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ROTEIRO DE APLICAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO
DO MASP, MÉTODO DE ANÁLISE E SOLUÇÃO
DE PROBLEMAS EM UMA INDÚSTRIA
MÉDICO-HOSPITALAR
Francisco Andrea Simoes Braga (UNIARA)
Esse trabalho tem como objetivo, demonstrar o relato de uma experiência
empresarial de implementação da metodologia MASP (Método para Análise
e Resolução de Problemas) dentro de uma organização de médio porte.
Analisar problemas de forma estruturada é uma excelente prática para
soluciona-los e assim evitar a sua reincidência e a metodologia aplicada é de
certa forma simples de ser entendida e aplicada, independente do porte da
organização. Para que o objetivo proposto fosse atingido, realizou-se uma
revisão bibliográfica sobre os temas de interesse, seguida de um estudo de
caso em uma empresa que atua no fornecimento e fabricação de
equipamentos médico-hospitalares localizada no interior do estado de São
Paulo. Como principais resultados, observou-se que a metodologia permitiu
solucionar um problema apresentado e foi capaz de estimular o seu uso para
a resolução de problemas em todos os níveis da organização.
Palavras-chave: MASP; PDCA; Resolução de Problemas.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
Diariamente as organizações se deparam com uma infinidade de problemas: estruturados, não
estruturados, conhecidos, desconhecidos, dentre outros. Muitas dessas organizações não
dispõem – por uma grande variedade de causas e motivos – de uma metodologia estruturada
para analisar a causa raiz desses problemas e soluciona-lo de fato. O que acontece na maioria
das vezes é o que popularmente conhecemos como “apagar incêndio”, isso é, resolvendo-se
um problema, porém nem sempre agindo na sua causa raiz.
De acordo com Rooney e Hopen (2004), a utilização de uma metodologia estruturada para
solução de um problema difere de outros métodos devido a primeira ser capaz de identificar a
causa raiz do problema. Caso isso não ocorra, o problema regressará.
Diante deste contexto, o objetivo deste trabalho é apresentar o relato de uma experiência
empresarial de implantação de uma metodologia de análise e solução de problemas,
demonstrando os ganhos com essa aplicação e consequentemente resolvendo um grande
problema apresentado por diversas organizações.
A fim de atingir o objetivo proposto, realizou-se uma revisão bibliográfica sobre os temas de
interesse e um estudo de caso em uma empresa industrial localizada no interior do estado de
São Paulo.
2. Referencial teórico
2.1. Método de análise e solução de problemas - MASP
Quando se fala em desvio das condições normais de operação, Campos (1994) descreve que
qualquer desvio detectado é encarado como uma anomalia e exige uma ação corretiva.
Anomalia é definida por Campos (1994) como: “Todo acontecimento diferente do usual. Pode
ser um defeito em um produto, um ruído estranho em uma máquina, uma reclamação de um
cliente, um erro em um relatório, etc.”. Podemos dizer então que anomalia é qualquer
acontecimento não previsto e esperado.
A Metodologia de Análise e Solução de Problemas visa tratar problemas que não são tão
estruturados como a determinação de uma produção ótima para balancear a linha de
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produtiva, mas que representam a grande maioria dos problemas de uma empresa. Como por
exemplo, a falha na fabricação de um produto ou ocorrência de entregas feitas em endereços
errados (TOLEDO, 2010).
Segundo Kume (1993), problema é o resultado indesejável de um trabalho ou processo. Já
Glasser (1990) define problema como sendo as necessidades do cliente não atendidas, já que o
resultado de um processo (produto ou serviço) é realizado para atender necessidades do
mesmo.
Um problema nem sempre é uma coisa ruim ao processo, pois um resultado indesejado pode
ser positivo caso seja encarado como uma melhoria (GLASSER, 1990).
Glasser (1990) descreve os problemas em dois tipos:
a) Anomalias, isso é, “pequenos problemas” que muitas vezes passam despercebidos, são
normalmente conhecidos por falhas;
b) Crônicos, aqueles problemas que não são encarados como tal pela organização, pois
fazem parte da culta da mesma. Como fazem parte do cotidiano da organização, são
encarados como problemas normais.
Conforme Santos et al. (2010) a metodologia MASP é uma ferramenta completa para
resolução de problemas, pois utiliza o PDCA como complemento de sua aplicação. A
metodologia permite que a organização mantenha-se focada na busca da melhoria contínua,
pois mantém o foco na padronização e na busca pelas reais causas dos problemas até que os
mesmos sejam solucionados.
Zschornack et al. (2010) defende que várias ferramentas são capazes de diagnosticar,
classificar, analisar e resolver uma série de problemas que interferem na qualidade de um
processo e que uma dessas ferramentas é o MASP Método de Análise e Solução de
Problemas. Segundo o autor, o MASP reúne várias ferramentas para a priorização e solução
de problemas. É um método simples que possibilita solucionar os problemas encontrados de
forma ordenada e coesa, por meio da análise, resolução das causas e elaboração de planos de
ação para eliminação delas.
O autor Wysocki (2010) descreve que o MASP é um método gerencial empregado tanto na
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manutenção como na melhoria dos padrões. O método constitui-se em uma parte essencial
para o controle da qualidade e deve ser conhecido por todos os colaboradores da organização.
O MASP se sobressai como uma das metodologias mais utilizadas para solucionar os
problemas (PENTEADO et al, 2007).
O MASP proporciona duas grandes vantagens: permite a solução dos problemas de maneira
científica e efetiva e possibilita que cada pessoa da organização se capacite para resolver os
problemas específicos de sua responsabilidade (WYSOCKI, 2010).
Segundo Santos (2004), o método de análise e solução de problemas valer-se do ciclo PDCA
e das ferramentas da qualidade para realizar a identificação, análise e a solução de possíveis
problemas.
A metodologia MASP é estruturada em oito etapas, conforme descreve Marshall Junior et al
(2008) e Campos (2004):
1. Identificação do problema (definição clara do problema e sua importância);
2. Observação (investigação das características dos problemas);
3. Análise (descoberta das causas fundamentais);
4. Plano de ação (planejar a ação de bloqueio das causas do problema);
5. Ação (executar o plano de ação para bloquear as causas dos problemas);
6. Verificação (verificar se o bloqueio foi efetivo);
7. Padronização (prevenir contra o reaparecimento do problema);
8. Conclusão: rever todo o processo e planejar ações futuras.
Essas oito etapas são divididas em atividades, caracterizando assim a aplicação do MASP.
Essas atividades são descritas por Campos (2004) e Kume (1993) da seguinte forma:
Etapa 1 - Identificação do Problema:
A primeira e uma das mais importantes etapas do método, pois se o problema for identificado
de forma clara e acertada, facilita o desenvolvimento do restante do trabalho. Identificar o
problema tem como finalidades principais: escolher um tema entre vários possíveis a fim de
concentrar o empenho para se obter o melhor resultado possível; utilizar critérios a fim de que
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o problema a ser resolvido mereça a atenção da aplicação do método.
Atividades:
Identificação dos problemas mais comuns;
Escolha do problema;
Levantamento do histórico do problema;
Evidência das perdas existentes e ganhos possíveis;
Formar a equipe e definir responsabilidades;
Definir o problema e a meta.
Etapa 2 - Observação
A observação consiste em investigar e apurar como os problemas ocorrem e quais as suas
características sobre vários pontos de vista. Nessa etapa, a coleta de informações é de suma
importância para auxiliar no processo de análise (etapa 3). Comparação dessa etapa com uma
investigação criminal faz Kume (1993), ao dizer que os detetives vão ao local do crime a fim
de cuidadosamente procurar evidências do autor do crime, assim como os membros que
utilizam o método MASP que devem ir ao local de trabalho a fim de buscar a solução do
problema.
Etapa 3 - Análise
Considerada a mais importante etapa do método MASP, a análise visa determinar as
principais causas do problema. Por isso, a identificação das causas do problema deve ser
realizada de maneira científica, isso é, utilizando ferramentas da qualidade (HOSOTANI,
1992), dados, fatos e informações que permitam prover ao processo, uma atitude prática.
Atividades:
Levantamento das variáveis que influenciam no problema;
Escolha das causas mais prováveis (hipóteses);
Coleta de dados nos processos;
Análise das causas mais prováveis; confirmação das hipóteses;
Teste de consistência da causa fundamental;
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Foi descoberta a causa fundamental?
Etapa 4 - Plano de Ação
Após analisar as causas fundamentais do problema, ações devem ser tomadas a fim de
elimina-las. Hosotani (1992) descreve que nessa etapa é necessário definir estratégias para
eliminar as causas fundamentais e então adotar essas estratégias, isso é aplica-las. Várias
ações podem ser encontradas para solucionar o problema devendo assim prioriza-las.
Atividades:
Elaboração da estratégia de ação;
Elaboração do plano de ação;
Negociação do plano de ação.
Etapa 5 - Ação
Essa etapa consiste na aplicação das ações definidas na etapa anterior, isso é no plano de ação.
Inicia-se com a divulgação das ações a serem realizadas as pessoas envolvidas e em seguida
na realização do plano findando com o acompanhamento a fim de verificar se a execução das
ações foi feita conforme planejado.
Atividades:
Divulgação e alinhamento;
Execução das ações;
Acompanhamento das ações.
Etapa 6 - Verificação
Tomadas as ações definidas na etapa anterior, é necessário verificar se elas surtiram o efeito
desejado, isso é, se as expectativas foram atendidas, pois segundo Hosotani (1992), ao
solucionar problemas, o individuo tem um aumento da autoestima e tem crescimento pessoal.
Essa verificação deve quando possível, ser medida em termos numéricos e lançando mão de
ferramentas da qualidade.
Nos casos em que a verificação da ação tomada considerar que a mesma não cumpriu seu
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papel, isso é, não foi eficaz, é necessário voltar a etapa 2 (observação) e analisar o motivo.
Atividades:
Comparação dos resultados com a meta estabelecida;
Identificação dos efeitos secundários;
A ação foi efetiva?
Etapa 7 - Padronização
Verificada a efetividade da ação tomada, faz necessário padronizar e difundi-la a fim de ser
incorporada a cultura organizacional e a forma de trabalho. Conforme Kume (1993),
padronizar a ação tem como objetivo evitar que o problema retorne ocasionando a sua
reincidência. Essa padronização não deve ser realizada apenas nos documentos, mas sim deve
ser incorporada ao dia-a-dia das atividades e cultura da organização, o que se consegue por
meio de instrução e treinamentos.
Atividades:
Elaboração ou alteração de documentos;
Treinamento;
Registro e comunicação;
Acompanhamento dos resultados do padrão.
Etapa 8 – Conclusão
A ultima etapa da metodologia, porém não menos importante, visa avaliar todas as etapas
anteriores realizadas a fim de obter conhecimento e aprendizado como forma de lições
aprendidas e com elas aplicar de melhor forma a metodologia em trabalhos futuros
(PARKER, 1995).
Atividades:
Identificação dos problemas remanescentes;
Planejamento das ações a fim de evitar a reincidência;
Balanço do aprendizado.
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De forma sintetizada, podemos assim apresentar as etapas do MASP divididas no ciclo
PDCA:
Tabela 01 – Etapas do
MASP
Fo
nte: Adaptado de FALCONI (1994)
2.2. Ciclo PDCA
Conforme Slack (2011), o ciclo PDCA, também conhecido como roda de Deming, é uma
sequencia de atividades que são percorridas de maneira circular a fim de melhorar as
atividades. Ainda seguindo Werkema (2006), o ciclo PDCA é um método gerencial de tomada
de decisões para garantir o alcance das metas necessárias à sobrevivência de uma
organização.
Os autores Slack (2011) e Werkema (2006) descrevem que o ciclo PDCA percorre os
seguintes estágios ou etapas:
P (planejar): estabelecer metas e estabelecer o método para alcançar essas metas
propostas. Nessa fase é importante coletar e analisar dados de modo a facilitar a
elaboração do plano de ação;
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D (fazer): executar as tarefas como foram planejadas e colher dados que serão
utilizados na próxima etapa. São essenciais a educação e o treinamento no trabalho
nessa fase. Pequenos ciclos PDCA podem ser utilizados para resolver possíveis
problemas de implementação de ações;
C (checar): a partir dos dados coletados na execução, deve-se comparar o resultado
alcançado com a meta planejada;
A (agir): caso a mudança tenha sido bem sucedida, a mudança é padronizada. Caso
contrário, as lições aprendidas na tentativa são formalizadas antes que o ciclo comece
novamente.
A figura 01 mostra os estágios do ciclo PDCA:
Figura 01 – Estágio do ciclo PDCA
Fonte: elaborada pelo autor
O ciclo PDCA deve ser iniciado novamente e isso é o ponto mais importante, pois somente
fazendo o ciclo se tornar uma filosofia na empresa é possível melhorar continuamente,
conforme discorre Slack (2011).
3. Método de pesquisa
Em vista dos procedimentos metodológicos utilizados nesse trabalho, podemos classifica-lo
como um estudo de caso. Yin (2001, p.32) define estudo de caso como sendo “uma
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investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da
vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão
claramente definidos” e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas.
O objeto de pesquisa foi a aplicação da metodologia MASP para solucionar problemas. A
escolha da metodologia se deu em virtude das vantagens que tal metodologia possui, tais
como: é um método cientifico globalmente difundido e permite que cada pessoa na
organização tenha a capacidade de resolver problemas característicos sobre sua
responsabilidade, conforme descrevem os autores SILVA, MARÇAL, COSTA (2008).
Os dados sobre a empresa objeto de estudo e do processo estudado para elaboração do
presente trabalho foram obtidos por meio de observação direta, análise de documentos,
entrevistas com os responsáveis pelos departamentos e gerentes. Os dados obtidos foram
interpretados de forma qualitativa. Segundo Richardson (1999) o método qualitativo
caracteriza-se como apropriado para entender o caráter de um fenômeno social. Ela não
pretende numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas, pois é uma forma de
entender um fenômeno social, estudando suas complexidades.
3.1. Problema encontrado
A empresa objeto de estudo não possui nenhuma forma (documentada ou não) de analise e
resolução de problemas. Pode-se dizer que os responsáveis pelos departamentos e áreas
trabalham para “apagar incêndios”, isso é, resolvem os problemas, porém não os eliminam
totalmente analisando a realmente a causa raiz.
Mesmo a empresa sendo certificada com base na norma NBR ISO 9001, nem as ações
corretivas registradas são analisadas com alguma metodologia cientificamente conhecida.
Elas são analisadas de forma intuitiva pelo responsável da área onde o problema ocorreu.
Dessa forma, não é possível a organização:
Analisar de forma padronizada e cientifica, a causa raiz dos problemas;
Tomar ações efetivas que eliminem a causa raiz dos problemas;
Verificar a efetividade das ações tomadas e corrigir caso tenham sido ineficazes.
3.2. Objetivos da implantação da metodologia MASP
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Os principais objetivos a serem atingidos com a implantação da metodologia MASP são de
permitir à organização:
A utilização de uma metodologia cientifica e padronizada para solução de problemas
com ênfase na causa raiz;
Definir ações que eliminem de fato a causa raiz do problema;
Tornar a verificação da efetividade das ações tomadas como uma prática
organizacional.
3.3. Atividades desenvolvidas para implantação da metodologia MASP
Antes de implantar a metodologia, foi necessário treinar alguns colaboradores da organização.
Os colaboradores escolhidos para os treinamentos foram os responsáveis pelos departamentos
da organização, pois isso permite que os mesmos estejam aptos a aplicarem a metodologia em
seus departamentos juntamente com os seus colaboradores.
A primeira parte do treinamento foi focada nas principais ferramentas da qualidade que são
comumente utilizadas na metodologia MASP: brainstorming, ciclo PDCA, matriz G.U.T,
diagrama de causa e efeito e 5W2H.
A segunda parte do treinamento foi focada na metodologia MASP propriamente dita, com a
explicação das oito etapas de aplicação.
O material de treinamento foi elaborado pelo autor do trabalho, que ocupa a função de
Gerente da Qualidade da organização e os treinamentos também foram ministrados por ele.
4. Estudo de caso
4.1. Apresentação da empresa objeto de estudo
A empresa objeto de estudo é uma metalúrgica e atua no fornecimento de equipamentos
médico-hospitalares para hospitais, clinicas de saúde, indústrias, laboratórios dentre outros.
Com atuação no interior de São Paulo desde 1975, trata-se de uma empresa totalmente
nacional que conta com um parque fabril que emprega aproximadamente noventa
colaboradores diretos.
A empresa é certificada com base nas normas ISO 9001 versão 2008 e ISO 13485 versão
2003 além da certificação de Boas Práticas de Fabricação da Agência Nacional de Vigilância
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Sanitária (ANVISA).
4.2. Implantação da metodologia
Após a realização de treinamentos sobre as ferramentas da qualidade e da metodologia
MASP, foi formada uma equipe com os colaboradores treinados. A equipe se reuniu em
reuniões semanais para aplicação da metodologia.
4.2.1. Etapa 1 - Identificação do problema
Levantamento dos problemas - Foram sugeridos por cada membro da equipe, problemas que
gostariam que fossem resolvidos. Ao todo foram listados onze problemas.
Método para escolha do problema a ser estudado - Aplicou-se a matriz G.U.T. para
determinar o problema a ser analisado como prioritário. Esse problema foi: “Pedidos de
compra não realizados em tempo hábil”.
Histórico do Problema – com o problema escolhido a ser analisado, foram coletados dados
gerais desde as datas das solicitações de compra até a data de entrega de três itens que a
equipe julgou serem os maiores causadores de atrasos nas entregas dos produtos da
organização no ultimo ano.
Perdas e Ganhos – foram listadas as perdas que ocorrem caso o problema não seja resolvido
(atraso na entrega dos equipamentos; ociosidade da mão-de-obra; insatisfação do cliente;
custos extras e não previstos para a compra urgente do item; utilização de itens não conformes
devido a urgência) e os ganhos (atendimento da programação realizada) caso seja realizada a
análise do problema a fim de soluciona-lo.
Descrição do Problema e Meta – após a análise dos dados pela equipe, foi possível determinar
com maior exatidão o problema a ser resolvido que foi: “Falta do componente comercial no
momento da montagem ou venda avulsa”.
4.2.2. Etapa 2 - Observação
Coleta de Dados – não foram levantados novos dados nessa etapa, visto que os dados
coletados na etapa anterior foram suficientes.
Observação na área – em entrevista com o colaborador pelo planejamento da produção da
organização, o mesmo relatou que a partir do mês de outubro de 2014 adotou a seguinte rotina
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de trabalho: emissão semanal de um relatório com solicitações de compra; realização de uma
avaliação da real necessidade de solicitar determinado item; solicitação de itens que julgou
necessários para aquele momento;
4.2.3. Etapa 3 - Análise
Levantamento das variáveis que influenciam no problema – por meio de um brainstorming
com a equipe, foram descritas as principais causas do problema:
Tabela 02 – Principais causas do problema
Principais causas relatadas (Brainstorm) Meio Ambiente - não continuidade da análise realizada no relatório 531 Mão de obra - Método - moroso de verificar as necessidades de compra - frequência de verificação das necessidades de compra - falta de procedimento documentado sobre a forma de solicitação de compra
Máquina / Equipamento - Medição - parâmetros desatualizados do cadastro do item (estoque mínimo, prazo de entrega, lote econômico)
- não há uma rotina estabelecida para análise dos parâmetros do cadastro
- lista de engenharia desatualizada Matéria-prima - número excessivo de não conformidade no item
Fonte: elaborado pelo autor
Diagrama de Causa e Efeito – para efeito de melhor visualização das causas, foi elaborado o
diagrama:
Figura 02 – Diagrama de Causa e Efeito
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Falta decomponentecomercial nomomento da
montagem ou
venda avulsa
Frequência deverificação dasNecessidades
de compra
Moroso deverificar as
necessidadesde compra
Falta de procedimentodocumentado sobre
a forma de solicitaçãode compra
Parâmetrosdesatualizados docadastro do item
Número excessivode NC no item
Lista de Engenhariadesatualizada
Não continuidadeda análise dorelatório 531
Fonte: elaborado pelo autor
Escolha das causas mais prováveis (hipóteses) – a equipe então analisou cada provável causa
do problema e as classificou como provável, pouco provável e improvável:
Tabela 03 – Análise da causa mais provável
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Causa Análise Motivo
Não continuidade da análise realizada no relatório 531
Provável Pouco Provável Improvável
Mesmo sendo interrompido, todo o relatório é verificado.
Método moroso de verificar as necessidades de compra
Provável Pouco Provável Improvável
Como são vários itens apresentados no relatório, há grandes chances de acontecerem erros nessa análise.
Frequência de verificação das necessidades de compra
Provável Pouco Provável Improvável
Como o relatório é extenso, a frequência de análise desse relatório é baixa (uma vez por semana).
Falta de procedimento documentado sobre a forma de solicitação de compra
Provável Pouco Provável Improvável
Mesmo não havendo um procedimento documentado, a análise é realizada.
Parâmetros desatualizados do cadastro do item (estoque mínimo, prazo de entrega, lote econômico)
Provável Pouco Provável Improvável
Pois com os dados desatualizados, o relatório não é confiável.
Não há uma rotina estabelecida para análise dos parâmetros do cadastro
Provável Pouco Provável Improvável
Mesmo não havendo uma rotina estabelecida, os parâmetros do cadastro são verificados empiricamente.
Lista de engenharia desatualizada Provável Pouco Provável Improvável
Mesmo havendo falha na lista de engenharia, a verificação da necessidade de compra é realizada.
Número excessivo de não conformidade no item
Provável Pouco Provável Improvável
São poucos itens em que a NC acarreta a falta do item.
Fonte: elaborado pelo autor
Coleta de dados nos processos – a equipe visitou o setor de planejamento, local onde são
realizadas as analises e solicitações de compra e com base nas causas mais prováveis, coletou
informações que confirmaram essas hipóteses.
4.2.4. Etapa 4 – Plano de ação
A equipe utilizou a metodologia 5W1H para definir as atividades necessárias para tomada de
ação.
Tabela 04 – 5W1H
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5W1H
O quê (What)
Quando (When)
Onde (Where)
Quem (Who)
Por que (Why)
Como (How)
Atualizar o estoque mínimo e o consumo mensal dos itens comerciais.
Até 23/01/15
Na empresa
Ronaldo Porque afeta diretamente o cálculo do ponto de reposição do item e consequentemente a solicitação de compra
Por família de produtos, atualizar os dados.
Atualizar o prazo de entrega dos itens comerciais, desde a solicitação de compra até a entrada no almoxarifado.
Até 23/01/15
Na empresa
Cesar
1 – Desenvolver um relatório com a SECTRA 2 – Com os resultados do relatório, atualizar o cadastro.
Solicitar a SECTRA, um relatório com os itens que ficaram abaixo do ponto de reposição no dia da movimentação do mesmo.
Até 09/01/15
Na empresa
Cesar
Aumentar a frequência da verificação de necessidade de compra e reduz o tempo da análise do relatório
Desenvolver um esboço do relatório e solicitar o relatório a SECTRA.
Fonte: elaborado pelo autor
4.2.5. Etapa 5 – Ação
Após a elaboração do plano de ação, o mesmo foi divulgado a todos os envolvidos via e-mail.
A verificação da execução das atividades foi realizada in loco semanalmente pelo
coordenador da metodologia MASP. Não houve atraso na execução das atividades.
4.2.6. Etapa 6 – Verificação
Coletando-se novos dados, foi possível concluir que as ações tomadas surtiram o efeito
desejado, porém não foi possível até o final da elaboração desse trabalho, verificar se o
problema foi ou não solucionado, visto que não houve tempo suficiente para essa verificação.
4.2.7. Etapa 7 – Padronização
Elaboração ou alteração de documentos – alguns procedimentos documentados da
organização foram revisados incluindo as rotinas de verificação e atualização do cadastro dos
itens comerciais.
Treinamento – após a revisão dos procedimentos, treinamentos foram realizados com os
envolvidos pelas atividades com o intuído de divulgar as novas práticas.
Registro e comunicação – as novas metodologias criadas e as modificações das atividades
realizadas foram divulgadas a toda a organização por meio de e-mail a toda a organização.
Acompanhamento dos resultados do padrão – o Gerente da Qualidade estabeleceu um sistema
de verificação periódica a fim de acompanhar e avaliar a efetividade da resolução do
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problema.
4.2.8. Etapa 8 – Conclusão
Identificação dos problemas remanescentes – não foram identificadas atividades previstas que
não foram realizadas e também não surgiram novos problemas devido às metodologias
elaboradas.
Balanço do aprendizado – o Gerente da Qualidade realizou uma análise critica de todas as
atividades realizadas nas etapas da metodologia a fim de registrar pontos falhos, pontos
positivos e dificuldades. Dentre as maiores dificuldades encontradas foi a resistência a
mudança por alguns colaboradores, porém todas as ações propostas foram realizadas. Outro
ponto de grande dificuldade foi a demora na realização das atividades, visto que a organização
tem um quadro reduzido de colaboradores.
Ao final de todo o processo de aplicação do MASP, um relatório contendo todas as etapas da
metodologia foi elaborado com o objetivo de reunir em um único documento, todas as
informações e atividades realizadas pela equipe.
5. Resultados
Ao término da elaboração desse trabalho não foi possível concluir se o problema apresentado
foi de fato solucionado com a aplicação da metodologia MASP, no entanto alguns resultados
já podem ser demonstrados, tais como:
Utilização de uma metodologia cientifica e padronizada para solução de problemas;
Definição e tomada de ações que eliminem de fato a causa raiz do problema;
Evidenciado a efetividade das ações tomadas.
6. Considerações finais
A metodologia MASP mostrou-se eficiente na organização, visto que a mesma não possuía
nenhuma outra forma de resolução de problemas. Isso permitiu a organização, iniciar uma
nova abordagem na prática de analise e resolução de problemas.
A resolução de problemas é uma atividade de grande importância dentro de uma organização,
por isso a metodologia implementada deve ser constantemente aplicada com o objetivo de
resolver outros problemas e minimizar perdas.
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Com essa visão, os próximos passos para a melhoria contínua da metodologia implantada
seriam:
Treinar mais colaboradores sobre a aplicação e importância do uso da metodologia;
Incentivar aos responsáveis pelos departamentos da organização aplicarem a
metodologia juntamente com seus colaboradores;
Aumentar o número de problemas solucionados com o uso da metodologia.
Aspectos esses, que podem ser tratados em trabalhos futuros.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, Vicente F. Gerenciamento da rotina de trabalho do dia-a-dia. 8 ed. Nova Lima: INDG
Tecnologia e Serviços LTDA., 2004.
CAMPOS, Vicente Falconi. Gerenciamento da Rotina do Trabalho do dia-a-dia. Bhoch Editores
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