terminalidade da vida - cfm

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ANO XXV • Nº 184 • MAIO/2010 Recadastramento Novo prazo vence em 11 de novembro Pág. 10 No Acre, conselhos lutam contra TACs Pág. 11 Integração Fórum discute a carreira de Estado para o médico. Pág. 3 Jovem médico Recém-formados estão entre prioridades do CFM Pág. 9 Terminalidade da vida Cuidados paliativos trazem conforto e segurança Familiares, especialistas e médicos relatam o impacto positivo dessa opção terapêutica na rotina das unidades de saúde. Págs. 6 e 7

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Page 1: Terminalidade da vida - CFM

ANO XXV • Nº 184 • MAIO/2010

Recadastramento

Novo prazo vence em 11 de novembro

Pág. 10

No Acre, conselhos lutam contra TACs

Pág. 11

Integração

Fórum discute a carreira de Estado para o médico. Pág. 3

Jovem médico

Recém-formados estão entre prioridades do CFM

Pág. 9

Terminalidade da vida Cuidados paliativos trazem

conforto e segurançaFamiliares, especialistas e médicos relatam o impacto positivo dessa opção terapêutica na

rotina das unidades de saúde. Págs. 6 e 7

Page 2: Terminalidade da vida - CFM

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MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009

EDITORIAL

MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009

Conselheiros titulares

Abdon José Murad Neto (Maranhão), Aloísio Tibiriçá Miranda (Rio de Janeiro), Antônio Gonçalves Pinheiro (Pará), Cacilda Pedrosa de Oliveira (Goiás), Carlos Vital Tavares Corrêa Lima (Pernambuco), Celso Murad (Espírito Santo), Cláudio Balduíno Souto Franzen (Rio Grande do Sul), Dalvélio de Paiva Madruga (Paraíba), Desiré Carlos Callegari (São Paulo), Edevard José de Araújo (AMB), Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti (Alagoas), Frederico Henrique de Melo (Tocantins), Gerson Zafalon Martins (Paraná), Henrique Batista e Silva (Sergipe), Hermann Alexandre Vivacqua Von Tiesenhausen (Minas Gerais), Jecé Freitas Brandão (Bahia), José Albertino Souza (Ceará), José Antonio Ribeiro Filho (Distrito Federal), José Fernando Maia Vinagre (Mato Grosso), José Hiran da Silva Gallo (Rondônia), Júlio Rufino Torres (Amazonas), Luiz Nódgi Nogueira Filho (Piauí), Maria das Graças Creão Salgado (Amapá), Mauro Luiz de Britto Ribeiro (Mato Grosso do Sul), Paulo Ernesto Coelho de Oliveira (Roraima), Renato Moreira Fonseca (Acre), Roberto Luiz d’ Avila (Santa Catarina), Rubens dos Santos Silva (Rio Grande do Norte)

Ademar Carlos Augusto (Amazonas), Aldemir Humberto Soares (AMB), Alberto Carvalho de Almeida (Mato Grosso), Alceu José Peixoto Pimentel (Alagoas), Aldair Novato Silva (Goiás), Alexandre de Menezes Rodrigues (Minas Gerais), Ana Maria Vieira Rizzo (Mato Grosso do Sul), André Longo Araújo de Melo (Pernambuco), Antônio Celso Koehler Ayub (Rio Grande do Sul), Antônio de Pádua Silva Sousa (Maranhão), Ceuci de Lima Xavier Nunes (Bahia), Dílson Ferreira da Silva (Amapá), Elias Fernando Miziara (Distrito Federal), Glória Tereza Lima Barreto Lopes (Sergipe), Jailson Luiz Tótola (Espírito Santo), Jeancarlo Fernandes Cavalcante (Rio Grande do Norte), Lisete Rosa e Silva Benzoni (Paraná), Lúcio Flávio Gonzaga Silva (Ceará), Luiz Carlos Beyruth Borges (Acre), Makhoul Moussallem (Rio de Janeiro), Manuel Lopes Lamego (Rondônia), Marta Rinaldi Muller (Santa Catarina), Mauro Shosuka Asato (Roraima), Norberto José da Silva Neto (Paraíba), Pedro Eduardo Nader Ferreira (Tocantins), Renato Françoso Filho (São Paulo), Waldir Araújo Cardoso (Pará), Wilton Mendes da Silva (Piauí)

Conselheiros suplentes

Mudanças de en de re ço de vem ser co mu ni cadas di re ta men te ao CFM

Os ar ti gos as si na dos são de in tei ra res pon sa bi li da de dos au to res, não re pre sen­tan do, ne ces sa ria men te, a opi nião do CFM

Os artigos enviados ao conselho editorial para avaliação devem ter,

em média, 4.100 caracteres

Diretoria

Presidente:1º vice-presidente:2º vice-presidente:3º vice-presidente:

Secretário-geral:1º secretário:2º secretário:

Tesoureiro:2º tesoureiro:

Corregedor:Vice-corregedor:

Roberto Luiz d’ AvilaCarlos Vital Tavares Corrêa LimaAloísio Tibiriçá MirandaEmmanuel Fortes Silveira CavalcantiHenrique Batista e SilvaDesiré Carlos CallegariGerson Zafalon Martins José Hiran da Silva GalloFrederico Henrique de MeloJosé Fernando Maia VinagreJosé Albertino Souza

Diretor-executivo:Editor:

Editora-adjunta:Redação:

Copidesque e revisor:Secretária:

Apoio:Fotos:

Impressão:

Projeto gráficoe diagramação:

Tiragem desta edição:Jornalista responsável:

Desiré Carlos CallegariPaulo Henrique de Souza Vevila JunqueiraAna Isabel de Aquino Corrêa,Thiago de Sousa Brandão, Nathália Siqueira (colaboradora)Napoleão Marcos de AquinoRônia Rodrigues FernandesAmilton ItacarambyMárcio Arruda - MTb 530/04/58/DFGráfica e Editora Posigraf S.A.

Grupo 108 de Comunicação(Jailson Belfort)

335.000 exemplaresPaulo Henrique de SouzaRP GO-0008609

Publicação oficial doConselho Federal de Medicina

SGAS 915, Lote 72, Brasília­DF, CEP 70 390­150Telefone: (61) 3445 5900 • Fax: (61) 3346 0231

http://www.portalmedico.org.br • e- mail: jor [email protected]

Abdon José Murad Neto, Aloísio Tibiriçá Miranda, Cacilda Pedrosa de Oliveira, Desiré Carlos Callegari, Henrique Batista e Silva, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, Paulo Ernesto Coelho de Oliveira, Roberto Luiz d’ Avila

Conselho editorial

Atentos às conquistas e reivindicações

Recadastramento

Novo prazo vence em 11 de novembro

Pág. 10

No Acre, conselhos lutam contra TACs

Pág. 11

Integração

Fórum discute a carreira de Estado para o médico. Pág. 3

Jovem médico

Recém-formados estão entre prioridades do CFM

Pág. 9

Terminalidade da vida Cuidados paliativos trazem

conforto e segurançaFamiliares, especialistas e médicos relatam o impacto positivo dessa opção terapêutica na

rotina das unidades de saúde. Págs. 6 e 7

Desiré Carlos CallegariDiretor executivo do jornal Medicina

A atenção dos médi-cos brasileiros direciona-se para o fim de julho, quan-do, em Brasília, represen-tantes de todos os estados participarão do XII Encon-tro Nacional das Entidades Médicas (Enem), evento que assume relevância no atual momento do país. Com um acréscimo valio-so: suas conclusões com-porão documento a ser entregue aos candidatos às próximas eleições presiden-ciais. Assim procedendo, os médicos alavancam o debate sobre o futuro da medicina brasileira e con-tribuem, efetivamente, com propostas para o fortale-cimento do Sistema Único de Saúde (SUS).

Temos percebido com entusiasmo o crescente interesse manifestado en-tre os profissionais quan-to à relevância da ação política articulada pela categoria. Nesta edição do jornal Medicina contri-buímos com o processo ao qualificarmos ainda mais o debate que desaguará no XII Enem. Procuramos ouvir novas vozes e mos-trar como outros setores da sociedade avaliam a proposta de tema que tem status prioritário na agen-da do Conselho Federal de Medicina (CFM).

Das áreas da pesquisa e do Judiciário vieram visões que validam a ideia de cria-ção da carreira de Estado para o médico, a qual, se implementada, aliviará a

pressão reinante no campo assistencial. Os comentá-rios favoráveis a respeito do tema – que admitimos ser portador de polêmica natural – mostram que, nesta luta, os médicos não estão sós.

Nas outras páginas não tratamos apenas de reivindicações que afetam o trabalho nos consultórios e hospitais. Dedicamos im-portante espaço também às conquistas implementadas a partir do novo Código de Ética Médica, em vigor desde 13 de abril. Um dos tópicos que elevam o novo escopo à posição de van-guarda – o uso dos cuida-dos paliativos – é mostrado a partir das experiências de médicos, familiares e pa-cientes de hospitais que em-pregam essa abordagem.

Os depoimentos tradu-zem o sentimento de segu-rança que, agora, grassa entre os médicos. O tema sensível – bem enquadrado pelo atual normativo ético – confirma o posiciona-mento moderno e oportu-no adotado pela medicina brasileira ante a defesa da dignidade humana. O médico ganha, portanto, suporte para cumprir seu papel de “agente liberta-dor”, como relatou um de nossos entrevistados, sem a pressão de contrapor-se à doença, imposta pela for-mação tradicional.

Apesar dos avanços al-cançados, contudo, é bom lembrar que o Código não

encerra definitivamente essa polêmica. No Congresso Nacional, tramitam projetos de lei que tratam dos direitos da pessoa em fase terminal de doença, a exemplo do que ocorreu no Estado de São Paulo, que aprovou em 1999 a Lei 10.241, que trata do assunto.

Esta lei, promulgada pelo então governador Mario Covas, dispõe sobre os direitos dos usuários dos serviços de saúde. Entre eles, consta o de consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequada informação, procedimentos diagnósti-cos ou terapêuticos a serem realizados. E até optar pelo local de morte.

Como habitualmente tem feito no terreno políti-co, o CFM monitorará a evolução das propostas no Congresso para aperfeiçoá-las e defendê-las. Como neste e em outros temas, a entidade se mantém aten-ta às conquistas e reivin-dicações que configuram o universo do movimento médico e apontam para o caminho da valorização do profissional e da medicina.

“Das áreas da pesquisa e do Judiciário vieram visões que validam a ideia de criação da carreira de Estado para o médico

Informamos a criação da rede social batizada por Campanha Nacional pela Valorização Médica. O movimento está hospedado no site http://doutor.ning.com/. Pretendemos, a partir dessa iniciativa, reunir o maior número de profissionais da área médica para propor reivindicações e elaborar ações necessárias. Convido os interessados a visitarem o site, partilhando suas opiniões e reflexões e con-vidando outros colegas a comporem a comu-nidade. Ansiamos pelo apoio das sociedades representativas de classe.

Leandro Nunes Azevedo CRM-ES 7898

[email protected]

Cumprimentamos o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, pelo artigo publicado no jornal O Globo, em 23/4/2010, sob o título: “Falta ação política na saúde”. Nele, são expostos de forma didática alguns dos problemas básicos da saúde no país. A ação política para enfrentá-los só terá lugar com o envolvimento nesta luta não apenas das lideranças tradicionais, mas de parcela significativa dos médicos brasileiros, que têm permanecido à margem das questões organizacionais da profissão.

Marcio Meirelles CRM-RJ 105.851

[email protected]

Com relação à reportagem “Programa Saú-de da Família – Defendida coordenação mé-dica” (edição 182), acrescentamos que, na nossa visão, essa responsabilidade deve ser dos médicos também nas unidades básicas de saúde, nos prontos-socorros e nas clínicas de atendimento especializado – porque esse profissional sempre é o responsável técnico, sendo, então, por obrigatoriedade, o coorde-nador. Um exemplo disso acontece nas For-ças Armadas brasileiras.

Douglas Alberto Ferraz de Campos FilhoCRM-SP 54.545

[email protected]

Cartas* Comentários podem ser enviados para [email protected]

* Por questão de espaço, as mensagens poderão ser editadas sem prejuízo de seu conteúdo

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MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Jan./2010

ÉTICA MÉDICA

JORNAL MEDICINA - MAI/2010

3PLENÁRIO E COMISSÕES

JORNAL MEDICINA - MAI/2010

Entidades discutem modeloEm fórum organizado pelo CFM, em Brasília, será ampliado o debate que ajudará a definir detalhes da proposta

Carreira de Estado do médico

Falta de estrutura: proposta quer garantir ao médico condições de exercer a profissão em áreas distantes ou de difícil provimento

A criação de uma car-reira de Estado para

o médico se tornou uma bandeira prioritária para o Conselho Federal de Me-dicina (CFM) e as outras entidades médicas nacio-nais – Associação Mé-dica Brasileira (AMB) e Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Para avançar solidamente no debate que deverá levar

à implementação da pro-posta, acontece, em 8 de junho, um encontro com representantes de vários setores da sociedade.

Nomes importantes do Judiciário, do Ministério Público, da Câmara e do Senado já confirmaram presença no I Fórum sobre Carreira de Estado para Médicos.

Das discussões, podem

sio Tibiriçá Miranda, com essa proposta fica asse-gurada a infraestrutura de trabalho (instalações e equipamentos) e uma rede integrada, capaz de absorver os casos de maior gravidade.

O presidente do CFM, Roberto d’Avila, defende a ideia, sem a qual vê o com-prometimento dos avanços assistenciais e de qualidade de vida surgidos na esteira do SUS. “Sem essas ga-

rantias mínimas, o médico sempre terá dificuldades de criar raízes, exercer com tranquilidade sua profissão e, assim, contribuir para o desenvolvimento humano de uma comunidade. O que assistimos é um fluxo irregular. Mesmo aqueles que assumem o desafio de ir para o interior muitas vezes desistem mal dados os primeiros passos. Jun-tos, precisamos mudar essa realidade”.

Especialistas dão apoio à ideiaPara representantes de

outros setores da sociedade, a carreira de Estado para o médico não é sonho, mas um instrumento para que direitos legais sejam cumpridos em sua plenitude. Exemplo lapi-dar é dado pelo ministro apo-sentado do Superior Tribunal de Justiça (STJ), José Au-gusto Delgado. Segundo ele, a Constituição garante a saúde como um direito de todos e dever do Estado, sendo que o médico é parte indispensável neste processo.

“O médico é o responsá-vel pela guarda da saúde. A categoria tem que ser levada ao mesmo nível das carreiras de Estado”, defende Delgado, para quem devem ser garanti-

das carreiras específicas para as atividades essenciais ao funcionamento do Estado. Mas ele alerta para a impor-tância da mobilização coorde-nada pelas entidades médicas como forma de ver atendido este pleito. “O Estado res-peita o profissional do Direito porque precisa dele em sua estrutura. O médico virou problema da sociedade”.

O apoio não vem apenas do meio jurídico. O pesquisa-dor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Roberto Passos, lembra que o Programa Saúde da Fa-mília (PSF) incentiva a inte-riorização da medicina, mas não supre as necessidades do profissional. “Além do finan-

ceiro, faz-se necessário um mecanismo de fixação por meio de uma progressão de carreira”, ressalta.

O pesquisador enaltece que a ideia da carreira con-solida-se gradativamente. E ressalta que no PSF os médi-cos recebem altos salários, até mesmo maiores que os dos prefeitos da cidade, entretan-to “não dá nenhuma garantia de continuidade”, e completa: “como qualquer outro indiví-duo, o médico está onde exis-tem melhores possibilidades econômicas e sociais. Esta car-reira tem que ser muito bem pensada, para não só priorizar o financeiro. É necessário um incentivo de progressão, assim como o do juiz”.

POLíTICA E SAúDE 3

A proposta de criação da carreira de Estado para o médico corre em duas fren-tes. No Congresso deu en-trada por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 454/09, apresenta-da pelos deputados Eleuses Paiva (DEM-SP) e Ronal-do Caiado (DEM-GO). A PEC contou com o apoio de 179 parlamentares para iniciar sua tramitação. Até o fim de maio, encontrava-se na Comissão de Cons-tituição e Justiça da Câ-mara e tem como relator o deputado Colbert Martins (PMDB-BA).

O projeto estabelece normas para a carreira de médico de Estado. A ativi-dade só poderia ser exerci-da por ocupantes de cargos efetivos, contratados por concurso público. Também estão entre as diretrizes da PEC, entre outros pon-tos, a ascensão funcional basea-da, alternadamente, em critérios de merecimen-to e antiguidade; o exercí-

cio do cargo em regime de dedicação exclusiva, com autorização para ocupar outro cargo ou função ape-nas no magistério; a proibi-ção de receber honorários ou qualquer outro tipo de remuneração de pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.

As discussões também chegaram ao Ministério da Saúde. Em audiência no dia 17 de março, o ministro José Gomes Temporão se comprometeu com as en-tidades médicas em incluí-las em grupo de trabalho previsto para ser criado em maio, no âmbito do gover-no, especialmente para cui-dar da proposta da carreira médica no Sistema Único de Saúde (SUS). A reunião integrou uma estratégia de apresentar a pauta dos médicos aos gestores, bus-cando garantir melhoras efetivas nas condições de trabalho e de assistência oferecidas.

Proposta está no Congresso e no Ministério da Saúde

sair sugestões que ajuda-rão a delinear de forma mais clara aspectos im-portantes para a proposta, como a forma de acesso, os critérios de seleção, as modalidades de progres-são, entre outros.

No entanto, um con-senso já existe: a criação da carreira de Estado para o médico dá golpe único em dois problemas graves que afligem o funciona-mento do Sistema Único de Saúde (SUS). Primei-ramente, contribui para a oferta de uma assistência de qualidade à população ao assegurar a presença do médico em áreas de difícil provimento, vincu-lado a uma estrutura que permite o exercício da boa medicina.

Secundariamente, além de ampliar e qualificar a atenção, especialmente a realizada nos postos de saúde, a carreira ajuda no processo de valorização do trabalho médico – por-que assegura remunera-ção digna e benefícios que fazem a diferença ao longo do tempo, como progra-mas de formação médica continuada.

De acordo com o 2º vice-presidente do CFM e coordenador da Comissão Nacional Pró-SUS, Aloí-

Compromisso: Temporão assumiu o compromisso de incluir entidades em GT do Ministério

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MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Jan. /2010 MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 JORNAL MEDICINA - MAI/2010 JORNAL MEDICINA - MAI/2010

POLíTICA E SAúDE

MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 JORNAL MEDICINA - MAI/2010 JORNAL MEDICINA - MAI/2010

A regulamentação da Emenda Constitucional 29 – que fixa os percentuais mínimos a serem investidos anualmente em Saúde pela União, estados e municí-pios – foi tema de mais uma audiência no Congresso Na-cional, em maio. Na oportu-nidade, profissionais ligados ao direito à saúde apresenta-ram uma série de sugestões para desafogar a Justiça brasileira das cerca de 50 mil ações que obrigam a União, os estados e os municípios a fornecer tratamentos, leitos e medicamentos não contem-

plados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Entre as propostas está a criação de câmaras de conciliação integradas por representantes do Executi-vo, do Ministério Público, do Judiciário e da Defensoria Pública, que tentariam resol-ver as demandas da popula-ção pela via administrativa. O motivo é evitar a corrida ao Judiciário. Foi também sugerida a criação de câma-ras técnicas formadas por profissionais de saúde, para auxiliar os juízes nas senten-ças contra o SUS.

Judicialização em debate

Sul e Sudeste definem propostas para o EnemEncontro Nacional das Entidades Médicas (Enem)

Adefesa do trabalho médico no Sistema

Único de Saúde (SUS) e na saúde suplementar; a avaliação progressiva dos estudantes de medicina por instituição externa; a reafirmação do compro-misso com o SUS e seu adequado financiamento e gestão; e maior aproxima-ção com os movimentos sociais. Essas são algumas das mais de 100 propostas que os participantes do Pré-Enem Sul/Sudeste levarão ao XII Encontro Nacional das Entidades Médicas (XII Enem).

As conclusões foram obtidas após dois dias in-tensos de reuniões rea-lizadas em São Paulo,

entre 14 e 15 de maio. O ingrediente político este-ve presente em todas as mesas do Pré-Enem Sul/Sudeste. Logo na abertu-ra, o presidente do Con-selho Regional de Medi-cina do Estado de São (Cremesp), Luiz Alberto Bacheschi, ressaltou as possibilidades que o ce-nário eleitoral traz para permitir apoio político às reivindicações dos médi-cos. Como resultado do XII Enem, está prevista a elaboração de uma Carta dos Médicos aos candida-tos às eleições de outu-bro de 2010.

No XII Enem, um dos temas-chave deverá ser os desdobramentos da

Próxima parada: Belém O último dos três en-

contros preliminares pre-vistos – o Pré-Enem Nor-te/Centro-Oeste – aconte-ce nos dias 4 e 5 de junho, em Belém (PA). Antes dele, já foram realizados os do Sul-Sudeste e Nor-deste, em Natal (RN), nos dias 25 e 26 de março. O

XII Encontro Nacional das Entidades Médicas (XII Enem) será realizado de 27 a 30 de julho, na sede da Associação Médica de Brasília. Participam 450 delegados – 150 da área associativa, 150 dos con-selhos de medicina e 150 dos sindicatos médicos.

proposta de criação da carreira de Estado para o médico, apoiada pelo CFM e entidades médi-cas. O 1º secretário do CFM, Desiré Callegari, ressaltou dados da má distribuição de médicos no país, que leva ao apa-recimento de vazios assis-tenciais. “A concentração de médicos nos grandes centros urbanos é decor-rente da falta de políticas públicas que reconheçam a importância do médico em todo o país”, defendeu, ao esclarecer que os números levantados pelo CFM con-firmam a importância de se encontrar uma solução definitiva para a interioriza-ção da medicina.

Pauta política: no Pré-Enem Sul/Sudeste, participantes destacaram a importância do debate no momento em que se forma o cenário eleitoral no país

Projeto que prevê reajuste deve ser votadoHonorários médicos

O deputado Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB), relator do Projeto de Lei 6.964/10 na Comissão de Defesa do Consumidor (CDC) da Câmara dos Deputados, afirma que seu relatório sobre a proposta será submetido a votação antes do recesso legislativo do meio do ano. “O relató-rio está pronto e sintoniza-do com o entendimento da classe médica”, disse.

De acordo com o depu-tado, a emenda ao projeto que garante reajuste anual aos médicos que atuam em

saúde suplementar, incluí-da no Senado, foi mantida.

O texto aprovado pe-los senadores estabelece que o reajuste seja efe-tivado nos primeiros 90 dias do início de cada ano calendário.

Caso este prazo seja ultrapassado, o índice será definido pela Agência Nacional de Saúde Suple-mentar (ANS). “Há rea-justes anuais nos valores cobrados pelas operado-ras; os profissionais de-vem compartilhar deles”, disse Rêgo Filho (foto). Proposta: sintonia com os médicos

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Ensino – Mas os de-bates não se limitaram às políticas de trabalho para os médicos já formados. Falou-se muito também sobre o ensino médico no Brasil. Um dos exposito-res – o diretor científico da AMB, Edmund Chad Baracat – lembrou a fal-ta de controle nesta área e relatou que das 181 es-colas médicas existentes, dois terços não têm au-torização do MEC para funcionar.

“O número de esco-las médicas abertas no Brasil é um escândalo em qualquer lugar. Não há hospitais de ensino para treinamento, o que inviabiliza que esses alunos tenham apren-dizado satisfatório”, afirmou Adib Jatene, ex-ministro da Saúde e presidente da Comis-

são de Avaliação das Escolas da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educa-ção, preocupado com a situação.

Outro ponto impor-tante dos debates foi a percepção de que as preo-cupações da cate-goria médica não são cor-porativistas ou isoladas do restante da sociedade. Para os participantes do Pré-Enem Sul/Sudeste, é necessário divulgar esta pauta como forma de con-quistar apoio para as lutas que beneficiarão a todos que precisam ou traba-lham com a assistência em saúde. “Não podemos ter vergonha ou medo de dizer quanto ganhamos no SUS e na saúde suple-mentar”, defendeu o vice-presidente do Cremesp, Renato Azevedo Júnior.

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MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 JORNAL MEDICINA - MAI/2010 JORNAL MEDICINA - MAI/2010

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MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Jan /2010

POLíTICA E SAúDE

MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 JORNAL MEDICINA - MAI/2010 JORNAL MEDICINA - MAI/2010

III Fórum Nacional de Cooperativismo Médico

Nortear a elabora-ção de um plano

estratégico entre as en-tidades e os segmentos da área para enfrentar os desafios relativos ao cooperativismo médi-co brasileiro. Este foi o ponto alto do III Fórum Nacional de Cooperati-vismo Médico, realizado no Conselho Federal de Medicina, em 27 e 28 de maio. Entre os pro-blemas, se destacam a

precarização do traba-lho, a judicialização da saúde, a alta tributação e a defasagem honorá-rios médicos.

O presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, ressaltou a ne-cessidade de respostas a estes problemas. “De-verão surgir proposi-ções para uma mudança de atitude frente aos nossos desafios”, disse. Durante o fórum, os

Papel socioeconômico das entidades em debate

Saúde Suplementar

Seguradoras e Medicina de Grupo estão contra a CBHPM

Avanços: Hiran Gallo (2º à dir.) lembrou a importância de reuniões deste tipo para a solução de problemas relacionados às cooperativas

Em 2010 foram realiza-das três reuniões do grupo de trabalho da Agência Na-cional de Saúde Suplementar (ANS) que discute critérios de reajuste de honorários e a possibilidade de adoção pelos planos de saúde da CBHPM como padrão de hierarquização dos procedi-mentos médicos. Na última rodada, ocorrida em abril, na sede da ANS, o representan-te da AMB, Amílcar Giron, apresentou a metodologia de elaboração da CBHPM, os atributos dos atos médicos e a padronização dos portes.

Manoel Peres, represen-tante da Federação Nacio-nal de Saúde Suplementar

(FenaSaúde), instituição que congrega as seguradoras, apontou o que chamou de “elevado grau de subjeti-vidade e de distorções da CBHPM”, acrescentando que o setor “já possui lógica própria”.

O representante da Asso-ciação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Sérgio Vieira , afirmou que “não há razão para discutir hierarqui-zação de procedimentos nem valores de honorários de ape-nas um profissional, pois é pre-ciso olhar o sistema como um todo, considerando fatores de produtividade e desempenho.”

Os representantes da Unimed, Jurimar Alonso, e

da Unidas, Sonia Guyt, afir-maram que suas entidades concordam com a proposta do CFM, AMB e Fenam de adoção da hierarquização na saúde suplementar. A ANS, por sua vez, concorda com a padronização, mas posicio-na-se contra “o tabelamento de preços e a discussão cole-tiva de valores”.

O grupo de trabalho vi-nha sendo coordenado pelo diretor da ANS, Maurício Ceschin, conduzido recen-temente à presidência da agência. A próxima reunião, prevista para o início de ju-nho, irá abordar os critérios de reajuste dos honorários médicos.

Uma enquete da Câ-mara dos Deputados apon-tou que 58% dos brasileiros concordam com o Projeto de Lei 1.220/07, que obriga os planos de saúde a respeita-rem as tabelas das entidades das categorias profissionais. Segundo a pesquisa, os in-ternautas acreditam que a falta de reajuste nos valores das consultas tem levado muitos médicos a desistir de atender por convênio.

Para o coordenador da Comissão de Saúde Suple-mentar e 2º vice-presidente do CFM, Aloísio Tibiriçá Miranda, a sociedade ob-serva que a classe médica tem sido mal remunerada e, principalmente, que isso

tem reflexo nas consultas. A tramitação da proposta também está sendo acom-panhada de perto pela co-missão de assuntos políticos das entidades médicas.

Não é a primeira vez que a opinião pública se manifesta favoravelmente com relação às propostas apoiadas pelo Conselho Federal de Medicina. Em dezembro, o projeto do Ato Médico, que regulamenta o exercício da medicina, foi objeto de enquete da Agên-cia Senado. O resultado foi animador: 62% de um to-tal de 545.625 internautas participantes manifestaram-se a favor do mesmo e do PLS 268/02.

População diz sim a reajustes

Olho no Congresso

Acupuntura – Embora a acupuntura seja uma especia-lidade médica reconhecida, em 2006, ao aprovar a Polí-tica Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, por meio da Portaria 971, o Ministério da Saúde sugeriu que se tratava de “prática de caráter multiprofissional”. A mesma ameaça volta agora na Co-missão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, que aprovou em 12 de maio que o exercício da acupuntura pode ser feito por profissionais de nível su-perior de qualquer área da saúde, desde que tenham es-pecialização reconhecida por conselhos federais. O tex-to aprovado é o substitutivo da deputada Aline Corrêa (PP-SP) ao Projeto de Lei 1.549/03, do deputado Celso Russomanno (PP-SP), e outras propostas apensadas. As entidades médicas irão atuar contrariamente à proposta, que segue em tramitação na Câmara.

Direito das gestantes – Recebeu parecer favorável do relator, deputado Dr. Paulo César (PR-RJ), na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputa-dos, o Projeto de Lei 7.055/10, de autoria do deputado Arlindo Chinaglia (PT/SP), que assegura à médica resi-dente gestante licença-maternidade de 180 dias, com a prorrogação da bolsa pelo mesmo período. O PL tramita apensado ao Projeto de Lei 6.146/09, do mesmo parla-mentar, que visa criar uma bolsa natalina para os médicos residentes. As médicas residentes já têm direito à licença-gestante. O projeto propõe que, a exemplo de trabalha-doras de empresas e da administração pública, sua dura-ção seja estendida para 180 dias.

Trabalhadores do SUS – Com a participação de repre-sentantes dos médicos, enfermeiros, psicólogos, assisten-tes sociais e outros profissionais de saúde, além de órgãos do governo, o comitê nacional criado para elaborar dire-trizes para a Política Nacional de Promoção da Saúde dos Trabalhadores do SUS realizou suas últimas reuniões nos dias 10 e 11 de maio, em Brasília. O texto final será en-caminhado à Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS.

participantes assumiram a missão de atender à expectativa dos médicos brasileiros.

Entre as medidas já propostas constam: o ali-nhamento das entidades médicas com o segmen-to cooperativista para definição de ações con-juntas, o apoio a projetos que tratam do reajuste anual dos médicos (PL 6.964/2010) e a cons-trução de um ambiente político que propicie re-sultados na representa-ção das políticas públicas sociais e encaminhamen-tos tributários.

A consolidação das propostas será feita em reuniões no âmbito da Comissão de Coope-rativismo Médico do CFM, coordenada pelo conselheiro Hiran Gallo (diretor-tesoureiro da entidade). “O sistema cooperativista será o quarto elemento a com-por a atuação das três entidades médicas na-cionais (CFM, AMB e Fenam)”, afirmou ele.

Page 6: Terminalidade da vida - CFM

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MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009

ÉTICA MÉDICA

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Familiares elogiam abordagemA abordagem trazida

pelos cuidados paliativos muda a percepção da morte e da vida entre pacientes e familiares. Vera Lúcia Au-reliano Santos se reveza com os quatro irmãos na missão de acompanhar a mãe, dona Josefa, no Hos-pital de Apoio de Brasília. Durante os períodos de in-ternação, a paciente e sua família foram informados pela equipe de profissionais da unidade sobre tudo o que estava ocorrendo.

“É a segunda vez que estamos aqui. A primeira internação durou pouco mais de um mês. Houve melhora e ela recebeu alta. Vivemos em casa, em famí-lia, por dois meses, e agora estamos de volta. Conhece-mos os limites e somos res-peitados”, disse Vera Lúcia durante o banho de sol da mãe na Praça das Rosas do hospital. “Os procedimen-tos aqui adotados são os

melhores”, avalia.O depoimento é apenas

um entre vários. Casos as-sim mostram a importância de se discutir o reconheci-mento da medicina paliati-va como área de atuação. A proposta deverá ser tratada durante o I Fórum de Atua-lização dos Programas de Formação de Especialistas, previsto para setembro.

“A Comissão Mista de Especialidades (organiza-dora do encontro) entende que essa área de atuação é necessária. Queremos ou-vir as sociedades médicas para verificar quais delas têm interesse em incorporá-la”, afirma Carlos Vital. “O desafio do Brasil, hoje, é formar profissionais que saibam fazer cuidados paliativos. Eles precisam identificar bem a termina-lidade e conduzir o caso, sem apressar a morte do doente”, acrescenta Maria Goretti.

Novo Código muda realidade em hospitaisTerminalidade da vida

Em vigor desde 13 de abril, o novo Código

de Ética Médica tem cau-sado repercussão positiva no que se refere à prescri-ção de cuidados paliativos, opção que estende confor-to e atenção especiais aos pacientes com quadros graves e de difícil prognós-tico. Vários profissionais relatam o impacto bené-fico do documento, que fortalece a humanização do atendimento, inclusive nos hospitais públicos.

O texto estabelece, em seu art. 41, que: “Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuida-dos paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuti-cas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consi-deração a vontade expres-

sa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal”. O mesmo artigo do Código proíbe ao profissional de medicina abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido desse ou de seu re-presentante.

Agente libertador – O chefe do Núcleo de Cui-dados Paliativos da Secre-taria de Saúde do Distrito Federal, Hélio Bergo, afir-ma que o Código fortalece as unidades que trabalham com cuidados paliativos. “A formação tradicional do médico é fortemente marcada na contraposi-ção à doença. A doença é vista como um algoz que precisa ser aniquilado. O médico assume o papel de agente libertador, aquele que conhece as estratégias de combate e detém as

Humanização: no lugar de ações obstinadas e desnecessárias, o apoio e a solidariedade

armas para destruir esse mal”, diz.

A médica Cláudia Burlá, membro da Câmara Téc-nica sobre Terminalidade da Vida e Cuidados Palia-tivos do Conselho Federal de Medicina (CFM), tam-bém considera importante a mudança: “Os cuidados paliativos são uma resposta ativa aos problemas decor-rentes da doença prolonga-

da, incurável e progressiva, na tentativa de prevenir o sofrimento e proporcionar a máxima qualidade de vida possível às pessoas doentes e a seus familiares”.

Carlos Vital, 1º vice-presidente do CFM e membro da comissão na-cional que trabalhou na revisão do Código, sinte-tiza o alcance do docu-mento: “O Código chama

a atenção do médico para a importância dos cuida-dos médicos, para a pos-sibilidade de abstenção de procedimentos extraordi-nários, desproporcionais e incompatíveis com a dig-nidade humana, de forma a reverenciar a autonomia da vontade do paciente, expressa pessoalmente ou por seu representante legal”.

O êxito de alguns hospitais no uso dos cuidados paliativos mostra o avanço positivo dessa abordagem

Para especialistas, cresceu busca por cuidados paliativos

Médicos que assistem pacientes em fase terminal afirmam que, desde a en-trada em vigor do novo Có-digo, aumentou a compre-ensão sobre a prática dos cuidados paliativos. Essa é a opinião da chefe do Ser-viço de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Pú-blico Estadual de São Paulo e coordenadora científica da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, Maria Goretti Sales Maciel.

“Parece ter havido au-mento da procura por cui-dados paliativos no último mês. Os colegas médicos se sentiram aliviados e pas-saram a encaminhar mais doentes às enfermarias que oferecem essa abordagem. É preciso que todos sai-bam que os pacientes têm uma sobrevida excepcional quando bem cuidados”, diz. Segundo conta, o médico

se sente mais confortável, inclusive pela existência de literatura científica que o ajuda a identificar as formas e o registro de evolução das doenças.

A chefe da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital de Apoio de Bra-sília, Anelise Carvalho Puls-chen, concorda e acrescen-ta que o Código facilitou o trabalho do médico palia-tivista. “O texto trouxe a possibilidade de que o médi-

co faça tudo com seguran-ça e respaldo. No passado, houve questionamentos sobre a aplicação de cuida-dos paliativos, às vezes dos próprios colegas, às vezes da Justiça”, diz.

Para ela, as pessoas es-tão entendendo melhor o que é deixar que uma doen-ça incurável siga seu curso. “Não é omissão de socorro, desde que você cuide do doente até o último instan-te”, ressalta.

Segurança: Anelise Pulschen diz que o novo Código trouxe respaldo para o trabalho do médico nos casos de pacientes terminais

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INTEGRAÇÃOÉTICA MÉDICA

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Terminalidade da vida

Foco voltado para o bem-estar do paciente

A Câmara Técnica so-bre Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos do Conselho Federal de Medi-cina (CFM) tem trabalhado em propostas de aperfeiçoa-mento de projetos de lei re-lacionados aos temas, em trâmite no Congresso Na-cional. “Nossas sugestões vêm da experiência de um conjunto de médicos que li-dam com o fim da vida de pacientes e que há muito discutem as mudanças le-gislativas cabíveis”, explica Carlos Vital.

Para ele, há uma con-vergência de interesses en-tre o Poder Legislativo, a sociedade e os profissionais de medicina. “O que se quer é a possibilidade de uma atenção médica de caráter paliativo, que mitigue o so-frimento e promova e pre-serve a dignidade humana no processo de terminalida-de da vida”, diz Vital.

Meios desproporcio-nais – Um texto que recebe atenção especial é o Proje-to de Lei do Senado (PLS) 116/00 (atualmente em trâ-mite na Câmara dos Depu-tados sob o nº 6.715/09). De autoria do senador Ger-son Camata (PMDB-ES),

a proposta insere um artigo no Código Penal para esta-belecer que não é crime, no âmbito dos cuidados palia-tivos aplicados a paciente terminal, deixar de fazer uso de meios desproporcio-nais e extraordinários, des-de que haja o consentimento do paciente ou, no caso de sua impossibilidade, de um familiar próximo (cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão).

O senador Augusto Bo-telho (PT-RR) – relator da matéria na Comissão de Constituição, Justiça e Ci-dadania (CCJ) do Senado – se posicionou a favor. “Sou médico e pude conhecer os sentimentos das pessoas que eram mantidas vivas contra a sua vontade [com o uso de meios extraordinários], sofrimento que também era dos familiares”, diz Botelho. A CCJ proferiu decisão ter-minativa sobre o relatório. Isto é, a aprovação na co-missão teve valor de decisão do Senado, dispensando-se a necessidade de apreciação pelo plenário da Casa.

Justiça – Se aprova-do, encerrará controvérsia judicial sobre a aplicação de cuidados paliativos. Em

2006, o CFM expediu a Resolução 1.805, que prevê que na fase terminal de en-fermidades graves e incurá-veis é permitido ao médico limitar ou suspender pro-cedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do paciente, respeitando-se a sua vontade ou a de seu re-presentante legal. Em 2007, a Justiça do Distrito Federal emitiu liminar que suspende a eficácia da resolução, a pe-dido do Ministério Público Federal (MPF).

Para Botelho, com a aprovação do projeto a con-trovérsia deixará de existir. “Tenho a certeza de que o diálogo entre Câmara e Senado é no sentido de que o projeto seja aprovado o mais rápido possível, para evitar que se prolongue esse tipo de sofrimento”, avalia. Agora, o documento está na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados. O relator da matéria, deputado José Linhares (PP-CE), se posicionou pela aprovação do projeto, mas apresentou um texto substitutivo. Seu relatório, apresentado em maio, ainda não foi votado na CSSF.

CFM monitora projetos no Congresso

A prática de cuida-dos paliativos já é

regular em alguns locais do país, mas o número exato de unidades que a adotam não é conheci-do. O Hospital de Apoio de Brasília (HAB) conta com 19 leitos e recebe aproximadamente 30 pacientes por mês. Par-te do Núcleo de Cuida-dos Paliativos da secre-taria de Saúde oferece atendimento hospitalar a portadores de câncer. A maioria dos pacientes chega à unidade com o quadro de irreversibilida-de da doença atestado. “Alguns vêm em razão de alguma intercorrência, são tratados e seguem sendo acompanhados em casa”, explica a chefe do serviço, Anelise Car-valho Pulschen. Em São Paulo, o Serviço de Cui-dados Paliativos do Hos-pital do Servidor Público Estadual (HSPE) possui 10 leitos de internação e também oferece atendi-mento em ambulatório e em domicílio. Mas, ao contrário do que aconte-ce em Brasília, os cuida-dos paliativos aplicados no hospital paulista não são exclusivos aos doen-tes de câncer. No entan-to, os pacientes com ou-tras doenças não passam de 10% do total.

Visão integral – “Os cuidados paliativos melhoram as condições gerais do paciente. Ele se sente seguro, mesmo sabendo que não haverá alteração no quadro da

doença”, diz Maria Go-retti Sales Maciel. Tan-to no HSPE quanto no HAB, equipamentos de suporte avançado à vida não são utilizados. Re-corre-se apenas a sondas alimentares ou de drena-gem, quando necessário. Cirurgias de caráter pa-liativo também podem acontecer e os sedativos são usados pontualmen-te, de modo controlado. “Aliviamos bem as dores relacionadas à doença. Por isso, os pacientes ficam acordados, intera-gem, recebem amigos”, diz a chefe do HSPE.

“As equipes têm uma visão integral do paciente. Elas levam em considera-ção aspectos físicos, emo-cionais, familiares, sociais, espirituais, enfim, tudo o que cerca a pessoa”, diz a médica do HAB. Neste hospital, 18 leitos são divi-didos entre seis quartos. Um sétimo quarto, com um único leito, é reserva-do ao paciente em situa-ção de morte iminente. Lá, tem a privacidade para receber amigos e familia-res com mais conforto, sem limite de visitantes e horários.

“Um dos princípios de nosso trabalho é o da aceitação da morte e da valorização da vida”, afir-ma Pulschen – em seu hospital são promovidos reencontros, pequenas celebrações e até ca-samentos. Os registros fotográficos desses mo-mentos estão no mural da Unidade de Cuidados

Alivio e solidaridade: no Hospital de Apoio, soluções foram pensadas para garantir a aceitação da morte e a valorização da vida

Paliativos. Há oficinas terapêuticas, sessões de relaxamento, musicote-rapia e treinamento para que os familiares cuidem corretamente do doente.

“A vida é importante até o fim. Já consegui-mos localizar muitos fa-miliares desaparecidos, que os pacientes gosta-riam de rever, para que houvesse um reencon-tro, uma reconciliação. E já houve três casa-mentos, com presença de padre e juiz”, relata Pulschen. “Há afeto e respeito ao paciente em nossa abordagem. Tanto eles quanto os familiares sentem-se acolhidos, dialogam, sabem o que estão vivendo”, destaca.

Trabalho contínuo: a Comissão de Terminalidade da Vida está atenta às propostas em tramitação no Legislativo

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8 PLENÁRIO E COMISSÕES

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Com uma proposta de investimento de R$

2,35 milhões para a cria-ção de bancos de olhos e melhora no processo de captação de córneas, a Câmara Técnica de Oftal-mologia do Conselho Fe-deral de Medicina (CFM) acredita ser possível zerar em oito meses a fila de espera por um transplan-te desse tipo. O projeto –

desenvolvido em parceria com a Sociedade Brasilei-ra de Oftalmologia (SBO) e suas regionais – foi en-caminhado para análise do Ministério da Saúde.

Além das ações efe-tivas a serem realizadas, o trabalho também faz um diagnóstico da situa-ção vivenciada pelo país. De acordo com o coor-denador da câmara, José

Transplantes de córneas

Tempo de espera: cerca de 23 mil pacientes aguardam para fazer um transplante de córnea no país

Projeto propõe extinção de filas em oito meses

Geriatria

Atenção a idosos preocupa médicosA Sociedade Brasileira

de Geriatria e Gerontologia (SBGG) estabelecerá par-cerias de atuação e assesso-ramento com os conselhos regionais de medicina e a Agência Nacional de Vigi-lância Sanitária (Anvisa), que contribuirão para a fis-calização do exercício pro-fissional e do funcionamento das Instituições de Longa Permanência para Idosos (Ilpis). A decisão foi tomada pela recém-criada Câma-ra Técnica de Geriatria do CFM – que se reuniu em 20 de maio.

A parceria aprovada per-mitirá, por exemplo, ofere-cer às Ilpis orientações sobre a normatização de dietas ali-mentares e suplementos para nutrição do idoso e a política de medicamentos para essa faixa etária, especialmente os utilizados para casos de demência. Em sua primeira reunião, o grupo – coordena-do pelo conselheiro Gérson Zafalon Martins – também

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Fernando Maia Vinagre, foram identificados os principais problemas ope-racionais em termos de infraestrutura e nível de gestão.

O presidente do Con-selho Brasileiro de Oftal-mologia (CBO), Paulo Augusto de Arruda Melo, está otimista com os re-sultados que virão após a aprovação e implementa-ção da proposta. “Em até quatro meses, aumenta-remos em 30% o total de cirurgias. Depois disso, é zerar a fila. É um desafio que queremos colocar em prática o mais rápido pos-sível”, afirmou.

No documento en-caminhado, a câmara aponta a necessidade de resolver questões como o pequeno número de equipes transplantadoras pelo SUS e a melhoria dos sistemas de captação

Câmara aponta problemasSegundo dados do Mi-

nistério da Saúde, cerca de 23 mil pessoas aguardam por uma cirurgia desse tipo. E um paciente espera, em média, três anos por um transplante de córnea. Essa demora ocorre, em parte, pelo pequeno número de equipes em atividade. Atual-mente, há 68 delas atuando em bancos de olhos espalha-dos pelo país.

A falta de profissionais contribui para o não apro-

veitamento de córneas dis-poníveis, já que há insufici-ência de equipes transplan-tadoras no SUS que atuem em regime de 24 horas. De acordo com o documento enviado pela câmara do CFM, parte disso ocorre pela indisponibilidade da estrutura física no período noturno e nos fins de sema-na, além de remuneração defasada dos médicos e ins-talações hospitalares precá-rias, entre outros pontos.

e distribuição de tecidos (córneas) pelas centrais de transplante dos bancos de olhos existentes, den-tre outros fatores.

O projeto resultou de entendimento da Câmara Técnica de Oftalmolo-gia com a coordenado-ra do Sistema Nacional

de Transplantes, Rosana Reis Nothen. Em feve-reiro, durante encontro, ela apontou dois pontos que considera críticos: a captação com as famílias e o aperfeiçoamento da estrutura de trabalho das equipes que fazem as ci-rurgias.

Crescimento: Em 40 anos, 18% da população terá mais de 65 anos

discutiu questões ligadas à residência em geriatria.

Para avançar nas dis-cussões, representantes do CFM participarão do XVII Congresso Brasileiro de Ge-riatria e Gerontologia, a rea-lizar-se de 28 a 31 de julho, em Belo Horizonte (MG). Também se estuda dedicar uma edição da Revista Bio-ética ao tema. A preocupa-ção com a assistência aos idosos é amparada em dados estatísticos.

Segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nas pró-ximas décadas o percentual da população com mais de 65 anos deve quase qua-druplicar. Em 2000, apenas 5% dos brasileiros se enqua-dravam nessa faixa etária. Em 2050, devem ser 18%. Ressalte-se que os avanços da medicina e as mudanças socioeconômicas têm eleva-do a média de expectativa de vida ao nascer de 45,5 anos, em 1940, para 72,7 anos, em 2008.

Parabólica da saúdeMedicina Marítima – A garantia de atenção à saúde dos passageiros e tripulantes marítimos, bem como os cuidados que devem ser observados dentro de navios e embarcações, são alvos da recém-criada Câmara Téc-nica de Medicina Marítima do Conselho Federal de Me-dicina (CFM). A primeira reunião do grupo ocorreu em 19 de maio, em Brasília (DF). O coordenador do grupo, conselheiro Luiz Nodgi, lembra que os barcos ficam se-manas em alto-mar e, em caso de emergência, muitas vezes não conseguem receber apoio de helicópteros. “Estudaremos normas para estabelecer uma estrutura mínima de trabalho médico”, completa. Foram solicita-das à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e à Marinha do Brasil informações sobre a legislação e os dados relativos ao tema.

Urgência e Emergência – No dia 24 de junho de 2010, no auditório do Conselho Federal de Medicina, em Brasília, acontece o seminário Trabalho Médico de Urgência e Emergência no Sistema Público de Saúde, com a presença das entidades médicas, profissionais que atuam na organização dos serviços de urgência e emergência, representantes do Ministério da Saúde, do Conass, que reúne os secretários estaduais de saúde, e do Conasems, entidade que representa os secretá-rios municipais de saúde. Visando discutir o aprimora-mento da política de assistência médica na urgência e emergência, serão abordados os temas regulação do sistema, classificação de risco e formação do médico de emergência. Informações adicionais pelo tel. (61) 3445 5957 ou e-mail: [email protected].

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9PLENÁRIO E COMISSÕES

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Jovem médico

Cerca de 30% dos médicos brasileiros

inscritos nos conselhos de medicina têm no má-ximo 35 anos de idade. De forma geral, se consi-derados o tempo de for-mação nas universidades e o período de residência, são profissionais que ain-da estão em início de car-reira. Para alcançá-los e aproximá-los das discus-sões relacionadas às difi-culdades da profissão, a Câmara Técnica de Inte-gração do Médico Jovem do Conselho Federal de Medicina (CFM) definiu uma pauta de prioridades para tratar o assunto em nível nacional.

Em sua primeira reu-nião na atual gestão do CFM, realizada em 29 de abril, o grupo estabe-leceu como prioridades identificar jovens lideran-ças na profissão, criar um canal de comunicação com os recém-formados e debater a interiorização da medicina no território

Residentes apoiam a iniciativa Rafael Scheffel tem 29

anos e é médico há cinco. Graduou-se pela Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e na sequên-cia emendou duas residên-cias: Medicina Interna e En-docrinologia. Atualmente, trabalha em Novo Hambur-go, a 40 km de Porto Alegre, onde divide seu tempo entre dois hospitais e uma clínica. Sua jornada média é de oito horas de trabalho por dia e vários plantões semanais. A história de Scheffel é apenas uma dentre as de mais de 100 mil jovens médicos em atividade no país.

Apesar do tempo restri-to, Scheffel comemora ter trabalho. “As vagas são escassas para algumas es-pecialidades, especialmente em determinadas regiões”, ressaltou. Com milhares de

casos assim, o interesse do CFM em estabelecer um canal de diálogo com os no-vos profissionais e estudan-tes de medicina repercutiu bem no grupo.

Para o presidente da As-sociação Nacional dos Mé-dicos Residentes (ANMR), Nívio Lemos Moreira Jú-nior, 30 anos, “o jovem médico está exposto a mais riscos e por isso precisa ser acolhido”. Segundo conta, não são raros os casos de pessoas atraídas por ofertas de trabalho no interior que parecem boas, mas se re-velam decepcionantes. “O interessado vai para uma cidade distante, com gran-des expectativas. Às vezes, leva sua família e só então descobre que não há con-dições para o exercício da profissão”, relata.

Inserção: a Câmara Técnica criada pelo CFM quer ajudar na integração dos novos profissionais nos debates de interesse para a categoria

Jornal Medicina – Que papel os conselhos podem ocupar na vida do jovem médico? Frederico Henrique de Melo – Lamentavelmente, as escolas não dão ao mé-dico o preparo ético de que necessita para o desempe-nho profissional. No inte-

rior, ele se depara com di-ficuldades éticas imensas. Nesse ponto reside a im-portância da aproximação dos conselhos de medicina. Assim, cabe aos conselhos guiar, orientar e amparar. Saber que ele está vigilan-te é uma segurança para o médico.

JM – Quais as dificuldades que o médico enfrenta fora do eixo Sul-Sudeste? FHM – A primeira é a ques-tão da referência do pacien-te. É preciso que os médicos que estão no interior saibam para onde poderão transferir os pacientes que necessitam de cuidados secundários ou terciários. Em segundo lugar, há dificuldade em relação aos honorários. A criação da carreira de Estado para o médico é uma das manei-ras de levá-lo para os pontos mais distantes, oferecendo-lhe um salário digno e com a segurança de que um dia pode vir a residir num centro maior.

JM – Há realmente pro-blemas na contratação de médicos no interior?FHM – Sim. Há ofertas de emprego nos mais diferentes locais e com diferentes perfis. Ás vezes o gestor municipal promete um salário compatí-vel, respeito, boas condições de trabalho e cumpre seu compromisso. Mas acontece também de tudo ser com-pletamente diferente. Para evitar problemas desse tipo, o médico deve se prevenir. Antes de aceitar uma pro-posta de emprego, o profis-sional deve buscar informa-ções. Saber se o município já teve médicos antes e o que os levou a deixar o local. É

importante conhecer a reali-dade do município onde pre-tende atuar, para isso pode-se contar com a ajuda dos sindicatos da categoria.

JM – Ainda é interessan-te exercer a medicina em áreas distantes, de difícil provimento?FHM – Sim. O médico pre-cisa estar presente mesmo nos locais mais distantes. Ali es-tão brasileiros que necessitam de nossa atenção. Ir para o in-terior dá ao médico uma res-peitabilidade inimaginável. O profissional nessas regiões continua sendo muito querido pela comunidade, o que é sem dúvida gratificante.

“Antes de aceitar uma proposta de emprego, o profissional deve buscar informações”

Nada melhor que a experiência, para ajudar aqueles que estão dando os primeiros passos. Por isso, o jornal Medicina foi buscar a opinião de Frederico Henrique de Melo. Ele concluiu o curso de Medicina em 1974, na Universidade Federal do Ceará, fixando-se depois no interior de Goiás, numa região que atualmente pertence ao território do Tocantins, onde continua até hoje. Venceu as dificuldades do início, prosperou e hoje representa seu Estado no CFM, onde ocupa o cargo de 2º Tesoureiro, sem nunca esquecer sua terra de adoção: Miranorte.

Entrevista Frederico Henrique de Melo

CFM busca diálogo com novos profissionais

nacional. Outras ques-tões, como o acesso à es-pecialização e a inserção no mercado de trabalho, também serão abordados dentro dessa estratégia de aproximação.

“Queremos discutir com os jovens médicos quais são suas priorida-des, e inseri-los nos de-bates que ocorrem nas entidades médicas, como os conselhos de medi-cina”, afirmou o conse-lheiro Renato Moreira

Fonseca, coordenador da câmara. Que comple-mentou: “As atividades do grupo ligado ao CFM terão um cuidado espe-cial com os médicos que passam pelo período de residência ou estão in-gressando no mercado de trabalho. Para chegar até eles, um dos caminhos é realizar eventos científi-cos e políticos”. A pró-xima reunião da câmara está prevista para 25 de junho.

Ensino Médico – Acontece em Brasília nos dias 1º e 2 de julho o I Fórum de Ensino Médico, organizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Entre outros temas, haverá discussões sobre residência médica, for-mação de especialistas, residência multiprofissional etc. Os interessados em participar devem enviar mensagem para [email protected]. O assunto da mensagem deve ser “I Fórum de Ensino Médico”.

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EM DIA

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Cerca de 17% dos médicos ainda precisam fazer o dever de casa e atualizar seus dados cadastrais

Tecnologia

Avança proposta para a criação do CRM digital

Até janeiro de 2011, o Conselho Federal de Medi-cina (CFM) espera concluir o processo que permitirá a entrega do CRM digital aos médicos brasileiros. Atual-mente, o projeto está em fase de ajustes para a definição de aspectos relacionados a custos e tecnologia. A certifi-cação é a base legal para que o profissional possa ser legal-mente conhecido no mundo virtual. É a identidade digital, junto com a assinatura (cer-tificação digital), que permite esse reconhecimento.

Pelo projeto em curso, o CFM será a autoridade certificadora que fornece-rá a assinatura digital. O 1º

secretário do CFM, Desi-ré Callegari, afirma que o processo tem sido atento às garantias de tecnologia e confiabilidade. “Além disso, não haverá trabalho extra para o médico, pois o banco de dados atualizado com o recadastramento permitirá a confecção do cartão e da as-sinatura digital”, pontuou.

Mas que tipo de mu-danças isso trará, na práti-ca, para os 350 mil médicos brasileiros? Com essa ferra-menta, o médico poderá, por exemplo, assinar digitalmen-te o prontuário eletrônico, assegurando a autenticidade do documento. Isso é im-portante, pois o armaze-

namento desses dados nos estabelecimentos de saúde exige critérios rigorosos de confidencialidade e seguran-ça, calcados no uso da certi-ficação digital.

Essas exigências estão especificadas no Manual de Certificação para Sistemas de Registro Eletrônico em Saúde, fruto de cooperação técnica do CFM com a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (Sbis). Ressalte-se, adicionalmente, que as nor-mas técnicas para digitaliza-ção e uso dos sistemas in-formatizados para a guarda e manuseio dos prontuários também estão previstas na Resolução CFM 1.821/07.

Novo prazo termina em 11 de novembro Recadastramento dos médicos

A endocrinologista Lia-na Farias Leiria com-

pareceu em 17 de maio, na sede do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), para finali-zar seu recadastramento. “Achei o processo rápido e sem complicações”, rela-tou. Ela é um dos 55.490 médicos brasileiros que se beneficiaram com a pror-rogação – por mais seis meses – do prazo para a atualização dos dados.

Agora, 11 de novembro é a data-limite para regulari-zação junto aos conselhos regionais de medicina.

De acordo com Gerson Zafalon Martins, 2º secre-tário do CFM e coordena-dor da Comissão Nacional de Recadastramento (da qual também fazem parte os conselheiros Carlos Vi-tal, do CFM, e Henrique Gonçalves, do Cremesp), “os médicos deixaram para fazer o recadastramento nos últimos dias, o que

acarretou enorme deman-da do sistema”.

Aos que ainda não se recadastraram, Zafalon orienta o preenchimento do formulário disponibili-zado na internet. Para a entrega dos documentos, uma dica é de que seja agendada previamente nos conselhos regionais, para agilizar o atendimento e di-minuir o tempo de espera. Cerca de 17% dos médi-cos que atuam no país ain-da precisam atualizar seus dados profissionais para a confecção da nova Cédula de Identidade Médica.

Além de contemplar a alta demanda registrada

nos dias que antecederam o fim do prazo anterior (11 de maio), a prorrogação também beneficiará o pro-cesso de implementação do chamado CRM Digital, proposto para janeiro de 2011. Após sua conclusão, o recadastramento permiti-rá definir o perfil do médico brasileiro, indicando suas características: idade, gêne-ro, local de trabalho, quali-ficações, área de atuação, entre outras – importantes dados para auxiliar pesqui-sas e estudos estatísticos que permitirão traçar as necessidades da categoria e desenvolver estratégias para enfrentá-las.

Agendamento: definir com antecedência a data de entrega dos documentos no CRM pode facilitar a vida do médico e das entidades

Prazo: a equipe do CFM trabalha para a certificação digital dos médicos, prevista para o início do próximo ano

O CRM digital facilita-rá em muito a relação do médico com os conselhos de medicina. Pedidos de transferência, emissão de certidões e de outros do-cumentos poderão ser fei-tos de casa, via online, com ganho de tempo. Também será possível realizar elei-

ções de conselheiros de ma-neira informatizada, com o voto depositado por meio de computadores privados, sem a necessidade de des-locamento. Esse leque de possibilidade tende a au-mentar com a ampliação dos serviços oferecidos pelo mundo digital.

RecadastRados %

SP 99.526 100,00RJ 51.351 92,95SC 7.087 82,04PR 12.444 81,59MT 2.194 79,49MG 24.345 79,06RO 785 72,96PE 7.684 71,83BA 9.661 71,74RN 2.274 71,24SE 1.538 68,36AP 276 67,65MS 1.927 65,06GO 4.536 65,00PB 2.500 65,00RS 14.289 64,76AC 299 62,29TO 646 60,60PA 3.020 59,75DF 4.528 58,73ES 3.394 58,72AL 1.698 52,41RR 199 51,69CE 3.759 50,61PI 1.149 49,12MA 1.039 34,58AM 873 30,43

totaL 263.021 82,58

Após concluir o preenchi-mento do formulário online (que pode ser acessado até 11 de novembro em https://recadastramento.cfm.org.br), o médico deverá se di-rigir ao CRM de seu estado portando uma foto colorida 3x4, originais e cópias da carteira de identidade, título de eleitor, CPF, compro-vante recente de residência,

diploma, títulos de especia-lista, carteira profissional e comprovante de sociedade em empresa de serviços mé-dicos, se for o caso. Se médi-co estrangeiro, deverá apre-sentar, ainda, comprovante de legalidade de permanên-cia no país. Posteriormente, em casa, receberá um aviso para retirar sua nova cartei-ra profissional.

Saiba como fazer

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MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009

INTEGRAÇÃO

MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 JORNAL MEDICINA - MAI/2010 JORNAL MEDICINA - MAI/2010

Encontros com CRMs

Com visita realizada ao Conselho Regional

de Medicina de Rondônia (Cremero), a diretoria do Conselho Federal de Medi-cina (CFM) completou uma série de 13 encontros com as entidades vinculadas que atuam nos estados. A estratégia objetiva integrar as duas esferas de decisão, o que contribuirá para arti-cular projetos e propostas em andamento. “Alinhar o discurso e construir uma ação conjunta estão entre os principais objetivos”, ex-plica o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila.

Até maio, a diretoria do CFM esteve nos CRMs de Goiás, Distrito Fede-ral, Santa Catarina, Acre, Sergipe, Pernambuco, Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Bahia. No mês de junho, estão previstos encontros no Mato Grosso do Sul (dia 16), Mato Grosso (dia 17) e Amazonas (dia 25).

Para Salomão Rodrigues Filho, presidente do Conse-lho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), que recebeu a visita em março,

a ação foi importante, pela troca de informações que propicia. “Essa articulação trará melhor desempenho no atendimento das prin-cipais demandas da classe médica”, avalia.

A receptividade tem sido idêntica em todos os estados. “Tivemos um en-contro proveitoso a partir do debate de temas de inte-resse do médico, e um im-portante foro para se tirar dúvidas sobre os principais movimentos nacionais em curso, como dos projetos do financiamento do siste-ma público, do ato médi-co, do plano de carreira no sistema público e do salário

mínimo do médico”, ressal-tou o presidente do CRM-PR, Miguel Ibraim Abboud Hanna Sobrinho, visitado em abril.

Até dezembro, todos os CRMs deverão contar com pelo menos um encontro desse tipo. Mas essa não é a única inovação na tentativa de integrar e aproximar os componentes da rede con-selhal. Regulamente, a dire-toria se reúne com o grupo de presidentes dos conse-lhos regionais para ouvir su-gestões e discutir temas de interesse.

O próximo será realiza-do em 19 de agosto, na sede do CFM, em Brasília.

Rondônia: no encontro no Estado, a diretoria do CFM avançou em seu projeto de integração com os conselhos regionais de Medicina

13 conselhos regionais receberam visita da diretoria do CFM

Conselhos entram na Justiça contra MPTermos de ajustamento de conduta

O Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Con-selho Regional de Medicina do Acre (CRM-AC) entra-ram com duas ações civis públicas na Justiça Federal para suspender as contrata-ções de profissionais sem a devida habilitação legal para o exercício da medicina no Acre. São alvos das ações o Ministério Público do Estado do Acre e algumas prefeitu-ras locais, como Acrelândia, Manoel Urbano, Porto Acre e Feijó. As entidades plane-jam ainda entrar com uma representação no Conselho Nacional do Ministério Pú-blico (CNMP) para apurar responsabilidades.

Com a alegação de difi-culdades para levar assistên-

cia médica a áreas remotas do Acre, o Ministério Público formalizou Termos de Ajus-tamento de Conduta consi-derados ilegais pelas entida-des médicas. Esses termos permitiram a contratação de médicos para o exercício da medicina sem a revalidação de diplomas obtidos no ex-terior (instrumento capaz de certificar que o profissional está preparado para atuar no Brasil) e sem o devido registro profissional, descumprindo a legislação sobre o tema.

A medida, formalizada no dia 13 de maio, foi toma-da após o esgotamento das tentativas de diálogo com o Ministério Público e o Tri-bunal de Contas do Estado. “Buscamos sensibilizar as ins-

tituições responsáveis por ze-lar pelo regime democrático e os interesses sociais, mas os termos não foram retirados”, diz a presidente do CRM do Acre, Dilza Terezinha Am-bros Ribeiro.

Para o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, “a solução do problema do acesso à assistência não pode ser resolvido ao arre-pio da lei”.

Para d’Avila, o foco do problema é entender e lidar com os motivos que afas-tam a maioria dos médicos a atuarem nos municípios mais carentes ou fora das áreas de desenvolvimento – cuja razão é a falta de políticas públicas efetivas que garantam a inte-riorização da medicina.

Diferença de classe

Cremers têm vitória junto ao STF

O Conselho Regio-nal de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) obteve vitória no Su-premo Tribunal Federal (STF) e garantiu a volta da ‘diferença de classe’ no Sistema Único de Saúde (SUS), que deixou de vi-gorar em 1991. Ela permi-te que o cidadão pague a diferença (quarto, médico, exames, medicamentos) e tenha um atendimento fora do padrão oferecido pela rede pública.

A ação é restrita aos casos de internação. Um exemplo é o paciente que prefere ser atendido numa clínica. Ele pagará a diferença, entretanto o tratamento em comum que teria na rede pública será custeado pelo pró-prio SUS. O presidente do Cremers, Cláudio Franzen, comemorou: “A

decisão é de alto alcance social, pois garante ao cidadão o direito de esco-lher seu médico, optando por internação diferen-ciada, sem perder o di-reito de que parte de suas despesas sejam cobertas pelo SUS”.

Ao julgar favoravel-mente o recurso, o mi-nistro Celso de Mello, do STF, frisou que o direito à saúde “não deve sofrer embaraços impostos por autoridades administrati-vas no sentido de reduzi-lo ou de dificultar o aces-so a ele. Inexistência, no caso, de ofensa à isono-mia”. A decisão refere-se especificamente a Giruá (cidade a 474 km de Por-to Alegre), mas seguem tramitando outras ações do Cremers, envolvendo a capital e mais 10 cida-des gaúchas.

Avança reformulação de manual para vistorias

Fiscalização

Representantes de diver-sas sociedades de especiali-dades médicas participaram em 26 de maio de mais uma rodada de discussões para a reformulação do Manual de Fiscalização do Conse-lho Federal de Medicina (CFM). Especialistas re-conhecidos nacionalmente contribuíram com propostas que serão incorporadas aos parâmetros que norteiam o trabalho que monitora as condições oferecidas para o exercício profissional do médico.

Em reunião na sede da entidade, o coordenador do Departamento de Fiscaliza-ção, Emmanuel Fortes Ca-valcanti (3º vice-presidente do CFM), esclareceu que está em construção um modelo de roteiro e esse trabalho dará origem à re-solução que regulamentará a atividade. Duas partes do roteiro de vistoria já foram concluídas (o formulário de

identificação das institui-ções e o item atendimento ambulatorial). Permanecem em estudo alguns pontos, como a identificação do corpo clínico, dos direto-res técnico e clínico e das comissões de ética médica, entre outros.

Os trabalhos estão sen-do desenvolvidos pela Co-missão de Reformulação do Manual de Fiscalização. Segundo Fortes, o quadro é grave e exige ação imediata. E cita como exemplo dos problemas encontrados um levantamento estatístico do Conselho Regional de Me-dicina de Alagoas (CRM-AL), o qual constatou que no Programa Saúde da Fa-mília (PSF), em execução no estado, cerca de 70% das equipes não possuem os equipamentos mínimos para realizar o atendimento. “Esta situação gera insegu-rança e vulnerabiliza a pro-fissão”, alertou.

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MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Jan./2010

INTEGRAÇÃO

JORNAL MEDICINA - MAI/2010

Saúde internacional

Para WMA, prescrição é exclusiva

Integração com o CFM foi tema de reunião

Academias de Medicina

Presidentes das acade-mias estaduais de medicina participaram de reunião no Conselho Federal de Medi-cina (CFM), em 19 de maio. O encontro foi mais uma etapa no processo de apro-ximação entre as entidades. Temas de interesse comum, como a humanização da medicina, a ética médica, o ensino médico e o registro histórico da medicina brasi-

leira foram abordados. A idéia de parceria agra-

dou aos participantes da reu-nião. Para o presidente da Academia Nacional de Me-dicina (ANM), Pietro No-vellino, “precisamos trabalhar para que haja um intercâmbio de contribuições”. O 1º vice-presidente do CFM, Carlos Vital, concordou: “Queremos reforçar a interação entre o sistema de conselhos e as

academias”, ressaltou ele, que é integrante da Aca-demia Pernambucana de Medicina.

Além dos membros das academias estaduais, esti-veram na sede do CFM os presidentes da Federação Brasileira de Academias de Medicina (FBAM), José Leite Saraiva (2010/2012), e Ernesto Lentz de Carva-lho Monteiro (2008/2010). No dia seguinte a essa reu-nião, Leite Saraiva tomou posse como presidente da FBAM, em cerimônia rea-lizada no Memorial Jusce-lino Kubitschek, em Brasí-lia. Na ocasião, o CFM, representado por Carlos Vital, recebeu o diploma de Sócio Benemérito da FBAM.

Agenda comum: humanização e ética estiveram na pauta

Roberto Luiz d’Avila

Na década de 70, o Brasil vivia de olho no futuro. O passar do tempo não mudou essa característica

e ainda insistimos em projetar nos anos vindouros uma realidade que deve ser construída hoje. Recentemente, o presidente do Instituto de Política Econômica Apli-cada (Ipea), Márcio Pochmann, afirmou que a conjun-tura nacional, que tem se apresentado resistente aos efeitos de crises severas em escala global, junta condi-ções de alçar o país à condição de quinta economia do mundo até o ano de 2020.

Às vésperas de uma Copa do Mundo, tal notícia soa como hino nacional em momento de entrega de meda-lhas. Não há como negar a importância de se buscar o desenvolvimento econômico de forma sustentável, an-corado em estabilidade da moeda, investimento sólido em infraestrutura, geração de empregos e democracia. Este é o sonho dourado de qualquer cidadão, de qual-quer país. Nós, brasileiros, não somos diferentes.

No entanto, dentro dessa conjuntura de estímulo ao desenvolvimento nacional, nos chama a atenção o destaque tímido – limitado até – dado às soluções para impasses que afetam a vida de milhões na área da saú-de. Historicamente, as preocupações sociais vêm a re-boque de outras, mais afeitas às políticas econômicas. Ninguém ignora que os orçamentos públicos priorizam o custeio e vêem com parcimônia os investimentos. Essa é a lógica que impera entre os tomadores de decisão.

No momento em que damos os primeiros passos na corrida eleitoral de 2010, que definirá os rumos nacio-nais pelos próximos quatro anos, e diante de perspecti-vas tão promissoras no fim desta década, acreditamos ser pertinente e oportuno cobrar dos futuros governan-tes uma resposta para este impasse. Quando estiver-mos comodamente instalados nas primeiras posições do ranking dos países mais poderosos e ricos do mundo, como isso retornará em forma de melhor assistência em saúde para a população?

Entre outros pontos, a sociedade conta com a garan-tia de mais recursos para a saúde. Em 2010, se cumpri-das todas as previsões, os governos federal, estaduais e municipais investirão, juntos, cerca de R$ 135 bilhões. Com isso, o desembolso per capita fica em, aproxi-madamente, R$ 710, ou seja, U$ 394. Mesmo com a evolução registrada nos últimos anos, o Brasil ainda está abaixo da metade da média mundial (US$ 806). Isso faz soar o alerta, pois o país assiste à mudança de seu perfil epidemiológico, com o aumento da incidência de doenças crônicas e degenerativas (cujo tratamento é mais longo e oneroso) e o aumento da esperança de vida ao nascer, atualmente em 72,7 anos.

Em boa parte, esse desequilíbrio vem da demora na implementação de medidas como a regulamentação da Emenda Constitucional 29, que há anos claudica pelo Congresso Nacional. Mas além de recursos também há que se pensar na modernização da gestão, tornando-a mais ágil e transparente.

Finalmente, o tripé se monta com o desenvolvimen-to de políticas voltadas para a valorização do profis-sional de saúde, especialmente os médicos. Em julho, no Encontro Nacional das Entidades Médicas (Enem), debateremos estes temas e levantaremos nossas pro-postas para os candidatos que se apresentam. Temos a oportunidade de assumirmos a vanguarda, ajudando a repensar o modelo de atenção brasileiro, voltados para o futuro, no qual queremos desembarcar em situação bem melhor que a atual.

PALAVRA DO PRESIDENTE

O Comitê de Ética da Associação Médica

Mundial (WMA) manteve a recomendação que não permite que profissionais de outras categorias rea-lizem prescrições. A deci-são foi tomada durante a 185ª Sessão do Conselho da WMA, realizada em Evian Lês Bains, na Fran-ça, entre 20 e 22 de maio. O tema voltará à pauta de nova reunião da entidade, prevista para outubro.

O Conselho Fede-ral de Medicina (CFM) marcou presença no en-

contro, juntamente com médicos de 24 países, e acompanhará a nova rodada. “É importante assegurarmos a exclusivi-dade do ato médico para nossa categoria. Trata-se de tema relevante que, in-clusive, aguarda votação pelo Senado Federal. Ao manter o texto, a WMA fortalece nossa posição no Brasil”, lembrou Roberto Luiz d’Avila, presidente do CFM.

Durante a sessão tam-bém foram analisadas as posições defendidas

pela WMA em reuniões recentes da Organiza-ção Mundial da Saúde (OMS). Entre elas, a necessidade de que os países-membros sigam o manual de boas práticas para os trabalhadores em saúde da Organização e que os governantes des-ses países reprimam a fal-sificação de medicamen-tos (que constitui uma das maiores preocupações da WMA). No encontro, foi aprovado o ingresso de Moçambique nos quadros da Associação.

Alerta do CFM Médico deve ter cautela com premiaçõesDiante do anúncio de

premiações para médicos, algumas delas usando o nome do CFM na intenção de se respaldar, o Conselho Federal de Medicina alerta a sociedade para as impli-cações éticas relacionadas ao recebimento desse tipo de homenagem.

“O CFM não apoia iniciativas desse tipo. Há uma resolução que veda a participação de médicos

em eventos assim”, co-mentou o 1º secretário da entidade, Desiré Callegari. A Resolução 1.701/03 pre-vê que o médico não deve permitir que seu nome seja incluído em concursos ou similares, cuja finalidade seja escolher o ‘médico do ano’, ‘destaque’ ou ‘me-lhor médico’.

Para Callegari, há até médicos “homenageados” que são enganados. “Os

organizadores descontex-tualizam frases de perso-nalidades da Medicina e as veiculam em material pu-blicitário para chamar aten-ção”, conta. De acordo com ele, o reconhecimento real vem de instituições públicas (conselhos, universidades, etc) ou privadas (associa-ções e sociedades médicas), que ao homenagear valori-zam realizações ao longo da vida profissional.