revista energia nacional - edição 04

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Artigos: As consequências da morosidade na aprovação do Novo Marco Regulatório da Mineração >> As Mudanças Climáticas e a Hidroeletricidade >> Encarte especial AMUSUH/ ANAMUP: palestra da ANAMUP e oficina promovida pela AMUSUH enriquecem debates no 31° Encontro de Prefeitos Mato-grossenses Nesta edição: Impresso Especial 9912312209DR/BSB ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS SEDES DE USINAS HIDROELÉTRICAS - AMUSUH CORREIOS Julho 2014 [ano 2 edição nº 04] Economia A riqueza mineral do fundo do mar: invisível e imensurável Legislativo PEC que aumenta os recursos dos municípios é “tábua de salvação”, afirma presidente da ANAMUP Sustentabilidade MPF investiga estudos de impacto e planos ambientais de usinas na Amazônia Desenvolvimento Atividade mineradora do Seridó Paraibano ganha o mundo NOVO PACTO FEDERATIVO SOB A AVALIAçãO DO TRIBUTARISTA EDVALDO BRITO: “O pacto federativo que, por hora, redesenha-se não contempla uma tributação diversificada, mas, sim, uniforme para as grandes, as médias e as pequenas cidades”

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Reconhecemos nossas conquistas contabilizando o número de batalhas. O ano de 2014, como era de se esperar, transcorre com uma turbulência fora do comum em decorrência de dois ciclos que realmente mexem com a vida dos brasileiros, a Copa do Mundo e as eleições.

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Page 1: Revista Energia Nacional - Edição 04

Artigos: As consequências da morosidade na aprovação do Novo Marco Regulatório da Mineração >> As Mudanças Climáticas e a Hidroeletricidade >> Encarte especial AMUSUH/ANAMUP: palestra da ANAMUP e oficina promovida pela AMUSUH enriquecem debates no 31° Encontro de Prefeitos Mato-grossenses

Nesta edição:

DEVOLUÇÃOGARANTIDA

C O R R E I O S

ImpressoEspecial9912312209DR/BSB

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS SEDES DE USINAS HIDROELÉTRICAS -

AMUSUHC O R R E I O SJulho • 2014 • [ano 2 • edição nº 04]

EconomiaA riqueza mineral do fundo do mar: invisível e imensurável

LegislativoPEC que aumenta os recursos dos municípios é “tábua de salvação”, afirma presidente da ANAMUP

SustentabilidadeMPF investiga estudos de impacto e planos ambientais de usinas na Amazônia

DesenvolvimentoAtividade mineradora do Seridó Paraibano ganha o mundo

Novo Pacto FEDErativo Sob a avaLiação Do tributariSta EDvaLDo brito:

“O pacto federativo que, por hora, redesenha-se não contempla uma tributação diversificada, mas, sim, uniforme para as grandes, as médias e as pequenas cidades”

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[3] EnergiaNacional • 2014

Editorial ANAMUP/AMUSUH

aS iNcErtEzaS quE Pairam SobrE o muNiciPaLiSmo

J untas, a AMUSUH e a ANAMUP já registram uma história com mais de duas

décadas. Além das conquistas e desafios, o que se observa é uma biografia

de luta pelo fortalecimento do municipalismo em um cenário de muitas dificulda-

des. Em razão da forte e decisiva atuação de suas diretorias ao longo dos anos, as

associações se afirmaram como legítimas defensoras dos direitos dos municípios

com segmentos produtivos distintos responsáveis pela sustentabilidade econômi-

ca do país e, hoje, já contam com o reconhecimento tanto do governo, em todas

as suas esferas, como de outras importantes entidades que também trabalham em

prol do crescimento econômico e desenvolvimento sustentável de nossas cidades.

No que tange às muitas demandas, o acompanhamento das matérias legis-

lativas e o trabalho de articulação junto aos parlamentares têm sido cotidianos,

seja para garantir a aprovação das que reparam erros ou garantem melhorias

necessárias, seja para lutar pela rejeição daquelas que lesam a já frágil susten-

tabilidade econômica dos municípios. E não poderia ser diferente. O Projeto de

Lei 5.807/2013, que institui o Novo Marco Regulatório da Mineração, é um bom

exemplo nesse contexto. Ainda cercada de muita polêmica e controvérsia, a ma-

téria segue estagnada na Câmara dos Deputados, aguardando votação, enquanto

municípios mineradores ainda são regidos pelo obsoleto Código de Mineração de

1967. Ainda nessa conjuntura, há que citar também a PEC nº 406/2009 que prevê

o aumento de 2% do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e o acréscimo

da partilha das contribuições sociais. A PEC pode ser considerada o início de um

novo PACTO FEDERATIVO, para a distribuição do atual bolo tributário, tendo em

vista que o anterior não leva em conta as reais necessidades dos municípios. Ape-

sar da pertinência, a proposta ainda tramita a passos lentos, podendo até não ser

contemplada como deveria – agora se trabalha com a contraproposta de atender

os municípios com apenas 1% do FPM, não com os 2% previstos na PEC, inviabili-

zando o equilíbrio financeiro dos municípios.

Na Agenda Legislativa 2014, lançada em março deste ano, a AMUSUH e a

ANAMUP abordam essas e outras proposições importantes que, positiva ou nega-

tivamente, impactam os municípios geradores de energia hidroelétrica e alagados,

mineradores, petrolíferos e do segmento produtivo em geral. Com a publicação,

os associados tiveram acesso a um balanço claro e conciso do quão é imperio-

so estarem atentos quanto aos projetos que tramitam no Congresso Nacional e

o quanto se faz necessário manterem-se unidos e engajados politicamente para

lutar por seus direitos. Já com relação aos municípios que ainda não se associa-

ram, lamentavelmente acabam sofrendo sérias consequências pela falta de união,

pois não serão representados e nem munidos com informações relevantes sobre

as perdas e ganhos que podem ter com as proposições que tramitam no Poder

Legislativo.

Diante deste cenário e conscientes do papel que exercem, as associações

continuarão fazendo ouvir as vozes dos municípios associados perante os entes

federados. É no município que as coisas de fato acontecem. Então, é para os mu-

nicípios que os recursos têm de ir! Aos que já se juntaram a nós nessa árdua e

vitoriosa missão, o nosso muito obrigado.

Terezinha SperandioSecretária Executiva da AMUSUH e da ANAMUP

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[4] EnergiaNacional • 2014

Palavra dos Presidentes

Associação Nacional dos Municípios Produtores - ANAMUP

PresidentePrefeito de Cachoeiro de Itapemirim–ESCarlos Roberto Casteglione

Vice-Presidente/ Centro-OestePrefeito de Senador Canedo–GOMisael Pereira de Oliveira

Vice-Presidente/ NordestePrefeito de Teixeira de Freitas-BAJoão Bosco Bitencourt

Vice-Presidente/ NortePrefeito de Araguaína-ToRonaldo Dimas

Vice-Presidente/SulPrefeito de Caxias do Sul-RSAlceu Barbosa Velho

Vice-Presidente/SudestePrefeito de Nova Lima-MGCássio Magnani Junior

1.º SecretárioPrefeito de Rondonópolis-MTPercival Santos Muniz

2.º SecretárioPrefeito de São José dos Pinhais–PRLuiz Carlos Setim

Diretor AdministrativoPrefeito de Forquilhinha-SCVanderlei Alexandre

Diretor Financeiro Prefeito de Rio Acima-MGAntônio César Pires de Miranda Júnior

Diretora de ComunicaçãoPrefeita de Porto Real-RJMaria Aparecida da Rocha Silva

Diretor TécnicoDr. Edvaldo Pereira de BritoSalvador-BA

Conselho Deliberativo e Fiscal

Associação Nacional dos Municípios Sedes de Usinas Hidroelétricas - AMUSUH

PresidentePrefeito de Salto do Jacuí-RSAltenir Rodrigues da Silva

Vice-PresidentePrefeito de Foz do Iguaçu-PRReni Pereira

Vice-PresidentePrefeito de Ilha Solteira-SPBento Carlos Sgarboza

1.º SecretárioPrefeito de Presidente Figueiredo-AMNeilson da Cruz Cavalcante

2.º SecretárioPrefeito de Piratuba-SCClaudirlei Dorini

Diretor AdministrativOPrefeito de Araguari-MGRaul José de Belém

Diretor FinanceiroPrefeito de Aratiba-RSLuiz Angelo Poletto

Diretor de ComunicaçãoPrefeito de Itarumã-GOWashington Medeiro do Prado

Secretária Executiva da ANAMUP e AMUSUH:Terezinha Sperandio

REVISTA ENERGIA NACIONAL

Editora-Chefe e Jornalista ResponsávelBruna Lima (DF 9800)

Reportagens: Bruna Lima e Verônica Lunguinho

Projeto Gráfico e Diagramação: Pablo Frioli

Assessores/Colaboradores: Adriana Malgarezi, Arthur Kunz Ferreira, Frederico de Lima Melo, Claudia Ferreira da Rocha

2014: um aNo DE muitoS DESaFioS

r econhecemos nossas conquistas contabilizando o número de batalhas. O ano

de 2014, como era de se esperar, transcorre com uma turbulência fora do co-

mum em decorrência de dois ciclos que realmente mexem com a vida dos brasileiros,

a Copa do Mundo e as eleições.

O foco não mudou, no entanto, mudanças aconteceram e mantivemos nossa pos-

tura de lutar pelas causas que acreditamos e defendemos em prol do municipalismo.

Necessitamos mais uma vez nos unir, para sermos vitoriosos na busca por um novo Pacto Federativo, pacto este que trará dignidade ao nosso bem maior, que é cada cidadão do nosso país. A união e representati-vidade política no fechamento deste ciclo são importantes, para iniciar-mos o próximo ciclo na certeza de alcançarmos nossos objetivos.

muNicíPioS Em aLErta

E stamos em um momento de reflexão. Somos sabedores do potencial hidráuli-

co do nosso Brasil, que corresponde a 10% do potencial mundial, e a hidroe-

letricidade é a principal fonte de geração de eletricidade do país, mas estamos com

o alerta ligado.

Temos como municipalistas unir nos-sas forças para transformarmos este cenário e trocarmos experiências en-tre os municípios, mostrar que somos capazes de mudar o futuro de nossa nação e deixarmos um legado digno para as futuras gerações.

Carlos CasteglionePresidente da ANAMUPPrefeito de Cachoeiro de Itapemirim - ES

Altenir Rodrigues da SilvaPresidente da AMUSUH

Prefeito de Salto do Jacuí - RS

Page 5: Revista Energia Nacional - Edição 04

06

artigoS DESta EDição

ENcartE amuSuh/aNamuP 10

ENtrEviSta

17Edson Pereira NevesINSS – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA “A JUSTIÇA NÃO SOCORRE AqUELES qUE DORMEM”

39Pedro JacobAS CONSEqUêNCIAS DA MOROSIDADE NA APROVAÇÃO DO NOVO MARCO REGULATóRIO DA MINERAÇÃO

23Marco Aurélio Vasconcelos de Freitas e João Leonardo da Silva SoitoAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A HIDROELETRICIDADE

47Vilson CovattiENERGIA MUNICIPALISTA

Sumário Julho • 2014 • [ano 2 • edição nº 04]

Novo Pacto Federativo:pela sustentabilidade econômica dos municípios

Tributarista Edvaldo Brito

EconomiaUma riqueza invisível e imensurável 18Se levados a sério, os recursos minerais marinhos podem ser uma grande aposta para a economia brasileira

A menina dos olhos da Bahia 21Estado vai ganhar a primeira mina de diamantes da América Latina

LegislativoPEC que aumenta os recursos dos municípios é “tábua de salvação”, afirma Casteglione 42Em audiência pública realizada na Câmara, presidente da ANAMUP enfatiza importância de aprovação da proposição

PL nº 4.404/2008: parecer mantém o limite das PCHs 44Deputado Lira Maia segue posicionamento da AMUSUH no parecer do PL nº 6734/2013 45Projeto prevê um programa de incentivo aos municípios sedes de usinas e alagados a ser criado com recursos da CFURH

SustentabilidadeMPF investiga estudos de impacto e planos ambientais de usinas na Amazônia 28Estudos incompletos e planos ambientais desrespeitando a legislação preocupam. Consequências para povos indígenas já são trágicas

DesenvolvimentoAtividade mineradora do Seridó Paraibano ganha o mundo 31Estudos sobre a mineração em municípios da Paraíba ganham destaque em simpósio no México

IBRAM realiza a 8º edição do CBMINA 34

Investimentos em eólica na Bahia passam de R$ 12 bi 36

AMUSUH e ANAMUP reúnem prefeitos em Brasília para buscar apoio político dos parlamentares 10AMUSUH abre agenda de reuniões regionais em Presidente Prudente/SP 14ANAMUP - AMUSUH - 31º Encontro de Prefeitos Mato-grossenses 15

Page 6: Revista Energia Nacional - Edição 04

[6] EnergiaNacional • Julho/2014

Entrevista Tributarista Edvaldo Brito

Energia Nacional >> Por que o acordo de Pacto Federa-tivo vigente tem gerado tanta polêmica e controvérsia?Edvaldo brito >> Porque é inadequado para a realidade atual. Ele foi concebido em 1965, quando o país vivia um planeja-mento executado pela União, em um contexto político autoritário, inclusive no que se refere à gestão pública. A Constituição de 1988, contraditoriamente, manteve esse modelo e, ao mesmo tempo, descentralizou a administração pública em vários setores, como o da saúde e o da educação, sem prover os outros entes federados de recursos financeiros próprios à altura de suas atribuições.

Energia Nacional >> Nesse contexto, na sua avaliação, em quais pontos é imperiosa uma revisão?Edvaldo brito >> O ponto fundamental é a modificação da discriminação de rendas, isto é, da distribuição, no sentido de melhor divisão das receitas tribu-tárias, na medida das atribuições de cada qual desses entes.

Energia Nacional >> As propostas até então apresen-tadas ao governo contem-plam já boa parte das mudan-ças necessárias?

Edvaldo brito >> Não. São propostas de redesenho dessa divisão que não satisfazem ao atendimento dos objetivos in-dicados nas duas respostas an-

Novo Pacto Federativo: pela sustentabilidade econômica dos municípios

Page 7: Revista Energia Nacional - Edição 04

EnergiaNacional • Julho/2014 [7]

teriores, nem naquelas adiante formuladas.

Energia Nacional >> O se-nhor arriscaria apontar o nível de amadurecimento dos diálo-gos que estão sendo promovi-dos em prol de um Novo Pacto Federativo?Edvaldo brito >> O nível desse amadurecimento inexis-te porque nenhum dos três en-tes deseja perder a receita que já têm, sobretudo a União que continua centralista e os Esta-dos porque, dominando com o controle de suas bancadas de parlamentares na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, impedem o fim da cumulativida-de da tributação tão prejudicial ao desenvolvimento econômico.

Energia Nacional >> O que de fato tem emperrado a cons-trução de um padrão aceitável de redistribuição do bolo tri-butário? A recessão econômica pode ser apontada como uma das questões que inviabilizam a remodelagem tão desejada por estados e municípios?

Edvaldo brito >> É cediço que o tributo, do ponto de vista econômico, corresponde a um percentual que se aplica sobre o valor de um objeto econô-mico. Se este valor é zero ou é inexpressivo, o bolo tributário, também, o é. Ora, recessão econômica é conjuntural, por isso, não influi, senão na arreca-dação periódica. A remodela-

gem é questão estrutural, razão porque não se trata de situa-ções cíclicas, mas, sim, de busca de fatos econômicos tributáveis com rentabilidade, sem grava-me para os contribuintes, de ordinário, sempre, os mesmos. É hora de espeçá-los, até para desafogar setores econômicos sufocados pela carga tributária brasileira excessiva.

Energia Nacional >> O senhor é conhecido e reconhe-cido nacionalmente como um militante das causas municipa-listas. No âmbito do Pacto Fe-derativo que por hora se rede-senha, os municípios enquanto ente federado tendem a con-tinuar sofrendo com a falta de autonomia financeira? Continu-ará se evidenciando a histórica queda de braço entre União, Estados e Municípios?

Edvaldo brito >> Munici-palista é um estado de espíri-to, por isso, essa qualidade de ativista não se compadece com

a circunstância de se ter sido autoridade municipal, porque já vi prefeito que se nomeou secretário de fazenda estadual e se transformou, tornando-se insensível aos próprios reclamos de antanho para a reformulação dos cálculos da parcela, perten-cente, constitucionalmente, ao município, correspondente a ¼ (um quarto) da participação na arrecadação do ICMS – imposto sobre operações relativas à cir-culação de mercadorias e sobre prestações de serviços de trans-porte interestadual e intermuni-cipal e de comunicação. Muni-cipalista tem-se um exemplo na Dra. Terezinha Sperandio, secre-tária da ANAMUP, que, nesses seis anos de nossa convivência, nunca a surpreendi em trégua pela luta de mais recursos para o município. Esse exemplo é o de quem patrioticamente, está convencido de que a qualidade de vida com dignidade humana, somente ocorre se as adminis-trações municipais forem dota-das de recursos suficientes para atender as necessidades bási-cas do homem no seu “habitat”. É no âmbito local que ocorrem essas necessidades e somente a administração pública que con-vive, quotidianamente, com elas tem capacidade para atende-las na linha desse peculiar interesse do habitante. O pacto federati-vo que, por hora, redesenha-se, não contempla uma tributação diversificada, mas, sim, unifor-me para as grandes, as médias e as pequenas cidades. O ISS

“O pacto federativo que, por hora, redesenha-se não contempla uma tributação diversificada, mas, sim, uniforme para as grandes, as médias e as pequenas cidades.”

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Entrevista

[8] EnergiaNacional • Julho/2014

Tributarista Edvaldo Brito

é um exemplo: a “Lista de Ser-viços” traz atividades que, em boa parte dos municípios, não corresponde a qualquer de-sempenho na sua economia. Os municípios, assim, continuarão sem autonomia financeira e, portanto, no plano político sem autonomia, a qual somen-te se consegue com suficiência de recursos. A queda de braço permanecerá, enquanto Depu-tados Federais e Senadores não se transformarem em municipa-listas, preferindo servir ao Presi-dente da República de plantão.

Energia Nacional >> Em suas colocações, o senhor pro-põe um direito tributário sob a ótica da “sustentabilidade”. De que forma esse conceito pode ser aplicado em um novo mo-delo de Pacto Federativo?Edvaldo brito >> A susten-tabilidade é a providência poli-ticamente correta, nessa quadra da vida da humanidade, quando se escasseiam os recursos natu-rais pela ação predatória do pró-prio homem, um suicida social. Sustentável é, assim, todo o agir humano na linha da preservação desses recursos para as presen-tes e futuras gerações, como o determina a Constituição repu-blicana e federativa brasileira. Essa linha de conduta tem fun-damentado as minhas coloca-ções, propondo a tributação de todo objeto poluidor. A Alema-nha é pioneira, ao realizar uma reforma tributária ecológica, al-cançando, por exemplo, o cloro

e seus derivados com pesadas alíquotas, abrangendo, inclusive a água potável para impedir o seu desperdício.

Um novo pacto federativo terá de atribuir ao município, pelo privilégio de sua adminis-tração local, a competência tri-butária sobre esses elementos poluidores, sempre, diversifi-cados de município para muni-cípio. Esse novo modelo evita a mazela falada na resposta 5 (cinco) supra de tributar-se os mesmos, sempre.

Energia Nacional >> O senhor é coordenador de uma comissão de prefeitos e consul-tores técnicos designada pela ANAMUP e AMUSUH para ela-borar uma nova proposta de Pacto Federativo a ser apresen-tada no Congresso Nacional. O que se pode esperar dessa pro-posta? As questões emergen-tes referentes à crise financeira dos Estados também estão en-tre os itens de pauta?Edvaldo brito >> O debate, nessa Comissão, será alimenta-

“A sustentabilidade é a providência politicamente correta, nessa quadra da vida da humanidade, quando se escasseiam os recursos naturais pela ação predatória do próprio homem, um suicida social. Sustentável é, assim, todo o agir humano na linha da preservação desses recursos para as presentes e futuras gerações, como o determina a Constituição republicana e federativa brasileira.”

Page 9: Revista Energia Nacional - Edição 04

EnergiaNacional • Julho/2014 [9]

do pelas ideias que exponho, aqui. Espero enriquecê-las com a contribuição dos demais mem-bros, todos muito experientes e dotados do espírito municipa-lista, antes descrito, os quais serão, por isso, capazes de con-tribuir para a elaboração de uma factível nova proposta de pacto federativo. Nada será excluído de apreciação, nem mesmo a crise financeira que assola, tam-bém, os estados que reflete nos municípios nesse formal federa-lismo solidarista ou cooperativo, que se aspira transformá-lo em real, efetivo.

Energia Nacional >> Ana-lisando os impactos negativos da atual estrutura tributária na-cional sobre o crescimento eco-nômico, e considerando a sua defesa no sentido de uma refor-ma que atenda, diretamente, ao contribuinte, qual deve ser o pa-pel da sociedade civil na cons-trução de um Pacto Federativo mais equânime?Edvaldo brito >> Entendo, efetivamente, que reforma da discriminação de rendas, como se vem pretendendo, até aqui, não é reforma tributária. Esta somente existe, quando se mo-dificam as regras de transferên-cia compatível do patrimônio do particular para a coletividade. A mais importante dessas regras é a da comodidade do contribuin-te que, se submetido a vexame, tende à prática da evasão, inclu-sive pela forma ilícita. A socieda-de civil, no seu próprio interesse,

tem de movimentar-se no senti-do de pautar, como prioridade, essas eleições federais de 2014 (presidente da República, depu-tados federais e senadores) para obter deles o compromisso de modificar a equação existente, para um modelo no qual todos contribuam para as despesas públicas na medida de sua ca-pacidade econômica (art. 53 da Constituição italiana) com tribu-tos personalizados e graduados que respeitem essa possibilida-de, dotando-se a administração

tributária de meios para, efetiva-mente, verificar esses elementos quando o contribuinte instá-la, para tanto (§1º do art. 145 da Constituição brasileira).

Energia Nacional >> As disparidades na divisão do bolo tributário têm comprometido, por consequência, a autonomia política dos estados, mas, ainda mais bruscamente, a dos muni-cípios, que ficam com a menor fatia. Diante da sua experiência adquirida como prefeito, vice--prefeito e vereador, como o senhor idealiza uma distribuição viável em contraproposta aos atuais 60%, 23% e 17% cabíveis à União, aos estados e aos mu-nicípios, respectivamente?Edvaldo brito >> Enten-do que em um novo pacto é mais importante uma tributa-ção diversificada para os entes federados, em função de suas peculiaridades, do que divisão percentual do bolo que, além de implicar transversalidades de difícil controle entre esses entes, também, pela prática constitucional atual dos tri-butos de transferência ficou demonstrado que faliu. Os “grant-in-aid” norte-america-nos ou os repasses essenciais e sob controle de aplicabilidade dos recursos pelo ente benefici-ário, adotados pela Alemanha, poderão ser critérios apreciá-veis para essa nova distribuição. O sistema atual fez-me purgar quando prefeito de Salvador, depois vice e, agora, vereador.

“Entendo que em um novo pacto é mais importante uma tributação diversificada para os entes federados, em função de suas peculiaridades, do que divisão percentual do bolo que, além de implicar transversalidades de difícil controle entre esses entes, também, pela prática constitucional atual dos tributos de transferência ficou demonstrado que faliu.“

Page 10: Revista Energia Nacional - Edição 04

[10] EnergiaNacional • Julho/2014

amuSuh e aNamuP reúnem prefeitos em brasília para buscar apoio político dos parlamentaresAgenda Legislativa 2014, lançada durante o encontro, aponta as bandeiras de atuação das entidades em favor do fortalecimento do municipalismo

Page 11: Revista Energia Nacional - Edição 04

ENcartE ESPEciaL amuSuh/aNamuP

EnergiaNacional • Julho/2014 [11]

agENDa LEgiSLativa 2014

AMUSUH/ANAMUPjuntas pelo fortalecimento do Municipalismo

PELA APROVAÇÃONa Câmara

• Proposta de Emenda à Constituição 406/2009• Projeto de Lei 5.807/2013• Proposta de Emenda à Constituição 190/2012

No Senado• Projeto de Lei da Câmara 315/2009

PELA REJEIÇÃONa Câmara

• Projeto de Lei Complementar 82/2011• Projeto de Lei 6.734/2013

A Associação Nacio-nal dos Municípios Sedes de Usinas H i d r o e l é t r i c a s

(AMUSUH) e a Associação Na-cional dos Municípios Produto-res (ANAMUP), com o apoio da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Municípios Sedes de Usinas Hidroelétricas, realiza-ram, nos dias 25 e 26 de março, na Câmara dos Deputados, mais um importante encontro de prefeitos. A exemplo de outros eventos promovidos pelas enti-dades, o quórum foi expressivo e tomou ares de mobilização.

Na abertura, o tom dos discur-sos do prefeito de Salto do Jacuí/RS, Altenir Rodrigues, e do prefei-to de Cachoeiro de Itapemirim/ES, Carlos Casteglione, presi-dentes, respectivamente, da

AMUSUH e da ANAMUP, era de apelo pela união dos municípios frente às demandas atuais. “Se não nos unirmos em prol de nos-sos interesses, não vamos só dei-xar de ganhar, vamos perder, e as perdas previstas podem ser o fim da já frágil sustentabilidade eco-nômica de nossos municípios”, destacou Altenir. Casteglione res-saltou a necessidade de “engros-sar as fileiras” nas discussões que envolvem as problemáticas muni-cipais. “Tenho conversado com a bancada capixaba sobre os pro-blemas recorrentes nos municí-pios produtores. queremos fazer deste momento um marco de luta em defesa do municipalismo bra-sileiro”, declarou.

O encontro foi marcado, ainda, pelo lançamento da Agenda Legislativa 2014, uma

síntese das principais proposi-ções que tramitam no Congres-so Nacional e que impactam diretamente, de forma positiva ou negativa, os municípios dos segmentos produtivos e de ge-ração de energia elétrica. A pu-blicação, elaborada em conjun-to pela AMUSUH e ANAMUP, norteou os debates do dia 25 e, de acordo com a secretá-ria executiva das associações, Terezinha Sperandio, será um dos instrumentos de trabalho durante este ano. “O que te-mos nesta Agenda é o cami-nho das pedras para a nossa atuação. Informados sobre as matérias que estão tramitando na Câmara e no Senado, temos condições de traçar estratégias viáveis para que alcancemos nossos objetivos, lutando pela

Page 12: Revista Energia Nacional - Edição 04

aprovação daquelas que nos fa-vorecem e agindo pela rejeição daquelas que nos prejudicam. O apoio político dos municí-pios, nesse sentido, é impres-cindível”, ressaltou.

Nas discussões travadas du-rante a apresentação dos itens da Agenda, o destaque ficou por conta do Projeto de Lei 5.807/2013, que dispõe sobre a atividade de extração mineral, instituindo o Novo Marco Re-gulatório da Mineração. quase como em coro, os prefeitos de-fenderam a urgência de se apro-var a matéria que, embora já es-teja pronta para entrar na pauta de votação, ainda esbarra em disputas políticas.

O Projeto de Lei da Câmara 315/2009 também foi pauta de

muito debate. A matéria pre-vê o aumento da Compensa-ção Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos – CFURH destinada aos municípios se-des de usinas hidroelétricas e alagados, de 45% para 65%. A mudança no rateio incrementa a receita em 44%, beneficiando 717 municípios.

PrESSão SobrE oS ParLamENtarES

Já alinhados quanto ao dis-curso, os prefeitos deram con-tinuidade à mobilização em um café da manhã com parlamen-tares, dia 26. O presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Municípios Sedes de Usinas Hidroelétricas, de-putado federal Vilson Covatti

(PP/RS), liderou a reunião e des-tacou a importância da Agenda Legislativa 2014. “Esta Agenda, caros parlamentares, foi elabo-rada no intuito de melhorar a interlocução entre os municí-pios e o Poder Legislativo. Ao dar publicidade as suas pautas junto ao Congresso Nacional, a AMUSUH e a ANAMUP comu-nicam a todos os interessados nos temas suas preocupações e posicionamentos, dando exem-plo de que é possível relacio-nar-se com o setor político de forma aberta e transparente. Isso é muito importante para a solidez de nossa jovem demo-cracia, que está em processo permanente de construção e aperfeiçoamento“, defendeu Covatti.

[12] EnergiaNacional • Julho/2014

Page 13: Revista Energia Nacional - Edição 04

ENcartE ESPEciaL amuSuh/aNamuP

EnergiaNacional • Julho/2014 [13]

O subchefe de Assuntos Federativos da Presidência da República, Gilmar Dominici; a senadora Ana Amélia Lemos (PP/RS); a secretária de Planeja-mento e Ordenamento/Ministé-rio da Pesca e Aquicultura, Maria Fernanda Nince Ferreira; o de-putado federal Cleber Verde (PRB/MA); o deputado federal Edinho Bez (PMDB/SC); o de-putado federal professor Sergio Oliveira (PSC/PR); a deputada Iriny Lopes (PT/ES); o deputado federal Junji Abe (PSD/SP); de-putado federal Domingos Dutra (SD/MA); e o deputado federal Edinho Araújo (PMDB/SP) tam-bém compuseram a mesa oficial e declararam apoio às deman-das apresentadas.

O saldo dos dois dias de encontro, segundo Terezinha Sperandio, foi positivo. “Con-seguimos conscientizar os pre-feitos acerca da necessidade de engajamento. O trabalho com os parlamentares também foi válido, no sentido em que

tivemos a oportunidade de ma-nifestar nossas expectativas. O caminho agora é cumprir audi-ências e enfatizar, gabinete a gabinete, a necessidade de ga-

rantir condições satisfatórias de sobrevivência dos municípios sedes de usinas hidrelétricas, alagados e também do setor produtivo”, afirmou.

Page 14: Revista Energia Nacional - Edição 04

A agenda de reu-niões regionais da AMUSUH teve início este ano

em Presidente Prudente/SP. O encontro foi realizado dia 6 de maio, em parceria com o mu-nicípio de Rosana/SP, e contou com a presença de prefeitos, vice-prefeitos, secretários mu-nicipais e vereadores do Pontal do Paranapanema, além de re-presentantes de municípios do Paraná e Mato Grosso do Sul, alagados pelas usinas instaladas na região.

Em discurso, a prefeita de Rosana-SP e vice-presidente da União dos Municípios do Pontal do Paranapanema – UNIPON-TAL, Sandra Aparecida de Souza Kasai, parabenizou a AMUSUH por seus 20 anos de atuação na defesa dos interesses dos muni-cípios sedes de usinas hidrelé-tricas e alagados. Aos prefeitos presentes, Sandra pediu união. “Vamos todos para Brasília mos-

trar nossa força lá no Congres-so. Precisamos estar juntos para conseguir a rejeição das maté-rias que atingem negativamen-te nossos municípios e buscar apoio político para a aprovação do PLC 315/2009, para que pos-samos ser compensados de for-ma justa”, declarou.

“Esse trabalho de conscien-tização dos prefeitos e gestores municipais sempre foi a marca do trabalho da AMUSUH. Sa-bemos das dificuldades que, muitas vezes, os impedem de comparecer às nossas reuniões em Brasília e, por isso, estamos sempre dispostos a ir onde eles estão. Essa é uma forma tam-bém de conhecer mais a fundo a realidade de cada região”, ex-plicou a secretária executiva da AMUSUH, Terezinha Sperandio.

Com foco na Agenda Legisla-tiva 2014, os debates movimen-taram a reunião. Pelas propostas de considerável incremento na receita municipal, o PLC 315 e a

PEC 406, ambos de 2009, foram os mais discutidos. Em meio à expectativa dos prefeitos, Tere-zinha destacou o apoio do sena-dor Ricardo Ferraço, relator do PLC 315/2009. “É uma proposi-ção que está sendo muito bem articulada e trará grandes bene-fícios aos municípios sedes de usinas e alagados, em caso de aprovação”, ressaltou.

A negociação com parla-mentares foi o caminho apon-tado também para o sucesso na condução da PEC 406/2009. “Muito se fala em Pacto Fede-rativo e equilíbrio financeiro dos municípios. A PEC 406/2009, por exemplo, já é parte de um novo Pacto Federativo, mas somen-te por meio da nossa união e mobilização no Congresso será possível buscarmos esses bene-fícios”, justificou Terezinha.

A previsão, segundo a di-retoria executiva da AMUSUH, é que as temáticas abordadas pela entidade em Presidente Prudente/SP sejam apresenta-das também, até o fim deste ano, nos principais pólos do setor de geração de energia elétrica do país.

[14] EnergiaNacional • Julho/2014

amuSuh abre agenda de reuniões regionais em Presidente Prudente/SP

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ENcartE ESPEciaL amuSuh/aNamuP

EnergiaNacional • Julho/2014 [15]

Palestra da aNamuP e oficina promovida pela amuSuh enriquecem debates no 31º Encontro de Prefeitos mato-grossenses

As bandeiras de atu-ação da ANAMUP e da AMUSUH ga-nharam espaço nos

dias 22 e 23 de maio no tradicio-nal Encontro de Prefeitos Mato--grossenses, este ano já em sua 31ª edição. O evento, promo-

vido em Cuiabá/MT, teve como tema “Municípios Fortes, Mato Grosso Sustentável” e reuniu cerca de 300 gestores.

O presidente da ANAMUP, pre-feito de Cachoeiro do Itapemirim/ES, Carlos Casteglione, proferiu palestra sobre Pacto Federativo.

Em suas declarações, Casteglione defendeu a emergência de se for-mular um novo acordo que re-distribua com mais igualdade o bolo tributário. “O município en-quanto ente federado precisa de mais autonomia política e isso só será possível se tivermos acesso

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[16] EnergiaNacional • Julho/2014

a uma fatia maior da arrecada-ção”, ressaltou.

No evento, para a aborda-gem das questões relativas ao setor de geração de ener-gia elétrica, a AMUSUH pro-moveu a Oficina Regional dos Municípios Sedes de Usinas Hidrelétricas e Alagados – Edi-ção Mato Grosso. A entidade foi representada, na ocasião, pelo prefeito de Aripuanã/MT, Ednilson Luiz Faitta, e pela secretária executiva Terezinha Sperandio. A Importância da Revisão do Plano Básico Am-biental e a Agenda Legislativa 2014 estavam entre os itens da pauta de discussão.“As apre-sentações e debates realizados nesta oficina fazem parte de um projeto que deve ser rea-

lizado em todas as regiões do país. O nosso objetivo é con-tinuar informando e conscienti-zando prefeitos não só na es-fera política, mas também com ênfase nas questões técnicas, que por vezes trazem sérios problemas sociais e econômi-cos para os municípios”, expli-cou Terezinha.

Ainda de acordo com a se-cretária executiva, a participação das entidades dentro da progra-mação do Encontro é fruto de articulações com a Associação Mato-grossense de Municípios (AMM), responsável pela reali-zação do evento. “Estamos feli-zes em poder contribuir para o amadurecimento das discussões referentes às demandas munici-palistas”, destacou.

Para o presidente da AMM, prefeito de Juscimeira/MT, Valdecir Luiz Colle, o objetivo do encontro, “de incentivar o crescimento econômico e sus-tentável em todos os municí-pios do Estado, fortalecendo o potencial de todas as regiões”, foi alcançado. “Agradecemos o apoio e a participação da ANAMUP e da AMUSUH nesse contexto. Certamente nos uni-remos em outras oportunidades para fomentar essas e outras questões pertinentes aos nossos municípios”, concluiu.

O 31º Encontro de Prefeitos Mato-grossenses contou com a parceria do governo do estado e da assembleia legislativa, e o apoio do tribunal de contas do estado.

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artigo

Nome é Currículo

EnergiaNacional • Julho/2014 [17]

Edson Pereira Neves

Edson Pereira Neves é Advogado

Tributarista

INSS – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA“A Justiça não socorre aqueles que dormem”

N ossos Tribunais vêm decidindo ser incabível a incidência da contribuição previdenciária sobre várias rubricas da folha de pagamento, recolhidas pelo empregador, e que, por não

possuírem natureza salariais, não devem integrar a base de cálculo da incidência da contribuição.

Todos sabemos que a carga tributária nacional é excessivamente pesada, além da legislação ser numerosa e complexa, dificultando ao contribuinte ter conhecimento dos fatos geradores e recolher aos co-fres públicos apenas o devido.

Exemplificando esses recolhimentos indevidos, podemos citar o ter-ço constitucional de férias indenizadas, aviso prévio indenizado, os pri-meiros 15 dias do auxílio-doença, da licença maternidade e da licença paternidade, entre outros, pelo fato de que os recolhimentos devem incidir apenas sobre as rubricas salariais que venham a contribuir para os cálculos de aposentadoria, devendo ser excluídas todas as verbas tidas como indenizatórias, consoante Informativo n.º 56, de 26/03/14 do STJ.

Tanto o Supremo Tribunal Federal quanto o Superior Tribunal de Justiça têm proferido decisões nesse sentido, contrariando entendi-mento da Receita Federal que insiste em incluir tais rubricas indevida-mente na base de cálculo das contribuições previdenciárias incidentes sobre a folha de salários.

Assim, torna-se necessário proceder ao cálculo dos valores recolhidos indevidamente nos últimos 05 (cinco) anos, atualizá-lo e ingressar em juízo com a devida ação, pois caso contrário a Receita Federal vai autuá-lo e aplicar todas as cominações legais. Este procedimento está claro na Nor-ma n.º 126, estabelecida pela Coordenação Geral de Tributação (COSIT) publicada no fim de maio, para orientar seus fiscais em todo o país.

Torna-se indispensável, para a realização de um trabalho correto, a busca de um escritório especializado, que conheça todas as decisões proferidas pelos Tribunais Superiores, saiba efetuar os cálculos dos recolhimentos indevidos nos últimos 60 (sessenta) meses sobre cada rubrica cadastrada no sistema de folha de pagamento e busque na justiça a decisão necessária para proceder à compensação, deixando de recolher contribuições previdenciárias até que seja atingido o mon-tante recolhido indevidamente.

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Economia

[18] EnergiaNacional • Julho/2014

Recursos minerais

Q uando se fala em riquezas minerais marinhas, é comum se pensar no petró-

leo. É verdade que ele é o prin-cipal recurso mineral encontrado no fundo do mar no Brasil. Mas embaixo do mar há muito mais do que petróleo. Existem mine-rais que podem ser utilizados nos mais diversos segmentos da indústria. As pesquisas na área geológica mostram que há uma grande variedade de recursos minerais marinhos, cada um com uma aplicabilidade diferente. E todos atendem às necessidades da indústria no mundo atual.

São tantas opções, que os geólogos classificam os mine-rais por grupos. Os minerais si-liciclásticos (areia, cascalhos e

uma riqueza invisível e imensurávelSabe-se que o Brasil é um país de muitas riquezas naturais. O que pouco se sabe é que riquezas são essas. Se levados a sério, os recursos minerais marinhos podem ser uma grande aposta para a economia brasileira

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EnergiaNacional • Julho/2014 [19]

concreções), por exemplo, po-dem resolver problemas como as erosões costeiras. Além dis-so, têm uma imensa aplicação na área de aterros hidráulicos, na indústria do vidro e na cons-trução civil. Outro grupo de mi-nerais são os bioclásticos (algas, fragmentos de conchas de mo-luscos). São muito significativos na indústria de nutrição animal, tratamento de água, cosméticos e até em cirurgias. No litoral flu-minense esse tipo de mineral é encontrado em abundância.

Há também os minerais pesa-dos, que são encontrados tanto nas praias como na plataforma continental brasileira. Os núme-ros referentes apenas à região fluminense (que compreende o litoral do norte do Rio de Janeiro

até o sul do Espírito Santo) são de saltar os olhos. Por ano, são encontrados 20 mil toneladas de iumenita, 9 mil toneladas de zirconita e 720 mil toneladas de terra rara. Estes minerais são usa-dos na indústria como matéria prima para revestimento de for-nos, fabricação de refratários, ca-talisadores, baterias para carros hidráulicos, telas planas de com-putadores e televisões, lasers, polimentos de vidros e cerâmica.

Para se ter uma ideia, a China detém 27% da produção dos minerais terras raras. Eles são extremamente importantes para a economia mineral de qualquer país, uma vez que a tecnologia abriu um grande leque de pro-dutos que são produzidos a par-tir desses minerais.

Com tantas opções de explo-ração que podem revolucionar a economia, é inevitável questio-nar: o que falta então para que o Brasil avance na exploração des-ses recursos? A resposta é: von-tade política. Para o professor de Geologia Costeira e Geolo-gia Marinha do Museu Nacional da UFRJ, João Wagner Alencar Castro, são necessárias políticas públicas estratégicas. “Primeiro é preciso conhecer esses recur-sos, mapeá-los detalhadamente e depois criar uma base de da-dos eficaz. Isso pode ser feito, por exemplo, entre governo e as universidades”, afirma Castro.

Segundo ele, é necessário também investimento em re-cursos humanos. “O governo precisa de uma política muito

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Economia

[20] EnergiaNacional • Julho/2014

Uma riqueza invisível e imensurável

clara na área de recursos hu-manos. Deve haver qualifica-ção de mão de obra para ex-ploração dos recursos minerais marinhos. Na área de geologia marinha essa qualificação ain-da é muito tímida”, analisa o pesquisador.

Apesar de ser uma econo-mia tão promissora, o Brasil ainda caminha a lentos passos quando o assunto é a mine-ração marinha. O trabalho de pesquisa que existe hoje co-meçou na década de 70, e po-deria estar em um estágio mais avançado se não tivesse sido interrompido entre os anos 80 e 90. Os cientistas consideram essas duas décadas como per-didas, pois não houve inves-timento do estado durante o período. Em 1997 foi criado o REMPLAC – Programa de Ava-liação da Potencialidade Mine-ral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira. Com a che-gada do novo milênio, as pes-quisas foram retomadas.

No cenário atual, existe uma Comissão Interministerial para Recursos do Mar (CIRM) que supervisiona as atividades do REMPLAC. Fazem parte dessa comissão representantes do Ministério de Minas e Energia, Ministério das Relações Exte-riores, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Minis-tério do Meio Ambiente, Mari-nha do Brasil, o Serviço Geoló-gico do Brasil e a Petrobras.

O Serviço Geológico do Brasil é a empresa pública que,

dentre outros serviços, faz o mapeamento do potencial mi-neral marinho. Para Roberto Ventura, diretor de geologia e recursos minerais da empre-sa, o país certamente já tem demonstrado um potencial de riqueza muito grande. Ele cita como exemplo o pré sal, um bem ecológico tão grandioso como o gás. “Estamos entran-do em um conjunto seleto de países que estão desenvolven-do conhecimento profundo so-bre o assunto”, analisa Ventura.

Para ele, a demora no avan-ço das pesquisas se deu por causa da dimensão da econo-mia brasileira. “Temos que en-tender que até 2003 os órgãos públicos estavam sucateados, não havia recursos. Embora tenha sido tarde, estamos no caminho certo, pois o Brasil é um país importante do Atlân-tico Sul. Como potência no cenário internacional, temos a obrigação de puxar essas pes-quisas. Apesar de ainda termos problemas de infraestrutura”, admite.

Ventura concorda com o colega João Wagner Castro quando diz que investimento em recursos humanos é essen-cial. “Tem que haver um aporte de recursos continuado, pois isso garante um planejamento. Assim como deve haver uma formação de recursos humanos de qualidade”, afirma.

João Wagner, que também é pesquisador do CNPq e cientista do estado do Rio de

Janeiro, ressalta que ainda fal-tam investimentos financeiros. “É preciso também apoiar os laboratórios na área de geolo-gia costeira e oceanografia ge-ológica. É necessário criar ou-tros centros de pesquisa”.

Por se tratar de uma grande riqueza e tanta gente envolvi-da, a burocracia se faz necessá-ria. Castro acredita ainda que é preciso uma estratégia de se-gurança e defesa. “O governo precisa envolver a Marinha na defesa e segurança do mar. É necessário regular todas as atividades do mar”, analisa o pesquisador.

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“É preciso também apoiar os laboratórios na área de geologia costeira e oceanografia geológica. É necessário criar outros centros de pesquisa”

João Wagner, pesquisador do CNPQ

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Economia

EnergiaNacional • Julho/2014 [21]

Mineração

Dentro de até dez me-ses a pequena cida-de de Nordestina, na Bahia, abrigará

a primeira mina de diamantes da América do Sul desenvolvida em rocha kimberlítica, a principal fonte primária do mineral. A pro-messa é de que a mina aumente em cinco vezes a produção de diamantes do Brasil. Dessa forma o país entra para o ranking de apenas 11 países produtores no mundo.

O Projeto Braúna, como é chamado pela empresa respon-

sável – Lipari Mineração – pro-mete alavancar a economia não só da região, mas do Brasil. “A importância do Projeto Braúna extrapola os impactos locais e regionais e está diretamente as-sociada a aspectos econômicos, de desenvolvimento do mercado e do fomento à pesquisa mine-ral, especialmente com a possí-vel atração de novos investimen-tos para o Brasil”, explica Ariluz Fernandes, coordenadora de re-lações comunitárias da Lipari Mi-neração. A empresa é brasileira, de capital privado.

No momento, a Lipari aguar-da a licença de Instalação para iniciar as obras o que pode acon-tecer até meados de agosto. O órgão responsável por liberar a licença é o Instituto de Meio Am-biente e Recursos Hídricos (INE-MA). Segundo a Lipari, o projeto comparado a outros os impactos são relativamente baixos, uma vez que a área não excede 2 km² e não são utilizados produtos químicos nocivos às pessoas e ao meio ambiente em nenhum mo-mento da operação. Além disso, a unidade conta com um sistema

Estado vai ganhar a primeira mina de diamantes da América Latina

a menina dos olhos da bahia

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Economia

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A menina dos olhos da Bahia

que reaproveita 97% da água uti-lizada no processo. A empresa também promete implantar pro-gramas de monitoramento am-biental responsáveis por garantir a qualidade do ar e da água e controle de ruído.

Com a licença concedida, co-meça a contratação de mão de obra, que inclusive já está pré--selecionada. Durante os próxi-mos dois meses, Nordestina vai se movimentar, pois começarão a chegar os equipamentos com tecnologia específica, oriundos da África do Sul. A expectati-va é que sejam criados cerca de 600 postos de trabalho diretos durante a fase de construção. quando a mina começar a fun-cionar a perspectiva é de até 300 trabalhadores diretos e o surgi-mento de mais de 3.500 postos de trabalho indiretos.

Até o momento, a empresa já investiu no empreendimento mais de R$ 80 milhões em pesqui-sa, exploração e planejamento. Para a implantação, o montante previsto é de R$ 100 milhões.

Este primeiro passo pode fa-zer com que o país se desenvolva mais ainda na área de exploração de diamantes. Um grande exem-plo de país onde a exploração deu certo é o Canadá. Antes de 1990, apenas 50 kimberlitos ha-viam sido descobertos no país. Após 1990, foram investidos em média U$140 milhões em explo-ração por ano. Hoje existem qua-tro minas em produção e mais quatro em desenvolvimento, o que tornou o Canadá o 4º maior

produtor mundial de volume e 3º em termos de valor da produção.

No Brasil, neste mesmo pe-ríodo, foram gastos, em média, U$5 milhões por ano com pes-quisa. Mais de U$40 milhões fo-ram gastos na exploração dos depósitos Braúna desde 2005.

Por quE NorDEStiNa?O município de Nordestina

foi escolhido pelas característi-cas geológicas que apresenta. A cidade está dentro de uma região com grande potencial de rochas kimberlíticas (que con-têm diamante). Apesar da mina aparecer como uma novidade, as pesquisas minerais começa-ram no início dos anos 80. Des-de então, foram encontrados 22 kimberlitos no município. O primeiro estava próximo a uma árvore Braúna, que deu nome ao projeto. A cada descoberta, ocorrências eram denominadas pelo nome da nativa espécie da caatinga e a respectiva sequên-cia numérica: (Braúna 01, Braúna 02) e assim sucessivamente. As-sim nasceu o projeto.

O Braúna-03 é a maior den-tre as 22 ocorrências e tem sido a prioridade das pesquisas dos úl-timos cinco anos. Nesse período, o depósito passou de um pro-grama de exploração em estágio avançado para a fase atual, de desenvolvimento da engenha-ria e implantação, com início da produção industrial previsto para o primeiro trimestre de 2015.

Após tantos anos de pes-quisa, agora o processo prome-

te acelerar. O cronograma da empresa prevê que o início da operação e da produção indus-trial comece no segundo trimes-tre de 2015. quem vai comprar toda essa produção? Um único comprador, com o qual a Lipa-ri Mineração tem contrato de exclusividade.

O mercado de mineração vive um momento favorável. A Lipari tem visão estratégica para o futuro. “A estabilização da oferta e a crescente demanda por diamantes brutos, particular-mente nos países em desenvolvi-mento, resultará em crescimento real dos preços em longo prazo”, prevê Ariluz.

Estudos de mercado indicam que a previsão de crescimento da oferta mundial de diaman-tes brutos é de 4,8% por ano até 2018. A partir de 2019 até 2023, essa taxa de crescimento será de 1,9%. A demanda mundial por diamantes está prevista para crescer à uma taxa média anual de 5,1%, para aproximadamente US$ 26 bilhões (preços de 2012) em 2023. Estima-se que por vol-ta de 2017 a oferta de diamantes será superada pela demanda.

A prefeitura de Nordestina não poderia estar mais feliz. “Eu me sinto orgulhoso de saber que a primeira mina de diaman-tes do Brasil foi encontrada em Nordestina. Essa mina vai mudar a vida de quatorze mil habitan-tes, e a cidade vai sair em cená-rio nacional e quem sabe inter-nacional”, afirma Wilson Araújo Matos, prefeito da cidade.

Page 23: Revista Energia Nacional - Edição 04

artigo

EnergiaNacional • Julho/2014 [23]

COPPE/UFRJ

marco aurélio vasconcelos de Freitas é Coordenador do

Programa de Planejamento

Energético da COPPE/UFRJ

e Coordenador Executivo do

Instituto Virtual Internacional

de Mudanças Globais – IVIG/

COPPE/UFRJ

João Leonardo da Silva Soito

é Pós-Doutorando do

Programa de Planejamento

Energético da COPPE/UFRJ

As Mudanças Climáticas e a Hidroeletricidadeum Pouco DE hiStÓria

O Brasil é um país de dimensões continentais, rico em recursos hí-dricos. Historicamente, água e energia elétrica estiveram estreitamen-te interligadas dado que a hidroeletricidade foi e continua sendo o principal drive de desenvolvimento da geração elétrica no país. Cerca de 70% da energia elétrica gerada no Brasil é de origem hidráulica. Apesar desta grande participação das hidrelétricas, apenas 1/3 de todo o potencial hidráulico do país foi aproveitado. Mais da metade do potencial hidráulico remanescente está situado na região Norte, que apresenta uma baixa densidade demográfica associada a uma grande dispersão das comunidades. Exceção à regra, os grandes cen-tro urbanos, notadamente, as capitais dos estados da região.

O principal marco histórico do setor elétrico, chamado de “Código de Águas“ (Decreto nº 24.643/34), foi menos motivado por problemas relacionados à água e mais por preocupações ligadas à geração hidro-elétrica, e ao setor elétrico como um todo, dominado até então por empresas privadas que não expandiram a contento sua capacidade instalada de geração e nem apresentavam tarifas satisfatórias na visão do governo federal. Nesse contexto, o Código de Águas instituiu o re-gime de autorizações e concessões para os aproveitamentos hidroelé-tricos, definindo que as reservas de água e de energia em proveito dos serviços públicos (União, estados ou municípios) não poderiam privar a usina hidroelétrica de mais de 30% da energia de que dispusesse. Percebe-se, nesse caso, uma prioridade de uso dos recursos hídricos para a geração hidroelétrica.

A história do planejamento da expansão do setor elétrico pode ser dividida em 6 (seis) fases distintas, de forma a destacar os funda-mentos em que a expansão do setor elétrico se baseou e as mudan-ças que foram requeridas ao longo do tempo e que ainda hoje são aperfeiçoadas.

i. Período Pré-CANAMBRA (1883-1962): Neste período, temos como principais marcos o surgimento das primeiras usinas Hi-droelétricas, o“Código de Águas”, a criação de empresas esta-tais estaduais e federais (como exemplos, Chesf em 45, Cemig em 52 e Furnas em 57), do Ministério de Minas e Energia - MME, do DNAE – Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica e, ainda, da holding do governo federal (ELETROBRAS em 62).

Page 24: Revista Energia Nacional - Edição 04

artigo

[24] EnergiaNacional • Julho/2014

As Mudanças Climáticas e a Hidroeletricidade

ii. CANAMBRA (1962-1970): Período em que se levantou o potencial hidráulico e o merca-do de energia elétrica da região Sudeste atra-vés da formação do consórcio CANAMBRA, denominação alusiva à nacionalidade das empresas envolvidas no estudo: Canadá, Estados Unidos (América) e Brasil.

iii. Planejamento Centralizado (1970-1979): Período marcado pelo planejamento centra-lizado na holding do setor, a ELETROBRAS, privilegiando a construção de usinas hidre-létricas com reservatórios de regularização e potências superiores a 1 MW. Foi neste período, também, que houve grande esfor-ço na interligação dos subsistemas regionais de transmissão (passando pela unificação de frequências entre 67 e 77), passo inicial para o que hoje chamamos de SIN – Sistema In-terligado Nacional.

iv. GCPS – Grupo Coordenador do Planeja-mento da Expansão (1980-1997): Período marcado pelo aumento crescente das pre-ocupações ambientais, desdobradas em marcos legais que criaram, por exemplo, o SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Am-biente (81) e definiram a necessidade de Estudos de Impacto Ambiental – EIA (86). É deste período também, o Relatório “Nosso Futuro Comum” (1987), elaborado pela Co-missão de Meio Ambiente e Desenvolvimen-to da ONU que definiu o conceito de de-senvolvimento sustentável. Para fins deste artigo, o principal marco deste período foi a aprovação da Lei 9.433/97, chamada de “Lei das Águas”, que em seus fundamentos, define que a gestão deve propiciar o uso múltiplo das águas, dando prioridade em períodos de escassez, ao consumo humano e à dessedentação de animais.

v. Transição (1997-2003): Período de ajustes no modelo regulatório, com destaque, para

a criação da Agência Nacional de Águas (ANA), através da Lei 9.984/2000.

vi. Pós-racionamento (a partir de 2003): Perí-odo que se inicia com a criação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em 2004.

O potencial hidráulico do país foi gradativamen-te aproveitado enquanto o setor elétrico paulatina-mente se estruturava. Dentre as questões tecnoló-gicas mais importantes, cabe destacar a unificação das frequências (67-77) utilizadas nos Sistemas de Transmissão de Energia Elétrica (60 hz) estaduais, que possibilitou a criação do que hoje conhecemos como SIN – Sistema Interligado Nacional de Trans-missão de Energia Elétrica

Após a estruturação inicial do planejamento da expansão do setor elétrico (período CANABMBRA), iniciou-se o período marcado pelo Planejamento Centralizado na holding do setor, a ELETROBRAS, privilegiando a construção de usinas hidrelétricas com reservatórios de regularização e potências su-periores a 1 MW. Com o aumento das preocupações ambientais em nível internacional e nacional, devi-damente acompanhadas dos normativos legais, os planos decenais de expansão não mais privilegia-riam usinas com potências superiores a 1000 MW e grandes reservatórios. Na mesma direção, em 97, diversas variáveis socioambientais foram incorpora-das ao manual de inventário hidrelétrico, fase em que são feitos os estudos iniciais, definindo, por exemplo, as repartições de queda d’água. Até en-tão, os manuais anteriores editados em 77 e 84 não consideravam as variáveis Ecossistemas Aquáticos, Ecossistemas Terrestres, Populações Tradicionais e outros temas que são agora tratados em paralelo às questões de engenharia.

baciaS hiDrogrÁFicaS E o SiStEma DE traSmiSSão

No mesmo ano da publicação do manual de in-ventário que descrevemos anteriormente, foi edi-tada a Lei das Águas (Lei nº 9.433/97), que instituiu a Politica Nacional de Recursos Hídricos e o SIN-

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GREH – Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos. Através da Resolução nº 32/2003 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (par-te integrante do SINGREH), o Brasil foi dividido em 12 regiões hidrográficas, a saber: Amazônica, Tocantins/Araguaia, Atlântico Nordeste Oriental, Atlântico Nordeste Ocidental, Parnaíba, São Francisco, Atlântico Leste, Atlântico Sudeste, do Paraná, do Paraguai, do Uruguai e do Atlântico Sul.

Como sabemos, as usinas hidrelétricas aprovei-tam o potencial hidráulico existente nas bacias hi-drográficas, entretanto, as diferentes bacias hidro-gráficas possuem características bastante distintas, seja do ponto de vista físico e geográfico, seja do ponto de vista demográfico, social econômico.

Na questão hídrica, dada a grande extensão territorial de nosso país, existe grande variabilida-de climática entre as regiões que se soma às mu-danças de uso e ocupação do solo. A região Nor-deste do nosso país, que abrange grande parte do semiárido brasileiro, é conhecida por ter poucos rios perenes, já a região sudeste, apresenta um histórico de uso e ocupação do solo que alterou significativamente a cobertura vegetal que inter-fere no run off (escoamento superficial) e na maior ou menor infiltração da água no solo, o que pode interferir na recarga dos aquíferos e na erosão dos reservatórios. Portanto, estão na pauta questões ligadas ao clima, mas também ao assoreamento, poluição, desmatamento e, ainda, à demanda crescente por água.

Considerando essas e outras questões no tri-nômio energia-água-solo, as interligações entre regiões através da rede de transmissão de ener-gia elétrica assumem um papel muito importante, pois viabilizam o aproveitamento da diversidade de comportamento das diferentes bacias hidrográ-ficas, atendendo regiões em situação de escassez de recursos hídricos com energia exportada por outras partes do sistema, afinal, as bacias hidrográ-ficas não estão conectadas hidraulicamente. O SIN, portanto, permite o uso ótimo dos recursos hidro-lógicos, explorando complementaridades de regi-me hidrológico das bacias. A título de exemplo, a

região Sul fornece boa parte da energia consumida no Nordeste nos meses de outubro e novembro, quando não há grande disponibilidade hídrica nos reservatórios da região.

Ainda na questão hídrica, temos verificado em nosso país uma recorrência dos eventos extremos, através de cheias e secas. Podemos citar como exemplos, a seca de 2005 na Amazônia, a cheia de 2008-2009 no Sistema Solimões-Amazonas, que teve um tempo de permanência de 144 dias e a re-cente cheia no Rio Madeira.

coNFLitoS PELo uSo Da ÁguaSe por um lado temos o aumento dos eventos

extremos, de outro, os conflitos pelo uso dos recur-sos hídricos envolvendo o setor elétrico têm sido recorrentes. A expansão da hidroeletricidade se dará majoritariamente na região Norte, entretanto, devemos aprender com a experiência das bacias hidrográficas que já apresentam uma série de vul-nerabilidades e conflitos.

bacia Do ParaNÁA Bacia do Paraná é de vital importância para

o sistema elétricobrasileiro, pois nela se encontra mais de 50% da capacidade instalada em operação-no país e a Usina Hidrelétrica de Itaipu, com 14.000 MW de potência. Todavia, essa bacia também é a maior em densidade populacional, o que facilita diversos conflitos pelo uso do solo e da água, ur-banos ou rurais, que podem inviabilizar o aproveita-

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artigo

[26] EnergiaNacional • Julho/2014

mento futuro do potencial hidráulico e, sobretudo, trazer limitações à geração de energia elétrica em usinas já construídas e em funcionamento.

Os conflitos pelo uso da água podem se agravar no futuro, seja por conta do crescimento da deman-da por água, seja pela maior ocorrência de anos de estiagem como decorrência do aquecimento glo-bal. Apresentamos a seguir alguns desses conflitos pelo uso da água envolvendo o setor hidroelétrico e outros usuários.

• Setor de navegação: A hidrovia do Paraná-Tie-tê, responsável pelo transporte de boa parte da produção de grãos das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do país, necessita de um nível mínimo nos rios e prioridade na operação das eclusas do Canal Pereira Barreto.

• Setor de turismo e lazer: Um grande deple-cionamento no reservatório da usina de Furnas ocorrido em 2001 gerou uma ação civil pública contra a empresa. O cerne do problema estava nos investimentos que foram feitos (pousadas, hotéis e clubes) com base na cota média histó-rica de operação do reservatório (762 m), e não na cota mínima (750 m). Apesar da cota mínima não ter sido alcançada, a empresa foi conduzida a assinar um acordo chamado “Diálogo de Con-certação” se comprometendo a contribuir nas seguintes ações:

» Diagnóstico de Saneamento; » Desenvolvimento da piscicultura em tan-

ques-redes nos municípios da região por meio de convênio firmado entre a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP) e a ALAGO;

» Inventário turístico dos 52 municípios da re-gião do lago;

» A elaboração dos Planos Diretores dos 52 municípios da região do lago.

• Setor de saneamento: são inúmeros os casos, mas talvez o mais emblemático seja o da Usina

Hidroelétrica de Henry Borden, situada no Rio Cubatão, em Santos, Grande São Paulo. A usi-na teve sua capacidade de geração de energia elétrica reduzida de 880 MW para menos de 100 MW, devido ao alto grau de poluição das águas do Rio Tietê, o que impede o bombeamento forçado para o canal do Rio Pinheiros, para a água ser jogada em seguida na Represa Billings utilizada pela UHE de Henry Borden.

Navegação, irrigantes, lazer, abastecimento são segmentos que tendem a crescer, portanto, pode-mos esperar que ocorram mais conflitos pelo uso dos recursos hídricos.

hiDroELÉtricaS E muDaNçaS cLimÁticaS

Os eventos extremos de clima tem se tornado mais frequentes e intensos, percebidos através, por exemplo, de secas recorrentes e inundações de longo termo. Por esse motivo, os reservatórios de acumulação são importantes para o controle das cheias, preservando as cidades à jusante do empreendimento. Do ponto de vista da otimiza-ção energética, a existência de reservatórios de acumulação propicia trocas energéticas importan-tes entre regiões do país, possibilitadas através do Sistema Interligado Nacional (SIN)

Deverão aumentar os investimentos em ati-vidades antes marginais, como a conservação da cobertura vegetal, o controle de despejo de efluentes, a aquisição de informações hidrológi-cas e a ordenação do uso do solo nas bacias hi-drográficas.

A ocorrência mais frequente e com maior in-tensidade de eventos extremos, como secas e cheias, deverá aumentar o conflito entre usuários da água nas diversas bacias hidrográficas brasi-leiras. Os balanços hidrológicos deverão ser mais precisos, os levantamentos dos impactos econô-micos e ambientais terão de ser mais detalhados, enfim, tende a aumentar a responsabilidade social da usina perante a comunidade ribeirinha e os de-mais usuários.

As Mudanças Climáticas e a Hidroeletricidade

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EnergiaNacional • Julho/2014 [27]

Já quanto às questões globais, a Bacia Ama-zônica tem uma enorme importância na dinâmica climática e no ciclo hidrológico do planeta. A bacia representa aproximadamente 16% do estoque de água superficial doce e, consequentemente, tem uma importante contribuição no regime de chuvas e evapotranspiração da América do Sul e do mun-do. Mudanças regionais e globais têm provocado alterações no clima e na hidrologia da região, no-tadamente, transformações no uso do solo com a conversão de mais de 700.000 km2 de florestas tro-picais em pastagens, acrescido ao fenômeno do aquecimento climático global, que tem registrado aumentos de temperatura médios de 0,6º a 0,9º C nos últimos cem anos. Com efeito, a mudança de temperatura pode levar a várias outras alterações do meio ambiente, entre elas, a intensificação do ciclo hidrológico global, o que provocará impac-tos sobre os recursos hídricos a nível regional. De fato, mudanças diferenciadas de temperatura da atmosfera, dos continentes e dos oceanos, levam à mudanças de padrões de pressão atmosférica e de ventos. Portanto, podemos esperar mudanças nos

padrões de precipitação, conforme os modelos ma-temáticos de previsão global do clima do Hadley Centre para 2050, que apresentam reduções mé-dias de 150 a 250 mm/ano-1 nas chuvas da região.

A região Norte possui baixa densidade demográ-fica e população dispersa. A necessidade de vários pontos de conexão à rede para atender a esta popu-lação traz à tona o tema da geração distribuída. Os grande “blocos” de energia oriundos da Amazônia podem atender as capitais da região Norte e outras regiões, mas os pequenos núcleos habitacionais de-verão ser atendidos considerando outra estratégia.

A redução da vulnerabilidade de geração do sistema elétrico passa fortemente pela integra-ção com outras fontes de energia e empreendi-mentos em diversas escalas. Ou seja, um desafio adicional a ser considerado diz respeito às mu-danças a serem feitas na própria indústria de ge-ração elétrica, no plano tecnológico e no plano econômico. Paradigmas técnico-econômicos fo-ram fortemente contestados, como por exemplo, o das grandes usinas, e novas oportunidades de negócio vem surgindo, mas isso é outro assunto.

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Sustentabilidade

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Amazônia

mPF investiga estudos de impacto e planos ambientais de usinas na amazônia

Estudos incompletos e planos ambientais desrespeitando a legislação preocupam. Consequências para povos indígenas já são trágicas

O Ministério Público Federal (MPF) acompanha as consequênc ias

para os povos indígenas dos estudos de impacto e planos ambientais de usinas hidrelé-tricas que implanta  nas  bacias

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EnergiaNacional • Julho/2014 [29]

ros danos aos povos indígenas.o caso dos índios do mé-

dio Xingu, afetados pela usi-na de Belo Monte, estudos insuficientes deixaram de pre-ver impactos que hoje se ob-servam. É o caso dos índios Xikrin, do rio Bacajá, que fo-ram completamente ignora-dos nos estudos. Apenas dois anos depois do licenciamento de Belo Monte é que foram realizados estudos de impacto sobre os Xikrin. Para surpresa do MPF, os estudos constata-ram poucos impactos e previ-ram condicionantes insuficien-tes, o que deixa os indígenas completamente vulneráveis e sem perspectiva de compen-sação diante das alterações que já se observam em seu modo de vida.

Mesmo para os povos indí-genas onde houve previsão de impactos, a realização do Pla-no Básico Ambiental (PBA) fi-cou comprometida pelo atraso do empreendedor Norte Ener-gia S.A e, em 2011, diante de impactos iminentes, foi cria-do um Plano Emergencial em substituição aos programas do PBA. O Plano Emergencial de-veria fortalecer a presença da Fundação Nacional do Índio (Funai), garantir a proteção das terras indígenas contra inva-sões e realizar ações de etno-desenvolvimento. Nada disso foi implementado. Os recursos foram desviados para uma po-lítica anômala em que os indí-genas eram obrigados a nego-

ciar mercadorias nos balcões da empresa.

O repasse mensal de valo-res diretamente do empreen-dedor para as aldeias atingidas desorganizou completamente os modos de vida dos Araweté, Assurini, Juruna, Arara, Xikrin, Parakanã, Xipaya e Curuaya que deveriam ter sido protegi-dos.  “Hoje, a não implementa-ção das ações mitigatórias con-dicionantes da obra, somada às ações ilegais do empreen-dedor, gerou um cenário novo, em que os indígenas se aproxi-maram do núcleo urbano, per-deram a capacidade de auto--subsistência e modificaram seus hábitos alimentares, com as terras absolutamente vulne-ráveis”, analisa a procuradora da República Thais Santi, que acompanha em Altamira/AM a situação dos índios afetados por Belo Monte.

No rio Teles Pires, mil quilômetros distante de Altamira/AM, a situação não é muito melhor. Atingidos pelas usinas Teles Pires (em constru-ção) e São Manoel (em fase de Licença Prévia), índios Kayabi, Apiaká e Munduruku já sofrem as consequências das inter-venções no rio e da presença de pesquisadores, engenhei-ros e operários em suas ter-ras. Em recente visita à aldeia do Kururuzinho, procuradores da República do Pará e Mato Grosso, junto com a sub-pro-curadora-geral da República, Deborah Duprat, receberam

dos rios Xingu (Belo Monte), Teles Pires (Teles Pires, Sinop e São Manoel) e Tapajós (São Luiz do Tapajós e Jatobá). Em todos esses casos, problemas na realização dos estudos e deficiências graves nos planos ambientais provocaram seve-

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Sustentabilidade

[30] EnergiaNacional • Julho/2014

MPF investiga estudos de impacto e planos ambientais de usinas na Amazônia

várias denúncias, inclusive con-tra ações dos pesquisadores contratados pelas usinas.

Na implantação do Pla-no Básico Ambiental Indígena para os Kayabi, os indígenas foram obrigados a constituir um conselho com dez repre-sentantes para tomar decisões relativas ao PBA, o que viola as tradições políticas deles, im-pondo maneira de organização própria dos não-índios. Além disso, os programas previstos no PBA não contemplam diver-sos impactos. Chamou atenção do MPF a existência de progra-mas de educação ambiental e de comunicação e a ausência de compensações concretas por danos ambientais.

A política de assimilação, apesar de ultrapassada por convenções internacionais e pela própria Constituição bra-sileira, continua muito pre-sente nas ações governamen-tais para a implantação de usinas hidrelétricas, alerta o procurador Felício Pontes Jr, de Belém/PA, que esteve na aldeia do Kururuzinho. “Todas as nos-sas necessidades ficam para de-pois. Somem os peixes e o pro-grama que eles trazem no PBA é monitoramento de peixes. Como isso vai resolver?”, per-guntou Valdenir Munduruku, de uma das aldeias afetadas pelas usinas no Teles Pires. A sub-pro-curadora-geral da República Deborah Duprat informou que os PBAs do rio Teles Pires serão analisados pelo MPF.

Várias lideranças indígenas denunciaram ao MPF a em-presa Documenta, de arque-ologia, pela retirada de urnas funerárias Munduruku e Kayabi durante os estudos para as usi-nas. Os indígenas foram convi-dados a visitar o escritório da empresa em Alta Floresta e se surpreenderam com a existên-cia de artefatos retirados de seus cemitérios ancestrais. O assunto já é objeto de investi-gação na Procuradoria da Re-pública em Santarém/PA.

Em estágio menos avan-çado de licenciamento es-tão as usinas do rio Tapajós, Jatobá e São Luiz do Tapajós, em Jacareacanga e Itaituba no Pará. Como em todas as outras usinas, não foi realizada a con-sulta prévia, livre e informada nos moldes do que determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho. Para

realizar os estudos de impacto ambiental, o governo federal, em vez de consulta, enviou tro-pas da Força Nacional para a re-gião em 2012, causando grande revolta nos índios Munduruku. Foram realizados poucos me-ses de levantamento de cam-po, um forte indício de que os estudos mais uma vez podem subdimensionar impactos. No último mês de fevereiro chega-ram à região de Itatuba pesqui-sadores contratados para fazer o componente indígena dos estudos. Até agora apenas pes-quisas sobre os meios físico e biótico foram realizadas. Com a tensão existente entre indí-genas e governo, os pesquisa-dores não tiveram até agora permissão para entrar na Terra Indígena Munduruku. Uma in-vestigação sobre os estudos in-dígenas das usinas do Tapajós já foi iniciada, em Belém/PA.

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EnergiaNacional • Julho/2014 [31]

ParaíbaDesenvolvimento

A pesquisa e a ex-tensão desenvol-vidas pelos profes-sores e alunos  do

curso técnico em mineração da Escola Padre Jerônimo Lauwen e a extração feita pelos garim-peiros em alguns municípios paraibanos ganharam destaque no “Shechtman Internactional Symposium on Sustainable Mi-ning, Minerals, Metal and Ma-terials Processing” (Simpósio Internacional Sustentável de Mineração, Minerais, Metal e

Estudos sobre a mineração em municípios da Paraíba ganham destaque em simpósio no México

atividade mineradora do Seridó Paraibano ganha o mundo

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Atividade mineradora do Seridó Paraibano ganha o mundoDesenvolvimento

Tratamento de Materiais). O evento, realizado em Cancún, no México, de 29 de junho a 04 de julho, contou com a or-ganização de um comitê  in-ternacional  com empresas da África, Ásia, Austrália, Europa, e América do Norte e do Sul.

A atividade mineradora  do seridó paraibano foi apresen-tada no simpósio pelo profes-sor Francisco de Souza, por meio dos trabalhos “Mineração e processamento mineral em pegmatitos: exemplo na região do Seridó, Paraíba – Brasil” e

“Mineração: um método mis-to para exploração mineral em pequenos Pegmatitos na  Pro-víncia Borborema, na Paraíba”, dos quais ele é co-autor. “A participação no evento foi, sem dúvida, muito importante. Uma oportunidade para divulgar o potencial mineral da Paraíba, compartilhar  experiências, ad-quirir novos conhecimentos, métodos  e práticas sustentá-veis que poderão ser aplica-das na pequena mineração do nosso Estado, em especial da região do seridó paraibano, fonte de nossas pesquisas e es-tudos”, declara o professor.

Em sua apresentação, Francisco de Souza diz ter des-tacado a importância socioeco-nômica e industrial da atividade de prospecção na área, além das estratégias para a melho-ria das condições gerais de tra-balho em garimpo, como sus-tentabilidade, segurança, meio ambiente, saúde e qualidade de vida. O professor Antonio de Pádua Sobrinho e o técnico em mineração, Paulo Sales, também são autores das pesquisas.

“É a Paraíba que está ten-do seu trabalho valorizado e reconhecido no exterior. Os tra-balhos apresentados pelo pro-fessor destacam o processo de extração e beneficiamento fei-to pelos garimpeiros da região, dando ênfase e destaque aos avanços no setor, bem como fortalece o nosso  curso  de mi-neração”, ressalta o professor Antônio de Pádua Sobrinho.

O “Shechtman Internactional Symposium on Sustainable Mining, Minerals, Metal and Materials Processing” homenageou a vida e a obra do ganhador do Prêmio Nobel de Química em 2011, professor Dan Shechtman, e abordou pilares da sustentabilidade como a ciência, tecnologia, prática industrial, quadro político e social e formação em todo o ciclo das ciências dos materiais, desde o processamento mineral, à extração de metais e desenvolvimento de novos materiais.

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EnergiaNacional • Julho/2014 [33]

Saiba maiS

F rei Martinho, Picuí e Pedra Lavrada estão entre os

municípios paraibanos cuja eco-nomia primária principal é a ati-vidade mineral, tendo em vista que o clima semi-árido não fa-vorece a agricultura local. Estas cidades estão localizadas na região central da Borborema, onde os corpos zoneadas peg-matíticos são intrusivas em mica--xisto da formação Seridó. Além de minerais industriais (quartzo, feldspato, muscovita), há tam-bém minerais raros (berilo, tur-malina, água-marinha, tantalite) utilizados como gemas ou na in-dústria eletrônica.

miNEraçãoA mineração é feita por ga-

rimpeiros porque as pequenas dimensões de corpos de miné-rio não permitem a instalação de médias e grandes empre-sas. Os pegmatitos geralmente ocorrem em altos estruturais, ou seja, sobre as dobradiças e flancos de anticlinais, facilitan-do a mineração a céu aberto para os minerais industriais e minerais raros associados.

Já a mineração subterrânea é feita como uma continuida-de da mineração de superfície, onde as concentrações de mi-nerais raros ocorrem em pro-

fundidades maiores do que as alcançadas pelos métodos ru-dimentares de desmontagem.

cDrmO Governo da Paraíba tam-

bém disponibiliza serviços téc-nicos dentro do Sistema Esta-dual de Geologia, Mineração e Recursos Hídricos Subterrâne-os, por meio da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Paraíba (CDRM), que tem como diretor presi-dente, o engenheiro de Minas, Marcelo Sampaio Falcão.

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Nome matériaSustentabilidade

[34] EnergiaNacional • Julho/2014

Nome cidadecompartilhando

[34] EnergiaNacional • Julho/2014

ibram realiza a 8º edição do cbmiNa

Desenvolvimento IBRAM

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O Instituto Brasilei-ro de Mineração - IBRAM realiza, entre os dias 6 e

8 de agosto de 2014, em Belo Horizonte/MG, o 8º CBMINA, fórum que reúne o Congresso Brasileiro de Mina a Céu Aber-to, o Congresso Brasileiro de Mina Subterrânea e o Workshop “Economia Mineral: Recursos e Reservas”. O evento, realiza-do bianualmente, é resultado de parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O Congresso pretende pro-mover um debate técnico sobre o setor e difundir conhecimento so-bre os avanços tecnológicos, de-safios e tendências, para as áreas de lavra a céu aberto e subter-rânea. Segundo o diretor-presi-dente do IBRAM, José Fernando Coura, é de extrema importância que o setor esteja em permanen-te discussão. “O setor mineral é um dos mais importantes para a economia brasileira. Abriga uma

enorme massa de trabalhadores, além de representar entre 3% a 5% do Produto Interno Bruto (PIB). A mineração é uma ativida-de determinante para o sucesso da balança comercial nacional e, por isso, deve estar sempre se atualizando”, afirma.

Coura ressalta ainda que o CBMINA tem como foco con-gregar a academia e a indústria mineral, criando oportunidades mútuas e um ambiente fértil para a discussão de temas técnicos, aprimorando a atividade mineral.

Em 2014, a programação abordará temas de relevância na agenda da mineração brasi-leira. Os destaques ficam com o Workshop “Economia Mineral: Recursos e Reservas” e o talk--show “Investimento Social Priva-do”. Para o professor do Depar-tamento de Engenharia de Minas da UFMG, Cláudio Pinto, “a prin-cipal ideia do workshop é enfa-tizar a necessidade de enxergar a avaliação e o planejamento mi-

neral como processos aleatórios que devem incluir as incertezas geológicas e econômicas”.

A 8º edição do CBMINA re-serva uma novidade: os melhores trabalhos serão publicados na Revista Escola de Minas (REM), publicação indexada e classifica-da como qUALIS B1.

PatrociNaDorESAté o momento, seis empre-

sas já confirmaram patrocínio: Vale S.A. (Patrocinador Diaman-te), Sinferbase (Patrocinador Ouro) Geobrugg (Patrocinador Bronze), Metso (Patrocinador Bronze) Anglogold Ashanti (Pa-trocinador Bronze) e Geosol (Patrocinador Bronze).

aPoio iNStitucioNaL E EDitoriaL

O CBMINA conta com o apoio do Instituto Aço Brasil, e das revistas In The Mine, Brasil Mineral e da Escola de Minas (REM).

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Nome matériaSustentabilidade

[36] EnergiaNacional • Julho/2014[36] EnergiaNacional • Julho/2014

BahiaDesenvolvimento

investimentos em eólica na bahia passam de r$ 12 biEstado também já possui parque industrial de componentes

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EnergiaNacional • Julho/2014 [37]

A Bahia conta atu-almente com 132 projetos de usinas eólicas, perfazen-

do um total de 3,2 MW de ca-pacidade instalada. O estado é o único a ter comercializado energia em todos os leilões com contratações realizadas para a

fonte eólica, com investimentos de R$ 12 bilhões.

“Com esse desempenho, a Bahia alcançou, ano passado, o segundo lugar em investimentos eólicos no país, a apenas pouco mais de 50 MW da capacidade instalada do primeiro colocado, o Rio Grande do Norte, e com quase o dobro do Rio Grande do Sul, terceiro colocado em projetos no Brasil”, comemora o secretário da Indústria, Comér-cio e Mineração, James Correia.

Até 2007, a Bahia não pos-suía sequer um projeto de energia gerada pela força dos ventos. Desde então vem em-preendendo esforços para atrair investimentos, além de montar uma cadeia quase completa de indústrias de componentes para a energia eólica, como aeroge-radores, hubs, pás, e torres.

Já estão instaladas em solo baiano as espanholas Gamesa, Acciona e Torrebras, a francesa Alstom, e a brasileira Tecsis.

A Torrebras inaugurou em 2013 uma fábrica de torres metálicas para turbinas eólicas. A empresa do grupo espanhol Daniel Alonso, investiu cerca de R$ 30 milhões no empreen-dimento, que redundou na cria-ção de 300 empregos diretos e faturamento anual previsto de R$ 120 milhões.

A espanhola Gamesa está investindo R$ 100 milhões na ampliação de sua fábrica baia-na para produzir naceles (caixa do rotor do aerogerador) em Camaçari. Recentemente, fe-

chou dois contratos para forne-cimento de 98 MW para parques eólicos na Bahia com aeroge-radores G97-2.0 MW, sendo 68  MW à Companhia de Ener-gias Renováveis e 30 MW para a empresa Ventos dos Guarás I Energias Renováveis.

A francesa Alstom também está aumentando a capacidade de produção de sua fábrica, de-pois que estabeleceu parceria com a Renova Energia. A mega-operação entre as duas empre-sas representa investimentos da ordem de R$ 2,5 bilhões. São projetos que irão gerar pelo me-nos 1,2 GW de energia e quase dobrar a capacidade atual de geração eólica no Brasil.

Já a Tecsis, líder mundial na fabricação de pás e geradores, está investindo R$ 200 milhões e gerando 3,5 mil empregos dire-tos na sua planta industrial que está sendo erguida no Polo In-dustrial de Camaçari.

“Para fomentar essa cadeia industrial, o programa estadual de incentivo, o Desenvolve, em combinação com um incentivo federal, o Confaz 101/97, foi usa-do para garantir isenção total do ICMS em equipamentos eólicos adquiridos de fabricantes ins-talados na Bahia e vantagens para quem compra outros insu-mos localmente”, explica Rafael Valverde, superintendente da Secretaria da Indústria, Comér-cio e Mineração.

A Bahia participa também de um programa de formação de mão-de-obra em energia

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Economia Verdecompartilhando

[38] EnergiaNacional • Julho/2014

eólica, cuja meta é formar 500 profissionais até 2014. Com in-vestimentos de R$ 3,6 milhões, a capacitação será feita pelo Ser-viço Nacional de Aprendizagem Industrial, o SENAI, em parceria com a Cooperação Alemã para o Desenvolvimento.

maPa EÓLicoEm 2013, o governo do esta-

do também empreendeu a atu-alização do Atlas Eólico do Es-tado da Bahia, utilizando novas tecnologias para indicar as me-lhores áreas de potencial eólico no território baiano e as princi-pais características do vento. A versão contemplou o avanço tecnológico e o crescimento dos parâmetros de engenharia, com torres eólicas de até 150 metros de altura. No mapa anterior, fei-to há dez anos, as torres possuí-am só 80 metros.

No novo estudo foram iden-tificadas sete áreas com gran-de potencial eólico: Serra do Sobradinho, Serra Azul, Morro do Chapéu, Serra da Jacobina, Serra do Estreito, Caetité e Novo Horizonte, este último o ponto mais alto da Bahia.

O secretário James Correia considera as jazidas de vento do semi-árido baiano como o “Pré--sal do Sertão”. “Ao contrário das reservas marítimas de petróleo, localizadas a mais de 5 mil me-tros de profundidade, o poten-cial energético o interior baiano região está no vento que sopra forte e constante, entre 10 e 12 metros por segundo”, diz Correia.

Desenvolvimento Investimentos em eólica na Bahia passam de R$ 12 bi

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artigo

EnergiaNacional • Julho/2014 [39]

Pedro Jacob

Pedro Jacob é Geólogo

e empresário da mineração

As consequências da morosidade na aprovação do Novo Marco Regulatório da Mineração

t odo o governo tem seus pontos altos e baixos. Entretanto, no

caso do Novo Marco Regulatório da Mineração (MRM) o governo brasileiro, através do Ministério de Minas e Energia, protagoni-zou um dos piores momentos da mineração moderna.

Não que o MRM tenha sido mal redigido, o que foi, mas sim pela forma como o assunto e suas implicações foi geren-ciado ao longo destes últimos quatro anos. O atraso do MRM arrasou com a pesquisa mineral brasileira, causando prejuízos imensos além de acender o es-topim de uma bomba relógio que penalizará o Brasil em bi-lhões de dólares.

Parece incrível, mas já faz mais de quatro anos que as no-tícias do famigerado MRN infes-tam a mídia nacional.

O marco começou a ser ela-borado em 2010, no segundo mandato do presidente Lula. Desde então as promessas pú-blicas de que o MRM seria apro-vado foram mais de centenas. Tudo não passava de balões de ensaio lançados à mídia para

medir o índice de rejeição do MRM: uma jogada política.

Até o momento esse novo Código Mineral continua enga-vetado em algum lugar da Câ-mara a espera da votação final que nunca chega.

Um atraso de quatro anos se-ria até aceitável quando o assun-to é polêmico e impactante para a sociedade como um todo. No entanto esse Novo Marco Re-gulatório da Mineração foi redi-gido entre quatro paredes por pessoas que pouco entendem de mineração. A nova lei busca espelhar a mineração brasileira na mineração do petróleo, duas coisas absolutamente distintas, e até 2013 nunca havia sido dis-cutida com a sociedade ou com os mineradores.

É que o governo pensava aprová-la sem uma consulta prévia e sem o debate demo-crático.

Ledo engano!quando o MRM chegou à

Câmara ele foi literalmente tor-pedeado com 372 emendas, as mais variadas, em uma clara re-jeição do seu conteúdo por par-te dos deputados.

Page 40: Revista Energia Nacional - Edição 04

artigo

[40] EnergiaNacional • Julho/2014

As consequências da morosidade na aprovação do Novo Marco Regulatório da Mineração

Mas o que torna o marco po-lêmico é também o que causa prejuízos de dimensões monu-mentais, medidos em bilhões de dólares, que penalizam não só a mineração, mas, também, toda a população brasileira.

Alguns desses prejuízos têm uma dinâmica mais lenta e se-rão colhidos, aos poucos, des-tilados ao longo das próximas décadas. É o caso da pesquisa mineral no Brasil.

Em 2011 o Ministro Lobão, das Minas e Energia, acreditan-do (mais uma vez) que o MRM seria aprovado rapidamente, mandou que as concessões para os alvarás de pesquisa e de lavra fossem paralisadas. A partir des-te momento, até o final de 2013, dezenas de milhares de pedidos de pesquisa foram para o limbo, a espera de uma concessão que

não veio. Investimentos de bi-lhões tiveram que ser posterga-dos por aquelas empresas que já estavam preparando as suas minas para a operação.

Sem concessão garantida ne-nhuma empresa pode trabalhar e investir na pesquisa mineral.

Com isso as pequenas em-presas de mineração, que são aquelas que fazem a pesquisa mineral no Brasil, investindo em um ano quatro vezes mais do que a estatal CPRM investiu em dez, tiveram que parar.

As consequências foram ca-tastróficas.

Demissões em massa varre-ram o setor, se alastrando como um fogo em mata seca. Os im-pactos negativos se propagaram da mineração para a geologia e daí para as empresas prestado-ras de serviços como laborató-

rios e sondagem. Entre 2011 e 2013 o setor desmoronou.

As consequências serão sen-tidas ao longo dos anos, pois as jazidas que deveriam ter sido descobertas nesses anos, não estarão em produção quando as atuais se esgotarem. É um cruel efeito dominó. O que o Governo matou nestes últimos anos será o estopim de uma carência gigan-tesca, inevitável.

Então, veremos o Brasil impor-tar bilhões de dólares em metais e minerais que deveriam estar sendo produzidos internamente.

Este atraso e suas implica-ções afugentaram os investido-res da mineração que teve, no primeiro trimestre deste ano, uma queda assustadora de 83% nas fusões e aquisições quando comparadas a 2013. Na fuga os investidores levam consigo mais

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EnergiaNacional • Julho/2014 [41]

de 10 bilhões de dólares que de-veriam ser investidos em nossa mineração.

Tudo isso por culpa de um “pequeno” atraso de vários anos na aprovação do MRM. Sem contar, é claro, nos milhares de desempregados de alta qua-lidade e experiência que foram “sucateados” pelo sistema, por conta desse péssimo gerencia-mento demonstrado pelo MME.

Infelizmente as más notícias não param por aí. Um ponto nevrálgico, que vem no bojo do MRM, é o que diz respeito à CFEM (A Compensação Fi-nanceira pela Exploração de Recursos Minerais). É através da CFEM que os estados e municí-pios recebem uma participação sobre os ganhos da mineração em seus respectivos territórios. É por meio da CFEM, recolhida mensalmente, que a sociedade pode se beneficiar diretamente, e no curtíssimo prazo, de um em-preendimento mineiro. A CFEM é devida quando o mineral é vendido, transformado ou con-sumido. No novo MRM ela será paga, também, aos municípios afetados pela mineração que até hoje nada recebem. Uma me-dida democrática que irá levar uma renda adicional à todos.

No momento a alíquota da CFEM varia de acordo com a substância mineral, variando de 3% no caso do alumínio até 0,2% no caso das pedras preciosas como o diamante.

Pois esse novo MRM contém uma mudança dramática no valor

da CFEM, que vai beneficiar, ex-tremamente, a todos os estados e municípios onde a mineração é importante. Neste MRM que está, ainda, a espera da aprovação da Câmara, a CFEM vai ser ampliada várias vezes. Ela será calculada sobre a receita bruta, deduzidos os tributos, e não sobre a receita líquida como dita a regra atual.

As alíquotas subirão, atin-gindo o máximo de 4%. Com isso a nova CFEM será, em al-guns casos, mais de 500% maior do que a anterior, revertendo diretamente para a população.

Segundo o novo MRM 60% dela serão destinados aos mu-nicípios produtores, 20% para os estados, 10% para os municípios não produtores afetados pela mineração e 10% para a União.

Em 2013 a CFEM recolhida atingiu o valor de R$ 2,4 bi-lhões. O minério de ferro, o mi-neral mais importante no Brasil de hoje, contribui com 75% de toda a CFEM arrecadada. No caso deste minério a CFEM vai passar de dois para quatro por cento, caso o MRM seja aprova-do com o texto proposto pelo deputado Leonardo quintão (PMDB/MG).

Isso corresponderá a um au-mento superior a 100%.

Ou seja, somente o ferro irá contribuir com mais de quatro bilhões de reais à sociedade brasileira.

Se o novo MRM, na versão quintão, for aprovado, é claro.

O atraso do Marco Regula-tório da Mineração, que vem se perpetuando nos últimos anos, está privando a socie-dade de uma quantia superior a dez bilhões de reais. Muni-cípios brasileiros produtores de bens minerais foram supri-midos dessa imensa quantia tendo que amargar problemas sérios na infraestrutura, edu-cação e saúde que não deve-riam existir.

Os efeitos do atraso do MRM são claros e graves e in-fluenciam diretamente na en-xurrada de problemas que hoje o Brasil vive.

O atraso do Marco Regulatório da Mineração, que vem se perpetuando nos últimos anos, está privando a sociedade de uma quantia superior a dez bilhões de reais. Municípios brasileiros produtores de bens minerais foram suprimidos dessa imensa quantia tendo que amargar problemas sérios na infraestrutura, educação e saúde que não deveriam existir.

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Legislativo

[42] EnergiaNacional • Julho/2014

PEC nº 406/2009

Em audiência pública realizada na Câmara, presidente da ANAMUP enfatiza importância de aprovação da proposição

PEc que aumenta os recursos dos municípios é “tábua de salvação”, afirma casteglione

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EnergiaNacional • Julho/2014 [43]

A PEC nº 406/2009, que aumenta o Fundo de Partici-pação dos Municí-

pios (FPM) e as parcelas do ICMS, e acrescenta a partilha 23,5% da arrecadação das contribuições sociais em favor dos municípios foi tema de audiência pública na Câmara dos Deputados no dia 28 de maio. Na ocasião, diante de deputados e representantes de instituições, o presidente da Associação Nacional dos Mu-nicípios Produtores (ANAMUP) e prefeito do município de Cachoeiro de Itapemirim/ES, Carlos Casteglione, proferiu pa-lestra sobre a proposição e des-tacou a necessidade de aprova-ção da matéria. “Os municípios já sofrem demais por falta de re-cursos financeiros. Ainda assim, temos que cumprir a Lei de Res-ponsabilidade Fiscal. A PEC é a

tábua de salvação para os mu-nicípios, pois vamos ter condi-ções de investir mais em saúde, educação, moradia, segurança e outras áreas que necessitam de mais investimentos”, declarou Casteglione.

Ao concluir, o presidente da ANAMUP destacou a chance do Poder Legislativo de acabar com a desigualdade na reparti-

ção dos recursos. “Com a PEC, o Congresso Nacional tem uma grande oportunidade de rever essa relação desproporcional da distribuição do bolo e da dificul-dade que as prefeituras têm de atender as demandas da popu-lação”, finalizou.

O autor da PEC e vice-pre-sidente da comissão especial, deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR), também esteve presente na audiência e enfatizou a rele-vância do debate. “A audiência foi produtiva, com ideias claras e enriquecedoras dos pales-trantes, embasando todo nos-so conceito para discussão e aprimoramento da PEC. Como autor, reitero que precisamos continuar persistindo por um au-mento mais amplo do FPM e um acréscimo maior de distribuição de recursos aos municípios”, afirmou Kaefer.

Presidente da Associação Nacional dos Municípios Produtores (ANAMUP) e prefeito do município de Cachoeiro de Itapemirim/ES, Carlos Casteglione

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Legislativo

[44] EnergiaNacional • Julho/2014

PL nº 4.404/2008

Foi aprovado em maio, na Comissão de Cons-tituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da

Câmara dos Deputados, o pa-recer do PL nº 4.404/2008, que aumenta de 30 mil kW para 50 mil kW o limite de potência que caracterizam as Pequenas Cen-trais Hidrelétricas (PCHs). O rela-tor do PL na Câmara, deputado federal Gabriel Guimarães (PT--MG), proferiu seu parecer pela injuridicidade do aumento do limite das PCHs.

De acordo com a secre-tária executiva da AMUSUH,

Terezinha Sperandio, “luta-mos pela permanência dos 30 mil kW de potência das PCHs, pela razão de que o aumen-to da capacidade de energia gerada pelas PCHs, os muni-cípios não terão o direito de recebimento da Compensação Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos – CFURH”.

Recentemente, a AMUSUH esteve no gabinete do depu-tado federal Sandro Mabel (PMDB-GO), em reunião com representantes da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia

– ABIAPE, para tratar do PL, acompanhada pelo consultor ambiental Ivan Souza e a secre-tária-executiva da AMUSUH. No dialogo debateu-se tam-bém a importância das PCHs, a necessidade energética em regiões do Brasil e o impacto ambiental na implantação das pequenas centrais.

tramitaçãoO projeto seguirá para o

Senado em caráter conclusi-vo, onde será analisado no-vamente, já que a Câmara fez alterações.

PL nº 4.404/2008: parecer mantém o limite das Pchs

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Legislativo

EnergiaNacional • Julho/2014 [45]

PL nº 6.734/2013

Deputado Lira maia segue posicionamento da amuSuh no parecer do PL nº 6.734/2013

A AMUSUH regis-trou em maio mais uma importante conquista na luta

pela defesa dos interesses dos municípios sedes de usinas hi-droelétricas. Depois de um inten-so trabalho de articulação, a en-tidade comemora o parecer do deputado Lira Maia (DEM/PA), referente ao PL nº 6.734/2013. “A Associação Nacional dos Municípios Sedes de Usinas Hi-droelétricas (AMUSUH), que re-presenta os municípios que, em princípio, seriam beneficiados pela proposição em apreço, nos fez chegar o seu entendimento sobre a matéria. No entender da Associação, a presente proposi-ção, ao contrário do pretendido, vai prejudicar os municípios em questão”, observa o parecer.

Projeto prevê um programa de incentivo aos municípios sedes de usinas e alagados a ser criado com recursos da CFURH

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Legislativo

[46] EnergiaNacional • Julho/2014

Deputado Lira Maia segue posicionamento da AMUSUH no parecer do PL 6.734/2013

O projeto, de autoria do de-putado Akira Otsubo (PMDB/MS), prevê a criação do Programa de Incentivo nos Municípios Sedes das Usinas Hidroelétricas e Alagados. Segundo a justificativa do projeto, “a produção agrícola muitas vezes é interrompida para dar lugar às usinas hidroelétricas e aos lagos. Com isso, as ativida-des econômicas são substancial-mente afetadas”. Ainda de acor-do com o PL, para a criação do programa, serão retirados 10% da CFURH atual dos municípios e 20% dos estados.

Em reunião com o relator, a secretária-executiva da AMUSUH, Terezinha Sperandio, apresen-tou as justificativas da associação para a rejeição do projeto. “Não tem cabimento retirar recursos dos municípios sedes de usinas e alagados, que já carecem de investimentos, e destiná-los a um fundo que será administrado pelo Executivo”, afirmou.

O voto do relator seguiu exatamente o entendimento da AMUSUH sobre a questão.

“Preocupa à AMUSUH, em par-ticular, a transferência de 10% dos recursos da Compensação Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos destinados aos municípios, previstos na Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989, para um fundo gerido pelo Poder Executivo Federal. No entender da Associação, isso burocratizaria e dificulta-ria o acesso dos municípios a esses recursos. Além disso, na opinião da AMUSUH, os pode-res públicos municipais estão

mais bem preparados do que a União para identificar os pro-blemas sociais e ambientais lo-cais gerados pelas hidrelétricas e para planejar e executar as ações necessárias para enfren-tá-los”, declarou o deputado.

O parecer deverá ser votado em agosto. “Enquanto isso, a AMUSUH concentrará esforços para conscientizar os membros da CMADS sobre seu posicio-namento, visando leva-los a aca-tar o voto do relator”, explicou Terezinha Sperandio.

Terezinha Sperandio com Deputado Lira Maia

Page 47: Revista Energia Nacional - Edição 04

artigo

EnergiaNacional • Julho/2014 [47]

Vilson Covatti

vilson covatti é

Deputado Federal PP/RS,

Presidente da Frente

Parlamentar Mista em

Defesa dos Municípios Sedes

de Usinas Hidroelétricas e

Alagados

Energia Municipalista

E m todo o mundo, as nações buscam um modelo de produção

energética que gere autossufi-ciência com custos ambientais baixos. Felizmente, nós, bra-sileiros, temos o privilégio de contar com uma hidrografia capaz de produzir energia lim-pa. Mas isso não significa que a instalação de hidroelétricas não gere impactos econômi-cos, sociais e ambientais nos municípios que são sede ou tiveram áreas alagadas para a instalação de usinas. Os con-sumidores de energia reconhe-cem o papel dos municípios produtores. No entanto, há falta de conhecimento da so-ciedade e do parlamento com relação a esses impactos.

Esses municípios sofrem com alterações no capital so-cial das comunidades. Neles, famílias inteiras foram obriga-das a se deslocar de regiões em que seus antepassados fo-ram pioneiros, muitas vezes, há mais de um século. Em alguns casos, cidades inteiras estão debaixo d’água. Além de se vi-rem obrigados a resolver ques-tões sociais, os municípios que têm grandes áreas de terras alagadas arcam com o revés econômico da perda de espa-ço para a agricultura e a pecu-ária, que são as principais ati-vidades econômicas geradoras

de emprego e renda no interior do país.

No Brasil existem 197 mu-nicípios produtores de energia hidroelétrica e 717 alagados por barragens. Assim como os demais municípios brasileiros, eles têm dificuldades financei-ras para oferecer serviços pú-blicos de qualidade num mo-delo federativo que concentra recursos nos cofres da União. Para defendê-los, e unindo-se às demais pautas municipalis-tas do Congresso Nacional, foi criada a Frente Parlamentar em Defesa dos Municípios Sedes de Usinas Hidroelétricas, que tenho a honra de presidir.

Essa Frente trata de inicia-tivas legislativas que interfe-rem diretamente no cotidiano dessas comunidades, princi-palmente, projetos que tratam da ampliação da parcela dos municípios na divisão das re-ceitas do CFURH (Compensa-ção Financeira Pela Utilização de Recursos Hídricos). Espe-ramos que a Frente una esfor-ços e gere conscientização do parlamento com relação às necessidades diferenciadas desses municípios, que são os produtores da energia que impulsiona o desenvolvimento nacional. Ou seja, municípios que efetivamente concentram a energia do país.

Page 48: Revista Energia Nacional - Edição 04

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