sumÁrio 3 4 9 · rev. unifa, rio de janeiro, 15 (17): dez 2002 instrução de sobrevivência na...

95

Upload: others

Post on 27-Jun-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento
Page 2: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

1

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Superioridade Espacial, Eletrônica eAérea - vitais na moderna guerraaérea

Cel.-Av. R/R Vicente Cavaliere

Ensino a Distância no Curso de Comando eEstado-Maior da Aeronáutica - uma novavisão

Maj.-Av. Adrian Nicolaiev Pereira dos Santos

Programa Interdisciplinar de Ensino -desenvolvendo lideranças no cursopreparatório de cadetes do ar

Cap.-QFO.-Ped. Denise Maria Belloni Medeiros

Implantação da Bomba guiada a Laser -a correta preparação

Maj.-Av. Ricardo César Mangrich

Ciência e Tecnologia no Âmbito doMinistério da Defesa (MD) - um novomodelo

Ten.-Cel.-Eng. Silvino Luiz Carvalheiro da Silva

Nova Tecnologia para Vigilância Patrimonialda Amazônia

Ten.-Cel.-Eng. Antonio José Rocha Luzardo

3

4

9

20

25

34

41

48

SUMÁRIO

1-2

Editorial

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Centro de Pesquisa Operacional doCOMGAR - modelos matemáticos paraapoio à decisão

Cap.-Av. David Almeida Alcoforado

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Page 3: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

2

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Instrução de Sobrevivência na Selva eno Mar - capacitação operacional

Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte

Treinamento no Solo para Tripulaçõesde Patrulha Marítima - redução decustos e benefícios operacionais

Cap.-Av. Ângelo Damigo Tavares

RDAER - necessidade de adaptação àconstituição federal de 1988

Ten.-Cel.-Av. José Mário Alves de Souza

Comissão Permanente de Habilitação eLicitações - otimização do processolicitatório

Cap.-Int. César Augusto dos Santos Couto

Processo Administrativo Disciplinar deMilitar da Aeronáutica - PADMA

Ten.-Cel.-Int. Hiran Willians de Almeida

53

57

61

69

73

80

88

94

SUMÁRIO

Crianças e Jovens Carentes nas InstituiçõesMilitares, na Época do Brasil Colônia

Cap.-QFO.-Ped. Maria Luiza Cardoso

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

1-2

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O Emprego do Avião na Revolta de PrincesaTen.-Cel.-Int. R/R Alcyr Lintz Geraldo

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Colaboradores

Page 4: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

3

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

EDITORIALCaminho

“ ... Porque são os passos que fazem o caminho! “

Mário Quintana

Na edição anterior, apresentou-se à reflexão dos nossos leitores a idéia de

intensificarmos a divulgação do produto intelectual dos componentes das

Escolas subordinadas à Universidade da Força Aérea e também dos seus

colaboradores, com o propósito maior de, criando espaços aos pensamentos

inovadores, apoiar o aperfeiçoamento dos processos administrativos, o

desenvolvimento dos diversos sistemas, a atualização da doutrina de emprego

e a consolidação do planejamento estratégico de alto nível na Força Aérea

Brasileira.

Formalizando essa concepção, de modo a dar-lhe continuidade, em setembro

de 2002, ao ser atualizado o Programa de Desenvolvimento Profissional

Continuado (PDPC), emitido no ano 2000, nele foi inserido o projeto de se editar

trimestralmente a revista “Gládio Alado”, evolução da “Revista da UNIFA”.

A característica básica da implementação do atual projeto, à semelhança

dos demais que compõem o PDPC, é a gradualidade, condicionada pela

disponibilidade de recursos materiais, humanos e financeiros.

Essa peculiaridade vem sendo observada.

Nos últimos 12 meses, somando ao trabalho da Administração anterior, que

conseguiu os recursos financeiros e iniciou o processo de seleção dos artigos

para a edição do ano 2000, os esforços e o entusiasmo dos atuais

administradores, foram preparados os números correspondentes aos anos de

2000, 2001 e 2002. Essa experiência serviu de laboratório, propiciando o

conhecimento dos parâmetros que deverão ser observados para que as metas

do projeto “Gládio Alado” concretizem-se.

Os primeiros passos foram dados.

Vida longa ao novo caminho!

Page 5: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

4

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Superioridade Espacial,

Eletrônica e Aérea -Vitais na Moderna Guerra AéreaCel.-Av. R/R Vicente Cavaliere

Page 6: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

5

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 20024-8

nossa “Doutrina Básica” preconizaque “... a Força Aérea deverá investirna busca de conhecimentos ade-

quados e oportunos para satisfazer neces-sidades. Tais necessidades revelam-se deforma permanente, em função dos rápidosavanços tecnológicos e da evolução aceleradados contextos políticos e estratégicosmundiais.” (DMA 1-1)1

Seguindo essa orientação, a finalidadedeste artigo é estimular o debate sobre

novas doutrinas e concepções de emprego

da Força Aérea, em virtude das atuaisexigências, decorrentes das conjunturasnacional e internacional e da evolução doPoder Aeroespacial.

“Apesar das profundas mudanças que severificam no contexto internacional, o poder

militar ainda continua como fator de

dissuasão necessário para a resolução de

disputas.

(...) continua presente a possibilidade

de intervenção armada, desta feita, sob a

alegação de razões humanitárias, ameaças

à paz e à segurança, desde que os

interesses das grandes potências estejam

em perigo.”2

Em outros termos, isto significa: a partir

do momento em que o interesse estiver

ameaçado, adeus antigos aliados.

Os “motivos” alegados para justificaruma intervenção podem variar segundo asconveniências. É escolhido aquele quepossibilitará, mais facilmente, a aprovação deum ato de agressão, por parte da opiniãopública do país agressor e da comunidadeinternacional.

Desse modo, apesar de ser um dospressupostos da nossa política externa o Brasildefender a resolução de conflitos internacionaispor meios predominantemente diplomáticos,

uma vez que a constituição preconiza, comreferência às relações internacionais, oprincípio da solução pacífica desses conflitos,o País não estará imune, no futuro, a uma

possível intervenção armada por parte de

uma coalizão de potências militares.

Como já vimos acima, essa intervençãopoderá ser desencadeada por vários motivos,e alguns se encontram presentes em nossoterritório: o narcotráfico, a possível invasãode guerrilheiros das FARC, a questão ambi-ental (queimadas e garimpos ilegais), a reservaIanomâmi, a bacia amazônica (maior reservade água doce do planeta: 14 a 20% do total),a biodiversidade, jazidas de mineraisestratégicos, etc.

Foi por “razões humanitárias” que, em1999, a OTAN desencadeou a operação“Allied Force”, em Kosovo, na Iugoslávia,decidindo-se pelo empre go do PoderAeroespacial. Nessa operação, foi utilizado oque há de mais avançado na guerra aérea, tantoem tecnologia como em concepção deemprego e em doutrinas, exemplificando o“modus operandi” de uma coalizão depotências.

Assim como na Guerra do Golfo, “a

supremacia aérea dos aliados repetiu-se: acombinação arrasadora de AWACS, rea-bastecimento em vôo e caças altamente letais,como o F-15 Eagle e o F-16 Fighting Falcon,baniu dos céus a aviação militar sérvia.”3

É de ressaltar que faziam parte das forçassérvias modernos aviões de combate, taiscomo o MIG-21 e o MIG-29, mísseis SA-2,SA-3, SA-6, SA-7, SA-9, SA-13, SA-14 e SA-16, e 1.850 canhões antiaéreos.

“Na USAF, pela primeira vez, UAV(Unmanned Aerial Vehicles - Veículos AéreosNão-Tripulados) operaram integrados aforças de ataque e forneceram alvos para os

A

(1) BRASIL. Comando da Aeronáutica. DMA 1-1, Doutrina Básica da Força Aérea Brasileira, 1997.(2) PIMENTEL, J. A. “Nuevas Propuestas de Seguridad en Latino America”. Instituto de Investigaciones de Relaciones

Internacionales. Chile, 1994.

(3) ANDRADE, O. M. L.”A Campanha do Kosovo - Testando novas doutrinas.” Revista da UNIFA, nº 15, dez 2000.

Page 7: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

6

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 20024-8

aviões atacantes. Isso demonstra que o papeldesses equipamentos irá crescer, podendochegar, em um futuro próximo, ao empre-go de aeronaves não-tripuladas capazes deexecutar ações armadas.

Através de uma complexa e eficiente redede comunicações, imagens e dados brutoseram enviados do teatro de operações aosórgãos centrais, no território americano, paraprocessamento. Comumente, o tempo re-querido para que a informação fosse enviadado Kosovo até os Estados Unidos, fosseprocessada, analisada e voltasse ao teatro,pronta para uso, era da ordem de dez minutos.

Além disso, foram utilizadas novas armasguiadas por satélite: as JDAM (Joint DirectAttack Munitions - Munições de UsoConjunto para Ataque Direto) e as JSOW (JointStand-Of f Weapons - Armas de UsoConjunto de Lançamento Afastado). Essasbombas recebem as coordenadas precisas doalvo, são lançadas e corrigem sua trajetóriacontinuamente, recebendo dados do sistemaGPS (Global Positioning System - Sistema dePosicionamento Global). Com isso, conse-guem alta precisão, reduzindo a quantidadede armamento e, em conseqüência, deaeronaves necessárias para infligir um deter-minado grau de dano ao objetivo atacado. Aexpansão desse conceito pressupõe, indu-bitavelmente, o domínio da malha de satélitesGPS, o que limita sua utilização às forças ame-

ricanas ou com autorização de seu governo.Na campanha do Kosovo, repetiu-se a

lição extraída da Guerra do Golfo: o Poder

Aeroespacial efetivamente tem capaci-

dade de decidir um conflito. Os objetivospolíticos dos países integrantes da aliança anti-Milosevic foram atingidos apenas através doemprego do Poder Aeroespacial.”4

O Afeganistão foi praticamente arrasadoem virtude de seu governo patrocinar umgrupo de terroristas fanáticos. Desta feita, omotivo foi “ameaças à paz e à segurança”.O mesmo utilizado para justificar a Guerrado Golfo.

O Brasil suportaria um ataque daquelamagnitude?

Considerando o tipo e a amplitude dessesataques, estaria o Brasil em muito melhorescondições de defesa que a Iugoslávia, o Iraqueou o Afeganistão?

Caso as hipóteses de intervenção,aventadas acima, tornem-se realidade, haveráa nosso favor a imensidão do territóriobrasileiro, infinitamente maior que o Kosovo.Se for pretendida uma invasão, ela será,provavelmente, direcionada para o controlede pontos e/ou de áreas estratégicas, pois,mesmo uma superpotência não terá forçasmilitares e poder econômico suficientes parauma invasão total de nosso território.

Em vista do exposto, para enfrentar

essas ameaças; será necessário que o País,

atacado por essa conformidade de forças,

elabore novas estratégias.

Não bastará possuir interceptadores

de última geração, conforme os que serão

adquiridos pelo programa “FX” brasileiro.

Será necessário “cegar” o inimigo,

destruindo seus meios aéreos e terrestres,

seus meios de deteção, de comunicações

e de controle das operações, as aeronaves

“AWACS”, os “UAV” e os satélites de

comunicação e de espionagem militar.

(4) ANDRADE, O. M. L.”A Campanha do Kosovo - Testando novas doutrinas.” Revista da UNIFA, nº 15, dez 2000.

Page 8: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

7

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 20024-8

“Na atualidade, o domínio das táticas edas técnicas de emprego da Guerra Eletrônicarepresenta um fator multiplicador deforças. A capacidade de manipular oespectro eletromagnético de acordo com asnecessidades da Força Aérea tornou-seimprescindível. Ter ou não essa capacitaçãoconstituirá um fator decisivo em qualquerconflito moderno.”5

Para tanto, será necessário que sejamdesenvolvidas novas tecnologias, con-

cepções de emprego e doutrinas, a fim deque, em caso de conflito, sejam obtidas asseguintes “superioridades” , e na seguinteordem de precedência:

- “Superioridade Espacial”6 ;- “Superioridade Eletrônica (ou de

Emissões Eletromagnéticas)”7 ; e- “Superioridade Aérea”.O porquê da necessidade desses três tipos

de superioridades será explicado a seguir.De acordo com a Doutrina Básica da

FAB, “No quadro das OperaçõesAeroestratégicas, fixado pelo ComandoSupremo, a Força Aérea buscará, dentro dasua estratégia de guerra, a destruição ou

neutralização do Poder Aeroespacial

inimigo, como objetivo primordial para a

imediata obtenção de situação aérea

favorável.”

“A Tarefa de Superioridade Aérearepresenta a mais alta prioridade para aForça Aérea. Em seu contexto, incluem-setodas as missões destinadas a conquistar emanter o controle do espaço aéreo,contribuindo para o controle do ambienteaeroespacial.”

Na “Tarefa de Apoio ao Combate”,existem as missões de:

- “Guerra Eletrônica: Missão aérea quevisa evitar ou reduzir o uso eficaz do espectroeletromagnético pelo inimigo e assegurar asua utilização pelas forças amigas.”; e

- “Controle e Alar me em Vôo:

“Missão aérea destinada a proporcionaralarme antecipado em vôo contra incursõesaéreas, bem como o controle de aeronavesamigas envolvidas em operações aéreasmilitares.” 8

Assim como a obtenção deSuperioridade Aérea é vital para a execuçãodas demais Tarefas, é certo que a obtenção

de Superioridade Eletrônica, nesse novo

contexto de um TO, é vital e

imprescindível para a execução de

qualquer tipo de operação aérea. Sem ela

(Superioridade Eletrônica), nenhuma

aeronave conseguirá decolar e

permanecer incólume.

A Guerra Eletrônica, na nossa Doutrina,é considerada apenas como mais uma dasmissões da Tarefa de Apoio ao Combate.Mas, conforme foi demonstrado acima, aGuerra Eletrônica, por sua importância, deveser alçada ao nível de Tarefa, com enfoqueno “combate eletrônico”9 e com prioridademaior que a da Superioridade Aérea.

Assim, antes de ser alcançada esta última,deveria ser obtida a “Superioridade

Eletrônica” e, antes destas duas, pelo mesmomotivo, a “Superioridade Espacial”.

Desse modo, a Superioridade Espacial

seria conquistada por meio de um conjuntode missões destinadas a: destruir, danificar ouneutralizar qualquer tipo de satélite decomunicação ou de espionagem militar doinimigo; e assegurar a utilização de nossossatélites militares.

(5) BRASIL. Comando da Aeronáutica. ECEMAR. Apostilha de Fundamentos de Guerra Eletrônica, dez 2001.

(6) Conceito desenvolvido pelo autor.

(7) Idem.

(8) BRASIL. Comando da Aeronáutica. DMA 1-1, Doutrina Básica da Força Aérea Brasileira, 1997.

(9) BRASIL. Comando da Aeronáutica. ECEMAR. Apostilha de Fundamentos de Guerra Eletrônica, dez 2001.

Page 9: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

8

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Os meios poderiam ser : satélites armadoscom raios laser de grande intensidade ou commísseis; mísseis; canhões de raios laser degrande intensidade; super-canhões anti-satélites(tiro direto), etc. 10

A Superioridade Eletrônica seriaconquistada por meio de um conjunto demissões destinadas a: destruir, danificar ouneutralizar qualquer tipo de avião ou de“drone” emissor/detetor eletromagnético,qualquer tipo de radar e qualquer meio decomunicações e controle (aéreos ou terrestres)do inimigo; e assegurar a utilização dos nossosmeios.

Os meios poderiam ser: mísseis; aviõesinterceptadores; interferidores terrestres eaero-transportados, canhões de raios laser degrande intensidade11; canhões antiaéreos.

Como os motivos para “justificar” umaintervenção ou um conflito continuarão, porum bom tempo, existindo em territóriobrasileiro, e como o País não está, atualmente,efetivamente equipado à altura para enfrentaressas possíveis ameaças, outros conceitos eestratégias deverão ser também desenvolvidos.Serão necessários estudos para desenvolvernovas tecnologias e táticas; e para conceber

operações, utilizando-se dos meios jádisponíveis no momento, que configurariamuma espécie de “guerrilha aérea”.12

Se esses estudos e desenvolvimentostecnológicos não forem realizados deimediato e se não forem feitos os inves-timentos adequados no reequipamento dasnossas Forças Armadas, para uma efetiva

capacidade de dissuasão, em caso de, nofuturo, o Brasil for ou se vir envolvido emum conflito com uma coalizão de potênciasmilitares, nossa defesa aérea terá de perma-necer no chão, assistindo passivamente aodesenrolar dos acontecimentos, vendo o Paísser derrotado militarmente, unicamente pornão haver um preparo adequado no presente.

Portanto, “É válido considerar arelevância de estabelecer e de manter fluxosde idéias e de informações correndo doambiente externo para as Escolas, Bases,Parques e demais organizações da ForçaAérea. Novas técnicas, conceitos,

doutrinas, avanços tecnológicos, enfim,

conhecimento que precisa chegar até a

mente da nossa oficialidade, para que nãoempreguemos um avião do século XXI coma cabeça na II Guerra Mundial.”13

4-8

(10) Armamentos a serem futuramente desenvolvidos.

(11) Armamento a ser futuramente desenvolvido.

(12) DIAS, A. L. R., Brig.-do-Ar, Comandante da ECEMAR. Conceito desenvolvido pelo Brig. DIAS.(13) ANDRADE, O. M. L.”A Campanha do Kosovo - Testando novas doutrinas.” Revista da UNIFA, nº 15, dez 2000.

Page 10: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

9

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Ensino a Distância no Curso

de Comando e Estado-Maior

da Aeronáutica - Uma nova

visão Maj.-Av. Adrian Nicolaiev Pereira dos Santos

1 - Introdução

á quase uma década, Pierre Lévy(1993) vislumbrou:“É possível (será possível em breve)

trabalhar com a imagem e o som, tãofacilmente quanto trabalhamos hoje com aescrita, sem necessidade de materiais decusto proibitivo, sem uma aprendizagemexcessivamente complexa. Discos óticos ouprogramas disponíveis na rede poderãofuncionar como verdadeiros kits desimulação, catálogos de mundos quepoderão ser explorados empiricamente,através de imagens e sons sintetizados.”

Transformada em realidade, a visão dePierre Lévy pode ser testemunhada pelosmais recentes avanços tecnológicos.

A fase a distância do Curso deComando e Estado-Maior (CCEM)incorpora a parte visual das mais recentestecnologias, mas carece de uma melhorutilização no que concerne ao auditivo. Essacarência tem-se reflet ido no baixo

H

Page 11: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

10

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 20029-19

aproveitamento do tempo disponível paraestudos, incompatibilizando-se com asatividades funcionais dos alunos. Essaconstatação contraria uma das principaisvantagens do Ensino a Distância (EAD),segundo Aretio (1997), que é a de permitirconciliar a aprendizagem com a atividadeprofissional.

Há a necessidade de se encontrar,dentre os recursos tecnológicos atuais, umaferramenta que possibilite a junção do visualcom o auditivo, utilizando-se a multimídiacomo instrumento da solução.

Dessa forma, será importante situar oEAD no mundo, desde os primórdios doensino por correspondência até o m-learning,bem como a situação atual da fase adistância do CCEM, esclarecendo aspectosda introdução da modalidade de ensinosemi presencial no Curso.

2 - Evolução do EAD no Mundo e no CCEM

2.1 Evolução do EAD no mundo

O Ensino a Distância (EAD) iniciou-secom o Ensino por Correspondência, durantea segunda metade do século XIX, nos EstadosUnidos e na Europa, caracterizando-seessencialmente pela troca, entre o aluno e oprofessor, de documentos em papel, queconstituíam os materiais pedagógicosenviados pelo correio tradicional.

Durante os anos 60, surgiu a 2ª geraçãode EAD - a Tele-Educação - caracterizadapela difusão pelo rádio, televisão e cassetesde áudio ou de vídeo. Nesses sistemas, acomunicação era efetuada num único sentido,com exceção do telefone e da troca dedocumentos em papel que completavam adifusão.

A terceira geração do EAD - ServiçosTelemáticos - foi caracterizada pela utilizaçãodos sistemas de comunicação bidirecionalentre professor e aluno, aproveitando as

capacidades da imagem, do som e domovimento para a transmissão deconhecimentos e para a introdução deferramentas que possibilitam maior interaçãoe flexibilidade de estudo. O desenvolvimentode software educacional permitiu aos alunosexercitarem uma aprendizagem a distânciaassistida pelo computador. O surgimento dascomunicações assíncronas, ou seja, aquelas queocorrem em tempos distintos, como ocorreio eletrônico convencional e os gruposde discussão, representavam uma evoluçãoinovadora para o EAD e permitiam acomunicação dos alunos, não só com oprofessor, mas também com outros alunos.

Surgiu então a quarta geração do EAD -o E-Learning - onde todos os meiosanteriormente citados se tornaram maisinterativos, mais fáceis de utilizar e de acessomais generalizado, per mitindo maiorflexibilidade temporal e espacial.

A evolução da telemática e, especialmente,da Internet veio alterar alguns conceitos dedifusão e de gestão de informação quesuportaram as três gerações anteriores emuitos dos conceitos clássicos tradicionais(baseados na interação professor/aluno).

Observa-se, atualmente, o surgimento daquinta geração de EAD baseada namobilidade (M-Learning), como conseqüênciada evolução da tecnologia e dos serviços detelecomunicações, especialmente com aintrodução da terceira geração de comu-nicações móveis, utilizando tecnologiabluetooth, WAP e PDA.

Pode-se observar que, historicamente, asgerações de EAD foram impulsionadas pelatecnologia disponível à época. Todavia, umaescola ou organização que adote o EADpoderá implementá-lo segundo sua própriaestratégia pedagógica ou ainda sua infra-estrutura tecnológica existente, a despeito dageração vigente na oportunidade de suaimplantação. Esta constatação também é

Page 12: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

11

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 20029-19

verdadeira no caso da introdução damodalidade semi presencial no Curso deComando e Estado-Maior da Aeronáutica(CCEM).

2.2 EAD no CCEM 1

Até o final de 1997, o Curso de Comandoe Estado-Maior, realizado pela ECEMAR,era tradicionalmente realizado por meio dametodologia do ensino presencial, com aduração de um ano letivo.

A sistemática adotada preconizava atransferência do oficial para o Rio de Janeiroe a dedicação exclusiva ao curso. Para tanto,existiam cerca de 90 Próprios NacionaisResidenciais (PNR), na área do Rio de Janeiro,reservados para esses alunos. No entanto,diversos fatores, entre os quais a criação doCPEA e de cursos similares na ECEME, naEGN e na ESG, diminuíram a disponibilidadede PNR para alunos do CCEM, reduzindo,dessa forma, o número de vagas parapermitir o preenchimento das funções querequerem conhecimento de Estado-Maior.

Persistindo essa situação, a turma deaviadores declarada aspirante-a-oficial em1987 somente iniciaria o CCEM no ano de2012, já com 24 anos de oficialato, ocasiãoem que os mesmos já poderiam estar, háalguns anos, no posto de coronel, para cujoacesso é pré-requisito o Curso de Comandoe Estado-Maior.

Visando a evitar a ocorrência da situaçãoreferida acima, que já preocupava os altosescalões da Aeronáutica, foram realizadosestudos para a reestruturação do CCEM já apartir de 1998, com a finalidade de antecipar,no mais curto espaço de tempo possível, afaixa de execução do curso para os primeirosanos do posto de major. A nova sistemáticade aplicação do CCEM deveria perdurarpelo tempo que fosse necessário, de forma asatisfazer as necessidades da Aeronáutica.

Após a realização dos estudos, concluiu-se que a solução mais favorável para a soluçãodo problema seria implementar o CCEM, apartir de 1998, da seguinte forma:

a) um curso presencial, nos moldestradicionais, com o máximo de 96 alunos,sendo 56 aviadores, iniciando em março eterminando em dezembro de 1998;

b) um curso semi presencial, com 20(vinte) semanas à distância e 20 (vinte)semanas na modalidade presencial, com baseno modelo tradicional, para 120 alunos,sendo 74 aviadores, com a fase à distânciainiciando em julho de 1998; e

c) a partir de 1999, bianualmente, emmarço e em julho, iniciar-se-ia um cursoidêntico ao semipresencial, com 120 alunos,até atingir as necessidades da Força.

Nesse estudo, como ações recomendadaspara permitir a implantação da solução, foramsugeridas as seguintes medidas:

a) construção, no decorrer de 1998, deum hotel de trânsito para receber, a partir de1999, os alunos da modalidade presencial doCCEM;

b) construção de moradias necessáriaspara apoiar, a partir de 2002, 120 alunos doCCEM, movimentados para o Rio de Janeiro(novos estudos reavaliaram essa data para2006);

c) reformulação da TDP 98 daECEMAR, adotando o número propostopela escola de 36 instrutores; e

d) alterações ou modificações em relaçãoà legislação e às normas relativas ao assunto.

Atualmente, o EAD para o CCEM já éuma realidade. A ECEMAR vem ministrandoo curso na modalidade semipresencial desdeo segundo semestre de 1998 e a fase à distânciaé assim definida pela ECEMAR:

Uma forma sistematizada de auto-estudo,na qual o aluno é o protagonista de suaaprendizagem. Ele se instrui a partir do

1 UNIFA, ECEMAR. Gênese do CCEM. Rio de Janeiro, 2000.

Page 13: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

12

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 20029-19

material que lhe é apresentado, com oacompanhamento e a supervisão de seuprogresso sendo realizados por um instrutordesignado pela Escola - o tutor. Isto érealizado à distância, através de meios decomunicação capazes de prover adequadainteração entre aluno e tutor.

Os meios de comunicação e o materialempregados atualmente pela ECEMAR são:

a) a correspondência eletrônica (e-mail) pormeio da rede de comunicação de dados daAeronáutica, a INTRAER;

b) o acesso ao sítio “World Wide Web”(WWW) também pela INTRAER;

c) o contato tutor/aluno via ligaçõestelefônicas; e

d) o material em CD-ROM para serimpresso na forma de apostilas ouapresentado utilizando-se a ferramenta deapresentação denominada PowerPoint.

Ao confrontar-se a evolução do EADno mundo e a atual sistemática adotada pelaECEMAR para o CCEM, pode-se constatarque a aplicação do EAD, no momento, estásituada na ter ceira geração, conformedescrição anterior.

Desde 1998, portanto, já foramrealizados sete cursos, utilizando-se,gradativamente, os recursos tecnológicosdisponíveis à época, aplicados de acordocom a proposta pedagógica e consideradasas restrições técnicas impostas pelospróprios meios de comunicação. Nesseínterim, vários óbices já foram vencidos, masalguns ainda persistem.

3 - O EAD e as Atividades Funcionais

Consolidados os aspectos inerentes àevolução do EAD no mundo e sua atualaplicação no âmbito do CCEM, cabeesmiuçar o papel que exerce essa modalidadede ensino na formação dos alunos do Cursode Comando e Estado-Maior e os óbices quepersistem ao longo de sua existência.

Analisados os fatores contribuintes paraa introdução e o desenvolvimento do EADno CCEM, faz-se mister entender tambémcomo o processo de ensino a distância sedesencadeia e em que aspecto o EADpraticado no CCEM poderia ser aper-feiçoado.

Para que se possa verificar a importânciae os princípios de utilização do EAD,enumeram-se, a seguir, as suas principaisvantagens (ARETIO, 1997):

a) permite maior disponibilidade e ritmosde estudo diferenciados;

b) elimina barreiras de espaço e tempo,abrindo caminhos de formação a pessoas quetenham dificuldades de deslocamento ou deagenda para estudarem;

c) otimiza recursos com reduçãosignif icativa de custos de formação, es-pecialmente em tempo, viagens e estadias;

d) garante e promove a experimentaçãoe a familiarização com a tecnologia e comnovos serviços telemáticos;

e) torna o conteúdo dos cursos maisadequados e atraentes, especialmente os quese apresentam em formato multimídia;

f) permite conciliar a aprendizagem coma atividade profissional e a vida familiar(incompatibilidade de horário ou outrasexigências familiares ou profissionais);

g) iguala oportunidades de formaçãoadequadas às necessidades de umadeterminada população; e

Como principais desvantagens do EAD(ARETIO, 1997) identificam-se os seguintesaspectos:

a) não proporciona uma relação humanaalunos/professor típica de uma sala de aula;

b) não gera reações imprevistas eimediatas;

c) exige alguns conhecimentostecnológicos (informática e multimídia); e

d) enfrenta alguns obstáculos relacionadoscom a reduzida confiança neste tipo de

Page 14: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

13

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 20029-19

estratégias educativas por parte dos maisconservadores e resistentes à inovação e àmudança.

Desde o segundo semestre de 1999, aECEMAR vem realizando avaliações da fasea distância do CCEM2 por meio de pesquisassobre a qualidade pedagógica, utilizando-secomo instrumento um questionáriocomposto por questões objetivas e subjetivasrespondidas pelos alunos. De acordo comos resultados obtidos, dois aspectos têmdespertado maior atenção: o material didáticoe o tempo disponível em relação às atividadesfuncionais.

As pesquisas realizadas reconhecem ograu de clareza, a adequação aos objetivosdo Curso e a qualidade gráfica dos materiaisrecebidos na fase a Distância. Os resultadostêm-se mantido num mesmo patamar dequalidade, com algumas pequenas variações,para cima e para baixo, a despeito dascorreções e melhorias introduzidas nosúltimos sete Cursos.

Ao abordar-se o papel do materialdidático e sua contribuição para aaprendizagem, verifica-se que o modelo deEAD adotado pela ECEMAR emprega,basicamente, meios visuais para suadisseminação, à exceção do uso do telefone.

Assim sendo, entre os meios visuaisempregados, pode-se citar:

a) apostilas referentes às matériasministradas (fornecidas em CD-ROM oudisponibilizadas na INTRAER);

b) apresentações visuais, como meioauxiliar, utilizando-se a ferramenta PowerPoint;

c) mensagens eletrônicas (e-mail)principalmente entre tutor e aluno; e

d) quadro de avisos, disponibilizado naINTRAER, com mensagens de interesse geraldo curso e de acesso exclusivo para cada aluno.

Quanto às orientações para estudo, aECEMAR recomenda ainda:

a) ter interesse pelo curso - compre-endendo a sua utilidade, conhecendo os seusobjetivos, não dissociando o estudo daprofissão e não abandonando as aspirações;

b) reservar pelo menos um períodomínimo para estudar todos os dias e procurarcumprir o programado;

c) estabelecer períodos não muito longosde estudo, com pausas para descanso;

d) programar racionalmente o tempodisponível, distribuindo-o para o estudo decada apostila;

e) observar os fatores que aumentam acapacidade de compreensão: desejo deaprender, atenção e organização;

f) ler o texto com atenção e mais de umavez. Ler em voz alta a fim de fixar os pontosimportantes, sendo imprescindível lercompreendendo;

g) destacar as partes principais do texto,não sublinhando durante a primeira leitura.Ao fazer a segunda leitura, buscar as idéiasprincipais que deverão ser sublinhadas;

h) fazer um resumo ou esquema após terlido o texto mais de uma vez e ter sublinhadoas partes principais; e

i) comunicar-se com o Tutor, buscandooutras informações e explicações, no caso desentir dificuldades na compreensão do textoou na realização das tarefas.

Conforme será visto mais adiante, osmateriais didáticos empregados atualmente,a despeito de suas sucessivas melhorias, têmtido peso importante no uso pouco eficazdo tempo disponível para o aluno e serãoobjetos de análise mais detalhada.

Entretanto, ainda segundo dados sinte-tizados de todas as avaliações realizadas pelaECEMAR, nos últimos quatro Cursos, emresposta à questão sobre o tempo disponívelpara a realização das atividades funcionais e parao estudo da fase à distância, verificou-se umareduzida disponibilidade de tempo para os

2 UNIFA, ECEMAR. Avaliação da Fase a Distância, CCEM. Rio de Janeiro, 2000.

Page 15: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

14

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 20029-19

estudos, como pode ser visto no gráfico 1.Desta forma, observa-se que, atualmente,

apenas 60% dos alunos, aproximadamente,consideram o tempo disponível para estudocomo suficiente em relação às atividadesfuncionais.

Os principais motivos apresentados pelosalunos do CCEM 1/2001, por exemplo, paraesta incompatibilidade de tempo estãorepresentados na tabela 1.

O que chama mais a atenção é que estaconstatação contraria uma das principaisvantagens do EAD citadas por Aretio (1997)que é a de permitir conciliar a aprendizagemcom a atividade profissional e a vida familiar,em casos de incompatibilidade de horárioou outras exigências familiares ou profis-sionais.

Ao analisar o Gráf ico 1, observa-se umligeiro incremento do tempo disponível curso

Graf. 1 Tempo de estudo e atividades funcionais

Tab. 1 Justificativas para a falta de tempo

Fonte: Avaliação da Fase à Distância CCEM 1/2001 (ECEMAR)

MOTIVOS Freq.

Impossibilidade de conciliar, adequadamente, estudo da Fase a Distância com as atividades 21%

funcionais

OM com rotina intensa de atividades 14%

Duração muito curta da fase a distância em relação ao grande volume de conteúdo a ser estudado 6%

Necessidade de estudo em horários noturnos e finais de semana 6%

Dificuldade em conciliar confecção da monografia simultaneamente com a realização das provas 5%

Falta de apoio da Chefia ou do Comando da OM 4%

Necessidade de cumprir atividades com a família 4%

Intervalo reduzido entre a última prova e a entrega da monografia 2%

Excesso de viagens a serviço 2%

Outros motivos 2%

Page 16: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

15

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 20029-19

a curso. Esse aumento gradual poderia serfruto das orientações recebidas, tanto pelosalunos quanto por seus comandantes, pormeio de documento oficial, em que seprocura sensibilizar comandantes de OM aconsiderar a fase a distância do CCEM comoinvestimento, em aumento da capacitaçãoprofissional dos oficiais.

Portanto, evidencia-se uma indisponi-bilidade de tempo, em relação à atividadefuncional, causada por um fator comum atodas as justificativas: o uso ineficaz do

tempo disponível. Assim, verifica-se que éplausível a constante preocupação daECEMAR com relação à administração dotempo pelo aluno. Mas, como propiciar a

utilização de forma eficaz do tempo

disponível para estudo, considerando as

atividades funcionais, já na próxima fase

à distância do CCEM?

Para solucionar esse problema, há anecessidade de se voltar à análise das vanta-gens e desvantagens advindas do EAD,comparativamente à metodologia adotadapela Escola, de onde se poderá então extraira melhor solução.

4 - EAD no CCEM - uma Solução Multimídia

Recordando ARETIO (1997), aoenunciar as vantagens do EAD e aimportância da multimídia no contexto doEAD, verif ica-se um campo fértil de idéias epossíveis soluções. Assim sendo, parasolucionar o problemalevantado, será necessárioabordar aspectos inerentesàs técnicas empregadas eaos conteúdos atuais, poisverifica-se, como já foivisto, uma intensa utilização dos meios visuaisna metodologia empregada pela Escola, emdetrimento de outros meios.

Segundo a Sociedade AmericanaSocondy-Vacuum Oil , em pesquisa

realizada em 1971 (ARETIO, 1997), aaprendizagem e a retenção do aprendizado,em função dos cinco sentidos, ocorre deacordo com os percentuais descritos nastabelas 2 e 3.

Ao analisar as tabelas, fica evidenciada aimportância para o EAD não só da leitura,mas da sua conjugação com a audição, emuma ação sinergética. A combinação dosfatores contribuintes para o aprendizado ea retenção a distância constituem, portanto,um objetivo a ser alcançado.

Assim sendo, constata-se uma deficiênciana fórmula de ensino a distância adotada peloCCEM. Essa deficiência decorre da utilizaçãomassiva da visão como sentido primário parao aprendizado, em detrimento da audiçãocomo sentido contribuinte.

Para reforçar ainda mais a necessidade dese utilizar o meio auditivo, segundo a mesmaSociedade Americana Vacuum Oil, aspesquisas chegaram à conclusão consolidadana tabela 4.

Conseqüentemente, verifica-se que aconjugação das modalidades é mais eficientee eficaz do que a adoção de qualquer uma

APRENDIZADO

1% Paladar

1,5% Tato

3,5% Olfato

11% Audição

83% Visão

RETENÇÃO

10% do que se lê

20% do que se escuta

30% do que se vê

50% do que se vê e escuta

70% do que se diz e discute

90% do que se diz e logo se faz

Tab. 2

Tab. 2 Percentuais de aprendizadoTab. 3 Percentuais de retenção

Fonte: Sociedade Americana Socondy-Vaccum Oil (ARETIO, 1997)

Tab. 3

Retenção de dados segundo o método de ensino

Método de ensino Dados retidos após 3 horas Dados retidos após 3 dias

Somente oral/auditivo 70% 10%

Somente visual 72% 20%

Audiovisual/Multimídia 85% 65%

Tab. 4 Retenção de dados segundo o método de ensino

Fonte: Sociedade Americana Socondy-Vaccum Oil (ARETIO, 1997)

Page 17: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

16

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 20029-19

delas isoladamente. Ao considerar a retençãodos dados por um período mais longo (trêsdias), observa-se que o diferencial é muitomaior do que a simples soma dos ganhos decada modalidade. Esse diferencial atingepraticamente mais que o dobro da soma dosconhecimentos retidos pelos métodos deensino visual (20%) e auditivo (10%)separadamente, ou seja, 65% de retenção apóstrês dias , por exemplo.

Historicamente, alguns dos recursosmeramente auditivos, utilizados ao longo dasgerações do EAD, têm sido o rádio, oaudiocassete e o CD de áudio.

Assim sendo, considerando o estágioatual do EAD no CCEM, bem como ométodo atualmente empregado paragravação das aulas na fase presencial,vislumbrar-se-ia, à primeira vista, uma so-lução baseada na utilização de fitas-cassetecomo complemento na modalidade auditiva.

Todavia, a alternativa escolhida, e que faráparte da solução completa, corresponde a umatécnica mais adequada, praticável e aceitável,como poderá ser constatado.

Dessa forma, resgatando na biologia ena física os conceitos necessários, tem-se queo som que o ouvido humano detecta ébasicamente mudança na pressão do ar. Oser humano pode ouvir freqüências de 20 Hza 20 kHz. Essa é a faixa de áudio que éinteressante gravar, qualquer que seja a mídia,para depois reproduzir o som original e apressão do ar. Salvar o áudio digitalmentetem sido muito comum ultimamente,principalmente devido à popularização doformato CD. O formato digital tem muitasvantagens quando comparado com oanalógico (formato das fitas-cassete), taiscomo melhor qualidade de áudio e facilidadede processamento. Além disso, o fato de queos computadores e redes digitais não podemusar som analógico torna o áudio-digital numrequisito para quem pretende utilizar o

computador como ferramenta de apoio aoaprendizado.

Explorando um pouco mais as restriçõesjá assinaladas quanto à utilização de CD deáudio, verifica-se que o áudio codificado auma freqüência de amostragem de 44.1 kHz,16 bits por amostra, estéreo (qualidade deCD) usa 44100x16x2 = 1.411.200 bits porsegundo. Ou seja, uma música de três minutosde áudio nestas condições usa mais de 30 Mbde armazenamento no computador.

O exemplo descrito a seguir dá uma idéiada importância de uma outra técnica quepermite reduzir o tamanho desses arquivos eviabilizar a utilização do som em CD ou nopróprio computador: a compressão de somno padrão MP3.

O sistema MP3 aproveita, além dastécnicas habituais de compressão, o conhe-cimento das imperfeições ou limitações naaudição, para eliminar certas informações semafetar o que se ouve, conseguindo assim níveisde compressão de até 12 vezes em situaçõesem que se deseja reproduzir e ouvir música.

Entretanto, para a solução pretendida,verificou-se ainda a possibilidade decompressões ainda maiores, tendo em vistaque se pretende reproduzir voz humana e nãoinstrumentos musicais acompanhados de vozhumana.

Assim sendo, foram realizadas algumasexperiências com o software de edição dearquivos de som, denominado “GoldWave”,e chegou-se às seguintes conclusões:

a) é viável a gravação e a audição de vozà taxa de 22KHz e utilizando apenas um canal,ou seja, monofônico;

b) uma aula multimídia com duração de45 minutos poderia ser facilmente arma-zenada em um arquivo do tipo MP3. Seutamanho aproximado seria de 2,5 Mb; e

c) a utilização do software “GoldWave”, aexemplo de outros softwares básicos maisrecentes e de uso equivalente, é intuitiva e não

Page 18: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

17

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 20029-19

carece de uma especialização para o seumanuseio.

A tabela 5 demonstra quão eficaz estatécnica se mostra. Observe-se que haveria anecessidade de apenas um CD para a gravaçãode todo o conteúdo de áudio necessário paracompor o material de multimídia.

Considerando que o único CD-ROM,fornecido pela ECEMAR para o EAD doCCEM, tem ocupado apenas 40Mb, apro-ximadamente, verifica-se que o espaçoremanescente de 610Mb é mais que suficientepara gravar os 140Mb referentes aos arquivosde áudio MP3.

No entanto, será ainda necessáriotrabalhar os conteúdos de forma a adaptá-los às circunstâncias e ao público-alvo paraos quais estes conteúdos estarão direcionados.Ou seja, restará ainda criar a interface maisadequada para o aluno do CCEM.

Ainda que fosse possível a criação deconteúdos simplificados com a participaçãosomente do efetivo responsável pelo EADdo CCEM na ECEMAR, a presente soluçãoestaria incompleta se desconsiderasse aalocação de outros recursos humanos emateriais para elaboração dos conteúdosmultimídia.

Deve-se ressaltar que trabalhos destanatureza exigem, além dos protagonistas, que

seriam os instrutores, os especialistas na áreade conteúdo pedagógico voltado para atecnologia em questão. Dessa forma, comoassinala NISKIER(1999), a elaboração doprojeto instrucional é a resultante de umtrabalho executado por um núcleo central.Trata-se de um processo do qual são agentes

especialistas em conteúdos, emtécnicas de comunicação, emciência cognitiva, matemática,estatística, além de administra-dores.

Atualmente, uma das Or-ganizações do Comando daAeronáutica que dispõe dosrecursos humanos e materiaisnecessários para desenvolver estetrabalho, junto à ECEMAR, é oInstituto de Logística daAeronáutica.

Em linhas gerais, sem considerar osaspectos de conteúdo, levando-se em contaapenas a técnica a ser aplicada no estúdio deedição, o projeto de criação do recurso EADmultimídia deverá guiar-se pelos passos aseguir listados.

- No que diz respeito à ECEMAR:a) definir o conteúdo pedagógico a ser

explorado no formato multimídia, tendo emvista os diversos fatores que possam intervirno enfoque, no público-alvo (ONA,brasileiros) e na carga-horária;

b) elaborar, na forma de esboço, aseqüência em slides no padrão PowerPoint;

c) elaborar o “script” contendo o texto,pertinente a cada slide, que será lido e gravadono formato MP3;

d) remeter o material ao ILA para ediçãode um protótipo do recurso multimídia;

e) realizar crítica sobre o protótipo edesencadear processo final de definição docurso multimídia para uso no EAD doCCEM; e

f) providenciar a reprodução dos CD

Solução CD de áudio MP3

Fases do EAD do CCEM 4 fases

Média de apresentações em PowerPoint por fase 7 apresentações

Média de aulas por apresentações 2 aulas

Tempo de cada aula 45 minutos

Tamanho de cada aula/arquivo de som 2,5 Mb

Capacidade de um CD de áudio convencional 650 Mb

Custo de um CD virgem R$ 2,00

Média de alunos 110 alunos

(4 x 7 x 2 x 2,5) = 140 Mb de áudio (ou)

1 CD multimídia por aluno (ou)

110 CD multimídia para um total de 110 alunos (ou)

R$ 220,00 somente com CD virgem

Tab. 5 Solução CD de áudio MP3

Page 19: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

18

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 20029-19

necessários para o CCEM após ter sidorecebido o produto final, na forma de matriz.

- No que se refere ao ILA:a) encaminhar à ECEMAR os requisitos

facilitadores na elaboração de um cursomultimídia para uso em EAD;

b) elaborar um protótipo de menoresproporções, contendo uma prévia do cursomultimídia requerido, estando de posse doconteúdo pedagógico, do esboço da seqüênciade slides PowerPoint e do “script” contendoo texto a ser gravado;

c) realizar as gravações, para a elaboraçãodo protótipo, utilizando o processo descritoanteriormente e estabelecer o sincronismoentre a seqüência de slides e o texto gravado;

d) receber o protótipo já criticado eefetuar as modificações necessárias; e

e) conduzir a edição dos slides restantes,consoante crítica recebida, e remeter àECEMAR o produto final do cursomultimídia para uso no EAD do CCEM.

Corroborando com esta análise, verifica-se que a decisão de empregar em um determinadocurso um recurso didático ou vários, ou de preferirum a outro, estará sujeita ao desenho técnico-pedagógico que se elabore, o qual terá de projetar-sesobre uma população bem definida e com necessidadesplenamente identificadas (LANDIM, 1997).

Contudo, é importante ainda analisar asconseqüências esperadas com a implantaçãocom êxito desta proposta, os benefíciosesperados com sua adoção, bem como oseventuais custos adicionais posteriores à suaimplantação.

5 - Visão Prospectiva

Consolidada a implantação da soluçãoproposta, seria verificado um aumentoexpressivo do tempo disponível para osestudos dos alunos do CCEM em sua fase adistância.

A carga-horária estabelecida pelaECEMAR seria compatibilizada com as reais

necessidades dos alunos e estes estariam maismotivados a realizar o programa de estudo.Essa motivação seria decorrente da novametodologia, que aumentaria a capacidade deaprendizado e de retenção dos conhe-cimentos, num menor intervalo de tempo, eda percepção de que o período destinadoaos estudos estaria sendo mais bem aprovei-tado, a fim de atingir os objetivos do CCEM.

Indo mais além, dentro de uma visãomais voltada para a quinta geração de EADe tendo em vista a existência, atualmente, deequipamentos portáteis que reproduzem opadrão de áudio MP3, haveria a possibilidadede utilização desses dispositivos para a audiçãodos arquivos MP3 criados pela técnicadescrita.

Dispondo de um equipamento portátildenominado MP3-player, por exemplo, seriaviável a audição das mídias produzidasespecificamente criadas para serem escutadaspelo aluno. Desta forma, durante umacaminhada, em viagens a serviço, no transladode casa para o trabalho ou em várias outrassituações do dia-a-dia, o aluno poderiaescutar e realizar parte do seu estudo com ousem a leitura das apostilas.

Outra conseqüência seria a possibilidadede aplicação indireta dos resultados dasolução proposta com a utilização deequipamentos tipo “handheld”, tambémconhecidos como PDA, para que emconjunto com os dispositivos de audição deMP3 fosse viável também a leitura de apostilasou visualização dos slides em PowerPoint deforma simultânea, como pode ser visto naFig. 1.

Alguns destes equipamentos teriaminclusive a capacidade de reunir em um únicodispositivo todos os componentes necessáriosà instrução: áudio MP3 e imagem(apresentação em PowerPoint).

Em suma, deve-se ter em mente queinúmeras serão as possibilidades tecnológicas

Page 20: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

19

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

e pedagógicas decorrentes da implantação dasolução. No entanto, qualquer novo aspectosurgido deverá considerar a finalidadeinicial da adoção da modalidade de ensinosemipresencial no CCEM.

Conclusão

Em 1997, com a finalidade de darcontinuidade à realização do CCEM e evitarque oficiais superiores deixassem de realizaro Curso pela falta de PNR na área do Rio deJaneiro, a ECEMAR concluiu, após EEM,que a melhor solução seria, entre outrasmedidas, a modificação do CCEM, quedurava um ano, para a modalidadesemipresencial, evitando assim a transferênciado militar e sua família. Desta forma, o cursofoi dividido em duas fases: uma a distância euma presencial.

A partir de 1998, portanto, o EADpassou a fazer parte da vida escolar do alunodo CCEM. A solução foi implantada comêxito tendo sido alcançados todos os seusobjetivos.

Em um constante aperfeiçoamento, aECEMAR tem realizado avaliaçõesperiódicas de desempenho do EAD e açõescorretivas têm sido colocadas em prática, oque é evidenciado pelos índices alcançadosano a ano, desde 1999, quando foi realizada aprimeira pesquisa junto aos alunos.

Todavia, permanece umóbice ao pleno funcionamentoda sistemática: o dilema dotempo disponível para estudo eas atividades funcionais.

O sucesso completo doEAD no CCEM depende decada um dos seus elos, e será tãomais forte quanto for o seu elomais fraco.

REFERÊNCIAS

ARETIO, Lorenzo García. Educación aDistancia Hoy. Madrid : Universidad Nacionalde Educación a Distancia, 1994. 645 p.

BRASIL. Ministério da Aeronáutica. Centro deInstrução Especializada da Aeronáutica.Currículo Mínimo do Curso de Metodologia doEnsino à Distância. Brasília, 1994 (IMA 37-188).

LANDIM, Cláudia Maria das Mercês.Educação à Distância : algumas considera-ções. Rio de Janeiro : [s.n], 1997.

LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência :o futuro do pensamento na era dainformática. São Paulo : Editora 34 Ltda,1993. 203 p.

NISKIER, Arnaldo. Educação à Distância : ATecnologia da esperança. São Paulo :Edições Loyola, 2000. 414 p.

UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA. Escolade Comando e Estado-Maior da Aeronáutica.Avaliação da Fase à Distância CCEM 2/1999.Rio de Janeiro, 2000.

_____. Avaliação da Fase à Distância CCEM1/2000. Rio de Janeiro, 2000.

_____. Avaliação da Fase à Distância CCEM2/2000. Rio de Janeiro, 2001.

_____. Avaliação da Fase à Distância CCEM1/2001. Rio de Janeiro, 2001.

_____. Gênese do CCEM. Rio de Janeiro,2000.

Fig. 1 Exemplo de utilização de PDA e PowerPoint

9-19

Page 21: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

20

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200220-24

Programa

Interdisciplinar de

Ensino - Desenvolvendo

lideranças no curso

preparatório de

cadetes do arCap.-QFO.-Ped. Denise Maria Belloni Medeiros

Page 22: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

21

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

-N1 - Introdução

on Multa, Sed Multun . Com seulegendário lema, a Escola Prepara-tória de Cadetes do Ar (EPCAR)

tem buscado, ao longo de seus 53 anos deexistência, formar cidadãos capazes deassumir papéis relevantes na Força Aérea eno País.

Destacada é a missão da Escola, pois, aoacolher tantos e tão jovens moços oriundosdas mais diversas regiões do Brasil, assume ocompromisso de formá-los dentro do maiselevado padrão de ensino, desenvolvendosuas potencialidades intelectuais, físicas,espirituais e morais, a fim de despertá-los parao ideal do “aprender para liderar” - um dosValores Fundamentais da EPCAR.

O tema aqui abordado é de sumaimportância para o COMAER, visto que anova ordem mundial está a requerer pessoaspossuidoras de uma apurada consciência desi mesmas e capazes de influenciar outroshomens rumo aos objetivos determinados.A EPCAR - “Nascente do Poder Aéreo”,tem a grande responsabilidade de iniciar aformação de lideranças positivas e eficazespara a Força e, assim, preparar o futuroComandante da Aeronáutica.

Mas, será que a Escola está no rumo certo?O que poderia ser aprimorado? Pode-seafirmar que, apesar do valoroso trabalho hojerealizado por essa Instituição de ensino, aadoção de algumas medidas que envolvammaior cooperação, visão de conjunto,iniciativa e uma comunicação mais efetivaresultarão em um enorme avanço em seuensino.

2 - Histórico

Em 28 de março de 1949, por meio dedecreto do então Presidente da República,Eurico Gaspar Dutra, foi criado o CursoPreparatório de Cadetes do Ar (CPCAR).Posteriormente, o curso foi transformado em

Escola Preparatória de Cadetes do Ar, pormeio da Lei nº 1105, de 21 de maio de 1950,data na qual se comemora seu aniversário.

Sua criação procurava atender às ne-cessidades emergentes da Força AéreaBrasileira, na capacitação de futuros oficiaisaviadores, preparando os jovens, intelectual emilitarmente, com vistas a sua integração àentão Escola de Aeronáutica, atual Academiada Força Aérea - AFA.

Para tanto, a EPCAR ministrou, de 1949a 1992, instrução a nível de 2º grau, de acordocom a legislação do MEC, complementadapor instrução militar.

Em 1993, a Escola, apesar de consagradacomo modelo educacional no Brasil e naAmérica Latina, suspendeu temporariamentesua missão precípua e recebeu novasatribuições: o planejamento e a execução dosCursos e Estágios Preparatórios e deAdaptação ao Oficialato que não fossem deatribuição da AFA e do Instituto Tecnológicoda Aeronáutica (ITA).

Vale ressaltar que, no ano de 1993, foiministrado na Escola o 1º ano do Curso deFormação de Oficiais Aviadores (CFOAV)para os alunos da última turma formada noCPCAR (1992).

No ano de 1996, foi reativado o 3º anodo Curso Preparatório de Cadetes do Ar e,em 2000, a Escola passou a ministrarnovamente as três séries do ensino médio.

Neste ano de 2002, a Escola formou a suaúltima turma do Estágio de Adaptação ao Ofi-cialato (EAOF) passando a atuar unicamentena preparação dos futuros cadetes do ar.

Considerando o aspecto militar daEscola, além da instrução científica, o ensinona EPCAR aborda a formação para aliderança, visando desenvolver nos alunosvalores e atitudes inerentes à profissão militar- o que nem sempre acontece, uma vez quealguns fatores vêm dificultando o cumpri-mento dessa importante missão.

20-24

Page 23: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

22

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200220-24

3 - Fatores Intervenientes na Liderança

3.1 Atividades Desenvolvidas

Atualmente, são desenvolvidas diversasatividades pela Divisão de Ensino (DE), peloCorpo de Alunos (CA) e pela Comissão deDesenvolvimento do Caráter Militar(CDCM), que contribuem para o surgimentode lideranças entre os alunos do CPCAR. Noentanto, observa-se, ainda, uma ênfase nocomportamento de tarefa em detrimento docomportamento de relacionamento. Serão,pois, citadas as práticas educativas que têmapresentado resultados mais significativos noesforço de estimular lideranças positivas .

3.1.1 Pela Divisão de Ensino

- Aulas de Comunicação Oral e Escritada disciplina Língua Portuguesa;

- Apresentação de trabalhos em grupocujos temas envolvem diversas disciplinas;

- Aulas de Psicologia, que visam adespertar nos alunos o sentido da cooperação,do diálogo, da interação social e facilitam acompreensão e a adaptação a situaçõesvivenciadas na adolescência;

- Aulas de Filosofia, que objetivam oaprimoramento do aluno como pessoahumana, incluindo a formação ética civil emilitar e o desenvolvimento da autonomiaintelectual e do pensamento crítico;

- Aulas de reforço monitoradas,conduzidas por alunos monitores quevoluntariamente atuam junto às dificuldadesacadêmicas dos colegas; e

- Atendimentos psicopedagógicos, nosquais são repassadas orientações parasuperação de dificuldades grupais eindividuais.

3.1.2 Pelo Corpo de Alunos

- Aulas de Doutrina, ministradas pelosoficiais que atuam no CA, contendo, dentreoutras, orientações relacionadas à liderança;

- Serviços de escala e de Chefe de Turma,

nos quais os alunos experienciam situaçõesconcretas de comando, níveis diferenciadosde responsabilidade e de tomada de decisão;

- Sociedade Acadêmica e seus diversosclubes presididos por alunos;

- Aulas de Instrução Militar com aplicaçãode técnicas de ensino participativo, que visamestimular a crítica, a curiosidade e a iniciativa;

- Exposições orais e escritas realizadaspelos alunos durante os tempos à Disposiçãodo Comandante do Esquadrão; e

- Pro grama de Treinamento Totalaplicado na Educação Física.

3.1.3 Pela Comissão de Desenvolvimento

do Caráter Militar

- Participação dos alunos como membrosdo Comitê de Honra; e

- Apresentação, pelos alunos, de temasrelacionados à Ética Militar em simpósiosrealizados na Escola.

3.2 Fatores que Inibem a Liderança

Apesar da execução das atividadessupracitadas, em pesquisa realizada junto aosalunos e à equipe educativa da Escola, foramevidenciados alguns fatores que inibem odesenvolvimento de lideranças positivas noCPCAR, a saber:

- diálogo fragmentado entre os seg-mentos que atuam na formação do aluno

- a comunicação ocorre em níveisdiferenciados, com pouca freqüência ebastantes ruídos;

- escassez de recurso humano técnicoqualificado - acreditando que o exemplo éfundamental para que o adolescente nele seespelhe, destacamos que a EPCAR conta comum número insuficiente de pessoaspreparadas a desempenhar um trabalho naárea de liderança;

- predominância de aulas expositivas - há,ainda, uma grande incidência de instruçõescom metodologia centrada no professor, quesão monótonas e formais; e

Page 24: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

23

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200220-24

- cultura organizacional paternalista e/ouautoritária e competitiva- em virtude da faixaetária dos alunos (14 a 20 anos), existe umatendência à adoção desses modelosorganizacionais, o que, por vezes, inibe ainiciativa dos alunos e a cooperação entre eles.

Consideradas tais dificuldades, urge aimplantação de um programa interdisciplinarde ensino que estimule o diálogo, acooperação, a busca da solução de problemas,a criatividade e a motivação, pressupostospara a formação de lideranças positivas nosalunos do CPCAR.

4 - Programa Interdisciplinar de Ensino

A EPCAR, como Organização de Ensino(OE) em nível de ensino médio, buscaamparar sua prática educativa na LDB Nº9.394/96 e demais documentos que aregulamentam. Sendo a interdisciplinaridadeum dos eixos organizadores da doutrinacurricular expressa nos Parâmetros Currí-culares Nacionais (PCN), é importante que aliderança seja estimulada a partir da adoçãode um programa interdisciplinar que busqueincrementar as atividades existentes na Escolae fertilizar o terreno das relações interpessoais.

Tendo como eixo o Valor Fundamental“APRENDER PARA LIDERAR”, propõe-se que o Programa, coordenado por umGrupo Interdisciplinar, constituído pormembros da DE (oficiais e professores), doCA (oficiais e alunos) e da CDCM (oficial),seja estruturado em quatro projetos, a saber:

4.1 Projeto Construindo a Comunicação

Em um trabalho interdisciplinar, a tônicaé o diálogo, a marca, o encontro e areciprocidade. Este primeiro projeto, por-tanto, objetiva modificar comportamentosimplantando a cultura da boa comunicaçãonos diversos segmentos da Escola, o quepressupõe a capacidade de ouvir o outro,olhar nos olhos e aprender com ele, de saber

expressar-se com simplicidade, transparênciae coerência. E, uma vez estabelecida estarelação comunicativa, a confiança se instalae forma-se uma equipe capaz de levar adiantea proposta. O diálogo será provocado coma realização de reuniões informais e detrabalhos de grupo, nos quais serão debatidasas novas tendências educacionais e a melhormaneira de se construir os projetos sub-seqüentes, e com a confecção de jornaisinformativos, dentre outras atividades.

4.2 Projeto Construindo o Método

Participativo

A sala de aula é o lugar onde deve habitara iniciativa , e, para que esta se instale, énecessário colocar em prática o exercício dodinamismo do perguntar e do questionar, queSócrates denominou maiêutica. Portanto, nestesegundo projeto, propõe-se o incremento doemprego da metodologia participativa

com a aplicação de trabalhos que despertemnos alunos a capacidade de pensar comexatidão, de criar, de produzir conhecimento,de criticar, de estabelecer parcerias. Sugere-sea realização de feiras culturais e de ciências,de simpósios e debates sobre liderança etemas afins, de aulas com estudos de caso ediscussões em grupo, dentre outros.

4.3 Projeto Revelando o Aluno Líder

de Turma

Segundo Wilfred R. Bion, todo grupofunciona, simultaneamente, em dois níveis: umconsciente, racional, objetivo, voltado pararesultados, manifesto - o nível tarefa. Nessenível, o grupo espera que a liderança do gruposeja exercida por uma autoridade constituídaformalmente (Aluno-de-Dia, Chefe deTurma, etc.); e outro, inconsciente, primitivo,latente - o nível de relacionamento - em que aliderança desponta no grupo. Assim sendo,recomenda-se o estímulo à escolha do alunolíder de turma, que diferentemente das

Page 25: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

24

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200220-24

incumbências formais e disciplinares de umchefe de turma, será o representante

emocional dos alunos, informando os seusanseios, permitindo, assim, que os sentimentose opiniões sejam exteriorizados e organiza-dos, podendo contribuir efetivamente nosprocessos de tomada de decisão do GrupoInterdisciplinar.

4.4 Projeto Construindo a Identidade

Consolidadas as ações comunicativas eparticipativas (mudanças de comportamentoalmejadas), é o momento da construção doProjeto Pedagógico , que deverá ser aexpressão filosófica da Escola, a suaidentidade. Sob a coordenação do GrupoInterdisciplinar, serão realizadas as adequaçõesnecessárias nos documentos de ensino emvigor (Currículo Mínimo, Grade Curricular,Plano de Unidades Didáticas - PUD, Planode Trabalho Escolar - PTE, Plano deAvaliação - PAV, Calendário Escolar), taiscomo: análise da filosofia da Escola, revisãodos objetivos, da carga horária, dos conteúdosdisciplinares, das técnicas, dos programas eatividades de ensino, dentre outras.

5 - Conclusão

Ser líder é um grande desafio, pois exigedaqueles que almejam dominar esta artea constante busca de aperfeiçoamento.Contudo, o mundo atual está a requererpessoas capazes de exercer eficaz e positivainfluência sobre os grupamentos humanos.

Ressalta-se a importância deste estudopara o Comando da Aeronáutica, pois,considerando-se o valor, dentro de nossacultura militar, de o oficial dominar a arte deinfluenciar e de conduzir homens no sentidodos objetivos maiores da Força, urgeaprimorar a formação dos jovens alunosda “Nascente do Poder Aéreo”, para quese tornem grandes líderes positivos doCOMAER e do Brasil.

Finalizando, relembra-se a seguintemensagem que realça o valor da liderança:“As águas de um rio, quando represadas

e canalizadas, transformam-se em forças

a serviço da vida. Isto porque a “dinâ-

mica” das águas é comandada. Não co-

mandadas ou mal comandadas, irrompem

de forma selvagem, transformando-se

em destruição. Assim acontece nos

grupamentos humanos. As energias

fabulosas que encerram tomarão os

rumos da comunicação e da integração,

ou então do conflito e da desagregação,

dependendo do tipo de liderança que

neles se exerce” (Autor desconhecido).

REFERÊNCIAS

AHLERT, Alvori. A eticidade da educação: odiscurso de uma práxis solidária / universal.IJUÍ: UNIJUÍ, 1999.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria deEducação Média e Tecnológica. ParâmetrosCurriculares Nacionais: ensino médio. Brasília:Ministério da Educação, 1999.

FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade:história, teoria e pesquisa. 8. Ed. Campinas:Papirus, 1994.

FRITZEN, Silvino José. Relações humanasinterpessoais: nas convivências grupais ecomunitárias. 11. Ed. Petrópolis: Vozes, 1987.

ZIMERMAN, David E. et al. Como trabalhamoscom grupos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,1997.

Page 26: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

25

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Maj.-Av. Ricardo César Mangrich

“NIntrodução

a II Guerra Mundial, gastávamos9.000 bombas para atingir um alvodo tamanho de um abrigo de aviões;

no Vietnã 300, e agora apenas uma”.Com essas palavras, o Secretário da Força

Aérea dos Estados Unidos, Donald B. Ricedefiniu, com precisão, a eficácia da BGL.

Implantação da Bomba

guiada a Laser - A correta

preparação

Implantação da Bomba

guiada a Laser - A correta

preparação

Page 27: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

26

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200225-33

1 BRASIL. Comando da Aeronáutica. Estado-Maior da Aeronáutica. Requisito Operacional Preliminar para a Bomba Guiada a Laser.ROP EMAER 16. Brasília, 1998.

Segundo dados extraídos dos relatóriosdas Forças Aéreas de Coalizão participantesda Guerra do Golfo, durante os 43 dias deconflito, nos ataques realizados contra o Iraquee o Kuwait ocupado, 90% das bombasinteligentes atingiram seus alvos contra apenas25% das bombas convencionais.

A Aeronáutica está carente de meios paracumprir com eficiência a sua destinaçãoconstitucional de defender a Pátria e garantiros poderes constitucionais, a lei e a ordem,pois, desde a II Guerra Mundial, quandooperava aviões e armamentos de últimageração, a Força Aérea nunca mais pode contarcom armamentos modernos em seus arsenais.

Para reverter essa situação, o Comandoda Aeronáutica vem demonstrando a firmeintenção de adquirir ar mamentos de altatecnologia como a BGL. Este interesse foimaterializado com a emissão do RequisitoOperacional Preliminar (ROP) n° 16 doEMAER. 1

Há, porém, um grande óbice a ser vencido:a falta dos conhecimentos técnico e tático emrelação ao emprego de armamentos moder-nos, motivada pelas várias décadas de atrasotecnológico dos itens bélicos, hoje, utilizados.

Após recebida a BGL, causa preocupaçãoa possibilidade do atraso na implantaçãooperacional, devido à falta de conhecimento,vindo o produto a perder parte da suapreciosa vida útil, estocado em prateleiras.

É, portanto, indispensável que a áreaoperacional possua uma maneira de sepreparar para esta tarefa o mais rápidopossível, pois, se é obrigação do Governodestinar recursos para que a Aeronáuticacumpra sua missão, é dever da Força fazerde tudo para que esse investimento alcance oretorno esperado.

Este trabalho estabelece medidas paraaumentar, no âmbito do Comando da

Aeronáutica, o conhecimento a respeito dearmamentos inteligentes, em prazo oportuno,por meio da proposta de criação de um cursoespecífico e a designação de uma unidadeaérea de A-1 para ser a responsável pelorecebimento e implantação da BGL na FAB.

Histórico

Mesmo na II Guerra Mundial, quandoos ataques aéreos envolviam o uso de centenasde aeronaves e milhares de bombas contraapenas um único alvo, os especialistasbuscavam uma maneira de tornar a relaçãocusto-benefício dos bombardeios maisvantajosa, aumentando a precisão dossistemas de pontaria.

No início da Guerra do Vietnã, onúmero de pilotos americanos derrubadosem ataques contra alvos táticos foi muitogrande. Na maioria das vezes, esses não eramadequadamente atingidos ou afetados. Omotivo desse atrito ainda era o Erro CircularProvável (ECP) dos sistemas de pontaria daépoca, o que obrigava a execução de ataquesa baixíssimas altitudes empregando umelevado número de aeronaves.

As perdas no Vietnã fizeram com querecursos fossem destinados ao desen-volvimento de um armamento inteligente,capaz de reduzir o ECP a um tal ponto queuma única bomba lançada pudesse fazer oserviço de dezenas de bombas convencio-nais. Surge, então, a Bomba Guiada a Laser.

Especialistas americanos da épocacalculavam que um caça F-4, equipado comduas BGL, tinha a mesma probabilidade deacerto (PA) que 44 caças do mesmo tipoequipados com bombas convencionais.

Apesar de incipiente, o uso da BGL noVietnã demonstrou a sua extrema eficácia noquesito precisão. Várias pontes, que até entãopermaneciam intactas após várias surtidas

Page 28: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

27

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Auditório de Mellon, WC

25-33

com sistemas convencionais, foram destruídascom um único e fulminante ataque com anova arma.

Essa eficácia pôde ser totalmentemensurada durante as campanhas no GolfoPérsico e no Leste Europeu, conflitos quetiveram a maioria dos ataques contra alvosimportantes baseados na sua utilização.

Logo após a Guerra do Golfo, com osucesso da BGL no conflito, o EMAERcomeçou a demonstrar interesse pelaaquisição dessa arma. Pela primeira vez, essearmamento apareceu listado nos planos demodernização da Força.

Em 1998, visando a nortear o processode aquisição da BGL, segundo normasestabelecidas2, surgem os requisitos opera-cionais para o sistema de bomba guiada alaser, denominado ROP EMAER 16.

Esse documento estabelece, entre outros,os seguintes requisitos:

a) O sistema de bomba guiada a lasercompreende não só o kit de guiagem,adaptado ao corpo da bomba, mas tambémum pod designador adaptado e integrado àaeronave lançadora;

b) o sistema deverá ser capaz de propiciarataques a baixa altura, com um tempo dedesignação mínimo e também ataques agrande altitude, fora do envelope da artilhariaantiaérea de curto e médio alcance; e

c) o pod designador deverá ser instaladona estação central da aeronave A-1 pertencenteao terceiro lote de produção.

Até novembro de 2001, empresasfabricantes da bomba tinham iniciado oscontatos com vários setores do Comandoda Aeronáutica, demonstrando interesse emfornecer o item.

Num futuro bastante próximo, serádefinido o sistema a ser adquirido, bem comoo seu fornecedor. O prazo estabelecido para

a entrega e recebimento dos primeirosexemplares é bastante diminuto, e, em breve,a FAB passará a ter as aeronaves A-1capacitadas para o emprego com armamentointeligente.

Dessa forma, há a necessidade de sesituar a área operacional do Comando daAeronáutica neste contexto, mostrando arealidade de hoje e os óbices encontrados.

O Problema

Atualmente, a conjuntura operacional,dentro do Comando da Aeronáutica, não éfavorável ao recebimento e ao empregoimediato de armamentos modernos e de altatecnologia, como a BGL.

Essa inadequação decorre de umgradativo processo de obsolescência dossistemas de armas utilizados pela FAB,acarretando uma defasagem, cada vez maior,do nível de conhecimento operacional.

Na verdade, ocorreu uma regressãorelativa do conhecimento. Na II GuerraMundial, os pilotos brasileiros do 1º Grupode Aviação de Caça operavam com o quehavia de mais moderno no mundo.

Em 1956, o Brasil foi um dos primeirospaíses latino-americanos a operar umaaeronave a jato, o Gloster Meteor, queestava sendo entregue também à Royal AirForce.

No início da década de 70, a FABexperimentou a estréia da aviação supersônica,com a entrada em serviço do Mirage e doF-5, o que propiciou o contato comarmamentos e sistemas modernos, como omíssil infravermelho.

A partir daí, nos 25 anos que se seguiram,a aviação de combate não teve qualqueravanço em termos de sistema de armamento.

No início da década de 90, entrou emserviço o A-1. Apesar de ser uma aeronave

2 BRASIL. Comando da Aeronáutica. Estado-Maior da Aeronáutica. Ciclo de Vida de Sistemas e Materiais da Aeronáutica. Brasília,1992. (DMA 400-6).

Page 29: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

28

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200225-33

de ataque dedicada, dispondo de modernossistemas de navegação e pontaria, o A-1 nãoincrementou como deveria a capacidadeoperacional da Força Aérea. Os pilotos,selecionados entre os melhores, já eramfruto do período obscuro da década de 80,e os ar mamentos continuavam a ser osmesmos utilizados na II Guerra Mundial.

O principal motivo da estagnaçãooperacional da Força Aérea é a não-aquisiçãode armamentos modernos nos últimos 25anos.

Essa falta de contato com a modernidadefoi criando uma lacuna cada vez maior, aponto de, hoje, a Força Aérea ter sériasdificuldades em até mesmo especificar umsistema desse tipo, quanto mais operá-loadequadamente.

Entre os inúmeros cursos realizados peloComando da Aeronáutica, existem doisdiretamente relacionados com o emprego dearmamentos modernos: o Curso de GuerraEletrônica e o Curso de Planejamento e Em-prego do Armamento Aéreo (CPEAAE).

Apesar de serem considerados cursos deexcelência, com base na análise das críticasdos alunos, ambos não podem aprofundaros conhecimentos ministrados, pois estãolimitados a poucas semanas.

A área de Guerra Eletrônica tenta resolveresse problema, criando outros módulos maisespecíf icos, como, por exemplo, o Mestradono Instituto Tecnológico da Aeronáutica(ITA). Mas o problema principal é que tantoo Curso de Guerra Eletrônica quanto oCPEAAE são ministrados a uma parcelamuito pequena da oficialidade.

Conseqüentemente, a grande maioriados pilotos e oficiais especialistas ligados àárea operacional não tem a oportunidadede realizar qualquer curso nesse setor e, porfrustração ou por necessidade funcional,acaba distanciando-se da razão de ser doComando da Aeronáutica, que é a arte da

guerra aérea, ligando-se cada vez mais aoutras atividades.

A pior conseqüência será o tempo

excessivo que irá decorrer entre o

recebimento da BGL e seu emprego. Umarmamento de operação complexa, que traráuma capacidade excepcional de precisão nosataques, exige de seu operador um alto graude treinamento e, conseqüentemente, umtempo razoável de adaptação à sua corretaoperação.

O recebimento de um sistema laser,na atual conjuntura, exigiria um períodode vários anos até o operador estar emcondições mínimas de emprego. Essa demorapode se prolongar tanto que se corre orisco de o item ficar obsoleto ou já estar nofinal de sua vida útil. Tal fato traz extremapreocupação, uma vez que situaçõessimilares já ocorreram em aquisições deoutros sistemas, feitas pelo Comando daAeronáutica.

A falta de preparo, neste caso a falta deconhecimento, também trará conseqüênciasnegativas na fase final de negociações e nafase inicial do recebimento. Corre-se o risco,também, de comprar um sistema comcaracterísticas indesejáveis ou gastar vultosasquantias com capacidades acima das neces-sidades operacionais da FAB.

A causa principal desta situação é a

falta de conhecimento generalizadosobre as características, potencialidades eemprego oper acional de armamentosinteligentes, existindo, então, a necessidadede se adquirir tal conhecimento o maisrápido possível.

Dentro desse contexto, configura-se oproblema, cuja solução é objeto destetrabalho: aumentar o conhecimento sobrearmamentos inteligentes na FAB, o maisrápido possível, a fim de propiciar umaeficaz implantação operacional da BombaGuiada a Laser.

Page 30: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

29

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200225-33

O Caminho para a Operacionalidade

Para aumentar o conhecimento da FABsobre armamentos inteligentes, em um curtoprazo, a fim de possibilitar uma rápidaimplantação da BGL, é necessária a criação

de um núcleo operativo, com a finalidade

de iniciar os estudos preliminares e

difundir doutrina, bem como de um curso

teórico para embasar esses estudos.

Esta proposta é detalhada a seguir,partindo-se da concepção de um cursoteórico com um currículo retirado de cursosjá existentes e a designação de uma unidadeoperadora da aeronave A-1 como núcleooperativo de implantação e difusor dedoutrina.

Para que essa proposta possa ser melhorinterpretada, torna-se necessário abordar, comcerta profundidade, as características deemprego da BGL.

Características da BGL

As principais Bombas Guiadas a Laser,hoje utilizadas, são as GBU-12, GBU-16 e aGBU-10 de 500, 1000 e 2000 libras,respectivamente, todas de fabricaçãoamericana. Os demais modelos existentes,fabricados por Israel, França, Inglaterra,Rússia e China, são bastante similares e podemser considerados cópias das primeiras.

Essas bombas possuem um software deguiagem que foi sendo aperfeiçoado ao longodos anos. O primeiro software de guiagemfoi designado como PAWEWAY I, vindologo em seguida, em meados da décadade 70, o PAWEWAY II e, recentemente, oPAWEWAY III. Esse software passoutambém a designar a bomba.

Existem também outras bombas guiadasque possuem propósitos específicos, como aGBU-28 penetrator, de 5.000 libras, utilizadapara penetrar e destruir alvos subterrâneoscomo bunkers e cavernas.

Como característica geral, todas asbombas guiadas possuem o corpo de umabomba convencional já existente, no qual éadaptado um kit de guiagem.

O kit possui três partes principais: odetector laser, o computador de guiagem, quecomanda as aletas móveis, e o conjunto deplaneio (Figura 1). Após o lançamento, umabateria térmica ativa o gerador de gases, quegerará pressão pneumática para operar asaletas móveis, a fim de possibilitar as correçõesde trajetória.

Também após o lançamento, o detectortentará captar energia laser, que é geradaquando o feixe do designador atinge algumcorpo opaco. Quando o detetor consegueperceber o ponto de reflexão, esse envia umamensagem para o computador de guiagem,que fará a correção da trajetória da bomba,através por meio das aletas móveis.

Se durante o vôo, o detector deixar decaptar o ponto de energia laser, o mesmomandará um aviso ao computador, quecomandará o alinhamento das aletas com ovento relativo. A partir daí, a bomba passaráa ter uma queda balística normal, vindo aexplodir no contato com o solo.

O conjunto de planeio é responsável pordar uma mínima sustentação à bomba,permitindo que ela plane até o alvo.

Fig. 1 - Os sistemas da BGL Fonte: GITE

Page 31: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

30

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200225-33

Uma característica importante da BGL éque ela não voa em direção ao alvo, e sim emdireção a um ponto que reflete energia laser.O acerto dependerá de o alvo estar ou nãocorretamente iluminado.

Operar com BGL pode parecer, aprincípio, uma operação pouco complexa,pois a bomba tem condições de corrigir suatrajetória para um impacto certeiro contra oalvo. O grande problema é que o alvo temde estar corretamente iluminado. Nessaoperação reside a grande dificuldade e omotivo de erros grosseiros que podemcausar bombas perdidas ou alvos atacadoserroneamente.

O manual de emprego da BGL da FigtherWeapon School3 traz, no seu capítulo intro-dutório, a seguinte expressão: “O pilotolançador aperta o botão. Porém, é o pilotodesignador que acerta o alvo.”

O ROP EMAER 16 especifica que osistema de designação a ser adquirido peloComando da Aeronáutica será um sistemagiro-estabilizado tipo pod.

Na Guerra do Golfo e, principalmente,no conflito no Kosovo, várias bombas seperderam e algumas acertaram alvos erradospor falhas na designação.

O principal óbice nessa missão é anecessidade de uma perfeita coordenaçãoentre lançador e designador. Este último, alémde pilotar a aeronave numa formação comas aeronaves lançadoras e gerenciar os sistemasde defesa, precisa localizar o alvo, identificá-lo e manter o feixe laser sobre ele por umperíodo suficiente para o posicionamento dosatacantes, lançamento da bomba e o vôo damesma até o alvo.

Uma análise feita pela Força AéreaAmericana indica que apenas 30% dos pilotosde um quadro de tripulantes (QT) atingem aproficiência necessária na missão dedesignação. Ou seja, além de treinamento

intenso, é necessária habilidade específica euma doutrina firmemente instalada entre osque executam esse tipo de missão.

Portanto, para que o conhecimento sejaadquirido, visando ao estabelecimento de umadoutrina inicial, o primeiro passo a ser dadoé a criação de um curso específico.

O Curso de Armamento Inteligente

O Comando da Aeronáutica possui doiscursos que estão diretamente relacionadoscom o emprego de armamentos inteligentes:o Curso de Guerra Eletrônica e o CPEAAE.

Ambos possuem um currículo técnicobastante aprofundado, fruto do trabalho deoficias que realizaram cursos semelhantes noexterior ou desenvolveram estudos e pesquisasbaseados em publicações trazidas de fora eauxiliados por órgãos técnicos, como opróprio CTA.

O Curso de Guerra Eletrônica possui ummódulo básico, com duração de três meses,e um módulo avançado, chamado de Cursode Especialização em Análise de AmbienteEletromagnético (CEAAE), com duração dequatro meses e certificação de Mestrado. Ocurso capacita oficiais a desenvolveremconcepções táticas e estratégias para o usodo espectro eletromagnético, bem como aexplorarem as interações que ocorrem entresistemas de armamento, plataformas eequipamentos, num ambiente de guerra oucrise.

O Curso de Planejamento e Emprego deArmamento Aéreo possui uma duração dequatro semanas e visa a capacitar oficiais deEstado-Maior a executarem planejamentos demissões operacionais envolvendo armamentoaéreo, bem como à correta avaliação do danodesejado.

Apesar de apresentarem finalidadesdistintas, ambos possuem disciplinas einstrutores que poderiam ser aproveitados

3 EUA. United State Air Force. Figther Weapon School. Laser Guided Bomb. Nellis, 1986.

Page 32: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

31

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200225-33

para a criação de um curso específico sobrearmamento inteligente.

Este curso teria a duração inicial de trêssemanas e possuiria um currículo misto, como seguinte conteúdo didático:

* Mecanismo de Dano (12 tempos)* Geometria de Emprego (4 tempos)* Guiamento de Armamentos (16 tempos)* Medidas de Proteção Eletrônica

(4 tempos)* Propagação Laser (6 tempos)* Características da BGL (12 tempos)* Supressão de Defesa Aérea Inimiga

(6 tempos)* Estimativa de Impacto (12 tempos)* Índice de Eficiência (5 tempos)* Vulnerabilidade dos Alvos (12 tempos)O Curso de Armamento Inteligente

(CAI)4 seria destinado, inicialmente, aos oficiaisresponsáveis pela implantação operacional daBGL na FAB, bem como aos que estiveremenvolvidos com o recebimento, contratos eapoio logístico.

O CAI teria como finalidade darembasamento teórico ao grupo operativoresponsável pela implantação operacional daBGL, bem como familiarizar oficiaisresponsáveis pelo apoio à implantação comas características técnicas e operacionais dessetipo de armamento.

Esse conhecimento será de fundamentalimportância para que a unidade de im-plantação da BGL possa, assim que possível,iniciar a sua preparação.

Atualmente, a Força Aérea conta com trêsunidades de A-1. O 1º/16º GAV, que operaaeronaves do 1º e 2º lotes de produção, emSanta Cruz. O 1º/10º GAV e 3º/10º GAV,que operam aeronaves do 3º lote de produção,em Santa Maria.

A diferença entre os lotes é que o 3ºlote foi o último contratado e possui me-lhoramentos incorporados, como piloto

automático e um software mais desenvol-vido, que torna a aeronave capaz de efetuarataques por coordenadas, sem que sejanecessário visualizar o alvo.

O 3º lote também é o único que já estáhomologado para operar com a BGL,tendo a Aeronáutica Militar Italiana (AMI),operando com um esquadrão de AMX doterceiro lote, efetuado vários ataques comBGL em Kosovo.

O 1º/10º GAV tem como missãoprincipal o Reconhecimento Aéreo e realiza,também, missões de ataque. Isso tornainviável o estabelecimento de um novo tipode missão para a Unidade Aérea, poisacarretaria um acúmulo muito grande deatividades.

A proposta deste estudo é que o 3º/10ºGAV seja designado como núcleo operativode implantação da BGL na FAB, pois operauma aeronave A-1 do terceiro lote e cumprea missão de Ataque, como prioritária.

Escolhida a unidade, torna-se necessárioque todos os pilotos e demais oficiaisenvolvidos na tarefa realizem o CAI, que,idealmente, deverá ser ministrado na própriaUnidade Aérea.

A realização do curso fará surgir uma fasede pesquisas e estudos, tornando possível odesencadeamento de um treinamento inicial.

O Treinamento Inicial

Pode parecer paradoxal iniciar otreinamento de emprego de um armamento

4 A sigla CAI será utilizada para designar um curso não existente, que é a proposta deste trabalho.

Page 33: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

32

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200225-33

sem sequer possuí-lo. Porém, no caso dearmamentos inteligentes, isto é possível epor demais importante.

Para evitar onerar o Programa deInstrução e Manutenção Operacional (PIMO)do 3º/10º GAV com um treinamentodedicado e de relação custo-benefícioduvidosa, são propostos, que, inicialmente,alguns tipos de missão, já realizados pelaUnidade Aérea, sejam adaptados paraatender também ao treinamento laser.

O perfil de emprego da BGL, basi-camente, é dividido em dois tipos distintos.O primeiro é realizado a grande altitude,acima de 15.000 pés de altura, no qual aincursão e o ataque são feitos com supe-rioridade aérea garantida e fora do alcancedo armamento antiaéreo de defesa de ponto.O segundo tipo é o emprego realizado a baixaaltura, no qual a superioridade aérea pertenceao inimigo e se voa muito baixo, a f im dediminuir o tempo de reação das defesas deponto, sendo a bomba arremessada numasubida brusca a, aproximadamente, cincomilhas náuticas do alvo.

Apesar de não terem consciência, ospilotos de A-1 já treinam esses dois perfis deataque, só que empregando armamentoconvencional. O primeiro tipo é chamado deBombardeio Picado de Grande Altitude(BPGA) e o segundo tipo de Ponto deLançamento Continuamente Computado(CCRP) de arremesso.

Para que o treinamento com bombaconvencional, hoje empregado, continue sendorealizado e para que se possa treinar tambémo emprego simulado de um sistema laser,bastaria, nesses dois perfis, colocar umaaeronave na esquadrilha que faria o papel dodesignador.

Com a realização do CAI e com odesenrolar do treinamento inicial, a unidadede implantação estaria, em curto prazo, aptaa receber e iniciar o treinamento com opróprio equipamento.

Tanto o CEAAE quanto o CPEAAEsão cursos gerenciados pelo COMGAR.Caberá, então, a este grande comando, aemissão de uma portaria de criação do CAIestabelecendo o currículo do curso bem comoa designação de seus instrutores.

Como as disciplinas já são ministradasatualmente, em um período de seis meses serápossível o estabelecimento do currículo,emissão da portaria e a matrícula da primeiraturma. Esta primeira turma, como já foiabordado anteriormente, será composta pelospilotos do 3º/10º GAV e oficiais de outros ór-gãos envolvidos com a implantação da BGL.

O primeiro curso será ministrado naprópria unidade aérea, visando à economiade recursos e à não-paralisação das atividadesnormais do 3º/10º GAV.

Findo o primeiro CAI, a Unidade, coma supervisão da Terceira Força Aérea, terá umprazo de dois meses para a preparação do

treinamento inicial envolvendo apesquisa, a análise e a emissãodas Ordens de Instrução estabe-lecendo o perfil das missões.

Baseado no atual PIMO do3º/10º GAV, em relação àsmissões previstas de BPGA eCCRP, seriam necessários quatromeses para que todas as missõesdo treinamento inicial fossemrealizadas.Fig. 2 - Designação laser Fonte: GITE

Page 34: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

33

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200225-33

Após a determinação do COMGAR,portanto, a proposta estará totalmenteimplementada num prazo de doze meses.

Uma Visão de Futuro

A Força Aérea abre o século XXI com“chave de ouro”, oportunidade em que seinicia a recuperação da sua capacidadeoperacional e, neste contexto a priorizaçãodo Alto-Comando para o reequipamento daForça e a firme intenção da aquisição daBGL.

A implantação desse armamento forçará,certamente, a quebra da igualdade das táticasde emprego que datam a II Guerra Mundial.

A correta preparação da FAB para orecebimento de armamentos guiados a laserfaz-se mais do que necessária, uma vez que,conforme ficou patente nas explanaçõesanteriores, o nível de conhecimento da áreaoperacional está muito abaixo do requerido.

A compra, por si só, pouco representano resultado final esperado, se a mesma nãoproporcionar , no âmbito interno da Força, aelevação operacional de seus componentes,principalmente no estudo de novas táticas eno aperfeiçoamento da doutrina.

As conseqüências da criação do CAI,bem como do preparo de uma unidadeoperacional para receber e operar essemoderno armamento, serão sentidas, deimediato, durante os vôos de recebimento,nos quais conhecimentos técnicos e especia-lizados serão extremamente necessários a umacorreta avaliação do desempenho do sistema.

O primeiro, e mais importante, degraude elevação operacional será a situação de“pronto para o emprego”, que, certamente,será atingida num tempo bem menor e comum mínimo de esforço.

Para a área operacional, o benefício davalorização profissional será profundamentesentido, pois, estará sendo dada a possi-

bilidade para promissoras perspectivas depoder cumprir com dignidade sua missão.

Enquanto a BGL não é recebida, aimplantação da proposta tornará possível asimulação da utilização de armamentosguiados a laser em manobras e operações noâmbito nacional e internacional. Manobrascomo a COMBINEX5 e outros, contarão,então, com uma nova modalidade deemprego, introduzindo novos conceitos efatores nos futuros planejamentos.

Os pilotos de combate, bem como osespecialistas de manutenção, estarão tambémmais capacitados para os intercâmbios comas potências mundiais da aviação. Neste caso,muito mais conhecimento poderá seradquirido, pois todos estarão mais atentos aosprocedimentos de operação e manutençãodestes itens.

“De nada valerá a espada mais afiada

se o guerreiro que a impunha não estiver

treinado. Treine o homem e, só depois,

afie a espada”.

Sun tzu

REFERÊNCIAS

AIRPOWER JOURNAL. Alabama, 3º trim. 1999.Edição brasileira.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Comando-Geral do Ar. Grupo de Instrução Tática eEspecializada. Manual do Curso dePlanejamento e Emprego do Armamento Aéreo.Parnamirim, 1999.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Estado-Maior da Aeronáutica. Ciclo de Vida de Sistemase Materiais da Aeronáutica. Brasília, 1992. (DMA400-6).

EUA. United Estates Air Force. Fighter WeaponsSchool. Laser Guided Bomb. Nellis, 1986.

PAWLOSKI, Dick. Smart Weapons. Fort Worth:Martin, 1995. 372 p.

WERRELL, Kenneth. A tecnologia da USAF.Airpower Journal, Alabama, p. 41-54, 2º trim.1996. Edição brasileira.

5 Manobra realizada pelo COMDABRA para treinamento do Sistema de Defesa Aeroespacial.

Page 35: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

34

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Ciência e Tecnologia noÂmbito do Ministério daDefesa (MD) - Um novo

modeloTen.-Cel.-Eng. Silvino LuizCarvalheiro da Silva

Page 36: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

35

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

1 - Evolução Histórica da C&T Militar

Brasil esteve diretamente envolvido,em toda sua história como naçãoindependente, em muito poucos

conflitos armados, a saber : a Guerra daIndependência, a Guerra do Paraguai e aSegunda Guerra Mundial. Esse fato levou àformação de uma cultura de defesa voltada,fundamentalmente, para objetivos e valorespacíficos, mantendo-se assim um contigentebastante modesto de militares e de civisligados à atividade militar (vide Tab. 1), tendoem conta suas invejadas riquezas naturais.Como conseqüência, também os recursoshumanos aplicados à C&T militar têm sidorelativamente poucos.

Aliado a esse parco volume de recursoshumanos, constata-se que “o orçamentomilitar nos últimos anos tem ficado abaixodo nível de 2% do Produto Interno Bruto(PIB), o que leva a uma cifra média de menosde cem dólares anuais por habitante”. (U.FSão Carlos - Depto Ciências Sociais, 2000).Mesmo durante o período de governo militar(1964-1984), os recursos orçamentários dasForças Armadas (FA) foram mantidos emníveis bastante modestos em virtude da ênfasecivil das políticas de desenvolvimento nacional.

Em consonância com os estudos que sedesenvolviam para otimizar o sistema dedefesa nacional, o Presidente FernandoHenrique Cardoso contemplou o País, emnovembro de 1996, com uma primeirainiciativa concreta na direção de uma defesaefetivamente unificada, através da propostade uma Política de Defesa Nacional - PDN(BRASIL, Secretaria de Comunicação Socialda Presidência da República).

Na PDN, dentre as diretrizes a seremobservadas, tem-se:

“Buscar um nível de pesquisa científica,de desenvolvimento tecnológico e decapacidade de produção, de modo aminimizar a dependência externa do Paísquanto aos recursos de natureza estratégicade interesse para a sua defesa.”

A materialização da PDN foi um marcosignificativo na atualização do pensamentoestratégico brasileiro, envolvendo as esferaspolíticas e militares da nação.

Em decorrência lógica da materializaçãoda Política de Defesa Nacional, foi criado oMD, em junho de 1999, com uma ótica deintegração horizontal das FA, ou seja, deabandono de suas atuações verticais, in-dependentes e sempre dissociadas de

objetivos estratégicos nacionaisunificados, do que não se excluemas atividades de C&T militar.

Passados três anos desde a criaçãodo MD, observa-se que os processosde C&T das FA não sofrerammodificações significativas no sentidode unificar esforços para melhorgerenciamento de recursos humanos,financeiros e materiais, a despeito daatuação da COMASSE - ComissãoAssessora de Assuntos Científicos eTecnológicos das Forças Armadas -que sequer vem obtendo os recursos

financeiros necessários à consecução da suamissão.

País Habitantes por Militar km 2 por Militar

BrasilBrasilBrasilBrasilBrasil 563 563 563 563 563 29,0 29,0 29,0 29,0 29,0Argentina 486 15,3Nicarágua 321 9,3Austrália 316 120Alemanha 229 0,97Espanha 199 2,5E. U. A. 181 6,4Suécia 170 7,8Chile 167 8,1Noruega 153 10,5Grécia 68 0,8Israel 26 0,1

Tab. 1 - Razões Habitantes e Área por Militar de Alguns Países

[Enciclopédia Microsoft Encarta, 1998]

O

34-40

Page 37: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

36

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Em visitas de reconhecimento aosprincipais órgãos de C&T das FA, além deconsultas ao Departamento de Ciência eTecnologia da Secretaria de Logística eMobilização do MD, observou-se que nãoexiste um processo de gerenciamento

Fig. 2 - Estrutura de Gerenciamento de C&T no Comando daAeronáutica [http://www.deped.maer.mil.br]

Fig. 3 - Estrutura de Gerenciamento de C&T no Comando da

Marinha [BRENER]

2 - Velho Modelo - Novo Paradigma

Apesar de ainda se observarem diversosconflitos localizados no mundo atual, o finalda guerra fria arrefeceu o potencial debeligerância global e a maioria das nações temcada vez mais reduzido os orçamentos dedefesa em prol de investimentos nos campossocial e econômico.

O governo brasileiro foi, durante oregime militar, o grande investidor nasatividades de C&T, aliando sua política clássicaeducacional aos programas lançados nas áreasde industrialização e de pesquisa básica.

As crises do petróleo produziram criseseconômicas no País que levaram a umasituação extremamente instável em relação aosuporte estatal às atividades de C&T. Desdeentão, até os dias de hoje, o que se tem vistoé uma persistente redução da participação dogoverno nessa área, não se excluindo disso osetor de C&T de defesa.

As atuais estruturas de gerenciamento deC&T de cada Força Singular estão mostradasnas Figuras 1, 2 e 3, referentes respectivamenteaos Comandos do Exército, da Aeronáuticae da Marinha.

Fig. 1 - Estrutura de Gerenciamento de C&T no Comando do

Exército [ANDRADE]

34-40

Page 38: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

37

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

unificado, restringindo-se às iniciativasassessoras da COMASSE, cujos esforços têmsido pouco eficazes. Os Comandos Militaresseguem definindo, de acordo com asrespectivas óticas e necessidades exclusivas,suas atividades de C&T.

A metodologia de decisão, gerenciamentoe controle, refletida nas respectivas estruturasde C&T, é estabelecida pelos órgãos setoriaisda cada força, com assessorias próprias, emgeral não suportadas pelo emprego de técnicascientíficas, a despeito da complexidadeintrínseca aos modernos sistemas de defesa.

A geração independente de Planos dePesquisa e Desenvolvimento (P&D), pelosComandos Militares, configura um quadrode grande superposição dos trabalhosexecutados pelos respectivos órgãos exe-cutores de P&D. A despeito de possuíremaplicações com características muitas vezesdistintas, os programas e projetos por elesdesenvolvidos apresentam um elevadíssimograu de comunalidade,levando a uma signifi-cativa duplicação deesforços, além do mútuodesconhecimento comrelação aos núcleos deexcelência em áreas espe-cíficas existentes dentreeles. Como agravante,tem-se, há vários anos,um contexto de crescen-te escassez de recursosmateriais e humanos nosórgãos de P&D de defe-sa, levando a uma baixaeficiência de resultados.

Na raiz de toda aatual situação está na ausênciade unificação de decisão, geren-ciamento e controle sobre asatividades de C&T no âmbito doMD.

3 - Gerência Unificada

Na atual estrutura do MD (figura 4) osassuntos de C&T são tratados peloDepartamento de Ciência e Tecnologia,subordinado à Secretaria de Logística eMobilização daquele Ministério. OsComandos Militares, subordinados ao MD,possuem seus órgãos setoriais de P&D.Assim, qualquer que seja a estruturaconsiderada, a C&T de aplicação militar estáatualmente no terceiro escalão decisório. Valelembrar que a C&T de cunho civil encontra-se, desde a criação do Ministério da Ciência eda Tecnologia - MCT - em 1985, no primeiroescalão governamental. Pode parecer depouca importância, mas este fato tem feitomuita diferença entre os avanços das C&Tcivil e militar.

Fig. 4 - Estrutura atual do MD (fonte: site oficial do MD)

34-40

Page 39: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

38

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

“A superioridade arrasadora das forçasarmadas dos Estados Unidos da América édiretamente devida aos investimentos empesquisa em C&T de defesa feitos 20 a 30anos atrás.” - Coronel J. Douglas Beason -USAF, Revista Aerospace Power - 3ºtrimestre de 2001.

Os investimentos a que se refere a citaçãoacima não se restringem aos recursosfinanceiros mas, também, em atualização desuas estruturas gerenciais de modo a adeqüá-las às necessidades de seus ComandosOperacionais.

O trabalho integrado e/ou combinadodas forças de defesa nacional deve serbuscado intensivamente na atuação emconflitos armados, bem como, e não deforma menos importante, nos organismosda Defesa voltados paraas atividades de C&Tmilitar.

A solução vislumbra-

da é a de criar, no MD, a

Secretaria de Ciência e

Tecnologia (SECT)

(figura 5), sendo definidapelo seguinte conjunto deaspectos:

Subordinação

A SECT será origináriado atual DepCT. O novoorganograma propostopara o MD mostra que aSECT disporá de trêsdepartamentos de C&T: deExército, de Marinha e deAeronáutica. Cada umdeles responderá pelasatividades órgãos execu-tores de P&D da respectivaarma. A chefia da nova secretaria seráocupada por um Oficial de 4 estrelas, numrodízio periódico entre as três armas.

Missão

A missão da SECT será: implementar asdiretrizes da PDN relativas à área de Ciênciae Tecnologia.

Estrutura, Pessoal e Meios

Haverá, dentro da nova SECT, trêsdepartamentos, um para cada Força Singular,chefiados por Oficiais Generais de trêsestrelas das respectivas Forças. Os novosdepartamentos, chefiados por OficiaisGenerais de 3 estrelas, cor responderão,basicamente, aos atuais órgaos setoriais deP&D dos Comandos Militares. As chefias dosatuais órgãos executores de P&D passarão aser ocupadas por Oficiais Generais de duasestrelas, devendo as estruturas atuais de todosesses órgãos ser adaptadas a essa novadistribuição hierárquica.

A atual estrutura Administrativa eExecutiva da COMASSE integrará a estrutura

Fig. 5 - Proposta de nova estrutura para o MD

34-40

Page 40: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

39

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

de apoio da SECT. Serão revistas e ampliadasas funções dessas novas gerências, de modoa incluir todo o escopo de acompanhamentoe controle, a nível de Estado-Maior, dosprogramas e projetos de todos os órgãosexecutores de C&T subordinados à SECT.À Gerência Administrativa caberá oacompanhamento e o controle financeiros; àGerência Executiva, o acompanhamentofísico. Será criada, ainda, uma Gerência deIntegração, incumbida de facilitar a interaçãocom as atividades de C&T de outrosministérios governamentais e com instituiçõescivis desse mesmo setor.

Metodologia de Trabalho

A nova SECT funcionará com um ciclosemestral de acompanhamento e controle,cada ciclo composto de três fases:

Fase 1 - Revisão das atividades e

necessidades correntes

Fase 2 - Análise e consolidação das

atividades de C&T no MD

Fase 3 - Ajustes e correções via

departamentos de C&T

4 - Perspectivas Futuras

A curto prazo (até 5 anos desde aimplantação) a adaptação à nova estrutura terádois aspectos principais: o primeiro refere-seàs questões hierárquicas, uma vez que os atuaispostos das chefias de órgãos setoriais de P&Dpassarão a ser do nível de Oficial-General de3 estrelas e, conseqüentemente, as chefias dosórgãos executores de P&D passarão para onível de Oficial-General de 2 estrelas; osegundo aspecto diz respeito à entrada emfuncionamento da nova metodologiaunificada de decisão, gerenciamento econtrole. Neste caso, o Departamento deC&T de cada Força deverá emitir instruções,aos respectivos órgãos subordinados, relativasaos procedimentos ordinários durante esseperíodo de transição entre as estruturas antiga

e nova, evitando provocar impasses ousolução de continuidade.

Todos os programas e projetos de P&Dterão seus cronogramas físico-financeirosrevistos e ajustados às prioridades globais dadefesa nacional. Vale ressaltar que, emconseqüência da necessidade de evoluirpara se adaptarem aos novos paradigmastecnológicos, os órgãos executores de P&Ddeverão considerar a necessidade de umareengenharia de suas estruturas funcionais.Nela se inclui a possibilidade de fechamentode alguns setores, criação de outros, reorga-nização funcional e revisão da metodologiade gerenciamento de projetos.

No médio prazo, isto é, no período de 5a 10 anos após a criação da SECT, as medidastomadas no curto prazo já estarão apre-sentando muitos resultados práticos, taiscomo: as linhas de pesquisa adotadas desdeo princípio estarão possibilitando novastecnologias aplicáveis ao mundo civil e militar;o complexo industrial ligado à defesa terá seampliado e atualizado seus métodos eprocessos, possibilitando implementaruma modernização nos armamentosconvencionais com base em trabalhos nessesentido executados pelos órgãos militares deP&D; os organismos financiadores depesquisas terão maior participação nasatividades militares de C&T devido à buscaintencional de tecnologias duais; e os órgãosexecutores de P&D poderão dispor, em seusefetivos, de militares das três Forças, fatoque dependerá do interesse comum dasrespectivas Forças nos programas ou projetosem andamento nesses órgãos.

Num horizonte mais longo, depois de 10anos de implantação da nova estrutura, sãograndes as chances de que se venha a ter umcomplexo industrial, científico e tecnológicode defesa de alta qualidade e eficaz na rápidasatisfação das necessidades dos ComandosOperacionais.

34-40

Page 41: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

40

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

5 - Conclusão

Neste trabalho foi apresentada,inicialmente, a situação das atividades militaresde C&T das FA, cuja integração tem-selimitado às iniciativas da COMASSE, comresultados pouco expressivos.

Uma análise desta situação constatou que,a despeito da significativa comunalidade deáreas de pesquisa e desenvolvimento, bemcomo das diretrizes da Política de DefesaNacional, os setores de P&D das FA seguempreocupados somente com as necessidadesdas respectivas Forças, não havendo, noâmbito do MD, um plano integrado dasatividades dos órgãos executores de P&D dosComandos Militares.

Visando solucionar esse problema, foiproposta a criação da Secretaria de Ciência eTecnologia do MD, a SECT, dando àqueleMinistério, poder de decisão, gerenciamento

e controle das atividades de C&T da defesanacional, visando racionalizá-las e otimizá-las.

Com esse novo modelo de gerenciamentounificado, adequado ao novo paradigma deum Ministério da Defesa, mostrou-se, numavisão prospectiva, que sua implantação e seusresultados potenciais são muito promissores,tanto para os órgãos executores de P&D emsi, quanto para a operacionalidade das FA.

Elevar as atividades militares de C&T aonível de primeiro escalão no MD é fazer justiçaà expressão de poder nacional que modificoucompletamente a forma das guerras ,principalmente desde o último século.

Apesar dos augúrios de tempos de paz,o descortinar do século XXI tem mostradoque seguirá valendo a máxima “Si vis pacem,para bellum”. Assim, a soberania territoriale econômica de uma nação continuarádependendo fundamentalmente da com-petência tecnológica de suas FA.

ANDRADE, Umberto R. O Modelo de GestãoTecnológica do Exército Brasileiro. Rio deJaneiro, 2001.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. DEPED.Organograma do DEPED. Disponível em: http://www.deped.maer.mil.br. Acesso em: 10 out.2001.

______. Plano Básico de Pesquisa eDesenvolvimento - Triênio 2001-2003. Brasília,2001.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Estado-Maior da Aeronáutica. Doutrina Básica da ForçaAérea Brasileira. Brasília, 1997. (DMA 1-1).

BRASIL. Ministério da Defesa. Decreto no 3.569,de 18 de agosto de 2000. Dispõe sobre aComissão Assessora de Ciência e Tecnologia- COMASSE e dá outras providências. DiárioOficial da União de 21 de agosto de 2000,Seção I, 1ª página. Disponível em: http://www.mct.gov.br/legis/decretos/3569_2000.htm.Acesso em: 18 jan. 2002.

_______. Organograma do MD. Disponível em:http://www.defesa.gov.br. Acesso em: 18 jan.2002.

BRASIL. Presidência da República. Secretariada Comunicação Social. Política deDefesa Nacional. Disponível em: http://www.defesa.gov.br. Acesso em: 18 jan. 2002.

BRENER, Alessandro O. Ciência e Tecnologiana Marinha do Brasil. Rio de Janeiro. 2001.

PASSOS, Carlos S. M. Avaliação do Sistema deCiência e Tecnologia. Disponível em: http://www.esg.br/dactec/leitura/asct.html. Acessoem 18 jan. 2002.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS.Departamento de Ciências Sociais. O GovernoFernando Henrique e as Forças Armadas: umpasso à frente, dois passos atrás. 2000.Disponível em: http://crab.rutgers.edu/~goertzel/martins.html. Acesso em 18 jan. 2002.

REFERÊNCIAS

34-40

Page 42: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

41

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200241-47

1 - Introdução

fato de o Comando da Aeronáuica(COMAER) dispor de aeronaves decaça e de artefatos bélicos não

significa que todos os seus obstáculos serãosuperados com a utilização da força. Emmuitas oportunidades, o Teatro de Operaçõesdá lugar ao Tribunal do Júri, onde oscombatentes são os advogados e as armasusadas são as leis, palco em que nem semprea batalha judicial é vencida pelo segmentodetentor de maiores recursos tecnológicos oufinanceiros.

A experiência no campo jurídico deimóveis demonstra que a adoção de medidaspreventivas inibe a ação dos invasores, como,por exemplo, a instalação de cercas e de placasindicativas de propriedade. Porém, quando aincursão já é um fato consumado, não há outraalternativa senão o caminho dos tribunais.

Dentro desse contexto, este escritoapresenta uma nova tecnologia disponível paraexecutar a vigilância da área patrimonialdo Campo de Provas Brigadeiro Velloso

O(CPBV), a ser realizada com a utilização dasimagens de radar geradas pelo satélitecanadense Radarsat-1.

O tema será desenvolvido de forma aabordar, inicialmente, a origem das áreaspatrimoniais sob a jurisdição do COMAER,a criação do CPBV, e os aspectos jurídicosafetos às atividades patrimoniais.

Na seqüência, o enfoque recairá sobre aspotencialidades do Sensoriamento Remoto edas imagens geradas pelo satélite Radarsat-1.Em seguida, descreverá as fases de im-plantação da metodologia proposta, bemcomo enfocará, por intermédio de uma visãoprospectiva, os seus benefícios decorrentes.

Neste ponto, em que o futuro se encontraem foco, torna-se oportuno voltar, porintermédio do relato da origem dos benspatrimoniais do COMAER, no tempo eidentificar como tudo começou.

2 - Histórico das Áreas Patrimoniais

O Código Civil Brasileiro (CCB) define,no seu Artigo 65, que são considerados benspúblicos todos aqueles cujo titular é uma

Nova Tecnologia para

Vigilância Patrimonial da

Amazônia

Nova Tecnologia para

Vigilância Patrimonial da

Amazônia Ten.-Cel.-Eng. Antonio José Rocha Luzardo

Page 43: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

42

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200241-47

determinou que se fizessem estudos, nosentido de se definir uma área para odesenvolvimento de ensaios de armamentos,artefatos bélicos, experimentos, testes,treinamentos e manobras, em que essas açõesnão interferissem na vida da população civil.

O resultado desse trabalho traduziu-se naassinatura do Decreto nº 83.240, de 7 demarço de 1979, que reservou uma área depropriedade da União, na Serra do Cachimbo,no Estado do Pará, com a finalidade deimplantar um Campo de Provas para asForças Armadas, objetivando a realização deexercícios militares e de experimentos bélicos.

No âmbito do COMAER, a Portaria nºC-016/GM3/070383 criou o Campo deProvas de Cachimbo (CAMP). Em seguida,a Portaria nº C-020/GM3/220383 atribuiu aadministração do CAMP ao VI COMAR.Na seqüência, a Portaria nº C-024/GM3/060483 criou o Grupo Executivo paraImplantação do Campo de Provas deCachimbo (GEICAMP).

Mais tarde, pela Portaria nº 510/GM3/300797, o Campo de Provas teve a sua de-nominação alterada para Campo de ProvasBrigadeiro Velloso, o seu nome atual.

O CPBV conta com diversas áreasreservadas para a atividade operacional,permanentemente ativadas, as quais permitemo emprego de armamento real em toda asua extensão. Lá são realizados ensaios, testes,experimentos e exercícios táticos de interessedo COMAER, o que enfatiza a importânciadesse campo de treinamento para a ForçaAérea, no tocante à manutenção da opera-cionalidade das suas equipagens.

Por outro lado, além das aeronaves quelá realizam os seus exercícios, o CPBV recebetambém a indesejável visita de invasores, que,atraídos pela fartura de madeira e pelapossibilidade de obter terras para o plantio,penetram na área patrimonial, em busca doseu intento, causando um profundo desgaste

pessoa jurídica de direito público interno, ouseja, a União, os Estados e os Municípios.

Dentro desse contexto, o GovernoFederal controla os bens imóveis do seuâmbito de atuação, por meio da Secretariade Patrimônio da União (SPU), que exerce asua jurisdição ou a transfere para outrosórgãos federais.

Em função desse mecanismo legal, oCOMAER dispõe de um grande acervopatrimonial, espalhado por todos os rincõesdo País, o qual é tutelado pela DIRENG,órgão central do Sistema de Patrimônio daAeronáutica (SPA).

O COMAER detém, em todo o País,2.150 áreas patrimoniais, perfazendo umsomatório de 23.850,34km². Dentre elas, háuma, situada na Amazônia, que ocupa umterreno de 21.588,43km², o que correspondea 90,5% do acervo patrimonial total doCOMAER - tamanho muito próximo ao doEstado de Sergipe, que é de 21.954km² - eque se destaca pelo seu tamanho e pelaimportância das atividades nela realizadas: oCPBV.

3 - O Campo de Provas Brigadeiro Velloso

No decorrer das últimas décadas, ocrescimento urbano e rural do País fez comque diversas instalações das Forças Armadas,tais como Bases Aéreas, estandes de tiro, áreasde treinamento, paióis, etc passassem a teruma vizinhança civil em seus entornos.

Diante desse quadro, o Estado-Maiordas Forças Armadas (EMFA), em 1977,

Page 44: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

43

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200241-47

administrativo para o comandante daquelaOM.

Assim, a realização plena das atividadesmilitares citadas está condicionada, dentreoutros fatores, à preservação da suaintegridade patrimonial, que é obtida com aadoção de ações preventivas e corretivascontra as invasões de propriedade. Entre essasações - norteadas pelos aspectos jurídicos dopatrimônio - inclui-se a vigilância realizadacom a utilização de aeronaves.

4 - Aspectos Jurídicos do Patrimônio

A ICA 87-4, “Guarda, manutenção,proteção contra invasões e depredação deimóveis sob a responsabilidade do Comandoda Aeronáutica”, de 10 de abril de 2001,descreve algumas situações de invasão quepoderão ser vividas pelos agentesresponsáveis por imóveis, bem comoapresenta o procedimento a ser seguido emcada um dos casos.

Quando existe uma ameaça de ocupação- que é a demonstração evidente da intençãode invadir -, recomenda-se que sejamadotadas medidas preventivas, necessárias àmanutenção do imóvel, inclusive comvigilância constante e colocação, se for ocaso, de cerca e de placas indicativas dapropriedade, em consonância com o Anexo3 da Norma do Sistema de Patrimônio daAeronáutica (NSPA).

Ocorrendo uma ocupação indevidaimediata - quando invasão ainda não estátotalmente concretizada - a lei faculta apronta-intervenção para a remoção de todosos vestígios do gesto malogrado. Nesse caso,é permitido o uso da legítima defesa da possepor meio da reação imediata, observando,porém, que os atos defensivos não podemultrapassar o indispensável à sua manutenção,conforme prevê o artigo 502 do CCB.

No caso de uma ocupação indevidanova - quando o período da invasão é igual

ou inferior a um ano -, o agente responsávelpelo imóvel deverá, de imediato, tentar aremoção por meio de um acordo amigável.Caso isso não seja possível, ele deverá,objetivando a instrução do processo judicialpertinente, oficiar aos ocupantes do imóvel,visando à sua imediata desocupação.

Em seguida, o processo deverá serencaminhado ao COMAR da área em questão,que solicitará à Advocacia Geral da União(AGU) a promoção dos atos necessários àinstrução da competente ação judicial. Nesseórgão, poderá ser deferido um mandadoliminar de manutenção ou reintegração deposse, sem que o ocupante seja ouvido, deacordo com o Artigo 928 do Código deProcesso Civil (CPC).

Havendo uma ocupação indevida antiga- quando o período da invasão é superior aum ano - o agente responsável pelo imóveldeverá seguir os mesmos procedimentosindicados para uma ocupação indevida nova.No âmbito judicial, porém, o rito seráordinário, com audiência do ocupante, antesda expedição do mandado de manutençãoou reintegração de posse, conforme previstono artigo 929 do CPC, resultando em umprocesso mais moroso.

As situações descritas demonstram que orumo dos tribunais deve ser evitado, por servagaroso e complexo, bem como por nãoproporcionar garantias de que a decisão judicialserá favorável ao COMAER, o que representa,no mínimo, uma situação indesejável epreocupante, fato que reforça a importânciada nova metodologia ora apresentada.

5 - A Nova Metodologia de Vigilância

5.1 Imagens de Radar

O termo radar , derivado da expressãoinglesa radio detection and ranging, significasistema eletrônico para detecção e localizaçãode alvos, por meio da medição das reflexõesda freqüência de rádio por ele emitida.

Page 45: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

44

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200241-47

Dentro desse contexto, o radarimageador funciona de forma semelhante auma câmera fotográfica com flash, já que elepossui energia própria para “iluminar” umaárea na superfície terrestre e captar o sinalr efletido a fim de formar a imagem. Adiferença básica entre ambos é que o radarfaz uso de uma região específica do espectroeletromagnético: as microondas.

O CPBV será recoberto por uma únicaimagem de radar, gerada semanalmente, e a suavigilância será realizada pela identificação dasalterações das feições do terreno, realizada apartir da análise dessa imagem, em compara-ção com a da semana anterior. Vale ressal-tar que, em função das característicasintrínsecas às imagens de radar, estas podemser obtidas de dia ou à noite, em dias nubladosou não.

A observação da alteração da respostaespectral do terreno causada pelo desma-tamento — que é a característica básica dasinvasões naquela região — permite identificara área de interesse, com segurança, já que asclareiras apresentam uma tonalidade escura,em contraste com os tons claros oriundosdo retroespalhamento acentuado provocadopela vegetação densa ao seu redor.

5.2 Descrição da Metodologia

Uma característica importante do softwareempregado na metodologia em tela é que elefornece as coordenadas geográficas do sítio

em questão, o que permitirá o acesso daequipe de segurança do CPBV ao localindicado, com a utilização de um rastreadorde satélites GPS, ainda na fase de ocupaçãoindevida imediata.

O controle da vigilância será executadopela Seção de Operações do CPBV, emBrasília, onde dois graduados serão osreponsáveis pela realização das atividadestécnicas e administrativas inerentes ao processode operação do software citado.

Quando uma nova área desmatada foridentificada, a Seção de Operações entraráem contato com a equipe de segurança doCPBV, baseada em Cachimbo, por inter-médio dos meios de comunicação jáexistentes, e transmitirá as coordenadasgeográficas do local a ser verificado.

Desse ponto em diante, será mantido oprocedimento atual, ou seja, a equipe desegurança do CPBV deslocar-se-á para olocal indicado, por via terrestre ou com oapoio de uma aeronave de asa rotativa,dependendo das facilidades de acesso, a fimde tomar as medidas necessárias à remoçãodo invasor.

No tocante às etapas que compõem oprocesso, a Radarsat International (RSI),empresa responsável pelo processamento edistribuição das imagens do Radarsat-1,informa que o satélite capta a cena de umamesma região do Território Nacional, nomodo Scansar Narrow, a cada quatro dias; ea informação captada, que dá origem àimagem propriamente dita, é processada emdois dias.

Quanto à remessa da imagem, ela seráfeita no dia posterior ao processamento, pelaRSI, no Canadá, para a sede administrativado CPBV, em Brasília, via Internet, meio deveiculação que, de acordo com aquelaempresa, é protegido por um sistema desegurança. Há, ainda, como alternativa paraeventual falha de transmissão via Internet, o

Page 46: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

45

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200241-47

serviço postal FedEx, que remete o materialem dois dias.

No mesmo dia do recebimento daimagem em Brasília, ela é analisada e ainformação é, imediatamente, disponibilizadapara, se for o caso, o acionamento da equipede segurança do CPBV, em Cachimbo.

5.3 Implantação da Metodologia

A metodologia de vigilância utilizará osoftware Geomatica Fundamentals, umaplicativo de tratamento de imagens de radar,produzido pela empresa canadense PCIGeomatics e distribuído pela firma Threetek,representante exclusiva da RSI no Brasil. Essesoftware, que é comercializado no Canadá enos Estados Unidos por US$3,250.00, poderáser adquirido pela CABW.

Para o seu funcionamento, esse softwarerequer um hardware com a seguinte con-figuração mínima: Pentium 4, com discorígido de 20 megabytes, memória RAM de128 megabytes, processador de 1.500 megahertz,sistema operacional Windows 98, e ummonitor com tela de 15 polegadas.

De acordo com a edição de março de2002 da Info Exame, revista especializada emInformática, um equipamento com essascaracterísticas pode ser encontrado nomercado nacional, a um custo de R$3.300,00,aproximadamente.

Em termos de capacitação de pessoal, omanuseio desse software requer um treina-mento de oito dias, a ser ministrado pelaprópria Threetek, na sua sede, no Rio deJaneiro, para dois alunos. Eles deverãopossuir noções básicas de Windows 98,conhecimento que pode ser obtido em umcurso, com duração de uma semana, cujopreço, em Brasília, é de R$200,00 por pessoa.

Na Threetek, serão ministradas aulas dePrincípios Básicos do Sensoriamento Remoto,que dão o embasamento teórico do assunto,bem como será abordada a teoria e a prática

do software Geomatica Fundamentals. O custototal do treinamento será de R$12.000,00.

Quanto ao Radarsat-1, será utilizada umaúnica imagem, semanalmente, no modoScansar Narrow, com 50 metros de resolução,cuja cobertura, de 300km por 300km, abrangetoda a área do CPBV. O custo unitário daimagem é de US$2,900.00 e o custo totalanual, considerando a freqüência semanal deaquisição, será de US$150,800.00. Essasimagens poderão ser adquiridas, no Canadáou nos Estados Unidos, por intermédio daCABW.

É importante ressaltar que, após a im-plantação dessa metodologia, a abrangênciada vigilância aumentará, considerando que elaocorrerá mesmo à noite ou em condiçõesmeteorológicas adversas, fatores que eramlimitadores da eficiência da vigilância atual,realizada com aeronaves.

No tocante ao patrimônio do CPBV, asocorrências e as providências tomadas serãoinformadas ao Serviço Regional doPatrimônio do VI COMAR (SERPAT-6),para fins de inclusão no seu RelatórioPeriódico de Situação Patrimonial, que éencaminhado à DIRENG.

Por outro lado, infere-se que os resultadospositivos alcançados provocarão alteraçõesnos paradigmas atualmente existentes, bemcomo causarão profundos reflexos nasatividades patrimoniais a serem desenvolvidasfuturamente, cenário que é projetado por umavisão prospectiva.

6 - Visão Prospectiva

O advento dos sensores imageadoresorbitais representou um marco para as ciênciasque estudam a Terra, representando umavantagem tecnológica, bem como abrindonovos horizontes para as mais diversasaplicações, nos mais variados campos doconhecimento. A nova metodologia paravigilância patrimonial apresentada neste

Page 47: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

46

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200241-47

escrito, que utiliza a imagem do satéliteRadarsat-1, é fruto desse avanço científico.

Um outro aspecto a ser observado é que,embora tenha sido projetada para o CPBV, ametodologia de vigilância proposta tambémpoderá ser aplicada para monitorar outrasáreas patrimoniais existentes na Amazônia,atendendo às necessidades dos elos do SPA,que passarão a dispor de uma coletânea deimagens atualizadas das áreas sob a suaresponsabilidade.

Poderá, inclusive, ser o ponto de partidapara a criação de um Sistema de InformaçõesGeográficas (SIG), o qual abrigará, de formalógica e ordenada, todos os dados de in-ter esse do SPA, separados por níveisde informação. Gerenciando esse SIG, aDIRENG aumentará a interação não sócom os elos do SPA como também comas demais OM do COMAER, por inter-médio da abertura de um novo canal decomunicação, em que essas informaçõesestarão disponíveis.

Neste ponto, vale ressaltar que osbenefícios trazidos pela utilização dos rada-res imageadores não estão restritos somenteà atividade patrimonial, e que eles dispo-nibilizaram um elenco de novas aplicações,notadamente no campo da CartografiaAeronáutica.

Assim, uma outra vantagem decorrentedessa metodologia de vigilância é que orepetido imageamento da área permitirá aobtenção de pares de imagens, com os quaispode-se produzir um Modelo Digital doTerreno (MDT) e obter a representação daárea imageada em três dimensões, recurso quepode ser utilizado em outras aplicações deinteresse do COMAER.

No âmbito da Cartografia, a partir deum MDT, é possível gerar curvas de nível daregião imageada, que é a condição básica paraa produção cartográfica com representaçãoaltimétrica, o que permitirá a elaboração de

cartas aeronáuticas destinadas ao vôo visual,convencionais e especiais, na escala de1/250.000.

Diante dessa aplicação, está evidenciadoque as imagens de radar representam maisdo que apenas uma solução para os diasnublados, que é uma das características daRegião Amazônica, durante a maior parte doano, e descortinam um horizonte de novaspossibilidades de aplicação.

Nesse ponto, de posse do examedetalhado da proposta de uma novametodologia para executar a vigilância da áreapatrimonial do CPBV, torna-se oportunovoltar no tempo e, a título de sedimentaçãodas informações apresentadas, fazer um breveretrospecto dos principais aspectos do temaabordado.

7 - Conclusão

Os bens imóveis sob a jurisdição doCOMAER — oriundos da União, emdecorrência da transferência efetuada pelaSPU — são tutelados pela DIRENG, órgãocentral do SPA, e correspondem a 2.150 áreaspatrimoniais, num total de 23.850,34km².Dentro desse contexto, ocupando uma áreade 21.588,43km², encontra-se o CPBV, OMque se destaca não só pela extensãoterritorial como também pela importânciadas atividades militares lá realizadas.

Por outro lado, além das aeronaves quelá realizam os seus exercícios, o CPBV recebetambém a indesejável visita de invasores,que, atraídos pelas riquezas regionais,penetram na área patrimonial, em busca doseu intento, causando um profundo desgasteadministrativo para o comandante daquelaOM.

Indo de encontro a essa situação inde-sejável e ao encontro das necessidades doCOMAER, este trabalho apresenta umaproposta para executar a vigilância da áreado CPBV, por intermédio da implantação de

Page 48: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

47

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200241-47

uma metodologia capaz de identificar apresença do invasor na área patrimonial,ainda na fase de ocupação indevida imedia-ta, a f im de preservar a sua integridadepatrimonial.

A metodologia proposta, que tambémpoderá ser aplicada em outras áreas patri-moniais existentes na Região Amazônica, estábaseada nas potencialidades do satélitecanadense Radarsat-1, tecnologia capaz demonitorar regiões da superfície terrestre,mesmo à noite ou com a presença de nuvensna região imageada.

Uma outra vantagem decorrente dessametodologia de vigilância é que o repetidoimageamento da área permitirá a obtençãode pares de imagens, com os quais pode-seproduzir um MDT e obter a representaçãoda área imageada em três dimensões, recurso

que serve de base para diversas aplicações nocampo da Cartografia Aeronáutica.

Aqui, não seria demais enfatizar aimportância para o COMAER da im-plantação dessa nova metodologia, poissomente por meio de uma vigilância eficazserá possível preservar a integridade de umbem de tal magnitude e garantir a continui-dade das atividades militares lá desenvolvi-das, fatores essenciais à evolução doCOMAER.

Finalmente, torna-se oportuno transcrevera frase do ex-presidente americano ThomasJefferson, proferida em um discurso contraa ameaça das potências européias derecolonizar a América, a qual, descontados aretórica e o contexto, se aplica ao tema aquiabordado: “O preço da liberdade é a

eterna vigilância”.

BRASIL. Decreto nº 83.240, de 7 de março de1979. Reserva a área de terra, no Estado doPará, para instalação do Campo de Provas dasForças Armadas e dá outras providências.Brasília, 1979.

_____. Portaria nº C-016/GM3, de 7 de marçode 1983. Cria o Campo de Provas de Cachimbo.Brasília, 1983.

_____. Portaria nº C-020/GM3, de 22 de marçode 1983. Fixa a jurisdição do Campo de Provasde Cachimbo. Brasília, 1983.

_____. Portaria nº C-024/GM3, de 6 de abril de1983. Cria o Grupo Executivo para implantaçãodo Campo de Provas de Cachimbo (GEICAMP).Brasília, 1983.

_____. Portaria nº 001/GEICAMP, de 26 de julhode 1995. Determina a instauração de IPM.Brasília, 1995.

_____. Portaria nº 510/GM3, de 30 de julho de1997. Altera a denominação do Campo deProvas de Cachimbo para Campo de ProvasBrigadeiro Velloso. Brasília, 1983.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Diretoria de Engenharia daAeronáutica. Subdiretoria de Patrimônio.Guarda, manutenção, proteção contra invasãoe depredação dos imóveis sob aresponsabilidade do Comando da Aeronáutica.Rio de Janeiro, 2001. (ICA 87-4).

GONZALEZ, R.C.; Wintz, P. Digital imageprocessing. Massachusets: Addison-Wesley,1997. 405 p.

NOVO, Evelyn. Sensoriamento remoto:princípios e aplicações. São Paulo: EdgardBluncher, 1989. 308 p.

PCI GEOMATICS. Geomatica fundamentalsv8.2 - technical specifications. Richmond: PCI,2001. 22 p.

RADARSAT INTERNATIONAL. Radarsat dataprocessing and integration handbook.Richmond: RSI, 1996. 30 p.

_____. Radarsat iluminated your guide toproducts and services. Richmond: RSI, 1995.60 p.

Page 49: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

48

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Centro de Pesquisa

Operacional do COMGAR -

Modelos matemáticos para apoio

à decisão Cap.-Av. David Almeida Alcoforado

Page 50: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

49

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200248-52

1 - Introdução

o dia-a-dia das organizações, os geren-tes de inúmeros processos são cons-tantemente colocados diante de

problemas de natureza extremamentecomplexa, e que necessitam de soluçõesrápidas e acertadas. Em geral, os problemasestão associados a um ambiente de incertezas,o que torna o processo decisório ainda maisdifícil. Nestes casos, é imprescindível autilização de modelos matemáticos como umauxílio para analisar todas as alternativas a umdeterminado problema, visando a busca damelhor solução, ou a chamada “soluçãoótima”.

A aplicação de modelos matemáticoscomo base para o processo decisório surgiucom o advento da Segunda Guerra Mundial,através do desenvolvimento de uma ciênciaaplicada que se consolidou com o nome dePesquisa Operacional (PO).

A PO foi criada quando os aliados seviram confrontados com problemas degrande dimensão e complexidade. Para apoiaros comandos operacionais na resoluçãodesses problemas, foram então constituídosgrupos multidisciplinares de matemáticos,físicos e engenheiros, além de outrosespecialistas em diversas áreas. Esses cientistasnão fizeram mais do que aplicar o métodocientíf ico, que tão bem conheciam, aosproblemas que lhes foram sendo colocados.Desenvolveram então a idéia de criar modelosmatemáticos, apoiados em dados e fatos, demodo a simular e avaliar o resultadohipotético de estratégias ou decisões possíveispara os casos analisados.

Seguiram-se então grandes desenvolvi-mentos técnicos e metodológicos que hoje,com o apoio de meios computacionaisde crescente capacidade e disseminação,permitem lidar com enormes volumes dedados sobre as atividades das empresas e,através de adequados modelos de base

quantitativa, simular e avaliar linhas de açãoalternativas e encontrar as soluções quemelhor servem aos objetivos dos indivíduosou organizações.

Este trabalho se reveste de especialimportância, tendo em vista que, noComando da Aeronáutica (COMAER), autilização de modelos matemáticos para oapoio à decisão seria extremamente vantajosa,especialmente na área operacional, onde asdecisões exigem rapidez e precisão. Oproblema é que não existe uma estruturaespecificamente voltada para este fim, o quepode ser solucionado com a proposta destetrabalho.

Para que se possa entender comple-tamente as vantagens da PO para asorganizações, é necessário conhecer asprincipais áreas de pesquisa desta ciência,bem como alguns de seus produtos.

2 - Principais Áreas da PO e seus Produtos

A Pesquisa Operacional ocupa-se com atomada de decisões, visando a minimizarcustos ou a maximizar rendimentos, emproblemas de natureza determinística ouprobabilística. Estes problemas podem terorigens em áreas diversas, como engenharia,economia, estatística, transportes, adminis-tração, entre outras.

A contribuição da Pesquisa Operacionalresulta principalmente da formulação demodelos matemáticos para estes problemase da obtenção de soluções ótimas para eles.As técnicas empregadas envolvem aclassificação dos problemas em grupos e aidentificação de características das soluçõesótimas, de modo a desenvolver métodossistemáticos (ou algoritmos) para a obtençãodestas soluções. Tr adicionalmente, asprincipais áreas de pesquisa, bem como algunsde seus produtos são:

a) Teoria de Combate: desenvolvida apartir dos estudos de Lanchester (1916) e com

N

Page 51: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

50

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

alguns aperfeiçoamentos vem sendo utilizadaaté hoje em estudos analíticos para se estimara taxa de atrito em combate. Através da análisedos parâmetros envolvidos num combatepode-se conduzir estudos visando reduzir aomáximo as perdas em combate.

b) Programação Linear : é uma meto-dologia empregada na solução de problemasde alocação de recursos escassos, sujeitos auma série de restrições. São problemas quesurgem quando algumas atividades devem serconduzidas, mas não existem recursos pararealizar todas elas. Através de técnicas deprogramação linear é possível determinarmatematicamente quais tarefas devem serrealizadas, de modo que se obtenha o máximoretorno com os recursos que se dispõe. Porexemplo, dispõe-se de uma certa quantidadede material a ser transportado num avião, maspor limitações de peso deve-se selecionaraqueles itens que, ao serem transportados,trarão o maior benefício para a missão emquestão. Isto em geral é feito até intuitivamente,mas no contexto de uma grande operaçãomilitar, faz-se necessário o emprego de algummétodo matemático. Outra possibilidade deemprego desta metodologia é quando sedeseja realizar uma determinada tarefa como maior aproveitamento possível dosrecursos disponíveis. Um exemplo comum éo corte de chapas metálicas, que devem sercortadas de modo a desperdiçar o mínimopossível de material.

c) Teoria das Filas: esta teoria lida coma solução de problemas relacionados apessoas ou itens dispostos em seqüência, deforma a minimizar os custos relacionados àespera para se executar um serviço. Umexemplo fácil de ser percebido é a fila debancos ou supermercados. Existem modelosmatemáticos para se determinar o númeroadequado de atendentes, de modo a satisfazero cliente a um custo aceitável para asorganizações. Na área militar esta teoria é

empregada na coordenação de horários etempo de execução de missões em complexasoperações militares e problemas relacionadosà manutenção, entre outros.

d) Fluxo em Redes : reúne diversasmetodologias para a solução de problemasde roteamento e caminho ótimo quecomumente aparecem em operaçõesaéreas e no estabelecimento de redes detelecomunicações. Um problema típico é adeterminação da melhor rota para umdeterminado objetivo que conjugue diversosinteresses, como a maior possibilidade desobrevivência, menor tempo, consumo decombustível, entre outros aspectos.

e) Teoria dos Jogos : é uma teoria quevisa a estabelecer uma melhor estratégia aser seguida, tendo em vista a análise daspossibilidades de decisão a serem tomadaspor um oponente racional ou inimigo. Estateoria atualmente é largamente empregadapor empresas que têm os “inimigos”substituídos por concorrentes.

f) Simulação: o emprego de uma ou maistécnicas descritas, juntamente com o empregode métodos computacionais, torna possívela simulação de operações militares, técnicacada vez mais empregada para a análise préviadas decisões a serem tomadas.

Todas as metodologias acima descritaspodem ser empregadas na solução deproblemas complexos existentes na Força,porém, os órgãos de execução necessitam deuma estrutura com pessoal capacitado aprestar o apoio adequado, o que seria possívelatravés do Centro de Pesquisa Operacionaldo COMGAR, a exemplo de outros paísesque adotaram medida similar.

3 - Centro de Pesquisa Operacional

Atualmente, diversas organizações civise militares possuem setores especializadosem PO, a f im de auxiliar os gerentes natomada de decisões. No âmbito militar, o

48-52

Page 52: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

51

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Departamento de Defesa dos EstadosUnidos, por exemplo, conta com o “StudiesAnalysis and Gaming Agency”, além de umainstituição privada, o “Institute of DefenseAnalysIs”. O Exército, a Marinha e a ForçaAérea americanas possuem as suas agênciasde PO, que são o “Deputy Under Secretary(Operations Research)”, o “Center for NavalAnalysIs” e a “Studies and Analysis Agency”,respectivamente. Outros exemplos similaresestão na Inglaterra, através do “DefenseOperational Analysis Establishment”;o “Centre Interarmees de RecherchesOperationelles”, na França; o “NorwegianDefense Research Establishment”, naNoruega; o Centro de Análise de SistemasNavais, da Marinha do Brasil, entre outros.

O COMAER, apesar de possuir os seuscentros de pesquisa e desenvolvimento, nãoconta com um sistema específico para o apoiocientífico às operações militares . Hoje,dificilmente um oficial de operações deum grande comando conseguiria obterrespostas rápidas a problemas que comu-mente estão presentes em seu cotidiano, comoo planejamento de delicadas operaçõesmilitares. Isto faz com que o sucesso dessasoperações dependa exclusivamente daexperiência, intuição e sorte do planejador.Muitas vezes não se tem idéia de quantoum determinado processo poderia ser me-lhorado, através do emprego de técnicas deotimização, tão presentes no emprego da PO.

A solução para este problema seria acriação do Centro de Pesquisa Operacionaldo COMGAR, visando ao emprego demétodos quantitativos avançados a seremaplicados no planejamento, execução eavaliação de operações militares, otimizaçãode procedimentos administrativos associadosà parte operacional, bem como na avaliaçãodos sistemas envolvidos com estas operações.

Diversos órgãos do COMAER poderiamprestar serviços na área de PO. Dessa forma,

o Centro de Pesquisa Operacional deve teruma equipe pequena, atuando de formasistêmica com outros setores de interesse. APETROBRAS, por exemplo, conta com cercade 20 profissionais em seu Departamento dePO, porém, esta equipe aumenta de acordocom o projeto que está sendo desenvolvido,através da participação de especialistas nasáreas de interesse.

Os projetos na área da PO normalmenteresultam no desenvolvimento de uma soluçãoem termos computacionais, que é o produtofinal para o cliente. No COMAER, o suportecomputacional para a área de PO pode seraproveitado da própria estrutura deinformática já existente, através dos Centrosde Computação da Aeronáutica.

O efetivo funcionamento do Centro dePO só será possível através da formação depessoal que, além da experiência operacional,deverá ter uma sólida formação acadêmica,característica inerente ao analista de PO.

4 - Formação de Pessoal

O Centro de Pesquisa Operacional deveser constituído por militares ou civis com adevida especialização para exercer a funçãode analista de PO, preferencialmente comvasta experiência ou amplos conhecimentosna área operacional. Normalmente estaformação dá-se através de cursos de pós-graduação stricto sensu, nos níveis demestrado e doutorado, disponíveis no Brasilou no exterior. Através desses cursos, osprofissionais recebem a capacitação paraelaborar técnicas e processos, identificar esolucionar problemas, gerar conhecimentose técnicas de pesquisa científica e tecno-lógica.

Além do pessoal com formação maiselevada que atuariam no órgão central, para aperfeita difusão da atividade de PO em todoo âmbito do COMGAR de uma formasistêmica, faz-se necessário um treinamento

48-52

Page 53: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

52

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

mais elementar para os potenciais clientesdesta atividade. Este treinamento poderia seraplicado em forma de cursos de curtaduração a serem oferecidos pelo COMGARàs suas unidades subordinadas, cujo enfoqueprincipal seria o esclarecimento sobre aatividade de PO, bem como a familiarizaçãocom pacotes computacionais tradicionalmenteutilizados no mercado e que, pela facilidadede utilização, resolvem os problemas maisbásicos envolvendo a tomada de decisão. Osmilitares com esta formação seriam o elo deligação entre as unidades operacionais e oCentro de Pesquisa Operacional.

Uma vez compreendido o conceito dePO, as suas áreas de atuação e seus produtos,a sua importância para uma utilização maisracional de recursos na área operacional, bemcomo a formação necessária de pessoal paracompor o Centro de Pesquisa Operacionaldo COMGAR como proposto nestetrabalho, é conveniente prosseguir com umasíntese dos assuntos abordados.

5 - Conclusão

A aplicação de modelos matemáticoscomo um meio eficiente de apoio à tomadade decisão difundiu-se a partir do desen-volvimento, durante a 2ª Guerra Mundial,de uma ciência denominada PesquisaOperacional. Hoje, as técnicas de PO sãoamplamente utilizadas e difundidas nasgrandes organizações, conforme apresentadono início deste trabalho.

No capítulo seguinte, comentou-se asprincipais áreas de atuação da PO e seusprodutos, de modo a identificar o potenciale as vantagens da aplicação desta ciência naForça Aérea.

A seguir, tendo em vista a inexistência deum órgão no COMAER específico para oemprego da PO em apoio às atividadesoperacionais da Força, foi proposta a criaçãodo Centro de Pesquisa Operacional do

COMGAR, seguindo um modelo similarao adotado por diversos países com reco-nhecido sucesso na área militar.

Por último, foi abordado o aspecto daformação de pessoal para desenvolveradequadamente projetos na área de PO,enfatizando que, além de uma sólidaformação acadêmica, é recomendável aoanalista de PO uma boa experiência na áreaoperacional.

Sendo assim, torna-se claro que oobjetivo do trabalho foi alcançado, poisse a proposta for adotada, as unidadessubordinadas ao COMGAR contarão comum órgão específico para apoiá-las na soluçãode problemas de grande complexidade,através da utilização de modelos matemáticos.

Destaca-se a importância que este assuntore presenta para a FAB, pois através doemprego da PO é possível empregar deforma mais racional os escassos recursosexistentes.

A história tem mostrado que nem sempreas guerras são vencidas por quem possui amaior quantidade de meios, mas sim porquem consegue empregar os seus recursosda forma mais inteligente possível.

REFERÊNCIAS

BEASON, Douglas J. The Need for TechnicalWarriors. Air Power Journal, v. XIV, n. 1, p. 70-76,abr./jun. 2000.

HILLIER, Frederick S.; LIEBERMAN, Gerald J.Introduction to Operations Research. 7ª edição.Nova York: MacGraw-Hill, 2000. 1214 p.

PRZEMIENIECKI, J.S. Mathematical Methods inDefense Analysis. 2ª edição. Washington, DC.American Institute of Aeronautics andAstronautics, 1990. 425 p.

48-52

Page 54: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

53

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Instrução de

Sobrevivência na Selva e

no Mar - Capacitação operacional

Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte

Histórico

esde 1974 até os dias de hoje, asinstruções de sobrevivência minis-tradas aos cadetes dos cursos de

formação de oficiais na AFA passaram porfases distintas com relação à sua aplicação.

De 1974 a 1985

Nesse período, as instruções práticas desobrevivência na selva eram executadas, emsua maioria, na região do Parque Nacionaldo Xingu - MT, sofrendo prejuízos decontinuidade em virtude de cancelamentosesporádicos que ocorriam, na maior parte dasvezes, por motivos financeiros.

No tocante às instruções em mar, eramrealizadas na Restinga da Marambaia ou naBaía de Sepetiba, ambos no Rio de Janeiro,tendo passado pelos mesmos problemasalusivos às instruções em selva.

D

Page 55: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

54

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

local escolhido foi a Baía de Sepetiba-RJ,tendo sido realizada nos demais anos emFlorianópolis-SC.

Apesar de tudo indicar que as instruçõesem lide iam tomando seu lugar na formaçãodo cadete, uma decisão de comando anuloutudo o que se tinha reconquistado e, com isso,os oficiais formados pela AFA, nos últimosquatro anos, não têm o conhecimento neces-sário para sobreviver em regiões adversas.Esse contexto ainda representa a situaçãoatual da formação do nosso futuro oficial.

Situação Atual

Em 1998, através do ofício nº 008/DG/186, de 09 de março, o Exmo. Sr. DiretorGeral de Ensino da Aeronáutica decidiurealizar alterações nos Currículos Mínimos doscursos de formação de oficiais da AFA, entreelas, retirar as disciplinas de Sobrevivênciana Selva e no Mar, situação que se estendeaté os dias de hoje.

O cancelamento dessas disciplinas fezcom que a SIM-CCAer adotasse medidaspaliativas a fim de proporcionar conheci-mentos sobre a matéria em questão aoscadetes, buscando capacitá-los a atuar, como mínimo de proficiência, em possíveissituações reais de sobrevivência.

Tais conhecimentos foram diluídos aolongo de três exercícios de campanha durantea fase de formação.

No Exercício de Campanha 1, além deoutros conhecimentos, o cadete aprende osprincipais tipos de nós e amarrações,orientação com o auxílio de bússola edistância, obtenção de fogo das mais diversasformas possíveis, construção de abrigosutilizando seu próprio poncho, manuseio daração R4-b que compõem os kits desobrevivência da FAB, e, por fim, realiza umbivaque, ou seja, um pernoite sem apoio deUCI, praticando os conhecimentos adquiridosteoricamente.

De 1986 a 1993

Essa época foi caracterizada porinstruções realizadas na área da própriaAcademia. Como selva, utilizava-se a mataciliar ao longo do perímetr o da AFAdemarcado pelo Rio Mogi-Guaçu, e para aprática de sobrevivência no mar o cenárioera a lagoa ao sul da Organização.

Cabe ressaltar que, mesmo com arealização dos exercícios, vários fatorescontribuíam para que os objetivos não fos-sem alcançados no nível desejado, a saber:

Selva

- condições climáticas mais amenas;- tipo de mata mais acessível e pouco

extensa;- impossibilidade de caça;- impossibilidade de desmatamento;- falta de realismo causado pelo fato de

os cadetes conhecerem a região; e- restrição com relação à execução de

algumas tarefas em detrimento dos demaisfatores.

Mar

- condições climáticas mais amenas;- falta de salinidade na água; e- falta de realismo causado pelo fato de

os cadetes conhecerem o local.

De 1994 a 1997

O ano de 1994 foi o marco de uma novaera com relação à instrução militar na AFA.O nível técnico das instruções ministradas aoscadetes ascendeu sensivelmente, de forma acapacitá-los a atuarem como combatentesbásicos em qualquer situação que sedeparassem como oficiais.

Nessa gama de conhecimentos que eratransmitida, iniciavam-se, mais uma vez, asinstruções práticas de sobrevivência. Paraselva, utilizou-se a área de instrução do Campode Provas Brigadeiro Veloso em Cachimbo-PA, e para mar, nos dois primeiros anos o

53-56

Page 56: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

55

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

No Exercício de Campanha 2, emcomplemento ao que aprendeu no anoanterior, ainda são transmitidos conheci-mentos sobre obtenção de alimentos deorigem animal e vegetal, obtenção de água,armadilhas, abrigos, salvamento de afogadose orientação com o auxílio de carta e bússola.

No Exercício de Campanha 3, o cadetecoloca em prática todos os conhecimentosadquiridos nos anos anteriores a fim deaperfeiçoá-los o máximo possível.

Ainda assim, por não haver amparocurricular, falta oportunidade e tempo parase ministrar e, principalmente, praticar osconhecimentos fundamentais necessários àassimilação do assunto em lide. Isso ficaextremamente caracterizado no tocante àsobrevivência no mar, em que o únicoconhecimento abordado, possível de serdiluído em um exercício de campo, éSalvamento de Afogados.

Apesar da preocupação em transmitir osconhecimentos acima citados, o fato é que,nos últimos anos, os oficiais recém-forma-dos têm sido classificados nas diversasOrganizações da FAB sem capacitaçãooperacional para enfrentar situações reaisde sobrevivência, daí a necessidade dareimplantação das instruções práticas emregiões apropriadas.

A Reimplantação

Para que se possa retornar com a práticadas instruções de sobrevivência para oscadetes, será apresentado neste capítulo umdelineamento das providências e das necessi-dades de recursos em nível material e humano.

A Reavaliação dos Currículos Mínimos

é uma etapa atribuida ao DEPENS com oassessoramento da AFA, na qual deverão seranalisadas as cargas-horárias dos três cursos(CFOAv, CFOInt e CFOInf) de forma adefinir se há disponibilidade para a inclusãodas instruções em lide ou, caso negativo, quais

disciplinas já existentes teriam seus temposreduzidos.

Para a instrução de sobrevivência na selvaé necessária uma CH de quarenta e oitotempos de aula (sete dias de instrução) e parasobrevivência no mar, quarenta tempos (cincodias de instrução).

Considerando que a prática de sobre-vivência na selva será realizada na área doCampo de Provas Brigadeiro Velloso(CPBV), que para a instrução no mar a regiãoescolhida é Florianópolis e que o efetivomédio envolvido nas atividades é de cento ecinqüenta cadetes, o apoio necessário será oseguinte:

Esforço Aéreo

Para transporte de pessoal e materialdurante todo o exercício, na selva,inclusive nasfases de preparação e retorno, são necessáriascinqüenta e cinco horas de vôo da aeronaveC-130.

É imprescindível a presença de umhelicóptero CH-34 ou UH-1H no local dainstrução para resgate em situações deemergência e, ainda, para o transporte dedeterminados tipos de material que nãopodem ser transportados por terra devidoàs condições das estradas. Para tal, com basenas estatísticas da época em que havia ainstrução, a necessidade seria de cerca de vintehoras de vôo.

Por f im, uma aeronave C-95 devepermanecer no Campo de Provas para umapossível EVAM. A AFA possui umBandeirante orgânico que poderia ser utilizadopara este fim e, caso não houvesse nenhumaevacuação, o esforço aéreo seria de 12 horaspara os deslocamentos.

Para o transporte de pessoal e materialdurante todo o exercício, no mar, inclusivenas fases de preparação e retorno, sãonecessárias vinte e oito horas de C-91 e vintehoras de C-95, sendo este o orgânico da AFA.

53-56

Page 57: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

56

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200253-56

Recursos Humanos

Para ambas as atividades, a FAB possuipessoal especializado para atuar na instruçãoe no apoio. O Esquadrão Aeroterrestre deSalvamento, PARA-SAR, é plenamentecapacitado a ministrar as referidas instruçõese ainda conta com pessoal especializado doefetivo da AFA. Esta possui uma UCIequipada com totais condições de apoiartodas as atividades.

Recursos Financeiros

Com base nos valores atuais, para ajudasde custo e diárias seriam gastos para asinstruções de sobrevivência na selva e no marcerca de R$ 30.000,00 e R$ 12.000,00, res-pectivamente. Faz-se ainda necessária a quantiade R$ 4.000,00 em Suprimento de Fundos,dividida para as duas atividades, a fim de seraplicada em despesas de pequenos vultos.

Uma vez expostos os problemas da nãocapacitação operacional para atuar emcircunstâncias desta natureza e a conseqüenteapresentação de uma solução para o assunto,é oportuno fazer um retrospecto do temaem questão, realçando os principais aspectosabordados.

Conclusão

A proposta de reimplantação dasinstruções práticas de sobrevivência na selvae no mar nos currículos dos cursos deformação da AFA vem a ser a solução paraminimizar as chances de insucesso de umatripulação após um acidente aeronáutico.

No início deste estudo, foi apresentadoum histórico das instruções em que ficaramcaracterizados prejuízos à formação emvirtude da falta de continuidade, porém, noúltimo período exposto, estavam sendorealizadas dentro dos padrões adequados parase alcançar os objetivos.

Ficou evidenciado que a situação atualpreocupa, uma vez que os cadetes não são

submetidos a um nível de instrução que ospossibilite assimilar os conhecimentos deforma a colocá-los em prática em condiçõesreais.

Por último, foi delineada a reimplantaçãodas instruções em lide, que trará comoprincipal benefício a capacitação operacionaldos futuros oficiais para atuar em contextosreais de sobrevivência, que se pode traduzirem manutenção da vida, fator que não tempreço.

Destaca-se, assim, a importância destareimplantação, pois a mesma se traduz emprevenção de vidas, fator em que não seanalisa custo/benefício, pois um combatentevivo não tem preço.

Por fim, para resumir o sentimento deum sobrevivente em uma situação real, fica opensamento de um autor desconhecido:

“O ato de sobreviver não é apenas umdesejo de não morrer, mas, acima de tudo,uma vontade de querer viver.”

REFERÊNCIAS

BRASIL. Comando do Exército. Centro deInstrução de Guerra na Selva. Sobrevivência naSelva. Versão 1.1. Confecção e direitos autorais:CIGS: Centro de Instrução de Guerra na Selva.Barueri: Videolar S.A. [S.d.]. 1 CD-ROM.

BRASIL. Ministério da Aeronáutica. Depar-tamento de Ensino. Currículo Mínimo do Cursode Formação de Oficiais Aviadores. Brasília,1998. (IMA 37-113).

_____. Currículo Mínimo do Curso de For-mação de Oficiais de Infantaria. Brasília, 1998.(IMA 37-89).

_____. Currículo Mínimo do Curso de For-mação de Oficiais Intendentes. Brasília, 1998.(IMA 37-66).

BRASIL. Ministério da Aeronáutica. Diretoria deRotas Aéreas. Manual de Sobrevivência.Brasília, 1965. (MMA-DR-64-2).

Page 58: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

57

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Treinamento no Solo para

Tripulações de Patrulha

Marítima - Redução de custos

e benefícios operacionaisCap.-Av. Ângelo Damigo Tavares

Page 59: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

58

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200257-60

1 - Introdução

esde os primórdios de sua criação, aaviação de patrulha marítima tem semostrado como importante meio de

atuação da Força Aérea Brasileira na defesada soberania do mar territorial, atuandoem missões contra alvos de superfície esubmersos.

Em seu batismo de fogo durante aSegunda Guerra, verificou-se a importânciada proteção do tráfego de navios mercantes,das fronteiras marítimas e, por conseguinte,dos interesses nacionais frente a quaisquerameaças procedentes do mar. Naquelaocasião, a atuação oportuna de uma tripulaçãobem treinada impediu a continuidade dosataques aos comboios brasileiros por partede submarinos dos países do Eixo.

A complexidade das missões aéreas depatrulha exige um elevado grau detreinamento das tripulações, conhecimentoprofundo das aeronaves, de seus sensores ede todas as táticas e técnicas a seremempregadas, a fim de se obter êxito no teatrode operações. Juntamente com a capacitaçãodas equipagens de vôo supracitadas, adoutrina aérea e a perfeita coordenação entrepilotos, mecânicos e operadores deequipamentos especiais são fundamentais paraque o sucesso seja atingido no decorrer deum conflito.

À medida que os recursos orçamentáriostêm sido diminuídos, há que se refletir arespeito de soluções cabíveis para se mantero nível de preparo desejado dos recursoshumanos, uma vez que o treinamento nãodeve ter o padrão de qualidade reduzido.

2 - Panorama Atual

A aviação de patrulha tem recebidooficiais recém-transferidos do 1º/5º GAv.,onde realizam a instrução básica em aeronavesbimotor e, eventualmente, graduadosprocedentes da Escola de Especialistas da

Aeronáutica ou de outras unidades.Entretanto, a especialização é iniciada coma chegada desses oficiais e sargentos nosesquadrões do Sétimo Grupo de Aviação,onde é ministrada a instrução teóricajuntamente com a adaptação às aeronavesP-95 A/B. A fase inicial, denominadaPrograma de Formação Operacional Um,apenas prepara pilotos, mecânicos eoperadores de equipamentos especiais para asimples operação da aeronave e seus sensores.

Uma vez concluída a fase inicial, inicia-sea seguinte, denominada Programa deFormação Operacional Dois, em que ostripulantes recebem instrução sobre táticas deemprego da plataforma aérea no teatro deoperações, ou em missões de busca aembarcações ou náufragos.

É a partir dessa etapa que o treinamentose faz mais necessário. São realizados vôosespecíficos, com quantidade de horas pré-estabelecidas, alguns deles envolvendoembarcações de guerra em exercício, e osoficiais e graduados devem estar proficientesem sua capacitação técnico-profissional, demodo a obter sucesso nas ações sobre o mar.Seguem-se a essas fases os Programas deManutenção e de Elevação Operacional,nos quais é continuada a progressão dasequipagens.

O quantitativo de horas de ingerênciadireta das unidades aéreas (horas PIMO,como são referidas) vem sendo reduzidoano após ano, em virtude das restriçõesorçamentárias, o que afeta diretamentea formação dos militares e degrada amencionada progressão, isto é, a seqüênciade qualificações individuais que devemser atingidas. Para atingir a plenitude desua operacionalidade, o tempo mínimonecessário é aumentado, como resultadoda escassez de missões em exercício,principalmente aquelas que envolvem meiosnavais da Marinha do Brasil.

D

Page 60: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

59

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

3 - O Treinamento Hoje

A tripulação completa de uma aeronavede patrulha para as aeronaves P-95A/Bconsiste de seis militares, sendo dois pilotos,um mecânico de vôo, um coordenadortático e dois operadores especiais. Ocomandante da tripulação pode ser oprimeiro piloto ou o coordenador tático,visto que ambos possuem a qualificaçãomáxima, que é de primeiro piloto depatrulha. Na cena de ação, como é designadaa área onde ocorre o envolvimento táticocom outras unidades aéreas ou navais, asdecisões finais quanto às táticas e técnicasa serem utilizadas são tomadas por ambos,em coordenação e assessorados pelosdemais integrantes com funções a bordo.Essa coordenação, acompanhada doemprego correto dos conhecimentosteóricos, precisa ser realizada de forma ágile precisa, para determinar a situação devantagem perante o inimigo.

Uma maneira de se reduzir os custos, semprejuízo para a formação dos recursoshumanos, é a substituição de algumas missõespor treinamentos realizados no solo, a seremexecutados nos moldes do que é feito emvôo. Essa prática gera significativa melhorano rendimento dos tripulantes no que tangeaos procedimentos individuais e desenvolvea coordenação entre equipagens.

Vale ressaltar que as missões de solo dasfunções de bordo a serem realizadas sãocompatíveis entre si (por exemplo, missõesde busca para pilotos e de patrulha paraoperadores de equipamentos especiais), o quetorna oportuno o treinamento coletivo.Somente com duas das missões de vôode cada equipagem transformadas emtreinamento nos módulos de solo, reduzir-se-ia significativamente a necessidade de horasde vôo para a formação operacional. Idênticoraciocínio pode ser aplicado aos Programasde Manutenção e Elevação Operacional na

fase de missões de mar, os quais possuemmissões similares em seus conteúdos.

4 - Os Módulos de Treinamento

Para se desenvolver a atividade proposta,é necessária a ambientação das estações,denominadas módulos, em local climatizado,a fim de prover condições adequadas aosequipamentos de informática. É importanteserem dispostas como apresentadas dentrodas aeronaves, funcionando o espaço físicocom uma configuração semelhante à dis-posição interior do avião, e os postos sendodotados com capacidade de comunicaçãoentre si. Isso permite que todas as etapas damissão sejam executadas, inclusive osprocedimentos de fraseologia e a seqüênciade inspeções.

Cada módulo deve ser provido deum microcomputador t ipo PC ousimilar, com processador Pentium (nomínimo) e sistema operacional Windows95 ou superior. Todos os módulos sãoligados entre si através de rede, de formaque o ocupante desenvolva suas açõespor intermédio de comandos no teclado,e que uma estação, oper ada por uminstrutor qualificado primeiro piloto depatrulha, supervisone as demais.

Fig. 4-1: Disposição da sala de aula

57-60

Page 61: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

60

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200257-60

A representação em tela de monitor deveser compatível com o posto funcional, deforma que aos pilotos e ao operador especialnúmero dois (OE2) seja mostrada a áreade operações, como o é nas cartas denavegação de patrulha; aos mecânicos sejamapresentados os instrumentos do painel;ao COTAT e ao operadorespecial número um (OE1)sejam mantidas as represen-tações do projeto SITRAM(imagens dos sensores debordo em operação). Noposto do OE2, devem serapresentadas imagens deembarcações, nos diversosângulos e em curtos interva-los de tempo, visando aoaprimoramento da identifi-cação de navios de guerra e mercantes.

Em relação ao apoio técnico, integrantesdos Institutos de Proteção ao Vôo, deEstudos Avançados e do Centro Tecnológicoda Aeronáutica podem efetuar a instalaçãodos equipamentos, assessorados por militaresda II FAe e de suas unidades de patrulhasubordinadas, quanto às necessidades inerentesà operacionalidade e às características daaeronave.

Aos esquadrões de patrulha cabe propor,também, o preparo das Ordens de Instrução,as quais devem ser incluídas nos PIMOrespectivos, de forma a serem aprovadase inseridas no POP pela Segunda ForçaAérea.

5 - Conclusão

É perceptível a importância dessetreinamento para a aviação de patrulha e desua inclusão nos programas de instrução, afim de melhorar a capacitação operacionaldas equipagens de combate e reduzir custos,pautando as ações na economicidade derecursos e meios.

A maior riqueza da instituição são seushomens que, sem capacitação técnica e ope-racional, não terão plena capacidade de empre-gar adequadamente armas e sensores e, porconseguinte, terão poucas chances de sobre-vivência no teatro de operações marítimo.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Comando da Aeronáutica. QuartoEsquadrão do Sétimo Grupo de Aviação.Proposta do Programa de Instrução eManutenção Operacional. Rio de Janeiro, 2002.

_____. Segunda Força Aérea. ProgramaTrabalho Anual. Rio de Janeiro, 2002. (ICA 19-15).

_____. Ministério da Aeronáutica. Estado Maiorda Aeronáutica. Doutrina Básica da FAB.Brasília, 1997. (DMA 1-1).

_____. Primeiro Grupo de Aviação Embarcada.Manual de patrulha anti-submarino. Rio deJaneiro, 1983.

_____. Segunda Força Aérea. Programa deInstrução e Manutenção Operacional. Rio deJaneiro, 1994. (IC 315/A3).

Page 62: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

61

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200261-68

1 - Introdução

disciplina é substancial na profissãodas armas. É um conjunto de regras,expressas ou intuitivas, ditadas para

manter a ordem e a subordinação entre osmembros das forças armadas.

A força armada será forte se a suadisciplina também o for. A tropa maisdisciplinada suporta com mais resistência asagruras da guerra.

Destarte, a legislação disciplinar de umaforça armada deverá ser eficiente, coerente eobediente aos princípios de justiça, para queo seu reflexo na tropa seja a fibra e aobstinação no cumprimento das ordens, paraa obtenção da vitória na guerra. Assim, paraque a Força Aérea Brasileira possa ter com-batentes comprometidos com a vitória, háde possuir um suporte disciplinar eficiente. Contudo, não é isso que se verif ica, nomomento. O atual RDAER, principal

instrumento de aplicação da disciplina na

Aeronáutica, é um regulamento que está

trazendo dificuldades à Administração, na

aplicação dos preceitos disciplinares, em

razão de não estar adaptado e coerente

com a Constituição Federal. É necessária,

Aportanto, uma adaptação do RDAER à CartaMagna para que seja corrigido esse problema.

2 - Legado Pretérito

No Brasil, verifica-se que as primeirastentativas de codificação da legislação militardatam do início do século XIX, maisprecisamente após a chegada de D. João VI.Essas primeiras tentativas consistiam apenasnuma série de Alvarás , Avisos e Cartas Régias,sem unidade ou sistema, distribuídos às tropascom os famosos Artigos de Guerra doMarechal Conde Von Lippe. Esses artigoseram um aglomerado de leis e regras bárbarase medievais que prodigalizavam a pena demorte e emprestavam especial relevo àobediência militar e à lealdade devida aosuperior hierárquico.

Com o advento da República, patro-cinada essencialmente por militares, no fimdo século XIX, surgiram os primeiros códigospenais militares, começando pela Armada,depois estendida ao Exército. Foram tambémcriados os regulamentos disciplinares militares,refletindo a necessidade de aperfeiçoamentodo controle disciplinar e da justiça nasinstituições militares.

RDAER - Necessidade de

adaptação à constituição federal

de 1988

RDAER - Necessidade de

adaptação à constituição federal

de 1988 Ten.-Cel.-Inf. José Mário Alves de Souza

Page 63: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

62

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Cotejando o RDAER com a Consti-tuição Federal de 1988, conclui-se que oregulamento não obedece à hierarquia dasleis e destoa da Lei Maior, pois verificam-sealgumas incoerências.

3.2 - A Prisão em Xadrez

No seu capítulo que trata dos direitos egarantias individuais, especificamente noartigo 5º, inciso III, prevê a ConstituiçãoFederal de 1988 que “ninguém será submetidoa tortura nem a tratamento desumano oudegradante”. Entretanto, o artigo 21,número 3 do RDAER estabelece que “aprisão do cabo, soldado ou taifeiro serácumprida no alojamento ou compartimentofechado denominado xadrez” (grifo doautor).

O xadrez já foi definido como o

túmulo de pessoas vivas. Os sistemasprisionais provam que tal prática está obsoletae exige um novo instituto a fim de melhoraro criminoso para que, ao retornar à sociedade,ele tenha um comportamento melhor, sejaútil e produtivo. Mas a realidade mostra queo xadrez é uma espécie de universidade docrime; muitas vezes é o âmbito propício parao exercício de um poder paralelo que desafiaos poderes instituídos e a segurança social.

No caso específico das transgressõesdisciplinares, verifica-se que o xadrez é umafonte de revolta e, às vezes, um incentivo aocometimento de novas transgressões. É umlugar sombrio, cuja referência provocasentimento ou sensação de aversão, derelutância, de repugnância.

Uma transgressão disciplinar deve serjulgada e, se for o caso, será aplicada a punição.Contudo, fazer com que o transgressor sejatrancado em uma cela, tal qual um criminoso,é uma sanção desproporcional ao deslize.

Portanto, a desproporção entre a trans-gressão cometida e o recolhimento ao xadrezdegrada, humilha, desonra, enfim, avilta o

Criado em 1941, com a junção dasaviações naval e militar, o então Ministério daAeronáutica, inicialmente, utilizou-se doRegulamento Disciplinar do Exército e só em1943 buscou elaborar o seu próprio regu-lamento disciplinar.

2.1 A Disciplina na Aeronáutica

Tendo por base o fortalecimento dadisciplina e da justiça das organizaçõesmilitares, bem como o benefício do trans-gressor pela sua reeducação, criou-se, atravésdo Decreto N.º 11.665, de 17 de fevereirode 1943, o Regulamento Disciplinar daAeronáutica (RDAER), um regulamentocoerente, justo e compatível com a época.

A última alteração do RDAER deu-secom o Decreto N.º 76.322, de 23 de setembrode 1975, que revogou o Decreto nº 11.665,de 17 de fevereiro de 1943, em virtude daConstituição Federal de 1967 e das alteraçõespor ela sofridas em 1969.

Entre 1975 e os dias atuais, foi pro-mulgada a Constituição Federal de 1988. Essefato ensejou a modificação de todas asnormas infraconstitucionais que fossemincoerentes com a Lei Maior.

3 - Incoerências Atuais

3.1 Hierarquia das Leis

O ordenamento jurídico brasileiro,seguidor da tradição da família romano-germânica, não admite que uma normainfraconstitucional se sobreponha ao textofundamental; vale dizer, à própria Cons-tituição.

Em face da anterioridade do RDAERem relação à Constituição, haja vista sero RDAER de 1975 e a Lei Maior de 1988,urge um acurado exame do diplomadisciplinar com o escopo de verificar seele apresenta disposições conflitantes ou sehá lacunas e fa tos anteriormente nãoprevistos.

61-68

Page 64: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

63

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

transgressor. E como a Constituição veda otratamento degradante, a previsão doRDAER do cumprimento da pena disciplinarde prisão em xadrez é uma incoerência.

3.3 Ausência da Ampla Defesa e do

Contraditório

A Constituição Federal, no seu artigo 5º,inciso LV, estabelece que “aos litigantes, emprocesso judicial ou administrativo, e aosacusados em geral, são assegurados ocontraditório e a ampla defesa, com os meiose recursos a ela inerentes”.

Por sua vez, o diploma disciplinar daAeronáutica prevê, acertadamente, no seuartigo 34, que “nenhuma punição será impostasem ser ouvido o transgressor e sem estaremos fatos devidamente apurados”. Contudo,de forma incoerente com a Lei Maior, deixamde ser contemplados o necessário processoadministrativo disciplinar, a ampla defesa e ocontraditório. A prova da deficiência doRDAER está nas atitudes isoladas de algunscomandantes que, em razão da omissão dodiploma disciplinar, buscam, por meio deinstruções aos setores responsáveis pelasapurações de transgressões e aplicações daspenas disciplinares, orientar para a obediênciaaos princípios constitucionais. Como exemplo,cita-se a NPA N.º 043/CMDO/2001, de 30de novembro de 2001, da UNIFA, queassegura ao transgressor a apresentação desuas razões de defesa.

Iniciativas como essa, de comandantesmais perspicazes, são válidas e louváveis,porém o procedimento tem de ser plasmadona Aeronáutica através do seu diplomadisciplinar, por uma questão de padronização.

Reza, ainda, o RDAER, no número 3 domesmo artigo, que “quando forem necessáriosmaiores esclarecimentos sobre a transgressão,deverá ser procedida sindicância” e tambémprevê, no número 4, ainda do mesmo artigo,que “durante o período de investigações de

que trata o número anterior, a pedido dorespectivo encarregado da sindicância, oComandante poderá determinar a detençãodo transgressor na Organização ou em outrolocal que a situação recomendar, até um prazomáximo de oito dias”.

Ora, com relação ao processo adminis-trativo disciplinar e à sindicância, é preciso oesclarecimento de alguns fatos para que nãose cometam agressões aos direitos individuais.

Processo administrativo disciplinar nãose confunde com sindicância, posto queaquele é entendido como o meio deapuração e punição de faltas dos servidorese demais pessoas sujeitas ao regime funcionalde determinados estabelecimentos da Admi-nistração, enquanto sindicância é o meiosumário de elucidação de irregularidades noserviço para que, se for o caso, seja instauradoo processo e o infrator seja punido. Asindicância não tem base para punição.Equiparável ao inquérito policial em relaçãoà ação penal, é o verdadeiro inquéritoadministrativo que antecede o processoadministrativo disciplinar. Portanto trata-se de uma verdadeira afronta ao direitobrasileiro a utilização da sindicância comoprocedimento sumário para aplicação depenalidades ou para o cerceamento daliberdade de locomoção.

3.4 Irregularidades quanto ao Princípio

da Legalidade

A Constituição Federal de 1988, no seuartigo 5º, inciso II, estabelece que “ninguémserá obrigado a fazer ou deixar alguma coisasenão em virtude da lei”.

Em síntese, portanto, a tendência pareceser a de permitir que a lei confira aoadministrador um espaço para tomada dedecisões e feitura de escolhas responsáveis.Mas, de outro lado, subordina-se essadiscricionariedade à obediência a certosprincípios, o que acaba por torná-la mais

61-68

Page 65: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

64

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

controlável pelo Judiciário, que terá campoaberto para sua atuação, fundada precisa-mente na ofensa desses princípios.

Assim é que se encontra a tolerância dadiscricionariedade quanto à escolha e à decisão,mas não quanto aos pressupostos de fato.

O parágrafo único do artigo 10 doRDAER estabelece que “São consideradas,também, transgressões disciplinares as açõesou omissões não especificadas no presenteartigo e não qualificadas como crime nas leispenais militares, contra os SímbolosNacionais; contra a honra e o pundonorindividual militar; contra o decoro da classe;contra os preceitos sociais e as normas damoral; contra os princípios de subordinação,regras e ordens de serviço, estabelecidos nasleis ou regulamentos, ou prescritos porautoridade competente”.

Há algum tempo, falava-se, jocosamente,que se a autoridade quisesse punir de qualquerjeito um subordinado e não encontrassemotivo para enquadrá-lo no elenco dastransgressões disciplinares, do n.º 1 ao n.º 100,do artigo 10 do RDAER, bastaria usar oparágrafo único que, por sua amplitude,poderia transformar qualquer atitude de ummilitar em transgressão disciplinar.

Essa norma, de caráter geral e abrangente,é um flagrante desrespeito ao princípio dalegalidade e ao artigo 5º, inciso II, daConstituição Federal. É, portanto, umaincoerência que poderá levar os incautos aoabuso de poder e ao abuso de autoridade,que são extrapolações dos poderes disciplinare discricionário.

O poder discricionário é o que o direitoconcede à Administração, de modo explícitoou implícito, para a prática de atos admi-nistrativos com liberdade na escolha de suaconveniência, oportunidade e conteúdo.Entretanto, poder discricionário não seconfunde com poder arbitrário. Discricio-nariedade e arbítrio são atitudes inteiramente

adversas. Discricionariedade é liberdade deação administrativa, dentro dos limitespermitidos em lei; arbítrio é a ação contráriaou excedente da lei. Ato discricionário,quando autorizado pelo direito, é legal eválido; ato arbitrário é sempre ilegítimo einválido.

No RDAER, além da incoerência doparágrafo único do artigo 10, não há referênciaexplícita quanto à legalidade e quanto aoalcance dos poderes disciplinar e discri-cionário. A ausência dessa referência faz comque o responsável pelo julgamento dastransgressões disciplinares, nem semprefamiliarizado com os conceitos jurídicos, ouconverta a discricionariedade em arbítrio ouentão se arreceie de usar plenamente de seupoder discricionário, mesmo se estiverautorizado e o interesse da disciplina exigir.

E a disc ipl ina , def in ida como arigorosa obser vância e o acatamentointegral das leis, regulamentos, normase disposições que fundamentam oorganismo mil i tar e coordenam seufuncionamento re gular e har mônico,traduzindo-se pelo perfeito cumprimentodo dever por parte de todos e de cadaum dos componentes desse organismo,f ica maculada quando um diplomadisciplinar não observa ou está incoerentecom as normas constitucionais.

Outro fato de grande relevância comrelação à legalidade é a circunstância de oRDAER ser um regulamento aprovado porum decreto.

Ora, a Constituição Federal prevê, no seuartigo 5º, inciso LXI, que a prisão, para serlegal, há de ocorrer “em flagrante delito oupor ordem escrita e fundamentada deautoridade judicial, salvo nos casos detransgressão militar ou crime propriamentemilitar, definidos em Lei” (grifo do autor).

Assim, segundo o dispositivo constitu-cional, a lei ordinária deverá definir as

61-68

Page 66: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

65

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

transgressões disciplinares e os crimespropriamente militares. Definir é enunciaros atributos ou as características de umacoisa, de modo a não deixar margem paraque se confunda com outra. Portanto, cabeà lei, e somente a ela, estabelecer em seusdetalhes as transgressões disciplinares e aspunições delas decorrentes.

Destarte, são inconstitucionais as prisõesadministrativas militares definidas em decretoou em ato passível de ser alterado unilate-ralmente pelo Poder Executivo.

Com efeito, sendo o RegulamentoDisciplinar da Aeronáutica aprovado pordecreto, torna-se arbitrária e ilegal aaplicação de prisão disciplinar fundamentadaem ato administrativo normativo, quando aConstituição Federal reclama definição em lei.

4 - Harmonia com a Lei Maior

4.1 Eliminação do Xadrez

Na maioria das organizações militares daForça Aérea existe um compartimentofechado, sombrio e degradante, chamadoxadrez. É lá onde os cabos, soldados etaifeiros cumprem a pena disciplinar deprisão.

Numa época em que os direitos indi-viduais são exercitados em toda a suaplenitude, e o xadrez é contestado para ospróprios criminosos, é uma verdadeiracontradição trancafiar homens em celas,quando, ao se punir, o que se deve visar é aobenefício do transgressor, pela sua reedu-cação, e ao benefício da instituição, pelofortalecimento da disciplina e da justiça.

O xadrez deve ser eliminado. É preciso

ficar bem claro que não se está propondo

a eliminação da pena disciplinar de

prisão. Ela está prevista e deve ser

aplicada nos casos em que seja benéfica

à disciplina. Modifique-se o RDAER, mas

sem esquecer suas virtudes, cujos méritos

não podem ser minimizados. A proposta

refere-se a uma correção quanto ao local

de cumprimento.

Assim sendo, a punição de prisão paraos cabos, soldados e taifeiros deverá sercumprida apenas no alojamento. Entre 1993a 1995, em decorrência da monografia “AELIMINAÇÃO DO XADREZ NA PENADISCIPLINAR DE PRISÃO”, elaborada noCAP EPR 1/92, na EAOAR, pelo Capitãode Infantaria da Aeronáutica JOSÉ MÁRIOALVES DE SOUZA, no PARQUE DEMATERIAL AERONÁUTICO DELAGOA SANTA/MG, foi praticada, emcaráter experimental, a prisão de cabos,soldados e taifeiros apenas no alojamento.O resultado foi uma sensível queda noíndice de transgressões em razão de umamelhora sensível do padrão disciplinardaqueles mil i tares, por se sentiremprestigiados. Assim, propõe-se que o número3 do artigo 21, do RDAER, seja modificadoe estabeleça que o local de cumprimentoda pena disciplinar de prisão, para oscabos , soldados e taifeiros, seja o

alojamento ou local equivalente (grifo doautor), eliminando-se a referência ao“compartimento fechado denominadoxadrez”.

4.2 Inclusão da Ampla Defesa e do

Contraditório

O artigo 34 do RDAER deve sermodificado. No seu “caput”, está previstoque “nenhuma punição será imposta sem serouvido o transgressor e sem estarem os fatosdevidamente apurados”. Contudo, em razãoda previsão constitucional, deve ser incluída,nesse artigo, referência ao processo adminis-trativo disciplinar, bem como à ampla defesae ao contraditório.

Destarte, propõe-se a seguinte redaçãopara o “caput” do artigo 34 do RDAER:

Art 34. Nenhuma punição será impostasem ser ouvido o transgressor, assegurados

61-68

Page 67: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

66

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

a ampla defesa e o contraditório , e semestarem os fatos devidamente apurados,através do devido Processo Adminis-

trativo Disciplinar (PAD).Ainda se tratando do artigo 34, o número

3 deverá também sofrer alteração, passandoa ter a seguinte redação:

3 - Quando forem necessários maioresesclarecimentos sobre os fatos alusivos à

transgressão, deverá ser procedida

sindicância, para, se for o caso, servir

de base ao Processo Administrativo

Disciplinar a ser posteriormente ins-

taurado.

Os trechos em negrito são as modifi-cações propostas, pois da forma anteriorentendia-se que o processo de julgamento deuma transgressão não passava da subfase deinstrução.

Com a modif icação proposta, o RDAERficará coerente e em harmonia com a LeiMaior, pois passará a contemplar a ampladefesa e o contraditório, esclarecendo quetudo será realizado através de um processo.Dessa forma, a punição disciplinar será legale insuscetível de nulidade.

Quanto ao Processo AdministrativoDisciplinar, não caberia ao RDAER maiordetalhamento, ficando a sua formalísticaa ser estabelecida por uma Instrução doComando da Aeronáutica (ICA).

4.3 Obediência ao Princípio da

Legalidade

Diz a Carta Federal: “ninguém será presosenão em flagrante delito ou por ordem escritae fundamentada de autoridade judiciáriacompetente, salvo nos casos de transgressãomilitar ou crime propriamente militar,definidos em lei” (grifo do autor).

O texto constitucional é de cristalinoentendimento. A Constituição alude a crimepropriamente militar e transgressão disci-plinar, como ensejadores da prisão, indepen-

dentemente de ordem judicial. É bom notar,todavia, que, tanto no que diz respeito àtransgressão militar, como ao crime propria-mente militar, exige-se a definição em lei doscasos que comportam a medida restritiva daliberdade.

A bem da verdade, os militares, dada a ex-cepcionalidade de seu vínculo com o Estado,submetem-se a restrições destinadas à preser-vação dos valores ímpares e inerentes à vida dacaserna, sustentáculos que são da preservaçãoda soberania nacional e da manutenção doEstado Democrático de Direito.

Por via de conseqüência, a ConstituiçãoFederal de 1988 reconheceu essa especia-lidade, infligindo ao militar a possibilidade deser privado de sua liberdade independen-temente de estado de flagrância ou de ordemde Magistrado. Entretanto, exige - e estaexigência é uma garantia - que o cerceamentoda liberdade, fora dos casos da regra geral,se dê em virtude de transgressão disciplinarou de crime propriamente militar, ambosdefinidos em lei (grifo do autor).

Lei é ato normativo produzido peloPoder Legislativo, segundo a forma prescritana Constituição, gerando direitos e deveresem nível imediatamente infraconstitucional.

Por outro lado, nos termos do artigo 5º,inciso II, “ninguém será obrigado a fazer oudeixar de fazer alguma coisa senão em virtudeda lei”. Aí não se diz “ em virtude de decreto,regulamento, resolução, portaria ou coisa damesma natureza”. Diz-se “em virtude da lei”.Portanto, a função do ato administrativo sópoderá ser a de agregar à lei nível deconcreção, nunca assistirá a ela instauraroriginariamente qualquer cerceio a direitos deterceiros.

A Administração Militar não pode sefurtar, e não se furtará, à obediência aoprincípio da legalidade. Assim, o adminis-trador castrense vincula-se estritamente à leino desempenho de seu múnus público, sob

61-68

Page 68: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

67

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

pena de praticar atos eivados de nulidade. Aeficácia de toda atividade administrativa estácondicionada ao atendimento da lei. NaAdministração Pública, não há liberdade nemvontade pessoal. Enquanto na administraçãoparticular é lícito fazer tudo o que a lei nãoproíbe, na administração pública só épermitido fazer o que a lei autoriza.

Dessa fo rma, propõe-se que o

RDAER adaptado à Constituição seja

aprovado por meio de uma Lei. Assim

as punições disciplinares de prisão que

forem aplicadas estarão escoimadas

do risco de serem contestadas no

Judiciário.

Em nome da legalidade, outra alteraçãoque deverá sofrer o RDAER será a eliminaçãodo parágrafo único do artigo 10, pois aexcessiva abrangência daquele dispositivoensejaria aos incautos a possibilidade decometer abuso ou excesso de autoridade.

Já no artigo 34, há nos números 4 e 5 aprevisão de detenção e de incomunicabilidadedo transgressor, durante a sindicância. Essecerceamento do direito de locomoção e deliberdade é um excesso de autoridade, emcontraposição ao princípio da legalidade.Sendo assim propõe-se a retirada dosreferidos dispositivos do artigo 34 doRDAER, pois, como já foi visto, a sindicânciaé mero procedimento investigativo e nãopode ser usado para aplicação de penalidadesou para o cerceamento da liberdade delocomoção.

A adaptação do RDAER à Constituiçãoé um fato que se pode extrair do próprioregulamento. No capítulo referente àspunições, especificamente no artigo 18, oRDAER prevê que: “Além das puniçõesdiscriminadas neste capítulo, são aplicáveisaos militares outras penalidades estabele-cidas em leis, regulamentos ou disposiçõesque a eles se refiram, respeitados os preceitosda Constituição”. (grifo do autor).

Ora, já que no próprio regulamento

está previsto o respeito à Lei Maior, por

que não adaptá-lo?.

5 - Um Justo Porvir

Realizadas as modificações propostas,tornar-se-á o RDAER um instrumentoforte, coerente e justo para o exercíciodo poder disciplinar no Comando daAeronáutica.

Os comandantes, os disciplinadores daForça não precisarão mais procurar soluçõesisoladas para suprir a deficiência do RDAER.Os procedimentos alinhados com a CartaMagna serão plasmados em um só instituto,padronizando a aplicação do poder disci-plinar na Aeronáutica.

Embora a mudança do RDAER seja umaexigência, não se poderá olvidar do trabalhono setor de comunicação social. Assim, oCentro de Comunicação Social da Aero-náutica (CECOMSAER) deverá realizar umtrabalho com o intuito de passar uma imagemfavorável da Força, tanto para o públicointerno como para o externo. O enfoque aser dado é o de a Força buscar maiorcredibilidade, ao sustentar o seu diplomadisciplinar na Carta Magna.

Apesar de todo esse trabalho, em ummédio prazo, o que mais sobressairá será ajusta iniciativa da Aeronáutica em harmonizaro seu regulamento disciplinar com a LeiMaior.

Além do mais, hoje, independente daaprovação de um novo RDAER ou não,pode ser alegada no Judiciário a desobediênciaaos princípios Constitucionais. É que, estandoa Constituição em vigor, existe a presunçãoabsoluta de que todas as normas infracons-titucionais não podem contrariar a Lei Maior.Vale dizer que a adaptação do RDAER àConstituição só irá demonstrar o zelo daAeronáutica em se ajustar à Carta Magna,porque o já previsto na Constituição está em

61-68

Page 69: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

68

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200261-68

vigor, independente de o RDAER recepcio-nar ou não. A demora em ajustar o diplomadisciplinar só irá postergar o problemaexistente.

Por outro lado, a própria administraçãomilitar ficará livre da mácula de possuirum instrumento legal em desacordo com aLei Maior. Não será mais censurada e sepoupará dos desgastes das inúmeras açõesjudiciais que poderiam ser levadas a efeito.Em um balanço, constatar-se-á que haverámais vantagens, pois, inicialmente, serácorrigido um erro que persiste há quasequatorze anos. E a correção não será sim-plesmente uma opção; na realidade, é umaobrigação.

6 - Conclusão

O Comando da Aeronáutica, um dostrês braços da Expressão Militar do PoderNacional, tem a sua base na hierarquia edisciplina.

No que tange à disciplina, no momentoatual, o principal instrumento da Aeronáu-tica, o RDAER, está deficiente e não dá odevido suporte para que seja cumprida atarefa disciplinar da Força.

Por ser uma das bases da estrutura

militar, a disciplina não prescinde da

atenção de todos os chefes da Aeronáu-

tica. Dessa forma, por se tratar de um

assunto tão relevante, a sua importância

se avulta quando fica evidente que a

credibilidade do Comando da Aero-

náutica está em jogo.

A credibilidade é fator essencial para osucesso em qualquer campo das realizaçõeshumanas e a credibilidade do Comandoda Aeronáutica será fortalecida, pois osenso de justiça, a perspicácia, a sensateze a retidão são marcas da Força AéreaBrasileira.

“A justiça sem força, e a força sem

justiça: desgraças terríveis” (Joubert).

REFERÊNCIAS

BASTOS, Celso Ribeiro de. Comentários àConstituição do Brasil. São Paulo:Saraiva,1989. v. 2. 620 p.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição daRepública Federativa do Brasil: textoconstitucional de 5 de outubro de 1988. Brasília:Câmara dos Deputados, 1999. 361 p.

BRASIL. Legislação Penal Militar: Código PenalMilitar, Código de Processo Penal Militar ,Organização Judiciária Militar , SegurançaNacional, Legislação complementar.Organização e notas de Edgard de Brito ChavesJunior. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.815 p.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direitoadministrativo. 6. ed.. São Paulo: Atlas, 1996,567 p. FAGUNDES, João Batista. A justiça docomandante. Brasília: Senado Federal, 1988.354 p.

LOBÃO, Célio. Direito penal militar atualizado.Brasília: Brasília Jurídica, 1999. 435 p.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativobrasileiro. São Paulo : Revista dos Tribunais,1990. 703 p. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manualde direito penal. São Paulo: Atlas, 1989. 446 p.

NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. SãoPaulo: Saraiva, 1987. v.1. 369 p.

PIMENTEL, José Eduardo de Souza.Regulamento disciplinar não pode ser alteradopor decreto. Revista Direito Militar, n. 7, p. 44-49.

SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Anatureza jurídica dos regulamentosdisciplinares militares e a nova ordemconstitucional - ensaio. Informativo Consulex,Brasília, v. 12, n. 51, 21 dez. 1998.

SILVA, José Afonso da. Curso de direitoconstitucional positivo. 6. ed. São Paulo: Revistados Tribunais, 1990. 756 p.

SOUZA, José Mário Alves de. A eliminação doxadrez na pena disciplinar de prisão. Rio deJaneiro: EAOAR/CAP EPR 1/92, 1992.(Monografia).

Page 70: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

69

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Comissão Permanente de

Habilitação e Licitações

- Otimização do processo licitatório Cap.-Int. César Augusto dos Santos Couto

Page 71: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

70

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

ementa, o inc. XXI do art. 37 da ConstituiçãoFederal e instituiu normas gerais para licita-ções e contratos da Administração Pública,com a redação que lhe deu a legislaçãosuperveniente, usa, com o sentido de órgãodirigente e julgador de licitações, a palavraComissão (arts. 43 e 44) e as locuçõesComissão de Licitação (arts. 45 e 51, § 1.º),comissão especial (art. 51) a par de outrassemelhantes, mas portadoras de sentidodiverso, como: Comissão para julgamento dospedidos de registro cadastral (art. 51, § 2.º) ecomissão de recebimento (art. 15, § 8.º).

Há nesse comportamento uma clarademonstração de que não houve, por partedo legislador federal, qualquer preocupaçãocom a técnica legislativa, que exige para amesma idéia idêntico vocábulo ou locução, eque esses órgãos colegiados não receberamdessa Lei o mesmo tratamento ou igualregime jurídico, num sinal evidente de queesse diploma legal regulou a criação dacomissão de licitação e de outros órgãoscolegiados com fins e atribuições diferentes.Na fixação desses regimes e, por conse-guinte, na identificação das várias comissõesinstituídas por essa Lei reside nossa preo-cupação”.2

A Lei faz aparecer a figura da Comissão,tanto no inciso XVI do art. 6.º quanto em seuart. 51 , porém não realiza uma distinçãoentre permanente e especial.

A Comissão Permanente foi instituídapara julgar os processos gerais, ou aquelesnecessários às atividades normais de uma UG,e não é temporária, pois não se extingue coma conclusão dos processos.

A Comissão Especial destina-se a julgardeterminado processo, o qual necessita demaior especialização. É temporária e extintaapós a conclusão do processo específico parao qual foi criada.

Introdução

m uma organização militar todos osagentes são responsáveis pelo corretouso dos recursos, tanto os financeiros

quanto os materiais . Anualmente sãonomeados alguns membros dos efetivos denossas organizações para comporem asdiversas comissões exigidas em leis eregulamentos do Comando da Aeronáuticae, dentre elas, está a Comissão Permanentede Habilitação e Licitações (CPHL).

“Não é, obviamente, um grupo qualquerde pessoas ou uma esporádica reunião deinteressados que discutem um dado assunto(a Guerr a do Golfo, o Plano Real). É,portanto, grupo intencional e formalmenteconstituído para um certo fim. Ademais, seufuncionamento obedece a determinadas regras(convocação, pauta de deliberação, quorumde instalação e de deliberação) quase sempredispostas em regulamento ou regime interno,que não se afeiçoam com uma reuniãoeventual de pessoas, mas firmam o caráterintencional e formal de reunião de pessoaspara uma específica finalidade.” 1

Através de uma Comissão Permanentede Licitações os processos licitatórios podemser executados de uma maneira mais rápida eágil, tornando-os menos onerosos tanto paraaqueles que fazem o pedido quanto para osorganizam os processos.

Esta comissão, extremamente importante,não vem sendo utilizada de maneira corretaem grande parte das unidades administrativasdo Comando da Aeronáutica.

Histórico

“A Lei n.º 8.666, editada pela União,chamada de Estatuto Federal das Licitaçõese Contratos da Administração Pública ou, demodo mais simples , Estatuto FederalLicitatório, que regulamentou, consoante sua

E

1 - Diógenes Gasparini: Comissão de Licitação, Ed. NDJ, pág 17, 1997.2 - Diógenes Gasparini: Comissão de Licitação, Ed. NDJ, pág 12, 1997.

69-72

Page 72: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

71

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Ambas são compostas por um colegiadode, no mínimo, três membros, sendo pelomenos dois deles, servidores qualif icadospertencentes aos quadros permanentes, osquais são incumbidos de dirigir e julgar osprocessos, no todo ou em parte.

Os membros das comissões responderãopor todos os atos praticados, bem comoserão nomeados, através de publicação emboletim interno, para um período máximode um ano, sendo vedada a recondução datotalidade de seus membros para a mesmacomissão no período subseqüente.

As reuniões das comissões, permanentese especiais, somente se instalarão se houverum número mínimo de participantes, isto é,três membros. É importante que as comissõessejam formadas por um número maior decomponentes, se isso for possível.

Situação Atual

Hoje, as unidades administrativas doComando da Aeronáutica utilizam asComissões Permanentes como se fossemEspeciais, isto é, em uma UG encontramospelo menos três tipos permanentes, oumelhor, encontramos uma para cadaprocesso nas modalidades de tomada depreços, concorrência e leilão.

Em outros casos encontramos o Gestorde Licitações acumulando funções da CPHL.É claro que tal função poderá ser exercida,pois a própria Lei de Licitações e ContratosAdministrativos prevê que no caso deconvite, sendo a unidade pequena e tendoescassez de pessoal a comissão poderáser substituída por servidor formalmentedesignado pela autoridade competente.Lembro aqui a palavra designado, o quemuitas vezes não acontece.

Existe uma confusão muito grande e,parte dessa situação, é causada pelo acúmu-lo de trabalho nas mãos do Gestor deLicitações.

Apesar de a CPHL poder estar ligada àSeção de Licitações, isso não significa que devaestar subordinada hierarquicamente a esta oua seu titular. Ainda que vinculada a um órgão,como não podia de ser, ela é independentenas suas manifestações e seus julgamentosprivativos. Os atos desses colegiados não sãoavocáveis pelo titular do órgão a que estejamligados ou vinculados, ainda que competentespara homologar a licitação ou conhecer edecidir recursos interpostos contra seus atose comportamentos.

Na realidade, as unidades administrativasdeveriam descentralizar as ações das seçõesde licitações, mas mantendo a função, doGestor de Licitações, de orientar as comissõespermanentes e especiais.

Proposta

Este trabalho tem como propostaredefinir as ações da CPHL no Comando daAeronáutica e com isso agilizar os processose aliviar o Gestor de Licitações, o qual poderáexercer suas diversas atribuições (emitir notasde empenho; fazer e manter o cadastro defornecedores; elaborar as minutas dos editais;transcrever em livro próprio ou colecionartodos os contratos, cartas-contratos erespectivos aditivos; e manter protocolo desaída e entrada de todos os processoslicitatórios). As atribuições do Gestor deLicitações encontram-se no Regulamento deAdministração da Aeronáutica.

É importante que ao formular o editalpara futuros processos, o Gestor deLicitações faça uma reunião com os membrosda Comissão Permanente de Habilitação eLicitações com a finalidade de instruí-lossobre possíveis problemas que poderãoenfrentar, caso ocorram recursos na fase dehabilitação e na fase de julgamento daspropostas. Porém, o Gestor deverá serlembrado de que não poderá influenciar osjulgamentos e decisões.

69-72

Page 73: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

72

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 200269-72

Pela proposta, a Comissão Permanentedeverá assumir os processos licitatórios(convites, tomadas de preços, leilões econcorrências) após a divulgação do edital,através do Diário Oficial da União (noscasos de tomadas de preços, leilões econcorrências) e da colocação dos convitesà disposição dos fornecedores interessados(entrega aos convidados ou leitura dosmesmos por meio de quadro de avisos), afim de aliviar o Gestor de Licitações dosseus encargos.

A Comissão Permanente de Habilitaçãoe Licitações ficará responsável por emitir epublicar no Diário Oficial da União todos osdocumentos do processo: Ata da reuniãopreliminar, ata da reunião de julgamento dahabilitação, ata de julgamento dos recursosoriundos da inabilitação, ata de abertura daspropostas, ata de julgamento das propostasde preços, ata de julgamento dos recursosoriundos do julgamento das propostas, atade classificação das propostas de preços,emissão do mapa comparativo de preços erespostas a mandados de segurança. Deverá,ainda, elaborar o termo da adjudicação e otermo de homologação, os quais serãoapresentados ao Sr. Ordenador de Despesaspara aprovação e assinatura. Só após todosestes atos é que o processo retornará as mãosdo Gestor de Licitações.

Como sugestão, a CPHL poderá utilizara Internet como meio de divulgação dostrabalhos, a exemplo do que é feito,atualmente, pelo Hospital das Clínicas daFaculdade de Medicina da Universidade deSão Paulo.

A proposta apresentada poderá ampliara atuação da CPHL através dos seguintesmeios: reuniões e seminários onde partici-parão os Gestores de Licitações e Agentesde Controle Interno das unidades admi-nistrativas do Comando da Aeronáutica;modificações nas estruturas das seções de

licitações; e modificações no Regulamento deAdministração da Aeronáutica.

Destaca-se, assim, a importância daComissão Permanente de Habilitação eLicitações na estrutura das UnidadesAdministrativas, minimizando os custose otimizando os processos.

E, para finalizar, deixa-se a seguinte frasedo Presidente Norte-Americano T. Rooseveltpara reflexão: “É muito melhor arriscar

coisas grandiosas, alcançar triunfos e

glórias mesmo expondo-se a derrota, do

que formar f ila com os pobres de espírito

que nem sofrem muito, porque vivem

nessa penumbra cinzenta que não

conhecem vitória nem derrota”.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n.º 8.666, de 21 de junho de 1993.Regula o art. 37, inciso XXI, da ConstituiçãoFederal, institui normas para licitações econtratos da Administração Pública e dá outrasprovidências. Brasília, 1993.

BRASIL. Ministério da Aeronáutica. Portaria n.º391/GM3, de 31 de maio de 1996. Aprova oRegulamento de Administração da Aeronáutica.Brasília, 1996. (RMA 12-1).

GASPARINI, Diógenes. Comissões de Licitaçãoe demais órgãos colegiados referidos na Lein.º 8.666/93. São Paulo: Editora NDJ, 1997.

UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA. Escola deAperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica.Monografia. Rio de Janeiro, 1998.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Núcleo deProcessamento de Dados. Faculdade deMedicina. 2002. Disponível em: <http://www.hcnet.usp.br/adm/gl/>. Acesso em: 06 abr.2002.

Page 74: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

73

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

1 - Evolução Histórica

história da humanidade é construídasobre uma série de pequenas conquis-tas, que solidificam o avanço cultural

no transcurso do tempo, e sobre grandespassagens, em que ocorrem verdadeiros saltostecnológicos, revoluções sociais, importantesdescobertas ou vitórias militares.

Desde a mais remota Antigüidade, aconstante presença militar nesses momentosda história vem acompanhada da constataçãode que as tropas mais disciplinadas levammuita vantagem sobre as oponentes, pois

sabem como se comportar frente às agrurasda batalha e como acatar as determinaçõesestratégicas e táticas dos seus chefes.

Assim foram os gregos e, entre eles, osvalorosos espartanos. Juntos, enfrentaraminimigos muitas vezes mais poderosos,vencendo-os, não só pela genialidade de seuslíderes mas, principalmente, em razão dadisciplina, da aplicação tática dos soldados eda Justiça Castrense.

No Brasil, as primeiras tentativas decodificação da legislação penal militar datamdo início do século XIX, mais precisamenteapós a chegada de D. João VI. Porém,

A

73-79

Processo Administrativo

Disciplinar de Militar da

Aeronáutica - PADMA

Processo Administrativo

Disciplinar de Militar da

Aeronáutica - PADMATen.-Cel.-Int. Hiran Williams de AlmeidaTen.-Cel.-Int. Hiran Williams de Almeida

Page 75: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

74

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

somente com o advento da República,patrocinada essencialmente por militares, nosanos finais do século XIX, surgiram osprimeiros Códigos Penais Militares, come-çando pelo da Armada, depois estendido aoExército.

Criaram-se, também, os regulamentosdisciplinares militares, refletindo a necessidadede aperfeiçoamento do controle disciplinar eda justiça nas instituições castrenses.

Em 20 de janeiro de 1941, criou-se oMinistério da Aeronáutica, e logo a seguir, oDecreto-lei nº 3.020/41 estendeu à Aero-náutica a jurisdição da Justiça Militar doExército.

O Governo do Presidente Getúlio Vargaspôs em vigor, em 24 de novembro de 1941,por meio do Decreto-lei nº 3.864, o Estatutodos Militares que, em seu artigo 188,determinou a revisão e a consolidação dalegislação militar, de acordo com as suaspróprias disposições.

Finalmente, em 17 de fevereiro de 1943,a Aeronáutica teve aprovado o seu próprioregulamento disciplinar, o RDAER, o qualapresentava forte influência dos regulamentosdisciplinares das demais forças, Exército eArmada, em seu conteúdo.

A estrutura do RDAER, em sua capitu-lação e ordem de assuntos, aproximou-seda utilizada no RDE; o seu conteúdo,ordenado e escrito conforme os interes-ses da FAB, também seguiu o modelo doRDE.

Esse primeiro RDAER permaneceu emvigor por trinta e dois anos.

Após a entrada em vigor da Constituiçãode 1967 e das alterações por ela sofridas em1969, a legislação da Aeronáutica, no campodisciplinar , ficou carente de uma atualização,o que veio a acontecer em 22 de setembrode 1975, com a edição do RDAER que vigeaté os dias atuais.

2 - Situação Atual

Paralelamente à legislação penal militar,as Forças Armadas dispõem de normascomplementares, esculpidas nos regulamentosdisciplinares.

O RDAER permite à autoridade militara aplicação de sanções disciplinares aos seussubordinados, para aqueles fatos de menorgravidade, que constituem transgressão e nãocrime militar, com o fim de assegurar ahierarquia e a disciplina.

O crime militar contém no preceitosancionador uma pena determinada pelolegislador, ao passo que a infração disciplinarcontém uma sanção sujeita a uma faculdadediscricionária da autoridade militar.

A diferença fundamental reside no fatode que o ilícito penal tem como base oPrincípio da Reserva Legal 1, enquanto oilícito disciplinar não está sujeito ao Princí-pio da Legalidade, mas, sim, ao discricio-narismo, no apreciar o comportamento dosubordinado, dentro dos critérios daoportunidade e conveniência da sanção aser aplicada.

Toda punição disciplinar é um atoadministrativo, portanto, sujeito aos requi-sitos previstos em lei para sua formação econvalidação.

O Direito Administrativo Brasileiro esta-belece cinco requisitos básicos para que o atoadministrativo goze de legitimidade: forma,competência, finalidade, motivo e objeto.

A forma, competência e finalidade doato são vinculados aos ditames das normasem vigor, podendo sofrer sanção judicial casonão sejam cumpridos; já os requisitos motivo

e objeto são discricionários, pelos quais aadministração decide livremente, e sempossibilidade de correção judicial, salvoquando seu proceder caracterizar excesso oudesvio de poder.

1 “Não há crime sem lei anterior que o defina, não há pena sem prévia cominação legal” - art 5º, XXXIX, Constituição Federal/88.

73-79

Page 76: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

75

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Assim, deve-se enfocar o requisito daforma do ato punitivo, a f im de inibirqualquer interveniência do Poder Judiciárionas punições disciplinares da administração.Todavia, as punições disciplinares dosmilitares, no âmbito da Aeronáutica,obedecem ao rito previsto no art. 34, capítuloIII do RDAER:

“Art. 34. Nenhuma punição será impostasem ser ouvido o transgressor e sem estaremos fatos devidamente apurados.

1 - A punição deverá ser imposta dentrodo prazo de 3 dias úteis, contados domomento em que a transgressão chegar aoconhecimento da autoridade que devepunir, podendo, porém, sua aplicação serretardada quando no interesse da admi-nistração”.

Cabe ressaltar que, nas nossas organi-zações, as audiências são verbais, sendoouvido o transgressor sem que seja produ-zido nenhum documento.

Nos moldes atuais, o militar que encontrarsubordinado hierárquico na prática de atosirregulares deve adverti-lo; tratando-se detransgressão, deve comunicar o fato ao seuchefe imediato, por meio de parte , queserá enviada por meio de folha de encami-nhamento ao chefe do transgressor, a fimde que este seja ouvido e, se for o caso,punido.

Observa-se que não se falou em forma-ção de processo administrativo para impul-sionar e apurar a punição administrativadisciplinar, sujeitando-se o ato administrativoà tutela judicial, por ferir o requisito formada teoria dos atos administrativos.

Nota-se que a falta de formação de umprocesso administrativo disciplinar tem geradoarbitrariedades por parte de alguns encar-regados da apuração disciplinar, que nãoobservam e não apuram devidamente astransgressões, gerando algumas injustiças noseio da tropa.

Muitas vezes, no afã de fazerem justiça,os chefes ou os encarregados de apuraremtransgressões disciplinares tomam deter-minadas atitudes que não são fundamentadasem lei, ou, principalmente, contrariam algunsprincípios constitucionais.

Uma ação judicial que está em voga, nomomento, é a anulação de punição disciplinarpor “habeas-corpus”, decidido por tribunalcompetente, mesmo sendo esse remédio legalnão cabível às prisões disciplinares.

A proibição - citada no parágrafo 2º doartigo 142 da Constituição Federal - deimpedir o uso do “habeas-corpus” contraprisão disciplinar, deve-se ao fato de que istopoderia comprometer a principal base daestrutura militar: a hierarquia e a disciplina -mais uma vez citada.

Então, por que vêm ocorrendo essasdecisões, que contrariam aparentemente aConstituição? Porque o Judiciário vemacolhendo a pretensão daqueles que provamque não tiveram respeitadas as suas garantiasfundamentais definidas na Constituição,durante o processo administrativo disciplinara que foram submetidos.

O que se vê, nacionalmente, é que decisõesanteriormente não questionadas são, hoje,levadas aos tribunais para que estes opinem.A causa disso talvez seja a exposiçãoconstante, pelos meios de comunicação, depessoas e de entidades requerendo seussupostos direitos. Esses acontecimentosinfluenciam a comunidade militar, que é partedo povo brasileiro.

3 - Princípios Constitucionais não Observados

3.1 Princípio do Devido Processo Legal

A cláusula do “due process of law”, quevem sendo aplicada no direito anglo-saxônicodesde a carta magna inglesa de 1215, foiincorporada ao texto da Constituição Federalde 1988, através do inciso LIV do art. 5º, quedispõe:

73-79

Page 77: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

76

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

“Art. 5...LIV - Ninguém será privado da liberdade

ou de seus bens sem o devido processo legal”.Esse princípio, atualmente, não vem sendoobservado pela Administração.

Embora a garantia do devido processolegal seja tradicionalmente associada aosprocessos judiciais, é indiscutível a suaaplicação em todos os casos em que odireito à liberdade e à propriedade possaser afetado, e a punição administrativa dis-ciplinar não deixa de ser um cerceamento àliberdade do indivíduo.

A adoção de medidas de adequação dadisciplina aos princípios constitucionais é desuma importância para oferecer aos coman-dos a segurança necessária para que possamefetivamente promover a disciplina e defenderos princípios das instituições militares, semincorrer em erros técnicos que ensejem aresponsabilização civil, administrativa ouaté criminal da autoridade. Ressalte-se que,no direito pátrio, existe o princípio de queninguém pode recusar o cumprimento dasleis alegando o desconhecimento e quequalquer magistrado irá presumir que asautoridades militares, até mesmo pelasua elevada formação cívica, têm plenoconhecimento dos princípios judiciaisque orientam todo o direito positivobrasileiro.

Nas punições disciplinares de hoje, osprocedimentos não são organizados emforma de processo, deixando de assegurar ocontraditório e a ampla defesa para osinfratores.

3.2 Princípio da Ampla Defesa e do

Contraditório

Anteriormente a 1988, a AdministraçãoPública utilizava-se do meio sumário da“verdade sabida”, que é o conhecimentopessoal da infração pela própria autoridadecompetente para punir o infrator, ou seja, se

o superior presenciasse uma falta punível,cometida pelo seu subordinado, aplicava apena pela “verdade sabida”, consignando noato punitivo as circunstâncias em que foicometida e presenciada a falta.

Porém, esse meio sumário, adotado aindahoje pela nossa Administração, foi revogadopor ocasião da promulgação da ConstituiçãoFederal, que consagrou o Princípio doContraditório e da Ampla Defesa.

Esse princípio, amplamente defendido nadoutrina e jurisprudência ainda na vigência dasConstituições anteriores, está agora expressono art. 5º, inciso LV, da Constituição Federalde 1988.

“ LV - Aos litigantes, em processo judicialou administrativo e aos acusados em geralsão assegurados o contraditório e a ampladefesa, com os meios e recursos a elainerentes”. O contraditório “consiste na regrasegundo a qual, sendo formulado um pedidoou oposto um argumento a certa pessoa,deve-se dar a esta a oportunidade de sepronunciar sobre o pedido ou o argumento,não se decidindo antes de dar tal oportu-nidade”.

O contraditório impõe a conduta dialéticado processo. Isso significa dizer que, emtodos os atos processuais, às partes deve serassegurado o direito de participar, emigualdade de condições, oferecendo alegaçõese provas, de sorte a que se apure a verdadeproduzida unilateralmente.

Assume o contraditório notável impor-tância, por exemplo, após audiência doslitigantes, na oitiva de testemunhas, demons-trando a importância que tem a participaçãodos interessados na prática dos atos proces-suais, especialmente naqueles pelos quais éformada, no processo, a representação dosfatos da causa.

O contraditório é componente essencialdo que se costuma denominar com aexpressão “due process law”, ou o devido

73-79

Page 78: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

77

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

processo legal, aplicando-se a todo e qual-quer processo, entendido o termo comosérie de atos com a qual se pretendafundamentar uma decisão, seja judicial ouadministrativa.

O Princípio da Ampla Defesa é aplicávelem qualquer tipo de processo que envolva opoder de sanção do Estado sobre as pessoasfísicas e jurídicas. O Princípio do Contra-ditório, que é inerente ao direito de defesa, édecorrente da bilateralidade do processo;quando uma das partes alega alguma coisa,há de ser ouvida também a outra, dando-lheoportunidade de resposta. O Princípio doContraditório supõe o conhecimento dos atosprocessuais pelo acusado e o seu direito deresposta ou de reação. Ele exige:

1 - notificação dos atos processuais àparte interessada;

2 - possibilidade de exame das provasconstantes do processo;

3 - direito de assistir à inquirição detestemunhas; e

4 - direito de apresentar defesa escrita.Dessa forma, a carta política, no inciso

LIV, do art. 5º, determina que a privação daliberdade, vale dizer, tanto no caso de sançãopenal ou sanção disciplinar, deve ser precedidado devido processo legal, e em todos osprocessos, seja em nível judicial ou em níveladministrativo, deve estar presente a chamadaampla defesa.

É fundamental, portanto, que a Aero-náutica reveja seus procedimentos deapuração de transgressões disciplinares, a fimde legalizar um processo administrativodisciplinar para seus militares no âmbito doComando da Aeronáutica.

4 - Processo Proposto

O Direito Militar, seja Penal ou Disci-plinar, é um ramo especial da Ciência Jurídica,com princípios e particularidades próprias.Mas, como qualquer outro ramo dessa ciência,

está subordinado aos cânones constitucionais.No ordenamento jurídico militar, que

segue a tradição romano-germânica, não seadmite que uma norma infraconstitucional sesobreponha ao texto político.

Os regulamentos disciplinares das ForçasArmadas foram impostos por meio dedecretos federais, não podendo se sobreporà Constituição, em respeito à hierarquia dasleis preconizada pelo jusfilósofo alemão HansKelsen.

A Magna Carta consagrou o devidoprocesso legal como sendo a única formapara que uma pessoa possa perder seus bense a sua liberdade. Na transgressão disciplinar,o militar está sujeito a perder a liberdade, e,portanto, esta conseqüência somente poderáser aplicada e considerada válida se respeitaro Princípio da Reserva Legal e o art. 5º, incisoLIV, da CF/88.

A não-observância desses princípiossignifica desrespeito às regras do jogo, as quais,em um Estado Democrático de Direito, sãopreviamente estabelecidas e se aplicam a todosos cidadãos, sejam eles civis ou militares, tantona esfera judicial como na administrativa.

O processo administrativo, pós-88,passou a ter todas as garantias previstas parao processo judicial, conforme preceitua o art.5º, inciso LV, da CF.

Com base nesse dispositivo, para que aampla defesa e o contraditório, com todosos recursos a eles inerentes, possam serexercidos, é preciso que o acusado tenhaconhecimento do ilícito que teria cometido eque este já se encontre previsto em normaanterior, de forma específica.

Como foi visto, o procedimento atual deapuração de transgressão disciplinar vemferindo os princípios do Direito Adminis-trativo e da Constituição Federal.

Essa prática tem ensejado várias açõesjudiciais impetradas contra a Administração,causando sérios prejuízos de ordem disciplinar

73-79

Page 79: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

78

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

para o Comando das Unidades. Observa-seque várias Unidades do Comando daAeronáutica, preocupadas com o problema,têm solicitado orientações e muitas delas têmcriado procedimentos não padronizados,aplicando, por vezes, remédios adminis-trativos que não corrigem o real problemada inobservância dos princípios fundamentaisda Constituição Federal.

Para evitar que essa situação continue aocorrer na Aeronáutica, propõem-se modifi-

cações, buscando criar um Processo

Administrativo Disciplinar, de acordo

com a Constituição e com o Direito

Administrativo Brasileiro, tornando-o

mais eficaz e abrangente do que o atual,

de modo que se mantenham preservadas

a hierarquia e a disciplina, e que o mes-

mo modifique o mínimo possível as

legislações hoje em vigor.

O processo proposto compõe-se deduas fases: a Punitiva e a Recursal. As principaisnovidades desse novo processo são osdocumentos: o Termo Acusatório, o Formu-lário de Justificativas e Razões de Defesa, oTermo de Enquadramento Disciplinar , oTermo de Oitiva de Testemunhas, a Certidãoemitida quando o militar não exercer o seudireito de defesa e o Auto de Transgressãocompetente.

Cabe ressaltar que todos os atos devemser publicados em boletim interno, a fim deevitar futuras reivindicações e dar a eles maiorformalidade.

Deve-se considerar que o PADMA visaa cumprir uma ordem constitucional e demaneira nenhuma burocratizará ou causarátranstornos à Administração; pelo contrário,aliviará a enxurrada de decisões judiciais queanulam punições aplicadas pelos Coman-dantes, causando um problema para oComando, que vê nos olhos de seus subor-dinados a dúvida da legitimidade de suaautoridade.

A principal modificação do processo dar-se-á na forma de entender o art. 34 doRDAER, cuja expressão “ser ouvido otransgressor”, deverá ser interpretada comoa oportunidade de defesa escrita a ser dadaao militar (ampla defesa e do contraditório).

No PADMA, na fase Punitiva, se omilitar encontrar subordinado hierárquico naprática de ato irregular, irá adverti-lo e,tratando-se de transgressão, deverá comunicaro fato ao seu chefe imediato, por meio deParte, que será enviada ao chefe do trans-gressor. Este , de posse das informações,convocará o infrator para preliminarmenteouvi-lo em audiência. Caso entenda que a faltaconfigurou uma transgressão disciplinar, seráinstaurado um processo, que ganhará umanumeração, permitindo, assim, o controle,pela Seção de Pessoal da OM. Ao infratorserá entre gue o Termo Acusatório deTransgressão Disciplinar, no qual aporá seuciente na primeira via e permanecerá com asegunda via, tendo, a partir de então, três diasúteis para apresentar, por escrito (de própriopunho) ou em formulário impresso eassinado, suas alegações de defesa, porintermédio do Formulário de Justificativas eRazões de Defesa.

Caso o militar renuncie ao seu direito dedefesa, este deverá participar, também porescrito, tal decisão, no Formulário deJustificativas e Razões de Defesa.

Se o militar não apresentar as razões dedefesa e não participar a renúncia a esse direito,a autoridade que estiver conduzindo aapuração do fato emitirá uma certidão,juntamente com duas testemunhas, atestandoque o direito de defesa foi concedido e nãofoi exercido pelo militar.

Recebido o Formulário de Justificativase Razões de Defesa, e se ficar algum pontonecessitando de maiores esclarecimentos, ooficial apurador enviará uma parte ao chefedo militar, solicitando a presença da

73-79

Page 80: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

79

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

testemunha ou do militar acusado, a fim deser ouvido, ocasião em que será lavrado oTermo de Oitiva, que terá a assinatura de duastestemunhas.

Cumpridas as etapas anteriores, aautoridade competente emitirá uma conclusãoescrita, quanto à procedência ou não dasacusações e das alegações de defesa, quesubsidiará a análise para o julgamento datransgressão.

Caso sejam aceitas suas razões de defesa,publicará em boletim interno a decisão; e, casonão as justifique, será preparado o Termo deEnquadramento Disciplinar pelo chefe dotransgressor, propondo o “quantum” depunição a ser aplicado, o qual será apreciadopela autoridade competente, que poderáratificar, atenuar ou agravar a proposta depunição.

Finalizando, a autoridade competenteemitirá a decisão, encerrando o processo deapuração, que terá sua decisão publicada emboletim interno.

Na fase Recursal do PADMA, o infratorpoderá recorrer da decisão à autoridade queaplicou a punição, dirigindo-lhe uma Parte deReconsideração, a qual terá sua soluçãopublicada em boletim interno.

Se o militar não se conformar com a emFlagrante, quando ocorrer uma transgressãodisciplinar grave e notória, testemunhada pormuitas pessoas e que exija uma ação imediatapor parte da autoridade decisão, poderá,ainda, recorrer à autoridade superior àquelaque lhe aplicar a sanção, por meio de umaParte de Representação, a qual terá sua soluçãopublicada em boletim interno, encerrando oprocesso no âmbito adminis-trativo, cabendo,apenas, recorrer às vias judiciais, se continuarinconformado com a decisão prolatada.

Com a implantação do PADMA, omilitar se sentirá mais amparado pela lei econhecerá toda a sistemática de puniçãodisciplinar, no âmbito do Comando da

Aeronáutica. O PADMA evitará atosarbitrários de alguns militares, calcando aspunições em fatos passíveis de comprovaçãoe sujeitos ao direito de ampla defesa por partedo infrator . Os atos do processo serãocertificados por duas testemunhas paralegitimar a decisão da autoridade competentepela aplicação da punição.

Podemos sintetizar tudo o que foi escritoneste estudo nas palavras do escritor Sêneca:

“Quem decide um caso sem ouvir a

outra parte não pode ser considerado

justo, ainda que decida com justiça”.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativado Brasil, de 5 de outubro de 1988, comalterações adotadas pelas emendasconstitucionais de 1/92 a 24/99. Brasília:Senado Federal, 1999.

_____. Lei nº 6.880, de 09 de dezembro de1980. Estatuto dos Militares. Brasília, 1980.

_____. Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999.Regula o Processo Administrativo daAdministração Federal. Brasília, 1999.

BRASIL. Ministério da Aeronáutica.Regulamento Disciplinar da Aeronáutica.Brasília, 1975. (RMA 29-1)

FAGUNDES, João Batista. A Justiça doComandante. Brasília: Senado Federal, 1988.354p.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito AdministrativoBrasileiro. São Paulo: Malheiros, 1999.

ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Princípio dalegalidade na transgressão disciplinar militar.Revista Jurídica, n.º 286, p. 68-69, ago. 2001.

73-79

Page 81: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

80

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Crianças e Jovens Carentes na

à Época do Brasil ColôniaCap.-QFO-Ped. Maria Luiza Cardoso

Page 82: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

81

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

es nas Instituições Militares,

á muito tempo, as crianças e os jovenstrabalham nas instituições militares.Assim, no século XVI, era comum

encontrarmos os mesmos servindo comogrumetes nas embarcações portuguesas.

É importante destacar que, não sómilitares, mas, também, civis recrutavamcrianças e jovens pobres, entre 9 e 16 anos deidade, para realizarem serviços nessasembarcações.

As crianças trabalhavam, nessa época, porvários motivos: 1) as pessoas não viam acriança como a percebemos hoje, ou melhor,para eles a criança era um adulto em miniaturae tratada como tal; 2) a mão-de-obra adultaera escassa, devido à alta mortalidade que severif icava na época. Além disso, a maioria dosadultos que restava fugia do trabalho nasembarcações; e 3) devido à dificuldade detransporte e armazenamento de alimentosnas embarcações, era melhor transportarcrianças, porque estas comiam menos que osadultos.

A maioria das crianças e jovens recrutadospara a Marinha portuguesa era pobre e,alistada, principalmente, nas comunidades depescadores. Também, crianças órfãs edesvalidas eram enviadas para realizaremserviços nas embarcações do reino. Para seter uma idéia, 10% da tripulação de caravelas,urcas e galeões era constituída por meninoscom menos de 15 anos de idade.

Entretanto, à época, podíamos encontrar,também, filhos de aristocratas com amplaexperiência náutica, trabalhando, junto comseus pais, nas embarcações.

Os pais das crianças que ser viam àArmada não se incomodavam que seus filhos

H

Page 83: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

82

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

inevitável. Os grumetes substituíam ostripulantes adoecidos nas mais variadasfunções. Na nau São Paulo, por exemplo, emdada altura da viagem, estando esta próximaao Brasil, ‘aconteceu dar o mestre ao apito, eacudirem só um marinheiro, e dous grumetes,sem haver aí mais nenhum são, de mais decem homens do mar, que nesta nau iam amarear’. Nesta mesma ocasião, na falta deum cirurgião e do barbeiro, um ‘grumete’atuou como médico, realizando as habituaissangrias ‘que o fazia mui bem’.

É importante ressaltar que os grumetesdesta dita nau teriam, segundo indícios presen-tes no relato, menos de 12 anos...Confrontadosprecocemente com grandes responsabili-dades, os grumetes querendo ou não,terminavam aprendendo na prática umaprofissão, e se sobrevivessem às inúmerasdif iculdades enfrentadas a bordo, podiamfazer carreira na Marinha.” (p. 28).

Os meninos possuíam as piores condi-ções de vida, uma vez que ocupavam aposição mais baixa na hierarquia militar. Alémdisso, sofriam inúmeros maus tratos por parteda tripulação.

Tais garotos não possuíam espaço para sealojarem nas embarcações, o que, muitas vezes,fez com que dormissem a céu aberto e, conse-qüentemente, adquirissem inúmeras do-enças.

Os meninos também se alimentavam male passavam fome e sede a bordo dos navios,pois faltavam ou apodreciam, durante asviagens, a água e a comida destinadas àtripulação dos mesmos. Em conseqüência,adquiriam inúmeras doenças e morriam.Sobre as condições em que se encontravamos alimentos nos navios, RAMOS (1999)comenta que:

“...o biscoito era bolorento e fétido,todo roído pelas baratas...A carne salgadaencontrava-se, constantemente, em estadode decomposição. A água potável, igual-

fossem sofrer e executar tarefas difíceis emalto mar, uma vez que, em terra, eles, também,enfrentavam grandes dificuldades, às vezes atémaiores do que aquelas pelas quais passavamas pessoas que estavam a bordo dos navios.As doenças, por exemplo, matavam mais aspessoas que se encontravam em terra, do queaquelas que estavam em alto mar, nasembarcações. Também, pelo que pudemosentender, os pais dessas crianças recebiamalgum tipo de indenização financeira, quandoseus filhos estavam a bordo dos naviosportugueses, o que os incentivava a enviaremos pequeninos para a Armada.

Servir como g rumete tinha comoprincipal vantagem aprender um ofício, umavez que a aprendizagem, à época, se fazia,exclusivamente, pela prática.

Crianças e adultos eram incumbidos defazer as mesmas tarefas nos navios e, aquelas,chegavam mesmo a ser destinadas a realizaros trabalhos mais perigosos.

Os castigos destinados aos adultos,também eram aplicados às crianças e aosjovens que estavam a bordo das embarcações,como, por exemplo, chicotadas e prisão, emcorrentes, no porão dos navios.

Os grumetes trabalhavam na cozinha, nalimpeza das embarcações, alimentavam as“bocas de fogo” (canhões), cuidavam dosanimais das “fazendas flutuantes” e faziamparte da criadagem dos oficiais. Algunschegaram a pilotar navios e a atuar comomédicos, em algumas das situações críticasem que as tripulações viviam a bordo, o quesalvou muita gente.

Sobre a atuação dos grumetes emdiferentes funções a bordo das embarcaçõesportuguesas, é importante destacar um trechodo texto de RAMOS (1999):

“Existem casos de embarcações que, nafalta de oficiais sadios, foram pilotadas porgrumetes conhecedores da arte náutica, e quesem o auxílio destes, o naufrágio seria

80-87

Page 84: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

83

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

mente podre, exalava um incrível maucheiro por ser armazenada em tonéis demadeira, onde, em poucos dias, pro-liferavam inúmeros microorganismos,responsáveis por constantes diarréias.”(p. 26).

Com a finalidade de melhorar a ali-mentação que recebiam a bordo, os grumetesagiam da seguinte maneira:

“Visando enriquecer a dieta de bordo, ostripulantes tinham permissão para tentarpescar, mas estando sempre sobrecarregadospelos trabalhos diários e vigiados de pertopelo guardião, não sobrava tempo para queos grumetes tentassem desta forma melhorarsuas refeições. Recorrer, então, aos ‘muitosratos’ e ‘baratas’ era a única saída que lhesrestava. Por vezes ainda, os grumetes tinhama sorte de algum cadáver exposto no convésservir-lhes de isca para captura de pássarosdos quais pudessem se alimentar.” (RAMOS,1999, p. 26-27).

É importante mencionar que os pri-meiros grumetes chegaram ao Brasil nascaravelas chefiadas por Pedro Álvares Cabral,no ano de 1500.

No que diz respeito ao Exército, eracomum mulheres, crianças e idosos freqüen-tarem as instituições militares européias, noséculo XVI. Inclusive, as famílias dos soldadostinham certas atribuições dentro da corpo-ração militar. As mulheres, por exemplo,lavavam e costuravam as roupas dossoldados, cozinhavam para eles, cuidavam dosferidos, etc. As crianças auxiliavam nosserviços e ofícios militares. Além disso, ossoldados que tinham famílias eram maisdisciplinados e fugiam menos.

Não só crianças e jovens pobresserviam ao Exérci to, mas, também,crianças ricas podiam ser encontradasna corporação, possuindo g rande expe-

riência bélica, como os filhos de algunsaristocratas.

Por outro lado, os meninos que viviamno Brasil aprenderam, desde cedo, a fazeruso das armas para se defenderem dosanimais, dos índios, dos corsários, etc.

No século XVII, não só militares, mas,também, religiosos e fidalgos contratavamcrianças e jovens para trabalharem nasembarcações.

Nessa época, teve início a discussão, emalguns países europeus, sobre a idade mínimapara servir ao Exército e à Armada, uma vezque era alta a mortalidade entre os soldadose os marinheiros mais jovens. Além disso, osoficiais queixavam-se da dificuldade dediscipliná-los.

Surgiram, também, as primeiras legis-lações portuguesas contra o recrutamen-to de crianças menores de 16 anos paraservirem nas embarcações, principalmen-te, durante o reinado de Filipe II, daEspanha. Como os portugueses nãoobedecessem tais leis, essa idade baixoupara 13 anos, conforme Carta Régiadivulgada a 25 de fevereiro de 1638 1:

“Por Carta Régia de 25 de Fevereiro de1638 foi prohibido aos Pilotos, Mestres eOfficiaes da carreira da India levar moços deidade menor que treze annos, e o mesmo aosMarinheiros, Grumetes, Fidalgos, Soldados,ou Religiosos, ficando por isso responsaveisos Capitães; para o que fariam alardos; ecominando penas aos contraventores, e aosmesmos Capitães no caso de negligência.”(p. 146).

Com relação à alta taxa de mortalidadedos soldados jovens, no Exército, LORIGA(1996) declara que, “Morriam demais. Nocampo de batalha, mas também em tempode paz, atormentados por ‘uma febre pútrida,chamada febre do hospital ou das prisões’: o

1 Collecção Chronologica da Legislação Portugueza Compilada e Annotada por José Justino de Andrade e Silva - 1634-1640.

Lisboa: Imprensa de F. X. de Souza, 1855.

80-87

Page 85: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

84

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

ar dos quartéis, constantemente viciado,favorecia de fato o tifo exantemático oupetequial, a disenteria bacilar, a varíola e outrasdoenças que ‘impregnavam com eflúviosvenenosos as roupas, as lingeries e outrosobjetos.” (p. 22).

Na França, a idade mínima para servir,como soldado, foi estabelecida em 16 anosde idade. Entretanto, lá, também, a lei nãoera cumprida.

Na realidade, faltavam marujos, e, juntocom as crianças e os jovens, passaram a serrecrutados, também, para a Marinha, osescravos, os criminosos e os vadios do reino.No Exército, ocorria a mesma situação. Caberessaltar, ainda, que os criminosos, quandoalistados, recebiam, por causa disso, o perdãodo rei pelas suas faltas.

Surge na Europa, nessa época, a idéia deenviar crianças órfãs, abandonadas epobres para serem educadas nas insti-tuições militares.

Na França, difundiu-se a crença de que,se os órfãos e enjeitados fossem educadospara serem militares, tornar-se-iam soldadose marinheiros “ideais”. Pelo fato de nãopossuírem pais, considerariam a pátria comosua mãe, e a ela se dedicariam, mais do que asoutras crianças que possuíam famílias.Conforme salienta VENANCIO (1999),

“Tais mudanças, ..., às vezes tinham umcaráter francamente utópico, pois baseavam-se na idéia de que as crianças órfãs, bastardasou abandonadas tornar-se-iam mais facil-mente soldados ou marinheiros ideais.Segundo esse modo de ver, os garotosmantidos pelo poder público teriam a pátriacomo pai e mãe, e os demais combatentescomo irmãos; eles formariam os entãodenominados ‘batalhões da esperança’ esupostamente dedicariam à ‘nação’ todoamor, fidelidade e lealdade que os demaismortais costumavam consagrar aos fami-liares.” (p. 195).

Para esse autor, o estabelecimento delimites de idade para alistamento nasinstituições militares, bem como de treina-mento prévio para o desempenho de taisatividades, deveu-se ao projeto de recruta-mento de meninos sem família.

“Apesar de ser irrealista, o projeto derecrutamento de meninos sem-família teveimportantes conseqüências: pela primeira vezforam estabelecidos limites etários mínimospara o ingresso de crianças nas Armadas,assim como pela primeira vez foi substituídoo recrutamento aleatório por outro queimplicava em um aprendizado prévio.” (Ibid.,p. 196).

A partir desse momento, crianças órfãs eabandonadas que viviam na Europa passarama receber educação militar, em instituiçõesmilitares que foram para isso criadas.

Assim, os países europeus que se preocu-pavam em socorrer os enjeitados voltaram-se, portanto, para a criação de instituiçõesque tivessem a finalidade de formar mari-nheiros.

“Encontrar um destino para essascrianças sempre foi uma preocupação dosadministradores de hospitais, não sendode se estranhar que a formação de insti-tuições destinadas à formação de futurosmarinheiros tenha sido muito bem acolhidanos países que dispunham do socorro aosenjeitados.” (Ibid., p. 196).

Podemos observar que, no século XVIII,na França, a idade mínima para servir comosoldado passou, em 1763, para 17 anos deidade; em 1793, para 18 anos; e, em 1798,para 20 anos de idade. Contudo, tais leiscontinuaram sendo burladas.

Outros países europeus iniciaram aregulamentação da idade mínima para seusjovens tornarem-se soldados e marinheiros.

A novidade foi que o recrutamento demenores voluntários passou a ser submetidoà autoridade paterna.

80-87

Page 86: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

85

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Na antiga Prússia, governada porFrederico II, a idade mínima para início dostreinamentos militares era de 10 anos. A partirdesse momento etário, os meninos tinhamaulas de instrução militar duas ou três vezes,por ano.

Apesar da elaboração dessas leis, criançase jovens continuaram a ser alistados,precocemente, nas Forças de terra e de mar.Até porque, os quartéis, principalmente doExército, viviam cheios delas, que acom-panhavam suas mães e seus pais militares.

No Brasil, havia muitas crianças abando-nadas (órfãs, enjeitadas e pobres) nos centrosurbanos, já no ano de 1693. Nessa época, ogoverno da Colônia solicitou ao rei dePortugal a tomada de uma providência, queamparasse tais menores. Entretanto, paraMoncorvo Filho, teve início, somente noséculo XVIII, a preocupação do Estadoportuguês com a infância pobre no Brasil,uma vez que foram criadas as “Rodas dosExpostos”, a função de “Juiz de Órfãos” eampliou-se a idade das crianças que podiampermanecer nas Santas Casas, de 3 para 7 anos.

Teve início, também, no Brasil, a crençade que as crianças e os jovens pobres, órfãose enjeitados deveriam aprender ofícios, a fimde não causarem problemas sociais.

É interessante mencionar que, nessaépoca, havia um grande desprezo pelotrabalho manual, aqui no Brasil; dessa forma,deveria ser realizado por pessoas inferiores,como: escravos, índios, mendigos e órfãos.

As “Casas dos Expostos” que funcio-navam junto às Santas Casas de Misericórdia,e que eram responsáveis pela educação decrianças órfãs e abandonadas, até a idade de7 anos, passaram a enviar meninos para osnavios e arsenais militares, a fim de que osmesmos se tornassem aprendizes marinheirose aprendizes artífices.

Cabe ressaltar que outras crianças e jovensjá freqüentavam os quartéis da Marinha e do

Exército, nessa época, a fim de aprenderemum ofício.

Em 1775, o rei de Portugal determinouque jovens ociosos e vadios, a partir de 15anos de idade, deveriam ser recrutados paraa Marinha, uma vez que faltavam marujos,principalmente, da cor branca.

Crianças e jovens, principalmente,desvalidos, também participavam, junto comos adultos, das milícias e ordenanças queexistiam no Brasil Colônia.

Na França, durante o período napo-leônico (1802-1815), as instituições destinadasa prestar assistência às crianças abandonadas,órfãs e pobres adotaram a educação militarnos seus estabelecimentos. Como nos informaLORIGA (1996), “A idéia de militarizar asinstituições assistenciais para órfãos eabandonados foi retomada durante operíodo napoleônico:...” (nota nº 33, p. 42).Tal ação baseava-se na idéia, mencionadaanteriormente, de que as crianças órfãs eabandonadas seriam soldados e marinheirosideais, uma vez que, pelo fato de terem sidomantidas pelo poder público, teriam a pátriacomo pai e mãe.

Aliás, não só os estabelecimentos assis-tenciais adotaram a educação do tipomilitar, mas, também, as escolas ginasiais esuperiores francesas. Entretanto, nesse caso,o intuito era incentivar os jovens a seguirem acarreira militar. Contudo, os rapazes maisabastados pagavam outros mais pobres paraservirem em seus lugares às instituiçõesmilitares.

Após o período napoleônico, um grupode oficiais superiores resolveu colocar emprática, nos navios franceses, uma idéia surgidana época da Revolução Francesa: dar instruçãoaos jovens analfabetos.

“Na França, a idéia de ‘instruir os jovenscidadãos analfabetos’ remonta à revolução,quando a Convenção decidiu abrir cursos deleitura, escrita e aritmética, nos navios da

80-87

Page 87: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

86

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

república, mas só foi realizada posterior-mente, graças à iniciativa de alguns oficiaissuperiores, ...” (LORIGA, 1996, p. 33).

Pouco mais tarde, em 1816, foramcriadas as primeiras escolas nos quartéisfranceses. Nelas, os soldados aprendiam a ler,escrever e contar.

Em 1831, a freqüência a essas escolastornou-se obrigatória para os soldadosfranceses analfabetos e, nelas, os alunosdeveriam permanecer, no mínimo, uma horapor dia.

No Brasil, as instituições destinadas àscrianças órfãs, pobres e abandonadasintensificaram o oferecimento do ensino deartes e ofícios às mesmas. Todavia, oconhecimento transmitido sobre essesassuntos constituía-se no mínimo necessárioà incorporação dessas crianças nas posiçõesmais baixas do mercado de trabalho daépoca.

Na realidade, a aprendizagem de ofíciosocorria, principalmente, nos quartéis daMarinha e do Exército.

A partir da criação do Arsenal Real daMarinha e da Real Fábrica de Pólvora , em1808, pelo Príncipe Regente D. João, passou-se a encaminhar os meninos órfãos paraexecutarem trabalhos nessas instituiçõesmilitares. Tais crianças provinham dosRecolhimentos de Meninos Órfãos, quefuncionavam junto às Santas Casas deMisericórdia: “Depois do advento doRecolhimento de Meninos Órfãos, as criançaspermaneciam na instituição até que lhes fossedado novo destino. Mais tarde passou-se aencaminhá-las ao Arsenal de Marinha, ondeexecutavam trabalhos nas embarcações.”(COUTO e MELO, 1998, p. 23).

Merece destaque especial o comentáriode GREENHALGH (1965) sobre o assunto:

“O Arsenal sempre teve aprendizes,como, aliás, tôdas as oficinas em que se

exerciam profissões manuais. A maior partede seus operários tinha mesmo essa origem.Admitidos ainda crianças e distribuídos pelasdiferentes oficinas, iam os aprendizesgalgando postos, a medida que se iamdesembaraçando no tirocínio da profissãopraticada.” (p. 143).

Refletindo sobre a maneira como as crian-ças aprendiam os ofícios, GREENHALGH(1965) menciona:

“A aprendizagem era difícil e demorada.Não havia nenhum sistema pedagógico paraque o aprendiz pudesse apossar-se dosconhecimentos inerentes à sua profissão.

Atirados nas oficinas, algum mestre oumandador encarregava-se de lhes dar, em cadauma delas, alguma instrução profissional.Para gratificar o mestre ou mandador dêssetrabalho extra, retirava-se do minguadosalário de cada aprendiz, certa importância.”(Ibid., p. 143).

É importante ressaltar que, segundoGREENHALGH (1951), o Arsenal deMarinha do Rio de Janeiro existe desde 1763.Ele foi “Construído para reparar as nausportuguesas que cruzavam o Atlântico,desenvolveu-se e chegou a construir, em1767, a nau São Sebastião, dotada de 64canhões.”2

Pelo fato dos artífices e de seus apren-dizes serem mal remunerados, assim queaprendiam uma determinada profissão,deixavam os arsenais para trabalharempara particulares que pagavam melhoressalários.

Como a evasão de artífices, nos estabele-cimentos militares, era alta, a soluçãoencontrada pelas autoridades foi intensificaro recrutamento de crianças e de jovens paraaprenderem os ofícios nos arsenais.

Para finalizar, destacamos que, no finaldo período colonial, a idade mínima pararecrutamento de soldados era de 16 anos,

2 Revista “Marinha do Brasil - Poder Naval”. Serviço de Relações Públicas da Marinha. Action Editora.

80-87

Page 88: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

87

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

conforme o Aviso nº 29,3 da “Secretaria deEstado dos Negócios Estrangeiros e daGuerra”, divulgado em 16 de agosto de 1816,que dava instruções para o recrutamento nosdiferentes distritos da, então, Província do Riode Janeiro. O Aviso dizia o seguinte: “Sãopois sujeitos ao recrutamento todos oshomens brancos solteiros, e ainda pardoslibertos, cuja côr não seja mui fusca desde aidade de 16 annos até 40...” (p. 26).

Considerações Finais

Através deste trabalho, podemosobservar que, durante o período colonialbrasileiro, as instituições militares serviramao Estado como “instituições correcionais”para crianças, jovens e adultos, delinqüentes e

criminosos e, também, como instituiçõeseducacionais para órfãos e desvalidos.

Esses papéis que as Forças Armadas de-sempenharam durante tanto tempo propor-cionaram a possibilidade de educação e deascensão social para tais crianças e jovens.

Além disso, as instituições militares servi-ram como modelo para a criação das primeirasinstituições educacionais civis, destinadas àscrianças e aos adolescentes carentes.

Cabe enfatizar que, há muito tempo, essespequenos cidadãos têm colaborado, tãoprecocemente, e às custas do seu plenodesenvolvimento físico, mental e emocional,para o engrandecimento dessa mesmasociedade que os têm rejeitado desde que aqui,neste país, foi criada.

BRASIL. Collecção das Leis do Brazil de 1812.Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1890.

BRASIL. Collecção das Leis do Brazil de 1816.Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1890.

BRASIL. Collecção das Leis do Imperio do Brazilde 1824. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,1886.

BRASIL. Inventario dos Documentos Relativosao Brasil existentes no Archivo de Marinha eUltramar de Lisboa. Organizado por Eduardode Castro e Almeida. Rio de Janeiro: OfficinasGraphicas da Bibliotheca Nacional, 1914, v. II.

COUTO, InaldaAlice Pimentel do, MELO, ValériaGalo de. Reconstruindo a história doatendimento à infância no Brasil. In: BAZÍLIO,Luiz Cavalieri, SÁ EARP, Maria de Lourdes,NORONHA, Patrícia Anido (Org.). Infânciatutelada e educação: história, política elegislação. Rio de Janeiro: Ravil, 1998.

GREENHALGH, Juvenal. O Arsenal de Marinhado Rio de Janeiro na História - 1763-1822. Riode Janeiro, 1951.

LORIGA, Sabina. A experiência militar. In: LEVI,Giovanni e SCHMITT, Jean-Claude (Org.).História dos jovens: a época contemporânea.São Paulo: Companhia das Letras, 1996. V. 2.

LUZURIAGA, Lorenzo. História da Educação e

da Pedagogia. 6ª ed. São Paulo: Nacional, 1973.

PORTUGAL. Collecção Chronologica daLegislação Portugueza - 1613-1619. Compiladae Annotada por José Justino de Andrade e Silva.Lisboa: Imprensa de J. J. A. Silva, 1855.

PORTUGAL. Collecção Chronologica daLegislação Portugueza - 1634-1640. Compiladae Annotada por José Justino de Andrade e Silva.Lisboa: Imprensa de F. X. de Souza, 1855.

PORTUGAL. Repertorio Remissivo daLegislação da Marinha e do Ultramarcomprehendida nos Annos de 1317 até 1856.Organizado por Antonio Lopes da CostaAlmeida. Lisboa: Imprensa Nacional, 1856.

RAMOS, Fábio Pestana. A história trágico-marítima das crianças nas embarcaçõesportuguesas do século XVI. In: PRIORE, MaryDel (Org.). História das crianças no Brasil. SãoPaulo: Contexto, 1999.

REVISTA “MARINHA DO BRASIL - PODERNAVAL”. Serviço de Relações Públicas daMarinha. Action Editora.

SOBRINHO, Leal. Legislação da Marinha. V. 2.

VENANCIO, Renato Pinto. Os aprendizes daguerra. In: PRIORE, Mary Del (Org.). Históriadas crianças no Brasil. São Paulo: Contexto,1999.

3 Collecção das Leis do Brazil de 1816. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1890.

REFERÊNCIAS

80-87

Page 89: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

88

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

O Emprego do Avião na

Revolta de PrincesaTen.-Cel.-Int. R/R Alcyr Lintz Geraldo

Page 90: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

89

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

I - Breve Resenha sobre a Revolta

ntes de encarar especificamente otema, faremos algumas considera-ções sobre a revolta de Princesa. Foi

ela uma insurreição, ocorrida no estado daParaíba, contra o governo do presidenteJoão Pessoa, tendo por epicentro aquelacidade, hoje conhecida como Princesa Isabel.Situa-se no planalto formado pela Serra daBorborema que, vindo de Alagoas, atravessaPernambuco e a Paraíba. Aí, ela se bifurcaem Borborema central, ocupando regiõessemi-áridas, chegadas ao sertão, e Borboremado Leste, que se desenvolve em terras úmidas,próximas do litoral. Situa-se a 650 metrosde altitude e o município ocupa cerca de 395km2.

O chefe do motim foi José Pereira Lima,residente na cidade, onde era comerciante,fazendeiro, chefe político local , deputadoestadual, e um dos líderes do PartidoRepublicano da Paraíba.

O movimento teve início no dia 24 defevereiro de 1930 e entendemos ter sefindado de fato, no dia 26 de julho, quandoo presidente João Pessoa foi assassinado porJoão Duarte Dantas em Recife, no interiorda Confeitaria Glória. Após esse fato, opresidente da República, Washington LuísPereira de Souza e o vice-presidente da

A

Page 91: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

90

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

Paraíba, Álvaro de Carvalho, acertaram o quepodemos chamar intervenção federal branca,no estado. Por essa avença , tropas do Exér-cito, sob o comando do general LavenèreWanderley, comandante da 7ª Região Militar,que abrangia o território da Paraíba, aindaque em operações que seriam supervi-sionadas por autoridades estaduais, pu-seram fim à rebelião. O capitão João Facócomandava os soldados que ocuparamPrincesa e recebeu a deposição de armas pelochefe revoltoso e seus asseclas. Assim, omotim terminou, de direito, no dia 19 dea gosto, tudo daquele ano, quando ogeneral Wanderley comunicou ao presiden-te Washington Luís o f im do movimento.

Vários foram os fatores ligados à eclosãoda revolta.

Em primeiro lugar, focalizemos aascensão de João Pessoa à presidência daParaíba. Gravemos, antes, alguns aspectospeculiares ao clã dos Pessoa. Do casamentode duas irmãs de Epitácio Pessoa, resulta-ram as famílias Pessoa Cavalcanti deAlbuquerque, de que João Pessoa fazia parte,e Pessoa de Queiroz, a que pertencia FranciscoPessoa de Queiroz. João Pessoa, de muito,afastara-se do Estado. Residia no Rio deJaneiro, onde fora nomeado Auditor Auxiliarem 1909, Auditor Geral da Marinha, em 1914e Ministro do Supremo Tribunal Militar(denominação da época) em 1920. Assimsendo, não militava na política estadual. Aocontrário, seu primo Francisco nunca estiverafora da Paraíba e participava com intensidadede sua política.

Isto posto, uma radiograf ia social epolítica da Paraíba mostra o que ocorria emtodo o Brasil, à época. Economicamente,predominava estrutura agrária, à base dolatifúndio, cujos senhores eram os chefespolíticos locais. Verdadeiros senhores feudais,nada era feito ou deixava de ser feito em seusterritórios que não tivesse o seu beneplácito.

João Pessoa, desejando inaugurar políticade renovação em seu estado, não ofertou aesses homens a importância a que elesestavam acostumados. Eis aí um dos fatoresde oposição dos chefes políticos locais aopresidente do estado.

Outra fonte de desarmonia foi o combatede João Pessoa ao cangaço. Em seu governo,reviveu convênios com estados vizinhos paratal luta. Demitiu juizes e promotores lenientescom os facínoras, geralmente protegidos peloschefes políticos que os homiziavam em suasterras , dificultavam a apreensão de suas armase facilitavam sua devolução.

Todavia, o ponto nodal da questão foia reforma tributária engendrada pelogoverno paraibano. Desejando desenvolvero estado, cogitou o presidente João Pessoade aumentar-lhe a arrecadação monetária.Acontece que, devido à falta de estradas eineficiência do porto de Cabedelo, todo ointerior pernambucano abastecia-se em Recifeonde os Pessoa de Queiroz eram abastadoscomerciantes. João Pessoa aparelhou o portode cabedelo e criou o imposto de importaçãopelo qual a mercadoria chegada ao estadopelo porto de Cabedelo pagaria taxa bemmais suave do que a que chegasse peloporto de Recife. Isso alcançava diretamenteo que era fornecido pelos comerciantespernambucanos. À medida, se opuseramtenazmente os comerciantes pernambucanosque tiveram seus interesses altamente atingidos.Entre esses, figuravam os Pessoa de Queiroz.A questão foi motivo de recurso ao PoderJudiciário.

Esse episódio passou à História como “aguerra tributária” na qual envolveu - se,também, José Pereira Lima, destacadocomerciante em sua cidade, Princesa,verdadeiro polo fornecedor de mercadoriaspara o sertão.

O motim foi tramado no Rio de Janeiro,onde os Pessoa de Queiroz tinham certa

88-93

Page 92: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

91

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

influência. Contou com apoio, ainda quevelado, do governo federal e do presidentedo Estado de São Paulo, Sr. Júlio Prestes, queera o candidato oficial a presidente daRepública nas eleições de 01 de março de1930, ao qual o presidente João Pessoa nãobrindou com seu apoio no dia 29 de julho de1929, conhecido como dia do NEGO. Oescopo da revolta era a intervenção federalna Paraíba com o conseqüente afastamentodo presidente João Pessoa e a revogação desuas leis tributárias.

A causa eficiente foi dada pela escolhados candidatos paraibanos à deputaçãofederal. Como presidente do estado, JoãoPessoa dirigiu o conclave da comissãoexecutiva do Partido Republicano da Paraíbaque escolheu os nomes de tais pessoas. A idéiadiretriz era a rotatividade, vale dizer que, quemjá era deputado não entraria no rol decandidatos. Tal orientação objetivava afastaro Sr. João Suassuna que, como presidente doestado que antecedeu a João Pessoa, teriamaltratado parentes de Epitácio na cidadenatal de ambos, Umbuzeiro. No entanto, JoãoPessoa deixou na relação dos candidatos onome de seu primo, Carlos Pessoa, que jáera deputado. Isso valeu controvérsia nacomissão executiva e apenas João Pessoaassinou o rol dos candidatos.

Partindo em campanha política a visitarcidades do interior paraibano, João Pessoaesteve em Princesa. Foi recebido com festaspor José Pereira em que pese o desejo destede eliminá-lo. Ficou hospedado na residênciade Pereira que, após sua saída, enviou-lheviolento telegrama alegando que retirava-lheo apoio que passava a seguir a candidaturaoficial de Júlio Prestes. Acusou Pessoa de aele ter se referido desairosamente na reuniãoda comissão executiva que escolheu oscandidatos a deputado. Alegou que opresidente do estado não lhe deu ciência dosnomes dos escolhidos para concorrer às

eleições. E, assim, a insurreição explodiu nodia 24 de fevereiro de 1930.

A Força Pública paraibana, despreparadasob todos os aspectos, apesar do alerta quelhe fizera João Neves da Fontoura poucoantes, jamais conseguiu chegar à Princesaembora tivesse mobilizado três colunas parafazê-lo, partindo todas de Piancó, onde seachava seu quartel-general e vindo cada umapor um caminho diferente. É de se destacarque, em socorro de uma delas, partiu deCampina Grande a chamada Coluna daHonra ou Coluna da Vitória que foiemboscada por gente de José Pereira nalocalidade de Água Branca e foi totalmentedestruída. Pereira havia sido avisado sobreessa coluna pelos seus simpatizantes já queele os tinha até mesmo entre as fileiras daForça Pública.

Como a intervenção federal na Paraíbanão era votada pelo Congresso Nacional enem a Força Pública conseguia entrar emPrincesa, em 09 de junho de 1930, José Pereiraproclamou-a território livre, desmembradodo estado da Paraíba e subordinando-sediretamente ao governo federal.

Armou diversas colunas que percorreramo território do estado, combatendo com aForça Pública e cometendo as maioresatrocidades.

II - O Emprego do Avião

Desde o início da luta, o governoparaibano cogitou de nela empregar o avião.Com efeito, o avião, nascido em 23 deoutubro de 1906, quando Santos Dumontdescobriu a dirigibilidade aérea, havia sidoempregado belicosamente pouco depois,na primeira guerra mundial, em missões decaça, para manter a superioridade aérea,de bombardeio, para isolar o campo debatalha, impedir ou dificultar a chegadade suprimentos ao inimigo e em reco-nhecimento, para obter todo o tipo de

88-93

Page 93: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

92

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

informações. Assim ensina o saudoso tenente-brigadeiro-do-ar e ministro Deoclécio Limade Siqueira, em seu livro “Fronteiras’’, EdiçãoRevista Aeronáutica, página 47.

A idéia era bombardear Princesa. E,sobre este ponto, divergem os autores.Ademar Vidal in “João Pessoa e a Revoluçãode 30”, Edições Graal, 1978, página 234, dizque, para a eficácia da medida, seriamnecessárias 800 bombas que foram fabricadaspelos Srs. Alberto Borges e José Pimentel,por determinação dele, que era o secretáriode segurança. A professora Inês CaminhaLopes Rodrigues, em sua obra “A revoltade Princesa - Poder privado x Poderinstituído”, página 42, prega que uma bombade cerca de 60 quilos, altamente explosiva,seria lançada sobre a cidade rebelada por, viaaérea, o que não teria acontecido pordeterminação pessoal do presidente doestado.

Todavia, faltava o principal instrumentode combate: o avião. Quanto a esse, depõeVidal, in op. cit. página 233 que a primeiratentativa para a obtenção de uma aeronavefoi feita no Rio de Janeiro por intermédiode Antônio Pessoa Filho, primo do presidenteparaibano e representante do estado na capitalfederal, pessoa altamente vigiada pela políciacarioca. Esta descobriu o tentame e o aviãoacabou esquecido no Saco de São Francisco ,em Niterói.

Tratou-se de adquirir outro nos Estados-Unidos, por intermédio do Sr. Paulo Duarte,que se achava no Rio de Janeiro e para tal foiautorizado pelo governo paraibano.

Como não tivesse prosperado essasegunda tentativa, pensou-se na compra deum pequeno avião de turismo, o Flit, sobre oqual também divergem os historiadores. Aprofessora Inês Caminha Lopes Rodrigues,in op. cit. página 58, diz que a aeronave emapreço fora doada pelo estado de MinasGerais. No entanto, Ademar Vidal, loc. cit.,

declara que o avião fora comprado em Recife,dos Srs. Paulo Viana e Raul Cardoso. As duasinformações levam a crer que o avião possaefetivamente ter sido doado por MinasGerais, que teria feito chegar à Paraíba onumerário preciso para a aquisição na capitalpernambucana.

A Paraíba já dispunha de dois aviadores,Luigi Fossati e Florindo Perroni, que haviamsido enviados de Minas Gerais, quando foilhe foi rogado auxílio pelo estado nordestino,impedido pelo governo federal de munir-sede armamento e munição, quer adquiridosno país, quer no exterior.

No dia 14 de abril, às 14 horas, o aviãochegou à praia de Jacumã, pilotado porPerroni. A aeronave era um hidroavião, queteve seus flutuadores substituídos por rodaspara que operasse em terra. Todavia, não foifeliz ao decolar da praia retro referida eavariou a hélice junto às ribanceiras. Des-montado, foi conduzido para CampinaGrande. Denunciada a pretensa manobra, delevá-lo desmontado para Piancó, o comandodo 22º Batalhão de Caçadores, com paradana capital paraibana, deslocou tropa paraimpedi-la, em caminhões do empresárioDolabela Portela, o que não logrou êxito.Improvisou-se um arremedo de campo depouso em Piancó e o Flit chegou a pousar lá.Ao decolar, partiu a asa. Inutilizou-se.

Não desanimaram os paraibanos e,através de um emissário do aviador paulistaReinaldo Gonzaga, Sr. Charles Astor, foiadquirido outro, o Garoto, com que oreferido piloto conseguiu decolar de Recife epousar em Piancó no dia 25 de junho. Láestavam os aviadores, mas novo óbiceaconteceu: o piloto Fossati faleceu em brevesdias, após insidiosa enfermidade contraídana região.

Perroni havia sido comissionado no postode tenente da Força Pública com a missão debombardear Princesa. Acontece que essa

88-93

Page 94: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

93

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

missão não se concretizou. Ocorreram sim-plesmente ações de caráter psicológico, re-presentadas pelo lançamento sobre a cidaderevoltada de um boletim incitando osamotinados a se renderem em vinte e quatrohoras, sem o que, seriam lançadas bombassobre a cidade. O teor do depoimento deJosé Américo em 1968, o bombardeio nãoera efetivamente o objetivo colimado e, sim,o abatimento do moral inimigo sob o efeitodo sobrevôo da cidade e da ameaça contidano documento por ele redigido, a ser sobreela lançado e que continha os seguintes termos:

“O GOVERNO DA PARAÍBA INTI-MA-VOS A ENTREGAR AS ARMAS EAS VOSSAS VIDAS SERÃO GARAN-TIDAS, DANDO O GOVERNO LIBER-DADE AOS QUE NÃO RESPON-DEREM POR OUTROS CRIMES.CONFIAI NA PALAVRA DO GOVER-NO. DEVEIS APRESENTAR-VOS AOSNOSSOS OFICIAIS. DENTRO DE QUA-TRO HORAS PRINCESA SERÁ BOM-BARDEADA PELOS AEROPLANOS DAPOLÍCIA E TUDO SERÁ ARRASADO.EVITAI O VOSSO SACRIFÍCIO INÚTIL.AINDA É TEMPO DE SALVAR-VOS. OSVOSSOS CHEFES ESTÀO INTEIRA-MENTE PERDIDOS”. (INÊS CAMINHALOPES RODRIGUES, op. cit. pág. 80).

A aeronave, em vôo rasante, chegou a20 metros de altura sobre as trincheirasinimigas em São Boaventura, ocasião em querecebeu descargas de fuzil. VIDAL, op. cit.pág. 324, afirma que três morreram de medo.

É de se reconhecer que, como ação decaráter psicológico, o emprego do aviãofoi de completa eficiência. Com efeito,José Pereira passou ao desafio pelo “Jornalde Princesa”. Aguardava o GAROTO eprevenia que os governistas não se la-mentassem caso o avião e o piloto, que elechamava Rolando, saíssem garroteados ourolassem de uma vez. Telegrafou ao presidente

do Estado dizendo que aguardava obombardeio, que havia aconselhado sua gentea conflagrar o estado pelo implemento doregime do terror. Esta comunicação foi lidano Senado Federal pelo senador JoséGaudêncio em meio a veemente protestoque fazia. A ameaça acima foi inspirada pelosPessoa de Queiroz, partidários do “quantopior, melhor”, com o fim de alcançarem seuobjetivo magno, a intervenção federal noestado da Paraíba.

Compensa consignar, por derradeiro, queesse emprego da aviação antecipou de muitomissão que hoje é tarefa diária na ForçaAérea Brasileira, lançamento de material e devíveres por avião. De fato, foram jogadassobre Tavares , onde se encontrava emdificuldade uma fração da Força Pública,sacos contendo provisões e correspondência.Alguns, possivelmente desviados pelo vento,foram ter a Santa Maria.

Considerações Finais

A nosso sentir, não há como nãoconsiderar como verdadeira aventura oemprego do avião na revolta de Princesa.

De fato, é suficientemente sabido que aatividade aeronáutica carece de sofisticadainfra-estrutura., vale dizer, em termos meno-res, campos de pouso, suprimento e manu-tenção. Nada disso a Paraíba possuía e nemdispunha de recursos para tê-lo. Ficou claraa improvisação de um arremedo de campode pouso em Piancó. Por outro lado, nãohavia oficina especializada de manutençãonem pessoal técnico suficientemente prepa-rado. E, mais ainda, como obter materialsobressalente para aviões? Os própriosaviadores não eram portadores de formaçãode piloto militar. Assim, desconheciam aconduta a seguir em combate. Como se vê,tudo no improviso, verdadeira aventura,impulso de homens novos ante novaatividade humana.

88-93

Page 95: SUMÁRIO 3 4 9 · Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002 Instrução de Sobrevivência na Selva e no Mar - capacitação operacional Cap.-Inf. Alexandre Rothier Duarte Treinamento

94

Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, 15 (17): dez 2002

COLABORADORESCoronel - Aviador R/R VICENTE CAVALIERE.

É formado pela Escola de Aeronáutica, tendo sido declarado Aspirante em fevereiro de 1969.Possui os Cursos de: Formação de Oficiais Aviadores; Formação de Pilotos de Caça; Aperfeiçoamento de Oficiais; Estado-Maior e Superior de Comando; Política e Estratégia Aeroespaciais; e Superior de Defesa Continental (pelo ColégioInteramericano de Def esa, Washington, D. C., USA). Além destes, é graduado em Informática pela Uni versidadeCatólica de Brasília.

Desempenhou, entre outras, as funções de: Instrutor de vôo do CFPM e da AFA; Piloto operacional e instrutor de vôodo GTE; Assistente do Chefe do EMAER; Chefe da Seção de Informática da Secretaria da CPO; Vice-Chefe daSecretaria da CPO; Instrutor e Chefe da Sub-divisão de Avaliação da ECEMAR; Instrutor do Colégio Intera-mericanode Def esa; Chefe da Di visão de Ensino e Pesquisa da UNIFA; Membro do Conselho Consulti vo da ECEMAR; e Chefeda Di visão de Estudos de Estratégia da UNIFA.

Atualmente, exerce a função de Adjunto do Curso de Política e Estratégia Aeroespaciais da ECEMAR.

Tenente - Coronel - Infantaria JOSÉ MÁRIO ALVES DE SOUZA

É formado pela Escola de Oficiais Especialistas da Aeronáutica, tendo sido declarado aspirante em 1982. Além doscursos normais de carr eira é bacharel em Dir eito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e possui osseguintes cursos: Polícia Judiciária Militar - CIEAR; Instrutor de Tiro - ILA e Avançado de Inteligência - ESIMEX.

Desempenhou entr e outras as funções de: Comandante da CINFAI; Chef e da Seção de Investigação e Justiça; Chef eda Secr etaria da Direção e Chef e da Seção de Inteligência, todas no PAMALS.

Atualmente pertence ao efetivo da SECINT.

Tenente - Coronel - Intendente HIRAN WILLIANS DE ALMEIDA

Formado pela Academia da Força Aérea, tendo sido declarado aspirante em 1981. Além dos cursos normais de car reira, ébacharel em Ciências Contábeis pela UFRN, em Natal-RN; e em Direito pela Fundação Universitária Padre Antônio Carlos –Barbacena – MG. Possui também os seguinte cursos: Pós graduação em Análise de Sistemas – PUC-RJ e Curso de Preparaçãode Instrutores(CIEAR -1995) Principais funções: Chefe da Seção de Operações da DPD-DIRINT, Chefe Seção de Licitações doCATRE, Chefe da Seção de Finanças da EPCAR, Prefeito de Aeronáutica de Barbacena, Adjunto da GM-6, Chefe daSubdivisão de Intendência do GABAER, Agente de Contr ole Interno do GABAER e Chef e da GCDA do GABAER.

Atualmente é o chefe da Subdivisão de Intendência do GABAER.

Tenente - Coronel - Engenheiro ANTONIO JOSÉ ROCHA LUZARDO

É formado em Engenharia Carto gráfica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em 1978, e r ealizou o Estágio deAdaptação de Oficiais Engenheiros da Aeronáutica, no CIEAR, em 1980. Além dos cursos normais de carreira, possui osse guintes: Análise de Sistemas - PUC/RJ, Organização e Métodos - FGV, Curso de Ger enciamento de Atividades do SISCEAB- IPV e Gestão pela Qualidade Total - ILA.

Atuou como instrutor de Topografia, Cartografia, Geodésia e Astr onomia, nos Cursos de Formação de Oficiais Especialistasem Controle de Tráfego Aéreo e em Meteorologia, atualmente realizados no CIAAR.

Dentre as funções desempenhadas, no Instituto de Cartografia Aeronáutica - ICA, as principais foram as seguintes: Chefe daSeção de Levantamentos, Chefe da Seção de Fotogrametria, Chefe da Subdivisão de Operações Cartográficas e Chefe da Subdi visãode Estudos e Projetos.

Atualmente, é o Chefe da Subdivisão de Cartas VFR do ICA.

Tenente - Coronel - Engenheiro SILVINO LUIZ CARVALHEIRO DA SILVA.É formado pela Academia da Força Aérea, tendo sido declarado aspirante em 1984. Além dos cursos normais de carreira

possui os cursos de: Engenharia Mecânica-Aeronáuitca no ITA, Neutralização e Destruição de Artefatos Explosivos na NavalEOD School - Maryland - USA, Mestrado em Engenharia Aer onáutica na Naval Postgraduate School - Monterey - Califor nia -USA (1º Colocado da Turma).

Desempenhou entre outras as funções de: Chefe da Subdivisão de Ensaios de Sistemas Bélicos, Instrutor do Curso de Extensãoem Engenharia de Armamento Aéreo do ITA e Gerente Técnico do Projeto Míssil MAA-1 (Piranha).

Atualmente é o Gerente Técnico do Projeto Míssil Anti-Radiação MAR-1.

94-96