revista mpespecial - edição nº 5

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Revista Institucional do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul, denominada Revista MPEspecial - edição nº 5, com o tema Meio Ambiente.

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2 MPEspecial

Programação

TV Guanandi (Canal 13)Sab - 8h30 / Dom - após Canal Livre

NET (Canal 14)durante a programação

TV JustiçaSab - 9h / Dom - 7h / Seg - 5h

TV Assembléia (Canal 9)Seg - 20h

ASSISTA

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MPEspecial 3

Sumário

• Expediente

• Editorial

• ViabilidadeMPE acompanha crescimento do setor sucroalcooleiro em MSMPE fi rma parcerias para desenvolvimento de atividades industriais e comerciais responsáveisMinistério Público combate abusos de usina em Naviraí

• LixoFim do “lixão”: a luta do MPE para regularizar a coleta e a destinação dos resíduos sólidos na Capital

• EstruturaMPs rompem as fronteiras em prol do meio ambienteA atuação do Caoma no Estado de Mato Grosso do SulNúcleo de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto é destaque nas atuações ambientais do MPE

• ÁguaA contribuição do MPE para os avanços ambientais na APA do GuarirobaProjeto Rio MirandaProjeto Band’Alta resgata proteção ambiental em Ladário/MSMPE busca proteção do Parque Várzeas do Ivinhema

EntrevistaProcurador-Geral de Justiça fala sobre a gestão e a atuação do MPE nas questões ambientais

• ArtigoRefl exões sobre o crime de violação de Direito Autoral praticado pelo pequeno co-merciante

• CrônicaTAC na pré-história do MP

• CulturaJosé Saramago: a lucidez polêmica

• MemóriaO nascimento de uma nova era no sul do Centro-Oeste

• AliançaAliança estratégica: MPE atua com a colaboração de diversos órgãos na proteção do meio ambiente

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Expediente

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO

Supervisão-Geral Ariadne de Fátima Cantú da SilvaProcuradora de Justiça

Assessor de Comunicação

Sebastião Jorge Góes de Souza

Projeto Gráfi co e Direção de arte

Luciana Pereira

Redação

Aguinaldo Tibúrcio SoaresFranciane de Lima Gonçalves

Produção audiovisual

Márcio Higo Pereira BalbuenaJosé Guilherme de Oliveira

Estágiários

Daiane Dal Líbero • Emanuel Caires • Hyago Bugini • Luciano Eloy César Silva • Th yrézia Marques

Pesquisa

Sandra de Campos • Kamylla Akemy Alves Contrera Nakano

Revisão

Suzana Costa Val Gomide Baroli

Fotos:

AssecomTel. (67) 3318-2086 • Fax: (67) [email protected]

R. Presidente Manuel Ferraz de Campos Salles, 214Jardim Veraneio • 79031-907Campo Grande/MS

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

Procurador-Geral de JustiçaPaulo Alberto de Oliveira

Procurador-Geral Adjunto de Justiça JurídicoHumberto de Matos Brittes

Procurador-Geral Adjunto de Justiça AdministrativoFrancisco Neves Júnior

Procuradora-Geral Adjunta de Justiçade Gestão e Planejamento InstitucionalIrma Vieira de Santana e Anzoategui

Corregedor-Geral do Ministério PúblicoSilvio Cesar Maluf

Corregedor-Geral Substituto do Ministério PúblicoMauri Valentim Riciotti

COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA

Irone Alves Ribeiro BarbosaHeitor Miranda dos Santos

Sérgio Luiz MorelliMauri Valentim RicciottiHudson Shiguer KinashiAnizio Bispo dos Santos

Guilherme Ferreira Dutra JúniorOlavo Monteiro MascarenhasIrma Vieira de S. e Anzoategui

Wilson FortesNilza Gomes da Silva

Silvio Cesar MalufAntonio Siufi Neto

Evaldo Borges Rodrigues da CostaMarigô Regina Bittar Bezerra

Belmires Soles RibeiroHumberto de Matos Brittes

Miguel Vieira da SilvaAmilton Plácido da Rosa

João Albino Cardoso FilhoPaulo Alberto de Oliveira

Lucienne Reis D’AvilaAriadne de Fátima Cantú da Silva

Francisco Neves JúniorEdgar Roberto Lemos de MirandaMarcos Antonio Martins Sottoriva

Esther Sousa de OliveiraAroldo José de Lima

Adhemar Mombrum de Carvalho NetoGerardo Eriberto de Morais

Luiz Alberto Safraider

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MPEspecial 5

Editorial

O Ministério Público de Mato Grosso do Sul tem como uma de suas pre-missas a busca incansável da viabilidade, sustentabilidade e proteção am-

biental em um Estado que ostenta fl ora e fauna exuberantes.

O trabalho de fi scalização realizado pela Instituição deve ser exemplar, contí-nuo e efi ciente no que tange à busca da conservação dos recursos naturais disponíveis e indispensáveis para o equilíbrio natural e a manutenção da vida.

Contudo, vale ressaltar que o MPE está no início de um longo caminho de entendimento entre o produzir e o preservar, mas reitera, por meio de seus agentes fi scalizadores, uma postura dinâmica, propondo à sociedade meios possíveis e apli-cáveis para a resolução de impasses decorrentes dos danos ambientais que afl oram nas comarcas.

Ao suscitar o tema viabilidade de empreendimentos importantes para a cadeia produtiva e econômica de Mato Grosso do Sul, o Ministério Público se faz presente no acompanhamento e articulação de ações buscando equilibrar crescimento e res-ponsabilidade ambiental.

Os trabalhos que estão sendo desenvolvidos pelas Promotorias de Justiça no MS, presentes nesta publicação, dimensionam as inúmeras batalhas cotidianas no cumprimento da legislação ambiental.

A atuação Ministerial, além do uso das prerrogativas que lhe são conferidas, também está pautada por uma ação educativa junto às comunidades e empresários, revelando a sensibilidade e importância atribuídas pelo MPE no fortalecimento de um comportamento ecologicamente responsável, emanado pela sociedade

Paulo Alberto de OliveiraProcurador-Geral de Justiça

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

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VIABILIDADE

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Um levantamento feito pela Secretaria de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura e do Abas-

tecimento mostra que, em todo território nacional, as usi-nas de açúcar e álcool já somam mais de 430 colocando o Brasil entre os maiores produtores mundiais de energia re-novável. O setor sucroalcooleiro se destaca por ser respon-sável pela cogeração de energia a partir da cana-de-açúcar.

Mato Grosso do Sul apresenta recordes nas safras de cana-de-açúcar ao passo que as discussões da expansão da lavoura sobre áreas da bacia do alto Pantanal também aumentam na mesma proporção. Ambientalistas, órgão e setores da sociedade ligados à preservação e à proteção am-biental reúnem-se para fazer um bloco que tenta fi scalizar este setor.

No Estado, o cenário sucroalcooleiro se apresenta com 39 indústrias operando ou em fase de implantação. Há ainda outros 16 novos projetos previstos. Segundo o di-retor executivo da organização não-governamental Ecolo-

gia e Ação (Ecoa), Alcides Bartolomeu de Farias, isso revela uma mudança da matriz econômica do Estado, dominada pelos grãos e a criação de gado de corte. “Hoje as lavouras de cana-de-açúcar redesenham a paisagem de muitos mu-nicípios sul-mato-grossenses representando grandes ganhos socioeconômicos para estas cidades.”

Porém, como toda atividade industrial de grande porte, a indústria sucroalcooleira também gera danos am-bientais que precisam ser acompanhados para que não colo-quem em risco o desenvolvimento da atividade e os recursos naturais disponíveis. Com um grande número de usinas de açúcar e álcool em funcionamento no Estado, o trabalho de monitoramento realizado pelo Ministério Público Estadual torna-se imprescindível para agir em diversas frentes, tendo como objetivo a defesa do meio ambiente a e o bem estar da comunidade na qual o empreendimento está inserido.

Com o crescimento das atividades sucroalcooleiras foi constatada uma série de problemas nas regiões que com-

Por Aguinaldo Tibúrcio

MPE ACOMPANHA CRESCIMENTO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO EM MS

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portam as usinas. A ação do MPE está em apurar desde a falta da documentação legal, licenças ambientais, autori-zação para ampliar as instalações até situações mais graves como queimadas indevidas, utilização de mão-de-obra irre-gular e vazamento da vinhaça - resíduo originado do pro-cesso para obter o etanol, e extremamente nocivo ao meio ambiente.

A principal meta do MPE é buscar caminhos viáveis e rápidos de enfrentamento das irregularidades tornando viável a atividade. Em um primeiro momento existe a pos-

sibilidade da celebração de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) onde a requerida deve atender às clausulas acordadas dentro de um prazo estabelecido. Caso o TAC não produza efeitos, a usina passa a ser acionada junto à justiça para atender, solucionar e enfrentar as penalidades previstas.

Em sua quinta edição, a revista MPEspecial traz al-guns exemplos de ações realizadas entre conquistas e de-safi os enfrentados pela Instituição em defesa da qualidade de vida e preservação dos recursos ambientais das cidades produtoras de açúcar e álcool.

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OMinistério Público Estadual, Ministério Público Fe-deral e Ministério Público do Trabalho por meio de

uma ação em conjunto assinaram o termo de cooperação e compromisso com intuito de garantir a preservação das re-servas legais, terras indígenas e fortalecer a política de segu-rança e saúde dos trabalhadores através de ações educativas com a empresa São Fernando Açúcar e Álcool.

O acordo fi rmado em abril na sede da Procuradoria-Geral de Justiça, em Campo Grande, prevê uma concen-tração de esforços entre os Ministérios Públicos e a usina para cumprimento das responsabilidades e medidas sócio-ambientais e obrigações trabalhistas.

As medidas de responsabilidade ambiental a serem tomadas pela usina instalada no município de Dourados previstas no acordo são de não realizar ou promover o plan-tio de cana-de-açúcar em áreas de preservação permanente, identifi cadas e demarcadas como reserva legal. Outro pon-

to importante é o que delimita em 80% a exploração das áreas rurais com reserva legal não demarcada, por parte da usina.

Ainda no tocante da responsabilidade com a área de plantio e os impactos, o acordo contempla também as-pectos quanto ao uso do fogo, que deverá ser empregado apenas para manejo sanitário e que deve atender especifi ca-ções de segurança e minimização de impactos ambientais. As lavouras de cana-de-açúcar que devem ser plantadas de forma isolada das áreas de proteção permanente e de reser-va legal também foram contempladas no acordo celebrado pelas entidades e a empresa. A utilização de insumos como fertilizantes e agrotóxicos deve observar regras de segurança e armazenamento e condução das embalagens para os locais indicados.

O MP previu ainda a adoção de um plano de mo-nitoramento e gerenciamento da quantidade de vinhaça,

Por Aguinaldo Tibúrcio

MPE FIRMA PARCERIAS PARA DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES INDUSTRIAIS E COMERCIAIS RESPONSÁVEIS

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Paulo César Zeni

Promotor de Justiça

substância residual originada pelo processo de destilação da cana-de-açúcar. Este resíduo é utilizado fertirrigação, onde o adubo e a água são aplicados simultaneamente. Cabe a empresa cuidar para que esta atividade não provoque a sa-turação da capacidade de absorção do solo, a sua salinização e contaminação do lençol freático. A empresa tem a incum-bência de realizar análises da qualidade da água subterrânea a cada três meses. E emitir semestralmente relatórios com o resultado das análises.

Quanto às áreas indígenas, a empresa fi ca impossibi-litada de realizar, comprar ou custear o plantio de cana-de-açúcar, mesmo que na forma de contratos de arredamento em imóveis rurais localizados em áreas que sejam legalmen-te reconhecidas como de ocupação indígena. Contratos ce-lebrados nessas áreas serão rescindidos e não serão renova-dos, porém a colheita do canavial fi ca assegurada.

A empresa compromete-se a não estender a jorna-da de trabalho além do período estabelecido pela Conso-lidação das Leis do Trabalho que é de duas horas por dia. Outros direitos estão assegurados como descanso semanal remunerado além de infraestrutura adequada para garantir o bem estar do trabalhador.

Desta forma o Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul mobiliza setores da sociedade para contribuir com soluções integradas. Para o Promotor de Justiça Paulo César Zeni é importante a busca de alternativas amigáveis para temas polêmicos. “O sucesso nas negociações deve ser atribuído também, à postura adotada pela Usina São Fer-nando, que demonstrou interesse na construção de uma so-lução consensual, apresentando propostas e alternativas que pudessem contemplar as reivindicações formuladas pelo MPE para a proteção do meio ambiente, direitos indígenas e direitos sociais dos trabalhadores.

O Promotor de Justiça salienta a atuação do MPE e as parcerias estabelecidas durante o processo com outras instituições, objetivando a proteção ambiental. “É impor-tante destacar que através desse acordo, o Ministério Públi-co exerce seu papel preventivo, antecipando-se à ocorrência dos problemas, o que se revela muito mais barato e efi ciente em termos ambientais. Além disso, esse acordo promoveu um estreitamento nas relações entre o Ministério Público Estadual, o Ministério Público Federal e o Ministério Pú-blico do Trabalho, demonstrando que a atuação conjunta facilita as negociações, enriquece o debate e permite um tratamento mais adequado de questões como no caso da proteção do meio ambiente.

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MINISTÉRIO PÚBLICO COMBATE ABUSOS DE USINA EM NAVIRAÍ

Localizado a a 355 km de Campo Gran-de, Naviraí experimenta uma fase de

crescimento econômico como outros municípios que se dedicam entre outras atividades, à cul-tura da cana-de-açúcar. Entretanto, há três anos problemas ambientais decorrentes dessas ativi-dades vêm sendo monitorados e combatidos por meio da ação conjunta dos órgãos competen-tes e a atuação do Ministério Público Estadual.

Desde 2007 o MPE, o Ibama (Institu-to Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recur-sos Naturais Renováveis) e o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) fi scali-zam e constatam danos ambientais causados pela Usinav (Usina Naviraí S.A. – Açúcar e Álcool).

Em julho 2007 o Ibama constatou que a Usinav promoveu queimadas de 86 hecta-res da Fazenda Santa Josefa, a fi m de conver-ter pastagens em áreas agrícolas, sem possuir licença, sendo autuada administrativamente.

No mesmo ano o Promotor de Justiça Luiz

por Aguinaldo Tibúrcio

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Luiz Gustavo Camacho Teçariol

Promotor de Justiça

Gustavo Teçariol elaborou o Termo de Ajus-tamento de Conduta visando a reparação dos danos provocados pela usina. O TAC fi rmado previa uma série de obrigações como o reque-rimento por parte da empresa junto ao Insti-tuto de Meio Ambiente do Estado de autori-zação para a implantação de Projeto de Área Degradada, com objetivo de conter o processo erosivo e o desmoronamento no entorno dos lagos que fi cam dentro do empreendimento.

O Termo exigia ainda licença ou autori-zação ambiental para reformas no sistema de tratamento de águas residuárias, o monitora-mento da quantidade de efl uentes lançados no ambiente, seguindo a resolução do Cona-ma - Conselho Nacional do Meio Ambiente – nº 357/2005. Também estava previsto pla-no de melhoramento na drenagem de águas pluviais, além de políticas adequadas quan-to ao tratamento dos resíduos dentre outras obrigações quanto a armazenagem de produ-tos químicos e a obrigação de obter junto aos órgãos competentes a autorização ou licen-ça para expandir as instalações da indústria.

Em 2008 um novo Termo de Ajus-tamento foi elaborado pelo o Promotor de Justiça Luiz Gustavo Teçariol, pois no mês de janeiro daquele ano um acidente com vi-nhaça – resíduo originado da destilação – na Área de Proteção Permanente do rio Amam-baí, causando a mortandade de peixes.

Pelo novo termo a Usinav se comprometia em atender obrigações que cumpridas parcialmen-te e atender outras normas. Já em junho de 2009, o Imasul verifi cou uma queima de mais de quatro hectares da Fazenda Santa Rosa, em área de pre-servação permanente, também sem autorização.

Conforme a Ação Civil Pública nº 029.10.000475-8, proposta pelo Promotor de Justiça Luiz Gustavo Camacho Terçariol, a Usinav é respon-sável pelas diversas ações nocivas ao meio ambiente com a queimada irregular da palha da cana-de-açúcar, de áreas agropastoris e o derramamento de vinhaça e efl uentes no rio Amambaí e no córrego Tarumã.

Porém a indústria alega no mérito que não existe nexo de causalidade entre os danos ocorri-dos e a atividade desenvolvida pela empresa. Afi r-ma que as empresas Usinavi – Usina Naviraí S/A e Infi nity Agrícola S/A são distintas, sendo que a queima da cana-de-açúcar é realizada pela última.

Afi rma, ainda, que não realiza qualquer lan-çamento irregular de efl uentes, cumprindo todas as normas ambientais. No momento, a empresa não possui qualquer autorização ou licença para a queima, pois até mesmo a Autorização Ambiental nº 01, expedida pelo Município de Naviraí para a empresa Infi nity Agrícola foi revogada, em vir-tude da empresa não ter apresentado todos os do-cumentos necessários, conforme consta dos autos.

A Juíza Marilsa Aparecida da Silva Baptista acolheu parcialmente o pedido de liminar formula-

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do pelo Ministério Público Estadual em Ação Civil Pública contra irregularidades da Usinav. A liminar requerida pelo MPE foi concedida parcialmente determinando que a Usinavi não utilize fogo para manutenção das áreas de ope-ração sem autorização ou licença ambiental, obedecendo as cautelas estabelecidas nos arts. 2º e 5º do Decreto Municipal nº 58/2008, sob pena de multa de R$ 100 mil, por queimada realizada e crime de desobediência, levando-se em consideração que eventual degradação ao meio ambiente é praticamente irrecuperável.

A liminar obriga a empresa a não lan-çar seus resíduos em rios, córregos e áreas de preservação permanente, precipuamente do rio Amambaí e córrego Tarumã, sob pena de multa de R$ 100 mil por evento e crime de desobediência. Em sua decisão, a magistrada deixou somente de obrigar a empresa a re-

querer o licenciamento para recuperação da área degradada, mediante Prade (Projeto de Área De-gradada), de modo que as áreas afetadas provavel-mente não estão recebendo os cuidados necessários.

A Usinav foi intimada para se manifestar, contudo, não apresentou nenhum posicionamento. Atualmente o caso está aguardando conclusão do juiz, a fi m de que este se manifeste sobre a tem-pestividade ou não da contestação apresentada.

Para o Promotor de Justiça, responsável pelo processo, Luiz Gustavo Teçariol, a postura mais enérgica do Ministério Público em razão da resis-tência da indústria requerida em cumprir os acor-dos fi rmados com o Ministério Público Estadual, bem como em obedecer aos ditames das leis am-bientais. “Vimo-nos obrigados em adotar medidas mais severas visando a defesa do meio ambiente”.

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LIXO

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FIM DO “LIXÃO”: A LUTA DO MPE PARA REGULARIZAR A COLETA E A DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLI-DOS NA CAPITAL

por Franciane Gonçalves

Desde 1999, o Ministério Público Estadual vem trabalhando em ações judiciais e políti-

cas que visem regularizar a coleta e a destinação fi nal dos resíduos sólidos em Campo Grande, mediante a implantação de aterro sanitário, coleta seletiva e recu-peração ambiental da área ocupada pelo antigo lixão de Campo Grande, localizado na saída para Sidrolân-dia. No local é despejada grande parte dos resíduos só-lidos urbanos, que abrangem os resíduos domésticos, comerciais, hospitalares e industriais. Com o objetivo de solucionar os problemas e minimizar os impactos ambientais, acarretados pelos resíduos gerados pela sociedade de consumo, o MPE acionou o Poder Exe-cutivo Municipal cobrando providências concretas e efi cientes.

Após amplas tratativas, o MPE, por intermédio da Promotora de Justiça Mara Cristiane Crisóstomo Bravo, titular da 26ª Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Campo Grande, celebrou um Termo de

Ajustamento de Conduta (TAC) com a Prefeitura Municipal, representada pelo Prefeito Nelson Trad Filho e pelo Secretário Municipal de Meio Ambien-te Marcos Antonio de Moura Cristaldo, o qual tem por objetivo solucionar os problemas sociais e am-bientais decorrentes da destinação inadequada dos resíduos sólidos.

Segundo a Promotora de Justiça Mara Bravo, o TAC celebrado com o Município antecedeu a Lei Federal nº 12.305, de 02 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, encontrando-se em pleno acordo com os preceitos técnicos, científi cos e jurídicos fi xados pela nova legislação, prevendo o máximo reaproveitamento e tratamento dos resíduos e a destinação fi nal am-bientalmente adequada.

“O Termo de Ajustamento, dentre outras medidas promove a coleta seletiva gradual e pro-picia condições para que os trabalhadores que hoje

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sobrevivem da coleta clandestina no ‘lixão’, passem a ter emprego formal na coleta seletiva, garantindo a geração renda, com observância das normas de saúde e segurança no trabalho, propiciando dignidade para as famílias catadoras. Além disso, o acordo prevê na área social a construção de 300 moradias destinadas às famílias cadastradas previamente pela Prefeitura, eli-minando com isto a única favela existente na Capital do Estado, situada nas adjacências do ‘lixão’”, ressalta a Promotora de Justiça.

De acordo com o que foi celebrado no TAC, as medidas que deverão ser realizadas até o fi nal de 2011 giram em torno da implantação de um progra-ma de coleta seletiva do lixo, com quatro ecopontos destinados à captação e ao processamento de material reciclável; construção de uma usina de processamento de lixo, que aproveitará o material reciclável despeja-do diretamente no aterro; construção de incinerador de lixo hospitalar; implantação do aterro sanitário; desativação do antigo ‘lixão’ e recuperação ambiental da área, por meio de um Projeto de Recuperação da Área Degradada – Prade; e o assentamento social das famílias de catadores de lixo previamente cadastradas, através da construção de moradias.

A Promotora de Justiça Mara Bravo salienta que “o MPE contemplou a questão da adequação da coleta e destinação dos resíduos sólidos na Capital do Estado, dando ênfase à preservação ambiental, sem prescindir do amparo social àqueles que tiram seu sustento do ‘lixão’”, destacando ainda que “desde a propositura da ACP pela então Promotora de Justiça do Meio Ambiente, Marigô Regina Bittar Bezerra, houve atuação conjunta com a Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude, que, à época, tinha como titular a atual Procuradora de Justiça Ariadne de Fátima Cantú da Silva”.

Constata-se que o problema social é um dos agravantes do gerenciamento de resíduos sólidos nos grandes centros urbanos, uma vez que muitas famílias que sobrevivem do lixo criam seus fi lhos no interior de perigosos e insalubres ‘lixões’. Para a Promotora de Justiça, o acordo contempla medidas que extrapolam o objeto inicial da ACP, como, por exemplo, a implan-tação da coleta seletiva do lixo e a construção de no-vas moradias para os catadores, enfatizando que “agora está nas mãos do Poder Municipal, que tem até o fi nal de 2011 para solucionar de forma defi nitiva a questão da destinação dos resíduos sólidos, levando em conta os aspectos ambientais, sociais e econômicos”.

Mara Cristiane Crisóstomo Bravo

Promotora de Justiça

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MPEspecial 17

Soluções

Após meses de negociação entre o MPE e a Pre-feitura Municipal, foram realizados estudos técnicos e científi cos acerca das melhores e modernas soluções para a problemática dos resíduos sólidos na Capital, resultando na celebração do TAC, prevendo que, até o fi nal do ano de 2011, a Prefeitura deverá concluir uma série de medidas orçadas em R$ 12,9 milhões, as quais abrangem a aquisição de esteiras, incinerador e demais equipamentos necessários à operacionalização da Usina de Processamento de Lixo e do Incinerador de Resíduos Sólidos Hospitalares; a execução da obra de construção dos galpões da Usina de Processamento de Lixo; execução das obras de construção de aterro sanitário, desativação do “lixão” e recuperação de área degradada; e a construção de 300 moradias destinadas às famílias de catadores.

Retrospectiva

Em 1999, o MPE, por meio da 26ª Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, representada na ocasião pela Procuradora de Justiça Marigô Regina Bittar Bezerra, ajuizou Ação Civil Pública requerendo a construção de um aterro sanitário; a proibição do depósito de resíduos sólidos no ‘lixão’; a elaboração do Plano de Recuperação de Área Degradada – Prad; e o isolamento da área, proi-bindo a entrada e permanência de pessoas no local.

Posteriormente, no ano de 2001, em virtude da morte de um adolescente e ferimentos em outras quatro pessoas que catavam lixo, as Promotorias de Justiça da Infância e Juventude e do Meio Ambiente,

por intermédio das atuais Procuradoras de Justiça Ariadne de Fátima Cantú da Silva e Marigô Regi-na Bittar Bezerra, respectivamente, propuseram em conjunto Medida Cautelar Incidental, com o intui-to de retirar os catadores da área e construir guari-tas para aumentar a vigilância no local, proibindo a entrada de pessoas, ante a exposição de perigo à vida e à saúde, o que foi deferido somente em 2005, pelo Juízo da Vara dos Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, inclusive impondo-se multa obrigatória.

O Poder Executivo Municipal não cumpriu a decisão judicial e, por conta disso, em 2009, a 26ª Promotoria de Justiça Mara Cristiane Crisós-tomo Bravo executou a multa liminar sendo que o valor, em 9 de setembro de 2009, estava estimado em aproximadamente de R$ 5,5 milhões, conforme os cálculos do Departamento Especial de Apoio às Atividades de Execução – Daex – do MPE.

Somente após a execução da multa, inicia-ram-se as tratativas entre os representantes da Pre-feitura Municipal, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, do Instituto Municipal de Planejamento Urbano do Município e a 26ª Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, as quais resultaram na formalização do TAC que descreve em diversas cláusulas as obrigações a serem executadas pelo Município, e fi xa os respectivos cronogramas de execução e orçamentário, os quais o cumprimento está sendo acompanhado e fi scali-zado pelo MPE, mediante a instauração de um In-quérito Civil com tal objetivo.

Política Nacional de Resíduos Sólidos

Em agosto de 2010, foi publicada a Lei Fe-deral nº 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, prevendo investimentos da ordem de R$ 6,1 bilhões para a implantação e manutenção das iniciativas estratégicas para o tratamento do lixo, estabelecimento de metas e programas de reciclagem, previstas nos planos da União, Estados e Municípios.

Em Campo Grande, a lei está sendo aplicada, já que a regularização do aterro sanitário é uma rea-lidade concreta imposta pelo Termo de Ajustamento de Conduta fi rmado com o MPE, o qual foi inclusive celebrado antes mesmo da publicação da lei, consti-tuindo-se, portanto, numa prioridade ambiental a ser executada pelo Poder Público Municipal.

De acordo com dados da Associação Brasileira

de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Espe-ciais - Abrelpe, 44,1% dos municípios brasileiros não dispõem de aterro sanitário. Na Região Nordeste, por exemplo, 66,3% dos municípios não separam apro-priadamente o lixo; no Centro-Oeste, o índice sobe para 77,3%. O que todos imaginam e gostariam é que a nova lei provoque mudanças na forma de como a sociedade e os governos lidam com o resíduo sólido urbano.

Este quadro nacional refl ete uma triste realida-de, predominante na maioria das cidades brasileiras, que em Campo Grande começa a ser transformada, por meio da atuação combativa do Ministério Público Estadual, que conseguiu fazer com que o Poder Pú-blico Municipal cumpra seu dever constitucional de preservar o meio ambiente para as gerações atuais e fu-turas, assegurando vida digna e saudável aos cidadãos.

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ESTRUTURA

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MPs ROMPEM AS FRONTEIRAS EM PROL DO MEIO AMBIENTE

por Franciane Gonçalves

Organizada para ser uma rede de atuação en-tre os Promotores de Justiça da América La-

tina, criada em 26 de novembro de 2008, na cidade de Bonito/MS, a Rede Latino-Americana de Minis-tério Público Ambiental traça ações em todo o terri-tório latino-americano. “Demos início a um trabalho de envolvimento para a proteção do Pantanal entre os estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso e o Paraguai. Por conta da situação fronteiriça, come-çamos a fazer com que outros países percebessem a importância da integração dos membros do MP de diferentes localidades”, pontua o Promotor de Justiça Luciano Furtado Loubet, titular da 2ª Promotoria de Justiça de Bonito.

Os principais objetivos que regem a Rede são o intercâmbio e compartilhamento de informações; atuação integrada; capacitação; fortalecimento do Mi-nistério Público e dos mecanismos de defesa do meio ambiente; e a ampliação da visibilidade do trabalho

do Ministério Público em defesa do meio ambiente na América Latina. “Hoje atuamos em 16 países, com mais de 200 integrantes, um trabalho impor-tantíssimo já que a devastação ambiental não res-peita as fronteiras criadas pelo homem. A legislação e atuação dos órgãos precisam ser coordenadas”, destaca Loubet.

Na América Latina, praticamente todos os países de língua espanhola, além do Brasil, fazem parte da Rede, que conta com a Nicarágua, Guate-mala, Venezuela, Peru, Paraguai, Uruguai, Argenti-na, Chile, Bolívia, Equador, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, El Salvador e Honduras.

Em Mato Grosso do Sul, a fi scalização do desmatamento e cumprimento da legislação am-biental obtiveram um grande avanço nos últimos anos, porém as legislações que acompanham cada País são diferentes, o que leva sempre a uma conver-

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sa que defi nem as melhores manobras para que acon-teça a recuperação do local. Segundo Loubet, a forma como o dano ambiental vem ocorrendo, por exemplo, as minerações, o desmatamento, as erosões, são iguais em todos os Países, e os mecanismos legais com algu-ma adaptação são passíveis de acordo, sempre de uma forma sustentável, e principalmente, de acordo com a lei do País. “É preciso compartilhar as boas experiên-cias que cada MP tem conseguido. Quem ganha é o meio ambiente”, ressalta Loubet.

Integração

Para reunir a experiência e as atuações de to-dos os MPs ambientais, foi criado um site não ofi cial das Instituições, que compõe a rede de cooperação informal, onde fi cam armazenadas todas as ações, assim como a legislação de cada País participante. A fi nalidade é a integração e o intercâmbio entre as Ins-tituições que trabalham em defesa do meio ambien-te. Pelo link http://www.mpambiental.org/, tanto os integrantes da Rede como qualquer internauta pode acompanhar o que ocorre na área e que envolve o Mi-nistério Público.

Ao acessar a página, o internauta encontra ar-tigos jurídicos ambientais, jurisprudência, bem como peças processuais que tramitam nos países da Rede. Também estão cadastrados todos os membros inte-

grantes, facilitando a comunicação entre os MPs e a sociedade.

Abrampa – A união dos MPs ambientais brasi-leiros

Bem antes da Rede Latino-Americana de Minis-térios Públicos Ambientais, foi criada em 1997, a As-sociação Brasileira do Ministério Público do Meio Am-biente que busca integrar os membros do Ministério Público que trabalham na área ambiental. Promotores e Procuradores de Justiça, Procuradores da República, Procuradores do Trabalho e demais membros dos Mi-nistérios Públicos de todo o Brasil fazem parte desta agregação, visando ao intercâmbio de ideias e experi-ências, além de realizar seminários, congressos, mesas científi cas e o ajuizamento de ações, que contribuem para o enriquecimento da área.

Já em sua quinta gestão, a Abrampa é presidida pelo Procurador de Justiça Jarbas Soares Junior, ten-do como Vice-Presidente a Subprocuradora-Geral da República Sandra Cureau. Após 14 anos de trabalho nos campos jurídico, político e social, voltados ao meio ambiente, a Abrampa investiu em sua nacionalização, e também integrou-se a outros MPs ambientais e en-tidades ambientalistas, inclusive agregando seus mem-bros à Rede Latino-Americana de Ministérios Públicos Ambientais.

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ATUAÇÃO DO CAOMA NO ESTA-DO DE MATO GROSSO DO SUL

por Franciane Gonçalves

Criado em Mato Grosso do Sul, por meio da Resolução nº 545/PGJ, de 19 de outubro de

1994, o Centro de Apoio Operacional das Promoto-rias de Justiça do Meio Ambiente – Caoma – instalado junto à Procuradoria-Geral de Justiça, tem o objetivo de auxiliar as atividades funcionais dos Promotores de Justiça. “O Caoma está aqui para atender o cum-primento da legislação ambiental como um todo”, destaca a Coordenadora do Caoma, a Procuradora de Justiça Marigô Regina Bittar Bezerra.

Em defesa do Meio Ambiente

Para integrar o auxílio dado pelo Caoma, foram instituídos, por meio da Resolução nº 008/2006-PGJ, de 23 de agosto de 2006, o Núcleo das Promoto-rias de Justiça do Pantanal – composto pelo Núcleo Regional das sub-bacias dos rios Correntes, Taquari e Negro; Núcleo Regional das sub-bacias dos rios Na-bileque e Apa; Núcleo Regional da sub-bacia do Rio Miranda I; e o Núcleo Regional da sub-bacia do Rio Miranda II, e o Núcleo das Promotorias de Justiça da Bacia do Paraná – formado pelo Núcleo Regional das sub-bacias dos rios Aporé e Sucuriú; Núcleo Re-gional das sub-bacias dos rios Pardo e Verde; Núcleo Regional da sub-bacia do Rio Ivinhema I; Núcleo Re-gional da sub-bacia do Rio Ivinhema II; e Núcleo Re-gional das sub-bacias dos rios Amambai e Iguatemi. Ambos são integrados pelas Promotorias de Justiça do Meio Ambiente com atuação nas bacias hidrográfi cas dos rios Paraguai e Paraná, respectivamente, com o objetivo de, em conjunto, adotar medidas legais obje-tivando a proteção do meio ambiente.

Programas S.O.S. Rios

Dentre os programas realizados pelo Caoma, o S.O.S. Rios destaca-se por abranger vários projetos de grande importância para o Mato Grosso do Sul, implantados pelas Promotorias de Justiça de Meio Ambiente em 32 cidades do interior. O Programa foi criado para divulgar os resultados até agora ob-tidos na recuperação das matas ciliares e reservas le-gais. O MPE vem diagnosticando propriedades, ao longo de mais de 1.500 quilômetros de rios, com aproximadamente 1.200 propriedades cadastradas. O ponto de partida foi o Projeto Formoso Vivo, iniciado em março de 2003, por iniciativa do Pro-

No Mato Grosso do Sul, 56 Promotorias de Justiça atuam na área de meio ambiente no acom-panhamento de atividades das principais peças do Inquérito Civil, Procedimento Preparatório e Ação Civil Pública, que têm como objeto a tutela ambien-tal.

Dentre os problemas ambientais mais cons-tatados, destacam-se a supressão de matas ciliares, desmatamento irregular, presença de lavouras e edi-fi cações em Área de Preservação Permanente, ero-sões, assoreamento, falta de conservação de solo, poluição atmosférica, poluição sonora, lançamento de esgoto a céu aberto, carvoarias irregulares e depó-sito inadequado de resíduos sólidos.

Ações do Caoma

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“ É importante salientar que, como resultado da im-plementação deste Programa, muitos Termos de Ajus-tamento de Conduta foram celebrados entre o MPE e os proprietários de imóveis rurais, com a recuperação de áreas de preservação permanente dos rios e afl uen-tes que fazem parte da área abrangida pelos projetos ambientais”, destaca a Coordenadora do Caoma, Ma-rigô Regina Bittar Bezerra.

motor de Justiça Luciano Furtado Loubet, por in-termédio da Promotoria de Justiça de Bonito, tam-bém idealizadora do S.O.S. Rios.

O Programa visa contribuir de maneira efetiva para a conservação das bacias hidrográfi cas, recu-perar as matas ciliares alteradas, implementar a ade-

quação da conservação de solo das propriedades, regularizar e recuperar as áreas de Reserva Legal, promover a adequação ambiental das propriedades ao regime jurídico-ambiental e promover a sensibi-lização da sociedade acerca da importância de con-servar a bacia hidrográfi ca.

Conheça os projetos que integram o S.O.S. Rios:

• Projeto Águas Limpas para o Pantanal: levantamento e diagnóstico am-biental das propriedades rurais que margeiam o Rio Piquiri e afl uentes, no Municí-pio de Pedro Gomes e Sonora;

• Projeto Rio Ivinhema: diagnóstico ambiental na micro-bacia do Rio Ivi-nhema e área de amortecimento do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema;

• Projeto Rio Amambaí: diagnóstico de todas as propriedades que margeiam o Rio Amambai, desde a sua nascente até a foz com o Rio Paraná;

• Projeto Touro – Tarumã: promover a recuperação da área de preservação permanente da micro-bacia do córrego Touro-Tarumã, propiciando a conservação da biodiversidade e melhor qualidade de vida à população;

• Projeto Formoso Vivo: adequação ambiental das propriedades rurais que margeiam a Bacia do Rio Formoso, em Bonito, ao regime jurídico-ambiental vigen-te;

• Projeto Rio Miranda: diagnóstico ambiental das propriedades que mar-geiam o Rio Miranda, em Mato Grosso do Sul, da nascente até a foz com o Rio Paraguai; • Projeto Rio da Prata e Projeto Figueirão.

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por Franciane Gonçalves

NÚCLEO DE GEOPROCESSAMENTO E SENSORIAMENTO REMOTO É DESTAQUE NAS ATUAÇÕES AMBIENTAIS DO MPE

Com as inovações tecnológicas enriquecendo e otimizando o trabalho em várias áreas, o Ge-

oprocessamento e Sensoriamento Remoto também são benefi ciados com as novidades. Em Mato Grosso do Sul, o Ministério Público Estadual (MPE), da mesma maneira, usufrui das ferramentas por meio do Núcleo de Geopro-cessamento e Sensoriamento Remoto (Nugeo), criado em 2007.

O Núcleo, fruto de um convênio fi rmado entre o MPE, por intermédio dos Promotores de Justiça Alexan-dre Lima Raslan, da 34ª Promotoria de Justiça de Campo Grande e Luciano Furtado Loubet, da 2ª Promotoria de Justiça de Bonito, e a Fundação Avina, organização suíça que apoia líderes sociais e empresariais na promoção do de-senvolvimento sustentável da América Latina, há mais de dois anos realiza ações que possibilitam uma maior precisão na averiguação de dados. Os recursos, disponibilizados pela Fundação, após muito empenho do Promotor de Justiça

Luciano Furtado Loubet, são resultado do Contrato de Do-ação para o Desenvolvimento e Execução de Projeto con-solidado entre a Fundação Avina e o Promotor de Justiça Alexandre Lima Raslan.

Criado com o objetivo de auxiliar os Promotores de Justiça, no que abrange questões sobre as Reservas Legais e, principalmente, quando se trata de desmatamentos ilegais no Estado, o Nugeo trabalha usando imagens de satélite que verifi cam a cobertura vegetal nativa, fi scalizam os des-matamentos e a ausência ou a existência das Reservas Legais nas propriedades rurais.

“O convênio com a Avina foi extremamente benéfi -co e com muitos resultados. Após a fi nalização do projeto, tivemos a imediata aprovação da Procuradoria-Geral do MPE e do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente”, observa o Promotor de Jus-tiça Alexandre Lima Raslan.

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Cerca de R$ 189 mil foram investidos pela Fundação Avina para a compra de imagens, softwares e equipamentos, tornando o Nugeo uma das principais referências do segmento no Brasil.

Segundo Th ais Gisele Torres, assessora em Ciências da Terra do MPE e responsável pelo Núcleo, a ferramenta utiliza-da pelo MPE visa verifi car o descumprimento do Código Am-biental, na prática de dano ou crime ambiental, auxiliando, inclusive, a Polícia Federal, que também disponibiliza infor-mações para o trabalho, além do Instituto Brasileiro de Geo-grafi a e Estatística (IBGE) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Ao ser criado o Nugeo, cada imagem disponibilizada

pelo INPE custava, em média, R$ 1,2 mil e, em dezembro do mesmo ano, foram liberadas gratuitamente. “Foi um grande avanço para o Brasil. Além da cobertura de 2007 o INPE li-berou todo o acervo anterior... Dados de 1984, por exemplo. Agora, montamos um acervo multitemporal. Com as imagens conseguimos saber se já existia um determinado empreendi-mento no local desejado, para compararmos com o que se tem hoje”, ressalta Th ais.

O Nugeo atende toda a área de Mato Grosso do Sul, cer-ca de 358km², por meio de imagens provindas de satélites, que atualizam as informações a cada 26 dias, passando pelo mesmo

local com o satélite norte-americano LANDSAT-TM. Porém, de acordo com dados do Núcleo de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto, apenas uma imagem por ano pode servir como referência, capturada preferencialmente em épo-cas de seca, para melhor destacar as alterações ocorridas na cobertura do solo com o cuidado de evitar maiores interferências atmosféricas, como nuvens, fumaça, entre outras.

Para mapear alguma área de interesse am-biental, outros sensores também são contratados para o monitoramento, por um tempo deter-minado. Geralmente, as imagens são de maior resolução espacial, proporcionando melhor qua-lidade visual. O satélite norte-americano IKO-NOS, que realizou o imageamento da bacia do Guariroba em 2006, assim como o sul-coreano KOMPSAT-2, que imageou a área do Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema, em 2009, também atendem o Nugeo quando se trata de um trabalho específi co. “O Nugeo está em fase de teste para substituir o LANDSAT-TM. Esta-mos acessando imagens de um satélite indiano, o RESOURCESAT-I, que serão utilizadas da mesma forma que o satélite que utilizamos atu-almente”, esclarece Th ais.

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ÁGUA

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Instituída em 1995, por meio do Decreto Muni-cipal nº 7.183, a Área de Proteção Ambiental

dos Mananciais do Córrego Guariroba – APA do Guariroba visa preservar essa Bacia que é a prin-cipal fonte de abastecimento de água potável de Campo Grande/MS, localizada, aproximadamente, a 30 km do perímetro urbano. O decreto estipu-la obrigações ambientais aos proprietários rurais da APA com maior rigor que o Código Florestal, pois fi xa uma faixa de 200 metros de Área de Preservação Permanente – APP ao longo do reservatório; proíbe o desmatamento de qualquer remanescente da vege-tação original; e estabelece uma faixa de 50 metros ao longo de cada margem do leito dos córregos que compõem a bacia – os quais possuem menos que 10 metros de largura, sendo que o Código Florestal de-limita em apenas 30 metros a APP nestes pequenos cursos d’água.

Visando desenvolver medidas técnicas efi cien-tes para preservar a APA do Guariroba, bem como implementar as ações previstas no decreto que a ins-

tituiu, em agosto de 2008, foi concluído o Plano de Manejo que relaciona programas destinados à recupe-ração ambiental e à exploração econômica sustentável no local. Desde a elaboração do Plano, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul, por inter-médio da Promotora de Justiça Mara Cristiane Cri-sóstomo Bravo, titular da 26ª Promotoria de Justiça de Meio Ambiente, vem trabalhando insistentemente na reconstrução ambiental da área, tendo como norte as diretrizes traçadas nos estudos técnico-científi cos.

A APA do Guariroba possui um território com área total de 36.193 hectares, caracterizado, essencial-mente, pela ocupação rural, com várias propriedades voltadas à pecuária extensiva. Segundo levantamento feito pela Prefeitura Municipal de Campo Grande, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano e do Departamento de Licenciamento e Monitoramento Ambiental, atual-mente, mais de 82% do território da APA é ocupado por pastagens antrópicas em propriedades de médio e grande portes.

A CONTRIBUIÇÃO DO MPE PARA OS AVANÇOS AMBIENTAIS NA APA DO GUA-RIROBA

por Franciane Gonçalves

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Estudos recentes, utilizando a Equação Uni-versal de Perda de Solo por Erosão – USLE, revelam que, no total, 36.189 hectares apresentam problemas referentes à perda de solo devido à extrema fragilidade geológica da região, que é agravada pela exploração agropecuária e pela falta de práticas conservacionistas tanto nas propriedades rurais como nas estradas mu-nicipais. Os resultados obtidos mostram um menor potencial de perda do solo por erosão nos topos ocu-pados por pastagens e nas áreas com vegetação rema-nescente.

Segundo os estudos, o volume de sedimentos carreados e depositados no leito da barragem aumen-tou, havendo uma redução da capacidade da reserva em aproximadamente 1.207.000 m³, em virtude do acentuado assoreamento. De acordo com a assessora em Ciências da Terra do Ministério Público Estadu-al, Th ais Gisele Torres, para que fosse solucionado o problema, todos os proprietários deveriam unir-se e trabalhar em conjunto em prol da bacia. “O coletivo pensando bem, vai tudo bem. Mas quando pensam e agem mal: acontece o caos, como está agora a bacia”, destaca.

A APA do Guariroba constitui uma das três Áre-as de Proteção Ambiental situadas em Campo Gran-de, que também possui a APA do Lajeado e a APA do Ceroula, porém, certamente a APA do Guariroba é a que merece maior atenção por parte das autoridades ambientais, por ser a principal responsável pelo abas-tecimento de água na Capital.

Atuação do MPE

De acordo com a Promotora de Justiça de Meio Ambiente de Campo Grande, Mara Cristiane Crisós-tomo Bravo, em 14 de fevereiro de 2006, foi instaura-do o Inquérito Civil nº 001/2006, que contém dados científi cos alertando sobre os problemas ambientais constatados na região, dos quais o Município de Cam-po Grande é um dos responsáveis, diante da falta de conservação das estradas rurais que servem a localida-de, as quais acabam formando um nocivo corredor das águas pluviais, carregando sedimentos para os córre-gos, provocando, em conseqüência, perda de solo, ero-são e assoreamento dos recursos hídricos.

O Plano de Manejo, elaborado nos autos do IC nº 001/2006, além de mencionar os problemas refe-

Programa de Pagamento de Serviços Am-bientais – PSA

Com o objetivo de propiciar a recuperação e a conservação dos mananciais de abastecimento de água potável no território nacional, a Agência Nacional de Águas criou o programa denominado Produtor de Água, que se baseia no princípio do provedor-rece-bedor, ou seja, os proprietários que contribuem com a preservação do meio ambiente recebem uma con-traprestação pecuniária pelos serviços prestados. O programa tem por base a adesão voluntária dos pro-prietários rurais e prevê o apoio técnico e fi nanceiro, mediante o pagamento de serviços ambientais para execução de ações de conservação da água, do solo e de refl orestamento, como, por exemplo, a construção de terraços, bacias de infi ltração, a readequação de es-tradas vicinais, a recuperação e proteção de nascentes, o refl orestamento de áreas de preservação permanente e da reserva legal, dentre outras medidas.

Buscando implantar o programa na Capital de Mato Grosso do Sul, a Promotora de Justiça Mara Cristiane Crisóstomo Bravo iniciou uma série de con-tatos com representantes da ANA, a senadora Marisa

Serrano, o prefeito Nelson Trad Filho, além dos secre-tários Estadual e Municipal de Meio Ambiente, para que fossem criadas as condições políticas necessárias para trazer o Produtor de Águas para Campo Grande. Foram realizadas inúmeras palestras e reuniões entre o MPE e os órgãos públicos, produtores rurais e organi-zações não governamentais, a fi m de que houvesse ade-são e união de todos em prol da recuperação da APA do Guariroba, o que perdurou por aproximadamente um ano.

No dia 2 de setembro de 2010, o Poder Público Municipal publicou o Decreto nº 11.303, instituindo o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais na Capital de Mato Grosso do Sul, recebendo o nome de Programa Manancial Vivo, viabilizando legalmente a captação de recursos da Agência Nacional de Águas e, ao mesmo tempo, criando os instrumentos necessários para a execução do programa de recuperação ambien-tal não somente da APA do Guariroba, como também da APA do Lageado, responsáveis pelo abastecimento de água em Campo Grande.

Com a criação do Programa de Pagamento por Serviços Ambientais, viabilizou-se a parceria fi nanceira

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rentes às estradas municipais, também relacionou inúmeras propriedades rurais que contribuem para a degradação da APA, fato que motivou o desmembra-mento do Inquérito Civil original em 57 procedimen-tos independentes. A supressão de Área de Preserva-ção Permanente (APP), por conta da criação de gado de forma inadequada, e o assoreamento dos recursos hídricos se caracterizam nos principais objetivos dos novos inquéritos civis instaurados na 26ª Promotoria de Justiça.

A ação ministerial articulada para a bacia do Guariroba pautou-se, principalmente, em ações concretas que priorizaram a criação de mecanismos conciliatórios visando à implementação do Plano de Manejo de forma a integrar, em prol de um objetivo comum, diversos órgãos ambientais da esfera munici-pal, estadual e federal, empresas particulares, organi-zações não governamentais, universidades, sindicatos rurais, associações etc. Assim, a 26ª Promotora de Justiça do Meio Ambiente promoveu o envolvimen-to de órgãos públicos, empresas e produtores rurais numa profícua cooperação técnica que resultou na confecção do Plano de Ação, prevendo a execução de medidas conservacionistas na APA.

Para a realização das tarefas, foi constituído no último ano, um Grupo de Trabalho multidisciplinar tendo como participantes membros da Agência Nacio-nal de Águas – ANA; do Daex e do Nugeo – depar-tamentos técnicos do Ministério Público Estadual; da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvi-mento Urbano – Semadur; do Instituto de Meio Am-biente de Mato Grosso do Sul – Imasul; da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural – Agraer; da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, das Ci-dades; do Planejamento, da Ciência e da Tecnologia – Semac; do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama; da empre-sa Águas Guariroba S/A – concessionária de água da Capital; e do Sindicato de Produtores Rurais.

A partir daí, desencadeou-se uma ação conjunta do Departamento Especial de Apoio às Atividades de Execução (Daex) e do Núcleo de Geoprocessamento e Sensoreamento Remoto (Nugeo), ambos do MPE, que formularam diagnósticos ambientais individualizados, mediante vistorias nas propriedades rurais e análise dos dados georreferenciados fornecidos, inicialmente, pelo Plano de Manejo e, posteriormente, complementados pelos proprietários acionados pela 26ª Promotoria de

entre a Agência Nacional de Águas – ANA e a Pre-feitura Municipal, por meio da qual o órgão federal investiu R$ 800 mil na recuperação da APA do Gua-riroba, com a contrapartida de R$ 88 mil por parte do Município de Campo Grande. Além destes recursos, foi destinada para o programa a quantia de R$ 700 mil provenientes de dois Termos de Ajustamento de Conduta celebrados entre a 26ª Promotoria de Justiça e a empresa JBS S/A nos Inquéritos Civis nº 073/2008 e nº 052/2009, nos quais o grupo se comprometeu a realizar adequações ambientais nos Frigorífi cos Bertin e Friboi e a empregar referido valor para recuperação da APA do Guariroba mediante o fortalecimento fi -nanceiro do Programa Manancial Vivo como forma de compensação ambiental.

Conforme se nota, a parceria é inerente do Pro-grama Produtor de Água, que, em Campo Grande, consolidou-se em consonância com as diretrizes gerais sugeridas pela Agência Nacional de Águas, estimulan-do a participação voluntária de produtores rurais que tenham o propósito de recuperar e preservar o solo, adotando práticas e manejos conservacionistas, pro-tegendo e refl orestando o cerrado típico da região e preservando os recursos hídricos na bacia do Guari-

roba, local em que a primeira etapa abrange doze pro-priedades rurais defi nidas em procedimento de edital a ser concretizado pela Prefeitura Municipal. O próxi-mo passo será a escolha dos interessados em receber o pagamento por serviços ambientais que ocorrerá por meio de licitação dos proprietários rurais da APA devi-damente inscritos para aderir ao Programa Manancial Vivo, prevalecendo quanto ao critério de seleção, as melhores modalidades de serviços ambientais a serem prestados pelas propriedades rurais, vencendo as pro-postas de recuperação fl orestal mais vantajosa para a Bacia do Guariroba.

Ao fi nal, convém destacar que a ação ministerial conciliatória, desenvolvida com habilidade nas esferas administrativa e política, contribuiu favoravelmente para que o Município de Campo Grande seja conside-rado atualmente o pioneiro no país em celeridade na implantação do Programa Produtor de Águas da ANA, uma vez que os complexos processos de conhecimento do programa, pesquisa de campo e normatização de-mandaram somente um ano; além de ser o campeão em área de abrangência territorial, porquanto o pro-grama foi concebido originariamente para se estender por aproximadamente 40 mil hectares na Capital.

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Justiça do Meio Ambiente.

Dentre as ações do GT, destacam-se a elabora-ção do Plano de Ação das Áreas de Proteção dos Ma-nanciais do Córrego Guariroba; Programa de Recu-peração de Áreas Degradadas e Conservação da Bacia Hidrográfi ca do Córrego Guariroba – Projeto Piloto; e Termo de Cooperação Técnica já celebrado entre o Estado de MS, por meio da Agraer, e a Prefeitura Municipal de Campo Grande, com o intuito de for-malizar o compromisso de atuação conjunta, o ajus-tamento de ações e o estabelecimento de condições básicas de cooperação para estimular a preservação ambiental e apoiar o desenvolvimento quantitativo e qualitativo relacionados às atividades da pecuária e silvicultura na APA.

Os integrantes do GT, numa demonstração ine-quívoca de que a união faz a força, reuniram-se em torno da questão, dividindo entre si as diversas tarefas, realizando inúmeras visitas de campo e procedendo à análise de dados georreferenciados, culminando na apresentação de um projeto executivo consubstancia-do em um Plano de Ação, o qual está em plena fase de execução na microbacia escolhida estrategicamente como piloto.

Paralelamente aos trabalhos técnicos, a Promo-tora de Justiça Mara Cristiane Crisóstomo Bravo ar-ticulou ações tendentes à implementação de políticas de preservação ambiental e de estruturação econômi-co-fi nanceira junto ao Poder Executivo Municipal e à Agência Nacional de Águas, promovendo e estimu-lando a realização de inúmeras reuniões, palestras, cursos especializados, audiências públicas, viabilizan-do à formação de parcerias e apresentando programas modernos e efi cientes, especialmente voltados à pro-teção das águas e à preservação do ecossistema local, culminando no Programa de Pagamento por Serviços Ambientais – PSA (ver box na página anterior) aos pro-prietários rurais, criado pela ANA e denominado em Campo Grande como “Programa Manancial Vivo”.

Recentemente, em 11 de novembro de 2010, a 26ª Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, cele-brou um Termo de Ajustamento de Conduta – TAC com o Município de Campo Grande, contemplando tanto a implantação de medidas de caráter normati-vo, administrativo e organizacional, como também ações específi cas de recuperação das estradas rurais, de mitigação de danos ambientais, de monitoramen-

to das atividades econômicas nas propriedades parti-culares, além da realização de programas ambientais diretamente voltados à preservação do manancial de abastecimento, mediante o apoio técnico e fi nanceiro necessário à recuperação integral da APA.

De acordo com a Promotora de Justiça, o traba-lho desenvolvido na região consistiu essencialmente na integração institucional dos diversos organismos am-bientais públicos e privados visando à preservação do bioma e à recuperação fl orestal, afi rmando que “são ne-cessários o apoio e a ação conjunta de todos aqueles in-teressados na manutenção da água potável para garan-tir a vida do córrego Guariroba e a excelente qualidade e a pureza das águas, lembrando que somente agindo com responsabilidade ambiental é que continuaremos a receber gratuitamente da natureza o que de melhor ela pode nos propiciar.”

Plano de Manejo

Ao constatar o crescente agravamento das condi-ções ambientais da bacia do Guariroba – fato que co-locava em risco o abastecimento de água da população campograndense, a 26ª Promotoria de Justiça buscou, inicialmente, viabilizar a realização de estudos científi -cos especializados na região, para somente após pautar a ação ministerial num caminho seguro e efi caz. Os estudos foram realizados por profi ssionais de diver-sas áreas da Biologia, Botânica, Geografi a, Hidrolo-gia, Geologia, Engenharia Cartográfi ca e Agronomia, sendo que os custos da confecção foram arcados pelo Município de Campo Grande e pela empresa conces-sionária de abastecimento de água da Capital.

É importante salientar que, ante a complexidade dos estudos e a fragilidade ambiental da APA, o Plano de Manejo demandou dois anos de estudos até ser con-cluído em agosto de 2008, quando foi apresentado ao Ministério Público Estadual, possibilitando sua inclu-são nos autos de Inquérito Civil nº 001/2006.

O Plano de Manejo abrange 14 (catorze) progra-mas que devem ser executados na bacia do Guariroba para a promoção da recuperação ambiental, os quais dividem-se em: Programa de Integração Institucional, Programa de Estruturação Econômico-fi nanceira, Pro-grama de Regularização de Reservas Legais, Programa de Delimitação e Cercamento de Áreas de Preserva-ção Permanente, Programa de Recuperação de Áreas

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de Preservação Permanente, Programa de Controle e Recuperação de Processos Erosivos, Programa de Re-cuperação de Reservatório e de Desassoreamento de Cursos D´água, Adequação das Instalações para Des-sedentação de Animais, Programa de Manejo do Solo e de Conservação de Pastagens, Programa de Controle do Uso de Agrotóxicos, Programa de Recuperação e Conservação de Estradas Vicinais, Programa de Edu-cação Ambiental, Programa de Monitoramento da Qualidade da Água e das Vazões Fluviais e Programa de Conservação.

Entre os programas, destacam-se as ações que visam à conservação das áreas de preservação per-manente, mediante sua delimitação, cercamento e construção de bebedores artifi ciais destinados à dessedentação do gado, impedindo sua entrada ou permanência na APP, já que esta prática arraigada é fator de degradação ambiental por desencadear a for-mação de processo erosivo, assoreamento e contami-nação da água destinada ao abastecimento público. O controle de processos erosivos das estradas muni-cipais também é objeto de um programa específi co, uma vez que o problema é bem evidente no local.

Dentre os inúmeros estudos realizados, o pla-

no mapeou a hidrografi a, geografi a e individualizou as propriedades rurais, relatando detalhadamente os problemas referentes à falta de conservação do solo nas propriedades e nas estradas municipais que ser-vem a APA do Guariroba, além de apontar as cau-sas dos principais problemas ambientais e as solu-ções viáveis tanto na área ambiental como na esfera econômica, viabilizando a exploração agropastoril de maneira sustentável, sem prescindir da preservação ambiental. De acordo com estimativa atualizada, os custos dos programas ambientais e dos investimentos para a completa recuperação ambiental da bacia gi-ram em torno de R$ 20 milhões, a serem aplicados ao longo de dez anos.

“A conquista de benefícios coletivos e ambien-tais torna inquestionável que a APA do Guariroba é merecedora de ações de recuperação e preservação do bioma cerrado; o Município leva o título de campeão em desenvolvimento sustentável; a sociedade ganha melhor qualidade de vida, garantindo a água potável para esta e para as próximas gerações; e, mais uma vez, o MPE cumpre seu papel constitucional na defe-sa do meio ambiente e dos cidadãos”, destaca a Pro-motora de Justiça.

Assoreamento provocado por erosão laminar na

bacia do Guariroba

Visão aérea de parte do reservatório de abastecimento de água que compõe a Bacia do Guariroba

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por Franciane Gonçalves e Aguinaldo Tibúrcio

PROJETO RIO MIRANDA

Incluído no Programa “S.O.S. Rios”, do Ministério Pú-blico Estadual, sob a coordenação do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça do Meio Am-

biente (Caoma), o Projeto Rio Miranda, iniciado em 2008, visa diagnosticar ambientalmente as propriedades que mar-geiam o rio, que tem aproximadamente 697km, em Mato Grosso do Sul. A atuação abrange, em uma ação conjunta, as Promotorias de Justiça das comarcas de Anastácio, Aqui-dauana, Bodoquena, Bonito, Corumbá, Guia Lopes da La-guna, Jardim, Miranda, Nioaque e Ponta Porã.

Inicialmente, a fi scalização partiu da nascente até a foz com o rio Paraguai, com o objetivo de identifi car os danos ambientais que causam, direta ou indiretamente, impactos

negativos ao rio e aos espaços territoriais especialmente pro-tegidos – Áreas de Preservação Permanente (APP), reservas legais e unidades de conservação. Foram investidos no pro-jeto aproximadamente R$ 473 mil.

Durante as análises foram avaliadas mais de 600 proprie-dades e identifi cados problemas como a supressão de matas ciliares, erosões, construções em APP, assoreamento, extra-ção de areia sem licença, e a captação de água para irrigação. Também foi constatado que mais de 40% das atividades exercidas nos locais eram voltadas ao turismo. Já em segun-do lugar, a pecuária predomina. Atualmente, cerca de 50% das APPs do rio Miranda e afl uentes encontram-se em re-cuperação.

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Em Miranda...

O Ministério Público Estadual, por intermédio do Promotor de Justiça Tiago Di Giulio Freire, titular da 2ª Promotoria de Justiça de Miranda, celebrou, até agosto de 2010, o 59º Termo de Ajustamento de Conduta referente ao Projeto Rio Miranda, que visa contribuir para a melhoria das condições ambientais de um dos maiores rios do Estado de Mato Grosso do Sul. De acordo com o Promotor de justiça, um dos TACs, fi rmados em maio de 2010, regularizou, con-sensualmente, do ponto de vista jurídico-ambiental,

mais de 204.500 hectares, sendo grande parte no Pan-tanal sul-mato-grossense. “Essa é mais uma vitória para o meio ambiente. Motivo de grande satisfação para o MPE”, afi rma o Promotor de justiça.

Com a realização de mais de 180 reuniões na sede da Promotoria de Justiça de Miranda, o trabalho cul-minou com um grande número de acordos, com resul-tados bastante signifi cativos para a região. Segundo o Promotor de Justiça, até o momento, somente foram ajuizadas cinco Ações Civis Públicas, já que o consenso tem prevalecido, até mesmo porque já está provado ser

PROJETO RIO MIRANDA CELEBRA TACs NO INTERIOR DO ESTADO

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o melhor caminho para ambas as partes, diante do menor custo e, sobretudo, por ser detentor dos resul-tados mais práticos e efetivos.

De acordo com Th iago Di Giulio Freire, ainda resta muito para o término do Projeto, principalmente por-que os Inquéritos Civis que tratam das áreas urbanas foram desmembrados, originando novos procedimen-tos. Assim, cada propriedade foi analisada de maneira individual. O trabalho contou com a parceria da 2ª Promotoria de Justiça, com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e da Polícia Militar Ambiental. “Es-tamos aguardando a fi nalização dos relatórios pelos técnicos do município para próximos passos”, conclui o Promotor de justiça.

Em Ponta Porã...

Na fronteira com o Paraguai, o MPE comemora mais um êxito na celebração dos Termos de Ajus-tamento de Conduta dos Inquéritos Civis vincu-lados ao Projeto Rio Miranda. Conforme o moni-toramento realizado pela Promotoria da Comarca de Ponta Porã, foram encontradas irregularidades consistentes como inexistência de licença ambien-tal, documentação legal, infrações de conservação e proteção do solo, identifi cação da área de reserva legal além de destinação inadequada para resíduos sólidos.

Segundo o Promotor de Justiça Marcelo Ely, fo-ram fi rmados 28 termos com proprietários de fa-

zendas na região que se comprometeram a inicialmen-te legalizar as áreas, submeter-se ao monitoramento dos órgãos competentes e a averbar 20% de área des-tinada a reserva legal. Observando o artigo 16, § 1º da Lei Federal 6.938/81 que prevê a obrigatoriedade do poluidor, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio am-biente e a terceiros, efetuados por sua atividade.

Também fi ca proibida, pelo acordo fi rmado, a pre-sença de animais no perímetro da Reserva Legal. Ou-

tro ponto acordado é a responsabilidade de elaborar laudos técnicos de acompanhamento das áreas em recuperação.

Para fi scalizar o cumprimento dos acordos, de-pende agora de parcerias com fundações do mu-nicípio de Ponta Porã. O entendimento amigável entre o MPE e os proprietários rurais foi imprescin-dível para que medidas de proteção e conservação fossem adotadas, garantindo a preservação das áreas do rio Miranda.

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Uma parceria parceria entre o Ministério Público Estadual, por intermédio do Promotor de Justiça Ricardo de Melo Alves, titular da 2ª Promotoria

de Justiça da comarca de Corumbá / MS, e a Universida-de Católica Dom Bosco, o Projeto Band´Alta vem trans-formando o córrego Band´Alta, afl uente da sub-bacia da Lagoa Negra, no Pantanal do município de Ladário/MS. O objetivo é a preservação da região, já que, segundo os estudos realizados, o rio pode secar devido à exploração de áreas próximas ao leito.

O projeto foi efetivado mediante o Termo de Ajusta-mento de Conduta – TAC, celebrado pelas instituições, vis-to que uma das propriedades situadas ao longo do córrego é a Fazenda Band’Alta, da Missão Salesiana de Mato Grosso (MS/MT), mantenedora da UCDB. O TAC foi fi rmado em 2006 devido à construção, há alguns anos, de uma pe-quena represa, quando não era exigida a licença ambiental.

por Franciane Gonçalves

PROJETO BAND’ALTA RESGATA A PROTEÇÃO

AMBIENTAL EM LADÁRIO/MS

Além de contribuir de maneira efetiva para a conser-vação da sub-bacia, os objetivos do Projeto eram identifi car parceiros inseridos nesse contexto, além de promover a sen-sibilização da sociedade local para a importância do proble-ma.

Para que os estudos começassem, foi acionado o La-boratório de Geoprocessamento da UCDB – ferramenta que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento de informações geográfi cas – que fez o diagnós-tico da área, além de requerer junto à Secretaria de Estado de Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia (Semac) e Instituto do Meio Ambiente – Pantanal (Imap) o licenciamento ambiental para o Projeto de Recuperação de Área Degradada (Prade).

A parceria entre a Universidade e o MPE foi em busca de recuperar a área que está alterada, principalmente pela pe-cuária, nas partes mais planas da bacia do córrego Band’Alta;

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e pela mineração, nos topos dos morros. “Acredito que a parceria aconteceu, principalmente pela facilitação de acesso às propriedades e principalmente pela cedência dos mapas das fazendas e chácaras, o que facilitou a identifi cação dos limites e avaliação de cada uma das propriedades”, salienta o professor.

De acordo com a Promotoria de Justiça, dentre os inquéritos civis instaurados com relação às proprie-dades rurais diagnosticadas, aproximadamente 70% culminaram na formalização de Termo de Ajustamen-to de Conduta em período inferior a um ano. As que restam estão sob análise de eventual Ação Civil Pública (ACP).

Cuidados com meio ambiente

Segundo o Promotor de Justiça Ricardo de Melo Alves, a região do Band’Alta é sensível e, durante muito tempo, houve depredação da mata ciliar e danos am-bientais e após o fi m do diagnóstico começou a melho-ria do local. “Por conta do Projeto, o lugar encontra-se em revitalização. Os proprietários, que fi rmaram o TAC, comprometeram-se a isolar a área para a recupe-ração natural até o início dos trabalhos, enquanto não sai a aprovação do Prade pelo órgão ambiental”, explica.

De acordo com Felipe Augusto Dias, professor responsável pelo Laboratório de Geoprocessamento da

UCDB, e que esteve à frente das pesquisas, a universi-dade cumpriu com o compromisso que assumiu com o MPE. “O estudo foi fi nalizado em agosto de 2009 e as informações foram disponibilizadas ao Ministério Público que, a partir dos resultados, iniciou a fase de conversação e elaboração dos TAC’s”, observa.

O próximo passo consiste no acompanhamento da execução dos projetos de recuperação da área degra-dada, observando o cumprimento do cronograma apro-vado pelo órgão ambiental e a efetiva revitalização da Área de Preservação Permanente e Reserva Legal.

Sensibilização

Como um dos objetivos do projeto é promover a sensibilização da sociedade local da importância da con-servação da bacia, de acordo com o Promotor de justiça, isso foi alcançado. “Dois encontros públicos foram rea-lizados pelos técnicos da UCDB durante o diagnóstico, onde fora levado ao conhecimento da comunidade e dos proprietários rurais as normas que regem a questão ambiental, mais especifi camente quanto à conservação do solo, da Área de Preservação Permanente e da reserva legal. Também foram enfatizados os aspectos técnicos da consequência da antropização da APP, especialmente quanto aos impactos junto ao recurso hídrico, fato que trará sensível modifi cação de consciência no trato da conservação ambiental”, destacou.

Ricardo de Melo Alves

Promotor de Justiça

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processo de consolidação do parque. As visitas foram acom-panhadas da Polícia Militar Ambiental.

Segundo o diretor do parque Leonardo Tostes, 95% das áreas já foram adquiridas e repassadas pela Companhia Elétrica do Estado de São Paulo ao Estado de Mato Gros-so do Sul, os outros 5% estão em litígio. “Justamente es-tes cinco por cento de área é que temos enfrentado alguns problemas como criações irregulares e queimadas”, aponta Leonardo.

Os relatórios do Daex apontaram os problemas causados pela criação de animais como o agravamento de processos erosivos nas margens, contribuindo para o asso-reamento do leito do rio Paraná. Em alguns trechos, pas-tagens tomavam o lugar da vegetação natural. A inspeção encontrou construções de currais e depósitos de sal, e sinais claros da utilização das áreas de preservação, para criação extensiva de gado.

O Plano de Manejo do Parque Várzeas do Ivinhe-ma barra quaisquer instalações de infraestrutura e atividade que comprometam os recursos naturais no local. Este plano está amparado pelo artigo 225 na Lei do SNUC (Sistema

Brejos, alagadiços, pássaros migratórios, fragmentos da Mata Atlântica e Cerrado, este é o cenário do Parque

Estadual Várzeas do Rio Ivinhema, o primeiro parque de conservação de ecossistemas naturais de Mato Grosso do Sul. Com uma área de mais de 73 mil hectares que abran-ge os municípios de Taquarussu, Jateí e Naviraí, o Várzeas do Invinhema está localizado na bacia do Paraná sendo o último território sem represamento da hidrelétrica de Por-to Primavera no rio Paraná. Criado através do Decreto nº 9.278, de 17 de dezembro de 1998, a unidade de conserva-ção apresenta inundação periódica, e funciona como refú-gio de espécies animais e vegetais.

Para preservar e contribuir para a manutenção das características naturais do Parque Várzeas do Ivinhema, o Ministério Público Estadual propôs, em 2009, uma Ação Civil Pública Ambiental com pedido de liminar para que proprietários de pelo menos três fazendas retirassem das áreas, que deveriam ser preservadas, criações de gado e construções irregulares. O Promotor de Justiça Oscar de Almeida Bessa Filho solicitou uma inspeção técnica do Daex (Departamento Especial de Apoio às Atividades de Execução do MPE) que constatou que grande parte das cabeças de boi estava em territórios já desapropriados no

por Aguinaldo Tibúrcio

MPE BUSCA PROTEÇÃO DO PARQUE VÁRZEAS DO IVINHEMA

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Nacional das Unidades de Conservação) 9.985, de 2000, que estabelece a proibição de alterações ou ações que estejam em desacordo com os planos de manejo já desenvolvidos.

Os técnicos do Daex ao concluírem a vistoria, sugeriram que tanto as construções quanto as criações agropastoris fossem retirados e as áreas im-pactadas precisariam ser restauradas através de processos de refl orestamento com vegetação nativa. O monitoramento foi feito através de vistas das áreas e sensoriamento remoto.

Em julho deste ano o Tribunal de Justiça do Estado, deu parecer ao recur-so apresentado pelos requeridos tornando o pedido de liminar sem efeito. Enquanto o MPE aguarda uma defi nição, Policiais Militares Ambientais constatam cabeças de gado sendo criadas junto ao pedido. Segundo a limi-nar concedida pela Juíza Elen Priscile Xandu Kaster Franco os requeridos terão de recompor a área que antes era utilizada por donos de propriedades rurais como pasto.

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PESQUISAS

Há mais de 24 anos, o Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura (Nupélia) da Univer-sidade Estadual de Maringá (UEM), do estado do Paraná, utiliza a área para realizar estudos de longo prazo. As pesquisas analisam o impacto das infl uências de fenômenos como El Niño, represamento e até mesmo as mudanças climáticas globais que interferem no ecossistema local.

Segundo o coordenador de Projeto de Pesquisas de Longo Prazo Angelo Antônio Agostinho, Várzeas do Ivinhema funciona como um vasto campo de desenvolvimento de análises. “Os acadêmicos e pesquisadores já elaboraram mais de 200 teses e 400 trabalhos utilizando essencialmente a região do parque”.

O coordenador reforça a opinião de que medidas de proteção devem ser tomadas a fi m de possibilitar que a própria comunidade conheça e contribua na proteção do parque. “A conservação desta área é importante para preservar a riqueza e equilíbrio das espécies encontradas”.

Além da universidade paranaense, as instituições sul-mato-grossenses também realizam estudos na área de proteção ambiental. Os acadêmicos da Universidade Federal da Grande Dourados elaboraram muitos trabalhos a respeito da fl ora encontrada no parque.

DAEX

Devido à extensão, difi culdades de acesso do parque Várzeas do Ivinhema, o Departamento Especial de Apoio às Atividades de Execução do MPE possui projeto de monitoramento ambiental, possibilitando o acompanhamento de possíveis danos ambientais e dar a localização precisa para as autoridades.

O sensoriamento remoto será realizado por uma empresa ganhadora de licitação que fará imagens com 1m² de resolução. Conforme a assessora em Ciência da Terra Th ais Gisele Torres, servidora do Núcleo de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto do Ministério Público, o trabalho seria exclusivamente para verifi car as mudanças ou interferências ocorridas nas áreas de proteção. “Este tipo de análise é feito em es-paço de tempo, primeiro registramos como está o local, após alguns anos, fazemos uma nova captação de imagens, assim poderemos avaliar o que está modifi cado. A partir dos relatórios emitidos serão mais precisos e caso haja a necessidade de acionar as autoridades competentes”.

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ENTREVISTA

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PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA FALA SOBRE A GESTÃO E A ATUAÇÃO DO MPE NAS QUESTÕES AMBIENTAIS

A quinta edição da revista “MPEspecial” traz uma entre-vista inédita com o Procurador-Geral de Justiça Paulo Alber-to de Oliveira, sobre os seis primeiros meses de sua gestão. O Procurador-Geral avalia os desafi os enfrentados pela Instituição e das primeiras e importantes conquistas como a instalação de nove Promotorias de Entrância Especial, além da atuação junto ao Governo do Estado para a manutenção do duodécimo, res-saltando a atuação ministerial na proteção do meio ambiente.

Confi ra os principais temas abordados na entrevista com o Procurador-Geral de Justiça Paulo Alberto de Oliveira.

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MPE: Como foram os primeiros seis meses de V. Exª como Procurador-Geral de Justiça?

Após a posse, os seis primeiros meses foram marcados pelas difi culdades naturais do período de adaptação às funções inerentes ao cargo, não obstan-te a experiência como Chefe de Gabinete e Secretá-rio-Geral por quatro longos anos durante as gestões da Dra. Irma Vieira de Santana e Anzoategui como Procuradora-Geral. Foi um período de difíceis nego-ciações com o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, que pretendia a redução do duodécimo, bem como difi culdade sem precedente na história do Mi-nistério Público do Estado de Mato Grosso do Sul, eis que a Instituição se viu envolvida em denúncias de corrupção que repercutiram nacionalmente.

Tais circunstâncias exigiram muito da Adminis-tração Superior que teve de agir de forma célere e rigo-rosa a fi m de resguardar a credibilidade e a confi ança que a sociedade deposita no Ministério Público, de-monstrando que não compactuamos com qualquer forma de lesão ao erário, adotando todas as providên-cias que a gravidade da situação estava a exigir, com a instauração, pela Procuradoria-Geral de Justiça, de inquérito civil para apurar os atos de improbidade ad-ministrativa, instauração de PIC – Procedimento In-vestigatório Criminal, designando Promotores e Pro-curadores de Justiça para atuar por delegação, além de

conferir todo o apoio à Corregedoria-Geral do Minis-tério Público na apuração de eventual responsabilida-de administrativa de membro do Ministério Público; e incondicional apoio aos membros do Ministério Pú-blico da Comarca de Dourados-MS, na apuração de todos os atos que deram ensejo às denúncias de cor-rupção, seja naquela cidade como em qualquer outra cidade do Estado de Mato Grosso do Sul.

MPE: Quais os principais pontos que marca-ram a gestão de V. Exª neste período?

Não obstante as difi culdades nominadas, a ad-ministração do Ministério Público necessitava pros-seguir, assim, envidamos esforços e fomos exitosos no sentido de demonstrar ao Governo do Estado de Mato Grosso do Sul a impossibilidade de redução do duodécimo, sob pena de paralisar a Instituição.

Movimentamos a carreira de forma inédita, ins-talando e provendo nove Promotorias de Justiça de Entrância Especial, visando propiciar à sociedade um melhor atendimento pelo Ministério Público. De-mais disso, em razão da decisão do Supremo Tribu-nal Federal, logo no início da nossa gestão, nos autos da ADI 1916, delegamos aos Promotores de Justiça atribuições para atuarem nos feitos em que se apura a prática de improbidade administrativa pelas auto-

Paulo Alberto de OliveiraProcurador-Geral de Justiça

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Promovido por merecimento a Promotor de Jus-tiça de entrância especial, desde 23 de setembro de 1996, foi titular da 6ª Promotoria de Justiça da co-marca de Campo Grande. Exerceu as funções de Chefe de Secretaria de Gabinete da então Procuradora-Geral de Justiça Irma Vieira de Santana e Anzoategui e Se-cretário-Geral do Ministério Público, de 17 de maio de 2004 até 8 de maio de 2008. Promovido, tam-bém pelo critério de merecimento, assumiu o cargo de Procurador de Justiça no dia 7 de março de 2008. Foi eleito representante do Colégio de Procuradores de Justiça no Conselho Superior do Ministério Públi-co em 16 de abril de 2010. Até a posse no cargo de Procurador-Geral de Justiça, atuou como coordena-dor do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Eleitorais, desde o dia 8 de abril de 2009.

Currículo

Há cerca de seis meses como Procurador-Geral de Justiça, para o biênio 2010/2012, Paulo Alberto de Oli-veira é natural de Ribeirão do Pinhal – Paraná. Ingressou no Ministério Público Estadual, sendo nomeado Promo-tor de Justiça Substituto, em 6 de outubro de 1989. Em agosto de 1990, foi promovido a Promotor de Justiça e designado para a comarca de Deodápolis, de primeira en-trância, sendo elevado em seguida a Promotor de Justiça da comarca de Naviraí, de segunda entrância. Foi desig-nado para coadjuvar a Promotoria de Justiça do Patrimô-nio Público, Social e Curadoria das Fundações da comar-ca de Campo Grande em 1997, ano em que também foi designado, com prejuízo de suas funções, a exercer o car-go de Assessor Especial do Procurador-Geral de Justiça.

ridades mencionadas no artigo 30, inciso X, da Lei Complementar Estadual nº 72, de 18 de janeiro de 1994, também no intuito de permitir uma atuação mais efetiva da Instituição. Conseguimos garantir, no âmbito do Conselho Nacional do Ministério Públi-co, o reconhecimento expresso da correção de todas as verbas. Finalizamos o XXIV Concurso de Provas e Títulos para o ingresso no cargo de Promotor de Justiça Substituto, dando posse a 18 novos membros. Inauguramos o prédio anexo na Procuradoria-Geral de Justiça, possibilitando atender de modo mais ade-quado aos Procuradores de Justiça. Estamos realizan-do, ainda sob a coordenação do CEAF, concurso para ingresso de novos estagiários.

MPE: V. Exª. acredita que a sociedade com-preende a atuação do MPE?

Sem dúvida. Quem não compreende e não acei-ta nossa atuação são os maus gestores das verbas pú-blicas, são os que agem contrariamente aos interesses da sociedade, violando os princípios legais, éticos e morais.

Mas é importante também que o Ministério Público busque uma constante aproximação com a sociedade, possibilitando, com transparência, a divul-gação de sua atuação em prol da construção de uma sociedade menos desigual.

MPE: Quais as medidas para aproximar ain-da mais o MPE da Sociedade?

O Promotor de Justiça não pode perder nunca a referência de que o povo é o destinatário de sua atu-ação. A legitimidade de seu agir é conferida pelo ci-dadão. Assim, o membro do Ministério Público deve conviver com a sociedade de forma integrada social e institucionalmente, atender ao público, ter humildade em sua atuação, não se colocar como o único detentor

da verdade, procurar soluções que melhor atendam aos interesses da sociedade, com uma condução fi rme e conciliatória e nunca transigir com o intransigível.

MPE: Como V. Exª. avalia o trabalho do Mi-nistério Público de Mato Grosso do Sul na área ambiental?

O Estado de Mato Grosso do Sul tem um enor-me potencial ambiental e exige uma atenção prioritá-ria do Ministério Público. É importante a agregação e o compromisso dos membros da Instituição, consoli-dada com a rede de Promotores de Justiça, resultando em intensa atuação institucional, especialmente nos temas pertinentes à área de reserva legal, preservação permanente, ao setor sucroalcooleiro e o carvoeja-mento.

Os Promotores de Justiça, na atuação cotidia-na da defesa do meio ambiente, estão em permanente vigilância, visando desenvolver ações na preservação e conservação desse bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida.

MPE: Como V. Exª visualiza o Ministério Pú-blico do futuro?

O Ministério Público do futuro há de continuar a atender as demandas coletivas, estar atento para as diretrizes traçadas pela ordem constitucional, em es-pecial, a defesa da cidadania, da dignidade da pessoa humana e do Estado Democrático de Direito.

As mazelas sociais advindas da imensa desigual-dade hão de direcionar os rumos da Instituição. Será imperiosa a defesa intransigente dos Direitos Huma-nos, um olhar mais marcante para os confl itos gera-dos por uma sociedade globalizada, em especial, os crimes cibernéticos e os questionamentos originários da Bioética, além do meio ambiente e demais ques-tionamentos atinentes à defesa dos direitos coletivos e difusos.

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Artigo

REFLEXÕES SOBRE O CRIME DE VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL

PRATICADO PELO PEQUENO COMERCIANTE

A falta de oportunidade – ou de interesse – para o aprendizado de uma profi ssão lícita e o lucro fácil

que a comercialização de produtos piratas proporciona a quem os comercializa estimulam cada vez mais pessoas a seguirem por essa senda da criminalidade.

Para recrudescer esse incentivo, ocasionando, por via refl exa, o fomento de tal prática delitiva, estão os preceden-tes de alguns tribunais , a considerar uma irrelevante con-duta penal aquela de comercializar produtos contrafeitos.

Intitulada por alguns como “o crime do século XXI” , a pirataria não pode ser tratada como algo normal. É pre-ciso, pois, que se adote uma visão mais ampla das impli-cações resultantes da contrafação e da sequente comercia-lização dessas mercadorias, mesmo daqueles que são seus distribuidores fi nais.

Data maxima venia, a aplicação de dois princípios – o da insignifi cância e o da adequação social – para afastar a tipicidade material de quem comercializa materiais contra-feitos, não devem ter, de regra, aplicabilidade à conduta de

quem faz de seu meio de vida e sobrevivência a comerciali-zação de materiais falsifi cados³.

Para o afastamento da tipicidade do crime de vio-lação de direito autoral pelo princípio da insignifi cância – especifi camente a conduta de quem comercializa produtos piratas – seria preciso que ocorresse uma aberração, como, por exemplo, processar criminalmente alguém que copia “um CD musical de um amigo para uso doméstico e ex-clusivo seu”, ou nos casos em que a quantidade de material pirateado e/ou colocada à venda, seja, de fato, desprezível, irrisória, mínima a ponto de tornar ridícula a tutela do bem jurídico pelo Direito Penal.

No que se refere à aplicação do princípio ou teo-ria da adequação social, também não é possível afastar, em tese, a tipicidade material do crime de comercialização de produtos piratas e seus demais núcleos, quando se sabe que essa conduta, dentre vários aspectos negativos que gravitam em seu entorno, ocasiona concorrência desleal, lesa o fi sco, agrava o desemprego, alimenta a informalidade, oferece ao

1 Ad exemplum, Recurso em Sentido Estrito – N. 2010.001178-1/0000-00 – Campo Grande, 1ª Turma Crim., rel. João Carlos Brandes Garcia, Dj.2.172, p. 12-04-201;2 Esse é o título de dois textos extraídos dos sites http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/temas -especiais-28i.asp, extraído em 24-4-2010, e http://www.sindireceita.org.br/acms/acms_exec/funcao/versao_impressao.php?ID_MA, extraído em 28-4-2010; 3 TJRS Mandado de Segurança n. 70012221297 Rel. Fabianne Breton Baisch j. 19/08/2005, DJ 22/09/2005.

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Jiskia Sandri TrentimPromotora de Justiça do GAECO/MS

e Coordenadora do Grupo de Segu-rança Institucional do GNCOC da

Região Centro-Oeste

consumidor um material de baixa qualidade e sustenta o crime organizado.

Especifi camente quanto a essa última consequência, é preciso registrar que a pirataria gera considerável lucro, o qual é facilmente incorporado em “empresas” que dela se servem, incrementando a prática de crimes mais graves, tais como o tráfi co de drogas, tráfi co de armas etc., sem que isso seja visível à maior parte da população.

O Supremo Tribunal Federal, recentemente, mani-festou-se sobre a questão em pauta, dando a seguinte toa-da5:

EEMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. VENDA DE CD’S ‘PIRATAS’. ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE DA CONDUTA POR FORÇA DO PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL. IMPROCEDÊN-CIA. NORMA INCRIMINADORA EM PLE-NA VIGÊNCIA. ORDEM DENEGADA. I – a conduta do paciente amolda-se perfeitamente ao

tipo penal previsto no art. 184, § 2º, do Código Penal. II – Não ilide a incidência da norma in-criminadora a circunstância de que a sociedade alegadamente aceita e até estimula a prática do delito ao adquirir os produtos objeto originados de contrafação. III – Não se pode considerar so-cialmente tolerável uma conduta que causa enor-mes prejuízos aos Fisco pela burla do pagamento de impostos, à indústria fonográfi ca nacional e aos comerciantes regularmente estabelecidos. IV – Ordem denegada.

Logo, não é possível considerar sem valor jurí-dico penal, de forma genérica, a conduta do distribuidor fi nal de materiais contrafeitos, selecionada por nossos le-gisladores como sendo de necessária proteção pelo Direito Penal, com base no princípio da insignifi cância e na teoria da adequação social, ainda que sua distribuição seja de pequena escala. É necessária a análise do caso concreto, sem perder de vista as sérias consequências da prática da pirataria e do seu fomento.

4 NUCCI, Gulherme de Souza. Código Penal Comentado. 6 ed., São Paulo: RT, 2006, p. 775.5 STF Habeas Corpus 98.898 São Paulo, Min. Ricardo Levandowski, j. 20-04-2010, DJ 21-05-2010;

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TAC NA PRÉ-HISTÓRIA DO MP

Em qualquer roda onde se reúna um punhado de promotores, misturando alguns antigos e novatos,

a conversa sempre resvala para o exercício da função. E pa-rece que as coisas pitorescas acontecem mais nas Comarcas de primeira, onde cada um trabalha sozinho, sem ninguém para se aconselhar. E quanto mais voltamos no tempo, mais histórias lembramos. Contudo, apesar das imensas difi cul-dades, nós, mais antigos, à unanimidade, lembramos com nostalgia desse período vivido nos rincões desse nosso Es-tado. Em oposição à precariedade e os baixos vencimentos, tínhamos, para compensar, a amizade fácil do povo simples, extremamente generoso e solidário. Foi nesse ambiente que passei meus melhores momentos da carreira.

O ano era 1983, o mês era janeiro, o dia era 31. Muita chuva e eu chegando em Mundo Novo para assumir o cargo de Defensor Público. Depois passei no concurso para Pro-motor e ali fi quei. Cidade sem asfalto e estrutura precária. Casas de madeira. Telefone só um, e público, sempre com fi la e todos ouvindo as conversas. Máquinas de escrever ma-nual e papel carbono para as cópias. Paletó único pendu-rado no encosto da cadeira. Camisa de mangas compridas

e gravata de crochê com nó eterno. Gabinete minúsculo dividido com o defensor. Ventilador tipo turbina de avião, cujo barulho impedia qualquer conversa. Nenhum papel parava em cima da mesa. Se fosse necessário algum diálogo, ele era desligado e abria-se uma pequena janela de vidro. Aí era a poeira que entrava. Bem... mas tudo era divertido.

Nessa pacata cidade, depois de devidamente instalado em uma simples e bucólica casa de madeira, fornida de móveis fabricados lá mesmo, com cinco toras de guaiçara importadas do Paraguai. Corcel I ano 76 “De luxo”- verde abacate com teto de vinil - estacionado na garagem, já ca-sado e com dois fi lhos. Amigo do juiz, do defensor e dos cinco advogados militantes, além de outros profi ssionais li-berais e comerciantes. Frequentador dos jantares do Lions e das quermesses, nos quais éramos obrigados a levar pratos e talheres. Ah! Sauna gelada do Clube Tapajós. Era o que tí-nhamos. E posso afi ançar que esse período foi inesquecível.

Nesse ambiente de imensa camaradagem, minha rua ti-nha como leiteiro o seu Zé. Brincalhão que só, era a alegria da meninada quando passava acompanhado de sua char-rete, puxada por uma égua baia, já com a pelagem esbran

Crônica

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quiçada. Ela “conhecia” todos os fregueses, afi nal parava no portão de cada um deles, sem receber qualquer coman-do. Seu Zé caminhava ao lado e enchia as vasilhas deixadas em cima dos pilares dos muros ou penduradas nas cercas. Pois é, o leite era de canequinha, na época pré-pasteuriza-ção. Um dia, após recolher a leiteira, quando fui levá-la ao fogo, percebi um lambari nadando folgadamente. Que o leite vinha aguado não era novidade, mas com peixe dentro já era demais. Após colocar o lambarizinho em um aquário improvisado com água limpa e fi car na dúvida se continua-va a fervura – não me recordo o que acabei fazendo -, passei a pensar como Promotor na era pré Código de Defesa do Consumidor. Achei melhor falar com seu Zé, afi nal ele era boa-praça.

- Ô seu Zé, sabe que ontem achei um lambari no leite? E ele, com seu jeitão galhofeiro, respondeu:

- Mas “dotô”, com o preço que o senhor paga o senhor queria que tivesse um dourado? Não pude deixar de en-tender a lógica dele.

Após rápida sindicância informal junto aos vizinhos, já contemplados com outros exemplares da ictiofauna local, descobrimos que o problema era que o seu Zé não tinha clientela fi xa, ao contrário do número de vacas. As-sim, quando o leite era pouco, ele completava os latões afundando-os em uma nascente próxima à sua chácara. Após ser delicadamente desmascarado, foi idéia dele a proposta de um acordo. Era uma obrigação de fazer. A partir daquele dia, ele se propunha a colocar uma penei-rinha de trama miúda na boca dos latões antes de intro-duzi-los na água. Pareceu-nos razoável. E hoje não tenho mais notícias do seu Zé, mas sua fi el clientela continua com saúde.

Mauri Valentim RiciottiProcurador de Justiça

([email protected])

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Morreu, dia 18 de junho passado, aos 87 anos, José Saramago, escritor português ganhador do Nobel de Literatura em 1998 e de um prêmio Camões, por sua obra mais famosa, publicada em 1995: Ensaio Sobre a Cegueira.

O autor, ateu declarado, foi muito criticado pela Igreja, vez que trazia sua fi losofi a de vida para suas obras, que é de uma racionalinadide intrigante.

Ensaio Sobre a Cegueira traz um enredo den-so, introspectivo e faz uma profunda análise da ce-gueira humana. Não da cegueira negra que impede a visão material das coisas que nos cercam, mas uma cegueira branca, uma bruma que envolve nossa vi-são de sociedade e os elementos formadores desta. Uma “treva branca” que nos embota e impede de ver e sentir os problemas humanos. Por isso mesmo, é assustador.

O tema, de forte apelo social, foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, sob a direção de Fernando Meirelles. Fala da “responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam”.

Seu estilo, formado por frases longas, contí-nuas, sem parágrafos para interlocuções e com pou-ca pontuação, era sua característica maior.

À primeira vista parece cansativo, todavia, não precisa muito, basta avançar umas poucas pá-ginas para que nos atiremos por inteiro e não nos desgrudemos da obra. Os fatos vão se sucedendo num desenrolar acelerado e envolvente, é como se

JOSÉ SARAMAGO:a lucidez polêmica

fi zéssemos parte dele. Aos poucos identifi camos os fatos e atos do nosso cotidiano. Percebemos, então, que Ensaio Sobre a Cegueira, retrata a própria hu-manidade individualista e caos em que vivemos. Cada um preocupado com sua própria vida, seu “mundinho”.

Os personagens não têm nome. São identi-fi cados apenas por um sinal exterior característico, como: “o cego”, “a mulher do médico”, ” o homem da venda preta” e tantos outros, nossos conhecidos, às vezes íntimos, que vão se apresentando.

À “mulher do médico” fi ca reservada a capaci-dade de ver, e é por seus olhos, em princípio atôni-tos e depois conformados e amargos que o autor nos orienta e mostra todo o horror, frieza e ignomínia que pode nos acometer quando uma sociedade se desajusta e as regras de poder já não são sufi cientes para apresentar soluções aos problemas cotidianos.

É um livro para ler e reler. Para crítica e auto-crítica. Para avaliar o quão frágeis somos e o quanto necessitamos e podemos fazer.

ente do programa e que está na pauta do go-verno para o ano de 2010 a continuação do Projeto Construindo Liberdade. Quanto à participação do Ministério Público, efetivamente está cumprindo sua missão legal, eis que duas vezes por mês, no mí-nimo, visitam as unidades para fi scalizar e verifi car o número de internos que estão trabalhando e quais realmente estão sendo capacitados.

Cultura

José de Sousa Saramago nasceu em 16 de Novembro de 1922 no vilarejo de Azinhaga a 100 km de Lisboa. Em 1947, o escritor português publica seu primeiro roman-ce “A Viúva”, mas, ao ser editado, leva o título “A Terra do Pecado”. Saramago retorna ao mundo literário em 1966 com “Os Poemas Possíveis”. Polêmico por suas opiniões, José Saramago foi premiado com o Nobel de Literatura em 1998. O escritor faleceu em 18 de junho de 2010 em sua casa em Lanzarote.

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Nilza Gomes da Silva

Procuradora de Justiça

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Memória

O NASCIMENTO DE UMA

NOVA ERA NO SUL DO CENTRO-OESTE

David Rosa Barbosa

Procurador de Justiça

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I nicialmente membro do Ministério Público de Mato Grosso, como Defensor Público, cargo que ainda

competia às funções ministeriais, David Rosa Barbosa, que escolheu o Estado de Mato Grosso para fi xar residência e estabelecer a carreira profi ssional, participou do nascimen-to do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, que este ano completou 31 anos.

Casado com a advogada Marina de Viana Bandeira Barbosa, pai de três fi lhos e avô de quatro netos, este atual Procurador de Justiça Aposentado revela em suas palavras as lembranças de uma época de mudanças e muitos confl itos.

Aposentado desde 1988, David Rosa Barbosa atuou também, antes de ingressar no MPE, como vereador de Dourados, foi pré-candidato à Prefeitura da cidade, e pro-fessor, função que o acompanhou durante muitos anos. “Sou membro do MP por profi ssão, e professor por voca-ção”, diz.

Acompanhe, nas palavras de David Rosa Barbosa, como foi a criação do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul.

“ Estando eu em Copacabana, numa banca de revis-ta, chegou meu amigo e colega, Dr. Artur Castilho Neto, Procurador da República, no momento exercendo o cargo de Secretário-Geral do Ministério da Justiça, pediu-me que lhe indicasse o nome de um membro do Ministério Público

de Mato Grosso para integrar a comissão de divisão e im-plantação do novo Estado, isso por insistência do Ministro do Interior, Rangel Reis, Coordenador-Geral da divisão e implantação do novo Estado.

Respondi de imediato: - Aqui está ele: sou eu.

Artur Castilho Neto deu uma gargalhada.

- Mas você é Defensor Público, não é?

- Sou Defensor Público e membro do Ministério Público, porque, segundo o artigo 50 da Constituição de 1967 e artigo 53 da Emenda Constitucional nº 1 de 1969 da Constituição de Mato Grosso, o Ministério Público é constituído de: o Procurador-Geral de Justiça e o Procura-dor-Geral Substituto de Justiça, na segunda instância; dos Promotores de Justiça e dos Defensores Públicos, na pri-meira instância. Com isso, encaminhou-me ao Ministro da Justiça para uma entrevista.

Durante a entrevista, pediu-me permissão de ter mais três colegas nesta assessoria e o Ministro aquiesceu. Indiquei-lhe, então, os nomes dos membros do MP: Nel-son Mendes Fontoura, Harley Cardoso Galvão e Élio Ro-balinho Pereira, isso para que minha escolha não aparentas-se fato antiético.

Todos foram nomeados assessores juntos à Comis-são. Nomeados, eu e Harley fomos para o Rio de Janeiro nos juntando aos membros da Comissão – R. México, 11 – Rio de Janeiro – Ficando Nelson e Robalinho em Campo

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Grande para as informações necessárias. Assim, formula-mos a Lei Orgânica do MP de Mato Grosso do Sul.

Um anteprojeto arrojado para a época. Nele cons-tava a autonomia fi nanceira e administrativa do MP; a de-fesa dos direitos indisponíveis do cidadão; a nomeação do Procurador-Geral de Justiça, após eleito pelo Colégio de Procuradores, realizado pelo próprio Procurador-Geral de Justiça e a defesa do silvícola.

Terminado o anteprojeto, levei-o ao Dr. Artur Cas-tilho Neto que, juntamente com o Ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, bateram palmas pelo avanço, porém achavam que o momento não era oportuno (Regime Mili-tar), que além de supra constitucional, a matéria versada já se encontrava em debate no Congresso Nacional e logo iria para a Constituição Federal. Assim, foi aceito o anteprojeto no tocante a essa parte, como a existente Lei Orgânica no MP do MT. Aprovado o anteprojeto, resultou-se no De-creto-Lei nº 24, assinado pelo Governador Harry Amorin Costa e publicado no Diário Ofi cial em 01/01/1979.

Publicado o Decreto-Lei, o governador Harry Amo-rim Costa promoveu os Drs. Adnil Maria da Silva, David Rosa Barbosa, Harley Cardoso Galvão e Nelson Mendes Fontoura a Procuradores de Justiça, compondo, assim, o Colégio de Procuradores juntamente com João Antônio de Oliveira Martins, que já vinha como Procurador de Justiça do Estado Uno.

A direção do Ministério Público Sul-mato-grossense fi cou assim constituída: Adnil Maria da Silva, Procuradora-Geral de Justiça; David Rosa Barbosa, Procurador-Geral Adjunto de Justiça; Harley Cardoso Galvão, Corregedor-Geral do MP; e Nelson Mendes Fontoura e João Antônio de Oliveira Martins, membros do Colégio de Procuradores.

Paralelamente, fui designado Procurador da Repú-blica pelo Procurador-Geral da República, Dr. Inocêncio dos Mártires, e, como consequência, nomeado pelo Presi-dente da República, Ernesto Geisel, Procurador Regional Eleitoral, cargos que ocupei de 1/1/1979 a 31/12/1979, até que chegou o Procurador da República de carreia, Otávio Pacheco Lomba, assumindo a Procuradoria de República em Campo Grande/MS.

No MP Sul-mato-grossense, assumi a Procuradoria-Geral de Justiça em janeiro de 1980, tendo como meu Ad-junto, Harley Cardoso Galvão e Corregedor-Geral do MP, João Antônio de Oliveira Martins.

Durante a minha gestão, assassinaram o Promotor de Justiça de Três Lagoas, Manoel de Oliveira Gomes, logo após ele deixar a Tribunal do Júri - fato de grande reper-cussão no Estado e muito trabalho. Faleceu, também, o Promotor de Justiça de Corumbá, Cássio Leite de Barros, picado por uma cobra “boca de sapo” (jararaca), momento também de grande alarde. Nunca se soube se a cobra foi colocada no barco ou se ela mesma entrou. Outro fato hor-rível, foi o suicídio do Promotor de Justiça Marcelo Con-ceição Lopes, de Rio Verde de Mato Grosso.

Além desses acidentes desagradáveis, a Procuradoria-Geral de Justiça não possuía máquinas, nem mesmo papel para o desempenho de suas funções. A folha de pagamento era feita manualmente, tendo como responsável a União, que não enviou a verba determinada pela Lei Complemen-tar nº 31, como ajuda aos dois Estados.

No mais, deixando o cargo de PGJ, fi quei como membro da Comissão de Concurso, por dez anos, dando meus pareceres até minha aposentadoria em maio de 1988.

Hoje, sinto-me orgulhoso de ter lutado pela Insti-tuição, onde o Promotor de Justiça não deve obediência a ninguém, somente à lei e à sua consciência.

Feliz, muito mais, porque a Constituição cidadã ele-geu também princípios e valores fundamentais para que o Estado Democrático de Direito fosse consolidado. Com isso, fazia-se necessário, portanto, escolher quem zelasse por esses valores e princípios, sendo escolhido o Ministério Público.

Finalizando, hoje o Ministério Público comprome-tido com a defesa do Estado Democrático de Direito, é de-fensor nato da cidadania e da dignidade da pessoa humana.

Uma Instituição sem passado é um Ministério Pú-blico sem futuro; já o Ministério Sul-mato-grossense é uma Instituição, hoje, com um passado presente na memória de cada um de seus membros.”

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por Franciane Gonçalves, Daiane Libero e Emanuel Caires

ALIANÇA ESTRATÉGICA: MPE ATUA COM A COLABORAÇÃO DE DIVERSOS ÓRGÃOS NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Aatuação do Ministério Público Estadual do Mato Grosso do Sul na área de meio ambiente possui di-

versas nuances e esferas, uma vez que é um tema vasto. Em Mato Grosso do Sul, a fi scalização e execução de leis de proteção ambiental alcançam os rios, córregos, nascentes, reservas legais e todo o cerrado pantaneiro; agrega o am-biente urbano, quando se trata da água consumida pelos cidadãos, do lixo produzido nas cidades, da poluição que, muitas vezes, prejudicam a saúde dos cidadãos, e de direitos e deveres no que concerne à obrigação de conservar e pre-servar a natureza.

É imprescindível para o Ministério Público que esta luta não seja solitária e exclusiva. Por isso, existem parcei-ros em âmbitos múltiplos que, fomentados pela legislação e em sua própria pertinência, atuam provendo ao MPE as

ferramentas para fazer cumprir leis e recuperar o que foi degradado. Quando a legislação não existe para determinar parcerias entre entidades e órgãos são realizados convênios e projetos. Esses parceiros do MPE atuam de forma a acres-centar agilidade e fornecer subsídio aos Promotores de Jus-tiça nas questões ambientas, fi scalizando, emitindo laudos e pareceres, bem como contribuindo com informações e ações.

Segundo o Promotor de Justiça do Meio Ambiente Alexandre Lima Raslan, a cooperação entre órgãos e entida-des serve como uma base aliada para que o Ministério Pú-blico atue satisfatoriamente. “Nós estamos evoluindo com essas parcerias. Eles fi scalizam, apreendem e buscam, e nós temos poderes para agir”.

Aliança

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Fiscalizadores

Os principais parceiros do Ministério Público na fi scalização do meio ambiente são órgãos municipais, es-taduais e federais. São eles: a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur), Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) e Insti-tuto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No interior do estado, a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) atua como parceira do MPE. Outros parceiros que trabalham de forma semelhante com o Ministério Público são a Polícia Militar Ambiental, a Polícia Federal, e a Polícia Rodoviária Federal.

“Esses órgãos comunicam apreensões e fi scalizações e nós atuamos na parte civil e penal”, afi rma Alexandre Ras-lan. Segundo ele, forma-se então uma rede colaborativa, que proporciona o andamento de denúncias e, posterior-mente, resolução de questões com mais agilidade.

Imprescindível

As parcerias para combate a crimes ambientais não param por aí. “Somos parceiros também do Ministério Pú-blico Federal, que possui uma atuação semelhante à nossa, tanto preventiva quanto opressiva, com as mesmas fun-ções”, explica o Promotor de Justiça e afi rma que as parce-rias na luta pela preservação ambiental são imprescindíveis: “Para a concretização da transformação se faz necessária a congregação de ideias e esforços”.

Projetos em que convênios e parcerias com o Mi-nistério Público Estadual são amplamente divulgados:

• Projeto de isolamento da área do córrego Bandeira (na av. Três Barras), parceria entre MPE, Enersul, Prefei-tura de Campo Grande (através da Semadur) e proprie-tários, para cercar a área preservada ao redor do córrego, evitando degradação. (Projeto de 2009)

• Projeto Córrego Limpo, em parceria com a Se-madur, que monitora mais de 90 pontos nos 33 córregos urbanos para averiguar o nível de poluição das águas e im-plantar medidas que visem à recuperação desses córregos. (2009)

• Ação de coibição a conexões clandestinas na rede de esgoto, encabeçada pelo MPE em parceria com a Se-madur e a Águas Guariroba. (2010)

• Recuperação ambiental da Área de Preservação Permanente (APP) do córrego Guariroba, principal ma-nancial hídrico de Campo Grande, ação que envolve pro-dutores rurais, órgãos ambientais municipais, estaduais e federais, bem como a empresa concessionária Águas Guariroba. Se não houver medidas que protejam a APP, o abastecimento de água na Capital pode ser seriamente prejudicado em poucos anos. (2010)

• Atenção aos empreendimentos hidrelétricos na ba-cia do Alto Paraguai – no Pantanal. Segundo pesquisas da Empraba/Pantanal a instalação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s) pode acarretar no desequilíbrio do ecossistema pantaneiro. Tanto o MPF, como o MPE vão atuar de forma conjunta na proteção desse ecossistema.

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LIVROS

A revista “MP Especial” indica aos leitores oito livros editados pelos membros da Instituição. As obras tratam de temas jurídicos, legislação ambiental, manuais e também sobre a infância. Os títulos podem ser

encontrados na biblioteca Dr. Manoel de Oliveira Gomes na Procurado-ria-Geral de Justiça, em Campo Grande.

Confi ra as dicas e boa leitura.

Constituição Federal InterpretadaEditora: ManoleAno: 2010Autores: Costa Machado / Anna Can-dida da Cunha Ferraz

Refl exões sobre os vinte anos da Constituição FederalEditora: UFMSAno: 2009Autora: Jaceguara D. da Silva Passos

Direito AmbientalEditora: UFMSAno: 2010Autor: Alexandre Lima Raslan

Direitos Fundamentais das Minorias (sob o enfoque da Lei nº 9.882/99)Editora: AnhagueraAno: 2010Autor: Suzi D’Angelo Élcio D’Angelo

Legislação Ambiental do Estado de Mato Grosso do SulEditora: UFMSAno: 2000Autor: Sérgio Luiz Morelli

Estratégias Punitivas e Legitimação Editora: S.A FabrisAno: 2005Autor: Helton Fonseca Bernardes

Retalhos de VerdadeEditora: UFMSAno: 2008Autora: Ariadne de Fátima Cantú da Silva

Enquanto a mamãe não vemEditora: UFMSAno: 2008Autora: Ariadne de Fátima Cantú da Silva

Manual da Procuradoria de Justiça EspecializadaEditora: UFMSAno: 2008Coordenadora: Irone Alves Ribeiro Barbosa

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