revista por exemplo #4

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PROJETOS EM TODO O BRASIL 04 MAR / ABR 2012 100% DO PREÇO DA REVISTA, APÓS OS IMPOSTOS, É DOADO PARA PROJETOS QUE MELHORAM A EDUCAÇÃO NO BRASIL. R$ 2,50 VOCÊ AJUDA:

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A POR EXEMPLO é uma revista social da Editora MOL e do Grupo Pão de Açúcar, vendida na rede Extra. O valor de capa, descontados os impostos, é 100% doado às ONGs Parceiros da Educação e Todos Pela Educação, além de outros projetos educacionais. Cada edição inclui, gratuitamente a revista POR EXEMPLO Para Crianças

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Page 1: Revista Por Exemplo #4

PROJETOS EMTODO O BRASIL

04 MAR / ABR 2012

100% DO PREÇO DA REVISTA, APÓS OS IMPOSTOS, É DOADO

PARA PROJETOS QUE MELHORAM A EDUCAÇÃO NO BRASIL.R$ 2,50VOCÊ AJUDA:

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Page 4: Revista Por Exemplo #4

AGRADECIMENTOS: Contas abertas EE Professor Ennio Voss

Em seu lugar família Harder

Quem você pensa que é Teatro Municipal de São Paulo

(www.teatromunicipal.sp.gov.br)

É gostoso e faz bem Banco de Alimentos

(www.bancodealimentos.org.br)

Agradeço Jaó Clube  (www.jao.com.br)

Extra Hipermercados 0800 115060

FOTO DE CAPA: Ceres Maldonado, Matias e Romeu foram fotografados

por Guilherme Gomes

Tratamento de imagem Felipe Gressler

2416 20

12 18FAÇA O QUE EU FAÇOO que você aprendeu de mais importante na vida até hoje?

EM SEU LUGARPor um dia, Luiz substituiu a esposa na cozinha. Veja o que ele aprendeu

EU CONTRA O MUNDOCinco histórias de quem venceu o medo. Como Márcia, que enfrentou a polícia para honrar o fi lho assassinado

QUEM VOCÊ PENSA QUE É?Robson perdeu a família e as economias e virou morador de rua. Hoje, o que você acha que ele faz perambulando por São Paulo?

É QUE SE APRENDEHistórias de quem tentou abraçar o mundo, não deu conta, mas aprendeu valiosas lições

ATENDIMENTO AO LEITOR Elaine Duarte RECURSOS HUMANOS Carolina Franco CAPTAÇÃO DE PATROCÍNIO Amanda Rahra ([email protected])

COLABORADORES Alex Xavier (edição de texto), Mariana

Harder (produção), Felipe Gressler (tratamento de imagem),

Ana Faustino e Júlio Yamamoto (revisão)

APOIO NA REDAÇÃO Amanda Miyuki, Eduardo Bessa, Jaqueline

Moribe, Juliane Albuquerque, Mariana Bolzani, Olivia Ferraz,

Rita Loiola, Romy Aikawa e Sheila Machado

EDITORA-CHEFE Roberta Faria EDITOR Dilson Branco

REPÓRTERES Karina Sérgio Gomes, Jaqueline Li,

Jéssica Martineli ESTAGIÁRIA DE TEXTO Rafaela Carvalho

DIRETORA DE ARTE Claudia Inoue EDITOR DE ARTE Fabio Otubo

DESIGNER Luana Almeida COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO E IMAGEM

Mica Toméo ESTAGIÁRIO DE FOTOGRAFIA Thiago Giacobelli

A revista POR EXEMPLO - TODO MUNDO PODE APRENDER. TODO

MUNDO PODE ENSINAR, edição 04, ano 1, é publicada pela Editora

MOL Ltda. A revista é vendida nas lojas da Rede Extra nos estados

de Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,

Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro,

Rio Grande do Norte, São Paulo, Sergipe, Tocantins e no Distrito

Federal. O valor pago pelo preço de capa é, descontados os devidos

impostos, 100% doado a organizações não governamentais que

realizam projetos em prol da educação de qualidade no Brasil.

POR EXEMPLO - TODO MUNDO PODE APRENDER. TODO

MUNDO PODE ENSINAR é impressa em papel LWC 70g

FALE COM A GENTE:[email protected] | (11) 3024-2444

Rua Andrade Fernandes, 303, loft 3, São Paulo/SP - CEP 05449-050

www.revistaporexemplo.com.br

DISTRIBUIÇÃO:Rede Extra

IMPRESSÃO:Gráfi ca Plural

PATROCÍNIO:

DIRETORA EDITORIAL Roberta Faria

DIRETOR EXECUTIVO Rodrigo Pipponzi

DIRETORA DE CRIAÇÃO Claudia Inoue

REALIZAÇÃO: APOIO:

*ADULTA.indb 4 2/28/12 4:28 PM

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34

PROBLEMA MEUConheça gente comum que fi scaliza o governo para que o dinheiro público não entre pelo cano

COMO ENSINOVeja como três famílias fazem para ensinar aos fi lhos a importância de agir com honestidade

50SEMPRE É TEMPOVerônica trocou a tentação do chocolate por um novo esporte

4246

4438 48

É GOSTOSO E FAZ BEMSuco, pão de queijo e geleia: três receitas sustentáveis e nutritivas para você fazer um lanchinho delicioso

APRENDA E ENSINEPerguntas que você pode fazer para si mesmo – e que vão levá-lo a importantes refl exões sobre seu jeito de levar a vida

O TEMPO DE CADA UMDuas mulheres e dois homens com exatamente a mesma idade mostram que a vida pode, sim, recomeçar depois dos 40

NÓS PODEMOSMenos sujeira, mais beleza: confi ra as histórias de três grupos de vizinhos que se uniram para melhorar a paisagem do local em que vivem

AGRADEÇOO ensino na escola vai além do que está nos livros. O que você aprendeu de mais importante com um professor?

Você é um exemplo? Tem uma história

para contar?Escreva para a gente.

Se for selecionado, você pode aparecer

na revista – até mesmo na capa!

Veja nossos contatos na página 7.

Exp.-Indice.indd 5 2/27/12 9:45 PM

Page 6: Revista Por Exemplo #4

XXXXXXXXXXXXXX6666

QUAL É A LIÇÃO mais importante que você já aprendeu? A resposta muda para cada pessoa – e sempre vem com uma his-tória. E olha que, não é raro, essa história é triste. De algum momento ruim, de uma hora de desamparo, de um problema que parecia sem solução: é justamente na di-fi culdade que se entende a tal lição.

Será que isso quer dizer que a gente precisa sofrer para aprender? Bem, na verdade, acreditamos que não: é também em muitas experiências felizes, como ao lado da nossa família, que aprendemos li-ções preciosas para toda a vida.

Mas os desafi os também podem guar-dar grandes ensinamentos. Não porque sofrer faz bem. É simples men te porque,

diante da pressão, somos capazes de coisas que nem imaginávamos. Porque, quan do a vida que a gente conhecia pa-rece desmoronar, o que é realmente im-portante fi ca bem mais claro. Porque, bem, às vezes, é justamente a falta que faz a gente valorizar o que perdeu, é o “não” que faz a gente insistir no “sim”.

E, nessas e noutras, acabamos trans-formando o que era dor em luz para ver outros caminhos. Essa é a história de mui-tas pessoas nesta edição: gente que supe-rou seus medos, que teve humildade de examinar os erros, que transformou difi -culdades em força para fazer o impossível.

São pessoas como nós, aqui na reda-ção, e como você, que está lendo a revista.

Elas nos provam que, como diz o ditado, não há mal que sempre dure – nem bem que nunca acabe. Mas em todo momen-to, feliz ou difícil, podemos aprender algo sobre nós mesmos, sobre as pessoas que nos rodeiam, sobre o mundo em que vi-vemos. E, assim, sair dessas experiências mais fortes e corajosos, seguros de que so-mos capazes de superar tudo.

Esperamos que essas histórias, bus-cadas pelo Brasil inteiro por nossa brava equipe de reportagem e mostradas com muito talento pela nossa equipe de arte e produção de fotos, também inspirem você a ver quais lições se escondem nos seus problemas. Porque, afi nal, nada en-sina tanto a gente quanto a vida.

Não há malque sempre dure

Equipe da POR EXEMPLO

NOSSOS COLABORADORES NESTA EDIÇÃO: À ESQ., A DESIGNER LUANA

E O EDITOR ALEX. ACIMA, THIAGO E MARIANA, DA PRODUÇÃO. NO TOPO, BASTIDORES DA FOTO DA PÁGINA 16

CARTA AO LEITOR

*ADULTA.indb 6 2/27/12 8:19 PM

Page 7: Revista Por Exemplo #4

POR EXEMPLO 7POR EXEMPLO 7POR EXEMPLO 7

FALE COM A GENTE!O que você achou da revista? Conte para nós! Divida conosco os seus exemplos também

MANDE UM E-MAIL: contato@ revistaporexemplo.com.br

LIGUE PARA A REDAÇÃO:(11) 3024-2444

VISITE O SITE:www.revistaporexemplo.com.br

FAÇA PARTE DA NOSSA REDE:

No OrkutComunidade Revista POR EXEMPLONo FacebookFan Page Revista POR EXEMPLONo Twitter@por_exemplo

OU ESCREVA UMA CARTA PARA:Revista POR EXEMPLORua Andrade Fernandes, 303, sala 3São Paulo - SP CEP 05449-050

Parabéns pela excelente revista.É de leitura simples, leve e fácil, e por isso acessível a todo tipo de público, inclusive pelo preço baixo. É uma garantia de leitura gostosa e engrandecedora!Katia Regina Mattos, por e-mail.

A revista é cheia de matérias positivas, educativas e inspiradoras. Mostra que ninguém está longe de realizar grandes feitos na própria vida e na dos outros!Glauco Fattore, de Araraquara (SP), por e-mail.

SABER A SUA OPINIÃO NÃO SÓ NOS AJUDA A FAZER UMA

REVISTA MELHOR, COMO TAMBÉM NOS ENCHE DE

MOTIVAÇÃO PARA CONTINUARMOS NOSSO TRABALHO.

OBRIGADO A TODOS QUE TÊM ESCRITO PARA A GENTE!

POR EXEMPLO 7

Comprei por causa do preço, mas quando comecei a ler fi quei vidrada. Estou indicando para todos os meus amigos!Jaqueline Santana, por e-mail.

Mostrei a uma tia que é professora do curso elementar em um vilarejo no interior do Espírito Santo e ela fi cou encantada! Excelente iniciativa. Fiquei fã. Parabéns.Heron Xavier, no Facebook.

Gostei tanto que lancei o título da revista como tema

para os projetos pedagógicos da escola que dirijo.Andrea Godoy, de São Gonçalo (RJ), no Facebook.

As histórias nos fazem refl etir que o mundo pode ser melhor, e que tudo pode começar dentro de cada um, com atitudes positivas.Lais Carneiro, no Facebook.

Obrigada pelos exemplos de pessoas reais fazendo coisas boas!Raquel Martins, de Barretos (SP), por carta.

Gostei demais da revista. Sugiro uma matéria sobre plantar árvores em espaços urbanos. Eu cultivei algumas sementes de mexerica e de outras frutas, mas estou com difi culdade de passá-las para um lugar em que possam crescer e frutifi car. Elizabeth Bento, por e-mail.Olá, Elizabeth! Confi ra a matéria na página 38!

Você lê as matérias e pensa: “Ainda existem pessoas preocupadas em fazer a diferença, e

eu também posso!”.Parabéns!Tatyana França, no Facebook.

Recebi o exemplar nº 1 de uma amiga outro dia. Ao ler o editorial, senti como se tivesse achado  os membros de uma tribo perdida, à qual eu pertenço, mas que pensava estar em extinção. Chorei de emoção. Podem contar não só com mais um leitor, como também com minha energia e meu exemplo.Saulo Tadeu, 51 anos, de Teresópolis (RJ), por e-mail.

Gostei da seção “Eu contra o mundo”, que traz pessoas comuns que são exemplos de superação e de força d e vontade. Jaciel José de Oliveira, por e-mail.

*ADULTA.indb 7 2/27/12 8:19 PM

Page 8: Revista Por Exemplo #4

CONTAS ABERTAS8

Aula sobre dar aula

AJUDAR PROFESSORES a dar aulas mais inte-ressantes e efi cientes. Esse é o objetivo da ini-ciativa da ONG Parceiros da Educação que vai receber 20% dos recursos arrecadados com a venda da POR EXEMPLO. Chamado Gestão em Sala de Aula, o projeto difunde uma sé-rie de técnicas para que seja estabelecido um vínculo mais lúdico e próximo dos alunos. “O conteúdo ensinado pelo programa é rela-cionado aos quatro pilares que fundamentam uma boa aula: tempo, espaço, relacionamento e conhecimento”, explica a coordenadora pe-dagógica da ONG, Mônica Guerra.

No pilar tempo, são ensinadas estratégias para uma participação mais dinâmica dos estu-dantes na aula. No quesito espaço, uma das téc-nicas sugere que o professor organize as infor-mações no quadro-negro como se fosse a folha de caderno do aluno. Dessa maneira, ele mos-tra à classe a melhor forma de anotar os tópi-cos, para que depois sejam estudados. O tema relacionamento trata das maneiras de valorizar

CONHEÇA O PROJETO QUE VOCÊ APOIA AO COMPRAR A POR EXEMPLO E QUE ESTÁ ENSINANDO PROFESSORES A MELHORAR O DESEMPENHO EM CLASSE

*ADULTA.indb 8 2/27/12 8:19 PM

Page 9: Revista Por Exemplo #4

POR EXEMPLO 9

a postura correta dos estudantes – por exemplo, sabendo a melhor forma de elogiá-los. O quarto pilar, conhecimento, propõe maneiras criativas de introduzir os conteúdos curriculares.

Uma das técnicas desse último pilar con-siste em usar música ou vídeo a fi m de atrair a atenção dos estudantes. Telma Aszalos Freire, de 56 anos, professora de matemática do esta-do de São Paulo há quase uma década, já está pondo essa estratégia em prática. Ela usou os versos de Tom Jobim e Marino Pinto na canção Aula de Matemática com seus alunos do 8º ano. O verso “quando dois meios se encontram desa-parece a fração” a ajudou a despertar nos alu-nos a curiosidade sobre a soma de números ra-cionais. “Eles se mostraram muito mais dispos-tos a participar”, relata a professora.

Telma faz parte do grupo de mais de 90 pro-fessores de cinco escolas paulistanas treinados no ano passado pelo projeto. Foram realizados três encontros, conduzidos por formadores con-tratados pela Parceiros da Educação.

No decorrer de 2012, o programa deve ser ex-pandido para outras 20 escolas, benefi ciando mais 350 professores e atingindo 8 mil alunos da rede pública do estado de São Paulo. Num se-gundo momento, a ONG espera ampliar o acer-vo de técnicas e publicar um manual de orienta-ção com todas as estratégias ministradas.

A escolha do projeto Gestão em Sala de Aula foi feita em conjunto com o Instituto Grupo Pão de Açúcar, apoiador da POR EXEMPLO. Dos re-cursos arrecadados com a venda da revista, ou-tros 20% são destinados ao Todos pela Educação – em breve, você vai conhecer qual iniciativa es-pecífi ca do movimento vai ser benefi ciada. Os demais 60% serão encaminhados a projetos que apoiam a educação em todo o país, que se-rão selecionados por meio de um edital. Confi ra mais informações nas próximas edições!

TELMA FREIRE, DE SÃO PAULO, É UMA DAS PROFESSORAS JÁ CAPACITADAS PELO PROGRAMA

EM 2012, O PROGRAMA VAI BENEFICIAR:

8000 ALUNOS

350 PROFESSORES

20 ESCOLAS

São 470 pontos de venda, entre hipermercados, supermercados e drogarias, em 16 estados de todas as regiões do país, maiso Distrito Federal

3

A POR EXEMPLOÉ VENDIDA COMEXCLUSIVIDADE PELO CORREALIZADOR

DO PROJETO,COM O

APOIO DO

O valor que você paga pela revista, descontados os impostos, é 100% doado para projetos que melhoram a educação no país

4

O DINHEIRO

É DOADO A DUAS INSTITUIÇÕES:

E PARA OUTROS PROJETOS

EM TODO O PAÍS

CONFIRA QUEM SÃO OS PARCEIROS ENVOLVIDOS NO PROJETO E VEJA A IMPORTÂNCIA DA SUA PARTICIPAÇÃO

COMO FUNCIONAA POR EXEMPLO?

Ainda há cotas disponíveis! Escreva para [email protected] e informe-se

A Editora MOL acredita que a gente só vai fazer a diferença no mundo se realizar as coisas de um modo diferente

GRANDES EMPRESAS

PATROCINAMO PROJETO:

1

2

COM ESSES RECURSOS,

A REVISTAÉ PRODUZIDA

PELA

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Page 10: Revista Por Exemplo #4

1010

“EM 2006, a educação estava em sétimo

lugar na lista de prioridades dos brasileiros.

Hoje, já se encontra na segunda posição”,

afi rma Priscila Cruz, diretora executiva do

Todos pela Educação. O dado é comemo-

rado pelo movimento, pois um dos eixos de

sua atuação é justamente colocar a educa-

ção em pauta no país – e assim gerar uma

mobilização social que traga as soluções.

Em fevereiro, mais uma importante ação

nesse sentido foi realizada: o lançamento do

relatório anual De Olho nas Metas. Em sua

quarta edição, o estudo apresenta dados so-

bre atendimento, alfabetização, aprendiza-

do, conclusão dos estudos e fi nanciamento

educacional. Assim, oferece um panorama

atualizado da situação do ensino brasileiro,

que serve para acompanhar o cumprimento

das cinco metas estabelecidas pelo Todos

pela Educação (veja abaixo).

Uma das novidades desta edição são

os resultados da Prova ABC, realizada pelo

movimento com 6 mil alunos de escolas pú-

blicas e privadas das capitais do país. O tes-

te revelou que 56% dos estudantes atingi-

ram o conhecimento esperado em leitura,

53% em escrita e 42% em matemática.

O relatório também mostra dados bas-

tante chocantes. Por exemplo: 3,8 milhões

de crianças e jovens ainda estão fora da

escola. Porém, o acesso ao ensino au-

mentou mais de 9% na última década.

No evento de lançamento, os dados

foram analisados por professores da Uni-

versidade de São Paulo e da Universidade

Federal de Juiz de Fora e por consulto-

res da Cesgranrio. Eles apontaram cami-

nhos para melhorar os indicadores, como

corrigir as diferenças do ensino entre as

regiões do país; investir mais no ensino in-

fantil, para que as metas do ensino funda-

mental e médio possam ser cumpridas; e,

acima de tudo, direcionar mais recursos

para a educação como um todo.

Na internet, você pode acessar o relató-

rio na íntegra: bit.ly/vZjEHa. Para saber mais

sobre o movimento Todos pela Educação,

acesse www.todospelaeducacao.org.br.

CONFIRA AS CINCO METAS QUE O TODOS PELA EDUCAÇÃO DESEJA CUMPRIR ATÉ 2022

METAS FUNDAMENTAIS

Conhecer para melhorarTODOS PELA EDUCAÇÃO LANÇA PANORAMA SOBRE O ENSINO NO PAÍS

TODA CRIANÇA

E JOVEM DE 4 A 17 ANOS NA ESCOLA

TODA CRIANÇA PLENAMENTE

ALFABETIZADA

ATÉ OS 8 ANOS

TODO ALUNO COM

APRENDIZADO

ADEQUADO

À SUA SÉRIE

TODO JOVEM COM

ENSINO MÉDIO

CONCLUÍDO

ATÉ OS 19 ANOS

5% OU MAIS DO

PIB INVESTIDO

NA EDUCAÇÃO,

E BEM GERIDO

1 2 3 4 5

PRISCILA CRUZ, DO TODOS PELA EDUCAÇÃO, E O PÚBLICO QUE PARTICIPOU DO EVENTO DE LANÇAMENTO DO RELATÓRIO

© F

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Page 12: Revista Por Exemplo #4

FAÇA O QUE EU FAÇO12

O que você aprendeu

de maisimportante?

CADA INSTANTE DO DIA E CADA

PESSOA COM QUEM CRUZAMOS

PODEM NOS TRAZER UM NOVO

CONHECIMENTO – E, DESSA

FORMA, MUDAR NOSSA VIDA.

CONFIRA AS DESCOBERTAS QUE

TRANSFORMARAM A HISTÓRIA

DAS PESSOAS A SEGUIR

“Trabalho desde os 12 anos e aprendi que o melhor é acordar bem cedo, já com um sorriso no rosto. O bom humor é o que nos move!”KLEBER DOS SANTOS, 34 anos, mestre de obras de São Paulo

TEXTO CAMILLA DEMARIO, HELSON FRANÇA, MARINA

GADELHA, PRISCILLA DANTAS E TISSIANE VICENTIN

© FOTOS 1 MARCOS LOPES 2 ALEXANDRE SEVERO

3 TIAGO LIMA 4 ANNA LUIZA FISCHER 5 MARIANA HARDER

RIR É BOM PARA O CORAÇÃO, OS PULMÕES, A DIGESTÃOE O SISTEMAIMUNOLÓGICO

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Page 13: Revista Por Exemplo #4

POR EXEMPLO 13

“Em alguns momentos da vida, fui bem individualista. Mas, depois de casar e ter fi lhos, aprendi a dialogar melhor, a me relacionar com diferentes tipos de pessoas. Na minha parentela – que é grande –, virei uma espécie de conselheira, o que me deixa muito feliz.”ZENAIDE BARROS, 66 anos, auditora fi scal do Recife

“Aprendi que o fundamental é manter a família sempre unida. Tenho oito fi lhos, e eles são o mais importante para mim.”SILVANA PEDROSO XAVIER, 45 anos, aposentada, com a fi lha JULIANA DE LIMA, 10 anos, de São Paulo

TODOS JUNTOSA bordo de uma Kombi, uma família cheia de diferenças redescobre a graça de conviver. Esse é o enredo do emocionante e divertido fi lme Pequena Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris (Estados Unidos, 2006). Boa dica para valorizar a companhia de quem a gente mais ama.

“Perdi meu fi lho para as drogas faz oito anos e aprendi a olhar para o próximo. Como voluntária, trabalho com menores de rua. Algumas situações da vida acontecem para que a gente tome uma nova direção.” SIMONE HINSCHING, 41 anos, esteticista de São Paulo

AJUDE TAMBÉMA Simone colabora com o Centro de Referência de Assistência Social (Cras), programa que oferece proteção básica a pessoas carentes. Contribua doando alimentos. Descubra a unidade mais perto da sua casa: bit.ly/9amjli

LIVROS LIVRESJá ouviu falar em bookcrossing? É um movimento que estimula as pessoas a deixar livros em lugares públicos, para que sejam achados, lidos e passados adiante. Acesse www.bookcrossing.com.br para saber mais e participar.

LIÇÕES DE FAMÍLIAUma boa dica para refl etir sobre os aprendizados que passam entre as gerações é o livro infantojuvenil Dez Bons Conselhos de Meu Pai (editora Objetiva), de João Ubaldo Ribeiro. O famoso escritor conta importantes lições que recebeu na infância, como não ser amargo nem medroso.

“Eu vendia salgados nas ruas, mas achava que faria mais sucesso se oferecesse acarajé. Um dia, um colega de profi ssão, o Zeca, me ensinou a receita. Acho que aprendi bem. Até hoje, nenhum cliente reclamou!”MARIA DO CARMO, 44 anos, vendedora de Ubaitaba (BA)

RECEITA DE ACARAJÉIngredientes para a massa:- 1 kg de feijão-fradinho- 3 cebolas picadas- azeite de dendê para fritar- sal a gosto

Para o recheio:• 2 colheres (sopa) de dendê • 2 dentes de alho amassados • 500g de camarão seco picado• 1 cebola grande picada • 2 tomates picados• sal, cheiro-verde, coentro e pimenta a gosto

Deixe o feijão de molho por um dia. Tire a pele e bata-o no liquidifi cador com cebola e sal. Com essa massa, faça bolinhas e frite no azeite de dendê. Para o recheio, doure o alho no azeite, misture os demais ingredientes e cozinhe em fogo baixo até obter um molho grosso. Recheie as bolinhas e bom apetite!

“Acho importante nunca parar de estudar, aprender coisas novas. E meus melhores amigos nessas horas são os livros. Busco ler de 35 a 40 por ano.”LUIZ HENRIQUE DA ROSA MACHADO, 42 anos, militar do Rio de Janeiro

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Page 14: Revista Por Exemplo #4

141414

“O importante é trabalhar no ramo de que a gente gosta. A vitória vem com o tempo. Vendo fl ores há 30 anos, sempre com a mesma satisfação em atender bem os clientes.”RONALDO JOSÉ ALVES, 58 anos, fl orista do Rio de Janeiro

“O mundo de hoje está obcecado por próteses

e cirurgias para moldar o corpo.

Mas eu prefi ro não me violentar para

me enquadrar no estilo de vida dos outros.

Aprendi a cuidar de mim estando próxima

da família e me alimentando bem,

sem neuroses.”JULIANA REIS,

43 anos, personal trainner do Recife

5 DICAS PARA COMER BEM• Coma menos, mais vezes por dia: faça pequenas refeições a cada 3 horas.

• Para os lanches entre as refeições, frutas secas são uma opção saudável

• Beba de oito a dez copos de água por dia

• Cozinhe legumes no vapor, para preservar os nutrientes

• Prefi ra alimentos integrais, ricos em fi bras

FONTES: 1 CADERNOS DE PSICOLOGIA SOCIAL DO

TRABALHO (2003) DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

(USP) 2 ALIMENTE-SE BEM – SERVIÇO SOCIAL DA

INDÚSTRIA – DEPARTAMENTO REGIONAL SÃO PAULO

OUVIR PARA SALVARSe você gosta de escutar os outros, talvez possa ser um bom voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV). Esta ONG oferece apoio por telefone e internet a qualquer pessoa que queira desabafar de forma anônima. Para mais informações, acesse: www.cvv.org.br

“Gosto muito de falar. Mas meus pais sempre me ensinaram a ouvir e respeitar a opinião dos outros. Desde que passei a trabalhar numa livraria, entendi na prática essa lição – pois é ao escutar as pessoas que posso ajudá-las, indicando os livros que mais combinam com suas expectativas.”ÉRIKA LUCIALDO FÁCCIO, 29 anos, contadora de Cuiabá

SATISFAÇÃO NO TRABALHO EVITA FADIGA ,PROBLEMAS DIGESTIVOS

E D O R E SMUSCULARES1

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1

*ADULTA.indb 14 2/27/12 8:20 PM

Page 15: Revista Por Exemplo #4

POR EXEMPLO 15

“Quando perdi minha fi lha, meu mundo caiu. Mas aprendi a deixar a vida seguir seu curso. Ontem mesmo, comecei a fazer natação. Faço tudo sozinha, sei me virar bem. A melhor coisa é a liberdade!”GIUSEPPA GERMINO, 85 anos, aposentada de São Paulo

“Aprendi com minha mãe a ser honesto, acima de tudo. Quando um passageiro esquece algo no meu carro, faço o possível para devolver. Para mim, o verdadeiro valor daquele objeto é o ato de retorná-lo ao seu dono. Se todos agissem assim, acredito que o mundo seria um pouco melhor.”TADEU NOBORU SAITO, 47 anos, taxista de São Paulo

“Minha maior vitória na vida foi vencer a depressão. Fiquei 15 anos vivendo esse pesadelo e, há cinco, estou livre. Livros especializados no tema – e os discos do Raul Seixas! – me ajudaram bastante. Com a cura veio o aprendizado de valorizar as pequenas coisas da vida”JOSÉ FLÁVIO BARBOSA, 42 anos, técnico de eletrodomésticos de Alvinópolis (MG)

A NATAÇÃOÉ U M ÓT I M O ESPORTE PARA TODAS AS IDADES

XÔ, DEPRESSÃO!Veja alimentos que ajudam a combater essa doença. Mas sempre consulte um médico!

• Cereais estimulam a produção de serotonina, o hormônio do bom humor.

• Leite e iogurte têm cálcio, que diminui o nervosismo.

• Castanha-do-pará e nozes são fontes de selênio, que combate o estresse.

© FOTOS 1 MARCOS LOPES 2 ALEXANDRE SEVERO 3 TIAGO LIMA

4 CARINA BARROS 5 MICA TOMÉO 6 MÁRCIA DIAS 7 ANNA LUIZA FISCHER

“A maior lição que recebi da vida é que faz muito bem ajudar os outros. Sempre que posso, doo roupas a quem precisa, ou até mesmo os doces que fabrico para vender.”JOSÉ MAURO FARIAS GALVÃO, 29 anos, vendedor de Cuiabá

AMOR E SABORQue tal fazer biscoitos e doá-los para um orfanato? Confi ra a receita2 a seguir!

Ingredientes:

• casca de 2 goiabas em tirinhas

• 3 xícaras (chá) de farinha de trigo

• 1 xícara (chá) de açúcar

• 3 colheres (sopa) de margarina

Misture a farinha, o açúcar e a margarina até formar uma massa. Acrescente as cascas. Molde em forma de biscoitos e asse até dourar. Veja uma lista de locais que você pode ajudar: bit.ly/yaDqQR

ÉTICA CASEIRAComo ensinar os fi lhos a serem honestos? Esse é o tema da matéria na página 34 desta edição. Confi ra!

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Page 16: Revista Por Exemplo #4

É QUE SE APRENDE16

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Page 17: Revista Por Exemplo #4

17POR EXEMPLO

TEXTO PATRÍCIA PEREIRA FOTO ANDREA MARQUES

Não dei contaPOR INEXPERIÊNCIA, IMPACIÊNCIA OU IMPRUDÊNCIA, ÀS VEZES

ACABAMOS DANDO UM PASSO MAIOR DO QUE AS PERNAS.

AÍ O DESAFIO É ENFRENTAR AS CONSEQUÊNCIAS, IMPREVISTAS,

E DESCOBRIR, NA PRÁTICA, A MEDIDA DAS NOSSAS AÇÕES.

CONFIRA HISTÓRIAS DE QUEM NÃO CONSEGUIU ABRAÇAR O

MUNDO, MAS APRENDEU ATÉ ONDE SEUS BRAÇOS ALCANÇAM

Com 18 anos, eu pesava 110 quilos. Resolvi tomar remédios para emagrecer, mesmo sabendo que fazem mal. Perdi muito peso, mas sentia enjoo e tinha alucinações. Acabei engordando ainda mais. Só dez anos depois consegui emagrecer de verdade, com uma dieta controlada por especialistas. Não existe mágica, é preciso comer menos e se exercitar.MARIA CLÁUDIA BARCELOS, 36 anos, Niterói (RJ)

Aos 12 anos, chorei de vergonha ao ouvir uma freira da escola dizer no alto-falante que minha mensalidade estava atrasada. Era um engano e ela se desculpou. Mas decidi me vingar. Ao vê-la abaixada para arrumar um armário, pisei em seu véu. Quando ela se levantou, foi aquela gargalhada: ela era careca. A vingança acabou tendo um preço alto demais: fui convidada a me retirar da escola e não pude me formar com a minha turma – coisa que eu sonhava em fazer. MARIA DAS GRAÇAS TOUSSAINT, 63 anos, Belo Horizonte

Vi o mar pela primeira vez aos 15 anos, numa viagem para Vitória. Queria voltar bem bronzeada. Passei Coca-Cola no corpo todo e tostei na areia. Tive queimaduras graves. Fiquei trancada no quarto, sem roupa, por mais de uma semana, passando remédio. Foi necessário passar por tudo isso para eu aprender que não se pode abusar do sol.LUCIMAR SILVA DE CASTRO, 48 anos, Volta Redonda (RJ)

Eu me preparava para ser piloto das Forças Armadas. Com 19 anos, em um de meus primeiros voos-solo, vi a região onde minha namorada morava e resolvi dar um rasante sobre a casa dela só para impressioná-la. Um ofi cial viu a manobra e fui afastado. Nunca mais pude pilotar. Na época não gostei, mas hoje sei que fui imprudente. Quatro amigos meus daquele tempo morreram em acidentes aéreos.LUIZ FERNANDO SCHNEIDER, 91 anos, Rio de Janeiro

Há alguns anos, após um tempo sem me exercitar, decidi começar a correr. Uns amigos atletas me aconselharam a

fazer fortalecimento muscular prévio e procurar auxílio. Impaciente, não segui as dicas. O resultado foi uma lesão nos joelhos que, até hoje, me incomoda e me impede de maiores ousadias esportivas.LAÉCIO RODRIGUES, 35 anos, Fortaleza

A reforma do meu consultório odontológico deveria levar dois meses. Quando o prazo chegou ao fi m, foi prolongado por mais 45 dias. Eu não tinha mais dinheiro. Tive de fi nanciar. Só assim aprendi a nunca começar uma obra sem uma folga no orçamento.LUÍS ANTÔNIO FERRARI, 42 anos, Bueno Brandão (MG)

Quando vi que passei em uma prova para trabalhar em Joinville (SC), eu e meu marido encaixotamos a casa toda em poucos dias. Já procurávamos apartamento quando soube que ainda levaria um tempo para começar no emprego. Meu marido já havia até se demitido! Mas arranjei outra oportunidade e vivemos dois bons anos na cidade.ALINE SANTI, 30 anos, São Paulo

O que você já aprendeu

com um erro?Conte para a gente!

Veja nossos contatos na página 7.

Eu e minha mulher resolvemos criar nosso próprio jornal em 2005. Sabíamos muito de redação, fotografi a e diagramação, mas pouco de gráfi ca, gerenciamento, distribuição e publicidade. Em seis meses, acumulamos uma grande dívida. Aprendi a valorizaro trabalho de cada um e a buscar um profi ssional quando preciso de algo que não sei fazer.MARCOS VINÍCIUS FARIA, 41 anos, Rio de Janeiro

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*ADULTA.indb 17 2/27/12 8:20 PM

Page 18: Revista Por Exemplo #4

EM SEU LUGAR18

“Chef” de família

QUAL MEMBRO DA FAMÍLIA cozinha, lava, passa e cuida das crianças? Se você auto-maticamente pensou numa mãe ou espo-sa, pode até ser considerado antiquado, mas o fato é que sua resposta está esta-tisticamente correta. Por mais que os ho-mens estejam aumentando sua partici-pação nas tarefas do lar, ainda são as mu-lheres que dedicam a maior parte do dia a esses afazeres. Dados do IBGE de 2009 mostram que os serviços de casa conso-mem, em média, duas vezes mais horas das chefes de família do que dos homens.

Essa cultura surge na infância. Ainda segundo o IBGE, as garotas de 9 a 11 anos gastam mais de 20 horas da semana

ajudando nas tarefas domésticas – mais que o dobro do tempo dedicado pelos me-ninos da mesma faixa etária.

Araci Harder, de Sorocaba (SP), conhece bem essa realidade. Aos 64 anos, ela admi-te que não ensinou nenhum dos quatro fi -lhos homens a auxiliar em casa. “Agora que estão casados é que eles ajudam a esposa. Mas no meu tempo era diferente. Meu ma-rido, mesmo, não faz nada até hoje”, diz.

Não fazia! Depois de 48 anos de união, convidamos Luiz Harder a assumir as tare-fas num tradicional almoço de domingo da família, em que a casa se enche de fi lhos, noras e netos. Confi ra como foi e veja o que eles aprenderam com a experiência.

FORA DA ROTINAO desafi o proposto a Luiz foi preparar o almoço de domingo, desde a compra dos ingredientes até a hora de lavar a louça. Como ele não tem experiência na cozinha, recebeu a ajuda dos fi lhos. Araci e suas noras, que costumam auxiliá-la nos fi ns de semana, tiraram uma folga. Neste dia, em vez de servir, elas é que fi caram só na mordomia.

LUIZ, DE 73 ANOS, TOPOU O DESAFIO: NUM ALMOÇO

DE DOMINGO, ASSUMIU AS TAREFAS QUE NORMALMENTE

CABEM À SUA MULHER. VEJA COMO ELE SE SAIU

TEXTO IRENE DONATTI FOTOS PATRICIA STAVIS

2 COM A MÃO NA MASSA

Orientado por Douglas, o fi lho mais velho, Luiz pica cebola, pimentão e alho. Rafael, o caçula, diz que os pedaços estão grandes demais e sugere o uso do ralador. Luiz aceita e pega um banquinho antes de continuar o trabalho. “De que lado rala?”, pergunta.

1 ENTRE AS PRATELEIRASA lista é simples: apenas os ingredientes para

a galinhada. Mas Luiz se perde entre os corredores. “A Araci faz as compras do mês em 30 minutos”, diz, ao perceber que vai precisar do dobro do tempo. O carrinho às vezes é deixado trancando o trânsito, mas Luiz mostra segurança ao escolher os vegetais. Já na hora da carne, conta com a ajuda dos fi lhos.

*ADULTA.indb 18 2/27/12 8:20 PM

Page 19: Revista Por Exemplo #4

POR EXEMPLO 19

5 PURA DIVERSÃOA parte fi nal da experiência é a

mais divertida: brincar com os netos. Primeiro, eles colhem cereja e manga no pé. Depois, jogam uma partida de futebol. Nesse momento, a dor nas costas de que Luiz havia se queixado enquanto cortava as cebolas simplesmente desaparece. Apaixonado por futebol, ele joga com amigos três vezes por semana.

6 LIÇÕES COM AMOR Após esse domingo diferente,

o casal refl ete sobre o que viveu. Araci percebe que, ao se afastar um pouco da cozinha, ganha mais tempo para curtir os netos. E Luiz mostra empenho em ser mais participativo no dia a dia do lar: “Depois desta, estou disposto a pôr mais a mão na massa”, diz.

3 FAMÍLIA REUNIDA À MESALuiz faz questão de servir Araci. Com

carinho, ele paparica a mulher – hoje, na cabeceira da mesa. “A comida está uma delícia! Agora só vou pedir, não vou fazer mais nada!”, brinca Araci. Mesmo com tanto mimo, é difícil para ela relaxar: acostumada a controlar o serviço, fi ca o tempo inteiro de olho no marido. “Nunca entreguei o fogão a ninguém!”, diz.

4 ENSABOA, LUIZ, ENSABOA

Ricardo, um dos fi lhos, se prontifi ca a lavar a louça, e Luiz vai junto fazer sua parte. Sem jeito, parece acariciar os utensílios com a esponja. “De vez em quando, arrumo a cozinha quando a Araci sai”, conta. “Ele faz um charme: passa uma xícara embaixo da água, mas nem sabão usa!”, diz na sequência a mulher.

*ADULTA.indb 19 2/28/12 4:30 PM

Page 20: Revista Por Exemplo #4

ROBSON MENDONÇA, DE 60 ANOS, PERDEU

A FAMÍLIA E AS ECONOMIAS E VIROU

MORADOR DE RUA. HOJE, O QUE VOCÊ

ACHA QUE ELE FAZ PERAMBULANDO

PELO CENTRO DE SÃO PAULO?

A) PEDE ESMOLA

B) VIVE DE BICOS

C) EMPRESTA LIVROS

Espalhando

QUEM VOCÊ PENSA QUE É? 20

*ADULTA.indb 20 2/27/12 8:21 PM

Page 21: Revista Por Exemplo #4

um vício TEXTO DANIELA ALMEIDA

FOTOS GUILHERME GOMES

*ADULTA.indb 21 2/28/12 4:31 PM

Page 22: Revista Por Exemplo #4

22

O SONHO DO agropecuarista Robson Mendonça era sair do interior do Rio Grande do Sul e abrir um restaurante em São Paulo. Em 1997, foi na frente para ar-rumar uma casa e começar o negócio. Quando se estabelecesse, levaria a famí-lia. Ao chegar, porém, sofreu um seques-tro no qual perdeu os documentos e as economias. Virou morador de rua. Um ano depois, viu o nome da mu lher e do fi -lho em um jornal. Os dois haviam morri-do em um acidente de estrada.

O refúgio para a tragédia foi a leitura. “O livro nos leva a viajar sem sair de onde estamos”, fi losofa. Robson lia em biblio-tecas públicas. Mas não podia pegar ne-nhum exemplar emprestado, por não ter comprovante de residência. Um dia, en-controu largado na calçada o romance A Revolução dos Bichos, de George Orwell, um clássico sobre a opressão social. O tex-to o atingiu como um soco no estômago, e foi o gás que precisava para se fortalecer.

Robson foi trabalhar com material re-ciclado e conseguiu sair das ruas em 2003. Então começou a pensar em uma forma de levar a leitura a quem ainda precisava superar a falta de um teto. Foi aí que idea-lizou a “bicicloteca”: uma bicicleta que carregasse livros para serem empresta-dos livremente – em especial a quem nem sequer tem um documento para apresen-tar. Procurou ajuda com políticos, entida-des e empresas. Só em 2010, com o apoio da ONG Mobilidade Verde, conseguiu construir a primeira bicicloteca.

Em junho de 2011, a invenção foi rouba-da. “Mas acabou sendo algo benéfi co”, diz. O caso chamou a atenção de novos par-ceiros, como a editora Melhoramentos e o grupo Pão de Açúcar. Robson ganhou três unidades e fez do projeto sua principal ati-vidade. Hoje, as biciclotecas são equipa-das até com internet sem fi o. Circulam de segunda a sexta pelo centro de São Paulo. Por dia, são emprestados até 150 livros. Cerca de 99% retornam. Com o sucesso, em breve, serão 13 unidades, para atender a mais pessoas. “Outro dia, vi um morador de rua dizer: ‘em vez de beber, vou pegar um livro, pois isso vai me ajudar mais a ar-ranjar um emprego’”, conta Robson, orgu-lhoso de espalhar um vício do bem.

MORADORES DE RUA NÃO PODEM LOCAR LIVROS EM BIBLIOTECAS. ROBSON SENTIU ISSO NA PELE E INVENTOU A BICICLOTECA PARA RESOLVER O PROBLEMA

A Campanha de Livros do

Extra já doou 2 milhões de obras a escolas e bibliotecas desde 2000

22

é o preço médio do livro

no Brasil: o mesmo que 11 almoços populares

R$ 1 1

*ADULTA.indb 22 2/27/12 8:21 PM

Page 23: Revista Por Exemplo #4

POR EXEMPLO 23

QUAL É A PIOR COISA DE SER UM MORADOR DE RUA?Não contar com o amparo do Estado, que não tem política pública para essa população. Em São Paulo, a Lei nº 12316/1997 diz que o município tem de garantir a essas pessoas o direito de tomar banho, ter documentos, fazer curso profi ssionalizante, morar em um hotel social ou em moradia provisória. Ela existe há 15 anos e nunca foi implementada de fato.

PARA O MORADOR DE RUA, QUAL É A IMPORTÂNCIA DE RECEBER ATENÇÃO?Isso faz com que ele se sinta gente. Era isso que acontecia comigo quando alguém vinha conversar. Uma das iniciativas do projeto é um concurso de poesia para moradores de rua. Precisa ver como eles se sentem valorizados ao ler uma poema que fi zeram.

QUAL O CASO MAIS EMOCIONANTE QUE VOCÊ VIVEU NO PROJETO?Foi o de um rapaz que conseguiu, por meio da ajuda de uma empresa, fazer o curso de direito, mas não tinha como comprar os livros da faculdade. Ele trabalhava entregando panfl etos e morava em albergue. Quando lhe entregamos os livros, ele chorou muito.

COMO AS PESSOAS PODEM AJUDAR O PROJETO BICICLOTECA?Por meio do site www.bicicloteca.com.br. Lá, há uma lista dos lugares onde os livros podem ser doados. Também aceitamos doação de roupas, livros, fraldas e alimentos para os moradores de rua. Toda ajuda é bem-vinda!

POR UMA VIDA MENOS DURANA ENTREVISTA ABAIXO, ROBSON FALA SOBRE O DRAMA DE MORAR NA RUA E PEDE SUA AJUDA PARA COMBATER ESSE PROBLEMA

FAÇAVOCÊTAMBÉM!

Doe livros.

Confira uma lista

de instituições em

vários estados do

país que aceitam

doações de obras

usadas neste site:

www.livralivro.com.

br/entities

Ajude quem

ajuda. Colabore

com projetos que

dão apoio aos

moradores de rua,

como estes: www.

ocas.org.br, www.

anjosdanoite.org.br,

www.mudar.org.br

POR EXEMPLO 23

das cidades brasileiras têm abrigos para moradores

de rua

Só 5%

*ADULTA.indb 23 2/27/12 8:21 PM

Page 24: Revista Por Exemplo #4

EU CONTRA O MUNDO24

MÁRCIA ENFRENTOU A POLÍCIA

PARA RECUPERAR A HONRA DO

FILHO HANRY, MORTO AOS 16 ANOS

TEXTO JAQUELINE LI E JÉSSICA MARTINELI

SENTIR MEDO É NATURAL. ENFRENTÁ-LO,

TAMBÉM. BASTA ENCONTRARMOS O

GRANDE MOTIVO QUE NOS GUIARÁ PELO

CAMINHO DA SUPERAÇÃO. E QUE NOS

PERMITIRÁ REALIZAR OS MAIORES FEITOS

HÁ QUEM ESTUFE O PEITO E DIGA: “Eu não tenho medo de nada!”. Essa pessoa pode pensar que está dando uma indiscu-tível demonstração de superioridade. Mas a história da evolu-ção da nossa espécie diz exatamente o contrário. “O medo nos serve decisivamente para a sobrevivência”, afi rma o psicólogo Julio Peres, autor do livro Trauma e Superação (editora Roca).

Medo é natural. Como a alegria, a tristeza, a raiva e a aver-são, é uma das emoções básicas dos seres humanos. Funciona como um sensor que detecta o perigo e nos protege de tragé-dias. Por isso vem acompanhando nossa espécie desde o seu princípio. Imagine se nossos ancestrais fossem, sem exceção, valentões destemidos – provavelmente morreriam todos, ao enfrentar animais e intempéries dos quais seria mais pruden-te fugir. E a história da humanidade teria sido bem mais curta.

O problema do medo é quando existe em excesso, quando nos paralisa a ponto de nos impedir de viver. Aí, é preciso bus-car ajuda médica. Mas, em geral, sabemos a hora certa de en-frentar nossos temores. Para tanto, precisamos de uma razão que compense. “Com um grande motivo, o indivíduo potencia-liza sua coragem e consegue enfrentar o medo”, explica Julio.

Essa motivação é totalmente pessoal. Pode ser o instinto de sobrevivência, um amor incondicional, a busca por um sonho, o senso de justiça, a vontade de ser alguém melhor... Decidir en-frentar o que nos assusta exige grande esforço, mas cria uma oportunidade à altura do risco: fazer algo grandioso, que pode mudar nossa vida e a de outras pessoas. Foi dessa forma que agiram os personagens a seguir. E, assim, se transformaram em exemplos de coragem que podem inspirar todos nós.

Encarandoo perigo

*ADULTA.indb 24 2/27/12 8:21 PM

Page 25: Revista Por Exemplo #4

POR EXEMPLO 25

MÃE CORAGEMMÁRCIA JACINTHO, 50

ANOS, RIO DE JANEIRO

Márcia acordou e estranhou a ausência do fi lho em casa. Era novembro de 2002, e ela saiu perguntando à vizinhança, no Morro do Gambá, se alguém sabia do paradeiro de Hanry, de 16 anos. A busca acabou no Instituto Médico Legal, onde o corpo do garoto foi reconhecido. O registro da morte na delegacia apontava que o menino estava armado e com várias trouxinhas de maconha, e que morrera trocando tiros com a polícia. Márcia fi cou dois meses em choque, sem acreditar na versão ofi cial. Foi então que, inspirada por séries de detetives na TV, a dona de casa resolveu desafi ar a polícia e investigar o caso por si mesma. Começou a estudar direito, armou-se de uma máquina fotográfi ca e um gravador e reuniu provas que contam outra história: Hanry foi assassinado, e a arma e a droga foram plantadas no seu corpo. Dois policiais foram condenados, por fraude e homicídio. Eles recorreram em liberdade e aguardam novo julgamento. A experiência levou Márcia a se tornar conselheira da Comissão dos Direitos Humanos do governo do Rio, onde luta para evitar novas injustiças.

VENÇATAMBÉM

Qualquer um pode

enviar ao Ministério

Público uma denúncia

noticiando

irregularidades ou

ameaças aos direitos

humanos. E, se você

precisar de uma

orientação jurídica, para

entrar com uma ação ou

se defender, por

exemplo, é a Defensoria

Pública de seu estado

que você deve procurar.

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*ADULTA.indb 25 2/27/12 8:22 PM

Page 26: Revista Por Exemplo #4

2626

VENÇATAMBÉM

Mulheres vítimas

de violência devem

denunciar na

delegacia mais

próxima. Mais

informações sobre

esse tipo de

problema podem ser

obtidas pelo telefone

180. O serviço é

gratuito e funciona

24 horas por dia,

em todo o país.

FORÇA DE LEIMARIA DA PENHA FERNANDES, 67 ANOS, FORTALEZA

voltou para casa. Mas logo foi vítima de novo atentado: o marido criou uma armadilha no chuveiro elétrico, para matá-la eletrocutada. Ela escapou novamente, e dessa vez o casamento acabou. Marco Antonio foi julgado e condenado em 1991 e 1996, mas recorreu e não foi preso. Com a ajuda de um deputado e do governo cearense, Maria levou o caso

à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que condenou o Brasil pela demora na punição do agressor. Só assim, quase 20 anos depois, Marco Antonio fi nalmente foi preso. O caso levou à criação, em 2006, da Lei nº 11340, contra a violência doméstica – conhecida como Lei Maria da Penha.

O MARIDO DE MARIA DA PENHA TENTOU

MATÁ-LA DUAS VEZES. ELA O MANDOU PARA

A CADEIA E BATIZOU A LEI BRASILEIRA

CONTRA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

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Maria acordou com um forte estampido em 29 de maio de 1983. Era um tiro dado em suas costas por seu marido, Marco Antonio Viveros. A agressão a deixou paraplégica e exigiu algumas cirurgias, somando quatro meses de recuperação. Marco Antonio alegou que o disparo havia ocorrido durante um assalto frustrado. Maria

*ADULTA.indb 26 2/27/12 8:22 PM

Page 27: Revista Por Exemplo #4

CHINAIDER ENFRENTOU

SEU PASSADO PARA

AJUDAR EX-PRESIDIÁRIOS,

COMO ELE, A TAMBÉM

TER UMA NOVA CHANCE© F

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VENÇATAMBÉM

Um importante

projeto de apoio a

presidiários em todo

o país é a Pastoral

Carcerária.

O movimento

acompanha

denúncias de

violação de direitos

humanos, dá apoio

jurídico às famílias e

orienta egressos na

reintegração à

sociedade. Saiba

mais no site www.

carceraria.org.br

PASSADO A LIMPOCHINAIDER PINHEIRO, 37

ANOS, RIO DE JANEIRO

Ameaçado por duas facções criminosas rivais ao mesmo tempo. Era assim que Chinaider se sentiu ao sair da prisão, em 2008. Foram 11 anos na cadeia, pagando por comandar o tráfi co de drogas em Vigário Geral e outras seis favelas cariocas. No último mês da pena, ele foi convidado a trabalhar no AfroReggae, grupo que luta pela inclusão social em comunidades carentes do Grande Rio. Aceitou. Mas, fora do crime, sentiu-se visado tanto pela facção de que fazia parte, que poderia vê-lo como um traidor, como pelo novo grupo que havia tomado Vigário Geral, rival da sua antiga quadrilha. Morando numa casa alugada na Zona Norte e trabalhando no centro, durante um ano evitou voltar à favela em que se criou. Mas, para cumprir sua função no AfroReggae, precisou vencer esse temor – Chinaider é supervisor de um projeto que ajuda ex-presidiários a conseguir emprego e precisa levar empresários para conhecer o programa, nas sedes que o AfroReggae mantém em Vigário Geral e em outras comunidades. Hoje, em vez de medo, ele sente orgulho de dar a outros a mesma oportunidade que mudou sua vida.

*ADULTA.indb 27 2/28/12 4:31 PM

Page 28: Revista Por Exemplo #4

28

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MARCADA DE MORTEMARIA JOEL DA COSTA, 48 ANOS, RONDON DO PARÁ (PA)

Maria é ameaçada de morte há 11 anos. Anda sempre escoltada por um policial. Assim tem sido desde que seu marido foi assassinado com três tiros em frente de casa, em novembro de 2000. José da Costa era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará e incomodava gente poderosa ao denunciar grileiros e madeireiros ilegais. Viúva,

Maria já teria muito trabalho para criar sozinha os quatro fi lhos. Mas decidiu ir além: lutar pela condenação dos assassinos e dar sequência ao trabalho do marido no sindicato. E essa é sua briga até hoje. O pistoleiro chegou a ser preso, mas escapou e está foragido. O fazendeiro acusado de encomendar o crime ainda não foi julgado. Como coordenadora regional da Federação dos

Trabalhadores na Agricultura do Pará, Maria segue denunciando os crimes rurais na região. Por isso, seu nome aparece na relação de ameaçados de morte por confl itos agrários no Brasil, divulgada pela Comissão Pastoral da Terra. “Dá medo”, ela confessa. “Mas o objetivo que me faz continuar é não deixar que a história do meu marido morra.”

VENÇATAMBÉM

Ameaça de morte

é crime previsto no

Código Penal. Nesses

casos, o importante

é denunciar o abuso

a uma autoridade

policial. Se for o caso,

a pessoa pode ser

protegida pelo

Sistema Nacional de

Assistência a Vítimas

e a Testemunhas

Ameaçadas, presente

em 17 estados do país.

1

MARIA PERDEU O MARIDO E SABE QUE

TAMBÉM PODE SER ASSASSINADA A

QUALQUER INSTANTE. MESMO ASSIM,

MANTÉM SUA LUTA POR JUSTIÇA

*ADULTA.indb 28 2/28/12 4:31 PM

Page 29: Revista Por Exemplo #4

VENÇATAMBÉM

Ao avistar um animal

selvagem perto de

casa, ligue para os

bombeiros (193)

ou avise a polícia

ambiental (www.

pmambientalbrasil.

org.br). Caso haja

intoxicação por

animal venenoso,

ligue para 0800-722-

6001 e descubra

o Centro de

Informação

e Assistência

Toxicológica mais

próximo de você.

INSTINTO DE PAI HÉLIO JANNY TEIXEIRA,

62 ANOS, SÃO PAULO

As férias de julho de 1996 da família Teixeira seriam especiais. O professor Hélio e sua esposa, Maria Odeth, de 50 anos, se programaram para levar os três fi lhos aos Estados Unidos. O que eles não imaginavam é que um singelo passeio de bicicleta no parque se tornaria uma assustadora prova de coragem. Atrapalhado com o freio, acionado no pedal, o fi lho Alexandre, então com 7 anos, caiu em um dos canais que margeiam a pista. “Ele nem se assustou, a água era rasa”, conta o pai. Mas, então, apareceu um jacaré e abocanhou o menino. “Só a largura da mandíbula dele era maior que o tronco do Alexandre”, lembra Hélio. O pai correu até o animal e segurou sua boca. “Nessa hora você não tem medo.” O jacaré acabou largando a criança, resgatada pela mãe. Maria Odeth foi mordida e arrastada por alguns metros, mas se soltou. Ela sofreu um esmagamento na mão, que demorou três meses para sarar. Alexandre passou dois dias na UTI. Hoje, está prestes a se formar na faculdade de engenharia. E lembra do heroísmo dos pais sempre que é chamado pelo apelido que ganhou na adolescência: Jaca.

HÉLIO E SUA ESPOSA

ENFRENTARAM UM JACARÉ

PARA SALVAR O FILHO:

“NESSA HORA NÃO SE

SENTE MEDO DE NADA” 2

*ADULTA.indb 29 2/28/12 4:31 PM

Page 30: Revista Por Exemplo #4

HÁ 23 ANOS, uma tragédia familiar come-çaria a mudar o destino político da cidade de Januária (MG). O pai do jornalista Fábio Oliva sofreu um AVC e precisou ser leva-do para Montes Claros, a 170 quilômetros de distância. No caminho, a ambulância fi -cou sem combustível. Também não havia enfermeiro. Apenas um faxineiro do hos-pital, que se descuidou do balão de oxigê-nio, deixando o ar acabar na estrada. “Perdi meu pai por negligência, consequência da má administração dos recursos e da corrup-ção”, revolta-se Fábio, hoje com 48 anos.

Por si só, a indignação não mudou nada. Mais de uma década depois, em 2003, Fábio comprovou que o descaso se mantinha: um sobrinho seu passou mal e foi encaminhado à cidade vizinha porque no posto de saúde

local não havia sequer luvas descartáveis. Aí o jornalista decidiu que não dava mais para esperar. Era preciso fazer alguma coisa.

Com o irmão, acessou os dados públi-cos que mostram os gastos da prefeitura e descobriu a compra superfaturada de me-dicamentos, comprovada por documentos fornecidos por um membro do Conselho Municipal de Saúde. O mesmo ocorria nas escolas: “Em uma cidade com 6 mil alunos, como puderam comprar 2 mil apagadores de quadros-negros?”, reclama. A investi-gação deu origem à Associação Amigos de Januária (Asajan), que, desde 2004, fi scali-za os gastos públicos da cidade.

Organizações da sociedade civil, como a Asajan, não têm poder para derrubar go-vernantes. Mas sua atuação pode agilizar

de reais é arrecadado a

cada ano em impostos

no Brasil

trilhão 1,5

PROBLEMA MEU30

De olho nos vazamentos

*ADULTA.indb 30 2/28/12 4:31 PM

Page 31: Revista Por Exemplo #4

muito as ações dos órgãos ofi ciais. A apura-ção de denúncias e a reunião de provas faci-litam as investigações tanto do Ministério Público quanto da Polícia Federal. “É impor-tante fazer isso rápido para não deixar os cri-mes prescreverem”, afi rma Fábio. E ele tem conhecimento de causa: a Asajan já colabo-rou nos processos de cassação de nada me-nos que sete prefeitos. Um deles havia des-viado mais de 10 milhões de reais. Acabou preso, com a esposa e o primeiro-secretário.

DEPENDE DE TODOS

No ranking dos países menos corruptos, o Brasil ocupa apenas o 73º lugar. A lista é feita pela Transparência Internacional, or-ganização não governamental que produz um relatório anual dos índices de percep-

ção de corrupção no mundo. As áreas de saúde e educação são bastante suscetíveis à roubalheira porque, normalmente, são as que recebem mais recursos. Constru-ção, transporte e energia são setores que também movimentam muito dinheiro.

Em tempos de preparação para a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada do Rio, em 2016, a preocupação cresce. Um grupo que está de olho nesses gastos é o Instituto Ethos, entidade que defende a bandeira da responsabilidade social. Para monitorar os orçamentos públicos relacionados a esses grandes eventos, o instituto lançou a cam-panha Jogos Limpos. Felipe Saboya, coorde-nador do projeto, acredita que a fi scalização deve ir além das empresas, sindicatos e uni-versidades. Segundo ele, organizações civis

de reais foram

desviados dos cofres

públicos em 2011

bilhões3,2

A CORRUPÇÃO CRIA BURACOS NO SISTEMA, IMPEDINDO QUE A VERBA DO ESTADO TENHA A DESTINAÇÃO CERTA

POR EXEMPLO 31

NÃO ADIANTA APENAS RECLAMAR QUE SEUS IMPOSTOS

DESCERAM PELO RALO. CIDADÃOS E ORGANIZAÇÕES

CIVIS DEVEM FISCALIZAR OS GASTOS PÚBLICOS PARA

EVITAR QUE NOSSO DINHEIRO SE PERCA PELO CAMINHO

TEXTO DANIELE MARTINS ILUSTRAÇÕES SURYARA BERNARDI

*ADULTA.indb 31 2/28/12 4:32 PM

Page 32: Revista Por Exemplo #4

de estradas poderiam ser

construídos. É o sufi ciente

para ligar São Paulo a João

Pessoa, na Paraíba

km2.770

32

precisam estar atentas para mapear os ris-cos de corrupção e acompanhar a prestação de contas. “Todos os órgãos públicos devem responder às demandas por informação dos cidadãos brasileiros, assim como são públi-cos os contratos de licitações”, esclarece.

EXEMPLO DO INTERIOR

A Asajan foi criada com o apoio e a orien-tação da Associação dos Moradores de Ribeirão Bonito (Amarribo), organização que trabalha contra a corrupção desde 1999. Cidade paulista com apenas 14 mil habitantes, Ribeirão Bonito é reconhecida internacionalmente. Tudo começou quan-do o engenheiro mecânico Guilherme von Haehling, de 62 anos, teve a ideia de recu-perar um ponto turístico da região, o Morro Bom Jesus. Com um grupo de amigos, bus-cou a prefeitura para falar do projeto e des-cobriu as primeiras irregularidades.

Após uma denúncia de que o dinhei-ro de merenda escolar era desviado, Guilherme e sua turma contrataram peri-tos e reuniram parte da população no gi-násio de esportes para expor o problema. Isso levou à queda do prefeito e de cinco ve-readores, e eles ganharam espaço na mídia nacional. “Nada pode ser feito sem o apoio popular”, ensina o engenheiro, diretor

executivo da associação. Ele diz que as au-toridades só tomam providência sob pres-são. “Na noite em que cassamos o prefeito, conseguimos reunir 2 mil pessoas em fren-te à Câmara, quase 15% da população.”

A repercussão do caso foi tão gran-de que pessoas de várias cidades ligavam pedindo orientações sobre como fi scali-zar o dinheiro público. Atualmente, 211 en-tidades civis fazem parte da rede. Hoje, a Amarribo mantém um amplo diálogo com o Estado. “Temos boa convivência com o po-der público e recebemos mensalmente a re-lação de todos os pagamentos feitos pelo município”, garante Guilherme. A associa-ção é ligada à Transparência Internacional e, em novembro, vai organizar no Brasil a 15ª Conferência Internacional Anticorrupção.

Tais exemplos mostram que a fi scali-zação dos gastos públicos exige dedicação contínua. Mas, às vezes, uma assinatura basta. Foi assim, no ano passado, em Foz do Iguaçu (PR). Contra a proposta de aumen-to no número de vereadores, 21 mil pesso-as apoiaram o abaixo-assinado que barrou a mudança. “A participação da população ainda é tímida”, reconhece Gilder Neres, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil na cidade, que liderou a campanha. “Mas foi um bom começo.”

*ADULTA.indb 32 2/28/12 4:32 PM

Page 33: Revista Por Exemplo #4

VEJA DICAS PARA

ACOMPANHAR MAIS

DE PERTO A FORMA

COMO OS RECURSOS

PÚBLICOS SÃO GASTOS

NÃO ENTRE PELO CANO!

CONHEÇA AS REGRAS. A Constituição federal diz: “Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular ou de interesse coletivo ou geral”. Veja o texto da lei em bit.ly/tELzcq

INFORME-SE na Câmara dos Vereadores de sua cidade se seu município realiza o Orçamento Participativo, mecanismo que permite ao cidadão opinar sobre o destino da verba pública municipal

DENUNCIE na imprensa indícios de corrupção. Outros canais são o Observatório da Corrupção, da OAB (www.observatorio.oab.org.br), e a Controladoria Geral do seu estado ou a da União (www.cgu.gov.br/Denuncias)

ACOMPANHE sites que ajudam a participar da vida política do país: www.jogoslimpos.org.br – monitora os gastos com a Copa e a Olimpíada.www.eulembro.com.br – rede social que acompanha o desempenho dos políticos eleitos.www.impostometro.com.br – mostra em tempo real o valor pago em impostos pelos brasileiros

professores poderiam ser

contratados com o dinheiro

público desviado em 2011.

O défi cit atual é de cerca de

300 mil profi ssionais

mil240

ambulâncias equipadas

poderiam ser compradas:

cada cidade do Brasil

receberia 7 veículos

mil40

33

*ADULTA.indb 33 2/27/12 8:22 PM

Page 34: Revista Por Exemplo #4

34 COMO ENSINO34

Lição de ouro

UMA DAS TEORIAS sobre a origem da palavra honestidade remete ao termo em sânscrito honnu, que signifi ca ouro. A relação não só evi-dencia o valor dessa virtude, como também aju-da a explicar o seu signifi cado. O ouro é valioso porque não se altera, não se degrada – mantém--se sempre brilhante. Portanto, chamar alguém de honesto signifi ca reconhecer sua integridade.

Uma sociedade que não valoriza a honesti-dade não consegue se manter. Essa qualidade é fundamental para aproximar as pessoas e per-mitir que elas construam coisas juntas. “Uma relação só se estabelece se há confi ança, e esta só pode ser conquistada quando há honestida-de entre os indivíduos”, explica Alipio Casali, fi lósofo e professor de história da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

VEM DO BERÇO

Assim como acontece com outras virtudes bá-sicas para o convívio, o hábito de falar a verdade também é aprendido em casa. Pois é na famí-lia, seja qual for seu modelo, que se constroemas primeiras relações de confi ança. “Uma crian-ça criada em um grupo que tenha noção de res-peito e honorabilidade naturalmente vai ab-sorver esses conceitos”, explica Alipio.

Essa transmissão de valores começa já nos primeiros anos de vida dos pequenos. “Os fun-damentos morais precisam ser ensinados des-de cedo”, afi rma a mestre em educação Tania Zagury, fi lósofa e autora de livros como Educar sem Culpa: A Gênese da Ética (editora Record). Mas a especialista lembra que é preciso acompa-nhar a idade da criança e respeitar sua evolução.

Até os 9 anos, por exemplo, os fi lhos podem dar trabalho ao fazer perguntas que exigem respostas complexas – às vezes até desconheci-das pelos pais. “Como o navio fl utua?”, “Por que a água congela?”, “Quem pôs o Sol no céu?”... Para

SEJA SINCERO: ENSINAR OS FILHOS A AGIR HONESTAMENTE

NEM SEMPRE É FÁCIL. CONHEÇA TRÊS FAMÍLIAS QUE, COM SEUS

EXEMPLOS, PODEM AJUDAR VOCÊ NESSE IMPORTANTE DESAFIO

TEXTO JAQUELINE LI E JÉSSICA MARTINELI

CERES INCENTIVA MATIAS E ROMEU A ASSUMIREM SEUS ERROS EM VEZ DE TROCAR ACUSAÇÕES

complicar, nessa idade a criança não lida muito bem com hipóteses nem com raciocínios abstra-tos. Só aos 10 anos ela tem capacidade de ir além dos conceitos concretos. Então, como dar uma explicação correta e satisfatória? “Simplifi car ou dar um tom lírico a um ponto de vista científi -co não são soluções desonestas”, diz Tania. (Veja mais sobre esta questão na página 36.)

Além das perguntas cabeludas, inúme-ros momentos do dia a dia são oportunidades de passar às crianças a importância de manter uma postura ética. As brincadeiras e os jogos

*ADULTA.indb 34 2/27/12 8:22 PM

Page 35: Revista Por Exemplo #4

POR EXEMPLO 35POR EXEMPLO 3535

MEA-CULPA“Não fui eu que fi z, foi ele!” Quando a travessura passa dos limites, é comum que essa frase seja ouvida em dueto na casa dos irmãos Matias, de 6 anos, e Romeu, de 4, em São Paulo. Nessas horas, a mãe, Ceres Maldonado, sabe que será preciso insistir em dois ensinamentos que faz questão de passar aos fi lhos: devemos assumir nossas responsabilidades e não fi car dedurando os outros. A solução é ameaçar os dois de castigo, até que o verdadeiro culpado se manifeste. “Acho superimportante essa questão de assumir nossas responsabilidades. Infl uencia a formação do caráter”, diz a relações-públicas, de 30 anos. Ceres faz questão de manter uma relação transparente com os meninos e pede o mesmo comportamento em troca. Quando isso acontece e eles decidem ser francos, ela alivia na sanção. Foi assim, por exemplo, quando a mãe descobriu que as correspondências recebidas pela vila onde a família mora, em São Paulo, tinham ido parar embaixo da cama de um dos garotos. Com medo de perder longas horas de brincadeira, o culpado acabou se identifi cando. “Quero que eles aprendam esses valores em casa para que depois assumam seus erros na escola e, mais tarde, no trabalho e por toda a vida.”

FAÇA VOCÊTAMBÉM

Às vezes, a criança

não sabe que agiu de

forma desonesta.

Nesse caso, na

primeira vez em que

ela cometer o erro,

o melhor é apenas

orientá-la e explicar

por que seu

comportamento é

inadequado. Deixe

para aplicar um

castigo apenas se ela

repetir a travessura.

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são um bom exemplo. Alguns adultos permi-tem que os pequenos burlem as regras para saí rem vencedores. Ou jogam mal de propósi-to, para deixar que a criança ganhe. Se os fi lhos se acostumam com esses exemplos, vão pen-sar que não é preciso ser honesto para se dar bem. E não vão descobrir que só há graça em ser campeão em reais condições de igualdade.

Conforme as crianças crescem, vão surgindo novas situações em que é preciso reafi rmar o en-sino da sinceridade. Na adolescência, conversar abertamente sobre temas difíceis, como sexo

ou drogas, pode contribuir para que o fi lho não procure por informações fora de casa, correndo o risco de aprender algo que fuja às orientações da família (veja mais na página 37).

São muitas as lições a serem compartilha-das. E esse desafi o existe em todo lar. Conheça a seguir as histórias de três famílias diferentes entre si em muitos aspectos, mas semelhantes numa determinação: cumprir a valiosa tarefa de ensinar aos fi lhos, diariamente, a importân-cia de serem honestos. Aprenda com elas como você pode fazer o mesmo na sua casa.

*ADULTA.indb 35 2/27/12 8:22 PM

Page 36: Revista Por Exemplo #4

A CURIOSA CLARICE FAZ COM QUE A

JORNALISTA DANI SE DESDOBRE PARA

ENCONTRAR RESPOSTAS SINCERAS

1

3636

FAÇA VOCÊTAMBÉM

Apesar de a pergunta

ser complexa, a

criança procura uma

resposta simples.

Se ela perguntar por

que a maçã caiu da

árvore, uma frase

como “porque estava

madura”, além de

correta, pode ser

mais satisfatória

que falar sobre a

lei da gravidade.

NA MEDIDA

Ser sincera sempre. Essa é a estratégia da jornalista Dani Franco, de 32 anos, de Belém, para passar o valor da honestidade à fi lha Clarice, de 3 anos. O problema é quando a menina lança perguntas como: “Quem pintou o céu de azul?”. A mãe prefere não apelar para explicações fantasiosas, mas também sabe que uma resposta com densidade científi ca pouco interessará à pequena.

A saída é uma verdade simplifi cada: “Foi o Sol, porque é quando ele nasce que as cores aparecem”, disse Dani, satisfazendo a curiosidade da menina. “A medida está no tanto que ela deseja saber. Encaro como um respeito à memória e às verdades dela, ao seu desenvolvimento. Informação demais pode confundir”, afi rma. Numa das poucas vezes em que relaxou na sua

diretriz, percebeu a importância de respeitá-la sempre: um amigo faleceu e, na falta de uma ideia melhor para explicar a morte, ela disse à fi lha que ele havia virado uma estrela. Mas, dias depois, a menina conheceu uma pessoa chamada Estrela. Aí, Dani teve de se virar para desfazer a curiosa confusão. “Não existe o que não possa ser dito. O importante é como você vai dizê-lo.”

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Page 37: Revista Por Exemplo #4

3737

JOGO ABERTO

O professor Romero Lima, de 52 anos, é pai de Mariana, de 27, fi lha de Cléa Soares. Também é pai de André, 12, e João, 8, fi lhos da segunda esposa, Lucinha Guerra, de 42. O casal já não vive junto, mas compartilha a guarda dos garotos, no Recife. Todos mantêm uma relação harmônica, baseada na honestidade. As separações, por exemplo, sempre foram bem explicadas, permitindo que as ex-esposas sejam amigas entre si. Romero acredita que ser claro sobre os mais variados temas dá liberdade para que André e João sejam seus grandes amigos. A mesma postura é adotada pela mãe. “Um dia, João veio me contar que uma menina lhe deu um beijo”, conta Lucinha, que faz questão de conversar sobre temas tabus, para ter certeza de que os fi lhos serão bem orientados. Essa mesma educação já foi testada e aprovada com a fi lha mais velha: “Meus pais são as primeiras pessoas para quem eu conto minhas novidades”, diz Mariana, que hoje mora em São Paulo.

FAÇA VOCÊTAMBÉM

Um dos maiores

desafios dos pais de

adolescentes é saber

o limite entre

orientação e

liberdade. Querer

participar das

descobertas dos

filhos é legítimo e

estreita laços, mas

cuidado para não

desrespeitar a

privacidade deles.

ROMERO E SUAS DUAS EX-ESPOSAS SÃO SINCEROS

COM OS FILHOS PARA QUE ELES TAMBÉM SEJAM –

MESMO EM TEMAS TABUS

DÊ O EXEMPLOSeu fi lho toma como certo aquilo que você faz. E nem sempre consegue entender sutis exceções. Se você falar a uma amiga que o vestido dela é lindo e, em casa, confessar que achou feio, seu discurso sobre a importância de ser sincero irá por água abaixo.

NA PRÁTICASAIBA COMO AGIR EM OUTRAS SITUAÇÕES EM QUE A HONESTIDADE SE PÕE À PROVA

NÃO SE PROJETEAlguns pais esperam dos fi lhos um talento que a criança não tem. E isso pode estimular a mentira. Se um pai quer que o fi lho seja um craque do futebol, mas o menino não corresponde, a criança pode ser levada a mentir sobre seu desempenho.

HOLOFOTE DO BEMA mentira pode ser um meio de chamar atenção. Nesse caso, fazer um carnaval ao descobrir uma desonestidade do fi lho vira um tiro no pé. O melhor é ser enérgico nos elogios, nas ocasiões em que a criança falar a verdade – mesmo que seja ao reconhecer um erro.

A VIDA ENSINAAlgumas coisas seu fi lho vai aprender sozinho. Se, por exemplo, ele disser a alguém que odeia essa pessoa, vai perceber pela reação de quem estiver presente quanto essa frase pode magoar. Numa próxima vez, talvez repense o peso de suas palavras.

2

*ADULTA.indb 37 2/27/12 8:23 PM

Page 38: Revista Por Exemplo #4

CONHEÇA AS

HISTÓRIAS DE TRÊS

GRUPOS DE VIZINHOS

QUE NÃO ESPERARAM

PELO GOVERNO:

ARREGAÇARAM

AS MANGAS E,

POR SI PRÓPRIOS,

TRANSFORMARAM

A PAISAGEM DO LOCAL

EM QUE VIVEM

a mão

Cidadefeita

EM CAMPO MOURÃO,

NO PARANÁ, VIZINHOS

SE JUNTARAM PARA

DEIXAR AS RUAS DO

BAIRRO LIVRES DO LIXO

TEXTO PAULA DESGUALDO

ILUSTRAÇÃO FABIANO SILVA

FOTOS MICA TOMÉO

NÓS PODEMOS38

*ADULTA.indb 38 2/28/12 4:32 PM

Page 39: Revista Por Exemplo #4

DENTRO DE CASA, a gente varre o piso, se esfor-ça para manter a pia em ordem, escolhe uma fl or bonita para enfeitar o ambiente e não dei-xa o vaso entupido por muito tempo. Já da por-ta para fora, a situação muitas vezes muda de fi gura: é mais fácil encontrar quem reclame de ruas sujas e malcuidadas do que alguém que ponha a mão na massa para deixar os espaços públicos mais funcionais, agradáveis e bonitos.Fazer parte desse segundo time dá mais traba-lho, é claro. Mas a recompensa vale a pena – e pode ser admirada e vivenciada por todos. É as-sim que pensam os moradores do bairro Jardim Modelo, em Campo Mourão (PR). Lá, o esforço coletivo tem sido o segredo para deixar as ruas com menos lixo e mais opções de lazer. “Não é porque pago impostos que vou fi car esperando o governo tomar providências”, afi rma o fun-cionário público Rivaldo Santos, de 55 anos.

Ex-presidente da associação de moradores da região, Rivaldo tem organizado, há anos, mu-tirões para limpar o bairro. Por volta de 2008, ele conseguiu que a prefeitura disponibilizas-se caçambas em pontos estratégicos, para que

POR EXEMPLO 39

SEM TROPEÇOSAs calçadas devem ter superfície regular, contínua, fi rme e antiderrapante. É obrigação do proprietário manter seu bom estado e a acessibilidade – a negligência dá multa, que varia para cada cidade. A prefeitura deve dar suporte e orientar: árvores, por exemplo, nunca podem ser cortadas sem a autorização de um técnico

DE BALDIO A RENOVADOSe existe um terreno baldio sujo na sua cidade, comunique a prefeitura. Se for um lote privado, o proprietário será notifi cado e deverá deixar a área limpa e com a calçada bem conservada. Se for um espaço público, você e seus vizinhos podem propor uma parceria à prefeitura, para transformá-lo em praça, campinho de futebol, horta coletiva...

*ADULTA.indb 39 2/27/12 8:23 PM

Page 40: Revista Por Exemplo #4

EM PARCERIA COM A PREFEITURA, CICLISTAS DE BELO HORIZONTE ESTÃO LIMPANDO PICHAÇÕES NA REGIÃO EM QUE COSTUMAM PEDALAR

MUROS LIMPOSNo Brasil, pichação é vandalismo e crime ambiental. Pode levar à detenção de 3 meses a 1 ano. Qualquer cidadão pode fazer uma denúncia, à prefeitura ou à Polícia Civil. Para limpar a sujeira, é preciso autorização: do dono, em caso de propriedade privada, ou da administração municipal, quando se tratar do patrimônio público

PARA RECICLARVerifi que na prefeitura se há coleta de lixo reciclável na sua rua. Se houver, cabe a você e seus vizinhos se organizarem para separar vidro, papel e metal dos resíduos orgânicos. Se não houver, você pode encaminhar seu lixo limpo a pontos de coleta, como as lojas do Extra: bit.ly/pWf3Rl. Veja também outros locais de recebimento: bit.ly/z1s5cX

40

os moradores pudessem dar fi m adequa-do a grandes volumes de lixo. Rivaldo teve a ideia, levou a sugestão a uma vereadora e a proposta virou projeto, aprovado pela administração municipal: o Limpa Quintal.

Depois de um tempo, a iniciativa foi in-terrompida. Rivaldo não sabe a razão. Mas ele não desanimou: continuou convocan-do os vizinhos para varrer bocas de lobo e recolher entulho. O trabalho é realizado até hoje, de tempos em tempos, sempre que a sujeira começa a incomodar.

Em 2010, o esforço dos moradores do Jardim Modelo ganhou um importante apoio: o bairro foi escolhido pela Câmara de Vereadores para fazer parte das Redes de Desenvolvimento Local, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). O pro-jeto orienta a comunidade a defi nir e pôr em prática as mudanças que sonha ver no local

em que vive. “Nosso trabalho é identifi car as pes soas com interesse em participar e aju-dá-las a fi rmar parcerias que vão viabilizar as transformações”, diz Vanessa Santos, ar-ticuladora do programa no Jardim Modelo.

De dois anos para cá, foram criad0s uma academia para a terceira idade, um coral, uma escola de futebol para crian-ças e ofi cinas de corte e costura. Tudo obra dos moradores. O pessoal se animou tanto que o bairro foi o único a fazer duas vezes o evento de comemoração de conquistas proposto pelo programa. “Tem muita gen-te ali disposta a trabalhar pelo desenvolvi-mento local”, elogia Vanessa.

FAXINA COM VALOR CULTURAL

A mesma disposição é vista entre os atletas que integram a União Ciclística Desportiva de Minas Gerais. Uma ou duas

vezes ao ano, eles montam nas suas bici-cletas e carregam tinta, rolos e pincéis fornecidos pela prefeitura para limpar as pichações da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. “É uma atitude de respeito ao lugar que usamos para treinar semanal-mente”, acredita o infectologista Carlos Stalin, 53 anos, presidente da entidade.

O local abriga importantes referências arquitetônicas da cidade, como o Museu de Arte da Pampulha, a Casa do Baile e a Igrejinha – o que atrai não só moradores e turistas interessados em um belo pas-seio, como também vândalos sem nenhum respeito pelo bem público. “Alguns monu-mentos fi cavam tão sujos que mal podiam ser vistos”, lembra Carlos.

O trabalho de redução da poluição vi-sual na cidade começou em 2009, quando a prefeitura lançou o Movimento Respeito

*ADULTA.indb 40 2/27/12 8:23 PM

Page 41: Revista Por Exemplo #4

MAIS VERDECada vez mais municípios oferecem programas de incentivo para que os cidadãos plantem árvores. Informe-se na sua cidade. A administração municipal pode oferecer ajuda técnica para que você escolha as espécies mais adequadas ao local onde mora, e para evitar deslizes – como cultivar uma árvore que possa causar danos à rede de energia elétrica

por BH. “Para combater as pichações, exis-te uma parceria muito positiva entre o se-tor privado, os órgãos públicos e a socie-dade”, diz Rosane Corgosinho, analista de políticas públicas da Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Patrimonial. Para Carlos e seus amigos, as ações de despiche sob duas rodas são tanto uma maneira de cuidar do corpo quanto uma forma de con-tribuir com a comunidade.

“A apropriação por parte de quem usa o espaço é a melhor forma de construir ci-dades mais saudáveis e seguras”, afi rma o arquiteto Rodrigo Alonso, de 36 anos, um dos fundadores do Instituto Elos, que de-fende a transformação dos espaços públi-cos pelos próprios moradores. “Como ci-dadão, eu posso votar certo. Mas essa não é a única maneira de agir. Também posso limpar a frente da minha casa e melhorar a

minha vida hoje, agora”, enfatiza o especia-lista, destacando a importância de ações como as das turmas de Carlos e Rivaldo.

A PRAÇA É NOSSA

O analista de sistemas Nelson Dias, de 48 anos, também não é do tipo que fi ca espe-rando as coisas acontecerem. Morador do bairro Beira Rio, em Guaratinguetá (SP), ele mobilizou 15 pessoas para trazer vida nova à pracinha da região. De tão degra-dado, o local não tinha mais condições de uso. “Pedimos um esclarecimento à pre-feitura, mas nos disseram simplesmente que os recursos eram escassos”, conta.

Em vez de lamentar, ele bateu na por-ta dos principais interessados: os vizinhos. Juntos, arrecadaram 20 reais de cada um, compraram materiais e contrataram al-guém para pintar as calçadas e restaurar

os bancos de madeira. Então, pediram à Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente auxílio para plantar árvores: receberam 20 mudas e se revezaram para regá-las duas vezes ao dia durante a época mais seca.

A bióloga Luana Fornitani, coordena-dora do Programa de Arborização Urbana (Proarb), da prefeitura, orientou o plantio. “A praça fi cou linda”, comemora. Ela con-sidera fundamental que a comunidade se envolva e assuma a responsabilidade para que a adoção de áreas verdes como a praça do Beira Rio seja um sucesso.

O cuidado continua – com pequenas doações em dinheiro dos próprios morado-res, eles mantêm os bancos, as árvores e a calçada em ordem. Tanta atenção trouxe novos frequentadores, na maioria famílias que vão caminhar e se divertir. Afi nal, quem não quer passear em um lugar bonito?

*ADULTA.indb 41 2/27/12 8:23 PM

Page 42: Revista Por Exemplo #4

DE UM LADO, alimentos sendo jogados fora. De outro, gente passando fome. Foi ao perceber que esses dois problemas po-deriam ser resolvidos com uma mesma solução que a econo-mista Luciana Quintão criou o Banco de Alimentos, em 1998. A organização não governamental arrecada, em mais de 100 es-tabelecimentos de São Paulo, sobras de produção e comercia-lização, ainda em bom estado, que iriam para o lixo. E com elas abastece diariamente 51 instituições, que atendem crianças, idosos e portadores de doenças graves, como aids e câncer.

Até hoje, foram recolhidas mais de 4 mil toneladas de ali-mentos, revertidas em quase 44 milhões de refeições. A inicia-tiva tem ajudado a minimizar um quadro triste: estima-se que, no Brasil, mais de 26 milhões de toneladas de alimentos sejam desperdiçadas todos os anos. Um luxo contraditório, já que 34% da população come menos do que o recomendado.

Além de doar os ingredientes, o Banco de Alimentos ensina as entidades benefi ciadas a cozinhá-los sem desperdício, aprovei-tando partes como talos e cascas. Para divulgar essas técnicas ao público em geral, a ONG lançou, recentemente, o livro Gourmet & Sustentável. Confi ra a seguir três receitas da publicação, que, jun-tas, formam um delicioso lanchinho para toda a sua família.

TEXTO SOLANGE MEDEIROS

Lanchinho conscienteCONHEÇA UM PROJETO QUE LEVA A COMIDA DE ONDE ELA SOBRA PARA ONDE ELA FALTA E APRENDA TRÊS RECEITAS NUTRITIVAS QUE EVITAM O DESPERDÍCIO – E QUE SEU FILHO VAI ADORAR!

COM O BANCO DE ALIMENTOS, LUCIANA QUINTÃO AJUDOU A SERVIR QUASE 44 MILHÕES DE REFEIÇÕES USANDO SOBRAS

É GOSTOSO E FAZ BEM42

1

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*ADULTA.indb 42 2/27/12 8:23 PM

Page 43: Revista Por Exemplo #4

COQUETEL DE CASCA DE MANGA COM GENGIBRERENDIMENTO 12 porções

INGREDIENTES:• 2 mangas com casca

• 1,5 l de água gelada

• açúcar a gosto

• 5 limões

• quanto baste

de gengibre

PREPARO:Lave bem a manga e o gengibre.

Corte-os grosseiramente e leve-os

ao liquidifi cador, com a água.

Acrescente o açúcar e o suco dos

limões e misture novamente.

POR EXEMPLO 43©

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PÃO DE QUEIJO COM TALOS DE RÚCULA RENDIMENTO 30 porções

INGREDIENTES:• 300 g de polvilho azedo

• 500 g de polvilho doce

• 2 colheres (chá) de sal

• 3 colheres (sopa) de óleo

• 5/6 de xícara (chá) de leite

• 1 xícara (chá) de talos de rúcula

• 2 ovos

• 2 xícaras (chá) de queijo meia cura

• 1 xícara (chá) de queijo parmesão

PREPARO:Numa tigela, misture os polvilhos

e o sal. Em uma panela, ferva o óleo

e o leite. Em seguida, misture tudo

na tigela, até formar uma massa.

Espere esfriar, adicione os ovos

e mexa bem. Pique os talos

e queijos e acrescente-os à massa.

Faça bolinhas de 40 gramas cada

uma e coloque-as numa assadeira.

Leve ao forno preaquecido a 1800 C

e asse por cerca de 18 minutos.

GELEIA DE CASCA DE MELÃO RENDIMENTO 15 porções

INGREDIENTES:• casca de meio melão

• quanto baste de açúcar

• quanto baste de água

PREPARO:Lave bem a casca do melão (se

possível, higienize em solução de

hipoclorito de sódio, seguindo as

instruções do rótulo). Pique-a em

cubos e coloque-os numa panela com

água sufi ciente para cobrir. Cozinhe

até que estejam se desmanchando.

Passe numa peneira e bata no

liquidifi cador com um pouco de água

até que pareça um purê. Pese a massa

e acrescente a ela metade dessa

medida em açúcar (cerca de 3/4 de

xícara). Leve ao fogo novamente até

obter uma consistência gelatinosa.3

2

*ADULTA.indb 43 2/27/12 8:23 PM

Page 44: Revista Por Exemplo #4

ANA AMÉLIA MASCARENHASDE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP)

NASCIDA EM 13/11/1970

“Eu tinha uma sólida carreira em uma multinacional. Mas fi quei grávida e quis cuidar eu mesma dos meus fi lhos. Tive três. Após quase uma década parada, quis voltar ao mercado. No ano passado, fui contratada como secretária executiva de um programa no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Estou feliz por ter conseguido uma nova oportunidade!”

RONALD ESQUERDO, O BAUXITADE BELO HORIZONTE

NASCIDO EM 29/4/1969

“Sou torcedor do Cruzeiro e vocalista de uma banda conhecida na cidade. Certo dia, eu participei de um debate esportivo na TV. Era só brincadeira, mas fui convidado a fazer um programa de rádio, que mistura humor e esporte. Na nova profi ssão, aproveito para defender a paz entre as torcidas – afi nal, eu mesmo tenho uma fi lhinha de 2 anos com uma torcedora do Atlético Mineiro.”

O TEMPO DE CADA UM44

“A VIDA COMEÇA AOS 40” já é um di-tado batido. Porém, cada vez mais, ele se mostra uma opção verdadeira. Para as mulheres, por exemplo, anti-gamente, chegar a essa idade soltei-ra e sem fi lhos era praticamente uma sentença para o resto da vida. Mas, na última década, o número de quaren-tonas que engravidaram pela primei-ra vez cresceu 27% no Brasil, segundo o IBGE. Na mesma faixa etária, os ca-samentos mais do que triplicaram.

Na carreira, a chegada aos 40 tam-bém pode inspirar mudan ças. Segun-do o consultor de RH Carlos Damberg, autor do livro A Oportunidade dos 40 (editora Hagnos), pessoas nessa fase da vida sentem necessidade de trans-formações profi ssionais, mesmo as bem-sucedidas na sua área, por já es-tarem há alguns anos na mesma roti-na. “É preciso identifi car outra ativi-dade que possa lhe dar satisfação e ter maturidade para assumir que você é mais do que uma máquina de fazer di-nheiro”, diz o especialista.

A seguir, quatro pessoas com exa-tamente 42 anos comprovam, cada uma do seu jeito, que dá, sim, para co-meçar uma vida melhor depois dos 40.

CONHEÇA PESSOAS

QUE, NA CASA DOS 40,

DECIDIRAM BUSCAR

NOVOS DESAFIOS

TEXTO MARIA FERNANDA MENEZES

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*ADULTA.indb 44 2/27/12 8:23 PM

Page 45: Revista Por Exemplo #4

PAULA SOTTO MAYOR DO RIO DE JANEIRO

NASCIDA EM 28/2/1970

“Eu era redatora publicitária. Em 2001, tirei férias na Espanha e decidi me mudar para lá, onde trabalhei em agências na minha área. Após quase uma década, retornei ao Rio, mas não encontrei o que queria. Agora estou em São Paulo, onde desejo trabalhar em projetos de sustentabilidade. Por enquanto, não tenho planos de ter fi lhos, mas, um dia, talvez adote um. Idade não é limite.”

FABIO CARDIA DE SÃO PAULO

NASCIDO EM 10/5/1970

Fui professor universitário, na área de propaganda e marketing, por 16 anos. No ano passado, infeliz, larguei o emprego. Abri minha própria empresa de publicidade e, à noite, retomei uma paixão da juventude: a música. Vou tirar minhas composições da gaveta e lançá-las em um site, e pretendo fazer trilhas para cinema. Além disso, comecei a namorar e planejo me casar no fi m do ano.

...assistiu pela TV (ou foi ver com os próprios olhos, ainda adolescente) ao primeiro Rock in Rio, em 1985, quando grandes bandas tocaram no país pela primeira vez. Relembre um dos momentos mais marcantes, o show do Queen: bit.ly/nAUbnI

dir

etas p

ara

presidente

POR EXEMPLO 45

SE VOCÊ TEM 42...

...brincava na rua na infância, ao contrário das crianças que hoje moram em grandes cidades. No livro Brincadeiras de Ontem (eBooksBrasil), o autor Carlos Alberto Almeida Marques relembra boa parte desses antigos passatempos

...aos 10 anos, conheceu o primeiro videogame vendido no Brasil, o Telejogo – que se resumia a movimentar barras e um quadrado. Confi ra a evolução dos jogos eletrônicos neste infográfi co do Discovery Channel: bit.ly/zQ8Nrh

...na adolescência, acompanhou a luta pelo fi m da ditadura no Brasil. Veja a capa de um jornal de 1984, noticiando o famoso protesto realizado em São Paulo, com cerca de 300 mil pessoas clamando por eleições diretas para presidente: bit.ly/wUbHpQ

© FOTOS 1 PEDRO SILVEIRA 2 DAIGO OLIVA 3 ANDRÉ TOMINO

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APRENDA E ENSINE46

Pergunte a você

FALAR SOZINHO É LOUCURA? NEM SEMPRE: QUESTIONAR-SE PODE SER A AÇÃO MAIS SENSATA EM VÁRIOS MOMENTOS. VEJA OITO PERGUNTAS QUE PODEM LEVAR VOCÊ A PROFUNDAS REFLEXÕES

TEXTO DILSON BRANCO E ALEX XAVIER

ILUSTRAÇÃO FIDO NESTI

Devo mesmo me preocupar? Gastar muita

energia com problemas pequenos é um tiro no

pé. Estressados, não enxergamos soluções

simples. Quanto mais empecilhos arranjamos,

maior fi ca o obstáculo. E também a tentação

de empurrá-lo com a barriga.

É isso que eu gosto de fazer? Por medo

de se propor essa pergunta, muita gente

insiste numa profi ssão que não satisfaz.

Afi nal, é preciso muita humildade e força

de vontade para recomeçar. Pense no que

você gosta de fazer e verá um possível

caminho para uma vida com mais signifi cado.

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Page 47: Revista Por Exemplo #4

POR EXEMPLO 47

O que eu quero deixar para o mundo? Como você quer ser lembrado depois que

morrer? Quais são as consequências das suas

atitudes para a sociedade? Passar adiante bons

exemplos, conselhos e informações é uma

forma de perpetuar o que temos de melhor.

Tenho medo de quê? Será que você está

deixando de fazer algo por medo? Que risco

você não quer correr? Por quê? Será mesmo

que não vale a pena enfrentá-lo? Admitir

nossos medos é o primeiro passo para avaliar

se é ou não uma boa ideia tentar superá-los.

Vale a pena? Visualize, por alguns instantes,

as recompensas que está garimpando.

E também os sacrifícios feitos na busca por

esse objetivo. Tenha em mente os motivos

pelos quais você decidiu levar a vida de um

jeito e não de outro. As pessoas mudam.

E suas prioridades também.

E se fosse eu? Julgar as atitudes dos outros é

fácil e todos fazem. Mas já imaginou o que você

teria feito se estivesse no lugar da pessoa que

critica? Uma perspectiva diferente vai ajudá-lo

a enxergar o cenário todo. O que não queremos

para nós, não desejamos para os outros.

E depois? Às vezes, queremos tanto algo

que nem paramos para pensar no que vai

acontecer depois que obtivermos êxito.

Pense adiante. A aventura não acaba quando

chegamos no alto da montanha. Ainda é

preciso descer para conquistá-la de verdade.

O que o meu corpo está me dizendo? Quando

jovens, a maioria de nós acha que tem uma

reserva extra de saúde. Com o passar do anos,

aprendemos a ler as mensagens que nosso

corpo nos envia. Um incômodo pode ser um

alerta de que deveríamos nos cuidar mais.

Melhor não ignorar esses sinais.

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AGRADEÇO48

Da aula para

a vida

NA SALA DE AULA, não aprendemos apenas o que está nos livros didáticos. Entre um longo di-tado e uma provinha surpresa, pode haver uma lição oculta que servirá para o resto da vida. Ou a inspiração que o aluno precisava para dar um grande passo. Pelo menos, para aqueles que es-tiverem dispostos a escutar.

É como no clássico do cinema dos anos 80, Karate Kid: o senhor Miyagi não está apenas ensinando o jovem Daniel a dar uns sopapos nos adversários. O que ele quer é que o garoto aprenda a ser mais responsável.

Também na vida real, nem sempre o pupilo compreende na hora a importância dos valores passados pelo mestre. Mas, em algum momen-to, ele se lembrará de uma frase emblemática, um gesto carinhoso ou mesmo uma bronca que fará todo sentido e o ajudará a crescer.

Alguns professores são motivadores. Outros, ombros amigos. E até aqueles mais difíceis de agradar talvez estejam apenas torcendo para que seus alunos nunca deixem de explorar seu poten-cial. Nos depoimentos a seguir, conheça as his-tórias de pessoas de diversos cantos do país que aprenderam na sala de aula muito mais do que estava no currículo obrigatório.

A ESCOLA ENSINA ALÉM

DE FÓRMULAS MATEMÁTICAS

E REGRAS GRAMATICAIS.

O QUE VOCÊ APRENDEU DE MAIS

VALIOSO COM UM PROFESSOR?

TEXTO ALEX XAVIER, PATRÍCIA PEREIRA E RAFAELA CARVALHO

FOTO PABLO DE REGINO

OS INCENTIVOS DO TÉCNICO DE VÔLEI DESPERTARAM A AUTOESTIMA DE ESTEVÃO – QUE HOJE PASSA ESSA LIÇÃO A SEUS ALUNOS

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POR EXEMPLO 49

Quando eu jogava vôlei na adolescência, fi cava constrangido por não ter materiais esportivos caros como os dos meus colegas. Mas, na abertura de um torneio importante, o técnico me convidou para fazer o juramento do atleta. Isso me levou a acreditar que era possível ocupar um lugar de destaque. Hoje, sou professor de sociologia e promovo ações dessa natureza com meus alunos.ESTEVÃO ARANTES, 33 anos, Goiânia

Eu sofria preconceito por ser gay. E ainda era gordinho. Queria desistir da escola. Até que a professora de matemática disse para eu não ligar para as provocações, pois sofria e descontava na comida. Tivemos muitas conversas. Um dia, em um programa de televisão, assumi minha sexualidade em rede nacional, e todos mudaram a forma de me tratar.TIAGO CAPALBO,28 anos, São Paulo

Um professor de matemática com fama de carrasco disse que daria um ponto para quem resolvesse uma questão no quadro. Não sei de onde eu tirei coragem, mas fui lá, tremendo. Acertei e virei atração no colégio. A experiência me ensinou que devemos enfrentar as difi culdades para sabermos se somos capazes.VALERIA SILVEIRA, 45 anos, Niterói (RJ)

Maria Osvalda, minha professora de natação aos 9 anos, parecia um sargento. “Anda, seu mole!”, gritava. Um dia, quase me afoguei. Fiquei assustado, mas consegui me salvar sozinho. Ela ainda

disse: “Bebeu muita água? Isso é para você aprender a se virar!”. Anos depois, na praia, eu me vi numa situação parecida. Acho que só me salvei porque aprendi a lição da Maria Osvalda.BRUNO LOPES, 31 anos, Goiânia

No curso de fonoaudiologia, o professor perguntou: “Como se sentiria um paciente se o médico se emocionasse com o seu sofrimento?”. A classe disse que isso não poderia ocorrer. Por instinto, falei: “Acho que ele iria gostar”. O professor concordou. Aprendi a não ter medo de dar minha opinião e a olhar o paciente sempre de frente, não de cima.FERNANDA CARLA HOMEM, 45 anos, Petrópolis (RJ)

Ao entrar para a polícia, passei por duas semanas de treinamento, sem voltar para casa. A distância me fez repensar a escolha. Mas, no fi m, um tenente disse: “A saudade é o preço que se paga por viver momentos inesquecíveis”. Entendi que esse é um sentimento bom, e que, onde eu estiver, minha família e meus amigos sempre estarão me esperando.OSWALDO DE ANDRADE FILHO, 24 anos, São Paulo

Aos 16 anos, fi z aula particular de matemática com um professor bastante rigoroso. Graças a ele, entendi melhor os números, resolvendo um exercício por vez. Aprendi a ter disciplina e descobri que gostava muito de fazer cálculos. Tanto que acabei cursando contabilidade.ANTONIO MACHADO, 59 anos, Rio de Janeiro

Aos 58 anos, tentei tirar carteira de habilitação. Errei a baliza, não passei e quase desisti. Porém, meu instrutor falou que eu já havia conquistado coisas muito maiores e que era capaz de alcançar mais esse objetivo. Ao ver que alguém acreditava em mim, refi z a prova e passei.GILBEIR FERRAZ, 73 anos, Eunápolis (BA)

Em uma aula de fi losofi a, o professor explicou o mito da caverna: pessoas amarradas em uma gruta, vendo apenas sombras do que se passava do lado de fora, achando que aquilo era a realidade. Quando um saiu, viu o mundo, mas os outros não acreditaram. Entendi que não precisamos temer o desconhecido.MÔNICA ROSAS, 41 anos, Rio de Janeiro

“Existe muito mais cultura no macarrão da sua avó do que nas suas apostilas de cursinho.” Com essa frase, um professor me mostrou que o conhecimento, por si só, não nos torna mais inteligentes. É preciso aperfeiçoar o que aprendemos – como nossas avós fazem com o macarrão.RAMON SCHADECK, 18 anos, Curitiba

No primário, minha professora dava poesias para que as crianças as lessem em público. Eu quis recitar em um evento, mas não fui escolhida. Quase no dia, uma menina desistiu e a professora me confi ou um poema. Fui a mais aplaudida. Aprendi que devemos aproveitar as oportunidades e fazer o nosso melhor.MARIA LÚCIA OLIVEIRA, 47 anos, Diadema (SP)

A quem você gostaria de

agradecer por ter-lhe ensinado algo importante?

Conte para a gente!

Veja nossos contatos

na página 7.

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SEMPRE É TEMPO50

É dada a largada!CORRA PARA VIVER E APRENDER

COISAS NOVAS! QUAL FOI A

ÚLTIMA VEZ EM QUE VOCÊ FEZ

ALGO PELA PRIMEIRA VEZ?

Desde que minha mãe faleceu, há pouco tempo, me vi obrigado a cozinhar. O problema é que, para fazer feijão, uma das minhas comidas preferidas, eu teria de enfrentar a panela de pressão, um eterno mistério para mim. Pedi conselhos a minha avó, procurei receitas para principiantes e vi vídeos na internet. Meu primeiro feijão não fi cou o melhor do mundo, mas já serviu para matar a saudade.FLÁVIO CARNEIRO, 22 anos, São Bernardo do Campo (SP)

Eu sempre quis ser doadora de sangue. Mas, como nunca pesei mais do que 50 quilos, conforme é exigido, fui barrada todas as vezes em que tentei. No ano passado, porém, eu tive minha primeira fi lha e, depois da amamentação, estava mais encorpada. Animada como uma criança em dia de excursão, corri para realizar meu sonho. Foi uma experiência maravilhosa: rápida e feliz. Recomendo a todos!MÁRCIA BANDEIRA, 34 anos, São Caetano do Sul (SP)

Num período do ano passado em que fez muito frio aqui na cidade, eu fi quei preocupada com minha cadela, que dorme do lado de fora de casa. Para não deixá-la tremendo, decidi fazer uma roupinha. Eu já havia costurado algumas peças, como roupas para bebês. Mas, para cachorro, foi a primeira vez. E não é que o resultado fi cou bom? Uma bela balançada de rabo me serviu como agradecimento!KAREN FARIA, 25 anos, Cuiabá

Uma coisa bem divertida que eu fi z pela primeira vez recentemente foi cantar em um karaokê. Minha fi lha comemorou os 18 anos dela num bar desse tipo, e eu não deixei de participar. Algumas amigas minhas também foram e, muito animadas, me convenceram a cantar uma música com elas. Escolhemos Sandra Rosa Madalena, do Sidney Magal. Todos nos aplaudiram e fui até elogiada! ANGELINA GASPAR, 45 anos, Salvador

Eu estava aborrecida, pensando em chegar em casa e comer uma bela barra de chocolate. No meio do caminho, mudei de ideia: resolvi correr na praia. Me fez tão bem que decidi me inscrever numa corrida que aconteceria na cidade. Treinei diariamente e, pela primeira vez na vida, participei e completei uma prova desse tipo. Agora quero seguir praticando!VERÔNICA AREAS, 32 anos, Niterói (RJ)

Conte sua última estreia para a gente!

Veja nossos contatos

na página 7.

TEXTO CAMILLA DEMARIO, HELSON FRANÇA E VALÉRIA MENDONÇA

FOTO RODRIGO BUENO

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