revista espaço científico livre n.2

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FOTO: http://www.sxc.hu BRASIL, N. 2, JUN.-JUL., 2011 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA REVISTA DE PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS, RESUMOS E IDEIAS DE ALUNOS DE NÍVEL TÉCNICO, SUPERIOR E PROFISSIONAIS DE DIVERSAS ÁREAS DE TODO BRASIL ESPAÇO CIENTÍFICO revista LIVRE

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A Revista Espaço Científico Livre é uma publicação eletrônica bimestral gratuita dirigida à divulgação científica e destinada a alunos de cursos técnicos, graduação e profissionais de diferentes áreas do conhecimento e de todo Brasil. Eventos acadêmicos; Genéricos: medicamentos com qualidade comprovada

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BRASIL, N. 2, JUN.-JUL., 2011 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

REVISTA DE PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS, RESUMOS E IDEIAS DE ALUNOS DE NÍVEL TÉCNICO, SUPERIOR E PROFISSIONAIS DE DIVERSAS ÁREAS DE TODO BRASIL

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EDITORIAL

O desafio de promover a divulgação do conhecimento construído de forma coletiva continua com o segundo número da Revista Espaço Científico Livre. Quero esclarecer que a temática da Revista Espaço Científico Livre é plural, promovendo não necessariamente a interseção das áreas do conhecimento, mas sim a interdisciplinaridade que o século XXI exige e permite. Nossa proposta é que a diversidade do saber incentive a pesquisa que muitas vezes se encontra isolada e distante da realidade. Uma simples ideia ou um questionamento podem se transformar em conhecimento científico, comece buscando referências, siga uma metodologia reprodutível e explore o desconhecido, é só começar... Boa leitura. Verano Costa Dutra Editor

A Revista Espaço Científico Livre é uma publicação digital distribuída gratuitamente a estudantes de escolas técnicas, graduação e profissionais de diferentes áreas em todo o Brasil.

Os textos assinados não apresentam necessariamente, a posição oficial da Revista Espaço Científico Livre, e são de total responsabilidade de seus autores.

A Revista Espaço Científico Livre esclarece que os anúncios aqui apresentados são de total responsabilidade de seus anunciantes.

Este conteúdo pode ser publicado livremente, no todo ou em parte, em qualquer mídia, eletrônica ou impressa, desde que a Revista Espaço Científico Livre seja citada como fonte.

As figuras utilizadas nessa edição são encontras em: - Stock.XCHNG. Disponível em: <http://www.sxc.hu> - MAHASHAKTI. Disponível em: <http://mahashakti.bharatuday.in/2010/01/blog-post_30.html>

Colaboradores desta edição Verano Costa Dutra Editor Farmacêutico Industrial, com habilitação em Homeopatia e Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Monique D. Rangel Divulgação Graduanda em Administração na Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO) Verônica C.D. Silva Revisão Pedagoga pela UNIGRANRIO Gabriel de Freitas Gimenes Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Patricia Xavier Quilelli Antunes Graduada em Hotelaria pela Universidade de Santo Amaro (UNESA) e Especialista em EAD pela UFF Thiago Barros Paes da Silva Aluno do Curso Técnico em Segurança do Trabalho no Curso Prossiga Vivian Carvalho de Brito

Graduada em Administração de Empresas com ênfase em RH e Pós Graduada em Gestão de Pessoas pela Faculdade Anhanguera de Campinas – FAC III Wagner do Nascimento Gomes Graduando de História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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SUMÁRIO

A importância da comunicação como benefício social Por Vivian Carvalho de Brito

pg. 05

Arquitetura da informação: o papel das informações periféricas e os recursos de desdobramento do material didático impresso da disciplina "Introdução à Informática" do CEDERJ Por Patricia Xavier Quilelli Antunes

pg. 19

A Brigada de Incêndio Por Thiago Barros Paes da Silva

pg 34

Figuras da Psicanálise no filme Persona Por Gabriel de Freitas Gimenes

pg 36

Psicologia, Sociedade e Educação em Laranja Mecânica Por Wagner do Nascimento Gomes

pg 45

Eventos acadêmicos pg 49

Genéricos: medicamentos com qualidade comprovada

pg 61

FIGUTA: SXC.HU

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A importância da comunicação

como benefício social

Vivian Carvalho de Brito Graduada em Administração de Empresas com ênfase em RH e Pós Graduada em Gestão de Pessoas pela Faculdade Anhanguera de Campinas – FAC III Campinas, SP E-mail: [email protected]

Resumo Cada vez mais o departamento de Recursos Humanos se preocupa com seus colaboradores, uma vez que eles são o diferencial e podem levar a organização a atingir a competitividade e o sucesso. Além de um bom programa de Remuneração e Benefícios, uma das maneiras de ajudar a tornar a vida profissional de seus colaboradores mais agradável é oferecer-lhes um bom ambiente de trabalho, com uma boa infra-estrutura, e, no campo abstrato, uma comunicação eficaz é essencial para que as pessoas sejam reconhecidas e admiradas pelas suas tarefas realizadas, bem como ter a capacidade de se aperfeiçoarem. A organização que se preocupa com seus colaboradores melhorará sua imagem perante o mercado de trabalho, terá maior competitividade perante seus concorrentes, atrairá novas pessoas e continuará a manter os seus talentos já existentes. O foco deste artigo é identificar a importância da comunicação entre gestor x liderado dentro das organizações. Palavras-chave: Comunicação; Melhoria; Benefício, Colaboradores e Feedback.

Abstract Increasingly, the Human Resources department cares about its employees, since they are the differential and can lead the organization to achieve competitiveness and success. Besides a good Compensation and Benefits program, one way to provide a more pleasant life to the employees is offering them a good working environment with good infrastructure and, on abstract way, an effective communication is essential for people to be recognized and admired for their performed tasks as well as, to have the capacity to improve themselves. The organization that cares about its employees will improve their image on the job market, will become more competitive against its competitors, will attract new people and continue to maintain their existing talents. The focus of this paper is to identify the importance of communication between manager x led within organizations. Keywords: Communication; Improvement; Benefits; Employee and Feedback.

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1. INTRODUÇÃO

tualmente, em algumas áreas específicas, há escassez de bons funcionários no mercado de trabalho, assim é necessário que as empresas busquem formas de atrair bons colaboradores, conquistando novos talentos, retendo os já existentes

e incentivando-os a permanecerem na empresa, uma vez que o assédio de empresas concorrentes está aumentando cada vez mais em torno desses funcionários talentosos. No século XX, com a Revolução Industrial, o que determinava o valor de uma organização eram suas máquinas e equipamentos. Hoje, no século XXI, muita coisa mudou, estamos na era das pessoas, e as empresas são representadas por elas. As estratégias do negócio e do capital humano é o que definem o valor da organização. Se o capital humano é tão importante para as empresas é necessário que as organizações tenham funcionários talentosos, tendo condições para alcançar, assim, competitividade e sucesso. Vale ressaltar que o talento nas pessoas é visto como aquelas que são dotadas de conhecimentos, habilidades e competências. Contudo, não basta apenas se ter bons colaboradores, o colaborador talentoso não consegue desenvolver um bom trabalho se não tiver apoio da empresa, que deve lhe oferecer uma estrutura adequada, autonomia, espaço para que ele possa desenvolver novas soluções e bons processos. Ele precisa também se sentir estimulado, motivado, reconhecido e remunerado, assim, as empresas precisam oferecer recompensas capazes de atrair, reter e motivar esses colaboradores. Não estamos falando de remuneração em si, e sim em outros métodos que façam com que esses colaboradores se sintam importantes e cada vez mais parte dos processos que ocorrem dentro das organizações. Uma das maneiras da empresa recompensar seus funcionários é oferecer e aperfeiçoar cada vez mais uma boa comunicação dentro da organização. Uma comunicação entre setores, entre equipes de trabalho, entre colegas, e, o mais importante, entre líderes e liderados. É com esse tipo de comunicação que as empresas deveriam se preocupar, pois é uma forma de se tornar um diferencial perante o mercado. Luiz C. Martino e Vera Veiga França (2008) dizem que,

O termo comunicação vem do latim communicatio, do qual distinguimos três elementos: uma raiz munis, que significa “estar encarregado de”, que acrescido do prefixo co, o qual expressa simultaneidade, reunião, temos a idéia de uma “atividade realizada conjuntamente”, completada pela terminação tio, que por sua vez reforça a idéia de atividade. E, efetivamente, foi este o seu primeiro significado no vocabulário religioso aonde o termo aparece pela primeira vez (MARTINO e FRANÇA, 2008, p. 12 e 13).

Antigamente, a comunicação era vista como algo desnecessário e valia o ditado “Manda quem pode, obedece quem tem juízo” e nenhuma empresa estava preocupada em saber o que acontecia com seus funcionários nem o que eles pensavam sobre a empresa em que trabalha. Hoje, a comunicação é primordial para que as empresas possam manter seus colaboradores ativos. Com isso, acredita-se que os gestores passaram a utilizar a comunicação pela preocupação de reter mão-de-obra e baixar a rotatividade pessoal.

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Hoje, as consultorias especializadas em melhorar a comunicação dentro das empresas, além do aspecto competitivo no mercado, constituem-se em atividades voltadas para a preservação das condições mentais de seus empregados, como por exemplo, o estresse, doença que atinge vários profissionais, muito possivelmente por manterem seus consigo e não compartilhar as necessidades e oportunidades de melhoria com seus gestores dentro do seu setor/empresa. Atualmente existe um novo e importante motivo para que a criação de novos métodos de comunicação não pare: a competição entre as organizações na disputa de talentos humanos, a fim de atraí-los e mantê-los satisfeitos e motivados. Torna-se assim um jogo de interesse entre a organização e o colaborador. A organização busca atrair no mercado os melhores talentos, oferecendo uma boa comunicação/relação e por sua vez o colaborador busca um local tranquilo, onde possa expressar suas opiniões e melhorar processos. As empresas não se limitam em oferecer apenas uma simples comunicação eficaz, há um leque de opções e uma preocupação com o bem estar dos colaboradores. Para isso, o departamento de Recursos Humanos deve estar sempre atualizado aos novos métodos e maneiras de recompensar pessoas, que são processos utilizados para incentivar e satisfazer as necessidades individuais mais elevadas dos colaboradores e isso inclui recompensas, remuneração, serviços e benefícios sociais, além dos programas de melhoria da comunicação, a fim de tornar-se a organização competitiva perante o mercado de trabalho. Neste sentido, este artigo tem como objetivo pesquisar e analisar as formas e programas para melhora na comunicação interna das organizações, mostrando a importância do feedback e se esses programas de comunicação oferecidos aos colaboradores são fatores de atração e retenção de talentos. Os objetivos específicos são: apresentar parte do Recursos Humanos e sua atuação; descrever e conceituar os programas de comunicação oferecidos pelas organizações; analisar o impacto que os programas de comunicação trazem para os colaboradores e para as empresas e identificar quais os programas que podem ser o diferencial nas organizações. O estudo do tema Comunicação se faz importante, pois, embora muitas pessoas não lhe dêem a devida importância, oferecer uma boa comunicação pode, em alguns casos, superar os valores percebidos a título de salários. Quando os funcionários sentirem que você cuida deles, eles cuidarão de você também, ao produzir o serviço da mais alta qualidade e permanecendo mais tempo no trabalho. Fornecer bons programas de comunicação é uma forma tangível de mostrar aos funcionários que você valoriza a sua qualidade de vida e a ele próprio. Para as organizações, o trabalho será importante, pois, com o artigo realizado, as empresas o terão como base para que elas possam identificar se por meio de um plano de comunicação bem elaborado terão o poder de reter seus recursos humanos existentes e de atrair novos talentos. Será importante também, para que as empresas tenham consciência de que os programas de comunicação não devem ser meramente implantados porque parecem bons, mas porque os funcionários expressaram necessidade e interesse em relação a eles.

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Um plano de comunicação oferece a melhor vantagem competitiva para as pequenas e grandes empresas tanto no recrutamento quanto na retenção de funcionários. 2. DESENVOLVIMENTO

os últimos anos as organizações vêm passando por diversas mudanças e grandes transformações, com isso, as empresas têm se esforçado para sobreviverem.

A administração de Recursos Humanos surgiu segundo Vergara (2001, p.340) com a “expectativa de encontrar formas de administrar o capital humano nas empresas, visando à maximização dos benefícios econômicos advindos do alinhamento entre o potencial dos empregados e os objetivos empresariais”. Para que as organizações possam enfrentar os desafios, a concorrência e serem capazes de cada vez mais inovar suas estratégias, produtos e serviços, elas devem ter bons colaboradores, pois são deles que vêm a força de trabalho, a inteligência, decisões, atitudes e as novas ideias.

Com a globalização dos negócios, o desenvolvimento tecnológico, o forte impacto da mudança e o intenso movimento pela qualidade e produtividade, surge uma eloqüente constatação na maioria das organizações: o grande diferencial, a principal vantagem competitiva das empresas decorre das pessoas que nela trabalham. São as pessoas que mantêm e conservam o status quo já existentes e que geram e fortalecem a inovação que deverá vir a ser (CHIAVENATO, 2004, p.VII).

Chiavenato (2004) defende que atualmente a grande diferença nas empresas são as pessoas que nelas trabalham. Para Crawford (1994, p.17), “Capital humano significa pessoas estudadas e especializadas”. E, são essas pessoas que fazem a diferença dentro das organizações e podem ser chamadas de talentos. As organizações que desejam se tornar destaque no mercado de trabalho perante seus concorrentes, clientes internos e externos são aquelas que incentivam e motivam seus colaboradores, pois sabem que eles são a maior riqueza que uma empresa pode cultivar e, com isso, estará sempre em crescimento. Pontes (2005) destaca que,

O Capital Humano é o lugar onde se iniciam todas as escalas: a fonte de inovação. O dinheiro fala, mas não pensa. As máquinas trabalham, muitas vezes muito melhor que qualquer ser humano poderia trabalhar, mas não criam (PONTES, 2005, p. 2).

O autor nos mostra a importância que os colaboradores têm dentro das organizações, uma vez que o Capital Humano é a fonte para a mudança. Sabemos que as máquinas e equipamentos estão muito menos suscetíveis a erros do que qualquer ser humano, porém, as pessoas pensam, criam, têm idéias e vêem muito além. Mais difícil do que encontrar e contratar um talento é mantê-lo na organização. Hoje, o conhecimento é uma das maiores forças do valor econômico.

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É uma guerra de concorrência, pois “as corporações de sucesso fomentarão o crescimento pessoal para atrair as melhores e mais brilhantes pessoas” (STEWART, 1998, p. 118). Souza; Bittencourt; Pereira e Bispo (2005, p.21) apostam na, “Valorização do capital humano como um dos elementos-chave para a consecução de vantagem competitiva”. As empresas devem considerar que seus funcionários são seus parceiros e realizar ações para obter deles o máximo de rendimento em seu trabalho. Lembrando que com o fortalecimento da parceria entre empresa e funcionário, acontece o desenvolvimento mútuo: da empresa, como instituição, e da pessoa, como indivíduo e profissional. Os colaboradores considerados como talentos são essenciais para garantir a continuidade das organizações. Assim, atrair e manter talentos é a nova ordem nos recursos humanos. Para Chiavenato (2004, p.53), “Talento era o nome dado a uma moeda valiosa na an-tiguidade. Hoje é preciso saber atrair, aplicar, desenvolver, recompensar, reter e monitorar este ativo precioso para as organizações”. Normalmente o talento está associado a algo valioso, usado para denominar pessoas que se destacam por alguma habilidade marcante. Para Michaels; Handfield e Axelrod apud Sarsur; Rezende e Sant´Anna (2003, p.2), “talento é o conjunto de habilidades de uma pessoa – seus dons, conhecimento, experiência, inteligência, discernimento, atitude, caráter e impulsos inatos, e que inclui sua capacidade de aprender”. Pontes (2005) aponta que,

Talentos são pessoas que possuem um dom natural, ou objeto de muito treinamento e dedicação que fazem as diferenças nas organizações, criando, inovando, empurrando, fazendo acontecer... Elas possuem mentes originais. Vêem as coisas de forma diferente (PONTES, 2005, p.25).

Com isso sabemos que se faz necessário que as organizações tenham colaboradores talentosos visando sempre sua qualidade no serviço e no atendimento. As empresas precisam reconhecer e motivar os seus funcionários antes que eles peçam para isso, porque muitas vezes, a partir desse momento, pode ser tarde demais. Há uma escassez de bons funcionários no mercado de trabalho, assim é preciso cuidar de seus talentos para que eles não saiam pela porta da empresa em busca dos concorrentes. Atrair e reter talento têm sido uma premissa básica para a gestão de pessoas nos últimos tempos. Embora pareça óbvio que o investimento em retenção de pessoas deva ser priorizado - porque se a organização não consegue manter pessoas talentosas no seu quadro, aquelas que forem atraídas poderão também não permanecer - essa é uma estratégia, muita vezes, deixada para segundo plano.

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Para uma pessoa ser considerada um talento ela só precisa ter vontade e responsabilidade de colocar em ação tal atividade ou criação de novas idéias. Não é necessário ser nenhum gênio e possuir algum dom especial. A área de Recursos Humanos busca atrair, aplicar, manter, desenvolver e monitorar as pessoas para trabalharem não como meros funcionários e sim como parceiros das organizações. A retenção de talentos tem se tornado um desafio para os gestores, e a área de recursos humanos apresenta-se com um papel fundamental no que se refere à retenção de talentos.

O ser humano pode ser um agregador ou não de valor. Cada ser humano na organização, seja qual for a sua posição hierárquica, pode desenvolver suas atividades com maior eficácia e efetividade se, de fato, estiver envolvido e se sentir responsável e participante da equipe que atua. O desafio para as organizações consiste, portanto, em projetar sistemas de recompensas que, motivem o desempenho de alto nível (SOUZA; BITTENCOURT; PEREIRA e BISPO, 2005, p.23).

Para garantir a manutenção da competitividade, as empresas devem reavaliar as formas de gerenciamento para recompensar pessoas, já que estamos em um tempo de grandes transformações. As organizações têm investido muito nas pessoas, pois sem elas, qualquer inovação ou tecnologia não podem ser desenvolvidas. Os colaboradores podem representar o fracasso ou o sucesso de uma organização. As pessoas podem colocar o seu talento a disposição das organizações, podem ser leais, desde que as organizações a respeitem, valorizem e abram as portas para as oportunidades. Para obter excelentes resultados as empresas estão buscando profissionais de alta qualidade tanto na formação escolar, como nos valores e nos conhecimentos adquiridos. E uma das formas de atrair e reter estes funcionários é investir em comunicação, fazendo com que ela se torne um diferencial competitivo e destacando a empresa das outras. Surgem então os programas de comunicação. Para se competir no mercado cada vez mais concorrido e manter a motivação das equipes, o que é um constante desafio, os programas de comunicação vêm ganhando espaço como uma importante ferramenta para a gestão. A principal razão pelas quais as pessoas procuram um emprego é devido a compensação que irão receber, o salário seja direto ou indireto pesa muito na hora da decisão, porém, há outros fatores que são analisados como o ambiente e a cultura da empresa, o relacionamento entre colegas de trabalho e entre chefe x subordinado e é claro que ter uma comunicação eficaz não fica fora da avaliação do candidato no momento da escolha. Não basta apenas remunerar os colaboradores pelo seu trabalho, Chiavenato (2004, p.288) salienta que “É preciso incentivá-los continuamente a fazer o melhor possível, a ultrapassar o desempenho atual e a alcançar as metas e resultados desafiantes formulados para o futuro”.

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As empresas têm metas para cumprir, essas metas são repassadas para os colabora-dores, e, muitas vezes são um grande desafio a ser cumprido, necessitando que os funcionários se empenhem e se dediquem ainda mais. Respondemos então tal pergunta: Essas metas são passadas para os colaboradores de forma clara e objetiva? Muitas vezes a forma como é passada é diferente da forma de como o receptor entende ou compreende. Para Souza; Bittencourt; Pereira e Bispo (2005, p.24) “O novo sistema é marcado pela busca do envolvimento do trabalhador e pelo estimulo ao desenvolvimento de novas competências”. Os colaboradores que trabalham nas organizações oferecem seus conhecimentos e habilidades. Cada um desses parceiros da organização contribui com algo na expectativa de obter um retorno. Para Chiavenato (2004, p.253) “Os funcionários estão dispostos a se dedicar ao trabalho e as metas e objetivos da organização desde que isso lhes traga algum retorno significativo pelo seu esforço e dedicação”. Aprender a trabalhar com a competência Comunicação e saber aperfeiçoá-la é uma boa forma de recompensar seus colaboradores. Chiavenato (2004) ainda considera que,

As recompensas podem ser classificadas como: recompensas financeiras e não financeiras. As recompensas financeiras podem ser diretas e indiretas (....) (...) A re-compensa financeira direta consiste do pagamento que cada empregado recebe de forma de bônus, prêmios ou comissões (...) (...) A recompensa financeira indireta é o salário indireto decorrente de clausulas de convenção coletiva do trabalho e do plano de benefícios e serviços sociais oferecidos pelas organizações (...) (...) A recompensa não financeira é a oportunidade de desenvolvimento, reconhecimento, promoções, orgulho da empresa em que trabalha, são oportunidades oferecidas aos colaboradores (CHIAVENATO, 2004, p.258).

Acima vemos que a comunicação é uma forma de recompensa não financeira, isso não significa que não seja importante, pelo contrário, além das recompensas financeiras deve-se existir algo mais para estimular o bom desempenho do trabalhador. Assim o sistema de recompensa visa também os programas de comunicação que as organizações disponibilizam aos seus colaboradores e mostra que as pessoas são atraídas e motivadas a trabalharem em tal organização não somente pelo salário recebido, mas pelas oportunidades que poderão desfrutar. É preciso que as organizações tenham um bom programa de comunicação. Um programa eficiente aumenta a força de atratividade da organização, promove o sentimento de valorização do profissional, estimula a co-participação e a busca pela competitividade. Os colaboradores se sentem envolvidos com os objetivos da empresa e contribui para o cumprimento das metas. Recompensar o funcionário é retribuir, premiar ou reconhecer os colaboradores pelos serviços prestados.

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A comunicação deve ter o poder de incentivar continuamente as pessoas para que alcancem as metas e resultados desafiadores. Uma boa comunicação não substitui o salário, assim como salário não substitui uma boa comunicação. Um complementa o outro. Salário é o pagamento pelos serviços prestados feito em moeda corrente, diretamente ao funcionário e relacionado com a quantidade e a qualidade do trabalho realizado. Já os programas de comunicação constituem uma forma indireta de remuneração, destinada a proporcionar melhor qualidade de vida aos funcionários. Como exemplo o feedback, no sentido de poupar-lhes esforços e preocupação. Podemos definir o feedback como o processo que consiste em transmitir informações para alguém sobre a conduta, as ações e o desempenho da pessoa, tendo como objetivo a orientação, motivação ou estimulação da criação de idéias para melhoria sobre atos passados ou ações futuras, basicamente é mostrar para outra pessoa como ela é vista pelos demais e readequá-la ao objetivo proposto. As pressões da competitividade influenciam as decisões sobre implantar ou não programas de incentivo a comunicação de forma conflitante. De um lado, os custos com o pessoal precisam ser compatíveis com o preço dos produtos e serviços da empresa. De outro lado, a competição no mercado de trabalho para atrair e manter empregados produtivos cria uma pressão para oferecer pelo menos os mesmos programas de comunicação que a concorrência. O empregador adota uma política para colocar no mercado sua oferta total de remuneração, ou seja, salários mais benefícios. Os programas de comunicação e outros programas são determinados para desempatar com as ofertas dos concorrentes. Mas afinal, o que é comunicação? Podemos dizer que comunicação é um processo que envolve troca de informações e neste processo existem muitas maneiras de se comunicar, uma conversa frente-a-frente, gestual, mensagens tecnológicas como e-mail e/ou SMS’s, a fala, a escrita, qualquer forma que permita interagir com outra pessoa e conseguir algum tipo de troca de informação. Hoje, as organizações se mostram preocupadas com a comunicação já que elas têm a possibilidade de interação dentro de si própria, com seus colaboradores e com outras empresas, e isso é de extrema importância uma vez que o trabalho em grupo vem aumentando cada vez mais, e, conseqüentemente, o nível de comunicação eficiente deve ser maior e melhorar cada vez mais. Mais articulação, mais relacionamento, mais necessidade de troca de in-formação. E a tecnologia da informação tem colaborado muito para que as informações ocorram de forma cada vez mais veloz. A comunicação ajuda também na qualidade de vida dos colaboradores. Como exemplo, podemos citar a redução do estresse, já que os colaboradores serão instruídos a conversar mais, expor suas opiniões e entendendo melhor as tarefas/atividades que lhe são passadas, não gerando (ou reduzindo drasticamente) retrabalhos indevidos. Os autores abaixo comentam sobre a importância de oferecer atrativos além do salário para as organizações e colaboradores.

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Um programa de benefícios atende normalmente a dois campos de objetivos: o da organização e dos indivíduos. O atendimento dos objetivos organizacionais é dado na medida em que a empresa garante a satisfação das necessidades básicas (higiênicas, no sentido de Herzberg) e, portanto, auxiliando na manutenção de baixos índices de rotatividade, absenteísmo, qualidade de vida dos empregos, redução de estresse, etc., bem como tornando-a competitiva em relação à concorrência, no mercado de trabalho (MARRAS, 2002, p.213). Em muitas empresas, os benefícios que auxiliam na manutenção de baixos índices de rotatividade e ausências tornam as empresas mais competitivas no mercado (FIDELIS e BANOV 2006, p.125). Hoje, os serviços e benefícios sociais, além do aspecto competitivo no mercado de trabalho, constituem-se em atividades voltadas para a preservação das condições físicas e mentais de seus empregados (CHIAVENATO, 2003, p.102).

Implantar bons programas de comunicação é uma forma de demonstrar aos colaboradores que a empresa os valoriza e também cuida da sua qualidade de vida. Quando os colaboradores sentirem que a empresa cuida deles, eles também cuidarão da empresa, produzindo um trabalho com mais qualidade, preocupando-se com a produtividade da organização e a empresa a cada ano que passa consegue inovar, melhorar e criar novos investimentos. Segundo Decenzo e Robbins (2001),

Os benefícios dos empregados adquiriram importância e variedade cada vez maiores ao longo das ultimas décadas. Antes percebida como um detalhe adicional que uma organização oferecia aos seus empregados, a concessão de benefícios transformou-se hoje em um pacote bem ponderado e bem organizado (DECENZO e ROBBINS, 2001, p.207).

Para reter e atrair os talentos, as organizações têm procurado cada vez mais manter um clima organizacional agradável. E dentro da proposta de estimular a motivação das equipes, a oferta de benefícios tem se destacado como uma ferramenta de fortalecimento entre a organização e o colaborador. Os benefícios procuram trazer vantagens tanto à organização quanto ao empregado. Lembrando que os programas de comunicação são um tipo de benefício oferecido aos colaboradores. Os programas de comunicação são muito relevantes dentro das organizações. Muitas empresas no mercado tendem a extinguir os programas como uma forma de redução de custo, enquanto estes podem se tornar o diferencial na retenção de profissionais e contratação de novos talentos como para a criação e desenvolvimento de novas idéias para melhorias de processo e melhoria geral dentro da organização. A lucratividade, competitividade e excelência só ocorrem se houver a motivação, entusiasmo e comprometimento com os colaboradores. Comprometimento este que visa o bem-estar das pessoas, permitindo o desenvolvimento e o treinamento de seus funcionários para que os mesmos possam ter o entusiasmo em sua força de trabalho, com a devida valorização humana.

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Antigamente eram poucos ou até mesmo inexistentes os programas de comunicação ofertados pelas organizações aos seus colaboradores comparados com os programas atuais. Hoje os programas de comunicação são altamente discutidos e avaliados, tendo uma grande repercussão quanto a seus propósitos, custos e consequências. Há uma grande variedade de programas a serem ofertados aos colaboradores. As organizações oferecem programas de comunicação variados. Cada organização deve definir o seu plano de comunicação para atender as necessidades de seus colaboradores. Muitas empresas têm programas voltados para “Idéias e Soluções”, esses são programas onde seus colaboradores podem sugerir melhorias para a empresa, em todos os aspectos, tanto em processos técnicos quanto em melhoria de relacionamentos. Das opções apresentadas, a melhor idéia pode ser escolhida, mensalmente, e seu criador, pode receber algum tipo de prêmio ou incentivo, motivando a ele próprio e a outros colaboradores a participarem do programa e ajudar a quebrar a quebra de paradigmas sobre comunicação dentro da organização. Outra forma de melhorar a comunicação dentro das empresas é montar equipes onde quinzenalmente ou mensalmente se encontram para resolver uma missão pré-determinada pelas gerências e/ou RH da empresa. Neste trabalho pode-se avaliar a capacidade de comunicação entre os membros da equipe bem como eles trabalham em conjunto com outras pessoas, além de avaliar outras competências. Um exemplo prático que podemos citar é o que ocorreu dentro da empresa Idaplast Indústria e Comércio LTDA. A responsável pelo departamento de Recursos Humanos iniciou um trabalho em Janeiro/2010 que tinha como objetivo melhorar a comunicação e diminuir o nível de estresse causado pela dificuldade de entendimento no que era delegado para os operadores de produção. O setor denominado de “Expedição” possuía 10 operadores e 01 líder. A maior dificuldade dos liderados era entender, de maneira clara e objetiva, o que era solicitado pela liderança. E, muitas vezes isso não ocorria da melhor maneira, onde havia muitos retrabalhos devido ao mau entendimento entre as partes, gerando um nível de estresse elevado e um péssimo clima de trabalho entre todos, principalmente entre o líder e os liderados. O nível de estresse era tanto que todos os funcionários do setor deixaram de sugerir melhorias, trabalhando como anos atrás, somente produzindo com as mãos. Alguns deles pensaram em até pedir demissão. Muitas reclamações chegavam até o Gerente Geral. Desde dificuldades para se entenderem até grosserias, como os liderados interpretavam as delegações do líder. A solução foi implantar reuniões periódicas com duração de uma hora, denominadas “Reuniões de Melhoria” que a princípio eram realizadas uma vez por semana, onde todos os envolvidos expunham seus comentários, acontecimentos, críticas e sugestões. O papel da pessoa responsável pelo RH da empresa era apenas de “mediar” as partes envolvidas e apaziguar quando necessário. Nos primeiros encontros os colaboradores ficaram um pouco receosos, não participando ativamente.

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Com o passar do tempo, todos começaram a participar e sugerir melhorias tanto nos seus locais de trabalho, ferramentas, processos de produção como para melhoria de relacionamentos. Alguns funcionários levaram esse trabalho para casa, melhorando a comunicação com seus familiares e amigos bem como tendo um melhor relacionamento interpessoal. Os encontros que eram semanais passaram para quinzenal e hoje a periodicidade é mensal. Pode-se afirmar que todos estão satisfeitos e o sucesso foi tanto que esse trabalho foi estendido para todos os setores da empresa. As organizações não devem implantar programas de comunicação sem um planeja-mento, a implantação deve ser um resultado de pesquisas e estudos. Há alguns objetivos e critérios para se implantar um programa desse tipo. O objetivo do planejamento consiste em estabelecer expectativas de curto e longo prazo da organização em relação aos resultados do programa, enquanto os critérios são fatores que definem como será a implantação do programa. Um programa de comunicação deve trazer melhorias para os colaboradores e para as organizações bem como à comunidade. Cada plano deve levar em consideração as influências do ambiente do negócio e devem estar em sintonia com a cultura de trabalho da organização. Um dos primeiros passos para o desenvolvimento de um programa de comunicação é estabelecer o seu objetivo e oferecer aos seus colaboradores o que eles realmente precisam, ou seja, programas que satisfaçam os funcionários e tragam algum retorno para a organização. Souza; Bittencourt; Pereira e Bispo (2005, p.90) defendem que: “os programas de benefícios necessitam de uma concepção alinhada a praticas que contribuíam para a atração e retenção de colaboradores necessários a excelência organizacional”. Os critérios definidos para a implantação de tal programa devem ser vantajosos, em longo prazo, tanto para a organização como para os empregados. Devem ser bem planejados e custeados entre organizações e empregados, no que se referem a tempo, dinheiro, tarefas e especialmente à administração dos serviços. Alguns princípios são importantes no planejamento e implantação de um programa de comunicação.

Quadro 05. Princípios para o Planejamento do Programa de Comunicação

PRINCÍPIOS PARA O PLANEJAMENTO

RETORNO DO INVESTIMENTO

Não se deve empreender nenhum benefício ao empregado, a menos que haja, como retorno para a organização, um rendimento em termos de produtividade e moral por parte do empregado. A empresa necessita de planos de benefícios no sentido de recrutar e de reter empregados competentes. Assim todo benefício deve trazer contribuição para a organização, de maneira a ser igual aos seus custos ou pelo menos, no sentido de compensá-los trazendo algum retorno.

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MÚTUA RESPONSABILIDADE

A mútua responsabilidade é a característica de pessoas que cooperam entre si para promover um mútuo propósito de grupo. A empresa tem o direito de esperar padrões mais elevados de eficiência dos empregados, quando oferece alguns benefícios que na ausência deles os empregados gastariam suas energias, gerando problemas de saúde, como estresse.

OUTROS PRINCIPIOS

Outros princípios servem como critérios para o desenho de programas de comunicação, como:

1. Devem satisfazer a alguma necessidade real.

2. Devem confinar-se a atividades em que o grupo é mais eficiente que o indivíduo.

3. Deve estender-se sobre a maior base de pessoas possível.

4. A concessão do programa deverá evitar conotações de paternalismo benevolente.

Fonte: Elaborado pela autora do artigo, baseado em Chiavenato (2004, p 342) É necessário considerar que a satisfação dos colaboradores por meio de melhoria dos benefícios, implantando programas de comunicação, pode gerar uma fonte de economia e redução dos custos para a empresa, pois como já dito, funcionários que têm a liberdade para sugerir melhorias e expor suas idéias trabalham mais satisfeitos e motivados possuindo maior rendimento. Em qualquer organização o sucesso depende do bom desempenho de seus colabora-dores. O desempenho de uma pessoa é a sua capacidade de realizar o trabalho e sua disposição de fazê-lo, assim a motivação é um processo que visa ativar o potencial humano. As organizações usam as recompensas (financeiras ou não) para motivar seus colaboradores, assim fazendo com que seus empregados compareçam ao trabalho e tenham um desempenho eficaz. Uma das formas de oferecer recompensa competitiva perante o mercado é fornecer programas de comunicação. O objetivo dos planos de comunicação está voltado para vantagens tanto empresariais como para os empregados. Oferecer programas onde os colaboradores possam dizem o que pensam, expor suas expectativas, sugerir melhorias e opinar em processos faz com que a empresa dê a eles algo de valor, assim podendo acarretar em muitas vantagens a todos os envolvidos - empresas e funcionários. A maioria dos colaboradores valoriza tais programas que recebem como benefício, pois eles representam segurança, satisfação e proporcionam melhor qualidade de vida. Considerando que os programas de comunicação são implantados nas empresas de acordo com os objetivos e a cultura organizacional, é preciso que as organizações tenham planos de comunicação bem estruturados, não bastam distribuírem programas sem objetivo, eles devem atingir as necessidades de seus colaboradores. É essencial oferecer programas interessantes que façam com que os funcionários se interessem, percebendo algum valor em seu reconhecimento, assim tornando-se um fator de atração e retenção de talentos para a organização.

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As organizações cientes dessa importância procuram atrair e agregar valor aos seus empregados, criando expectativas em função dos benefícios que irão desfrutar nos programas de comunicação que serão implantados. Os trabalhadores de hoje além de receberem um salário no final do mês, esperam e desejam vantagens que melhorem a sua vida. Desta forma, não são só as organizações que procuram bons candidatos no mercado de trabalho, o contrario também ocorre, os funcionários procuram boas empresas para se trabalhar, empresas que são atrativas e possui um diferencial além de salários e benefícios. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

sucesso das organizações depende do bom desempenho de seus colaboradores que compreende em suas capacidades de realizar o trabalho e ter disposição para desenvolvê-lo. Uma das formas de ativar este potencial

humano é implantando programas de comunicação, uma vez que eles fazem com que os colaboradores se sintam motivados e satisfeitos, se dedicando e se empenhando para cumprir as metas e tarefas propostas. A empresa que oferece benefícios competitivos melhora sua imagem no mercado de trabalho, diminuindo os índices de absenteísmo, reduzindo custos para a empresa, já que os colaboradores trabalharão mais motivados e satisfeitos, gerando um bom desempenho em seus serviços, produzindo com maior qualidade e tendo maior rendimento. Os programas de comunicação estão voltados para vantagens tanto empresariais como para os empregados, pois, no momento de procurar emprego, os benefícios oferecidos são tão importantes quanto o salário, influenciando na decisão dos candidatos, que se seguros, satisfeitos e vêem que a empresa lhe proporciona melhor qualidade de vida.

REFERÊNCIAS CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 2. ed. São Paulo: EdAtlas, 2004. CHIAVENATO, Idalberto. Recursos Humanos: o capital humano nas organizações. 8. ed. São Paulo: EdAtlas, 2004. CHIAVENATO, Idalberto. Remuneração, Benefícios e Relações de trabalho – como reter talentos nas organizações. 3. ed. São Paulo: EdAtlas, 2003. CRAWFORD, Richard. Na Era do Capital Humano. 1. ed. São Paulo: EdAtlas, 1994.

DECENZO, David e ROBBINS Stephen. Administração de Recursos Humano. 6. ed. Rio de Janeiro: EdLTD, 2001. FIDELIS, Gilson José; BANOV, Márcia Regina. Gestão de Recursos Humanos. 1. ed. São Paulo: EdÉrica, 2006. MARRAS, Jean Pierre. Administração da Remuneração. São Paulo: EdThomson, 2002. MARTINO, Luiz C. Martino; FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da Comunicação: Conceitos, escolas e tendências. 8. ed. Petrópolis-RJ: EdVozes, 2008.

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PONTES, Benedito Rodrigues. Planejamento, Recrutamento e Seleção de Pessoal. 4. ed. São Paulo, 2005. SARSUR, Amyra Moyzes; REZENDE, Rosangela Pedrosa; SANT’ANNA, Anderson de Souza. Onde estão os talentos? Onde está a Gestão de Recursos Humanos? 1. ed., São Paulo: EdANAPAD, 2003. SOUZA, Maria Zélia de Almeida; BITTENCOURT, Francisco Rage;

PEREIRA, João Lins Filho; BISPO, Marcelo Macedo. Cargos, carreiras e remuneração. 1.ed, Rio de Janeiro: EdFGV, 2005. STEWART, Thomas. Capital Intelectual – A nova vantagem competitiva das empresas. 8.ed. Rio de Janeiro: EdCampus, 1998. VERGARA, Sylvia Constant; DAVEL, Eduardo. Gestão com pessoas e subjetividade. São Paulo: EdAtlas, 2001.

A importância da comunicação como benefício social Vivian Carvalho de Brito Graduada em Administração de Empresas com ênfase em RH e Pós Graduada em Gestão de Pessoas pela Faculdade Anhanguera de Campinas – FAC III Campinas, SP E-mail: [email protected]

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Arquitetura da informação: o papel

das informações periféricas e os recursos de

desdobramento do material didático impresso

da disciplina "Introdução à Informática" do

CEDERJ

Patricia Xavier Quilelli Antunes Graduada em Hotelaria pela UNESA, Especialista em EAD pela UFF Rio de Janeiro, RJ E-mail: [email protected]

Resumo Este trabalho tem como objetivo melhorar a qualidade dos materiais didáticos para educação à distância atualmente utilizados no Rio de Janeiro. Descreve teorias pedagógicas aplicadas em material impresso, assim como analisa o emprego dos materiais periféricos. Tratamos da análise das cinco primeiras aulas do módulo de Informática Instrumental do curso de graduação em Pedagogia do Consórcio CEDERJ, onde destacamos periféricos e analisamos criticamente a escolha e

a disposição destes elementos, de forma a potencializar a aprendizagem do aluno. O resultado encontrado través do desenvolvimento do presente estudo, mostra que a utilização dos textos periféricos interfere na qualidade da aprendizagem obtida pelo aluno e contribui diretamente para o sucesso de um curso à distância. Palavras-chave: Educação à Distância; Materiais Periféricos; Qualidade.

1. INTRODUÇÃO

a EAD, o falar/ouvir síncrono é substituído pelo ler/escrever assícrono. Isso acarreta em os processos de ensino e aprendizagem passarem a ser mediatizados. O professor diante de seus alunos passa a ser substituído pelo

material didático que elabora e pelo tutor que o representa no auxílio aos alunos. Um dos desafios contemporâneos da Educação a Distância (EAD) consiste na produção de materiais didáticos com conteúdos organizados para facilitar a construção do conhecimento do aluno, além do desenvolvimento de suas capacidades. Questões sobre como transmitir o modo de pensamento do professor estão relacionadas à preocupação de se encontrar maneiras originais para estabelecer comunicações didáticas valiosas para a construção do conhecimento (SOLETIC, 2001).

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Neste cenário, o aprimoramento da arquitetura da informação, entendida como a “organização estrutural da informação a ser oferecida” (RAMOS, RABELO e ABREU-FIALHO, 2009) parece ser o caminho mais provável por onde será possível encontrar as respostas necessárias ao desenvolvimento da EAD. As informações periféricas - por exemplo - podem ser recursos didáticos extremamente úteis ao aluno que enfrente dificuldades conceituais ao longo de seus estudos.

Elementos periféricos dão opção de navegabilidade para o aluno, pelo material didático. Assim o aluno percorre os núcleos conceituais, presentes no corpo principal do texto, e pode escapar para algum elemento periférico, se assim quiser ou se sentir a necessidade da informação adicional ali presente (RAMOS, RABELO e ABREU-FIALHO, 2007, p1).

Os elementos periféricos não condicionam um sentido único na leitura, proporcionando navegabilidade e interatividade do aluno com o material didático. Tais elementos, como o próprio nome diz, trazem informações periféricas, complementares, de desdobramento do texto principal. Portanto, são informações decorrentes do conteúdo principal e hierarquicamente não essenciais ao mesmo. As Caixas de Ênfase – por exemplo – servem para a memorização de informação contextualizada (RAMOS e RABELO, 2009). Conforme vimos em Barreto (2007), é desejável que as informações periféricas: - expandam os núcleos conceituais da aula com conteúdos relevantes ao tema tratado; - remetam o aluno para outras mídias (sites, livros, filmes etc.); - alertem o aluno acerca de aspectos pontuais importantes no conteúdo; - ofereçam curiosidades e/ou analogias relacionadas ao conteúdo da aula; - estejam acompanhadas de recursos visuais. Os elementos periféricos não devem atrapalhar a fluidez do texto, mas sim ampliar sua agilidade. A característica de leitura facultativa permite que um leitor mais seguro dos conceitos ignore caixas, bem como permite ao aluno que tem mais dificuldade pausas e explicações adicionais que, certamente, melhoram seu desempenho. Assim, os dois perfis de alunos são atendidos no que é individualmente mais relevante (RAMOS e RABELO, 2009). 1.1. JUSTIFICATIVA Em face da importância desse tema, torna-se relevante a compreensão dos fatores que permitem a produção de materiais didáticos com as características consideradas eficazes para a boa prática da educação à distância, pois a qualidade destes materiais influencia na aprendizagem do aluno, agindo como potencializador do bom desenvolvimento acadêmico. Considera-se que a utilização adequada dos elementos periféricos de um texto pode envolver o aluno de modo que desperte neste a vontade de continuar a leitura proposta e de buscar leituras correlatas, de acordo com a arquitetura da informação que lhe é apresentada nos materiais didáticos, o que reduz as taxas de evasão escolar, melhora o rendimento do aluno nos estudos o que prepara um bom profissional capacitado no futuro. 1.2. OBJETIVO GERAL

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O objetivo geral desta pesquisa é informar como produzir materiais didáticos impressos para educação a distância por meio de uma eficaz arquitetura da informação que utilize elementos periféricos. 1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Como objetivo específico, procuramos: - mapear fatores que possam auxiliar na elaboração de elementos periféricos em materiais didáticos impressos. 1.4. METODOLOGIA Para trabalharmos a qualidade dos materiais didáticos utilizados em Educação à Distância, pretendemos analisar um texto didático impresso por meio de pesquisa que possua aspectos: exploratório por se basear na análise de conteúdos bibliográficos sobre a arquitetura da informação voltada a materiais didáticos impressos; e de estudo de caso em função dos procedimentos técnicos adotados para a sua execução. Essa pesquisa será baseada em pesquisa bibliográfica que indicará o enquadramento teórico necessário para o estudo de caso que, segundo Gil (2002), é uma modalidade de pesquisa amplamente utilizada em ciências sociais, consistindo no estudo de um ou poucos objetos com vistas a amplo e detalhado conhecimento sobre os mesmos. O método que utilizaremos no desenvolvimento deste projeto é a pesquisa e a análise das informações periféricas já em uso no módulo I da matéria “Fundamentos da Educação I – História”, do curso de Licenciatura em Pedagogia oferecido pelo consórcio CEDERJ1, no primeiro e segundo semestre de 2008. Serão selecionados, aleatoriamente, exemplos de informações periféricas que se apresentam por intermédio dos recursos de desdobramento de conteúdo (caixa de ênfase; caixa de explicação expandida; caixa de dicionário; caixa de informação avulsa ou curiosidades e caixa de conexão com outras mídias) neste material. Esses recursos serão visualizados em nosso projeto através das páginas escaneadas onde os mesmos aparecem, para que se possa levar em consideração a contextualização destes recursos e não apenas a análise individual e isolada. Após a seleção dos exemplos, os mesmos serão analisados minuciosamente pelo grupo com base na bibliografia citada e nos conhecimentos adquiridos através do curso PIGEAD2, onde serão feitos relatórios das análises das informações periféricas e dos recursos de desdobramento utilizados (agrupando-se os recursos do mesmo tipo), identificando e citando as características existentes em cada um dos tipos dos recursos citados, assim como as possíveis características que podem ser implementadas para o aperfeiçoamento desses objetos. Para atingir os objetivos deste TFC, foram analisadas as cinco primeiras aulas do módulo único de “Introdução à Informática”, utilizado nesta disciplina de mesmo nome,

1 CEDERJ: Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro.

2 PIGEAD: Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância.

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obrigatória dos primeiros períodos de todos os cursos de Licenciatura, oferecida na modalidade EAD através da Fundação CECIERJ, pelo consórcio CEDERJ, com autoria de Rodrigues, Carmem Granja S. e Soares, Elizabeth R. 2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

a Educação a Distância, a concepção pedagógica a ser adotada como referencial para a elaboração do material didático deve promover a interação, a interatividade e a aprendizagem colaborativa, levando em consideração que

todo processo de aprendizagem deve ser construído em sintonia com o desenvolvimento do ser humano. Segundo Villardi (2005), o material didático tem como objetivo principal “constituir-se no principal meio pelo qual as „mensagens didáticas‟ que o educador constrói chegam aos alunos”. Para isso, é necessário explorar “os mais variados códigos, propiciando diferentes tipos de experiências cognitivas”.

A memória humana é estruturada de tal forma que nós compreendemos bem melhor tudo aquilo que esteja organizado de acordo com relações espaciais e o domínio de uma área do saber implica, quase sempre, a posse de uma rica representação esquemática (LÉVY, 1993, p. 40).

Dessa forma, os elementos periféricos podem propor vias de acesso e ferramentas de orientação em uma área do conhecimento sob a forma de diagramas, redes, organogramas, imagens ou mapas conceituais. Vasconcelos (2002) explica que “a estrutura de um texto pode ser planejada para permitir diferentes níveis de leitura, dependendo do estilo, do conhecimento prévio, do rigor teórico e das exigências de aprofundamento e detalhamento de cada leitor”. Esse autor sugere a construção de um corpo central para leitura mais fluida mesclado com o uso “de „caixas ou blocos de apresentação resumida‟ de argumentos, temas ou hipóteses-chave de exemplos ou de casos ilustrativos”, lembrando que os boxes podem ser dispensados por leitores mais familiarizados com o assunto estudado.

[...] a realidade comporta sempre outros olhares, aprofundamentos e detalhamentos crescentes, bem como associações com outros fenômenos e abordagens. Entretanto, acentuar apenas essa característica é ser unilateral e resulta em criar um processo onipotente e sem fim, pois o mesmo paradigma enfatiza que toda abordagem da realidade depende de seu enquadramento, e enquadrar significa exatamente colocar limites para o nosso olhar (VASCONCELOS 2002, p.261).

A exploração das possibilidades de mediação pedagógica dos materiais didáticos impressos construídos com elementos periféricos pode ser um meio eficiente para promover a interação intencional e voltada para as atividades de ensino-aprendizagem. Para Landow (apud COSCARELLI, 2006) o hipertexto obviamente cria leitores mais capacitados, que têm mais condições de lidar tanto com o texto que leem quanto com os autores desses textos. O hipertexto aumenta a liberdade individual. Nielsen (apud COSCARELLI, 2006), aponta três instruções importantes para quem escreve materiais utilizando elementos periféricos: ser sucinto no texto dos boxes, escrever um texto que possa ser “escaneado”, ou seja, que o aluno localize a informação principal em pouco tempo e usar um elemento periférico para separar uma informação muito longa em várias páginas. Vamos verificar como isso ocorre nos materiais analisados.

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A “consistência de seqüência”, conforme Vasconcelos (2002), deve ser preservada dentro de um texto segundo os critérios freqüentes de cada área de conhecimento, como ocorre em ciências humanas e sociais:

O histórico (descrever os fatos e processos sociais na medida do desenrolar do tempo); o espacial e/ou geográfico (seguindo a distribuição espacial ou social do fenômeno); a dimensão (por exemplo, dos aspectos mais amplos para os mais particulares ou vice-versa); a lógica (dos determinantes para os resultados etc.); entre outros (VASCONCELOS, 2002, p.269).

Em outros termos, para Marcuschi e Xavier (2004), o material constituído com elementos periféricos não pode ser classificado como deslinearizado. Dentro de um contínuo de linearidade,

o hipertexto e a utilização de elementos periféricos apresentam maior distanciamento das formas tradicionais de hierarquizações por serem mais flexíveis na sua formatação visual e por colocar nas mãos do usuário um maior controle sobre a seleção das unidades de informação (MARCUSCHI e XAVIER, 2004, p. 175).

Ainda para os autores, “a explicação de todos os pormenores deixaria qualquer texto, por mais empolgante que fosse a temática abordada, muito desinteressante”. Apoiados em Lévy (1999), vamos buscar pistas que nos permitam categorizar os tipos de elementos periféricos e levantar informações quanto à forma, freqüência e pertinência. Avaliaremos se representam conhecimento novo ou anterior e se estão dispostos sob a forma de texto, imagem estática ou imagem dinâmica, além de outras informações. Com base em Marcuschi e Xavier (2004), buscaremos diferentes níveis de deslinearização do texto e que vantagens a utilização de elementos periféricos trazem para a construção do material didático e a aceitação deste. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES: ANÁLISE DO MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO

m todas as aulas do módulo único de “Introdução à Informática” é notória a presença de textos nucleares acompanhados de textos periféricos, fragmentando a leitura, proporcionando pequenas pausas para análise dos

textos periféricos, com temas correlatos ao texto nuclear, bem como uma reflexão do conteúdo, tornando o módulo dinâmico e interativo para o leitor. Em todo texto nuclear pode ser observado o espaçamento de ½ entre linhas, o que facilita a leitura dos textos, pois a formatação proporciona o acompanhamento das linhas sem que o aluno se perca na leitura ou pule linhas involuntariamente no decorrer da leitura, o que pode causar mal entendimento do tema e desestimular os estudos devido às constantes paradas e retomadas ao texto principal. Outra qualidade da formatação com este espaçamento entre linha é mantê-la presente na vida cotidiana do aluno de modo com que ele se habitue à formatação e a utilize em textos de sua autoria, uma vez que tal espaçamento é padrão nas regras da ABNT e por isso será cobrado na vida acadêmica do aluno, inclusive no trabalho final de curso.

Nas aulas analisadas se observa uma grande variedade de textos periféricos, como caixa de ênfase; caixa de explicação expandida; caixa de dicionário; caixa de

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informação avulsa ou curiosidades e caixa de conexão com outras mídias; caixa de apresentação resumida de argumentos, temas, hipóteses-chave, exemplos, casos, ilustrações; caixa de leitura facultativa. Alguns destes textos periféricos aparecem nas laterais dos textos nucleares, em caixas de texto representando colunas que têm em seu interior textos correlatos ao principal, acompanhados de ilustrações pertinentes ao tema. No material analisado é muito comum a presença de textos periféricos localizados entre o texto nuclear, criando grandes cortes na leitura, de modo a chamar a atenção do leitor. Estes recursos estão geralmente grafados em elipses como balões de diálogo acompanhados de grandes sinais de interrogação ou exclamação, assim como ilustrações, criando pausas mais enfáticas e difíceis de terem as suas leituras dispensadas pelos alunos, devido à localização destes recursos. Podemos observar nos exemplos abaixo:

Figura 1 – Exemplo de formatação do material didático impresso e de elementos periféricos no interior do texto nuclear

Fonte: (RODRIGUES e SOARES, 2008, p.8, 10)

É observada também a presença de periférico parecido, também em elipses hachuradas em tamanho médio inseridas entre o texto nuclear, quebrando a continuidade da leitura, porém com a finalidade de dicionário. Além de grande sinal de interrogação que ilustra este periférico, ele conta também com a presença de foto que ilustra a caixa de dicionário agregando valor a mesma e potencializando a sua assimilação através da soma destas diferentes linguagens. Os elementos periféricos da figura 1 utilizam duas elipses seguidas, ou seja, a mesma apresentação gráfica, o que cria uma repetição desnecessária do mesmo tipo de periférico. Tal recurso não traz novo visual ao leitor, o que desvaloriza, em parte, o primeiro periférico. O módulo seria mais bem estruturado de utilizasse ilustrações ou molduras diferentes para cada uma das informações. Assim criaria a sensação de novidade e de desconhecido ao aluno, motivando-o a avançar na leitura. Observa-se também que tais periféricos ocupam quase uma página inteira do módulo e trazem apenas as explicações do termo “cultura de mídia”, e da palavra “máquina”. Tais estruturas ocupam muito espaço e o conteúdo destes periféricos seriam melhor

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organizado em colunas laterais, o que ocuparia uma área menor. Uma alternativa seria posicioná-los separadamente e não de forma seqüenciada no texto. Assim, teríamos uma apresentação mais atrativa ao aluno e ao mesmo tempo uma economia de espaços, o que faria com que os módulos fossem menores, contendo menos páginas, além de mais econômico e de rápida impressão em se tratando da versão digital que pode ser impressa em casa ou no trabalho pelo aluno. Estas alterações não comprometeriam a qualidade do material didático.

Figura 2 – Exemplos de elementos periféricos no interior do texto nuclear e Fonte: (RODRIGUES e SOARES, 2008, p.10, 11)

As caixas de dicionário também são encontradas quebrando a sequência do texto principal, sendo sua leitura dificilmente ignorada. São disponibilizados em quadrados hachurados de tamanho médio acompanhados de ilustrações mais detalhadas. Neste recurso há, além da palavra a ser apresentada e sua definição, também uma ilustração onde os objetos descritos são minuciosamente apontados com fácil identificação para o aluno. Para facilitar esta identificação, utiliza-se, por exemplo, a ilustração de um computador comum, com as peças básicas utilizadas pelos alunos em casa ou o laboratório de informática da Universidade, com monitor, teclado, torre, impressora, mouse, o que aproxima o termo a ser definido (no exemplo da figura 3 o termo “Estabilizador”) à realidade do aluno, de forma contextualizada, o que potencializa o entendimento da mensagem. Esta gama de recursos se dá devido à característica técnica do termo a ser explicado. Assim, quanto mais técnico for o termo a ser definido, maiores serão os recursos utilizados para a sua definição na caixa de dicionário. Todavia, quando o termo, mesmo que técnico, for mais popular aos alunos, menores serão os recursos empregados pela caixa de dicionário, sendo esta mais simples, composta por pequena coluna hachurada disponibilizada na lateral do texto nuclear, o que dispensa sua leitura por alunos mais entrosados pelo tema, como podemos observar na figura 3. Além de ser bem ilustrado, observou-se no material impresso a ponderação e o bom senso na utilização dos recursos periféricos. Variedade de linguagens como formas, ilustrações e tabelas são sempre bem vindas, mas, utilizadas em excesso, podem prejudicar a leitura do texto principal, fato este que não ocorre nas aulas da disciplina “Introdução à Informática”. Há casos onde a linguagem deve ser mais variada, como observamos na descrição de termos técnicos, de modo a potencializar a capacidade de compreensão do tema pelo aluno. Porém, este recurso deve ser poupado quando não há necessidade de sua utilização, de forma que esta variedade de linguagens não

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desenvolva um papel negativo através da sua banalização, que, além de poluir visualmente o texto quando utilizada desnecessariamente, pode fazer com que uma informação importante seja pouco valorizada pelo aluno, devido à adoção da mesma apresentação em todos os recursos. Esta ponderação ao utilizar ilustrações e disponibilizar recursos cria uma estratificação dos periféricos, criando níveis de importância para o aluno, que facilmente identificará sua categoria no decorrer do módulo. Contudo, os periféricos apresentados na figura 3, apesar de enxutos, poderiam vir acompanhados de pequenas ilustrações referentes ao assunto abordado, quando, por exemplo, tratamos de algo físico, como o mouse. Já no caso do arquivo e dos demais itens, poderiam ser adotados pequenos marcadores chamativos como setas, estrelas ou mesmo fontes mais dinâmicas e não apenas maiores e em negrito. Os desenhos livres presentes no módulo formam periféricos importantes para este material, pois direcionam os alunos para o tema da referida disciplina que é informática Instrumental, que se faz imprescindível, uma vez que se trata de um curso na modalidade à distância, o que requer domínio das ferramentas básicas da informática pelos alunos para que estes saibam acessar o Ambiente Virtual de Aprendizagem e suas ferramentas, como e-mail, fórum, calendários, mural de notícias, entre outros. A maior parte das ilustrações constantes neste módulo representa elementos que fazem referência ao mundo da informática, como peças de hardware (monitores, teclados, mouse, CPU, entre outros), onde podemos constatar na figura 3.

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Figura 3 – Caixa de dicionário e imagem de monitor e teclado Fonte: (RODRIGUES e SOARES, 2008, p. 12,14, 15, 18, 23)

Também é constante a utilização de ilustrações referentes a softwares como telas de sistemas operacionais, de acesso gratuito, de forma a não fazer propaganda de sistemas pagos, o que universaliza o acesso dos alunos a estes materiais, além de constituírem algo comum aos alunos, conforme a figura 4. Outro recurso de linguagem utilizado pelos periféricos é a tabela. Há momentos no módulo onde há necessidade de comunicar o passo a passo da utilização de alguns elementos, como o mouse. No exemplo da figura 4, temos uma tabela com pequenas ilustrações de mouse na primeira coluna, onde se indicam os locais a serem pressionados através de setas apontadas para os botões do instrumento. Na coluna seguinte, seguem as nomenclaturas dos movimentos ilustrados anteriormente, seguidos por uma terceira coluna onde se observa a descrição de tais movimentos.

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ANTUNES, P.X.Q. Arquitetura da informação: o papel das informações periféricas e os recursos de desdobramento do material didático impresso da disciplina "Introdução à Informática" do CEDERJ. Rev. Esp. Cient. Livre, Brasil, n. 2, p. 19-33, jun.-jul., 2011

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Figura 4 – Tela de apresentação do sistema operacional Linux utilizado no consórcio Cederj e descrição da utilização de um mouse

Fonte: (RODRIGUES e SOARES, 2008, p.15, 19)

Uma das qualidades das tabelas é que ela permite o ordenamento sistemático das informações, podendo conter imagens, números, nomenclaturas ou textos, onde estas são dispostas de modo a facilitar a visualização da informação que se pretende transmitir. Também pode ser utilizada para ordenamento de números estatísticos, em que estes podem ser apresentados com uma estética agradável a leitura e que facilite a sua interpretação através da disponibilização dos dados. Também é comum a utilização de caixa de informação avulsa ou curiosidade, formada por pequenas colunas hachuradas disponibilizadas nas laterais do texto nuclear e acompanhadas de pequenas fotos, onde é trazida para o aluno a mini biografia de alguns personagens, composta por alguns parágrafos. Devido à localização mais deslocada do centro do módulo e do texto principal, a leitura destes periféricos se faz facultativa ao aluno, podendo esta ser descartada caso seu tema já seja conhecido. Podemos constatar a presença destes periféricos em relação a Manuel Castels, Charles Babbage, Linus Benedict Torvalds e Glauco, apresentados na figura 5 respectivamente. Observa-se também outra forma de trazer uma mini biografia para o conhecimento do aluno, porém de forma mais resumida e utilizando outros recursos de linguagem. Estas outras biografias são formadas através de ilustrações de tamanho médio seguidas de suas descrições em pequenas colunas, localizadas entre o texto principal. Esta localização provoca pausas maiores na leitura, através da quebra do texto nuclear, e utiliza a linguagem do desenho, que é uma linguagem universal (VALDEMARIN, 2000), que possibilita o resgate de conhecimentos prévios do aluno sobre o que está representado, além da criação de idéias claras, potencializando a compreensão, como podemos observar na figura 5 em que é representado os filósofos Platão e Sócrates.

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Figura 5 – Caixa de informação sobre Manuel Castells, Charles Babbage, Linus Benedict

Torvalds, Glauco, e ilustração dos filósofos Platão e Sócrates

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Fonte: (RODRIGUES e SOARES, 2008, p.9, 11, 19, 117)

Caixas de conexão com outras mídias são muito presentes neste material. Em geral são compostas por grandes elipses hachuradas e ilustradas com grandes pontos de interrogação presentes no meio do texto principal e compostas por subtextos médios, o que proporciona grande pausa, desenvolvendo uma leitura não linear. Tal apresentação agrega valor a estes periféricos, tornando mais difícil o seu descarte. Estas caixas fornecem aos leitores endereços de sites na internet (ver um exemplo na figura 6) em que o tema da aula pode ser aprofundado através uma gama de textos sugeridos que, apesar de serem relativos ao tema trabalhado, distanciam-se mais do assunto proposto no texto nuclear, porém aproximando o aluno da realidade que ele encontrará em um curso EAD, em que necessitará ter domínio prático da informática de forma a ter capacidade de usufruir de todos os recursos disponíveis também no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Este periférico sugere uma pausa maior nos estudos, onde o aluno tem a opção de deixar o módulo por instantes e buscar a prática sugerida por este no computador ou realizar tal tarefa posteriormente, em momento mais propício. A utilização destes recursos pelo aluno potencializa os resultados do curso, pois proporciona a prática da informática através de atitudes autônomas desenvolvidas pelo leitor, o que busca substituir, em alguns momentos, o trabalho de um professor presencial em um laboratório de informática. Para enriquecer ainda mais a intenção deste periférico, é interessante que seja desenvolvido trabalhos seqüenciais como a participação dos alunos em fóruns virtuais ou salas de tutorias, onde podem ser trocadas experiências adquiridas através da utilização das sugestões feitas por estes periféricos.

Figura 6: Exemplo de indicação de um site sobre o conteúdo da aula

Fonte: (RODRIGUES e SOARES, 2008, p.20)

O módulo organiza os textos de forma harmônica, considerando as características psicossociais dos alunos, de forma a gerar uma leitura dialética que tem como objetivo potencializar a aprendizagem através da arquitetura da informação, criando momentos de pausa no texto principal quando necessário, direcionando o aluno a leitura de textos periféricos correlatos ao tema das aulas, criando um ambiente de aprendizagem equilibrado e harmônico. Há momentos em que o estudante é levado a realizar pausas maiores ou a buscar sites na internet, recurso este que faz com que o aluno tenha o computador como instrumento de estudo prático, o que facilitará a vida acadêmica nos acessos à plataforma, por exemplo, assim como na vida profissional, ao inserir as

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novas tecnologias para seus alunos, através da utilização de laboratórios de informática, ou mesmo ao confeccionar provas, testes ou trabalhos no computador. 4. CONCLUSÕES

través das pesquisas e análises concluímos que o material didático para educação à distância utilizam recursos de arquitetura de informações, porém alguns destes instrumentos poderiam ser melhores utilizados em alguns

momentos visando à concentração do aluno na leitura além do uso racional dos espaços. Esta utilização planejada dos espaços beneficia o aluno em vários momentos. Um deles é o primeiro contato com o material de estudo, o que muitas vezes se dá por meio digital, onde o aluno baixa o arquivo através da plataforma para imprimir o material – seja em casa ou no trabalho. Espaços mal utilizados geram um módulo muito longo formado por um excessivas laudas, o que leva o aluno a gastar mais tempo para terminar a impressão, além de elevar os gastos com papel e cartuchos de impressora tanto para este aluno, como para a instituição que disponibilizar o módulo já impresso. Este primeiro momento em que ocorre a impressão não deve ser demasiadamente demorado, pois o aluno pode também perder o interesse pela futura leitura ou ter sua atenção desviada para outras tarefas que não ligadas ao estudo. O excessivo de páginas cria módulos volumosos e pesados o que atrapalha o transporte destes materiais pelo aluno, levando em conta que cada matéria pode utilizar até três módulos e que os cursos oferecem cerca de oito matérias por período. O total de livros a serem carregados pelos alunos do pólo para casa ou de casa para bibliotecas ou demais locais de estudo não é adequado e pode fazer com que os momentos de estudos não sejam agradáveis, mas sim incômodos. Os textos que compõem os módulos devem utilizar materiais periféricos de forma racionalizada de modo que estes elementos sejam aliados dos alunos e atuem como potencializadores da aprendizagem. Os textos periféricos tem papel importante principalmente na otimização do tempo nos estudos, pois as caixas de dicionário, quando bem empregadas reduzem as paradas em busca do dicionário, o que fixa a atenção do aluno no tema da aula e impede desvios de atenção que podem ser causados pelas recorrentes paradas nas leituras durante os momentos de estudo. Este fator faz com que o estudante tenha estudos com mais qualidade e concentração, aumentado o aprendizado em menos tempo. A atenção e o interesse dos alunos devem ter manutenção constante e para isso os periféricos devem ser utilizados com critério, evitando-se sua utilização sem necessidade, assim como repetitivas aparições do mesmo tipo de periférico, o que pode não ser interessante para o aluno e causar desmotivação. Por fim, os recursos da arquitetura das informações quando bem empregados tendem a reduzir as taxas de evasão dos cursos à distância, assim como podem formar profissionais qualificados dentro das necessidades da sociedade moderna, onde muitos alunos já fazem parte do mercado de trabalho, dispondo de pouco tempo para os estudos, porém necessitam de qualificação específica, que pode ser fornecida na modalidade EAD.

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AGRADECIMENTOS Dedico este trabalho, à amiga Milla por sempre acreditar em mim. Agradeço aos Tutores Daniel Fabio Salvador e Cristiane Brasileiro Mazocoli Silva, da Universidade Federal Fluminense, por suas atuações inspiradoras durante o curso, nas quais desejo espelhar-me como profissional despertado em outras pessoas o mesmo prazer em aprender. Também gostaria de agradecer ao Tutor Carlos Augusto Pereira, da Universidade Federal Fluminense da disciplina de Pré-orientação de Trabalho Final de Curso por sua ajuda inestimável para a realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS BARRETO, Cristine [coord.]. Parâmetros de avaliação de elementos instrucionais de uma aula. Apostila (anexo 1) do Curso Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância – PIGEAD/LANTE/UFF. Módulo 3 – Produção de Material Didático Impresso. Universidade Federal Fluminense, fev., 2009. COSCARELLI, Carla Viana, org. Novas tecnologias, novos textos, novas formas de pensar. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2006. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. ______. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. MARCUSCHI, Luis Antônio; XAVIER, Antônio Carlos, orgs. Hipertexto e Gêneros Digitais: Novas formas de Construção de Sentido. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2004. RAMOS, Roberto Paes; RABELO, Carlos Otoni. Arquitetura da informação. Apostila (aula 9) do Curso Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância –

PIGEAD/LANTE/UFF. Módulo 3 – Produção de Material Didático Impresso. Universidade Federal Fluminense, fev., 2007. ______. A arte de criar espaços. Atividade do Curso Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância – PIGEAD/LANTE/UFF. Módulo 3 – Produção de Material Didático Impresso. Universidade Federal Fluminense, abr., 2009b. RODRIGUES, Carmem Granja S.; SOARES, Elizabeth R.. Introdução à Informática.Informática Instrumental.Informática Básica. Módulo do Curso de Pedagogia - CEDERJ - Universidade do Rio de Janeiro, ago, 2008. SOLETIC, Angeles. A Produção de Materiais escritos nos Programas de Educação a Distância: Problemas e Desafios. In LITWIN, Edith, org. Educação à distância: temas para o debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed, 2001. VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Complexidade e Pesquisa interdisciplinar: epistemologia e metodologia operativa. Petrópolis: Vozes, 2002. VILLARDI, Raquel. Tecnologia na Educação: Uma Perspectiva

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BRITO, V.C. A importância da comunicação social. Rev. Esp. Cient. Livre, Brasil, n. 2, p. 5-6, jun.-jul., 2011

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Sociointeracionista. Rio de Janeiro: Editora Dunya, 2005.

Arquitetura da informação: o papel das informações periféricas e os recursos de desdobramento do material didático impresso da disciplina "Introdução à Informática" do CEDERJ Patricia Xavier Quilelli Antunes Graduada em Hotelaria pela UNESA, Especialista em EAD pela UFF Rio de Janeiro, RJ E-mail: [email protected]

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SILVA, T.B.P. A Brigada de Incêndio. Rev. Esp. Cient. Livre, Brasil, n. 2, p. 34-35, jun.-jul., 2011

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A Brigada de Incêndio

Thiago Barros Paes da Silva Estudante do Curso Técnico em Segurança do Trabalho no Curso Prossiga Duque de Caxias, RJ E-mail: [email protected]

basicamente um grupo organizado de pessoas que são especialmente capacitadas para que possam atuar numa área previamente estabelecida na prevenção, abandono e combate a um princípio de incêndio.

O brigadista e suas funções: os brigadistas devem ser pessoas da própria empresa, gozar de boa saúde, boa condição física e conhecer as instalações. Deve ser treinado para ser capaz de identificar situações de emergência, acionar alarme e corpo de bombeiros, cortar energia quando necessário, realizar primeiros socorros, controlar pânico, guiar a saída das pessoas para abandono da área, combater princípios de incêndio. Fazer periodicamente a vistoria do equipamento de combate, (extintores, sprinklers, válvulas, mangueiras) e equipamento de uso individual (mascaras e cilindros de oxigênio), etc... O treinamento é requisito indispensável para que seja aprovado os autos de vistoria do Corpo de Bombeiros e deve ser anual. Uma das irregularidades frequentes encontradas nas dependências das empresas com relação à prevenção contra incêndios diz respeito às saídas de emergências. A lei diz: ”Nenhuma porta de entrada, ou saída, ou de emergência de um estabelecimento ou

local de trabalho, deverá ser fechada a chave, aferrolhada ou presa durante as horas de trabalho.” ( NR-23 da Portaria Nº 3.214). Todas as empresas deverão possuir:

Proteção contra incêndio.

Saídas suficientes para rápida retirada do pessoal em serviço, em caso de incêndio (largura mínima das portas 1,20m). As saídas devem estar bem sinalizadas e dispostas para que não se tenha que percorrer mais 15m no risco grande e 30m no risco médio o pequeno.

Quadro 1: Amostras sobre as medidas de risco

ÁREA

COBERATA P/UNIDADE DE EXTINTORES

RISCO DE

FOGO

CLASSE DE OCUPAÇÃO

Segundo Tarifa de seguro

Incêndio do Brasil – IRB*

DISTÂNCIA

MÁXIMA PERCORRIDA

500m² PEQUENO ‘A’ - 01 e 02 20 METROS

250m² MÉDIO ‘B’ – 02, 04, 05 e 10 METROS

É

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150m² GRANDE ‘C’ – 07, 08, 09, 10, 11, 12 e 13

10 METROS

Fonte: (SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO, 2006)

Classificação de Incêndio:

Principio de Incêndio: Eventos de mínimas proporções que requer para sua extinção, um ou mais extintores.

São os incêndios na fase inicial: Ex.: lixeiras e aparelhos domésticos.

Incêndio Pequeno: É um incêndio que requer um pessoal treinado (Corpo de Bombeiros Militar ou Bombeiros Civil), com equipamento especializado, mesmo sendo de fácil combate não apresenta risco imediato. Ex.: Quartos, salas ou outro cômodo de uma casa.

Incêndio Médio: É o incêndio de intensidade média que necessita do Corpo de Bombeiros, além de apresentar grande risco de se alastrar. Ex.: Casas e lojas.

Incêndio grande: Devido o risco de alastrar-se em alto nível em uma grande área atingida. É de necessária importância o chamado de socorro ao Corpo de Bombeiros Militar. Ex.: Edifícios e fábricas.

Visualizando tipos de incêndios através da Fumaça.

Fumaça branco ou cinza clara: Indica queima de combustível comum: madeira, tecido, papel, capim, etc.

Fumaça negra ou cinza escura: Combustão incompleta derivada de petróleo: graxa, óleo, gasolina, pneu, plástico, etc.

Fumaça amarela ou vermelha: Indica queima de combustível em que seus gases são altamente tóxicos. Ex. produtos químicos, etc.

REFERÊNCIAS SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. Normas Regulamentadoras. São Paulo: Editora Atlas, Ed. 59, 2006, 339 - 344 p.

A Brigada de Incêndio Thiago Barros Paes da Silva Estudante do Curso Técnico em Segurança do Trabalho no Curso Prossiga Duque de Caxias, RJ E-mail: [email protected]

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GIMENES, G.F. Figuras da Psicanálise no filme Persona. Rev. Esp. Cient. Livre, Brasil, n. 2, p. 36-44, jun.-jul., 2011

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Figuras da Psicanálise no filme

Persona

Gabriel de Freitas Gimenes Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Londrina, PR E-mail: [email protected]

Resumo O presente texto tem como objetivo apresentar os principais elementos que constituíram o tortuoso caminho pelo qual Freud desenvolveu sua teoria do aparelho psíquico, caminho este que pode ser compreendido no desenvolvimento da primeira e da segunda tópica. Esse caminho é apresentado tendo como contexto imagético o universo construído por

Bergman no filme Persona, de 1966. Cabe salientar que não se trata de uma interpretação psicanalítica do filme, mas antes, uma tentativa de aproveitar a riqueza estética e dialógica deste para ilustrar os conceitos psicanalíticos discutidos. Palavras-chave: Aparelho psíquico; Identificação; Psicanálise.

rnst Ingmar Bergman (1914-2007) foi um diretor de teatro e cineasta sueco, autor de mais de 50 longa metragens, produzidos desde a década de 50 até 2003, ano de seu último filme. Bergman recebeu diversos prêmios no

decorrer de sua carreira e é considerado um dos mais importantes cineastas da história do cinema, tendo desbravado diversas técnicas de produção cinematográfica, desde o cinema mudo em preto e branco até o cinema digital. Seus filmes são profundamente marcados pela caracterização psicológica das personagens, que vivem complexos dramas existenciais referentes à condição humana, aos relacionamentos afetivos, à presença/ausência de Deus, à morte, etc. Persona, por sua vez, é uma obra especial dentro da extensa produção de Bergman, considerada por este próprio como um de seus trabalhos preferidos. Produzido no ano de 1966, momento no qual Bergman passava por sérios problemas de saúde, Persona pode ser considerado como uma das expressões artísticas mais intensas do cineasta sueco, no qual este condensou diversas das suas concepções sobre cinema, arte e sobre o ser humano. O filme conta a história da atriz de teatro Elizabeth Vogler (Liv Ullmann), que, subitamente no meio da encenação de uma peça, se cala e permanece sem dizer uma palavra se quer por mais de três meses. Ela é levada para um hospital no qual passa a ser tratada por uma psiquiatra, a qual, no entanto, não consegue diagnosticar nenhum problema de saúde na atriz e recomenda a ela um estado de repouso. Desse modo, a enfermeira Alma (Bibi Anderson) é solicitada para passar um tempo junto de Elizabeth em uma casa de praia, tanto para fazer companhia à silenciosa atriz quanto para tomar os devidos cuidados médicos.

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O enredo gira em torno da relação que é estabelecida entre essas duas mulheres no decorrer de sua estadia na praia. Durante esse tempo Elizabeth permanece o tempo inteiro calada, enquanto que Alma fala quase que sem parar sobre diversos fatos de sua vida. Rapidamente estabelece-se uma relação de proximidade entre as duas mulheres, visto que Alma admira e ama Elizabeth por ela ser uma atriz, enquanto que Elizabeth interessa-se por Alma por querer estudar seu comportamento. Num determinado momento, porém, esta relação de admiração é rompida pelo fato de Alma encontrar uma carta escrita por Elizabeth a seu marido na qual esta conta todos os detalhes da vida daquela. Alma fica então profundamente entristecida e passa a ser tomada por um grande ódio para com a atriz. O interessante do filme é que a relação entre as duas mulheres é marcada por uma grande ambigüidade em todos os momentos. Enquanto que uma não diz nada, a outra fala constantemente. Enquanto que uma é realista e fria, a outra é sonhadora e apaixonada. Enquanto uma é uma mãe frustrada que não conseguiu realizar o aborto que desejava, a outra realizou um aborto do qual depois se arrependeu.

Figura 1 – Alma (Bibi Andersson) e Elizabeth Vogler (Liv Ullmann) olham-se frente ao espelho

Fonte: (PERSONA, 1966)

Dessa maneira, as duas mulheres vivem no filme uma intensa relação de amor e ódio mútuo, na qual a vida de ambas emerge para si e ambas percebem os amargos fatos que as marcaram. Tal processo, que pode ser compreendido psicanaliticamente como a entrada em contato com o material reprimido, leva as duas mulheres a passarem por um conflito pessoal e por uma série de identificações mútuas, o que acaba por levar à desestruturação do eu de cada uma. Ambas as personagens, no clímax do filme, deixam de ser nitidamente diferenciadas nas pessoas de Elizabeth e Alma e como que simplesmente se fundem, em cenas surpreendentes, nas quais o espectador não consegue mais dizer o que é realidade nem ilusão, não consegue

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dizer quem é uma pessoa e quem é outra. A persona se desfaz. Depois dessa aparentemente surreal temporada as duas mulheres se separam e voltam para suas vidas rotineiras. O filme é um grande mistério e suscitou as mais diversas interpretações. É impossível assisti-lo e, no seu término, dizer algo de afirmativo ou concluir algo de definitivo sobre sua história. Aliás, essa é a principal característica de Persona, e que o faz ser uma grande obra prima do cinema. O filme desperta diversas sensações e reflexões no espectador, e, antes de fazer com que este encontre respostas que torne a história coesa, instiga-o justamente a deparar-se com o absurdo da história, para, assim, realizar o exercício de aproximar-se de seu próprio absurdo. Dito isso, o presente texto não tem a pretensão de ser uma tentativa de interpretação do filme. Persona ultrapassa qualquer redução conceitual, transborda qualquer sentido, produz e reproduz-se constantemente a cada exibição, e cada um que o vê sente-se tocado de maneira única. De fato, diversas aproximações entre Persona e a psicanálise podem ser percebidas, sendo que a que mais comumente discutida pelos críticos é a simbolização, realizada no filme, do ambiente clínico. Por esse ponto de vista, Elizabeth é encarada como a analista, que nada fala e somente escuta, enquanto que Alma é a cliente, é quem fala, se deixa levar pelo fluxo de suas palavras. Ainda dentro desse foco de compreensão, pode-se afirmar que a admiração de Alma por Elizabeth constitui a relação de transferência do cliente para com o analista, enquanto que o interesse de Elizabeth pela vida de Alma seria a contra-transferência que ocorre do analista em direção ao cliente. No entanto, não seguirei esse caminho. Meu intuito não é propor uma leitura psicanalítica do filme, o que é impossível de ser feito aqui, tanto pela falta de conhecimento suficiente por minha parte, quanto pela característica transbordante de sentido do filme. Esperamos aqui simplesmente aproveitar a riqueza estética e dialógica presente nas cenas de Persona para realizarmos uma breve discussão a respeito de alguns conceitos psicanalíticos, principalmente no que diz respeito à segunda tópica freudiana, com especial atenção à constituição do eu (ego), à sua relação com o isso (id) e ao processo de identificação. Logo no começo do filme, ainda no hospital, a enfermeira Alma lê para Elizabeth uma carta escrita pelo marido da última. Em determinado momento da carta, é dito o seguinte: “...ensinaste-me que devemos ver-nos como duas crianças ansiosas, cheias de boa vontade e das melhores intenções, mas governadas por forças que só controlamos em parte...” (PERSONA, 1966). De fato, a constatação da presença de forças desconhecidas, incontroláveis por nós e que governam nossos atos muito mais do que nossos pensamentos conscientes é uma das premissas que guiou a pesquisa de Freud desde o início de seus trabalhos psicanalíticos. As primeiras compreensões sobre o aparelho psíquico, desenvolvidas a partir da análise de casos patológicos, levou Freud a formular uma estrutura repartida em três topos (lugares) mentais: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente. Essa estrutura é conhecida dentro da obra freudiana como a primeira tópica, a qual se fundamenta sobre o pano de fundo conceitual da dicotomia consciência/inconsciência. O termo inconsciente, entretanto, aparece nesse contexto de forma ambivalente, visto que pode ser compreendido de duas maneiras distintas. Descritivamente, tanto o pré-consciente quanto o inconsciente são desconhecidos da consciência, portanto, inconscientes. Entretanto há uma diferença fundamental entre o

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pré-consciente e o inconsciente que não permitiu Freud manter essa imprecisão terminológica. Os processos pré-conscientes são latentes, ou seja, capazes de, a qualquer momento e sem maior esforço, tornar-se conscientes. Os processos do inconsciente, por sua vez, são mantidos afastados da consciência por forças de resistência, as quais exigem um grande esforço mental para serem superadas. Dessa forma, para além da compreensão descritiva do inconsciente, Freud aprofundou uma análise metapsicológica, salientando principalmente os aspectos tópicos, econômicos e dinâmicos do inconsciente. Assim, o inconsciente e o pré-consciente distinguem entre si por serem dois lugares mentais diferentes, e também se distinguem pelo fato de somente o inconsciente apresentar os aspectos econômicos e dinâmicos da vida mental. A partir dessa compreensão, o inconsciente perde a ambigüidade acima descrita e passa a equivaler com o que é dinamicamente reprimido:

Obtemos assim o nosso conceito de inconsciente a partir da teoria da repressão. O reprimido é, para nós, o protótipo do inconsciente. Percebemos, contudo, que temos dois tipos de inconsciente: um que é latente, mas capaz de tornar-se consciente, e outro que é reprimido e não é, em si próprio e sem mais trabalho, capaz de tornar-se consciente. (...) Ao latente, que é inconsciente apenas descritivamente, não no sentido dinâmico, chamamos de pré-consciente; restringimos o termo inconsciente ao reprimido

dinamicamente inconsciente... (FREUD, 1997, p. 13).

Essa classificação tripartida do aparelho mental com base na distinção entre consciência e inconsciência acabou por tornar-se insuficiente para a compreensão daquele. Isso porque Freud constatou, na medida em que avançou em seu trabalho, que a equivalência entre o inconsciente com o que é reprimido não era completamente correta. Tal constatação ocorreu pelo fato de, a partir da primeira tópica, Freud ter identificado o consciente com o eu (ego), responsável pela motilidade corporal e pela realização das repressões. No entanto, no decorrer da prática clínica, Freud observou que seus pacientes não eram conscientes da resistência sofrida por muitas de suas idéias no processo da livre associação. Uma vez que a resistência é realizada pelo eu (ego), Freud deparou-se com o fato de haver, também no eu, um nível de inconsciência. Dessa forma, a identificação do eu (ego) com a consciência e sua conseqüente oposição à inconsciência perdeu consistência e teve de ser revista. Essa descoberta da inconsciência de certos fenômenos do eu (ego) fez com que Freud repensasse toda estrutura da primeira tópica e começasse seu caminho no sentido do desenvolvimento da segunda tópica:

Deparamo-nos com algo no próprio ego que é também inconsciente, que se comporta exatamente como o reprimido (...). Do ponto de vista da prática analítica, a conseqüência desta descoberta é que iremos parar em infindáveis obscuridades e dificuldades se (...) tentarmos, por exemplo, derivar as neuroses de um conflito entre o consciente e o inconsciente. Teremos de substituir esta antítese por outra, (...) a antítese entre o ego coerente e o reprimido que é expelido dele. (...) Reconhecemos que o Ics. não coincide com o reprimido: é ainda verdade que tudo o que é reprimido é Ics., mas nem tudo o que é Ics. é reprimido. Também uma parte do ego (...) pode ser Ics. (...) Quando nos vemos assim confrontados pela necessidade de postular um terceiro Ics., que não é reprimido, temos de admitir que a característica de ser inconsciente começa a perder

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significação para nós. Não obstante, devemos cuidar para não ignorarmos esta característica... (FREUD, 1997, pp. 16-17).

Assim, a primeira tópica, fundamentada na dicotomia consciente/inconsciente e na equivalência do inconsciente com o que é dinamicamente reprimido é substituída na obra freudiana pela segunda tópica. Esta, por sua vez, ampara-se na distinção entre o eu (ego) coerente e o que dele é expelido. Dessa maneira, a atenção de Freud, que antes se dirigia principalmente ao material reprimido e ao processo de repressão, passa a se direcionar também para a constituição do eu (ego). O eu (ego) deixa, portanto, de ser compreendido como a parte consciente do aparelho mental e passa a ser definido como “entidade que tem início no sistema perceptual e começa por ser pré-consciente” (Freud, 1997, pp. 23-24), enquanto que a “entidade [que] se estende e que se comporta como se fosse inconsciente, [é chamada de] id” (Freud, 1997, p. 24). O aparelho mental, dessa forma, passa a ser compreendido como um todo que se diferencia em partes constituintes diferentes, porém a separação entre essas partes não é bem delimitada, visto que elas se fundem em determinados aspectos:

O ego não se acha nitidamente separado do id; sua parte inferior funde-se com ele. (...) É fácil ver que o ego é aquela parte do id que foi modificada pela influência direta do mundo externo (...). Além disso, o ego (...) esforaça-se por substituir o princípio de prazer, que reina irrestritamente no id, pelo princípio de realidade (FREUD, 1997, p. 25).

A antítese ego coerente/reprimido expelido, que caracteriza a segunda tópica, demonstra o conflito que existe as entre pulsões (ambíguas, constantes e que buscam satisfação) e o mundo exterior, a realidade. Esse conflito é inerente à constituição do psiquismo é o que ocasiona na especialização de uma parte sua na função de realizar a repressão, que é o eu(ego). O eu (ego) surge tanto desse confronto com a realidade quanto da percepção do corpo próprio. É por isso que Freud comenta que o eu (ego) surge como um ego corporal. Por outro lado, o isso (id) é aquela parte do aparelho mental que não é nominável e que é desconhecida. Os fenômenos do isso (id) somente são acessíveis ao eu (ego) por meio de intermediações, o que exige dispêndio de energia mental. Tais fenômenos regem-se pelo princípio do prazer, que consiste na constante tentativa de eliminação do desprazer (que é uma energização do aparelho) e consequente busca de prazer (que consiste na descarga da energia, na saciação). A série prazer-desprazer corresponde, respectivamente, em uma potência para a mudança e em outra para a preservação. No filme, em determinado momento de uma das falas de Alma para Elizabeth, a primeira diz: “Fazer mudanças... a minha pior coisa é ser tão preguiçosa...”. Esse descontentamento de Alma com sua preguiça pode ser lido a partir da tensão entre desprazer/prazer que impera no isso (id), visto que a mudança, a liberação da energia pulsional em algum ato, é um processo que passa por modificações nessa energia, as quais demandam também seu gasto. Dessa forma, a mudança impelida pelas pulsões entra em choque com a força de oposição exercida pelas repressões do eu (ego). Em outra fala de Alma, que ocorre já depois de seu aborrecimento e briga com Elizabeth, aquela afirma enraivecida, no que aparenta ser uma afronta ao eu (ego) e ao processo de repressão:

Tem de ser assim? É realmente importante não mentir, dizer a verdade, falar com um tom de voz genuíno? Pode alguém

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viver sem falar livremente? Mentir e desviar e fugir às coisas. Não é melhor sermos preguiçosos, desleixados, mentirosos? Talvez nos tornemos melhores se nos deixarmos ser apenas o que somos (PERSONA, 1966).

O eu (ego), por sua vez, também de diferencia em uma outra parte denominada super-eu ou ideal de eu (superego). Essa diferenciação ocorre a partir de processos denominados de identificação. O eu (ego), ao operar no psíquico como a força de oposição às pulsões, acaba por paradoxalmente ter de satisfazê-las, porém por outro caminho. A identificação é um desses processos por meio do qual o eu (ego) emprega um esforço no sentido de saciar o isso (id). Ao ser perdido um objeto ao qual ligava-se uma energia pulsional, o eu (ego) esforça-se por se identificar com esse objeto. Essas identificações que ocorrem são ideais, e é partir delas que uma parte do eu (ego) se diferencia em super-eu (superego), sendo que a principal identificação constituinte do super-eu é a que decorre do complexo de édipo, segundo Freud (1997). A segunda tópica apresenta-se, assim, também como uma estrutura tripartida, porém, ao invés da estanque divisão entre consciente, pré-consciente e inconsciente, essa estrutura é fluidamente constituída pelo eu, isso e super-eu, três elementos que se inter-relacionam constantemente. O aparelho mental funciona, por essa compreensão, dinamicamente por meio de diversos mecanismos pelos quais o eu contém as pulsões do isso, ao mesmo tempo em que tenta atender às exigências do super-eu. O eu é, então, constantemente pressionado e por isso é essa parte responsável pelo desenvolvimento de diversos mecanismos de defesa, que garantem a manutenção da integridade do aparelho psíquico como um todo. No filme Persona, esse equilíbrio dinâmico pelo qual o aparelho mental mantém sua integridade é posto em cheque constantemente, de maneira que as duas personagens entram em crise e desconstituem-se como eu coerentes, sendo entregues às ambiguidades. Isso ocorre de maneira sutil e brusca ao mesmo tempo. No início da estada na casa de praia, Alma estava encantada com a companhia de Elizabeth, já que tinha uma grande admiração por artistas. Elizabeth, em seu silêncio, acaba por desempenhar o papel de uma boa ouvinte. Tal situação deixou Alma numa posição de conforto, de modo que ela sentiu-se à vontade em dizer diversos fatos de sua vida privada. As duas mulheres começam, dessa maneira, a ficar bastante próximas, sendo que Alma constantemente afirma que gostaria de ser igual a Elizabeth, e de como poderia tornar-se nela se quisesse.

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Figura 2 – Alma (Bibi Andersson) e Elizabeth Vogler (Liv Ullmann) em frente ao espelho

Fonte: (PERSONA, 1966)

A escuta atenciosa de Elizabeth, entretanto, não era inocente. A todo momento ela estudava friamente o comportamento de Alma. A partir do momento em que Alma lê a carta que Elizabeth escreve, na qual esta fala sobre aquela, começa o desentendimento das duas mulheres, a partir do qual cada uma é confrontada com seus processos profundos. Alma é defrontada, ao ler o que Elizabeth escreveu, com suas frustrações de vida, com seu trama decorrente do aborto, com suas dúvidas referentes a suas crenças e expectativas. Da mesma maneira, Elizabeth confronta-se com sua grande frieza e descaso perante os outros, e percebe isso pelo que Alma lhe diz durante suas discussões. Ambas personagens passam de uma relação de intensa proximidade para um súbito ódio. A partir disso começa a ocorrer o que pode ser entendido como uma identificação de uma com a outra. A partir desse momento no filme não é possível mais distinguir quem é Elizabeth e quem é Alma.

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Figura 3 – Rosto de Alma (Bibi Anderson) e Elizabeth (Liv Ullmann) misturado

Fonte: (PERSONA, 1966)

Os mecanismos de defesa mantidos pelo eu das personagens ruem diante da série de identificações que ocorrem entre elas e diante da entrada em contato com o reprimido, fazendo com que o eu se dissolvesse. Por fim, o filme pode ser visto a partir da tragédia que caracteriza o funcionamento do aparelho mental, drama marcado pela existência de diversas forças que se contradizem e que se opõem, mas que constituem juntas um todo que tem que se manter coeso em oposição à realidade e em consonância com os ideais por ele mesmo criados, além de demonstrar também toda a intensidade do processo a partir do qual esse todo é desestruturado. Uma fala da psiquiatra dirigida a Elizabeth, ainda no começo do filme, é surpreendentemente adequada no que diz respeito à dinâmica dos diversos elementos do aparelho mental:

Não acha que eu compreendo? O impotente sonho de ser. Não de parecer, mas de ser. Consciente em cada momento. Vigilante. Ao mesmo tempo o abismo entre o que és para os outros e para ti próprio. O sentimento de vertigem e o desejo constante de estar finalmente exposto. De ser visto através, cada gesto uma falsidade, cada sorriso um escárnio. Cometer suicídio? Oh, não! É horrível, não se faz isso. Mas pode ficar imóvel, em silêncio. Pelo menos, não mente. Pode fechar-se dentro ou fora. Então, não terá de representar, mostrar qualquer rosto ou fazer gestos falsos. Pensa que... sabe... a realidade não é nada cooperante. O seu [de Elizabeth] esconderijo não é estanque. A vida infiltra-se por todo o lado (PERSONA, 1966).

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REFERÊNCIAS PERSONA. Direção: Ingmar Bergman. Produção: Ingmar Bergman. Intérpretes: Bibi

Anderson; Gunnar Björnstrand; Liv Ullmann e Margaretha Krook. Roteiro: Ingmar

Bergman. Fotografia: Sven Nykvist. Música: Lars Johan Werle. Suécia: Svensk

Filmindustri, 1966. 1 DVD (85 min.).

FREUD, S. (1920). Para além do Princípio do Prazer. Em: ______. Obras

Completas. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

FREUD, S. (1923). O Ego e o Id. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

Figuras da Psicanálise no filme Persona Gabriel de Freitas Gimenes Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Londrina, PR E-mail: [email protected]

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Psicologia, Sociedade e Educação

em Laranja Mecânica

Wagner do Nascimento Gomes Graduando de História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Belo Horizonte, MG E-mail: [email protected]

película de Kubrick1 é um eficiente instrumento de reflexão que permite ao espectador captar as linhas gerais nas quais se desenvolvem as teorias behavioristas. Na mesma medida em que sua narrativa se desenvolve em torno

do comportamentalismo, o filme constrói argumentos que nos possibilitam verificar a ineficácia deste tipo de abordagem, tornando-se, pois, um estandarte a favor do construtivismo, como abordagem alternativa ao behaviorismo. Lançado no apogeu do comportamentalismo, o filme de Kubrick pretende ser uma crítica à ciência moderna. Para que se possa compreender essa visão, é preciso que retomemos a saga do protagonista de Laranja Mecânica. Alex é um jovem influenciado por todos os elementos do mundo pós-moderno que o cerca – posto que vive e faz parte desse mundo. Vive num decadente bairro de classe média. Apresenta repulsa ao ambiente escolar e é um partidário do que ele próprio denomina de ultraviolência. Seu comportamento hedonista procura satisfazer-se por meio da liberação desta ultraviolência, como uma forma de exteriorização dos seus impulsos. Interessante notar que seus momentos de prazer são ativados todas as vezes que ele escuta a 9ª Sinfonia de Beethoven, à qual ele associa idéias de deleite e paraíso, que por sua vez o levam também a associar imagens de violência (enforcamentos, soterramentos, explosões). Na cena em que se vinga dos membros de sua gangue é justamente uma música que aciona em Alex os desejos violentos. Ele mesmo afirma: “uma música adorável veio me resgatar”. Os diálogos apresentados também transformam-se num importante material para uma análise do comportamento da sociedade. Tomemos como exemplo as palavras proferidas pelo inspetor correcional encarregado do caso de Alex, após receber queixas de novas arruaças cometidas pelo jovem:

O que dá em todos vocês? Já estamos estudando o problema [comportamento que leva a uma violência extrema] há quase um século, mas não fizemos progressos. Você tem um bom lar, pais carinhosos. Seu cérebro não é ruim. É algum demônio que se apossa de você? (LARANJA MECÂNICA, 1971).

O posicionamento do inspetor aponta para uma visão dualista que, ao não encontrar respostas imediatas na ciência, volta-se para explicações que se ancoram nos mistérios da metafísica. Após ser detido em consequência de um homicídio, as duas tentativas no sentido de “corrigir” a índole do protagonista vão ao encontro da visão dualista do inspetor, ainda

1 Laranja Mecânica – Direção: Stanley Kubrick, 1971.

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que sigam uma trajetória inversa – indo da religião à ciência. Uma vez enclausurado, a primeira tentativa (religiosa) consistia em apresentar para o detento as virtudes cristãs, no intuito de que este as praticasse a partir de então. No entanto, maior fervor havia na conduta didática de torturar os prisioneiros com ameaças de inferno e danação eterna. Já a segunda tentativa (científica – e é esta que mais nos interessa nesta reflexão) resumia-se numa técnica behaviorista que consistia na exibição de filmes de conteúdo violento, em que o paciente era enfiado numa camisa-de-força e recebia choques elétricos em sua genitália, sendo obrigado a assistir os filmes, posto que eram colocados grampos nos seus olhos, que o impedia de fechá-los, por mais que o tentasse. Esse era o chamado Tratamento Ludovico. O cinema, ou sala de exibição, transformava-se assim num laboratório de psicologia experimental, numa alusão aos primeiros centros de estudo do comportamentalismo, a exemplo dos experimentos de Pavlov. Durante o tratamento eram também aplicados soros experimentais aos pacientes que, segundo o Dr. Brodsky, cientista responsável pelos experimentos, os levavam a uma paralisia similar à morte, além de uma profunda sensação de terror e desamparo. Ainda segundo o cientista, uma das primeiras cobaias do experimento afirmou que a sensação assimilava-se à da morte por sufocação ou afogamento. E é justamente nesse momento de paralisia que a equipe de cientistas constatou que o paciente faz “as associações mais proveitosas entre o catastrófico ambiente da experiência e a violência que presencia”. A proposta pedagógica do tratamento consistia na doutrinação por repetição. Seguindo esses parâmetros, todos os passos do tratamento eram repetidos passo a passo, diariamente. De acordo com a lógica apresentada no filme, a saúde do corpo, bem como a da mente, está associada à repulsa à violência. Para o personagem Alex um elemento foi adicionado ao tratamento. A exibição de filmes violentos fazia-se simultânea à execução de músicas de Beethoven. Este último ingrediente representava o elemento de punição do paciente. Esperava-se, como resultado do tratamento, que o paciente fizesse a associação de que a violência é um valor contrário ao processo civilizatório. Mas é interessante notarmos que a sociedade em que o personagem vivia era ela própria uma miscelânea de violências cotidianas. Um dos momentos da película em que se percebe a estreita relação existente entre política, ciência e sociedade, encontra-se justamente na cena em que a equipe liderada pelo Dr. Brodsky, e cujo porta-voz era o Ministro do Interior, apresenta para representantes de diversos segmentos da sociedade os resultados da Técnica Ludovico. No discurso do ministro ficam claras as posições contrárias aos métodos de hipnose e ao enclausuramento na prisão como meios de correção à conduta violenta. Esta última opção é nitidamente desprezada pelo argumento de que a prisão ensina vícios, além de reforçar os já praticados pelos condenados. A comunicação do ministro à sua platéia ávida por respostas exprime o objetivo do tratamento. De acordo com ele,

[...] o paciente é impelido para o bem, paradoxalmente, por ser impelido para o mal. A intenção de agir com violência é acompanhada por uma forte sensação de desconforto físico. Para anulá-la, o paciente precisa mudar para uma atitude diametralmente oposta (LARANJA MECÂNICA, 1971).

O personagem do padre personifica a crítica das outras correntes da Psicologia ao modelo behaviorista. Para o clérigo, o paciente deixa de ser um malfeitor, mas

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também deixa de ser uma criatura capaz de escolhas morais. Ao tratar o sujeito como uma tábula rasa, cujas impressões do mundo são fornecidas, única e exclusivamente, pelos órgãos dos sentidos, o behaviorismo postula que os conceitos necessários à apreensão da realidade estão inscritos nos objetos. Essa corrente de pensamento despreza, portanto, as ações recíprocas existentes entre o sujeito e o objeto ou, mais claramente, a constituição do sujeito em sua relação com o meio. A réplica científico-política a essa crítica assume um tom pragmático. A ciência e a política não têm que se preocupar com motivos, com éticas elevadas, mas apenas com a diminuição da criminalidade e com a solução para a superlotação das prisões. A corrente comportamentalista enxerga o ser humano como uma “folha em branco” que passa a constituir-se de palavras escritas seguindo o modelo de estímulo/resposta (input/output). Ao considerar o homem como um ser do comportamento e acreditar que este comportamento pode ser condicionado, restou claro, após o tratamento, que o paciente foi condicionado contra atos sexuais e contra atos violentos. O que não esperavam os cientistas era que, após o tratamento, o paciente acabasse vendo-se às voltas com uma sociedade na qual as vítimas de seus crimes ansiavam por vingança. Não contavam, portanto, que o comportamento humano apresenta-se como reflexo de aspectos internos e externos ao indivíduo, segundo defende a linha construtivista. O tratamento proposto pelos behavioristas leva ao condicionamento fisiológico e não ao condicionamento da consciência. O argumento da película que permite concluir pelo fracasso do behaviorismo é que após uma tentativa de suicídio, que o deixou inconsciente por um longo período, o paciente voltou a apresentar os mesmos impulsos violentos e lascivos que o dominavam antes do tratamento. Neste ponto da narrativa, houve a extinção do condicionamento. Além de levar o espectador a uma reflexão sobre as relações intrínsecas entre pesquisas científicas e interesses políticos voltados a discursos eleitoreiros, a conclusão do filme exibe o fiasco do experimentalismo psicológico, uma vez que o comportamento humano não é previsível e, portanto, torna-se insuficiente, como modelo explicativo, o enfoque exclusivo no empirismo. Há que se perceber que Laranja Mecânica traz para o universo do cinema o retrato de uma sociedade violenta, em que gangues e sujeira dominam as ruas; em que, como num passe de mágica, ativistas políticos transformam-se em algozes – no lugar do ativismo por um mundo melhor, o que reina é o desejo de vingança; em que pais permissivos não estipulam limites para as atitudes dos filhos, distanciando-se deles cada vez mais – aqui o argumento é de que a autoridade (e não o autoritarismo) é necessária para a eficácia dos processos educacionais; em que o Estado recruta para seus serviços cidadãos cruéis e irascíveis; em que as relações sociais transformam seres humanos em objetos descartáveis – como demonstra a insólita cena em que fica claro para Alex que seus pais haviam posto outro “filho” em seu lugar; em que a ultraviolência reina absoluta em meio ao vácuo proporcionado pela ausência de referenciais éticos. Sob esta ótica, tornamo-nos capazes de compreender os porquês do comportamento tão violento apresentado pelo protagonista do filme.

AGRADECIMENTOS

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Agradeço à Conceição Clarete Xavier, por incentivar-me a vasculhar nesse filme de Kubrick sentidos tão representativos e incrivelmente ricos em temáticas sociais e psicológicas. Muito obrigado também pela revisão deste trabalho. A ela, e a meus amigos Rafael, Ana Paula, Marcus e Charles, com quem debati alegremente minhas teorias, o meu muito obrigado!

REFERÊNCIAS LARANJA MECÂNICA. Direção: Kubrick, S. Inglaterra: Warner, 1971. DVD (137 min.).

Psicologia, Sociedade e Educação em Laranja Mecânica Wagner do Nascimento Gomes Graduando de História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Belo Horizonte, MG E-mail: [email protected]

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medicamento genérico é aquele que contém o mesmo princípio ativo (mesma fórmula), na mesma dose e forma farmacêutica (comprido, gotas ou xarope, por exemplo), tem a mesma posologia (mesma forma de tomar o remédio) e

com a mesma indicação do medicamento de referência (o medicamento de marca que o genérico copiou), apresentando a mesma segurança e eficácia que o medicamento de referência (de marca que foi copiado), podendo este ser trocado pelo genérico. O Ministério da Saúde através da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), avalia os testes de bioequivalência (que significa que o genérico apresenta a mesma eficácia clínica e a mesma segurança que o medicamento de marca) e biodisponibilidade (que comprova que absorção pelo organismo do medicamento genérico é a mesma do medicamento de marca copiado) garantindo dessa forma a qualidade e eficácia dos medicamentos genéricos. Os medicamentos genéricos foram introduzidos no Brasil a partir de 1999 e seu menor

preço deve-se à economia com propaganda e à ausência de despesas com desenvolvimento de nova molécula, que ficam por conta do laboratório que produziu pela primeira vez o medicamento copiado. Maiores informações pode ser conseguidas com seu médico, com o farmacêutico ou mesmo diretamente com a ANVISA (0800-642-9782).

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“De nada adianta a liberdade se não temos a liberdade de errar.”

Mohandas Karamchand Gandhi (1869-1948)

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