nossa-uenf-ano1-n2-maio de 2008

16
UENF nossa Superando desafios Vida de cientista Revista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Ano 1 - Nº 2 - Maio de 2008 Alunos garantem que, com esforço e determinação, não é preciso ser gênio para estudar na Uenf A imagem idealizada dos cientistas esconde profissionais que, no dia- a-dia, têm que lidar com problemas e situações comuns a todas as pessoas Aluno da Uenf ganha primeiro lugar em concurso de fotografia Em defesa das aves Renato DaMatta, pesquisador

Upload: carlos-smiderle

Post on 25-Mar-2016

221 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Nossa Uenf- Ano1, numero2- Maio de 2008

TRANSCRIPT

UENFno

ssa

Superando desafios

Vida de cientista

Revista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Ano 1 - Nº 2 - Maio de 2008

Alunos garantem que, com esforço e determinação, não é preciso ser gênio para estudar na Uenf

A imagem idealizada dos cientistas esconde profissionais que, no dia-a-dia, têm que lidar com problemas e situações comuns a todas as pessoas

Aluno da Uenf ganha primeiro lugar em concurso de fotografia

Em defesa das aves

Renato DaMatta, pesquisador

Dá para acreditar?

Jornalistas Responsáveis Projeto Gráfico

Estagiários:

Fúlvia D’Alessandri e Gustavo Smiderle Felipe Moussallem

Felipe Oliveira, Nériton Toledo, Thaís Bereta, Whytney Magalhães

Exped

iente

Prezado leitor, estimada leitora, se a ela-boração desta segunda edição trouxe algum aprendizado à equipe da NOSSA UENF, ele foi o seguinte: não se faz um texto convin-cente sem acreditar no que se escreve. Veja só que interessante: pautamos uma matéria com o claro objetivo de mostrar que a Uenf é uma universidade de qualidade, mas não inacessível. Paira entre parte da população estudantil da região o mito de que estudar na Uenf é coisa para poucos — talvez para os superdotados ou para aqueles que só vivem para estudar. Pois bem: para prepa-rar esta matéria e desmantelar esse mito, o primeiro obstáculo que tivemos que su-perar foi a desconfiança de nossas próprias estagiárias. Também elas, recém-chegadas ao ambiente da Assessoria de Comunicação da Uenf, traziam cristalizada essa represen-tação da Uenf como universidade inalcan-çável para o comum dos mortais. Mas isto é um mito, e temos certeza de que você vai se convencer disto depois de ler nossa ma-téria de capa.

Outro exemplo: você já deve saber que Campos inaugurou em maio sua Incuba-dora de Base Tecnológica, a TEC Campos. Quem está metido nessa empreitada garan-te: a incubação (uma espécie de berçário de futuras empresas) é o melhor caminho para se começar a transformar conheci-mento acadêmico em desenvolvimento tecnológico local ou regional. Só que pro-fissional de comunicação é um bicho des-confiado. Ele já ouviu falar de muitas coisas que foram apresentadas como a “salvação da lavoura” ou a “redenção da região”, mas também sabe que o desenvolvimento ver-dadeiro não é coisa simples de se fazer. En-tão, fomos em busca de outras experiências nessa área pelo Brasil afora. Se você acha que as universidades poderiam ser ainda mais úteis do que têm sido para o desen-volvimento regional, dê uma olhada nessa matéria e tire suas próprias conclusões.

No mais, passeie pela NOSSA UENF como quem se sente em casa, pois a uni-versidade pública também lhe pertence. Tem muito mais matéria interessante. Boa leitura!

03

06

04

07

14

11

16

08

10

Nesta EdiçãoFlagrante inédito na ciênciaPesquisadora da Uenf filma momento exato em que verme penetra em carrapato; processo pode ajudar no controle biológico do animal

Vida de cientistaA imagem idealizada dos cientistas esconde profissionais que, no dia-a-dia, têm que lidar com problemas e situações comuns a todas as pessoas

Ciência para o futuro do planetaMedir a ‘sede’ da planta pode gerar novos conhecimentos sobre seqüestro de carbono e efeito estufa; pesquisas envolvem cooperação entre Uenf e EUA

Cupim: um problema urbanoPesquisadores da Uenf detectam, em Campos, espécies de cupins até então restritas às áreas florestais

Superando desafiosAlunos desmistificam a idéia de que é preciso ser gênio para estudar na Uenf

Por que não aqui?Como em São Carlos (SP) e Santa Rita do Sapucaí (MG), a Incubadora TEC Campos quer transformar conhecimento acadêmico em desenvolvimento

Em vez de antigüidades, insetosMuseu Entomológico da Uenf possui cerca de 50 mil espécimes

Em defesa das avesAluno da Uenf ganha primeiro lugar em concurso de fotografias

Em busca de um norteEntrevista com José Luis Vianna da Cruz sobre perspectivas para o Noroeste Fluminense

Governador do EstadoSérgio Cabral

Vice-Governador do EstadoLuiz Fernando Pezão

Secretário de Ciência e TecnologiaAlexandre Cardoso

Reitor da UenfAlmy Junior Cordeiro de Carvalho

Vice-reitorAntonio Abel Gonzalez Carrasquilla

Pró-reitora de GraduaçãoLílian Maria Garcia Bahia de Oliveira

Pró-reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoEdson Corrêa da Silva

Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários

Silvério de Paiva Freitas

Diretor do CBBArnoldo Rocha Façanha

Diretor do CCT Alexandre de Moura Stumbo

Diretora do CCH Teresa de Jesus Peixoto Faria

Diretor do CCTA Hernán Maldonado Vásquez

Diretor de ProjetosRonaldo Paranhos

Diretor Geral AdministrativoMarco Antônio Martins

Prefeito do CampusPaulo César de Almeida Maia

02

Pesquisadora da Uenf filma momento exato em que verme penetra em carrapato; processo pode ajudar no controle biológico do animal

Flagrante: Inês capturou o nematóide na hora em que penetrava no carrapato fêmea

Carrapato infectado

A coloração das fêmeas muda de acordo com o número de nematóides

infiltrados em cada uma delas

15 30 60 120 240 480 960 1920

Pela primeira vez, cientistas conseguiram flagrar o momento exato em que um nematóide entomopatogênico (verme que atua no controle biológico) penetra em um carrapato através de seu espiráculo (orifício usado para a respiração). O flagrante, obtido pela mestranda Inês Ribeiro Machado, do Programa de Pós-Graduação em Pro-dução Vegetal da Uenf, ocorreu durante pesquisa onde foram testadas, com sucesso, duas espécies diferentes de nematóides no controle biológico do carrapato bovino.

— Já se sabia que o nematóide penetra por um dos orifícios naturais do carrapato: boca,

ânus, espiráculos ou cutícula. Mas até hoje nin-guém nunca tinha conseguido presenciar este momento — conta Inês, que confirmou a eficácia dos nematóides Heterorhabditis baujardi LPP7 e Heterorhabditis indica LPP4, nativos da Floresta Amazônica (Monte Negro-RO), contra o carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus.

A pesquisa mostrou que, em condições de laboratório, tais espécies de nematóides são ca-pazes de provocar a morte do carrapato. Isso acontece porque eles carregam em seu intestino uma bactéria, chamada Photorhabdus, que é li-berada assim que o nematóide consegue pene-

Uenf (LEF).A idéia é fazer com que os nematóides entrem

em contato com as fêmeas ingurgitadas (fêmeas cheia de ovos) dos carrapatos quando estas caem no solo. É no solo que as fêmeas do carrapato de-positam os ovos que depois darão origem a larvas que subirão na vegetação até alcançar seus hos-pedeiros — no caso, os bovinos. Segundo Inês, 95% da população de carrapatos se encontra no solo, o que facilita o controle biológico.

Segundo a pesquisadora, as perdas anuais provocadas pelo carrapato bovino, no Brasil, chegam a 2 bilhões de dólares. O animal provoca perdas tanto na produção de leite, quanto na de carne e couro. Um sério problema, que vem sen-do combatido pela defesa sanitária, é a presença de possíveis resíduos de carrapaticidas no leite consumido pela população.

trar no animal. Uma vez dentro do organismo do carrapato, a bactéria se multiplica rapidamente, matando o hospedeiro por infecção generalizada num período de 48 horas.

— O carrapato bovino é hoje um sério pro-blema para os pecuaristas. O controle é difícil, porque os carrapatos adquiriram resistência aos carrapaticidas existentes. E aqueles que não mor-rem com o carrapaticida, ou seja, que são sele-cionados, acabam dando origem a outros carra-patos também resistentes — afirma Inês, que teve a orientação da professora Cláudia Dolinski, do Laboratório de Entomologia e Fitopatologia da

Flagrante inédito na ciência

03

Vida de cientistaA imagem idealizada dos cientistas esconde profissionais que, no dia-a-dia, têm que lidar com problemas e situações comuns

a todas as pessoas

Conciliar o trabalho com a vida pessoal é a principal dificuldade da professora Simon-ne Teixeira, pesquisadora do Centro de Ciên-cias do Homem (CCH) da Uenf. Ela diz que, embora goste muito do seu trabalho, o maior problema é o tempo, pequeno para o volume de atividades às quais precisa se dedicar — au-las, pesquisa, coordenação (do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais), reuniões,

artigos, congressos, entre outras atividades di-árias.

— Em muitas ocasiões, trabalhamos inten-samente nos fins de semana para conseguir concluir todas as atividades. O difícil é con-vencer os filhos, o marido e demais familiares que trabalhar no fim de semana é necessário — afirma.

Depois de um problema de saúde, no ano

Na TV, no cinema e até nas histórias em quadrinho, eles são retratados ora como gênios ob-cecados por alguma descoberta revolucionária, ora como loucos querendo dominar o mundo. Mas, por detrás dos estereótipos que circundam a profissão de cientista, encontram-se cidadãos comuns, que, apesar das peculiaridades do ofício, não deixam de lidar com problemas e situações comuns a tantos outros profissionais.

A parte não tão atraente da profissão nem sempre aparece na mídia — mais preocupada com os “avanços da ciência” do que em mostrar como é que se chega até eles —, mas consome grande par-te do trabalho dos cientistas. Ela envolve, por exemplo, a acirrada competição para conseguir finan-ciamentos, indispensáveis para a execução de qualquer pesquisa.

Para conquistar um espaço no competitivo cenário científico brasileiro, por exemplo, é preciso

enfrentar uma espécie de marato-na onde a inspiração é fundamen-tal, mas precisa ser acompanhada de muita “transpiração”, confor-me relata o biólogo Renato Au-gusto DaMatta, do Centro de Bio-ciências e Biotecnologia (CBB) da Uenf:

— Primeiro, é preciso ter uma boa idéia, capaz de gerar um pro-jeto de pesquisa competitivo. Se-gundo: conseguir aprovar o pro-jeto em agências financiadoras, em meio a grande competição. Isto depende da idéia, mas tam-bém do currículo do pesquisador, do número e do impacto de seus artigos anteriores. Terceiro: é pre-ciso manter produção científica constante e impactante — afirma.

Mas nem sempre isso é sufi-ciente para a obtenção dos recur-sos necessários para as pesquisas. Idéias brilhantes podem perma-necer engavetadas durante anos simplesmente porque não se in-serem nas preocupações estraté-

Renato DaMatta

gicas dos governantes. Na prática, algumas áreas acabam sendo mais estimuladas que outras.

— Hoje, infelizmente, os in-vestimentos estão atrelados à de-cisão política. Ultimamente, por exemplo, a área de produção de alimentos, onde atuo, vem sendo deixada de lado. Os editais abrem

mais espaço para pesquisas liga-das à área biotecnológica. Trata-se de uma área importante, mas o governo se esquece que a popu-lação precisa se alimentar — diz o professor José Fernando Coe-lho da Silva, do Centro de Ciên-cias e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da Uenf.

04

Maria da Glória

Boa produção requer formação de equipe

A difícil arte de conciliar trabalho e vida pessoal

O professor Renato DaMatta lembra que, para manter uma boa produção científica, o pesquisador precisa formar uma equipe — o que não acontece de um dia para o outro. Na Universidade, isso normal-mente se faz com alunos de pós-graduação, principal-mente de doutorado.

— Aí, sim, você forma uma equipe, mas isto gera outro estresse: nós não fomos preparados com téc-nicas gerenciais, mas precisamos gerenciar pessoas e recursos — analisa o professor, para quem é indispen-sável ter a “cuca fresca” para que o coração agüente o ritmo.

Tudo isso sem falar nas aulas da graduação e nas atividades de extensão universitária. Recentemente Renato coordenou a disciplina Biologia Celular I e II, reunindo aproximadamente 200 alunos. Mas ele não tem encontrado tempo para se dedicar à extensão, em-bora reconheça sua importância estratégica.

A professora Maria da Glória Alves, do Labora-tório de Engenharia Civil (Leciv) da Uenf, conta que, ultimamente, não tem hora para sair da universidade. Tudo para poder conciliar as atividades de professora e pesquisadora do Laboratório de Engenharia Civil do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT).

— Muitas vezes não tenho tempo, durante o dia, de falar com os alunos que oriento, pois fico totalmente envolvida com as aulas de graduação e pós-graduação, reuniões e visitas ao Parque de Energias Alternativas. Além disso, atendo à comunidade, que está sempre me procurando para saber se encontrou algum mineral precioso na suas terras, entre outras coisas — diz.

de 2006, a professora Maria da Glória abo-liu o trabalho nos fins de semana. Agora, os sábados e domingos são passados no Rio de Janeiro, ao lado da família e dos amigos.

— Trabalho muito aqui durante a sema-na, mas na sexta-feira, quando vou para o Rio, me desligo completamente. Afinal, pre-cisamos de um tempo para o descanso e o lazer — diz.

A maratona de trabalho muitas vezes pode gerar estresse e até levar à depressão. Foi o que aconteceu com o professor Rena-to DaMatta, que, em 2003, embora estivesse diante de dados científicos bastante expres-sivos, teve muita dificuldade para conseguir escrever um bom artigo mostrando os resul-tados obtidos em uma pesquisa de doutora-do que teve sua orientação. A publicação era

imprescindível para a renovação da bolsa do CNPq.

— Os dados eram muito bons, mas eu sim-plesmente não conseguia escrever um bom artigo. Sim, porque a gente é cientista, mas também é autor, tem que publicar. Só conse-gui publicar na terceira versão do artigo. Foi o maior estresse da minha vida de pesquisador, o que me levou à depressão — conta.

Simonne Teixeira mostra como interpretar as marcas na cerâmica

José Fernando Coelho

05

Ciência para o futuro do planetaMedir a ‘sede’ da planta pode gerar novos conhecimentos sobre seqüestro de carbono e efeito estufa; pesquisas envolvem

cooperação entre Uenf e Departamento de Agricultura dos EUA

Num estudo mundialmente pioneiro de medição da fotossín-tese de plantas inteiras de mamo-eiro, pesquisadores brasileiros e norte-americanos desenvolveram metodologia inédita para estimar a transpiração (perda de água) e a assimilação de carbono atmosférico em plantios comerciais de mamão. Esta técnica de medição da planta inteira, em associação com a insta-lação de sensores (sap flow), per-mite calcular a “sede” da planta es-timando a quantidade de água que passa pelo tronco e com isso evitar o desperdício de água na irrigação. Num futuro próximo, acreditam os pesquisadores, será possível sa-ber se num plantio comercial de mamão ou outras culturas, como cana-de-açúcar, ocorre algum nível de “seqüestro de carbono”, contri-buindo para a diminuição do efeito estufa. Também será possível esti-mar a quantidade de água perdida para a atmosfera.

O trabalho é resultado da par-ceria entre o grupo de Ecofisiologia Vegetal da Uenf, coordenado pelo professor Eliemar Campostrini, e o pesquisador David Michael Glenn, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), com participação da empresa Caliman Agrícola S.A. e recursos da Capes e da Finep. Pela Uenf, o projeto tam-bém tem a colaboração do professor Elias Fernandes de Sousa, do Labo-ratório de Engenharia Agrícola. Em fevereiro deste ano, o biólogo Tiago Massi Ferraz defendeu dissertação de mestrado sobre o tema, orienta-da por Eliemar Campostrini.

Como resultado do trabalho, concluiu-se que uma planta de ma-

mão papaya de seis meses de idade, com cerca de 3,5 m2 de área foliar, fertirrigada por gotejamento, num dia de céu claro no mês de julho, transpirou cerca de 8,6 litros de água e assimilou 67 gramas de CO2 — equivalentes a 18,7 gramas de carbono.

— A partir destes dados mais trabalhados, mostramos que estas mesmas plantas transpiram cerca de 142 gramas de água para cada grama de CO2 assimilado — informa o professor Campostrini.

A estimação da passagem de água pelo tronco do mamoeiro se dá pela aplicação de modelos ma-temáticos, já que os sensores não

medem diretamente a água, e sim a temperatura. Os estudos permiti-ram ainda relacionar a quantidade real de água que a planta transpira no campo com variáveis climatoló-gicas, tais como temperatura do ar, luz, velocidade do vento e umidade relativa do ar (esta, estimada por meio da chamada evapotranspira-ção de referência ou ET0).

— Com estas informações, os produtores poderão considerar es-tas variáveis do clima (que são de obtenção fácil e barata) e, indire-tamente, poderão saber quanto de água uma planta de mamoeiro está transpirando em condição de cam-po. Sabendo quanto transpira, ele

sabe exatamente quanto de água ele pode colocar na raiz da planta, evitando o desperdício desse bem cada vez mais escasso que é a água — avalia Eliemar.

Eliemar Campostrini está nos Estados Unidos fazendo pós-dou-torado na estação experimental do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Lá estão sendo ajustados os modelos para estimar o balanço de carbono em pomares comerciais de macieira (solo e planta). A macieira será uti-lizada como modelo, para depois promover as adaptações em Cam-pos para o mamoeiro e a cana-de-açúcar.

Experimento para medir perda de água e absorção de carbono em plantio de mamão

06

Cupim: um problema urbano

Pesquisadores da Uenf detectam, em Campos, espécies de cupins até então restritas às áreas florestais

Muitas espécies de cupins são consideradas pragas urbanas em pa-íses de clima temperado ou tropical, como é o caso do Brasil. Mas pouca gente se dá conta de que a infestação de cupins dentro das casas muitas ve-zes é o resultado da degradação do habitat desses insetos. Uma prova disto pode ser encontrada na cidade de Campos (RJ), onde pesquisadores da Uenf detectaram, além dos cupins comumente encontrados em áreas urbanas, espécies nativas restritas, principalmente, às áreas de vegetação natural.

— Foi uma surpresa verificar que espécies nativas de cupins, que ocorrem essencialmente em áreas de vegetação natural, infestaram árvores e residências na cidade com tal inten-sidade. O aparecimento dessas espé-cies como praga em áreas urbanas reflete as conseqüências do desma-tamento ocasionado pelo avanço das construções urbanas sobre as áreas de vegetação natural — diz o profes-sor Omar Bailez, do Laboratório de Entomologia e Fitopatologia da Uenf, que orientou pesquisa sobre cupins feita pelo doutorando Vinícius Gazal.

Vinícius percorreu 17 bairros de Campos dos Goytacazes, entrevistan-do moradores e recolhendo cupins de árvores e casas para serem anali-sados no laboratório. As espécies na-tivas mais encontradas foram Nasu-titermes corniger e Microcerotermes sp.. Estas espécies estiveram também entre as que mais danos ocasionaram dentro das residências, ao lado de Cryptotermes brevis e Coptotermes gestroi, consideradas as principais es-

pécies de cupim que constituem pra-gas em áreas urbanas de várias partes do mundo.

— Todos os bairros analisados apresentaram ocorrência de cupins. Podemos dizer que pelo menos uma rua, em cada bairro, apresentou infes-tação, seja dentro das casas ou nas ár-vores — informa Vinícius, que incluiu na pesquisa somente bairros situados na margem direita do Rio Paraíba do Sul, situados entre o Horto, Centro, IPS e Parque São Caetano. Segundo ele, poucas cidades brasileiras já rea-lizaram este tipo de levantamento.

A segunda etapa da pesquisa teve por objetivo coletar dados que possam contribuir na elaboração de iscas de captura de cupins. Com esses subsídios, poderão ser elaborados métodos de controle que apresentem menos riscos ao meio ambiente que os oferecidos pelo método tradicio-nal, baseado na preparação de barrei-ras químicas com inseticidas.

Os experimentos mostraram que os cupins são atraídos pelo cheiro da madeira, principalmente quando esta se encontra deteriorada: segundo a pesquisa, madeiras em estado de de-composição são as preferidas por es-tes insetos. A pesquisa também mos-trou que, ao contrário do que muitos acreditam, a densidade da madeira não é um fator relevante para atrair os cupins.

—Verificamos, ainda, que há substâncias químicas nas glândulas salivares dos cupins e em suas fezes que podem ser usadas para aumentar a atratividade das iscas — diz o pro-fessor Omar.

07

Superando desafiosAlunos desmistificam a idéia de que os cursos da Uenf não são acessíveis

Muita gente acredita que pas-sar na Uenf é coisa para “nerds” ou gênios. Mas alunos que enfren-taram o vestibular e hoje estão plenamente adaptados à universi-dade desmistificam esta idéia. Eles asseguram que o vestibular para a Uenf não é o bicho-de-sete-cabeças que muitos supõem, muito menos algo restrito a quem cursou esco-las consideradas de alto padrão.

O aluno Wagner Terra, que está no 5º período de Química, também tinha esta idéia. Mesmo assim, acreditou em seu potencial e foi aprovado na primeira tentati-va de ingresso na Uenf, superando o que muitos acreditam ser um entrave à entrada na universida-de: uma trajetória estudantil uni-camente em escolas públicas. O ensino médio foi concluído em 2005, na Escola Nilo Peçanha.

— Eu pensava que a prova se-ria muito difícil e me surpreendi com o resultado. Quem vem de escola pública, como eu, precisa se esforçar um pouco mais, prin-cipalmente na área de ciências, devido às deficiências do ensino médio. Mas, com esforço, dá cer-to — diz Wagner, lembrando que outros colegas de escola também conseguiram passar em vestibula-res para universidades públicas.

A aluna Lucimara Lyrio, que

cursa o 7º período do curso de Ci-ências Biológicas, também veio de escola pública. Ela prestou o ves-tibular em 2002, ao mesmo tem-po em que completava o ensino médio na Escola Técnica Estadual João Barcelos Martins. Neste mes-mo ano, era instituída a reserva de vagas para negros e estudantes de escolas públicas nas universidades públicas estaduais de todo o terri-tório fluminense.

— Eu entrei pelo Sade, pro-grama que reservava 50% das vagas de cada curso para alunos provenientes de escolas públicas. Isso, é claro, me ajudou muito, pois me deixou mais tranqüila na hora das provas — conta Lucima-ra, que hoje tem 24 anos de ida-de. Atualmente, o sistema de cotas disponibiliza 20% das vagas para negros auto-declarados, outros 20% para estudantes oriundos de

Lucimara Lyrio

Wagner da Silva Terra

Superando desafios

Inscrições para o Vestibular

escolas públicas e 5% para povos indígenas, de-ficientes, filhos de bombeiros e policiais mortos em suas atividades.

O aluno Cícero Lobo, do 1º período de Agronomia, acredita que as pessoas exageram quando afirmam que passar no vestibular da Uenf é algo muito difícil. Embora afirme que também levou em conta a relação candidato/vaga ao optar pelo curso de Agronomia, Cícero garante que, se o candidato leva o vestibular a sério e estuda, a entrada na Uenf é tranqüila.

— Uma boa dica, antes das provas, é resolver questões de vestibulares anteriores. Embora as perguntas não sejam as mesmas, a gente já vai se habituando ao estilo da prova — afirma.

Quem tem a oportunidade de participar do programa “Jovens Talentos” — que permite a es-tudantes de ensino médio de escolas públicas participar de projetos de pesquisa dentro das universidades — muitas vezes tem um incentivo a mais para tentar o vestibular. Foi o caso da alu-na Marcela Santos, que estudou na Escola Téc-nica Estadual João Barcelos Martins e hoje está prestes a obter o diploma de Física na Uenf.

— A participação em pesquisas científicas, quando ainda era aluna de ensino médio, me motivou a ingressar na universidade. Lá fora as pessoas dizem que é difícil passar no vestibular e continuar estudando na Uenf, mas aos poucos fui percebendo que isso não é verdade quando a gente se leva o curso com a dedicação neces-sária — afirma.

O ingresso para 12 dos 15 cursos de graduação presenciais da Uenf é feito através do Vesti-bular Estadual, que reúne ainda a Uerj e as Academias Militares da Polícia Militar e dos Bombeiros. Quem não se inscreveu para o 1º Exame de Qualificação — cuja pro-va ocorre em 22/06 — ainda pode participar do Vestibular 2009, ins-crevendo-se para o 2º Exame de Qualificação.

As inscrições devem ser fei-tas de 01 a 21/07 no site www.vestibular.uerj.br , onde também podem ser obtidas mais informa-ções sobre o Vestibular Estadual. O último dia para o pagamento da taxa de inscrição, no valor de R$ 38, é 23/07. O cartão de confirma-ção de inscrição deve ser impres-so, no mesmo site, no período de 25 a 28/08. A prova está marcada para 14/09.

Estão incluídos no Vestibular Estadual 2009 os seguintes cursos da Uenf: Ciência da Computação e Informática, Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Engenharia Civil, Engenharia Metalúrgica (Habili-tação: Materiais), Engenharia de Produção, Engenharia de Explora-ção e Produção de Petróleo, Medi-cina Veterinária, Licenciatura em Biologia, Licenciatura em Física, Licenciatura em Matemática e Li-

cenciatura em Química.Os cursos de Agronomia, Pe-

dagogia (licenciatura) e Zootecnia participam, a partir deste ano, de Vestibular Isolado, cujo edital deverá ser publicado em breve no site da Uenf (www.uenf.br). A Uenf oferece ainda os cursos a dis-tância de licenciatura em Ciências Biológicas e Química, cujo ingres-so é feito através do Vestibular do Cederj (www.cederj.edu.br).

Marcela Santos Silva

Cícero Vasconcelos

09

Pouca gente sabe, mas a Uenf mantém um museu repleto de in-setos das mais variadas espécies, cujos corpos são guardados, cata-logados e pesquisados. O Museu Entomológico da Uenf, com 50 mil insetos, funciona no prédio do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) no campus Leonel Brizola, e é vinculado ao Laboratório de Entomologia e Fi-topatologia (LEF).

A coleção é utilizada como ma-terial didático e de pesquisa para a própria Universidade, mas tam-bém serve a pesquisadores de ou-

tras instituições. Sob a curadoria da professora Magali Hoffmann, o arquivo entomológico é dividido em ordem, família e espécie, facili-tando, assim, análises e descober-tas.

Recentemente, o taxônomo An-dré Nemésio, da Universidade Fe-deral de Minas Gerais, descobriu uma nova espécie de abelha poli-nizadora de orquídeas, a Eufriesea atlantica, antes denominada Eu-friesea ornata. E, em suas pesqui-sas, Nemésio utilizou material de várias instituições, entre elas do Museu Entomológico da Uenf.

Quem entra no Museu do LEF logo se depara com uma série de gavetas, onde ficam os insetos de-vidamente identificados por Maga-li, inclusive a Eufriesea atlantica. A professora, que cuida do arquivo desde 1995, é quem recebe os alu-nos e professores da Universidade e suas pesquisas. Separadas por caixinhas, estão identificadas 26 ordens, 192 famílias e 425 espé-cies de insetos, representantes da fauna do Norte e Noroeste Flumi-nense e de outras regiões do Brasil e do mundo.

Especialista em insetos da or-

dem Coleoptera, Magali foi home-nageada, este ano, na descrição da nova espécie Oncideres hoffmanni e do novo gênero Magaliella, am-bos insetos da família Cerambyci-dae. Segundo ela, o Museu é uma importante base de pesquisas.

— Quando você descreve uma nova espécie, é feita uma separação do material coletado. O principal é chamado olótipo, e o restante, o parátipo, é levado para museus e órgãos de preservação. Por isso é muito importante que sejam feitas pesquisas com o material do nosso museu — explica

Em vez de antigüidades, insetos Museu Entomológico da Uenf possui cerca de 50 mil espécimes

10

Celeiro de cientistasVem aí um dos eventos mais im-

portantes do calendário da Uenf: o 13.º Encontro de Iniciação Científi-ca, que se realiza de 17 a 19 de ju-nho, paralelamente à 8.ª Mostra de Pós-Graduação da Uenf. Neste ano, o tema geral é a “Vinda da Famí-lia Real para o Brasil”. Durante os eventos, centenas de estudantes de graduação, mestrado e doutorado exporão dados sobre suas pesqui-sas para o público e para membros de comitês avaliadores.

Para a Uenf, será ocasião de avaliação de seu Programa de Ini-ciação Científica pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Em 2003, a Universidade ganhou do CNPq o Prêmio Destaque do Ano na Iniciação Científica por se destacar entre todas as instituições de ensino superior brasileiras no encaminhamento de seus estudan-tes para programas de mestrado e doutorado.

As palestras de abertura, no dia 17 de junho, a partir das 9h30, serão proferidas por duas perso-nalidades importantes do mundo científico brasileiro. A historiadora Ismênia Martins, da Universidade Federal Fluminense (UFF), vai fa-lar sobre as comemorações pelos 200 anos da vinda da família real e os impactos sobre o ensino e a pesquisa. Já o físico Ildeu de Castro Moreira, diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ci-ência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia, vai abordar o tema “Darwin no Brasil e sua ex-cursão ao Norte Fluminense”.

Haverá prêmios para os me-lhores trabalhos tanto na Iniciação Científica quanto na pós-gradua-ção. A programação completa está em www.uenf.br.

Encontro de Iniciação Científica e Mostra de Pós-Graduação movimentam Uenf em junho

Acima, mostra Darcy Ribeiro, um dos eventos que compôs a programação do 12ª Encontro de Inciação Científica em 2007

Abaixo, um dos corredores onde alunos de graduação, pós-graduação e extensionistas explicavam aos avaliadores do Cnpq e ao público em geral suas pesquisas e projetos.

1 - “Interações entre o fungo Paracoccidioides brasi-liensis e o sistema complemento: comparação entre cepas de alta e de baixa virulência”Mestrando: Renan Gomes Toledo Orientadora: Thereza Liberman Kipnis (LBR/CBB)

2- “Caracterização das respostas de defesa local e sis-têmica, induzidas por lesão mecânica em plântulas de feijão-de-corda (Vigna unguiculata L. Walp.)”. Doutorando: Márcio dos Santos Teixeira Pinto Orientadora: Kátia Valevski Sales Fernandes (LQFPP/CBB)

3- “Efeito de estímulos físicos sobre a atividade das bombas de prótons de células vegetais e sua participa-ção nas respostas morfoênicas”. Doutoranda: Tatiana de Felice Elias Orientador: Arnoldo Rocha Façanha (LBCT/CBB)

1- “Biologia de nidificação e estratégias de manejo de Xylocopa ordinaria e Xylocopa frontalis (hymenopte-ra: apidae) no norte do Rio de Janeiro”Mestrando: André Sarlo Bernardino

Orientadora: Maria Cristina Gaglianone (LCA/CBB)

2- “Estrutura, dinâmica e produtividade primária do fitoplancton como base para estimativa do estado tró-fico de uma lagoa costeira no estado do Espírito Santo (lagoa Mãe-bá. Guarapari)” Mestranda: Bruna D’ Ângela de SouzaOrientadora: Valéria de Oliveira Fernandes (LCA/CBB)

1- “Educação online no curso de engenharia de produ-ção: caso de uma universidade privada”Mestranda: Denise Simões Dupont BerniniOrientador: Daniel Ignácio de Souza Junior (Le-prod/CCT)

2- “Uma metaheurística grasp para o planejamento de movimentação de gás natural em gasodutos”Mestrando: Angelo Cesar Tozi ChristoOrientador: José Ramón Arica Chávez (Leprod/CCT)

1-“Diversidade genética por meio de marcadores RAPD e características morfoagronômica em aceroleira (Malpighia emarginata D.C.)”Mestrando: Marcos Góes OliveiraOrientador: Jurandi Gonçalves de Oliveira (LMGV/CCTA)

2- “Caracterização de variedades de cana-de-açúcar quanto a resistência a tolerância ao raquitismo-da-soqueira”Mestranda: Rozana Moreira Pereira de Lima Orientador: Silvaldo Felipe da Silveira (LEF/CCTA)

1- “Justiça como reconhecimento: a experiência dos Juizados Especiais Cíveis em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro”. Mestrando: Halisson dos Santos PaesOrientador: Marcos Pedlowski (LEEA/CCH)

1- “Balanço eletrolítico e redução da proteína bruta em rações para frangos de corte em condições natu-rais de estresse calórico”. Mestranda: Marize Bastos de MatosOrientador: Rony Antônio Ferreira (LZNA/CCTA)

1- Química do húmus e fertilidade do solo após adição de adubos orgânicosDoutorando: Jader Galba BusatoOrientador: Luciano Pasqualoto Canellas (LSOL/CCTA)

2- “Importância de Nasutitermes corniger (Motschul-sky) (Isoptera: Termitidae) em áreas urbanas e carac-terísticas do seu comportamento de Forrageamento”Doutorando: Vinicius Siqueira Gazal e SilvaOrientador: Omar Eduardo Bailez (LEF/CCTA)

Nossos Cursos

Teses e dissertações defendidas no mês de abril

Biociências e Biotecnologia

Ecologia e Recursos Naturais

Engenharia de Produção

Genética e Melhoramento de Plantas

Políticas Sociais

Produção Animal

Produção Vegetal

Pós-GraduaçãoGraduaçãoAgronomia

Ciências Biológicas

Licenciatura em Pedagogia

Ciência da Computação e Informática

Ciências Sociais

Engenharia Civil

Engenharia Metalúrgica

Engenharia de Produção

Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo

Medicina Veterinária

Zootecnia

Licenciatura em Biologia

Licenciatura em Física

Licenciatura em Matemática

Licenciatura em Química

Licenciatura em Ciências Biológicas a Distância

Licenciatura em Química a Distância

Mestrado e DoutoradoBiociências e Biotecnologia

Ciências Naturais

Ecologia e Recursos Naturais

Engenharia de Reservatório e de Exploração

Engenharia e Ciência dos Materiais

Engenharia Civil

Genética e Melhoramento de Plantas

Produção Animal

Produção Vegetal

Sociologia Política

MestradoCognição e Linguagem

Engenharia de Produção

Políticas Sociais

Por que não aqui?São Carlos (SP), Santa Rita do Sapucaí (MG) e outras cidades brasileiras criam mecanismos para transformar conhecimen-to em desenvolvimento; Incubadora TEC Campos quer fazer

o mesmo

Demorou, mas Campos deu o primeiro passo: em maio foi inaugurada, em área do Centro de Convenções da Uenf, a Incu-badora de Base Tecnológica de Campos dos Goytacazes (TEC Campos). Formatada no mode-lo de consórcio, reunindo várias instituições, a TEC Campos pre-tende ajudar a estancar a fuga de cérebros e gerar desenvolvimento local mediante aplicação de novas tecnologias. Mas será que o mo-delo das incubadoras é mesmo um bom caminho para isso?

A julgar pela experiência de algumas cidades brasileiras, a resposta é sim. Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, é um dos exemplos mais citados. Cida-de sede do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Santa Rita implantou em 1985 um pólo industrial nas áreas de telecomu-nicação, eletrônica e informática. Para incrementar o chamado “Vale da Eletrônica”, o Instituto criou o embrião do seu Programa de Incubação de Empresas e Produ-tos. Hoje, a cidade é reconhecida como pólo tecnológico e exporta serviços para vários países.

Em Santa Rita, os primeiros movimentos em direção à Incu-badora tiveram a participação di-reta da prefeitura local. Conta-se na cidade que a idéia era atingir um desenvolvimento semelhante ao de São Carlos (SP). Este mu-nicípio paulista abriga dois cam-pi da Universidade de São Paulo (USP) e a sede da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), além de dois centros da Embrapa

— dedicados à pecuária e à ins-trumentação agropecuária. Tendo instituído em 1984 a Fundação ParqTec, São Carlos se notabili-za por vários indicadores: média de um pesquisador doutor (PhD) para cada 180 habitantes; 14,5 patentes registradas anualmente por 100 mil habitantes; e 200 em-presas de alta tecnologia em seto-res como ótica, novos materiais e instrumentação.

Em Campos, a Incubadora TEC Campos é fruto de um esfor-ço persistente da Uenf e do Cefet, que agregaram a adesão de outras instituições, incluindo a Prefeitu-ra de Campos. O primeiro edital, de janeiro de 2007, recebeu 21 propostas e selecionou dez delas para pré-incubação. São proje-tos de empresas em áreas como diamante sintético, biotecnolo-gia animal, design, produção de mudas e sementes, entre outras. Quais delas vão vencer todas as etapas e se firmar no mercado? Isto só o tempo vai dizer. Mas os gestores da TEC Campos estão certos de que aprenderam com os erros e os acertos da caminhada até aqui.

— Esse formato de consór-cio tem tudo para dar certo, pois conseguimos reunir algumas das principais instituições dedicadas ao desenvolvimento regional — opina o diretor-presidente Ronal-do Paranhos, lembrando a adesão da Associação Comercial e Indus-trial de Campos (Acic), Fenorte/Tecnorte, Firjan - Regional Cam-pos, Fundação Cefet, Fundenor, Prefeitura de Campos e Sebrae.

Acima, as instalações da Tec Campos no dia de sua inauguração.

Abaixo, circulado em verde, o local onde a incubadora se encontra instalada na área de convivência do Centro de Convenções da UENF

Foto

- Pa

ulo D

amas

ceno

13

Em busca de um norteApesar da pujança de atividades de comércio e serviços em Itaperuna e Santo Antônio de Pádua, o Noroeste Fluminense

ainda busca caminhos para um desenvolvimento mais consistente. A opinião é do sociólogo e professor José Luís Vianna da Cruz, diretor do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da UFF, em Campos. Estudioso da problemática regional, Cruz analisa os impactos da economia do petróleo sobre o Noroeste assim como as potencialidades e limites da con-tribuição do sistema universitário público para o desenvolvimento regional. Confira:

NOSSA UENF: Hoje a exploração do petró-leo e o pagamento de royalties e participações especiais distinguem bem claramente os mu-nicípios do Norte dos municípios do Noroeste Fluminense. Mas na época da separação entre as duas regiões o processo não foi um tanto ar-tificial? Que interesses o presidiram?

José Luís: Formalmente o Noroeste Flumi-nense foi criado em 1987, durante a gestão de Moreira Franco no go-verno do Estado. Você fala em artificialismo, mas eu contra-ponho dois argumentos. Pri-meiro, não existe nada nesse terreno que seja propriamen-te natural. Tudo é social, tudo é político, tudo é construído. Segundo, falando nestes ter-mos, a unidade do antigo Nor-te Fluminense é que po-

deria ser considerada “artificial”. Estudei isto em meu doutorado. Regiões geográficas são criadas conforme certas circunstâncias, mas não vingam se não houver reconhecimento, sentimento de pertença, enfim, se não houver referência a uma identidade coletiva e social.

NOSSA UENF: Então de alguma forma o Noroeste de fato já existia dentro do Norte Flu-

minense? José Luís: Segundo o so-

ciólogo Pierre Bourdieu, uma região se constrói quando tem um porta-voz que goza de reconhecimento e le-gitimidade, de modo que a região se reconhece na fala dele. No antigo Norte Fluminense, os porta-vozes

foram as elites ligadas ao açúcar. O mundo da cana era tutelado pelo governo federal,

e as elites desse segmento tinham uma relação

muito estreita com o Estado. Então, elas

reivindicavam em nome da

região be-n e f í c i o s

que na

verdade diziam respeito a elas próprias. Isto foi construído historicamente, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, quando a nossa agroindústria açucareira perdeu definitivamente força para São Paulo. No entanto, essas reivindi-cações regionalistas não contemplavam em nada a área de Itaperuna e do atual Noroeste. Primei-ro porque lá a tradição era cafeeira, e não açu-careira. Suas afinidades econômicas eram muito maiores até com a Zona da Mata de Minas e o Sul do Espírito Santo.

NOSSA UENF: Havia, portanto, uma ten-são...

José Luís: Havia uma luta surda, que não deixava vestígios na imprensa — em geral ligada às elites de Campos —, em favor da separação. Lideranças políticas do atual Noroeste foram for-jadas em torno desse ideal de criação da nova região. O economista Francisco de Oliveira criou um conceito de “fechamento de região”, que foi o que ocorreu no entorno de Campos. De vez em quando a gente ouve dizer que o campista é muito fechado, que não há espaço para outras vozes, interesses, grupos ou pontos de vista. Isso reflete um pouco esse fenômeno do qual estamos falando. Se as elites locais tivessem tido a perspicácia de contemplar razoavelmente os demais municípios, talvez o Noroeste não tives-se sido criado.

NOSSA UENF: Qual é o cenário socioeco-

Entrevista / José Luís Vianna da Cruz

nômico do Noroeste duas décadas depois de sua criação formal?

José Luís: Apesar de vários programas pontuais desenvolvidos por diferentes agências públicas com foco nos municípios dessa região, o Noroeste nunca se re-cuperou da decadência do café. A forma como a cultura do café foi efetivada sacrificou muito as terras, provocou muito desmatamento. A pecuária também contribuiu para compactar o solo. Então, a região ficou muito degradada, embora tenha chegado a ser a maior bacia leiteira do Estado. De lá para cá a região vem tentando se apoiar em ondas de produtos que podem vir a ser cultivados, como, recen-temente, o eucalipto através da empresa Aracruz Celulose. Como você sabe, o eucalipto envolve uma discussão altamente polêmica quanto a seus benefícios ou male-fícios. Atualmente, tanto Itaperuna quanto Santo Antônio de Pádua são pólos de comércio e serviços. Não há maior peso em atividades produtivas em sentido estrito.

NOSSA UENF: Em que medi-da a economia do petróleo, que quase monopoliza o Norte Flumi-nense, tem impactos no Noroeste?

José Luís: Em termos de royalties, o petróleo significa uma pequena injeção de recursos em algumas prefeituras. As melhores perspectivas para as gerações mais jovens continuam sendo, noto-riamente, aquelas oferecidas pela indústria extrativa do petróleo e o aparato de serviços que a circun-da. Os estudos sobre a situação de Macaé, sobretudo realizados pela Uenf, mostram essa pressão migra-tória. No Noroeste, dependendo do município considerado, tem estagnação, crescimento vegetativo ou mesmo regressão na população. Mas os pólos, como Itaperuna e Pádua, têm algum crescimento por causa mesmo de sua condição de

pólo. Os movimentos migratórios ocorrem primeiro dentro da pró-pria região em direção aos municí-pios-pólo. Além disso, a migração ocorre do conjunto dos municípios do Noroeste para Macaé e Rio das Ostras, que já constituem pratica-mente uma área urbana contínua. Em Campos, apesar dos recursos dos royalties, o crescimento popu-lacional também é pequeno devido à migração para essa região. Tanto é que há mais de dez anos os jor-nais citam uma população de 500 mil habitantes, mas oficialmente Campos ainda não chegou lá.

NOSSA UENF: É praticamen-te um consenso que os municípios que recebem grandes volumes de repasses em royalties e participações espe-ciais não estão apli-cando bem os recursos mesmo internamente. Mas seria possível vis-lumbrar alguma en-genharia política que viabilizasse projetos regionais de desen-volvimento, contem-plando inclusive o Noroeste?

José Luís: Sem dúvida uma aplicação mais regiona-lizada seria positiva, mas aí eu não apresento uma fórmula. As fórmu-las são várias: um fundo regional, um consórcio regional para polí-ticas comuns... As possibilidades estariam no estímulo a atividades consorciadas entre os municípios, no planejamento da produção, para que a região tenha culturas complementares, possa formar ca-deias ou adensar cadeias produti-vas existentes. Ou ainda constituir arranjos produtivos locais, que a meu ver não existem, pois supõem uma interação que não ocorre en-tre as unidades econômicas, desde o parque de ciência e tecnologia instalado até a logística da circu-

lação de mercadorias. Este, para mim, seria o principal uso estra-tégico dos royalties de forma a in-cluir o Noroeste. Mesmo no Norte, a industrialização ainda não acon-teceu de forma sustentável. Os no-vos e grandes projetos em vias de implantação caracterizam o uso da região como território-plataforma, onde o centro de decisões está lon-ge.

NOSSA UENF: Como você vê a contribuição das universidades para o desenvolvimento regional?

José Luís: Para esta região, a implantação de um sistema público de ensino superior é fundamental. Como a tradição é de uma aparta-ção muito grande entre as elites e o

restante da socieda-de — portanto uma tradição autoritária, elitizada, com uma oligarquia reduzida, monopolizando o poder, historicamen-te — e diante da cen-tralidade do Poder Público na vida da re-gião, uma estrutura pública de ensino su-perior é fundamental para catalisar certos

processos. Esta estrutura não dá conta de tudo, talvez até de muito pouco, mas seja qual for o volume de sua contribuição, ela será estra-tégica. Em que sentido? Primeiro porque o sistema universitário pú-blico confere grande ênfase ao seg-mento da pesquisa. Ao lado disso, o sistema público de ensino supe-rior é a porta de entrada para uma parcela da população que não teria acesso à formação superior de qua-lidade se ela não fosse gratuita.

NOSSA UENF: Estratégica ou não, essa contribuição será tanto maior se houver interação, diálo-go, troca de experiências entre as instituições e sobretudo entre elas e a sociedade, o Poder Público, o

mundo empresarial, concorda?José Luís: Há uma cobrança

inerente à universidade pública de interagir, se comprometer com a sociedade, com os seus destinos, contribuir para iluminar e equa-cionar problemas econômicos, sociais, culturais, políticos etc. Pri-meiro porque essa sociedade regio-nal é historicamente tratada como problemática. Aqui sempre houve baixos indicadores de desenvolvi-mento e elevados índices de po-breza e exclusão, de desemprego ou subemprego. Então, o sistema público de ensino superior é vital para a região. Agora, em que medi-da ele se torna imprescindível, isso depende de alguns elementos. Um é a vontade dos seus profissionais de interagir com a região. Outro é a vontade das elites regionais em interagir na busca de solução para problemas coletivos e gerais.

NOSSA UENF: O que dizer so-bre as posturas de parte a parte?

José Luís: Acho que já há uma produção acumulada bastante sig-nificativa na Uenf, na UFF e agora também no Cefet. Mas vejo proble-mas nos dois lados. Temos proble-mas nas elites dirigentes regionais, talvez porque se sintam ameaçadas, já que a universidade pública tem essa vocação de propor mudanças. No meio acadêmico, há segmentos que têm muito interesse e compro-misso em tratar a temática regional, mas eles encontram resistências. E também tem nessas instituições uma parcela que não tem interes-se nessa interação. A universidade tem um potencial transformador, mas também é uma instância muito plural, que abriga vários perfis de profissionais. De todo modo, uma nova ordem de interação no seio da sociedade só pode ser produzi-da pelo concurso de uma seqüên-cia de gerações, na medida em que se constitua uma inteligentzia, que ainda não está consolidada.

“Para o Norte/Noroeste

Fluminense, um sistema público de

ensino superior é estratégico.”

15

Em defesa das avesAluno da Uenf ganha primeiro lugar em concurso de fotografias

Tão importante quanto preservar a fauna brasileira é cuidar da memó-ria das espécies que a compõem. Esta preocupação acompanha o estudante Luciano Moreira Lima desde os 13 anos de idade, quando teve início a sua pai-xão pelas aves. Dividindo o tempo entre as aulas do curso de Biologia na Uenf e suas pesquisas Brasil afora, Luciano acaba de ganhar o primeiro lugar no 2º Concurso Avistar Itaú BBA de Fotogra-fia, com a foto “Balé das Garças”.

O tema do concurso foi “Aves Brasi-leiras”, e a foto de Luciano — que retrata a garça-branca-pequena (Egretta thula) — foi selecionada na categoria “Melhor Fotografia”, na qual se inscreveram fotó-grafos profissionais do Brasil, Inglater-ra, Estados Unidos, Bélgica e Coréia do Sul . Luciano, de 23 anos, recebeu um prêmio de R$ 8 mil. A premiação ocor-reu em 22/05, na cidade de São Paulo.

— Atualmente, participo de vários projetos na Amazônia e na Mata Atlân-tica, rodando o país, fotografo as aves, que são meu objeto de estudo. Nem imaginava que fosse ganhar, ainda mais na categoria profissional, porque sou fotógrafo amador. Tinha gente concor-rendo com fotos tiradas em máquinas que custam de R$ 30 a 40 mil. — conta

Luciano, que pretende investir o dinhei-ro do prêmio em equipamentos fotográ-ficos.

No total, foram inscritas no concur-so 7383 fotografias, que concorreram às categorias de “Melhor Fotografia”, “Melhor Registro” e “Primeiras Aves” (Iniciantes). As fotos selecionadas serão expostas no Avistar2008, de 22 a 25 de maio de 2008, no Parque Villa-Lobos em São Paulo.

Fizeram parte da comissão julgado-ra o vice-presidente da Sociedade Espa-nhola de Ornitologia, Josep del Hoyo; o jornalista, fotógrafo e editor do site de jornalismo ambiental Oeco, Marcos Sá Corrêa; o editor-chefe da Revista Brasi-leira de Ornitologia, Luís Fábio Silveira; e um dos mais conceituados fotógrafos de natureza do Brasil, ganhador do prê-mio “Picture of the Year 2002”, da Natio-nal Geographic, Roberto Linsker.

Cursando o 8º período de Biologia, Luciano optou por direcionar suas pes-quisas para a área de Ornitologia, que estuda a distribuição das aves no plane-ta, seus costumes e modos de vida.

Luciano também possui um blog (http://www.caapora.blogspot.com), onde escreve sobre Zoologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade.

Balé das Garças, de Luciano Moreira lima - Foto vencedora - À direita, outras fotos de Luciano