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GESTÃO DEMOCRÁTICA NO AMBIENTE ESCOLAR Silmara Robles Escorsin 1 Resumo. Este artigo apresenta um estudo bibliográfico a respeito da democratização da escola, suas funções e compromissos. O objetivo deste é deixar claro que a escola deve abrir-se à participação de todos os segmentos que constituem a comunidade escolar, para que estes tenham voz e voto e sejam capazes de contribuir nas discussões que irão levar à tomada de decisões. Um dos processos mais importantes da implementação da gestão democrática é a efetiva participação dos professores, crianças, jovens, pais, apoio técnico, enfim todos que de uma forma direta ou indireta, e se sintam sujeitos construtivos desse espaço escolar. Palavras-chave: Democratização, Comunidade Escolar, Professores, Espaço escolar. Abstract. This article presents a bibliographical study about the democratization of school, their roles and commitments. The objective is to make clear that schools must be open to participation by all segments that constitute the school community, so they have a voice and vote and are able to contribute in the discussions that will lead to decision making. One of the most important processes in the implementation of democratic management is the effective participation of teachers, children, youth, parents, technical support, and finally all that in a direct or indirect way, and they feel like citizens of the school building. Keywords: Democracy, Community School, Teachers, School space. 1. INTRODUÇÃO Sabe-se que a sociedade vem, cada vez mais, reivindicando a construção de uma escola democrática competente, diferente, adequada às necessidades de um novo contexto. Enfim, uma escola democrática, que cumpra com sua função social, sendo assim pressupõe uma forma de gestão preocupada com a participação de todos os membros da comunidade escolar – alunos e seus pais, professores, funcionários e direção. Neste contexto, não se concebe uma escola sem o mínimo de abertura ao diálogo com aqueles que, direta ou indiretamente, contribuem para conseguir um ensino e uma promoção da aprendizagem. Na área da educação, a escola é responsável pela transmissão do conhecimento, porém, no mundo globalizado, exige-se que a escola tenha uma nova concepção e uma forma diferenciada de se trabalhar, ou seja, uma constante renovação na sua postura, para transmitir um conhecimento de nível elevado para preparar o aluno a serem criativo e pensante, com objetivo de formar cidadãos 1 Pós-graduand a em Gestão Escolar. Sociedade Educacional de Santa Catarina – SOCIESC. E-mail: [email protected]

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GESTÃO DEMOCRÁTICA NO AMBIENTE ESCOLAR

Silmara Robles Escorsin1

Resumo. Este artigo apresenta um estudo bibliográfico a respeito da democratização da escola, suas funções e compromissos. O objetivo deste é deixar claro que a escola deve abrir-se à participação de todos os segmentos que constituem a comunidade escolar, para que estes tenham voz e voto e sejam capazes de contribuir nas discussões que irão levar à tomada de decisões. Um dos processos mais importantes da implementação da gestão democrática é a efetiva participação dos professores, crianças, jovens, pais, apoio técnico, enfim todos que de uma forma direta ou indireta, e se sintam sujeitos construtivos desse espaço escolar.

Palavras-chave: Democratização, Comunidade Escolar, Professores, Espaço escolar.

Abstract. This article presents a bibliographical study about the democratization of school, their roles and commitments. The objective is to make clear that schools must be open to participation by all segments that constitute the school community, so they have a voice and vote and are able to contribute in the discussions that will lead to decision making. One of the most important processes in the implementation of democratic management is the effective participation of teachers, children, youth, parents, technical support, and finally all that in a direct or indirect way, and they feel like citizens of the school building.

Keywords: Democracy, Community School, Teachers, School space.

1. INTRODUÇÃO

Sabe-se que a sociedade vem, cada vez mais, reivindicando a construção de uma escola democrática competente, diferente, adequada às necessidades de um novo contexto. Enfim, uma escola democrática, que cumpra com sua função social, sendo assim pressupõe uma forma de gestão preocupada com a participação de todos os membros da comunidade escolar – alunos e seus pais, professores, funcionários e direção. Neste contexto, não se concebe uma escola sem o mínimo de abertura ao diálogo com aqueles que, direta ou indiretamente, contribuem para conseguir um ensino e uma promoção da aprendizagem.

Na área da educação, a escola é responsável pela transmissão do conhecimento, porém, no mundo globalizado, exige-se que a escola tenha uma nova concepção e uma forma diferenciada de se trabalhar, ou seja, uma constante renovação na sua postura, para transmitir um conhecimento de nível elevado para preparar o aluno a serem criativo e pensante, com objetivo de formar cidadãos

1 Pós-graduand a em Gestão Escolar. Sociedade Educacional de Santa Catarina – SOCIESC. E-mail: [email protected]

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críticos e que se comprometam a uma participação mais efetiva, para obter resultados com eficácia, favoráveis ao desenvolvimento do estabelecimento. Ao refletir sobre a democracia na escola, o primeiro passo é investigar e verificar a estrutura da gestão escolar atual e o grau de resistência à implementação dessa forma ( democrática ) de gerir a escola. Dentro de um contexto da rede pública, observa-se que o gestor ou diretor escolar assume uma nova centralidade organizacional, sendo o que deve prestar contas pelos resultados educacionais conseguidos, transformando-se no principal responsável pela efetiva concretização de metas e objetivos, quase sempre centrais e hierarquicamente definidos. A liderança, a gestão democrática não se estabelece de um dia para o outro, muito menos só com palavras. Está é construída dia após dia num processo contínuo efetivado por atitudes. Todos participantes do ato educativo expressam suas opiniões e sugestões com liberdade, pois sabem que estas serão consideradas e analisadas. A proposta deste trabalho visa a esclarecer alguns pontos considerados fundamentais à construção de uma escola democrática, tais como o conhecimento de como se estrutura sua gestão, porém para que ocorra o processo de democratização é preciso que se construa o consenso, que reivindica a igualdade nos processos decisórios, e este só pode ocorrer em relações dialógicas e num trabalho pedagógico centrado na critica reflexiva que possibilite a existência de espaços para desencadear momentos de reflexão, tanto individuais quanto coletivos. Para tanto, devemos partir do princípio básico: pensar, discutir, refletir, agir. Essa dinâmica precisa estar integrada ao fazer da escola democrática, sempre tendo em mente que o conceito de democracia é diluído se ele não se orienta pela possibilidade da realização das condições de vida ideais para o ser humano. (FREIRE, 1996).

2. CONCEITO DE ESCOLA DEMOCRÁTICA

A escola democrática é aquela que está aberta ao diálogo com toda comunidade escolar, sem distinção; e que cria novos meios de se adaptar a participação ativa de todos. Em uma escola dita como democrática não pode faltar o comum acordo entre os diferentes membros da comunidade escolar, através, da participação ativa dos envolvidos na construção de propostas e alternativas que fortaleçam a união em torno da gestão do ensino.

A democratização qualitativa compreende, portanto o respeito mútuo entre todas as pessoas envolvidas no trabalho escolar, e a participação de todos na busca dos objetivos comuns. O diálogo e o trabalho cooperativo – e não a repressão e a competição exacerbam o individualismo – devem ser os valores e as práticas predominantes numa escola que pretende educar democraticamente para a democracia. (PILETTI, 1994, p. 251)

A escola democrática, precisa ser vista, não somente como um objetivo que precisa ser alcançado, mas sim, como um objetivo que precisa ser perseguido e aprimorado na prática do cotidiano escolar. Para que ocorra de fato essa democracia, não podemos deixar de ausentar dois elementos: a autonomia e a participação. Para que haja o exercício da autonomia, contamos com a criatividade e negociação, dos gestores do sistema de ensino. “O direito de criticar e o dever, ao criticar, de não faltar à verdade para apoiar nossa crítica é um imperativo ético da mais alta importância no processo de aprendizagem de nossa democracia”. (FREIRE, 2001, p 59)

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Ao promover a participação e compromisso da comunidade em seu entorno, a escola democrática consegue ultrapassar a estrutura física da escola e estabelecer um elo de co-responsabilidade com a comunidade externa, a quem na realidade a escola pertence. Com base na participação e compromisso, a escola apoiada da participação e da autonomia, precisa formar sujeitos capazes de pensar e aprendendo a lidar com diferenças e cultivando o sentimento de igualdade e respeito ao outro. As possibilidades participativas na escola se abrirão, desde que a escola se abrir para a autonomia e se a comunidade escolar estiver realmente interessada e comprometida com um novo desenho de gestão escolar, incluindo também a administração e desempenho em sala de aula. Não é uma tarefa simples, porque a escola é um pequeno mundo, onde criam relações de conflito e disputa de poder, além do que há uma forte tradição cultural de tudo ser decidido sem a participação das pessoas que vivem as relações, através de procedimentos autoritários e burocráticos. Participar ainda parece ser algo muito novo não só para o corpo escolar como para todos os cidadãos brasileiros. "Ninguém pode estar no mundo, com o mundo de luvas nas mãos constatando apenas. A acomodação em mim é apenas caminho para a inserção, que implica decisão, escolha, intervenção na realidade". (FREIRE, 2004, p. 77) No processo de discussão coletiva acontece o repensar sobre a prática, os professores se descobrem como sujeitos de uma prática intencionada, com a oportunidade de combinar o seu fazer pedagógico com a reflexão. E pensar sobre a prática implica buscar alternativas para mudanças,tomar decisões para a inovação da prática educacional. Nesse sentido, a ação pedagógica poderá seconsolidar realmente numa práxis transformadora. Esse processo é importante, pois “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão.” (Freire, 2003, p.92). Cabe a escola repensar o seu papel na formação de verdadeiros cidadãos, caminhando nesta direção com seriedade, como compromisso da coletividade e, nesta busca, os professores devem fazer frente, através de uma constante revisão crítica de seu papel, envolvendo toda a comunidade escolar, consciente do seu compromisso na conquista de uma nova escola, que seja verdadeiramente democrática. Somente com esta prerrogativa a escola pode realmente se tornar um fator de cidadania.

2.1 A Construção da Escola Democrática

A escola democrática caracteriza-se por manter uma gestão democrática, a qual inicia com a construção do PPP ( Projeto Político Pedagógico) e sua respectiva execução. Esta concepção é considerada de difícil aplicação, principalmente no interior da escola, pois não é fácil de ser consolidado, pois se trata da participação crítica na construção de uma gestão democrática, pois exige a participação de toda a comunidade escolar para definir os rumos da escola. O projeto político-pedagógico dá o norte, o rumo, a direção; “Ele possibilita que as potencialidades sejam equacionadas, deslegitimando as formas instituídas” (VEIGA, 2000, p. 192). Uma gestão escolar democrática, a própria palavra nos diz, promove a redistribuição de responsabilidades, idéia de participação, trabalho em equipe, decidir sobre as ações que serão desenvolvidas, analisa situações e promove confronto de idéias, procura-se, assim, o êxito de sua organização, através de uma atuação consciente. A descentralização dos processos de gestão escolar e a democratização, na escola, trazem como objetivo o desenvolver o espírito em equipe, as decisões compartilhadas independentemente do nível hierárquico que ocupa dentro da organização, mobilizar as pessoas, para demonstrar seus talentos, até então ocultos, para a realização de

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trabalhos, incentivar para colocar idéias em prática e assim auxiliar a escola na solução de problemas ou mesmo então de inovar com novos projetos que irão atrair uma atenção, tanto por parte dos alunos, como da comunidade escolar, e em benefício da instituição como um todo. Outro aspecto fundamental para a verdadeira cidadania e da democracia na escola é a tão proclamada autonomia. Esta, tal como a concebe o campo democrático popular, objetiva contribuircom a capacidade da sociedade civil para gerir políticas públicas, avaliar e fiscalizar os serviços prestados à população para tornar público o caráter privado do Estado. Pressupomos que o exercíciode uma pedagogia da participação popular é capaz de contribuir para a construção de novas formasde exercício do poder no terreno da sociedade civil e das ações do Estado.

O processo de democratização não é tão simples para implantá-lo, principalmente em curto prazo, mas também não é extremamente complexo ou impossível de ser realizado, constitui-se uma ação ou uma prática que deve ser construída pela escola. Entretanto, o processo democrático, na sua complexibilidade, exige ações imediatas e concretas e esbarram nas limitações da autonomia e, até mesmo, nas políticas empreendidas pelos próprios gestores. A escola, como instituição social defensora da família deve estar comprometida com a promoção do desenvolvimento humano e com o atendimento das necessidades da sociedade. A participação de todos, significa que, nenhuma pessoa, em qualquer nível hierárquico, deve ser excluída do processo participativo, porém, a participação deve ser entendida como um processo na organização e não apenas como uma estratégia que gera assembléias de negociação ou de decisão. Segundo Paulo Freire (1995), a democratização da educação passa pela democratização do conhecimento produzido e isso só será possível através da construção de um novo tipo de gestão onde se busca a transformação da sociedade e da escola por meio da participação de todos. A fala sobre gestão democrática está presente em quase todos os discursos sobre educação. Na prática sabe-se que não é fácil romper paradigmas e transformar, do dia para noite, o tipo de gestão tradicional que sobrevive há séculos. Devemos lembrar que a gestão democrática não se resume em eleições ou escolha democrática do diretor escolar. É preciso muito mais do que isso. Nesse sentido, dentro da escola podemos criar conselhos ou grupos que ajudem na efetivação da democracia na escola. Tais instâncias colegiadas devem fazer parte do Projeto Político-Pedagógico da escola, conhecer e construir a concepção educacional que orienta a prática pedagógica.

O empecilho para efetivar uma gestão democrática é que os profissionais da educação necessitam dedicar-se com mais amor à profissão, não apenas procurar fazer um concurso em decorrência de sua estabilidade e remuneração garantida ao final do mês. Mas empenhar-se em estar sempre procurar se atualizar, para proporcionar um conhecimento de alta qualidade, e proporcionar novas maneiras de ensinar, para formar cidadãos pensantes e críticos, preparados para mercado competitivo de trabalho.

3. GESTÃO PARTICIPATIVA

O entendimento do conceito de gestão já praticamente dá a entender por si só, que é a simples idéia de participação, ou seja, o trabalho de várias pessoas juntas, analisando uma determinada situação. A fala sobre gestão democrática e participativa está presente em quase todos os discursos sobre educação. Na prática sabe-se que não é fácil romper paradigmas e transformar, do dia para a noite, o tipo de gestão tradicional que sobrevive há séculos. Porém já encontramos alguns indícios dessa prática no cotidiano escolar e aí entra a figura do diretor-gestor. Atualmente, não se aborda mais o conceito de administrador; fala-se em gestor. Nessa perspectiva, a direção da escola deve ser entendida como um trabalho que se desenvolve no coletivo, com ampla participação de toda

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comunidade escolar. Logo, o papel do gestor escolar, segundo (Luck, 2000), conhecido como Diretor de escola, em uma visão democrática de gestão, está diretamente ligado ao conhecimento/interação deste com a comunidade na qual "sua" escola está inserida.

Segundo Mendonça (1987), a participação em seu sentido pleno caracteriza-se por uma força de atuação consciente, pela qual os membros de uma unidade social reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e de seus resultados, poder esse resultante de sua competência e vontade de compreender, decidir e agir em torno de questão que lhe são afetas. Lück (1998), relata ainda, que a responsabilidade da gestão participativa é complexa e envolve o entendimento e a competência relativa a questões políticas, pedagógicas e organizacionais, além das legais. Mas, para que a gestão participativa ocorra, ainda é necessário trilhar um caminho que certamente não será fácil porém desafiador e somente será trilhado pelos verdadeiros agentes de mudanças. A gestão participativa desdobra-se em: a realidade e o conhecimento, que ambos são construídos socialmente, entre os seres humanos, reconhecendo o valor potencial em cada um deles. O conselho escolar é a maneira mais comum de assegurar a participação de todos os interessados na gestão da escola. Trata-se de um grupo de representantes dos pais, professores, alunos, funcionários, da comunidade e da direção, da escola que se reúne para sugerir medidas ou para tomar decisões, como afirma Mendonça (1987). Por isso, retomamos o educador Paulo Freire (1996, p. 26) que nos diz que o “educador democrático não pode negar-se o dever de, na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão”. Diz ainda, que para se aprender criticamente, exige-se a “presença de educadores e educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes” (Ibid, p. 26). Só assim é possível formar sujeitos conscientes, autônomos,que saibam ler as palavras, mas, sobretudo, o mundo ao seu redor. A gestão participativa preocupa-se em promover um clima de amor, de fraternidade e de diálogo, que alimente o convívio, não só entre os professores, mas destes com seus alunos, procurando estabelecer comunhão e compromisso. Assim, a escola aproximar-se-á da função primordial que é promover a cidadania e estará oferecendo o ingrediente fundamental para sua verdadeira construção pela participação. Não haverá democracia sem a participação. Acreditamos, assim, que a escola de hoje precisa articular-se para formar cidadãos aptos ao questionamento, à problematização, à tomada de decisões, buscando soluções individuais e para a comunidade onde se vive. Quando todos participam, o envolvimento e o comprometimento de todos se amplia. Descobrem que têm uma causa em comum, comprometem-se com a vida dos educandos e com o futuro da escola. Assumem responsabilidades com as mudanças. Por isso, precisa haver liberdade para que cada um fale, se posicione e participe como sujeito ativo. A concepção de Freire sobre a escola pública popular é o de uma escola aberta, na qual os pais não vão apenas receber repreensões, advertências, reclamações ou trabalho. Mas sim, um espaço para a participação coletiva, que possibilite somar diversos saberes e experiências, e, nesse sentido, que considere as necessidades e desejos da comunidade escolar. Tal participação popular favorece a criação de culturas e fornece instrumentos para que cada um seja sujeito ativo da construção da sua própria história, discutindo, interagindo, opinando, intervindo e aprendendo a exercer a sua cidadania.

Paulo Freire reafirma sua definição para a Educação Popular dizendo que a:

[...] educação popular como esforço de mobilização, organização e capacitação das classes populares; capacitação científica e técnica. “Entendo que esse esforço não se esquece, que é preciso poder, ou seja, é preciso transformar essa organização do poder burguês que está aí, para que se possa fazer escola de outro jeito. (FREIRE, 2005, p. 19).

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Freire pensou a escola pública popular de qualidade, a Escola Cidadã, que ensina para e pela cidadania. A que se preocupa de formar o aluno crítico, que tem autonomia para dizer a sua palavra e ser protagonista de sua história. Na escola cidadã, a relação pedagógica é generosa e todas as interações são solidárias, e nesta, o objetivo maior é colocar o oprimido no palco de sua história. Quando todos têm escola de qualidade, na qual se aprende a ler, a escrever, a pensar e a refletir sobre a realidade vivida, não há dirigidos e dirigentes, mas sim oprimidos emancipados que assumem o protagonismo de sua história.

Mas, mesmo diante dos obstáculos, não podemos perder a esperança no mundo, e muito menos na educação. Somos educadores, semeadores de esperança. “A desesperança das sociedades alienadas passa a ser substituída por esperança, quando começam a se ver com os seus próprios olhos e se tornam capazes de projetar.” (FREIRE, 1983, p. 54).

A escola existe para servir a comunidade onde se situa. Ela precisa ser um fórum aberto de participação, onde a democracia se efetiva. E, esta, somente se concretizará, de fato, quando a comunidade (o povo) tomar as rédeas e decidir ousada e corajosamente os rumos da sua história. Portanto, é indispensável que a escola chegue à família e a conduza para dentro da escola, forme uma comunidade ou um grupo para discutirem problemas de interesse comum.

O modelo de educação dentro de uma perspectiva democrática, pela qual se vivencia uma gestão participativa, comprometida com a construção de uma escola pública popular de qualidade, busca formar alunos livres e conscientes que consigam fazer uma aproximação crítica entre a escola e a vida. Assim, a cidadania será construída a partir do exercício efetivo de práticas democráticas e participativas na escola, comprometidas com a emancipação e a autonomia dos sujeitos ativos, atores de sua própria história.

4. O PAPEL DO GESTOR

Nas escolas eficazes, os gestores agem como líderes pedagógicos, apoiando o estabelecimento das prioridades, avaliando os programas pedagógicos, organizando e participando dos programas de desenvolvimento de funcionários e também enfatizando a importância de resultados alcançados pelos alunos. Deve-se ter em conta que a motivação, o ânimo e a satisfação não são responsabilidades exclusivas dos gestores. Os professores e os gestores trabalham juntos para melhorarem a qualidade do ambiente escolar, criando as condições necessárias para o ensino e a aprendizagem mais eficaz, identificando e modificando os aspectos do processo do trabalho considerando adversários da qualidade do desempenho. Para que a prática de liderança nas escolas ocorram na íntegra, o gestor, deve apoiar o estabelecimento com objetivos claros, propiciar uma visão do que é uma boa escola e encorajar os professores e auxiliá-los nas descobertas dos recursos necessários para que realizem adequadamente o seu trabalho. Para que realmente o processo de gestão seja democrático e que objetive a construção da cidadania temos que ter consciência que não é um processo mecânico e sem compromisso. Ele só existirá na medida em que for desenvolvida a articulação entre o discurso e a ação e, ao mesmo tempo, a defesa dos interesses coletivos, tendo por referência os compromissos públicos e a construção de uma sociedade mais justa. As escolas bem dirigidas e onde há integração entre professores, exibem uma cultura de reforço mútuo das expectativas: confiança, interação entre os funcionários e a participação na construção dos objetivos pedagógicos, curriculares e de prática em sala de aula.

A participação efetiva e o compromisso de toda a equipe escolar para a construção de uma gestão escolar democrática refletirão positivamente na qualidade do trabalho da instituição de ensino diante das inovações que o mundo moderno impõe, então, permite-se pensar em gestão no

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sentido de uma articulação e integração consciente de ações que se realiza no cotidiano da escola, surgindo uma nova maneira de se direcionar uma escola com responsabilidades e anseios compartilhados. Sem dúvidas o gestor escolar é um elemento de grande importância para o processo de transformação educativa, exigindo a construção de instituições educacionais autônomas e com capacidade para tomar decisões, elaborar projetos, administrar adequadamente todos os recursos disponíveis e escolher estratégias que lhe permitam produzir resultados positivos. O papel principal do gestor é saber acompanhar essas mudanças e tentar ampliar a capacidade de realização da organização escolar, levando a atingir seu potencial pleno e a tornar-se uma instituição que traga orgulho profissional a seus integrantes.

Para finalizar, cabe declarar que a gestão democrática não é um fim em si, ela é produto da ação concreta e objetiva de homens, ou seja, é expressão de suas relações sociais estabelecidas no processo de produção de sua existência. Neste sentido, a discussão sobre democratização da educação escolar não pode centrar-se apenas nos aspectos pedagógicos e/ou administrativos. A discussão sobre democracia, conforme Carvalho (2005, p. 104), “incluiria questões muito mais amplas, ou seja, não se pode perder de vista as relações entre as classes, os conflitos, contradições e a perspectiva de superação das atuais relações”. O gestor deve revestir-se de esforços voltados para o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes, para que a sua atuação participativa torne-se gradativamente mais eficiente. O gestor assume a responsabilidade quanto a consecução eficaz da política educacional do sistema e desenvolvimento pleno dos objetivos educacionais, organizando, dinamizando e coordenando todos os esforços nesses sentido. Devido a sua posição central na escola, o gestor, no desempenho de seu papel, exerce forte influência sobre todos os setores e pessoas da escola. A força transformadora de uma escola está em seu corpo docente e isto tudo dependerá do rumo e do auxílio do gestor. O gestor escolar deve agir como um mediador do trabalho e ter iniciativa em conjunto com sua equipe para promover a transformação e a quebra de paradigmas já existentes em uma sociedade em constante mudança.

O papel principal do gestor frente às inovações é saber acompanhar essas mudanças e tentar ampliar a capacidade de realização da organização escolar, levando-a a atingir seu potencial pleno e a tornar-se uma instituição que traga orgulho profissional a seus integrantes assim a função do gestor escolar é coordenar e orientar todos os esforços no sentido de que a escola, como um todo, produza os melhores resultados possíveis no sentido de atendimento às necessidades dos educandos e a promoção do seu desenvolvimento.

O gestor exerce varias funções, onde ele precisa saber desenvolver o seu papel dentro da escola, sendo aquele que assume uma liderança, oferecendo uma comunicação aberta, desenvolvendo credibilidade, cuidando sempre do relacionamento interpessoal de alunos, professores e pais. O envolvimento e liderança, necessariamente devem ser oferecidos dentro de uma linha de ação segundo a qual o diretor é um facilitador, alguém que pensa e assume responsabilidade de articular a equipe gestora, para assim desenvolver uma gestão integrada com todos os segmentos da escola, envolvendo também a participação da família.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizando, deve-se dizer que a construção de uma escola competente, democrática e de

qualidade é uma exigência social. Com a nova exigência social para o ambiente escolar, surgem também novas teorias para auxiliar na prática pedagógica que pretende trabalhar com indivíduos das diferentes camadas sociais, o que significa lidar com uma enorme diversidade dentro do âmbito escolar.

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Sendo o ensino público, marcado por novas concepções assumidas no plano social, busca-se uma efetiva participação de todos os que compõem a instituição, deve assumir um compromisso mais atuante, tanto dos membros que compõem a escola, como dos pais e comunidade. As mudanças representadas pelas amplas participações de movimentos sociais repercutiram no panorama educacional, traçando novos processos de gestão, principalmente no que se refere à presença dos segmentos populares, nas decisões e elaboração de projetos sociais.

A construção da escola democrática passa por longo período de conscientização que deve ser refletido entre gestor, equipe pedagógica, professores, funcionários, alunos, pais de alunos e comunidade em geral, com objetivo de um papel mais participativo desses sujeitos a se comprometerem com o processo de mudança. É impossível mudar a forma atual de gestão, sem que se estabeleça a articulação entre a escola e a comunidade que a serve, pois a escola não é um órgão isolado e suas ações devem estar voltadas para atender as necessidades da comunidade, com dedicação, responsabilidade e participação, para se chegar ao objetivo da educação, que é promover o homem dentro de seu contexto social e político. O trabalho coletivo possibilita a articulação entre os diversos segmentos da comunidade escolar é fundamental para sustentar a ação da escola. O grande desafio do gestor em efetivar seu trabalho no âmbito da ação participativa. Cabe ao gestor viabilizar articulações promovendo abertura no interior da escola para que professores, alunos e pais, como um todo, possam participar e fazer parte do trabalho pedagógico na sua totalidade. A gestão acontece quando o gestor informa os professores sobre os acontecimentos da escola, cria uma atmosfera de trabalho, permitindo que o quadro de funcionários opine e participe da escola. O gestor deve atuar como um elo de ligação, gerindo e avaliando o dia-a-dia da escola, podendo contar com sua equipe. As decisões coletivas e a abertura à participação da sociedade dentro da escola possibilitam o acesso e a permanência da população à necessária base cultural e a à formação, exigidas pelas condições das sociedades atuais. Diante do universo de tantas informações e tantas contradições referentes ao tema, é necessário que se continue em busca da identificação do papel a ser desempenhado pelo docente a partir da proposta de uma Escola verdadeiramente democrática.

É de suma importância o acompanhamento do trabalho do gestor em relação ao acompanhamento junto às demais repartições funcionais da Instituição de Ensino, um trabalho compartilhado, com estratégia onde o ensino e aprendizagem seja a mola mestra da administração.

A participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. Além disso, proporcionar um melhor conhecimento dos objetivos e metas, da estrutura organizacional e de sua dinâmica das relações da escola com a comunidade, e favorece uma aproximação maior entre professores, alunos e pais.

Para que a escola democrática se efetive, é necessário que as classes dominantes, dentro da instituição, apontem caminhos como conscientizar primeiramente a comunidade escolar para essa transformação, proporcionar um ambiente favorável; usar estratégias para que os alunos se envolvam, através de uma participação que favoreça essa compreensão; os pais se integrem à escola, não apenas para acompanhamento do rendimento escolar ou comportamento de seu filho, mas de uma forma que possam colaborar da melhor forma possível, sendo chamados a mesma por razões de cooperação e compromisso com a qualidade de ensino desenvolvida na instituição, através de diálogos, opiniões coerentes; o educador deve buscar se aprimorar constantemente, para que possa atuar com segurança, com objetivo de favorecer um ensino e aprendizado de qualidade, na formação de cidadãos críticos e não mero recebedor de informações, mas que possa transmitir o conhecimento para prepará-los de maneira satisfatória para o mercado de trabalho competitivo. É primordial que aconteça um esclarecimento, junto aos pais e comunidade, a respeito do que é e como se realiza uma gestão democrática, através do Projeto Político Pedagógico da escola. Recomenda-se que a escola continue esse processo de conscientização entre os membros que a

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compõe que resulte, com eficácia, um trabalho perante os pais e a comunidade em geral, através de uma participação mais efetiva e compromissada com a instituição.

O que vai proporcionar que a escola seja realmente democrática é a integração, que será a complementação entre a capacidade da escola e a esperança que os indivíduos tem em torno do que a escola pode oferecer para satisfazer a necessidade dos indivíduos, como também será a capacidade de interação da escola nos seus diversos âmbitos.

REFERÊNCIAS

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Privatização - Duas faces de uma mesma moeda. 2005. Tese ( Doutorado) – UNIMEP, Piracicaba,

2005.

DAVIS, Claudia .Gestão da escola: desafios a enfrentar. Rio de Janeiro, 2002.

FERREIRA, Naura Syria Carapeto &AGUIAR, Márcia Angela da S. Gestão da Educação –

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido, 13.ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.1983 impasses, perspectivas, compromissos. São Paulo, 2000.

_________ Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra.1996__________A educação na cidade. 6.ª ed. São Paulo: Cortez.2005__________Educação como prática de liberdade, 19.ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.1989. __________Política e educação: ensayos, 7.ª ed. São Paulo: Cortez.20031998.

LUCK, H. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. 2.ed. Rio de Janeiro: DP&A ,

MARQUES, J. C. Proposta básica para gestão. Porto Alegre, 1981.

MARTINS, J. P. Administração escolar: uma abordagem crítica do processo administrativo em

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