revista kalango #6
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Jornalismo colaborativo, multiculturalismo, arte, cultura, ecologia, meio ambiente, sustentabilidade, política, religião, fotografia, cinema, teatro, design, ciência, tecnologia, participação, solidariedade, mundo, música e muito mais...TRANSCRIPT
HAVANA/CUBA para ficar na memóriaJimmi Hendrix e Jim Morrisson, juntos
KaOS
NAS
CIDADES
alango #6
LEONARDO BOFF A doença chamada homem
COLUNISTAS10 - Delta9 12 - Paulo Netho 13 - Haissem Abaki 14 - Leonardo Boff
CAPA - CAOS 42 - Moriti Neto44 - Mário Sérgio de Moraes
46 - Orivaldo Leme Biagi
48 - Claudinei Nakasone
LETRAS16 - Marcelino Lima - Fumaça e a Lua
17 - Amne Faria - Sinta a sombra
18 - Ana Melo - Estante20 - Thiago Cervan - Estudante
TECNOLOGIA22 - Juliano Sasaki - Diy: Do it Yourself
ARTE28 - Marta Alvim - Vitor Carvalho: Pesquisa visual vira livro
MULTICULTURALISMO30 - Felipe Brito - Afoxé Ilê Omo Dada
CIÊNCIA50 - Hemerson Brandão - Mensageiros das Estrelas
MÚSICA - PUB: FIVE TO ONE e BOLD as LOVE
56 - Eric Brandão - Five to One abre as portas da percepção
58 - Osni Dias- Os caminhos do 5 to 1 e Tributo a Hendrix
MUNDO64 - Marli e André Lucas Pereira - Cuba: Uma viagem para ficar na memória
TEATRO84 - Luciano Costa - Coletivo Dolores ganha Prêmio Shell
86 - Fernando Cruz - Tekoha: teatro colaborativo é premiado
Indice
Foto: NASA
Foto: ARQUIVO PESSOAL
FELIPE BRITO
Editorial
Editor/Programação Visual: Osni Dias MTb21.511 Edição de textos: Ana Melo MTb 22150
REPRODUÇÃO
Depois das tragédias do final do ano passado – enchentes, invasões nas favelas, ações policiais truculentas – a cidade maravilhosa assiste a mais um capítulo da barbárie civilizada: massacre de crianças em uma escola do Realengo. Sei não... Parece que a futura sede das Olimpíadas e da Copa do Mundo está carecendo de reformas sociais urgentes! Não digo reformas estruturais (essas também são necessárias, é verdade), mas falo de outras mudanças. Quem sabe até uma “Virada Social”, seguindo os passos da Virada Cultural em São Paulo. Arte, música, solidariedade, vontade de ajudar, colaboração, ações coletivas... Além das páginas de jornais e revistas e dos noticiários, que trouxeram vastas análises sobre o caso no Rio, a reflexão sobre a violência urbana e seus entornos precisa chegar efetivamente até nós, cidadãos, que vivemos todos os dias a vida caótica nas grandes cidades. Programas de governo ainda não foram capazes de dar conta de questões como essa. Tampouco os templos religiosos espalhados pelo país e canais de rádio e TV. A concentração dos meios de comunicação no Brasil impede que a sociedade discuta seus problemas e aproxime aqueles que estão de alguma forma desconectados, apesar da Internet e das mídias sociais, o que nos faz lembrar o velho lema “Terra, Trabalho e Liberdade”. Dados publicados no Atlas Social do Brasil mostram que 1% das famílias brasileiras (5mil famílias) detém 46% do PIB nacional e 46% das terras. Em outras palavras, uma minoria possui metade da renda produzida no país bem como metade das terras. Também as informações são privilégio de poucos. O Brasil não é pobre, é injusto, como afirma o teólogo Leonardo Boff. Mas... vamos sobrevivendo à barbárie: eu, você leitor e a Kalango, que, por meio de seus colaboradores, ajuda a pensar e repensar o Brasil. Aproveitando a deixa e parafraseando o maior de todos os animadores de plantão, “vamos abrindo as portas da percepção e as páginas da esperança”...Osni Dias ([email protected])
Barbarie civilizada´
WEBERSON SANTIAGO
http://webersonsantiago.carbonmade.com/
#6
revistaKala
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ordpress.com
O Código Florestal, lei que protege o patrimônio natural brasileiro, está sob grave ameaça. Tramita no congresso uma proposta de reformulação incoerente e sem base científica, movida por interesses retrógrados. Se aprovada, milhões de hectares onde deveria ser protegida a vegetação nativa estarão livres para o desmatamento. Além disso, as áreas já desmatadas irregularmente não precisariam ser reflorestadas.
Isto trará impactos catastróficos para o equilíbrio das águas, solo e clima, assim como para a vida de plantas, animais e seres humanos.
www.chaua.org.br
LEIA TODAS AS LINHASComunicação. Psicologia. Existência.http://todasaslinhas.blogspot.com Kalango
Colunistas
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Delta9 é extraterrestre, publicitário e atua no Judiciário http://www.undiverso.blogspot.com/
Minha percepção está alterada; minhas concepções musicais geram idéias contraceptivas. Eu fui arrombado... Mas continuo puro! Planifiquemos a inteligibilidade textual: falarei-lhes do grupo The Doors. Ao contrário do que todos pensam, The Doors não é um grupo de rock. É uma instalação, é um amálgama de performáticos, um live action de sí próprio. Sua raiz está no jazz. Os meditabundos Ray Manzareck (tecladista e cineasta respeitado) e John Paul Densmore (bom moço e baterista precoce, que já tocava desde os 12 anos), tinham os pés fincados naquilo que Travis Jackson definiu ser “uma música que inclui swinging, improvisação, interação em grupo, desenvolvimento de uma voz individual, e está aberta a diferentes possibilidades musicais”. Paradoxalmente, isso se aplica muito melhor ao Doors que aos Beatles. O guitarrista esquisitão Robert Alan Krieger, aprendeu a tocar guitarra seis meses antes do Doors gravar seu primeiro álbum, em agosto de 1966 (foi lançado em 1967). Ele tinha formação jazzística e, principalmente, flamenquista ! A ele devem-se dois dos
Sou socrático ao enfatizar: não sei nada sobre Jimi Hendrix. Como ele escovava os dentes? Ele vestia a calça colocando primeiro a perna esquerda? Preferia o café mais amargo? Ele gostava de café? Qual a sua piada preferida? Que livro ele mais gostou de ler? Quão caloroso era o seu abraço? Ele gostava desse tipo de coisas? Ele roncava? Qual o seu prato preferido? Ele realmente disse que era bicha no exército somente para ser dispensado (assim como fêz o Manzareck)? Só conheço algumas coisas sobre ele que são mostradas em filmes, reportagens e gravações. Conheço um pouquinho (mas bem pouquinho) de sua obra musical, suas canções, sua habilidade com a guitarra. O que teria ocorrido caso ele não falecesse? O ELP teria sido HELP. Certamente teríamos encontrado uma das mais extraordinárias bandas dos anos 70. Alguns teclados teriam sido salvos e muitas outras guitarras não. Dias atrás eu falei com Jimi. Ainda assim não sei como ele gosta da vodka martini, se mexida ou batida. Ele não gostava de ser chamado Jimi. Preferia Jam. Ele achava mais polissêmico... Claro que você não acredita. Direito seu. Jam dizia que o barato não é a intensidade sonora da guitarra, mas o efeito que se pode conseguir (primeiro em si mesmo e depois sobre o público) com toques suaves entre pausas deliberadas. O cara não era um engenheiro de som.
maiores sucessos do grupo (Light My Fire e Touch Me). Já o baixista... A banda não tinha baixista! Para John Entwistle, nessa banda as portas estariam fechadas. Baixista só no estúdio. Quanto a Jim Morrison, falar o quê. Todo mundo já falou tanta coisa. Eu digo: ele não era nada daquilo. Seu mise-en-scène era exatamente put in the scene. O que apenas aumenta sua genialidade. Diga-se, en passant, que o que chapava não eram somente as letras, as performances em palco com olhares provocadores de Morrison (que teria, eventualmente, exibido seu objeto fálico natural), ou as drogas. Era (e é) a própria estrutura musical: os sustains do teclado e guitarra; o timbre, empostação e alternância vocal de Jim; os brilhantes diálogos entre guitarra e bateria (aliás, a bateria do Doors tem uma individualidade muito própria dentre as bandas de rock); a influência oriental (tão difundida por George Harrison) é um fundamento essencial no som ressonante de Manzareck e do Doors. The Doors abriu as portas não somente do rock psicodélico, mas de toda a cultura underground dos anos 60 na terra de Tio Sam. Ninguém fica impune a isso.
A ESTUPEFACIENCIA DOS DOORS
O MEU AMIGO JAM...Era um ‘engenheiro de sons’. E não usava a guitarra para isso. Usava PRINCIPALMENTE a guitarra. Jimi (assim você fica menos incomodado, não é?), era um deslumbrado com novas sonoridades. Assim como o Zappa, que ria muito daquele circo que a midia fazia ao seu redor. Jimi adorava as experimentações sonoras dos Beatles e do Pink Floyd. Criatividade era seu nome. Transformou uma centenária canção de cowboy num dos maiores sucessos do rock, imediata referencia para seus contemporâneos. Sim, é a música Hey Joe. Pioneiro no wah-wah, canhoto (não invertia as cordas, daí parte de sua técnica). Do defeito da microfonia, ele fêz um efeito. Achava que não tinha voz para cantar. Mas já que o Dylan podia... E experimentou. Junto com Noel Redding e Mitch Mitchel. E chocaram a sociedade hippie-libertária estadunidense no Festival Pop de Monterrey. Graças ao Paul McCartney (o pop dos pops). Sem a ajuda do inglês a banda não teria tocado nos EUA. Parece piada inglesa. E deu no que deu: sufocou a majestade sagrada de Clapton, e mostrou aos fans de Duane Allman que um inglês negro (mesmo sendo americano) seria o rei da guitarra elétrica. É, Jam, se você tivesse tomado menos vinho aquela noite e não ido para aquele lugar, hoje estaríamos ouvindo o relançamento dos grandes clássicos do HELP (Hendrix, Emerson, Lake and Palmer).
Por Delta9
Durante quase oito anos tive o privilégio de ter uma cadela, a Natasha, uma boxer tigrada. Costumava me fitar todas as tardes até a hora em que eu pegava a guia praquele esperado passeio. Ficava louca e rodopiava e corria e pulava. Nunca recusava uma saidinha. Logo percebi que o riso dos cachorros está no rabo e a Natasha confirmava isso quando sacudia freneticamente o cotoco. Pra que palavras? Não carecíamos delas e, embora
Pra que palavras?
Por Paulo Netho
,
desnecessárias, é como se minha cadela compreendesse perfeitamente o que eu dizia e o que não dizia também. Troço maluco. A Natasha tinha faro. Captava o meu estado de espírito: se estava triste, alegre, calmo ou agitado. Cachorros são seres amáveis, mesmo quando tomam uma dura da gente vêm a nos lamber toda gratidão como se a gente merecesse. É uma pena que esses bichinhos não tenham a longevidade dos jabutis.
Paulo Netho é poeta, escritor e “um encantador de pessoas”.
Meu filho tem quase oito anos e já sabe das coisas. Prova disso é que ele gooooosta da mamãe e gosta do papai. Beeeeeeija a mamãe e beija o papai. Abraaaaaaça a mamãe e abraça o papai. Por isso, tenho a certeza de que ele será um cara decente. Já é um bom começo, mas espero que ele acumule outros gostos ao longo da vida e que alguns, talvez, sejam parecidos com os meus.Quero que ele goste de um ser chamado “gente” e que consiga enxergar o que existe de melhor nas pessoas, mas que tenha uma dose mínima de malícia pra se defender de quem só tem aparência de “gente”.Quero que ele ame alguém profundamente e saiba dar e receber felicidade, sem medo de rir, chorar, concordar, discordar, desculpar e pedir desculpas.Quero que ele seja muito sério, mas que sempre tenha uma bobagem engraçada pra falar. Que tenha firmeza, mas não perca a sensibilidade.Quero que ele seja muito sincero, mas não áspero. Que seja certinho, mas que possa dar umas derrapadas de vez em quando.
Quero que ele seja muito homem, mas não perca a doçura. Que goste de futebol com amendoim, mas também de assistir comédias românticas com pipoca e segurando na mão de alguém especial.Quero que ele tenha uma paixão por uma pessoa e pela profissão como o Totó, de Cinema Paradiso. E que não se canse de ouvir a trilha sonora do Ennio Morricone e de ver o fim do filme com a mesma emoção da primeira vez.Quero que ele ouça notícias no rádio pra ficar bem informado, mas que não deixe de ter momentos musicais cheios de “love hits” que o façam sonhar e sentir saudade.Quero que ele goste de caminhar e esteja sempre em boa forma, mas que se permita estar ao lado de uma companhia delicada para um sundae.E, como eu, quero que ele goste um pouquinho de si mesmo e gooooooste de uma pessoa com voz suave e olhos marcantes. Caramba! Esse moleque já começou a me puxar!
Haissem é jornalista da Rádio Bandeirantes e professor universitáriowww.haisem.blog.uol.com.br
de pai pra filhoPor Haisem Abaki
A doenca chamada homem
Esta frase é de F. Nietzsche e quer dizer: o ser humano é um ser paradoxal, são e doente: nele vivem o santo e o assassino. Bioantropólogos, cosmólo-gos e outros afirmam: o ser humano é, ao mesmo tempo, sapiente e demente, anjo e demônio, dia-bólico e sim-bólico. Freud dirá que nele vigoram dois instintos básicos: um de vida que ama e enriquece a vida e outro de morte que busca a destruição e deseja matar. Importa enfatizar: nele coexistem simultaneamente as duas forças. Por isso, nossa existência não é simples mas complexa e dramática. Ora predomina a vontade de viver e então tudo irradia e cresce. Noutro momento, ganha a partida a vontade de matar e então irrompem crimes como aquele que ocorreu recentemente no Rio.Podemos superar esta dilaceração no humano? Foi a pergunta que A. Einstein colocou numa carta de 30 de julho de 1932 a S. Freud:”Existe a possibilidade de dirigir a evolução psíquica a ponto de tornar os seres humanos mais capazes de resistir à psicose do ódio e da destruição”? Freud respondeu realisticamente:”Não existe a esperan-
ça de suprimir de modo direto a agressividade humana. O que podemos é percorrer vias indiretas, reforçando o princípio de vida (Eros) contra o princípio de morte(Thanatos). E termina com uma frase resignada:”esfaimados pensamos no moinho que tão lentamente mói que poderemos morrer de fome antes de receber a farinha”. Será este o destino da esperança?Por que escrevo isso tudo? É em razão do tresloucado que no dia 5 abril numa escola de um bairro do Rio de Janeiro matou à bala 12 inocentes estudantes entre 13-15 anos e deixou 12 feridos. Já se fizeram um sem número de análises, foram sugeridas inúmeras medidas como a da restrição à venda de armas, de montar esquemas de segurança policial em cada escola e outras. Tudo isso tem seu sentido. Mas não se vai ao fundo da questão. A dimensão assassina, sejamos concretos e humildes, habita em cada um de nós. Temos instintos de agredir e de matar. É da condição humana, pouco importam as interpretações que lhe dermos. A sublimação e a negação desta anti-realidade não nos ajuda. Importa assumi-la e buscar formas de mantê-
Por Leonardo Boff
,la sob controle e impedir que inunde a consciência, recalque o instinto de vida e assuma as rédeas da situação. Freud bem sugeria: tudo o que faz surgir laços emotivos entre os seres humanos, tudo o que civiliza, toda a educação, toda arte e toda competição pelo melhor, trabalha contra a agressão e a morte.O crime perpretado na escola é horripi-lante. Nós cristãos conhecemos a matança dos inocentes ordenada por Herodes. De medo que Jesus, recém-nascido, mais tarde iria lhe arrebatar o poder, mandou matar todas as crianças nas redondezas de Belém. E os textos sagrados trazem expressões das mais comovedoras: ”Em Ramá se ouviu uma voz, muito choro e gemido: é Raquel que chora os filhos e não quer ser consolada porque os perdeu”(Mt 2,18). Algo parecido ocorreu com os familiares.Esse fato criminoso não está isolado de nossa sociedade. Esta não tem violência. Pior. Está montada sobre estruturas permanentes de violência. Aqui mais valem os privilégios que os direitos. Marcio Pochmann em seu Atlas Social do Brasil nos traz dados estarrecedores: 1% da população (cerca de 5 mil famílias) controlam 48% do PIB e 1% dos grandes proprietários detém 46% de todas as terras. Pode-se construir uma sociedade sem violência com estas relações injustas? Estes são aqueles que abominam falar de reforma agrária e de modificações no Código Florestal. Mais valem seus privilégios que os direitos da vida.O fato é que em pessoas perturbadas psicologicamente, a dimensão de morte, por mil razões subjacentes, pode aflorar
e dominar a personalidade. Não perde a razão. Usa-a a serviço de uma emoção distorcida. O fato mais trágico, estudado minuciosamente por Erich Fromm (Anatomia da destrutividade humana, 1975) foi o de Adolf Hittler. Desde jovem foi tomado pelo instinto de morte. No final da guerra, ao constatar a derrota, pede ao povo que destrua tudo, envenene as águas, queime os solos, liquide os animais, derrube os monumentos, se mate como raça e destrua o mundo. Efetivamente ele se matou e todo os seus seguidores próximos. Era o império do princípio de morte.Cabe a Deus julgar a subjetividade do assassino da escola de estudantes. A nós cabe condenar o que é objetivo, o crime de gravíssima perversidade e saber localizá-lo no âmbito da condição humana. E usar todas as estratégias positivas para enfrentar o Trabalho do Negativo e compreender os mecanismos que nos podem subjugar. Não conheço outra estratégia melhor do que buscar uma sociedade justa, na qual o direito, o respeito, a cooperação e a educação e a saúde para todos sejam garantidos. E o método nos foi apontado por Francisco de Assis em sua famosa oração: levar amor onde reinar o ódio, o perdão onde houver ofensa, a esperança onde grassar o desespero e a luz onde dominar as trevas. A vida cura a vida e o amor supera em nós o ódio que mata.
Leonardo Boff é teólogo, filósofo e escritor.
www.leonardoboff.wordpress.com
Fumaça e a LuaPor Marcelino Lima
Marcelino Lima é jornalista formado pela PUC-SPImagem: Marcelino Lima/Sumirê
À janela, pôs se estridentemente a miar para a lua. E olha que o satélite nosso de cada dia sequer estava na fase cheia, antes, minguava, talvez por isso o melancólico protesto do bichano. E pensar que até o gato subir naquele parapeito confabular com a lua fosse apenas digno de lobos e de cães! Ou de poetas, de seresteiros, de bêbados, de boêmios, de chapados e, lógico de crianças, estas sempre puras, achando que ela não abre nem sob tortura segredinhos que ouve, e não os conta para ninguém mesmo, a não ser, é claro, para todos os corpos celestes que povoam até a mais nebulosa das galáxias, mas, como eles não pronunciam palavra e ninguém entende o que tanto eles brilham tudo acaba diluído no Cosmos... Ah, e como se esquecer dos velhotes? Eles também tricotam com a lua, sobretudo, os solitários. Uns até gostam de pedir a ela que cante alguma canção, se possível, na voz de Bing Crosby, e ela, atende I still love to kiss you goodnight/The thrill of you holding me tight... Se alguém duvidar que tais colóquios ocorrem, faça lá uma visitinha à casa do Altamiro português, ora, pois, pois. Como sugestão, ofereça antes uma garrafa de bom vinho do Porto, bolinhos de bacalhau e, se possível, notícias satisfatórias do Vitória de Setúbal, que ele, alegremente, dividirá com a moça, ainda que desconfie que ela seja Vitória de Guimarães. Hum, também será de bom tom providenciar para o Fumaça uma sardinha ou filé de pescada, do contrário, só ele vai querer prosear com a amiga de todas as noites...
Letras
Kadu Veríssimo - A menina e o vento
Amne Fariahttp://amnenoteatrodepalavras.blogspot.com/
E assim...
A última fagulha de pó
A necessidade do barulho inconstante
(daqueles que perderam a capacidade de ver)
Emaranhados de silêncios à sós
O SOS chamado vida
No caos de existir
Não existir
Para ninguém fora do espelho
Massificação até do vento
Que pode ser encontrado engarrafado por aí
Numa vontade incrível de voar...
Sinta a sombra
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Ana Melo é jornalista e psicólogahttp://todasaslinhas.blogspot.com
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Moleque besta. Só porque leu um tal de Xeiquispir vem me amolar.Que ser ou num ser o que. A questão é ter ou num ter feijão. Eu fico aqui lavando as cuecas desse infeliz e ele quer dar uma de intelectual. Estudante é tudo ignorante. Aprende um negócio e já se acha o sabidão. Quer falar até o que num sabe só pra mostrar que é inteligente. Quero ver a inteligência dele pagar as contas. Tá com dezesseis anos e fica nessa ideia besta de virar ator, artista. Coitado. Eu com a idade dele já trabalhava fazia tempo e se num trabalhasse passava é fome. Todo mundo tinha que trabalhar. Até os pequenos ajudavam do jeito que dava. Mas a culpa é do pai dele, que sempre foi o mais besta daqui de casa. Fica dando trela, ouvindo o bestinha menor falar. Parecem dois bestas, o bestinha e o bestão. Ser ou num ser... A gente é, só deixa de ser quando morre, e mesmo depois que morre continua sendo outra coisa, a gente é morto, num é!? Besta, besta. Vai quebrar a cara o infeliz, mas se conselho de mãe prestasse pra alguma coisa, eu tava é rica e num tava aqui molhando minha barriga nesse tanque.
Thiago Cervan
http://cervan.blogspot.com/
Estudante
Diy “Do it
yourself”
Por Juliano Sakaki
Há muito tempo atrás em uma galáxia distante....
Em 1999, qundo cursei artes plásticas, aprendi conceitos
filosóficos, científicos e abstratos sobre arte e descobri que homens que faziam artes eram estereotipados como homossexuais ou “puxadores de fumo” e a maioria das alunas eram professoras de magistério querendo progressão continuada ou filhinhas de papai aspirantes a atrizes.
Distante disso aprendi muita coisa útil, como fazer tinta de PVC usando copos plásticos, corantes a base de terra, nanquim com tinta xadrez e trabalhar com artes gráficas como grafite e também plotagem usando revistas e solvente tinner. Esses ensinamentos sim, valeram a pena, descobri que para fazer arte você não precisa dos melhores pincéis ou papel Fabriano, e sim usar a criatividade.
Esses foram meus primeiros contatos com o chamado DIY “do it yourself”, faça você mesmo. Por problemas corriqueiros da vida acabei trancando a matricula no 1° ano, mas continuei a fazer coisas nesse sentido. O engraçado do Diy é que basicamente é um movimento marginal ou anárquico, mas que torna seus praticantes verdadeiros “mestres zen”, pois faz com que você aprecie todas as fases de fabricação de um objeto. Você tem que estudar e buscar o aprofundamento teórico. Com a tecnologia e facilidade da
web isso vem se tornando cada vez mais difundido, pois o espírito “handmade” que sobreviveu desde a receita caseira de bolo da vovó corre em varios sites especializados somente nesse segmento. Canais como o youtube.com, instructables.com e muitos outros, como no caso do site nacionail gambiarra, são verdadeiros paraísos de parafernálias tecnológicas feitas a mão. Lá você encontra detalhados, passo a passo, de uma simples receita de cookies de chocolate até sistemas de captação de energia eólica feita com canos de pvc e outros materiais de fácil acesso, coisas sem valor algum encontradas em qualquer ferro velho a preço de banana. Lembrando que você ainda ajuda o meio ambiente pois reutilizar materiais de refugo também é reciclagem.
Seguindo paralelamente com minhas varias identidades secretas, seja como funcionário publico, jornalista, handmaker, eu também sou músico rá.... tenho uma banda....rá... e toco contrabaixo...rá e sou apaixonado por pedais de efeito, gosto de bandas como Rush, Rage Against the Machine, Red Hot Chilli Peppers e Funk americano dos anos 70 - não confundam com o lixo Funk Brasileiro de mulheres Frutas e Mcs Serginhos, tô falando de James Brown aquele do “ like a sex machine”, que utilizam muitos pedais de efeito. Daí eu pergunto: o que isso tem a ver com o assunto acima? É que, durante os 15 anos que venho infernizando a vida de meus vizinhos tocando contrabaixo ou fazendo shows em quermesses, baladas e bares da região consegui adquirir somente três pedais de efeito, pois cada um custa a bagatela de 500 reais em média - e o que um músico amador ganha dá somente pra cobrir a cerveja no fim do show ou comer um sanduíche de pernil. E um certo dia pesquisando no youtube por alguns pedais de marcas famosas como BOSS ou Eletro Harmonix, descobri que muitas pessoas faziam seus próprios pedais
clonados com efeitos de som e visual surpreendente. Achei que era coisa muito complicada feita somente por estudantes de mecatrônica ou técnicos em eletrônica, mas descobri que a maioria são circuitos simples e com poucos componentes.
Minha porta de entrada para esse ramo foi procurando um site brasileiro. Descobri o handmades.com.br, especializado somente em efeitos e circuitos de instrumentos musicais. O site ensina passo a passo, por meio de tutoriais, esquemas e fotos, todo o projeto, facilitando a iniciação de quem nunca mexeu com eletrônica. Comecei a fazer meus projetos foram muitos tombos e muitas pesquisas procurando aprender todos os passos desde uma confecção de placa de fenolite até soldar. Meu primeiro projeto de pedal foi o minifuzz, pedal de distorção semelhante ao que o guitarrista Jimi Hendrix usava (mais sobre Hendrix - ver matéria nessa edição). Esse projeto foi desenvolvido por um Luthier do Rio de Janeiro chamado Mauricio Bertola, aclamado como o maior incentivador do handmade.
O espirito handmaker prega a divulgação maciça do projeto gratuitamente, desde que seja para uso pessoal, e não comercial, pois o comércio de alguns projetos são considerados pirataria já que são clones quase idênticos ou
até melhores que os originais. No momento já fiz 3 pedais, mas pego leve na confecção, tenho que controlar a GAS (Gear Síndrome Acquisition), pois fazer pedais de efeito vicia, tem sempre coisa muito interessante surgindo. Uma das coisas mais legais de ser handmaker é poder participar de fóruns e discussões sobre projetos clonados de grandes marcas, tirar duvidas, ajudar quem está iniciando, pegar dicas de como comprar o melhor componente, montar e
Então fiquem longe do “Eu Robô” e aproveitem a internet de forma criativa não dirijam os pensamentos somente em um ambiente virtual, mas absorvam todas a informações pertinentes ao crescimento como humano e tragam para a vida real muito mais conteúdo. Contribua para a socialização do bom conhecimento, aprenda e pesquise assuntos do seu interesse. Procure algo que você sempre teve vontade de aprender, seja um curso de inglês,instruções de como tosar um poodle ou
baixar e-books do Isaac Asimov. O conteúdo da biblioteca global já tá na net com soluções simples e de acordo com seu bolso. Mas caso nada disso interessar, você pode continuar twittando com o Restart e assistindo os videos do Justin Bieber, pois a rede também é democrática.
ouvir o seu próprio efeito. É uma sensação que nenhum Master Card pode pagar. Aliás os componentes eletrônicos custam muito pouco, coisa de centavos, isso se você não quiser ser underground e usar latas de sardinha como caixa, pois alem de você ter um pedal diferenciado ainda consome Omega 3, o que vai te trazer alguns benefícios pro cérebro pra continuar na batalha. E concretizando o que o escritor Isaac Asimov já escrevia em seus livros de ficção cientifica desde 1979.
“Haverá uma tendência para centralizar informações,de modo que uma requisição de
determinados itens pode usufruir dos recursos de todas as bibliotecas de uma região, ou de
uma nação e, quem sabe, do mundo. Finalmente, haverá o equivalente de uma Biblioteca
Computada Global, na qual todo o conhecimento da humanidade será armazenado e de onde
qualquer item desse total poderá ser retirado por requisição”.
Trecho retirado do livro Escolha a Catástrofe.
SÃO PAULO VISTA DO ALTOPOR COMANDANTE LUIS PIRES
Aguardem
KALANGO #7
Vitor Carvalho Um colecionador de retratos, cujo olhar apurado enxerga a história
dos personagens por detrás da imagem, e ao mesmo tempo vê na imagem a possibilidade de criação de histórias visuais. Nesta linha poética e de rara sensibilidade, o artista Vitor Carvalho lançou o livro fotográfico “AR”, em 26 de fevereiro, em Atibaia.
A publicação é resultado da pesquisa fotográfica iniciada em 1992, na qual estão retratados personagens populares que povoaram o imaginário do artista durante os últimos 20 anos. Este trabalho, ganhador do XI Prêmio Funarte de Fotografia “Marc Ferrez”, um dos mais importantes do País, busca trilhar um caminho da fotografia que invade e extrapola o tempo, propõe contextos, destaca a figura humana como uma representação de sentimentos e histórias, que podem ser de habitantes de qualquer parte do mundo.
O prefácio é assinado por Paulo Klein, crítico e fotógrafo de arte, membro da Associatione Internationale Des Critiques D’Art (AICA) para quem Carvalho é um artista consciente do momento que vive a Arte Contemporânea no qual a fotografia tem papel de destaque. O artista apresenta um trabalho consistente, que encanta pelo resultado plástico e guarda em seu desenvolvimento pensamentos fundamentais da cultura atual. “Com este livro e as obras aqui selecionadas, resultado de experiências, trabalhos acadêmicos e ‘brincadeiras’ na solidão de seu estúdio, Vitor prepara fôlego para inserir-se entre o primeiro time de fotógrafos autorais
“Comecei a fotografar as pessoas porque sempre gostei da
modalidade retrato, que é uma categoria presente em todas as épocas da História da Arte, e,
principalmente, pela necessidade de registrar as figuras populares da minha cidade, pois muitas cairiam
no esquecimento. Na verdade são pessoas que de alguma forma contribuíram para a formação do
meu repertório artístico e pessoal”.
Pesquisa visual vira livro
brasileiro” destaca Klein.
O reconhecimento nacional desta pesquisa na categoria “Documentação fotográfica/registro das transformações do cotidiano na sociedade” tornou possível a materialização desta bela obra e revela grandes surpresas: “folheiem com atenção cada página deste livro, voltem mais vezes aos retratos que mais lhe tocarem e sempre descobrirão novos nuances, outras revelações, numa satisfação que apenas a arte de boa qualidade oferece”, convida Klein.
Vitor Carvalho nasceu em Atibaia e desde cedo se interessou pela fotografia. Formado em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo com especialização em Arte, Cultura e Educação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) é mestrando em Artes Visuais na Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). Há 14 anos atua no mercado de fotografia publicitária profissional e nos últimos 10 anos tem se dedicado ao ensino da arte em renomadas instituições, entre elas, ECA-USP, Academia Brasileira de Artes, Foto Cine Clube Bandeirante, Escolas Cefi, Terra Brasil e FAAT Faculdades. Seu talento, no entanto, não se resume à arte fotográfica e transita por diferentes linguagens como Artes Visuais, Teatro, Vídeo, Desing Gráfico, Arte Digital, Produção e Marketing Cultural e Intervenções Urbanas. Recentemente foi convidado para dirigir o Festival Internacional de Contis (França), e o resultado foi tão surpreendente que surgiram novos convites para levar suas intervenções artísticas para outros países. Por Marta Alvim
Afoxé Ilê Omo DadaNos anos 70 Oga Gilbertoe Iyá Wanda passaram a
considerar a possibilidade se ter um Afoxé em São Paulo. Após várias consultas, nasceria o primeiro Afoxé da história de São Paulo, na
década seguinte: o Afoxé Ile Omo Dadá (Os filhos da Coroa de Dadá).
Por Felipe Brito
Foi no final da década de 60 que se iniciaram as primeiras movimentações que dariam
origem ao Afoxé Ilê Omo Dada. Alguns sacerdotes, os babalorixás e iyalorixás, passaram a se reunir para desfilar na Escola de Samba Unidos do Peruche, a convite de “Seu Carlão do Peruche”, fundador da agremiação. Sob o comando de Iyá Wanda de Oxum o grupo de religiosos foi chamado de “Ala de Afoxé” e passou a ser tradicional nos desfiles da agremiação do Parque Peruche, na época situada na “Rua Zilda”.A partir de 1975, Oga Gilberto e Iyá Wanda passaram a considerar apossibilidade de se ter um Afoxé em São Paulo e em 1980 nasceu o Afoxé Ile Omo Dadá (Os filhos da Coroa de Dadá).Os Afoxés têm uma relação intrínseca com os terreiros de candomblé. O Omo Dadá nasce dentro do espaço religioso Ile Iya Mi Oxum Muiywá, A Casa da Minha Mãe Oxum Muiywá, dirigida atualmente por Iyá Wanda de Oxum - fundadora do Afoxé Omo Dadá junto a Oga Gilberto de Exu. Esta ligação evidencia o propósito religioso que existe nos afoxés. Os desfiles oficiais do “Afoxé Filhos da Coroa de Dadá” iniciaram em 1981, com o propósito de permitir que os adeptos do candomblé pudessem “pular o carnaval” sem quebrar uma restrição religiosa que proíbe os candomblecistas de se pintarem e usarem fantasias. Mas no decorrer destes 30 anos acabou
por agregar também a função de abençoar as agremiações carnavalescas que passarão pelo sambódromo “Grande Otello”, também conhecido como Anhembi.
O NomeApós consultas ao Babalorixá Waldomiro de Xangô, sacerdote renomado na história do candomblé brasileiro e também zelador espiritual de Mãe Wanda e Oga Gilberto, ficou decidido que o afoxé seria nomeado Filhos da Coroa de Dadá, referindo-se ao início do candomblé em São Paulo, ligado aos negros oriundos de Pernambuco e ao culto de Dadá. Ajaká Dadá é o segundo Alafin da cidade Oyó, ou seja, imperador e irmão mais novo de Xangô, ambos Orixás do candomblé. Havia uma expressão muito forte que legitimou Dadá como patrono do Afoxé junto a Xangô. Em meados da década de 50 e 60, havia o costume de se dizer: “não mexa com ele, que ele é da coroa de Dadá” – esta expressão era usada para definir pessoas muito boas no que executavam.
Homenagem aos OrixásAfoxé e loninAe lonin Afoxé e lonin o Injo male inxe(domínio público)
É com este cântico de origem yorubá, tradicional em todos os afoxés do Brasil, que Omo Dadá abre seu desfile. A cada ano é homenageado um Orixá. Dadá é o patrono e com ele vêm Exu, Ogun, Oxóssi, Ossain, Oxumarê, Xangô, Oxaguiã, Iansã, Iemanjá, Oxum e por final Oxalufã.
Alguns Orixás não são homenageados por não serem de acordo com festejos
de rua, como Obaluaiê, Nanã, Yewá, Obá e Logun
Edé. Tradicionalmente
são entoados cânticos do candomblé em ritmo ijexá. A
Divindade celebrada define as cores usadas pelos integrantes, coreografias e alterações rítmicas na “Charanga”, a bateria do Afoxé.
Atualmente, com três décadas de fundação, o Afoxé Ile Omo Dadá entra numa fase de mudanças. Um dos marcos da nova gestão foi a nomeação da Cantora Fabiana Cozza como “Olutojufoxé: Guardiã do Afoxé Filhos da Coroa de Dadá”. O título foi recebido pela artista que tem sido aclamada pela crítica como uma das melhores intérpretes da atualidade.Com nova diretoria e projetos para construção de uma história social e cultural mais abrangente, a entidade, que conta com um exército de aproximadamente mil integrantes nos desfiles, anseia ser reconhecida pela trajetória e contribuição cultural à cidade São Paulo.
Considerada uma das melhores
intérpretes da atualidade, a
cantora Fabiana Cozza (centro)
foi nomeada “Olutojufoxé:
Guardiã do Afoxé Filhos da Coroa
de Dadá”
Com um cântico de origem yorubá,
tradicional em todos os afoxés do Brasil, o
Omo Dadá abre seu desfile no Anhembi,
em São Paulo
VocabulárioAjaká Dadá: irmão mais novo de Xangô. Divindade da paciência
Iyá: Mãe
Baba: Pai
Babalorixá: Pai de santo
Iyalorixá: Mãe de Santo
Afoxé: cortejo
Omo: Filho
Oga: Lê-se Ogã. Guardião das casas de candomblé.
Responsável por inúmeras atividades dentro de uma casa de
candomblé. Entre elas: tocar, colher folhas e etc...
DEU NA IMPRENSA Frota da cidade de São Paulo ultrapassa 7 mi de veículosSegundo o Detran (Departamento Estadual de Trânsito) a frota na cidade de São Paulo chegou a 7.012.795 em março último. Já no Estado, existem 21.890.207 veículos nas ruas. No início de abril a cidade registrou a maior lentidão do ano no período da manhã, com 157 km de vias com problemas.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/898069-frota-da-cidade-de-sao-paulo-ultrapassa-7-mi-de-veiculos.shtml
Imagens: Claudinei Nakasone
Caos UrbanoMoriti Neto, Mario Sérgio de Moraes, Orivaldo Leme Biagi e
Claudinei Nakasone escrevem sobre São Paulo, o caos urbano, os
problemas do trânsito, a aglomeração urbana e as questões de
identidade que, daqui pra frente, serão cada vez mais frequentes.
Por Moriti Neto
Pouca chuva em São Paulo e estamos na Estação Carandiru.
As portas abrem e fecham e o sinal da partida não vem. O aviso que chega é sobre problemas com o trem da frente. Hoje é assim na capital paulista. Não é preciso cair nenhum dilúvio e o Metrô para. São comuns as falhas técnicas a quem corta a megalópole por baixo. Nas já surradas linhas Azul e Vermelha a coisa é mais rotineira. A Verde se salva. A Amarela, por enquanto, apesar de todo o aparato tecnológico, recebe o apelido de trem fantasma. Faz o trajeto somente entre as regiões de Avenida Paulista, Faria Lima e, mais
Quando a roda parar recentemente, Butantã. Funciona só das 8h às 15h , de segunda até sexta, numa infinda fase de testes. Nada em horário de pico. Nada aos sábados, domingos e feriados. Enquanto isso, no asfalto, 7 milhões de veículos se espremem. Há uma imensidão de motoristas solitários ocupando só um
assento nos carros em que caberiam até cinco pessoas. Caronas? Nem pensar. O povo quer é andar de carro. Para escapar do rodízio, compra-se um carro extra. Deve haver loja especializada em vender carro extra. Dados reveladores: enquanto a cidade demorou oito anos para pular de 5 milhões a 6 milhões, de 2000 a 2008, os 7 milhões chegaram em somente três anos. Num território que tem 17 mil quilômetros de vias asfaltadas, se todos os veículos saíssem de casa ao mesmo tempo, poderiam formar uma fila de 26 mil quilômetros de ruas e avenidas, quase duas vezes a distância de São Paulo até Cabul, no Afeganistão. E a situação não se restringe a megalópole. Em Atibaia, no decorrer
da década de 1990, falava-se em 15 mil veículos. Atualmente, o número ultrapassa os 72 mil. Mais de um por pessoa, no município que mal chega a 130 mil habitantes. Se todos saírem de casa juntos, qual será a possibilidade de locomoção? É a cultura do carro, do transporte individual em detrimento do transporte coletivo. É o individualismo geral triunfando sobre a coletividade a bordo de um dos maiores símbolos de poder e status da sociedade contemporânea. Símbolo que pode triunfar momentaneamente, mas que, no final das contas, mal conseguirá cumprir a função básica de girar as rodas.
Moriti Neto é jornalista.
Coisas dificeis de responder
Por
Mar
io S
érgi
o de
Mor
aes Escrevo para você que viverá no ano de 2.082. Estaremos
separados evidentemente por 71 anos. Mas comparo nossa distância − tão diferente − não pela contagem do calendário, mas sim por anos-luz nos valores de vida. Em primeiro lugar, suponho, estranharei seu possível nome: Alxredor RP-2049. Muito esquisito... Para mim a sua identidade parece um numerário de produto hospitalar. Outra esquisitice: imagino que você nasceu num tubo, marcado com um código de barra, como são os detergentes para cozinhas.Mas o impacto maior vem de suas relações afetivas. A família tradicional monogâmica e hierárquica desintegrou-se num estado terminal. Contudo outro dia li que vocês criarão outras múltiplas escolhas amorosas: homem com homem; homemcom duas mulheres; mulheres com dois homens. E, obviamente, homem com mulher.
Mario Sérgio de Moraes é Doutor em História pela USP e Conselheiro do Insituto Vladimir Herzog
Porém, o mais surrealista, pelo menos para nós, não são as pluralidades (creio que diversidades inauguram mais possibilidades de amor!), mas sim suas fantasias tão extravagantes. O autor Timothy Lery afirmou que se apaixonarão por imagens holográficas semelhantes aos humanos. Ele intuiu que no futuro os relacionamentos virtuais serão tão fortes que a simples presença de alguém em carne e osso será um acontecimento de dimensões míticas.E você me perguntaria: gostamos destas ousadias ou não? Difícil responder. Mas aqui um protesto: vocês herdaram um péssimo valor atual, isto é, o culto aoconsumo. Caíram num “conto do vigário” (expressão antiga!). Compraram de nós estabusca obsessiva da novidade pela novidade. Nossa ditadura do usa-se e depois se joga fora. Erro fatal: vocês ficaram atraídos com a nossa ilusão de felicidade modelando corpos biônicos, coxas parrudas, peitos inflados, seres saltitantes em afirmar: “Quero viver o presente”. Acreditaram em rainhas recicláveis que mascaram a decrepitude,
imperfeição e a falência. Quanta bobagem... Ora, a vida nunca foi e nunca será uma prateleira de prazeres num supermercado. E só vive o presente quem tem mal de Alzheimer.
E os “defeituosos”? Hoje camuflamos os conflitos. Fazemos assim: nas tristezas pessoais usamos pílulas anestesiantes, mastigamos lixo fast-food quando temos fome,dopamos crianças quando agitadas. No entanto, vocês, pela nossa previsão, estarão mais espertos nas suas justificativas para esconder o incômodo. No culto das imagenshigienizarão tudo e transformarão as tragédias e extermínios num parque de diversões, como num joguinho de vídeo game.Como afirmou Hannah Arendt: “É bem concebível que na economiaautomatizada de um futuro não muito distante os homens possam exterminar todos aqueles cujo quociente de inteligência esteja abaixo de determinado nível”. E eupergunto também: vocês conhecem o meu neto, o Mateus? Ele está com 71 anos. Será que ele está bem ou não?
Foto: Internet
Durante a Segunda Guerra Mundial as forças armadas
norte-americanas perceberam, ao bombardear a Alemanha, que as linhas ferroviárias, apesar de suas inúmeras vantagens econômicas, poderiam, numa guerra, apresentar um grande problema: ficavam inoperantes quando atingidas. Assim, desde 1945, com o risco de uma terceira guerra (com eventuais bombardeios da União Soviética sobre o território norte-americano), a estrutura urbana dos Estados Unidos sofreu profundas mudanças: mesmo ainda existindo investimentos em ferrovias, a prioridade foi a construção e reformas de estradas e ruas – além dos veículos automotores dependerem menos delas para seu deslocamento, elas poderiam ser mais facilmente reparadas se comparadas com ferrovias. As reestruturações de Nova York (ruas) nas décadas de 50 e 60 e de Los Angeles (estradas) seguiram tal mudança.O Brasil, a partir da década de 50, copiou o mesmo modelo, apesar das ferrovias nacionais não terem o mesmo nível das dos Estados Unidos. O resultado foi a construção de inúmeras estradas e do aumento de ruas nas cidades, ambas para facilitar o deslocamente de carros. A própria
Por Orivaldo Leme Biagi
a Mudança da Arquitetura Urbana na Segunda Metade do Século XXDos Trens às Estradas e Ruas: entrada de maneira mais efetiva de uma intensa indústria automotiva no país a partir do governo JK também estimulou tal diretriz. O crescimento urbando brasileiro acabou seguindo uma lógica bem específica: ocorreu um aumento do número de estradas de asfalto (mesmo que estas não apresentassem necessariamente grande qualidade) e um crescimento ainda maior de ruas dentro das cidades para facilitar o sempre crescente aumento de fluxo de carros. Assim, as cidades “esticaram” tanto para fora (já não encontramos áreas desabitadas entre as divisas das médias e grandes cidades com as mais próximas) quanto para dentro (exemplo: o aeroporto de Cumbica, na cidade de São Paulo, foi “engolido” pela cidade num tempo muito menor do que o esperado). As cidades não estão conseguindo mais “esticar” tanto para fora quanto para dentro e seus limites físicos e sociais começaram a ficar cada vez mais evidentes. Assim, os enormes fluxos de trânsito, em particular em São Paulo, demonstram que a estrutura arquitetônica surgida no pós-guerra começa a mostrar sinais de esgotamento. Novas fórmulas precisam aparecer.
Orivaldo Leme Biagi é Pós-Doutor em História pela USP e Professor da FAAT Faculdades
Mesmo caótico como está é possível encontrar beleza no
trânsito de São Paulo, basta um minuto de silêncio interno, um exercício que deveríamos cumprir com sabedoria beneditina aos menos duas vezes por semana para que a poesia ficasse ainda mais irretocável.Pela manhã, como a luz está mais suave e menos poluída, andar a pé pelas ruas da cidade é um prazer. Reconhecer as linhas da arquitetura do centro histórico, sentir a “fornada” da padaria, ver as crianças entrar na escola, os homens e mulheres elegantes da Paulista. Há sempre um gesto a ser descoberto pela minha alma de ator/fotógrafo e professor. Tenho a sorte de morar próximo às duas faculdades onde leciono, nada mais do que 35 ou 40 minutos de caminhada. Dou-me este presente – o de levantar bem cedo, me arrumar e ir a pé para o trabalho. Sinto que as aulas rendem mais – os
alunos agradecem. O humor é mais evidente. Respirar o ar gelado da manhã me faz bem, ainda que Sampa esteja sempre poluída pelo CO2 dos carros.Quando me atraso um pouco, prefiro seguir o caminho de ônibus deixando o carro como última opção. Sou um contemplador por natureza. No ônibus tem muita gente interessante: os apressados e dorminhocos que saem disparados para descer, aqueles que escutam uma “musiquinha” nos aparelhos eletrônicos portáteis – tenho curiosidade por saber qual a trilha sonora deles, se é funk, jazz, bossa, uma estação de rádio, um rock, Vivaldi, Chopin. Se tivesse um aparelhinho desses acho que gostaria de ouvir música clássica, para chegar ainda mais relaxado no trabalho, ou não, como diria o sábio Caetano.Ainda no ônibus vejo sempre uma turma de jovens com deficiência auditiva, pois no meu bairro “Aclimação” há uma escola especializada para eles. Uma molecada alegre, feliz, sempre com um sorriso estampado no rosto. O cobrador invariavelmente sempre está de péssimo humor, talvez por não ter muito o quê fazer, uma vez que as catracas são liberadas após o passe do bilhete único, que aliás é uma mão na roda. Mas um “bom dia” não custa absolutamente nada, faz
Por Claudinei Nakasone
Um presente aos sentidos
bem a si próprio e ao passageiro.Gosto de sentar próximo da janela para sentir o vento gelado da manhã e observar o trânsito das pessoas ali, bem como ficar atento à vida daqueles que estão na rua andando a pé, de bicicleta ou dentro dos carros.Tudo pode acontecer dentro do ônibus, tem gente que se machuca quando o motorista freia bruscamente, tem os que fazem o café da manhã ali mesmo. Tem criança no colo da mãe, tem os educados que se oferecem para segurar a sua mochila – uns santos eu diria.Não é novidade que a cidade carece de melhores ruas, de uma sinalização decente, de um plano B quando deságua o mundo para que os faróis não parem de funcionar, deixando o trânsito e a vida do paulista e do paulistano um caos.Mas Sampa é assim. Se fosse diferente não teria histórias para contar, não teria graça uma cidade sem trânsito, sem ônibus caindo aos pedaços, motoboys desesperados para cumprir o prazo de entrega da pizza quentinha e daqueles que optam por andar a pé ou de ônibus para chegar ao trabalho, com algumas imagens para contar ou simplesmente guardar na lembrança, na caixa inesgotável de memórias. Valeu Sampa, devo muito a você nesses doze anos de vida. A minha história só tem a agradecer.
Fotógrafo e professor das Faculdades Belas Artes - SP
A noite cai e as primeiras estrelas começam a cintilar no céu. Por
todo o Brasil esse é o momento em que uma legião de advogados, engenheiros, comerciantes, médicos, empresários e artistas plásticos
Ciência
fazer apontamentos detalhados do que veem através da ocular. Mas independente de sua prática preferida, a maioria dos astrônomos amadores, de alguma forma ou de outra, estão envolvidos numa causa nobre: mostrar às pessoas que existe um universo de maravilhas bem acima de suas cabeças.
Hoje em dia, principalmente nos grandes centros urbanos, as pessoas passam boa parte de suas vidas voltadas para o seu universo pessoal, preocupadas com suas
Mensageirosdas estrelas
começam a apontar seus telescópios para as estrelas.
Alguns estão ali apenas para contemplar as belezas do firmamento. Outros buscam
famílias, trabalho e afazeres diários. Há muito tempo que as pessoas lembram de olhar para o céu apenas para saber se irá chover.
O céu deixou de ser uma forma de lazer e contemplação, sufocado pela indústria do entretenimento e ofuscado pela iluminação pública das grandes cidades. Porém, a partir do
Evento público organizado pelo CASP - Clube de
Astronomia de São Paulo. Crédito - CASP
Por Hemerson Brandão
Marcio Ribeiro (CASP)
momento que essas pessoas olham a Lua, Júpiter ou Saturno através da lente de um telescópio, passam a perceber como elas podem enxergar o Universo de uma maneira mais ampla.
A internet tem sido fundamental para facilitar o acesso das pessoas a esse tipo de informação. O surgimento das redes sociais na internet permitiu que pessoas com interesses astronômicos se reunissem para formar grupos de amizade, que mais tarde se materializariam em clubes amadores de divulgação.
Hoje em dia, centenas de clubes que reúnem milhares de pessoas vêm compartilhando informações, técnicas e, principalmente, promovendo a difusão pública da ciência em suas localidades.
Menino observa o Sol ao telescópio em evento público organizado pelo
CASP no Parque Vila Lobos
A divulgação não visa apenas promover o encantamento das pessoas pelas belezas do céu. Existe a preocupação de preparar as crianças de hoje para se interessarem pela ciência e pela tecnologia, ponto importante para o desenvolvimento a longo prazo de qualquer país.
A astronomia é uma ciência multidisciplinar, portanto, fazer com que nossos jovens se interessem por essa ciência é uma forma de instigar sua imaginação, curiosidade e criatividade para explorar diversas áreas do conhecimento humano.
Fotos: Luciana Meinberg
Música
A banda Five to One, considerada a melhor
banda cover do The Doors, se apresentou no Pub House, em fevereiro, trazendo para Atibaia a poesia irreverente e provocadora de Jim Morrison, as odisséias melodiosas dos teclados de Ray Manzarek e os solos com o toque flamenco de Robby Krieger.A banda, que já se apresentou fora do país, se preocupa em manter a sonoridade fiel ao que o The Doors original apresentava no passado. Por isso, foi nomeada com dignidade como a “cover
“Se minha poesia pretende atingir alguma coisa, é libertar
as pessoas dos limites em que se encontram e se sentem”.
Palavras de Jim Morrison, vocalista da banda que
teria o nome inspirado no livro “The Doors of
Perception” (As portas da percepção), de William
Blake e Aldous Huxley que, na década de 60,
faziam experiências com o LSD.
“abre as portas da percepção” no PUB Public House
oficial da América Latina” pelos próprios membros remanescentes do The Doors – Robby (guitarrista) e Ray (tecladista) – nos bastidores do show de Riders on the Storm (Doors) em São Paulo, em abril de 2008, no HSBC. Tocando as obras daquela que foi uma das bandas mais míticas e místicas do Rock ‘n’ Roll, a Five to One brindou a todos com sua performance teatral, poética e musical. Morrison poderia não estar presente ali fisicamente, mas sua memória foi, com certeza, muito bem lembrada.
Por Eric Brandão
Música
Os caminhos de Five to One
The Doors Cover surgiu oficialmente em 2000, conta o criador da banda e vocalista
João Luiz de Oliveira, o Johnny. Tudo começou na saudosa Praça da República, em São Paulo, quando ele acompanhava os pais, nos finais de semana na saudosa feira de artesanato, ao som das canções de The Doors. Assim, logo cedo recebeu as influências do grupo e, desde a época da escola, sonhava em um dia formar sua própria banda. Mais tarde, passou a transitar pelo heavy metal e pelo rock e chegou até a ser DJ. Inicialmente, a banda composta por Johnny Morrison, Marcinho Batera, Marcelo Loureiro e Jon Murari levou o nome de “The Severed Garden” (poesia de Jim Morrison, musicada no álbum “An American Prayer” sete anos após sua morte), mas seis anos depois passou a se chamar “Five to One”, título de uma faixa do álbum “Waiting for the Sun”.Johnny conta que um dos shows mais marcantes do grupo aconteceu em Colatina (MG). “Mandamos bem e fomos muito bem recebidos pelo público, isso fez toda a diferença”, diz ele. Relata também que fez shows memoráveis em Alfenas e no Paraguai, onde “as pessoas vinham nos cumprimentar como se fossemos pop stars, foi muito interessante”. Marcinho Batera conta que um dos shows mais eletrizantes da banda foi em Dourados, no MS. “Fiquei assustado, a galera estava alucinada e pedia músicas que os fãs não costumam pedir nem em São Paulo. Foi uma loucura, todo mundo curtiu muito. Foi um dos lugares mais legais em que já tocamos”.
Por
Osn
i Dia
s
Bold as Love também esteve se apresentando no PUB Public House. A banda, que surgiu
de pequenos shows e apresentações em festas de amigos, chegou a ficar alguns meses sem se apresentar, mas com a chegada do guitarrista e vocalista Jon Murari decidiu “ressurgir das cinzas e alçar vôos ainda maiores”, depois de receber vários convites para shows e palavras reconfortantes dos fãs e amigos que torciam por sua volta. Segundo Jon, a intenção não é fazer um cover, mas uma homenagem àquele que foi um dos maiores guitarristas da história do rock. “Nossa idéia é fazer um tributo a Hendrix, com referências à sonoridade e ao timbre da época. Temos um equipamento valvulado, além de instrumentos e pedais compatíveis com essa homenagem”. Murari atuou em bandas como A Casa do Rock, Corcel 73, Xandra Joplin & New Drunks e fez inúmeras participações em programas da MTV. Pela nova formação e por fecharem um repertório focado em Jimi Hendrix, a banda achou que seria melhor mudar o nome para Bold as Love. “Além de ser o nome de uma música e um álbum do Hendrix, tem um significado muito forte pra gente: ousadia, persistência e toda a gama de cores que envolvem nossos sentimentos”. O baterista Pedro Leonardo e o baixista Guilherme Teófilo completam a banda que agitou o Pub com clássicos como Purple Haze, Little Wing e, evidentemente, Bold as Love. “Estamos trabalhando juntos para voltarmos com todo o gás e levar a paz e o amor que tanto faltam no mundo de hoje”.
Um tributo a HendrixPo
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Mundo
Alguns desafios são presentes na nossa história de vida. Desafios que apontam caminhos, uma busca constante na área da educação. Entendemos que a história é feita com o tempo, com a experiência do homem e suas memórias. Apresentamos, a seguir, um pouco da nossa trajetória, por meio das nossas memórias, como estudante e profissional da educação. Ao utilizar como estratégias a estrutura do tempo, particularidades genéricas e elasticidade histórica somos motivados por desejos e pela crença de que essa narrativa faz parte do desenvolvimento da nossa identidade profissional. A estadia de uma semana em Havana, Cuba, no final de janeiro de 2011, onde apresentamos um trabalho no Congresso Internacional de Pedagogia, nos rendeu várias reflexões marcadas por nossos olhares de visitantes a uma cultura única.
Por André Lucas Pereira e Marli Amélia Lucas Pereira
Uma viagem para ficar na memoria´
Havana é resguardada por um litoral extenso e é o centro da
vida cultural de Cuba, reunindo, além dos pontos turísticos e tradicionais, os bares, casas noturnas, danceterias e restaurantes. O espanhol falado por lá é diferente do espanhol da Espanha e do resto da América, mas não há motivo para preocupação uma vez que o povo é aberto e receptivo e basta pedir-lhes que falem devagar, com “despacio”. Pode-se fotografar livremente, salvo nas áreas restritas e com sinalização, como as de caráter militar. Os museus também têm regras específicas no que se refere a filmagem e fotografia. A melhor forma de se deslocar em Cuba é pegar um táxi ou alugar um carro e para isso existem muitas opções de locadoras.Nosso roteiro foi marcado pela história: começamos por Havana Velha, onde visitamos as praças San Francisco, o Palacio de los Capitanes Generales e o Castillo de la Real Fuerza, a obra militar mais antiga de Cuba, em cuja torre se ergue a Giraldilla, hoje símbolo da cidade. Passear por Havana Velha, com sua feirinha de artesanato e livros antigos, foi uma forma extremamente agradável de passar o dia. Conhecemos a Plaza de Armas e a Catedral de Havana.
À noite tomamos um “mojito” na bodeguita del médio. A cozinha cubana cultua os sabores indígenas,
espanhol, africano e até chinês, norte-americano, francês e outras influências presentes nos pratos. O tempo atuou como uma peneira: sabores, cores e cheiros ganharam diferenciação e autenticidade, o que tornou a cozinha cubana uma expressão da identidade nacional. A tradicional cerveja acompanha os torresmos, mandioca com olho, frituras de cará ou milho, banana frita às rodelas e saladas. Além de ser fã da cerveja gelada, o Cubano também aprecia o rum.
Visitamos alguns museus (que são muitos) como também o Fuerte de San Carlos de la Cabaña, palco de uma das tradições havanenses mais enraizadas: o Cañonazo de las Nueve (tiro de canhão das nove da noite – 21h00). Caminhamos pelo Malecón ou avenida beira-mar, que nos presenteia com uma das melhores vistas da cidade: a Rampa, uma zona com magnífica urbanização e arquitetura. Também visitamos a histórica Praça da Revolução e o Memorial José Martí.
De volta ao Brasil, trazendo na bagagem as lembranças de nossa travessia, e movidos a contar sobre o que vimos e sentimos, finalizamos com as palavras de Clarice Lispector: “é na hora de escrever que muitas vezes fico consciente das coisas, das quais sendo inconscientes, eu antes não sabia que sabia”.
Marli Amélia Lucas Pereira é professora da FAAT Faculdades;André Lucas Pereira é graduando em História
Área central de Havana, local de encontro e passeio de turistas
Havana Vieja
Ateliê onde artistas expõem
suas obras; cubano esteve na
Vila Madalena, em São Paulo
Havana Club
Espetáculo com os remanescenes do
Buena Vista Social Club é um dos
atrativos em Havana
Monumento em homenagem aos heróis cubanos que tombaram pela Revolução
Muitos edifícios no
Malecon estão em processo
de restauração
Em algumas
áreas de Havana
não é permitido
fazer imagens
por questões de
segurança, como a
avenida beira-mar
Malecón
Nesta praça Fidel Castro fez
vários discursos desafiando os
Estados Unidos
Palavras de ordem são vistas
por toda a ilha, quem sabe,
uma profecia
O Coletivo Dolores Boca Aberta é um grupo de arte e vida
periférica, teatro político, uma conjunção/construção de valores poéticos. Localizado no Jardim Triana, na Cidade Patriarca, na Zona Leste de São Paulo, o Dolores configura-se como um grupo de trabalhadores que exerce, entre todos os percalços, o direito de expressar o mundo que lhe atravessa através da arte. Como trabalhadores, nos movimentamos enquanto classe e assumimos as consequências que esta posição política nos coloca.A afirmação de trabalhadores que fazem arte tem total influência e consequência nas elaborações estéticas, tanto no tempo e na técnica do fazer quanto na leitura simbólica do mundo. Percebemos em nossa caminhada de 10 anos que este processo
Recentemente realizamos uma ação estética e política no Prêmio Shell de Teatro em São Paulo, em que fomos indicados e vencemos na Categoria Especial. Segue nossa Nota Pública depois do ato, um texto sobre ele e link de matéria publicada no dia seguinte. O debate esquentou muito nos comentários do blog, vale a pena conferir.
Nota pública do Coletivo Dolores sobre ato na 23ª edição do Prêmio Shell
É evidente para quem acompanha a trajetória do Coletivo Dolores que somos avessos às premiações como instrumento de eleição dos “melhores”. Este mecanismo, além de naturalizar hierarquias e competições, faz com que determinados grupos detenham o poder de decidir o que é ou não é arte.Atualmente, em nosso país, o fazer cultural é dominado por grandes empresas privadas que, baseadas em critérios falsamente neutros e na força do dinheiro, ditam qual filme devemos ver, qual música devemos escutar, qual peça teatral devemos assistir. O financiamento privado exclui e, até mesmo, inviabiliza o fazer artístico que não se enquadre em seus critérios, sejam eles estéticos ou mercadológicos.A liberdade de expressão, tão amplamente defendida, é restringida quando meia dúzia de financiadores domina a produção cultural. Muitas vezes, esses financiadores privados se utilizam de dinheiro público por meio de isenções fiscais e ainda se beneficiam do marketing propiciado. Esta engrenagem é viabilizada pela Lei Rouanet, à qual nós e inúmeros outros coletivos artísticos frontalmente nos opomos.Também não deixa de ser tristemente irônico que uma das premiações mais conceituadas no meio artístico seja patrocinada por uma empresa que participa ativamente da lógica de produção de ditaduras perenes, guerras e golpes de Estado. Assim sendo, publicamente nos irmanamos a todas as lutas de emancipação de povos que possuem a riqueza do petróleo, mas que não podem usufruir deste recurso devido à ingerência de potências militares em seu território e à presença de empresas petrolíferas nacionais e transnacionais que usurpam essa riqueza.Aproveitamos para declarar publicamente que aceitamos o prêmio. Em nosso entendimento, esta é uma forma de restituição de uma ínfima parte do dinheiro expropriado da classe trabalhadora. Recebemos o que é nosso (enquanto classe, no sentido marxista) e debateremos um fim público para esta verba.
Dolores aBRE a boca“(...) ao fim dos trabalhos, oferecer uma festa com música e pinga. Assim, o mutirão se faz não só uma forma de associação para o trabalho, mas também uma oportunidade de lazer festivo (...)”
Darcy Ribeiro, O Povo Brasileiro.
influi nas lutas e nas possibilidades de uma proposição social diferente desta em que contribuímos com a manutenção, abrindo brechas ou fissuras que inauguram porvires cotidianos junto com a reprodução. Esta contradição posta e assumida dá a chance de saltos de qualidade na construção do caminho da revolução social proposta pela classe trabalhadora. Somos companheiros de movimentos sociais, construímos e assumimos juntos a luta nas suas diversas dimensões.
Carnaval Contra Hegemônico - Carnaval na Rua, Boca de Serebesque, Unidos da Lona Preta e Dolores Boca Aberta. Patriarca - São Paulo
Por Luciano Costa
Teatro
A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) divulgou, em fevereiro, o relatório completo de mortes de jornalistas e trabalhadores da
imprensa no exercício da profissão em 2010. Foram registradas 94 mortes, demonstrando os riscos crescentes que enfrentam os jornalistas em todo o mundo. O relatório inclui também três casos de jornalistas mortos acidentalmente durante o trabalho.
Desde quando iniciou a elaboração de seu relatório anual, em 1990, a FIJ já computou o falecimento de 2.271 profissionais de imprensa. Nos registros de 2010, o Paquistão ficou com o pior índice de segurança para os trabalhadores na comunicação, com 16 mortes, seguido do México e Honduras, que tiveram dez nomes na lista de mortos.
Embora os dados revelem uma queda das mortes de jornalistas em relação a 2009, quando foram registradas 139 ocorrências, a manutenção de altos índices de violência contra os profissionais da comunicação preocupa a entidade. Os conflitos regionais, as guerras do narcotráfico e a instabilidade política em diversos países foram as principais causas a vitimar jornalistas. A prevalência da impunidade foi criticada pela FIJ, que cobrou dos governos seriedade na apuração e punição dos que cometem crimes contra jornalistas.
O relatório inclui uma descrição detalhada do Fundo Internacional de Segurança da FIJ, que é utilizado para ajudar os jornalistas e suas famílias vitimados por violências ou que foram forçados ao exílio.
http://www.fenaj.org.br/materia.php?id=3305
Para acesso ao relatório completo, clique aqui:
http://www.ifj.org/assets/docs/001/097/cddcb01-09a2c61.pdf
Imprensa
Relatório da FIJ registra 94 profissionais de comunicação mortos em 2010
O Teatro Imaginário Maracangalha, de Campo Grande (MS),
conquistou o Prêmio FUNARTE artes Cênicas nas Ruas 2010 e circulou pelo Centro Oeste em Brasília-DF, Goiânia-Go e Cuiabá-MT, de 15 a 19 de março passado, com duas apresentações pelas ruas e praças de cada cidade e realizando intercâmbio com grupos e coletivos de teatro e produção cultural. Desse intercâmbio resultou o fortalecimento do vínculo com grupos pertencentes à Rede Brasileira de Teatro de Rua (RBTR), que articula e discute políticas públicas, estéticas e modos de produção para o teatro de rua brasileiro e do Cone Sul.
“Durante a circulação, o teatro de MS ganhou repercussão, o espetáculo recebeu boas críticas e reconhecimento do público”, afirma o diretor do grupo, Fernando Cruz.
“Tekoha -Ritual de vida e morte do Deus Pequeno”, Teatro de Rua em Cortejo, narra a trajetória do líder indígena guarani Marçal de Souza e sua resistência histórica na luta pela terra e direitos dos povos indígenas. A palavra que dá nome ao espetáculo, TEKOHA, tem um significado muito peculiar para o povo Guarani. “Teko” significa modo de estar, sistema,
lei, hábito, costume. O Teatro Imaginário Maracangalha faz da rua a representação deste espaço tão sagrado aos Guarani. A história de vida do líder Marçal de Souza tem a dramaturgia e encenação criada em processo colaborativo, tendo como linha condutora a vida, luta, morte e o conflito no julgamento, além de uma leitura contemporânea do papel de instituições como imprensa, igreja, poder público e latifúndio, envolvidas no contexto de sua morte. Os acusados por sua morte foram julgados, mas absolvidos. A realização da peça cumpre um importante papel social, pois ao aliar história e arte, através de formas alternativas de difusão, resgata a memória deste grande homem e estimula reflexão sobre a questão indígena. A pesquisa do espetáculo está no blog do grupo.
Maracangalha: dramaturgia criada em processo colaborativoPor Fernando Cruz
Grupo faz da rua a
representação do espaço
tão sagrado aos Guarani
www.faat.com.br