relatório visa e-commerce latam 2010 - 1/2
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Relatório 1/2 sobre o Comércio Eletrônico Latinoamericano elaborado a cada dois anos pela América Economia Intelligence para a Visa.TRANSCRIPT
Junho, 2010 AméricaEconomia 71
A força do e-commerceImpulsionado pelo Brasil, pelo turismo e por grandes redes de varejo, o comércio eletrônico segue crescendo na América Latina
AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE
COLABOROU: PEDRO MARCONDES, DE SÃO PAULOIlustr
açõe
s: Pat
ricio
Otnie
l
Q uem temeu que o incipiente
comércio eletrônico latino-
americano fosse mais uma
vítima da crise fi nanceira que colapsou
a economia em todo o mundo, pôde res-
pirar tranquilo ao ver os resultados de
2009. O uso da internet como canal de
vendas de produtos e serviços a consu-
midores (ou B2C, como é conhecido no
jargão especializado) continuou crescen-
do, mesmo frente a um cenário adverso.
Segundo um estudo realizado pela Amé-
ricaEconomía Intelligence, a pedido da
empresa de meios de pagamento Visa,
o B2C cresceu 39,2% em 2009, chegando
a US$ 21,77 bilhões em toda a América
Latina e o Caribe. E, se o comportamento
registrado no primeiro trimestre se repe-
tir durante o ano, em 2010, esse comércio
poderá crescer 27%, chegando próximo
de US$ 28 bilhões em vendas.
Tal resultado, em meio a uma tem-
porada repleta de indicadores econômi-
cos e fi nanceiros em baixa, tampouco
chega a ser uma surpresa. O comércio
eletrônico promove uma mudança tão
profunda na forma como as pessoas se
relacionam com as empresas que lhes
proveem serviços e produtos, que a
tendência geral foi prejudicada apenas
pelo impacto do crescimento negativo
de alguns países e pela desconfi ança
dos investidores internacionais, e não
pela disposição do consumidor.
A penetração de computadores e de
banda larga na América Latina conti-
nuou subindo a taxas anuais de 20% e
15%, respectivamente. No fi nal de 2009,
havia 150 milhões de usuários de com-
putador na região e 40 milhões de assi-
nantes de internet banda larga. O mes-
mo aconteceu com a disponibilidade e o
uso de diferentes meios de pagamento.
I-BIZ
72 AméricaEconomia Junho, 2010
I-BIZ
GRÃOS PELO PLANETAO velho clichê de que o comércio eletrônico abre as portas de um negócio para o mundo cabe como luva na história da costa-riquenha Café Britt. Em 2009, 95% dos US$ 5,1 milhões que a empresa vendeu pela web tiveram como destino consumidores dos EUA e do Canadá. “Um turista que viaja à Costa Rica degusta uma xícara de café no avião, compra chocolates e bolsas da Café Britt no aeroporto para presentear seus entes queridos e leva um cartão de
desconto para sua compra online”, diz Pablo Vargas, presidente executivo da Café Britt, indicando que o marketing e a logística são parte fundamental de
sua operação. A companhia fez acordos com empresas de entrega expressa, como FedEx e DHL, e instalou um serviço de atendimento ao cliente em San José, no qual só trabalham pessoas bilíngues com grau universitário. “Apesar de estarmos em um país pequeno, através da internet podemos oferecer um excelente serviço e uma experiência de compra muito po-sitiva, com assistência online por chat, atendimento telefônico e resposta a consultas em, no máximo, duas horas”, diz Vargas. A empresa tem crescido a taxas de 15% ao ano, mas o exe-cutivo admite que chegar a esse resultado não foi fácil. Ele conhece outros empresários que tentaram comercializar seu produto pela web, mas não conseguiram resultados rápidos e abandonaram a iniciativa. “É preciso encarar esse setor como primordial, focar-se e investir.”
A oferta sofi sticou-se, em um pro-
cesso liderado pelas empresas aéreas
e pelas grandes operadoras de varejo,
seguido por um grupo cada vez maior
de pequenas e médias empresas, que
aperfeiçoaram seus modelos de ne-
gócio na rede. A demanda cresceu
em número e na disposição do con-
sumidor em comprar, à medida que
as gerações que foram educadas com
a internet desde o colégio entraram
no mercado de trabalho e puderam
canalizar seu poder de compra via web.
“Finalmente, alcançamos uma massa
razoável de usuários na América Lati-
na, sufi ciente para que muitos mode-
los de negócio na internet conquistem
rentabilidade mais rapidamente”, diz o
argentino Alec Oxenford, fundador da
casa de leilões online DeRemate.com
(comprada pela MercadoLivre.com) e
que hoje está à frente da OLX.com, um
serviço de classifi cados gratuitos com
presença global.
Entretanto, esse estudo aponta
que tal crescimento ainda não se dá de
maneira uniforme. Em alguns merca-
dos, a crise foi uma justifi cativa para
adiar investimentos em tecnologia e
logística, necessários para um avanço
nos modelos de comércio online, o que
impediu um aumento maior no volu-
me de bens e serviços adquiridos por
CafeBritt.com
meio da internet. Colômbia e Peru, por
exemplo, foram países que registraram
altas muito discretas no comércio de
produtos pela web. Somente este ano o
LATINOS AMADURECEMB2C como % do PIBFonte: AméricaEconomía Intelligence
0,14%
0,19%
0,11%
0,07% 0,07%
0,20%
0,33%
0,32%
0,10%
0,13%
0,18%
0,30%
0,84%
0,54%
0,52%
0,36%
0,42%
0,26%
0,11%
0,05%
0,09%0,13%
0,18%
0,24%0,27%
0,35%
0,64%
0,52%
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
0,9%
0,8%
0,7%
0,6%
0,5%
0,4%
0,3%
0,2%
0,1%
0,0%
Brasil
América Latina
Chile
México
CLICS & MONEYGasto total com e-commerce na América Latina (em US$ milhões)Fontes: Visa Internacional e AméricaEconomía Intelligence
2003
1.866,4
4.885,0
2004
15.645,0
2008
3.042,1
2004
10.572,5
2007
7.542,5
2006
21.774,9
2009
27.597,9
2010*
34.497,3
2011*
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
(*)Projeção
Junho, 2010 AméricaEconomia 73
A VANTAGEM DE SER O ÚLTIMONo Brasil, a intensa guerra no campo do comércio eletrônico tem sido alimentada, nos últi-mos tempos, pela chegada de players globais. Em outubro de 2008, a rede norte-americana Walmart entrou em campo. Agora chegou a vez da francesa Carrefour, que inaugurou sua operação em março, com um objetivo ambicioso: ocupar a quinta posição entre os playersdo comércio eletrônico, no Brasil, até o fi nal de 2011. “Ser o último pode trazer benefícios”, diz Rodrigo Lacerda, diretor de Marketing da rede. “Podemos criar um site a partir do diag-nóstico de tudo o que está acontecendo, entendendo as necessidades do consumidor, co-nhecendo as tendências atuais e oferecendo uma solução diferenciada.” Com um investimento de US$ 27 milhões, o portal levou sete meses para ser desenvolvido, aproveitando todos os conceitos da rede 2.0. Os usuários podem obter informações sobre produtos por meio de vídeos explicativos, resenhas escritas por outros internautas, blogs, chats e redes sociais. A loja virtual do Carrefour no Brasil oferece garantia estendida de produtos e atenção pós-venda. A plataforma brasileira, primeira a ser lançada pela multinacional francesa em um país emergente, servirá de modelo em seus projetos em outros países, como Argentina, Colômbia e China.
Carrefour.com.br
Grupo Éxito, principal rede varejista da
Colômbia, começará a investir no de-
senvolvimento de seu negócio na web
(veja quadro O Papel dos Donos).
Em outros países, a contração do
turismo – gerada pela crise e pela gripe
suína – impediu que se registrassem
taxas de expansão maiores. Esse é o
caso principalmente do México, onde
o turismo representa cerca de 70% das
operações de B2C.
VAREJISTAS AO ATAQUENão é possível compreender a dimen-
são do crescimento do B2C na América
Latina sem falar do Brasil. O país não
é somente o maior da América Latina;
também é o que apresenta os indica-
dores mais altos em termos de uso de
comércio eletrônico na região, uma
vantagem que se acentuou durante
2009, com a entrada de 4,4 milhões de
novos usuários de internet no país, que
ajudaram a levar as cifras de B2C para
além dos US$ 13 bilhões, mais de 60%
de todo o e-commerce focado no consu-
midor fi nal da região. “Nosso cenário
conservador de crescimento para o B2C
é de 30% por ano até 2016”, diz Gerson
Rolim, diretor executivo da Câmara-e.
net, associação que reúne as operado-
ras de comércio eletrônico.
Rolim não é o único otimista em re-
lação ao Brasil. As grandes redes vare-
jistas incrementaram fortemente suas
apostas tecnológicas e logísticas para
aumentar a força de seu comércio ele-
trônico. O Walmart, por exemplo, que
entrou no e-commerce brasileiro em
outubro de 2008, afi rma que pretende
dobrar suas vendas virtuais em 2010. O
foco de sua estratégia se concentra na
variedade: a empresa quer aumentar
sua oferta online dos atuais 10 mil arti-
gos, distribuídos em 11 categorias, para
100 mil, divididos em 21 seções, até o
fi nal do ano. O Walmart também tem
lojas virtuais em outros países, como
no Chile, representado pela marca Líder,
e no México, com a Superama. Contudo,
ambos operam somente na venda de
alimentos. O Carrefour Brasil, que aca-
ba de lançar seu portal de e-commerce
no país, tem um plano semelhante (veja
quadro A Vantagem de Ser o Último).
Entretanto, o maior destaque no
segmento varejista é o Pão de Açúcar,
gigante que, com a compra de seus
rivais Ponto Frio e Casas Bahia, não
apenas assumiu a liderança das ven-
das físicas de varejo, como alcançou
a segunda posição no comércio ele-
trônico brasileiro. A empresa, que, no
fechamento desta edição, passava por
um processo de revisão de sua fusão
com a Casas Bahia, passou a concentrar
as unidades de venda de bens duráveis
na internet em uma nova empresa,
chamada de Nova PontoCom. Com um
faturamento estimado em US$ 1 bilhão
para 2010, fi ca atrás apenas da B2W-
Companhia Global do Varejo, formada
CONFIANÇA EM ALTAQual a sua percepção sobre a segurança nas operações feitas pela web?
Fonte: Pesquisa com leitores de AméricaEconomia, maio de cada ano
Resultado referente só a respostas “alta/muito alta”, como percentual do total
2008
201080%
40%
60%
20%
70%
30%
50%
10%
0%
AR
GE
NT
INA
CO
STA
RIC
A
PAN
AM
Á
BR
ASI
L
EQ
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MÉ
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AT
INA
74 AméricaEconomia Junho, 2010
I-BIZ
por Submarino.com e Lojas America-
nas. A B2W, entretanto, tem visto sua
distância em relação às concorrentes
se reduzir. Em 2009, pelo segundo ano
consecutivo, cresceu menos que a mé-
dia dessa indústria, reduzindo sua par-
ticipação de 60% para 47%. Em busca de
reverter tal tendência, o grupo anun-
ciou que investirá US$ 100 milhões em
tecnologia neste ano.
A necessidade de reação é justi-
ficada; afinal, o mercado brasileiro
tem se sofisticado. Por exemplo, em
2009, os eletrodomésticos figuraram
pela primeira vez entre os artigos mais
comprados pela web no Brasil. As ven-
das desses itens cresceram 137% em
relação a 2008 e só fi caram atrás, entre
os produtos tangíveis, das categorias
mais tradicionais, como livros, assi-
naturas de jornais e revistas, além de
acessórios de cuidado pessoal (saúde,
beleza e medicamentos).
O dinamismo do B2C brasileiro, en-
tretanto, ainda não se repete em outros
mercados da América Latina. No México,
a rede PalaciodeHierro.com é líder, mas
o segmento varejista ainda não aposta
suas melhores fi chas no canal de vendas
online. Na Argentina, há modelos bem-
sucedidos, mas ainda falta demanda.
Na Colômbia e no Peru, o investimento
dos operadores varejistas é recente e do-
minado por pequenos casos isolados. So-
mente o Chile, segundo país com maior
maturidade em comércio eletrônico da
região, mostra desenvolvimentos im-
portantes, em um setor dominado pela
Falabella.com (veja quadro Da Logística
às Redes Sociais), mas no qual também
se destacam outras varejistas, como
Cencosud, Ripley, Sodimac e LaPolar.
PEQUENAS EM DESTAQUESer um jogador relevante em uma área
de e-commerce requer muito investi-
mento em tecnologia e em sistemas
logísticos. É impossível conseguir ven-
das de US$ 100 milhões sem que haja
compromissos substanciais e recursos
sustentáveis. Contudo, as pequenas em-
presas também têm conquistado bons
resultados na web. À medida que os mo-
tores da busca começam a ser a principal
ferramenta de pesquisa dos usuários
da internet na hora de tomar decisões
de compra, os pequenos começam a ter
chances similares às das grandes redes
de chegar com sua oferta ao consumi-
dor. Isso é facilitado por sites como o Mer-
cadoLivre.com, um portal que passou de
leilões a transações com consumidores,
cujas vendas, atualmente, são 90% a pre-
ço fi xo, e 80% de produtos novos, o que
mostra um amplo domínio de pequenos
negócios em sua plataforma.
Uma das vantagens do e-commerce
é que ele gera incentivos para que em-
presas que operam na informalida-
de ingressem no mundo formal com
propostas de valor diferenciadas. É o
caso do Mercado La Salada, um grande
centro têxtil de Buenos Aires, que criou
o MercadoLaSalada.com, ou das feiras
tecnológicas peruanas Las Malvinas
(Malvinasperu.com) e Computiendas
(Computiendasperu.com).
“As empresas pequenas e médias
têm tudo a ganhar com o comércio ele-
trônico, por seus benefícios visíveis, co-
mo o acesso a novos mercados, e pela
afi nidade da natureza dinâmica do meio
com seus modelos de negócio”, diz José
María Ayuso, vice-presidente Executivo
Global de Produto da Visa. “São muitos
DA LOGÍSTICA ÀS REDES SOCIAISSe alguém pesquisar a história da rede chilena de lojas de departamento Falabella, não encontrará nenhuma referência a seu site. Fontes da empre-sa dizem que tais informações estão classifi cadas como confi denciais, por causa do sucesso do negócio. Ricardo Alonso, gerente geral da Falabella.com, afi rma que o nível de vendas registrado no portal supera o de qual-quer loja física do país. Fontes próximas da empresa dizem que as vendas online representam 57% do faturamento da área de varejo da Falabella,
participação que justifi ca os dados de tráfi co on-line indicados por sites como Alexa.com ou Goo-gleTrends.com. Alonso não confi rma tal dado, mas comenta os fatores-chave do sucesso da Falabella.com. “A experiência da compra é o fundamental”, diz. Segundo o executivo, não basta ter um bom catálogo de ofertas sem ter boa logística. “Isso não implica apenas ter caminhões para entrega,
mas sistemas inteligentes para traçar rotas e integração de sistemas que permita monito-
rar as entregas”, diz. Um exemplo-chave no qual muitos falham é a logística reversa, que permite que um comprador devolva o produto, se não estiver satisfeito com a compra. “É um processo complexo, mas não fazê-lo bem pode signifi car o fi m do e-commerce.” Por isso, Falabella tratou de desenvolver seu próprio modelo, seguindo o exemplo de varejistas bem-sucedidos dos EUA e da Europa, os quais Alonso visita regularmente. Outro fator fundamental é observar o usuário.
“Medimos tudo o que ele faz no site. Tudo”, afi rma. A estratégia de ob-servação permanente estende-se inclusive às redes sociais, realizando promoções em canais como Facebook ou Twitter. Além do Chile, Falabella.com opera na Argentina e se prepara para estrear na Colômbia e no Peru, países nos quais atualmente só possui sites informativos.
Falabella.com
Junho, 2010 AméricaEconomia 75
O PAPEL DOS DONOSA visão dos donos e o apoio que dão ao comércio eletrônico são fundamentais na hora de elaborar uma estratégia de sucesso. Não acredita? Então pergunte aos executivos do Grupo Éxito, maior rede de varejo da Colômbia, comprada em 2007 pela francesa Casino. “Começamos nossa plataforma online em 1998, mas era uma unidade pequena, sem ambição”, conta Eduardo René Miranda, chefe de Comércio Eletrônico do grupo. “Desde que a Casino chegou, porém, passamos a respirar internet.” Para essa mudança, foi importante a expe-riência da rede francesa com seus portais em outros países, injetando ambição no grupo, que prepara vários investimentos para renovar seu portal. “As vendas online do Éxito foram de US$ 15 milhões em 2009, apenas 0,8% do total; no caso do Extra.com, no Brasil, o site representa 5% das vendas do grupo”, compara Mi-randa, calculando o potencial a explorar.
Exito.com
sa. “Isso se dará, especialmente, nos
países em que há mais bancarização e
penetração tecnológica”.
CRUZAR FRONTEIRASUm iPad, um celular Android ou o últi-
mo PC da Sony são sonhos de consumo
que talvez ainda não estejam dispo-
níveis no comércio de determinada
região. Mas isso não impede que se
compre diretamente dos EUA, por meio
dos sites mais populares desse país, co-
mo o Amazon ou o eBay. A modalidade
de consumo online caracterizada pela
compra de produtos que estão dispo-
níveis em sites de comércio eletrônico
de outros países já ganhou relevância.
Na verdade, é um dos componentes do
e-commerce que mais cresce. Apesar
dos custos de logística e de aduanas,
cada vez mais os consumidores latino-
americanos estão usando a internet
para comprar produtos que não en-
contram em seus países. “Quando o
iPhone foi lançado, em 2007, recebemos
uma enorme quantidade de pedidos de
compra do novo aparelho provenientes
da América Latina”, diz Paul Gartland,
CEO da Skybox, empresa de logística,
com sede em Miami, dedicada ao envio
de produtos comprados nos EUA para
seus consumidores latino-americanos.
“Em 2009, fi zemos 150 mil envios de
produtos dos EUA para a América La-
tina, um aumento de 18% em relação a
2008, apesar da crise”, explica.
O México é, por sua integração lo-
gística com os Estados Unidos, o país
que mais compra dos EUA através da
web. Muitos mexicanos compram dire-
tamente na Amazon e no BestBuy.com,
sem passar por um serviço intermedi-
ário. Líderes da indústria estimam que
esse comércio seja equivalente a quase
um terço de todo o e-commerce realiza-
do pelo México. De fato, a concorrência
direta dos Estados Unidos é um dos
fatores que têm inibido as empresas
mexicanas a incrementar sua aposta
no comércio eletrônico.
A América Central e o Caribe tam-
bém são grandes compradores de sites
estrangeiros, por sua proximidade ge-
ográfi ca com os EUA e pela pouca pro-
fundidade de seus próprios mercados.
Os países do Caribe que falam inglês
contam, ainda, com a vantagem do
idioma, o que torna a compra um pro-
cesso ainda mais natural.
No entanto, se havia um país on-
de os cidadãos se caracterizavam por
fazer compras internacionais, esse
era a Venezuela. Até 2007, o governo
venezuelano autorizava uma cota de
compras pela internet de até US$ 1,5
mil. Entretanto, por causa da realidade
2005 2006 2007 2008 2009
BRASIL 2.269,9 3.540,5 4.898,7 8.572,6 13.230,4
MÉXICO 567,1 867,6 1.377,0 2.010,0 2.624,9
VENEZUELA 253,4 489,6 821,5 787,8 906,1
ARGENTINA 240,9 378,1 561,5 732,8 875,0
CHILE 242,8 471,8 687,5 919,5 1.027,9
CARIBE 387,0 565,0 660,0 754,9 868,1
COLÔMBIA 150,3 175,0 201,3 301,9 435,0
PORTO RICO 344,0 384,3 445,0 489,8 587,8
OUTROS 131,3 164,8 203,0 260,9 306,5
AMÉRICA CENTRAL 189,2 359,9 499,0 563,9 637,2
PERU 109,1 145,5 218,2 250,9 276,0
AL + CARIBE 4.885,0 7.542,5 10.572,5 15.645,0 21.774,9
E-CONSUMO TOTALPaíses/blocos selecionadosB2C em US$ milhõesFonte: Visa e América Economía Intelligence
O Brasil representa mais de 60% de todo o comércio
eletrônico da região
76 AméricaEconomia Junho, 2010
I-BIZ
dual do mercado de câmbio venezue-
lano, essa cota, que permitia a compra
de dólares na taxa ofi cial mais baixa,
acabava funcionando como um subsí-
dio, incentivando o uso massivo. Isso
motivou o governo a reduzir o limite de
compras para US$ 400, elevar o câmbio
ofi cial, e fi xar requisitos mais restriti-
vos ao acesso a esses dólares, reduzindo
o número de compras online.
Já no Brasil, o volume de compras
no exterior registra um crescimento
A COMPRA DO MÊSA gripe A (H1N1) fez bem ao negócio da LeShop.com.ar. O portal, criado em 2000, viu sua demanda crescer em julho do ano passado, quando a pandemia forçou a quarentena nas principais cidades da Argentina. Foi então que o LeShop se transformou em um dos sitesprediletos de compra online, com uma taxa de crescimento de 50% em 2009. Gonzalo To-más Benítez, diretor executivo do portal, afi rma que esse resultado se deve a dois fatores:
logística própria e atenção personalizada. “Entendemos que, para ganhar mercado e fi delizar clientes, esses fatores são chave, porque ajudam a
construir confi ança”, diz. Esse supermercado na internet afi rma ter 35% de participação de mercado, em um segmento que faturou US$ 65 milhões em 2009. A navegação no siteda LeShop – que replica a operação da empresa suíça homônima – simula o passeio por um supermercado, incluindo as gôndolas. Seu objetivo é facilitar a mudança de hábito do consumidor na hora de fazer suas compras. Também oferece um assessor pessoal, que se apresenta com nome e sobrenome e responde a qualquer dúvida ou mudança no pedido. “Nosso cliente é exigente e valoriza a qualidade, pontualidade e exatidão em cada pedido”, afi rma Benítez.
Leshop.com.ar
significativo. Apesar de algumas ta-
rifas sobre produtos eletrônicos che-
garem a 100%, os brasileiros de maior
poder aquisitivo têm aproveitado a
valorização do real para comprar pela
internet muitos dos produtos eletrôni-
cos que ainda não estão nas lojas de seu
país. De acordo com a Camara-e.net, os
brasileiros gastaram US$ 620 milhões
dólares, em 2009, em compras interna-
cionais pela web, um aumento de 30%
em relação a 2008.
Esse movimento de compras trans-
fronteiriças é de mão dupla. Por isso,
também vale destacar que muitos imi-
grantes que vivem nos Estados Unidos
substituíram as remessas de dólares
em dinheiro que enviariam às suas
famílias em seus países de origem por
compras em sites de e-commerce
desses lugares. Isso tem levado
empresas como a mexicana
TiendasElektra.com, do Gru-
po Salinas, assim como
clubes de desconto, como
o PriceSmart, na Améri-
ca Central e no Caribe, a
desenvolver serviços es-
peciais para os clientes
internacionais.
COMO AVIÃO Grande parte do impulso do
comércio eletrônico na região
continua sendo protagonizado pela
indústria do turismo, especialmente
pelas companhias aéreas. E não se trata
de tentativas revolucionárias de algu-
mas companhias de baixo custo, como
a Gol, no Brasil, a Volaris, no México, ou
a Aires, na Colômbia. O maior esforço,
nos últimos dois anos, ocorreu entre
os players estabelecidos, ou seja, com-
panhias aéreas de bandeira que têm
investido fortemente para fomentar a
venda direta de passagens pela inter-
net. A chilena Lan, por meio de seu site
Lan.com, tem sido uma das mais agres-
sivas nessa luta, com promoções para
atrair os viajantes a comprar em seu
site e eliminar qualquer agência inter-
mediária, que ganharia uma comissão
pela venda. Mas é a brasileira Gol que
continua sendo a companhia da região
com maior volume de vendas pela in-
ternet, com mais de 90% de sua receita
gerada dessa forma – embora muitas
delas não possam ser consideradas di-
retas, já que são feitas pelas agências
de viagens no site da empresa.
A novidade, porém, é que já exis-
tem pequenas e médias empresas do
setor que começam a utilizar o comér-
cio eletrônico para fechar transações.
Pode ser uma empresa de transporte
turístico no costa maia mexicana, co-
mo a CancunTransfers.com, ou um
resort no Caribe, ou uma pousada em
VENEZUELA4,2%
PORTO RICO2,7%
PERU1,3%
MÉXICO12,1%
COLÔMBIA2%
OUTROS1,4%
CARIBE4%
ARGENTINA4%
BRASIL60,8%
AMÉRICA CENTRAL2,9%
CHILE4,7%
POTÊNCIA BRASILParticipação por país no gasto total do B2C na ALFontes: Visa Internacional e AméricaEconomía Intelligence
Junho, 2010 AméricaEconomia 77
EUFORIA VIRTUALO show do Aerosmith na Colômbia estava programado para o dia 20 de maio, mas, no escritório de Eduardo Olea, o frenesi envolvendo esse espetáculo co-meçou muito antes: especifi camente, à zero hora do dia 13 de março, momen-to em que começava a venda de ingressos através do portal Tuboleta.com, da empresa Coltickets, da qual Olea é gerente de Pesquisa e Desenvolvimento. “Nessa hora, 85 mil pessoas disputavam um dos 10 mil ingressos. Chegamos a ter um pico de 110 mil pessoas”, conta. O excesso de busca fez o sistema cair, o que incentivou a empresa a investir em capacidade para processar um grande volume de transações. Afi nal, um negócio online que envolve grandes nomes da música precisa de robustez para administrar a euforia dos fãs. “A internet é o canal predileto para a compra de entradas para eventos como fi nais de campeonatos de futebol ou grandes shows internacio-nais”, diz. A empresa – com presença também no Peru e no Equador – realiza vendas por meio de diferentes canais: dois presenciais (em 70 pontos de ven-da, mais bilheterias de vários teatros e estádios), além da venda por telefone e internet. Do total de entradas que a Tuboleta vendeu em 2009, 27% foram por via telefônica e 22%, pela web. Uma característica verifi cada é que as compras feitas pela web se concentram nos ingressos de valor mais alto. Enquanto, so-mando todos os canais de venda, o valor médio de uma entrada é de US$ 15, a média de preço de um ticket vendido pela internet é de US$ 30.
TuBoleta.com
Machu Picchu, no Peru. “Hoje, 70%
das reservas de hotéis passam por
uma atividade online”, afi rma Alvaro
Diago, diretor para América Latina do
grupo InterContinental Hotels Group,
que inclui marcas como a HolidayInn.
“Embora a fi delidade de marcas seja
relevante nessa indústria, a internet
tem permitido que empresas de me-
nor porte se tornem conhecidas e ga-
nhem posições.”
A indústria de viagens, ainda que
em sua grande maioria não sofra com
os problemas de logística que atingem
os varejistas on-line – já que não há um
bem físico para entregar –, tem o desafi o
da confi ança do consumidor, pois se tra-
ta de compras caras. Um ticket médio na
indústria do turismo é de US$ 900 para
a passagem de avião e US$ 400 para a
reserva de hotel, de acordo com dados
da Despegar.com, o que requer uma alta
dose de credibilidade para ser realizado.
OS GARGALOS Apesar dos bons resultados revelados
neste estudo, a América Latina conti-
nua a ser uma região predominante-
mente offl ine e não bancarizada. Ainda ARGENTINA BRASIL CHILE COLÔMBIA EQUADOR MÉXICO PERU VENEZUELA AL
COMPRADORES COMPULSIVOSQuem fez compras no último mês (só respostas positivas)Fonte: TGI / KMR
1,77%1,34%
3,72%4,01%
4,28%
200720082009
2,80% 2,94%
1,96%
0,28%
1,78%
1,75%
1,89%1,81%
0,71%0,94%
1,62%2,76%
2,40%
1,00%
2,63%
3,75%
3,07%3,40%
3,10%
6,14%6,58%
7,21%8,0%
7,0%
6,0%
5,0%
4,0%
3,0%
2,0%
1,0%
0,0%
são muitos os fatores que devem evo-
luir para que a região alcance os níveis
de comércio eletrônico dos países de-
senvolvidos. Por exemplo, em vários
países ainda há pendências quanto aos
mecanismos de transação comercial
online, o que gera trâmites e complica-
dores adicionais para essas operações.
Os sistemas de logística e postal
também são citados como grandes obs-
táculos para a consolidação de projetos.
Com exceção do Brasil, que conta com
um sistema de correio postal de alto ní-
vel, os demais países da região têm me-
canismos inefi cientes de distribuição
de bens, o que obriga muitas empresas
a criar a sua própria logística. Algo im-
pensável, por exemplo, nos EUA, onde
empresas como a DHL, UPS e Fedex são
os melhores sócios das lojas.
Além disso, ainda faltam fortes in-
vestimentos em tecnologia para que
as empresas ofereçam serviços que
realmente gerem experiências dife-
renciadas para o usuário em relação às
compras tradicionais. Esse fator, soma-
do à desconfi ança que ainda persiste
em grande parte da população, cria
78 AméricaEconomia Junho, 2010
I-BIZ
barreiras. Nada, entretanto, que não
possa ser superado, e cada novo avan-
ço permitirá o aumento do volume de
bens e serviços que nossas economias
movimentam pela web.
COMO QUEIMA DE ESTOQUENeste ano, o Despegar.com lançou uma promoção para a qual convenceu hotéis da Argentina a reduzir em até 50% o valor das diárias e antecipar as vendas de temporada através do portal. Tal estratégia não foi isolada. Desde a sua criação, nos anos 1990, essa agência de viagens busca au-mentar a participação de estadia e pacotes turísticos em suas vendas. “A ideia é que, dentro de poucos anos, eles representem 50% do total”, diz o argentino Cristian Vilate, co-fundador e vice-presidente da Hoteles Despegar.com para a América Latina. A preocupação da empresa se justifi ca. Hoje, a venda de passagens de avião, que representa 80% das transações feitas pelo site, já não oferece a mesma rentabilidade de anos atrás, sobretudo porque as próprias com-panhias aéreas passaram a buscar a internet para fortalecer suas vendas diretas, reduzindo as comissões pagas às agências. “Esse é um negócio que só vale a pena em escala”, diz Vilate. A empresa fechou 2009 com um volume de transações próximo dos US$ 500 milhões e espera chegar aos US$ 900 milhões em 2010. O mercado brasileiro, no qual a empresa atua por meio da marca Decolar.com.br, é o maior da operação, respondendo por mais de 40% dos negócios da companhia. No país, são superados apenas pelo site SubmarinoViagens.com, fi -lial do gigante B2W. O México é seu segundo mercado, com 20% das vendas, seguido pela Argentina, com 15%.
METODOLOGIA As estimativas da AméricaEconomía
Intelligence para a elaboração deste es-
tudo, relativas aos anos de 2008 e 2009,
foram feitas a partir das informações
fornecidas por fontes ofi ciais de cada
país (câmaras ou associações de comér-
cio eletrônico), homologadas e com-
plementadas por análises industriais,
relatórios fi nanceiros de grandes em-
presas e análise de especialistas, além
de informações fornecidas por duas
pesquisas: a “TGI 2009”, da consultoria
KMR, realizada em uma amostra repre-
sentativa de 24.433 entrevistados, em
oito países da região, durante 2009; e
outra feita em maio, pela AméricaEco-
nomía Intelligence, com 2,3 mil leitores
da revista AméricaEconomia. Para os
países que não têm órgãos que forne-
çam dados estatísticos sobre o setor,
a AméricaEconomía Intelligence rea-
lizou estimativas próprias, tendo em
conta outras variáveis relacionadas às
vendas pela web.
Para fi ns deste estudo, defi nimos
como comércio eletrônico a consumido-
res (B2C) as transações comerciais que
são fechadas pela internet e derivam
em pelo menos uma ordem de compra
cujo destinatário seja uma pessoa fí-
sica. Isso inclui transações realizadas
entre consumidores e empresas de va-
rejo, de turismo e companhias aére-
as; entre outros consumidores (C2C); e
transações com o governo (pagamento
de impostos online). Os valores em dó-
lares foram obtidos utilizando a taxa
de câmbio válida para o último dia de
cada ano respectivo.
Agradecemos a colaboração das
seguintes fontes de informação: Amip-
ci, Camara-e.net, Cace, Cavecom, CCS,
FMI, Ilce, ITU, World Internet Statistics,
Unctad, Cepal, Organização Mundial
do Turismo, Câmara Colombiana de
E-Commercio, Capece, Direção Geral
do Comércio Eletrônico do Panamá,
Camtic, Tendencias Digitales, entre
outros especialistas e líderes na área
de comércio eletrônico na região, que
nos ajudaram a obter as informações
necessárias para essa pesquisa.
Despegar.com
DINHEIRO ELETRÔNICOMeio de pagamento preferidoFonte: TGI 2009
10 20 30 40 50 60 70 800%
CARTÃO DE CRÉDITO 75%
13%CARTÃO DE DÉBITO
3%TRANSFERÊNCIA
1%CHEQUE
7%CONTRA ENTREGA
Os brasileiros de alto poder aquisito têm aproveitado a valorização do real
para comprar pela internet produtos que ainda não chegaram nas lojas do país