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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero E77 Espaço Científico : revista do Instituto Luterano de Ensino Superior de Santarém / Universidade Luterana do Brasil. – N. 1 (jan./jun. 2000)- . Canoas : Ed. ULBRA, 2000- . v. ; 27 cm. Semestral. ISSN 1518-5044 1. Pesquisa científica – periódicos. 2. Ciência e tecnologia – periódicos. I. Universidade Luterana do Brasil. II. Instituto Luterano de Ensino Superior de Santarém. CDU 5/6(05) ESPAÇO CIENTÍFICO Revista do CEUL de Santarém Vol. 12 - n.1-2, 2011 ISSN 1518-5044 Correspondência Av. Sérgio Henn, 1787, Bairro Diamantino CEP: 68025-000 – Santarém/Pará – Brasil Fone/Fax: (0xx93) 3524-1055 E-mail: [email protected] Matérias assinadas são de responsabillidade dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida, com referência à fonte. Presidente Adilson Ratund Vice-Presidente Jair de Souza Junior Reitor Marcos Fernando Ziemer Vice-Reitor e Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Valter Kuchenbecker Pró-Reitor de Administração Levi Schneider Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Erwin Francisco Tochtrop Júnior Pró-Reitor de Graduação Ricardo Willy Rieth Pró-Reitor Adjunto de Graduação Pedro Antonio González Hernández Capelão Geral Lucas André Albrecht Comissão Editorial Celso Shiguetoshi Tanabe Maria Sheyla Cruz Gama l CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE SANTARÉM Diretor Geral Ildo Schlender Direção Acadêmica Celso Shiguetoshi Tanabe Capelão Rev. Maximiliano Wolfgramm Silva Coordenação de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Maria Viviani Escher Antero ESPAÇO CIENTÍFICO Maria Viviani Escher Antero Rosângela Maria Lima de Andrade Comissão Científica Albino Luciano Portela de Sousa – IESPES/FIT Carmen Tereza Velanga – UNIR Damião Pedro Meira Filho – IFPA Lidiane Nascimento Leão – UFOPA Luiz Fernando Gouveia e Silva – UEPA Maria Marlene Escher Furtado – UFOPA Paula Chistina Figueira Cardoso – USP Felipe Schaedler de Almeida – URGS Gilbson Santos Soares – CEULS/IFPA Izabel Alcina Evangelista Soares – CEULS/UEPA José Eduardo Lobato de Siqueira – CEULS/ULBRA José Ricardo Geller – CEULS/OAB Maria Antonia Vidal Ferreira – CEULS/ULBRA Maria Lilia Imbiriba Sousa Colares – UFOPA Marialina Corrêa Sobrinho – CEULS/IESPES Robinson Severo – UFOPA Troy Patrick Beldini – UFOPA EDITORA DA ULBRA Diretor: Astomiro Romais Coord. de Periódicos: Roger Kessler Gomes Capa: Everaldo Manica Ficanha Editoração: Rodrigo de Abreu Solicita-se permuta. We request exchange. On demande l’échange. Wir erbitten Austausch.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero

E77 Espaço Científico : revista do Instituto Luterano de Ensino Superior deSantarém / Universidade Luterana do Brasil. – N. 1 (jan./jun. 2000)-. – Canoas : Ed. ULBRA, 2000- . v. ; 27 cm.

Semestral.ISSN 1518-5044

1. Pesquisa científica – periódicos. 2. Ciência e tecnologia – periódicos.I. Universidade Luterana do Brasil. II. Instituto Luterano de EnsinoSuperior de Santarém.

CDU 5/6(05)

ESPAÇO CIENTÍFICORevista do CEUL de Santarém

Vol. 12 - n.1-2, 2011ISSN 1518-5044

CorrespondênciaAv. Sérgio Henn, 1787, Bairro DiamantinoCEP: 68025-000 – Santarém/Pará – BrasilFone/Fax: (0xx93) 3524-1055E-mail: [email protected]

Matérias assinadas são de responsabillidade dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida, com referência à fonte.

PresidenteAdilson Ratund

Vice-PresidenteJair de Souza Junior

ReitorMarcos Fernando Ziemer

Vice-Reitore Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários

Valter Kuchenbecker

Pró-Reitor de AdministraçãoLevi Schneider

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoErwin Francisco Tochtrop Júnior

Pró-Reitor de GraduaçãoRicardo Willy Rieth

Pró-Reitor Adjunto de GraduaçãoPedro Antonio González Hernández

Capelão GeralLucas André Albrecht

Comissão EditorialCelso Shiguetoshi TanabeMaria Sheyla Cruz Gama

l

CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE SANTARÉMDiretor Geral

Ildo SchlenderDireção Acadêmica

Celso Shiguetoshi TanabeCapelão

Rev. Maximiliano Wolfgramm SilvaCoordenação de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão

Maria Viviani Escher Antero

ESPAÇO CIENTÍFICO

Maria Viviani Escher AnteroRosângela Maria Lima de Andrade

Comissão Científica Albino Luciano Portela de Sousa – IESPES/FITCarmen Tereza Velanga – UNIRDamião Pedro Meira Filho – IFPA

Lidiane Nascimento Leão – UFOPA Luiz Fernando Gouveia e Silva – UEPA

Maria Marlene Escher Furtado – UFOPA

Paula Chistina Figueira Cardoso – USP

Felipe Schaedler de Almeida – URGS Gilbson Santos Soares – CEULS/IFPA Izabel Alcina Evangelista Soares – CEULS/UEPA José Eduardo Lobato de Siqueira – CEULS/ULBRA José Ricardo Geller – CEULS/OAB

Maria Antonia Vidal Ferreira – CEULS/ULBRA Maria Lilia Imbiriba Sousa Colares – UFOPA

Marialina Corrêa Sobrinho – CEULS/IESPES

Robinson Severo – UFOPA Troy Patrick Beldini – UFOPA

EDITORA DA ULBRADiretor: Astomiro RomaisCoord. de Periódicos: Roger Kessler GomesCapa: Everaldo Manica FicanhaEditoração: Rodrigo de Abreu

Solicita-se permuta. We request exchange.On demande l’échange. Wir erbitten Austausch.

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Sumário

3 Editorial 4 Avaliação da qualidade de blocos cerâmicos fabricados na cidade de Santarém-PA

segundo a NBR 15270/05 Tiago Gomes Posiadlo, Esdras Silva de Araújo, Greicy Vânia Silva Feitosa,

Rosiclei de Carvalho Sabóia, José Eduardo Lobato de Siqueira

11 Gestão de pessoas em uma empresa de terraplenagem no oeste do Pará: aspectos consolidados (positivos) e limitantes (negativos)

Killian Sumaya Fuziel Teixeira, Eli Teresinha Biscaro

22 O acesso à água no bairro Diamantino, Santarém/PA, sob a ótica da Justiça Ambiental

Elder Willott, Miguel Borgherzan

40 Concretização do direito fundamental à aposentadoria por idade rural no município de Alta Floresta/MT

Aline Fagundes dos Santos, Franssiely Longhini Carlos, Gabriela Peres Rocha, Jéssica Liliane de Melo, Nilce Delha Oliveira da Silva

44 Aplicação dos princípios da arquitetura da informação na criação de um software educativo para o ensino dos fundamentos do jogo de xadrez voltado às crianças

Clara A. B. Fernandes, Joicy K. C. Gadelha, Carlos A. P. Araújo, Márcio D. Cavalcante

49 Monitoramento da qualidade do processamento da castanha de caju em função da umidade e rendimento de amêndoa: comparação entre os métodos artesanal e popular

Igo Tarcio Ramos de Menezes, Celso Shiguetoshi Tanabe

60 Reaproveitamento do resíduo do coco (cocos nucifera) no município de Santarém, Pará

Alice Tarciana Ramos de Menezes, Sylviane Beck Ribeiro, Janaína de Nazaré Ferreira de Carvalho Santos

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72 Avaliação da temperatura do solo em três profundidades, sobre diferentes coberturas vegetais em latossolo amarelo muito argiloso do oeste paraense

G. K. Seben, R. C. de Oliveira Junior, C. S. Tanabe, A. D. Silva, I. C. T. Martins

79 Normas editoriais

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EditorialA revista Espaço Científico responde ao compromisso do Ensino Superior em

socializar e divulgar conhecimentos científicos produzidos por profissionais que pesquisam em diferentes áreas do conhecimento.

Mais uma vez a revista proporciona aos seus leitores o diálogo, no sentido de contribuir como fonte de pesquisas e revisão de assuntos pertinentes a sua área, estimulando a leitura compromissada, o hábito de estudos e a atualização profissional.

Espaço científico e democrático é o local e também o meio aberto à participação de quantos se interessem pela investigação científica. Nesse espaço, o leitor encontra um lugar para que seja enriquecido pela sua capacidade criativa e original de pesquisar a realidade conhecida para desvelar o desconhecido que nela habita.

Assim, a comunidade acadêmica e científica está convidada a apresentar seus relatórios de pesquisa neste espaço aberto à publicação.

Comissão Editorial

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Espaço Científico Canoas v.12, n.1-2 p.4-10 2011

Avaliação da qualidade de blocos cerâmicos fabricados na cidade de Santarém-PA

segundo a NBR 15270/05Tiago Gomes Posiadlo

Esdras Silva de AraújoGreicy Vânia Silva Feitosa

Rosiclei de Carvalho SabóiaJosé Eduardo Lobato de Siqueira

RESUMODevido à perceptiva desconformidade dos blocos cerâmicos de vedação fabricados na cidade

de Santarém, determinou-se avaliar junto à norma NBR 15170/05 a qualidade dos blocos fabricados de 5 (cinco) empresas representativas do mercado produtor de Santarém. Os resultados obtidos pelas verificações colocadas pela norma garantem uma total desconformidade das produtoras cerâmicas. Pretende-se, a partir dos resultados obtidos nos ensaios de verificação, orientar as mesmas para os itens que estão em desacordo com a norma, tendo como objetivo um aumento no padrão de qualidade do produto comercializado.

Palavras-chave: Construção civil. Blocos cerâmicos. Qualidade.

ABSTRACTDue to the perceptive variance of the ceramic blocks performance made in Santarém, this

research evaluated, through the Brazilian standard NBR 15170/05, the quality of products made by five representative ceramic factories. The results showed unconformity in all the ceramic producers. It is intended to warn the producers about the results, in order to increase the quality standard of the ceramic blocks of the region.

Keywords: Construction. Ceramic blocks. Quality.

Tiago Gomes Posiadlo é acadêmico de Engenharia Civil, CEULS/ULBRA, bolsista do Programa de Iniciação Científica. E-mail: [email protected] Silva de Araújo, Greicy Vânia Silva Feitosa, Rosiclei de Carvalho Sabóia são acadêmicos de Engenharia Civil, CEULS/ULBRA.José Eduardo Lobato de Siqueira é engenheiro civil, professor do CEULS/ULBRA, Mestre em Construção Civil pela UFSC.

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INTRODUÇÃOOs blocos cerâmicos de vedação, matéria-prima para as obras de construção civil,

têm suas características físicas e mecânicas estabelecidas pela NBR 15270/05. Apesar de seu processo de fabricação ser considerado simples, os produtos que chegam ao consumidor nem sempre chegam com padrão de qualidade estabelecido em norma.

O Artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor deixa claro ao fornecedor que o produto colocado no mercado deve atender as exigências dos órgãos oficiais competentes a seu setor, no caso a NBR 15270/05. Caso contrário, o fornecedor é proibido de comercializar o seu produto.

Para atender as exigências de mercado, se faz necessário ter produtos com o mais alto padrão de qualidade, tendo uma produção com maior controle tecnológico, resultando em produtos de característica de acordo com a norma e com custos de produção menores (ARAUJO et al., 2007).

A não conformidade dos blocos de vedação gera custos maiores em uma construção, alguns milímetros a menos nas dimensões dos blocos, levando em conta uma utilização em grande escala, acarretará em um número maior de blocos a ser utilizado, além de um maior consumo de argamassa para assentamento dos mesmos (THOMAZ, 1995).

Petrucci (2003) aponta uma notória disparidade na fabricação dos blocos cerâmicos. Na região de Santarém-PA não é diferente. Essa desconformidade é perceptiva, motivando a se fazer um estudo com base na norma, para constatação dos problemas encontrados em sua fabricação, com objetivo a orientação às empresas fabricantes e elevação do nível de qualidade de seu produto.

Segundo Moreira (2008), a fabricação de blocos cerâmicos de melhor qualidade proporciona a melhor utilização dos recursos naturais e energéticos, a redução de custos, a diminuição de desperdícios e a redução de manifestações patológicas nas obras. Além disso, a melhoria da qualidade dos blocos implicará diretamente os demais subsistemas que compõe a construção, no que diz respeito às esquadrias, instalações, revestimentos e impermeabilização.

MÉTODOA cidade de Santarém – PA possui um total de 43 fábricas de produção de blocos

cerâmicos de vedação segundo dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santarém-PA (SEMA), sendo que apenas 28 estão de acordo com as normas ambientais exigidas. A partir deste mapeamento, fez-se uma escolha de cinco fábricas para a verificação das exigências colocadas pela NBR 15270/05, sendo essas discriminadas na seguinte maneira: Cerâmica A, Cerâmica B, Cerâmica C, Cerâmica D e Cerâmica E.

Com as empresas definidas, foram feitas as coletas de 13 (treze) amostras em cada uma destas, retiradas aleatoriamente do mesmo lote de fabricação. Feita isto, as

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amostras foram armazenadas no laboratório de materiais de construção do CEULS/ULBRA em paletis cobertos com lona, para que ficassem preservadas da umidade e para não haver a mistura das mesmas.

Na primeira análise feita, apenas visual, fez-se a verificação das informações exigidas nas faces dos blocos, assim como a verificação de imperfeições provocadas no processo de fabricação.

Posteriormente, os blocos foram limpos, retirando-se as rebarbas nos pontos de medições, seguindo as orientações da norma, para a realização dos ensaios de verificação das seguintes características geométricas:

Medidas das faces-dimensões efetivas;•

Espessura dos septos e paredes externas do bloco;•

Desvio em relação ao esquadro;•

Planeza das faces;•

Área bruta.•

Após estes ensaios, foram feitas as constatações das características físicas, sendo que para esses ensaios o número de amostras a passar pela inspeção é menor, com um total de seis unidades por cada fabricante. Estas amostras foram escolhidas de forma aleatória das 13 amostras que se dispunham. Os ensaios acima referidos são os seguintes:

Massa seca;•

Índice de absorção de água;•

Índice de absorção inicial;•

Resistência à compressão.•

RESULTADOS E DISCUSSÃONa inspeção apenas visual dos blocos, percebeu-se que nenhum dos fabricantes

atendia completamente as especificações da NBR 15270/05, quanto às informações que devem vir gravadas em uma das faces dos blocos, sendo estas as dimensões dos blocos e o nome da empresa fabricante dos mesmos. Duas empresas, “Cerâmica B” e “Cerâmica E”, apresentaram gravadas apenas o nome do fabricante, não trazendo as informações das dimensões dos blocos. Segundo a norma, o não atendimento deste item é suficiente para a não aceitação do produto.

Para os ensaios de caracterização geométrica, o número de amostras aceitáveis de acordo com norma a apresentarem desconformidade é de no máximo duas amostras.

Nos ensaios realizados para a determinação das dimensões efetivas dos blocos, utilizaram-se como base para a análise o módulo dimensional para largura (L), altura

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(H) e comprimento (C) de 1(M) x 3/2(M) x 5/2(M) (9cm x 14cm x 24cm) no qual as empresas mais se aproximaram. Tendo a tolerância estipulada de ± 5 mm para as amostras ensaiadas, obteve-se o resultado expresso na figura 1, no qual todas as cerâmicas obtiveram reprovação em pelo menos um item, sendo este apresentado como irregularidade em todas as cerâmicas estudadas.

FIGURA 1 – Resultados para o ensaio de dimensões efetivas.

Na verificação feita para as dimensões dos septos e das paredes externas dos blocos, como mostra a figura 2, a maior parte das empresas fabricantes encontra-se desconforme, tendo apenas uma empresa de acordo com as condições estipuladas pela norma, que são de no mínimo 6 mm para os septos e de no mínimo 7 mm para as paredes externas.

FIGURA 2 – Número de amostras conformes e desconformes na verificação da espessura dos septos e das paredes externas.

Fonte: José Eduardo Lobato de Siqueira

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Os resultados apresentados para as medidas que caracterizam o desvio com relação ao esquadro (D), apresentado na figura 3, mostra que a maior parte das empresas atendem as especificações quanto ao máximo requerido de 3 mm para o desvio com relação ao esquadro. Já para a planeza de faces (F), os resultados mostrados na mesma figura apresentam maior desconformidade tendo um número maior de amostras não conferentes com a tolerância de 3 mm estipulada em norma. Mesmo com o número maior de amostras, a maioria das cerâmicas ainda está em conformidade com a norma com relação ao desvio ao esquadro, seguindo a tolerância dada em norma de que apenas duas amostras podem apresentar desconformidade.

FIGURA 3 – Número de amostras conformes e desconformes no ensaio de planeza de face (F) e desvio com relação ao Esquadro (D).

Fonte: José Eduardo Lobato de Siqueira

Já para os ensaios de características físicas dos blocos cerâmicos, com relação ao índice de absorção (AA) e o índice de absorção inicial (AAI), o número de amostras desconformes permitidas se reduz, passando para um total de uma para cada empresa. Os blocos tiveram resultados bastante satisfatórios, como mostrado na figura 4, tendo apenas um fabricante sido reprovado no item para a determinação do AA e um para o AAI.

FIGURA 4 – Número de amostras conformes e desconformes para os ensaios de AA e AAI.

Fonte: José Eduardo Lobato de Siqueira

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No ensaio de resistência a compressão os resultados, mostrados na figura 5, revelam a total desconformidade dos blocos fabricados. Nesse ensaio apenas uma empresa apresentou resultado acima do mínimo estipulado pela norma de 1,5MPa para a resistência a compressão.

Podem-se apontar as imperfeições de fabricação como um dos agravantes para os resultados que apresentaram valores bem abaixo do mínimo estipulado pela norma, como fissuras de grandes espessuras percebidas na análise visual feita. Outro fator é a baixa qualidade da matéria-prima utilizada, sendo o material verificado, totalmente heterogêneo, com a presença de torrões de argila esbranquiçada presentes na matéria-prima dos blocos. Além destes, a queima dos blocos no processo de fabricação é o principal condicionante para o ganho de resistência à compressão dos blocos. Sendo assim, pode-se apontar uma queima insuficiente dos blocos em sua fabricação.

FIGURA 5 – Resistência à compressão das amostras.

Fonte: José Eduardo Lobato de Siqueira

CONCLUSÃOAs informações obtidas nos ensaios mostram uma grande desconformidade

das empresas fabricantes de blocos cerâmicos de vedação para com as exigências da NBR 15270/05. Estas desconformidades apresentadas provavelmente se devem ao desconhecimento das especificações da norma, já que no processo de produção alguns pontos podem se adequar às exigências da norma apenas com a regulagem dos equipamentos. Isto mostra que o emprego da mão de obra desqualificada, que é ainda muito presente no processo de fabricação, não é o principal problema verificado. O desconhecimento, tanto por parte do fabricante quanto por parte do consumidor, é o principal problema. Muitos dos consumidores desconhecem a regulamentação de produção dos blocos cerâmicos e não cobram dos produtores uma adequação aos termos exigidos em norma, para a garantia tanto de um produto de qualidade como para custos menores na obra.

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REFERÊNCIASARAÚJO, R. M., et al. Avaliação da qualidade dos blocos cerâmicos comercializados em Curitiba. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, p. 12, jul. 2007.ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15270-1: componentes cerâmicos. Parte 1: blocos cerâmicos para alvenaria de vedação – terminologia e requisitos. Rio de Janeiro, 2005.ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15270-3: componentes cerâmicos. Parte 3: blocos cerâmicos para alvenaria estrutural e de vedação – métodos de ensaio. Rio de Janeiro, 2005.MOREIRA, Gustavo Chibiaqui; ALMADA, Jorge Luis Augusto. Avaliação da qualidade dos blocos cerâmicos para alvenaria de vedação comercializados na região Norte do Paraná. Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2008.PETRUCCI, E. G. R. Materiais de construção. 12.ed. São Paulo: Globo, 2003.435p.THOMAZ, Ercio. Alvenarias de vedação parte 1. Revista Téchne, São Paulo, 15.ed., mar./abr. 1995.

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Gestão de pessoas em uma empresa de terraplenagem no oeste do Pará: aspectos

consolidados (positivos) e limitantes (negativos)

Killian Sumaya Fuziel TeixeiraEli Teresinha Biscaro

RESUMOGestão de Pessoas está vinculada ao desenvolvimento de pessoas e equipes, despertando

talentos para o alcance de melhores resultados para a organização. Este trabalho tem como objetivo identificar como é feita a gestão de pessoas em uma empresa de terraplenagem no oeste do Pará, levantando seus aspectos consolidados (positivos) e limitantes (negativos). Para a coleta de dados, empregam-se os seguintes recursos: questionários fechados, técnica focus group e entrevista aberta. Os questionários foram aplicados no efetivo permanente operacional da empresa, cerca de 85 pessoas – correspondente a 100% do efetivo. Outro recurso empregado foi a técnica focus group, ou discussão em grupo, onde as informações foram obtidas com a participação simultânea da linha de comando. Além da entrevista com responsáveis pelo RH da empresas e os demais departamentos afins (SESMAQ), observou-se através da pesquisa que a gestão de pessoas não está claramente ligada à estratégia da organização. Não há uma política de retenção de talentos. Um ponto consolidado que se destacou na pesquisa e como oportunidade de desenvolvimento é o procedimento de higiene, e segurança. A empresa precisa reconhecer que seu mais precioso potencial e seus maiores entraves residem nas pessoas.

Palavras-chave: Gestão de pessoas. Estratégia. Organização. Potencial.

ABSTRACTPeople Management is linked to the development of individuals and teams, raising

talents to achieve better results for the organization. This study aims to identify how is the management of people in an earthmoving company in western Pará, raised consolidated its aspects (positive) and limiting (negative). For data collection employ the following features: questionnaires, focus group and interview technique opens. The questionnaires were applied in effective permanent operating company, about 85 people – equivalent to 100% effective. Another feature was the employee focus technique Group, or group discussion, where the information was obtained with the simultaneous participation of the command line. Besides the interview with the companies responsible for HR and other related departments (SESMAQ). It was observed through research that people management is not clearly linked a organization’s strategy. There is a policy of retaining talent. One point that stood out in the

Killian Sumaya Fuziel Teixeira é aluna do curso de pós-graduação lato sensu em Gestão de Pessoas.Eli Teresinha Biscaro é professora orientadora, mestre em contabilidade, especialista em direito tributário e qualidade e nos serviços contábeis.

Espaço Científico Canoas v.12, n.11-21 p.11-10 2011

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Espaço Científico v.12, n.1/2, 201112

Consolidated research and development opportunity as is the procedure of hygiene and safety. The company needs to recognize that their most valuable potential and its greatest obstacles reside in people.

Keywords: People management. Strategy. Organization. Potential.

INTRODUÇÃOA Gestão de Pessoas, assim recentemente batizada, é uma das áreas que mais têm

passado por mudanças e transformações nestes últimos anos. A visão que se tem hoje da área é totalmente diferente de sua tradicional configuração, quando recebia o nome de Administração de Recursos Humanos (ARH) (CHIAVENATO, 1999).

O grande diferencial competitivo das organizações está nas pessoas que nelas trabalham. Muitas empresas bem-sucedidas chegaram a esta constatação, e vêm investindo fortemente no fator humano e, sem sombra de dúvidas, vêm obtendo excelentes retornos. Investir na gestão de pessoas passa a ser, portanto, imprescindível para a empresa que deseja estar preparada para o futuro.

Embora tudo isso pareça óbvio, muitas empresas esquecem que as pessoas são o bem mais precioso de qualquer instituição. O grande desafio das organizações, portanto, não é mais atrair, mas reter talentos. Daí a importância de se investir no capital humano. Portanto, a questão problema do presente estudo é: o que deve ser aperfeiçoado no processo de gestão de pessoas nesta empresa de terraplenagem para reter talentos?

Justamente por reconhecer a importância deste processo, este trabalho tem como objetivo geral identificar como é feita a gestão de pessoas em uma empresa de terraplenagem no oeste do Pará, levantando seus aspectos consolidados (positivos) e limitantes (negativos). Para atingir o objetivo geral, têm-se os seguintes objetivos específicos: (i) identificar na empresa o modelo de gestão de pessoas utilizado; (ii) mapear os processos de gestão de pessoas na empresa; (iii) levantar a partir de diferentes visões os aspectos consolidados (positivos) e os limitantes (negativos) do processo de gestão de pessoas dessa empresa; (iv) processar as informações e descrever os principais aspectos levantados; além de propor melhoria ao processo a partir dos pontos limitantes mais relevantes.

METODOLOGIAO presente trabalho será baseado em pesquisa qualitativa e quantitativa. A

primeira aborda o objeto de pesquisa sem a preocupação de medir ou qualificar os dados coletados, o que só ocorre essencialmente na quantitativa. Porém é possível abordar o problema da pesquisa utilizando as duas formas (FINDLAY; COSTA; GUEDES, 2006).

Em relação ao objetivo, a pesquisa foi do tipo exploratória, com intenção de reunir informações relacionadas aos aspectos de gestão de pessoas da empresa. Para

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a coleta de dados empregam-se os seguintes recursos: questionários fechados, técnica focus group e entrevista aberta.

Os questionários estruturados, com perguntas claras e objetivas, foram aplicados no efetivo permanente operacional da empresa, cerca de 85 pessoas – correspondente a 100% do efetivo. Outro recurso empregado foi à técnica focus Group, ou discussão em grupo, onde as informações foram obtidas com a participação simultânea dos Líderes de equipe, dos Coordenadores de área, gerente, entre outros (equipe de gestão de segurança ocupacional). Conforme Senatone (2010) é a forma mais rica desde que todos sejam entrevistados individualmente, além da rapidez na coleta de dados. Outra forma consistiu em entrevistar em profundidade os responsáveis pelo RH da empresas e os demais departamentos afins (SESMAQ), em local reservado. Nesta fase, ocorreu o levantamento dos aspectos consolidados (positivos) e limitantes (negativos), do processo de gestão de pessoas dessa empresa em diferentes ângulos, além, do mapeamento dos processos de gestão de pessoas na empresa, conforme os seis processos de gestão de pessoas, descrito por Chiavenato (2004).

Os dados obtidos na verificação considerados consolidados (positivos) e limitantes (negativos), a partir de diferentes visões, serão processados. Isso nos permitirá priorizar qualitativamente os aspectos mais importantes deste processo de gestão de pessoas.

E seguida, os dados priorizados considerados limitantes (negativos) mais relevantes, serão descritos e, com base na pesquisa bibliográfica, apresentados à organização em forma de proposta de melhoria para o processo.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Evolução da gestão de pessoasO mundo mudou e com ele o processo de gestão de pessoas, conhecido inicialmente

como Administração de Pessoal, onde as principais funções na década de 1930 eram recrutar e selecionar trabalhadores, o que, segundo Araujo (2006) apud Ferreira et al. (2009), acontecia de forma extremamente simples, pois não havia nenhum ação de seleção entre candidatos. Ao procurarem emprego, as pessoas eram imediatamente contratadas caso houvesse vagas disponíveis. Enquanto isso, no Brasil, foram instruídas as leis trabalhistas e foram criados também os Ministérios do Trabalho, Indústria e Comércio. Desta maneira, os chamados Departamentos de Pessoal cuidavam das rotinas trabalhistas e atividades administrativas tais como recrutamento, seleção, treinamento, admissão, demissão e folha de pagamento.

O processo se intensificou a partir da década de 1950 com a chegada das multinacionais, principalmente as montadoras japonesas, como a Toyota, que passou a influenciar o cenário da gestão de pessoas no Brasil, com a ampliação e maior importância das áreas de recrutamento, seleção, treinamento e relações trabalhistas. A

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partir de 1970 observa-se uma profunda transformação da atual gestão de pessoas e, de acordo com Neto (2006) apud Ferreira et al. (2009), ocorreu uma constante busca de aperfeiçoamento deste segmento.

Hoje em dia, a área de Gestão de Pessoas exerce uma função estratégica nas organizações, pois resulta em sucesso e mais lucro. É então uma questão de sobrevivência para as organizações no mercado competitivo. Para Campos (2004), a sobrevivência de uma empresa está ligada a cultivar uma equipe de pessoas que saiba montar e operar um sistema, e que seja capaz de projetar um produto que conquiste a preferência do consumidor a um custo inferior ao de seu concorrente.

Gestão de pessoasSegundo Chiavenato (2004), a gestão de pessoas é um processo muito sensível

à mentalidade que predomina nas organizações. Ela é contingencial e situacional, pois depende de vários aspectos, como a cultura que existe em cada organização, da estrutura organizacional adotada, das características do contexto ambiental, do negócio da organização, da tecnologia, dos processos internos e de uma infinidade de outras variáveis importantes.

Trata-se de uma área organizacional que passou por grandes transformações, inclusive até com mudança do nome. Segundo Chiavenato (2004), em muitas organizações, a denominação administração de recursos humanos (ARH) está sendo substituída por termos como gestão de talentos humanos, gestão de parceiros ou de colaboradores, gestão do capital humano, administração do capital intelectual e até gestão de pessoas ou gestão com pessoas.

Para Rodrigues (apud TEIGA, 2006, p.133), o mais importante é o respeito à dignidade do ser humano que dedica boa parte de sua vida a uma empresa, buscando garantir o seu sustento e de seus familiares. O importante é a efetividade das ações envolvendo a gestão de pessoas, buscando sempre o equilíbrio entre as aspirações dos empregados e os objetivos das empresas, sejam elas privadas, públicas, micros, pequenas ou grandes. Dê a nomenclatura que achar mais adequada, mas não perca de vista o fato de que em uma empresa trabalha-se com pessoas. Este sim, o bem mais precioso. E, de fato, o diferencial competitivo das organizações.

Segundo Chiavenato (2004), a gestão de pessoas é um conjunto integrado de processos dinâmicos e interativos.

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Chiavenato (2004, p.14-15) esclarece os seis processos básicos da gestão de pessoas da seguinte forma:

Processos de agregar pessoas: são os processos utilizados para incluir novas pessoas na empresa. Podem ser denominados processos de provisão ou de suprimentos de pessoas. Incluem recrutamento e seleção de trabalhadores.

Processos de aplicar pessoas: são processos utilizados para desenhar as atividades que as pessoas irão realizar na empresa, orientar e acompanhar seu desempenho. Incluem desempenho organizacional e desempenho de cargos, análise e descrição de cargos, orientação das pessoas e avaliação do desempenho.

Processos de recompensar pessoas: são os processos utilizados para incentivar as pessoas e satisfazer suas necessidades individuais mais elevadas. Incluem recompensas, remuneração e benefícios, e serviços sociais.

Processos de desenvolver pessoas: são os processos utilizados para capacitar e incrementar o desenvolvimento profissional das pessoas. Incluem seu treinamento e desenvolvimento, gestão do conhecimento e gestão de competência, programas de mudanças e desenvolvimento de carreiras e programas de comunicações e consonância.

Processos de manter pessoas: são processos utilizados para criar condições ambientais e psicológicas satisfatórias para as atividades das pessoas. Incluem administração da cultura da organização, clima organizacional, disciplina, higiene, segurança e qualidade de vida no trabalho, e manutenção de relações sindicais.

Processos de monitorar pessoas: são processos utilizados para acompanhar e controlar o desempenho das pessoas e verificar resultados. Incluem banco de dados e sistemas de informações gerenciais.

Todos esses processos estão bastante relacionados entre si, de tal maneira que se interpenetram e se influenciam reciprocamente. Cada processo tende a favorecer ou prejudicar os demais, quando bem ou mal utilizado. Um processo rudimentar de agregar pessoas pode exigir um intenso processo de desenvolver pessoas para compensar suas falhas. Se o processo de recompensar pessoas é falho, ele pode exigir um intenso processo de manter pessoas.

O equilíbrio na condução de todos esses processos é fundamental. Daí a necessidade de um balanced scorecad para integrar todos eles. Quando um processo é falho, ele compromete todos os demais. Além disso, todos esses processos são desenhados de acordo com as exigências das influências ambientais externas e das influências organizacionais internas, para obter a melhor compatibilização entre si. Ele deve funcionar como um sistema aberto e interativo (CHIAVENATO, 2004).

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Aspectos limitantes na gestão de pessoasPara Carvalho e Serafim (2002), entre as várias causas que podem levar as

organizações mal administradas à ineficiência, ao obsoletismo e ao fechamento de suas atividades, destacam-se:

Estrutura organizacional ineficaz, pesada e centralizadora, com ausência de controles que funcionem, políticas inadequadas (principalmente relacionadas com produção, “marketing” e finanças);

Estilos gerenciais pouco participativos, viciados e tradicionais;

Manifestação de problemas, tais como baixa produtividade/qualidade de produtos e serviços, crises funcionais entre os vários escalões hierárquicos da organização e imagem negativa da empresa;

Comportamento disfuncional, gerando absenteísmo, turnover, insatisfação, falta de motivação, etc.

ANÁLISE DOS DADOSOs principais dados obtidos na pesquisa considerados consolidados (positivos)

e limitantes (negativos) foram apresentados conforme os seis processos de gestão de pessoas, descrito por Chiavenato (2004).

Processos de agregar pessoasDiante da situação atual do mercado de trabalho, há escassez de profissionais

qualificados no ramo de atuação da empresa, além da baixa escolaridade das pessoas da região. Muitos profissionais entram na empresa com o objetivo de se qualificar. Isso vale tanto para a área operacional (terraplenagem e mecânica) como para a área administrativa. Outro fato que merece destaque é que 89% dos funcionários do quadro permanente foram recrutados através de apresentação de candidatos por indicação de funcionários. Apesar de a indicação ser uma forma de processo usual, a organização está deixando identificar e atrair candidatos motivados e qualificados através de outras formas de recrutamento (nas escolas, universidades e agremiações; agências de emprego, etc.) para poder ter mais opções de escolher, entre os profissionais atraídos, os que melhor se adequarem (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000).

Na empresa, não há especificação de cargo, isto é, uma declaração dos conhecimentos, habilidades e capacidades exigidas do profissional requerido pela empresa. Antes de encontrar os funcionários recrutados, é preciso conhecer as especificações de cargo para as posições que eles devem preencher (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2003).

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Não há na empresa prática formalizada de recrutamento interno, como meio de fixar os funcionários atuais e dinamizar os planos de carreira. Outro ponto limitante é que os critérios ou métodos de seleção aos quais são submetidos os candidatos durante o processo de seleção não são únicos, isto é, alguns passam pela seleção, outros não; logo, a necessidade de se estabelecerem técnicas para cada caso. Exemplo: para cargos simples – como a maioria dos cargos operacionais –, aplicam-se geralmente entrevista de triagem, provas de conhecimentos e provas de capacidade; para cargos complexos – como gerente e diretores –, aplicam-se uma enorme bateria de testes – provas de conhecimentos, testes psicológicos, testes de personalidades e técnicas de simulação – além de uma série de entrevistas com diversos tomadores de decisão ou formadores de opinião na organização (CHIAVENATO, 2004). Vale mencionar que os ex-funcionários têm caminho aberto para voltar. Então, se eles não passaram por seleção nenhuma da primeira vez, isso vale inclusive para as pessoas com baixa escolaridade e semianalfabetos (infelizmente essas pessoas têm dificuldade de adequação, pois apresentam problema no preenchimento de documentos (parte diária, análise de risco da tarefa, etc., sem falar da assimilação do conteúdo dos treinamentos de segurança e saúde ocupacional, qualidade, meio ambiente, entre outros).

Processos de aplicar pessoasQuanto ao processo de integração na função dos funcionários, recentemente

ocorreu o aprimoramento deste processo, composto de Treinamento Introdutório Geral, Treinamento Específico na Função e Orientação em Serviço (onde o funcionário recebe do orientador funcionário experiente ou supervisor todo o suporte necessário para realização da atividade, principalmente quanto a segurança no trabalho. Caso verifique falha grave no conhecimento necessário para a realização das atividades, pode solicitar retreinamento do funcionário). Como os treinamentos são ministrados por uma equipe própria de profissionais, há a necessidade constante de capacitação destes profissionais, pois eles são muito importantes neste processo.

Já quanto à descrição do cargo conforme as atividades, o que possibilita que seja desempenhado por qualquer pessoa, isso praticamente não existe, pois o que existe é algo obsoleto e desatualizado, feito muito tempo atrás, que não é utilizado.

Um fato que merece atenção é que não se evidencia que a empresa realize avaliação dos resultados e desempenho de seus funcionários. E que 39% dos funcionários consideram importante que seu desempenho seja avaliado pela empresa.

Processos de recompensar pessoasApenas 53% dos funcionários sentem-se recompensados pelo serviço que prestam

à empresa e 28% consideram a oferta salarial e os benefícios sociais da empresa estimulantes para atração de candidatos e retenção de funcionários.

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Segundo dados obtidos na discussão em grupo, há ainda a utilização não adequada de bônus, pois beneficia uns e outros não, o que gera descontentamento e insatisfação dos funcionários. A empresa não possui um plano de cargos e salários; o único critério verificado para reajuste de salário é através do acordo coletivo, e assim de determinado valor não há reajuste nenhum. Quanto à promoção, não há critérios formais definidos para promoção do funcionário.

A empresa não tem nenhum programa de incentivo de funcionários. O programa de benefícios e serviços considerado é só o que exige a legislação trabalhista (férias, 13º salário, salário família, salário maternidade e outros).

Um ponto positivo em relação às outras empresas localizadas no projeto seria a folga dos funcionários (ver a família duas vezes por mês), o que pesa na decisão da permanência do funcionário na empresa. Outros pontos relevantes, mas que por si só não são considerados motivadores, são o plano de saúde restrito apenas ao projeto, passagem ida e volta de folga, alojamento ou moradia, lavanderia, refeições subsidiadas, entre outras de caráter não financeiras, tais como oportunidade de desenvolvimento, reconhecimento na área de segurança – Funcionário Destaque de Segurança (recebe um certificado de reconhecimento).

Processos de desenvolver pessoasVerificou-se que 89% dos funcionários declaram que adquiriram novos

conhecimentos a partir dos treinamentos realizados e 97% gostam da oportunidade de participar de treinamentos.

Há na empresa além dos treinamentos admissionais mencionados, o plano de treinamento anual para atendimento a normas e a solicitação do cliente, que contemplam treinamentos na área de segurança e saúde ocupacional, meio ambiente e qualidade, deixando a desejar quanto a treinamentos de qualificação na função. O investimento em treinamento na empresa é relativamente baixo, pois na maioria das vezes os profissionais que ministram treinamento são do quadro da organização, o que resulta em baixa troca de experiência entre os profissionais.

Muitos dos profissionais que são admitidos não possuem qualificação necessária para o cargo, logo a demanda de investimento em treinamento para compensar. Isso vale para todas as áreas operacionais. Há a necessidade de treinamento ou experiência em carteira (conforme a legislação), logo a necessidade de qualificação desses profissionais com treinamentos operacionais, ministrados por profissionais credenciados pelo SENAI, na área administrativa também, como treinamento em informática, além do gargalo da baixa escolaridade, que é minimizado com a participação de parte dos funcionários em programas de educação de trabalhadores do SESI. Há também na empresa, não de forma regular, curso de operação de equipamento para os funcionários que já são operadores e os que ainda não possuem uma profissão definida (ajudante). Para esse curso, são disponibilizadas vagas conforme a capacidade dos equipamentos disponíveis e a demanda futura por profissionais qualificados.

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Há um processo seletivo que tem por critérios prova escrita 80% e tempo de serviço 20%, em que a empresa disponibiliza as máquinas para ser realizada a parte prática do treinamento, e os funcionários arcam com o custo do treinamento. Desta forma, a empresa proporciona desenvolvimento das pessoas e se beneficia com os profissionais qualificados.

Processos de manter pessoasConstatou-se que a taxa de absenteísmo em 2007 foi de 0,62, em 2008 de 0,73,

em 2009 de 0,68 e de jan./jul. 2010 de 0,36.

Não há uma política de fixação do pessoal (retenção do capital humano). 20% não sentem vontade de permanecer atuando na empresa.

Evidenciou-se a existência de um programa de sugestões pelos funcionários, do qual 81% dos funcionários têm conhecimento.

Higiene, segurança e qualidade de vida dos funcionários são os pontos positivos que merecem destaque. A empresa é certificada OHSAS 18001 – padrão de Saúde Ocupacional e Segurança. É um padrão internacional que permite à empresa atingir, e sistemicamente, controlar e melhorar o nível do desempenho da Saúde e Segurança do Trabalho por ela estabelecido. Que possibilitou a melhoria na sua cultura de segurança e, consequentemente, redução de acidentes, entre outros benefícios.

Apesar de não ter um certificado, a empresa demonstra comprometimento ambiental, em conformidade com os padrões reconhecidos internacionalmente como ISO 14001.

A organização possui o programa 5S. A partir dessa implantação, foi possível perceber as transformações que ocorreram nos seus ambientes físicos e nos seus equipamentos proporcionando um melhor ambiente de trabalho para seus funcionários, nos procedimentos e nas atitudes de seus funcionários. Sua implantação proporcionou menores riscos de acidente e maior preservação ambiental.

Outro programa é o CCQ – Círculo de Controle de Qualidade, que vem sendo uma experiência gratificante, pois valoriza a capacidade de gerar significativos ganhos para o desenvolvimento das pessoas através da participação em equipe na solução de problemas atuais e potenciais, de forma contínua, na melhoria dos resultados e no aprimoramento dos processos de trabalho, apesar do baixo investimento neste programa.

Possui uma CIPAMIM – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes na Mineração, cujo objetivo é observar e relatar as condições de risco no ambiente de trabalho, visando à prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho na mineração. Refere-se à norma regulamentadora NR 22.

A empresa possui um evento que ocorre mensalmente, a reunião mensal de HSEQ (H – health = saúde, S – safety = segurança, E – environment = meio ambiente e Q – quality = qualidade) é um encontro de pessoas com objetivo de equalizar conceitos

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e ações em segurança e saúde ocupacional, meio ambiente e qualidade. Dentre os assuntos tratados, destacamos a apresentação dos resultados estáticos relacionados a equipe (indicador, metas), a divulgação do antes e depois das transformações ocorridas na área com a utilização do programa 5S, apresentação dos trabalhos de CCQ pelos grupos voluntários da empresa que buscam a solução de problemas no seu ambiente de trabalho, entrega de diploma de reconhecimento para o empregado destaque de segurança do mês, o momento especial dos aniversariantes do mês com direito a vídeo com as imagem dos aniversariantes, parabéns e cumprimentos, além da saudação aos novos funcionários, momento cultural Turma do Souzinha (Grupo de teatro amador composto por funcionários da organização), show de talentos, exposição fotos, entre outros; dinâmicas interativas, mensagem final motivacional, entre outros.

Todo esse trabalho reflete uma redução significativa na taxa de frequência de acidentes no decorre dos anos: 2003 – 30.68, 2004 – 7.42, 2005 – 17.66, 2006 – 6.57, 2007 – 5.29, 2008 – 6.37, 2009 – 1.77 e Jan-Jul/2010 0 (zero).

Processos de monitorar pessoasHá um sistema de banco de dados e sistemas de informações de RH, é funcional,

apesar de não serem interligados, se completam.

CONSIDERAÇÕES FINAISObservou-se através da pesquisa que a gestão de pessoas não está claramente

ligada à estratégia da organização. Não há uma política de retenção de talentos. Um ponto consolidado que se destacou na pesquisa e como oportunidade de desenvolvimento é o procedimento de higiene e segurança, que está contemplado dentro do processo de manter pessoas.

A empresa precisa reconhecer que seu mais precioso potencial e seus maiores entraves residem nas pessoas. O diferencial mais importante a ser conquistado é o humano, pois, os demais elementos, equipamentos, materiais, procedimentos, todos dependem do ser humano para que se obtenham os resultados desejados. Logo, essa instituição precisa libertar-se desse processo de gestão tradicional.

E utilizar de novos instrumentos para ajudá-las a gerir melhor as pessoas. Melhorar de modo geral o processo de gestão de pessoas que envolve: processo de agregar pessoas, processo de aplicar pessoas, processo de recompensar pessoas, processo de desenvolver pessoas, processo de manter pessoas e processo de monitorar pessoas. Não existe fórmula mágica, é preciso combinar esses processos de forma a envolver esses funcionários, pois só eles podem realmente fazer essa empresa se destacar entre as demais e obter o sucesso tão desejado.

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REFERÊNCIASCAMPOS, Vicente Falconi. TQC – Controle da Qualidade Total (no estilo japonês). Nova Lima, MG: INDG Tecnologia e Serviços Ltda., 2004. 256p.: il.CARVALHO, Antonio Vieira de; SERAFIM, Oziléa Clen Gomes. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2004. il. ______. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro, RJ: Ed. Campus, 1999. FERREIRA, André. et al. O desafio da gestão de pessoas em uma empresa de pequeno porte. Volta Redonda: UFF, 2009. FINDLAY, Abril Gordon; COSTA, GUEDES, Mauro A.; Sandra Paschoal Leite de Camargo. Guia para apresentação de projetos de pesquisa. Joinville, SC: UNIVILLE, 2006. 26 p.SENATORE, Renato. Treinamentos Empresariais. Disponível em <http://www.senatore.com.br>. Acesso em: mai. 2010.TEIGA, Adriano José. Gestão de Pessoas. Curitiba: IESDE Brasil S. A., 2006. 158p.

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Espaço Científico Canoas v.12, n.1-2 p.22-39 2011

O acesso à água no bairro Diamantino, Santarém/PA, sob a ótica da Justiça

AmbientalElder Willott

Miguel Borgherzan

RESUMOA Justiça Ambiental compreende acesso equitativo a bens ambientais e equitativa distribuição

de riscos ambientais provenientes do progresso econômico. O saneamento básico, complexo de serviços públicos que também compreende o abastecimento de água, destaca-se como uma das bandeiras de luta do movimento que utiliza a Justiça Ambiental como referencial. Objetivando analisar o acesso à água no bairro Diamantino, localizado em Santarém/PA, sob o enfoque da Justiça Ambiental, o presente artigo relaciona variáveis com o fim de confirmar ou refutar a hipótese de que a falta de acesso ao bem ambiental água e o seu acesso de forma inadequada configuram situações de injustiça ambiental. Utilizando-se os dados coletados em pesquisa de iniciação científica realizada por acadêmicos do curso de Direito do Centro Universitário Luterano de Santarém, constatou-se que no referido bairro não há universalização do acesso à água e que a maioria da população corre riscos de contrair doenças de veiculação hídrica, em virtude da falta de controle da potabilidade da água, decorrente do modo de abastecimento por microssistemas e poços particulares.

Palavras-chave: Justiça Ambiental. Abastecimento de água. Desigualdade Ambiental. Riscos ambientais.

ABSTRACTEnvironmental justice includes equitable access to environmental goods and equitable

distribution of environmental risks from economic progress. Basic sanitation, public services complex that also includes water supply, stands out as one of the flags of struggle of the movement that uses environmental justice as a reference. Aiming to analyze the access to water in the Diamond district, located in Santarem, from the standpoint of environmental justice, this article lists the variables in order to confirm or refute the hypothesis that the lack of access environmental good water and access inappropriately configured situations of environmental injustice. Using data collected from research conducted by undergraduate research students of Law of the Lutheran University Center of Santarem, it was found that in that neighborhood there is no universal access to water and that the majority of the population at risk of contracting waterborne diseases, because of lack of control of drinking water, due to the mode of supply for micro systems and private wells.

Keywords: Environmental Justice. Water Supply. Environmental inequality. Environmental risks.

Elder Willott é acadêmico do Curso de Direito do CEULS/ULBRA.Miguel Borgherzan é Orientador.

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INTRODUÇÃOO acesso à água potável é direito fundamental implícito na Constituição vigente

(BORGHEZAN, 2006), cuja realização relaciona-se com os direitos à vida, à saúde, ao meio ambiente e, consequentemente, promove a dignidade da pessoa humana. Contudo, dados do IBGE constatam que 12% (doze por cento) da população urbana não é abastecida de água potável e 8% (oito por cento) não é atendida com ligação domiciliar, sem citar aqueles em que o tratamento é inadequado (BRUNONI, 2002).

Em Santarém, a despeito da abundância de recursos hídricos, a realidade domiciliar nos bairros periféricos evidencia problemas crônicos e permanentes em matéria de acesso à água potável. Por ser compreender essas características e ser o bairro onde se localiza o Centro Universitário Luterano de Santarém, buscou-se em projeto de iniciação científica recente1 diagnosticar a situação do abastecimento de água no bairro Diamantino, com o objetivo de ajudar a comunidade local a reivindicar o desenvolvimento de políticas públicas na área de saneamento básico.

Aprofundando a discussão, o objetivo do presente trabalho é analisar o acesso à água no referido bairro do ponto de vista da Justiça Ambiental, temática relativamente nova2, ligada à equitativa distribuição dos bens e riscos ambientais entre todos, independentemente de grupos étnicos, raciais ou de classe. Partindo da hipótese de que tanto a falta de acesso quanto o abastecimento de água inadequado consubstanciam situações de injustiça ambiental, uma vez que a população predominante no bairro é pobre, busca-se com o auxílio das variáveis renda familiar, ligação domiciliar e modo de abastecimento de água confirmar ou refutar a hipótese pré-concebida. O método de abordagem, portanto, é o hipotético-dedutivo (LAKATOS; MARCONI, 2006a).

A pesquisa de campo que serviu de base para o desenvolvimento desta monografia apresentou resultados precisos, com margem de erro calculada em 3% (três por cento). Os dados foram obtidos mediante a aplicação de formulário aos moradores (domicílios) do bairro, com um total de 21 (vinte e uma) perguntas. Entretanto, para os fins a que se destina essa monografia serão observados apenas os dados concernentes às perguntas relacionadas às variáveis escolhidas.

A hipótese foi extraída, por dedução lógica, do contexto da teoria da Justiça Ambiental, no Brasil introduzida por autores como Henri Acselrad, Selene Herculano, José Augusto Pádua e Gustavo das Neves Bezerra. Segundo essa teoria, os grupos mais pobres da população têm menos acesso aos bens ambientais, ao mesmo tempo

1 Projeto de iniciação científica financiado pelo Programa de Iniciação Científica e Tecnológica (PROICT), do CEULS/ULBRA, intitulado “Levantamento da situação do abastecimento de água e destino das águas servidas no bairro do Diamantino, Santarém, Pará”, realizado no período de agosto de 2007 a dezembro de 2008. Os resultados finais estão disponíveis na biblioteca. Vide referência BORGHEZAN 2008.

2 Acselrad, Herculano e Pádua (2004, p.09) afirmam que: “o conceito de justiça ambiental nasceu da capacidade inventiva dos movimentos sociais dos Estados Unidos, especialmente das organizações forjadas nas lutas pelos direitos civis das populações afrodescendentes a partir da década de 1960, em ouvir o clamor de cidadãos pobres e grupos socialmente discriminados quanto à sua maior exposição a riscos ambientais. Ele decorreu da percepção de que depósitos de lixos químicos e radioativos, ou de indústrias com efluentes poluentes, concentravam-se desproporcionalmente na vizinhança das áreas habitadas por estes grupos”.

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em que sofrem desproporcionalmente uma carga mais elevada dos riscos ambientais produzidos pela sociedade capitalista.

Nesse contexto, bem como pelo fato de, no Brasil, o saneamento básico também ser um dos pontos de discussão abordados pela Justiça Ambiental (ACSELRAD; HERCULANO; PÁDUA, 2004), a análise e a interpretação dos dados restringem-se exclusivamente a essa temática, alternativa teórica de interpretação da realidade social escolhida.

Para tanto, no primeiro capítulo desenvolve-se os conceitos de saneamento básico (gênero) e de abastecimento de água (espécie), estabelecendo o acesso ao saneamento como direito fundamental, o saneamento básico como política pública e o abastecimento de água como serviço público de natureza essencial. No segundo capítulo aborda-se a situação jurídica do abastecimento de água em Santarém no âmbito do exercício das competências legislativa e político-administrativa outorgadas pela Constituição aos municípios. Por fim, no terceiro capítulo enfoca-se inicialmente a temática que embasa a análise das variáveis escolhidas, para, em seguida, apresentá-las e analisá-las, correlacionando-as ao final.

Espera-se que os resultados alcançados evidenciem a situação de desigualdade ambiental decorrente da falta de acesso a um dos serviços públicos essenciais, que tem o condão de levar à população um bem ambiental de tamanha relevância, bem como mobilizem a população a reivindicar melhorias na implementação de políticas públicas que garantam a universalização do serviço e o controle rígido e prévio da potabilidade da água, a fim de que não se corra riscos de contrair doenças de veiculação hídrica.

SANEAMENTO BÁSICO E ABASTECIMENTO DE ÁGUAO conceito de saneamento básico, também modernamente denominado

saneamento ambiental3, vem sendo amplamente debatido. Devido ao papel fundamental na preservação dos recursos hídricos4, Barroso (2002, p.2) parte da noção da água e de seus ciclos no contexto urbano para conceituar o saneamento básico, pois para ele:

Por saneamento entende-se um conjunto de ações integradas, que envolvem as diferentes fases do ciclo da água e compreende: a captação ou derivação da água, seu tratamento, adução e distribuição, concluindo com o esgotamento sanitário e a efusão industrial.

3 O art. 2º, I, do Estatuto da Cidade (Lei n.º 10.257/2001) faz referência a esse termo, elencando o saneamento ambiental como um dos meios de garantia do direito a cidades sustentáveis. Dentre os teóricos da Justiça Ambiental essa terminologia também é recorrente.

4 No presente trabalho, assim como na legislação brasileira federal (Lei n.º 9.433/97, art. 1º), não se distingue “água” de “recursos hídricos”. Em sentido contrário, Rebouças (1999 apud FARIAS, 2005, p.28) afirma: “O termo água refere-se, em regra, ao elemento natural, desvinculado de qualquer uso ou utilização. Por sua vez, o termo recurso hídrico é a consideração da água como bem econômico, passível de utilização com tal fim”.

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Santos (2005, p.14) afirma que, além da preservação dos recursos hídricos, o saneamento básico contribui para o desenvolvimento ambiental sustentável, pois compreende todo um processo que envolve as atividades de abastecimento de água, coleta, tratamento e afastamento dos esgotos sanitários, com a captação de água de mananciais superficiais e subterrâneos e depois devolve à natureza as águas residuais, “interferindo, dessa forma, no ciclo hídrico tanto nos aspectos quantitativos como qualitativos”.

O saneamento básico também corresponde a um dos aspectos mais importantes da saúde pública, pois é considerado um fator determinante e condicionante da saúde (Lei n° 8.080/90, art. 3°)5. Nessa linha, Brunoni (2002, p.64) define saneamento básico como o conjunto de “medidas higiênicas aplicadas especialmente na melhoria das condições de saúde de uma determinada localidade, para o controle de doenças transmissíveis ou não, sobretudo pelo fornecimento de rede de água potável e esgotos sanitários”.

Recentemente, o conceito de saneamento básico foi ampliado e passou a abranger, além das atividades referidas, a drenagem, o tratamento e a disposição final de águas residuais, bem como a recolha, o tratamento e a disposição final de resíduos sólidos6. Em abono a essa nova definição, a Lei n.° 11.445, de 05 de janeiro de 2007, que traça as diretrizes nacionais para políticas de saneamento básico, optando por um conceito denotativo, considera-o como:

Art. 3º Omissis:

I – saneamento básico: conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de:

a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição;

b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente;

c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas;

d) drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: conjunto de atividades,

5 A Lei n.º 8.080/90 dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. O art. 3º reza que “a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País”.

6 A Lei n.º 12.305, de 02 de agosto de 2010, estabeleceu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, após anos de discussão no Congresso Nacional.

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infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas.

Portanto, de um conceito restrito, reflexo da execução dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário pelas empresas estaduais dissociada do manejo de resíduos sólidos e da drenagem urbana realizada diretamente pelos Municípios, passou-se para um conceito mais amplo, compreendendo os quatro serviços como espécies do gênero saneamento básico.

Dentre esses serviços, especial enfoque neste trabalho é dado ao abastecimento de água, cuja definição consta na Lei n.º 11.445/2007 e na Portaria/MS n.º 518/20047, do Ministério da Saúde. A referida lei define abastecimento de água como espécie do gênero saneamento básico, colocando-o no rol do art. 3º, inciso I, afirmando que o abastecimento de água potável é “constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição”. Similar conceito apresenta o art. 4, inciso II, da Portaria/MS n.º 518/2004, abaixo colacionado:

Art. 4º. Para os fins a que se destina esta Norma, são adotadas as seguintes definições:

I - omissis

II - sistema de abastecimento de água para consumo humano – instalação composta por conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, destinada à produção e à distribuição canalizada de água potável para populações, sob a responsabilidade do poder público, mesmo que administrada em regime de concessão ou permissão.

De modo mais técnico, o Decreto n.º 7.217, de 21 de junho de 2010, que regulamenta a Lei n.º 11.445/2007, elenca no art. 4º as atividades compreendidas no âmbito do abastecimento de água:

Art. 4o Consideram-se serviços públicos de abastecimento de água a sua distribuição mediante ligação predial, incluindo eventuais instrumentos de medição, bem como, quando vinculadas a esta finalidade, as seguintes atividades:

I - reservação de água bruta;

II - captação;

III - adução de água bruta;

IV - tratamento de água;

7 Portaria n.º 518/GM, de 25 de março de 2004, do Ministério da Saúde, estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências.

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V - adução de água tratada; e

VI - reservação de água tratada.

A partir desses indicadores conceituais, portanto, extrai-se que abastecimento de água tem natureza de serviço público essencial, e sua prestação depende de políticas públicas que demandam um volume considerável de investimentos por parte do poder público. O atraso no desenvolvimento de políticas públicas na área de saneamento tem como um de seus fatores o adiamento da discussão a respeito das competências materiais e legislativas dos respectivos entes federativos. A solução para o desfazimento desse caos de atribuições pode operar-se a partir da leitura sistêmica da ordem constitucional vigente. Para tanto, é necessário primeiro haver uma configuração da atual situação normativa a respeito do tema no município de Santarém, a fim de que seja constatado o modo como o Município exerce as competências que lhe são outorgadas.

O ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM SANTARÉMHá duas maneiras de o Município prestar o serviço público de água aos munícipes.

De forma indireta, por meio de concessão o Município presta o serviço ao usuário, uma vez que a empresa concessionária é quem lhe faz as vezes. De forma direta, implantando soluções alternativas, construindo poços comunitários, os chamados microssistemas8. Contudo, a obrigação do Município não é apenas em relação à prestação do serviço, mas também no que concerne ao exercício da fiscalização, tanto da qualidade da água quanto do cumprimento dos termos contratuais da concessão.

Em Santarém, o concessionário do serviço é a empresa pública estadual Companhia de Saneamento do Pará (COSANPA), que em 1976 assinou contrato de concessão com o Município pelo período de 30 (trinta) anos. Ocorre que em 2006 expirou o prazo contratual, momento em que houve uma proposta de municipalização do serviço, cogitando-se a possibilidade de criação de uma empresa pública ou autarquia municipal para atuar no setor. Entretanto, a COSANPA continua prestando normalmente o serviço sem ter sido renovado o contrato de concessão. Em outras palavras, a COSANPA continua atuando de fato, embora não haja a necessária e desejável formalização contratual.

Por outro lado, devido pretensões geralmente político-eleitoreiras, cujas raízes datam de décadas, aliadas à ineficiência do concessionário incentivada pela omissão no dever de fiscalizar, o Município acabou por prestar o serviço diretamente mediante a

8 O microssistema é uma espécie de poço comunitário construído pelo poder público, geralmente municipal. As associações comunitárias e/ou de bairros são responsáveis pelo gerenciamento do serviço. Instituem taxas de manutenção que cobrem despesas relativas à energia elétrica e remuneração de pessoal prestador de serviços tais como secretária e agente responsável pela manutenção do motor e dos eventuais cortes por falta de pagamento. Funciona como uma rede de abastecimento de alcance territorial limitado e com horários preestabelecidos em que o usuário armazena a quantidade de água necessária para uso domiciliar em caixa d’água, cisterna ou tanque.

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construção de poços comunitários. Os microssistemas de abastecimento estão previstos na Portaria/MS n.º 518/2004 sob o rótulo de “soluções alternativas” 9.

Contudo, questiona-se se de fato esse modo de prestar o serviço é realmente direto, pois a responsabilidade do gerenciamento fica ao encargo de associações comunitárias, autossustentando-se mediante o pagamento de “tarifa” arbitrada pela própria associação. Além disso, ao prestador do serviço por meio de microssistema cabe a responsabilidade de monitorar a qualidade da água, nos termos do art. 10 da referida portaria, dentre outros deveres.

Por fim, o dever municipal de fiscalizar compreende duas linhas, uma relacionada à obrigação que lhe é imputada por ser poder concedente, e outra relacionada ao previsto na portaria ministerial da pasta da saúde, especificamente em matéria de controle da potabilidade da água, atribuição da secretaria municipal de saúde.

A obrigação do poder concedente deriva da posição de supremacia que goza o Município na relação contratual com o concessionário, natural de todo contrato administrativo. A função fiscalizadora ou de controle está implícita, uma vez que se deve verificar constantemente o atendimento do interesse público e a execução do serviço nos termos do contrato e das normas, sob pena de retomada do serviço pela encampação10.

Em abono ao expendido, o Município também fixou no art. 63 do Plano Diretor municipal a fiscalização quanto ao atendimento do cumprimento do estabelecido no Plano Municipal de Saneamento Ambiental, do planejamento de tarifas para teste do sistema ao gerenciamento da prestação quadrimestral de informações sobre a situação nos níveis de consumo e tarifas cobradas, e da atualização do cadastro das redes e instalações no Município.

Já quando presta o serviço “diretamente”, o Município (entenda-se secretaria municipal de saúde) fica encarregado do controle do nível de potabilidade da água, conforme salienta o art. 7º, da Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde. Isso implica também uma constante fiscalização das atividades desenvolvidas pelas associações comunitárias, a fim de que inexistam irregularidades ou abusos na cobrança de tarifas.

De igual modo, cabe salientar que o Plano Diretor de Santarém prevê também a criação do Conselho Gestor Municipal do Abastecimento de Água, órgão consultivo e deliberativo em relação à matéria, composto pelo Poder Público, órgãos públicos e sociedade civil organizada (art. 61, parágrafo único).

9 Soluções alternativas de abastecimento de água para consumo humano, nos termos do art. 4º, inciso III, da Portaria/MS n.º 518/2004, corresponde a “toda modalidade de abastecimento coletivo de água distinta do sistema de abastecimento de água, incluindo, entre outras, fonte, poço comunitário, distribuição por veículo transportador, instalações condominiais horizontal e vertical”.

10 Previsto no art. 37 da Lei n.º 8987/95, que regula a concessão e a permissão de serviços públicos, afirma que: “Considera-se encampação a retomada do serviço pelo poder concedente durante o prazo da concessão, por motivo de interesse público, mediante lei autorizativa específica e após prévio pagamento da indenização, na forma do artigo anterior”.

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Apesar do ordenamento que regula a matéria ser vasto no sentido de assegurar a melhor prestação do serviço, a ineficiência do serviço é resultado de diversos fatores, incluindo a omissão municipal no dever de fiscalizar o concessionário e os responsáveis pelos microssistemas.

O que pode parecer uma aberração jurídica do ponto de vista teórico, uma vez que o microssistema significa a delegação ao próprio usuário do serviço estatal a ele destinado, evidencia-se no plano dos fatos como uma das melhores soluções paliativas para o fornecimento imediato de água aos domicílios, embora não haja um controle rigoroso quanto aos níveis de potabilidade11.

No mais, a omissão mais absurda exsurge diante da não fiscalização da prestação do serviço pelo concessionário, haja vista que sequer há a formalização do contrato de concessão desde 2006. A inexistência do Plano Municipal de Saneamento Básico também põe em risco inclusive a celebração de convênios com o governo federal, uma vez que o Município poderá até não ser incluído no plano federal de saneamento básico.

O ACESSO À ÁGUA NO BAIRRO DIAMANTINO, SANTARÉM/PA, SOB A ÓTICA DA JUSTIÇA AMBIENTALO núcleo central do presente trabalho funda-se na apresentação dos dados

pertinentes ao projeto de pesquisa financiado pelo Programa de Iniciação Científica e Tecnológica do CEULS/ULBRA, intitulado “Levantamento da situação do abastecimento de água e destino das águas servidas no bairro do Diamantino, Santarém, Pará”, sob a orientação do prof. Msc. Miguel Borghezan12. A pesquisa teve a duração de um ano e meio, com início em agosto de 2007 e término em dezembro de 200813.

Para o fim a que se destina este trabalho, serão observados apenas os dados concernentes às perguntas n.º 1, que questiona se há ligação domiciliar de água

11 Nesse aspecto, interessante notar que os próprios entrevistados manifestaram-se favoráveis à ampliação do número de domicílios atendidos por microssistemas no bairro (41% [quarenta e um por cento]), consoante se infere dos resultados contidos na pergunta n.º 21, que indagou a respeito de quais as soluções indicadas para a melhoria do abastecimento de água. Os demais dados são: 26% (vinte e seis por cento) sugerem a ampliação do serviço e/ou da qualidade através da COSANPA; 11% (onze por cento) sugerem a conscientização para evitar o desperdício; 8% (oito por cento) sugerem a criação de mais poços artesianos próprios (BORGHEZAN, 2008).

12 Também fizeram parte da equipe técnica, além do autor deste trabalho, os seguintes acadêmicos bolsistas e voluntários: Eládio Gregori Monteiro de Souza, Marco José Araújo Machado, Alessandro da Silva Dezincourt, Jônata Gonçalves da Silva, Luciana Gomes do Nascimento, Silvia Mendonça dos Santos, Célia Lemos Figueira, Railanda dos Santos Rêgo, Andson Dias, Andréia Leal e Benedito Aguiar.

13 Em relação aos métodos de pesquisa utilizados, segundo Marconi e Lakatos (2006a, p.176), a técnica de pesquisa utilizada foi a documentação direta, tipo pesquisa de campo, classificado em estudos de verificação de hipótese. O método de abordagem foi o hipotético-dedutivo, enquanto que o de procedimento foi o estatístico. A técnica de coleta de dados empregada foi observação direta extensiva, realizada mediante aplicação de formulário. Foram formuladas 21 perguntas, elaboradas pelos acadêmicos bolsistas e voluntários, com o auxílio do professor-orientador. Num universo de 2.909 (dois mil novecentos e nove) domicílios, a amostra foi de 571, o que corresponde a 19,6% (dezenove vírgula seis por cento) do universo da pesquisa. A amostra foi calculada com base em Fonseca e Martins (2006, p.73) considerando uma margem de erro de 3% (três por cento).

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encanada; n.º 2, que visa saber qual o modo de abastecimento de água; e n.º 4, que indaga a respeito da renda familiar. Tais dados correspondem às variáveis escolhidas. A análise e a interpretação dos dados restringem-se exclusivamente à temática da Justiça Ambiental, alternativa teórica de interpretação da realidade social escolhida nesta monografia. Como o método de abordagem é o hipotético-dedutivo, objetiva-se a confirmação ou refutação da seguinte hipótese: tanto a falta de acesso quanto o abastecimento de água inadequado consubstanciam situações de injustiça ambiental, uma vez que a população predominante no bairro é pobre.

Justiça ambientalCom novos rearranjos de poder, cenários insurgentes e reivindicação de espaço

por “novos” atores sociais, descobre-se aquilo que muitas vezes estava encoberto e emergem novas temáticas a que o Direito, enquanto ciência, deve se arvorar. Dentre essas, a questão ambiental passou a ser o foco das atenções há cerca de cinquenta anos, desde quando então se constrói a ideia de meio ambiente como direito humano difuso futuro.

A partir daí, surge a temática da Justiça Ambiental, entendida como:

(...) o conjunto de princípios que asseguram que nenhum grupo de pessoas, sejam grupos étnicos, raciais ou de classe, suporte uma parcela desproporcional das consequências ambientais negativas de operações econômicas, de políticas e programas federais, estaduais e locais, bem como resultantes da ausência ou omissão de tais políticas. (ACSELRAD; PÁDUA; HERCULANO, 2004, p.10)

Em outras palavras, trata-se da “espacialização da justiça distributiva, uma vez que diz respeito à distribuição do meio ambiente para os seres humanos” (LYNCH, 2001 apud HERCULANO, 2002).

Contrariamente, portanto, infere-se que injustiça ambiental ou desigualdade ambiental consiste no

(...) mecanismo pelo qual sociedades desiguais destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento a grupos sociais de trabalhadores, populações de baixa renda, grupos raciais discriminados, populações marginalizadas e mais vulneráveis. (HERCULANO, 2002, p.2)

Logo, constata-se que a injustiça ambiental decorre da situação de desigualdade social a que determinados grupos, em razão de sua renda financeira, são submetidos, o que os torna mais vulneráveis a riscos ambientais e/ou com menos acesso aos recursos

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naturais. A essa situação de exposição diferenciada de indivíduos e grupos sociais chama-se de desigualdade ambiental ou injustiça ambiental.

No Brasil essa temática ainda está em fase de desenvolvimento, sendo agregadas também bandeiras de luta que denunciem as profundas desigualdades sociais. Herculano (2002, p.3) salienta que, ironicamente, “as gigantescas injustiças sociais brasileiras encobrem e naturalizam o fato da exposição desigual à poluição e do ônus desigual dos custos do desenvolvimento”. Em outra passagem, a autora acrescenta que o desprezo pelo espaço comum e consequentemente pelo meio ambiente confunde-se com o desprezo pelas pessoas pobres e suas localidades.

No que tange ao saneamento básico, Acselrad, Pádua e Herculano (2004) afirmam que somente após a década de 80 o saneamento urbano (aí significando distribuição de rede de água e de esgoto e coleta de lixo sólido) foi incorporado à temática ambiental, passando também a fazer aparecer o componente de desigualdade socioespacial no acesso a tais serviços.

A inclusão do saneamento ambiental como um componente da justiça ambiental justifica-se no

(...) alto grau de desigualdades e de injustiças socioeconômicas, bem como a renitente política de omissão e negligência no atendimento geral às necessidades das classes populares, a questão da justiça ambiental, para ser adequadamente equacionada no Brasil, deve açambarcar uma ampla gama de aspectos. É preciso considerar, por exemplo, tanto as carências de saneamento ambiental no meio urbano quanto, no meio rural, a degradação das terras usadas para acolher os assentamentos de reforma agrária. (ACSELRAD; PÁDUA; HERCULANO, 2004, p.11)

Portanto, infere-se que no meio urbano o saneamento básico foi incorporado como uma das grandes linhas de atuação em defesa de sua implementação de forma igualitária, visando ao alcance dos princípios da universalização, da continuidade e da eficiência do serviço, afinal a justiça ambiental assume feições de reflexão, mobilização e bandeira de luta de diversos sujeitos e entidades.

Análise e interpretação dos dados da pesquisaConforme já dito anteriormente, dentre as 21 (vinte e uma) questões que

compuseram o formulário aplicado no bairro Diamantino, destacou-se para os fins a que se destina esse trabalho apenas três: a primeira em relação à renda familiar; a segunda em relação ao acesso à água encanada; e a terceira em relação ao modo de abastecimento de água. Justifica-se a escolha de apenas essas perguntas pelo fato de que tão somente essas três variáveis guardam relação com a hipótese estabelecida.

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Renda familiarUma das perguntas aplicadas indagava a respeito da renda familiar. A expressão

renda familiar indica o somatório da renda individual dos moradores do mesmo domicílio. Os resultados alcançados foram os seguintes:

FIGURA 1 – Dados sobre renda familiar.

Fonte: Borghezan (2008).

Os dados da quarta pergunta formulada evidenciam que em 31% (trinta e um por cento) dos domicílios entrevistados a renda familiar equivale a um salário mínimo vigente no país; em 27% (vinte e sete por cento) a renda corresponde a dois salários mínimos; em 15% (quinze por cento) atinge mais de três salários mínimos; em 14% equivale a três salários mínimos; 8% (oito por cento) dos domicílios não informaram; ao mesmo tempo em que 5% (cinco por cento) dos entrevistados afirmaram ter renda inferior a um salário mínimo.

A questão que envolve a análise das classes sociais é necessária para se caracterizar o nível de renda da maioria da população residente no bairro, uma vez que corresponde a uma das variáveis levadas em consideração em matéria de justiça ambiental.

Contudo, estabelecer conceitualmente o que significa classe social só não é mais difícil do que mensurar quantitativamente os níveis de renda capazes de caracterizar um indivíduo ou um grupo em determinada categoria social. Vila Nova (2004, p.162) discorre com muito acerto sobre o conceito de classe social, ao mesmo tempo em que expõe o dilema encontrado por quem se arvora nessa área, realçando o papel do pesquisador nesses casos:

Diante das dificuldades metodológicas de identificação das fronteiras entre as classes, o modo mais adequado de usar o conceito de classe é como categoria social (...). Assim, do ponto de vista da pesquisa, uma classe social um conjunto de indivíduos portadores de características comuns no que se refere à renda familiar, à profissão, à escolaridade, ao tipo e ao nível de consumo etc. somente através dessa convenção é possível identificar as classes sociais. O estabelecimento dos limites de renda, educação escolar, consumo etc., para cada classe, deve ser feito com precisão quantitativa, a fim

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de que a noção de classe seja realmente transformada em categoria social e, desse modo, possa ser utilizada na pesquisa. A fixação desses limites, contudo, depende sempre e em última instância do arbítrio de quem formula a categoria social. A partir de que nível de renda os indivíduos pertencem a uma determinada classe social é uma questão cuja resposta, por mais rigorosos que sejam os critérios teóricos ou empíricos adotados para a sua formulação, depende do julgamento do pesquisador.

Para estabelecer categorias com os diferentes níveis de renda, o critério quantitativo adotado foi o preconizado por Lakatos e Marconi (2006b). Buscou-se somente categorias que estavam de acordo com as opções de resposta, cujos níveis apontam os seguintes indicadores das seguintes classes: média-baixa, baixa-alta e baixa-baixa. A caracterização de cada um desses indicadores está transcrito abaixo:

A classe média-baixa, em parte oriunda da ascensão direta das camadas mais baixas, é a que se identifica em maior grau com o ‘proletariado’ e, hoje, parte de seus elementos sofreu rebaixamento (vindos da classe média-média) em consequência da inflação e do achatamento salarial; seus proventos oscilam entre 5 e 10 salários mínimos. (...) Sua preocupação principal é a obtenção da casa própria, em conjuntos residenciais de bairros não muito elegantes e as atividades de lazer.

Os componentes da classe baixa-alta, trabalhadores ou proletários, dependem, para sua sobrevivência, do aluguel de sua força de trabalho, de seu esforço físico, percebendo entre dois e cinco salários mínimos. (...) sua aspiração primordial, na região urbana, é obter moradia própria através das ‘vilas’ da COHAB.

Finalmente, os elementos da classe baixa-baixa ou pobre obtêm até o máximo de dois salários mínimos. Sujeitos a subemprego e desemprego, vivem em casa alugadas nos bairros periféricos e nas favelas. (LAKATOS; MARCONI, 2006b, p.275-276).

Assim, resta configurado que o bairro Diamantino é um bairro predominantemente de classe baixa-baixa ou pobre, pois a maioria da população tem renda inferior a dois salários mínimos.

Ligação domiciliar de águaNa primeira pergunta do formulário, questionou-se ao entrevistado se havia no

domicílio o fornecimento domiciliar de água encanada. Essa variável justifica-se na presente monografia em razão de demonstrar não somente a ausência do serviço público estatal, mas também acerca da não utilização de solução individual de abastecimento. O resultado foi o seguinte:

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FIGURA 2 – Dados sobre água encanada.

Fonte: Borghezan (2008).

Os dados referentes à primeira questão revelam que a grande maioria dos domicílios do bairro tem o serviço de abastecimento de água, por meio de um sistema de canalização. Porém, devido ao fato de o acesso à água ser um direito fundamental (BORGHEZAN, 2006), é dever do Estado implementar e assegurar a todos os domicílios do bairro o acesso à água encanada, atendendo ao princípio da universalização.

De igual modo, a desigualdade ambiental pode manifestar-se tanto sob a forma de proteção ambiental desigual como de acesso desigual aos recursos ambientais. Assim, se há nove por cento de casas em que o acesso à água encanada não foi efetivado, seja via rede de distribuição (microssistema e COSANPA), seja via solução individual (construção de poços), está-se diante de um flagrante caso de injustiça ambiental. Daí a relação desse dado com o exposto acima, uma vez que a pobreza está na raiz da desigual distribuição do acesso aos bens ambientais (ACSELRAD; MELLO; BEZERRA, 2009).

Modo de abastecimento de águaOutra variável utilizada leva em consideração o modo de abastecimento de

água. Essa pergunta guarda relação com a análise da violação do direito à saúde, pois a desigual exposição a riscos também é um dos aspectos caracterizadores de injustiça ambiental. Ao questionar sobre o modo de abastecimento de água, os resultados foram os seguintes:

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FIGURA 3 – Dados sobre modo de abastecimento de água.

Fonte: Borghezan (2008).

Estatisticamente, 42% (quarenta e dois por cento) dos domicílios são abastecidos por microssistemas de abastecimento de água; 25% (vinte e cinco por cento) são abastecidos pela rede pública da COSANPA; 24% (vinte e quatro por cento) buscam solução individual via perfuração de poços particulares; e 9% (nove por cento) dependem de vizinhos para ter água potável.

Os dados evidenciam uma atuação insuficiente do Município, uma vez que a prestação do serviço de abastecimento de água, tanto na forma direta (microssistema) quanto na indireta (COSANPA), atende apenas 67% (sessenta e sete por cento) dos domicílios do bairro. Os demais 33% (trinta e três por cento) dependem de esforço próprio. Verifica-se que os 9% (nove por cento) da questão anterior que não têm água encanada suprem tal necessidade por meio da ajuda de vizinhos. Destaca-se que os poços próprios foram construídos voluntariosamente, sem auxílio nem orientação do poder público.

A desigualdade ambiental, nesse caso, provém tanto da falta ou incorreta adoção de certas políticas governamentais como de omissões por parte do Município. Como já asseverado anteriormente, uma das principais políticas implementadas é a construção de poços comunitários, em que o Município acaba por delegar aos próprios usuários o gerenciamento do serviço, o controle da qualidade e a prestação do serviço.

Por outro lado, o alto índice de domicílios que buscam soluções individuais de abastecimento de água, em decorrência da ineficiência do Estado, evidencia a omissão do titular do serviço de abastecimento em dois planos: um, em relação ao fato de pôr à disposição do usuário o serviço; outro, em relação à ausência de fiscalização na construção dos poços, ausência de um cadastro municipal para fins de controle, tampouco a exigência de seguimento dos padrões da ABNT (associação brasileira de normas técnicas).

Daí também exsurge outra faceta que caracteriza a desigualdade ambiental: maior exposição da população do bairro a doenças veiculadas pela água. A injustiça ambiental

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também se caracteriza pela exposição de grupos menos favorecidos econômica e geograficamente aos riscos decorrentes do desigual acesso aos bens ambientais. No presente caso, ao consumir água de fontes em que não há um controle de qualidade contínuo, acaba-se por não assegurar o direito à saúde, aumentando-se a probabilidade da população atendida por microssistema, poços particulares e água do vizinho contrair doenças de veiculação hídrica14.

Correlação das variáveisAs variáveis utilizadas para fundamentar a refutação ou confirmação da hipótese

aduzida constam dos dados acima referidos. A variável independente utilizada, isto é, aquela que influencia ou afeta outra variável, é a renda familiar dos domicílios investigados. As variáveis dependentes escolhidas, aquelas cujos “valores (fenômenos, fatores a serem explicados ou descobertos, em virtude de serem influenciados, determinados ou afetados pela variável independente” (LAKATOS; MARCONI, 2006a), constam dos dados referentes ao acesso à água.

A variável independente renda familiar condiciona, de acordo com a Justiça Ambiental, uma maior probabilidade de desigualdades decorrentes da falta de acesso a bens ambientais. Dessa forma, consoante constatação de que a maioria da população do bairro estudado é de classe baixa-baixa ou pobre, a não universalização do serviço de abastecimento a todos os domicílios encontra nessa questão um de seus fundamentos.

Quanto à variável dependente relacionada ao modo de abastecimento de água, verifica-se que o mesmo percentual que não tem água encanada em casa é o que se abastece com água do vizinho. Outro aspecto interessante diz respeito à exposição dos riscos decorrentes da maior possibilidade de contaminação de doenças de veiculação hídrica, uma vez que não há o controle contínuo da qualidade da água.

Assim, confirmou-se a hipótese estabelecida previamente, pois a população residente no bairro é predominantemente pobre, com um percentual significativo de residências sem ligação com a rede de distribuição de água encanada, ao mesmo tempo em que dentre aquelas servidas com ligação domiciliar, o modo de abastecimento predominante põe em risco a saúde da população, evidenciando que tanto a falta de acesso à água quanto o acesso por microssistemas e poços consubstanciam claras situações de injustiça ambiental.

14 As doenças de veiculação hídrica são: amebíase, giardíase e criptosporidíase, gastroenterite, febres tifoide e paratifoide, hepatite infecciosa, cólera e verminoses (esquistossomose, ascaridíase, oxiuríase, ancilostomíase). (COPASA, Água não tratada é porta aberta para várias doenças. Disponível em:<http://www.copasa.com.br/media2/PesquisaEscolar/COPASA_Doen%C3%A7as.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2010).

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CONSIDERAÇÕES FINAISData de aproximadamente 40 (quarenta) anos o início da discussão acerca da

temática ambiental, que também assumiu uma dimensão social a partir da imbricação necessária ser humano e meio ambiente. O entendimento mais realístico de que o processo de degradação da biosfera funda-se na sociedade de classes, caracterizada pela desigual distribuição e formas de uso dos recursos ambientais, originou a temática que embasou a elaboração desta monografia. A justiça ambiental, cuja feição política extrapola a teoria propriamente dita, proclama que os riscos ambientais contemporâneos emergem dos impactos causados pela riqueza e pela pobreza, derivados de questões como crescimento econômico e má distribuição de recursos.

Procurou-se evidenciar que o saneamento básico, em especial o serviço de abastecimento de água, também pode ser objeto de estudo voltado para a área socioambiental. O mapeamento de situações que englobam questões pertinentes ao desigual acesso a serviços públicos essenciais elucidam que o direito à cidade sustentável é constantemente violado por quem tem o dever de implementá-lo.

Os direitos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e à saúde também não são respeitados. A ausência do Estado faz com que o particular procure soluções individuais para a satisfação da necessidade de ter acesso à água para consumo humano. Com isso, ao perfurar poços particulares sem a devida observância de normas técnicas põe em risco o manancial subterrâneo, possibilitando eventual contaminação do lençol freático. Noutra perspectiva, a falta de controle de qualidade da água captada aumenta a probabilidade de contaminação por doenças veiculadas pela água.

A situação caótica do abastecimento de água em Santarém tem origem na falta de políticas públicas voltadas para o estabelecimento de um plano municipal de abastecimento de água. A diretiva legislativa constante do Plano Diretor carece de dotação orçamentária, vontade política e gestão administrativa voltada à satisfação de direitos sociais.

Com um plano municipal sistêmico de saneamento básico viabilizar-se-ia a captação de recursos federais e estaduais para a universalização do serviço. Além disso, instrumentos de controle e participação popular seriam aprimorados, tais como a efetivação do Conselho Gestor Municipal do Abastecimento de Água, previsto no Plano Diretor, havendo um legítimo controle da prestação do serviço nos termos do contrato de concessão, microssistemas e poços.

Nesse diapasão, buscou-se confirmar ou refutar a hipótese de que o desigual acesso ao bem ambiental água potável configura uma situação de injustiça ambiental. Consoante exposição do capítulo anterior, os dados confirmaram a hipótese aventada em duas perspectivas: uma em relação à falta de acesso ao serviço de água encanada (9% [nove por cento] dos domicílios do bairro); e outra em relação à falta de controle da potabilidade da água nos domicílios abastecidos por microssistemas, poços particulares e colaboração de vizinhos. Além disso, o suporte que legitima tratar-se de evidente situação de injustiça ambiental é o fato de que a falta de acesso à água e os riscos de contaminação são suportados por uma população predominantemente pobre.

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Destarte, conclui-se que a desigualdade socioespacial no acesso aos serviços concernentes ao saneamento básico exige duas posturas dos sujeitos envolvidos no caso concreto do bairro estudado. Ao prestador do serviço, concessionário e poder concedente, urge o estabelecimento de políticas claras com o estabelecimento de metas a curto, médio e longo prazos. Ao cidadão morador do bairro Diamantino e associações comunitárias, cabe a reivindicação constante pela presença do Estado na criação de infraestrutura que viabilize a prestação de serviços públicos essenciais, podendo inclusive ser judicial, a fim de que os direitos fundamentais sociais sejam efetivados e a dignidade da pessoa humana promovida.

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Espaço Científico Canoas v.12, n.1-2 p.40-43 2011

Concretização do direito fundamental à aposentadoria por idade rural no município

de Alta Floresta/MT

Aline Fagundes dos SantosFranssiely Longhini Carlos

Gabriela Peres RochaJéssica Liliane de Melo

Nilce Delha Oliveira da Silva

RESUMOO objetivo do presente projeto de iniciação científica é levantar dados junto aos segurados

sobre o motivo de indeferimento de benefícios previdenciários relativos a aposentadoria por idade rural no município de Alta Floresta/MT, tendo em vista o grande número de trabalhadores rurais nesta região. A partir deste levantamento, serão traçados estratégias de auxílio para estes trabalhadores junto ao Núcleo de Prática Jurídica da Faculdade de Direito de Alta Floresta, com o objetivo de concretizar este direito fundamental junto à população, cumprindo assim, através da IES, com uma função social.

Palvras-chave: Direito fundamental. Aposentadoria por idade. Poder judiciário.

ABSTRACTThe objective of this project is to raise initiation scientific data along to policyholders, on

the grounds for refusal of pension benefits relating to retirement age in the rural municipality of Alta Floresta/MT, in view of the large number of rural workers in this region. From this survey are plotted strategies to aid these workers at the Center for Legal Practice from the Law Faculty of Alta Floresta, in order to realize this fundamental right from the population, thereby fulfilling by IES with a social function.

Keywords: Fundamental right. Retirement age. Judiciary.

INTRODUÇÃOA vida em sociedade é uma prática deveras antiga e que evolui ao longo dos

tempos estando as pessoas, atualmente submetidas a poder central, um Estado. Este, no decurso do tempo, passou por várias fases, desde o Estado Romano no qual figurava o

Aline Fagundes dos Santos é Mestre em Direitos Fundamentais pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), advogada atuante em Direito Previdenciário, professora Universitária e coordenadora do Grupo de Iniciação Científica em Direito Previdenciário da Faculdade de Direito de Alta Floresta (MT), membro do IBDP. E-mail: [email protected] Franssiely Longhini Carlos, Gabriela Peres Rocha, Jéssica Liliane de Melo e Nilce Delha Oliveira da Silva são acadêmicos do 9º semestre da Faculdade de Direito de Alta Floresta (MT).

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“pater família” como ser decisivo e direcionador, posteriormente o Estado Absolutista, com o “rei” à frente do comando e, por derradeiro, o Estado Moderno.

Este último, também chamado de Estado de Direito, é o que se faz presente até os dias atuais, após atravessar diversas fases, dentre estas, a primeira, a do Estado Mínimo, com direitos de natureza negativa, ou seja, com uma abstenção por parte do Estado para que direitos como à vida, liberdade, propriedade pudessem ser efetivados. Eram direitos que, a priori, mais se faziam necessários.

Adiante, não de forma estanque, mas sim com o propósito de complementação, surgiram os direitos de segunda dimensão, ou seja, aqueles que necessitariam da ação do Estado e não de sua abstenção. E, para tanto, o dispêndio de recursos para a concretização destes direitos tidos como sociais.

Sem mais delongas, não se faz necessário prosseguir dizendo a respeito das próximas dimensões de direitos fundamentais, pois é neste ponto, o dos direitos sociais, mais especificamente, relativos à previdência social, na sua ramificação da aposentadoria por idade, de cunho rural que se pretende discutir, levando em conta a problemática a respeito da falta de concretização deste direito assegurado pela Constituição Federal junto aos segurados especiais do município de Alta Floresta.

JUSTIFICATIVAA pesquisa do tema proposto justifica-se pela importância que ela apresenta à vida

de todos, visto que nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Desta sequência ressalta-se a etapa do envelhecer, pois é nesta fase que se fica mais vulnerável, mais suscetível a enfermidades, ao dissabor de não ter mais forças de se sustentar pelo próprio labor, ao abandono da família, dentre outras peripécias que ocorrem em um estágio de idade avançada.

Ademais não é contemporânea a problemática de haver inúmeros cidadãos necessitando de algum tipo de assistência. Desta forma, ao longo da história e em diversas partes do mundo foram criados mecanismos a fim de amenizar os infortúnios dos desamparados.

A previdência no direito brasileiro está constitucionalmente assegurada nos arts. 201 e 202 e ordinariamente nas Leis nº 8.212, a qual trata do custeio do sistema da seguridade social, e a 8.213, que versa sobre os benefícios previdenciários, os quais dão suporte a todo esse aparato social.

No entanto, com todo esse arcabouço de institutos jurídicos criados para a defesa de um direito previdenciário com o intuito de proteger o indivíduo idoso, trabalhador rural, objeto de estudo dessa pesquisa, ainda assim há diversos casos de pessoas que precisam ingressar com ações no Poder Judiciário para receber seus benefícios, visto que por intermédio do órgão executivo, o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), não obtêm êxito.

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Sendo assim, o fato de um direito fundamental, garantido na Magna Carta de um país democrático de direito, não ser efetivado na esfera que a lei lhe determina, a presente pesquisa se justifica, sob a relevância jurídica e social de tal instituto junto à comunidade rural do município de Alta Floresta.

OBJETIVOSO objetivo geral do projeto é demonstrar que a norma constitucional, a qual

garante um direito fundamental, prevista em seu artigo 6º quando se refere aos direitos sociais, em específico, a previdência social, não é totalmente eficaz tendo em vista seu deficiente cumprimento na esfera Executiva.

Com o propósito de atingir o objetivo, geral faz-se necessário que se discuta sobre a evolução histórica do direito da seguridade e seus princípios, visto que é o gênero do qual a previdência é uma de suas espécies. Quanto à previdência social, imprescindível que se remonte a seu histórico e seus princípios. E, no que tange ao benefício da aposentadoria por idade, sob o aspecto rural, é razoável a explanação de todo o seu transcurso no tempo e espaço, apontando as principais dificuldades encontradas junto ao segurados do município de Alta Floresta/MT.

MÉTODOPara alcançar o objetivo deste projeto de iniciação científica, faz-se necessário a

utilização do método indutivo, caracterizando-se pelo processo mental realizado, o qual parte do pressuposto de que através de dados particulares, suficientemente constatados, deduz-se uma verdade geral ou universal.

O método de procedimento utilizado será o histórico, o qual consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois estas alcançaram a sua forma atual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciados pelo contexto cultural particular de cada época. Também se fará presente o método de procedimento monográfico, sendo que este será baseado no estudo de concessões de benefícios junto à comunidade rural de Alta Floresta, com o auxílio do Sindicato de Trabalhadores Rurais do município.

Complementando a pesquisa, será feito levantamento em sites públicos como do Supremo Tribunal Federal, Tribunais Regionais Federais, IBGE entre outros de estatística para o fim de se confirmar a alta incidência de ingressos de ações judiciais no Poder Judiciário em busca de um direito fundamental que está resguardado na Constituição Federal de 1988.

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RESULTADOS E DISCUSSÃOAté o momento foi realizado um prévio levantamento junto aos sócios do

Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alta Floresta quanto às concessões do benefício de Aposentadoria por Idade Rural.

A próxima etapa do Projeto visa catalogar todos os trabalhadores rurais do município vinculados ao Sindicato Rural, para analisar os motivos de indeferimento do pedido na esfera administrativa, a fim de posteriormente traçar estratégias de trabalho, com base nestas informações, como por exemplo melhor orientação quanto aos documentos necessários para a comprovação do direito, tendo em vista que esta é, em outras localidades, a principal causa de negativa.

A discussão por ora não pode ser traçada, tendo em vista que o projeto está em fase inicial, na coleta de dados para posterior análise dos mesmos e busca de soluções tanto na esfera administrativa como também judicial, contando com o apoio do Núcleo de Prática Jurídica da Faculdade de Direito de Alta Floresta – FADAF.

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Espaço Científico Canoas v.12, n.1-2 p.44-48 2011

Aplicação dos princípios da arquitetura da informação na criação de um software

educativo para o ensino dos fundamentos do jogo de xadrez voltado às crianças

Clara A. B. FernandesJoicy K. C. GadelhaCarlos A. P. Araújo

Márcio D. Cavalcante

RESUMOEste artigo descreve o projeto de estruturação de um software educativo para ensino dos

fundamentos do jogo de xadrez voltado às crianças, através da Arquitetura da Informação (A.I.), objetivando priorizar os aspectos da usabilidade e acessibilidade. Para isso, será realizado estudo das principais metodologias, técnicas e ferramentas da A.I. e posteriormente aplicado na estruturação do Software Educativo. Este trabalho encontra-se em fase de elaboração.

Palavras-chave: Arquitetura da informação. Software educativo.

ABSTRACTThis paper describes the design of structuring an educational software for teaching the

fundamentals of the game of chess aimed at children through the Information Architecture (IA), to prioritize aspects of usability and accessibility. For this study will be conducted of the main methodologies, techniques and tools of AI and later applied in the structuring of Educational Software. This work is in preparation.

Keywords: Information architecture. Educational software.

INTRODUÇÃOEste artigo apresenta a estruturação do Software Educativo (S.E.) para o ensino dos

fundamentos do jogo de xadrez voltado a crianças, a partir dos princípios da Arquitetura da Informação (A.I.). Juntamente com o método de ensino e aprendizagem, a utilização do software deve ocorrer de forma intuitiva e divertida, permitir que as crianças com idade entre 5 a 11 anos consigam, sozinhas ou auxiliadas, utilizar o software.

A partir dos princípios da A.I., serão introduzidos os conceitos e implementada a Usabilidade e Acessibilidade no projeto, bem como realizada a aplicação das metodologias para o desenvolvimento do software.

Clara A. B. Fernandes e Joicy K. C. Gadelha são acadêmicas de Sistemas de Informação CEULS/ULBRA.Carlos A. P. Araújo e Márcio D. Cavalcante são professores especialistas CEULS/ULBRA.

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Os jogos, de modo geral, aplicados às crianças influenciam no desenvolvimento cognitivo, no comportamento e em suas diversas habilidades. Segundo Kishimoto (1994),

Tentar definir o jogo não é tarefa fácil. [...] embora recebam a mesma denominação, têm suas especificidades. Por exemplo, no faz-de-conta, há forte presença da situação imaginária, no jogo de xadrez, as regras externas padronizadas permitem a movimentação das peças. Já a construção de um barquinho exige não só a representação mental do objeto a ser construído, mas também a habilidade manual para operacionalizá-lo.

Jogos trabalhados como atividades lúdicas possibilitam adquirir inúmeras vantagens. O xadrez, por exemplo, tem a capacidade de exercer papel fundamental para o desenvolvimento da criança.

Como destaca Christofoletti (2005), o jogo de xadrez proporciona o aprimoramento de habilidades em função do desafio do jogo, como raciocínio lógico e dedutivo, memória, hábitos influentes, a tomada de decisão e a capacidade de aceitação das regras. A tomada de decisão é decorrente de habilidades como a observação, compreensão, análise e síntese do problema que a jogada apresenta, merecendo atenção e concentração para a atuação.

Desenvolver software independente do seu direcionamento é uma tarefa difícil. Para os tradicionais, existem metodologias que facilitam o seu processo de construção, desde a sua concepção, como o levantamento de requisitos até a finalização do software, com os testes e possíveis manutenções.

Além dos processos padrões de criação de programas, os softwares educativos sofrem aspectos diferenciados, como estabelece Santos (2009):

Tal complexidade é decorrente da necessidade de compreensão do problema que gera a necessidade do software educativo, da especificação do cenário demandante, da análise de possibilidades, da adequada arquitetura das informações disponíveis [...]. Em se tratando de softwares educativos, este processo de desenvolvimento tem que abraçar tanto o funcionamento do sistema propriamente dito quanto os mecanismos pedagógicos e didáticos que constituem a base de todo instrumento de ensino e de aprendizagem.

Para isso é necessário o auxílio tanto da parte de desenvolvimento do software quanto dar atenção à parte pedagógica, visto que os softwares “ajudam a construir conhecimentos ou competências porque tornam acessíveis operações ou manipulações impossíveis ou muito desencorajadoras se reduzidas ao papel e lápis” (PERRENOUD, 2000, p.133).

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Quanto ao desenvolvimento do software educativo infantil, é exigida maior atenção à apresentação dos conteúdos e do modo como será exposto. Para isso, será aplicada a Arquitetura da Informação.

MÉTODOA Arquitetura da Informação permite uma melhor interação entre os usuários

e as informações disponíveis nos softwares. Resumidamente Santos (2006) define: “AI surgiu como a solução para organizar os conteúdos, torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas”.

Portanto, o objetivo da Arquitetura da Informação é organizar grandes quantidades de informações de maneira lógica nos softwares e outros projetos digitais para que o usuário consiga encontrar e compreender as informações que procuram, além de alcançar suas finalidades e realizar suas tarefas com facilidade.

A Arquitetura da Informação possui três áreas fundamentais, a saber:

a) Usuário: é o personagem principal da Arquitetura da Informação, pois é preciso analisar suas necessidades.

b) Contexto: é o objetivo do software, ou seja, é o que define: Qual a sua finalidade? O que motivou o tema para este software educativo? Essas informações são necessárias para obter para a organização dos dados no software na A.I.

c) Conteúdo: são as informações que serão apresentadas. Devem ser curtas e objetivas, pois os usuários desejam informação clara e rápida.

Outros conceitos que merecem destaque na A.I. são a Usabilidade e Acessibilidade. De acordo com Nielsen e Loranger (2007),

A usabilidade é um atributo de qualidade relacionado à facilidade do uso de algo. Mais especificamente, refere-se à rapidez com que usuários podem aprender a usar alguma coisa, a eficiência deles ao usá-la, o quanto lembram daquilo, seu grau de propensão a erros e o quanto gostam de utilizá-la.

O software educativo deve apresentar uma boa usabilidade, ser fácil de utilizar, enquanto a acessibilidade contribui na interação do usuário com o mesmo, sem acarretar problemas em sua utilização. Com isso, o usuário terá mais facilidade em navegar no software.

Torres et al. (2002, p.84) descreve que

A acessibilidade no espaço digital consiste em tornar disponível ao usuário, de forma autônoma, toda a informação que lhe for franqueável (informação para

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a qual o usuário tenha código de acesso ou, então, esteja liberada para todos os usuários), independentemente de suas características corporais, sem prejuízos quanto ao conteúdo da informação.

Segundo Nielsen e Loranger (2007), para manter estruturado o software é necessário aplicar os quatro componentes da A.I.:

a) Sistema de navegação: elemento que auxilia o usuário na busca navegacional de informações.

b) Sistema de organização: define o agrupamento e categorização do conteúdo informacional para simplificar a interação do indivíduo com a interface.

c) Sistema de rotulagem: é uma forma de representar um conjunto de informações utilizando uma palavra ou um ícone, obtendo facilidade em encontrar o que deseja, afetando de forma positiva a navegação do usuário.

d) Sistema de busca: auxilia o usuário a formular consultas inteligentes, facilitando na localização das informações.

A A.I. tem como objetivo principal estudar o comportamento dos usuários. Direcionando ao S.E., é possível verificar a melhor forma de apresentar o conteúdo de acordo com as exigências da criança.

Para que o software educativo de xadrez esteja de acordo com os princípios da Arquitetura da Informação será necessário implementar no desenvolvimento alguns elementos que facilitem a interação do S.E com as crianças.

Os métodos que serão utilizados para estruturar o software são o teste de usabilidade e acessibilidade cujo objetivo é contribuir para o aprimoramento do software educativo. Sendo que esses testes serão aplicados ao público-alvo antes e durante o desenvolvimento do software educativo, através da utilização do protótipo de papel e digital.

Assim será possível estruturar o software educativo com os padrões da arquitetura da informação, da usabilidade e acessibilidade cuja finalidade é proporcionar maior interatividade do usuário com software educativo, facilitando o uso e possibilitando um melhor aprendizado para as crianças.

RESULTADOS PARCIAISEste artigo apresentou algumas propostas de testes para estruturação do Software

Educativo, em conformidade com os princípios da Arquitetura de Informação. Após a aplicação da A.I., o software poderá proporcionar uma melhor interação com crianças em virtude do mesmo apresentar a sua interface totalmente centrada no usuários, facilitando o seu uso através da aplicação de princípios da usabilidade e acessibilidade.

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Tendo em vista as qualidades adquiridas relacionadas ao ensino do jogo de xadrez, o S.E. estruturado vem proporcionar maior satisfação e produtividade por parte das crianças em sua utilização.

Nesse contexto, é notável que a união do processo de ensino e aprendizagem com a estruturação do Software Educativo por meio da Arquitetura de Informação ofereça resultados satisfatórios.

REFERÊNCIAS CHRISTOFOLETTI, D. F. A. O jogo de xadrez na educação matemática. 2005. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd80/xadrez.htm>. Acesso em: 13 abr. 2011.KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. Disponível em: <http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/download/.../10260>. Acesso em: 09 abr. 2011.NIELSEN, Jakob; LORANGER, Hoa. Usabilidade na web: projetando websites com qualidade. Rio de Janeiro: Campus, 2007. 406p.PERRENOUD, Philippe. Novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.SANTOS, Gilberto Lacerda. Alguns princípios para situações de Engenharia de Sotwares Educativos. Disponível em <http://www.revistas.ufg.br/index.php/interacao/article/download/6540/4801>. Acesso em: 14 abr. 2011.SANTOS, Robson Luís Gomes dos. Usabilidade de interfaces para sistemas de recuperação de informação na web: estudo de caso de bibliotecas on-line de universidades federais brasileiras. Disponível em: <http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/.../0313143_06.pdf>. Acesso em: 03 fev. 2011.TORRES, Elisabeth Fátima; MAZZONI, Alberto Angela; MOTA, João Bosco da. A acessibilidade à informação no espaço digital. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ci/v31n3/a09v31n3.pdf>. Acesso em 04 set. 2011.

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Espaço Científico Canoas v.12, n.1-2 p.49-59 2011

Monitoramento da qualidade do processamento da castanha de caju em

função da umidade e rendimento de amêndoa: comparação entre os métodos

artesanal e popularIgo Tarcio Ramos de Menezes

Celso Shiguetoshi Tanabe

RESUMOO caju é composto por aproximadamente 10% de castanha e 90% de pedúnculo; destas duas

partes, o pedúnculo apresenta a menor percentagem de industrialização. Atualmente, no Brasil, várias fábricas industrializam produtos do caju, mas apenas uma minoria faz aproveitamento integral, ou seja, processa o pedúnculo e a castanha. O beneficiamento da castanha do caju visa, basicamente, ao aproveitamento da amêndoa, em menor escala, a extração do líquido da casca da castanha. Da castanha, pode-se obter grande quantidade de produtos e subprodutos como amêndoa, tintas, vernizes, isolantes, colas fenólicas, inseticidas, entre outros. A pesquisa tem como objetivo fazer uma comparação entre dois métodos de beneficiamento da castanha de caju, o artesanal e o popular, em função do rendimento de amêndoa. Para realização da pesquisa foi utilizado o método artesanal descrito na literatura técnica especializada e o de conhecimento popular, onde as castanhas são queimadas em chapas de metal, sustentado por tijolos ou pedras. Em comparação entre os dois métodos, avalia-se que a metodologia artesanal se torna a ideal para o beneficiamento, por proporcionar um aproveitamento da amêndoa significativo em relação ao peso inicial de 85%, enquanto método popular abaixo dos 25%, embora o método popular possibilite um menor tempo de beneficiamento.

Palavras-chave: Beneficiamento. Amêndoa. Castanha de caju.

ABSTRACTCashew is composed of approximately 10% and 90% of brown stalks, these two parts,

the stem has the lowest percentage of industrialization. Currently in Brazil, several factories industrialize cashew products, but only a minority makes full use, ie, processes the stalk and brown. The processing of cashew nut aims basically to use almond, to a lesser extent, the extraction of cashew nut shell liquid. Chestnut, one can get many products and by-products like almond, paints, varnishes, sealers, adhesives phenolic resins, insecticides, among others. The research aims to make a comparison between two methods of processing of cashew nuts, the craft and popular on the yield of almond. To conduct the study was used the method described in the literature artisan specialized technical knowledge and popular, where the nuts are burned into metal plates,

Igo Tarcio Ramos de Menezes é acadêmico do Curso de Engenharia Agrícola do CEULS/ULBRA, bolsista do PROICT (programa de iniciação cientifica).Celso Shiguetoshi Tanabe é professor do CEULS/ULBRA, orientador do PROICT.

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supported by bricks or stones. In comparing the two methods, it is evaluated that the methodology craft becomes ideal for the improvement, for providing a significant advantage of the kernel with respect to the initial weight of 85%, while popular method below 25%, while the method popular enables a shorter processing.

Keywords: Beneficiamento. Almonds. Cashew nuts.

INTRODUÇÃO O cajueiro é uma arvore brasileira, tipicamente nordestina que apresenta grande

importância econômica devido a seu amplo aproveitamento na indústria de alimentos. O Anacardium occidentale L. tem um pedúnculo comestível, suculento, carnoso, perfumado e saboroso, de cor amarelo-avermelhada, dependendo de sua espécie, sendo encontrada também em alguns países dos Continentes Africano, Asiático e da Oceania.

A agroindústria do caju, no modelo implantado e desenvolvido no Nordeste nos últimos anos, vem perdendo a competitividade com o modelo indiano. As plantações de caráter extensivo, ocupando grandes áreas em regime de monocultura, articuladas com indústrias de grande porte sediadas nas grandes cidades, apresentam um elevado custo de mão de obra, contratada para diversas fases do processo produtivo: podas dos cajueirais, colheita e descastanhamento, corte das castanhas, classificação das amêndoas, etc.

A pequena produção agrícola, em regime familiar, diminui sensivelmente esses custos e os da industrialização. Quando as operações iniciais de corte da castanha e preparo prévio das amêndoas são realizadas também nas unidades familiares, pode ter também os custos reduzidos.

No nordeste brasileiro, uma parcela considerável da produção agrícola se concentra nas pequenas unidades familiares, isto é, diferentemente do oeste do Pará, onde o beneficiamento se destina à agricultura familiar, porém o processo de industrialização continua com grandes empresas nos centros urbanos. A primeira alternativa, de maior interesse de algumas indústrias, é a automatização do corte e da classificação, com a drástica diminuição da necessidade de mão de obra.

Em peso, o caju é composto por aproximadamente 10% de castanha e 90% de pedúnculo; destas duas partes, o pedúnculo apresenta a menor percentagem de industrialização. Atualmente, no Brasil, várias fábricas industrializam produtos do caju, mas apenas uma minoria faz aproveitamento integral, ou seja, processa o pedúnculo e a castanha. Outras fazem a extração do LCC – líquido da casca da castanha, aproveitando também o excedente de casca de outras indústrias menores.

O peso de uma castanha pode variar desde 2g até 30g. A maioria das castanhas que chegam às indústrias apresenta um peso médio em torno de 7,0g. A castanha é constituída de três partes: casca, película e amêndoa. A industrialização do caju visa, basicamente, ao aproveitamento da amêndoa da castanha e, em menor escala, à extração do líquido da casca da castanha, existindo, ainda, grande possibilidade de aproveitamento do pedúnculo. Da castanha, pode-se obter grande quantidade de

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produtos e subprodutos como amêndoa, tintas, vernizes, isolantes, colas fenólicas, inseticidas, entre outros. Para o beneficiamento da castanha são necessárias várias operações, que estão descritas abaixo. Diante desta, o objetivo desta pesquisa é Monitorar a Qualidade do Processamento da Castanha de Caju em Função da Umidade, Temperatura de Conservação e Rendimento de Amêndoa.

IMPORTâNCIA DA CASTANhA DE CAJU PARA A ECONOMIA NO OESTE DO PARÁO cajueiro é uma frutífera de grande importância econômica. Tanto o fruto como

a própria planta são utilizados no desenvolvimento de beneficiamentos. O caju é um fruto com um grande potencial de beneficiamento, isso graças a sua morfologia do fruto dividido em castanha e pedúnculo ou pseudofruto. A madeira, que é retirada tanto das podas quanto da troca do plantel produtos, pode ser utilizada como lenha, movimentando as indústrias movidas a energia térmica como olarias e panificadoras.

A castanha, o verdadeiro fruto do cajueiro, é a matéria-prima in natura que deve ter uma atenção especial para o beneficiamento, isso pelo fato de ser o principal produto de exportação e também uma das mais importantes fontes de entrada de divisas para os estados que cultivam a frutífera. No município de Santarém não existem produtores de caju, embora a região seja rica de espécies do mesmo.

Hoje no município existe uma nova política para o aproveitamento dessas frutíferas. Comunidades do planalto santareno já estão estocando castanhas de caju a fim da construção de uma mini-indústria de beneficiamento do mesmo.

A exploração do caju no Nordeste brasileiro tem grande importância socioeconômica representada pela geração de empregos, renda e divisas para o país. Dentre os produtos desta cultura, a amêndoa de castanha de caju destaca-se como o principal produto gerador de divisas. No entanto, o processamento da castanha de caju, através de sistema mecanizado, gera cerca de 40% da produção de amêndoas quebradas, enquanto que no processamento manual este valor se reduz para aproximadamente 20%. Como as amêndoas quebradas não alcançam bom preço no mercado, têm-se estudado alternativas tecnológicas para elaboração de novos produtos a partir destas amêndoas. (LIMA, 2007)

A exploração do caju no oeste do Pará se dá de forma irregular, isso pelo fato de não haver nenhum sistema de produção (produtores da cultura de caju). Embora a região seja propícia à implantação da cultura de caju, inúmeras famílias utilizam o crescimento desordenado da cultura, vendendo o pseudofruto mais o fruto (pedúnculo e castanha) nas estradas de acesso às comunidades de sua origem.

A pequena produção agrícola, em regime familiar, diminui o potencial de industrialização, onde as operações iniciais do beneficiamento da castanha de caju,

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corte da castanha e preparo prévio das amêndoas, realizadas também nas unidades familiares, podem também ter os custos reduzidos.

Hoje o interesse dos pequenos produtores é o beneficiamento em pequena escala, com base nas comunidades rurais, que tanto se possa articular com o mercado importador através de associações ou cooperativas dos próprios comunitários.

MÉTODOS E MATERIAISPara realização da pesquisa, foi utilizado o método artesanal descrito por Paiva

(2000), pesquisador da EMBRAPA, e o de conhecimento popular. E uma amostra de castanha de caju tipo grande (classificação quanto ao tamanho) de 4000g (casca e amêndoa) foi subdividida em quatro subamostras de aproximadamente 1000 gramas. Estas subamostras foram divididas em duas amostras para cada tipo de beneficiamento.

QUADRO 1 – Procedimentos metodológicos.

Beneficiamento artesanal Beneficiamento popular

Secagem da castanha

Limpeza

Classificação

Cozimento

Resfriamento

Decorticação ou corte

Estufagem da amêndoa

Resfriamento

Despeliculagem

Secagem da castanha

Limpeza

Classificação

Queima das castanhas

Resfriamento

Esmagamento ou corte

Secagem da castanha•

As castanhas devem ser secas até obter umidade de 7% a 9%, para que não haja deterioração, principalmente por fungos, durante a estocagem. A secagem é feita espalhando-se as castanhas em terreiros ou quadras de cimento por um período que pode alcançar até cinco dias, dependendo da região. As castanhas devem ser amontoadas em camadas de até 30cm do solo, com revolvimento pelo menos duas vezes por dia, sendo, no período da noite, cobertas com lonas ou plástico, com objetivo de evitar chuvas e agentes externos.

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FIGURAS 1 e 2 – Secagem da castanha de caju em quadro de cimento.

Fonte: Igo Tarcio Ramos de Menezes.

Limpeza•

É conveniente manter as castanhas limpas, livre de folhas, pedras, areia, pedaços de pedúnculo e outras impurezas que são fonte de contaminação e aceleram a deterioração das castanhas durante a armazenagem. A limpeza pode ser efetuada em peneiras manuais ou em chapas perfuradas utilizadas para a calibragem.

Classificação•

Essa operação, também chamada de calibragem, consiste em separar as castanhas por tamanho, em chapas perfuradas de calibres diversos. Essa calibragem torna-se importante para as seguintes operações:

cozimento das castanhas, para permitir a penetração uniforme do calor;

corte em máquinas, regulado para determinado tamanho da castanha.

A classificação pode ser feita com cilindro rotativo, ou peneiras manuais de malhas de arame, ou chapas perfuradas. Para um processo manual, basta utilizar peneiras de calibre diferentes, tais como: castanha grande, peneira com diâmetro de 27mm; castanha média, diâmetro de 24mm; castanha pequena, diâmetro de 18mm, e, para cajuí, usar peneira de diâmetro menor que 18mm.

Cozimento•

Como preparação para o corte, as castanhas devem ser submetidas a uma etapa de cozimento, que pode ser feita em autoclave a 110°C/10min, ou em caldeirão comum por aproximadamente 30 minutos. Elas ficam isoladas da água por meio de uma chapa perfurada, apoiada sobre uma armação de metal, de modo que somente o vapor entre em contato com as castanhas. Para melhor distribuição do vapor no interior das castanhas, a chapa perfurada deve ter um tubo central, também perfurado.

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FIGURAS 3 e 4 – Cozimento da castanha de caju, em autoclave.

Fonte: Igo Tarcio Ramos de Menezes.

Resfriamento e secagem •

Após cozidas, as castanhas são colocadas em local arejado, para o seu resfriamento e para que sequem, facilitando a quebra durante o corte. Esta operação pode ser realizada de duas formas: para cozimento feito em sistemas caseiros, ou seja, sem pressa, as castanhas são colocadas para resfriamento e secagem em lugar arejado, podendo esta operação ser completada em até seis horas. Para cozimento feito em vaso cozedor, as castanhas poderão permanecer por 20 minutos após a operação de cozimento dentro do equipamento, sendo em seguida colocadas para resfriamento por cerca de duas horas.

Decorticação•

Depois de resfriadas, as castanhas são levadas à operação de corte. Aconselha-se que esses operários trabalhem com as mãos protegidas com óleo vegetal, a fim de evitar a ação cáustica do LCC. Nesta operação, obtém-se amêndoa com película e casca.

FIGURAS 5 e 6 – Decorticação da castanha de caju, em autoclave.

Fonte: Igo Tarcio Ramos de Menezes.

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Estufagem da amêndoa•

A secagem visa reduzir a umidade da amêndoa até 2,5%-3,0%, para que a película, até então firmemente aderida à amêndoa, torne-se quebradiça, facilitando a sua soltura. A secagem realiza-se em estufas com circulação de ar quente (60°C a 70°C), por um período de 6h a 8h. As castanhas são colocadas em bandejas teladas e devem ser aquecidas de modo que a película se solte por igual.

FIGURAS 7 e 8 – Estufagem da amêndoa da castanha de caju, em estufa padrão laboratorial.

Fonte: Fonte: Igo Tarcio Ramos de Menezes.

Resfriamento•

O resfriamento da amêndoa pode ser feito sobre mesas ou nas próprias bandejas, em suportes apropriados, por cerca de duas horas, à temperatura ambiente, com o objetivo de preparar o produto para a retirada da película.

Despeliculagem •

A despeliculagem e uma operação simples de torção de dedos conseguem separar a película da amêndoa. Em alguns casos, lança-se mão de estiletes de metal para retirada de partes mais aderentes da película. Muitas vezes essa “amêndoa difícil” necessita voltar à estufa para nova secagem, o que desvaloriza o produto. Pode-se utilizar um cilindro despeliculador de escovas para aumentar a produtividade da operação, porém corre-se o risco de aumentar consideravelmente a percentagem de quebra de amêndoas.

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FIGURAS 9 e 10 – Despeliculagem da amêndoa da castanha de caju.

Fonte: Igo Tarcio Ramos de Menezes.

Queima das castanhas•

Como preparação para o esmagamento ou corte, as castanhas devem ser submetidas a uma queima sobre chapa de metal, sobre chamas, em suportes não inflamáveis como tijolo ou pedras.

FIGURAS 11 e 12 – Queima da castanha de caju.

Fonte: Igo Tarcio Ramos de Menezes.

Esmagamento ou corte•

O esmagamento é uma operação simples de quebra manual da castanha de caju queimada, com a utilização de objetos e matéria densa como madeiras, martelos e outros. Os manipulados quebram a castanha realizando uma pressão na mesma, batendo essas castanhas até a casca se romper.

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FIGURA 13 – Esmagamento ou corte da castanha de caju.

Fonte: Igo Tarcio Ramos de Menezes.

RESULTADOS E DISCUSSÃOOs dados obtidos permitiram a análise das condições experimentais, características

físicas, condições do beneficiamento e qualidade das amêndoas.

Na Tabela 1 são apresentados dados referentes ao beneficiamento artesanal, onde cinco amostras foram submetidas ao beneficiamento artesanal, cada uma com aproximadamente 1000 gramas, e apresentaram um grau de percentagem médio do beneficiamento em relação ao peso inicial de aproximadamente 85%.

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TABELA 1 – Resultados obtidos com o método artesanal.

Peso inicial

(g)

Peso da casca (g)

Peso da amêndoa +

Película

(g)

Rendimento da amêndoa após

estufagem

(%)

Umidade final da amêndoa

(%)

Amostra 1 1000 728 272 87,5 3,0

Amostra 2 1000 704 296 82,835 2,9

Amostra 3 1000 745 255 88 3,0

Amostra 4 1000 712 288 85 2,8

Amostra 5 1000 722 278 87,3 2,5

Média 86,127 2,84

Na Tabela 2 são apresentados dados referentes ao beneficiamento empírico (popular), onde duas amostras foram submetidas ao beneficiamento artesanal, cada uma com aproximadamente 1000 gramas, e apresentaram um grau de percentagem médio do beneficiamento em relação ao peso inicial de aproximadamente 21%.

TABELA 2 – Resultados obtidos com o método empírico (popular).

Peso inicial(g)

Peso da total após queima

(g)

Rendimento da amêndoa após esmagamento

(%)

Umidadefinal da amêndoa

(%)

Amostra 1 1000 584 20,5 2,5

Amostra 2 1000 582 22,4 2,2

Amostra 3 1000 582 22,4 2,1

Amostra 4 1000 585 20,5 2,5

Amostra 5 1000 583 20,5 2,5

Média 21,26 2,36

Os dois métodos aplicados para o beneficiamento da castanha de caju atenderam às exigências requeridas pela metodologia técnica em função da umidade de armazenagem, que é de 2% a3%.

Assim, com os resultados obtidos, a presente pesquisa quanto à análise dos processos beneficiamento da castanha de caju permitiu as seguintes considerações:

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Em comparação entre os dois métodos, avalia-se que a metodologia artesanal se torna a ideal para o beneficiamento da castanha de caju, por proporcionar melhor aproveitamento de amêndoa, significando em relação ao peso inicial de 85%, enquanto método popular abaixo dos 25%;

Os dois métodos se tornam satisfatórios quanto ao teor de umidade da amêndoa ►exigido para armazenagem segundo a literatura técnica de 2% a 3%;

O baixo índice de rendimento da metodologia popular, e proveniente da falta ►de controle de temperatura no processo de queima, e uma falta de técnica no processo de esmagamento ou corte;

O método artesanal se torna, em comparação ao popular, até quatro vezes ►mais caro;

O método popular tem um tempo de beneficiamento três vezes menor que o ►artesanal;

O método artesanal permite a conservação das características físicas da ►amêndoa.

REFERÊNCIASARAÚJO, J. P. P. de; SILVA, V. V. da. Cajucultura: modernas técnicas de produção. Fortaleza: EMBRAPA/CNPAT, 1995.LIMA J. R.; BRUNO L. M. Estabilidade de pasta de amêndoa de castanha de caju. Ciência Tecnologia de Alimentos v.27, n.4. Campinas, out./dez. 2007.NASSU, R. T.; LIMA, J. R.; PAIVA F. F. de A. Boas práticas no processamento de castanha de caju. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2004. 34p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Documentos, 92).OLIVEIRA, V. H. de et al. Produção de castanha em cajueiro-anão precoce sob diferentes regimes hídricos. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2004. 20p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 19)PAIVA, F. F. de A.; GARRUTTI, D. dos S.; SILVA NETO, R. M. da. Aproveitamento industrial do caju. Fortaleza: Embrapa agroindústria Tropical/SEBRAE-CE, 2000. p.17-25.il. (Embrapa Agroindústria Tropical. Documentos, 38).PAIVA, F. F. de A.; SILVA NETO, R. M. da; PAULA PESSOA, P. F. A. de. Minifábrica de processamento de castanha de caju. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2000. 22p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Circular Técnica, 07).

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Reaproveitamento do resíduo do coco (cocos nucifera) no município de Santarém, Pará

Alice Tarciana Ramos de MenezesSylviane Beck Ribeiro

Janaína de Nazaré Ferreira de Carvalho Santos

RESUMOÉ crescente a busca de alternativas que viabilizem a redução de resíduos no ambiente, uma

prática ecologicamente correta e economicamente viável. O coco é um fruto muito comercializado em todo o país, por seu valor nutricional, mais são poucos os estados que reaproveitam seus resíduos. Desta forma, este artigo tem o objetivo de dar subsídio para o reaproveitamento do resíduo do coco, bem como dar soluções para a melhoria da qualidade de vida, tanto pela diminuição do resíduo no ambiente quanto pela possibilidade de geração de renda. Para o levantamento de dados, um questionário foi aplicado com os comerciantes de coco, junto com um folder explicativo quanto à plantação e possíveis formas de aproveitamento do resíduo do coco. O maior fornecedor do fruto é o município de Santarém, com 68%, seguido por 18% para Monte Alegre e 5% para Belterra. Em sua maioria, 64% não sabem que espécie de fruto comercializam; 27% comercializam a espécie Anã e 9% Híbrido e Anã. A média de compra para revenda pode chegar até 500 cocos por semana, com a média de venda por dia chegando a 40 cocos; a maior parte está voltada para a venda somente da água do fruto. 100% dos vendedores jogam os resíduos no lixo. Dos 29% que conhecem alguém que faça algum tipo de aproveitamento, 33% são feitos por artesãos e 67% se dividem em pessoas e empresas que trabalham com o resíduo na fabricação de xaxim, ração para pinto, fabricação de adubo. Desta forma, a viabilidade de se implantar e comercializar produtos a partir do coco é rentável. Voltados para fabricação de vassouras, bijuterias bolsas e acessórios, xaxim e abajur, substrato agrícola, de acordo com o município de Santarém, Pará.

Palavras-chave: Santarém/PA. Coco. Resíduo.

ABSTRACTThere is a growing search for alternatives that enable the reduction of waste in the

environment, a practice environmentally friendly and economically viable. The coconut is a fruit much sold throughout the country, for its nutritional value, plus there are few states that reaproveitam their waste. Thus this article aims to give support for the reuse of waste coconut and give solutions to improve quality of life, both by reducing the waste in the environment and the possibility of generating income. For data collection a questionnaire was applied with traders coconut, along with a brochure explaining about the plantation and possible ways of using waste coconut. The largest supplier of fruit is the city of Santarém with 68%, followed by 18% for Monte Alegre and 5% for Belterra. The majority 64% do not know what kind of fruit sells 27% market Dwarf species and 9% Hybrid and Dwarf. The average purchase for resale can reach up to 500 coconuts per week and

Alice Tarciana Ramos de Menezes é Especialista em Gestão e Educação Ambiental.Sylviane Beck Ribeiro é Doutora em Engenharia Florestal.Janaína de Nazaré Ferreira de Carvalho Santos é Especialista em Contabilidade.

Espaço Científico Canoas v.12, n.1-2 p.60-71 2011

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the average sales per day reaching 40 coconuts. In which the greater part is facing the sale only of coconut water. 100% of the sellers throw waste in the trash. Of the 29% who know someone that makes some sort of recovery, 33% are made by artisans and 67% fall into people and companies working with the residue from the production of tree fern, chick feed, fertilizer manufacturing. Thus the feasibility of deploying and commercializing products from the coconut is profitable. Facing brooms, Jewelry Handbags and accessories, and Xaxim Shade, agricultural substrate, according to the municipality of Santarém, Pará.

Keywords: Santarém/PA. Coco. Waste.

INTRODUÇÃOÉ crescente a busca de alternativas que viabilizem a redução de resíduos no

ambiente, uma prática ecologicamente correta e economicamente viável. Hoje o mundo todo busca alternativas para melhorar a qualidade do ambiente e do homem. Diante disso, conferências ocorrem a todo momento em busca de alcançar soluções. A princípio utilizando os três “erres”: Reduzir, Reutilizar e Reciclar.

Um dos maiores problemas ambientais de Santarém está na poluição, ou seja, despejo inadequado do lixo. Considerando que parte do que iria para o lixo poderia ser reaproveitado de alguma forma, seja ela artesanal ou industrial. Mas isto só poderia ocorrer se houvesse um gerenciamento de resíduo, contando que este fosse de forma adequada, de modo a promover a redução e o desperdício e estimulando a criatividade para a reutilização.

Santarém vem desenvolvendo alternativas para minimizar este problema, como: coleta seletiva, desenvolvida por empresas tais como a RECICLASAN e ANAPLAST, entre outras que comercializam os resíduos em Manaus e Belém e coleta de plásticos para fabricação de mangueiras, respectivamente, além da utilização de resíduos orgânicos para fabricação de artesanato, com a utilização de sementes de açaí.

Atividades de Educação Ambiental podem dinamizar ainda mais esta atividade, transformando a concepção do que é realmente lixo. A educação ambiental é um instrumento importante para divulgar essa mudança de valores a fim de promover a qualidade de vida.

De fato, alternativas para a diminuição de resíduos em Santarém é crescente, mas alternativas para o reaproveitamento do resíduo orgânico do coco ainda não são desenvolvidas ou é desconhecida pelo município. O coco é um fruto muito comercializado em todo o país, por seu valor nutricional, mais são poucos os estados que reaproveitam seus resíduos, assim agravando o problema ambiental. Desta forma a criatividade para o reaproveitamento do resíduo do coco refletirá na melhoria da qualidade de vida, tanto pela diminuição do resíduo no ambiente quanto pela possibilidade de geração de renda. Portanto, este artigo poderá incentivar pessoas que estejam interessadas em trabalhar com este recurso em nosso município.

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ALTERNATIVAS DE REAPROVEITAMENTO DO RESíDUO DO COCOAlternativas para o reaproveitamento do resíduo do coco são inúmeras, basta

criatividade por parte de quem deseja trabalhar com esta atividade. A maioria das aplicações com o resíduo está na confecção do artesanato, mas hoje são desenvolvidas atividades em ritmo industrial, para as quais se utiliza o mesocarpo do fruto, ou seja, a parte que contém maior quantidade de fibras.

Utilização do resíduo do coco em produtos manufaturadosEntre as alternativas, está a confecção de produtos como bijuteria, vassouras,

tapetes, cordas, vasos artesanais, etc. Um desses produtos está citado pelo site do sbrt.ibict.br/upload/sbrt965.pdf.

(...) vassouras e cordas são obtidas a partir de meadas de fibras, que podem ser as fibras mais curtas que não precisam ser do mesmo tamanho. O processo produtivo é simples e não exige pessoal muito especializado.

Outras alternativas, descritas no mesmo site, podem estar na confecção de:

(...) capachos de fibra de coco com plastificação nas bordas para não desfiar e assegurar a duração, com gravação de letras ou logotipos em corante especial e com recorte em baixo relevo para dar destaque. Podem ser cortados em qualquer tamanho com o máximo de 4 metros de largura e 30m de comprimento. Os acabamentos são variados: cordão, kilim, gogin, etc.

A utilização na fabricação de peças artesanais se restringe a colares, brincos, pulseiras e bolsas, confeccionadas principalmente nas regiões norte e nordeste do Brasil. Tais objetos são muitos apreciados por turistas internacionais, sem contar que caracterizam a região onde são produzidos, com sua beleza rústica. Ainda no mesmo site, a casca é utilizada na fabricação do xaxim: “As cascas de coco, além de servirem como adubo orgânico, prestam-se bem para fabricação de vasos, em substituição ao tradicional xaxim”.

Reaproveitamento do resíduo do coco na agriculturaA agricultura está sempre à procura de métodos, de modo a assegurar qualidade dos

produtos de planta. Dessa forma, o resíduo do coco vem sendo testado para fertilização do solo garantindo o acúmulo de substrato, dando à planta maior quantidade de alimento

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e retendo água. Segundo Senhoras (2003, p.20),

(...) a fibra do coco utilizada como componente de substrato à base de turfa proporciona uma alta capacidade de retenção de água, uma elevada aeração do sistema radicular, assim como uma grande estabilidade dos valores de pH e de condutividade elétrica do meio.

A retenção de água e a aeração das raízes dão maior vantagem às plantas cultivadas neste modelo. Além da utilização das fibras da planta, ela também pode se transformar em pó, substância rica em potássio. De acordo com o mesmo autor,

(...) rico em potássio, no solo para reter água e como composto orgânico. Ele também pode se transformar em alternativa em substituição da turfa – material orgânico fossilizado – que com a exploração está afetando o ecossistema.

METODOLOGIA

Área SantarémO município de Santarém está situado no estado do Pará, na região Oeste, limita-

se com os municípios de Belterra, Prainha, Monte Alegre, Alenquer, Juruti, Aveiro, Uruará e Ruropolis. Localiza-se à margem direita do Rio Tapajós. Possui uma área de aproximadamente 26.058 quilômetros quadrados e é banhado pelos rios Amazonas e Tapajós, sendo que esses rios têm suas confluências em frente à cidade. Sua economia está voltada para a agricultura.

Área de estudoPara coleta de dados, a área situa-se no centro comercial de Santarém, onde se

encontram lojas, bares, restaurantes, lanchonetes e ambulantes, área com alto fluxo de pessoas circulando e consumindo, tanto nos dias úteis quanto nos finais de semanas.

Os pontos de comercialização e que serviram para amostra, em destaque com pontos vermelhos, estão localizados no Bairro Centro e Santa Clara do município de Santarém, como mostra a Figura 3.

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FIGURA 3 – Mapa da área central da cidade de Santarém, Pará.

Fonte: Guia turístico de Santarém Tour and Business, 2007.

Material e métodosPara o levantamento de dados, um questionário foi aplicado com os comerciantes de

coco quanto à plantação e possíveis formas de aproveitamento do resíduo do coco. Esse questionário foi entregue aos comerciantes no ato da entrevista. O objetivo foi estimar a quantidade do consumo, bem como a prática da população em consumir a água e a polpa do coco (compra do fruto como um todo), origem e destino final dos resíduos.

Com base nos dados, uma perspectiva de consumo foi traçada. Foram lançadas algumas alternativas para o reaproveitamento do resíduo do coco, que pode ser de forma artesanal ou microindustrial, em âmbito municipal.

Outros dados a serem levantados foram quanto à degradação do ambiente, quando os mesmos resíduos são depositados de forma desordenada. Essa informação foi passada através de fotografias. Para melhor resultado, não houve delimitação de amostras.

RESULTADOS E DISCUSSÃOAs entrevistas realizaram-se nos dias 27, 29 e 30 de junho de 2007, nos bairros

centro e Santa Clara. Com base no modelo de levantamento de dados, obtivemos os seguintes resultados: foram aplicados 22 questionários, sendo que 13 foram para vendedores ambulantes, que possuíam carro próprio para a comercialização, e 9 para vendedores de lanchonetes.

Do fruto coco, 68% do fornecimento são do município de Santarém, 18% são do município de Monte Alegre, 5% do município de Belterra e 9% não sabem qual município fornece o fruto. Como é possível visualizar no gráfico abaixo.

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GRÁFICO 1 – Mercado fornecedor do fruto coco para comercialização.

Fonte: Dados dos autores.

Quanto à espécie do fruto, 27% pertencem à espécie Anã, 9% Híbrido e Anão e 64% não sabem que espécie comercializa. Como mostra o gráfico abaixo.

GRÁFICO 2 – Espécie do fruto coco mais comercializada.

Fonte: Dados dos autores.

Da quantidade de coco comprada por semana, 36% estão entre 50–150, 18% estão acima de 150 até 250, 14% estão acima de 250 até 350 e 32% estão acima de 350 até 500 cocos. Veja o gráfico abaixo.

Híbrido

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GRÁFICO 3 – Média de compra de coco por semana para venda.

Fonte: Dados dos autores.

A média de venda de coco por dia está 18% entre 5–20, 37% acima de 20 até 40, 23% acima de 40 até 70, 18% acima de 70 até 100 e 4% acima de 100 até 150. Como mostra o gráfico abaixo.

GRÁFICO 4 – Média de venda de coco por dia pelos comerciantes.

Fonte: Dados dos autores.

Dos compradores de coco, 91% consomem somente a água do coco e 9% consomem a água e a polpa. Visualizar gráfico abaixo.

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GRÁFICO 5 – Preferência de consumo de coco pelos consumidores.

Fonte: Dados dos autores.

Dos vendedores, 100% responderam que jogam os resíduos (casca) do coco no lixo ou contêiner para a coleta municipal.

Outra pergunta foi o que se comercializava do fruto coco. 86% responderam que somente a água, 9% comercializam a água e polpa do coco e 5% comercializam água e preparavam sucos e vitaminas (Gráfico 6).

GRÁFICO 6 – Direcionamento da comercialização do fruto coco.

Fonte: Dados dos autores.

Sobre os vendedores terem conhecimento de alguém que faça o aproveitamento do resíduo do coco, 27% responderam sim, 59% não e 14% responderam que desconhecem esse tipo de aproveitamento. (Gráfico 7).

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GRÁFICO 7 – Conhecimento do aproveitamento do resíduo do coco.

Fonte: Dados dos autores.

Dos que responderam sim à pergunta anterior, 33% conhecem artesãos que trabalham com a casca e 67% se dividem em pessoas e empresas que trabalham com o resíduo na fabricação de xaxim, ração para pinto, fabricação de adubo, sendo esta localizada em Manaus/AM e na fabricação de “chopinho”. Como é possível visualizar no Gráfico 8.

GRÁFICO 8 – Utilização do resíduo do coco para fabricação de produtos.

Fonte: Dados dos autores.

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Vejamos algumas figuras acerca da venda e deposição final dos resíduos do coco.

FIGURA 4 – Venda de coco por lanchonete.

Fonte: Alice Tarciana Ramos de Menezes.

FIGURA 5 – Venda de coco por ambulantes.

Fonte: Alice Tarciana Ramos de Menezes.

FIGURA 6 – Venda de coco no centro comercial de Santarém.

Fonte: Alice Tarciana Ramos de Menezes.

FIGURA 7 – Deposição do resíduo do coco em contêiner.

Fonte: Alice Tarciana Ramos de Menezes.

FIGURA 8 – Armazenamento do coco em lanchonete.

Fonte: Alice Tarciana Ramos de Menezes.

É crescente o consumo de coco nas cidades em todo o Brasil. A maioria de seus resíduos é depositada de forma inadequada ou é coletada pelo serviço de coleta de lixo. Nota-se também o crescente aproveitamento desses resíduos por processos industriais e artesanais. Soluções que diminuem o volume a ser depositados nos lixões e no ambiente. Conforme afirma Rosa (2007), “Alternativas de aproveitamento da casca de coco verde possibilitam a redução da disposição de resíduos sólidos em aterros sanitários e proporcionam uma nova opção de rendimento junto aos sítios de produção”. Investimentos para esta finalidade também vêm sendo favorecidos por empresas como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a exemplo dos estados da Bahia e Ceará, voltados aos produtores rurais.

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O Município de Santarém é o maior fornecedor de coco para a região, e o consumo por mês pode chegar a aproximadamente 2.000 unidades, isto somente em dois bairros da cidade de Santarém. Em se tratando da cidade como um todo, esta quantidade pode quadruplicar.

Pelo menos nos bairros centrais, a coleta do lixo é regular, portanto os resíduos são levados diretamente para o “lixão” municipal, ao contrário dos demais bairros, onde a coleta de lixo sofre alternações, o que leva à deposição errada no solo, gerando sua degradação, conforme afirma Borges (apud BOGO, 2006). “O substrato do coco verde tem alto teor de tanino, uma matéria orgânica poluente que, em contato com a água, entra em processo de fermentação, ou em contato com o solo entra em processo de acidificação”.

O município de Santarém é mantido principalmente pela agricultura, e a transformação do resíduo do coco em substrato é uma alternativa viável para este fim. Testada em outros centros, esta prática está dando muito certo, e o município pode obter os mesmos resultados aumentando o poder de germinação das mudas cultivadas. Conforme Silveira (2002), “Detectou-se uma boa germinação em todos os tratamentos onde o pó do coco estava presente, provavelmente a alta capacidade de retenção de água desse substrato”. Até chegar neste substrato e alcançar tais resultados é necessária a utilização de técnicas. Carrijo (2002) afirma que

Para a produção da fibra, a casca do coco é picada, desfibrada, triturada, lavada e secada. Para o uso como substrato na produção de mudas, a fibra deve passar por um processo de compostagem. Este processo não é necessário para o uso como substrato em cultivo em solo, mas, no entanto, o substrato necessitará ser enriquecido com nutrientes em pré-plantio ou em fertirrigação.

Alternativas mais viáveis para o município de Santarém estão no artesanato, meio de cultura bastante apreciado devido às características regionais. No estado da Bahia, o artesanato com utilização do coco, admirado no Brasil e no exterior, é bem desenvolvido devido à variedade de coco cultivada naquela região.

CONCLUSÃOO coco Cocos nucifera, principalmente por sua água adocicada, é muito apreciado

nas regiões onde as temperaturas são muito altas. Seguindo a filosofia de que nada se desperdiça, tudo se aproveita, o Município de Santarém produz uma boa quantidade de resíduo de coco para eventual reciclagem. Dos entrevistados, alguns têm conhecimento desse tipo de aproveitamento, mas não tomam iniciativa por acreditar que o investimento não compensa ou por dificuldade de produção.

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São várias as alternativas para implantação de microempresas produtoras de produtos manufaturados provenientes do coco. Vejamos algumas propostas.

Fabricação de vassouras: não necessita de mão de obra qualificada e é de 1. fácil produção;

Fabricação de bijuterias, bolsas e acessórios: aceita pela população e 2. comunidade turística que aprecia esse tipo de lembrança;

Fabricação de xaxim e abajur, os dois de caráter decorativo;3.

Fabricação de substrato agrícola: mais complexo, exige o acompanhamento de 4. engenheiro agrônomo devido à preparação e aplicação da solução no solo.

Essas são algumas alternativas que têm o objetivo de diminuição do resíduo do coco no ambiente e proporcionam renda. Entre essas opções, a busca de financiamento por empresas e bancos fica a critério do interessado. A viabilidade de se implantar e comercializar produtos a partir do coco é rentável.

REFERÊNCIASBOGO, Franchesca. Aproveitamento do resíduo do coco. Disponível em http://www.secom.mt.gov.br/conteudo.php?pageNum_Outras=1046&sid=13&cid=28746&parent=43&totalRows_Outras=20927. Acesso em 28/05/2007, às 17h20min.CARRIJO, O. A.; LIZ, R. S.; MAKISHIMA, N. Fibra da casca do coco verde como substrato agrícola. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 4, p.533–535, dezembro de 2002.FERRARI, Egidio; TONET, Ricardo Moncorvo. Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. Manual técnico das culturas nº 8, Tomo III, Fruticultura. 2.ed., rev., atual. Manual CATI: São Paulo, 1997.MINISTÉRIO da Saúde Brasil, Secretaria de Políticas de Saúde, Coordenadoria Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Alimentos Regionais Brasileiros. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.MOURA, José Inácio Lacerda; LEITE, José Basílio Vieira. Coco. Disponível em http://www.ceplac.gov.br/radar/coco.htm. Acesso em 28//05/2007, às 13h50min.READER’S Digest Brasil Ltda. Alimentos Saudáveis, Alimentos Perigosos: Guia Prático para uma Alimentação Rica e Saudável. Rio de Janeiro: Reader’s Digest. 1998.ROSA, Morsyleide de Freitas. Aproveitamento do resíduo do coco. Disponível em www.embrapa.gov.br. Aceso em 28/05/2007, às 17h34min.SENHORAS, Elói Martins. Estratégia para uma cadeia agroindustrial do coco: Transformando a Ameaça dos Resíduos em Oportunidades Ecoeficientes. Campinas. 2003. SILVEIRA, E. B.; RODRIGUES. V. J. L. B. GOMES, A. M. A. Pó de coco como substrato para produção de mudas de tomateiro. Horticultura Brasileira, Brasília, v.20, n. 2, p.211–216, jun. 2002.VALLEJO, Sérgio. Resíduo do coco. Disponível em sbrt.ibict.br/upload/sbrt965.pdf. Acesso em 28/05/2007, às 13h30min.

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Avaliação da temperatura do solo em três profundidades, sobre diferentes coberturas

vegetais em latossolo amarelo muito argiloso do oeste paraense

G. K. Seben R. C. de Oliveira Junior

C. S. TanabeA. D. Silva

I. C. T. Martins

RESUMOA temperatura do solo está relacionada com os processos de interação solo-planta. Devido à

importância da temperatura do solo para os vegetais, objetivou-se estudar a temperatura no perfil do solo em diferentes profundidades em solo nu e com duas densidades de cobertura vegetal, sendo uma com lavoura de soja e outra com capoeira (testemunha). O experimento foi instalado e conduzido na propriedade do Sr. Edmundo Germano Hermes (Fazenda Mato Grosso) localizada no Km 04, Mojuí dos Campos, Rodovia PA 445. Foram instalados termopares no perfil do solo, nas profundidades de 5, 15 e 30cm. Pelos resultados obtidos, concluiu-se que, quanto maior a densidade de cobertura morta sobre o solo, menor é a variação da temperatura no seu perfil e a temperatura do solo na profundidade de 30cm mostrou-se estável nas três situações, tanto em solo nu como sob o solo com cobertura vegetal.

Palavras-chave: Temperatura do solo. Solos tropicais. Amazônia.

ABSTRACTThe temperature of the soil is related to the processes of soil-plant interaction. Due to the

importance of soil temperature for plants, aimed to study the temperature in the soil profile at different depths in bare soil and with two densities of vegetation cover, being one with soybean crop and another with capoeira (witness). The experiment was installed and conducted on the property of Mr. Edmundo Germano Hermes (Mato Grosso Farm) in Mojuí of fields, KM 04, Highway PA 445. Thermocouples were installed in the soil profile, in the depths of 5, 15 and 30cm. From the results obtained, it was concluded that the higher the density of mulch on the soil, the lower is the

G. K. Seben é Engenheira Agrícola.R. C. de Oliveira Junior é Pesquisador EMBRAPA Amazônia Oriental – Professor CEULS/ULBRA.C. S. Tanabe é Engenheiro Agrícola. Professor CEULS/ULBRA.A. D. Silva é Engenheira Agrícola. Professora CEULS/ULBRA.I. C. T. Martins é Engenheira Agrícola. Professora CEULS/ULBRA.

Espaço Científico Canoas v.12, n.1-2 p.72-78 2011

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temperature variation in your profile and the soil temperature at the depth of 30cm if showed stable in all three situations, both in bare soil as under the ground with vegetation cover.

Keywords: Soil temperature. Tropical soils. Amazon.

INTRODUÇÃOA temperatura do solo está relacionada com os processos de interação solo-

planta (GASPARIN et al., 2005). O solo, além de armazenar e permitir os processos de transferência de água, solutos e gases, também armazena e transfere calor através de suas propriedades térmicas e pelas condições meteorológicas que, por sua vez, influenciam todos os processos químicos, físicos e biológicos do solo (SOUZA et al., 1996). A variação energética, expressa pelo aumento ou redução da temperatura do solo, exerce grande influência biológica, regulando processos como a germinação de sementes, crescimento do sistema radicular, absorção de água e nutrientes, entre outras (MARIN; ASSAD; PILAU, 2008). Hillel (1998) ressalta que há influências externas que também interferem na temperatura do solo, como a localização geográfica, a declividade, a cobertura vegetal, as chuvas, os períodos secos e a ação humana.

O solo, considerado como meio físico onde ocorrem os principais processos fisiológicos para desenvolvimento das plantas, precisa se encontrar numa temperatura adequada para que todos esses processos ocorram. Por isso, Gupta et al. (1984) afirma que as práticas de manejo afetam a temperatura do solo e chegam a interferir, em parte, na própria resposta das culturas. E a soja, planta pertencente à família das leguminosas (SANTOS, 2008), tem importância significativa para a economia nacional, sendo um dos principais produtos agrícolas de exportação e geração de divisas (CUNHA; BERGAMASCHI, 1992). No entanto, a semeadura da soja não deve ser realizada quando a temperatura do solo estiver abaixo de 20,0ºC, pois prejudica a germinação e a emergência. A faixa de temperatura do solo adequada para semeadura varia de 20ºC a 30,0ºC, sendo 25,0ºC a temperatura ideal para uma emergência rápida e uniforme (EMBRAPA, 2004). A disponibilidade de água também é importante, principalmente, em dois períodos de desenvolvimento da soja: germinação-emergência e floração-enchimento de grãos (SANTOS, 2008). A temperatura do solo interfere na evaporação e indiretamente nas condições hídricas (PILLAR, 1995).

A superfície do solo, com ou sem cobertura vegetal, é a principal trocadora e armazenadora de energia térmica nos ecossistemas terrestres (SANTOS, 2008). Porém, o uso de cobertura sobre o solo pode alterar consideravelmente os comportamentos diários de sua temperatura (SANTOS et al., 2008). A cobertura funciona como proteção, reduzindo a amplitude de temperatura e, por consequência, diminuindo a evaporação (FURLANI et al., 2008). Durante o período diurno o perfil do solo atua como um reservatório de calor e à noite em virtude da perda de radiação pela superfície do solo, transforma-se numa fonte de energia liberando-a para as camadas superiores (VIANELLO; ALVES, 1991).

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As práticas de manejo das culturas podem alterar significativamente o regime de temperatura do solo, visto que, os resíduos vegetais deixados na superfície em sistemas conservacionistas agem como atenuadores da amplitude térmica (WILLIS; AMEMIYA, 1973). Uma temperatura bastante elevada ou muito baixa (oscilação térmica) pode causar sérios danos ao desenvolvimento das culturas.

De acordo com Voos e Sidiras (1985), a cobertura vegetal no solo contribui para o fornecimento de matéria orgânica, que se constitui em um reservatório importante de nutrientes para os microrganismos e plantas, colabora com o aumento do teor de água no solo e diminui as variações das geotemperaturas. As coberturas são capazes de modificar o regime térmico dos solos, tanto aumentando quanto diminuindo a temperatura. Normalmente, o material de cobertura cria uma camada isolante que reduz a amplitude térmica diária (MARIN; ASSAD; PILAU, 2008). Essas coberturas podem ser constituídas de materiais de diferentes espessuras e propriedades térmicas.

A medição da temperatura do solo é feita por geotermômetros, geotermógrafos (registram o curso diário ou semanal da temperatura) ou termopares enterrados a diferentes profundidades (SANTOS, 2008). Entretanto, os equipamentos eletrônicos permitem o registro mais preciso e contínuo das temperaturas do solo. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar as variações na temperatura do solo, em três profundidades, sobre diferentes coberturas vegetais em um Latossolo amarelo muito argiloso no oeste paraense.

MATERIAL E MÉTODOSO experimento foi conduzido na Fazenda Mato Grosso, de propriedade do Sr.

Edmundo Germano Hermes, localizada no município de Mojuí dos Campos (02° 01’ 00’’ S e 54° 08’ 34 W), Km 04, na PA 445 em solo com duas densidades de cobertura: cultivo de soja (variedade Tracajá) e área de capoeira. O clima da região obedece ao padrão Ami, de acordo com a classificação de Köppen, e é caracterizado por temperatura do ar média anual de 25,9 ºC e umidade relativa do ar de 86% (SILVA; SABLAYROLLES, 2009). O solo é classificado como Latossolo Amarelo muito argiloso (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2001 ).

A temperatura do solo foi medida por meio da inserção de quatro hastes de alumínio (termopares) nas profundidades de 5, 15 e 30cm com cinco repetições em cada área (lavoura de soja e capoeira). A escolha destas profundidades foi devido às plantas da região possuírem sistema radicular mais concentrado nessas profundidades. Foram realizadas leituras das 8 às 11h, a cada intervalo de uma hora. Na área de plantio da soja, os dados foram coletados em três épocas distintas, sendo: de preparo do solo; aos 30 dias após o plantio e duas semanas antecedendo a colheita. Os dados obtidos foram transferidos e armazenados em planilhas onde foram ordenados, classificados e analisados.

Os valores da temperatura do solo foram comparados, tendo a capoeira como testemunha, possibilitando melhor entendimento sobre a variação das mesmas nas suas

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diversas coberturas vegetais. Os dados foram analisados estatisticamente, por meio do teste T, com nível de significância de 5% para avaliação dos dados, utilizando-se do software Statistic 8.0 (Statsoft Inc.).

RESULTADOS E DISCUSSÕESConforme análise dos resultados obtidos, verificou-se que a temperatura do solo

varia em função da profundidade e condição de cobertura sobre o solo (Tabela 1).

TABELA 1 – Média e desvio padrão da temperatura do solo (°C) em 3 períodos na cultura da soja e em capoeira. Letras diferentes nas colunas mostram diferenças estatística pelo teste T a 5%. Letras maiúsculas

diferentes nas linhas indicam diferenças significativas pelo teste t a 5%.

5cm 15cm 30cm

Soja 1 30,10±0,50 aA 30,1±0,50 aA 30,1±0,50 aA

Soja 2 28,77±0,75 bA 29,69±0,50 bB 29,99±0,46 aC

Soja 3 25,50±0,37 cA 26,58±0,84 cA 26,87±0,43 bB

Capoeira 26,06±0,71 dA 26,27±0,53 cA 26,32±0,28 cA

Nesta Tabela, na fase inicial (soja 01) das determinações, quando o solo ainda estava sendo preparado para o plantio, o mesmo apresentou temperaturas elevadas, em torno de 30◦C, devido, principalmente, à pouca proteção oferecida pela cultura nesta fase inicial do plantio e de desenvolvimento vegetativo. Estatisticamente, não houve diferenças entre os três estágios da cultura de soja e da cultura (Tabela 1). Do mesmo modo, não houve diferenças entre as 3 profundidades neste estágio.

No estágio 2 (soja 2), verificou-se que as temperaturas nas profundidades de 5 e 15cm apresentaram variação estatisticamente diferente (p<0,05). A temperatura na profundidade de 30cm se manteve estável em relação ao primeiro estágio da cultura de soja (diferença não significativa). Nesta última profundidade (30cm), a cobertura proporcionada pela cultura ainda é insuficiente para permitir uma variação na temperatura do solo. Quando se avaliaram as 3 profundidades estudadas, houve diferenças significativas (p<0,05) entre as mesmas.

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No terceiro estágio tornou-se evidente que a média de temperatura tenha sido mais baixa do que nos estágios um e dois, pois as plantas já apresentavam área foliar suficiente para causar um sombreamento em relação ao solo, além de manter a umidade do solo nestas profundidades estudadas. Todas as profundidades, neste estágio, foram significativamente diferentes das temperaturas dos estágios anteriores. Neste estágio, as profundidades de 5 e 15cm não apresentaram diferenças entre si, inferindo-se que o desenvolvimento da cultura já influenciou a diminuição da temperatura na profundidade de 5cm.

Na cobertura de capoeira, onde se verificaram os valores mais baixos de temperatura do solo, não houve variação entre as três profundidades analisadas. Contudo, os valores percentuais das temperaturas nesta cobertura do solo foram significativamente diferentes daquelas verificadas na cultura de soja, em todas as profundidades, somente sendo não significativa na profundidade de 15cm durante o estágio 3 da cultura.

Segundo Eltz e Rovedder (2005), não houve diferenças significativas entre os tratamentos por eles estudados durante as estações de outono, primavera e inverno; contudo, no verão essas diferenças foram apresentadas, fato este condizente com o período deste estudo.

Avaliando o efeito do percentual de cobertura do solo pelas plantas, vários autores (ELTZ; ROVEDDER, 2005; DE MARIA, 2000; DERPSCH et al., 1985) encontraram diminuição da temperatura do solo com o aumento da cobertura, fato este também evidenciado neste trabalho, onde a redução da temperatura do estágio 1 para o estágio 3 foi de 15% na profundidade de 5cm, 12% na profundidade de 15cm e de 11% na profundidade de 30cm.

Comparando-se a temperatura do plantio de soja (estágio 1 e 2) com os valores de temperatura na capoeira, verificou-se diminuição destes na capoeira, em virtude, principalmente, da maior área foliar na capoeira, limitando a entrada de raios luminosos que podem aquecer o solo e evitando a transmissão destes para outras profundidades, fato também revelado por Kunz et al. (sem data), Dallacort, Gasparim e Gnoatto (2002).

CONCLUSÕESAs coberturas vegetais influenciam na temperatura do solo. Quanto maior a •

densidade de cobertura vegetal, menor é a temperatura no perfil do solo.

Em solo nu a temperatura média é maior nas pequenas profundidades, já nos • solos com cobertura vegetal (soja), a média de temperatura varia um pouco devido ao sombreamento das plantas.

Na cobertura de capoeira, a temperatura se mantém com poucas variações • em todas as profundidades.

As variações na umidade e temperatura do solo tendem a diminuir com o • aumento da profundidade de amostragem.

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REFERÊNCIASCUNHA, G. R.; BERGAMASCHI, H. 1992. Efeitos da disponibilidade hídrica sobre o rendimento das culturas. In: BERGAMASCHI, H. (coord.). Agrometeorologia aplicada à irrigação. Porto Alegre: Ed. da UFRGS. p.85-97.DALLACOR, R.; GASPARIM, E.; GNOATTO, E. Variação da temperatura do solo em diferentes profundidades, utilizando duas densidades de cobertura morta. XI Encontro Anual de Iniciação Científica, Maringá, 2002. DE MARIA, I. C. Plantio direto. Centro de Solos e Recursos Agroambientais. Disponível em http://center.barao.iac.br/csra/homesolos. DERPSCH, R.; SIDIRAS, N.; HEINZMANN, F. X. Manejo do solo com coberturas verdes no inverno. Revista Agropecuária Brasileira, Brasília, v.20, p.761-773, 1985.ELTZ, F. L. F.; ROVEDDER, A. P. M. Revegetação e temperatura do solo em áreas degradadas no sudoeste do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Agrociências, v.11(2):193-200, abr.-jun. 2005.EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Tecnologias de Produção de Soja Região Central do Brasil 2004. Embrapa soja: 2004. Disponível em: <http://www.cnpso.embrapa.br/producaosoja/SojanoBrasil.htm>. Acesso em: 05/09/2012.FURLANI, C. E. A. et al. Temperatura do solo em função do preparo do solo e do manejo da cobertura de inverno. R. Bras. Ci. Solo, 32:375-380, 2008.GASPARIN, E. et al. Temperatura no perfil do solo utilizando duas densidades de cobertura e solo nu. Acta Scientiarum. Agronomy, Maringá, v.27, n.1, p.107-115, Jan./March 2005.GUPTA, S. C.; LARSON, W. E.; ALLMARES, R. R. Predicting soil temperature and soil heat flux under different tillage-surface residue conditions. Soil Sci. Soc. Am. J. 48: 223-232, 1984.HILLEL, D. Environmental soil physics (Chapter 12). 3rd ed. Academic Press, San Diego, USA. 1998.KUNZ, M. et al.. Temperatura do solo influenciado pelo sistema de manejo dado ao solo para a cultura do feijoeiro. XIV Reunião Brasileira...MARIN, F. R.; ASSAD, E. D.; PILAU, F. G. Clima e Ambiente: introdução à climatologia para ciências ambientais. Campinas, SP: Embrapa Informática Agropecuária, 2008. 127p. ISBN: 978-85-86168-01-7.OLIVEIRA JUNIOR, R. C.; CORREA, João Roberto Viana. Caracterização dos solos do Município de Belterra, Estado do Pará. Documentos. Embrapa Amazônia Oriental, Belém, v.88, p.1-39, 2001.PILLAR, V. D. 1995. Clima e vegetação. UFRGS, Departamento de Botânica. Disponível em: <http://ecoqua.ecologia.ufrgs.br>. Acesso em: 05/09/2012.SANTOS, M. A. D. et al. Variação da temperatura do solo em cultivo de milho sobre diferentes coberturas. In: Anais do XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia. Anais eletrônicos... Belém: Sociedade Brasileira de Meteorologia, 2008. 5p. Disponível em: <http://www.cbmet.com/cbm-files/14-df118017aefbba3da34b68328feccb57.pdf>. Acesso em: 17/08/2012.

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Normas editoriaisA revista Espaço Científico publica artigos inéditos de natureza empírica e/ou

teórica relacionados às questões atuais das artes e da tecnologia, além de resenhas críticas e informes científicos.

A seleção dos textos para publicação tem como parâmetro a contribuição às áreas envolvidas e à linha editorial da revista, a originalidade do tema ou do tratamento dado ao mesmo, a consistência e o rigor da abordagem teórica.

Os originais recebidos serão examinados pelo Conselho Editorial ou por especialistas ad hoc. Os autores serão comunicados por e-mail da aceitação ou recusa dos trabalhos. Os trabalhos aceitos serão publicados na revista. Qualquer mudança substancial no texto será submetida aos autores.

APRESENTAÇÃO DOS ORIGINAISOs trabalhos devem ser enviados em dois arquivos, um no formato doc ou

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Letra: Times New Roman 9

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Margem inferior e direita: 2cm 9

Espaçamento entre linhas: 1,5 linhas 9

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As páginas devem ser numeradas a partir da página de rosto, no canto superior direito.

Os manuscritos poderão ser escritos em português, inglês ou espanhol. Trabalhos escritos em inglês e espanhol também deverão se submeter às normas da ABNT.

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ESTRUTURA DOS TRABALhOS

- Ficha de identificação: devem ser enviadas em um arquivo separado do restante do artigo, a fim de garantir o anonimato no processo de apreciação dos trabalhos pelos avaliadores, contendo as seguintes informações: título do trabalho, nome do autor, instituição principal à qual o autor se vincula, cargo ou função que exerce, título e/ou formação acadêmica, endereço, telefone, e-mail e/ou outras formas de contato.

- Título (com tradução para o inglês). No caso de o trabalho ser redigido em inglês ou em espanhol, deverá constar a tradução do título para o português;

- Resumo do trabalho, com no máximo 250 palavras, seguido de palavras-chave (com no máximo cinco palavras ou expressões) padronizadas de acordo com a NBR 6028/2003 da ABNT sobre resumos.

- Abstract, com no máximo 250 palavras, seguido de keywords.

- Tabelas: devem ser numeradas na ordem de aparecimento no texto, com um título sucinto, porém explicativo, o qual deverá constar sobre a tabela. Todas as explicações devem ser apresentadas em notas de rodapé e não no cabeçalho, indicadas por asterisco (*). A formatação das tabelas deve utilizar apenas comandos de tabulação (“tab”) e nova linha (“enter”). Não usar funções de criação de tabelas, sublinhar ou desenhar linhas dentro das mesmas, usar espaços para separar colunas, comandos de justificação, nem tabulações decimais ou centralizadas;

- Figuras (fotografias, desenhos, gráficos): devem ser enviados no formato JPG, alta resolução gráfica, numeradas de acordo com a ordem que aparecem no texto, sendo que todas as explicações devem ser colocadas nas legendas. O Conselho Editorial se dá ao direito de suprimir ilustrações excessivas ou redundantes. A expressão “gráfico” não deve ser utilizada. Gráficos devem ser denominados como “figuras” e apresentados em preto e branco ou coloridos, em duas ou três dimensões.

- Citações: citações literais curtas (até três linhas) são integradas ao texto, entre aspas; citações longas (transcrições com mais de três linhas) vão em parágrafo próprio, sem aspas, com entrelinha simples, fonte Times New Roman, tamanho 10. Toda e qualquer citação, seja formal (transcrição), seja conceptual (paráfrase), deve obedecer ao sistema Autor-Data (conforme NBR 10520/2002 da ABNT), pelo qual as citações são indicadas pelo sobrenome do autor seguido da data de publicação, separados por vírgula e entre parênteses. Quanto for necessário especificar a página da obra consultada, esta deverá seguir a data, separada por vírgula.

- Referências: a lista de referências, por ordem alfabética de sobrenome de autor, deve vir no final do texto, e seguir as orientações da NBR 6023/2002, da ABNT. Nas referências com mais de três autores, cita-se o primeiro seguido da expressão et al., respeitando-se uma só orientação em todo o artigo. Até três autores, citam-se os três. O título do periódico, do livro, da dissertação/tese deve estar em itálico. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com os critérios da norma ISO 4 – List of

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serial title word abbreviations (Abreviação de títulos de periódicos) – 1984. Todas as referências devem ser alinhas à margem esquerda do texto.

ALGUNS EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS

LivroCORMEN, Thomas H. Algoritmos: teoria e prática. Traduzido por Vandenberg

D. de Souza. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002. 916p.

Capítulo de livroDUTRA, Loreni Bruch. O papel do pedagogo na atualidade In: COLARES,

Maria Lília Imbiriba Sousa (Org.). Colóquios temáticos em educação: polêmicas da atualidade. Campinas, SP: Alínea, 2005, p.61-68.

Meio eletrônicoBONENTE, Daniele; COSTA, Rosana Gisele C. P. da; RESQUE JÚNIOR, Felipe.

Análise do padrão de desmatamento no município de Rurópolis, na área de influência da BR-163, utilizando o mapeamento participativo. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 13, 2007, Florianópolis. Anais eletrônicos… Florianópolis: INPE, 2007. Disponível em: <http://marte.dpi.inpe.br/col/dpi.inpe.br/sbsr@80/2006/11.15.22.01.46/doc/3763-3769.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2007.

Monografia em meio eletrônicoSOARES FILHO, B. S. Modelagem da dinâmica de paisagem de uma região de

fronteira de colonização Amazônica. 1998. 299f. Tese (Doutorado em Engenharia). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Transporte, 1998. Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/cursos/tutoriais/modelagem/referencias/tese_britaldo/tese.html>. Acesso em: 20 ago. 2008.

PeriódicoGRINOVER, Ada Pelegrini. A defesa penal e sua relação com a atividade

probatória. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, ano 10, n.40, p.91-104, out./dez. 2002.

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TeseTANABE, Celso Shiguetoshi. Viabilidade da análise exergética na elaboração de

tarifas de energia elétrica. 1997. 72f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Curso de Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1998.

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receber os pareceres, o Conselho Editorial avalia-os e decide pela aceitação do artigo sem modificações, pela recusa ou pela devolução aos autores com sugestões de modificações. Conforme a necessidade, um determinado artigo pode retornar várias vezes aos autores para esclarecimentos e, a qualquer momento, pode ter sua recusa determinada. Mas cada versão é sempre analisada pelo Conselho Editorial, que detém o poder da decisão final.

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