revista 3ª visão

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INFRAESTRUTURA NOVO PERÍMETRO URBANO CONTEMPLA O CRESCIMENTO DESORDENADO DA CIDADE ECONOMIA CONSUMIDOR NÃO FAZ PESQUISA E PAGA MAIS PELOS PRODUTOS DA CESTA BÁSICA CULTURA TRIBOS URBANAS: MODISMO OU ESTILO DE VIDA? ENSAIO FOTOGRÁFICO A MELANCOLIA DO MUNDO DOS MORTOS REVISTA PRODUZIDA PELOS ALUNOS DE JORNALISMO DA FASB // 2010.2 # 02 OS DESAFIOS DE UMA CIDADE QUE TRÂNSITO CAÓTICO, FALTA DE INFRAESTRUTURA URBANA E OBSTÁCULOS PARA A AMPLIAÇÃO DO AEROPORTO SÃO ALGUNS DOS PROBLEMAS QUE IMPEDEM O DESENVOLVIMENTO DE BARREIRAS, MAIOR CIDADE DO OESTE DA BAHIA D’Artagnam Nascimento SÓ CRESCE

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Revista produzida pelos alunos de jornalismo da Faculdade São Francisco de Barreiras (BA)

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INFRAESTRUTURANOVO PERÍMETRO URBANO CONTEMPLA O CRESCIMENTO DESORDENADO DA CIDADE

ECONOMIACONSUMIDOR NÃO FAZ PESQUISA E PAGA MAIS PELOS PRODUTOS DA CESTA BÁSICA

CULTURATRIBOS URBANAS: MODISMO OU ESTILO DE VIDA?

ENSAIO FOTOGRÁFICOA MELANCOLIA DO MUNDODOS MORTOS

REVISTA PRODUZIDA PELOS ALUNOS DE JORNALISMO DA FASB // 2010.2 # 02

OS DESAFIOS DEUMA CIDADE QUE

TRÂNSITO CAÓTICO, FALTA DE INFRAESTRUTURA URBANA E OBSTÁCULOS PARA A AMPLIAÇÃO DO AEROPORTO SÃO ALGUNS DOS PROBLEMAS QUE IMPEDEM O DESENVOLVIMENTO DE BARREIRAS, MAIOR CIDADE DO OESTE DA BAHIA

D’Artagnam Nascimento

UMA CIDADE QUEUMA CIDADE QUESÓ CRESCE

Turma do 4º semetrede jornalismo 2010.2

2010.2 [ ] 3

IAESBInstituto Avançado de Ensino Superior de Barreiras

Diretor-Presidente: Tadeu Sérgio Bergamo

Diretor-Administrativo: André Henrique Bergamo

Faculdade São Francisco de Barreiras

Diretora Acadêmica: Luciane Joia

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Coordenador de Jornalismo: José César dos Santos

Coordenador de Publicidade: Rônei Rocha Barreto de Souza

BR 135 Km 01, Nº 2341 / Bairro Boa Sor te / Barreiras (BA) / Cep 47805-270 / CP 235.Telefone (0xx77) 3613.8800 Revista experimental do curso de jornalismo produzida no interdisciplinar 2010.2.

Supervisão de projeto gráfi co-editorial: Prof. MS. Cícero Félix

Professores participantes do interdisciplinar: Edvar Sobrinho (Fotojornalismo), Cícero Félix (Redação Jornalística II e Editoração e Edição I), Hebert Regis (Técnica de Reportagem, Entrevista e Pesquisa II), José César (Ética na Comunicação) e Emerson Vargas (Laboratório de Produção Radiofônica)

Alunos participantes: Antonio José, D’Artagnan Luiz, Ellen Rarden, Joaney Tancredo, Diego Souza, Erneilton de Lacerda, Evaldo Figueiredo, Willian Oliveira, Anna Paula Brinquedo, Gabriela Flores, Cácio Rezende, Helaine Rodrigues, Catarina Araújo, Rosane Ferreira, Mariana Dorfey e Elanne Nunes

Jovens aprendizes do curso de jornalismo encaram com responsabilidade e profi ssionalismo de gente grande a produção da segunda edição da revista acadêmica 3ª Visão. O projeto da revista faz parte do processo contínuo de aprendizado, que os

acadêmicos do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo desenvolvem na FASB.

Idealizada inicialmente para avaliação do 4º semestre, a revista desafi ou mais uma vez os aspirantes a jornalistas e vem consolidar-se como uma forte produção editorial e gráfi ca.

A importância e problemas da cidade de Barreiras na região Oeste foi o gancho inicial para a produção da revista, que tem como capa “Os desafi os de uma cidade que só cresce”, reportagem que destaca avanços socioeconômicos e é complementada por outras que enfatizam a falta de planejamento e de infraestrutura para o desenvolvimento da cidade.

A partir dos anos 1980, a interiorana Barreiras atraiu produtores, comerciantes e famílias de todos os cantos do país, o que favoreceu seu fortalecimento econômico. As lavouras de soja e algodão ocuparam o lugar das matas, as casas subiram morro e o fl uxo de automóveis cresceu descontroladamente.

Dentre todas as transformações da região, lacunas foram criadas, deixando graves conseqüências, como ocupação urbana desordenada e prática abusiva do mercado interno, com preço de cesta básica superior a de grandes capitais. No meio desse descontrole vieram também as oportunidades: aumento de vagas de empregos, instalação de novas lojas e indústrias, demanda por serviços, instalação e expansão do ensino superior, etc. A questão é que a desorganização urbana, a ausência ou inoperância do poder público, a falta ou pouca representatividade política nos legislativos estadual e federal acabaram por se sobrepor aos aspectos positivos desse crescimento.

O que fi ca patente, nas reportagens consolidadas pelos alunos com o auxílio dos professores, é que o desenvolvimento só pode acontecer após a desobstrução de diversas barreiras aqui apresentadas. O oeste da Bahia é uma das regiões que mais crescem no Brasil. Barreiras, juntamente com Luis Eduardo Magalhães e outras cidades, puxam o trem desse crescimento que partiu e não se sabe aonde vai parar. Só um detalhe: crescimento não quer dizer necessariamente desenvolvimento.

PS.: Esta edição contou com a participação especial de alunos do 4º semestre de Publicidade e Propaganda, autores dos dois anúncios da revista.

Crescimento vs.Desenvolvimento

4 [ ] 2010.2

índice

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colunas6 Caleidoscópio10 Erneilton Lacerda22 Gabriela Flores34 Joaney Tancredo

6 [ ] 2010.2

caleidoscópioPOR DIEGO SOUZA // ANTÔNIO JOSÉ

O dia em que o Rio Grande diminuiu4A Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Sitio Grande, que está em construção no Rio das Fêmeas, município de São Desidério, terá que pagar uma multa de 6 milhões de reais por crime ambiental. Motivo: no dia 27 de setembro fechou as comportas e reduziu repentinamente a vazão de água no Rio das Fêmeas em 80%. Como consequência, caiu 60 cm do nível do Rio Grande, que tem o Rio das Fêmeas com um de seus principais afluentes. Era possível caminhar sobre o leito do rio.

Saneamento básico sem perspectiva4Foi anunciado investimento de R$ 356 milhões em abastecimento e esgotamento sanitário de Barreiras no início de setembro. Estavam presentes, na ocasião, o presidente Lula da Silva, o governador Jaques Wagner, a então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff e a prefeita de Barreiras, Jusmari Oliveira. Apenas 10% da cidade, que tem, mais de 138 mil habitantes é saneada.

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Acima, o Rio das Fêmeas com o leito vazio após o fechamento da comporta.Como consequência, o RioGrande (abaixo), teve volume reduzido em 60%

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Receita ilegível: paciente pode denunciar médico4A partir de agora, o médico que prescrever receitas ilegíveis pode ser denunciado no Conselho Regional de Medicina (Cremeb), anunciou o presidente do Conselho Regional de Medicina, Manuel Maurício Gonçalves. Os “garranchos” nas receitas são reclamações antigas dos pacientes. É obrigação do médico emitir receitas que possam ser lidas facilmente. E um direito do paciente. A Cremeb fica na rua José Bonifácio, 33, no Centro.

Projeto exame obrigatório recém formados em saúde4Um projeto que tramita na Câmara dos Deputados, de autoria do deputado federal Paes de Lira (PTC/SP), propõe que profissionais da área da saúde sejam submetidos a prova antes de exercer a profissão. O exame seria semelhante ao da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O presidente nacional do conselho de medicina Carlos Correia Lima, reclama da baixa qualidadede alguns cursos.

Polícia do Estado vai fi scalizar estradas4Está sendo implantada na cidade de Barreiras, no bairro JK, a Companhia Independente de Polícia Rodoviária Estadual (Cipre), que terá por função fiscalizar as rodovias estaduais de todo o Oeste da Bahia. Segundo o Major PM Paulo Henrique, comandante da Companhia, foram solicitados 64 policiais militares, um caminhão gaiola para retirar animais da pista, um caminhão guincho e viaturas policiais.

“Queremos promover um mundo ecumênico. Jesus queria que seus discípulos fi cassem unidos. Temos que

buscar algo em comum. Eliminando as indiferenças.”Dom Ricardo Josef Weberberger, o primeiro bispo da diocese de Barreiras (BA), que faleceu em 17 de agosto de 2010.

Ele nasceu em 1939, na cidade de Leonfelden (AUSTRIA) . Chegou à diocese de Barreiras 1974 e sua Ordenação Episcopal aconteceu em julho 1979,

Receita ilegível: paciente pode denunciar médico4ilegíveis pode ser denunciado no Conselho Regional de Medicina (Cremeb), anunciou o presidente do Conselho Regional de Medicina, Manuel Maurício Gonçalves. Os “garranchos” nas receitas são reclamações antigas dos pacientes. É obrigação do médico emitir receitas que possam ser lidas facilmente. E um direito do paciente. A Cremeb fica na rua José Bonifácio, 33, no Centro.

“Eu, não fujo da raia. Pode vir, pode atacar,pode tentar situações adversas,porque não vão me atemorizar.”Dilma Rousseff, candidata do PT eleita presidentedo Brasil na eleição de 20101 600m 2 300m

A PISTA VAI SOFRER UMA AMPLIAÇÃO DE CERCA DE 30% NO SEU COMPRIMENTO, ALÉM DE ALTERAÇÕES EM SUA LARGURA

Empresa de Salvador vence licitação para ampliar aeroporto4A empresa Concreta Tecnologia em Engenharia Ltda. foi a vencedora da licitação aberta pelo Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia, Derba, para a elaboração do projeto de reforma e ampliação do Aeroporto de Barreiras, o investimento total da reforma será de R$ 30 milhões. Durante a execução do projeto será realizado o levantamento planialtimétrico, cadastral e o estudo geotécnico necessários para a execução das obras. Veja abaixo para quanto vai aumentar a extensão da pista.

8 [ ] 2010.2

cConcluir o ensino médio, técnico ou supe-rior, nem sempre trás os resultados espe-rados pelos estudantes recém-formados. Com a expectativa de encarar o mundo empresarial e desenvolver trabalhos, jo-vens encontram difi culdades em esco-lher por onde começar a aplicar tudo o que aprendeu no periodo de sua forma-ção. Inserir no mercado de trabalho não é uma tarefa facil e para muitos é quase impossivel pois não tem imediata certeza do que relmente querem. Para isso cursos profi ssionalizantes são oferecidos duran-te o processo pedagógico servindo como um suplemento para complementar seu desenvolvimento profi ssional. Programas como “O jovem aprendiz” (PROJOVEM) realizado pelo Governo Federal, que facili-ta o jovem a entrar no mercado com mais facilidade, como também o programa de estágio pelo Instituo Euvaldo Lodi (IEL) que trabalha com a capacitação do estu-

dante desde sua introdução no programa e no acompanhamento durante o período de alocação, são instintivos para dar início a uma carreira profi ssional.

O coordenador de mercado do IEL Edg-ton Muniz Júnior explica que, o estudante ao concluir o curso deve se profi ssionalizar juntando sua teoria advinda a partir de seu estudo com a prática atuando no mercado, garantindo ao estagiário fazer parte do pro-cesso pedagógico do curso se integrando de forma educativa no mercado. Segundo ele, com a nova regulamentação de estágio Lei número 11.788 de 25 de setembro de 2008 o estudante pode fi car mais tranqui-lo em relação aos seus direitos, pois está explicito na lei todos os direitos e deveres do estagiário. Para esclarecer melhor sobre esse assunto a 3ª Visão conversou com o coordenador para tirar dúvidas de estudan-tes barreirenses que se planejam ingressar no mercado via estágio.

Na busca para construir um plano de carreira, estudantes encontram no estágiouma forma de desenvolver trabalhos com uma mediação pedagógica

CASSIO ROSENDO // ROSANE FERREIRA DA SILVAPOR

e a descoberta para novos talentos

O estágio

entrevista // Edgton Muniz Júnior

2010.2 [ ] 9

O que o programa de estágio oferece para o estu-dante?O que apresentamos para os estudantes é o enca-minhamento em estágio. É um meio indispensável para a formação profissional e o IEL atua com sua capacitação e no acompanhamento após sua alocação.

Quais os mais interessados nos programas: estu-dantes de ensino médio, técnico ou superior? Há uma procura muito grande tanto de estudan-tes de ensino médio quanto de superior. Por que o mercado está mais aquecido para esses dois cursos. então a busca desses estudantes sempre é maior.

O que espera o estudante ao procurar programas de estágios?O estudante quando procura o programa de estágio a sua intenção é inserir no mercado de trabalho. Funciona como uma porta de entrada para o mer-cado, é o primeiro emprego. De certa forma, existe uma facilidade encontrada por esses estudantes ao introduzir no programa de estágio. Transformam o modo de enxergar o mundo empresarial, o que po-dem fazer para ter bons rendimentos e futuramente se tornarem profissionais de renome.

Qual o valor que as empresas atribuem para esse tipo de trabalho?As empresas vêem o programa de estágio, como uma forma de encontrar estudantes que estão se preparando para prestar serviços de qualidade e ter melhores rendimentos. O estágio tem a oportunida-de de aliar a teoria junto à prática, isso enriquece o trabalho dentro da empresa e com isso ele acaba agregando valores que são importantes, adquirindo novas habilidades que vão ajudar no decorrer de sua trajetória.

As empresas buscam melhorias em capacitação no quadro de funcionários. Seria esse o principal motivo em empregar estagiários? Também. Hoje as empresas estão preocupadas na questão do vício empregatício, pois quando se busca um funcionário, encontra-se em sua maioria pessoas mais experientes com costumes adquiridos de antigos trabalhos. Com a contratação de estagiá-rios essa realidade muda, além de integrar pessoas mais novas “pessoas cruas” motivadas que estejam disponíveis, estudantes que se atualizam para pres-tarem serviços seguindo as tendências de mercado, tem uma capacidade maior de serem moldadas e enquadradas para desenvolver o trabalho estabele-cido pela empresa.

Empresas reconhecem que o processo de estagio é o período de conhecer novos talentos e aprimorar o estudante para uma boa formação profissional?Sim. As empresas sabem que o período em que o estagiário atua, ajuda na sua formação construindo uma nova visão de mundo abrindo novos espaços para empreender seu conhecimento. Sabe que a teoria não forma nenhum profissional e a prática é muito mais importante, pois o profissional sem prática desconfigura seu meio de produção ten-do pouca permanência. O papel social que o IEL presta é um meio de contribuir para o crescimento empresarial, então a alocação de estagiários auxilia não só na formação do estudante como também no desenvolvimento de empresas.

Algumas empresas confundem o trabalho do esta-giário com o do funcionário efetivado? Com as mudanças na LEI Nº 11.788, não tem como confundir porque ela é clara definindo o papel de cada um dentro do programa, tanto o da empresa quanto do estudante da instituição de ensino do agente intermediador. Existem termos técnicos que são relacionados ao progra-ma de estágio que diferencia da CLT para que as empresas se conscientizem com relação a sua função dentro desses programas. Nesse senti-do essa lei veio para suprimir a anterior, para corrigir alguns gargalos de desvio de função que ainda são encontrados.

Quais as observações feitas pelos empregadores em relação ao trabalho exercido pelo estagiário?Observa-se que cada dia o estágio tem crescido isso é um fator que mensuramos como satisfação que o empregador tem com o programa. O trabalho exer-cido conscientiza estudantes em relação ao estagio sendo importante, porque apesar de ser estagiário ele tem atribuições dentro da empresa.

“Os alunos transformam o

modo de enxergar o mundo empresarial”

10 [ ] 2010.2

artigo

aHomossexualidade dentro de casaAmor incondicional, carinho, respeito, con-fiança e orgulho são características intrínsecas aos pais, que veem nos filhos a continuação de sua linhagem e a concretização de seus próprios desejos, ou seja, um espelho de si mesmos. Na maioria das vezes, essa projeção não é concretizada, resultando em decepção para as partes: os pais por não terem o filho que gostariam de ter e os filhos por se senti-rem como algo que não deu certo. Um desses momentos de decepção dos pais quanto a um filho ou filha é quando um destes se assume homossexual; momento em que as caracte-rísticas inatas aos pais perdem espaço para a frustração, raiva e culpa.

ERNEILTON LACERDAPOR

OS PAIS ACREDITAM QUE O FILHO ESTEJA COM PROBLEMAS PSICOLÓGICOS E PROCURAM AJUDA

situação, o Grupo de Pais de Homossexuais (GPH). Segundo Edith, existem hoje dois mo-tivos de vergonha na ótica desses pais: ter um filho homossexual e radicalizar a situação, expulsando o filho de casa ou agredindo-o moral e fisicamente, haja vista o avanço da sociedade quanto ao assunto. Dessa manei-ra, ainda conforme Edith, os pais ficam entre uma coisa e outra: mantêm o filho em casa, mas não aceitam a homossexualidade dele.

Na adolescência se concentram os maiores conflitos de identidade e se passa a ter maior convicção do que se deseja afetiva e sexual-mente. Por isso, é nessa fase que, frequente-mente, os homossexuais assumem sua orien-tação sexual. Sem o apoio dos pais, que se culpam pela situação, a tendência é que esses adolescentes se afastem da família para viver sua identidade sexual. Assim como os filhos, os pais também começam a vivenciar e sofrer diante da percepção do filho(a) homossexu-al, muitas vezes preferindo negar a realidade. Nesse sentido, esses filhos não encontram em casa o que deveriam encontrar por parte dos pais, transformando-se assim em adultos tris-tes, depressivos e conflituosos.

Em uma sociedade pluralista, cujo con-vívio social passa pelo respeito às diferenças de cada ser humano, o respeito deve surgir, em primeiro lugar, dentro de casa. O caráter é moldado por nossas relações cotidianas com aqueles que nos deram a vida. Portanto, o respeito fora de casa virá apenas quando a sociedade se conscientizar de que homosse-xualidade é uma condição humana tão natu-ral quanto a heterossexualidade, não sendo uma perversão, opção ou escolha individual. Afinal, quem escolheria ser homossexual em uma sociedade homofóbica e cheia de estig-mas? Certamente, ninguém.

Não obstante aos avanços sociais no que se refere ao tema diversidade sexual, quando o assunto entra nos lares é visto sob outra perspectiva – predominando o preconceito enraizado na sociedade. Ao se depararem com a homossexualidade em casa, os pais reagem de forma agressiva, negando aceitar que a projeção feita para seus filhos tenha sido desprezada e muitos, acreditando que o filho esteja com problemas psicológicos, procuram ajuda profissional. É importante ressaltar que a ação de procurar psicólogos para curar “traços” de homossexualidade é equivocada, visto que a Organização Mun-dial de Saúde (OMS) não a considera uma doença desde 1985 e, portanto, não é passí-vel de tratamento médico.

Logo após a revelação de que um de seus filhos era gay, a filósofa e professora da Uni-versidade de São Paulo Edith Modesto criou uma ONG para ajudar os pais a lidar com esta

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política

Nas eleições de 2010 foram eleitos na Bahia 63 deputa-dos estaduais. Distribuição por mesorregiões:

DIVISÃO POLÍTICA POR REGIÃO

Oeste2 deputados

Vale São Franciscano5 deputados

Nordeste8 deputados

Centro Norte7 deputados

Metropolitana29 deputados

Centro Sul5 deputados

Sul7 deputados

nApesar de ser lembrada como grande potência econômica,a região Oeste da Bahia é representada apenas por dois deputados

ELANNE NUNES// MARIANA DORFEYPOR

A baixa

Nas eleições desse ano foram eleitos na Bahia 63 deputados estaduais, o oeste baia-no elegeu dois para o legislativo estadual: Herbert Barbosa (DEM) e Kelly Magalhães (PC do B). O fato ainda levanta por parte dos moradores da região um incômodo. Será que o oeste da Bahia tem sido sufi -cientemente bem representado na Câmara legislativa estadual?

Considerando que a região oeste repre-senta 22% do PIB do Estado, em compara-ção a região do nordeste baiano que pos-sui 12% e conseguiu eleger 8 deputados, a distribuição legislativa estadual deixa a desejar.

O assessor em política Arlênio Sampaio acredita na necessidade da região possuir maior quantidade de representação, no en-tanto, chama a atenção para o equilíbrio partidário dessa última eleição. Segundo ele, a representação numérica nem sempre faz diferença quando comparada a qualida-de dos candidatos. Para o assessor, uma vez eleitos um deputado vinculado ao Governo do Estado e outro da oposição, a busca por investimentos e ações do Governo passa a ser mais cobrada e fi scalizada. Caso contrá-rio, eleitos deputados do mesmo governo começa a briga por espaços políticos, como a divisão de cargos.

representação política

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Projeções do legislativo para o Oeste

Passado o período eleitoral agora é hora dos candidatos eleitos tomarem posse de seus cargos e exercerem suas funções. Por se tratar de maior proximidade com a população, o poder Legislativo Estadual tem funções primordiais para a consoli-dação da democracia: legislar sobre os assuntos de interesse nacional e fiscalizar a aplicação dos recur-sos públicos.

Eleita com 36.141 mil votos, a deputada estadu-al Kelly Magalhães comemora a sua participação no Governo do Estado. “A condição de deputada eleita pela base governista de Jaques Wagner, propicia fazer com que os investimentos sejam ampliados aqui para o oeste da Bahia” ressalta.

Em seus projetos o setor da economia merece in-vestimentos principalmente na agricultura familiar, capacitando os pequenos produtores em busca da auto-sustentação no campo. Outro setor apontado são os pequenos comerciantes que recentemente deram um pulo na legalização dos negócios. Com a votação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa está mais simples obter crédito, abrir empresas e legalizar as informais. No entanto, segundo Kelly a peça chave para o crescimento e dinamismo na economia local é a construção da Ferrovia Oeste-Leste. “Será um grande investimento para o oeste diminuir custos de transportes da produção do cer-rado. Vai dar uma nova dinâmica e uma nova cara para a região” ressalta Kelly.

O cultivo de grãos e o comércio forte são os fatores para maior desenvolvimento econômico no oeste. Para Kelly Magalhães, ferrovia Oeste-Leste será percussora na implantação de novas indústrias

Considerando que o Estado é dividido em três territórios de identidade - o território bacia do Rio Grande, em Barreiras; Rio Corrente em Santa Ma-ria da Vitória e Rio São Francisco, situado na Lapa, Kelly diz que a representação política da região ain-da tem suas deficiências. Para a deputada, esse é mais um motivo para que os candidadtos eleitos desenvolvam seu papel na Câmara Legislativa Esta-dual de forma à trazer investimentos e crescimento para o oeste baiano.

Procurado pela produção, o deputado estadual eleito Herbert Barbosa não quis se pronunciar sobre o assunto.

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DIVISÃO DO PIB BAIANO POR REGIÕES

Oeste Nordeste Demais regiões

2010.2 [ ] 13

que seja possível acrescentar à área atual cultivada (1,8 milhão de hectares) mais 3,5 milhões de hectares, res-peitando a manutenção de reservas legais” afirma.

Entre suas atuações a frente do setor agropecuário, a Aiba destaca o Plano Oeste Sustentável, na área am-biental e o Estudo Analítico das Cadeias Produtivas de Soja, Milho e Algodão com objetivo de estimular inves-timentos que propiciem ainda mais a produção e cresci-mento do setor. Nesse aspecto, Rasia afirma que mui-tos investimentos ocorrem naturalmente em função do perfil empreendedor dos produtores, e ressalta “O setor público ajuda, mas as coisas não acontecem na mes-ma velocidade, seja por burocracia ou por vontade de alguns atores”.

SERVIÇOS E INDÚSTRIANo terceiro trimestre desse ano, a economia do oeste

baiano registrou grande expansão nos diversos setores. Segundo dados da Superintendência de Desenvolvi-mento Industrial e Comercial da Bahia (SUDIC) o setor de serviços teve crescimento de 8,8% em todo oeste do estado. Dentre os segmentos que registraram altas, destacam-se o comércio varejista de equipamentos para informática (27,5%), móveis (24,2%) e veículos com alta de 12,8%.

Já a indústria baiana fechou o trimestre com incre-mento de 12,2%. A região oeste da Bahia é porta de entrada para esse investimento industrial. A cidade de Luís Eduardo Magalhães responsável por 60% da produ-ção de grãos do estado sedia cerca de 20 multinacionais, como exemplo a Bünge Alimentos, Galvani e Ceval.

Seguindo a mesma linha, será implantada na cidade de Barreiras uma filial da Comercial Gerdau, multinacio-nal brasileira no setor de aço. Com estimativa em cerca de 40 empregos diretos e indiretos a inauguração está prevista para o final de 2010.

Quadro econômico do oeste baiano

Representando 5,2% do PIB Nacional, a economia baiana ocupa lugar privilegiado quando comparada ao crescimento econômico do país. Dos setores de serviços, indústria e agricultura o Estado fechou o terceiro trimes-tre de 2010 com uma expansão de 10%, enquanto que a região oeste teve alta de 8,2% em comparação com 2009.

Durante coletiva da Secretaria Estadual do Planeja-mento (SEPLAN), o secretário Antônio Alberto Valença fez referência sobre dados da economia baiana nos úl-timos trimestres. O secretário afirma que a região me-tropolitana de Salvador gradualmente abandona seu protagonismo na economia, em favor de outros polos lo-calizados no interior do Estado, citando o município de Barreiras como grande percussor de crescimento econô-mico. No entanto, levando em consideração o favorável desenvolvimento, o oeste da Bahia sofre com a falta de logística para escoamento de produtos. A exemplo de tal insuficiência, há anos estão em trâmite as obras do Anel Viário e do aeroporto na cidade de Barreiras.

AGROPECUÁRIACom arrecadação de ICMS em R$5,9 bilhões no

primeiro semestre de 2010, o Estado da Bahia alcança maiores taxas de crescimento no setor agropecuário com destaque para região Oeste. Segundo dados da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA) o setor agropecuário do Oeste representa 20,45% do PIB do Estado.

Maior representatividade está nos quatro principais municípios do setor: São Desidério (R$ 637 milhões), Barreiras (R$ 372 milhões), Luís Eduardo Magalhães (R$ 215 milhões) e Formosa do Rio Preto (R$ 179 milhões). De acordo com Alex Rasia, diretor executivo da Aiba, o oeste baiano é uma fronteira consolidada. “Estimamos

O setor público ajuda, mas as coisas não acontecem na mesma velocidade, seja por

burocracia ou por vontade de alguns atores”Alex Rasia, diretor executivo da Aiba

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30 INFORMÁTICA

MÓVEIS

VEÍCULOS

2009 2010

PROJEÇÃO NO SETOR DE COMÉRCIO

Fonte: SUDIC

14 [ ] 2010.2

aFalta de tempo causa prejuízo ao consumidor, que não consegue pesquisar e acaba pagando mais caro pelos alimentos básicos

GABRIELA FLORES // WILLIAN DE LUCENA POR

Alguns consumidores em Barreiras recla-mam que o preço da cesta básica é muito cara. A Dona Maria Rita de Souza, mora-dora do Bairro Sandra Regina, disse que “o preço dos itens da cesta básica em Barrei-ras, são muito caros. E não sei o porquê dos preços serem tão diferentes de um super-mercado para outro”.

O valor da cesta básica em Barreiras chega a variar 68% de um supermercado para outro. Pode custar de R$ 112,51 até R$ 165,40. Seu preço médio é de R$140,68. Fica atrás de Brasília (R$140,74) e Salvador (R$ 169, 53).

O percentual de gasto do salário míni-mo de R$ 510,00 com a alimentação é de 27,58%, 27,60% e 33,24%, corresponden-tes as três cidades respectivamente.

A dona de casa, Gessi Lírio, encontrou o preço do feijão em um supermercado no valor de R$ 3,89, e em outro de R$ 3,40. Ela, para tentar comprar pelo melhor preço, visita no mínimo três supermercados, antes de levar o produto para casa.

Apesar de Barreiras possuir uma média

de preços abaixo das capitais mais próxi-mas. Existe no mercado interno supermer-cados cujos preços dos produtos, são mais elevados.

Muitos dos itens pesquisados são pro-duzidos na região, por esse motivo o preço deles é mais acessível aos barreirenses. “Os impostos, a logística, o transporte sempre influenciam no preço dos produtos”, diz Eduardo Barros gerente de atacadista insta-lada em Barreiras há mais de 40 anos.

Cita-se em primeiro lugar como fatores de encarecimento dos produtos a incidên-cia dos impostos. O ICMS (O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) na Bahia é de 7% para a alíquota interna e de 12% para itens com alíquota interestadual. Mas, Segundo o economista José Neves o Governo Federal pretende diminuir os im-postos sobre os alimentos da cesta. “A re-tirada dos impostos dos produtos da cesta básica torna os produtos mais acessíveis ”, avalia.

De acordo com gerentes de supermerca-dos, a logística encarece o produto dispo-

Cesta básica varia até

economia

68%

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lores

O leite em pó é um dos itens da cesta básica, embora o em líquido seja mais barato

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nível aos consumidores. Destacam ainda, que a localização favorece mais a cidade de Bar-reiras que Brasília. Por esse motivo a maioria dos produtos elencados circulam primeiro na rodovia da região oeste. “De Barreiras saímos pra Brasília, pro Tocantins, pra Palmas, Minas Gerais. Então nos encontramos em um ponto muito privilegiado”, disse o economista José Neves.

Alberto de Lima, gerente de uma rede de supermercados, explica que, conforme o custo da matéria-prima bruta aumenta consequente-mente os itens da cesta básica ficam mais ca-ros. “A matéria-prima acaba também influen-ciando no valor final do produto”, explica.

Dos alimentos inclusos na cesta básica, a carne foi o principal culpado pelo o constante aumento da cesta básica. Quando o real torna-se mais barato que o dólar, as exportações da mercadoria brasileira aumentam. O incremen-to nas exportações provoca escassez mesmo que momentânea dos produtos, bem como o aumento no preço.

O preço interno da carne chega a custar en-tre R$ 12,85 a R$ 13,50 o quilo. Recentemente ela sofreu um aumento médio 14% em todo o Brasil. A seca que castigou o país, fez com que mercado barreirense vendesse o boi gordo para São Paulo e outras capitais. “Essa questão da carne é sazonal. A venda da carne bovina a outros estados provoca escassez momentânea no mercado local, aumentando consequente-mente o preço”, declarou o economista José Neves.

CONCORRÊNCIAO oeste baiano vem se desenvolvendo e

chamando atenção de empresas de outros es-tados. Em Barreiras novos grupos comerciais começam a se instalar. Com isso, vem à incer-teza de lucro por parte dos que já existiam na cidade. Contudo, a concorrência é grande.

A clientela prefere comprar nos supermer-cados por sua localidade. E muitos preferem os que estão no centro da cidade. “Por ele ser no centro e ter preços que a gente dá conta”, fala Dalva dos Santos. Outro aspecto importante que pode ser constatado. É que a maioria das pessoas afirma que não costuma fazer pesqui-sa de preços.

As pessoas alegam ainda, que falta tempo para realizar pesquisas prévias e que a proxi-midade dos supermercados com suas residên-cias acabam influenciando no local escolhido para fazer as compras.

VEJA OS ITENS DA CESTA BÁSICA PESQUISADOS

carneleite feijãoarroz farinha tomate

cafébananaaçúcaróleo manteiga

www.dieese.org.br

Os preços dos produtos são fiscalizados diretamente pelo DIESSE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).Esse departamento fiscaliza mensalmente o preço de 13 produtos alimentícios de 17 capitais do Brasil. Itens de limpeza e higiene ficam de fora da fiscalização, mas não da cesta básica.

IMPLANTAÇÃO DO PROCON JÁ FOI APROVADA MASNÃO SAIU DO PAPEL

O Procon (Procuradoria de Proteção e Defe-sa do Consumidor) é um órgão que atua em todo Brasil em defesa do consumidor. Ele orienta os consumidores em suas reclama-ções, informa sobre seus direitos, e fiscaliza as relações de consumo.A implantação do Procon na cidade já está aprovada desde 2005 por meio da Lei 704, sancionada pelo Prefeito da época Saulo Pedrosa. No entanto até agora, o órgão não está em funcionamento. A inexistência do órgão provoca na popu-lação um sentimento de desamparo, bus-cando medidas paliativas nos juizados de pequenas causas e na ineficácia de res-olução dos litígios, buscam o Ministério Pú-blico.

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capa

POR ANNA PAULA BRINQUEDO // JOANEY TANCREDO

Barreiras noDESENVOL VIMENTO

site:

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Trânsito caótico, falta de infraestrutura urbana e obstáculos para a ampliação do aeroporto, problemas que impedem o crescimento da maior cidade do Oeste da Bahia.

Barreiras noDESENVOL VIMENTO

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ssa cidade ta (sic) parecendo capital, não é?!”, assim, dentro de um ônibus coletivo, o peso da fala da dona de casa, Rosângela Cardoso, soa como afirmação de um processo perceptível de crescimento da cidade de Bar-reiras. Essa fala representa uma constatação, ainda que inconsciente, da moradora de Barreiras, maior cidade da região Oeste da Bahia.

Rosângela, ao perceber a lentidão no deslocamento do transporte coletivo, devido ao grande fluxo de carros e caminhões, faz uma comparação do trânsito local com o de uma grande cidade, assim como numa capita l.

À imagem e semelhança de um grande centro urba-no, Barreiras tem hoje um a frota automobilística esti-mada em mais de 30 mil carros, numa relação média, seria um carro para cada 4,6 pessoas. Além das apa-rências, Barreiras já pode se considerar uma cidade de grande porte. Cidade média é a denominação dada às cidades que têm entre 50.000 e 500.000 habitantes.

De acordo com dados recentes do IBGE (Institu-to Brasileiro de Geografia e Estatística), Barreiras tem 137.832 mil habitantes, o que a deixa no patamar de ci-dade mais populosa do oeste baiano. E que assim como numa metrópole, o trânsito, um dos pontos necessários para consumação de padrão de qualidade, é um dos as-pectos que faz de Barreiras a cópia fiel de problemas comuns em grandes cidades, digna da admiração de Ro-sângela no começo da reportagem.

Dos exemplos a serem tomados para o desenvolvi-mento de uma cidade, Barreiras, sob vários aspectos, ainda precisa melhorar em muitos. No entanto, José Alves, secretário de Infraestrutura da cidade, defende um crescimento satisfatório em andamento, o secretário afirma que a cidade cresce a cada ano e que esse cres-cimento acontece em números exponenciais, e isso faz com que Barreiras se destaque em relação a outros mu-nicípios do Brasil. Mesmo com essa constatação, pon-tos relacionados ao planejamento do crescimento deve partir da própria Secretaria de Infraestrutura, tais como a reformulação do Plano Diretor Urbano, organização da expansão urbana, mecanismos de melhoramentos de indicadores sociais, dentre outros, são indispensáveis num processo completo de crescimento.

Luciana Morais, profissional de contabilidade e pro-fessora, ressalta que Barreiras passa por um processo de crescimento, mas, que esse crescimento não está re-lacionado ao desenvolvimento. Luciana complementa, “desenvolvimento significa quando você tem atrelado ao processo de crescimento, (leia-se econômico): servi-ço de saúde, habitação, infraestrutura, sendo que todos esses serviços, são fundamentais no processo de desen-volvimento”, diz. Ela aponta ainda que existem aspec-tos diversos relacionados ao desenvolvimento, e que a cidade, mesmo nessa perspectiva, precisa ampliar seus planejamentos; “...quando eu falo em desenvolvimento, digo ter mais inclusão social, mais equilíbrio em relação

“e

138mil habitantes

1,4 bilhãode reais de produto interno bruto

11.000reais de renda per capita anual

Economiabaseada na produção agrícola das culturas de algodão e soja

Fonte: revista Veja de 01/09/2010

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às questões ambientais e também a questão financeira, sempre baseado no tripé da sustentabilidade”. Sobre isso Luciana Morais continua suas observações e faz uma declaração realista, “Barreiras não é uma metrópole, todo mundo sabe disso, ela é um núcleo comercial e de lazer, que serve de cidade-núcleo do oeste da Bahia”, conclui Luciana.

Em termos gerais o economista e professor univer-sitário José Neves afirma ainda que o crescimento da cidade pode ser rápido, mas para isso são necessárias algumas melhorias, tais como transporte, segurança e saneamento. “Eu acredito que o desenvolvimento de Barreiras deve acontecer da maneira mais veloz pos-sível. Nós temos o exemplo em Luis Eduardo que é o município que mais cresce nesse país, antes de ser con-solidado como município, ele era só um posto, - o Mi-moso”, afirma o Professor. Capacitação

em época de desenvolvimento

Foi realizado uma pesquisa de opinião com diversos profissionais a respeito do desenvolvimento de Barreiras, foi unânime a referencia sobre a educação. Os entrevis-tados afirmaram que a uma cidade que almeja projeção como metrópole, precisa antes de qualquer coisa estru-turar a formação profissional e a capacitação interna. E Barreiras nesse sentido, já tem um passo à frente, pois é considerada, pelos entrevistados, um Pólo Universitário.

Barreiras já conta com um núcleo estudantil de ensi-no superior, dentre essas, universidades públicas e parti-culares que atendem estudantes da própria cidade e de cidades circunvizinhas como Ibotirama, Luis Eduardo Magalhães, Baianópolis, Cristópolis, São Desidério.

A professora universitária Carla Santos afirma ainda que os hábitos locais mudaram a partir da vinda das instituições de ensino superior. Para ela, o rio de ndas, ponto turístico da cidade, passou a ser atrativo secundá-rio nos finais de semana. “Uma cidade que se torna pólo universitário muda os costumes de seus moradores, anteriormente nós só víamos as pessoas em Barreiras preocupadas em estar no rio no final de semana, hoje, nós comumente observamos alunos com livros, fazendo uma pós graduação no final de semana, reunido na casa de colegas para trabalhos”. Carla ainda complementa di-zendo, “acho que isso já é um crescimento no aspecto cultural da cidade”.

QUALIDADEA cidade de Barreiras, com 119 anos de emancipa-

ção política ainda não disponibiliza para seus morado-res ideais de qualidade de infraestrutura, assim como nas metrópoles consolidadas. No entanto, os primeiros Trânsito pesado; motos, carros e caminhões

disputam espaço na estreita avenida

ENSINO SUPERIOR EM BARREIRAS

38%DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR SÃO PÚBLICAS

62%DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR SÃO PARTICULARES

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Fonte: Ministério da Educação

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Cais de Barreiras: aqui a cidade navegou rumo ao crescimento, hoje o descaso ambiental faz do Rio Grande uma miniatura, se comparado a sua influência no passado

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passos já foram dados, mas num Brasil onde a burocracia ainda entrava obras como a amplia-ção do aeroporto a continuidade do anel viário, além demora em liberar a construção da ferro-via Oeste-Leste, não se pode pensar em melho-rias de imediato. Essas obras, não resolverão os problemas da cidade, no entanto, ajudarão a seguir no caminho de crescimento/desen-volvimento, para quem sabe, essas barreiras serem ultrapassadas sem dificuldades. José Neves afirma que resolvendo esses pontos, a caminhada rumo ao desenvolvimento ficará mais fácil. “Nós sabemos que é importante o aeroporto, o anel viário, para amenizar esse trânsito da cidade, eu diria que são fundamen-tais para que possa atender a população. Tem também a questão habitacional, saneamento básico, infraestrutura, isso tem que acontecer em paralelo ao que Barreiras hoje já vêm ofe-recendo, disse ele. Com essas evoluções ainda pendentes na cidade quem sabe num futuro próximo, Rosâgela Cardoso, possa pegar o seu transporte coletivo e não perder mais 30 minu-tos no trânsito e sim desfrutar mais da cidade onde reside.

AEROPORTO DE BARREIRAS

1.600 m

30

m 45

m

2.300 m

Projeto de ampliação prevê um aumento de 30% na extensão e comprimento da pista.

Construído no período da 2ª Guerra Muncial, o aeroporto de Barreiras agora levanta voo com o combustível chamado produção agroindustrial.

1

Hoje, o aeroporto de Barreiras opera com aviões de pequeno porte, com capacidade de até 20 passageiros e voos para Salvador, Brasília e Vitória da Conquista.

2

Com a apliação, o aeroporto de Barreiras passará a operar em voos diretos para Salvador, São Paulo, Brasília, Porto Seguro, Petrolina e Recife.

3Os novos modelos de aviões que sobrevoarão nosso céu nos próximos anos são: Boeings 737, 800, 300 e Air Bus 319.

4A Capacidade estimada de passageiros em cada voo e de 124 e 145.5

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Barreiras de ontem e de hoje

A cidade de Barreiras desde sua fundação, em 1891, teve em seu grande rio a engrenagem ini-cial para o desenvolvimento. Nessa época, o cais do Rio Grande era navegável e de lá seguiam os produtos produzidos na cidade e região. O comér-cio local nesse período era forte, de lá ancoravam produtos para várias cidades vizinhas. O progres-so acelerou hoje o rio não é tão grande assim e as produções agora seguem pelas estradas da Bahia e no futuro através da Ferrovia Leste – Oeste que será a grande via de escoamento da produção agrícola da região. Os agricultores, insatisfeitos com a perda do valor comercial das produções, que são encarecidas com o transporte pelas rodo-vias mal conservadas, vêem no futuro um novo passo para a região com a construção da ferrovia.

A partir da década de 80, a produção de grãos cresceu e determinou o desenvolvimento da re-gião. De lá até hoje, o crescimento médio da re-gião passou a ser em 4,5% anuais.

A Região Oeste tem no agronegócio uma força econômica e geradora de empregos. A produção de soja de acordo com a AIBA (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia) corresponde a 4% da produção nacional e mais da metade cor-respondente ao Nordeste, em números sólidos, 56% do total. Com esses dados positivos, em-presas vêem na cidade uma próspera alternativa de lucros. Por esse motivo, Barreiras já concentra grandes empresas de prestação de serviços e re-des varejo, além de indústrias relacionadas à agri-cultura, - grandes geradoras de emprego para o Oeste.

Enquanto o trânsito sofre com a lentidão do tráfego, os tratores trabalham na construção do anel viário.

Toni

Olive

ira

“É bacana o processo de crescimento, mas é ao mesmo tempo muito preocupante. Porque a sabemos que a violência está crescendo”

Luciana Silva Morais

“Barreiras hoje já se apresenta como metrópole, e com o tempo ela passará a ter melhor qualidade”

José Neves

“Barreiras já é uma referência, é uma cidade que todos as demais cidades tomam como modelo”

Neiva Pereira

“(...) quando se fala em polo universitário, nós vamos ter diversidade de formação para o mercado de trabalho”

Carla Silva

OPINIÕES

A revista Veja em sua edição de 1º de Setembro de 2010 apontou algumas lições para se tornar metró-pole, Barreiras citada na reportagem como uma das 20 cidades com pontencial, não foi referenciada so-bre nenhum dos apesectos listados. Hoje, a 3ª Visão mostra, na opinião de alguns especialistas, em que Barreiras precisa melhorrar para virar metrópole.

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artigo

dCrítica da mídia: eleições 2010Dia 31 de outubro de 2010– Halloween. A bru-xa estava, literalmente, solta naquele domin-go. Enquanto o brasileiro, cansado de tanto trabalhar, “desplanejava” seu feriadão para poder votar, a mídia seguia especulando qual candidatura sairia vitoriosa das urnas. Alguns já cantavam glórias para Dilma, outros, ainda, sonhavam com Serra na presidência.

Tudo muito bem escancarado. Quando uma emissora televisiva mostrou o candidato tucano sendo internado por ter sido agredido por opositores em uma caminhada; uma se-gunda emissora divulgou o vídeo da tão co-mentada bolinha de papel atingindo-o.

GABRIELA FLORESPOR

A MAIOR EMISSORA DE TV DO PAÍS TENTOU GLOBOLIZAR OS VOTOS

comunicação foram obrigados a dar com en-tusiasmo. Mas só que quem saiu mais popu-lar que a petista foi à bolinha de papel que contundiu a cabeça de Serra.

A política tem lá sua sujeira, e o jornalismo se mostra rendido diante dos interesses das corporações da comunicação. A credibilidade está, a cada dia, sendo colocada em discussão pela própria audiência. A internet ficou tão po-pular por proporcionar essa interação jornalis-ta/público, sem maiores intermediários.

Ai, você pergunta: cadê a imparcialidade dos meios de comunicação? Apesar dessa pa-lavra estar no Código de Ética do Jornalista, ela não é colocada em prática. As empresas de mídia têm suas preferências, principalmente no meio político. Embora sejam obrigadas a ceder espaço a outros candidatos, elas deixam transparecer suas opções políticas nos mo-mentos decisivos das eleições.

A maior emissora de TV do país tentou Globolizar os votos e levar o candidato do PSDB a liderança na campanha eleitoral. A televisão tem seu poder sobre as pessoas, mas quem escolhe os novos comandantes do país agora é o cidadão. O monopólio sobre a opi-nião pública, que antigamente colocou e tirou Collor da presidência, pode estar chegando ao fim.

A estrela de Dilma brilhou e ela se tornou a primeira mulher a chegar à presidência do Brasil – notícia essa que todos os meios de

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a

infraestrutura

Órgãos públicos do município de Barreiras não conseguem planejar o desenvolvimento urbano e 70% das casas da cidade estão em situação irregular

ELLEN RARDEN // EVALDO FIGUEREDOPOR

desordemesordesordesorOcupação urbana em

A cidade não para, a cidade só cresce, tre-cho da musica A Cidade, de Chico Scien-ce, expõe a realidade do desenvolvimento desorganizado das cidades brasileiras. Bar-reiras, a 800km de Salvador, no Oeste da Bahia, é uma dessas cidades, cerca de 138 mil pessoas habitam no município.O crescimento aliado à falta de planejamen-to desencadeia problemas de infrestrutura e desordenação das moradias habitacio-nais. Em Barreiras, existem 52.485 imóveis cadastrados sendo que 289 estão isentos de pagamento do Imposto sobre a Proprie-dade Predial e Territorial Urbana (IPTU), e destas, 70% não estão regularizadas.

De acordo com Amanda Sá Teles coor-denadora de tributos da prefeitura muni-

cipal de Barreiras ,“os loteamentos foram construidos de todo jeito. Alguém com uma porção de terras ou (fazendas) dividia os lotes. Cortavam-se ruas e começavam a vender. O poder público não consegue acompanhar esse processo, por isso exis-tem ruas não asfaltadas, e casas cadastra-das como lotes uns com casas construídas. A demanda é muito grande”.

Como exemplo, o Santa Luzia. Surgido de uma invasão, onde existia apenas uma fazenda, o bairro é considerado o mais populoso de Barreiras e conta com aproxi-madamente 30 mil habitantes. Quando foi legalizado, já estava dentro do perímetro urbano, só que nos relatos dos responsá-veis pela infraestrutura da cidade, a falta de

Ellen

Rar

den

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recursos para o município impossibilitou que obras em prol do bairro fossem executadas.

“Quando o Santa Luzia foi legalizado como bairro, já estava dentro do perímetro urbano, porém não foi feita a infraestrutura necessária por falta de recursos do município”, disse o secretário de infraestrutura José Alves.

Moradora do bairro há 13 anos, Ivanice Lacerda, afir-ma que houve melhorias durante esse tempo, mas, que se restringiu, em algumas partes do bairro “Infelizmente, o transporte urbano é falho. Apenas uma linha circula e essa mesma linha só trafega em ruas que são asfaltadas, o que impossibilita muitos moradores de se deslocar de um local para outro, porque a maioria das ruas não tem asfalto”, diz.

A também moradora Noêmia Silva, diz que “Quando chove, o bairro alaga. Ficamos impossibilitados de sair de nossas casas. Os postos de saúde do bairro são precá-rios começando pelo atendimento”.

Além do bairro Santa Luzia, existe o Cascalheiras, também nascido de uma invasão, uma série de proje-tos e ações estão ordenadas e programadas para serem realizadas em um curto espaço de tempo, já que em ambos não dispõe de asfaltamento, ou calçamento em suas ruas. É fato dizer que a Cidade de Barreiras cres-ce porém, a falta de planejamento para lidar com essa expansão, acarreta na forma de vida e é perceptível o

reflexo na vida das pessoas, mas, ficar só à espera do Governo Municipal sem que haja uma mobilização da própria comunidade local, os problemas só aumenta-ram, e a perspectiva de vida será cada vez mais precária, complementa Antonio dos Santos, morador do bairro Cascalheiras.

Na perspectiva de contemplar os bairros que care-cem de melhorias, José Alves secretário de infraestru-tura, solicitou o aumento do perímetro urbano. Em sua justificativa, argumenta que um dos principais motivos do aumento é ter o controle urbanístico, já que a cidade está crescendo em números exponenciais, em vista de outros municípios do Brasil.

O Projeto Lei n° 027/10 que substitui a Lei mu-nicipal n° 820/08 e define o novo traçado do pe-rimetro urbano de Barreiras, foi aprovado (01/09) pelo poder legislativo. Ficou institucionalizada uma área que antes correspondia à 113.667.129.70 m² e esse numero subiu para 116.355.649,123 m².

O projeto preve a ampliação da área urbana atu-al e projeta a ampliação da cidade em um periodo de dez anos. “não é possivel fazer qualquer projeto em beneficio da área sem que esteja no perimetro urbano. Houve o aumento afim de oferecer condi-ções legais pra fazer projetos de iluminação publi-ca, esgotamento sanitário e pavimentação” afirma José Alves.

Há 13 anos é visivel a falta de infraestrutura no bairro Santa Luzia

Ellen

Rar

den

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Há cidades brasileiras, onde o processo do crescimento urbano ocorre de forma acel-erada e sem um planejamento adequado, e as mudanças nas paisagens urbanas são significativas. Tais mudanças podem ser observadas na falta de infra-estrutura e nos impactos ambientais. Isso provoca conflitos entre o ambiente natural e o crescimento físico-urbanístico. Neste contexto, os im-pactos ambientais, segundo a resolução conama Nº 001/1986, art. 6 e a Deliberação CECA nº 1078/87 (RJ), podem ser classifica-dos em:

IMPACTO NEGATIVO - Quando a ação resulta em um dano à qualidade de um fator ou parâmetro ambiental (por exemplo, lançamento de efluentes domésticos ou industriais não tratados no rio e depósito de lixo nas margens);

IMPACTO DIRETO - Resultante de uma simples relação de causa e efeito (por exemplo, perda de diversidade biológica como o aterro em áreas de manguezais, tendo a possibilidade de ocorrer a partir da ocupação irregular);

IMPACTO LOCAL - quando a ação afeta apenas o próprio sítio e suas imediações (movimento de massa ou deslizamentos);

IMPACTO ESTRATÉGICO - quando o componente ambiental afetado tem relevante interesse coletivo ou nacional (por exemplo, a Bacia do Rio São Francisco e seus mananciais);

IMPACTO A MÉDIO OU LONGO PRAZO - quando o impacto se manifesta certo tempo após a ação (por exemplo, a ocorrência de ocupação informal nas encostas, como é caso de algumas áreas do subúrbio de Salvador), e;

IMPACTO PERMANENTE - quando, uma vez executada a ação, os efeitos não cessam de se manifestar num horizonte temporal conhecido (por exemplo, a derrubada do mangue para construção.

A EXPANSÃO E SEU IMPACTO NO MEIO

O QUE DIZ O PLANO DIRETOR DA CIDADEPlano Diretor Urbano da Cidade diz que:“Constitui objetivo geral do PDU normatizar o crescimento da Cidade e do Município, com base nos princípios do desenvolvimento sustentável, preservan-do as suas características geo ambientais e buscando a melhoria do padrão de quali-dade de vida de todos, principalmente no que se refere a emprego e renda, educa-ção, saúde, tecnologia, cultura, habitação, transporte, esporte, lazer, entretenimento, segurança pública e aos serviços públicos em geral, de forma a reduzir as desigual-dades que atingem as diferentes cama-das da população e zonas do município, promovendo a equidade e combatendo as exclusões”.

Ruas sem saídas e esgoto a céu aberto denunciam a qualidade de vida dos morades do Cascalheiras

Fotos: Evaldo Figueiredo

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FinadosPOR CATARINA ARAÚJO // D’ARTAGNAM NASCIMENTO

Celebrar a vida eterna em outro plano espiritual. O Dia de Finados não deixa de ter um ar melancólico, afinal, muitos voltam a sentir a dor da perda de seus entes queridos e dizem que tudo acaba quando uma pessoa morre. Para outros, os mortos ainda vivem na memória de parentes e amigos.Durante muito tempo os cristãos não se relacionavam com os mortos. Eles acreditavam que a ressurreição do corpo aconteceria apenas no dia do Juízo Final para toda humanidade, e rejeitavam qualquer doutrina que implicasse na imortalidade da alma. No Cemitério São João Batista, em Barrreiras, uma estátua de Cristo parece observar a desordem em que se encontram os túmulos, onde os sonhos foram enterrados e agora são iluminados pelas chamas das velas que valsam ao vento.Flores coloridas sobre as lapides... talvez para recordar bons momentos em que o falecido esteve junto ao convívio de familiares. Anjos, sepulturas, cruzes e urnas funerárias indicam que ali será o fim de todos... ou o início de uma nova vida.

ENSAI

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Chamado de caixão da misericordia, era nele que as famílias de baixa renda conduziam seus mortos até sua moradia fi nal. Depois ele era devolvido a prefeitura

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ENSAI

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Presentes nas médias e grandes cidades, as tribos urbanas representam um novo modo de vida dos jovens e adolescentes deste século

POR ERNEILTON DE LACERDA // HELAINE RODRIGUES

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2010.2 [ ] 31

aAo entrar no ônibus, Wanderson logo per-cebe os olhares dos passageiros. Olhares curiosos e críticos, como se fosse alguém de outro planeta. Raramente, passa desper-cebido por qualquer lugar, seja na rua ou na escola, sempre o encaram, como se ima-ginassem “o que esse maluco tem na cabe-ça?”. Talvez essa estranheza e curiosidade das pessoas sejam por suas roupas sempre pretas - calça apertada e camisa mais justa do que o habitual - e seu corte de cabelo, que inclui uma franja. Essa situação descri-ta anteriormente faz parte do cotidiano de Wanderson Richard Rocha, 19.

Situação semelhante à do estudan-te Alisson Nascimento, 21. Diferente da maioria dos colegas de faculdade, tanto no estilo de se vestir e estilo musical, as pes-soas nem acreditam que ele faça um curso superior de Direito, já que não veem nele o perfil de um estudante que pode tornar-se futuramente advogado, juiz ou promotor. Alisson acredita ser visto - por aqueles que o julgam pela aparência - como alguém que não quer nada sério na vida.

Wanderson Richard e Alisson geral-mente compartilham algo entre si: a estra-nheza e curiosidade de quem os observa. Fugir dos padrões impostos pela mídia e aceitos pela sociedade implica, muitas ve-zes, ser olhado com reprovação, repulsa ou estranhamento. Mas, o que eles tem de tão diferente para serem observados em prati-camente todos os lugares que frequentam? Wanderson e Alisson participam de tribos urbanas.

Com o propósito de ser aceito, Wander-son se juntou a amigos com os mesmos há-bitos, maneira de se vestir e estilo musical. Ele afirma que sempre se viu diferente da maioria e aceitou ser emo, pois era dessa maneira que se sentia bem. “Grande parte acha que ser emo é apenas uma moda pas-sageira, mas não é. Ao menos para mim, ser emo é um estilo de vida. É escutar de-terminado estilo musical, arrumar o cabelo

de uma maneira, é ser mais sensível – e isso não significa ser gay como as pessoas em geral pensam”, acredita Wanderson.

Enquanto isso, Alisson, que integra o movimento dos punks, acredita que ser punk não é uma escolha que acontece de repente; pelo contrário, é um estilo de vida. “Punk é aquele que renega os conceitos da sociedade, estética, autoridade e opressão do sistema. O [movimento] punk é uma luta contra a autoridade e submissão ao sistema”, afirma ele. Para divulgar os ide-ais nos quais acredita, há três anos, Alisson juntou os amigos Vinícius, Tito e Ricardo e formou a banda Vômitos, que toca compo-sições próprias e covers de bandas famosas e já tocou em Barreiras, algumas cidades do oeste baiano e também em Brasília.

Bianca Junge, 13, estudante, também participa de uma tribo urbana, a dos ro-queiros. Mesmo sendo mais jovem que Wanderson e Alisson, Bianca tem opiniões parecidas quanto ao que é ser participan-te desses grupos. “Curtir rock está no meu sangue desde cedo. Participo de uma tribo porque compartilho as mesmas visões de mundo, estilo musical e ideais de vida com meus amigos de tribo”.

Quando questionados se as tribos são modismos, eles prontamente discordam. “Ser emo não é uma moda, é um estilo de vida. Quem pensa assim não conhece bem a história do emocore”, diz Wander-son. Alisson Nascimento responde que “o movimento punk existe há várias décadas. Não acredito que seja somente um modis-mo passageiro”. Pelo contrário, para ele, “o punk é uma atitude de dizer não aos valores pregados pela sociedade”, conclui. Bianca Junge entende que, através da tri-bo, ela conhece a história do rock e isso a motiva cada vez mais: “É um aprendizado cotidiano, não uma moda. Sou apaixonada pelo estilo rocker de viver e não abando-narei isso só porque alguns dizem que é passageiro”.

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O olhar da sociedade para as diferenças

Tudo aquilo que foge aos estereótipos sociais do que é certo e errado ou bem e mal, é encarado com curiosidade, estranheza e, principalmente, preconceito. Não raramente, observa-se que a so-ciedade exclui os desobedientes às regras impos-tas. Isso acontece com quem está acima do peso ou quem não está condenado pela ditadura da beleza, homossexuais, portadores de necessida-de especial, entre outros tipos marginalizados por ideias pré-fabricadas.

Com os participantes das tribos não poderia ser diferente. A dona de casa Vanilde Silva, 50, estranha adolescentes que têm esse estilo inco-mum de se vestir e arrumar o cabelo. “Quando vejo sempre olho. Fico me perguntando se é do bem ou do mal. Não acho certo o que fazem. Pes-soas que querem ser ‘direitas’ não andam com piercing, tatuagem, cabelo grande e com essas roupas”, declara.

Sobre o preconceito existente aqui em Barrei-ras, Alisson afi rma que é muito grande. “As pesso-as olham os punks como se fossem drogados ou criminosos. Quando se está com corte moicano, o preconceito ganha proporções ainda maiores”. Alisson diz tudo isso com um sorriso irônico, pois já se acostumou a ser tratado assim. “O precon-ceito não deveria existir nem com os negros, os homossexuais e nem conosco”.

Para Wanderson, que já morou em São Paulo e vive em Barreiras há cinco anos, foi mais difícil se acostumar aos olhares, cochichos e risadinhas por onde passava. Ele percebe, por razões óbvias, um preconceito maior aqui em Barreiras do que em São Paulo: “Lá existem mais tribos e a popula-ção já tem o costume de conviver com elas. Então, as pessoas não me olhavam com estranheza nem preconceito, mas já desencanei. O mais importan-te é nos aceitarmos do jeito que somos. Se nos conhecessem primeiro antes de julgar, veriam que somos seres humanos como qualquer outro”.

A opinião de Wanderson é compartilhada por Bianca, que vê a sociedade como “hipócrita”, por estar contra à liberdade de expressão. “É hipocrisia acharem que podem dizer o que está certo ou não. Afi nal, estamos em um aprendizado constante enquanto vivemos. Ninguém acerta sempre. Não acho que ser assim [roqueira] seja um erro. Ape-nas tento ser fi el aos meus princípios”.

Busca de identidade ou modismo?

Nos dias atuais, com a correria diária e a falta de tempo com as obrigações cotidianas, o individualismo tornou-se crescente e cada vez mais comum. Com as novas tecnologias, principalmente a Internet, a interação interpessoal do convívio perde espaço para a comunica-ção à distância nas redes sociais.

Este individualismo só tende a crescer e é um dos principais responsáveis pela formação das tribos urba-nas. Quem participa de uma tribo busca encontrar pes-soas com perspectivas e visões de mundo semelhantes com as próprias. Esses grupos são formados a partir da necessidade de pertencer a um grupo e constituir uma identidade. De acordo com a psicóloga Milena Lima, ser aceito é necessidade inerente ao ser humano. “Ao mes-mo tempo em que eles [componentes das tribos] têm essa sensação de vazio, sentem necessidade de se in-tegrar com quem se pareçam, para que não se sintam sozinhos. Todo ser humano precisa ser aceito”, explica.

Para o sociólogo Sandro Augusto Ferreira, “as tribos são formadas não por questões ideológicas ou projetos de sociedade, mas, sim, por pura estética: modos com-portamentais, busca de identidade própria e destaque – tem objetivo particular e não do grupo”. Ou seja, os grupos formados para a convivência de valores afi ns, acabam, segundo Sandro Augusto, levando a um indi-vidualismo maior de seus componentes, que vai além e declara: “[Tribo urbana] é um modismo e a tendência é que continue, pois o individualismo está em alta”.

As tribos urbanas são grupos de pessoas com hábitos, valores culturais, estilos musicais ou ideologia política semelhantes. Existe uma infi ni-dade de tribos urbanas, que já é um verdadeiro fenômeno juvenil dos médios e grandes centros urbanos. São exemplos de tribos urbanas: góti-cos, punks, emos, skinheads, metal, roqueiros, hippies, entre outros.

O QUE SÃO ASTRIBOS URBANAS?

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Difi culdadesna convivência com a família

As difi culdades enfrentadas pelos participantes das tribos para serem aceitos é tão grande ou maior dentro de casa. Os pais são os primeiros a notarem que fi lhos vestem-se de maneira diferente, ouvem músicas que a maioria não ouve, entre outras atitudes. Alguns partem para a aceitação enquanto outros para a proibição. “A proibição causa comportamento de revolta e resistência, porque a maioria desses grupos começa na adolescência, fase em que os pais devem estar presentes, acompanhar e monitorar, em nenhum momento proibir”, esclarece a psicóloga Milena Lima. Para ela, “o monitoramento e acompanhamento vai fazer o adolescente, quando per-ceber que [a tribo] não é mais interessante e que é acei-to, começar a se a afastar um pouco de tal grupo”.

Os pais de Wanderson, Alisson e Bianca já passaram por esse processo de adaptação ao estilo dos fi lhos. “No início foi muito estranho. Meu pai me olhava como se eu fosse um louco. Mas ele viu que eu era o mesmo garoto de sempre e agora está tudo normal”, diz Wanderson. Os pais de Alisson resistiram no início, mas logo se acos-tumaram: “Eles perceberam que eu era assim e não ia mudar, que era com o punk que me identifi cava de ver-dade. Atualmente, tudo está como uma família normal. Minha mãe até me ajudou a fazer um corte moicano”, fala Alisson em meio a risadas de quem acredita que conseguiu uma vitória sobre os pais. Para Bianca, a situ-ação não foi muito diferente. “Logo quando comecei a me vestir de preto e usar maquiagem escura bem forte, meus pais estranharam. Eles acham que só é uma fase na minha vida e que logo vai passar. Acho que estão enganados”.

“Tribos urbanas precisam de luz. Na rua, no farol, na cidade e em qualquer lugar”. Esse trecho da música O Dom da Vida, de Brother Simion, traduz o que os ado-lescentes citados nessa reportagem esperam da socieda-de diante das escolhas que fi zeram.

“Eles acham que é só uma fase e que logo vai

passar. Acho que eles estão enganados”

Bianca Jungue referenrindo-se aos pais.

Participantes das tribos em momentos de integração, em Barreiras. Na cidade, faltam

espaços de diversão e lazer.

Fotos: Helaine Rodrigues

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artigo

éRetratos de um cidadão comumÉ quase manhã, o sol nem sequer deu uma olhadinha no horizonte e mais uma vez le-vanto-me da cama com a sensação de que a noite precisaria ter pelo menos duas horas a mais. Numa expectativa de que esse saldo de tempo fosse suficiente para esquecer a rotina do dia anterior. Olho para o relógio, vejo que o tempo passa numa marcação ininterrupta, no relógio os ponteiros apontam para o dígito cinco em algarismo romano. O cinco em sua representação em “V” significa muito nes-sa hora, não só pela informação efêmera do tempo, afinal são 5:26 e tic-tac... Nesse diá-logo cotidiano, entendo a representatividade simbólica do tempo nessa sociedade. Temos

JOANEY TANCREDOPOR

EM PÉ OU SENTADO É COMUM OUVIR HISTÓRIAS QUE INICIAM E MUITAS VEZES NÃO TERMINAM

ros, histórias que iniciam e muitas vezes não terminam, pois é freqüente a entrada e saída de pessoas nos pontos espalhados pelo per-curso.

Certa vez ouvi uma história de amor, onde uma mulher, havia se apaixonado por um garoto. No pequeno trajeto em que ouvi essa história, pude perceber pela entonação da voz e dos detalhes quentes narrados pela moça, o quanto o rapaz em questão tinha ganhado a admiração dela. Ingrid! Isso, acho que esse é o nome mencionado por sua interlocuto-ra, que ouvia a conversa e prestava atenção nas descrições do rapaz da narrativa. Mesmo num ambiente coletivo, a garota continuava o papo. Muitos foram os momentos em que as pessoas olhavam para as duas num diálogo incessante e sem intimidação, Ingrid continu-ava sua descrição minuciosa. Nesse instante se via o um prazer estampado em sua face, só pelo simples compartilhamento de suas aven-turas para a amiga.

No ônibus indo ao trabalho, já ouvi his-tórias de amor, brigas, fofocas e casos com-plexos. É uma audição quase que inevitável. Mesmo que não queira, ouvi histórias de vida de pessoas que nem conheço. Já ouvi casos que se iniciam e não terminavam; brigas que não se resolvem. O sobe e desce faz com que histórias não se concluam, vivo uma aflição constante porque me apego com os casos.

A cada dia, a cada semana no percurso de ida e volta que dura em torno de 30 minutos. Eu, personagem típico de uma cidade qual-quer, tomo um ônibus repleto de histórias, onde os personagens sempre são os passagei-ros de uma vida coletiva.

Final da tarde, cansado de um dia inteiro de ligações a trabalho. Chego em casa e mais uma vez ouço para o tic-tac... A TV ligada mi-nha esposa assiste ao telejornal, no ar uma reportagem de mais um caso de assassinato sem solução.

Deito, durmo... são 5:25 tic-tac...

horas pra tudo, - é hora disso, hora daquilo, hora daquilo outro... Ora bolas, como viver assim?! Numa primeira olhada, ainda sono-lento, entendo o que ele me diz: - Le”V”ante, “V”ista-se, “V”á e “V”ença mais esse dia. Sigo todas as ordens como um servo desse mesmo tempo.

Passo pelo espelho e nem me dou conta de uma excitação latente dos sonhos notur-nos pouco aproveitados. Namoradas antigas vagam às vezes, sobre meus sonhos. Minha esposa ainda dorme. Vou direto ao banheiro. Lá, vejo uma projeção imaginária de como será o meu dia. No relógio vejo que o tempo é massacrante, já se passaram nove minutos, tic-tac...

O dia começa e mais uma vez, saio com destino ao trabalho. Na esquina próxima, es-pero o ônibus que raros são os momentos em que encontro um lugar para sentar. Em pé ou sentado é comum ouvir histórias de passagei-

Concepção e produção dos alunos do 4º semetre de Publicidade e Propaganda (Renata Carvalho, Rosilane Oliveira e Ítalo Andrade)

Concepção da aluna Aline Pimentel do 4º semetre de Publicidade e Propaganda