revista por exemplo #6

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André Costa e seu presente promissor bicho medonho travestis documentário direção tudo que deus criou curtas amanda personagens desafios encomenda prêmios longa metragem rapadura monick força de vontade comunicação cinema ficção Exploração dos trabalhadores pelas mineradoras e a impune agressão ao meio ambiente As dificuldades de conciliar as atividades do trabalho com ações voluntárias O que levaria as pessoas a iniciar uma revolução? CAULIM VOLUNTARIADO O jovem diretor paraibano fala sobre sua curta e premiada carreira como cineasta [Revista Laboratório] Ano IV - Número 6 - Junho de 2009

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Revista Laboratório do Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba.

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Page 1: Revista Por Exemplo #6

por exemplo

André Costae seu presente promissor

bicho medonhotravestisdocumentário

direção

tudo que deus criou

curtasamanda

personagens

desafiosencomenda

prêmios

longa metragem rapadura

monick

força de vontade

comunicação

cinema

ficção

Exploração dos trabalhadores pelas mineradoras e a impune

agressão ao meio ambiente

As dificuldades de conciliar as atividades do trabalho

com ações voluntárias

O que levaria as pessoas a iniciar uma revolução?

CAULIM

VOLUNTARIADO

O jovem diretor paraibano fala sobre sua curta e premiada

carreira como cineasta

[Revista Laboratório] Ano IV - Número 6 - Junho de 2009

Page 2: Revista Por Exemplo #6

expediente

02 junho.09

Revista Laboratório do Departamento de Comunicação Social da

Universidade Estadual da Paraíba

[Reitora]Profa. Marlene Alves[Vice-reitor]Prof. Aldo Maciel[Pró-Reitora de Administração]Profa. Célia Regina[Diretora do CCSA]Profa. Fátima Araújo[Chefe de Departamento]Prof. Rômulo Azevedo[Chefe Adjunto]Prof. Orlando Ângelo[Coordenador do Curso]Prof. Luiz Barbosa de Aguiar[Coordenador Adjunto]Profa. Cássia Lobão

[Editor Chefe] Prof. Orlando Ângelo

[Editores] Eliézer AguiarJosé Marcos MoraesMonicky Araújo [Professores orientadores] Prof. Orlando ÂngeloProf. Levy SoaresProf. Arão de Azevedo

[Repórteres]Ana Luiza AlencarAna Paula OliveiraAndré BrasilDaniel MottaDanielle SobralDavid VeigaEdckson FélixEliézer AguiarGeovanne SantosHeron BarretoIdelânia FláviaIlanildo MoreiraJosé Marcos MoraesJuliane AlmeidaLigia CoeliMarcelo AndradeMarcos SouzaMiriam SouzaMonicky AraújoRailani GomesRenata RodriguesVanessa LimaYuri GuedesZuila David [Projeto gráfico]David VeigaEdckson FélixLigia Coeli

[Diagramação]Edckson Félix

[Fotos da capa] Almir Martins

Tiragem: 1.000 exemplaresImpressão: Gráfica UEPB Rua D. Pedro II, S/N - São JoséCampina Grande - PBe-mail: [email protected] Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos e fotos sem a prévia autorização.

sumário

nossos temas

ARTIGO Mais de um mês de cultura 03ENTREVISTA André Costa Pinto 04PERFIL Biliu de Campina 07VIDA Retalhos da memória 08TRABALHO Extração do caulim 10POLÍTICA Revolução para que te quero? 12SOLIDARIEDADE Trabalho voluntário 14MÚSICA REGIONAL Na embolada do Baixinho 16COMPORTAMENTO Quem é ele? 18COMUNICAÇÃO Medo de falar em público 20PORTUGUÊS Rapariga é moça 22MEIO AMBIENTE Adote essa idéia 23

editorial

A falta de emprego nas diversas regiões do Estado da Paraíba tem forçado muitas pessoas a aceitar qualquer tipo de trabalho, mesmo sabendo

dos riscos que correm e da completa falta de condições para o desempenho de suas atividades. É o caso dos operários que tra-balham nas minas de extração do Caulim, nos municípios de Junco do Seridó, Jua-zeirinho, Assunção, Tenório e Salgadinho, no Curimataú paraibano, cujo perigo está sendo mostrado através de reportagem especial que trazemos nesta edição. Es-peramos que as autoridades competen-tes tomem as providências para que se evitem problemas mais graves.

Nesses tempos de acomodação dos movimentos sociais, onde trabalhado-res continuam sendo explorados pelo capital, nossos repórteres buscaram saber o que levaria as pessoas a fazer uma revolução. Aliás, revolução mesmo é a que o jovem cineasta André da Cos-ta Pinto vem fazendo no cinema parai-bano, através de suas produções. Ele é capa desta edição de Por Exemplo.

Outros temas interessantes também fazem parte desta revista, como é o caso da matéria sobre o projeto de arboriza-

ção “Adote uma árvore”, desenvolvido pela Universidade Estadual da Paraíba. Nossos repórteres também alertam para o fato de que muitas pessoas desejosas de aprender a falar em público se ma-triculam em cursos de baixa qualidade, perdem tempo e dinheiro e o que é pior: saem de lá com o mesmo problema.

Na seção comportamento, mesmo que a Canção da América, diga que “ami-go é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração”, os especialis-tas alertam os jovens sobre o cuidado que devem ter com as amizades e afirmam que os pais devem ficar de olhos abertos. Vamos mostrar, também, a importância do voluntariado e como dona Maria José Amado, há mais de 20 anos, divide seu tempo entre suas atividades de enfermei-ra e as ações voluntárias.

Por Exemplo apresenta, ainda, os perfis de duas personalidades do coti-diano campinense: o famoso cantor e compositor Biliu de Campina e o gari Martins da Cachoeira. Some-se a esse conteúdo, o artigo de Marcos Moraes, onde ele afirma corretamente que o movimento cultural de Campina Gran-de não se resume apenas ao período ju-nino. Boa leitura!

REPRODUÇÃO

Page 3: Revista Por Exemplo #6

03junho.09

artigoMais de um mês de cultura

Recebi o convite para escrever estas linhas, mas fiquei receoso em aceitar o encargo, pois o tema sugerido para o artigo é mui-to amplo. Falar de cultura, principalmente em Campina Gran-de, é uma tarefa, no mínimo, difícil. Mas resolvi partilhar com vocês algumas observações a respeito do tratamento dado

a essa temática em nossa cidade. Campina tem um cenário cultural rico. Temos representantes nos mais diversos setores: das Artes Plásticas à Lite-ratura de Cordel, do Cinema a Música, sem esquecer as atividades teatrais, que tantas alegrias e orgulho nos proporcionam.

Mesmo com tanta efervescência cultural, temos uma estranha sensa-ção de que nada acontece na cidade. Acredito que isso ocorre em virtude da falta de espaços de “escoamento” da nossa produção cultural. Os ar-tistas dispõem de poucos locais para mostrarem seus trabalhos e quase nenhum incentivo para produzir. Nem mesmo uma Secretaria de Cultura nós temos. Os assuntos culturais ficam a cargo de uma Coordenadoria, que se dedica apenas a realização de um único evento.

A sensação de vazio cultural fica mais gritante quando lemos jornais ou assistimos TV, já que a grande mídia tem o entendimento de que Cul-tura, aqui, só acontece durante o mês de junho. Quando afirmo isso, digo embasado no espaço dedicado a cobertura do “Maior São João do Mun-

do”, evento que não valoriza os artistas locais, espremendo-os em peque-nas palhoças em dias de pouca movimentação, enquanto os “ídolos” da cultura massificada ocupam o palco principal.

Apesar da força da indústria cultural, ainda temos alguns programas que se dedicam à cobertura cultural de qualidade e que dão espaço aos artistas locais, com muita diversidade. A cidade precisa desenvolver po-líticas de valorização da Cultura como um todo. É preciso criar espaços e oportunidades para que os artistas possam mostrar a sua arte, potencia-lizar o uso de alguns locais dedicados as atividades artísticas, dando-lhes mais atenção.

O Teatro Municipal Severino Cabral precisa ser reformado, urgente-mente. Os vários grupos de teatro da cidade não têm onde ensaiar nem se apresentar. O Projeto Seis e Meia foi transferido para o Centro de Con-venções, em uma decisão que desvirtuou e elitizou ainda mais o evento, impossibilitando a participação de grande parte da sociedade.

É preciso dar condições aos que pensam e tentam divulgar a cultura na cidade. É importante perceber que a cultura de Campina Grande não dura apenas um mês e que o incentivo cultural pode contribuir muito para o desenvolvimento de uma cidade.

rápidas

DiplomaDepois do lamentável desfecho so-bre a extinção da obrigatoriedade do diploma como requisito básico para o exercício da profissão de jornalista, a sociedade brasileira precisa estar atenta para que possa continuar recebendo informação técnica, ética e socialmente corre-ta. É de domínio público que o STF agradou somente aos grandes em-presários da comunicação.

Lançamento“Extensão Universitária: espaço de inclusão, formação e socialização do conhecimento” é o título do livro lançado, recentemente, pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da UEPB. A edição mostra à comunidade acadêmica que a extensão também é lugar de produção, formação e socialização do conhecimento.

CatólicosA Diocese de Campina Grande comemorou 60 anos de fundação, mas parece que não despertou para um fato que vem incomodan-do a Igreja Católica no país inteiro: a fuga em massa de fiéis. Muitos padres precisam se fazer presente no seio da sociedade e participar não só dos seus problemas, mas de suas carências espirituais.

EventoDestacados profissionais paraiba-nos da área de Comunicação parti-ciparam do 2º Encontro de História da Comunicação, promovido pelo Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba. Importantes temas fo-ram apresentados por Marcos Ta-vares, Fred Ozanan, Gilson Souto Maior, Carlos Azevedo, Horácio de Almeida Lima, Henrique França, Roberto Faustino e Land Seixas. O evento foi coordenado pela profes-sora Fátima Luna.

por JOSÉ MARCOS MORAES

Mesmo com tanta efervescência cultural, temos uma estranha sensação

de que nada acontece na cidade

Page 4: Revista Por Exemplo #6

entrevista

04 junho.09

Por Exemplo - Apesar de você ainda ser jovem, sua estante de prêmios já tem vários lugares ocupados. É pos-sível explicar tamanho sucesso?

André Costa - Quando você quer al-guma coisa, vai atrás. Eu acho que talento várias pessoas têm. Fazer de qualidade várias pessoas fazem. De-pende muito da forma como você vê as coisas, a forma de sentir a arte. Muitos fazem arte, mas ela tem que ser feita para ser compreendida. Se as outras pessoas não entendem meu filme, para quem eu estou comuni-cando? Cinema é comunicação. Arte é comunicação. Parte um pouco dis-

so. Essa questão das pessoas enten-derem aquilo que eu quero passar.

PE - Quais as dificuldades que você enfrentou no início da carreira como cineasta?

AC - Dificuldades se encontram em tudo na vida. A primeira coisa é fazer as pessoas acreditarem em você e te dar apoio. Para ganhar esse apoio, você precisa mostrar que merece. E sofre preconceito lá fora? Sofre, pelo fato de ser nordestino, um guri de 23 anos. Mas se baixar a cabeça porque está sofrendo... Dificuldade encontra, mas a maior dela é a gente mesmo. Não é sempre ver o lado bom da coi-

sa, mas transformar o lado ruim.

PE - De onde veio a inspiração para fazer cinema?

AC - Eu tenho uma formação de casa. Fui criado respirando cultura. Tenho uma avó que é teatróloga e atriz, um pai que durante a vida inteira tra-balhou com educação, jogou muita coisa para o alto por causa disso. Eu cresci num meio onde as pessoas de-batiam literatura, música, arte. Na época em que eu tinha nove ou dez anos, enquanto outros guris escuta-vam aquilo que estava na mídia, eu escutava Lupicínio Rodrigues, Car-tola, Pixinguinha. Estava dentro do

André versus André

[ ] André da Costa Pinto23 anos. Diretor de cinema

Ele nasceu em Barra de São Miguel, uma pequena cidade do interior da Paraíba, e cresceu numa família onde as pessoas debatiam literatura, música e arte quase o tempo todo. Diferente-mente das outras crianças, quando tinha 9 anos

escutava não o que estava na mídia, mas Lupicínio Rodri-gues, Cartola, Pixinguinha e outros artistas do gênero. Esta-va dentro do universo Chico Buarque de Holanda, de quem seu pai era fã. Como se pode perceber, a base cultural do jo-vem cineasta André da Costa Pinto começou em casa. Não é para menos. Ele foi criado ao lado da avó, que é teatróloga e atriz, e do pai, que durante a vida inteira trabalhou com Educação.

André é dessas pessoas que acreditam em si mesmas e nos que estão ao seu redor e que não têm medo de “que-brar a cara”. “Quando eu quero vou atrás”, diz. O autor de “Amanda e Monick” se descreve muito determinado e com iniciativa para aquilo que quer. Procura administrar muito bem o que está fazendo. Como diretor, é chato e exigente: grita quando tem que gritar. Nesta entrevista, ele fala da sua produção cinematográfica, os desafios enfrentados, do sucesso alcançado e dos prêmios conquistados, bem como do apoio recebido da reitora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Marlene Alves.

por EDCKSON FÉLIX, DAVID VEIGA e MARCOS MORAES

ALMIR MARTINS

Page 5: Revista Por Exemplo #6

05junho.09

universo Chico Buarque de Holanda, de quem meu pai era fã. Eu tive essa cultura desde cedo. Quando chegou a hora de dizer que iria fazer Comuni-cação, eu já tinha o contato com o au-diovisual, pois já conhecia o cinema, já assistia bastante. E comecei a fazer cinema com elementos da minha in-fância. O mérito maior de meu tra-balho é poder reconhecer aquilo que está ao meu redor. O problema é que muita gente não valoriza. No caso da Amanda, por exemplo, foi preciso fa-zer um filme para as pessoas saberem do valor que ela tinha. É importante saber transformar o que está em sua volta, pois é no cotidiano que se des-cobre coisas interessantes.

PE - Dois dos seus curtas-metragens enfocam personagens marcantes de sua cidade natal, Barra de São Miguel: o escultor David Ferreira, em “A Encomenda do Bicho Medo-nho”, e os dois travestis que prota-gonizam o documentário “Amanda e Monick”. Qual a importância de registrar a realidade de cada um deles?

AC - A primeira coisa é por eu regis-trar minha própria realidade. Eles fizeram parte do meu cotidiano, da minha vida. Seu Davi é uma parte fantástica da minha infância. Eu pas-sei muito tempo imaginando o Bicho Medonho. E Amanda foi Artur, que era meu amigo de infância. De cer-ta forma, eu estou registrando parte da minha história, da minha família, das pessoas que eu gosto, que estão ao meu redor, e parte da história do meu lugar, que é Barra de São Miguel. É bom também poder levar o nome da cidade para fora.

PE - Como você pode descrever sua atuação como diretor no processo de produção dos filmes?

AC - É muito difícil descrever o André diretor. Uma coisa que eu gosto de dizer é que não sou muito humilde quando quero as coisas, eu sou ousa-do. Quando eu quero algo não adian-ta dizer para mim ‘não’. Eu tenho que quebrar a cara e descobrir que é ‘não’. Quando eu quero, vou atrás. O André é uma pessoa chata no set de filma-

gem. Ele grita quando tem que gritar. Eu sou muito determinado e tenho iniciativa para aquilo que quero, pro-curo administrar muito bem o que es-tou fazendo. Eu digo que todo mundo tem dois olhos e eu tenho vários. Olho tudo o que está ao meu redor. Nada passa despercebido. Fiscalizo a arte, o figurino e até coisas mínimas que fazem a diferença em tudo. Também acredito nas pessoas. Se eu quero fu-lano de tal para ser meu personagem, eu vou até ele convencê-lo de que ele tem capacidade de fazer isso para mim. O André tem muito disso: acre-ditar em si e acreditar nas pessoas que estão ao seu redor. A pessoa pode nunca ter trabalhado naquilo, mas, se eu puder dar responsabilidade para ela, eu vou dar. Também sou um cara empreendedor, que vê o que tem aqui e vê o que pode ter futuramente.

PE - Depois de começar produzindo documentários, como é fazer um fil-me de ficção?

AC - Eu já trabalho com ficção há al-gum tempo. Nunca dirigi um filme

André e seus personagens da vida real: o escultor David Ferreira, do documentário “A Encomenda do

Bicho Medonho”, e os dois travestis que dão título à “Amanda e Monick”

Page 6: Revista Por Exemplo #6

06 junho.09

de ficção, mas dirigi pessoas, é tanto que eu tenho um curso de formação de atores para cinema. Eu tenho mi-nhas formas de trabalhar com atores. Acho que o ator precisa se entregar por inteiro ao personagem, sem con-ceito nem preconceito. Ele deve se construir a partir do que o persona-gem pede. Então, para mim, não vai ser muito diferente mudar do docu-mentário para a ficção por já ter tra-balhado com isso. A ficção envolve a arte, os cenários, uma série de coisas que eu já tenho contato. É um desa-fio maior por ser um longa e por ser meu, pois eu só tinha participado na produção de filmes de outras pesso-as. Mas não tenho medo não.

PE - Por participar ativamente do cenário cultural de Campina Gran-de, muitas pessoas já citam seu nome quando o assunto é força de vontade. Como você avalia as opor-tunidades para quem produz arte na cidade?

AC - Hoje nós temos uma “mão na roda” que é a UEPB, com o apoio da reitora Marlene Alves. É maravilhoso o investimento da Universidade em cultura. Fazer isso também é inves-tir em educação, pois a arte educa as pessoas. A arte pode até parar uma guerra, quanto mais educar. Nós te-mos artistas maravilhosos em todos os segmentos da arte. Posso citar vários, inclusive os que estão come-çando agora. No teatro e na direção de arte, por exemplo, temos ótimos profissionais em Campina. O po-tencial é muito grande, o que falta é educar as pessoas para investir em cultura. Já para conseguir dinheiro com arte, é preciso ter criatividade. Faz parte do trabalho do produtor cultural arranjar esses tipos de so-luções.

PE - As produções independentes no audiovisual crescem cada vez mais, embora alguns diretores iniciantes ainda escondam suas obras, por timidez ou insegurança. Que conse-lho você dá para quem está engati-nhando na profissão?

AC - Eu também estou engatinhando na profissão. Ainda não sei de nada e quero chegar aos 90 anos sem saber.

Se eu souber de tudo na vida, não vou querer mais viver. Eu me mato. Só quero viver enquanto tiver muita coi-sa para aprender. Eu digo que é preci-so ter coragem para mostrar seu tra-balho. Você não tem como saber se o que faz é bom ou ruim se as pessoas não o veem. Eu já fiz um documen-tário horrível. Não tem coisa pior do que ‘Da rapadura ao berço da cultu-ra’. É cansativo, a linguagem é errada, tem um monte de erros que hoje eu vejo. Mas, fiz e não tenho vergonha de dizer e apontar minhas falhas. Eu acho que é isso, saber ouvir críticas positivas e negativas.

PE - No trabalho com cinema, o que você considera ser uma boa dose de motivação?

AC - Quando eu vejo no rosto dos meus amigos ou das pessoas que nem me conhecem que meu traba-lho deixa alguém feliz. Primeira-mente, eu sou muito feliz com o que faço. Se conseguir fazer outras pes-soas serem também eu me sentirei motivado. No período de divulgação do Amanda e Monick, por exemplo, eu estava caminhando na rua e fui abordado por um senhor que me pe-diu um abraço. Como justificativa, ele disse que no dia anterior tinha acompanhado uma entrevista mi-nha em que eu falava sobre o filme. Ele foi assistir o filme, meio que es-condido, e logo após, de madruga-da, foi bater na porta do filho, que é homossexual. Há três meses o ho-mem não falava com ele, pois tinha colocado o próprio filho para fora de casa. Quando eu vi o depoimen-to daquele pai, já valeu o filme para mim. É maravilhoso ver que as pes-soas encontram algo de bom no que eu faço. Fico muito feliz com isso.

PE - Daqui para frente, quais os principais desafios que você acha que enfrentará?

AC - Eu não sei como vai ser daqui para frente. Talvez eu enfrente mui-tos desafios. Mas eu acho que o maior desafio é André com André mesmo. É chegar, a cada dia, e dizer que eu pos-so fazer isso, sempre quebrando os meus próprios limites. g

Se eu souber de tudo na vida, não vou querer mais

viver. Eu me mato. Só quero viver

enquanto tiver muita coisa para aprender

Page 7: Revista Por Exemplo #6

07junho.09

perfil

Nascido no meio de violei-ros e aboiadores, em 1º de março de 1949, o “pio-lho de forró” sempre teve sua vida voltada para a

música. Nem o curso de Direito foi o suficiente para tirar dele a essência da música nordestina. “Eu entrei na facul-dade de Direito, mas Direito não entrou na minha faculdade, e isso não me faz falta”, diz, espontâneo, Severino Xavier de Souza, ao retratar sua história, sem-pre falando o que pensa e revivendo lembranças de um passado saudoso.

Irreverência e bom-humor, com seu lado “felaputariado” de ser, são adjetivos muito bem colocados para Biliu de Campina, apelido caseiro, vin-do do ditado popular segundo o qual “todo Severino é Biu”, mas para não ser chamado de Biu, amigos começa-ram a chamá-lo de Biliu e ele mesmo acrescentou o Campina, por ser apai-xonado pela cidade, surgindo daí o cantor e defensor da cultura nordesti-na, oriundo da Zona Rural, especifica-mente do sítio Volta de Paus Brancos, na ponta da Serra de Tarapitáia. “Aliás eu chamo aquilo ‘nem’, porque ali nem é Queimadas, nem é Caturité, nem é Boqueirão, nem é Campina, nem é Ca-tolé”, brinca ele.

Durante sua vida de artista, Biliu fez de tudo um pouco: compôs, foi puxador de samba, participando dos carnavais de Campina Grande com grande empolgação. No entanto, sem-pre teve sua personalidade formada com uma inclinação afetuosa pela música popular nordestina. Nunca se apegou com nada, não tem besteiras. “Sou uma cara espontâneo. Para mim tanto faz ter internet como não ter, para mim isso não influiu em nada na minha vida. Teoricamente evolui, mas

eu nunca me preocupei com isso”. Casado com a música e tendo essa

vocação cigana de viajar para fazer shows em diversos estados, não teve tempo para outros casamentos, porém sempre se aventura em suas viagens. Bem humorado, Biliu comenta que não engana ninguém e seus relaciona-mentos são amistosos. Sendo assim, não se preocupa com feira, pensão...

Por onde passa sempre deixa ves-tígios, com sua originalidade e com suas brincadeiras. Por esse Brasil afo-ra já vivenciou vários casos e acasos engraçados que ainda hoje são lem-brados com muita estima, deixando sua marca e levando o forró autêntico para desconhecidos do gênero. Um desses casos ocorridos acabou em música como ele mesmo relata. “Es-tava tomando um cafezinho no centro da cidade e tinha feito a barba. Havia sobrado alguns pelos na camisa. Nes-sa hora chega Toinho do Possidônio (personagem aqui de Campina Gran-de). Meio gago, ele me perguntou: e isso que tá aí sobrando é caspa? Eu disse: não, isso é pó de chifre e daí eu fiz a música Pó de Chifre”.

Polêmico e sem medo, opõe às pessoas que fazem o “forró de plásti-co” ou “forró descartável”, mas sem massacrar, até porque não é con-tra esse povo, é a favor daquilo que nos pertence, da nossa raíz. Temos como exemplo um trecho da músi-ca Cantando Forró à Força de sua autoria. “Há muita gente cantando forró à força/Mas anda dizendo que dá força pro forró/Pra cantar forró é preciso definição/Muito molho e vocação e a língua não embolar/Por isso eu gosto de um côco sincopa-do/Num rojão bem ritmado, gosto-so pra se dançar”.

Sem tempo a perder, hoje não liga nem para o futebol, sempre faz o que gosta, não tem hora para comer, dor-mir, gosta de sair, mas se irrita quando lhe dão ordens. Sem muito preocupar-se com a saúde, leva uma vida melhor que muitos jovens por aí, pois ama o que faz e sabe viver dando valor a cada detalhe da vida.

Objetivo em suas declarações, principalmente quando se refere a po-lítica, para ele democracia é uma far-sa, não existe democracia, não existe política. Sua política é em favor da na-tureza. “Muita gente tá enganada. Eu não canto em palanque, eu canto em palco, minha política é o forró, muita gente confunde, estigmatiza que eu te-nho meu lado. Eu trabalho para aque-les que me contratam, se alguém me contrata mais do que os outros então eu faço para alguém que não precisa citar. Eu tenho identidade”.

A idéia de envelhecer não lhe incomoda, nem tampouco da mor-te. Em tempo algum se preocupou com esses fatos. Crer em uma força superior é a sua religião. Não é per-ceptível que esteja comemorando seu sexagésimo aniversário, pois o seu alto astral é semelhante a de um jovem, que tem a sede de pesquisar, de ouvir de tudo, rock, forró, baião e o mais importante: ter a criatividade de aprender vivendo.

Hoje, sua vida é dividida em zona rural e urbana, reside em uma granja em Açude de Dentro, na Serra do Con-de, porém não deixa de respirar o ar da “cidade grande”. Enfim, são 60 anos de muitos “causos” ocorridos em uma vida sem arrependimentos, cheia de aventuras e com uma característica bastante marcante: não ter medo de ser feliz. g

Biliude Campina[ ] Patrimônio vivo da música nordestina

por IDELÂNIA FLÁVIA

DIVULGAÇÃO

Page 8: Revista Por Exemplo #6

08 junho.09

No dia 11 de janeiro de 1972, num barraco da maior favela da cidade, a Cachoeira, nascia José Martins de Paiva, o

Gari. Sentindo-se um predestinado à miséria, com ar de tristeza e de-solamento, contou-me sua história, definindo suas lembranças de crian-ça como “infância do pesadelo”.

A fome, maior bandida de sua vida, o devorava e enfraquecia. Sua refei-ção diária era um prato preparado com um bocado de farinha, cebolas cortadas em pequenos pedaços e uma pitada de sal. O banquete descia goela abaixo acompanhado por três ou quatro copos de água. Em dias que nada tinha para preencher os buracos do estômago espetado pela dor que roncava, o menino dormia anestesiando a fome que atormen-tava e que, apunhalando forte, por vezes o fez desmaiar.

As lágrimas presas no semblante escurecido ficaram nítidas ao falar sobre o sonho de criança: ir à escola. Mas seu desejo foi roubado pelos ra-tos que, além de mordê-lo durante à noite, roeram seu registro de nas-cimento, documento que na época custava caro e era imprescindível para a matrícula na escola. Angustia-do, lembrou-se ainda do diálogo com a mãe:

- Mãe, me bote na escola! Que às tapas lhe respondia: - Pra que que tu quer estudar mi-

serável? Caderno de pobre é o roça-do e a caneta a enxada. Vai trabalhar vagabundo!

Já que filho de pobre não ia à es-cola, sua rotina se alternava entre as esmolas que pedia nas ruas e as vís-ceras de galinha procuradas entre as penas nas sarjetas das granjas. Entre as lembranças remoídas, fa-lou com olhos distantes sobre a história da galinha preta, morta, abandonada em um córrego sujo. Obrigado a descer à margem, a mãe o apedrejou por ele não ter forças de trazer o jantar do dia para cima. Um engenheiro que trabalhava em uma obra observou a cena chocado e, aos prantos, o ajudou a subir. Passando as mãos carinhosamente pelos cabe-los do menino que chorava disse:

- Minha senhora, não faça isso com seu filho... Tome esse dinheiro e jogue isso fora, que isso não é comida de gente.

Agradecidos, mãe e filho se des-pediram do homem generoso e, enfim, quando já não havia mais ninguém à vista, voltaram ao córre-go, apanharam a galinha e comeram. Crescendo dentro da favela, recebeu os beijos de rejeito e se viu em um dilema: a revolta ou a conformação. Entre lutar para crescer ou roubar para viver, trilhou os dois caminhos, mas não sem medo. Afinal sua mãe o repreendia com palavras duras, ditas sempre com um facão em punho:

- Olha desgraçado, no dia que

você roubar, eu meto essa faca no teu bucho e corto seu pescoço, seu infeliz miserável.

As palavras secas e cruas ecoaram por muito tempo em sua cabeça per-turbada pelo destino difícil. Quando adolescente, apesar das ameaças da mãe, passou a viver como menino de rua. Sem trabalho e oportunidade de estudar, acompanhado por uma tropa de meninos, quebrou vidros de carros, pegou morcego em ônibus e derrubou muitos tambores de lixo, onde o proibiam de catar os restos. Aos 15 anos, mesmo sem registro de nascimento, começou a freqüen-tar clandestinamente a escola. Porém a hostil bagagem das ruas o tornou agressivo ao ponto de, em uma briga na escola, furar com um lápis um co-lega de classe. Mais uma vez o sonho de aprender escapou de suas mãos.

Com o tempo, muitos amigos morreram tragados pela criminali-dade das ruas ou assassinados pela polícia. Polícia essa que, na favela da Cachoeira, entrava batendo nos “cila-drões”, porque ali todos eram culpa-dos até que provassem o contrário.

Aos poucos, com ajuda de ami-gos, aprendeu a ler e aos 18 anos pas-sou no concurso para gari, onde foi batizado com o nome que o tornou conhecido - Gari da Cachoeira. Du-rante as coletas do lixo, os livros que para uns não tinham mais utilidade eram levados para casa como peças valiosas. As obras eram lidas entre os

vida

Retalhos da memória

[ ] Contrastes da vida do gari mais politizado da Paraíba por ANA PAULA OLIVEIRA

Page 9: Revista Por Exemplo #6

09junho.09

Nada muda na vida De quem não quer mudar, Nascer burro e morrer cavalo É mera utopia, Pois a pior fantasia É não querer aprender

Burrice do Saber

José Martins de Paiva Gari da Cachoeira

intervalos do trabalho e as folgas no fim de semana. Ao longo dos anos tornou-se sindicalista atuante na categoria. Através de programas sociais de alfabetização de adultos, concluiu o ensino fundamental e, pos-teriormente, o ensino médio por meio de supletivo. Sua participação na luta por condições dignas de moradia aos moradores da favela da Cachoeira, foi determinante nas ações sociais que foram aplicadas na habitação e saneamento básico da comunidade.

Hoje a favela já não existe mais, A Cachoeira mudou de lugar, virou bairro da Glória e, embora as pare-des sejam de concreto e não de taipa, o desemprego, a fome e o sofrimento causado pelas diversas faltas, perma-necem ainda ali impregnados nas pessoas que continuam sem efetivas oportunidades de mudança.

O Gari da Cachoeira, casado, pai de quatro filhos, sindicalista, político atuante, candidato por duas vezes a cargos públicos, estudante de Di-reito, continua engajado em ações sociais que contribuam para mu-danças no quadro infeliz de miséria sentido na pele, onde carrega ainda muitas cicatrizes. g

FOTO: DIVULGAÇÃO

Page 10: Revista Por Exemplo #6

10 junho.09

caulimExtração do

trabalho

por DANIEL MOTTA, HERON BARRETO e JULIANE ALMEIDA

[ ] Fonte de renda, agressão ao meio ambiente e situação de risco para

trabalhadores no interior da Paraíba

O caulim é um mineral ar-giloso encontrado com grande expressividade na natureza. O Brasil é o terceiro maior produtor

de caulim do mundo, com uma produ-ção equivalente a 8,3% da produção mundial. A maior parte do caulim pro-duzido no Brasil vem do Norte do país, principalmente do Estado do Ama-zonas. Apesar de ser fonte de renda para muitos paraibanos, a produção no Estado corresponde a menos de 1% da produção nacional. Todo o caulim beneficiado na Paraíba é destinado a pólos industriais de outros estados, principalmente, de São Paulo.

O mineral pode ser utilizado na fabricação de borracha, plásticos, pes-ticidas, produtos alimentícios e farma-cêuticos, fertilizantes, na indústria de papel, na produção de artigos de ce-râmicas, gessos, cosméticos e produ-tos químicos variados. A extração do caulim possibilita a geração de uma renda que é responsável pela sobrevi-vência de muitas famílias de cidades do interior da Paraíba, como Junco do Seridó, Juazeirinho, Assunção, Tenório e Salgadinho. Estimativas revelam que o preço relativo a uma carrada de cau-lim em estado bruto, cujo peso é de 10 toneladas, equivale a R$ 80. Depois de beneficiado nas empresas, sai a um va-lor estimado em entre R$ 6 e R$ 7 mil.

Os mineradores que trabalham na extração do mineral dizem que saem no prejuízo por trabalharem muito, correndo riscos de vida, para depois venderem a baixo custo. Já as empresas que trabalham com o beneficiamento do caulim alegam que o valor pago por uma carrada do produto bruto é o ade-

quado, uma vez que, de uma carrada, somente 30%, no máximo, é aproveita-do, sendo o restante refutado.

As empresas beneficiadoras do caulim afirmam que são necessárias várias carradas de caulim bruto para poder produzir uma carrada benefi-ciada, pronta para o comércio. O be-neficiamento do caulim emprega mais de 100 pessoas, sendo considerada a principal atividade econômica e único meio de sobrevivência para várias fa-mílias paraibanas.

Questão ambientalEmbora a extração e o beneficia-

mento do caulim contribuam para o crescimento da economia, a atividade também provoca problemas ao meio ambiente. Durante o processo de be-neficiamento, ocorre um acúmulo de rejeito sólido, que é descuidadamente jogado em lugares inapropriados, que alteram as condições ambientais, cau-sando inúmeros impactos que modifi-cam o meio físico e biológico.

De acordo com a coordenadora do meio ambiente, Patrícia Alves, algu-mas empresas já estão conscientes de seu papel e se preocupam em minimi-zar os efeitos causados pela extração do produto. É o que confirma Denise Ferreira, gerente de uma empresa de comércio e beneficiamento de caulim, localizada na Barra de Juazeirinho. Se-gundo ela, na empresa, todo o rejeito que resulta do processo de decanta-ção do caulim é destinado para um local reservado, que não compromete o meio ambiente, para evitar o asso-reamento dos açudes que existem na região, não prejudicar o crescimento

natural das espécies vegetais, nem contribuir para a infertilidade do solo.

No entanto, a realidade que se vê na região é bastante diferente. Du-rante as chuvas, as águas escorrem e levam consigo os rejeitos depositados sob forma de montantes, tendo como destino as margens de vias estadu-ais e federais, obstruindo o trânsito, causando transtornos à população e criando condições para possíveis acidentes, já que o material quando está molhado fica deslizante. Os em-presários da região acham que esse material não tem nenhuma serventia e para não prejudicar a produção das empresas, não se preocupam em bus-car fazer um planejamento de como não degradar o meio ambiente.

De acordo com moradores da re-gião, outro destino comum para o rejeito, são as margens dos açudes, comprometendo a capacidade de ar-mazenamento de água, quando o ide-al seria criar alternativas para que, de alguma forma, se utilizasse o rejeito do caulim. Alguns pesquisadores es-tão buscando encontrar recursos para provar que o rejeito deste mineral pode sim ser útil. É o que afirma a pes-quisadora Verônica Coelho, que está estudando o produto e suas possíveis aplicações. Na sua opinião, o resíduo pode ser utilizado na fabricação de materiais usados na construção civil, como cimento e argamassa.

Provavelmente, o que falta são ini-ciativas, por parte das empresas que beneficiam o caulim, para aproveitar o produto em todas as suas fases de beneficiamento. Entretanto, parece que o que vem prevalecendo nas be-neficiadoras são o foco no lucro e a

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pouca preocupação ambiental. “Se houvesse uma reflexão maior, eles se-riam obrigados a reconhecer que da-nificar o meio ambiente é uma forma um tanto irracional e covarde, visto que o caulim, que lhes gera fonte de renda, é um produto natural, encon-trado no meio ambiente, aquele que os mesmos exploram grotescamente”, explica Verônica.

Riscos nas minas

de Caulim Antônio Martins Neto, o Tota, le-

vanta todos os dias às 4 horas da ma-nhã. Ele, um irmão e mais dois filhos se preparam para mais um dia de tra-balho nas minas de caulim da cidade de Assunção (PB). A rotina de acordar cedo para trabalhar já virou um hábito para este homem que, há 23 anos, ar-risca sua vida em busca desse mineral que é a sua única fonte de renda.

Assim como ele, a maioria dos tra-balhadores dessa região, conhecida pelos geólogos como província peg-matítica da Borborema, que abrange outras cidades como Junco do Seridó, Salgadinho, Tenório e Equador, tem o caulim como único meio de sobrevi-vência, já que não podem contar com a agricultura, devido à falta de chuvas, condições climáticas e ausência de so-los férteis.

Todos esses fatores levam os tra-balhadores a encontrar na extração do caulim a única alternativa viável para garantir o seu sustento e da famí-

lia. O trabalho da extração do mineral exige muito esforço. Grupos de quatro a seis trabalhadores cavam buracos que podem chegar a 40 metros de profundidade e abrem enormes salões subterrâneos a golpes de ferramentas rústicas.

Eles precisam retirar, de dentro desses buracos, também chamados de “banquetas”, no mínimo 10 toneladas do material por dia, quantidade ne-cessária para encher uma carrada. O trabalho é quase sempre clandestino. Os donos das propriedades de onde é extraído o caulim, não se arriscam na extração do material, mas recebem um valor superior a 10% da produção dos garimpeiros.

Seu Tota recebe, por carrada, um valor equivalente a R$ 80. Desse valor, R$ 10 é destinado ao dono da terra onde ele trabalha. O restante é divi-dido entre os outros que trabalham com ele. Devido às precárias condi-ções de trabalho, a produção diária é de, no máximo, duas carradas por dia. Para aumentar a produtividade, ele e seus companheiros, com muito custo, compraram um guincho, espécie de máquina de tecnologia pouco avança-da, que vem permitindo um aprofun-damento maior e um leve crescimen-to na produção, porém, não minimiza em nada o risco de acidente, nem o esforço físico.

O guincho custou mais do que eles conseguem com a extração, uma vez que levou 700 metros de fio para instalar, consome 12 ou mais horas

de energia elétrica, além de acarretar despesas com a manutenção que, por ser usado em um trabalho tão pesa-do, vem constantemente precisando de reparos. Seu Tota diz que durante todo esse tempo que trabalha nas mi-nas de caulim, nunca sofreu nenhum tipo de acidente, mas nem todos tive-ram a mesma sorte.

Muitos casos de desmoronamen-to, já ocorreram nessa região. Um dos casos mais famosos ocorreu no ano de 2000, quando uma dessas banque-tas desmoronou sobre o maquinis-ta Marcelo Torres Alves, de 28 anos, levando-o a morte. Foram três dias de agonia para a família e todos que acompanharam a tragédia, em busca do corpo que ficou soterrado. Somen-te após cerca de 72 horas o resgate conseguiu abrir os escombros e retirar o corpo.

Marcelo deixou a mulher, Jaqueli-na, e quatro filhos. “Foi uma agonia, mas em um trabalho daqueles é só o que se pode esperar. Não tem condi-ções de se trabalhar confiante num lugar daquele”. desabafa a viúva. Seu Tota encara o trabalho de forma rea-lista. “Não é bom, não é fácil, nem dá para ganhar dinheiro, mas é o que eu aprendi a fazer”, declara. Com os tra-ços de um típico homem nordestino, ele transmite a imagem de um herói, um guerreiro, que não desiste de lutar pela sobrevivência de sua família. Não tem estudos. Mas tem uma bela lição que a vida lhe ensinou. g

1 - Antônio Martins Neto (Seu Tota) em seu local de trabalho2 - Escavação no subsolo feita pelos garimpeiros cria enormes galerias

3 - Garimpeiro descendo na banqueta, através de equipamentos rústicos

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Já foram feitas revoluções por tudo. Ou quase tudo. “Os tempos mudaram”, anunciam as frases feitas e um tanto quanto desgosto-

sas de nossos avós. Muitos movimen-tos já foram realizados, passeatas já reuniram milhões de pessoas nas ruas, mulheres já queimaram sutiãs em praça pública e os jovens já vive-ram um momento de sexo, drogas e Rock and Roll na grama. Mas o que fa-ria você ir agora a um protesto? Qual motivo merece a sua participação em uma revolução? Aumento de preço nas passagens, injustiças sociais, po-

lítica, religião e sexualidade são as razões que saltam como flashes em nossa mente. Mas antes de arregaçar as mangas, você saberia definir o que é revolução?

De acordo com Lemuel Guerra, professor doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atual diretor do Centro de Humanidades da Universidade Fede-ral de Campina Grande (UFCG), toda revolução tem a ver com quebra de sistema, ou de um determinado or-denamento, que se caracteriza pela radicalidade. A revolução estaria, deste modo, em oposição ao conceito

de evolução, que é uma mudança que acontece gradualmente. “A revolução é um rompimento que implica em imediaticidade, não é algo que está planejado, não obedece a um curso natural das coisas”, explica. E tem mais: ela deve integrar categorias como raça, idade e classe social, uni-das em torno de um ideal que atra-vesse todas elas.

Com a definição em mãos, fomos às ruas procurar os nossos candi-datos a revolucionários. E lá estava Marcos Moraes Junior, estudante do 3º ano do ensino médio, do Colégio Estadual da Prata. Com um cabelo

Revolução[ ]

Para que te quero?

por LIGIA COELI, ANA LUIZA ALENCAR e MARCOS SOUZA

comportamento

[Revolução] 1. Ato ou efeito de revolver (se) ou revolucionar (se). 2. Rebelião armada; revolta, sublevação. 3. Transformação radical de estrutura política, econômica e social, dos conceitos artísticos ou científicos, etc. 4. Astr. Movimento de um astro em redor de outro.

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bem diferente, tatuagem no braço e assumidamente fã de bandas no es-tilo hard rock, ele diz que somente iniciaria uma revolução se tivesse um propósito concreto e bem idea-lizado, que fosse de grande interesse para o lado humano. “Não faria uma revolução apenas para meus interes-ses. Seria por algo que mobilizasse as pessoas nessa campanha seja ela qual fosse”, diz.

Clóvis Brasileiro, estudante de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba (com passagens em cursos como Ciências Sociais e Direito) é mais direto e fala de cara numa revolução social. “Neste mo-mento em especial, faria pela redução das injustiças sociais”, diz. “As pesso-as colocam isso (a desigualdade com a classe de trabalhadores e a burgue-sia) como fato do passado, mas hoje seria necessária uma revolução para ao menos minimizar a divisão social no Brasil”, explica.

Para a professora Fátima Araújo, diretora do Centro de Ciências So-ciais Aplicadas da UEPB e também Coordenadora da Cooperativa de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis de Campina Grande (CA-TAMAIS), uma revolução que mere-cia ser feita seria a luta pela natureza. “Se a gente considerar, hoje, a questão ambiental, uma coisa que pra mim é vital, e a gente não percebe, eu diria o seguinte: nós temos que pensar em algo, porque estamos acomodados,

estamos parados, perdemos o refe-rencial de luta”.

E quando perguntada sobre o que considera como o maior exemplo já ocorrido de coragem na tentativa de modificar a realidade, Fátima não he-sita em responder: a Revolução Rus-sa, de 1917. “É um grande referencial de luta, de mudança, que trouxe um novo paradigma de sociedade, uma proposta de encaminhamento socia-lista”, explica. Ela diz, ainda, que esse referencial de luta não caiu.

A voz experiente de Geraldo Sar-mento de Sousa, 58 anos, já não espe-cifica um motivo de revolução, mas deixa um recado. “Quando temos um alvo a ser atingido, quando esse alvo vai mudar o nosso futuro ou o de ou-tras pessoas, quando isso pode ser re-almente bom, aí então é motivo para se fazer uma revolução”. Ele fala, num tom amargurado, que as revoluções tomaram conta do mundo em sua ju-ventude, “mas não vejo os jovens de hoje fazerem nada”.

Mas, espera aí. Se hoje temos ra-zões de sobra para fazer revoluções, quais os possíveis motivos para que elas não estejam acontecendo? Le-muel Guerra explica que, no nosso tempo, as pessoas não conseguem pensar em algo que não esteja des-ligado da realidade. “Não é que não haja motivos. As tragédias, indigni-dades, situações trágicas continuam, mas elas estão cada vez mais natura-lizadas”, diz. Talvez esteja aí uma dica

para entender porque as revoluções estão recebendo muito menos espa-ço atualmente.

Clóvis associa esse aparente de-sânimo a outra nuance. Ele acredita que a apatia dos jovens diante dos possíveis motivos para fazer revolu-ção está na individualidade, atitude comum nos dias de hoje. “Você é edu-cado desde o começo a ser o melhor da classe, o primeiro lugar do vesti-bular. São sempre metas muito indi-viduais, que se afastam cada vez mais do senso de coletividade”, ressalta.

Ao que parece, o ponto comum para uma discussão como essa fica atrelada a outro conceito intimamen-te presente quando se fala em revolu-cionar: as utopias. “Esse desejo fazia com que as pessoas se identificassem uma com as outras e canalizava isso para movimentos de massa”, defende Clóvis. Lemuel nos lembra que, entre o século XIX e a metade do século XX, no imaginário das culturas ocidentais e orientais, havia um questionamento a respeito da realidade. Isso significa que, (adivinhe!) “havia a possibilida-de de construir e realizar utopias”.

Mas, e hoje? Onde foi parar o nos-so desconforto com o real? Talvez em algumas estampas com o famigerado barbudo Che-Guevara, que acabou virando um ícone pop imprescindível nas blusas dos universitários, pero no mucho, que se prezem. g

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FOTOS: REPRODUÇÃO

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solidariedade

Trabalho voluntárioFaça sua parte![ ] Um caso em que as

desculpas se minimizam para dar espaço à solidariedade

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Maria José Amado, tia Tita para os íntimos, coordenadora de uma ONG de apoio à crian-ças e adolescentes no

bairro da Ramadinha, em Campina Grande, explica a sua motivação para o trabalho voluntário: “Onde eu esti-ver e pelo tempo que estiver, quero fa-zer a diferença”. Além dessa atividade, tia Tita é enfermeira, mãe, e há mais de 20 anos divide o seu tempo entre a rotina de suas atividades pessoais e voluntárias.

Conciliar tantas atividades não é a parte mais difícil. Sua maior pre-ocupação está em ajudar às crianças e adolescentes carentes da ONG que coordena, em “estimulá-los a serem cidadãos responsáveis em sua cidade, igreja, país, para que eles possam con-tribuir em diversos ambientes duran-te suas vidas, além de fazer com que eles também percebam em si os seus próprios valores”, afirma.

Este é o exemplo de uma geração de voluntários que tem ido além das doações de roupas, brinquedos ou dinheiro aos mais necessitados. En-volvendo-se de forma direta com pro-jetos sociais, eles têm compartilhado parte de seu tempo promovendo ativi-dades culturais, ministrando aulas de reforço escolar, oferecendo apoio psi-cológico aos jovens e famílias, espor-tes, lazer, clubes de incentivo à leitura, trabalhos de reintegração social, entre outras atividades.

Jovens, em sua maioria, os voluntá-rios de hoje participam mais ativamen-te das ações sociais nas comunidades

onde vivem, dividindo as preocupações do seu dia-a-dia de escola, universidade e trabalho com as diferenças sociais e problemas comunitários da sua cidade. O estudante do 2º ano do ensino médio, Jonathas Almeida, 18 anos, afirma que se sente realizado em ajudar. “É muito bom saber que posso ajudar outras pes-soas, e não é difícil, porque só estudo de manhã”.

Na equipe da tia Tita, grande parte dos voluntários tem o mesmo perfil do Jonathas, mas todos precisam ter bom desempenho na escola para poder con-tinuar ajudando. “Precisam ser exem-plos”, diz tia Tita. A preocupação com a crise econômica mundial divide espaço com a constante pressa e ocupação de cada indivíduo em busca de seus objeti-vos e metas pessoais. Nossa sociedade, mais do que moderna e tão veloz quanto o avanço das tecnologias, convive com diferentes realidades sociais compondo nossos cenários urbanos. São crianças pedintes em sinal, catadores de lixo e jo-vens prostitutas, tornando-se por vezes comuns aos olhos de quem os veem.

Felizmente, esta não é uma si-tuação considerada comum por to-dos. Diferente de alguns anos atrás, hoje há uma grande disseminação de ONGs, empresas levantando a bandei-ra da responsabilidade social, grandes campanhas na mídia e um número cada vez mais crescente de voluntá-rios dispondo-se a ajudar ao próxi-mo. As grandes empresas também já dispõem de programas internos que incentivam os funcionários a se envol-ver em projetos sociais e compartilhar suas experiências.

Foi o caso de Verônica Ceres, ad-ministradora e funcionária de uma grande empresa que mantêm um pro-grama de voluntários. “No começo foi muito difícil usar meu tempo livre para me envolver nos projetos, mas, com o tempo, fui aprendendo a or-ganizar minhas prioridades e, hoje, o trabalho é gratificante. Não consegui-ria mais deixar de participar”, afirma. Em outros casos, a instituição oferece suporte financeiro para entidades que desempenhem esta tarefa.

A sociedade tem respondido a esta onda de solidariedade com olhos atentos, envolvendo o Ministério Pú-blico na fiscalização destas organiza-ções, solicitando informações do uso de dinheiro doado em grandes cam-panhas e cobrando resultados con-cretos de projetos divulgados. A tia Tita, da Ramadinha, vê esta cobrança de forma muito positiva, ressaltando que “é bom mesmo que o povo cobre das organizações, assim o espaço para pessoas descomprometidas fica cada vez menor, e quem precisa pode ser ajudado de verdade”.

Doar tempo, hoje, na sociedade em que vivemos, parece ser um desa-fio tão grande quanto tentar mudar, de alguma forma, as grandes discre-pâncias sociais e econômicas que te-mos no nosso país. Mas é possível, se houver motivação suficiente e consci-ência que trabalhos como estes têm resultados em longo prazo. Seguindo assim, muito em breve teremos uma nova geração muito mais preocupada com o próximo que, por vezes, está bem perto, no próximo sinal. g

por ANDRÉ BRASIL, DANIELLE SOBRAL e MONICKY ARAÚJO

É bom mesmo que o povo cobre das organizações,

assim o espaço para pessoas descomprometidas fica cada vez menor, e quem precisa

pode ser ajudado de verdade

Tia Tita

FOTOS: ACERVO PARTICULAR

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música regional

por LIGIA COELI

BaixinhoNa embolada do

Nasceu no Brejo paraiba-no o pandeirista contem-porâneo mais conhecido pelos músicos da cidade e paradoxalmente invisível

a uma população que passa por ele to-dos os dias sem o notar. O lugar é Alagoa de Remígio e a data 15 de maio de 1940. Mudou-se para a cidade de Esperança e parece que o nome do lugar lhe deu forças. “Segui minha carreira de pandei-rista lá”, vai dizendo enquanto conversa com os olhos miúdos e pretos, fixos no pessoal que passa.

Uma lata de doce e tampinhas de garrafas amassadas foi matéria-prima para José Pedro Fernandes confeccionar

[ ] A história de amor e fidelidade à música do pipoqueiro pandeirista

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seu primeiro pandeiro. Tinha 13 anos de idade e foi aprendendo sozinho a tocar o instrumento improvisado, cortando os dedos e fazendo zoa-da com os amigos no meio da rua. Escutou mui-ta gente perguntar “Para que essa lata de doce, menino?”. Ao que respondia convicto: “para to-car”. Só carregou um pandeiro de verdade aos 17 anos. “Era um Paulista, de uma fábrica que já fechou”, relembra.

Com um chapéu preto enfeitado de peque-nos pedaços metálicos, em forma de círculos e estrelas, a aba aparada por ele mesmo, o homem caminha com um sobretudo negro e botas. O es-tojo preto que carrega, cuidadosamente, debai-xo do braço guarda o seu melhor amigo: um pan-deiro. Lá está ele. Pernas cruzadas numa postura imponente e pequenas cuspidelas para pontuar a sua fala.

Não é difícil encontrá-lo sentado num dos bancos da Praça da Bandeira. Fez muitos amigos por lá, gente que gosta de escutar suas conver-sas, histórias engraçadas ou, simplesmente, ou-vir o barulhinho bom que o seu pandeiro faz. De longe enxerga-se o nome feito com tecido dou-rado, colados por ele na napa preta que envolve o seu tesouro. O José Pedro de hoje é diferente, chama-se Baixinho do Pandeiro.

Desde cedo carregava a ansiedade em ser músico. “Outro instrumento não, mas o pandei-ro foi minha namorada, minha noiva”. Tanto que ele discute a relação sem maiores esforços. Co-loca um CD, “às vezes CD de Rock mesmo”, e vai escutando a pancada, acompanhando o ritmo. “Eu estudo o pandeiro todo dia em casa”. Está explicada a paixão.

Foi pipoqueiro por 35 anos, mas não tinha jeito. “Era a pipoqueira funcionando e eu tocan-do o samba”, comenta. De vez em quando tirava sua “noiva” para dançar enquanto os clientes se deliciavam com a pipoca. Ele jura que não era por vaidade. “Eu toco porque gosto, é para todo mundo saber que o Baixinho não está esqueci-do”. Quando sai com suas roupas elegantes do dia - calça branca e camisa xadrez – as pessoas perguntam se vai fazer exame. “Eu digo que sim. Vou fazer exame de Pandeiro”. Com a respos-ta na ponta da língua vai dando o diagnóstico como ninguém.

- Se a sua vida fosse um livro, quantas pági-nas ela teria? “Ah, minha filha, era uma Bíblia”. De fato, vendo as pontas dos dedos esbranqui-çadas de tanto segurar com força o pandeiro, tamanha a sua devoção por ele, fica difícil não acreditar na quantidade de “Ave-Marias” inspira-das por aqueles batuques. E ficou fácil constatar que, desse Baixinho, eu só escrevi uma linha. g

O meu pandeiro é meu melhor amigo, minha namorada,

minha noiva

FOTO

S: L

IGIA

COE

LI

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Cantado em músicas, lembrado em poesias, falado em versos, tema de filmes, presença in-dispensável em rodas de

conversas. Com quem brincar? Com quem desabafar? Em quem confiar? Com quem ir? Com quem conversar? A quem contar aquela “fofoca” ou aquele “babado”? Onde quer que vá, sempre sentirás a presença dele. Pela natureza social do ser humano, ele é extremamente importante na vida de todos nós.

Às vezes o descobrimos na infân-cia, fazendo parte do nosso cresci-mento, mas isso não impede de o en-contrarmos, também, na idade adulta. Talvez por nossa família deixar algu-mas lacunas incompletas, utilizamo-lo para preenchê-las. E é aí onde mora

o perigo. Tornamo-lo deveras impor-tante para nós. Será que ele é benévolo ou malévolo? A partir de quando sua presença deixa de ser benéfica e passa a ser maléfica?

Amigo pai, pai amigo, amiga mãe, mãe amiga, amiga irmã, irmã ami-ga, amigo irmão, irmão amigo. Essa troca de personalidades é algo dile-mático. Tanto para os pais que não admitem contestações relacionadas à sua autoridade, quanto para os fi-lhos que se sentem no direito de fazer suas próprias escolhas. Os pais veem, muitas vezes, o amigo como intruso, enquanto os filhos, por se sentirem não compreendidos pelos pais, veem o amigo como aliado, afinal, segundo a Canção da América, “amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração”.

Essa aliança preocupa os pais, pelo fato de o adolescente ser bastante in-fluenciável, se deixar levar pelos ou-tros e, muitas vezes, colocar em prá-tica os desafios, os conhecimentos de mundo, de forma negativa. Segundo a psicopedagoga Iolanda Moreira quan-do o adolescente vem de um lar bem estruturado, torna-se mais fácil vencer essas influências, como, por exemplo, o uso do álcool, de drogas e outras coi-sas que permeiam seu cotidiano.

Iolanda acrescenta que “a influ-ência dos amigos é benéfica até o ponto onde o jovem não pratica o proposto das amizades negativas. Conseqüentemente, ao entrar no mundo das drogas, do crime e do ‘pode tudo’ – por ser menor – está indo para um campo minado, a ex-plosão negativa virá à tona em segui-

por ELIÉZER AGUIAR e ILANILDO MOREIRA[ ] “Amigo é que nem parafuso, a gente só conhece

os bons na hora do aperto” (provérbio popular)

Quem é ele? Ele é você!

amizade

FOTOS: REPRODUÇÃO

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da”. Ela complementa que, quando a índole não é permissiva, o jovem não se deixa enfraquecer e toca seu ca-minho de forma influenciada total-mente no aspecto positivo.

Quando se refere à criança, a pre-ocupação se acentua pela falta de discernimento, tanto em diferenciar o certo do errado quanto nas esco-lhas das amizades. Por não saber o que é certo e errado, a prática dos mesmos não influenciará nem con-tribuirá em suas decisões. Isso gera uma enorme responsabilidade por parte dos pais no intuito de, desde cedo, colocar para a criança os prin-cípios morais, os valores da vida, dis-cernir o “certo” do “errado”, mostrar que a dignidade está acima do “bem” e do “mal” e, também, conquistar a confiança da criança para que quan-do ela crescer não prefira a opinião das amizades à revelia dos pais.

A autoridade dos pais deve se consolidar ainda na infância, por que quando a adolescência chega, as coisas se agravam. Os grupinhos são formados e a influência dos amigos no comportamento do jovem passa a ser maior até que a dos pais. Nes-te caso, Iolanda Moreira, aconselha a buscar o diálogo, saber quem são os amigos dos filhos, onde andam, ficar mais próximo do filho. Faz-se necessário ter conhecimento sobre as ações deles, porque os adolescen-tes passam mais tempo com os ami-gos do que com os pais. “Os pais não têm tempo para os filhos”, reclama Nezinho Paulino, 58, advogado apo-sentado.

É preciso que os pais passem mais tempo com os filhos, se entro-sem com os adolescentes, mostrem interesse, para que eles se sintam seguros e, assim, sejam cativados. É preciso uma atitude dos pais em re-lação à divisão do tempo dos filhos para que eles não fiquem em des-vantagem em relação às amizades. Tempo para os estudos, tempo para os amigos e tempo para a família.

Mesmo passando pouco tempo com os filhos e tendo suas opini-ões renegadas à revelia dos amigos, os pais têm uma carta na manga: a importância dada à família pelos jo-vens. Uma pesquisa do Instituto Da-tafolha, divulgada em julho de 2008, diz que praticamente 99% dos jovens consideram a família como o fator mais importante em suas vidas. Em terceiro lugar estão os amigos. Então, o ponto é saber usar essa vantagem para exercer influência de forma po-sitiva. O mais importante é avaliar a forma como vai lidar com essa troca de valores entre o filho seus amigos.

“A família é a célula estruturante de nossas vidas, o papel dela é mais relevante e, desta foma, devemos conduzir os valores, éticos, morais, sociais, espirituais, sabendo que o amigo é passageiro e a família é para toda a vida”, diz Yolanda. Para o apo-sentado Nezinho Paulino, “os pais devem partir do princípio de que as amizades são passageiras e a família duradoura, os pais podem fazer uso da confiança adquirida junto aos filhos e da importância dada pelos filhos à família para, de uma forma

diplomática, impor sua autoridade”. Ele acrescenta que no momento

de se impor deve-se ter o cuidado para não cruzar a linha tênue entre autoridade e autoritarismo, evitando a criação de conflitos que tornariam a relação pai e filho algo desagradá-vel. O mais importante é orientar os filhos e atentar-se aos comporta-mentos não como forma de controle, mas como orientação, porque mais vale uma conversa franca, revelando medos e preocupações por parte dos pais e dos filhos, do que um simples castigo ou proibição.

Para Iolanda, “uma boa conversa, uma orientação centrada nas coisas boas, permissivas e nas coisas más, proibidas, induzindo-lhes os fatores do medo e da preocupação, levando-os ao conhecimento da experiência, para um seguimento satisfatório e lucrativo na vida do jovem, e, não deixá-lo de castigo ou puni-lo, sa-bendo que irá revoltá-lo, poderá modificar qualquer comportamento impróprio”.

O uso do bom senso é fundamen-tal numa conversa de pai e filho. Sa-ber negociar é uma ótima solução. A psicopedagoga aconselha: “desen-volva a auto-estima do seu filho, faça com que ele acredite mais em si mes-mo e precise menos das opiniões dos outros. Mostre a ele o seu potencial valoroso, suas capacidades e que ele precisa, tão somente, acreditar que é capaz de se conduzir na busca dos seus sonhos, e fazê-los realizar, mos-trar que os outros são os outros e que apenas você é você”. g

amizade x drogadiçãosa

iba m

aisAo analisar os fatores que contribuem para os jovens iniciar o

consumo de drogas, segundo estudantes, o de maior importância foi a curiosidade e o de menor importância foram os amigos próximos, para os alunos de escola pública, e pessoas estranhas, para os alunos de escolas particulares.

No tocante à continuidade do consumo de drogas, o fator de maior importância foi a dependência química, o fator menos rele-vante, para alunos de escola pública, foi a influência de amigos, en-quanto que para os alunos de escolas particulares foi a fuga de pro-blemas pessoais. Também se perguntou sobre o que leva os jovens a parar de consumir drogas. O apoio da família foi considerado funda-mental pelos alunos de escolas particulares enquanto que o prejuízo à saúde foi unanimidade entre os alunos de escolas públicas. O fator

perda de amizades foi apontado como o de menor importância.Em resumo, na opinião dos adolescentes, o grupo influencia

o início e a continuidade do uso de drogas, entretanto, para lar-gar o vício, a influência familiar é fundamental. A curiosidade, característica da adolescência, tem certa relevância com relação ao início do consumo de drogas. Isso acentua a vulnerabilidade dos adolescentes, além de suas incessantes buscas por experiên-cias novas.

A pesquisa teve como objetivo verificar como o fator “relacio-namento” pode interferir com o uso e o deixar de utilizar drogas, segundo a visão dos adolescentes. O estudo foi conduzido com 56 adolescentes estudantes de primeiro colegial de escolas públicas e particulares, da cidade de São Carlos (SP).

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comunicação

Medo de falar em público

Falar bem em público é uma das qualidades im-prescindíveis para o pro-fissional de comunicação. Entretanto, salvo algumas

exceções, está não é uma habilida-de nata, mas sim, um aprendizado constante e possível para pessoas disciplinadas e interessadas em me-lhorar sua retórica. No Brasil, existem diversos profissionais renomados no ensino da oratória. Nomes como Os-valdo Melantonio e Reinaldo Polito são sempre lembrados quando se fala no ensino da expressão verbal.

Em Campina Grande, algumas empresas oferecem cursos profis-sionalizantes, porém específicos em oratória não são muito comuns de se ver. Quando aparece um curso dessa envergadura, na maioria das vezes, são ministrados por especialistas em

áreas afins da comunicação. O mes-mo problema é corriqueiro no Brasil. Ao pesquisar sobre cursos de orató-ria pelo país, se percebe, em primeiro lugar, que as opções são tentadoras para o bolso do aluno, os preços são imbatíveis e a garantia de um ensino de qualidade são a máxima transmi-tida nas propagandas.

Desejosas de aprender a falar em público, muitas pessoas se matri-culam nesses cursos de baixa quali-dade, perdem tempo e dinheiro e, o pior: saem de lá com o mesmo pro-blema com o qual entraram. Para se defender dessas armadilhas é preciso fazer uma pesquisa minuciosa à res-peito da credibilidade do curso. Uma iniciativa da turma de concluintes 2009.1, do curso de Comunicação So-cial da Universidade Estadual da Pa-raíba (UEPB), tem se destacado nesse

[ ] Cursos profissionalizantes podem ser uma ótima saída para quem

tem problemas com oratória

por MIRIAM SOUZA e YURI GUEDES

FOTOS: REPRODUÇÃO

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21junho.09

oratória

saiba

mais

sentido. Para pagar as despesas com a festa de formatura, os concluintes organizaram duas edições do curso “Falando sem complicação”, um cur-so de oratória aberto a toda a comu-nidade campinense.

Nas duas edições realizadas, o curso foi um sucesso. O ministrante do curso, o bacharelando Geovanne Santos conta que a ideia foi fruto de uma necessidade antiga percebida pela turma concluinte: a falta de ha-bilidade para falar em público dos iniciantes no curso de jornalismo. “Não foi só a necessidade de conse-guir fundos para a nossa festa que nos motivou, mas a oportunidade de fazer um trabalho que trouxesse vi-sitantes para conhecer nosso curso”, diz Geovanne. Os alunos que partici-param do curso disseram sair satis-feitos com o trabalho realizado pela comissão.

O estudante Ícaro Guedes disse que deseja participar de outras edi-ções do curso. Ele afirma que “aper-feiçoar a comunicação é algo que re-quer esforço e dedicação”. Os cursos foram ministrados em salas de aula da própria Universidade e as inscri-ções custaram 10 reais. O preço, se-gundo o estudante Akyles Mykeias, fez com que ele e seus colegas, da UNESC Faculdades, participassem do curso. “Como iniciantes no curso de Direito, temos que ir nos habitu-ando com a plateia” afirma ele.

Outras iniciativas para o ensino da expressão verbal são encontradas no curso de Arte e Mídia da Univer-sidade Federal de Campina Grande (UFCG). O Departamento abriu cur-

Aperfeiçoar a comunicação é algo que requer esforço

e dedicação

sos de extensão voltados para a área da oratória. “Técnica Vocal” e “Co-nhecendo a Voz” são exemplos, nos quais diversas pessoas se inscrevem para aprimorar e superar o medo de falar em público, além de se relacio-nar com as pessoas.

A fonoaudióloga Waldelice Pinho, formada pela Faculdade Estácio de Sá e pós-graduada pela Universidade Federal de Ciências da Filosofia, con-firma essa tendência. Ela ministra o curso “Conhecendo a Voz” e assegura ser vital o uso da fala no cotidiano. “Ela identifica você, expressa os sen-timentos, a vontade de se comunicar e conclui o momento da relação”, afirma Waldelice.

O curso da professora de Arte e Mídia é voltado para pessoas que de-sejam conhecer e utilizar melhor a voz, além de aprimorar sua utilização e ajudar a vencer a timidez. Para tan-to, é necessário superar o obstáculo mais visível: o medo de falar em pú-blico. Esta barreira, “interfere com o processo de comunicação, funciona como bloqueio mental e expressivo, onde a pessoa vê limites quando se quer expressar, para isso é necessário o equilíbrio”, observa Waldelice.Dian-te de sua experiência de 21 anos na fonoaudiologia, ela aconselha a quem tem alguma dificuldade de se expres-sar em público, o acompanhamento de um especialista na área, mas é necessário ter vontade de superação, ressalta. “Procurar ajuda profissio-nal especializada é necessário. Mas isso também deve ser acompanhado da disposição da pessoa que dese-ja vencer, superar este sofrimento”, conclui. g

Trata-se de método de discur-so. Arte de como falar em pú-blico. Conjunto de regras e téc-nicas que permitem apurar as qualidades pessoais de quem se destina a falar em público.

Na Grécia Antiga, e mes-mo em Roma, a oratória era estudada como com-ponente da retórica (ou seja, composição e apre-sentação de discursos), e era considerada uma importante habilidade na vida pública e priva-da. Aristóteles e Quinti-liano estão entre os mais conhecidos autores sobre o tema na antiguidade.

Com o passar dos tempos, a oratória se aprimorou como curso, que hoje é oferecido em todo o Brasil, como for-ma de driblar a timidez e/ou aprimo-rar o falar em público, tão exigido dos profissionais, em especial na área de humanidades. Uma boa oratória tam-bém auxilia na lida diária do relacio-namento interpessoal.

Ícaro Guedesestudante

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22 junho.09

português

Rapariga é moça apenas em Portugal

Reforma Ortográfica: quem já se adaptou?

por MARCELO HENRIQUE ANDRADE e ZUILA DAVID

Muita coisa não será como antes. Nada de usar os acentos circunflexos nos hiatos enjoo e voo. Se an-

tes você escrevia os ditongos ideia e assembleia com acento agudo, agora não precisa mais usá-los. Nada de utili-zar hífen em infra estrutura, que agora, além de tudo, são duas palavrinhas se-paradas. Enfim, nossos avós tinham um pouco de razão quando pronunciavam o verbete tranquilo sem a pronúncia da vogal u, afinal o trema foi abolido, ex-ceto nas palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros como Müller.

Complicadas ou fáceis, essas e ou-tras mudanças fazem parte da Refor-ma Ortográfica, série de novas regras na Língua Portuguesa proposta pela ABL, Academia Brasileira de Letras e discutida desde 1990, quando os oito países de Língua Portuguesa se reuni-ram para discutir a igualdade do idio-ma. Em setembro do ano passado, o presidente Lula tornou oficial a intro-dução da Reforma no Brasil para ter início a partir de janeiro desse ano com prazo de adaptação de livros, concur-sos e vestibulares até 2012.

A ideia [sem acento agudo] do Mi-nistério da Educação é uniformizar a Língua, dar homogeneidade ao idioma vigente não só aqui, mas em Portugal, São Tomé e Príncipe, Angola, Timor Leste, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Mo-çambique.

Não é a primeira vez que uma re-forma é feita na Língua Portuguesa. No século XX, durante o Estado Novo, no Regime de Getúlio Vagas em 1943, e depois em 1971, durante o governo do presidente Médici. Mas a proposta na época não foi bem aceita e causou uma confusão geral para não acentuar as palavras paroxítonas abertas e fecha-das. O que aconteceu é que professores e alunos deixaram de acentuar todas.

Em 2009, a intenção de unir o que é falado e escrito aqui com o desses ou-tros países não ganhou apoio de quem entende do assunto, como discorda o dicionarista e escritor Fernando Jorge. Na sua coluna Língua Portuguesa, da Revista Imprensa (nº 238, de setembro

de 2008, páginas 92 e 93), o jornalista afirma: “Sou contra a Reforma Orto-gráfica”. Para Jorge, “a Reforma é um caminho para complicar o que é fácil”. “A mudança pretendida pela ABL não uniformiza a Língua. As diferenças linguísticas vão muito visíveis. A pro-núncia de numerosas palavras jamais será igual. Em Portugal, por exemplo, comboio é trem, elétrico é bonde, peão é pedestre, bicha é fila e hospedeira de bordo é aeromoça”, rebate.

Segundo ele, retirar os acentos de certas palavras é uma medida que só complica a pronúncia. “Enjoo sem acento parece soar enjooo; em jiboia e plateia, os ditongos parecem ser fecha-dos. É o mesmo que pronunciar jibôia e platêia”, explica.

Em contrapartida, alguns profes-sores gostaram da ideia de unificar o Português. Com três livros publicados, a professora Samelly Xavier, que tra-balha com redação e produção textual há cinco anos lembra da importância da unificação. “Isso será útil para uma questão de globalização, de língua-na-ção, de união”, diz.

Alguns alunos estão encontrando muitas dificuldades na hora de escre-ver as redações, como é o caso do estu-dante Mário Júnior, que há dois meses se prepara para um concurso público. Para ele, a maior dificuldade da mu-dança está nas palavras compostas, separadas por hífen, a exemplo de an-tisséptico, que até há pouco, era anti-séptico, a tal comum ultra-sonografia grafa-se ultrassonografia, e microô-nibus, que não possuía hífen, agora é micro-ônibus.

Os concursos e os vestibulares aceitarão até 31 de dezembro de 2012, as duas formas, a antiga e a nova, tanto para as questões de múltipla escolha, quanto para redações e questões dis-cursivas. O plano faz parte do período de transição estabelecido pelo Con-gresso Nacional Brasileiro.

A Fundação Cesgranrio, uma das mais importantes organizadoras de concursos do país, já implantará a Re-forma este ano, mas irá considerar as normas antigas. Em caso de dúvida, a

organização da instituição divulgará as exigências nos editais dos concursos. A gerente do Departamento Acadêmico, Maria Vitória Teixeira recomenda que para não ter problemas o ideal é come-çar a estudar as novas palavras a partir de agora.

A professora Cláudia Beltrão da Central de Concursos recomenda aos alunos de cursinhos e pré-vestibulares que não comentam o erro de misturar o atual com o novo se ele não estiver dominando as novidades. Segundo ela, nas provas dissertativas por exemplo, o candidato deve escolher uma das duas formas e não misturá-las em hipótese alguma. Já para facilitar a dúvida da maioria dos alunos quanto ao hífen, mudança mais preocupante, ela afirma radicalmente: “Tem que ser na ‘decore-ba’ mesmo, pelo menos por enquanto”.

Os livros e dicionários estão sen-do substituídos por novas edições que vêm com um selo do acordo ortográfi-co nas capas. Mas se esse fosse todo o problema de quem estuda a gramática há muito tempo seria bom.

A professora Samelly Xavier tran-quiliza os desesperados. “Toda mudan-ça de início choca. Eu me pego acentu-ando a palavra ideia inúmeras vezes. Mas com o tempo quem realmente estuda e pratica terá facilidade em es-crever com as novas formas”, explica, e acrescenta: “haverá estranhamento em ver algumas palavras escritas de forma diferente. Na dúvida, recorram ao di-cionário, ao novo dicionário”.

No entanto, quando a pergunta é o prazo de adaptação até 2012, estipula-do pelo Ministro Fernando Haddad, ela rebate: “nem daqui a três anos, nem em 3015, as pessoas estarão dominando as peculiaridades ortográficas. Antes disso, as pessoas também não se adap-taram a muitas outras regras já exis-tentes na Língua. Ou seja, o prazo será útil apenas para apaziguar as diversas opiniões sobre Reforma, mas de apren-dizado, ainda haverá demora”, diz.

Portanto, além de muito estudo para entender as novas regras, tudo está tranqüilo, aliás, tranquilo, sem trema. g

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por RENATA RODRIGUES, RAILANI GOMES e VANESSA LIMA

[ ] Em tempos de aquecimento global, algumas instituições se preocupam em

ajudar o planeta a respirar melhor

meio ambiente

Muito tem se falado sobre aquecimento global e seus efeitos sobre o pla-neta. No último século, a

temperatura terrestre foi se elevando graças ao considerável aumento da quantidade de gás carbônico (CO2) jogado na atmosfera. Esse aumento afetou os sistemas físicos, biológicos e humanos da Terra. A emissão de CO2 pode levar à redução das áreas glaciais, perda da biodiversidade, problemas climáticos como secas, inundações e ondas de calor e, ainda, aumento de enfermidades.

De acordo com o último relatório (Painel Vivo 2006) do Painel Intergo-vernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em feverei-ro de 2007, os efeitos do aquecimento da Terra se tornarão irreversíveis nos próximos cem anos e o ser humano é o grande responsável pelo efeito estu-fa. Por esses motivos, toda população deve se preocupar com o aquecimen-to e nutrir consciência ambiental, porque zelar pelo meio ambiente não é responsabilidade, apenas, das gran-des corporações e governos.

Com o pensar coletivo, algumas instituições de Campina Grande in-centivam a sociedade a colaborar com o meio ambiente. Exemplo disso

é a Universidade Estadual da Paraí-ba (UEPB), que desde maio de 2007 desenvolve a campanha “Adote uma árvore”, que consiste na arborização da cidade através da distribuição e plantio de mudas de várias espécies. Coordenado pelo servidor Arnaldo Bezerra, a iniciativa da UEPB possi-bilita suprir um déficit de cerca de 1 milhão de árvores na cidade, ameni-zando os efeitos emitidos pelos gases lançados na atmosfera.

“Muito se fala no aquecimento global provocado pelas queimadas, pelo desmatamento das florestas, mas a maioria esquece das cidades que poluem constantemente”, lembra Arnaldo Bezerra. Através do “Adote uma árvore”, cerca de oito mil mudas já foram plantadas em diversos bair-ros de Campina e em outras cidades parceiras do projeto.

Várias espécies, como pau-brasil, acácia, aroeira, ingazeira, jatobá e sabiá são distribuídas entre morado-res que, ao optar por ter uma árvore plantada em seu quintal ou terreno, assinam um termo de responsabili-dade se comprometendo em forne-cer os cuidados necessários ao de-senvolvimento da planta. Foi o que fez a aposentada Maria de Lourdes, 73 anos, quando adotou uma árvore, não só por uma questão ornamental,

mas com o intuito de ajudar o meio ambiente. “Tenho 24 netos e adotei essa árvore pensando no futuro de-les”, afirma a aposentada.

Outra iniciativa importante reali-zada pela UEPB é o “Trote Ecológico”, uma maneira diferente de recepcionar os novos alunos que estão entrando na Universidade. O Trote Ecológico, que acontece desde 2008, tem por ob-jetivo estabelecer uma nova cultura, com ações de conscientização, atra-vés de iniciativas de desenvolvimento social. Essa idéia surgiu dos próprios alunos que buscavam algo para evi-tar a violência e os constrangimen-tos que muitos passavam durante os trotes. Os estudantes participam de atividades que envolvem plantio de mudas no Campus, participam de pa-lestras e atividades culturais. Mais de 400 mudas foram plantadas somente no trote desse ano.

Mas para ajudar o mundo e atenu-ar o aquecimento global, plantar ár-vores não é a única solução, existem várias ações que podemos fazer no dia-a-dia, como economizar energia, reciclar resíduos sólidos, diminuir o desmatamento e usar, de forma mo-derada, carros e motos. Essas são al-gumas das ações que podem melho-rar o nosso meio ambiente e tornar o planeta mais saudável. g

Maria de Lourdes, 73 anos: “Tenho 24 netos e adotei uma árvore pensando no futuro deles”

essa ideiaAdote

Quem tiver interesse em adquirir mudas para plantio ou material informativo é só ligar para o número (83) 8620-7186 e falar com Arnaldo Bezerra. Socialize essa ideia!

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