revista nossa uenf

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Ano 2- nº 3 NOV/DEZ

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Page 1: Revista Nossa UENF
Page 2: Revista Nossa UENF

Equipe Técnica

Fúlvia D’Alessandri e Gustavo Smiderle (jornalistas responsáveis)Alexsandro Cordeiro, Felipe Moussallem

e Marcus Cunha (projeto gráfico e diagramação)Nilza Franco Portela (técnica de nível superior)

Elizabeth Cordeiro Silva (auxiliar técnico-administrativo)Maria da Penha Caroline Rovetta, Ruana Maciel, Pamella Mambreu, Perla

Tavares, Lorenna Pessanha, Camila Gabriela (estagiários, distribuição)

Tiragem: 10 mil exemplares - Distribuição: gratuita e dirigidaImpresso por: Primeira Impressão - Borzan Indústria Gráfica e Editora Ltda

Ascom: (22) 2739-7119 / 0800-025-2004 / [email protected] Reitoria: (22) 2739-7003

www.uenf.br

ExpedienteUniversidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF

Nesta Edição Bom plantio, boa safra

Governador do EstadoSérgio Cabral

Secretário de Ciência e TecnologiaAlexandre Cardoso

ReitorAlmy Junior Cordeiro de Carvalho

Vice-reitorAntonio Abel Gonzalez Carrasquilla

Diretor do CBBArnoldo Rocha Façanha

Diretor do CCT Alexandre de Moura Stumbo

Diretora do CCH Teresa de Jesus Peixoto Faria

Diretor do CCTA Hernán Maldonado Vásquez

O ano de 2009 vai chegando ao fim com a mais vi-gorosa afirmação do modelo de universidade projeta-do para a Uenf pelo saudoso professor Darcy Ribeiro. Em janeiro, vivíamos ainda os impactos da conquista do Prêmio Nacional de Educação em Direitos Huma-nos, na categoria Extensão Universitária, entregue à Uenf em dezembro de 2008. Mas o decorrer do ano trouxe outras conquistas fundamentais que perten-cem a toda a sociedade fluminense, em especial à po-pulação do Norte/Noroeste do Estado.

Uma destas conquistas foi a confirmação da Uenf entre as 15 melhores universidades brasileiras, de acordo com o Índice Geral de Cursos da Instituição (IGC) do MEC. O IGC é o mais completo indicador de qualidade já desenvolvido pelo MEC, e o resulta-do de 2009 praticamente confirma o do ano anterior. Depois vieram as avaliações específicas dos cursos de graduação, que situaram a Uenf na elite acadêmica brasileira em pelo menos dez cursos, com destaque para os de Licenciatura em Pedagogia (terceira me-lhor pontuação do Brasil) e de Matemática, que fica-ram com conceito máximo no MEC.

Ainda estávamos todos comemorando estes bons resultados quando o CNPq — Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico — confe-riu novamente à Uenf o Prêmio Destaque do Ano na Iniciação Científica. A Uenf já tinha sido a primeira universidade a ficar com ele, em 2003, e depois fi-cou impedida de participar nas outras cinco edições, por força do regulamento. Passado o prazo, eis que a Uenf se candidata novamente e... vence de novo!

Estas vitórias refletem a espinha dorsal do Plano Orientador elaborado por Darcy Ribeiro. O Plano enfatiza a produção do conhecimento no cotidiano da vida universitária. Até aqui, a Uenf cresceu com base nas diretrizes deste documento. Agora, a comu-nidade universitária está mobilizada na releitura do Plano legado por Darcy. É a discussão do novo Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), que já foi desencadeada e vai balizar a caminhada da Uenf nos próximos 15 anos. Isto diz respeito aos interesses de toda a sociedade, de todos os cidadãos.

Nesta edição, você poderá ver alguns exemplos concretos do que se produz de conhecimento na Uenf. E verá que conhecimento não é para enfeitar estante, mas para ser aplicado na promoção do bem-estar de todos e todas ao longo do tempo.

Boa leitura!

Almy Junior Cordeiro de Carvalho / ReitorAntonio Abel Gonzalez Carrasquilla / Vice-Reitor

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Nos bastidores

Ganhou de novo!

Proteção à vida marinha

América do Sul está mais quente

A Ciência na Mídia

PDI: três letras para nortear o futuro

Entrevista: Cilene Victor da Silva, presidente da ABJC

Canto domesticado

Page 3: Revista Nossa UENF

Pássaros silvestres criados em cativeiro já apre-sentam diferenças genéticas significativas em relação àqueles encontrados na natureza. Foi o que desco-briu o médico veterinário André Bohrer em relação ao pássaro trinca-ferro (Saltator similis) — uma das espécies canoras mais valorizadas nos torneios de canto realizados no país. As diferenças estão basica-mente na forma de cantar: os pássaros de cativeiro apresentam cantos com duração menor e têm mais fibra (persistência e valentia ao cantar).

— Estas diferenças podem ser o resultado da se-leção dos reprodutores, que é feita em função das ca-racterísticas mais valorizadas nos torneios de canto. Podemos afirmar que já existe hoje uma tendência ao surgimento de novas linhagens de trinca-ferro, produzidas a partir do processo de domesticação — explica André, cuja pesquisa embasou sua tese de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Uenf, com orien-tação do professor Carlos Ramon Ruiz-Miranda, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da Uenf.

Se por um lado o fenômeno pode diminuir a pressão de captura — uma vez que os pássaros de cativeiro são os que apresentam as características desejadas pelos criadores —, por outro pode invia-bilizar uma possível reintrodução destas aves em seu habitat. Para André, é importante que sejam realizadas pesquisas que façam a conexão entre a criação em cativeiro e a conservação da biodiversi-dade. No momento, segundo ele, há poucas linhas de pesquisa voltadas para este tema.

A pesquisa — que analisou o canto de trinca-fer-ros localizados em quatro Estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo) — foi fei-ta no Setor de Bioacústica do LCA/Uenf. O objetivo foi verificar as diferenças entre o canto de pássaros livres e criados em cativeiro, levando em conta os parâmetros acústicos de freqüência e temporais, tais como duração, intervalo entre notas, duração das sílabas, frequência máxima e mínima, frequência inicial e final, entre outros.

— Ao contrário dos criadores de pássaros exóticos, que selecionam as características morfológicas, os cria-dores de espécies brasileiras selecionam características

comportamentais. Quanto mais cantos o pássaro emitir, sem se intimidar com o canto dos outros pássaros com-petidores, melhor — explica André.

Embora a maior parte dos passarinheiros cum-pra a legislação — adquirindo os pássaros em cria-douros cadastrados pelo Ibama — muitos deles ain-da apelam para o comércio ilegal. Isto ocorre, em grande medida, porque a oferta de pássaros legali-zados ainda é baixa e não consegue cobrir todas as espécies utilizadas nos torneios de canto.

Outro motivo é a persistência, por parte dos pas-sarinheiros, na crença segundo a qual os pássaros

Canto domesticadoPesquisa da Uenf mostra diferenças entre o canto de pássaros

criados em cativeiro e o daqueles encontrados na natureza nascidos em vida livre são melhores que os nascidos em cativeiro. Outro estímulo ao comércio ilegal é a falta de fiscalização, somada à impunidade existente no Brasil no que diz respeito a todos os crimes am-bientais, quer seja contra a fauna ou contra outras partes do ambiente.

— Os torneios de pássaros já fazem parte da cul-tura brasileira; não há como mudar isso. É preciso não só aumentar a oferta de pássaros legalizados, como também desencadear um movimento interno entre os criadores, conscientizando-os de que é ne-cessário acabar de vez com o extrativismo — afirma.

80 milhões de Passeriformes em gaiolas

Segundo André Bohrer, estima-se que hoje exis-tam no Brasil cerca de 80 milhões de Passeriformes em gaiolas. A maior parte deles não possui registro no Ibama, que até 2006 registrava 1,8 milhão de Pas-seriformes. Para o pesquisador, uma boa forma de conter o extrativismo de aves silvestres é a divulga-ção de informações claras sobre a legislação.

— Muita gente acha que qualquer pássaro criado em gaiola é ilegal. A mídia precisa esclarecer me-lhor isso. A desinformação favorece a intolerância mútua entre os passarinheiros e os que defendem a conservação ambiental e dificulta qualquer ação conjunta em prol da biodiversidade — diz André, que entrevistou mais de 100 passarinheiros e acompanhou torneios de canto locais, esta-duais e nacionais.

Dono de um canto muitas vezes identificado como um “Bom dia, seu

Chico”, o trinca-ferro foi

escolhido para a pes-quisa por ser um dos poucos pássaros usados em torneios

de canto que ainda pode ser encontrado da natu-reza. O mesmo não ocorre, por exemplo, com o bicudo e o curió, também muito valorizados nos torneios de canto de pássaros, mas que atualmente são raros em vida livre.

— No entanto, nos últimos anos a pressão de captu-ra sobre o Saltator similis vem se intensificando e há a possibilidade de que esta espécie também fique escassa ou rara na natureza — diz o pesquisador.

Na natureza, o trinca-ferro vive em capoeiras, beiras de mata e clareiras, tanto em baixadas quanto em montanhas. Possui hábitos onívoros (consome vários tipos de alimentos, predominando insetos e

frutas), mede cerca de 20 centímetros e apre-senta plumagem

verde oliva na parte superior (exceto a cau-da), garganta branca e uma linha branca so-

bre os olhos.

Page 4: Revista Nossa UENF

Nos bastidores

Quando se fala em uma universidade como a Uenf, geralmente vem à mente a imagem de cientistas voltados para as atividades de pesqui-sa, ensino e extensão. Mas um olhar um pouco mais atento é capaz de perceber que um univer-so com tal complexidade envolve muitos outros atores e que estes não agem apenas como ‘peças’ de uma engrenagem, mas sim de forma criativa e propositiva. É o caso de muitos dentre os 522 servidores técnico-administrativos da Uenf, que além de suas atividades de rotina atuam criando e coordenando programas, atividades e eventos.

Ana Terezinha Queiroz Peixoto, por exemplo, coordena o Setor de Desenvolvimento Humano da Gerência de Recursos Humanos (GRH) da Uenf, onde atua ao lado das servidoras Débo-ra Borges, Rafaela Monteiro e Márcia Saldanha. Dentre as atividades criadas pelo grupo está o Programa Anual de Capacitação — através do qual são oferecidos cursos aos servidores da Uenf — e a Semana do Servidor da Uenf,

que este ano chegou à sua terceira edição.

— Havia uma lacuna no que se refere à inte-gração dos servidores. A Rafaela teve a ideia de fazer a Semana do Ser-vidor, apostamos nela e tivemos todo o apoio da Reitoria. No início foi difícil, mas a cada ano sinto que a participação vem aumentando — conta Ana Terezinha, que também atua como sub-gerente de Recursos Humanos da Uenf e coordenadora do curso de Administração da Escola Técnica Estadual João Barcelos Martins.

Atuando desde 2002 como analista de pla-nejamento em Recursos Humanos na Uenf, ela conta que sua principal dificuldade, no início, foi fazer com que as pessoas acreditassem que era possível transformar um setor que funcio-

nava basicamente como um departamento pessoal no principal elo entre os servidores e a Administração da Universidade, com ên-fase para a qualidade de vida dos servidores.

— Havia muita desmotivação, as pessoas não acreditavam em nada. Foi assim com o Plano de Cargos e Salários e com o Programa Anual de Ca-pacitação, por exemplo, que hoje já são uma rea-lidade — afirma Ana Terezinha, que é formada em Administração, com pós-graduação em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Criada há cinco anos, a Semana do Pro-dutor Rural já se consolidou como uma das principais ações de extensão da Uenf. To-dos os anos, uma média de 350 pessoas — a maioria produtores rurais — participa de uma ampla variedade de minicursos que mobilizam professores, mestrandos e douto-randos do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da Uenf. O que pou-ca gente sabe é que nada disso seria possí-vel sem o trabalho e a dedicação do servidor

Wilson Renato da Costa Freitas, secretário da Coordenação de Extensão do CCTA.

— Os trabalhos começam com muita antecedência, normalmente em fevereiro. Uma vez definidos os cursos, damos início às demais etapas, como divulgação, capta-ção de recursos, patrocínio, elaboração de diversas planilhas de controle, inscrições, compra de insumos e materiais para a exe-cução dos cursos, entre outras coisas — con-ta Wilson, que ingressou na Uenf em 2002.

Grande evento, empenho redobrado

Embora atuem intensamente, certos perfis de servidores nem sempre têm visibilidade à altura de sua contribuição

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Wilson Renato da Costa Freitas

Rafaela,Márcia,Déborae Terezinha

Page 5: Revista Nossa UENF

Coordenadora pedagógica do Polo Regional Arte na Escola-Uenf, a pedagoga Da-nuza da Cunha Rangel considera-se uma privilegiada por trabalhar justamente naqui-lo que gosta. Especialista em Educação e mestre em Cognição e Linguagem pela Uenf, ela atua basicamente na gestão de pessoas, projetos e recursos, visando à qualificação dos profissionais de educação e à melhoria dos processos educacionais na região.

— Tive a sorte de, nestes seis anos na Uenf, ter tido chefias com sensibilida-de bastante para identificar, reconhecer e valorizar as minhas reais potencialida-des, atribuindo a mim tarefas para as quais me sinto apta e vocacionada — afirma Danuza, que também participa das comissões organizadoras dos diversos even-tos realizados pela Pró-Reitoria de Extensão da Uenf, como a Semana de Ciên-cia e Tecnologia e o Workshop de Extensão. Recentemente, ela coordenou o I Congresso Estadual de Patrimônio Cultural e Arte na Escola, realizado na Uenf.

Segundo Danuza, na Proex todos os técnicos são estimulados a partici-par das discussões sobre eventos e projetos, bem como apresentar propostas de ações na área de extensão. Para ela, a maior dificuldade em seu trabalho é a falta de recursos para a implementação e manutenção de alguns projetos.

— Mas, felizmente, nos últimos anos temos tido bastante êxito na submissão de pro-jetos a editais. Com isso, temos conquistado alguns financiamentos importantes — diz.

Quem trabalha com a geógrafa Nilza Portella, técnica de apoio acadêmico da Uenf, sabe que ela é incansável. À frente de diversos projetos da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade — como o “Ci-ência e cidadania em forma de cinema e vídeo”, que permitiu equipar a Sala de Ci-nema do Centro de Convenções da Uenf, bem como a realização de duas mostras no local —, Nilza é uma aguerrida de-

fensora do trabalho dos técnicos. — Acho que especifica-mente os servidores técnico-

administrativos ainda têm muito a conquistar. Não só no que se refere ao seu papel na construção da Universidade pensa-da por Darcy Ribeiro,

para quem “a área administrativa devia cumprir funções específicas e os profes-sores deveriam ficar somente no campo acadêmico”, como também na defesa de espaços políticos de decisão — diz.

Pós-graduada em Ciência Política e mestre em Planejamento e Gerência de Cidades, Nilza nasceu em Cruz Alta (RS), onde atuou por oito anos como secretá-ria municipal de Assistência Social. Veio para Campos em 2001, pelas mãos da então secretária municipal de Assistência Social, Jane Nunes, que a convidou para assessorar a implantação de um projeto voltado para a inclusão de famílias no Pro-grama de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) no Norte Fluminense. No final do mesmo ano, resolveu prestar o concurso para a Uenf, onde passou a atuar em 2002.

Proex incentiva participação de servidores

‘Espaços se conquistam’

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Danuza da Cunha Rangel

Nilza Franco Portela

Page 6: Revista Nossa UENF

Ao ganhar pela segunda vez o Prêmio Destaque do Ano na Iniciação Científica (categoria ‘Mérito Institucional’), a Uenf foi confirmada pelo CNPq, o Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico, como a melhor univer-sidade brasileira na formação de futuros cientistas. É que a Universidade já tinha sido a vencedora na primeira edição do Prêmio, em 2003. Por força de regulamento, só pôde voltar a concorrer em 2009. Resultado: venceu de novo. O Prêmio é um reconhecimento à universidade que tem maior propor-ção de ex-alunos do Programa Institucional de Bolsas de Ini-ciação Científica (Pibic) concluindo mestrado ou doutorado.

O Pibic do CNPq é uma espécie de ‘escolinha’ destinada a despertar vocações para a ciência de norte a sul do país. Entre 62 universidades ou institutos de pesquisa de todo o Brasil que aplicam o programa de Iniciação Científica e participaram da avaliação, a Uenf foi apontada como a instituição que melhor desempenha esta tarefa. O Prêmio, que já tinha vindo para a

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novo!Nas duas vezes em que pôde concorrer, Uenf levou Prêmio do CNPq como a melhor universidade do Brasil na Iniciação Científica

Ganhoude

O troféu relativo ao prêmio do CNPq vem para a Uenf pela segunda vez

Page 7: Revista Nossa UENF

novo!Enquanto recebe o reconhecimento nacional pelo trabalho que

desenvolve na descoberta de futuros cientistas entre estudantes uni-versitários, a Uenf trabalha intensa e silenciosamente na garimpagem de vocações científicas num segmento ainda mais básico: os estudan-tes de escolas públicas de ensino médio. É na Uenf que o progra-ma ‘Jovens Talentos’, da Fundação Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj), encontra um de seus melhores ambientes.

O programa do Cecierj recruta estudantes de escolas estaduais de nível médio interessados em ter uma experiência concreta de vivência em laboratórios de universidades ou institutos de pesquisa. As escolas selecionam os alunos participantes com base no desempenho escolar e no interesse demonstrado por temas científicos, e eles participam de projetos de pesquisa, recebendo bolsas custeadas pela Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro).

Em outubro, uma seleção dos 30 melhores projetos desenvolvidos por alunos de escolas públicas em todo o Estado incluiu 12 que são de-senvolvidos na Uenf. Estes trabalhos foram indicados para participar do Congresso Internacional de Gás e Petróleo, em 17/11/09, no Rio de Janei-ro. Antes disto, de 12 a 14/11, os bolsistas em estágio mais avançado pu-deram expor seus trabalhos na Jornada realizada em Angra dos Reis (RJ).

— Só neste ano de 2009 tivemos o ingresso de 35 ‘jovens ta-lentos’ na Uenf, que se somaram aos outros que já participa-vam. Acho que é justo dizer que a Uenf tem realmente uma consistência na pré-iniciação científica, graças ao empenho dos pro-fessores que colaboram com o programa — avalia o professor João Carlos de Aquino Almeida, que há sete anos coordena o projeto no âmbito da Uenf. O coordenador geral é o professor Jorge Belizário.

Como a Uenf está no interior, sua ativa participação no programa também significa uma contribuição para a interiorização da descoberta de novas vocações. Entre os participantes estão alunos do interior de Campos e redondezas, como Stephanie Braz, que vem várias vezes por semana à Uenf da localidade de Barra do Jacaré, na Baixada Campista.

— Faz tempo que temos destaque no programa Jovens Talentos através dos ingressos de ex-participantes na graduação — comenta João Almeida.

Destaques também na

pré-iniciação científica

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Uenf em sua primeira edição (2003), foi entregue em 19/10 pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, ao reitor da Uenf, Almy Junior. A solenidade se realizou na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

— Não se ganha duas vezes um prêmio nacional como este por acaso. A Uenf foi efetivamente con-cebida por Darcy Ribeiro para formar cientistas, e o CNPq está demonstrando que esta missão está sen-do rigorosamente cumprida ao longo da vitorio-sa trajetória da nossa Universidade – avalia o reitor Almy Junior, empenhado em coordenar a releitura do documento de Darcy na formulação do novo Pla-no de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Uenf.

Implantado há mais de 50 anos, o Programa Ins-titucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) é aplicado em todos os estados brasileiros e abriga mais de 26 mil universitários bolsistas. É uma espécie de menina dos olhos da instituição nas áreas de educa-ção e divulgação da ciência, como disse o presidente do CNPq, Marco Antonio Zago, durante a solenidade de premiação. Aplicado nacionalmente, o programa parece ter encontrado na Uenf as condições ideais para render seus melhores frutos. Afinal, na Uenf as palavras ‘professor’ e ‘pesquisador’ são praticamen-te sinônimas, e todos os estudantes têm oportunida-de de conviver com a atmosfera da pesquisa científi-ca, muito especialmente os que participam do Pibic.

Atualmente a Universidade mantém cerca de 380 alunos diretamente envolvidos em pesquisas e rece-bendo bolsas de Iniciação Científica. São 158 bolsas concedidas pelo CNPq (incluindo 18 na modalidade ‘ações afirmativas’), 140 pela Uenf (com recursos des-centralizados da Faperj) e algo em torno de 80 bolsas obtidas diretamente pelos professores orientadores em diversas agências de fomento. Neste momento, a coordenadora de Iniciação Científica da Uenf, profes-sora Claudia Dolinski, já está trabalhando intensamen-te com sua equipe na próxima edição do Encontro de Iniciação Científica da Uenf, a se realizar em maio de 2010, com a participação do Instituto Federal Fluminen-se (IFF) e da Universidade Federal Fluminense (UFF).

— O novo prêmio do CNPq consolida a Uenf como universidade amadurecida e reflete a atuação dos profes-sores e alunos do programa — opina Claudia Dolinski.

Para a estudante Evelyn de Almeida Campos, uma das premiadas internamente durante o 14.º Encontro de Ini-ciação Científica da Uenf, realizado em junho deste ano, o Pibic lhe permitiu inserir-se num grupo qualificado de pesquisadores e conhecer novas realidades. Ela participa de um grande projeto de pesquisa, envolvendo a Uenf e a UFRJ, voltado para o estudo do mercado informal de solo em favelas de metrópoles do Brasil e da América Latina.

Foto Eliemar Campostrini / Uenf

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Uenf estuda biorremediação de derrames, técnica que pode ajudar a minimizar impactos ambientais provocados pela exploração de petróleo

marinhaProteção

à vida

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Page 9: Revista Nossa UENF

Segundo a pesquisadora, a biorremediação é uma tecnologia viável economicamente, pois os produtos utilizados não são caros e podem ser facilmente encon-trados no mercado. No entanto, quando a área contaminada é de difícil acesso, a aplicação da técni-ca pode se tornar um pouco mais cara. A Petrobras tem interesse em utilizar a biorremediação e fi-nancia pesquisas nesta área. Foi o caso do trabalho experimental fei-to por Eliane durante o seu douto-rado, de 1999 a 2002. Atualmente, a empresa financia pesquisas em

manguezais, em conjunto com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), na Baía de Todos os San-tos, em Salvador (BA).

— Tais pesquisas são conse-quência dos trabalhos desenvolvi-dos durante o meu doutorado, no qual utilizei água do mar — diz.

Segundo Eliane, o clima brasi-leiro favorece a utilização da técni-ca de biorremediação. Isto ocorre porque, nos habitats tropicais, há uma biodiversidade muito maior de organismos — inclusive micro-organismos —, fato que facilita a biodegradação dos diferentes

componentes do petróleo.— O petróleo é uma mistura

complexa de substâncias de di-ferentes características químicas, portanto quanto mais variada a flora microbiana, maiores serão as chances de atingirmos níveis ele-vados de degradação — diz.

Embora não tenha em mãos nenhuma estatística sobre aciden-tes com derramamento de óleo na Bacia de Campos, Eliane afir-ma que ocasionalmente ocorrem acidentes durante as atividades de transbordo do óleo produzido nas plataformas para os navios pe-

troleiros que fazem o escoamento da produção. Este escoamento, segundo ela, representa 80% do total de óleo produzido na Bacia de Campos.

— A biorremediação é a técnica de minimização de impactos des-te porte que menos interfere no ecossistema. Foi usada no Ártico, no acidente com o Exxon Valdez, justamente por causa da vulnera-bilidade do ecossistema em ques-tão, e os resultados foram muito bons. Já foi usada também no Nor-te da Espanha e na Arábia Saudita — afirma.

Técnica é viável para

climas tropicais

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Há 20 anos, o naufrágio do petroleiro Exxon Valdez mostrou ao mundo o quanto a atividade petrolífera pode trazer riscos ao meio ambiente. Após chocar-se com um recife e romper o casco, o petroleiro lançou no litoral do Alasca mais de 40 milhões de li-tros de óleo, matando milhares de animais. Uma técnica usada pela primeira vez após este acidente, com o objetivo de remediar os impactos ambientais, vem sendo alvo de pesquisas do Laboratório de Engenharia de Exploração de Petróleo (Lenep) da Uenf, com re-sultados promissores: a biorreme-diação de derrames de petróleo.

— No Brasil, somos pioneiros no estudo desta técnica em águas marinhas. A biorremediação tem sido aplicada a solos contamina-dos por resíduos de refinarias,

mas pouco tem sido estudado so-bre sua utilização em derrames de petróleo em ambientes marinhos — diz a pesquisadora Eliane Soa-res de Souza, do Setor de Geolo-gia e Geoquímica do Lenep, que está à frente das pesquisas.

A biorremediação consiste em acelerar os processos naturais de biodegradação dos compostos po-luentes, reduzindo sua concentra-ção e toxidade, diminuindo assim a quantidade de óleo que possa atingir a costa. Segundo Eliane, ela pode ser feita através da apli-cação direta de microrganismos (bioaumentação) ou da adição de oxigênio e nutrientes (bioestimu-lação das atividades metabólicas).

— Testamos as duas formas, mas verificamos que a bioesti-mulação, isoladamente, forneceu resultados similares àqueles ob-

servados para a combinação das duas técnicas, ou seja, a aplicação de microorganismos degrada-dores de petróleo, retirados da própria água do mar, e nutrientes — afirma a pesquisadora. Eliane observa que a bioaumentação é uma técnica mais cara do que a bioestimulação.

Eliane aplicou a biorremedia-ção a derrames de óleo simulados em água do mar. Ela usou um óleo produzido na Bacia de Campos e adicionou a ele um fertilizante do tipo NPK (nutriente). A eficiência da técnica foi medida através de monitoramente geoquímico. Os resultados mostraram que a utili-zação deste nutriente contribuiu para a retirada de aproximada-mente 30% dos alcanos, além dos que foram retirados da mancha por evaporação, após quatro dias

de experimento.— A aplicação desta tecnologia

alterou de forma positiva e rápida o aspecto do óleo na superfície da água do mar, com a redução de seu volume e de seu caráter viscoso — afirma.

Segundo Eliane, cada ecossis-tema exige uma maneira apro-priada para a aplicação da técnica de biorremediação, daí a neces-sidade de mais estudos voltados para os habitats brasileiros. Ela observa que a técnica precisa de adaptações quando aplicada, por exemplo, em águas do mar, rios, solo, areias de praia e mangue-zais.

— No caso do mar, ainda pre-cisamos encontrar uma forma me-lhor de manter o nutriente (fer-tilizante) próximo à mancha de óleo, que flutua — explica.

Page 10: Revista Nossa UENF

América do Sul está

mais quente

Em 2007, cientistas do mundo inteiro chegaram a uma conclu-são: o aquecimento global é uma realidade e seus efeitos já estão batendo à nossa porta. Mas como a América do Sul e o Brasil se en-caixam nesta história? Analisando estatisticamente dados coletados em 59 anos (1948-2007), pesqui-sadores da Uenf confirmam que, em quase toda a América do Sul, a temperatura vem aumentando — e com maior intensidade nas duas últimas décadas.

— Os dados indicam que este aquecimento pode não ser um re-flexo da variabilidade natural do clima, mas o resultado das ativida-des humanas — afirma a professora Rosane Chaves, do Laboratório de Meteorologia (Lamet) do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) da Uenf, que coordena a pesquisa.

Entre 1948 e 1975, nos me-ses de dezembro a fevereiro, a temperatura média estava entre 21 e 24ºC sobre a maior parte da América do Sul, enquanto no mes-mo período entre 1976 e 2007, a temperatura média sobre a maior parte do continente ficou acima dos 24ºC. Os resultados mostram uma tendência de aquecimento global de pouco menos de 0,1º C por década para a América do Sul,

aí incluída tanto a parte tropical quanto a subtropical. No entanto, a diferença da temperatura entre a primeira e segunda parte do perío-do mencionado anteriormente foi acima de 0,6ºC em muitas regiões da América do Sul.

— No passado recente, grande parte da América do Sul era mais fria. Como exemplo, po-demos destacar as serras Gaúcha e da Mantiqueira, grande parte da região Nordeste e parte da re-gião Amazônica — diz a professora Rosane, que coordena a pesquisa.

Comparando os períodos de 1976-1991 e 1992-2007, foi obser-vado neste último maior aqueci-mento na região tropical da Amé-rica do Sul. Justamente nestes dois períodos ocorreram os dois maio-res eventos El-Niño já registrados (1982/83 e 1997/98). Segundo Ro-sane, isto sugere que as mudanças climáticas ocorridas no período mais recente, na região tropical, podem não estar associadas a este fenômeno climático.

— O aquecimento pode ser o resultado de outro fenômeno na-tural, como as oscilações interde-cadais do Oceano Pacífico (oscila-ções nos padrões atmosféricos e oceânicos com período de aproxi-madamente 20 anos) e/ou o resul-

tado das atividades antropogênicas (como a emissão de gases do efeito estufa), como também alterações da cobertura da superfície terres-tre. Mesmo sem determinar as causas, o mais importante desta pesquisa foi mostrar que houve um aumento da temperatura em grande parte do Brasil no período de 1948 a 2007 — afirma.

Foram usados dados do Na-tional Centers for Environmental Prediction/National Center for At-mospheric Research (NCEP/NCAR), uma instituição do governo dos Estados Unidos, e do Climate Rese-arch Unit (CRU), do Reino Unido. Também foram utilizados dados de 14 estações meteorológicas do Inmet (Instituto Nacional de Me-teorologia) e uma (São Paulo) do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP).

Intitulada “Impactos das mu-danças climáticas sobre a América do Sul e Atlântico Sul para os diver-sos cenários econômicos e sociais projetados pelo IPCC”, a pesquisa teve ainda a colaboração dos pes-quisadores Jennifer Collins, do De-partamento de Geografia da Uni-versity of South Florida, e Valdo da Silva Marques (Lamet/Uenf ). Ini-ciada em 2007, a pesquisa contou com recursos do CNPq e da Faperj. Os resultados foram divulgados na revista científica Clivar Exchange, do World Climate Research Pro-gramme (2008), e no Journal of Climate (novembro 2009), da So-ciedade Americana de Meteorolo-gia (novembro de 2009).

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Pesquisadores da Uenf confirmam aumento da temperatura em toda a América do Sul; aquecimento pode ser resultado da ação humana

Page 11: Revista Nossa UENF

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Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), não há mais dúvidas de que existe um aquecimento do sistema climático atmosfera-oceano. O perí-odo entre 1995-2006 é considerado o mais quente desde que teve início a medição sistemática da temperatura através de instrumentos. Ainda segundo o relatório, a diferença da mé-dia da temperatura entre os períodos 1850-1999 e 2001-2005 é de 0,76%. A principal conclusão é de que a maior parte do aumento da temperatura global na segunda metade do sécu-lo XX se deve ao aumento das emissões dos gases do efeito estufa, em função das atividades antropogênicas (provocadas pelo ser humano).

Mas, segundo Rosane, em pequena escala ou em escala continental ainda não é simples atribuir as mudanças obser-vadas na temperatura nos últimos anos ao aumento das emis-sões dos gases do efeito estufa antropogênico. Isto ocorre porque em escalas menores o sinal da variabilidade natural do clima — como, por exemplo, do fenômeno El-Niño — é relativamente maior quando comparado com o clima plane-tário. Portanto, torna-se mais difícil saber se as mudanças cli-máticas são um efeito natural ou antropogênico.

— Poucos estudos têm abordado as mudanças climáticas considerando toda a América do Sul com foco na temperatu-ra. Isto se deve principalmente à pouca disponibilidade de séries temporais de dados de temperatura com períodos pro-longados de medição, além da espaçada distribuição espacial destes dados ao longo do continente sul-americano — afirma Rosane.

Em 2007, em seu quarto relatório, o IPCC considerou que o entendimento acerca de como o clima está mudando ao longo do tempo e espacialmente tem melhorado substancial-mente, o que se deve ao aumento e maior confiabilidade das fontes de dados meteorológicos. No entanto, segundo Rosa-ne, a disponibilidade de dados de estação permanece limita-da em algumas regiões do mundo, como é o caso do Brasil.

Rosane observa que o ano de 2008 foi o ano mais frio desde 2000, em termos globais. Mesmo assim, a temperatura média global de 2008 foi a nona mais quente desde que co-meçaram as medições de temperatura sistematicamente por meio de instrumentos, em 1880.

Maior na última década

aquecimento

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I Simpósio Nacional de Jornalismo Científico será realizado em 25 e 26/11, reunindo na Uenf estudiosos e profissionais da área

Quem vê hoje a Uenf empenhada em uma série de ações voltadas para a divulgação científica talvez não saiba que, em certo momento situado sete anos atrás, a Assessoria de Comunicação da Universidade (Ascom/Uenf ) não dispunha sequer de uma sala. Naquele final de ju-lho de 2002, a primeira reunião de trabalho dos dois jornalistas que hoje atuam no setor foi realizada em um banco no hall da Reitoria. Nada que pudesse arrefecer, no entanto, o gás da diminuta equipe que então começava a se formar. Ali mesmo, sob os olhares dos passantes, eles começaram a traçar as primeiras estratégias do que acreditavam ser uma tarefa urgente para a Universidade: abolir definitivamente a imagem distorcida e estereotipada — de seres ‘exóticos’, distantes, indiferentes — que pairava sobre seus pesquisadores.

De lá para cá, muita coisa mudou. Com dez servidores, oito estagi-ários e um bolsista, a Ascom/Uenf — que hoje engloba também as áre-as de Editoração Eletrônica e Cerimonial, dando os primeiros passos no sentido de vir a funcionar como uma agência de comunicação — se prepara para dar um salto significativo no conjunto de ações articu-ladas visando a tornar a divulgação científica uma área reconhecida e valorizada dentro da Universidade. Nos dias 25 e 26/11, será realizado no Centro de Convenções da Uenf, em Campos, o I Simpósio Nacio-nal de Jornalismo Científico, cujo tema central será “Mídia e ciência no mundo contemporâneo”. O evento tem o apoio da Fundação Car-los Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC).

Primeiro evento do gênero realizado em Campos, o Simpósio aborda questões que dizem respeito não só aos que divulgam a ciên-cia, como também àqueles que a produzem. É o caso, por exemplo, da palestra “Percepção pública da ciência: responsabilidades da mídia e do jornalista”, que será proferida pelo jornalista Ulisses Capozzoli, editor da revista Scientific American Brasil, abrindo o simpósio no dia 25, às 15h. Mestre e doutor em Ciências, Capozzoli é autor de

A ciênciamídiana

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diversos livros de divulgação científica, como “No reino dos astrônomos cegos”, “Origem e história da vida” e “Antártida: a última terra”.

Mas a programação previu o início dos trabalhos já para a semana anterior, com a realização do ‘Pré-Simpósio’, no dia 19/11, às 16h, no Centro de Convenções. O convidado para esta espécie de aperitivo foi o jornalista Marcelo Canellas, repórter especial da Rede Globo, com uma palestra sobre “O papel do jornalista na comunicação da ciência”. Ca-nellas, que pode ser visto regularmente no Jornal Nacional e no Fantástico, é um dos re-pórteres mais premiados do Jornalismo bra-sileiro.

Questões que estão no centro das discus-sões sobre a boa prática do jornalismo cientí-fico também serão abordadas durante o Sim-pósio. Uma delas é a ideia de que o jornalista científico não é um mero “tradutor” do dis-curso científico. O assunto está na pauta da mesa-redonda “Por um jornalismo científico mais crítico”, dia 25/11, às 16h, reunindo a jornalista Cilene Victor da Silva (presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Cientí-fico) e os jornalistas Adelfran Lacerda (ex-as-sessor de Comunicação do então Complexo Universitário da Uenf ) e Ricardo André Vas-concelos (editor do blog “Eu penso que...”, de Campos). O mediador é o jornalista Marti-nho Santafé (Revista Visão Social).

O Simpósio também lança luz sobre a res-ponsabilidade das instituições de pesquisa e dos cientistas na construção da imagem da ci-ência. Este é o tema da mesa-redonda “Cien-tista e divulgação: o papel das universidades e instituições de pesquisa”, no dia 25, às 18h30. Entre os debatedores estão os jorna-listas Cláudio Márcio Magalhães (presidente da Associação Brasileira de TVs Universitá-rias) e Maurício Yared (Editor do Programa Globo Universidade). A mediação é da jorna-lista Fúlvia D’Alessandri (Ascom/Uenf ).

Na mesa-redonda “Apoio à Divulgação Científica”, dia 26/11, às 14h, representantes das três principais agências de fomento à pes-quisa abordam a questão do ponto de vista do financiamento público às iniciativas nesta área. Participam da mesa o chefe de Gabine-te da Presidência da Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro), Roberto Dória; a diretora

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Nanorobôs viajam por um vaso sanguíneo.Ficção científica tornada realidade recentemente.

de Redação da Revista Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), jornalista Mariluce Moura; e a assessora de Comunicação da Fapemig (Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado de Minas Gerais), jornalista Vanessa Oliveira Fagundes. O mo-derador é o jornalista Gustavo Smiderle (As-com/Uenf ).

Um assunto que tomou grandes propor-ções na mídia, gerando inclusive críticas ou desconfianças de alguns setores — a gripe su-ína — também tem foco no Simpósio. Para falar sobre o tema “A cobertura jornalística da gripe suína no Brasil — Uma abordagem a partir da História da Ciência”, a Uenf convi-dou o pesquisador Luiz Antônio da Silva Tei-xeira, da Fiocruz. A palestra está programada para o dia 26/11, às 16h.

Fechando o Simpósio, em 26/11, uma Roda de Ciência, a partir das 18h30, sobre o tema “A compreensão pública da ciência no

século XXI”. Os debatedores são o jornalista Maurício Tuffani (assessor de Comunicação da Unesp e editor do Blog Laudas Críticas), a jornalista e professora Maria das Graças Conde Caldas (Unesp) e o professor Walter Ruggeri Waldman (Laboratório de Ciências Químicas do Centro de Ciência e Tecnologia da Uenf ). O mediador é o jornalista Aluysio Abreu (diretor de redação do jornal Folha da Manhã).

O currículo dos debatedores e outras in-formações sobre o evento podem ser encon-tradas no site www.uenf.br/simposio.

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O I Simpósio Nacional de Jornalismo Científico é um desdobra-mento previsível de uma série de ações que vêm sendo desenvolvidas pela Ascom/Uenf em prol da divulgação científica em Campos e região. O embrião desta trajetória é o “Informativo da Uenf ”, que teve início praticamente junto com a criação da Ascom, em meados da década de 1990. Distribuído para toda a imprensa local e eventualmente nacional, o Informativo é até hoje um dos principais canais de divulgação das pesquisas realizadas na Universidade.

Em 2002, quando a Uenf passou a ter dois jornalistas em seu quadro permanente, houve condições de ampliar esta divulgação. Passou-se, então, a oferecer material mais farto sobre as pesquisas da Uenf, com o objetivo de oferecer aos editores o maior número possível de boas matérias, aumentando assim as chances de que elas fossem publicadas.

O trabalho deu resultado e, logo no ano seguinte, a Uenf foi convida-da a assinar uma coluna de divulgação científica semanal no jornal Moni-tor Campista, pioneiro na abertura de amplos espaços para a cobertura de ciência na região. Nascia então o “Descomplicando a Ciência” — um quarto de página todos os domingos, no segundo caderno do jornal, trazendo matérias científicas produzidas pela Ascom/Uenf, tendo como fonte sempre um(a) pesquisador(a) da instituição. A coluna existiu até 2006, quando o jornal, após passar por uma reformulação, passou a publicar uma página de ciência todas as quartas-feiras. A produção de matérias continuou a cargo da Uenf até novembro de 2009, quando o jornal anunciou a possibilidade de ter que encerrar atividades, após 175 anos de existência.

— O que me motivou a fazer o convite foi perceber, nos releases que nos chegavam, a seriedade com que a Assessoria de Comunicação da Uenf tratava os temas científicos. Por outro lado, acreditava que era preciso fazer chegar até a população local o importante trabalho de pes-quisa realizado pela Uenf. O resultado foi o melhor possível, pois, além da informação em si, o público foi agraciado com um material de fácil compreensão — conta o editor do Monitor Campista, Cilênio Tavares.

Em 2005, a Uenf foi convidada por outro jornal local, a Folha da Manhã, a discutir a criação de mais um espaço de divulgação científica: a página “Terceiro Milênio”. Publicada no segundo caderno do jornal to-das as quartas-feiras, a página é um espaço aberto a todas as instituições de ensino superior de Campos. Para a Uenf, o “Terceiro Milênio” tam-bém se tornou um espaço periódico de divulgação de suas pesquisas.

Paralelamente, a Ascom buscava fortalecer a divulgação científica dentro da própria Universidade. Em 2004, surgiu a ideia — um tanto romântica, no melhor sentido do termo — de criar o “Clube de Divul-gação Científica”, formado por pesquisadores simpáticos à causa. O pri-meiro encontro, em 29/04/04, reuniu alguns dos que já colaboravam

Divulgação

comometacientífica

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Refletindo O que até então era apenas o desejo de popu-

larizar o conhecimento científico transformou-se em objeto de pesquisa a partir de março de 2005, quando a jornalista Fúlvia D’Alessandri ingressou no Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da Uenf. Os estudos realizados durante o mestrado fizeram com que a prática passasse a ser acompa-nhada por uma reflexão mais profunda sobre os objetivos da divulgação científica — algo que produ-ziria reflexos em todo o trabalho desenvolvido pela Ascom.

— Hoje nós nos preocupamos não só com a di-vulgação em si, mas também com a forma como ela é feita — diz Fúlvia, cuja dissertação de mestrado, in-titulada “Ciência e Sociedade: Uma análise da com-preensão pública da ciência entre leitores de jornal e jornalistas de Campos dos Goytacazes (RJ)”, teve a orientação da professora Simonne Teixeira, do La-boratório de Estudos do Espaço Antrópico (Leea), e foi defendida em 26/02/08.

Segundo a jornalista, o estudo sistemático sobre o assunto serviu para ampliar a sua própria con-cepção sobre a ciência e o jornalismo científico. Ela reconhece que — embora sempre tenha sido uma ávida leitora de textos de divulgação científica — sua visão de ciência, até o início do mestrado, era basi-

camente a de senso comum. A divulgação refletia esta ideia, pendendo ora para um certo “endeusa-mento” da ciência, ora para a “espetacularização” de seus resultados.

— Grande parte dos veículos voltados para a divulgação científica trata a ciência como um es-petáculo, o que implica a ausência de informações que suscitem o espírito crítico — afirma Fúlvia, que em sua pesquisa pôde constatar que os leitores de jornal de Campos, da mesma forma que ocorre em outros locais, veem a ciência de forma bastante ide-alizada.

Ela observa que jornalismo científico é, acima de tudo, jornalismo, e que, por este motivo, não pode perder de vista os preceitos jornalísticos. Entre ou-tras coisas, é necessário contextualizar, confrontar fontes, levantar os riscos e incertezas, mostrar os limites. Segundo Fúlvia, é preciso ainda mostrar que a ciência não caminha sozinha, mas obedece a estratégias políticas ou econômicas. Outra coisa que não pode ser esquecida, acrescenta, é o fato de que a ciência é feita por seres humanos e que, por isso mesmo, não está imune a tudo aquilo que os afeta.

— A ciência influencia diretamente o nosso co-tidiano. Não é mais possível que a maior parte da população continue alheia a tudo isso — diz.

com assiduidade para a seção “Descomplicando a Ciência”, além de outros interessados. O objetivo era a prática de ações que pudessem despertar e fortalecer a cultura científica local, como espaços na mídia, encontros com a comunidade, cursos, debates e seminários.

Formalmente, o Clube — que obteve a adesão inicial de 15 pesquisadores — não vingou, mas uma boa parte de suas ideias, sim. A Roda de Ci-ência, debate informal reunindo pesquisadores e comunidade, é uma delas. O Simpósio de Jornalis-mo Científico, que será realizado em 25 e 26/11, é outra ideia que começou a tomar corpo nesta épo-ca. O objetivo era criar o máximo de eventos que

pudessem contribuir para fomentar o jornalismo científico na região.

Também pode ser considerada como desdo-bramento do Clube de Divulgação Científica a série de ações empreendidas pelos jornalistas da Ascom com o intuito de mostrar a importância de divulgar a ciência. Dentre estas, pode-se citar a palestra “Jornalismo Científico”, ministrada em 02/06/08, durante a 5ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes, e o minicurso “Desafios do Jorna-lismo Científico: a prática e a crítica”, em 02/06/09, por ocasião do Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica.

divulgaçãosobre a

Fúlvia D’Alessandri

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Quase todo o reconheci-mento obtido pela Uenf em seus primeiros 16 anos de exis-tência — Prêmios na Iniciação Científica e na Extensão, des-taques nas avaliações oficiais e tantos outros indicadores — foi, de algum modo, fruto de seu Plano Orientador, elabo-rado na década de 1990 e as-sinado por Darcy Ribeiro. Em linhas gerais, as diretrizes pro-postas por Darcy podem ser re-sumidas no papel fundamental da produção de conhecimento, que perpassa não apenas a pes-quisa, mas também o ensino, a extensão e toda a energia cria-tiva do ambiente universitário.

Este documento é o que hoje se chama ‘Plano de Desenvolvi-mento Institucional’ (PDI), e neste momento a comunidade universitária está empenhada na releitura e atualização de seu PDI. O processo começou formalmente em setembro des-te ano e vai prosseguir pelos próximos meses, envolvendo uma discussão compartilhada pelos três segmentos da co-munidade universitária: corpo docente, estudantes e técni-

cos-administrativos. O objeti-vo é traçar as diretrizes norte-adoras da vida da Uenf para os próximos dez a 15 anos.

— É fundamental continuar-mos navegando com base em diretrizes sólidas, como fize-mos até aqui. Nossa expecta-tiva é que em maio ou junho de 2010 já tenhamos uma com-pilação de encaminhamentos a serem apreciados e aprovados pelo Conselho Universitário — avalia o reitor Almy Junior.

Os primeiros atos da discus-são do PDI foram as reuniões do reitor, do vice-reitor e seus auxiliares diretos ( pró-reitores, diretores, chefe de Gabinete e secretário-Geral) com os Con-selhos de Centro. Os quatro Centros da Uenf — CBB, CCH, CCT e CCTA — participaram destes encontros, que serviram como pontapé inicial para o levantamento de ques-tões e futuro encaminha-mento de propostas. As reuniões fo-ram realizadas no Gabinete da Reitoria.

Como em toda discus-são, é comum surgirem

Quase todo o reconhecimento obtido pela Uenf em seus primei-ros 16 anos de existência — Prê-mios na Iniciação Científica e na Extensão, destaques nas avaliações oficiais e tantos outros indicado-res — foi, de algum modo, fruto de seu Plano Orientador, elaborado na década de 1990 e assinado por Darcy Ribeiro. Em linhas gerais, as diretrizes propostas por Darcy po-dem ser resumidas no papel fun-damental da produção de conhe-cimento, que perpassa não apenas a pesquisa, mas também o ensino, a extensão e toda a energia cria-tiva do ambiente universitário.

Este documento é o que hoje se chama ‘Plano de Desenvolvimento Institucional’ (PDI), e neste mo-mento a comunidade universitá-ria está empenhada na releitura e atualização de seu PDI. O proces-so começou formalmente em se-tembro deste ano e vai prosseguir pelos próximos meses, envolven-do uma discussão compartilhada pelos três segmentos da comuni-dade universitária: corpo docente, estudantes e técnicos-administra-tivos. O objetivo é traçar as dire-trizes norteadoras da vida da Uenf

para os próximos dez a 15 anos. — É fundamental continuar-

mos navegando com base em di-retrizes sólidas, como fizemos até aqui. Nossa expectativa é que em maio ou junho de 2010 já tenha-mos uma compilação de encami-nhamentos a serem apreciados e aprovados pelo Conselho Universi-tário — avalia o reitor Almy Junior.

Os primeiros atos da discussão do PDI foram as reuniões do rei-tor, do vice-reitor e seus auxiliares diretos (pró-reitores, diretores, chefe de Gabinete e secretário-Ge-ral) com os Conselhos de Centro, realizadas em setembro. Os quatro Centros da Uenf participaram des-tes encontros, que serviram como pontapé inicial para o levanta-mento de questões e futuro enca-minhamento de propostas. Em 13 de novembro, a Reitoria teve ou-tra reunião muito produtiva com um grupo de professores que in-cluiu muitos dos mais expe-rimentados da Universidade.

Como em toda discus-são, é comum sur-girem problemas pontuais e que de-mandem solução a curto

Três letras para nortear o futuroComunidade universitária mergulha na atualização do PDI, fazendo a releitura para os próximos 15 anos da base deixada por Darcy Ribeiro

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Reunião com CCH

Reunião com CBB

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prazo. Mas a filosofia do Plano de Desenvolvimento Institucional envolve a definição de diretrizes de longo prazo. Por exemplo, como e para onde a Universida-

Três letras para nortear o futuroComunidade universitária mergulha na atualização do PDI, fazendo a releitura para os próximos 15 anos da base deixada por Darcy Ribeiro

Parte das diretrizes que podem ser incorporadas ao novo PDI da Uenf já existe como fruto da pri-meira fase do Fórum de Gradu-ação da Uenf. Ao longo de cerca de um ano, 176 representantes da comunidade universitária debate-ram os rumos da graduação com base em três grandes áreas temáti-cas: ‘Ingresso à Universidade, Ava-liação, Regulação e Supervisão da

Graduação’ (Câmara Temá-tica I), ‘Formação curricular (Câmara Temática II)’ e ‘Ex-

pansão da Graduação na Uenf ’ (Câmara III). A reunião plenária que

encerrou a etapa inicial dos

de pretende se expandir? Que áreas deverão merecer a criação de novos cursos? Que caminhos adotar para manter a institui-ção entre as melhores do país?

Fórum participativo já

tem acervo de propostastrabalhos ocorreu em 27/10/09.

Aberto em 03/10/08, o Fórum criou mecanismos de acompa-nhamento e participação abertos a toda a comunidade universitá-ria. O sítio interativo criado para facilitar a participação (www.forumgraduacaouenf.org) teve duas mil pessoas inscritas. Ao longo do período, cerca de 2.680 acessos foram efetuados. O ma-terial produzido ao longo dos trabalhos está sendo reunido para ser apreciado nas instâncias decisórias da Uenf — a começar pela Câmara de Graduação, à qual o Fórum está vinculado — e disponibilizado para o público.

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Grupo de pesquisadores participa da discussão sobre os rumos da Uenf

Reunião com CCTA

Reunião com CCT

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ENTREVISTA / Cilene Victor da Silva

‘Jornalismo requer senso crítico’A soma de forças entre cientistas e jornalistas com o objetivo de me-

lhorar a divulgação da ciência não é só possível, como urgente, afirma a presidente da ABJC (Associação Brasileira de Jornalismo Científico), Cilene Victor da Silva. Nesta entrevista, feita às vésperas do I Simpósio Nacional de Jornalismo Científico — no qual será uma das palestrantes —, Cilene afirma que, quanto mais os jornalistas conhecerem o univer-

so científico, mais a cobertura da ciência crescerá em termos de quan-tidade e qualidade. Na sua opinião, muitos jornalistas desconhecem o “elementar” em ciência — forma de produção, desenvolvimento e fomento. O resultado é um jornalismo “deslumbrado”, sustentado “no que há de mais esquisito e extraordinário no mundo da ciência” — algo capaz de “amputar o olhar crítico do jornalista”. Confira a entrevista:

Nossa Uenf: A percepção pública da ciência depende fortemente do tipo de abordagem ado-tado pela mídia em matérias científicas. A seu ver, qual seria a imagem da ciência na concepção do brasileiro ‘comum’ ou ‘médio’?

Cilene: Assim como a percepção pública da ciência está atrelada ao tipo de abordagem, a ima-gem da ciência construída pelo público depende do veículo que ele acompanha. Quanto menor o nível de letramento científico do público, maior o esforço dos jornalistas para fazer a recodificação (tradução) e aproximar o fato da realidade da au-diência. O brasileiro comum, raras exceções, tem acesso às informações sobre ciência por meio de veículos não especializados, aqueles que cobrem ciência apenas factualmente. A seleção de pautas, no jornalismo como um todo, está associada a cri-térios de noticiabilidade, alguns deles explícitos, como o valor da notícia como mercadoria. Esse critério de noticiabilidade, mais forte nos veículos não especializados, contribui para uma cobertura científica sustentada no sensacional, nas grandes descobertas científicas, no que há de mais esqui-sito e extraordinário no mundo da ciência. Assim,

não acredito que o brasileiro tenha uma única imagem da ciência — fato que torna ainda mais árduos os esforços para a promoção da cultura científica no país. Prefiro arriscar e dizer que são várias imagens, dependendo do contexto, do grau de envolvimento e interesse do público.

Nossa Uenf: A senhora poderia explicar me-lhor esta idéia de “várias imagens” da ciência?

Cilene: Sim, vejamos um exemplo. No período que precedeu a aprovação da Lei de Biosseguran-ça (Lei 11.105/05), os veículos não especializados fizeram uma cobertura extremamente desastrosa. O momento era propício para aproximar o brasi-leiro das questões científicas e isso foi feito, porém, com irresponsabilidade e amadorismo. Muitas matérias confundiram pesquisa com tratamento e passaram a falsa ideia de que bastava aprovar a Lei para se produzir uma vacina para curar doenças degenerativas, por exemplo. Reportagens apela-ram e exploraram a dor e a angústia de muitas pessoas e construíram a imagem da ciência pode-rosa, que está a serviço da humanidade e dispõe de resposta imediata. O brasileiro foi bombarde-ado por matérias sérias e sensacionalistas e essas últimas ajudaram, certamente, a manter os mitos da ciência. Do outro lado, na mesma Lei, estava outra questão delicada, a dos OGMs (organismos geneticamente modificados), que não foi devida e corretamente coberta. Se o fosse, derrubaria a imagem da ciência do bem, isenta, comprometida com os interesses da humanidade e não com os dos pequenos grupos.

Nossa Uenf: Os espaços dedicados à ciência, na imprensa brasileira, ainda são muito pou-

cos se comparados às outras áreas, embora pesquisas demonstrem que o brasileiro se

interessa por ciência. Por que a senhora acha que este problema ainda persiste mesmo nos grandes veículos?

Cilene: O jornalismo brasileiro, de um modo geral, precisa melhorar e isso passa pela formação do profissional de

imprensa. Tenho certeza de que muitos jornalistas que não são da área de ciência desconhecem o elementar. Instituições como Capes, CNPq e Fa-pesp são desconhecidas de muitos profissionais. A maioria deles desconhece os processos mais sim-ples da ciência, a forma de produção, desenvolvi-mento e fomento. Posso estar errada, o que gos-taria, mas a imprensa não cobrirá a ciência, como deveria, em termos de quantidade e qualidade, se aqueles que fazem o jornalismo não conhecerem esse universo. Precisamos unir esforços de todos os lados para informar, formar e preparar o jor-nalista brasileiro para a cobertura de ciência, que está no dia-a-dia de todos os cidadãos.

“Estar de costas para os jornalistas é estar de costas

para a sociedade”

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Nossa Uenf: Outra questão é a preferência, na imprensa brasileira, por matérias sobre a ciência estrangeira, embora hoje o Brasil tenha uma vas-ta produção científica. Por que isso acontece? E como a questão poderia ser enfrentada?

Cilene: Não acredito tratar-se de preferência por ciência estrangeira, mas sim desconhecimen-to do jornalista, além, claro, da prática barata, em todos os sentidos, das traduções de matérias publicadas em periódicos estrangeiros. Com a eterna justificativa de crise financeira que aco-meteu os meios jornalísticos (discurso da gran-de imprensa), as redações ficaram mais enxutas, logo, há muito trabalho para poucos jornalistas. Assim, os que trabalham na área de ciência tra-duzem e cozinham o que saiu em publicações estrangeiras. Para fazer uma pauta de ciência com foco na produção brasileira, recomenda-se que o repórter saia da redação, o que raramente acon-tece hoje em tempos de Internet e Google. Faz-se uma entrevista por e-mail com um cientista que

Cilene Víctor da Silva

Foto:

ABJC

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está na mesma cidade do veículo para o qual o jornalista trabalha. Esse recurso tem empobreci-do o jornalismo como um todo e o científico em especial. Difícil um jornalista sair de uma redação em São Paulo e ir a um instituto de pesquisa, por exemplo, para saber o que se está produzindo lá. Para reverter esse quadro, as assessorias de comu-nicação de institutos de pesquisa e universidades precisam rever as suas técnicas de abordagem. É necessário saber atrair o jornalista e isso não se faz com envio de releases que, muitas vezes, são deletados antes de lidos. Acredito que convidar jornalistas para conhecer os institutos, os centros de pesquisas, laboratórios seria uma possibilidade para reverter a situação. As instituições de pesqui-sa precisam investir e profissionalizar suas áreas de marketing e comunicação.

Nossa Uenf: Em termos qualitativos, como a senhora avalia o jornalismo científico praticado hoje no Brasil? O que ainda falta melhorar?

Cilene: É um jornalismo ainda deslumbrado com a ciência e, sobretudo, com o cientista. Te-mos de respeitar e apoiar a comunidade cientí-fica, mas respeito é diferente de endeusamento que, por sua vez, tende a amputar o olhar crítico do jornalista. Precisamos melhorar a qualidade da cobertura e isso contempla, em minha opinião, um distanciamento da velha prática do jornalis-mo declaratório, o das aspas. Há discursos hege-mônicos no jornalismo científico em decorrência do uso de fontes viciadas. São sempre os mesmos cientistas falando sobre aquele dado assunto. Como se a nossa comunidade científica fosse for-mada por 30 cientistas. Precisamos conhecer os limites da ciência e dos cientistas e isso evitaria o deslumbre e as conclusões, como se a ciência tivesse sempre uma resposta exata para cada pro-blema. O que fizemos com as controvérsias cien-tíficas? Por que as matérias têm sido construídas a partir de uma única tese, uma única verdade? Jornalismo se faz com apuração, ceticismo, senso crítico e responsabilidade. Na cobertura de ciên-cia, isso está se perdendo, apesar de ainda termos bons exemplos.

Nossa Uenf: Na sua opinião, qual é o papel dos cientistas na divulgação da ciência? Seria pos-sível, em algum grau, uma soma de forças entre jornalistas e cientistas para melhorar a qualidade do jornalismo científico praticado no Brasil?

Cilene: O cientista tem um papel fundamental na divulgação científica, seja como divulgador di-reto da ciência ou como fonte dos jornalistas. Não

só é possível como urgente a soma de forças entre cientistas e jornalistas. Quanto mais próximos da imprensa, mais condições os cientistas têm para reduzir os erros, os equívocos e exageros come-tidos, principalmente no jornalismo diário. Não adianta a troca de acusações, isso tem de ser coisa do passado. Há cientistas que ainda desdenham os jornalistas, que acham que nunca estamos pre-parados para escrever sobre ciência. Esses cientis-tas não merecem o nosso respeito. Estar de costas para os jornalistas é estar de costas para a socie-dade. Por outro lado, se o cientista se depara com um jornalista despreparado que, visivelmente, não consultou nem o Google para saber o nome correto de sua fonte, cabe ao cientista a segurança para negar a entrevista, uma vez que estará mais suscetível a erros. Estamos em um bom momento porque vários eventos no Brasil têm tentado apro-ximar cientistas de jornalistas e os resultados são sempre positivos.

científico no Brasil e eles podem guiar o futuro da área. Quanto mais bem preparado, mais con-dições tem o jornalista para assumir uma posição crítica e apurar melhor os fatos.

Nossa Uenf: Em outubro, a ABJC realizou o X Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico, em Belo Horizonte. Como está o nível dos estu-dos acadêmicos nesta área e no que eles podem ajudar a prática jornalístico-científica?

Cilene: Tanto no X quanto no IX Congresso da ABJC, percebemos o aumento do interesse de profissionais e acadêmicos pela área de jornalis-mo científico. Nos cursos de jornalismo, pode-mos dizer que não só aumentou a quantidade de estudos sobre a área como também melhorou a qualidade deles. As pesquisas estão mais madu-ras, mais críticas e com sustentação histórica, teó-rica e conceitual. Precisamos, porém, criar meca-nismos para não repetirmos esses estudos, o que demanda esforços para a criação de um banco de teses, dissertações, monografias e artigos sobre a área. Um acervo assim poderia dar uma contribui-ção imensurável ao trabalho daqueles que estão nas redações, nas assessorias de comunicação e na academia. Imaginemos como isso também poderia melhorar a relação entre os cientistas e jornalistas.

Nossa Uenf: A senhora assumiu a presidência da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC) em abril de 2009. Quais são as metas mais importantes para o seu período de gestão? Existe alguma intenção de interiorizar as representações da Associação?

Cilene: A diretoria da ABJC para o biênio 2009-2011 é basicamente uma continuidade do que iniciamos em 2007, na gestão do Wilson Bueno, quando foi iniciada uma aproximação com a Fa-pesp. Neste ano, fechamos com a Fapemig a par-ceria que possibilitou a realização do X Congresso e o lançamento do livro “Jornalismo Científico e Desenvolvimento Sustentável”. Pretendemos con-tinuar o diálogo e a aproximação com as FAPs e estamos conseguindo isso por meio do Confap (Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa), sob a direção do professor Mário Neto. Já estamos em comunicação com algumas FAPs para a realização do encontro regional em 2010. Estamos avançando para realizar mais de um re-gional no próximo ano, já temos a sinalização de duas FAPs. Nosso maior propósito é exatamente descentralizar a ABJC, possibilitando com isso a criação dos escritórios nas cinco regiões do país.

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Nossa Uenf: A ideia de que o jornalista deve atuar meramente como “tradutor” do discurso científico para o público leigo vem sendo vee-mentemente contestada por estudiosos do assun-to. Mas como dotar o jornalista da capacidade de posicionar-se criticamente diante do fato científi-co, estando inclusive apto a questionar o cientista quando necessário?

Cilene: Muitos jornalistas fazem apenas a tra-dução do discurso científico porque não enten-dem muito bem sobre o assunto e preferem não arriscar. Por um lado, é uma atitude positiva por-que reconhecem os riscos de uma interpretação equivocada, por outro, a matéria não vai além do que diz a fonte. Precisamos defender aqui o traba-lho dos colegas que têm estudado e se preparado para cada pauta na área de ciência e, mais, são hu-mildes. Não sei o que é pior, a reportagem escrita pelo jornalista que sabe das suas limitações e fica preso à fala da fonte ou aquelas produzidas pelo jornalista-cientista, o que acha que sabe tudo. Para interpretar e posicionar-se criticamente diante da ciência, o jornalista precisa estar muito bem pre-parado, porém muitos têm exagerado e exercido o papel de fonte, de dono da informação, mui-tas vezes até beiram a opinião. Mas não temos só problemas, temos bons exemplos de jornalismo

“Respeitar a ciência não significa endeusá-la”.

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