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Revista Conexão das Faculdades Santo Agostinho

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1CONEXÃO/ 2012

Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Santo Agostinho

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Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Santo Agostinho

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Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Santo Agostinho

C O N E X Ã ORevista Científica da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Santo Agostinho

CONEXÃO, V. 4, N. 2/2012SEMESTRAL – ISSN 1679-7698

4 CONEXÃO/ 2012

Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Santo Agostinho

Copyright©: Instituto Educacional Santo Agostinho

DiretorProf. Msc. Antônio Eugênio Silva

CONEXÃORevista Científica da Faculdade de Ciências Sociais

Aplicadas Santo Agostinho

OrganizadoresProfª. Naiara Vieira Silva Ivo

Prof. Msc. Ricardo Carvalho de Barros

Conselho EditorialProf. Msc. Frederico Augusto Malta Ribeiro

Profª. Msc. Karen Torres C. Lafetá de AlmeidaProf. Dr. Narciso Ferreira dos Santos Neto

Profª. Msc. Simarly Maria Soares

Projeto GráficoDivisão de Comunicação e Marketing

Diagramação/capaMaria Rodrigues Mendes

Revisão LinguísticaProfª. Nely Rachel Veloso Lauton

FACULDADES SANTO AGOSTINHO

CONEXÃO, V. 4, N. 2/2012SEMESTRAL – ISSN 1679-7698

Catalogação: Edmar dos Reis de Deus – CRB/6 2486

Conexão : revista da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Santo Agostinho /Faculdades Santo Agostinho. – Vol. 4, n. 2, - . - Montes Claros : FaculdadesSanto Agostinho , 2012-v. : il. 28 cm.

SemestralVol. 4, n. 2, 2012.Organizadores: Naiara Vieira Silva Ivo, Ricardo Carvalho de Barros.

1. Ciências sociais aplicadas. I. Faculdades Santo Agostinho. Faculdade deCiências Sociais Aplicadas. II. Título

CDU: 65(05)

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Artigos

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CONEXÃO v. 4, n. 2 – Montes Claros, 2012

SUMÁRIO

..................................................................... 7

ICMS substituição tributária - um estudo de caso em microe pequenas empresas no ramo de autopeças e construção

civil na cidade de Montes Claros - MGRicardo Carvalho de Barros

Gustavo MameluqueMagna Lenise Flores da Mota

Influência da mensagem sublimar nocomportamento do consumidor

Tatiana Campos RochaNaiara Vieira Silva Ivo

Estado Capitalista ou Estado social? O dilemadesenvolvimentista brasileiroKaren Tôrres C. Lafetá de Almeida

Políticas de Ações Afirmativas: algumas considerações emtorno do ingresso dos negros no ensino superior

Otil Carlos Dias dos Santos

Inclusão e Tecnologia:o uso do computador para crianças surdas nas séries iniciais

do ensino fundamentalRúbia Larissa Ferreira Barbosa

A relevância da psicologia na educação infantilSamyra Nunes Raim Barbosa

Gerundismo: como atender sem se comprometerOscar Martins Rennó

Nely Rachel Veloso LautonCarlos Machado Santos

Normas para publicação

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ICMS substituição tributária - um estudode caso em micro e pequenas empresas

no ramo de autopeças e construção civilna cidade de Montes Claros - MG

BARROS, Ricardo Carvalho de¹MAMELUQUE, Gustavo²

MOTA, Magna Lenise Flores da3

RESUMO: Objetivou-se com este trabalho discutir aspectos do regimede recolhimento de Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços ePrestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal ede Comunicação (ICMS) através do sistema de Substituição Tributária(ST), analisando-se problemas existentes e seu impacto no capital degiro das empresas. Foram realizadas entrevistas com quatro empresáriosnos setores de autopeças e construção civil, obtendo-se ainda cópias denotas nas referidas empresas para exemplificar o tema, resguardando-seo contribuinte. O regime de recolhimento antecipado de ICMS-ST anulaos efeitos benéficos do Simples Nacional ao tornar iguais a tributaçãonessa modalidade independentemente do regime tributário adotado pelaempresa, visto que o ICMS/ST não foi contemplado pelo regimesimplificado de tributação. Do ponto de vista da gestão, exigeplanejamento cuidadoso em relação aos seus impactos no capital de giroe atenção na formação dos custos das mercadorias, uma vez que asalíquotas dos produtos enquadrados neste regime sofrem mudançasconstantes, bem como a relação de produtos enquadrados.

1 Engenheiro Agrônomo, Especialista em Administração Rural, Mestre em Produção Vegetal noSemiárido

2 Bacharel em Direito e Comunicação Social - Especialista em Administração Pública (FJP-MG).3 Contadora, especialista em Controladoria e mestranda em Administração.

ARTIGO

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ICMS TAX REPLACEMENT – A CASE STUDY IN MICRO ANDSMALL ENTERPRISES OF THE AUTOPARTS AND CIVILCONSTRUCTION SEGMENT IN THE CITY OF MONTESCLAROS - MG

SUMMARY: The objective of this paper is to discuss aspects of thesystem of tax collection of Goods and Services and Provision of ServicesInterstate and Intermunicipal Transportation and Communication (ICMS)through the system Tax Replacement (ST), analyzing the existing problemsin the system and its impact on the working capital of enterprises.Interviews were conducted with four administrators in the auto partsand construction segments, obtaining even copies of notes on accountingfirm to exemplify the theme, screening the taxpayer. The system ofadvance payment of ICMS-ST negates the beneficial effects of theSimples Nacional due to make equal the rates applied independent ofthe billing, since the ICMS-ST was not contemplated by the simplifiedtaxation scheme. From the standpoint of management, requires carefulplanning in relation to its impact on working capital and attention inpreparing cost of goods, since the rates of the products classified in thissystem undergo constant changes, as well as the relationship of framedproducts.

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INTRODUÇÃO

Para a obtenção de sucesso na administraçãode empresas, o gestor deve terconhecimentos plurais adquiridos na suaformação para exercício pleno da atividade.Conhecimentos de gestão de recursoshumanos, marketing, finanças e váriosoutros se tornam necessários. Aoempreendedor/administrador de atividadecomercial, o conhecimento de aspectostributários relacionados à composição doscustos dos produtos adquiridos em indústriasou atacadistas é de grande importância, jáque os custos estão intrinsecamente ligadosà formação dos preços de venda e, portanto,à competitividade da empresa frente aosconcorrentes.

Entre os tributos que incidem sobre acomercialização de produtos, o Imposto deCirculação de Mercadorias e Prestações deServiços de Transporte Interestadual eIntermunicipal e de Comunicação (ICMS)apresenta aspecto extremamente relevante,não apenas pelo fato de suas alíquotas seremsuperiores aos demais tributos, como pelofato de, em vários casos, o ICMS incidir,antes da comercialização efetiva dasmercadorias, num regime de recolhimentoconhecido como substituição tributária (ST).

Esse regime de apuração de ICMS-ST, namodalidade chamada “para a frente”, temcomo característica o fato de aresponsabilidade de recolhimento doimposto ocorrer antes do fato gerador,tornando-se, portanto, o primeiro elo dacadeia de comercialização (fabricante ouimportador) responsável pelo recolhimentodo imposto incidente nas saídassubsequentes da mercadoria até à chegadaao consumidor final, tornando-se, portanto,contribuinte substituto (BIAVA JÚNIOR;OYADOMARI, 2010). Para o estado,torna-se mais fácil e menos custoso fiscalizaro recolhimento do tributo efetuado por

poucos fabricantes ou importadores do quefiscalizar uma infinidade de empresas deatacado e varejo adquirentes dos produtossujeitos a esse regime.

Ainda de acordo com Biava Júnior;Oyadomari (2010), a base de cálculo para aincidência do ICMS-ST consiste na fixaçãode um valor arbitrário que seria o preço devenda estimado para o consumidor final, basede cálculo da ST. Esse valor é determinadopelo estado de Minas Gerais, baseado emmédias de preço usualmente praticadas pelomercado, obtidas em levantamento poramostragem ou através de informaçõesfornecidas por entidades representativas dossetores, sobre as quais é estabelecida umamargem de valor agregado (MVA) quesupostamente proporcionará o preço devenda ao consumidor final e sobre o qualincidirá a tributação. Em alguns casos, atabela do fabricante servirá de base para aaplicação da MVA, porém, em muitos casos,o preço final obtido não reflete o valor demercado (JORGE; COUTINHO FILHO;THEÓFHILO, 2010). A Margem de ValorAgregado é uma margem pré-determinadaque deve ser acrescida ao valor do produtopara que se chegue aos preços usualmenteencontrados no mercado, sendo as MVA’sestabelecidas através de protocolos (BOTH,WBATUBA; SALLA, 2012).

A Lei 87/1996 determina que a Margem deValor agregado, [...] será estabelecida combase em preços usualmente praticados nomercado considerado, obtidos porlevantamento, ainda que por amostragem ouatravés de informações e outros elementosfornecidos por entidades representativas dosrespectivos setores, adotando-se a médiaponderada dos preços coletados, devendo oscritérios para sua fixação ser previstos em lei.

Das variáveis do composto de marketingtradicional, o desenvolvimento de estratégiasde definição de preços eficazes talvez

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continue o mais difícil de compreender(URBANY, 2001), podendo o preço final serdefinido baseado nos custos, na demanda oupreocupações estratégicas diversas que irãovariar ao longo do tempo. E como o ICMS-ST é um tributo recolhido por antecipação ecujo valor independe do valor efetivamentepago pelo consumidor na mercadoria, torna-se então parte dos custos do produto a sercomercializado. Conseqüentemente, entenderseus mecanismos e o impacto no capital degiro das empresas é de importânciafundamental na gestão dos negócios.

O objetivo do presente trabalho é elucidaralguns aspectos do sistema de recolhimentopor Substituição Tributária nas pequenasempresas do setor de autopeças econstrução civil, mostrando algumas de suasdeficiências e como pode impactar o capitalde giro das empresas.

2 ICMS SUBSTITUIÇÃOTRIBUTÁRIA NAS MICRO EPEQUENAS EMPRESAS

Quando se fala em substituição tributária,alguns conceitos são importantes paramelhor compreensão do tema em estudo. Oregime de Substituição Tributária trata deum instituto jurídico mediante o qual seatribui a determinado contribuinte aresponsabilidade pelo recolhimento doimposto relativo a fato gerador praticado porterceiro. A responsabilidade por ST poderáser atribuída em relação a imposto incidentesobre uma ou mais operações ou prestações,sejam antecedentes, concomitantes ousubsequentes, inclusive ao valor decorrenteda diferença entre alíquotas interna einterestadual (art. 6º da Lei Complementar87/96).

A base de cálculo do imposto, para fins desubstituição tributária em relação àsoperações subsequentes, será:

1. o preço final ao consumidor fixado porórgão público competente (preço tabelado)ou;

2. o preço médio ponderado a consumidorfinal (PMPF) divulgado em portaria daSuperintendência de Tributação - SUTRI/SEF ou;

3. o preço final a consumidor sugerido pelofabricante, pelo importador ou por entidaderepresentativa dos respectivos segmentoseconômicos e aprovados em portaria daSUTRI. O valor do frete deverá ser somadoao respectivo preço, quando não incluído nomesmo ou, ainda;

4. o preço praticado pelo remetente,acrescido dos valores correspondentes afrete, seguro, impostos e outros encargostransferíveis ou cobrados do destinatário,adicionado da parcela resultante daaplicação sobre o referido montante dopercentual de margem de valor agregado(MVA) estabelecido para a mercadoria naParte 2 do Anexo XV do RICMS/02

A determinação dos produtos que estãosujeitos ao ST está estabelecida no AnexoXV do RICMS/02 na sua Parte 2 pelaclassificação fiscal apontada, levando emconsideração, também, a coluna “Descriçãodo produto”, ainda que a posição NBM/SH(Nomenclatura Brasileira de Mercadoria/Sistema Harmonizado de Designação eClassificação de Mercadorias ) alcanceoutros produtos não mencionados, emrelação aos quais não se aplica aSubstituição tributária .

O MVA é definido e registrado emProtocolos assinados entre dois ou maisEstados e o Distrito Federal, sendo que ocódigo de classificação fiscal do produtoconhecido como Nomenclatura Comum doMERCOSUL (NCM) é utilizado para se

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fazer a consulta no sítio eletrônico daSecretaria de Estado da Fazenda de MinasGerais (SEF-MG) e obter-se a MVA e asalíquotas incidentes sobre este, que podemvariar de 7% a 25%, deduzindo-se o ICMSrecolhido no estado de origem ou dentro doestado. Este NCM é estabelecido pelofabricante ou importador, que, em caso dedúvida, poderá fazer consulta à ReceitaFederal para o estabelecimento do corretoNCM do produto.

A substituição tributária ocorre comomodalidade de responsabilidade pelorecolhimento do ICMS de um contribuinteatribuída a outro. O sujeito ativo daobrigação é a pessoa jurídica de direitopúblico titular da competência para exigir oseu cumprimento (art. 119 do CTN). Isto é,a União, os Estados, o Distrito Federal e osMunicípios. O sujeito passivo da obrigaçãoprincipal é a pessoa obrigada ao pagamentode tributo ou penalidade pecuniária (art. 121do CTN). O parágrafo único do artigo 121do CTN divide o sujeito passivo emcontribuinte e responsável:

Parágrafo único. O sujeito passivo daobrigação principal diz-se:

I – contribuinte, quando tenha relação pessoale direta com a situação que constitua o respectivofato gerador;II – responsável, quando, sem revestir acondição de contribuinte, sua obrigação decorrade disposição expressa em lei. (CTN, art. 121).

Segundo a CNI/PriceWaterhouseCoopers(2010), a lei altera a responsabilidade pelocumprimento da obrigação tributária,conferindo a terceiro, que não aquele quepraticou o fato gerador diretamente, mas quepossui vinculação indireta com aquele quedeu causa ao fato. Ou seja, o contribuintesubstituto (industrial fabricante e grandesatacadista) fica responsável pelo recolhimentodo imposto de responsabilidade docontribuinte substituído (atacadista e

varejista). No tocante ao contribuinteresponsável, Oliveira et al (2011) cita:

Por isso, o contribuinte que fica responsávelpelo imposto que seria devido por outro(substituto tributário) deve estar sempre atento,sobretudo no que diz respeito aos momentosem que ficará responsável pelo recolhimentodesse imposto, bem como em relação aosdemais procedimentos contidos na legislação.Alguns procedimentos devem ser observadospelos contribuintes substitutos tributários, noque tange a aplicação, apuração, emissão eescrituração dos documentos fiscais.(OLIVEIRA et al., 2011, p. 71 e 72).

A instituição da substituição tributária estádisposta no artigo 128 do CTN que diz:

Art. 128 – Sem prejuízo do disposto nestecapítulo, a lei pode atribuir de modo expresso aresponsabilidade pelo crédito tributário aterceira pessoa, vinculada ao fato gerador darespectiva obrigação, excluindo aresponsabilidade do contribuinte ouatribuindo-a a este em caráter supletivo documprimento total ou parcial da referidaobrigação, (CTN, art. 128).

A nossa Constituição Federal prevê que alei poderá atribuir a sujeito passivo deobrigação tributária a condição deresponsável pelo pagamento de imposto oucontribuição, cujo fato gerador deva ocorrerposteriormente, assegurada a imediata epreferencial restituição da quantia paga,caso não se realize o fato gerador presumido,(Constituição Federal, art. 150, § 7º). NoEstado de Minas Gerais, a regulamentaçãodessa modalidade tributária está disposta noanexo XV do RICMS/MG., que apresentaem seu artigo 1º:

Art. 1º Ocorre a substituição tributária, quandoo recolhimento do imposto devido:I - pelo alienante ou remetente da mercadoria oupelo prestador de serviço de transporte ou decomunicação, ficar sob a responsabilidade doadquirente ou do destinatário da mercadoria oudo usuário do serviço;II - pelos adquirentes ou destinatários damercadoria, pelas operações subseqüentes, ficar

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sob a responsabilidade do alienante ou doremetente da mercadoria;III - pelo adquirente ou destinatário da mercadoriaficar sob a responsabilidade do alienante ou doremetente, nas hipóteses de entrada ourecebimento em operação interestadual de:a) mercadoria para uso, consumo ou ativopermanente;b) petróleo, de lubrificante e combustível líquidoou gasoso dele derivados ou de energia elétrica,quando não destinados à comercialização ou àindustrialização do próprio produto, ainda queo adquirente ou destinatário não seja inscritocomo contribuinte deste Estado;IV - pelo prestador do serviço de transporte ficarsob a responsabilidade do alienante ou doremetente da mercadoria ou de outro prestadorde serviço;V - pelo depositante da mercadoria, emoperações anteriores ou subseqüentes, ficar soba responsabilidade do depositário. (RICMS/MG., Anexo XV, art. 1º)

Com a criação da Lei Geral para Micro ePequenas Empresas, na qual instituiutratamento tributário diferenciado atravésdo Super Simples para micro e pequenasempresas que, de acordo com essa lei, asempresas que se enquadram nesse regimesão aquelas que faturarem até R$360.000,00para micro empresas e acima dessa faixa defaturamento até R$ 3.600.000,00 parapequena empresa, mesma definição tratadaneste trabalho. A lei geral não incluiu nessasistemática o ICMS/ST, o que vem tratandoas micro e pequenas empresas da mesmaforma que as grandes empresas, pois no quese refere ao ICMS/ST, que é tributo dosmais significativos na composição do custoe preço de venda dos produto, faz com queessas empresas não possuam a “vantagem”que a lei geral trouxe. Além disso, o ICMS/ST é pago no momento da entrada damercadoria no território mineiro,independentemente do momento de suavenda, dessa forma fazendo a antecipaçãodo pagamento do imposto, descapitalizandoa empresa e gerando maior necessidade decapital de giro, o que não ocorreria, se nãohouvesse incidência do ICMS/ST nas

mercadoria adquiridas pelas micro epequenas empresas.

METODOLOGIA

Neste estudo, a metodologia utilizada foi umapesquisa exploratória qualitativa, consideradopor Markone e Lakatos (2002) como um tipode pesquisa em que o pesquisador busca obterum maior conhecimento sobre o assunto,tema ou problema da pesquisa em todas assuas perspectivas e que, no segmentometodológico, é apropriada para pesquisasincipientes e iniciais, na busca porcompreender e entender os fenômenosexistentes e que servirão como embasamentopara suprir os estudos existentes.

Segundo Gil (1999), as pesquisas qualitativassão utilizadas quando é necessário que opesquisador busque compreender os“fenômenos segundo a perspectiva dosparticipantes da situação estudada e a partirdaí situe sua interpretação”, de maneira agarantir a fidelidade e coerência dasinformações obtidas.

O trabalho foi elaborado em três etapas. Naprimeira etapa, os pesquisadores elaboraramuma pesquisa de cunho bibliográfico sobreo assunto e com pertinência ao tema objetodo estudo, verificando a teoria base para asua abordagem.

Gil (1999) conceitua a pesquisa bibliográficacomo aquela que busca obter os dados juntoa fontes bibliográficas fidedignas, tais como:livros, revistas, artigos científicos, materiaisexplícitos e elaborados de forma científica.

Na segunda etapa, o estudo foi realizado,com base em informações obtidas emempresas de construção civil e autopeças,situadas na cidade de Montes Claros. Asinformações foram coletadas pela dapesquisa documental efetuada nas empresasatravés das notas fiscais, mantendo-se sigilo

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destas, base para a obtenção dos dados. ParaGil (1999), a pesquisa documental sediferencia da pesquisa bibliográfica devidoà natureza das fontes, sendo que “a pesquisadocumental vale-se de materiais que nãoreceberam ainda um tratamento analítico.”

Na terceira etapa, desenvolveu-se umapesquisa de campo, por meio de um estudode caso que, nos meios científicos, éconsiderado como um “meio de organizaros dados sociais obtidos, preservando ocaráter unitário do objeto social estudado”(MARCONE; LAKATOS, 2002, p. 28).

Os dados foram coletados nas empresas, pormeio de entrevistas não gravadas comproprietários de empresas e tomadas notassobre os aspectos abordados. Foramentrevistados dois empresários do ramo daconstrução civil e dois empresários do setorde autopeças. Com a pesquisa documentalefetuada nas empresas, com as notas fiscaisde entrada, foi possível demonstrar aspectosenvolvidos no cálculo do ICMS-ST. Com ointuito de preservar as empresas objeto deestudo, sua razão social e a das demais forammantidas em sigilo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observou-se que a classificação fiscal dosprodutos (NCM) fornecidos pelosfabricantes carrega incoerências que incidem

diretamente sobre o preço final dosprodutos, uma vez que nem todosencontram-se sob o regime de ST, tampoucoestão submetidos às mesmas alíquotasquando estão enquadrados nesse sistema.

Numa das empresas estudadas, encontramosduas notas fiscais com o mesmo produto(roda para carretinha manual ou mecanizada)de diferentes fornecedores, ambos do estadode São Paulo, com classificações fiscaisdistintas, impactando diretamente o preçodo produto, como demonstrado nas notasabaixo (Figura 1).

Em ambos os casos, os quatro númerosiniciais do NCM são idênticos, porém osquatro últimos números tornam os produtosdo fornecedor 1 isentos de aplicação de MVA,pagando somente a diferença de alíquotainterestadual (6%), sendo os produtos dosegundo fornecedor sujeitos à MVA ajustadode 50,24% e em seguida tributado em 18%.No NCM inicial de ambos, verifica-se adescrição “engates para reboques esemirreboques”, descrição que não bate como material observado. No caso, como o NCMde ambos não corresponde ao visto, tantopode o fornecedor 1 estar sonegando (porignorância ou busca de vantagem indevida),como o fornecedor 2 pode estar perdendocompetitividade por incluir seu material numNCM errado. A eventual fiscalização naentrada de um produto poderia fazer com que

Fornecedor 1:

Fornecedor 2:

FIGURA 1 - Fornecedores

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ambos fossem advertidos a enquadrar seusprodutos numa outra classificação, mas se oproduto não é conhecido e não é de compraconstante, para efeitos de fiscalização dorecolhimento, vale a descrição do NCM naNF-e.

A complexidade advinda de uma infinidadede classificações fiscais, cada uma delassujeita a um tipo de tributação nasdescrições presentes na legislação, torna atarefa de se proceder ao corretorecolhimento difícil até para contabilistas.Em pesquisa realizada por Silva et al (2012),através de estudo multi casos em escritórioscontábeis, verificou-se que os contadorestiveram dificuldade com a sistemática, ocálculo e preenchimento das notas fiscaisonde houvesse incidência de substituiçãotributária. Verificou-se que a maioria doscontadores apresentou baixo conhecimentosobre o regime ST, conhecendo apenas asistemática da substituição, desconhecendodiferimento do imposto (espécie desubstituição para trás que tem umprocedimento de tributação do ICMS emque há a incidência do imposto na operação,porém o momento do pagamento sofrepostergação).

A necessidade de atualização constante porparte dos contadores é de extrema

importância, uma vez que o próprio site daSecretaria da Fazenda do Estado de MinasGerais exibe a possibilidade de atualizaçãode download das regras de tributaçãoincidentes sobre os diversos produtos, quesofrem mudanças constantes. Verificando-se cada classe de produtos ao longo dotempo, em consulta pública, atesta-se umaenormidade de decretos alterando alíquotas,incluindo ou excluindo produtos da listageme mostrando o elevado grau de improvisaçãopresente nas regras tributárias. Para oempresário ou administrador, tal fatoreveste-se de importância porque osprodutos submetidos ao regime de STsofrerão tributação fixa pagaantecipadamente, independentemente dopreço de venda, cujas alíquotascomponentes dos custos poderão variar aolongo do tempo, de acordo com as regrasmutáveis por decreto a qualquer momento,havendo ainda o risco de recolhimento porvalor errado, por não acompanhamento namudança das regras da legislação pertinente.

Caso apresentado em uma das empresasestudadas mostra que há dificuldade atéentre os próprios servidores da SecretariaEstadual da Fazenda, a qual se repete emoutros diversos estados da federação, emestabelecer qual o recolhimento correto deST sobre determinados produtos (Figura 2).

FIGURA 2 - Caso 1

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O comprador do produto acima solicitou àcontabilista responsável que calculassequanto ficaria o ICMS-ST sobre a NF-e novalor de R$4700,00, sendo informado queficaria em R$679,78. Considera-se que oimposto (MVA= ajustado de 47,02%) seriacom alíquota de 18% abatendo crédito de12%, portanto ICMS-ST= (R$4700,00 x1,4702 x 0,18) obteve-se este valor.Entretanto, foi surpreendido ao fecharnegócio e encaminhar a nota pararecolhimento ao receber um valor deR$914,79, o que provocou indignação (abase de cálculo de ICMS do fornecedorestava reduzida por uma lei de outro estadoda federação). Indo à receita, encontrou-seem um canto recôndito da lei tributária quehá uma redução na base de cálculo deprodutos agrícolas no estado de MinasGerais, através do convênio 52/191,tornando o valor pago obtido da seguinteforma: (R$4700,00 x 1,4702 x 0,18 x 0,4667)– R$329,00 = R$251,48. O comprador daempresa indignou-se ao ver que, se lhehouvessem apresentado a guia no valorinicial proposto (R$679,78), teria pagadosem questionar, o que encareceria o produtoe tiraria competitividade da empresa nomercado. O fato também ressalta que amelhor tática para as empresas é procurarandar dentro da lei, já que o ICMS-STcorreto, e no caso de valor inferior, foi obtidocom informação dentro da SEF-MG.

Dificilmente acharíamos empresário que,sinceramente, achasse agradável recolherimpostos, mas seu recolhimento corretoevita aborrecimentos futuros e quebra deriqueza fictícia adquirida indevidamente,quando o Estado vem cobrar o seu quinhãocorreto. As alíquotas tributárias sãorelativamente conhecidas, enquanto adesordem administrativa e a tentativa de“ser esperto” podem certamente gerar osurgimento de sócios ocultos com alíquotasdesconhecidas. A palavra relativamente

ocorre porque se verifica que há dúvidassérias na aplicação da lei não só entrecontabilistas como até entre os fiscais dareceita. Talvez devido a uma redaçãocomplexa, cheia de itens e subitens esituações diferenciadas, agravada pela guerrafiscal entre os estados da federação na buscapor investimentos e receita.

De acordo com Oliveira; Schmidt (2011), aaplicação do ICMS-ST ao custo dasmercadorias após a colocação da margemde comercialização seria uma boa forma debaixar o preço final do produto. Entretanto,em um país onde a taxa de juros para capitalde giro para pessoa jurídica oscilava entreuma taxa mínima de 0,77% ao mês a ummáximo de 4,59% ao mês (BANCOCENTRAL DO BRASIL), com média de2% ao mês na data pesquisada,consideramos que, além de ser inclusocomo fator inicial do preço, deve seracrescido de encargos para fins de cálculoproporcionais ao prazo de pagamentoconcedido pelo fornecedor. Casos em quehaja uma opção de prazos de pagamentodilatado por fornecedores, necessitam deuma reserva de capital de giro pararecolhimento do ICMS-ST à vista, que,dependendo do volume de compra e dasalíquotas incidentes, representam umasangria considerável no caixa das empresas.Nesse caso, enquanto os fornecedores atuamfornecendo o oxigênio necessário para asatividades, financiando o capital de giro naforma de produto, o sistema de recolhimentopor ST age como um dreno no caixa. Talsistema ainda age como um fator inibidordo empreendedorismo na abertura de novasempresas, já que a primeira coisa a se fazerao montar estoques é realizar o recolhimentode tributos. O empresário recolhe o impostode uma mercadoria que pode ficar emestoque por tempo indeterminado, sendoincerto o retorno do valor pago(OLIVEIRA; FARONI, 2007).

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A substituição tributária, do modo como étratada atualmente, é responsável pordiminuir a eficácia do Simples Nacional,regime de tributação simplificado para microe pequenas empresas que unificam impostos.Se uma indústria optante do SimplesNacional, por exemplo, produz um produtoque tem ICMS pago por ST, terá que pagara alíquota do produto em separado e realizaruma contabilidade paralela para este,gerando custos com os quais a pequenaempresa nem sempre consegue lidar. Apequena empresa também precisa recolhero imposto antes de receber pelo produto, oque cria uma necessidade de capital de giroque é crítica para os pequenos. O fato de asmargens de valor agregado utilizadasprejudicarem a competitividade daspequenas empresas se dá devido a estas nãopossuírem economia de escala, precisandovender seus produtos com uma margem delucro maior do que a das grandes parasustentar seus negócios, mas pagando omesmo imposto.

Quando se olha a classificação realizada peloBanco Mundial (THE WORLD BANK,2012) relativa ao ambiente de negócios em183 diferentes países, avaliando aspectosfacilitadores de sua ocorrência, o Brasilencontra-se na posição de 122º lugar, caindo6 posições em relação à sua posição em2011. Isso implica procedimentos maisonerosos e mais burocracia para abrir umnegócio, obter alvarás de construção,registrar uma propriedade, exportar ouimportar bens e pagar impostos. Ainda deacordo com o Banco Mundial apud Pugliese(2012), em 2010, o Brasil liderou o rankingcomo o país em que se gastou mais tempopara apurar e recolher tributos (em torno de2600 horas/ano).

O emaranhado tributário ao qual vem-sesomar o ST faz com que grande parte do custooperacional das empresas seja gasto com asistemática de apuração dos tributos, sendodesmembrados esses custos, de acordo como proposto por Bertolucci (2005):

FONTE: Bertolucci, 2005.

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O quadro acima mostrado por Bertolucci(2005) engloba os custos que incidem sobreo estado e sobre as empresas, mas pegando-se o ramo do fluxograma que engloba ocusto de conformidade das pessoas físicase jurídicas, não é difícil imaginar e nomearalguns desses custos. Assim, entram oscustos de manutenção de uma contabilidadecomplexa, arquivamento de documentos,despesas de consultas ao estado e despesasjurídicas eventuais na consulta de assessorestributários, custo de processamento de dadose assistência em tecnologia da informação,treinamento interno para a realização detarefas ligadas à tributação, além daassinatura de periódicos especializados paramanter a empresa atualizada frente a regrasem constante mudança (BERTOLUCCIapud PUGLIESE, 2012). Certamente,quando se fala da falta de competitividadedo Brasil no comércio internacional com oepíteto de “Custo Brasil”, esses custoscitados estão entre seus componentes.

Um dos entrevistados citou como um fatorcomplicador no regime ST a ocorrência deerros de remessa por parte do fabricante.Nesse caso, a mercadoria será devolvida como imposto já recolhido, sendo que a remessaposterior correta estará sujeita a novorecolhimento por ST, uma vez que cadarecolhimento do tributo é atrelado adeterminado número de nota fiscal, nãopodendo ser compensado em outra nota. Nocaso, a empresa deve entrar com pedido deressarcimento do ICMS recolhido sobre a

nota fiscal devolvida, o que pode levarmeses, segundo um dos entrevistados.

O regime de recolhimento por ST veio aindaencarecer sobremaneira os custos delogística das empresas, como demonstradona figura 3.

No exemplo dado de fornecedor fabricanteemitindo NF-e no estado de São Paulo,verifica-se que, dentro desse estado, oproduto não está incluído no rol dos sujeitosà ST (código fiscal da operação 6102).Entretanto, olhando-se o NCM, talmercadoria está sujeita a um MVA ajustadode 50,24 dentro do estado de Minas Gerais.Sendo assim, a empresa deve já recolher oICMS-ST de: (R$1493,33 x 1,5024 x 0,18)– R$162,91 = R$240,93. Observa-se quese paga ICMS sobre o IPI, o qual não geracrédito para abater no valor a ser pago.Como o valor de frete desse tipo de produtoestá em torno de 5% do valor total da nota,encontramos que o frete de R$74,67 estátambém submetido ao recolhimento de ST,no valor de R$74,67 x 1,5024 x 0,18 =R$20,19. Não é permitido deduzir o ICMSpago pela transportadora no estado de SãoPaulo, portanto, o custo de logística ficouonerado em 27%. Como o fabricanteconcede 30 dias para o cliente efetuar opagamento, é razoável acrescentar um custofinanceiro de R$5,22 sobre os impostospagos à vista. Portanto, o custo final de umanota fiscal de R$1493,33 torna-seR$1834,34. E como o imposto recolhido

FIGURA 3 - Nota Fiscal

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independe do valor com que tal produto serácomercializado, sobre esse valor deveaplicar-se o Mark up da empresa, fazendocom que o preço final não coincida com ovalor estabelecido na tabela de MVA namaioria dos casos, tanto para mais quantopara menos.

Outro fator citado por um entrevistadomenciona a perda de competitividade navenda a empresas que compram produtospara uso em seus processos que estãoenquadrados no regime ST. Nesse caso, sendoo produto um componente de seus custos,não se aplica a MVA sobre o produto, e nocaso de compra em outro estado, aplica-sesomente a diferença de alíquotainterestadual. No caso dos combustíveis, foirelatada a compra deste por empresas delogística e seu fornecimento a custo maisbaixo a caminhoneiros terceirizados, gerandouma competição desigual com postos decombustíveis. Fabricantes de outro estado quevendem seus produtos para revendas e outrosfabricantes costumam dar um descontoadicional às revendas pela constância nacompra. Em um caso observado, o descontoadicional de 20% concedido sobre umproduto tornava a revenda em Minas Geraisnão competitiva, já que, comprandodiretamente do fabricante situado em SãoPaulo, a indústria que usava o produto emMinas Gerais paga a diferença de 6% entreas alíquotas interestaduais, e o produto comIPI de 5% estava sujeito a MVA de 50,24% esaída de 18% a serem pagos pelarevendedora em MG.

O fato de a maioria das indústrias estarlocalizada em São Paulo, que certamentedetém o maior parque fabril do país, faz comque erros cometidos por ignorância ou máfé por parte dos fornecedores deste estadoresultem em punições ao comprador situadoem Minas Gerais, que se torna solidário porimposição, sendo punido por erros de

terceiros. Isso torna o gestor uma espéciede fiscal de seus fornecedores, já que oestado de MG não tem meios para punirdiretamente erro cometido em outro estado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudos sobre o regime de substituiçãotributária devem ser aperfeiçoados, já queclamar por sua extinção será gritar no vazio.O aumento de arrecadação propiciado poresse sistema faz com que este tenha vindopara ficar, portanto, os estudos podem, aomenos, demonstrar suas distorções econtribuir para mitigar os danos e injustiçastrazidos pelo sistema.

As empresas optantes pelo Simples Nacionalnão vêm suportando o financiamento daantecipação do ICMS, principalmente da STInterna, de modo especial para as empresasem que o giro do estoque é mais lento. Talvezo estado pudesse alongar o prazo derecolhimento, o que já daria fôlego ao caixadas empresas.

Observou-se que a correta classificação doproduto na NCM/NBM gera conflitos deentendimento entre o Fisco/Indústrias/Comerciantes quanto à obrigatoriedade ounão de incluir na tributação do Regime ST. Adefinição das Margens de Valor agregado viaProtocolo ICMS ou ST interna às vezes semostra distante da realidade do mercado. Issovem acontecendo com relação à recente STinterna para produtos esportivos, cuja MVAbeira a 90 por cento, enquanto, segundoinformações do setor em Minas Gerais, essamargem não supera os 35 por cento.

Empresas inescrupulosas (exceção) podemutilizar a errônea classificação do NBM para“fugir” da tributação pelo Regime de ST.

O tema envolve necessidade de aprofunda-mento que excede a competência de um

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artigo. A necessidade de estudo é deinteresse não só dos gestores eadministradores de empresas, como deinteresse do estado de Minas Gerais, já quea despeito de sermos uma confederação,estados muitas vezes não “conversam” entresi do ponto de vista tributário, gerandodistorções e triangulações para a fuga de umatributação voraz e que não se lembra de queempresas fracas certamente não serão boasfontes geradoras de receita.

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Influência da mensagemsubliminar no comportamento

do consumidor

ROCHA, Tatiana Campos¹IVO, Naiara Vieira Silva²

RESUMO: Entender as influências - internas e externas - que levam osconsumidores à decisão de compra vem desafiando os profissionais. Afim de compreender essa atitude de escolha, diversas interfaces entre asciências econômicas, sociológicas, psicológicas se conectam aos aspectosmercadológicos e tecnológicos. Mas, quais mecanismos são acionadospara levarem o consumidor à decisão de compra? O presente estudovisa relacionar a influência que as mensagens subliminares podem exercerno comportamento de compra ou decisão dos consumidores. Pelaquantidade excessiva de informações a que os consumidores são expostosdiariamente, parte delas são armazenadas pelo subconsciente. Percebeu-se, por meio de estudos já realizados, as possibilidades de manipulaçãoou persuasão a partir do registro subconsciente das mensagens chamadasde subliminares, inf luenciando, assim, o comportamento dosconsumidores.

¹ Acadêmica de Pós-graduação de Gestão de Negócios Empresariais e Marketing das FaculdadesSanto Agostinho. Graduada em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo – FaculdadesUnidas do Norte de Minas – Montes Claros/ MG. Professora de Português Instrumental eComunicação Empresarial - Faculdades Santo Agostinho e Gestão de Marketing e Vendas –Senac, Montes Claros/ MG. E-mail: [email protected]

² Professora Orientadora. Professora do curso de Administração das Faculdades Santo Agostinho,Montes Claros/ MG, mestranda em Administração pela Fead – Belo Horizonte /MG. E-mail:[email protected]

ARTIGO

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PALAVRAS-CHAVE: Comportamento do consumidor; influência,mensagem subliminar, inconsciente.

ABSTRACT: Understanding the influences - both internal and external- that lead consumers to purchase decision is challenging professionals.In order to understand this attitude of choice, various interfaces betweeneconomics, sociological, psychological, connect to aspects of marketingand technology. But, what mechanisms are triggered that lead to theconsumer buying decision? This study aims to relate the influence ofsubliminal messages can have on the buying behavior of consumers ordecision. The excessive amount of information that consumers areexposed daily, most of them are stored by the subconscious. It was noticedby previous studies, the possibilities of manipulation or persuasion fromthe subconscious of the record called subliminal messages, influencingconsumer behavior.

KEY WORDS: Consumer behavior, influence, subliminal, unconscious.

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1 INTRODUÇÃO

Entender o comportamento do consumidortem despertado, cada dia, mais interesse dasdiversas ciências em busca de respostas quepermitam maior compreensão dos motivosque levam o consumidor a escolherdeterminados bens e serviços. E, também,tem desafiado as empresas, que precisam sedesdobrar na apresentação de estratégias deconvencimento para esse exigenteconsumidor.

Nesse cenário de bombardeio deinformações sobre o consumidor, diferentesestratégias são aplicadas pelas empresas afim de influenciar seus hábitos de consumoe uma dessas estratégias refere-se àaplicação de mensagem subliminar. Esseartifício pode acionar mecanismos internosdos processos cognitivos do subconscientehumano, ocultando o consumo consciente.

Alguns autores mencionados neste estudodizem que essa influência pode acontecerem situações corriqueiras, como ao sefolhear revista e jornal sem ler nem focar aatenção ou quando se passa de carro porcartazes e outdoors que não são olhados. Issoporque subliminar é todo estímuloproduzido abaixo do limiar de nossaconsciência, ou seja, as mensagenssubliminares utilizadas pelas empresaspodem ser consideradas pílulas que não sãoendereçadas ao consumo consciente.

A intenção deste estudo ultrapassa oentendimento do conceito de mensagemsubliminar, pois procura levantar inferênciasa respeito das possíveis influênciassubliminares no comportamento doconsumidor, fato que se justifica pela grandediscussão acerca do tema, talvez até por seuposicionamento ético e legal.

Para tanto, buscou-se, na revisão de literatura,a base teórica para a fundamentação deste

estudo, constituído de três seções, além daintrodução e considerações finais. Na primeiraseção, apresenta-se o comportamento doconsumidor e suas variáveis de influência. Asegunda seção conceitua a mensagemsubliminar numa percepção ética e legal e suapossível interferência sobre os hábitos deconsumo e, por último, registram-se casossobre a aplicação dessa técnica.

A relevância do tema é reforçada quando seobservam, nas obras que abordam ocomportamento do consumidor, citaçõesreferentes à percepção subliminar através deexemplos de estudos das sensações, que é amaneira como as pessoas reagem àsinformações recebidas por meio dos sentidosantes de compreender ou dar significado aoestímulo, conforme explorado por Mowene Minor (2003) na obra Comportamento doConsumidor e por Samara e Morsch (2005)em Comportamento do Consumidor –Conceitos e casos.

2 O COMPORTAMENTO DOCONSUMIDOR E SUAS VARIÁVEISDE INFLUÊNCIA

Analisar o comportamento do consumidoré entender os motivos que o levam aconsumir e escolher determinados bens eserviços. Para Schiffman e Kanuk (2000),dentre outras definições, comportamento doconsumidor engloba o estudo do quecomprar, por que compra e onde compra.

De acordo com Samara e Morsh (2005), oconsumidor é toda entidade compradorapotencial que tem necessidade ou um desejoa satisfazer e o que determina seucomportamento é um conjunto de estágiosque envolvem a seleção, a compra, o uso oua disposição de produtos, ideias ouexperiências para satisfazer tais desejos enecessidades. Para Mowen e Minor (2003),é o estudo das unidades compradoras e dosprocessos de troca envolvidos na aquisição,

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no consumo e na disposição de mercadorias,serviços, experiências e ideias.

A influência comportamental ocorre quandofatores externos impulsionam osconsumidores a fazerem escolhas, mesmoser ter opiniões definidas sobre o produtoou serviço escolhido. Nota-se que, emalguns casos, os consumidores não fazemsuas escolhas conforme um processoestritamente racional.

Essa atitude de escolha envolve diversasinterfaces, como economia, sociologia,psicologia e outras ciências. Para Drucker(1998), apud Samara e Morsch (2005),conhecer os mecanismos internos que levamo consumidor à decisão de compra éestratégico para conquistar clientes.

A tomada de decisão pelo consumidor passapor diversas etapas, como a percepção doproblema, deslocamento, busca, avaliaçãodas alternativas, a escolha e a pós-aquisição.Essas etapas são influenciadas pelaeconomia e pela psicologia cognitiva.

Nesse âmbito, as dimensões que influenciamo comportamento dos consumidoresclassificam-se em influências socioculturais,situacionais e psicológicas.

Samara e Morsch (2005) explicam que asinfluências socioculturais envolvemdimensões sociais e culturais, sendo umconjunto de forças que afetam a conduta dosconsumidores, sem levar em consideraçãosuas características psicológicas e pessoais.Essas influências envolvem cultura, classesocial, subculturas, grupos de referência efamília.

Os fatores situacionais que influenciam ocomportamento do consumidor vão desde autilização estratégica de cores, cheiros, sons,luminosidades até a disposições dos produtos

em uma prateleira com o objetivo de induzirdeterminado comportamento, independen-temente de crenças e sentimentos, através dosmecanismos sensoriais de visão, audição,olfato e tato.

Exemplo de uma dessas influências éapontada por Mowen e Minor (2003) ao citarum estudo que analisou a influência damúsica no comportamento humano. Umsupermercado experimentou, por umperíodo de noves semanas, a ausência demúsica, música lenta, e música de ritmoagitado. As compram aumentavam quandose tocava música lenta. Os grupos nãoidentificaram ter consciência da música, oque indica sua atuação abaixo do nível daconsciência.

As influências psicológicas envolvemnecessidades, motivação humana, percepção,atitudes, aprendizado e personalidade.Conforme Samara e Morsh (2005), todasessas vertentes apresentam papel significanteno comportamento dos consumidores e sãoimportantes para nortear as razõescomportamentais.

Vale destacar, para o presente estudo, oâmbito da percepção e personalidade.Conforme Solomon (2002), apud Samara eMorsh (2005):

A sensação está relacionada diretamente com areação imediata de nossos receptores sensoriais– olhos, ouvidos, boca, nariz, mãos – aestímulos básicos como cor, luz, som, odorese texturas. O processo pelo qual essas sensaçõessão organizadas, forma nossa percepção.

Samara e Morsh (2005) destacam como apersonalidade é identificada pela teoriapsicanalítica:

A teoria freudiana, ou teoria psicanalíticas, vê apersonalidade como o resultado final das forçasque atuam dentro do indivíduo. SigmundFreud, o fundador da psicanálise, introduziu oconceito de inconsciente e defendeu que a

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personalidade é guiada por motivos conscientese inconscientes (desejos).

Todas essas influências impactam nocomportamento do consumidor. Boone &Kurtz (1998) explicam que ocomportamento do consumidor em relaçãoàs suas variáveis de influências pode serrepresentado pela fórmula: C = f (I,P), ondecomportamento do consumidor (C) é umafunção (f) da interação de determinantesinterpessoais (I), como cultura, família egrupos de referência, e determinantespessoais (P), como atitudes, aprendizado epercepção.

3 AFINAL, O QUE É MENSAGEMSUBLIMINAR?

Calazans (2006) pontua que subliminar étodo estímulo produzido abaixo do limiarda consciência humana, isto é, de acordocom Ferrés (1998), apud Calazans (2006),considera-se subliminar qualquer estímuloque não é percebido de maneira consciente,seja porque foi mascarado ou camuflado peloemissor, porque é captado desde uma atitudede grande excitação emotiva por parte doreceptor, porque se produz uma saturaçãode informações ou porque as comunicaçõessão indiretas e aceitas de uma maneirainadvertida.

Portanto, analisar a relação da influência damensagem subliminar no comportamento decompra do consumidor justifica-se pelo fatode identificar alguns dos mecanismosinternos que influenciam essecomportamento, conforme proposto porDrucker (1998) e também por McLuhan(1979), quando diz que os anúncios não sãoendereçados ao consumo consciente. São

pílulas subliminares para o subconscientecom o fito de exercer um feitiço hipnótico.E, ainda, por Channouf (2000), apudCalazans (2006), ao ressaltar que amensagem subliminar é considerada umobjeto de estudo, porque os processoscognitivos estudados em psicologiamostraram-se compatíveis com apossibilidade de perceber sem consciência.

Quanto a seus aspectos legais, no Brasil nãohá registro de leis que proíbam a utilizaçãodas mensagens subliminares. No entanto, oArtigo 29 do Código de Ética dosPublicitários exprime: “Este código não seocupa da chamada ‘propaganda subliminar’,por não se tratar de técnica comprovada,jamais detectada de forma juridicamenteinconteste. São condenadas, no entanto,quaisquer tentativas destinadas a produzirefeitos ‘subliminares’ em publicidade oupropaganda”.

Está registrado também no Artigo 36,Sessão III do Código de Defesa doConsumidor: “A publicidade deve serveiculada de tal forma que o consumidor,fácil e imediatamente, a identifique comotal”. Parágrafo único: O fornecedor, napublicidade de seus produtos ou serviços,manterá, em seu poder, para informação doslegítimos interessados, os dados fáticos,técnicos e científicos que dão sustentação àmensagem.

De acordo com McLEAN (1990), apudCalazans (2006), o cérebro humano édividido em três cérebros, sendo neocórtex,complexo límbico – cérebro mamífero ehipotálamo – cérebro réptil.

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FIGURA 1: Os três cérebros – Teoria de McLean -Propaganda subliminar multimídia pág. 63

Essa teoria demonstra como o cérebrohumano reage ao estímulo subliminar,conforme revela a figura anterior. ONeocórtex (1) refere-se à fisiologia: lobosfrontais, parietais, temporais e occipitaiscujas funções são: linguagem simbólica,leitura, cálculo, criatividade. O Complexolímbico – Cérebro mamífero (2) relaciona-se à fisiologia: hipófise, pituitária,hipocampo etc.e suas funções são: instintosde rebanho, defesa da prole, altruísmo,filantropia e, por último, o Hipotálamo –Cérebro réptil (3) que se destina à fisiologia:ollfacto striatum, coreus striatum, globus palliduscom as funções de agressão, fuga,alimentação, sexualidade, território.

As mensagens subliminares com conteúdosexual dirigem-se ao cérebro reptiliano.Assim sendo, os ícones subliminares sãodirigidos ao lado direito do cérebro e aohipotálamo reptiliano. Os olhos podem nãoter visto, mas o coração reageemocionalmente ao sinal subliminar.

Estudos do Dr. Poetzle (1919), apudCalazans (2006), documentaram que osolhos captam cerca cem mil fixaçõesdiariamente e que uma pequenaporcentagem é fixada conscientemente,sendo o restante, subliminar. Mucchielli(1978) afirma que a percepção subliminar

acontece até mesmo ao se folhear revistas ejornais sem ler nem focar a atenção, ouquando se passa de carro por cartazes eoutdoors que não são olhados diretamente.Key (1974), apud Calazans (2006), explicaque a parte central do olho, a fóvea, éresponsável pelo foco da visão consciente ea visão periférica, o canto do olho, compostodas células bastonetes, é a parte responsávelpelo registro visual das percepçõessubliminares.

Diversas são as formas de entendimento daaplicação da mensagem subliminar e suasreais influências, não se podendo determinarse influências positivas ou negativas. Dentreos entendimentos citados, destaca-se,também, a Psicologia Motivacional, quandoSilverman (1964), apud Calazans (2006),iniciou a publicação de artigos sobre seu“método de ativação psicodinâmicasubliminar”, demonstrando que a tecnologiade projeção subliminar taquicoscópia tornapossível testar empiricamente hipótesespsicanalíticas. Entre seus trabalhos,encontram-se artigos sobre TratamentoClínico Subliminar da obesidade,esquizofrenia, homossexualidade, dentreoutros. Desde 1985, a empresa de tecnologiasubliminar, Llewellyn, mantém no mercadoum catálogo de fitas de vídeos contendomensagens subliminares com temas, comoperder peso, parar de fumar, baixar a pressãoarterial, combater a depressão etc. Hátambém registros de vídeos antidepressivoscomercializados pela empresa Valley of theSun.

Segundo Calazans, os SoftwaresSubliminares vêm sendo aplicados pelosdepartamentos de pessoal e de recursoshumanos de diversas empresas norte-americanas com o objetivo de aumentar aprodutividade dos funcionários. Osprogramas piscam frases em velocidadetaquicoscópica como “trabalhe maisdepressa” ou “adoro meu serviço”. Acredita-

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se que esses programas geram efeitossemelhantes à sugestão pós-hipnótica,induzindo o trabalhador a acreditar que sedeve ser mais rápido e dedicado no trabalho,que sua jornada é curta e agradável, seuemprego é o melhor possível etc.

Contudo, Channouf (2000) afirma que apercepção subliminar ganhou umalegitimidade científica, quando Dixon(1971), apud Calazans (2006), concluiu queestímulos subliminares ativam receptoresperiféricos sem efeito consciente.

Ao detalhar o estudo das sensações, osestudiosos Mowen e Minor (2003) citam queos efeitos subliminares são reforçados pelateoria do efeito aumentado, explicando que,durante várias exposições de um estímulo,desenvolve-se uma representação sobre eleno sistema nervoso da pessoa e que, emalgum momento, essa representação alcançaum limiar comportamental, causandomudanças nas atitudes do consumidor, e pelateoria psicodinâmica da excitação que ressalta ofato de que desejos inconscientes de sepraticar determinados comportamentospodem ser ativados por estímulosmanifestados inconscientemente.

Já os estudiosos Samara e Morsch (2005)afirmam que a percepção humana é seletivae que os olhos e a mente procuram epercebem apenas as informações queinteressam a cada receptor. Portanto,também concordam que é nesse contextoque a percepção pode ser afetada pelosliminares sensoriais, estímulos nãopercebíveis, ocorrendo a percepçãosubliminar. Dessa forma, os autoressugerem:

Subliminar = maior quantidade de informação menor tempo de exposição

A teoria psicanalítica de Freud vê apersonalidade como resultado das forças que

atuam no indivíduo e defende que essapersonalidade é movida por motivosconscientes e inconscientes. Nessaperspectiva, a motivação e a personalidadehumana seriam resultados impulsivos doinconsciente. Sua teoria também informaque as pessoas são conscientes apenas deuma pequena parcela das forças queimpulsionam seu comportamento.

Levando em consideração o processamentodas informações, alguns fatores influenciama memória dos consumidores quanto àsinformações recebidas. Existem três tiposde armazenamento. A memória sensorialque é a impressão imediata ao estímulo, atemporária, local onde se armazenaminformações para serem processadas e amemória permanente que armazenadefinitivamente a informação.

Assim, os processos de controle de memóriainfluenciam tanto consciente quantoinconscientemente a codificação erecuperação de informações.

4 CASOS DE APLICAÇÃO DAMENSAGEM SUBLIMINAR E OCOMPORTAMENTO DOCONSUMIDOR

Ao longo dos anos, diversos registros daaplicação da mensagem subliminar servemcomo exemplos que configuram avulnerabilidade do consumidor diante dessasestratégias.

O primeiro registro de aplicação damensagem subliminar para influenciar ocomportamento de compra do consumidorfoi feito em 1956, quando, em uma sessãode cinema, durante o filme Picnic, projetou-se a frase “Drink Coke” (“Beba Coca-Cola”), na velocidade de 1/3.000 desegundo cada vez. A experiência foirealizada por seis semanas, alegando umaumento em 57,7% nas vendas no intervalo

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das sessões. Esse experimento foi aplicadopela firma de Jim Vicary, SubliminalProjection Company em Nova Jersey.

Em 1980, Christiane Gade explica, em suaobra A Psicologia do Consumidor, que oexperimento foi feito com a utilização deum taquicoscópio. Este pode sercomparado a um projetor de slide e, naquelecaso, foi projetado sobreposto ao filme emuma velocidade que não permitia apercepção consciente. Brown (1976) cita oexperimento em sua obra Técnicas depersuasão: da propaganda à lavagemcerebral, explicando o fato de as palavrasserem projetadas tão depressa,impossibilitando a mente consciente depercebê-las.

Outro registro foi a veiculação de um filmepublicitário do jogo “Kusker Du”, em que

foi inserida a expressão “compre-o”, quatrovezes em frações de segundo, tambémsobreposta à imagem e imperceptívelconscientemente.

As histórias em quadrinhos também sãocitadas como subliminares, uma vez que afóvea do olho centraliza e foca as letras, otexto. Assim, os desenhos são percebidos derelance pela visão periférica, como fundosubliminar.

Até mesmo na escolha da letra a serutilizada, notam-se efeitos subliminares,conforme demonstra Calazans (2006) aoafirmar que “cada família de letras apresentauma personalidade que tem efeitospsicológicos subliminares, transmitidoscomo parte do discurso gráfico subliminar”,segundo a figura abaixo:

FIGURA 2: Propaganda subliminar multimídia. Pág. 53Fonte: Adaptado de BAKER, Visual perceptions, the effect of pictures on the subconscious, Nova York: McGraw-Hill, 1961.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A mensagem subliminar é um tanto quantointrigante, pois, ao mesmo tempo em que setenta comprovar sua cientificidade, o assuntoprovoca as mais diversas reações e crendices.Diferentes estudiosos e pesquisadoresafirmam que a técnica abre novas portas paraum método revolucionário, a fim de conseguirmais participação de mercado por meio dainfluência na decisão de compra dosconsumidores.

Por meio da literatura estudada e deexemplos de aplicações, percebeu-se que amensagem subliminar pode contribuir coma manipulação, persuasão e aumento dasvendas, além de estimular pessoas aaceitarem o que lhes é proposto.

No entanto, vale registrar observaçõesquanto ao poder sugestivo pós-hipnóticodessa técnica. Para alguns estudiososmencionados no presente artigo, embora seperceba que as mensagens subliminares sãocapazes de influenciar pessoas, cadaindivíduo identifica padrões e informaçõesde acordo com sua formação profissional,espiritual e até sua vivência com as maisvariadas formas de mensagens e informaçõescom as quais tem contato durante toda suavida, sendo elas subliminares ou não.

Destacam-se, ainda, alguns pontos fortesdessa técnica, dentre eles, o taquicoscópio,muito utilizado no experimento vicarista. Asaplicações das mensagens subliminares vãodesde simples utilizações nas variadasformas de publicidade e propaganda, até autilização em tratamentos psicológicos eclínicos. Esse fato mostra sua amplitude eaceitação nas diversas áreas doconhecimento e demonstra seus efeitos.

Conforme apontado neste artigo, nossosolhos chegam a captar mais de cem milmensagens por dia e a grande maioria écaptada pelo subconsciente. É uma das

explicações que norteiam o funcionamentodos subliminares em relação aocomportamento do consumidor, mesmolevando em consideração os filtros pessoaise personalidades distintas de cada indivíduo.Tendo como base a ideia de que a mensagemsubliminar é uma persuasão a longo prazo,isso elevaria de cem mil captações demensagens por dia a, no mínimo, três milhõesde mensagens mensais.

Como não é possível a absorção conscientede tantas informações, elas são direcionadasao subconsciente dos consumidores que,posteriormente, as identificarão nomomento da escolha. As mensagenssubliminares podem, então, ser estratégiasde marketing para influenciar ocomportamento do consumidor.

No entanto, nota-se que a mensagemsubliminar, quando utilizada em determinadacampanha, por exemplo, não causa noconsumidor uma hipnose a ponto de fazê-loadquirir um produto que não deseja. Percebe--se que, ao passarem pelos vários estágios atéchegarem ao momento da decisão, os fatoresde influência citados neste artigo sãoconsideráveis para a atitude final de cada um.

Nesse caso, a mensagem subliminar seencaixa a uma estratégia na busca pelomercado consumidor, podendo serquestionado, então, seu grau de eficiênciade persuasão com relação a outras técnicasutilizadas, como promoções, frasesimpactantes que possuem o mesmo objetivo.

Fica, portanto, o questionamento quanto àética de utilização e o limites do marketing,quando se percebe que a maioria dosconsumidores expostos às técnicas demensagens subliminares não têm consciênciade que estão sendo submetidos a tal método.Sendo assim, se a estratégia funcionar, podesignificar que a consequência dessa aplicaçãoem determinada campanha foi um comporta-mento de escolha não consciente?

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Diante desse questionamento, vale lembraro Código de Ética dos Publicitários e oCódigo de Defesa do Consumidor quedefendem o fato de os consumidores seremcapazes de identificar o que lhes é propostoconscientemente. Porém, o que torna amensagem subliminar uma estratégiadiferente e atrativa são justamente aspossibilidades que a circundam. Ficaperceptível, no entanto, que há dúvidasquanto ao poder pós-hipnótico dasmensagens subliminares, o que reforça ainterferência dos filtros pessoais (formaçãoprofissional, espiritual, cultura,personalidade, vivência em grupos sociaisetc) no comportamento do consumidor.

Sendo assim, os efeitos das mensagenssubliminares àqueles expostos a essefenômeno funcionam como reforço nomomento da escolha. Ou seja, as mensagenssubliminares não mudam o comportamentodo consumidor, não são capazes de induzi-lo a um comportamento contrário a seus“filtros pessoais”. Elas apenas direcionamesse comportamento, ativam o cérebro doconsumidor para a percepção do que estásendo divulgado.

E, se tais mensagens estivessem totalmenteexpostas e o consumidor as identificasseimediatamente, não mais agiriam nosubconsciente e perderiam, assim, suaprincipal característica, a persuasão.

REFERÊNCIAS

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Estado capitalista ou Estado social?O dilema desenvolvimentista

brasileiro

ALMEIDA, Karen Tôrres C. Lafetá de¹

RESUMO: O presente trabalho faz uma abordagem das questõespresentes nas discussões acadêmicas relativas à polêmica questão domodelo de desenvolvimento brasileiro. Trata-se de uma discussão teóricaque procura demonstrar as contradições presentes na propostaindustrialista a partir de 1930, destacando as desigualdades regionaispresentes no modelo federativo brasileiro imposto pelas ConstituiçõesFederais e que perpetuou na Constituição de 1988. Finalmente, conclui-se que os problemas provocados pelo modelo centro-periferia dos paísesdesenvolvidos em relação àqueles ditos em desenvolvimento sereproduzem dentro do Brasil, entre regiões.

PALAVRAS-CHAVES: Desigualdades, desenvolvimento, industriali-zação, Constituição.

1 Mestre em Desenvolvimento Social pela UNIMONTES - Universidade Estadual de MontesClaros e Doutoranda em Educação pela Universidade de Brasília – UnB. Professora daUNIMONTES e das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros.

ARTIGO

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INTRODUÇÃO

É evidente, no meio acadêmico e fora dele, ainquietação que o tema desenvolvimento temcausado. Neste trabalho ensaístico, pretende-se abordar este tema, tendo como ponto departida o modelo desenvolvimentistabrasileiro, fortemente influenciado pelopensamento da CEPAL – ComissãoEconômica para América Latina.

Nesse contexto, o objetivo será identificar,no processo de desenvolvimento do Brasil,a lógica do sistema centro-periferia,reproduzido no próprio país, na relaçãoCentro-Sul e Sudeste e Nordeste brasileiros.

Para Gilberto Bercovici (2003, p. 54), hádúvidas de que um Estado desenvolvi-mentista, como o brasileiro, possa serconsiderado um Estado Social, enquanto(Welfare State, État Providence) caracterizadopela amplitude do sistema de seguridade eassistência social. Nesse contexto, o Estadobrasileiro pode ser considerado, quandomuito, um Estado Social em construção. Poroutro lado, como Estado intervencionista eindustrialista, consolidou o papel depromotor do desenvolvimento a partir de1930. Mas o que chama a atenção quantoao processo de desenvolvimento é acontradição brasileira: Estado forte eintervencionista, mas impotente frente aosinteresses privados.

O modelo desenvolvimentista brasileiro,sinônimo de industrialista, criou excluídosem massa e reproduziu dentro do própriopaís o sistema centro-periferia, quando oEstado de São Paulo começa a drenarcapital e recursos humanos favorecendo,assim, a expansão do capitalismo dentro dopaís.

DESENVOLVIMENTO:CONSENSOS E POLÊMICAS

É importante tentar compreender o dilemado desenvolvimento a partir do próprioconceito de desenvolvimento. Nesse sentido,há tantas polêmicas quanto consensos. Rist(1997), em History of Development, discutealgumas definições de desenvolvimento elembra que todas as tentativas de teorizaros problemas do desenvolvimento nãopassam de variações sobre o mesmo tema.Esteva (2000) e Rist (1997) concordam aoafirmarem que o Presidente Truman, no seudiscurso de posse em 20 de janeiro de 1949,conferiu nova significação à palavradesenvolvimento ao introduzir o conceitode subdesenvolvimento, a partir daquelemomento, sinônimo de atraso e pobreza.

É preciso que nos dediquemos a um programaousado e moderno que torne nossos avançoscientíficos e nosso progresso industrialdisponíveis para o crescimento e para oprogresso das áreas subdesenvolvidas. O antigoimperialismo - a exploração para lucroestrangeiro - não tem lugar em nossos planos.O que imaginamos é um programa dedesenvolvimento baseado nos conceitos deuma distribuição justa e democrática(TRUMAN, 1949 apud ESTEVA, 2000).

Desde então, está decretada a hegemônicaposição norte-americana frente às naçõespouco ou não industrializadas. Assim, o fatode nos reconhecermos subdesenvolvidos,altera os nossos projetos e objetivos. A tarefaagora é mudar os rumos para sair dacondição de subdesenvolvidos, já que paradois terços da população mundial a palavradesenvolvimento converteu-se em indicadordaquilo que eles não são, é ela que sinalizaa sua condição indigna e que, para sair dessacondição é preciso renunciar ao seu próprioprojeto e se moldar ao projeto alheio.

Paralelamente, ao surgimento da ideia desubdesenvolvimento, surge a relação entre

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os desenvolvedores e aqueles que serãodesenvolvidos, já que a responsabilidade detirar os subdesenvolvidos de tal situação foidelegada por Truman aos desenvolvidos; ficaestabelecido, também, o sistema centro-periferia, estruturante da lógica excludentedo capitalismo.

A ideia de desenvolvimento foi tãorapidamente e naturalmente assimilada queRist (1997, p. 8) destacou três exemplos paradefinir o termo, entre eles, está o verbeteextraído do Dicionário Petit Robert, daUniversidade de Oxford (1987):

Under the general heading ‘développement’, thePetit Robert dictionary (1987) contains thefollowing entry (among the meanings close togrowth, blossoming, progress, extension,expansion): ‘Developing country or region,whose economy has not yet reached the level ofNorth America, Western Europe, etc.Euphemism created to replace underdeveloped’2.

Nesse sentido, Rist demonstra não apenasquem são aqueles subdesenvolvidos, deacordo com o pensamento ocidental, comotambém, a falta de consenso ditaanteriormente ao citar o conceito declaradono Relatório de Desenvolvimento Humanode 1991, publicado pelo Programa deDesenvolvimento das Nações Unidas:

[...] o objetivo básico do desenvolvimentohumano é ‘aumentar a gama de escolhas daspessoas para fazer um desenvolvimento maisdemocrático e participativo. Estas escolhasdeveriam incluir acesso à renda e oportunidadesde emprego, educação e saúde, e um ambientefísico limpo e seguro. Cada indivíduo tambémdeveria ter a oportunidade para participarcompletamente das decisões da comunidade e

desfrutar das liberdades humana, econômica epolítica’3.

De outro modo, o Relatório da Comissãodo Sul definiu desenvolvimento como umprocesso em que os seres humanos podemse realizar a partir de suas potencialidadescom base na autoconfiança e autonomiapara conduzir as suas vidas de maneira digna.Segundo o relatório, o desenvolvimento étambém um processo que “livra as pessoasdo medo da necessidade e da exploração.”4

(RIST 1997, p. 8; ESTEVA 2000, p. 60)

Nesse sentido, tem-se um problemaepistemológico quanto à adequação dotermo desenvolvimento e as suas diversassignificações. As teorias tecnicistas dedesenvolvimento, preocupadas em explicarcausa e efeito dos problemas, não permitemdissociar desenvolvimento de crescimento,progresso e evolução. Essa preocupaçãoevolucionista foi rechaçada por Max Weber(1999). Para ele, as Ciências Sociais devemincluir as peculiaridades, contar comrupturas e imprevisibilidades, devem dar,portanto, centralidade à subjetividade. Faz-se necessária uma sociologia compreensivaque só é possível através da subjetividade.

Desenvolvimento é frequentementeassociado à modernização, sendo o meio paraisso, o conhecimento científico que, “[...]requer a homogeneização e quantificação doque é qualitativamente e potencialmentediferente.”(HOBART, s.i.). Daí acompreensão de que, se existe umconhecimento sistemático capaz de explicaro desenvolvimento, existe, em contraposição,a ignorância e aí subjaz a ideia de que o

2 Sob o título geral “desenvolvimento”, o Dicionário Petit Robert (1987) contém a seguinte entrada entre os significadospróximos de crescimento, enquanto florescimento, progresso, extensão, expansão): “país em desenvolvimento ou regiãocuja economia, contudo não alcançou o nível de América do Norte, Europa Ocidental, etc. Eufemismo criado parasubstituir subdesenvolvido”.

3 UNDP, Relatório de Desenvolvimento Humano 1991, Oxford: Imprensa Universidade Oxford, 1991, p.1 citado por Rist(1997).

4 O Desafio para o Sul: O Relatório da Comissão do Sul, Oxford: Oxford Universidade Imprensa, 1990, p.10 citado por Rist(1997, p.8); Esteva (2000, p. 60).

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capitalismo é definitivo e desconsideram-seas demais formas de posicionamento dassociedades baseadas em outras racionalidadesque não a lógica do capitalismo.

Nessa perspectiva, desenvolvimento tornou-se a “palavra mágica que irá solucionar todosos mistérios que nos rodeiam ou, pelomenos, que nos irá guiar até essas soluções.”(HAEKEL s.d. apud ESTEVA, 2000, p.65)

Ainda do ponto de vista epistemológico, asteorias do desenvolvimento que postulam amodernização como imperativo para escaparde uma condição indigna, não permitemuma visão mais ampla dos processoshistóricos, obscurecendo, assim, acompreensão do problema. Não é dada aosujeito do desenvolvimento a possibilidadede reafirmar a sua condição social, históricae culturalmente construída; a metáfora dodesenvolvimento subtrai dos povos deculturas diferentes (não ocidentais) aoportunidade de definir as suas formas deorganização social.

Alfred Schutz estabelece o princípio dadialogia e destaca sua importância para acompreensão dos fenômenos sociais:

Todos los objetos culturales - herramientas,símbolos, sistemas de lenguaje, obras de arte,instituciones sociales, etc – señalan em sumismo origen y significado las actividades desujetos humanos. Por esta razón, somossiempre conscientes de la historicidad de lacultura que encontramos em lãs tradiciones elos costumbres. Esta historicidad es passiblede ser examinada em su referencia a actividadeshumanas cuyo sedimento constituye. Por lamisma razón, no puedo comprender un objetocultural sin referirlo a la actividad humana em lacual se origina. (s. d., p.41)

Uma clara ilustração da afirmação de Schutzestá na crítica que Gandhi faz aocapitalismo, quando disse que o nexocapitalismo-modernidade criou a fome e que

a multiplicação da técnica (maquinaria)destruiu a tradicional economia rural daÍndia, significou, portanto, a destruição dosteares, do trabalho dos ceramistas, dosartesãos de cestas e gravadores de metais eincorporaram ao seu trabalho não apenas ummodo novo de produção, mas também e,sobretudo, um novo modo de vida, é o quelembra Nagaraj (2001, p. 282).

Assim, desenvolvimento converteu-se emuma preocupação estatística, mede-secrescimento econômico de uma nação, apartir de indicadores do PIB - ProdutoInterno Bruto - global e per capitaconsiderando um aumento contínuo, aolongo de um determinado tempo. Seguindoessa linha de definição economicista, tem-se que o desenvolvimento se dá quando,aliado ao crescimento econômico estãomedidas que promovam melhoria do nívelde vida, da escolaridade, da distribuição derenda entre classes e setores, avançospolíticos e institucionais, ainda assim, essesindicadores devem ser olhados de maneiracrítica. Entende-se assim que grandesmudanças deveriam ser identificadas numasociedade para verificar que ali ocorre umprocesso de desenvolvimento e paracontrapor essa ideia ressalta-se que PierreBourdieu (1996) é cético quanto à ideia degrandes mudanças sociais. Para ele, aprincipal virtude do pesquisador é a atençãoàs sutilezas.

O projeto econômico que redesenhou ahumanidade, desvalorizou o homem - queera autônomo - e o transformou no HomemEconômico, foi fundamental para aemergência da sociedade econômica,contudo, em países como o Brasil, comportentosas dimensões territoriais ediversidades naturais, culturais e sociais eeconômicas, a eclosão desarticulada dessemodelo social, certamente, produziriadesigualdades internas.

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O MODELODESENVOLVIMENTISTABRASILEIRO

O processo de desenvolvimento brasileiro,historicamente, se dá de forma desigual. ParaFurtado (1958) apud Bercovici (2003), aestrutura do problema das desigualdadesregionais no Brasil está ligada à lógica deconcentrar os escassos recursos naquelasregiões do país mais promissoras emdetrimento a outras menos desenvolvidas.Na opinião dos autores citados, a questãoregional brasileira incorpora-se ao debateapós a Constituição de 1946, quando secriaram as Regiões plano ou Regiões deDesenvolvimento e cada órgão dedesenvolvimento tinha a sua área de atuaçãodeterminada por lei: para a Amazônia Legal,SPVEA - Superintendência do Plano deValorização Econômica da Amazônia eSUDAM - Superintendência do Desenvol-vimento da Amazônia; para a regiãonordeste criou-se a SUDENE - Superinten-dência do Desenvolvimento do Nordeste; aSUDECO - Superintendência doDesenvolvimento do Centro Oeste eSUDESUL - Superintendência do Desen-volvimento da Região Sul.

O que se destaca no processo daregionalização brasileira é que este se deucom fins estatísticos, através da comparaçãode dados e não como fruto de reivindicaçõespolíticas regionais, assim, os fatoreshumanos foram desconsiderados.

Revisitando o modelo desenvolvimentistabrasileiro, sob o ponto de vista dos autoresconsultados, constata-se ser um fato aposição de liderança que o Brasil ocupa,quando se refere às desigualdades sociais,esse dado é essencial ao reconhecimento, ounão, do Brasil enquanto Estado Social.

Possuímos, sem dúvida, uma das piores -senão a pior - distribuição de renda do

mundo. As razões que explicam tal situaçãosão históricas e, para Celso Furtado (1977)tem o seu agravamento consolidado noperverso modelo de crescimento baseado naindustrialização substitutiva de importações.Assim, o desenvolvimento do país dependeuem grande medida da produtividade e daforça do trabalho.

A partir de 1930, consolidam-se no Brasilgrandes transformações sociais eeconômicas fundamentadas namodernização econômica e na urbanização.A indústria passa a ser o suporte docrescimento econômico, o Estado assumeo papel predominantemente interventor(RAMALHO e ARROCHELAS, 2004, p.95).

A construção de rotas inter-regionais, quefoi um dos mais importantes elementospropulsores do desenvolvimento brasileiro,favoreceu de maneira particular a produçãoindustrial do eixo Rio - São Paulo. Issoestimulou a migração interna para as regiõesmais ricas do país, até então esse movimentomigratório havia sido, essencialmente, decidadãos europeus.

Comparando o processo de desenvolvi-mento da região Centro-Sul do Brasil comoutras regiões menos industrializadas, éimportante destacar que o fluxo migratóriorural urbano também se verifica. Todavia, aabsorção de mão de obra nos estados doNordeste, por exemplo, não se dá como emSão Paulo e no Rio de Janeiro, já que aindustrialização nos estados nordestinosainda era incipiente.

Na região Nordeste do Brasil, as metrópolesregionais, como é o caso de Recife,continuaram como polos atrativos de mãode obra liberada das áreas agrícolas. Oprocesso migratório decorrente da políticade desenvolvimento empreendida após1930, promoveu, não apenas no Nordeste

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não industrializado, como também na regiãoCentro-Sul do país, especialmente no Estadode São Paulo, a concentração de populaçõespobres vivendo em condições subumanas,o que produziu, dentre outros fenômenos,o da favelização nas periferias das grandescidades (RAMALHO e ARROCHELAS,2004; BERCOVICI, 2003; FURTADO,1977).

A atenção se volta, neste trabalho, à RegiãoNordeste, que se converteu em problemanacional. A política desenvolvida pelaSUDENE visava, essencialmente, àmodernização pela via da industrialização,o que conduziria, inevitavelmente, aodesenvolvimento. Nessa região, osbenefícios foram todos revertidos na buscade solução ao problema da seca, o queacabava sempre por privilegiar os grandeslatifundiários. Acreditava-se que a soluçãodos problemas do Nordeste estava naengenharia, sendo assim, vultosos recursosforam investidos na construção de açudes eestradas, foi a chamada solução hidráulica.

Nesse sentido o DENOCS - DepartamentoNacional de Obras Contra as Secas, tornou-se símbolo da ineficiência e clientelismo aobeneficiar os grandes latifundiáriosnordestinos com a construção de açudes eperfuração de poços que tornariam as terrasagricultáveis.

Algumas considerações devem ser feitas aoabordar o problema das desigualdadesregionais brasileiras, a partir da publicaçãodo Relatório do GTDN - Grupo de Trabalhopara o Desenvolvimento do Nordeste,liderado por Celso Furtado. O Relatórioaponta como um dos principais problemas,o fato de que a política nacional dedesenvolvimento estaria agravando aquestão das desigualdades regionais,argumentando que o duplo fluxo de renda -o setor privado transferia recursos para o

Centro-Sul em busca de melhorremuneração ao capital, enquanto o governotransferia para o Nordeste recursos federais,que eram aplicados em políticasassistencialistas.

Essa inversão federal não alterava asatividades no Centro-Sul, mas, também nãoestimulava a estrutura produtiva noNordeste. Em outras palavras, o Nordeste,por uma série de fatores, entre eles, aescassez de terras agricultáveis e o atrasono processo de industrialização, não tinhaoutra alternativa, senão gastar a renda obtidada exportação primária em compras noCentro-Sul. Nesse sentido, o Relatório doGTDN constata no Brasil, em nível regional,o mesmo desequilíbrio constatado pelaCEPAL no comércio entre a América Latinae Europa e Estados Unidos.

Assim, a segunda conclusão do Relatório doGTDN foi que o problema Nordestino eraa miséria e o subdesenvolvimento e não assecas. De outra forma, afirmou Hans Singer(1962) apud Bercovici (2003): “O problemado Nordeste é o latifúndio e não as secas”.Mais tarde, a SUDENE, apesar de nãocombater de frente o problema do latifúndioe da má distribuição de terras, deixou à vistafocos de miséria até então desconhecidosda opinião pública (BERCOVICI, 2003;FURTADO, 1959; OLIVEIRA,1998).

Nesse contexto, tornou-se possível averificação do grave problema latifundiárioproduzido pela concentração de terras erecursos necessários à agricultura nas mãosde um pouco numeroso grupo, confirmando,mais uma vez, a capacidade de manipulaçãodos órgãos estatais de desenvolvimento pelaelite nordestina. Essas elites estabeleceramo regionalismo que foi sedimentado,historicamente, em função dos interessesprivados que, para isso, aliavam-se aoGoverno Central, lançando mão dos

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problemas de suas regiões em troca deapoios políticos, o que comprometeusobremaneira o desenvolvimento eautonomia dos Estados nordestinos frenteà economia nacional.

O Estado capitalista, que se pretendeEstado Social, como é o caso do Brasil,muito dificilmente escapará do dilema:garantir e estimular o sistema econômicocapitalista e executar políticas sociais parase legitimar. Esse processo gera crises,porque a tendência dos gastos estatais écrescer mais rápido do que a capacidade doEstado em financiá-los.

A EVOLUÇÃO DO CAPITALISMONA PERSPECTIVA DODESENVOLVIMENTO BRASILEIRO

É relevante para a discussão do tema,percorrer, ainda que de maneira superficial,sobre a evolução do capitalismo tendo comomarco histórico e cultural o que postulouAdam Smith. Tem-se, então, a exaltação doindividualismo, considerando que osinteresses individuais livrementedesenvolvidos seriam harmonizados poruma “mão invisível” e resultariam no bemestar coletivo; essa mão invisível entrariatambém em jogo no mercado dos fatores deprodução, enquanto imperasse a livreconcorrência.

A apologia do interesse individual e arejeição da intervenção estatal na economiase transformariam em teses básicas doliberalismo. As ideias de Smith contrariavamo pensamento econômico predominante naEuropa, que se baseava no mercantilismo epartia do pressuposto de que a riqueza deuma nação era constituída pela moeda. Osfisiocratas, por sua vez, apresentam aprimeira alternativa sistemática aomercantilismo, para os quais a riqueza eraconstituída pelo cultivo da terra.

Smith refutou o ponto de vista dosfisiocratas e mercantilistas demonstrandoque todas as atividades que produzemmercadorias possuem valor, verificando,assim, o importante papel da indústria ereconhecendo no trabalho a verdadeiraorigem da riqueza.

Entendendo por riqueza os bens quepossuem valor de troca, argumenta que ariqueza é constituída por esses valores e nãopela moeda, que é apenas o meio quepermite a circulação de bens. Assim, ocrescimento da nação dependeessencialmente da produtividade dotrabalho que, por sua vez, é função do graude especialização obtida pela divisão dotrabalho.

A economia capitalista evolui de acordocom esse modelo, todavia, tal sistemaeconômico não pode ser traduzido apenasenquanto sistema econômico isolado, mastambém como um sistema que engloba osplanos político, econômico, social e cultural.O capitalismo, portanto, não é apenas umsistema produtivo, assim posto, trata-setambém de um modelo civilizatório. Dessaforma, era inevitável que o capitalismoultrapassasse a primeira RevoluçãoIndustrial sem que o seu curso natural nãofosse ameaçado e o sistema teria, então, quebuscar novos caminhos de sobrevivência.

Nessa perspectiva, o modelo desenvolvi-mentista brasileiro ainda vive o dilema dacontradição: [...] é um Estado Social semnunca ter conseguido uma sociedade deBem-Estar e, simultaneamente, é umEstado avançado e moderno emdeterminados setores da economia etradicional e repressor em muitas questõessociais” (BERCOVICI, 2003, p. 54).

A história mostrou que a brutal desigualdadeque o mercado produziu entre as nações e

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dentro delas, pôs em risco até mesmo osistema capitalista. Não é mais que umafalácia a livre concorrência numa sociedadede classes (FRIGOTTO, 2000, p.83).Assim, pode-se constatar, dentro do próprioEstado brasileiro, essa afirmação.

A crise de 1929 e a grande depressãodemonstraram o esgotamento do modeloliberal passando a adotar as práticasKeynesianas que se alicerçavam naintervenção do Estado, como provedor docrescimento, através da solução do problemado desemprego e desencorajandoentesouramentos. Esse modelo gerou noBrasil o “Estado Empresário”, como severifica a partir de 1959 com a criação deinúmeras empresas estatais e órgãos dedesenvolvimento.

No século XIX, houve grande aceleração nocrescimento das sociedades industriais, esegundo Ramalho e Arrochellas (2004, p.90) já se pode, no final do século, verificarno Brasil o “... processo de aglomeração dapobreza e da exclusão nas cidades,resultante da chegada em profusão decontingentes ex-escravos.” A responsabili-dade pelo aumento da pobreza e da exclusãonessas sociedades é atribuída por CelsoFurtado ao avanço técnico que foiempreendido pelas nações em adiantadoestágio desenvolvimento, bem como poraquelas ditas em desenvolvimento. O reflexodisso é a expansão ainda mais acelerada docapitalismo.

O EFEITO REBOTE DA EXPANSÃOCAPITALISTA

Os efeitos dos impactos da expansãocapitalista sobre as estruturas nãodesenvolvidas se deram de diferentes modose variou de região para região, de acordo comas circunstâncias locais. Todavia, Furtado(1970) afirmou que havia, na maioria dos

casos, o interesse dos países industrializadosem fomentar a produção de matéria-primapara atender à crescente demanda noscentros industriais.

Atualmente, a absoluta maioria dos paísesem desenvolvimento tem a sua pauta deexportações em situação de dependência emrelação aos países importadores que, por suavez, se beneficiam dessa situação desubordinação e ainda contam com o avançotecnológico para a produção de matériaprima sintética. A consequência direta dissonos países periféricos é o crescentedesemprego e o aperfeiçoamento domecanismo gerador de uma massasocialmente excluída cada vez maior.

Nesse sentido, verifica-se que a questão dadependência, dentro do sistema centro-periferia, tem raízes históricas, entretanto,argumenta Furtado (1977), que os paísesque já alcançaram as vias do desenvol-vimento, não necessariamente, passarampelo estágio de subdesenvolvidos. Essasituação de dependência é uma situaçãoparticular, provocada pela expansão dautilização da mão de obra e dos recursosnaturais de economias pré-capitalistas.

De outro modo, disse Raul Prebisch (1978):“os centros não estão preocupados emresolver os problemas da periferia, masapenas em participar da apropriação do seuexcedente”.

No plano cultural, o sistema centro-periferia- altamente condicionante e impositivo -acarretou aos países periféricos a importaçãode estilos de vida e padrões culturais,especialmente relativos ao consumo, queocasionam sérios problemas e entraves aodesenvolvimento já que alteramdrasticamente os modos de consumo dapopulação.

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Nesse sentido, cabe ao Estado introduzirmodificações no perfil da demanda e naestrutura produtiva, alocando recursos paraacelerar o processo de modernização daindústria nacional, que, em última análise,é a que produz para a grande maioria dapopulação. Ainda assim, se a estrutura dosistema não sofrer profundas modificaçõesna caracterização dessas demandas, oproblema cultural gerado por esse modelopersistirá, sendo que poderá ocorrer algumcrescimento momentâneo em setoresisolados que será seguido de novos modosde consumo importados dos centros.

Vale lembrar que, em países desenvolvidos,a produtividade de bens já incorporados aosistema cresce sempre que se associamnovos processos produtivos. Nesse aspecto,observa-se não ter havido no processo dedesenvolvimento empreendido no Brasilapós 1930, tal intervenção no sistemaprodutivo.

Sendo assim, ao Estado cabe intervir demodo a estimular políticas públicas deresgate e preservação das manifestaçõesculturais populares. Políticas estas quecontenham o claro objetivo de conter ofenômeno denominado por Hermet (2002)de trivialização industrial da cultura.

CENTRO SUL E SUDESTE -NORDESTE: REPRODUÇÃO DOSISTEMA CENTRO-PERIFERIA

Já foi dito que crescimento edesenvolvimento econômico não refletem,necessariamente, desenvolvimento social.Nesse sentido, Gilberto Bercovici destacaque: “Quando não ocorre transformação,seja social, seja no sistema produtivo, nãose está diante de um processo dedesenvolvimento, mas da simplesmodernização”. (2003, p.7).

A questão da dependência no sistemacentro-periferia talvez seja o grande inibidordo desenvolvimento dos países periféricos,já que os vínculos internacionais tendem aaumentar, pois os centros de decisão estão,geralmente, fora do país. No Brasil, verifica-se que, apesar de ter havido algumadesconcentração industrial, “... os setoresmais relevantes da economia continuamconcentrados no Sudeste e em São Pauloem particular.” (BERCOVICI, 2003, p. 140)Para esse autor, as causas das desigualdadescontinuam intocadas: a concentraçãofundiária, concentração de renda regionalsuperior à nacional, os baixos indicadoressociais e, citando Francisco de Oliveira: “...os elevados níveis de miséria produzidospela própria expansão econômicanordestina.”

Assim, o que se depreende é que oplanejamento regional de políticas dedesenvolvimento foi aos poucos sendosubstituído pela promessa da industrializaçãocomo a única alternativa capaz de eliminarou diminuir as desigualdades do Nordestebrasileiro em relação ao centro desenvolvidodo país.

Segundo Bercovici (2003, p. 130), parapromover a industrialização, utilizaram-selargamente as políticas de incentivos fiscais,que foram extintas em 2001, exatamente pelaconstatação de que, um recursocaracterizado pela excepcionalidade vinhasendo utilizado no país sem nenhumplanejamento racional para a concessão dosincentivos e que, além de ter servido,amplamente, de instrumento de desvio dedinheiro público e fonte de corrupção, nãodeixou de ser um estimulador àsdesigualdades regionais ao induzir osEstados à Guerra Fiscal. O descontrole e afalta de planejamento atingem níveis tais quetornou absolutamente insustentável amanutenção de órgãos de desenvolvimento,como a SUDENE.

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Nesse sentido, Paulo Bonavides prefaciandoGilberto Bercovici (2003) é enfático aoafirmar que:

A recente extinção da SUDENE e da SUDAM,por obra da corrupção que grassa nas mais altasesferas do Governo, representou golpe mortalnos organismos de desenvolvimento, criados hácerca de cinco décadas por uma malograda políticado Governo Federal, volvida para a extinção dosdesequilíbrios e disparidades que têmperpetuado o atraso, o subdesenvolvimento e amiséria em vastas regiões do país.

Não se pode, contudo, negar que foiacentuado o processo de industrialização noBrasil na década de 1970, embora, os gravesproblemas sociais e as desigualdadesregionais permaneçam e se perpetuam.

No plano ético, o dado mais perverso é anaturalização da exclusão e das maisdiferentes formas de violência a que sãosubmetidas as populações dos países ditosem desenvolvimento em função daconcentração de poder nas mãos dosgrupos para os quais é drenado o capitalproduzido, quadro esse reproduzido comfidelidade no Brasil.

A naturalização e manutenção desse processoexcludente que se dá no Brasil fica evidentequando se constata que os Governos nãoestão empenhados na busca de soluçõesdefinitivas, a solução para a fome e a misériase funda em políticas assistencialistas decaráter emergencial. Dessa forma, recursospara viabilizar os programas de distribuiçãode renda são desperdiçados em complicadospercursos da burocracia, na perda do foco e,ainda, nos desvios de recursos - causa deinúmeros escândalos veiculados diariamentepela imprensa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O grande desafio é, portanto, minimizar osmales resultantes da perda de comando

provocada pela transnacionalização docapitalismo e as nefastas consequênciasdesse processo no Brasil, que, para GustavoLins Ribeiro (2000), vão além daglobalização enquanto processo econômico,já que predomina o aspecto político-ideológico. Assim, enfrentar esse desafiorequer políticas que tenham em conta asdiversidades nas matrizes culturais e asparticularidades de cada sociedade.

Quanto ao desafio enfrentado pelospesquisadores, esse é de carátermetodológico e está em definir ou identificaronde deverão ser incluídos os grupos objetode inclusão social. Um aspecto é fato: deve-se começar sempre pela distribuição derenda. Todavia, não parece tarefa fácil,definir exatamente quem deve ceder paraquem.

Sendo a população brasileira heterogênea,tanto nas necessidades como nas aspirações,é fundamental que se estabeleçam critériospara comparar grupos humanos e para definiro que seja, para esses grupos, fatores deinclusão e ainda mais difícil, nesse sentido,é estabelecer o ideal padrão de qualidadede vida.

É imperioso interferir, respeitando eatendendo as suas peculiaridades. SegundoBuarque, apud Sautchuk (1998), existe umBrasil pequeno e muito rico à custa de umoutro Brasil grande e pobre. E o pior é queum se distancia cada vez mais do outro.

Ainda no contexto histórico, Buarque afirmaque:

[...] graças à ditadura, foi possível (para o Brasil)sair da crise econômica, retomar a dinâmica e ocrescimento, pelo caminho contrário aoproposto pelos reformistas: concentrando arenda, investindo na infra-estrutura econômica,abandonando o social (1998, p.38).

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Assim, fica claro que, de modo geral, osprocessos socioeconômicos favorecemparcelas da humanidade, privilegiam gruposde interesses diversos e tratam a economiacomo uma entidade autônoma, emdetrimento das massas.

Para Dowbor (1999), não é dado a nenhumator político ou econômico o direito de imporà sociedade algo, sob a justificativa de queé para seu bem, sem antes fornecer osinstrumentos institucionais e asinformações e, ainda, a possibilidade demanifestar sua opinião e participação nasesferas decisórias.

O eixo da cidadania é uma questão essencialnas transformações sociais. O caminho parauma mudança significativa - escapar dodilema crescimento, modernização oudesenvolvimento - pode estar no papel quedeve exercer a sociedade civil organizada.

Nesse sentido, é importante o papel queexercem os meios de comunicação noprocesso de desenvolvimento daseconomias periféricas. De modo geral, essesestão sob o monopólio de gruposempresariais economicamente poderososque, além de servirem de canal - com amplopoder de penetração -, para a importaçãode culturas essencialmente ligadas às novasformas de consumo, são, também,instrumentos de manipulação dainformação e da opinião pública servindo,inclusive, para fomentar políticas públicasde acordo com o interesse das classesdominantes, para eleger candidatos ligadosà essas mesmas classes comprometendo,desse modo, a construção da democracia ea legitimação dos poderes públicos queprovêm da soberania popular.

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Políticas de Ações Afirmativas:algumas considerações em torno do

ingresso dos negros no ensino superior

SANTOS, Otil Carlos Dias dos¹

RESUMO: O presente artigo apresenta algumas discussões teóricas arespeito das políticas afirmativas no ingresso ao Ensino Superior,destacando a questão dos negros, sendo considerada atualmente umassunto bastante polêmico. Serão apresentados neste texto algunsaspectos relevantes, sintetizando os principais argumentos sobre o acessodo negro às universidades brasileiras, através do sistema de cotas. Serãoabordadas as divergências de opiniões a respeito do tema, tais como omérito da conquista dos alunos por uma vaga nas universidades, além doprincípio constitucional que determina a igualdade de condições na disputae até mesmo o aumento do racismo enfatizando o conceito de raça. Omais importante de tudo é que todas as pessoas, sejam elas negras, pardas,mulatas, amarelas, indígenas ou quaisquer outras, vítimas dadiscriminação, nunca deixem de reivindicar e a demandar, principalmenterespeito pelos seus valores culturais, além de tratamento digno eparticipação política, mesmo que isso venha a ser sempre um dilema domundo moderno. Enfim, podemos destacar que a definição de cotas nasuniversidades para os negros, ainda é considerada uma forma deimpulsionar a igualdade racial.

PALAVRAS-CHAVES: Políticas Afirmativas, Desigualdade Social,Estado do bem-estar social.

1 Mestrando em Desenvolvimento Social – UNIMONTES, Professor do Departamento de CiênciasContábeis UNIMONTES e Professor das Faculdades Santo Agostinho, Montes Claros/MG.

ARTIGO

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ABSTRACT: This article presents some theoretical discussions aboutthe affirmative action policies in admission to higher education,highlighting the issue of blacks being currently considered a verycontroversial issue. Will be presented in this paper, some relevant aspects,summarizing the main arguments concerning access by black in Brazilianuniversities, through the quota system. It will address the differing viewson the subject, such as the merits of the achievement of students for aplace in universities, in addition to the constitutional principle thatdetermines the level playing field in the race and even the rise of racismby emphasizing the concept of race. The most important thing is that allpeople be they black, brown, mulatto, yellow, indigenous or any othervictims of discrimination, never cease to claim and demand, particularlyrespect for their cultural values, and dignified treatment and participationpolitics, even though this will always be a dilemma of the modern world.Finally, we note that setting quotas for blacks in universities, is stillconsidered a way of promoting racial equality.

KEY-WORDS: Affirmative Policies, Social Inequality, welfare state

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INTRODUÇÃO

O Brasil neoliberal2, a partir do GovernoFernando Henrique Cardoso (1995 a 2002),tornou-se um país comprometidointernacionalmente em desenvolver políticaspúblicas voltadas para tentar solucionar oupelo menos amenizar a questão dasdesigualdades raciais, que permeiam, deforma bastante camuflada, todas as camadasda sociedade. Tais políticas têm buscado atodo instante corrigir distorções claramenteevidenciadas quanto aos direitos, à igualdadee ao verdadeiro exercício de cidadania dasvítimas desse sistema, tentando reescreveruma nova história para a humanidade.

Talvez nessa nova concepção, em um futuropróximo, as famílias possam ensinar aosnovos “filhos do Brasil” a ver as diferençase as desigualdades entre as pessoas, seja pelacor, sexo, raça, não como desígnio de Deus,mas como algo evitável.

Com isso, o Estado, através das escolas euniversidades públicas passa a ter um papelfundamental nesse processo, uma vez que énas instituições de ensino que se busca aprodução do conhecimento, ideias e opiniõesno processo político, econômico e cultural,tanto daqueles que se encontram comoprotagonistas no sistema, quanto daquelesque são exclusivamente vítimas no processode inclusão social.

É neste novo cenário que algumasuniversidades, como UERJ, UNB, UFSC eUNEB, adotaram, dentre as políticasafirmativas, o sistema de cotas (reserva devagas para negros) nos vestibulares, ou seja,indivíduos que historicamente vêmdisputando espaços sociais sem as mesmas

condições de igualdade e oportunidades.Esse assunto, de cer ta maneira, temproduzido uma grande polêmica em tornoda “cor da pele”. Muitos entendem e atémesmo defendem a ideia das cotas, outrosridicularizam, com diversos argumentos,dentre eles o de estar infringindo o princípioConstitucional da igualdade, que tem comoprincipal objetivo estabelecer o equilíbriosocial entre as pessoas na sociedade. Comisso, o Estado, além da responsabilidadecitada anteriormente, tem um papelprimordial na sociedade que é fazer avançaruma maior inclusão social (D’ÁVILA;LESSER, 2008).

Assim, a partir da ideia neoliberal, o Estadodo bem-estar social tornou-se o principalnormatizador dessas políticas e veio de certaforma tentar impor uma nova concepção dejustiça social, baseando-se no fato de queas injustiças sociais não são consideradasapenas econômicas, mas ainda morais esimbólicas, conforme afirma Santos (2008).E, aqui, cabe às instituições de ensinosuperior cumprir seu papel social, fazendocom que as pessoas desenvolvam seu sensocrítico, oferecendo condições eficazes paraque haja um desenvolvimento intelectual,consciente e social dentro de todas ascamadas da sociedade.

Como o espaço universitário é um espaçodemocrático e participativo, algumasuniversidades têm assumido aresponsabilidade de instigar a sociedade paraa discussão sobre políticas afirmativas,envolvendo principalmente pessoas negras.Vale ressaltar que, quando o assuntoenvolvia outros tipos de políticasafirmativas, tais como os deficientesfísicos3, ou mesmo o acesso das mulheres

2 Forma moderna do liberalismo que permite uma intervenção limitada do Estado. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.Acesso em: 15 jan. 2010.

3 Lei 8.112/90 – Art. 5º § 2º - Para os portadores de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso públicoe são reservadas aos mesmos até 20% das vagas oferecidas.

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nas candidaturas partidárias4, a questão nãoera tão polêmica e não gerou uma oposiçãogeneralizada e nem incomodava tanto àsociedade. Mas, a partir do momento queenvolveu os chamados “pele escura”,aconteceu uma revolução em torno daspessoas que se encontram nesta condição,mudando os conceitos, as ideologias e acrença de muitos, demonstrando, assim, apresença factível da tão conhecidadiscriminação racial, abarcando todas asclasses sociais sejam como defensores ounão dessa nova realidade, gerando, portanto,uma discussão polarizada desde então.

ORIGENS DAS AÇÕES AFIRMATIVAS

De acordo com D’Ávila e Lesser (2008), oprograma de cotas e de ação afirmativa tevesua origem nos Estados Unidos, maisespecificamente nas indústrias bélicas, quetinham como princípio a discriminação daspessoas afro-americanas. Naquela época, oPresidente Franklin Roosevelt proibiu taisindústrias de praticarem a discriminação,através do Decreto 8.802, do ano de 1941,além de estabelecer uma comissão paraouvir as lamentações dos trabalhadores nãobrancos, quando o Governo da épocatornou-se um mediador das questões deinclusão social, tentando produzir um acessoigualitário, o que, em outras palavras, erachamado de ações afirmativas.

Segundo esses mesmos autores, tal práticafoi reforçada por Richard Nixon na décadade 70 do século passado, quando incluiunovas políticas no intuito de se alcançar aintegração racial. Em decorrência dessesfatos históricos, surgiram dois efeitos: oprimeiro, como todas as universidades dosEstados Unidos recebem recursos federais

expressivos, tais instituições tiveram comoresponsabilidade social estabelecer diretrizesvoltadas para a política de contratação deprofessores e funcionários vítimas daexclusão; o segundo, D’Ávila e Lesser (2008)relatam que os movimentos estudantis e apressão da sociedade contribuíram para quefossem criados programas para aumentar osgrupos de mulheres, negros, indígenas elatinos em todas as universidades daquelepaís5.

E foi nessa concepção que a sociedadebrasileira, formada por pessoas pertencentesa grupos étnico-raciais distintos, com culturae história próprias, recebeu do Estado e doteor de suas leis uma nova proposta paratentar impor uma integração socialresultante de uma política de cunhouniversalista que tinha como principalobjetivo reduzir a pobreza e aumentar oacesso à educação superior das pessoas decor negra que, historicamente, tiveram osseus direitos e garantias comprometidos pelafalta de uma presença forte do próprioGoverno. Este passa a ser um dos caminhosa ser seguido neste país para se tentaralcançar uma nação de fato mais justa, maisdemocrática e equilibrada nas suas relaçõesinter-raciais. Para melhor entendimento doassunto, Gomes (2003, p.9), define políticasafirmativas como:

Um conjunto de políticas públicas e privadasde caráter compulsório, facultativo ouvoluntário, concebidas com vistas ao combate àdiscriminação racial, de gênero, por deficiênciafísica e de origem nacional, bem como paracorrigir ou mitigar os efeitos presentes dadiscriminação praticada no passado, tendo porobjetivo a concretização do ideal de efetivaigualdade de acesso a bens fundamentais comoeducação e o emprego.

4 Lei 9.504/97 – Art. 10, § 3º - Cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturasde cada sexo.

5 Ver Jerry D’Avila e Jeffrey Lesser 2008. As cotas através de um espelho distorcido, p.128-129.

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É importante ressaltar que o assuntoenvolve diversos outros tipos depreconceitos, mas, neste trabalho, seráabordada apenas a questão do acesso donegro às universidades.

A DIVERSIDADE DE OPINIÕES

Segundo Lopes (2008), sem dúvida, a áreade maior polêmica na política de açãoafirmativa são as vagas nas universidades etodas as medidas tomadas em prol daspessoas negras beneficiadas foramdesenvolvidas dentro de programas quevisam aumentar a representatividade dosafrodescendentes nas instituições de ensinosuperior, com acesso a uma educação igualpara todos, preparando-os para o mercadode trabalho que se encontra extremamentecompetitivo, além de prepará-los melhorculturalmente e intelectualmente. Nestesentido, Gomes (2003) deixa claro que auniversalização do acesso à educação e aomercado de trabalho tem como fator crucialo crescimento macroeconômico, a ampliaçãodos negócios e consequentemente odesenvolvimento do país na sua totalidade.

Na opinião de outros estudiosos, incluirpessoas, sejam negros ou não no ensinosuperior não é o problema central destarealidade, a principal dificuldade é mantê-los no sistema educacional, sem umapresença maciça por parte do Estado,principalmente no que diz respeito à faltade investimentos em pesquisas, bolsas deestudos para esse contingente, que, namaioria das vezes, não dispõe de recursossuficientes para disputar em igualdade decondições as mesmas oportunidades.

Segundo Queiroz (2004), pensar políticasque visem melhorar a participação dosnegros no ensino superior é importante, masnão basta; é preciso, acima de tudo, reforçarsua presença no sistema e principalmentenaqueles cursos em que estes são minoria.

Ratts e Damascena (2004) corroboram comessa ideia afirmando que o acesso de pessoasnegras à universidade deve existir de maneiraincondicional, convertendo-se até mesmoem compromisso do poder público einstituições de ensino para com a sociedade.Segundo esses autores, não basta apenas teruma bolsa de trabalho ou receber ajudasocioeconômica, é preciso criar condiçõesiguais para que alunos e alunas,principalmente pobres, possam ter acesso àsbolsas acadêmicas, monitorias, participaçãoem projetos de pesquisas, criandopossibilidades reais, no intuito de resgatar aprópria reflexão dos saberes ali produzidos,superando as dificuldades vivenciadas portodos aqueles que vivem e sentem na peleesse problema que o espaço acadêmicoexpressa com maior intensidade.

No ano de 2006, foram apresentadas noCongresso Nacional duas linhas depensamentos que, sobremaneira, vêmsintetizando os principais argumentos sobreo acesso do negro às universidades, atravésdo sistema de cotas: a primeira é que todossão iguais perante a lei, conforme dispõe aCarta Magna de 1988 e que muitos seposicionam contra, alegando diversosfatores como, por exemplo, o mérito daconquista na disputa por uma vaga nasuniversidades, que todos devem concorrerem igualdades e condições e até mesmo oaumento do racismo, enfatizando o conceitode raça.

O segundo refere-se ao Projeto de Lei 6264/2005 - Estatuto da Igualdade Racial, que,de maneira democrática, vem contrapor-seao primeiro, afirmando no seu Art. 1º, §único que, a discriminação racial ouetnicorracial remete a toda distinção,exclusão, restrição ou preferência baseadaem raça, cor, restringindo o reconhecimento,gozo ou exercício em igualdade decondições. Segundo Arabela (2009), diversosestudos têm apontado neste país que os

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negros têm apresentado menor escolaridade,piores condições de vida, maior número dedesempregados, quando comparados com aspessoas brancas.

Ainda sobre esse assunto, Galdino (2004)relata que as práticas excludentes, quecaracterizam a educação nas instituições deensino superior, são tão perversas que nãosó restringem as pessoas negras no espaçoacadêmico, mas também inviabilizam a suaparticipação em direitos constitucionais quelhes deveriam ser garantidos.

A referida autora afirma ainda que adiscriminação racial não será combatida,enquanto a sociedade insistir em amenizaro problema. É necessário reconhecer eassegurar o combate à desigualdade racial,assegurando o direito à diferença. Portanto,o mais cruel desse contexto passa a ser anaturalização da desigualdade, impedindoque os negros tenham condições demobilidade social, gerando assim umavergonhosa política de exclusão e comoconsequências estatísticas relativas aosíndices de pobreza, característica dosubdesenvolvimento.

Outro ponto bastante discutido diz respeitoao “mérito”, que se tornou o principalargumento contra as cotas para as pessoasnão brancas no vestibular. Cabe aqui dizerque é indiscutível a habilidade, a preparaçãoe o conhecimento de cada um. O problemaé que para se chegar à majestade em umdeterminado assunto ou apropriar-se de umaboa oportunidade o assunto passa por outrasdimensões que estão além do desejo e davontade de muitos. Para os defensorescontrários a esta questão, tal habilidade, ouseja, o mérito, deveria se constituir comoprincipal e único critério de seleção nasuniversidades, selecionando os melhoresindependentemente da cor/raça,obedecendo-se assim, ao Art. 5º daConstituição Federal, em que todos são

iguais perante a lei sem qualquer distinção.

O ponto crucial aqui é saber se as pessoastiveram as mesmas oportunidades depreparação para a grande disputa tanto navida como no acesso às universidades.Todos hão de concordar que se tornainconcebível colocar dois pilotos de“fórmula 1” para uma disputa, sendo que oprimeiro piloto faz uso de carroextremamente bem construído à base detecnologia e motor turbo e o outro emcondições básicas e assim achar que omérito tem que ser o principal fator dadisputa. Para correlacionar com esseexemplo, Santos (2004) enfatiza que osalunos do ensino médio, que estudam emescolas públicas no Brasil, se encontramsempre em desvantagem em relação àquelesque estudam em escolas privadas paradisputar uma vaga no vestibular. Valeressaltar que, nesse processo, o que se temlevado mais em consideração é a conquistapelo mérito de chegada e não o da trajetória.

Segundo Gomes (2003), o vestibular temcomo objetivo, sob a ótica do aprendizado,excluir os socialmente fragilizados, demaneira que os recursos públicos destinadosà educação nas instituições públicas eprivadas não são gastos em prol de todos,mas em benefício de alguns, privilegiandode certa forma, as classes mais influentes,restando aos pobres e principalmente aosnegros as migalhas do sistema. Guimarães(2003, p.78) corrobora com essa ideiaafirmando que o “exame de vestibular nãodeixa espaço para que outras qualidades epotencialidades dos alunos sejamavaliadas”.

Retomando as ideias de Santos (2004), umoutro problema vivenciado pelasuniversidades com relação ao sistema decotas é a dificuldade de saber quem é negrono Brasil. Segundo ele, não há um critériopreciso de classificação racial no país. E

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além do mais, na concepção de Bernardino(2004), no Brasil, a sociedade está centradano mito da democracia racial, onde aspessoas se encontram apoiadas na crença deque não é a raça, mas a classe social queexplica a atribuição de status e asoportunidades de vida dos indivíduos. Paraesse autor, o Brasil é composto por umamiscigenação de pessoas, sendo irrelevantedistinguir quem é branco e quem é negro.

O ponto a ser destacado, no que diz respeitoà classificação racial, refere-se a umafundamentação centrada na biologia quetenta identificar esses grupos com apoio emquestões morfológicas, enfatizando a cor dapele, nariz achatado, cabelos crespos.Segundo Bernardino (2004), esse tipo declassificação perdeu a credibilidade e aquestão passou a ser validada através deuma discussão própria dos cientistas sociaisque têm se balizado em outros tipos dediferenças, tais como as sociais e históricas,para todas as esferas da vida social eprincipalmente no acesso ao ensino superior.

Sendo assim, Guimarães (2004) afirma quecompete às universidades criaremalternativas e elaborarem sistemas quebusquem assegurar o direito do cidadão naspossíveis fraudes que porventura possam vira acontecer.

Na opinião desse autor, o estabelecimentode cotas para negros nas universidadespúblicas, tal como proposto em lei, não lheparece a melhor alternativa, uma vez que épreciso antes de tudo pensar a sobrevivênciadas universidades orientadas para a pesquisae não apenas para o ensino, deixando claroo compromisso do Estado com a expansãoda pesquisa científica nessas universidades.Somente assim seria viável pensar naflexibilização do acesso para aqueles,vítimas do sistema.

As questões da raça e das cotas, bem como

as ações afirmativas, não devem ser vistasde maneira distorcida, principalmente noque diz respeito ao acesso do negro àuniversidade e consequentemente aomercado de trabalho. E, de acordo comD’Ávila e Lesser (2008, p.137), “as soluções,porém, parecem ser construídas de umaforma melhor no interior da nação, e nãovia uma perspectiva transnacional”. Assim,a solução para superar essa condição econstruir um novo olhar no interior de cadanação, parece ser o novo desafio dessascomunidades.

Para Fry (2008), enquanto os defensores dascotas têm certeza de que vão reduzir asdesigualdades raciais, os críticos temem queo Brasil possa se consolidar e se legitimarem apenas duas raças, estimulando cada vezmais a desconfiança entre “brancos” e“negros”, mascarando a dura realidade doembate entre eles no dia a dia. De acordocom esse autor, as cotas raciais vieram paracombater o clima de impunidade diante dadiscriminação racial no meio universitário eque, por esse motivo, o assunto sofrerádiversas variações de opiniões de acordo coma realidade em que ele for utilizado. O fatoé que o tema continua polêmico e semrespostas a diversas questões.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, percebe-se que opreconceito se encontra bastante arraigadona vida e no consciente do cidadãobrasileiro, permeando sobremaneira asrelações sociais, principalmente no que dizrespeito ao acesso do negro ao ensinosuperior. Algumas das maiores universidadespúblicas do país continuam ignorando atemática da inclusão. De acordo com Silva(2008), para que uma sociedade se torneinclusiva é preciso cooperar no esforçocoletivo de sujeitos que dialogam em buscado respeito, da liberdade e da igualdade.

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As ações afirmativas e a política de cotassão consideradas como apenas dois meioscapazes de propiciar uma maior integraçãosocial daqueles indivíduos, vítimas dadiscriminação racial. Pensar políticaspúblicas para o ingresso de pessoas pobresou negras no ensino superior talvez nãodevesse ser o reconhecimento pelo méritode sua trajetória, mas um reconhecimentopor superar quaisquer discriminações naescola e até mesmo nas universidades. Ecomo proposta de mudança dessa novarealidade brasileira surgem os movimentossociais que hoje se apresentam comoprincipais condutores, na política, dadefinição dos significados e dos atos,convertendo-se em decisões socialmentevoltadas para a instituição de projetos afavor da coletividade.

A partir dessa nova realidade, o Brasil temdemonstrado o fortalecimento de uma massacrítica que valoriza a cultura da participaçãono cenário político, travando embates deideias para a criação de atividades deformação e valorização social e cultural, sejaqual for o tipo de política afirmativa que ostornem mais forte na reivindicação dos seusdireitos junto à sociedade.

Apesar do desenrolar da história e oreconhecimento brasileiro deste déficit social,o jovem negro convive com a negligência,resistindo cotidianamente à ignorânciadaqueles que procuram, de alguma maneira,seja em defesa de seus interesses ou deoutrem, afastá-lo da possibilidade de umatrajetória educacional bem sucedida. Deacordo com Queiroz (2004), o racismovivenciado pelas crianças no cotidianoescolar se manifesta não apenas naquilo quese diz, mas, acima de tudo, naquilo que secala, uma vez que desde muito cedo acriança negra está sujeita à discriminação tãopresente no interior da escola, diminuindosua autoestima, comprometendo inclusive

a construção de uma imagem positiva de simesma, sinalizando sérias consequênciaspara o seu futuro escolar, principalmente noingresso ao ensino superior.

Portanto, é preciso desenvolver políticaspúblicas voltadas às escolas buscandomelhorar cada vez mais o ensino brasileiro,fazendo valer o que está previsto naConstituição Federal/1988 “independentede cor, raça, sexo”. E a universidade, porser considerada como última chance para asdiscussões de ações afirmativas ou qualqueroutro assunto que dizem respeito àsociedade, não pode deixar sem vozaqueles/as que, na verdade, têm sentido napele e na alma os efeitos de uma políticaque, há muito, veio só contribuir para odistanciamento entre aqueles socialmenteclassificados conforme o que lhes foipassado ao longo da história.

Por fim, o mais importante de tudo é quetodas as pessoas, sejam elas negras, pardas,mulatas, amarelas, indígenas ou qualqueroutra vítima da discriminação nunca deixemde reivindicar e de demandar,principalmente respeito por seus valoresculturais, além de tratamento digno eparticipação política, mesmo que isso venhaa ser sempre um dilema do mundo moderno.Depois que o povo brasileiro elegeu umpresidente vindo de uma família pobre enordestina vítima da discriminação e depoisque o mundo assistiu aos Estados Unidos,uma das maiores potências mundial,elegerem o primeiro presidente negro dahistória do país, isso pode significar quetodas as conquistas são possíveis, quandose busca com determinação.

Em suma, podemos destacar que a definiçãodo sistema de cotas para os negros nasuniversidades sempre será uma forma deimpulsionar a igualdade racial.

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REFERÊNCIAS

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Inclusão e Tecnologia:o uso do computador para criançassurdas nas séries iniciais do ensino

fundamental

BARBOSA, Rúbia Larissa Ferreira¹

RESUMO: O presente estudo tem por finalidade discutir sobre o usodo computador para crianças surdas nas séries iniciais do ensinofundamental. São abordadas várias formas de como o computador podeajudar a criança surda a desenvolver seu raciocínio lógico-matemático,sua autoestima perante a sociedade, seu cognitivo, o desenvolvimentona escrita, leitura, as descobertas de meios informacionais, como “EuProcurando Você” - ICQs, Messengers, e várias formas de comunicaçãocom outras crianças sem deficiência e até mesmo com a mesma deficiênciadiante do computador. A metodologia utilizada foi a abordagemqualitativa e exploratória, por meio de pesquisa bibliográfica. Foramconsultados livros, revistas e sites com assuntos relacionados ao tema,para que se pudesse compreender a problemática estudada.

PALAVRAS-CHAVES: Educação, Inclusão social, Uso do computador,Séries iniciais, Raciocínio lógico.

1 Graduada em Normal Superior – Séries Iniciais do Ensino Fundamental, com Complementaçãoem Pedagogia, Pós-Graduação em Docência do Ensino Superior pela Fundação Santo Agostinhode Montes Claros. Assistente Administrativa do Instituto Educacional Santo Agostinho LTDAde Montes Claros/MG.

ARTIGO

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A INCLUSÃO

A palavra “inclusão” invadiu o discursonacional recentemente, passando a ser usadaamplamente, em diferentes contextos, comdiferentes significados. A inclusão de surdosno contexto educacional tem sido palco devárias reflexões. Sabemos que não bastasomente que a criança surda frequente umasala de aula, mas que sejam atendidas suasnecessidades. Isso indica que há umprocesso social em curso, denominado“inclusão” pelos estudiosos, de um lado e,de outro, as próprias pessoas com deficiênciacomeçam a se mostrar, a reivindicar seusespaços, a exercer seu papel de cidadãs.Como todo processo social, este também écomplexo e se faz de forma gradual. Afinal,para que a inclusão se faça, é precisomodificar séculos de história, depreconceitos muito arraigados, de ambos oslados - e isso não se faz de um dia para ooutro.

A Educação Inclusiva é atualmente é umdos maiores desafios do sistema educacional;surgido na década de 70. Os pressupostosda Educação Inclusiva fundamentam váriosprogramas e projetos da educação. Emrelação às escolas, a ideia é de que ascrianças com necessidades especiais sejamincluídas em processo de educação regularem escolas para crianças sem deficiência.

Esse fato, ao invés de favorecer acompreensão sobre o processo a que apalavra se refere, tem feito dela um simplesmodismo, usado muitas vezessuperficialmente como um rótulo vazio designificação social. Entretanto, não se podeignorar o longo e importante processohistórico que produziu, configurando umaluta constante de diferentes minorias, nabusca de defesa e garantia de seus direitoscomo seres humanos e cidadãos. Ignorar talprocesso implica na perda de compreensão

de seu sentido e significado. A relação dasociedade com a parcela de populaçãoconstituída pelas pessoas com deficiênciatem-se modificado no decorrer dos tempos.

A inclusão prevê intervenções decisivas einclusivas, em ambos os lados, no processode desenvolvimentos do sujeito e noprocesso de construção da realidade social.Conquanto, então, preveja o trabalho diretocom o sujeito, adota como objetivoprimordial e de curto prazo, a intervençãojunto às diferentes instâncias quecontextualizam a vida desse sujeito nacomunidade, no sentido de nelas promoveracessibilidade (física, material, humana,social, legal,) que se mostrem necessáriaspara que a pessoa com deficiência possaimediatamente adquirir condições de acessoao espaço comum da vida na sociedade.

Embora se possam encontrar muitosequívocos devido à insuficientecompreensão do conceito, contextualizadoem seu processo histórico de construção, agrande diferença de significação entre ostermos integração e inclusão reside no fatode que, enquanto no primeiro se procurainvestir no apontamento do sujeito para avida na comunidade, no outro, além de seinvestir no processo de desenvolvimento doindivíduo, busca-se a criação imediata decondições que garantam o acesso e aparticipação da pessoa na vida comunitária.

Não haverá inclusão da pessoa comdeficiência, enquanto a sociedade não forinclusiva, ou seja, realmente democrática,onde todos possam igualmente se manifestarnas diferentes instâncias do debate de ideiase de tomada de decisões, tendo disponívelo suporte que for necessário para viabilizaressa participação. Assim, que as pessoas comdeficiência frequentem os serviços de quenecessitam para seu melhor tratamento edesenvolvimento.

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O Brasil mantém, ainda, no panorama desuas relações com a parcela da populaçãorepresentada pelas pessoas com deficiência,resquícios do paradigma da institucionali-zação total e uma maior concentração doparadigma de serviços. E em qualquer áreada atenção pública (educação, saúde,esporte, turismo, lazer, cultura), osprogramas, projetos e atividades sãoplanejados para as pessoas não deficientes.Quando abertos para a pessoa comdeficiência são, em geral, desneces-sariamente segregados e/ou segregatórios.

Não adianta prover igualdade deoportunidades, se a sociedade não garantiro acesso da pessoa com deficiência a essasoportunidades. Muitos são os suportesnecessários e possíveis de imediato. Outros,demandam maior planejamento a médio elongo prazos.

Uma legislação inclusiva traz muitosproblemas concretos para as escolas, poisnormalmente os processos educativos daescola (e até o espaço físico) tratam alunase alunos de forma homogênea, e isso se tornamais complicado, quando se têm criançascom características muito diferentes. Emresumo, a inclusão é um grande desafio paraa nossa sociedade e para a nossa escola. AUNESCO afirma:

Inclusão e participação são essenciais à dignidadehumana e aos gozos e exercícios dos direitoshumanos. No campo de educação, tal se refleteno desenvolvimento de estratégias queprocuram proporcionar uma equalizaçãogenuína de oportunidades. A experiência emmuitos países demonstra que a integração dascrianças e dos jovens com necessidadeseducacionais especiais é mais eficazmentealcançada em escolas inclusivas que servem atodas as crianças de umacomunidade.(UNESCO, 1994, p.61).

O ponto de vista defendido é entender queo princípio fundamental da escola inclusiva

é o que todas as crianças deveriam aprenderjuntas, independentemente de quaisquerdificuldade ou diferenças que possam ter.As escolas inclusivas devem reconhecer eresponder às diversas necessidades de seusalunos, acomodando tanto estilos comoritmos diferentes de aprendizagem eassegurando uma educação de qualidade atodos, por meio de currículo apropriado,modificações organizacionais, estratégias deensino, uso de recursos e parcerias com acomunidade.

Em outras palavras, as implicaçõesconsistem no reconhecimento da igualdadede valores de direitos, e na conseqüentetomada de atitudes, em todos os níveis, quereflitam uma coerência entre o que se faz(Cf. BOOTH, 1981).

Agostinho (2002) afirma que:

[...] o paradigma do direito à educação não estácentrado no planeta dos adultos, nem no solda infância, mas ex-centrado no universo dosdireitos de homem, onde não há pais e filhos,maiores ou menores, professores e alunos,sujeitos diferentes e igual em dignidade,liberdade e direito. (AGOSTINHO , 2002, p.135-156).

A Educação desejada para os novos séculosdifunde principalmente quatro eixosbásicos: a aprender a aprender, aprender afazer, aprender a conviver e aprender a ser.Esses eixos são essenciais na educação dacriança que apresenta qualquer tipo dedeficiência.

O aprender a aprender consiste napossibilidade de adquirir certoscomportamentos que são úteis na educaçãoprincipalmente da criança surda, pois é ondeo profissional precisa estabelecer seu maiordesenvolvimento, a interação, comunicaçãointer e intra-pessoal da criança.

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Aprender a fazer - para se formar umapessoa com capacidade de refletir, pensar,aprimorar seus próprios atos. Essa fase exigedo educador responsabilidade para setrabalhar com a nova realidade da criançasurda, fazendo com ela alcance a capacidadede interagir na sociedade, na escola, com osamigos e outras crianças ouvintes.

Aprender a conviver- juntos requer umautoconhecimento, a base fundamental. Odesenvolvimento das relações socioafetivasda criança surda permite que ela própriadescubra suas oportunidades diante dasociedade, para a compreensão de mundo edas pessoas que nelas são inseridas, arealidade de cada um e de si própria, decomo ela pode ser capaz de alcançar seusobjetivos sem medo da discriminação epreconceito, por ser uma criança diferentedas outras.

Aprender a ser - envolve o autodomínioda criança, pois, diante da sociedade em quevive, das pessoas que a rodeiam, ela podealcançar por si só sua autonomia,construindo e elaborando suas ideias, seumodo de ser e de agir.

Ainda hoje, no Brasil, os surdos enfrentamgrandes obstáculos, a começar peladiscriminação dos pais, amigos, colegas e dasescolas que ainda não estão totalmenteadaptadas para recebê-los numa sala de aulanas séries iniciais do ensino fundamental. Asociedade vê o aluno surdo como umapessoa de baixo grau de aprendizagem, quenão é capaz de produzir bem um trabalhoem sala de aula, de se sair bem na profissãoque queira seguir, mesmo no exercício deseu papel como ser.

O uso do computador para as criançassurdas nas séries iniciais do ensinofundamental retrata como a tecnologia é útilna educação delas e como ele pode ajudá-la

a desenvolver a escrita, leitura oral-facial,usar jogos desenvolvidos para despertar oraciocínio lógico e o cognitivo.

Através da Internet, a criança surda pode secomunicar com outras crianças com a mesmadeficiência e com crianças com outrasdeficiências, adultos, adolescentes, e issoacaba desenvolvendo sua autoestima, suaconfiança, seu empoderamento, uma vezque passa a ter a mesma capacidade dacriança sem deficiência.

O LOGO, software de grande importânciana educação dessas crianças, propicia a elasa descoberta de algumas artes, gráficos,línguas e, através dele, os educadores, paisou professores podem observar, atentandosempre para as técnicas e abordagensempregadas no processo de resolução deatividades, fazendo com que as criançasfiquem livres para pesquisar, estudar,descobrir coisas que elas mesmas sãocapazes de fazer diante do computador. Eisso é uma forma de educar sem restriçõesou qualquer tipo de rigorosidade oudiscriminação. Esse tipo de software éinteressante também para o professor queestá dentro da sala de aula, convivendo comvários alunos que têm educação diferenciadaum do outro. O LOGO oferece maneiradiferenciada de educar, por meio de váriasatividades interessante, principalmente parao professor que tem em sua sala algunsalunos com deficiência. O software ajuda aquebrar essa visão de que alunos comdeficiência, sejam eles surdos ou com outrotipo de deficiência, não são diferentes deninguém e sim crianças capazes.

De acordo com Goldenberg (1984), o LOGOpropicia um ambiente de aprendizagem noqual pode propor e resolver problemas e oeducador pode observá-la, atentando para astécnicas e abordagens empregadas noprocesso de resoluções.

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Esse processo dito por Goldenberg explicaexatamente que o educador deve deixar acriança surda livre para desenvolver suasatividades, de maneira que ela própriadescubra seus conhecimentos, suaimportância, seu talento e suas dificuldadesdiante do computador.

Segundo Valente (1994, p. 109)

A análise dos software mostrou também que oprofessor tem um papel fundamental noprocesso de aprendizagem. Em todos os tiposde softwares, sem o professor preparado paradesafiar, desequilibrar o aprendiz, é muito difícilesperar que o software per se crie soluções paraele aprender.

Segundo a fala do autor, o professor deveestar sempre atento às inovações no ramoda tecnologia, para que, então, possadesenvolver e ensinar de forma adequada acada criança. Deve considerar que ocomputador é só uma simples ferramenta deauxílio e que o conteúdo ministrado dentroda sala de aula cabe a ele. Cabe também aoprofessor tratar com carinho respeito acriança, motivando-a na busca, mediadapelo computador, de forma de interação coma sociedade.

A criança surda tem grande capacidade deconstruir sua própria identidade, mas paraisso é necessário que ela receba ajuda dosprofissionais capacitados e dispostos a ajudá-la, com apoio, carinho e que utilizem, deforma adequada, uma linguagem que venhafavorecer tanto a criança surda quanto acriança ouvinte dentro da sala de aula. ALíngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e aLíngua Portuguesa lhe proporcionarão ummelhor desenvolvimento linguístico ecognitivo.

Nestes últimos anos, é crescente a evoluçãodo uso do computador pela criança surda,redirecionado principalmente para o processo

de aprendizagem. Ele tem assumido um papelde suma importância no sentido de facilitar esocializar a criança dentro da sala de aula nasséries iniciais do ensino fundamental, naexecução de atividades, como a leitura e seusconhecimentos cognitivos.

OLIVEIRA (2001) afirma que “Osambientes informatizados de aprendizagemestão diferentemente relacionados com aprodução, a avaliação dos diferentessoftwares educativos”. Assim sendo, no quediz respeito à qualidade educacional, osoftware educativo é um desafio para umacriança surda no sentido de propiciar melhorconhecimento e aprendizagem, através deum monitor, telas sensíveis a toques,mouses e teclados especiais, capacetes componteiros etc. O professor pode desenvolvertarefas, perguntas, jogos, brincadeiras emnível de complexidade para testar o grau deaprendizagem da criança, ressaltando o seuraciocínio lógico-matemático através dasimagens, gravuras e escrita.

Para o desenvolvimento de várias atividadesdentro da sala de aula, é preciso que o educadorutilize a língua de sinais e a língua escrita parafacilitar o entendimento da criança surda coma ouvinte. Utilizar rostos humanos e desenhosanimados em 3d (terceira dimensão) é umadas formas de possibilitar a criança surda odespertar da pronúncia de palavras, uma vezque “ as pessoas aprendem a melhorar alinguagem observando, ouvindo e fazendo”(GIPE, 2001).

A amizade entre o professor e a criança surdana sala de aula é muito significativa, poisrepresenta para ela um elo de confiança. Autilização da Língua Brasileira de Sinais –LIBRAS - pelo professor traz tanto para elequanto para o aluno uma grande mudançano comportamento perante outras criançasouvintes e também um avanço nos conteúdosministrados.

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Concluímos, com a fala de Oliver Sacks(1989).

[...] A surdez em si não é um infortúnio; oinfortúnio sobrevêm com o colapso dacomunicação e da linguagem, isso significa queos surdos sempre foram incompreendidos pelasociedade, as pessoas não entendiam o que elesfalavam e na maioria das vezes tomavamdecisões por eles trazendo a dificuldade. Osurdo ainda não consegue ser compreendido,ele é visto como deficiente, uma pessoadiferente de tudo e de todos e nem sequertratado como ser humano.

A maioria das pessoas não consegue seconscientizar de que uma criança surda ouum adulto surdo tem qualidades ehabilidades como qualquer outra pessoaouvinte, por isso que o computador éimportante na educação da criança surda,pois ele desperta nela o desejo dedescoberta e o raciocínio. SegundoVasconcellos, (Encontro Nacional de Surdosque se Conheceram na Internet – São Paulo,17/06/2000), “A Internet para surdos igualatodas as pessoas: pobres, ricos, surdos,ouvintes brasileiros e estrangeiros”.

O uso da tecnologia vem permitindo que acriança surda participe melhor das atividadesescolares, culturais, de lazer, fazendo comque obtenha uma resposta gratificante na suainteração com crianças ouvintes. Hoje, ocomputador tem sido uma grande ferramentapara o processo de aprendizagem, poisatravés dele a criança desenvolve suaautoestima, seu crescimento afetivo comrelação a outras crianças sem deficiência,desenvolvendo sua autoconfiança perantea sociedade em que vive. Portanto, é precisoque os pais e educadores se ajustem a essadiferença.

As escolas de ensino regular devem oferecerhoje a todo o corpo docente cursosprofissionalizantes que ensinam comodevem ser tratadas as crianças com algum

tipo de deficiência, para que não hajadiscriminação por parte de nenhuma criançasem deficiência.

É importante que o professor esteja semprepresente na vida da criança surda, pois éatravés dele que ela consegue adquirirconfiança e espaço perante a sala de alunosouvintes. Também, deve-se ter a presençaem sala de aula de um profissional quetraduza o que está sendo falado para que oaluno surdo não se distancie dos outrosouvintes, propiciando a interação de ambasas partes.

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A relevância da Psicologia naeducação infantil

BARBOSA, Samyra Nunes Raim¹

RESUMO: O presente artigo discute o tema a relevância da psicologiana educação infantil. A psicologia da educação surge para dar um novorumo, um novo sentido, à educação e para ajudá-la ser mais completa naformação do ser humano. A educação não deve se limitar apenas a passarinformação, ensinar o conteúdo, disciplinar os alunos, como antigamente,quando eram utilizados métodos agressivos, rudimentares, como apalmatória. O alvo da educação deve ser o aluno, sua formação pessoal,moral, seu caráter, seus sentimentos, suas relações sociais. A infância éuma fase de adaptação, de construção da personalidade, portanto, apsicologia age dando apoio na formação e educação desse ser “criança”.

PALAVRAS-CHAVES: Educação Infantil, Psicologia da Educação,Formação, Relações sociais.

* Graduada em Pedagogia na Universidade Estadual de Montes Claros.

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As escolas deveriam entender mais de sereshumanos e de amor do que de conteúdos etécnicas educativas. Elas têm contribuído emdemasia para a construção de neuróticos pornão entenderem de amor, de sonhos, defantasias, de símbolos e de dores. (SALTINIApud KRUEGER)

O interesse por esse assunto surge por umaadmiração profunda à psicologia, aoperceber a necessidade de se compreendermais o universo infantil para se ter êxito nasua educação e no momento que, em salade aula, ao estudar grandes nomes da históriada pedagogia ( Pestallozi, Rousseau,Froebel, Dewey, Herbart ...) descubro queestes, desde antigamente, falavam que erapreciso “psicologizar a educação”, ou seja,educar tendo um conhecimento intuitivo ouempírico dos sentimentos do outro,compreender os comportamentos humanos.

O objetivo deste artigo é discutir e entendera fundamental importância da psicologia naeducação infantil, tendo como base teóricaas ideias de vários autores.

Considero este estudo de extremaimportância, principalmente nos dias dehoje em que o mundo das escolas está tãoviolento e que é preciso formar sereshumanos de verdade, amorosos, sensíveis,solidários, quebrando, assim, a frieza dasrelações sociais no mundo modernocapitalista.

Começo, então, definindo alguns conceitos.A infância é um período de adaptação aomeio físico e social. E conforme ensina JeanPiaget (1998, p.154), “ educar é adaptar oindivíduo ao meio social ambiente”.Segundo Moreno e Cubero, (1995, p. 199)”[...] a escola é por excelência, a instituiçãoencarregada da transmissão dosconhecimentos e valores da cultura e,portanto, de preparar as crianças para odesempenho adequado do papel do adultoativo nas estruturas sociais estabelecidas”.

A escola é um agente socializador, pois temcomo função formar e organizar o ser socialem cada um de nós, de modo a desenvolvere promover alguns estados físicos,intelectuais e morais que a sociedade exigeque um indivíduo tenha. A criança muitoindefesa, com grande capacidade deaprendizagem, tem várias necessidadesbásicas que irão ser saciadas somente pelasociedade. E essa socialização envolve aaquisição da cultura, das ideologias, das leis,dos hábitos, das condutas consideradas“certas” pela sociedade e assim essa garantesua perpetuação e desenvolvimento.

Desde o início dos tempos, a educação estáligada à psicologia. Todos os conceitos eformas de educar, possuem algum termopsicológico, como: sentimentos, atitudes,interesses, aptidões, personalidades, dentreoutros. E todos os métodos pedagógicosprecisam da psicologia para serem eficientes,atender as necessidades das crianças. Jáobservava Pestallozi e Herbart que erapreciso “psicologizar a educação”(LOURENÇO FILHO, 1978), ou seja, tercomo parte efetiva da ação de educar umacriança, a necessidade primeira de conhecê-la. A educação tradicional sempre consideroua criança como um adulto pequeno, ignorante,que pensa como adulto, mas não temconhecimento, sendo necessário educá-la,passar para ela o conhecimento consideradonecessário pela sociedade. Mas descobremque o pensamento da criança équalitativamente diferente do nosso, entãosurge a escola moderna e para essa é defundamental importância saber qual é aestrutura de pensamento da criança e qual arelação existente entre a mentalidade infantile a adulta. A escola moderna busca encontrarmeio e métodos convenientes para ajudar acriança a constituí-la ela mesma, ou seja, sercoerente intelectualmente e recíprocamoralmente. (PIAGET, J.1998) A finalidadeda educação é alterar, mudar ocomportamento e a experiência do aluno,

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sendo necessário que a psicologia entre comoapoio nessa ação para que se tenha umconhecimento prévio do aluno, de seusproblemas, dificuldades, de sua personali-dade, de suas peculiaridades. Surge, então, aPsicologia da Educação.

Pestallozi, um dos precursores da psicologiada educação, observa que cada criança temsuas peculiaridades, que cada uma tem umamaneira própria de aprender e cria osestágios de desenvolvimento da criança.Para se tornar mais eficaz o trabalho daeducação infantil, Piaget estudou essesestágios da Psicologia do Desenvolvimento,e diz que o desenvolvimento da criança édividido por fases, e estas são estruturascognitivas, ou seja, estruturas referentes aoconhecimento, comum em todos e evoluemprogressivamente. A 1ª é fase sensório-motora, do nascimento aos 18 meses(essencialmente intuitiva), a 2ª é a fase dasoperações concretas, de 6 à 12-13 anos(representações imediatas, construção dainteligência operatória) e a 3ª é a fase dasoperações formais, acima de 12-13 anos(hipóteses, construção da inteligênciaabstrata). (FOULIN e MOUCHON, 2000).O desenvolvimento mental é composto pordois princípios: o cognitivo e o afetivo. JáVygotsky estudou mais profundamentesobre as estruturas cognitivas, focalizandomais as funções mentais( que, para ele, sãoos pensamentos, memória, percepção eatenção) e a consciência.

Há crianças que se adaptam à escolarapidamente, que aprendem com facilidade,que fazem amizade e se relacionam bemcom os colegas, e há também as que agemao inverso disso. E o professor para saberlidar com essas diferenças, saber de queforma será ensinado o conteúdo, de queforma irá relacionar-se com esse ou aquelealuno, é imprescindível que saiba o queprovocou, talvez, a dificuldade em um certoaluno, entra aí a psicologia. A psicologia vai

buscar resposta para as dificuldades ediferenças nas condutas individuais, emboramuitas vezes essa resposta estará nãosomente aí, mas também no elo existenteentre a criança e sua origem social, sendomais pertinente então uma abordagemsociológica ou ainda a resposta para essadificuldade estará no tipo de estruturaçãofamiliar. O tipo de estruturação familiartambém é perfeitamente relacionada ao tipode diferenças ou dificuldades individuais dascrianças. Na área da educação infantil, opapel da psicologia é primeiramente detectaro mais rápido possível as crianças que nãoestão conseguindo acompanhar o processode escolaridade “normal”, descobrir oporquê disso, e a partir daí mostrar para osprofessores, para o diretor, o supervisor, eoutros as providências a serem tomadas parasolucionar esses problemas e outros mais.Os psicólogos que atuam nessa área podemfornecer atividades e materiais que ajudemna aprendizagem desses alunos.Outro papelimportante que a psicologia assume naeducação é compreender e oferecer amparoe condições para que as crianças queconvivem com problemas extra-escolares,como: brigas em casa, alcoolismo, falta dapresença familiar do pai ou da mãe, drogas,prostituição etc, possam sair dessassituações vitoriosas e saibam lidar com arealidade da vida. Em uma sala de aula,existem várias crianças, cada uma com suaspeculiaridades, suas dificuldades ediferenças individuais, portanto, a psicologiatambém atua auxiliando os professores paraterem um olhar mais específico, para quesaibam que cada um em particular tem seuprocesso de aprendizagem e, a partir daí,respeitar a maneira própria de cada umconviver e relacionar-se com as outraspessoas, de demonstrar seus sentimentos eprestar mais atenção às necessidadesparticulares de cada criança.

Uma das principais defesas da psicologia é aimportância da afetividade no desenvolvi-

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mento mental da criança, pois é umacondição necessária na construção dainteligência. Krueger, M. F., em seu artigosobre a relevância da afetividade na educaçãoinfantil, encontrou, no dicionário Aurélio(1994),como definição do verbeteafetividade: “Psicol.Conjunto de fenômenospsíquicos que se manifestam sob a forma deemoções, sentimentos e paixões,acompanhados sempre da impressão de dorou prazer, de satisfação ou insatisfação, deagrado ou desagrado, de alegria ou tristeza”.Toda pessoa e principalmente a criança tema necessidade de ser amada, compreendida,acolhida, respeitada, ouvida, pois essasdemonstrações de carinho e afeto despertamnelas um interesse maior, uma curiosidadepara o novo, para o mundo, para a vida e parao aprendizado. Segundo Piaget (1962), opsicólogo francês Wallon acha que a emoçãoé a fonte do conhecimento. A afetividadepode incentivar e acelerar ou retardar eatrapalhar a aquisição de conhecimentos,sendo uma ajuda e não uma causa para aformação das estruturas cognitivas. Umacriança, por receber carinho, atenção, amor,é mais motivada do que outras, acelerandoassim seu processo de aprendizagem, e estaentendendo de maneira mais rápida que, porexemplo, 5+6=11. Mas, uma outra criança,que por vários motivos a afetividadeprovocou desvios e retardamento, seuprocesso de aprendizagem será mais lento.No entanto, mais cedo ou mais tarde, estatambém irá aceitar que 5+6=11.

A criança, quando entra na escola, deve serbem acolhida, pois é um dos primeiroscontatos dela fora do círculo familiar. Aescola deve oferecer uma base sólida paraque a criança se sinta segura e protegida. Oprofessor estabelece com seu aluno e vice-versa uma intensa relação de afetividade, porisso deve demonstrar certas qualidades,como paciência, carinho, atenção,delicadeza, pois assim irá motivar nas

crianças uma maior facilidade deaprendizagem, ao contrário do professor queé autoritário, grosso, impaciente, ditador,desatencioso, esse irá inibi-la, fazendo comque ela tome antipatia da matéria,dificultando a aprendizagem e até a ida paraa escola. O professor deve aprender a lidarcom o estado emocional da criança,incentivá-la na busca do conhecimento e tersensibilidade para perceber suasnecessidades, que se manifestam dediferentes maneiras e em diferentes idades.Krueger, M. F., em seu artigo, expõe as ideiasde Saltini, quando este afirma que énecessário também que o professor tenhaserenidade, estimule e encoraje as criançasa descobrir e inventar, mantenha um diálogofrequente com elas, respeite e valorize aopinião de cada uma, sem ressaltar mais umaque a outra ou fazer comparações, eprincipalmente que dê atenção particular acada uma.

Neste caso, o educador serve de continente paraa criança. Poderíamos dizer, portanto, que ocontinente é o espaço onde podemos depositarnossas pequenas construções e onde elastomam um sentido, um peso e um respeito,enfim, onde elas são acolhidas e valorizadas, talqual um útero acolhe um embrião (SALTINI,1997, p. 89 apud KRUEGER, M. F. ).

Quero também ressaltar a importância daautoestima na educação infantil.

A todo momento, a escola recebe crianças comauto estima baixa, tristeza, dificuldades emaprender ou em se entrosar com os coleguinhase as rotulamos de complicadas, sem limites ousem educação e não nos colocamos diante delasa seu favor, não compactuamos e nem nosaliamos a elas, não as tocamos e muito menosconseguimos entender o verdadeiro motivo queas deixou assim.A escola facilita o papel da educação nos temposatuais, que seria construir pessoas plenas,priorizando o ser e não o ter, levando o aluno aser crítico e construir seu caminho.(CHARDELLI, 2002 apud KRUEGER, M. F.)

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A criança que é motivada a fazer uma tarefa,por exemplo, por se considerar capaz derealizá-la, buscando o sucesso, aumentarásua autoestima, que deve ser acompanhadade uma necessidade de autodeterminação.

Concluo, portanto, que é imprescindível anecessidade de se ter nas escolas de ummodo geral, mas principalmente nas escolasinfantis, por serem a base, o primeiro contatodas crianças fora do círculo familiar, apresença de uma ciência que estuda osfenômenos psíquicos, do comportamento,que busca compreender a mente humana,as dificuldades e diferenças individuais,como uma aliada na educação ou naformação da criança.

O papel da psicologia não se restringe apenasem fornecer dados, detectar problemas, ebuscar maneiras de resolvê-los, mas tambémcontribuir na validação de métodospedagógicos, ou seja, dizendo se taismétodos irão atender às necessidades dascrianças.

[...] a pedagogia moderna não saiu de formaalguma da psicologia da criança, da mesmamaneira que os progressos da técnica industrialsurgiram, passo a passo, das descobertas dasciências exatas. Foram muito mais o espíritogeral das pesquisas psicológicas e, muitas vezestambém, os próprios métodos de observaçãoque, passando do campo da ciência pura ao daexperimentação, vivificaram a pedagogia(KRUEGER,M.F Apud PIAGET, J 1985, p.148).

Sendo assim, o pedagogo e o psicólogo ou opsicopedagogo devem trabalhar juntos naconcepção de materiais, de métodos, depráticas de ensino, na elaboração dosprogramas e atividades lúdicas para que asdiferenças e dificuldades individuais possamser retratadas nesses métodos, que seriam

repassados para os professores executarem,facilitando e acelerando o desenvolvimentoescolar da criança.

REFERÊNCIAS

KRUEGER, Magrit Froehlich. ARelevância da Afetividade na EducaçãoInfantil. Disponível em: <http://www.icpg.com.br>. Acesso em: 15 jun.2007.

PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Riode Janeiro: Forense Universitária, 1998.184 p.

FOULIN, Jean-Noel e MOUCHON,Serge. Psicologia da Educação. Porto Alegre:Artes Médicas, 2000. 126 p.

MORENO, Maria Carmen e CUBERO,Rosario. Relações Sociais nos Anos Pré-escolares: Família, Escola, Colegas.In: COLL,César ;, PALACIOS, Jesús e MARCHESI,Alvaro, org. Desenvolvimento Psicológico eEducação - Psicologia Evolutiva. Porto alegre:Artes Médicas, 1995. 356 p.

FILHO, Lourenço. Introdução ao Estudo daEscola Nova. São Paulo: Melhoramentos,1978. 271 p.

CHARDELLI, Rita de Cássia Rocha.Brincar e ser feliz. Disponível em: < http://7mares.terravista.pt/forumeducacao/Textos/textobrincareserfeliz.htm>.Acesso em: 15 jun 2007.

DICIONÁRIO AURÉLIO. NovoDicionário da Língua Portuguesa. 1 cd-rom. [S.l.]: Editora Nova Fronteira,1994.

SALTINI, Cláudio J. P. Afetividade &inteligência. Rio de Janeiro: DPA, 1997.

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Gerundismo:como atender sem se comprometer

RENNÓ, Oscar Martins¹LAUTON, Nely Rachel Veloso2

SANTOS, Carlos Machado3

RESUMO: Quando no Brasil, alguém ao telefone lhe diz: “Vou estartransferindo sua chamada para que alguém possa estar te atendendo”,tenha certeza, você está sendo vítima da síndrome do gerundismo. Essemodo irritante de falar, peculiar dos Call Centers, que hoje não se restringemais a eles e invade todo tipo de atendimento, seja o comércio ou mesmono serviço público, tem causado estranhas reações. Será o gerundismoerro de gramática? Será um vício maldito como alguns afirmam? Sãomuitos os que acham que se trata de tradução errada dos scripts importadospelos Call Centers, mas parece que há muito mais que isso. E não bastasaber o que é e de onde vem, é preciso saber por que esses jovens falamassim, de forma tão estranha aos nossos ouvidos.

PALAVRAS-CHAVES: Gestão, Teleatendimento, Telemarketing,Gerúndio, Gerundismo.

1 Doutorando pela UTAD – PT, Mestre em Administração pela FUMEC - MG (2007) e graduadoem Administração de Empresas pela UNIMONTES - MG (1981 ), professor do curso deAdministração e do curso de Engenharia de Produção da Faculdade Santo Agostinho - MG.

2 Graduação em LETRAS pela Universidade Estadual de Montes Claros (1973), graduação emLíngua e Literatura Francesa pela Associação de Cultura Franco-Brasileira (1976), especializaçãoem Redação pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1986) e professora dePortuguês do curso de Direito da Faculdade Santo Agostinho – MG.

3 Doutor e Agregado em Gestão. Professor da UTAD e Professor Convidado da UniversidadeLusófona do Porto. Investigador da GOVCOPP – Unidade de Investigação em Governança,Competitividade e Políticas Públicas.

ARTIGO

GESTÃO

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ABSTRACT: When in Brazil, someone on the phone, tells you: “Vouestar transferindo sua chamada para que alguém possa estar te atendendo”, makesure you are the victim of syndrome of gerund.

This annoying way of speaking, typical to Call Center, which today nolonger limited to them and invades all types of service, whether tradingor even in public service, has caused strange reactions. Is gerund grammarerror? It will be a damned addictive as some claim? There are many whothink that it is erroneous translation of scripts imported by call centers,but it seems that there is much more than that. And not just know whatit is and where it comes from, you need to know because these kids sayso, so strange to our ears.

KEY WORDS: Management, Telemarketing.

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1 INTRODUÇÃO

“Aqui vai a última flor do Lácio:” Com essafrase, Freire (2001) inicia um dos maispolêmicos temas, na atualidade, da línguaPortuguesa no Brasil, só perdendo para areforma ortográfica de 2009: o gerundismo.Utilizando sempre a estrutura típica do“vício maldito” como ele próprio odenomina, o autor apresenta toda a suaindignação e irritação contra a forma deexpressar dos Operadores de Telemarketing,ou Teleatendimento. Para ele, tudo começouquando alguém precisou traduzir os manuaisde atendimento por telemarketing. Daí,segundo ele, pensar que “We’ll be sending ittomorrow” possa ter o mesmo significado que“Nós vamos estar mandando isso amanhã”foi um passo.

Na campanha lançada por Freire (2003)contra o gerundismo, o autor define o perfildo profissional de Teleatendimento:

E só existe uma forma de descontaminar umgerundista crônico: corrigindo o coitado. Nachincha. Com educação, claro. Por incrível que pareçaninguém usa o gerundismo para irritar. Quandoa teleatendente diz ‘O senhor pode estaraguardando na linha, que eu vou estar transferindoa sua ligação’, ela pensa que está falando bonito.Por sinal, ela não entende por que ‘eu vou estartransferindo’ é errado e ‘ela está falando bonito’ écerto. O que só aumenta a nossa responsabilidadecomo vigilantes e educadores. O importante énunca deixar barato. Se alguém vier comgerundismo para cima de você, respire fundo – eeduque a criatura. ‘Não, eu não posso TÁASSINANDO aqui. Mas, se você quiser, eu possoASSINAR aqui, com o maior prazer’. ‘Não, minhafilha. Eu não vou TÁ EXPERIMENTANDOnada em provador nenhum. Eu vou é trocar deloja! ‘ (FREIRE, 2003).

Em sua indignação, e sempre em tomirônico, chega a convocar o governo aparticipar de sua campanha:

O governo poderia fazer de 2004 o Ano Oficialde Combate ao Gerundismo. Um bom começo

seria proibir o gerundismo em todas asdeclarações do Executivo (presidente: metáfora,tudo bem. Gerundismo, não!). Gerundismopoderia dar pontos na carteira de motorista.Poderia aumentar a alíquota do Imposto deRenda do infrator. As universidades públicaspoderiam inovar o sistema de cotas. Que tal:100% das vagas para não-gerundistas?!!(FREIRE, 2003).

Por incrível que pareça, atendendo ao apelodos indignados com o gerundismo, ogovernador do Distrito Federal, José RobertoArruda, em tom de arrogância eincompetência, decretou a demissão dogerúndio no serviço público do DistritoFederal:

GOVERNO DO DISTRITO FEDERALDECRETO Nº 28.314, DE 28 DE SETEMBRO

DE 2007.Demite o Gerúndio do Distrito Federal, e dá outras

providências.O GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL,no uso das atribuições que lhe confere o artigo 100,

incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do DistritoFederal, DECRETA:

Art. 1° - Fica demitido o Gerúndio de todos osórgãos do Governo do Distrito Federal.

Art. 2° - Fica proibido a partir desta data o uso dogerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA.

Art. 3° - Este Decreto entra em vigor na data de suapublicação.

Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário.JOSÉ ROBERTO ARRUDA

GovernadorPublicado no DODF de 01.10.2007, p. 19.

FIGURA 1: Decreto do Distrito FederalFonte: http://www.tc.df.gov.br/silegisdocs/distrital/gdf/decretos/2007/dec-2007-28314-500.htm acessoem 17-12-2010

Assustados com a reação da comunidadeformadora de opinião nas mais diversasmídias, a ABT – Associação Brasileira deTelesserviços, conforme Serafim (2008)afirma, lançou uma cartilha “recomendando”a não-utilização do “gerundismo” nasCentrais de Relacionamento com o cliente.Informa ainda que existem empresas, como

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a Atento Brasil S/A, grande multinacionalque tem várias filiais no Brasil e no mundo,uma das maiores empresas em contact center,que premia seus funcionários que não utilizamo “gerundismo” durante o atendimento aocliente. A Atento Brasil S/A e outrasempresas do ramo criam campanhas deincentivo com benefícios em dinheiro, folgas,para quem cometer menos “infrações” dessanatureza.

A campanha dos indignados tem muitosadeptos, alguns renomados como Veríssimo(2008), que classifica o gerúndio comoendorréia:

Atribui-se a proliferação do gerúndio noportuguês brasileiro à influência do inglês, queteria provocado o gerundismo, ou o hábito deempregar o gerúndio mesmo quando não cabeou não se deve. Existe até um nome para o usoexcessivo do gerúndio: endorréia. Uma palavrasuficientemente horrível para fazer osportugueses se sentirem vingados por tudo quefizemos com a língua do Cabral. Digam o quedisserem, de endorréia eles nunca sofreram(VERISSIMO, 2008).

Já a professora Piacentini (2002), em seuartigo sobre gerundismo e endorréia,entende que há distinção entre endorréia egerundismo, mantendo, no entanto, a mesmaaversão pelo seu uso exagerado:

Dizem que a endorréia é francesismo. Já ogerundismo é atribuído à influência do idiomainglês no Brasil. Seria uma tradução malfeita de“I am going to do something” [literalmente:Estou indo fazer algo], ou então a tradução aopé da letra de um futuro muito usado pelosamericanos: “We will be sending you the catalogsoon”, que se pode traduzir por “Nósestaremos lhe enviando o catálogo em breve”,ou melhor, “Nós lhe enviaremos...”, ou ainda,“nós vamos lhe enviar o catálogo..., sem seprecisar da fórmula Nós vamos estar lheenviando (PIACENTINI, 2002).

Outros autores, como Santos (2002), têmpostura indiferente a toda essa indignação.

Entende o gerundismo como formainovadora que está ocupando o espaço nafala informal, e que as inovações linguísticassão trazidas pelos mais jovens e vão sendoincorporadas à língua nos mesmos moldesque outras que ocorreram no passado, e queé muito natural que ocorram.

Loiola (2008), também apresenta posturamais contemporânea e crítica aosconservadores, informando que a nossalíngua está sempre em obras e conclama atodos para observarem as forças quemoldam o Português do Brasil e, ainda, que“os brasileiros de hoje dificilmente seentenderiam com os do ano 2500 – ou comportugueses de 1500”, tamanha a velocidadedas transformações que sofreu e vai sofreresse nosso idioma. Esclarece ainda a autoraque o português do Brasil é como se fosseuma sopa, eternamente no fogo, que recebeingredientes e temperos e ao longo do tempovai tendo o seu sabor alterado. Palavrasnascem, crescem ou se encurtam, secombinam, mudam de sentido e depronúncia e, um dia, morrem. Que gosto issovai ter, ela não garante.

Existem ainda autores, como Fernandes(2008), que veem as colocações de Freirecomo “tratamento condenatório epreconceituoso”. Para ela, é da gramáticaque advém o conceito de erro, ou seja, tudoaquilo que foge à variedade que foi eleitacomo exemplo de boa linguagem, mas quesó seria erro a ocorrência de formas ouconstruções que não fazem parte, demaneira sistemática, de nenhuma dasvariantes de uma língua. Com essaconcepção, surge o preconceito linguístico,que está diretamente relacionado com aclasse social do falante: quanto maior opoder e as condições sociais do falante, maisprestígio tem a variante que fala. E concluiseu pensamento em um desabafo:

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Em nome da boa língua pratica-se a injustiçasocial, muitas vezes humilhando o ser humanopor meio da não aceitação de um de seus bensculturais mais divinos: o domínio inconscientee pleno de um sistema de comunicação próprioda comunidade ao seu redor. E mais do queisto: a escola e a sociedade – da qual a escola é oreflexo ativo – fazem associações perversas, semrespaldo linguístico estrutural, entre o domíniode determinadas formas linguísticas e belezaou feiúra; entre domínio de determinadasformas linguísticas e elegância ou deselegância;entre domínio de determinadas formaslinguísticas e competência ou incompetência;entre o domínio de determinadas formaslinguísticas e inteligência ou burrice.

E afinal, o que é o gerundismo?

2 GERUNDISMO: ORIGEM E USO

Para entendermos melhor o fenômeno“Gerundismo”, é preciso antes entender aorigem e os caminhos de marginalidadelinguística percorridos pelo gerúndio aolongo da história da Língua Portuguesa.Segundo Serafim (2008), o gerúndio é umaforma nominal herdada do latim, que passoupelo português arcaico e pelo portuguêsmoderno, embora muitos acreditem ser umainovação do português contemporâneo econdenam o seu emprego também emestruturas monoverbais, reproduzindo umdesejo “estilístico” dos gramáticos quesempre tiveram dificuldade de aceitar o seuemprego na língua portuguesa. ConformeSerafim (2008), no português brasileirocontemporâneo, existem três formasnominais: infinitivo, particípio e gerúndio.Esses três tempos verbais eramdenominados, na gramática clássica, deformas infinitas – também chamadas de“verbóides” –, contrastando com os demaistempos verbais, conhecidos como formasfinitas, pertencentes aos modos do

indicativo, subjuntivo e imperativo; semprereferidas a uma das três pessoas do discurso.

Segundo Lima Coutinho (1976)4 apudSerafim (2008), o gerúndio é forma verbalaltamente produtiva, desde os primórdios dolatim clássico, passando pelos variadosromances (processo de transição do latimclássico para as línguas românicas), atéchegar às formas arcaicas das línguasromânicas ou línguas neolatinas. O latimclássico era uma língua artificial, rígida,imota. Por isso mesmo que não refletia a vidatrepidante e mudável do povo. Por essarazão, pôde permanecer, por tanto tempo,mais ou menos estável. É provável que asmudanças pelas quais o gerúndio passou nolatim tenham sido mais recorrentes no latimvulgar do que no latim clássico, em virtudedo caráter coloquial e dinâmico daquele emdetrimento deste. Esse latim vulgar era olatim falado pelas classes inferiores dasociedade romana inicialmente e depois portodo o império romano.

Após a formação das línguas românicas, emespecial, no caso da língua portuguesa,conforme Serafim (2008), no períodoarcaico (denominação dada aos primeirosregistros escritos da língua portuguesa emPortugal), o gerúndio aparecia tanto emestruturas monoverbais; ou seja, sem oacompanhamento de outros verbos,portanto, sem fazer parte de locuções e/ouperífrases verbais; quanto em estruturaslocucionais e/ou perifrásticas, o quecontinuou acontecendo durante o portuguêsmoderno (período subsequente ao portuguêsarcaico) e ainda se verifica no portuguêsatual. O gerúndio, em sua morfologia,sempre assumiu variados papéis sintáticos.O mesmo ocorria e ainda ocorre com oinfinitivo e o particípio, nos diversos

4 LIMA COUTINHO, Ismael de. Pontos de Gramática Histórica. 7. ed. revista. Rio de Janeiro: Ed. Livro Técnico S/A –Indústria e Comércio, 1976.

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períodos históricos da língua portuguesa edo latim. Outras formas nominais não seperpetuaram na passagem do latim para oportuguês, mas também tiveram variadosempregos. Algumas dessas formas nominaisforam sendo substituídas por outras formasnominais, como no caso do gerundivo que,na língua portuguesa, teve alguns de seususos absorvidos pelo gerúndio.

O gerundivo não deixou em portuguêsnenhum traço de sua antiga acepção verbal.Legou-nos apenas seu valor nominal,representado em nossa língua por substantivos(oferenda, propaganda, agenda, etc.) e adjetivos(nefando, venerando, moribundo, etc.).(SOUZA, (2003)5 apud Serafim (2008).

Alguns empregos do gerúndio surgiram noportuguês arcaico, conforme afirma Serafim(2008), perpassaram pelo portuguêsmoderno e ampliaram seu leque de atuaçãono português contemporâneo. Outrasconstruções não se perpetuaram e maisoutras surgiram no portuguêscontemporâneo e não se tem registro noportuguês arcaico. O gerúndio, tanto emestruturas monoverbais, quanto emperífrases, sempre existiu na história dalíngua Portuguesa, portanto, não se trataapenas de modismo, muito menos deestrutura importada de outros idiomas,embora, necessariamente não significa quetais fatos também não tenham ocorrido.

Segundo Santos (2002), a primeiraconstrução perifrástica, surgida no latimclássico, era formada pela combinação dofuturo no particípio ativo em -urusacompanhada das formas de sum: facturumsum, eram, ero, etc. O sentido maiscomumente atribuído a essa construção jáera de iminência. Além disso, investigadorespercebiam, em certos exemplos, sentido de

intencionalidade e/ou destino. Nas línguasmodernas, o futuro perifrástico estámarcando sequências temporais, ao invés dodomínio exclusivo das formas sintéticas. Aperífrase formada com ir surgiu noEspanhol, Francês e Português a partir dosséculos XIII e XIV. Na língua inglesa, oprimeiro registro do uso dessa forma data,provavelmente, do ano de 1482. Nas línguasromânicas, a construção passou a sergeneralizada na fala coloquial durante oséculo XVI e XVII. E, como podemosperceber, desde então seu uso temaumentado.

Perini (1995) apud Tafner (2004), ao analisara frase “Manuel vai estar contando piadas”,afirma o seguinte:

Essa frase é bem formada porque: (a) o Aux noinfinitivo (estar) é precedido de uma forma deir, e o Aux no gerúndio é precedido de umaforma de estar, e (b) o infinitivo vem antes dogerúndio. Qualquer desobediência a essas regrasdá como resultado uma frase mal formada ou,então, uma frase onde os dois verbos nãoformam um predicado complexo.

Tafner (2004) justifica-se informando queas formas verbais que exprimem o tempofuturo do presente são aqui analisadas sobperspectiva sociofuncionalista. No domínioda sociolinguística laboviana, consideramosa noção de regra variável: quando há duasou mais formas distintas de se transmitir omesmo significado referencial, em mesmocontexto, elas podem ser tomadas comovariantes linguísticas. Trata-se, portanto, dese observar as formas verbais alternantes,descritas acima, como variantes para denotaro tempo futuro. E, cientes de que lidamoscom uma função comunicativa discursiva,mergulhado também no quadro dofuncionalismo linguístico. Porém, visto que

5 SOUZA, Mariza Mencalha (UFRJ). Formas Verbo-Nominais Latinas - Ressonâncias em Português. In : CONGRESSONACIONAL DE LINGÜÍSTICA E FILOLOGIA, 7., 2003, Rio de Janeiro. Anais eletrônicos... Rio de janeiro: UFRJ,2003. Disponível em: < http://www.filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno11-08.html >. Acesso em: 23 out. 2007.

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a função de expressar o futuro do presenteé prioridade e que camadas variantesparecem disputar essa função, assumepostura mais inclinada ao funcionalismo.Essas considerações permitem que nossavariável dependente seja recortada a partirda função futuridade em relação aomomento de fala, isto é, as variantesisoladas, mediante teste de substituição,devem compartilhar, no mesmo contexto deuso, o mesmo valor temporal de futuridade,tendo como ponto de referência o momentode fala.

Para Tafner (2004), todos os futuros passampor uma fase de funcionamento na qualexpressam intenção, primeiro do falante, edepois do agente do verbo principal. O sensode intenção é inferível a partir do uso de ummodal, especialmente na primeira pessoa.Fica evidente, portanto, a importância dosenso de intenção do falante quanto àquiloque enuncia como ação no futuro. É a partirda convicção do falante que se tem comocerta ou incerta a ocorrência do evento. Assima subjetividade tem papel fundamental sobrea declaração do falante a respeito de eventosfuturos. Consequentemente é válida tambéma hipótese de que as primeiras pessoastransmitam maior comprometimento acercadaquilo que é enunciado. Nesse sentido, estácorreto apontar que o comprometimento e anoção de certeza do falante encontram-seassociados com o emprego da locução verbalvou – R, nas primeiras pessoas. Portanto, éfactível a associação do uso das locuções estar– NDO, com a falta de comprometimentodo falante com o discurso proferido.

A associação do gerundismo com ocomprometimento, a que se refere Tafner(2004), vem de encontro com Pereira Jr(2010) em seu artigo “O Gerúndio é só opretexto”, em que o autor afirma que ogerundismo joga luz sobre o artificialismonas relações sociais e é um vício delinguagem que simula a formalidade e evita

compromisso com a palavra dada. Quandorespondemos ao telefone “vou estarpassando o recado”, forçamos a barra paraque o recado, que potencialmente tem tudopara ser dado, não tenha mais prazo devalidade. Porque os mecanismos linguísticossão acionados pela intenção, é possível obterefeito pragmático na locução do gerúndiode atenuar o compromisso com a palavradada. Quando se diz “vou passar seurecado”, a referência é a ação em si. Não seatém à sua duração. Com isso, é amarradoum compromisso. A ação é indicada ali, purae simplesmente. Garante que ela secumprirá. Ao usar o gerúndio, deixa dereferir-se puramente à ação e incorpora-seo aspecto verbal durativo. A ênfase passa aser outra. Comunica-se que até encontrarátempo para fazer a ação, mas seu foco nãoestá mais nela. O descompromisso que essaatitude implica pode ser atribuído a umaduração que é falsa. Permite, por tabela, quequalquer um drible seu interlocutor, semparecer ofensivo nem indelicado.

Para Pereira Jr (2010), o gerundismo sepropagou como traço de quem se ocupa emencontrar formas de polidez para relacionar-se. Como não tem versatilidade de uso dalíngua, essa pessoa aposta na fórmularitualizada, na presunção de que aquilo égentileza chique. O fato é que se trata deexpressão que não circula na língua cultaescrita e, mesmo na língua popular, ela nãocircula com espontaneidade. Parece ser maisforma artificial e planejada que proliferou emambientes formais antes de tomar as ruas.Ninguém diz “vamos estar tomando umacervejinha na esquina”. O emprego abusivodo gerúndio é próprio das situações formais.A pessoa, por vezes, evita dizer de formadireta que vai resolver uma questão nomomento e, ao mesmo tempo, parece nãoquerer estabelecer data para fazê-lo. Talvezela se veja apenas como peça de umaengrenagem burocrática e, portanto,desprovida do poder de tomar decisões. O

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gerundismo permite dizer algo aparentementeeducado ao cliente, mas que na verdade nãoimplica em real compromisso. E ogerundismo parece atender a essa demanda.

3 ATENDIMENTO DE SERVIÇOSPOR TELEFONE

Como visto até o momento, o gerundismo,ao contrário do que apregoa determinadosegmento da mídia, não teve origem apenasnas traduções equivocadas dos manuais detelemarketing. Se assim fosse, as campanhaspromovidas pelos gerundiofóbicos6, asorientações da Associação Brasileira deTeleatendimento, e os esforços das grandesoperadoras de Teleatendimento em treinare premiar os seus operadores que não fazemuso do “vício maldito” de Freire, teriamresolvido. O gerundismo é maior que isso ejá se encontra enraizado onde menos seespera. Os estudos de Tafner (2004) foramextraídos dos discursos proferidos nassessões plenárias das AssembleiasLegislativas dos estados do Rio de Janeiro,São Paulo, Paraná, Santa Catarina e RioGrande do Sul, e apresentaram resultadospreocupantes com o uso da forma ESTAR– NDO. Embora predomine o Futuro

Sintético (51%), considerando o nívelintelectual dos oradores, a preocupação deserem observados por um públicoextremamente crítico com tudo que se diznessas casas e, ainda, por poderem contratarespecialistas em linguística para revisaremseus discursos – o que normalmente fazem– o índice encontrado (10%) mostra-sesignificativo e preocupante (para osgerundiofóbicos, é claro).

Contudo, o gerundismo, nessa formacansativa e irritante a que se refere Freire,pelo menos como fenômeno (se assimpoderíamos dizer) é muito recente, embora oserviço (Teleatendimento) já nos acompanhahá mais de cem anos. Mesmo que as empresasde Call Center e os consultores de Marketingqueiram diferenciar o “produto” que vendemdo que já existia, os serviços deTeleatendimento já faziam parte da culturabrasileira de prestação de serviços. É de fatopatente e inquestionável que os serviçostelefônicos, desde os mais remotos momentosda história de sua criação, sempre foramserviços de Teleatendimento. As antigascentrais telefônicas manuais, conformeobservado na figura 2 a seguir, comprovamessa afirmação.

6 Gerundiofóbicos: termo citado por Serafim (2008) com a junção das palavras gerúndio ou gerundismo + fobia.

FIGURA 2: Central Telefônica Manual de Itapetinga.Fonte: Google imagens.

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A Figura 3 a seguir mostra com mais detalhea Mesa da Central Manual de Telefonia.

FIGURA 3: Detalhes da mesa de telefonista.Fonte: Google imagens.

A mesa era composta de um painel verticalque continha posição para cada terminaltelefônico existente na central, compostopor um furo para receber uma pega e umaminúscula lâmpada sinalizadora acima.Esses elementos eram dispostos de tal formaque a telefonista podia identificar,numericamente, a posição de cadaassinante.

Na plataforma horizontal, existia umconjunto de pegas compostas por duas pegasalinhadas frontalmente, sendo uma deatendimento e a outra de chamada, ambasligadas por um cordão trançado econectadas a uma chave de quadro deposições alinhada às pegas, de forma quefacilmente a telefonista identificava, atémesmo sem olhar, as pegas e as chavescorrespondentes. A chave, na posição derepouso (posição 0) fazia a conexão das duaspegas e nas posições 1 (de atendimento) e 2(de chamada) o fone de ouvido datelefonista também ficava conectado.Sempre de olho no painel vertical, atelefonista observava a chegada da chamada,

que era sinalizada pelo acendimento dalâmpada correspondente, de forma que elapodia identificar o número do telefonechamador. Com um jogo de pegas livre, elaconectava no painel a pega de atendimentoao telefone chamador (logo abaixo dalâmpada acessa). Virando a chavecorrespondente para a posição 1 (para trás)ela atendia o cliente. Conversava com ele,identificava com que número ele queriafalar, e visualmente verificava se este estavalivre. Estando livre, com a outra pega (dechamada) conectava o cliente desejado evirando a chave para a posição 3 (posiçãode campainha, à frente da posição 2), ela ochamava. Ao atender, a luz correspondentese acendia e a telefonista, com a chave naposição 2, falava brevemente com o clientechamado, informando-o da existência dasolicitação. Em seguida, retornava a chavepara a posição 0 (de repouso), desligando oseu fone de ouvido e liberando acomunicação entre os dois clientes. Quandoos clientes terminavam a chamada, punhamos telefones no gancho e a luzes no painelvertical, que ficaram acessas durante toda achamada, se apagavam. Era o sinal visualpara a telefonista liberar as pegas, e retorná-las ao estado de repouso, pronta para novoatendimento com aquele jogo de pegas echaves. O número máximo de chamadaspossíveis era o número de jogos de pegas echaves de que a telefonista dispunha,independentemente da quantidade declientes a que ela tinha acesso no painelvertical. Essas mesas eram replicadas dediversas maneiras e modalidades (total ouparcial), de forma que poderiam trabalharvárias telefonistas num mesmo conjunto deassinantes.

Não há dúvida, portanto, de que oTeleatendimento teve seu nascimento, emprimeira instância, nas empresas detelefonia, ainda no século XIX. Só comoexemplo, em 1883, o Rio de janeiro jápossuía cinco estações de 1.000 assinantes

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cada e, ao terminar o ano, estava pronta aprimeira linha interurbana ligando o Rio deJaneiro a Petrópolis7, uma das primeiras domundo, isso porque Dom Pedro II foi umdos maiores incentivadores da novatecnologia, e o Brasil, um dos primeirospaíses a instalar essa modalidade de serviçosdepois dos Estados Unidos.

FIGURA 4: Encontro de D. Pedro II com Graham Bell em1876.Fonte: Portal São Francisco disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-do-telefone/historia-do-telefone-18.php>.

4 PADRONIZAÇÃO EFRASEOLOGIA, MAIS QUE UMATÉCNICA, UMA NECESSIDADE

Naturalmente, existiam mesas diferentespara serviços diferentes, como mesas paraligações locais e mesas para ligaçõesinterurbanas. As ligações interurbanas erammais sofisticadas e exigiam outras atividadesde controle e registro das chamadas. Paraisso, a telefonista emitia um bilhete paracada chamada, onde registrava com detalhesa origem e o destino, o número do telefoneque solicitou a chamada e o número dotelefone chamado, a hora e data do início edo término da chamada, além de outras

questões que iam além da chamada em si,como, por exemplo, se era feriado, se aligação era noturna, etc.. Isso porque taisinformações eram necessárias para a emissãodas faturas de cobrança a serem emitidas aosclientes do serviço. Outros serviços, com otempo, também foram sendo agregados, taiscomo serviço despertador, chamadasdiferenciadas pessoa a pessoa, de tal formaque a atividade de telefonista foisofisticando-se com graus de complexidadecada vez maiores.

Hoje observamos as constantes reclamaçõesdos operadores de Teleatendimento comrelação à pressão a que são submetidos,quando as filas de espera de atendimentoaumentam. Essa pressão é reconhecida peloMinistério do Trabalho e Emprego, quandodescreve em seu portal as características dotrabalho8. Mas isso não é novidade, aatividade de telefonista sempre foi assim:submetida à pressão enorme no trabalhopelas mesmas razões dos atendentes deTeleatendimento de hoje, e em casa também,uma vez que era obrigada a trabalhar emregime de escala de revezamentoextremamente exaustiva, principalmentequando era casada e tinha filhos, isso numaépoca em que as mulheres eram reprimidaspela sociedade como um todo.

As telefonistas pertenciam em geral à classeoperária, moças humildes de instruçãomediana, o suficiente para saber dialogar como cliente, anotar recados ler instruções, etc..Trabalhavam em rigoroso regime hierárquicosob a égide do relógio. A pressão profissionalera tão grande que o legislador brasileiroconcedeu à classe vantagens especiais, comoturno reduzido de 6 horas e aposentadoriaprecoce aos 25 anos de profissão, enquanto

7 Fonte: Portal São Francisco - A história do telefone, disponível em http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-do-telefone/historia-do-telefone.php.

8 Fonte: Classificação Brasileira de Ocupações – Portal do Trabalho e Emprego, disponível em: http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTituloResultado.jsf

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as demais trabalhadoras totalizavam 8 horasdiárias e se aposentavam somente depois decumprir 30 anos de profissão. A atividade detelefonista, por suas peculiaridadesoperacionais, foi exaustivamente estudadapelos especialistas do início do século(Tayloristas), com suas pesquisas de tempo emovimento, tudo isso sob a observaçãoconstante dos laboratórios Bell, que, assim,procuravam a padronização e aracionalização da atividade em nívelmundial, afinal, as telefonistas de cidades eempresas diferentes (países diferentesinclusive) tinham que interagir e se relacionar,e isso exigia o mínimo de padrão possível.Os critérios de cobrança, as técnicas deatendimento tinham de ser correlatas parapossibilitar eficiente comunicação efaturamento cruzado entre as operadoras.

A partir da segunda metade do século XX,as centrais telefônicas locais, em sua grandemaioria, já haviam sido automatizadas e osserviços telefônicos, via telefonista, serestringiam ao atendimento de chamadasinterurbanas e outros, como informações eserviços especiais. A figura 5, a seguir, mostraum desses centros de atendimentointerurbano manual. Eram bem organizados,e complexos, e tinham padrão rígido deoperação.

As senhoras em pé, que vemos na figura 5,eram as monitoras que gerenciavampequenos grupos de telefonistas, dandotreinamento, quando necessário, instruçãoe auxílio. Até para ir ao banheiro, astelefonistas tinham de solicitar permissão àsua monitora de plantão. Essas monitoraseram, em geral, experientes telefonistas, quehaviam se destacado em sua atividade e, porisso, eram, com o tempo, promovidas amonitoras.

Ao fundo desses enormes salões, existiasempre uma sala isolada com algumas mesasde telefonistas. Era a temida sala demonitoria, onde um grupo de monitorasexperientes tinham acesso a todas asposições e aleatoriamente monitoravam (eouviam) a interação das telefonistas com osclientes e verificavam o uso correto dafraseologia, do tempo gasto, da emissão dobilhete, etc.. A produção da telefonista eraapurada a partir do número de bilhetesemitidos por ela. Quanto mais rápida noatendimento, mais bilhetes ela emitia porhora, e a qualidade do atendimento eraapurado pela sala de monitoria. Astelefonistas nunca sabiam quais delasestavam sendo inspecionadas naquelemomento, portanto, o jeito era andar na linhasempre.

Nesse processo de padronização promovidapelos Laboratórios Bell, e disponibilizadopara o mundo todo, estava a cartilha defraseologia, que era traduzido para todos osidiomas com os quais as empresas Bellestavam associadas. Essa cartilha defraseologia continha um conjunto de frasesprontas (padronizadas) a serem utilizadaspelas telefonistas. Por exemplo: a telefonista,quando atendia as ligações, não podia dizer“alô” como todo mundo fazia; a frasepadronizada que ela era obrigada a usarsempre era: o nome da operadora, bom dia,boa tarde ou boa noite, conforme o caso e afrase: “Em que posso ajudá-lo”, seguida do

FIGURA 5: Centro Interurbano de Atendimento Manual.Fonte: Google imagens.

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tratamento senhor ou senhora, dependendoda voz percebida do cliente. Ficava assim:se fosse pela manhã e a operadora a Telemige o cliente homem: “Telemig bom dia, emque posso ajudá-lo, senhor?”. O tratamentocom o cliente era sempre senhor ou senhora,não importa se do outro lado da linha estavauma criança ou um jovem. A cartilha defraseologia era enorme, abrangia as maisdiversas situações possíveis, e a telefonistatinha de tê-las na ponta da língua e o usoinadequado de tratamento com o cliente(fora dos procedimentos previstos nacartilha) era severamente punido. Nessaspunições valia tudo, desde as puniçõesoficiais, como: advertência verbal (que eramregistradas em carta à gerência), cartas deadvertência (advertência formal), suspensãoe, por fim, demissão; as punições nãoformais eram corte de folgas, corte depermissões para troca de horário comcolegas, etc.; e, por fim, havia também aspunições veladas e nunca assumidas viaescala de revezamento. Uma telefonista“marcada” poderia ser repetidamente“sorteada” para os piores horários possíveis,como o noturno, ou escalada por “sorteio”para trabalhar sempre que houvesse feriadoprolongado. Todas as ocorrências iam paraa “ficha profissional” da telefonista epesavam muito nas eventuais promoções,porque na carreira de telefonista existia umaescala de graduação com pequenasvariações, pequena é verdade, mas quepoderia, além de oferecer melhoria salarial,abrir a porta para a monitoria, que era umanova perspectiva de carreira muito desejadapor elas. Aí o temor das telefonistas comrelação à sala de monitoria.

A tradução das cartilhas de fraseologia parao Português era primorosa, feita com o maiorcuidado e atenção. Dificilmente encontraría-mos erro de grafia ou concordância, e o

gerundismo, com conhecemos hoje, jamaisfez parte delas.

5 ENFRENTANDO NOVOSDESAFIOS

Conforme o MC (2010), nas décadas de 70e 80, com a forte intervenção governamentalno setor, houve crescimento fora do normal.Só como referência, entre 1974 e 1977, dos2,5 milhões de telefones em serviço,inicialmente, atingiu-se 4,5 milhões. Onúmero de telefones públicos era de apenas13.000 em serviço e, ao final de 1977,ultrapassou os 31.000 em funcionamento,correspondendo a um crescimento superiorao dobro. Em 1974, o Brasil dispunha de39.000 canais de voz instalados; essenúmero, ao final de 1977, chegou a cerca de115.000, que corresponde ao crescimentode quase três vezes. O sistema DDD -Discagem Direta a Distância, que dispensao auxílio da telefonia, em 1974 atendia a156 localidades e, no final de 1977, essenúmero cresceu para 533 cidades. Quantoaos troncos-trânsito interurbanos, ou seja,a possibilidade de execução do DDD, estestotalizavam 51.000 em 1974, atingindo216.000 ao final de 1977, apresentando,portanto, crescimento de 4 vezes mais aovalor inicial.

O forte incentivo governamental, aliado aoavanço tecnológico, trouxe evidentesmudanças na prestação do serviço e porconsequência no trabalho das telefonistas. Aautomatização promovida pelo DDD(discagem direta a distância) reduziudrasticamente o número de centrais manuaisde interurbano, que, aliado ao fortecrescimento do tráfego telefônico, promoveugrandes mudanças na prestação dos serviços,conforme apresentamos a seguir:

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Na prática, a extinção em massa de centenasde centros de atendimento interurbanomanual, que ficavam espalhadosregionalmente por todo o país, não provocou,necessariamente demissão em massa. Acriação dos COS (Centros de Operações eServiços) absorveu essa mão de obra em suaprópria região quase na totalidade, porque aestrutura que estava sendo implantadapermitiu isso e, também, porque houvepolíticas internas das empresas nesse sentido.Faltou mão de obra inclusive, que precisouser contratada em grande quantidade. Asantigas telefonistas, agora nos modernosCOS’s, assumiram posição de destaque, e naqualidade de monitoras foram peçasfundamentais na construção do modelo e danova cultura organizacional. Com maisliberdade de trabalho e espaço para criação,aliados às novas técnicas de atendimentoimportadas dos Estados Unidos e Japão, aTQM9, mas sem perder parte de uma culturabem sedimentada nos velhos padrões deatendimento, transformou os COS emcentros de qualidade de bom atendimento, oque caracterizava o Sistema Telebrás comoum dos mais modernos do mundo. Lá, é claronão existia gerundismo. O modelo eraamericano (como sempre foi), mas a culturatinha suas raízes bem sedimentadas em quaseum século de prestação de serviços. Orespeito ao cliente, o cuidado na construçãodas novas fraseologias tinham história e orespaldo de todo o corpo diretivo.

Mas o foco em metas com seus indicadoresoperacionais e principalmente o foco emmarketing trouxeram muitas mudanças. Avariedade de serviços cresceu assustado-ramente e a velha técnica baseada apenasna cartilha de fraseologia já não erasuficiente para atender os novos padrões dequalidade. Os COS’s, inicialmenteimplantados com mesas rotatórias paracartão de assinante, pouco a pouco foramtransferidos para sistemas de banco de dadosbem mais complexos. Com isso, nova técnica,também importada dos Estados Unidos, sefez necessária; o uso das árvores de decisão.

Segundo Vasconcellos et al (2007), a árvorede decisão é uma estrutura simples formadapor nós e ramos, que é gerada a partir de umconjunto de dados. Cada nó da árvorerepresenta um atributo do conjunto dedados, e cada ramo os possíveis valores paraaquele atributo. A estrutura da árvore é top-down (de cima para baixo), sendo o nó dotopo chamado de raiz e cada um dos nósdos quais não saem ramos, de folhas. Aárvore nada mais é do que um conjunto deregras para separação em classes dos dadospresentes no conjunto. É chamado de regrao caminho que parte da raiz e, passando porramos e nós, chega a uma folha. A folha é arepresentação de determinada classe dentrodo conjunto de dados. Uma única classepode ser representada por mais de uma folha,ou seja, pode haver mais de uma regraclassificatória para aquela classe.

TABELA 1Fenômenos e consequências da expansão e modernização

Fonte: Autor.

9 TQM – Total Quality Management

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No caso do uso da Árvore de Decisão parao atendimento telefônico, cada nó apresentaum pergunta/informação que é feita aocliente com um conjunto de respostaspossíveis. Cada resposta ou escolha leva anovo nó ou folha. Cada nó representa umatela a ser trabalhada pela atendente, e a folharepresenta o fechamento ou a emissão deordem de serviço ou contrato. Os COS’s,não só no Brasil, como no mundo todo,fizeram cruzamento das árvores de decisõese da fraseologia para criar sistemas deatendimento inteligentes em que o clienteera abordado com lógica e com qualidade.Aplicando a isso tudo a tecnologia dainformação, esses nós e folhas setransformaram em telas de relacionamentoextremamente dinâmicos e de simplesoperação pelas atendentes deTeleatendimento. Essas telas continham afraseologia correta a ser utilizada peloatendente, e respostas/caminhos possíveisa serem trabalhados ou seguidos durante aentrevista. Mais uma vez, observamos queesses sistemas construídos até então nãocontemplavam o que chamamos hoje degerundismo.

Outros serviços foram criados em paralelo,a exemplo do modelo abordado acima, comoo atendimento automatizado em que ocliente, seguindo a árvore construída combase em fraseologia pré-gravada, em fita oustrings, faz a sua opção teclando no telefone

a opção desejada. O seu uso ponderado ecriterioso sempre com abertura paracontatos com a atendente, é excelenteferramenta de racionalidade no atendimento.Muito diferente, no entanto, dos serviçosque muitas organizações têm utilizadoatualmente, que são certamente maisirritantes que o gerundismo de que Freiretanto reclama, principalmente quando sãointegrados às famosas “musiquinhas deespera” e a terrível frase: “Sua ligação émuito importante para nós!”.

6 O MODELO NEOLIBERALBRASILEIRO

Para Figueiras (2006), o projeto neoliberalbrasileiro apresentado na década de 90 einício do século XXI, embora não tenhacontemplado organicamente os interessesdas classes trabalhadoras, afirmou seudiscurso doutrinário de forma ampla nasociedade, conseguindo apoio econcordância para a sua pregaçãoprivatizante, em especial contra os gastosexcessivos do estado e os privilégios dosfuncionários públicos, evidenciando, assim,novo domínio ideológico da burguesia noBrasil.

Esse era, portanto, o discurso neoliberal,longe naturalmente de se constituir verdadeou justificativa suficiente para aintervenção. De fato, esse discurso era o

FIGURA 6: Árvore de decisãoFonte: Autor baseado em Vasconcellos et al (2007)

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discurso da moda, não só no Brasil como naEuropa.

O processo de implantação, segundoFigueiras (2006), passou por três momentosdistintos, a primeira fase muito turbulentano início da década de 90 com a rupturacom o MSI (modelo de Substituição deImportações) e implantação das primeirasações concretas de natureza neoliberal(Governo Collor10); uma segunda fase deampliação e consolidação da nova ordemeconômica-social neoliberal (primeirogoverno FHC11); e, por último, uma fase deaperfeiçoamento e ajuste do novo modelo,na qual se ampliou e consolidou-se ahegemonia do capital financeiro no interiordo bloco dominante (segundo governo FHCe Governo Lula12). O que identificou comosendo modelo econômico neoliberal noBrasil, com sua respectiva dinâmicamacroeconômica extremamente instável,foram as profundas mudanças, capitaneadaspor sucessivos governos, em pelo menosquatro dimensões estruturais, quais sejam:1) a relação capital/trabalho; 2) a relaçãoentre distintas frações do capital; 3) ainserção internacional (econômico-financeira) do país; 4) a estrutura efuncionamento do Estado.

Quanto à relação capital-trabalho, asmudanças decorreram, antes de tudo, doprocesso de reestruturação produtiva, queredefiniu radicalmente, no plano objetivomaterial, a correlação de forças existentes,com claro enfraquecimento da capacidadepolítica e de negociação da classetrabalhadora e de suas representações. Areestruturação produtiva das empresas -privadas e públicas – através dareorganização dos seus processos de

produção, com introdução de novosmétodos de gestão do trabalho e de novastecnologias, teve implicações devastadorassobre o mercado de trabalho. Esse impactonegativo foi reforçado pela aberturacomercial e financeira e pelo longo ciclo deestagnação iniciado no começo dos anos 80– caracterizado por baixíssimas taxas decrescimento do PIB e reiteradas flutuaçõesde curto prazo (FIGUEIRAS, 2006).

Ainda, segundo o autor (id), junto aodesemprego e como produto de ampladesregulação do mercado de trabalho –efetivamente na prática pelas empresas e pordiversos instrumentos jurídicos emanadosdos sucessivos governos –, veio o processogeneralizado de precarização das condiçõesde trabalho – formas de contrataçãoinstáveis que contornam ou burlam alegislação trabalhista, prolongamento dajornada de trabalho, redução de rendimentose demais benefícios, flexibilização de direitostrabalhistas e ampliação da informalidade –tudo isso enfraquecendo e deslocando maisainda a ação sindical para um comporta-mento defensivo. Da mesma forma que asempresas, o Estado também se reestruturou.O processo de desregulamentação – comquebra dos monopólios estatais em váriossetores da economia – junto ao processo deprivatização das empresas públicas, reduziubastante a presença do Estado nas atividadesdiretamente produtivas, fortalecendo gruposprivados nacionais e estrangeiros – dandoorigem a oligopólios privados, redefinindoa força relativa dos diversos gruposeconômicos e enfraquecendo a força relativados grupos econômicos regionaistradicionais. Em outra dimensão, osprocessos de abertura comercial e financeirae de privatização, acompanhadas por política

10 Governo Fernando Collor de Melo – 1990 a 1992.11 FHC – Fernando Henrique Cardoso – 1995 a 1998. (primeiro governo) e 1999 a 2002 (segundo governo).12 Lula – Luiz Inácio Lula da Silva – 2003 a 2006 (primeiro governo) 2007 a 2010 (segundo governo).

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cambial de sobrevalorização do real,levaram a movimento impressionante decentralização de capitais, através deaquisições, incorporações e fusões,concomitantemente a maior desnaciona-lização e internacionalização da economiabrasileira. Ou seja, o capital internacional eos grandes grupos econômico-financeirosnacionais, que conseguiram se transna-cionalizar, aumentaram sua participação naeconomia e no poder político. Por fim, oprocesso de reestruturação produtiva, emespecial a prática generalizada daterceirização, produziu novas formas dearticulação entre os grandes, médios epequenos capitais e mesmo de segmentosde trabalhadores autônomos, através daconstituição de redes de subcontratação,principalmente de mão de obra.

7 A PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMATELEBRAS E SUASCONSEQUÊNCIAS

Segundo Pires (1999), a reestruturação dosetor de telecomunicações brasileiro veioacompanhada da privatização do SistemaTelebrás, monopólio estatal verticalmenteintegrado e organizado em diversassubsidiárias, que fornecia serviços atravésde redes de telecomunicações interligadasem todo o território nacional. O processode reestruturação do setor detelecomunicações brasileiro, que culminoucom a privatização do Sistema Telebrás, foicomposto de seis etapas, a saber:

Primeira etapa: Emenda Constitucional nº8, de 15.08.95, que eliminou a exclusividadede concessão para exploração dos serviçospúblicos a empresas sob o controle acionárioestatal e foi o ponto de partida para umconjunto de medidas legais que visaramintroduzir o regime de concorrência naprestação desses serviços;

Segunda etapa: Lei Mínima dasTelecomunicações (Lei 9.295, de 19.07.96),que teve caráter emergencial para permitiro estabelecimento de critérios paraconcessões de serviços, em sua maioria aindanão explorados pela iniciativa privada e queapresentavam elevada atratividadeeconômica, tais como o “serviço móvelcelular”, os “serviços limitados” (trunking),os “serviços via satélite” e os “serviços devalor adicionado” (paging e outros quepossibilitam a constituição de redescorporativas); essa lei foi particularmenteimportante porque estabeleceu as condiçõesjurídicas para licitação das concessões paraexploração da Banda B de telefonia celular;

Terceira etapa: Aprovação da Lei Geral dasTelecomunicações (LGT) (Lei 9.472, de16.07.97), que estabeleceu os princípios donovo modelo institucional do setor e, dentreoutras coisas, criou e definiu o papel daAnatel, os princípios do novo modelotarifário, a nova classificação para osserviços de telecomunicações (quanto aointeresse e ao regime de exploração), ocaráter de não exclusividade das concessõese, finalmente, as diretrizes para a modelageme a venda das empresas estatais;

Quarta etapa: Aprovação do Plano Geral deOutorgas (PGO), que fixou parâmetrosgerais para estabelecimento da concorrênciano setor, definindo as áreas de atuação dasempresas prestadoras de serviços detelefonia fixa e estipulando as regras básicaspara abertura do mercado e autorizaçõesfuturas para exploração dos serviços;

Quinta etapa: Ampla reestruturação doSistema Telebrás, estatal que foidesmembrada em três grandes holdings deconcessionárias de serviços locais detelefonia fixa para atender a distintas regiõesgeográficas definidas pelo PGO (a Telesp, aTele Norte-Leste e a Tele Centro-Sul), sendo

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mantida a Embratel em sua configuraçãotradicional e, além disso, criando-se oitoconcessionárias de telefonia celular de BandaA para operar os serviços oferecidos atéentão pelas subsidiárias da Telebrás;

Sexta etapa: Licitação de termos deautorização para a operação de empresas-espelho nas mesmas áreas de atuação dasconcessionárias de telefonia fixa oriundas doSistema Telebrás, em razão da determinaçãolegal do caráter de não exclusividade dessasconcessões.

Em linhas gerais, conforme Pires (1999), alicitação de concessões para a Banda B detelefonia celular e, posteriormente, aprivatização das empresas do SistemaTelebrás atraíram a entrada de operadoresinternacionais. Com exceção da Tele Norte-Leste (depois Telemar), as novas empresaspassaram a ter, em seu grupo de controle, apresença de acionistas cuja atividadeprincipal é o fornecimento de serviços detelecomunicações. Registre-se, também, emalguns consórcios, a presença de fabricantesde equipamentos de telecomunicações e dealgumas empresas internacionais do setorelétrico, caso da Iberdrola (Espanha) e daNational Grid (Reino Unido).

O Banco Nacional do Desenvolvimento –BNDES, foi o principal agente fomentadorda privatização brasileira, e como podemosobservar em Pires (1999), e em Pires & DasDores (2000), teve enorme preocupação emcriar regras para garantir a transferência parao setor privado dentro de um modelo queprivilegiasse a transparência, a igualdade deoportunidade aos investidores, de forma amanter o governo, o controle e a gestão daregulamentação e o arbítrio da regras, masafastado da atividade direta, dentro domodelo neoliberal. Procurou, dentro dopossível, evitar a especulação exagerada e omonopólio, conforme já se havia observado

em outras privatizações ocorridas de paísescomo Chile e Argentina, ou mesmo emoutros setores dentro do Brasil, como asferrovias e as siderurgias, onde,necessariamente a privatização jáapresentava efeitos nada satisfatórios, seconsiderarmos os discursos privatizantes nosquais haveria grande evolução do setor. Noponto de vista econômico, traçou regras aserem cumpridas pelos consórciosvencedores, como vertiginoso crescimentoda planta de telefonia pública comatendimentos nunca antes imaginados,objetivando, é claro, dar resposta àsociedade. Resposta essa dada através doPlano Geral de Metas de Universalização.Conforme esse decreto, PGMU (2010), quetem sido revisto periodicamente, asempresas vencedoras que respondem pelaoutorga, são obrigadas a informar à Anatelanualmente uma séria de metas que devemser, obrigatoriamente, atingidas, sob risco desofrem multas muito elevadas e até perdada outorga.

Mas, se por um lado, o governo se preocupoucom questões, como quebra de monopólio,garantia da prestação dos serviços, plano deuniversalização, livre concorrência, fusõese aquisições, (até certo ponto, é claro), poroutro lado, nenhuma preocupação teve comas pessoas, com as relações do trabalho,deixando livre o caminho para a “salutar”reforma (na ótica neoliberal), abrindoespaço, sem o menor controle, para a práticade downsizing, precarização dos serviços,da terceirização da mão de obra. Sobre aprecarização do atendimento, por exemplo,lojas de atendimento pessoal foram fechadasàs centenas e substituídas pelo atendimentoterceirizado via telefone (Call Center),totalmente centralizado, com quedasignificativa da qualidade do atendimento.

Os estudos de Rennó (2007) apresentam,na forma de metáforas, os reflexos

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produzidos na cultura organizacional no pós-privatização, fruto dos abusos das reformasradicais e do desmantelamento descuidadode uma empresa pública que possuía históriade competência e bons serviços. Essedesmantelamento transformou umaempresa de telecomunicações em umaempresa gestora de contratos. Na verdade,a Telemar, vencedora do leilão e detentorade uma das outorgas mais importantes doprocesso de privatização, num processo quedurou aproximadamente oito anos,transferiu para terceiros todos os serviços aela outorgados.

A perda da competência Essencial a que serefere Prahalad & Hamel (1995) foievidente, e a transferência do serviço nãosignificou, necessariamente, transferência deconhecimento para a empresa contratada,como era de se esperar. Muito do que sedetinha foi simplesmente perdido em nomede um contrato bem “amarrado”, comgarantia de lucro imediato. O processoocorreu, conforme depoimentos citados emRennó (2007) de forma cíclica (anual) emque a empresa procurava responder a duasmáximas: centralização e terceirização. Paraisso, quando não era possível praticar odownsiz ing diretamente, praticava o“Turnover forçado” ou “oxigenação” comose refere o autor, o que foi aplicado à reveliado bom senso, com forte reflexo deeconomia na folha de pagamento,consequentemente, mais lucro imediato.

8 A TERCEIRIZAÇÃO E OGERUNDISMO

É possível fazer uma empresa com a somade partes isoladas, ligadas apenas porcontratos bem articulados eengenhosamente construídos, conforme foiobservado no caso Telemar, mas não épossível fazer a qualidade total sem aintegração efetiva das áreas, sem o

sentimento de equipe, sem as pessoas sesentirem parte do todo. A culturaorganizacional, baseada em Shein (2001) evista em Rennó (2007), sempre encontraformas de refletir esses desacertos, semprereflete de forma negativa para a organizaçãoaquilo que lhe é imposto de forma tãodrástica. Um desses reflexos da culturaorganizacional do período pós-privatizaçãofoi o gerundismo que, infelizmente, seespalhou na cultura brasileira. É o reflexo,no formato de contracultura, em oposiçãoao neoliberalismo.

Para entendermos essa afirmação, temosque retornar às nossas antigas telefonistasdas pequenas cidades do interior, no tempodos circuitos físicos Interurbanos, queinterligavam as cidades por uma rede depostes ao longo das empoeiradas estradas.O convívio diário com os circuitosinterurbanos a que tinham acesso lhespermitia, de ouvido, perceber a qualidadedestes. Qualquer ruído externo queinterferia nas ligações logo era percebidopelos seus ouvidos treinados. De imediato,abria o bilhete de reparo e o repassava àmanutenção para providências. O técnico(Guarda fios, como era chamado) já sabiaque tinha que partir de imediato para ocampo, mas nunca sem antes ouvir datelefonista o máximo de detalhe possível,porque nesses detalhes podia estar a chavepara encontrar, com maior rapidez, a soluçãodo problema. O bilhete de reparo só erafechado quando a telefonista, testando ocircuito novamente, dava permissão aoguarda fios para fechar o bilhete e informaro registro dela, que testou o circuito, e a horado teste. Às vezes, o defeito era fio partido,aí o circuito ficava bloqueado, aguardandoo contato do guarda fios, mas às vezes não.Podia ser mau contato ou apenas um ruídointermitente, que não impedia,necessariamente o seu uso. Nesse caso,quando o cliente reclamava da qualidade da

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ligação, ela tinha, de antemão, conhecimentodo problema, sabia em que posição estavao reparo e sabia, ainda, fazer, pela suaexperiência, a previsão do reparo. Asinformações eram diretas. Havia, por partedela, convicção sobre o que falava, e ela sesentia importante no processo de reparo esabia, ainda, que a última palavra sobre aqualidade do seu circuito era dela. Nãohavia, portanto, gerundismo em seulinguajar.

Não é complicado entender por que aTelemar, ou outras grandes empresas decapital aberto, terceiriza seus serviços.Nessas grandes empresas, os maioresacionistas são grandes entidades financeiras,como os bancos do governo (Banco doBrasil e BNDES) ou entidades, como fundosde pensão controlados por esses bancos, maso controle direto (diretoria dos conselhos eda empresa) ficou a cargo de gruposmenores, de forma que esses pequenos (emcomparação aos bancos e fundo de pensão)são os detentores da administração dessasempresas. Na verdade, com número mínimode ações próprias (7% por exemplo), possuitodo o poder por delegação dessas entidades,desde que gerem os lucros acordados entreeles. Esses mesmos acionistas também sãosócios (em percentual muito maior) depequenas empresas prestadoras de serviçosde capital fechado (Ltda.). Como detentoresdo poder na grande empresa, fazemcontratos de prestação de serviço comevidentes vantagens para as últimas. Adiferença do que poderiam pagar emprocesso justo e o que pagam de fato parasuas escolhidas é prejuízo velado para asgrandes, em que eles participam com apenascom 7% (no nosso exemplo) e do outro ladoganham quase 100% sobre o mesmo valor.Grande negócio para eles e evidentetransferência de riqueza, que só não édenunciado, porque os outros interessadosdiretos também participam, de alguma

forma, dessas vantagens em outros processose contratos. O prejuízo de fato, fica para osacionistas minoritários e inexpressivos, epara as identidades sem rosto como ogoverno, seus bancos e os fundos de pensão.A Telemar (hoje OI) é na verdade umapequena empresa no ponto de vistaoperacional, especializada em gestão decontratos apenas, e que movimenta enormevolume de recursos. Toda a atividade detelecomunicações (a razão de ser daempresa), seja ela qual for, é feita peloconjunto enorme de empreiteiras fiéis,regidas por contratos que funcionam apenasna égide explícita desses contratos.

No caso Telemar, a primeira terceirizaçãoque ocorreu foi com o atendimento. Aempresa “escolhida” para prestar serviçosde call center foi a Contax. Ela tinha na época,conforme Rennó (2007), perfil bastanteincomum para os padrões até entãoconhecidos dentro das antigas estatais.Salário muito baixo, alto nível de turnover, eabsoluto desconhecimento do trabalhorealizado nas operadoras de telecomuni-cações. Tinham metas rigorosas deatendimento, conforme exigência da Anatel.A centralização e o deslocamento dessescentros para locais da farta mão de obrabarata e baixo custo operacional, como oRecôncavo Baiano, distanciou ainda mais ossalutares contatos de antes com as equipesde serviço, e atender, a partir de então,deixou de ser necessariamente resolver oproblema do cliente.

Como as metas dessas operadoras traçadaspela contratante era atender a cada anovolume ainda maior que o do ano anteriorde chamadas por minuto e por operador, asolução encontrada foi rever os antigossistemas, seus scripts, suas árvores dedecisão e retirar tudo aquilo que pudessesignificar perda inútil de tempo nas relaçõesdo operador com o cliente. Com isso, as

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elaboradas fraseologias foram para o espaço,as fundamentadas árvores de decisão foram“podadas”, como quem poda árvores velhasna rua, sem o menor estudo de avaliação deimpacto, sem o menor critério que não fossea redução do tempo diante do cliente.Introduziram ainda as famosas “música deespera”, as sequências intermináveis de“tecle 1 para..., tecle 2 para..., engrenadasno formato de árvore onde raramente ocliente acessa um atendente, as incontáveistransferências para outro atendente, e asfrequente quedas da chamada por time out.O prejuízo foi evidente para o cliente. Comtudo isso, fazendo comparação, a equipe deum centro de atendimento COS da antigaestatal, que comportava no máximo 20.000terminais, atendia, agora, no moderno CallCenter com 400.000 terminais.

Normalmente, segundo Serafim (2008), osoperadores de Teleatendimento que,inicialmente, eram conhecidos como“operadores de telemarketing”, são alunosdo segundo grau ou alunos dos primeirosanos do curso superior, mas de origemhumilde, que precisam exercer atividadelaboral para pagar os estudos, cuja cargahorária tem que ser menor do que é exigidodos demais trabalhadores. A escolha daprofissão é temporária e se dá em virtudede ser uma profissão que permite conciliaro trabalho com a vida estudantil. Essarealidade ganha proporção não apenas pelofato da quantidade de horas trabalhadas pordia, mas, também, pela flexibilidade deturnos, visto que, normalmente, as centraisde relacionamento com o cliente funcionam24 horas. O desprestígio social dessesprofissionais é patente, tanto na hierarquiacorporativa, quanto na sociedadepropriamente dita. Hoje, são motivo dedescrédito em virtude do estigma social

gerado pelo uso exagerado de gerundismo,presente na fala desses profissionais, comocaracterísticas inerente à profissão, e queadotaram para se distanciarem dasreclamações sobre serviços prestados.

Essa distância a que se refere Serafim (2008),também pode ser observada em Pereira JR(2010), pois, para ele, o gerundismo se dá,quando nós não queremos comunicar a ideiade eventos ou ações simultâneas, mas antesfalar da ação específica, pontual, em que aduração não é a preocupação dominante. Aintenção piora mesmo, quando a ideia decontinuidade nem deveria existir na frase.“Vou falar” narra algo que vai ocorrer apartir de agora. “Vou estar falando” se referea um futuro em andamento - “estar” dá ideiade permanência no tempo. Nesses casos, ogerúndio é usado em situações maisadequadas ao uso do infinitivo (aquele quenão dá ideia de ação em curso, mas deassertiva). É, no mínimo, forçado falar deuma ação isolada, que se concluiria num ato,como se fosse contínua. Quandorespondemos ao telefone “vou estarpassando o recado”, ‘forçamos a barra’ paraque o recado, que potencialmente tem tudopara ser dado, não tenha mais prazo devalidade. Há um paradoxo semânticoporque se dá a impressão de que a açãoprometida é duradoura. Segundo Possenti13,apud Pereira JR (2010), ao adotar o gerúndionuma construção que não o pedia, a pessoafinge indicar uma ação futura com precisão,quando na verdade não o faz. SegundoNeves14, apud Pereira JR (2010), ogerundismo faz a informação pontual (emque o foco está na ação) ser transformadanuma situação em curso (durativa). Oaspecto pontual é aquele em que umfenômeno é flagrado independentemente dapassagem de tempo - o verbo se refere só à

13 Sírio Possenti, é professor de linguística da Universidade Federal de Campinas – SP.14 Maria Helena de Moura Neves, professora da Unesp e do Mackenzie, autora da Gramática de Usos do Português.

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ação. São pontuais, por exemplo, expressõescomo “vou fazer” ou o futuro do presente,“farei”. Porque os mecanismos linguísticossão acionados pela intenção, é possível obterum efeito pragmático na locução dogerúndio de atenuar o compromisso com apalavra dada. Quando digo “vou passar seurecado”, a referência é a ação em si. Nãome atenho à sua duração. Com isso, amarroum compromisso. A ação é indicada ali, purae simplesmente. Garanto que ela secumprirá. Ao usar o gerúndio, deixo de mereferir puramente à ação e incorpora-se oaspecto verbal durativo. A ênfase passa aser outra. Você comunica que até encontrarátempo para fazer a ação, mas seu foco nãoestá mais nela. O descompromisso que essaatitude implica pode ser atribuído a umaduração que é falsa. Permite, por tabela, quequalquer um drible seu interlocutor, semparecer ofensivo nem indelicado.

O emprego abusivo do gerúndio, segundoPereira JR (2010), na prática, é uma espéciede fórmula que lhe permita dizer algo

educado, mas que não implique realcompromisso e o gerundismo chega mesmoa refletir as relações desiguais entre chefese seus funcionários. Vício não proliferasozinho, mas motivado pelas situações detrabalho e do cotidiano. Ao informar quevamos estar fazendo, nós não dizemosquando vamos concluir o processo, mas queele está em andamento. Ao ouvir um “vamosestar resolvendo o seu problema”, nãosabemos quem vai resolver, nem se vai fazê-lo. Na verdade, comunica-se que estátrabalhando, mas não trabalha.

Por não vestir inteiramente a camisa numaprofissão que considera instável, o operadorde telemarketing apela para o gerúndio paranão se comprometer com ações futuras. Nofundo, o problema gramatical camufla o mauserviço. O gerundismo é a sina da dificuldadedas pessoas de ir fundo nas questõesrelevantes.

A tabela abaixo apresenta o nível decomprometimento, de acordo com odiscurso e o tempo verbal utilizado.

Fonte: Autor, baseado em Posseti, apud Pereira JR (2010)

TABELA 2Escala de compromisso

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9 CONCLUSÃO

Após a privatização das telecomunicaçõesbrasileiras, o atendimento a clientes foitratado como serviço não essencial, e vistocomo apêndice desconectado do processoprodutivo dessas organizações, e como eraatividade que dava muito trabalho enenhuma vantagem econômica imediata, foientregue a oportunistas, que viram a chancede vender serviços. Mas o objetivo deles era,e ainda é, apenas atender e não resolver oproblema do cliente.

O gerundismo nos Call Centers não é sóquestão de semântica, de textos malelaborados ou de gramática simplesmente.O gerundismo é também questão de gestão,questão de comportamento humano,questão de cultura organizacional. É ofeedback cultural do atendente oprimido àfrente do cliente, lendo um script porque nãoentende nada sobre o que está falando, esobre o qual é obrigado a afirmar, dandotodas as garantias possíveis, o que serárealizado e essa afirmação sobre a qual nãopode precisar quando acontecerá, mas noseu íntimo sabe que poderá não acontecer.Sabe que não deveria afirmar com tantaconvicção, mas é obrigado. Então, ele diz(na forma de gerúndio) que alguém (não ele)fará o que ele afirma (não se sabe claramenteo que nem quando), mas que ele, de fato,não acredita, ou não tem certeza, se o queele está prometendo será feito como ele estádizendo.

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