados em planilhas eletrônicas, visando facilitar a forma de leitura, bem como tornar

dinâmica a apreensão dos dados, dando possibilidade ao usuário do Observatório Negro

– Presidente Prudente – SP, de filtragem e nivelamento dos temas, segundo seus

objetivos de pesquisa.

Portanto, foi feito o tratamento dos dados que até então eram um amontado de

informações desordenadas, como demonstra a figura 01.

Figura 01: Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de SP, desordenados.

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Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, 2016.

Org.: Vanessa Ap. Oliveira, 2016.

Após a definição de critérios, entendeu-se que é necessária a delimitação de

eixos temáticos, de modo a organizar os dados, visto que nem todos contribuem para o

proposito do projeto. Sendo assim, os dados foram sistematizados, como mostra a figura

02.

Figura 02: Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de SP, sistematizados.

Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, 2016.

Org.: Vanessa Ap. Oliveira, 2016.

Os resultados apresentados nas figuras 01 e 02 demostram uma primeira fase

elementar de coleta e tratamento dos dados. Entretanto, pretende-se ainda tornar a

organização destes mais aprimorada, com intuito de alcançar o objetivo proposto da

dinâmica e facilidade de leitura por parte do usuário do Observatório Negro – Presidente

Prudente – SP. Também pretendemos aprimorar o tratamento estatístico das

informações, para apresentar de forma organizada sínteses como: as áreas de maior

ocorrência, horários, períodos do ano e dias da semana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho aqui apresentado, bem como os seus resultados parciais têm como

objetivo prestar contribuições para futuros estudos e servir de base para pesquisadores,

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principalmente aqueles atrelados a movimentos sociais, coletivos negros, como por

exemplo, o Coletivo Mãos Negras, da Faculdade de Ciência e Tecnologia – FCT/ UNESP.

Ademais, o Observatório Negro – Presidente Prudente – SP irá contribuir de

modo significativo, dando bases às discussões e reflexões relacionadas aos temas que

envolvem a população negra, a fim de explorar essas questões que possuem pouca ou

nenhuma visibilidade no âmbito acadêmico, mesmo que na concepção cientificista estas

problemáticas são postas de modo à oculta-las dentro dos espaços públicos em que há

representatividade da população negra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº

9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação

nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática

“História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências.

GOMES, F. B.; SILVA, J. M.; GARABELI, A. A.. A relação entre as espacialidades de jovens

do sexo masculino e a morte por homicídio na cidade de Ponta Grossa – Paraná. Caderno

Prudentino de Geografia, Presidente Prudente, n. 35, vol. Especial, p. 154-174, 2013.

SÃO PAULO, Secretaria de Segurança pública. Estatística de criminalidade: manual de

interpretação de crimes. São Paulo, 1º. de fevereiro de 2005. Disponível em

<http://www.ssp.sp.gov.br/media/documents/manual_interpretacao.pdf>, acessado em abril

de 2016.

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VIGILÂNCIA EM SAÚDE: UMA PROPOSTA DE PLANO DE AÇÃO PARA A POPULAÇÃO

QUE FREQUENTA A UNESP, CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE-SP

Bruna Dienifer Souza SAMPAIO

E-mail: [email protected]

Mestranda no Programa de Pós Graduação em Geografia (PPGG)

Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT/UNESP

Campus de Presidente Prudente - SP

Edson Sabatini RIBEIRO

E-mail: [email protected]

Graduado em Geografia e especialista em psicopedagogia

Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT/UNESP

Campus de Presidente Prudente - SP

INTRODUÇÃO

A Vigilância em saúde remete ao ato de eliminar as condições propícias ao

surgimento de criadouros de vetores que possam transmitir alguma doença. Historicamente,

a vigilância é relacionada aos conceitos de saúde, prevenção e doenças presentes em cada

época e lugar, bem como, às práticas de atenção aos doentes e aos mecanismos

empregados para tentar impedir a disseminação das doenças. No século XIX, apareceram

novas medidas de controle das doenças infecciosas, destacando-se a vacinação e a

organização de serviços e ações em saúde coletiva como uma nova prática eficaz no

controle das doenças (FIOCRUZ, 2016).

Aliado à conceituação de vigilância em saúde, houve um aperfeiçoamento a fim de

melhorar as medidas de controle sanitário. Entretanto, na década de 60 e 70 do século XX,

com a campanha de erradicação da varíola o conceito foi disseminado pelo mundo. Em

1976, no Brasil, foi criada a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. Em 1990, discutia-se

a criação do Projeto de Estruturação do Sistema Nacional de Vigilância em

Saúde (VIGISUS) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).

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Existem inúmeras análises na esfera conceitual das ações de vigilância

(epidemiológica, sanitária e ambiental). Segundo Paim e Almeida Filho (2000), a vigilância

em saúde tem a característica de intervir sobre os problemas de saúde que requer

acompanhamento contínuo, além de articular as ações promocionais, preventivas, curativas

e reabilitadoras, operando sobre o território. Assim, a vigilância em saúde é compreendida

como rearticulação de saberes e de práticas sanitárias, propiciando a consolidação do

ideário e princípios do Sistema Único de Saúde – SUS.

O Sistema Único de Saúde (SUS) proporciona atendimento às pessoas que

necessitam de serviços médicos, sem que haja a necessidade de despenderem recursos no

momento da intervenção médica, já que é custeado por uma parcela dos impostos

recolhidos pela União. Ele tem se revelado um importante instrumento de políticas públicas

na detecção de riscos à saúde da população, notadamente no caso da epidemia de dengue

que se instalou recentemente no Brasil.

Atualmente, a dengue já afetou mais de 1,5 milhões de pessoas no país, além de

outras doenças. Segundo os especialistas, o vetor da dengue se tornou um eficiente

transmissor de doenças porque se adaptou muito bem às condições urbanas, de maneira a

disseminar as doenças, ou seja, houve a evolução do vírus e do mosquito.

Dessa maneira, o mosquito constitui-se como um problema de saúde pública,

principalmente em países tropicais onde a temperatura e a precipitação favorecem o

surgimento dos criadouros, além dos maus hábitos da população que facilitam a existência

de locais onde o principal vetor da doença – Aedes Aegypti se reproduz, proliferando a

doença pelo território.

Mediante a gravidade do assunto e os vários casos de microcefalia e outras

doenças que o mosquito vetor pode transmitir, surge a necessidade de um estudo de caso

sobre o mosquito no ambiente acadêmico, neste caso a Universidade Estadual Júlio de

Mesquita Filho, campus de Presidente Prudente. Na área, se faz necessária uma vigilância

constante devido a sua localização, entre bairros residenciais, e por ser polo de atração de

diversas pessoas da região, frequentada por alunos, funcionários e professores. Assim, o

objetivo deste trabalho foi conhecer os locais com focos do mosquito na área da UNESP e

propor um plano de ação para a prevenção e controle do vetor, com a participação efetiva

da população que frequenta o local.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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Inicialmente, realizou-se uma revisão bibliográfica sobre o tema, principalmente sobre

a educação efetiva em saúde, vigilância em saúde e educação ambiental. Em 19 de janeiro

de 2016 foi realizado um trabalho de campo na área da Unesp acompanhado pelos técnicos

da Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN), no qual se vasculhou pontos

estratégicos de criadouros do vetor da dengue pelo campus. Foram encontrados vários

pontos com larvas do mosquito, e aplicado o veneno adequado pelos técnicos. Após essa

pesquisa, gerou-se o relatório e a criação de um plano de ação para a população que

frequenta o local.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerou-se como população flutuante o número de pessoas que estudam ou

trabalham em determinada cidade ou ambiente, mas possuem residência fixa em outra. Elas

eventualmente utilizam os equipamentos instalados no campus, como o museu,

laboratórios, salas de aulas, auditórios e locais para alimentação. Sua permanência não é

longa, como é o caso dos alunos50 dos vários cursos.

Observou-se que as pessoas que frequentam o local para realização de concursos,

descartam os resíduos sólidos de maneira inadequada, isso pode proliferar o vetor da

doença na área (Figura 1).

Figura 1: Resíduos sólidos dispostos inadequadamente pela população flutuante.

Fonte: Trabalho de campo, 2016.

As pessoas podem estar contaminadas e serem picadas por mosquitos existentes no

campus, iniciando assim, um processo de disseminação da doença. Também pode ocorrer o

contrário, ou seja, são picadas e viajarão de volta para outras regiões (Estados) levando as

50

Muitos alunos residem no município de Presidente Prudente, pois são de outros Estados ou de outros países.

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doenças. O problema da doença é grave e a população que frequenta a UNESP, deverá ser

esclarecida sobre o alto poder de sua disseminação. A UNESP possui um histórico de

multas aplicadas pela Vigilância Epidemiológica, e é considerada área de prioridade dos

trabalhos dos técnicos contra o vetor da dengue, sendo efetuados monitoramentos

mensalmente.

Segundo Freire (2007) é preciso unir a teoria e a prática, onde os sujeitos são autores

da história e não reféns. Para ele, os trabalhadores de saúde deveriam ser desafiados a

atrair os usuários em suas ações e serviços na luta pelo direito à saúde. Freire (2007)

preconiza a necessidade de se esquecer a falsa sabedoria e reaprender de novo. Para ele,

é preciso cessar a concepção bancária da educação, pois ela educa para a passividade,

sendo oposta à educação que pretenda educar para a autonomia.

Essa educação bancária se compõe de recortes da realidade de forma estática, sem

levar em conta a experiência do educando, assim faz-se necessário participar das decisões

da sociedade, por exemplo, precisa-se do comprometimento das pessoas com a causa da

Dengue, para juntas acabar com o vetor. Observe no quadro 1, a proposta do plano de ação

para a população que frequenta a área crítica, de forma a participar efetivamente na

prevenção.

Quadro 1: Plano de ação para a população flutuante.

1. Treinamento para os

monitores de turmas (alunos

dos cursos regulares da

UNESP)

2. Aplicação para os visitantes

(alunos das escolas):

3.Aplicação para os

concurseiros e vestibulandos

Aplicar para os monitores dos

grupos de visitantes (alunos das

escolas que visitam o museu,

laboratórios e outras áreas) um

treinamento para conscientizá-los

da importância de controlar os

focos de larvas do Aedes

Aegypti; Apresentar o vídeo da

FIOCRUZ, sobre o ciclo

reprodutivo do mosquito; Mostrar

fotos sobre os vários lugares

possíveis para a reprodução do

mosquito; Apresentar as ações

individuais que devem ser

praticadas por todos; Fazer um

trabalho de campo em alguns

locais marcados no mapa, pelos

técnicos da Vigilância

Epidemiológica, com a finalidade

de conhecer in loco as

possibilidades de reprodução do

mosquito; Criar um espaço de

Palestra sobre o mosquito, como

se reproduz, como se infecta e

como as doenças (Dengue,

Dengue hemorrágica, Zika,

Chikungunya) são transmitidas

por meio desse vetor; Apresentar

o vídeo para os visitantes;

Estimular uma discussão com o

grupo sobre o que entenderam;

Levar o grupo a campo para

mostrar as fontes de procriação,

sempre provocando a turma para

discutirem sobre cuidados a

serem tomados.

Orientar os fiscais de provas,

para alertar aos concurseiros que

não é para dispensar/ jogar

garrafas plásticas de água em

local inadequado, embalagens de

balas, barras de cereais e outros

alimentos pelo campus e sim nas

lixeiras. Afixar cartazes de

informação na entrada das salas

de provas sobre o mosquito,

como ele se reproduz, como se

infecta e como transmite as

doenças por meio desse vetor

(Dengue, Dengue hemorrágica,

Zika, Chikungunya); Alertá-los de

que mesmo por poucas horas no

campus devem colaborar para

não promoverem criadouros para

o mosquito, e que estão sujeitos

a serem infectados da mesma

maneira de quem frequenta

diariamente o local, por isso é

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discussão entre os monitores

para novas propostas.

importante serem

conscientizados a não promover

a proliferação do vetor.

Org.: Sampaio e Ribeiro; 2016.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A “promoção da saúde” é um aspecto fundamental da vigilância em saúde (vigilância,

promoção, prevenção e controle de doenças). É o cuidado integral à saúde das pessoas por

meio de estratégias de articulação, conforme as diferentes necessidades dos territórios. Visa

criar mecanismos que “[...] reduzam as situações de vulnerabilidade, defendam a equidade

e incorporem a participação e o controle social na gestão das políticas públicas”

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008, p. 9).

É fato que o Poder Público não tem condições de, sozinho, desenvolver as ações

necessárias ao controle dos vetores dessas doenças. Sem uma efetiva participação da

população, os casos tendem a se multiplicarem exponencialmente, elevando assim, o risco

de surgirem epidemias que causarão sérios transtornos à população e elevados gastos

públicos.

Por sua vez, é necessário que o setor de saúde pública receba verbas suficientes

destinadas à pesquisa para encontrar vacinas e outras formas preventivas, o que redundará

em economia para os cofres públicos e melhoria na saúde coletiva. Isso implica também em

campanhas que alertem as pessoas sobre os riscos e as maneiras de ajudarem na tarefa de

diminuição dos riscos.

No entanto, o uso de verbas públicas para essa finalidade deve ser muito bem

planejado, porque as atuais campanhas não estão dando resultados, ou seja, os casos têm

aumentado muito e os recursos financeiros estão sendo desperdiçados. A seriedade no trato

da coisa pública não pode atender a determinados interesses econômicos, mas sim, aos

interesses coletivos que, afinal, é de onde provem grande parte dos recursos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção

Básica. Vigilância em Saúde: Dengue, Esquistossomose, Hanseníase, Malária, Tracoma e

Tuberculose / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção a Saúde, Departamento de

Atenção Básica . - 2. ed. rev. - Brasília: Ministério da Saúde, 2008.

MINISTERIO DA SAÚDE. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento

de Apoio à Gestão Participativa. Caderno de educação popular e saúde / Ministério da

Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão

Participativa. - Brasília: Ministério da Saúde, 2007.

OLIVEIRA, JOÃO CARLOS DE. Manejo integrado para controle do Aedes e prevenção

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OLIVEIRA. Universidade Federal de Uberlândia: Uberlândia (MG), 2006.

PAIM, J. S. & ALMEIDA FILHO, N. de. A Crise da Saúde Pública e a Utopia da Saúde

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SUPERINTENDÊNCIA DE CONTROLE DE ENDEMIAS - SUCEN. Governo do Estado de São Paulo: Secretaria da Saúde. Disponível em http://www.saude.sp.gov.br/sucen- superintendencia-de-controle-de-endemias/>. Acesso em 20 jan 2016.