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  • 7/31/2019 Telejornalismo na Rede Vida: da comunicao institucional abertura ao pluralismo e ao dilogo

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    Telejornalismo na Rede Vida: da comunicao institucional abertura ao pluralismoe ao dilogo1

    Michele Boff da Silva Limeira2

    Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul PUCRSUniversidade de Passo Fundo _ UPF

    Resumo

    O tema tratado no artigo a comunicao catlica. Recuperamos, num primeiro momento,aspectos tericos sobre as diferentes concepes de comunicao que permeiam as prticasde uso dos meios de comunicao pelos catlicos. A problematizao est na falta deconsenso sobre uma diretriz para a comunicao na Igreja, alimentada pelo debate entre a

    tendncia comunicao institucional e a perspectiva dialgica de comunicao. O objetoanalisado a produo jornalstica da Rede Vida de Televiso, em particular, o telejornalJCTV.

    Palavras-chave

    Comunicao; telejornalismo; pluralismo; dilogo, religio.

    Qual o uso dado aos meios eletrnicos de comunicao pela Igreja Catlica? A

    questo move nossa trajetria de pesquisa acadmica e est, em parte, representada neste

    artigo. A relao Igreja Catlica comunicao , desde o princpio, conflituosa. Hoje, afalta de consenso sobre a poltica de comunicao dos catlicos permanece e explica muito

    das dificuldades nas quais esbarram as prticas de comunicao. Dentre as tendncias em

    conflito, destacamos a concepo dialgica. Partimos do pressuposto que o dilogo

    fundamental comunicao, assim como acreditamos que o jornalismo um espao

    privilegiado para fomentar o dilogo.

    Propomos, aqui, refletir sobre estas questes a partir do objeto de nossa pesquisa, a

    Rede Vida de Televiso3. O jornalismo na emissora, em particular o telejornal JCTV,

    constitui o recorte de anlise. Observamos, no jornalismo televisivo, a concepo de

    comunicao predominante e os indicativos da prtica dialgica.

    1 Trabalho apresentado ao NP 12 Comunicao para a Cidadania, no V Encontro de Ncleos de PesquisaIntercom.2 Jornalista, formada pela Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Uniju; mestre emComunicao Social e doutoranda pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, PUCRS.Professora da Universidade de Passo Fundo. Endereo eletrnico: [email protected] A Rede Vida de Televiso o objeto de estudo de nossa tese de doutorado, em desenvolvimento no curso dePs-Graduao em Comunicao, da Pontifcia Igreja Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

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    1. Um olhar sobre as diferentes concepes de comunicao

    As diferentes concepes de comunicao encontram-se nos documentos catlicos.

    Em funo da necessidade de delimitao, neste artigo, apresentamos uma sntese propostapelos Estudos da CNBB, nmero 75. De acordo com a CNBB, desde os primrdios da

    imprensa, a Igreja Catlica deu ateno a este assunto, porm, o interesse aumenta com o

    advento dos meios modernos de comunicao e pode ser compreendido a partir de trs

    perspectivas: saber, fazer e pensar. Em consonncia com o documento da CNBB, Gomes

    (2002) afirma que a posio da Igreja sobre a comunicao sofre profundas modificaes

    ao longo dos anos. Para o autor, as manifestaes eclesiais sempre estiveram ligadas a uma

    preocupao pastoral que se moveu dentro do marco da histria da educao.

    O estudo da CNBB aponta que, num primeiro momento, a Igreja se preocupou com a

    qualidade das mensagens que a mdia transmite, destacando a importncia do saber:

    Identificavam-se nessas mensagens as idias que contrariavam amoral e os bons costumes, bem como o pensamento cristo sobre omundo, as pessoas e as coisas. [...] O importante era ensinar, para que osusurios soubessem como agir diante das mensagens dos meios. Sabendoa verdadeira doutrina, as verdades morais e crists, os fiis poderiamdefender-se contra os perigos dos novos meios (ESTUDOS DA CNBB,1997, n.75, p.12-13).

    Naquele momento, a educao enfatizava o contedo, a transmisso de

    conhecimentos e de valores. O que valia era o saber. Neste modelo, a comunicao

    compreendida como transmisso de informaes. A Pastoral da Comunicao estava

    preocupada em ensinar para que os usurios saibam como agir diante das mensagens dos

    meios (...), saibam se defender contra os perigos dos novos meios (GOMES, 2002, p.

    337). As encclicas Vigilanti cura e Miranda Prorsus fundamentam tal perspectiva.

    No momento subseqente, a ateno da Igreja voltou-se para o "uso dos meios",

    enfatizando a questo do fazer. Os meios tcnicos de comunicao so vistos como

    "maravilhas do mundo moderno". A eficcia da mdia reconhecida para atingir afinalidade a que a Igreja se prope:

    Transmitir a mensagem evanglica para todos os cantos da terra.[...] Atingindo-se a pessoa e mudando-se o seu comportamento, far-se-uma boa comunicao. Caso isso no acontea, o erro reside na maneirade se utilizarem os meios, em si bons e instrumentos de comunho e doprogresso humano (ESTUDOS DA CNBB, 1997, n. 75, p.15).

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    A nfase no fazer remete educao que enfatiza os efeitos, a uma educao

    manipuladora. A comunicao persuasiva: o emissor envia uma mensagem ao receptor,

    com vistas a seus efeitos. A Igreja no mais condena os meios. Entende-os comoinstrumentos adequados para atingir as pessoas, moldar-lhes a personalidade, modificar-

    lhes o comportamento (GOMES, 2002, p. 338). O posicionamento apresentado no

    DecretoInter Mirifica e na Instruo Communio et Progressio. A preocupao passa a ser a

    utilizao dos meios para transmitir a mensagem evanglica por todos os cantos da terra.

    A percepo da Igreja sobre os meios de comunicao modifica-se com o tempo, e

    sua preocupao volta-se para o processo comunicacional, que se estabelece entre os

    indivduos e a sociedade em geral. Busca-se valorizar o pensar e objetiva-se que o ser

    humano seja um emissor/receptor, tendo garantido seu direito comunicao. Propondo o

    pensar, a Igreja visa "compreender os mecanismos que impedem os indivduos e as

    comunidades serem sujeitos ativos de sua comunicao" (ESTUDOS DA CNBB, 1997, n.

    75, p.15). Com essa idia, emergem as crticas ao monoplio, existente neste setor no

    Brasil. O pensar est vinculado ao modelo de educao problematizadora, baseada no

    mtodo ao-reflexo-ao. A Pastoral da Comunicao deseja realizar uma educao para

    a comunicao; ou, ainda, quer que o homem seja um emissor-receptor, tendo em vista a

    comunicao dialgica (GOMES, 2002, p. 339). A Carta aos Comunicadores e o texto-

    base da Campanha da Fraternidade -1989, por exemplo, explicitam a compreenso da

    comunicao comopensar.

    A CNBB afirma que as compreenses saber, fazer e pensar coexistem, at hoje,

    convivendo dialeticamente, e que, portanto, "a Igreja no possui uma diretriz clara com

    respeito Comunicao Social". O desafio a "obteno de um consenso mnimo entre os

    diferentes segmentos que constituem a macrossociedade eclesial, a respeito das bases

    tericas sobre as quais deve construir uma poltica de comunicao" (ESTUDOS DACNBB, 1997, n.75, p.22 e 27).

    Para Gomes (2002), a coexistncia das diferentes fases da compreenso da

    comunicao caracteriza os anos 90. O autor reconhece a falta de uma diretriz para a

    comunicao na Igreja e adverte sobre a nfase no fazer. Gomes (2004) observa a

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    tendncia, nos anos 90, da perspectiva do que denomina comunicao institucional4. Nela,

    a preocupao volta-se para os contedos das mensagens, para que sejam reprodues

    fiis do iderio da instituio. Identificamos essa perspectiva ao longo dos diferentesdocumentos, com nfase na fase ps-conciliar, com a Communio et Progressio e a Aetatis

    Novae.

    Compreende-se, assim, a facilidade com que os veculos catlicos de comunicao

    se convertem em porta-vozes das autoridades eclesisticas, funcionando como uma espcie

    de assessoria de imprensa em tempo permanente (GOMES, 2004, p. 251). O autor afirma

    que a Igreja no Brasil debate-se entre duas posturas: o pensare o fazer. Diante disso, sugere

    a obteno de um consenso mnimo: a Igreja precisa superar o conflito entre a concepo

    instrumentalista e a concepo culturalista e dialtica dos processos comunicacionais5.

    Os conflitos internos e as dificuldades enfrentadas pela Igreja Catlica em relao aos

    meios de comunicao levam-nos a acreditar que os catlicos precisam se encaminhar para

    um consenso que privilegie uma abertura para o dilogo intra-eclesial e com os homens e a

    sociedade. O compromisso dos catlicos, do nosso ponto de vista, comunicar para o

    mundo, no apenas para o interior da Igreja. Queremos sugerir, com isso, que a Igreja deve

    estar aberta ao dilogo com a sociedade globalizada, mas, ao mesmo tempo, plural. A

    comunicao requer o dilogo, cuja prtica no acontece sem a aceitao do pluralismo.

    1.1. A concepo dialgica

    O conceito de ao-comunicativa, de Jrgen Habermas (1987), embasa nosso

    entendimento sobre a relao comunicao e dilogo. De modo geral, Habermas sintetiza a

    ao-comunicativa como:

    la interaccin de a lo menos dos sujetos capaces de lenguage y de accinque (ya sea con medios verbales o con medios extra-verbales) entablanuna relacin interpersonal. Los actores buscan entenderse sobre unasituacin de accin para poder as coordinar de comn acuerdo sus planesde accin y com ello sus acciones. El concepto aqu central, el deinterpretacin, se refiere primordialmente a la negociacin dedefiniciones de la situacin susceptibles de consenso (1987, p. 124).

    4 Gomes (2004) analisa e identifica nas experincias institucionais prticas, outra vertente para se contemplaros caminhos da comunicao da Igreja. Numerosos grupos vinculados Igreja sustentam, entre os anos 60 e80, a utopia da comunicao dialgica concepo miditica e dialtica dos processos comunicacionais. Talperspectiva, segundo Gomes, nos anos 90, substituda pela comunicao institucional.5 Conforme Gomes (2004, p. 252), a concepo instrumentalista baseia-se no princpio de que a Igreja umcorpo uniforme que detm a verdade acabada, cabendo s autoridades da instituio transmitir a heranacultural. J a viso culturalista e dialtica entende que o dilogo com o homem moderno parte da suaaceitao como interlocutor.

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    Segundo Habermas, a ao-comunicativa pressupe a linguagem como meio de

    entendimento6. O entendimento lingstico o mecanismo de coordenao da ao, para

    que os participantes possam constituir uma interao:

    El concepto de accin comunicativa presupone el lenguage como unmedio dentro del cual tiene lugar un tipo de proceso de entendimiento encuyo transcurso los participantes, al relacionarse con un mundo, sepresentan unos frente a otros con pretensiones de validez que puedem serreconocidas o puestas en cuestin (HABERMAS, 1987, p. 143).

    Na interao, Habermas pressupe que os participantes mobilizam o potencial da

    racionalidade, englobando as relaes com os trs mundos: o mundo objetivo; o mundo

    social; e o mundo subjetivo7. Esse movimento permitiria aos participantes chegar ao

    entendimento. A manifestao dos atores deve, conforme Habermas, sustentar-se em trs

    pretenses: a de que o enunciado verdadeiro (relao com o mundo objetivo); a de que o

    ato da fala esteja adequado em relao ao contexto normativo vigente (relao com o

    mundo social); e por fim, a de que a inteno expressa pelo falante coincida realmente com

    o que ele pensa (relao com o mundo subjetivo).

    A comunicao desenvolve-se, assim, no quadro dos processos de interao

    estruturados simbolicamente pela linguagem, baseia-se em regras sociais, que fixamdeterminadas expectativas mais ou menos recprocas de comportamento e possibilitam o

    entendimento entre os homens (RDIGER, 2003, p. 92). Se pensarmos a comunicao,

    desse ponto conceitual, o dilogo torna-se fundamental. O conceito de ao-comunicativa

    permite-nos pressupor que comunicao e dilogo esto interligados e dependem um do

    outro. Por isso, entendemos o dilogo como primordial comunicao na e da Igreja. Cabe

    afirmar, portanto, que a compreenso que temos de dilogo relaciona-se quela dada pela

    Igreja Catlica, em documentos oficiais que, do nosso ponto de vista, pode ser, tambm,entendida teoricamente a partir da relao com a comunicao, estabelecida com base no

    conceito de ao-comunicativa.

    6 Entendimento, de acordo com o autor, remete a um acordo racionalmente motivado, alcanado entre osparticipantes, que se mede por pretenses de validez suscetveis de crtica. Outro conceito-chave aqui o deracionalidade comunicativa, relativo s diversas formas de desempenho discursivo de pretenses de validez es relaes que, em suas aes comunicativas, os participantes entabulam com o mundo para reclamarvalidez para suas manifestaes ou emisses (1987, p. 110-111).7 Habermas adota estes conceitos de mundos baseado em I. C. JARVIE, Concepts and Society. Londres,1972.

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    Comunicao e o dilogo esto relacionados misso da Igreja. A Igreja tem como

    misso primeira anunciar o Evangelho:

    Assim como o Filho foi enviado pelo Pai, assim tambm Ele enviouos Apstolos (cfr. Jo. 20,21) dizendo: ide, pois, ensinai todas as gentes,batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo, ensinai-as aobservar tudo aquilo que vos mandei. Eis que estou convosco todos osdias at consumao dos sculos (Mt. 28, 19-20). A Igreja recebeu dosApstolos este mandato solene de Cristo, de anunciar a verdade dasalvao e de a levar at aos confins da terra (cfr. Act. 1,8)(CONSTITUIO LUMEN GENTIUM, 1964, item 17).

    A obra da evangelizao sinnima de comunicar o evangelho. A

    comunicao/evangelizao requer o encontro com o outro, a interao com o outro,

    prtica que, por sua vez, sintetiza-se no dilogo. Ou seja, entendemos que a misso da

    Igreja , tambm, a comunicao, cuja prtica pressupe o dilogo:

    A comunicao feita de emisso e recepo, mas o ciclocomunicativo somente se completa quando emissor e receptor trocam ospapis entre si. Para comunicar-se preciso emitir uma mensagem ereceber o eco que produz, falar e escutar. A Igreja anuncia o Evangelho eao mesmo tempo escuta a mensagem que lhe chega desde a histriahumana. Por isso, precisa conhecer as filosofias, as ideologias, ascoordenadas culturais dos seus destinatrios. Deve manter-se numdilogo permanente com os destinatrios da misso. Somente estedilogo torna possvel e efetiva a comunicao da mensagem crist. Odilogo e a comunicao intra-eclesial devem prolongar-se num dilogo enuma comunicao da Igreja com a humanidade (DEZ, 1997, 319-320).

    Comunicao e dilogo esto imbricados. A comunicao efetiva-se no dilogo. O

    dilogo, de acordo com Dez, uma condio de possibilidade para o exerccio da misso

    eclesial, que consiste primordialmente na evangelizao (1997, p. 449). Do antema ao

    dilogo. assim que Dez (1997) intitula a mudana enfrentada pela Igreja Catlica no

    Conclio Vaticano II, que marcou o incio de um novo modelo de comunicao a era do

    dilogo. No Conclio Vaticano II, conforme analisa Dez,

    o dilogo foi apresentado como uma tarefa ampla. Os interlocutores erammuitos. Supunha-se longo o tempo para o acordo e o consenso ecumnico.A prpria assemblia conciliar era um laboratrio de dilogo intra-eclesial, de comunicao dialogal entre as diversas correntes eclesiais queentraram em acordo no Conclio. Este assentou as bases para o dilogocom as Igrejas da ortodoxia catlica no decreto OrientaliumEcclesiarum. Optou pelo dilogo ecumnico com as denominaescrists no-catlicas no decreto Unitatis reintegratio . Pediu um dilogo afundo com as religies no-crists na declarao Nostra aetate . Eentabulou um dilogo aberto com toda a sociedade humana em torno dos

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    problemas, angstias, esperanas, ideologias, projetos [...] do homemcontemporneo na constituio dogmtica Lumen gentium e, sobretudo,na constituio pastoral Gaudium et spes, sobre a Igreja no mundo atual

    (1997, p.444).

    O Conclio Vaticano II enfatiza a importncia do dilogo no interior da Igreja. Alm

    do dilogo intra-eclesial, o Conclio II refere-se necessidade do dilogo entre a Igreja e o

    mundo moderno. Segundo os documentos conciliares, a Igreja dialoga com o mundo

    quando se oferece a ele para ajudar a entender os problemas da vida humana, bem como

    quando busca nele informaes para se conhecer mais profundamente ou para se

    aperfeioar.

    Contudo, a prtica comunicativa sustentada no dilogo no se consolida facilmente.Dentre as dificuldades, est o pluralismo caracterstico de nossas sociedades atuais. O

    grande desafio do comunicador cristo, hoje, est na capacidade de conhecer, perceber e

    estabelecer relao com os valores e conflitos gerados pela cultura ps-moderna"

    (PESSINATTI, 1998, p.325). A aceitao de uma sociedade pluralista condio para o

    dilogo, cuja prtica se sustenta na diferena e na alteridade. Pessinatti refere-se ao

    "dilogo com a cultura e a sociedade pluralista" como uma linha poltica indispensvel para

    a realizao da misso da Igreja Catlica no campo da comunicao.

    O espao televisivo considerado, aqui, como pertinente manifestao do plural. A

    televiso oferece condies para que a Igreja dialogue com o mundo. O jornalismo, ao

    produzir as notcias, pode favorecer a aproximao Igreja-mundo, fomentando a

    comunicao dialgica. Os programas jornalsticos so lugares, no nosso entender, na grade

    das emissoras catlicas, apropriados para dar voz ao pluralismo da sociedade. O outro

    pode se fazer presente nas prticas televisivas catlicas atravs do telejornalismo.

    2. A Rede Vida

    A "pupila eletrnica" da Igreja Catlica, como denomina Dias (2001, p.43), a RedeVida de Televiso. O seu nascimento um marco na histria dos catlicos brasileiros na

    mdia televisiva. Ter um canal de televiso envolve e envolveu, at os dias de hoje, uma

    srie de discusses em torno de seu uso. Entre os catlicos, a televiso vista por muitos

    como um formidvel meio de evangelizao. Entretanto, no faltam crticas s prticas que

    vm se efetivando nos dias de hoje. O editorial da revista Perspectiva Teolgica (set-

    dez/2002), por exemplo, afirma que a Igreja no tem sabido manejar a TV de modo

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    eficiente: a linguagem est carregada de pieguice; a programao limita-se a um pblico

    catlico, quando no a idosos e doentes; h carncia de profissionais com bom nvel

    tcnico. As TVs j esto repletas de gente falando sandices. Um programa que sejadeveras evangelizador distingue-se tanto pela forma quanto pelo contedo (Perspectiva

    Teolgica, 2002, p. 295).

    Os problemas estendem-se, inclusive, Rede Vida. E como tal, manifestam-se na

    sua histria. A Rede Vida, dirigida pelo Instituto Brasileiro de Comunicao Crist

    (INBRAC), com auxlio de conselheiros da CNBB, iniciou suas transmisses em 20 de

    junho de 1995, cobrindo, na poca, cerca de 800 cidades, em todos os estados do Brasil

    (DIAS, 2001, p.45). O incio das transmisses vem antecedido por uma histria de

    negociaes.

    O canal da Rede Vida uma concesso feita pelo governo Jos Sarney, em 1991,

    ao empresrio Joo Monteiro de Barros Filho, que comanda o Grupo Independente, no

    interior de So Paulo (Barretos), formado por cinco emissoras de rdio e um jornal.

    Rede Vida o nome fantasia da emissora, formalmente denominada TV Independente.

    Barros, amigo do bispo de Barretos, Dom Antonio Maria Mucciolo, procurou-o para

    oferecer a outorga do canal Igreja Catlica. Aps negociaes com a CNBB, que no

    aceitou assumir o canal, o projeto da Rede Vida comea a ser colocado em prtica com a

    fundao do INBRAC, em 17 de dezembro de 1992. O INBRAC o rgo mantenedor

    da TV catlica, que passou a ser denominada Rede Vida de Televiso. A famlia

    Monteiro fez a doao do terreno onde foram construdas as instalaes da nova

    emissora, em So Jos do Rio Preto, So Paulo.

    Sem fins lucrativos e sem vnculo com a CNBB, o INBRAC uma associao civil

    que pode realizar, patrocinar e promover, direta e indiretamente, iniciativas de atuao

    sobre os veculos de comunicao social, de forma a propagar e difundir a mensagem crist,buscando, principalmente, o respeito aos valores ticos e sociais da pessoa e da famlia

    (BARROS FILHO, 2003, p.37). Ismar de Oliveira Soares8 acredita que o Inbrac tem como

    grande funo representar a catolicidade do veculo perante a prpria Igreja e fornecer um

    amparo administrativo para Monteiro.

    8 Ismar de Oliveira Soares exps, em entrevista concedida autora, dia 27 de janeiro de 2005, em PortoAlegre, aspectos histricos sobre sua participao no processo de instalao da Rede Vida.

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    A partir de 1994, o conselho superior do INBRAC intensificou seu trabalho para que

    a emissora iniciasse suas transmisses em 1995. Primeiro de maio de 1995 a data em que

    a Rede Vida entra no ar em carter experimental. Na poca, a emissora transmitiadiariamente a missa, o tero e o programa Vida na Parquia. Aos sbados e domingos,

    tinha uma programao especial.

    Seu alcance ainda era limitado. Hoje, a Rede Vida constituda por uma emissora e

    325 retransmissoras, cobrindo praticamente 100% do territrio nacional, porm com uma

    audincia insignificante (Veja, 2003, p.101-102). Segundo matria da revista Painel (2003,

    p.15), a audincia da emissora de 3% e atinge as classes A e B, com a faixa etria

    adulta/idosa. Em entrevista9, Monteiro Filho (2004) afirma que a Rede Vida no tem

    contratos com empresas medidoras de audincia. Segundo ele, os ndices de audincia, na

    poca em que eram medidos em So Paulo, prejudicavam as negociaes comerciais.

    Atualmente, o contrato da EMBRATEL garante cobertura da Rede Vida em todo o

    territrio nacional, com mais de dois milhes de antenas parablicas. A cobertura atinge

    502 cidades brasileiras, que somam cerca de 94 milhes de pessoas (Censo Demogrfico,

    IBGE). A emissora tambm oferece a possibilidade de 7,5 mil parquias participarem de

    uma rede de formao, informao e transformao evanglica distncia. A Rede Vida

    opera como TV aberta comercial, com sinal nacional pela NET, antenas parablicas, TVs a

    Cabo NET, TVA, canais por assinatura como DirecTV e Tecsat e Sistemas Independentes,

    VHF e UHF (Meio e Mensagem, maio 2000).

    A expanso da Rede Vida levou-a a instalar estdios auxiliares nos grandes centros

    do pas. A primeira base foi montada em So Paulo, em parceria com o Sindicato da

    Pequena e Microempresa do Estado de So Paulo. Em Porto Alegre, com auxlio do

    arcebispo emrito Dom Altamiro Rossetti, foi instalado um estdio auxiliar, no qual so

    produzidos e editados programas e matrias jornalsticas. Em 13 de maio, a Rede Vida deTeleviso inaugurou os estdios de Braslia. A Rede Vida tambm possui estdio auxiliar

    no Rio de Janeiro. A produo jornalstica da emissora est descentralizada devido

    atuao dos estdios.

    9 Entrevista concedida por Joo Monteiro de Barros Filhos autora, dia 16 de julho de 2004, em Barretos, SoPaulo.

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    Paralelo ao crescimento do alcance nacional do sinal da Rede Vida, mantm-se o

    debate em torno da programao. A programao inicial foi elaborada com base no

    primeiro estatuto do INBRAC, que manifesta a inteno de prestar servios IgrejaCatlica no Brasil, buscando difundir o respeito aos valores ticos e sociais da pessoa e da

    famlia. A tendncia a programas religiosos mantm-se ainda hoje. A marca foi deixada

    pela atuao do produtor televisivo, Ricardo Carvalho. Conforme conta Soares (2005), o

    produtor

    tinha uma teoria. O Brasil catlico era um targetde 80 milhes deconsumidores, de fiis. E esses 80 milhes precisavam ver na televiso ossmbolos catlicos. Ento os padres tinham que fazer aquilo que elesfaziam na igreja, porque a o povo os reconheceria. Ele foi o grande

    incentivador de trazer o signo catlico para dentro da tela da televiso.Portanto, ele acabou dando as normas...

    Na poca em que entra no ar, a Rede Vida transmitia uma missa diria, atendendo

    ao desejo de seu idealizador, Joo Monteiro de Barros Filho. Nos primeiros dias, a

    programao constava apenas da missa (ao vivo) e do tero. As missas despertam interesse

    de padres e de fiis. O espao se tornou pequeno, levando construo do Santurio da

    Rede Vida, inaugurado no dia 30 de novembro de 1999, na cidade de So Jos do Rio

    Preto. O Santurio utilizado pela Rede Vida de Televiso para as transmisses dirias e

    dominicais. A obra, que contou com o empenho do fundador, Joo Monteiro de Barros

    Filho, demonstra a permanncia dos interesses por uma programao eclesial.O Santurio

    da Vida fortaleceu a importncia das missas na programao.

    Numa observao inicial da grade de programao, constatamos que a maioria dos

    programas de carter religioso, dentre os quais o tero, as missas e as pregaes. Em

    seguida, est o jornalismo, com programas em diversos formatos. As linhas gerais da Rede

    Vida levam para uma prtica de comunicao voltada para o interior da Igreja,

    instrumentalista e preocupada com o domnio do contedo. Porm, a presena de outrosprogramas, como os jornalsticos, revela a possibilidade da emissora ultrapassar as barreiras

    histricas e alcanar a comunicao dialgica. Mas isso depende muito do modo como vem

    usando tais programas.

    2.1. Jornalismo na Rede Vida: o JCTV

    Dentre os programas jornalsticos da emissora, enfocamos o JCTV. o principal

    telejornal da emissora, com transmisso diria, de segunda-feira a sbado. Durante a

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    semana, ou seja, de segunda a sexta-feira, o telejornal apresentado em trs edies dirias,

    s 7 horas, s 12 horas e 30 minutos e s 18 horas e 30 minutos. s 7 horas, apresentado

    por Luiz Carlos Fabrini, exibindo matrias extradas de outros telejornais, como o EdioNacional e o Jornal da NBR. s 12 horas e 30 minutos, veicula matrias da edio das

    18h30 do dia anterior, com roteiro alterado, e apresentado pela jornalista Luciana Martins.

    A edio das 18h30 apresentada por Andra Bonatelli, a editora do programa, ao vivo.

    Aos sbados, o JCTV vai ao ar s 12 horas e 30 minutos, reproduzindo matrias

    transmitidas pela edio das 18h30 da sexta-feira, porm com novo roteiro. Analisaremos o

    JCTV das 18 horas e 30 minutos, de segunda a sexta-feira, totalizando cinco edies, no

    perodo de 12 a 16 de julho de 200410.

    As edies veiculam, basicamente, notcias referentes a acontecimentos da Igreja

    Catlica, de todo o Brasil. Contam com a insero de matrias produzidas e editadas em

    diversos estados, enviadas pelos jornalistas dos estdios do Rio de Janeiro, de Braslia, de

    So Paulo e de Porto Alegre, bem como por colaboradores das dioceses de todo Brasil. A

    edio, na maioria dos casos, feita em So Jos do Rio Preto, seguindo roteiro elaborado

    pela editora ou revisado por ela. So dois blocos, de, em mdia, 15 minutos cada,

    compostos por reportagens, notas cobertas, boletins, notas e comentrios. O JCTV est

    no ar desde 1 de abril de 1997, o dia de fundao do Jornal O Dirio de Barretos, do

    Grupo Independente. o nico telejornal produzido pela Rede Vida.

    O JCTV tem no processo de produo a possibilidade de tornar-se um lugar na

    grade de programao da Rede Vida para a manifestao da pluralidade, contribuindo com

    a aproximao Igreja-mundo. H nele uma concepo de descentralizao: o JCTV est

    aberto para que colaboradores, dos mais variados lugares do Brasil, enviem matrias para

    veiculao. A idia guarda em si o pluralismo e viabiliza que a emissora, localizada no

    interior de So Paulo, faa jornalismo em rede para todo o Brasil, com olhares diferentessobre os acontecimentos nacionais. Entretanto, esbarra, entre outros entraves, na trajetria

    histrica da emissora que prioriza o contedo eclesial. O telejornal produzido, em grande

    parte, com matrias enviadas pelos colaboradores. So pessoas, leigas ou religiosas,

    10 O perodo constitui o recorte de nossa tese de doutorado. Nestes dias, alm da agravao dos programas,realizamos observao participante da produo dos mesmos, na sede da Rede Vida, em So Jos do RioPreto, So Paulo. Os dados coletados na observao participante sero utilizados neste artigo para umaprimeira anlise do JCTV.

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    vinculadas a dioceses, parquias ou assessorias de imprensa. Todas so autorizadas pelos

    respectivos bispos e, segundo a editora do JCTV, Andra Bonatelli11, so responsveis

    pelas informaes transmitidas.Nas cinco edies observadas, de 89 matrias, incluindo nota ao vivo, nota coberta,

    boletim e reportagem12, 81 foram enviadas Rede Vida pelos colaboradores. Os

    colaboradores atuam de cinco modos distintos: envio de matrias prontas, j editadas, como

    o caso das produzidas pelos estdios auxiliares da Rede Vida; envio de imagens, textos

    (off) e roteiro para edio ser executada em So Jos do Rio Preto; envio de imagens e

    textos, para a construo do roteiro ser realizada pela equipe de So Jos do Rio Preto;

    envio de imagens, para que texto e roteiro sejam feitos em S. J. Rio Preto; e, por fim,

    atravs da gravao de notas por telefone.

    Nas edies do perodo em anlise, os estdios auxiliares colaboraram com 13

    matrias. Os demais colaboradores, com 25. Foram editadas 43 notas gravadas por telefone,

    de em mdia 30 segundos. A Rede Vida, em So Jos do Rio Preto, produziu oito matrias.

    Podemos afirmar que a produo prpria da Rede Vida inclui estas ltimas e as notcias

    produzidas nos estdios auxiliares. Portanto, o JCTV depende, em grande parte, dos

    colaboradores de dioceses e parquias de todo Brasil. Os colaboradores no tm vnculo

    profissional e oficial com a Rede Vida e participam voluntariamente, com liberdade de

    escolha das pautas e fontes. A maioria prioriza temas religiosos, quase sempre relacionados

    diocese ou parquia a que pertencem. Das 25 matrias enviadas pelos colaboradores, 20

    tratam de assuntos catlicos. Todas as 43 notas apresentam notcias curtas sobre eventos

    catlicos. O contedo eclesial se faz presente no telejornal, tambm, atravs da

    participao, diria, do bispo de Joinvile. Em todas as edies, o padre faz um comentrio

    teolgico. O quadro no tem lugar fixo no programa e no satisfaz a editora Andra

    Bonatelli (2004): Essa participao no tem validade jornalstica, afirma.O JCTV , sem dvida, um informativo televisivo sobre a Igreja Catlica no Brasil.

    Devemos reconhecer que a pluralidade est presente devido multiplicidade proporcionada

    pelo trabalho dos colaboradores. Mas, o plural limita-se diversidade que compe a prpria

    11 Entrevista concedida autora durante a realizao da observao participante, em So Jos do Rio Preto,dia 13 de julho de 2004.12 Formas de apresentao de notcias. MACIEL, Pedro. Jornalismo de televiso. Porto Alegre : SagraLuzzato, 1995

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    Igreja. O JCTV contribui com o dilogo intra-eclesial, mas enfatiza o fazer,

    concretizando prticas de comunicao institucional.

    A linha editorial do JCTV , a princpio, catlica, mas h o desejo de mudana. Odiretor de programao, Ivan Cunha13, afirma que esse telejornal tem como foco as notcias

    da Igreja. A editora Andra Bonatelli (2005) confirma: a linha editorial catlica. Mas

    afirma que a direo orienta para a abertura do telejornal a outras pautas, no catlicas.

    Segundo ela, a mudana difcil porque os colaboradores esto viciados na produo de

    notcias sobre a Igreja. Aos poucos vamos orientando para que mostrem outras coisas, no

    notcias de dioceses.

    Os indcios de abertura existem. Mas as mudanas no dependem somente da

    superao dos vcios dos colaboradores. Falta-lhes formao profissional e estrutura

    fsica / tcnica adequada. Muitas matrias chegam Rede Vida sem qualidade de imagens e

    textos, inviabilizando a edio e a veiculao. Os problemas so visveis nas edies do

    programa e tambm nas reclamaes dos editores:

    O cara fala, fala e no tem imagem sobre o que ele fala. Fica difcilcasar as imagens. No tem nexo. Seu Joo (refere-se ao presidente daRV) diz que a Rede Vida de todos os catlicos. Se assim, com tantaIgreja por a, bem que umas poderiam comprar uma cmera melhor,pagar um curso pra ensinar a fazer as imagens melhor e mandar matriaboa. J estou h dez anos aqui e sempre a mesma coisa. Sempre osmesmo que mandam matria. Todo ano a mesma coisa. Eu acho o

    jornalismo daqui ruim. Eu j tentei assistir e dormi. Voc no dormequando assiste?14

    A produo baseada nos colaboradores acaba por prejudicar, alm da qualidade tcnica do

    telejornal, tambm a atualidade das notcias. As fitas com as imagens chegam Rede Vida pelo

    correio. Alguns colaboradores esperam acumular imagens para diferentes matrias a fim de

    aproveitar melhor a postagem. Os acontecimentos perdem a atualidade, fundamental televiso.

    As notcias produzidas pela equipe de jornalismo de So Jos do Rio Preto limitam-se a sete

    notas (lidas ao vivo pela apresentadora), sendo seis delas sobre religio e uma sobre cultura. A RedeVida de Rio Preto produziu, tambm, uma reportagem sobre a Casa de Anchieta, projeto social

    encabeado pelo Grupo Independente. Os interesses institucionais so evidentes. Coube Rede

    13 Entrevista concedida autora, durante a realizao da observao participante, em So Jos do Rio Preto,dia 10 de julho de 2004.14 A declarao de um dos editores tcnicos da Rede Vida de So Jos do Rio Preto. O comentrio foicoletado durante a observao participante. Preferimos no mencionar nomes dos funcionrios da emissora,com exceo daqueles que nos concederam entrevista.

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    Vida de Rio Preto, ainda, a produo de dois quadros fixos no JCTV: a agenda (notas curtas sobre

    eventos catlicos e gerais) e a previso do tempo.

    Na produo dos estdios auxiliares da Rede Vida esto os principias indcios de que oJCTV pode vir a constituir-se um espao, numa emissora catlica, para a manifestao do

    pluralismo. As matrias das cinco edies, com mais qualidade tcnica, tm origem nestes estdios,

    onde atuam jornalistas e h infra-estrutura e equipamentos adequados. Alm disso, notcias do

    indicativos de abertura e de superao da comunicao instrumentalista , ainda alimentada pela

    maioria dos colaboradores.

    Uma estratgia encontrada para isso, ao que nos parece, a prioridade a pautas que se

    referem, de algum modo, a atividades catlicas, ligadas Igreja ou no, mas que despertam o

    interesse pblico geral. Pautas sobre aes scio-educativas noticiam fatos da Igreja, mas abordamtemas de interesse geral, tal como uma campanha de arrecadao de brinquedos no Rio de Janeiro.

    A campanha, pautada dia 13 de julho, estava vinculada Igreja; a fonte utilizada foi um padre;

    porm, o assunto era de interesse pblico. O mesmo ocorre em matria produzida pelo jornalista de

    Porto Alegre, sobre o lanamento de uma cartilha com orientaes sobre poltica (2004 foi ano de

    eleies municipais), pela arquidiocese de Porto Alegre.

    Outro exemplo a matria produzida e editada pelo jornalista de Porto Alegre, que pautou o

    aborto de fetos anencfalos, abordando um tema atual, de interesse pblico e que envolve a Igreja

    Catlica. Deu voz (fontes) a um jurista, a um professor de Direito Constitucional, a um padre e aum advogado. A opinio da Igreja dividiu espao com outras opinies. A estratgia repete-se em

    outras matrias produzidas em Porto Alegre: uma sobre educao no trnsito, outra sobre um

    programa de qualificao profissional. Ambas tm relao com a Igreja Catlica, mas o enfoque

    dado torna a pauta de interesse geral, transpondo os limites da comunicao institucional, dofazer,

    para ento se aproximar do outro, deix-lo falar, ouvi-lo e compartilhar com ele opinies sobre o

    mesmo assunto, porm diferentes.

    A concepo de comunicao, baseada no saber/fazer, permeia a rotina estabelecida pelos

    colaboradores voluntrios de dioceses e parquias, manifestando-se no JCTV atravs da presena

    de notcias sobre a Igreja Catlica, e garantindo a existncia de um telejornal porta-voz da Igreja.

    Alm disso, o debate entre a perspectiva de comunicao institucional e a perspectiva do pensar,

    voltada para uma comunicao dialgica, se estabelece nas prprias prticas jornalsticas do

    JCTV. A veiculao de outras notcias, no catlicas e de interesse geral, concomitante a matrias

    sobre a Igreja Catlica, reflete a falta de consenso apontada pela CNBB, bem como revela indcios

    do desejo de mudana e de abertura. O JCTV ainda no tem uma diretriz clara sobre seu futuro,

    mas deixa entender, nas entrelinhas da produo, que pode transformar-se num espao, na grade de

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    programao da Rede Vida, de aproximao Igreja-mundo, contribuindo para que o dilogo entre

    catlicos e outras vises de mundo ocorra.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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