artigo danilo (gramsci-althusser)

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8/12/2019 Artigo Danilo (Gramsci-Althusser) http://slidepdf.com/reader/full/artigo-danilo-gramsci-althusser 1/24 Sobre Althusser e Gramsci como críticos de Maquiavel Danilo Enrico Martuscelli Resumo: O objetivo deste artigo é comparar as análises de Antonio Gramsci e Louis Althusser a partir de um objeto de reflexão comum: o pensamento de Nicolau a!uiavel" #ara cumprir esse objetivo$ propomo%nos a decompor nossa análise em tr&s partes  principais: na primeira$ procuraremos apresentar os elementos !ue conferem unidade 's análises de Gramsci e Althusser( na segunda$ avan)aremos na discussão sobre a ruptura entre tais análises( por fim$ na tentativa de apresentar uma visão global da rela)ão entre Althusser e Gramsci como cr*ticos do pensamento de a!uiavel$ sustentaremos a tese segundo a !ual a ruptura predomina sobre a converg&ncia entre essas duas análises" Palavras-chave:  Antonio Gramsci$ Louis Althusser$ Nicolau a!uiavel$ teoria pol*tica e marxismo" O objetivo deste artigo é comparar as análises de Antonio Gramsci e Louis Althusser a partir de um objeto de reflexão comum: o pensamento de Nicolau a!uiavel" A  prop+sito$ não pretendemos identificar !ual das análises possui interpreta)ão mais fidedigna ou ade!uada da obra de a!uiavel( tampouco tencionamos sustentar a idéia de !ue não é poss*vel entender Gramsci e Althusser sem antes conhecer a fundo o pensamento de a!uiavel" #roceder dessa maneira nos indu,iria ao erro de ocultar o corte epistemol+gico existente entre o pensamento de a!uiavel e as reflex-es de Gramsci e Althusser" #artindo do conceito de processo hist+rico$ formulado por essas análises$ encontramo%nos em melhores condi)-es de evidenciar as diferen)as entre elas" .n!uanto a!uiavel compreende a hist+ria como um movimento c*clico$ !ue varia entre a ordem e a desordem$ e sustenta a exist&ncia de uma nature,a humana fixa e imutável( Gramsci e Althusser rompem completamente com essa perspectiva c*clica e$ conse!/entemente$ com a idéia de nature,a humana fixa e imutável" 0sso não !uer di,er !ue Gramsci e Althusser cheguem aos mesmos resultados no  processo de atuali,a)ão do pensamento de a!uiavel" Ao analisar os textos de Althusser$  parece%nos impreciso afirmar !ue eles expressam estritamente uma perspectiva neo% 1

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8/12/2019 Artigo Danilo (Gramsci-Althusser)

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-danilo-gramsci-althusser 1/24

Sobre Althusser e Gramsci como críticos de Maquiavel

Danilo Enrico Martuscelli

Resumo: O objetivo deste artigo é comparar as análises de Antonio Gramsci e Louis

Althusser a partir de um objeto de reflexão comum: o pensamento de Nicolau a!uiavel"

#ara cumprir esse objetivo$ propomo%nos a decompor nossa análise em tr&s partes

 principais: na primeira$ procuraremos apresentar os elementos !ue conferem unidade 's

análises de Gramsci e Althusser( na segunda$ avan)aremos na discussão sobre a ruptura

entre tais análises( por fim$ na tentativa de apresentar uma visão global da rela)ão entre

Althusser e Gramsci como cr*ticos do pensamento de a!uiavel$ sustentaremos a tese

segundo a !ual a ruptura predomina sobre a converg&ncia entre essas duas análises"

Palavras-chave: Antonio Gramsci$ Louis Althusser$ Nicolau a!uiavel$ teoria pol*tica emarxismo"

O objetivo deste artigo é comparar as análises de Antonio Gramsci e Louis

Althusser a partir de um objeto de reflexão comum: o pensamento de Nicolau a!uiavel" A

 prop+sito$ não pretendemos identificar !ual das análises possui interpreta)ão mais

fidedigna ou ade!uada da obra de a!uiavel( tampouco tencionamos sustentar a idéia de

!ue não é poss*vel entender Gramsci e Althusser sem antes conhecer a fundo o pensamento

de a!uiavel" #roceder dessa maneira nos indu,iria ao erro de ocultar o corte

epistemol+gico existente entre o pensamento de a!uiavel e as reflex-es de Gramsci e

Althusser" #artindo do conceito de processo hist+rico$ formulado por essas análises$

encontramo%nos em melhores condi)-es de evidenciar as diferen)as entre elas" .n!uanto

a!uiavel compreende a hist+ria como um movimento c*clico$ !ue varia entre a ordem e a

desordem$ e sustenta a exist&ncia de uma nature,a humana fixa e imutável( Gramsci e

Althusser rompem completamente com essa perspectiva c*clica e$ conse!/entemente$ com a

idéia de nature,a humana fixa e imutável"

0sso não !uer di,er !ue Gramsci e Althusser cheguem aos mesmos resultados no

 processo de atuali,a)ão do pensamento de a!uiavel" Ao analisar os textos de Althusser$

 parece%nos impreciso afirmar !ue eles expressam estritamente uma perspectiva neo%

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gramsciana1"  2alve, seja mais ade!uado sustentar !ue$ para 3trabalhar4 sobre a obra de

a!uiavel 5matéria%prima6$ Althusser tenha tomado as reflex-es de Gramsci como

instrumento de produ)ão te+rica" 2al hip+tese nos leva a problemati,ar a perspectiva

anal*tica !ue sustenta a simples identidade entre as duas interpreta)-es da obra de

a!uiavel$ e a evidenciar o processo complexo de 3assimila)ão profunda4 dessa obra$ !ue

 pode expressar tanto a capacidade de Althusser de propor novos argumentos favoráveis a

algumas das teses elaboradas pela análise de Gramsci e$ em certo sentido$ de desenvolv&%

las teoricamente % o !ue resultaria numa formula)ão neo%gramsciana %( !uanto pode

demonstrar a compet&ncia da!uele autor para criticar certas teses gramscianas$ ao

sistemati,ar seus limites internos e apresentar conceitos alternativos aos já formulados por 

Gramsci % o !ue poderia resultar numa formula)ão original ou simplesmente distinta" 7

8abe%nos$ ainda$ detectar$ nesse processo de assimila)ão da obra de a!uiavel$ !uais dosdois desenvolvimentos$ de converg&ncia ou de ruptura em rela)ão 's reflex-es de Gramsci$

são predominantes na análise de Althusser"

#ara cumprir esse objetivo$ propomo%nos a decompor nossa análise em tr&s partes

 principais: na primeira$ procuraremos apresentar os elementos !ue conferem unidade 's

análises de Gramsci e Althusser( na segunda$ avan)aremos na discussão sobre a ruptura

entre tais análises( por fim$ na tentativa de apresentar uma visão global da rela)ão entre

Althusser e Gramsci como cr*ticos do pensamento de a!uiavel$ sustentaremos a tese

segundo a !ual a ruptura predomina sobre a converg&ncia entre essas duas análises"

Althusser leitor de Maquiavel: elementos de uma abordagem neo-gramsciana

a) A política no posto de comando

O significado da pol*tica e o lugar !ue esta ocupa na vida social são dois aspectos

fundamentais debatidos por Gramsci e Althusser ' lu, das reflex-es de a!uiavel" .m

uma das passagens dos Cadernos$ Gramsci 57999$ p" 16 observa !ue: 3O caráter 

fundamental do #r*ncipe é o de não ser um tratado sistemático$ mas um livro ;vivo<$ no

!ual a ideologia pol*tica e a ci&ncia pol*tica fundem%se na forma dramática do mito4 % o !ue

1 .ssa tese é desenvolvida por: =OL>.N( .L>.N$ 799?"7 .mprestamos de: @A.@$ 1B$ p" 17$ a idéia de 3assimila)ão profunda4"

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significa di,er !ue a!uiavel não se propCs a formular um tratado sistemático sobre a

 pol*tica$ ou melhor$ para ele$ o mais importante era descobrir 3la verità effetuale della

cosa4$ concebida não como algo estático$ im+vel ou imaginário$ mas como 3uma rela)ão de

for)as em cont*nuo movimento e mudan)a de e!uil*brio4$ como conhecimento objetivo da

coisa"

>e acordo com Gramsci$ a!uiavel não buscou tratar da nature,a e das leis da

 pol*tica nos seus escritos" Assim$ não é poss*vel extrairmos desses escritos uma teoria da

 pol*tica" @ob esse prisma$ a!uiavel não pode ser concebido como um cientista pol*tico ou

mesmo como um 3pol*tico em geral4$ como fa,ia a tradi)ão aristotélica e platCnica$ uma

ve, !ue seus escritos não t&m o alcance nem a pretensão de explicar a pol*tica em todos os

tempos"

Ao refletir sobre a !uestão da pol*tica na obra de a!uiavel$ Gramsci 57999$ p" 76considera !ue o mais procedente é considerar esse fil+sofo 3como expressão necessária de

seu tempo e como estreitamente ligado 's condi)-es e exig&ncias de sua época 5"""6"4 Ou

ainda:

a!uiavel é um homem inteiramente de seu tempo e sua ci&ncia pol*tica representa afilosofia da época !ue tende ' organi,a)ão das monar!uias nacionais absolutas$ aforma pol*tica !ue permite e facilita um novo desenvolvimento das for)as produtivas burguesas 5 Idem$ p" 96"

.mbora$ nessa passagem$ Gramsci possa sugerir !ue a!uiavel tenha sido umcientista pol*tico$ tal entendimento literal deve dar lugar ao de !ue se trata de uma frase de

efeito" Levar a tese da positividade da ci&ncia pol*tica 's Dltimas conse!/&ncias na obra de

Gramsci resultaria numa incongru&ncia em face de sua pr+pria formula)ão de !ue não é

 poss*vel tratar a pol*tica como atividade autCnoma em rela)ão 's demais atividades sociais"

 Nessa problemática$ a pol*tica não se singulari,a ou possui caracter*sticas !ue lhe são

 pr+prias"

>e acordo com Gramsci$ a!uiavel não pode ser considerado um 3tratadista

sistemático4$ mas 3homem de a)ão4$ um 3homem de partido4$ um 3homem de paix-es

 poderosas4$ um 3pol*tico em ato4$ ou melhor$ a!uiavel teria procurado resolver 

 problemas referentes ' 3grande pol*tica4$ 's mudan)as estruturais$ especificamente$ '

 Ao contrário do !ue sugere 8outinho 57996$ não entendemos !ue Gramsci tenha uma visão positiva daci&ncia pol*tica$ mas da a)ão pol*tica fundadora do momento dos interesses universais$ também denominadomomento ético%pol*tico"

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funda)ão e consolida)ão do .stado nacional italiano" Nesse sentido$ a continuidade do

#apado necessariamente levaria a 0tália ' condi)ão de não%.stado" 0sto é$ en!uanto a

 pr+pria religião não deixasse de ser pol*tica do #apa para se tornar uma 3pol*tica4 do

.stado$ a 0tália não teria condi)-es de compor um .stado nacional" Gramsci procura

demonstrar$ portanto$ !ue a!uiavel não nega a religião pura e simplesmente$ mas

desloca%a da condi)ão dominante para a subordinada em rela)ão ' pol*tica$ a fim de

construir o seu objetivo maior !ue é a funda)ão do .stado nacional italiano" Gramsci

também entende !ue a !uestão técnico%militar não pode ser compreendida de maneira

isolada$ visto !ue$ na obra de a!uiavel$ ela é concebida como uma !uestão subordinada '

3constru)ão pol*tica4" Ou seja$ a !uestão técnico%militar não se constitui o cerne da análise

de a!uiavel$ formulando%se como !uestão subordinada ' pol*tica" .nfim$ Gramsci

evidencia$ a partir da obra de a!uiavel$ !ue a pol*tica deve ser concebida como atividade!ue subordina a moral$ a religião e a !uestão militar$ e$ justamente por isso$ não pode ser 

considerada uma atividade autCnoma"

Gramsci enfati,a o fato de a!uiavel diferenciar%se de seus antecessores % cujas

análises são marcadas por um viés idealista % por colocar a pol*tica no lugar dominante das

rela)-es com outras esferas da vida social" 0sso !uer di,er !ue a prima,ia da pol*tica em

rela)ão ' religião e ' !uestão técnico%militar$ ressaltada por Gramsci na análise da obra de

a!uiavel$ coloca sua interpreta)ão num terreno bastante distinto da análise de 8roce" .ste

teria instrumentali,ado o conceito de pol*tica$ ao conferir a ele um sentido de neutralidade$

sugerindo$ assim$ uma disjun)ão absoluta entre pensamento % ou$ mais precisamente$

filosofia % e atividade s+cio%pol*tica % isto é$ pol*tica" 5EON2ANA$ 16" Fuando define$

 pois$ a autonomia da pol*tica em termos relativos$ Gramsci observa !ue esta deve ser 

 pensada numa rela)ão dialética ou de identidade com a filosofia" 

H a partir dessa compreensão da pol*tica !ue Gramsci detecta a ruptura de

a!uiavel com o feudalismo e o Ienascimento" 8omo ele observa$ no diálogo com o

8ardeal Iouen$ !ue afirmara !ue os italianos não entendiam de guerra$ a resposta de

a!uiavel % de !ue os franceses não entendiam de .stado % não pode ser tomada no sentido

literal$ uma ve, !ue não se presta a dedu)-es cient*ficas$ antes se tratando de uma 3frase de

esp*rito$ de uma réplica de efeito imediato4: 3Na!uele seu diálogo com o 8ardeal de

 @obre essa !uestão$ ver: JANOK@@0$ 799"

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Iouen$ ele fe, ;pol*tica< prática e não ;ci&ncia pol*tica<$ por!ue$ segundo ele$ se o

fortalecimento do #apa era prejudicial ' ;pol*tica externa< francesa$ era mais prejudicial

ainda ' pol*tica interna italiana4 5Gramsci$ 7999$ p" 716"

#ara Gramsci$ fa,%se necessário o deslocamento da pol*tica da posi)ão subordinada

 para a dominante em rela)ão 's demais esferas sociais$ para tornar poss*vel a funda)ão do

momento 3ético%pol*tico4$ !ue ultrapassa o n*vel dos interesses imediatos e particulares e

!ue$ portanto$ constitui o momento da liberdade$ dos interesses universais" ?  .ssa tarefa

deveria ser concebida tendo%se em vista as rela)-es de for)as atuais % o !ue leva Gramsci$

na análise da obra de a!uiavel$ a relevar os aspectos internos e externos !ue dificultavam

a constru)ão da unidade nacional do .stado italiano$ a saber: as divis-es e conflitos

internos e a vulnerabilidade aos ata!ues e amea)as externos" .nfim$ em Gramsci a pol*tica$

ao ocupar o lugar dominante na vida social$ não comporta a idéia de neutralidade técnica$!ue separa de modo radical filosofia e pol*tica$ visto !ue todas as práticas sociais estão$ de

modo direto e indireto$ sob influ&ncia da pol*tica" No entanto$ ao enfati,ar a historicidade

dos processos sociais e colocar a pol*tica no posto de comando$ Gramsci parece dar pouca

aten)ão aos obstáculos estruturais !ue impedem a emerg&ncia de uma prática pol*tica

efetivamente revolucionária"

.m concordMncia com Gramsci$ Althusser sustenta a idéia segundo a !ual não há

uma teoria da pol*tica em a!uiavel" #ara Althusser$ a!uiavel não se interessa pela

nature,a das coisas" 0sso significa !ue os elementos te+ricos$ ainda !ue existentes na obra

de a!uiavel$ não se articulariam sob a forma de uma teoria" .les estariam dispostos sob a

forma de fragmentos ou$ ainda$ estariam voltados para o conhecimento da prática pol*tica:

A coloca)ão do problema da prática pol*tica está no cora)ão de tudo: todos oselementos estão$ portanto$ dispostos 5"""6 em fun)ão desse problema pol*tico central o problema pol*tico da prática concreta da forma)ão e da constitui)ão da unidadenacional4 5AL2=K@@.I$ 1$ p" ?6"

 Nessa perspectiva$ a!uiavel é compreendido como o te+rico da conjuntura$ como

o primeiro a pensar na conjuntura$ ou ainda$ a pensar no conceito de conjuntura como caso

singular" as$ pensar na conjuntura$ pensar sob a categoria conjuntura$ não tem o mesmo

?  H interessante observar a!ui como a idéia de constru)ão do 3momento ético%pol*tico4$ na análise deGramsci$ está articulada a uma visão teleol+gica da hist+ria !ue$ supostamente$ possuiria um trajeto emdire)ão a um fim"

?

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significado !ue pensar  sobre  a conjuntura$ pois$ segundo Althusser$ a!uiavel não

estabelece reflex-es sobre um conjunto de dados concretos:

#ensar sobre a conjuntura é literalmente se submeter ao problema !ue produ, eimp-e seu caso: o problema pol*tico da unidade$ a constitui)ão da 0tália em .stadonacional" H necessário a!ui reverter os termos: a!uiavel não pensa o problema daunidade nacional em termos de conjuntura( é a pr+pria conjuntura !ue colocanegativamente$ mas de modo objetivo$ o problema da unidade nacional italiana5 Ibidem$ p" P16"

#or esses motivos$ expressa%se na obra de a!uiavel a ruptura com as tradi)-es

aristotélica e platCnica" A remissão !ue ele fa, ' Antiguidade não tem o prop+sito de

recuperar as 3teorias filos+ficas da pol*tica4$ mas a hist+ria concreta$ da prática pol*tica

concreta$ da pol*tica na Antiguidade" 0sto é$ a Antiguidade !ue importa para a!uiavel é a

3Antiguidade da  política4" Neste ponto$ poder*amos assinalar !ue$ de prisma similar ao de

Gramsci$ Althusser concebe as refer&ncias ' hist+ria da Antiguidade$ presentes na obra de

a!uiavel$ como analogia hist+rica$ ressaltando$ contudo$ a possibilidade de extrair dessa

obra uma teoria da conjuntura"P 

O lugar subordinado !ue a religião e a técnica militar t&m em rela)ão ' pol*tica na

obra de a!uiavel justificaria$ para Althusser$ o caráter antifeudal dessa obra" Kma ve, !ue

a!uiavel colocaria a unidade nacional italiana como objetivo a concreti,ar$ as formas

feudais existentes seriam incompat*veis com esse objetivo pol*tico" Neste outro t+pico$

mais uma ve, encontramos uma aproxima)ão entre as análises de Althusser e Gramsci"Observamos$ no entanto$ !ue$ na análise de Althusser$ as condi)-es objetivas para a

constitui)ão da unidade nacional sobredeterminam as condi)-es subjetivas"

b) A unidade profunda: O Príncipe e os Discursos

A exist&ncia de uma unidade profunda entre as obras O Príncipe e os Discursos de

a!uiavel é uma das teses compartilhadas pelas análises de Gramsci e Althusser" #orém a

forma de apreend&%la é distinta nessas análises"

Gramsci sustenta$ nos Cadernos do Cárcere$ !ue essas duas obras de a!uiavel não

 podem ser concebidas de modo separado" @egundo ele$ ainda !ue se possa tratar O Príncipe

como o momento da autoridade ou da for)a e os Discursos como o momento da hegemonia

P Aprofundaremos a discussão a respeito da teoria da conjuntura mais adiante"

P

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ou do consenso$ essa distin)ão não pode ser considerada uma oposi)ão de princ*pio$ mas

uma distin)ão metodol+gica" 2anto num texto como no outro$ os momentos de coer)ão e

consentimento estão presentes$ ou melhor: 35"""6 não há oposi)ão de princ*pio entre

 principado e repDblica$ mas se trata sobretudo da hip+stase dos dois momentos de

autoridade e universalidade4 5GIA@80$ 7999$ p" 776" #ara elucidar essa !uestão$ Gramsci

retoma da obra O Príncipe a metáfora da nature,a dDplice do 8entauro: a !ue se refere '

nature,a 3ferina e humana$ da for)a e do consenso$ da autoridade e da hegemonia$ da

viol&ncia e da civilidade$ do momento individual e do momento universal4 5 Ibidem$ p" 6"

Além da unidade dos momentos de autoridade e de consentimento$ outra tese

defendida por Gramsci é a da exist&ncia de uma unidade das duas obras principais de

a!uiavel" Ou seja$ a exist&ncia de um problema pol*tico comum: a constitui)ão do .stado

nacional italiano como condi)ão imprescind*vel para a supera)ão dos conflitos internos edas amea)as de invasão externa existentes na 0tália" B Assim$ as rela)-es de for)as vigentes

na conjuntura hist+rica precedente ' unifica)ão nacional italiana assumem uma importMncia

vital nas reflex-es de a!uiavel" 0sso leva Gramsci a sustentar a tese de !ue para a solu)ão

dos conflitos existentes numa sociedade cindida como a italiana não se deve considerar 

apenas a articula)ão entre for)a e consenso$ mas também entre os fatores end+genos e

ex+genos$ tendo prima,ia$ nesse caso$ a supera)ão dos problemas internos Q o !ue somente

é poss*vel com a constitui)ão do .stado nacional italiano"

Althusser extrai de Gramsci a tese da indissociabilidade das obras O Príncipe e os

 Discursos, desenvolvendo$ contudo$ idéias e argumentos distintos" #ara Althusser 516$

há duas formas$ articuladas entre si$ de pensar a unidade entre as duas obras: por um lado$

como unidade do objeto de reflexão( por outro lado$ como unidade do problema pol*tico

colocado"

#ara ele$ tanto n<O Príncipe !uanto nos Discursos o objeto de análise é a prática

 pol*tica do pr*ncipe" .ssa considera)ão é particularmente importante$ pois$ segundo esse

autor 516$ fa,%se necessário distinguir o espa)o da teoria pura ou geral do espa)o da

 prática pol*tica" A obra de a!uiavel não se en!uadra$ segundo Althusser$ no

  Eontana 51$ p" 17%176 também salienta a inexist&ncia de uma contradi)ão entre o momento daautoridade e do indiv*duo e o momento do universal e da liberdade nos textos de a!uiavel"B H interessante observar !ue$ segundo =olden e .lden 5799?6$ em análises como as de Eoucault$ a exist&nciadesse problema pol*tico comum nessas duas obras de a!uiavel se!uer é mencionada$ ou ainda$ os  Discursosnem sempre são matéria de reflexão te+rica"

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desenvolvimento do primeiro espa)o$ pois o fil+sofo florentino não desvenda as leis e a

nature,a da pol*tica$ não sistemati,a$ portanto$ uma teoria da pol*tica" @e assim fi,esse$

seria necessário$ ao menos$ !ue a análise de a!uiavel não refletisse sobre o sujeito da

 prática pol*tica" Ou melhor$ conforme Althusser 516$ o espa)o da teoria s+ fa, sentido se

não houver sujeito$ o !ue significa !ue$ nesse espa)o$ a verdade vale para todo sujeito

 poss*vel" #or oposi)ão$ o espa)o da prática s+ tem sentido se houver o sujeito da prática

 pol*tica" >ada a exist&ncia do sujeito da prática pol*tica 5o pr*ncipe6$ o conceito de

conjuntura presente na obra de a!uiavel encontra%se em estado prático"

8omo observa Althusser$ nas duas obras principais de a!uiavel o sujeito da prática

 pol*tica é o mesmo: o pr*ncipe" H$ portanto$ a prática pol*tica do pr*ncipe$ a prática pol*tica

de 3um indiv*duo de exce)ão$ dotado de virtù$ !ue$ partindo do nada ou de alguma coisa$

saberá mobili,ar as for)as ade!uadas para unificar a na)ão italiana sob sua dire)ão45AL2=K@@.I$ 1$ p" P76" O pr*ncipe é a forma da solu)ão de um problema pol*tico

anunciado por a!uiavel: o problema da unidade nacional italiana" Assim$ a oposi)ão

monar!uia%repDblica fre!/entemente utili,ada para ilustrar a oposi)ão entre O Príncipe e os

 Discursos é incongruente com o conteDdo do conjunto dessas obras" Althusser observa !ue

a!uiavel discute o come)o$ a funda)ão de um .stado durável$ a constitui)ão do .stado

nacional italiano$ mas de modo algum preconi,a uma tipologia das formas de governo

5monar!uia ou repDblica6 !ue se aplicasse em todos os tempos hist+ricos" 0sto é$ não

desenvolve 3uma classificaço pr!via dos "overnos$ uma tipologia dos governos$ clássica

desde Arist+teles$ !ue considera as diferentes formas de governo$ sua normalidade$ sua

 patologia4 5AL2=K@@.I$ 1B$ p" 16" a!uiavel coloca um problema pol*tico Q a

unifica)ão da na)ão italiana Q e define uma tática hist+rica$ ou seja$ um instrumento !ue

 possa forjar essa unidade: o .stado nacional" Noutros termos$ o objetivo de a!uiavel$

segundo Althusser$ não é o de elaborar 

a teoria do .stado nacional existente na Eran)a ou na .spanha no tempo em !ue

viveram sob a forma da monar!uia absoluta$ mas de colocar a #uesto política dascondiç$es da fundaço de um %stado nacional num país sem unidade& a Itália'5 Ibidem$ p" 1?6"

#ara negar a suposta oposi)ão entre monar!uia e repDblica na obra de a!uiavel$

Althusser distingue dois momentos decisivos da constitui)ão de um .stado % o !ue lhe

 permite colocar sob a forma te+rica o conceito de conjuntura:

B

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1" O momento do começo absoluto$ !ue pode ser apenas o feito de um Dnico$ de um;indiv*duo so,inho<" as !ue é instável$ pois pode no limite oscilar tanto do lado datirania !uanto do lado de um .stado verdadeiro" 5"""6 7" o segundo momento é o daduraço$ !ue s+ pode ser assegurada por uma dupla opera)ão: a dota)ão de leis e asa*da da solidão$ isto é$ o fim do poder absoluto de um s+ 5AL2=K@@.I$ 1$ p"11%1796"

 Nessa passagem$ é interessante notar a proximidade das reflex-es de Althusser com

as de Rettelheim$ !uando este procura definir a 3estrutura da conjuntura4 e conceber 

diferentes tipos de periodi,a)ão" Sejamos !ual sentido esse autor dá ao termo 3fase4:

#arece justificado reservar o termo ;fase< para designar os dois momentos dodesenvolvimento de uma formaço social $ a saber: 16 o de seu início$ !uer di,er$ afase de transi)ão no sentido estrito$ !ue é também o de uma não correspond&nciaespec*fica entre for)as produtivas e rela)-es de produ)ão 5"""6 . 76 a fase dareproduço ampliada da estrutura de produço$ !ue pode ser o objeto de uma análise

sincrCnica e !ue é caracteri,ada por uma dinMmica pr+pria 51P$ p" 7B6"

8aso aplicássemos essa defini)ão de fase ' obra de a!uiavel$ poder*amos di,er 

!ue se a monar!uia absoluta % e$ portanto$ um poder Dnico$ centrali,ado$ mas não arbitrário

% é o momento absoluto da funda)ão de um .stado$ !ue s+ depende do indiv*duo 5o

 pr*ncipe6$ a repDblica representa o momento da dura)ão$ da consolida)ão do .stado

nacional$ do fim da solidão absoluta do reformador ou do fundador$ da dota)ão de leis"

Assim$ monar!uia e repDblica$ em ve, de regimes opostos$ poderiam ser pensadas como

momentos distintos 5fases6$ articulados entre si e decisivos na constitui)ão e durabilidade

do .stado nacional"

.mbora Althusser desenvolva argumentos favoráveis ' argumenta)ão de Gramsci no

tocante ao significado e ao lugar da pol*tica na vida social$ assim como ratifi!ue a tese da

unidade entre as obras O Príncipe  e os  Discursos$ de a!uiavel Q vislumbrando$ não

obstante$ resultados diferentes %$ não podemos verificar a mesma converg&ncia no !ue se

refere ' caracteri,a)ão !ue ambos fa,em da rela)ão entre teoria da hist+ria e prática

 pol*tica"

Althusser e Gramsci: dois marismos

a) Processo (istrico: teleolo"ia ou contin"*ncia

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8omo já indicamos$ é inade!uado afirmar !ue$ na defini)ão do conceito de processo

hist+rico$ Gramsci e Althusser situem%se no mesmo terreno !ue a!uiavel" #ara este$ a

hist+ria era entendida como movimento c*clico$ variando entre a ordem e a desordem$ ou

melhor$ em termos de tempos de dura)ão das formas de conv*vio entre os homens$ uma ve,

!ue não haveria como transformar o caráter imutável de certos atributos humanos$ tais

como: ingratidão$ simula)ão$ avide, de lucro entre outros"

.m Gramsci$ a idéia de nature,a humana fixa e imutável não tem lugar: 3A recusa

de uma nature,a humana fixa permitia a Gramsci livrar%se de uma concep)ão c*clica do

tempo sem com isso abrir mão da!uela importante sensibilidade hist+rica4 5R0AN8=0$

799$ p" 1776" @e Gramsci rompe com a defini)ão de hist+ria como movimento c*clico$ ao

mesmo tempo$ atribui ao processo hist+rico um sentido teleol+gico$ visto !ue acata a idéia

de !ue o dever%ser encontra%se inscrito no ser" 2rasladando%se essa !uestão para os problemas da forma)ão social italiana analisada por a!uiavel$ entende%se !ue o povo

italiano estivesse subordinado a um destino$ um fim$ !ue$ mais cedo ou mais tarde$ seria

atingido" Ou$ como sinteti,a a f+rmula: ainda !ue a unidade italiana não exista$ ela estaria

em vias de existir"

.ssa visão teleol+gica da hist+ria tem fundamenta)ão$ a nosso ver$ na tese de !ue a

mudan)a hist+rica s+ tem condi)-es de se consumar caso haja previamente uma mudan)a

na economia$ ou seja$ caso as novas for)as produtivas acionem uma nova forma pol*tica"

 Nessa perspectiva$ não é nas lutas de classes !ue devemos procurar a possibilidade de

funda)ão da unidade italiana$ mas nas condi)-es materiais objetivas$ isto é$ no

desenvolvimento das for)as produtivas" 8om isso$ !ueremos di,er !ue predomina$ em

Gramsci$ a tese de !ue o processo hist+rico é determinado pelo desenvolvimento das for)as

 produtivas !ue$ num momento hist+rico particular$ entram em contradi)ão com as rela)-es

de produ)ão 's !uais elas davam suporte" .ssa mudan)a na estrutura econCmica é pré%

condi)ão para a mudan)a na superestrutura$ !ue é concebida$ portanto$ como um

epifenCmeno$ um reflexo da economia"

A despeito de 8outinho 5799$ p" P%6 sustentar !ue a superestrutura$ em

Gramsci$ concebida como reflexo da economia$ não pode ser entendida como epifenCnemo$

mas como 3densidade ontol+gico%social4$ ou ainda$ 3;solide,< da ideologia4$ consideramos

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!ue Gramsci não foge ' interpreta)ão economicista$ visto !ue a superestrutura não deixa de

ser concebida como conse!/&ncia Q em ve, de causa Q da mudan)a hist+rica"

 Não é por acaso !ue$ ao tomar como problema pol*tico a supera)ão do momento

dos interesses particulares e a cria)ão do momento dos interesses universais$ passasse a

ad!uirir grande influ&ncia nas análises de Gramsci do per*odo carcerário o  Prefácio de

+,-.$ escrito por arx" .m especial$ a passagem citada de diversas maneiras ao longo dos

Cadernos:

16A humanidade s+ se coloca sempre tarefas !ue pode resolver( a pr+pria tarefa s+surge !uando as condi)-es materiais de sua resolu)ão já existem ou$ pelo menos$ jáestão em vias de existir( 76 Kma forma)ão social não desaparece antes !ue se tenhamdesenvolvido todas as for)as produtivas !ue ela ainda comporta( e novas e superioresrela)-es de produ)ão não tomam o seu lugar antes !ue as condi)-es materiais deexist&ncia destas novas rela)-es já tenham sido geradas no pr+prio seio da velhasociedade 5GIA@80$ 1$ p" 196"

Ainda !ue de forma indireta$ tal influ&ncia transparece na análise !ue Gramsci fa,

de a!uiavel" .ssa rela)ão pode ser evidenciada !uando Gramsci salienta !ue o fil+sofo

florentino escreveu de acordo com as condi)-es e exig&ncias de sua época$ !ue são

resultados:

16 das lutas internas da repDblica florentina e da estrutura particular do .stado !uenão sabia libertar%se dos res*duos comunal%municipais$ isto é$ de uma forma blo!ueadora de feudalismo( 76 das lutas entre os .stados italianos por um e!uil*briono Mmbito italiano$ !ue era obstaculi,ado pela exist&ncia do #apado e dos outros

res*duos feudais$ municipalistas$ da forma estatal citadina e não territorial( 6 daslutas entre os .stados italianos mais ou menos solidários por um e!uil*brio europeu$ou seja$ das contradi)-es entre as necessidades de um e!uil*brio interno italiano e asexig&ncias dos .stados europeus em luta pela hegemonia" 0nflui em a!uiavel oexemplo da Eran)a e da .spanha$ !ue alcan)aram uma unidade estatal territorial5GIA@80$ 7999$ p" 76"

H certo !ue o economicismo de Gramsci não redu, as rela)-es de produ)ão 's

rela)-es técnicas de produ)ão$ visto !ue ele opera com a tese de !ue toda vida social é

marcada pela pol*tica$ pela rela)ão de for)as pol*ticas" 8ontraditoriamente$ no entanto$ na

  .m arx 51$ p" 76$ esta passagem aparece do seguinte modo: 35"""6 a humanidade s+ levanta os problemas !ue é capa, de resolver e assim$ numa observa)ão atenta$ descobrir%se%á !ue o pr+prio problema s+surgiu !uando as condi)-es materiais para o resolver já existiam ou estavam$ pelo menos$ em vias deaparecer" 5"""6 As rela)-es de produ)ão burguesas são a Dltima forma contradit+ria do processo de produ)ãosocial$ contradit+ria não no sentido de uma contradi)ão individual$ mas de uma contradi)ão !ue nasce dascondi)-es de exist&ncia social dos indiv*duos" No entanto$ as for)as produtivas !ue se desenvolvem no seio dasociedade burguesa$ criam ao mesmo tempo as condi)-es materiais para resolver esta contradi)ão" 8om estaorgani,a)ão social termina$ assim$ a pré%hist+ria das sociedades humanas4"

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análise do processo de transi)ão social$ sustenta a tese do primado do desenvolvimento das

for)as produtivas" >esse modo$ observa%se !ue Gramsci$ partindo da análise do

 pensamento de a!uiavel$ ap+ia%se nessa tese para explicar a transi)ão do feudalismo para

o capitalismo na 0tália$ defendendo !ue a unidade nacional 3em vias de existir4 estava

assegurada por condi)-es materiais objetivas$ restando apenas a sua ade!ua)ão a uma

forma pol*tica Q poder*amos di,er: no in*cio instável 5a monar!uia6 e$ num segundo

momento$ duradoura 5a repDblica6"

Althusser$ nos escritos inéditos$ produ,idos$ ao longo dos anos de 19 e 1B9$

aborda a !uestão do processo hist+rico sob outro prisma" >e acordo com Satter 57996$ na

caracteri,a)ão do processo hist+rico$ Althusser inova em rela)ão ' análise de 8laude Lefort

ao considerar 3a constitui)ão do ;.stado !ue dura< como uma emerg&ncia ;a partir do

nada<4" Ou melhor$ Althusser concebe esse nada como encontro aleat+rio do pol*tico 5virtT6e do social 5fortuna6$ distanciando%se$ assim$ do discurso das leis da hist+ria e da

necessidade hist+rica" .mbora Satter descure da fun)ão ret+rica dos conceitos de nada$

va,io$ presentes nos textos inéditos$19 a nosso ver$ isso não desautori,a o significado das

idéias de conting&ncia e de aleat+rio$ concebidos como possibilidade histórica Q no lugar 

de uma injustificada aus&ncia de determina)-es ou como processo inevitável Q e como

 processo multicausal  Q em ve, de unicausal e de desenvolvimento unidirecional"

.ntendemos$ portanto$ !ue a cr*tica radical ' visão teleol+gica da hist+ria

compreendida como processo inelutável e necessário e o uso do conceito de hist+ria

compreendido como processo contingente são aspectos elementares e fundamentais !ue

 podemos extrair da análise de Althusser" Ademais$ é preciso ressaltar !ue$ apesar de efetuar 

uma autocr*tica ' sua obra Q a !ual teria incorrido supostamente no teoricismo$ !uando das

análises elaboradas em Pour /ar0 e  1ire 1e Capital  %$ Althusser não nega a teoria$ como

sugere Satter 57996$ ou chega a formular nos seus escritos o 3materialismo da

subjetividade4 5N.GI0$ 16$ ao supostamente eliminar a distin)ão entre estrutura

 jur*dico%pol*tica 5o pol*tico6 e prática pol*tica 5a pol*tica6" 8onsideramos essas teses

inade!uadas e infundadas$ uma !ue ve, !ue ignoram o fato de a análise de Althusser ter 

deslocado o seu objeto de reflexão do patamar dos conceitos 3puros4 de modo de produ)ão

geral e particular Q os !uais repercutem na análise da reprodu)ão ampliada bem como na

19 >e acordo com orfino 5799P$ p" 16: 3@e se toma esta fun)ão ret+rica por te+rica corre%se o risco de setransfigurar a teoria do encontro em uma teoria do evento ou da liberdade4"

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análise da transi)ão$ tal como aparecem nas reflex-es de Ralibar %$ ter deslocado sua

reflexão para o n*vel do conceito abstrato%formal de forma)ão social na constru)ão da

teoria marxista da hist+ria" ais precisamente$ afirmamos !ue esse deslocamento não redu,

ao empiricismo a teoria da hist+ria formulada por Althusser$ mas tem o efeito de pCr em

evid&ncia o conceito de lutas de classes"

A análise de Althusser nos escritos inéditos não se redu, ao empiricismo$ pois o

conceito de forma)ão social é compreendido$ de modo mais expl*cito$ a partir de sua dupla

fun)ão te+rica: como conceito abstrato%formal e como conceito concreto%real"11 A maioria

das análises acerca da produ)ão te+rica althusseriana parece descurar da exist&ncia dessa

 primeira fun)ão e relegar o conceito de forma)ão social ao Mmbito das sociedades

concretas" Assim$ se na análise de Althusser sobre a obra de a!uiavel$ ganha centralidade

o conceito de forma)ão social$ os adeptos da interpreta)ão empiricista da unicidadehist+rica poderiam arg/ir !ue a teoria não existe nessa análise$ en!uanto os adeptos da

3produ)ão em geral4 concluiriam !ue Althusser teria se tornado empiricista"

 No nosso entender$ o !ue chama a aten)ão nos textos inéditos é a formula)ão do

conceito abstrato de forma)ão social$ compreendido$ de um modo geral$ como coexist&ncia

complexa de modos de produ)ão$ podendo ser pensado !uer em sua forma estável ou de

duraço$ !uando há a dominMncia de um modo de produ)ão sobre os demais 5coexist&ncia

com dominante6$ !uer em sua  forma transitria ou instável $ !uando nenhum modo de

 produ)ão consegue se erguer ' condi)ão dominante 5coexist&ncia sem dominante6"17  A

 prop+sito$ o conceito de modo de produ)ão apreendido apenas de modo 3puro4 abriria

 brechas para se pensar a transi)ão em termos de desenvolvimento das for)as produtivas" Ao

contrário$ o conceito de modo de produ)ão concebido em estado articulado$ isto é$

concebido a partir do conceito de forma)ão social$ fa, real)ar o papel determinante das

lutas de classes na hist+ria" 2al opera)ão condu, a análise althusseriana a recha)ar a

interpreta)ão teleol+gica da hist+ria$ pois reali,a a cr*tica sistemática ao modelo explicativo

monocausal$ enrai,ado na concep)ão de modo de produ)ão puro( no sistema binário de

classes sociais" Fuando se coloca o conceito de forma)ão social no posto de comando$ toma

11 .mbora não concorde com o emprego da primeira fun)ão te+rica do conceito de forma)ão social$ acimaindicado$ @aes 51B6 salienta !ue a idéia de pensar o conceito de forma)ão social em sua dupla fun)ãote+rica$ já havia sido aludida por Htienne Ralibar em uma das notas de rodapé do texto 3@ur les conceptsfondamentaux du matérialisme histori!ue4"17 Ietiramos de 2urchetto 5799?6 a idéia de forma estável e forma de transi)ão"

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o lugar dominante a explica)ão pluricausal$ enrai,ada na concep)ão de coexist&ncia de

modos de produ)ão$ na coexist&ncia de mais de duas classes sociais"

Ora$ deslocar o objeto de estudo não significa de maneira alguma a nega)ão da

teoria" Assim$ enfati,a%se a dimensão da coexist&ncia de modos de produ)ão" 0sso significa

!ue$ ao colocarmos a formula)ão te+rica do conceito de prática pol*tica % central em

a!uiavel %$ não podemos mais conceb&%la como efeito de um Dnico modo de produ)ão$

mas como efeito da coexist&ncia dos modos de produ)ão com dominante$ caso tomemos

como objeto de reflexão a reprodu)ão ampliada$ e como coexist&ncia sem dominante$ a

transi)ão"

.nfim$ em Gramsci predomina a visão teleol+gica da hist+ria$ uma ve, !ue a

 pr+pria teoria se subsume a sua fun)ão prática de constru)ão do momento ético%pol*tico"

Althusser$ ao contrário$ refuta a visão teleol+gica da hist+ria$ pois ao dar centralidade aoconceito de luta de classes$ considera !ue o processo de transforma)ão social não pode ser 

tomado como final preestabelecido$ mas como produto ou resultado ativo das

circunstMncias em !ue se inscrevem as lutas de classes"

b) Intelectual de seu tempo ou a solido de /a#uiavel 

Outro ponto de desacordo entre as análises de Gramsci e Althusser é o lugar !ue a

obra de a!uiavel ocupa na hist+ria do pensamento pol*tico"

 No in*cio do Caderno 1$ Gramsci chama a aten)ão para o fato de !ue a obra O

 Príncipe é um 3livro vivo4$ podendo ser concebida como a exemplifica)ão hist+rica do

3mito4 soreliano$ isto é$ como expressão da 3ideologia pol*tica !ue se apresenta como uma

cria)ão da fantasia concreta !ue atua sobre um povo disperso e pulveri,ado para despertar e

organi,ar sua vontade coletiva4 5GIA@80$ 7999$ p" 1%16" Ou como Gramsci salienta

em outra passagem:

#ode%se 5"""6 di,er !ue a!uiavel propCs%se educar o povo$ mas não no sentido !uehabitualmente se dá a esta expressão ou$ pelo menos$ lhe deram certas correntesdemocráticas" #ara a!uiavel$ ;educar o povo< pode ter significado apenas torná%loconvencido e consciente de !ue pode existir uma Dnica pol*tica$ a realista$ paraalcan)ar o fim desejado e !ue$ portanto$ é preciso cerrar fileiras e obedecer exatamente '!uele pr*ncipe !ue emprega tais métodos para alcan)ar o fim$ por!ue s+!uem almeja o fim$ almeja os meios ade!uados para alcan)á%lo" .m tal sentido$ a posi)ão de a!uiavel deve ser aproximada da!uela dos te+ricos e dos pol*ticos da

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 Nessa passagem$ Gramsci evidencia o caráter e a fun)ão cosmopolita dos escritos de

a!uiavel" 2al !uestão é retomada com todo vigor em outra passagem$ !uando Gramsci

trata especificamente da fun)ão cosmopolita dos intelectuais italianos:

Os intelectuais italianos eram funcionalmente uma concentra)ão cultural

cosmopolita$ eles acolhiam e elaboravam teoricamente os reflexos da maisconsistente e aut+ctone vida do mundo não italiano" S&%se essa fun)ão também ema!uiavel$ embora a!uiavel tente dirigi%la para fins nacionais 5sem &xito e semcontinuadores em nDmero apreciável6: com efeito$ o #r*ncipe é uma elabora)ão doseventos espanh+is$ franceses$ ingleses no empenho pela unifica)ão nacional$unifica)ão !ue na 0tália$ não tem for)as suficientes e nem interessa muito5GIA@80$ 1$ p" 7%96"

Ou ainda: a!uiavel 3é o te+rico do !ue ocorre fora da 0tália$ não de eventos italianos4

5 Idem$ 7997$ p" 76"

 Nessas notas$ Gramsci caracteri,a a!uiavel como um intelectual com fun)ãocosmopolita" Nesse sentido$ a obra de a!uiavel pode ser concebida como a expressão do

modo de pensar espec*fico dos intelectuais da época em !ue viveu$ os !uais estavam

atentos aos eventos extra%italianos" Ainda !ue se considere sua obra como de ruptura$ foi o

fato de seu fa,er intelectual estar ligado$ como o de outros tantos intelectuais italianos$ aos

acontecimentos extra%italianos !ue lhe permitiu colocar o problema pol*tico concreto da

unifica)ão nacional italiana"

Ietomando as formula)-es do pr+prio Gramsci$ aplicar*amos a!ui a idéia do

3otimismo da vontade4 e do 3pessimismo da intelig&ncia4" Assim$ poder*amos di,er !ue a

defesa !ue a!uiavel fa, da unifica)ão nacional da 0tália é resultado de um certo

3otimismo da vontade4$ já !ue a situa)ão concreta italiana !ue ele mesmo descreve s+ pode

ser pensada nos termos de um 3pessimismo da intelig&ncia4" #ortanto$ para analisar a obra

de a!uiavel$ Gramsci não toma como refer&ncia apenas a ruptura desse autor com a

tradi)ão dos tratados sistemáticos da Antiguidade$ mas leva em considera)ão o !uadro da

intelectualidade italiana no per*odo vivido por a!uiavel"

@eguindo a análise de Gramsci$ afirmar*amos !ue a!uiavel colocou como tarefa a

ser resolvida a funda)ão do .stado nacional italiano$ pois tomou como refer&ncia os

exemplos da Eran)a e da .spanha" >essa maneira$ a!uiavel não pode ser entendido como

um visionário$ formulando idéias inteiramente novas$ sem par na hist+ria da humanidade"

Ao contrário$ a!uiavel era um homem de seu tempo$ !ue$ ao se colocar na posi)ão de

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intelectual com fun)ão cosmopolita$ !ue pensa os problemas extra%italianos$ propunha%se

resolver as !uest-es de ordem interna$ mesmo !ue para isso tivesse !ue reali,ar seu intento

sob a forma de um manifesto pol*tico$ ou melhor$ anunciar os modos de superar os

obstáculos !ue se impunham ' situa)ão pol*tica italiana de seu tempo" @endo assim$ embora

as condi)-es materiais de resolu)ão do problema da unidade nacional na 0tália ainda não

existissem$ já estavam em vias de existir" H poss*vel concluir$ então$ !ue$ para Gramsci$

a!uiavel militava em prol de um problema !ue a humanidade Q italiana Q 

necessariamente  resolveria" =á$ portanto$ em Gramsci$ a afirma)ão de uma visão

teleol+gica do processo hist+rico !ue se resume na identifica)ão de um trajeto a ser seguido

 pela sociedade italiana em dire)ão a um fim$ tradu,indo%se$ na problemática de a!uiavel$

como a constitui)ão da unidade italiana$ e$ na análise de Gramsci$ como a constru)ão do

momento ético%pol*tico"Fuando procura situar a obra de a!uiavel diante dos autores e tradi)-es filos+ficas

!ue trataram da !uestão da pol*tica$ Althusser considera%a imersa na solidão" as o !ue

significa essa solidãoV .la expressa o caráter de 3come)o de algo sem precedente4 da obra

de a!uiavel" A f+rmula !ue consagra esse come)o está apresentada de modo vis*vel em

seus escritos$ !uando ele afirma !ue é mais justo ir ' verdade efetiva da coisa !ue ' sua

imagina)ão" @egundo Althusser$ o discurso de a!uiavel pode ser considerado um come)o

sem precedente ou mesmo uma ruptura$ pois ele condena

não apenas os discursos edificantes$ religiosos e morais ou estéticos dos =umanistasde sé!uito$ e mesmo os =umanistas radicais$ não apenas os serm-es revolucionáriosde um @avonarola$ mas também toda a tradi)ão da ideologia cristã$ e todas as teorias pol*ticas da Antiguidade 51$ p" 6

a!uiavel não pode ser classificado$ de acordo com Althusser$ como pertencente ' tradi)ão

do direito natural$ visto !ue sua obra não trata de um .stado já formado$ mas de uma tarefa

a ser cumprida: a unidade da na)ão italiana" Nesse sentido$ ao buscar o conhecimento da

 prática pol*tica$ a!uiavel tra,%nos uma contribui)ão inovadora para o estudo da pol*tica$não podendo ser igualada ' tradi)ão te+rica anterior aos seus escritos Q a !ual tratava das

leis de governo( uma tradi)ão morali,ante$ religiosa e idealista do pensamento pol*tico %$

nem ' tradi)ão te+rica posterior aos seus escritos Q a !ual iria tratar dos problemas de

direito de um .stado nacional já constitu*do$ ou melhor$ a tradi)ão da nova filosofia do

direito natural" 8omo Althusser destaca:

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a!uiavel fala da monar!uia absoluta existente na Eran)a e na .spanha$ mas comoexemplo e argumento para tratar de um ob2eto completamente diferente( para tratar da constitui)ão de um .stado nacional na 0tália: ele fala de um acontecimento a sereali3ar  51B$ p" 16"

#elo fato de não poder situar a obra de a!uiavel numa tradi)ão te+rica ou mesmoclassificá%la$ Althusser sustenta a idéia de !ue a!uiavel encontra%se na solidão:

3a!uiavel está so,inho por!ue  ficou isolado$ ficou isolado por!ue$ se se discutiu

ininterruptamente seu pensamento$ no se refletiu sobre o mesmo4 5 Idem$ p" 1B6" Ou seja$

a obra de a!uiavel não teria sido assimilada$ no sentido forte do termo" Assim$ se

Gramsci integra o pensamento de a!uiavel ' perspectiva do 3historicismo absoluto4 % o

!ue o leva a conceber o fil+sofo florentino como um 3intelectual de seu tempo4 e a operar 

com a problemática do otimismo da vontade e do pessimismo da intelig&ncia %$ na análise

de Althusser$ não há espa)o para tal perspectiva" >ito de outra maneira$ a excepcionalidade

da obra de a!uiavel não se encontra em seu v*nculo com a filosofia da época em !ue

viveu$ ou ainda$ em sua atividade pol*tica como fil+sofo !ue lida com os problemas extra%

italianos$ mas situa%se no seu pr+prio conteDdo de uma obra !ue está imersa na solidão$ '

medida !ue rompe com a tradi)ão filos+fica pretérita e não encontra par na filosofia !ue a

sucede"

c) A van"uarda revolucionária ou o movimento de massas

 

As rela)-es entre partido ou dire)ão$ de um lado$ e base ou massas$ de outro$ são

outros aspectos abordados pelas análises de Gramsci e Althusser ' lu, do pensamento de

a!uiavel" A!ui$ uma ve, mais$ observam%se elementos de ruptura entre as duas

abordagens"

>e acordo com Gramsci$ o pr*ncipe ideali,ado por a!uiavel 5o condottiero ideal6

não existe na realidade hist+rica$ sendo apenas invocado nos Dltimos cap*tulos da obra nafigura de 8ésar R+rgia 5o condottiero 3realmente existente46" 0sso significa !ue$ a despeito

de a!uiavel ter$ ao longo de toda a sua obra$ descrito o pr*ncipe com certo distanciamento

cient*fico$ no final ele 3se fe, povo4" #ara Gramsci$ portanto$ a co%exist&ncia do

condottiero ideal  e de um condottiero real $ na obra O Príncipe$ revela muito menos uma

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contradi)ão interna do texto de a!uiavel !ue uma preocupa)ão deste com o 3dever ser4$

da* advindo o estilo de manifesto ut+pico dessa obra"

 Na condi)ão de 3homem de partido4$ de 3paix-es poderosas4$ a!uiavel deseja

criar novas rela)-es de for)a" Nesse sentido$ Gramsci chama a aten)ão para o fato de !ue

essa !uestão do 3dever ser4 não pode ser tratada como simples problema moral:

trata%se de ver se o ;dever ser< é um ato arbitrário ou necessário$ é vontade concretaou veleidade$ desejo$ miragem" O pol*tico em ato é um criador$ um suscitador$ masnão cria a partir do nada nem se move na va,ia agita)ão de seus desejos e sonhos"2oma como base a realidade efetiva: mas o !ue é esta realidade efetivaV @erá algoestático e im+vel$ ou$ ao contrário$ uma rela)ão de for)as em cont*nuo movimento emudan)a de e!uil*brioV Aplicar a vontade ' cria)ão de um novo e!uil*brio das for)asrealmente existentes e atuantes$ baseando%se na!uela determinada for)a !ue seconsidera progressista$ fortalecendo%a para fa,&%la triunfar$ significa continuar movendo%se no terreno da realidade efetiva$ mas para dominá%la e superá%la 5oucontribuir para isso6" #ortanto$ o 3dever ser4 é algo concreto$ ou melhor$ somente ele

é interpreta)ão realista e historicista da realidade$ somente ele é hist+ria em ato efilosofia em ato$ somente ele é pol*tica 5GIA@80$ 7999$ p" ?6"

Assim$ não se pode atribuir ao 3dever ser4 de a!uiavel o mesmo sentido revolucionário

empregado por arx n<O  /anifesto Comunista$ visto !ue 3a!uiavel jamais di, !ue pensa

em$ ou prop-e%se ele mesmo$ mudar a realidade$ mas visa apenas concretamente a mostrar 

como deveriam operar as for)as hist+ricas para se tornarem eficientes4 5 Idem$ p" P6" Ainda

!ue pese a f+rmula revolucionária da unidade da na)ão italiana$ de acordo com Gramsci$

a!uiavel a compreende de maneira ut+pica$ uma ve, !ue a situa)ão concreta italiana nãoreunia as condi)-es materiais para a constitui)ão do .stado nacional$ ou seja$ a tarefa

 pol*tica defendida por a!uiavel é inexe!/*vel por não estar vinculada 's condi)-es

materiais realmente existentes na 0tália de seu tempo$ !uando o desenvolvimento das for)as

 produtivas não havia se tornado ainda um obstáculo 's rela)-es sociais de produ)ão

existentes"

#ara Gramsci$ o caráter ut+pico do texto revela%se !uando a!uiavel 3se fa, povo4$

ou seja$ !uando delega a um indiv*duo desconhecido % o #r*ncipe$ portador de

caracter*sticas excepcionais % a posi)ão de sujeito revolucionário" No entanto$ é necessário

observar !ue a refer&ncia d<O Príncipe é de extrema importMncia para a elabora)ão do

conceito de moderno #r*ncipe$ de partido revolucionário$ para a realidade efetiva da 0tália

dos anos de 19" H o sujeito revolucionário !ue fornecerá condi)-es para a cria)ão em ato

do momento ético%pol*tico e da sociedade regulada" 2rata%se de uma importante reflexão

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sobre a rela)ão entre partido revolucionário e massas populares" 0sso leva Gramsci ' cr*tica

da tradi)ão elitista do pensamento pol*tico italiano % avessa ' participa)ão pol*tica das

massas %$ ' cr*tica da oposi)ão entre teoria e prática pol*tica e ' defesa de um partido !ue

consiga se fa,er povo: o moderno pr*ncipe"

A tese de Gramsci de !ue O Príncipe é um 3manifesto ut+pico revolucionário4 é

retomada por Althusser 51$ p" P6$ !ue entende !ue essa obra tem a propriedade de ser 

3um chamado passional ' solu)ão pol*tica !ue anuncia4 % passional no sentido de !uerer 

con!uistar adeptos ' causa da unifica)ão da na)ão italiana"

.n!uanto$ segundo Althusser 516$ a ret+rica ade!uada a ganhar adeptos para sua

causa é o primeiro sentido em !ue os escritos de a!uiavel podem ser considerados um

manifesto$ o deslocamento da ideologia do lugar da prática pol*tica é o segundo sentido" No

Mmbito da ideologia$ a!uiavel não deveria escrever seu texto do ponto de vista da!uele!ue deve revolucionar a conjuntura hist+rica: o #r*ncipe 5sujeito da prática pol*tica6$ mas do

 ponto de vista do povo"

#artindo dessa observa)ão$ Althusser procura tra)ar o elemento !ue diferencia o

 /anifesto Comunista$ escrito por arx$ do 3manifesto ut+pico revolucionário4$ escrito por 

a!uiavel" >e acordo com ele$ o /anifesto Comunista coloca%se$ na ideologia$ sob o ponto

de vista do proletariado$ e é o mesmo proletariado e as demais classes exploradas !ue

devem se organi,ar no partido do proletariado$ ou seja$ é o pr+prio proletariado !ue deve

ser o sujeito da prática pol*tica" =á$ portanto$ a!ui uma coer&ncia entre o ponto de vista de

classe definido no texto e o sujeito da prática pol*tica$ ou ainda$ nessa rela)ão$ o aspecto ou

efeito de alusão da ideologia não abre espa)o para o seu contrário: o aspecto ou efeito

ilus+rio" 8om os escritos de a!uiavel ocorre bastante diferente$ uma ve, !ue há um

deslocamento entre o lugar ocupado pelo texto e o lugar do sujeito da prática pol*tica"

8omo Althusser 51$ p" 76 observa:

a!uiavel se coloca certamente do ponto de vista do povo$ mas esse #r*ncipe$ ao

!ual é atribu*da a missão de unificar a na)ão italiana$ se ele deve se tornar um Príncipe popular $ ele não é$ de fato$ povo" >o mesmo modo$ o povo não é chamado ase tornar #r*ncipe" =á então uma dualidade irredut*vel entre o lu"ar  do ponto de vista pol*tico e o lu"ar  da for)a e da prática pol*tica$ entre o ;sujeito< do ponto de vista pol*tico$ o povo$ e o ;sujeito< da prática pol*tica$ o #r*ncipe"

.ssa dualidade existente entre o lugar do ponto de vista pol*tico e o lugar da for)a

ou prática pol*tica aparece mais explicitamente nos escritos em !ue Althusser 51B( 16

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trata da !uestão do partido revolucionário$ ou ainda$ !uando ele trata da rela)ão da

0nternacional 8omunista e da organi,a)ão dos partidos comunistas em rela)ão ao

movimento de massas e ' pr+pria base partidária"

>e acordo com Althusser 516$ o processo de 3mundiali,a)ão4 e o 3imbricamento

dos monop+lios4$ em curso no Dltimo !uartel do século WW$ teriam criado obstáculos ao

modelo de organi,a)ão partidária$ controlado por um centro mundial de decisão e de

dire)ão$ tal como fora a 000 0nternacional 8omunista e sua rela)ão com os partidos

comunistas nacionais" 0sso se justifica$ pois$ em sua análise$ esse centro mundial de decisão

e de dire)ão teria contribu*do$ durante o século WW$ para a divisão das lutas das massas

 populares$ como parecem ilustrar os conflitos entre a KI@@ e a 0ugoslávia de 2ito$ entre a

KI@@ e a 8hina de ao$ e a ocupa)ão do 8amboja pelas tropas nacionalistas do Sietnã

5 Ibidem6" 0sso o levou a criticar a idéia de moderno pr*ncipe$ presente em Gramsci$ !uedaria suporte ' organi,a)ão desse centro mundial" Ao refutar a tese do centralismo

internacional dos partidos comunistas$ parece%nos !ue Althusser não reconhece as

dificuldades objetivas impostas pela conjuntura te+rica e pol*tica das tr&s primeiras décadas

do século WW$ ou melhor$ fa,er a cr*tica radical desse modelo de organi,a)ão não estava ao

alcance da pr+pria prática dos movimentos de massa desse per*odo % o !ue parece justificar 

a aus&ncia de problemati,a)ão dessa !uestão nos textos de Gramsci" Não !ueremos$ com

isso$ legitimar acriticamente !ual!uer posi)ão$ considerando apenas os resultados e

descartando as pr+prias iniciativas das massas populares" .sse tipo de argumento

contribuiria para dissociar de modo radical e absoluto as iniciativas 5o aspecto subjetivo6

dos resultados 5o aspecto objetivo6" A conse!/&ncia disso seria colocar a ra,ão no lugar do

movimento de massas( a teoria acima da prática pol*tica$ ao contrário$ do !ue supunha o

 pr+prio Althusser"

 No !ue se refere ' organi,a)ão interna dos partidos comunistas$ assim como

Gramsci$ Althusser 51B6 v& com preocupa)ão a rela)ão entre dire)ão e base$ mas aponta

 para novos problemas$ uma ve, !ue entende !ue os partidos comunistas$ em especial o

#artido 8omunista Eranc&s 5#8E6$ estariam diante de sérias dificuldades de superar um

 problema estrutural existente em sua organi,a)ão interna: trata%se do !ue o autor chama de

reprodu)ão do modo de funcionamento burgu&s da pol*tica" >ito de outra maneira: a

estrutura e o funcionamento hierár!uico do partido passou a reprodu,ir o aparato de .stado

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 parlamentar burgu&s$ bem como seu aparato militar" No primeiro caso$ a vontade pol*tica da

 base do partido transforma%se em poder de dire)ão( no segundo caso$ desenvolve%se uma

3compartimenta)ão vertical4 do partido$ através da hierar!ui,a)ão ascendente !ue existe

entre a célula e a se)ão partidárias$ ou ainda$ entre a célula e a federa)ão$ ou no limite$ o

comit& central"

#odemos depreender do !ue foi dito !ue a cr*tica ' estrutura e ao modo de

funcionamento da pol*tica burguesa é algo !ue se revela com maior contund&ncia na análise

de Althusser" .m Gramsci$ mais do !ue a cr*tica ' pol*tica burguesa$ é central a idéia de

interpela)ão dos sujeitos como modo de solucionar o problema da cisão !ue poderia ocorrer 

entre partido ou dire)ão$ de um lado$ e base ou massas populares$ de outro"

!eoria da hist"ria e #olítica

.m linhas gerais$ é poss*vel identificar tanto ra,-es explicativas !ue unem as duas

análises da obra de a!uiavel 5primeiro sentido da assimila)ão6$ !uanto !ue as distinguem

5segundo sentido da assimila)ão6" Fuanto ' converg&ncia$ notamos !ue Gramsci e

Althusser não definem teoria da hist+ria e pol*tica como dois objetos$ radical ou

absolutamente$ distintos" O !ue significa !ue a distin)ão entre esses termos é concebida de

maneira relativa" A justificativa para isso se encontra na problemática geral da !ual partem$

isto é$ ambas análises t&m como preocupa)ão central o processo hist+rico$ não

empreendendo$ como se poderia supor$ uma interpreta)ão humanista$ o homem$ a nature,a

humana$ a ess&ncia genérica do ser"

Observamos$ no entanto$ !ue mesmo sendo concordes !uanto ao caráter relativo da

distin)ão entre teoria da hist+ria e pol*tica$ as análises de Gramsci e de Althusser chegam a

resultados distintos" #arece%nos poss*vel afirmar !ue$ em Gramsci$ essa distin)ão possui um

 sentido sub2etivo 5o !ue não significa arbitrário6$ en!uanto em Althusser possui um sentido

ob2etivo 5o !ue não é sinCnimo de teoria 3pura46" .ntendemos$ assim$ !ue$ em Gramsci$ a

distin)ão entre teoria da hist+ria e pol*tica encontra%se em estado prático$ ou melhor$ não é

elaborada teoricamente$ uma ve, !ue está subordinada ' proposta de a)ão prática de

constru)ão do momento ético%pol*tico"1?  Xá o trabalho de elabora)ão te+rica desses dois

1?  Nos Cadernos do Cárcere$ !uando Gramsci refere%se ' hist+ria ético%pol*tica tal !ual a existente nasociedade burguesa$ observamos !ue$ na maioria das ve,es$ fa, uso do recurso de aspas para justamente

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conceitos é reali,ado por Althusser$ isto é$ a prática cient*fica desse autor toma as reflex-es

de Gramsci como instrumento te+rico !ue 3opera4 ou 3trabalha4 sobre a obra de

a!uiavel" >estacamos$ enfim$ !ue a elabora)ão de uma teoria da hist+ria na análise de

Althusser prescinde da aus&ncia de sujeito % o !ue é sinteti,ado na expressão 3processo sem

sujeito4" 0sso não significa !ue a prática pol*tica seja despojada de importMncia$ mas !ue os

 problemas a serem enfrentados pela prática te+rica e pela prática pol*tica são distintos"

Fuanto ao primeiro caso$ para o marxismo$ tem%se o objetivo de criticar e transformar as

ideologias existentes" Fuanto ' prática pol*tica$ tem%se objetivo diferente: o de destruir o

.stado e$ portanto$ o aparelho reprodutor da coesão social" .m nenhum dos dois casos$ as

 práticas restringem%se a desconstruir a ideologia e a pol*tica dominantes$ podendo assumir a

fun)ão de reprodutoras da ideologia e da pol*tica dominantes e tornarem%se$ assim$ teoria a

servi)o do capital e pol*tica a servi)o do .stado burgu&s"

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7

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