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PRÉ-VESTIBULAR LIVRO DO PROFESSOR LITERATURA Esse material é parte integrante do Aulas Particulares on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.aulasparticularesiesde.com.br

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Page 1: Romantismo – Poesia - Vestibular · PDF fileNo Brasil, o Romantismo tem seu início com a obra Suspiros Poéticos e Saudades, do poeta Gon-çalves de Magalhães, em 1836. O Romantismo

PRÉ-VESTIBULARLIVRO DO PROFESSOR

LITERATURA

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© 2006-2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

Produção Projeto e Desenvolvimento Pedagógico

Disciplinas Autores

Língua Portuguesa Francis Madeira da S. Sales Márcio F. Santiago Calixto Rita de Fátima BezerraLiteratura Fábio D’Ávila Danton Pedro dos SantosMatemática Feres Fares Haroldo Costa Silva Filho Jayme Andrade Neto Renato Caldas Madeira Rodrigo Piracicaba CostaFísica Cleber Ribeiro Marco Antonio Noronha Vitor M. SaquetteQuímica Edson Costa P. da Cruz Fernanda BarbosaBiologia Fernando Pimentel Hélio Apostolo Rogério FernandesHistória Jefferson dos Santos da Silva Marcelo Piccinini Rafael F. de Menezes Rogério de Sousa Gonçalves Vanessa SilvaGeografia DuarteA.R.Vieira Enilson F. Venâncio Felipe Silveira de Souza Fernando Mousquer

I229 IESDE Brasil S.A. / Pré-vestibular / IESDE Brasil S.A. — Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2008. [Livro do Professor]

360 p.

ISBN: 978-85-387-0573-4

1. Pré-vestibular. 2. Educação. 3. Estudo e Ensino. I. Título.

CDD 370.71

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Romantismo

O Romantismo surge quase que simultaneamen-te em três países europeus. Na Alemanha ele nasce no ano de 1774 com a publicação do romance Os sofrimentos do Jovem Werther, de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832). Tal obra tematizava o so-frimento por amor e a morte como solução dos con-flitos existenciais do ser humano. Esse romance foi traduzido para diversas línguas, obtendo imediata aceitação do público. Werther influenciou jovens leitores a ponto de se suicidarem devido a amores não correspondidos, à semelhança do que aconteceu com o protagonista. A obra chegou a ser proibida em alguns países.

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A obra Os sofrimentos do Jovem Werther comoveu multidões de leitores.

Na Inglaterra vemos as primeiras manifesta-ções artísticas românticas nas primeiras décadas do século XIX. Destacam-se os escritores Lord Byron com suas obras desveladoras da exacerbação das paixões, o típico ultrarromântico, e Walter Scott com seus romances históricos.

Contudo, é na França que teremos o grande desenvolvimento e disseminação do Romantismo pelo Ocidente, inclusive no Brasil.

Manifestação artística, por excelência, da bur-guesia, essa corrente estética revela os ideais liberais da nova classe dirigente da sociedade, consolidada pela Revolução Francesa em 1789. O escritor Vitor Hugo chegou a dizer que o Romantismo era o libe-ralismo na arte. Essa estética tem suas primeiras manifestações na França com os escritores Chatau-briand e Madame de Stäel.

Liberdade Conduzindo o Povo, de Delacroix (1798-1863). Obra símbolo do Romantismo e seus ideais.

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No Brasil, o Romantismo tem seu início com a obra Suspiros Poéticos e Saudades, do poeta Gon-çalves de Magalhães, em 1836. O Romantismo é a primeira corrente estética que não vem de Portugal para o Brasil, e, sim, da França. A razão disso é o fato de haver, na época em que nasce, um sentimento de independência, politicamente recém-conquistada; logo, a consequência só poderia ser a negação de tudo aquilo que pudesse vir dos colonizadores. A arte romântica representa a negação do lusitanismo na Literatura Brasileira.

Num contexto geral, o Romantismo simbolizou a negação de tudo aquilo que representasse tradição em arte. Tal afirmação relaciona-se principalmente aos ideais clássicos de composição artística. O Ro-mantismo foi, na arte, a busca da libertação já então conquistada pela sociedade.

Contexto históricoNa segunda metade do século XVII, presencia-

se a modificação das relações econômicas na Europa devido ao forte processo de industrialização que lá estava ocorrendo.

A Revolução Francesa, no ano de 1789, altera completamente as estruturas sociais e políticas até então vigentes, fazendo com que a mobilidade social fosse mais viável. As classes estáticas desa-pareceram de vez. Agora quem estava no poder era a burguesia. A aristocracia encontrava-se em plena derrocada e nascia o proletariado.

O Romantismo surge como a expressão artísti-ca da nova classe dominante. Teremos então os valo-res burgueses, sua ideologia, como o liberalismo e o republicanismo expressos nas obras românticas.

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Resumidamente observa-se, dessa forma, o seguinte processo:

Industrialização↓

Produção em massa↓

Urbanização↓

Formação das classes médias↓

Maior alfabetização↓

Novo público leitor, mais diversificado e numeroso e consumidor de livros

↓O escritor vive da sua produção literária

↓Democratização da arte

(consequência da Revolução)

No Brasil, temos em 1808 o prenúncio de modi-ficações políticas com a chegada do rei de Portugal D. João VI e sua corte no país, devido ao Bloqueio Continental imposto por Napoleão e que o governo português não aderiu. A solução foi fugir para a colônia.

Pouco tempo depois, em 1815, o Brasil é eleva-do à condição de Reino Unido de Portugal. No ano de 1822 acontece a independência do Brasil. Nessa época estão no poder as oligarquias cafeicultoras.

“O movimento romântico foi a expressão viva e contraditória da nova realidade. Filho da burguesia, mostrou-se ambíguo diante dela, ora a exaltando, ora protestando contra seus mecanismos (...)”

Sergius Gonzaga

Características geraisO Romantismo é o momento em que a arte deixa

de ser uma atividade social e torna-se uma atividade individual.

SubjetivismoReflexo do individualismo, o subjetivismo é

resultado de uma série de fatores. O individualismo leva o artista a uma maior introspecção, a qual resultará numa arte que se baseia no “eu”, logo te-mos uma arte egocêntrica e observa-se a expressão sentimental do artista.

SentimentalismoNo Romantismo temos uma exacerbação dos

sentimentos, a qual chamamos sentimentalismo. Os dramas existenciais serão manifestados em toda sua potencialidade. Uma tendência ao exagero emocional permeará toda a literatura romântica. Essa mani-festação é alcançada pela utilização excessiva de adjetivos e pontuação expressiva, como exclamações, reticências e travessões.

Fuga ou escapismoConsequência do sentimentalismo é o desejo

de fuga da realidade. O romântico tem consciência de que não pode apreender a realidade como um todo, logo, sabe que, mesmo querendo, não conse-guirá expressar tudo o que sente através das pala-vras. Entretanto ele não se conforma com isso, mas também sabe que não há solução. Dessa forma, a única alternativa é fugir para onde os problemas não existem, para onde a realidade não o oprime, para os lugares e tempos ideais. O romântico fugirá no espaço e no tempo.

Fuga para a natureza

A natureza é o local onde o romântico pode ficar longe da sociedade opressora. Por se considerar um ser à parte, um incompreendido, encontrará aconche-go e paz no mundo natural. Não é à toa que vemos nos textos românticos muitas cenas naturais, com a construção de paisagens ideais.

Fuga no tempo

A fuga no tempo divide-se em dois tipos dife-rentes: a fuga para o passado histórico e a fuga para o passado individual.

Na fuga para o passado histórico temos a volta à Idade Média, no caso dos países europeus, e a volta a tempos próximos do descobrimento no Bra-sil. Consequência disso é a valorização dos homens desse tempo. Então teremos a valorização do cava-leiro medieval, o qual terá ressaltadas suas virtudes como a honra e a coragem. No caso do Romantismo brasileiro, o que vemos é a valorização do índio. Em verdade um índio artificial, parecendo mais um ca-valeiro medieval dos trópicos do que propriamente um nativo. Isso se deve ao desejo de equiparação com os europeus por parte dos artistas românticos brasileiros, pois o modelo ideal de civilização que tínhamos era a Europa. Dessa maneira, tal atitude torna-se completamente compreensível, porém, ar-tificializa a criação.

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Entrada dos Cruzados em Constantinopla, de Delacroix.

Já na fuga para o passado individual vemos o romântico em busca de um momento em sua vida em que não havia problemas. Os conflitos existenciais ainda não estavam presentes em sua vida na infân-cia. No presente, a realidade era hostil, no passado, a vida era ideal.

Oh ! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

(...)

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

(...)

Ah ! dias da minha infância!

(...)

Casimiro de Abreu

Valorização da naturezaA natureza é valorizada em duas situações no

Romantismo.

A primeira é a utilização dela como extensão sentimental do artista. O romântico se utilizará di-versas vezes de metáforas que envolvem a natureza para manifestar suas mais fortes emoções. Assim, um poeta pode dizer que derramou uma chuva de lágri-mas, ou que seu coração bate mais violentamente do que uma tempestade balança as árvores etc.

A segunda forma de valorizar a natureza relacio-na-se à exaltação nacional. Assim, a natureza seria a representação ao mesmo tempo de algo belo e único de uma nação. É a idealização desta através de seus elementos naturais nativos.

NacionalismoA valorização do que é nacional vem de carona

com o desejo de estabelecimento de identidade dos povos. O que acontece é a individuação nacional. Uma nação é única, diferente de todas as outras, e o Romantismo exaltará isso. Essa característica estabelece, no Brasil, íntima relação com o processo de independência. A arte romântica simboliza no Brasil a conquista da independência estética, prin-cipalmente na figura do índio.

Sentimento de missãoO escritor romântico sente-se um ser à parte da

sociedade, dotado de capacidades especiais. Logo, ele sente que tem a missão de expressar, professar suas ideias e sentimentos através de seus textos. Ha-bilidade que existiria unicamente em seres dotados de gênio. Daí que vem a ideia do gênio romântico, do gênio inspirado, que até hoje fazemos de muitos artistas.

No ideal romântico, o que produz a obra de arte bela não é o trabalho minucioso do artista e sim sua inspiração.

Liberdade de expressãoLeia o artigo 11 da Declaração de Direitos do

Homem e do Cidadão, elaborado no período de seu surgimento:

“A livre comunicação dos pensamentos e opi-niões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente.”

Liberdade era a palavra de ordem na Literatura Romântica. A forma, dessa maneira, é influenciada pela ideologia da época. Utilizar-se-ão, então, o ver-so livre e o verso branco, a tentativa de linguagem coloquial e a expressão de todos os sentimentos do escritor, independente do que os outros possam pensar, pois todos são livres para dizerem aquilo que lhes parecer melhor.

Outras artesÉ importante salien-

tar que o Romantismo não se restringiu à Literatura. Nas artes plásticas e na Música surgiram grandes nomes dessa corrente

Delacroix (1798-1863).

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estética. O crítico Arnold Hauser diz em seu livro História da Arte e da Literatura que a arte essen-cialmente romântica seria a música, devido à sua extrema subjetividade, característica principal do Romantismo.

Nomes de destaque nas artes plásticas: Dela-croix, Turner e Géricault.

Nomes de destaque na música: Beethoven, Tchaikovsky, Grieg, Granados, Wagner e Verdi.

Características do Romantismo brasileiro

Consciência nacionalComo já vimos, o Romantismo nasce no Brasil

em 1836. De caráter nacionalista, essa estética sig-nificará o momento de conscientização nacional (um dos aspectos da independência), que se revelará a partir da dialética entre o próprio (o que é daqui) e o imposto (o que vem de fora). Temos então no nosso Romantismo o desejo de individualização nacional.

IndianismoO índio será a figura representativa da inde-

pendência estética do Romantismo Brasileiro em relação aos dos outros países. O indianismo repre-sentou na arte romântica brasileira a peça-chave do nacionalismo.

Outro aspecto relevante é que com o índio, transformando-se em objeto literário da corrente romântica, tem-se a valorização do passado mítico e do passado histórico brasileiro. Conforme dito ante-riormente, tal fato serviu de equiparação com o perso-nagem símbolo do Romantismo europeu – o cavaleiro medieval. Os escritores brasileiros demonstravam, dessa forma, que o Brasil também era detentor de um passado de glórias e de homens valorosos. Lembre- -se de que a valorização do autóctone tem influên-cia direta da teoria do bon sauvage de Rosseau (já estudada no módulo sobre Arcadismo).

Procura da identidade linguística

Ainda relacionado à questão nacionalista temos o desejo de alguns escritores românticos de especi-ficarem uma língua brasileira. Principalmente por parte de José de Alencar, temos a inserção de termos indígenas nos textos. Essa procura pela identidade

linguística deve-se também ao sentimento antilusita-no que envolvia os intelectuais da época. Entretanto, esse objetivo fica quase que somente na teoria.

Autores e obras

As gerações da poesia romântica

A poesia romântica brasileira divide-se em três gerações com traços bem distintos. Cada uma delas revela uma das diversas faces do Romantismo. A primeira nos mostra a face nacionalista, a segunda, a face da exacerbação sentimental e a terceira a face de cunho social-liberal.

Cada uma das três gerações da poesia românti-ca possui temas e visões de mundos distintos. Como consequência disso vemos poesias diferentes umas das outras. Cada uma delas durou um período de, em média, quinze anos. Elas possuem nomes que defi-nem seus traços principais e influências (oriundas de escritores ingleses e franceses) também distintas.

Primeira geração – geração nacionalista

Essa geração caracteriza-se fundamentalmente por abordar os seguintes temas: a saudade da pátria, o índio, exaltação da natureza, religiosidade, impos-sibilidade amorosa.

Os dois nomes dessa geração são os de Gon-çalves de Magalhães e Gonçalves Dias. O primeiro, autor da primeira obra romântica, Suspiros Poéticos e Saudades, e de uma tentativa de épico-indianista Confederação dos Tamoios, possui apenas impor-tância histórica. Sua poesia, de pequena relevância estética, tem como função marcar o nascimento do Romantismo no Brasil.

O principal nome dessa geração é indubitavel-mente o de Gonçalves Dias.

Gonçalves Dias

Antônio Gonçalves Dias nasceu em Caxias, Maranhão, no ano de 1823. Formou-se em Direito pela faculdade de Coimbra. De volta ao Brasil conhece o grande amor de sua vida, Ana Amélia, cuja família não aceita o pedido de casa-

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mento de Gonçalves por ele ser mulato e de origem bastarda. Desolado, o escritor vai morar no Rio de Janeiro, lá trabalha para o Império, fazendo diversas viagens. Falece em 1864 num naufrágio na costa ma-ranhense, quando voltava da França já desenganado em relação ao sério caso de tuberculose que tinha.

Suas principais obras são: Primeiros Cantos (1846); Segundos Cantos (1848); Sextilhas do Frei Antão (1848); Últimos Cantos (1851); Os Timbiras (1857).

Características e temas

Sua obra caracteriza-se pela exaltação da pá-tria, pela tematização indianista e pela idealização do amor.

Canção do Exílio é o seu exemplo bem mais acabado de poesia nacionalista. A pátria é exaltada a partir da forte saudade que sente do Brasil. Para en-grandecer sua terra e, ao mesmo tempo, demonstrar o que ela tem de único, de exclusivo, centra-se nos aspectos naturais. Aí se revela mais uma caracterís-tica de sua poesia: a exaltação da natureza.

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar — sozinho, à noite —

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Na temática indianista, observa-se a coragem, a generosidade e a honra do índio em I-Juca Pirama.

Esse poema conta a história de um índio tupi que vai ser sacrificado num ritual antropofágico. Emocionado por saber que com sua morte seu pai, cego, ficaria perdido na floresta, implora para não ser morto.

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo tupi.

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci;

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi.

O cacique da tribo o liberta, não querendo se alimentar da carne de um covarde.

— Mentiste, que um Tupi não chora nunca,

E tu choraste!... parte; não queremos

Com carne vil enfraquecer os fortes.

O índio tupi vai embora à procura de seu velho pai. Quando encontra seu pai, este sente o cheiro das tintas do ritual antropofágico e pede a seu filho que o leve imediatamente à tribo inimiga. Chegando lá, pede ao cacique que sacrifiquem seu filho, pois ele era digno de morte. O cacique conta-lhe o acontecido; envergonhado, o velho índio renega seu filho.

Tu choraste em presença da morte?

Na presença de estranhos choraste?

Não descende o cobarde do forte;

Pois choraste, meu filho não és!

Possas tu, descendente maldito

De uma tribo de nobres guerreiros,

Implorando cruéis forasteiros,

Seres presa de via Aimorés.(...)

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Entretanto, o índio tupi avança sobre os inimi-gos e luta bravamente, recuperando sua estima de guerreiro e se tornando digno da morte honrosa.

Ao final, vemos que na verdade tal história aconteceu em um passado longínquo e está sendo contada por um índio timbira.

Assim o Timbira, coberto de glória,

Guardava a memória

Do moço guerreiro, do velho Tupi.

E à noite nas tabas, se alguém duvidava

Do que ele contava,

Tornava prudente: “Meninos, eu vi!”.

Em seus poemas indianistas Gonçalves Dias demonstra um espetacular domínio de ritmo. No texto lido, as sílabas tônicas de cada verso marcam o bater do tambor indígena. I-Juca Pirama significa “aquele que é digno de ser morto”. Outros poemas com essa temática que se destacam são Marabá, O Canto do Piaga e Leito de Folhas Verdes.

Quando trata do amor, Gonçalves Dias revela toda a desilusão que sente. Para o poeta, amar é so-frer, o amor é sinônimo de solidão. Nesses poemas, todas as ilusões são perdidas, devido à inatingibi-lidade da amada. Muitas vezes, a morte permeia o tema amoroso.

Vamos ler o poema feito após o escritor ter en-contrado, acidentalmente, sua amada Ana Amélia em Lisboa.

Louco, aflito, a saciar-me

D’agravar minha ferida,

Tomou-me tédio da vida,

Passos da morte senti;

Mas quase no passo extremo,

No último arcar da espr’ança,

Tu me vieste à lembrança,

Quis viver mais e vivi!(...)

Ainda uma vez – Adeus!

Enfim te vejo! – enfim posso,

Curvado a teus pés, dizer-te

Que não cessei de querer-te,

Pesar de quanto sofri.

Muito penei. Cruas ânsias,

Dos teus olhos afastado,

Houveram-me acabrunhado

A não lembrar-me de ti!

Dum mundo a outro impelido,

Derramei os meus lamentos

Nas surdas asas dos ventos

Do mar na crespa cerviz!

Baldão, ludíbrio da sorte

Em terra estranha, entre gente

Que alheios males não sente,

Nem se condói do infeliz!

Gonçalves Dias produziu ainda poesia medieval. A obra Sextilhas do Frei Antão demonstra grande domínio de linguagem, porém não teve grande aceitação do público, sendo somente considerada no meio intelectualizado.

Segunda geração – individualista, ou egótica

Nessa geração temos o quase total abandono da temática nacionalista e indianista. O que se destaca nessa fase é o caráter confessional das poesias. Estamos na geração ultrarromântica, fortemente influenciada pelos textos do inglês Byron, símbolo da libertação juvenil, e do francês Musset. Os poetas centram-se nos seus dramas existenciais, revelam em seus poemas sua subjetividade, suas paixões, seus desejos mais recônditos.

Coincidentemente todos os poetas dessa gera-ção, que apresentava uma tendência muitas vezes suicida em suas obras, morreram muito jovens.

Foram integrantes dessa geração: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire, merecendo destaque os dois pri-meiros.

Álvares de Azevedo

Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em 1831, na cidade de São Paulo. Filho de família abastada, fez seus estudos em Portugal, retor-nando para cursar a Faculdade de Direito de São Paulo. No ano de 1852 os sintomas da tuber-culose manifestaram-se. Com o tratamento feito apresentou melhoras. Na fazenda do tio,

onde estava para se recuperar da doença, caiu de um cavalo, afetando sua região ilíaca. Os médicos resolveram operá-lo. Na época não havia anestesia

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e Álvares suportou as dores da cirurgia, porém, já enfraquecido pela tísica, veio a morrer no mesmo ano. Nenhuma das suas obras foi publicada em vida.

Suas principais obras são: Lira dos Vinte Anos (1853); Noite na Taverna (1855, contos); O Conde Lopo (1886); Macário (1855, poema dramático).

Características e temas

Típica poesia “mal do século”, sua obra tem como temas principais a morte que permeia todos os outros temas o amor impossível e o tédio da vida, tratado com humor irônico.

A morte, tema favorito do poeta, simboliza a solução de todos os seus problemas. Na verdade seu grande problema é viver, pois viver é passar por sofrimentos e conflitos internos dilacerantes. Diferentemente dos poetas da segunda geração que demonstravam um certo medo diante da morte, Álvares de Azevedo assume uma postura simpática a tal acontecimento.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,

Se um suspiro nos seios treme ainda,

É pela virgem que sonhei... que nunca

Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora

Do pálido poeta deste flores.

Se viveu, foi por ti! e de esperança

De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,

Verei cristalizar-se o sonho amigo.

Ó minha virgem dos errantes sonhos,

Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário

Na floresta dos homens esquecida,

À sombra de uma cruz, e escrevam nela:

Foi poeta – sonhou – e amou na vida.

Lembrança de Morrer

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,

Que o espírito enlaça à dor vivente,

Não derramem por mim nenhuma lágrima

Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura

A flor do vale que adormece ao vento:

Não quero que uma nota de alegria

Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio

Do deserto, o poento caminheiro,

– Como as horas de um longo pesadelo

Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,

Onde fogo insensato a consumia:

Só levo uma saudade – é desses tempos

Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade – é dessas sombras

Que eu sentia velar nas noites minhas.

De ti, ó minha mãe, pobre coitada,

Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,

Poucos – bem poucos – e que não zombavam

Quando, em noites de febre endoudecido,

Minhas pálidas crenças duvidavam.

O tema do amor caracteriza-se por apresentar sempre uma mulher inatingível, intocável. Há duas situações diversas para a impossibilidade do contato. A primeira relaciona-se à amada virginal adormeci-da, que não pode ser maculada com as mãos de um simples apaixonado. A segunda situação refere-se à mulher desprezível, em que o poeta jamais colocaria as mãos. Mário de Andrade define primorosamente o sentimento dialético revelado nas poesias amorosas de Álvares de Azevedo; é a relação amor e medo (medo do contato físico, possivelmente motivada pela inexperiência amorosa do poeta devido à sua pouca idade).

Não acordes tão cedo! enquanto dormes

Eu posso dar-te beijos em segredo...

Mas, quando nos teus olhos raia a vida,

Não ouso te fitar... eu tenho medo!

A poesia do tédio (poesia típica do mal du siècle) revela o cansaço existencial do poeta. Vivendo na provinciana São Paulo, o jovem intelectualizado não tinha muitas opções de entretenimento (bebedeiras, orgias, entorpecimento com ópio que lia nas obras ro-mânticas europeias). Já pendente a um pessimismo racional, o poeta completa sua ideia do não-sentido da existência.

O humor é um dos grandes temas desenvol-vidos pelo jovem romântico. Aqui, destaca-se a autoironia e a construção de situações cômicas do cotidiano, como no poema É ela! É ela!.

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É ela! é ela! — murmurei tremendo,

e o eco ao longe murmurou — é ela!

Eu a vi... minha fada aérea e pura —

a minha lavadeira na janela.

Dessas águas furtadas onde eu moro

eu a vejo estendendo no telhado

os vestidos de chita, as saias brancas;

eu a vejo e suspiro enamorado!

Esta noite eu ousei mais atrevido,

nas telhas que estalavam nos meus passos,

ir espiar seu venturoso sono,

vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

Como dormia! que profundo sono!...

Tinha na mão o ferro do engomado...

Como roncava maviosa e pura!...

Quase caí na rua desmaiado!

Afastei a janela, entrei medroso...

Palpitava-lhe o seio adormecido...

Fui beijá-la... roubei do seio dela

um bilhete que estava ali metido...

Oh! decerto... (pensei) é doce página

onde a alma derramou gentis amores;

são versos dela... que amanhã decerto

ela me enviará cheios de flores...

Tremi de febre! Venturosa folha!

Quem pousasse contigo neste seio!

Como Otelo beijando a sua esposa,

eu beijei-a a tremer de devaneio...

É ela! é ela! — repeti tremendo;

mas cantou nesse instante uma coruja...

Abri cioso a página secreta...

Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!

Casimiro de Abreu

Casimiro de Abreu nas-ceu no ano de 1839, na cida-de de Barra de São João, no Estado do Rio de Janeiro. Filho de comerciante por-tuguês, fez seus primeiros estudos em Nova Friburgo, sendo mandado mais tarde à Lisboa. Retorna depois

de quatro anos, vivendo na boemia e trabalhando no comércio. Sua obra Primaveras teve imediata aceitação do público, tornando-se um poeta célebre, ainda em vida, ao contrário de Álvares de Azevedo. Faleceu no ano de 1860.

Sua principal obra é: Primaveras (1859).

Características e temas

A poesia de Casimiro caracteriza-se pelo la-mento sentimental gracioso, sem grandes arroubos emocionais, ao gosto do pequeno burguês. Logo sua poesia caiu nas graças do público de classe média da época. Temos em seus versos uma atmosfera amena, situada numa poesia diurna, onde vemos jardins flo-ridos. É a poesia inofensiva, plenamente de acordo com os sentimentos medianos do público leitor.

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Álvares de Azevedo produziu também obra em prosa, são os contos de Noite na Taverna. Um grupo de jovens embriagados contam histórias satânicas, onde são feitos relatos de orgias, assassinatos, in-cestos e canibalismo.

Segredos

Eu tenho uns amores – quem é que os não tinha

Nos tempos antigos? – Amar não faz mal;

As almas que sentem paixão como a minha,

Que digam, que falem em regra geral.

– A flor dos meus sonhos é moça bonita

Qual flor entreaberta do dia ao raiar;

Mas onde ela mora, que casa ela habita,

Não quero, não posso, não devo contar!

Oh! Ontem no baile, com ela valsando

Senti as delícias dos anjos do céu!

Na dança ligeira, qual silfo voando

Caiu-lhe do rosto o seu cândido véu!

– Que noite e que baile! Seu hálito virgem

Queimava-lhe as faces no louco valsar,

As falas sentidas que os olhos falavam,

Não quero, não posso, não devo contar!

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Depois indolente firmou-se em meu braço,

Fugimos das salas, do mundo talvez!

Inda era mais bela rendida ao cansaço,

Morrendo de amores em tal languidez!

– Que noite e que festa! e que lânguido rosto

Banhado ao reflexo do branco luar!

A neve do colo e as ondas dos seios

Não quero, não posso, não devo contar!

A noite é sublime! Tem longos queixumes,

Mistérios profundos que eu mesmo não sei:

Do mar os gemidos, do prado os perfumes,

De amor me mataram, de amor suspirei!

Agora eu vos juro... Palavra! – Não minto!

Ouvi a formosa também suspirar:

Os doces suspiros que os ecos ouviram

Não quero, não posso, não devo contar!

Então nesse instante nas águas do rio

Passava uma barca, e o bom remador

Cantava na flauta: – “Nas noites d’estio

O céu tem estrelas, o mar tem amor!”

E a voz maviosa do bom gondoleiro

Repete cantando: “viver é amar!”

Se os peitos respondem à voz do barqueiro...

Não quero, não posso, não devo contar!

Trememos de medo... A boca emudece

Mas sentem-se os pulos do meu coração

Seu seio nevado de amor se intumesce

E os lábios se tocam no ardor da paixão.

Depois... mas já vejo que vós, meus senhores,

Com fina malícia quereis me enganar;

Aqui faço ponto; – segredos de amores

Não quero, não posso, não devo contar!

Meus oito anos

Oh! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras,

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

– Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é – lago sereno,

O céu – um manto azulado,

O mundo – um sonho dourado,

A vida – um hino d’amor!

Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d’estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

– Pés descalços, braços nus –

Correndo pelas campinas

À roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

Seus temas não fogem à tradição romântica da segunda geração, abordando o amor inatingível, também motivado pelo medo, e a saudade da infân-cia, poesia sobre o passado individual. A poesia de Casimiro de Abreu é permeada por uma constante melancolia.

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Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo,

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar! (...)

Oh ! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras,

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

atinge seu pé, o qual teve que ser amputado, sem anestesia. Em pouco mais de um ano após o ocorrido, já com a saúde debilitada, vem a falecer vitimado pela tuberculose em 1871, demarcando o fim da poesia romântica no Brasil.

Características e temas

A obra de Castro Alves pode ser dividida em dois temas básicos: a poesia social e a poesia amo-rosa.

Na poesia social vemos a projeção do “eu” do poeta sobre o mundo e não mais sobre si mesmo, como acontecia na geração anterior. Aqui a voz poéti-ca é arma contra as injustiças sociais, o lirismo cede lugar à opinião. A arte literária serve como arma de denúncia e combate, como instrumento da igualdade, da liberdade e da fraternidade.

Observa-se o engajamento social, principalmen-te em relação à causa abolicionista. Os principais poemas dessa temática são Navio Negreiro e Vozes d’África.

Vamos ler trechos do primeiro. As poesias de Casimiro de Abreu possuem um

ritmo fluente e de fácil assimilação do conteúdo e da forma, lembrando muito a música popular.

Teceira geração – geração condoreira, ou liberal, ou social

Como o nome já evidencia, observa-se nessa geração a poesia engajada, com a finalidade prática de protesto contra as injustiças sociais.

O poeta dessa geração é Castro Alves. Sua prin-cipal influência foi o escritor francês Vitor Hugo.

Castro Alves

Antônio de Castro Alves nasceu no ano de 1847, na Fazenda das Ca-beceiras, próxima à cidade de Curralinho, Bahia. Aos sete anos vai morar com a família em Salvador, onde faz seus estudos no Colé-gio Abílio. Já no Recife, quando se preparava para ingressar na Faculdade de

Direito, conhece a célebre atriz portuguesa Eugênia Câmara, com quem teve um caso aos dezenove anos de idade. Viaja com ela por algumas cidades, apresen-tando a peça Gonzaga, escrita especialmente para sua amada. Entretanto, após o período de felicidade veio a decepção, ela o abandona. Para esquecer a solidão o escritor começa a praticar tiro. Acidentalmente

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IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras moças, mas nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais ...

Se o velho arqueja, se no chão resvala,

Ouvem-se gritos... o chicote estala.

E voam mais e mais... (...)

V

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade

Tanto horror perante os céus?!

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Mas não digas assim por entre beijos...

Mas não me digas descobrindo o peito,

Mar de amor onde vagam meus desejos. (...)

É noite ainda! Brilha na cambraia

– Desmanchando o roupão, a espádua nua –

O globo do teu peito entre os arminhos*

Como entre as névoas se balouça a lua...

É noite, pois! Durmamos, Julieta!

Recende a alcova ao trescalar* das flores.

Fechemos sobre nós estas cortinas...

São as asas dos arcanjos dos amores.

A frouxa luz da alabastrina* lâmpada

Lambe voluptuosa os teus contornos

Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos

Ao doido afago de meus lábios mornos.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos

Treme tua alma, como a lira ao vento,

Das teclas de teu seio que harmonias,

Que escalas de suspiros, bebo atento!

Ai! Canta a cavatina do delírio,

Ri, suspira, soluça, anseia e chora...

Marion! Marion!... É noite ainda.

Que importa os raios de uma nova aurora?!

Como um negro e sombrio firmamento,

Sobre mim desenrola teu cabelo...

E deixa-me dormir balbuciando:

– Boa-noite! – formosa Consuelo!...

Ó mar, por que não apagas

Co’a esponja de tuas vagas

De teu manto este borrão?...

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão! (...)

VI

Existe um povo que a bandeira empresta

P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!...

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,

Que impudente na gávea tripudia?

Silêncio. Musa... chora, e chora tanto

Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra

E as promessas divinas da esperança...

Tu que, da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha!...(...)

A poesia social de Castro Alves é escrita em linguagem grandiloquente, pois tinha o fim de ser declamada ao povo. Outro recurso interessante uti-lizado: as imagens de ascensão, isto é, passa-se de uma imagem negativa para uma positiva: da morte à vida, do mal ao bem, da terra ao céu, da treva à luz, da tirania à liberdade etc. Tal recurso conferia grande emoção aos poemas.

Em relação à temática amorosa, Castro Alves é um caso à parte na poesia romântica. Em seus versos a mulher não é inatingível, o amor é concretizado. Desvela-se por vezes um certo erotismo e um caráter donjuanesco, em que a mulher passa a ser simples objeto do desejo amoroso.

Veja estes versos em que o poeta estabelecerá diálogo com diversas personagens da literatura.

Boa-noite, Maria — Eu vou-me embora.

A lua nas janelas bate em cheio.

Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...

Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite!... E tu dizes – Boa noite.

Sousândrade

Joaquim de Sousa An-drade nasceu no ano de 1833 na cidade de Alcântara, no Maranhão. Filho de família tradicional, teve a oportuni-dade de viajar por diversos países europeus. Formou-se em Letras pela Sorbonne e em Engenharia de Minas, em Paris (França). Viajou a partir de 1870 por vários países da

América Latina. Fixou residência em Nova York. No ano de 1889 retornou ao seu Estado de origem. Fa-leceu em São Luís do Maranhão em 1902.

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Muitos autores faziam da produção de folhetins seu sustento, escrevendo simultaneamente um texto que seguia os padrões do folhetim e outro que ia de acordo com suas ideias. O grande escritor Dostoievski tinha uma produção paralela de folhetins à sua pro-dução estética independente, para ganhar algum dinheiro. Certos escritores fizeram fortuna com a produção de folhetins.

EstruturaA estrutura do romance romântico se dava da

seguinte forma (baseado em Curso de Literatura Brasileira, de Sergius Gonzaga):

Harmonia inicial Desarmonia

Harmonia final

Crise dos valores

burgueses

“Deus ex machina”

Restabelecimento dos valores burgueses e da

ordem patriarcal

Ordem dos valores

burgueses

Primeiramente tudo se encontra de acordo com os valores burgueses e patriarcais da sociedade. Logo após, ocorre o desequilíbrio, a desestabilização, a desarmonia desses valores. É nesse momento de conflito que o escritor prende a atenção do seu pú-blico, mantendo os dramas que estão em curso de acordo com as reações positivas ou não dos leitores (similar ao que acontece atualmente nas novelas e nas pesquisas de opinião pública para se saber como deve continuar a trama). Após conseguir aproveitar ao máximo as tais reações, é chegada a hora de pôr um fechamento à história, para que outra, na semana seguinte, torne-se o mais novo sucesso de público. Para dar um fim ao enredo, o escritor, seguindo sem-pre o gosto dos leitores e as exigências dos editores, restabelece os valores da sociedade burguesa, os conflitos se acabam, os dramas se extinguem, tudo volta ao normal, o final é invariavelmente feliz.

Muitas vezes, devido ao desenrolar da história, não havia mais possibilidade de o escritor conseguir solucionar os problemas desestabilizadores da ordem burguesa com recursos já existentes no enredo que estava sendo contado. Quando isso ocorria, fazia-se necessária aplicação de um último recurso, o Deus ex machina, uma solução completamente inverossímil, por vezes ridícula, mas que servia para estabelecer o equilíbrio novamente e satisfazer àqueles que liam.

Para a estrutura ficar mais clara, vamos exem-plificar:

Uma jovem, filha de um rico comerciante, vive sozinha e infeliz no seu quarto. Passa os dias esperan-do que surja o seu príncipe encantado. Certo dia, pas-sa diante da janela de sua casa um catador de papel,

Características e temas

A poesia de Sousândrade é um caso à parte na literatura romântica. A sua obra mais importante é O Guesa, baseada numa lenda indígena de tribos habitantes da região da Colômbia.

Nessa epopeia ameríndia inacabada vemos Guesa ser raptado aos cinco anos pelo deus sol Bi-chica, para ser sacrificado quando atingisse quinze anos. O ritual baseia-se na educação do menino até os dez anos, período em que faz peregrinação pela estrada do Suna, para somente depois ser morto.

Nessa estrada, o jovenzinho passa por diversos lugares: América, Europa, África e Ásia, chegando a passar pela Bolsa de Valores de Nova York (numa crítica evidente ao poder destruidor do capitalismo). Essa trajetória pode ser interpretada como metáfora da vida do poeta.

Essa obra estabelece uma severa crítica à mutilação causada aos povos indígenas após o descobrimento da América. Diferentemente do ca-ráter conciliador do indianismo de Gonçalves Dias, vemos em O Guesa um canto de protesto em defesa do autóctone, sintetizado na figura do herói inca (O Guesa), representação de todos os índios da América Latina.

Esse poema narrativo possui treze cantos e é repleto de metáforas que, de certa forma, antecipam algumas técnicas utilizadas pelas vanguardas do início do século XX.

O romance torna-se muito popular a partir de 1830 com sua publicação em jornais. As obras de Vitor Hugo, Walter Scott e Alexandre Dumas popularizaram-se graças a sua grande disseminação em fascículos em diversos jornais. Eram os folhetins que começavam fazer parte dos hábitos culturais da classe média brasileira.

Os capítulos dos romances eram publicados diariamente ou semanalmente, os leitores espera-vam ansiosos pelos próximos acontecimentos. Com tramas simples, linguagem clara e fortes emoções, os romances em folhetins atraíam um público cada vez maior. Esses romances eram publicados antes em folhetim para somente depois serem vendidos como livros.

O romance românticoO escritor de folhetins necessariamente deve-

ria se adaptar ao gosto do público e às exigências dos editores dos jornais. Portanto, essas obras iam ao encontro da ideologia dos leitores, não devendo nunca entrar em conflito com aquilo que pensavam (o escritor francês Eugêne Sue, em um de seus ro-mances em folhetim se viu obrigado a ressuscitar um de seus personagens, pelo fato dos leitores não se conformarem com sua morte).

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por quem ela se apaixona, e ele corresponde. Come-çam os encontros escondidos. O pai, descobrindo o namorico, apressa os preparativos para o casamento de sua filha com um jovem proveniente de família abastada, ao qual desde o nascimento a jovenzinha estava prometida (embora não soubesse). Ao tomar conhecimento da história a jovem cai em desespero e adoece, os médicos não encontram a causa (o amor). Já à beira da morte, acontece algo inacreditável (o Deus ex machina) surge em sua casa o verdadeiro amor de sua vida, muito bem vestido, com aparên-cia de lord inglês e ao lado do pai da moça, a qual imediatamente melhora. É que dias antes ele havia ganhado duas heranças milionárias dos seus avós, que nunca havia conhecido e cuja existência não sabia. Pronto, o obstáculo amoroso para o casal – a diferença de classes, o que causava a desarmonia à ordem burguesa – havia ruído. O pai aceita o pedido de casamento do mais novo milionário da sociedade. Os preparativos são feitos. A cerimônia pomposa (tudo pago com o dinheiro do noivo) acontece como o planejado, a festa é espetacular, e o que resta para eles é serem felizes para sempre.

CaracterísticasTodo romance romântico apresenta um herói

(entenda-se protagonista). Ele está em constante conflito/comunhão com o meio social em que vive.

É através do romance que o escritor faz uma interpretação da sociedade que tematiza. No caso do romance romântico, temos uma interpretação feita a partir da construção de um romance que mistura sonho e documentário. Ou seja, o enredo do romance romântico, pelo fato de nele se encontrar a idealização, seja de personagens seja de situações, não é verossímil.

Estamos diante de uma literatura que visa à acessibilidade, à facilitação do entendimento.

Joaquim Manuel de MacedoJoaquim Manuel de

Macedo nasceu no ano de 1820 em Itaboraí, Rio de Janeiro. Formou-se em Me-dicina, porém não exerceu a profissão. Foi preceptor dos filhos da princesa Isabel e professor de História no Co-légio Dom Pedro II. Também foi deputado por diversas

legislaturas. Escreveu dezoito romances, quinze peças de teatro, dois livros de poemas e sete volumes de variedades em pouco mais de trinta anos de carreira! Faleceu em 1882, na cidade do Rio de Janeiro.

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Suas principais obras são: A Moreninha (1844); O Moço Loiro (1845), Memórias do Sobrinho do Meu Tio (1867); A Luneta Mágica (1869).

Características e temas

Joaquim Manuel de Macedo é o iniciador da tradição narrativa não só do Romantismo, mas de toda a Literatura Brasileira. Depois dele é que sur-gem os demais grandes nomes do gênero, dentre eles o grande expoente da prosa romântica José de Alencar.

O que Macedo fez foi relativamente simples, po-rém de grande importância para o desenvolvimento da narrativa. Ele se baseou na estrutura do romance romântico europeu e o adaptou aos cenários brasi-leiros, mais especificamente aos cenários da cidade do Rio de Janeiro.

Seus romances mostram os costumes (festas, tradições etc.) da sociedade urbana carioca da pri-meira metade do século XIX. São tramas fáceis, cons-truídas de acordo com o gosto do público burguês, possuindo um alto grau de previsibilidade, como as telenovelas a que assistimos hoje. Tudo escrito em linguagem muito simples e sem apresentar fortes emoções que pudessem chocar os leitores. Mace-do foi o responsável pela amenização do folhetim, pois os textos europeus apresentavam cenas fortes de paixão e violência, algo que não se adaptava à mentalidade moralista provinciana e patriarcalista da época no Brasil.

O primogênito do romance romântico no Brasil é A Moreninha, que narra o amor do estudante de medicina Augusto e da jovem Carolina – a moreninha. Após dificuldades impostas pelas convenções sociais os dois vêm a se casar e tudo acaba bem, sendo os dois felizes para sempre.

Deus ex machina: lat-Um deus por meio de uma máquina. Expediente da tragédia grega (e romana) para solucionar casos complicados, o qual fazia de súbito aparecer um deus para explicar como se devia proceder naquele embaraço. Em-prega-se a locução para designar um fim forçado. Quando o autor não sabe resolver a situação que criou, interpõe um Deus ex machina.

Disponível em: <www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.

php?op=curiosidades/docs/expressoeslatinas>.

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José de Alencar, importante escritor da prosa romântica, em sua obra de caráter fortemente nacio-nalista, buscou apresentar uma “suma romanesca” do seu país, abrangendo o campo e a cidade, o sertão e o litoral, o passado e o presente. Escritor de gran-des qualidades, foi uma das grandes influências de um dos maiores escritores da Literatura Ocidental: ninguém mais, ninguém menos do que Machado de Assis.

José de Alencar é quem consolida e consagra o romance na Literatura Brasileira.

Autores e obras

José de AlencarJosé Martiniano de Alencar

nasceu no ano de 1829, na cida-de de Macejana, interior do Ce-ará. Filho de tradicional família, fez seus primeiros estudos já no Rio de Janeiro, quando contava nove anos de idade. Seu pai foi homem de grande importância na política, exerceu o cargo de senador liberal do império e participou de revoluções como,

por exemplo, a Confederação do Equador, em 1824. Em São Paulo, José de Alencar concluiu os estudos secundários e cursou Direito, formando-se em 1851. Retornando ao Rio de Janeiro, trabalhou como advo-gado e jornalista. No ano de 1857 lança em folhetim, dividido em capítulos, o romance O Guarani, atin-gindo um sucesso nunca antes visto em todo o país. Casa-se, tornando-se pai de quatro filhos. Quando seu nome já era conhecido em todos os recantos da nação, elege-se deputado pelo estado do Ceará. Logo se torna ministro da Justiça dos conservadores. Após esse período, continuou deputado até a sua morte, em 1877, vitimado pela tuberculose.

Suas principais obras são: Romances urbanos: Cinco Minutos (1856); A Viuvinha (1857); Lucíola (1862); Diva (1864); A Pata da Gazela (1870); Sonhos D’ouro (1872); Senhora (1875); Encarnação (1877). Romances indianistas: O Guarani (1857); Iracema (1865); Ubirajara (1874). Romances históricos: As Mi-nas do Prata (1873); Alfarrábios (1873); A Guerra dos Mascates (1873). Romances regionalistas: O Gaúcho (1870); O Tronco do Ipê (1871); Til (1877).

Características gerais

As obras de José de Alencar, romances urbanos, regionalistas, históricos ou indianistas, possuem alguns traços em comum. Veja:

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Busca das virtudes humanas • : José de Alen-car busca apresentar em seus romances; indivíduos que tenham como características fundamentais a pureza, a lealdade e a cora-gem. Assim são os protagonistas das suas principais obras. Peri, de O Guarani, é um índio que vive para proteger Ceci, cumprindo a promessa feita ao pai da moça no momen-to mais dramático da obra, enfrentando os inimigos com a coragem que somente ele poderia ter. Iracema doa sua vida ao seu amor, Martim. Aurélia, de Senhora, desde o início da obra, apesar de não parecer, é leal aos seus sentimentos e princípios. Todos esses personagens são puros, indivíduos de honra, até mesmo a prostituta Lúcia, de Lucíola, que somente entrou para essa vida com o objeti-vo de salvar a família que se encontrava em extrema pobreza.

O passado • : nas obras de Alencar, o passado tem um papel decisivo nas histórias. Ele é a explicação, a justificativa para o que acontece no presente. Em O Guarani, devido ao autor nos reportar ao passado, um ano antes dos fatos que estão transcorrendo, descobrimos o porquê de Peri ser tão dedicado à Ceci – o pai da moça havia salvado a vida da mãe do índio e ele considerava Ceci igual à Nossa Senhora – , e quem é na verdade o aventureiro Loredano – o malvado frei Ângelo di Luca. Em Senhora, através do retorno ao passado compreendemos as razões e seu desejo de vingança em relação a Fernando Seixas – ele a havia abandonado por receber um bom dote de casamento do pai de Adelaide. No roman-ce Lucíola, ficamos sabendo pelo passado as razões da moça ter se tornado uma cortesã.

Aspectos negativos do ser humano • : apesar de seus romances pertencerem ao Roman-tismo e ainda não poderem ser considerados plenamente verossímeis, devido à idealização de alguns personagens ou situações, Alencar antecipou aquilo que seria o fulcro da obra de Machado de Assis: a percepção do mal, do anormal e do recalque. Esses elementos são apresentados como constantes na conduta dos indivíduos, como características imanen-tes ao ser humano. Encontramos aí um traço realista da obra alencariana.

Tentativa de estabelecer a língua brasilei- •ra: Alencar buscou, através da utilização de palavras indígenas e da forma de falar do brasileiro, constituir em seus romances uma língua brasileira, indo ao encontro do ideal antilusitano presente na estética romântica brasileira. Contudo, não atingiu plenamente seus objetivos.

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Temas

Os romances de Alencar são divididos em qua-tro tipos: romances urbanos, indianistas, históricos e regionalistas.

Romances urbanos

Caracterizam-se por apresentar intrigas amo-rosas motivas pela desigualdade econômica. As histórias transcorrem durante o Segundo Reinado e são ambientadas na cidade do Rio de Janeiro, a então capital federal. Outro traço importante dos romances é a apresentação dos diálogos de forma idealizada, como se os personagens fossem constantemente senhores de si, sem medos, dúvidas, aflições. Ob-servamos isso claramente na obra Senhora, na figura da jovem Aurélia, com apenas dezoito anos, órfã, rica, administra sua fortuna e sua vida praticamente sem a ajuda de ninguém (lembre-se da condição da mulher no século XIX), o que confere artificialismo ao romance.

Os dois principais romances urbanos são Lucíola e Senhora.

Lucíola

É a história da impossibilidade amorosa entre pessoas de classes sociais diferentes.

Enredo

Narra a história do jovem Paulo, bacharel em Direito que, recém-chegado de Olinda, apaixona-se pela bela Lúcia. Entretanto, logo se decepciona ao saber de um amigo que a moça era uma cortesã de luxo.

O rapaz não consegue mais vencer sua paixão e o sentimento de Lúcia é recíproco. Ela abandona a prostituição e explica a Paulo os motivos de haver entrado nesse mundo. Tornou-se cortesã para ajudar a família que estava em grande pobreza, e acabou sendo expulsa pelo pai. Ao retornar da Europa, des-cobre que seus pais estavam mortos, restando da fa-mília somente a sua irmã Ana. Coloca-a num colégio interno e segue na prostituição para sustentá-la.

Lúcia abandona a profissão e Paulo quer casar- -se com ela. Porém, a moça diz que isso não seria possível, pois precisava abrir mão daquilo que sentia para conseguir libertar-se da condição de prostituta. Vemos um processo de purificação da personagem.

Ela pede, então, para que Paulo se case com Ana. Ele não aceita tal proposta. Lúcia se emociona e desmaia, revelando estar grávida do bacharel.

Mãe e filho morrem. Lúcia faz Paulo prometer que será um verdadeiro pai para Ana. Ele cumpre.

Senhora

Senhora é uma narrativa que revela uma das poucas formas de ascensão social na época do II Reinado: o casamento por interesse.

Enredo

Senhora narra a história de Aurélia Camargo, uma jovem da alta classe que surge na sociedade carioca e logo se torna rainha dos salões, rejeitando as mais diversas propostas de casamento, que ela chamava de “caça-dotes”.

Aurélia era apaixonada por Fernando Seixas, jovem ambicioso que mesmo não tendo posses vivia luxuosamente, despendendo o dinheiro que sua mãe guarda na poupança. Fernando Seixas estava noivo de Adelaide, por interesse econômico.

Aurélia, rica, por intermédio de seu tio e tutor, Lemos, oferece ao pai de Adelaide a quantia de cin-quenta contos de reis para que sua filha se case com seu verdadeiro amor, Torquato Ribeiro, um homem muito pobre. A condição era Adelaide desfazer o noivado com Seixas, pessoa que ela não amava ver-dadeiramente. O plano é bem-sucedido.

Seixas encontrava-se desesperado, quando sua mãe, com o instinto de fazer o enxoval de casamento para a filha, pede ao jovem que resgate o dinheiro guardado na poupança da Caixa Econômica. É nesse momento que Lemos, por ordem de Aurélia, oferece-lhe uma vultosa quantia de cem contos de réis como dote de casamento, com a condição de que não to-masse conhecimento da identidade da noiva. Num primeiro momento não aceita, mas depois acaba cedendo.

O casamento se realiza. Ao chegar na sua nova casa com sua esposa, esta conta-lhe sua vida pas-sada de pobrezas, a morte de sua mãe, o abandono de seu noivo e a herança de um avô desconhecido, que a torna milionária. Nesse momento, Seixas reconhece Aurélia, sua antiga namorada, pobre, a quem abandonou. A vingança se concluía, a jovem já havia se vingado da sociedade, rejeitando, de forma implacável, diversos pretendentes e, agora, havia comprado seu marido, comprovando seu caráter interesseiro. Ela diz que haviam feito um negócio, pois ele precisava do dinheiro e ela de um marido para apresentar à sociedade.

A partir daí, dormindo em quartos separados, manterão a imagem de casal feliz, porém estarão em constante conflito. Estabelecerão discussões

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violentas, todavia alimentam secretamente o amor recíproco.

Não suportando mais tanto sofrimento, devido à sua condição no casamento e aos ciúmes crescentes que sentia de Aurélia – sempre visitada por Eduardo Abreu, rapaz que declaradamente a amava – Seixas consegue levantar o dinheiro que recebera com o dote por meio de um investimento na bolsa que havia feito e nem se recordava mais.

Na cena final vemos Seixas entregando à Aurélia o cheque com a quantia do dote, a fim de desfazer o casamento. Aurélia, que o amava (e também sentia muito ciúme quando Fernando Seixas conversava com Adelaide), pede que esqueçam tudo e recome-cem. Emocionados, os dois se abraçam e, a partir desse momento, viverão felizes para sempre.

– O passado está extinto. Esses onze meses, não fomos nós que os vivemos, mas aqueles que se acabam de separar e para sempre. Não sou mais sua mulher; o senhor já não é meu marido. Somos dois estranhos. Não é verdade?

Seixas confirmou com a cabeça.

– Pois bem, agora ajoelho-me a teus pés, Fernando, e suplico-te que aceites meu amor, este amor que nunca deixou de ser teu, ainda quando mais cruelmente ofendia-te.

(...)

Esta riqueza causa-te horror? Pois faz-me viver, meu Fernando. E o meio de a repelires. Se não for bastante, eu a dissiparei.

Romances indianistas

Nesses romances, o que se observa é a ideali-zação do índio e a descrição das magníficas paisa-gens naturais brasileiras. Constrói-se, a partir dessa imagem idealizada, o mito heroico, com o fim de exaltação nacional. O Brasil exuberante, magnífico, é demonstrado a partir do indianismo. Entretanto, esse índio apresenta as características de um cava-leiro medieval – José de Alencar chega a dizer que Peri tinha todas as virtudes de um desses cavaleiros, em O Guarani.

Vemos então que a figura do nativo, inserido nos romances indianistas, serve como uma espécie de compensação nacional, em relação à Europa, pelo curto passado histórico, fazendo com que o autor recorra à criação de um passado lendário, onde o autóctone é a figura imponente.

Entretanto, encontramos uma forte contradição nas obras indianistas de Alencar, principalmente nos seus dois romances mais importantes, O Guarani e

Iracema. O índio de Alencar somente é glorificado quando se submete à cultura branca, ou seja, só há a valorização do nativo quando este perde sua identidade cultural. É o que acontece com Peri, que chega a ser batizado e, com Iracema, que aban-dona sua tribo pelo amor a Martim. Os índios que não se entregam à cultura branca – os aimorés, em O Guarani, por exemplo – são vistos como selvagens canibais, violentos e maus.

Iracema

Iracema, escrito em prosa poética, é a Lenda do Ceará – terra natal do autor. Alencar celebra nesse texto o fictício nascimento do primeiro brasileiro, mistura das raças portuguesa e indígena. Leia o célebre início da obra.

Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaú-ba.

Verdes mares, que brilhais como líquida es-meralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros.

Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.

Onde vai aflouta jangada, que deixa rápi-da a costa cearense, aberta ao fresco terrala grande vela?

Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano?

Perceba a idealização da figura do índio na descrição de Iracema.

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.

Enredo

Iracema, a virgem dos lábios de mel, com os cabelos mais negros do que a asa da graúna, está se banhando em um rio. Percebe a presença de um estranho e imediatamente desfere uma flechada que atinge de raspão a face de Martim, homem branco, português, que havia se perdido de seus compa-

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nheiros pitiguaras – Pitiguara era a tribo inimiga dos Tabajara, esta era aliada dos franceses, aquela, dos portugueses.

Percebendo o erro que tinha cometido, Iracema leva Martim até sua tribo, abrigando-o na oca de Araquém, seu pai e cacique da tribo dos Tabajara (tribo inimiga dos portugueses). Araquém hospeda cordialmente Martim, mesmo sabendo que ele era português, e o deixa aos cuidados de Iracema.

O nobre homem encanta-se pela índia e a de-seja, entretanto ela não podia ceder aos encantos e desejo que também sentia, pois era a “virgem dos lábios de mel” e detentora do “segredo da jurema” (planta da qual se extraía um líquido alucinógeno e que os índios, em noite de lua cheia, bebiam e reve-lavam seus segredos ao cacique).

No outro dia, Irapuã, guerreiro tabajara apai-xonado por Iracema, ao saber da presença de um inimigo português, tenta matar Martim, mas é im-pedido por Iracema. A batalha entre os tabajaras e os pitiguaras acirra-se. Caubi, irmão de Iracema, guia Martim na floresta para que fuja, todavia Irapuã, juntamente com outros guerreiros, havia preparado uma emboscada. Exige que Caubi entregue Martim, atitude a que ele se nega.

Já protegidos na oca, Martim e Iracema en-tregam-se à paixão, o que provoca a ira de Irapuã. Araquém invoca, então, Tupã (deus dos índios), e pela abertura de uma fenda na Terra, dentro da oca do cacique, emana a voz do deus, que afugenta mo-mentaneamente os revoltosos (na verdade, Alencar explica que a suposta voz de Tupã era o som que o vento fazia quando passava pela gruta secreta que Araquém tinha em sua oca.

Quando a noite chega Martim encontra-se com Poti – seu amigo e irmão do chefe da nação pitiguara, Jacaúna – através da fenda secreta da oca de Ara-quém, para combinarem um plano de fuga. O plano consistia em aproveitarem a noite de lua cheia para fugir, pois os tabajaras beberiam o vinho de Tupã e entrariam em transe, completamente alucinados. No momento em que traçara o plano, Martim pede a Iracema um pouco do vinho de Tupã. O português tem alucinações e sonha abraçar Iracema e possuí- -la na rede.

Na noite da fuga, Iracema acompanha Poti e Mar-tim, ultrapassando as fronteira das terras dos Tabajara. Martim não compreende tal atitude, mas Iracema lhe explica: na verdade, as alucinações do nobre guerreiro foram a mais concreta realidade, agora a índia não era mais a “virgem dos lábios de mel”, pertencia ao português e carregava no ventre um filho seu.

Seguem juntos a viagem até a tribo Pitiguara. Chegando lá, são muito bem recebidos; contudo, al-

guns dias depois Iracema não sente-se à vontade por estar em tribo inimiga. Martim decide ir morar com ela em local mais afastado. Poti os acompanha.

Iracema percebe que Martim está lhe dando menos atenção. Ele vai à guerra contra os franceses em auxílio dos pitiguaras. Quando retorna, tem que partir novamente para novo combate, juntamente com Poti. É nessa segunda ausência do marido que Iracema dá à luz Moacir (que significa, em tupi, o filho da dor).

Solitária, fraca, com o leite secando, Iracema re-siste até a volta de Martim, morrendo em sua chega-da e deixando-lhe o filho. O português retorna à sua terra natal. Quatro anos depois regressa ao Brasil e funda o Ceará, em companhia de Poti, agora batizado com o nome católico de Antônio Felipe Camarão.

Quando Iracema morreu, a arara que sempre a acompanhava subiu até a parte mais alta da palmeira em que Iracema foi enterrada por Martim e ficou a cantar ininterruptamente o nome de sua dona. Daí a origem do nome Ceará, pois “ce” vem do vocábulo tupi “cemo”, que significa grito, canto, clamor e “ará” significa arara.

Iracema (1881), de José Maria de Medeiros.

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Fundamentação histórica

Tanto em O Guarani quanto em Iracema, José de Alencar utiliza-se de alguns personagens que realmente existiram. É o caso de D. Antônio de Ma-riz, nobre português, fundador do Rio de Janeiro, no primeiro romance, e Martim e Poti na segunda obra, sendo o português o real fundador do Ceará e, Poti, Antônio Felipe Camarão, homem de importância fundamental para o surgimento do Estado.

Romances históricos

Os romances históricos de José de Alencar seguem o estilo dos modelos europeus de Alexan-dre Dumas e Walter Scott, supervalorizando ações específicas, deixando em plano secundário os fatos concretos. Em verdade, o passado histórico serve como pano de fundo para a narrativa.

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Romances regionalistas

Os romances regionalistas têm por objetivo simbolizar a essência brasileira. No interior é que se encontra o verdadeiro Brasil, sem a influência estrangeira que locais “abertos”, como as cidades litorâneas, que, em geral, eram as capitais esta duais, estavam sujeitas. Também tinham o objetivo de, ao falar de várias regiões do país, abranger todo o terri-tório brasileiro no intento de unificação nacional.

Os sertanistas ou regionalistas são um grupo de escritores românticos que trataram do universo interiorano brasileiro. O verdadeiro Brasil poderia ser encontrado no sertão brasileiro, ainda não atingido pelas influências externas. Um mundo de natureza exótica e de relativa ingenuidade é apresentado nessas obras.

Tais romances mostram, em parte, um caráter realista quanto à descrição da natureza (com o fim de valorização daquilo que é nacional), dos costumes, dos valores e da linguagem do interior. Sendo assim, o que vemos é um realismo externo, pois as tramas e os desenlaces continuam plenamente românticos.

O regionalismo, nos romances sertanistas, é uma forma de nacionalismo, ou seja, o ideal patri-ótico romântico encontra-se vigorosamente em tais textos.

Moendas de Açúcar. Rugendas (1815-1858).

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Bernardo GuimarãesBernardo Guimarães

nasceu no ano de 1825, na cidade de Ouro Preto. Cur-sou Direito em São Paulo, onde foi colega de Álvares de Azevedo. Trabalhou como juiz no interior de Goiás, até ser exonerado. Depois de breve passa-gem pelo Rio de Janeiro, retornou à terra natal, onde

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se casou e trabalhou como professor secundário. Devido ao grande sucesso de A Escrava Isaura, foi visitado pelo Imperador. Faleceu em 1884, coberto de prestígio.

Características e temas

As obras de Bernardo Guimarães caracterizam- -se por apresentar um estilo simples de linguagem. Os dois temas mais bem desenvolvidos do autor encontram-se em suas duas obras mais importantes: A Escrava Isaura e O Seminarista. A primeira trata da questão abolicionista e, a segunda, faz uma crítica ao celibato clerical e à estrutura patriarcal opressora.

A Escrava Isaura

Romance de denúncia social, A Escrava Isaura, quando publicado, provocou grande reação junto aos leitores fazendo com que muitos apoiassem a causa abolicionista.

Narrado em terceira pessoa, conta a história da jovem escrava Isaura, mulher branca, habitante do interior do Rio de Janeiro, filha de um feitor por-tuguês, Miguel. Quando a mãe da moça faleceu, foi adotada pela proprietária da fazenda em que vivia, sendo tratada como legítima filha. Foi educada se-gundo os mais altos padrões da época. Sabia falar línguas estrangeiras, tocava piano muito bem e era extremamente inteligente.

Quando a fazendeira morreu, seu filho, Leôncio (o vilão da história), que já alimentava sórdidos de-sejos pela escrava, começa a persegui-la e maltratá- -la. Miguel, ao saber disso, consegue raptar a filha e fugir com ela para Recife. Com os nomes de Elvira e Anselmo, apresentam-se à sociedade. Isaura (Elvira) encanta a todos com sua beleza, principalmente o jovem, belo e rico Álvaro. Ambos se apaixonam.

No baile, Isaura é descoberta. Álvaro a protege. Começam as disputas entre ele e Leôncio, que havia saído à caça da escrava fugida. O vilão consegue prendê-la, e a traz de volta à fazenda, no estado do Rio de Janeiro. Malvina, esposa de Leôncio, perce-bendo a atração voluptuosa que o marido sentia por Isaura, pede a ele que a liberte. O vilão, disfarçando- -se de bem-intencionado, impõe a condição de li-bertar a escrava se esta se casasse com o jardineiro Belchior, um anão peludo e com feições de macaco.

No dia da cerimônia, quando Isaura não tinha mais esperanças de ser feliz, aparece Álvaro. O moço havia comprado todos os bens penhorados por Leôncio, que se encontrava na miséria. Entre os bens estavam os escravos, logo, Isaura era sua. Desespe-rado, Leôncio foge e se suicida com um tiro.

Álvaro e Isaura estão livres para serem felizes para sempre.

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Negros no Porão do Navio. Rugendas.

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O Seminarista

Romance de crítica contra o celibato e o sistema patriarcal, O Seminarista narra a história do amor impossível entre Eugênio, filho de um rico fazendeiro no interior de Minas Gerais, e Margarida, filha de uma agregada da fazenda. As diferenças sociais serão o impedimento da relação.

Eugênio e Margarida foram amigos na juventu-de. O rapaz, então, é enviado para a um seminário em Congonhas do Campo. Quando retorna de férias, os dois se apaixonam e fazem juras de amor. Eugênio promete não se ordenar padre.

Depois da volta de seu filho ao seminário, os pais de Eugênio, já sabendo do afeto entre os jovens, expulsam da fazenda Margarida e a mãe, mentindo a Eugênio que Margarida estava se casando. Comple-tamente desiludido, o rapaz entrega-se às atividades sacerdotais.

Certo dia, é chamado para atender uma moça que estava muito doente. A moça era Margarida. O reencontro faz com que a paixão se fortaleça. Naquele mesmo dia amam-se desesperadamente.

No dia seguinte, Eugênio realizaria sua primeira missa. Antes de começar é chamado para enco-mendar um cadáver que já se encontrava na Igreja. Era o cadáver de Margarida. Volta para começar a missa, mas, de repente, arranca sua batina e corre pela igreja no meio de todos, desaparecendo. Havia enlouquecido.

Visconde de TaunayAlfredo d’Escragnolle–

Taunay nasceu em 1843, na cidade do Rio de Janeiro. Oriundo de uma família de aristocratas, muito cedo foi influenciado pelas artes – seu avô paterno, francês, Nicolau Antônio, foi o funda-dor da Academia de Belas

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Artes do Rio de Janeiro. Félix Taunay, pintor e precep-tor de D. Pedro II, era seu pai. Depois de participar da batalha contra os paraguaios que dominavam o sul de Mato Grosso, torna-se professor de Geologia da Escola Militar. Foi presidente de Santa Catarina e do Paraná. Também foi senador, mas abandonou o cargo quando da Proclamação da República, demonstrando fidelidade ao imperador. Faleceu em 1899, vitimado por complicações em consequência da diabetes.

Características e temas

O romance de Visconde de Taunay caracteriza- -se por apresentar, quanto à linguagem, estilo mes-clado entre o nível culto e o falar interiorano. Inocên-cia é uma obra de crítica ao patriarcalismo rural. Por vezes, o escritor utiliza-se de momentos engraçados para ridicularizar o machismo que imperava nessa estrutura social.

Inocência

Em terceira pessoa, com narrador onisciente, a obra é mais uma história de amor impossível. Cirino, médico autodidata, viaja pelo interior do Mato Grosso fazendo consultas, sendo muito bem-sucedido. Cer-to dia conhece Pereira, fazendeiro que estava com sua filha, a bela Inocência, doente. O rapaz aceita o convite para se hospedar em sua propriedade e cura Inocência. Apaixona-se pela moça. Entretanto, a jovem já estava prometida a Manecão, filho de outro proprietário de terras.

Também chega à casa de Pereira o naturalista alemão, amante de borboletas, Meyer. O estrangeiro chega com uma carta de recomendação do irmão de Pereira, o que faz com que esse receba muito bem o naturalista, que fica por algum tempo hospedado na fazenda.

Devido à sua personalidade rude e certa in-genuidade, o fazendeiro pensa que os agrados e cavalheirices do alemão para com sua filha são uma tentativa de flerte. Preocupado, pede para que Cirino permaneça e o ajude a vigiá-lo. Também solicita ajuda de seu fiel empregado, o anão mudo Tico.

Nesse período, Cirino e Inocência quase não se comunicam, contudo, certo dia, à janela do quarto de Inocência, ele declara seu amor. A princípio, a moça, ingênua, estranha tamanho arrebatamento, porém mostra afeição pelo rapaz. Também está apaixonada. Planejam fugir, mas a moça, com medo de ser amal-diçoada pelo pai, pede para que Cirino peça o apoio do padrinho dela, Antônio Cesário, senhor pelo qual Pereira tem alto apreço.

Nesse ínterim, Meyer descobre uma espécie nova de borboleta e a batiza de Inocência, atitude que

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haviam falecido. Trabalha, então, como jornalista e tra-dutor. Em 1852, publica em folhetim mensal Memórias de um Sargento de Milícias. Foi nomeado, em 1857, dire-tor da Tipografia Nacional, tornando-se protetor de um jovem de dezesseis anos – Machado de Assis. Devido a problemas econômicos, muda-se para Nova Friburgo.

Candidata-se a deputado da Assembleia Provincial. Em viagem de campanha em 1861, abordo do vapor Hermes, naufraga e morre.

Características e temas

Autor de um único romance, Manuel Antônio de Almeida escreveu uma obra que se caracteriza por contrariar os valores estéticos românticos da época. Memórias de um Sargento de Milícias é uma exceção dentro do período romântico. Apresenta um anti-herói, Leonardo, o primeiro malandro da Literatura brasileira. Não idealiza personagens nem situações; não mostra cenas melodramáticas e não vê no casamento um final feliz. Temos, em verdade, um legítimo antirromance romântico.

Classificado como romance de costumes, mes-mo não sendo o fulcro da obra evidenciar os hábitos do grupo ao qual se refere – a classe popular –, a obra tem como característica fundamental o humor, o riso fácil. Algo que não encontramos nos demais romances do período. A partir da ridicularização de personagens e situações observamos o desmasca-ramento dos indivíduos.

Encontramos em Memórias de um Sargento de Milícias personagens-tipo, ou seja, são representan-tes da classe social a qual pertencem. Muitos deles nem nome possuem, como é o caso da madrinha e do padrinho de Leonardo, a “comadre” e o “compa-dre”.

O romance é escrito em terceira pessoa, o nar-rador é onisciente e faz constantes interrupções na narrativa, comentando sobre o passado dos persona-gens e os acontecimentos futuros, sempre com muito humor e ironia. Pode-se dizer que tais interrupções narrativas são o embrião do que chamaremos na obra realista de Machado de Assis de “digressões” – aná-lises profundas acerca de algo relevante à história, ao contrário do que acontece no romance de Almeida, que caracteriza-se por ser superficial.

A visão desenganada da realidade e a relativi-zação dos valores são traços fundamentais da obra. Tais características evidenciam sua separação da es-tética romântica. Entretanto, também não o podemos

aumenta a desconfiança do pai da rapariga. Todavia, ele logo parte, eliminando as suspeitas do pai.

Enquanto Cirino faz a viagem para encontrar Cesário, Manecão chega à propriedade do pai de Inocência. Ela se recusa a aceitar o casamento e acaba sendo espancada pelo pai. Tico, o anão mudo, denuncia Cirino. Manecão, irado e com sede de vin-gança, persegue o rapaz e assassina-o. Ao saber do ocorrido, Inocência encontra a solução do sofrimento na morte.

Enquanto isso, na Alemanha, alheio aos últimos acontecimentos, o naturalista Meyer é homenageado pela descoberta da borboleta Papilio Innocentia.

Franklin TávoraFranklin Távora nasceu em 1842, em Baiturité,

no interior do Ceará. Cursou Direito na Faculdade do Recife. Mudou-se para o Rio de janeiro no ano de 1874, trabalhando em setores relacionados à buro-cracia. Também trabalhou no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Faleceu em 1888.

Características e temas

Seu romance O Cabeleira também pode ser classificado como romance histórico, por tratar do passado nordestino. Sua obra possui, portanto, va-lor documental por fazer um estudo do cangaço no século XVII. A obra apresenta ideologia progressista embasada na educação como solução dos problemas nordestinos.

O Cabeleira

Conta a história do reencontro do cangaceiro José Gomes, o Cabeleira, com Luisinha, seu antigo afeto. A paixão entre os dois faz com que ele se re-genere e abandone a vida do cangaço. Entretanto, a polícia o persegue. Num acidente, Luisinha se fere e morre. Cabeleira, desiludido, rende-se, é julgado e condenado à forca.

No final do romance, percebe-se severa crítica à pena de morte e a justificativa da existência do cangaço pela falta de assistência ao povo.

Manuel Antônio de AlmeidaManuel Antônio de Almeida nasceu em 1831,

na cidade do Rio de Janeiro. Estudou curto período na Academia de Belas Artes. Depois cursou a facul-dade de medicina, formando-se no ano de 1855. Não pôde seguir a carreira médica por ter de trabalhar muito para sustentar seu irmão, já que seus pais

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enquadrar na estética realista, pois ainda não temos a objetividade e a análise psicológica presentes.

Memórias de um Sargento de Milícias

Um navio parte de Portugal para o Brasil. Nele encontram-se Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça. Ele a vê, aplica-lhe uma pisadela no pé, ao que a moça responde com um beliscão na mão. Nove meses de-pois, nascia, na cidade do Rio de Janeiro, Leonardo, “filho de uma pisadela e de um beliscão”.

Maria da Hortaliça foge com um capitão de na-vio, abandonando Leonardo Pataca (apaixonado por uma cigana que o abandonou), o qual, por sua vez, expulsa Leonardo, o filho, de casa com um pontapé nas nádegas. O rapazinho é recolhido e criado por seu padrinho barbeiro, o “compadre”. O menino cresce e se torna uma verdadeira peste, é muito abusado e não tem muita afinidade com os estudos. Como desejava que Leonardo seguisse a carreira de padre, o “compa-dre” põe-no de sacristão na Igreja. Porém, o traquinas não dura muito tempo em tal posição. Leonardo, não gostando do padre, resolve desmascará-lo, e faz com que todos saibam do seu caso com a cigana, a mesma que abandonara Leonardo Pataca.

À medida que torna-se adulto, o rapaz se mostra cada vez mais desinteressado pelo trabalho e pelos estudos. Torna-se um vadio, contudo é extremamente simpático e cativante, conseguindo sempre a prote-ção de alguém.

Acaba conhecendo Luisinha, moça “sem sal”, sobrinha de Dona Maria. Mesmo não apresentando nada de interessante, Leonardo afeiçoa-se à Luisinha. Porém, surge um concorrente que logo o vence, José Manuel. Tempos depois, este e a jovem se casam.

Leonardo não se entristece com o acontecido, tinha um caso com a sensual mulata Vidinha. No período em que está com a mulata, o rapaz mete-se em diversas confusões e acaba sendo detido pelo major Vidigal, uma espécie de “caça-malandros”. Leonardo é preso, foge, mas é preso novamente. Como punição, Vidigal o faz soldado, contudo, para vingar-se, o malandro prega-lhe uma peça, no que é severamente punido com açoitadas.

Comovida com a situação do afilhado, a “co-madre” resolve interceder. Recruta Dona Maria e Maria Regalada (antigo caso do major) para livrarem Leonardo. A “comadre” faz o pedido, todavia Vidigal cede somente quando Maria Regalada promete-lhe, em segredo, reatarem o antigo romance.

Imediatamente, Leonardo é libertado e, ainda mais, é elevado ao posto de sargento. José Manuel, um péssimo marido, morre de apoplexia. Luisinha,

viúva, está livre para se casar novamente. É o que acontece. Leonardo e a moça se casam.

Ordem e desordem

Percebemos nessa obra, como diz Sergius Gonzaga, uma “condescendência em relação às transgressões”. Tal característica foi brilhantemente esclarecida no texto Dialética da Malandragem, de Antônio Cândido, em que o crítico estabelece para o romance a seguinte dialética: ordem versus desor-dem. Em que temos a ordem (organização social es-tabelecida) e a desordem (transgressão) interagindo constantemente, num verdadeiro relativismo da mo-ral, indo totalmente contra a relação maniqueísta do romance romântico de bem e mal, certo e errado.

Um exemplo da ordem e da desordem em inte-ração se dá a partir do momento em que Maria Re-galada (mulher de vida não-exemplar), representante da desordem, convence o Major Vidigal, represen-tante da ordem, a libertar Leonardo, representante da desordem, que se torna sargento, um agente da sociedade organizada, ou seja, da ordem. O “jeitinho brasileiro” se revela em Memórias de um Sargento de Milícias.

Nesse exemplo podemos perceber que a realida-de não mais tem duas faces opostas, mas diversas, que não se excluem, mas coexistem.

Leia um trecho dessa excelente e divertida obra:

Capítulo I — Origem, nascimento e batizado (fragmento)

Sua história tem pouca cousa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos re-motos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria-da -Hortaliça, quitan-deira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra; levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela

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O Noviço

Uma das poucas peças de Martins Pena em três atos. O Noviço começa com Ambrósio se casando por interesse com Florência, uma rica viúva, mãe de Emília e Juca, e tutora do sobrinho Carlos.

Ambrósio convence sua esposa a colocar Carlos em um seminário. Tem a ideia de também enviar Emília para o convento e fazer de Juca, frade. Assim, não seria necessário Florência gastar dinheiro com um dote, pois a filha estava em idade de casar, todos estariam internados e a fortuna de Florência ficaria toda para ele.

Carlos foge do seminário e se esconde na casa de uma tia, pois não queria ser padre, desejava se-guir carreira militar e se casar com a prima Emília. Em dado momento surge Rosa, a primeira esposa de Ambrósio, da qual ele não havia se separado legal-mente, e o Mestre dos Noviços, perseguindo Carlos. O rapaz, então, convence Rosa a trocarem de vestes. Ele foge vestido de mulher e ela, de batina, é presa por engano pelo mestre.

Carlos retorna à casa de Florência e, mesmo vestido de mulher, desmascara o vilão. Agora o caminho está livre para se casar com a prima que tanto ama.

Os dois ou o inglês maquinista

Essa peça trata do amor impossível entre Felí-cio, o primo pobre, e Mariquinha. A moça tem dois pretendentes: Negreiros, um traficante de escravos e Gainer, um inglês velhaco. Depois da chegada do pai da rapariga, que todos pensavam estar morto, tudo se resolve. Felício e Mariquinha podem se casar.

Nessa peça, Negreiros seria a metáfora do ca-pital provindo do tráfico e Gainer, do capital estran-geiro, que disputavam o domínio sobre a nação. Ao final, um brasileiro consegue ficar com as riquezas do Brasil, neste caso, representadas pela figura de Mariquinha.

Leia um trecho da obra.

CENA VII

FELÍCIO e GAINER

FELÍCIO — Estou admirado! Excelente ideia! Bela e admirável máquina!

GAINER, contente — Admirável, sim.

FELÍCIO — Deve dar muito interesse.

GAINER — Muita interesse o fabricante. Quando este máquina tiver acabada, não precisa mais de cuzinheiro, de sapateira e de outras muitas ofícias.

O teatro romântico

Martins PenaLuís Carlos Martins

Pena nasceu no ano de 1815, na cidade do Rio de Janeiro. Estudou desenho, música e arquitetura na Academia de Belas Artes. No ano de 1838, sua primei-ra comédia, O juiz de paz na roça, foi encenada, e tam-bém tornou-se diplomata. Quando enviado a Londres

foi infectado pela tuberculose. Acabou falecendo em Lisboa, no ano de 1848.

Características e temas

Martins Pena foi o fundador do teatro nacional. Escreveu comédias e dramas, porém as que se desta-caram foram as primeiras. Caracterizam-se por serem comédias de costumes, ou seja, demonstrarem os hábitos da sociedade da época. O autor ambientava suas peças ou na cidade ou na roça.

Assim como Manuel Antônio de Almeida, Martins Pena utilizava-se de personagens-tipo: o roceiro, o burguês da classe média, o estrangeiro etc. Criando situações satíricas, o autor, com muita ironia, ridicularizava personagens e situações para a partir daí revelar a verdadeira face do indivíduo, da mesma forma que vimos Almeida fazer.

Pode-se dizer que Manuel Antônio de Almei-da é uma espécie de discípulo de Martins Pena no romance.

Dom

ínio

púb

lico.

e beliscão, com diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.

Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enjôos; foram os dois morar jun-tos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo de-pois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.

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FELÍCIO — Então a máquina supre todos estes ofícios?

GAINER — Oh, sim! Eu bota a máquina aqui no meio da sala, mandar vir um boi, bota a boi na buraco da maquine e depois de meia hora sai por outra banda da maquine tudo já feita.

FELÍCIO — Mas explique-me bem isto.

GAINER — Olha. A carne do boi sai feita em beef, em roast-beef, em fricandó e outras muitas; do couro sai sapatas, botas...

FELÍCIO, com muita seriedade — Envernizadas?

GAINER — Sim, também pode ser. Das chifres sai bocetas, pentes e cabo de faca; das ossas sai marcas...

FELÍCIO, no mesmo — Boa ocasião para aproveitar os ossos para o seu açúcar.

GAINER — Sim, sim, também sai açúcar, balas da Porto e amêndoas.

FELÍCIO — Que prodígio! Estou maravilhado! Quando pretende fazer trabalhar a máquina?

(Mackenzie) Assinale a alternativa em que a caracte-1. rística apresentada não pode ser atribuída à poesia romântica brasileira.

Impessoalidade e objetividade.a)

Idealização da mulher.b)

Apego à natureza.c)

Atmosfera noturna e misteriosa.d)

Presença da morte.e)

Solução: ` A

A partir do momento em que uma estética tem como característica fundamental a subjetividade e o senti-mentalismo, como é o caso do Romantismo, torna-se contraditório ter como características a objetividade e a impessoalidade.

(Elite) Por que pode-se afirmar que no romance român-2. tico há a mistura de sonho e documentário?

Solução: `

Porque no romance romântico, paralelamente ao emba-samento nos elementos concretos da realidade como os

cenários, por exemplo, há a idealização de personagens e situações, tornando a obra inverossímil.

Instrução: O texto a seguir refere-se à questão 1.

(Unicamp) “A moça trazia nessa ocasião um roupão de 3. cetim verde cerrado à cintura por um cordão de fios de ouro. Era o mesmo da noite do casamento, e que desde então ela nunca mais usara. Por uma espécie de superstição lembrara-se de vesti-lo de novo, nessa hora na qual, a crer em seus pressentimentos, iam decidir-se afinal o seu destino e a sua vida.(...)

Ergueu-se então, e tirou da gaveta uma chave; atravessou a câmara nupcial (...) e abriu afoitamente aquela porta que havia fechado onze meses antes, num ímpeto de indignação e horror.”

No trecho citado, extraído do capítulo final do romance Senhora, de José de Alencar, o narrador faz referência a uma outra cena, passada no mesmo lugar, muito importante para o desenrolar do enredo. Pergunta-se:

Que personagens protagonizam as duas cenas e qual a relação entre essas personagens no romance?

Solução: `

Aurélia e Fernando Seixas. São casados através de contrato.

(Elite) Em qual das alternativas há somente romances 4. sertanistas?

Iracemaa) , O Seminarista, Inocência.

O Guaranib) , O cabeleira, A escrava Isaura.

A Moreninhac) , Iracema, Lucíola.

Memórias de um Sargento de Milíciasd) , O Guarani, O Tronco do Ipê.

O Gaúchoe) , A Escrava Isaura, Inocência.

Solução: ` E

Além dos sertanistas estudados nesse módulo, temos também José de Alencar escrevendo romances do gê-nero. Os termos “regionalista” e “sertanista” designam o mesmo tipo de literatura.

(Cesgranrio) O Romantismo e o Modernismo repre-1. sentam, no panorama literário brasileiro, momentos de renovação e intensa criatividade. Assinale a opção que aponta problemática trabalhada anteriormente pelos românticos e que foi retomada pelos modernistas.

lrreverência.a)

“Arte pela arte”.b)

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Nacionalismo idealizadoc)

Visão ufanista-irônica.d)

Criação de uma identidade brasileira.e)

(FAAP) Texto I2.

“Minha terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá;

As aves que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.”

Gonçalves Dias

O texto I pertence ao estilo de época do:

Barroco.a)

Arcadismo.b)

Romantismo.c)

Parnasianismo.d)

Modernismo.e)

(ITA) Assinale a opção que preenche correta e adequa-3. damente os espaços do excerto a seguir.

“É com o (.......) que se inicia (.......) da arte: a literatura passa a ser divulgada pela imprensa; escolhem-se temas e conteúdos acessíveis a todos; substitu(i) (em)-se (........) pelos mitos nacionais; valoriza-se a cultura popular; e a literatura é utilizada como arma de ação política e social mediante romances (........) e poesia (.......).”

(1) Modernismo

(2) Realismo

(3) Romantismo

( 4 ) a idealização

( 5 ) a revolução

( 6 ) a democratização

( 7 ) os símbolos cristãos

( 8 ) a mitologia clássica

( 9 ) o escapismo

(10) indianista(s)

(11) regionalista(s)

(12) de teses sociais e de costumes

(13) saudosista(s)

(14) reformista(s)

(15) revolucionári(o)(a)

3 - 6 - 8 - 12 - 15. a)

2 - 5 - 7 - 10 - 14.b)

3 - 5 - 7 - 11 - 9. c)

1 - 6 - 4 - 11 - 13.d)

1 - 4 - 8 - 13 - 10.e)

(Cesgranrio) A S. PAULO4.

Terra da liberdade!1

Pátria de heróis e berço de guerreiros,2

Tu és o louro mais brilhante e puro,3

O mais belo florão dos Brasileiros!4

Foi no teu solo, em borbotões de sangue5

Que a fronte ergueram destemidos bravos,6

Gritando altivos ao quebrar dos ferros:7

Antes a morte que um viver de escravos!8

Foi nos teus campos de mimosas flores,9

À voz das aves, ao soprar do norte,10

Que um rei potente às multidões curvadas11

Bradou soberbo - Independência ou morte!12

Foi de teu seio que surgiu, sublime,13

Trindade eterna de heroísmo e glória,14

Cujas estátuas, - cada vez mais belas,15

Dormem nos templos da Brasília história!16

Eu te saúdo, ó majestosa plaga,17

Filha dileta, - estrela da nação,18

Que em brios santos carregaste os cílios19

À voz cruenta de feroz Bretão!20

Pejaste os ares de sagrados cantos,21

Ergueste os braços e sorriste à guerra,22

Mostrando ousada ao murmurar das turbas23

Bandeira imensa da Cabrália terra!24

Eia! - Caminha o Partenon da glória25

Te guarda o louro que premia os bravos!26

Voa ao combate repetindo a lenda:27

- Morrer mil vezes que viver escravos!28

(VARELA, Fagundes. O estandarte auriverde. ln:

___. Poesias Completas. São Paulo: Saraiva,

1956. p. 85-86.)

Tendo em vista o texto, assinale a opção com duas

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características do Romantismo presentes no poema:

entendimento racional do mundo / adjetivação a) abundante.

polarização entre o Bem e o Mal / rigidez métrica.b)

exaltação do heroísmo / musicalidade acentuada.c)

assimilação do ideário liberal / valorização da sim-d) plicidade do povo brasileiro.

temática de fundo histórico / presença da cor lo-e) cal.

(Fuvest) “A identificação da natureza com o sofrimento 5. humano, a tragédia perene do amante rejeitado, o jovem andarilho condenado à vida errante em sua curta eter-nidade, a solidão do artista. E, enfim, a resignação e a reconciliação – ressentidas um pouco, por certo.”

O texto acima enumera preferências temáticas e concepções existenciais dos poetas:

barrocos.a)

arcádicos.b)

românticos.c)

simbolistas.d)

parnasianos.e)

(Fuvest) Tomadas em conjunto, as obras de Gonçalves 6. Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves demonstram que, no Brasil, a poesia romântica:

pouco deveu às literaturas estrangeiras, consolidan-a) do de forma homogênea a inclinação sentimental e o anseio nacionalista dos escritores da época.

repercutiu, com efeitos locais, diferentes valores e b) tonalidades da literatura europeia: a dignidade do homem natural, a exacerbação das paixões e a crença em lutas libertárias.

constituiu um painel de estilos diversificados, cada c) um dos poetas criando livremente sua linguagem, mas preocupados todos com a afirmação dos ide-ais abolicionistas e republicanos.

refletiu as tendências ao intimismo e à morbidez de d) alguns poetas europeus, evitando ocupar-se com temas sociais e históricos, tidos como prosaicos.

cultuou sobretudo o satanismo, inspirado no poeta e) inglês Byron, e a memória nostálgica das civiliza-ções da Antiguidade clássica, representadas por suas ruínas.

(Mackenzie) Sobre o Romantismo no Brasil, é 7. incorreto afirmar que:

já se verificam traços condoreiros na obra de Fa-a) gundes Varela, embora tal tendência apresente seu ponto mais alto na poesia de Castro Alves.

Suspiros Poéticos e Saudadesb) , de Gonçalves de Magalhães, é considerado seu marco inicial.

o indianismo se verificou tanto em prosa como em c) verso.

os poetas ultrarromânticos como Casimiro de d) Abreu e Álvares de Azevedo pertencem à segunda geração.

José de Alencar, seu maior prosador, dedicou-se e) exclusivamente a romances indianistas e urbanos.

(Unesp) Identifique os movimentos literários a que 8. pertencem as seguintes estrofes, na ordem em que elas se apresentam.

“A praça! A praça é do povoI.

Como o céu é do condor

E o antro onde a liberdade

Cria águias em seu calor.”

“Vozes veladas, veludosas vozes,II.

Volúpia dos violões, vozes veladas,

Vagam nos velhos vórtices velozes

Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”

“Anjo no nome, Angélica na cara!III.

Isso é ser flor, e Anjo juntamente:

Ser Angélica flor, e Anjo florente,

Em quem, senão em vós, se uniformara:”

“Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro,IV.

Fui honrado Pastor da tua aldeia;

Vestia finas lãs, e tinha sempre

A minha choça do preciso cheia.

Tiraram-me o casal, e manso gado,

Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.”

“Torce, aprimora, alteia, limaV.

A frase, e enfim,

No verso de ouro engasta a rima,

Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,

Dobrada ao jeito

Do ourives, saia da oficina

Sem um defeito.”

Romantismo, Simbolismo, Barroco, Arcadismo e a) Parnasianismo.

Modernismo, Parnasianismo, Barroco, Arcadismo e b) Romantismo.

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Romantismo, Modernismo, Arcadismo, Barroco e c) Simbolismo.

Simbolismo, Modernismo, Arcadismo, Parnasianis-d) mo e Barroco.

Modernismo, Simbolismo, Barroco, Parnasianismo e) e Arcadismo.

(FAAP) 9.

Ó tu que vens de longe, ó tu que vens cansada,

entra, e sob este teto encontrarás carinho:

Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho.

Vives sozinha sempre e nunca foste amada.

A neve anda a branquear lividamente a estrada,

e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.

Entra, ao menos até que as curvas do caminho

se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã quando a luz do sol dourar radiosa

essa estrada sem fim, deserta, horrenda e nua,

podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:

Há de ficar comigo uma saudade tua...

Hás de levar contigo uma saudade minha...

(Alceu Wamosy)

Já se disse que o poema é do Simbolismo. Contudo, se você tivesse que enquadrá-lo em outra escola, optaria pelo:

Renascimento.a)

Arcadismo.b)

Romantismo.c)

Realismo.d)

Futurismo.e)

(ITA)10.

“Descansem o meu leito solitário

Na floresta dos homens esquecida.

À sombra de uma cruz, e escrevam nela:

- Foi poeta - sonhou - e amou na vida. “

O excerto acima é de autoria de........ , importante poeta do ultrarromantismo brasileiro, autor de.........

Casimiro de Abreu - Primaverasa)

Álvares de Azevedo - Lira dos Vinte Anosb)

Fagundes Varela - Contos e Fantasiasc)

Gonçalves Dias - Últimos Contosd)

Castro Alves - Espumas Flutuantese)

(Unesp) LEITO DE FOLHAS VERDES11.

Por que tardas, Jatir, que tanto a custo

À voz do meu amor moves teus passos?

Da noite a viração, movendo as folhas,

Já nos cimos do bosque rumoreja.

E sob a copa da mangueira altiva

Nosso leito gentil cobri zelosa

Com mimoso tapiz de folhas brandas,

Onde o frouxo luar brinca entre flores.

Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,

Já solta o bogari mais doce aroma!

Como prece de amor, como estas preces,

No silêncio da noite o bosque exala.

Brilha a lua no céu, brilham estrelas,

Correm perfumes no correr da brisa,

A cujo influxo mágico respira-se

Um quebranto de amor, melhor que a vida!

A flor que desabrocha ao romper d’alva

Um só giro do sol, não mais, vegeta:

Eu sou aquela flor que espero ainda

Doce raio do sol que me dê vida.

Sejam vales ou montes, lago ou terra,

Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,

Vai seguindo após ti meu pensamento;

Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!

Meus olhos outros olhos nunca viram,

Não sentiram meus lábios outros lábios,

Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas

A arazoia na cinta me apertaram.

Do tamarindo a flor jaz entreaberta,

Já solta o bogari mais doce aroma;

Também meu coração, como estas flores,

Melhor perfume ao pé da noite exala!

Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes

À voz do meu amor, que em vão te chama!

Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil

A brisa da manhã sacuda as folhas!

(DIAS, Gonçalves. Obras Poéticas, II, p. 17.)

VOCABULÁRIO

arazoia - variante de araçoia, saiote de penas usado pelas mulheres indígenas.

bogari - arbusto, trepador, cultivado em jardins, que

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apresenta flores alvas, de perfume penetrante.

tapiz - tapete.

viração - vento brando e fresco, aragem, brisa.

Baseando-se nos temas presentes no poema de Gonçalves Dias, bem como nos recursos estilísticos usados para expressá-los, situe o texto em um movimento literário e justifique sua resposta.

(UFV) Fazendo um paralelo entre Romantismo e Mo-12. dernismo, assinale a alternativa falsa:

autores românticos e modernistas expressam a a) realidade por meio dos sentimentos, enfatizando a idealização da natureza brasileira.

autores românticos como José de Alencar e alguns b) modernistas denominados verde-amarelistas, como Cassiano Ricardo, preocupados com a identidade cultural brasileira, procuram criar a imagem de uma raça brasileira heroica.

escritores românticos e modernistas demonstram c) consciência da necessidade de se criar uma litera-tura que traduza a realidade brasileira.

escritores românticos e modernistas utilizam o in-d) dianismo como elemento definidor da nacionalida-de brasileira.

românticos e modernistas reaproveitam lendas e e) mitos da cultura popular brasileira.

(Unesp) Baseando-se na leitura do texto de Álvares de 13. Azevedo, assinale a única alternativa incorreta.

“Junto a meu leito, com as mãos unidas,

Olhos fitos no céu, cabelos soltos,

Pálida sombra de mulher formosa

Entre nuvens azuis pranteia orando.

É um retrato talvez. Naquele seio

Porventura sonhei doiradas noites.

Talvez sonhando desatei sorrindo

Alguma vez nos ombros perfumados

Esses cabelos negros, e em delíquio

Nos lábios dela suspirei tremendo.

Foi-se minha visão. E resta agora

Aquela vaga sombra na parede

- Fantasma de carvão e pó cerúleo,

Tão vaga, tão extinta e fumarenta

Como de um sonho o recordar incerto.”

(AZEVEDO, Álvares de. VI Parte de Ideias Íntimas. In: CÂNDIDO, A.;

CASTELLO, J. A. Presença da Literatura Brasileira. São Paulo, Difu-

são Europeia do Livro, 1968. v 2, p. 26.)

Considerando os aspectos temáticos e formais do a) poema, pode-se vinculá-lo ao segundo momento

do movimento romântico brasileiro, também conhe-cido como “geração do spleen” ou “mal do século”.

A presença da mulher amada torna-se o ponto b) central do poema. Isso é claramente manifestado pelas recordações do “eu lírico”, marcado por um passado vivido, que sempre volta em imagens e sonhos.

O texto reflete um articulado jogo entre o plano do c) imaginário e o plano real. Um dos elementos, entre outros, que articula essa construção é a alternância dos tempos verbais presente/passado.

Realidade e fantasia tornam-se a única realidade no d) espaço da poesia lírica romântica gênero privilegia-do dentro desse movimento.

Apesar de utilizar decassílado, esse poema possui e) o andamento próximo ao da prosa. Esse aspecto formal é importante para intensificar certo prosaís-mo intimista da poesia romântica.

(Mackenzie) Assinale a alternativa em que aparece 14. um trecho de poema com claras características con-doreiras.

“Auriverde pendão de minha terra,a)

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra,

E as promessas divinas da esperança...”

“Oh! ter vinte anos sem gozar de leveb)

A ventura de uma alma de donzela!

E sem na vida ter sentido nunca

Na suave atração de um róseo corpo

Meus olhos turvos se fechar de gozo”

“Coração, por que tremes? Vejo a morte,c)

Ali vem lazarenta e desdentada...

Que noiva!... E devo então dormir com ela?...

Se ela ao menos dormisse mascarada!...”

“Era a virgem do mar! na escuma friad)

Pela maré das águas embaladas!

Era um anjo entre nuvens d’alvorada

Que em sonhos se banhava e se esquecia!”

“Minha terra tem macieiras da Califórniae)

Onde cantam gaturamos de Veneza

Os poetas da minha terra

são pretos que vivem em torres de ametista,

os sargentos do exército são monistas, cubistas,

os filósofos são polacos vendendo a prestações.”

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Os textos abaixo referem-se às questões 15 e 16.

(Unesp)

Primeiro texto:

Autorretrato

Juca Chaves

Simpático, romântico, solteiro,

autodidata, poeta, socialista.

Da classe 38, reservista,

de outubro, 22, Rio de Janeiro.

Com a bossa de qualquer bom brasileiro,

possuo o sangue quente de um artista,

Sou milionário em senso de humorista,

mas juro que estou duro e sem dinheiro.

Há quem me julgue um poeta irreverente,

mentira, é reação da burguesia,

que não vive, vegeta falsamente,

num mundo de doente hipocrisia.

Mas o meu mundo é belo e diferente:

vivo do amor ou vivo de poesia...

E assim eu viverei eternamente,

se não morrer por outra Ana Maria.

(1962, disco RGE.) In: História da Música Popular Brasileira, fascí-

culo número 41, São Paulo, Abril Cultural, 1971.)

Segundo texto:

Retrato Próprio (Soneto LXXXI)

Bocage

Magro, de olhos azuis, carão moreno,

bem servido de pés, meão na altura,

triste de facha, o mesmo de figura,

nariz alto no meio, e não pequeno:

Incapaz de assistir num só terreno,

mais propenso ao furor do que à ternura

bebendo em níveas mãos por taça escura

de zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades

(digo, de moças mil) num só momento,

e somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;

saíram dele mesmo estas verdades

num dia em que se achou mais pachorrento.

(In: Obras de Bocage. Porto: Lello & Irmão, 1968, p. 497.)

Os dois textos pertencem a artistas bastante afastados entre si, no tempo. Trata-se de Bocage (Manuel Maria Barbosa du Bocage – 1765-1805), poeta neoclássico português, e Juca Chaves (Jurandyr Chaves – 1938), compositor, intérprete e showman brasileiro. Ambos líricos e sentimentalistas, muitas vezes são ásperos em críticas e sátiras sociais. Lendo-se os poemas (o de Juca é letra de uma de suas canções), verificamos que apresentam pontos em comum, embora sejam inconfundíveis pelo estilo e atitudes.

Juca Chaves afirma-se “romântico”. Releia o poema e, a seguir, responda:

Que características do romantismo literário podem ser 15. notadas na última estrofe de “Autorretrato”?

Justifique sua resposta com base na análise e interpre-16. tação dessa estrofe.

O texto abaixo refere-se às questões 17 e 18.

(Unesp) “Seja qual for o lugar em que se ache o poeta, ou apunhalado pelas dores, ou ao lado de sua bela, embalado pelos prazeres; no cárcere, como no palácio; na paz, como sobre o campo de batalha; se ele é verdadeiro poeta, jamais deve esquecer-se de sua missão, e acha sempre o segredo de encantar os sentidos, vibrar as cordas do coração, e elevar o pensamento nas asas da harmonia até as ideias arquétipas.”

O trecho foi extraído da “Advertência” ao leitor feita por 17. Domingos José Gonçalves de Magalhães nas páginas iniciais de seu livro Suspiros Poéticos e Saudades. O que representa essa obra na História da Literatura Brasileira?

A leitura do trecho citado nos permite identificar o 18. período literário a que pertence a obra. Comente duas passagens desse trecho que revelem características da literatura do período em questão.

(PUC Minas)

O texto a seguir refere-se às questões 19 e 20.

Oh! Que saudades que eu tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida,

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!

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[...]

Assinale o dado linguístico que liga o trecho ao estilo 19. romântico.

Pontuação expressiva.a)

Predominância de adjetivos.b)

Elementos sofisticados para cenário.c)

Verbos para exaltação do tempo presente.d)

Pronomes possessivos garantem o egocentrismo.e)

Todas as alternativas apresentam características român-20. ticas do texto, exceto:

o “eu lírico” foge da realidade presente para um a) passado idealizado.

o eu poético expressa suas emoções.b)

o autor dissocia os aspectos formais dos emocio-c) nais.

a voz poética revela-se saudosista.d)

o autor apresenta elementos de brasilidade.e)

(UFRJ)21.

Minha Musa

1.

Minha musa é a lembrança

Dos sonhos que eu vivi,

É de uns lábios a esperança

E a saudade que eu nutri!

É a crença que alentei,

As luas belas que amei,

E os olhos por quem morri!

2.

Os meus cantos de saudade

São amores que eu chorei:

São lírios da mocidade

Que murcham porque te amei!

As minhas notas ardentes

São as lágrimas dementes

Que em teu seio derramei!

3.

Do meu outono os desfolhos,

Os astros do teu verão,

A languidez de teus olhos

Inspiram minha canção.

Sou poeta porque és bela,

Tenho em teus olhos, donzela,

A musa do coração!

4.

Se na lira voluptuosa

Entre as fibras que estalei

Um dia atei uma rosa

Cujo aroma respirei...

Foi nas noites de ventura,

Quando em tua formosura

Meus lábios embriaguei!

5.

E se tu queres, donzela,

Sentir minh’alma vibrar

Solta essa trança tão bela

Quero nela suspirar!

Descansa-me no teu seio

Ouvirás no devaneio

A minha lira cantar!

(AZEVEDO, Álvares. Obras Completas. Homero Pires. (Org.) 8. ed. São

Paulo: Companhia Editora Nacional, 1942.)

Na literatura romântica, o homem coloca-se, com frequência, numa posição simulada de vassalo, a cortejar e a adorar passivamente sua senhora, figura em geral idealizada.

Que função sintática revela esse posicionamento da figura masculina, no verso “Descansa-me no teu seio” (última estrofe)? Justifique sua resposta.

(Fuvest) 22.

“Ah! enquanto os destinos impiedososI.

Não voltam contra nós a face irada,

Façamos, sim façamos, doce amada,

Os nossos breves dias mais ditosos.”

“É a vaidade, Fábio, nesta vida,II.

Rosa, que da manhã lisonjeada

Púrpuras mil, com ambição dourada,

Airosa rompe, arrasta presumida.”

“E quando, eu durmo, e o coração aindaIII.

Procura na ilusão tua lembrança,

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Anjo da vida, passa nos meus sonhos

E meus lábios orvalha de esperança!”

Associe os trechos anteriores com os respectivos movimentos literários, cujas características estão enunciadas a seguir.

Romantismo: evasão e devaneio na realização de um erotismo difuso.

Arcadismo: aproveitamento do momento presente (carpe diem).

Barroco: efemeridade da beleza física, brevidade enganosa da vida.

I - Romantismo; II - Arcadismo; III - Barroco.a)

I - Barroco; II - Arcadismo; III - Romantismo.b)

I - Arcadismo; II - Romantismo; III - Barroco.c)

I - Arcadismo; II - Barroco; III - Romantismo.d)

I - Barroco; II - Arcadismo; III - Romantismo.e)

(UEL) O romance é um gênero literário que veio a se 1. desenvolver no século ....., retratando sobretudo .....; era muito comum publicar-se em partes, nos jornais, na forma de ..... .

Preenchem corretamente as lacunas do texto acima, pela ordem:

XVII – a alta aristocracia – conto.a)

XVIII – o mundo burguês – folhetim.b)

XVIII – o mundo burguês – crônica.c)

XIX – o mundo burguês – folhetim.d)

XIX – a alta aristocracia – crônica.e)

Instrução: O texto abaixo refere-se às questões 2 e 3.

CARTA DE FABRÍCIO A AUGUSTO

(fragmento)

Ah! maldito crioulo... estava-lhe a todo dizendo o para que servia!... Pinta na tua imaginação. Augusto, um crioulo de 16 anos, todo vestido de branco com uma cara mais negra e mais lustrosa do que um gotim envernizado, tendo, além disso, dois olho belos, grande, vivíssimos e cuja esclerótica era branca como o papel em que te escrevo, com lábios grossos e de nácar, ocultando duas ordens de finos e claros dentes, que fariam invejar a uma baiana; dá-lhe a ligeireza, a inquietação e rapidez de movimentos de um macaco e terás feito ideia desse diabo de azeviche, que se chama Tobias.

Não me foi preciso chamá-lo: bastou um movimento de olhos para que o Tobias viesse a mim, rindo-se desavergonhadamente. Levei-o para um canto.

- Tu pertences àquelas senhoras que estão no camarote, a cuja porta te encostavas?... perguntei.

- Sim, senhor, me respondeu ele, e elas moram na rua de... n... ao lado esquerdo de quem vai para cima.

- E quem são?...

- São duas filhas de uma senhora viúva, que também aí está, e que se chama a Ilma. sra. d. Luiza. O meu defunto senhor era negociante e o pai de minha senhora é padre.

- Como se chama a senhora que está vestida de branco?

- A sra. d. Joana... tem 17 anos, e morre por casar.

- Quem te disse isso?...

- Pelos olhos se conhece quem tem lombrigas, meu senhor!...

- Como te chamas?

- Tobias, escravo de meu senhor, crioulo de qualidade, fiel como um cão e vivo como um gato.

O maldito do crioulo era um clássico a falar português. Eu continuei:

- Hás de me levar um recado à sra. d. Joana.

- Pronto, lesto e agudo, respondeu-me o moleque.

- Pois toma sentido.

- Não precisa dizer duas vezes.

- Ouve. Das duas uma: ou poderás falar com ela hoje, ou só amanhã...

- Hoje... agora mesmo. Nestas coisas Tobias não cochila: com licença de meu senhor, eu cá sou doutor nisto; meus parceiros me chamam orelha de cesto, pé de coelho e boca de taramela. Vá dizendo o que quiser, que em menos de 10 minutos minha senhora saberá tudo: o recado de meu senhor é uma carambola que, batendo no meu ouvido vai logo bater no da senhora d. Joaninha.

- Pois dize-lhe que o moço que se sentar na última cadeira da 4.ª coluna da superior, que assoar-se com um lenço de seda verde, quando ela para ele olhar, se acha loucamente apaixonado de sua beleza etc., etc., etc.

- Sim, senhor, eu já sei o que se diz nessas ocasiões: o discurso fica por minha conta.

- E amanhã, ao anoitecer, espera-me na porta de tua casa.

- Pronto, lesto e agudo, repetiu de novo o crioulo.

- Eu recompensar-te-ei, se fores fiel.

- Mais pronto, mais lesto e mais agudo!

- Por agora toma estes cobres.

- Oh, meu senhor! prontíssimo, lest íssimo e agudíssimo.

(MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. 5. ed.

São Paulo: Ática, 1973. p. 18-19.)

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No fragmento que lhe apresentamos, Joaquim Manuel de Macedo transfere ao personagem Fabrício a visão racista e o preconceito de cor vigente na sociedade brasileira de sua época. Nessa linha depreciativa, são várias as caracterizações que definem Tobias em sua figura e personalidade. Releia o texto, e

Explique como se dão as características de figura e 2. personalidade do jovem escravo;

Justifique sua resposta, apontando pelo menos um 3. exemplo de cada caso.

(UFSM) Joaquim Manuel de Macedo não só escreveu 4. romances, mas também algumas peças de teatro, entre elas “Romance de uma velha”. Nessa peça, uma perso-nagem chamada D. Violante afirma:

“Minha sobrinha, agora não há mais amor, há cálculo; não há mais amantes, há calculistas; não há mais amadas, há calculadas”.

Percebe-se que D. Violante considera o amor equivalente a negócios. Essa relação amor / negócios pode ser identificada em Senhora, de José de Alencar, se for(em) observado(s)

os títulos das quatro partes do romance: “O preço”, I. “Quitação”, “Posse” e “Resgate”.

que Aurélia utiliza-se de dinheiro para comprar um II. marido e que o dinheiro é a causa da separação entre Aurélia e Seixas.

que Aurélia propõe-se a casar com Seixas median-III. te recebimento de dote, mas ele não consegue le-vantar o dinheiro e fica preso a essa dívida até o fim do romance.

Está(ão) correta(s):

apenas I.a)

apenas II.b)

apenas I e II.c)

apenas I e III.d)

apenas II e III.e)

(UFC) O espírito crítico e brincalhão, visível na narrativa 5. de A Luneta Mágica, é também uma das características mais fortes de:

“Helena”.a)

“Beira-sol”.b)

“Dôra, Doralina”.c)

“Os Verdes Abutres da Colina”.d)

“Memórias de um Sargento de Milícias”.e)

(UFC) Analise as declarações sobre o Romantismo no 6. Brasil.

O público leitor romântico se constituiu basicamen-I.

te de mulheres e estudantes.

Com a popularização do romance romântico, obras II. passaram a ser escritas para o consumo.

O romance romântico veio atender uma necessida-III. de de um público predominantemente rural.

Apenas I é verdadeira.a)

Apenas II é verdadeira.b)

Apenas III é verdadeira.c)

Apenas I e II são verdadeiras.d)

I, II e III são verdadeiras.e)

(UFRGS) Considere as afirmações abaixo, referen-7. tes ao romance romântico no Brasil.

A MoreninhaI. , de Joaquim Manuel de Macedo, in-sere-se na linha primitivista da corrente romântica, em que as personagens vivem em contato constan-te com a natureza.

Uma das fontes de inspiração do romance II. Memó-rias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, é a novela picaresca espanhola.

A heroína de III. A Escrava Isaura, de Bernardo Guima-rães, é mestiça; porém, na sua apresentação inicial, são destacadas sua tez clara “como marfim” e sua beleza “branca”.

Quais estão corretas?

Apenas I.a)

Apenas II.b)

Apenas I e II.c)

Apenas II e III.d)

I, II e III.e)

(UFC) Assinale a alternativa correta quanto às as-8. sertivas sobre Joaquim Manoel de Macedo.

O escritor iniciou sua carreira literária, quando o I. movimento romântico já sofria declínio.

Macedo primou pela originalidade e fez de cada II. romance seu uma obra que não lembrava as an-teriores.

O romancista aliou a observação da realidade e a III. espontaneidade inventiva ao representar a vida so-cial de sua época.

Apenas I é verdadeira.a)

Apenas II é verdadeira.b)

Apenas III é verdadeira.c)

Apenas I e II são verdadeiras.d)

Apenas II e III são verdadeiras.e)

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(UFPR) Sobre o romance 9. Senhora, de José de Alencar, é correto afirmar.

01) Ambientado no Rio de Janeiro do Segundo Império, trata-se de caso de exceção na ficção do autor, uma vez que o restante de sua obra romanesca é dedicado à reelaboração das origens históricas do país ou à apresentação romântica de cenários regionais.

02) Heroína romântica, Aurélia recusa-se a utilizar-se do dinheiro para alcançar seus objetivos, servindo como porta-voz direta das críticas do autor aos valores burgueses.

04) Em sua trajetória ao longo da narrativa, Fernando passa por uma transformação que o redime de suas atitudes iniciais, oferecendo condições para um desfecho feliz ao lado de Aurélia.

08) Escrito na forma de um relato de memórias da protagonista, o romance apresenta os fatos do enredo em ordem cronológica, iniciando-se a narrativa com as recordações da infância de Aurélia.

16) Até o final do romance, o autor consegue sustentar a atenção dos leitores, ocultando habilmente as razões que levaram ao desentendimento entre os protagonistas.

32) A escassez de detalhes descritivos e a incorporação de elementos da cultura popular são algumas das características fundamentais do estilo de Alencar, o que o opõe aos autores da geração literária que sucedeu à sua.

64) A transação que resulta no vínculo entre Aurélia e Fernando acaba por permitir que outro casal, ligado por laços afetivos sinceros, mas dividido por razões econômicas, possa encontrar sua felicidade.

Soma ( )a)

(UFSM) Assinale a alternativa 10. incorreta a respeito da ficção urbana de José de Alencar.

Os relatos oscilam entre a armação folhetinesca e a a) percepção da realidade brasileira.

No enredo de b) Senhora, o sentimento amoroso sem-pre é mais forte que o interesse financeiro.

Romances como c) Senhora relacionam drama indivi-dual e organismo social.

As personagens frequentemente são donzelas e d) mancebos que participam das rodas da Corte.

Os romances fixam costumes e ações que definem e) uma forma de representar a cidade.

(UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre a 11. obra de José de Alencar.

Em I. Iracema, narram-se as aventuras e desventuras de Martim, português, e Iracema, a indígena dos lábios de mel, casal que simboliza a união dos dois povos nas matas brasileiras inexploradas.

Em II. Senhora, Aurélia herda uma fortuna que a sal-va da pobreza e lhe permite comprar um marido, Seixas, de quem já fora namorada e com quem manterá um casamento perturbado por conflitos e acusações mútuas.

Em III. O Guarani, as aventuras de Peri, bravo guerreiro indígena, são norteadas pela necessidade de servir e proteger a jovem virgem loira Ceci, cuja integri-dade física é ameaçada por malfeitores e indígenas perigosos.

Quais estão corretas?

Apenas I.a)

Apenas III.b)

Apenas I e II.c)

Apenas II e III.d)

I, II e III.e)

(UEL) No romance 12. Iracema, José de Alencar:

desenvolve, na linha mesma do enredo, valores a) éticos e estéticos próprios da sociedade burguesa europeia.

busca fundir num mesmo código as imagens de um b) lirismo romântico e alguns modos de nomeação e construção da língua tupi.

defende a superioridade da cultura indígena sobre c) a europeia, tal como o demonstra o desfecho desse romance idealizante.

faz confluírem o plano lendário e o plano histórico, d) o primeiro representado por Martim, e o segundo, por Iracema.

dispõe-se a desenvolver a história de uma virgem e) que, resistindo ao colonizador, representa o poder da natureza indomável.

(UEL) Nesse romance, o autor atingiu três propósitos 13. de seu projeto de ficcionista:

exaltar as virtudes do “homem natural”;I.

fundir fato histórico e lenda, numa mesma narrativa II. poética;

idealizar o amor que leva à renúncia, ao sacrifício III. e à morte.

O autor e o romance de que trata o fragmento anterior são

Visconde de Taunay e a) Inocência.

Machado de Assis e b) Helena.

José de Alencar e c) Lucíola.

Machado de Assis e d) Iaiá Garcia.

José de Alencar e e) Iracema.

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(UFRGS) Além do romance de que foi retirado o texto, 14. José de Alencar escreveu:

Inocênciaa) , cuja ação se passa no sertão, onde mora Pereira, que divide as mulheres entre prostitutas e “famílias”, estas as filhas e esposas mantidas isola-das em casa, pois, se vissem homem que não o pai ou marido, fatalmente se igualariam às prostitutas devido a sua condição de fêmeas, por definição depravadas.

O Seminaristab) , romance passional que discute a instituição do celibato clerical: o Padre Eugênio, re-tornando à cidade natal, sente reacender-se uma antiga paixão; apesar de tentar resistir, acaba por cair em tentação, e a quebra do voto de castidade o leva à loucura.

A Moreninhac) , narrativa de intriga simples e temáti-ca mundana, em que os sentimentos e motivações jamais adquirem profundidades impróprias para a conversação em sociedade na presença de moci-nhas e senhoras respeitáveis.

Ubirajarad) , um de seus romances voltados para a recriação do passado do Brasil, narrando os feitos heroicos de um índio capaz de permanecer impas-sível enquanto formigas saúvas lhe devoram a mão, numa das provas a que se submete para fazer jus à mão de sua pretendida.

Memórias de um Sargento de Milíciase) , que apresen-ta o quotidiano da “arraia-miúda” do Rio de Janeiro, composta de personagens permanentemente em luta pela satisfação das necessidades humanas mais elementares e sempre ávidos de gozar os mo-mentos de sorte favorável.

(Mackenzie) “...com a morte do avô, Aurélia recebe 15. inesperadamente uma grande herança e torna-se muito rica da noite para o dia. Movida pelo despeito, resolve tentar comprar seu ex-noivo; está disposta, no entan-to, a confessar-lhe que ainda o ama e o quer, se ele mostrar dignidade, recusando a proposta degradante. Ela incumbe seu tutor, Lemos, de propor a Fernando, através de negociações secretas, o casamento com uma rica jovem, que poderia oferecer-lhe um dote; em troca, exige que ele assine um contrato aceitando a condição de vir a conhecer a noiva apenas alguns dias antes do casamento.”

As informações anteriores referem-se a importante obra da prosa romântica brasileira.

Assinale a alternativa em que aparece o nome da mesma.

A Moreninhaa) .

Inocênciab) .

Memórias de um Sargento de Milíciasc) .

Senhora.d)

Cinco Minutose) .

(Mackenzie) O romance regionalista brasileiro teve 16. importância fundamental em nossa literatura. Desde o Romantismo, deu ao País uma visão de si mesmo, valorizando as diferenças que ainda hoje marcam as regiões do Brasil.

Assinale a alternativa em que aparece o nome de um romancista que não desenvolveu tal tendência.

Graciliano Ramos.a)

José de Alencar.b)

Manuel Antônio de Almeida.c)

Visconde de Taunay.d)

Erico Verissimo.e)

(Unesp) Leia, atentamente, o texto de Antônio Cândido 17. e assinale a alternativa que julgar incorreta.

“Na literatura brasileira, há dois momentos decisivos que mudam os rumos e vitalizam toda a inteligência: o Romantismo, no século XIX (1836-1870) e o ainda chamado Modernismo, no presente século (1922-1945). Ambos representam fases culminantes de particularismo literário na dialética do local e do cosmopolita; ambos se inspiram, não obstante, no exemplo europeu. Mas, enquanto o primeiro procura superar a influência portuguesa e afirmar contra ela a peculiaridade literária do Brasil, o segundo já desconhece Portugal, pura e simplesmente: o diálogo perdera o mordente e não ia além da conversa de salão. Um fato capital se torna deste modo claro na história da nossa cultura; a velha mãe pátria deixara de existir para nós como termo a ser enfrentado e superado. O particularismo se afirma agora contra todo academismo, inclusive o de casa, que se consolidara no primeiro quartel do século XX, quando chegaram ao máximo o amaciamento do diálogo e a consequente atenuação da rebeldia.”

(CÂNDIDO, A. Literatura e Sociedade. São Paulo:

Ed. Nacional, 1975. p. 112.)

Na dialética do local e do cosmopolita, o Romantis-a) mo e o Modernismo são os movimentos da história literária brasileira que mais enfatizaram a expressão dos dados locais.

Embora decisivos, tanto o Romantismo quanto o b) Modernismo inspiraram-se no exemplo europeu.

Uma diferença marcante entre o Romantismo e o c) Modernismo brasileiro é que, ao procurar afirmar a peculiaridade literária do Brasil o Romantismo des-conhece Portugal, enquanto o Modernismo retoma o velho diálogo.

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O Modernismo marca uma ruptura fundamental na d) história da nossa cultura: a velha mãe pátria deixa de existir para nós como termo a ser enfrentado e superado.

O particularismo romântico diferencia-se do Mo-e) dernismo porque esse movimento se volta princi-palmente contra o academicismo que se manifesta-va em nossa literatura.

(Elite) Assinale o item que contém características do 18. Romance Sertanista.

Objetivismo, bucolismo, sentimentalismo.a)

Subjetivismo, nacionalismo, pastoralismo.b)

Gosto pelo exótico, nacionalismo, culto ao contras-c) te.

Conceptismo, liberdade de formas, cultismo.d)

Nacionalismo, valorização natureza, gosto pelo e) exótico.

(ITA) Assinale a opção correta com relação à obra 19. Me-mórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.

O livro trata da história de um amor impossível pas-a) sada no século XIX.

A história é contada numa linguagem popular da b) mesma maneira como foram escritas outras obras da época.

O livro trata das peripécias do protagonista, perso-c) nagem cômico, pobre e sem nobreza de caráter.

A história se passa num ambiente rural, tal como a d) história de O Sertanejo, de José de Alencar.

A história é contada numa linguagem que segue os e) padrões clássicos da época.

(PUC-SP) Das alternativas abaixo, indique a que 20. contraria as características mais significativas do ro-mance Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.

Romance de costumes que descreve a vida da co-a) letividade urbana do Rio de Janeiro, na época de D. João VI.

Narrativa de malandragem, já que Leonardo, perso-b) nagem principal, encarna o tipo do malandro amo-ral que vive o presente, sem qualquer preocupação com o futuro.

Livro que se liga aos romances de aventura, marca-c) do por intenção crítica contra a hipocrisia, a venali-dade, a injustiça e a corrupção social.

Obra considerada de transição para um novo estilo d) de época, ou seja, o Realismo/Naturalismo.

Romance histórico que pretende narrar fatos de to-e) nalidade heroica da vida brasileira, como os vividos pelo Major Vidigal, ambientados no tempo do rei.

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E1.

C2.

A3.

C4.

C5.

B6.

E7.

A8.

C9.

B10.

Romantismo, pelo tema amoroso e indianista. Também 11. pelo sentimentalismo expresso pelas exclamações.

A 12.

B13.

A14.

A preferência pelo mundo de sentimento e fantasia, e a 15. ideia de morte por amor.

O tom geral do poema é irônico, fazendo com que o 16. romantismo da estrofe seja pautado pela ironia.

É considerada a obra iniciadora do Romantismo no 17. Brasil.

“encantar os sentidos, vibrar as cordas do coração”: 18. sentimentalismo, valorização da emoção.

“elevar o pensamento nas asas da harmonia”: idealização.

A 19.

C20.

O eu lírico revela sua passividade ao colocar-se sintati-21. camente como objeto direto de descansar, sofrendo o efeito da ação desencadeada por sua amada.

D22.

D1.

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A descrição de escravo é feita por contrastes de preto 2. e branco. Quanto à sua personalidade, era ligeiro, de-savergonhado, interesseiro e matreiro.

Descrição: “todo vestido de branco com uma cara mais 3. negra e mais lustrosa”.

Personalidade: “diabo de azeviche”.

C 4.

E5.

D6.

D7.

C8.

F, F, V, F, F, F, V. Soma = 68.9.

B10.

E11.

B12.

E13.

D14.

D15.

C16.

C17.

E18.

C19.

E20.

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