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BIO CURSOS PÓS GRADUAÇÕES CURSO DE FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL CAMILA LOBO DE AGUIAR GOMES Terapia do Espelho na reabilitação de pacientes hemiparéticos espásticos pós Doença Vascular Cerebral MANAUS - AM 2016

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BIO CURSOS PÓS GRADUAÇÕES

CURSO DE FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL

CAMILA LOBO DE AGUIAR GOMES

Terapia do Espelho na reabilitação de pacientes hemiparéticos

espásticos pós Doença Vascular Cerebral

MANAUS - AM

2016

CAMILA LOBO DE AGUIAR GOMES

Terapia do Espelho na reabilitação de pacientes hemiparéticos

espásticos pós Doença Vascular Cerebral

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado por

Camila Lobo de Aguiar Gomes, como exigência parcial

para obtenção do grau de Especialista em Fisioterapia

Neurofuncional sob orientação da Professora

Especialista Dayana Mejja e co-orientação da professora

Especialista Thais Sampaio Arruda Vignola e do

professor Especialista Paulo José Moté.

MANAUS - AM

2016

1

Terapia do Espelho na reabilitação de pacientes hemiparéticos

espásticos pós Doença Vascular Cerebral

Camila Lobo de Aguiar Gomes1

[email protected]

Dayana Mejia2

Thais Arruda Sampaio Vignola3

Paulo José Moté4

Resumo

Doença Vascular Cerebral (DVC) é uma das principais causas de sequelas permanentes

que geram incapacidades e afastamento do trabalho. Sua evolução é variável podendo

comprometer funções sensitivas, cognitivas e/ou motoras. As terapias de reabilitação

desempenham função importante na recuperação do paciente. Entre as técnicas utilizadas

a Terapia do Espelho (TE) vem ganhando destaque no que diz respeito ao tratamento de

membro superior parético (MSP). Diante disto, este artigo teve por objetivo analisar os

efeitos em hemiparéticos espásticos pós DVC submetidos à TE. Para isso foi realizado

uma revisão de literatura de artigos e livros publicados entre 2006 e 2016, onde foram

selecionadas 23 obras. Após a análise dos resultados foi constatado que o ganho de

função, o aumento da amplitude de movimento (ADM), a diminuição da dor e a

velocidade de execução foram os efeitos mais citados pelos autores. Apenas uma obra

citou a diminuição de espasticidade. A TE mostrou importante função na reabilitação do

MSP, promovendo retorno de funcionalidade.

Palavras-Chave: Terapia de Estímulo Visual. Acidente Vascular Encefálico.

Fisioterapia.

1 Pós-graduanda em Fisioterapia Neurofuncional;

2 Orientadora em Metodologia: Fisioterapeuta, Especialista em Metodologia do Ensino Superior;

3 Orientadora em Conteúdo: Fisioterapeuta, Especialista em Neurofuncional;

4 Co-orientador em Conteúdo: Fisioterapeuta, Especialista em Docência em Nível Superior;

2

1. Introdução

Doença Vascular Cerebral (DVC) constitui a terceira causa de morte no mundo, somente

atrás de cardiopatia em geral, matando mais que a própria doença coronária e o câncer.

Consiste em sinais clínicos de rápido desenvolvimento de perturbação focal da função

encefálica, de origem vascular e que os sintomas persistam por mais de 24 horas. É

considerada uma das maiores causas de sequelas permanentes que geram incapacidades e

afastamento do trabalho 1,2

.

A lesão tem instalação aguda e duração variável. Estudos afirmaram que 80% dos casos se

devem pela oclusão de uma artéria extra ou intracraniana, seja ela causada por trombose

ou embolia, caracterizando a DVC Isquêmica 1

.

A diminuição de tônus (hipotonia) é observada logo após a DVC devido aos efeitos do

choque cerebral, caracterizando a Fase Aguda da doença, apresentando curta duração, de

alguns dias ou semanas. Com o início da espasticidade, (caracterizada pelo aumento de

tônus muscular – hipertonia elástica), tem-se o início da Fase Subaguda, enquanto a Fase

Crônica se inicia após um ano de lesão 3,4

.

A evolução da DVC é extremamente variável, podendo comprometer funções motoras,

sensitivas e/ou cognitivas. Dentre os distúrbios de movimento encontrado, a hemiparesia é

o sinal clínico mais comum da doença, ocorrendo em cerca de 60% dos casos. Consiste na

tendência em manter-se em uma posição de assimetria postural, com distribuição de peso

menor sobre o lado afetado 2,5

.

Recuperar a habilidade de mover o membro superior (MS) e abrir a mão é uma das

maiores preocupações dos sujeitos hemiparéticos, uma vez que as habilidades manuais

permitem independência e tem um impacto direto nas atividades básicas de vida diária

(ABVD’s), como comer e se vestir 4.

A dificuldade em readquirir a funcionalidade no membro superior parético (MSP) ocorre

pelo conceito de paralisia aprendida, ou seja, acontece pelo longo período de não

utilização do membro comprometido. Este comprometimento é ocasionado pela

incompatibilidade entre a saída motora, a entrada de estímulos sensitivos e o retorno de

resposta visual do MSP 7.

Para promover a recuperação funcional do paciente pós-DVC a reabilitação é o principal

meio utilizado e tem como objetivos reestabelecer o controle dos movimentos e melhorar

a autonomia funcional do paciente 4.

3

Alguns estudos evidenciam a efetividade de métodos com a utilização de estímulos

visuais a fim de obter a recuperação motora em MSP pós-DVC, promovendo, em

pacientes com lesões no córtex cerebral, a neuroplasticidade. Esta acontece por meio da

reorganização funcional do encéfalo, de forma que outra região do cérebro possa assumir

as funções da região danificada 4.

Experimentos utilizando a Terapia do Espelho (TE) foram originados há mais de 15 anos

para o tratamento de doenças neurológicas crônicas, como a dor fantasma em amputados e

a hemiparesia pós-DVC. Os estudos sobre a TE, descritos pelo neurocientista indiano

Vilayanur S. Ramachandran em 1992, observaram em pacientes amputados a existência

de grande plasticidade latente no cérebro humano e que a imagem corporal pode ser

moldada durante toda a vida 6,7

.

A temática foi escolhida visando à necessidade de estudos a respeito do método,

verificando o ganho de funcionalidade do MSP, apresentando dessa forma uma nova

possibilidade de baixo custo para reabilitação de um dos comprometimentos de uma

doença de alta incidência em todo mundo. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi

verificar os efeitos da TE em pacientes hemiparéticos espásticos pós-DVC na fase

crônica.

2. Fundamentação Teórica

Doença Vascular Cerebral (DVC), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é

uma das principais causas de morte no mundo e no Brasil. O DataSUS, banco de dados do

Sistema Único de Saúde (SUS), registrou 172.526 casos de internação somente no ano de

2010 em nosso país.

O termo DVC evoluiu ao longo das últimas décadas para incluir lesões causadas por

distúrbios hemodinâmicos e da coagulação, mesmo na ausência de alterações detectáveis

nas artérias ou veias 1. Ela acomete o Sistema Nervoso Central (SNC) e representa uma

importante causa de comprometimento motor, sensorial e funcional de membro superior

(MS) e inferior do hemicorpo 8.

A doença pode ser compreendida pelo rápido acontecimento de sinais clínicos com

duração superior a 24 horas. Entre esses sintomas estão a presença de cefaléia, náusea,

rigidez na nuca, confusão mental, incoordenação, alteração de sensibilidade, marcha e fala

1,9. A incidência da DVC aumenta drasticamente com a idade, atingindo proporções

significativas após os 55 anos. Além disso, diabetes, obesidade, sedentarismo e o uso de

4

álcool, drogas e cigarro se apresentam como fatores de risco para o desencadeamento da

doença 3.

Aproximadamente 80% dos casos se devem à oclusão de uma artéria, seja por ateroma ou

êmbolos secundários, caracterizando a DVC Isquêmica. Já a DVC hemorrágica ocorre

devido a um sangramento anormal para o parênquima cerebral, em consequência de

aneurisma, malformações arteriovenosas ou hipertensão 9.

As sequelas resultantes da doença são reflexos do tamanho da localização da lesão e da

quantidade de fluxo sanguíneo colateral 2. A hemiparesia se apresenta como o sinal clínico

mais comum da doença, sendo considerada como a fraqueza em um dimídio, caracterizada

pela perda parcial da contração voluntária 4.

O transtorno da hemiparesia consiste na tendência em manter-se em uma posição de

assimetria postural, com distribuição de peso menor sobre o lado afetado, interferindo na

capacidade de manter o controle postural, impedindo a orientação e estabilidade para

realizar movimentos com o tronco e membros. Para o hemiparético essa condição

estabelece um quadro de instabilidade e de desequilíbrio, que interferem no desempenho

das atividades funcionais e prejudicam a execução de ABVD’s 2.

O tônus muscular na fase aguda da DVC pode variar, apresentando flacidez (hipotonia) na

maior parte dos pacientes, que, gradualmente, evolui até graus variados de espasticidade,

caracterizando o início da fase subaguda da doença 1. Esse sinal clínico é definido como o

aumento do tônus muscular e está relacionado com a velocidade de reação, ou seja, se o

músculo for estirado com rapidez haverá maior resistência ao movimento do que se fosse

realizado lentamente. Já a fase crônica tem início após, aproximadamente, um ano desde a

ocorrência da DVC 4.

Estudos afirmaram que até 85% dos sobreviventes de DVC possuem hemiparesia e que

desta porcentagem cerca de 75% apresenta limitações no funcionamento da extremidade

superior. Diversas intervenções terapêuticas propõem reabilitar o controle motor do MS.

Entre os tratamentos estão treinamentos físicos, tarefas orientadas, estimulação elétrica e

reabilitação robótica 10

.

O programa de tratamento deve ser iniciado logo após a estabilização clínica do paciente,

permitindo redução do grau de comprometimento funcional e de incapacidade residual 1.

Recuperar a habilidade de mover o MS e abrir a mão parece ser uma das maiores

preocupações dos sujeitos hemiparéticos, uma vez que as habilidades manuais permitem

independência e tem um impacto direto nas ABVD’s, como comer, se vestir e fazer

higiene pessoal 5.

5

A reabilitação do MSP é reduzida uma vez que esta associada à perda sensorial, que em

partes ocorre pelo mecanismo de desuso aprendido. A recuperação pós-DVC é

amplamente estudada quanto à melhora funcional, geralmente obtida nos três primeiros

meses após a doença 7.

Quando o paciente não demonstra melhoras visíveis, dentro de determinado período de

tempo, usualmente, tem se concluído que a recuperação atingiu um platô, refletindo

progressiva diminuição da capacidade de recuperação motora sem adicional benefício na

reabilitação do paciente 5.

Entretanto, estudos mostram que este princípio clínico supracitado está sendo

reconsiderado, uma vez que com a inserção de novos recursos de tratamentos nos

protocolos de reabilitação têm se gerado novas habilidades motoras no MSP além dos 6

meses pós-DVC 6.

Autores afirmam que novos projetos têm sido realizados a fim de apresentar novas

propostas de tratamentos para doenças neurológicas crônicas, tendo destaque para estudos

baseados em estímulos visuais, estes responsáveis por alterar a modulação

somatossensorial e aprimorar a qualidade motora 12

.

A maneira pela qual é estabelecida a restauração da ligação entre visão e movimento pode

levar a uma resolução do desuso aprendida em pacientes pós-DVC, e com isto em mente,

uma possível explicação clínica para os resultados seria o sistema de neurônios-espelho

(SNE) 13

.

O SNE foi descoberto, na década de 90, na área pré-motora de macacos. Resultados de

estudos de neuroimagem indicam que existe, nos seres humanos, um sistema de

neurônios-espelho que estão distribuídos em várias áreas corticais frontoparietais análogas

aos dos macacos, que são ativados durante a execução/observação de ações realizadas

com a mão, com a boca e com os pés. Acredita-se que o surgimento e o aprimoramento

dessas células propiciam o desenvolvimento de funções importantes como linguagem,

imitação e aprendizado, tornando-se, desta forma, uma contribuição importante no

processo de reabilitação pós-DVC 1.

Uma das técnicas de estímulo visual que promove a estimulação dos neurônios espelhos é

a TE. O ato de executar, observar ou imaginar um movimento ativa esses neurônios. Após

uma lesão cortical podem ter restado alguns neurônios espelhos que se encontrariam

inativos, não atingindo, portanto um limiar de disparo. A utilização da TE estimularia

esses neurônios por meio de nova entrada visual 15,16

.

6

Outra explicação para a utilização de estímulos visuais na reabilitação se dá pelos avanços

teóricos na área da neurociência, especialmente no que se diz respeito à neuroplasticidade

ou plasticidade cerebral 16

. Esta promove flexibilidade ao cérebro de forma que o sistema

nervoso possa se modificar e responder a estímulos 4.

A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro em utilizar um sistema sensorial intacto

para acessar e recrutar circuitos neurais dormentes em outras regiões do cérebro.

Experimentalmente, o fenômeno foi interpretado como um reflexo da reorganização da

representação da mão após lesão periférica do MS com a representação da parte do corpo

adjacente “invadindo” o território cortical previamente ocupado pela mão 17

.

Baseado neste princípio, em 1992 o neurocientista indiano, Vilayanur S. Ramachandran

iniciou estudos introduzindo o uso de espelhos para o tratamento de dois distúrbios

considerados por muito tempo como incuráveis: a dor fantasma em membros amputados e

a hemiparesia pós-DVC.

O neurocientista, para explorar os efeitos da neuroplasticidade, utilizou um espelho

colocado verticalmente sobre a mesa, perpendicular ao tronco do paciente, possibilitando

que o reflexo da mão fosse visualizado, substituindo a imagem do membro fantasma, onde

o movimento da mão normal era percebido como se a extremidade fantasma estivesse se

movendo 6.

Esses estudos originais permitiram detectar o desaparecimento da sensação do membro

fantasma, bem como a ausência de dor e espasmos. Os resultados dos estudos de

Ramachandran foram a primeira demonstração de reorganização topográfica no cérebro

humano, detectando que a visão domina toque e propriocepção no que se diz respeito à

reabilitação 15

.

O programa de tratamento da TE utiliza uma “caixa de espelhos”, composta por um

espelho 60x60cm apoiado na vertical no meio de uma caixa retangular. Os lados,

superiores e frontal, da caixa são removidos e o paciente posicionado em frente à caixa. O

paciente deve posicionar sua mão não afetada à frente do espelho, realizando movimentos

enquanto sua mão acometida permanece atrás do espelho 7.

Estudos utilizando a estimulação magnética transcraniana demonstraram que a visão do

reflexo da mão no espelho facilita a excitabilidade da área motora primária, equivalente a

área cerebral responsável pelos movimentos da ação observada durante o tratamento 16

.

A eficácia da TE em pacientes pós-DVC e com pouca ou nenhuma função motora em MS

tem sido testada em diversos estudos com resultados positivos. Toda vez que um comando

7

motor é enviado a mão afetada ocorre um sinal visual ou proprioceptivo que informa ao

cérebro que o braço não se move, caracterizando um desuso aprendido 7.

A terapia apresenta-se como um tratamento simples e de baixo custo, além de excelente

tolerabilidade, ausência de efeitos colaterais e a possibilidade de auto-manipulação sem

supervisão de um profissional, e ainda mais importante, dirigida especificamente para

aprimorar as funções motoras das extremidades superiores 19

.

3. Metodologia

O presente estudo foi realizado por meio de uma revisão de literatura, com fundamentação

teórica e análise do que já foi publicado sobre o tema proposto. As bases de dados

utilizadas foram: Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Literatura Latino

Americana e do Caribe (Lilacs), Medical Literature Analysand Retrieval System Online

(Medline) e Serviço de U.S. National Library of Medicine (PubMed), além de livros e

revistas científicas. Foram utilizados na busca os Descritores em Ciências e Saúde

(DeCS): terapia de estímulo visual, acidente vascular encefálico e hemiparesia.

A busca foi realizada entre julho de 2015 e fevereiro de 2016. Foram encontrados nas

bases de dados 35 artigos, onde foram selecionados 23. Também foram incluídos dois

livros. Os critérios para inclusão da literatura foram as publicações realizadas entre os

anos de 2006 e de 2016. Foram excluídos artigos que não estivessem no período de

publicação proposto e que abordassem outra doença que não DVC.

4. Resultados e Discussão

Gráfico 1: Efeitos promovidos pela Terapia do Espelho.

8

Para análise dos resultados foi elaborado o Gráfico 1, onde podemos observar os efeitos

mais citados pelos autores.

Entre os resultados mencionados o ganho de funcionalidade é o mais presente, seguido

pelo aumento da amplitude de movimento (ADM) e redução da dor, além de aumento na

velocidade do movimento. Um dos autores ainda citou a diminuição da espasticidade.

Dentre os artigos pesquisados, um dos autores realizou um estudo de caso utilizando três

pacientes com acometimento em MSP, onde foi detectado em dois voluntários o aumento

não só do recrutamento das fibras musculares, como também da força, obtendo desta

forma ganho de funcionalidade. Os autores destacaram a necessidade de dar continuidade

aos estudos a respeito do tema, uma vez que dependendo do exercício pode-se favorecer

diferentes resultados no contexto funcional, acreditando que pode haver diferentes

protocolos para a terapia dependendo do resultado em que se deseja atingir 17

.

Outro estudo de caso com um paciente pós-DVC realizou dez aplicações da TE, durante

45 minutos. Nos resultados foi verificado que após a reavaliação houve melhora de 100%

da função motora do MSP, tanto para os movimentos de punho como para os de ombro.

Os mesmos também reforçaram a necessidade de formalizar um protocolo de atendimento

18.

A aplicação da TE na reabilitação promove não só a evolução das ABVD’s, entre elas

pentear o cabelo, ir ao banheiro, vestir-se, despir-se e barbear-se, como também apresenta

melhoras em diversos aspectos analisados, sendo eles o aumento expressivo da preensão

palmar e melhora no controle dos movimentos finos e grossos de punho e de mão 19

.

A TE tem grandes implicações, tanto teóricas quanto clínicas, onde os resultados

possibilitam a recuperação de funções em pacientes hemiparéticos que sofreram DVC e

possivelmente também em outras lesões ou danos cerebrais. Os mecanismos

neurofisiológicos que envolvem a terapia ainda não estão tão claros, mas que estão

relacionados com o feedback visual promovido. Apesar disso, os resultados são evidentes,

gerando uma possibilidade segura e de resultados positivos para ganho de função 13

.

Outro dos artigos selecionados realizou um estudo de caso com seis voluntários pós-

DVC, realizando 15 sessões durante 30 minutos, onde foram divididos em dois grupos, o

primeiro realizava movimentos bilaterais e simétricos, enquanto o segundo grupo

executava flexão e extensão de punho 20

.

Os autores optaram em dividir os grupos afim de realizar uma comparação nos resultados

alcançados, uma vez que novos estudos tem defendido a resposta de Neurônios Espelhos

e mais intensificada quando os movimentos realizados no espelho são associados com

9

tarefas específicas quando se comparada com movimentos sem objetivo na execução de

tarefa. Ao final do estudo, ambos obtiveram ganho de independência funcional, sem

diferenças significativas entre os grupos.

A TE proporciona a recuperação funcional da DVC, tendo destaque para os movimentos

de flexão de punho, de pronação, de fechar a mão e de segurar objetos realizando

movimento de pinça foram os mais aprimorados após aplicação da técnica 21

. Os autores

explicaram que os ganhos motores foram conquistados uma vez que, por meio da terapia

foram produzidas alterações no córtex motor responsável pelo MSP. Além disso, a TE

teve destaque por permitir que o paciente experimentasse a sensação de sentir a mão se

mexendo logo na primeira sessão, promovendo alívio das dores e percepção de

movimento.

Outro estudo de caso com seis pacientes pós-DVC, afirmou que a TE permitiu melhora

importante de função motora para todos os pacientes, relatando, porém, que três deles não

transferiram os ganhos adquiridos para o dia-a-dia 16

.

A incorporação imediata da TE no programa de tratamento convencional de pacientes pós-

DVC, ainda na fase subaguda da doença, permitiu diminuir o tempo de recuperação funcional

dos pacientes 22.

Não há diferença de ganhos funcionais entre o MS dominante e o não dominante em

pacientes submetidos à TE. Os autores acima afirmaram que independentemente do

domínio da mão, seja ele direito ou esquerdo, não afetará o desempenho da técnica. Isso é

possível uma vez que, seja trabalhando o lado contralateral ou ipsilateral de seu domínio,

ambos irão estimular o córtex pré-motor, gerando a neuroplasticidade e

consequentemente o ganho funcional 23

.

A TE proporcionou aos pacientes a visualização da imagem de seu MSP movimentando-

se de maneira similar ao lado não afetado. Essas respostas visuais, junto com os

constantes estímulos verbais, garantiram o início de um processo de “redescoberta” da

imagem interna do MSP, favorecendo o ganho de mobilidade e de coordenação 11

.

Em estudo de caso referente aos efeitos da TE, autores constataram que todos os 20

pacientes adquiriram melhora de função motora após quatro semanas de sessões diárias

da terapia, passando a executar atividades funcionais. Todos os pacientes foram

reavaliados após um intervalo de seis meses, onde foi constatado que todas as funções

adquiridas durante as sessões 10

.

Em uma revisão de literatura acerca do tema foi analisado que além do aumento de

funcionalidade a TE promove aumento da ADM do MSP e também da velocidade para

10

realizar os movimentos solicitados, além de diminuição da dor. Os mesmos afirmaram que

a aplicação da terapia proporciona, por meio de um feedback visual, uma estimulação de

forma intensiva da capacidade adaptativa do Sistema Nervoso Central (SNC) em resposta

a experiência e adaptações de formas repetitivas 5.

A organização topográfica do cérebro humano é extraordinariamente maleável, durante

todas as fases da vida, permitindo o ganho de função motora após lesões neurológicas. Os

autores verificaram que a TE permite, não só o ganho de função motora e também

recuperação substancial na ADM, como também atuam no alívio da dor 7.

Uma série de estudos inovadores tem demonstrado que através da modulação visual

pode-se alterar a experiência somatossensorial, gerando estímulo e qualidade motora. A

utilização do espelho promove não só o ganho de ADM e de função, como também tem

notável importância no alívio da dor, uma vez que ocorre a correção entre a entrada e a

saída sensorial, que são alterados pós lesão neurológica 12

.

A aplicação da TE produz também redução nos graus de espasticidade pós-DVC,

melhorando os movimentos passivos das articulações do MSP, porém, não se verifica o

mesmo nos movimentos ativos 14

. Os autores realizaram um estudo de caso com três

pacientes em fase crônica, onde foram observada diminuição da espasticidade de dois dos

voluntários, segundo a Escala Ashworth. O paciente que não obteve melhora possui

também um grau elevado de artrose, o qual os autores associam ao fato de não ter

ocorrido diminuição.

Entretanto, de acordo com outro estudo realizado com 20 pacientes pós-DVC, após os

atendimentos os autores não verificaram a diminuição do tônus, não apresentando em seu

estudo efeito sobre a espasticidade 10

.

5. Conclusão

Com este estudo foi possível alcançar o objetivo, sendo possível descrever os principais

efeitos que a TE promove em pacientes pós-DVC, sendo o ganho de função o resultado

mais presente nos estudos analisados, acompanhados pelo ganho de ADM e a redução da

dor também foram citados. A redução da espasticidade foi citada por um autor,

entretando, outro estudo citou que após a aplicação da TE em 20 voluntários não foi

constatada redução de tônus em nenhum paciente.

A TE mostrou exercer importante função na reabilitação do MSP, permitindo o ganho de

funcionalidade e promovendo ao paciente o retorno das ABVD’s, podendo também ser

11

um recurso para aqueles pacientes que apresentam dor. Caracteriza-se como uma terapia

de fácil manuseio, baixo custo e que pode ser orientada a praticar em casa, podendo ser

associada a outras terapias a fim de aprimorar a reabilitação.

Sugere-se a realização de novos estudos com o intuito de padronizar um protocolo de

tratamento, garantindo o melhor aproveitamento deste recurso.

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