revista nossa uenf - ano 03 - nº 2 - agosto/setembro 2010

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Revista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro Ano 3 - Nº 2 - agosto e setembro de 2010

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Revista bimestral editada pela Assessoria de Comunicação da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

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Page 1: Revista Nossa Uenf - ano 03 - nº 2 - agosto/setembro 2010

Revista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy RibeiroAno 3 - Nº 2 - agosto e setembro de 2010

Page 2: Revista Nossa Uenf - ano 03 - nº 2 - agosto/setembro 2010

Equipe TécnicaFúlvia D’Alessandri e Gustavo Smiderle (jornalistas responsáveis)

Alexsandro Cordeiro, Felipe Moussallem e Marcus Cunha (projeto gráfico e diagramação)Nilza Franco Portela (técnica de nível superior)

Elizabeth Cordeiro Silva (auxiliar técnico-administrativo)Caroline Rovetta, Ruana Maciel, Pamella Mambreu, Perla

Tavares, Lara Tavares Manhães (estagiários, distribuição)

Tiragem: 10 mil exemplares - Distribuição: gratuita e dirigidaImpresso por: Primeira Impressão - Borzan Indústria Gráfica e

Editora Ltda

Ascom: (22) 2739-7119 / 0800-025-2004 / [email protected] Reitoria: (22) 2739-7003

www.uenf.br

ExpedienteUniversidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF

Nesta Edição Casamento que dá certo

Governador do EstadoSérgio Cabral

Secretário de Ciência e TecnologiaLuiz Edmundo Horta B. da Costa Leite

ReitorAlmy Junior Cordeiro de Carvalho

Vice-reitorAntonio Abel Gonzalez Carrasquilla

Diretor do CBBArnoldo Rocha Façanha

Diretor do CCT Alexandre de Moura Stumbo

Diretora do CCH Teresa de Jesus Peixoto Faria

Diretor do CCTA Hernán Maldonado Vásquez

Nada mais acertado do que investir em educação, ciência e tec-nologia para atingir níveis desejáveis de desenvolvimento socioe-conômico e humano! Esta edição, que marca os 17 anos da nossa Universidade, traz várias evidências desta realidade.

Um esforço coordenado de pesquisa está abrindo caminho para a retomada da cultura do maracujá na região. Com recursos da Faperj, uma indústria de Bom Jesus do Itabapoana, no Noro-este Fluminense, está implantando tecnologia desenvolvida pela UENF para a produção de óleo a partir da semente de maracujá. Este tipo de óleo tem várias aplicações, sendo utilizado na fabrica-ção de cremes, sabonetes e shampoos.

Em outra frente, biólogos e veterinários da UENF desenvolve-ram juntos nova tecnologia para geração de embriões bovinos in vitro. Em laboratório, a tecnologia (já patenteada) obtém o dobro do número de embriões em relação aos processos convencionais de fertilização in vitro.

A presença de uma universidade como a UENF é fator de de-senvolvimento sadio e equilibrado porque desenvolve as potencia-lidades das pessoas. O acesso à educação de qualidade muda toda a perspectiva, como sugere a matéria sobre ex-alunos da UENF que se tornaram cientistas. Aliás, outra pesquisa − sobre a Edu-cação de Jovens e Adultos (EJA) − lança novas luzes sobre esta modalidade de educação tão complexa e estratégica.

Uma universidade não apenas aponta caminhos, como quem dá ‘receitas de bolo’, mas sobretudo põe em pauta problemas im-portantes para a coletividade. Uma destas questões diz respeito ao futuro da economia sucroalcooleira no Norte Fluminense. O que está acontecendo com nossas usinas e plantações, que não acompanham o ritmo de crescimento da atividade em nível na-cional? Em que condições a atividade pode vir a ter futuro? Veja o debate entre especialistas de diferentes áreas e tire suas próprias conclusões. E o que acontece com o município de Campos, tão rico em tradições e em recursos financeiros, mas tão atolado em problemas políticos aparentemente insolúveis? Desta vez, nossos jornalistas não foram atrás de sociólogos ou cientistas políticos, mas decidiram ouvir uma possível representante da ‘alma’ campis-ta: a atriz e cantora Zezé Motta.

Por tudo isto, é preciso fortalecer a presença da UENF no Norte e Noroeste Fluminense. Como mostra matéria sobre a expansão da instituição, a população clama, e a Universidade deseja. O que mais falta para o casamento se consumar e gerar novos frutos, em novos locais, com ainda mais profusão?

Almy Junior (Reitor)Abel Carrasquilla (Vice-reitor)

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Por dentro da EJA

Diagnóstico genético rápido

Entrevista: Zezé Motta

Mais interiorização

O futuro da cana

Artigo: Clóvis de Paula Santos - Pesquisa com animais

Prata da casa

Embriões em dobro

A volta do Maracujá

Teses e dissertações

No coração dos animais

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De cada 100 animais atendidos no am-bulatório do Hospital Veterinário da UENF, pelo menos a metade apresenta problemas cardíacos — casos que, em sua maioria, aca-bam se transformando em objeto de pes-quisa. Referência na área de cardiologia ve-terinária, o Hospital se prepara para sediar pela terceira vez consecutiva um simpósio internacional sobre o tema: o 3º Simpósio Latino-Americano de Cardiologia Veteriná-ria, que será realizado de 06 a 10/12/10, com a presença de palestrantes e participantes de várias partes do país e também do exterior.

Segundo o professor Cláudio Baptista de Carvalho, que coordena o Simpósio, a pro-gramação deverá ser fechada até o final de outubro. Mas alguns palestrantes estrangei-ros já confirmaram presença, como os pes-quisadores Carlos Mucha e Guillermo Bele-renian, ambos da Universidade de Buenos Aires (UBA); Yuki Kobayashi, da Universidad Nacional Autonoma de Mexico (Unam); bem como Rodrigo Rabelo, da Sociedad La-

tinoamericana de Medicina Veterinaria de Emergencia y Cuidados Intensivos.

O Simpósio tem a promoção conjunta do Jornal Brasileiro de Ciência Animal ( JBCA) e será realizado de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, no Centro de Convenções da UENF. Serão abordados os seguintes te-mas: Emergência em Cardiologia, Ecodop-plercardiografia, Marcadores Cardíacos, Hi-pertensão Pulmonar, Doenças Metabólicas, Hipertensão Arterial, Arritmias Cardíacas, Doença de Chagas, Cirurgia Cardíaca, Car-diomiopatias, Cor Pulmonar, Obesidade, en-tre outros.

— O simpósio nasceu da necessidade de aglutinar os estudos que eram feitos isola-damente nas diversas instituições de pesqui-sa espalhadas pelo Brasil e países vizinhos. Criamos um polo de cardiologia veterinária na UENF e conseguimos dar um salto de qualidade, trazendo pesquisadores de fora e propiciando a atualização dos conteúdos — explica o professor, lembrando que, como o

simpósio é latino-americano, o 4º Simpósio deverá ser realizado na cidade de Buenos Ai-res, na Argentina.

Embora seja muito importante para a medicina humana, a cardiologia veterinária é uma área ainda carente de estudos científi-cos. O professor Cláudio observa que muitas técnicas cirúrgicas, por exemplo, são desen-volvidas primeiro em pequenos animais — como cães, gatos e porcos — e depois adap-tadas ao corpo humano. Por este motivo, muitos médicos humanos atuam em parce-ria com os médicos veterinários da UENF.

— Uma das coisas que o simpósio vai abordar é a fisiologia das alterações. Como as doenças cardíacas se desenvolvem e o que ocorre no organismo? Como se comporta o animal? Que medicamentos devem ser usa-dos? Como diferenciar as doenças do cora-ção e as do pulmão? — explica, lembrando que o evento é dirigido tanto a pesquisa-dores e professores quanto a estudantes de medicina veterinária.

Pela terceira vez consecutiva, UENF promove Simpósio Latino-Americano

sobre Cardiologia Veterinária, reunindo grandes pesquisadores da área

animais

Nocoraçãodos

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Segundo o professor Cláudio Baptista, dificilmente as pessoas suspeitam de que seus animais estejam com problemas cardio-vasculares. Normalmente, descobrem a do-ença quando levam o animal ao veterinário. Alguns dos sintomas comuns entre cães com problemas cardiovasculares são: tosse (prin-cipalmente quando eles têm mais de quatro anos), obesidade e cansaço exagerado. As do-enças são quase sempre comuns ao ser huma-no, mas nem sempre as consequências são as mesmas.

— Os cães, por exemplo, dificilmente enfar-tam e, quando isso acontece, jamais chegam a óbito. Eles têm um sistema de defesa que não permite que isso ocorra, mesmo que não rece-bam nenhum tipo de tratamento. Os cães tam-bém não apresentam entupimento vascular. Cientistas do mundo todo vêm investigando por que isso acontece, pois isso poderá ajudar

na medicina humana — diz.Segundo o professor, um dos problemas

cardiovasculares mais comuns entre os cães é a chamada miocardiopatia dilatada. A doen-ça também pode ocorrer em humanos, mas é bem mais comum entre os cães. Enquanto a incidência no ser humano é de 30% a 40%, nos cães é de 80% a 90%. A principal forma de prevenir tais problemas, segundo Cláudio Baptista, é manter a rotina de levar o animal ao médico veterinário uma vez por ano.

— Diariamente atendemos animais com problemas cardiovasculares. Também realiza-mos diversas cirurgias, nas quais normalmen-te utilizamos a técnica da circulação extracor-pórea. Nela, o sangue é desviado para uma máquina enquanto o cirurgião faz o procedi-mento. Esta técnica vem sendo aperfeiçoada no Hospital — diz.

O Hospital Veterinário da UENF é tam-

bém um dos mais equipados do país na área de cardiologia veterinária. É um dos poucos, por exemplo, a possuir um aparelho de eco-doppler veterinário, que permite estabelecer diagnósticos de altíssima precisão. Segundo Cláudio Baptista, o ecodoppler é usado dia-riamente no atendimento do hospital e já deu origem a diversos trabalhos científicos. Em parceria com o JBCA, o Hospital tem realiza-do, duas vezes ao ano, o curso de Ecodoppler-cardiografia em pequenos animais. Recente-mente, também foi adquirido um tomógrafo computadorizado, que deverá entrar em fun-cionamento brevemente.

— A área de cardiologia é muito vasta, mas pouco estudada na medicina veterinária. Per-cebemos esta lacuna desde o início da UENF e, aos poucos, fomos nos empenhando em mu-dar esta realidade. Hoje a área de cardiologia é o carro-chefe do Hospital — diz o professor.

Tosse e cansaço: sintomas

Professor Ronaldo Novelli e alguns dos animais que compõem o acervo do Espaço da Ciência

Pesquisadores de vários países se encontram na Uenf

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Uma das características da Educação de Jovens e Adultos (EJA) é o movi-mento sistemático de evasão e retorno à escola — fato que normalmente é atribuído à necessidade de trabalho. Mas será que esta é a real justificativa para todos os casos? Em sua pesquisa de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF, o professor Gerson Tavares descobriu que, na realidade, problemas de adaptação à escola podem estar sendo camuflados pelo discurso da “ne-cessidade de trabalhar”, principalmente entre os homens adultos. Já entre as mulheres adultas, os discursos mais utilizados para justificar o abandono da escola são os “problemas familiares” e a “dificuldade de acesso”.

— Dizer que, por vezes, o trabalho exige o afastamento da escola é real, mas serve também como uma saída digna, aceita pela sociedade, para os homens. O mesmo ocorre com os problemas familiares, em relação às mu-lheres. Este discurso é utilizado como alternativa quando o aluno sente que está “perdendo o jogo” por tirar notas baixas ou outras situações que o fa-zem sentir-se envergonhado ou deslocado, optando por afastar-se da escola, temporariamente ou não — diz Gerson, cujo estudo constitui a primeira tese de doutorado defendida no CCH/UENF, em 16/07/10.

Gerson chegou a esta conclusão diante da constatação de que homens e mulheres usam discursos diferentes quando têm que explicar o abandono da escola. O que é comum a todos os grupos são os problemas relacionados ao desempenho e à adaptação do aluno à escola. Notas baixas, reprovação, problemas com os colegas, com o professor ou a direção, por exemplo, são apontados por todos os grupos, na mesma proporção.

— Por que o homem diz que precisa trabalhar e a mulher, que tem proble-mas familiares, se hoje em dia ambos trabalham? Percebi que esse discurso, embora seja real em alguns casos, também é utilizado para esconder proble-mas que o aluno tem vergonha de revelar — explica Gerson.

A pesquisa confirmou uma das hipóteses levantadas por Gerson — a da existência de um “mito trabalho” e de um “mito escola” entre os alunos da EJA. Enquanto o primeiro aparece sempre que o aluno resolve abandonar a escola e precisa de uma justificativa digna para sua atitude — assim como quando ele resolve retornar à escola em busca do diploma —, o segundo impede que o aluno, tomado pela visão mítica que tem da escola, exponha seus reais motivos perante a sociedade, quando não consegue acompanhar a dinâmica do ambiente escolar.

— A pesquisa mostra que a presença do aluno na escola vai além da pos-sibilidade de obter um melhor trabalho. Para eles, a escola é um lugar míti-

Por dentro da Discurso da ‘necessidade de trabalhar’

pode esconder dificuldade de adaptação à escola por parte dos alunos, aponta pesquisa. EJA

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co, de busca de reconhecimento social, para sentir-se mais integrado à socieda-de letrada em que vive. O aluno quer a certificação sim, mas como um símbolo de superação, de uma luta árdua, de estar vencendo algo que o oprime, ou seja, não dominar a leitura e a escrita. O diploma é um instrumento de reconhe-cimento social — diz.

Intitulada “O enigma da educação de jovens e adultos: um estudo das evasões e retornos à escola sob a perspectiva da teoria do reconhecimento social”, a tese teve a orientação da professora Yolanda Lima Lobo, do Laboratório de Estudo da Educação e da Linguagem (LEEL) do CCH/UENF, e foi defendida em julho.

Para realizar a pesquisa, Gerson apli-cou um questionário em uma amostra de 611 alunos, de um universo de 4.064, distribuídos nas 31 escolas públicas municipais de Campos que ofereciam a modalidade EJA em 2008. A elaboração do questionário, o cálculo amostral do survey, bem como o tratamento estatís-tico de dados, com o recurso do softwa-re SPSS e de testes de significância (que têm por objetivo anular as diferenças amostrais e respectivas “aparências” percentuais), foram assessorados pela professora Narcisa Santos, coordenado-ra do Programa de Estatística Aplicada do Instituto de Matemática da Uerj

Modelo deve ser

repensadoPara Gerson Tavares — que des-

de 2002 se debruça sobre o tema da Educação de Jovens e Adultos —, é preciso que a EJA seja repensada le-vando-se em conta as características próprias a esta modalidade de educa-ção, abandonando o modelo do ensi-no regular. Uma delas é o movimen-to de entrada e saída da escola, que costuma se repetir várias vezes para cada aluno.

— As características da EJA são muito diferentes daquelas do ensino regular, por isso ela não precisa se-guir este padrão. Aí está uma fonte de equívocos. A EJA tem que cumprir seu papel de aprendizagem e, para tanto, precisa se organizar à sua maneira, como autoriza a LDB 9394/96— diz.

Segundo Gérson, uma diferença entre as duas modalidades é o “ir e

vir” do aluno, causado por um afas-tamento temporário da escola. Movi-mento que, segundo ele, deve ser en-carado como próprio dentro da EJA, e não como uma coisa absurda. Por este motivo, a evasão na EJA deve ser pensada de modo diferente da evasão do ensino regular médio.

O fato de grande parte dos alunos trabalhar não deve ser visto, segundo Gérson, como um obstáculo à apren-dizagem. Ele observa que esta carac-terística tem que ser utilizada em fa-vor do ensino, e não o contrário. Na sua opinião, é possível criar formas de lidar com esta peculiaridade.

— Outra coisa que precisa haver é um relacionamento amigável entre o conhecimento do aluno e o conhe-cimento escolarizado. Só assim ele consegue estabelecer relações e ver

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A falta de reconhecimento social está por trás de grande parte dos casos de abandono escolar no âmbito da EJA, segundo a pesqui-sa feita por Gerson Tavares. Dentre os alunos entrevistados, 38,3% apontaram causas liga-das a esta questão, tais como problemas com a escola, dificuldade para aprender e falta de interesse nos conteúdos escolares. Os moti-

Alunos querem reconhecimento social

sentido entre os dois, o que acaba estimulando a permanência es-colar — diz Gerson, que prefere focar suas preocupações na per-manência escolar, e não na evasão.

Graduado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Var-gas (FGV ) e mestre em Cognição e Linguagem pela UENF, Gerson Tavares começou a se relacionar com o tema da Educação de Jovens e Adultos em 2002, quando atuou como dinamizador em um cur-so de formação de professores de EJA promovido pela Secretaria

Estadual de Educação-RJ e o Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

— Fiz enquetes em 28 cursos, dos quais participei como forma-dor na equipe do LPP/Uerj, realizados em diversos municípios, e fiquei intrigado com o fato de a maioria dos professores demons-trar uma grande satisfação em atuar na EJA, apesar de tudo o que se costuma ouvir sobre esta modalidade de ensino. Resolvi que este seria o tema de meu doutorado — conta.

de alunos pesquisados em Campos é a rela-ção inversamente proporcional entre gênero e faixa etária, isto é, quanto mais jovem, maior a presença masculina e, ao contrário, quanto mais avançada a idade, maior a presença femi-nina. Não é o que ocorre com o universo de alunos de EJA no Brasil, no qual a presença feminina também é maior acima dos 25 anos, porém não de forma inversa ao gênero mascu-lino — informa Gérson.

Segundo Gerson, a maior parte dos alunos da EJA pertence às classes economicamente menos favorecidas. Eles ajudam a formar os cerca de 68 milhões de pessoas que atual-mente se encontram na situação de “analfa-betismo” ou “analfabetismo rudimentar” ou “funcional”, grupo que constitui 28% da po-pulação do país.

— A EJA é estratégica, portanto, para que possamos vencer o grande desafio da educa-ção no Brasil — afirma.

Segundo Gerson, o índice de permanên-cia escolar da EJA em Campos, na época da pesquisa, oscilava entre 85% e 69%, conforme o segmento de ensino. No Brasil, conforme a região e a qualidade do ensino ofertado, este índice oscilava entre 87% e 58%, segundo a PNAD 2007.

A EJA foi considerada uma modalidade de educação a partir da Lei de Diretrizes e Bases nº 9394, homologada em 1996. A partir de en-tão, passou a ser considerada um direito dos jovens e adultos e não mais uma compensa-ção para suprir o tempo perdido pelo aluno, conforme era considerada anteriormente pela LDB 5692/71.

vos relacionados à necessidade de trabalhar (emprego, finanças e renda) foram apontados por 32,6% dos entrevistados, enquanto 28,6% alegaram dificuldade de acesso ou situações familiares (pais, irmãos, filhos, gravidez, casa-mento).

— Importante dizer que esse fenômeno não se restringe a Campos, nem ao Brasil, ao contrário, estende-se por países da América Latina, América do Norte e Europa — analisa Gérson.

Ainda segundo a pesquisa, a maior parte dos alunos (47%) abandona a escola, pela pri-meira vez, entre os 14 e os 17 anos de idade. Já 41% dos alunos disseram ter abandonado a escola, pela primeira vez, aos 13 anos ou me-nos. Cinquenta e oito por cento dos alunos voltaram a estudar com 26 anos ou mais, e 35% voltaram à escola entre 16 e 25 anos de idade. Dentre os que pararam de estudar, 41% já pararam duas vezes ou mais, e 51%, apenas uma vez.

— Uma característica peculiar no universo

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Gerson Tavares do Carmo

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Tecnologia desenvolvida pelo Laboratório de Biotecnologia da UENF (LBT) está ajudan-do a população de Campos a detectar preco-cemente doenças e anomalias genéticas. Os testes, realizados gratuitamente no NUDIM (Núcleo de Diagnóstico e Investigação Mole-cular da UENF) / Hospital Escola Álvaro Alvim, integram o projeto “Desenvolvimento de tes-tes moleculares rápidos, altamente eficientes e econômicos para o diagnóstico de doenças genéticas humanas. Fortalecendo a interiori-zação da Genética no SUS”, financiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj).

— Na rede pública, este tipo de exame de-mora de três a oito meses para ficar pronto. Isto porque o SUS encomenda o exame a labo-ratórios particulares. Nós conseguimos fazer isto em até 24 horas — diz o professor Enrique Medina-Acosta, que coordena o projeto.

Os pesquisadores da UENF implementa-ram uma técnica já utilizada nesse tipo de tes-te, chamada PCR (Polymerase Chain Reaction, Reação em Cadeia da Polimerase). Eles desen-volveram marcadores genéticos polimorfos

(sequências de DNA dentro do genoma, que ajudam a detectar diferenças entre dois ou mais indivíduos), diferentes dos que costu-mam ser utilizados. São os chamados marca-dores microssatélites, que apresentam uma se-quência muito repetida e variam de indivíduo para indivíduo.

— No entanto, nossa capacidade de aten-dimento ainda é muito limitada, porque nos-sos recursos são mínimos. Vamos submeter o projeto em breve a um outro edital, do CNPq, voltado para a genética clínica no SUS, e espe-ro que consigamos mais recursos. Seria muito importante que tivéssemos também o apoio do poder público — afirma o professor.

Dentre as principais anomalias genéticas detectadas estão as cromossopatias (altera-ções numéricas nos cromossomos), como é o caso da síndrome de Down (na qual o indiví-duo possui um cromossomo a mais). Segundo Medina, o núcleo está atendendo à totalidade dos casos com suspeita de síndrome de Down em Campos — cerca de 20 a 25 casos por ano. Também são comuns as trissomias (presença de três cromossomos, ao invés de dois) pri-

márias para o cromossomo 13 (síndrome de Patau), cromossomo 18 (síndrome de Edwar-ds) ou ainda as anormalidades numéricas nos cromossomos sexuais (levando às síndromes de Turner ou Klinefelter).

— Embora não haja possibilidade de cura, o paciente precisa confirmar a suspeita e, as-sim, iniciar o mais cedo possível o acompa-nhamento médico, que poderá lhe garantir uma melhor qualidade de vida — diz a médica pediatra Regina Célia de Souza Campos Fer-nandes, responsável pela avaliação clínica dos pacientes encaminhados para os testes genéti-cos e colaboradora do projeto.

Segundo Regina, que é professora da Fa-culdade de Medicina de Campos, a maioria das crianças encaminhadas ao NUDIM vem de maternidades ou ambulatórios de Campos, com alterações que sugerem problemas ge-néticos. Tais alterações normalmente são per-cebidas pelos médicos no momento do parto ou, em alguns casos, no período neonatal. A maioria tem a suspeita confirmada através do teste genético, porém há casos em que há dis-cordância de diagnóstico.

Diagnóstico genético rápido

Tecnologia desenvolvida pela UENF ajuda a detectar precocemente

alterações genéticas em Campos

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Alunas de Graduação aprendendo em um dos equipamentos de análise genética

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Segundo o professor Enrique Medina, o projeto possui uma importante interface com a área de pesquisa. Neste caso, o ma-terial coletado serve como subsídio para a investigação das al-terações genéticas em seres humanos. A partir destas pesquisas, espera-se que novos testes possam ser desenvolvidos e introdu-zidos posteriormente na rotina dos hospitais, interiorizando, as-sim, a oferta de diagnóstico genético na rede pública de saúde.

— Atualmente há uma carência muito grande deste tipo de diagnóstico. Na nossa região, a UENF é a única instituição a ofe-recer este serviço — afirma.

O ideal, segundo o professor, seria que os pacientes pudes-sem contar também com um ambulatório de genética clínica multidisciplinar. O objetivo é fornecer atendimento especializa-do não só aos portadores de doenças genéticas como a seus fa-miliares, evitando assim a exclusão da criança e a desagregação social e produtiva do casal.

— Temos submetido, sistematicamente, projetos com este objetivo aos órgãos de fomento à pesquisa. Mas, infelizmente, eles não enxergam esse tipo de atendimento como pesquisa, mas assistencialismo, quando na realidade ele seria uma rica fonte de subsídios para a pesquisa básica — diz.

Apesar da alta incidência de doenças genéticas em todo o país, é praticamente inexistente este tipo de atendimento no SUS. No Estado do Rio de Janeiro, o atendimento especializado nesta área está centralizado na capital, mas na maioria das vezes depende de programas de extensão universitária.

Fonte para a pesquisa básica

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Distúrbios dos cromossomos autossômicos (Aneuploidias):

Distúrbios dos cromossomos sexuais: Doenças monogênicas:

Trissomias autossômicas:Trissomia do 21 (Síndrome de Down)

Trissomia do 18 (Síndrome de Edwards)Trissomia do 13 (Síndrome de Patau)

Microdeleção 7q11.23 (Síndrome de Williams-Beuren)

Síndrome de Klinefelter (47,XXY)Síndrome 47,XYY

Trissomia do X (47,XXX)Síndrome de Turner (45,X)

Síndrome do sexo reverso (46,XX, SRY+)

Diagnóstico indireto de hemofilia A e BDiagnóstico indireto de Distrofia Muscular de Duchenne

Diagnóstico direto de Doença de HuntingtonAtriquia com lesões papulares

Relação de testes genéticos desenvolvidos pelo NUDIM:

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ENTREVISTA / Zézé Motta

‘Não estamos à venda!’Atriz e cantora consagrada, Zezé Motta faz questão de afirmar sua iden-

tidade campista − ou sanjoanense, já que nasceu ‘do outro lado da linha férrea’, em território pertencente a São João da Barra (RJ). Em recente visita à UENF, na condição de superintendente de Promoção da Igualdade Racial do Rio de Janeiro, Zezé esboçou uma conversa sobre a situação política e social de Campos. Mostrou-se atenta à instabilidade política, às sucessivas cassações de prefeitos e deixou transparecer perplexidade com

o que acontece com o município em face da fortuna do petróleo. Como a pauta era outra − a cooperação com o grupo da Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Populares da UENF em ações de inclusão digital em comunidades quilombolas −, o bate-papo sobre Campos ficou para outra ocasião. E aconteceu no dia 12/09, numa manhã de domingo, por telefone. Nesta entrevista, Zezé interpreta um pouco da alma campista, ou melhor, de uma certa alma que se busca resgatar. Confira!

Nossa UENF: Zezé, você é conhecida como uma artista campista, mas em recente visita à UENF, na condição de superintendente da Igualdade Racial, você contou ter descoberto tardiamente que nasceu em São João da Barra. Como é essa história?

Zezé Motta: É uma história muito curiosa. Eu vim para o Rio de Janeiro muito cedo, mas sempre fiz questão de deixar claro que eu não era carioca, era campista. Aí aconteceu uma coi-sa muito curiosa: fui fazer um show em Grussaí, e foi uma experiência emocionante: fui recebi-da com banda de música, flores, prefeito e vice-prefeito. Mas, quando fui anunciada, o prefeito falou que eu tinha uma dívida com o pessoal do lugar e que ele gostaria que eu me retratas-se pessoalmente. ‘Assim que você surgiu’, disse ele, ‘saiu na mídia nasce um talento carioca, e você fez questão de dizer, na primeira opor-tunidade, que era campista. Mas nós andamos pesquisando, e você nasceu em Roça Velha, do outro lado da linha do trem. Portanto você é sanjoanense!’ Não tem o menor problema de ser sanjoanense, mas quando me perguntam é automático: digo que sou campista.

Nossa UENF: Talvez não seja possível gene-ralizar, mas parece que o campista típico seria marcado por um certo orgulho ou bairrismo em grau mais elevado do que o comum. Você identifica este traço de identidade?

Zezé Motta: Com certeza. Acho até que é característica bem típica do brasileiro. A gente é bem romântico em relação ao lugar de origem. Mas sinto isso bem acentuado no campista. Por exemplo, existe uma brincadeira de mau gos-to que fala ‘campista nem fiado nem à vista’.

Já aprendi uma boa resposta para isso com os campistas que moram no Rio. Quando vêm com esse ditado, respondo ‘sim, porque não estamos à venda!’

Nossa UENF: Ultimamente, parece que esse sentimento de orgulho se misturou com o seu oposto − uma espécie de vergonha − desde que a cidade passou a protagonizar episódios constrangedores no cenário político. São su-cessivas cassações de mandatos por problemas ligados a corrupção, abusos de poder ou ou-tras infrações, de modo que Campos teve pelo menos sete prefeitos desde 2004. Ao que pa-rece, isto mancha a imagem do campista fora da cidade e atinge a autoestima da população. Você percebe, a distância, algum reflexo desta situação na sua experiência concreta?

Zezé Motta: Pois é, rapaz, de uns tempos pra cá a situação ficou muito ruim. Antigamen-te, quando eu falava que era campista, ficava toda prosa: era a terra do Roberto Ribeiro, do Tonico Pereira... Ultimamente, os políticos têm sido as referências mais citadas: ‘ah, você é da terra do Fulano de Tal ou da Cicrana’. Isso me incomoda muito, fico angustiada e até cons-trangida com este tipo de comentário. Porque é lamentável essa situação toda, é gritante o que acontece com Campos.

Nossa UENF: Você tem realmente sentido esse desconforto, independentemente de estar sendo provocada quanto ao tema por esta en-trevista?

Zezé Motta: Sou muito interessada no país de modo geral, mas em se tratando do meu lugar de origem fico particularmente atenta a tudo que acontece. Confesso que ultimamente

tenho andado muito triste. Poderia ser tão dife-rente, tão bonito, a história poderia ser muito bonita... Afinal de contas, somos de uma terra privilegiada, com tantas riquezas...

Nossa UENF: A gente está falando de re-erguer a cidade, tenho isso no roteiro, e pode parecer uma conversa de loucos se considerar-mos que Campos tem hoje um dos maiores or-çamentos municipais do país, graças às receitas do petróleo. Embora todos estejam lutando legitimamente pela manutenção das regras de rateio dos royalties, será que o dinheiro do pe-tróleo fez mais mal do que bem à cidade?

Zezé Motta: Sinceramente, toda vez que vou a Campos fico chocada com o que eu vejo. A gente não tem a sensação de estar numa ci-dade com tanta riqueza, porque a gente vê a cidade ainda muito maltratada, abandonada. Eu não vejo, por exemplo, uma classe média campista, e não sei se isto ocorre em função dos lugares que eu vou. Não vejo a fartura que devia ter, na verdade não estou nem sabendo encontrar a palavra para me expressar. Não vejo realmente progresso, sabe? E não é apenas nas coisas de responsabilidade do Poder Público.

Nossa UENF: Aparentemente nossos pro-blemas não se resumem à qualidade dos go-vernos. Nesta edição, por exemplo, ouvimos diferentes especialistas para tentar entender por que o mundo da cana e das usinas não experimenta um revigoramento em Campos como ocorre nas demais regiões produtoras. Continuamos com baixa produtividade, usinas fechando etc.

Zezé Motta: Realmente, um dos quilom-bolas que me ciceroneou quando estive em

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Campos, em agosto, comentou isso. Que coisa curiosa! E aí eu fico realmente chocada, por-que um de meus orgulhos é dizer que nasci em uma usina! E eu sei a importância dessas usinas porque toda a minha família sobreviveu disso. Meus dois avós − paterno e materno − eram donos de canaviais, cultivavam cana e forneciam para a usina. Então eu sei a importância disso.

Nossa UENF: Será que os artistas campis-tas, que representam e expressam algo da alma da cidade, não poderiam ser agentes de algum esforço de reconstrução da cidade, mais ou me-nos como certos artistas brasileiros desempe-nharam papel relevante no combate à ditadura militar? Acha que um papel como este caberia bem em você?

Zezé Motta: Ah, sem dúvida, eu concordo com essa ideia. Tem gente que acha que o ar-tista tem que ser apolítico. Mas nós temos posi-ção privilegiada, espaço na mídia, e temos que aproveitar isso para o bem, para coisas boas, melhorias para o país. Ultimamente eu nem estou dando conta, porque me chamam a toda hora, sabem que eu respondo.

Nossa UENF: Há quem diga que aquele ‘or-gulho campista’ de que falamos no início seja fruto histórico de certa mentalidade aristocrá-tica e senhorial que teria marcado a história de Campos, e neste sentido talvez não fosse algo a ser cultivado. Na sua visão, o orgulho campista seria um traço negativo ou, ao contrário, pode-ria ser acionado como uma espécie de âncora para o reerguimento da cidade?

Zezé Motta: Confesso que nunca tinha pen-sado nisso, mas com relação à segunda parte da pergunta acho que a gente não pode desistir não. Vamos virar esse jogo, reerguer a cidade, acho que ainda está em tempo! Se a gente fi-car parado como espectador dessa vergonha que acontece em Campos, a coisa vai ficar cada vez pior, e a gente vai ficar frustrado, triste, en-vergonhado da nossa origem. Acho que temos que fazer alguma cosia para virar o jogo, gosto muito de um desafio. Sou uma pessoa muito ocupada, mas na medida do possível Campos pode contar comigo. Tenho certeza que Tonico

Pereira, outro artista campista, também é uma pessoa com quem se pode contar. Ele participa de muitos movimentos aqui, é uma pessoa su-perpolitizada, joga duro mesmo.

Nossa UENF: Poderia falar um pouco de sua experiência como agente público, já que está à frente da Supir (Superintendência de Promoção da Igualdade Racial do Rio de Janeiro)? Desde quando está nessa função e o que tem achado da experiência?

Zezé Motta: A Supir é um braço da SEPPIR, Secretaria de Políticas de Promoção da Igualda-de Racial, mas é um órgão estadual, vinculado à Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH). Já faz algum tem-po que estou envolvida nestas coisas. Fui con-selheira dos Direitos Humanos durante quatro anos no segundo mandato do presidente Fer-nando Henrique Cardoso. Quando Benedita se tornou governadora do Rio de Janeiro, fui vice-presidente da Funarj, que cuida dos teatros, e fiquei chocada também com o abandono dos teatros. Fizemos mutirões para reerguer os te-atros, a gente vivia de pires na mão no palácio, foi uma experiência muito louca. Antes partici-pei da criação do Cidan (Centro de Informação e Documentação do Artista Negro), fundado há

23 anos com a finalidade de batalhar por mais espaço no mercado de trabalho para o artista negro. A ideia do Cidan é dizer quem somos, quantos somos e onde estamos. Não tem mais essa desculpa de dizer que não tem onde en-contrar os atores negros. Começou como um banco de dados caseiro, e hoje está disponível no site www.cidan.org.br

Nossa UENF: Em sua opinião, melhorou ou não essa questão da presença do artista negro?

Zezé Motta: Melhorou, e eu vejo isso com muita naturalidade. Tenho 40 anos de carreira, tinha que haver uma mudança! Mas sem dúvi-da ela aconteceu através da luta do movimento negro. Acho que o Cidan contribuiu para isso, a revista Raça também. Assim que começamos o trabalho, éramos tachados de racistas e de es-tarmos importando um problema dos Estados Unidos, de não considerar que aqui havia uma democracia racial. Outro problema que temos que começar a combater é a diferença de salá-rio, pois os negros ganham menos do que os brancos, e as mulheres ganham menos do que os homens. Então a mulher negra está ferrada! (risos) E aí lá na Supir, quando assumi, tomei um susto porque fui ver que havia inclusive a

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necessidade de ações voltadas para a saúde da população negra. Pensei: esse povo está fican-do doido, porque saúde é para todo mundo! Mas quando fui estudar melhor, tomei conhe-cimento mais aprofundado das doenças que são características dos negros, como vitiligo, hipertensão, mioma, anemia falsiforme. Então, é muito trabalho, companheiro, e ainda tenho que cuidar da minha carreira de atriz e cantora. Se eu parar de representar dá para viver, mas se parasse de cantar não seria feliz. E como sou meio maluca, trabalho também com direitos autorais há 12 anos, na SOCINPRO, Sociedade Brasileira de Administração e Proteção dos Di-reitos Intelectuais.

Nossa UENF: A propósito, qual é a sua visão sobre os sistemas de cotas raciais adotados por diversas universidades, inclusive a UENF e as demais estaduais do Rio de Janeiro?

Zezé Motta: Eu sou a favor das cotas e acho que estes argumentos contrários são para enfra-quecer a nossa luta. Usam até algumas mentiras para enfraquecer a luta, dizendo, por exemplo, que o universitário cotista tem rendimento me-nor, o que não é verdade. Já fizemos pesquisas aqui, as próprias universidades, como a Uerj, dizem que, pelo contrário, eles até se dedicam mais por saberem que não teriam condição se não houvesse as cotas. Acho que o novo sempre causa polêmicas, sempre assusta, mas eu vejo a cota como uma coisa provisória, não sei se da-qui a dez ou 20 anos a gente vai precisar disso. Sou a favor das cotas porque não se pode tratar igualmente os desiguais. Acho que o Brasil tem, sim, uma dívida com o negro, e se as cotas po-dem amenizar esta dívida, por que não?

Nossa UENF: Mesmo os favoráveis às co-tas eventualmente divergem pontualmente na questão de adotar cotas raciais ou apenas cotas sociais, voltadas para o candidato carente. Você tem alguma opinião firmada sobre isto?

Zezé Motta: Olha, te confesso que sou uma militante intuitiva, e talvez você esteja decep-cionado com o grau de aprofundamento des-ta entrevista. Sou preocupada com a justiça, a igualdade, essas coisas, mas não sei se você sabe que tenho formação de contadora! (risos)

Nossa UENF: Combina muito bem com vida de artista... (risos)

Zezé Motta: Meu pai era músico, professor

de violão. Quando eu descobri que queria ser artista, ele estava bastante desanimado com a música. Estou falando do pai que me criou, que também era campista, não do meu pai bioló-gico. Ele tinha um grupo de chorinho e estava muito desiludido, porque o rock tomava conta do mundo e era cada vez mais escasso o espaço para ele trabalhar. Então ele tinha muito medo que a minha carreira de atriz não desse certo. Aí me disse assim: ‘Não, só deixo você seguir essa carreira se tiver algum outro meio de so-brevivência!’. Aí pesquisei qual era o curso mais rápido, pois para fazer faculdade ia demorar muito. No primeiro ano fiz Secretariado, mas esbarrei na taquigrafia, porque minha desritmia não permitia escrever assim tão rápido. Aí, no segundo ano, passei para Contabilidade. Mas no mesmo ano em que me formei em contabili-dade, me formei também em Arte Dramática no

o Rio, nossa primeira moradia foi no Morro do Cantagalo, em Copacabana. Além da música ele trabalhou como motorista, pois só tinha baile para fazer nos fins de semana, em clubes como Bola Preta, Estudantina, os badalados do Rio de Janeiro. Então durante a semana ele trabalhava como motorista de ônibus circular, depois em ônibus de escola, enfim, era músico e motoris-ta. E realmente quando cheguei em casa, falei ‘descobri que quero ser atriz’. Tive a sorte de estudar num colégio fundado por Dom Helder Câmara, fundado para atender uma comunida-de pobre aqui do Leblon. Minha mãe costurava na casa das clientes, porque elas não subiriam o morro. Soube inclusive que o dono da usina ajudou muito neste sentido, não sei o nome, no sentido de passar contato de senhoras abastadas do Rio para minha mãe procurar, e ela costurava na casa das clientes. E o meu pai trabalhando no ônibus. Eu mesma acabei não morando no Cantagalo, porque estudei num colégio interno.

Nossa UENF: Esta experiência marcou mui-to a sua vida?

Zezé Motta: Olha, havia uma favela cha-mada Praia do Pinto, no Leblon, cercada de prédios, gente rica, e as pessoas do entorno tinham pavor da existência daquela favela. De tempos em tempos aconteciam incêndios cri-minosos, embora os jornais dissessem que foi uma vela que acenderam pro santo, um bujão de gás que estourou, arranjavam mil desculpas. Sabendo que eram incêndios criminosos, Dom Helder, aquela figura maravilhosa, conseguiu que eu saiba dinheiro do próprio Vaticano, não sei bem, e construiu um condomínio, com oito ou dez prédios, perto dessa favela, e transferiu os moradores. Aconteciam os incêndios, e o Estado mandava as pessoas irem morar lá em Deus me livre, e desestruturava tudo, porque a criança estudava ali, a vida estava toda estru-turada em função daquele lugar. Construíram então o Condomínio Cruzada São Sebastião, e Dom Helder foi muito responsável pelo meu lado mais politizado, de preocupação com estas questões todas. Quando vi que ele estava sendo perseguido, pensei: tem alguma coisa errada, né? Virei uma pessoa de esquerda, e quando fiz teatro a primeira peça, um texto de Chico Buar-que, ela também foi proibida.

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“Estar de costas para os jornalistas é estar de costas

para a sociedade”

Tablado, da Maria Clara Machado, o mais sofis-ticado da época. Aliás, também sou a favor das cotas por isso. Só sou formada em Artes Dramá-ticas porque ganhei uma bolsa. Meus pais não tinham a menor condição de pagar o curso. Digo que sou uma operária bem remunerada, e por conta disso tenho conseguido pela vida afora ajudar muitas pessoas. Criei seis meninas que não saíram do meu ventre; três eram da minha família e três foram surgindo na minha vida, além do Robson de Souza, meu afilhado.

Nossa UENF: Em algum momento da en-trevista me pareceu que você tivesse uma ori-gem social relativamente abastada, mas não...

Zezé Motta: Não, minha mãe é costureira, agora aposentada, meu pai era músico...

Nossa UENF: Músico em Campos?Zezé Motta: Antes de eu nascer, sim. Ele

saía de Barcelos para tocar em Campos, mas era muito jovem. Tive dois pais, o biológico, que era pintor de paredes e nunca foi casado com minha mãe, e o que me adotou quando eu ain-da estava na barriga. Quando eles vieram para

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Dezessete anos após sua implantação, a UENF se mobiliza para marcar presença em outros municípios do Norte e Noroeste Fluminense, fincando neles os ‘três pés’ que caracterizam a essência da atividade universitária: ensino, pesquisa e extensão. A implantação de um campus no Noroeste Fluminense, aprovada em junho por unanimidade no Conselho Univer-sitário (CONSUNI), e a expansão das atividades em Macaé (RJ), também aprovada pelo CONSUNI em 2009, estão entre os tópicos da propos-ta orçamentária da Universidade para 2011. Para dar início à expansão, a UENF aguarda a autorização do Governo do Estado para a realização de concurso público para professores e servidores técnico-administrativos.

— Se o Governo aprovasse agora o concurso, acredito que no se-gundo semestre de 2011 já estaríamos iniciando os novos cursos — afir-ma o professor Abel Carrasquilla, vice-reitor da UENF, que presidiu a Comissão criada para estudar a ampliação do campus de Macaé.

Em Macaé, onde já existe o curso de Engenharia de Exploração e Produ-ção de Petróleo, seria implantado um polo ou Centro Universitário abran-gendo ensino (graduação e pós-graduação), pesquisa e extensão nas seguin-tes áreas do conhecimento: Meteorologia; Engenharia Mecânica; Engenharia Química; e Engenharia Ambiental e Sanitária; além do curso já existente.

Para o Noroeste, uma das opções de mais fácil operacionalização é a implantação da UENF em Italva (RJ), onde o Estado já possui área com edificações que poderia abrigar um novo campus universitário (veja box). A proposta é criar o Centro de Ciências do Noroeste Fluminense, abran-gendo diferentes áreas. Após ouvir a comunidade do Noroeste, uma co-missão criada pela Reitoria realizou estudos e indicou possíveis cursos de graduação e pós-graduação stricto sensu em áreas como Engenharia de Alimentos, Zootecnia, Engenharia Agrícola e Ambiental, Engenharia de Mi-nas, Assistência Social e Licenciaturas de Pedagogia, Química e Biologia.

Para viabilizar a demanda, os conselheiros aprovaram o pleito de con-tratação escalonada de 50 novos professores (15 titulares e 35 associados) e 70 técnicos-administrativos tanto para o polo do Noroeste quanto para o polo de Macaé, ao longo de 2011 e 2012. A proposição foi encaminha-da à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (SECT) em 24/06/10.

As propostas foram estabelecidas após as comissões ouvirem as comu-nidades e governos locais. A Comissão encarregada de propor a minuta do plano de expansão para o Noroeste teve a participação dos professores Sil-vério de Paiva Freitas, Lilian Bahia, Paulo Cesar de Almeida Maia, Manuel Vazquez Vidal Junior e Niraldo José Ponciano. Já a comissão responsável pelos estudos em Macaé teve a presença dos professores Abel Gonzalez Carrasquilla, Lilian Bahia, Viatcheslav Priimenko e Valdo da Silva Marques.

Mais interiorização

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O Plano Orientador elaborado por Darcy Ribeiro prevê a UENF como uma ‘universi-dade múltipla’, operando em vários campi pela região, preferencialmente dentro das próprias zonas urbanas, de forma a expor-se mais fortemente ao contato com os ‘reclamos sociais, econômicos e culturais’ das comuni-dades. Para tanto, escreveu Darcy, poderiam ser aproveitadas edificações e estruturas já existentes, o que reduziria custos. Para a Co-missão encarregada de elaborar a minuta do plano de expansão da UENF para o Noroeste, uma opção logo chamou a atenção pelas suas vantagens:

— Os estudos indicaram que o município de Italva é o que oferece, neste momento, as melhores condições. Já existe no local uma infraestrutura muito boa do Estado, o que re-duziria os custos de implantação. Além disso, o município está próximo de todos os outros

— afirma o professor Silvério de Paiva Freitas, que presidiu a Comissão.

Natural de Italva, o professor Gustavo de Castro Xavier foi o idealizador da proposta. Ele conta que a área da Emater, criada para abrigar um centro de treinamento, dispõe de uma excelente infraestrutura, como sistema de hidroponia (cultivo sem solo), usina de moagem de calcário, perfuratrizes de poços artesianos, escola de queijaria, marcenaria movida por roda d’água, galpões para má-quinas e equipamentos, tanques de piscicul-tura, áreas próprias para agricultura irrigada, currais e outras instalações que poderiam ser aproveitadas.

— Nosso objetivo é criar um polo de ensi-no, pesquisa e extensão com a qualidade que é própria da UENF. Não queremos ampliar a UENF criando “escolões”. Teremos logo de início cursos de graduação, mestrado e dou-

torado, como em Campos. Queremos manter o modelo da UENF de indissociabilidade en-tre ensino, pesquisa e extensão — diz o pro-fessor Silvério.

A possibilidade de levar a UENF até o mu-nicípio ganhou o apoio de toda a população, que se mobilizou para tentar viabilizar a pro-posta. Entre outras coisas, a população fez um abaixo-assinado que contou com o apoio de 12 prefeitos da região, enviado ao Gover-no do Estado.

— A presença da UENF em Italva represen-ta um passo muito importante para o desen-volvimento do município. A Prefeitura gasta R$ 100 mil por mês com o transporte de cerca de 250 estudantes para cursos superiores em Campos e Itaperuna. Infelizmente, não temos nenhum curso superior em Italva — afirma a secretária municipal de Educação de Italva, Elizabeth Machado Rangel de Almeida.

Infraestrutura adequada em Italva

Vista aéra da cidade de Italva

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O professor Abel Carrasquilla, que além de ser o vice-reitor atua no Laboratório de Engenharia de Ex-ploração e Produção de Petróleo (LENEP) da UENF, lembra que a ampliação do campus de Macaé não é uma proposta nova. Além de ter sido prevista no Plano Diretor feito por Darcy Ribeiro, a ampliação do cam-pus de Macaé integrou o programa de governo do atu-al reitor da Universidade, Almy Junior.

— Tivemos que adaptar o Plano Orientador de Darcy à realidade atual, o que foi feito a partir de várias conversas com integrantes da Petrobras, da Prefeitura de Macaé e da comunidade. Mas a decisão sobre os cursos não está fechada, pois isto deverá ser definido em uma discussão interna na UENF — diz.

Segundo Abel, os 50 novos professores serviriam não só para atuar nos novos cursos que estão sendo propostos, como também para reforçar o curso já exis-tente, Engenharia de Exploração e Produção de Petró-leo. Ele observa que desde que o campus de Macaé foi criado não foi ampliado o número de vagas para

professores.— O mais importante é a aprovação dessas novas

vagas, porque a infraestrutura é mais fácil. Temos área livre sobrando, e a Petrobras já demonstrou interesse em nos ajudar — afirma, acrescentando que as prefei-turas de Casimiro de Abreu e de Rio das Ostras tam-bém vêm demonstrando interesse em sediar cursos da UENF.

O projeto de ampliação do campus de Macaé prevê a realização do ciclo básico no próprio município − atualmente, os alunos de Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo cursam os dois primeiros anos do curso em Campos. Para tanto, deverá ser firmado convênio com a UFRJ para que os alunos da UENF possam cursar as matérias básicas em Macaé, naquela universidade.

Para prover a adequação de instalações e manuten-ção, estima-se tanto para Macaé quanto para o Noro-este a necessidade de R$ 4 milhões nos três primeiros anos e R$ 2 milhões por ano de manutenção.

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Sob dois ângulos, o campus da UENF em Macaé

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Helga Gomes, que se formou em Medici-na Veterinária na UFF em 2004, fez mestrado e doutorado na UENF. Durante o mestrado (2004-2006) no então chamado Programa de Produção Animal (hoje Ciência Animal), foi orientada pelo professor Angelo Burla, do Laboratório de Reprodução e Melhoramento Genético Animal (LRMGA) da UENF e coorien-tada pelo professor Carlos Logullo, do Labo-ratório de Química e Função de Proteínas e Peptídeos (LQFPP) da Universidade. No dou-torado (2006-2010), Helga teve Logullo como orientador e Angelo como coorientador. A co-operação envolveu ainda a Universidade Fede-ral do Rio Grande do Sul (UFRGS), por onde o pedido de patente foi encaminhado.

− Esta capacidade de transitar nas duas vertentes, da pesquisa básica e da pesquisa aplicada, não é comum − elogia Angelo Bur-la, referindo-se à nova pesquisadora.

− Além disto, Helga demonstrou uma habi-lidade peculiar para conviver academicamente com dois grupos de pesquisa diferentes, com suas características específicas − completa Carlos Logullo.

A intenção dos pesquisadores é estender a cooperação complementar entre pesquisa bá-sica e pesquisa aplicada. Segundo Carlos Lo-gullo, em países como Japão, Estados Unidos ou Alemanha o índice de trabalhos científicos que geram patentes oscila entre 60 e 70%, en-quanto no Brasil fica na casa dos 2%. Para Lo-gullo, esta é uma dívida histórica que o meio acadêmico tem com a sociedade, e é preciso mais esforço para transformar conhecimento básico em ciência aplicada, o que exige capaci-tar as estruturas acadêmicas e de pessoal para lidar com este novo horizonte.

− É muito bacana ver a UENF fazendo isso, ou seja, potencializando os aspectos mais importantes relacionados à geração do conhe-cimento − avalia.

Brasil precisa

Uma bem-sucedida cooperação entre a ciência básica e a pesquisa aplicada dentro da própria UENF acaba de resultar num pro-duto, já patenteado, que praticamente dobra o percentual de embriões bovinos produzi-dos in vitro. Trata-se de um meio de cultura cuja formulação permite, em laboratório, que cerca de 60% das células reprodutivas femi-ninas (ovócitos) submetidas à fertilização in vitro se transformem em embriões. O Bra-sil é o maior produtor mundial de embriões bovinos produzidos in vitro, mas as técnicas disponíveis só permitem que se atinjam ta-xas de embriões de aproximadamente 30%.

O estudo está descrito na tese de doutorado da médica veterinária Helga Gomes, do Progra-ma de Pós-Graduação em Biociências e Biotec-nologia da UENF, que foi defendida a portas fe-chadas em 03/09/10. O estudo teve a orientação de dois pesquisadores da UENF: Carlos Logullo, do Laboratório de Química e Função de Prote-ínas e Peptídeos (LQFPP/CBB), e Ângelo Burla, do Laboratório de Reprodução e Melhoramen-to Genético Animal (LRMGA/CCTA). Defesas de tese são sessões públicas, mas esta teve que ser apresentada apenas para a banca examinadora em vista da patente envolvida na tecnologia.

Não é possível dar detalhes sobre a novida-de, por conta do segredo de patente, mas em linhas muito gerais o processo faz a maturação dos ovócitos (retirados de vacas abatidas na região) em laboratório utilizando a nova for-mulação. Depois se faz a fertilização e o cultivo in vitro, de forma convencional, num processo

que dura oito dias. Ao fim do período se faz a contagem dos embriões. O maior ou menor percentual destes embriões em relação ao nú-mero de ovócitos utilizados indica o grau de êxito da técnica. O novo meio de cultura dupli-cou o percentual de embriões produzidos in vitro, que passou de 29% no grupo controle para 58% no grupo desenvolvido no novo meio.

Neste momento os pesquisadores estão empenhados em determinar a capacidade desses embriões de se desenvolverem após serem transferidos para o útero de vacas re-ceptoras. Como lembra Angelo Burla, o que interessa para o produtor é o sucesso na pre-nhez. Mas isto não impede que já se discutam aspectos como comercialização e validação da nova técnica junto aos órgãos competentes.

E o que se poderia dizer sobre o meio de cultura utilizado neste trabalho? Embo-ra a formulação seja um segredo, os pes-quisadores contam que utilizaram drogas que interferem na regulação e controle do metabolismo energético dos ovócitos.

− Tem muita gente tentando uma formu-lação mais eficiente, e o método mais comum é o da tentativa e erro. Mas nós estamos es-tudando o ciclo celular, o metabolismo e apontando uma formulação baseada em co-nhecimentos básicos. Esta associação com a pesquisa aplicada é muito bonita, porque eu não entendo de fecundação de mamíferos. Isto é outro mundo para mim, e no entanto a gente conseguiu articular os conhecimentos e che-gar a este resultado prático − avalia Logullo.

Com um pé na ciência básica e outro na pesquisa aplicada, nova técnica desenvolvida na UENF duplica produção de embriões bovinos in vitro;

metodologia já está patenteada

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emEmbriões

dobrode maispatentes

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Logullo (esq), Helga e Ângelo: trio afinado.

Na visão dos pesquisadores, a boa experiên-cia de cooperação entre os dois laboratórios da UENF, pertencentes a dois Centros diferentes (CBB e CCTA), não se esgota com o resultado alcançado.

− Temos muito o que aprender, seja no congelamento dos embriões, na sua implanta-ção ou mesmo no desenvolvimento de formula-ções ainda melhores − lembra Carlos Logullo.

Se até aqui o foco da pesquisa esteve na célula femini-na antes da fecundação, agora se abre vasto campo para pesquisas envolvendo o metabolismo na fase inicial do desenvolvimento embrionário, como lembra Ângelo.

Uma vez que a metodologia básica para pro-dução in vitro de embriões é a mesma usada para humanos, em tese a nova técnica também pode vir a ser aplicada em reprodução humana.

− Mas o grande interesse sobre este produ-to, neste momento, está entre os criadores de gado − ressalta a agora doutora Helga Gomes.

Cooperação vai continuar

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Pesquisas com animais:

Você já parou para pensar como são pro-duzidos os medicamentos ou equipamentos usados em hospitais ou clínicas no diagnóstico ou tratamento de inúmeras doenças? Se ainda não, é importante saber que, em alguma etapa do seu método de desenvolvimento, houve a utilização de animais, quer seja diretamente na pesquisa, ou para se avaliar a qualidade do produto a ser utilizado.

O uso de animais para fins científicos é uma prática adotada há séculos. Há registros que antecedem a Jesus Cristo, como o do filosófo grego Aristóteles (384 - 322 a.c.), que em seus estudos estabelecia semelhanças e diferenças funcionais e de conformação entre órgãos de animais e de seres humanos. Desde este mo-mento inicial, com caráter mais descritivo, é notória a evolução das pesquisas utilizando animais. Hoje se reconhece que, sem isso, não teria sido possível chegarmos a todo o conhe-cimento dos mecanismos dos processos vitais, bem como ao aperfeiçoamento dos métodos

Clóvis de Paula SantosProfessor e pesquisador do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual da UENF

ARTIGO

de prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças existentes e daquelas que irão surgir — tanto na medicina humana quanto na vete-rinária.

Um bom exemplo do quanto este conheci-mento nos ajuda em nosso dia a dia — sem que muitas vezes nos demos conta — são as doen-ças cardiovasculares, que afetam milhões de pessoas no mundo inteiro. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, este grupo de doenças — que inclui o infarto e o acidente vascular ce-rebral (AVC) — está entre as principais causas de óbito.

Pois bem, muito provavelmente você já ou-viu falar em eletrocardiograma, cateter, angio-grama, desfribrilador etc. Estas são algumas das metodologias de diagnóstico para avaliar o estado de funcionamento do coração ou sua recuperação e foram desenvolvidas tendo-se como base estudos, sobretudo em cães.

Outro exemplo é o tratamento do câncer. Para se ter uma ideia, na década de 1930, para cada cinco vitimas da doença, menos de uma tinha sobrevida de cinco anos. Hoje em dia quase metade das pessoas diagnosticadas so-brevive mais de cinco anos e, em muitos casos,

nunca mais a doença reaparece. As galinhas fo-ram um dos primeiros modelos para se expli-car como o câncer cresce e se espalha. O uso de quimioterapia, radiação e cirurgia, que são métodos de tratamento, foram desenvolvidos sobretudo em camundongos, ratos, cães, ma-cacos, dentre outros animais.

As vacinas ou medicamentos que utiliza-mos são também outro bom exemplo. Antes que possam ser comercializados, tais produtos devem obrigatoriamente ter sua qualidade tes-tada em animais. Portanto, devemos reconhe-cer que os animais foram e continuam sendo muito importantes para o desenvolvimento científico na área de medicina.

Para evitar o uso de animais de maneira indiscriminada e sem critérios éticos, existem hoje regras a serem seguidas, mas nem sempre foi assim. Durante muito tempo, existiu a visão de que não deveríamos ter nenhuma preocu-pação moral a respeito do uso dos animais em experiências científicas. Contudo, esta con-cepção vendo sendo alterada principalmen-te a partir do século 18. Algo extremamente relevante em relação aos aspectos éticos da experimentação são os princípios propostos por dois cientistas, Russel e Burch, em 1959. Segundo eles, o caminho da investigação cien-tifica deve se basear em três “R”: Replacement (substituição), Reduction (redução) e Refine-ment (refinamento). Ou seja, sempre que for possível, deve haver a substituição de animais por sistemas não sensíveis, tais como cultura de tecidos ou uso de plantas. A redução do uso de animais poderia ser conseguida pelo uso de experimentos bem desenhados e métodos estatísticos apropriados. Os procedimentos experimentais poderiam ser melhorados pelo refinamento dos métodos usados, tais como o uso de procedimentos menos estressantes ou animais mais baixos na escala evolutiva.

Além de critérios éticos, o uso de animais

Para pesquisas da área de Saúde o uso de animais é muitas vezes indispensável aos avanços

necessidade com responsabilidade

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na ciência esta sujeito a questões legislativas. A Inglaterra foi um dos países pioneiros a criar e aperfeiçoar as leis regulando o uso de ani-mais. Hoje em dia grande parte dos países tem a preocupação de regulamentar o uso de animais criados para experimentação e possui legislação semelhante à inglesa.

Recentemente o Brasil pôde enfim ter uma lei federal estabelecendo procedimentos de conduta para o uso científico de animais. A lei 11.794, de 08 de outubro de 2008, também denominada Lei Arouca, em homenagem ao falecido deputado Sérgio Arouca, foi regula-mentada em julho do ano passado através do decreto 6.899/09. Estão previstas nesta legisla-ção a criação, composição e funcionamento de um órgão em nível federal ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, já funcionando, de-nominado Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea). A criação ou utilização de animais para pesquisa ficarão restritas, exclusivamente, às instituições cre-denciadas junto ao devido conselho, ficando o credenciamento dependente da criação prévia de uma Comissão de ética no uso de animais (Ceua). Além disto, estão sujeitas a penalida-des como advertência, multa, suspensão, inter-dição temporária e definitiva aquelas institui-ções ou pessoas que transgredirem atividades reguladas nestas leis.

Muitas instituições há anos antecederam a regulação da Lei Arouca e já contam com os comitês de éticas institucionais. Na UENF a Ceua foi instituída em 2002. Nestes oito anos de funcionamento, 124 projetos foram subme-tidos e, deste total, 99 foram avaliados, 16 es-tão em avaliação e oito foram cancelados. Dos avaliados, cinco caducaram, um foi reprovado e os demais foram aprovados. Os projetos abrangem diversas áreas, como Anestesiolo-gia, Bem-Estar Animal, Cirurgia: Transplante,

Aperfeiçoamento de Metodologias, Compor-tamento Animal, Farmacologia, Imunologia/Diagnóstico, Morfologia/Anatomia, Parasito-logia, Parasitologia/Bioquímica, Parasitologia/imunologia, Reprodução, Terapia Celular, Nu-trição, Virologia, Biologia Molecular e Patolo-gia Clínica. Os gráficos ilustram os percentuais de animais usados e a participação dos Cen-tros da UENF.

Embora já com este tempo de funciona-

mento, a maioria (80%) destes processos vem tramitando de 2008 para cá. Recentemente, recebemos apoio da Faperj. Com isto será possível adquirir e mobiliar um espaço cedido pela Reitoria e contratar serviço para desen-volvimento de base de dados e interface para gestão de projetos sob deliberação da Ceua. Desta maneira acreditamos que a comissão estará melhor estruturada para um pleno fun-cionamento.

Boi usa canga desenvolvida na UENF capaz de medir a emissão de gases pelo animal

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O futuro da canaA cana-de-açúcar é central na vida de Campos pelo menos desde o

século XVII, mas a recente valorização da cultura em função do etanol não tem evitado que sucessivas usinas do Norte Fluminense venham en-cerrando suas atividades. Haveria, então, futuro para a cana na região de Campos? E como explicar que a tradição canavieira local não constitua um diferencial competitivo em relação às demais regiões produtoras do país? NOSSA UENF buscou respostas ouvindo gente de diferentes espe-cialidades.

Segundo o economista Alcimar das Chagas Ribeiro, do Laboratório de Engenharia de Produção da UENF, o setor sucroalcooleiro ainda é o maior responsável pela empregabilidade na região. Em sua visão, este dado já é suficiente para que o setor não seja visto como irrecuperável. Mas a reto-mada da atividade não se dará, segundo Alcimar, somente pelo viés econô-mico — embora a capitalização do setor e a inserção de novas tecnologias sejam uma real necessidade. Na sua opinião, seria preciso uma mudança estrutural, que abarcasse a própria forma de organização produtiva do setor − algo que ele vislumbra na experiência da Cooperativa Agroindus-trial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro), que reativou a antiga Usina São José, na localidade de Goitacazes, em Campos.

— A experiência da Coagro deve ser avaliada para identificarmos seus pontos de êxito. Embora esteja longe de ser um alto sucesso, vem cami-nhando bem. Conseguiu, por exemplo, resgatar a confiança dos produto-res, o que já é um ótimo resultado — diz.

Segundo Alcimar, a cooperação pode ser uma saída estratégica para manter a competitividade no mundo globalizado. No entanto, este tipo de organização produtiva requer a ação dos chamados empreendedores “políticos” — pessoas que apresentam uma grande capacidade de articu-lar ações coletivas. Ao contrário do empreendedor tradicional, chamado schumpeteriano (em referência ao economista Joseph Schumpeter) — alta-mente capitalizado e capaz de agir de forma estratégica, utilizando as tec-nologias disponíveis —, o empreendedor político, embora descapitalizado, é eficiente na mobilização de pessoas, permitindo a realização de negócios que, de forma individual, não seriam realizados.

— Ao contrário do que ocorre nos locais onde a agroindústria sucro-alcooleira é hoje mais forte, como São Paulo e Minas Gerais, o perfil em-preendedor existente no estado do Rio de Janeiro está muito distante do shumpeteriano e, por isso mesmo, não se insere no mercado global. Por outro lado, apesar da experiência da Coagro, também temos deficiências em encontrar o empreendedor político, capaz de criar organizações coo-peradas — diz Alcimar.

Na sua opinião, a figura do empreendedor político pode ser fomentada pelos governos, criando condições favoráveis à cooperação. Uma organi-zação social mais forte e coesa daria o suporte mínimo para reverter a situação e até tornar competitivo o setor sucroalcooleiro regional.

— Não acho que devemos procurar outra vocação para a região. Existe um conhecimento imaterial, que não pode ser menosprezado. Esse co-nhecimento precisa ser mantido, potencializado. Precisamos cuidar de nossa atividade econômica de base e não descartá-la — afirma.

Já o cientista político Sérgio de Azevedo, do Laboratório de Estudo da Sociedade Civil e do Estado (LESCE) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF, acha difícil fomentar o associativismo em nível local.

— Se houvesse uma forte determinação do poder público, até poderia haver alguma chance. Mas eu não vejo nos governos locais tradição em incentivar a população a ter uma postura mais autônoma e participativa — afirma.

Embora o associativismo não seja um traço da cultura local, algumas práticas ajudam a podar as poucas iniciativas que surgem. Em pesquisas feitas pelo Laboratório de Engenharia de Produção da UENF, produtores e usineiros se queixam da atitude de alguns políticos, que “cooptam as lide-ranças”, minando o associativismo e incentivando o assistencialismo. Com isso, reforçam uma atitude passiva frente aos problemas, aliada à crença de que só o poder público poderá resolvê-los. Em parte, essa crença se apoia na lembrança dos áureos tempos da cana-de-açúcar, quando os financia-mentos governamentais eram fartos e frequentes. A descapitalização dos produtores e usineiros também é apontada nas pesquisas como um fator a contribuir para a falta de cooperação entre eles.

Estudiosos debatem se economia sucroalcooleira ainda tem vez como atividade relevante no

Norte Fluminense

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Os obstáculos à retomada do setor sucroal-cooleiro são de diversas ordens, mas a principal dificuldade estaria associada à maneira como os atores envolvidos os enfrentam. Em meio a uma multiplicidade de fatores técnicos, climáticos, eco-nômicos, ambientais ou fundiários, o caso da cana em Campos seria fundamentalmente uma questão sociológica ligada aos padrões de ação coletiva vigentes em Campos. Esta é a perspectiva de um estudo desenvolvido por Dilcéa de Araújo Vieira Smiderle durante seu mestrado em Políticas Sociais, na UENF. Intitulada “O multiforme desafio do setor sucroalcooleiro de Campos dos Goytacazes (RJ)”, a dissertação foi aceita para publicação como livro pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, de Campos (RJ). O trabalho, defendido em novembro de 2009, teve a orientação do professor Paulo Mar-celo de Souza, do Laboratório de Engenharia Agrí-cola (LEAG), e a coorientação do professor Marcelo Gantos, do Laboratório de Estudo do Espaço Antró-pico (LEEA),

Após entrevistar inúmeras pessoas ligadas ao setor — como usineiros, ex-usineiros, técnicos/ge-rentes das indústrias, fornecedores de cana, traba-lhadores do corte da cana e pessoas ligadas ao po-der público e ao meio acadêmico regional —, Dilcéa compilou diferentes pontos de vista e chegou a uma visão bem menos otimista do futuro da atividade.

— Todos os indícios apontam para o aprofunda-mento da tendência de esvaziamento da atividade sucroalcooleira em Campos, o que contrasta com o momento de crescimento observado em nível na-cional e até mesmo internacional — afirma.

Um dos gargalos diagnosticados pelo estudo é o que a pesquisadora chamou de ‘desafio agronô-mico’: a dificuldade em obter boa produtividade em solos praticamente esgotados por 300 anos de exploração da monocultura da cana-de-açúcar e em um local onde a irregularidade das chuvas é carac-

terística. — Somente usineiros e alguns grandes proprie-

tários conseguem investir em irrigação e adubação. E os depoimentos indicam que a irrigação não é to-tal, mas apenas durante a germinação ou brotação das socarias — explica Dilcéa, lembrando que os dé-ficits hídricos e a baixa produtividade acompanham o setor desde a década de 1970.

O outro desafio apontado pela pesquisa, cha-mado fundiário, está relacionado à dificuldade dos pequenos produtores em chegar ao mesmo nível de produtividade verificado nas grandes proprieda-des. Concentradas na região da Baixada Campista, onde a atividade canavieira se iniciou, as pequenas propriedades são fruto das sucessivas partilhas he-reditárias, ao longo dos séculos. Hoje, os pequenos produtores não dispõem de recursos para investir no cultivo.

Dilcéa aponta ainda, na pesquisa, o desafio eco-nômico-financeiro, relacionado à dificuldade do se-tor em se manter sem a intervenção governamental — como ocorria na época da política intervencionis-ta do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Devido à descapitalização, o parque industrial praticamente não passou por nenhuma renovação desde a déca-da de 1970. Além disso, a margem de lucro dos pro-dutores é muito pequena, devido à baixa produtivi-dade e ao baixo preço da cana.

— A produtividade média dos canaviais de Cam-pos é de 58 toneladas por hectare, enquanto em São Paulo e no Paraná chega a 80 toneladas por hectare — diz.

Ao contrário do que ocorre em outros locais, a derrubada das florestas não é mais uma questão pertinente na região, uma vez que isso já ocorreu ao longo dos séculos de cultivo. Agora, o principal de-safio na área ambiental é acabar com as queimadas, que poluem o ar, danificam o solo e ainda causam desequilíbrio nos ecossistemas. Para isso, é necessá-

rio implantar a colheita mecanizada, algo que esbar-ra não só na questão financeira — uma colheitadeira custa em torno de R$ 1 milhão —, mas também nas características do espaço físico.

— As colheitadeiras devem operar em terreno plano, o que exclui as zonas de tabuleiro, onde se encontra a maioria dos imóveis potencialmente ca-pazes de arcar com investimentos de mecanização. Na Baixada, a profusão de canais e o tamanho das propriedades também são fatores limitantes à im-plantação da colheita mecanizada em larga escala — afirma.

O cooperativismo poderia ser uma saída para os pequenos produtores, mas, segundo Dilcéa, o produtor regional não tem propensão ao associa-tivismo. Séculos de convivência coletiva baseada em relações hierárquicas teriam forjado um padrão avesso à confiança e às ações coletivas articuladas, mesmo nas instituições associativas existentes. Este seria, na sua opinião, o principal problema, referi-do, na dissertação, como o ‘desafio sociocultural’. Este tipo de mentalidade teria sido reforçado pelo IAA, cuja atuação permitia aos produtores e usinei-ros operar sem assumir os riscos inerentes a qual-quer atividade empresarial.

— Também contribui para tudo isso o fato de grande parte dos produtores ter parte significativa de sua renda oriunda de outras atividades, o que não favorece a profissionalização da atividade agrí-cola. Em alguns casos, sua identidade está muito mais centrada em outros papéis sociais, como o do médico, profissional liberal ou empresário do que no de agricultor. Dois terços dos produtores de Campos têm rendas obtidas de outras atividades — afirma, citando um levantamento efetuado por pes-quisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Pesquisa mostra desafios

No detalhe, Dilcea Smiderle.

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Eventos climáticos reforçam problema

A conjugação entre eventos climáticos extremos e a falta de manutenção da ma-lha de canais existentes tem contribuído, na visão do engenheiro agrônomo José Carlos Mendonça, do Laboratório de Meteorologia (LAMET) do CCT/UENF, para acirrar ainda mais as deficiências do setor sucroalcooleiro. Ele observa que desde 2005 a região vem sofrendo com períodos de chuvas muito intensas, que não con-seguem ser absorvidas pela rede de canais.

— Sempre tivemos o inverno seco e o verão chuvoso, mas agora isso vem se acir-rando cada vez mais. Ou seja, os períodos de seca são cada vez mais prolongados e as chuvas cada vez mais intensas. Isso, associado à má conservação dos canais e ao consequente alagamento das propriedades, vem gerando grandes perdas na produção — diz.

Segundo Mendonça, algumas áreas na Baixada têm ficado até dois meses debai-xo d’água, levando à perda de toda a plantação. Uma área que passa por este tipo de problema leva pelo menos dois anos para se recuperar. E alguns produtores vêm sistematicamente sofrendo estas perdas.

— Os canais estão assoreados, com acúmulo de vegetação e poluídos por esgoto. É preciso que haja manutenção de toda a malha de canais, como era feito na época do DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento, extinto na década de 1980). Naquela época, não havia alagamentos — afirma o agrônomo, lembrando que as inundações causam estresse na cana, perda de nutrientes do solo e ainda o carreamento de agrotóxicos para o lençol freático.

Ele observa que uma das peculiaridades da região é o défict hídrico por nove meses a cada ano — ou seja, a evaporação é maior do que o volume de chuvas. Outra característica é a existência de veranicos (períodos de estiagem prolongada na época de chuvas, de janeiro a março). Fatores que, por si mesmos, já justificam a necessidade de irrigação. No entanto, o tipo de irrigação feito na região não atende à demanda hídrica. Além de não ser feita de forma tecnificada, a irrigação é apenas complementar.

Mendonça acredita que, se a questão dos canais for resolvida, é possível recupe-rar até 70 mil hectares de área plantada, desde que haja investimento em tecnologia e irrigação. Na sua opinião, o principal desafio da atividade sucroalcooleira regional é a sustentabilidade.

— A cultura da cana tem baixa rentabilidade por unidade de área. Para obter alguma renda tem que ter produtividade — diz.

Ele lembra que, no início da década de 1990, a região já teve quase 200 mil hectares de cana plantada. No entanto, a partir daí a produção entrou em declínio, chegando ao extremo no ano 2000. O setor conseguiu uma relativa recuperação ao longo da década em função da alta demanda por etanol. Na safra de 2006/2007, foram plantados cerca de 130 mil hectares de cana.

— Na safra 2006/2007 houve um incremento da área plantada, mas ainda não se sabe de quanto. O grande problema é que de 2005 para cá houve muitos problemas climáticos, isso aliado ao baixo valor do produto. No ano passado, em função do aumento da demanda no estado, esperava-se um aumento real no valor pago pela cana, mas não houve matéria-prima por conta das condições climáticas — afirma.

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Pós-GraduaçãoGraduaçãoAgronomia

Ciência da Computação e Informática

Ciências Biológicas

Ciências Sociais

Engenharia Civil

Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo

Engenharia de Produção

Engenharia Metalúrgica

Licenciatura em Biologia

Mestrado e DoutoradoBiociências e Biotecnologia Ciência Animal Ciências Naturais Ecologia e Recursos Naturais Engenharia de Reservatório e de Exploração Engenharia Civil Engenharia e Ciência dos Materiais Genética e Melhoramento de Plantas Produção Vegetal Sociologia Política

Licenciatura em Ciências Biológicas a Distância

Licenciatura em Física

Licenciatura em Matemática

Licenciatura em Pedagogia

Licenciatura em Química

Licenciatura em Química a Distância

Medicina Veterinária

Zootecnia

MestradoCognição e LinguagemEngenharia de ProduçãoPolíticas Sociais

Presença da UENF no RJ

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Professores da UENF que começaram como alunos de graduação na própria instituição são exemplo para quem está entrando na Universidade

As histórias de vida são diferentes, mas eles têm pelo menos uma coisa em comum — uma trajetória acadêmica que se confunde com a da própria UENF. Adriana Jardim de Almeida, Ana Bárbara Freitas Rodrigues, Gustavo de Castro Xavier, Francimar Fernandes Gomes e Guilherme Chagas Cordeiro ingressa-ram na UENF numa época ainda permeada de incertezas quanto ao futuro da Universidade, foram partícipes do desenvolvimento da instituição enquanto pós-graduandos e chegaram ao posto de professores/pesquisadores da UENF no momento em que a instituição já se encontrava consolidada.

A UENF ainda nem existia de fato quando o campista Francimar, então aluno do Liceu de Humanidades de Campos, ouvia os conselhos da família para que fizesse o ensino superior na nova universidade que estava para ser implantada no município. Ele conta que a influência familiar foi decisiva para que iniciasse o curso de Medicina Veterinária na UENF em 1995, somada ao fato de que não havia em Campos outros cursos de nível superior que lhe interessassem.

— Minha família estava atenta às reportagens dos jornais da época, que fa-lavam da importância desta nova universidade para a região. Minha mãe dizia que a chegada da UENF seria um divisor de águas em minha vida. Ela tinha convicção de que a minha inserção no mercado de trabalho viria a partir da implantação da UENF, como de fato, ocorreu — conta Francimar

Mas o início não foi fácil e, por pouco, ele não desistiu do curso. Às de-ficiências do ensino oferecido na rede pública, somava-se o peso que sentia por estar em uma universidade que, conforme relatava a imprensa, reunia uma das maiores concentrações de doutores por metro quadrado de todo o país — algo muito distante do cenário campista da época. Pesava ainda o fato de esta nova universidade abrigar uma infraestrutura de pesquisa que, até então, jamais existira na região, considerada uma das melhores do país e até mesmo da América Latina.

Superada a difícil fase inicial, a pós-graduação veio de forma natural, como uma continuidade. Os receios da graduação aos poucos foram substituídos pela maturidade profissional. Francimar lembra que, durante o mestrado e o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Produção Animal (hoje deno-minado Ciência Animal), passava a maior parte do tempo dentro do laborató-rio, o que o levava, muitas vezes, a ser confundido com um funcionário. Seu objetivo era conseguir ingressar no mercado de trabalho com o máximo de preparo possível.

— A pós-graduação deve ser encarada como uma preparação para a vida profissional. O aluno tem que aprender o máximo que puder, se possível ministrando aulas, co-orientando estudantes, participando de bancas e de congressos e publicando trabalhos científicos — afirma Francimar, que hoje atua como professor do Laboratório de Morfologia e Patologia Animal (LMPA) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da UENF, onde trabalha com pesquisa de qualidade de produtos de origem animal.

Francimar Fernandes Gomes em dois momentos: abaixo o aluno e ao lado o professor

casaPratada

Professor Gustavo Xavier

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Queria ser engenheiro; virou professorNascido em Italva (RJ), o professor Gus-

tavo de Castro Xavier, do LECIV/UENF, en-trou na Universidade em 1995, como aluno do curso de graduação em Engenharia Civil, sem nenhuma pretensão de ser professor, mas sim de ingressar no mercado de traba-lho. Antes, fez curso técnico de Estradas na antiga Escola Técnica Federal de Campos (hoje IFF). Foi lá, quando ainda estava no en-sino médio, que soube da nova universidade que estava sendo implantada em Campos e que teria o curso de Engenharia Civil.

— Foi a convivência com os professores, ainda na graduação, que me despertou o in-teresse pela pesquisa. Os professores com quem tive contato têm uma visão fantástica da pesquisa, sempre à frente de seu tempo. A sua contribuição e os seus ensinamentos foram fundamentais para a minha carreira — conta Gustavo, que no mestrado e no douto-rado foi orientado pelo professor Fernando Saboya. Teve ainda a coorientação, durante o doutorado, do professor Paulo Maia.

Além de professor, Gustavo Xavier tam-

bém atua como assessor da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PRO-EX) da UENF. Suas áreas de pesquisa são: materiais não-convencionais, investigação geológico-geotécnica e cerâmica vermelha. Além disso, ministra aulas na graduação e na pós-graduação em Engenharia Civil.

— Aos estudantes que estão começando hoje, meu conselho é: estudem, dediquem-se e sejam sempre perseverantes, que no fu-turo colherão frutos — diz Gustavo.

Passagem pela UFRJ marcou retorno à UENF

Campista, o professor Guilher-me Chagas Cordeiro (LECIV) ini-ciou a graduação em Engenharia Civil na UENF em 1994. Veio trans-ferido da Uerj, onde havia ingres-sado um ano antes. Ele conta que, naquela época, não pensava em ser professor universitário, mas já tinha em mente trabalhar com pesquisa.

— Eu havia feito um estágio em um navio de pesquisas da Marinha do Brasil e me interessei bastante pela forma como os pesquisadores trabalhavam — conta.

Na sua opinião, os cursos de gra-duação e mestrado na UENF foram cruciais para obter a vaga de douto-rado na COPPE/UFRJ, onde acredi-ta ter conseguido a base adequada para voltar à UENF como professor. Segundo Guilherme, a passagem pela COPPE foi crucial para a sua formação, por possibilitar o contato com diferentes grupos de pesquisa no Brasil e no exterior.

— Também tiveram papel impor-

tantíssimo na minha formação aca-dêmica os professores José Tavares Araruna Junior, que foi meu orien-tador de Iniciação Científica e hoje está na PUC/RJ, e Jean Marie Désir, meu orientador no mestrado, hoje atuando na UFRGS — conta.

Professor do Setor de Estruturas do Laboratório de Engenharia Civil (LECIV) da UENF, Guilherme atua tanto na graduação quanto na pós-graduação, nas áreas de materiais, resistência dos materiais e análise estrutural. Ele também é profes-sor colaborador do Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Amazonas.

— Aos meus alunos, costumo dizer que é importante ler bastante sobre a nossa área de estudo. O alu-no que deseja ser um bom profissio-nal precisa identificar desde cedo o que realmente gosta e se dedicar o máximo que puder — diz.

Acima, Guilherme Cordeiro professor, abaixo, os bons tempos de estudante

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A única certeza que Adriana Jardim tinha quando se inscreveu no concurso para profes-sor da UENF, em 2007 — poucos meses após ter concluído o seu doutorado — era que não passaria na seleção. Na época ainda insegura em relação ao seu futuro profissional, Adriana conta que decidiu se inscrever para a cadeira de Terapêutica Veterinária e Saúde no Ecossis-tema apenas “por experiência”, imaginando que mais tarde isso poderia ajudá-la em ou-tros concursos.

— Para mim foi uma grande surpresa, por-que acreditava que havia outros candidatos muito mais capazes que eu. Tinha tanta certeza de que não passaria que já estava arrumando tudo para voltar para o Rio, onde mora minha família — conta Adriana, que começou a atuar como professora/pesquisadora da UENF aos 29 anos de idade.

— Aconselho meus alunos a serem com-prometidos com aquilo que fazem. Mais im-portante que a nota é o esforço, a pontualida-de, a seriedade e o compromisso. O mercado de trabalho é muito competitivo, então temos que levar muito a sério aquilo que fazemos — diz.

Para Adriana, a Iniciação Científica é fun-damental para despertar a vocação científica entre os jovens. Ela mesma, conta, tinha uma

Concursopor

experiência

visão bastante limitada do que a carreira de médica veterinária poderia lhe oferecer. Aos poucos, foi se entusiasmando ao perceber o resultado das pesquisas.

Como bolsista de IC, ela fez parte do pro-jeto “Carroceiro”, que tinha por objetivo veri-ficar a parte hematológica e parasitológica dos equinos utilizados como animais de tração em Campos, sob orientação do professor Cláu-dio Baptista de Carvalho. Posteriormente, foi inserida no projeto do então mestrando An-tônio Peixoto Albernaz, hoje também profes-sor do LSA/UENF. Porém o fato de ter uma

linha de pesquisa traçada nunca a impediu de participar de outros projetos, o que Adriana considera uma excelente maneira de ampliar conhecimentos e ganhar experiência em áreas diferentes.

Hoje Adriana desenvolve duas linhas de pesquisa: Terapêutica (onde compara proto-colos já reconhecidos de tratamento de doen-ças como sarna, erliquiose, criptosporidiose etc) e Saúde do Ecossistema (onde pesquisa a contaminação ambiental por Cryptospori-dium). Ela dá aulas nos cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia.

Professora Adriana Jardim em sua sala e em campo com o orientando Eduardo

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A ‘mãezona’ dos alunosApesar da pouca idade, Ana Bárbara Freitas Rodrigues se

considera um pouco “mãezona” de seus alunos. Com a experi-ência de quem integrou a primeira turma do antigo ciclo básico da UENF em 1994 e fez mestrado e doutorado na UENF, tornan-do-se professora/pesquisadora da Universidade em 2007, aos 32 anos de idade, Ana Bárbara demonstra muita preocupação com os “alunos de hoje”.

— Eles estão entrando no curso cada vez mais jovens e, por isso mesmo, muito ‘crus’. A maioria vive sozinha, longe da famí-lia. Eles precisam de alguém que lhes puxe as rédeas, chame-os ao compromisso, à responsabilidade — diz Ana Bárbara.

Ser professor universitário era uma coisa que não passava por sua cabeça quando deixou o município de São José de Ubá (RJ) para estudar em uma universidade ainda em construção. Quando lembra aquela época, uma das coisas que lhe vêm à mente é o som incessante do bate-estacas atrapalhando as aulas. A outra é a rapidez com que o campus ia sendo construído.

— Não tive medo de vir para uma universidade que esta-va começando a ser implantada. Eu acreditava que tudo ia dar certo e até desisti do curso de Fonoaudiologia na UFRJ, para o qual também havia feito vestibular e passado — lembra Ana Bárbara, que credita a escolha pela área de Veterinária ao fato de pertencer a uma família de pequenos produtores rurais e, por isso mesmo, desde pequena ter tido muito contato com animais de criação.

A passagem pela Iniciação Científica foi determinante para que Ana Bárbara desenvolvesse o interesse pela pesquisa. Assim que terminou o doutorado em Produção Animal, incentivada por seu orientador, o professor Cláudio Baptista de Carvalho, Ana Bárbara resolveu se inscrever para a única vaga aberta na cadeira de Anatomia de Animais Domésticos em um concurso para professor da UENF.

— Concorri com um ex-professor meu, que foi quem me proporcionou o primeiro contato com a área de anatomia ani-mal — conta Ana Bárbara, que assumiu o posto de professora da UENF em 2007 e hoje desenvolve pesquisas nas áreas de morfologia dos animais domésticos, avestruzes e fetos bovinos, odontologia veterinária, entre outros.

Plenamente realizada, Ana Bárbara considera a UENF sua “segunda casa”. Ela conta que, mesmo quando está de férias, não consegue se desligar completamente do trabalho.

— Também não gosto que falem mal da UENF. É certo que ainda precisamos crescer, mas temos que admitir que muita coisa melhorou — diz a professora, lotada no LSA.

Ana Bárbara sempre cercada de estudantes, antes como colega, agora como mestra

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Biociências e Biotecnologia

Maria Clara Ornelas Nunes Defesa: 22/04/2010 “Avaliação da cinética de crescimento de Gluconacetobacter diazotrophicus em processo submerso”

Maria Isabel Titoneli Pacheco Moreno Defesa: 10/05/2010“Variação intraespecífica de folhas de Faramea intercedens müll. arg. (rubiaceae) em condições de mata e de clareira”

Ecologia e Recursos Naturais Andréa Almeida Lopes de Deus Defesa: 24/06/2010“Caracterização da alimentação de espécies da comunidade íctica da lagoa de Iquipari, norte do estado do Rio de Janeiro”

Políticas Sociais

Gisele Rogéria Penatieri Defesa: 10/06/2010 Título: “Escola, experiência estudantil e juventu-de: passado, presente e futuro permeados pela escola”

Sociologia Política Marcos Abraão Fernandes Ribeiro Defesa: 30/06/2010 Titulo: “Autoritarismo e democracia no pensamento político de Raymundo Faoro, Simon Schwartzman e Fernando Henrique Cardoso”

Ciências Naturais

Paulo Sérgio Gomes de Almeida Júnior Defesa: 02/06/2010“Uma nova metodologia para detecção de traços de gases NH3 e NO em sistemas biológicos”

Engenharia Civil

Cássia Maria de Assis Rangel Melo Defesa: 22/06/2010“Avaliação de desempenho e desenvolvimento de metodologias para estudos de ancoragem de estruturas flutuantes com estacas de sucção” Jair Gonçalves De Oliveira Borges Defesa: 11/06/2010“Avaliação de métodos baseados na decomposi-ção no domínio da frequência para identificação modal de estruturas” Priscila de Almeida Cardoso Defesa: 21/06/2010 “Estudo experimentos do arrancamento de dutos enterrados ancorados com geogrelhas utilizando centófogos geotécnicos”

Engenharia de Produção

Aline Gomes CordeiroDefesa: 09/04/2010“Priorização de requisitos e avaliação da qualidade de software segundo a percepção dos usuários” Geórgia Maria Mangueira de AlmeidaDefesa: 14/05/2010“Avaliação e classificação da qualidade de meios de hospedagem segundo a percepção dos hóspedes” João Ladislau Pereira AndradeDefesa: 30/06/2010 “Gestão de portifólio: os desafios para melhoria

de processo de uma companhia petrolífera de exploração & produção”

Marcos André DeboniDefesa: 30/06/2010“O gerenciamento da qualidade e sua relação com o sucesso no gerenciamento de projetos”

Engenharia de Reservatório e de Exploração

Mestrado

Eneida Arendt RegoDefesa: 06/05/2010 “Desenvolvimento de um método de binarização de imagens via redes neurais: um estudo comparativo na análise de imagens de rochas reservatório”

Jamilson Eleutério Delesposte Defesa: 19/04/2010“Diferenciação litológica ao longo de poços com perfis geofísicos e técnicas matemáticas” Júlio Cesar Pereira Defesa: 07/05/2010“Avaliação de cimentação em revestimentos de fibra de vidro com auxílio de perfis geofísicos resistivos” Matheus de Almeida Garcia Defesa: 18/06/2010“Controle facibiológico na saturação e composição do óleo nos tar sands da formação piramboia, triássico da bacia do Paraná, no estado de São Paulo”

Teses e dissertações

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A UENF produziu 24 dissertações de mestrado e três teses de doutorado no período de abril a junho de 2010. São estudos das mais diversas áreas, com possibilidade de aplicação em atividades como agricultura, pecuária, preservação ambiental, educação, petróleo, entre outras.

Segundo a avaliação trienal da Capes/MEC, divulgada em setembro, todos os programas de pós-graduação da UENF tiveram credenciamento renovado. Dois deles receberam conceito 5, equivalente a ‘muito bom’: os programas de Produção Vegetal e Genética e Melhoramento de

Plantas. Outros seis receberam conceito 4, que significa ‘bom’: Ciência

Animal, Ecologia e Recursos Naturais, Engenharia Civil, Engenharia de Reservatório e de Exploração, Engenharia e Ciência dos Materiais e Sociologia Política.

Os cinco demais programas de pós-graduação da UENF receberam conceito 3, suficiente para renovar o credenciamento. São eles: Biociências e Biotecnologia, Ciências Naturais, Cognição e Linguagem, Engenharia de Produção e Políticas Sociais.

Confira as teses ou dissertações concluídas de abril a junho de 2010:

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Tuane Mariane Januário Defesa: 20/05/2010“Investigação do potencial exploratório das minibacias desenvolvidas em águas profundas da Bacia de Santos”

Ciência Animal

Doutorado

William Cristiane Teles Tonini Defesa: 05/04/2010“Energia digestível e digestibilidade de nutrientes de alimentos para Trichogaster Leeri”

Mestrado

Cristine Tinoco de Souza Defesa: 20/05/2010 “Biologia reprodutiva de Hypostomus affins (Steindachner, 1877) e Hypostomu luetkeni(Lacepede, 1803) no município de Itaperuna, RJ” Fernanda Nazario Sardinha Defesa: 18/06/2010“Análise de dois protocolos de eletroporação em ovócitos bovinos” Gabriela Soares Carvalho Pamplona Corte Real Defesa: 28/05/2010“Milho selecionado por densimetria na alimenta-ção de poedeiras comerciais”

Genética e Melhoramento de Plantas

Doutorado

Leandro Simões Azeredo GonçalvesDefesa: 26/04/2010

Titulo: “Herança de caracteres agronômicos e da resistência ao Pepper yellow mosaic vírus em Capsicum baccatum var. pendulum”

Produção Vegetal

Doutorado

Maria Kellen da Silva MôçoDefesa: 13/05/2010 Título:”Atributos biológicos em solo e serapilheira sob sistemas agroflorestais de cacau e outras coberturas vegetais”

Mestrado

Fernanda Fraga Pessanha Defesa: 07/06/2010“Eugenia uniflora L. (mirtaceae): caracterização e avaliação dos compostos fenólicos, da vitamina C e da atividade antioxidante dos frutos da pitangueira”.

Luciane do Nascimento Siqueira Defesa: 13/05/2010 “Desbaste de cachos em videiras niagara rosada (Vitis labrusca L.) cultivadas no Norte Fluminense: acúmulo de reservas, características quantitativas e qualitativas da uva”

Paula Alessandra Gomes Defesa: 21/05/2010“Óleo essencial da erva baleeira (Cordia verbena-cea L.) de áreas nativas”

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Estudantes exercitam iniciativa e capacidade de organização durante

Semana Acadêmica da UENF

Mostrando a cara O protagonismo dos estudan-tes é a grande marca da Semana Acadêmica Unificada da UENF, que mobiliza alunos de pratica-mente todos os cursos na orga-nização de palestras, debates, oficinas e minicursos. Neste ano, a Semana Acadêmica Unificada ocorre de 08 a 12 de novembro. À exceção de algumas palestras de interesse geral, que são or-ganizadas pela própria Universi-dade, cada curso é responsável pela grade de atividades de sua respectiva área.

Da Biologia às Ciências So-ciais, das Ciências Agrárias às Engenharias, praticamente todas as áreas de ensino da Uenf estão mobilizadas durante o período.

− As semanas acadêmicas são organizadas por nós mesmos, então a gente cresce bastante, é um aprendizado realmente im-portante − opina o estudante

Lucivan Pereira Barros Junior, do oitavo período de Engenha-ria Metalúrgica e de Materiais. Ele compõe a Comissão Organi-zadora do 11º EENGE (Encontro de Engenharia), que tem ainda as versões da Engenharia Civil e da Engenharia de Produção.

O pessoal da Engenharia do Petróleo já realizou, em agosto, a oitava edição do ENGEP (En-contro de Engenharia de Explo-ração e Produção de Petróleo). No total, mais de 600 inscritos participaram do evento, realiza-do no campus da UENF em Ma-caé.

- A qualidade do evento re-alizado foi ímpar, e só foi pos-sível devido ao apoio das 14 empresas ou instituições que o patrocinaram, além do LENEP/UENF - afirma o estudante Natã Miranda Franco, da Comissão Organizadora.

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Fábrica de óleos vai usar tecnologia desenvolvida por pesquisadores da UENF; empresa é primeiro fruto concreto do projeto APL Maracujá

Fábrica de óleos vai usar tecnologia desenvolvida por pesquisadores da UENF; empresa é primeiro fruto concreto do projeto APL Maracujá

maracujá

A voltadomaracujá

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Pesquisadores do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF conseguiram transpor o principal obstáculo para a produção, em escala indus-trial, de óleo da semente do maracujá. A tecnologia, que já é objeto de patente, será utilizada pela fábrica Extrair Óleos Naturais, inaugurada em 14/08 no mu-nicípio de Bom Jesus do Itabapoana, Noroeste Fluminense. O empreendimen-to é o primeiro fruto concreto do projeto APL Maracujá, implementado entre 2006 e 2009 pela UENF, Embrapa e Pesagro, com o apoio do CNPq, e que tinha como principal objetivo reverter o declínio da produção de maracujá na região.

A tecnologia, desenvolvida pela doutoranda Suelen Alvarenga Regis, do Pro-grama de Pós-Graduação em Produção Vegetal da UENF, com orientação do pro-fessor Eder Dutra de Resende (LTA/UENF), permite purificar a semente de forma rápida, segura e em escala industrial, separando-a do arilo (vesícula que contem o suco e se gruda à semente). Além de facilitar a prensagem com maior rendimento de extração e possibilitar a obtenção de um óleo mais puro, a técnica ajuda a pro-longar a vida útil da semente, permitindo a sua estocagem por mais de seis meses. Isto porque o arilo, quando aderido à semente, é altamente higroscópico e pode servir como meio de cultura, favorecendo a contaminação por micro-organismos.

— A ideia é que seja feita uma parceria de negócios, e a tecnologia seja re-passada às indústrias de suco que irão fornecer as sementes para a fábrica de óleos. Assim, o material já sairá das indústrias de suco pronto para a prensa-gem. Isso ajuda na estocagem e transporte — explica o professor Eder Re-sende, lembrando que a UENF receberá royalties pelo uso da tecnologia.

Segundo o pesquisador, os subprodutos do maracujá, como cascas e sementes, representam cerca de 65% da fruta e atualmente são descartados em aterros sani-tários ou utilizados na alimentação de animais de criação. Ele acredita que, com o melhor aproveitamento dos seus subprodutos pela indústria, o maracujá será mais valorizado e, consequentemente, os produtores rurais também serão beneficiados.

A UENF desenvolve ainda outras pesquisas visando ao aproveitamen-to dos subprodutos do maracujá. Uma delas, desenvolvida pela douto-randa Eliana Monteiro Soares de Oliveira, do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal, permite transformar a parte branca (mesocarpo) da casca em uma farinha rica em pectina, substância de alto valor na indús-tria alimentícia. A pesquisa gerou outro pedido de patente, que se encon-tra em análise pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

— Através de convênio com a fábrica, que se encontra incuba-da na TEC Campos, poderemos obter novos financiamentos para pes-quisas, o que será benéfico para os dois lados — diz o professor Eder.

Por suas propriedades hidratantes, o óleo da semente de maracujá é ma-téria-prima da indústria de cosméticos. O produto pode ser incorporado, por exemplo, a cremes, sabonetes e shampoos. O arilo também é purificado e pro-cessado na forma de farinha rica em pectina. A fábrica Extrair Óleos Naturais pertence ao empresário Sandro Reis e tem, atualmente, capacidade para pro-cessar 600 quilos de sementes secas por dia, produzindo mais de 3.000 kg de óleo por mês. Para entrar em funcionamento, a fábrica foi alvo de um projeto de inovação tecnológica envolvendo a UENF e a Embrapa Agroindústria de Ali-mentos, obtendo um financiamento junto à Faperj da ordem de R$ 190 mil.

— No início, a fábrica vai adquirir sementes de agroindústrias da re-gião, que obtêm maracujás de diversas partes do país, mas a ideia é que, à medida que o cultivo de maracujá seja restabelecido no Norte Fluminen-se, elas passem a adquirir os frutos aqui mesmo — afirma Eder Resende.

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Com o incentivo do governo estadual — que disponibi-lizou recursos através do Programa Moeda Verde Frutificar —, o cultivo de maracujá chegou a ocupar mais de 2 mil hectares em todo o Norte Fluminense. No entanto, uma virose dizimou praticamente todas as plantações, além de instalar-se no solo e impossibilitar o replantio. Reverter este quadro foi o objetivo do projeto APL Maracujá, que tinha como meta desenvolver toda a cadeia produtiva da fruta, integrando e beneficiando o campo e a indústria.

A ideia surgiu em 2005 entre os professores Eder Dutra de Resende (LTA/UENF) e Doracy Pessoa Ramos, do Labo-ratório de Solos (LSOL) da UENF. Em 2006, com a parceria da Embrapa e da Pesagro, o projeto APL Maracujá foi apro-vado pelo CNPq, garantindo recursos para as pesquisas. Enquanto a Embrapa e a Pesagro ficaram responsáveis por novas formas de plantio resistentes às pragas, a UENF de-veria realizar o levantamento das melhores condições do local de produção e desenvolver tecnologias para o apro-veitamento dos resíduos do maracujá.

— Logicamente, a instalação de indústrias estava entre os nossos objetivos. Mas me surpreendi porque achei que ia demorar mais para isso acontecer — afirma o professor Eder Resende.

Além de identificar as áreas mais adequadas ao cultivo de maracujá, o projeto resultou na implantação de unida-des experimentais em Miracema, São Francisco de Itaba-poana, Italva e Araruama, nas quais estão sendo cultivadas variedades da fruta mais tolerantes à virose desenvolvidas pela Embrapa Cerrados. Nos locais onde o vírus acometeu o solo estão sendo utilizados porta-enxertos resistentes à doença.

— Diante dos resultados do projeto, o Frutificar, que tinha cancelado a linha de financiamento para a produ-ção de maracujá, já sinalizou que vai reabri-la — informa o professor.

Segundo ele, o projeto estabelece uma visão holística da importância da integração entre o campo e a indústria, segundo a qual a sustentabilidade depende de ação con-junta. Ele espera que a revitalização do maracujá propicie uma melhoria dos indicadores sociais e econômicos da re-gião, com a incorporação de tecnologias, capacitação dos técnicos e produtores e fixação do homem no campo.

entre o campo e a indústria

Sintonia