sócio cultural e Ética ii

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    PR-REITORIA DE ENSINO2014

    COLETNEA

    FORMAO SOCIOCULTURA E TICAEnsino Presencial (1 SEMESTRE)

    Ensino a Distncia (MDULO 52)

    Organizadoras

    Cristina Herold Constantino

    Dbora Azevedo Malentachi

    Colaboradoras

    Fabiana Sesmilo de Camargo Caetano

    Aline Ferrari

    Direo Geral

    Pr-Reitor Valdecir Antnio Simo

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    SUMRIO

    Consideraes Iniciais...................................................................................................... 04Da leitura para a escrita....................................................................................................... 05

    Textos Selecionados.......................................................................................................... 13

    tica e economia na era da globalizao............................................................................. 13

    Manifesto tica Global para a economia............................................................................ 17

    Economia sem tica............................................................................................................. 18

    2014 ter desemprego e mais desigualdade....................................................................... 20

    A taxa Selic o veneno da economia................................................................................ 22

    O Brasil est se saindo muito bem.................................................................................... 26

    Mentiras propagadas pelo pensamento econmico dominante........................................... 28

    Economia no pas cresce em menor ritmo........................................................................... 31

    PIB fecha 2013 com alta de 2,3%........................................................................................ 34

    Brasil ter crescimento em 2014 semelhante ao de 2013................................................... 37

    A economia brasileira pode ficar mais 5 anos sem rumo..................................................... 38

    Para o Brasil crescer, preciso focar na produtividade!...................................................... 40

    Pases da Amrica Latina criaro mercado comum para impulsionar economias.............. 41

    A importncia do capital intelectual dos negcios no sculo XXI........................................ 42

    Copa trar avano zero ao PIB do Brasil........................................................................... 43

    Economia domstica: est sobrando ms no fim do salrio?.............................................. 44

    Percentual de famlias com dvidas aumenta....................................................................... 45

    Executivos dos EUA ganham 331 vezes mais do que um empregado mdio..................... 47

    Com boicotes na Europa e EUA, Israel busca aproximao com Amrica Latina............... 50

    IDH 2014.............................................................................................................................. 53

    Estudo mostra economia e meio ambiente em rota de coliso............................................ 57

    Livros.................................................................................................................................... 59

    Filmes................................................................................................................................... 62

    Msica.................................................................................................................................. 66

    Frases.................................................................................................................................. 67

    Charges................................................................................................................................ 68

    Consideraes Finais........................................................................................................ 71

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    Consideraes Iniciais

    Prezado(a) aluno(a), como voc deve ter constatado no decorrer das Coletneas e, tambm,acompanhado nas videoaulas, todos os eixos da Formao Sociocultural e tica renemcontedos essenciais para a compreenso do mundo como um todo, fundamentais para aconstruo do conhecimento e, por isso, indispensveis para a nossa formao humana. tica eEconomia apenas mais um desses eixos.

    Quando falamos no assunto Economia, quase inevitvel no pensar em nmeros e,consequentemente, em grficos e tabelas. Voc tem por hbito a leitura desses gneros textuais?J parou para analisar por que, normalmente, grficos e tabelas despertam a resistncia demuitos leitores? Sabemos que tanto um quanto o outro no so produzidos apenas quando oassunto diz respeito ao universo da economia, mas muito usado neste setor. Os nmeros

    sintetizam muitas informaes. Poucos nmeros dizem muito a respeito de tantas coisas. Talvezseja este o fato que explica tal resistncia. preciso olhar para os nmeros, relacion-los com osfatos, analis-los dentro do contexto, para compreender o que dizem, qual a denncia ou crticaque sugerem, quais as possveis previses a partir deles...

    Entretanto, a economia no se resume em nmeros e, por isso, ainda que importantes, e aindaque faam parte deste material, a leitura de grficos e tabelas no constitui a prioridade destaColetnea. Propomos a leitura alm dos nmeros, daquilo que no se pode mensurarconcretamente, a comear pela relao entre tica e economia. A tica do desinteresse e dointeresse comum... Como esto os valores de justia e da solidariedade nas estradas de umasociedade onde parece sobressair mais a ambio em enriquecer cofres particulares que apreocupao em garantir o bsico na despensa do prximo? E a economia domstica, como vai?Quantos reclamam que falta dinheiro no fim do ms e, mesmo assim, assumem mais dvidas?Como sobrevivem as relaes familiares em circunstncias assim? E a Copa que se aproxima? Oque ela nos deixar como legado? Quais os efeitos desse megaevento e dos gastos investidosnele sobre a sociedade brasileira? Enquanto o pas respira a Copa, como est o oxignio daeducao, um dos itens altamente relevantes para a medio do IDH - ndice de DesenvolvimentoHumano? Tambm olhamos para a economia internacional e procuramos entender o isolamentode Israel com relao aos pases que constituam seu crculo tradicional de negcios, de parceiroseconmicos. Por quais razes Israel procura estreitar laos com a Amrica Latina?

    Este material responde parte dessas perguntas. Algumas delas, apenas voc, prezado leitor,poder respond-las. a sua opinio, o seu argumento e a sua palavra que complementam ocontedo que apresentamos aqui. E o mais importante que encontrar respostas nos textos, permitir que esses textos provoquem em voc novos questionamentos. A origem do conhecimentoest na pergunta e, conforme consta em um dos textos selecionados, a mais poderosa moedadesse sculo se chama conhecimento. Nesse sentido, esperamos que no decorrer desta leituravoc possa se sentir uma pessoa mais rica!

    Uma tima leitura e um excelente aprendizado!

    Organizadoras

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    Da leitura para a escrita

    Alm de todas as consideraes e reflexes feitas acerca da leitura, nas coletneas anteriores,

    podemos pens-la, tambm, como matria-prima e constituio de modelos para a

    escrita. Ou seja, a leitura e a produo de textos esto

    intrinsecamente relacionadas. Para ser um bomescritor, preciso, primeiro, ser um bomleitor! Todavia, ser um bom leitor no requisito nicoe suficiente para se produzir textos de qualidade, poisesse processo requer outras habilidades especficas e,

    tambm, depende das concepes que temos a respeito da escrita.

    Da mesma forma que, nas Coletneas anteriores, estendemos a voc o convite para seautoavaliar enquanto leitor, a partir deste momento igualmente importante que voc tambm seautoavalie enquanto produtor de textos.

    Quais as suas principais dificuldades na produo escrita?Que tipos de textos voc produz? Com que frequncia?Como voc se considera enquanto produtor de textos?

    Escrita: concepes e reflexes

    Para que o prato fique atraente aos olhos e saboroso ao

    paladar, no podemos prepar-lo de qualquer maneira.Precisamos seguir a receita. Porm, no existe receita paratudo o que almejamos fazer com perfeio. Sem contar que,normalmente, quando desejamos a perfeio somostentados a buscar o caminho mais fcil... E quando no hcaminho fcil, vencem a desistncia ou a evaso... Para setornar um produtor de textos habilidoso, por exemplo, noexistem receitas mgicas, e nem caminhos fceis. Existem

    esclarecimentos tericos fundamentais e, principalmente, anecessidade da prtica com determinao! Este o principal

    caminho...

    Nesta seo da Coletnea, abordaremos as concepes deescrita. A concepo que voc tem a respeito da escritainfluencia a sua postura frente s atividades de produo textual.Em seguida, daremos nfase especial a alguns textos literriosque sugerem reflexes importantes a respeito do ato de escreverenquanto processo. Neste percurso, esperamos que voc seidentifique com os autores, de modo a compreender os percalosda escrita e, assim, conhecer-se um pouco mais enquanto

    produtor de textos.

    Tudo aponta para a necessidade deaprendermos a escrever a partirdaquilo que ns lemos. este otruque a ser explicado. (Frank Smith)

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    Talvez, algum dia, voc j tenha dito ou escutado estedesabafo: No adianta, a escrita no para mim, nogosto de escrever, complicado demais.... Diante deuma folha de papel em branco, as palavras parecemescapar. Dizem alguns que pensar di e essasensao de dor no intelecto parece sobrevir, em

    especial, nos momentos de produo textual. Pareceque temos que aprender a lidar e a conviver com essetipo de desafio. E que bom que a escrita nos desafia,no mesmo? H algo melhor que os desafios da vidapara nos fazer crescer?

    Existem trs concepes de escrita, e temos certeza que voc vai gostar de conhec-las. Paraexplic-las, usamos como referenciais tericos Geraldi (Portos de passagem. 4. ed. So Paulo:Martins Fontes, 1997) e Fiad & Mayrink-Sabinson (A escrita como trabalho. In: MARTINS M. H.(Org.). Questes de linguagem. 4. ed. So Paulo: Contexto, 1994, p. 54-63).

    Muitos acreditam que a escrita privilgio para poucos. Trata-se da escrita como dom ouinspirao. O que essa concepo significa? Que a escrita privilgio apenas para um grupo seleto de pessoas e que, semdom ou inspirao, impossvel que ocorra uma boa produo.Apenas quem tem o dom da escrita pode se tornar escritorprofissional. Apenas o aluno que tem esse dom consegueproduzir textos de qualidade. A partir dessa concepo, apossibilidade de reescrita descartada, j que, uma vez frutode um dom e da inspirao, o texto deve conservar as ideiasem sua gnese, como vieram para o papel. Os que acreditam

    nessa concepo e apresentam dificuldades em redigir bonstextos tendem a se acomodar, achando que o mais certo afazer se conformar com tais dificuldades, como se fossem insuperveis.

    No tenho o dom da escrita... Voc j pensou dessa forma? Se essa ideia j passou pela suacabea, olhe para os grandes escritores e pesquise seus depoimentos. Quantos deles escreverame publicaram livros sem nenhum esforo? Quantos deles se declaram divinamente agraciadospelo dom da escrita? Ser que dom, ou ser que prazer, gosto, paixo e determinao pelaescrita que faz com que esses autores sejam bons?

    Outra concepo a de escrita como consequncia. Esta tambm requer a inspirao e ocorre

    apenas para cumprir determinadas tarefas, geralmente acadmicas, obrigatrias ou impostas: umrelato produzido aps uma palestra ou filme; um texto de opinio aps a discusso de umatemtica; um resumo, para registrar as principais ideias de um livro etc. Todos os que passampela vida escolar produzem textos mediante circunstncias que lhes obrigam a isso. Nessesentido, a escrita no cumpre a sua funo social, apenas sua funo avaliativa. Por extenso,escrever apenas sob tais circunstncias estreita o contato e a relao dos sujeitos com aproduo de textos e, consequentemente, no contribui para o pleno desenvolvimento de suashabilidades de escrita.

    Finalmente, a concepo de escrita como trabalho. Parafraseando Thomas Edison, que nos falasobre talento, e Albert Einstein, que nos fala sobre genialidade, lembramos: A escrita 10%

    inspirao, e 90% transpirao! Encontramos tantos alunos frustrados em razo de suas

    Qualquer um de ns, senhor de um

    assunto, , em princpio, capaz de

    escrever sobre ele. No h um jeito

    especial para a redao, ao contrrio do

    que muita gente pensa. H apenas uma

    falta de preparao inicial, que o esforo e

    a prtica vencem. (Mattoso Cmara Jr.)

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    dificuldades na escrita, e tantos que recorrem ao plgio justamente porque no se consideramcapazes de, eles mesmos, produzirem textos dequalidade.

    Prezado(a) aluno(a), conceber a escrita como trabalho fundamental para que voc desenvolva as habilidades

    necessrias para a produo de bons textos. A partir dessa concepo, voc compreender quetodos os textos devem passar pelo processo de reescritas. E isso requer muita dedicao,determinao e empenho. Nesse sentido, Graciliano Ramos cria uma metfora perfeita parailustrar a escrita segundo essa concepo. Veja:

    Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras l de Alagoas fazem seu ofcio. Elascomeam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcemo pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duasvezes. Depois enxaguam, do mais uma molhada, agora jogando a gua com a mo. Batem opano na laje ou na pedra limpa, e do mais uma torcida e mais outra, torcem at no pingar dopano uma s gota. Somente depois de feito tudo isso que elas dependuram a roupa lavada nacorda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A

    palavra no foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.(http://www.paralerepensar.com.br/graciliano.htm)

    Para pensar...

    A partir do texto acima, qual a metfora que simboliza a pessoa que se dedica ao ofcio daescrita?

    Cada procedimento executado pelas lavadeiras de Alagoas sugere cada uma das etapas pelasquais a construo da escrita deve passar. Quais so essas etapas?

    O que mais voc acrescentaria ao texto de Graciliano para ilustrar o processo da escrita comotrabalho?

    Escritores so lavadeiras. esta a metfora criada por Graciliano Ramos para ilustrar o esforo ea insistncia que o ofcio da escrita exige. Podemos equiparar o ofcio da escrita, tambm, com otrabalho da aranha. Assim como a aranha tece pacientemente sua teia, escritores profissionais eprodutores de textos espordicos tecem pacientemente suas palavras dentro das frases, as frasesdentro dos pargrafos. Com muito esforo, as lavadeiras deixam as roupas branquinhas. Commuita sutileza, a aranha prepara sua armadilha. A construo da escrita requer esforo esutilezas...

    H ainda outro texto perfeito para ampliar a ideia de escrita enquanto trabalho. Leia o poema de

    Joo Cabral de Melo Neto e procure analisar a relao que o poeta faz entre o ato de escrever e ode catar feijo.

    Catar feijo se limita com escrever:joga-se os gros na gua do alguidare as palavras na folha de papel;e depois, joga-se fora o que boiar.Certo, toda palavra boiar no papel,gua congelada, por chumbo seu verbo:pois para catar feijo, soprar nele,

    e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

    O que escrito sem esforo lido sem

    prazer. (Samuel Johnson)

    http://www.paralerepensar.com.br/graciliano.htmhttp://www.paralerepensar.com.br/graciliano.htmhttp://www.paralerepensar.com.br/graciliano.htmhttp://www.paralerepensar.com.br/graciliano.htm
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    Ora, nesse catar feijo, entra um risco:o de entre os gros pesados entreum gro qualquer, pedra ou indigesto,um gro imastigvel, de quebrar dente.Certo no, quanto ao catar palavras:a pedra d frase seu gro mais vivo:obstrui a leitura fluviante, flutual,aula a ateno, isca-a com o risco.

    (Obra Completa, Rio de Janeiro, EditoraNova Aguilar, 1999)

    Na concepo de escrita como trabalho, as reescritas so fundamentais e, nesse processo decatar e lapidar palavras, selecionando dentre tantas as que melhor expressam nossas ideias, preciso que o autor (locutor) se coloque no lugar do leitor (interlocutor) para quem o texto estsendo escrito. Mais ainda, essencial que o autor se coloque como o outro de si mesmo emcada uma das etapas que constituem a produo textual.

    Como assim?!

    Sempre que produzir algum tipo de texto, seja qual for ognero, no tire seus olhos do focoo outro, isto , o leitorou interlocutor para quem voc escrevee, ao mesmo tempo, olhe para sua escrita como se voc

    fosse outra pessoao outro de si mesmo: autor crtico, muito atencioso, determinado a analisarcada um dos detalhes que compem seu prprio texto e disposto a reescrev-lo quantas vezes sefizer necessrio.

    Ao se colocar como o outro de si mesmo na escrita, voc ser capaz, por exemplo, de preencherlacunas, isto , partes do texto em que as ideias ainda no esto suficientemente claras,lapidadas, trabalhadas. Caso suas ideias no sejam objetos de sua reflexo mais apurada, elaspodem ser facilmente contestadas pelo leitor. Ao detectar lacunas, voc estar antecipandopossveis problemas de compreenso ou contestao por parte dos possveis leitores. Sua tarefa,ento, ser reescrever seu texto quantas vezes necessrias para evitar problemas. Para isso, ter

    que analisar e pontuar quais aspectos ou aes de reescrita seu texto requer para se tornarcompreensvel, atraente, desejvel, convincente. Aes como, por exemplo, eliminar, acrescentar,complementar, alterar, sintetizar, aprofundar ou esgotar um pouco mais o assunto tratado em seutexto, etc.

    Como o outro de si mesmo, voc ser capaz deobservar o que est faltando ou sobrando em seu texto.Ter olho clnico para perceber redundncias ouambiguidades, de modo a tomar as decisesnecessrias para eliminar ocorrncias dessa natureza.Ter condies para reescrever suas ideias e seus

    argumentos, expressando-os de modo mais criativo,mais convincente e menos previsvel. Como revisor de

    O outro a medida: para o outro que se

    produz o texto [...] O outro insere-se j na

    produo, como condio necessria para

    que o texto exista. porque se sabe do outro

    que um texto acabado no fechado em si

    mesmo. (Bakthin)

    O melhor amigo do escritor a lata de

    lixo. (Isaac Singer)

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    seu prprio texto, voc tambm poder perceber a necessidade de deslocar pargrafos,acrescentar ou excluir contedo, mudar o ttulo, tornando-o mais convidativo, enriquecer aintroduo, tornando-a mais atraente aos olhos do leitor, alterar a concluso, atribuindo-lhe maisqualidade.

    Por fim, quando voc no enxergar mais nada em seu texto que requer mudanas, apresente-o a

    um revisor profissional da lngua portuguesa. Ele poder detectar o que seus olhos deixarampassar (e em razo de alguns vcios da linguagem, isso de fato ocorre). Porm, se isso no forpossvel, tenha certeza de que o outro de si mesmo j fez um bom trabalho.

    Como sntese e comprovao do que discutimos at aqui a respeito da escrita enquanto trabalho,propomos a leitura de mais dois textos. Abaixo, observe, prezado(a) aluno(a), as etapas daproduo textual e relacione-as ao ofcio das lavadeiras, apresentado anteriormente no texto deGraciliano Ramos, e tambm, ao ato de Catar feijo, conforme o poema de Joo Cabral de MeloNeto.

    Escrever reescreverPor Nilson Souza

    Qualquer pessoa pode redigir desde que tente para valer. O difcil reler at nada mais ter paracortar ou acrescentar. A mensagem deve permanecer clara.

    Primeiro, preciso saber que o universo reservou um lugar certo para cada palavra e s ali elafaz sentido. Como disse Voltaire, uma palavra posta fora do lugar estraga o pensamento maisbonito.

    Mas ningum nasce com esta clarividncia. Um texto se constri, s vezes lentamente, muitasvezes penosamente, raras vezes facilmente. Depende do esforo do construtor. E de suapersistncia para refazer a obra quando ela desabar, seja por insuficincia de alicerce cultural,

    seja por causa de desvios temticos ou de imploses gramaticais.

    Qualquer pessoa consegue escrever, desde que tente para valer. Talento natural existe e ajuda,mas no tudo.

    Uma boa maneira de comear selecionar o que se tem a dizer e para quem. A partir da, daforma mais simples e direta possvel, narra-se o fato. Com as palavras que vierem cabea. Atque se esgotem. Depois, sim, comea a tarefa mais trabalhosa: reler uma, duas, tantas vezesquantas forem necessrias. E ir retirando, sem autocomiserao, tudo o que parecer duvidoso,exagerado, sem graa nem sentido. Se no sobrar nada, comea-se de novo. Se sobrar muito,talvez seja melhor fazer outra leitura.

    Quanto no houver mais nada para acrescentar ou tirar, e a mensagem principal permanecerclara, o texto est pronto.

    Parece simples, mas di um bocado. S que no tem outro jeito.

    Para pensar...

    Com relao sua viso ou concepo acerca da escrita, algo mudou em voc a partir do estudoproposto neste material?

    Voc tem vivenciado a escrita como trabalho?

    De modo natural e sem rebuscamentos ou enfeites lingusticos desnecessrios, o autor do texto aseguir sugere outras reflexes pontuais acerca da escrita enquanto trabalho, apontando aspectos

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    relacionados a esse exerccio, ao mesmo tempo, desafiador e gratificante. E como todo texto uma obra inacabada, sujeito a reescritas e complementos, pedimos que, ao concluir esta leitura,voc complemente as palavras do outro com as suas prprias...

    Antes de tudo, digo que escrevo porque gosto, no escrevo para nenhum leitor em particular,escrevo para mim, ou seja, escrevo aquilo que eu gostaria de ler, tendo sido escrito por algum.O que escrevo, nunca ser uma obra acabada, de tempos em tempos, vou aprimorando aquiloque escrevi reescrevendo o texto ou mudando aqui e ali.

    Nosso vernculo, por sinal, muito difcil, e bvio que escrevo muitas palavras erradas, atsem perceber, mas to logo percebo, so imediatamente substitudas pelas palavras corretas.Entendo que errando que se aprende a no errar. Alm do mais, escrever, para mim, igual aplantar alguma semente, que no seu devido tempo, trar seus frutos mais doces e suculentos.Ento, do mesmo jeito que ocorre numa plantao, h a necessidade de preparar bem a terra;carpindo, jogando calcrio e adubo, espalhando as sementes, regando o tempo todo,observando o crescimento, arrancando o broto que no serve para dar fruto e, quando os frutosaparecem, de cada planta so retirados para que fique limpa e d muito mais frutos ainda.

    Quando escrevo, no premedito nada, posto que estou sempre lendo e estudando dentro dopossvel, todas as cincias, bem como, outras leituras corriqueiras com o firme propsito de ir aoencontro de alguma descontrao, ademais, sou um observador por natureza das questes queenvolvem principalmente as relaes humanas no contexto tricotmico; corpo, alma e esprito.Por isso, o que escrevo normalmente fruto dos meus estudos, das minhas descontraes, dasminhas experincias de vida, das minhas aspiraes, das minhas inspiraes. Mas bvio quemesmo eu no escrevendo para algum leitor ou leitora em particular, fico feliz ao descobrir quealgum tenha gostado e ou vibrado com aquilo que escrevi. Fico feliz porque pude levar algocompreensivo a algum, ou seja, houve uma linha de comunicao que de certa maneira atingiuseu alvo com sucesso.

    No entanto, voc poder perguntar-me E como voc lida com as crticas em relao ao queescreve? RespondoEu acredito que ningum consegue agradar a todos, e uma vez que temosa necessidade de escrever, precisamos tambm estar abertos a tudo o que vier pela frente,principalmente em relao s crticas, que sendo elas as piores, ainda assim, posso entenderque, pelo menos, pude impactar algum com o que escrevo, e por mais que tais crticas sejamdirigidas a mim de forma negativa, as recebo positivamente, visto que as analiso aproveitando oque for relevante, observando a fonte, sendo a fonte das crticas condizente com a realidadedaquilo que escrevo, e portadora de conhecimento necessrio para a devida refutao, semproblemas.

    Hoje em dia, as massas vo sempre para o mesmo rumo e todos ns podemos notar se algumescreve algo diferente, por ser diferente. Somente pessoas diferentes da maioria queconseguem entender e absorver o que foi escrito, tirando boas lies e ao mesmo tempoaprendendo com o fim de buscarem o desenvolvimento pessoal.

    Na atualidade, se voc no concordar com o rumo para onde caminha a humanidade, pronto,

    voc no passa de um patinho feio insignificante. Para mim, bom porque gosto de estar pertodas pessoas insignificantes, elas tm mais vida e no ficam temerosas com isso ou com aquiloque podero dizer delas, afinal, elas no tm nada a perder; nem pompas, nem status, nemtapinhas nas costas.

    Escrever um meio de motivao, de exercitar os neurnios, de voar mais alto, de rir dassituaes, de exclamar, de contradizer os dirigentes loucos desta vida, de criar poesia, de noslevar aos sentimentos mais ntimos, de nos fazer sentir o exalar do perfume de uma flor, deexternar o contentamento descontente, de proclamar a f, a esperana e o amor, de ir aoencontro do conhecimento do infinito, sabendo que l, nunca se chegar. Escrever o meio peloqual aplaudimos os grandes feitos da humanidade e pelas mesmas vias repudiamos as aesditatoriais dos dspotas que assolam a vida e a liberdade de todos os povos e naes.

    Finalmente, escrever, para mim, o mesmo que derramar um aromtico perfume no ar, etambm, nos coraes daqueles e daquelas que conseguem apreciar o encanto, e toda a belezaexistente na ponta dos dedos, pressionados contra as teclas do teclado de um computador,utilizados pela mente e pelo corao de um destro escritor ou de uma destra escritora.

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    Sem dvida, os desafios e as dificuldades de construo da escrita so reais e fazem parte doprocesso. Assim como so igualmente reais as sementes que plantamos e os frutos que colhemosa partir dela. Outro detalhe a ser lembrado a sensao de solido muitas vezes comum nesseprocesso. Principalmente, quando o texto a ser produzido demanda bastante tempo, s vezesanos, para ser concludo. Livros, dissertaes de mestrado e teses de doutorado, por exemplo.

    Todavia, qualquer pedra pelo caminho pode ser usada para o crescimento de quem quer queseja... Basta que este algum seja, de fato, movido peladeterminao...

    Por fim, alm das habilidades de escrita que essa prticanos proporciona, quanto mais escrevemos, maisconhecimentos adquirimos, produzimos e partilhamos. E,

    talvez o mais importante, quanto mais textosproduzimos, mais foramos e exercitamos o nosso intelecto a organizarnossas ideias, de modo que passamos a compreender melhor a ns mesmos, nossos valores,nossas opinies, nossos conceitos, tudo aquilo que compe nossa capacidade de autoria e assingularidades de nossas idiossincrasias...

    E voc? O que pensa sobre a escrita?

    Registre suas reflexes, produza um novo texto a partir das ideias inspiradoras acima. Redija emuma folha qualquer, ou no computador, em um lugar de sua preferncia, o que a escrita significapara voc? O que voc sente quando escreve? Expresse o sentido que o ato de escrever temexercido sobre voc.

    Se quiser, envie seu texto para ns. Teremos o maior prazer de ler seu material, conhecer umpouco sobre voc a partir dele e, quem sabe, seu texto seja selecionado parapostagem na Sala Virtual de Aprendizagem da Formao Sociocultural etica?

    DICAS DE LEITURA

    H muitos outros aspectos importantes e intrnsecos aoprocesso de produo textual e, por isso, incentivamos quevoc pesquise mais a respeito. Para comear, indicamos o livro possvel facilitar a leitura: um guia para escrever claro, dasautoras Yara Liberato e Lcia Fulgncio, Editora Contexto. uma obra de fcil compreenso, com explicaes didticas edicas teis para se produzir textos com clareza.

    (http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=2060186)

    A partir do momento que comeamos a

    passar para o papel o que pensamos,

    que principiamos a organizar nossas

    ideias.

    http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=2060186http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=2060186http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=2060186http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=2060186http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=2060186http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=2060186
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    Tambm indicamos Ler, pensar e escrever, de GabrielPeriss, Editora Saraiva. A obra rene os trs pilaresresponsveis pela formao e expresso crtica doconhecimento. Vale a pena conferir!

    (http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3663364/ler-pensar-e-escrever-5-edicao)

    J conferimos alguns dos contedos publicados no blog de GabrielPeriss e aprovamos! Vale a pena conferir!

    http://ler-pensar-e-escrever.blogspot.com.br/p/apresentacao-do-livro.html

    A seguir, fiquem com os textos selecionados,especialmente, para esta Coletnea!

    http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3663364/ler-pensar-e-escrever-5-edicaohttp://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3663364/ler-pensar-e-escrever-5-edicaohttp://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3663364/ler-pensar-e-escrever-5-edicaohttp://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3663364/ler-pensar-e-escrever-5-edicaohttp://ler-pensar-e-escrever.blogspot.com.br/p/apresentacao-do-livro.htmlhttp://ler-pensar-e-escrever.blogspot.com.br/p/apresentacao-do-livro.htmlhttp://ler-pensar-e-escrever.blogspot.com.br/p/apresentacao-do-livro.htmlhttp://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3663364/ler-pensar-e-escrever-5-edicaohttp://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3663364/ler-pensar-e-escrever-5-edicao
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    Textos Selecionados

    Em se tratando de tica e Economia, cabe falarmos sobre sabedoria. Ser que seperder com o tempo? Foi substituda por algum outro atributo na era da globalizao?Este primeiro texto uma proposta de retomada a antigos conceitos que nos levam reflexo acerca de uma possvel relao entre tica e economia, quem sabe! Serpossvel, ainda, o espao reflexo, valorao da alma, contemplao da vida... daessncia da vida? Enfim, tica e Economia podem caminhar juntas? Leia e reflita voctambm!

    tica e economia na era da globalizaoEdir Martins Moreira

    Ainda hoje vale a definio de cincia de Aristteles, formulada na sua obra Organon, comoconhecimento certo pelas causas. Para saber algo em profundidade preciso relacionarconceitos, saber as causas, o porqu das coisas. Este um dos grandes dilemas do nosso

    sculo, impulsionado pelo rpido e fcil acesso a fontes de informao. Podemos obterinstantaneamente milhes de informaes, mas corremos o perigo detornarmo-nos incapazes de process-las de um modo orgnico, integrado,coerente, atravs da relao causa-efeito que caracteriza o conhecimentocientfico. Entretanto, no esse o desafio mais grave que enfrentamos. Onde est asabedoria que perdemos no conhecimento?

    A cincia ofuscou a procura da verdadeira sabedoria, da sabedoria cultivada na Grcia antigapelos filsofos que buscavam saber coisas essenciais, as primeiras causas, os primeirosprincpios, a origem de todas as coisas e, mais importante ainda, o sentido da vida e daexistncia. A essa tarefa Scrates dedicou a sua vida. Plato quem colocou na boca deScrates as seguintes palavras: Outra coisa no fao seno andar por a persuadindo-vos,moos e velhos, a no cuidar to aferradamente do corpo e das riquezas, como de melhorar o

    mais possvel a alma, dizendo-vos que dos haveres no vem a virtude para oshomens, mas da virtude vm os haveres e todos os outros bens particularese pblicos[1].

    Assistimos perplexos a um distanciamento cada vez maior entre educao e formao. Crianas eadolescentes recebem oceanos de informaes prontas, desconexas, e muitas vezes fteis, queso incapazes de processar e integrar em um projeto de crescimento em conhecimento e

    sabedoria. A informao no formao. O simples acmulo de informaes, onde oraciocnio no tem lugar e a reflexo tica no encontra espao, est longede contribuir para forjar a personalidade e nortear a vida.

    As consideraes precedentes so apenas um exemplo para ilustrar a questo da globalizao,mas um exemplo significativo do paradoxo da evoluo das comunicaes em relao aos ideais

    da cultura humana. Por isso, para uma reflexo mais clara, propomos as definies dos conceitos-chave do tema em destaque:

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    tica

    A tica uma caracterstica inerente a toda ao humana e, por esta razo, um elemento vital na produo da realidade social.Todo homem possui um sensotico, uma espcie de conscincia moral, estando constantemente avaliando e julgando suasaes para saber se so boas ou ms, certas ou erradas, justas ou injustas. Existem sempre

    comportamentos humanos classificveis sob a tica do certo e errado, do bem e do mal. Emborarelacionadas com o agir individual, essas classificaes sempre tm relao com as matrizesculturais que prevalecem em determinadas sociedades e contextos histricos.

    A tica est relacionada opo, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros relaesjustas e aceitveis. Via de regra, est fundamentada nas ideias de bem e virtude, enquantovalores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existncia plena e feliz.Provavelmente, o estudo da tica tenha se iniciado com filsofos gregos h 25 sculos. Hoje emdia, seu campo de atuao ultrapassa os limites da filosofia e inmeros outros pesquisadores doconhecimento dedicam-se ao seu estudo. Socilogos, psiclogos, bilogos, telogos entre outrosprofissionais.

    Ao iniciar um trabalho que envolve a tica como objeto de estudo, consideramos importante, comoponto de partida, estudar o conceito de tica, estabelecendo seu campo de aplicao numapequena abordagem. A tica no algo superposto conduta humana, poistodas as nossas atividades envolvem uma carga moral. Ideias sobre o bem e omal, o certo e o errado, o permitido e o proibido definem a nossa realidade.

    A tica seria ento uma espcie de teoria sobre a prtica moral, uma reflexo terica que analisae critica os fundamentos e princpios que regem um determinado sistema moral. A tica emgeral, a cincia da conduta[2].Em outras palavras, podemos ampliar a definio afirmandoque a tica a teoria ou cincia do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja,

    cincia de uma forma especfica de comportamento humano.Economia

    Trata-se de uma cincia social que estuda a produo, distribuio e consumo de bens e servios.O termo economia vem do grego oikos (casa) e nomos (costume ou lei) ou tambm gerir,administrar: da regras da casa ou administrao da casa[3].

    Uma das definies que captura muito da cincia econmica moderna a de Lionel Robbins em

    um ensaio de 1932: a cincia que estuda as formas de comportamento humanoresultantes da relao existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer

    e os recursos que, embora escassos, se prestam a usos alternativos[4]

    .Estando ausentes a escassez dos recursos e a possibilidade de fazer usos alternativos dessesrecursos, no haver problema econmico. A disciplina assim definida envolve, portanto, o estudodas escolhas uma vez que so afetadas por incentivos e recursos.

    Um dos usos da economia explicar como as economias ou como os sistemas econmicosfuncionam e quais so as relaes entre agentes econmicos na sociedade em geral. Mtodos deanlise econmica tm sido cada vez mais aplicados em campos de estudo que envolvempessoas que tomam decises em um contexto social, como crime, educao, famlia, sade,direito, poltica, religio,instituies sociais, guerra, etc.

    Globalizao

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    Globalizao um termo utilizado para tudo e, por essa razo, pode chegar a no significar nada. necessrio, portanto, comear procurando definir bem o significado do termo. Globalizao um processo, e um processo que ocorre no tempo. A origem etimolgica lembra globo. Seria umprocesso de integrao global do planeta Terra. Caso descobrissem outros seres no sistemasolar, os habitantes poderiam pensar em um processo de solarizao, ou integrao solar, porexemplo. Independentemente da questo de existir ou no vida em outros planetas, o exemplo til para compreender o significado da globalizao e o papel essencial dos meios de

    comunicao nesse processo. Sem comunicao no h o que partilhar, o que globalizar.

    A comunicao exige um instrumento para transmitir a linguagem, seja por meio de sinais defumaa, luminosos, autofalantes, rdio, televiso, celular ou internet. Duas barreiras, portanto,limitam a comunicao: uma linguagem comum, que permita a compreenso; e um instrumentoque permita e facilite a comunicao. A diferena de lnguas um obstculo para a comunicaoe, indiretamente, para a globalizao. A outra barreira tecnolgica.

    O homem primitivo no era globalizado porque no se integrava, e no se integrava porque nose comunicava. Por isso uma lngua universal permite a integrao. o papel que o ingls estdesempenhando no mundo hodierno. Estamos sendo invadidos pelo ingls (pet shop, freezer,

    notebook etc). um fato inquestionvel, independentemente do que cada um pense a respeito, doque o Congresso Nacional legisle. Como o pgaso da mitologia grega, a lngua inglesa tem sidoo cavalo da globalizao e a internet as suas asas. A tecnologia avana a passos largos e asbarreiras das distncias diminuem a uma insuspeitada velocidade. A revoluo nas comunicaespromove a globalizao e representa um avano para a integrao mundial.

    Por conseguinte, a globalizao um processo que se inicia com a comunicao. O advento daglobalizao traz inmeras vantagens, porm apresenta sofismas e desafios. A anlise desseprocesso exige reflexo. A comunicao a ponta do iceberg. A comunicao favorece orelacionamento econmico, o dilogo poltico e tem um papel importante tambm cultural e emtermos de valores. Para ir ao mago da globalizao preciso analisar no s a comunicao,mas tambm a economia, a poltica e os valores. Est lanado o desafio [5].

    Fortalecimento da tica no mundo globalizado?

    Num mundo que passa por profundas mudanas de paradigmas e em uma sociedade quenecessita com urgncia inserir no seu dia-a-dia novas prticas relativas a essas mudanas,especialmente no mbito do planejamento da produo e das formas de consumo, o usodescontrolado da natureza gerou uma grave crise que vem colocando em risco a prpriahumanidade. A posio do homem na natureza tornou-se dual ao longo da histria da civilizao.Ao mesmo tempo em que parte integrante do meio ambiente, e dele dependente, tambm ohomem passou a nele interferir de modo a conquistar cada vez mais condies para aumentar suaqualidade de vida, passando assim a transformar a natureza, degrad-la e fabricar a iluso de que

    independente da mesma.Assim, toda crise traz em si, de forma dialtica, a sua prpria soluo. Na medida em que seentende melhor as causas e consequncias do mau uso dos recursos, do desrespeito vida, secompreende que o homem , ao mesmo tempo, o causador e um dos mais prejudicados pelodesequilbrio por ele gerado, tambm, de certa forma, vo sendo descobertas as solues para osimpasses. Todo o planeta sujeito a uma crise, o que afeta a vida de cada pessoa, de umamaneira ou de outra, j que todos os fenmenos e seres esto interligados em um imenso sistemade suporte que garante a vida do homem. A compreenso dessa premissa a base de todas asmudanas que comeam a acontecer. As cincias comeam a se reestruturar para lidar com osnovos cenrios forjados[6].

    Nesse novo cenrio, surgem novos campos do saber, e at novas profisses. E as profisses jestruturadas percebem a necessidade de adequar seu arcabouo analtico s novas condies,aplicando novos conhecimentos aos j estabelecidos.

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    Num esforo de sntese, a globalizao definida por Giannetti como a conjuno de trs forasmuito poderosas: a terceira revoluo tecnolgica (tecnologias ligadas busca, processamento,difuso e transmisso de informaes; inteligncia artificial; engenharia gentica), a formao dereas de livre comrcio e blocos econmicos integrados, e a crescente interligao einterdependncia dos mercados fsicos e financeiros em escala planetria. Percebe-se por que ofenmeno da globalizao representou e representa uma efetiva mudana de paradigma [7].

    A tentativa de criar reas de livre comrcio e blocos econmicos integrados, tais como a UnioEuropeia, o Nafta ou o Mercosul, constitui-se em iniciativas, pela primeira vez em mais dequinhentos anos, que supem que interesses supranacionais se sobrepem aos interessesparticulares.

    Graas a essas trs foras poderosas que configuram a globalizao, percebe-se uma mudanana percepo de dois fatores bsicos que fazem parte da nossa vida, o tempo e o espao. Aprimeira sensao que se tem a de que houve uma acelerao do tempo e uma integrao doespao. Em outras palavras, tempo e espao deixaram de ser obstculos nomundo globalizado. o que Marshall McLuhan chamou de aldeia global.

    Na verdade, essa primeira sensao esconde um enorme paradoxo, j que principalmentequem vive em grandes metrpoles sabe que estamos ainda muito longe deviver numa sociedade em que o tempo e o espao deixaram de serobstculos. A rigor, o que se percebe nessas localidades exatamente o oposto, pois crescente (e no decrescente) a quantidade de pessoas que se queixa cada vez mais que temmenos tempo de fazer tudo aquilo que gostaria ou deveria fazer.

    O sobe e desce da importncia dos fatores (dos valores)

    Com essa verdadeira mudana de paradigma, alguns fatores ganham importncia no mundo

    globalizado, ao mesmo tempo em que outros, simultnea e quase simetricamente, tm suaimportncia reduzida. Nesse sentido, ganham importncia no mundo globalizado: aestabilidade e a previsibilidade macroeconmicas; o investimento em capital humano, entendidono apenas no seu componente cognitivo, necessrio para interagir com as novas tecnologias,mas tambm no que diz respeito tica e confiabilidade interpessoal. Por outro lado, perdemimportncia no mundo globalizado: a noo de Estado nacional soberano; a mo-de-obrabarata e os recursos naturais abundantes como fatores de competitividade e atrao deinvestimento direto estrangeiro; e a autossuficincia econmica como objetivo nacional[8].

    A revoluo nas comunicaes promove a globalizao e representa um avano para a integraomundial. Apresenta, entretanto, como contrapartida, desafios e riscos. A mdia passa a ser

    detentora da opinio, pois manipula os telespectadores e forja, de acordo com os seus interesses,a opinio popular. Quando o acesso informao se torna um fim e no ummeio, a pessoa se empobrece em aquisio tanto de conhecimento e cincia, que s possvel adquirir pelo estudo, quanto na procura e conquista da sabedoria, que um saber emprofundidade, essencial, alcanado pela reflexo e muito distante do simples acmulo de dados(informaes). Vai-se percebendo sempre mais uma inverso dos valores essenciais, o homemtorna-se mero objeto de produo e de consumo.

    [1]PLATO. Defesa de Scrates, p. 15.

    [2]ABBAGNANO, Nicola. Diccionario de filosofia, 1992, p. 360.

    [3] HARPER, Douglas. Economy Online Etymology Dictionary Economy. Disponvel in:http://www.etymonline.com/index.php?term.Pgina visitada em 11/02/10.

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    [4] ROBBINS, Lionel. An Essay on the Nature and Significance of Economic Science.London: Macmillan and Co., Limited, [s.d.].

    [5] RODRGUEZ RAMOS, Jos Maria. Globalizao e comunicao. Disponvel in:http://www.cieep.org.br/index.php?page=artigossemana&codigo=292. Publicado em 15 de marode 2006. Acessado em 03/02/10.

    [6]CHACON, Suely Salgueiro. Crise e oportunidade: para compreender o papel do economistadiante dos novos paradigmas.http://www.cofecon.org.br.Acessado em 05/06/10.

    [7] GIANNETTI, Eduardo. Globalizao, transio econmica e infra-estrutura no Brasil. Textopreparado para o Seminrio Competitividade na infra-estrutura para o Sculo XXI, promovidopelo Instituto de Engenharia, So Paulo, realizado em 24/09/96.

    [8]MACHADO, Luiz. tica e globalizao. Disponvel in:http://www.cofecon.org.br.Publicado em19 de junho de 2006. Acessado em 03/02/10.

    Disponvel em: http://pensamentoextemporaneo.wordpress.com/2010/10/08/etica-e-economia-na-era-da-

    globalizacao/Acesso em: 29 abr 2014. Adaptado e grifos das organizadoras.

    De olhos bem abertos para o presente e em direo ao futuro da humanidade, cumpreapresentarmos outra possibilidade de reflexo sobre a tica e a Economia, agorarelacionada ao Manifesto tica global para a economia, o qual prope dois princpiosbasilares que apontam para mais humanizao e respeito em todos os nveis e sentidos.Em que medida este texto um manifesto para a minha e a sua vida? No h como noser!

    Manifesto tica global para a economiaAnselmo Borges

    [...] Foi precisamente por iniciativa da Fundao Welthos eem ligao com a Declarao para uma tica Mundial, doParlamento das Religies Mundiais, em Chicago, em 1993,que, no quadro de uma economia ecolgico-social demercado, surgiu o Manifesto Global Economic Ethic,assinado por figuras relevantes da Poltica, das Igrejas, dasUniversidades, da Banca, e tornado pblico em 2009, emNova Iorque e em Basileia.

    H dois princpios que servem de base:o princpio dehumanidade todo o ser humano,

    independentemente da idade, sexo, raa, cor dapele, capacidades fsicas ou espirituais, lngua,

    religio, concepo poltica, origem nacional ou social, tem dignidadeinviolvel e inalienvel, de tal modo que tambm na economia, na poltica,nas instituies de investigao e industriais, deve ser sempre sujeito dedireitos e fim, sempre fim, nunca simples meio, nunca objeto de comercializao ouindustrializao e o princpio da reciprocidade: no faas aos outros o queno queres que te faam a ti; esta regra de ouro promove aresponsabilidade mtua, a solidariedade, a justia, a tolerncia e o respeitopor todas as pessoas envolvidas. Essas atitudes ou virtudes so os pilares fundamentais

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    de um ethos global econmico, uma viso fundamental comum do que legtimo, justo eequitativo.

    Os dois princpios expandem-se em valores fundamentais: 1. no violncia e respeito pela vida; 2.justia e solidariedade; 3. honestidade e tolerncia; 4. respeito mtuo e companheirismo. Estesvalores tm consequncias para a economia e os negcios, segundo os 13 artigos do Manifesto,que pode ler-se na recente obra de Kng, Anstntig wirtschaften. Warum konomie Moral braucht

    (Economia com decncia. Por que que a economia precisa de moral) e de que se apresentauma breve sntese.

    1. Para respeitar os valores da no violncia e do respeito pela vida, devem ser abolidos otrabalho escravo, o trabalho forado, o trabalho infantil, os castigos corporais e outras violaesde normas do direito laboral internacionalmente reconhecidas. Deve-se acabar com as condieslaborais e os produtos que danificam a sade. A relao sustentvel com o ambiente um valor-norma fundamental da atividade econmica.

    2. Respeitando os valores da justia e da solidariedade, devem ser abolidas todas as prticascorruptas e desonestas. Finalidade maior de todo o sistema social e econmico, que pretendeigualdade de oportunidades, justia distributiva e solidariedade, pr termo fome e ignorncia, pobreza e desigualdade de oportunidades em todo o mundo. A subsidiariedade e a solidariedade,o empenho privado e pblico so as duas faces da medalha e concretizamse, antes de mais, eminvestimentos privados e pblicos no sector econmico, mas tambm em iniciativas para a criaode instituies que sirvam a formao de todos os segmentos da populao e a edificao de umsistema de segurana social, para que todos possam desenvolver-se humanamente e ter umavida digna.

    3. A verdade, a sinceridade e a honestidade so valores essenciais para as relaes econmicase a promoo do bem-estar humano geral e pressupostos para criar confiana nas relaeshumanas e na concorrncia econmica. A cooperao mutuamente vantajosa pressupe aaceitao de valores e normas comuns e a capacidade de aprender uns com os outros, acolhendo

    os outros na sua alteridade. So inadmissveis aquelas aes que no respeitam ou violam osdireitos humanos.

    4. A estima mtua e o companheirismo entre todos os envolvidos, particularmente entre homens emulheres, so pressupostos e resultados da cooperao econmica. Baseiam-se no respeito,justia e sinceridade com todos os parceiros: empresrios, trabalhadores, consumidores ou outrosinteressados.

    Disponvel em:http://filosofiaemalbergaria.blogspot.com.br/2013/02/manifesto-etica-global-para-economia.htmlAcesso em: 22 abr 2014. Adaptado e grifos das organizadoras.

    No entorno da vida social e econmica, como acabamos de ver nos textos anteriores,

    seria possvel uma economia sem tica? Possvel?! Tudo possvel! As perguntas queparecem caber neste momento so: quais as consequncias da falta de tica? Em quemedida a responsabilidade, transparncia e confiana so imprescindveis em todas asesferas dos relacionamentos humanos? Reflita!

    Economia sem ticaAdela Cortina

    http://filosofiaemalbergaria.blogspot.com.br/2013/02/manifesto-etica-global-para-economia.htmlhttp://filosofiaemalbergaria.blogspot.com.br/2013/02/manifesto-etica-global-para-economia.htmlhttp://filosofiaemalbergaria.blogspot.com.br/2013/02/manifesto-etica-global-para-economia.htmlhttp://filosofiaemalbergaria.blogspot.com.br/2013/02/manifesto-etica-global-para-economia.htmlhttp://filosofiaemalbergaria.blogspot.com.br/2013/02/manifesto-etica-global-para-economia.htmlhttp://filosofiaemalbergaria.blogspot.com.br/2013/02/manifesto-etica-global-para-economia.html
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    A catastrfica crise econmica que vivemos, todolorosa para milhes de pessoas com nome esobrenome, estourou quando o discurso daResponsabilidade Social Empresarial (SER) est frutferoem memrias anuais, ndices de empresasresponsveis, ps-graduaes e publicaes. A pergunta inevitvel: era cosmtica ou tica? Maquiagem para ter

    boa aparncia ou vitaminas que fortalecem por dentro?

    H de tudo, claro, e existem causas de gneros muitosdiferentes. Mas a crise tambm uma prova de que boaparte das organizaes do mundo econmico e polticono assumiram esse discurso, quando, na realidade, elepertence prpria entranha desses mundos: no vem defora, mas seu.

    Uma empresa inteligentediz o discursono opta poruma tica do desinteresse, coisa impossvel para uma

    empresa moderna, mas sim do interesse comum. Noabandona o mundo dos incentivos, da busca do benefcio e a viabilidade, mas tenta conseguir seubenefcio por meio do benefcio compartilhado. Por isso, tenta se converter nessa empresacidad, que as pessoas veem como coisa sua, porque gera riqueza material, trabalho e valoresintangveis no seu entorno. Aposta pela transparncia que vai gerando confiana e forjando areputao, valores sem os quais difcil manter a viabilidade. Por isso, a empresa prudente tentaconhecer as aspiraes de seus grupos de interesse e responder a elas. Responsabilidade,transparncia e confiana so, ento, imprescindveis para alcanar o bem da empresa a mdio elongo prazos. Sempre que exista um marco institucional capaz de assegurar razoavelmente queas regras do jogo sejam cumpridas.

    Em muitos casos, no funcionou o marco institucional, encarregado de controlar as atuaes

    financeiras, de colocar de sobreaviso os investidores e os consumidores. Os marcos falharam, epor isso o controle necessrio. Mas apesar da convico leninista de que a confiana boa,mas o controle melhor, os dois so imprescindveis. Sem controle, os bancos jogam no riscoexcessivo, no subprime em um dia e em no emprestar no dia seguinte, os governos avalizamrequalificaes, os consumidores se endividam alm do razovel e chega um tempo em que otrem da atividade econmica d uma freada brusca. Que parece que, pelo menos em parte, oque aconteceu conosco. Mas, sem confiana, as transaes decaem, o investimento diminui, osemprstimos escasseiam, as empresas fecham, o desemprego aumenta, e o sofrimento cresce.

    O discurso da RSE, como Jos Angel Moreno disse, est, na realidade, desvinculado dossistemas de governo corporativo? Ele no se incorporou ao ncleo duro de uma grande parte dasempresas, quando na realidade lhes consubstancial?

    Talvez o que ocorre que existam dois tipos de incentivos, os bons e os maus, os que pertencemao jogo limpo da empresa e os esprios. Os ltimos podem ser teis em alguma ocasio, mas nopodem ser os principais, como o filsofo MacIntyre mostrava com o exemplo de uma criana,cujos pais querem que ela aprenda a jogar xadrez e, como ela no gosta, prometem-lhe doces acada vez que jogar. O incentivo das balas pode servir para que ela conhea o jogo e se interessepor ele, mas, se com o tempo, ela seguir sem gostar por si mesma, trapacear quando puder.

    Se o diretor de um banco, ao assessorar os clientes, est pensando que o seu salrio ou a suaascenso dependem de que eles invistam em determinados fundos, tentar persuadir-lhes de que um risco admissvel com o qual ganharo consideravelmente. As demais opes so

    conservadoras, adjetivo que j tem um sentido pejorativo. Claro que, diferentemente do xadrez,o diretor tambm conta com a ambio do cliente. Mas nem aquele que adverte dos riscos

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    previsveis, nem o que concede subprimes so bons profissionais, porque no esse o sentido desua profisso e por isso geram desconfiana.

    Se globalizarmos a partida de xadrez, ocorrer que, alm das turbulncias das quais oseconomistas falam, houve organizaes e pessoas concretas que no creram no valor de suaprofisso, que arriscaram aquilo que era seu e aquilo que no era, convencidos de que iriam sedar bem. O pior de tudo que nesse jogo, algumas vezes, os protagonistas pagam, mas em todasas ocasies quem pagam so os piores situados. Os que ficaram sem trabalho, os que nopuderam pagar a hipoteca, os que tiveram que fechar a sua pequena empresa, os imigrantes quevoltaram para os seus pases, e acabaram as remessas, principal fonte de ingressos para essespases.

    No documento da ltima cpula do G-20, os lderes mundiais fazem umaafirmao assombrosa: Reconhecemos a dimenso humana da crise. Masexistiu alguma vez uma atividade econmica sem dimenso humana? No verdade que a economia deve ajudar a se construir uma boa sociedade e,quando no consegue, fracassa rotundamente, tendo em conta que essa boa

    sociedade hoje deve ser mundial?

    (Ecodebate, 08/05/2009) publicado pelo IHU On-line, 06/05/2009 [IHU On-line publicado peloInstituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos SinosUnisinos, em SoLeopoldo, RS.]

    Disponvel em:http://www.ecodebate.com.br/2009/05/08/economia-sem-etica-artigo-de-adela-cortina/Acesso em: 22 abr 2014. Grifos das organizadoras.

    Estamos adentrando o ms de maio e, por esse motivo, importa entendermos quais asperspectivas econmicas para o ano de 2014. Um dos meios para que reflitamos e

    compreendamos acerca desta questo nos atentarmos proposta do Frum EconmicoMundial, organizao esta que rene lderes da economia mundial e que tem por objetivoanalisar e discutir algumas das tendncias econmicas que devem marcar este ano.

    2014 ter desemprego e mais desigualdade

    Frum Econmico Mundial prev mais desigualdade e desemprego em 2014

    http://www.ecodebate.com.br/2009/05/08/economia-sem-etica-artigo-de-adela-cortina/http://www.ecodebate.com.br/2009/05/08/economia-sem-etica-artigo-de-adela-cortina/http://www.ecodebate.com.br/2009/05/08/economia-sem-etica-artigo-de-adela-cortina/http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=22019http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=22019http://www.ecodebate.com.br/2009/05/08/economia-sem-etica-artigo-de-adela-cortina/http://www.ecodebate.com.br/2009/05/08/economia-sem-etica-artigo-de-adela-cortina/http://www.ecodebate.com.br/2009/05/08/economia-sem-etica-artigo-de-adela-cortina/http://www.ecodebate.com.br/2009/05/08/economia-sem-etica-artigo-de-adela-cortina/http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=22019http://www.ecodebate.com.br/2009/05/08/economia-sem-etica-artigo-de-adela-cortina/
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    No Japo, 71% das pessoas avaliam que a economia vai mal, e, nos Estados Unidos, 65%. Opessimismo est ligado desconfiana com relao s decises polticas que determinam o rumoda economia nesses pases. "H uma dissociao entre os governos e os governados, entre osbancos e as pessoas que fazem os depsitos", afirma o relatrio.

    Para John Lipsky, que preside o conselho de sistemas monetrios internacionais no Frum, amelhor resposta para a crise na economia global foi a criao do G20, mas a oportunidade deconciliao foi desperdiada.

    "Esforos de cooperao ainda so a melhor forma de lidar com problemas inter-relacionados, e,se mantivermos esta ideia em mente, para reconstruir os primeiros sucessos do G-20, podemosfazer a diferena", diz Lipsky.

    4Expanso da classe mdia na sia

    As sociedades asiticas esto se expandindo graas implantao de importantes reformas,como a adoo da economia de mercado, desenvolvimento de pesquisa cientfica e tecnologia,cultura do pragmatismo e meritocracia, alm de investimento em educao, segundo o relatrio do

    Frum Econmico Mundial.

    O rpido crescimento populacional e econmico da sia j comea a ocasionar uma enormepresso nas fontes de matria-prima globais.

    O documento afirma que os habitantes desses pases precisam ser mais conscientes do queforam os americanos, por exemplo, e usar com mais responsabilidade os recursos naturais paraque no se esgotem, segundo o especialista em assuntos relacionados China do Frum,Kishore Mahbubani.

    Para ele, a expanso global da classe mdia deve ser incentivada, apesar dos riscos. Se asquestes ambientais puderem ser enfrentadas, o desenvolvimento econmico positivo, uma vezque as sociedades asiticas esto vivenciando nveis de paz e prosperidade que no so vistosh sculos na regio.

    Disponvel em: http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/12/12/2014-tera-desemprego-e-mais-desigualdade-preve-forum-economico-mundial.htmAcesso em: 29 abr 2014.

    O texto que segue trata-se de uma entrevista que tem por objetivo esclarecer algunsaspectos relacionados taxa Selic. Vil ou no, importa antes de tudo entender umpouco melhor do que se trata e como isto pode afetar o Brasil. Vale a pena compreenderalguns aspectos relacionados economia luz de um dos mestres em Finanas Pblicas

    que tem ocupado importantes funes relacionadas economia no pas.

    A taxa Selic o veneno da economia

    Para Amir Khair, uma taxa Selic aceitvel estaria prxima dos ndices de inflao. Em termos decenrio econmico brasileiro, isso representaria algo na casa de 5% a 6%. No entanto, a Selicatual de 11%. Isso ministrar um veneno em dose maior. Eu considero a taxa Selic como umveneno da economia, afirma o mestre em finanas pblicas. Com isso, voc atrai dlares doexterior, que vm para c, captam dinheiro a custo praticamente zero e aplicam em taxa Selic [...].Um lucro fantstico! Saem do pas 10 bilhes de dlares em rendimento destas aplicaesespeculativas por ano, continua ele. Ao atrair dlares para c, voc faz com que o real fique

    forte, porque tem muita oferta de dlar. E, ao fazer isso, voc acaba fazendo com que o cmbiono Brasil fique completamente fora de lugar. Isso faz com que se tenha um rombo importante nascontas externas, que no ano passado chegou a 82 bilhes de dlares, completa.

    http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/12/12/2014-tera-desemprego-e-mais-desigualdade-preve-forum-economico-mundial.htmhttp://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/12/12/2014-tera-desemprego-e-mais-desigualdade-preve-forum-economico-mundial.htmhttp://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/12/12/2014-tera-desemprego-e-mais-desigualdade-preve-forum-economico-mundial.htmhttp://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/12/12/2014-tera-desemprego-e-mais-desigualdade-preve-forum-economico-mundial.htmhttp://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/12/12/2014-tera-desemprego-e-mais-desigualdade-preve-forum-economico-mundial.htm
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    Nesta entrevista, concedida por telefone IHU On-Line, Khair demonstra que esta situaoprovoca, entre outras consequncias, a fragilidade das empresas nacionais que pretendem buscarespao no comrcio exterior. Pois, sem preos competitivos, o setor industrial no teria condiesde concorrer com os produtos do exterior, ainda que seja beneficiado com desoneraes detributos ou com os emprstimos concedidos pelas agncias estatais de fomento.

    Quando voc tem no pas taxas de juros elevadas, voc pune toda asociedade, exceo de quem? Dos grandes grupos privados que, tendosaldos disponveis nas suas operaes, aplicam nos ttulos do governo eobtm um lucro forte com isso; e dos bancos, que obtm recursos a custopraticamente zero e aplicam em ttulos do governo tambm, sem risconenhum, ganhando lucros fantsticos, adverte. Ele lembra que no ocorre o mesmocom os consumidores e com as micro, pequenas e mdias empresas, pois estes no tm acessoao BNDES e, por isso, so obrigados a contratar emprstimos com os altos juros cobrados pelosbancos no caso da populao, estes juros chegaram a 93% ao ano em

    janeiro de 2014 para compras com prazo de pagamento de um ano.

    Amir Khair mestre em Finanas Pblicas pela Fundao Getlio VargasFGV, de So Paulo.Foi secretrio municipal de Finanas na gesto da prefeita Luiza Erundina na capital paulista(1989-1992). consultor nas reas fiscal, oramentria e tributria.

    Confira a entrevista.

    IHU On-LineA dvida pblica em si um problema (um indicativo de m gesto) ou constituiuma necessidade para a viabilizao de investimentos?

    Amir KhairA dvida pblica ajuda, claro, o investimento, porque ela feita quando as receitasprovenientes dos tributos no so suficientes para bancar todas as despesas necessrias ao setorpblico e mais alguns investimentos, quando um dirigente ou um governante quer ampliar a aodo governo para alm desses recursos tributrios. Mas o governo tem limites para contratardvida, ele opera dentro dos limites estabelecidos pelo Senado Federal. O governo pode ampliar asua ao, mas sempre respeitando os limites estabelecidos por resoluo do Senado.

    IHU On-Line Ento possvel governar sem contrair dvidas no atual modelo poltico-econmico

    Amir Khair possvel. A maior parte das prefeituras do pas, at prefeituras grandes, nocontrai dvidas, no tem dvidas. Pelo contrrio, tem at crdito, do ponto de vista do balanofinanceiro elas tm mais aplicaes financeiras do que passivos de dvidas. Essa a tendncia

    na situao das prefeituras do pas, coisa pouco divulgada. Com relao aos estados, Rio deJaneiro, So Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais tm dvidas pesadas em relao s suasprprias receitas pblicas. Os outros estados, com exceo talvez de Alagoas, tm um limitemuito abaixo do estabelecido pelo Senado, de que as dvidas contratadas no podem excedervalores correspondentes a dois anos de arrecadao. Ento esta questo da dvida praticamenteno fere nenhum desses estados, salvo aqueles quatro mencionados. O que nos mostra que, nosetor pblico, possvel avanar sem a contratao de dvidas fortes.

    A exceo se encontra no governo federal. Embora a Lei de Responsabilidade Fiscal estabeleaum limite para a dvida, at hoje isso nunca foi votado no Congresso Nacional por presso doprprio Poder Executivo, desde a poca de Fernando Henrique Cardoso, passando por Luiz IncioLula da Silva e agora pela presidente Dilma Rousseff. um dispositivo da Lei deResponsabilidade Fiscal que no foi regulamentado. Com isso, o governo federal foi ampliando asua dvida. E essa dvida muito pesada, porque ela tem uma taxa de juros, arbitrada pelo prpriogoverno federal, que extremamente elevada. Consequentemente, esta taxa de juros acaba

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    catapultando a dvida, colocando-a em patamares cada vez maiores, e essa questo no enfrentada pelo governo, nem na poca do Lula, nem na poca do Fernando Henrique que,alis, foi muito pior, porque as taxas eram muito mais elevadas , nem pelo governo Dilma.

    IHU On-Line Como avalia a meta de obteno de supervit primrio para o pagamento dosjuros da dvida?

    Amir KhairA questo do supervit primrio uma questo falsa, uma questo enganosa parao debate fiscal do pas. Falsa porque ela esconde a realidade fiscal, que muito concentrada naverdadeira causa do dficit fiscal do pas, que so as taxas de juros. O Brasil um pas quesempre comprometeu mais de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) com juros. No mundo inteiroisso gira, no mximo, em 2% a mdia de comprometimento com juros inferior, ficando em 1%do PIB. Ou seja, o Brasil joga fora 5% do seu PIB por decises do prprio governo de manterelevada a taxa Selic. Essa questo importante e mostra que a discusso em cima do supervitprimrio uma discusso enganosa pelo fato de no considerar o chamado resultado nominal,este sim o termmetro das finanas pblicas por ser o resultado de todas as receitas e todas asdespesas. O resultado primrio no leva em conta os juros. como se no existissem juros comodespesa. Voc tem sempre um dficit nominal, pois os juros superam o resultado primrio, que

    so as receitas menos as despesas, fora a questo dos juros. Tem sempre uma conta de juros daordem de 5% do PIB este ano podendo chegar a 6% do PIB. Isso gera um dficit fiscal muitogrande.

    IHU On-LineEm 2013, a inflao oficial atingiu a marca de 5,91%. Para conter este avano, oCopom promoveu o aumento da taxa Selic de 7,25%, em janeiro daquele ano, para 10,5%, emjaneiro de 2014. Esta estratgia de aumentar a taxa Selic para conter a inflao ainda umaopo vivel?

    Amir KhairEu considero que ministrar um veneno em dose maior. Eu considero a Selic comoum veneno da economia. Se fosse qualquer pas do mundo, ela estaria da ordem da inflao. Ouseja, por volta de 5%, 6%. Aqui ela bem acima. Com isso, voc atrai dlares do exterior, que

    vm para c, captam dinheiro a custo praticamente zero e aplicam em taxa Selic. Aqui estrendendo 10,5%, e capaz de ir para 11% agora [como de fato ocorreria em reunio do Copomrealizada no incio de abril]. Um lucro fantstico! Saem do pas 10 bilhes de dlares emrendimento destas aplicaes especulativas por ano. Uma mdia histrica que vem se repetindo.

    Com isso, ao atrair dlares para c, voc faz com que o real fique forte, porque tem muita ofertade dlar. E, ao fazer isso, voc acaba fazendo com que o cmbio no Brasil fique completamentefora de lugar. Isso faz com que se tenha um rombo importante nas contas externas, que no anopassado chegou a 82 bilhes de dlares. O Brasil est completamente fora no cmbio. H umaimpossibilidade de as empresas sediadas no pas concorrerem com os produtos no exterior. Ouseja, voc condena o setor industrial do pas ao colapso. cada vez mais uma situao

    complicada. E no se resolve isso com desoneraes, com emprstimos a essas empresas, etc.Est afastada a possibilidade, at agora, de se ter a taxa Selic no nvel internacional, que aqueleque reconhece que possvel controlar a inflao em algumas situaes, e que no possvelcontrol-la em outras. No o caminho artificializar o cmbio, mantendo essa situao que desastrosa e que abre o rombo das contas internas, que faz com que as reservas internacionaistenham um custo de carregamento extremamente elevado. Assim, voc prejudica a indstria eno cresce. Essa soluo de usar a Selic para combater a inflao tem funcionado para segurar opas, para criar um rombo nas contas internas e nas contas externas. um remdio que mata opaciente.

    IHU On-LineQual o valor estimado atual para a dvida pblica brasileira?

    Amir KhairA dvida olhada pelo governo como dvida lquida, ou seja, a dvida bruta abatidadas reservas internacionais, fundamentalmente. Ela est em torno de 34% do PIB, que um nvel

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    razovel. Agora, a dvida bruta, que a dvida que o pas tem sem considerar estes abatimentos,gira em torno de 60% do PIB. No um nvel elevado, est dentro do limite definido pelo Tratadode Maastricht, que estabeleceu as regulamentaes fiscais na Unio Europeia, principalmentepara a zona do euro. Voc tem uma dvida bruta que no elevada. O problema no o nvel dadvida, portanto. O problema a taxa de juros que onera essa dvida. No mundo todo, essa taxa muito baixa. No Japo ela quase zero. Nos Estados Unidos tambm baixssima. Aqui no, ela muito alta. Ento o que mata no o tamanho da dvida, mas a taxa de juros, que faz com que

    essa dvida tenda a crescer sempre. Apesar de todo o esforo do setor pblico em pagar, ele noconsegue. Essa dvida est sempre aumentando, por causa da taxa de juros que estcompletamente fora de lugar h muitos e muitos anos.

    IHU On-Line possvel diferenciar a poltica econmica da gesto Dilma Rousseff daquelaimplementada pelos seus antecessores Luiz Incio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso?

    Amir KhairA grande inflexo poltica ocorreu na rea social, fundamentalmente. Foi no governoLula, quando, por meio de aumentos do salrio mnimo bem superiores inflao, do BolsaFamlia e de outros programas de renda, houve uma transferncia de recursos bastante forte paraa base da pirmide social. Com isso, a classe mdia aumentou na ordem de 40 milhes de

    pessoas. Isso gerou um consumo forte para o pas e gerou crescimento econmico. Isso o quedistingue o governo Lula do governo Fernando Henrique e anteriores, que no fizeram programasexpressivos e de significado em termos de bombar recursos para a base da pirmide.

    O governo Fernando Henrique apostou no grande capital internacional entrando no pas ecomprando as estatais, com isso gerando crescimento. Entretanto, o crescimento gerado foi umavergonha, da ordem de 2% ao ano, um crescimento fraqussimo. A inflao continuou elevada, oresultado fiscal do governo Fernando Henrique nos oito anos foi de 1,5% de supervit primrio eum dficit fiscal superior a 6% do PIB. Foi um fracasso total. Nas contas externas, o pas quasefaliu duas vezes: em 1999 e em 2002. As reservas eram fraqussimas. Aquele foi um governofracassado nos mbitos interno e externo. No abriu novos mercados, sempre cortejando osEstados Unidos e a Europa que se fechavam aos produtos agropecurios brasileiros. No

    havia a, como at hoje difcil, qualquer tipo de negociao nessas duas frentes.

    O governo Dilma, por sua vez, ampliou os programas de transferncia de renda no apenas osalrio mnimo, mas tambm o Bolsa Famlia, que j teve o valor multiplicado por quatro vezes, eoutros programas, como o Brasil sem Misria, o Minha Casa, Minha Vida. Ou seja, ela tentouampliar a rea social com sucesso, e nisso h reconhecimento pblico.

    Com relao poltica econmica, entretanto, as diferenas so pequenas. A nica coisa que valea pena sublinhar que o fio condutor da poltica econmica, seja no governo Fernando Henrique,seja no governo Lula, seja no governo Dilma apoiado no controle da inflao, atravs da Selicelevada. S que, no governo Fernando Henrique, a mdia da Selic foi da ordem de 25% ao ano.

    H alguns ex-presidentes do Banco Central, que hoje so comemorados como timospresidentes, que, para mim, foram verdadeiros coveiros do pas, como Armnio Fraga, GustavoFranco e Gustavo Loyola. Eles praticaram taxas Selic extremamente elevadas. E isso fez com quea dvida lquida do pas subisse da casa de 30%, no incio do governo Fernando Henrique, para60%, quando entrou o Lula. Alm disso, como procuraram manter o cmbio apreciado, geraramrombos expressivos nas contas externas. So pessoas, gestores, de responsabilidade, mas quedeixaram um legado muito ruim para o pas.

    No governo Lula, com Henrique Meirelles na presidncia do Banco Central, houve uma reduodesse nvel, mas a Selic ainda permaneceu muito elevada. Dilma inovaria se conseguisse mantera Selic baixa, como quando chegou ao patamar de 7,25% durante o seu governo ou at maisbaixa. Mas a presidente cedeu presso do mercado financeiro e, agora, tem deixado a taxa

    voltar a subir novamente. Essa seria uma caracterstica que poderia diferenciar a polticaeconmica da presidente Dilma da implementada pelos governos anteriores. De nada adiantafazer desoneraes se voc deixar o setor privado industrial brasileiro exposto a uma

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    concorrncia empresarial hoje muito mais forte do que na poca de Fernando Henrique ou Lula,concorrncia esta que trabalha com cmbio favorvel s exportaes. Ns, no nosso caso, pareceque proibimos as exportaes para manter este cmbio.

    IHU On-Line Pode-se dizer que a dvida movimenta o capitalismo, j que ela financia osbancos?

    Amir Khair Sim. Quando voc tem no pas taxas de juros elevadas, voc pune toda asociedade, exceo de quem? Dos grandes grupos privados que, tendo saldos disponveis nassuas operaes, aplicam nos ttulos do governo e obtm um lucro forte com isso; e dos bancos,que obtm recursos a custo praticamente zero e aplicam em ttulos do governo tambm, sem risconenhum, ganhando lucros fantsticos.

    H uma transferncia, portanto, de recursos atravs desse mecanismo de taxas de juroselevadas. Micro, pequenas e mdias empresas so obrigadas a captar emprstimos com jurosaltos dos bancos, porque no tm acesso ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico eSocial BNDES. Tambm a populao em geral, que, alm de enfrentar dificuldades em termosde distribuio de renda, que ainda muito desfavorvel no Brasil, tem contra si a m distribuio

    tributria, sendo muito mais onerada com os tributos do que a elite, a parte superior da camadasocial. Quando a populao compra alguma coisa financiada, e este tipo de compra a maisusual entre as camadas de baixa renda, ela tem de pagar taxas de juros de 90% ao ano ou93%, como ocorreu em janeiro para compras com prazo de um ano.

    Ou seja, a pessoa compra um bem e acaba pagando dois. Este o principal freio da economia. E,ao ter que pagar por dois, este outro bem que ela paga em juros vai para o sistema financeiro. Huma transferncia de renda, uma bomba de suco das pessoas, especialmente das camadas demenor renda mdia, que demandam crdito pagando taxas absurdas de juros, quando a mdiainternacional nos pases emergentes de 10% ao ano. Aqui de 93%!

    IHU On-LineGostaria de adicionar algo?

    Amir KhairApenas gostaria que o governo acordasse e botasse o motor em funcionamento daeconomia, que est praticamente andando de lado, crescendo 2% ao ano, mesmo nvel de 1980at 2002, e que um nvel muito insuficiente. Eu espero que a presidente acorde para anecessidade de mudanas na poltica econmica, que deixem de submeter o pas a taxas de jurosexorbitantes, seja da Selic, ou seja, simplesmente a demandada pelo setor financeiro para asociedade.

    Disponvel em:http://www.mercadoetico.com.br/arquivo/a-taxa-selic-e-o-veneno-da-economia/Acesso em:22 abr 2014.

    Interessante a leitura! Como ler permite que transitemos a lados extremos com um piscarde olhos. Se de um lado estamos muito mal (conforme indica o texto anterior), por outroh quem afirme que estamos muito bem! Claro que tudo depende da perspectiva com quese observa e de quem traa essa perspectiva. O nosso papel aqui mostrarmos todos oslados, ou pelo menos algumas possibilidades de anlise da economia nacional. Agora, com voc enquanto leitor valer-se de suas habilidades leitoras de reflexo e anlise paraaproveitar ao mximo cada uma das leituras.

    O Brasil est se saindo muito bemMrcia Pinheiro*

    O economista norte-americano e Prmio Nobel Paul Krugman disse nesta tera-feira 18 que oBrasil no enfrenta tantos problemas hoje em dia. importante olhar para trs de vez em quando

    http://www.mercadoetico.com.br/arquivo/a-taxa-selic-e-o-veneno-da-economia/http://www.mercadoetico.com.br/arquivo/a-taxa-selic-e-o-veneno-da-economia/http://www.mercadoetico.com.br/arquivo/a-taxa-selic-e-o-veneno-da-economia/http://www.mercadoetico.com.br/arquivo/a-taxa-selic-e-o-veneno-da-economia/
  • 7/22/2019 Scio Cultural e tica II

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    e entender que momento de desastre ns passamos, disse Krugman ao abrir o evento FrumBrasilDilogos para o Futuro, de CartaCapital, em So Paulo. Enfrentamos o segundo maior

    desastre da histria. O primeiro foi a GrandeDepresso. A crise recente afetou seriamente oProduto Interno Bruto (PIB) das economiasdesenvolvidas. O crescimento agora persistelento, aps o auge da crise de 2008/2009.

    No evento, Krugman lembrou que a ComissoEuropeia considera um crescimento de 1% naregio, em vez de 0,5%, o que pode ser vistocomo a medida do sucesso agora. Acatstrofe foi evitada, mas o crescimento dospases avanados ainda vagaroso, disseantes de lembrar que a recuperao econmicade hoje mais lenta quando se compara com areferente crise de 1929.

    Ao analisar a crise posterior em distintas regies do mundo, o economista contou ter sesurpreendido com a profundidade do comprometimento poltico dos pases de moeda nica, comoa Grcia. No entanto, afirmou, o problema fundamental da poltica a resposta comum dos pasesavanados com a poltica monetriano totalmente eficaz, dadas as condies das economias.A questo : o que fazer para reanimar a atividade com taxa de juros zero ou negativa? Aspolticas fiscais poderiam ser usadas para complementar a monetria, mas isso era impossveltanto na Europa, por causa da Alemanha, como nos Estados Unidos, em funo da oposio dosrepublicanos, lembrou. Uma poltica monetria no convencional no foi to efetiva como seesperava. H um processo de nos habituarmos com esta situao econmica fraca e reduzirmosnossas expectativas. Estamos em risco de deflao? Talvez.

    Sobre o problema da dvida dos pases, Krugman fez o diagnstico: A Europa j est na situao

    japonesa, afirmou ao se referir ao baixo crescimento com baixa inflao. H um jargo para isso:a estagnao secular. Nos EUA, tivemos duas bolhas recentemente: da tecnologia e dashipotecas. No auge dessas bolhas, havia pleno emprego e inflao sob controle. Ele lembrouainda que o nvel de investimentos est caindo, pois agora o crescimento populacional maisvagaroso. Alm disso, ressaltou, a tecnologia emprega pouco. Um quadro que tambm piora onvel de endividamento dos pases avanados.

    FED. Durante sua palestra ainda o economista norte-americano apontou que a presidente doFederal Reserve, Janet Yellen, dovish (pacifista, em traduo livre) na questo das taxas dejuros. A taxa real de juros dos ttulos de dez anos est 1%, e perto de zero na Europa. Por isso,os retornos esto muito baixos, observou. Ento, h dinheiro vagando procura deremuneraes mais atraentes. Isso acaba gerando bolhas, como est ocorrendo. O que tende aser uma preocupao para os mercados emergentes, os chamados Brics (Brasil, ndia, China efrica do Sul). Segundo Krugman, nestes pases o retorno dos investimentos bom. No Brasil,por exemplo, a taxa de cmbio efetiva sofreu na crise de 2008, mas os investidores voltaram edepois perceberam que as expectativas eram superiores realidade. Os mercados seapaixonaram por alguns pases em desenvolvimento. Depois, se desapaixonaram, como ocorresazonalmente. Agora, o momento do Mxico, afirmou.

    Segundo Krugman, economias emergentes, como a brasileira, tm se mostrado mais resilientes.Com o fim do problema de dvida externa, o Brasil tem menos exposio ao cmbio, tem maisestabilidade, com a inflao sob controle e a poltica fiscal mais responsvel. As corporaesbrasileiras, por meio de entidades offshore, tomaram muito emprstimo externo no valor de 300

    bilhes de dlares, que menos de 15% do PIB, lembrou, o que tambm no preocupa. O Brasilexporta primariamente commodities e vai sofrer com a desacelerao da China. No estamosfalando de catstrofe, mas algo que pode ser manejvel.

    http://www.mercadoetico.com.br/website/wp-content/uploads/2014/03/paul_krugman_andre_luv_400.jpg
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    O que preocupa a China, disse Krugman, mesmo porque as estatsticas no so totalmenteconfiveis. Este pas no vai crescer s mesmas taxas, os investimentos sero reduzidos,alertou ao fazer um diagnstico da China e, consequentemente, do Brasil. A China precisa mudara proporo entre investimento e consumo. J o Brasil est se saindo muito bem, concluiu.

    * Editora da Envolverde, especial para CartaCapital.

    Disponvel em:http://www.mercadoetico.com.br/arquivo/o-brasil-esta-se-saindo-muito-bem/Acesso em: 22abr 2014.

    Falando em reflexo e anlise, convm atentarmo-nos s distores da verdade, aoengodo. O texto que segueconstrudo em primeira pessoa do singularpermite a mime a voc aproximarmo-nos ainda mais do autor e do contedo ao qual se prope. Trata-se, portanto, de um texto de opinio por meio do qual o autor constri argumentos, a partirdo seu vis, do seu ponto de vista. O desafio compreender qual o ponto de vista doautor, a inteno de seus argumentos, e buscar com esta leitura um exerccio para aprtica da argumentao e, quem sabe, da contra-argumentao.

    Mentiras propagadas pelo pensamento econmico dominanteVicen Navarro*

    Permita-me, senhor leitor, que euconverse com voc como seestivssemos tomando um caf,explicando-lhe algumas das maioresmentiras apresentadas diariamente

    no noticirio econmico. Voc deveriater conscincia de que grande partedos argumentos mostrados pelosmaiores meios de informao epe