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Revista da Associação Catarinense de Engenheiros - ACE.

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● Editorial

Hora de pensar nofuturo da profissão

A no de eleição, quando estão em jogo tantos interesses, precisamos levar em conta o futuro do nosso País. Portanto, devemos refletir bastante no momento de escolher nossos representantes no Executivo e no Legislativo. Os parlamentares da atual Legislatura ainda não se pronunciaram efetivamente quanto ao

projeto de lei em análise no Senado Federal transformando as atividades de engenheiros, agrônomos e arquitetos, que atuam no serviço público, em carreiras típicas de Estado. O projeto tramita desde 2013 e após sua aprovação na Câmara aguarda análise da Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

É muito importante para o desenvolvimento do Brasil ter essas categorias presentes na estrutura dos órgãos do Governo. O Sistema Confea/Crea e Mútua defende a carreira de estado para engenheiros e agrônomos a fim de aumentar o reconheci-mento dos profissionais e trazer mais segurança para sociedade.

Essas atividades quando, realizadas por profissionais ocupantes de cargo efetivo no serviço público federal, esta-dual e municipal, são consideradas atividades essenciais e exclusivas de Estado. As carreiras típicas de Estado foram previstas na Emenda Constitucional 19/1998, que promoveu a reforma administrativa no serviço público. Inicial-mente, a classificação se restringiu a servidores das áreas jurídicas, de auditoria e de gestão governamental. O PLC 13/2013 pretende alterar a norma que regula as profissões de engenheiro, arquiteto e agrônomo (Lei 5.194/1966) para também enquadrá-las como carreira de Estado.

Boa leitura!

Celso Ternes LealEngenheiro eletricista Presidente da ACE

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4 • Revista da ACE • Agosto de 2014

● Índice

As opiniões em artigos ou matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessaria-mente, a opinião da revista, do seu editor ou diretores da ACE. A publicação se reserva o direito de, por motivos de espa-ço ou clareza, resumir cartas, artigos, entrevistas e crônicas.

Diretoria Executiva 2013 - 2015

PresidenteEng. Eletricista Celso Ternes Leal

Vice-PresidenteEng. Eletricista Maria Elsa Nunes

Diretor FinanceiroGeógrafo Adão dos Santos

Diretor Financeiro AdjuntoEng. Civil José Wilson Alexandre

Diretor SocialEng. Civil José Tadeu da Cunha

Diretor Social AdjuntoEng. Civil Gustavo A. Mesones Carmona

Diretor de Atividades CulturaisEng. Civil Elídio Yocikazu Sinzato

Diretor de Ativ. Culturais AdjuntoEng. Mecânico Álvaro José Silveira Beiro

Diretor AdministrativoEng. Civil Bernardo Jacinto Damiani Tasso

Diretor Administrativo AdjuntoEng. Civil Luiz Henrique Pellegrini

Diretor de PatrimônioEng. Eletricista Gilberto Martins Vaz

Diretor de Patrimônio AdjuntoEng. de Prod. Civil José Mário Medeiros

Diretor de Atividades TécnicasEng. Eletricista Paulo César da Silveira

Diretor de Ativ. Técnicas AdjuntoEng. Civil Roberto de Oliveira

Diretor de EsportesEng. Mecânico Ilmar Heine Agacy

Diretor de Esportes AdjuntoEng. Eletricista Fernando Hidalgo Molina

Diretor de Relações ProfissionaisEng. Civil Rinaldo Manoel da Silveira

Diretor Relações Profissionais AdjuntoEng. Eletricista Felipe Cassias Pereira

Diretor de Meio AmbienteEng. Sanitarista Nelson Bittencourt

Diretor de Meio Ambiente AdjuntoEng. Sanitarista Vinicius Ternero Ragghianti

Conselho DiretorEng. Sanitarista Paulo José Aragão

Eng. Civil e de Seg. do Trabalho Carlos Alberto Kita XavierEng. Agrônomo Wilfredo BrillingerEng. Civil Nelson Caldeira Júnior

Eng. Civil Álvaro Luz FilhoEng. Civil Gelásio Gomes

Eng. Civil Almir José MachadoEng. Civil Odilon Fernandes RomanEng. Civil Guilherme Leoni da Silva

Eng. Mecânico Carlos Bastos Abraham

Conselho FiscalEng. Civil Flávio Henrique Rabe

Eng. Mecânico Wilson César Floriani JúniorEng. Civil Carlos Koyti Nakazima

Eng. Civil Laércio Domingos TabalipaEng. Eletricista Vilson Luiz Coelho

Eng. Eletricista Aurélio Furtado RamosEng. Químico Alexandre Bach Trevisan

Assessor da DiretoriaEng. Eletricista Ivan Rezende Coelho

Revista da ACEEdição e Comercialização

BSC – Bureau de Negócios

Editor Responsável Marcelo Kampff(48) 8801-1107

[email protected]

Evandro BaronFotos

Rangel Amandio e DivulgaçãoComercial

Henrique KnippelTiragem da Revista

4.000 exemplaresConselho Editorial

Marcelo Kampff, Evandro Baron,Celso Leal, Maria Elsa Nunes,

Roberto de Oliveira,Elídio Sinzato e Ivan Coelho

Entrevista

Matéria de Capa

Página 5

Página 9

O engenheiro agrônomo Wilfredo Brillinger foi

homenageado este ano por seus pares na comemoração dos 80 anos de fundação da Associação Catarinense de

Engenheiros (ACE) com o troféu Engenheiro do Ano 2013.

Efeitos da atividade sobre o meio ambiente podem ser atenuados com mudança de postura por parte de empresários e profissionais do segmento

AINDA NESTA EDIÇÃO:• Artigos ............................................................................................15• ACE em ação ............................................................................... 35• ACE 80 anos ................................................................................. 38• Engenheiro de Carreira: Hamilton Schaefer ........................... 43• Resgate Histórico: Celso Ramos Filho ..................................... 45• Canal do Acadêmico ...................................................................47• Prêmio ACE ..................................................................................52

Social e Memórias

Página 50

Endereço ACE: Capitão Euclides de Castro, 360 - Coqueiros - SC - CEP 88080-010Fone: (48) 3248.3500 - E-mails: [email protected] ou [email protected]

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Agosto de 2014 • Revista da ACE • 5

● Entrevista

Wilfredo Brillinger, presidente da Prosul, diz que responsáveis pela formação do profissional continuam de costas para o mercado

“Escolas de engenharia continuam como sempre, longe das empresas”

O engenheiro agrônomo Wil-fredo Brillinger foi homena-geado este ano por seus pa-

res na comemoração dos 80 anos de fundação da Associação Catarinense de Engenheiros (ACE) com o troféu En-genheiro do Ano 2013. Catarinense de Turvo, no Sul do Estado, ele veio nos anos 70 para Florianópolis e na déca-da seguinte criou a PROSUL– Projetos, Supervisão e Planejamento Ltda, uma empresa especializada na prestação de serviços de engenharia consultiva, que há 25 anos tinha cerca de 40 em-pregados e hoje conta com um corpo técnico em torno de mil profissionais.

Com perfil empreendedor, ele multiplicou em várias vezes o tama-nho da empresa neste período, o en-genheiro lamenta a distância entre as escolas onde é ensinada a profis-são e as empresas do setor. Segun-do ele, todos acabam perdendo com esta postura: os alunos, as empresas e o País. Confira a seguir a conversa com o empresário:

Como um engenheiro agrônomo conseguiu desenvolver uma empre-sa de projetos em área bem distinta de formação original?

Em 1976 saí da Escola Técnica Industrial como técnico em Agri-mensura e Estradas e tive toda uma formação tecnológica ali. Minhas origens são alemã e italiana, minha mãe é Cirimbelli e mais por dela é que tinha esta questão de empreen-dedorismo, pois meu avô materno teve negócios na região. É muito difícil você conseguir formar o su-jeito em termos de liderança, por exemplo. E a capacidade de em-preender, de empresariar, também é um dom que vem com a pessoa. As nossas escolas de engenharia for-mam o pessoal para ele ser técnico, somente isso. Em temas relaciona-dos ao marketing, aos assuntos co-merciais, essenciais a qualquer em-preendimento, o aluno sai dali sem essa formação. É por isso que você pega o pessoal da Engenharia - e há algumas dezenas de milhares em Santa Catarina - e tão poucos viram empreendedores. A grande maioria tem perfil técnico e isso também se reflete na representação política. Hoje em dia pouquíssimos enge-nheiros são deputados estaduais ou federais. As escolas de engenharia não preparam os profissionais neste

sentido. Estudei na UFSC e as disci-plinas eram unicamente técnicas, ou seja, nem mesmo em temas como gestão de equipes nos eram passa-das orientações. O profissional da área precisa ter uma qualificação, pois comanda pessoas, lidera equi-pes de técnicos. E nem essa forma-ção ele recebe. E essa realidade ain-da não sofreu alterações. Meu filho se formou em engenharia há cinco anos e dei uma olhada no currículo. Nada havia mudado.

Por outro lado, as universidades costumam rejeitar a ida das empre-sas até elas em busca de soluções para seus problemas...

Exatamente. Eu procurei abrir a Prosul para todas as faculdades daqui, UFSC, Unisul, Univali e não aconteceu nada. É incrível, mas não sei se é porque o corpo docente, a maioria dos professores que estão lá, teve pouquíssima experiência. Muitos professores tem o perfil do sujeito que se formou, fez mestrado, fez pós-graduação e depois começou a dar aulas. E a realidade aqui é com-pletamente diferente. Eu não sei se é isso, mas o fato é que nós mantemos

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● Entrevista

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contato com as universidades, temos convênios com a UFSC, com a Unisul. Nós vamos lá nas escolas e buscamos os alunos porque a universidade não vem até nós. E para os estudantes se-ria importante que nós fossemos lá mostrar o que é um projeto de enge-nharia, o que é um EIA/Rima e como é que se faz. Ou seja, nós temos um potencial enorme que não é aprovei-tado pelas escolas de engenharia do país e o comportamento é idêntico entre as universidades públicas e pri-vadas, sem distinção, o que é lamen-tável. A distância entre as universida-des e as empresas é prejudicial. Eu entendo que as universidades tem que desenvolver tecnologias, estudar e produzir o saber, e nós temos que aplicar o conhecimento, mas existe uma distância muito grande.

E onde é que uma empresa como a sua vai buscar as soluções para os seus problemas?

A gente vai buscar o conheci-mento no mercado, fora do Estado e até no exterior. Nós temos escri-tórios hoje no Paraná, em São Pau-lo, no Rio de Janeiro, em Brasília, no Espírito Santo. Buscamos tecnologia em centros privados porque a nos-sa relação com as universidades é muito pequena, quase inexistente. Eu lamento isso, porque se houves-se essa interação os estagiários que eu busco eles teriam uma formação bem melhor, porque eles chegam hoje completamente crus aqui. Ar-risco dizer hoje que um estudante de engenharia que deixe para fazer apenas o estágio obrigatório no final do curso não vai ser um bom profis-

sional. Logo que iniciar as disciplinas profissionais o graduando já tem que botar a cara no mercado senão vai se dar mal. A gente busca isso, porque precisamos formar profissionais pois o tempo passa e os mais antigos vão se aposentando e você necessita de novos quadros. Constantemente es-tamos em busca de pessoas. O per-fil da nossa equipe é de um quadro relativamente novo, ou seja, 80% de nossos engenheiros estão na fai-xa de dez anos de formados. Aque-les acima de 20 anos de experiência representam apenas 20% de nossos profissionais. É importante essa re-novação porque também produz conhecimento, pois acabamos pro-vocando uma interação entre estas equipes dentro da empresa e surgem novas tecnologias fruto dessa expe-

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Foto: Luiz Henriqueriência. Como fazemos engenharia consultiva, planejamos, projetamos e depois fiscalizamos e gerenciamos aquilo que a gente projetou. Muitas vezes constatamos que aquela so-lução projetada para a obra não foi a mais adequada, não foi a melhor. E isso gera conhecimento que te dá condições de evoluir muito mais.

E a situação do país, o senhor de-fende uma reforma política?

Acredito que eleição de dois em dois anos é um desgaste para todo mundo, para a sociedade, para os empresários e para a própria clas-se política. Ninguém aguenta mais esta situação e, na minha opinião, deveríamos unificar as eleições, de presidente a vereador. Acabar com a reeleição e ampliar o mandato para seis anos, pois do jeito que está aí é impossível pensar em planejamento, principalmente no Poder Executivo. Tanto o presidente, quanto o gover-nador e o prefeito têm um horizon-te limitado em quatro anos, nada de planejamento a longo prazo e que ultrapasse seu período. O que é dife-rente da Europa, pois lá na Alemanha o planejamento é feito pela socie-dade como um todo, independente de quem ganhar a eleição. Ou seja, há um corpo de técnicos que pensa o planejamento sem estar atrelado a governos. Seria como estar determi-nado expressamente que a BR-101, de Florianópolis a Curitiba, deverá estar quadruplicada em 2025, e o sistema de abastecimento de água em Florianópolis em 2020 estará com sua capacidade aumentada em tantas vezes. E isso independente do governo que vier a assumir o poder e do partido do governante. Ou seja,

não muda e é respeitado. As coisas tem continuidade e ganham sequên-cia e no Brasil não existe nada disso e precisamos avançar nesse sentido.

Alguns economistas destacam que a média de investimentos em infraestrutura em relação ao PIB está há muitos orçamentos anuais em torno de 1% enquanto que este valor deveria ser muito maior. O senhor poderia fazer uma avalia-ção da situação das infraestruturas (viárias—especialmente transpor-tes, saneamento—água, esgoto, por exemplo) e o impacto negativo da falta de investimento do poder pú-blico no setor?

É evidente que o grande gargalo desse nosso país é a infraestrutura. Nós temos um território com essa ex-tensão toda, com vários países dentro de um país. São Paulo, por exemplo, é um país dentro do país e enfrentamos grandes dificuldades nas questões li-gadas à infraestrutura. Porque falta tudo, portos, rodovias, saneamento e acho que perdemos uma grande oportunidade que foi a Copa do Mun-do, que o maior legado que poderia deixar era o das obras de infraestrutu-ra, que a Fifa costuma dizer que você faz em cinco anos durante uma Copa o que levaria 50 anos para investir e no nosso país, infelizmente por falta de planejamento e de projetos, isso não aconteceu. E não foi por falta de re-cursos, foi por falta de planejamento. O que ficou pronto foram as arenas e muito pouco dos aeroportos, ou seja, nenhum deles ficou completo. No Rio de Janeiro deveria ter sido feita a des-poluição da Baía da Guanabara. Nós assinamos contrato há um mês para a obra do metrô de Fortaleza, vamos

fazer a gestão ambiental e também na parte de projetos. Essa obra era para estar pronta antes da Copa do Mundo e é agora que está iniciando. Aqui no Brasil você não tem tempo para pro-jetar e nem para planejar. Esse tem-po não lhe é dado. O governante vai lá em Brasília e consegue um recurso para uma obra e só que ele esquece que para executar ele tem que ter um projeto e então se faz no afogadilho e aí começa a obra e surgem os pri-meiros problemas, ele não fez as de-sapropriações que eram necessárias, surgem os problemas com o meio am-biente, pois os estudos ambientais – se foram feitos - são preliminares e aí para a obra, se arrasta e por aí vai. O projeto foi mal feito, e vem aditivo de obra e os órgãos reguladores verifi-cam que a obra está superestimada e tudo isso porque tem um projeto mal feito e que resulta na paralisação das obras. Nos países europeus não acon-tece nada disso. Se a obra tem prazo de um ano em um ano ela está pronta e não tem problema algum. Todos os problemas possíveis foram resolvidos.

O senhor poderia indicar alterna-tivas de investimento misto (público-privado) para tornar o crescimento do país mais sustentado, ao mesmo tem-po em que melhorariam em muito as

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● Entrevista

questões da saúde pública, segurança e amenizaria a crise de mobilidade?

A própria questão política do País hoje dificulta estas parcerias. A nossa democracia é muito jovem e as pos-sibilidades de alteração no grupo po-lítico que comanda os rumos do país causa insegurança nos investidores e inibe a concretização de negócios desta natureza. E tanto faz que sejam parcerias público privadas ou através do regime de concessão, um dos en-traves é a insegurança jurídica que existe no Brasil, como as concessões de rodovias no Paraná em que a mu-dança de governador reduziu a me-nos da metade o valor dos pedágios que já haviam sido contratados na gestão anterior. E não precisamos ir longe, aqui em Florianópolis até hoje não se resolveu a questão do pedá-

gio da SC-401. O Brasil tem muitas oportunidade hoje de investimento, mas então o empresariado pensa muito antes de escolher com que parceiro vai fazer seus investimentos, buscando muitas vezes tocar o negó-cio de uma forma que não dependa do poder público.

E a complexidade da legislação ambiental no País, o senhor acha que é um problema?

Eu defendo há muito tempo que se façam obras sustentáveis e nós enxergamos lá atrás a importância do meio ambiente e é por isso que temos hoje uma equipe muito qua-lificada na área ambiental, e atual-mente nas maiores obras do país em andamento a Prosul está envolvida na questão ambiental. Quando se

começou a normatizar o tema, regu-lamentando a legislação relativa ao meio ambiente, ninguém levou muito a sério e não havia muita discussão, e quem acabava redigindo os textos legais eram aqueles ambientalistas mais radicais e a coisa foi avançando e acabaram virando lei. Há uma cer-ta dose de exagero nas regras, mas é preciso reconhecer de que não era possível continuar como era antes, quando o crescimento desordenado estava tornando o mundo insusten-tável. Acho que não podemos ser nem tanto ao céu nem tanto à ter-ra. Nós evoluímos, mas precisamos avançar muito ainda para chegar a um ponto de equilíbrio.

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Construção civil: compromisso com o futuro exige mudanças

Efeitos da atividade sobre o meio ambiente podem ser atenuados com mudança de postura por parte de empresários e profissionais do segmento

● Matéria de Capa

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Não existe construção susten-tável. A única forma de não causar impacto algum ao

meio ambiente é através da cons-trução de uma oca de milho, feita com paus e coberta de palha. Para o engenheiro e professor da UFSC Ro-berto de Oliveira, ao invés de usar a expressão construção sustentável – termo que considera equivocado – é preferível falar em melhorias visando a sustentabilidade, ou seja, defende uma mudança de postura para que se possa atenuar os efeitos ambien-tais das construções e garantir um futuro mais sustentável para a hu-manidade. Ao plantar o equivalente em árvores para compensar os ma-teriais utilizados na construção civil e que causaram fumaça e consumo de energia para serem produzidos, con-sidera que os impactos provocados começam a ser mitigados: “O que melhora a sustentabilidade”.

Para o biólogo Emerilson Emerin, da Ambiens Consultoria Ambiental, a palavra mágica chama-se eficiên-cia. Ele considera-se um entusiasta da Engenharia e ressalta que a partir da década de 70 começou a surgir a preocupação entre os profissionais do setor com o melhor aproveita-

mento dos recursos naturais. Segun-do ele, ninguém vai salvar o planeta usando menos roupa. “Vamos salvar com novas tecnologias e carros con-sumindo menos combustível. O prin-cípio da sustentabilidade está ligado à economia dos recursos naturais. Hoje um prédio sustentável vende porque o condomínio é barato, já que ele gasta menos água”, opina.

Segundo ele, houve uma evolu-ção importante nos últimos anos com o surgimento de certificações através de selos de sustentabilidade para prédios e veículos, com ênfase em baixo consumo. Emerin destaca que antes era muito mais caro inves-tir em produtos ecologicamente cor-retos, que possuem um valor agrega-

do mais elevado. “No entanto essa realidade vem mudando com este tipo de equipamento ficando mais comum”, observa ele ao citar as vál-vulas de descarga de água com duplo acionamento, que permitem econo-mia aos proprietários dos imóveis. Ele considera que um projeto com viés ambientalmente correto impli-que em um valor entre 10 e 11% su-perior aos demais, mas acredita que os empresários do setor estejam aos poucos mudando de perspectiva em relação ao assunto, deixando de en-cará-lo como despesa e passando a vislumbrá-lo como investimento.

“O que precisa sofrer alteração é a lógica da legislação ambiental no País, que possui uma linha proi-bitiva e punitiva muito acentuada. A norma deveria ser orientativa e propositiva e esse é um desafio de mudança”, defende o biólogo. Há 15 anos no mercado, a empresa de Emerin nasceu no meio da constru-ção civil e hoje dedica 70% de suas atividades a projetos nessa área. Os 30% restantes são divididos em serviços para obras nas áreas de energia (20%) e de infraestrutura (10%), nos estados de Santa Catari-na, Paraná e Rio de Janeiro.

Emerim: economia de recursos

● Matéria de Capa

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Planejamento urbano

O engenheiro e professor Ro-berto de Oliveira defende a solução conjunta para a

melhoria dos níveis de sustentabili-dade nos ambientes construídos. A urbanização crescente, por práticas urbanas condenáveis, causa muito mais degradação ao meio ambien-te, de acordo com o professor, que também é diretor da Associação Ca-tarinense de Engenheiros. Para ele, o conjunto causa muito mais impac-to do que a soma de cada uma das edificações isoladas. Nesse sentido, Oliveira advoga a tese de uma visão urbanística do conjunto das econo-mias que possa ser inserido no Plano Diretor dos municípios, como uma forma de assegurar índices mais ele-vados de sustentabilidade.

Em pesquisa elaborada em 1994, ele calculou em 130 habitantes por hectare a densidade populacional considerada sustentável, com pré-dios de quatro andares e usada como referência por outros pesquisadores internacionais. Oliveira aponta que o conceito de aglomerados urbanos sustentáveis contempla o uso misto em densidade média, como utilizado no condomínio Pedra Branca, no mu-nicípio de Palhoça. “Não quero fazer propaganda, mas eles utilizam essa perspectiva, que é a receita da sus-

tentabilidade”, observa o professor.Segundo ele, a área central de

Florianópolis possui uma densidade populacional de 600 habitantes por hectare, o que não significa padrões insustentáveis. “Isso é a metade da densidade de Hong Kong, que em alguns lugares tem mais de mil ha-bitantes por hectare e mesmo assim é considerada uma das cidades mais sustentáveis do mundo”, diz. O pro-fessor explica que densidades me-nores garantem níveis sustentáveis mais acentuados, mas é o conjunto do planejamento urbano que pode assegurar esta condição. “Shoppings centers e grandes supermercados com raio de busca de clientes com mais de 30 quilômetros trazem um padrão insustentável, e o Brasil está na contramão dos demais países”, alerta ele.

O engenheiro está preocupado com os critérios que estão sendo incluídos no novo Plano Diretor de Florianópolis, principalmente quanto aos problemas relacionados à mobili-dade urbana. De acordo com Rober-to de Oliveira é impossível resolver da noite para o dia uma política equi-vocada de transporte público com mais de 40 anos. “Em que a péssima qualidade e eficiência do transpor-te das pessoas pobres, que moram

muito longe dos seus locais de tra-balho, provocou um desequilíbrio e a favelização de algumas áreas, como a favela do Siri, no Norte da Ilha”. No entanto, recomenda que sejam adotadas soluções que invertam a tendência insustentável do modelo, através da valorização equilibrada do tripé da sustentabilidade: social, ambiental e econômico. Para haver padrão sustentável de crescimento, diz que é preciso seguir a densidade de 80 habitantes por hectare, como forma de evitar o desequilíbrio nos três aspectos. A região da Lagoa, por exemplo, terá média de 20 a 30 habi-tantes na mesma área. “Sob pena do transporte ficar cada vez mais caro, hoje o modelo se preocupa com os dois primeiros aspectos”, avalia.

Oliveira: visãourbanística do conjunto

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Filho do engenheiro Olavo Fon-tana Arantes, um dos ícones da profissão no Estado e respon-

sável por dezenas de obras públicas e privadas ao longo dos anos, o enge-nheiro Olavo Kucker Arantes atua há cerca de dez anos junto ao Sindicato da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis como diretor na área ambiental. Há quatro anos deixou a atividade de construção e incorpora-ção e ingressou no mercado consulti-vo. “Hoje estou somente com a DUX Arquitetura e Engenharia Bioclimática, com minha esposa e um outro sócio fa-zendo mais consultoria”, conta.

Um dos clientes dele é a catarinen-se Softplan, que constrói o prédio de sua nova sede no Sapiens Parque, no norte da Ilha, com um investimento de R$ 60 milhões, que seria R$ 5 milhões menor se não tivesse preocupações com o conceito de green building. Com a economia prevista de R$ 850 mil a R$ 1 milhão anuais em energia elétrica, a estimativa é que o investimento se pa-gue em quatros anos. Prevista para ser inaugurada em março do ano que vem a obra tem 27 mil m² distribuídos em

Sustentabilidade noambiente construído é o foco

cinco pavimentos. A empresa de Arantes assessora a

Softplan no processo da Etiqueta do Procel, de eficiência energética. Se-gundo ele, trata-se de um projeto cor-porativo com uma série de estratégias mais sofisticadas, de frente para o lago existente dentro do Sapiens. “Os donos estão satisfeitos, pois os valo-res economizados com a instalação de vários equipamentos foram muito bons depois que adotamos várias es-tratégias. Estão sendo instaladas má-quinas de ar condicionado menores que as originalmente imaginadas para o empreendimento. E com o mesmo conforto interno”, disse. Confira a conversa com o engenheiro:

Como podemos conciliar susten-tabilidade no ambiente construído em uma cidade como Florianópolis, onde mais da metade do território é área de preservação permanente?

Primeiro temos que ter em men-te que a ocupação do território deve ser feita de maneira consciente. Isto é, temos que ver qual a taxa de uso do solo está sendo realmente utiliza-

da e sabermos que temos que man-ter um equilíbrio de área verde pelo número de habitantes.

E o que é uma taxa de uso do solo em níveis sustentáveis?

Quanto à ocupação ao redor da La-goa da Conceição, por exemplo, temos que analisar as edificações pelo tempo em que foram construídas. Mas mes-mo assim temos que adequar essas edificações para que não gerem maior impacto. As edificações devem ter as estratégias de edificações verdes. Por exemplo, essas edificações devem conter águas pluviais para reuso, baixo consumo energético e materiais não poluentes. Os organismos mundiais fa-lam de ter mais ou menos 20 m² por habitante, mas na verdade não sei de onde eles tiram esse número.

Construções verticais podem ser solução para a Ilha?

A verticalização é boa somente em poucas áreas como para adensar as centralidades de um conglomerado para obter serviços e urbanização com um escala suficiente para que a econo-mia seja saudável para seus habitantes.

● Matéria de Capa

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Em alguns pontos poderemos ter al-gum tipo de edificações mais verticais. Entenda como vertical algo que vai de três, quatro andares a sete e oito, even-tualmente dez. São lugares que devem ter um contexto de centralidade para obter uma massa suficiente para que os serviços a serem oferecidos se tornem viáveis economicamente.

Nas edificações na Ilha, é possí-vel quantificar os projetos que car-regam um caráter sustentável em seus projetos?

Sejamos honestos, pouquíssimas edificações estão com esse objetivo.

Custa muito para o empreende-dor/incorporador investir em proje-tos sustentáveis?

Depende muito do nível que se quer chegar de uma edificação. Somos partidários de que as edificações de-vam aplicar estratégias mais passivas bioclimaticamente falando. Esse pro-cedimento é bem mais barato do que se adotarmos estratégia ativas que consomem mais energia e são mais caras, pois são sempre automatizadas.

O valor atual do CUB é de R$ 1.408 o m² e sabemos que materiais e mão de obra são as principais variáveis a influenciar o custo final de um imóvel, além é claro, da oferta e da procura... Podemos estimar o impacto de um pro-jeto sustentável em cima desse valor?

Difícil, pois o CUB é feito de uma lista de materiais que está na compo-sição de serviços adotados por uma norma. Futuramente deveríamos adotar essas estratégias como corri-queiras e daí passar a utilizá-las como norma. Com isso os valores seriam englobados nos custos do CUB. O ter-reno não está na composição de cus-tos do CUB assim como uma série de

serviços e equipamentos. Veja bem, esses elementos não estão no CUB, mas sim, eles influenciam os custos dos edifícios no mercado imobiliário.

E quanto ao conceito de Enge-nharia Bioclimática, poderias expli-cá-lo melhor?

São feitos estudos para que as edifi-cações sejam mais adequadas ao clima onde ela será construída. Essa adequa-ção gera um menor consumo energé-tico e com materiais mais adequados também. Essas estratégias são direta-mente respondidas em um desenho correto da arquitetura. O Brasil possui oito zonas bioclimáticas e para cada uma delas existe uma série de estraté-gias a serem adotadas para um melhor desempenho da edificação em estudo. São estratégias de ventilação, sombrea-mento e insolação. Também são levadas em conta as propriedades dos materiais aplicados. Em Santa Catarina temos ba-sicamente as zonas 1, 2 e 3. A zona 1 é a zona mais fria, como a Serra, e a 3 é mais quente onde está Florianópolis.

A informalidade provoca a de-gradação ambiental por ausência de projetos e consciência ecológica, realidade agravada pela pequena parcela do setor formal investindo em projetos ambientalmente corre-tos. A degradação da natureza, pro-vocada por esse cenário, continua sendo um desafio a ser enfrentado?

Pode-se dizer que sim. Temos uma alta taxa de construção informal de edificações que não fazem parte do setor organizado. Essas edificações não tem nenhum compromisso com um bom produto e muito menos com o ambiente ao seu redor. Quanto à taxa de preocupação ambiental, ela tem aumentado nos projetos formais do setor. Mas ainda são insuficientes

para o número do que está sendo executado. O setor está mais ligado, mas fazendo ainda não o suficiente.

O que destacarias nas atividades desenvolvidas nos últimos anos?

Um dos trabalhos que mais me sa-tisfez pessoalmente foi uma consulto-ria para a cidade de Santo Antônio dos Lopes, no Maranhão. Foi um trabalho para EBX, do Eike Batista, com um le-vantamento de estratégias que englo-bava uma comunidade que vive da cul-tura de subsistência do Babaçu. Foram projetadas edificações utilizando ele-mentos da cultura local e aplicando es-tratégias bioclimáticas. E também um estudo nesta cidade para que houves-se a possibilidade de receber os novos moradores que viriam para o polo de geração de energia que estava sendo montado neste local. Esse estudo era base para um grande Plano Diretor do município. Um estudo que definia um setor de expansão da cidade e mais escolas, postos de saúde, hotéis, zo-nas de comércio e tudo que uma pe-quena ciada necessita. E, claro, toda a infraestrutura com rede de água, es-goto e energia e vias para bicicletas e automóveis. O seu desenvolvimento é que foi interessante, pois o empresário entrou em dificuldades e o projeto não chegou ser implantado.

Arantes: edificações verdes

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14 • Revista da ACE • Agosto de 2014

O tamanho da construção em SC*

Em 2013 a indústria da Construção Civil catarinense contratou mais

4.593 trabalhadores, representando um acréscimo de 4,28% no contingen-te de mão de obra do início de janeiro ao final de dezembro. Os dados são do Ministério do Trabalho e Emprego/CAGED. Os números de 2012 regis-travam a existência de 13.442 esta-belecimentos atuando na construção civil em Santa Catarina, empregando

um contingente de 106.402 trabalha-dores de acordo com as informações apuradas pelo CAGED.

A participação da indústria da Construção Civil no PIB de Santa Ca-tarina é de 5,7%, conforme os dados de 2011 divulgados pelo IBGE, repre-sentatividade que deve ter crescido nos últimos anos diante do bom de-sempenho do setor estimulado pela expansão da renda, do crédito imo-

biliário e dos programas habitacio-nais. O chamado Construbusiness, como é conhecida a cadeia produ-tiva do setor da construção, está organizado em cinco segmentos: 1) materiais de construção; 2) bens de capital para a construção (equipa-mentos, ferramentas, etc.); 3) edi-ficações; 4) construção pesada; e 5) serviços diversos (imobiliárias, con-domínios, serviços técnicos, etc.).

Atividade: Empresas1 Trabalhadores2

Incorporação de empreendimentos imobiliários e construção de edifícios.Obras de acabamento, fundações e obras de engenharia civil não especificadas. 9.499 74.951

Construção de rodovias e ferrovias e obras de arte especiais.Obras de urbanização - ruas, praças e calçadas. 489 8.071

Obras para geração e distribuição de energia elétrica e para telecomunicações. 104 4.174

Demolição e preparação de canteiros de obras. Perfurações e sondagens.Obras de terraplenagem e serviços de preparação do terreno não especificados. 649 4.381

Instalações elétricas. Instalações hidráulicas, de sistemas de ventilação, refrigeração e outras não especificadas. Serviços especializados para construção não especificados anteriormente. 2.701 14.825

Total 13.442 106.402

Empresas por microrregião

Florianópolis 2.244

Itajaí 1.901

Joinville 1.618

Blumenau 1.505

Chapecó 1.300

Total 8.568

*Dados de 2012 e 2013 compilados pela Federação das Indústrias – Fiesc. Fonte: Ministério do Traba-lho e Emprego - RAIS 2012 - CNAE 2.0. ¹ Estabelecimentos que realizaram alguma movimentação de pessoal durante o ano (admitiram ou demitiram) = Rais Positiva. ² Inclui apenas os trabalhadores do quadro das indústrias, pois as contratações via empreiteiras são registradas em serviços.

● Matéria de Capa

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RESUMOA disposição final dos resíduos do processo de tratamento de efluentes,

por ser onerosa tanto para as empresas quanto para o meio ambiente tem motivado inúmeros estudos envolvendo sua aplicação agrícola. As pesquisas sobre a aplicação do lodo na agricultura estão voltadas para a avaliação do desempenho agronômico, comprovando efetivamente o aumento da produ-tividade das culturas em função do fornecimento de nutrientes. Entretanto, ainda é pouco conhecido o potencial de degradação do solo, da água e das plantas por metais pesados. Este trabalho tem por objetivo avaliar o impacto no solo ocasionado pela incorporação de lodo residual proveniente do trata-mento de efluentes da indústria têxtil, obtido por estabilização biológica do lodo e fitorremediação do solo com mudas de eucalipto. Foi construído um li-símetro de concreto e preenchido com solo retirado de uma pastagem nativa, sendo misturado com lodo proveniente da indústria têxtil, na proporção so-lo:lodo de 9:1(v/v). Observa-se que os teores de alumínio, chumbo e ferro que se encontravam acima dos valores limites permitidos pela NBR 10004/2004 sofreram um decréscimo ao longo do experimento, sendo que o chumbo pas-sou a um teor dentro do limite aceitável.

● ArtigoPor Janara Benvenutti

Resíduo na agricultura

Estudo dos efeitos ambientais e do desenvolvimento vegetal devido a incorporação de lodo têxtil no solo

Bióloga pela Universidade do Vale do Itajaí; Especialista em Gerenciamento de Águas e Efluentes pela Faculda-de de Tecnologia Senai Blumenau; Mestre em Engenha-ria Ambiental pela Universidade Regional de Blumenau; gerente da empresa RIOVIVO Ambiental Ltda.

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INTRODUÇÃOA degradação de solos e águas naturais tem sido um dos grandes problemas da sociedade

moderna. O setor têxtil apresenta um destaque especial, devido ao seu enorme parque industrial instalado gerar volumes elevados de efluentes, os quais, quando não corretamente tratados, podem causar sérios problemas à qualidade ambiental e à saúde humana.

Durante o processo de tratamento dos efluentes, uma quantidade considerável de resíduos sólidos é formada, e um destino adequado a este resíduo se faz necessário.

Por possuir grandes quantidades de matéria orgânica, pode ser utilizado para fins agrícolas. Entretanto, torna-se necessário a avaliação quanto à presença de substâncias que possam causar danos saúde pública e ambiental (Araújo, 2004).

Com o surgimento de técnicas como a biorremediação e a fitorremediação estes problemas de disposição do lodo podem ser minimizados consideravelmente. A fitorremediação apresenta grande potencial em relação a métodos físico-químicos, oferecendo menor impacto ambiental e custo de implementação (Salt et al., 1998. Singh et al., 2003). O princípio da fitorremediação se baseia nos mecanismos de tolerância à acumulação de metais existentes nas plantas, de forma a manter as funções celulares mesmo na presença de altas concentrações de metais (Cohbet e Goldsbrough, 2002).

De acordo com Mulgrew e Williams (2000) estudos comprovaram que espécies vegetais vêm sendo utilizadas como bioindicadores e bioacumuladores de vários poluentes, retirando do ar, solo e água muitos deles, diminuindo assim seus índices no meio ambiente. Esta taxa de diminuição irá depender de fatores como clima, natureza dos poluentes e características dos vegetais.

Segundo Bettiol (2000) e Silva et al. (2003) as pesquisas sobre a aplicação do lodo na agricultura estão voltadas mais para a avaliação do desempenho agronômico, comprovando efetivamente o aumento da produtividade das culturas em função do fornecimento de nutrientes. Entretanto, ainda é pouco conhecido o potencial de degradação do solo, da água e das plantas por metais pesados. Desta forma, faz-se necessária a determinação do impacto resultante das interações químicas, físicas e biológicas do sistema solo-lodo.

O presente trabalho buscou avaliar o impacto no solo ocasionado pela incorporação de lodo residual proveniente do tratamento de efluentes da indústria têxtil, obtido por estabilização biológica do lodo e fitorremediação do solo com mudas de Eucalipto.

MATERIAIS E MÉTODOSCom a finalidade de avaliar o impacto no solo ocasionado pela incorporação de lodo residual

proveniente do tratamento de efluentes da indústria têxtil, obtido por estabilização biológica do lodo e fitorremediação do solo com mudas de eucalipto, foi construído um lisímetro de concreto com as seguintes dimensões: 4 metros de comprimento por 4 metros de largura e 1 metro de profundidade e um tubo de drenagem na parte inferior para coleta do líquido lixiviado. Estas coletas foram realizadas quinzenalmente.

O lisímetro foi preenchido com solo retirado de uma pastagem nativa da região previamente misturado com lodo proveniente de um sistema de tratamento de águas residuárias de indústrias têxteis, na proporção solo: lodo de 9:1(v/v). As características químicas do substrato utilizado no lisímetro para o plantio das mudas antes da incorporação do lodo (amostra identificada como controle) foi realizada no início do experimento e após a incorporação de lodo (amostra identificada como solo + lodo) foram determinadas três vezes. A primeira foi realizada ainda no mês de setembro, a segunda no mês de dezembro e a última quando encerrou-se o experimento.

Foram plantadas mudas de eucalipto com cerca de 25 cm de altura, aptas a irem para o campo. O espaçamento utilizado foi de 1 m entre as linhas e 0,5 m entre plantas da mesma linha, sendo plantadas no total de 15 mudas da espécie E. grandis.

As covas possuíam as seguintes dimensões: 20 x 20 cm e 20 a 30 cm de profundidade. O material retirado da cova foi separado, em seguida colocaram-se os adubos no fundo da mesma,

● ArtigoPor Janara BenvenuttiPor Janara Benvenutti

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cobriu-se com parte do solo separado anteriormente e colocou-se a muda, preenchendo a cova com o restante do solo separado.

Foram realizadas adubações segundo a necessidade verificada através de análises químicas do solo realizadas pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP.

Como prática corretiva, foi realizada a calagem, utilizando 1,6 kg de calcário calcítico distribuído nas 15 covas do lisímetro. Para a adubação de plantio, foi utilizado 48 g de uréia e 32 g de KCl, que foram distribuídos nas 15 covas.

O lisímetro foi coberto de forma que permitisse a entrada de luminosidade, porém, foi controlada a quantidade de água, que foi fornecida segundo os dados pluviométricos da região.

Para o monitoramento do sistema, foram realizadas as seguintes análises:- Análises químicas do substrato: de acordo com as metodologias descritas por Raij, Andrade,

Cantarella e Quaggio (2001). Os parâmetros avaliados foram: pH (acidez ativa) Método: CaCl2 0,01 mol.l-1.; H+Al (acidez potencial); Alumínio trocável - Método: pH SMP.; Matéria orgânica - Método: Colorimétrico.; Fósforo, Potássio, Cálcio e Magnésio - Método: Resina trocadora de íons.; S-SO4

2- (Enxofre) - Método: Turbidimetria (BaCl2 em pó).; Fe, Mn, Cu e Zn- Método: DTPA (Absorção Atômica).; Boro: BaCl2.2H2O - Método: microondas.

- Análises de material orgânico: estas análises seguiram o método do ataque do ácido nitroperclórico, descrito em Kiehl, (1985).

- Análises Microbiológicas: Respirometria: liberação de CO2. Biomassa microbiana: A determinação da biomassa de carbono no lodo foi realizada usando-se o método de fumigação e extração de amostras de lodo (Vance et al., 1987). Contagem de bactérias e fungos no lodo: A contagem de bactérias e fungos no lodo foi determinada pelo Número Mais Provável (NMP) de microrganismos do solo.

- Análise Foliar: Foram realizadas avaliações qualitativa e quantitativa das substâncias lixiviadas e solubilizadas no sistema solo-lodo; Avaliação qualitativa e quantitativa dos metais retidos no tecido vegetal; Avaliação do desenvolvimento das plantas neste sistema; e avaliação da atividade microbiológica no sistema solo-lodo

RESULTADOSNos cinco meses de experimentação foram aplicados 830,70 mm de precipitação, que

foi distribuída conforme medida na estação pluviométrica situada nas proximidades. Foi gerado lixiviado nos dois primeiros dias, nos demais, o sistema não produziu escoamento em profundidade.

Na caracterização do substrato para o ensaio de lixiviação todos os parâmetros apresentaram valores dentro dos considerados limites pela NBR 10004/2004.

No ensaio de solubilizado, alguns elementos como o alumínio, o chumbo e o ferro apresentaram teores acima dos limites estabelecidos pela NBR 10004/2004, mesmo antes da incorporação do lodo. No momento desta incorporação, os teores de alumínio e chumbo aumentaram, porém o de Ferro permaneceu constante, neste período. No decorrer do período, o teor de chumbo diminuiu e atingiu o limite permitido pela NBR 10004, porém o alumínio e o ferro se comportaram de maneira oposta, sendo que o alumínio diminuiu com o passar do tempo enquanto que o ferro aumentou. Ao final dos 5 meses, o alumínio apresentou um pequeno aumento e o ferro uma sensível queda em seus teores.

Alguns elementos sofreram um incremento em seus teores ao longo do período analisado, como é o caso do sódio e fenol, porém outros elementos apresentaram um comportamento oposto, ou seja, um decréscimo de seu teor. São exemplos destes elementos: bário, arsênio, prata, selênio, cádmio e cloretos.

O comportamento do nitrato e do sulfato que no momento da incorporação do lodo tiveram seus teores aumentados, posteriormente decrescidos e novamente aumentando do final do experimento.

O mercúrio foi o elemento que apresentou um comportamento diferenciado dos demais

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● ArtigoPor Janara Benvenutti

já que se manteve estável no momento da incorporação de lodo, posteriormente aumentou e depois voltou ao mesmo nível.

No decorrer do experimento, houve uma alteração nas características químicas como aumento do pH, do teor de matéria orgânica e dos teores de elemento como o fósforo, enxofre, potássio, cálcio e magnésio, resultando em aumento da capacidade de troca de cátions do solo. Este aumento do teor de matéria orgânica é benéfico visto que melhora a estrutura do solo, a infiltração e retenção de água, a quantidade de cátions disponíveis para as plantas (CTC) e conseqüentemente a produtividade deste mesmo solo. Nas características físicas, ele se apresentou menos compactado e com maior porosidade, já que os blocos formados com a secagem do lodo se desfizeram.

A porcentagem de resíduo mineral total aumentou no decorrer do período, conseqüentemente a porcentagem do resíduo insolúvel e do solúvel também aumentaram. Um comportamento semelhante foi observado para as análises feitas em base seca, ou seja, a 110°C.

O mesmo ocorreu com a relação C/N tanto para carbono total, como para carbono orgânico nas amostras a 65 e 110°C. Ao final do experimento esta relação estava superior ao valor encontrado no início do mesmo.

Os teores de matéria orgânica total, compostável e resistente à compostagem, variaram de forma semelhante ao longo do experimento tanto nas amostras úmidas e secas. No momento em que foi incorporado o lodo houve um incremento em todos os teores de matéria orgânica, sendo que estes apresentaram uma queda no decorrer do experimento, mas se mantiveram superiores ao solo natural, ou seja, sem lodo incorporado.

O mesmo comportamento foi observado em relação ao teor de carbono orgânico e de carbono total (mineral + orgânico) nas amostras a 65°C e 110°C, ambos se mostraram superiores aos valores no início do experimento no solo sem a incorporação de lodo.

As variações ocorridas nos teores dos minerais das amostras analisadas, com exceção do nitrogênio, todos os demais minerais analisados apresentaram teores superiores ao solo antes da incorporação do lodo.

Os teores de alumínio no tecido vegetal da planta em relação aos do solo se comportaram de maneira complementar, ou seja, se o teor de alumínio estava com concentração baixo no solo, na planta ele se apresentou mais alto e vice-versa. Os demais elementos apresentaram variações ao longo do período.

Segundo Malavolta, citado por Gonçalves (2005), estas variações encontram-se dentro da faixa ideal para os teores de nitrogênio, fósforo, enxofre, ferro e manganês. No tecido vegetal, os teores de zinco e cobre apresentaram valores elevados em relação aos ideais, ao contrário do boro, cálcio, potássio e magnésio que apresentaram valores inferiores, o que caracterizam uma deficiência dos mesmos na planta.

Segundo Basso (2003), esta deficiência de cálcio, magnésio e potássio pode ser explicada pelo fato de o alumínio interferir no metabolismo da planta, diminuindo a respiração celular e alterando o transporte e uso destes elementos e de água nas plantas. Além disso, pH inferior à 5,5 também interfere na absorção de cálcio, magnésio e fósforo além de poder proporcionar uma toxidez de alumínio e manganês.

Outra explicação encontrada para a deficiência de cálcio nos eucaliptos é o fato de o alumínio e o cálcio competirem pelo mesmo sítio do carregador ativo no processo de absorção, ocorrendo a inibição competitiva entre eles.

Em relação às características microbiológicas do solo, o número de fungos e bactérias diminuiu ao ser incorporado lodo no solo. Provavelmente este material num primeiro momento se mostrou tóxico a estes microrganismos, fazendo com que ocorresse uma seleção dos mais resistentes. Ainda pode-se perceber uma possível situação de stress seja pela toxicidade do lodo ou por uma competição entre os microrganismos já existentes no solo e àqueles existentes no lodo pelo aumento da liberação de CO2 ao longo dos 8 dias de análise no momento da incorporação do mesmo.

Com o passar do tempo estes microrganismos se desenvolveram e voltaram a aumentar no solo, o que mostra a tentativa deste solo de se atingir um novo equilíbrio após a entrada de um elemento estranho no sistema. Isto fica evidenciado não somente pelo aumento do número de fungos e

Por Janara Benvenutti

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bactérias, mas como o da biomassa microbiana no solo, ou seja, o aumento de carbono orgânico por grama de solo.

Pode-se observar também um fato curioso, de que em certos momentos, mesmo o solo possuindo um menor número de microrganismos ele liberou menos do que em momentos que possuía mais microrganismos presentes, isso pode ser um dos motivos que explica o aumento do teor de carbono orgânico no solo, ou seja, houve uma incorporação de carbono na forma orgânica e não uma liberação de carbono na forma de CO2.

CONCLUSÃOOs resultados obtidos permitem concluir que os teores de alumínio, chumbo e ferro que se

encontravam acima dos valores limites permitidos pela NBR 10004/2004 sofreram um decrésci-mo ao longo do experimento, sendo que o chumbo passou a um teor dentro do limite aceitável. Isso indica a alta capacidade do eucalipto de se desenvolver em solos ricos em alumínio, sendo um bom fitorremediador deste elemento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASANDRADE, C.A.; MATTIAZZO, M.E. Nitratos e metais pesados no solo e nas árvores após aplicação de biossólido (lodo de esgoto) em plantações florestais de Eucalyptus grandis. Scientia Forestalis, n.58, p.59-72, 2000. APHA - AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for the examination of water and wastewater. 19 ed. Washington, 1998. BETTIOL, W. Aspectos a serem estudados em um projeto sobre impacto ambiental do lodo de esgoto na agricultura. Reciclagem do lixo urbano para fins industriais e agrícolas, 217p. Anais. Embrapa – CPATU. Documentos,30. Belém - PA, 2000. COBBETT, C.; GOLDSBROUGH, P. Phvtochelatins and Metallothioneins: Roles in Heavy Metal Detoxification and Homeostasis. Annual Review of Plant Biology. v.53, pJ59-182. 2002. CONCHOM, J.A.; MATUSAKI, L.F.; CONCHOM, E.A.; CONCHOM, E. Lodo biológico têxtil: um método de disposição econômico e racional. Química Têxtil, v.48, p.74-77, 1997. KIEHL, E. J. Fertilizantes Orgânicos. Piracicaba; Editora Agronômica Ceres Ltda, 1985, 492 p. MALAVOLTA. E. Fertilizantes e seu impacto ambiental: micronutrientes e metais pesados, mitos, mistificação e fatos. São Paulo; Produquírnica, 1994, l53p. RAIJ, B. V.; ANDRADE, J.C.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.; Análise química para avaliação da fertilidade de solos tropicais. Instituto Agronômico, Campinas, 285p, 2001. SALT, D.E.; SMITH. R.D.; RASKIN, L. Phytoremediation. Annual Review of Plant Physiology. Plant Molecular Biology. v.49. p.643-668. 1998. SILVA, E.P.; MOTA, S.; AQUINO, B.F. Potencial de utilização do lodo de esgoto de industria têxtil como fertilizante agrícola. Engenharia Sanitária e Ambiental, v.8, n.1, p.69-76, 2003. SIMONETE, M. A.; KIEHL, J. C.; ANDRADE, C. A.; TEIXEIRA. C. F. A. Efeito do lodo de esgoto em um Argissolo e no crescimento e nutrição de mjlho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.38., n10, p.1187-1195, 2003. SINGH, O.V.; LABANA, S.; PANDEY, G.; BUDHIRAJA, R.; JAIN, R.K. Phytoremediation of toxic aromatic pollutants from soil. Applied Microbiology and Biotechnology. v.63. n.2, p. 128-135. 2003.VANCE, E. D.; BROOKES, P.C.; JENKINSON, D.S. Am extraction method for measuring soil microbial biomass C. Soil Biology and Biochemistry, 19:703-707, 1987.

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INTRODUÇÃOAté a presente data, projetistas e construtores trabalham para entregar edificações dando pouca ou

nenhuma ênfase nas consequências para a fase de uso e manutenção. Atualmente se vive dentro de uma busca por sustentabilidade nas edificações sem, no entanto, propor modos eficazes de se atingir este objetivo. Com isto, muitas iniciativas ocorrem após o empreendimento já ter se iniciado fisicamen-te; outras desconhecem perfeitamente o que vem a ser este termo, nem como onde deve ser a fase deste empreendimento que se deve atuar com maior ênfase. Infelizmente, a fase onde se deve dar mais atenção ao desempenho da edificação é a do projeto, igualmente muito negligenciada no meio técnico.

A edificação—como um produto—vivencia atualmente o início de uma nova era para a humanidade devido a crescente escassez de recursos naturais, especialmente os não renováveis; portanto, necessita uma nova visão para seus negócios e utilização. No entanto, o progresso e as medidas neste sentido no âmbito do projeto e produção de edificações além de virem sendo muito lentas no setor, muitas definições imprecisas se difundem. Especialmente na questão do projeto, ao fazer um paralelismo com a manufatura, de onde vem a cópia que resultam em melhorias para o setor da construção, percebe-se que neste aspecto, muito pouco se evoluiu no setor. Agora a questão ambiental tomou a agenda e respostas consistentes e operacionais tem que ser efetivadas. Desde a década de 1970 que a manufatura vem aperfeiçoando a maneira de lançar e ter sucesso nos seus produtos. A construção, no entanto, teve seu desenvolvimento barrado pela falta de ampliar sua visão visando torná-la periférica até a década de 1990. Por outro lado, somente pela analogia com esta área de conhecimento, resguardadas as devidas diferenças, que houve e agora continua a existir um franco progresso no setor da construção, especialmente pela evolução da gestão de seus processos. Mas o progresso na área da manufatura se deu pela atenção e estudo do projeto.

Era um risco para a empresa industrial na manufatura lançar-se ao mercado sem saber se seu produto funcionava. A evolução seguinte inverteu a posição do produza versus funciona com intuito de diminuir riscos de mercado. Somente com o tratamento concentrado no projeto é que, finalmente, na década de 1990 se pôde antever a excelência do produto (é o ótimo?) para depois prototipizá-lo só então produzi-lo com um mínimo de riscos. Esta atitude ainda não ocorreu na construção.

Edificações convencionais são geradas principalmente por atitudes inconsequentes quanto ao uso e manutenção, prevalência do custo inicial, muita desconsideração ao desempenho no uso, desconhecimento de impactos ambientais quanto a recursos (materiais), e muita desconsideração, em suma, do seu ciclo de vida. Porém, com o fim da “onda” da qualidade e o aporte da necessidade de cuidados ambientais, observa-se alguma preocupação quanto ao uso e manutenção; ainda, como “pensamento” na sustentabilidade, enfatizou a economia de água e energia, mas sente-se pouca consideração de impactos ambientais quanto ao uso de materiais cuja produção impacta de forma intensa o ambiente (cimento, aço, alumínio, por exemplo). Está-se presenciando o início de uma era para o setor baseada na “Análise do Ciclo de Vida” (ACV).

Por Roberto de Oliveira

Projeto para sustentabilidadeOrientação do projeto como estratégia demelhoria da sustentabilidade para edificações

Professor, PhD. em Engenharia Civil.Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFSC.Diretor Adjunto de Atividades Técnicas da ACE.

● ArtigoPor Roberto de Oliveira

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Conceituando projetoÉ necessário um ajuste entre a técnica e a natureza humana para que se desempenhe a

contento um projeto. A atividade projetual vem da interseção do trabalho, tecnologia, pessoas e informação. Mais recentemente, definiu-se projeto como um sistema de informações que organiza—pela centralização—o contato das mais diversas especialidades de atores envolvidos no empreendimento. É uma definição elaborada a partir do aporte dos conceitos de engenharia simultânea ou concorrente, mas que as definições anteriores deixavam em aberto à confusão gerencial decorrente da possibilidade da concorrência (de informações) ficasse fora de um controle centralizado, bem como desconsiderar-se a necessidade do projeto ser sim uma centralidade de informações e não uma simples graficação. (Oliveira, 2007)

Com todas estas definições, pode-se partir de uma abrangência para qualidade do projeto que tem três dimensões distintas, porém entrelaçadas que a definem e norteiam sua busca que são a graficação, indicação da construtibilidade e, satisfação dos usuários, não necessariamente nesta ordem. Entenda-se como usuário, não apenas o final, mas o de todo seu processo e no empreendimento, em toda vida deste. E, a partir desta definição, pode-se chegar a uma mais completa que se oriente ao desempenho de um produto pela agregação de valor: maneira de juntar materiais, mão de obra num ambiente de modo a obter o máximo de agregação de valor, deste autor. Hoje em dia, um dos valores mais significativos é o da sustentabilidade.

A partir desta conceituação de qualidade fica a pergunta: o que poderia ser associado tecnicamente a valor de um projeto com relação à edificação? A idéia que se pretende passar significaria uma associação a desempenhos que a edificação possa ter. O bom desempenho pode ser agregado aos diversos valores da edificação e estes são, segundo Handler (1970): econômico, técnico, humano, ambiental, simbólico. Meira e Oliveira (1998) acrescentaram o social e funcional. O econômico é o mais conhecido de todos, pois trata de custos e valores pecuniários diretos; o mesmo se pode dizer do técnico, que se refere prioritariamente à segurança ou estabilidade da edificação; a questão do humano se deve às reações fisiológicas das pessoas dentro da edificação; o ambiental se trata da relação entre o usuário e o exterior quanto ao meio em que se insere a edificação; já o simbólico, se refere a “leitura” que o usuário faz do aspecto externo da edificação, ligando-se ao um sentido de inclusão e também de referência. A estes desempenhos foi acrescido o social, isto é, aquele desempenho que tem a ver com o grau de sociabilização que o usuário da edificação desenvolve com os seus co-habitantes e também com seus vizinhos; e o funcional, que avalia atualmente a relação dos espaços interiores (portas, janelas, especialmente) com seu mobiliário ou equipamento.

Tendências e rumos observados no movimento ambientalRecentes pesquisas e diretivas internacionais indicam com maior ênfase que a busca da

prevenção é mais eficaz que a trilogia de Konrad Ott (2003), filósofo alemão interessado em ética ambiental, e do tripé da sustentabilidade concêntrico preconizado pela UNC, melhorado para uma interseção das grandezas envolvidas. A Figura 1 mostra estes rumos (indicados pelas setas grandes) que caracterizam mais favoravelmente a atitudes de prevenção que é realmente a questão de se projetar postada na prioridade máxima. Está além dos convencionais e batidos conceitos 3Rs (Reduce, Reuse, Recycle), bem como coloca em penúltimo lugar a questão da recuperação (economia) da energia. Com isto resta melhorar a visualização do projeto como um processo a ser bem gerenciado para atingir a requerida qualidade indicando claramente que é a prevenção de gastos e custos, atribuindo desempenhos. Em outras palavras, o reuso ou reciclagem de materiais, bem como a economia de energia e a redução de resíduos são requisitos de menor eficácia, nesta ordem, que a prevenção e minimização destes.

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Figura 1: Rumos do movimento ambiental. Fontes: Ott. K (2003); UCN (2006); WFD (2008).

Isto só pode ser atingido com um projeto de qualidade, conforme descrição já provida acima baseada em agregação de valor ao usuário. O relacionamento do projeto com as demais fases pode ser analisado para aclarar mais ainda este entendimento

Figura 2: Interferência do projeto nas demaisfases do empreendimento. Fonte: MELHADO (2011).

Por Roberto de Oliveira● Artigo

Por Roberto de Oliveira

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O projeto tem uma enorme influência nas fases subsequentes, especialmente com a Construção, mais Operação, Manutenção e Descarte. A Figura 2 mostra a influência em custos do projeto e possibilidade de interferir nas demais fases do empreendimento. Além de influência notável em custos (pode-se dizer também nos desempenhos) nas fases posteriores, destaca-se a também considerável possibilidade de interferir nestes dois fatores.

Outra consideração acerca deste relacionamento está na inclusão da manutenção na pauta projetual. Na Lei de Sitter—relativa a custos de reparo em diferentes fases do empreendimento—(neste caso, pouco usada nas Obras de Arte em rodovias) demonstra-se que quando negligenciada a manutenção na época do projeto, o custo de reparação cresce 125 vezes ou seja, os custos seguem uma progressão geométrica de custos durante as fases subseqüentes de razão 5.

Figura 3: Custo para correção de falhas ou Lei de Sitter. Fonte: MELHADO (2011).

A Figura 3 mostra bem a “escalada” de custos quando não se prevê a manutenção já na fase de Projeto. Em geral, ou culturalmente no Brasil, se faz a “Manutenção depois da obra entregue, quando os defeitos se agravam, custando até 125 vezes mais do que se fosse previsto um plano de manutenção na fase de projeto.

Figura 4: percentuais de custos por fase do empreendimento

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Todos os trabalhos acima corroboram o que Ceotto (2008) divulga na Figura 4. Nesta figura estão os valores aproximados percentuais dos custos de cada etapa convencional de um empreendimento. Trata-se de uma visão de Análise do Ciclo de Vida (ACV) de uma edificação onde os custos de uso e manutenção superam em muito os tão enfatizados custos iniciais (projeto e construção). A idéia do custo global de uma edificação considerando seu ciclo de vida surge claramente. O projeto e concepção custa menos de um por cento, enquanto que a manutenção vai a oitenta por cento.

A pergunta no ar fica: como fazer com que haja redução dos custos globais? Trata-se de investir em projeto e sua gestão, afirma o autor da figura acima, bem como se evidenciam que melhorias do desempenho da edificação orientadas para fase de uso e manutenção variam de 1 a 8% do custo global da construção, mas podem significar redução de 30% do consumo de energia, redução de 40% do consumo de água e 30% de redução nos custos condominiais.

ConclusõesEm vista do exposto acima, evidencia-se que o projeto é a fase muito menos dispendiosa do

empreendimento, tem a maior participação em origem de falhas no empreendimento, tem o máximo impacto nas demais fases do ciclo de vida da edificação e a correção de falhas em projetos é mais de cento e vinte cinco vezes menos custosa que na fase do uso, chega-se a conclusão bem simples. Trata-se do “investimento” crucial à qualidade do processo do empreendimento, bem como orientar corretamente os rumos do desempenho da edificação no sentido da melhoria da respectiva sustentabilidade. Em poucas palavras, a melhoria da sustentabilidade passa necessariamente pela qualidade do projeto e deve centrar-se na grande economia de recursos de maior interferência na natureza que são água e energia, já que os demais impactos são praticamente inevitáveis.

ReferênciasHANDLER, A. B. Systems Approach to Architecture. New York: American Elsevier Pub. Company Inc. 1970.MEIRA, A. R.; OLIVEIRA, R. de. O Usuário da Habitação no Contexto da APO. Anais do ENEGEP 98, Piracicaba, SP, 1998.CEOTTO, L. H. A sustentabilidade como valor estratégico para a Tishman Spyer. In: Encontro Internacional de Sustentabilidade na Construção, org CTE (Centro de Tecnologia de Edificações). São Paulo, 2008.European Union Directive. Waste Framework Directive (WFD) Jun 2008MELHADO, S. B. Gestão processo de projeto. Apresentação na UFSC: 18/02/2011.OLIVEIRA R. de. Qualidade do projeto. Anais do Workshop Brasileiro da Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios. Curitiba, 2007.OTT, K. (2003). “The Case for Strong Sustainability.” In: Ott, K. & P. Thapa (eds.) (2003).Greifswald’s Environmental Ethics. Greifswald: Steinbecker Verlag Ulrich Rose. ISBN 3931483320. Disponível em: http://umwethik.botanik.uni-greifswald.de/booklet/8_strong_sustainability.pdf. Acessado em: 16/02/2009.UCN. The Future of Sustainability: Re-thinking Environment and Development in the Twenty-first Century. Report of the IUCN Renowned Thinkers Meeting, 29–31 January 2006. Disponível em: http://cmsdata.iucn.org/downloads/iucn_future_of_sustanability.pdf Acessado em: 16/02/2009.

● ArtigoPor Roberto de Oliveira

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Agosto de 2014 • Revista da ACE • 25

● ArtigoPor Adão dos Santos

O processo de industrialização vivenciado na história da humanidade teve consequências sociais e econômicas que fizeram com que as cidades crescessem e expandissem seu território. O aumento das taxas de natalidade, o êxodo rural e a busca de melhores condições de emprego e bem estar foram responsáveis por um inchaço dos centros urbanos. Como fruto deste desenvolvimento, surgiram grandes problemas a serem administrados pelos gestores públicos, que se viram às voltas com deficiências de infraestrutura básica, saneamento, energia, transporte, saúde, lazer, educação e especialmente unidades habitacionais.

A incapacidade de se lidar com o crescimento desordenado resultou em um déficit de acesso democratizado à terra urbanizada por parte dos cidadãos que dela necessitavam, e a partir deste cenário, assentamentos irregulares ocuparam áreas vagas, áreas de preservação permanente e áreas de risco. Por outro lado, o crescimento desordenado não foi o único culpado da falta de acesso democratizado à terra urbanizada no Brasil. No caso dos loteamentos irregulares e clandestinos, especialmente esses últimos, também pode ser citada a especulação imobiliária, além da grilagem de terras públicas.

Regularização fundiária através do Programa Lar Legal busca afirmação da cidadania

Geógrafo e Mestre em Relações Internacionais para o Mercosul. Presidente da ACECON - Associação Catari-nense de Engenharia Consultiva e vice presidente do Sinaenco - Sindicato Nacional das Empresas de Arquite-tura e Engenharia Consultiva - seção SC

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Foto: Antônio Cruz/EBC

Caos urbano: crescimento das cidades expõe falta de planejamento

O direito à moradia já é previsto desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, datada de 1948, que conclama nações e seus dirigentes a apresentarem alternativas para o atendimento a esta necessidade. Em nosso país os efeitos desta situação tiveram acentuação a partir de meados dos anos 40, com o governo Vargas e o nascente processo de industrialização, e posteriormente durante o crescimento das metrópoles durante as décadas de 70 e 80.

Hoje, a situação de informalidade da propriedade urbana atinge a maioria das cidades brasileiras. O poder público não atende de maneira igual a seus cidadãos, e como reflexo, grande parte da população urbana é discriminada por critérios sociais, culturais, étnicos, de gênero e idade. Especialmente a população carente é impedida de exercer plenamente seu direito à cidadania, pois não possuir a escritura de sua propriedade gera um constante estado de insegurança.

Foto: Antônio Cruz/EBC

Favelização: processo de urbanização brasileiro está longe de ser equilibrado

● ArtigoPor Adão dos Santos

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Agosto de 2014 • Revista da ACE • 27

Para a implantação de qualquer loteamento o empreendedor deve seguir a Lei federal nº 6.766/79, bem como as determinações de cada município sobre o assunto, que deve aprovar o projeto para posterior registro no Cartório de Registro de Imóveis. Assim, a implantação de um loteamento deve respeitar tamanhos mínimos de lotes, recuos e destinar adequadamente áreas verdes, entre outros elementos. Se o loteamento não for implantado de maneira a respeitar o projeto existente, trata-se de um loteamento irregular. Por sua vez, em caso de haver venda de lotes sem qualquer aprovação de projeto, denomina-se um loteamento clandestino. Grande parte dos cidadãos em situação vulnerável acaba adquirindo lotes nessas condições, visto se tratarem de terrenos mais baratos, mesmo que não os proporcionem o direito pleno.

A Lei Federal nº 11.977/2009 define regularização fundiária como o “conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais que visam à regularização de assentamentos irregulares e à titulação de seus ocupantes, de modo a garantir o direito social à moradia, o pleno desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”.

Neste sentido, a regularização fundiária é uma ferramenta que visa transformar a perspectiva dos beneficiários atendidos e auxiliar o gestor público a organizar seu território, visto que após o trâmite, as ocupações que antes eram irregulares passam a figurar no cadastro dos municípios, que também podem passar a incrementar sua arrecadação e oferecer, em contrapartida, os serviços que porventura não tiverem sido disponibilizados até então a estas comunidades. Consequentemente, o senso de envolvimento com sua propriedade aumenta o zelo da população pelos seus bens, já que passam a ter a segurança jurídica e motivam-se a investir em melhorias e conforto, resultando em mais foco em trabalho e renda.

Outras vantagens da regularização fundiária e do consequente registro da matrícula deste imóvel em cartório é o acesso ao mercado formal de crédito, visto que há linhas de financiamento específicas para construção e melhoria das habitações, além da possibilidade de inclusão no Programa Minha Casa, Minha Vida. Também se torna possível a penhora do bem, sua comercialização e transferência aos herdeiros.

INICIATIVA DO PODER PÚBLICOLar Legal é o nome atribuído à Resolução 8/2014 do Conselho da Magistratura do Tribunal

de Justiça do Estado de Santa Catarina. Esta ferramenta foi concebida para apresentar uma possibilidade de regularização fundiária de assentamentos informais via judicial nos casos onde não há mais possibilidade de regularização de modo administrativo. No Estado de Santa Catarina, esta resolução é o fio condutor do Programa de Expansão Estadual para Regularização Fundiária, que tem por unidade gestora a Secretaria de Assistência Social, Trabalho e Habitação.

Existe também um termo de cooperação institucional firmado entre Governo do Estado de Santa Catarina, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, o Ministério Público Estadual e a Assembleia Legislativa. As prefeituras municipais, por sua vez, podem aderir ao programa e contar com os serviços de empresas credenciadas por edital pelo Governo do Estado.

A regularização através desta ferramenta pode se dar em áreas urbanas de titularidade pública ou privada. Em caso de área pública, todavia, a regularização do imóvel deve ser precedida de lei autorizativa. Cada município detecta quais são suas áreas irregulares que necessitam de atenção, e juntamente com os técnicos da empresa credenciada se dá a pesquisa documental e jurídica no intuito de se conhecer o histórico daquela ocupação.

Somente áreas consolidadas podem ser regularizadas pelo Programa, de acordo com o disposto na Lei nº 11.977 de 2009:

“Art. 47. Para efeitos da regularização fundiária de assentamentos urbanos, consideram-se: II – área urbana consolidada: parcela da área urbana com densidade demográfica superior a

50 (cinquenta) habitantes por hectare e malha viária implantada e que tenha, no mínimo, 2 (dois) dos seguintes equipamentos de infraestrutura urbana implantados:

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a) drenagem de águas pluviais urbanas; b) esgotamento sanitário; c) abastecimento de água potável; d) distribuição de energia elétrica; ou e) limpeza urbana, coleta e manejo de resíduos sólidos.”

Foto: divulgação

Lar Legal: direito à propriedade

Após a identificação das áreas consolidadas sujeitas à aplicação do Plano Estadual, são executadas as seguintes tarefas:

• Levantamento topográfico e confecção da planta e memorial descritivo da área• Reunião comunitária, identificação e cadastramento dos beneficiários• Montagem do processo e ajuizamento das ações em cada comarca• Acompanhamento da ação judicial até a sentença.

A planta produzida pela empresa credenciada deve conter: a) descrição da área consolidada com fixação de zonas e os confrontantes, sua qualificação

completa juntamente com o respectivo cônjuge;b) indicação precisa de cada lote com confrontações, localização, área, logradouro, número

da designação cadastral, nome do ocupante e dos confrontantes;c) indicação das vias, enumeração dos equipamentos urbanos, comunitários e serviços

públicos.d) indicação das áreas públicas que passarão ao domínio público

Também é necessário que seja anexada uma declaração do órgão municipal competente atestando de que não se trata de área de risco ou de APP.

Os adquirentes beneficiários da Justiça Gratuita não pagarão custas e emolumentos no Cartório de Registro de Imóveis, nem a averbação de suas casas, desde que seja o primeiro registro em favor destes. O público alvo, preferencialmente, são as famílias em situação de vulnerabilidade social inseridas no Cadastro Único (CADÚnico) do Governo Federal. No entanto, o fator renda não é impeditivo para que outras famílias participem do programa.

Em suma, o objetivo é estimular a regularização em prol da prevenção de situações de risco e do uso equilibrado do espaço urbano, além da redução das desigualdades sociais, da promoção da justiça e da melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

● ArtigoPor Adão dos Santos

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BIM é a sigla em inglês para Modelagem da Informação da Construção. Vários conceitos foram dados para definir BIM, mas ao mergulhar na história; na ideia; nas ferramentas que se apropriaram do conceito; em estudos de casos do uso por empresas, cidades e países; e especialmente em buscar conhecer gente como Luiz Augusto Contier, Leonardo Manzione, Sergio Scheer, Chuck Eastman, Paul Teicholz, Rafael Sacks entre tantos outros, é possível perceber, ao mesmo tempo, que nada mudou, e que estamos numa revolução.

Nada mudou porque não deixamos de pensar (idealizar), conceber, viabilizar, projetar, construir, usar, manter e renovar objetos (casas, rodovias, portos, cidades por exemplo). E a revolução está na possibilidade de acessar informações no local (x,y,z) em que elas foram definidas ou identificadas.

A modelagem da informação da construção é mais que um modelo 3D parametrizado, é também um banco de dados de informação com coordenação (x,y,z).

Tal revolução é compreendida na observação da Figura 1, que trata dos níveis de maturidade do BIM, mas também das mudanças nas quais a área de projetos já passou e vai passar.

Figura 1 – Níveis de Maturidade do BIM. Fonte: A report for the Government Construction Client Group - Building Information Modelling (BIM)

Working Party - Strategy Paper, march 2011.

Modelagem da informaçãoda construção – BIM

Eng. de Produção Civil e Eng. de Materiais;Especialização em Direito Ambiental e Urbanismo;Engenheiro concursado do Estado de Santa Catarina;Coordenador do GT-BIM.

● ArtigoPor Rafael Fernandes Teixeira da Silva

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Imaginar que informações de relevo, solo, vegetação, hidrografia, plano diretor, cadastro e patrimônio, por exemplo, podem estar no mesmo banco de dados espacial (3D), inúmeras oportunidades se abrem para o desenvolvimento de novos trabalhos, os quais não serão possíveis sem a presença de equipes multidisciplinares.

No entanto é importante frisar que o conceito de BIM não é recente. As indústrias química e automobilística já trabalham dessa forma há muito tempo, a primeira porque precisa simular sistemas e a segunda por questões de competitividade precisa ser assertiva na gestão do tempo e de matérias.

Por se tratar de um conceito, a BIM para a área da arquitetura, engenharia e construção civil – AEC – possibilita também simular o desenvolvimento de um bairro, de uma cidade; o comportamento de uma edificação frente a questões climáticas, de segurança, energética e de consumo de materiais; ou seja, permite simular o ciclo de vida da benfeitoria (Figura 2), seus impactos, interferências e ganhos sociais. Com a BIM as fases de projeto passam a ter a devida importância, pois possibilita uma análise mais acurada da viabilidade econômica, urbanística, ambiental e social, no curto, médio e longo prazo, ou seja, da sustentabilidade da benfeitoria.

Além das possibilidades de simulação, e dos reflexos na execução, por permitir a minimização de conflitos e problemas, a BIM também permite a gestão de operação e manutenção de forma mais eficiente e ágil. Uma vez que as informações do “As Built” tenham sido lançadas e estejam corretas; a troca de uma válvula, a compra de lâmpadas, a pintura de uma parede, a localização de bens (computador, mesa etc), ou seja, a gestão e a manutenção da benfeitoria passam a ser mais eficiente, pois o simples cruzamento de curva ABC com o tempo de vida útil de materiais e equipamentos permitirá compor um fluxo financeiro mais realista e útil para o gestor dessa benfeitoria.

Figura 2 – Ciclo de vida de uma obra com a Modelagem da Informação da ConstruçãoBIM. Fonte: http://www.bahianegocios.com.br

● ArtigoPor Rafael Fernandes Teixeira da Silva

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Atualmente quem mais está fazendo uso ou se valendo do conceito BIM é a iniciativa privada, especialmente pela minimização de riscos e a maximização da gestão e lucro. Mas países como Noruega, Finlândia e Cingapura, e cidades como New York, Barcelona e Londres também o fazem. E nesses locais por ser o poder público quem está conduzindo o processo de transformação, a taxa de aplicação ou uso do BIM é maior.

No Brasil empresas e instituições como a Sinco Engenharia, a Gafisa, Petrobrás, o Departamento de Obras Militares do Exército – DOM-Eb e a Prefeitura de São José dos Pinhais, como exemplos, estão fazendo uso da BIM.

Em Florianópolis, Santa Catarina, ocorreu no dia 13 de março o I Seminário Estadual de BIM - Uma Nova Forma de Fazer Engenharia e Arquitetura, evento organizado pelo Comitê de Acompanhamento e Controle de Obras Públicas e Serviços de Engenharia, ligado à Secretaria de Estado do Planejamento. Nesse dia, Santa Catarina foi o primeiro Estado brasileiro a publicar dois editais para a contratação de projeto a ser desenvolvido em BIM. No momento sabia-se que o desafio era grande, mas o aprendizado também. Hoje pelas experiências já acumuladas com esses dois editais, tem-se certeza que se está no caminho certo, mas melhorias precisam ser feitas e novos desafios precisam ser enfrentados, como em relação à avaliação de empresas com conhecimento em BIM e na comprovação desse conhecimento.

Diante desses e de outros desafios, a Secretaria de Estado do Planejamento, através do Comitê de Acompanhamento e Controle de Obras Públicas e Serviços de Engenharia, institui por portaria o Grupo de Trabalho encarregado pelos estudos e pela implantação da BIM – GT-BIM, no âmbito do poder Executivo Estadual.

Entre os desafios está a criação de padrões e regras que permitam uma maior segurança nos contratos de projetos em BIM entre contratada e contratante. Nesse sentido tem-se utilizado como referências os guias da BCA de Cingapura e da DDC de New York. Conteúdos de publicações das organizações Building Smart, American Institute of Architects – AIA, e fórum BIM, além do entendimento de normas como a ISO 16739: 2013, que representa um padrão internacional aberto para dados de BIM que são trocados e compartilhados entre aplicativos de software utilizados pelos diversos integrantes de um projeto de edifícios ou gestão de instalações. Bem como da ASTM E1557, que estabelece a classificação dos elementos de uma construção.

Na busca por esses padrões estão sendo construídas parcerias por meio de termos de cooperação técnica com os grandes desenvolvedores de softwares com base no Brasil, como a Autodesk, a Bentley, a Nemetschek e a Trimble. O objetivo é que cada desenvolvedor construa o seu “template” com base nas regras e padrões aprovados no GT-BIM, bem como possam dar continuidade na disseminação do conceito e das ferramentas BIM em Santa Catarina. Como ocorrido no 1º Encontro Técnico de Soluções em BIM no final do primeiro semestre deste ano, e provavelmente com a realização do 2º Encontro na primeira semana de novembro também de 2014.

Mais informações sobre BIM podem ser buscadas nos sites listados abaixo:

BIMFORUM. BIM Forum. Disponível em: <https://bimforum.org/>. Acesso em: 10 ago. 2014.BUILDINGSMART. Building Smart. 2008. Disponível em: <http://www.buildingsmart.org/>. Acesso em: 10 ago. 2014.CORENET E-INFORMATION SYSTEM. CORENET e-Information System. 2014. Disponível em: <http://www.corenet.gov.sg/>. Acesso em: 10 ago. 2014.

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32 • Revista da ACE • Agosto de 2014

ESTADOS UNIDOS. New York City. Department Of Design And Construction. Department of Design and Construction. Disponível em: <http://www.nyc.gov/html/ddc/html/pubs/publications.shtml>. Acesso em: 10 ago. 2014.NATIONAL INSTITUTE OF BUILDING SCIENCES. The National BIM Standard-United States. Disponível em: <http://www.nationalbimstandard.org/>. Acesso em: 10 ago. 2014.THE AMERICAN INSTITUTE OF ARCHITECTS. The American Institute of Architects. 2014. Disponível em: <http://www.aia.org/>. Acesso em: 10 ago. 2014.BUILDING SMART FINLAND. Building Smart Finland. 2012. Disponível em: <http://www.en.buildingsmart.kotisivukone.com/3>. Acesso em: 10 ago. 2014.

● ArtigoPor Rafael Fernandes Teixeira da Silva

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● ACE em Ação

A conclusão das obras da Pon-te Hercílio Luz foi tema de debate na manhã do aniver-

sário da ponte, dia 13 de maio. O en-contro aconteceu na Associação Ca-tarinense de Engenheiros (ACE) para comemorar os 88 anos do maior car-tão postal de Florianópolis.

Inaugurada em treze de maio de 1926, pelo engenheiro Hercílio Luz,

Aniversário da Ponteentão Governador do Estado de Santa Catarina, a Ponte de Ferro, como era chamada na época, tornou-se a pri-meira ligação terrestre do continente com a ilha-capital. Iniciada em no-vembro de 1922, foi considerada na época, uma das obras mais ousadas do mundo. Com o peso de 5 mil tone-ladas, mais de 74 metros de altura e 821 metros de comprimento, a Ponte

Hercílio Luz consolidou Florianópolis como a capital de Santa Catarina.

Dentre as autoridades que presti-giaram o evento estavam o deputa-do Joares Ponticelli, presidente em exercício da Assembleia Legislativa; Celso Leal, presidente da Associação Catarinense de Engenheiros; depu-tado Valmir Comin e deputado Reno Caramori.

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Engenheiros verificam in loco atraso nas obras de restauração da Hercílio Luz

O presidente da Associação Catarinense de Engenheiros – ACE e os participantes do

debate sobre a Ponte Hercílio Luz concluíram que as obras de recupe-ração não estarão prontas no fim do ano, como pretendia o Governo do Estado. Na manhã do dia 13 de maio, em conjunto com entidades como a Associação Catarinense de Impren-sa – ACI, eles fizeram uma visita ao canteiro de obras de restauração da ponte, onde foram recebidos pelos técnicos responsáveis.

Os engenheiros que acompanha-ram a visita ao canteiro de obras cons-tataram que foram realizados cerca de 31% da obra até aquele momento. O mais importante no momento é garantir a "ponte segura", e para isso deve ser montada a estrutura de su-porte do vão central, conforme desta-ca o presidente Celso T. Leal. Segundo ele, faltam ainda adquirir materiais es-peciais, aços especiais que necessitam entrar em produção e que num mer-cado saturado de pedidos torna difícil a previsão de atendimento.

“O importante será estabilizar a estrutura da ponte para afastar o risco de colapso da

estrutura. Após esta etapa acreditamos ser possível

concluir a reforma”,avaliou Celso T. Leal.

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36 • Revista da ACE • Agosto de 2014

A reunião no CREA-SC con-tou com a presença do superintendente do IPUF,

Dalmo Vieira Filho e diretores das entidades de classe que, por inter-médio da ACE, também integram o convênio: ACEST, IBAPE, ABES, ABENC, ACESA, IAB e ACECON.

A Prefeitura informou que ha-via cerca de 800 projetos acumula-dos aguardando análise técnica. A proposta visa à prestação de ser-viços técnicos por profissionais das entidades para suprir a demanda existente na área de aprovação de projetos em Florianópolis, com base nas diretrizes do novo plano diretor.

Pelo documento seriam dispo-nibilizados 20 engenheiros civis e 20 arquitetos para formação de um cadastro de Reserva Técnica, que serão capacitados pelo município para as atividades.

A administração municipal infor-mou ainda que será realizado um concurso público para abertura de vagas na área da engenharia a par-tir do segundo semestre deste ano para suprir o déficit de profissionais nesta área. Também serão investi-dos cerca de R$ 340 milhões na ca-

● ACE em Ação

Convênio com a Prefeitura reforça o licenciamento

pital em 2014 em obras de infraes-trutura com recursos dos governos federal, estadual e municipal.

No final de julho o presidente da ACE, Celso Leal, fez o primeiro repasse dos recursos aos profissio-nais contratados no âmbito do Ter-mo de Cooperação Técnica firmado com a Prefeitura de Florianópolis e a ACE, para análise de projetos jun-to à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urba-no – SMDU e o Instituto de Plane-

jamento Urbano da Capital (IPUF). Os profissionais selecionados pela ACE estão atuando como um refor-ço diante da defasagem do número de técnicos disponíveis para análise dos pedidos de licença e de consul-ta prévia na Capital. Entre as tare-fas está a emissão de pareceres em consultas de viabilidade técnica e projetos de edificações residenciais e comerciais, para a construção de edificações uni e multifamiliares, comerciais e serviços.

ACE formaliza Termo de Cooperação Técnica em caráter temporário, visando a análise e aprovação de projetos de construção no município

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A Associação Catarinense de Engenheiros realizou o Concurso Fotográ-fico Cultural com o tema “A presença da engenharia na sociedade”, mais uma atividade da programação dos 80 anos da entidade. O con-

curso teve o objetivo de ampliar a compreensão sobre a engenharia e sua aplicabilidade na sociedade. Algumas fotos inscritas fizeram parte do livro comemorativo do aniversário de 80 anos da entidade. As melhores imagens integraram também uma exposição fotográfica durante os eventos de come-moração. A comissão julgadora foi formada por Vilson Luiz Coelho (presiden-te), João Pedro Assumpção Bastos, Sidney Kair, Antonio Rubilar Ferreira Leão, Sergio Luiz da Silva, Maria Elsa Nunes e Cláudia Renata de Oliveira.

ACE promove concurso fotográficocultural sobre a engenharia

● ACE 80 anos

Mauro Goulartcom “Lar é onde o coração

está” e “Caminhos histó-ricos”, respectivamente 1º e 2 º lugar, com ele a vice

presidente Maria Elsa

No lançamento do concurso, a escritora Christina Baum-garten fez a entrega oficial da digitalização de todo o arquivo fotográfico da ACE, juntamente com uma

apresentação do trabalho desenvolvido. Foram digitalizadas 12.175 fotos, com 250 horas de trabalho, digitalização e organi-zação dos arquivos em 369 pastas nomeadas e organizadas na linha do tempo, totalizando 12.6Gb (gigabytes) de memória di-gital. O material será disponibilizado no site da ACE para visita do público e durante a solenidade de aniversário da entidade, em maio, foi entregue oficialmente uma cópia do arquivo digi-tal ao CREA/SC, também apoiador do projeto.

1º lugar

2º lugar

3º lugar

Jadna Ester T. Marconcom “Produção de álcool a partir do arroz” ficou com a terceira colocação

Acervo digital

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Em maio a sede da ACE foi palco durante uma semana de uma exposição de fotos históricas e

de equipamentos utilizados na cons-trução e manutenção da Ponte Hercí-lio Luz. O período de três anos e seis meses da construção da ponte, entre 14 de novembro de 1922 e 13 de maio de 1926, teve seu registro exibido em dezenas de fotos. Uma das imagens mais interessantes da exposição mos-tra o então governador Hercílio Luz em visita ao canteiro de obras da an-coragem, no lado continental.

Ponte Hercílio Luz:exposição gratuita

na sede da ACE

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40 • Revista da ACE • Agosto de 2014

● ACE 80 anos

E m sessão especial proposta pelo deputado Reno Caramo-ri, a Assembleia Legislativa

prestou homenagem aos 80 anos da ACE no dia 10 de julho. Na oportuni-dade também foram homenageados 16 ex-presidentes da Associação, além do reconhecimento a entida-des parceiras como o CREA, Mútua e o Sindicato dos Engenheiros (Sen-ge-SC). A sessão contou ainda com o lançamento do livro “Tempo de Construir - Visões e Contribuições da Associação Catarinense de Engenhei-ros - 80 Anos de História”, de autoria de Christina Baumgarten. Com 216 páginas, a obra faz parte de um pro-jeto, ao qual se soma a criação de um museu virtual para o resgate da his-tória da ACE, como destacou o atual presidente, Celso Leal: “Nos motiva-mos a documentar e resgatar fatos que contribuíram para que a ACE se transformasse numa instituição de excelência em prol do fortalecimen-to da classe".

A Associação Catarinense de Engenheiros (ACE) recebeu homenagem em 19 de maio

na Câmara de Vereadores de Floria-nópolis pelos 80 anos de sua funda-ção. Recebeu a honraria o presidente da entidade e conselheiro do CREA-SC, Eng. Eletric. Celso Ternes Leal. A proposição foi apresentada pelo ve-reador Celso Sandrini.

Assembleia Legislativa presta homenagem à ACE

Homenagem da Câmarade Vereadores

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• Celso Ramos Filho, engenheiro civil, presidente de 1957 a 1958; • Hamilton Nazareno Ramos Schaefer, engenheiro eletri-cista, presidente entre 1970 e 1974; • Mario Luiz Menel da Cunha, engenheiro eletricista, presidente entre 1977 e 1978; • Nel-son José Althof, engenheiro civil, presidente entre 1978 e 1979; • Carlos Alberto Ganzo Fernandez, engenheiro eletricista, presidente entre 1979 e 1981; • Otávio Ferrari Filho, engenheiro mecânico, presidente entre 1981 e 1983; • Aníbal Borin, en-genheiro civil, presidente de 1983 a 1986; • Francisco Duarte de Oliveira, engenheiro eletricista, presidente de 1986 a 1987; • Rubens da Silva Felipe, engenheiro eletricista, presidente de 1987 a 1989; • Dauzelei Benetton Pereira, geólogo, presidente de 1989 a 1993; • Claude Pasteur de Andrade Faria, engenheiro eletricista, presidente de 1993 a 1995; • Celso Francisco Ramos Fonseca, engenheiro civil, presidente de 1995 a 1999; • Valmir Antunes da Silva, engenheiro civil, presidente de 1999 a 2003 e de 2005 a 2007; • Nelson Bittencourt, engenheiro sanitarista, presidente de 2003 a 2005; • Abelardo Pereira Filho, engenheiro civil, presidente de 2007 a 2011; • Celso Ternes Leal, engenheiro eletricista, presidente em gestão desde 2011.

Ex-presidentes da ACE homenageados pelo Legislativo Estadual

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42 • Revista da ACE • Agosto de 2014

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● Destaque Profissional

“Um mestre. É isso que aspessoas precisam tera humildade de buscar”

A recomendação é do ex-presidente da ACE, Hamilton Schaefer, que já foi professor, vice-reitor da UFSC, líder comunitário e prega o diálogo como forma de crescimento pessoal

O engenheiro eletricista Hamilton Na-zareno Ramos Schaefer foi homena-

geado em maio desse ano pela Associação Catarinense de Engenheiros com o troféu Engenheiro de Carreira 2013 durante as comemorações dos 80 anos da entidade. Às vésperas de completar 76 anos, ele faz aniversário em 25 de dezembro, o enge-nheiro observa que embora vivamos em uma sociedade conectada, as pessoas pouco escutam umas as outras no dia a dia. “Os aparelhos estão conectados em rede, mas as pessoas não”, diz ele ao des-tacar que a falta de diálogo prejudica o aprimoramento pessoal e profissional dos estudantes de engenharia.

Segundo ele, a reforma universitária introduzida no país no final dos anos 60 foi uma das causadoras da atual crise no ensi-no superior, pois na época em que come-çou a ensinar na faculdade, o profissional com experiência no mercado de trabalho era valorizado. Naquela época, não havia a divisão do ano em semestres e os alunos de engenharia iniciavam e acabavam o ano letivo com o mesmo professor de uma de-terminada disciplina. “Isso permitia o apro-fundamento da relação de aprendizado, fazendo com que o aluno tivesse um mes-tre para ensiná-lo”, diz Hamilton Scheafer, reforçando que hoje em dia as pessoas não têm humildade de pedir orientação para quem sabe fazer as coisas.

O caso de amor com a engenharia começou desde pequeno, pois conta que gostava de estudar física nas au-las do Colégio Catarinense e nos anos do Instituto Estadual de Educação. Na sessão da Assembleia Legislativa em homenagem aos 80 anos da ACE, ele foi

abordado por um dos convidados que lhe fez o seguinte relato: “Hoje eu sou professor porque fui seu aluno”. Para o engenheiro, às vezes um comentário sobre a vida profissional pode contribuir muito mais para a formação das pessoas do que a explicação de um teorema, “e o professor tem esta responsabilidade”.

Em sua ótica, o sucesso de um profissio-nal de engenharia não dependerá apenas dos conhecimentos do sujeito, “mas pelo que ele faz com o que sabe e com os recur-sos que dispõe”. Hamilton Scheafer destaca que o exercício da profissão sempre será testado pelos valores pessoais do profissio-nal. “São em entidades como a ACE que se aprende e se transmitem os valores que dig-nificam o profissional e que engrandecem a Engenharia”, observa. Ele se formou na década de 60 em Porto Alegre e apesar de aposentado há vários anos, continua exer-cendo a profissão com o mesmo entusias-mo do princípio e conta que recentemente fez uma perícia no sistema de iluminação do estádio Orlando Scarpelli, do Figueirense.

Morador do bairro Coqueiros desde 1969, morando na mesma casa, como res-salta, ele se envolve nas questões comu-nitárias desta área continental da Capital, como a luta que resultou na implantação do Parque de Coqueiros, em área de mari-nha cedida pelo Governo do Estado para a Prefeitura e depois para a Sociedade Ami-gos do Bairro de Coqueiros. O parque foi criado oficialmente pelo alvará de permis-são de uso e teve o início das obras em 8 de abril de 1999, concluídas oito anos depois.

Ele começou a vida profissional com escritório de projetos de instalações elé-tricas e lecionando na UFSC. Como acadê-

mico, além de professor, também partici-pou com destaque na administração da Universidade Federal chegando a ser vi-ce-reitor. Por outro lado, ajudou a fundar a APUFSC, a associação dos professores da instituição de ensino, que contrapu-nha o poder exagerado da administração superior sobre os professores, estes sem representação sindical, como hoje está consolidada. Ele teve também destacada atuação no associativismo profissional, pois foi também presidente da ACE.

Hamilton Schaefer foi um dos orado-res na recente homenagem da Assembleia Legislativa aos 80 anos da ACE. Para ele, a sessão especial marcou o encontro de duas facetas de fundamental importância para Santa Catarina, a política e a engenharia: “Cada uma delas carrega uma história inesti-mável, um passado, uma cultura, uma iden-tidade e um destino. A engenharia como a arte de colocar a ciência e a tecnologia a serviço do homem e a política como a arte de conciliar os interesses humanos visando o bem comum”.

No discurso ele evidenciou a contri-buição efetiva da engenharia com o de-senvolvimento do Estado, construindo es-tradas e pontes, edificações, implantando parques industriais, fazendo a gestão dos recursos naturais, retificando rios, conten-ção de cheias, construção de barragens e de usinas para a geração de energia, im-plantação de linhas de transmissão e nas áreas de planejamento e pesquisa. “Os engenheiros saberão resgatar o planeja-mento como atuação continuada, para que ele volte a ser a arte de antecipar as necessidades e propor soluções antes de se tornarem problemas”, ressalta.

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REFORMA

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Nascido em 16 de dezembro de 1924 em Lages, no Planalto Serrano, o en-

genheiro completa 90 anos no final do ano. Engenheiro civil, fundou e é o pri-meiro presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA)-SC. Segundo dos seis filhos do ex-governador Celso Ramos e Edith Gama Ramos, ele é neto do ex-governador Vi-dal Ramos e Tereza Fiuza Ramos, bisneto de Vidal Ramos Sênior e Júlia Baptista Ra-mos. Celso é casado com Maria Júlia Me-deiros Ramos, professora diplomada em São Paulo, em Geografia e História e filha do Dr. João José de Cupertino Medeiros e Eponina Orige Medeiros.

O casal Celso e Júlia tem cinco filhos: Celso Ramos Neto, engenheiro, casado com Ana Maria Maia Ramos; Luiz Gonza-ga Medeiros Ramos, engenheiro, casado com Rosanna Barcia Ramos; Clisse Me-deiros Ramos, engenheira, casada com Georges Perret; Marcelo Medeiros Ra-mos, advogado, casado com Vanda Ca-bral Ramos e Márcio Medeiros Ramos, administrador de empresas, casado com a médica Suse Maris Machado Ramos.

Em sua vida profissional, durante muitos anos exerceu a engenharia, só interrompendo quando resolveu dedi-car-se à política, acompanhando seu pai nas campanhas para Senador e Gover-nador (eleito). Foi criador e titular da firma de engenharia ENARCO, na épo-ca a maior do estado, responsável pela construção da ala nova da Maternidade Carlos Corrêa, da Igreja Irmão Joaquim, a maternidade-hospital de Tijucas, o Hospital Naval em Florianópolis, a resi-

● Resgate Histórico

Celso Ramos Filho:engenheiro com históriadência do Comando do 5º Distrito Naval, em Florianópolis, o conjunto de 100 ca-sas populares em Laguna e Itajaí, além de centenas de residências e prédios no estado. Foi, por quatro anos, secretário de Viação e Obras Públicas (idealizou e iniciou a construção da Avenida Beira-Mar Norte, na Capital).

Exerceu a presidência do Conselho Rodoviário e do Conselho do Daes (hoje Casan) e do Deos (Saneamento). Foi membro do Conselho do PLAMEG, do Besc e da Comissão Interestadual dos rios Paraná e Uruguai. Como secretá-rio da Viação, construiu a ligação entre São Bento do Sul e Corupá (a rodovia leva o seu nome) aproximando a re-gião do Alto Rio Negro ao porto de São Francisco do Sul. Como deputado à As-sembleia de Santa Catarina, foi criador e presidente da Comissão de Ciências e Tecnologia. Foi também presidente da Comissão de Finanças e relator por quatro anos do Orçamento e das Con-tas do Estado de Santa Catarina. Foi o inspirador da criação do Ministério de Ciência e Tecnologia, ao ver aprovada sua tese no Congresso da UPI (União Parlamentar Interestadual). Autor, também, de indicação para que fosse criado um Ministério para a Amazônia. Foi a primeira voz que se levantou a fa-vor da Área Metropolitana da Grande Florianópolis, em 1967.

Autor, ainda, de vários projetos, entre eles, a criação do “Prêmio Jerô-nimo Coelho” e da Lei nº 4.147 de 2 de maio de 1968, que criou em Santa Catarina a “Semana da Ciência e Tec-nologia”, comemorada, anualmente nas escolas de nosso Estado. Autor de um “Regimento Interno Padrão” para as Assembleias Legislativas do Brasil, aprovado no Congresso da UPI de Pe-trópolis, onde foi aplaudido de pé pe-los deputados brasileiros presentes. Engenheiro do extinto IPASE e presi-dente da Comissão pró criação de uma Escola de Engenharia em Florianópolis, objetivo concretizado com a fundação

da Escola de Engenharia Mecânica. Fez parte da Comissão pró criação do SEN-GE (Sindicato dos Engenheiros) e pre-sidente da ACE (Associação Catarinen-se de Engenheiros), além de criador (em 1958) do CREA de Santa Catarina e seu primeiro presidente, reeleito por unanimidade em cinco oportunidades ao longo de 15 anos. Eleito, por dez anos seguidos, secretário do Congres-so Brasileiro de presidentes de CREA's (Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia).

Vida pública e atividades sociais - Em São Bento do Sul há um Colégio Estadual com seu nome. Professor efetivo, por 22 anos, da Escola Técnica Federal de SC. Presidente do Clube Náutico Riachuelo (4 vezes campeão) e do Avaí Futebol Clu-be e membro do Conselho Deliberativo de vários clubes sociais da capital. Foi eleito duas vezes deputado estadual, a segunda, como o segundo mais votado. É aposentado como Conselheiro do Tri-bunal de Contas do Estado. Possui vários trabalhos, comendas e medalhas, uma delas de “Mérito por serviços presta-dos à Engenharia Nacional” (Lei 5195 de 24/12/1966), entregue em sessão sole-ne do CONFEA, pelo presidente Jusceli-no Kubitschek.

É membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e rece-beu em 23 de março de 1997, da Câ-mara Municipal, o título de “Cidadão Honorário de Florianópolis”, em reco-nhecimento por relevantes serviços prestados ao município. Foi deputado à Assembleia Legislativa de Santa Ca-tarina na 6ª legislatura (1967 — 1971) e na 7ª legislatura (1971 — 1975). Foi também, entre os anos de 1954 a 1957, presidente executivo do Avaí Futebol Clube. Foi presidente do Clu-be Náutico Riachuelo- Florianópolis. Entre suas publicações estão a obra Coxilha Rica, Genealogia da Família Ramos. Florianópolis: Insular, 2002. - Jóias do Pensamento Humano e Cân-dido de Oliveira Ramos – Biografia.

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● Canal do Acadêmico

Membros da i9 CONSULTORIAdesenvolvem variados projetos em

Engenharia Mecânica dentro da UFSC

A empresa júnior do curso completa 19 anos em se-tembro e já realizou mais

de 70 projetos com preços abaixo da média do mercado.

Contando com o trabalho dos seus membros, alunos de Engenharia Mecânica da UFSC, aliados à estrutu-ra da empresa e ao conhecimento e experiência dos professores do de-partamento que orientam os proje-tos, a i9 CONSULTORIA busca prestar consultorias em projetos de Enge-nharia Mecânica para pequenos e médios empresários que precisam de soluções técnicas para otimizar sua produção. Porém, a empresa tam-bém já prestou serviços para grandes

companhias como a Ferrovia Teresa Cristina e a Petrobrás.

Contando em seu portfólio com projetos desde um mecanismo de revelação para uma máquina foto-gráfica até uma pista de skate gera-dora de ondas, a empresa forma uma equipe de graduandos de diversas fa-ses capazes de tornarem realidade as ideias de seus clientes, sejam elas um produto inédito no mercado, uma redução de custo ou um aumento na produtividade. “Nosso objetivo é oferecer um projeto de qualidade a um preço mais justo, fortalecendo o mercado e gerando conhecimento para os membros” explica Guilherme Larroyd, Diretor de Marketing da i9.

Além do foco nas consultorias técnicas, outro objetivo é a capacita-ção dos membros. A i9 faz parte do Movimento Empresa Júnior (MEJ), que surgiu em 1967 na França, com o intuito de fazer os alunos colocarem em prática técnicas e conceitos lecio-nados em sala de aula. Neste ambien-te empresarial eles têm a oportunida-de de ter experiências profissionais, trabalhar em equipe e desenvolver diversas habilidades, além de todos os treinamentos fornecidos com a ar-recadação proveniente dos projetos, sendo formados como engenheiros diferenciados para o mercado. O site é www.i9.ufsc.br e o telefone (48) 3721-7537.

À esquerda, o atual presidente da empresa Marco Aurélio Bittencourt; ao lado do ex-coordenador do curso, Lauro Cesar Nicolazzi; da ex-presidente Marina Brant e do Eng. Civil Roberto de Oliveira

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● Social e Memórias

Mães na ACEO tradicional Almoço de Confraternização do Dia das Mães na Associação Catarinense de Engenheiros – ACE foi realizado no dia 11 de maio, com a presença da diretoria da ACE, associados e seus familiares.

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7 º Costelão CredCreaAconteceu dia 17 de maio, na Devassa On Stage, em Florianópolis, a 7 ª edição do Costelão CredCrea marcando os 10 anos da CredCrea

e reunindo cerca de mil pessoas que se divertiram com música e as atrações especialmente programadas pelos organizadores.

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● Prêmio ACE 2014

Profissional do Ano 2013 - Categoria Eng. de Controle e Automação – Guilherme C. Angeloni

Profissional do Ano 2013 - Categoria Eng. de Segurança do Trabalho – José Spricigo

Entidades do ano 2013 - MÚTUA-SC - Caixa de Assistência dos Profissionais do CREA

Profissional do Ano 2013 - CategoriaEng. Civil – Edenilson Cardoso

Engenheiro do Ano 2013Wilfredo Brillinger – Presidente da Prosul

Engenheiro do Ano 2013 - Carreira ProfissionalHamilton Nazareno Ramos Schaefer

Diretoria da Associação Catarinensede Engenheiros

Entidades do ano 2013 - CREA-SC – Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de SC

Profissional do Ano 2013 - Categoria Eng. Eletricista – Gilberto Vieira Filho

Empresa do Ano - Engenharia ConsultivaProsul - Projetos Supervisão e Planejamento Ltda

Entidades do ano 2013 - CONFEAConselho Federal de Engenharia e Agronomia

Profissional do Ano 2013 - Categoria Eng.Sanitarista – Carlos Henrique Barbato do Amaral

Entidades do Ano 2013 - CREDCREA-SC – Coo-perativa de Economia e Crédito Mútuo dos Pro-fissionais do CREA

Profissional do Ano 2013 - Categoria Eng. Florestal – Gabriel Goedert Pauli

Valorizando Empresas e Profissionais

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Profissional do Ano 2013 - Categoria Eng. Mecânico – Álvaro José Silveira Beiro

Profissional do Ano 2013 - Categoria Eng. Agrimensor – Rogério de Oliveira Knabben

Empresa do ano – Sondagem e EstaqueamentoPerfuratec Fundações Ltda

Placa Destaque 2013 – Universidade Pública:Universidade Federal de Santa Catarina

Empresa do ano - Engenharia ConsultivaIguatemi Consultoria e Serviços de Engenharia Ltda

Empresa do ano - CategoriaGrandes Obras - SulCatarinense

Empresa do ano - Projetos e Construção Civil RK&S Engenharia de Estruturas Ltda EPP

Profissional do Ano 2013 - Categoria Eng. de Operação – Mecânica, Refrigeração e Ar Condicionado – Alberto Ascoli Gomes

Profissional do Ano 2013 - Categoria Geógrafo – Adão dos Santos

Empresa do ano – EnergiaQuantum Engenharia Elétrica Ltda

Profissional do Ano 2013 - Categoria Téc. em Agrimensura – Clóvis Daniel Schappo

Empresa do ano - Engenharia Consultiva Sotepa - Sociedade Técnica de Estudos, Projetos e Assessoria Ltda

Empresa do ano - Projetos e Construção Civil Viviane Quint Dorta do Amaral ME

Empresa do ano – EnergiaQuark Engenharia Ltda ME

Empresa do ano – Sondagem e Estaqueamento. Brasecol Engenharia e Fundações SA

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