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Edição nº 6 da Revista Lampião com tema "Movimentos sociais pela terra"

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holofote

cultura

DELZE LAUREANO (p. 4)

Entrevista com Delze Laureno, professora de Direito Agrário na UFMG

SEM TERRA, MAS COM MUITA HISTÓRIA (p. 9)

A história de luta pela terra no Brasil já é antiga e remete desde antes da

de maria eduarda amorim

SE O CAMPO NÃO PLANTA, A CIDADE NÃO JANTA (p. 14)

Conheça a história de Ivete de Almeida, líder dos produtores rurais do Assentamento Rural Horto Florestal, na divisa entre Bauru e Pederneiras, interior de São Paulo

de CaroLina BaLdin e Leonardo manffré

RESENHA: O SONHO DE ROSE - 10 ANOS DEPOIS (p. 31)

de CaroLina rodrigues

PLAYLIST: MOVIMENTOS SOCIAIS PELA TERRA (p. 32)de Vanessa souza

índice

Clique no título para ler a matéria

NÃO É TERRA, É PODER (p. 24)

A dificuldade em se criar o debate sobre a reforma agrária não é de hoje e tem mais a ver com a relação de poder da propriedade do que com a utilização da terra

de gaBrieL HiraBaHasi

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diretor exeCutiVo Gabriel Hirabahasidiretor JurídiCo Rafael BarizanConseLHo editoriaL Carolina Rodrigues, Estevão Rinaldi, Gabriel Hirabahasi, Maria Eduarda Amorim, Rafael Barizan, Thafarel Pitton e Vanessa Souzaeditoras Carolina Rodrigues, Maria Eduarda Amorim e Vanessa Souzadiagramador Gabriel Hirabahasifoto de Capa Leonardo Manffrérepórteres/CoLaBoradores Carolina Baldin, Carolina Rodrigues, Gabriel Hirabahasi, Leonardo Manffré, Maria Eduarda Amorim e Vanessa Souza

Contato contato@revistalampiao.com.brwww.revistalampiao.com.brwww.issuu.com/revistalampiaofb.com/revistalampiao@revistalampiao

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edição nº 6 Movimentos sociais pela terra

Todos os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista. É proibida a reprodução de textos ou imagens sem a prévia autorização dos editores.

A luta pela terra no Brasil já é antiga. Segundo relató-rio do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), temos a 8ª maior desigualdade social do mundo, e isso tem influência direta da distribuição de terras em nosso território. Segundo o Incra, as terras ociosas repre-sentavam, em 2010, 40% das grandes propriedades no país. Cerca de 230 milhões de hectares estão abandonados ou produzem abaixo da capacidade, logo, não cumprem sua função social.

Essa má distribuição histórica, que pode ser atribuída às ca-pitanias hereditárias, resultou no surgimento de diversos movi-mentos sociais que reivindicam uma desconcentração da terra nas mãos de alguns poucos produtores. Atualmente, o que mais aparece na mídia é o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), mas existem diversos outros, como o Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) e o Movimento dos Traba-lhadores Sem Teto (MTST).

Nossa Constituição prevê a desapropriação de terra em caso em que a função social do espaço não esteja sendo cum-prido. Contudo, a aplicação da lei é esquecida, até mesmo por conta da bancada ruralista, que representa forte influên-cia no poder político em Brasília.

Porém, a situação tem mudado gradativamente (mesmo que a passos lentíssimos). Em várias regiões do Brasil, já temos fa-mílias assentadas em loteamentos destinados à reforma agrária (quando o governo compra o lote de terra e repassa ao peque-no proprietário com condições específicas de financiamento). Ivete de Almeida, figura de uma de nossas reportagens, por exemplo, vive na divisa entre Bauru e Pederneiras, estado de São Paulo, onde está localizado o Assentamento Rural Horto Florestal, e é presidente da Cooperativa do Agricultor Familiar Solidário, que engloba cerca de 115 famílias.

Por conta de tudo isso, decidimos debater em nossa 6ª edi-ção a luta desses movimentos sociais e discutir a distribuição de terras no Brasil e quais seriam os impactos socioeconômicos de uma reforma agrária em nosso país hoje.

editorial

MOVIMENTOS SOCIAIS PELA TERRA

Para mais informçãoes,visite nosso novo site:

www.revistalampiao.com.br

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DELZELAUREANO

A entrevistada da 6ª edição da Revista Lampião é Delze dos Santos Laureano, professora de Direito Agrário na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Delze é formada em Direito pela própria UFMG e se especializou no ambiente agrário. Atualmente, integra também a comis-são de Direitos Humanos da OAB/MG.

Conversamos com Delze para esclarecermos um tópico específico sobre a luta dos movimen-tos sociais: a reforma agrária. “Ela deve ser uma política nacional com ganhos sociais para todos”, Delze diz sobre a reforma. Entretanto, a professora lamenta que o tema ainda seja pouco debatido no Brasil. “Isso se explica, em parte, por conta do tabu criado em torno do assunto, atrelando-o às ideias comunistas. Some a isso a sacralização do direito de propriedade”, acredita. No governo fe-deral, onde há a divisão entre ministério da Agricultura e ministério do Desenvolvimento Agrário, a reforma também não é posta em prática. “A presidenta Dilma depende do apoio desse segmento [bancada ruralista] para a sua governabilidade”, ela analisa.

Confira a seguir a entrevista completa com Delze dos Santos Laureano:

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Como a reforma agrária poderia contribuir para o país social e economicamente? Qual seria o impacto da refor-ma sobre o país?Algumas pessoas têm defendido que não é mais pertinente defender uma política nacional de reforma agrária no Brasil. Isso porque não haveria mais latifúndio improdutivo por aqui. Entretanto, essa é uma visão atrasada das questões agrárias. Sob a visão do liberalismo, especialmente no início do século XX, defendia-se a necessária repartição da terra de modo a que fossem criadas as condições para o desenvolvimento do país. A manutenção de enormes áreas de terras improdutivas era um atraso para o avanço do capital. Nos Estados Unidos, por exemplo, sabia-se que as pequenas propriedades eram muito mais produtivas do que as grandes propriedades.Após o Estado liberal, a Europa e outros países do mundo passaram pela experiência do Estado social, no qual o prin-cípio da função social da propriedade tornou-se a base para o reconhecimento constitucional do próprio direito de proprie-dade. Na atual Constituição brasileira, de 1988, a exigência do cumprimento da função social para os imóveis rurais está expressa no Art. 186, que engloba não apenas o aspecto eco-nômico da produtividade, mas também os aspectos sociais do respeito às normas atinentes aos direitos do trabalho e o bem estar dos que possuem e trabalham a terra e ainda os direitos ambientais. Tudo isso de forma concomitante.Nos dias atuais, em face das crises econômicas (que são a consequência mais perversa da falta de autonomia dos Esta-dos nacionais imposta pelo capitalismo internacional) e pelos graves problemas ambientais, a reforma agrária adquire uma nova feição essencial que passa pela capacidade de os tra-balhadores rurais construírem uma rede de atividades econô-micas independentes do grande capital e para a manutenção dos meios de produção que valorizem a cultura camponesa e proporcionem uma melhor distribuição da população sobre o território. Nessa esteira, pode-se citar a oportunidade de for-talecimento do combate ao uso excessivo de agrotóxicos, o

fomento da agricultura familiar embasada no paradigma da agroecologia e a efetivação das políticas de segurança e sobe-rania alimentares. Tudo nos termos do Art. 3º da Constituição da República, que enumera os objetivos de construção de uma sociedade livre, justa, solidária e capaz de erradicar a pobreza e a marginalização por meio do desenvolvimento regional.Portanto, o impacto da reforma agrária, sendo implementada, será extremamente positivo da perspectiva social e econô-mica, se considerarmos que a melhor política econômica é a que distribui renda e não aquela que gera mais desigualdade social. A agricultura familiar, por meio da qual estão mais de 400 mil famílias assentadas, produz cerca de 70% da alimen-tação do povo brasileiro, produção saudável sem o uso indis-criminado agrotóxico, o que está denunciado com contundên-cia nos filmes de Sílvio Tendler O veneno Está na Mesa I e II.Mais do que atender interesses econômicos de uma minoria proprietária de terras, a reforma agrária na atualidade pode-rá contribuir decisivamente para democratizar o desenvol-vimento das pessoas que vivem no campo e na cidade, pre-servando a cultura camponesa e promovendo o crescimento econômico de todos.

Por que ainda se discute pouco a reforma agrária no Brasil? Seria herança da colonização e da distribuição de terras a poucos?A reforma agrária, de fato, é um tema pouco discutido no Bra-sil, considerando a dimensão continental do Estado brasileiro e os inúmeros conflitos existentes na luta pela posse da ter-ra. Por terra se briga e se mata. No entanto, isso se explica, em parte, por conta do tabu criado em torno do assunto, atre-lando-o às ideias comunistas. Some a isso a sacralização do direito de propriedade. Muitas pessoas são contra a reforma agrária sem saber exatamente do que se trata. A maioria da população apoia a reforma agrária, mas é contra as ocupações de terra, o que é uma contradição, pois ocupar os latifúndios é meio imprescindível para forçar a realização das desapropria-

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ções das fazendas que não cumprem sua função social.Vale ainda acrescentar que concentração fundiária é de fato uma herança da colonização portuguesa por meio da distri-buição de enormes áreas de terras (sesmarias) aos amigos do rei. Apesar das sucessivas leis, não houve uma mudança nessa realidade, permanecendo as terras em poucas mãos e tornan-do-se um bem de capital inacessível para a quase totalidade da população que permaneceu sem trabalho ou nos trabalhos de baixa remuneração. Bom recordar que antes da abolição formal da escravidão em 1888, a terra foi escravizada com a Lei 601, de 1850, segundo a qual a única forma de adquirir terra é através de compra.

Existe, atualmente, um projeto de reforma agrária?Podemos afirmar, pelo menos literalmente, que existe uma política nacional de reforma agrária no texto constitucio-nal, especialmente no artigo 184. A Constituição atribuiu à União o poder/dever de desapropriar os imóveis rurais que não cumprem a função social, mediante pagamento em títu-los públicos (TDAs), destinando-os para o assentamento de trabalhadores rurais. Todavia, esses dispositivos constitucio-nais têm sido sistematicamente descumpridos pelos sucessi-vos governantes, que somente têm feito isoladas intervenções de assentamentos onde há a mobilização dos trabalhadores. Mais grave: os índices de produtividade não são atualizados desde a década de 1970. O governo federal, por pressão do lobby da bancada ruralista, não atualiza esses índices, o que deixaria claro o descumprimento da função social quanto à produtividade. Caso essa análise fosse cumprida, um número muito grande de latifúndios seria disponibilizado para fins de reforma agrária. Isso é uma aterradora injusta agrária.

Como esse assunto foi debatido nas Eleições?O tema da reforma agrária foi praticamente ignorado nos de-bates das eleições de 2014. O debate econômico foi a pauta que dominou os debates. No segundo turno, as estratégias

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eleitoreiras preferiram canalizar os debates para as agressões entre os candidatos e a pauta política perdeu espaço para o debate de temas que diziam respeito ao direito penal, como o trato da corrupção e dos desgovernos, infelizmente.

Além disso, a bancada ruralista se mantém no congresso. Como essa parcela de deputados e deputadas interfere no debate da reforma agrária?A chamada bancada ruralista faz a defesa corporativa dos interesses políticos e dos negócios dos latifundiários, da aristocracia agrária e dos seus aliados nas casas legislativas. Para a bancada ruralista, não é interessante debater a reforma agrária e, sim, o aumento da produção de commodities para a exportação. Defendem também a expansão das atividades agropecuárias do agronegócio para as terras indígenas e das comunidades tradicionais, ainda que ferindo frontalmente a Constituição Federal.

Como a senhora vê a atual situação agrária do Brasil e os ministros Kátia Abreu e Patrus Ananias, nomeados por Dilma para esse segundo mandato? Como atender aos in-teresses do agronegócio e da agricultura familiar ao mes-mo tempo?Historicamente, as atividades agrícolas têm sido tratadas em foros separados das questões agrárias, apesar de estarem em um mesmo título no texto constitucional. Apesar disso, acre-dito na capacidade política do atual ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, para articular, em diversos se-tores, políticas nacionais de fortalecimento da agricultura fa-miliar, protegendo a cultura camponesa e assegurando renda e desenvolvimento para os pequenos proprietários de terra. Ele deverá, também, abrir espaço para a ampliação da política de reforma agrária sistematicamente adiada, bem como para a proteção das terras indígenas e dos milhares de comunidades tradicionais existentes. Tudo isso apesar de o governo federal não ter como diminuir o apoio para a sustentação política e econômica do agronegócio de Kátia Abreu, pois a presiden-ta Dilma depende do apoio desse segmento para a sua go-vernabilidade. Dilma poderia, e deveria, se apoiar mais nos

movimentos sociais, mas prefere se apoiar no apoio de uma coalisão que muda o tempo todo no Congresso Nacional.

No aspecto social, qual o impacto de uma possível reforma agrária para a desigualdade no país?A reforma agrária ainda é a melhor política para a distribuição da população sobre o território, para criar as bases de uma economia independente e duradoura, para o fortalecimento da soberania nacional, para a geração de trabalho e renda e desenvolvimento regional, e para o combate ao uso excessi-vo de agrotóxicos (criando espaços para as práticas agroeco-lógicas). Enfim, é a melhor política para a emancipação de milhões de pessoas que estão abaixo da linha da pobreza ou que não são reconhecidos em sua espetacular singularidade de guardiões da cultura camponesa no Brasil.

Uma reforma agrária solucionaria os problemas das fa-mílias sem terra?A reforma agrária não é uma política para atender aos inte-resses dos trabalhadores sem terra exclusivamente. Ela deve ser uma política nacional com ganhos sociais para todos. To-davia, considerando que as questões são muito complexas, não se trata de uma mágica. A repartição da terra deverá ser seguida com diversas outras medidas de empoderamento dos trabalhadores, como o respeito aos direitos humanos, a cria-ção de diversas outras oportunidades para a promoção huma-na e a integração desses trabalhadores em outros projetos de desenvolvimento nacional.

Por fim, a senhora é a favor da reforma agrária? Por quê?Sou totalmente favorável à implementação de uma reforma agrária popular, pois é a melhor política pública devido ao seu baixo custo para o país. Ela deve fortalecer os setores histori-camente abandonados pelas políticas públicas, por combater a exploração do trabalho humano país afora, por criar as con-dições para a produção de mais alimentos (e ainda saudáveis, pela baixa utilização de agrotóxicos) para todos os brasileiros, e por assegurar condições de vida digna para milhões de pes-soas no menor espaço de tempo.

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SEM TERRA, MAS COM MUITA HISTÓRIA

reportagem

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No Brasil, o acesso à terra é historicameNte desigual eNtre a população. do período coloNial das monoculturas até a configuração atual do agronegócio, o latifúndio sempre foi sinônimo

de poder. Em consequência de uma organização social patrimonialista e patriarcalista, as camadas menos favorecidas, como escravos, ex-escravos ou homens livres de classes menos favorecidas, tiveram maiores dificuldades à posse da terra.

Em 1850, o Império decretou a Lei de Terras, que consolidou a concentração fundiária. Nessa lei se encontra a origem da grilagem (a apropriação de terras devolutas por meio de documentação forjada), que regulamentou e consolidou o modelo da grande propriedade rural e formalizou as bases para a de-sigualdade social e territorial. Por conta desse e de outros fatores é que se fez necessária a discussão e a luta política pela Reforma Agrária, o que culminou na estruturação o Movimento Sem Terra (MST).

O MST nasceu da articulação das lutas pela terra, que foram retomadas a partir do final da

texto de maria eduarda amorim

imagem de marCeLo Camargo / agênCia BrasiL

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MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra): fundado em 1984, atua em território nacional e luta pela Reforma Agrária, pela terra e pela construção de uma sociedade mais justa. Formas de luta: ocupação de terras e prédios públicos, acampamentos, marchas, jejuns e greves de fome, vigílias e manifestações. MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra): é uma dissidên-cia do MST criada em 1994. É considerado o segundo maior grupo de tra-balhadores sem terra, atrás somente do MST, com presença em cerca de nove estados brasileiros. É o mais radical dos movimentos: prega a tomada do poder pela força e defende a revolução socialista a partir do campo. Sua prática, entretanto, não difere muito da do MST. MLT (Movimento de Luta pela Terra): surgiu em 1994, no sul da Bahia, pela crise das fazendas de cacau da região. Está organizado em Mi-nas Gerais, Bahia, Sergipe e Pará. Adota as mesmas táticas do MST: ocupa-ções e acampamentos. MASTER (Movimento dos Agricultores Sem Terra): foi o primeiro movimento de pequenos agricultores, surgido no Rio Grande do Sul, no final dos anos 50. Era fortemente ligado a lideranças do antigo Partido Trabalhista (PTB) e do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Apesar de ter curta duração e atuação apenas no RS, foi o embrião do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). MTST (Movimento do Trabalhadores Sem Teto): fundado em 1990, é um movimento territorial de trabalhadores. Reúne operários, informais, subempregados e desempregados que vivem de aluguel, de favor ou mo-ram em áreas de risco pelas periferias urbanas do Brasil. Sua luta é contra a especulação imobiliária, o capital e o Estado. Atuam com ocupações de terras urbanas e prédios públicos, bloqueios de ruas e avenidas e marchas.

moVimentos sem terra

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década de 1970. Em setembro de 1979, centenas de agricul-tores ocuparam as granjas Macali e Brilhante, no Rio Grande do Sul. Em 1981, um novo acampamento surgiu próximo a essas áreas: a Encruzilhada Natalino, que se tornou símbolo da luta de resistência à ditadura militar. Foram as primeiras ações tomadas para a ocupação de terras.

Entre 21 e 24 de janeiro de 1984, o movimento estrutu-rou-se formalmente, durante o Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra, em Cascavel, no estado do Pa-

raná. “Assim como muitas ocupações de terras, o Movimento Sem Terra nasceu ao final de uma longa noite escura. A alvo-rada das greves operárias, da campanha pela Anistia geral e irrestrita, os novos movimentos sociais urbanos e as Diretas--Já, que encerravam a ditadura militar, permitiram também a retomada da luta pela terra e pela reforma agrária no Brasil”, relata Marina dos Santos, integrante da coordenação Nacio-nal do MST, em um artigo para a Carta Capital.

Hoje, o MST está organizado em 24 estados e são cerca de

HistóriCo do mst

1° Encontro Nacional, em Cascavel: tem-se como orientação a ocupação de terra como forma de luta. Definiu-se os princípios do MST: a luta pela terra, pela Reforma Agrária e pelo socialismo.

1º Congresso Nacional do MST: a meta era partir para as ocupações. Construíram--se os lemas “Terra para quem nela trabalha” e “Ocu-pação é a Única Solução”.- No governo de Sarney, nasce o Plano Nacional da Reforma Agrária (PNRA), que previa aplicar o Estatu-to da Terra e assentar 1,4 milhão de famílias. O plano, porém, fracassou.

Jornal Sem Terra recebe o prêmio Vladimir Herzog.

Nova Contituição com os arti-gos 184 e 186, que garantem a desapropriação de terras que não cumpram sua função social.

Início do governo Collor, caracterizado por uma forte repressão contra a luta dos Sem Terra.

Eldorado dos Carajás (PA): durante uma ação no Municí-pio de Eldorado dos Carajás, que reivindicava promessas não cumpridas pelo governo, outro confronto com policiais resultou na morte de 21 Sem Terra e outros 56 feridos/mutilados.

Inauguração da exposição de Sebastião Salgado sobre a luta pela terra. Lançamento do livro “Terra”, com fotos da exposição, apresentação do escritor português José Sara-mago e acompanhamento do CD de Chico Buarque.

Jornada Nacional de Lutas: protestos em vários estados contra as medidas do governo FHC, como o Banco da Terra, a tentativa de extinção do Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (Pro-cera) e o projeto de emanci-pação dos assentamentos.

4º Congresso Nacional: “Por um Brasil sem latifúndio”.

Eleição de Lula: situação da agricultura se agrava para os pequenos agricultores e assentados com a lógica da monocultura de exportação.

1984 1985 1986 1988 1989

1996 1997 1999 2000 2002

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Terra, mas sim uma necessidade de toda sociedade brasileira.“A luta pela Reforma Agrária implica em enfrentarmos

o capital e seu modelo de agricultura, disputar terras e terri-tório, bem como o controle das sementes, da agroindústria, da tecnologia, dos bens da natureza, da biodiversidade, das águas e das florestas. Portanto, a reforma agrária popular que defendemos baseia-se na defesa da soberania, no respeito e no combate à mercantilização dos bens da natureza e na produção de alimentos saudáveis à população”, conclui Marina.

350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização dos trabalhadores rurais. O movimento segue com os mesmos objetivos definidos no encontro de 1984 e ratifica-dos em 1985, no 1º Congresso Nacional, em Curitiba: lutar pela terra, pela Reforma Agrária e pela construção de uma socieda-de mais justa, sem explorados nem exploradores.

Nos últimos anos, a luta pela Reforma Agrária ganhou tam-bém um novo adjetivo: “popular”, pois o movimento percebeu que esse não é um problema e uma necessidade apenas dos Sem

Início do governo Collor, caracterizado por uma forte repressão contra a luta dos Sem Terra.

2º Congresso Nacional: as ocupações foram reafirma-das como principal instru-mento de luta pela Reforma Agrária, com o lema “Ocu-par, Resistir, Produzir”.

Criação da Vila Campesina, um movimento internacional que reúne organizações campo-nesas de pequenos e médios agricultores, trabalhadores agrícolas, mulheres campone-sas e comunidades indígenas dos cinco continentes.

Durante o governo FHC, o Ministério do Desenvolvimen-to Agrário “clonou” assenta-mentos criados em governos anteriores e governos esta-duais, registrando-os como assentamentos novos. Nem mesmo o Incra conseguiu afir-mar quantos assentamentos foram criados de fato.

3º Congresso Nacional:“Re-forma Agrária, uma luta de todos”.

Eleição de Lula: situação da agricultura se agrava para os pequenos agricultores e assentados com a lógica da monocultura de exportação.

Felisburgo (MG): após dois anos de ocupação da fazenda Nova Alegria pelo MST, o dono Adriano Chafik junto a mais 17 pistoleiros invadiram o acampamento com tiros aleatórios. O resultado foi a morte de cinco homens, 20 pessoas gravemente feridas e 200 famílias

5º Congresso Nacional: “Reforma Agrária, por Justiça Social e Soberania Popular”.

6º Congresso Nacional: “Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!”.

Reforma Agrária popular.

1989 1990 1993 1994 1995

2002 2004 2007 2014 2015

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SE O CAMPO NÃO PLANTA, A CIDADE NÃO JANTA

texto e imagens de CaroLina BaLdin e Leonardo manffré*

* Carolina Baldin é estudante de Jornalismo da Unesp Bauru e colaboradora da Revista Lampião

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SE O CAMPO NÃO PLANTA, A CIDADE NÃO JANTA

pleNa madrugada, capaNgas de grileiro atearam fogo aos barracos para expulsar ocupantes. Uma voz tenta

liderar um grupo para verificar o que acontecia, mas nin-guém se mobiliza. “Bom, se não tem homem, vou eu!”, diz, e, aos poucos, quinze homens a acompanham. Na as-sembleia do dia seguinte era consenso: “O homem mais homem desse assentamento aqui é a Ivete, não adianta!”.

* Leonardo Manffré é estudante de Jornalismo da Unesp Bauru e colaborador da Revista Lampião

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Agricultora, criada em sítio e mulher de luta: Ivete de Almeida, 52, é presidente da Cooperativa do Agricultor Familiar Solidário, do Assentamento Rural Horto Florestal Aimorés, na divisa dos municípios de Bauru e Pederneiras. A entidade organiza atualmente cerca de 115 famílias de produtores rurais, assentadas na área do Gleba 1.

Iniciada em meados de 2003, a luta pela ocupação não foi fácil e segue até hoje - Ivete conta orgulhosa que há cin-co anos os lotes estão regularizados pelo INCRA (Institu-to Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e esperam em breve receber o papel definitivo de posse. O terreno do Horto Florestal tem mais de cinco mil hectares e pertencia originalmente à antiga Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa). No fim dos anos 90, por acerto de dívidas, a propriedade pas-sou ao Estado de São Paulo e, com a extinção da companhia de rede ferroviária, o patrimônio foi transferido à União.

A terra, sem investimentos ou fiscalização, foi arrenda-da da União para Antônio Ermírio de Moraes, que cultivava extensas monoculturas de eucalipto. De maneira irregular, ele também concedia espaço para grileiros criarem bois. A não-produtividade do local motivou a ocupação da área por grupos de agricultores familiares, que, mesmo com in-cansáveis e violentas tentativas de expulsão por capangas armados, lutaram e resistiram em comunidade.

“A luta foi muito complicada, muito sofrida... A gente

“Pobre é igual lombriga, se sai da merda, morre. É mais

ou menos por aí, não é? Mas eu vou continuar, enquanto

eu tiver força eu vou continuar… plantando, sabe? É coi-

sa que eu gosto de fazer”, diz Ivete

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fazia um barraco e, quando tava terminando de montar, a polícia chegava com cavalaria e cachorros, expulsava todo mundo. Aí a gente tinha que sair dali com tudo nas costas e começar de novo. Foi assim por bastante tempo”, relata Ivete. Ela lembra que no começo muitos passaram necessi-dade e dependeram de doações de dinheiro e comida. Mas nem sempre havia compreensão, conta: “Tinham uns que diziam ‘Ah, por que vocês não vão trabalhar, seus vaga-bundos? Vocês querem roubar terra dos outros!’. Mas nin-guém entendia que não é terra dos outros”.

Sobre a concentração de terras no Brasil, Ivete reclama que o agronegócio é priorizado e os agricultores familiares não recebem o investimento necessário: “A gente fica sem espaço principalmente pela monocultura de cana, laranja, eucalipto. É uma pessoa só ganhando muito, sendo que muita gente com vontade de trabalhar poderia estar matan-do a fome desse povo, até mesmo dos que só sabem meter o pau na gente”, argumenta.

O Assentamento Horto Aimorés tem 90% de seu territó-

rio localizado no município de Pederneiras, enquanto os

outros 10% fazem parte da cidade de Bauru

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a luta pela terra coNtiNua. O caso particular de Ivete pode ser colocado na mesma categoria de milhões de bra-sileiros: os que lutam por um pedaço de terra nas áreas rurais. Mas, neste país de 8,5 milhões de quilômetros qua-drados, por que então não sobraria terra alguma para eles?

Segundo o relatório Crimes do Latifúndio, realizado por diversas organizações, em 2003, 1% dos proprietários rurais possuíam cerca de 46% de todas as terras produtivas do Brasil e dentre esses 400 milhões de hectares titulados como propriedade privada, apenas 60 milhões eram utili-zados para lavoura. O documento constata que naquele ano havia cerca de 4,8 milhões de famílias sem terra no país, e conclui com dados que comprovam que são os pequenos produtores os responsáveis pela grande maioria da produ-ção e empregos no campo.

Uma das organizações que elabora o documento é a Co-missão Pastoral da Terra, importante movimento na luta por justiça no campo brasileiro. Fundada em 22 de junho

A luta para conseguirem água e energia elétrica no

Assentamento Horto Aimorés se estendeu por anos. O

programa federal responsável por uma destas conquistas

foi o “Luz Para Todos”

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de 1975, em plena ditadura militar, pela sensível situação em que se encontravam as relações entre trabalhadores ru-rais, posseiros e peões, em especial na Amazônia. Depois, porém, o movimento veio a se espalhar por todo o país em resposta à conflitos gerados pelo ideal de progresso, acom-panhando os atingidos por grandes projetos de barragens e mais tarde os sem-terra.

A realidade opressora e a luta por direitos e justiça nes-sas áreas originaram outros grandes Movimentos em torno da Luta pela Terra. Um exemplo atual, destaque da grande mídia pela proporção que tomou nos últimos tempos, é o MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. A orga-nização se distribui em 24 estados brasileiros e se mobiliza pela realização da Reforma Agrária, para que o acesso à terra e a produção de alimento sejam democratizados.

Fundado em 1984, no contexto pós-ditadura de rea-bertura do país, o MST tem como instrumentos de luta a ocupação de terras, acampamentos, marchas, barricadas, manifestaçõe e vigílias. A luta política e as bandeiras do movimento se fizeram - e ainda se fazem - necessárias para um debate mais amplo sobre transformação política, social e econômica do Brasil.

Não é só pela terra, mas pelo que ela simBoliza. O MST, a Ivete e todos os indivíduos que constroem esses Movimen-

Casa que a moradora conta ter construído sozinha. Diz

ela que gastou 7 mil reais e só teve ajuda do ‘compadre

Zé Maria’ no início, para fazer a fundação da casa

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tos reivindicam não apenas um pedaço de terra pra viver, mas também a mudança das relações nas áreas rurais do país. São respostas à lógica de concentração fundiária no campo, exigindo ampliação, revisão ou mesmo aplicação das políticas públicas já existentes.

A intensa concentração de terras no Brasil existe desde 1530 e é herança das capitanias hereditárias. Porém, essa questão só começou a ser debatida pela sociedade nos anos 60, com o rápido processo de urbanização do país e também com a criação das Ligas Camponesas, no Nordeste. Em mar-ço do ano de 1964, o então presidente João Goulart anuncia no Comício das Reformas a desapropriação de terras loca-lizadas às margens de rodovias, ferrovias e obras públicas, destinadas à reforma agrária. Porém, no ínicio do mês que se segue, acontece o golpe que instaura o período de Ditadura Militar, que distorce essas políticas por 21 anos, priorizando e incentivando as culturas de exportação, como a soja, au-mentando consideravelmente o número de latifúndio.

A pauta retorna com a redemocratização do país, mas a passos lentos. Hoje a Reforma Agrária é considerada im-portante em termos sociais, políticos e econômicos para o

país, aumentando a produtividade agrícola e atuando no combate da desigualdade social e da má distribuição de renda. Porém, desde as primeiras tentativas de implanta-ção, essa política enfrenta dificuldades. Entre elas se des-tacam entraves jurídicos, o acompanhamento e custo das famílias de assentados para o governo e principalmente a forte resistência dos grandes proprietários na efetivação dessas reformas, pois se prestigiam de histórico poder eco-nômico e político no país.

Desse modo, a luta por terras no Brasil pode ser enten-dida como busca de muitos por justiça e por reconhecimen-to de direitos em um modelo de desenvolvimento que não os inclui, os marginaliza. A história da família de Ivete e a motivação para a vida que escolheu ilustram bem essa situação: “Meu pai morreu quando eu tinha uns três anos. Me contaram que ele trabalhava pra um grileiro no Paraná que expulsava e mandava matar as pessoas. Era uma luta, o pessoal queria um pedaço de terra pra plantar, e meu pai era capanga desse fazendeiro. Ele matava gente inocente. Já que ele lutou tanto contra, eu quero lutar bastante a fa-vor. É isso que me motiva”, revela.

Quando perguntada sobre a sensação de ter conquistado uma terra, hoje ela respira fundo e solta de uma vez: “É meu maior

orgulho, né. Viajo pra casa da minha filha e no outro dia já quero estar aqui, porque eu fico preocupada. Nossa, não consigo ficar

longe. Eu me apeguei”

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A agricultora confere as mudas de tomate que acabam de chegar para o começo de um novo projeto de cultivo

Horta em que Ivete cultiva os vegetais para a venda. Entre eles há alface, couve, cebolinha e abóbora. Há também uma pequena

estufa que contribui com a produção. “Nós temos 72 entidades que a gente abastece na região de Bauru, com produtos nossos,

através da cooperativa”, ela conta

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NÃO É TERRA,É PODERtexto de gaBrieL HiraBaHasi

imagem de spLitsHare.Com/CreatiVe Commons

e marCeLo Camargo / agênCia BrasiL

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o aNo era de 1862. há 153 aNos, No dia 20 de maio, Abraham Lincoln decretava nos Estados Unidos o

Homestead Act (Lei da Fazenda Rural), concedendo terras públicas a pequenos fazendeiros e a custos baixos. O pro-grama, emperrado no congresso norte-americano há alguns anos, era mal visto pelos ruralistas do sul. Em 1858, uma lei de reforma agrária foi derrotada por apenas um voto no Senado e, em 1859, um projeto de lei foi aprovado nas duas casas, mas foi vetado pelo presidente James Bucha-nan, predecessor de Lincoln.

O ano é de 2015. Há pouco mais de 127 anos, no dia 13 de maio de 1888, a Lei Áurea era decretada no Brasil e os negros escravos eram considerados livres a partir de então. Não tinham casa, não tinham terra. Hoje, os reflexos da ocupação colonial das terras continuam latentes. Não há ca-pitanias hereditárias, bem verdade, mas as terras continuam nas mãos de poucos. Segundo o Relatório sobre os Crimes do Latifúndio, produzido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), cerca de 1% dos proprietários rurais do Brasil detêm algo próximo de 50% de todas as terras do país.

De acordo com o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em 2003, havia cerca de 130 milhões de hectares de terras ociosa. Em 2010, o número subiu ainda mais: já passava dos 230 milhões de hectares improdutivos. Para que o acesso à terra seja democratizado, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) luta desde os anos 1970. Em 2015, no mês de abril, o MST organizou a

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Jornada de Luta pela Reforma Agrária e ocupou diversas sedes do Incra, entre elas a de São Paulo e a de Brasília. Segundo o movimento, o atual governo estagnou em sua política de reforma agrária , apesar da imensidão de terra improdutiva que o Incra aponta.

No Distrito Federal, os manifestantes protestam pelo reconhecimento de áreas subutilizadas no território. “São áreas que até hoje não têm parecer técnico nem do Incra, nem da Terracap [Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal]. Por isso, estamos aqui pedindo que se abra um di-álogo com o Incra para reconhecer essas áreas que são im-produtivas e estão sendo tomadas por grileiros”, diz Bruno Leandro, da coordenação do MST-DF. “Nossa pauta foi colocada, mas não fomos recebidos por ela [Maria Lucia Falcon, presidenta do Incra], por isso, fizemos esse ato, para forçar uma agenda dentro do Incra para termos nossa demanda atendida”, completa.

A má distribuição de terra não é fator único, obviamen-te, mas reforça a desigualdade social no Brasil. Em 1989, durante o governo de Sarney, os mais ricos do país chega-vam a ter renda em torno de 70 vezes maior que os mais pobres. “Era o final do governo Sarney e o Brasil passava por um momento delicado da sua economia. A partir daí as diferenças de renda vêm caindo sistematicamente, passan-do pelos planos Cruzado e Real, o crescimento econômico e os programas sociais dos anos seguintes”, afirma Marta Arretche, professora do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e diretora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), em entrevista à Exame durante o FAPESP Week California. Esse abismo diminuiu com o tempo, mas continua latente. Em 2012, a renda mé-dia dos 5% mais ricos era 33 vezes a dos 20% mais pobres.

O Brasil já não é mais um país agrário, mas grande par-te da população ainda vive no campo. Segundo levanta-mento do Ministério do Desenvolvimento Agrário, cerca de 36% da população está no setor rural. Os dados diferem da pesquisa do IBGE, que aponta para 16% dos brasileiros

no campo. O percentual maior na pesquisa do Ministério do Desenvolvimento Agrário considera a aplicação de um conceito de rural defendido pelos pesquisadores. “O Brasil do século XX tentou ser mais urbano e ter uma economia industrial. Isso deu um certo exagero à dimensão urbana e uma desvalorização do Brasil da ruralidade”, afirma a pesquisadora Tânia Bacelar, coordenadora da pesquisa Re-pensando o Conceito de Ruralidade no Brasil: Implicações para as Políticas Públicas, em entrevista à Agência Brasil de Comunicação.

“latifúNdio Não existe mais”. Em princípios básicos, fazer reforma agrária é reorganizar a estrutura fundiária de modo a proporcionar uma distribuição mais justa da terra. Segun-do a Constituição Brasileira de 1988, “compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua fun-ção social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária”. O modelo de reforma agrária previsto pela Constituição, portanto, condiciona a desapropriação da terra à não aplicação de sua função social.

Com isso em mente, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias (PT-MG), defendeu em sua pos-se, no início do ano, medidas para que esse princípio seja aplicado no país. Para ele, o reconhecimento da função so-cial da terra não implica negar o direito à propriedade, mas “adequá-lo aos outros direitos fundamentais, ao interesse público e integral do Brasil”.

“É possível conciliar o interesse justo dos produtores rurais com o não menos justo interesse dos produtores familiares”, ele disse, em entrevista à Agência Brasil de Comunicação. O interesse dos produtores rurais e do agro-negócio ao qual Ananias se refere é defendido pelo Minis-tério da Agricultura, cuja ministra é Kátia Abreu (PMDB--TO). Membro da bancada ruralista, Kátia Abreu se tornou pecuarista com a morte de seu marido, em 1987, quando herdou terras no atual estado de Tocantins. Aprendeu a to-

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car o negócio, se destacou entre os produtores da região e se tornou presidente do Sindicato Rural de Gurupi. Depois disso, foi eleita presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins.

Sua carreira política começou como deputada, em 2002, depois seguiu como senadora, desde 2006, e, atualmente, é a ministra da Agricultura. Quando assumiu o cargo, muito foi especulado sobre seus interesses diretos no agronegó-cio e seu posicionamento político. Logo que tomou posse, já deu declarações fortes: “Latifúndio não existe mais”, disse, em entrevista a Folha de S. Paulo. A ministra ainda defende que a reforma agrária não é mais necessária. “Em massa, não [precisa acelerar a reforma agrária]. Ela tem de ser pontual, para os vocacionados”, completou.

De acordo com o dicionário Michaelis, o termo latifún-dio significa “propriedade rural de grande extensão, cuja maior parte aproveitável não é aplicada à cultura ou utili-zada em exploração econômica”. Sendo assim, a afirma-ção de Kátia Abreu contrasta com pesquisas e estudos que apontam que os latifúndios existem, sim. Aliás, as zonas improdutivas no país não só existem como aumentaram nos últimos anos. Segundo o Incra, as terras ociosas repre-sentavam, em 2010, 40% das grandes propriedades no país. Cerca de 230 milhões de hectares estão abandonados ou produzem abaixo da capacidade, logo, não cumprem sua função social.

terra saNta. “Acompanho o processo de reforma agrária desde 1984”, conta Chico Maia, secretário municipal de Agricultura e Abastecimento de Bauru. “Minha família é as-sentada”, ele diz. “Em 1984, minha família, junto com mais 100, 150 famílias, participou de uma ocupação em Andra-dina. Em 1988, nós fomos assentados em definitivo numa fazenda chamada Santa Rita, no município de Durmalina”.

Chico acredita que a reforma agrária ainda está longe do ideal, mas acredita que, aos poucos, o país tem evoluído nesse sentido. “A reforma agrária no Brasil ainda está mui-

“Em massa, não [precisa acelerar a reforma agrária]. Ela tem

de ser pontual, para os vocacionados”, disse a ministra da

Agricultura, Kátia Abreu (PMDB-TO). Senadora também

afirmou que “latifúndio não existe mais”

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to aquém do que o que a gente almeja, mas é um processo de construção e consolidação de políticas públicas”, afirma. “De 1988 pra cá, a gente percebeu o seguinte: várias políti-cas públicas foram construídas com a participação dos mo-vimentos sociais, dos sindicatos dos trabalhadores”, avalia.

O trabalho de Chico Maia na Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento de Bauru visa fortalecer a agricultura familiar. O Programa Nacional de Fortaleci-mento da Agricultura Familiar (Pronaf) é uma das ferra-mentas utilizadas pela secretaria para colaborar com os pequenos produtores. “[O Pronaf] significa recursos para os agricultores familiares, no caso, assentados, ribeirinhos, indígenas, quilombolas”, exemplifica. “Nós da Secretaria da Agricultura temos técnicos e engenheiros voltados a prestar assistência técnica aos produtores rurais para que eles tenham acesso ao crédito no Pronaf”, afirma.

O Pronaf destina-se a apoiar atividades agropecuárias ou não para “implantação, ampliação ou modernização da estrutura de produção, beneficiamento, industrialização e de serviços, no estabelecimento rural ou em áreas comu-nitárias rurais próximas, de acordo com projetos especí-ficos”, segundo o site do Governo Federal. O objetivo é promover o aumento da produção e da produtividade e a redução dos custos de produção, visando à elevação da renda da família produtora rural.

Para se aplicar no Pronaf, o produtor deve ter renda bru-ta anual de até R$360 mil. Caso cumpra com esse requisi-to, basta procurar o sindicato rural ou a Empresa de Assis-tência Técnica e Extensão Rural (Emater) de seu estado para conseguir a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Depois disso, o agricultor precisa elaborar um projeto que será enviado e analisado pelo Pronaf.

Atualmente, a agricultura familiar é responsável por

grande parte do consumo interno no Brasil. Segundo Pepe Vargas, ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, em 2012, 70% dos alimentos consumidos pelo mercado in-terno já tinham origem na agricultura familiar. Enquanto isso, os produtos do agronegócio também têm importância fundamental na economia do país. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apontam para um crescimento brasileiro de 478% da exportação de alimentos. Segundo esses números, o Brasil, em 2003, exportou cerca de US$30 bilhões, enquanto em 2013, dez anos depois, essa cifra chegou quase aos US$100 bilhões.

Apesar desse aumento expressivo, a utilização da terra no Brasil continua ineficaz. Segundo o Incra, ao todo, 228 milhões de hectares estão abandonados ou produzem abaixo da capacidade, o que os torna sem função social e, portanto, aptos para a reforma agrária de acordo com a Constituição.

Mas, segundo Sérgio Sauer, professor na UnB e rela-tor do Direito Humano à Terra, Território e Alimentação, a terra, no nosso país, preenche um espaço maior do que sua própria função social. “A terra no Brasil sempre foi o símbolo e instrumento de poder. Temos uma longa história imperial, colonial, mas também republicana, infelizmente, em que ser proprietário de terra – e aí falamos de grandes propriedades de terra – era instrumento de poder em todos os seus sentidos, ocupando cargos políticos ou não”, diz, em entrevista ao Canal Futura. “Os meus estudos apontam pra isso: por que o Brasil não fez uma reforma agrária?”, questiona, respondendo logo em seguida: “É porque, asso-ciado ao tema reforma agrária, existe sempre uma dimen-são política muito forte”.

A dimensão política, em sua forma mais clara, é repre-sentada hoje pela bancada ruralista na Câmara e no Sena-do. Além dos próprios interesses, como os de Kátia Abreu

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Eles têm. Mas, do ponto de vista político, a gente tem uma super representação desse setor”, acrescenta.

Economicamente, segundo Gustavo, é mais interessan-te a pequena propriedade – tanto que potências mundiais, como Japão e Estados Unidos, fizeram uma reforma agrária antes de despontarem no aspecto financeiro. “O capitalista não gosta de operar com muita incerteza. E a agricultura tem a incerteza meteorológica. E ainda têm vários estudos econoômicos, inclusive de economistas conservadores, por incrível que pareça, que mostram deseconomia de escalas, ou seja, quanto maior a terra, menos lucro [proporcional-mente] ela vai gerar”, ele diz. Mas o economista completa: “O Brasil, ainda que no sentido clássico da reforma agrá-ria, de uma mudança radical da estrutura fundiária, não te-nha feito essa reforma agrária, incorporou muitas terras a um programa de distribuição de terra. Nós temos, hoje, 87 milhões de hectares, quase 10% do território nacional, incorporados à reforma agrária”.

enquanto pecuarista e exportadora, os membros da banca-da, assim como diversos outros políticos, respondem a ou-tras entidades. O agora senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), por exemplo, recebeu doações para sua campa-nha, principalmente, de cinco empresas. A Eldorado Brasil Celulose doou R$1 milhão e a PRINT Serviços Gráficos, R$600 mil. A Construtura Andrade Gutierrez, Agro Indús-tri do Bale do São Francisco e Brasil Foods doaram juntas mais R$900 mil.

“A reforma agrária, além das questões econômicas, tem a questão de rompimento do status quo político. A gente sabe que muitos dos avanços que a gente teve nos últi-mos anos só não são maiores porque temos uma correlação de forças no Congresso Nacional, que tem um setor que é bastante forte, que é o setor ruralista”, afirma Gustavo Souto de Noronha, economista e superintendente do Incra, em entrevista ao Canal Futura. “Obviamente, não estou di-zendo que eles não têm contribuição pra economia do país.

O Incra calcula que as terras ociosas representam 40% das grandes propriedades do país, mas pouco é feito para acabar com a

subprodução. Enquanto isso, movimentos como o MST reivindicam por assentamentos nessas regiões

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JÁ CONHECE O NÓ DE OITO?ACESSE: NODEOITO.COM.BR

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“o soNho de rose, 10 aNos depois” (1997) é o seguNdo documentário da diretora Tetê Moraes relativo à Fa-

zenda Annoni, local onde foi realizada a primeira ocupação de latifúndio improdutivo do país. O primeiro, chamado “Terra para Rose” (1987), foi gravado dois anos após a fazenda ser ocupada, e tratou justamente do movimento de ocupação.

Antes de mais nada, é importante entender quem é Rose: uma trabalhadora rural que participou ativamente da ocupa-ção em 1985 e que foi a primeira mulher a ter um filho no acampamento. Uma das líderes do movimento, foi assassina-da durante uma manifestação em um atropelamento apurado como criminoso. O sonho de Rose era que a ocupação obti-vesse sucesso, que todas aquelas 1.500 famílias saíssem dos barracos de lona, construíssem suas casas e pudessem viver cada um com seu pedaço de terra.

É esse sonho que o documentário discute. Será que as fa-mílias conseguiram sair do acampamento, construir suas ca-sas, ter sua terra e viver disso, em uma vida mais digna? Dez anos depois, muita coisa mudou. Para mostrar as mudanças, os avanços, os fracassos e os diferentes caminhos que cada família seguiu, Tetê Moraes encontrou alguns antigos com-panheiros da ocupação.

De fato, os caminhos seguidos foram múltiplos. E o do-cumentário foi exitoso em mostrar vários lados. A família de João, por exemplo, continua morando na fazenda. Agora, ele tem sua própria casa e trabalha na sua própria terra. Enio saiu

texto de CaroLina rodrigues

imagem de reprodução

“O sonho de Rose - 10 anos depois”Direção: Tetê Moraes

Produção: Vemver BrasilDuração: 92 minutos

Clique na imagem para assistir ao longa-metragem

cultura

RESENHA:

“O SONHO DE ROSE - 10 ANOS DEPOIS”

voluntariamente da fazenda para morar na cidade e adminis-trar um mercado que pertence a várias famílias assentadas. Já a família de Egon optou por sair do que eles chamam de “coletivo” devido a algumas divergências, mas ele afirma e reafirma que de maneira alguma é contra o trabalho coletivo. Alceu também optou por sair, mas de forma não tão amigável: acabou por processar a cooperativa porque trabalhou duran-te dois anos e não recebeu nada quando resolveu ir embora. Luci, que afirmou há dez anos que jamais abandonaria a vida no campo, mudou-se de vez para Porto Alegre, acompanhan-do o marido e o filho. E assim vai...

É interessante perceber como se deu o berço do MST, mes-mo que alguns integrantes tenham seguido caminhos distintos. O movimento sempre esteve muito bem articulado e impressio-na a maneira como cada um o respeita e levanta sua bandeira, ainda que de formas diferentes. O documentário é sensível a essa questão e trata justamente dos medos e dos sonhos desse povo, que, assim como Rose, tanto lutou por um pedaço de terra.

No fim, Tetê conversa com a família de Rose. Marquinho, a primeira criança a nascer na Fazenda Annoni, diz não se lem-brar da mãe e não sonhar. Vanisa, que tinha sete anos na época do assassinato de sua mãe, reconhece a importância da luta de Rose pela terra. Paulo, o filho do meio, sonha em ser cantor. Seu José, o marido, desistiu do acampamento pois nunca conseguiu um pedaço de terra. E assim o sonho de Rose foi se construindo e se desconstruindo durante todos esses dez anos.

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2. Rage Against the Machine – People of the SunA banda norte-americana sempre faz um som engajado e politizado. Nessa faixa do álbum Evil Empire, de 1996, o vocalista Zac de la Rocha escreve sobre o movimento zapa-tista, surgido em 1994 como um levante contra a margi-nalização dos povos indígenas, depois de visitar a região paupérrima de Chiapas, no sul do México. O nome do mo-vimento veio da identificação que ele tem com Emiliano Zapata e suas lutas no início do século XX. Em sua passa-gem pelo Brasil no festival SWU, em 2010, o Rage Against the Machine dedicou essa canção aos seus “corajosos ir-mãos e irmãs do MST”, já que a reinvindicação da terra é uma pauta comum aos movimentos.

3. O Teatro Mágico – Canção da TerraEscrita pelo cantor gaúcho Pedro Munhoz e lançada pela primeira vez em seu álbum Cantigas de Andar Só (2002), a música foi regravada em 2011 pel’O Teatro Mágico para o

PLAYLIST:

MOVIMENTOSSOCIAIStexto de Vanessa souza

imagem de marCeLo Camargo / agênCia BrasiL

Música não é só arte: é também política e espaço para grupos se reafirmarem socialmente. Os discursos produzidos pelos artistas que, de alguma forma, têm ligação com movimentos sociais, ou que se identificam com eles, ajudam a divulgar causas e pensamentos importantes. Conheça cinco canções que falam sobre movimentos sociais ao redor do mundo:

1. Chico Science e Nação Zumbi – Monólogo ao Pé do OuvidoA primeira faixa do disco Da Lama ao Caos, de 1994, é tam-bém uma introdução à obra toda: evocando líderes populares, ”Monólogo ao Pé do Ouvido” já denuncia o tom politizado que aparece pelo álbum. Entre os nomes citados na letra da música estão Antônio Conselheiro, Lampião e Zumbi – além de Emiliano Zapata, um dos líderes da Revolução Mexicana de 1910. Sua luta deste líder era a favor da reforma agrária no país e contra a ditadura de Porfírio Díaz. Não é à toa que Chico Science, a voz do manguebeat, abre a nossa playlist di-zendo que “O homem coletivo sente a necessidade de lutar”.

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disco A Sociedade do Espetáculo. A versão da banda pau-lista conta com a participação do autor da faixa e foi usa-da como trilha sonora da novela Flor do Caribe, exibida em 2013 pela Globo. A letra da canção defende o fim do latifúndio e o combate à ignorância sobre os movimentos sociais de reinvindicação de terra, afinal, para eles, “terra é de quem plantar”.

4. Café Tacvba – Flores del Color de la MentiraComposta para a coletânea Juntos por Chiapas, de 1996, a música da banda mexicana é mais uma das que fala sobre o movimento zapatista. A canção já começa com versos fortes: “na terra que há atrás dos meus olhos / um líder vive em pé de guerra / defendendo povos inteiros de ideias mudas / assassinadas por serem diferentes das dos outros”. A poesia da letra faz menção aos processos de plantio e cuidado da terra junto a uma melodia sensível e um instru-mental belíssimo e agradável. A coletânea da qual a canção

faz parte reuniu grandes nomes na música latino-america-na com a intenção de arrecadar dinheiro para a região con-flituosa de Chiapas.

5. Xavier Rudd – Land RightsO cantor e multi-instrumentista australiano escreveu essa canção sobre a reinvindicação de terras feita pelos índios aborígenes da Austrália sob uma perspectiva otimista: de-pois de mostrar os motivos pelos quais os índios querem seu lar de volta, Xavier conta que “a xícara que estava vazia agora se enche aos poucos”, acompanhando as vitórias do movimento junto ao governo do país. Em seu site oficial, o álbum do qual a música “Land Rights” faz parte – o lança-mento de 2007 intitulado White Moth – é apresentado como uma obra que “homenageia o povo indígena da Austrália”, de onde o artista tirou muita inspiração. Ao fim da canção, é possível ouvir vocais de aborígenes convidados para cantar e celebrar com ele.

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