revista nossa terra - sda

62
n°1 | ano 01| Julho | 2009 Projeto São José | Cadastro Agropecuário | Crédito Fundiário | Regularização Fundiária | Plano Safra | Agricultura Orgânica | Programa de Peixamento | Programa de Cisternas | Programa Territórios da Cidadania Governo do Estado do Ceará |Secretaria do Desenvolvimento Agrário CEARÁ Agricultura Familiar O desenvolvimento passa por aqui

Upload: secretaria-do-desenvolvimento-agrario-do-estado-do-ceara

Post on 06-Mar-2016

228 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Revista Nossa Terra, publicada pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Nossa Terra - SDA

n°1

| a

no 0

1| J

ulh

o |

2009

Projeto São José | Cadastro Agropecuário | Crédito Fundiário | Regularização Fundiária |

Plano Safra | Agricultura Orgânica | Programa de Peixamento |

Programa de Cisternas | Programa Territórios da Cidadania

Governo do Estado do Ceará |Secretaria do Desenvolvimento Agrário

CEARÁ

Agricultura FamiliarO desenvolvimento passa por aqui

Page 2: Revista Nossa Terra - SDA

Ensaio

Cid Ferreira Gomes

Antônio Rodrigues Amorim

Wilson Vasconcelos Brandão

José Maria Pimenta

Edílson de Castro

Francisco Bessa

Governador do Estado do Ceará

Camilo Sobreira de Santana

Reginaldo Moreira

Celso Oliveira

Cláudia Albuquerque, Natercia Rocha, Mikaela Feitosa

Celso Oliveira, Davi Pinheiro, Fábio Lima

Ponto2design

LocalFoto

- Cláudia Albuquerque, Natercia Rocha (registro n.39996-SP)

Secretário do Desenvolvimento Agrário

Secretário Adjunto da SDA

Secretário Executivo da SDA

Presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão do Ceará (Ematerce)

Presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Estado (Adagri)

Superintendente do Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace)

Presidente da Central Abastecimento do Ceará (Ceasa)

Marcelo Pinheiro

Presidente do Instituto Agropolos do Ceará

Coordenação Editorial -

Textos –

Fotografia –

Projeto Gráfico –

Arte final, digitalização e tratamento de imagens –

Jornalistas Responsáveis

Contatos: Assessoria de Comunicação e Marketing da Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará.

(85) 3101.7631 / 3101.8058. www.sda.ce.gov.br , [email protected]

Tiragem 5 mil exemplares / Impressão – Expressão Gráfica

Julho de 2009

Page 3: Revista Nossa Terra - SDA

Apresentamos o primeiro número da revista “Nossa Terra - Ceará”, canal de

comunicação para mostrar a força da Agricultura Familiar em nosso Estado. A

ideia é compartilhar as experiências reais do desenvolvimento no campo,

melhorias e desafios do modo de vida do nosso sertanejo, bravo povo há tanto

tempo castigado pelo descaso e pelo esquecimento.

Com a criação da Secretaria do Desenvolvimento Agrário, em 2007, o Governo do

Estado do Ceará demonstrou especial interesse em valorizar esse importante

segmento da população. Agora, trabalhadores e trabalhadoras rurais dispõem de

um espaço institucional inteiramente dedicado aos seus interesses.

Inspirados pela coragem e determinação com que a gente do campo enfrenta

adversidades, trabalhamos com uma visão renovada do desenvolvimento rural,

com participação social e a busca da universalização dos direitos fundamentais,

considerando sempre a abordagem territorial e o caráter intersetorial do

desenvolvimento.

Nesta primeira edição, mostramos exemplos de pessoas e comunidades de

agricultores que vêm enfrentando desafios, que conquistaram o direito à terra e ao

trabalho digno e que hoje dispõem de renda que lhes garante melhores condições

de vida e, mais que isso, cidadania.

Secretaria do Desenvolvimento Agrário

CEARÁ

Page 4: Revista Nossa Terra - SDA

Projeto São José

Regularização Fundiária

Crédito Fundiário

Defesa Agropecuária

Banco do Nordeste

Agricultura Orgânica

A vida melhora na terra do caju - 06

Cor e sabor das frutas da serra - 09

Pingo d´Água: o verde que brota do Sertão - 11

No embalo das redes do Sítio Mocotó - 13

Um marco na história do Ceará - 16

Acesso à terra para 2.317 famílias no Ceará - 18

Jovens abraçam vida no campo - 20

Construindo sonhos - 22

A modernidade da tradição - 25

Pela 1ª vez Ceará sedia Circuito Pecuário Nordeste - 26

Agroamigo faz quatro anos de atuação - 30

Saúde na mesa do Interior à Capital - 32

Sumário

Page 5: Revista Nossa Terra - SDA

Programa de Peixamento

Programa Leite Fome Zero

Plano Safra

Agricultura Familiar

Territórios da Cidadania

Programa de Cisternas

Se cai na rede é peixe - 36

Plano Safra 2009: Mais recursos para Agricultura Familiar - 42

Feceaf: mais de 100 mil pessoas em quatro dias de evento - 45

Territórios para o desenvolvimento - 49

Cisternas garantem acesso à água e facilitam

convívio com o semiárido - 57

O leite que transforma vidas - 38

Page 6: Revista Nossa Terra - SDA

A vida melhora

na terra do cajuAssociação Comunitária de Barreiras

Somente acompanhando de perto o trabalho que envolve a preparação das

deliciosas e tradicionais castanhas de caju produzidas no município de Barreira,

no interior do Ceará, para saber o porquê de sua boa fama e forma.

Projeto São José

Unidade de beneficiamento de castanha, da Associação Comunitária de Barreira, no interior do Ceará, atendida pelo Projeto São José.

06 Nossa Terra - Ceará

Page 7: Revista Nossa Terra - SDA

embora pra outro município, meus

amigos tirando documentos para ir

embora para São Paulo, Manaus,

Brasília. Um dia, deu uma vontade de

implantar uma pequena fábrica de

processamento de castanha de caju”.

Resumindo a história, hoje, o agricultor

Peixoto, que foi buscar no Governo do

Ceará, através da Secretaria do

Desenvolvimento Agrário, recursos do

Projeto São José para concretizar seus

planos, virou prefeito da cidade. E,

pelas redondezas, famílias que

aprenderam a valorizar o que têm em

abundância no quintal de suas casas, já

somam, entre si, mais de 50 minifábri-

cas de beneficiamento de castanhas,

que produzem cerca de 10 tonela-

das/dia e geram mais de mil empregos

diretos.

“Nosso processamento de castanha,

hoje, em Barreira, fica em torno de

quatro mil toneladas/ano e o produtor

passou a ganhar e a ter emprego na

Tudo lá é feito com capricho. Até o

maquinário, bem zelado pelos

funcionários da sede da Associação

Comunitária de Barreira, não substituiu

a conferência manual de tamanho, cor e

possíveis defeitos que garantem a

qualidade da castanha. Outra etapa

interessante do beneficiamento é o

método de corte da castanha para

retirada da amêndoa. Duplas de

profissionais realizam uma espécie de

balé sincronizado, em equipamentos

rústicos e ágeis, alternando pés e mãos.

Mas o que chama atenção mesmo na

pequena e pacata cidade de Barreira,

distante cerca de 90km de Fortaleza, é

a história de luta de um agricultor de

coragem chamado, Antonio Peixoto

Saldanha, que, ainda jovem, no final da

década de 80, acreditou que podia

mudar o rumo da história de seu povo e

lutou para conquistar sonhos. “Eu

ficava olhando aquele tanto de

produção de castanha, tudo indo

Quando a dupla tem prática, um corta a castanha e outro retira a amêndoa. Com agilidade

impressionante, eles chegam a descascar até 80 quilos por dia.

própria comunidade. Temos, agora, a

cultura do processamento da castanha.

Jovens, de 18, 20 anos, terminam os

estudos e vão direto trabalhar nas

fábricas, não tem mais vergonha de ser

cortador de castanha. Atualmente,

temos pessoas que estão voltando do

sul para trabalhar nas minifábricas”,

comemora o ex-presidente da

Associação.

Ti tu lar da Coordenador ia de

Programas e Projetos Especiais, da

SDA, Josias Farias Neto, comemora o

sucesso de Barreiras e, juntamente com

sua equipe, já trabalha a renovação do

Projeto São José III.

“A proposta inicial concentra-se em

agricultores familiares e busca sinergias

com Políticas Públicas congêneres nas

três esferas de Governo”, comenta o

coordenador do projeto, explicando

que “dentro deste contexto, quatro

vertentes estão sendo postas: universali-

zação no abastecimento de água,

Nossa Terra - 07Ceará

Page 8: Revista Nossa Terra - SDA

Pro

jeto

São J

osé

intensificação de políticas de apoio a

núcleos ou arranjos produtivos emergen-

tes - na perspectiva de economia solidária,

focalização no conjunto da agricultura

familiar, nas etnias quilombolas e

indígenas, geração, gênero e meio

ambiente, como uma questão transversal.

Saindodesubprojetospontuais, focandoa

otimização dos mesmos com o fortaleci-

mentodascadeiasprodutivas,atuandoem

gargaloseatraindoparceiros”.

Josias Neto comenta que, em 2008,

foram liberados recursos referentes a

404 subprojetos, com aplicação de R$

32,3 milhões. “Empenhamos R$ 10,3

milhões para ações de abastecimento

de água e saneamento, em comunida-

des com subprojetos apresentados ao

São José, concentrados nos 40

municípios de menor Índice de

Desenvolvimento Social (IDS)”.

Já o São José Produtivo vem avançando

na questão da geração de emprego e

renda. “Com muita responsabilidade,

estamos desenvolvendo o financiamento

de subprojetos produtivos, dando

preferência, principalmente, a comuni-

dades mais organizadas, que trabalham

com redes de Associações, com acesso

ao mercado, mesmo diante das circuns-

tâncias adversas. São comunidades que,

“Recentemente, com o Projeto São José,

conseguimos reformar a Associação.

Antigamente, aqui era cheio de ‘quartim’, só

cubículo. Conseguindo economizar aqui e ali,

ainda conseguimos fazer outro galpão. As

estufas, a máquina de embalagem, o despelicu-

lador, muita coisa daqui foi conquistada com

parceria. Quando começamos, há mais de 20

anos, Barreira tinha quase nada. Hoje, a criação

dessa entidade vem gerando muitas outras.

Temos cerca de 50 unidades caseiras de famílias,

minifábricas que trabalham sua própria

castanha, e 90% deles aprenderam manusear

máquinas no PA Rural. Esse lugar aqui é de

ensino. Muita gente vem aprender, inclusive de

outros estados, e nós ensinamos, porque quando

melhora pra um, fica bom pra todos.”

Vanair Peixoto Saldanha

Presidente em exercício da

Associação Comunitária de Barreira

Antonio Peixoto Saldanha

Prefeito de Barreira e

ex-presidente da Associação Comunitária

pela própria organização, têm articulação

com várias instituições governamentais e

nãogovernamentais”.

Enquanto isso, o São José Agrário

encerrou o ano de 2008 com 121

subprojetos atendidos, dos 180 previstos,

somando, até o momento, recursos de,

aproximadamente, R$ 9 milhões. A

previsão para este ano é atender os

demais. “São projetos destinados a

assentamentos estaduais e federais, por

isso nós mapeamos as áreas socialmente

mais organizadas”, pontua Josias Neto,

acrescentando que houve também um

mapeamento das comunidades

quilombolas e indígenas, nos 40

municípios de menor IDS, para

identificar prioridades a serem atendidas

peloSão José Inclusão Social.

SERVIÇO

Mais informações com Vanair

Peixoto Saldanha, atual Presidente

da Associação Comunitária de

Barreira, pelo telefone (85)

3331.1735; ou com Ivani Gabriel,

Relações Públicas, no (85) 3331.1216

ou 3331.1171. Sede do PA Rural,

Avenida Francisco Torres da Gama,

s/n, centro, Barreira (CE).

toneladas/dia

de produção

10

08 Nossa Terra - Ceará

“Com apoio de Sebrae, do Projeto São José, na

SDA, e de outros parceiros, trabalhamos o

melhoramento de pequenas fábricas e de nossa

estrutura. Agora, temos mais espaço, caldeira,

equipamentos importantes e, com isso,

passamos a ter presença mais forte no mercado

consumidor do Ceará. Tivemos tempos bons com

exportação, mas, hoje, com essa crise, tem sido

mais viável ampliar vendas para São Paulo,

Minas Gerais, Bahia e outros. Barreira é

conhecida como ‘Terra do caju’, lugar onde a

amêndoa é de ótima qualidade. Nosso produto

tem sido bem aceito dentro e fora do Brasil”.

Page 9: Revista Nossa Terra - SDA

Cor e sabor

das frutas da serraDistrito de Umarizeiras

O vermelho vivo e o sabor da polpa de acerola, produzida na Associação

Comunitária dos Pequenos Produtores Rurais da Região de Umarizeiras, distrito

de Maranguape, Região Metropolitana de Fortaleza, vem chamando atenção de

grandes redes de supermercados da Capital. De acerola e de frutas tropicais como,

abacaxi, cajá, goiaba, caju, graviola, manga, seriguela e outras variedades, cultivadas

na Serra, e processadas por gente da comunidade.

O presidente da Associação, Francisco Eliziário Maia Cordeiro, disse que, cerca de

40 produtores, que vivem da agricultura familiar, estão envolvidos no sucesso dessa

organização. “Tivemos bom êxito em 2008 e, esse ano, o Projeto continua. Agora

precisamos de uma câmera fria e uma envasadeira automática, que faz até mil

embalagens/hora. Temos condições de fazer até 2.400 quilos de polpa/dia, mas

nosso espaço pra congelar é só de 500 quilos. Tem os períodos de escassez, é

importante ter onde armazenar”.

Eliziário revelou o segredinho rubro da polpa de acerola de Umarizeiras. “Para ter

uma qualidade vermelhinha, ela tem que estar bem madura. Tão madura que só

pode ser colhida perto da fábrica, para ser processada no mesmo instante. Como

tudo, tem que ter o ponto”.

Serviço

Mais informações pelo número (85)

8888.9668, com Eliziário

Na Sede da Associação Comunitária dos Pequenos Produtores Rurais da Região de Umarizeiras, na serra de Maranguape, com apoio

do Projeto São José, toda produção de frutas está sendo transformada em polpa.

Nossa Terra - 09Ceará

Page 10: Revista Nossa Terra - SDA

“Por longos anos trabalhei só moendo cana-de-açúcar, farinha de

mandioca, todo tipo de cultura eu topei. E, quando chegou o Projeto

Pingo D´Água, lhe digo que não foi fácil mudar, mente é coisa difícil.

Mas mudei de uma maneira, que plantar milho e feijão nunca mais. Era

muito sacrifício. Agora é diferente, toda tempo a gente tá colhendo

alguma coisa”.Seu Paulo Tavares

Produtor da Várzea Grande, em Quixeramobim

Pro

jeto

São J

osé

Page 11: Revista Nossa Terra - SDA

Ceará - Nossa Terra 11

Pingo d’Água: o verde

que brota do SertãoQuixeramobim

Antigamente, os homens da terra se

dedicavam à agricultura de sequeiro:

milho, feijão, mandioca, arroz, depois

colocavam joelho no chão, olhos no

céu, e pediam a Deus água para fazer

brotar aquele pouco. Se o inverno fosse

bom, muito bem, racionando com

sacrifício, quase dava para esperar a

safra no ano seguinte. Mas, se as chuvas

não caíssem, a situação era cruel.

Hoje, a realidade é outra. Desde

quando o poder público local, uniu-se à

universidades cearenses e francesas,

com o objetivo de aplicar experiências

bem-sucedidas em ex-colônias

francesas da África, o assunto é

desenvolvimento.

Deusimar Cândido de Oliveira,

presidente da Associação dos

Produtores do Vale do São Bento,

conta, com alegria, o envolvimento,

cada vez mais enraizado, dos cerca de

50 produtores da região. “Plantamos

tomate, pimentão, maracujá, melão,

batata-doce, pimenta-de-cheiro,

A história do Projeto Pingo D’Água se passa lá no Vale do Riacho Forquilha, em

Quixeramobim, onde a realidade de quase duas mil pessoas foi transformada da

seca para fartura.

“Temos o melhor acompanhamento técnico e

queremos seguir somente com adubação

orgânica, biofertilizante, cultivo protegido

através de telado. Conseguimos reduzir 70% da

adubação química e o objetivo é conseguir tirar

totalmente o uso de adubos químicos. Nossa

produção é de alta qualidade”.

Deusimar Cândido de Oliveira

Presidente da Associação dos Produtores do

Vale do São Bento

repolho, cheiro-verde e outros, é um

grande modelo de agricultura familiar.

Nosso grupo sempre teve preocupação

em Fortalecer parcerias, como nós, eles

acreditam nesse projeto”, ressalta

Deusimar.

O agricultor elogia, também, a força e

união dos produtores que, a cada dia,

veem florescer melhor suas hortas.

“Aqui tem gente de muita qualidade,

pessoas comprometidas com o

trabalho. Isso é determinante para que

qualquer projeto dê certo”, diz

Deusimar.

“Esse projeto é muito interessante e a

Secretaria do Desenvolvimento Agrário vem

incrementando os trabalhos com incentivos no

sistema de irrigação, cultivo protegido, além da

assistência técnica da Ematerce”

José Maria Pimenta

Presidente da Ematerce

Page 12: Revista Nossa Terra - SDA

Seu Francisco e seu Raimundo,

ambos Alves de Andrade, são

dois, de 12 irmãos nascidos no

lugarejo chamado Vale do Meio,

nos arredores do Vale do São

Bento, em Quixeramobim. Eles

relembraram dificuldades do

passado e comemoraram

transformações das gerações

atuais. “Na época de pai, num

tinha luz, água era só quando

chovia e o sequeiro só dava de

ano em ano. Agora não, de

quatro em quatro mês, se

conseguir plantar, tem o que

colher”.

O cheirinho de tempero e terra

molhada fica espalhado pelo ar. E é só

olhar para os mais de 30 canteiros de

coentro, cebolinha e alface, cultivados

com esmero, por Socorro, Salete e

Leudiana, para compreender a

espetacular transformação que vem

acontecendo no Vale Forquilha, nos

arredores de Quixeramobim. “Eu era

professora, e adorava. Mas nunca mais

deixo isso aqui, é uma alegria esse

“Antes minha mulher

só conseguia produzir coentro.

Ela saía daqui toda terça,

comprava na Várzea do Meio

R$ 2,00 de coentro, e fazia 30

mói de cheiro-verde. Levava

para feira e ganhava R$ 1,00.

Hoje, fazendo mil mói por dia,

dá R$ 100. Por semana, dá R$

600, onde é que tem um ganho

desse por aqui?”

Elano Nogueira da Silva

Agricultor

trabalho. Tem feito a família trabalhar

junto”, diz Socorro.

O marido, Elano Nogueira, que dá

assistência à plantação de hortaliças,

também deixa brotar a satisfação com

o empreendimento comandado pela

força feminina. A filha já está na

faculdade, mas é ela que, da cidade,

garante apoio aos pais que cuidam da

produção no campo. “Minha menina

cuida dos produtos expostos, toda

semana, na Feira de Agricultura

Familiar, em Quixeramobim. Ela

recebe o cheiro-verde, faz entregas,

recebe pagamentos, faz novos pedidos

e liga para a mãe”, diz Elano.

E faz gosto mesmo. Hoje, no pequeno

terreno, cerca de 900 mói (molhos) de

coentro e cebolinha seguem para a

cidade com destino certo. E, se a

produção fosse maior, a venda também

estava assegurada.

Raimundo Alves de Andrade e Francisco Eudo Alves de Andrade - agricultores

Maria do Socorro Fernandes de Oliveira, Antonio Elano Nogueira da Silva,

Salete Tavares de Sousa, Leudiana Fernandes Andrade - Vale do Forquilha – São Bento II - Quixeramobim.

Pro

jeto

São J

osé

Os agricultores do Projeto Pingo D´Água, em Quixeramobim,

produziram 660 mil quilos de tomate em 2008.

12 Nossa Terra - Ceará

Page 13: Revista Nossa Terra - SDA

Seria suficientemente grandioso tendo somente esses dois argumentos, mas tem

mais. Entre os irmãos que rápido ficavam adolescentes, três das meninas evoluíam

diferente, e mostravam necessidades e talentos bem especiais. Francisca Miguel

Sobrinha, a pequena Cileide, relembra que foi observando, de longe, a habilidade

com agulha e linha da nova madrasta, que conseguiu aprender muitos pontos de

crochê e ensinar às amigas, “embaixo dum pé de mangueira, com lua”, o que, mais

tarde, evoluiriam para compor as bonitas varandas das redes de solasol. “Era

brincando, acho que tenho habilidade pra ensinar. Conseguia pegar o ritmo da

agulha olhando, sempre soube todo tipo de crochê, e repassava pras criança da

comunidade”, diz Cileide.

Essa história poderia contar a vida de sertanejas guerreiras, que vêm

transformando a realidade da Comunidade do Sítio Mocotó, lá no município

de Várzea Alegre, com disposição para trabalhar belíssimas redes

artesanais. Ou narrar saga de mais uma família do Sertão do Ceará que, com

10 crianças pequenas para criar, a mãe morre precocemente, de parto, ainda

na década de 70, época onde energia em sítio nem se cogitava.

No embalo das redes

do Sítio Mocotó - Várzea Alegre

Na sede da Associação Comunitária do Sítio Mocotó, moradores se reúnem para confeccionar as redes que conquistaram fama internacional

Nossa Terra - Ceará 13

Page 14: Revista Nossa Terra - SDA

Hoje, ao lado da mangueira onde

alinhavavam o futuro, está construída a

sede da Associação Comunitária do

Sítio Mocotó. No salão grande, 10

máquinas industriais, que podem

ajudar a produzir até 170 redes/mês,

trabalho que envolve até mil pessoas,

de quatro comunidades próximas.

Francisca Reinaldo de Oliveira, a

Ceilda, além de talentosa, mostra que

continua aguerrida por melhoras para

a comunidade. “O Projeto São José pra

nós aqui foi tudo, é maravilhoso, nossa

vida é outra, temos ajuda de boas

instituições. Mas queremos reivindicar

agora comercialização. Temos,

estoque de 170 redes, sem mercado

certo. Essas redes tão gerando

emprego na Carrapateira, Lagoa Seca,

e nos bairros Riachinho e Varjota, em

MAIS INFORMAÇÕES:

Quem quiser comprar redes da

Associação Comunitária do

Sítio Mocotó, tratar pelo telefone

(88) 3541.1776, distante

12 quilômetros, ou pelo celular,

(88) 9259.8498, que nem sempre

funciona. Aliás, conseguir telefone

fixo é outra reivindicação antiga

dos moradores, que o Governo já

está providenciando.

Várzea Alegre, Região do Cariri, com

qualidade padronizada aqui na

Associação. Mas precisamos ter venda

certa”, alerta Ceilda.

A mais falante das três pequenas-

grandes artesãs, sem dúvida, é Maria

Miguel de Oliveira, a Rosinha, que já

viajou o Brasil inteiro, “e até para o

exterior” mostrando o artesanato de

qualidade produzido no Sítio Mocotó.

Um retrato do bom humor espalhado

entre as 43 famílias do lugar. “A gente

t e m q u e a c o m p a n h a r o

desenvolvimento, a globalização,

porque, senão, depois, fica que nem os

Estados Unidos, tudo aperreado com a

crise em cima. Tem que ser esperto.

Digo, com alegria, que foi com muito

esforço, e o apoio do Governo do

Estado, através da Secretaria do

Desenvolvimento Agrário, do Sebrae e

Banco do Nordeste, que foi erguida e

transformada nossas vidas”. Rosinha

termina a frase chamando para o

banquete com galinha à cabidela,

preparado no antigo casarão onde tudo

começou.

“A gente tem que acompanhar o

desenvolvimento, a globalização, porque, senão,

depois, fica que nem os Estados Unidos, tudo

aperreado com a crise em cima.”Maria Miguel de Oliveira, a Rosinha,

Pro

jeto

São J

osé

Cileide Rosinha Ceilda

14 Nossa Terra - Ceará

Page 15: Revista Nossa Terra - SDA

EnsaioEnsaio

Page 16: Revista Nossa Terra - SDA

Regularização Fundiária

Um marco

na história agrária

Por ocasião do lançamento do Plano Safra em Fortaleza, o governador Cid

Gomes enfatizou a importância do convênio que foi firmado entre o Governo

Federal e o Governo do Estado, através do Incra e Idace, para a regularização

fundiária em 121 municípios cearenses.

16 Nossa Terra - Ceará

Page 17: Revista Nossa Terra - SDA

O acordo é um marco na história

agrária do Ceará, visto que 70% dos

imóveis rurais do Estado não estão

regularizados. “Essa ação conta com

um investimento de R$ 48 milhões e

atingirá mais de 190 mil pequenas

propriedades, beneficiando cerca de

200 mil famílias”, disse o governador

Cid Ferreira Gomes.

A ass inatura do convênio de

Regularização Fundiária está possibili-

tando o levantamento, identificação,

georreferenciamento e caracterização

da malha fundiária nas diversas regiões

do Ceará, para a implantação do

cadastro de imóveis rurais e a conse-

quente regularização fundiária.

Com isso, é possível conceder títulos de

propriedade rural para os produtores

que não os possuem, legalizando a

situação dos imóveis. Com a posse dos

títulos das terras, os agricultores têm

acesso a recursos financeiros e à

assistência técnica, “Um reflexo

bastante positivo na qualidade de vida e

na renda familiar do meio rural”,

destaca o secretário Camilo Santana.

Emídio Alves, produtor de milho do

município de Pentecoste, recebeu

simbolicamente das mãos do secretário

Camilo Santana o título de regulariza-

ção. A propriedade faz parte da

primeira leva de 190 mil terrenos que

estão sendo regularizados. Na opinião

do agricultor, o grande ganho obtido a

partir do título de posse de terra é a

oportunidade de se inscrever em

programas de financiamento ofertados

pelo Governo.

Com isso, os pequenos agricultores têm

acesso aos agentes públicos de financia-

mento da produção agrícola, podendo

ampliar e variar sua produção, também

melhorando a qualidade e aumentando a

produtividade dos produtos cultivados.

Pequenos agricultores e agricultoras de

municípios da região do Cariri, como de

Jati, Brejo Santo, Barro, Penaforte,

Porteiras, além de Quixeramobim,

Lavras da Mangabeira e Crateús, já

tiveram acesso a agentes públicos de

financiamento de produção, como o

Banco do Nordeste e Banco do Brasil,

alémdeassistência técnicaespecializada.

Para Francisco Bessa, Superintendente

do Instituto do Desenvolvimento

Agrário do Ceará (Idace), “a regulari-

zação fundiária, através do cadastro

georreferenciado, tendo como

produto final o título de propriedade,

se constitui num dos maiores

programas de inclusão social, pelos

benefícios que traz aos agricultores e

agricultoras familiares, no que tange

ao acesso às políticas públicas e

resgate da cidadania”.

Nossa Terra - Ceará 17

Municípios atendidos pelo Programa de Regularização Fundiária

“A Regularização Fundiária

promove a inclusão social e o

resgate da cidadania”

Francisco Bessa

Superintendente do Idace

Page 18: Revista Nossa Terra - SDA

Crédito Fundiário

Acesso à terra para

2.317 famílias no Ceará

O Programa Nacional de Crédito Fundiário beneficia famílias de pequenos

produtores rurais que não têm acesso a terra, facilitando aquisição de

propriedades comunitárias. É um programa que vem ganhando destaque,

principalmente, pelas transformações efetivas no aumento da qualidade de vida

das famílias beneficiadas.

18 Nossa Terra - Ceará

Page 19: Revista Nossa Terra - SDA

Financiamento com prazo de pagamen-

to de 14 a 17 anos, carência de dois anos

e juros de 2% a 5% ao ano. É o que a

linha de Combate à Pobreza Rural do

Programa Nacional de Crédito

Fundiário (PNCF) representa para as

famílias de pequenos produtores rurais,

que com isso desenvolvem condições

de adquirir a própria terra. Pagando

em dia, o trabalhador ainda tem um

bônus de 40% sobre o valor das parcelas

e, quando a terra é adquirida, ficam

garantidos recursos para investimentos

básicos de estruturação da propriedade.

Em 2008, foram beneficiadas no Ceará

372 famílias, em área de mais de 9 mil

hectares. Em 2009, a meta é atender

cerca de 700 famílias, nos 181 municípi-

os do Ceará, com exceção do Eusébio,

Maracanaú e Fortaleza, que pratica-

mente não possuem área rural. Até o

primeiro semestre deste ano, o total de

famílias beneficiadas no Estado atingiu

2.317 famílias, em área adquirida de

quase 70 mil hectares.

“Mas esse não é um trabalho fácil.

Como em toda grande família, há

diversidade de opiniões, conflitos,

estamos aprendendo juntos a melhorar

sempre”, comenta a engenheira-

agrônoma Maria Leuda Cândido,

supervisora do Núcleo de Apoio à

Gestão, responsável pela operacionali-

zação do Crédito Fundiário no Ceará.

“O programa permite ao trabalhador

acessar a terra através do financiamento

do Governo Federal, pelo Programa

Nacional de Crédito Fundiário na linha

de Combate à Pobreza Rural. É um

projeto alternativo e complementar ao

Plano Nacional de Reforma Agrária”,

completa Leuda.

Apesar das dificuldades, a técnica está

animada: “O trabalhador escolhe a terra,

os companheiros e o programa que quer,

não há interferência externa. Isso é

importantíssimo, tanto pela transparên-

cia quanto pela liberdade. Muitos deles

viram pais e avós arrendando terras de

patrões para poderem trabalhar. Com

esse programa, caso um proprietário

resolva vender um pedaço do chão, os

que já estão dentro conseguem comprar

a terra. Daí em diante, a história muda e,

quem era empregado vira dono do

próprionegócio.”

Quem também enfatiza a importância do

programa é Adhemar Lopes de Almeida,

SecretáriodeReordenamentoAgrário,do

Ministério do Desenvolvimento Agrário

(MDA). “O Programa Nacional de

Crédito Fundiário tem permitido às

famíliasdeagricultoresruraisse fixaremna

terra. Isto revela que o objetivo de

combater a pobreza no campo está sendo

alcançado, possibilitando às famílias

beneficiadas acesso a outras políticas

públicas de incentivo à produção,

moradia, infraestrutura, educação e

saúde”,afirmou.

O melhor de tudo é que os benefícios

estão ao alcance de todos. “Basta o

trabalhador querer. Inicialmente ele

decide a propriedade, depois a empresa

parceira, Sindicato dos Trabalhadores,

assistência técnica e outros. Nos

municípios, há ONGs credenciadas e os

escritórios da Ematerce para mobilizar e

capacitar esse trabalhador a formular a

proposta e encaminhar para o Núcleo de

Apoio à Gestão. Quando há dificuldades

lá, o trabalhador vem e nós orientamos,

fazemos a articulação com todos os

atores”, encerraLeudaCândido.

Serviço:

Mais informações pelo

www.creditofundiario.org.br ou

(85) 3101.8051 ou (85) 3101.8052

70 mil hectares

de terras adquiridas

Nossa Terra - Ceará 19

“O Programa Nacional de

Crédito Fundiário possibilita

às famílias beneficiadas

acesso a outras políticas

públicas”

Adhemar Lopes de Almeida

Secretário de Reordenamento

Agrário do MDA

Page 20: Revista Nossa Terra - SDA

“Meus amigos brincam dizendo que

saí da roça, mas a roça não saiu de

mim. Estudei na cidade, me formei e

voltei para cá. Aquele sonho

americano, a ilusão da cidade grande,

acabou. Todos esses jovens aqui são a

prova disso”.

A empolgação do tecnólogo, Antonio

Carlos dos Santos Ferreira, aagente

rural da Ematerce, que dá assistência

ao Assentamento Estrela, em

Barbalha, na região do Cariri, é a

imagem verdadeira do que vem

acontecendo pelo interior do Ceará.

Cada vez mais, condições favoráveis,

valorização e ações sincronizadas do

Governo do Estado, têm incentivado a

permanência de jovens, de todas as

cidades, no campo. No assentamento

Estrela, cinco estagiários em fase de

conclusão do Curso Técnico em

Fruticultura, em Barbalha, praticam,

com agricultores experientes, o que

Jovens abraçam

vida no campoBarbalha

O Assentamento Estrela tem

plantado 10 ha de Goiaba, 7 ha de

banana e 8 ha de caju de sequeiro.

São 10 famílias, morando em

sistema de Agrovilas, com casas

próximas umas das outras

facilitando o compartilhamento de

energia, telefone e outros. A

comunidade dispõe de 3 poços

profundos para fazer irrigação e

abastecer casas.

aprenderam nos bancos da escola.

“Essa é a primeira turma e tem sido

uma experiência fantástica, todos estão

de parabéns. Na minha época, não tive

essa oportunidade, 90% do curso foi

teoria. Quem quisesse prática, tinha

que ir para outras regiões do Estado.

Agora eles só têm que estudar e voltar

para ajudar suas comunidades a

crescer”, diz Antonio Carlos.

E energia para trabalhar não falta.

Quem diz é seu Cícero Raimundo de

Melo, 60 anos, Presidente da

Associação dos Produtores de Fruta do

Distrito Estrela. O agricultor conta,

com alegria, a expansão e melhoria da

vida das 10 famílias beneficiadas com o

crédito fundiário.

“Sou nascido e criado aqui na Estrela,

junto com meus companheiro, na

batalha. Conseguimo terra, água,

implantamo as cultura, principalmente,

da goiaba, antes, plantava um pedacim

de roça aqui, outro acolá, só sequeiro.

Agora, com o apoio desses governante,

tem onde nóis trabaiá, e eu quero é que

evolua mais daqui pra frente”, diz seu

Ciço. E comemora. “Agora, inda tem

esse pessoal jovem, estudando, partindo

pra agricultura. É futuro bom pra eles e

pra nóis também”.

CRÉDITO FUNDIÁRIO

20 Nossa Terra - Ceará

Agricultores experientes e jovens estudantes unidos pela valorização do trabalho no campo

Cré

dit

o F

und

iári

o

Page 21: Revista Nossa Terra - SDA
Page 22: Revista Nossa Terra - SDA

Construindo sonhosRegião Norte: Fazenda Atalho, em Groaíras e Forquilha

O lugar está ficando bonito, mas as dezenas de coqueiros destruídos por

queimadas ainda contrastam com a energia de crescimento e evolução que vem

se alinhando entre as 10 famílias que irão morar na Fazenda Atalho, município

de Groaíras, região norte do Ceará que, no final do ano passado, foi adquirida

pelo Programa Nacional do Crédito Fundiário.

Cré

dit

o F

und

iári

o

Trabalhadores da Fazenda Atalho, em Groaíras, construindo casas adquiridas pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário e Governo do Estado.

22 Nossa Terra - Ceará

Page 23: Revista Nossa Terra - SDA

Aos poucos , o sonho desses

agricultores, que já foram peões, e hoje

são donos da terra onde moram, vai se

tornando realidade, quase fazendo

lembrar a antiga história da Terra

Promet ida . O lugar tem, em

abundância, o bem mais precioso: água.

Nada menos que três rios: Groaíras,

Jacurutu e o perene Acaraú, cruzam a

propriedade de 82 hectares. Além

disso, os assentados que irão morar nas

casas que estão sendo construídas e

reformadas com benefícios do

financiamento, e contrapartida do

Governo do Estado, através da

Secretaria do Desenvolvimento Agrário

(SDA), também já adquiriram

e q u i p a m e n t o s d e i r r i g a ç ã o ,

implementos agrícolas, material de

construção, tudo guardadinho,

somente esperando hora de serem

usados. Tem, também, um trator

'aradando' os três hectares de terra onde

serão plantadas banana pacovan, e os

dois hectares de capineira para o gado,

que virá com o próximo financiamento.

“Fizemo uma reunião e tudim se

engajaro no serviço. Todo mundo tá

disposto a produzir dentro da terra.

Depois que terminar a implantação

desse projeto, vem o Pronaf A, para

adquirir gado, ovelha. É o começo de

um ciclo grande que a gente pretende

fazer aqui dentro”, diz, José Carneiro

do Nascimento, presidente da

A s s o c i a ç ã o C o m u n i t á r i a d o s

Assentados da Fazenda Atalho.

Isso não é tudo. A movimentação

positiva em torno da permanência do

homem no campo, também tem atraído

jovens cada dia mais interessados em

incrementar esse setor. Dárcio Silveira

O Programa Nacional de Crédito Fundiário, do Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA), implantado em parceria com Governos

Estaduais e entidades ligadas à agricultura familiar, tem como meta

viabilizar o acesso dos agricultores familiares à terra em áreas que não

podem ser desapropriadas para Reforma Agrária. Além de financiar a

compra de imóveis rurais, o Programa investe em infraestrutura básica e

produtiva.

Nossa Terra - Ceará 23

Dona Maria, seu Raimundo, Sebastiana, Larissa, Wesley, Werles, Verlênio,

Gleiciane, Ivo e Maria do Livramento, fazem parte das famílias assentadas, no final

do ano passado, na Fazenda Rocha, em Forquilha, zona Norte do Ceará. Eles, que

já passaram pela fase da construção da habitação, com recursos reembolsáveis do

Subprojeto de Aquisição de Terra (SAT) e da SDA, agora mostram, com satisfação,

curral, aprisco, cercas, estábulo, viabilizados com recursos não-reembolsáveis dos

Subprojetos de Investimentos Comunitários, os SICs.

Page 24: Revista Nossa Terra - SDA

Cré

dit

o F

und

iári

o

Graciano, é tecnólogo em irrigação e,

atualmente, presta serviço à Ematerce,

como Agente de Assistência Técnica

de Extensão Rural (Ater), no

assentamento da Fazenda Atalho. “O

sistema de irrigação escolhido para cá é

um dos mais caros e viáveis para terra.

Ele raciona a água diretamente para a

cultura, sem nenhum extravio. Os

assentados já pediram orientação na

questão do cultivo de frutas. Quando a

gente conseguir produzir aqui, e

abastecer a cidade, ficará valorizado o

trabalho do agricultor, e incrementada

a circulação da renda local”, destacou o

“Tem a questão do associativismo,

cooperativismo, onde as famílias

se unem para fazer trabalhos

coletivos para pagarem os imóveis.Maria Goretti de Freitas Ribeiro

Assessora do Crédito Fundiário da Região Norte

Ematerce-Sobral

Agente.

A assessora do Crédito Fundiário da

Região Norte, da Ematerce de Sobral,

Maria Goretti de Freitas Ribeiro,

explicou que, esse projeto, tem como

meta facilitar o acesso de agricultores

familiares à terra, em áreas que não

podem ser desapropriadas para

Reforma Agrária. “Elaboramos 51

Subprojetos de Invest imentos

Comunitários, que beneficiaram 91

famílias, em 10 assentamentos. Esse

programa vem se desenvolvendo bem

aqui na região Norte. Todos estamos

bem satisfeitos”, destacou Goretti.

“Os assentados já pediram

orientação na questão do cultivo

de frutas. Hoje, tudo que Groaíras

c o n s o m e , v e m d e o u t ro s

municípios. Quando a gente

conseguir produzir aqui, e

abastecer a cidade, f icará

valorizado o trabalho do agricultor,

além de incrementar a circulação

da renda local.”Dácio Silveira Graciano

Agente de Assistência Técnica de Extensão Rural

(ATER)

91 famílias beneficiadas

24 Nossa Terra - Ceará

Page 25: Revista Nossa Terra - SDA

Lá no Assentamento da Comunidade

Malhada, a 13km de Crato, região do

Cariri, os membros da Associação

Comuni tá r i a Padre Freder i co

trabalham direitinho. Cedo, moradores

se espraiam para limpar os seis hectares

de goiaba irrigada, cuidar das

bananeiras, do maracujá consorciado

com amendoim, da mandioca de

sequeiro, da criação de ovinos, caprinos

e gado leiteiro, das hortaliças, além,

claro, do cultivo de milho e feijão,

vendidos, ainda verdes, na famosa feira

quinzenal de Ponta da Serra.

É lá também onde está instalada a

miniusina de pasteurização de leite, de

propriedade de 22 membros, da

Associação dos Pequenos Produtores

de Leite do Sítio Malhada; e a Casa do

Mel, onde são feitos trabalhos ligados à

apicultura, processando e distribuindo

rendimentos de forma compartilhada.

De acordo com Maria Elcileide

Nogueira Mendonça, Extensionista

Social da Ematerce do Crato, vêm

acontecendo mudanças significativas

A modernidade da tradiçãoPonta da Serra - Crato

no padrão de vida das famílias da

Malhada. “A comunidade tinha um

terreno que explorava em regime de

comodato. Quando venceu, passou-se a

discutir a aquisição da terra, através do

Crédito Fundiário. Elaboramos projeto

que contemplasse as atividades

diversificadas que os trabalhadores

rurais já vinham desempenhando de

forma rudimentar. Taí, deu certo”,

disse Elcileide Mendonça.

Tão certo, que, recentemente, até a

antiga Casa de Farinha, depois de mais

ce cem anos de funcionamento,

recebeu recursos do Projeto São José,

passou por reparos, ganhou uma versão

mais moderna, mantendo a estrutura

original, e conseguiu facilitar os

trabalhos nas farinhadas. “Durante o

ano, a comunidade produz, além da

tapioca tradicional, bei ju com

amendoim, gergelim, carne de sol ou

queijo coalho, e vendem em exposições

e feiras distritais. Eles fazem, em média,

quatro farinhadas/ano, para garantir

beiju e tapioca para consumidores

cadastrados”, disse a gerente em

exercício.

Para José Acácio de Moraes Lima,

engenheiro-agrônomo da Ematerce,

outros dois fatores fundamentais na

evolução na Comunidade Malhada são

a permanência dos jovens no campo e a

facilidade de escoamento da produção.

“Aqui eles trabalham com toda família

envolvida e isso é muito interessante,

porque tem jovem que não quer se

engajar nesse tipo de atividade. Aqui,

pais, filhos, moças e rapazes fazem

parte desde o preparo da terra até as

vendas. Eles também têm o Rio Carás,

perenizado pelo açude Tomaz

Osterne, do Crato, têm energia e estão

localizados próximo a um grande

centro consumidor, que é a Região do

Cariri. Veja que, juntos, somente Crato,

Juazeiro e Barbalha, somam cerca de

500 mil habitantes. Tudo que se produz

aqui, é fácil escoar, tanto faz ser inverno

ou verão”, comemora Acácio Lima.

Nossa Terra - Ceará 25

Page 26: Revista Nossa Terra - SDA

Defesa Agropecuária

Pela 1ª vez Ceará sedia

Circuito Pecuário Nordeste

26 Nossa Terra - Ceará

Page 27: Revista Nossa Terra - SDA

“Esse encontro em Fortaleza foi uma surpresa extraordinária. Ver um grupo de pessoas

tão comprometidas, dos diversos setores: público, privado, produtores, indústria, toda

uma conjugação de vontades que, realmente, não tem como fracassar. Essa meta

estabelecida para 2010 acho fantástica, porque não podemos mais conviver com esse

problema. Quem sabe seremos o primeiro continente livre de febre aftosa. O que mais

me chamou atenção foi que aqui não existe competição entre organizações, setores, ou

estado. Todos estão visando o esforço conjunto”.

“A primeira coisa que tem que fazer é Cadastro. Sem cadastro pronto, não adianta fazer

mais nada, porque não vai servir. Isso é lição de casa, tem que fazer cadastro, e

cadastro bem feito. A segunda coisa é a manutenção do cadastro. Não adianta fazer

cadastro, se não tiver programa de atualização das informações de trânsito, nascimento,

etc. Tem que ser simultâneo, cadastro e manutenção. A terceira raiz principal de tudo

isso é a Legislação. Se não tiver apoio da Legislação não adianta fazer cadastro, nem

manutenção de cadastro. Funciona como três pilares que ajudam, e muito, a tocar o

trem. Tem que concentrar nisso.

Outra coisa é criar um Fundo e colocar as Guias de Trânsito Animal (GTA) para funcionar.

Em Goiás, desde o início de abril, 100% dos escritórios estão informatizados. Acho absurdo

que, em pleno século 21, estejamos discutindo febre aftosa. Fico envergonhado quando

vou lá fora, em reuniões internacionais, e tenho que justificar aftosa no Brasil. Tem outra

coisa. Lei de Defesa Sanitária só funciona se doer no bolso do produtor.

Apesar de tudo, acho que o Nordeste avançou, há entusiasmo, está no ponto de evoluir.

Com isso, não ganha somente o Nordeste, mas o Brasil todo. Estamos sem acesso a

60% do mercado mundial de carne, porque o Brasil não é um país livre de aftosa. Ver

isso aqui faz acreditar que, em breve, o Nordeste todo estará livre da doença com

vacinação”.

Albino Belotto

Diretor do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa –PANAFTOSA-OPAS/OMS

Antenor Nogueira

Presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA

“Essa reunião está sendo grandiosa, tem tudo para alavancar o comprometimento com a

vontade de melhorar. Obter reconhecimento de status sanitário é uma conquista, tem

que ser buscada. Todos os Estados devem fazer esforços para que se assista o maior

número de propriedades, se lancem dados de forma correta, porque não adianta por um

número qualquer. Temos que intensificar ações pró-ativas durante campanhas e pós-

campanhas. Hoje, podemos até estar na direção certa, mas temos, também, que

avançar na velocidade adequada”.

Inácio Kroetz

Secretário Nacional de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)

Nossa Terra - Ceará 27

O Circuito Pecuário Nordeste (CPNE), evento que reúne Estados do Pernambuco, Maranhão, Rio Grande do Norte, Piauí,

além, esse ano, da participação especial de representantes de Bahia, Sergipe e Tocantins, foi sediado, em março, pela primeira

vez, no Ceará. O sucesso do encontro fortaleceu a certeza de que, no Brasil inteiro, todas as esferas de poder estão unidas para

certificar o Nordeste como “Zona Livre de Febre Aftosa”.

Durante o encontro, as principais lideranças e autoridades locais, regionais e nacionais, ligadas ao setor, expuseram

experiências em registros antológicos e narrações históricas de líderes que fazem a história contemporânea na luta pela

erradicação da febre aftosa no nosso continente.

Page 28: Revista Nossa Terra - SDA

Saiba Mais

28 Nossa Terra - Ceará

FONTE: Relatório do Programa Ceará Livre de Febre Aftosa (Celfa) | Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri)

1 - A Febre Aftosa é uma enfermidade viral

de evolução aguda que não tem cura,

ocasionada por vírus contagioso,

pertencente à família Picornaviridae,

gênero Aphtovírus. O vírus pode ser

contraído por bovinos, bubalinos, ovinos,

caprinos e suínos, provocando perda de

peso, diminuição na produção de carne e

leite, comprometimento da função

reprodutiva, levando à morte;

2 - A carne e o leite de animais

contaminados não devem ser usados nem

comercializados. O FMDV é altamente

contagioso e infecta todos os animais de

casco fendido, d i s seminando-se ,

rapidamente, em populações susceptíveis

através de vários meios de transmissão. O

vírus pode ser encontrado em altas

concentrações em fluidos das vesículas,

saliva, fezes, urina, sêmen e leite,

encontrando-se presente no sangue e em

todos os tecidos do animal no pico da

infecção;

3 - Os principais sintomas da doença são:

febre alta, afta na língua, falta de apetite,

baba em excesso, lesões nos cascos, feridas

na boca e nas narinas e dificuldade de

locomoção. Além dos prejuízos diretos,

existem os indiretos: suscetibilidade a

outras doenças (mastites, miocardites, etc.),

desvalorização dos animais e seus

produtos, proibição da movimentação dos

animais, interdição de propriedades, perda

de tempo e dinheiro no tratamento de

lesões secundárias.

“O produtor vai melhorar

a qualidade do rebanho,

com animais vacinados,

acompanhados, e no final,

todos terão alimentos mais

seguros, saudáveis de boa

qualidade. Com o

georreferenciamento é

possível localizar qualquer

unidade produtiva dentro

do mapa do Ceará, com

acompanhamento

posterior às vacinações,

saber que produtores

vacinaram seus rebanhos e

muito mais.”

Edilson de Castro

Presidente da Agência de Defesa Agropecuária

do Estado do Ceará (Adagri)

“O Governo vem fazendo

esforços com vacinação,

concurso público,

cumprindo todas as

diretrizes que o Ministério

da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (Mapa) está

exigindo. Queremos o

Ceará fora do nível de

risco desconhecido, e esse

esforço conjunto dos

Estados é fundamental

para que o Nordeste do

Brasil crie a barreira

sanitária necessária contra

aftosa”

Francisco Pinheiro

Vice-governador do CearáCamilo Santana

Titular da Secretaria do Desenvolvimento

Agrário do Ceará (SDA)

“É um desejo forte de

todos no Nordeste,

avançarmos na questão da

defesa animal. No Ceará,

há muita disposição,

temos aprendido muito.

Não queremos perder

mais tempo, essa é uma

questão de segurança, de

saúde pública, importante

para o Brasil. Por isso, as

parcerias e a união de

todos são fundamentais. A

cobrança é grande e não

vamos medir esforços para

evoluir.

MAIS INFORMAÇÕES

Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri), na Avenida

Bezerra de Menezes, 1820, bairro São Gerardo, Fortaleza (CE), CEP 60.325-002,

ou pelos números (85) 3101.2500 e Fax (85) 3101.2499. E-mail:

[email protected]

Cad

astr

o A

gro

pecuári

o

Page 29: Revista Nossa Terra - SDA

AGRONEGÓCIO E AGRICULTURA FAMILIARO DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

PATATIVADO ASSARÉ

100ANOS

Promoção

12 a 19 de julho de 2009Parque de Exposição

Pedro Felício CavalcantiCrato - Ceará - Brasil

Page 30: Revista Nossa Terra - SDA

30 Nossa Terra - Ceará

O Banco do Nordeste do Brasil

(BNB), comemora quatro anos de

atuação do Agroamigo, com mais de

530 mil operações de crédito realiza-

das e R$ 650 milhões investidos na

economia da região. Criado pelo BNB

em 2005, com o objetivo de atender

comunidades rurais do Nordeste e

norte de Minas Gerais e Espírito Santo,

o Programa passou a financiar a

produção de agricultores de pequeno

porte enquadráveis no grupo B do

Pronaf.

O presidente do BNB, Roberto Smith

destacou a importância da iniciativa,

ressaltando os resultados alcançados

pela metodologia de atendimento

utilizada pelo Programa. “Nos

sentimos muito recompensados com

os números do Agroamigo. Um

programa com taxa de inadimplência

situada entre 2% e 4% no contexto do

Pronaf B, onde esse percentual pode

Agroamigo faz

quatro anos de atuaçãoCriado em 2005, o Programa de Microcrédito

Rural do BNB já aplicou mais de R$ 650 milhões

chegar a 40%”, afirmou.

Smith atribui os bons resultados à

metodologia de atendimento aos

pequenos agricultores, proporcionada

pela equipe de assessores de crédito

rural do Programa. “O Agroamigo

consegue operar de uma maneira muito

próxima dos nossos clientes, não só na

questão da orientação para o financia-

mento, mas também na concessão de

crédito, que é muito mais desburocrati-

zada. Esse ponto é extremamente

importante para o sucesso das opera-

ções realizadas”, afirmou.

O superintendente da Área de

Agricultura Familiar, Microfinanças

Rurais e Crédito Fundiário, Luís Sérgio

Farias Machado, enfatizou o reconheci-

mento que a metodologia de atendi-

mento do Agroamigo vem conquistan-

do em níveis nacional e internacional.

“O Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA) já anunciou que irá

adotar o Agroamigo como política de

financiamento para todos os agriculto-

res enquadráveis no Pronaf B. Além

disso, recebemos visitas dos governos

de Angola e Cabo Verde, que se

mostraram bastante interessados na

iniciativa”, afirmou Luís Sérgio, que

lembrou ainda o convênio estabeleci-

do com o MDA por meio do qual

foram fornecidas 375 motocicletas

para os assessores, estando previstas a

liberação de mais 250 unidades para

este ano.

Ele ressaltou também o acordo de

cooperação técnica firmado entre o

BNB, o Banco da Amazônia (Basa) e o

Instituto Nordeste Cidadania (Inec)

para a operacionalização do microcré-

dito rural nas comunidades a serem

atendidas. Por meio da parceria, o

Banco repassará a metodologia do

Agroamigo, capacitará assessores de

crédito e instituições envolvidas no

Page 31: Revista Nossa Terra - SDA

Nossa Terra - Ceará 31

processo e acompanhará a execução do

projeto-piloto, a ser desenvolvido na

área de atuação do Basa.

EXPECTATIVAS

Visando à expansão do Programa, a Área

de Agricultura Familiar prevê, para 2009,

a ampliação do volume financiado em

mais R$ 620 milhões, contemplando

mais de 500 mil operações. Segundo

Luís Sérgio Farias, o objetivo é projetar

o Agroamigo como o maior programa

de microcrédito rural da América do

Sul. “Com isto, chegaremos a marca

expressiva de 962 mil produtores rurais

atendidos, com R$ 1,2 bilhão de

recursos investidos desde o inicío do

Programa”.

Entre as metas estabelecidas, está ainda a

ampliação da área de atuação do

Agroamigo para todos os municípios que

disponham de agricultores enquadráveis

dentro do Pronaf B, ou seja, produtores

rurais de renda bruta anual familiar de até

R$ 4 mil. “Nas localidades que contarem

com o atendimento do Programa, não

atenderemos mais pelo método

tradicional do Pronaf B, o que significa

dizer que disporemos de 1985 municípi-

os para trabalhar exclusivamente a

metodologiadoAgroamigo”, informou.

ASSESSORES

Para garantir o cumprimento das metas,

o superintendente informou algumas

melhorias que estão sendo implemen-

tadas na operacionalização do

Programa como, por exemplo, o

incremento no total de assessores de

crédito, que passarão de 572 para 800.

De acordo com Luis Sérgio, a medida

faz parte da estratégia de criação da

unidade de microfinanças, por meio da

qual o Banco do Nordeste se propõe a

trabalhar o Agroamigo e o Crediamigo

com carteiras diferenciadas e indepen-

dentes em cada agência.

“Ressalte o trabalho realizado pelos

gestores do BNB e pela equipe do Inec,

que fornece estrutura de apoio a todo o

Programa. A razão de sucesso do

Agroamigo reside principalmente na

ação direta de todos, que levam o

crédito à comunidade de forma

orientada e acompanhada”, destacou.

Na opinião do presidente do Instituto

Nacional de Educação e Cultura (Inec),

Cloves Polte, os assessores são peça

fundamental para o crescimento do

Programa, graças ao conhecimento que

detêm da comunidade, de seus clientes

e da cultura local.

Luis Sérgio Farias Machado

Sup. da Área de Agricultura Familiar,

Microfinanças Rurais e Crédito Fundiário

Page 32: Revista Nossa Terra - SDA

Ag

ricult

ura

Org

ânic

a

Saúde na mesa

do Interior à CapitalAssociação dos Produtores Orgânicos da Ibiapaba (APOI) - São Benedito

Tomate cereja, alface americana, repolho roxo, alho poró, macaxeira, pimentão,

berinjela, beterraba, cenoura, além de outras hortaliças, frutas e grãos,

produzidos de maneira limpa, correta, sadia, livres de agrotóxicos.

São assim os produtos cultivados no

alto da Serra da Ibiapaba, no municí-

pio de São Benedito, região Norte do

Ceará, distante cerca de 250 quilôme-

tros de Fortaleza. Lá, a vanguarda de

agricultores da Associação dos

Produtores Orgânicos da Ibiapaba

(Apoi), movimenta 13 produtores, de

outras três cidades, Ibiapina, Ubajara e

Carnaubal – unidos pelo objetivo de

repensar novos modelos agrícolas, que

valorizem o homem do campo,

respeitem o meio ambiente e evolua

em tecnologias sustentáveis. E a

iniciativa tem se mostrado bem

sucedida.

Tanto que João Costa Gomes, técnico

em agropecuária, um dos produtores

da Apoi, conta, com alegria, as recentes

conquistas que evidenciam a importân-

cia dessa luta.

“O tabu da serra era tomate e repolho.

Quando iniciamos, muita gente

apostou que não daria certo. Mas taí, os

dois são os que produzimos com

melhor regularidade e sem usar

nenhum tipo de agrotóxico”, destaca

João Gomes.

Cícero, Luiz Carlos,

Cleide, Vanderléia,

Ismael, Valéria,

Eliane, Ariane,

Denísio e João, na

Sede da Associação

dos Produtores

Orgânicos da

Ibiapaba (APOI).

Eles organizam

grande parte dos

produtos orgânicos

consumidos em

Fortaleza (CE).

A Associação dos Produtores

Orgânicos da Ibiapaba (Apoi) vende

tudo que produz para duas grandes

redes de supermercados do Ceará e

Piauí, e trabalha, também, com

entregas de cestas na região para

famílias cadastradas. João Costa

Gomes encerra de vez com o mito de

que agricultura sem agrotóxicos é

sinônimo de má qualidade. “Nossos

produtos são bonitos por dentro e por

fora. Hoje, só se fala em segurança

alimentar, e isso só tem consumindo

produto orgânico”, afirma.

32 Nossa Terra - Ceará

Page 33: Revista Nossa Terra - SDA

O engenheiro-agrônomo, Hermínio

José Moreira Lima, do Núcleo de

Apoio a Agricultura Orgânica, da

Secretaria do Desenvolvimento

Agrário, avalia as dificuldades dos que

apostam nos orgânicos. “Muitos

agricultores querem entrar nesse

sistema, mas ainda se deparam com

descaminhos na assistência técnica ou

em como colocar o produto no

mercado. Em relação ao consumidor,

muitas pessoas procuram, mas os

mercados convencionais ainda estão

fechados, principalmente as grandes

SERVIÇO

Mais informações na Sede da

Associação dos Produtores

Orgânicos da Ibiapaba (Apoi),

pelo telefone (88) 3626.2498.

Falar com João ou Diana.

“Social, econômico e ambiental,

esse tripé precisa ficar

equilibrado. Aqui a gente não

queima nada, respeitamos os

mananciais, a saúde do produtor é

assegurada, porque o que

queremos é um trabalho viável,

com sustentabilidade, que não

seja só marketing. Só assim o

produtor sempre terá renda e não

dependerá somente da chuva”.

João Costa Gomes

São Benedito, Chapada da Ibiapaba

Território Rural da SDA

Técnico em Agropecuária e Produtor da

Associação dos Produtores Orgânicos da

Ibiapaba (Apoi)

Nossa Terra - Ceará 33

redes, que até vendem, mas colocam

preços elevados, que afastam o

consumidor. Temos produção o ano

todo, mas, para colocar no mercado,

muitas vezes há restrição de quantida-

de”, diz Hermínio Moreira.

“E num vai me perguntar por que

produto orgânico é caro?” Se adianta,

bem humorado, seu João. “Pois lhe

digo que não é caro. O problema é que

ainda não tem loja especializada em

produtos orgânicos, para ser vendido a

granel. Daí tem que ir assim, em

bandejas, e isso agrega valor. Mas tanto

produtor, quanto consumidor tem

consciência que estão preservando

mananciais, lençol freático e economi-

zando com remédio”, diz o técnico.

Hermínio Moreira lembra que o

grande desafio é fazer com que a

população em geral consuma esses

produtos, e não somente as classes A e

B. “É importante que esses produtos

entrem na merenda escolar. Só assim

as crianças terão contato desde cedo

com a questão de produtos mais

limpos. Temos estimulado a venda

local, dentro da comunidade, para que

o excedente seja vendido para outras

redes de comercialização, chamado

“mercado solidário”.

Para encerrar, o técnico João Costa

Gomes dá uma dica preciosa. “Produ-

ção orgânica é equilíbrio de solo. É

igualzinho na família, se tem desequilí-

brio em casa, dá doença, depressão. Se

está bem equilibrada, principalmente na

questão nutricional, o resultado é

positivo, fica tudosadio”.

Page 34: Revista Nossa Terra - SDA

A sustentabilidade das terras de seu Antônio Simeão e dona Gracinha, localizadas no Sítio Baixa do

Cedro, em Carnaubal, região da Serra da Ibiapaba, é de tirar o chapéu. Agricultor experiente e forte,

o patriarca de 11 filhos, cultiva quase tudo que necessita para viver. Como todo bom sertanejo, a sala

de visita é a cozinha, primeiro vão da casa, com fogão à lenha aceso, esquentando a água do café

plantado lá mesmo e moído na hora. Na prateleira, feijão, arroz, frutas, ovos... E, lá fora, além das

galinhas caipiras presas, aguardando comprador que vem da cidade, pilhas e pilhas de composto

orgânico, feito do bagaço da cana-de-açúcar, palha, cinza e esterco animal, permutado ou vendido a

outros membros da Associação dos Produtores Orgânicos da Ibiapaba (APOI), para ser utilizado em

adubação. Aliás, outra pérola de seu Simeão é a cachaça de alambique produzida de forma artesanal.

Com a matéria-prima cultivada sem aditivos químicos, o processo inicia com a moagem da cana, que

vai para dornas de fermentação, onde é colocado sobre o alambique e, depois de aquecido, destilado.

“A parte de fermentação, inclusive, sem nenhum químico, tudo natural”, enfatiza Zé Maria, um dos

filhos do casal.

34 Nossa Terra - Ceará

Antonio Simeão e Dona Gracinha, do Sítio Baixa do Cedro, em Carnaubal

Page 35: Revista Nossa Terra - SDA

Ensaio

Page 36: Revista Nossa Terra - SDA

00 nossa terra36 Ceará - Nossa Terra

Programa de Peixamento

Se cai na rede é peixe

“Esse programa é muito importante para o Ceará e vem sendo muito bem

recebido pela população. As pessoas comemoram quando veem nosso

caminhão carregado de alevinos”, celebra Max Dantas, coordenador do

Desenvolvimento da Pesca, da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA),

se referindo ao Programa de Peixamento de açudes, lançado em 2008, pelo

Governo do Estado do Ceará, com excepcionais resultados e números grandes

para mostrar.

Page 37: Revista Nossa Terra - SDA

Só ano passado, foram beneficiadas

31.475 famílias de 124 municípios,

com a distribuição de 6.200.000

alevinos em 1.259 açudes. Essa

distribuição foi gratuita e teve como

meta o repovoamento de reservatórios

públicos, comunitários e de áreas de

assentamentos, todos devidamente

cadastrados. O primeiro município a

receber os alevinos foi Guaiúba, onde

o programa foi lançado, em janeiro de

2008, Na ocasião, foram depositados

10 mil alevinos no açude de Itacima.

Conduzida pela Coordenadoria do

Desenvolvimento da Pesca da SDA, a

primeira etapa do programa começou

em fevereiro e terminou em abril de

2008, atingindo 212 açudes e 4.137

famílias, num total de 33 municípios.

Em julho, teve início a segunda etapa,

que se estendeu até dezembro, com a

distribuição de alevinos do Governo

do Estado e do Departamento

Nacional de Obras Contra as Secas

(Dnocs). “Foi um ano muito

auspicioso para nós. Todos os

objetivos foram atingidos e quebramos

o recorde de distribuição de alevinos.

Agora é continuar trabalhando”, diz

Max Dantas.

O Programa de Peixamento vem

repondo os estoques pesqueiros de

reservatórios públicos, aumentando a

p r o d u ç ã o d e p e s c a d o e

proporcionando mais oportunidades

de trabalho e renda para as

comunidades cearenses situadas nas

regiões ribeirinhas, além de ser uma

fonte de segurança alimentar para as

famílias.

Esse ano o programa foi lançado em

Icó e as metas continuam grandes: 5

milhões de alevinos serão distribuídos

em 1.072 reservatórios, beneficiando

26.800 famílias de baixa renda. “A

gente espera aumentar a produção em

mil toneladas de pescado”, calcula

Max, acrescentando que os açudes

foram cadastrados pela Empresa de

Assistência Técnica e Extensão do

Ceará (Ematerce) e pela Companhia

de Gestão dos Recursos Hídricos

(Cogerh).

Ano passado a SDA investiu mais de

R$ 300 mil no projeto que, de fato, está

ampliando a oferta de alimentos, além

de possibilitar o aproveitamento do

potencial produtivo das águas

represadas. As comunidades rurais de

baixo poder aquisitivo, localizadas nas

proximidades dos reservatórios

cada s t r ados , s ão a s g r andes

beneficiadas.

O peixamento contempla todos os

municípios cearenses que atendam as

recomendações técnicas para a

execução da atividade. As espécies

utilizadas são as que já estão presentes

nos reservatórios do Estado, adaptados

às nossas condições ambientais, como

é o caso da Tilápia do Nilo, Carpa

C o m u m , C u r i m a t ã C o m u m ,

Tambaqui e Pescado do Piauí.

As localidades beneficiadas foram

definidas primeiramente a partir de

locais com menor Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH). A

Ematece, as secretarias de agricultura

municipais e as entidades parceiras

ajudam na distribuição dos alevinos.

Todas as famílias beneficiadas

recebem instruções de procedimentos

técnicos, como o tipo de rede a ser

utilizada e o tamanho ideal para o peixe

ser pescado, de forma a evitar a pesca

predatória. Após cinco meses da

implantação, já dá para avaliar o

impacto e as mudanças ocorridas, pois

este é o tempo necessário para o

crescimento dos alevinos.

Nossa Terra - Ceará 37

Page 38: Revista Nossa Terra - SDA

Programa Leite Fome Zero

O leite que transforma vidas

O Programa Leite Fome Zero, parceria do Governo do Estado do Ceará com

o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) distribui,

diariamente, 54 mil litros de leite para crianças de até seis anos e gestantes

em situação de insegurança alimentar, em 146 municípios cearenses,

beneficiando cerca de 60 mil famílias.

38 Nossa Terra - Ceará

Page 39: Revista Nossa Terra - SDA

Além de contribuir para o combate à

fome nos municípios cearenses com

menores índices de desenvolvimento,

o Programa Leite Fome Zero fortalece

a agricultura familiar do Estado do

Ceará, pois garante a compra do leite

de cerca de 1.800 produtores.

“O programa é principalmente voltado

para o produtor. Claro que ele

beneficia crianças, idosos e gestantes.

Isso é muito importante, mas a nossa

meta maior é o homem do campo, o

pequeno produtor pronafiano de até

30 litros de leite por dia”, enfatiza

Augusto Júnior, coordenador de

P e c u á r i a , d a S e c r e t a r i a d e

Desenvolvimento Agrário do Estado

(SDA).

A distribuição do leite garante o

escoamento do produto, movimentan-

do a economia local. Para melhorar a

qualidade do rebanho e aumentar a

produção, a SDA orienta sobre a

alimentação do gado. “Estamos

distribuindo sorgo forrageiro e

leguminosas para o rebanho. Também

estamos entrando com a palma

forrageira, um alimento resistente ao

semiárido e de alto valor energético”,

explica o engenheiro.

Além da alimentação, cuidados

sanitários. “Garantimos vacinação

contra febre aftosa, e estamos contro-

lando a tuberculose e a brucelose no

rebanho”. Kits de inseminação e boas

práticas de ordenha são difundidos

entre os produtores e, até agora, o

programa injetou, no Ceará, recursos

da ordem de R$ 45 milhões, sendo

que, 20% deste valor é contrapartida

do Governo do Estado.

TANQUES DE RESFRIAMENTO

Como todo leite precisa ser resfriado

antes de passar pelo processo de

industrialização, os produtores estão

também recebendo tanques de

resfriamento. “A meta é distribuir 140

tanques, cada um deles beneficiando

de 20 a 30 produtores. Já instalamos

63 tanques”, contabiliza o coordena-

dor de Pecuária da SDA.

USINAS DE

BENEFICIAMENTO

No início do programa, todo o

trabalho era feito em parceria com as

usinas de beneficiamento de leite. A

produção era repassada para essas

usinas, que realizavam a

pasteurização do leite de vaca tipo C.

Depois desse processo, o leite era

distribuído para a comunidade.

Agora esse processo está mudando.

No Assentamento da Comunidade

Malhada, a 13 km do Crato, já foi

inaugurada a miniusina de

pasteurização do leite, que começa a

dar mais autonomia aos 22 membros

da Associação dos Pequenos

Produtores de Leite do Sítio

Malhada.

Com a miniusina, o produtor passa a

ser o industrial do leite, não mais

dependendo das grandes usinas de

pasteurização. Isso agrega valor ao

produto gerando mais renda.

O próximo município beneficiado será

Mauriti.

Nossa Terra - Ceará 39

Page 40: Revista Nossa Terra - SDA
Page 41: Revista Nossa Terra - SDA

Ensaio

Page 42: Revista Nossa Terra - SDA

Pla

no S

afr

a

Plano Safra 2009:Mais recursos para a Agricultura Familiar.

O pacote governamental reforça programas estratégicos, como a distribuição

de sementes e mudas, assistência técnica e crédito rural para o pequeno

produtor cearense.

Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, o Governador do Ceará, Cid Gomes e

Secretário do Desenvolvimento Agrário, Camilo Santana.

42 Nossa Terra - Ceará

O lançamento do Plano Safra 2009,

ocorrido no início deste ano, foi

marcado pelo otimismo de boa

colheita demonstrado nos discursos

afinados entre o ministro do

Desenvolvimento Agrário, Guilherme

Cassel , o governador do Estado do

Ceará, Cid Ferreira Gomes, e o

secretário do Desenvolvimento

Agrário, Camilo Santana.

A ampliação dos investimentos

federais e estaduais no Plano Safra visa

impulsionar o processo competitivo da

produção agrícola cearense. Um dos

destaques do pacote de ações é a

política de correção de solos que está

sendo implantada pela Secretaria do

Desenvolvimento Agrário (SDA).

“Queremos disseminar novas

tecnologias que respeitem o meio

ambiente e que tragam bons resultados

para a nossa agricultura”, explica

Camilo Santana.

PARA O CEARÁ PRODUZIR MAIS

Distribuição de sementes de alta

qualidade, assistência técnica gratuita,

crédito para a compra de terra e

equipamentos, garantia de comerciali-

zação e outras iniciativas estratégicas

para o homem do campo: são as

fronteiras de atuação do Plano Safra

2009, um guarda-chuva institucional

que agrega ações, programas e projetos

de apoio ao pequeno produtor.

“A agricultura não espera por ninguém

e sua principal característica é a

oportunidade. É preciso preparar o

solo na hora certa, distribuir as

Page 43: Revista Nossa Terra - SDA

"O aumento dos recursos no Plano

Safra da Agricultura Familiar é

proporcional à importância que o

setor vem tendo no processo de

desenvolvimento do Ceará. Os

governos federal e estadual têm

trabalhado juntos na construção de

políticas públicas com geração de

mais trabalho, mais renda e mais

alimentos para todos os cearenses",

avalia o ministro Guilherme Cassel.

Os maiores produtores de alimentos

no Brasil são os agricultores

familiares e assentados de Reforma

Agrária. Daí a importância que eles

assumem na preservação do meio

ambiente. O secretário Camilo

Santana observa: “É importante que

o agricultor se preocupe com o

cuidado com a terra. O programa

estimula a correção do solo com uso

de calcário, além de práticas de

conservação como captação “in

sito”. A prefeitura de General

Práticas Corretas

Sampaio, por exemplo, ganhou o

prêmio “Selo Verde” por ter

incentivado essa prática.

A parceria com o Banco do Nordeste

(BNB) tem sido importante para

impulsionar programas como o

P r o g r a m a N a c i o n a l d e

Fortalecimento da Agricultura

Familiar (Pronaf) que, este ano, está

expandindo o financiamento e

simplificando as normas para

obtenção de crédito rural. Roberto

Smith, presidente do Banco do

Nordeste, comenta: “O Pronaf é uma

iniciativa que tem no BNB um grande

parceiro. É um programa com

desdobramentos e avanços a cada

ano”. Dentre as perspectivas para

2009 destaca-se a implantação de

metodologias de crédito, permitindo

que o Pronaf, dentro do BNB, tenha

tratamento preferencial em termos

de tecnologia da informação e mais

agilidade no atendimento.

Nossa Terra - Ceará 43

sementes antes das chuvas, obter

crédito no momento ideal e comercia-

lizar no período propício. O Plano

Safra envolve todas essas questões e é

inédito no Ceará, porque acompanha

o processo de produção do início ao

fim, ou seja, do preparo do solo à

comercialização do produto” declara

José Maria Pimenta, presidente da

Ematerce.

Concordando com Pimenta, Francisco

Sombra, da Delegacia Regional do

Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA), acrescenta que o

Plano Safra funciona como um reforço

à política do Governo Federal,

beneficiando 4,1 milhões de estabele-

cimentos da agricultura familiar,

responsáveis pela produção de 70%

dos alimentos que chegam à mesa dos

brasileiros.

“O MDA trabalha fundamentalmente

com quatro eixos: combate à pobreza,

segurança alimentar e nutricional,

sistema de produção ecológico e

geração de renda. O Plano Safra vem

ao encontro desses itens e traz

novidades, como o aumento do

volume de recursos para assistência

técnica”.

Este ano o montante de recursos para o

Ceará ultrapassa os R$ 780 milhões de

reais, beneficiando mais de 300 mil

famílias de agricultores familiares,

espalhadas em todo o Estado. A

parceria entre Governo do Ceará e

Governo Federal é mais uma vez

fundamental para o bom andamento

da iniciativa, que assegura verbas para o

Programa de Distr ibuição de

Sementes e Mudas, Biodiesel do

Ceará, Garantia Safra e Crédito Rural

Mais Alimentos, dentre outras frentes.

O Plano Safra contempla ainda

projetos de piscicultura. Os produtores

de peixes e algas do Litoral Oeste e

Zona Norte do Estado, por exemplo,

receberam recursos para a construção

de barracas de produção e processa-

mento de algas marinhas, bóias

diferenciadas para zoneamento da área

de mar, barragens de alvenaria e

cisternas, dentre outros equipamentos.

MAIS MÁQUINAS E MAIS

ALIMENTOS

Para modernizar a infraestrutura

produtiva das unidades familiares, o

Governo Federal criou, também, o

Programa Mais Alimentos que, entre

julho de 2008 e maio deste ano, já havia

financiado 11 mil tratores. Para ter

ideia do sucesso do programa, em

2002, os tratores de até 78 cavalos

(como os financiados pelo Mais

Alimentos) representavam 37% do

total produzido no Brasil. Hoje,

chegam a 75%. Tem mais: de todos os

tratores produzidos no país de janeiro

a maio de 2009, 61% foram comerciali-

zados por meio do Mais Alimentos.

Ou seja, a cada cinco tratores, três são

vendidos com apoio dessa linha de

crédito. Trata-se, pois, de uma

oportuna parceria entre governo,

indústria e movimentos sociais.

Page 44: Revista Nossa Terra - SDA

Pla

no S

afr

a

Para o Programa de Distribuição

de Sementes e Mudas, o Plano

Safra reservou mais de R$ 22

milhões, viabilizando a

distribuição de 5 milhões de

quilos de sementes. “O Estado

está aumentando o número de

beneficiados e ampliando o valor

dos investimentos. As sementes

foram na hora certa, chegando

antes das chuvas, para que o

agricultor plante na hora certa”,

pontua o secretário Camilo

Santana. O programa cearense é

referência em todo o Brasil.

Sementes Para Todos

Assistência TécnicaOs recursos para Assistência

Técnica e Extensão Rural (Ater)

foram elevados de R$ 168

milhões para R$ 397 milhões em

todo o País. No Ceará, o Governo

Federal liberou para a Empresa

de Assistência Técnica e Extensão

do Ceará (Ematerce), R$ 15,5

milhões para o fortalecimento da

extensão rural local.

44 Nossa Terra - Ceará

Em 2009, o Plano Safra destinou R$ 550 milhões para o Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura (Pronaf). Este montante é 50% maior que o da

safra anterior (2007/2008), quando foram disponibilizados R$ 350 milhões ao

Estado. Os atuais recursos do Pronaf contemplarão 167 mil pequenos

produtores.

A principal novidade nesta safra é o Crédito Mais Alimentos, que financia a

modernização da infraestrutura produtiva da propriedade familiar. A linha de

crédito atende projetos associados à produção de olerícolas, frutas, arroz, feijão,

milho, mandioca, trigo, leite e ovinocaprinocultura. O limite de financiamento

é de R$ 100 mil por agricultor familiar, com prazo de pagamento de até 10 anos,

carência de até três anos e juros de 2% ao ano.

Além de simplificar as normas para obtenção de crédito rural do Pronaf, o

Plano Safra reduziu as taxas de juros. Para os financiamentos de custeio, elas

agora variam entre 1,5% e 5,5% ao ano, contra 3% e 5,5% na safra 2007/08. Nas

operações de investimento, as taxas foram reduzidas para 1% a 5% ao ano (antes

variavam de 2% a 5% ao ano).

Garantia SafraO programa Garantia Safra

funciona como seguro de

produção para o agricultor, em

caso de perda comprovada de

mais da metade da colheita,

devido à estiagem ou ao excesso

de chuvas. Na safra 2008/2009,

um total de 260.970 agricultores

familiares cearenses aderiram ao

programa. O Ceará é o Estado

com o maior número de

municípios (165) que têm

aderido, por isso o Ministério do

Desenvolvimento Agrário

disponibilizou 300 mil cotas para

os produtores locais.

Normas Simplificadas No Pronaf

Veículos novos, computadores, motos,

tratores e implementos agrícolas, como

sulcadores de tração motora, pulverizadores

de tração animal e trilhadeiras de mamona

foram entregues durante o lançamento do

Plano Safra 2009

Page 45: Revista Nossa Terra - SDA

Nossa Terra - Ceará 45

A Capital se rendeu aos encantos

do interior. A II Feira Cearense de

Agricultura Familiar (Feceaf), que

aconteceu de 2 a 5 de julho de

2009, trouxe para Capital cerca de

mil agricultores e artesãos, de 500

empreendimentos de todas as

regiões do Ceará, representando

mais de 100 municípios ligados à

agricultura familiar no Interior.

Cerca de 100 mil visitantes passa-

ram pelo Parque de Exposições

Governador César Cals, nos quatro

dias do evento e saíram de lá com as

mãos repletas de mercadorias

tradicionais, como as tapiocas e

beijus feitos na casa de farinha, e

exóticas, como o suco e sorvete de

macaúba trazidos do Cariri.

Quem esteve no Parque de

Exposições viu, também, uma

bodega iluminada à lamparina,

com sanfoneiro, triângulo e

zabumba tocando na porta e

representação do Horto do Padre

Cícero, com banquinha vendendo

produtos religiosos, além de bela

pintura em grafite reproduzindo as

casas da subida da ladeira.

No dia da abertura da Feceaf,

aconteceu o 1º Encontro Estadual

de Prefeitos para Promoção do

Desevolv imento Terr i tor ia l

Sustentável do Ceará, que contou

com a presença do Secretário do

Desenvolvimento Territorial, do

Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA), Humberto

Oliveira, do Secretário Nacional da

Agricultura Familiar do MDA,

Adoniran Sanches Peraci e outras

autoridades.

De acordo com o Secretário do

Desenvolvimento Agrário, Camilo

Santana, é preciso criar um

ambiente para interlocução entre

gestores públicos e sociedade. “É

muito importante ter trazido para a

Feira o debate em torno do

Programa Território da Cidadania.

Tivemos aqui os principais atores

que envolvem esse processo,

prefeitos e agricultores familiares,

que formam a base da economia

dos territórios rurais. São muitas

ações e todo esforço em comum

está sendo feito para melhorar a

vida do homem do campo”,

ressaltou Santana.

Durante a II Feira Cearense da

Agricultura Familiar, os visitantes

puderam aproveitar, ainda, o

pesque-e-pague em miniaçude

povoados com tilápias que eram

tratadas na hora, o abate de galinha

caipira, a casa do queijo, o beneficia-

mento de castanha e outros.

Feceaf:Mais de 100 mil pessoas em quatro dias de evento

A Feira Cearense de Agricultura Familiar reuniu cerca de mil agricultores eartesãos, de 500 empreendimentos de todas as regiões do Ceará

Agricultura Familiar

Page 46: Revista Nossa Terra - SDA
Page 47: Revista Nossa Terra - SDA

Ensaio

Page 48: Revista Nossa Terra - SDA

Territórios da Cidadania

Page 49: Revista Nossa Terra - SDA

Territórios para o

desenvolvimento

Cidadania, melhoria de renda e qualidade de vida para a população, com foco

nos habitantes do meio rural. Lançado pelo Governo Federal, o Programa

Territórios da Cidadania combina diferentes ações para reduzir as

desigualdades e promove uma maior integração da União, Estados e

Municípios, na busca por soluções conjuntas para o desenvolvimento do país.

O programa quebra a lógica setorial de governos, prioriza o ambiente rural e

combate a concentração de renda nos grandes pólos, firmando acordos de

cooperação técnica para a execução de ações solidárias em todo o Brasil.

Saúde, saneamento, acesso à água, educação, cultura, infraestrutura, apoio à

gestão territorial e ações fundiárias são suas áreas de abrangência.

No Ceará, o Programa Territórios da Cidadania foi lançado oficialmente em

fevereiro de 2008, somando recursos de R$ 1.686.706.372. Seis territórios já

estão constituídos: Cariri, Inhamuns/Crateús, Sertão Central, Sertão de

Canindé, Sobral e Vale do Curu/Aracatiaçu. “Esses territórios já estão com os

colegiados estruturados, após oficinas que aconteceram em maio”, explica

Bartolomeu Cavalcante, coordenador do Desenvolvimento Territorial e

Combate à Pobreza Rural da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA).

A escolha das regiões obedeceu critérios como menor Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) e baixo dinamismo econômico. “Com a

implantação do programa, o Ceará ganha uma poderosa arma de combate à

desigualdade nas três esferas de poder. São ministérios, secretarias estaduais e

os vários representantes dos municípios, todos decidindo em conjunto,

buscando novos investimentos e aproveitando melhor os recursos disponíveis.

As ações têm o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e

seguem a mesma metodologia que está sendo implantada nos territórios de

todo o Brasil. Com isso, o Ceará avança na estratégia de gestão social e aposta no

desenvolvimento sustentável”, acredita Bartolomeu Cavalcante.

Programa Territórios da Cidadania reúne

ações de desenvolvimento regional e de

garantias de direitos sociais, combinando

políticas públicas para promover o

crescimento sustentável.

Page 50: Revista Nossa Terra - SDA

Territórios da

Cidadania no Ceará

NÚMEROS PARA AVANÇAR

Sessenta territórios rurais em todo

o Brasil foram contemplados em

2008 pelo Programa Territórios da

Cidadania. A meta é duplicar este

número em 2009, com ações de 22

ministérios, que aportam recursos

de R$ 23,5 bilhões, sob a coordena-

ção da Casa Civil da Presidência da

República. O Nordeste recebe o

maior volume de recursos entre as

regiões, sendo que, no Ceará, a fatia

mais gorda de investimentos vai

para o desenvolvimento social.

Diferente de outros projetos, o

Territórios da Cidadania não se

limita a enfrentar problemas

específicos com ações dirigidas. Ele

combina diferentes ações para

reduzir as desigualdades sociais e

promover um desenvolvimento

harmonioso e sus ten táve l .

Humberto Oliveira, secretário do

Desenvolvimento Territorial do

Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA), afirma que

“apesar de recente, o programa

vem tendo uma atuação muito

positiva”. Ele explica que, em 2009,

a participação dos colegiados e a

metodologia do trabalho em grupo

renderam bons frutos. “Quero

destacar o envolvimento dos

Comitês de Articulação Estaduais,

inclusive o do Ceará, que é um dos

melhores em termos de funciona-

mento regular e discussões

temáticas. Nesses casos, a adesão

do Governo do Estado faz toda a

diferença”, conclui o secretário.

C O M I T Ê E S T A D U A L :

DECIDINDO EM CONJUNTO

No Ceará, o Comitê Estadual de

A r t i c u l a ç ã o d o P r o g r a m a

Territórios da Cidadania foi

formalizado em abril de 2008, com

a missão de definir as ações e os

investimentos em benefício das

políticas públicas para o interior do

Estado. O acordo foi assinado pelo

governador Cid Gomes e pelo

Secretário de Desenvolvimento

Territorial do MDA, Humberto

Oliveira.

O Comitê de Articulação do

programa é formado por represen-

tantes da União, do Estado e dos

municípios, cuja tarefa inicial foi

mapear as iniciativas e vocações de

cada território, para que fosse

possível definir os investimentos

prioritários das regiões.

Cabe aos Comitês Estaduais

articular as políticas públicas a

serem implementadas e fiscalizar a

execução das ações do Territórios

da Cidadania em todo o Brasil. A

linha norteadora das ações do

Comitê segue um regime de

colaboração mútua na organização

das diversas políticas públicas que

estão sendo implementadas.

Terr

itóri

os d

a C

idad

ania

50 Nossa Terra - Ceará

“O envolvimento dos Comitês de Articulação Estaduais,

inclusive o do Ceará, que é um dos melhores em termos de

funcionamento regular e discussões temáticas, está

diretamente relacionado à adesão do Governo do Estado”

Secretário de Desenvolvimento Territorial do MDA,

Humberto Oliveira

Page 51: Revista Nossa Terra - SDA

No assentamento Lagoa do Mato,

distrito de Cipó dos Anjos, a 50 km da

sede de Quixadá, os agricultores

descobriram uma doce alternativa de

renda: o mel de abelha.

As colmeias ficam no campo e, na

época da colheita, os apicultores

levam o que colheram para a Casa

do Me l , onde t r aba lham na

produção e embalagem do produ-

to. Inaugurada em 2008, a Casa do

Mel de Lagoa do Mato foi equipada

c o m r e c u r s o s d o P r o g r a m a

Territórios da Cidadania.

José Carlos, técnico da Secretaria

d e A g r i c u l t u r a d e Q u i x a d á ,

explica: “Todos os apicultores

t r aba lham com a agr i cu l tu ra

f ami l i a r . Cada um tem uma

d e t e r m i n a d a q u a n t i d a d e d e

colmeias, e cada produtor traz o

seu mel para beneficiar aqui. A

Casa do Mel é para atender toda

região de Cipó dos Anjos”. Uma

das metas atuais é implementar a

embalagem do mel em sachê.

O trabalho local é aproveitado ao

m á x i m o . A A s s o c i a ç ã o d o s

Apicultores de Quixadá fez um projeto

para vender o produto para a merenda

escolar. “O mel deles, por enquanto,

está indo por um preço melhor”,

comemora José Carlos, lembrando

que o projeto teve o apoio do Governo

Nossa Terra - Ceará 51

Casa do Mel é fonte de rendaQuixadá

Produtores do Assentamento Lagoa do Mato, em Quixadá, na Casa do Mel

do Estado do Ceará, da Prefeitura de

Quixadá e da Fundação Banco do

Brasil, além do Programa Territórios

da Cidadania.

A produção de mel de abelha em

Quixadá já é uma alternativa para quem

mora na zona rural do município. Em

2007, os agricultores foram beneficia-

dos com kits de apicultura. No ano

seguinte os investimentos foram

maiores, com a entrega de duas Casa do

Mel. Além de Cipó dos Anjos, foi

beneficiado o distrito de Riacho Verde.

Inicialmente toda a produção está

sendo destinada para escolas públicas

municipais, o que contribui com uma

merenda escolar mais saudável.

Page 52: Revista Nossa Terra - SDA

Terr

itóri

os d

a C

idad

ania

52 Nossa Terra - Ceará

POUSADA RURAL EM SÃO

JOÃO DOS QUEIROZ

No assentamento Boa Vista, distrito

de São João dos Queiroz, a 20 km de

Quixadá, região do Sertão Central,

outro projeto importante conta com

recursos do Territórios da Cidadania.

Em maio de 2008 foi assinada a ordem

de serviço para a reforma da casa-sede

do assentamento. O local dará espaço

a um novo hotel-fazenda, na estrada

que liga à BR 116. Além das belezas da

paisagem, os turistas e hóspedes

desfrutarão de um amplo espaço para

esportes, passeios a cavalo, trilhas,

canoagem e pescaria.

A própria comunidade vai gerenciar o

empreendimento. Os jovens serão

capacitados para recepcionar os

hóspedes, como guias turísticos. As

famílias vão produzir alimentos típicos

da região, como galinha caipira, queijo

fresco, pamonha e leite. Com o apoio

do Sebrae, já aconteceram vários

treinamentos. O município entra com

10%, como é obrigatório no Programa

Territórios da Cidadania. O Governo

do Estado quer que a administração

local fique a cargo das famílias.

Todos os que trabalham nas obras

(eletricistas, bombeiros-hidráulicos,

pedreiros, serventes e carpinteiros) são

da própria comunidade. “Já existia

uma mão de obra qualificada aqui, e ao

ser utilizada, ela agrega valor ao projeto

e traz emprego para as famílias,

melhorando a renda de todos”,

comenta o técnico José Carlos. As

famílias do assentamento Boa Vista

vivem da agricultura familiar, e

trabalham principalmente com a

pecuária e a bovinocultura de leite.

Agora começam também a se ocupar

da caprinocultura, com apoio do

Projeto Dom Helder Câmara e o

recebimento de 200 cabras de leite. A

Embrapa está trabalhando com o

parque de alimentação, melhoramento

genético e organização das famílias.

São 28 famílias, com renda média de

um salário mínimo. Todos serão

envolvidos direta e indiretamente no

funcionamento da pousada, cada um

com o que puder oferecer. “O que vai

melhorar para o morador é o seguinte:

se ele tem uma charrete ou uma

carroça, vai poder alugar para o turista.

Se o turista quiser andar em um

animal, o morador aluga o animal.

Também tem o leite, a galinha para

vender, o ovo, tem a horta que está

sendo implantada, tem o coco. Então,

o que a gente espera é que, pelo menos,

70% do que for utilizado aqui, saia de

dentro do assentamento”.

Page 53: Revista Nossa Terra - SDA

Marcelo Sousa Pinheiro é diretor-

presidente do Instituto Agropolos do

Ceará, Organização Social de

destaque no cenário político-

administrativo, nacional e internacio-

nal, principalmente, nas áreas de

Fruticultura Irrigada e Floricultura

do Ceará. Em conversa com a equipe

da Revista, o administrador de

empresas , pós -graduado em

Controladoria e Cooperativismo,

falou dos novos desafios de execução

assumidos para 2009, frente ao

Programa de Desenvolvimento

Sustentável de Territórios Rurais,

abordando novos planos para o

P r o g r a m a d o B i o d i e s e l ,

Desenvolvimento Rural, Agricultura

Familiar, Pequenos Produtores e

outros.

Marcelo Pinheiro explica que, quando

o Instituto Agropolos foi criado, em

2002, sua missão era incentivar algumas

atividades produtivas do Ceará,

principalmente fruticultura irrigada e

floricultura, em que nos tornamos

referência nacional e internacional.

Mas, com o passar do tempo, o

Instituto foi agregando serviços,

fazendo contratos de gestão com outras

secretarias do Estado e, a partir de

2007, com o advento da Secretaria de

Desenvolvimento Agrário (SDA),

passou a incorporar novas temáticas.

“Nesse governo, a Secretaria do

Desenvolvimento Agrário tem olhado

m u i t o p a r a a q u e s t ã o d o

Desenvolvimento Rural, priorizando a

agricultura familiar, com foco no

desenvolvimento sustentável”, pontua

o diretor-presidente do Instituto

Agropolos, acrescentando que, a

partir desse ano, “passamos a

enxergar o Estado dividido em 13

territórios rurais, sete acompanha-

dos pelo MDA e seis pela SDA,

todos com atuação do Instituto.

Somos executores das duas

organizações”.

Instituto Agropolos

Ceará - nossa terra 00

Mais informações:

Instituto Agropolos do Ceará,

Rua Barão de Aratanha, 1450,

José Bonifácio, Cep. 60.050-

071, em Fortaleza (CE).

Fone: (85) 3101.1670,

Fax (85) 3101.1679,

www.institutoagropolos.org.br,

[email protected].

Page 54: Revista Nossa Terra - SDA
Page 55: Revista Nossa Terra - SDA

Ceará - nossa terra 00Nossa Terra - Ceará 55

GENTE DA TERRA

Francisco Dalci Gomes Paz e sua

mulher, Helena da Silva Lopes, têm

seis filhos. Eles moram no assentamen-

to Boa vista há nove anos, com água

encanada e energia elétrica, que chegou

através do Projeto São José. Como eles,

todas as 28 famílias do local participam

da associação dos moradores do

assentamento Boa Vista. Eles plantam,

principalmente, milho, feijão e girassol.

Para Francisco, o trabalho na pousada

rural começou, já que ele labuta como

pedreiro na reforma da sede. “Esse

projeto aí é o nosso sonho se realizan-

do. Ele vai gerar renda e emprego para

os jovens que estão terminando os

estudos. Com isso, a gente vai poder

receber os turistas. Temos também um

projeto de horticultura orgânica. Quem

não se empregar na pousada, vai

produzir na horta, vai fornecer a

galinha caipira, o queijo, o doce”,

aposta.

Ao seu lado, a mulher, Helena, recorda

que os tempos já foram duros para eles.

“Quando a gente chegou aqui, não

tinha nada. Agora nós já temos nosso

gadozinho, já diferenciou muito.

Antes, para comprar um litro de leite,

era ruim. Hoje, graças a Deus, a gente

tem que sobra pra fazer o queijo. Eu

tiro 20 litros de leite, antes mal dava

para comprar um”.

Ela explica como a mudança foi

possível: “Antigamente a gente não

sabia o que era trabalhar em parceria

com outras instituições. Hoje, a gente

tem a Secretaria da Agricultura, tem o

apoio dos técnicos do Governo, tem o

Programa Dom Helder...” O assenta-

mento já ganhou uma escola. Helena

sonha: “Vamos levar o queijo que nós

produzimos para lá. Temos planos de

construir uma casinha para fazer o

queijo. A gente já usa a cozinha, mas

queremos um quartinho só pra isso”,

completa Francisco Gomes.

Page 56: Revista Nossa Terra - SDA

Programa de Cisternas

Page 57: Revista Nossa Terra - SDA

Cisternas garantem acesso

à água e facilitam convívio

com o Semiárido

Page 58: Revista Nossa Terra - SDA

Longas caminhadas até o açude mais próximo, doenças provocadas pelo consumo

de água salobra, precárias condições de higiene, extensos períodos na dependência

de carros-pipa. Problemas como esses já não fazem parte da vida do agricultor José

Pinto de Souza, que comemora a construção de uma cisterna no terreno em que

vive, na localidade de Divertido, a 40 quilômetros de Russas: “Água agora é dentro

de casa! É só colocar o balde e trazer!” Morador antigo do local, seu José, de 67

anos, está entre os beneficiados do Programa Cisternas.

A iniciativa integra uma das frentes de convívio com o semiárido e beneficia

famílias de baixa renda que não possuem fonte de água ou meios para armazená-la.

Com a tecnologia simples e eficiente das cisternas de placa, está sendo possível

melhorar a capacidade hídrica, através da captação da água da chuva. Seu José

considera que o projeto chegou em boa hora em Divertido. “Antes não dá nem pra

contar como era a vida aqui. A dificuldade era a maior do mundo. Eu carregava

água lá do assentamento, e antes disso eu pegava no rio. Andava uns 13 km com

jumento. Era muito difícil.”

Construídas em regime de mutirão, com treinamento dirigido e utilização da mão

de obra local, as cisternas garantem água de boa qualidade e em quantidade

suficiente para o período da estiagem, que dura de seis a oito meses por ano. As

famílias aprendem não só a construir o reservatório, mas também a fazer a sua

Programa

desenvolvido pelo

Governo Federal em

parceria com o

Governo do Estado

do Ceará leva

cisternas para

localidades de todo

o interior. É mais

saúde, conforto e

dignidade para a

população rural de

baixa renda.

Pro

gra

ma d

e C

iste

rnas

58 Nossa Terra - Ceará

Page 59: Revista Nossa Terra - SDA

manutenção e a tratar da água. “Eu

ajudei a construir. Cavei os buracos,

botei os trabalhadores para ajudar o

pessoal que veio de fora. Depois

chegou a professora e eu participei das

aulas sobre os cuidados com a água.

Foram três dias. A comunidade estava

toda junta, todo mundo apoiava,

porque nós precisávamos mesmo”,

recorda José Pinto de Souza.

Construídas com areia e cimento, cada

cisterna tem capacidade para 17 mil

litros. Até setembro de 2009, o

Governo do Estado e o Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à

Fome (MDS) pretendem construir

13.450 cisternas no Ceará, em 61

municípios cearenses, que já estão em

andamento. As chuvas desse período

vêm atrapalhando um pouco, mas os

trabalhos continuam. Nossa meta é

construir mais de 100 mil cisternas”,

afirma Mércia Cristina Mangueira

Sales, da célula de planejamento e

coordenação da Coordenadoria de

Programas Especiais, da Secretaria do

Desenvolvimento Agrário (SDA).

U N I Ã O D E E S F O R Ç O S ,

M U L T I P L I C A Ç Ã O D E

BENEFÍCIOS

Em Russas foram construídas 262

1milhão de habitantesbeneficiados com a instalação de 221mil cisternas no Semiárido

cisternas através do programa mantido

pelos governos Estadual e Federal,

além de 500 cisternas pelo Programa

Um Milhão de Cisternas (P1MC),

lançado em julho de 2003 pela

Articulação no Semiárido Brasileiro

(ASA), em parceria com o Governo

Federal. Este programa já beneficiou

cerca de 1 milhão de habitantes, com a

instalação de 221 mil cisternas no

semiárido.

Ambas as iniciativas vão além da

simples construção de obras de

captação de água da chuva, pois

incluem ações pedagógicas e de

gerenciamento do sistema pelos

beneficiados. O secretário da

Agricultura de Russas, José Cândido

da Silva de Freitas, informa que no

município uma parte dos recursos

chegou ao final de 2006 e a outra parte

em 2007. O município ajuda com o

material necessário e faz todo o

acompanhamento, desde a fase de

mobilização da comunidade até o

período final da construção.

“A diarreia e verminose, causada pelo

consumo da água sem tratamento, são

problemas que desapareceram das

comunidades benef ic iadas . A

população tem agora uma água mais

pura e limpa, o que evita as doenças”,

diz o secretário, lembrando que dentro

desse processo existe uma demanda

ainda maior. “Nós temos comunidades

que estão fazendo levantamento, no

intuito de serem beneficiadas. Existem

famílias que pensavam em ir embora,

mas que hoje não querem mais sair

daqui. Água é vida. E hoje as pessoas

têm uma fonte de vida no quintal de

suas casas. Com isso a gente estimula a

permanência, evitando o êxodo rural

por conta da falta de energia e água.

Hoje, sentimos o prazer dos que

ficam.”

Na avaliação do Presidente da

Federação dos Trabalhadores e

Trabalhadoras na Agricultura do

Estado do Ceará (Fetraece), Moisés

Braz, o Programa Cisterna é um marco

na história do sertão cearense. “Nossa

meta é que, até 2012 todas as casas do

semiárido cearense tenham uma

cisterna.”

E D U C A R P A R A N Ã O

DESPERDIÇAR

Mais do que construir reservatórios, o

objetivo é educar e envolver as famílias

no processo. São elas que executam os

serviços gerais de escavação, aquisição

e fornecimento da areia e da água.

Pedreiros locais são capacitados pelos

Nossa Terra - Ceará 59

Page 60: Revista Nossa Terra - SDA

A cisterna é uma tecnologia popular para a captação de água da chuva e

representa uma solução de acesso a recursos hídricos para a população

rural do semiárido brasileiro. Uma cisterna de 16 mil litros permite que

uma família de cinco pessoas tenha água para beber, cozinhar e escovar os

dentes durante o período de estiagem, que dura de seis a oito meses.

Mais eficiente que o tipo anteriormente utilizado, a cisterna de placa é um

reservatório cilíndrico, coberto e semienterrado, que é construído perto da

residência da família, a fim de captar a água da chuva por meio de calhas

instaladas no telhado.

Os benefícios são muitos, a começar pela queda vertical dos casos de

verminose. A cisterna diminui a dependência aos caminhões-pipa e

promove a educação em questões de saúde, higiene, ecologia e cidadania.

Também ajuda na geração de renda, já que torna o grupo beneficiado

autossustentado, e favorece a fixação do homem na terra.

O Que é Cisterna de Placa

técnicos do programa, com remunera-

ção assegurada.

Depois de construída a cisterna, a

família aprende a zelar pelo patrimô-

nio.

“Para nós essa questão é importantíssi-

ma. Não se trata apenas de construir,

mas de saber usar. A cisterna é um

equipamento fundamenta l na

convivência com o semiárido, e o

diálogo com as famílias faz parte dos

benefícios do programa, que vem

provando que é possível haver uma

parceria bem sucedida entre a

sociedade civil e o poder público”,

considera Cristina Nascimento, da

Articulação no Semiárido Brasileiro.

Na residência de José Pinto de Souza a

cisterna e o telhado da casa são lavados

uma vez por ano, e a tampa do

reservatório é sempre fechada para

evitar a entrada de poeira, folhas e

pequenos animais. Seu José chama a

atenção da mulher, Expedita, quando

ela deixa a porta aberta. “Eu reclamo

na mesmo hora, que é pra água ser

limpa né? Eu tenho muito cuidado”,

garante ele, que chamou um filho que

mora em Russas para ajudá-lo na

limpeza da cisterna.

Ele recorda: “Ah, se você soubesse o

que nós fizemos na primeira chuva!

Esse meu filho veio me ajudar, porque

eu não podia mais subir no telhado pra

limpar. Nós varremos tudo, limpamos

todinho. No verão, o telhado fica

pegando poeira, aparando folhas

dessas árvores, cai tudo em cima dele.

Quando bate a chuva, se não tiver

“Depois que

saiu a cisterna

está uma beleza!”Edimilson Guedes SimõesP

rog

ram

a d

e C

iste

rnas

cuidado, a sujeira se mistura com a

água e fica tudo uma imundície”.

UM NOVO FUTURO

Quando seu José Pinto de Souza

nasceu, em 1941, Russas já era um

centro importante do Vale do

Jaguaribe. “Eu nasci e me criei aqui.

Tenho 13 filhos e 18 netos. Eu criei

minha família com o poder de meus

braços trabalhando. E sempre fui

muito feliz, mesmo com toda dificulda-

de”. Os filhos constituíram suas

próprias famílias e, hoje, seu José mora

com a mulher, Expedita, e a cunhada,

Maria Maura. Eles plantam milho e

feijão, e têm uma pequena criação de

boi, porco, ovelha, cavalo e jumento.

“Aqui a gente vive do que cria”.

Uma das filhas de seu José e dona

Expedita, Eleneide Maria de Souza,

vive na sede do município. Ela lembra

dos tempos difíceis em Divertido: “Eu

mesma sofri muito carregando água de

carroça. Passava o dia na roça limpan-

do mato com enxada, apanhando

feijão, fazendo de tudo. Quando dava

três horas da tarde, eu pegava uma

60 Nossa Terra - Ceará

Page 61: Revista Nossa Terra - SDA

O semiárido brasileiro é oficialmente definido pelo Ministério da

Integração Nacional e abrange o norte dos Estados de Minas Gerais e

Espírito Santo; o sertão da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba,

Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, e sudeste do Maranhão.

Estima-se que vivam aproximadamente 8 milhões de pessoas na área rural

dessa região, o que a torna o semiárido mais populoso do mundo.

Sobre o Semiárido

carroça, botava num boi, enchia de

tambor e ia pegar água lá no assenta-

mento Santa Fé. O gado eu rebocava

paraoaçudemaispertoque tivesse”.

Eleneide porém, faz questão de

ressaltar: “Eu adoro esse lugar, só não

moro mais aqui por causa do meu

emprego, mas a vida aqui, em vista do

que era antes, está uma maravilha!”.

Dona Expedita Jacinta de Souza, a mãe,

finaliza: “Às vezes, de noite, conversan-

do na calçada, a gente fica pensando no

tanto que já sofreu por aqui. Agora,

depois de velhos, temos tudo nas mãos.

Eu digo é graças a Deus, porque não

podemos fazer o que fazíamos antes.

Agoraestamosaproveitando”.

COM MAIS CONFORTO

Não muito longe de dona Expedita e

sua família, vivem Edimilson Guedes

Simões e Maria Fernandes de

Amorim. O casal tem dois filhos

pequenos. Para a família, o ano de

2008 inaugurou uma fase de mais

conforto e saúde em casa, pois eles

também estão entre os beneficiados do

Programa Cisternas. “O projeto

chegou aqui em outubro de 2007. Veio

uma equipe do governo e nós ajuda-

mos na mão de obra. Antes eu andava

muito para pegar água no açude.

Depois que saiu a cisterna está uma

beleza! A água só não sangrou porque a

casa é pequena, mas está quase cheia”,

pontua Edimilson.

Maria, sua mulher, também elogia a

iniciativa: “Para mim foi muito bom!

Antes era complicado, agora faço tudo

aqui: cuido da casa, estou perto dos

meninos, tudo melhorou”. Foi ela

quem participou do treinamento para

aprender a cuidar da água. “Até hoje eu

tenho guardado o catálogo que a

professora distribuiu. Aqui de casa, fui eu

quefizocurso.Foramtrêsdiasdeaula”.

A vida prossegue mansa em Divertido,

mas agora, a exemplo de muitas outras

localidades do semiárido, existe água

de boa qualidade ao alcance da mão.

Nossa Terra - Ceará 61

Page 62: Revista Nossa Terra - SDA