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1 REVISTA DE MANGUINHOS | DEZEMBRO DE 2008

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xpandir as fronteiras de atuação, promover intercâmbios, buscarparcerias para promoção da saúde pública e para o avanço daciência, estejam onde estiverem nossos interlocutores. Desde asprimeiras gerações de pesquisadores, a trajetória da FundaçãoOswaldo Cruz tem sido marcada por esse olhar para fora dos

muros da instituição. Só para ficar em dois exemplos. Oswaldo Cruz foibeber na fonte do Instituto Pasteur no final do século 19 uma parte dosconhecimentos que iria aplicar nas memoráveis campanhas de saneamentodo Rio de Janeiro. De Manguinhos partiram inúmeras expedições científicasque esquadrinharam os grotões do Brasil para fazer diagnósticos dascondições de saúde em que viviam os brasileiros do “interior”.

Com a chegada da Fiocruz a outros estados brasileiros e o incrementodas parcerias com órgãos e governos de outros países, a Fundação renova eamplia esse olhar e ação permanentes para o mundo que nos cerca, comojá lá atrás Chagas e Oswaldo sinalizavam. Queremos oferecer respostas aosproblemas de saúde das diferentes regiões do Brasil e dialogar com osprofissionais locais na busca dessas ações. Da mesma forma, desejamoscompartilhar com companheiros africanos e latino-americanos diferentessaberes no campo da saúde e da ciência e tecnologia.

Esta edição da Revista de Manguinhos traz, como matéria de destaque,como começou a ser incrementado esse movimento para fora dos nossosmuros que, acredito, consolidará a posição da nossa instituição como um atorcentral dentro das políticas do governo brasileiro.Como de hábito, a Revistatambém revela o papel multifacetado da Fiocruz na sua tarefa de oferecerrespostas aos problemas de saúde. Comprove nas pautas selecionadas.

Ao longo das edições dos últimos anos, a Revista de Manguinhos -criada na nossa gestão - foi o grande espaço de registro do que foi aFiocruz no período 2001-2008, anos em que estive, com muito orgulho, àfrente desta que é uma instituição respeitada pela sociedade. Queroagradecer a cada trabalhador da Fundação que ajudou a Presidência atornar a nossa Fiocruz ainda mais forte e, particularmente, a ChristinaTavares e sua equipe que de forma tão competente criaram e conduziramesta publicação.

Quero também deixar renovado o empenho com que vamos construiro nosso futuro, que se desenha inspirador com a chegada de PauloGadelha ao posto de presidente da Fiocruz a partir de 2009. Saio daPresidência da Fundação com a sensação de dever cumprido. Espero terhonrado uma das maiores tradições dessa instituição, junto com o grandegrupo de servidores que a compõe. Tenho certeza que vamos continuarcompartilhando muitos sonhos e lutas daqui para a frente.

Grande abraço,

Paulo Marchiori Buss

Presidente da Fundação Oswaldo Cruz

EDITORIAL

E

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Ambiente15

Pesquisa

Políticas públicas12

6 Notas

14 Ambiente

Pela qualidade do ar

Pistasda AidsPesquisas alargamconhecimento sobre a doença

8

SaneamentobásicoTecnologias alternativascomo proposta

Todos contrao HIVFiocruz anuncia medicamentose teste rápido

ÍNDICE

PresidentePaulo Marchiori Buss

Vice-presidente de Serviçosde Referência e AmbienteAry Carvalho de Miranda

Vice-presidente deDesenvolvimento Institucionale Gestão do TrabalhoPaulo Gadelha

Vice-presidente de Ensino,Informação e ComunicaçãoMaria do Carmo Leal

Vice-presidente de Pesquisa eDesenvolvimento TecnológicoJosé da Rocha Carvalheiro

Vice-presidente de Produçãoe Inovação em SaúdeCarlos Augusto Grabois Gadelha

Chefe de GabineteArlindo Fábio Gómez de Sousa

Coordenadoria de ComunicaçãoSocial/Presidência

REVISTA DE MANGUINHOSNº 17 -DEZEMBRO/2008

Coordenação: Christina Tavares

Edição: Wagner de Oliveira

Redação e reportagem:Edmilson Silva, Fernanda Marques,Renata Moehlecke, Ricardo Valverdee Wagner de Oliveira

Colaboradores: Bel Levy, Fabíola Tavares,Marcelo Garcia, Rafael Vinícius, RenataFontoura e Roberta Monteiro

Projeto gráfico e edição de arte:Guto Mesquita, Rita Alcântara e Rodrigo Carvalho

Fotografia: Peter Ilicciev

Administração: Carolina Bandeirae Diego Oliveira

Secretaria: Inês Campos

Auxiliar administrativo: Daniel Lima

O que você achou desta ediçãoda Revista de Manguinhos?Mande seus comentários para:

Av. Brasil, 4365 - Manguinhos -Rio de Janeiro - CEP: 21045-900

e-mail: [email protected]: 55(21) 2270-5343

Impressão: Duo Print

24 Ambiente

Atlas sobre as águasdo Brasil

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Parcerias

Escaninhosda patologiaMuseu virtual resgatahistória de três coleçõescientíficas

Fio da História28

22

OuvidosatentosOs canais de comunicaçãoda Fiocruz com a população

Cidadania16

Um olharpara o mundoParcerias no exterior;novas unidades da Fiocruzpelo Brasil

25 Pesquisa

Medicamentos e amicrocirculação do sangue

27 Pesquisa

Economia solidáriaentre trabalhadores

30 Fio da História

Caminhos deCândido Rondon

Assistência22

Acolherpara cuidarProjeto prepara criançaspara cirurgias

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NOTAS

Combate aos mosquitosPesquisadores da Fiocruz Pernambu-

co testaram uma mistura de atraentes ol-fativos, sem odor para os humanos, paraser usada em armadilhas, que poderá aju-dar a reduzir a população do mosquitoCulex quinquefasciatus. Essa espécie deinseto, que incomoda por suas picadas eprincipalmente pela transmissão de vári-as arboviroses (doenças virais transmitidaspor insetos), é também responsável pelatransmissão da filariose no Brasil. A Re-gião Metropolitana do Recife (RMR) é hojea única área do país onde ainda há regis-tros de transmissão da doença. As subs-tâncias foram desenvolvidas pela equipedo pesquisador Walter Leal, na Universi-dade da Califórnia, nos Estados Unidos,local onde o mesmo inseto transmite afebre do Nilo Ocidental, enfermidade queprovocou mortes entre os americanos.

As substâncias utilizadas como atra-entes em armadilhas pelos pesquisadoressão a trimetilamina e a nonanal. Para iden-tificar quais substâncias exercem maiorpoder de atração sobre o mosquito, elesestudaram as proteínas existentes nas an-tenas desse inseto, que são condutorasdo olfato. “Identificamos três substânci-as, mas uma delas, a eskatol, não é tãoatrativa quanto as outras e tem mais odor.Por isso foi descartada”, explica Leal. Essafase da pesquisa durou um ano.

Dengue e a imprensaA pesquisa “Avaliação da comunica-

ção na prevenção da dengue” estudou acomunicação relacionada à prevenção epi-demiológica da doença por meio da aná-lise de jornais impressos, telejornais e en-trevistas. O projeto pesquisou como a im-prensa em geral e as instituições de saú-de abordam o assunto, além de exploraro modo que a sociedade se apropria dasinformações (tripé metodológico). “Partin-do do pressuposto de que as pessoas con-textualizam tudo o que recebem, nós que-ríamos saber como a população se apro-pria da informação veiculada nos meiosde comunicação”, explica a pesquisado-ra do Instituto de Comunicação e Infor-mação Científica e Tecnológica em Saúde(Icict) da Fiocruz Inesita Soares.

Durante cerimônia em comemora-ção aos 90 anos do Serviço de Medica-mentos Oficiais do Brasil, no Institutode Tecnologia em Fármacos (Farmangui-nhos) da Fiocruz, em dezembro, com apresença da ministra-chefe da Casa Ci-vil, Dilma Rousseff, e do ministro daSaúde, José Gomes Temporão, foramassinados cinco documentos com im-pacto na produção nacional pública demedicamentos: um contrato entre Far-manguinhos e a empresa argentinaChemo, para a transferência de tecno-logia de medicamentos para doençasrespiratórias, sobretudo a asma grave;um protocolo de intenção entre a em-presa indiana Lupin e a Fiocruz, para atransferência de tecnologia de novosmedicamentos contra a tuberculose; umprotocolo de intenção com a FundaciónMundo Sano, da Argentina, para coo-peração no enfrentamento da malária;um memorando de entendimento en-tre Farmanguinhos, a empresa suíçaStragen Pharma e as empresas brasilei-ras Libbs e Biolab, para a transferênciade tecnologia de medicamentos para asaúde da mulher; e uma portaria queestabelece critérios para os laboratóri-os oficiais adquirirem matérias-primas,

Produção de medicamentostendo preferência a compra de insumosproduzidos no Brasil.

A ministra Dilma Rousseff destacoua importância do “círculo virtuoso”, ummodelo que combina investimentos emciência, tecnologia e produção, e temestreita ligação com o desenvolvimen-to do Complexo Industrial da Saúde(CIS). “É necessário, sim, fazer políticaindustrial. Não está certo exportar em-pregos e, se não queremos isso, tam-bém não podemos importar ciência etecnologia. Vamos fazer dentro dopaís”, defendeu. Segundo Dilma, o pro-cesso de internalização da produção jáestá em curso no setor da saúde, ao quala ministra atribuiu um papel triplo: ageração de conhecimento, da pesquisabásica ao produto final; o desenvolvi-mento social; e o desenvolvimentoeconômico. “O tipo de desenvolvimen-to que o Brasil precisa tem que ser ca-paz de incluir os 190 milhões de brasi-leiros. Do contrário, não teremosdesenvolvimento econômico nem esta-bilidade política”, resumiu ela, que,após o discurso, visitou o parque indus-trial de Farmanguinhos e descerrou aplaca comemorativa dos 90 anos doServiço de Medicamentos Oficiais.

A ministra Dilma Roussef e o ministro Temporão em Farmanguinhos

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Médicos e emergênciasde hospitais

O que motiva médicos e enfermeiros, emmeio a tantas possibilidades de atuação queas suas profissões lhes proporcionam, a opta-rem pelo trabalho nas emergências dos hos-pitais? Esta inquietação foi o que motivou apesquisa Avaliação da qualidade da assistên-cia nas três grandes emergências da cidadedo Recife, realizada pela Fiocruz Pernambu-co. Mesmo diante de todas as dificuldades ereivindicações por melhorias de condições detrabalho e salariais, o estudo mostrou que,independentemente do tempo de formaçãoe de atividade na emergência, as duas cate-gorias se sentem motivadas para o seu traba-lho. Em uma escala de pontuação que vai de1 a 5, ambas apresentaram uma média geralde satisfação que variou de 3,89 a 4,08.

Para a execução do trabalho foram en-trevistados 126 profissionais, sendo 42 en-fermeiros e 84 médicos das emergências doshospitais da Restauração, Otávio de Freitase Getúlio Vargas, todos no Recife. “Na visãoda população, as emergências dos grandeshospitais públicos são cenários de caos. Des-de a formação, médicos e enfermeiros têmsuas convicções ideológicas forjadas, deter-minando o seu perfil motivacional, que trans-cendem a fatores como idade e tempo detrabalho nas emergências, revelando o sen-tido de corpo na compreensão de suas pro-fissões”, explica o coordenador da pesqui-sa, Antônio Mendes, que é médico-sanita-rista e pesquisador do Departamento de Saú-de Coletiva da Fiocruz Pernambuco. O estu-do, segundo ele, acaba com uma lenda exis-tente tanto na sociedade como na própriaacademia. “Constatamos que os profissio-nais estão sim motivados a trabalhar nasemergências”, afirma.

Apoio da OMSUma pesquisa desenvolvida pelo Institu-

to Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz avalia a uti-lização de escolas como base operacional paraações de controle da esquistossomose e dasgeohelmintoses em áreas endêmicas. O pro-jeto piloto, patrocinado pelo Departamentode Doenças Negligenciadas da OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS), está sendo desen-volvido num município representativo em Per-nambuco. A iniciativa poderá ser decisiva paraalcançar a meta global de diagnosticar e tra-tar a infecção por Schistosoma mansoni e geo-helmintos em, ao menos, 75% das criançasem idade escolar até 2010. A OMS estimaque mais de 300 milhões de pessoas soframdas formas graves dessas helmintoses emtodo o mundo, o que resulta em mais de 150mil mortes anualmente. As infecçõeshelmínticas também prejudicam o desenvol-vimento físico e mental, com conseqüênciasnegativas para o desempenho escolar.

Jovens e criminalidadeA entrada precoce de jovens para o

crime organizado, no qual a venda de dro-gas deixou de ser prioritária diante dosconstantes episódios de conflitos armadose tráfico de armas, leva-os a um desgastefísico e emocional que pode criar condi-ções possíveis para uma ruptura e buscade novas redes sociais motivadoras de no-vas condutas de vida e trabalho. Esta foi aprincipal conclusão da tese defendida pelaassistente social Zilah Meirelles no Progra-ma de Pós-Graduação em Saúde do Tra-balhador na Escola Nacional de Saúde Pú-blica (Ensp) da Fiocruz. Em seu trabalho,a pesquisadora analisou as circunstânciase condições específicas que impulsiona-ram 30 jovens entre 17 a 25 anos a aban-donarem a vida no tráfico de drogas emsete favelas da Zona Norte e do Centroda cidade do Rio de Janeiro.

De acordo com Zilah, o quadro édesolador em qualquer dessas comunida-des: os jovens, ao entrarem para o tráfico,apresentam uma perspectiva de fascínio pe-las facilidades de adquirirem visibilidade so-cial, prestígio, poder e dinheiro e assim as-cender na vida de modo mais rápido. Noentanto, essa noção vai se desfazendo como tempo devido às numerosas situações detraição, punição e medo as quais eles têmque passar. “O processo de saída ocorrejustamente quando o jovem começa aquestionar seus ganhos e perdas nesta tra-jetória, e procura visualizar outras possibi-lidades de vida mais condizentes com suasaspirações juvenis”, afirma.

Editora Fiocruzna Argentina

A Editora Fiocruz assinou um convê-nio com a Editorial Universitaria de BuenosAires (Eudeba), uma editora argentina vin-culada à Universidade de Buenos Aires. Oacordo de cooperação, cujo objetivo é edi-tar livros em sistema de co-edição, é o pri-meiro fechado pela Editora Fiocruz com umpaís da América Latina e pretende facilitaro acesso a ambos os acervos, por meio daseleção, tradução, edição e distribuição delivros em países de língua hispânica.

“A cooperação faz parte de uma polí-tica da Fiocruz em consonância com a po-lítica externa do governo brasileiro deestreitamento de laços entre países daAmérica Latina”, comenta a vice-presiden-te de Ensino, Informação e Comunicaçãoda Fundação, Maria do Carmo Leal. “Éuma aposta forte no aumento do intercâm-bio científico entre os paises da região,ampliando a troca entre os autores latino-americanos e permitindo que a nossa edi-tora traga para o público brasileiro boascontribuições originadas naqueles países,no campo da saúde pública. Vice-versa osautores brasileiros terão suas obrastraduzidas para o espanhol e acessarão omercado editorial da Argentina e de ou-tros países da América Latina”.

Um primeiro livro, editado em espa-nhol por iniciativa exclusiva da Editora Fi-ocruz, já está sendo distribuído pelaEudeba, como primeiro fruto da parceria.Trata-se da obra Análisis estratégico ensalud y gestión a través de la escucha, deFrancisco Javier Uribe Rivera, médico epesquisador da Escola Nacional de SaúdePública Sergio Arouca (Ensp) da Fiocruz.O livro, que versa sobre a prática e a ges-tão de sistemas e serviços de saúde, reú-ne trabalhos que abordam o conceito deliderança como possibilidade intersubje-tiva de desenvolvimento de um consensonecessário para o funcionamento produ-tivo de uma organização.

A vice-presidente, Maria do Carmo Leal,e a presidente da Eudeba, Mônica Pinto

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PESQUISA

UBel Levy e Marcelo Garcia

suários de drogas injetá-veis constituem uma po-pulação importante nocenário epidemiológicoda Aids, uma vez que o

compartilhamento de seringas favore-ce a disseminação de vírus recombi-nantes e resistentes aos medicamen-tos disponíveis para o tratamento dainfecção pelo HIV-1. Um estudo de-senvolvido no Laboratório de Aids eImunologia Molecular do InstitutoOswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz confir-mou esta premissa ao verificar a pre-sença de vírus com mutações de resis-tência entre indivíduos que nuncareceberam medicação anti-retroviral.

O estudo traçou pela primeira vezo perfil genético de usuários de dro-gas injetáveis soropositivos do Estadodo Rio de Janeiro. O objetivo foi rela-cionar fatores genéticos destes indiví-duos a maior ou menor suscetibilida-de à infecção pelo HIV-1 e analisar operfil de subtipos e variantes virais cir-culantes nesta população e resisten-tes a medicamentos anti-retrovirais. Apesquisa partiu da perspectiva de quemúltiplos fatores modulam o desenvol-vimento da infecção, incluindo carac-terísticas virais, co-fatores infecciosos,comportamentos individuais, fatores

Novos cenários da

Estudos ampliam conhecimento sobre perfil genéticode usuários de drogas injetáveis infectados pelo HIV-1 e sobre co-infecção Aids e hepatite A

ambientais e a genética dohospedeiro, que pode indi-car maior ou menor sus-cetibilidade de um indiví-duo à infecção pelovírus.

Ao traçar o per-fil genético de usu-ários de drogas in-jetáveis do Estadodo Rio de Janeiro, otrabalho é pioneiropor ter como foco ogenótipo CCR5 e osgenes HLA de Classe I B, en-volvidos respectivamente com oprocesso de entrada do vírus na célulahospedeira e com os mecanismos ge-radores de resposta imune celular doindivíduo.

Pesquisa sobreresistência tem

impacto na terapia

“Para determinar os genótiposCCR5 aplicamos a metodologia PCR,seguida de eletroforese em gel de po-liacrilamida 12% para verificação dotamanho dos fragmentos genômicosobtidos. Para a tipagem dos alelos HLArecorremos a um kit comercial que uti-liza o princípio da hibridização reversa,com sondas de DNA HLA específicaspara os alelos deste grupo. As análises

não nos permitiram asso-ciar diretamente estes mar-cadores genéticos à susce-tibilidade ou à resistência dapopulação estudada à infec-ção pelo HIV-1, mas foramimportantes porque forneceramuma descrição da composição genéti-ca destes indivíduos, o que ainda nãohavia sido realizado para o estudo des-te grupo no Estado do Rio de Janei-ro”, apresenta a pesquisadora SylviaTeixeira, que realizou o estudo duran-te doutorado desenvolvido no Progra-ma de Pós-Graduação em Biologia Ce-

Aids

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lular e Molecular do IOC sob orienta-ção da imunologista Mariza Morgado,chefe do Laboratório de Aids e Imu-nologia Molecular, e do epidemiologis-ta Francisco Inácio Bastos, do Institutode Comunicação e Informação Cientí-

fica e Tecnológicaem Saúde (ICICT) da

Fiocruz.“A investigação da

presença de variantes viraisresistentes aos anti-retrovi-

rais tem impacto no sucessoterapêutico dos pacientes, na

transmissibilidade do vírus e no de-senvolvimento de novas drogas ecompostos vacinais. Nosso estudo ve-rificou a presença de genomas re-combinantes do HIV-1 e uma fre-qüência de 7,9% de mutaçõesprimárias de resistência a inibidoresde protease entre indivíduos que

nunca receberam medicamentosanti-retrovirais – o que pode ser con-siderado um índice bastante eleva-do”, descreve Sylvia. “Por isso, con-tribui para o conhecimento do perfilgenético e de mutações de resistên-cia dos vírus circulantes entre usuá-rios de drogas injetáveis, implicandodiretamente na administração, nomonitoramento e no sucesso do tra-tamento”, conclui. Segundo a Orga-nização Mundial de Saúde, a Aidsatinge mais de 33 milhões de pes-soas em todo o mundo. (Bel Levy)

Mudança no perfilepidemiológico dahepatite A aumentarisco de co-infecção

com HIV

Mas os avanços no co-nhecimento da Aids não

terminam aí. Um estudotambém realizado noInstituto Oswaldo Cruz(IOC), em parceria coma Universidade Federaldo Estado do Rio de Ja-neiro (UniRio), analisou581 amostras de pacien-tes com Aids, coletadasentre 1988 e 2004, eapontou uma mudança

no perfil epidemiológico dahepatite A, ligada a fatores só-

cio-econômicos e culturais. O resul-tado alerta para o aumento do riscode co-infecção pelos dois patógenos.

Os pesquisadores avaliaram a exis-tência do anticorpo anti-HAV IgG, queindica contato prévio com o vírus dahepatite A, tendo a pessoa adoecidoou não. O resultado foi cruzado cominformações pessoais dos pacientes.“Estudar um período longo de tempopermitiu acompanhar a mudança doperfil epidemiológico da hepatite A empacientes com HIV-1 e analisar a im-portância de fatores sociais nessa trans-formação”, explica a pesquisadoraVanessa de Paula, do Laboratório deDesenvolvimento Tecnológico emVirologia do IOC.

Foi detectada uma prevalência mé-dia de 79,8% de pacientes com o an-

ticorpo em 2004, 15% menor que averificada em 1997. “Também verifi-camos que, nas amostras de 1988,86,7% dos pacientes que haviam tidocontato prévio com o vírus da hepati-te A eram homens e 13,3%, mulhe-res”, lembra Vanessa “Em 2004, a re-lação era de 57,5% de homens para42,5 % de mulheres.”

A hepatite A, transmitida princi-palmente por alimentos e água conta-minados, sempre esteve associada acondições sanitárias inadequadas.“Hoje, a melhora do saneamento di-minuiu o contato da população com ovírus ainda na infância, quando a do-ença costuma ser assintomática”, ex-plica o pesquisador Adilson José deAlmeida, da UniRio. “A alteração noperfil epidemiológico da hepatite A ésemelhante à apresentada pela Aids,indicando a importância da transmis-são através do sexo e o risco maior deco-infecção, quando a hepatite A podecausar graves complicações”.

Caminho sugerido:vacinação seletivapara hepatite A

O estudo apontou a importânciade fatores sócio-culturais para a mu-dança epidemiológica. “A diminuiçãodo percentual de homens portadoresde HIV-1 com anticorpos anti-HAV IgGpode estar ligada a campanhas de edu-cação sexual e de incentivo ao uso depreservativos”, argumenta. “Analoga-mente ao que ocorre com a Aids, opercentual de mulheres casadas hete-rossexuais infectadas também aumen-tou, por preocuparem-se menos coma prevenção de doenças”.

Para os pesquisadores, as alteraçõesapontadas pelo estudo justificariamações governamentais. “Para evitar aco-infecção, poderia-se, por exemplo,identificar os pacientes com HIV quenão possuam anticorpos contra hepa-tite A e promover campanhas de vaci-nação seletiva”, opina Vanessa.

(Foto: Monika Barth/IOC)

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o Dia Mundial de Luta con-tra a Aids, 1º de dezembro,a Fundação anunciou novi-dades para o enfrentamen-to da doença, o que inclui

novos medicamentos para adultos e cri-anças, bem como um teste para diag-nóstico rápido e parcerias com paísesafricanos no combate ao HIV. “Desde oisolamento do vírus da Aids pela primei-ra vez no Brasil até hoje, a Fiocruz man-tém um firme compromisso com o en-frentamento da Aids”, afirmou opresidente da Fundação, Paulo Buss.“Isso significa a realização de pesquisabásica, epidemiológica e clínica, a for-mação de recursos humanos e a assis-tência prestada em dois hospitais, paraadultos e crianças”, explicou.

O Instituto de Tecnologia em Fárma-cos (Farmanguinhos), a unidade da Fio-cruz que já produz oito dos 17 medica-mentos que compõem o coquetel contrao HIV, concluiu com êxito a formulaçãoda pílula “três em um”, uma combina-ção de Lamivudina, Zidovudina e Nevi-rapina. Neste momento, Farmanguinhosestá na fase dos testes de bioequilavênciapara verificação da ação da dose fixacombinada deste medicamento. A ex-pectativa é que o pedido de registro sejafeito no primeiro semestre de 2009.

“Estamos falando de novas opçõespara o tratamento da Aids desenvolvidasem um laboratório público nacional. Sãonovidades concretas, que serão produzi-das para atender às necessidades do Mi-nistério da Saúde a partir do primeiro se-mestre de 2009”, disse o diretor deFarmanguinhos, Eduardo Costa, apresen-tando os novos comprimidos que, em bre-ve, estarão disponíveis para os pacientes.

Além da versão para adultos, Far-manguinhos iniciou os estudos para odesenvolvimento de uma versão infan-til da pílula “três em um”, ainda semprazo para pedido de registro. Já o anti-retroviral infantil na combinação “doisem um”, ou seja, Lamivudina+Zidovu-dina (30 + 60 mg), já está em fase deregistro na Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária (Anvisa).

Também a partir do primeiro semes-tre de 2009, Farmanguinhos irá forne-cer ao Ministério da Saúde o medicamen-to Efavirenz 600 mg, fruto do primeirolicenciamento compulsório realizado noBrasil. Além disso, a unidade da Fiocruzrecebeu a demanda do Ministério de pro-

NPOLÍTICAS PÚBLICAS

Todoscontra o HIV

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Renata Moehlecke

oa notícia no campo daAids e da hepatite. O Mi-nistério da Saúde (MS),por meio do Instituto deTecnologia em Imunobi-

ológicos (Biomanguinhos) da Fiocruz,concluirá, em 2009, um kit de testagemintitulado NAT HIV/ HCV, uma tecnolo-gia genuinamente brasileira que traz, emcomparação aos testes tradicionais, avantagem de reduzir o tempo esperadopara a confirmação da contaminação pe-los vírus causadores das duas doenças.

Se a pessoa acredita que correu orisco de infecção, fazer logo o teste deHIV (vírus da Aids) ou de HCV (vírus dahepatite C) e obter um resultado nega-tivo não é uma garantia de as coisas vãoficar bem. Isso porque existe a chamada

janela imunológica para a detecção deambos os vírus, um período que come-ça na infecção e que vai até a produçãode anticorpos pelo sistema imune, noqual os agentes não são diagnosticadosnos exames de sangue.

Testes de validaçãoem diferentes estados

O NAT é um sistema informatizadoque poderá ser utilizado na triagemsorológica dos serviços de hemoterapiado país e trará mais segurança para astransfusões sanguíneas, além, logica-mente, de diminuir a janela imunológicaatual de detecção de HIV de 21 dias para8 dias e, no caso do HCV, de 72 diaspara 14 dias. O avanço é possível por-que o NAT tem a capacidade de detec-tar o material genético do vírus no san-gue, enquanto o tradicional teste Elisa

depende do surgimento de anticorpos.O Ministério da Saúde solicitará à

Agência Nacional de Vigilância Sanitá-rio (Anvisa) o registro do kit em agostode 2009. Antes disso, em fevereiro, rea-lizará um estudo multicêntrico nos esta-dos de Santa Catarina, Rio de Janeiro ePernambuco, com objetivo de validar onovo teste. Um projeto-piloto foi execu-tado com sucesso este ano na hemorre-de de Santa Catarina.

O projeto NAT tem sido desenvolvi-do, desde 2004, pelo Ministério da Saúdepor meio da Coordenação da Política Na-cional de Sangue e Hemoderivados, da Fi-ocruz, da Secretaria de Ciência e Tecnolo-gia, da Secretaria de Vigilância em Saúde,da Anvisa e da Empresa Brasileira de He-moderivados (Hemobrás). Atuam comoparceiros a Financiadora de Estudos e Pro-jetos (Finep), vinculada ao Ministério daCiência e Tecnologia; a Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro (UFRJ), o Instituto deBiologia Molecular do Paraná (IBMP) e re-presentantes de toda a hemorrede do SUS.

Rapidez na testagem

B

Kit reduz tempo de detecção dos vírus da Aids e da hepatite C

duzir a versão infantil do Efavirenz na do-sagem de 100 mg. Farmanguinhos estádesenvolvendo o produto e, no ano quevem, pretende dar entrada no registrojunto à Anvisa.

“Esse tipo de investimento é funda-mental”, destacou Costa, lembrando que,no caso dos anti-retrovirais, os laboratóri-os públicos nacionais respondem por80% da produção, mas por apenas 20%dos gastos. “Isso demonstra a importân-cia de que as importações sejam substi-tuídas pelo desenvolvimento de produtosnacionais: os já disponíveis são tão bonsquanto os que vêm do exterior”.

Aids em crianças

O Ministério da Saúde vem fazendoinvestimentos no desenvolvimento deformulações infantis de anti-retrovirais.“As crianças são os pacientes que têmmenos acesso ao tratamento, porquefaltam formulações adequadas paraelas”, declarou a diretora do Instituto dePesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec),Valdiléa Veloso.

A versão líquida dos medicamentos,além da dificuldade no transporte, apre-senta problemas de estabilidade, pala-

tabilidade (gosto desagradável) e con-seqüente variação de dosagem, já quea criança rejeita o líquido e os respon-sáveis não sabem o quanto foi ingeri-do. Como conseqüência, podem ocor-rer dificuldade na adesão ao tratamentoe desenvolvimento de resistência do ví-rus. No Brasil, 7 mil crianças recebemtratamento anti-retroviral.

Farmanguinhos também trabalha natransferência de tecnologia para Moçam-bique. O projeto está em fase de ade-quação da área de produção de uma fá-brica já existente no país africano.Inicialmente, serão fornecidos a Moçam-bique os medicamentos anti-retroviraisLamivudina, Zidovudina, a combinaçãoLamivudina+Zidovudina, e Nevirapina.

Contudo, a parceria não pára poraí. “Estamos desenvolvendo estudospara criar formulações de anti-retro–virais especificamente destinadas às ne-cessidades africanas”, adiantou Costa.Entre essas novas formulações, desta-ca-se uma pílula “três em um” diferen-te daquela desenvolvida para o Brasil.Aqui, a combinação é de Lamivudina,Zidovudina e Nevirapina, mas, para aÁfrica, o componente Zidovudina será

substituído por Estavudina, num pro-cesso que deve estar concluído até2010. “Há estudos mostrando que pa-cientes africanos não respondem tãobem à Zidovudina”, justifica o diretor.

Além de Moçambique, outros paí-ses africanos estão na mira dos projetosde Farmanguinhos, como Angola eNigéria. “Vamos responder aos apelos docontinente africano porque temos umdébito histórico com ele”, afirmou Cos-ta. “Não vamos sossegar enquanto nãoconseguirmos ajudar a África a contro-lar a epidemia de Aids”, completou Buss.

Teste dá o resultadoem 15 minutos

O teste rápido com 99,7% de efici-ência para diagnóstico da Aids é outroavanço obtido pela Fiocruz, por meio doInstituto de Tecnologia em Imunobiológi-cos (Biomanguinhos). Esta tecnologia, de-senvolvida pelo laboratório Chembio, dosEstados Unidos, começou a ser transferidapara Biomanguinhos em 2004. Todas asetapas desta transferência foram conclu-ídas em outubro de 2008. Ou seja: a par-tir de agora, o teste rápido de Aids estátotalmente nacionalizado.

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AMBIENTE

OFernanda Marques

Brasil enfrenta hoje umacrise na área de sanea-mento básico, sobretudoem relação à coleta e aotratamento dos esgotos.

Embora capazes de remover materiaisorgânicos e agentes causadores dedoenças, as tecnologias convencionaisutilizadas no manejo dos esgotos têmlimitações econômicas, sociais e am-bientais. Por isso, para complementaressas tecnologias convencionais (e nãopara substituí-las), deve-se incentivar

Tecnologias alternativas contra a crise do saneamento básico

Esgoto à vistaEsgoto à vista

Foto: José Luiz Helmer

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o estudo e o uso de tecnologias soci-ais e ecológicas, que não só ajudariama resolver o problema do destino dosesgotos, mas também possibilitariama criação de emprego e renda. Essasconstatações e sugestões fazem parteda dissertação de mestrado do geó-grafo Alexandre Ribeiro Fonseca, de-fendida na Escola Nacional de SaúdePública (Ensp) da Fiocruz.

Durante a pesquisa, Fonseca anali-sou dados do Sistema Nacional de In-formações sobre Saneamento (Sinis) everificou que, nos primeiros anos doséculo 21, o abastecimento de água jáatingia 96,3% do Brasil, enquanto acoleta de esgotos alcançava apenas47,9%. Para a universalização dos ser-viços de água e esgotos no país, isto é,para que todos os brasileiros tivessemacesso a esses serviços, seriam neces-sários investimentos de R$ 111 milhõesentre 2000 e 2020, segundo uma pes-quisa elaborada para o Programa deModernização do Setor Saneamento(PMSS). No entanto, se a evolução dosindicadores de saneamento mantiver oritmo atual, essa universalização nãoocorrerá antes do ano de 2122, de acor-do com um estudo recente da Funda-ção Getúlio Vargas (FGV).

Falta de saneamentocausa 700 mil

internações por ano

Nessa análise do cenário brasileiroatual e futuro, é preciso também levarem conta que a expressão “coleta deesgotos” é genérica e ambígua: o fatode haver coleta não significa que exis-te tratamento dos esgotos. “A coletaé necessária, mas somente com oefetivo tratamento dos esgotos é pos-sível garantir a promoção da qualida-de de vida”, afirma Fonseca. “A meraexistência de cobertura por coleta deesgotos não necessariamente propor-ciona uma melhoria real nas condiçõesde saúde e ambientais”.

Os números da Pesquisa Nacionalde Saneamento Básico (PNSB/IBGE,2000) demonstram o problema: dos9.848 distritos brasileiros, 42% tinhamrede coletora de esgotos, mas apenas14% contavam com estações de tra-tamento e só 118 realizavam a desin-

fecção dos esgotos. “Isso quer dizerque, na maioria dos distritos, o esgotoé escoado na natureza sem tratamen-to e vai parar nos canais fluviais e narede de águas pluviais”, diz o geógra-fo, destacando as conseqüências paraa saúde da população. “Estudos doMinistério da Saúde mostram que cer-ca de 700 mil internações hospitalaressão provocadas, anualmente, por do-enças relacionadas à ausência ou à in-suficiência de saneamento básico”.

Atualmente, os serviços de trata-mento de esgotos são prestados porassociações comunitárias, governosmunicipais, municípios assistidos pelaFundação Nacional de Saúde (Funasa),companhias estaduais de saneamentobásico e empresas concessionárias pri-vadas. Na prestação desses serviços,predominam as tecnologias convenci-onais, que cumprem um papel impor-tante na proteção da saúde pública edo meio ambiente. “Entretanto, os sis-temas de tratamento de esgotos queutilizam tecnologias convencionais têmaspectos que podem ser questioná-veis”, pondera Fonseca, que fez mes-trado no Programa de Pós-Graduaçãoem Saúde Pública e Meio Ambiente daEnsp, sob orientação da professora Si-mone Cynamon.

Essas tecnologias convencionais,como membranas e oxidação química,são orientadas pelo mercado externode alta renda, no qual se inserem asgrandes empresas dos países desenvol-vidos. Suas características incluem re-dução de mão-de-obra, baixa partici-pação social e uso de insumos sintéticos.Diante dessas limitações, Fonseca pro-põe o incentivo às tecnologias sociais eecológicas, que poderiam ser empre-gadas por famílias e pequenas comuni-dades. Para esses grupos, essas tecno-logias alternativas representariam agarantia de sua segurança sanitária e,ao mesmo tempo, a geração de em-prego, renda e inclusão social.

Biodigestores e filtroscom plantas aquáticas:

alternativas

“As tecnologias sociais e ecoló-gicas para tratamento de esgotos do-mésticos se caracterizam por três

princípios fundamentais: prevenir acontaminação em vez de controlaros prejuízos depois de contaminar;converter a excreta humana em ma-terial seguro; e reusar na agriculturae na aqüicultura os produtos segu-ros da excreta humana saneada”,explica Fonseca. Essa abordagemvem sendo desenvolvida em váriospaíses, como Holanda, Suíça e Ale-manha, com o nome de ecologicalsanitation. No Brasil, ela ainda é pou-ca difundida, mas já existem algumasexperiências, como as da organiza-ção não-governamental O InstitutoAmbiental (OIA).

Esta organização mantém um pro-jeto-piloto de saneamento ecológicona comunidade do Alto Caxixe, nomunicípio de Venda Nova dos Emigran-tes (ES), com o apoio do programaPetrobras Ambiental. O objetivo é de-senvolver técnicas alternativas e bio-lógicas de tratamento de esgotosresidenciais por meio de vários com-ponentes naturais, como biodigesto-res, filtros com plantas aquáticas e tan-ques de oxidação associados aomanejo de piscicultura, avicultura eagricultura.

Ainda não há dados sistematiza-dos para ilustrar os ganhos obtidoscom esses modelos ecológicos. Con-tudo, observa-se que, com a implan-tação desses modelos, os esgotos dacomunidade, em vez de serem lança-dos no meio ambiente e virarem fontede doenças, são tratados por um sis-tema que combina elementos naturaise artesanais, empregando mão-de-obra local. Após o tratamento, o queera esgoto se transforma em adubo,ração ou água para a irrigação.

Os alimentos assim produzidos ser-vem para abastecer a própria comuni-dade ou são comercializados. “Dessaforma, é possível criar novas fontes derenda para a população e, conseqüen-temente, mais pessoas poderiam pagar,inclusive, pelos serviços de tratamentode esgotos, garantindo sustentabilida-de para o sistema”, defende Fonseca.“Enquanto isso, porém, o modelo con-vencional mantém grande parte dospotenciais usuários excluídos do aces-so aos serviços de saneamento”.

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AMBIENTE

PFernanda Marques

or que os estudos epide-miológicos sobre qualida-de do ar no Rio de Janei-ro não têm orientado osgestores na formulação

de políticas públicas para a redução daconcentração de contaminantes at-mosféricos e para a melhoria da quali-dade de vida da população? Esta foi apergunta condutora da tese de dou-torado do químico industrial Viniciusde Oliveira, defendida na Escola Naci-onal de Saúde Pública (Ensp) da Fio-cruz. Uma das conclusões do trabalhoé que os projetos de pesquisa são ela-borados sem a participação dos ges-tores e acabam produzindo resultadosque não têm aplicabilidade direta naformulação de políticas públicas. Porisso, Oliveira defende uma maiorintegração entre gestores e pesquisa-dores desde a concepção dos projetosacadêmicos, para que, juntos, definamobjetivos, indicadores e metodologias.

“Se os gestores e suas equipes téc-nicas se tornarem atores importantesna construção dos projetos acadêmi-cos, os resultados das pesquisas pode-rão ter significados mais claros e gerarações mais efetivas”, argumenta oquímico industrial, que foi orientadopor Aldo Pacheco Ferreira no Progra-ma de Pós-Graduação em Saúde Pú-blica e Meio Ambiente. “Minha tesefoi feita dentro do espírito de aproxi-

mação entre técnicos ligados aostomadores de decisão e a academia”,afirma Oliveira, que trabalha na Secre-taria Municipal de Meio Ambiente doRio de Janeiro.

Poluição provocadoenças respiratórias e

cardiovasculares

Estima-se que as fontes emissorasde poluentes gasosos do Rio, comoindústrias e automóveis, sejam respon-sáveis por cerca de 320 mil toneladasde monóxido de carbono lançadasanualmente na atmosfera. Somam-seao monóxido de carbono milhares detoneladas de outros poluentes atmos-féricos, como óxidos de nitrogênio,hidrocarbonetos, dióxido de enxofre.As conseqüências são doenças respi-ratórias e cardiovasculares que acome-tem, sobretudo, as populações maisvulneráveis, como crianças e idosos.“Embora o monóxido de carbono sejao poluente com maiores taxas de emis-são, na Região Metropolitana do Rio deJaneiro, o poluente com maiores efei-tos à saúde, confirmado por estudosepidemiológicos, é o PM 10, que não éum poluente gasoso e sim um poluentesólido, já que se trata de material parti-culado”, esclarece Oliveira.

Durante o doutorado, ele analisoudados de estudos epidemiológicos járealizados sobre a qualidade do ar e alegislação que trata deste tema, bemcomo identificou e entrevistou atores

envolvidos com esta questão, comoprofissionais da administração pública,da iniciativa privada, de centros depesquisa e de outros setores ligadosao meio ambiente e à saúde. Entre osdados analisados estão as concentra-ções dos poluentes monitorados pelasestações da qualidade do ar situadasem quatro bairros cariocas: São Cris-tóvão, Centro, Tijuca e Copacabana.

O monitoramento mostrou que,em 2001, na estação da Tijuca, naZona Norte, dos 279 dias avaliadosnaquele ano, em 90 dias, a qualidadedo ar foi considerada boa e, nos ou-tros 189 dias, foi regular. Já em 2004,essa mesma estação fez medições nos366 dias do ano, sendo 232 dias deboa qualidade e 134 dias de qualida-de regular. Na estação de Copacaba-na, na Zona Sul, entre 2001 e 2004,o número de dias com boa qualidadedo ar subiu de 151 para 283, enquan-to o número de dias com qualidadedo ar regular caiu de 166 para 83.Padrão similar – com aumento dosdias com qualidade do ar boa e dimi-nuição dos dias com qualidade regu-lar – também foi observado nas duasoutras estações.

Essa classificação se baseia na de-tecção e na quantificação de poluentesatmosféricos ao longo do tempo. Oobjetivo é construir e manter sérieshistóricas de dados, que, muitas ve-zes, não são completas, pois podemocorrer, por exemplo, interrupções nos

Distânciaque sufocaDistânciaque sufoca Falta de diálogo entre gestor

e pesquisador prejudica aanálise da qualidade do ar

Falta de diálogo entre gestore pesquisador prejudica aanálise da qualidade do ar

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estudos ou falhas nos aparelhos quefazem as medições. “Deve-se, portan-to, tomar cuidado com as interpreta-ções dadas a essas medições: elas nãodevem ser avaliadas isoladamente oufora de um contexto e precisam levarem conta quais poluentes forammonitorados, as características dos lo-cais onde as estações estão instaladas,o regime de funcionamento dos equi-pamentos etc”, pondera Oliveira.

Redução do PM 10, opoluente que mais causa

danos, é caminho indicado

Seja como for, o pesquisador veri-ficou que, em geral, quanto maior aconcentração de um poluente identi-ficado como PM 10, a qualidade do arera regular ou inadequada, mas, naausência dele, a qualidade do ar setornava boa. O PM 10 está associadoà fração inalável da poeira e se referea partículas suspensas no ar com di-mensões de até 10 micrometros dediâmetro. “O PM 10 representa umafração importante do material parti-culado, em função do grau de pene-tração no aparelho respiratório e dosdanos à saúde humana que pode cau-sar”, explica o químico industrial.“Pode-se dizer que, na Região Metro-politana do Rio de Janeiro, o PM 10 éum poluente prioritário, ou seja, sehouver poucos recursos, uma alterna-tiva é concentrar as ações para redu-zir as concentrações de PM 10 e, as-

sim, melhorar a qualidade do ar e mi-nimizar os danos à saúde”.

Contudo, Oliveira chama a aten-ção para o fato de que o simples acom-panhamento das concentrações depoluentes atmosféricos não é suficien-te para propor ações realmenteefetivas na redução de tais concentra-ções. Ou seja: faltam estudos sobre oimpacto que as variações nos níveisdesses poluentes provocam na saúdepública. “Para diagnosticar a qualida-de do ar de uma região, não se deveapenas acompanhar a concentraçãodos poluentes, mas sim monitorar tam-bém a taxa de morbidade e mortali-dade associada a doenças dos apare-lhos respiratório e cardiovascular”,recomenda. “A falta de séries históri-cas – tanto sobre a concentração dospoluentes quanto sobre os indicado-res de saúde – pode levar à formula-ção de políticas públicas equivocadas”.

Comitê gestor parapromoção de políticas

públicas para melhora do ar

Além da necessidade de mais in-vestimentos para a construção e amanutenção dessas sérias históricas, oquímico industrial destaca também aimportância de uma reformulação nomodelo gestor da qualidade do ar. Deacordo com o pesquisador, atualmen-te, as ações para a redução das emis-sões de poluentes são isoladas e faltaum modelo gestor estruturado. “É

necessário constituir um modelo gestorcapaz de integrar os atores estratégi-cos, como o poder público (municipal,estadual e federal), a iniciativa privadae a sociedade em geral (centros depesquisa, universidades e organizaçõesda sociedade civil). Esse modelo deveincluir os mais variados setores – meioambiente, saúde, transportes, uso dosolo, desenvolvimento urbano etc – eser pautado pelo diálogo, a fim decompatibilizar os diferentes interessesdos atores participantes e integrar asações para reduzir os custos e otimizaros esforços”, resume Oliveira.

Na tese, ele sugere ainda a forma-ção de um comitê gestor da qualida-de do ar na Região Metropolitana doRio de Janeiro, que poderia ser acolhi-do pelo conselho de meio ambienteou pelo conselho de saúde, ou atépossuir uma figura jurídica própria.Colocando lado a lado pesquisadores,governantes, empresários e cidadãoscomuns, esse comitê promoveria des-de o diagnóstico dos poluentes e dosindicadores de saúde até a formula-ção de políticas públicas integradaspara a melhoria da qualidade do ar.“O trabalho desse comitê gestor pos-sibilitaria ações mais adequadas à nos-sa realidade local e não simplesmentea importação de legislações ou açõesdesenhadas por países desenvolvidos,geralmente defasadas e sem uma re-flexão mais profunda”, justifica o au-tor da tese.

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PESQUISA

Fronteirasda saúdeFiocruz começa a chegar a outros países e regiões brasileiras

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CEdmilson Silva e Ricardo Valverde

ooperações, pesquisas bila-terais, visitas de delegaçõesestrangeiras e de outros es-tados brasileiros, estudan-tes do exterior freqüentan-

do cursos em Manguinhos, bandeirasde diferentes países tremulando emfrente ao Castelo Mourisco - nos últi-mos meses, a Fiocruz começou a escre-ver novos capítulos de seu processo dediálogo com parceiros no Brasil e nomundo. Fatos que deverão, no futuro,apontar o ano de 2008 como um mar-co do início da ampliação da presençado trabalho da Fundação em diferentesregiões brasileiras e que sinalizarão ain-da um olhar institucional mais intensopara a saúde pública e a atividade cien-tífica de outros países.

Com a instalação de uma fábrica demedicamentos com a assessoria de Far-manguinhos na cidade de Matola, emMoçambique, no primeiro semestre de2009, a Fiocruz vai permitir o acesso demilhares de pacientes ao tratamento da

Aids com anti-retrovirais. Também serãoproduzidos outros medicamentos con-tra as doenças mais prevalentes em vá-rios países africanos.

Além da fábrica de remédios, profis-sionais da Fiocruz, com o apoio decisivodo Ministério da Saúde, por meio do pro-grama Mais Saúde, estão treinando cole-gas africanos na reformulação dos Insti-tutos Nacionais de Saúde, assim como osajudando a criar escolas técnicas para for-mação de quadros, de forma a qualificara assistência médica e de enfermagem. E,assim, enfrentar o desafio da Aids e deoutras doenças infecciosas e parasitáriasmuito prevalentes naquele continente.

Além dessa aproximação com a Áfri-ca, a Fundação tem ampliado a suaatuação na área docente com os paísesda União das Nações do Sul (Unasul), quereúne os doze países da América do Sul.Para ficar em dois exemplos, técnicos daEscola Politécnica de Saúde JoaquimVenâncio apresentarão, em breve, novaproposta para formar mais técnicos naEscola de Tekovckatu, em La Paz, capitalboliviana, e, em conjunto com o Minis-

tério da Saúde da Argentina e o Ministé-rio da Saúde de Buenos Aires, fecharãoacordo de cooperação para produção dematerial didático direcionado à vigilân-cia sanitária. De outro lado, dois mestra-dos da Fiocruz estão em desenvolvimen-to na Argentina.

O crescimento internacional da insti-tuição tem correspondência com a am-pliação e diversificação de unidades peloBrasil afora. Com aval do Ministério daSaúde, novas unidades serão instaladasaté 2011, de modo a que a ciência volta-da para a saúde abranja todos os biomaspresentes no país. Entre as novas unida-des estão as de Rondônia e a do Centro-Oeste. O que se pensa para esta, por si-nal, já mostra o tom com que a Fundaçãopretende trabalhar nas suas novas unida-des: “Estamos conscientes da existênciade um processo de reocupação do Pan-tanal e como a atividade econômica mexecom o bioma, o que representa desafiospara quem cuida da saúde pública des-ses brasileiros, precisamos estar prepara-dos para dar respostas”, diz o presidenteda Fiocruz, Paulo Buss.

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esde o último outubro, a Fi-ocruz ficou um pouco mai-or. Inaugurou a sua primei-ra representação no exterior,o Escritório Técnico de Mo-

çambique. E esse passo internacional deuma das principais instituições científicasdo país vem sendo considerado uma es-pécie de retorno, retribuição brasileira aosirmãos africanos, forma a que o presidenteLuiz Inácio Lula da Silva, tem se referido,reiteradamente, ao falar do continente deonde foi trazida, à força e de forma de-gradante, a mão-de-obra escrava para aju-dar na construção do Brasil. Gente quecontribuiu, de forma genuína e significa-tiva, para a gênese da cultura brasileira.

Mas esse passo se consolidará, coma entrega, em 2009, da primeira fábricainternacional de produção de medica-mentos da Fiocruz, em Matola, cidademoçambicana. Extensão do Instituto deTecnologia em Fármacos (Farmangui-nhos), a fábrica produzirá anti-retroviraise uma linha de medicamentos dos maisdemandados pelas populações dos Paí-ses Africanos de Língua Oficial Portugue-sa (Palop). Além de Moçambique, inte-gram os Palop, Angola, Guiné-Bissau,Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. “Essaaproximação com os países africanos éuma forma de presença responsável eque dará ao Brasil o lugar que merece-mos no concerto das nações”, disse opresidente da Fiocruz, Paulo Buss.

Em verdade, a inauguração do Es-critório Técnico é apenas a iniciativamais recente da Fiocruz rumo à aproxi-mação do Brasil com o continente afri-cano, haja vista que a colaboração en-tre os especialistas de Manguinhos comprofissionais de países da África come-çou há mais de uma década, com a ofer-ta de cursos técnicos aqui e a participa-ção de alunos vindos do outro lado doAtlântico para a rua Leopoldo Bulhões,endereço das escolas Politécnica de Saú-de Joaquim Venâncio (EPSJV) e Nacio-nal de Saúde Pública (Ensp).

O que para muitos poderia signifi-car um pé na África será, decerto, umacolaboração cerebral entre brasileiros eafricanos, já que os movimentos da Fi-ocruz incluem o treinamento, local, deprofissionais de saúde e a inclusão demudanças na prática assistencial de pa-cientes africanos acometidos pelas mes-mas doenças que afligem os brasileiros.Essa chegada ao continente africano in-clui, ainda, iniciativas tais como o apoioà reformulação do Instituto Nacional deSaúde Pública e Guiné-Bissau,iniciativasprevistas no Mais Saúde.

Também faz parte dessa iniciativa in-ternacional a criação do Instituto Nacio-nal de Saúde da Mulher e da Criança deMoçambique, uma forma direta de a Fi-ocruz colaborar diretamente com a trans-ferência de conhecimento de seus pro-fissionais em saúde materno-infantil,

Fioc

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DNa Áfricae naAméricaLatina

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área em que é referência, para comba-ter um dos piores indicadores de saúdedaquele país, a mortalidade infantil, atu-almente na casa dos 160 por mil nasci-dos vivos, e a mortalidade materna.

Como parte do programa MaisSaúde, a Fiocruz oferecerá coopera-ção técnica para formação docente deprofissionais para ofertar cursos descen-tralizados de qualificação de auxiliaresde enfermagem e agentes comunitári-os de saúde em Angola, São Tomé,Guiné-Bissau, Moçambique e Cabo Ver-de. Burkina Fasso e Mali são países daÁfrica francófona que também serão be-neficiados pelo apoio técnico da Fiocruz.

Em recente encontro com a impren-sa, ao anunciar as novidades que a Fio-cruz tinha para apresentar à sociedadeno Dia Mundial de Luta Contra a Aids,o presidente da Fiocruz não deixou dú-vida sobre o apoio que a Fundação con-tinuará a dar à África: “Não mediremosesforços para colaborar com os nossosirmãos africanos”. Apoio este singula-

rizado pelo diretor de Farmanguinhos,Eduardo Costa, presente à coletiva:“Nossos técnicos estão trabalhando nodesenvolvimento de uma formulaçãoespecífica de um anti-retroviral para otratamento de pacientes africanos, poiseles apresentam resposta diferenciadaaos remédios convencionais do coque-tel anti-Aids e é preciso ter um medica-mento próprio para eles”.

No momento em que esta reporta-gem estava sendo concluída, uma mis-são da Guiné-Bissau completava duassemanas de visita ao campus de Man-guinhos, para consolidar os laços entreaquele país da África Ocidental e a Fio-cruz. A visita à Escola Politécnica de Saú-

Angolanas emManguinhos

uatro estudantes angola-nas concluíram em outu-bro o mestrado no Insti-tuto Oswaldo Cruz (IOC)em temas relevantes para

o continente africano: Aids, malária ehepatites. Os estudos, que envolve-ram trabalho de campo desenvolvidoem Ango-la, são im-portantespara orien-tar os es-forços emsaúde pú-blica naÁfrica epara a ob-tenção demais deta-lhes sobreas especificidades das variantes afri-canas das doenças estudadas. A par-ceria abre a possibilidade, também, deestudos conjuntos entre o IOC e o go-verno do país africano.

Em suas teses, as estudantes queparticiparam do projeto de colabora-ção abordaram problemas de saúdemuito presentes na África. A quimior-resistência do Plasmodium falciparumaos medicamentos antimaláricos e apresença de polimorfismo gênico deuma molécula com possibilidadesvacinais em amostras locais do P.falciparum, foram temas das pesqui-sas desenvolvidas sob a orientação dapesquisadora Maria de Fátima Ferrei-ra da Cruz, no Laboratório de Pesqui-sas em Malária do IOC, pelas estudan-tes Guilhermina de Carvalho e FlorbelaLutucuta Kosi, respectivamente.

Para Guilhermina, estudos comoestes são o primeiro passo para orien-tar políticas de saúde pública. “Utili-zamos amostras da população ango-lana e estudamos problemas muitograves do nosso país”, explica. “Os re-sultados de pesquisas como as nossaspodem direcionar linhas de ação parao governo ou indicar a necessidade demudanças de estratégia no controle ena prevenção de certas doenças”.

de Joaquim Venâncio (EPSJV) é deriva-ção das atividades que vem se desdo-brando desde meados dos anos 90,quando profissionais dessa mesma es-cola pensaram e elaboraram as estraté-gias de intercâmbio com os países afri-canos e também os da América Latina,esforço de aproximação entre os povose que veio ganhar contornos oficiais du-rante o governo Lula, particularmenteinteressado no estreitamento dos laçosentre o Brasil e os países africanos e la-tino-americanos.

Os desdobramentos dessa iniciati-va da Fiocruz rumo ao exterior, a partirdo direcionamento referendado pelo Ita-maraty, resultaram na ampliação de de-mandas chegadas à instituição pelos pa-íses integrantes da Comunidade dosPaíses de Língua Portuguesa (CPLP). “AÁfrica é uma das regiões mais pobres edesiguais do planeta e precisa ser aju-dada por questões políticas, humanitá-rias e econômicas. Por outro lado, o Bra-sil deve muito à África, pois nosso povo

tem profundas raízes nos povos que,vindo obrigados daquele continentepela escravidão, ajudaram a forjar apujança do Brasil”, disse. “Não deve-mos esquecer que a saúde é um dospoucos campos técnicos capazes deconstruir uma ponte permanente paraa paz”, concluiu Buss.

A Fiocruz vai trabalhar de comumacordo com a CPLP, para ajudar a en-frentar as doenças. “Nenhum de nóspode estar bem no mundo, se souberque alguém esteja mal”, disse o minis-tro da Saúde de Moçambique, Paulo IvoGarrido, em reunião do Ministério daSaúde com a CPLP, ao comentar que aAids está devastando o país dele.

Q

Visita do ministro daSaúde de Moçambique,

Ivo Garrido, à Fiocruz, emsetembro passado

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Mestrado paramoçambicanosinova no sistemade co-orientação

curso de mestrado em ciên-cias da saúde em Maputofoi organizado em parceriacom o Instituto Nacional deSaúde do Ministério da Saú-

de de Moçambique e visa qualificar osfuncionários do Instituto, com ênfase emdiagnóstico molecular e imunopatoge-nia de doenças infecciosas. O programafunciona como um consórcio de três pro-gramas de Pós-Graduação do InstitutoOswaldo Cruz (IOC), nas áreas de Biolo-gia Celular e Molecular, Biologia Parasi-tária e Medicina Tropical.

Com 15 alunos aprovados, as au-las começaram em 31 de março de2008 e cada aluno se vinculou a umorientador brasileiro credenciado emum dos programas parceiros. Visandogerar um ambiente de parceria entrepesquisadores brasileiros e moçambi-canos, foram credenciados pesquisa-dores moçambicanos para fazer a co-orientação dos projetos.

Durante os seis primeiros meses docurso, foram ministradas as aulas das 15disciplinas obrigatórias, que totalizarammais de 430 horas de ensino. Os alunosforam liberados de suas atribuições parase dedicaram integralmente ao curso,uma vez que todos são funcionários doMinistério da Saúde daquele país.

Para a coordenadora geral da Pós-Gradução da Vice-Presidência de Ensi-no da Fiocruz, Virginia Alonso Hortale,pode-se dizer que, ao final do primeiro

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O presidente Lula na inauguração do escritórioda Fiocruz em Maputo, cuja placa de inauguraçãoressalta o compromisso com o povo africano

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semestre do curso, que o desempenhodos alunos melhorou substancialmen-te. A partir da discussão com os pro-fessores e das avaliações, foi consensualo fato de os alunos terem dado umgrande salto de conhecimento especí-fico, assim como se dedicaram, de for-ma intensa, para formarem um bomarcabouço teórico tendo em vista odesenvolvimento de suas dissertações.

Virginia diz que os primeiros pré-projetos mostram uma maturidade quefoi conquistada com os professores apartir da discussão dos principais con-ceitos, de artigos e da realização de au-las práticas, em uma abordagem deaprendizado baseado em problemas.Segundo ela, para alguns alunos, as prá-ticas de biologia molecular ou imunolo-gia foram uma grande novidade. Entre-tanto, Virginia considera impressionantea rapidez com que esses alunos incor-poraram o novo conhecimento.

O convênio com Moçambique pre-vê, ainda, a vinda dos alunos ao Brasilpor um período de dois a três meses paradar continuidade ao desenvolvimentotécnico-acadêmico, ocasião em que seespera deles um novo salto de conheci-mento, especialmente pela possibilida-de de tomar contato com outros alunosde pós-graduação da Fiocruz. “Com isso,é possível que esse processo tenha umefeito multiplicador, pois o retorno des-ses alunos, quando mestres, aos seuslaboratórios, produzirá um impacto po-sitivo na produção de conhecimento emMoçambique”, espera Virginia.

Para coordenar todo esse esforço,a Presidência da Fundação criou o Cen-tro de Relações Internacionais da Fio-cruz, que começa a operar em feve-reiro de 2009.

A cidade de Medelín, na Colôm-bia, sediou no final de agosto o 1ºCurso Extra Muros para o Diagnósti-co Molecular da Leptospirose, minis-trado por pesquisadores do InstitutoOswaldo Cruz (IOC), de referêncianacional para a doença e recém de-signado como Centro Colaborador daOrganização Mundial da Saúde(OMS). Os objetivos foram a capaci-tação e atualização de profissionaisde saúde colombianos na utilizaçãode técnicas moleculares. Na oportu-nidade, alunos e profissionais de saú-de pública estiveram reunidos paradebater as questões relacionadas à vi-gilância epidemiológica e controle dadoença no país;

A colaboração do Instituto Oswal-do Cruz com a Administração Nacio-nal de Laboratórios e Instituições deSaúde da Argentina (Anlis, na sigla emespanhol) começou a apresentar resul-tados concretos com a inauguração docurso de mestrado em tecnologia emprodução de imunobiológicos do Pro-grama de Pós-Graduação em BiologiaCelular e Molecular do IOC. Estabele-cida em setembro de 2006, a iniciati-va conta com suporte de outras uni-dades da Fiocruz;

Representantes dos ministérios daSaúde do Equador, Nicarágua, Chile,Honduras e Bolívia estiveram no Brasilem setembro para participar de umtreinamento de genotipgem de rota-vírus, oferecido pelo Instituto Oswal-do Cruz. A iniciativa é da OrganizaçãoPan-Americana da Saúde (Opas) como apoio da Coordenação-Geral de La-boratórios de Saúde Pública (CGLAB-SVS-MS). O treinamento foi realizadono Laboratório de Virologia Compara-da do IOC, referência regional para ro-taviroses e responsável pelo desenvol-vimento e pela aplicação de metodo-logias para detecção e caracterizaçãomolecular dos principais vírus causa-dores das gastrenterites agudas;

Uma atividade de colaboraçãoentre a Escola Nacional de Saúde Pú-blica (Ensp/Fiocruz), por meio do La-

Outras recentesparcerias internacionais

boratório de Avaliação de SituaçõesEndêmicas Regionais e a Universidadede Tulane, em Nova Orleans (EUA), temresultado em ações concretas nas áre-as de ensino, pesquisa e colaboraçãotécnica na Etiópia. A cooperação tam-bém envolve a Universidade de Jimma,no país africano, e inclui a implemen-tação do Programa de Mestrado emMonitoramento e Avaliação (M&A) nauniversidade, o desenvolvimento docurso a distância em M&A, a implan-tação de um instituto internacional emM&A na África, além de fomentar atransferência de tecnologia entre ostrês parceiros envolvidos;

Em novembro, representantes daArgentina, da Bolívia, do Brasil, daCosta Rica, do Paraguai e do Uruguaidiscutiram, na Escola Politécnica deSaúde Joaquim Venâncio (Fiocruz), aformação de técnicos em saúde emseus países. O seminário internacionalFormação de Trabalhadores Técnicosem Saúde no Brasil e no Mercosul foium dos produtos da pesquisa;

A Fiocruz sediou em junho a reu-nião do Comitê Coordenador do Pro-grama Especial para Capacitação ePesquisa em Doenças Tropicais (TDR,na sigla em inglês) da OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS). Foi a pri-meira vez, em 31 anos, que o encon-tro aconteceu nas Américas. O pro-grama é uma iniciativa mundial decolaboração científica com foco emdoenças infecciosas negligenciadas.

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missãoatribuída à Fiocruzpelo programa Mais Saú-de do Ministério da Saú-de (MS) prevê a instalaçãode novas unidades da Fun-

dação em outros estados, como MatoGrosso do Sul, Rondônia, Piauí e Ceará,até 2011. Essa expansão, de acordo como MS, consolidará a Rede Nacional deCiência e Tecnologia em Saúde e aten-de ao objetivo de regionalizar o desen-volvimento no setor. Em um outro esta-do – o Paraná –, foi estruturada a maisnova unidade, que já está em funciona-mento: o Instituto Carlos Chagas. Deacordo com o MS, R$ 76 milhões serãoinvestidos para que os núcleos regionaissejam implantados. Para o presidenteeleito da Fiocruz, Paulo Gadelha “o de-senvolvimento do Brasil exige uma polí-tica de capacitação tecnológica das re-giões Centro-Oeste, Nordeste e Norte.

A presença da Fiocruz nas três regiões éconsiderada crucial para promover o de-senvolvimento sustentável do país, ta-refa em que contará com o apoio dogoverno federal”.

A nova unidade em Curitiba vaienfocar pesquisa, desenvolvimento eprodução de vacinas, em conjuntocom o Instituto de Tecnologia doParaná (Tecpar). “Já existe um patri-mônio grande no Paraná e a Fiocruzvem se somar ao Instituto de Tecnolo-gia e às universidades do estado. Aparceria renderá não apenas produ-tos novos e kits para diagnósticos. Elacontribuirá para o desenvolvimento dapopulação”, disse o atual presidenteda Fundação, Paulo Buss. “Queremoscomeçar em breve um programa depós-graduação em parceria com oTecpar, para a formação de mestres edoutores. Também faremos uma par-

ANosquatrocantosdo Brasil

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saúde. “Prevenção é a palavra chavenum momento em que é previsto umgrande fluxo migratório para a região,em razão dos megaprojetos dashidroelétricas do rio Madeira. Temosque buscar meios seguros de protegero trabalhador, a criança e a mulher”,disse Buss. A unidade deverá ser cons-truída em anexo do Centro de Medici-na Tropical de Rondônia (Cemetron),em Porto Velho. Um evento científico-cultural está sendo preparado paramarço de 2009 pela Secretaria estadu-al de Saúde e a Fiocruz/Ipepatro paradiscutir investimentos e trabalhos a se-rem feitos, como a implantação de es-pecializações, mestrados e doutorados.

Outro passo importante para a cons-trução da Rede Nacional de Ciência eTecnologia em Saúde, e para a expan-são da Fiocruz, ocorreu quando o minis-tro José Gomes Temporão recebeu, emjunho, o terreno para a construção dasede da Fundação no Mato Grosso doSul e anunciou a aplicação de R$ 20 mi-lhões para implantar a nova unidade. Oprédio deverá ficar pronto em 30 meses.“A construção do escritório é uma dasmedidas para valorização do SUS. Os re-cursos não podem ser vistos apenascomo um gasto, mas, sim, um investi-mento”, afirmou o ministro. O terrenodoado pela Câmara de Vereadores deCampo Grande tem cerca de 33 mil me-tros quadrados. A unidade atenderá asdemandas regionais de ciência e tecno-logia, pesquisa, ensino, cooperação, ser-viços de referência e produção deinsumos. A produção deverá abrangeráreas como meio ambiente a agronegó-cio; saúde da população indígena; saú-de nas fronteiras; agravos e doenças pre-valentes; e atuação no Pantanal e noCerrado. Depois do recebimento do ter-reno houve a realização de um seminá-rio que debateu a instalação da Funda-ção. O infectologista Rivaldo Venâncioda Cunha, responsável técnico pelo es-critório da Fiocruz, disse não ver a fron-teira próxima – com Bolívia e Paraguai –como fator complicador: “a fronteira nãoé um muro, e sim uma ponte para a vigi-lância em saúde conjunta entre os paí-ses, pela ótica da solidariedade que sem-pre caracterizou a Fiocruz ao longo deseus 108 anos de existência”.

Para Venâncio, a segunda maiorpopulação indígena do Brasil “tem sé-rias dificuldades pela disputa territo-rial com fazendeiros, pelo aceleradoprocesso de aculturação decorrenteda urbanização de aldeias, além doconsumo do álcool. Alia-se a isso achegada das usinas de açúcar, quetêm usado como mão-de-obra os in-dígenas. Esse afastamento das ori-gens leva ao aumento de doençascomo tuberculose e DST”. O infecto-logista diz que a região apresentaagravos e doenças que não fogem darealidade de outros centros. “A vio-lência urbana e rural é problema sé-rio e será objeto de investigação soba ótica da saúde pública e coletiva, enão exclusivamente sob a ótica dasegurança. Outro aspecto é o da saú-de ligada ao agronegócio. A indús-tria sucroalcooleira tem renúncia fis-cal em torno de R$ 1,5 bilhão ao ano,que o estado deixa de arrecadar paraincentivá-la. Por isso, uma idéia é acriação de um fundo setorial banca-do pela indústria para projetos de pes-quisa”, sugere Venâncio.

O Piauí também vai abrigar umaunidade da Fundação. A nova unidade,informalmente batizada de Fiocruz doSertão, vai funcionar em um terreno de5 mil metros quadrados cedido pelaUniversidade Federal do Piauí (UFPI). Aunidade fará pesquisas sobre o podermedicinal de plantas nativas da região.A instalação, segundo o governopiauiense, possibilitará dois outros pro-jetos: um de redução da mortalidadematerno infantil e a implantação de umprojeto de telemedicina.

Assim como no Mato Grosso doSul, a Fiocruz promoveu um semináriopara discutir a implantação de um es-critório no Ceará. As negociações avan-çam em dois eixos de atuação. Nas ati-vidades de incorporação tecnológica,o apoio da Fundação ao governo doCeará tem como meta atrair a implan-tação de indústrias de produção de me-dicamentos e tecnologias de saúde. Acapacitação e qualificação dos profis-sionais da atenção básica é o outro eixode colaboração. É a Fiocruz fazendojus à sua história de levar saúde e ciên-cia para todos.

ceria com a Escola de Governo doParaná. Vamos ajudar o estado emsaúde e a Escola de Governo nos aju-dará a desenvolver metodologias paraum bom governo”, afirmou Buss.

Em dezembro, Buss visitou Rondô-nia, onde foi recebido pelo governa-dor do estado, Ivo Cassol, e pelo pre-feito de Porto Velho, Roberto Sobrinho.Das reuniões participou o presidente doInstituto de Pesquisas em PatologiasTropicais em Rondônia (Ipepatro), LuizHildebrando. O Ipepatro, que já atuano estado em parceria com o governoestadual e a Universidade Federal deRondônia (Unir), está em processo deincorporação à Fiocruz. A ambos os go-vernantes, Buss pediu apoio para a ins-talação da unidade, cuja meta será aprevenção de doenças próprias da re-gião, a preparação de profissionais dosetor e o fortalecimento do sistema de

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Fernanda Marquese Renata Moehlecke

esde a infância, os brasi-leiros carregam a Fiocruzconsigo: a Fundação é umdos maiores produtorespúblicos de vacinas do Bra-

sil e responde por cerca de um terço dosimunizantes consumidos no país. Sãoaproximadamente 100 milhões de do-ses produzidas por ano para abastecero Programa Nacional de Imunizações(PNI). Então, se na última campanha con-tra a poliomielite você levou uma crian-ça para receber as gotinhas da vacinaSabin, saiba que colaborou com o tra-balho realizado pela Fiocruz. No entan-to, existem diversas outras formas decontribuir para que a instituição conti-nue desempenhando a sua missão depromover a saúde e a cidadania e disse-minar conhecimento científico.

Por exemplo, se você tiver algumadúvida sobre como se prevenir da den-gue, uma boa solução é procurar o ser-viço Fale Conosco oferecido pelo Por-tal Fiocruz. Já se você quiser sugerir

uma estratégia para melhorar as ativi-dades desenvolvidas pela Fundação, aOuvidoria Fiocruz está de portas aber-tas para receber suas opiniões. Ou, se aintenção é conhecer a instituição eaprender de forma lúdica e interativasobre ciência e saúde, o caminho é en-trar em contato com o Museu da Vida.

Internautas queremsaber sobre cursos

e doenças

Lançado em 25 de maio de 2005,mesmo dia em que a Fiocruz completa-va 105 anos, o Portal Fiocruz trazia en-tre suas novidades o sistema FaleConosco, um canal de comunicação en-tre o usuário e a Fundação. Logo no pri-meiro dia de funcionamento, o serviçorecebeu cerca de 150 mensagens. Des-de então, o Fale conosco recebe anual-mente milhares de solicitações: de janei-ro a novembro de 2008, já foram maisde 7 mil pedidos, incluindo até deman-das que chegam do exterior, principal-mente da América Latina.

A maioria dos internautas que usam

CIDADANIA

Do serviço busca informações sobre cur-sos e recursos humanos. “Neste ano,muitas mensagens abordavam temascomo febre amarela, devido aos casosregistrados na Região Centro-Oeste,dengue, por causa das mortes ocorridas,sobretudo, no Rio de Janeiro, e rubéola,por conta da campanha de vacinação doMinistério da Saúde”, conta a analistade comunicação Michele Nacif, respon-sável pelo gerenciamento do sistema.“Sempre que um assunto fica em evi-dência na mídia, já nos preparamos paraum aumento do número de solicitaçõessobre aquele tema”.

Para responder às mensagens, aequipe conta com o auxílio de 350 con-sultores das diversas áreas de atuaçãoda Fiocruz. É com a ajuda deles que elaconsegue encontrar com agilidade asrespostas dentro de um universo de mais8 mil funcionários distribuídos em deze-nas de órgãos e unidades em todo oBrasil. Em geral, o usuário tem o retornopara suas questão no prazo de três a cin-co dias. Demandas mais complexas po-dem demorar até dez dias, mas o

Aos olhosda população

Pergunte, opine, critique,visite: a Fiocruz conta coma sua participação

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internauta é avisado de que seu pedidojá está sendo processado. “O importan-te é que ninguém fica sem resposta.Mesmo quem nos procura com questõesque fogem da alçada da Fiocruz recebeindicações de quais outras instituiçõesdevem ser procuradas”, destaca a ana-lista, que já planeja uma nova atualiza-ção da ferramenta com possibilidade deconhecer melhor o perfil e medir a satis-fação do usuário.

De olhos e ouvidosbem abertos: reclame,

sugira, elogie

Todo cidadão também pode partici-par do controle e da avaliação dos servi-ços prestados pela Fiocruz. Para isso,basta encaminhar reclamações, denún-cias, sugestões e elogios para a Ouvido-ria da instituição. Desde sua criação, em2004, por demanda dos próprios traba-lhadores reunidos no 4° Congresso In-terno da Fiocruz, o órgão já recebeuquase 3 mil comunicações. Estas che-gam, principalmente, pela internet, maso usuário pode usar também telefone,fax, carta ou marcar uma reunião pes-soalmente com o ouvidor. Há ainda maisuma alternativa: escrever sua mensageme depositá-la em uma das caixas da Ou-vidoria espalhadas pelos prédios da Fun-dação. Em breve, as unidades assisten-ciais da Fiocruz também possuirão

quadros de aviso por meio dos quais aOuvidoria divulgará suas atividades.

São apenas quatro anos de experiên-cia, mas o serviço pouco a pouco está setornando conhecido e utilizado pelo pú-blico. De 2005 para 2008, o número decomunicações recebidas praticamentedobrou. O serviço de ouvidoria pública noBrasil é relativamente recente, com umpouco mais de 20 anos, contudo já fazparte do programa de governo. “É impor-tante frisar que a Ouvidoria não é umacentral de informações nem tem poder depolícia, como algumas pessoas ainda con-fundem”, explica o ouvidor da Fiocruz,João Quental. “Nossa principal atribuiçãoé receber, examinar e encaminhar às áre-as competentes as manifestações do ci-dadão sobre o atendimento prestado pelaFiocruz, propondo, sempre que necessá-rio, a adoção de medidas corretivas e pre-ventivas, contribuindo, assim, para a ele-vação do grau de satisfação do usuário”.

Para cumprir essa atribuição, a Ou-vidoria requer total independência, in-clusive autonomia financeira e acessofacilitado a qualquer documentação. Noentanto, a primeira instância à qual ocidadão deve recorrer não é a Ouvido-ria. “Muitas vezes, o problema pode serresolvido no próprio local onde ele ocor-reu, sem a necessidade da interferênciado ouvidor, agilizando a solução”, res-salta Quental, acrescentando que, em

2008, a Ouvidoria Fiocruz passou a aten-der não só o público externo, mas tam-bém o interno. “A ouvidoria interna vema ser mais um ingrediente da gestão par-ticipativa, marca da Fiocruz”.

Quando o problema é levado aoconhecimento da Ouvidoria, o usuáriorecebe uma resposta, em média, dentrode cinco a dez dias. “Ninguém fica semresposta e o atendimento é personaliza-do”, comenta Quental. “Assim, as pes-soas se sentem respeitadas e a grandemaioria fica satisfeita”. Atualmente, aOuvidoria tem feito um trabalho de apro-ximação e divulgação de suas atividades,sobretudo, junto a três unidades da Fio-cruz: o Centro de Saúde da Escola Naci-onal de Saúde Pública (Ensp), o Institutode Pesquisa Clínica Evandro Chagas(Ipec) e o Instituto Fernandes Figueira(IFF), que prestam serviços de assistên-cia médica e, portanto, têm um contatomais direto com o público externo. Osserviços assistenciais especializadosatendem por ano, aproximadamente, 90mil pacientes, enquanto os serviços deatenção básica a saúde somam mais de187 mil atendimentos anuais.

Museu da Vida: oanfitrião da Fiocruz

Caso você não conheça a Fiocruz edeseje saber mais sobre a história e otrabalho da instituição, saiba que pode

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agendar uma visita gratuita, sendouma das portas de entrada o Museu daVida, departamento da Casa de Oswal-do Cruz (COC) da Fiocruz que tem comoobjetivos informar e educar em ciência,saúde e tecnologia de forma lúdica e cri-ativa, através de exposições, oficinas,multimídias, teatro e outras atividades.

“Desde sua abertura ao público, em

tras atividades de divulgação de carátercientífico, educativo e cultural. Assim, oMuseu da Vida contribui ativamentepara a política nacional de popularizaçãoe educação em ciências”.

Entre 2001 e 2007, o número de vi-sitantes nos espaços do Museu e nas bi-bliotecas da Fiocruz aumentou de 168 milpara mais de 340 mil. Este crescimento é

contadores de histórias e até o Gyrotec,adaptação de um experimento da Agên-cia Espacial Americana (Nasa) para capa-citar jovens astronautas.

“O que motivou a criação do projetofoi o interesse de incrementar o processode democratização da cultura científica,buscando novos públicos, especialmenteos que não tinham acesso aos museus de

vacina contra febre amarelapode causar algum efeitoadverso? O biofármaco alfa-epoetina tem quais indica-ções e contra-indicações?

Em quanto tempo libera-se o resultado doteste rápido para HIV? Na dúvida sobrevacinas, biofármacos e reativos para diag-nóstico fabricados pelo Instituto de Tec-nologia em Imunobiológicos (Biomangui-nhos) da Fiocruz, ligue 0800 210 310. Esteé o número da Divisão de Atendimentoao Cliente e Pós-marketing de Biomangui-nhos, onde a equipe gerenciada pela bio-médica Linda Khalili Boukai e a médica daASCLIN Maria de Lourdes Sousa Maiaatendem a uma média de 200 telefone-

mas por mês. As dúvidas são dirimidas porprofissionais especializados, como biomé-dicos, biológos, farmacêuticos, enfermei-ros e médicos da Assessoria Clínica de Bi-omanguinhos. O serviço é diferenciadoporque coloca o público em contato diretocom especialistas, que, em casos específi-cos, chegam a ligar para a casa da pessoaque solicitou informações ou tem dúvidassobre um produto da unidade. As pergun-tas variam desde as condições recomen-dadas para o amazenamento até os resul-tados ideais de performance dos produtos.As ligações vêm de representantes do setorde saúde nas esferas federal, estadual emunicipal; de profissionais da saúde queatuam em instituições públicas ou priva-

das; e também de cidadãos comuns.Assim como as vacinas, o Canal Saú-

de da Fiocruz, que veicula programastelevisivos, também mantém um elo dediálogo com a população. O Serviço deAtendimento ao Telespectador (SAT) doCanal mantém uma linha 0800 para es-clarecer dúvidas dos telespectadores. Asdemandas mais freqüentes são para su-gestão de pautas, pedidos de reprisesde programas, esclarecimentos de dúvi-das quanto à sintonia do Canal Saúdeou para saber em que canal é possívelassistir a programação na cidade onde otelespectador reside. Elogios e reclama-ções também são bem-vindos. O telefo-ne do Canal Saúde é o 0800-701-8122.

Informações sobre vacinas e vídeos

1999, o Museu da Vida atua como umimportante espaço de contato e relacio-namento da Fiocruz com a sociedade.Sua missão é promover a educação, adivulgação e a comunicação em ciênci-as e saúde”, explica o chefe do Museuda Vida, Pedro Paulo Soares. “Para rea-lizar essa missão, foram criados espaçosmuseológicos abertos à visitação nocampus de Manguinhos. Nesses espa-ços, são apresentadas exposições e ou-

atribuído, em parte, ao início das opera-ções do Ciência Móvel – Vida e Saúdepara Todos, projeto do Museu da Vidadestinado a percorrer a região Sudestecom exposições e atividades de divulga-ção científica. Desde outubro de 2006,esse caminhão da ciência já visitou 34cidades transportando tubos musicais,espelhos sonoros, planetário inflável, mi-croscópios, mini-usina hidrelétrica, pilhahumana, câmaras escuras, jogo da água,

ciência, como os dos municípios do interi-or do Sudeste”, afirma o coordenador doprojeto, Ribamar Ferreira. “Podemos ob-servar que o projeto desperta grande inte-resse e desejo de que ele volte à cidade”.A cada viagem o projeto atrai um públi-co de quase 6 mil visitantes, principal-mente estudantes do nível fundamentale médio. “Consideramos também damaior importância o diálogo com os pro-fessores locais, normalmente ávidos por

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27R E V I S T A D E M A N G U I N H O S | D E Z E M B R O D E 2 0 0 8

trocas com os grandes centros de ciên-cia”, aponta Ribamar.

Para os professores interessados emampliar a cultura científica e instigar acuriosidade de seus alunos, o Museu daVida promove, regularmente, encontros,oficinas, mini-cursos, ciclos de palestrase seminários. Oferece também auxíliopedagógico na preparação da visita dos

Portal Fiocruzwww.fiocruz.br

Fale Conoscowww.fiocruz.br/faleconosco

Ouvidoriawww.fiocruz.br/ouvidoria

Tel.: (21) 3885-1762

Museu da Vidawww.museudavida.fiocruz.br

Tel.: (21) 2590-6747

Canal Saúde0800 701 8122

Biomanguinhos0800 210 310

estudantes ao Museu. Neste caso, a pro-posta é elaborar, em conjunto com osdocentes, roteiros específicos de visita-ção que aproveitem ao máximo os es-paços e recursos do Museu e atendamàs necessidades e expectativas dos alu-nos. Essa preparação se inicia ainda naescola, continua durante a exploraçãodos espaços temáticos do Museu e ter-mina com a troca de experiências dosalunos em sala de aula.

O Museu da Vida busca contribuirpara a formação inicial e continuada dosprofessores e aumentar cada vez mais odiálogo com esses profissionais. Cercade 3 mil docentes – da rede pública eprivada, da educação infantil a profes-sores universitários – foram atendidosem 2008 pelo Serviço de Educação emCiências e Saúde do Museu da Vida.“Aqueles que nos procuram têm inte-resses variados”, dizem a coordenadorado Serviço, Carla Gruzman, e a respon-sável pela ação educativa do Museu jun-to aos professores, Bianca Reis. “Elesbuscam contribuições para sua forma-ção profissional e idéias para a elabora-ção de materiais educativos nas escolas,além de subsídios para a realização detrabalhos temáticos que se prolongammesmo após a visita ao Museu, entreoutros”, exemplificam as educadoras.

Inúmeras são as formas de participardo trabalho desenvolvido pela Fiocruz. Da

mãe que leva o filho para tomar as goti-nhas contra a pólio à professora quecapricha no planejamento das aulas deciência a partir das dicas do Museu da Vida,passando pelo cidadão que reivindica seusdireitos por meio da Ouvidoria: a Fiocruzfaz parte da vida dos 190 milhões de bra-sileiros e está de portas abertas para vocêque quer contribuir com a Fundação.

1986A Prefeitura de Curitiba cria aprimeira ouvidoria pública no país.

1992A Lei nº 8.490/92 cria a Ouvidoria-Geral da República na estruturaregimental básica do Ministérioda Justiça.

19991999199919991999 Estado de São Paulo promulga alei de proteção ao usuário do serviçopúblico e determina a criação deouvidorias em todos os órgãosestaduais.

2002O Decreto nº 4.490/02 cria aOuvidoria-Geral da República naestrutura regimental básica daCorregedoria-Geral da União.

2003A Lei nº 10.683/03 transforma aCorregedoria-Geral da União emControladoria-Geral da União,mantendo dentre as suas competênciasas atividades de Ouvidoria-Geral.

2004A Lei nº 10.689/04 ajusta a denomi-nação de Ouvidoria-Geral da Repú-blica para Ouvidoria-Geral da União,que, pelo Decreto nº 4.785/03, tementre outras, a competência decoordenar tecnicamente o segmentode ouvidorias do Poder ExecutivoFederal.

2004A Portaria n° 271/2004 da Presidênciada Fiocruz cria a Ouvidoria Fiocruz,que nasceu com o propósito deampliar os canais de comunicaçãocom a sociedade e ser mais uminstrumento efetivo de gestão etransformação institucional, corrigin-do e aperfeiçoando, a partir dasdemandas do cidadão, os serviçosprestados pela instituição.

Na página ao lado, atividades doMuseu da Vida. Acima, à esquerda,Michelle Nacif e Thaís Isél, do FaleConosco e, ao lado, equipe daOuvidoria

Aspectos dahistória daouvidoria no Brasil

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R E V I S T A D E M A N G U I N H O S | D E Z E M B R O D E 2 0 0 828

Água, dona da vida

Rafael Vinícius

Coordenação-Geral de Vi-gilância em Saúde Ambien-tal do Ministério da Saúde,em parceria com o Institu-to de Comunicação e Infor-

mação Científica e Tecnológica em Saú-de (Icict) da Fiocruz, lançou o atlas digitalÁgua Brasil, que reúne e analisa núme-ros a respeito da qualidade da água, dosaneamento e da saúde nos municípiosbrasileiros. Considerado um sistema devisualização de indicadores, o atlas aju-da a traçar um painel da água usada paraconsumo humano no país. O debate so-bre a qualidade e cobertura dos serviçosde saneamento também é estimulado.Os resultados do estudo estão acessíveis

a sociedade, técnicos de vigilância emsaúde e gestores interessados no tema.

Esta é a primeira vez no país em quediagnósticos locais dos problemas rela-cionados à qualidade da água estão dis-poníveis sem restrições, pela internet. “Éimportante saber que o saneamento éprimordial. Não temos que ter apenas oabastecimento suficiente. É necessário oesgotamento e o tratamento, já que águadeve seguir seu ciclo e ser reutilizada, evi-tando contaminações”, afirma a pesqui-sadora do Icict Renata Gracie.

“Divulgar no meio virtual um atlasrelacionado à água e a doenças deveiculação hídrica, juntamente com osdados do saneamento, ajudará os ges-tores, as ONGs e a população na tenta-tiva de reivindicar a melhora na qualida-de da água”, destaca a pesquisadora.Renata afirmou que o Brasil tem uma boa

cobertura na questão do abastecimen-to, mas quando o assunto é qualidadeda água, as formas diferentes de coletade dados dificultaram o trabalho da equi-pe, coordenada pelo pesquisador da Fi-ocruz Christovam Barcellos.

De acordo com a pesquisadora, osgestores utilizarão os dados do atlaspara organizar suas políticas públicas ealocar recursos de maneira correta edireta. “Com o mapa, as informaçõesdos lugares que têm uma qualidade deágua menos apropriada para o consu-mo humano são identificadas. Isso sig-nifica mais economia para o governo,já que pela posição geográfica há aidentificação do lugar mais adequadopara os recursos serem empregados”,explica Renata.

Rio Grande do Sulrealiza o trabalhomais contundente

“Os resultados demonstram que aRegião Centro-Oeste e o Rio Grande doSul fazem um trabalho interessante, quetem intensa notificação. Este foi um dosprimeiros estados a trabalhar com a coletade amostras para tratar a qualidade daágua”, afirma Renata. A pesquisadoraainda ressalta que o município de São Pau-lo tem um sistema paralelo que analisa aqualidade da água de forma competentee eficaz, mas que não divulga as informa-ções de maneira completa para o Siste-ma de Informação de Vigilância da Quali-dade da Água para Consumo Humano(Sisagua). O destaque negativo ficou como trabalho feito pelas regiões Norte e Nor-deste e a parte norte do Sudeste.

A pesquisadora afirma que o sítio vir-tual ainda está em período de teste e queserá necessária constante atualização evigilância, já que os dados das doençasde veiculação hídrica flutuam. “O site temtabelas e mapas e relaciona todas as in-formações. Já existia esse tipo de traba-lho com municípios, mas abordando oBrasil de forma completa é novidade. Aspessoas têm a possibilidade de baixar todoo conteúdo”, enfatiza Renata.

“Conseguimos sensibilizar os téc-nicos com relação à importância de me-lhorar a forma de sistematizar os dadosdas coletas das amostras. Eles se mobi-lizaram para melhorar a qualidade daveiculação hídrica, já que isso é impor-tante para a população, na medida emque pode evitar possíveis doenças”, res-salta a pesquisadora. As principais en-fermidades causadas pela água de bai-xa qualidade são a cólera, a leptospirosee a hepatite A, além da mortalidade pordiarréia em menores de 5 anos. Além

disso, a presença da dengue é maior emlocais em que moradores armazenamágua de maneira imprópria, sem tam-par e sem usar o cloro.

A seleção dos indicadores e suaforma de apresentação em mapas etabelas foram estabelecidas por umgrupo de trabalho coordenado peloLaboratório de Informações em Saú-de (LIS), do qual participaram profis-sionais e pesquisadores da Universi-dade Federal da Bahia, Centro dePesquisa Ageu Magalhães, Secretariade Vigilância em Saúde, Ministériodas Cidades e Agência Nacional dasÁguas, além das secretarias de Saú-de estadual e municipal do Rio de Ja-neiro e de São Paulo. Para outras in-formações e visualização de todos osindicadores, o endereço do atlas é:www.aguabrasil.icict.fiocruz.br/

AMBIENTE

Atlas reúne e analisa dados sobre saneamento e saúde

A

Objetivo do Atlas é divulgar dadossobre doenças de veiculação hídrica

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29R E V I S T A D E M A N G U I N H O S | D E Z E M B R O D E 2 0 0 8

PESQUISA

Bel Levy

studo desenvolvido noInstituto Oswaldo Cruz(IOC) avaliou o efeito dediferentes classes far-macológicas utilizadas

no tratamento da hiperten-são arterial sobre a microcir-culação sanguínea – sistemafisiológico responsável pela ir-rigação de órgãos como cé-rebro, coração e rins e peladistribuição de oxigênio pelocorpo, que apresenta distúr-bios em decorrência da do-ença. Os resultados têm im-plicação terapêutica e podemcontribuir para a prescriçãode tratamentos mais eficazes.

Realizada no Laboratóriode Farmacologia Neuro-Car-diovascular do IOC, a pesqui-sa avaliou em ratos genetica-mente hipertensos o efeito dequatro classes farmacológicasutilizadas no tratamento dadoença: losartan, enalapril,nifedipina e atenolol. A aná-lise estrutural de tecidos,como a pele, e de músculos,como o coração, permitiu aidentificação das característi-cas morfológicas da microcir-culação dos animais. Atravésde microscopia intravitral defluorescência, a observaçãoin vivo do funcionamento decapilares e arteríolas permi-tiu a análise funcional do sis-tema durante a administra-ção dos tratamentos.

A pesquisa indica o me-lhor desempenho sobre a mi-crocirculação sanguínea de compostospertencentes às classes de antagonis-tas de receptores da angiotensina II(losartan) e inibidores da enzimaconversora da angiotensina II (ena–

lapril). A angiotensina II é um hormôniovasoconstritor que colabora para rea-bsorção de sódio pelos rins e provocao aumento do volume sanguíneo. “Du-rante os experimentos, as duas classesnormalizaram a densidade capilar emmúsculos esqueléticos e a rarefação es-

trutural cardíaca. Além disso, a primei-ra reverteu completamente a rarefaçãofuncional de capilares em músculos eem tecidos cutâneos e a segunda au-mentou significativamente a densida-

Segredos da

Estudo registra efeitos de medicamentos anti-hipertensivos sobre microcirculação sanguínea

de funcional de capilares na pele”, des-creve o farmacologista Eduardo Tibiri-çá, chefe do Laboratório de Farmaco-logia Neuro-Cardiovascular do IOC ecoordenador do estudo.

Estudo seráessencial parao tratamento

da hipertensão

A classe que integra blo–queadores de canais de cál-cio (nifedipina) também re-verteu a rarefação funcionalde capilares em músculos eem tecidos cutâneos e nor-malizou a densidade capilarem músculos esqueléticos. Oatenolol, pertencente à clas-se dos beta–bloqueadores,não induziu alterações nadensidade funcional ou es-trutural de capilares nos ra-tos hipertensos.

O trabalho dá continui-dade a estudo realizado em2006 pelo Laboratório emparceria com o Instituto Na-cional da Saúde e da Pesqui-sa Médica da França (Inserm,na sigla em francês), queconstatou pela primeira vezos efeitos benéficos da tera-pia anti-hipertensiva sobre amicrocirculação. “A hiper-tensão arterial é caracteriza-da pela rarefação da micro-circulação sanguínea, isto é,pela perda de capilares, queleva ao aumento da pres-são arterial. Sabemos queos medicamentos melho-ram a condição do pacien-

te, mas para aprimorar o tratamentoé preciso entender de que maneira issoocorre – tarefa para qual o estudo damicrocirculação é imprescindível”, jus-tifica Tibiriçá.

E

Tibiriçá: estudo para aprimorar entendimento sobreo tratamento da hipertensão arterial

pressãoalta

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Roberta Monteiro

arinete Aparecida da Mota,mãe de Lucas da Mota de 8anos. Tatiana Menezes Dias,mãe de Vitor Hugo Dias de 3anos. Duas mães que não se

conhecem, mas têm em comum a preo-cupação diante do processo cirúrgico deseus filhos e a dificuldade de lidar com oadoecimento e a hospitalização. Ansi-edade, preocupação, por vezes medo,são alguns dos sentimentos que se ins-talam na vida dos envolvidos. Surge,contudo, uma alternativa de apoio fa-miliar: encontros de duas horas que pro-porcionam um apoio psicológico paramelhor enfrentarem este período dehospitalização. Graças ao projeto Gru-po de acolhimento e preparação de cri-anças em processo cirúrgico, que ocor-re todas as terças-feiras no InstitutoFernandes Figueira (IFF), unidade da Fi-ocruz, Marinete e Tatiana têm conse-guido se preparar melhor para vivenciaro período cirúrgico e pós-cirúrgico.

O projeto visa promover a saúdee acompanhar crianças atendidas nasenfermarias e ambulatórios do IFF. Ainiciativa vem sendo desenvolvidodesde o início de 2007, com criançasentre 3 e 11 anos, pela psicóloga BiancaSouza do programa Saúde e Brincar doInstituto, em colaboração com a terapeu-ta ocupacional Lívia Cooper, e orienta-do pela coordenadora do mesmo pro-grama, Rosa Mitre.

“Com o brincar, criamos um espa-ço de sociabilidade onde crianças em di-ferentes estágios do processo cirúrgicoconseguem expor suas dúvidas, fantasi-as, medos e experiências anteriores. Comisso, favorecemos a apropriação e elabo-ração da situação de cirurgia”, explicaBianca. Além das atividades lúdicas, quese apresentam como uma intervenção te-rapêutica, é feita uma pequena entrevis-ta com os familiares sobre as expectati-vas e sentimentos vividos especialmenteno pré-operatório. As crianças que já es-tão com a cirurgia agendada são convi-dadas a visitarem a enfermaria onde irãooperar e recebem uma cartilha interativa

sobre a operação, também elaborada pe-las pesquisadoras.

Troca de experiênciasentre familiares

Para Marinete, o apoio tem sido fun-damental para enfrentar os processos ci-rúrgicos. “Como Lucas já está com 8anos, fica cada vez mais difícil para mimfazê-lo aceitar a necessidade da opera-

ção. Busquei ajuda no projeto porquemeu filho já não queria mais ir à escola.Considero este trabalho muito importan-te para que ele entenda que a doençanão precisa impedi-lo de ter as mesmasatividades de qualquer criança da suaidade”, afirma Marinete.

Já Tatiana explica que o apoio nestemomento é mais importante para ela doque para seu filho, já que Vitor tem ape-nas 3 anos e ainda não tem consciênciada doença. “É bom saber que toda vezque tenho dúvidas ou preciso apenas de-sabafar posso contar com o grupo. Co-nhecer todo o processo e trocar experi-ências com outras mães e profissionaisfazem toda a diferença”, garante Tatiana,cujo filho já passou pela cirurgia, mas per-manece participando do grupo duranteas consultas pós-operatórias.

Bianca explica que o projeto favore-ce a troca de experiências entre estas cri-

ASSISTÊNCIA

Manças, seus familiares e outros usuáriosque vivenciam experiências similares.Mais: gera um maior entendimento so-bre a doença e a necessidade da opera-ção. “Até este momento, percebemosque o projeto contribuiu diretamentepara a humanização do atendimentodestas crianças, o que favorece o maiorentendimento das necessidades e espe-cificidades da operação, maior confian-

ça na equipe de saúde e autonomiada criança durante o seu processo te-rapêutico”, conta a pesquisadora.

Saúde e Brincartambém valorizaaspecto lúdico

Este projeto faz parte das ativi-dades do programa Saúde e Brincar,que visa discutir e investigar questõesque envolvem a experiência do ado-ecimento e da hospitalização na in-fância e adolescência. O programaatua no campo de pesquisa, ensino eassistência, desenvolvendo atividadeslúdicas nos hospitais, com vistas adescrever e analisar o potencial dolúdico sobre o desenvolvimento e ascondições gerais dos pacientes duran-te o adoecimento e a internação. Se-gundo a coordenadora do programa,

Rosa Mitre, os profissionais envolvidosno programa procuram transformar osespaços hospitalares em um ambientecapaz de melhorar as condições das cri-anças, adolescentes e familiares que osfreqüentam.

Dentro das enfermarias pediátricase junto aos ambulatórios são criados es-paços lúdicos que funcionam como es-tratégia de intervenção terapêutica nocampo do adoecimento e hospitaliza-ção na infância. A coordenadora expli-ca que ao considerar o brincar comouma estratégia promotora de saúdepara a criança e o adolescente hospita-lizados e/ou vivendo com doençascrônicas é possível promover a melho-ra das condições de saúde desta clien-tela, as relações entre crianças, acom-panhantes e profissionais de saúde,além de fomentar a autonomia nas cri-anças e o protagonismo delas.

Acolher para cuidar da saúdeProjeto humaniza atendimento de crianças em processo cirúrgico no IFF

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Fernanda Marques

m lugar que acolhe e ofere-ce capacitação e trabalhopara pessoas que estão ex-cluídas da sociedade; quemantém um fundo para aju-

dar os associados ou quem mais precisar;onde o trabalhador pode optar por umserviço mais leve, se estiver cansado na-quele dia, ou pode ficar em casa, se esti-ver com algum problema na família, semrisco de levar bronca ou ser mandado em-bora; onde o trabalhador tem mais tem-po para o lazer e, no final do ano, o exce-dente do trabalho é dividido entre osassociados segundo critérios justos, comoa quantidade de horas trabalhadas porcada um: parece sonho, mas é realidade.Assim funciona uma cooperativa da cons-trução civil, situada no bairro de Jacare-paguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.Orientada pelos princípios da economiasolidária, a experiência é descrita em umartigo publicado na revista Trabalho,Educação e Saúde, periódico científicoda Escola Politécnica da Fiocruz.

Apesar do sucesso dessa experiênciade economia solidária, o artigo tambémaponta os problemas enfrentados pela co-operativa, tais como as dificuldades de seconscientizar os associados a assumirem sualiberdade de forma responsável; as perspec-tivas mais individualistas na tomada de de-cisões; a falta dos benefícios proporciona-dos pela carteira assinada; os entraves noacesso a créditos e investimentos; e a ca-rência de recursos materiais que inviabilizainovações tecnológicas. O artigo é fruto deum estudo realizado pelos pesquisadoresSilvana Mendes Lima e Carlos MinayoGomez, da Escola Nacional de Saúde Públi-ca (Ensp) da Fiocruz. A metodologia utiliza-da por eles na investigação incluiu a convi-vência com os cooperados e entrevistas, oque possibilitou observar e compreenderaquela experiência.

Trabalhador quer casa,comida e trabalho

Os pesquisadores conheceram umpouco da história da cooperativa, idealiza-da por um nordestino que migrou para o

PESQUISA

U

Sucesso da economia solidáriaEstudo analisa experiência de cooperativa de trabalhadores

Rio de Janeiro em busca de melhores opor-tunidades. Depois de trabalhar como ser-vente, carpinteiro e mestre-de-obra, con-seguiu abrir seu próprio negócio no ramoda construção civil. “No entanto, em de-terminado período da sua vida, se vê im-possibilitado de trabalhar em função deproblemas familiares que mudaram signi-

ficativamente a maneira de conceber aforma de vida que até então exercitara”,contam os pesquisadores no artigo. Naépoca, ele participava de um projeto soci-al e ficou sensibilizado ao perceber comoa maioria dos assistidos nutria o sonho dacasa própria. Decidiu, então, fomentar umagrande mobilização que, com o apoio ex-terno de algumas instituições, culminoucom a aquisição de terrenos e materiais ea construção de casas populares.

A partir dessa experiência, constatou-se que ter casa era apenas uma parte dasolução: era necessário também ter em-prego e renda. Assim, surgiu a cooperati-va Constrói Fácil, alvo do estudo de Silvanae Gomez. “A cooperativa cresceu e é soli-citada para assessorar outras iniciativas detrabalhadores dentro e fora do setor daconstrução civil”, dizem os autores no ar-tigo. Os pesquisadores também analisaramo regimento interno da cooperativa, que

prevê a existência de três comissões: a deobras e segurança; a de formação e mobi-lização; e a de finanças. E cada um doscerca de 50 membros tem que participarde, pelo menos, uma comissão.

A primeira cuida de identificar os terre-nos para construção, elaborar os projetos,aprová-los, verificar a segurança no traba-lho e encontrar os investidores. “O investi-dor se compromete a comprar o terreno eo material de construção, além de pagar aparte correspondente à mão-de-obra doscooperados. Surpreendentemente para ostempos atuais, o contrato com o investidorse dá, até hoje, de forma verbal, ‘olho noolho’, na base da confiança”, comentamSilvana e Gomez no artigo.

Novo estilo de vida,com inserção social

mais justa

Já a segunda comissão representa acooperativa em fóruns de economia soli-dária e outros eventos, incentiva projetospara a melhoria da qualidade de vida dosassociados e ações de solidariedade, e or-ganiza grupos de capacitação técnica. “Oprocesso de qualificação dos cooperadoscombina uma espécie de treinamento emserviço, baseado na transmissão de co-nhecimentos dos mais experientes, como estímulo à participação em cursos,quando necessário”, explicam os autores.Quanto à terceira comissão, ela atua naorganização da contabilidade, na presta-ção de contas e na previsão de despesasa serem aprovadas nas assembléias.

“A experiência analisada neste estu-do porta algumas características ímparesdos empreendimentos cooperativos e so-lidários”, destacam Silvana e Gomez.“Num momento histórico em que a mai-or parte da força de trabalho se situa forado mercado formal, o movimento da eco-nomia solidária pode representar não ape-nas um fenômeno passageiro frente à ex-clusão social: esse movimento apresentaclaros indícios de um novo estilo de vida,com grande potencial de melhorar signi-ficativamente o padrão de vida dos parti-cipantes e lhes proporcionar uma inser-ção social mais justa, igualitária eprodutora de saúde”, concluem.

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R E V I S T A D E M A N G U I N H O S | D E Z E M B R O D E 2 0 0 832

U

FIO DA HISTÓRIA

Renata Fontoura

m acervo de valor inestimá-vel para a saúde públicabrasileira está sendo recu-perado e levado a públicopor meio de um museu vir-

tual. Desde órgãos humanos de impor-tantes casos médicos, coletados pelopróprio Oswaldo Cruz e por grandesnomes da ciência nacional, até a maiorcoleção de febre amarela do mundo es-tarão disponíveis na versão online doMuseu de Patologia do Instituto Oswal-do Cruz (IOC) da Fiocruz. São trêscoleções científicas que abrigam peçasanatômicas reunidas desde 1903 e maisde 500 mil amostras de fígado coletadasdurante campanhas para controle dafebre amarela no país. O lançamentoestá previsto para março de 2009.

Há aproximadamente dois anos oacervo do museu passa por um pro-cesso de restauração. As peças anatô-micas das coleções da Seção de Ana-tomia Patológica já foram recuperadas

por meio da limpeza dos vidros e datroca do fixador utilizado para conser-vação das peças. Neste momento, otrabalho está concentrado na recupe-ração das lâminas com corte histoló-gico da Coleção de Febre Amarela, jácom 10% das amostras de fígado res-tauradas. “Cada coleção tem umaespecificidade, mas todas têm aspec-tos importantes da memória do quefoi realizado pela Patologia do Institu-to durante estes anos”, avalia o pes-quisador Marcelo Pelajo, chefe do La-boratório de Patologia do IOC. “Alémde recuperar a memória, o trabalhotraz de volta este material para quepossa ser estudado com as tecnologi-as de que dispomos hoje”, ressalta.

Integrante da equipe que atua narestauração, o auxiliar de necrópsiaNelson Araújo Silva, de 65 anos, seemociona ao falar das peças. “Entreina Patologia do IOC em 1968 e co-nheço todo este material. Estou muitoorgulhoso de estar trabalhando nesteprojeto, de ter iniciado esta recupera-

Memórias da patologiaDividido em três coleções científicas, acervo iniciado por Oswaldo Cruz é restaurado

ção”, afirma. Já aposentado, com maisde cinco décadas de vida dedicadas àFiocruz, o técnico José Carvalho Filho,de 72 anos, se juntou à equipe há qua-tro meses. “Sou um apaixonado peloIOC e rever este material é uma sen-sação muito boa”, comemora. Emmédia, cerca de 2.5 mil lâminas estãosendo restauradas por semana e 68 miljá foram digitalizadas.

O técnico em processamento dedados Newton Marinho da CostaJúnior, de 28 anos, representa a gera-ção mais nova envolvida no projeto.“Meu campo de ação sempre foi ma-temática, tecnologia, informação. Tra-balhando com Nelson e com José, es-tou ampliando meu conhecimento.Além das teorias laboratoriais, estouaprendendo muito com a vivência de-les”, dispara.

Para a pesquisadora Barbara Dias,do Laboratório de Patologia, umas dasresponsáveis pelo projeto, o IOC estácumprindo seu papel em manter o pa-trimônio cultural da ciência. “A res-

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33R E V I S T A D E M A N G U I N H O S | D E Z E M B R O D E 2 0 0 8

tauração das Coleções ressalta o per-fil empreendedor de Oswaldo Cruz.Ele acreditava que, para fazer pesqui-sa séria no país, seria necessário ter opróprio acervo biológico interno. Nãoadianta querer estudar febre amarelano Brasil, como ele fez, trazendo pe-ças de outros lugares do mundo”,exemplifica.

Cada peça anatômica do acervoda Coleção da Seção de AnatomiaPatológica corresponde a um caso es-tudado para investigação de mortesem decorrência de doenças como Cha-gas e malária. A documentação é pre-servada pela Casa de Oswaldo Cruz.“Durante a ditadura militar, no episó-dio conhecido como Massacre de Man-guinhos, em 1970, parte da documen-tação das coleções que compõem oMuseu foi destruída, assim como gran-de parte das peças históricas. Muitasdas peças que compõem hoje o acer-vo se salvaram porque foram escondi-das pelos pesquisadores em outraspartes do campus ou até em suas resi-dências”, conta Barbara.

Uma versão online do Museu Vir-tual da Patologia está disponível paratestes em www.ioc.fiocruz.br/yf.

Coleção da Seção deAnatomia Patológica

Composto atualmente por maisde 850 peças anatômicas, o acervoda Seção de Anatomia Patológicafoi iniciado por Oswaldo Cruz em1903 e é resultado do trabalho degrandes nomes da ciência nacionaldesenvolvido até a década de 1970.Embora tenham ocorrido perdas dematerial principalmente durante osanos de 60 e 70, as peças anatômi-cas remanescentes constituem opróprio documento histórico do tra-balho de famosos patologistas daEscola de Manguinhos.

Coleção de Febre Amarela

Composta por 498 mil casos -amostras de fígado coletadas porviscerotomia - o acervo foi geradopelo Laboratório de Histopatologiaimplantado em 1931, quando ocontrato entre o governo Brasileiroe a Fundação Rockfeller foi renova-do, e os norte-americanos, atravésdo Serviço Cooperativo da FebreAmarela, assumiram a responsabili-

dade pela campanha anti-amarílicaem quase todo o país. O acervo foitransferido para o IOC em 1949 euma vasta documentação escrita,impressa e iconográfica, preserva-da pelo Departamento de Arquivoe Documentação da Casa de Oswal-do Cruz, acompanha o material.Protocolos de pesquisas, registros decasos da doença, fichas com laudosda histopatologia, além de fotos deindivíduos ou locais de coleta, fa-zem parte da documentação.

Coleção do Departamentode Patologia do IOC

Reunido a partir de 1984, o acer-vo remete às atividades do Departa-mento de Patologia do IOC e é com-posto por material biológico edocumental humano e de animais deexperimentação. A coleção guardaa história de pesquisas científicas quevêm resultando em contribuições im-portantes para o entendimento dafisiologia humana e de algumas do-enças, como a esquistossomose e aangiostrongilíase.

Oswaldo Cruz em ação em seulaboratório na Fiocruz: peças doMuseu incluem órgãos humanoscoletados pelo próprio sanitarista(Arquivo COC/Fiocruz)

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Fernanda Marques

integração e o povoa-mento do interior do país,bem como o incrementoda agricultura, estavamentre os objetivos da Co-

missão de Linhas Telegráficas Estraté-gicas do Mato Grosso ao Amazonas,cujo comando militar ficou a cargo dofamoso marechal Candido Mariano daSilva Rondon. Mais conhecida comoComissão Rondon, ela realizou váriasviagens de exploração no noroeste dopaís entre 1907 e 1915. Suas ativida-des prioritárias e sistemáticas incluíamnão só a construção de postes e esta-ções telegráficas, mas também inven-tários científicos em áreas como zoo-logia e botânica, com destaque paraa participação de naturalistas do Mu-seu Nacional. É o que contam as his-toriadoras da Fiocruz DominichiMiranda de Sá, Magali Romero Sá eNísia Trindade Lima em artigo recém-publicado na revista História, Ciên-cias, Saúde – Manguinhos.

Como resultado das atividades daComissão Rondon, foram depositadosno Museu Nacional, entre 1908 e1916, cerca de 5.6 mil exemplares deanimais e 8.8 mil de plantas, sendoque, entre eles, havia espécies atéentão desconhecidas. A análise detodo esse material rendeu dezenas depublicações científicas, algumas delasainda consideradas fundamentais paraestudiosos da fauna e da flora da re-gião. Ou seja: mesmo que a Comis-são Rondon não tenha alcançado ple-namente seu objetivo civilizatório depovoar e modernizar os longínquossertões do noroeste brasileiro, ela con-tribuiu bastante para o conhecimentocientífico da região.

Contudo, os materiais zoológicose botânicos coletados nas expediçõesdemoraram anos ou até décadas paraserem organizados, analisados e co-nhecidos. Alguns materiais, na épo-

ca, nem foram estudados por falta deespecialistas brasileiros. Houve tam-bém amostras enviadas ao exteriorpara análise por especialistas de paí-ses como Alemanha, Estados Unidose Inglaterra. Essas trocas com cientis-tas estrangeiros, porém, foram inter-rompidas por causa das grandes guer-ras mundiais.

Se análise dos materiais encontroudificuldades, mais difícil ainda foi o tra-balho de coleta dentro da FlorestaAmazônica. Lá os naturalistas que

acompanhavam a Comissão Rondonenfrentaram períodos de calor inten-so seguidos por fortes temporais; mos-quitos e doenças transmitidas por eles,sobretudo a malária; rígida disciplinamilitar; escassez de alimentos; com-panheiros perdidos na mata e flecha-dos por índios.

Isso sem contar os problemas detransporte: a bagagem dos naturalistasincluía instrumentos para captura eacondicionamento dos espécimes cole-tados, lentes, lupas, telas, vidrarias, pin-ças, estiletes e toda sorte de apetrechoscientíficos. Cuidar dessa bagagem não

era fácil, ainda mais durante as traves-sias pela mata ou as viagens de barco.Em não raras vezes, os naturalistas – sobcondições adversas e tendo que seguirem frente – precisaram deixar para trásinstrumentos e espécimes da fauna eflora já coletados. Parte dos materiaistambém se perdeu nos freqüentes nau-frágios das canoas.

Apesar de tantos contratempos,a Comissão Rondon trouxe contribui-ções ímpares para o desenvolvimentocientífico brasileiro. Uma demonstra-

ção disso foi o que escreveu em 1945o zoólogo Alípio de Miranda Ribeira,que participou das expedições: “Ascoleções reunidas durante a ComissãoRondon fizeram em oito anos maispelo Museu Nacional do que tudo quetinha sido realizado em 100 anos deexistência da instituição”. De acordocom as historiadoras da Fiocruz queassinam o artigo, os levantamentos ci-entíficos da Comissão Rondon foramdecisivos para a valorização do traba-lho dos naturalistas brasileiros e paraampliar o conhecimento sobre exten-sas áreas do interior do país.

A

Entre a aventura e a ciênciaFIO DA HISTÓRIA

Naturalistas na Comissão Rondon

Rondon, segundo à esquerda, em 1914, na expedição científica Rondon-Roosevelt

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