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Teoria Geral do Estado – Profa. Msc. Larissa Castro TEORIA GERAL DO ESTADO UNIDADE I 1.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA DISCIPLINA A TGE é uma disciplina que reúne conhecimentos jurídicos, filosóficos, etc, e visa ao aperfeiçoamento do Estado. Aristóteles é considerado fundador da ciência do Estado, já que escreveu um tratado sobre o Estado, denominado de “Política”. Também Platão escreveu sobre o Estado em sua obra “República”. Na Idade Média, diversos autores, assim como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino produziram estudos sobre o Estado, mas foi no século XVI que Maquiavel, em sua obra “O Príncipe” lançou os fundamentos da política como arte de governar os Estados, depois vieram autores como Hobbes, Locke, Montesquieu e Rousseau, sustentando a existência do poder político na própria natureza humana. Finalmente, no século XIX e que se desenvolveu, especialmente na Alemanha, um trabalho de sistematização da ciência política defendido por Georg Jellinek, a quem se deve a criação de uma TGE, como disciplina autônoma, tendo por objeto o conhecimento do Estado. 1.2. CONCEITOS "É a ciência geral que integra em sua síntese os princípios fundamentais das diversas ciências sociais, jurídicas e políticas que têm por objetos o Estado considerado em relação a determinados momentos históricos, e estuda o Estado de um ponto de vista unitário, em sua evolução, organização, funções e mais típicas formas, com o intuito de determinarlhe as leis de formação, o fundamento e a finalidade". Alessandro Groppali. "A TGE é a ciência geral que, na análise dos fatos sociais, jurídicos e políticos do Estado, unifica esse tríplice aspecto e elabora uma síntese que lhe é peculiar, para estudálo e explicálo na origem, na evolução e nos fundamentos de sua existência". Aderson de Menezes. 1.2. OBJETO – MÉTODOS E FONTES Quanto ao seu objeto, de maneira ampla, é o estudo do Estado sob todos os aspectos, incluindo a origem, a organização, o funcionamento e as finalidades. É o estudo do Estado em geral, do Estado como fato social, ou seja, é a ciência que investiga e expõe os princípios fundamentais da sociedade política, denominada Estado, sua origem, estrutura, forma e finalidades. Com relação ao método de estudos, podemos citar o indutivo, o dedutivo e o analógico. No entanto, a predominância do aspecto jurídico e a orientação sociológica e política. 1.3. SOCIEDADE E ESTADO 1.3.1. Os agrupamentos primários

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Teoria Geral do Estado – Profa. Msc. Larissa Castro

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TEORIA  GERAL  DO  ESTADO      

UNIDADE  I    1.1.  EVOLUÇÃO  HISTÓRICA  DA  DISCIPLINA       A   TGE   é   uma   disciplina   que   reúne   conhecimentos   jurídicos,   filosóficos,   etc,   e   visa   ao  aperfeiçoamento  do  Estado.  

    Aristóteles  é  considerado  fundador  da  ciência  do  Estado,  já  que  escreveu  um  tratado  sobre  o  Estado,   denominado   de   “Política”.   Também   Platão   escreveu   sobre   o   Estado   em   sua   obra  “República”.       Na   Idade  Média,   diversos   autores,   assim   como  Santo  Agostinho   e   Santo  Tomás  de  Aquino  produziram   estudos   sobre   o   Estado,   mas   foi   no   século   XVI   que   Maquiavel,   em   sua   obra   “O  Príncipe”   lançou  os   fundamentos  da  política   como  arte  de  governar  os  Estados,  depois  vieram  autores   como   Hobbes,   Locke,   Montesquieu   e   Rousseau,   sustentando   a   existência   do   poder  político   na   própria   natureza   humana.   Finalmente,   no   século   XIX   e   que   se   desenvolveu,  especialmente   na   Alemanha,   um   trabalho   de   sistematização   da   ciência   política   defendido   por  Georg   Jellinek,   a   quem   se   deve   a   criação   de   uma   TGE,   como   disciplina   autônoma,   tendo   por  objeto  o  conhecimento  do  Estado.    1.2.  CONCEITOS       "É   a   ciência   geral   que   integra   em   sua   síntese   os   princípios   fundamentais   das   diversas  ciências   sociais,   jurídicas   e   políticas   que   têm   por   objetos   o   Estado   considerado   em   relação   a  determinados  momentos   históricos,   e   estuda   o   Estado   de   um   ponto   de   vista   unitário,   em   sua  evolução,  organização,  funções  e  mais  típicas  formas,  com  o  intuito  de  determinar-­‐lhe  as  leis  de  formação,  o  fundamento  e  a  finalidade".  Alessandro  Groppali.       "A   TGE   é   a   ciência   geral   que,   na   análise   dos   fatos   sociais,   jurídicos   e   políticos   do   Estado,  unifica  esse  tríplice  aspecto  e  elabora  uma  síntese  que  lhe  é  peculiar,  para  estudá-­‐lo  e  explicá-­‐lo  na  origem,  na  evolução  e  nos  fundamentos  de  sua  existência".  Aderson  de  Menezes.    1.2.  OBJETO  –  MÉTODOS  E  FONTES       Quanto   ao   seu   objeto,   de   maneira   ampla,   é   o   estudo   do   Estado   sob   todos   os   aspectos,  incluindo  a  origem,  a  organização,  o  funcionamento  e  as  finalidades.       É  o  estudo  do  Estado  em  geral,  do  Estado  como  fato  social,  ou  seja,  é  a  ciência  que  investiga  e  expõe   os   princípios   fundamentais   da   sociedade   política,   denominada   Estado,   sua   origem,  estrutura,  forma  e  finalidades.       Com  relação  ao  método  de  estudos,  podemos  citar  o  indutivo,  o  dedutivo  e  o  analógico.  No  entanto,  a  predominância  do  aspecto  jurídico  e  a  orientação  sociológica  e  política.    1.3.  SOCIEDADE  E  ESTADO    1.3.1.  Os  agrupamentos  primários    

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  O   homem   é   um   ser   social   e,   portanto   não   sobrevive   sozinho,   para   sobreviver   precisa   se  associar,   unir-­‐se   aos   seus   iguais.   Assim   sendo,   vemos   que   os   agrupamentos   primários   são  aqueles   onde   existe   uma   associação,   mas   que   ainda   não   apresentam   um   fim,   não   estão  submetidos  a  um  poder,  não  visam  o  bem  comum.    1.3.2.  Origem  da  sociedade    

    O   antecedente  mais   remoto   da   afirmação   de   que   o   homem   é   um   ser   social   por   natureza  encontra-­‐se  no  séc.  IV  aC,  em  Aristóteles.  Para  este  só  o  indivíduo  de  natureza  vil  ou  superior  ao  homem,  viveria  isolado.  Nesta  mesma  ordem  de  idéias,  temos  inúmeros  autores  medievais  como  São  Tomás  de  Aquino,  os  quais  entendem  que  o  homem  é,  por  natureza,  animal  social  e  político  e  precisa  viver  em  multidão.        

Origem das sociedades (Celso Ribeiros Bastos, Dalmo de Abreu Dallari)

Teoria Naturalista ou do Impulso

Tese central: a sociedade é uma condição essencial da vida humana, inerente a ela.

Associativo Natural Autores: Aristóteles, Cícero, São Tomás de Aquino e Ranelletti

1. Origem das Sociedades e dos Agrupamentos Sociais

Teoria Contratualista

Tese central: a sociedade é um produto de um acordo de vontades devido a interesses.

(negativa do impulso associativo natural)

Autores: Platão, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau

   

Autores  modernos   se   filiam   a   essa  mesma   corrente   e   entendem  que   o   homem  é   induzido  fundamentalmente   por   uma   necessidade   natural,   porque   o   associar-­‐se   com   outros   é   condição  essencial  de  vida,  pois  só  desta  maneira  poderá  conseguir  satisfazer  as  suas  necessidades.  Assim,  para  os  autores  que  defendem  essa  teoria  a  sociedade  é  produto  da  conjugação  de  um  simples  impulso  associativo  natural  e  da  cooperação  da  vontade  humana.       Opõe-­‐se  a  esse  pensamento  o  Contratualismo.  Os  contratualistas  entendem  que  a  sociedade  é  somente  o  produto  de  um  acordo  de  vontades,  um  contrato  hipotético  celebrado  pelos  homens.  A  esse  respeito,  predomina  aceitação  no  sentido  de  compreender  ser  a  sociedade  resultante  de  uma  necessidade  natural  do  homem,  sem  excluir  a  participação  da  vontade  humana.    1.4.3.  Elementos  característicos  da  sociedade       Como   observado,   para   os   contratualistas   a   sociedade   é   fruto   da   vontade   humana.   Os  naturalistas,  por  outro  lado,  defendem  que  a  sociedade  decorre  da  natureza  humana.  É  comum,  grupo   de   pessoas   se   reunirem   em   determinados   lugares   em   função   de   objetivos   comuns.   Tal  reunião,  no  entanto,  ainda  que  numerosa  e  motivada  por  interesses  relevantes  para  o  grupo  não  se   pode   dizer   tenha   se   constituído   uma   sociedade.   Surge   daí,   então,   a   pergunta   que   se   busca  

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responder  quanto  ao  que  é  necessário  para  que  um  grupo  humano  possa  ser  considerado  como  sociedade.   Dallari   argúi   que   em   toda   sociedade   existe:   a)   uma   finalidade   ou   valor   social;   b)  manifestações  de  conjunto  ordenadas  e  c)  o  poder  social.       Quanto  ao  poder  social  -­‐  há  autores  e  teorias  que  negam  a  necessidade  do  poder  social,  são  os  chamados  "anarquistas"  (Diógenes,  Leon  Duguit,  Proudhon,  Mikhail  Bakunin,  Kropotkin,  etc.  Por  uma   série  de   circunstâncias,   entre   as  qual   o   excessivo   apelo   à   violência,   o   anarquismo   foi  perdendo  adeptos  ao  longo  do  tempo.       Mas,  a  maioria  dos  autores  reconhece  a  necessidade  do  poder.  Na  verdade  o  poder  sempre  existiu,  apenas  mudou  de  forma  com  o  passar  do  tempo.  Se  nos  primórdios  se  confundia  com  a  idéia   de   força,   após   uma   evolução,   percebe-­‐se   que   o   poder   se   utiliza   da   força,   mas   não   se  confunde  com  esta.  Assim,  o  poder  e  o  direito  devem  ser  vistos  como  fenômenos  concomitantes.  O  poder  deve  ser  uma  encarnação  do  próprio  grupo,  resumindo  suas  aspirações.  A  coletividade  deve  manifestar  seu  consentimento,  pois  assim  o  poder  será  considerado  legítimo.    1.4.3.  Finalidade  social:  O  determinismo.  As  teorias  Finalistas.  O  bem  comum.       Para   que   um   grupo   de   pessoas   seja   considerado   como   uma   sociedade,   deve   ter   como  objetivo   uma   finalidade   comum.   Essa   afirmação   pressupõe   um   ato   de   escolha,   um   objetivo  conscientemente  estabelecido.  Na  doutrina,  encontramos  duas  correntes  que  tratam  do  assunto:    1)  Determinismo   -­‐   negam  a  possibilidade  de   escolha.   Para   estes   não  há  um  objetivo   a   atingir,  pelo   contrário,   existe  uma   sucessão  de   fatos  que  o  homem  não  pode   interromper.   Para   eles   o  homem  está  submetido,   inexoravelmente,  a  uma  série  de   leis  naturais,   sujeitas  ao  princípio  da  causalidade.   Como   características   assinalam-­‐se   o   medo   a   toda   mudança,   a   toda   novidade  imprevista  e  o  desejo  de  ser  subjugado  ou  de  subjugar.    2)  Finalismo  –  sustentam  os  finalistas  ser  possível  a  fixação  de  uma  finalidade  social,  por  meio  de  um  ato  de   vontade.  Essa   finalidade  deverá   ser   algo,   um  valor,   um  bem,  que   todos   considerem  como  tal,  ou  seja,  a  finalidade  social  é  o  bem  comum.  É  preciso,  entretanto  estabelecer  uma  idéia  precisa  do  que  seja  o  bem  comum.       O   melhor   conceito   de   bem   comum   foi   formulado   pelo   Papa   João   XXIII:   "O   bem   comum  consiste   no   conjunto   de   todas   as   condições   de   vida   social   que   consistam   e   favoreçam   o  desenvolvimento  integral  da  personalidade  humana".       Por   fim,  se  afirmando  que  a  sociedade  humana  tem  por   finalidade  o  bem  comum,  significa  dizer  que  ela  busca  a  criação  de  condições  que  permitam  a  cada  homem  e  a  cada  grupo  social  a  consecução  de  seus  respectivos  fins  particulares.    1.4.5)  As  sociedades  políticas  -­‐  Sociedades  de  fins  políticos.       De   acordo   com   sua   finalidade,   podemos   distinguir   duas   espécies   de   sociedades:   a)  sociedades   de   fins   particulares   -­‐   têm   finalidade   definida,   voluntariamente   escolhida   por   seus  membros   e;   b)   sociedades  de   fins   gerais   -­‐   objetiva   criar   as   condições  necessárias   para   que   os  indivíduos   e   as   demais   sociedades   que   nela   se   integram   consigam   atingir   os   seus   fins  particulares.       As   sociedades   de   fins   gerais   são   as   chamadas   sociedades   políticas.   Visam   criar   condições  para   a   consecução   dos   fins   particulares   de   seus  membros,   ocupam-­‐se   da   totalidade   das   ações  

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humanas,   coordenando-­‐as   em   função   de   um   fim   comum.   Entre   estas,   a   que   atinge   um   circulo  menor  de  pessoas  é  a  família.  Mas,  a  sociedade  política  de  maior  importância  é  o  Estado.    1.5.  Origem  do  Estado       Devemos   analisar   essa   questão   sob   dois   aspectos,   sendo   estes,   com   base   nas   teorias  filosóficas  e  os  outros  fundados  na  origem  histórica  e  jurídica  do  Estado.    1.5.1.  Teoria  da  origem  familial  do  Estado       É   das   mais   antigas   teorias   sobre   a   origem   do   Estado.   Fundamentam   seus   autores,   no  desenvolvimento   e   ampliação   da   família.   Baseiam-­‐se   essas   teorias,   hoje   adotadas   por   poucos  autores,   nas   tradições   e   mitos   de   civilizações   antiguíssimas   e   dividem-­‐se   em   duas   correntes:  teoria  patriarcal  e  teoria  matriarcal.       A   teoria  patriarcal   busca   sustentar  que  o  poder  político   é  derivado  de  um  núcleo   familiar  onde   a   autoridade   suprema   reside   na   figura   do   ascendente   varão   mais   velho.   A   sociedade  política  em  tal  caso  representa  a  ampliação  da  família  patriarcal.       A   teoria   matriarcal   sustenta   que   a   primeira   organização   familiar   teria   emergido   da  autoridade   materna.   Foi   defendida   por   Durkheim.   Fundamenta-­‐se   no   fato   de   que   a   genitora  representava  a  autoridade  mais  relevante  de  uma  organização  familiar  primitiva.    1.5.2.  Teorias  da  origem  contratual  do  Estado       Sob   denominação   de   teorias   racionalistas,   agrupam-­‐se   todas   aquelas   que   justificaram   o  Estado   como   de   origem   convencional   (pactual,   contratual),   isto   é,   como   produto   da   razão  humana.   São   as   chamadas   teorias   contratualistas   ou   pactistas.   Partem   de   um   estudo   das  primitivas  comunidades  em  estado  de  natureza.  Concluem  seus  autores  que  a  sociedade  civil  (o  Estado  organizado)  nasceu  de  um  acordo  entre  os  indivíduos.       Hobbes   e   Spinoza   consideram   que   os   homens   se   viram   forçados   a   pôr   fim   ao   Estado   de  natureza   mediante   um   contrato.   Teriam   abdicado   de   seus   direitos   em   nome   de   apenas   um,  fundando   o   Estado.   Nesse   sentido,   Locke   e   Grotius,   entenderam   que   houve   uma   associação  voluntária,   baseada   no   consentimento   de   todos.   Rousseau,   por   sua   vez,   funda   o   contrato   na  igualdade  dos  homens.  É  a  chamada  "vontade  geral".       Essas  teorias  partem  da  concepção  do  homem  em  estado  de  natureza,  de  onde  se  derivam  todas  as  relações  sociais.  Tais   teorias  ganharam  fama  de   filosofia  racionalista  e  se  propagaram  pela  era  moderna.       Três   são   as   principais   teorias   do   contrato.   O   primeiro   contratualista   foi   Thomas   Hobbes  (1588/1679),   filósofo   inglês  que  em  1651  publicou  o  "Leviatã  ou  a  Matéria,  Forma  e  Poder  de  uma  Comunidade  Eclesiástica  e  Civil",  na  qual  expõe  a  sua  construção  sobre  o  assunto.       Para  o  autor  o  único  caminho  para  erigir  um  poder  comum,  capaz  de  defender  os  homens  contra  a  invasão  dos  estrangeiros  e  contra  as  injúrias  alheias,  assegurando-­‐lhes  de  tal  sorte  que  por  sua  própria  atividade  e  pelos  frutos  da  terra  possam  nutrir-­‐se  e  viver  satisfeitos,  é  conferir  todo   o   poder   e   fortaleza   a   um   homem   ou   a   uma   assembléia   de   homens,   todos   os   quais,   por  pluralidade  de  votos,  possam  reduzir  suas  vontades  a  uma  vontade.   Isto  equivale  dizer:  eleger  um  homem  ou   uma   assembléia   de   homens   que   represente   sua   personalidade;   e   que   cada   um  considere  como  próprio  e   se   reconheça  a  si  mesmo  como  autor  de  qualquer  coisa  que   faça  ou  

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promova   quem   representa   sua   pessoa,   naquelas   coisas   que   concernem   à   paz   e   à   segurança  comuns;  que,  ademais,  submetem  suas  vontades  cada  um  à  vontade  daquele,  e  seus  juízos  a  seu  juízo.  Isto  é  algo  mais  que  consentimento  ou  concórdia;  é  uma  unidade  real  de  tudo  isso  em  uma  e  a  mesma  pessoa,   instituída  por  pacto  de  cada  homem  com  os  demais,   em   forma   tal   como  se  cada   um   dissesse   a   todos:   autorizo   e   transfiro   a   este   homem   ou   assembléia   de   homens  meu  direito  de  governar-­‐me  a  mim  mesmo,  com  a  condição  de  que  vós  transferireis  a  ele  vosso  direito  e   autorizareis   todos   seus   atos   da  mesma  maneira.   Feito   isso,   a  multidão   assim  unida   em  uma  pessoa  se  denomina  comunidade  (Estado).       John  Locke  (1632/1704),  pensador  inglês  que  em  1690  trouxe  a  obra  o  Segundo  Tratado  do  Governo  Civil,  refuta  as  idéias  de  Hobbes  e  faz  apologia  a  Revolução  de  1688  e  começa  aludindo  ao  estado  de  natureza  que  "é  um  estado  de  perfeita  liberdade",  sem  ser,  entretanto  um  estado  de  licença,  sendo  regido  por  uma  lei  natural  que  obriga  a  cada  um;  e  a  razão,  que  se  confunde  com  esta   lei,   ensina   a   todos   os   homens,   se   querem   bem   consultá-­‐la,   que,   sendo   todos   iguais   e  independentes,  nenhum  deve  criar  obstáculo  a  outro  em  sua  vida,  sua  santidade,  sua  liberdade  e  seus  bens.  Ao  contrário,  o  estado  de  guerra  é  um  estado  de  ódio  e  de  destruição,  daí  promanando  a  diferença  evidente  entre  os  dois,  o  que   leva  o   filósofo  a  dizer  que  "quando  os  homens  vivem  juntos   e   conforme   a   razão,   sem   ter   sobre   a   terra   superior   comum  que   tenha   autoridade   para  julgá-­‐los,  se  acham  propriamente  em  estado  de  natureza.       Jean-­‐Jacques   Rousseau   (1712/1778)   nos   oferece   duas   importantes   obras   para   reflexão  sobre   o   Estado:   "Discurso   sobre   a   origem   da   desigualdade   entre   os   Homens”   e   o   “Contrato  Social”,  editados  em  1754  e  respectivamente  em  1762.       No  Contrato  Social,  Rousseau  distende  em  bases  puramente  teóricas,  os  princípios  segundo  os  quais  se  poderiam  organizar  um  pequeno  Estado  poderoso  e  prospero  na  persuasão  de  que  o  homem  só   foi   feliz  na   época  em  que  vivia   sem  problemas,   em  meio  a  pequenos  grupos,  numa  vida   pastoral   e   fácil,   ocupado   com   os   negócios   materiais   de   existência   e   com   as   afeições   da  família.   Depois,   quando   começou   a   refletir,   o   homem   inventou:   a   propriedade,   que   causou   a  miséria  de  uns  e  a  riqueza  excessiva  de  outros;  o  luxo,  que  criou  os  vícios;  a  instrução,  que  criou  a  ambição,  as  inquietações  de  espírito.       O  Estado  é   convencional,   afirmou  Rousseau,   resulta  da  vontade  geral,   que  é  uma   soma  da  vontade  manifestada  pela  maioria  dos  indivíduos.  A  nação  (povo  organizado)  é  superior  ao  rei.  Não   há   direito   divino   da   Coroa,   mas,   sim,   direito   legal   decorrente   da   sobrania   nacional.   A  soberania   nacional   é   ilimitada,   ilimitável,   total   e   incontrastável.   O   Governo   é   instituído   para  promover   o   bem   comum,   e   só   é   suportável   enquanto   justo.   Não   correspondendo   ele   com   os  anseios   populares   que   determinaram   a   sua   organização,   o   povo   tem   o   direito   de   substituí-­‐lo,  refazendo  o  contrato.  (sustenta  assim,  o  direito  de  revolução).       Sob   o   martelar   dessas   máximas   que   empolgaram   a   humanidade   sofredora,   ruíram-­‐se   os  alicerces   da   construção   milenar   do   Estado   teológico   e   desencadeou-­‐se   a   revolução   francesa  contra  a  ordem  precária  do  absolutismo  monárquico.       Na   parte   relativa   ao   estado   de   natureza   a   filosofia   de   Rousseau   é   oposta   à   de   Hobbes   e  Spinoza.   Para   estes   autores,   o   estado   de   natureza   primitivo   era   um   estado   de   guerra  mútua,  enquanto   que,   para  Rousseau,   era   de   felicidade   perfeita:   "o   homem,   em   estado   de   natureza,   é  sadio,  ágil  e  robusto".  Encontra  facilmente  o  pouco  que  precisa.  Os  únicos  bens  de  que  precisam  são  os  alimentos,  a  mulher  e  o  repouso.  Os  únicos  males  de  que  temem  são  a  dor  e  a  fome.  

  A  teoria  contratualista  entrou  em  declínio  no  século  XIX,  sendo  substituída  por  argumentos  utilitários  e  socialistas,  que  tendiam  a  outras  considerações  sobre  a  finalidade  do  Estado.  Todavia,  depois  da  década  de  60,  novas  versões  de  contrato  social  foram  surgindo.  

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 1.5.3.  Teorias  da  origem  violenta  do  Estado  (ou  Teoria  da  Força,  como  prefere  Sahid  Maluf)       São  contemporâneas  das  teorias  contratualistas.  Seus  autores  vêem  na  sociedade  política  o  produto  da  luta  pela  vida,  nos  governantes  a  sobrevivência  dos  mais  fortes.  Filia-­‐se  a  esta  tese:  Oppenheimer  etc.  Onde  um  grupo  domina  outro,  estabelecendo  uma  organização  que  facilite  esta  dominação.   Glumplowicz   e   Oppenheimer   desenvolveram   amplos   estudos   a   respeito   das  primitivas  organizações  sociais,  concluindo  que  foram  elas  resultantes  das  lutas  travadas  entre  os   indivíduos,   sendo  o  poder  público  uma   instituição  que  surgiu  com  a   finalidade  de  regular  a  dominação  dos  vencedores  e  a  submissão  dos  vencidos.  Franz  Oppenheimer,  médico,   filósofo  e  professor   de   ciência   política   em   Frankfurt,   escreveu   textualmente:   "o   Estado   é   inteiramente,  quanto  à  sua  origem,  e  quase  inteiramente,  quanto  à  sua  natureza,  durante  os  primeiros  tempos  da  sua  existência,  uma  organização  social  imposta  por  um  grupo  vencedor  a  um  grupo  vencido,  destinado  a  manter  esse  domínio  internamente  e  a  proteger-­‐se  contra  ataques  exteriores".     Os  marxistas  (não  Marx,  mas  principalmente  Engels)  apontam  a  luta  de  classes  para  explicar  o  fenômeno.  Apontam  o  Estado  como  a  classe  dominante,  economicamente  mais  poderosa,  que  assim  adquire  novos  meios  para  explorar  os  mais  fracos.       Outro  grupo  é  o  dos  chamados  "cínicos"  (Miguel  Elias).  É  correto  afirmar  que  a  guerra  e  a  dominação  de  povos  vencidos  é  um  dos  modos  de  formação  de  novos  Estados.  Não  é,  porém,  a  origem  do  Estado.  O  erro  está  no   fato  de  quando  um  grupo  domina  outro,  organiza  uma  nova  ordem  política,  mas  o  Estado  já  existia.  Cria  um  novo  Estado.  Para  os  autores,  a  obra  de  Charles  Darwin  sobre  a  evolução  das  espécies  sustenta  a  teoria  da  força.    1.5.4.  Formação  histórica  do  Estado       A   classificação  mais   considerada  pela  doutrina   é   a  de  Bluntschli.   Para  o   autor,   três   são  os  modos  pelos  quais  historicamente  se  formam  os  Estados:    I)  originários  -­‐  a  formação  é  inteiramente  nova,  nasce  diretamente  da  população  e  do  país,  sem  derivar   de   outro   já   preexistente.   Ou   seja,   se   daria   quando,   sobre   um   território   que   não  pertencesse  a  nenhum  Estado,  uma  população  se  organizasse  politicamente.  No  mundo  atual,  em  que   toda   a   superfície   sólida  do   globo   está  dividida   em  Estados,   é   impossível   esse  processo  de  formação;  II)  secundários  -­‐  quando  vários  Estados  se  unem  para  formar  um  novo  Estado,  ou  quando  um  se  fraciona  para   formar  outros.  Há  que   se   explicar,   entretanto  que  o   fracionamento  deve   ser  por  impulso  interno;  III)  derivados  -­‐  quando  a  formação  se  produz  por  influência  exterior,  de  outros  Estados.  Dentre  esses  modos  a  colonização  é  o  mais  geral  e  importante.    1.5.5.  Formação  jurídica  do  Estado       Grande  parte  da  doutrina,  capitaneada  por  Carré  de  Malberg,  afirma  que  o  Estado  deve  antes  de   tudo   sua  existência   ao   fato  de  possuir  uma  Constituição.  Porém,  nem  sempre   será  possível  fixar  esse  momento  (salvo  o  caso  das  Constituições  escritas).       Por   isso   outros   autores   preferem   considerar   como   nascimento   jurídico   do   Estado   o  momento   em   que   ele   é   reconhecido   pelas   demais   potências,   o   que   é   matéria   de   Direito  Internacional.  

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Evolução histórica do Estado

Por Estado Antigo, Oriental ou Teocrático, entenda-se às formas mais recuadas no tempo, que apenas começavam a definir-se entre as antigas civilizações do Oriente ou Mediterrâneo. A família, a religião, o Estado, a organização econômica formavam um conjunto confuso, sem diferenciação aparente. Não se distingue o pensamento político da religião, da moral, da filosofia ou das doutrinas econômicas.

Existem duas marcas características desse período; a natureza unitária ( o Estado sempre aparece como uma unidade geral, não admitindo qualquer divisão interior, nem territorial, nem de funções. ) e a religiosidade. ( a presença do fator religioso é tão marcante que o Estado desse período pode ser chamado de Estado Teocrático ).

A influência predominante é religiosa, afirmando a autoridade dos governantes e as normas de comportamento individual e coletivo como expressão da vontade de um poder divino.

Nessa teocracia, há uma estreita relação entre o Estado e a divindade, podendo-se apontar a existência de duas formas diferentes;

a) em certos casos o governo é unipessoal e o governante é considerado um representante do poder divino, confundindo-se, às vezes, com a própria divindade. A vontade do governante é sempre semelhante à da divindade, dando-se ao Estado um caráter de objeto, submetido a um poder estranho e superior a ele.

b) em outros casos, o poder do governante é limitado pela vontade da divindade, cujo veículo é um órgão especial: - a classe sacerdotal. Há uma convivência de dois poderes, um humano e um divino, variando a influência deste, segundo circunstâncias de tempo e lugar.

Estado Grego- Estado forte, as pessoas participam na organização do mesmo. Cidade Estado – Valor aos cientistas, filósofos, etc. Noções de Democracia. Auto - suficiência – Um Estado forte não aceita influências dos outros povos. Experiência fechada. Povo A característica fundamental do Estado Grego é a cidade – Estado, ou seja, a polis, como a

sociedade política de maior expressão. O ideal visado era a auto–suficiência, a autarquia, dizendo Aristóteles que a “a sociedade

constituída por diversos pequenos burgos forma uma cidade completa, com todos os meios de se abastecer por si, tendo atingido, por assim dizer, o fim a que se propôs. Essa auto-suficiência tem muita importância na preservação do caráter da cidade-Estado, fazendo com que, mesmo quando esses Estados efetuaram conquistas e dominaram outros povos, não se efetivasse expansão territorial e não se procurasse a integração de vencedores e vencidos numa ordem comum.

No Estado Grego o indivíduo tem uma posição peculiar. Há uma elite, que compõe a classe política, com intensa participação nas decisões do Estado, a respeito dos assuntos de caráter público. Entretanto, nas relações de caráter privado a autonomia da vontade individual é bastante restrita. Assim pois, mesmo quando o governo era tido como democrático, isto significava uma faixa restrita da população – os cidadãos – é que participava das decisões políticas, o que também influiu para a manutenção das características de cidade-Estado, pois a ampliação excessiva tornaria inviável a manutenção do controle por um pequeno número.

Estado Romano Império Mundial - Base familiar - Povo - Magistrados - Cristianismo. Tem início com um pequeno agrupamento humano, experimentou várias formas de governo,

expandiu seu domínio por uma grande extensão do mundo, atingindo povos de costumes e organizações absolutamente díspares, chegando à aspiração de constituir um império mundial. Apesar do longo tempo decorrido e do vulto das conquistas Roma sempre manteve as características básicas de cidade-Estado, desde sua fundação em 754ªC., até a morte de Justiniano, em 565 da era cristã.

O domínio de uma grande extensão territorial e sobretudo o cristianismo iriam determinar a superação da cidade-Estado, promovendo o advento de novas formas de sociedade política, englobadas no conceito de Estado Medieval.

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Uma das peculiaridades mais importantes do Estado Romano é a base familiar da organização, havendo mesmo quem sustente que o primitivo Estado, a civitas, resultou da união de grupos familiares ( as gens ), razão pela qual sempre se concederam privilégios especiais aos membros das famílias patrícias, compostas pelos descendentes dos fundadores do Estado.

Assim como no Estado Grego, durante séculos, o povo romano participava diretamente do governo, mas a noção de povo era muito restrita, compreendendo apenas uma faixa estreita da população. Como governantes supremos havia os magistrados, sendo certo que durante muito tempo as principais magistraturas foram reservadas às famílias patrícias.

Em lenta e longa evolução, outras camadas sociais adquirem e ampliam direitos sem que desaparecesse a base familiar e a ascendência nobre tradicional.

Nos últimos tempos, já com o despontar das idéias de Império (uma das marcas do Estado Medieval), Roma pretendeu realizar a integração jurídica dos povos conquistados mas, mantendo um sólido núcleo de poder político, que assegurasse a unidade e a ascendência da cidade de Roma. Ainda que se tratasse de um plebeu romano, quando este já conquistara amplos direitos, teria situação superior à de qualquer membro dos povos conquistados, até o ano de 212 , quando o imperador Caracala concedeu a naturalização a todos os povos do império.

“o objetivo do edito de Caracala foi político, a unificação do Império; foi religioso, visa aumentar os adoradores dos deuses de Roma; foi fiscal, quer obrigar os peregrinos a pagar impostos nas sucessões; foi social, com vistas a simplificar e facilitar as decisões judiciais, nos casos sobre o Estado e a constituição das pessoas.”( Geraldo de Ulhoa Cintra).

Essa abertura foi o começo do fim, inicia-se uma fase de transição, dinamizada com o Edito de Milão, em 313, em que Constantino assegura a liberdade religiosa no Império, desaparecendo, por influência do cristianismo, a noção de superioridade dos romanos, que fora a base da unidade do Estado Romano.

Estado Medieval Cristianismo – Bárbaros – Feudalismo –Instabilidade (Política, Econômica, Social). Idade média, classificada por alguns como a noite negra da história da humanidade e glorificada

por outros como um extraordinário período de criação, que preparou os instrumentos e abriu os caminhos para que o mundo atingisse a verdadeira noção do universal. No plano do Estado trata-se de período dos mais difíceis, tremendamente instável e heterogêneo, não sendo simples a busca das características de um Estado Medieval.

Ainda assim, é possível estabelecer a configuração e os princípios informativos das sociedades políticas que, integrando novos fatores, quebraram a rígida e bem definida organização romana, revelando novas possibilidades e novas aspirações, culminando no Estado Moderno.

O cristianismo, as invasões dos bárbaros e o feudalismo foram principais elementos que se fizeram presente na sociedade política medieval, conjugando-se para a caracterização do Estado Medieval.

É preciso ressaltar que mesmo quando as formações políticas revelam intenso fracionamento do poder e nebulosa noção de autoridade, está presente a aspiração à unidade. Quanto maior a fraqueza revelada mas se acentuava o desejo de unidade política que tivesse um poder eficaz como o de Roma e que, ao mesmo tempo, fosse livre da influência de fatores tradicionais, aceitando o indivíduo como um valor em si mesmo.

O cristianismo vai ser a base da aspiração à universalidade. Superando a idéia de que os homens valiam diferentemente, de acordo com a origem de cada um, faz-se uma afirmação de igualdade, Afirma-se a unidade da Igreja, num momento em que não se via uma unidade política.

Motivos religiosos e pragmáticos levaram à conclusão de que todos os cristãos deveriam ser integrados numa só sociedade política. E, como havia a aspiração de que toda a humanidade se tornasse cristã, era inevitável que se chegasse à idéia do Estado universal, que incluísse todos os homens guiados pelos mesmos princípios e adotando as mesmas normas de comportamento público e particular.

A própria igreja estimula a afirmação do império como unidade política pensando no Império da Cristandade e, com esse intuito é que o Papa Leão III confere a Carlos Magno, no ano de 800, o título de imperador. Entretanto, dois fatores de perturbação influem nesses planos; em primeiro lugar, a infinita

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multiplicidade de centros de poderes, como os reinos, os senhorios, as comunas, as organizações religiosas, as corporações de ofícios, todos ciosos de sua autoridade e de sua independência, jamais se submetendo à autoridade do Imperados; em segundo lugar , o próprio imperador recusando submeter-se à autoridade da Igreja, havendo imperadores que pretenderam influir em assuntos eclesiásticos, bem como inúmeros papas que pretenderam o comando, não só dos assuntos de ordem espiritual, mas a de todos os assuntos de ordem temporal.

A luta entre Papa e Imperador, que marcaria os últimos séculos da Idade Média, só vai terminar com o nascimento do Estado Moderno, quando se afirma a supremacia absoluta dos monarcas na ordem temporal.

No Estado medieval a ordem era sempre bastante precária, pela improvisação das chefias, pelo abandono ou pela transformação de padrões tradicionais, pela presença de uma burocracia voraz e quase sempre todo-poderosa pela constante situação de guerra ( invasão dos bárbaros ) e, inevitavelmente, pela própria indefinição de fronteiras políticas.

Para que se entenda a organização feudal é preciso ter em conta que as invasões e as guerras internas tornaram difícil o desenvolvimento do comércio. Em conseqüência valoriza-se a posse da terra, de onde todos, ricos ou pobres, poderosos ou não, deverão tirar os meios de subsistência. Assim, toda a vida social passa a depender da propriedade ou da posse da terra, desenvolvendo-se um sistema administrativo e uma organização militar estreitamente ligados à situação patrimonial.

Vai ocorrer através de três institutos jurídicos, a confusão entre o setor público e o privado; Pela vassalagem os proprietários menos poderosos colocavam-se a serviço do senhor feudal.

Obrigando-se a dar-lhe apoio nas guerras e a entregar-lhe uma contribuição pecuniária, recebendo em troca sua proteção. Outra forma de estabelecimento de servidão era o benefício, contratado entre o senhor feudal e o chefe de família que não possuísse patrimônio. Este último recebia uma faixa de terra para cultivar, dela extraindo o sustento de sua família, além de entregar ao senhor feudal uma parcela da produção. Estabelecido o benefício. O servo era tratado como parte inseparável da gleba e o senhor feudal adquiria, sobre ele e sua família, o direito de vida e morte, podendo assim estabelecer as regras de seu comportamento social e privado. Por último, é importante considerar a imunidade, instituto pelo qual se concedia a isenção de tributos às terras sujeitas ao benefício.

A vassalagem era uma relação jurídica de caráter pessoal, enquanto que o benefício tinha o sentido de estabelecimento de um direito real, mas ambos implicando o reconhecimento do poder político do senhor feudal e contribuindo para que o feudo tivesse sua ordem jurídica próprias, desvinculada do Estado.

Conjugados os três fatores que caracterizaram o Estado Medieval. mais como aspiração do que como realidade; um poder superior, exercido pelo imperador, com uma infinita pluralidade de poderes menores, sem hierarquia definida; uma incontável multiplicidade de ordens jurídicas, compreendendo a ordem imperial, a ordem eclesiástica, o direito das monarquias inferiores, um direito comunal que se desenvolveu extraordinariamente, as ordenações do feudos as regras estabelecidas no fim da idade média pelas corporações de ofícios. Esse quadro, como é fácil de compreender, era causa e conseqüência de uma permanente instabilidade política, econômica e social, gerando uma intensa necessidade de ordem e de autoridade, que seria o germe de criação do Estado Moderno.

Estado Absolutista Rei - Poder soberano e ilimitado. Quando a Igreja romana, já no ocaso da Idade Média, começou a sofrer os ataques do liberalismo

religioso e da filosofia racionalista, reagiu de maneira vigorosa, enquanto o governo temporal, por sua vez, entrou em luta aberta contra o Papado. Um dos episódios que assinalam o termo inicial dessa luta foi a prisão do Papa Bonifácio VIII por Felipe, o Belo, Rei da França, no século XIV

O Papado deslocou-se de Roma para Avinhão, no Reno, em território francês, permanecendo nesse Cativeiro Babilônico durante sessenta e oito anos. A volta do Papado com Gregório XI a Roma, em 1377, não restaurou o prestígio da Santa Sé, dado o advento do Grande Cisma, com a existência de dois Papas, um em Roma e outro em Avinhão, durante mais trinta anos aproximadamente.

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Liberadas do poder de Roma e fortalecidas pela dissolução do feudalismo, as monarquias medievais caminharam para a centralização absoluta do poder, chegando a suplantar a própria autoridade eclesiástica.

Um dos primeiros expoentes do absolutismo monárquico que se inicia no século XV foi Luiz XI, Rei da França, o qual anexou à coroa os feudos, subjugou a nobreza guerreira e pôs em prática uma violenta política unificadora que seria sustentada por Richelieu e Mazarin, até atingir o seu apogeu com Luiz XIV.

O absolutismo monárquico que compõe o período de transição para os tempos modernos teve suas fulgurações produzidas pelo verniz teórico dos humanistas da Renascença, os quais afastando os fundamentos teológicos do Estado, passaram a encarar a ciência política por um novo prisma, exageradamente realista.

Ao mesmo tempo em que a Renascença restaurou e aperfeiçoou a majestade das artes antigas restabeleceu, no seu panorama político, os costumes pagãos e a prepotência das cidades gregas e romanas.

É desta época a doutrina de Maquiavel ( O Príncipe ) Estado Moderno Distinção de poder - Liberdade. As deficiências da sociedade política medieval determinaram as características fundamentais do

Estado Moderno. A aspiração à antiga unidade do Estado Romano, jamais conseguida pelo Estado Medieval, iria crescer de intensidade em conseqüência da nova distribuição da terra.

Com efeito, o sistema feudal, compreendendo uma estrutura econômica e social de pequenos produtores individuais, constituída de unidades familiares voltadas para a produção de subsistência, ampliou o número de proprietários, tanto dos latifundiários quanto dos que adquiriram o domínio de áreas menores.

Os senhores feudais, por seu lado, já não toleravam as exigências de monarcas aventureiros e de circunstância, que impunham uma tributação indiscriminada e mantinham um estado de guerra constante, que só causavam prejuízo à vida econômica e social.

Desperta a consciência para a busca da unidade que se concretiza com a afirmação de um poder soberano, no sentido de supremo, reconhecido como o mais alto de todos dentro de uma precisa delimitação territorial.

O Estado Moderno, cujas marcas fundamentais, desenvolvidas espontaneamente, foram-se tornando mais nítidas com o passar do tempo e à medida que, claramente apontadas pelos teóricos, tiveram sua definição e preservação convertidas em objetivos do próprio Estado.

Existe uma grande diversidade de opiniões quanto ao número dos elementos essenciais para a existência do Estado.

Em face dessa variedade de posições, sem descer aos pormenores de cada teoria, poderíamos indicar a existência de quatro elementos essenciais - a soberania, o território, o povo e a finalidade -, cuja síntese nos conduzirá a um conceito de Estado que nos parece realista, porque considera todas as peculiaridades verificáveis no plano da realidade social.

Estado liberal Pouca intervenção estatal - Pouco poder – Individualismo – Separação do poder – Soberania

popular – Supremacia constitucional – Direitos e garantias individuais. O Estado liberal, marcando o advento dos tempos modernos, correspondia nos seus lineamentos

básicos com as idéias então dominantes. Era a realização plena do conceito de direito natural, do humanismo, do igualitarismo político que os escritores do século XVIII deduziram da natureza racional do homem, segundo a fórmula conclusiva de que “os homens nascem livres e iguais em direitos; a única forma de poder que se reveste de legitimidade é a que for estabelecida e reconhecida pela vontade dos cidadãos”.

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Quer sob a forma de monarquia constitucional, quer sob a forma republicana, a organização traduzia os ideais que empolgaram o mundo ao tempo das revoluções populares inglesa, norte-americana e francesa:

- soberania nacional, exercida através do sistema representativo de governo; - regime constitucional, limitando o poder de mando e assegurando a supremacia da lei; - divisão do poder em três órgãos distintos ( Legislativo, Executivo e Judiciário ) com limitações

recíprocas garantidoras das liberdades públicas; - separação nítida entre o direito público e o direito privado; - neutralidade do Estado em matéria de fé religiosa; - liberdade, no sentido de não ser o homem obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão

em virtude de lei; - igualdade jurídica, sem distinção de classe, raça, cor, sexo, ou crença; - igual oportunidade de enriquecimento e de acesso aos cargos públicos, às conquistas da ciência e

à cultura universitária; - não-intervenção do poder público na economia particular, etc. Era esse o arcabouço teórico do Estado Liberal. Entretanto, não correspondia essa teoria com a

realidade. Assim como a República de Platão, que fora arquitetada no mundo das idéias, o Estado Liberal seria realizável, como se disse algures, numa coletividade de deuses, nunca numa coletividade de homens.

Empolgados pelas novas idéias racionalistas, fortemente sedutoras mas impregnadas de misticismo, os construtores do Estado Liberal perderam de vista a realidade. Desconheceram uma das mais importantes revoluções que a história política do mundo registra – a revolução industrial -, que se iniciara na Inglaterra em 1770 e que modificaria fatalmente a realidade social em todos os países, criando problemas até então desconhecidos mas perfeitamente previsíveis. Processada à ilharga da revolução popular francesa, continuaria pelos tempos modernos a hostilizar cada vez mais o Estado Liberal, minando os alicerces da sua estrutura.

Em verdade, o liberalismo que se apresentara perfeito na teoria bem cedo se revelou irrealizável por inadequado à solução dos problemas reais da sociedade. Converteu-se no reino da ficção, com cidadãos teoricamente livres e materialmente escravizados.

Estado Constitucional Poder civil – Princípio da legalidade – Poder estatal único. O Estado constitucional, no sentido de Estado enquadrado num sistema normativo fundamental, é

uma criação moderna, tendo surgido paralelamente ao Estado Democrático e, em parte, sob influência dos mesmos princípios. Os constitucionalistas, que estudam em profundidade o problema da origem das constituições, apontam manifestações esparsas, semelhantes, sob certos aspectos, às que se verificam no Estado Constitucional moderno, em alguns povos da antigüidade.

O constitucionalismo, assim como a moderna democracia, tem suas raízes no desmoronamento do sistema político medieval, passando por uma fase de evolução que iria culminar no século XVIII, quando surgem os documentos legislativos a que se deu o nome de Constituição.

Sob influência do jusnaturalismo, afirma-se a superioridade do indivíduo, dotado de direitos naturais inalienáveis que deveriam receber a proteção do Estado; desenvolve-se a luta contra o absolutismo dos monarcas, ganhando grande força os movimentos que preconizavam a limitação dos poderes dos governantes; ocorre a influência considerável do Iluminismo, que levaria ao extremo a crença na razão, refletindo-se nas relações políticas através de uma racionalização do poder. São estes portanto, os grandes objetivos que, conjugados, iriam resultar no constitucionalismo: a afirmação da supremacia do indivíduo, a necessidade de limitação do poder dos governantes e a crença quase religiosa nas virtudes da razão, apoiando a busca da racionalização do poder.

O constitucionalismo teve, quase sempre, um caráter revolucionário. Da própria noção de Constituição, resultante da conjugação dos sentidos material e formal, resulta

que o titular do poder constituinte é sempre o povo. É nele que se encontram os valores fundamentais que informam os comportamentos sociais, sendo ilegítima a Constituição de um indivíduo ou de um grupo e

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não do povo a que a Constituição se vincula. A Constituição autêntica será sempre uma conjugação de valores individuais e valores sociais, que o próprio povo selecionou através da experiência.

Ainda hoje, não desapareceu a necessidade de impor limitações ao poder para proteção dos valores fundamentais do indivíduo que continua a ser a base da vida social, devendo-se proceder a conjugação dos valores individuais e sociais e promove-los adequadamente.

Para a proteção e promoção dos valores fundamentais de convivência é indispensável o Estado Democrático, que impõe a observância de padrões jurídicos básicos, nascidos da própria realidade.

Não está, portanto, superada a necessidade de se preservar a supremacia da Constituição, como padrão jurídico fundamental e que não pode ser contrariado por qualquer norma integrante do mesmo sistema jurídico. As normas constitucionais, em qualquer sistema regular, são as que têm o máximo de eficácia, não sendo admissível a existência, no mesmo Estado, de normas que com elas concorram em eficácia ou que lhes sejam superiores. Atuando como padrão jurídico fundamental, que se impõe ao Estado, aos governantes e aos governados, as normas constitucionais condicionam todo o sistema jurídico, daí resultando a exigência absoluta de que lhes sejam conformes todos os atos que pretendam produzir efeitos jurídicos dentro do sistema.

UNIDADE II - ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO (ou elementos essenciais do Estado)

Quanto aos elementos essenciais do Estado, essencial por ser indispensáveis para a existência

do Estado, existe uma grande diversidade de opiniões. A maioria dos autores indica três elementos, embora divirjam quanto a eles. De maneira geral, costuma-se mencionar a existência de dois elementos materiais, o território e o povo, havendo variedade de opiniões quanto ao terceiro elemento. Chamado de elemento formal, e comumente identificado com o poder.

Dalmo Dallari, por seu turno, ciente das variadas posições que entendem os diversos autores

sobre os elementos essenciais do Estado, comenta sobre a soberania, o território, o povo e a finalidade. 2.1. Povo É a parcela da população do Estado considerada sob o aspecto jurídico, é o grupo humano

integrado numa ordem estatal determinada. É o conjunto de indivíduos submetidos às mesmas leis. São os súditos ou os cidadãos de um mesmo Estado e sua aceitação como elemento essencial para a constituição e existência do Estado é unânime.

Um conceito simplificado é dado por aqueles que consideram o povo como o conjunto de

cidadãos de um Estado. Para fazer parte de um povo, é preciso ser cidadão, ou seja, que possuam direitos e deveres que permitam a esse indivíduo participar da formação da vontade do Estado. É um elemento constitutivo necessário a existência do Estado.

População

“Totalidade de habitantes de um país ou de uma região. Designa conjunto de pessoas, ou forma uma classe”: - De Plácido e Silva.

É expressão que envolve um conceito aritmético, quantitativo, demográfico, pois designa a massa total dos indivíduos que vivem dentro das fronteiras e sob o império das leis de um determinado país.

É o conjunto heterogêneo dos habitantes de um país, sem exclusão dos estrangeiros, dos apátridas, dos súditos coloniais, etc. Quando se diz que a população do Brasil é de duzentos milhões, por exemplo, nesse número não figuram apenas os brasileiros (nacionais) mas a massa total dos habitantes.

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Relaciona-se ao aspecto quantitativo, numérico, dos habitantes de um país. Engloba tanto os nacionais como os estrangeiros que residem no território. Não é um elemento constitutivo do Estado. Pode se dizer que é apenas elemento presente no Estado.

Materializa a noção de Estado. É o principal elemento do Estado. Conjunto dos indivíduos que, através de um momento jurídico, se unem para constituir o Estado,

estabelecendo com este um vínculo jurídico de caráter permanente, participando da formação da vontade do Estado e do exercício do poder soberano.

Essa participação e este exercício podem ser subordinados, por motivos de ordem prática, ao atendimento de certas condições objetivas, que assegurem a plena aptidão do indivíduo . Todos os que se integram no Estado, através da vinculação jurídica permanente, fixada no momento jurídico da unificação e da constituição do Estado, adquirem a condição de cidadãos, podendo-se, assim, conceituar o povo como o conjunto dos cidadãos do Estado.

A aquisição da cidadania depende sempre das condições fixadas pelo próprio Estado, podendo ocorrer com o simples fato do nascimento e determinadas circunstâncias, bem como pelo atendimento de certos pressupostos que o Estado estabelece.

A condição de cidadão implica direitos e deveres que acompanham o indivíduo mesmo quando se ache fora do território do Estado.

Cidadania é a pessoa estar de posse do direito civil e político, participando do Estado. Participação constante em todos os atos.

Cada indivíduo integrante do povo participa também da natureza de sujeito, derivando-se daí duas situações: a) os indivíduos, enquanto objetos do poder do Estado, estão numa relação de subordinação e são , portanto, sujeitos de deveres. ( súdito ) b) enquanto membros do Estado, os indivíduos se acham, quanto a ele e aos demais indivíduos, numa relação de coordenação, sendo, neste caso, sujeitos de direitos.

No início o Estado é criado para servir o povo, depois, avilta-se, e o povo (súdito) é quem serve ao Estado. Hoje, volta-se à origem porém, com sentido de cidadão.

Súdito - Povo - Cidadão (consciência). Povo = elemento que vai participar Cidadão = elemento que vai participar “bem”. Quando cidadão específico de um lugar, por

exemplo, cidadão brasileiro, tanto se considerada o nacional como o estrangeiro naturalizado, que, sendo cidadão, adquiriu a qualidade de brasileiro pela naturalização.

O povo participa na estrutura do Estado, a população não. Numericamente falando, a população é maior que o povo. Todas as pessoas que preenchem os requisitos para a formação estatal é povo. O estrangeiro não é. Nação

Muitos autores confundem a nação com o Estado. Nação refere-se ao conjunto de pessoas que se sentem unidas pela origem comum, pelos interesses comuns, por ideais e aspirações comuns. Se o povo é uma entidade jurídica, a nação é uma entidade moral.

Sua conceituação não é fácil. De todos os fatores que possam determinar a sua formação, o

racial, é o mais precário (raça pura = pré-história - migrações, guerras). Há quem considere a língua (Canadá, Suíça). Por fim a religião (guerras religiosas dentro de uma mesma nação). Na verdade, a raça, a língua e a religião não são fatores essenciais que constituam o caráter fundamental da nação.

A identidade de história e de tradição (a nação não é apenas presente), o passado comum.

Cícero ilustra que, o que une os homens em Estado é o reconhecimento dos mesmos direitos e a identidade de interesses.

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A nação é uma realidade sociológica (de ordem subjetiva); o Estado uma realidade jurídica (necessariamente objetivo).

São os seguintes os fatores que entram na formação nacional: a) naturais ( territórios, unidade étnica e idioma comum ); b) Históricos ( tradições, costumes, religião e leis ); c) Psicológicos ( aspirações comuns, consciência nacional etc. ). Assim, Nação é uma entidade de direito natural e histórico. Conceitua-se como um conjunto

homogêneo de pessoas ligadas entre sí por vínculos permanentes de sangue, idioma, religião, cultura e ideais.

- A Nação pode existir sem Estado. - A Nação tem em comum com os seus cidadãos; a origem, os interesses, os ideais, as aspirações. - A Nação não é sinônimo de povo. Cidadania - é o direito político conferido ao cidadão para que possa participar da vida política do

país em que reside e pode ser; natural (decorre do nascimento). E Legal (através da naturalização). Raça Nação é uma unidade sócio-psíquica, enquanto raça é uma unidade bio-antropológica. Uma nação pode ser formada de várias raças. A Nação Brasileira, por exemplo, constituiu-se de

três grupos étnicos (lusitano, africano e ameríndio). Por outro lado, de um só tronco racial podem surgir várias Nações. A raça é irrelevante para o Estado. A raça interessa à biologia e à antropologia. O que interessa para o Estado é a nacionalidade.

2. Território

O território é a base física, o âmbito geográfico da nação, onde ocorre a validade da sua ordem jurídica (Hans Kelsen)

Condição geográfica da atividade estatal. É o segundo elemento essencial de existência do Estado. É a base física, a porção do globo por ele ocupada e que serve de limite para sua jurisdição. É o país propriamente dito e não se confunde com povo e nação, muito menos com Estado (do qual é apenas um dos elementos).

Limites do Território: a) Sobre o mar - no caso do Brasil é de 200 milhas do Estado brasileiro, estabelecido por vários

tratados internacionais. Por vários séculos o critério era o alcance de um tiro de canhão. Somente no séc. XX isto mudou. O que gerou confusão foi o crescimento da utilização do mar para fins econômicos.

b) Espaço aéreo - problema de difícil solução, aumentado com a virada do séc. XX e o desenvolvimento da aeronáutica. Devido ao risco para a paz mundial do grande desenvolvimento das conquistas espaciais, a ONU, em 1966 celebrou um Tratado do Espaço Exterior, ou seja, que proíbe que um Estado possa se apossar do espaço ultra terrestre.

c) Terra firme e subsolo - para o primeiro servem os Estados-limítrofes, que delimitam, e com o segundo, não há problema, pois não há ameaça a soberania.

Fronteiras Literalmente, significa aquilo que se encontra à frente. É comum o seu emprego no sentido de linha divisória ou limites, entre dois prédios ou entre dois

territórios. No entanto, fronteira e limites se distinguem; - limites são linhas de intercessão, linhas de contato, linha de separação entre duas coisas, que se

acham juntas ou unidas, mas limitadas ou demarcadas por essas linhas. - fronteira é o espaço ocupado pela coisa em frente de outro espaço, ocupado por outra coisa; não

se mostram linhas , possuindo maior grandeza ou extensão que estas. É a parte da frente que está em

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frente de outra parte. Não é tão estreita como a dimensão dos limites (apegada aos pontos de contato das duas coisas, mostrando-se a mesma para ambas), enquanto que as fronteiras são duas; uma para cada lado.

As fronteiras podem ser: - Naturais – estabelecidas por acidentes geográficos. - Artificiais – fixadas por meio de tratados. Feitas pelo homem. Ex: muro de Berlim. - Esboçadas – não estabelecidas com precisão. Existe algum marco que se pode identificar como

sinal de fronteira - Morta – O limite está no papel mas, no chão não há identificação. - Viva – não tem dúvida do limite. É e pronto.

2.5. Elemento político 2.5.1. O poder político Para alguns autores o problema do poder é o tema central da TGE. O poder é um elemento

essencial do Estado. Isto porque, sendo o Estado uma sociedade, não poderia existir sem poder. Assim sendo, o poder político está intimamente ligada à soberania.

Discute-se sobre ser o poder do Estado exclusivamente poder político, ou se também é poder

jurídico. Para alguns autores o poder do Estado seria poder político, incondicionado e preocupado em assegurar sua eficácia, sem qualquer limitação. Alguns outros, capitaneados por Kelsen sustentam teoria jurídica.

2.6. Soberania O primeiro autor a conceituar soberania foi Jean Bodin. Para ele, soberania é o "poder

absoluto e perpétuo de uma República". Esse conceito foi de fundamental importância para o surgimento e definição do Estado moderno. Tal conceito, no entanto, não difere em muito, de conceitos contemporâneos que concluem que a soberania é um poder do Estado. Em tal sentido, soberano é o Estado que não depende de outro Estado, é um Estado independente politicamente.

Para o professor Paulo Napoleão Nogueira da Silva a "A soberania pode ser definida como o

poder de autodeterminação. É o poder do Estado de não admitir qualquer interferência exterior nos assuntos de seu exclusivo interesse".

Para Carré de Malberg a soberania designa, não o poder, mas uma qualidade do poder do

Estado. A soberania é o grau supremo a que pode atingir esse poder, supremo no sentido de não reconhecer outro poder juridicamente igual ou superior a ele dentro do mesmo Estado. De tal sorte, quando o Estado traça normas para regular as relações entre os indivíduos que lhes estão sujeitos, sobre a organização da família, a punição de criminosos, sobre o comércio, etc., exerce o poder de modo soberano e as normas que edita são coativas, sem que qualquer outro poder ou autoridade interfira ou se oponha.

A soberania do Estado é considerada geralmente sob o aspecto interno e sob o externo.

Assim sendo, sob o aspecto interno, a soberania do Estado se manifesta quando edita leis que subordinam a todos os indivíduos que habitam seu território. De forma externa, quer significar que a soberania do Estado se manifesta nas relações recíprocas entre os Estados, não havendo subordinação nem dependência, e sim igualdade.

A soberania no conceito da escola clássica é una: não pode existir mais de uma autoridade soberana em um mesmo território; indivisível: o poder delega atribuições reparte competências mas não divide a soberania; inalienável: o corpo social é uma entidade coletiva datado de vontade própria, resultante da soma das vontades individuais e se consubstancia na Constituição e nas leis; e imprescritível:

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a soberania não pode sofrer limitação no tempo, um Estado quando nasce, nasce definitivamente, não se concebendo soberania temporária.

2.6.1. Doutrina teocrática da soberania As teorias do direito divino, ou chamadas teorias teocráticas, ensinam que todo o poder vem

de Deus (omnis potestas a Deo) e são divididas em duas correntes de pensamento denominadas de teorias do direito divino providencial e teoria do direito divino sobrenatural.

Para a teoria do direito divino sobrenatural, sendo Deus a causa primeira de todas as coisas, é

também nele que reside a origem do poder. Deus criou todas as coisas e, portanto criou o Estado e a autoridade. É por vontade de Deus que existe uma hierarquia social e que, em toda sociedade existem governantes e governados. Daí surgiu a lógica monarquista do absolutismo: "Se Deus designa a pessoa que deve exercer o poder e, se os reis, são reis por vontade de Deus, logo, somente a Deus devem contas".

De um só golpe, os reis se subtraíram à autoridade dos Papas e à intervenção do povo e

tornaram seu poder absoluto. Essa teoria foi defendida por Jean Bodin no século XVI e foi denominada de teoria absoluta

do rei. Dizia referido autor: "a soberania do rei é absoluta, originaria, ilimitada, perpétua e irresponsável em face de qualquer outro poder, temporal ou espiritual".

Para a doutrina do direito divino providencial Deus não intervém diretamente para indicar a

pessoa que deve exercer o poder, mas sim indiretamente, pela direção providencial nos acontecimentos humanos. É doutrina que se assemelha ao pensamento de Santo Tomás de Aquino, para o qual, o poder vem de Deus, criador de todas as coisas. Para Santo Tomás, é por Deus que os reis reinam e os legisladores fazem leis justas. As leis opressivas, que impõem encargos injustos aos súditos ultrapassam os limites do poder conferido por Deus e não se é obrigado a respeitá-las. No mesmo sentido, Belarmino entende que o poder tem por titular imediato a multidão. "O poder é de direito divino, mas Deus não o deu a nenhum homem em particular e sim a todo o povo".

Várias doutrinas democráticas atribuem ao povo, ou à nação, o poder político e seus

principais autores são do século XVI, dentre estes, Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau. Para Hobbes, os homens, em épocas primitivas, viviam fora da sociedade, em estado de

natureza. Todos eram iguais em seus direitos naturais, sem nenhuma autoridade. Um verdadeiro anarquismo que levou com que criassem a sociedade política, cedendo cada um, esses direitos naturais a um poder comum a que se submeteram por temor, disciplinando seus atos em benefício da coletividade. Para Locke, os homens são iguais e possuem os mesmos direitos naturais à vida, à liberdade e à propriedade. Porém, a ausência de leis fundamentais, de uma autoridade que dirima os conflitos e defenda legitimamente o homem contra a injustiça dos mais fortes, determina uma situação de instabilidade e incertezas na sociedade primitiva. Para solucionar tais problemas foi criada a sociedade política, o Estado. Locke faz referência aos três poderes do Estado: Legislativo, Executivo e Judiciário. Segundo Rousseau, para manter a ordem e evitar maiores desigualdades, os homens criaram a sociedade política, a autoridade e o Estado mediante um contrato. Por esse contrato o homem cede ao Estado parte de seus direitos naturais, criando assim uma organização política com vontade própria, que é a vontade geral. Mas, dentro dessa organização, cada indivíduo possui uma parcela do poder, da soberania, e, portanto recupera a liberdade perdida em conseqüência do contrato social.

Limites da Soberania. A soberania é limitada pelos princípios de direito natural, pelo direito grupal e pelos imperativos da

coexistência pacífica dos povos na órbita internacional.

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- princípios de direito natural - o Estado é apenas instrumento de coordenação do direito, e porque o direito positivo, que do estado emana, só encontra legitimidade quando conforme com as leis eternas e imutáveis da natureza.

"uma lei humana não é verdadeiramente lei senão enquanto deriva da lei natural; se, em certo ponto, se afasta da lei natural, não é mais lei e sim uma violação da lei - s. Tomás de Aquino".

- pelo direito grupal, isto é, pelos direitos dos grupos particulares que compõem o Estado (grupos biológicos, pedagógicos, econômicos, políticos, espirituais, etc.), bem como pelos imperativos da coexistência pacífica dos povos na órbita internacional.

Sendo o fim do estado a segurança do bem comum, compete-lhe coordenar a atividade e respeitar a natureza de cada um dos grupos menores que integram a sociedade civil.

O Estado existe para servir ao povo e não o povo para servir o Estado. O governo há de ser um governo de leis, não a expressão da soberania nacional simplesmente. As

leis definem e limitam o poder. "a autoridade do direito é maior do que a autoridade do Estado". - imperativos da coexistência de Estados soberanos, no plano internacional, não podendo invadir

a esfera de ação das outras soberanias. Limitam a soberania o princípio da coexistência pacífica das soberanias. Todos os Estados têm seu espaço para fazer seu ordenamento jurídico válido e eficaz dentro de seu território.

2.7. Governo Para alguns autores, terceiro elemento do Estado, é uma delegação de soberania nacional, é o

conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da administração pública. Para Duguit, a palavra governo tem dois sentidos: coletivo, como conjunto de órgãos que

presidem a vida política do Estado, e singular, como poder executivo, órgão que exerce a função mais ativa na direção dos negócios públicos.

2.8. Conceito de Estado Significa uma situação permanente de convivência, ligada à sociedade política. Na verdade,

encontrar um conceito de Estado que satisfaça a todas as correntes doutrinárias é absolutamente impossível.

Podemos sintetizar o conceito de Estado, juntando características das correntes como: ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território.

2.9. Finalidades e funções do Estado Para alguns autores a finalidade é o quarto elemento do Estado. Há autores que consideram o

Estado como um fim em si mesmo, ou seja, como ideal e síntese de todas as aspirações do homem e das forças sociais. Para outros é justamente o contrário, o Estado seria um meio para que os homens e as forças sociais atingissem os seus fins (corrente majoritária).

Sobre o Bem Comum: o melhor conceito de bem comum foi formulado pelo Papa João

XXIII: "O bem comum consiste no conjunto de todas as condições de vida social que consistam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana".

 UNIDADE  III  -­‐  Estado,  Poder  e  Direito  

 3.1.  Personalidade  jurídica  do  Estado    

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  Com  relação  ao  tema,  reina  na  doutrina  uma  divergência  profunda.  Na  verdade,  a  concepção  do  Estado  como  pessoa  jurídica  representa  um  extraordinário  avanço  na  disciplina  jurídica.  Esta  noção  promove  a  conciliação  do  político  com  o  jurídico.       A   origem   da   concepção   do   Estado   como   pessoa   jurídica   pode   ser   atribuída   aos  contratualistas.   Mas,   só   no   século   XIX,   através   das   obras   dos   publicistas   alemães,   apareceu   a  idéia  de  Estado  como  pessoa  jurídica.       Neste  momento  destacamos  Savigny,  que,  entretanto  considera  a  personalidade  do  Estado  uma   ficção   (Teoria   Ficcionista   -­‐   Estado   como   pessoa   jurídica   por   convenção,   produto   de   um  direito).  Para  ele,  certos  agrupamentos  de  interesses  coletivos  (dentre  os  quais  o  Estado),  tinham  reconhecida  sua  utilidade  pública,  o  que  posteriormente   lhe  dava  a  condição  de  personalidade  jurídica.  Influência  esta,  sentida  por  Kelsen.       Por  fim,  como  observa  Miguel  Reale,  o  Estado  possuiria  uma  face  social,  jurídica  e  política,  e  o   que   podemos   evidenciar   é   que   devemos   equacionar   todas   as   suas   faces,   sem  que   possamos  prescindir  qualquer  uma  delas.          

Unidade  IV  -­‐  Formas  de  Estado      

4.1.  Classificação    a)  Perfeitos   -­‐  aqueles  que  reúnem  os  elementos  constitutivos  e  apresenta  plena  personalidade  jurídica.  Subdividem-­‐se  em  simples  e  compostos.  b)  Imperfeitos  -­‐  quando  falta  um  de  seus  elementos  constitutivos,  mesmo  que  temporariamente      4.1.1.  Estados  simples  e  compostos.    a)  Simples  -­‐  duas  características  principais  -­‐  corresponde  a  um  grupo  populacional  homogêneo  e  apresenta   um   poder   único   e   centralizado.   Ex:   França,   Portugal,   Itália,   etc.   São   os   Estados  Unitários.  b)  Compostos  -­‐  apresentam  estrutura  complexa,  com  centralização  pequena  do  poder.  Ocorrem  com  a  união  de  dois  ou  mais  Estados  apresentando  duas  esferas  distintas  de  poder.       Os  compostos  são  divididos  em  compostos  por  coordenação  (Estado  Federal,  Confederação  de  Estados,   união  de  Estados)   e   compostos   por   subordinação   (Estado   vassalo,   Estado   satélite,  Estado  cliente,  Estado  exíguo).    4.1.2.  Estados  compostos  por  subordinação    a)  Estados  vassalos   -­‐  situação   intermediária  entre  a  subordinação  e  a   independência.  Processo  por  que  passavam  as  províncias  de  um  império  antes  de  se  tornarem  independentes;  b)   Estados   exíguos   -­‐   são   aqueles   que   por   possuírem   um   pequeno   território   e   população  igualmente  pequena,  não  têm  meios  de  exercer  a  sua  soberania  de  modo  completo.  Ex:  Mônaco  e  San  Marino;  c)   Estados   cliente   e   satélites   -­‐   os   Estados   clientes   foram   aqueles   da   América   Central   que  entregaram   aos   EUA   a   administração   alfandegária,   exército,   etc.   Renunciaram   assim,   a   algum  serviço  público  de  seu  Estado  soberano.  Conservaram  sua  personalidade  jurídica  internacional,  

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soberania  plena,  mas  não   tinham  total   liberdade  em  política  externa.  Com  relação  aos  Estados  satélites,   são   analogicamente   relacionamos   com   os   casos   da   ex-­‐União   Soviética,   só   que  subordinados  politicamente  a  esta.    4.1.3.  Estados  compostos  por  coordenação    a)  A  união  de  Estados  por  coordenação,  pode  ser  pessoal,  real  ou  incorporada:  1ª)   Pessoal   -­‐   É   o   governo   de   dois   ou   mais   países   por   um   só   monarca.   É   união   de   natureza  precária,   transitória   e   resulta   de   eventuais   direitos   sucessórios   ou   convencionais.   Ex:   Jayme   I  governou  a  Inglaterra  e  Escócia;  Alemanha  e  Espanha  sob  o  governo  de  Carlos  V,  etc.)    2ª.   Real   -­‐   É   união   efetiva   e   permanente,   de   dois   ou  mais   países   formando   uma   só   pessoa   de  direito   público   internacional.   Ex:   Áustria   e   Hungria;   Inglaterra,   Escócia   e   Irlanda   formaram   a  Grã-­‐Bretanha.  Este  último  é  também  conhecido  como  incorporação  ou  união  incorporada.    b)   Confederação   -­‐   É   uma   união   convencional   de   Estados,   geralmente   com   a   finalidade   de  assegurar  a  defesa  comum.  É  exemplo  dessa  união  a  confederação  Helvetica  formada  pela  Suíça,  atualmente   conhecida   como   união   federal;  Mais   recente,   tivemos   a   Confederação   dos   Estados  Unidos  da  América  do  Norte  -­‐  1776/1787  e  a  Confederação  Germânica  -­‐  1815  e  a  Comunidade  dos   Estados   Independentes   -­‐   CEI,   composta   pela   Rússia,   Ucrânia   e   Bielorrúsia.   A   essa   união,  outras  nove  repúblicas  se   integraram.  Na  confederação  os  Estados  que  a  compõem  conservam  sua  soberania.      4.2.  Estado  Federal       É  a  forma  mais  sofisticada  de  organização  do  poder  dentro  de  um  Estado.  É  a  repartição  do  poder   entre   o   governo   central   (União)   e   as   organizações   regionais   (Estados-­‐membros   ou  províncias).      

  No   mesmo   território,   existem   duas   ordens   jurídicas   diferentes.  Brasil, EUA, México, Argentina, e Venezuela são estados federais.     É   a   descentralização   política   das   unidades   federadas   que   elegem   seus   governantes   e  elaboram  leis  relativas  aos  seus  interesses  locais.  No  federalismo  os  Estados  federados  perdem  a  soberania  em   favor  da  União  Federal.  O Estado federal é uma organização formada sob a base de uma repartição de competências entre o governo nacional e os governos estaduais, de sorte que a União tenha supremacia sobre os Estados membros e estes sejam entidades dotadas de autonomia constitucional perante a mesma união    4.3.  Federalismo  no  Brasil.       Passou  a  ser  adotado  em  1889,  com  a  implantação  da  República,  e  com  o  advento  da  CF  de  1891  e  confirmado  pela  CF  de  1934.  Sob  o  Estado  Novo  (Era  Vargas  -­‐  1937/1945)  voltamos  a  um  Estado   Unitário.   Com   a   CF   de   1946   ressurge   o   federalismo   no   Brasil   e   volta   a   sofrer   um  enfraquecimento  durante  o  regime  militar  nascido  em  1964,  mas  com  a  CF  de  1988  mostra-­‐se  a  disposição  federalista  do  Brasil.       Passou-­‐se  a  dar  maior  autonomia  aos  estados-­‐membros  a  partir  da  atual  Constituição.  Em  nossa   constituição   adotamos   três   ordens   (e   não   duas   como   normalmente   nas   federações)   -­‐  ordem  total  (União),  ordens  regionais  (os  Estados)  e  locais  (Municípios).    

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a)   Estados-­‐membros   -­‐   gozam   de   autonomia.   Porém   este   autogoverno   é   limitado   pelo   poder  soberano.  b)  Distrito  Federal  -­‐  passou  a  ter  representação  semelhante  aos  estados-­‐membros;  c)   Municípios   -­‐   entidade   política   de   existência   prevista   como   necessária.   Autonomia   e  competências  mínimas,  conferidas  pela  CF.  

- As unidades federadas não são atados na exata acepção do termo; são Províncias, como no

Brasil-Império, na Argentina e em outras federações. - Segundo a doutrina Norte Americana, denomina-se Estados-membros. - O Poder de auto-determinação dos Estados-membros denomina-se autonomia, não

soberania. Os Estados membros só têm personalidade jurídica de direito público interno, não internacional. Não possuem representações diplomáticas nem firmam tratados.

- Perante o direito público internacional. A federação é Estado simples, isto é, uma unidade. Só a União é sujeito de direito internacional.

- No sistema congressual bicameral, próprio da forma federativa, a câmara dos deputados representa a população nacional, e o Senado é composto de delegados dos Estados membros, embora sejam estes eleitos pelo voto popular, em cada unidade.

- O governo federal não dispõe de poder de domínio sobre os territórios estaduais; dispõe de poder de jurisdição, nos limites de sua competência.

- Além das unidades federadas, são partes integrantes da federação os territórios, sem autonomia política, colocados sob a administração direta do governo central.

- O Distrito Federal é a sede do governo da União. É também uma das unidades integrantes da federação e goza de relativa autonomia, devendo necessariamente possuir assembleia Legislativa própria.

- No Continente americano contam-se cinco Repúblicas federativas: EEUU, México, Brasil, Argentina e Venezuela.

UNIDADE  V  -­‐  Formas  de  Governo    5.1.  Origem       Nos   primórdios,   as   formas   de   governo   eram   as   diferentes   organizações   institucionais   do  Estado.   Na   atualidade,   as   denominadas   formas   de   governo   são   tidas   como   gênero,   posto   que  abracem  duas  espécies  variáveis  de  acordo  com  a  história:  a)  Sistema  de  governo;  b)  regime  de  governo.    5.2.  Classificações  antigas  e  modernas:    5.2.1.  Aristóteles       A  mais   antiga   classificação  e   considerada  por  muitos,   até  hoje   a  melhor   (Darcy  Azambuja,  Dalmo  Dallari),   foi   dada  por  Aristóteles.   Adota   o   autor   uma   classificação  dupla   e   considera   as  formas  puras  e  impuras,  conforme  a  autoridade  é  exercida  (base  moral).  A  segunda  classificação  se  dirige  a  um  critério  numérico,  número  de  governantes.    Combinando-­‐se  os  dois  critérios  temos:  Formas  puras:  -­‐   Monarquia  -­‐  governo  de  um  só;  -­‐   Aristocracia  -­‐  governo  de  vários;  -­‐   Democracia  -­‐  governo  do  povo.  Formas  impuras:  

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-­‐   Tirania  -­‐  corrupção  da  monarquia;  -­‐   Oligarquia  -­‐  corrupção  da  aristocracia;  -­‐   Demagogia  -­‐  corrupção  da  democracia.    5.2.3.  Maquiavel       Rejeita  a  distinção  entre   formas  puras  e   impuras.  Para  este  o   tema  deve  partir  da   idéia  de  que  os  governos  se  sucedem  em  ciclos,  sendo  inútil  diferi-­‐los  em  bons  ou  maus.  São  os  chamados  ciclos  de  governo:    a)   Estado  anárquico  -­‐  origem  da  sociedade;  b)   Monarquia  -­‐  inicialmente  eletiva  (mais  justo)  e  posteriormente  hereditária;  c)   Tirania  -­‐  degeneração  da  monarquia;  d)   Aristocracia   -­‐   os  mais   ricos,   pertencentes   da   nobreza,   tomam   o   poder,   que   por   horror   ao  governo  de  um  só,  criam  o  de  poucos  (aristocracia);  e)   Oligarquia  -­‐  os  descendentes  dos  aristocratas,  por  não  terem  sofrido  com  a  tirania,  afastam-­‐se  do  bem  comum,  governo  para  beneficio  de  um  grupo;  f)   Democracia  ou  república  -­‐  reação  a  oligarquia.    OBS:  Para  Darcy  Azambuja,  não  há  ai,  uma  classificação,  mas  apenas  a  divisão  entre  monarquia  e  república.    5.2.4.  Jean  Bodin       Segue  os  mesmos  passos  de  Aristóteles  e  diferencia-­‐se  deste  por  alocar  a  melhor  forma  de  governo  as  condições  geográficas,  clima  e  outros  fatores  fora  o  homem.    5.2.5.  Hobbes-­‐Locke       Suas  idéias  marcaram  a  ciência  política  dos  séculos  XVI  e  XVII.  Hobbes  condiciona  o  Estado  a  um  regime  extremamente  totalitário.  Já  Locke  prima  pela  defesa  da  liberdade  e  da  democracia.    5.2.6.  Montesquieu       Para  este  existem  três  formas  de  governo:  -­‐   Republicano  -­‐  poder  do  povo;  -­‐   Monárquico  -­‐  um  apenas  governa  (leis);  -­‐   Despótico  -­‐  um  apenas  governa  (por  vontade  própria).    b)  Modernas:  toma  por  base  o  estudo  de  Rodolphe  Laun:    Quanto  à  origem:  1)   Governos  democráticos  ou  populares  -­‐  pertencem  ao  povo;  2)   Governos  de  dominação  -­‐  poder  não  pertence  ao  povo;    Quanto  à  organização:  1)   Governos  de  fato  -­‐  ocupação  pela  força  (golpes  e  revoluções);  2)   Governos  de  direito  (hereditariedade  =  monarquia  e  eleição  =  democracia);    Quanto  ao  exercício:  1)   Absolutos   -­‐   não   obedecem   a   nenhuma   Constituição   ou   norma   jurídica   (Ex:   Estados  bárbaros).  Não  confundir  com  tirania  ou  despotismo  (maus);  

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2)   Constitucionais  -­‐  poder  de  acordo  com  a  Constituição  ou  leis  estabelecidas.    6.4)  Formas  de  governo  contemporâneas  -­‐  Monarquia  e  República.       Monarquia  -­‐  tem  como  conceito  clássico  :  forma  de  governo  em  que  o  poder  está  nas  mãos  de  um  indivíduo,  de  uma  pessoa  física.  (Jellinek  -­‐  regido  por  uma  vontade  física).    Características  fundamentais:  a)   Vitaliciedade   -­‐   o   monarca   não   governa   por   um   tempo   certo.   Enquanto   estiver   vivo   e   em  condições;  b)   Hereditariedade  -­‐  regra.  Obedece  a  linha  de  sucessão;  c)   Irresponsabilidade  –  governantes  não  respondem  civil  ou  penalmente.    A  favor  da  monarquia  1)   Hereditário  e  vitalício  -­‐  monarca  não  participa  das  disputas  políticas;  2)   É  um  fator  de  unidade  do  Estado;  3)   Assegura  a  estabilidade  das  instituições;    Contra  a  monarquia:  a)   Unidade  e  estabilidade   -­‐  não  devem   ficar  a  mercê  de  um   fator  pessoal,  mas  sim  na  ordem  jurídica;  b)   Não  se  deve  ligar  a  sorte  de  um  Estado  e  seu  povo  a  uma  pessoa  ou  família;  c)   É  essencialmente  antidemocrática.    Podemos  classificar  a  Monarquia  como:  a)   Absoluta  -­‐  poder  na  pessoa  do  monarca,  não  sujeito  a  limitações  jurídicas;  b)   Limitadas:  1)   Estamentos  -­‐  pequena  descentralização.  Monarca  delega  determinadas   funções  a  membros  da  nobreza;  2)   Constitucional   -­‐   o   rei   continua   governando,   mas   sujeito   à   limitações   estabelecidas   pela  Constituição.  Ex:  Bélgica  e  Holanda.  Exerce  apenas  o  Poder  Executivo.  3)   Parlamentar  -­‐  não  mais  governa.  O  poder  executivo  é  exercido  pelo  Parlamento.  O  monarca  exerce  apenas  o  poder  de  representação.  É  o  chefe  da  Nação  mas  não  do  governo.    República:   é   a   forma   de   governo   que   se   opõe   a   monarquia.   Aproxima-­‐se   da   democracia.   Seu  desenvolvimento  se  deu  pelas   lutas   travadas  contra  a  monarquia  absoluta  e  pela  afirmação  da  soberania  popular.    Características:  a)   Temporalidade   -­‐   mandato,   com   prazo   de   duração   pré-­‐determinado.   Para   evitar   o  continuísmo,  veda-­‐se  a  reeleição.  b)   Eletividade  -­‐  o  chefe  é  eleito  pelo  povo.  Não  se  admite  o  afastamento  do  povo  nesta  escolha.      c)   Responsabilidade   -­‐   o   chefe   de   governo   é   politicamente   responsável,   ou   seja,   deve   prestar  contas  de  seus  atos  e  orientações.    Podemos  identificá-­‐la  sob  duas  concepções:    a)   Aristocracia  -­‐  governo  de  uma  classe  privilegiada  por  direitos  de  nascimento  ou  conquista;  b)   Democracia  -­‐  todo  o  poder  emana  do  povo.      

UNIDADE  VII  -­‐  Sistemas  de  governo  

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 7.1.  Sistema  representativo    7.1.1.  Origem  e  formação  histórica       Tem   como  berço   a   Inglaterra,  mas   como  marco  principal   a   revolução   francesa,   a   troca  do  direito   divino   dos   reis   pela   soberania   popular.   A   Constituição   Francesa   de   então   é  representativa.       Art.2º   "A   nação,   de   onde   exclusivamente   emanam   todos   os   poderes   não   os   pode   exercer  senão  por  delegação".  A  expressão  do  regime  representativo  é  o  sistema  constitucional  no  qual  o  povo  se  governa  por   intermédio  de  seus  eleitos,  opondo-­‐se  ao  despotismo  (sem  ação  sobre  os  governantes)  e  ao  governo  direto  (cidadãos  governam  a  si  mesmos).       Do   ponto   de   vista   jurídico   -­‐   grupos   de   indivíduos   com   a   mesma   força   para   produzir   os  mesmos  efeitos  que  emanariam  diretamente  da  nação.            7.1.2.  Sistema  representativo  na  Inglaterra       Podemos  dizer  que  nasce  em  1215  quando  nobres  e  bispos  obrigam  o  Rei  João  Sem  Terra  a  jurar   obediência   à   Magna   Carta   (Casa   dos   Lordes).   No   século   seguinte,   os   burgueses   que   já  detinham  o  poder  econômico,  obtiveram  a  criação  do  Parlamento  (Câmara  dos  Comuns).  Assim,  o  parlamento  britânico  passou  a  ser  bicameral,  como  é  até  hoje.       Em  1714,  morre  a  Rainha  A'nna,  sem  descendentes.  Assim,  sucede  o  herdeiro  mais  perto,  o  Rei   Jorge   (chefe   do   principado   de   Hanover),   passou   a   ser   Jorge   I,   que,   entretanto   não   falava  inglês  (latim  e  alemão).  Mas  como  o  costume  determinava,  tinha  de  participar  de  reuniões  com  o  Parlamento.       Como  não  entendia  o  que  estava  sendo  discutido,  não  participava  diretamente  das  decisões,  deixando  que  seus  ministros  falassem  por  ele.  Por  conseqüência,  acabou  sendo  representado  por  estes  nas  Sessões  do  Parlamento.  Desse  modo,  foi  sendo  formado  o  conceito  de  que  o  verdadeiro  chefe  de  governo  era  o  primeiro  -­‐ministro  e  não  mas  o  Rei.    7.2)  Parlamentarismo    7.2.1.  Origem  histórica       Foi  produto  de  uma   longa  evolução  histórica.  Tem  como  base  histórica  o  desenvolvimento  do  sistema  representativo  da  Inglaterra.       Como   diz   a   própria   denominação,   trata-­‐se   de   um   sistema   de   governo   centrado   no  Parlamento,   não   no   Executivo.   O   chefe   de   governo   é   escolhido   pelo   Legislativo,   mais  propriamente  pela  Câmara  dos  Comuns,  perante  a  qual  é  responsável,  devendo,  portanto,  que  o  povo  esteja  representado  na  Câmara  dos  Comuns.    OBSERVAÇÕES:    

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1)   Defensores   -­‐  mais   racional   e  menos  personalista,   pois   atribui   responsabilidade  política   ao  chefe  do  executivo;  2)   Opositores  -­‐  Estado  estático,  passivo,  mero  vigilante  das  relações  sociais.    Formas:  a)   Monista  -­‐  o  parlamento  fixa  as  diretrizes  políticas  do  Estado.  O  executivo  é  um  representante  da  maioria  do  parlamento;  b)   Dualista  -­‐  além  dele  o  chefe  de  governo  estabelece  e  exerce  funções  políticas;  c)   Regime   de   Assembléia   -­‐   executivo   atua   como   espécie   de   delegado   do   Parlamento   e   em  comum  acordo  com  ele.    7.2.2.  Mecanismo  e  características:    a)  básicas:    1-­‐   Organização  dualista  do  Poder  Executivo;  2-­‐   Colegialidade  do  órgão  governamental;  3-­‐   Responsabilidade  política  do  ministério  perante  o  Parlamento  e  o  Código  Eleitoral  -­‐  não  há  mandato  de  prazo  determinado.  Como  motivo  para  demissão  do  1º  Ministro  e  de  seu  Gabinete  é:  a  perda  da  maioria  parlamentar  ou  voto  de  desconfiança  (desaprovação  de  sua  política,  no  todo  ou  em  parte,  pelo  Parlamento  ou  um  parlamentar);  4-­‐   Interdependência  dos  Poderes  Legislativo  e  Executivo.    b)  Especiais:    1-­‐  Distinção  entre  Chefe  de  Estado  e  Chefe  de  Governo  -­‐  no  parlamentarismo,  o  Chefe  de  Estado  e  o   Chefe   de   Governo   são   pessoas   diferentes.   Geralmente,   o   Chefe   de   Governo   é   o   Primeiro  Ministro,  que  será  responsável  perante  o  Parlamento.  Sua  escolha  não  se  dá  pelo  povo,  embora  responsável  pela  manutenção  da  democracia,  devendo  mostrar  força  para  implantar  sua  política  para   manter   a   maioria   parlamentar.   É   indicado   pelo   Chefe   de   Estado.   Na   verdade,   no  parlamentarismo  o  governo  se  mantém  enquanto  for  maioria  no  Parlamento.       Com   relação   ao   Chefe   do   Estado,   para   seus   defensores,   um   dos   pontos   favoráveis   é  justamente  estar  ele,  fora  das  disputas  políticas,  pois  não  participa  do  governo,  não  sendo,  desta  forma,  atingido  pelas  crises.  Seria,  pois,  fator  de  estabilidade  institucional.  Tem  sua  importância  política,  devendo  ser  escolhido  por  um  processo  democrático.  Não  é  pacífico  na  doutrina  qual  o  tempo  de  duração  do  mandato  do  Chefe  de  Estado.      7.2.3.  Dissolução  do  Parlamento     Ocorre  quando  o  1º  ministro  não  possui  mais  a  maioria  parlamentar  ou  quando  está  em  vias  de  perder  a  maioria,  ou  recebe  o  voto  de  desconfiança,  mas  em  face  de  desacordo  do  Parlamento  com  a  política  adotada,  ou  seja,  o  Parlamento  é  que  estaria  em  desacordo  com  a  vontade  popular.  Significa   interromper   o   seu   funcionamento,   antecipando   o   término   do   mandato   dos  parlamentares  (mas  só  ocorrerá  em  casos  de  extrema  gravidade).    7.2.4.   Interdependência   dos   poderes   -­‐   implícito   na   distinção   de   chefe   de   Estado   e   chefe   de  Governo.    7.3.  Presidencialismo    7.3.1.  Origem  histórica  

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  Nasceu   em   1787,   inventado   pelas   ex-­‐colônias   inglesas   da   América,   em   oposição   à  monarquia.  Necessidade  por  um  governo  democrático,  mas   enérgico.  Assim,   os   fundadores  do  Estado   norte-­‐americano   criaram   uma   nova   forma   de   governo,   com   base   nas   idéias   de  Montesquieu   (separação   dos   poderes),   originando   a   figura   do   Presidente   da   República,   como  chefe  de  governo,  mas  com  poder  limitado  por  uma  Constituição  e  por  um  controle  legislativo.    7.3.2.  Mecanismo  e  características:    a)   O   Presidente   da   República   é   Chefe   do   Estado   e   Chefe   do   Governo   -­‐   além   das   funções  estritamente   executivas,   desempenha   atribuições   políticas   de   grande   relevância,   numa   função  governativa;  b)   Chefia  do  executivo  é  unipessoal  -­‐  cabe  exclusivamente  ao  Presidente  da  República  fixar  as  diretrizes  do  poder  executivo;  c)   Presidente   da   República   escolhido   pelo   povo   -­‐   essencial   que   o   governo   derive   do   grande  conjunto  da  sociedade;  d)   É  escolhido  por  prazo  determinado  -­‐  impedir  a  permanência  por  tempo  indefinido  no  poder,  pois   se   assemelharia   a   uma   monarquia   eletiva.   Mandato.   Ao   final,   o   povo   deve   escolher  novamente   seu   governante.   Na   maioria   dos   Estados   que   adotam   tal   regime   é   proibida   a  reeleição;      e)   Poder  de  veto  -­‐  separação  de  poderes,  atribui-­‐se  ao  Congresso  Nacional  o  Poder  Legislativo.  Mas,  para  evitar  uma  possível  ditadura  legislativa,  concede-­‐se  a  possibilidade  de  interferência  no  processo  legislativo.  Fora  os  que  são  da  competência  exclusiva  do  Poder  Legislativo,  devem  ser  remetidos  ao  Presidente  para   receber  a   sua   sanção  ou  veto.  No  caso  de  veto,  pode  haver  uma  reapreciação  do  Poder  Legislativo  (aceitando  ou  não  o  veto).    7.3.3.  Ministros  de  Estado       São  agentes   administrativos,   servem  para  auxiliar  o  Presidente  da  República.  Nomeados  e  demitidos   por   este   livremente.   Não   compartilham   da   responsabilidade   do   Presidente   pelas  decisões.    7.3.4.  Impeachment       É  uma  figura  penal  que  só  permite  o  afastamento  do  Presidente  se  este  cometer  um  crime  de  responsabilidade  (e  não  conduta  política  inadequada  e  prejudicial).      

UNIDADE  VIII  –  Democracia    8.1.  Origem  histórica  e  conceito.       Tanto  o   conceito   como  a  palavra  Democracia   foi   originada  na  Grécia   (Atenas).  Entende-­‐se  como  o  poder  exercido  pelo  povo.         A  democracia,  em  um  sentido  formal,  pode  ser  definida  como  forma  de  governo,  onde  o  povo  é  o  detentor  de  seu  próprio  destino,  ou  seja,  o  povo  governa  a  si  mesmo.  Este  governo,  ou  ocorre  diretamente   mediante   as   técnicas   de   consulta   popular,   ou   indiretamente   através   dos  representantes   dos   cidadãos,   os   quais   têm   a   responsabilidade   e   a   obrigação   de   manifestar   o  pensamento  e  a  vontade  dos  próprios  representados.    

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8.2)  Democracia  dos  "antigos"  e  dos  "modernos".       Conforme  destacado,  pode-­‐se  perceber  que  a  democracia  dos  antigos  atenienses,  fundada  na  participação  do  cidadão,  influenciou  na  construção  do  conceito  aceito  de  democracia  nos  dias  de  hoje.       A  democracia  moderna  tem  suas  raízes  no  século  XVII,  fundada  em  valores  fundamentais  da  pessoa   humana   -­‐   liberdade   e   igualdade.   A   democracia   consiste   numa   forma   de   governo   que  supõe  como  fundamentos,  a   liberdade  e  a  igualdade,  princípios  cujas  bases  são  encontradas  no  espírito   de   solidariedade   e   no   respeito   às   diferenças   que   existem   entre   as   pessoas.   Em   um  sentido  mais  amplo,  percebe-­‐se  a  democracia  como  um  ambiente  de  vida  social  cujos  pilares  de  sustentação  encontram-­‐se  na  admissão,  na  garantia  e  na  efetividade  dos  direitos   fundamentais  da  pessoa  humana.    

OBS:   A   democracia   clássica,   resultante   da   vitória   das   idéias   de   liberdade   contra   o  absolutismo,  apresenta  três  movimentos  como  marcos  fundamentais:    I. Revolução  Inglesa  (Bill  of  Rights),  1689  -­‐  Locke  -­‐  limites  ao  poder  do  monarca;    II. Revolução   Americana   (Declaração   de   Independência   das   13   Colônias)   -­‐   separação   dos  poderes,  influência  de  Locke  e  Montesquieu,  não  intervenção  do  Estado;    III. Revolução  Francesa  (Declaração  dos  Direitos  do  Homem  e  do  Cidadão),  1789  -­‐  Rousseau  -­‐  liberdade,  fraternidade  e  igualdade.       Nesta   virada   de   século,   as   sociedades   contemporâneas   vivem   em   estado   de   perplexidade  provocado  pelas  profundas  transformações  sociais,  políticas,  econômicas,  culturais,  científicas  e  tecnológicas.  A  perplexidade  é  ainda  maior  quando  se  considera  os  graves  problemas  sociais  que  o  atual  processo  da  chamada  "globalização"  vem  provocando.  A  lógica  econômica  neoliberal,  que  norteia  a  globalização,  tem  conduzido  à  supressão  da  solidariedade.    OBS:  Neste  contexto,  o  problema  da  exclusão  aparece  como  um  tema  chave  para  a  compreensão  da   sociedade   contemporânea.   A   exclusão   é   apresentada   como   categoria   mais   ampla   para   a  compreensão  do  processo  social,  para  a  redefinição  dos  modelos  teóricos  e  para  a  reconstrução  dos  mecanismos  de  gestão  social.        8.3.  Democracia  e  igualdade       É  invenção  do  Estado  Moderno  e  pode  ser  encarada  em  sentido  formal  e  material.    a)   Formal  -­‐  a  lei  é  uma  só  para  todos  (povo,  nobreza,  clero),  ou  seja,  as  pessoas  são  iguais  entre  si;  b)   Material  -­‐  sentido  jurídico,  pessoas  ou  situações  são  iguais  ou  desiguais  de  modo  relativo.    

Reunindo-se ambos os conceitos, formal e material, temos que a Democracia consiste em um sistema político no qual:

1) todo poder emana do povo, sendo exercido em seu nome e no seu interesse; 2) as funções de mando são temporárias e eletivas; 3) a ordem pública baseia-se em uma constituição escrita, respeitado o princípio da

tripartição do poder de Estado

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4) é admitido o sistema de pluralidade de partidos políticos, com a garantia de livre crítica;

5) os direitos fundamentais do homem são reconhecidos e declarados em ato constitucional, proporcionando o Estado os meios e as garantias tendentes a torná-los efetivos;

6) o princípio da igualdade se realiza no plano jurídico, tendo em mira conciliar as desigualdades humanas, especialmente as de ordem econômica;

7) é assegurada a supremacia da lei como expressão da soberania popular; 8) os atos dos governantes são submetidos permanentemente aos princípios da

responsabilidade e do consenso geral como condição de validade.  8.4.  Democracia  e  liberdade       Poder  do  homem  de  buscar  sua  realização  pessoal.  É  na  democracia  que  alcança  sua  maior  atuação.  Estão  elencadas  no  art.5º  da  CF.  Ex:  liberdade  de  locomoção  (XV),  pensamento  (VI,  VII),  escolha  profissional  (XIII),  etc.    8.5.  Formas  e  exercício  do  poder  democrático:  poder  político  (soberania  popular):    a)   Democracia   direta   -­‐   povo   exerce   por   si   os   poderes   governamentais,   fazendo   leis,  administrando   e   julgando   (Gregas).   Para   a   existência   de   uma   democracia   direta,   o   homem  precisava  ocupar-­‐se,  tão-­‐somente,  dos  negócios  públicos,  conservando  sempre  aceso  o  interesse  pela  cidadania  e  pela  causa  da  democracia.  Na  verdade,  o  Estado,  para  exercer  democracia  direta,  deve  ser  muito  pequeno  quanto  ao  número  de  cidadãos  e  extensão  territorial   (crítica   feita  por  Dallari);    b)  Democracia  Indireta  -­‐  Para  solucionar  o  problema  da  forma  de  governo  dos  grandes  Estados,  realizou-­‐se   a   transição   para   a   democracia   indireta   (representativa)   e   para   a   democracia  semidireta.  A  democracia  indireta  ou  representativa  é  aquela  onde  o  povo  é  a  fonte  primária  do  poder,   não   dirigindo   o   Estado   diretamente,   e   sim,   por   delegação   à   representantes   ("Dizia  Montesquieu,  um  dos  primeiros  teóricos  da  democracia  moderna,  que  o  povo  era  excelente  para  escolher,  mas  péssimo  para  governar.  Precisava  o  povo,  portanto,  de  representantes,  que  iriam  decidir  e  querer  em  nome  do  povo").       As  principais  características  da  democracia  indireta  ou  representativa  são,  dentre  outras:  a  soberania  popular,  como  fonte  de  poder  legítimo  do  povo;  a  vontade  geral;  o  sufrágio  universal,  com   pluralidade   partidária   e   de   candidatos;   a   distinção   e   a   separação   dos   poderes;   o   regime  presidencialista;  a  limitação  das  prerrogativas  do  Estado;  e  a  igualdade  de  todos  perante  a  lei.    c)  Democracia   semidireta   -­‐   Já  a  democracia   semidireta  é  a  modalidade  na  qual   se  alternam  as  formas  clássicas  da  democracia  representativa.  Seu  berço  foi  a  Suíça.  Nesta  forma  de  democracia,  a  soberania  está  com  o  povo,  e  o  governo,  mediante  o  qual  esta  soberania  é  exercitada,  pertence  por  igual  ao  elemento  popular  no  que  diz  respeito  às  matérias  mais  importantes  da  vida  pública.  Existem  alguns  institutos  representativos  da  democracia  semidireta  que  até  hoje  são  conhecidos  e  praticados:  o  referendum;  o  plebiscito;  a  iniciativa  popular;  o  veto  popular  e  o  recall.    Mecanismos  de  participação:    a)  Sufrágio  universal  -­‐  trata-­‐se  de  mecanismo  de  controle  de  índole  eminentemente  política.  Em  nosso  país,  está  previsto  no  art.14  da  Carta  Política,  que  assegura  ainda  o  voto  direto  e  secreto,  de  igual  valor  para  todos.    

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  Constitui-­‐se  no  direito  de   escolha  dos   representantes   e  de   ser   escolhido  pelos   seus  pares.  Visa   à   escolha   de   pessoas   para   atuar   em   seu   nome,   através   de   mandatos   com   períodos  determinados.    b)  Plebiscito  -­‐  é  o  primeiro  dos  instrumentos  de  democracia  participativa  postos  à  disposição  do  povo   (art.14,   I,   da  CF/88).   Consiste  na  possibilidade  de  o   eleitorado  decidir   uma  determinada  questão   de   relevo   para   os   destinos   da   sociedade,   com   efeito   vinculante   para   as   autoridades  públicas   atingidas.   Alguns   autores   o   consideram   de   democracia   semidireta.   Na   verdade,   a  participação,   se   dá   de   forma   direta,   o   povo   decide   diretamente,   sem   intermediários   ou  representantes.    c)  Referendo  -­‐  o  referendum  também  importa  na  participação  do  povo,  mediante  voto,  mas  com  o   fim   específico   de   confirmar,   ou   não,   um   ato   governamental.   A   decisão   do   referendo,   assim  como   a   do   plebiscito,   tem   eficácia   vinculativa,   não   podendo   ser   desrespeitada   pelo  administrador.       É   procedimento   formal   regulado   em   lei,   pois   a   Constituição   assim   o   determina.   Alguns  autores  lhe  conferem  finalidade  específica  de  confirmação  de  ato  do  corpo  legislativo.    d)  Iniciativa  popular  -­‐  este  procedimento  consiste  no  desencadeamento  do  processo  legiferante  pelo   povo,  mediante   proposição   de   determinado   projeto   de   lei   (ou   EC),   por   certo   número   de  eleitores.  Novamente,  há  vinculação  do  órgão  para  com  o  projeto  apresentado.       No  Brasil,  o  mecanismo  está  regulado  pelo  artigo  61,  2º  da  CF,  estabelecendo  as  premissas  básicas  da  iniciativa  popular  no  plano  federal.    

Poder Constituinte

A nação tem o direito organizar-se politicamente, como fonte do poder público. Esse poder que ela exerce em determinados momentos chama-se Poder Constituinte.

O poder constituinte é uma função da soberania nacional. É o poder de constituir e reconstituir ou reformular a ordem jurídica estatal. Capacidade de criar ou alterar a norma.

A Constituição, lei fundamental do Estado, provém de um poder soberano ( a nação ou o povo, nas democracias) que não podendo elaborá-la diretamente, em face da complexidade do Estado moderno, o faz através de representantes eleitos e reunidos em Assembléias Constituinte. Tanto pode ser exercido para a organização originária de um agrupamento nacional ou popular quanto para constituir, reconstruir, ou reformular a ordem jurídica de um Estado já formado.

Espécies: 1. Originário: cria nova Constituição.

Características: - inicial: a Constituição é a base da ordem jurídica - ilimitado: não se limita pelo direito anterior (mas tem que respeitar as limitações à própria

soberania do Estado) - autônomo: não tem que respeitar os limites postos pelo direito positivo antecessor

incondicionado: não está sujeito a qualquer regra de forma ou de fundo (Canotilho). -

2. Derivado ou Poder Constituído: modifica a Constituição. - Características - derivado : retira sua força do Poder Constituinte originário

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- subordinado: se encontra limitado pelas normas expressas e implícitas do texto constitucional, as quais não pode contrariar, sob pena de inconstitucionalidade

- condicionado: seu exercício deve seguir as regras previamente estabelecidas no texto da CF.

Formas de manifestaçãoo: a. Reforma - É o efeito da atividade derivada, quando se introduzem alterações à CF,

observado o procedimento por ela própria estabelecida. Emenda - é a materialização da reforma constitucional (art. 60)

b. Revisão - ADCT, art. 3º c. Mutação - é processo não-formal que decorre da interpretação da Constituição feita pelos

Tribunais ou mediante omissões legislativas. d. Regulamentação - promulgação de leis ordinárias e complementares para dar aplicabilidade

às normas constitucionais, notadamente as de eficácia contida e limitada. BIBLIOGRAFIA: Roteiro de aula elaborado com base nas aulas do Professor André Luiz Lopes. AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. Globo; DALLARI, Dalmo de Abreu. O futuro do Estado. São Paulo: Saraiva; BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Teoria do Estado e Ciência Política. Saraiva; BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. UnB; BOBBIO, Norberto. Teoria das formas de Governo. Paz e Terra; BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade. Paz e Terra. CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional Didático. Belo Horizonte: Del Rey; MAQUIAVEL, O Príncipe. São Paulo: Martin Claret; MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. São Paulo: Saraiva.