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Edição nº 7 da Revista Lampião com tema "Expressões artísticas na rua"

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Page 1: Revista lampião - Nº 7

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opinião

cultura

DIÁLOGO ENTRE LIBERDADE DE EXPRESSÃO E MÍDIA RADICAL (p. 5)

O paralelo entre manifestações artísticas do passado e do presente que ocupam as ruas no dia-a-dia

O COMÉRCIO DA ARTE EM ESPAÇOS PÚBLICOS (p. 8)

As feirinhas de rua em São Paulo são espaços excelentes para a venda de artesanato. Você conhece as principais?

de maria eduarda amorim

VIA DE MÃO DUPLA (p. 12)

Assim como as cidades são influenciadas pelas nossas expressões artísticas, a arte também é influenciada pelos nossos espaços urbanos (basta lembrar de “Sampa”, de Caetano)

de Sophia andreazza

RESENHA: SAÍDA PELA LOJA DE PRESENTES OU COMO BANSKY PRODUZIU UM DOCUMENTÁRIO (p. 42)

de marceLa BuSch

PLAYLIST: ARTE DE RUA (p. 44)

de VaneSSa Souza

índice

Clique no título para ler a matéria

O CAMINHO DA ARTE DE RUA E A ARTE RUA ENQUANTO CAMINHO (p. 16)

Pelotas, São Paulo, Bauru, Porto Alegre e Belo Horizonte: a arte está presente desde as ruas do interior de São Paulo até o extremo sul do país

de caroLina rodrigueS

de Keytyane medeiroS

CENTRO-FAVELA, FAVELA-CENTRO: (p. 25)

As relações entre a produção cultural nos centros e nas periferias mudaram

de Keytyane medeiroS

REPORTAGEM FOTOGRÁFICA: SER ARTÍSTICO (p. 29)

Enquanto houver um espaço na calçada ou um muro, vai ter lugar pra um pouquinho de arte

de caroLina rodrigueS

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diretor executiVo Gabriel Hirabahasidiretor Jurídico Rafael BarizanconSeLho editoriaL Carolina Rodrigues, Estevão Rinaldi, Gabriel Hirabahasi, Maria Eduarda Amorim, Rafael Barizan, Thafarel Pitton e Vanessa SouzaeditoraS Carolina Rodrigues, Estevão Rinaldi, Maria Eduarda Amorim e Vanessa Souzadiagramador Gabriel HirabahasiFoto de capa Carolina RodriguesrepórtereS/coLaBoradoreS Keytyane Medeiros, Marcela Busch, Sophia Andreazza

contato contato@revistalampiao.com.brwww.revistalampiao.com.brwww.issuu.com/revistalampiaofb.com/revistalampiao@revistalampiao

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edição nº 7 Expressão artística nas ruas

Todos os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista. É proibida a reprodução de textos ou imagens sem a prévia autorização dos editores.

É difícil saber desde quando o ser humano utiliza de suas capicidades motoras e criativas para a arte. Hoje, no ano de 2015, qualquer canto é propício para nós, humanos, nos expressarmos artisticamente.

Nossas reportagens foram a diversas cidades do nos-so país para mostrar como a arte de rua está em todos os lados. Pelotas, Porto Alegre, São Paulo, Bauru e Belo Ho-rizonte: várias cidades de diferentes portes, diferentes mo-vimentos e diferentes tipos de expressão. Mas, seja como for, ela está lá.

Se o Brasil parecer pouco, fomos aos nossos vizinhos mostrar algumas das peculiaridades e belezas. A 298 km de distância de Montevidéu, no Uruguai, fomos até a Punta del Diablo para ter contato não só com a beleza natural, mas também com aquilo que tem a marca humana. Em Santiago, no Chile, a mesma coisa.

Por meio das pinturas, músicas, apresentações e outras expressões, a população encontra um jeito de falar sobre aquilo que sente, o que presencia, o que vive. Portanto, o contexto socioeconômico e político é, obviamente, essen-cial. Atentamos para debater a relação entre a produção cultural da periferia e aquela que é “mais aceita”, digamos assim. Também mostramos como manifestações artísticas do passado sofreram mudanças internas e externas.

As feirinhas que existem em quase todas as cidades pelo Brasil são muito importantes tanto para quem com-pra, que pode achar aquele item de artesanato que procura há tanto tempo, quanto para os artistas, que encontram um apoio financeiro para sua produção. Visitamos algumas das principais em São Paulo, a da Liberdade, a da Praça da República, a do MASP e a da Praça Benedito Calixto, e mostramos como é o comércio e os aspectos mais escondi-dos (e burocráticos) essas exposições.

Por fim, também buscamos mostrar como, além de in-fluenciarmos o ambiente, as ruas também influenciam nos-sas produções (e Caetano e Criolo, por exemplo, mostram em suas canções como a cidade os inspirou).

editorial

EXPRESSÕES ARTÍSTICAS NA RUA

Para mais informçãoes,visite nosso novo site:

www.revistalampiao.com.br

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opinião

DIÁLOGO ENTRE LIBERDADE DE EXPRESSÃO E MÍDIA RADICAL

O graffiti, enquantO manifestaçãO artística, tem suas origens em territoria-lidades distintas. O movimento Punk reinvindica seu surgimento nos porões e

prédios abandonados de Berlim, Amsterdã e Londres no final da década de 1970, enquanto o movimento Hip Hop clama seu nascimento a partir dos guetos do bairro do Bronx em Nova York na mesma década. Independentemente das origens, o graffiti parece ser uma das maiores e mais profundas revoluções artísticas das últimas décadas e deve ser compreendido também como ferramenta de comunicação moderna.

Entre 1970 e 1980, a Europa vivia o auge da contra-cultura. Como reflexo da con-testação de modelos hierarquizados de conhecimento, da presença da Polícia em uni-versidades e exigindo reformas profundas no sistema educacional, jovens franceses dão início ao que ficou conhecido como Maio de 1968. O movimento se amplia, ganha ares de greve geral dos trabalhadores e faz frente à violência praticada pela polícia. Unem-se a eles movimentos anarquistas locais, que passam a questionar valores tradi-

Estudante de Jornalismo na Unesp. Foi presidente de Centro Acadêmico de comunicação e se interessa temáticas relacionadas a direitos humanos, direitos à comunicação e direitos de minorias.

texto de Keytyane medeiroS

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cionais como família, religião e Estado. Após a renúncia do general De Gaulle, em 1969, o mo-

vimento arrefece enquanto coletivo, mas vive um momento de pulverização em todo continente europeu. As questões levantadas pelo movimento de 1968 levam jovens e militan-tes a reivindicar o direito de ocupação dos espaços públicos, revitalizá-los com atividades culturais gratuitas e torná-los ambientes de interesse social. Surgem então lojas, pubs e moradias coletivas em prédios abandonados em Amsterdã, Berlim, Londres e Paris.

Nesse contexto, surge o movimento Punk, questionando estruturas de poder e anunciando seu anarquismo do século XX. Junto a bandas, grupos de arte alternativa e artesãos, surgiam os primeiros grafiteiros e pixadores da Europa. Pro-fundamente ligado às classes média e média baixa europeias, o graffiti se torna uma forma de manifestação artística e ferramenta de diálogo entre os vários grupos que existiam nos prédios e ocupações públicas. A identidade visual das cidades passa por profundas mudanças, trocando o cinza por cores vibrantes, questionamentos e tags.

Por outro lado, no final dos anos de 1960, período de grande agitação política e cultural nos Estados Unidos gra-ças ao movimento pelos Direitos Civis dos afro-america-nos, surgem as primeiras manifestações que darão origem ao movimento Hip Hop. Paralelamente a esses movimentos de auto afirmação identitária, a situação socioeconômica da população negra decaía nos guetos de Nova York, ao longo dos anos seguintes. A pauperização dos bairros era crescente e o problema com o uso e tráfico de drogas só aumentava, fazendo com que várias famílias passassem a ser chefiadas por um único membro, geralmente as mulheres.

Aproximadamente 300 gangues disputavam espaço na ci-dade, levando consigo cerca de 20 mil jovens. Liderados por Afrika Bambaataa (ex-líder da gangue Black Spades), Kool

Herc (DJ jamaicano naturalizado americano) e GrandMas-ter Flash (DJ nova-iorquino e produtor cultural), os jovens negros do Bronx passam a se reunir em pátios de colégios e quadras públicas para dançar, ouvir música e graffitar.

Para além das origens intrigantes, paralelas e paradoxais do graffiti, o estudioso Celso Gitahy destaca que, conceitualmente, esta manifestação se caracteriza por seu caráter “subversivo, espontâneo, gratuito e efêmero”, por “discutir e denunciar valo-res sociais, políticos e econômicos com humor e ironia”.

Foram muitos os experimentos até que se consolidasse uma maneira de graffitar em que o artista possuísse mais controle sobre o traço e o desenho final. Inicialmente, os de-senhos eram feitos com tinta látex, com traços mais grossos e quase sempre em preto e branco.

A partir da década de 1980, a descoberta que bicos de latas de desodorantes e outros aerossóis permitia traços mais finos, começa a aplicação de volume às figuras e assinaturas e também a ampliação do uso das cores. Isso contribui para a aceitação do graffiti enquanto arte, em especial no Brasil.

Graffiti, tal como conhecemos, é na verdade o plural da pa-lavra italiana “graffito” que significa rabisco, frequentemente utilizado na Arqueologia para denominar pinturas encontradas em cavernas ou escavações. O termo, associado a pinturas em paredes e muros dos grandes centros urbanos contemporâne-os, não surge como denominação dada pelos próprios artistas ao seu trabalho, mas como expressão frequentemente atribuída pela imprensa norte-americana a essas manifestações.

Na época, era comum que a imprensa produzisse repor-tagens e conteúdos televisivos a fim de combater graffitis e pixações em Nova York nas décadas de 1970 e 1980. É importante ressaltar que nos Estados Unidos, até o começo do século XXI, não havia distinção entre graffiti e pixa-ção, tanto jurídica quanto popularmente, como acontece no Brasil desde 2011.

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O graffiti chega por aqui paralelamente ao seu desenvol-vimento nos Estados Unidos, na década de 1970 e 1980, ou seja, durante a nossa Ditadura Militar. É importante lembrar que a repressão policial era muito forte naquele momento, reforçada pela existência de uma polícia política e da polícia militar. Para driblar a repressão daquele tempo, os jovens ar-tistas desenvolviam maneiras inteligentes e experimentais de se manifestar, tais como fanzines, adesivos, pixações, perfo-mances e videoarte.

Assim como nos Estados Unidos, a imprensa – aqui silen-ciada pelo regime militar – também pedia o fim das interven-ções urbanas, pixações e graffitis pelas cidades, em especial em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. No entanto, alguns veículos alternativos de cultura defendiam a empreitada ur-bana dos jovens contestadores em defesa da liberdade de ex-pressão e pensamento.

Ainda hoje as telecomunicações desempenham um papel fundamental na difusão de conhecimento e cultura nos gran-des centros urbanos. No entanto, a concentração de meios, especialmente no Brasil, impede a livre circulação de ideias.

Para o professor Sandro Cajé, “as telecomunicações tem um papel político fundamental na estruturação das so-ciedades, sendo sempre instrumentos de uma relação ver-ticalizada, em que os poderosos atuam como emissores e os humildes como receptores e reagentes”. Essa relação é reforçada pelo difícil acesso às concessões públicas de ra-diodifusão no país, cujas leis são as mesmas desde a Cons-tituição de 1988.

Segundo o projeto Donos da Mídia, realizado pelo Insti-tuto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom) des-de 2002, atualmente 41 grupos e redes de telecomunicações possuem abrangência nacional, aglomerando 551 veículos. Desse total, 324 veículos tem em seu quadro de diretores e sócios 271 políticos brasileiros.

Essa concentração de veículos em figuras públicas e polí-ticas reflete diretamente na qualidade do conteúdo oferecido pelas redes em âmbito nacional, estadual e municipal.

Dessa maneira, discutir alternativas de comunicação con-traria o fluxo de comunicação social esperado pelos proprie-tários de grandes veículos, sendo capaz de instaurar novos paradigmas de atuação social.

Nesse contexto, o graffiti associado à mídia radical pode ser compreendido como uma plataforma que privilegia dis-cursos contra-hegemônicos, de combate ao racismo e de afir-mação da vida nas periferias, já que esses discursos não serão reportados por meio da mídia tradicional, por conta de seus interesses políticos e econômicos.

Para o pesquisador britânico John Downing, a definição de mídia radical supera a discussão conceitual pura e simples do que é mídia. Ele acredita que o termo “radical” se faz ne-cessário porque vivemos um momento de urgência pelo “ati-vismo da mídia diante dos bloqueios à expressão pública”.

A cultura popular torna-se chave para compreender a mídia radical como um processo social, estético, congnitivo e tecno-lógico, pois permite que agentes sociais desprovidos de con-cessões públicas e equipamentos caros de reprodução possam se apropriar autonomamente de espaços e plataformas públicas – como são os muros e paredes das cidades – para manifestar-se e exercer seu direito à liberdade de expressão.

Isto acontece porque, apesar de muitas vezes a cultura po-pular reproduzir discursos opressivos hegemônicos como o machismo, racismo, sexismo, homofobia e/ou xenofobia, ela ainda é uma forma de manifestação social e cultural que inde-pende do poder público ou de instituições sociais para existir.

Sendo assim, o caráter democrático do graffiti vem para re-forçar a noção de que produtores e consumidores de cultura são, com frequência, os mesmos agentes sociais na mídia radical. Ele passa a cumprir um papel inovador de agitador cultural.

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O COMÉRCIO DA ARTE EM ESPAÇOS PÚBLICOS

reportagem

Jornalista, unespiana, apaixonada por músicas, séries e cachorros. Acredita que o mundo está cheio de histórias que merecem ser contadas. Gosta de pessoas, sorrisos e conversas.

texto de maria eduarda amorim

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cOm 11,89 milhões de habitantes, sãO PaulO é a cidade que cOntém a maiOr quantidade de PessOas do mundo. Devido ao grande fluxo de transeuntes, a rua se torna um local propício para o comércio

de produtos artísticos dos mais variados tipos, pois nela é possível um contato direto com o consumidor.Existem mais de 900 feiras de artesanato espalhadas pela capital paulista, cada uma com sua particula-

ridade e produtos específicos. Elas se localizam em diferentes regiões da cidade e são organizadas durante a semana. Entre telas, pinturas, desenhos, bolsas, peças de roupa e acessórios, objetos de decoração e itens culinários, é difícil não se encantar com o que é oferecido.

O artesão é reconhecido como artista, pois cada peça que produz é única e demanda um trabalho manu-al habilidoso. Os preços dos produtos são acessíveis e a comida é sempre fresquinha e saborosa, por isso, as feiras são sempre uma ótima opção para passeios e compras.

Engana-se, porém, quem pensa que basta ter um produto diferente para montar sua barraquinha e co-meçar a ganhar dinheiro com sua arte. O decreto municipal número 43.798, de 16 de setembro de 2003, instituído pela então prefeita Marta Suplicy, regulamenta o funcionamento das feiras de arte, artesanato e antiguidades no município de São Paulo e delimita que tipos de produtos podem ser comercializados e os deveres e direitos dos expositores.

Além disso, as feiras de rua geralmente são organizadas pelas subprefeituras dos municípios e para participar delas é necessário aguardar a abertura de inscrições, o que não ocorre com frequência. A criação de novas vagas depende de diversos fatores, então, o interessado deve acompanhar o Diário Oficial do Município, que irá publicar essas oportunidades quando elas surgirem.

Quando as vagas estiverem oficialmente abertas, o artesão deve comparecer à subprefeitura para ter seus trabalhos e objetivos profissionais analisados por uma comissão e deve aguardar uma resposta. Caso o interessado seja convocado, será emitido um Termo de Permissão de Uso (TPU), que é justamente a licença para o mesmo expor na feira escolhida.

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inaugurada em 1975, a feira de arte, artesanatO e cultura da Liberdade foi criada para expor o trabalho dos imigrantes japo-neses e tornar sua cultura mais conhecida entre os brasileiros.

Hoje, a feirinha reúne artesão de diferentes nacionalidades e, além de produtos típicos da cultura japonesa, é possível en-contrar sabonetes, velas, artigos em couro, bijuterias, plantas, esculturas, quadros e outros artigos.

Durante o ano, ocorrem eventos tradicionais japoneses in-corporados à cultura paulistana e festivais com a participação das colônias japonesa e chinesa.

*Av. Liberdade, 365 - Liberdade, São Paulo (sábados e do-mingos – das 9 às 17h)

a feira da Praça beneditO calixtO é cOnhecida cOmO uma das melhores feiras de antiguidades e artesanato do Brasil. Ela acontece desde 1987 e reúne todos os sábados mais de 300 ex-positores.

Entre os produtos oferecidos, encontramos obras de artes, discos de vinil, móveis e objetos de decoração antigos, brinque-dos e roupas. Na praça de alimentação, as comidas típicas dão água na boca e são acompanhadas pelo chorinho de Canário e seu Regional.

Duas vezes por mês também acontece o projeto “Autor na Praça”, em que os autores fazem lançamentos de livro e podem conversar com os visitantes da feira.

*Praça Benedito Calixto, 158/162 – Pinheiros, São Paulo (sábados – das 9 às 19h)

Foto: Luciana Carpinelli/cozinhandopara2ou1 com.br Foto: agendadasemana.wordpress.com

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criada há mais de 25 anOs, a feira de antiguidades da Paulista é um paraíso para colecionadores. Nela, os visitantes encon-tram câmeras fotográficas, canetas, porcelanas, brinquedos, miniaturas, joias, moedas, relógios e muitas outras peças an-tigas que enchem os olhos dos apaixonados por essas iguarias.

A feira conta com o trabalho da Associação dos Antiquá-rios do Estado de São Paulo, responsável pela administração, padronização visual, montagem, manutenção e realização das exposições.

*Avenida Paulista, 1.578 – Vão Livre do Masp, São Paulo (domingos – das 9 às 17h)

a feira da Praça da rePública teve seu iníciO cOm uma pequena feira de selos, que cresceu com a chegada de colecio-nadores de moeda e hippies ao local. Logo, o evento se trans-formou em um espaço voltado para a arte e o artesanato.

Na feira, o visitante encontra produtos de decoração, aces-sórios, sabonetes, roupas, bijuterias e brinquedos. As princi-pais atrações são as pinturas e os desenhos feitos pelos artistas locais ali mesmo. Grande parte dos artigos é vendida pelos pró-prios produtores, o que garante o contato direto entre o artista e o público, por isso, os preços são acessíveis.

Além disso, a pequena praça de alimentação conta com co-midas deliciosas. Churrascos, doces e empanadas chilenas es-tão entre os itens mais procurados.

*Praça da República, s/n, próximo ao Metrô República – Centro, São Paulo (sábados e domingos – das 9 às 17h)

Foto: Be Moraes/aliceincarnival.wordpress.com Foto: Marcelo Duarte/spcuriosos.com.br

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VIA DE MÃO DUPLA

Estudante de Jornalismo na Unesp, professora do Cursinho Principia e colaboradora da Revista Lampião.

texto de Sophia andreazza

“estOu cOnvencidO de que as seParações e Os divórciOs, a viOlência familiar, O excessO da televisão a cabo, a falta de comunicação, a ausência do desejo, a apatia, a depressão, os

suicídios, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, as contrações musculares, a insegurança, a hipocondria, o stress e o sedentarismo são responsabilidades dos arquitetos e dos empresários da construção. Desses males, a não ser do suicídio, padeço de todos”.

Com essa citação, alternando entre imagens de vários prédios cinzentos de Buenos Aires, ini-cia-se o filme Medianeras: Buenos Aires na era do amor digital (2011, Gustavo Taretto). O longa argentino narra o cotidiano de Martin (Javier Drolas) e Mariana (Pilar Lopéz de Ayala): vizinhos de quitinetes, frequentadores da mesma academia de natação, transeuntes das mesmas ruas, mas que não se conhecem. Ambos levam vidas solitárias e colecionam neuroses — ela, arquiteta que nunca projetou edifício algum e trabalha como vitrinista, tem medo de elevadores e diverte-se com o livro infantil “Onde está Wally?”. Ele projeta sites, tem dores na coluna e não gosta de sair na rua. Com sutileza e humor refinado, o diretor confronta o espectador com uma solidão que é própria da era digital, agravada pela arquitetura claustrofóbica e pelos dias chuvosos de Buenos Aires, cidade que cresceu desordenadamente e sem nenhum planejamento, cujos prédios (cada vez menores) atrofiam-se e lutam por um espaço que não existe mais — “que se pode esperar de uma cidade que

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dá as costas ao seu rio?”, pergunta-se Martin no início do filme.As cidades, desde a Antiguidade — passando pelas aldeias

na beira de rios na Mesopotâmia e no Egito, pelas pólis gregas, cidades romanas, cercamentos ingleses e burgos da Idade Mé-dia — surgiram como espaços de troca de informações e produ-tos. Espaços de convivência de pessoas diferentes, de contratos políticos e sociais, e da construção da esfera pública. Com o advento da modernidade e, mais tarde, da era digital, porém, as cidades foram pouco a pouco perdendo essa característica única de convívio e troca social.

A Buenos Aires apresentada por Taretto em Medianeras é cinzenta e estática; um espaço no qual não há interação ou tro-ca, apenas pessoas que se deslocam de um lado para o outro, de

casa para o trabalho, numa espécie de solidão compartilhada. Segundo Raquel Rolnik, urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em seu artigo O lazer hu-maniza o espaço urbano, “a rua é um simples local de acesso, tornando-se apenas o suporte para a conexão de pontos, de en-dereços; rotas para se chegar aos locais onde existe prazer, isso tanto dentro do espaço doméstico — televisão, vídeo, vida fa-miliar —, como nos espaços de consumo cultural e esportivo”.

A imobilidade e a apatia das grandes cidades modernas po-dem ser revertidas, no entanto. O papel de devolver ao espaço urbano sua autonomia e seus atributos de interação social cabe, em partes, à arte de rua. É o que diz Carlos Doles, ator e diretor da Trupé de Teatro: “os centros urbanos não são apenas cons-

Cartaz do filme “Medianeras: Buenos Aires na era do amor digital” Foto: Divulgação

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truções, projetos arquitetônicos e urbanísticos. Eles possuem fluxos sociais, culturais. O cotidiano, a lógica do consumo e a frenética rotina da vida urbana massificam esses fluxos. An-damos sem perceber o entorno. Deixamos que o cenário que nos cerca suma na pressa”. Para ele, “quando uma performance artística acontece, esta altera, modifica o fluxo. Propõe um es-tranhamento no cotidiano. Ela amplia o olhar, a audição... Ela revela a própria arquitetura urbana esquecida. Ressignifica uma praça, uma rua, um prédio ou monumento. Altera o espaço e o tempo. Desloca o passante para outra realidade”.

A ressignificação do espaço urbano é uma via de mão dupla:

do mesmo modo que a arte de rua — o teatro, o grafite, a mú-sica, a literatura — tem a capacidade de reconfigurar e renovar a cidade, modificando a maneira como as pessoas enxergam os muros, as calçadas e as fachadas de edifícios, a cidade é uma das principais fontes de inspiração para a arte contemporânea. Segundo o estilista João Maraschin, “a rua é o principal canal de relacionamento de nós, seres consumidores, tanto com a vi-trine estática das lojas quanto com a vitrine ambulante das pes-soas que vem e vão. Além disso, o ambiente urbano transgrediu a posição de cenário/ambiente e transformou-se no principal influenciador da vanguarda, que olha para a rua como fonte de

Cena da peça “Do Alto da Santa Cruz vi o Auto do Menino Luz” (Sorocaba, 2012), da Trupé de Teatro

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Amor em SP”, respectivamente.A arte de rua deve ser encarada não como uma manifesta-

ção marginal, menor e de menos importância que a arte dos museus e dos Teatros Municipais, mas como um dos princi-pais mecanismos de salvação da cidade e das interações entre as pessoas. “Rua, arte, política, resistência, poesia, público. A arte pública nos espaços públicos do público. Novos sen-tidos para a cidade, para o artista e para a própria arte. Arte viva criada em comunhão com fluxos vivos de uma cidade que caminha para o concreto, para a não-identidade e o não--lugar”, reflete Carlos Doles.

inspiração e geração de novos resultados visuais”.Não faltam exemplos de obras que buscam no fluxo inces-

sante e singular das cidades a sua inspiração. Além do longa Medianeras, filmes como O som ao redor (Kleber Mendonça Filho, 2012) e o documentário Cidade Cinza (Marcelo Mes-quita e Guilherme Valiengo, 2014) são críticas e reflexões so-bre o impacto da violência, da urbanização desenfreada e da convivência entre diversas classes sociais na vida das pessoas que habitam a cidade. A cidade de São Paulo influenciou tanto Caetano Veloso quando o rapper Criolo a comporem algumas de suas canções mais proeminentes — “Sampa” e “Não Existe

“O teatro tem papel singular nas artes de rua. Enquanto um malabarista ou um músico podem estabelecer um espaço e ali ficar por horas, quase se tornando parte do fluxo da cidade, a performance teatral tem tempo de início e fim. Tem uma narrativa finita. Estabelece-se, desenvolve-se e se finda. Isso faz com que esse passante queira ficar. Pare para ver e ouvir. Queira chegar ao fim da narrativa, que muitas vezes não é linear”, diz Carlos Dolesras

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O CAMINHO DA ARTE DE RUA E A ARTE DE RUA ENQUANTO CAMINHO

Jornalista em (trans)formação, apaixonada por escrever, fotografar e curtir um som. Acredita que a beleza está nos detalhes e que a vida faz mais sentido durante uma boa viagem.

texto de caroLina rodrigueS

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andar Pelas ruas de PelOtas, nO riO grande dO sul, é resPirar arte. e nãO estamOs muito acostumados com isso. Vivemos nosso dia a dia na correria, sem prestar muita

atenção no grafite do muro ou no artista com o chapéu no chão da praça. Infelizmente. Mas em uma cidade com mais de 13 mil alunos (de todo o país) de cursos como Artes Visuais, Cinema e Animação, Design, Museologia, Música, Conservação e Restauro, entre outros, as coisas são diferentes. Todo mundo se juntou: estudantes da UFPel (Universidade Fe-deral de Pelotas), moradores, prefeitura e outras instituições. O resultado é nítido: existe uma vida cultural impressionante nas ruas. E a explicação é fácil: “uma atividade inspira a outra”, diz Ana Pessoa, integrante do projeto Sofá na Rua de Pelotas.

A arte de rua é antiga e não tem uma origem certa. Sabe-se que lá na Grécia Antiga já existiam artistas que passavam pelas ruas discursando e cantando. Mas a arte como ocupa-ção urbana, respeitada e regulamentada por lei, é recente. De qualquer forma, o viés crítico e de transformação social segue vivo – e talvez mais do que nunca.

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Uma cidade histórica-contemporânea. Pelotas, como já citei, foi uma cidade que se transformou com a ocupação artística das ruas. O professor do departamento de Muse-ologia e Conservação e Restauro da UFPel, Roberto Heiden, diz que Pelotas tem um “contraste entre o patrimônio cultural e as recorrentes manifestações artísticas contem-porâneas, ou seja, os mosaicos, grafites, vitrais, performances, esculturas, estêncis, etc”. Basicamente, uma cidade histórica, com grandes prédios antigos, e ao mesmo tempo contemporânea, pelas intervenções artísticas. Justamente por reparar esse contraste um tanto quanto curioso, Roberto criou a página “Pelotas Arte Urbana” para documentar as diversas intervenções artísticas. O objetivo é “contribuir com a visibilidade da arte urba-na e promover o debate sobre os diferentes tipos de arte que existem nas ruas da cidade”.

E se as intervenções artísticas são tantas e constantes, nada melhor do que um bom exemplo para comprovar: o Sofá na Rua. O próprio nome já diz tudo, basta colocar o sofá de casa na calçada, literalmente na rua, e interagir nesse espaço urbano que é públi-co e pode (se não deve) ser ocupado.

O projeto nasceu sem querer no final de 2012. Na época, a Casa Fora do Eixo de Pelotas estava realizando um evento cultural e no último dia tiveram um problema de al-vará. Tudo já estava pronto: os artistas e o público. Só faltava o lugar. “E aí, como nossa casa não comportava um evento desses, levamos tudo para a rua da frente. Desde então, mensalmente, colocamos o sofá da nossa casa na rua, chamamos duas bandas para se apresentarem, abrimos para quem quiser expor seus materiais em uma feira de trocas e chamamos artistas para fazerem outros tipos de intervenções. Hoje, cerca de duas mil pessoas circulam por aqui”, conta Ana Pessoa.

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Projeto Sofá na Rua (Pelotas-RS)Fotos: Arquivo do projeto

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A regulamentação da arte de rua em São Paulo e a valo-rização da cultura brasileira. Mas é claro que esse tipo de intervenção acontece em diversas partes do Brasil e do mundo. Digamos que é uma tendência mundial de se ocupar espaços públicos urbanos com arte. Afinal, se é público, é nosso. E se é nosso, temos direito. Na cidade de São Paulo, desde junho de 2011, existe um decreto municipal que assegura a liberdade de expressão artística nos espaços públicos da cidade. Está garan-tido apresentar-se em ruas, praças e parques sem a necessidade de licença ou autorização, contanto que se permita a circulação de pedestres e veículos; passar o chapéu sem ser “comércio ile-gal” e utilizar equipamentos eletrônicos, desde que sejam res-peitados os limites de ruídos.

Aloysio Letra faz parte da direção da Companhia de Artes

do Baque Bolado da cidade de São Paulo. A Companhia exis-te desde 1996 e surgiu dos encontros de artistas pesquisadores do maracatu de baque virado, manifestação cultural oriunda de Recife (PE) e também de fonte africana.

Por meio de espetáculos musicais, intervenções, cortejos e peças teatrais, os integrantes misturam a cultura popular tradi-cional e outras linguagens artísticas, como circo, arte de rua, dança contemporânea, entre outros. E assim eles fazem das ruas um espaço de intervenção e valorização da própria cultura brasileira.

“Atualmente trabalhamos com um foco maior no projeto Batuque a Cidade, que tem por objetivo conhecer e gerar inter-venções em espaços que são referência para a história da cultura negra em São Paulo, subúrbios, periferias ou espaços culturais

Companhia de Artes do Baque Bolado (São Paulo-SP)Foto: Arquivo da Companhia

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de resistência, a fim de dar visibilidade à cultura afro-brasileira, à dança, ao canto e à arte de rua em geral”, explica Aloysio.

A arte de rua está, em certa medida, vinculada com um ati-vismo social. “Para nós, muito da valorização e do sucesso em promover uma real igualdade racial é para reconhecer nossa própria cultura e, em vez de negá-la, usá-la para nos expressar-mos em prol do nosso coletivo e de outros. Na cultura popular se aprende muitas vezes por meio da oralidade e também do es-cambo, formas de aprendizado que praticamos e incentivamos dentro e fora do Baque Bolado”, diz Aloysio. Afinal de contas, as ruas estão aí para serem palco de escambo mesmo. “Nosso trabalho, junto do trabalho de outros tantos coletivos, visa afir-mar uma cultura negra que se faz viva, que já foi e ainda é alvo de muitos preconceitos”.

Projeto Sofá na Rua (Pelotas-RS)Fotos: Arquivo do projeto

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Arte de rua: mudança e reinvento. Bauru, no interior de São Paulo, tem um movimento hip-hop muito bem consolidado e o grafite está sempre presente nas ruas por aí. Sérgio Oliveira, mais do que um grafiteiro, é um artista. “Existe diferença entre um grafiteiro e um artista do grafite. O artista vive da sua arte. Ele não só grafita, mas também dá oficinas de grafite, aulas. O artista tem um certo ativismo social”. Hoje, Sérgio é instrutor na pinacoteca Casa Ponce Paz. Ele afirma que a diferença da arte de rua para outras artes é justamente a troca de experiências e ideias que ela proporciona. A arte nas ruas é importante por-que ajuda os moradores a saírem daquela rotina maçante. “Se a pessoa está andando pela rua, passa pela praça e escuta alguém cantando aquela música do Zezé de Camargo e Luciano que era da época em que ele conheceu a esposa, seu humor já muda, tudo muda!”.

A partir do grafite podemos perceber como a arte de rua vem mudando e se reinventando com o tempo sem perder completa-mente sua essência e seus objetivos. Originalmente marginali-zado, o grafite surgia na calada da noite, carregado de adrenali-na, uma vez que a qualquer momento um policial podia surgir e o grafiteiro ser preso (algo que ainda pode acontecer, claro, mas talvez em menor proporção). Entretanto, a arte cresceu tanto e ganhou tanto respeito que já são comuns casos em que pessoas, empresas ou mesmo órgãos públicos, como prefeituras, contra-tem grafiteiros (ou artistas do grafite) para pintar muros e por-tões. Afinal, é ou não é uma forma de colorir a vida?

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Espaços públicos, Estado e sociedade. Será que o Estado, como órgão público, deve incentivar esse tipo de iniciativa? O professor Roberto faz um questionamento. “O grafite já perdeu parte de sua especificidade, que era a marginalidade. Se ele for apoiado pelo Estado, não passa a ser tão arte contemporânea ou acadêmica como a arte da Bienal ou do museu?”. E de novo voltamos ao fato de a arte de rua estar se renovando e se rein-ventando a cada dia. “Mas não penso que isso seja ruim, pelo contrário!”, completa.

O incentivo das diversas áreas da sociedade é fundamental. A arte nas ruas acontece em espaços públicos, então se torna evidente que deve haver apoio do Estado (e também de inicia-tivas privadas). Isso porque a arte de rua é o mais democrático que uma arte pode ser: ninguém paga para ver um grafite no muro ou um cara tocando sanfona na entrada do metrô – a não ser que queira dar uma gorjeta.

Alexandre Vargas, coordenador geral do Festival Interna-cional de Teatro de Rua de Porto Alegre vai além nessa dis-cussão. “Espaços públicos deteriorados são lugares de solidão, conflito e criminalidade. Espaços públicos cuidados são de in-

teração, amizade e desfrute, fundamentos de uma democracia cidadã. É evidente que existe conexão entre espaço público e a democracia. E espaço público e regimes totalitários. O espaço público tornou-se uma agenda prioritária para as cidades em anos recentes”, ele diz.

O Festival já está em sua 6ª edição e o nome também é auto-explicativo: as apresentações de teatro se dão nas ruas de Porto Alegre. O evento é dividido em cinco eixos: apresentações de te-atro de rua, intervenções urbanas e performances, formação (com cursos, oficinas, workshops), reflexão (com seminários, confe-rências, palestras) e ações especiais (com rodadas de negócios e homenagens). É realizado no mês de abril e ocupa 30 bairros da cidade, com todas as atividades gratuitas. O público atingido gira em torno de 135.000 pessoas. Isto é, um festival de grande porte.

Mas Alexandre também faz a crítica de que ainda existem poucas políticas públicas com o intuito de democratizar o aces-so ao teatro e às artes de rua em geral: “tanto o Estado do Rio Grande do Sul como o município de Porto Alegre não possuem políticas para esse tipo de arte. Ou seja, os governos são primi-tivos nesse aspecto”.

Festival Internacional de Arte de Rua (Porto Alegre-RS)Fotos: Arquivo do Festival

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A arte de rua enquanto caminho. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, existe o Projeto Vira Lata, um coletivo artístico. Rafael Bertolacini, integrante, diz que “atualmente, projetos como esse têm um potencial educacional muito forte nas cidades. São importantes para a desvincula-ção de jovens com o tráfico e crimes em geral”. Isso porque quase sempre “dentro das escolas formais não se valoriza o desenvolvimento artístico, então projetos assim vêm para inspirar”.

A arte de rua pode, então, ser um caminho de mudança. Tanto para quem faz, quanto para quem recebe. Essa troca entre artista e público é múltipla e infinita. Afinal, as ruas de uma cidade são reflexo dos costumes e ideais da população daquele local. E o contrário também é verdadeiro: a população é reflexo do que se dá nas ruas. A arte de rua, como meio e fim, vem pra inspirar, refletir, embelezar e até mesmo criticar a sociedade. A arte de rua é, enfim, uma forma de dar voz ao povo. Pois, como enfatizou Sérgio Oliveira durante nossa conversa em uma tarde chuvosa de Bauru, “parede branca, povo mudo”.

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CENTRO-FAVELA, FAVELA-CENTRO: REFLEXOS DE MUDANÇAS CULTURAIS

Estudante de Jornalismo na Unesp. Foi presidente de Centro Acadêmico de comunicação e se interessa temáticas relacionadas a direitos humanos, à comunicação e de minorias.

texto de Keytyane medeiroS

GOG e Vitrola no encerramento da Semana Municipal do Hip Hop 2014FOto: Keytyane Medeiros

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nO livrO a cidade cOmO PrOjetO educativO (2003), Gó-mez-Granell e Villa defendem que, desde seu surgimen-

to, a cidade atua como lugar de encontro e participação política, cultural e social. A cidade teria, assim, um papel demarcado como espaço público de convivência e agitações de todos os tipos. No entanto, nos últimos anos, a cidade teria perdido “sua função comunitária, educativa e civilizadora” e se tornado um lugar de conflitos de interesse e poderes, dado o descaso do po-der público e das classes dominantes com questões coletivas de interesse social como saúde, educação e cultura. O Estado teria abandonado seu papel principal como provedor de condições básicas para a convivência social.

Em grandes cidades não planejadas, como São Paulo, o Estado e as classes dominantes determinam a disposição geográfica dos grupos sociais pelo espaço urbano. É comum encontrar favelas ao lado de grandes condomínios ou observar incêndios mal explicados em favelas localizadas em regiões de crescente especulação imobi-liária. O projeto Fogo no Barraco, de 2012, por exemplo, busca ma-pear os incidentes desse tipo que ocorreram na capital desde 2005 e mostrar como esses inquéritos foram ou estão sendo apurados.

Em Bauru, município com incidência de pobreza em 14%, segundo o último Censo do IBGE, a disposição do espaço urbano não é feita de maneira muito diferente. Na cidade de quase 350 mil habitantes, no interior de São Paulo, há favelas e “quebradas” espalhadas pelos quatro cantos e com frequência podemos ver que o poder público é pouco presente. Em bairros como Bauru I e Jardim TV, por exemplo, além das escolas públicas, a mão do Es-tado agindo como provedor de condições básicas de convivência e trocas interpessoais é quase imperceptível. Essas regiões perifé-ricas carecem, também, de espaços de produção cultural, embora as periferias bauruenses sejam responsáveis por um dos maiores tesouros da região: o movimento Hip Hop.

Desde 2012, o movimento Hip Hop, um dos representan-tes da cultura de rua no Brasil, tem recebido mais atenção da mídia tradicional, em especial depois do lançamento dos CDs

dos rappers Criolo e Emicida, “Nó na orelha” e “O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui”, respectivamente, que ca-íram nas graças da chamada classe média. Além desses, entre 2012 e 2013, outros ótimos lançamentos para os militantes do movimento, como os discos de Kamau, Síntese, Edi Rock, Flo-ra Matos e Carol Konká, refrescaram e definiram uma nova sonoridade no rap nacional. A partir daí, a presença do rap em eventos como a Virada Cultural tanto na capital quanto no inte-rior tem aumentado. Em 2012, Bauru foi palco, mais uma vez, para os Racionais MCs, um dos maiores representantes do mo-vimento no país, e em 2014, a Semana Municipal do Hip Hop trouxe nomes como Dexter, Thaíde, Inquérito, GOG, Rael e Banks BackSpin, além de dar espaço para grupos locais como Além da Rima, Oliveira MC e David Mc.

O editor do portal de Hip Hop Bocada Forte, colunista do jor-nal Brasil de Fato, colaborador da revista Fórum e produtor cultu-ral, Jair dos Santos, também conhecido como DJ Cortecertu, acre-dita que o espaço adquirido pelo movimento nos últimos tempos é resultado de anos história e criatividade. Para ele, “o rap e o Hip Hop voltaram a chamar a atenção por causa das criações e articu-

Mapa Fogo no Barraco (http://fogonobarraco.laboratorio.us/)

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lações de artistas, militantes, produtores da cultura de rua. Sem essa pressão, nenhuma administração pública ou privada ‘daria’ espaço pra gente. O rap e o hip hop mostraram que são forças cul-turais e, principalmente, podem gerar renda. Os de fora enxergam dessa maneira. Quem é do rap e do hip hop consegue identificar mais coisas nessa retomada. São códigos sociais, raciais e de luta por igualdade que sustentam a base disso tudo”.

Além disso, o intercâmbio cultural observado em momen-tos como a Virada Cultural e outros festivais também propor-ciona a ampliação de saberes dentro dos povos e culturas. Para o DJ CorteCertu, “sempre houve trânsito entre as culturas, uma carrega elementos das outras. Desde as que nascem para sub-verter e são assimiladas pela cultura de massa, passando pela cultura que se propõe superior e dominante, mas que é ressig-nificada por outros grupos sociais”. O DJ ainda destaca que nem sempre essas relações de troca são harmoniosas, por vezes gerando conflitos e embates sociais e ideológicos.

Rafael Schiavo, coordenador de projetos do Ponto de Cul-tura Acesso Hip Hop de Bauru, acredita que a Virada Cultural Paulista é uma boa iniciativa e contempla o tamanho da cidade, embora não dê destaque a grupos locais de música. Para ele, a relação entre centro e periferia pode ser ampliada, pois não acredita que haja um verdadeiro intercâmbio cultural entre am-bas as partes que compõem a cidade durante o evento. “Na re-alidade se não fossemos atrás dos espaços do centro da cidade, este espaço dificilmente viria até nós”, destaca.

A Virada Cultural de Bauru acontece no primeiro semestre de todo ano e traz companhias de teatro, dança, bandas e músicos para a cidade e ocupa espaços como Teatro Municipal, SESC e Parque Vitória Régia. Esses locais, ocupados periodicamente em festivais e eventos de grande e médio porte, reforçariam a tese dos escritores Gómez-Granell e Villa de que a cidade tem perdido seu papel de trocas sociais e culturais cotidianas e relegado essas atividades a algumas vezes no ano e a alguns grupos sociais.

Schiavo ainda reforça que longe de datas festivas e grandes

David MC no palco da Semana Municipal do Hip Hop 2014 Foto: Lucas Rodrigues

Almir Sater naVirada Cultural 2014 Foto: Mariana Duré

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eventos na cidade a relação entre centro e periferia é diferente e mais próxima, ainda que conflituosa. Para ele, “a cultura perifé-rica está muito misturada com o centro da cidade. Por exemplo, a questão da pixação e do grafite. Você começa a fazer na sua vila, mas de repente você sente a necessidade de mostrar isto pra Bauru toda, assim como a questão do skate, bike, roller, fazer o street na cidade é bem melhor do que na ‘quebra’ (por conta de escadas, corrimãos, infraestrutura)”.

Assim, independentemente da Virada Cultural, existem pó-los culturais na cidade que sustentariam a relação periferia-cen-tro ao longo do ano, e nesse ponto, é destacada a presença dos Pontos de Cultura, ONGs da região e Oficinas Culturais, que contribuem fortemente para o cenário local.

Cabe aí o debate, sempre polêmico, sobre o que é centro e o que são as periferias, do ponto de vista humano e cultural. O diálogo é possível? Heloisa Buarque de Hollanda, pesquisadora e ensaísta da Universidade Federal do Rio de Janeiro, especiali-zada em cultura contemporânea, destaca no projeto Tramas Ur-banas o papel dos saraus periféricos como espaço de produção cultural e troca de conhecimentos. Em entrevista concedida à re-vista Raiz, Heloisa afirma que a cultura periférica surgiu como “um fenômeno mais amplo, não restrito aos guetos, e que ressoa e estimula a cultura urbana de forma explosiva e irreversível.”

Já que todos somos produtores e consumidores culturais, e dividimos o mesmo espaço urbano e político na cidade, de-vemos olhar com mais atenção as manifestações artísticas de Bauru, incentivá-las, interagir com elas, além de cobrar do poder público mais participação democrática e igualitária em grandes eventos culturais e dar chance para novos artistas lo-cais se apresentarem.

Embora hajam restrições econômicas entre as classes so-ciais de uma cidade, que podem dificultar a troca de experiên-cias culturais, a criatividade flui como o vento, de um canto a outro, ocupando o espaço disponível, enchendo de renovação as esquinas das grandes e médias cidades. O intercâmbio entre culturas periféricas e cultura de massa deve regar e renovar os espíritos dos cidadãos, e gerar novos saberes, novas culturas, com sutilezas e contradições. Bauru, cujo potencial criativo é enorme, mas mal aproveitado e pouco incentivado pelo poder público, infelizmente ainda não leva a sério o lema que a define.

Almir Sater encerra Virada Cultural 2014 Foto: Mariana Duré

BBoy dançando no Calçadão da Batista em 2014Foto: Keytyane Medeiros

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REPORTAGEM FOTOGRÁFICA:

SER ARTÍSTICOJornalista em (trans)formação, apaixonada por escrever, fotografar e curtir um som. Acredita que a beleza está nos detalhes e que a vida faz mais sentido durante uma boa viagem.

texto e FotoS de caroLina rodrigueS

nãO imPOrta Onde vOcê esteja. as manifestações artísticas acOmPanham cada PassO nosso. Seja o graffiti nos muros de Punta del Diablo, no Uruguai, nas telas que

ganham vida nas feiras artesanais em Santiago, no Chile, ou na música ao vivo também na capital chiena. O clichê de que “o ser humano é um ser social” pode ser parafraseado para dizermos que, sim, o ser humano é um ser cultural e artístico.

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Piquinique cultural Pelotas-RS

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Casa abandonada na beira do mar (Punta del Diablo - Uruguai)

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Manifestações culturais de domingo (Santiago - Chile)

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Artista se apresenta nas ruas do Chile (Santiago - Chile)

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Feira de artesanato ao ar livre (Santiago - Chile)

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Estátua viva (Santiago - Chile)

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Casa de Pablo Neruda (Isla Negra - Chile)

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“Exit through the gift shop”Direção: Banksy

Produção: Paranoid PicturesDuração: 87 minutos

cultura

SAÍDA PELA LOJA DE PRESENTES

OUCOMO BANKSY PRODUZIU UM

PSEUDODOCUMENTÁRIO

Jornalista e feminista com orgulho. Adora escrever, hard news, política, tem o sonho de trabalhar em Brasília e poder dizer que tem “fontes dentro do Palácio do Planalto”. Ah, também ama gatos.

texto de marceLa BuSch

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aO PrOcurar nO gOOgle POr exit thrOugh the gift shOP, documentário assinado pelo enigmático e indefectível ar-

tista de rua inglês Banksy, as críticas positivas são inúmeras e as indicações ao Oscar pululam. A primeira impressão que se tem é que o alegado documentário é imperdível para quem quer saber mais sobre o movimento da street art e seus expoentes. Ledo engano.

A primeira meia hora de documentário nos leva a crer de que Thierry Guetta, francês radicado em Los Angeles, tenta do-cumentar o movimento da street art e alguns de seus expoentes, como Space Invader e Shepard Fairey, enquanto traz a impor-tância dessa forma de arte para o movimento da contracultura, segundo a narração “considerada o maior movimento de con-tracultura depois do punk”. Os artistas, entre eles o ícone da street art, Banksy, concordam com a importância do trabalho de Guetta para a visibilidade da arte. O trabalho do videomaker, porém, era péssimo.

O restante do filme guia o espectador pela transformação de registrador em registro: quando Banksy pontua o fracasso do filme feito por Thierry, também sugere que ele crie sua arte. A partir desse momento, assistimos toda a criação artística e con-cepção de Thierry, que assume a alcunha de Mr. Brainwash.

Assessorado por um time dos melhores ilustradores, es-cultores e artistas, além de corroboração de Fairey e do pró-prio Banksy, MBW consegue deturpar todo o conceito da pop

art, da banalização da imagem pop e também do significado da street art quando, copiando arte e produzindo sem nenhum conceito, ele inaugura uma megaexposição em Los Angeles e arrecada mais de US$ 1 milhão.

O documentário, indicado ao Oscar de Melhor Documen-tário em 2011, causa polêmica entre críticos até hoje, e não poderia deixar de fazê-lo, já que é uma obra prima de Banksy. Isso tudo porque, dizem por aí, ser um pseudodocumentário: Thierry Guetta não é real, Mr. Brainwash e toda a exposição promovida são obras do próprio Banksy. Toda a dinâmica do filme é engraçada demais, uma história perfeita demais para ser verdade, além de possuir uma estética extremamente con-dizente com o discurso de Banksy: a mercantilização da arte e a falta de significado nos movimentos sociais, sempre presen-tes em seus stêncils, toma forma quase palpável nesta obra. É sublime a maneira como o enredo nos atrai, e como estamos preparados para ridicularizar Guetta – que, dizem alguns, é o próprio Banksy – e sua infâmia tentativa de popularizar o pop e dessignificar o dessignificado, enquanto estamos ali, pote de pipoca na frente e entretenimento na tela.

O que fica da experiência de assistir Exit through the gift shop é um pouco de conhecimento sobre a street art, Banksy e a impressão de que, se somos manipulados por 90 minutos a pensar algo, como é possível que nos libertemos das amarras do pop mercantil que nos prendem há tanto tempo?

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tentam se apresentar devido ao grande número de pedestres passando o tempo todo. ‘Tentam’ porque não é tão simples assim: o local é tão concorrido que os artistas precisam de uma permissão do Conselho de Artes de Cambridge para po-derem mostrar seu talento por lá. Tracy Chapman, durante seus anos de estudante da Universidade Tufts, conseguiu sua permissão e frequentemente era vista cantando e tocando vio-lão nessa praça. Outro estudante da Tufts, Brian Koppelman, virou fã da artista ao vê-la cantar e apresentou-a ao seu pai, Charles Koppelman, que a contratou e ajudou-a a fazer parte do catálogo da gravadora Elektra Records, em 1987, quando Tracy se formou na faculdade. No ano seguinte ela lançou seu álbum de estreia Tracy Chapman, sucesso de público e crítica, de onde saiu o hit “Fast Car”.

3. Rod Stewart – Maggie MayRod Stewart tinha dois caminhos para seguir profissional-mente: ser jogador de futebol ou músico, já que, segundo ele mesmo, essas eram as duas coisas que ele sabia fazer. Depois de ser rejeitado pelo time Brentford F.C., ele decidiu que se-guiria carreira na música. Não que tenha sido mais fácil, já que as primeiras bandas das quais ele fez parte também não deram certo. Aí foi a vez de partir para a rua: ele se juntou ao cantor de folk Wizz Jones e eles começaram se apresentando em espaços públicos de Londres. Em seguida, começaram um

PLAYLIST:

ARTE DE RUA

muitOs artistas encOntram na rua uma fOrma de se expressar e de se apresentar sem depender de alguém

lhes ceder um espaço ou um horário para mostrar sua arte. É dessa forma que vários músicos começam sua carreira artís-tica, seja para ganhar um dinheirinho ou só para se divertir. Ouça cinco artistas que iniciaram dessa maneira e veja dois clipes que retratam um pouco da arte nas ruas:

1. B.B. King – 3 O’Clock BluesO que o jovem Riley B. King fazia para conseguir uns troca-dos? Isso mesmo, tocava nas esquinas das ruas e chegava a se apresentar em até quatro cidades por noite. Por volta dos 22 anos de idade, foi para Memphis seguir carreira musical e virou DJ em uma rádio. King deixou seu nome de batismo para trás e foi apelidado de “Beale Street Blues Boy”, em referência à Beale Street, rua na região central de Memphis que reunia os entusiastas de música, particularmente com es-tilo do blues. Logo o apelido foi encurtado para “Blues Boy” e, em seguida, simplesmente “B.B.”. King faleceu em maio deste ano, mas seu primeiro sucesso, “3 O’Clock Blues”, con-tinua entre nós.

2. Tracy Chapman – Fast CarEm Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos, há uma praça chamada Harvard Square, onde vários artistas de rua

Comunicadora social, louca por sorvete de flocos e apaixonada por chocolate meio amargo. Acha que o feminismo pode melhorar o mundo e gosta de cantar para se alegrar, desestressar e sobreviver.

texto de VaneSSa Souza

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tour de 18 meses pela Europa como artistas de rua, chegando até a dormir embaixo de pontes. O passeio acabou quando Rod foi deportado em Barcelona. Mas tudo bem, afinal, ao voltar para Londres, as coisas começaram a engatar e, em 1971, seu primeiro álbum solo Every Picture Tells a Story chegou ao primeiro lugar das paradas britânicas e americanas junto ao single “Maggie May”.

4. Jesuton – I’ll Never Love This Way AgainJesuton é britânica, mas foi nas ruas do Rio de Janeiro que ela encontrou seu verdadeiro palco. Depois de estudar na Univer-sidade de Oxford e trabalhar em uma ONG em favor dos di-reitos de indígenas peruanos, a cantora chegou ao Brasil por, segundo ela, sempre ter tido “curiosidade sobre a América Latina”. Ela cantava em lugares como o Largo do Machado e o Largo da Carioca, na capital fluminense, sem muitas preten-

já O PrimeirO single da artista maltesa nãO se limita só aO nome na hora de se referir à arte de rua: a canção usa esse tipo de expressão artística como uma metáfora inteligente sobre as restrições e barreiras que alguém pode encontrar durante sua caminhada como artista. Afinal, nada desafia mais as normas já estabelecidas no meio artístico do que a arte no espaço público. O clipe da música embarca nessa vibe e mostra um exemplar de grafite reverso – em que não é necessário tinta para fazer a arte, já que o desenho é montado ao limpar certas partes da superfície em vez de aplicar algum material – feito em um muro especialmente para o vídeo. Além de cantora e compositora, Dana também é beatboxer e já foi vice-campeã da versão feminina do campeonato britânico de beatbox.

quem cOnhece O cantOr fluminense sabe que ele flerta cOm o cinema tam-bém. Seu Jorge atuou em mais de dez filmes e, no clipe de “Tive Razão”, também usou esse seu talento para interpretar um músico de rua. Gravada em Roma, a breve história mostra Seu Jorge tocando e cantando a música para ganhar uns trocados. Mas ele consegue mais que isso: o artista ganha o cartão de um produtor, que pede para que ele entre em contato, e em seguida um esporro do padre que cuida da igreja na frente da qual ele se apresentava.

sões até ser levada ao programa Caldeirão do Hulk, da Globo, e ser contratada pela Som Livre. A sua versão da música “I’ll Never Love This Way Again”, por exemplo, virou trilha so-nora da novela Salve Jorge.

5. Jewel – Who Will Save Your SoulA cantora americana nasceu Utah, mas cresceu no Alasca e estudou em Michigan, onde aprendeu a tocar violão. Durante um período de sua vida, sua casa foi seu carro e ela decidiu rodar o país se apresentando nas ruas. Jewel, então, começou a fazer pequenos shows em cafés na região de San Diego, na Califórnia, e acabou assinando contrato com a gravadora Atlantic Records. Seu primeiro álbum, de onde o single “Who Will Save Your Soul” saiu, vendeu 12 milhões de cópias só nos Estados Unidos.

Vídeo: dana McKeon – Street art

Vídeo: Seu Jorge – tiVe razão

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