suspiros poéticos e saudades - prefácio-ii

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7/17/2019 Suspiros Poéticos e Saudades - Prefácio-II http://slidepdf.com/reader/full/suspiros-poeticos-e-saudades-prefacio-ii 1/1 SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES (Prefácio) (...) O fim deste livro ao menos a!ele a !e nos "ro"!semos# !e i$noramos se o atin$imos# % o de elevar a Poesia & s!'lime fonte donde ela emana# como o eflvio dá$!a# !e da roc*a se "reci"ita# e ao se! c!me se remonta# o! como a refle+,o da l!- ao cor"o l!minoso vin$ar ao mesmo tem"o a Poesia das "rofanas do v!l$o# indicando a"enas no /rasil !ma nova estrada aos f!t!ros en$en*os. A Poesia# este aroma dalma# deve de cont0n!o s!'ir ao Sen*or som acorde da inteli$1ncia deve santificar as virt!des# e amaldi2oar os v0cios. O "oeta# em"!n*ando a lira da Ra-,o# c!m"re3l*e vi'rar as cordas eternas do Santo# do 4!sto# e do /elo. Ora# tal n,o tem sido o fim da maior "arte dos nossos "oetas e o mesmo Caldas# o "rimeiro dos nossos l0ricos# t,o c*eio de sa'er# e !e "!dera ter sido o reformador da nossa Poesia nos se!s "rimores darte# nem sem"re se a"odero! desta id%ia. Com"5e3se !ma $rande "arte de s!as o'ras de trad!25es e !ando ele % ori$inal ca!sa mesmo d6 !e cantasse o *omem selva$em de "refer1ncia ao *omem civili-ado# como se a!ele a este s!"erasse# como se a civili-a2,o n,o fosse o'ra de De!s# a !e era o *omem c*amado "ela for2a da inteli$1ncia# com !e a Provid1ncia dos mais seres o distin$!ira7 O!tros a"enas c!raram de falar aos sentidos o!tros em !e'rar todas as leis da dec1ncia7 Se8a !al for o l!$ar em !e se ac*e o "oeta# o! a"!n*alado "elas dores# o! ao lado de s!a 'ele-a# em'alado "elos  "ra-eres no cárcere# como no "alácio na "a-# como so're o cam"o de 'atal*a se ele % verdadeiro "oeta# 8amais deve es!ecer3se de s!a miss,o# e ac*a sem"re o se$redo de encontrar os sentidos# vi'rar as cordas do cora2,o# e elevar o  "ensamento nas asas da *armonia at% &s id%ias ar!%ti"as. O "oeta sem reli$i,o# e sem moral# % como o veneno derramado na fonte# onde morrem !antos a0 "roc!ram a"lacar a sede. Ora# nossa reli$i,o# nossa moral % a!ela !e nos ensino! o 9il*o de De!s# a!ela !e civili-o! o m!ndo moderno# a!ela !e il!mina a E!ro"a # e a Am%rica: e s6 este 'álsamo sa$rado devem verter os c;nticos dos "oetas 'rasileiros. Uma ve- determinado e con*ecido o fim# o $1nero se a"resenta nat!ralmente. At% a!i# como s6 se "roc!rava fa-er !ma o'ra se$!ndo a Arte# imitar era o meio indicado: fin$ida era a ins"ira2,o# e artificial o ent!siasmo. Des"re-avam os  "oetas a considera2,o se a <itolo$ia "odia# o! n,o# infl!ir so're n6s. Contanto !e dissessem !e as <!sas do =%licon os ins"irava# !e o 9e'o $!iava se! carro "!+ado "ela !adri$a# !e a A!rora a'ria as "ortas do Oriente com se!s dedos de rosas# e o!tras tais e !e8andas ima$ens t,o !sadas# c!idavam !e t!do tin*am feito# e !e como =omero em"arel*avam como se "!desse "erce'er 'elo !em ac*asse al$!m vel*o manto $re$o# e com ele se co'risse7 Anti$os e safados ornamentos# de !e todos se servem# a nin$!%m *onram. >!anto & forma# isto %# a constr!2,o# "or assim di-er# material das estrofes# e de cada c;ntico em "artic!lar# nen*!ma ordem se$!imos e+"rimindo as id%ias como elas se a"resentaram# "ara n,o destr!ir o acento da ins"ira2,o al%m de !e# a i$!aldade dos versos# a re$!laridade das rimas# e a simetria das est;ncias "rod!- !ma tal monotonia# e dá certa fei2,o de concertado artif0cio !e 8amais "odem a$radar. Ora# n,o se com"5e !ma or!estra s6 com sons doces e fla!tados cada "ai+,o re!er s!a lin$!a$em "r6"ria# se!s sons imitativos# e "er0odos e+"licativos. >!ando em o!tro tem"o "!'licamos !m vol!me das Poesias da nossa inf;ncia# n,o t0n*amos ainda assa- refletido so're estes "ontos# e em !ase todas estas faltas incorremos *o8e "or%m c!idamos ter conse$!ido mel*or camin*o. ?al*a3nos ao menos o 'om dese8o# se n,o corres"ondem as o'ras ao nosso intento o!tros mais mimosos da @at!re-a far,o o !e n,o nos % dado. Al$!mas "alavras ac*ar,o neste livro !e nos dicionários "ort!$!eses se n,o encontram mas as l0n$!as vivas se enri!ecem com o "ro$resso da civili-a2,o# e das ci1ncias e !ma nova id%ia "ede !m novo termo. Eis as necessárias e+"lica25es "ara a!eles !e l1em de 'oa f% e se a"ra-em de col*er !ma "%rola no meio das ondas "ara a!eles# "or%m !e com ol*os de "risma t!do decom"5em# e como as ser"entes sa'em converter em veneno at% o n%ctar das flores# t!do % "erdido o !e "oderemos n6s di-er3l*es... Eis mais !ma "edra onde afiem s!as "resas mais !ma ta2a onde saciem s!a fe're de escárnio. Este livro % !ma tentativa# % !m ensaio se ele merecer o "'lico acol*imento# co'raremos ;nimo# e contin!aremos a "!'licar o!tros !e 8á temos feito# e a!eles !e fa-er "oderemos com o tem"o. É !m novo tri'!to !e "a$amos & Pátria# en!anto l*e n,o oferecemos co!sa de maior valia % o res!ltado de al$!mas *oras de re"o!so# em !e a ima$ina2,o se dilata# e a aten2,o descansa# fati$ada "ela seriedade da ci1ncia. T! vais# 6 livro# ao meio do t!r'il*,o em !e se de'ate nossa Pátria onde a trom'eta da mediocridade a'ala todos os nossos# e des"erta todas as am'i25es onde t!do está $elado# e+ceto o e$o0smo t! vais# como !ma fol*a no meio da floresta 'atida "elos ventos de inverno# e talve- ten*as de "erder3te antes de ser o!vido# como !m $rito no meio da tem"estade. ?ai nos te enviamos# c*eio de amor "ela Pátria# de ent!siasmo "or t!do o !e % $rande# e de es"eran2as em De!s# e no f!t!ro. ADEUS7 Paris# 8!n*o de B. <AFAG=HES# Fon2alves de. S!s"iros Po%ticos e Sa!dades. Rio de 4aneiro: <inist%rio da Ed!ca2,o# B.

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7/17/2019 Suspiros Poéticos e Saudades - Prefácio-II

http://slidepdf.com/reader/full/suspiros-poeticos-e-saudades-prefacio-ii 1/1

SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES(Prefácio)

(...)

O fim deste livro ao menos a!ele a !e nos "ro"!semos# !e i$noramos se o atin$imos# % o de elevar a Poesia &s!'lime fonte donde ela emana# como o eflvio dá$!a# !e da roc*a se "reci"ita# e ao se! c!me se remonta# o! como arefle+,o da l!- ao cor"o l!minoso vin$ar ao mesmo tem"o a Poesia das "rofanas do v!l$o# indicando a"enas no /rasil!ma nova estrada aos f!t!ros en$en*os.

A Poesia# este aroma dalma# deve de cont0n!o s!'ir ao Sen*or som acorde da inteli$1ncia deve santificar asvirt!des# e amaldi2oar os v0cios. O "oeta# em"!n*ando a lira da Ra-,o# c!m"re3l*e vi'rar as cordas eternas do Santo# do4!sto# e do /elo.

Ora# tal n,o tem sido o fim da maior "arte dos nossos "oetas e o mesmo Caldas# o "rimeiro dos nossos l0ricos# t,oc*eio de sa'er# e !e "!dera ter sido o reformador da nossa Poesia nos se!s "rimores darte# nem sem"re se a"odero!desta id%ia. Com"5e3se !ma $rande "arte de s!as o'ras de trad!25es e !ando ele % ori$inal ca!sa mesmo d6 !ecantasse o *omem selva$em de "refer1ncia ao *omem civili-ado# como se a!ele a este s!"erasse# como se a civili-a2,on,o fosse o'ra de De!s# a !e era o *omem c*amado "ela for2a da inteli$1ncia# com !e a Provid1ncia dos mais seres odistin$!ira7

O!tros a"enas c!raram de falar aos sentidos o!tros em !e'rar todas as leis da dec1ncia7Se8a !al for o l!$ar em !e se ac*e o "oeta# o! a"!n*alado "elas dores# o! ao lado de s!a 'ele-a# em'alado "elos

 "ra-eres no cárcere# como no "alácio na "a-# como so're o cam"o de 'atal*a se ele % verdadeiro "oeta# 8amais devees!ecer3se de s!a miss,o# e ac*a sem"re o se$redo de encontrar os sentidos# vi'rar as cordas do cora2,o# e elevar o

 "ensamento nas asas da *armonia at% &s id%ias ar!%ti"as.O "oeta sem reli$i,o# e sem moral# % como o veneno derramado na fonte# onde morrem !antos a0 "roc!rama"lacar a sede.

Ora# nossa reli$i,o# nossa moral % a!ela !e nos ensino! o 9il*o de De!s# a!ela !e civili-o! o m!ndo moderno#a!ela !e il!mina a E!ro"a # e a Am%rica: e s6 este 'álsamo sa$rado devem verter os c;nticos dos "oetas 'rasileiros.

Uma ve- determinado e con*ecido o fim# o $1nero se a"resenta nat!ralmente. At% a!i# como s6 se "roc!rava fa-er !ma o'ra se$!ndo a Arte# imitar era o meio indicado: fin$ida era a ins"ira2,o# e artificial o ent!siasmo. Des"re-avam os "oetas a considera2,o se a <itolo$ia "odia# o! n,o# infl!ir so're n6s. Contanto !e dissessem !e as <!sas do =%liconos ins"irava# !e o 9e'o $!iava se! carro "!+ado "ela !adri$a# !e a A!rora a'ria as "ortas do Oriente com se!s dedosde rosas# e o!tras tais e !e8andas ima$ens t,o !sadas# c!idavam !e t!do tin*am feito# e !e como =omeroem"arel*avam como se "!desse "erce'er 'elo !em ac*asse al$!m vel*o manto $re$o# e com ele se co'risse7 Anti$os esafados ornamentos# de !e todos se servem# a nin$!%m *onram.

>!anto & forma# isto %# a constr!2,o# "or assim di-er# material das estrofes# e de cada c;ntico em "artic!lar#nen*!ma ordem se$!imos e+"rimindo as id%ias como elas se a"resentaram# "ara n,o destr!ir o acento da ins"ira2,oal%m de !e# a i$!aldade dos versos# a re$!laridade das rimas# e a simetria das est;ncias "rod!- !ma tal monotonia# e dácerta fei2,o de concertado artif0cio !e 8amais "odem a$radar. Ora# n,o se com"5e !ma or!estra s6 com sons doces efla!tados cada "ai+,o re!er s!a lin$!a$em "r6"ria# se!s sons imitativos# e "er0odos e+"licativos.

>!ando em o!tro tem"o "!'licamos !m vol!me das Poesias da nossa inf;ncia# n,o t0n*amos ainda assa- refletidoso're estes "ontos# e em !ase todas estas faltas incorremos *o8e "or%m c!idamos ter conse$!ido mel*or camin*o.?al*a3nos ao menos o 'om dese8o# se n,o corres"ondem as o'ras ao nosso intento o!tros mais mimosos da @at!re-afar,o o !e n,o nos % dado.

Al$!mas "alavras ac*ar,o neste livro !e nos dicionários "ort!$!eses se n,o encontram mas as l0n$!as vivas seenri!ecem com o "ro$resso da civili-a2,o# e das ci1ncias e !ma nova id%ia "ede !m novo termo.

Eis as necessárias e+"lica25es "ara a!eles !e l1em de 'oa f% e se a"ra-em de col*er !ma "%rola no meio das

ondas "ara a!eles# "or%m !e com ol*os de "risma t!do decom"5em# e como as ser"entes sa'em converter em venenoat% o n%ctar das flores# t!do % "erdido o !e "oderemos n6s di-er3l*es... Eis mais !ma "edra onde afiem s!as "resasmais !ma ta2a onde saciem s!a fe're de escárnio.

Este livro % !ma tentativa# % !m ensaio se ele merecer o "'lico acol*imento# co'raremos ;nimo# e contin!aremosa "!'licar o!tros !e 8á temos feito# e a!eles !e fa-er "oderemos com o tem"o.

É !m novo tri'!to !e "a$amos & Pátria# en!anto l*e n,o oferecemos co!sa de maior valia % o res!ltado deal$!mas *oras de re"o!so# em !e a ima$ina2,o se dilata# e a aten2,o descansa# fati$ada "ela seriedade da ci1ncia.

T! vais# 6 livro# ao meio do t!r'il*,o em !e se de'ate nossa Pátria onde a trom'eta da mediocridade a'ala todosos nossos# e des"erta todas as am'i25es onde t!do está $elado# e+ceto o e$o0smo t! vais# como !ma fol*a no meio dafloresta 'atida "elos ventos de inverno# e talve- ten*as de "erder3te antes de ser o!vido# como !m $rito no meio datem"estade.

?ai nos te enviamos# c*eio de amor "ela Pátria# de ent!siasmo "or t!do o !e % $rande# e de es"eran2as em De!s# eno f!t!ro.

ADEUS7Paris# 8!n*o de B.

<AFAG=HES# Fon2alves de. S!s"iros Po%ticos e Sa!dades. Rio de 4aneiro: <inist%rio da Ed!ca2,o# B.