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UENF nossa Uva: fruto tropical “Valeu a empreitada” Revista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Ano 1 - Nº 3 - Junho/Julho de 2008 Pesquisadores mostram que clima do Norte Fluminense é propício para a uva de mesa; viticultores da Região já conseguem lucro em suas plantações Quinze anos depois da primeira aula ministrada na Uenf, Mário Lopes conta os bastidores da luta popular que levou à implantação da Universidade Dispositivo desenvolvido na Uenf permitiu que pela primeira vez na história uma cirurgia por orifícios naturais fosse realizada em um paciente humano. Técnica cirúrgica inovadora

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Nossa Uenf- Ano1, numero 3, Junho de 2008

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UENFno

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Uva: fruto tropical

“Valeu a empreitada”

Revista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Ano 1 - Nº 3 - Junho/Julho de 2008

Pesquisadores mostram que clima do Norte Fluminense é propício para a uva de mesa; viticultores da Região já conseguem lucro em suas plantações

Quinze anos depois da primeira aula ministrada na Uenf, Mário Lopes conta os bastidores da luta popular que levou à implantação da Universidade

Dispositivo desenvolvido na Uenf permitiu que pela primeira vez na história uma cirurgia por orifícios naturais fosse realizada em um paciente humano.

Técnica cirúrgica inovadora

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Quem aprende e quem ensina?

Jornalistas ResponsáveisFúlvia D’Alessandri e Gustavo Smiderle

Projeto GráficoFelipe Moussallem

Estagiários:

Apoio:

Felipe Oliveira, Nériton Toledo, Thaís Bereta

Elisabeth Cordeiro Silva

Tiragem: 10 mil exemplares - Distribuição: gratuita e dirigidaImpresso por: Sumaúma Editora Gráfica

Exped

iente Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

Prezado(a) leitor(a), você sabe que ne-nhuma matéria, muito menos nos veículos de grande circulação, é apenas o relato de algo que aconteceu. Tem sempre um contexto que lhe dá sentido. A nossa matéria de capa também tem um sentido que gostaríamos de explicitar. O “gancho” jornalístico — a “isca” para atrair o leitor — é o fato surpreendente de se produzir uva, e de boa qualidade, no Norte Fluminense. Isto é notícia, especial-mente porque se trata de produção mesmo, e não de simples experimento. Mas esta maté-ria tem uma dimensão maior: ela mostra que a agropecuária da região tem jeito sim, e que não há razão para a gente se contentar com situações crônicas de baixa produtividade e rentabilidade. Basta tomar a sensata decisão de aplicar os conhecimentos gerados nas uni-versidades e institutos de pesquisa.

Esta edição traz ainda a cobertura comple-ta do maior evento do calendário da Uenf: o Encontro de Iniciação Científica e a Mostra de Pós-graduação. Você vai ver como foi a expedição de Darwin pelo Norte Fluminen-se, conhecer um “outro lado” relativo à vin-da da família real para o Brasil e tomar pé de algumas das pesquisas premiadas durante o evento. Aliás, foi um debate sobre a história da Uenf, durante o Encontro, que suscitou a entrevista desta edição. O professor Mário Lopes, um dos líderes do movimento popu-lar pró-Uenf, conta os bastidores daquela luta que conseguiu, contra tudo e contra todos, colocar na Constituição Estadual de 1989 que o Norte Fluminense teria a sua universidade pública.

Para concluir, uma matéria que entrou de última hora. O levantamento de um pro-fessor de Pedagogia, junto com seus alunos, mostrou que havia cidadãos analfabetos entre o pessoal terceirizado da Uenf. Cada caso é uma história de vida diferente, mas todos têm em comum a falta de oportunidades. Então, o que fez a turma da Pedagogia? Meteu a mão na massa e ofereceu àquelas pessoas o que a vida ainda não tinha oferecido. O difícil ali é saber quem aprendeu com quem. Boa leitura!

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Nesta EdiçãoPor uma cultura de direitos humanos

Uva: fruto tropical

Números, números e ... gente

Hospital Veterinário: 300 cirurgias por ano

Encontro de gerações da ciência brasileira

Tópicos de uma história de 15 anos

Medalha Darcy Ribeiro para a Faperj

Charles Darwin no Norte Fluminense

Expansão vertical

Valeu a empreitada

Reconstruindo a imagem de Dom João VI

Bem-estar dos cães

Janela para o mundo

Governador do EstadoSérgio Cabral

Secretário de Ciência e TecnologiaAlexandre Cardoso

ReitorAlmy Junior Cordeiro de Carvalho

Vice-reitorAntonio Abel Gonzalez Carrasquilla

Diretor do CBBArnoldo Rocha Façanha

Diretor do CCT Alexandre de Moura Stumbo

Diretora do CCH Teresa de Jesus Peixoto Faria

Diretor do CCTA Hernán Maldonado Vásquez

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Parecia um grande evento, reunindo cerca de 250 profissionais da educação de 22 muni-cípios do Norte/Noroeste Fluminense, mas foi muito mais do que isto. Com uma mesa-redon-da da qual participou a professora Vera Can-dau, referência brasileira em pesquisas sobre Educação, a Uenf concluiu em 09/07 um pro-cesso de capacitação em Educação em Direitos Humanos iniciado em abril de 2007. Agora, os professores, pedagogos e outros profissionais participantes vão socializar a experiência com seus milhares de alunos em toda a região.

Promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Uenf e assessorado por Vera Candau, com financiamento da Faperj e do MEC, o processo envolveu a realização de várias oficinas ao longo do período. A mesa-redonda que concluiu os trabalhos teve ainda

a presença das professoras Adelia Miglievich Ribeiro (Uenf ), Inês Cabral Ururahy de Souza (Universidade Estácio de Sá) e Márcia Leitão Pinheiro (Uenf ).

Vera Candau defendeu a tese de que as estratégias pedagógicas para promover a edu-cação em direitos humanos dependem da concepção que se tenha sobre o assunto. Para a pesquisadora, é no encontro da teoria com a prática que o longo aprendizado coletivo exercitado na capacitação poderá render fru-tos para os cerca de 30 mil alunos do ensino médio alcançados indiretamente pela capaci-tação.

As atividades envolveram as seis Coorde-nadorias de Educação do Norte e Noroeste Fluminense, mobilizando nove bolsistas do Programa Universidade Aberta da Uenf.

Biociências e Biotecnologia

“Perfil de quimiocinas em pacientes portadores de lesão ocular decorrente de infecção pelo Toxoplasma gondii no município de Campos dos Goytacazes”Mestranda: Marcela Santana Bastos BoechatOrientadora: Lílian Bahia de Oliveira (LBR/CBB)

“Ultra-estrutura de leucócitos, perfil hematológico e Bioquímica Sérica de avestruzes (Struthio camelus)”Mestrando: Sérgio Fernandes BonadimanOrientador: Renato Augusto DaMatta (LBCT/CBB)

“Análise compreensiva de marcadores STR no cro-mossomo X humano: Aplicações na genética médica e forense” Mestrando: Filipe Brum MachadoOrientador: Enrique Medina-Acosta (LBT/CBB)

Ciência Animal

“Utilização do sorgo (Sorghum bicolor, L. Moench) como sucedâneo do milho na alimentação de codor-nas japonesas (Coturnix japonica) com suplementa-ção de retinol, α-tocoferol e selênio”. Doutorando: Adolpho Marlon Antoniol de MouraOrientador: José Brandão Fonseca (LZNA/CCTA)

“Medidas morfométricas de cordeiros da raça Santa

Inês no Norte do Estado do Rio de Janeiro”.Mestranda: Aline Mineiro Costa Orientadora: Célia Raquel Quirino (LRMGA/CCTA)

Ecologia e Recursos Naturais

“Gestão das águas na bacia hidrográfica do rio Paraí-ba do Sul: governança, instituição e atores”Doutoranda: Maria Eugênia Ferreira TottiOrientador: Ailton Mota de Carvalho (LEEA/CCH)

Engenharia e Ciência dos Materiais

“Aproveitamento de Lama de Alto Forno em Cerâmica Vermelha”Mestranda: Alice Vasconcellos MothéOrientador: Carlos Maurício Fontes Vieira (LAMAV/CCT)

Engenharia de Reservatório e de Exploração

“Modelagem Sismoelétrica 2D do Acoplamento Poroelástico-Eletromagnético Usando o Método das Diferenças Finitas” Doutorando: Francisco Joclean Alves Vanzeler

Orientador: Viatcheslav Priimenko (LENEP/CCT)

Genética e Melhoramento de Plantas

“Estudos genéticos e moleculares como ferramenta auxiliar no melhoramento genético do mamoeiro”Doutorando: Pedro Corrêa Damasceno JuniorOrientadora: Telma Nair Santana Pereira (LMGV/CCTA)

“Efeito de extratos epicuticulares de frutos de goiabei-ra (Psidium guajava) sobre germinação de uredinios-poros de Puccinia psidii”.Mestranda: Kaleandra Freitas Sena Orientador: Silvaldo Felipe da Silveira (LEF/CCTA)

“Melhoramento genético do mamoeiro (Carica papaya L.): parâmetros genéticos e capacidade combinatória em ensaios de competição de cultivares”.Doutorando: Carlos David IdeOrientador: Messias Gonzaga Pereira (LMGV/CCTA)

Produção Vegetal

“Desenvolvimento de sensor de fluxo de seiva e de coeficiente indicador de estresse hídrico para plantas de cafeeiro arábica”Doutorando: Marcelo Gabetto e Silva

Orientador: Elias Fernandes de Sousa (LEAG/CCTA)

“Utilização de cadáveres de Galleria mellonella infec-tados com Heterorhabditis baujardi LPP7 no controle do gorgulho-da-goiaba Conotrachelus psidii (Coleopte-ra: Curculionidae)Doutorando: Eleodoro Eduardo Del ValleOrientador: Ricardo Moreira de Souza (LEF/CCTA)

“Diversidade e abundância de crisopídeos (Neuroptera, Chrysopidae) e interações com presas e parasitóides em pomares de goiaba em Campos dos Goytacazes, RJ”. Doutorando: Jatinder Singh Multani,Orientador: Gilberto Soares Albuquerque (LEF/CCTA)

“Determinação dos coeficientes da cultura (kc) e de produtividade (ky), da área foliar, da produtividade em função da lâmina de irrigação, do turno de rega e da adubação potássica na cultura do mamoeiro na região Norte e Noroeste Fluminense”. Doutorando: Robson Prucoli Posse, Orientador: Salassier Bernardo (LEAG/CCTA)

“Ajustamento osmótico e bioenergética celular em videiras submetidas ao estresse hídrico”Doutoranda: Silvia Aparecida Martim Orientador: Ricardo Enrique Bressan-Smith (LMGV/CCTA)

Teses e dissertações concluídas nos programas de pós-graduação - maio e junho de 2008

Por uma cultura de direitos humanos

Vera Candau, observada por Adelia Miglievich Ribeiro

Foto: Felipe Moussallem

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Uva: fruto tropicalPesquisadores mostram que clima do Norte Fluminense é propício para a uva de mesa; viticultores da Região já conseguem lucro em suas plantações

Há oito anos, quando pesquisa-dores da Uenf deram início às pri-meiras pesquisas sobre produção de uva, pouca gente apostava que a região pudesse reunir condições favoráveis à viticultura. Uma destas pesquisas foi da mestranda Kátia Murakami, que, em parceria com o produtor rural Antônio Brandão, de Cardoso Moreira, determinou as melhores épocas de poda para a videira Itália na região. Hoje, produ-tores como Neuza Maria Hespanhol Viana — que há dois anos trocou a criação de gado leiteiro pelo culti-

vo de uva de mesa do tipo niágara rosada — estão provando que, ao contrário do que se costuma pensar, a região tem um grande potencial para a viticultura.

Após dois anos de implantação do seu vinhedo em São Fidélis, Neu-za já realizou a primeira colheita, que foi praticamente absorvida por uma rede de supermercado de Cam-pos. Seu filho, o agrônomo Leandro Hespanhol-Viana, credita o sucesso do empreendimento ao uso das téc-nicas adequadas ao cultivo.

Agrônomo formado pela Uenf,

ele fez um treinamento na Embrapa Semi-Árido, no pólo de fruticultura concentrado nas regiões de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) — maior região exportadora de uva de mesa do país — antes de dedicar-se à viticultura. Também realizou treinamento com uvas viníferas em uma universidade que se localiza no centro da região produtora na Argentina. Atualmen-te, está na fase final do doutorado na área de Fisiologia Vegetal do Progra-ma de Produção Vegetal da Uenf.

Sua tese é uma das sete sobre viticultura que estão em andamen-

to na Universidade. Outras três já foram concluídas no Laboratório de Fitotecnia (LFIT) e no Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal (LMGV ) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da Uenf, onde os professores Ale-xandre Pio Viana, Ricardo Bressan-Smith e Celso Pommer dividem a co-ordenação das pesquisas. Pommer, que se dedica há 20 anos ao estudo da uva, é considerado uma autori-dade no assunto e desde 2007 vem atuando como professor visitante da Uenf.

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Uvas produzidas em São Fidélis (RJ)

Foto: Divulgação

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Um dos objetivos das pesquisas é entender como as diversas varie-dades de uva se comportam diante das condições climáticas regionais, tais como altas temperaturas e umi-dade relativa, grandes períodos de seca e chuvas torrenciais no verão. Os pesquisadores também buscam equacionar problemas típicos do cultivo de uvas em regiões tropicais. Um deles é a chamada “dormência” das gemas (brotos) — dificuldade de brotação após a poda. O problema costuma ser contornado com o uso de um produto químico.

— O problema é que este produ-to é altamente tóxico, podendo cau-sar sérios problemas de saúde para quem o aplica. Queremos entender, do ponto de vista bioquímico e fi-siológico, as razões pelas quais não ocorre a brotação das gemas natural-

mente após uma poda e, a partir daí, promover ações para superar este problema — diz o professor Bres-san.

Segundo Bressan, a poda é es-sencial para que as videiras produ-zam os frutos naqueles ramos que se desenvolvem a partir da brotação das gemas. O baixo nível de brotação é um problema comum em plantas de origem temperada cultivadas em regiões tropicais. A alternativa suge-rida pelo grupo é utilizar uma subs-tância atóxica para o homem, porém eficiente na indução da brotação.

Outro problema do clima tro-pical úmido — típico do Norte/No-roeste Fluminense — são as perdas ocasionadas pela irregularidade das chuvas, muitas delas torrenciais, du-rante a fase de maturação da fruta. É comum ocorrerem perdas signifi-

Produção de uva Itália em Cardoso Moreira

Orgulho: família Hespanhol Viana mostra sua produção.Foto: Divulgação

cativas na produção, principalmente em variedades de uvas sem semente. No final do ano passado, o grupo de pesquisa, sob organização do professor Bressan, foi contemplado no Edital de Inovação Tecnológica da Faperj com projeto de pesquisa visando justamente contornar este problema.

O projeto, que tem a parceria da produtora rural Neuza Hespanhol-Viana, tem por objetivo avaliar o comportamento fisiológico de vi-deiras sob uma estrutura plástica de proteção. Protegidas por esta estrutura, as plantas se desenvolve-rão num microclima diferente das condições em céu aberto, desde a fase de brotação até a composição nutricional das uvas produzidas

— Esperamos não só reduzir as perdas causadas pela ocorrência do cracking (rachaduras) nas uvas como também diminuir, em até 80%, o uso de fungicidas. Também serão estudadas, com a participação do professor Marcelo Gomes, do La-boratório de Ciências Físicas (LCFIS) da Uenf, as variações causadas na es-trutura plástica decorrentes da sua intemperização, com o objetivo de propor alterações visando a uma maior durabilidade — explica o pro-fessor Bressan, acrescentando que ainda serão propostas modificações estruturais no plástico com o objeti-vo de favorecer a qualidade espectral da luz, com o objetivo de otimizar a fotossíntese das videiras.

Segundo o professor Celso Pom-

mer, espera-se que em pouco tem-po seja possível disponibilizar uma espécie de pacote tecnológico que possa ajudar os produtores rurais interessados em iniciar a viticultu-ra. No momento, além de fornecer orientação técnica, a Uenf estuda os porta-enxertos — plantas do mes-mo gênero da uva, porém imunes às pragas do solo que impedem o crescimento da planta. Segundo o professor, o uso de porta-enxertos é indispensável para a produção de uva na maior parte das regiões do país.

— O Norte Fluminense tem um grande potencial para a viticultura. A maior dificuldade está na parte cul-tural dos produtores, pois a maioria ainda está habituada à cana-de-açú-car e à pecuária — afirma o professor Celso Pommer.

Embora os estudos voltados para a região priorizem as uvas de mesa, as variedades destinadas à produção de vinho e/ou suco não estão de fora das preocupações dos pesqui-sadores da Uenf. Em parceria com a Universidade Nacional de Cuyo, de Mendonza, Argentina, eles vêm se dedicando também ao estudo da fotossíntese, do metabolismo de carboidratos e de polifenóis em uvas cultivadas em altitudes elevadas (até 1.800 metros). Dentre os frutos da parceria, destaca-se o intercâmbio envolvendo pesquisadores e alunos de pós-graduação em projetos de cooperação com o apoio da Capes, Cnpq e Conicet.

Foto: Divulgação

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Clima da região permite duas safras anuais

Segundo o professor Ricardo Bressan, a idéia de que uva é uma cultura típica de climas frios não se aplica às variedades de mesa. En-quanto as variedades para vinho re-querem temperaturas mais amenas, as uvas de mesa se adaptam muito bem ao clima tropical. Prova disso está na região brasileira que hoje mais exporta uva de mesa: o Vale do São Francisco, que engloba os mu-nicípios de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).

— Uma das principais vantagens

da nossa região é a proximidade em relação aos grandes centros consu-midores, como Rio de Janeiro e São Paulo. A uva pode ser colhida num dia aqui e no outro já estar sendo vendida na cidade do Rio, por exem-plo. Isso significa uvas mais frescas e, portanto, de melhor qualidade para os consumidores — diz o professor Bressan, acrescentando que, em re-lação aos produtores do Sul do país, a região ainda leva vantagem em re-lação ao número de safras. Enquanto no Sul só há uma safra anual, aqui

é possível colher uva duas vezes por ano, possibilitando a oferta do pro-duto em diferentes épocas.

Segundo o professor Bressan, o início do cultivo requer um investi-mento de aproximadamente R$ 20 mil. No entanto, este valor pode ser alterado de acordo com a variedade, espaçamento e estrutura de condu-ção da planta. Dois anos após o plan-tio, é possível reaver todo o dinheiro investido. Ele observa que um hecta-re cultivado com a variedade niágara rosada corretamente manejada, em

plena produção, pode gerar cerca de 20 toneladas de uvas, o que ren-de cerca de R$ 40 mil (considerando R$ 2,00/kg) em apenas uma colheita. E, dependendo do nível tecnológico adotado, é possível realizar até duas colheitas por ano.

— A uva também tem a vantagem de ser uma cultura perene. Ao con-trário de outras frutas, como mara-cujá e abacaxi, por exemplo, que precisam ser replantadas em dois e três anos, as videiras podem durar mais de 10 anos — afirma.

Foto: Divulgação

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A Uenf bateu seu próprio re-corde de execução orçamentária em 2007, tendo conseguido apli-car cerca de 93% do que estava programado em seu orçamento. Dos R$ 92.014.494,00 previstos, a instituição conseguiu utilizar efeti-vamente R$ 85.450.582,01. Mas a frieza dos números esconde uma realidade quase sempre desperce-bida: a postura profissional de téc-nicos que superam seus próprios limites para que os mais variados projetos saiam do papel. Nada pa-recido com aquele estereótipo do funcionário público acomodado,

que confunde a burocracia dos papéis com uma atuação burocrá-tica frente ao trabalho e aos que dependem dele.

É verdade que este resultado também reflete a ausência de cor-tes ou contingenciamentos orça-mentários por parte do governo do Estado. No entanto, isto pouco adiantaria se não fosse o compro-metimento de cerca de 34 técnicos de áreas como Compras, Contabi-lidade, Finanças, Pagamentos, Pa-trimônio, Planejamento, Pregão e até Recursos Humanos. Isto sem falar nos bolsistas e estagiários.

— Aqui não houve recesso en-tre o Natal e o Ano Novo. Muitas vezes a gente teve que levar servi-ço para casa e trabalhar nos finais de semana — conta a gerente de Compras da Uenf, Lilia Ribeiro.

Uma das dificuldades é que ain-da não existe um sistema integrado para troca de informações entre os setores, o que faz com que muitos trabalhos continuem sendo manu-ais e individuais. Mas, como conta Thiago Manhães, da Assessoria de Pagamento, existe “muita cumpli-cidade e comprometimento” entre as diferentes equipes.

O esforço para utilizar os re-cursos previstos no orçamento mobiliza uma cadeia de setores de trabalho e de servidores. En-tre o pedido de aquisição de um bem ou contratação de um ser-viço e sua concretização existem diversas etapas que precisam ser cumpridas. Como elas envolvem diferentes setores, só um esforço determinado de interação e traba-lho em equipe pode permitir que os processos andem numa velo-cidade pelo menos próxima da desejada por quem espera o seu resultado.

Números, números e ... gente

Servidores da área administrativa da Uenf: articulação entre equipes Foto: Nériton Toledo

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Na 13.ª edição do evento mais im-portante do calendário anual da Uenf, quem está dando os primeiros passos na carreira científica pôde trocar expe-riências com várias personalidades do mundo acadêmico brasileiro. O 13.º Encontro de Iniciação Científica, reali-zado de 17 a 19 de junho, ao lado da 8.ª Mostra de Pós-graduação, reuniu 438 trabalhos de pesquisa desenvolvi-dos por alunos de graduação, mestra-do ou doutorado.

Falando a uma platéia de futuros pesquisadores, no dia 19 de junho, o presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães, disse que não faltarão va-gas para os que pretendem fazer dou-torado e seguir a carreira acadêmica. Lembrou, por exemplo, que foram abertas cerca de 10 mil vagas em con-cursos públicos na área federal nos úl-timos anos, estando previstas outras 57 mil até 2011 em escolas técnicas, sem falar em 14 mil vagas até 2010 nas uni-versidades federais.

Dividindo a mesa com o diretor científico da Faperj, Jerson Lima; o di-

retor de Relações Internacionais da Aca-demia Brasileira de Ciências, Paulo de Goes; e o reitor da Uenf, Almy Junior, o presidente da Capes usou boa par-te do seu tempo para falar do desafio de recuperar a escola pública brasilei-ra. Citou experiências bem-sucedidas, mas lembrou que sete em cada dez bra-sileiros não são capazes de entender a mensagem central de um simples texto de jornal.

Paulo de Goes, da Academia Brasi-leira de Ciências, falou sobre o novo pa-pel das academias de ciências no plano da cooperação científica internacional. Jerson Lima apresentou as linhas gerais da atuação da Faperj, destacando, entre outros aspectos, a conciliação do aten-dimento à demanda espontânea com o lançamento de editais orientados. E o professor Almy Junior mostrou nú-meros da Uenf e recapitulou traços da história da Universidade.

— É importante que os jovens pes-quisadores conheçam como chegamos até aqui e se envolvam ainda mais com a sua Universidade — defendeu.

Na abertura do 13.º Encontro de Iniciação Científica e 8.ª Mostra de Pós-graduação da Uenf, o Conselho Universitário, em sessão solene, entregou a Medalha Darcy Ribeiro à Faperj — Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. Recebida pelo diretor-presidente da Fundação, Ruy Garcia Marques, a Medalha é a maior honraria concedida pela Uenf, sempre em reconhecimento a pessoas ou instituições que te-nham contribuído para a existência ou o fortalecimento da Universidade.

O presidente da Faperj disse que a homenagem servirá para estimular ainda mais a instituição a continuar incentivando a ciência e a tecnologia em todo o Estado. Segundo Ruy Marques, a Faperj vem se empenhando no sentido de aumentar gradativamente os investimentos nesta área. No ano passado, foram lançados 17 editais, para os quais o Governo do Estado em-penhou cerca de R$ 200 milhões. Para este ano, a Faperj deverá lançar um total de 29 editais, totalizando R$ 220 milhões. Na ocasião, foi anunciado o aumento do valor das bolsas concedidas pela Faperj para o auxílio de es-tudantes de graduação e pós-graduação. O novo valor equipara-se ao pago pelo CNPq e pela Capes.

Encontro de gerações da ciência brasileira

Medalha Darcy Ribeiro para a Faperj

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Ruy Garcia Marques: Faperj aplicará R$ 220 milhões em 2008

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Reconstruindo a imagem de Dom João VI

Tópicos de uma história de 15 anos

Portugueses inconformados com a vinda da Família Real para o Brasil é que teriam dis-seminado a versão caricaturada de Dom João VI — a de um in-divíduo medroso, sem expres-são e sem iniciativa. Foi o que afirmou a historiadora Ismênia Martins, da UFF, em palestra na qual tentou desconstruir as versões estereotipadas de Dom João VI, no âmbito do 13º En-contro de Iniciação Científica e 8ª Mostra de Pós-Graduação da Uenf.

A historiadora buscou des-montar a tese de que D. João VI teria sido um “medroso” por ter resistido até o último ins-tante em deixar Portugal e vir para o Brasil. Segundo Ismênia, a perspectiva de enfrentar a in-vasão napoleônica seria muito mais pavorosa, tendo em vista o que já ocorria em outros lugares da Europa. Ir embora também era uma violação da ideologia do poder real, segundo a qual o monarca era mais que um go-

vernante, mas um verdadeiro “pai” para seus súditos.

— Também costumam cha-má-lo de medroso porque ele temia as forças da natureza. Mas essa não pode ser considerada uma fragilidade pessoal, tendo em vista a mentalidade da épo-ca — disse Ismênia, lembran-do que toda a sua geração era traumatizada por um terremoto que arrasara a cidade de Lisboa e fora seguido por cinco dias de incêndios.

Ismênia, que proferiu a pa-lestra de abertura do Encontro, na manhã de 17/06, também contestou a tese da suposta condição física desfavorável de Dom João VI. Segundo a pes-quisadora, nenhum registro empírico valida a versão carica-turada que costuma prevalecer. A longa resistência de Dom João às pressões inglesas pelo fim da escravidão também seriam, na sua opinião, uma prova de que ele não era um monarca incapa-citado para o cargo.

O 13.º Encontro de Inicia-ção Científica e a 8.ª Mostra de Pós-graduação da Uenf propicia-ram muitos debates. Numa mesa sobre a história da Uenf e sua inserção nacional e regional, o professor Carlos Alberto Dias, o ex-reitor Wanderley de Souza e o técnico Mário Lopes Machado resgataram aspectos importan-tes da história da instituição.

Acreditando no êxito da experiência de 15 anos da Uni-versidade, Wanderley de Souza contou episódios que, na sua opinião, reforçam esta idéia. En-tre eles, o encontro que teve em Luanda, na África, durante uma visita oficial, com dois engenhei-ros do petróleo formados pela Uenf que ocupavam altos postos em uma empresa de petróleo.

Recordou também a oportuni-dade que teve de comprar em Paris o mamão cuja semente foi desenvolvida na Uenf.

Na opinião do professor Carlos Alberto Dias, a instalação da Uenf, no início da década de 1990, desencadeou o tardio processo de interiorização do Estado do Rio. Segundo Dias, o projeto da Uenf previa uma universidade multicampi, tec-nológica, envolvida com o setor produtivo, dedicada a temas regionais e voltada fortemente para a pesquisa.

Já Mário Lopes contou a história do movimento popular pró-Uenf, que está registrada, com riqueza de detalhes, na en-trevista publicada nas páginas 14 e 15.

Wanderley de Souza

Ismênia Martins

Carlos Alberto Dias

Fotos

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Foto:

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Charles Darwin no Norte Fluminense

Bem-estar dos cães

As riquezas naturais não fo-ram o único atributo a chamar a atenção de Charles Darwin em sua expedição ao Brasil. Ao proferir palestra durante o 13º Encontro de Iniciação Cientí-fica e 8ª Mostra de Pós-Gradu-ação da Uenf, a presidente da Sociedade Brasileira de Ensino de Biologia, Sandra Seles, disse que os relatos do cientista britâ-nico mostram que ele se preo-cupava não só com as questões biológicas, mas também com as relações sociais.

— Além de registrar as espé-cies que encontrava, ele tam-bém fazia juízos de valor sobre a população e seus hábitos. Foi impertinente com a burocracia brasileira e um grande crítico da escravidão — disse Sandra Seles, lembrando que a expedi-ção de Darwin no Rio de Janei-ro teve como ponto de partida a cidade de Niterói e destino

final Macaé, no Norte do Esta-do.

Segundo a bióloga, os re-latos de Darwin permitem afirmar que ele viveu intensa-mente a experiência social ao visitar diversas populações no interior do Estado. Seu objeto de estudo, afirmou, não estava apenas no aspecto biológico do país, mas também na diver-sidade humana, e esta também exerceu seu papel, mais tarde, na formulação da teoria evolu-cionista.

— A viagem do Beagle foi um evento determinante em sua carreira. Aquele Darwin im-pactado pelas relações entre se-nhores e escravos, pelo modo de vida de um país tropical e escravagista serviu de base para que fosse construída a base em-pírica de seu trabalho — disse a pesquisadora, que falou na abertura do Encontro.

Os cães criados em casas, apar-tamentos e em canis respondem de maneira diferente a estímulos, como por exemplo, diferentes ti-pos de brinquedos que lhes são oferecidos. A análise é da aluna Hayla Felix Rodrigues, bolsista do Pibic/UENF, cujo trabalho — orien-tado pela professora Rosemary Bas-tos, do Laboratório de Reprodução e Melhoramento Genético Animal (LRMGA) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da Uenf — foi escolhido entre os melhores apresentados durante o 13º Encontro de Iniciação Cientí-fica da Uenf.

Após um período de adaptação junto aos animais, Hayla analisou durante duas semanas o compor-tamento de 27 cães criados em um canil particular, localizado em Ibi-tioca, distrito de Campos. O canil pertence a Luís Alberto de Oliveira Alves e Tânia Lúcia Tavares Bitte-court Alves. Os resultados prelimi-nares do trabalho mostraram que os animais do canil não se interes-saram por brinquedos tais como bolinhas, ossinhos, garrafas plásti-cas, entre outros objetos, mesmo sendo oferecidos de forma rotacio-nal para simular “novidade”.

— Acredito que isso ocorra por-que a maioria deles veio das ruas e pode ser que os objetos oferecidos não sejam um estímulo relevante, visto as experiências prévias que os mesmos já adquiriram. Além disso, o fato de alguns animais se-rem idosos pode contribuir com a falta de interesse aos objetos ofere-cidos — explica Hayla.

Iniciada em 2007, a pesquisa tem por objetivo verificar até que ponto este tipo de enriquecimento ambiental pode contribuir com o bem-estar dos animais, seja estu-dando indicadores comportamen-tais como também fisiológicos. O projeto pretende também estudar outras formas de enriquecimento, como estímulos sociais, olfatórios ou auditivos.

Coordenada pela professo-ra Rosemary — que desenvolve pesquisas na área de Fisiologia e Bem-estar animal junto ao LRMGA/CCTA —, a pesquisa “Bem-estar em cães: avaliação de indicadores comportamentais e fisiológicos em animais com e sem enriquecimen-to ambiental” também teve a par-ticipação da aluna de doutorado em Ciência Animal Sabina Secchin Scardua Vieira.

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Expansão vertical Mesas de discussão

De que forma o processo de verticalização de Campos, iniciado no século XX e intensificado na década de 1980, interfere nos vários aspectos da vida social? Responder a esta pergunta é um dos objetivos da aluna Kariny Barreto Silva, uma das premiadas durante o 13º Encontro de Inicia-ção Científica da Uenf, realizado de 17 a 19/06 no Centro de Convenções da Universidade.

Aluna do último período de Ciências Sociais, Kariny fez o mapeamento dos prédios do centro da cidade, identificando-os por idade. Ela obser-va que, embora o processo de verticalização de Campos tenha se iniciado pelo centro, hoje é mais intenso nos bairros adjacentes, como a Pe-linca e o Parque Tamandaré, por exemplo.

— No entanto, a verticalização da Pelin-ca não é comercial, como ocorreu no centro. Ela é residencial e vem junto com a idéia de ter status e morar em um local seguro. Percebe-se que a Pelinca está se tor-nando um novo centro, só que voltado para a classe média e alta — afirma Kariny, que tem a orientação

da professora Teresa Peixoto, do Laboratório de Estudo do Espaço Antrópico (Leea) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da Uenf.

Mas a verticalização também ocorre em lo-cais mais populares. O conjunto “Pombal”, na Pecuária, é um exemplo de verticalização po-pular, assim como o conjunto habitacional do Matadouro, construído pela Prefeitura. Kariny também chama a atenção para um outro proces-so de verticalização: a gentrificação, que ocorre quando um bairro deixa de ser operário, como vem acontecendo com o Parque Santo Amaro.

— Não estamos preocupados apenas com a preservação do patrimônio histórico da cidade. Nosso objetivo é compreender também como

este processo de verticalização interfere na paisagem urbana, no trânsito,

na coleta de esgotos, em resu-mo, na vida das pessoas — re-

sume Kariny, cujo título da pesquisa é “Processo

de verticalização em Campos dos Goyta-

cazes e perda do patrimônio his-

tórico”.

Uma novidade da 13.ª edição do En-contro de Iniciação Científica pelo jeito chegou para ficar: as mesas de discus-são. São grupos de até 15 estudantes — todos bolsistas de Iniciação Cien-tífica — divididos por áreas e subáre-as, com a moderação de um professor. Segundo a coordenadora do Programa de Iniciação Científica da Uenf, Claudia Dolinski, a inovação funcionou.

— Fiz questão de pedir um retorno dos moderadores, e todos disseram que foi muito bom e que querem participar de novo — diz.

Nos grupos de discussão, cada aluno pode falar mais tranqüilamente sobre o seu trabalho e trocar idéias com outros colegas. Como todos os participantes têm uma experiência para trocar (pois todos são bolsistas e de-senvolvem projetos em área similar), o intercâmbio acontece de verdade.

Trabalhos premiados – No total, 18 pesquisas de alunos da Graduação fo-ram premiadas durante o 13º Encontro de Iniciação Científica da Uenf, den-tro das categorias Pibic-Uenf (melhor apresentação oral e melhor pôster) e IC-Outros (melhor pôster por área de concentração). Os primeiros foram ava-liados por um Comitê Externo, formado por integrantes do CNPq, enquanto os últimos tiveram a avaliação de um Co-mitê Interno. A lista completa pode ser consultada em www.uenf.br.

Aluna pesquisa influência do processo de verticalização de Campos na vida social; trabalho foi um dos premiados no Encontro de Iniciação Científica

Foto:

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Hospital Veterinário: 300 cirurgias por ano

Junho de 2006. Alunos da dis-ciplina “Clínica reprodutiva de pe-quenos animais”, do 9º período de Medicina Veterinária da Uenf, exa-minam a cadela Mine, de 12 anos, através de um aparelho de ultra-som, confirmando uma alteração no útero do animal. Era o início das atividades do Hospital Veterinário da Uenf, que hoje já realiza mais de

100 atendimentos por mês e cerca de 300 cirurgias ao ano.

Para os alunos dos cursos de graduação em Medicina Veteriná-ria e de pós-graduação em Ciência Animal da Uenf, o hospital é o local onde os conhecimentos adquiridos em sala de aula podem ser coloca-dos em prática. O Hospital é dividi-do em vários setores, como Cardio-

logia, Dermatologia, Oftalmologia, Cirurgia, Atendimento a Grandes Animais, Laboratório de Patologia Clínica, Laboratório de Anatomia Patológica, Reprodução, Núcleo de Animais Selvagens, entre outros.

— O Hospital Veterinário da Uenf é o único da América Latina a ter um serviço de cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea — in-

forma o diretor do hospital, profes-sor André Lacerda.

O funcionamento ocorre de se-gunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h. Segundo o diretor, espera-se que futuramente o hospi-tal possa funcionar também durante a noite. A consulta custa R$ 35, mas quem não tem condições de pagar pode ser atendido gratuitamente.

Lucimara Lyrio

Foto: Divulgação

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Técnica cirúrgica inovadora

Neste caso, é preciso se dirigir ao hospital às terças e quartas-feiras.

— O Conselho Regional de Medicina Veterinária estabelece que só pode haver gratuidade na consulta quando o atendi-mento for direcionado a co-munidades carentes, pois isso pode caracterizar concorrência desleal com as clínicas parti-culares da região — comenta o diretor.

O hospital atende também animais de grande porte e pos-sui um núcleo só para animais selvagens — único na região — cujo atendimento é feito sem-pre às sextas-feiras. Segundo o professor André Lacerda, o hos-pital também presta apoio aos veterinários locais na realização de exames e cirurgias.

— No campo cirúrgico, o Hospital Veterinário da Uenf é considerado um dos mais im-

portantes em nível nacional. Uma ampla gama de exames e cirurgias, algumas delas inédi-tas no Brasil, são feitas no hos-pital, como a cirurgia cardíaca e a cirurgia através de orifícios naturais, chamada Notes (Na-tural Orifice Transluminal En-doscopic Surgery ou Cirurgia por Orifícios Naturais).

Projetado por Oscar Nie-meyer, o prédio do Hospital Veterinário ocupa uma área de 7,3 mil metros quadrados e foi entregue à Uenf em julho de 2006. Segundo o professor André Lacerda, o hospital ainda não está funcionando em sua plenitude, principalmente por-que o número de servidores ainda é pequeno.

— Entretanto, estamos ca-minhando para que em breve o hospital possa estar funcionan-do plenamente — diz o diretor do hospital.

Pesquisadores do Hospital Veterinário da Uenf conse-guiram desenvolver, recente-mente, uma técnica cirúrgica inovadora. Testada inicialmen-te em animais, a cirurgia ab-dominal através de orifícios naturais — também conhecida como Notes (Natural Orifice Transluminal Endoscopic Sur-gery ou Cirurgia por Orifícios Naturais) — foi utilizada pela primeira vez em um ser huma-no no ano passado. A técnica ajudou a remover a vesícula biliar de uma mulher, em uma cirurgia realizada no Hospital Universitário de Teresópolis.

Embora cientistas do mun-do todo venham desenvol-vendo pesquisas nesta área, não existe um equipamento apropriado para este tipo de cirurgia. No Hospital Veteriná-rio da Uenf, foi estudado um protótipo de um equipamen-to, testado experimentalmente em cadelas. Segundo o diretor do hospital, André Lacerda, é possível que num prazo de

Com esse dispositivo criado por pesquisadores da Uenf foi possível, pela primeira vez no mundo, a realização de uma cirurgia humana utilizando a técnica conhecida como Notes.

10 anos tal tecnologia seja aperfeiçoada pela indústria de equipamentos médicos e se torne popularizada.

Considerada a “cirurgia do futuro”, a Notes constitui um avanço em relação à vídeo-ci-rurgia, desenvolvida na década de 1980. Ao invés de pequenas incisões no abdômen, ela uti-liza orifícios naturais para a introdução dos instrumentos cirúrgicos, tais como boca, va-gina e cólon. A principal van-tagem é a rápida recuperação do paciente, que pode retor-nar às suas atividades normais apenas um dia após o procedi-mento cirúrgico.

Foto: Divulgação

Foto: Felipe Moussallem

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‘Valeu a empreitada’

Personagem central do movimen-to popular que deu origem, no final da década de 1980, à posterior criação da Uenf, o professor Mário Lopes Macha-do reconstitui cada detalhe da luta co-munitária pela universidade pública re-gional. O movimento conseguiu vários feitos que hoje pareceriam impossíveis. Primeiro, mobilizou a cidade de Campos a ponto de reunir 3.141 assinaturas qua-lificadas em uma proposta de emenda popular apresentada à Constituinte es-

tadual de 1989. Além disso, convenceu os constituintes de que a proposta de-veria ser aceita — sendo que, antes, eles tinham rejeitado outra emenda popular com mais de 50 mil assinaturas. Por fim, reuniu políticos de todas as tendências em favor de uma causa de interesse pú-blico. Professor aposentado do Cefet e técnico da própria Uenf na ativa, Mário Lopes conta os bastidores de uma bem-sucedida história de luta, idealismo e perseverança. Confira:

Nossa Uenf: O senhor foi um dos líderes do movimento popular pró-Uenf no final da década de 1980. Como foi esse movimento?

Mário Lopes: Em 1989, vivíamos o momento das constituintes esta-duais, que teriam que promover a adequação à nova Constituição Fe-deral. O professor Godofredo Pinto, que era deputado estadual, fez um contato dizendo que havia a oportu-nidade das emendas populares. Eu era professor da Faculdade de Filo-sofia de Campos e diretor do Sindi-cato dos Professores de Campos. Na condição de diretor do Sindicato, nós elaboramos, com a União dos Diretórios Acadêmicos, a Prefeitu-ra, a Associação dos Professores da Faculdade de Filosofia e o Centro Norte Fluminense para a Conser-vação da Natureza, uma minuta de emenda constitucional propondo a criação da Universidade Estadual do Norte Fluminense, com sede em Campos. Num prazo muito rápido, a gente conseguiu 4.141 assinaturas. O professor Luciano D’Ângelo, que era diretor da então Escola Técnica Federal, nos emprestou um ônibus da Escola. Eu e mais 38 estudantes fomos ao Rio de Janeiro e conse-guimos uma audiência na Comissão de Constituição e Justiça da Consti-tuinte. Em geral eram lideranças do movimento estudantil de diversas escolas, que ajudaram a colher as assinaturas. Liceu, Colégio Munici-pal (atual 29 de Maio), Colégio Agrí-

cola... Eram candidatos potenciais a ocupar essas vagas se lográssemos o êxito na empreitada. Um deles era o Renato Barreto de Souza, que muito tempo depois veio a fazer mestra-do aqui no CCH da Uenf. Você não imagina como é difícil coletar 3 mil assinaturas qualificadas, com nome legível, endereço, documento e a própria assinatura!

Nossa Uenf: Como foi a defesa da proposta na Constituinte?

Mário Lopes: Fomos recebidos na Comissão de Constituição e Jus-tiça, e lá estava o então deputado Sérgio Diniz, que nos ajudou mui-to. Tivemos 15 minutos pra fazer uma defesa prévia do texto. Expus que em nenhuma outra região uma universidade iria custar tão pouco ao Estado e trazer tantos benefícios. Disse também que não havia univer-sidade pública num raio de aproxi-madamente 300 quilômetros a partir de Campos e que, se fosse implanta-da uma universidade aqui, poderiam ser usadas as instalações das funda-ções mantenedoras das instituições comunitárias que já havia na cidade, conforme compromisso assumido anteriormente .

Nossa Uenf: Em recente pales-tra na Uenf, o senhor contou que o movimento pró-Uenf explorou uma certa “inconseqüência” típi-ca dos nossos políticos. Como foi isso?

Mário Lopes: O argumento foi que eles não iriam criar nenhuma di-ficuldade para o governador da épo-ca, o senhor Moreira Franco, porque o nosso projeto previa a criação da universidade três anos após a pro-mulgação da Constituição. Nossa argumentação foi suficientemente forte para que a emenda fosse incor-porada no Artigo 49 das Disposições Transitórias da Constituição Estadu-al de 1989.

Nossa Uenf: Mas setores da im-prensa ridicularizaram a proposta...

Mário Lopes: Uma edição do Jornal do Brasil tratou a proposta da Uenf como uma das “abobrinhas” do texto constitucional, nivelando o resultado da nossa luta com temas como um campeonato estadual de 20 clubes, a construção de áreas de lazer e coisas do gênero. Talvez a Uenf não fosse mesmo matéria de fundo constitucional, mas a gente conseguiu incluir a previsão de sua criação nas Disposições Transitórias. A então deputada Yara Vargas, que tinha encampado uma proposta do monopólio do ensino superior esta-dual pela Uerj, no entanto rejeitada, perguntou se haveria algum proble-ma em incluir duas emendas à nossa proposta. O parágrafo primeiro dizia que essa universidade teria cursos em Itaperuna, Itaocara e Santo An-tônio de Pádua. E o parágrafo se-gundo, capcioso, dizia que se aquele artigo não fosse regulamentado num

prazo de 18 meses da promulgação da Constitução, a universidade seria implantada com recursos da própria Uerj. Visivelmente a expectativa era que nós não conseguiríamos nos mo-bilizar dentro do prazo estipulado, e a criação da Uenf seria letra morta. Os parágrafos foram incluídos.

Nossa Uenf: Nova luta à vista, então...

Mário Lopes: Antes de se com-pletarem os 18 meses, deflagrou-se o movimento de sucessão no gover-no do Estado. Num debate na Facul-dade de Filosofia reunindo ilustres candidatos a deputados federais e estaduais, nas vésperas da eleição de 15 de novembro de 1990, surgiram propostas as mais díspares para a luta pela universidade pública regio-nal. Então eu pedi uma questão de ordem e ponderei que naquele mo-mento não podíamos correr o risco de jogar fora o resultado de toda aquela luta do movimento popular e que o Artigo 49 da Constituição precisava ser regulamentado. Defen-di então que o candidato que tivesse naquele debate mais possibilidades de acesso ao governador Moreira Franco deveria lhe pedir, em caráter de urgência, uma lei encaminhada do próprio Gabinete regulamentan-do esse artigo. Mais à frente, nós poderíamos lutar para fazer cumprir a Constituição Estadual. E na época o senhor José Carlos Vieira Barbo-sa, que era candidato a deputado

Entrevista /Mário Lopes

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estadual, se prontificou a fazer esse contato.

Nossa Uenf: E fez?

Mário Lopes: Ele não foi eleito, mas prestou esse serviço. Reuniu-se conosco no dia seguinte, no gabine-te da professora Zuleima de Olivei-ra, e juntos elaboramos a minuta. Moreira Franco atendeu o pedido e propôs uma lei em caráter de urgên-cia para regulamentar o Artigo 49. Numa solenidade festiva, no audi-tório do Colégio Auxiliadora, com a presença do então prefeito Anthony Garotinho, de lideranças políticas da época, como o senhor Rockfeller de Lima, o próprio ex-prefeito José Car-los Vieira Barbosa — eu tenho o re-trato desse momento histórico —, ao som de fanfarras, foi sancionada aqui em Campos a lei 1.740, de 08/11/90. Foi uma lei muito simples, que dizia basicamente “Fica criada a Universi-dade Estadual do Norte Fluminense nos termos do Artigo 49 das Dispo-sições Transitórias”. Bom, mas aí aconteceu a eleição, e quem ganhou foi Leonel Brizola, que designou a implantação da Universidade ao pro-fessor Darcy Ribeiro. E com Darcy Ribeiro, o projeto da Uenf ganhou a dimensão de uma universidade de excelência, mas essa parte da histó-ria já é mais conhecida. Quem teve a felicidade de apresentar na Alerj o projeto, elaborado no gabinete do governo, foi o então deputado Fer-nando Leite.

Nossa Uenf: Duas coisas cha-mam a atenção no seu relato. Uma é a capacidade que vocês tiveram de fazer pessoas de linhas políticas ou filosóficas as mais variadas convergir em torno de uma causa de interesse público, o que não é comum...

Mário Lopes: Se você for pesqui-sar o abaixo-assinado, lá no arquivo da Alerj, você vai encontrar assina-turas de muitas pessoas anônimas, pessoas simples da comunidade. As

lideranças da época também tiveram o seu papel, cada uma a seu modo. Mas também é verdade que muita gente achou que aquilo não iria dar em nada.

Nossa Uenf: Esse é o segundo as-pecto. Falando francamente, se fosse hoje o senhor daria tanto crédito a um movimento dessa natureza?

Mário Lopes: Se a conjuntura fosse semelhante, acho que valeria. Se estivéssemos vindo de uma Cons-tituição Cidadã como a de 1988, com aquele ambiente de inquietação, eu acho que valeria a pena. Como acho que vale uma série de movimentos que os tempos de hoje requerem da gente. A questão da moralidade na administração pública requer uma mobilização do gênero. Não com os mesmos instrumentos, mas com par-ticipação popular.

Nossa Uenf: Agora, em que a Uenf está completando 15 anos, como o senhor avalia a forma como a sociedade valora essa instituição que lhe custou tanta luta?

Mário Lopes: Acho que a socie-dade ainda não conhece suficien-temente a Uenf. É inadmissível que sobrem vagas em alguns cursos gratuitos e de grande qualidade, enquanto para as faculdades parti-culares haja uma correria atrás de bolsas de estudos. Também o Poder Público, se conhecesse a Uenf, apro-veitaria o potencial de seus pesquisa-dores para ajudar a solucionar pro-

blemas crônicos da nossa cidade. Já imaginou se a comunidade universi-tária estivesse sendo convidada para discutir e buscar uma solução para o lixo urbano, para o combate a zo-onoses, para a elaboração de planos viário e urbanístico para a cidade? Como pensar um amplo programa de desenvolvimento local e regional deixando de fora o conhecimento produzido dentro da Universidade? Já se faz necessário ter em nossa ci-dade instituição de amparo à pesqui-sa local, com recursos públicos, para financiar vários estudos de interesse sócio-econômico. Ao preço que se paga para construir ou reformar uma praça, poderíamos financiar projetos que resolveriam problemas sérios da nossa cidade.

“ Se o Poder Público

conhecesse a Uenf, aproveitaria o

potencial de seus pesquisadores para ajudar a solucionar problemas

crônicos da nossa cidade”

Mário Lopes

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Janela para o mundoProjeto da Uenf ensina servidores terceirizados a ler e escrever

Varrer, limpar, encerar. Até março deste ano, era apenas para cumprir estas tarefas que Eva Regina de Souza dos Santos se dirigia às salas de aula da Uenf. Há dois anos trabalhando no serviço de limpeza da Universidade, Eva — que nunca freqüentou a esco-la — é uma das seis alunas que estão concluindo a primeira etapa do cur-

so de alfabetização para servidores iniciado em março, tendo à frente o professor Luiz Otávio Neves Mattos, do Laboratório de Estudos de Educa-ção e da Linguagem (Leel).

O curso é uma atividade de exten-são realizada no âmbito da disciplina “Fundamentos da Alfabetização 2”, da Licenciatura em Pedagogia. O sucesso

Agora com óculos, alunas se preparam para a segunda etapa do curso

da primeira etapa foi comemorado no dia 10/07, com um almoço reunindo os integrantes da disciplina e as alu-nas do curso. Na ocasião, as alunas que apresentavam problemas visuais — identificados previamente por um médico — foram presenteadas com óculos.

Eva ficou órfã de pai e mãe aos 10 anos de idade e, por isso, começou a trabalhar ainda criança para ajudar a avó a sustentar os cinco irmãos. Foi trabalhadora rural e empregada do-méstica antes de conseguir uma vaga na empresa Ferthy Clean, responsável pelo serviço de limpeza da Uenf.

— Eu não conhecia nenhuma letra, mas agora já conheço. Estou muito animada com o curso, nunca vamos esquecer o que o professor Luiz está fazendo por nós — diz Eva, que atua no Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da Uenf e mora na comunidade do Matadouro.

Embora tenha cursado até a ter-ceira série, Claudelma Francisca Al-varenga, colega de Eva, tinha muita

dificuldade em ler e escrever. Agora, ela diz que já é capaz de escrever uma carta — o que pretende fazer nas fé-rias, endereçando-a ao professor Luiz Otávio. Mãe de um casal de filhos e avó de seis crianças, Claudelma não pretende parar de estudar.

— Gostaria que aqui tivesse tam-bém um curso supletivo. Tenho mui-ta vontade de fazer cursos na área de culinária e, para isso, é importante saber ler e escrever corretamente — afirma.

As aulas, que acontecem de terça a quinta-feira, das 12h20 às 14h, na sala 207 do CCH, têm ainda a ajuda da aluna de Pedagogia Alcimere Si-queira, bolsista de monitoria. O curso toma por base as propostas pedagó-gicas de Emília Ferrero, “Psicogênese da palavra escrita” e de Esther Pilar Gross (perspectiva pós-construtivista, utilizada pelo Grupo Geempa, do Rio Grande do Sul). Ao término da pri-meira etapa do curso — que continua em agosto —, os alunos montaram um livro de receitas escrito à mão.

Foto: Felipe Moussallem