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Gabrielle Silva

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Informativo do PET CNX Educomunicação desenvolvido em janeiro/2013

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Page 1: Conexões Impressas n0 ano1

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Lei de cotas:um novocapítulo

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Acreditem. Este não é o fim das discussões, normalmenteacaloradas, entre os que debatem sobre a reserva de vagas. Explico.No dia 26 de abril deste ano, o Supremo Tribunal Federal decidiu,por unanimidade, que o sistema de cotas raciais é constitucional. Nodia 15 de outubro, a presidenta Dilma assinou o decreto que regula-menta a Lei n°12.711, a nova Lei de Cotas para ingresso no ensinosuperior. Esse acontecimento - histórico - que passou do constituci-onal ao decretado em menos de seis meses, é mais do que pertinentepara o primeiro informativo do PET Conexões Educomunicação. Issoporque estamos falando de competitividade. De algo que parece “ti-rar” o direito adquirido de uns e “dar” a ou-tros. Não pretendo aqui reconstruir esta frasecom elucidações técnicas para a dita merito-cracia, já tão bem definida por juristas, polí-ticos, cientistas sociais, etc. Mas é ela que meincomoda. É esta palavrinha tão traiçoeiraque parece dotar alguns de mais esforço e ca-pacidade que outros.

Se não foi perceptível, esclareço quesou a favor da decisão do STF, mas que se ti-vesse sido tomada antes, eu não seria. Escla-reço, ainda, que não pretendo convencer osque já esgotaram os argumentos possíveis etão enfaticamente se manifestam contrários.Anseio, apenas, alertar ao leitor desse infor-mativo sobre um pequeno detalhe, o grandedetalhe que fez com que eu revisse meus jul-gamentos.

Há algum tempo, em uma discussão que tive com um gran-de e admirado amigo, este me contou sobre uma conversa com umprofessor não menos admirado por nós dois e na época recém-in-gresso no curso de Jornalismo. Ele lhe disse, quando questionado so-bre cotas, com um tom quase poético e memorável para esse amigo,que se a história do Brasil começasse hoje, talvez ele não fosse a fa-vor, mas que não era o caso. Foi esse argumento e essas duas pessoasque me fizeram olhar ao meu redor, quando eu achava que já enxer-gava tudo e esbravejava, de boca cheia, o mais falho dos argumentos,de que as cotas só causariam mais desigualdade. Mas tudo se tornouuma questão de realidade, de realidades, não vistas ou esquecidas.

Sou aluna egressa de escola pública, filha de pais que, comcusto e já com certa idade, conseguiram concluir o ensino funda-mental e médio. Mesmo nas duas famílias - grandes por sinal, são 15tios e tias - meu irmão mais velho foi o primeiro a sonhar com a Fe-

deral. Alguns conseguiram depois dele e, entre eles, eu e meu irmãomais novo. Não espero suspiros de indulgência, mas almejo a com-preensão para as mencionadas realidades, muito mais complexas doque a minha própria. Não pretendo, também, justificar a necessidadede resgate histórico. Peço apenas para que o colega universitárioolhe para os lados. Se mais da metade da população do país é com-posta por negros, onde estão estas pessoas nas salas de aula, alunosou professores, ou mesmo no Restaurante Universitário? Sãopouquíssimas... Atreve-se a acreditar que lhes falta capacidade? In-teresse? Esforço?

Não citarei aqui os índices deviolência contra os negros, os salá-rios baixos, os cargos de pouca ins-trução (aqui não desmerecidos, masenfatizados por sua predominânciaentre a população negra) ou a saúdeprecária. É só jogar no Google. Ape-nas o recorte econômico não conse-gue atingir essas pessoas que ouatrasam em anos sua conclusão doensino médio ou mesmo que nãoconseguem concluí-lo. Nem possoacreditar que alguns se convencemde que a melhoria do ensino públicoé a solução para a questão. Minhagente, mesmo que as medidas go-vernamentais consigam melhorar aeducação a tempo de desmarginali-

zar estes brasileiros, é preciso segurança, amparo familiar, trans-porte ou mesmo comida para estes jovens. E o mérito em tentarsuperar isso? Quem considera?

Para mim, parece que estas pessoas não podem mais espe-rar. As possíveis mudanças partiriam de um governo que invertesseos valores até agora priorizados. Não se trata de reparar eternamen-te a falha do que deveria ser garantido por lei. As cotas não são eter-nas e também necessitam do recorte socioeconômico. Precisamosver estas pessoas ocuparem todos os tipos de cargos e serem repre-sentantes de si. Pais e mães negros que por terem se formado no en-sino superior consigam enxergar seus filhos na universidade e osincentivem. O Brasil não é só a escola ou curso pré-vestibular noqual você estudou. 71% dos indigentes são negros e existem pessoasa serem inseridas. O mérito delas está em superar dificuldades que amaioria não dimensiona.

Conexões impressas: ano 1, número 0e comemoraçãoO PET Conexões dos Saberes Educomunicação comemo-ra a regulamentação da nova Lei de Cotas com o lançamento daprimeira edição do nosso informativo. Ele não é a cara do PETporque o nosso grupo é de várias caras. É o nosso lado conexista.Estamos comemorando porque enxergamos as cotas como umpasso para a inclusão.É um passo para que as minorias tenham oportunidadede começar um trabalho como o que realizamos, um trabalhoque, como diria nossa pequena (grande) tutora, é, em primeirolugar, um empoderamento, uma autoafirmação de nossas identi-dades. Nos últimos dois anos, o PET as viu crescerem e se fortale-cerem. Se não são parecidas, ou mesmo se costurar as nossasdiferentes áreas do conhecimento apresenta obstáculos em al-guns momentos, aqui no PET CNX nós nos reconhecemos quando

partilhamos nossas histórias e quando enfáticos e até exaltadosdiscutimos a necessidade de ver mais dessas histórias na univer-sidade. Os rostos aqui são comuns e esperamos nos tornar co-muns a todos e em todos os espaços.Nessa edição fomos tão redundantes em relação à te-mática principal quanto ela exige que se faça nesse momento. Oassunto precisa se fortalecer e, para isso, ele precisa circular,principalmente no campus. Não somos especialistas, mas apre-sentamos material de quem fala de “dentro”. Trimestralmente,além de informar sobre as atividades do grupo, propomos tratarde educomunicação, ações afirmativas, preconceito, identidadedas minorias e inclusão de forma geral, sempre a partir das nos-sas interpretações. Para além dos Choques e Ciclos, o PET infor-ma à comunidade acadêmica!

editorial

opinião

O mérito das cotasGabrielle Silva

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Andressa: petiana em busca demudança e movimentop

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Diélen BorgesNome: Andressa Garcia CastilhoData de nascimento: 05/02/1991Naturalidade: UberlândiaFamília: Tenho uma irmã, minha sobrinha, minha mãe e meu pai.Infância: Melhor fase da vida. O melhor da vida acontece nainfância. Brincadeira, amigos, a escola, as relações puras, seminteresse nenhum.Você fazia muita bagunça? Eu era a nerd da sala, mas eu confessoque eu era baderneira. Eu sentava na primeira carteira, do lado doquadro, e quando os alunos iam passar pra falar com a professora, euderrubava o apagador com a régua e toda hora um ia e catava. Essaera uma das pouquíssimas malandragens, têm muitas.E agora você faz Pedagogia e pretende ser professora? Eupretendo e eu brinco muito com meus alunos. Acho que essaPedagogia séria, do professor se manter distante do aluno, não, eletem que criar um vínculo.UFU: Oportunidade! Que eu tive de entrar e mudar muitos dospensamentos que eu tinha.PET Conexões: Foi uma inovação pra mim: conhecer algumas áreas,trabalhar com elas e ainda conviver com pessoas que estudam coisascompletamente diferentes de mim, mas que têm uma ligação ali, queàs vezes a gente não percebe.Sua maior qualidade: Deixa eu pensar... Essa é difícil! Acho que eusou muito sociável.Um defeito: Minha falta de paciência.O que te irrita: A falta de escutar outra pessoa e compreender.Um medo: Não alcançar aquilo que eu desejo alcançar.E o que é? Eu penso em me formar, estudar e ter uma mente maisaberta para determinadas coisas. Não só bens materiais. Ser umapessoa melhor. Na hora em que eu penso na Andressa que entrou nauniversidade e a que está saindo agora, as diferenças são muitas. Àsvezes fico até com vergonha de falar que eu pensava de tal maneira.O que mudou? Muita coisa. A questão de rever determinadospreconceitos que eu tinha. Uma Andressa mais aberta a novas ideiase a ouvir o outro. A pensar em coisas que não sejam boas só paramim, mas para o coletivo.Um autor: Mario Sergio Cortella.Um(a) cantor(a): Adelle.Uma paixão: Minha profissão.Uma pessoa que te inspira: Minha mãe.Filosofia de vida: Sempre buscar algo, não se contentar com aquiloque tem. Não digo bens materiais, mas o seu pensamento. Nuncaparar e pensar que aquilo é o máximo a que você chegou. Buscarsempre inovação consigo mesmo, com as pessoas. Não ficar paradoem um ponto. Movimento.

Não cresci com as melhores oportunidadesque os bens materiais podem oferecer, masnasci com uma família que sempre me fezacreditar nos meus sonhos, e dizia quandopensava em desistir: quem disse que seriafácil? Vá em frente.

Estudante de Pedagogia está há dois anos no PET CNX Educomuni-cação e, desde setembro, faz intercâmbio na Universidade de

Coimbra, em Portugal

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InformativosO PET CNX Educomunicação rea-

lizou uma parceria com o PET Educação Fí-sica, para a reformulação do "Info PETEducação Física". Com a assistência dasalunas Cíntia de Sousa e Adenísia Rocha,do PET Educomunicação, o jornal ganhouuma nova versão no planejamento gráficoe linha editorial. A primeira edição refor-mulada foi lançada em julho e contou comnotas e matérias relacionadas às atividadesdo PET e do curso de Educação Física, alémde áreas destinadas ao entretenimento.Outra parceria foi feita com a ComunidadeTerapêutica Nova Criatura, que tambémganhou um veículo de divulgação do tra-balho feito na recuperação de adictos. Maisuma edição do "Transformação" seráfinalizada em dezembro.Edital do Telecentro

Está aberto o edital de seleçãopara cursos de informática no TelecentroComunitário da UFU. São cursos gratuitosoferecidos pelo PET CNX Educomunicaçãono período matutino para a terceira idadee no período noturo para professores darede pública. Foram disponibilizadas 10vagas para cada turno e o perídodo de ins-crição é até 11 de janeiro de 2013. A lista deselecionados será publicada no dia 21 dejaneiro no site da UFU. Os cursos têm car-ga horária de duas horas semanais e trêsmeses de duração. As inscrições são reali-zadas na sala do PET CNX Educomunicação- Bloco 5 “O” ou na secretaria do Bloco "G",no campus Santa Mônica.X Jornada PET

O InterPET da UFU promoveu,entre os dias 26 e 30 de novembro, a X Jor-nada PET. O tema central dessa edição foi“Plano de carreira: Você e seu futuro pro-fissional”. O InterPET é composto atual-mente por 25 grupos PET, que durante o

evento trabalharam em conjunto. O públi-co alvo foi a comunidade externa, em es-pecial os alunos do ensino médio dasescolas públicas e particulares, com o ob-jetivo de mostrá-los as diversas possibili-dades de carreira para o futuroprofissional. Foram realizadas oficinas,mostra de profissões e mesa-redonda.Parceiros

Em setembro, o PET CNXEducomunicação recebeu três parceiros doprograma Jovens Talentos para a Ciência.A iniciativa da Coordenação de Aperfeiço-amento de Pessoal de Nível Superior (Ca-pes) e do Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq) selecionou 77 mil estudantes emtodo o país, ingressantes no primeiro se-mestre de 2012, para introduzi-los na prá-tica acadêmica da ciência e da tecnologia.A intenção é de que em 2013 o destino dosalunos de Comunicação Social MarcosPaulo, Paula e Anna Vitória seja o Progra-ma Ciência sem Fronteiras no exterior.Novos petianos

Até 20 de janeiro, estarão abertasas inscrições para seleção de nove petia-nos. São três vagas para bolsistas e seis pa-ra não bolsistas. Podem concorrer alunosdos cursos de Jornalismo, Pedagogia e Li-cenciaturas. As inscrições são feitas na salado PET CNX Educomunicação no Bloco 5"O". O edital está disponível no site da UFU(www.ufu.br) ou na sala do PET.Líderes negros

Barack Obama, o primeiro presi-dente negro dos Estados Unidos, reelegeu-se esse ano. O democrata disputou a per-manência no poder com o republicanoMitt Romney. O mundo inteiro acompa-nhou a apuração. Ao final da eleição, nodia 7 de novembro, a vitória de Obama fi-cou confirmada e o resultado foi comemo-

rado com entusiasmo pelos que apoiavama sua candidatura. No discurso da vitória,Obama agradeceu a todos os voluntáriosque trabalharam na campanha e à sua es-posa, Michelle, pelo apoio nos 21 anos decasamento. Uberlândia também elegeu seuprimeiro líder negro: Gilmar Machado(PT), eleito prefeito com 68,72% dos votos.Ele superou a aprovaçao do deputado LuizHumberto Carneiro (PSDB), apoiado peloatual prefeito Odelmo Leão (PP).Diário de Classe

A estudante Isadora Faber, de 13anos, criou uma página no Facebook, cha-mada “Diário de Classe”, para denunciar osproblemas da escola pública onde estuda,em Florianópolis-SC. A aluna do sétimoano usa a rede social para publicar fotos,vídeos e comentários sobre a rotina e a si-tuação da escola. A busca por uma educa-ção de qualidade e melhorias nainstituição foi o que motivou a aluna a cri-ar o diário virtual. A iniciativa, que já con-quistou mais de 200 mil seguidores,estimulou a criação de outras páginas como mesmo intuito. Algumas das reclamaçõesforam atendidas depois da repercussão dapágina.Enade

O Exame Nacional de Desempe-nho de Estudantes (Enade) foi realizado nodia 25 de novembro em todo o territórionacional. O Enade integra o Sistema Naci-onal de Avaliação da Educação Superior(Sinaes) e tem como objetivo contribuirpara a avaliação dos cursos de graduação.A responsabilidade pela inscrição dos es-tudantes no Enade é das próprias institui-ções. Porém, o concluinte dos cursosavaliados em 2012 que não compareceu àprova, sem amparo pelos critérios de dis-pensa previstos, fica em situação irregulare não poderá concluir o curso de gradua-ção. Mesmo com a punição prevista, o ín-dice de abstenção foi de 20,1%.

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Mural do PET

notas

O que os petianos contam e comentam Deisiane Cabral, Kênia Leal e Valquíria Amaral

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Quais as chances reais de um negro pobre ocupar uma posição de prestígio na sociedade? O mito Jo-aquim Barbosa deu um nó na cabeça de muita gente. A exceção é abraçada como regra argumentativa paraculpar as vítimas por seus insucessos. Não é estranho que ele seja o único?

O faxineiro, agora presidente do Supremo Tribunal Federal, saiu de Paracatu, cidadezinha mineirade 84 mil habitantes que ainda preserva cinco quilombos. De lá também saiu outro Barbosa, sem parentescocom o famoso: Elmo Barbosa Guimarães, que aos 11 anos veio morar em Uberlândia, onde tenta ser, também,exceção.

Os 29 anos da história de Elmo não atraem tantos holofotes como a de Joaquim – talvez por ser maiscomum, regra. Estudou em escolas públicas de baixa qualidade e sente que pouco aprendeu por lá. Fazia asexta série quando começou a trabalhar na borracharia com o pai e mantém o emprego até hoje. Na família detrês irmãos, ninguém foi à universidade. Lembra que algum primo fez curso técnico ou faculdade particular.Alternativa

Convivendo com universitários que povoam essa cidade em que há mais de dez instituições de ensi-no superior, o paracatuense (que não é mito) se viu capaz de subverter a regra: quis fazer faculdade. “Por on-de começar?”. Recomendaram-lhe o cursinho pré-vestibular para que pudesse “descobrir seu rumo”.

Há dois anos e meio, Elmo assiste às aulas em um dos pré-vestibulares mais renomados da região.No turno da noite, por causa da borracharia. Foram três vestibulares para o curso de Geografia da UFU, aindasem ver o nome na lista de aprovados. “Eu sempre gostei de gráfico, mapa, rocha, mata; eu adoro viajar”.

Enquanto o Barbosa que quer ser geógrafo do IBGE tenta digerir em meses o que não pôde engolirem anos, as regras do jogo começaram a mudar. O decreto nº 7.824, de 11 de outubro 2012, regulamentou a Leinº 12.711, garantindo a reserva de 50% das vagas nas universidades federais para estudantes que cursaram oensino médio em escolas públicas.

Elmo participará do processo da UFU pela primeira vez como cotista. O Conselho de Graduação e oConselho Superior da instituição decidiram implantar o sistema de cotas já no próximo processo seletivo. AUFU, porém, já possuía o Programa de Ação Afirmativa de Ingresso ao Ensino Superior (PAAES), avaliação se-riada exclusiva para estudantes de escola pública. O diretor de Processos Seletivos Gilmar da Cunha Sousa ex-plica que, nos próximos dois anos, os 50% de cotas na UFU se subdividirão: 25% para o SISU e 25% para oPAAES, até que as duas etapas em andamento sejam concluídas. A partir de 2015, o PAAES será extinto. Nomeio do ano, não há PAAES e, se não tiver ENEM, a UFU fará o próprio vestibular.

Concorrentes como Elmo encaixam-se ainda em subcotas: 50% das vagas oferecidas pela universi-dade ficam reservadas para quem cursou o ensino médio todo em escola pública – 25% para alunos cuja rendafamiliar per capita é igual ou inferior a um salário mínimo e meio e 25% para os que têm essa renda superior aum salário mínimo e meio. Em cada um desses subgrupos, observa-se o recorte racial, na proporção das raçasdeclaradas no Censo 2010. Em Minas Gerais, são 53,4% de negros (pretos e pardos) e 0,2% de indígenas.Permanência

O desafio não se encerra na aprovação. Do lado de dentro, vem o problema da permanência. Em2011, 1.204 alunos matriculados na UFU renunciaram às suas vagas. A universidade oferece apoio para neces-sidades básicas: alimentação, moradia e transporte. Até o Programa de Educação Tutorial (PET), tradicional-mente meritocrático, já apresenta suas versões PET Conexões de Saberes, que seleciona bolsistas evoluntários não apenas com base em notas ou avaliações, mas também no histórico socioeconômico.

São 15 programas no país e precisa haver mais, na opinião da tutora do PET Conexões Educomuni-cação, Adriana Omena. “Acho que isso não tem volta. O PET não será mais o mesmo. Ele não muda drastica-mente, mas há uma pequena mudança e do ponto de vistas das engenharias, uma mudança mínima feitaagora, terá um resultado imenso lá na frente.”

Essa inédita geração de cotistas encontrará na UFU um novo reitor, o professor Elmiro Santos Re-sende, empossado no dia 12 de dezembro, para quem as cotas são medidas necessárias neste momento. “Mas épreciso que seja acompanhado e que os resultados obtidos sejam progressivamente transformados em outrasações afirmativas de uma amplitude muito maior, que é tornar essa sociedade mais igualitária, com menosdiscriminações, menos preconceitos. Isso é um processo educativo que significa mudança de comportamentoe mudança de cultura dentro de todas as categorias que compõem a sociedade brasileira.”Espelho

“Joaquim Barbosa não precisou de cotas”, repetem os contrários a essa política – e o fazem, sobre-tudo, virtualmente. O mito, porém, já afirmou que só é contra as cotas quem vê seus interesses contrariados.Elmo precisa das cotas, mas repete a ideia de que elas não são o ideal porque o problema está na educação.

“Há um momento em que você deixa de ser o espelho, porque você está numa realidade na qual ocoletivo não tem essa mesma possibilidade. Eu não posso colocar que um por cento que conseguiu seja refe-rência para 50% da população.”. Quem diz isso é outra exceção que os cotistas encontrarão no campus SantaMônica (onde, se não há muitos alunos negros, professores então!). Gerson de Sousa é coordenador do cursode Comunicação Social: habilitação em Jornalismo, doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo(USP) e negro. Estudou em escola pública, fez curso técnico em mecânica, graduação em faculdade particular.Não teve cotas e as defende como “ganho histórico”.

Da exceção à regracapa

Alunos da rede pública, pobres e negros estarão na lista de aprovados da UFU

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Diélen Borges e Gabrielle Silva

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A Europa pelas lentes de um petianogaleria

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Bairro deMontmartre,

em Paris

Porto, emPortugal

Paris a l'ananas

Sintra, em Portugal

Brunner Macedo, aluno do cursode Jornalismo e integrante doPET CNX Educomunicação,fotografa a Europa durante seuintercâmbio. Ele e Marcos Reisestudarão na Universidade doPorto até fevereiro de 2013.

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1- as cotas ferem o princípio da igualdade, tal como definido noartigo 5º da Constituição, pelo qual “todos são iguais perante alei sem distinção de qualquer natureza”. São, portanto, incons-titucionais.Na visão, entre outros juristas, dos ministros do STF, Marco Auréliode Mello, Antonio Bandeira de Mello e Joaquim Barbosa Gomes, oprincípio constitucional da igualdade, contido no art. 5º, refere-se aigualdade formal de todos os cidadãos perante a lei. A igualdade defato é tão somente um alvo a ser atingido, devendo ser promovida,garantindo a igualdade de oportunidades como manda o art. 3º damesma Constituição Federal. As políticas públicas de afirmação dedireitos são, portanto, constitucionais e absolutamente necessárias.2- as cotas subvertem o princípio do mérito acadêmico, único re-quisito que deve ser contemplado para o acesso à universidade.Vivemos numa das sociedades mais injustas do planeta, onde o “mé-rito acadêmico” é apresentado como o resultado de avaliações obje-tivas e não contaminadas pela profunda desigualdade socialexistente. O vestibular está longe de ser uma prova equânime queclassifica os alunos segundo sua inteligência. As oportunidades soci-ais ampliam e multiplicam as oportunidades educacionais.3- as cotas constituem uma medida inócua, porque o verdadeiroproblema é a péssima qualidade do ensino público no país.É um grande erro pensar que, no campo das políticas públicas demo-cráticas, os avanços se produzem por etapas sequenciais: primeiromelhora a educação básica e depois se democratiza auniversidade. Ambos os desafios são urgentes e pre-cisam ser assumidos enfaticamente de forma simul-tânea.4- as cotas baixam o nível acadêmico das nossasuniversidades.Diversos estudos mostram que, nas universidadesonde as cotas foram implementadas, não houveperda da qualidade do ensino. Universidades queadotaram cotas (como a Uneb, Unb, UFBA e UERJ) demonstraramque o desempenho acadêmico entre cotistas e não cotistas é o mes-mo, não havendo diferenças consideráveis. Por outro lado, comotambém evidenciam numerosas pesquisas, o estímulo e a motivaçãosão fundamentais para o bom desempenho acadêmico.5- a sociedade brasileira é contra as cotas.Diversas pesquisas de opinião mostram que houve um progressivo econtundente reconhecimento da importância das cotas na sociedadebrasileira. Mais da metade dos reitores e reitoras das universidadesfederais, segundo ANDIFES, já é favorável às cotas. Pesquisas realiza-das pelo Programa Políticas da Cor, na ANPED e na ANPOCS, duas dasmais importantes associações científicas do Brasil, bem como em di-versas universidades públicas, mostram o apoio da comunidade aca-dêmica às cotas, inclusive entre os professores dos cursosdenominados “mais competitivos” (medicina, direito, engenhariaetc). Alguns meios de comunicação e alguns jornalistas têm fustiga-do as políticas afirmativas e, particularmente, as cotas. Mas isso nãosignifica, obviamente, que a sociedade brasileira as rejeita.6- as cotas não podem incluir critérios raciais ou étnicos devidoao alto grau de miscigenação da sociedade brasileira, que im-possibilita distinguir quem é negro ou branco no país.Somos, sem dúvida nenhuma, uma sociedade mestiça, mas o valordessa mestiçagem é meramente retórico no Brasil. Na cotidianidade,as pessoas são discriminadas pela sua cor, sua etnia, sua origem, seusotaque, seu sexo e sua opção sexual. Quando se trata de fazer umapolítica pública de afirmação de direitos, nossa cor magicamente se

desmancha. Mas, quando pretendemos obter um emprego, uma vagana universidade ou, simplesmente, não ser constrangidos por arbi-trariedades de todo tipo, nossa cor torna-se um fator crucial para avantagem de alguns e desvantagens de outros. A população negra édiscriminada porque grande parte dela é pobre, mas também pelacor da sua pele. No Brasil, quase a metade da população é negra. Egrande parte dela é pobre, discriminada e excluída. Isto não é umamera coincidência.7- as cotas vão favorecer aos negros e discriminar ainda mais osbrancos pobres.Esta é, quiçá, uma das mais perversas falácias contra as cotas. O pro-jeto atualmente tramitando na Câmara dos Deputados, PL 73/99, jáaprovado na Comissão de Constituição e Justiça, favorece os alunos ealunas oriundos das escolas públicas, colocando como requisito umarepresentatividade racial e étnica equivalente à existente na regiãoonde está situada cada universidade. Trata-se de uma criativa pro-posta onde se combinam os critérios sociais, raciais e étnicos. É cu-rioso que setores que nunca defenderam o interesse dos setorespopulares ataquem as cotas porque agora, segundo dizem, os pobresperderão oportunidades que nunca lhes foram oferecidas. O projetode Lei 73/99 é um avanço fundamental na construção da justiça so-cial no país e na luta contra a discriminação social, racial e étnica.8- as cotas vão fazer da nossa, uma sociedade racista.O Brasil está longe de ser uma democracia racial. No mercado detrabalho, na política, na educação, em todos os âmbitos, os/as ne-

gros/as têm menos oportunidades e pos-sibilidades que a população branca. Oracismo no Brasil está imbricado nas ins-tituições públicas e privadas. E age de for-ma silenciosa. As cotas não criam oracismo. Ele já existe. As cotas ajudam acolocar em debate sua perversa presença,funcionando como uma efetiva medidaantirracista.

9- as cotas são inúteis porque o problema não é o acesso, senãoa permanência.Cotas e estratégias efetivas de permanência fazem parte de umamesma política pública. Não se trata de fazer uma ou outra, senãoambas. As cotas não solucionam todos os problemas da universidade,são apenas uma ferramenta eficaz na democratização das oportuni-dades de acesso ao ensino superior para um amplo setor da socieda-de excluído historicamente do mesmo. É evidente que as cotas, semuma política de permanência, correm sérios riscos de não atingir suameta democrática.10- as cotas são prejudiciais para os próprios negros, já que osestigmatizam como sendo incompetentes e não merecedores dolugar que ocupam nas universidades.Argumentações deste tipo não são frequentes entre a população ne-gra e, menos ainda, entre os alunos e alunas cotistas. As cotas sãoconsideradas por eles como uma vitória democrática, não como umaderrota na sua autoestima, ser cotista é hoje um orgulho para estesalunos e alunas. Porque, nessa condição, há um passado de lutas, desofrimento, de derrotas e, também, de conquistas. Há um compro-misso assumido. Há um direito realizado. Hoje, como no passado, osgrupos excluídos e discriminados se sentem mais e não menos reco-nhecidos socialmente quando seus direitos são afirmados, quando alei cria condições efetivas para lutar contra as diversas formas desegregação. A multiplicação, nas nossas universidades, de alunos ealunas pobres, de jovens negros e negras, de filhos e filhas das maisdiversas comunidades indígenas é um orgulho para todos eles.

As cotas não criam oracismo. Ele já existe.As cotas ajudam acolocar em debate suaperversa presença.

Os 10 mitos sobre as cotas

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Laboratório de Políticas Públicas/ UERJ

leitura

Page 8: Conexões Impressas n0 ano1

EXPEDIENTE:Informativo trimestral produzido pelo PET Conexões Educomunicação, formado por discentes dos cursos deComunicação Social: Jornalismo, Pedagogia e Licenciaturas da Universidade Federal de Uberlândia.Tutora: Prof.ª Dr.ª Adriana Cristina Omena dos SantosSala: Bloco 5 O, térreo.Site: www.petcnxed.prograd.ufu.br. E-mail: [email protected]. Telefone: (34)3239-4471

O ensino de português tem sofrido distorções devido à tra-dicional tentativa da escola de apagar as diferenças dialetais queocorrem em função das mais variadas razões.

Tal tradição se baseia na ideia de “bom uso da língua”, quepor sua vez parte da noção de “língua de cultura”. No entanto, é im-portante esclarecer as duas maneiras de se ler esse conceito. Primei-ro, podemos entender por cultura o conjunto de saberes e fazeresque caracterizam dado grupo social; nessa perspectiva, a língua decultura abarcaria todas as variedades linguísticas.

Contudo, a sociedade pós-moderna tem atrelado a ideia decultura à de indústria cultural, de modo que “língua de cultura” temsido usado para referir a língua das elites que sustentam a indústriacultural. Nesse sentido, todos os indivíduos que não têm acesso aosbens dessa indústria estariam excluídos da “cultura”. Essa posturaencerra um enorme preconceito, pois deixa subentendido que so-mente as elites letradas têm cultura.

É preciso considerar que quando um indivíduo é inseridono contexto escolar a fim de ser alfabetizado, ele já domina a moda-

lidade oral de sua língua materna. Isso vai contra os comentáriosque comumente se ouve em aulas de português, como “eu não seiportuguês” ou “ninguém consegue falar português corretamenteporque é muito difícil”.

Enquanto falante, o aluno também é uma autoridade nasaulas de língua materna. E é nisso que o ensino de língua materna sedifere do de uma língua estrangeira ou de outras disciplinas, em quese pressupõe que cabe ao professor mediar o contato do sujeito comum saber totalmente novo.

E é importante que o falante tenha consciência dos valoresatribuídos pela sociedade às variedades linguísticas, pois esse co-nhecimento permitirá não apenas que o falante utilize a variedadeque preferir, em função de seus objetivos, mas também que ele per-ceba que sabe a língua que fala e que as aulas de língua materna ser-vem para ensinar outros usos dessa língua.MATTOS E SILVA, R. V. O português são dois: novas fronteiras, velhosproblemas. São Paulo: Parábola, 2004, p. 27-36.

resenha O português são dois: novas fronteiras,

velhos problemas Mônica Silva

humor

Diélen

Borges

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