revista nossa terra - n. 02

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Nossa Terra - Ceará 1 Nossa Terra CEARÁ Governo do Estado do Ceará | Secretaria do Desenvolvimento Agrário n°2 | ano 02 | janeiro | 2010 Projeto de Algas | Mandiocultura | Tratores | Galinhas Caipira | Substituição de Copas Casa de Mel Biodiesel | Arca das Letras | Captação in Situ | Pacto das Águas | Projeto Mandala Energia renovável brotando no semiárido

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Revista Nossa Terra é uma publicação da Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará

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Nossa Terra - Ceará 1

Nossa TerraCEARÁ

Governo do Estado do Ceará | Secretaria do Desenvolvimento Agrário

n°2 | ano 02 | janeiro | 2010

Projeto de Algas | Mandiocultura | Tratores | Galinhas Caipira | Substituição de Copas Casa de Mel Biodiesel | Arca das Letras | Captação in Situ | Pacto das Águas | Projeto Mandala

Energia renovávelbrotando no semiárido

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2 Nossa Terra - Ceará

Cid Ferreira GomesGovernador do Estado do Ceará

Camilo Sobreira de SantanaSecretário do Desenvolvimento Agrário do Estado

Antônio Rodrigues AmorimSecretário Adjunto da SDA

Wilson Vasconcelos BrandãoSecretário Executivo da SDA

José Maria PimentaPresidente da Ematerce

Edílson de CastroPresidente da Agência de Defesa Agropecuária

Francisco BessaSuperintendente do Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace)

Marcelo PinheiroPresidente do Instituto Agropolos do Ceará

Reginaldo MoreiraPresidente da Central Abastecimento do Ceará(Ceasa)

Revista Nossa Terra Ceará - Edição 2

Coordenação Editorial - Celso OlivieraTextos - Janaína Gouveia e Natercia RochaFotografia - Banco de Dados da Assembleia Legislativa do Ceará, Celso Oliveira, David Pinheiro, José Wagner, Natercia Rocha e Renato Aguiar Projeto gráfico - ponto2design Tratamento de Imagens: Elton Gomes / Local FotoJornalista responsável: Natercia Rocha ( Registro n.39996-SP)

Realização: Assessoria de Comunicação e Marketing, da Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará (SDA)85. 3101.7631 / 3101.8058 / www.sda.ce.gov.br / [email protected]

Tiragem: 5.000 exemplares Impressão: CeligráficaJaneiro - 2010

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Nossa Terra - Ceará 3

Nossa TerraCEARÁ

A segunda edição da Revista Nossa Terra Ceará, da Secretaria do Desenvolvimen-to Agrário (SDA), chega como um presente para o futuro de cearenses do Interior e da Capital. Primeiramente, porque esse veículo vem abrindo importante espa-ço institucional para o trabalho realizado no semiárido nordestino, e que vem se consolidando como um dos setores mais importantes no Brasil: o da Agricultura Familiar. Segundo, porque os emocionantes relatos de vidas registrados aqui, denotam mais que a colheita generosa de ações semeadas pelo Governo do Ceará nos últimos anos. Eles mostram cenas, até então raras, de Sertanejos verdadeiramente satis-feitos com os resultados do respeito e atenção dedicados aos trabalhadores do campo nessa primeira década de século 21 no nosso Estado.O Brasil vive hoje a experiência de ver as três esferas de governos: Federal, Estadu-al e Municipal, realizando ações articuladas, com altos investimentos em projetos que, fortalecem e valorizam as marcas profundas do rosto dessa gente corajosa, de mãos calejadas e pés ressequidos, mas que estão no cerne da construção desse Estado.Mas tudo isso é só o começo. Temos uma longa caminhada pela frente. Vamos continuar nessa frente de batalha porque, para cumprirmos nossa missão, precisa-mos estar a postos. Somos responsáveis pelo desenvolvimento e continuidade dos programas direcionados ao meio rural. E essa prosperidade passa pela compreen-são de que, independente de termos nas mãos enxadas ou canetas, somos parte de um todo. Cada um é peça complementar na construção de um mundo melhor, mais limpo, mais justo.Vamos plantar, cultivar, cativar e colher, porque o futuro continua sendo o melhor presente que a Vida nos concede. E que 2010 traga bom tempo para todos nós.

Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará

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Sumário

Projeto de AlgasProjeto de algas mobiliza assentamento Maceió - 06

MandioculturaMandiocultura melhora qualidade da farinha no Ceará - 12

Tratores100 Tratores – A entrega que entrou para a história - 16

Galinha CaipiraAssentamento Fazenda Es-treito é exemplo de empresa rural - 20

BiodieselBiocombustível - 24Energia Renovável brotando no Semiárido - 25Essa é a hora, chegou nossa vez - 26Entrevista com o presidente da Petrobras Biocombustível Miguel Rossetto - 30

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Substituição de CopasSubstituição de copas de cajueiros aumenta produtividade - 34

Casa de Mel“Ó abelha rainha, provo do favo do teu mel” - 41

Arca das LetrasCeará é líder nacional em implantação de

Bibliotecas Rurais - 48

Captação In SituUma técnica para guardar a água do Sertão - 51

Pacto das ÁguasUm acordo democrático - 53

EntrevistaMinistro do Desenvolvimento AgrárioGuilherme Cassel - 44

Projeto MandalaO ciclo da vida - 54Tempo de fartura no Sertão - 55 A marcha da evolução - 56

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6 Nossa Terra - Ceará

Até chegar à maloca revestida de palha de coqueiro, erguida em meio ao estirão de areia, a paisagem de mar retilíneo é deslumbrante. E o sol a pino das primeiras ho-ras da manhã, acompanhado dos ventos fortes dessa época do ano, não impedem que moradores do Assentamento Maceió, em Itapipoca, costa oeste do Ceará, se reúnam em mutirão para trabalhar a principal matéria-prima do lugar: as algas.

Projeto de Algas

Projeto de algas mobiliza assentamento MaceióItapipoca - CE

No Assentamento Maceió, em Itapipoca, equipes trabalham estruturas de cordas com algas que serão “plantadas” no mar.

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Juntos, pescadores, agricultores e ma-risqueiras se acomodam pelo chão para montagem dos 50 metros de cordas, adquiridas há pouco mais de um ano, com recursos do Projeto São José. Nas cordas, mudas extraídas nas marés baixas, já limpas, e espalhadas sobre a lona preta, são presas às cordas e, depois, em paquetes, levadas ao mar para serem plantadas em estruturas de madeira submersa.É com apoio financeiro e visando gera-ção de emprego e renda, que o Gover-no do Estado do Ceará, através da Se-cretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), está investindo no cultivo, pro-dução e comercialização das algas pro-venientes do Assentamento Maceió.

“Meus bisavós moravam aqui e quere-mos que nossos tataranetos continuem tirando seu sustento desse lugar, que é nosso por direito, conquistado através da luta do povo”, diz, com firmeza, dona Ana Maria Félix Pinto, maris-queira e presidente da Associação do Imóvel do Assentamento Maceió.E continua. “Antes, a gente colhia alga somente na época de maré, em lua nova e lua cheia. Botava pra secar estendida no sol, levava pra casa no lombo do jumento e dava tudo quase de graça na mão do atravessador. De-pois do Projeto São José a comunida-de planta as corda no mar, zela, colhe, guarda, elas tão crescendo mais rápido que antes. Era isso que precisava pra

garantir vida e sustento de nossos fi-lhos por aqui. Ninguém quer ir caçar sufoco na cidade grande”, reflete dona Ana. O registro da retirada de algas no litoral do Ceará data da década de 70. Naquele tempo, e até um ano atrás no Assentamento Maceió, as algas mari-nhas eram extraídas de bancos natu-rais, coletadas na praia e secas na areia. Claro que, além de desvalorizadas para comercialização, com o passar dos tempos, as retiradas constantes su-peraram a capacidade de preservação dos bancos naturais de algas, causando redução no volume extraído. Menos produto, pouco trabalho, nenhuma renda. A migração parecia inevitável.

Pescador trabalhando com rede de pesca e algas.

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Pro

jeto

de

Alg

as

A HISTÓRIA DESSE PESCADOR NÃO É “HISTÓRIA DE PESCA-DOR” “O projeto de algas que esse governo trouxe pro assentamento, complemen-ta o plantio da terra e pode dar uma vida melhor pra nós e pras futuras ge-rações. Agora a gente tem condições de produzir alga em larga escala”, ga-rante o pescador artesanal e agricultor, Francisco Gaspar dos Anjos, o Chico, empolgado com o resultado da primei-ra colheita marinha. Com a liberação da primeira parcela do Projeto São José, moradores de três (Maceió, Jacaré e Apiques), das 11 comunidades que vivem diretamen-te da pesca dentro do Assentamen-to Maceió, compraram cordas para trabalhar. Com liberação da segunda parcela, eles já começaram a construir galpão e secadores solares ali mesmo, no campo de dunas. “Foi montado 50 metro de corda, com 50 secundária de um metro. Pri-

meiro montamos sete corda, como experiência, para ver se a área era pro-pícia. O resultado primeiro foi muito bom. Hoje, aqui, tem quatro equipes, com seis pessoas, implantando 24 es-truturas, que são dois módulos, cada um com 12 estruturas. E nossa visão é expandir mais”, diz Chico.Empolgado, o pescador destaca a recente capacitação ministrada por ONG local, com palestras a respeito de como produzir, preparar e comer-cializar de forma sustentável as algas do Assentamento Maceió. A melhoria no processo produtivo permitiu que o preço da alga seca, saltasse de R$ 0,30 para R$ 15,00 o quilo.“Está iniciada a construção do galpão para armazenar material, bomba de água doce e secador a base de ener-gia solar. Esse projeto da SDA ajuda o pescador na área da produção e re-presenta a força da resistência contra a especulação imobiliária. Tem gente que pensa que no litoral do Ceará só

“O projeto das algas é mais um incentivo para estimular o pescador. Porque pesca não dá sustentabilidade todo o tempo, tem época que pára. Essa é mais uma forma de conseguir renda, de dar condições para o pescador viver na praia”.

Francisco Luiz Sousa FelixPresidente da Colônia Z3, do município de Itapipoca.

O trabalho com algas gera emprego e renda para famílias inteiras no Assentamento Maceió, litoral oeste do Ceará.

tem turismo. Por causa desse trabalho aqui, o jovem não precisa ir embora, buscar sonho longe da realidade dele”, enfatiza o pescador Gaspar dos Anjos.

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A luta pelos 5.844 hectares de terras do Assentamento Maceió, loca-lizado no distrito de Marinheiros, em Itapipoca, litoral oeste do Ceará, se deu na década de 80. A população é estimada em 800 famílias, distribuídas em 11 comunidades: Apiques, Bom Jesus, Mateus, Cór-rego da Estrada, Barra do Córrego, Coqueiro, Humaitá, Jacaré, Lagoa Grande, Maceió e Bode. A comunidade de Maceió é a maior, por isso dá nome ao assentamento. O lugar é formado por zonas de praia, pós-praia, campos de dunas, lagoas, riachos e mata de tabuleiro.

Maria das Graças Nascimento e Pedro da Conceição Sousa, trabalhadores rurais e assentados.

Algas marinhas são plan-tas primitivas, desprovi-das de caules, raízes e folhas. Também não pos-suem sistemas vascula-res, nem produzem flores, sementes ou frutos. O sistema reprodutor é ca-racteristicamente unicelu-lar, ou seja, a reprodução ocorre por divisão celular, assexuada. São encontra-das em costas rochosas, agarradas às pedras.

Você sabia...

Mais informações pelo telefone 88. 3673.7052

“Esse projeto resgata o trabalho das mulheres e chega como mais uma fon-te de renda. Os homens têm o pesca-do, a agricultura e, também, as algas. Todos querem permanecer nessa faixa de terra para preservar e cuidar. Esse assentamento é grande, demanda muitas questões do litoral e o Projeto São José, além de prever a geração de renda, cuida da fixação do homem no mar”.Raimundo Filho dos Santos, o Pequeno Técnico em Agropecuária e morador do As-sentamento Maceió

“É importante essa parceria do Governo do Ceará por-que abriu perspectiva que não tinha antes. Sem o proje-to, isso tudo aqui não estaria acontecendo. Acompanho essa comunidade desde 1976, quando começou, na Igre-ja Católica, o Movimento das Comunidades Eclesiais de Base. E esse lugar sempre se destacou pelo interesse e organização”.Maria Alice Mccabe - Americana naturalizada brasileira, freira da Congregação Notre Dame de Namur, ex-companheira da religiosa Dorothy Stang.

“Estamos tendo acompanhamento com o pessoal de Flecheiras, que já estão bem adiantados, e até benefi-ciam as algas fazendo shampoo, creme, geléia, iogurte. Essa foi a primeira colheita depois do projeto. E foi boa. Tenho certeza que tá chegando um tempo bom”.Ana Maria Félix PintoMarisqueira e presidente da Associação do Imóvel do Assentamen-to Maceió

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Mandiocultura

Organizados em grupos comunitários, pequenos produtores do Assentamento da Fazenda Estreito, em Camocim enchem os cestos de palha com a macaxeira colhida na roça e colocada na balança ali mesmo, meio do tempo, para con-trole de pesagem. Depois de tudo anotado e com a matéria-prima aprumada na carroça, o cortejo se prepara para ir em direção à Casa de Farinha recém-construída.

Mandiocultura melhora qualidade da farinha no CearáCamocim - CE

Agricultores Familiares e técnicos comemoram o sucesso da primeira colheita da variedade de mandioca, tipo Pretinha, que aumentou a colheita da safra de 8 para 35 mil quilos por hectare.

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Mas, antes de seguir adiante, na Unida-de Técnica Demonstrativa de Mandio-ca (UTD), agricultores familiares co-memoram o resultado da experiência pioneira implantada na Região Norte do Estado: o rendimento e a qualidade da Mandioca Tipo Pretinha, adquirida através do Programa de Distribuição de Sementes e Mudas, superou todas as expectativas.Somente no segundo semestre de 2009, a unidade de teste rendeu mais de 35 mil quilos por hectare, média de 3,5 quilos por planta. As varieda-des tradicionalmente usadas na região nunca superaram a casa dos oito mil quilos por hectare.Essa revolução está sendo possível devido aos investimentos realizados através do Projeto de Modernização e Fortalecimento do Setor da Man-diocultura, programa que o Governo do Estado do Ceará, através da Se-cretaria do Desenvolvimento Agrário, vem dedicando atenção especial. São propostas simples e inovadoras, como preparo correto do solo, cultivo no momento oportuno, plantio de alta produtividade, espaçamento adequa-do e seleção de manivas-sementes e outros, mas que estão fazendo a dife-rença no campo.

BASE DA ECONOMIANo Ceará, a cultura da mandioca constitui a base da economia dos agri-cultores familiares das regiões Litorâ-nea, Chapada do Araripe e Chapada da Ibiapaba. De acordo com Antonio Raimundo dos Santos, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), estudos recentes mostram que 85% do que é produzido nessas zonas mandioqueiras, ocupam a maior parcela da força de trabalho das famílias rurais, além de seus pro-dutos serem inteiramente destinados à alimentação humana.“O que torna o cultivo da mandioca sustentável, é a capacidade de produzir em solos cujo teor de fósforo é baixo, além de realizar fotossíntese em con-dições de estresse hídrico, sem falar

nas muitas utilidades e aplicabilidades no consumo humano, no preparo de bolo, beiju, broa, carimã (puba), con-feitos, farinha, goma, macaxeira cozida ou frita, mingau, maniçoba, pão, tor-ta, tapioca e muito mais”, destacou o engenheiro-agrônomo.O cultivo da mandioca também faz a diferença na alimentação animal, atra-vés da mandioca fresca (raiz e parte

No Ceará, a cultura da mandioca constitui a base da economia dos agricultores familiares das regiões Litorânea, Chapada do Araripe e Chapada da Ibia-paba.

aérea), seca (raspa e feno) e ensilada (raiz e parte aérea). Na indústria, a participação também é significativa, sendo usada na produção de adesivo, álcool, borracha artificial, bandeja de ovos, cola, cimento, duratex, farinha, fécula, fita gomada, fita isolante, inseti-cida, movelaria, mineração, macarrão, perfuração de poço de petróleo, papel, papelão, remédio, têxtil e outros.

Força e vigor das raízes colhidas na Fazenda Estreito

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TEM GROSSA, FINA, QUEBRA-DINHA...Antigamente era assim: área de raspa-gem sem reservatório para lavar raízes, fornecimento de água irregular, chão batido, paredes caindo, teto escurecido pela fumaça, quase sempre coberto de teias de aranha e animais domésticos circulando. O resultado não podia ser outro: produção, preço e qualidade lá em baixo. Hoje a realidade é outra. Com o pro-jeto das novas Casas de Farinha, os espaços de descascamento, lavagem, produção e armazenamento da maca-xeira foram reorganizados. E as ativi-dades entre famílias, reestruturadas. Agora, as mulheres responsáveis pela raspagem da mandioca, colhida na hora pelos homens do lugar, cuidam

em eliminar toda terra das raízes, re-vezando o modo de tirar a casca: uma descasca metade, e outra, de mãos limpas, elimina a parte que falta. To-talmente sem casca, as macaxeiras são lavadas em tanque de água corrente. O capricho feminino na limpeza tem co-laborado no aumento na renda rural.De acordo com o secretário do Desen-volvimento Agrário, Camilo Santana, as unidades modernas de Casas de Fa-rinha reduziram o consumo de lenha em 50% e os produtores passaram a se preocupar com o destino da mani-pueira* e o equilíbrio ecológico. Até 2011, a meta é realizar 200 convênios de modernização com associações de pequenos produtores rurais.“Havia gestão e tecnologia ultrapassa-das, bloqueio nos canais de comercia-

lização, insuficiência no crédito rural, ineficiência na política de preços mí-nimos, produtividade baixa, e outros. Esse trabalho de Modernização, inclu-sive incentivando as Boas Práticas de Fabricação (BPF)*, aumentou o nível das bases de organização das comuni-dades, melhorou índices de produtivi-dade no campo e novas alternativas de mercado estão aparecendo para o agri-cultor familiar”, destaca o secretário.O funcionamento das instalações mo-dernas, equipadas com forno automá-tico, prensa, balança, depósito, ceva-dor, peneira e outros. O leitor também irá conhecer na experiência da Asso-ciação dos Pequenos Produtores do Sítio São Tomé, lá no município de Itapipoca.

Novas Casas de Farinha geram emprego, renda e melhoram a qualidade de vida de agricultores familiares no interior do Estado.

Mandiocultura

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Boas Práticas de Fabricação (BPF) são medidas que devem ser adotadas pelas indústrias de alimentos a fim de garantir a qualidade sanitária e a conformi-dade dos produtos alimentícios com regulamentos técnicos. A Legislação Sanitária Federal re-gulamenta essas medidas em caráter geral, aplicáveis a todo o tipo de indústria de alimentos, e específico, voltadas às indústrias que processam determinadas ca-tegorias de alimentos.

Manipueira é o resíduo líquido gerado na prensagem da man-dioca, com alto teor de toxicida-de, geralmente despejado nos rios e no solo. Estudos divulga-dos no site da Universidade de Campinas (Unicamp) mostram a “Produção de Biossurfactan-tes Utilizando Manipueira como Substrato”. Pesquisadores des-cobriram um processo para apro-veitar a água derivada da pren-sagem de mandioca na produção de biossurfactantes, substância que alcança níveis de 80% no re-fino do petróleo incorporado em areia, além de ter grande poten-cial nas indústrias alimentícia e farmacêutica.

Você sabia...

ANTIGAS CASAS DE FARINHA SÃO RESTAURADAS Depois de plantada a maniva e colhida na roça, a macaxeira é levada para Casa de Farinha, descascada e colocada na água para amolecer e fermentar ou pubar. Em seguida, a mandioca é triturada ou ralada em pilão ou no ralador ou caititu. A parte ralada cai em uma espécie de cocho, depois é prensada no tipiti (tipi = espremer e ti = líquido, na língua tupi) onde é retirado um líquido venenoso chamado manipueira (ácido anídrico). A massa da mandioca que decanta durante a pubagem, a popular goma, é lar-gamente utilizada nas cozinhas do interior cearense. Com ela são preparadas tapiocas, bolos, sequilhos, mingaus e ainda para ‘engomar’ roupas.

Mais informações na Ematerce 85. 3101.2416

PROJETO DE MODERNIZAÇÃO E FORTALECIMENTO DO SETOR DA MANDIOCULTURAAntonio Ricardo da Mota é um dos 21 agricultores familiares que moram no Sítio São Tomé, em Itapipoca, região Norte do Ceará. Ele está satisfeito com o incremento que o Governo do Esta-do vem dando ao Setor da Mandiocul-tura. “Conseguimos arrancar uns 600 quilos que foi rapado e lavado e, pela primeira vez, moído na prensa dada pelo governo. Depois foi espremer tirando a goma, peneirar na máquina nova, uma beleza, antes de ir para o forno. Mas daí tem que ver, somente quando tiver bem grolada, tira, deixa esfriar e passa mais uma vez na peneira fina. Depois toca no fogo até dá o pon-to bom da farinha”, ensina o agricultor.

Crédito na linha de Consolidação da Agricultura Familiar, do Programa Nacional de Crédito Fundiário, vem acentuando produção e consumo de farinha no Ceará.

Equipamentos modernos padronizam qualidade da farinha

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16 Nossa Terra - Ceará

Tratores

Francisco Monteiro de Sá veio receber o trator doado para Associação Comunitária para o Progresso do Sítio Unha-de-Gato, do município de Ipaumirim, Centro-sul do Ceará

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“Por causa de uma única chuva que dá, e o sujeito não havia preparado a terra devido a falta do trator, perde a safra inteira. Já vi caboco plantar na sexta e outro na segunda. O primeiro, que pegou a chuva, vingou a plantação toda. O segundo foi só derrota”.

100 Tratores – A entrega que entrou para a história

Essa experiência foi narrada por seu Francisco Alves da Silva, presidente da Associação dos Pequenos Produto-res do Sítio São José, em Juazeiro do Norte, região do Cariri, no dia em que deixou a terrinha para vir à Fortaleza somente para participar de uma soleni-dade, coisa rara de acontecer. Mas o motivo era justo. Seu Francis-co, e líderes comunitários de 93 mu-nicípios do Ceará, vieram à Capital a convite do Governo do Estado, como personagens principais das associações beneficiadas com a entrega de 100 tra-tores, equipados com escarificador, sulcador, batedeira de feijão, debu-lhadora de milho e bombas de lubrifi-car. Um marco na história agrícola do Ceará. E a festa foi inesquecível. Com as má-

quinas perfiladas ao longo da Avenida Bezerra de Menezes, em frente à sede da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), o governador Cid Gomes, o secretário Camilo Santana, autoridades e convidados, comemora-ram a conquista junto aos agricultores.“Diminuir os custos de produção, fa-zer o preparo do solo na hora certa e de forma correta, é o sonho de todo agricultor. O sertanejo está se organi-zando, tendo condições de programar suas atividades. O governo do pre-sidente Lula prioriza o trabalhador de base familiar. Essa ação grandiosa vem coroar o compromisso dele, e de todos nós, com a melhoria da qua-lidade de vida no sertão”, destacou o governador.

Francisco Alves da Silva, presidente da Associação dos Pequenos Produtores do Sítio São José, em Juazeiro do Norte

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Trat

ores

MECANIZAÇÃO INCREMENTA A AGRICULTURA FAMILIAR O investimento de aproximadamente R$ 6,5 milhões, que atendeu seis mil famílias, de 93 municípios do Estado, foi realizado através do Projeto São José, com recursos do Banco Mundial e do Tesouro do Estado. O objetivo da compra visa aumentar a produção das lavouras de pequenos produtores rurais através da mecanização agrícola. Além dos tratores, foram entregues im-plementos e os beneficiados capacita-dos para utilizarem bem as máquinas. “A compra coletiva com implemen-tos através de licitação única permitiu que cada trator saísse ao custo de R$ 51 mil, economizamos R$ 20 mil por máquina, do que estava previsto ser gasto. Com isso, ficamos com recursos para investir em novos equipamentos e beneficiar outras comunidades”, enfa-tizou o secretário Camilo Santana.Naquela manhã antológica, quando os discursos e as entregas das chaves ha-viam cessado, os tratores foram ligados e todos saíram em carreata pelas ruas.

O Projeto São José custeou o investimento de R$ 6,5 milhões para a compra dos novos tratores

O governador Cid Gomes na entrega dos Tratores.

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MECANIZAÇÃO INCREMENTA AGRICULTURA FAMILIAR Dias depois, longe da Capital, quando os primeiros tratores começavam a ser distribuídos pelo Interior, moradores do distrito Caxitoré, em Umirim, zona Norte do Ceará, fizeram um reboliço para receber a promessa de melhoria da comunidade.“Esse é o começo para o trabalhador melhorar o sistema de produção. Os custos vão baixar e todos terão que aprender a gerenciar essa empresa co-letiva, que tem 100 donos. Para isso, é necessário transparência no gerencia-mento desse bem de produção, por-que vai refletir na renda dos produto-res”, ressalta o engenheiro-agrônomo da Ematerce, Manoel Sousa Neto.De fato. Para que os tratores cumpram as funções para as quais foram adqui-ridos, representantes das associações receberam capacitação ministrada por técnicos da Ematerce. O objetivo do treinamento foi garantir a utilização sustentável do solo, através da quali-ficação dos trabalhadores rurais, para uso adequado do trator e seus imple-mentos. “A capacitação incentiva e di-funde práticas de conservação de solo, eleva a vida útil das máquinas, além de reduzir o processo erosivo nas áreas mecanizadas”, completou o técnico. Mas é para trabalhar na preparação do solo de forma diferenciada, através do método de captação de água chamado “In Situ”, que o uso dos tratores deve ser incentivado. A próxima matéria mostra a técnica de preparo do solo que, associado à captação e armazena-mento de água da chuva por meio de sulcos, favorece a retenção da umidade por mais tempo, melhorando o apro-veitamento das plantas.Dona Antonia Isabel Pinto Chaves é presidente da Associação Comunitária do Distrito de Caxitoré, em Umirim. Nasceu lá. O pai, no final da década de 50, chegou ao lugar para morar na vila de casas construídas pelo Departamen-to Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Naquele tempo, trabalhou de operário na construção do açude

Caxitoré, nas frentes que arregimentavam mão de obra dos “cassacos”. O açude ficou pronto em 1960, “e a primeira sangria foi em 62”, relembra Isabel. “Esse trator vai beneficiar 100 famílias, das localidades de Caxitoré , Torrões, Limoeiro, Oiticica, Umari e Recife. Para nós, isso aqui é um sonho realizado, vem trazendo vida nova, incentivo e valorização ao homem do campo. É muito necessário que o Governo ofereça projetos produtivos, que gerem renda, que animem o povo. É preciso que o agricultor tenha consciência que tem alguém olhando por ele”.

Flávio Cunha, Tobias Neto, Pedro Estevão, Manuel Sousa, Antonia Izabel Chaves, Natividade Alves, Paulo Roberto, Jader Braga, Juvenildo Guimarães, Francisco Carleone e Antonio José.

No distrito de Caxitoré, em Umirim, moradores vislumbram trabalho e fartura com a chegada do novo trator.

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Galinhas Caipira

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A história que será contada agora é um exemplo ímpar da revolução silenciosa que vem transformando a realidade do sertanejo que vive no semiárido cea-rense. Relatos de vidas de pessoas sim-ples, que trabalham de janeiro a janei-ro, ora com tempo bonito pra chover, ora “numa seca medonha”, mas que, com políticas públicas cada vez mais presentes no campo, veem florescer o potencial de suas capacidades.As 22 famílias da Associação Comu-nitária dos Assentados da Fazenda Estreito, que moram e trabalham nos 638 hectares, adquirido em 2007, atra-vés do Programa Nacional de Crédito Fundiário, na Linha de Combate à Po-breza Rural, do Governo Federal em parceria com o Governo do Estado, vem construindo uma espécie de em-presa do campo.No lugar, foi investido cerca de R$ 385 mil na construção de um estábulo, 21 casas, quatro hectares de reserva legal,

três hectares de feijão irrigado, 10 hec-tares de capim, quatro hectares de sa-biá, abastecimento de água de todas as casas, uma agroindústria, um aprisco, um aviário, quatro hectares de fruticul-tura irrigada, reforma de duas casas e compra de equipamentos agrícolas.São através de ações amplas e resulta-dos práticos, que Governo do Estado, através da Secretaria do Desenvolvi-mento Agrário (SDA), compactua e afina o discurso na realização de pro-gramas, criando ambientes propícios para evolução da agricultura familiar. “Estamos acompanhando esse assenta-mento desde a desapropriação e aqui-sição da terra. Discutimos com produ-tores e agricultores familiares a questão de projetos integrados que, de fato, deem sustentabilidade ao assentamen-to”, destaca o gerente local da Empre-sa de Assistência Técnica e Extensão do Ceará (Ematerce), Marcos Antonio Monteiro Freitas.

De Estreito a Fazenda só tem o nome. Na verdade, o pedaço de terra escondi-do no meio do mato, lá no extremo norte do Ceará, distante 36 quilômetros do município de Camocim, é abundante, largo, farto e espaçoso.

Assentamento Fazenda Estreito é exemplo de

empresa ruralCamocim - CE

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GALINHAS SÃO CRIADAS LIVRES NO TERREIRO O passeio pela propriedade, digno de roteiro turístico, começou com visita ao antigo galpão de galinha de corte, hoje adaptado para galinha caipira de postura. Conquistado através do SIC de Avicultura Caipira Poedeira, o projeto no valor de pouco menos de R$ 30 mil, conta hoje com quase 400 galinhas pondo, em média, 200 ovos/dia, produção que já sai do assentamento com venda certa para Barroquinha, Camocim e Granja. Outro fato que chamou atenção é a questão do gênero envolvendo a unidade familiar. Ao redor das galinhas poedeiras, mulheres e jovens se revezam nos trabalhos que não podem parar. É coletar ovos, servir ração, manter água nos bebedouros e até observar o com-portamento das ´bichinhas´ entre galpão e piquete, que é de porta aberta. “Todo trabalho aqui é vinculado e dentro de procedimentos agroecológicos”, garante o agricultor Serapião Nascimento.E complementa. “Essa cama que fica aí no galinheiro (esterco), com a maravalha (raspa de madeira), a gente utiliza tudo na biocompostagem. A agricultura está transformando esse assentamento de 22 famílias, em uma só. Isso é agricultura familiar de verdade”, lembra Nascimento.

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O galpão de 8m de largura e 16 de comprimento, que já existia na propriedade, foi reformado e estruturado para criação de aves de postura. Foi construído piquete de 16m de largura por 50m de comprimento, junto ao galpão, com tela de galinheiro. E, no piquete, montado sistema de irrigação convencional, feita adubação mineral e plantado a lanço o capim Brachiaria De-cumbens, como fonte de alimen-to volumoso.

Foram compradas pintainhas sexadas com apenas dois dias de vida da raça Lohmann Bro-wn. Antes da chegada das pin-tainhas foi feita desinfecção do galpão com o lança chamas, colocada camada de 10cm de maravalha (raspa de madeira) no piso e montados os equipa-mentos (comedouros, bebedou-ros, círculo de proteção e cam-pânula). A utilização do círculo de proteção e da campânula tem como objetivo controlar a tem-peratura corporal das aves na fase de pintos até o 10° dia de vida, uma vez que não possuem o aparelho termorregulador de-senvolvido.

O sistema de criação é de forma semi-intensiva, onde as aves a partir da 3ª semana de vida pas-sam parte do dia no galpão re-cebendo ração concentrada (ba-lanceada) nas fases: Inicial (até a 6ª semana); Crescimento (da 7ª a 17ª semana); e Postura (da 18ª a 80ª semana); e algumas horas pastando no piquete. As aves são pesadas semanalmen-te (10% do lote) para controle da conversão alimentar (consumo de ração x ganho de peso).

Os assentados vendem ovos nas comunidades vizinhas, nos municípios de Barroquinha, Chaval e Camocim. A bandeja com 30 ovos é vendida a R$ 6,00. O acompanhamen-to e assistência técnica desse e de outros pro-jetos existentes no As-sentamento Estreito são feitos pela Ematerce, por equipe de três técnicos: um zootecnista, um en-genheiro agrônomo e um técnico em agropecuária.

Mais informações na Ematerce de Camocim 85. 3621.6488 ou 85. 8616.6751

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Ensaio

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Biodiesel

BiocombustívelO Ceará na vanguarda da sustentabilidadeQuixadá – CE

Agricultor experiente, mesmo com ‘inverno castigador’, conseguiu ter uma pro-dutividade de 1.068 quilos de mamona por hectare. Ele, e mais 19.511 agricul-tores, de 168 municípios cearenses, são protagonistas da gênese de uma história que tem tudo para transformar a realidade de famílias pelo interior do estado. Mas, como todo bom começo, precisa de esforço extra para vingar.O que promete mudanças radicais nos rumos do homem do Sertão inclui a Unidade de Produção de Biodiesel de Quixadá, inaugurada há pouco mais de um ano pela Petrobras Biocombustível, subsidiária da Petrobras criada para dar foco à atuação da Companhia na área de produção de biocombustíveis. A Usina de Quixadá, que já produziu 49 milhões de litros de biodiesel, alcançando no mês de dezembro de 2009 a produção de 180 mil litros/dia, teve sua capacidade de produção ampliada em novembro de 57 milhões para 108 milhões de litros/ano de biodiesel, ou seja, poderá produzir 90% a mais que a capacidade com a qual foi inaugurada em agosto de 2008.Os números expressivos, conquistados em tempo reduzido, que podiam ser mais uma das muitas histórias da Capital Nordestina dos Discos Voadores, são reais e concretos. Tanto que o laboratório da unidade cearense foi apontado, pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombutíveis (ANP), como o melhor em termos de qualidade no País. O compromisso honrado de seu Antonio, que plantou e entregou a mamona contratada pela Petrobras Biocombustível, é mais amplo do que a maioria ima-gina. É nossa pequena e valiosa colaboração na nova ordem mundial: a de pre-servar o Meio Ambiente. É o Ceará aprendendo a produzir fontes renováveis de energia.

Seu Antonio Godofredo Teodósio de Macedo mora no distrito de Dom Maurí-cio, Sítio Tanques, a 30 quilômetros de Quixadá, no Sertão Central do Ceará. Ele plantou a mamona em adesão ao Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), do Governo Federal.

O laboratório da Usina de Quixadá foi apontado, em 2009, pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), como de melhor qualidade do Brasil

A Petrobras Biocombustível distribuirá para a safra de 2009/2010, no Ceará:110.675 kg de sementes de mamona BRS Nordestina40.000kg de sementes de mamona BRS Energia8.500kg de sementes de girassol Embrapa 122.

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Energia renovável brotando no semiárido

No aniversário de um ano da Usina de Quixadá, o presidente da Petrobras Bio-combustível, Miguel Soldatelli Rossetto, o representante do Ministério do De-senvolvimento Agrário (MDA) e coordenador de Biocombustíveis da Secretaria da Agricultura Familiar, Marco Antônio Leite e o secretário do Desenvolvimento Agrário do Ceará Camilo Santana, participaram do Encontro de Mobilização para Safra 2009/2010, com a presença de agricultores familiares, sindicatos, federações e entidades de classe ligadas à agricultura familiar. O objetivo da mobilização foi somar esforços para superar os desafios do processo de supri-mento agrícola com mamona e girassol e aperfeiçoar os relacionamentos com os agricultores familiares, visando garantir o compromisso com o desenvolvi-mento do Brasil e cada vez mais aumentar a participação da agricultura familiar no Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB).Na ocasião, Miguel Rossetto disse aos produtores do compromisso que os governos Federal, Estadual e Munici-pal, estão empreendendo para fortale-cer a agricultura familiar no Ceará. “A Petrobras tem profundo respeito pelos sindicatos, cooperativas, movimentos sociais, são representações legítimas dos trabalhadores. Temos que aumen-tar a produtividade média da mamo-na. Com boas técnicas e bons mane-jos, podemos triplicar essa produção, resultando em mais vendas por área plantada, gerando mais renda para o agricultor”, ressaltou o presidente.Poucos dias antes dos agricultores ce-arenses serem convidados a se mobi-lizar por uma grande safra em 2010, que contribuirá para fortalecer uma matriz energética cada vez mais limpa e renovável, mantendo o Brasil como destaque mundial na produção e uso dos biocombustíveis, o presidente Lula anunciava que, a partir de janeiro de 2010, o percentual de biodiesel no diesel consumido no Brasil subiria de 4% para 5%. Com a nova proporção na mistura com o diesel mineral, o cál-culo é que a produção de biodiesel no Brasil dobre em relação aos 1,2 bilhão

de litros produzidos em 2008. “Nossas usinas têm tecnologia para produzir biodiesel com várias matérias-primas, permitindo o desenvolvimento de alternativas regionais de oleaginosas. Estamos dando um passo extraordinário de uma longa caminhada. Nossa tarefa é fazer esse trabalho conjunto. Há muito aprendizado a ser construído. Acre-ditamos que, em quatro anos, tenhamos um volume de produção importante. Queremos, aos poucos, substituir soja e algodão, por mamona e girassol”, disse o representante do MDA, Marco Antonio Leite.

Encontro de Mobilização para Safra 2009/2010

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Essa é a hora, chegou nossa vezO biodiesel vem chamando atenção da Comunidade Européia pela capacidade de reduzir a emissão de poluentes e outros gases causadores do efeito estufa, contribuindo para melhorar condições ambientais no mundo inteiro. Observan-do aquelas palavras importantes, seu Godofredo Teodósio coça a cabeça por debaixo do chapéu como quem não entende bem como é que o roçado dele pode contribuir com tudo aquilo. Mas sabe que, para fazer essa roda girar, é preciso gente com força e coragem para trabalhar.

Moradores do distrito de Dom Maurício, no Sítio Tanques, da Fazenda Esperança, em Lagoa da Pedra, e de outras comunidades do entorno, se reuniram para entregar a mamona produzida em suas terras

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Para além dos benefícios vanguardis-tas amplos, o que, de fato, chamou atenção do Governo do Ceará nesse programa, foi o potencial de geração de emprego dentro da agricultura fa-miliar. Hoje, pelos sertões, a renda anual de uma família que cultive, por exemplo, cinco hectares de mamona, com produção média entre 700 e 1,2 mil quilos por hectare, pode variar en-tre R$ 4,0 mil e R$ 7,0 mil. E o mais interessante de tudo isso: a oleaginosa pode ser consorciada com culturas de milho e feijão. Somente em 2009, o estado investiu cerca de R$ 12 milhões no Programa do Biodiesel. A área plantada que era de 9,4 mil hectares (ha), saltou para 32,5 mil ha, e a meta para 2010 é ultra-passar 50 mil hectares com plantio de mamona e girassol. O diferencial his-tórico desse projeto é colocar questões mundiais, como produção de energia e efeito estufa, diretamente ligadas à agricultura familiar.De acordo com o secretário do Desen-volvimento Agrário, Camilo Santana, investimentos e ações na produção de oleaginosas no Ceará, já estão pro-movendo significativas transformações pelo interior. “Há incentivos finan-ceiros, distribuição de boas semen-tes, corretivos de solos, assistência técnica, preço de venda compatível com mercado e compra garantida. É a hora e a vez da agricultura familiar no Ceará. Claro que ninguém pensa em substituir cultivos tradicionais por oleaginosas. Pelo contrário, produção de alimentos é prioridade, a idéia é incrementar esse potencial produtivo. A primeira colheita, a do feijão, ga-rante alimentação da família; a segun-da, do milho, assegura a manutenção dos pequenos animais; já em outubro, novembro, enquanto colhe mamona, pode até deixar os caprinos, a famosa poupança do sertanejo, reproduzindo. É renda o ano inteiro no Sertão”, des-tacou o secretário. Mesmo sabendo que, somente em 2015, o Ceará terá demanda suficiente

para abastecer 50% da necessidade da usina de biodiesel, o gerente regional da Usina de Quixadá, João Augus-to, destacou o bom desenvolvimento econômico do empreendimento. “O biodiesel de Quixadá é produzido principalmente com óleo de soja, ain-da trazemos matéria-prima de outras regiões do país, mas a meta é gerar aqui a criação de um grande mercado agrícola regional”.Agricultor experiente, seu Godofredo Teodósio diz, desconversando e indo embora: “Só vou continuar porque sei que essa ruma de coisa boa vai acon-tecer mesmo, tanto aqui em Quixadá, como lá pelo fim do mundo”.

Para estimular o plantio de olea-ginosas no semiárido, o Governo Federal lançou o Selo Combustível Social, com medidas que estimulam a inclusão social da agricultura nes-sa cadeia produtiva. A certificação outorgada pelo MDA para produto-res de biodiesel e projetos de produ-ção prevê a participação em leilões, benefícios fiscais, e acesso amplo a financiamentos junto a instituições financeiras credenciadas.Terão direito a desoneração de tributos as indústrias que produzi-rem biodiesel com a matéria prima

adquirida da agricultura familiar com preços pré-estabelecidos, ofe-recendo segurança aos agricultores familiares. E os pequenos produ-tores, além de terem à disposição linha de crédito do Programa Na-cional de Fortalecimento da Agri-cultura Familiar (Pronaf), também podem participar como sócios ou quotistas das indústrias extratoras de óleo ou de produção de biodie-sel, seja de forma direta, por meio de associações ou cooperativas de produtores.

Você sabia...

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As matérias-primas utilizadas na produção do biodiesel são: Algodão; Amendoim; Babaçu; Buriti;Canola; Dendê; Gergelim; Girassol;Jojoba; Linhaça; Mamona; NaboForrageiro; Óleos de Fritura; Palmiste;Pequi; Pinhão Manso; Soja; Tucumã; Resíduo Industrial; Sebo; Gordura Animal.

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1 - A Petrobras possui 3 usinas de produção de biodiesel, em Candeias (Bahia), Montes Claros (Minas Gerais) e Quixadá (Cea-rá). Recentemente, as unidades tiveram capacidade de produção aumentada dos atuais 57 milhões para 108,6 milhões de litros do produto, cada uma - incremento de 90% sobre a capacidade atu-al. Com o aumento, as três usinas elevarão a capacidade instalada da Petrobras Biocombustível para produção anual de 326 milhões de litros de biodiesel por ano. Está previsto para o ano de 2010 a duplicação da usina de Candeias (BA). A Petrobras Biocombustí-vel também formalizou uma par-ceria com a empresa BSBIOS, em novembro de 2009, adquirindo 50% da Usina de Biodiesel de Ma-rialva no Estado do Paraná, com capacidade de produção de 120 milhões de litros de biodiesel por ano, que entrará em operação em abril de 2010;

Biodiesel2 - Em 1975, o Brasil lançou o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) – maior programa co-mercial de uso de biomassa para fins energéticos no mundo. Dois anos depois, o professor Expedito Parente, da Universidade Federal do Ceará, descobriu o biodiesel a partir do óleo de algodão e, em 1980, registrou a primeira patente mundial de biodiesel, hoje de do-mínio público; 3 - Os biocombustíveis são fontes de energia que contribuem para a redução da emissão de gases do efeito estufa na atmosfera. Este é seu principal papel na matriz ener-gética. Como os gases gerados na sua queima são reabsorvidos no crescimento da safra seguinte, há equilíbrio entre emissão e ab-sorção de poluentes. Além disso, o uso dos biocombustíveis, como etanol e biodiesel, ajudam a redu-zir as emissões de monóxido de carbono (CO) e dióxido e carbono (CO2);

4 - Desde janeiro de 2005 até o término de 2007, o Brasil consu-miu mais de 850 milhões de litros de biodiesel. Para o ano de 2009, a estimativa de consumo é de 1,3 bilhão de litros de biodiesel. Para 2010, com a entrada em vigor da obrigatoriedade da mistura de 5% de biodiesel (B5) ao óleo diesel mineral, a demanda deve subir para 2,3 bilhões de litros anuais.

Mais informações: Usina de Bio-diesel de Quixadá, na Rodovia Quixadá - Banabuiu - BR 122 S/N - Juatama, Quixadá, CECEP: 63900-000.fone: 85. 3266.4657www.petrobras.com.br

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Entrevista

Miguel Soldatelli Rossetto nasceu em São Leopoldo (RS), em 4 de maio de 1960. Cientista Social, foi vice-governador do Rio Grande do Sul entre 1999 e 2003, Ministro do Desenvolvimento Agrário de 2003 a 2006 e, em maio de 2009, assumiu a presidência da Petrobras Biocombustível. Em visita à Usina de Biodiesel instalada no município de Quixadá, sertão central do Ceará, durante o Encontro de Mobilização para Safra 2009/2010, Miguel Rossetto conversou com a Revista Nossa Terra Ceará e avaliou a expansão do Programa no Estado.

“Juntos, vamos garantir matéria-prima para todas unidades produtoras da empresa”Miguel RossettoPresidente da Petrobras Biocombustível

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Nossa Terra - Ceará 31

NOSSA TERRA CEARÁ – Qual ava-liação do primeiro ano de funciona-mento da Usina de Quixadá?ROSSETTO - O ano de 2009 foi para a Petrobras Biocombustível o primei-ro de funcionamento ininterrupto, e nesse período, conseguimos produzir mais de 40 milhões de litros de biodie-sel de uma capacidade instalada de 57 milhões. Estamos entusiasmados com a região liderada pela Usina de Quixa-dá e com a ampliação de capacidade de produção da usina, em andamento, de forma a abastecer o Ceará, estados Nordeste e do Norte brasileiro. Faz parte da estratégia da Petrobras esti-mular e priorizar mercados agrícolas regionais. Nosso compromisso é com o desenvolvimento local. Queremos que a maior parte da renda agrícola ge-rada pela demanda de produção fique na região onde estão instaladas nossas usinas, e que seja apropriada pelos agricultores familiares. NTC – É o começo de uma nova era?ROSSETTO – É o início do futuro. Estimulamos a cultura produtiva, asse-guramos matéria-prima com regulari-dade, qualidade e preços compatíveis para nossas usinas de biodiesel. Aqui no Ceará, temos uma relação extra-ordinária com o Governo do Estado. Desde o início estamos juntos cons-

truindo esse programa. Aprendendo, comemorando acertos e mudando eventuais opções equivocadas. Hoje, nosso grande desafio é ampliar a pro-dutividade de mamona e girassol por hectare. Já são mais de 19 mil agricul-tores familiares e a meta para 2010 é contar com mais de 30 mil produtores no Ceará trabalhando para o Progra-ma do Biocombustível. É o começo de uma nova era no Sertão.

NTC – Momento oportuno já que o Ceará está em pleno crescimento eco-nômico.ROSSETTO – O Ceará e o Brasil estão em efervescência. E para isso firmamos parceria com instituições, cooperativas de assistência técnica, prefeituras, secretarias de agricultu-ra, universidades, sindicatos e outros. Mas, particularmente, o compromis-so da Secretaria do Desenvolvimento Agrário, tem sido fundamental para o sucesso desse programa. Encerra-mos o primeiro ano de atividades com grande satisfação pelos resultados con-quistados, estamos confiantes na con-solidação desse projeto nos próximos anos. Firmamos convênios de traba-lho com Banco do Brasil e, ainda em 2009, devemos realizar com o Banco do Nordeste. O objetivo de tudo isso é responder a uma estratégia clara:

desenvolver mercados agrícolas regio-nais, assegurando que a renda para aquisição da matéria-prima fique no Ceará. Vamos seguindo juntos nesse crescimento. NTC – Qual o próximo passo?ROSSETTO - Inovamos quando as-seguramos contrato de médio prazo, de cinco anos, com produtores. Com isso, a Petrobras Biocombustível mos-tra que vem para ficar, que quer ter relação duradoura com agricultores associados. Asseguramos renovação de valores a serem pagos no contrato a cada ano, garantimos preço básico de mercado, pagaremos o que for me-lhor para o agricultor, em dia, de for-ma adequada, com sementes de boa qualidade e relação de financiamento com bancos. Em 2009, concluímos contratações de instituições que presta-rão serviços de assistência técnica para associações de agricultores convenia-dos com a Petrobras Biocombustível. Pretendemos, portanto, a partir desse movimento, assegurar que agricultores contratados tenham relação qualifica-da com profissionais agrícolas que au-xiliem no aumento da produtividade. A Petrobras Biocombustível será, no futuro, uma das melhores empresas no setor do mundo, e o Ceará estará junto construindo a história.

“Começamos a caminhada da produção da mamona e girassol em grande escala no Ceará e no Nordes-te. Logo queremos iniciar a do pinhão manso. Ape-sar do longo aprendizado a ser construído, estamos seguros de que, no máximo em três anos, teremos aqui um volume de produção importante. Veremos uma curva no crescimento da matéria-prima regio-nal”.

Miguel RossettoPresidente da Petrobras Biocombustível

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Substituição de Copas

Seu Chico Colondrongo, do Sítio Jacaran-dá, em Camocim, confessa que estranhou o projeto de substituição de copas. Hoje, garante ter sido o melhor investimento feito em suas terras.

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Bom contador de histórias, seu Francisco José de Araújo, carrega além do nome de batismo do pai e do avô, o apelido que também fora dos três: Chico Colondrongo. O velho guerreiro hoje caminha satis-feito entre pomares de cerca de 800 cajueiros que tiveram suas copas substituídas nos últimos anos.

Substituição de copas de cajueiros aumenta produtividade

Mas nem sempre foi assim. No come-ço, conta ele, “chegou esses home aqui pra fazer uma enxertia nesses cajueiro. Eu, que não tinha conhecimento do produto, pensei: rapaz, tem que der-ribar meus pé. Num queria aceitar de jeito nenhum. Mas meu filho entrou na história e acabou que fez o trabalho em 30 pés, escapou 28. Passou-se dois mês e eles vieram fazer a tal enxertia. Com pouco mais começou sair os “olhozim”, e a crescer, e a crescer, e a florar”, recorda seu Chico. A história das terras de seu Chico, e de mais 2.500 novos hectares de subs-tituição de copas de cajueiro, é o re-trato do desenvolvimento sustentável da cajucultura, implementado no inte-rior do Ceará. E, para incentivar esse crescimento, o Governo do Estado criou, no primeiro semestre de 2009, a Câmara Setorial do Caju, composta por integrantes da cadeia produtiva,

incluindo segmentos da produção, be-neficiamento e setor público. A meta é que a Câmara acompanhe ações e projetos, inclusive o subsídio oferecido pelo Governo no valor de R$ 600 por hectare de copa substituída. Enquanto isso, seu Chico Colondron-go segue andando depressa no meio do mato, contando suas histórias. “Aí eles aconselharo: tire a premera flor. Meu menino tirou. Desde esse mo-mento em diante, colho aqui o melhor caju que já vi na vida. Vem gente de todo canto procurar, bom de lutar, é de pegar caju com a mão, e o chão fica grossim de castanha. Até ano passado foi cortado caju aqui. De pouco, deva-gar, porque gosto de deixar tudo direi-to, cuidar da pausaria, das folha, é uma mão-de-obra forte. Mas estou vendo o resultado dessa luta”.

“Colho aqui o melhor caju que já vi na vida. Vem gente de todo canto pro-curar, bom de lutar, é de pegar caju com a mão”

Chico Colondrongo, agricultor.

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Lúcia Sousa Melo Freitas é a primeira mulher nomeada pelo Estado a ocupar o cargo de Gerente Regional da Ematerce no Ceará. Apressando o passo para acompanhar seu Chico Colondrongo pelo pomar de caju, a administradora fa-lou do desafio que é fazer com que projetos do Governo sejam bem aplicados nos seis municípios que coordena: Chaval, Barroquinha, Granja, Martinópolis, Uruoca e Camocim. “Hoje o Estado está presente em todas as atividades, somos o governo no cam-po, podemos ajudar mais e melhor ao agricultor familiar. Trabalhamos para que essas famílias tenham um desenvolvimento sustentável. E sustentabilidade é fa-zer com que haja no campo atividades integradas, calendário sazonal, produção o ano inteiro. Sustentabilidade se faz no dia-a-dia”, orienta Lúcia.E finaliza. “Me sinto feliz por ser pioneira na gerência feminina da Ematerce. No mais é trabalhar para dar aos homens e mulheres do campo a assistência de qualidade, dedicação e compromisso que eles merecem”.

Desenvolvimento sustentável é meta em Camocim

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De filho para pai. As novas gerações do Sítio Jacarandá aprendem e ensinam como melhorar a produção do caju no interior do Ceará.

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Márcio Araújo é filho de seu Chico Colondrongo e um dos principais enxer-tadores da região. Somente na propriedade da família, cerca de 750 plantas foram cortadas e enxertadas com substituição de copas. Ele explicou o tra-balho de enxertia realizado dentro do Programa de Substituição de Copas em Cajueiros pouco produtivos.“Aqui na região eram produzido de 250 a 300 quilos por hectare de cajueiro comum adulto. Com essa tecnologia, a produção saltou para 500, 600 qui-los. Para fazer esse trabalho, escolho a planta para tirar material genético e faço uma poda drástica. Corto toda planta, deixo só os galho seco, adubo e irrigo. A partir daí a planta começa brolhar. Esses brolhos, chamado garfo, é o material genético que é levado para outra planta, cortada em outra pro-priedade. Desses garfos, tiro as borbulhas, como se fosse uma gema que se encontra na planta. Tiro com canivete e enxerto no galho de outra planta cortada. Esse é o processo”.

Você sabia...A Câmara Setorial do Caju, formaliza-da a partir da Portaria Nº 086/2009, é composta por representantes que in-tegram sua cadeia produtiva, incluin-do os segmentos da produção, bene-ficiamento e setor público. O Ceará possui 57.577 produtores, ocupando área de 386.757 hectares. O setor do caju é responsável pela geração de 28 mil empregos no campo, e mais de 15 mil na indústria. O caju também é re-cordista na pauta de exportações do Ceará. Em 2008, as exportações de castanha de caju somaram US$ 150 milhões, representando 11,46% do total exportado, ficando atrás apenas dos calçados.

Saiba maisA aplicação da tecnologia de Substi-tuição de Copa em Cajueiros consiste basicamente de quatro etapas:

SELEÇÃO DAS PLANTASA substituição de copas poderá ser re-alizada em todas as plantas do pomar (substituição total), em fileiras alterna-das ou apenas nas plantas improduti-vas. Neste caso é necessário controlar a produção individual das plantas por pelo menos três anos consecutivos para subsidiar a seleção daquelas com-provadamente improdutivas, que te-rão, portanto, suas copas substituídas.

CORTE DAS PLANTASUtilizando motosserra, o corte das plantas selecionadas deverá ser realiza-do por pessoal habilitado, em bisel, a uma altura média de 0,40 m do solo. Devido à oferta natural dos propágulos que serão utilizados na enxertia, a de-capitação das plantas deverá ser reali-zada no período de abril a agosto, para as condições do Estado do Ceará.

SELEÇÃO DAS BROTAÇÕESCom o objetivo de reduzir a compe-tição entre os ramos que funcionarão como porta-enxerto, deve-se iniciar esta operação quando as plantas emiti-rem as primeiras brotações. Recomen-da-se selecionar aqueles mais vigoro-sos, localizados ao redor do tronco e próximos ao local do corte. A quanti-dade de brotações depende do núme-ro definitivo de enxertos que se deseja no final do processo.

ENXERTIAA enxertia deverá ser realizada quando as brotações atingirem um diâmetro de cerca de 1 cm. Em pomares com idade variando entre 20 e 30 anos, as brota-ções estarão aptas à enxertia entre o 3º e o 4º mês após o corte das plantas. O método indicado é a borbulha em placa.FONTE: Embrapa Agroindústria Tropical

Mais informações pelo número 88. 3621.6488

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Casa de Mel

“Ó abelha rainha, provo do favo do teu mel”Itapipoca - CE

Manejo correto, roupas apropriadas e revisões periódicas, principalmente em épocas de floradas, são essenciais no apiário.

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Circula uma tensão quando chega hora de ir até o apiário colher o mel maduro nas caixas. É devagar que o agricultor Laudelino Pinto veste o macacão branco que protege todo corpo e cabeça, prende luvas e botas com cuidado, e confere repeti-das vezes se não ficou brecha para ferroadas. As abelhas africanizadas que estão trabalhando nas 20 colmeias instaladas no Assentamento Barro Vermelho, em Itapipoca, através do Projeto Crédi-to Fundiário, são conhecidas pela produtividade e agressividade.

“Agora o tempo é outro”, reflete Lau-delino enquanto se apronta. “Antes aqui era só capim, agora tá bem reflo-restado. Temos cultura de banana, ata, manga, afora o sequeiro, milho, feijão. E com essa beleza de Projeto de Api-cultura? Com apoio do Governo conseguimos montar a casa com máquina, centrífu-ga, desoperculador, tanque, tudo. E o que a gente produz, vende mesmo”, comemora o agricultor.Laudelino, de fumegador de fole na

mão para amansar as abelhas, carrega também o formão do apicultor para soltar os quadros e um pegador. E se o ataque foi exatamente como o pre-visto, - enfurecido, a produtividade foi à altura. As seis caixas da primeira co-lheita, que estavam com “os favos bem madurim”, renderam 70 quilos de mel puro.As casas das abelhas montadas dentro da mata de sabiás e marmeleiros, e a Casa de Mel, são resultados de projetos direcionados pelo Programa de Crédi-

to Fundiário de Combate à Pobreza Rural, em parceria com o Governo do Estado do Ceará através da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA). Enquanto Laudelino trabalha, as abe-lhas atacam, e o barulho emitido na tentativa de ultrapassar a roupa de pro-teção pessoal é apavorador. O retorno é um pouco mais difícil. Além das melgueiras* pesadas, as abe-lhas não sossegam fácil, e seguem fir-me no ataque até mais da metade do caminho de volta.

Produção de mel gera emprego e renda para moradores do assentamento Barro Vermelho, em Itapipoca.

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Cas

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Mel

PROJETO DE MEL ADOÇA A VIDA DA FAMÍLIA INTEIRA Já na Casa do Mel, onde Luzia Rogé-rio e Maria Carmelita, paramentadas, aguardam de garfo desoperculador* nas mãos para receberem os favos co-lhidos, o clima é de assepsia e tranqui-lidade. A extração dos quadros de mel maduro é feita em mesa própria, de-pois levados para centrifugadora para serem processados, coados e, por fim, envasilhados. Para facilitar a vida dos apicultores ce-arenses, esses produtores estão sendo capacitados em técnicas de produção, comercialização, organização, geren-ciamento e associativismo, através do Projeto Expansão da Apicultura no Ceará: Agricultura Familiar. A ação, coordenada e executada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado do Ceará (Senar-AR/CE), tem apoio da Empresa de Assis-tência Técnica e Extensão do Ceará (Ematerce), e recursos repassados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.De acordo com o secretário Camilo Santana a meta é melhorar a renda dos trabalhadores rurais através da trans-ferência de tecnologia e qualificação. “Nosso foco é no desenvolvimento e fortalecimento da agricultura familiar. Queremos inserir o homem do campo no mercado, de forma organizada, per-mitindo a geração de renda”, destacou o titular da SDA. O agente rural Eduardo de Jesus, que além do Barro Vermelho, acompanha as comunidades Mulatão, Deserto e Sítio Matas, disse que a previsão é que sejam colocadas 75 colmeias no campo. *Garfo desoperculador Quando as abelhas enchem o alvéolo, grande quantidade de água acompanha esse mel, é quando se diz que o mel está verde. Quando fica maduro, com pouco teor de água, os alvéolos são cobertos com fina camada de cera, o opérculo. A retirada chama-se desoperculação e se faz com aju-da do garfo desoperculador.

“O mel daqui, da colhei-ta até a extração, é con-corrido, não dá pra quem quer. O que produz é vendido, as pessoas vem comprar aqui, nem preci-sa oferecer. Além disso, os moradores são muito interessados, facilita o trabalho. O governo está investindo forte, a cons-trução dessa Casa de Mel foi a realização de um sonho”.

Quando os favos pesados de mel trazidos do apiário chegam à Casa de Mel, as mulheres se encarregam do processo de extração, centrifugação e envasilhamento.

Eduardo de Jesus – agente rural

Mais informações 88. 8813.8489

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EnsaioEnsaio

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Entrevista

O ministro Guilherme Cassel concedeu entrevista à Revista Nossa Terra Ceará durante o encontro “Bra-sil Rural Contemporâneo - VI Feira da Agricultura Familiar, no Rio de Janeiro. Na ocasião, o engenhei-ro civil, natural de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, fez análise da atual conjuntura do segmento em âmbito nacional.

Agricultura Familiar é promessa nas OlimpíadasGuilherme CasselMinistro do Desenvolvimento Agrário

Agente Fiscal do Tesouro do Estado do Rio Grande do Sul, Cassel atuou como sub-secretário da Fazenda de Porto Alegre; sub-chefe da Casa Civil do Governo do Estado do Rio Grande do Sul; secretário-geral do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, e chefe de Gabinete do vice-governador, Miguel Rossetto. De 2003 até março de 2006, foi secretário-executivo do Ministério do Desenvolvi-mento Agrário e, a partir de abril de 2006, assumiu o comando desse Ministério.Como porta-voz de milhares de produtores que hoje são valorizados e respei-tados por todo o País, Guilherme Cassel, colhe fartas estatísticas positivas, re-sultado de ações sincronizadas com governos de Estados e Municípios. Nessa entrevista, o ministro faz balanço geral da Agricultura Familiar pelo Brasil.

NossaTerraCeará – A Agricultura Fa-miliar está em maior evidência?Cassel - O Brasil vem tendo novidades nos últimos anos, nosso País mudou muito, e uma das transformações mais significativas é no meio rural, setor que, ainda, é olhado com pouca atenção. Durante muito tempo nos acostuma-mos e enxergar o rural brasileiro como lugar de atraso, pobreza. Era como se fosse um espaço dividido em dois: de um lado uma agricultura em escala, moderna, produtiva, com alta tecnolo-gia; de outro, uma agricultura familiar de subsistência, atrasada, o lugar da po-breza. E essa é uma visão equivocada. Um dos grandes méritos do governo Lula foi resignificar a Agricultura Fa-miliar para a sociedade brasileira. Foi mostrar que esse não é o espaço da improdutividade, pelo contrário, é um setor econômico relevante. Em uma Feira tão grande, eles aparecem de for-ma mais clara, evidenciam sua força.

NTC – Há uma série de políticas agre-gadas nesse avanço.Cassel – Claro. A Agricultura Familiar hoje contribui com 70% de tudo que consumimos no dia a dia. São R$ 56 bilhões por ano, isso é mais de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) bra-sileiro. É da Agricultura Familiar que vem mais de 75% de toda mão de obra no campo. Isso tudo é muito significa-tivo. Esse é um setor que nunca teve atenção dos governos, era deixado de lado. E essa é a novidade. A partir do governo Lula, desenvolvemos políticas públicas permanentes de apoio, esti-mulando, apostando que o setor fosse rapidamente responder com mais pro-dutividade.

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E estamos aqui contando essa história de sucesso.NTC – As pessoas no campo já vivem o resultado dos investimentos.Cassel - Ampliamos o volume do cré-dito do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fami-liar), modernizamos, massificamos e democratizamos para todas as regiões do País. Criamos o Seguro Agrícola de Preço e de Clima, refizemos o Sistema Nacional de Assistência Técnica, cria-mos políticas públicas de comercializa-ção, como o Programa de Aquisição de Alimentos. Criamos o Programa de Combate à Pobreza no Meio Rural, o Território da Cidadania, o Programa de Modernização Acelerada da Agri-cultura Familiar, que é o Programa Mais Alimentos. E, com todos esses programas, inevitavelmente, houve im-pacto na Agricultura Familiar, dando mais estabilidade para quem vive no campo. As pessoas quiseram, e pude-ram, permanecer lá, passando a pro-duzir melhor.

NTC – A Feira é um reflexo do que está acontecendo Brasil afora.Cassel – Naturalmente. O que apare-ce aqui nesse encontro é resultado da trajetória de um governo que apoia um setor econômico, reconhece sua vitalidade, sua importância econômica. E ele vem respondendo com enorme qualidade. Recentemente, foi divulga-do o Censo Agropecuário 2006/2007, e veio confirmando nossas perspecti-vas: a Agricultura Familiar é mais pro-dutiva que a agricultura em escala. A primeira, com 24,5% da área cultivável, é responsável por 38% do valor bruto da produção. Ou seja, é mais produ-tiva por hectare, gera mais emprego, tem mais diversidade, é mais adequada à rotação de culturas, preserva o meio ambiente. Estamos comemorando a redescoberta da Agricultura Familiar. Os resultados são excelentes.

NTC – Deve ter bastante visitante do interior, inclusive do Ceará.Cassel – Sem dúvida, sem dúvida. Essa Feira tem vários objetivos, um deles é fazer com que agricultores de todos os pontos do País se encontrem. Porque o Brasil é rico, diverso, multicultural. Esse é o momento onde produtores do Nordeste conhecem os do Sudeste, Norte, Sul, Leste, Oeste, há um inter-câmbio interessante entre quem vende e quem compra também. É o momen-to de divulgar a riqueza da Agricultura Familiar, sair do discurso, mostrar, na prática, essa diversidade de produtos. Temos, aqui, no Rio de Janeiro, mais de 10 mil produtos diferentes, de altís-sima qualidade, produzidos pelo nosso povo, as pessoas ficam deslumbradas, muitas desconhecem isso. Existe um Brasil rural escondido, e faz parte de nossa cultura.

NTC – A Agricultura Familiar tende a se fortalecer.Cassel– Estamos em uma área de 25 mil metros quadrados, com 650 estan-des, e todas as regiões do Brasil estão representadas. Somente a rodada de negócios gira em torno de R$ 10 mi-lhões. São 600 toneladas de produtos vendidos, nos seis dias de encontro,

para público de cerca de 300 mil pes-soas, todas com quatro, cinco sacolas nas mãos. Como o Rio de Janeiro é centro difusor e consumidor impor-tante, um centro do País, permitir que esse espaço urbano por excelência, en-tre em contato com o rural, a sensação que se experimenta é de deslumbra-mento, encantamento mesmo. Isso é importante porque abre mercados. O Ceará aqui mostra bem isso.

NTC – E os planos para o futuro?Cassel - O Brasil está vivendo esse ambiente mágico, com Copa do Mun-do em 2014, Olimpíadas em 2016, e precisamos nos preparar para isso. O tema alimentação é dos mais impor-tantes. Aliás, o mundo inteiro está vol-tado para essa agricultura mais limpa, saudável, orgânica, e isso a Agricultura Familiar faz bem. Já iniciamos etapas de negociação com redes hoteleiras, supermercados, assinamos convênio com Ministério do Turismo, tudo para desenvolver produtos visando 2014/2016. Agricultores familiares de todos os Estados do Brasil estarão uni-dos nesse sentido. Há muito trabalho pela frente.

O Censo Agropecuário 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Es-tatística (IBGE), pela primeira vez na história registrou dados da agricul-tura familiar brasileira em suas pesquisas. O levantamento identificou 4.367.902 estabelecimentos de agricultura familiar, que representam 84,4% do total (5.175.489 estabelecimentos), ocupando 24,3% (ou 80,25 milhões de hectares) do espaço agropecuário brasileiro.

Mesmo abrangendo apenas um quarto da área, a agricultura familiar res-ponde por 38% do valor da produção (ou R$ 54,4 bilhões) desse total. Ou seja, ainda que cultivando espaços menores, o segmento é respon-sável pela segurança alimentar do País, produzindo 70% do feijão, 87% da mandioca e 58% do leite consumidos no Brasil. Já são mais de 12 milhões de trabalhadores, ou seja, quase 75% do total da mão de obra no campo. O valor bruto da produção na agricultura familiar é de R$ 677 por hectare/ano.

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Programa Arca das Letras

Ceará é líder nacional em implantação de Bibliotecas Rurais

Um bom livro é capaz de fazer você viajar, de pro-vocar a imaginação e de emocioná-lo. Imagine levar todo esse universo de possibilidades para comuni-dades que, na maioria das vezes, não têm acesso ao mundo da leitura. Essa é a missão do Programa Arca das Letras, um projeto do Ministério do Desenvolvi-mento Agrário (MDA) executado pela Secretaria do Reordenamento Agrário em parceria com os Esta-dos, que incentiva a leitura no meio rural através da implantação de bibliotecas e a formação de Agentes de Leitura.

O programa que funciona em todo o país desde 2003, instala, em média, três bibliotecas por dia em áreas ru-rais. O Ceará é o Estado com maior número de bibliotecas rurais implan-tadas no Brasil, com 700 unidades, em 87 municípios. Somente de julho a outubro de 2009, foram instaladas 85 Arcas. Cada uma delas com acer-vo de, aproximadamente, 200 livros e coleções de histórias em quadrinhos. Os títulos estão distribuídos em livros didáticos para pesquisa escolar, livros técnicos, especializados e de interesse da comunidade.Antes de o programa ser instalado é preciso que Agentes de Leitura sejam capacitados através de um treinamento em que participam diversos represen-tantes e lideranças locais do mesmo território ou município. “O Agente de Leitura faz toda a diferença para o sucesso do programa. Quando ele assume a responsabilidade de ser um motivador, as pessoas da comunidade passam a ter um interesse maior pela leitura”, ressalta Sandra Bandeira, coordenadora do Arca das Letras no Ceará.Um exemplo da diferença que o Agen-te de Leitura pode fazer no Projeto está em Itapipoca. Nesse município, estão instaladas 117 Arcas de Leitura. Segundo Beatriz Mello Mattos, técni-ca do Projeto no Ceará, em Itapipoca o agente vai até às comunidades para orientar moradores quanto ao uso das bibliotecas. Beatriz também destaca que o município é o único em que o Agente de Leitura é remunerado.A construção da Arca é feita sob me-dida, em um tamanho padrão. No Ceará, elas são confeccionadas por de-tentos do Instituto Presídio Paulo Pro-

Jovens do Assentamento Lagoa do Mineiro, em Itarema, descobrem o prazer da leitura nas incríveis histórias que chegam na Arca das Letras.

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fessor Olavo Oliveira II (IPPOOII). “Além de incentivar a leitura, o Pro-grama também tem esse aspecto social. Os presos que fabricam os móveis se envolvem o que ajuda na recuperação deles. Eles se preocupam com o des-tino que a Arca terá e que uso estão fazendo dela”, diz Sandra Bandeira.Para a coordenadora do projeto no Ceará, é gratificante trabalhar em um Programa que ajuda na construção da cidadania. Sandra concorda que o Arca das Letras é um pontapé inicial para desenvolver o hábito da leitura no meio rural. Ela lembra também, que em algumas localidades, a Arca ficou pequena em relação ao acervo monta-do pela comunidade. Conclui dizendo que “a leitura é um presente que abre as portas para um mundo de possibi-lidades”.Dentre as instituições já mencionadas o Programa Arca das Letras ainda

conta com apoio do Instituto Agro-polos do Ceará, Banco do Nordeste, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Secretaria de Estado de Cidadania e Justiça, na fabri-cação de arcas com presos do IPPOO II, com a Delegacia do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) no Ceará, e de alguns municípios que fa-bricam as arcas no sentido de ampliar as comunidades com bibliotecas.

Dona Maria José Coelho de Sousa, mora lá em Curral Grande, nas proxi-midades do município de São Gonçalo do Amarante. Trabalha na cantina de uma escola que recebeu uma Arca recheada de livros com histórias incríveis. De pouca fala, dona Mazé só não larga o sorriso de alegria “em ver a vida melhorando”. “Livro só é bom porque dá ocupação. Duvido menino querer tá na rua, sendo besta, tendo uma formosura dessa na Escola. Eu também vou querer conhecer esse negócio melhor”.

Em dezembro de 2008, três Bibliotecas Rurais Arca das Letras do Ceará foram selecionadas pelo Premio Machado de Assis - Pontos de Leitura, do Ministério da Cultura, recebendo, cada biblioteca: computador, impressora, 500 livros de literatura, enciclopédia, mesa, cadeira, estantes, puffs, tapete e almofadas. As bibliotecas vencedoras são do Assentamento Escalvado, de Itapipoca; da Co-munidade Indígena Viração e da Comunidade Quilombola Torres, ambas de Tamboril.

Mais informações : Sandra Bandeira, no Instituto Agropolos 85. 3101.1670

O Ceará é o Estado com o maior número de bibliote-cas rurais implantadas no Brasil. São 700 Arcas, es-palhadas em 87 municípios, levando mais de 192 mil livros para comunidades rurais. O Programa Arca das Letras atende mais de 92 mil famílias do campo e conta com 1.432 agentes de leitura, voluntários, moradores das comunidades rurais, que dedicam parte do seu tempo livre para o trabalho de incenti-vo à leitura e de empréstimo dos livros

Você sabia...

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Captacão In Situ

Captação in Situ – Uma técnica para guardar a água do SertãoUm ditado popular, bem questionável sinaliza para o uso de uma técnica que vem fazendo toda a diferença nas atitudes dos agricultores do semiarido ce-arense com relação à irregularidades das chuvas: “se você não pode vencer o inimigo, junte-se a ele”. Isso porque se não é possível combater a falta de água em algumas regiões do nosso estado, precisamos desenvolver formas de con-viver com essa adversidade do nosso clima. A maneira encontrada então foi a captação In Situ uma técnica na qual sulcos e valetas são construídos nas áreas de plantio para juntar a água da chuva.

Captar e armazenar água por meio de sulcos controla erosão, conserva solo, diminui custos e favorece recarga dos lençóis de água.

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Essa tecnologia que começou a ser desenvolvida pela Secretária de De-senvolvimento Agrário (SDA), através da Ematerce, faz parte do Projeto de Práticas Agrícolas e Convivência com o Semiarido. Voltada para a agricultu-ra familiar ela que tem como premis-sa básica o desenvolvimento de ações práticas/ tecnológicas associadas ao manejo e à preservação dos recursos naturais, solo e água. A captação In Situ consiste em um sis-tema de preparo do solo com a cons-trução de sulcos em curva de nível para captar e armazenar água em determi-nadas áreas. Isso retém e conserva a umidade da terra por mais tempo, o que favorece o crescimento das plantas em períodos de estiagem. “Esta práti-ca de conservação do solo está dentro dos processos de transição agroecolo-gicos” explica Josualdo Justino Alves, engenheiro-agrônomo da Ematerce, mestre em Irrigação e Drenagem. Mesmo em períodos em que o volume de chuvas surpreende pela quantidade, a técnica ainda assim, apresenta vanta-gens. Na quadra chuvosa de 2009, em que várias regiões do Ceará sofreram com inundações, a captação In Situ funcionou como uma forma de pre-servação do solo. O engenheiro-agrô-nomo explica que “como os sulcos são em níveis, você retém sedimentos que vêm das lavouras, de terras culti-váveis, ao invés desses sedimentos se perderem em rios”.

O resultado dessa prática tem sido animador para os agricultores e técni-cos envolvidos no processo. Para se ter uma idéia da produtividade com a utilização da captação In Situ, um experimento realizado pela equipe da Ematerce, no município de Tauá, con-seguiu que o mesmo milho plantado em áreas contíguas com a técnica con-vencional e a captação In Situ tivessem resultados bem diferentes. Enquanto os agricultores que usaram a primeira técnica obtiveram uma produtividade baixa, de 270kg/ha, em virtude da es-tiagem a captação In Situ apresentou uma produtividade média de 2.580kg/ha. O experimento ganhou reconheci-mento nacional. “O aumento da produção em relação a outras técnicas ou ao plantio conven-cional, normalmente, chega a 30%” destaca Justino. Números que tendem a aumentar com o incentivo do Gover-no do Estado. A entrega de 100 trato-res a associações de pequenos agricul-tores do interior do Ceará é uma forma de dar suporte ao desenvolvimento dessas práticas. “Essas máquinas são importantes implementos para melho-rar diretamente a produtividade desses agricultores” diz Josualdo. Com os bons resultados colhidos até agora e com o aporte do governo do Estado, a perspectiva para o agricultor do semiarido é que, mesmo em perío-dos de estiagem, a colheita de uma boa safra está garantida.

“No primeiro ano, é necessário que o agricultor seja orientado por um técnico, para que os sulcos sejam feitos de forma planejada. A operação inclui implementos de trações motora e animal. O método tem duração de até 5 anos, com manejo após cada cultivo.”

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Pacto das Águas

O Pacto das Águas é resultado da união do parla-mento e da sociedade cearense em torno da cons-trução de uma política de águas para o Ceará.

Pacto das Águas Um acordo democrático

Um instrumento democrático para discutir a questão dos recursos hídricos no Estado: assim pode ser definido o Pacto das Águas. Articulado pelo Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da Assembleia Legislativa, essa ação inédita no Brasil trouxe a sociedade civil organizada para debater e pensar solu-ções para o enfrentamento dos problemas referentes aos recursos hídricos do Ceará.O trabalho do Pacto das Águas chegou ao seu ponto máximo com a entrega para a população do Plano Estratégico de Recursos Hídricos do Estado e mais 11 cadernos regionais das bacias hidrográficas, em dezembro de 2009, na As-sembleia Legislativa do Estado do Ceará. A cerimônia de lançamento do Plano contou com a participação do governador do Estado Cid Gomes, do presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), José Machado, do presidente da Assem-bleia Legislativa do Ceará deputado Domingos Filho, dentre outras autoridades.Segundo Eudoro Santana, secretário-executivo do Conselho de Altos Estudos, a

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proposta do Pacto é vitoriosa, por con-seguir elaborar um documento com informações detalhadas sobre as bacias hidrográficas do Estado, por também, reunir no mesmo documento suges-tões apresentadas pelos municípios sobre suas problemáticas. “O docu-mento entregue pelo Pacto das Águas traz informações científicas sobre a ca-pacidade de cada bacia, seu potencial e suas demandas. Essas informações são fundamentais para que a sociedade en-tenda o que são as bacias hidrográficas. Hoje, no mundo inteiro, as bacias hi-drográficas são vistas como territórios propícios para que a partir de estudos como esse seja possível fazer planeja-mentos estratégicos para diversas ou-tras áreas”, destaca Eudoro Santana.Até chegar a sua conclusão, o Pacto das Águas passou por várias etapas, que envolveram a realização de 157 encontros municipais, 33 seminários e oficinas regionais, em um período de dois anos. Em seu primeiro mo-mento, o trabalho foi descobrir de que forma a sociedade via a questão dos re-cursos hídricos no Estado, uma desco-berta que aconteceu através do diálogo com associações, entidades públicas, organizações não-governamentais e universidades. O segundo passo foi montar um plano estratégico que foi dividido em quatro eixos: “Água para beber, Água e desenvolvimento, Con-vivência com o Semiárido e Sistema de Gerenciamento dos Recursos Hídri-cos do Estado”.Esse trabalho também foi dividido por usuários: quem ofertava água e quem demandava água. Para Eudoro, “essa iniciativa resultou em um grande impacto na vida das pessoas. Em pri-meiro lugar, porque mais de dez mil pessoas participaram pela primeira vez da formatação de uma política pública importante para o Ceará, em segundo, porque resultou em um conhecimento maior da realidade da água no Estado”.A partir dessas demandas da socie-dade, foi possível construir planos es-tratégicos. E eles são os mais diversi-ficados. “Em relação aos carros-pipa,

uma chaga no Ceará, essa questão foi colocada pelo Governador do Estado como um dos grandes desafios do Pac-to das Águas. Os debates resultaram em várias sugestões que devem atingir a meta de acabar com essa forma tão terrível de abastecimento de água”, destaca Eudoro. A situação dos carros-pipa exemplifica bem como funciona o Pacto das Águas. Se a demanda por esse tipo de abaste-cimento de água tem que ser extinta no Ceará, principalmente porque foi um desejo da sociedade, a ação do Estado foi pactuar junto com a Assembleia Legislativa no sentido de que os pro-gramas desenvolvidos fossem voltados para eliminar os carros-pipa. O pacto entregou as demandas da sociedade, e elas foram acatadas entre secretarias e poder público de uma maneira geral.Uma ação em andamento executada pelo Instituto Agropolos e motivada pelo Pacto das Águas é “O caminho das águas na rota do carro-pipa” um projeto que “consiste em fazer um levantamento de 33 municípios que já foram atendidos por carros-pipa nos últimos anos e a partir daí, fazer um diagnóstico nessas comunidades e apontar soluções” explica Mércia Cristina Mangueira Sales, da célula de planejamento e coordenação da Coor-denadoria de Programas Especiais, da Secretária do Desenvolvimento Agrá-rio (SDA).O próximo passo do Pacto das Águas, segundo Eudoro Santana, é fazer com que os 34 programas que fazem par-te do plano estratégico venham a ser executados. Para isso, o secretário-exe-cutivo do conselho de Altos Estudos diz que o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Domingos Filho, vai constituir uma comissão especial para acompanhar e avaliar permanen-temente o trabalho de execução do Plano Estratégico. “Tornar concretas as propostas desse plano é a resposta que devemos dar para as milhares de pessoas que participaram de todo o processo de construção desse Pacto”, finaliza Eudoro.

VEJA ALGUNS DESAFIOS ES-TABELECIDOS PELO PACTO DAS ÁGUAS A SEREM EN-FRENTADOS PELOS GOVER-NOS PARA QUE MUDANÇAS SEJAM EFETIVAMENTE IM-PLEMENTADAS:

- Elaborar políticas públicas ca-pazes de induzir o modelo de de-senvolvimento que considere as vocações do Estado, sua estru-tura social, cultural e ambiental com justiça e equidade na ges-tão das Águas;

- Estabelecer e implementar uma política estadual de convivência com o semiárido continuada, construída de forma descentra-lizada e participativa;

- Desenvolver na população a consciência e a capacidade de convivência com o semiárido, a partir de programas de comuni-cação permanente e educação ambiental;

- Estruturar política de sanea-mento sustentável que contem-ple os portes de sistemas e as necessidades da população, em grandes aglomerados ou pe-quenas localidades rurais, com controle social, regulação, fisca-lização e monitoramento público, buscando a universalização do acesso;

- Garantir o aumento da oferta hídrica nos seus diferentes as-pectos: complementar a infraes-trutura de acumulação, interligar bacias, estimular o reuso, a des-salinização da água do mar e me-lhorar a eficiência na demanda.

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Projeto Mandala

“Em 2003, ouvimos falar em Mandala e ficamos apai-xonados, era a resposta de nossos anseios. Hoje, nessa pequena área, conseguimos viabilizar produ-ção de hortaliças, fruteiras e criação de pequenos animais. E uma das questões mais bacanas da Man-dala é o movimento da família”.

O ciclo da vidaViçosa do Ceará - CE

Quando Antonio José de Sousa, presi-dente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Viçosa do Ceará, na Serra da Ibiapaba, diz isso, ele reflete novos modelos de núcleos familiares, de jovens agricultores, em formação pelo sertão do Ceará. Tudo com incentivo e orientação do Gover-no do Estado.A tecnologia de irrigação da Mandala foi desenvolvida inicialmente no Es-tado da Paraíba, e, hoje, seu sistema de irrigação circular vem facilitando, de forma sustentável, a produção de diversas culturas, de modo integrado, por muitos lugares.Na casa avarandada, cujo jardim é a própria Mandala, a única filha, Yas-mim, deixa as bonecas e vai colher, a pedido da mãe, Elizabete, alfaces para o almoço preparado com quase tudo cultivado no lugar. E ela volta serelepe, comendo morangos e tomates tirados do pé, inteiramente limpos de agrotó-xicos.A Mandala de Antonio, Elizabete e Yasmim, em andamento no Sítio Juá dos Vieiras, é um dos 63 manejos des-se tipo, implementados em 106 mu-nicípios do Estado, pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), atra-vés da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce).De acordo com o supervisor do Nú-cleo de Apoio ao Desenvolvimento das Cadeias Produtivas da SDA, e coordenador estadual do Projeto Man-dala, José Ximenes de Farias Júnior, a prática tem proporcionado transfor-mações significativas na base da agri-cultura familiar. “Esse projeto vem mu-dando a realidade local, gerando renda no campo, melhorando a qualidade de vida no Sertão”, disse o engenheiro agrônomo.

Através da Mandala, os pais, Antonio José e Elizabete, ensinam à filha, Yasmim, a valorizar a terra cultivando alimentos limpos.

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Tempo de fartura no SertãoDona Odete, dona Tereza, seu Francisco das Chagas, todos de Siqueira, junta-mente com seu Justino Xavier, se esmeram nos cuidados com a Mandala im-plantada nas terras que, até bem pouco tempo, era usada apenas para o manejo de agricultura de sequeiro (milho e feijão). Hoje, o sistema de canteiros con-cêntricos, formados ao redor de uma fonte de água, vem comprovando que é possível cultivar, ter fartura e renda durante todo o ano. O Agente de Assistência Técnica e Extensão Rural, da Ematerce de Viçosa, Ilmar Oliveira da Silva, destaca que a Mandala é um instrumento importante na facilitação da convivência do pequeno produtor com o semiárido. “Hoje muita gente não quer mais consumir agrotóxicos. Eles realizam uma feira uma vez por mês, e as vendas são certas”.Para o técnico em Agropecuária do Instituto Agropólos, Antonio Romão Fon-tenele Filho, tão importante quanto comercializar, é consumir alimentos sadios. “Essa é uma região de carrasco, serrado, os agricultores não tiveram costume de cultivar hortaliças. Mas as novas gerações estão chegando, ensinando e apren-dendo. A inovação está sendo aceita e a sede deles agora é por capacitação”.

Alface, couve, tomate, cenoura, maxixe, coentro, batata, pimentão, milho, macaxeira, galinhas, codornas, cabras, tilápias, patos, marrecos. Tem paisagem nova nos terreiros do Sertão.

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A marcha da evolução Tururu - CE

Pouco mais de um ano depois de implantada a Mandala do Assentamento Novo Horizonte, em Tururu, a 200 quilôme-tros da Capital, moradores já colhem frutos do trabalho. É berinjela, maxixe, milho verde, macaxeira, pimentão, tomate, cebolinha, abóbora, pimenta doce, cenoura, beterraba, couve, coentro, agrião, hortelã, banana, maracujá, e outras precio-sidades, vendidas quase diariamente na feira.A secretária de Políticas Agrícolas e Reforma Agrária, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Graça Patrício, conta que, há pouco mais de um ano, ela e outros assentados decidiram apostar na viabilidade do Projeto Mandala dentro do Assentamento. “No começo eu não queria, já cuido de uma farmácia viva. Mas, hoje, trabalho para organizar a Mandala de maneira que mais famílias se envolvam. Dá trabalho, todo dia tem que olhar, aguar, cuidar. Mas compensa, e muito”, garante Graça.A escolha das plantas, hortaliças e frutíferas cultivadas nas Mandalas, depende da vocação do agricultor e da família. Em comum, o mais forte é a vontade de resgatar a dignidade no campo, através de projetos de soluções simples, eficazes e de baixo custo.

Graça Patrício, do Assentamento Novo Horizonte, e outros moradores, cuidam da Mandala repleta de hortaliças, verduras e da farmácia viva que cresce ao redor.

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A mandala básica repete o desenho do sistema solar. No centro, o sol, ou tanque de água, com o vértice de madeira que sustenta as mangueiras de irrigação e, ao redor dele, as órbitas dos planetas - os canteiros. Os primeiros ser-vem ao plantio de hortaliças, para alimentar as famílias e outros para culturas diversas. O último canteiro é des-tinado à proteção ambiental: cercas-vivas ou plantas de porte, para controlar infestação de insetos e evitar ventos excessivos.

O tanque circular, bombeado através de tubos plásticos perfurados, tem jorro de água capaz de alcançar cerca de um metro em qualquer direção. O tanque é utilizado na criação de peixes, patos ou marrecos. As fezes, ricas em nitrogênio e potássio, contribuem para fertilizar os canteiros, cujas folhas, frutos ou grãos, servem de adu-bo para outras plantas ou de alimentos para agricultores familiares.

O conceito do Projeto Mandala é a interação entre ele-mentos, um influenciando outro. O nome vem de “Manda-la Cósmica”, representação gráfica do universo. A palavra significa “círculo”, em sânscrito. Símbolo universal, cultu-ado desde a antiguidade, caracteriza-se por traçados ao redor de um ponto central, obedecendo eixos de simetria. Seu contorno exterior não é necessariamente circular, mas dá ideia de irradiar-se de um centro ou mover-se em dire-ção a ele.

A Agência Mandalla, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), sediada em João Pessoa (PB), é coordenada por Willy Pessoa. Suas ideias hoje estão disseminadas em assentamentos rurais, aldeias indígenas, quilombolas e periferias urbanas de vários Estados do País, como Paraíba, Pernambuco, Bahia, Alagoas, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

Você Sabia...

Mais informações na Ematerce pelo telefone 85. 3217.7872

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Ensaio

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