seminário gramsci e o estado

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – CAMPUS SOROCABA Disciplina: Tópicos – Estado e Políticas Públicas de Educação PROF. DR. PAULO GOMES LIMA ALUNAS : Elidia V. J. Ribeiro e Telma E. de Moraes CAPÍTULO 3 - GRAMSCI E O ESTADO Estado e Teoria Política Autor: Martin Carnoy Editora: Papirus , 1988.

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Page 1: Seminário gramsci e o estado

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – CAMPUS SOROCABADisciplina: Tópicos – Estado e Políticas Públicas de Educação

PROF. DR. PAULO GOMES LIMA

ALUNAS : Elidia V. J. Ribeiro e Telma E. de Moraes

CAPÍTULO 3 - GRAMSCI E O ESTADO

Estado e Teoria PolíticaAutor: Martin CarnoyEditora: Papirus , 1988.

Page 2: Seminário gramsci e o estado

Antônio Gramsci – Jornalista, Escritor,Comunista, Interessou-se pela Filologia

Nasceu em 22 de janeiro de 1891 em Cagliari, ilha de Cerdeña, na região da Sardenha italiana. Faleceu em 27 de abril de 1937 aos 46 anos de idade.

- Envolveu-se com as questões sociais da região de Sardenha, tem contato com os escritos de Karl Marx e com publicações do Partido Socialista. Em 1910 publica seu primeiro artigo. Aos 20 anos vai para Turim estudar na

Faculdade de Letras e Filosofia. Participou ativamente de atividades jornalísticas e liderou o Partido Comunista Italiano.

- por cerca de 10 anos esteve no cárcere fascista ( 1926-1937)- escreveu os Cadernos do Cárcere (33), sob rigorosa censura e foram

publicados entre os anos de 1948 e 1951.

Page 3: Seminário gramsci e o estado

CONTEXTO ONDE SURGIU A ÊNFASE À

POLÍTICA –1ª GUERRA MUNDIAL, REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE,

ASCENSÃO DO FASCISMO Gramsci foi uma figura central do Partido Socialista italiano e em

seguida liderou o Partido Comunista; Viu o fracasso de um movimento revolucionário das massas

trabalhadoras e o início de um fascismo reacionário apoiado por grande parte da classe trabalhadora;

Foi preso pelo fascismo por cerca de 10 anos; A partir dessas experiências desenvolveu um enfoque marxista

alternativo do ESTADO .

Page 4: Seminário gramsci e o estado

Hegemonia – tema central de sua versão de funcionamento do sistema capitalista (pg.90)

Concepção de sociedade

civil

Elevação da hegemonia burguesa

Estado

Papel ampliado

Aparelho repressivo

da burguesia

superestruturaPerpetuação das classes

Prevenção do desenvolvimento da consciência de classe

Page 5: Seminário gramsci e o estado

O papel da superestrutura na perpetuação das classes e na prevenção do desenvolvimento da consciência de classe

(p.91).Segundo Gramsci a massa trabalhadora era capaz de desenvolver a consciência de classe.

O Estado estava encarregado da reprodução das relações

de produção

Não era simplesmente a falta de entendimento de sua posição no processo econômico que impedia os trabalhadores de compreender o seu papel de classe , nem somente as instituições privadas, como também a religião a responsável por manter a classe trabalhadora longe da autoconsciência...

Page 6: Seminário gramsci e o estado

Diferenças entre os conceitos de sociedade civil e de Estado (pg.91)

NaturalistasLocke, Rosseau

Sociedade Civil como o reino da ordem sobre um

estado de natureza,no qual os homens encontravam-se em algumas sociedades pré-

estatais

A Sociedade Civil era o estado de

natureza organizado e

governado pela vontade coletiva,

pelo Estado.

Hegel, Marx e Engels

Hegel denominava sociedade civil a sociedade pré-política,

aquela que os naturalistas tinham nomeado estado da

natureza.

Para Marx e Engels sociedade civil e Estado são antíteses. Marx subordina o Estado à

Sociedade Civil.

Page 7: Seminário gramsci e o estado

Sociedade Civil para Marx e para Gramsci (pg.91-92)

Estrutural – MarxSuperestrutural - GRAMSCI

SUPERESTRUTURAL DE GRAMSCI (2 níveis)

1º sociedade civil2º sociedade política ou do

Estado

PARA AMBOS: Sociedade civil é o fator chave na

compreensão do desenvolvimento capitalista

Page 8: Seminário gramsci e o estado

A Hegemonia e o Estado (p.93)

Page 9: Seminário gramsci e o estado

ESTADO – Ampliação do conceito

Estado: parte de sua função é promover o conceito único de realidade, papel ampliado na perpetuação das classes, além de manutenção das relações de produção. Mais do que aparelho repressivo, é produtor de hegemonia.

Trabalha o conceito de hegemonia: predomínio de valores e normas da classe dominante.

“Todo complexo de atividades práticas e teóricas com o qual a classe dominante não somente justifica e mantém seu domínio, mas procura conquistar o consentimento ativo daquele sobre os quais exerce sua dominação” (Gramsci, 1971;24’4).

Page 10: Seminário gramsci e o estado

NATUREZA DO DOMÍNIO BURGUÊS

• Para Gramsci o predomínio da classe dominante não residia na violência ou no poder coercitivo do Estado, mas na aceitação por parte dos dominados de uma concepção de mundo que pertence aos seus dominadores (p.94).

• Problema: Como a classe dominante procurou conquistar o consentimento das classes subalternas desse modo?

• Como a classe subalterna procedeu para derrubar a ordem antiga e produzir uma nova ordem de liberdade universal?

Page 11: Seminário gramsci e o estado

INVERSÃO DA TEORIA MARXISTA POR GRAMSCI- dois aspectos - (BOBBIO)

(pg.94)

1 – Enfatiza a Supremacia das estruturas ideológicas (relações ideológicas e culturais, da vida espiritual e intelectual) sobre a estrutura econômica.

2 –Enfatiza a Supremacia da sociedade civil (consenso) sobre a sociedade política (força)

Page 12: Seminário gramsci e o estado

Conceito gramsciano de hegemonia: dois significados especiais (p.95)

• 1º “É um processo na sociedade civil segundo o qual uma parte da classe dominante exerce o controle, através de sua liderança moral e intelectual, sobre outras frações aliadas da classe dominante. A fração dirigente detém o poder e a capacidade para articular os interesses de outras frações. Ela não impõe a sua própria ideologia ao grupo aliado; mas antes “representa um processo politicamente transformativo e pedagógico, pelo qual a classe (fração) dominante articula um princípio hegemônico, que combina elementos comuns, extraídos das visões de mundo e dos interesses dos grupos aliados”. (Giroux)

Page 13: Seminário gramsci e o estado

• 2º conceito “ É a relação entre as classes dominantes e as dominadas. A hegemonia compreende as tentativas bem sucedidas da classe dominante em usar sua liderança política,moral e intelectual para impor sua visão de mundo como inteiramente abrangente e universal, e para moldar os interesses e as necessidades dos grupos subordinados [...] (pg.95). Essa relação é plena de contradições e sujeita ao conflito.

Page 14: Seminário gramsci e o estado

A hegemonia se expressa na sociedade como o conjunto de instituições: o aparelho da escola, o

aparelho cultural, a igreja e seus intelectuais... (pg.96)

instituições

ideologias

práticasagentes

Valores dominantes

Page 15: Seminário gramsci e o estado

Estratégias de dominação: Auto organização começando pela sociedade

civil e aparelhos hegemônicos (da fábrica à escola e à família)-pg.96

• Meios de produção material

Força materi

al

• Meios de produção Mental

Força intelec

tual

• Poder da consciência e Poder da Ideologia

HEGEMONIA

Page 16: Seminário gramsci e o estado

Análise da sociedade e o papel dos intelectuais (pg.97-98)

• “Gramsci adotou a idéia de Benedetto Croce de que o homem era o único protagonista na história: seu pensamento estimula a ação – ação ético- política concreta, que é a criação de uma nova história”.

• Importância do “papel dos intelectuais ( e da educação) na superestrutura (e, portanto, no processo de transformação histórica [...] pg.98

Page 17: Seminário gramsci e o estado

O Estado como superestrutura – (pg.99/100/101)

Hegemonia e o lugar que ela ocupa no Estado

ESTADO2ª definição

Estado= a sociedade política + a sociedade civil

Page 18: Seminário gramsci e o estado

A chave para se compreender Gramsci (pg.102)

•ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO

REJEITA A VERSÃO MARXISTA MAIS ESTREITA DA SOCIEDADE CIVIL

NÃO NEGA QUE A SUPERESTRUTURA ESTÁ INTIMAMENTE VINCULADA ÀS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO

RELAÇÃO DIALÉTICA ENTRE SUPERESTRUTURA E ESTRUTURA

Page 19: Seminário gramsci e o estado

A HEGEMONIA E A IDEOLOGIA EM GRAMSCI (pg.102-104)

FILOSOFIA DA PRÁXIS •CONTROLE DA CONSCIÊNCIA DO HOMEM É UMA ÁREA DE LUTA POLÍTICA

ESTADO •ESTADO COMO INSTRUMENTO DE DOMINAÇÃO BURGUESA

REVOLUÇÃO PASSIVA

•CONSTANTE REORGANIZAÇÃO DO PODER DO ESTADO•RELACIONA AS TRANSFORMAÇÕES NA POLÍTICA, NA IDEOLOGIA E NAS RELAÇÕES SOCIAIS À TRANSFORMAÇÕES NA ECONOMIA

Page 20: Seminário gramsci e o estado

O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO RADICAL

• Se a arena da consciência é para Gramsci a luta principal entre as classes dominantes e subordinada, então como se dá a transformação?

• Como as classes subordinadas superam a hegemonia das classes dominantes?

“O interesse de Gramsci em analisar o desenvolvimento do capitalismo nos países ocidental visava compreender o fracasso da atividade “revolucionária” italiana de 1919-1920”

Page 21: Seminário gramsci e o estado

TRÊS PLANOS – RESPOSTAS:

1º •A CRISE DE HEGEMONIA

2º• O CONCEITO DE “GUERRA DE

POSIÇÃO” EM CONTRAPOSIÇÃO À “GUERRA DE MOVIMENTO”

3º •O PAPEL DOS INTELECTUAIS

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1. A CRISE DE HEGEMONIA

• Buci-Glucksmann “.... não há uma teoria de hegemonia sem uma

teoria sobre a crise de hegemonia (a crise orgânica): não há uma análise da integração das classes subordinadas às classes dominantes sem uma teoria da atomização e a constituição das classes, o que permite a uma classe anteriormente subordinada tornar-se hegemônica.....”

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Gramsci argumenta que há períodos na história nos quais as classes sociais se separam de seus partidos políticos – situação se torna perigosa, situações violentas podem ocorrer.Neste momento Igreja, altas finanças e outras instituições – que são independentes da opinião política – ampliam seu poder e autonomia.

“CRISE DE AUTORIDADE”

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Isto é o que Gramsci chama de:

“CRISE DE HEGEMONIA OU CRISE GERAL DO ESTADO”

“Se a classe dominante perdeu seu consenso, isto é, não é ‘dirigente’, mas apenas ‘dominante’, exercendo apenas a força coerciva, isto significa exatamente que as grandes massas se separam de suas ideologias tradicionais [...] A crise consiste em que o velho está morrendo e o novo não pode nascer”.

Page 25: Seminário gramsci e o estado

Para Gramsci, a crise poderia apenas levar à “ ação se estivesse presente a consciência das massas, prontas para entrarem em ação - conseqüentemente , seria o desenvolvimento dessa consciência que produziria a transformação revolucionária, e não a taxa decrescente do lucro.”

Gramsci não acreditava que esta crise de hegemonia fosse o resultado da crise econômica.“... As crises econômicas ... podem simplesmente criar um terreno mais propício para a disseminação de certas maneiras de pensar e resolver questões envolvendo todo o subseqüente desenvolvimento da vida nacional...”

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Gramsci dá importância a desintegração da capacidade do Estado de estender e manter a hegemonia burguesa – isto é, uma crise no sistema de crenças desenvolvidas pela burguesia para servir seus próprios fins.

O Estado para Gramsci é um instrumento da ideologia burguesa, de legitimação das necessidades sociais burguesas.

Page 27: Seminário gramsci e o estado

A hegemonia burguesa não é só o Estado, e para Gramsci o controle do Estado não e suficiente para garantir que o poder passe para um grupo social oposto. (tal como o proletariado).

Page 28: Seminário gramsci e o estado

A GUERRA DE POSIÇÃO

“Guerra de movimento”Defendia que: No Oriente (Rússia), o Estado era tudo, a

sociedade civil era primitiva e gelatinosa, no Ocidente havia uma relação adequada entre Estado e a sociedade civil, e em qualquer abalo do Estado imediatamente descobria-se uma poderosa estrutura da sociedade civil.

Page 29: Seminário gramsci e o estado

Gramsci acreditava ser pouco provável que o proletariado pudesse obter o controle sobre o Estado através de um ataque direto, como na Rússia.

O Estado era muito mais do que as forças coercitivas da burguesia, era parte da superestrutura ideológica (hegemônica) da sociedade civil...

O Estado devia ser enfocado como uma peça do sistema de poder.

Page 30: Seminário gramsci e o estado

•Gramsci defende a construção da hegemonia proletária como a base para o novo Estado proletário.

•As instituições e organizações tornam-se o alicerce da nova ordem moral e intelectual .

•Revolução antipassiva

Page 31: Seminário gramsci e o estado

Guerra de posição

Quatro elementos:• 1º - Gramsci acreditava que os

Partidos Comunistas de cada país deveria desenvolver seu próprio plano de como criar o socialismo dentro do seu contexto político específico.

Page 32: Seminário gramsci e o estado

Guerra de posição2º elemento: Se baseia na ideia de sitiar o aparelho do

Estado com uma contra-hegemonia, criada pela organização de massa trabalhadora e pelo desenvolvimento das instituições e da cultura da classe operária.

Organização da classe trabalhadora – “o exército proletário deve estar equipado ideologicamente [...]”.

Page 33: Seminário gramsci e o estado

GUERRA DE POSIÇÃO• 3º - A ênfase de Gramsci na

consciência – chave do processo de transformação.

- A luta pela consciência da classe operária e a relação das forças políticas numa sociedade depende dos vários “momentos” e “níveis” de consciência política coletiva:

Page 34: Seminário gramsci e o estado

Nível de consciência – identificação profissional

Nível de consciência – de solidariedade de interesses no campo econômico – produção.

Nível de consciência - dos seus interesses coorporativos

Nível de consciência – desenvolvimento ideológico em ação.

Page 35: Seminário gramsci e o estado

Gramsci, como Lênin, via o partido político como o instrumento de elevação da consciência e de educação junto a classe trabalhadora e de desenvolvimento das instituições de hegemonia proletária.

“[...] A classe trabalhadora é capaz de desenvolver em sua própria fileiras seus próprios intelectuais orgânicos, e a função do partido político, de massa ou de vanguarda, é a de canalizar a atividade destes intelectuais orgânicos e prover um liame entre a classe (trabalhadora) e certos setores da inteligência tradicional”.

Page 36: Seminário gramsci e o estado

Partido políticoQualquer partido político tem três elementos fundamentais:1- o elemento massa, composto de homens “comuns, médios....2- o principal elemento de coesão que “centraliza nacionalmente e

torna eficaz e poderoso um complexo de forças...”3- um elemento intermediário, que articula o primeiro elemento

com o segundo e mantém contato entre eles.

“liderança que geraria o tipo de atividade na base da massa capaz de tornar qualquer trabalhador um intelectual, um líder e organizador potencial do partido”.

Page 37: Seminário gramsci e o estado

O papel dos intelectuais

• De Lênin a Karl Kautsky – Acreditavam numa relação entre os liderados e líderes, por meio de uma divisão hierárquica baseada na superior capacidade dos intelectuais para a liderança teórica e ideológica, o que os colocavam acima da massa de trabalhadores não –intelectuais.

Page 38: Seminário gramsci e o estado

GRAMSCI

Rejeitava a noção de Lênin e Kautsky“Todo grupo social, nascendo sobre o terreno

original de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria ao mesmo tempo que ele, organicamente, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão sua homogeneidade e a consciência de sua própria função, não apenas no domínio econômico, mas também no domínio político e social”.

Page 39: Seminário gramsci e o estado

Como Gramsci caracteriza os intelectuais?

• Intelectuais profissionais tradicionais, literários, científicos, cuja posição nos “interstícios” da sociedade traz consigo uma certa aura, mas deriva, em última análise, de relações de classes passadas e presentes e esconde uma vinculação a várias formações históricas de classe.

Deixam de ser organicamente ligados à sua classe de origem.

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Segunda definição de intelectuais para Gramsci

• Qualquer pessoa que seja possuidora de uma capacidade técnica específica – o elemento pensante e organizador de cada classe social.

• “intelectuais orgânicos”• “Todo homem... exerce algum tipo de atividade intelectual,

ele é um “filosofo”, um artista....ele participa de alguma concepção de mundo, ... por isso contribui para sustentar uma concepção de mundo ou para modificá-la, isto é, para suscitar novos modos de pensar.”

• “O problema da criação de uma nova camada de intelectuais consiste, então, na elaboração crítica da atividade intelectual que existe em cada um num certo grau de desenvolvimento....”

Page 41: Seminário gramsci e o estado

Intelectuais proletários orgânicos , os pensadores –organizadores com uma concepção de mundo

consciente que transcendesse seus interesses de classe.

São estes intelectuais que o partido precisa estimular e mobilizar, despertando os trabalhadores para as suas

possibilidades intelectuais, através das funções educacionais do partido.

Diferença fundamental Lenine Gramsci:Gramsci acreditava num partido e numa estratégia

baseada na ideia de que “todos os homens são ‘filósofos”