revista kalango edição #3

59

Upload: osni-dias

Post on 15-Apr-2016

235 views

Category:

Documents


6 download

DESCRIPTION

Revista Kalango Edição #3

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Kalango Edição #3
Page 2: Revista Kalango Edição #3
Page 3: Revista Kalango Edição #3
Page 4: Revista Kalango Edição #3

Enfim, a Kalango

Após o horário eleitoral gratuito (gratuito?) voltamos à cena para apresentar mais uma edição da revista Kalango, com novos colaboradores e novidades em sua tela. João Paulo fala sobre a resistência nossa de cada dia, lutando pela valorização da cultura (e da vida). Delta9 chuta o balde (a urna) e destila sua verve sobre as eleições. Tio Dunha manda ver com sua BIC e recomenda olhares mais atentos sobre a Web. No traço sempre comovente de Cláudio, nossa homenagem a John Lennon, que completaria seus 70 anos de glória. Pelas mãos de Weberson Santiago, Pelé, também aos 70.Vivas e Salves para Juliana Gobbe e sua arte das palavras. Amne Faria faz poesia e uma caridosa porção de emoções sobre nada. Tiago dispara sua munição polissilábica sobre o conservadorismo político, enquanto Mário Sérgio de Moraes, ironicamente, dá dicas de como se eleger, em tempos circenses.Orivaldo Leme joga uma flor sobre a cultura pós-moderna, ao estilo da contracultura, e seu colega da história, Mário Sá, põe o pé na cozinha para discutir se branco é branco e preto é preto, mostrando como o racismo disfarçado ainda predomina em nossa sociedade. Já William Waptrix põe Alan Poe na roda e Allan Kern nos brinda com um texto sobre os maiores herdeiros dos Mutantes. Quer saber? Espere, ainda tem mais:Hemerson Brandão, nosso astrônomo de plantão, atira o primeiro meteorito sobre o Turismo Espacial e Luis Pires (Varinha) lamenta o fim da era das grandes salas de cinema da Paulicéia. O mestre Orlando Loureiro pergunta “afinal, o que é marketing” e José Almeida Amaral Jr. em artigo emocionado, homenageia Inezita, nossa caipira do asfalto. Mário Merege visitou boa parte dos parques indígenas norte-americanos e nessa edição nos mostra o grandioso Monument Valley, em imagens extraordinárias. E por falar em imagens, Vânia Jucá recomenda o filme “Cabeça a Prêmio”, com seu making of e still, e fala da alegria em receber amigos e celebrar grandes encontros. Em entrevista exclusiva, Igor Spacek abre seu coração corintiano para falar sobre cinema, arte, cultura e multimídia.

Por fim, meus agradecimentos a Leonardo Boff que, com sua lucidez ímpar, generosidade e olhos de farol, estréia nas páginas da Kalango, em tempos de cegueira branca. Termino com suas palavras, agradecendo a todos os leitores pela oportunidade: “Vivemos tempos urgentes”.

Uma ótima leitura.Osni Dias

Dialeticamente Correta

SumÁrioeditorial Colunas

Não entendo sobre nada

Igor Spacek, ou como encarar desafios

Como se elegerContracultura: Acabou Mesmo?

P(o)e Halloween nessa hi

storia~

´

Música de brinquedo (para gente grande)

Turismo Nas EstrelasUma parte do passado que se apagou...

O velho agoniza e o novo

custa a nascer E a culpa é do marketing!INEZITA BARROSO –

UMA CAIPIRA DO ASFALTODE PRETO A AFRO-DESCENDENTE:

Conceitos e Pré-Conceitos

MONUMENT

VALLEYCabeça a Prêmio

Page 5: Revista Kalango Edição #3
Page 6: Revista Kalango Edição #3
Page 7: Revista Kalango Edição #3

A Resistência Kalanguiana

Estava eu em um restaurante da cidade, há pouco tempo, quando

percebi um movimento enorme e, inclusive dificuldades de arrumar mesa. Estranhei... perguntei ao garçon... “É a Festa das Flores”, ele me disse.É... é o que acontece com a cidade, quando se tem aqui algum evento!Isso se vc contar que o restaurante era no centro da cidade e que um dos princípias ofertas da festa das flores é de comida. Ou seja, não há dúvida, eventos culturais atraem muito público para todos os ramos da cidade, não apenas aos envolvidos diretamente.Então, há uma fortíssima tendência do empresariado local a imaginar o retorno publicitário em termos lineares, tipo “investi ‘x’ no evento e ele vou vender ‘y’... então, vou ter um lucro de ‘w’”. Não é assim que se faz essa conta. É preciso estar em circulação, é preciso fazer circular o nome, a marca, para quando o consumidor tiver necessidade de seu produto, aumente a probabilidade de que ele o consuma.E trazer o consumidor para nossa cidade ou simplemente tirá-lo de casa não é uma questão de um lucro certo, direto, previsto, mas aumenta em muito a probabilidade de que sua empresa de fazer negócio, uma vez que, com o consumidor em casa ou em outra cidade, isso simplesmente vai ser impossível de acontecer.Então, o empresário não pode pensar assim “se eu patrocinar um evento cultural, vou vender ‘x’ camisetas a um

custo de tanto, tralálá, vou lucrar ‘t’...”Visibilidade, presença, constância... Maquiavel já dizia isso, como um dos pilares do sucesso.Patrocínio cultural é a melhor forma de circular, pois associa a marca a eventos de simpatia ao mesmo tempo que revela uma consciência social mais ampla.Por outro lado, a Arte não vive sem a participação do empresário, pois, pelo menos aqui em Atibaia, o poder público produz cultura, não a gerencia.Então, essa minha pequena participação nesse número do Kalango, é, lembrando a célebre resistência kalanguiana... chamar a atenção de todos a uma extrema dificuldade dos artistas de Atibaia em terem acesso aos empresários locais e que esses vejam nessa visita, uma grande oportunidade de bons negócios...Artista trazem lucro, arte e cultura levam progresso!Artista não “pede ajutório”... cujas afinidades linguisticas nos lembram rimas menos gentis.Atibaia precisa de progresso...Atibaia precisa de que seus empresários se entendam com seus artistas.Porque, Atibaia tem Arte e tem Cultura próprias... mas, o público está com dificuldade de ter acesso a ela...E o empresariado só tem a ganhar aproximando os dois.

Por João Paulo Correia Lima

Recortes da internet

Definitivamente não acredito que essas pesquisas eleitorais que efetuam os Ibope e os Vox Populi da vida, sejam verídicas. Acredito, sim, que tudo isto seja manipulado com intenção clara de induzir o eleitor menos esclarecido. Por isso, decidi realizar, eu mesmo, uma pesquisa em todo o país e obtive um resultado inédito de maioria absoluta, unanimidade total (100%); e dando a MINHA MÃE como próxima ganhadora, deixando bem atrás os favoritos Dilma, Serra e Marina.Várias pessoas me perguntaram como realizei a pesquisa. Respondi que não foi muito complicado. Aliás,

foi muito efetiva e de grande credibilidade, já que eu mesmo formulei as perguntas.Peguei a Lista Telefônica das principais cidades do país e telefonei para 1156 pessoas, no horário entre 2h e 4h da manhã, na certeza de encontrar as pessoas em seus domicílios. A quem atendia eu fazia a seguinte pergunta (muito simples por sinal):“Em quem o senhor votará para presidente do Brasil nas eleições de outubro próximo?”Todos me responderam, sem vacilar:“...NA PUTA QUE TE PARIU!!!”

Foto

: Osn

i Dia

s

Page 8: Revista Kalango Edição #3

O Claire Streetart é um projeto que nasceu nas ruas de Paris,

inspirado pelo mito que envolve a cidade sobre “L´amour” e um pouco de “Voulez-vous coucher avec moi? ”, por que não? As ilustrações são simples e de grande contraste com as paredes da cidade. O resultado prova o voyerismo nato de todo ser humano. Quem consegue ver um casal se agarrando publicamente sem dar no mínimo uma olhadinha?http://clairestreetart.com/

Linkando com o Tio Dunha

Numa iniciativa curiosa e bacana, a Prefeitura de Curitiba chamou 20 artistas para pintar 20 faixas de pedestres. O objetivo: chamar a atenção para o uso das faixas através da curiosidade que a street art sempre acaba causando.http://www.artenafaixa.com.br/ Vale a pena dar uma olhada nesse curta

chamado Alma. Ele foi apresentado no Anima Mundi de 2009., qualidade da animação é excelente. O responsável é Rodrigo Blaas, um espanhol que trabalha na Pixar.http://almashortfilm.com/

O espanhol Juan Francisco Casas faz maravilhosos desenhos com uma Bic… sim, uma simples caneta Bic! Dá uma olhada como o cara é fera. E o tio Dunha achava que mandava bem com a bic nos cadernos do colégio.http://www.juanfranciscocasas.com/

Por Tio Dunha

Foto: Tio Dunha

Page 9: Revista Kalango Edição #3
Page 10: Revista Kalango Edição #3

Simplesmente assim, deixar de lembrar a senha da vida para entrar definitivamente no mundo, esquecê-las ultimamente é imperdoável. De canto em canto...22287798657320092367455772211...ok? A máquina contesta, falta pendência pra números (Pitágoras que me perdoe).O que fascina mesmo é pensar o mundo em seus opostos, o urânio iraniano, a tranquilidade do povo brasileiro. Pinheiros no Paraná, Gaudí em cor e forma.Sentir o gosto de jaca e a sina do jiló que nos amarga, aperta e faz suar a alma desbotando os sentidos.Em tempos de amor exposto, sabor de rosto quente, aperto de mãos que sacode a ira e adoça o sol.Nos dias de deselegância frases para encharcar olhares, mas logo o magnânimo pode abrir novamente suas janelas.A minoria iluminada pensa o mundo no ocaso da escuridão...contempla inerte o descaso descascado nas mãos do moleque no farol.Pergunta: O homem é dono do seu destino ou não? As forças molengas que nos impulsionam não passam de arremedo de levantação?

Quem caminha sozinho tem tatuagem de multidão nas costas, colapso de humano, quando vira a esquina logo vê na garupa do andarilho louco os farrapos em construção.E tem gente que vive à deriva procurando afluência de coração...tramando a sorte do nada...a eloqüência desregrada que roda no gravador.Centrados na indignação descartável, dependemos da sobrevivência da espécie, desdém!Se o seu céu for vermelho à revelia de alguns...aí vai uma simples receita: Tente ingerir o sumo de uma bela papoula pro sono chegar suave e encantador.Segue a arte da vida com cimento, ouro em pó, grandes risos, lágrimas agudas e algum contentamento.Passam pela face grandes vassouras, pequenos relógios, aspereza e sublimação...Nas feiras o êxito é vendido em pequenas doses como livros sem sumários, à vista, à prazo, como queiram.Os arquétipos foram todos diluídos na Coca-Cola nossa de cada dia, sem engano, sem medo...com vergonha.Estamos à espreita, tudo pode se transformar.Salve Darcy Ribeiro! Viva o povo brasileiro!

Dialeticamente CorretaPor Juliana Gobbe

Page 11: Revista Kalango Edição #3

Não entendo sobre nada

O que falar de uma menina,e sua vasta sabedoria pós-guerras?

Porque não é só pra mim que é assimChico diria pra gente:Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu a gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu ...

Tem dias que a gente sente tudo junto e ao mesmo tempodeve ser coisa da gente que anda sentindo tudo ao contrário...]

Tem dias que nada tem graçaTem dias que a vida me roeTem dias que tudo dói...

O mínimo movimento de uma pluma traz à tona a tempestiva capacidade vulcânica do meu caos.Sigo tentando me acompanhargerando até alguma emoção

Tento me convencer que tudo me valeentão me acolho entre meus pensamentos que me conduzem pelas mãos.A gente tem cada idéia!?!

Por Amne Faria

Page 12: Revista Kalango Edição #3
Page 13: Revista Kalango Edição #3

Igor Spacek, ou como encarar desafios

Um cara batalhador, perseverante, que não desiste fácil e que está aí para aprender

sempre, até o final da vida”. Assim se define Igor Spacek, artista multimidiático nascido em São Paulo, mas com coração que se divide entre a capital e a pequena Atibaia, distante 60 km da metrópole. Com esse perfil, não resta dúvidas. Corintiano, claro! É astuto quando a conversa é a Libertadores da América. Diz que ganhar a taça é uma questão de tempo. “Todo corintiano é um sofredor, faz parte da mística”, brinca. Em tom profético, afirma que quando isso se resolver, será de forma magistral, tão plena que valerá por dez títulos. Essa conversa agradável, realizada na Makemídia, espaço onde fluem as idéias e surgem as grandes obras do artista, você acompanha a seguir.“Comecei aos 16 anos como professor de informática numa escola técnica e depois trabalhando de forma independente, numa sala minúscula, onde cabiam apenas duas pessoas, com apenas um computador”. O jovem artista alugou em seguida um espaço e chamou os irmãos para trabalharem juntos. O foco eram softwares educacionais e a criação de catálogos eletrônicos, num tempo em que os computadores não vinham com recursos multimídia.O grande desafio era vender não só o produto, mas também a instalação do kit multimídia nos micros, sem o qual não seria possível rodar sua criação: quiosques com telas touchscreen, apresentações multimídia e muita tecnologia.

Spacek se mostra responsável, dedicado, compromissado. “Hoje me auto-intitulo um artista midiático, com manifestações em diversas mídias”. O artista se envereda por inúmeras áreas, seja uma intervenção urbana, um grafite, um design de ambientes, temas tão variados e complementares que abarcam não somente a área da multimídia.Igor tem feito muita coisa. Está finalizando o filme Belga, curta-metragem filmado em Atibaia que participará de festivais internacionais, cuja linguagem foi desenvolvida especialmente para esse público. Com Belga, já são oito filmes no currículo, todos premiados em festivais nacionais e internacionais. Com tanta demanda, hoje Igor trabalha na concepção e na direção da maioria dos projetos, acompanhando todas as etapas, desde o atendimento. Ivan Spacek, seu irmão, é seu parceiro na maioria dos projetos artísticos e também assina a maioria dos filmes e, como frisa, um auxilia e complementa o outro. “É sempre importante deixar claro que o Ivan faz uma participação super importante em vários desses projetos”.O início desse trabalho na área do audiovisual começou vencendo o 1º Curta Atibaia. Depois, desenvolveram trabalhos autorais e comerciais contratados por empresas, na área de arte-tecnologia, cinema interativo e quadro digital. A infância em Atibaia (migrou com sete anos para a cidade) teve bastante influência em seu processo criativo. Andava sempre de bicicleta e parecia um passarinho fora da gaiola, queria

liberdade nas ruas de terra, brincando de guerrinha de mamona. “Isso mudou nossa vida, hoje eu me considero um filho de Atibaia e embora não tenha nascido aqui, acho muito significativo em minha formação. Tenho um carinho e um amor muito grande pela cidade”, revela. Ainda jovem, cursou três anos e meio de Engenharia Mecatrônica (Robótica) e tinha um fascínio por tecnologia, com uma idéia fixa de se tornar engenheiro eletrônico. “Em casa, meu irmão sempre desenhou muito bem, mas minha veia artística naquela época ficou adormecida”. Foi com o irmão que Igor começou realmente a trabalhar com arte, na fase adulta. Atualmente, Igor faz consultoria a um grupo de gravadoras, ouvindo material de novas bandas e auxiliando no início da carreira, fazendo uma análise dos trabalhos. Sobre as tendências da música brasileira, diz que é eclético, ouve de tudo. “Tenho uma lista pessoal em meu I-Phone e ouço no carro, nunca tive muito tempo para ficar colecionando CDs ou baixando músicas”.Sobre seu portifólio, Igor destaca o trabalho com a técnica vetorial, encontrada no endereço makemídia.com.br . “Tem muita coisa no site, mas também trabalhos que não estão lá − meus quadros em madeira, em 3-D, por exemplo − catálogos, coisas difíceis de mostrar na Internet. O site é para não perder o que fazemos, pois estamos produzindo muito”. Os quadros, criados pelos irmãos, com a técnica vetorizada, advinda do stencil e da serigrafia,

Por Osni Tadeu Dias

Page 14: Revista Kalango Edição #3

têm influências claras da Pop Art. A influência vem do dia-a-dia. O quadro “Dia D”, em que o Corinthians foi campeão, depois de 24 anos sem ganhar o título paulista, tem uma história de vida. Igor assistiu ao jogo e depois foi comemorar com seu pai na Avenida Paulista, em frente ao prédio da Gazeta. “A inspiração vem da nossa vida, das pirações e das viagens”, declara o torcedor do Timão.Igor é também piloto de rally − ficou em 5º lugar no Rally dos Sertões, amplamente divulgado pela Rádio Eldorado, campeão paulista e vice-campeão do MERCOSUL, percorrendo Uruguai, Paraguai e Argentina. “Foi um feito emocionante, onde atravessei todo o país em estradas secundárias, uma pena não ter tanto

tempo hoje para competir, pois exige patrocínio, preparação e trabalho de equipe”.Ao terminar a conversa, o artista deixa um recado: estudar sempre, nunca se acomodar. “As pessoas acham que, porque estou participando de um quadro do Caldeirão do Huck, na Globo, estou por cima, famoso, ganhando dinheiro. Mas você não pode parar de trabalhar, tem que produzir muito, não pode deixar o burro na sombra. Na área em que a gente trabalha é impossível, se você pára é engolido pelo mercado”.

Page 15: Revista Kalango Edição #3

Recentemente Igor apareceu com uma lata de spray que emite sinais de infravermelho,

criando imagens na tela. “Peguei coisas que já havia no mercado, controle remoto, pilha, controle de videogame, software com Bluetooth e sensores. Liguei num computador, que por sua vez foi ligado num projetor, que mostra a tinta em tempo real na medida em que se vai trabalhando. Depois dessa performance em Portugal, onde as pessoas ficaram fascinadas, Igor participou de uma mostra de animação e videoclipe e depois na Casa das Caldeiras, em SP. Modesto, o artista afirma que o trabalho não é criação sua. “Cheguei a ver um projeto similar de um alemão, com custo de 300 mil dólares, mas fui comprando os componentes aos pouquinhos e fiz essa experiência”. Contudo, ele revela o segredo: “A produção artística que não emocione, não vale nada”. E finaliza. “Gosto do desafio de desbravar uma coisa nova, conhecer o resultado depois de dominar a coisa, senão perco o estímulo”. Outra criação de Igor utiliza motivos de azulejos portugueses, inspiração vinda de sua mais recente viagem à Europa, trabalhos que estão expostos em galeria na Rua Haddock Lobo, em São Paulo. Recentemente o artista apresentou um trabalho inusitado, no Bar “Seu Dito”, em Atibaia, incluindo 11 texturas diferentes e quadros em 3D (fotos em seu Facebook), um projeto desafiador que está fazendo bastante sucesso na cidade.

Igor Spacek e o seu Grafitti Digital no Festival de inverno de Atibaia 2010.

Fotos - Victor de Paula

Page 16: Revista Kalango Edição #3

Orivaldo Leme Biagi

Entre os anos de 2008 e 2010 uma interessante peça publicitária de televisão começou a ser divulgada. O comercial, que anuncia o tônico Grecin, abre com

imagens do festival de Woodstock e de uma praia onde está sendo praticado surf, afirma na narração que a “geração que jurou ser jovem para sempre chegou lá”. E para demonstrar tal conceito o comercial mostra homens maduros realizando atividades jovens (surf e conversas sobre carros, mais especificamente), acompanhados de belas mulheres, garantindo que o produto anunciado manterá o tom grisalho dos cabelos de seus consumidores. Na sua construção, o comercial uniu a idéia de eterna juventude (que este grupo, em tese, defendia quando era efetivamente jovem) com a austeridade da sua maturidade através dos cabelos grisalhos – ou, conforme seu texto indica, “deixe alguns grisalhos, muitos não”.Talvez não seja coincidência que o momento deste comercial também coincida com o aniversário de 40 anos das manifestações de 1968, acontecimentos estes que foram o apogeu da idéia da juventude tomando o poder e contestando a ordem vigente, seja esta qual fosse – democracia, comunismo, ditaduras, etc., naquilo que foi denominado Contracultura. No comercial do tônico Grecin a juventude efetivamente toma o poder – mas o de compra e o de consumo. Como podemos perceber o conceito de Contracultura, surgido depois de 1945 e extremamente ativo nas décadas de 50, 60 e 70, ainda exerce uma intensa influência no século XXI. Atualmente o conceito é apresentado como sinal de derrota e/ou resignação para aceitação do mercado de consumo. Será mesmo assim ou tais sensações são produzidas por aqueles que realmente querem que o “sonho” tenha morrido e que ainda tem medo dele? Resposta difícil...

Contracultura:

Acabou Mesmo?

Page 17: Revista Kalango Edição #3
Page 18: Revista Kalango Edição #3

Meu filho está fazendo 21 anos, entrando na sua maioridade. E

espero que ele se torne um homem de bem, ou melhor, de bens. Então o aconselhei a investir na segunda mais velha profissão do mundo: a de político. Como estas eleições são exemplos de boas carreiras ao topo do mundo, eis aqui o meu presente, um Decálogo do Bom Político:Um. Não tenha ideologia. Não pense em ideais filosóficos ou em autores que lutam em transformar o mundo. Isto é bobagem. O importante é levar vantagem em tudo.Dois. É fundamental aliar-se a grandes grupos privados --- empreiteiras são ótimas --- que sustentem a candidatura. Uma boa campanha a vereador está saindo inicialmente por volta de $ 80 mil reais.Três. Seja submisso aos poderes locais, principalmente aos poderes privados: empresas de transporte, construtoras, etc. Jamais diga Não a eles. Se houver polemica, fique quieto no seu canto.Quatro. Como político ou “ajudante de ordens” faça o que dá voto: dar nomes as ruas, carta de recomendação de emprego, ambulância a quem pede etc.Quinto. Nos dias de hoje é fundamental cuidar da imagem, elaborar sua

aparência. Não precisa ser sabido em nada, mas parecer ser sabido. Busque um ar de serenidade criando a idéia da cordialidade.Sexto. Elogie todos, pois eles só agradecerão você. Nas festas estampe um eterno sorriso. O importante é não discordar de ninguém.Sétimo. Alie-se a uma ONG. De preferência daquelas que fazem marketing social dos doadores e jamais das vitimas. Isto rende votos!Oito. Nos discursos seja impactante, encaixando frases de efeito como: “a sinceridade está no olho a olho”, “vou combater a corrupção doa a quem doer”. Ou usar frases em inglês. Mesmo que poucos entendam. Mas “pega bem”!Nove. Para subir na carreira política (ser vereador é apenas o inicio) é imprescindível aliar-se bovinamente a um chefe. Ele dirá o que você deve fazer.Dez. Não dê ouvidos aos que o chamam de desonesto, cínico ou “office boy de luxo” dos poderosos. Pense assim: é você que está por cima!Finalmente, meu filho perguntou: será que todos são assim? Respondi: nem todos! Poucos não se submetem. E daí o aconselhei a ler o conto “O Medalhão” de Machado de Assis.

Como se elegerPor Mário Sérgio

Page 19: Revista Kalango Edição #3
Page 20: Revista Kalango Edição #3

Foto

: Kat

hya

Gonç

alve

s Silv

a

Page 21: Revista Kalango Edição #3

Foto

: Kat

hya

Gonç

alve

s Silv

a

Page 22: Revista Kalango Edição #3

Foto

: Kat

hya

Gonç

alve

s Silv

a

Page 23: Revista Kalango Edição #3

P(o)e Halloween nessa historia~ ´

Mesmo “morto” e tendo sido homenageado pelos 200

anos de “nascimento”, Edgar Allan Poe transita no imaginário americano, não só por sua impecável produção literária e pelo seu perfil psicológico que culmina no alcoolismo, mas sobretudo pelo que inspirou por meio de suas histórias bizarras vinculadas ao terror.Em uma leitura mais vinculada ao dia das bruxas, que de uma certa forma sugere uma vida mística habitada por seres que podem ser acionados, contatados e mesmo consultados, poder-se-iar dizer que nessa esfera, o vínculo de Poe com este evento serve para chancelá-lo como um intermediário deste

mundo conhecido também como “do além” ou “mundo dos mortos”. Em outras palavras, recorrendo ao que sugere o Espiritismo, Edgar Allan Poe seria um médium que serviu como intermediário daqueles que são desencarnados, discriminados, desrespeitados, rechaçados por não terem mais corpos de carne e osso.O fato de serem esvoaçantes faz com que sejam semelhantes apenas na fisionomia, mas diferentes em suas propriedades. Poe parece ter optado pelo melhor daquilo que é oferecido pelos “fantasmas”, ou seja seus pensamentos diáfanos e cheios de qualidade.Não á toa, a fase que inclina

Por William Araújo

Page 24: Revista Kalango Edição #3

Edgar Allan Poe para uma espécie de ensimesmamento fora em sua segunda estada em Nova York, quando “viveu com magros recursos de trabalho mercenário” (Allen Harvey, 1945:102). Foi em seu endereço da rua Greenwich, 130 que Poe verte seu conto “A Caixa Quadrangular”, na realidade, um ataúde. Tal como diz seu biógrafo, nesta obra, “cadáveres enterramentos prematuros e aquelas paisagens singulares e assombradas de seus poemas mostram os estranhos caminhos por onde ele andava e seus sonhos e o conforto melancólicos que ele sempre achava nos reinos da imaginação” (ob.cit.).Todo esse universo aparentemente mental serve para provar que Poe estava em perfeita sintonia com mentes sofredoras e bastante doentes, para não dizer que ele mesmo estava nessa condição. Prova disso repercute em sua obra por meio de suas flutuações psíquisas e físicas. Harvey acentua que isso passou a ser notado a partir de uma crescente e acelerada “exaltação do eu”, fenômeno que ultrapassa “os derradeiros limites admissíveis da sanidade mental”, por volta de 1848, com o aparecimento da obra Eureka.Dentre tantos, o poema “Terra dos Sonhos” sinaliza sua capacidade de expressar este mundo, demonstrando ao mesmo tempo sua destreza na apreensão das imagens e na tradução

de seus significados.“Num caminho sombrio e desoladoPor anjos maus somente frequentadoE onde, no negro trono em que se elevaDomina um ídolo chamado, TrevaPassei, recentemente, em minha vindaDe uma última Tule, magra e linda,Terra estranha e sublime, sem um traçoDe Tempo nem de Espaço” (ob.cit. pag.102)Na contemporaneidade, a imagem de Poe é bastante associada a esta c o m e m o ra ç ã o H a l l o w e e n , introduzida nos EUA em 1846, de origem celta e que servia para comemor o fim do verão (samhain), em 31 de outubro. A vinculação com os mortos dá-se em 5a.C, p a s s a n d o - s e a crer que os desencarnados voltavam nessa data para ocupar o corpo dos vivos, uma única esperança de vida após a morte.

Par evitar isso, criaram vestimentas, comidas, bolos e outros apetrechos para afastar esta provável possessão.Vejam algumas ilações de Poe com o Halloween, no fórum de 2009, e constatem como este escritor está mais vivo do que nunca, na memória das gerações atuais que o adaptam cada um a seu modo. Nesse fórum, Elza (Shadow Crosser) diz: “Eu achei extremamente fascinante ... E agora eu tenho várias idéias para um novo tema de Halloween. As informações que cercam sua morte [Edgar Allan

Poe] são muito misteriosas e me levam a pensar em fazer um tema com um grande cemitério e o mistério do assassinato.”Já Kelsey ( L o b i s o m e n ) destaca: “Eu sempre fui interessada em Poe” ... “eu sempre tenho uma foto emoldurada dele na minha parede no Dia das Bruxas.” Howhining (Chame-me maligno), por

sua vez acentua: “Estou com ele [Poe] ultimamente na minha cabeça. Desde a noite de ontem eu me pergunto como eu poderia começar um "poema para o tema invitation Halloween”, mas eu não sei como começar. Alguma sugestão? “ -----Fontes:ALLEN Hervey. Israfel: Vida e Obra de Edgar Allan Poe. RJ/POA/SP:Globo, 1945.Halloween FórumJeremiah ProjectThe visual history of halloween

Page 25: Revista Kalango Edição #3
Page 26: Revista Kalango Edição #3

Música de brinquedo (para gente grande)

Hoje em dia, é preciso reconhecer que a indústria

musical brasileira ainda encontra grandes dificuldades no garimpo de novos talentos. Enquanto todas as atenções estão voltadas para a manutenção da saúde financeira das gravadoras e produtoras, podemos ver nas recentes premiações da MTV e do Multishow que os "destaques" do ano foram recebidos com vaias pelo mesmo público telespectador que os consagrou. O fato é que as novas bandas do estilo conhecido como "happy-rock" – não muito diferente dos chamados "emos" – são basicamente garotos brincando de ser rockstars, indo direto de games como Guitar Hero aos grandes palcos. Então, talvez não seja coincidência que o melhor disco do ano (até o momento) no pop/rock nacional seja o último do Pato Fu, convenientemente intitulado "Música de Brinquedo".Próximos de completar 20 anos de carreira, os mineiros do Pato Fu atualmente podem ser considerados os maiores herdeiros da cultura musical eternizada pelos Mutantes, aliando criatividade psicodélica a um charme

tipicamente brasileiro. O novo disco é composto por 12 regravações de clássicos do pop nacional e internacional, todas arranjadas em instrumentos originalmente feitos para crianças.As canções sintetizam toda a diversidade da música pop que serve de base para o som do Pato Fu. Usando brinquedos de plástico e miniaturas de instrumentos, eles recriam fielmente arranjos de Rita Lee, Paul McCartney, Tim Maia, Elvis Presley, Temptations e Titãs, entre outros. A proposta era criar um contraponto ao som excessivamente polido das produções atuais, segundo o guitarrista e produtor John Ulhoa***. É impressionante o som que a banda consegue tirar dos instrumentos de brinquedo, o que exigiu trabalho extra dos músicos. Para os vocais de apoio, John e a vocalista Fernanda Takai chamaram a filha Nina e o amiguinho Matheus d’Alessandro, ambos com seis anos de idade. Apesar de ligeiramente desafinadas, as vozes das crianças iluminam e conferem espontaneidade à temática infantil que dá o tom do disco.As viradas de década sempre

refletem momentos de transição de tendências. Enquanto as novas gerações do dito rock nacional se dividem entre a obscuridade do underground e a mesmice do mainstream, eis que uma banda madura como o Pato Fu resgata a inocência da pouca idade com um disco conceitual que é uma verdadeira aula de musicalidade perante a infantilidade débil que reina no mercado fonográfico atual.

Link para ouvir o disco: http://migre.me/1QP43

*** Fonte da citação: http://migre.me/1QP4F

Faixas:01. Primavera (Vai Chuva) (Cassiano)02. Sonífera Ilha (Titãs)03. Rock And Roll Lullaby (Cynthia Weil / Barry Mann)04. Frevo Mulher (Zé Ramalho)05. Ovelha Negra (Rita Lee)06. Todos Estão Surdos (Roberto Carlos / Erasmo Carlos)07. Live And Let Die (Paul McCartney)08. Pelo Interfone (Ritchie)09. Twiggy Twiggy (Burt Bacharach / Pizzicato Five)10. My Girl (Smokey Robinson)11. Ska (Herbert Vianna)12. Love Me Tender (Elvis Presley / Vera Matson)

Por Allan Kern

Page 27: Revista Kalango Edição #3

TurismoNas

EstrelasPor Hemerson Brandão

Conceção artística do avião-foguete da empresa Virgin Galactic

Foto

: Virg

in G

alac

tic

Page 28: Revista Kalango Edição #3

Atire o primeiro meteorito aquele que nunca sonhou em

alcançar as estrelas a bordo de confortáveis aviões-foguetes. A aventura de desbravar o espaço é um sonho antigo de muitos e que a cada dia está mais próximo de se tornar algo corriqueiro em nosso dia-a-dia. Apesar de parecer enredo de filmes de ficção científica, as viagens espaciais comerciais já são uma realidade.O turismo espacial era uma promessa desde os anos de 1950, muito antes de o primeiro homem entrar em órbita. Naquela época, acreditava-se que no ano 2000 já existiria civis vivendo na Lua e em outros planetas. Isso não ocorreu na mesma velocidade que foi prevista há seis décadas, porém, nos últimos anos, um número crescente de empresários tem investido nesse novo mercado que espera movimentar bilhões

de dólares anuais nos próximos 25 anos.Há 10 anos a Rússia, em parceria com a empresa estadounidense Space Adventures, tem colocado turistas a bordo de foguetes russos que partem para a Estação Espacial Internacional (ISS na sigla em inglês). Pela bagatela de 20 milhões de dólares, o americano Dennis Tito tornou-se o primeiro turista espacial da história, ao ficar durante uma semana a bordo da ISS. Experiência similar foi realizada por outros cinco turistas nos anos seguintes. Apesar desses vôos turísticos para a ISS estarem suspensos desde 2009, já para o próximo ano estão previstos os voos dos primeiros civis ao espaço, a bordo de aviões foguetes privados e que permitiria aos mesmos experimentarem por alguns minutos a falta de gravidade, observar a curvatura da Terra e ver o negrume do espaço.Em 2003 a empresa Virgin Galactic

realizou com sucesso o vôo-teste do seu primeiro avião-foguete privado a alcançar o espaço, o SpaceShipOne. As promessas da nova empresa para o futuro do turismo espacial vão desde hotéis em órbita, passando por colônias de férias na Lua e até mesmo transatlânticos interplanetários, que fariam incursões regulares entre as órbitas dos planetas Terra e Marte, e que serviria de carona para astronautas explorando o planeta vermelho. Outras seis empresas pelo mundo também mantêm quase os mesmos objetivos.Recentemente a Virgin Galactic celebrou a abertura do seu primeiro aeroporto para decolagens e pousos de aviões-foguetes, no deserto do Novo México, nos EUA. Ela prevê que em 2011 iniciem os voos dos seus primeiros turistas. Os futuros passageiros do veículo espacial terão que pagar cerca de 200 mil dólares pelo bilhete.

A empresa já tem uma lista de espera com cerca de dezenas de milhares de nomes e já faturou 45 milhões de dólares com seus 330 clientes que já fizeram as reservas. Nessa lista incluem pessoas de todo o mundo para voarem em seu novo veículo, o VSS Enterprise, que levará seis turistas e dois tripulantes por semana ao espaço, em vôos de duas horas e meia para além dos 100 km de altitude.Infelizmente o turismo espacial nesse momento é algo restrito para aqueles poucos que possuem alguns milhões de dólares em suas contas bancárias, mas provavelmente em algumas décadas ele estará acessível a qualquer um. Futuramente chegará o dia em que pegar um foguete para a Lua será feito com a mesma facilidade e conforto com que hoje pegamos um avião entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Concepção artística do avião-foguete da Virgin Galactic acoplado em sua nave-mãe

Foto

: Virg

in G

alac

tic

Page 29: Revista Kalango Edição #3

Vôo-teste do avião-foguete da Virgin Galactic, o VSS Enteprise Foto

: Mar

k Gr

eenb

erg

Page 30: Revista Kalango Edição #3

Concepção do interior do avião-foguete de como será a experiência dos passageiros em microgravidade

Foto

: Virg

in G

alac

tic

Page 31: Revista Kalango Edição #3

Grandes, amarelas./As pinhas da minha infância/não têm

similares.

Rosa lá em cima./Lá embaixo, a molecada/esperando pinhas.

Quarenta caroços/E ainda está intacta/metade da pinha.

Buraco na parede,/ passa o ar, passa a luz .../...ai, ai de mim,

menina!

Chuva violenta,/cairam árvores e telhas,/salvou-se a violeta.

Noite de geada —/recados de namorados/no vidro do carro.

Sol de inverno--/Uma calçada repleta,/outra vazia.

Passeio de férias —/Caminho nas ruas da infância/agora de sapatos.

Tudo fica quentinho/onde ela se deita --/gata do Jorginho.

Ah, que viagem! --/Ao descascar a laranja,/várias voltas ao

mundo.

Estrelas e luas —/a noite, bem quentinha,/num prato de sopa.

Kombi da pamonha —/tudo quieto, de repente,/no prédio em obras.

Mangueira frondosa --/Com seus uis e ais,/prima maravilhosa!

Chuva passageira--/Flores de jacarandá/no dorso do cavalo.

Até meu destino/ainda tem muito chão -- Ah, pé de goiaba!

Troca na cidade./Leva milho, traz café/o carro de boi.

Os donos nem saíram,/mas os gatos já subiram --/e dormem na

mesa!

Domingo de sol,/toda a família no gramado--/Doze pássaros pretos.

Na fonte da praça,/um mergulho, um vôo curto.../Bem-te-vi toma

banho!

Chuva a caminho./Mesmo apertando os passos,/o vira-lata atrás

Marcelino Lima de Jesus

Page 32: Revista Kalango Edição #3

Uma parte do passado que se apagou...

Por: Luis Pires Varinha

Page 33: Revista Kalango Edição #3

Quando eu era pequeno, permitiram os bons deuses que eu convivesse com

uma tia, irmã de minha mãe, uma mulher muito à frente de seu tempo. Ela perdeu seu marido muito jovem, mas mesmo numa época em que as mulheres só saiam de casa acompanhadas, não deixou de freqüentar os lugares que freqüentava quando ele ainda era vivo. Uma de suas paixões era o cinema. Gosto que ela acabou me transmitindo.O seu marido era funcionário dos Correios e lhe deixou uma boa pensão, que ela recebia num banco localizado no Centro de São Paulo (aos mais jovens que podem se espantar com a informação digo que houve uma época em que não havia transações bancárias pela internet e as pessoas tinha que comparecer a uma agência bancária para pagar contas, receber salários, etc. – coisas da pré-história!). Lembro-me com saudades que toda mês ela ia receber sua pensão e me levava junto, pois era dia de cinema.Foi assim que, com poucos anos de idade, me tornei freqüentador dos cines Art Palácio, Metro, Regina, Galeria Olido, Ipiranga, Comodoro, Cinespacial, entre outros. Nunca me esqueci da sensação de fascínio ao entrar pela primeira vez no Cine Marrocos, que ficava na Rua Conselheiro Crispiniano, próximo ao Mappin. A fachada

era suspensa por quatro colunas enormes que, juntamente com as escadas, eram revestidas de mármore de Carrara. As paredes laterais do hall de entrada eram decoradas com detalhes inspirados nos contos orientais das “Mil e uma noites”. Não me lembro qual era o filme, provavelmente algum Mazzaropi ou Trapalhões. A sala comportava 1.900 pessoas e várias vezes a vi totalmente lotada.Anos mais tarde, já adolescente, continuei a freqüentar os cinemas da região, mas também os da Avenida Paulista, como o Astor, Top Cine, Bristol, Gazeta, Belas Artes, Biarritz, Center 3, Liberty, Majestic e o Gemini, motivo desta saudosista crônica.É que no último dia 25 de setembro este cinema fechou suas portas. As luzes de seus projetores se acenderam pela última vez para a projeção do filme “Cabeça a Prêmio”, de Marco Ricca. O cinema mantinha o visual e a mesma tecnologia de sua inauguração, em 1974. Nos últimos tempos, exibia filmes que já haviam saído do grande circuito. Era uma alternativa aos “atrasados”, mas acabou fechando por baixo faturamento. Ironicamente, porém, a última sessão estava lotada. Como sua morte foi anunciada (como no conto de Gabriel Garcia Marquez), talvez seu último público tenha sido formado por gente

saudosista como eu, que fez questão de estar ali, para dar o seu adeus. A maioria dos chamados “cinemas de rua” foram inaugurados nas décadas de 50 e 60 quando recebiam a elite paulistana. Ir ao cinema era um evento social para o qual as pessoas usavam suas melhores vestimentas. Com a popularização da sétima arte, as salas passaram a receber grandes públicos e viveram seu auge na década de 70 quando, por exemplo, mais de 10 milhões de espectadores assistiram a “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, até hoje a maior bilheteria do cinema nacional.Mas na metade dos anos 90 chegaram ao Brasil as grandes redes de cinema, como o Cinemark, com mais salas, confortáveis e mais seguras, pois a maioria se localiza dentro de shopping centers. Em decadência, os cinemas de rua passaram a exibir filmes pornográficos para sobreviver, mas a grande maioria fechou suas portas. Alguns viraram livrarias (como é o caso do Astor), outros templos evangélicos (Metro e outros). O Gemini foi um dos últimos a resistir. Ultrapassado, não era mais um bom cinema e não conseguiu sobreviver. O apagar de suas luzes significou o fim de uma era. Quando ir cinema significava bem mais que simplesmente assistir a um bom filme.

Page 34: Revista Kalango Edição #3

Eu não gosto de apartame (Versos sobre o conservadorismo político nacional)

prefiro café sem açúcardo que o gosto artificial do aspartameprefiro lutar e apanhardo que fugir do tatameprefiro buscar o mele sair com marcas do enxamedo que achar que tá bomessa merda de gosto artificial do aspartame

Page 35: Revista Kalango Edição #3

Entre os muitos problemas atuais, três comparecem como os mais

desafiadores: a grave crise social mundial, as mudanças climáticas e a insustentabilidade do sistema-Terra.A crise social mundial deriva diretamente do modo de produção que ainda impera em todo o mundo, o capitalista. Sua dinâmica leva a uma exacerbada acumulação de riqueza em poucas mãos à custa de uma espantosa pilhagem da natureza e do empobrecimento das grandesmaiorias dos povos. Ela é crescente e os gritos caninos dos famélicos e considerados “óleo queimado” não podem mais ser silenciados.Este sistema deve ser denunciado como inumano, cruel, sem piedade e hostil à vida. Ele tem uma tendência suicida e, se não for superado historicamente, poderá levar o sistema-vida a um grande impasse e até ao extermínio da espécie humana.O segundo grave problema é constituído pelas mudanças climáticas que se revelam por eventos extremos: grandes frios de um lado e prolongadas estiagens de outro. Estas mudanças sinalizam um dado irreversível: a Terra perdeu seu

equilíbrio e está buscando um ponto de estabilidade que se alcançará subindo sua temperatura. Até dois graus Celsius de aumento, o sistema-Terra é ainda administrável. Se não fizermos o suficiente e o clima atingir até 4 graus Celsius (conforme advertem sérios centros de pesquisa), então a vida assimcomo a conhecemos não será mais possível. Haverá uma paisagem sinistra: uma Terra devastada e coberta de cadáveres.Nunca a humanidade, como um todo, se confrontou com semelhante alternativa: ou mudar radicalmente ou aceitar a nossa destruição e a devastação da diversidade da vida. A Terra continuará, entregue às bactérias, mas sem nós.Importa entender que o problema não é a Terra. É nossa relação agressiva e não cooperativa para com seus ritmos e dinâmicas. Talvez ao buscar um novo ponto de equilíbrio, ela se verá forçada a reduzir a biosfera, implicando na eliminação de muitos seres vivos, nãoexcluídos os seres humanos.O terceiro problema é a insustentabilidade do sistema-Terra. Hoje sabemos empiricamente que a

Por Leonardo Boff

O velho agoniza e o novo custa a nascer

Page 36: Revista Kalango Edição #3

o cuidado, o respeito, a colaboração, a solidariedade, a compaixão, a convivência pacífica e uma abertura às dimensões transcendentes que dizem respeito ao sentido terminal nosso e do universo inteiro.Sem uma espiritualidade, vale dizer, sem uma nova experiência radical do Ser e sem um mergulho na Fonte originária de todos os seres de onde nasce um novo horizonte de esperança, certamente não conseguiremos fazer uma travessia feliz.Enfrentamos um problema: o velho ainda persiste e o novo custa a nascer, para usar uma expressão de Antonio Gramsci.Vivemos tempos urgentes. São as urgências que nos fazem pensar e são os perigos que nos obrigam a criar arcas de Noé salvadoras. Estamos inconformados com a atual situação da Terra. Mesmo assim cremos que está ao nosso alcance construir um mundo do "bem viver", em harmonia com todos os seres e com as energias da natureza e principalmente emcooperação com todos os seres humanos e numa profunda reverência para com a Mãe Terra.

Terra é um superorganismo vivo que harmoniza com sutileza e inteligência todos os elementos necessários para a vida a fim de continuamente produzir ou reproduzir vidas egarantir tudo o que elas precisam para subsistir.Ocorre que a excessiva exploração de seus recursos naturais, muitos renováveis e outros não, fez com que ela não conseguisse, com seus próprios mecanismos internos, se autoreproduzir e autoregular. A humanidade consome atualmente 30% mais daquilo que a Terra poderepor. Desta forma ela não se torna mais sustentável. Há crescentes perdas de solos, de ar, de águas, de florestas, de espécies vivas e da própria fertilidade humana. Quando estas perdas vão parar? E, se não pararem, qual será o nosso futuro?Tudo isso nos obriga a uma mudança de paradigma civilizacional. Mudança de civilização implica fundamentalmente um novo começo, uma nova relação de sinergia e de mútua pertença entre a Terra e a humanidade, a vivência de valores ligados ao capital espiritual como

Page 37: Revista Kalango Edição #3

Tudo começa com aquele cidadão que afirma ser da

área de marketing da empresa onde trabalha. Mas, quando questionado o que especificamente faz em seu departamento, responde: “Sou responsável pela criação dos prospectos dos produtos que vendemos”. Em situação semelhante, outro cidadão responde: “Sou gerente de vendas”. Os exemplos são tantos que, seria possível citar dezenas de funções que, do ponto de vista de quem fala, refere-se ao marketing.Em outras situações o jovem diz que irá fazer o seu “marketing” com determinada garota. Ou ainda, naquele caso em que a pessoa se preparando para competir a uma vaga de emprego garante que fará um bom “marketing” de sua pessoa para causar boa impressão ao entrevistador. E se a coisa não der certo é porque o marketing não foi bem feito. E para finalizar, se aquele

diretor assumiu a presidência, mesmo que você tenha certeza de que ele não é competente o suficiente, foi o “marketing” dele que funcionou muito bem. Não bastando às várias formas de aplicação do termo, o marketing é comumente acusado de incentivar o consumo e, consequentemente, degradar o meio ambiente. Apesar da relativa quantidade de trabalhos, entre eles, livros, artigos, dissertações e teses, desenvolvidos neste campo do conhecimento, não se chegou a um consenso a respeito do que realmente seja marketing e de como aplicá-lo. A realidade demonstra que, muito se fala da aplicação do marketing, mas muito pouco de suas origens. Alguns autores fixam as origens do marketing há séculos no Japão, outros na Grécia, outros na Europa e finalmente nos Estados Unidos.A contribuição do autor deste artigo, por meio de pesquisa

bibliográfica, encontrou registros que apontam a Europa como berço de um problema de distribuição de produtos. Este problema atravessaria o atlântico e receberia maior atenção nos Estados Unidos transformando-se num campo de conhecimento denominado “distribuição”, depois, “distribuição de produtos” em outro momento, “distribuição de produtos agrícolas” e, em dado momento, que não se tem um registro fidedigno, passou a se chamar marketing.

Mas afinal, o que é marketing?

Quanto à sua definição, “marketing é troca”. O problema todo reside na fragmentação do que seja “troca” e de como chegar a concretizá-la. Se a troca for considerada a obtenção de algo (bens ou serviços) por alguém, que por sua vez entrega algo à outra parte (bens, serviços, dinheiro), portanto, deve haver no mínimo

dois entes envolvidos, tudo o mais que esteja envolvido no processo, isto é, o prospecto, a vendas, a propaganda, a comunicação etc., representam “instrumentos”, “ferramentas” ou “meios auxiliares” deste processo.Quanto a ser o vilão causador do consumerismo e da degradação do meio ambiente, vale lembrar da história de Santos Dumont, o inventor do avião. Quando ele percebeu que sua invenção fora aperfeiçoada e, ao invés encurtar as distâncias entre as nações foi equipada com bombas para bombardeá-las ele suicidou-se, concluindo-se que: não se deve culpar o inventor pelo mau uso que fazem de sua invenção. Por último, lembre-se de que: marketing não é uma invenção, e sim, troca, que por sua vez faz parte do comportamento social, portanto, comporte-se!

E a culpa é do marketing!

Page 38: Revista Kalango Edição #3

INEZITA BARROSO – UMA CAIPIRA DO ASFALTO

Por José de Almeida Amaral Junior

Sem dúvida alguma é das mais importantes figuras da nossa

música raiz. O nacionalismo convicto de Inezita é defendido em cada uma de suas apresentações pelos palcos deste gigante país afora, entre eles o da TV Cultura, onde comanda o tradicional “Viola, Minha Viola”, programa que há 30 anos semanalmente abre espaço para as manifestações populares de nossa gente, cuja platéia, como ela mesma diz, ‘não admite concessões’.Inês Madalena Aranha de Lima nasceu em São Paulo/ Capital, na Barra Funda, em 04/03/1925. Era vizinha e admiradora de Mário de Andrade, grande escritor e poeta modernista. Desde pequena foi incentivada pela família a apresentar-se em clubes, festas e teatros. Aos sete anos começou a aprender violão e aos onze também ingressou no piano. Queriam dar uma boa formação à menina. Mas, Inezita não tinha aspirações para a chamada música erudita. Adorava mesmo era o mundo popular,

suas expressões folclóricas. Especialmente o que chamamos de caipira. E não bastando os estudos de violão e piano, ainda foi aprender a tocar viola. Do jeito mais correto o possível para o instrumento: ‘de ouvido’. Como manda o figurino do interior.Apesar dos pais não apoiarem a ‘vida de artista’, coisa mal vista especialmente para moças, em 1950 estreou como atriz ao participar do filme "Ângela", de Tom Payne e Abílio Pereira de Almeida, pela Companhia Vera Cruz. Sua carreira musical começou em paralelo, cantando em rádio, quando virou Inezita Barroso, sobrenome herdado do marido cujo irmão ator e locutor ajudou sua carreira. Ela fez sua estréia em disco no ano de 1951, com um 78 rpm: “Funeral de um Rei Nagô” (Afro-brasileiro) e “Curupira” (Canção amazônica) pelo selo Sinter. Em 1953 outro 78 rpm e então dois temas inesquecíveis: “Marvada pinga” (Laureano e Torres) e “Ronda” (Vanzolini) pela RCA Victor. Foi laureada como atriz

de cinema e foi parceira de Paulo Autran, entre outros importantes nomes no teatro. Em 1955 o LP “Vamos Falar de Brasil” lhe rendeu o Premio Roquette Pinto. Suas gravações foram apreciadas e levadas à Europa onde obtiveram reconhecimento. Em sua carreira cantou na Rádio Clube do Recife, na Bandeirantes e na Record de São Paulo, entre outras.Apaixonada pelos livros e pela pesquisa formou-se em Biblioteconomia pela USP e deu aulas sobre folclore em faculdades de São Paulo. Moça, a bordo de um jipe, rodou por muitos lugares ao longo deste quase continente que é o Brasil. Agora, prestes a completar 60 anos de exitosa carreira artística, acredita que é preciso muita resistência e tenacidade na divulgação da cultura popular que vai sendo engolida cada vez mais pelos meios de comunicação em massa, pela força do que chamam de ‘modernidade’ e dos interesses modistas. Enfurece-se com a injustiça e o pouco caso que fazem com os caipiras. Sempre

se remete, como exemplo, às festas juninas nas escolas onde as pessoas põem remendo na calça jeans dos alunos, pintam o dente da criança de preto para ela ficar ‘bem banguela’ e ainda esfiapam o chapéu: puro preconceito, reclama a grande dama. Orgulhosa de sua gente, Inezita é um exemplo para um país que pretende cada vez mais globalizar-se. Afinal de contas, antes de qualquer coisa, para podermos trocar com o exterior, com o estrangeiro, é preciso primeiro que nos conheçamos e nos respeitemos, caso contrário nunca o faremos de modo soberano e seguro. Não somos cowboys, embora muitos assim o desejem. Desta forma, abraça os veteranos e estimula os jovens artistas a estudarem e recriarem a partir do que é autenticidade, do que é nosso. Como ela entoa numa canção de Adauto Santos: “Eu sou do mato/ Sou caipira verdadeira”. Essa é Inezita Barroso, estrela brasileira.

Page 39: Revista Kalango Edição #3
Page 40: Revista Kalango Edição #3

DE PRETO A AFRO-DESCENDENTE:Conceitos e Pré-Conceitos

Em cursos, palestras e encontros que tenho participado com colegas do

magistério uma questão tem sido muito levantada: como agir em relação às formas de tratamento dadas, de forma publica ou veladamente, aos afros-descendentes, em nossa sociedade. O que é permitido? O que é crime? As preocupações com o assunto vêm crescendo, principalmente a partir de 1985, com a Lei Caó (7437, 20/12/1985) e 1988 na Constituição Federal (§ 5º. inc. XLII), que transformou o racismo em crime inafiançável. É importante refletirmos sobre quando a aplicação dos termos se apresenta como conceitos ou pré-conceitos. Historicamente no Brasil os conceitos que definiam africanos e afros-descendentes eram divididos basicamente em três grupos: o primeiro para os nascidos na África; o segundo para os afros-descendentes; e o terceiros para “mestiços ou misturados”. O termo negro era usado, de uma forma geral, para os africanos que viviam no Brasil. O mesmo se dava em relação ao uso da expressão preto.

A diferença básica entre os dois é que o segundo era mais comum para designar africanos que não tinham uma identidade étnica ou um status social definido. Os afros-descendentes brasileiros oriundos de pai e mãe africanos preferiam ser chamados de crioulos. Isso se devia ao fato de que esse tratamento os qualificavam como brasileiros, afastando-os da África e, por conseguinte, da proximidade com a escravidão. Os que não eram africanos ou filhos de africanos se enquadravam em um terceiro grupo, onde os tratamentos eram por vezes positivos e outros depreciativos. Alguns filhos de africanos e afros-descendentes com europeus eram tratados pelo termo pardo o que os afastava ainda mais da escravidão, posicionando-os em espaço social acima dos dois grupos anteriores. Esse era um tratamento positivo, estimado. No entanto outras formas de “mistura” não eram vistas de forma positiva. O termo mulato e o cabra eram usados sempre de uma forma pejorativa para escravos de “raça mista”. Daí a expressão mulato (mula

+ ato) como sendo o resultado do ato ou cruzamento entre o jumento e uma égua gerando um ser híbrido (não fecundo). Ser filho de jumento e estéril não era um tratamento que merecesse distinção.Hoje, os usos de alguns desses conceitos mudaram. Alguns caminharam para o fortalecimento de preconceitos. Chamar alguém de crioulo não é, normalmente uma distinção positiva, como no passado. Chamar uma mulher de mulata, pode até sugerir um elogio, mas nega a sua afro-descendência. De igual forma quando do uso do termo pardo. Ao contrário, o termo negro vem sendo ressignificado pelos movimentos sociais (negros), passando a compreender todas as pessoas que se auto-determinem como afros-descendentes. O fator fenotípico, ou seja, de se parecer com um africano, nesse caso não é o primordial. Mais que características físicas o sentimento de pertencimento a esse passado passou a estar em primeiro plano. No entanto como o preconceito atinge, principalmente, aqueles que aparentam fisicamente sua ligação

genética com o Continente Africano, vem se buscando fortalecer o uso do conceito de preto para esse grupo. Foi assim no último CENSO do IBGE em 2000, com a finalidade de perceber se os pretos viviam em condições mais adversas que o conjunto dos afros-descendentes e restantes dos brasileiros.É possível afirmarmos que o uso de forma conceitual dos termos discutidos não caracterizam preconceito em si. No entanto, composições frasais depreciativas como “só podia ser coisa de preto”, “negro fedido” etc. ou ainda a utilização das mesmas expressões com tons vocais sarcásticos, depreciativos ou jocosos, aí sim temos a presença do racismo. Se o preconceito é irmão gêmeo da ignorância cabe esclarecer o uso desses conceitos para que não se tornem pré-conceitos. Se, como afirmava Saint Exupéry, em seu Pequeno Príncipe, a palavra é “uma fonte de mal entendidos” é necessário educarmos o uso das mesmas para que em suas entrelinhas não se escondam marcas de um racismo disfarçado.

Por Mario Teixeira de Sá Junior

Page 41: Revista Kalango Edição #3

MONUMENT VALLEY

Monument Valley com certeza oferece a mais duradoura imagem do “Velho Oeste Americano”. Localizado na Reserva dos Indígenas dos Navajos, entre os Estados Americanos de Utah e Arizona, o local apresenta incríveis formações rochosas (mesas, mittens, merricks e buttes) as quais foram sendo esculpidas pela erosão ao longo de milhões de anos. O local por oferecer paisagens espetaculares tem sido ao longo dos anos, objeto de inúmeros filmes e ensaios fotográficos. Um dos grandes mestres do cinema John Ford, utilizou Monument Valley como cenário para a realização da maioria de seus filmes do gênero “Western”. Não se trata de um “vale” no sentido convencional do termo, mas sim de um grande plano de paisagens desoladas, por vezes interrompido por imensas formações rochosas que, abruptamente, sobem dezenas de metros em direção ao céu. Por ser um local tão isolado, deserto e inóspito Monument Valley acaba se tornando belíssimo, um local onde a Natureza expressa toda a sua força.Simplesmente afastado de tudo, Monument Valley é alcançado pela US 163 que liga a cidadezinha de

Kayenta (Arizona) à rodovia 161 em Utah.Em caso de visita lembre-se que o local não oferece muitas opções para acomodações: Existe apenas um hotel dentro do Parque The View Hotel - Monument Valley [http://migre.me/1QLQW] (Monument Valley é um Parque que pertence e é administrado pelos índios navajos), caro e mesmo assim é preciso reservar com antecedência de alguns meses e o Gouldings Lodge [http://migre.me/1QLUH] localizado a cerca de 10 km. do Parque.Por fim existe a opção de camping no próprio Parque ou se tiver sorte conseguir alugar um quarto de algum navajo somente para pernoite. Outras opções de acomodações estão distantes cerca de 50 km ou mais. De qualquer forma vale a pena o esforço principalmente para os amantes da fotografia. Para saber mais sobre os indígenas nos EUA: Livro:http://migre.me/1QLMV Filme:http://migre.me/1QLOk

Por Mário Merege

Page 42: Revista Kalango Edição #3
Page 43: Revista Kalango Edição #3
Page 44: Revista Kalango Edição #3
Page 45: Revista Kalango Edição #3
Page 46: Revista Kalango Edição #3
Page 47: Revista Kalango Edição #3
Page 48: Revista Kalango Edição #3
Page 49: Revista Kalango Edição #3
Page 50: Revista Kalango Edição #3
Page 51: Revista Kalango Edição #3
Page 52: Revista Kalango Edição #3
Page 53: Revista Kalango Edição #3

Cabeça a PrêmioO filme Cabeça à Prêmio, primeiro longa dirigido por Marco Ricca , foi filmado em Mato Grosso do Sul em 2008 com a participação de muitos profissionais da nossa terrinha. Tive o privilégio de fazer o Still e o Making Of do filme, e como todos que trabalharam no filme, estávamos ansiosos com a estréia. E finalmente, terça-feira, 17 de agosto foi a tão aguardada pré-estréia . No Cimemark Marco Ricca, Alice Braga e Cássio Gabus Mendes receberam com carinho todos da equipe MS , além dos convidados. Sala lotada, olhares atentos para as paisagens e recantos de Campo Grande, Corumbá e Bolívia . Além é claro da alegria de ver amigos da terra na telinha, com participações e figurações. A festa foi em uma locação muito especial para toda a equipe: o bar do Bola 7, perto da rodoviária velha.O filme já está em cartaz!

Por Vânia Jucá

Page 54: Revista Kalango Edição #3

Foto: Vânia Jucá

Page 55: Revista Kalango Edição #3

Foto: Vânia Jucá

Page 56: Revista Kalango Edição #3

Foto: Vânia Jucá

Page 57: Revista Kalango Edição #3
Page 58: Revista Kalango Edição #3
Page 59: Revista Kalango Edição #3