jornal lampião - 17ª edição

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65% 3G 23:12 < > Jornal - Laboratório I Comunicação Social - Jornalismo I UFOP I Ano 4 - Edição Nº 17 - Dezembro de 2014 Início Política Distrito Saúde Trabalho Turismo Cultura Memória Bicentenário de arte e memória Turismo em Mariana além do histórico-cultural Hortas urbanas revolução gentil e sustentável Exclusivo: LAMPIÃO entrevista Fernando Pimentel, futuro governador de Minas Gerais FOTOS: EDUARDO MOREIRA

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O Jornal Lampião é uma publicação laboratorial do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto. Dezembro de 2014

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Jornal - Laboratório I Comunicação Social - Jornalismo I UFOP I Ano 4 - Edição Nº 17 - Dezembro de 2014

Início Política Distrito Saúde Trabalho Turismo Cultura Memória

Bicentenário de arte e memória

Turismo em Mariana além do histórico-cultural

Hortas urbanas revolução gentil e sustentável

Exclusivo: LAMPIÃO entrevista Fernando Pimentel, futuro governador de Minas Gerais

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Page 2: Jornal Lampião - 17ª Edição

2 Arte: Jackie Mandarino

Dezembro de 2014

Para moldar o destino, a direção se toma agora

esclarecer. Se o exercício municipal evita pôr à vis-ta, também é um problema que na Assembleia Legis-lativa Estadual haja depu-tado que computa votos, mas não apresenta pauta de projetos para a região. E é lamentável que na Câ-mara dos Deputados, na última legislação, não te-nha sido votado nada que coloque Mariana e Ouro Preto em evidência.

Após 12 anos, com nova situação partidária no go-verno de Minas Gerais, re-pórteres do LAMPIÃO es-tiveram com o governador eleito, Fernando Pimentel, e mostram com exclusivi-dade o que ele pretende nos futuros quatro anos.

Do golpe de 1964, o “Grupo de Onze Compa-nheiros”, convocado para lutar pelas reformas de base do Brasil, também foi perseguido. Um dos 11, morador de Mariana, aponta na sua trajetória o reflexo do nacionalismo e comenta a reivindicação de quem pede a volta de mi-litares ao poder.

Tantas questões políti-cas vêm da importância de se falar sobre a própria política, do privilégio que é cobrar quando se reco-nhece dos direitos e enten-de dos deveres.

Se para uma cidade funcionar é preciso que circule a economia, o tu-rismo é uma opção quando existe herança. Monumen-

tos enriquecem o cená-rio e engrandecem a his-tória, festivais ocupam as praças e rendem diárias, mas é preciso inovar. Cer-cada por serras, em meio à Mata Atlântica e cacho-eiras, pode ser a hora de planejar o turismo ecológi-co. Preservar o que é na-tural, reconstruir trilhas e radicalizar atividades, é promover lazer e rotular roteiros de viagens.

E se há herança, para preservar um legado de 200 anos não basta o pas-sado. Transmitir por gera-ções a obra de Aleijadinho é uma perspectiva futura de que a memória e o pro-duto precisam existir. Com entrevistas o LAMPIÃO pode afirmar que é o tra-balho conjunto de entida-des públicas e religiosas, institutos e a própria co-munidade que mantém vivo o maior expoente da arte colonial brasileira.

O futuro não pode ser extraordinário quando se acomoda à monotonia. Na-turalizar o recorrente é di-zer que está tudo bem para o que incomoda. Se patri-mônio material e imaterial são formadores de identi-dade cultural e qualificam uma comunidade, a polí-tica molda a honra. Para um governo enobrecer e humilhar um povo basta a postura social diante das ações efetivas. Não se faz rei aquele que não preza sua majestade. Boa leitura!

Quando o futuro é espe-rança, é nas crianças que depositam a responsabili-dade de transformar as in-satisfações do hoje. Quan-do se cansam de esperar, o presente é o artifício da mudança, para que ao ver dos olhos, o novo esteja próximo. Como estudantes, ousamos para diversificar. Seja na linguagem dos tex-tos ou na estética do jor-nal, buscamos apresen-tar um conteúdo dinâmico e atrativo para o leitor. Como jornalistas, a ética e o dever social nos guiam para abordar assuntos re-levantes para comunidade, e verdadeiros, diante dos vários depoimentos que nos empenhamos em escutar. Aprendemos a cada entre-vista, em toda abordagem, no ler e reler da apuração, com as falhas e com o re-torno do bem feito.

Na 17a edição do LAM-PIÃO é o futuro que nor-teia a lida com a infor-mação. A oportunidade de refletir o que vem além não é fazer previsões, é le-vantar discussões. Foi por meio da apuração que per-cebemos como a instabili-dade política de Mariana e Ouro Preto dificulta o fazer jornalismo e atender o povo. Identificar erros é o primeiro passo para no-vas tentativas, assim como a notícia deve chegar à população, a administra-ção pública deve a delica-deza de se posicionar, de

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Foi MAl

Jornal Laboratório produzido pelos alunos do curso de Jornalismo – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/ Universidade Federal de Ouro Preto - Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas Souza. Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Prof. Dr. JB Donadon Leal. Presidente do Colegiado de Jornalismo: Profa. Dra. Denise Figueiredo Barros do Prado – Professoras responsáveis: Karina Gomes Barbosa (Reportagem), Ana Carolina Lima Santos (Foto-

grafia) e Priscila Borges (Planejamento Visual) – Editora Chefe: Marília Mesquita – Secretário de Redação: Pedro Mendonça – Editora de Arte: Renatta de Castro – Editor de Fotografia: Eduardo Moreira – Editor de Multimídia: Stênio Lima - Subeditora de Multimídia: Paloma Ávila – Repórteres: Aline Nogueira, Ana Clara Fonseca, Brunello Amorim, Daiane Bento, Danielle Campez, Dreisse Drielle, Giovanna de Guzzi, Hugo Pereira, Júlia Mara Cunha, Júlia Pinheiro, Luiza Mascari, Mateus Meireles, Matheus Maritan, Natane Generoso e Silmara Filgueiras – Fotógrafos: Eliene Santos, Endrica Fernandes, Lucimara Leandro, Maria Augusta Tavares, Núbia Azevedo, Raquel Estevão Lima e Rodolfo Dias – Diagramadores: Carol Antunes, Elis Regina Santana, Fernanda Mafia, Gabriella Pinheiro, Jackie Mandarino e Victor Hugo Martins – Revisão: Fernando Ciríaco e Geovani Barbosa – Monitoria: Pedro Carvalho – Colaboradora: Bruna Matsunaga. Tiragem: 3.000 exemplares. Endereço: Rua do Catete, nº 166, Centro. Mariana – MG. CEP 35450-000

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preMiAção

entre olhAres

O bebê nasceu! E agora? Como cuidar de uma nova vida? O que esperar para o fu-turo do novo membro da fa-mília? Expectativas, incerte-zas… Questionamentos que provavelmente surgirão. Cer-teza mesmo se tem sobre os valores e princípios que se-rão passados, servindo como orientação para a vida toda. Todos em volta querem dar palpites, dizer o que fazer e o que está errado. Tentativas de ajudar na concepção de um novo ser que agora terá de en-frentar os mesmos desafios que os veteranos. Ou será que sobra tempo para ter esperan-ça de que o mundo será me-lhor? O que dizer das histórias que o povo conta? Se torna-rá um ladrão o bebê que for passado pela janela? O leite da mãe seca quando uma mu-lher menstruada se aproxima do bebê? Há quem diga que não se pode beijar um bebê para não causar brotoeja. Mas quem se importa? O afeto nos impede de seguir as exigências provenientes dos mitos.

Talvez seja um problema querer enquadrar o bebê em sistemas pré-estabelecidos. Se há uma vontade de que seja

um mundo melhor, mais jus-to, a educação deve fugir ao que já existe e está dando er-rado. O novo deve ter espaço para que o futuro traga expe-riências, conflitos, perguntas e respostas diferentes.

Como toda grávida, Prisci-la Alves Teixeira Ansaloni, 35 anos, vive alguns dilemas em relação à espera pelo futuro, que já começou. Com 13 se-manas e quatro dias, três me-ses e uma semana, de gravi-dez, Priscila ainda não sabe o sexo do bebê. Se for menina o nome será Ana Ester e se for menino, Rodrigo Cezar. Havia uma expectativa de que a res-posta fosse: “Queremos uma menina, vai ser nossa prince-sinha” ou talvez “Um menino, dá menos trabalho, é só vestir uma bermudinha e uma cami-seta e tá pronto”. Nada disso. Priscila revela que tanto faz. Não tem preferência por um ou outro sexo. O importante, segundo ela, é que a gravidez se concretizou.

O futuro novamente entra em questão. Priscila e o ma-rido, Rodrigo, esperam que o filho seja íntegro, correto e que tenha caráter. Será ensina-do sobre o que é certo e er-rado. Sobre a profissão, Pris-cila espera que ele siga suas

vontades, independente das pressões da sociedade e sem interferência da família. Sim. Um surpreendente “Não sou eu quem escolho”. Imagina lá se a profissão importa. Se os ensinamentos de Prisci-la e Rodrigo forem seguidos, provavelmente esse filho será como os pais desejam.

O que a grávida pondera é que seu bebê seja uma pessoa direita, que corra atrás de seus objetivos e que não dependa de ninguém. Ela garante que não será mimado e não terá tudo dado facilmente, para que aprenda o valor das coisas desde pequeno.

A grávida espera que o mundo esteja melhor daqui a alguns anos para que seu fi-lho não tenha que enfrentar os problemas que hoje são vi-vidos pela sociedade. Que as pessoas respeitem mais as ou-tras, que conservem melhor o meio ambiente.

Será que os desejos de Priscila se tornarão realidade? Será que esse ser que ainda nem nasceu será o reflexo dos anseios de seus pais? Será que o mundo estará melhor e mais justo? Isso só o futuro pode-rá dizer. Mas nunca se esque-ça, Ana ou Rodrigo: sua espe-ra foi muito comemorada.

A matéria “Ensino inte-gral: na trave”, publicada na edi-ção 16 do LAMPIÃO, trouxe um dado incorreto. De acordo com a reportagem, os progra-mas de ensino integral da Prefei-tura de Mariana e do Governo de Minas Gerais são financiados pelo programa Mais Educação, do Governo Federal. Contudo, o programa municipal de ensi-no integral é financiado com re-cursos próprios da Prefeitura, e o ensino integral estadual rece-be verbas do Estado, e não da União.

Pedro Mendonça renatta de Castro

À espera do futuro

O jornal LAMPIÃO foi indicado por voto popular ao Prêmio Aleijadinho de Res-ponsabilidade Social, na cate-goria Imprensa. Promovido pela Fundação Aleijadinho, o prêmio tem como objetivo re-conhecer pessoas, empresas e veículos de comunicação que prestam serviços relevantes à comunidade, com finalidade de ajudar ao próximo.

Agradecemos à popula-ção de Mariana e Ouro Pre-to pela confiança e à Funda-ção Aleijadinho pela iniciativa. Como alunos, agradecemos aos professores de Jornalis-mo da Ufop pela competência com que nos ensinam e pela dedicação em transmitir o fa-zer jornalismo. O prêmio foi entregue em 20 de novembro e o vencedor foi o Voz Ativa.

LAMPIÃO é indicado a Prêmio Aleijadinho

Nessa estrada sigo apenasPor querer da vida um tanto

Trago o canto minhas penasFaço amor de todo o pranto

Eduardo morEira

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Page 3: Jornal Lampião - 17ª Edição

3Arte: Jackie Mandarino

Dezembro de 2014

Turismo requer atenção

Você sabia?

Em Mariana, setor tem potencial para novos segmentos, mas falta de capacitação e investimentos limitam roteiros

Um aeroporto ouropretano

Aline nogueirA Imagine que você é um turis-

ta e está passeando por Minas Ge-rais, mais especificamente na Região dos Inconfidentes. Ao chegar a Ma-riana, além de conhecer as igrejas, apreciar a arte barroca e os casarões de arquitetura colonial, você tam-bém pode ter acesso a outros seg-mentos do turismo. A cidade, além de todos os atrativos histórico-cul-turais, é rica em belezas naturais. Mas, devido à falta de acessibilida-de e de guias turísticos capacitados, poucas atividades são possíveis de serem realizadas.

De acordo com a coordenado-ra de turismo de Mariana, Lívia Du-arte, o impacto econômico do turis-mo na cidade ainda é baixo diante do potencial: cerca de 19% da renda do município. Mesmo sendo a mine-ração a principal fonte de renda da cidade, Lívia se mostra confiante no futuro do setor: “A expectativa é que consigamos alcançar resultados mais efetivos com os projetos que esta-mos desenvolvendo”. Ela ainda afir-ma que “o turismo não acontece do dia para a noite, é desenvolvido com tato e cuidado. Precisa grande aten-ção para desenvolver qualquer tipo de atividade.”

Guias?Com o auxílio de um guia, o tu-

rista pode aproveitar mais o passeio, porém em Mariana a maioria dos denominados guias são, na verdade, monitores de turismo. Eles fizeram um curso ofertado pela Prefeitura; alguns participaram também cursos de idiomas no Pronatec. Já a profis-são de guia de turismo é regulamen-tada e precisa de formação adequada do Ministério do Turismo (Mtur), da Embratur e outros órgãos compe-tentes. Para 2015, a previsão é que a cidade receba um curso regulamen-tado de guias. O monitor de turis-mo Alexandre Costa de Souza par-ticipou do curso na cidade e diz que

aprendeu muito “a respeito das da-tas, construções históricas, escultu-ras, pinturas e, principalmente, so-bre a arte barroca que atrai muitos turistas para a região”.

Mesmo tendo muitos monito-res e alguns guias pela cidade, Ma-riana ainda carece de profissionais especializados e que conheçam real-mente a cidade e região. Apesar de ter muitas cachoeiras e lugares pro-pícios a práticas de outros tipos de turismo, como o Pico da Cartuxa, Lívia afirma que, por falta de guias capacitados, “o turismo ecológico não é muito divulgado na cidade pe-los riscos que os locais oferecem”. Alexandre também acredita que isso seja prejudicial, mas explica que falta segurança e policiamento. De acor-do com Lívia, o que tem sido incen-tivado na cidade são as manifesta-ções culturais. Essas são uma forma de impulsionar o turismo imaterial, já que é uma maneira de vivenciar e se apropriar da história de maneira mais dinâmica.

PasseiosTendo em vista o turismo his-

tórico-cultural, a cidade de Mariana conta com 222 bens inventariados, ou seja, passíveis de tombamento, seja em nível federal, estadual ou municipal. Dentre eles estão 19 igre-jas e capelas, localizadas na sede e nos distritos, três museus, além da Mina de Passagem, do Pico do Ita-colomi e do passeio de Maria Fuma-ça até Ouro Preto. Mas, caso você seja turista e queira conhecer outras atrações, Mariana tem turismo natu-ral e náutico, além de projetos para incluir os caminhos da mineração na rota turística.

Mariana divide com Ouro Pre-to o Parque Estadual do Itacolo-mi, com mais de 7500 hectares de fauna e flora da região. O parque - que abrigou expedições auríferas e de pesquisas naturalistas no sécu-lo XVII - é aberto aos turistas para

Mariana tem um sítio arqueoló-gico. O Parque Paisagístico Arque-ológico Morro Santana, conheci-do por Gogô, foi local de moradia e trabalho de escravos e conta a histó-ria da exploração aurífera. Segundo o professor de História do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Rio Pomba (Ifet - RP) Rafael Souza, no sítio estão “vestígios das antigas técnicas de mineração, minas e ruí-nas de uma companhia aurífera e da capela de Santana”

Considerado um dos mais im-portantes acervos da mineração, o sítio está em processo de tomba-mento federal, mas não é indicado para visitação sem acompanhamen-to capacitado. O lugar é importante para a população e os turistas enten-derem a presença inglesa na região e lendas como a Mãe do Ouro.

giovAnnA de guzzi

Ouro Preto, um dos principais pontos turísticos de Minas Gerais, vai ter um aeroporto construído em breve. O local escolhido é a estrada que liga os distritos de Cachoeira do Campo e Glaura, que fica a 20 km de distância da cidade sede. A estrutu-ra vai facilitar o acesso de turistas e a locomoção dos moradores, que atu-almente só conseguem chegar e sair de Ouro Preto de carro ou ônibus.

Susana Alcântara, 41 anos, nas-cida em Glaura, é diretora da Es-cola Municipal Benedito Xavier, lo-calizada no distrito, e afirma que o aeroporto é de uma “valia imensa”, pois além de aquecer a economia lo-cal, a população teria mais facilidade em se locomover, uma vez que o ae-roporto mais próximo fica em Belo Horizonte, a 120 km. Ela diz que a comunidade já vem discutindo há al-gum tempo o assunto e acredita que há pontos negativos e positivos, mas que a população tem que se acostu-mar com as mudanças.

A pedagoga Paula Karacy, 49, descreve a comunidade como tran-quila e composta por poucas e pe-quenas famílias. A escola possui aproximadamente 250 alunos, mas ela espera que a construção do aero-porto amplie o número de habitan-tes, e consequentemente de alunos.

Ela acredita que haverá mudanças no saneamento básico, no acesso a Ouro Preto, na educação e na cultu-ra. Ela afirma ainda que “com o pro-gresso vem o prejuízo”.

Sônia Cristina, 46, assumiu o bar que era de seu pai há mais de 20 anos e afirma que o aeroporto vai atrair mais visitantes para o distrito. Segundo ela, o impacto econômi-co será positivo, mas a comunidade vai perder a tranquilidade com que está acostumada. Antônio Figueire-do, 71, nasceu em Glaura e trabalha como pedreiro. Ele também acredita que o impacto econômico será po-sitivo, mas teme que o sossego com que convive diariamente acabe.

O distrito possui duas pousadas, mas a mais próxima do centro fica na estrada, a 6 km de distância do centro. Ainda há muito a se fazer em relação à infraestrutura no local, mas a população espera que a constru-ção do aeroporto atraia mais inves-timentos. O aeroporto de Governa-dor Valadares, que possui o mesmo porte do que será construído em Glaura, possui uma movimentação de 5 mil pessoas por mês. A popu-lação já discute o que pode ser fei-to para se preparar e receber as mu-danças que estão por vir da melhor maneira possível. Paula Karacy con-ta ainda que não sabe como os mo-

radores vão reagir a tantos “estran-geiros” que passarão por Glaura.

TrâmitesA prefeitura de Ouro Preto já

fez a desapropriação do local, que tem área de aproximadamente 335 mil m². Foi feito também o Estu-do e Relatório de Impacto Ambien-tal (EIA/RIMA) no local. De acor-do com a Secretaria de Aviação Civil (SAC), o projeto existe desde 2006 e está em fase final. A licitação deve sair em breve e ainda não existe pre-visão de entrega.

O planejamento está sendo fei-to para que o aeroporto receba vôos regionais. Esse projeto faz parte do Programa de Investimentos em Lo-gística: Aeroportos e receberá ver-ba por meio da concessão dos aero-portos de Confins (Belo Horizonte) e Galeão (Rio de Janeiro). Os gas-tos estipulados para a construção são de aproximadamente R$ 80 mi-lhões. O programa de aviação re-gional visa uma integração eficien-te e rápida que permita a mobilidade e tem como objetivo deixar 96% da população brasileira a 100km de dis-tância de um aeroporto. Atualmen-te, 20% dos brasileiros vivem outra realidade. Há cidades no país onde o aeroporto mais próximo fica a 700 km de distância.

caminhadas e possui visitas guiadas tanto nas partes históricas, quanto nas trilhas e expedições.

Outra vertente turística presente na cidade é o turismo náutico. Ofer-tado no distrito de Barro Branco, o Catamarã Dubai oferece ao turista um passeio de barco pelas águas da Represa da Fumaça. De acordo com uma das proprietárias, Maria Angela Pereira, além de incentivar o turismo náutico e rural, a proposta é também estimular o turismo imaterial, uma vez que o passeio “propõe resgatar interessantes histórias do distrito e o artesanato em pedra sabão”.

A fim de incentivar o ecoturis-mo e incluir os distritos nas rotas tu-rísticas, a Prefeitura de Mariana está estruturando o projeto Estrada Par-que: Caminhos da Mineração, que deve começar em 2015. De acor-do com Lívia Duarte, a iniciativa visa reconstruir os distritos de Ben-to Rodrigues, Camargo e Santa Rita

Lucimara Leandro

Distrito

CiDADE

Como será?Dados disponíveis sobre o futuro aeroporto de Ouro Preto comparados com

outros aeroportos regionais mineiros

Com a construção de aeroportos no interior do país, as horas de viagens diminuem, mas os preços das passagens aumentam

Vale a pena?

Aeroportos

Durão de forma mais atrativa, com restaurantes, hotéis e opções mais diversificadas de visitação com guias capacitados. Também faz com que a comunidade se aproprie da histó-ria, de manter os casarões e resgatar crenças e lendas.

Para expandir o turismo em Ma-riana, Alexandre afirma que “a ci-dade é muito bonita, tem muitos atrativos, mas falta divulgação”. A presidente da Associação de Guias de Turismo de Minas Gerais, Ana Maria Torres, também concorda que “a publicidade bem feita é alma do negócio, desde que esteja acompa-nhada de boa infraestrutura. Não vale ser um potencial turístico se não tiver investimentos que garantam bons serviços ao turista”. Já de acor-do com Maria Ângela, “o turismo ecológico e rural também podem ser aproveitados, desde que haja plane-jamento e acompanhamento pelos órgãos competentes”.

Capacidade anual

Comprimento da Pista

-

Ipatinga

Governador Valadares **

Terminal de passageiros

600 m² 165.000 pessoas 2004 m

2.200 m² 182.500 pessoas 1.800 m

Glaura 335.700 m² * 1900 m

* Area total do aeroporto** Após reforma em 2015

Trechos Tempo Preço*

São Paulo*** - Ipatinga

São Paulo - Ouro Preto

Distância Km

São Paulo**- Governador Valadares

* Valores em R$ cotados em 17/11/14 para 15/01/15 ** Aeroporto de Viracopos*** Aeroporto de Congonhas

624 - 11h - 124,85

900 3h 15h 365,00 158,80

796 3h 13h30 378,00 137,22

Alexandre Costa, monitor do turismo, acredita que valorização dos guias é essencial para o desenvolvimento da área

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4 Arte: Gabriella Pinheiro

Dezembro de 2014

Danielle Campez Acorda às dez da noite,

toma banho, vai para o pon-to onde o ônibus da empre-sa passa. Chega ao trabalho às 23h. O expediente vai até oito da manhã. Após chegar em casa e almoçar, dormir à tarde fica difícil com o calor. Clau-diney da Silva, 44 anos, faz essa rotina há 19, que é o tem-po em que trabalha na Nove-lis. Mas em 2015, pode não ser mais assim. Com a ameaça de desemprego e pai de dois fi-lhos, será difícil sustentar a casa ao lado da mulher.

A lista de possíveis demiti-dos chega a 350 funcionários. Terceirizados também podem ser afetados com o fechamen-to da fábrica de alumínio da multinacional americana No-velis, que opera em Ouro Pre-to há 80 anos. A demógrafa Kátia Nunes Campos conta que o fechamento trará con-sequências para o futuro de

Ouro Preto e do estado. Para ela, o maior impacto é social, com desemprego direto e in-direto, afetando o comércio e pequenas indústrias.

Porém, de acordo com o secretário de Turismo, In-dústria e Comércio de Ouro Preto, Jarbas Avellar, o de-semprego não preocupa. “Se considerar os empregos gera-dos desde 2013, temos saldo positivo em relação aos de-sempregos da Novelis”, con-ta. Essas vagas, informa, vêm de supermercados que se ins-talaram na cidade.

Entretanto, essas novas vagas oferecem salário muito inferior ao que os trabalhado-res metalúrgicos ganham em produção. Uma das maiores preocupações dessas pessoas, além dos salários, são os be-nefícios que a empresa ofere-ce. “Hoje, pagar um plano de saúde para a família com o sa-lário de pequenas empresas é

praticamente impossível”, la-menta Claudiney.

Muitos desses trabalhado-res não têm escolaridade nem experiência para exercer ou-tra função. É o caso de Agnal-do Dutra, 45, que trabalha na Novelis há 15 anos. “As em-presas querem cada vez mais mão de obra jovem e expe-riente. Certamente vai ser difí-cil conseguir outro emprego.”

O vereador Chiquinho de Assis alertou que a No-velis tem um compromisso com a cidade e não pode fe-char os olhos para os funcio-nários. “As pessoas que doa-ram a vida defendendo seu ganha-pão não merecem re-ceber como prêmio a demis-são”, lamenta. A Novelis diz saber do impacto. “O encer-ramento das operações e des-ligamento dos funcionários será feito com respeito e dig-nidade”, informa.

O fechamento foi anun-

ciado em 16 de outubro. Em 3 de novembro, a Novelis lan-çou o Núcleo de Apoio Pro-fissional (NAP) para auxiliar aos trabalhadores na transição de carreira. No dia 5, os sin-dicalistas saíram às ruas para manifesto; no mesmo dia em audiência pública na Câma-ra Municipal de Ouro Preto o sindicato rejeitou a propos-ta de indenização da empresa. No dia 20, a Justiça do Tra-balho deu liminar obrigando a Novelis a não demitir mais e anular as demissões ocorridas. No mesmo dia, a multinacio-nal afirmou acatar a decisão.

Melhorias na mobilidade e acessibilidade nas vias urbanas fazem parte do futuro de Mariana e das áreas tombadas

Aumento do tráfego urbano e restrições de reformas no patrimônio tombado do centro histórico de Mariana contribuem para o trânsito caótico em ruas como a Dom Silvério

CIDADE

trAbAlho

Lucimara Leandro

O trânsito está nos planosana Clara FonseCa

Ano 2070, a cidade de Ma-riana mantém as suas estru-turas. Os casarões ainda es-tão cheios, bem preservados. O número de pessoas aumen-tou, consequentemente houve aumento no número de auto-móveis, mas não existem en-garrafamentos; há áreas para estacionamento, sinalizações e vias de acesso.

Essa seria Mariana com parte dos planos de melhoria para o trânsito. O crescimento contínuo da cidade mostrou, segundo o Departamento Municipal de Trânsito (Demu-tran), aumento significativo de veículos, que ocorreu devido à municipalização do trânsi-to em 2006. Segundo o IBGE, entre 2005 e 2013, houve um aumento no número de auto-móveis, de 6.643 para 12.384.

Em 2014, as ruas e estrutu-ras de pedra e pau a pique das construções são as mesmas do ano de 1745. A rua Dom Sil-vério, localizada no centro da cidade, é parte do patrimônio

tombado pelo Instituto do Pa-trimônio Histórico e Artísti-co Nacional (Iphan). Marce-lo Queiróz, morador da rua há 35 anos, avalia o trânsito da região como péssimo. Os ba-rulhos são o que mais o inco-modam. “Se não houver con-trole do trânsito, não haverá jeito de andar dentro de Ma-riana de carro”, explica.

Outros problemas, para Marcelo, são a via de mão úni-ca e a passagem de ônibus e caminhões. Segundo o pro-fessor do Departamento de Museologia da Ufop Gilson Nunes, as ruas do centro his-tórico foram pensadas para acolher caminhantes, carru-agens e cavalos. Hoje, gran-des veículos passam vibrando e raspando o solo, causando até perturbação estrutural nos prédios, que também não fo-ram projetados para resistir aos impactos.

Porém, Gilson explica que os prédios tombados não fo-ram congelados; há pessoas morando neles, e elas precisam

se mover por essa área. Para isso é necessário regulamenta-ções dos órgãos competentes, como o Iphan, responsável pelo patrimônio histórico, e a Prefeitura. Segundo o Demu-tran, há moldes de mobilida-de e acessibilidade planejados, que diminuem o impacto de veículos no centro histórico, como sinalização eficaz e in-tervenções físicas que devem ser estudados junto ao Iphan.

O secretário municipal de Defesa Social, que respon-de pelo Demutran, José Luiz Furst, afirma que há interven-ções implantadas para preser-vação do patrimônio histó-rico. “Estamos finalizando o projeto de Sinalização Turísti-ca, em conjunto com a Secre-taria de Cultura e Turismo”.

A atual administração do Demutran vem construin-do projetos de melhorias de acesso das entradas na cidade e, com esse processo, há pro-jetos de nova entrada para os bairros Cabanas e Cartuxa e novos trevos e rotatórias nos

bairros Chácara e Santana. Há projetos de reformulação da Rua do Catete e da Aveni-da Nossa Senhora do Carmo, na área central. São formas de possibilitar novas rotas de acesso e tráfego para facilitar o fluxo de veículos.

O Secretário de Defesa So-cial conta que já há intensifi-cação da fiscalização nas áre-as tombadas, como proibições de estacionamento que inibam condutores a pararem na cal-çada. Para o professor de mu-seologia Gilson Nunes, tem de haver uma difusão da edu-cação patrimonial. “É preci-so conscientizar a população de que ela tem um patrimônio, que não é só dela, é de toda a sociedade. A população deve ser agente de preservação”, afirma. José Furst concorda: o desrespeito à legislação preju-dica o sistema viário e as auto-ridades, por si só, não garan-tem a ordem no trânsito sem a contribuição do cidadão. Pro-curado pelo LAMPIÃO, o Iphan não se manifestou.

A preocupação é o desemprego

maria augusta tavares

Possível fechamento da Novelis inquieta centenas de trabalhadores, como Claudiney da Silva

O olhar da Secretaria de Turismo, Indústria e Comer-cio de Ouro Preto é de que um dia a mineração de ferro, assim como está acontecen-do com a mineração de alumí-nio, vai se esgotar no municí-pio. Segundo Jarbas Avellar, a proposta da secretaria é traba-lhar para suprir os desempre-gos da mineração.

A principal aposta é o tu-rismo. Apesar de a arrecada-ção do setor representar so-mente cerca de 4% do total do município, o turismo emprega

Alternativasquase metade dos trabalhado-res registrados. “O turismo será a indústria que vai suprir o desemprego de Ouro Preto agora e no futuro”, completa. Além desse setor, acredita-se que a solução para as demis-sões em massa está nas peque-nas empresas e no comércio local (como supermercados e lojas). A própria Novelis reco-nhece o potencial turístico da cidade e se diz “aberta a dialo-gar com a comunidade e jun-tos identificar novas oportuni-dades para a região”.

Cidade e patrimônioPara o professor o pro-

blema da urbanização é uma pressão natural de alteração das construções. “Quando o imóvel é tombado, significa que ele deve guardar as carac-terísticas, os processos cons-trutivos como foram concebi-dos”, explica Gilson.

Ao enxergar o futuro da ci-dade, o professor Gilson Nu-nes acredita que as áreas para fora do patrimônio histórico são responsabilidade da Pre-feitura, e por isso, o processo de preservação tem de ser fei-to em conjunto com o Iphan.

Ele explica ainda que a mi-neração tem prazo de valida-de; as minas irão se exaurir daqui a algum tempo e o que restará da economia em Ma-riana serão as áreas de servi-ço, educação - com a presença da universidade - e o turismo. E, do ponto de vista turístico, a região só é atrativa pelo pa-trimônio aqui existente, aque-le que nos deixou um legado.

Desde 1745, Mariana é uma das cidades dependentes da atividade mineradora no Brasil. Da extração do ouro, passou à extração de miné-rio de ferro. Com isso, a ci-dade não parou de crescer. A área tombada, reconheci-da como patrimônio histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), acompanha, de for-ma irregular, esse crescimento da população.

O professor do Departa-mento de Museologia da Ufop Gilson Nunes explica que a ocupação irregular formou o que se chama de tombamento da paisagem. Quando a cida-de é vista do centro histórico, percebe-se em seu entorno, para além das áreas tombadas, partes ocupadas que deveriam estar, na verdade, preserva-das. A ocupação irregular aca-ba causando impacto visual e, por algum motivo, está sendo feita indiscriminadamente.

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5Arte: Victor Hugo Martins

Dezembro de 2014 Política

Quando fui prefeito, criei o programa Es-cola Integrada, que funciona em 90% das es-colas da rede municipal. Consiste em oferecer atividades para os alunos nos contraturnos em aparelhos públicos não estatais, como igrejas. Você se convenia com as instituições e traba-lha com monitores, estudantes universitários supervisionados por um professor. Podemos utilizar esse sistema em todo o estado como transição.

O tempo de vida do mi-nério de ferro é curto - eco-nomistas dizem que a mi-neração de Ouro Preto e Mariana se esgota em 30 anos. É preciso pensar em outras alternativas eco-nômicas. Há planos para atração de outras indústrias para essas cidades?

Essa é uma discussão que tem que ser feita e temo que não tenha sido feita da forma ade-quada. Dizem assim: ‘O minério vai acabar’. É verdade, mas o nome do estado é Minas Ge-rais. Somos o grande estado minerador. For-necemos minério para o mundo inteiro. Isso é uma característica da região em que vivemos e temos que trabalhar isso a nosso favor. O que significa isso? Não exagerar. Não podemos usar de forma irresponsável o território, os re-cursos minerais que temos e nem, por exces-so de zelo, impedir a atividade mineral, porque ela é importante para o estado. Vai continu-ar sendo por muito tempo e tomara que seja sempre.

Tem uma coisa que pouca gente sabe: na região metropolitana de Belo Horizonte temos mais ou menos 700 cavas. Quando você ex-plora, “cava”

peitando o meio ambiente. Exemplo: Minas tem todas as condições

para se tornar um dos grandes, se não o maior polo mundial de produção de silício em grau eletrônico. Nós temos silício ao norte. E já te-mos tecnologia para levá-lo até o grau meta-lúrgico. Qual é o problema? Energia. Energia é cara, mas podemos ter um programa estadu-al que barateia esse custo para a indústria. Pro-duzimos ligas metálicas que vão para o mundo inteiro. Os foguetes da Nasa levam silício da-qui. Mas o passo é esse que está aqui dentro, ó (aponta o celular), o grau eletrônico. É o futu-ro. Estamos olhando o futuro, mas o futuro é igual a uma escada: ninguém sobe um degrau cortando o de baixo. Nesse mandato, se a gen-te conseguir estimular essa reflexão e chegar a um consenso em Minas é possível dar um sal-to, sem abrir mão do nosso papel de minera-dores, respeitando tudo.

Sempre escutamos que o turismo é a solução para a economia das cidades. Mas Mariana, por exemplo, ainda tem muito que caminhar. Quais os planos do gover-no estadual para o turismo?

Fico incomodado porque não vejo a coi-sa ser feita da forma como deve ser. Turismo em alguns estados é natural, espontâneo. Em Minas, temos que trabalhar. Isso porque no mundo inteiro e no Brasil, as pessoas pensam em praia. Não podemos achar que porque tem Ouro Preto e Mariana - duas cidades histó-ricas, uma que é patrimônio da humanidade - está pronto. A gente compete com as cida-des históricas da Europa. Temos que, primei-ro, atrair o turismo interno. Hoje, o brasileiro, com a expansão da renda da nova classe mé-dia, tem mais condição de viajar. Vamos fazer eles viajarem para cá.

O estado tem que dar fortíssimo apoio para o setor de turismo, qualificar gente, fa-zer campanhas nacionais e internacionais e dar suporte a essas iniciativas, mas não fez isso nos últimos anos. Criaram um programa como a “Estrada Real”, mas não acrescentou nada. Que estrada é essa que nem placa co-locou? Chega de inventar um negócio bonito. Coloca o pé na terra antes de fazer propagan-da dizendo que a gente tem as cachoeiras mais bonitas do Brasil - e a gente tem.

No Dia de Minas, a capital é transfe-rida para Mariana. Mas a cerimônia não pode ser vista pela população pois o en-torno do evento é bloqueado. O que o se-nhor pensa sobre isso?

Isso aí é a cara desse ciclo que está acaban-do. Você faz um negócio baca-

na e bonito... Para os con-vidados. Uai, mas e o povo? Isso aí nós vamos mudar. Você pode ter certeza que nós vamos mudar.

Governador eleito Fernando Pimentel apresenta planos para os próximos quatro anos e elenca pontos prioritários

O futuro é igual uma escada: ninguém so-

be um degrau cortando o debaixo”

Fernando Pimentel

Um novo horizonte

para Minas

Dreisse Drielle e Mateus Meireles Em meio à transição e a um passo de assumir o

Governo de Minas, Fernando Pimentel recebe com exclusividade a equipe do LAMPIÃO para sua primeira grande entrevista concedida a um veículo impresso desde o resultado das eleições. Durante o bate-papo descontraído de mais de quarenta minutos, o político apresenta seus planos de gestão para as áreas de saúde, educação, mineração e turismo. E fala em primera mão sobre sua perspectiva de fazer parcerias com hospitais filantrópicos e universitários para am-pliar o atendimento no estado.

Nascido em Belo Horizonte, Fernando Pimentel foi eleito governador com 52% dos votos válidos. Du-rante a carreira política, foi prefeito da capital entre 2001 e 2008, sendo considerado o melhor gestor do município nos últimos vinte anos. Exerceu também o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil entre janeiro de 2012 e fevereiro de 2014.

Nos últimos 12 anos não foi construído nenhum hospital estadual em Minas. Em Mariana e Ouro Preto, a população fica à mercê de instituições particulares que atendem pelo SUS. Há planos de cons-truir um hospital na região?

Não fizeram mesmo nenhum hospital es-tadual. Nove deveriam ser entregues. Nós va-mos fazê-los. Alguns vão sair mais rápido, ou-tros vão demorar um pouco mais.

Mas a questão da saúde em Minas passa por pelo menos três iniciativas diferentes, que vão para mesma direção. A primeira é a ges-tão dos hospitais regionais. Construir e equi-par um hospital talvez seja a parte mais fácil, apesar da demanda. O problema vem depois. Dos nove hospitais planejados pelo antigo go-verno, nenhum deles tem definida a forma de gestão. A nossa idéia é evitar ao máximo que eles venham para rede estadual da FHEMIG (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais), que já tem problemas demais. Está sobrecarregada e sucateada.

O caminho é o das parcerias. Onde hou-ver uma universidade com curso de Medicina, é possível conveniar com o hospital e torná-lo universitário.

Como é o caso da Ufop...Isso. É bom para a faculdade, para a co-

munidade e para o estado porque você divide as despesas de custeio com a União. Não po-dendo ser assim, tentemos a rede filantrópi-ca. Vamos fazer uma reforma dos convênios e acordos com os hospitais filantrópicos para reforçá-los.

A segunda vertente do problema é exten-siva ao Brasil. A atenção básica da saúde pú-blica está razoavelmente resolvida. Não está uma maravilha, mas caminha bem. Temos que agradecer ao Mais Médicos, programa inova-dor da presidenta Dilma. Dos 18 mil médi-cos vindos para o Brasil, temos em Minas cer-ca de 1500.

Só que o segundo momento do aten-dimento está mal resolvido. É onde entra o especialista. Prometi criar centros de espe-cialidades médicas. E somos ambiciosos, que-remos estar em cada uma das 77 micro-regi-ões da saúde. Assim, nenhum mineiro estará a mais de 80km do atendimento especializa-do. Construir os centros não é um problema grande, mas colocar médicos neles, sim. E não é necessário criar um novo centro em cada lu-gar. Em muitas cidades já há esse tipo de aten-dimento, sem suporte do estado.

A terceira vertente é assegurar a todo o território mineiro pronto-atendimento. Por incrível que pareça, até hoje não temos aten-dimento de urgência e emergência, o SAMU. A cobertura é de apenas 28%. Isso é um ab-surdo. O governo federal dá o equipamento e ajuda no pagamento dos salários. O SAMU só não atende todo o estado porque não foi prio-ridade nos últimos 12 anos. Agora vai ser.

Em Mariana, há instituições que já têm ensino integral, mas sofrem com fal-ta de verba e espaço. Como contornar a situação?

A escola em tempo integral é um sonho antigo. É um desafio enorme porque só va-mos dar um salto no ensino fundamental e médio quando conseguirmos garantir tempo integral na rede. Isso é complicado, porque se o adotamos de uma hora para outra, é neces-sário dobrar a rede física e o corpo docente.

Mas já avançamos bastante, chegamos a um estágio em que o desafio é a qualidade, que só vamos alcançar quando tivermos mais tem-po para dedicar ao ensino e ao aluno da edu-cação básica. No infantil já é assim. E como vamos fazer para oferecer ensino integral a to-dos? As escolas que serão construídas já serão assim. É necessário um modelo de transição.

e, quando termina, fica o buraco. Já existe tecnologia e em algumas dessas cavas se está aproveitando o resíduo. É possível aumentar o teor de mineral do resíduo a um custo rela-tivamente baixo, quase compatível com a mi-neração primária. Provavelmente o Estado vai ter que configurar um programa de estímu-lo ao aproveitamento de cavas antigas. Vai ser muito bom, porque reaproveita, depois rema-neja aquilo para dentro da cava de novo e, da-qui a pouco, recupera o território para ser ou-

tra coisa, loteamentos. Mas nosso negócio é mi-

neração. Com todo o respei-to ao meio ambiente, ao pa-trimônio histórico, vamos continuar fazendo minera-ção. Temos que dar um passo adiante e vamos dar. A gen-

te tem uma sorte muito grande porque o co-ração mineral e metalúrgico de Minas tem as condições para dar esse passo, jun-tar uma atividade que é mul-tissecular com o que há de mais avançado, a produ-ção de conhecimento científico. As universi-dades simbolizam isso. Juntar as duas coi-sas significa que se a gente tiver tecno-logia de ponta para fazer isso tem que aproveitar de ma-neira barata, efi-ciente, eficaz, res-

EduardO m OrEira

Page 6: Jornal Lampião - 17ª Edição

6 Arte: Fernanda Mafia

Dezembro de 2014POLÍTICA

Mateus Meireles

Sai ano, entra ano e algumas coisas não mudam. Do 13º salário recebido em novembro, que serviria para pagar as contas atrasadas, não sobrou nem o cheiro. O Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) se juntam à lista de material escolar dos filhos e exigem jogo de cintura do trabalhador. Se 2015 começa com cara de déjà vu, não é diferente na Câmara Federal dos Deputados e Assembleia de Minas, mesmo depois das últimas eleições. Os cinco deputados federais mais bem votados em Mariana e Ouro Preto já exerceram mandatos anteriores. Na instância estadual o panorama é semelhante: apenas um novato, Thiago Cota (PPS). Apesar de experientes, os políticos deixam a desejar quanto à

representatividade da região.Durante os últimos quatro anos, nenhum desses deputados federais

apresentou em Brasília qualquer projeto que beneficiasse especificamente as duas cidades, deixando-as à mercê de proposições generalistas que, de alguma forma, agraciassem a região. Exemplo dessa situação é o Projeto de Lei 798/2011, apresentado por Paulo Abi-Ackel (PSDB), um dos cinco mais bem votados de Ouro Preto e Mariana no último mês de outubro. O PL, que atualmente aguarda parecer do relator na Comissão de Cultura, dispõe sobre a obrigatoriedade de as instalações de distribuição de energia elétrica de ruas das cidades que tenham setores de valor histórico, especialmente os tombados pelo Instituto do Patrimônio e Artístico Nacional (Iphan), serem subterrâneas.

Matheus Maritan

Primeira capital de Minas Ge-rais, a cidade de Mariana carrega em sua história leis municipais que vigoram no país até hoje. Recente-mente, a Região dos Inconfidentes conseguiu eleger um deputado es-tadual para representar as deman-das da população na Assembléia. Embora as cidades de Mariana e Ouro Preto apresentem históricos de instabilidade política, os eleito-res esperam que as promessas e ex-pectativas para construir um futuro melhor não virem frustação.

O caminho do município que abriga mais de 58 mil habitantes, empresas de grande porte e cam-pi universitários, será traçado tam-bém com os 12 partidos que repre-sentam os 15 vereadores da Câmara Municipal.

Bruno Mól Crivelarri, do PSDB, foi eleito vereador em 2012 e assu-miu no ano passado a presidência da Câmara Municipal de Mariana, até dezembro. Militante político há quase 20 anos, Bruno ressalta que o futuro de Mariana é muito promis-sor, mas também muito preocupan-te. Um dos maiores desafios que a cidade deverá enfrentar, segundo ele, é a habitação.

O vereador explica que devido às mineradoras, Mariana cresceu muito nos últimos 50 anos. A ativi-dade de extração do minério trou-xe benefícios enormes para cidade, mas também um prejuízo: a su-perpopulação. A cidade de Maria-na não está preparada para receber essa quantidade de pessoas, afirma Bruno. Além disso, outras ativida-des devem ser estimuladas para su-prir o futuro esgotamento do mi-nério, uma das maiores fontes de renda do município. O vereador acrescenta que o minério poderá durar duas safras e a questão já está sendo discutida na Câmara. “Um diálogo com as mineradoras, com o governo estadual, com a Prefeitu-ra e com a sociedade civil será fei-to, para juntos podermos traçar um caminho”, completa.

Para melhorar a questão da mo-radia, o vereador citou um proje-to incipiente de expansão urbana, que será lançando junto com o Po-der Executivo. Uma área com 20 milhões de metros quadrados foi apropriada e será transformada em lotes para serem financiados por meio de programa habitacional. A proposta ainda não foi levada para Câmara e aguarda aprovação. O lo-cal será próximo ao bairro Colina e se estenderá até o Ribeirão do Car-

mo. Bruno diz que o projeto é o primeiro passo para tentar minimi-zar o impacto das invasões, já que os bairros irregulares crescem de-sordenadamente, sem saneamento básico e sem infraestrutura. “A me-dida não irá resolver o problema, mas será um pontapé inicial.”

No dia 3 de novembro a Câma-ra Municipal de Mariana revisou o Plano Diretor, documento respon-sável por regularizar e planejar o es-paço urbano e rural do município. Em Mariana ele envolve o cresci-mento urbano, sócio-econômico e espacial da cidade. Para Bruno, o plano limitava muito as edificações na cidade, porque as construções eram restritas e podiam ocupar ape-nas uma determinada parte do solo, sendo uns dos motivos para aque-cer o mercado imobiliário da cida-de. Com a revisão, mais de 10 mil pessoas que estavam com obras ir-regulares poderão regularizá-las e dar continuidade à construção ou venda do imóvel.

Outra visão Para o vereador Cristiano Silva Villas Boas (PT), que participa dos movimentos comunitários desde cedo, ao imaginar o futuro da população nos aspectos do turismo, infraestrutura e acessibilidade, Mariana poderia ter avançado mais. Ele cita o exemplo do transporte público, alegando que a empresa responsável não atende bem a população, falta acessibilidade nos ônibus e não há cumprimento do Estatuto do Idoso. Além disso, a cidade de Mariana ainda sofre com a falta de água.

Outra crítica de Cristiano é so-bre a questão da moradia. Para ele, a população enfrenta sérios pro-blemas com construções irregula-res, o que ocorre por causa do ele-vado preço de alugueis e da falta de opção que a população enfren-ta. “Espero que futuramente tenha-mos uma gestão mais preparada e preocupada em resolver esses pro-blemas que vão se refletir no futu-ro”, ressalta o vereador Cristiano.

Questionado se a gestão atual da Câmara está preparada para enfren-tar os desafios da cidade, Cristiano diz que os vereadores têm acompa-nhado bastante as ações, mas são poucas as iniciativas do Executi-vo. Alguns projetos são enviados, mas são paliativos. Um exemplo foi a aprovação do projeto que pena-liza pessoas que desperdiçam água. Cristiano diz que a medida é impor-tante, mas não resolve o problema.

Aprenda mais para fiscalizarDaiane Bento

A Prefeitura é a sede do Poder Executivo do município; é comandada por um prefeito e dividida em secretarias de governo, como edu-cação, saúde ou meio ambiente. O prefeito conta com o gabinete, que o auxilia em de-cisões, ou toma as próprias, dependendo do tipo de demanda. É por meio dessa institui-ção que políticas públicas para saúde, educa-ção, habitação e outras áreas que influenciam no bem-estar e qualidade de vida da cidade são elaboradas.

Porém, a Prefeitura não governa uma ci-dade sozinha e depende do apoio da Câmara Municipal, assim como dos governos estadual e federal. Estes últimos auxiliam com repas-ses de verbas, convênios e assistências de toda natureza. Já a Câmara possui três funções bá-sicas: a primeira é ser o órgão que constitui o Poder Legislativo da cidade e deve discutir e criar as leis municipais; a segunda trata do pa-pel de fiscalizar a execução das políticas pú-blicas locais, representando os interesses da sociedade junto aos órgãos públicos; e a ter-ceira constitui o controle externo que a Câma-ra Municipal exerce com o auxílio do Tribu-nal de Contas do Estado ou dos Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.

Giro pelo passadoEm 2009, Mariana passou por um contur-

bado momento político: oito trocas, resultan-do em cinco prefeitos diferentes. Foi o que aconteceu em três anos, até que Celso Cota, ex-prefeito da cidade, fosse eleito novamente. A situação ocorreu por conta de acusações de irregularidades como compra de votos, ilega-

lidades na prestação de contas de campanha e desvio de recursos públicos. Isso resultou na paralisação de obras, projetos e captação de recursos para a conservação do centro histó-rico da primeira capital mineira, reflexos que podem ser vistos até hoje em alguns prédios históricos de Mariana.

A vizinha Ouro Preto começou a sofrer de uma situação parecida no final deste ano. No dia 6 de novembro o então prefeito da cida-de, José Leandro, teve o registro da candidatu-ra cassado por irregularidades nas contas pú-blicas de sua gestão realizada no final dos anos 80 e dessa forma, nem o vice-prefeito pode-ria se apresentar ao cargo. O presidente da Câ-mara Léo Feijoada assumiu a prefeitura da ci-dade, e em menos de 48 horas destituiu seis dos 15 secretários municipais. Além disso, li-berou o estacionamento de veículos na Praça Tiradentes, bem no Centro Histórico de Ouro Preto, que estava proibido desde 2013.

Enquanto o segundo colocado, Júlio Pi-menta, esperava a documentação do TRE que o permitiria assumir a prefeitura, no dia 14 de novembro Zé Leandro e o vice-prefeito, Chi-quinho Xavier, retornaram a seus cargos. A mudança aconteceu após o ministro Gilmar Mendes, do Tribunal Superior Eleitoral, deci-dir mantê-los nos cargos até o julgamento.

Com tantas promessas e perspectivas para um futuro em que Mariana seja uma cidade melhor, contrastando com a instabilidade po-lítica que ela e a vizinha Ouro Preto vivem, é necessário aprender e entender seu funciona-mento. Exerça seu poder de cidadão acompa-nhando e cobrando efetivamente seus repre-sentantes públicos.

OurO PretO e MAriAnA cOntAM cOM POucA rePresentAtividAde nA AsseMbleiA legislAtivA e nA câMArA FederAl

FALTA APOIO DO LEGISLATIVO

Câmara reconhece osdesafios

De onde vem os campeões de voto?Mariana

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Thiago Cota

14.196 votos

Rodrigo de Castro

4.763 votos

Carlos Henrique

840 votos

772 votos

Rogério Correia

407 votos

João Leite

363 votos

Padre João

1.749 votos

Reginaldo Lopes

1.493 votos953 votos

George Hilton

869 votos

Paulo Abi-Ackel

Alencar da Silveira Jr

Deputados Federais

Deputados Estaduais

DaDos extraíDos Do site Do tribunal regional eleitorial (tre)

Page 7: Jornal Lampião - 17ª Edição

7Arte: Fernanda MafiaDezembro de 2014 POLÍTICA

Além de “filho da nossa terra”, como ele próprio se in-titulou durante a campanha, é também filho de Celso Cota, que exerce o terceiro manda-to como prefeito de Mariana, e neto do ex-vereador, elei-to por três vezes, Altivo Cota. Nasceu em 1985 e cresceu na cidade, onde estudou no Co-

Matheus Maritan e Daiane Bento

Mesmo com todo o histó-rico político da família, o de-putado estadual recém-elei-to Thiago Cota garante não ter pretensões pessoais para o futuro político. Ele assegu-ra é ter muito orgulho em re-presentar a Região dos Incon-fidentes. Pensando no futuro próximo, conta como ima-gina Ouro Preto e Ma-riana: “Acredito que as cidades estão ca-minhando para se tornar cidades com grande qualidade de vida, e falo isso com a propriedade de quem há mui-to tempo percor-re diversos muni-cípios do estado”.

gião. “Os dois municípios de-vem continuar sendo admi-nistrados com seriedade e de forma competente”, ressalta o deputado. Ele acrescenta que “manter a parceria das duas ci-dades na administração e ca-minhar juntos nas demandas para o estado é o mais impor-tante”. Ligação essa que tam-bém vemos no momento po-lítico conturbado pelo qual Ouro Preto está passando.

Há pouco tempo Mariana sofreu com as inúmeras tro-cas de prefeitos. Atualmen-te é Ouro Preto que passa por essa instabilidade, com a indefinição sobre o manda-to de Zé Leandro (leia mais ao lado). Thiago, aliás, tem o prefeito cassado de Ouro Pre-to como um de seus modelos políticos, assim como um de seus conselheiros na campa-nha. Mesmo reconhecendo a legalidade do processo aberto pela oposição contra Zé Lean-dro, o deputado acha que reti-rar um prefeito do cargo deve ser a última opção. E afirma que “a voz das urnas deve ser sempre respeitada, porque a população é quem sabe o me-lhor para si mesma”.

Jornada eleitoralThiago realizou uma cam-

panha embasada no poder da juventude em trazer o novo, e não concorda com o núme-ro absurdo de partidos exis-tentes. Para ele é necessário mudar esse sistema e implan-tar uma nova política, não me-lhor ou pior que a antiga, ape-nas diferente. Thiago afirma que esse “novo” é algo que a região necessitava e que ele enxerga como ponto principal para sua eleição.

Porém, polêmicas e boa-tos surgiram durante o perío-do eleitoral, como o suposto pagamento de cabos eleitorais para usar adesivos com seus anúncios, com valor médio de R$ 600. O deputado assegura não ter conhecimento dos bo-atos e acrescenta: “Fico tris-te por algumas pessoas que-rerem denegrir a imagem dos outros, e ao invés de partirem para o campo de ideias, utili-zarem mentiras”.

Thiago conta que todo o dinheiro utilizado na campa-nha foi recebido por doações (acompanhe mais detalhada-mente www.tre-mg.jus.br). O orçamento final, que ficou em

um valor próximo a 1,15 mi-lhão, contou com doações de empresas e pessoas físicas, va-riando de R$100 mil a R$100.

Futuro Existem diversos pro-

blemas a serem solucionados para que essa visão de futuro, em que a região possua uma melhor qualidade de vida, se concretize. Thiago cita o sa-neamento básico, a saúde, o fortalecimento do esporte e do turismo, que segundo ele “terá um papel principal no desenvolvimento do estado, que atualmente sobrevive da mineração e do agronegócio”.

De um lado Thiago Cota afirma ter um agradecimen-to enorme por poder ser o deputado da região e prome-te trabalhar para suprir as ex-pectativas da cidade. Do outro lado, a população de Maria-na e Ouro Preto, responsável por quase 25 mil dos 65 mil votos que o elegeram em 37° na colocação geral, observará a valorização e cumprimento das demandas sociais reivin-dicadas, do mesmo modo que depositou grande confiança nele, ou no sobrenome Cota.

Mariana na Assembleia

OurO PretO e MAriAnA cOntAM cOM POucA rePresentAtividAde nA AsseMbleiA legislAtivA e nA câMArA FederAl

légio Providência e na esco-la Dom Viçoso. Aos 18 anos começou a trabalhar na loja de autopeças da família e vi-ver a rotina de ir todos os dias a Belo Horizonte para estudar Direito na Faculdade de Es-tudos Administrativos (Fead), onde posteriormente realizou uma especialização em ges-tão de negócios. No decorrer do curso mudou-se definitiva-mente para a capital mineira.

Quando formou-se, tra-balhou na Associação Bra-

sileira dos Municípios (ABM) e depois montou o próprio escritório de advocacia. Em 2010 pas-sou a trabalhar como

diretor técnico na Ruralminas, uma entidade do Go-

verno do estado de Minas Gerais, e após

3 anos e 6 meses, retirou-se do cargo para começar a

candidatura a deputado esta-dual pelo PPS.

Thiago recebeu o LAM-PIÃO sentado na sala de jan-tar da família, em Mariana, onde contou-nos um pou-co dessa nova experiência e do seu papel no futuro da re-

Essa carência continua na esfera da Lei Orçamentária Anual Federal. Nem sequer uma emenda parlamentar foi aprovada em prol da região.

Na Assembleia de Minas, 25 projetos de lei e outras proposições foram apresentados com o foco em Mariana e Ouro Preto na última legislação pelos quatro deputados mais bem votados, já que Thiago Cota é novato. Do total, sete são para a primeira e 18 para a segunda. Entre eles está o projeto de lei 390/2011, de autoria de Alencar da Silveira Jr (PDT), que aguarda votação. Ele dispõe sobre a instalação de um aeroporto no município de Ouro Preto (Leia mais na página 3).

O deputado estadual mais representativo foi Durval Ângelo (PT) com nove projetos e o menos foi Carlos Henrique da Silva (PRB), sem nenhum. O

cientista político e historiador Antônio Marcelo Jackson não se surpreende com esse panorama. “O número de eleitores das duas cidades é insuficiente para a eleição de um deputado federal ou estadual com pauta exclusiva para região. A situação deficitária de Ouro Preto é um agravante. O interesse fica restrito à mineração, cuja arrecadação é destinada ao governo federal”, explica.

Jackson alerta que é comum confundir a importância histórica dos municípios com a econômica. “Mesmo se considerarmos a mineração, carro-chefe da região, Congonhas teria maior relevância.” A solução, segundo ele, seria investir efetivamente no turismo. “Vereadores, prefeitos e deputados estaduais devem se unir para que o projeto de mercado turístico seja reformulado.” (Leia mais na página 3).

FALTA APOIO DO LEGISLATIVO

De onde vem os campeões de voto?Ouro Preto

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Gabriel Guimarães

Padre João

Júlio Delgado

Toninho Pinheiro

Durval Ângelo

Adalclever Lopes

Alencar da Silveira Jr

Thiago Cota

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10.400 votos 5.341 votos

1.279 votos

1.174 votos

692 votos

Paulo Abi-Ackel

3.607 votos

2.780 votos

1.897 votos

1.772 votos

1.555 votos

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Carlos Henrique

Dreisse Drielle

Com a internet, ficou ainda mais fácil acompanhar tudo o que os políticos eleitos fazem. É possível consultar as propostas, con-ferir os orçamentos, acompanhar os projetos de lei em andamen-to ou aprovados, e muito mais.

No site da Assembléia de Minas (www.almg.gov.br), por exem-plo, é possível conhecer mais sobre os deputados mineiros, além de saber quais são suas propostas, endereço dos gabinetes, entre outros. É possível também consultar os relatórios fiscais, as ver-bas indenizatórias e as despesas com pessoal.

O site da Câmara dos Deputados (www2.camara.leg.br/de-putados/pesquisa) também disponibiliza diversas informações sobre os políticos, como principais propostas, discursos, dados pessoais, endereço e e-mail do deputado. Além disso, há diver-sos dados no Portal da Transparência, que informam o orçamen-to da Câmara, os valores gastos com os deputados, obras em an-damento e muito mais.

Outra importante ferramenta de consulta é o Portal Minas Transparente (minastransparente.tce.mg.gov.br/) que permite que você realize pesquisas informando o assunto desejado (edu-cação, saúde, etc.) e mostra os dados e os orçamentos do municí-pio que você pesquisou.

Para acompanhar outros gastos e informações sobre obras em execução ou finalizadas acesse o Portal de Tribunal de Contas da União (portal2.tcu.gov.br/) ou o Portal do Tribunal de Contas do Estado que deseja consultar. Demais consultas podem ser reali-zadas nos sites das câmaras e das prefeituras municipais.

COMO ACOMPANHAR OS POLÍTICOS NA INTERNET

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Page 8: Jornal Lampião - 17ª Edição

8 Arte: Victor Hugo Martins

Dezembro de 2014Política

Onze em defesa do paísA luta nacionalista de um grupo marianense que se uniu a favor do Brasil e foi reprimido pelo golpe militar de 64

Entre o exílio e o acolhimentoberá a partir de 2015 escritores es-trangeiros perseguidos e ameaçados em várias partes do mundo.

Nesta casa, destinada a pesqui-sadores visitantes na cidade, a Uni-

ção que sofre deve estar ligada ape-nas a suas obras.

História de lutasOuro Preto já foi cenário de im-

portantes movimentos de luta con-tra a opressão, como a Inconfidência Mineira. Seus integrantes também sofreram perseguição e exílio. Den-tre eles, muitos escritores e poetas, como Inácio José de Alvarenga Pei-xoto, Cláudio Manoel da Costa e To-más Antônio Gonzaga.

A escritora e professora da Ufop Guimomar de Grammont acredita que, por Ouro Preto ter essa relação muito forte com os movimentos de liberdade, é a cidade ideal para rece-ber os escritores refugiados no Bra-sil. “Por ter um histórico de luta e muitos estudantes, Ouro Preto tem uma reflexão forte na área da políti-ca e por isso é uma cidade que sem dúvida acolherá bem esses escrito-res.” A casa será a primeira do pro-jeto Casa de Refúgio Brasileiras (Ca-bra) e a pioneira na América Latina.

O nome apontado como primei-ro morador é o do dramaturgo, poe-ta e romancista chadiano Koulsy La-

mko, exilado de seu país desde 1983. Lamko já vive em uma casa de refú-gio no México e morou em outros seis países, como Costa do Marfim, França e Ruanda.

O coordenador de assuntos in-ternacionais da Ufop, professor Carlos Magno de Souza Paiva, expli-ca que o refugiado poderá ficar na casa por até quatro meses e que o es-critor será inserido nas atividades da universidade e também receberá ali-mentação durante esse período.

Para o ICORN, o tempo ideal para permanência dos escritores em um país é de dois anos e para con-seguir alcançar esse objetivo a Cabra continua em busca de outras parce-rias na cidade.

Guiomar explica que é impor-tante o envolvimento da comunida-de com esse projeto: “Espero que a sociedade de Ouro Preto acolha muito bem essas pessoas, porque elas precisam de muito afeto. So-freram maus tratos e chegam com medo, com muita angústia. É preci-so que seja um acolhimento bastante afetivo para que elas possam superar o que sofreram.”

Luiza Mascari

Em novembro de 1963, o então Deputado Leonel Bri-zola convocou os brasileiros a se organizarem para lutar pelo Brasil e se opor aos iminen-tes golpes a que o país estava vulnerável. Ele buscava reu-nir pessoas em várias cidades para formar uma rede que dis-cutisse e defendesse o que ele chamou de conquistas demo-cráticas do povo brasileiro.

Brizola desejava construir um grupo armado, que se es-palhasse por todo o território brasileiro defendendo as pro-postas das reformas de base, que reestruturava vários seto-res econômicos e sociais do país, e se levantasse contra aqueles que desejavam depor o presidente João Goulart.

“Um grupo de 11 com-panheiros pode parecer pe-queno... no entanto pequeno é um simples tijolo e é exata-mente com pequenos tijolos reunidos, somados, interliga-dos, cada um com sua função e adequadamente dispostos, que se fazem as construções e se completam os grandes edi-fícios de concreto armado”, escreveu em sua Proposta de Organização dos ‘Grupos de Onze Companheiros’ ou ‘Co-mandos Nacionalistas’.

Em Mariana, um grupo di-versificado de pessoas aten-

deu ao chamado de Brizola e se reuniu para debater ques-tões importantes da política nacional. Estudantes, ferrovi-ários, operários e até militares faziam parte do Grupo na ci-dade. Dos 11 companheiros marianenses só dois ainda es-tão vivos e apenas um ainda mora na cidade, o advogado Derly Pedro da Silva.

Derly explica que o grupo teve pouco tempo para se or-ganizar antes do golpe militar, em março de 1964, e que isso abafou as pretensões de ex-pansão. O objetivo inicial de Brizola era que cada um dos

11 companheiros deveria for-mar outro grupo, envolven-do, assim, um número muito maior de pessoas.

Após o golpe, o Depar-tamento de Ordem Política e Social (DOPS), que era res-ponsável por controlar e re-

primir manifestações con-trárias ao governo, interveio e levou os integrantes para prestar depoimentos na de-legacia de Mariana. Duran-te quase dois dias eles ficaram detidos, respondendo a inter-rogatórios constantes.

“Começaram a fazer uma tortura, não chegou a ser uma tortura física mas psico-lógica, para que nós dissés-semos onde estavam enter-radas as armas que Brizola tinha mandado”, conta Der-ly. Só que, segundo ele, ainda não havia armas, elas de fato seriam mandadas se o golpe tivesse demorado um pouco mais para acontecer mas, de-pois da proibição de reuniões de cunho partidário, os Onze pararam de se reunir.

Nessa mesma época, eles também responderam a pro-cesso na Auditoria Militar de Juiz de Fora e foram obriga-dos a viajar várias vezes para essa cidade. Segundo Derly, “muitos marianenses batiam palmas quando saíamos, ‘des-sa vez eles vão e não voltam mais.’” Essa rejeição vinha da crença de que eles eram um grupo comunista, o que era extremamente mal visto, prin-cipalmente nos núcleos mais tradicionais da sociedade.

Na dissertação de mestra-do “Grupos de Onze: a es-

querda brizolista (1963-1964)” Tânia dos Santos Tavares ex-plica essa rejeição: “A rápida proliferação dos Grupos de Onze em todo território na-cional deu-se em pleno evento da Guerra Fria e pós Revolu-ção Cubana, o que alimentou o imaginário conservador da sociedade que caracterizou a organização brizolista como comunista”. De acordo com o estudo, setores de direita ci-vil e militar, a imprensa opo-sitora e a Igreja Católica se opuseram a todos aqueles que apoiavam as reformas de base e se identificavam com a ideo-logia antiamericana.

Derly nega o rótulo e diz que na verdade eles eram na-cionalistas, lutavam pela pátria e defendiam os direitos da na-ção. Porém, ele também des-taca que a situação poderia ter tomado proporções bas-tante inesperadas se os obje-tivos iniciais de Brizola tives-sem sido alcançados.

“Se os Grupos de Onze ti-vessem tido mais tempo para se organizar, acredito que o Brasil poderia ter passado por uma situação igual a que viveu o Vietnã. Quando João Gou-lart recebeu a notícia do gol-pe, os navios americanos já estavam prontos para invadir o Brasil se houvesse uma re-sistência. Se tivesse prepara-

ção e armamento para lutar, ia morrer muita gente.”

Este ano, 50 anos após o golpe, milhares de pessoas fo-ram às ruas pedir a volta da intervenção das Forças Arma-das no país. O principal mo-tivo é a insatisfação com o resultado das eleições presi-denciais e a crença de que o período de liderança militar no Brasil trouxe avanços e de-

senvolvimento além de me-lhorias em áreas como edu-cação e saúde e honestidade dentro dos governos.

Muitos dos que pedem essa intervenção também de-fendem a idéia de que o Gol-pe “salvou” o país do comu-nismo e que o atual governo brasileiro, principalmente na figura da Presidente Dilma Rousseff, colocou o Brasil de novo em risco. Essas manifes-tações causaram grande reper-cussão nos meios de comuni-cação e redes sociais.

Derly se lembra do perí-odo da ditadura com muita tristeza e fala sobre as mani-festações a favor da interven-

ção militar: “Quem pede isso é porque não viveu 64”.

Ele conta que alguns de seus companheiros não aban-donaram a luta contra os mili-tares e sofreram perseguições nos anos seguintes ao golpe. No livro “Direito à Memória e à Verdade”, que contém da-dos sobre pessoas persegui-das, torturadas e mortas nos 21 anos da ditadura militar no Brasil, há registros de outros marianenses que lutaram em defesa da democracia.

Entre eles, Carlos Antunes da Silva, acusado de organizar o Grupo dos Onze na cidade. Carlos também foi preso em 1964 e faleceu em 1970 em decorrência de “coma hepáti-co, hepatite crônica e tubercu-lose pulmonar” que, segundo testemunhas, foram causados por “danos físicos permanen-tes que resultaram das tortu-ras a que foi submetido na época da prisão”.

Outro nome citado é o de Helber José Gomes Gou-lart, acusado de participar da Ação Libertadora Nacional (ALN), uma guerrilha urba-na, e assassinado em 1973 em São Paulo. Seus restos mortais foram encontrados em uma cova indigente no distrito de Perus, transferidos para Ma-riana e sepultados no cemité-rio de Santana em 1992.

Um grupo de 11 c o m p a n h e i r o s

pode parecer pe-queno... no entanto pequeno é um simples tijolo e é exatamente com pequenos tijolos reunidos (...) que se fazem as construções”

Leonel Brizola

Quem pede isso (intervenção mi-

litar) é porque não viveu 64”

Derly Pedro da Silva

Quem passa desavisado pela Rua da Glória dificilmente vai reparar na peque-na placa que indica o escritório do ad-vogado Derly Pedro da Silva, e mesmo quem se atenta ao retângulo de metal talvez não conheça a história do senhor que se senta atrás da grande mesa de madeira onde trabalha.

Derly nasceu em Mariana no dia 29 de junho de 1942 e viveu quase toda sua vida na cidade. Quando criança, fre-quentou a Escola Estadual Dom Frei Ma-nuel da Cruz, e diz ter profunda gratidão

por seu fundador, Padre José Dias Avelar: “Agra-deço imensamente e não esqueço dele. Padre Avelar permitiu que o filho do pobre, do ferroviá-rio, do pedreiro, do alfaiate, pudesse conseguir al-guma coisa na vida.”

Derly se formou no ginásio e no curso de con-tabilidade, profissão que permitiu que ele in-gressasse na Faculdade de Direito em Conselhei-ro Lafaiete. Durante a graduação, ele continuou morando em Mariana e enfrentava viagens diá-rias em uma kombi para frequentar as aulas. “Fiz o curso superior com muita luta e muito sacrifício, levando minha própria marmita...”

Derly afirma que participava ativamente de manifestações estudantis a favor do povo e das lutas por melhorias. Assim, para ele, fundar em

1963 o Grupo dos Onze em Mariana foi uma es-colha natural para quem já estava engajado nas propostas esquerdistas da época.

Já advogado, ele ingressou na carreira políti-ca e por duas vezes foi eleito vereador da cidade. Foi vice-prefeito no primeiro mandato de Celso Cota em Mariana, mas decidiu abandonar a polí-tica depois do assassinato do ex-prefeito João Ra-mos em 2008. “O que aconteceu foi uma barbari-dade. Depois disso resolvi me afastar.”

Casado, pai de dois filhos, também advoga-dos, e com um casal de netos, Derly fala com pessimismo sobre o futuro. “A gente espera pelo melhor, mas do jeito que estamos indo, meus bis-netos vão ter bastante dificuldade, pois infeliz-mente estamos caminhando para o pior.”

Derly Pedro da Silva:história viva

Luiza Mascari

Rua das Flores, número 177. Este é o endereço, em uma das mui-tas ladeiras de Ouro Preto, que rece-

versidade Federal de Ouro Pre-to (Ufop), em parceria com a Rede Internacional de Casas de Refúgio (ICORN) e com o PEN Clube do Brasil, criará um espaço para abri-gar aqueles que tiveram sua liberda-de de expressão oprimida nos países de origem.

“Os escritores são muitas vezes os primeiros alvos de ameaças e per-seguição. Através da sua escrita, eles dão voz a pensamentos, ideias, de-bates e críticas, e divulgam para uma ampla audiência”, explica a carta de apresentação do ICORN. Ainda se-gundo a carta, o fato de estas pesso-as exercitarem o direito à liberdade de expressão as torna mais vulnerá-veis à censura, assédio, prisão, vio-

lência e morte.Para ser encaminhado a uma

das casas de refúgio, o escritor deve enviar um pedido para o ICORN, que o encaminha o PEN Internacional, onde será avaliado de acordo com a gra-vidade e urgência do caso.

Porém, para ser aceito, o au-tor não pode ter se envolvido em lutas armadas e a persegui-Após reforma, casa de pesquisadores da UFOP receberá escritores refugiados

Rod

olfo

dia

s

Rodolfo dias

Page 9: Jornal Lampião - 17ª Edição

9Arte: Gabriella Pinheiro

Dezembro de 2014

O verde no lugar do cinzaHortas urbanas resignificam lugares vazios e refletem nova maneira de pensar a alimentação e o uso do espaço público

Hugo Pereira

A ocupação de espa-ços ociosos da cidade com o cultivo de ervas e alimentos resgata costumes culturais ligados à agricultura e à saúde, e estimula o contato com a natureza e o convívio entre as pessoas.

Em Ouro Preto, começam a germinar hortas a partir da vontade de pessoas que pro-põem melhorar a sociedade, dando outros sentidos a luga-res inutilizados do quintal, da rua ou de uma escola.

A estudante do curso de Ciências Biológicas da Uni-versidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Sara Barbosa é voluntária em algumas hor-tas. “Quando se fala em re-torno, a primeira coisa que vem na mente é material, di-nheiro, status. Mas o retor-no que tenho pessoalmente é ideológico, saber que es-tou cumprindo minha missão na Terra. Estou contribuindo para o bem-estar das pesso-as, com mudanças na educa-ção e nos hábitos alimenta-res”, comenta.

Com a finalidade de co-nectar as pessoas que já par-ticipam de atividades agroe-cológicas, Sara criou a página

“Agroecologia Ouro Preto” no Facebook. Agroecologia pode ser entendida como ci-ência, filosofia, movimento social e prática em que a abor-dagem da agricultura se inte-gra a aspectos agronômicos, ecológicos, antropológicos e socioeconômicos, com o princípio do uso racional dos recursos naturais.

No grupo estão produto-res de hortas, pesquisadores e voluntários. Eles comparti-lham apostilas técnicas de cul-tivo, teorias sobre agricultura familiar, agronegócio, medici-na alternativa, fotos das ações nas hortas e propõem tro-cas de alimentos e sementes. Sara explica que a estrutura do grupo é autogestionária, ou seja, as pessoas se volunta-riam espontaneamente a con-tribuir do modo que quiserem e não há hierarquia.

“Estou indo com o intuito de aprender, para que um dia possa aplicar na minha casa e em outras escolas. A horta é um local onde me exercito fi-sicamente e mentalmente, não tem como ficar parado”, diz Anthony Dias, voluntário na horta da Escola Dom Velloso.

O morador do bairro Bau-xita, Fernando Six, mantém

Semear o amanhã Na escola estadual Dom

Velloso, situada no bairro Pi-lar em Ouro Preto, o biólo-go e professor de ciências Adriano Zito e o professor de português Anderson Frei-tas, que tem formação na área de educação ambiental, deci-diram repensar a utilização de uma área nos fundos da esco-la que servia como depósito de lixo durante anos e criaram uma horta comunitária, con-sequentemente um lugar que possa ser pedagógico nas ati-vidades com alunos.

“A ideia aqui é também criar outra postura, outras ati-tudes, outros pensamentos, buscando outra sociedade que não seja a do agronégocio, da monocultura dominante, do uso excessivo de agrotóxicos. A gente tenta trabalhar a rela-ção harmoniosa com a natu-reza, sem usar venenos, adu-bos químicos, sem matar os bichos”, reitera Adriano.

A limpeza do local durou cerca de cinco meses. Foram retiradas três caçambas de en-tulho, entre carteiras, com-putadores, madeira e tijolos. Hoje a horta conta com doze canteiros onde cultivam alfa-ce, mostarda, almeirão, cou-ve, repolho, tomate, jiló, be-terraba, brócolis, cebolinha, pimentão e algumas ervas me-dicinais como babosa, hortelã, manjericão, alecrim .

Complementando a pro-dução de alimentos, Ander-son tem observado a melhora do comportamento dos alu-nos. “A sala com muitas crian-ças às vezes fica um ambiente tenso e desagradável. Quando o professor sai com os alunos, principalmente em um espaço com natureza, se percebe uma resposta imediata. Eles fazem as coisas, propõem atividades e temos um resultado diferen-ciado também na sala de aula, com mais respeito, harmonia e conciliação.”

uma horta em casa e acha que o costume está se perdendo. “Nossos avós plantavam, hoje em dia não se faz mais, vive-mos na correria, estressados. Além de comer alimentos sau-dáveis, mexer na terra é uma terapia.” Ele também acredita que assim não ajuda as indús-trias que contaminam o solo.

Anthony Dias, voluntário na horta da Escola Dom Velloso, espera ser multiplicador das práticas agroecológicas aprendidas no local

Calor afeta qualidade de vidaJúlia CunHa

A mudança ainda é peque-na: menos de 1ºC, mas já é sentida. As frequentes varia-ções de temperatura dos úl-timos anos afetam diferentes setores, como a agricultura e a água. O LAMPIÃO traça um panorama da situação em Ma-riana e a conclusão é que se não houver cuidado com os mananciais, a cidade pode fi-car sem água no futuro.

De acordo com o site Mu-danças Climáticas (www.mu-dancasclimaticas.andi.org.br), a temperatura na região Su-deste deve subir de 3 a 6ºC no futuro. Esse aumento, se-gundo os cientistas, se deve ao desmatamento da Flores-ta Amazônica, responsável por fornecer à atmosfera cer-ca de 20 bilhões de litros de água por dia. Segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa do Observatório Cli-ma (Seeg), em 2013 houve um aumento de 29% do desmata-mento da floresta, que gera a diminuição da evapotranspi-

ração e, consequentemente, a falta de água sentida nas regi-ões mais populosas do país.

Em Mariana, dos 11 ma-nanciais que abastecem a cida-de e os distritos, nove vão pre-cisar de ampliação do sistema de distribuição em 2015, de acordo com dados da Agên-cia Nacional de Águas (ANA). Porém, segundo o diretor exe-cutivo do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Mariana (Saae), Valdeci Fernandes, os mananciais usados para abas-tecimento de água são sufi-cientes para suprir a demanda da cidade. “O que nos preo-cupa, neste momento, é o des-perdício de água”, garante.

Desde setembro, o Saae tenta realizar um fornecimen-to igualitário nos bairros da ci-dade, principalmente nos que estão em pontos mais altos do município. A medida pre-cisou ser tomada devido à es-tiagem e ao baixo nível dos reservatórios. “Parte das nas-centes estão bem protegidas com presença de mata ciliar, mas outras estão com a fon-

te seca devido às muitas quei-madas ocorridas durante o ano. Essas terão que ser re-cuperadas”, aponta Valdeci Fernandes.

Para diminuir o desperdí-cio, foi aprovado pelo prefeito Celso Cota, a lei nº2.930 que visa controlar o uso não ra-cionalizado de água. Os mo-radores que estiverem lavando calçadas e automovéis e mo-lhando as ruas continuamen-te, nos períodos de estiagem - de agosto a outubro - serão notificados pelos fiscais do Saae e poderão ter o abaste-cimento de água cortado por até 48 horas, além de pagar multa de 20 Unidades Fiscais do Município, sendo que cada unidade equivale a R$1,89.

Nos distritos de Maria-na, a população também so-fre com a falta de água. “Nas roças as nascentes estão fi-cando secas. Quando vem a chuva pouca coisa tem se re-cuperado. Orientamos os agri-cultores que cerquem as nas-centes para evitar pisoteio de gado e para que com o tempo

AgriculturaNa região, uma das ativida-

des agrícolas mais frequentes nessa época do ano é o milho, que necessita de luminosida-de e calor. Porém, como alerta o engenheiro agrônomo Ro-naldo Venga, a quantidade de chuva em outubro - perí-odo ideal para plantação - não foi suficiente; “É recomenda-do o plantio até 15 de outubro e esse atraso vai prejudicar a colheita e as vendas”, aponta.

O gerente do Varejão da Estação, José Carlos Sena, co-menta que o aumento da tem-peratura afeta a qualidade de alimentos e eleva os preços. “O jiló, o pepino, as folhosas, o quiabo, a vagem, chegam a ficar 30% mais caros”, afirma. As frutas, como banana, ma-mão, melancia, maçã e laran-ja, também são afetadas pelas ondas de calor e estiagem. “O limão chega a ter aumento de até 60%”, aponta.

o lençol freático volte a pro-duzir água”, explica o agrôno-mo da Empresa de Assistên-cia Técnica e Extensão Rural (Emater) Ronaldo Venga.

QueimadasOutra consequência do

aumento da temperatu-ra é o crescente número de queimadas, que causam da-nos à saúde das pessoas, dos animais, prejudicam a colhei-ta e a qualidade da água. De janeiro a novembro de 2014 foram registrados cerca de 60 incêndios em Mariana, se-gundo dados do Monitora-mento de Queimadas e Incên-dios do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que prejudicaram os mana-ciais da região.

De acordo com o analis-ta de áreas de queimadas do instituto Fabiano Morelli, “a temperatura contribui para o estresse da vegetação deixan-do-a mais suscetível à propa-gação do fogo, além de ajudar na emissão de gases que cau-sam o efeito estufa”.

SuStentAbilidAde

ClimA

A Secretaria Mu-nicipal de Agropecu-ária conta com um viveiro onde são pro-duzidas mudas de horta-liças, que são distribuidas para a população, median-te cadastro feito no local. É necessario o documento de identidade ou CPF. O vi-veiro fica na Rua Dom Hel-vécio, Bairro Cabeças, na antiga Febem. Informações pelo telefone 3559-3210.

Na Escola Estadual de Ouro Preto, conhecida como Polivalente, situada no bair-ro Bauxita, o professor de ge-ografia Bruno Reggiani e a professora de educação físi-ca Ana Zanoti, projetam uma horta na escola para fazer ati-vidades com os alunos e re-vitalizar um local que já foi usado para cultivar alimentos nos anos 80 e que se encontra abandonado pelo estado.

Aproveitando garrafas pet, horta vertical é opção para o plantio em lugares pequenos

Raquel estevão lima

Raquel estevão lima

Consequências do aumento da temperatura

SetembroFoi o mês mais quente do

planeta desde 1880

NoveMananciais de Mariana

terão de ampliar sistema de distribuição em 2015

0,72°CAcima da média do século XX

foi a temperatura em setembro

3° a 6°CSerá o aumento de tempera-

tura do Sudeste no futuro

30%Percentual de aumento

das verduras por conta do calor

60% É quanto o limão fica mais

caro devido à estiagem

Page 10: Jornal Lampião - 17ª Edição

10 Arte: Elis Regina Saraiva

Dezembro de 2014

Relatos de raros ofíciosPor trás de paletós, retratos e uma enorme paixão, dois homens costuram e revelam grandes histórias

Há mais de 60 anos o alfaiate Gildésio e o retratista Márcio desempenham suas profissões com o mesmo entusiasmo e disposição, mas sem a certeza de que elas continuarão a existir

Júlia Pinheiro D. Páscoa

Um quarto escuro que des-pertou a curiosidade de uma criança no início da década de 50. Hoje com 67 anos, Márcio Eustáquio de Souza relembra minuciosamente o que lhe fez se interessar pelo ofício de re-tratista. “Eu tinha sete anos e observava o meu irmão junto ao meu pai, que era fotógrafo. Eles entravam em um quar-to escuro da nossa casa. Até que um dia eles esqueceram a luz acesa e resolvi entrar”. Seu Márcio conta que após desco-brir o que o pai e o irmão fa-ziam no cômodo escuro, co-meçou a revelar as primeiras fotografias sozinho. “Eu fazia tudo direitinho e aos poucos a imagem se formava. Era um momento mágico”.

Ele afirma, convicto, que o exercício da profissão de re-

tratista “é tudo. A cada ima-gem que faço e fotografia que revelo penso que ainda tenho muito a aprender”. Em segui-da, seu Márcio chama Ema-nuel, seu auxiliar há cerca de 25 anos. “O Manel trabalha conosco há mais de vinte anos e faz de tudo. Ele é mais do que um colega de profissão, é um grande amigo.” Bastan-te tímido, Emanuel Heleno da Silva, o “Manel”, conta sobre o prazer de trabalhar ao lado do chefe. “Comecei na loja como pedreiro e com o tempo acabei desenvolvendo ativida-des relacionadas à fotografia. Grande parte das coisas que eu sei aprendi com ele”, apon-ta sorridente para seu Márcio.

A Marezza Photo funcio-na há 15 anos na Avenida Sal-vador Furtado, em Mariana. Por dia, a loja revela e amplia

de duas a três mil fotografias. “Em épocas como o Natal, a loja fecha no horário habitu-al, por voltas das 19h. Porém, eu continuo aqui sozinho, tra-balhando”. Ele também con-ta sobre a cautela que tem ao exercer a atividade. “Sempre trato a fotografia como algo extremamente pessoal. Eu e Manel revelamos todas as fo-tografias que passam por aqui, e os clientes confiam no nos-so trabalho. Como eu mesmo digo: Vejo mas não olho!”

Sobre ser retratista, seu Márcio acredita que exercer o ofício atualmente faz a di-ferença. “Para mim é mais do que uma profissão, é uma pai-xão. Uma fotografia signifi-ca milhões de palavras. E pela qualidade do nosso atendi-mento, temos um diferencial”, diz emocionado.

Nos fundos da loja, um acervo demonstra o tamanho da afeição de Márcio Eustá-quio pela fotografia. “Cole-ciono há muitos anos. Eu te-nho aproximadamente 400 equipamentos, entre câmeras e filmadoras”. Se o raro ofício de retratista, que revela nega-tivos com sensibilidade e pre-cisão, permanecerá no futuro, seu Márcio afirma: “Prosse-guirei até quando puder”.

Linhas, cortes e agulhas…Por trás de uma janela, o

elegante manequim permane-ce estático e oferece um sim-pático sorriso por quem pas-sa pela calçada. No pequeno cômodo localizado na rua do Pilar, número 108 em Ouro Preto, Gildésio Raimundo Santos, mais conhecido como “Gil alfaiate” desenvolve seu

ofício com prazer e orgulho: é o único alfaiate em ativida-de na cidade.

Seu Gil exerce a profissão há 68 anos. Hoje, com 80, re-lata que desde os 12 começou a desenvolver atividades de al-faiataria. “Eu era o único filho homem da casa e minha mãe era viúva. Resolvi abrir mão dos estudos e comecei a tra-balhar como alfaiate. Nunca mais deixei a profissão”.

Em meio a réguas de es-cala, tesouras, fitas métricas e uma antiga máquina de cos-tura, Gil ressalta a ausência de profissionais em atividade. “Hoje em dia não se encon-tram mais alfaiates. Atualmen-te não trabalho no mesmo rit-mo de antigamente, mas ainda assim gosto de exercer a mi-nha profissão. Ser alfaiate é a minha paixão.”

Doar órgãos é amar o próximonatane Generoso

A única certeza que temos na vida é a morte. Mas com ela também podemos salvar vidas. Assim funcio-na a doação de órgãos, que pode ser feita tanto em vida quanto depois da morte. O passo mais importante para ser um doador é avisar a família dessa escolha. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, 56% das famí-lias autorizaram a doação. Esse nú-mero ainda é pequeno, em vista das milhares de vidas que poderiam ser salvas se houvesse um diálogo entre os familiares. Tanto é que o MS lan-çou em setembro a campanha para aumentar a adesão das famílias.

Segundo o MG Transplantes, no ano de 2013 foram realizados 2.292 transplantes, em Minas Gerais, a grande maioria na Região Metropo-litana de Belo Horizonte. O maior número de doações foi de córneas. Contudo, segundo o médico do tra-balho e clínico geral Rodrigo Miran-da, 39 anos, em Mariana e Ouro Pre-to não é possível fazer a cirurgia de remoção devido à distância e à falta de equipamentos adequados para re-alizar o processo. A cidade mais pró-xima é Belo Horizonte. De acordo com o médico, existe um protocolo com três passos fundamentais para se realizar a cirurgia de remoção. O primeiro é que a família autorize o procedimento; o segundo é consta-

tar a morte encefálica (feita por dois médicos diferentes); e o terceiro é que a equipe que faz a remoção dos órgãos seja diferente da que detec-tou a morte encefálica, por questões de ética médica.

Morte encefálicaA doação de órgãos é um pro-

cedimento cirúrgico que consiste na reposição de um órgão ou teci-do de receptor por outro órgão ou tecido saudável de um doador, vivo ou morto. O transplante é um trata-mento que pode salvar ou melhorar a qualidade de vida de muitas pesso-

as. Quando é constatada a morte en-cefálica, a família é informada sobre o possível doador. A partir da auto-rização a cirurgia é feita de forma gratuita, sendo de responsabilidade do hospital o fechamento do corpo.

A morte encefálica é definida a partir da ausência de todas as fun-ções neurológicas. É a definição le-gal de morte. Isso significa que, como resultado de severa agres-são ou ferimento grave no cérebro, o sangue que vem do corpo e su-pre o cérebro é bloqueado e o cé-rebro morre. Suas principais causas são: traumatismo crânio encefálico;

acidente vascular encefálico (hemor-rágico ou isquêmico); encefalopatia anóxica e tumor cerebral primário.

Renato Lopes Moreira, 34 anos, é técnico em Educação Física da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e sempre pensou em ser do-ador de órgãos, acreditando que essa deveria ser a escolha de todos. Na-tural de Viçosa (MG), Renato infor-mou sua decisão à família, que lida naturalmente com sua escolha. A postura é diferente de 147 famílias mineiras que em 2013 não permiti-ram a doação, de acordo com dados do MG Transplantes.

MEMÓRIA

SAÚDE

O sangue pode ajudar

Não é possível doar san-gue em Mariana. Duas vezes ao ano alunos de medicina da Ufop fazem o procedimento em Ouro Preto. Segundo a técnica em En-fermagem do Trabalho Ione de Fátima Lima, 53, quem quer doar preenche um questionário, ne-cessário para evitar a transmissão de doenças a quem recebe o san-gue. O cadastro é feito no Cen-tro de Saúde da Ufop, na Bauxita. Caso o sangue seja requisitado, o doador recebe transporte gratui-to para a coleta na capital.

Pode doar quem tem entre 18 e 60 anos; pesa mais de 50kg; tem parceiro fixo; não usa medi-cação contínua; não fez cirurgia recentemente; não fez tratamen-to odontológico ou tatuagem há menos de seis meses . No Hemo-minas são feitas avaliação psico-lógica e triagem. O doador, antes da coleta, deve se alimentar bem e não pode beber nem fumar. Só pode ter relações sexuais com proteção. Deve estar descansado. Maiores informações pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone 3559-1250.

Ilustração: Bruna hayashI matsunaga

EndrIca FErnandEs EndrIca FErnandEs

Sobre a clientela, Gil afir-ma que apesar das roupas “vindas da China”, seus clien-tes não abrem mão de vestir paletós sob medida. “Eles es-colhem o tecido e eu tiro as medidas.” Após explicar os procedimentos de elaboração das peças, ele mostra um livro. “A maioria dos nomes que es-tão anotados aí são de clientes que já faleceram”, relata.

A respeito da perspectiva do futuro em relação à pro-fissão de alfaiate, Gildésio Raimundo acredita que não existirão mais profissionais atuando no ramo. Mesmo as-sim, o homem de sorriso aca-nhado afirma que permanece-rá no ofício enquanto puder. “Enquanto eu estiver em con-dições, mesmo que pouco, continuarei trabalhando. Não podemos parar, não é?!”

O que pode ser doado?

Rins

Coração

Fígado

Pulmão

Tecidos Órgãos

Pâncreas

Doação em vida

Doação após a morte

Medula óssea

Pele Tecido ósseo

Córnea

Válvulas Cardíacas

Sangue do cordão umbilical

Cartilagem

Page 11: Jornal Lampião - 17ª Edição

11Arte: Elis Regina Saraiva

Dezembro de 2014

O futuro de Aleijadinho

Legado do artista inclui a Igreja São Francisco de Assis, projetada por ele

Arte apesar dos desafios

Grupo Seis no Samba, fundado em 2008, dribla falta de investimentos e de apoio para fazer shows

Celebração do bicentenário quer mais cem anos de preservação

Silmara FilgueiraS

Em 2014 é celebrado o bicente-nário de morte do maior artista co-lonial brasileiro, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. De forma es-pecial, há o cuidado de criar estraté-gias para assegurar os bens culturais deixados por ele. Em Ouro Preto, entidades e moradores buscam ma-neiras de preservar a herança mate-rial e imaterial deixada pelo escultor, entalhador e arquiteto ouropretano, enquanto historiadores asseguram que são também o trabalho con-junto e o conhecimento repassados para novas gerações que manterão o legado de Aleijadinho.

Hanseníase, lepra, escorbuto ou uma doença que deforma o corpo. Marcado por diferentes histórias, a enfermidade que lhe rendeu o co-dinome Aleijadinho é um conflito que põe em prova a trajetória do ar-tista. “Há controvérsias. Ninguém consegue definir o que ele tinha. O médico que fez a exumação do cor-po não falou qual o tipo de doença. Ele viveu muito tempo pra ter han-seníase”, conta o guia turístico Pau-lo Marcio da Rocha. O sepulcro que guarda os restos mortais de Aleija-dinho, junto ao altar de Nossa Se-nhora da Boa Morte, na Matriz de Antônio Dias, é para os admirado-res a certeza de que a doença não o impossibilitou de construir um rico legado de grandes e significati-vas esculturas e conjunto arquitetô-nico do período colonial que atraem a atenção de milhares de pessoas.

ResponsabilidadeParte das esculturas de Antônio

Francisco Lisboa está no Museu de Aleijadinho, na Paróquia Nossa Se-

nhora da Conceição, no bairro An-tônio Dias, em Ouro Preto. Este importante local, que guarda a ex-posição permanente do conjunto artístico, acarreta a responsabilidade de garantir a transmissão da histó-ria aos visitantes, na forma oral e no cuidado com as peças. O museu ga-rante que todas as obras sejam sub-metidas a cuidados como higieni-zação e reparo de pequenos danos, sendo restaurações que exijam cui-dados mais específicos submetidos a órgãos especializados.

Em agosto, o Instituto do Patri-mônio Artístico Nacional (Iphan) e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) instituíram a Comissão Es-pecial de Assessoramento sobre a obra de Antônio Francisco Lisboa, como forma de ressaltar os traba-lhos de preservação. Essa comissão reúne profissionais capacitados nos âmbitos artísticos, tecnológicos e ju-rídicos, com o objetivo de criar mé-todos para realizar levantamentos documentais sobre o artista, bem como atualizar e consolidar sua bio-grafia e sustentar estudos para não perder a dinâmica de preservação.

O Iphan e o Ibram fiscalizam os profissionais especializados que atu-am na restauração da coleção dispo-nível e o Corpo de Bombeiros atua na fiscalização, prevenção e comba-te de incêndio.

OportunidadeSegundo o chefe do escritório

técnico do Iphan, João Carlos Cruz de Oliveira, a comissão também é parte fundamental na criação de uma referência institucionalizada para re-conhecer o que é parte da produ-ção do escultor, como forma de as-

Silmara FilgueiraS

Guiada pela tradição e pelas ex-pressões artísticas, Mariana mostra a riqueza local por meio de bone-cos gigantes, carnaval de marchinha, procissões, congado, artes plásticas e bandas de música. Porém, para a arte acontecer é preciso investimen-to. A geração de músicos e bandas independentes, os festivais e as apre-sentações de projetos sociais, para planejarem o futuro e construir um

nome no cenário da cidade, se depa-ram com algumas dificuldades.

Com interesse pela música des-de a infância, o integrante do Gru-po Seis no Samba Reginaldo Vilela conta que enfrenta obstáculos de-vido à insuficiência de investimen-tos, falta de apoio e a desvalorização da categoria. Segundo ele, a banda tem gastos altos na compra de ins-trumentos musicais de qualidade e na produção de shows. O grupo que

existe há quase seis anos apresenta shows em bares e festas da cidade e região, além de participações impor-tantes, como no carnaval da cida-de, feito pela Prefeitura.“O grupo é um hobby que está tomando caráter profissional”, afirma. Como músico, Reginaldo reconhece a importância do intermédio de um produtor mu-sical para apoiar e promover o gru-po e explica que dessa forma as di-ficuldades poderiam ser amenizadas.

O produtor cultural Luciano Al-meida diz que o investimento de grande carga na cidade é de fato na realização de festividades tradicio-nais. “Os investimentos [da Prefei-tura] são pautados em eventos, não em uma política cultural propria-mente dita e os patrocínios são vol-tados para o turismo, não para a co-munidade. Há algumas ações que são voltadas para a população, mas política de investimento, pensada, não há”, conta.

O coordenador da Secretaria Mu-nicipal de Cultura, José Luiz Papa, afirma que “a cidade possui capital cultural diversificado e é de grande importância auxiliar os artistas para que se possa manter a tradição”. Ele pontua que neste ano foram gastos R$ 41 mil com cada banda, além de citar gastos com na a sede da Asso-ciação Marianense de Artistas Plás-ticos (Amap) e com a realização do Encontro Internacional de Palhaços e a 8ª Mostra de Bonecos.

AlternativasProdutor na Cia. Navegantes de

Marionetes, Luciano indica que há outros meios para captação de re-cursos, como parcerias locais, circu-lação de espetáculo, pré-agenda para contratações de festividades impor-tantes na cidade, editais de empresas privadas e projetos federais e estadu-ais de incentivo à cultura.

Em 2013 a companhia foi con-templada em um edital do Governo

do Estado pelo projeto Cena Minas, que seleciona, anualmente, projetos de grupos e realizadores de teatro, dança e circo de Minas Gerais. Lu-ciano explica que o investimento é por meio de recurso direto, ou seja, o dever dos participantes é na entre-ga de um produto final. A Cia. Na-vegantes foi contemplada na cate-goria de manutenção de espaço, que além de abrir o Ateliê Catin Nar-di para visita de turistas e comu-nidade, implantou a primeira ofici-na da Escola de Teatro de Bonecos. Fruto do investimento, os oficinei-ros produziram o espetáculo lança-do na 8ª Mostra de Bonecos, o Orga-nista: Cenários Históricos de Minas.

José Luiz Papa, da Secretaria de Cultura, afirma apoiar os artistas da cidade, desde os tradicionais às ban-das independentes. “A cultura tem o poder de crescimento. As bandas que estão iniciando tem o mesmo potencial artístico das que tem mais tempo de carreira. Porém é necessá-rio organização e as pessoas têm que procurar se profissionalizar para que a Prefeitura possa também fazer sua parte”, explica. A incerteza do futu-ro em fazer arte é um desafio a que todos os artistas estão sujeitos. A es-cassez dos recursos diretos, a desva-lorização que as bandas de garagem enfrentam e a falta de apoio profis-sional dificultam o processo artísti-co. A alternativa que Luciano aponta é a ação colaborativa entre os gru-pos para manter viva a cultura local.

CultuRA

segurar o estilo genuíno e sobretudo resguardar e manter o controle do acervo de Aleijadinho. Essa preocu-pação se deve ao fato de que na épo-ca os artistas não tinham o hábito de deixar marcas pessoais que identifi-cassem autoria.

Sobre a memória imaterial, a historiadora e assessora de cultu-ra da Secretaria Municipal de Tu-rismo de Ouro Preto Deolinda Ali-ce dos Santos acredita que o melhor caminho para se preservar a memó-ria de Antônio Francisco Lisboa é pela educação. Deolinda se dedica a dar palestras para as comunidades de Ouro Preto e região sobre pre-servação, com o objetivo de valori-zar, reconhecer e divulgar a diversi-dade cultural do estado. “Um povo sem raiz, sem história, perde a refe-rência e é muito fácil de ser domina-do”, pontua.

O dia 18 de novembro, mor-te de Aleijadinho, foi Instituído como o Dia do Barroco, pela Lei 20.470/2012, que garante a relevân-cia da carga cultural de Aleijadinho, não somente para Ouro Preto mas no cenário nacional. Momento para reverenciar a cultura popular e asse-gurar o conhecimento às futuras ge-rações, a data é a oportunidade de manter a memória de Aleijadinho por mais centenas de anos. O Cône-go Luíz Carlos Carneiro, presidente do Museu de Aleijadinho, aposta no aperfeiçoamento por meio do proje-to político-pedagógico para atender melhor as escolas da cidade e os visi-tantes. Para ele, só é possível pensar no futuro com uma obra conjunta e a conscientização da necessidade de preservação desse patrimônio que pertence à humanidade.

Eduardo MorEira | Núbia azEvEdo

Núbia azEvEdo

Page 12: Jornal Lampião - 17ª Edição

12 Arte: Carol Antunes

Dezembro de 2014

ENSAIO

Brunello Amorim (TexTo)eliene SAntoS (FoTos)

É o leve movimento da Terra em torno de si mesma que faz o tempo

passar. Você nem sente, mas o tempo passa sim. E passa assim. O tic-tac

do relógio na madrugada marca o pensamento vazio de quem vislumbra

o futuro. Marca também o vazio da cabeça daquele que sente saudades

do passado. O relógio torna-se, portanto, o objeto mais material e palpável

que marca a passagem do tempo. Como diz Mário Quintana: “o relógio de

parede é o mais feroz animal doméstico”.

A passagem do tempo, essa coisa paradoxal que aterroriza e atormenta

muita gente. A criança quer crescer logo. Passa, tempo! O adulto quer voltar a

ser criança. Volta, tempo! Bem-aventurado o Peter Pan que viveu na Terra do

Nunca, eternamente criança. Será?

O natural é a passagem do tempo. O ideal é que ele passe da melhor forma

possível. O especial são as marcas que ficam com o passar dos dias, semanas, meses

e anos. O tempo nunca para e nem precisa. Marca-se o tempo, por que não

fotografar cada momento da vida e não se esquecer de que tudo passa?

Sempre passa.

Ah, a cachoeira! Ainda bem que a água continua límpida. Tudo bem

que entre uma estiagem e outra o volume diminui. Todavia, continua

sendo o melhor lugar de ir, correr, brincar, nadar e parar para

descansar na pedra. Passa, tempo. E passou...

É bom que o tempo passe. Faz uma música com o tic-tac do

relógio e verás como pode soar bem o movimento de rotação da

Terra. É que junto com as rugas e os cabelos grisalhos de um

músico vem o amadurecimento. Apesar dos pesares, o desafio

continua e a vida prossegue, música por música, como um belo

concerto de orquestra.

Ora, a beleza da jovem miss agora só amadureceu.

Nenhum problema com o envelhecimento. É assim que

acontece, não é? Afinal de contas, em cada ruga

encontra-se uma beleza. A beleza também vem de dentro

pra fora. E que beleza ver o tempo passar e relembrar com

serenidade o quão proveitoso foi a juventude.

E aí imagine você agora, com quase um século de vida.

O sorriso continua no rosto. Como é bom envelhecer. Como é bom

compreender e aceitar o natural. Ainda bem que temos as fotos para relembrar os

tempos saudosos. Forma de marcar a passagem do tempo. E passou!

Fotos de cima para baixo:

Amadeu da Silva, aos 39 e aos 82 anos

Stela Gomes Chaves, aos 20 e aos 94 anos

Líria Toffolo, aos 17 e aos 62 anos

Thais Ester Gonçalves, aos 3 e 14 anos, e Thalia Aparecida Gonçalves, aos 5 e 16 anos

12 Arte: Carol Antunes

Dezembro de 2014