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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 47

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PESQUISA

NAKARENVISITAS

BIBLIOGRAFIA

primeira visitasegunda visitaterceira visitaquarta visitaquinta visitasexta visita

EM CAMPO

INFOGRÁFICO

CENÁRIOS

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INTRODUÇÃO

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Os vendedores ambulantes no Rio de Janeiro foram e continuam sendo atores de um conflito de interesses comerciais na cidade. Enquanto, de um lado, existe a necessidade da regularização do comércio informal, ainda é extremamente burocrático e longe da realidade de muitos trabalhadores autônomos exercer o seu ofício dentro das regras da prefeitura, sem se preocupar com a atuação de guarda-municipais.

Seja por falta de recursos ou até mesmo de atender os pré-requisitos do sistema, muitos trabalhadores se veem compelidos ao trabalho informal irregular, nessa situação, lidam diretamente com seus clientes na rua, sem amparo ou condições de trabalho. É nesse universo em que durante o período de 2013.1 desejamos conhecer, frequentar e realizar o nosso projeto de design Estratégia e Gestão.

Existe no Brasil dois tipos de normas que regulamentam o comércio ambulante:

- A primeira, ligada ao Direito Público, é um ato administrativo regido pelos princípios constitucionais da Adminstração Pública - a Pemissão de Uso, que é a autorização municipal do exercício da atividade nos espaços públicos.

- A segunda é a uma lei ligada ao Direito Tributário e Previdenciário - o cadastramento do trabalhador informal como Micro Empreendedor Individual (MEI), que combina ação fiscal com proteção social.

O grande problema é que não existe uma articulação eficiente entre as duas leis. A Permissão de Uso é uma lei de autorização municipal enquanto a Lei do Micro Empreendedor Individual (MEI) tem atuação federal. Funciona da Seguinte forma:

Se um cidadão decide ser ambulante, ele pode se amparar na lei de Permissão de Uso através da autorização da prefeitura para explorar um ponto de cidade e realizar sua atividade. Porém ele continua sem direitos trabalhistas ou impostos e está sujeito a uma fiscalização legal caso ele queria empregar outras pessoas ou expandir o negócio.

Caso o mesmo cidadão decida se inscrever no MEI para se tornar um Micro Empreendedor ele terá acesso a todos os direitos trabalhistas como 13º, férias, aposentadoria e etc, pagará impostos, mas não terá permissão para usar um ponto qualquer da cidade, terá que investir algum capital no aluguel ou criação de um espaço para exercer sua atividade.

Diante dos desafios de trabalhar com essas opções e ainda exercer uma atividade que lhe sustente e satisfaça, procuramos um parceiro de projeto, um recorte dessa realidade para realizar nosso projeto, desejamos que esse relatório também seja para o leitor um reflexo dessa convivência e aprendizado.

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Orientamos nossa pesquisa incialmente em aspectos legais da atividade de vendedor de rua e suas leis regulamentadoras. O Rio de Janeiro tem oficialmente apenas 25 mil vagas para cadastramento de vendedores ambulantes. Em 2008 a prefeitura teve um número de 35 mil candidatos interessados nesse cadastro, não encontramos porém um estudo que mapeie a presença do comércio irregular na cidade. O MUCA (Movimento Unido dos Camelôs) estima que existam cerca de 60 mil ambulantes no município, considerando que existam 35 mil candidatos assentados com ou sem autorização e adicionando os ambulantes, que estão sempre mudando de local afim de escapar da fiscalização esse número quase dobraria. O grupo, de modo geral, buscou encontrar comerciantes de rua que agregassem valor à atividade que exerciam. Conversamos principalmente com artesãos e artistas de rua. Esse critério se deu com a intenção de encontrarmos uma pessoa que não apenas revendesse artigos ou tivesse um propósito unicamente financeiro. Queríamos alguem que tivesse um ofício, uma habilidade específica, que gostasse e tivesse vontade no que faz e que colocasse um pouco de si naquilo que comercializa.

PESQUISA

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Uma parte da pesquisa cuidou de reunir dados sobre a presença dos camelôs na zona central da cidade e relacionar e a relação entre ambulantes legais e ilegais. Para isso, usamos dados do IBGE e da Prefeitura do Rio juntamente com as estimativas de movimentos de apoio aos camelôs e ambulantes, como o MUCA e StreetNet. O resultado dessa pesquisa foi reunido em um infográfico seguinte:

Concluimos então que a informalidade ainda é dominante no comércio de rua do centro e de alguns outros pontos específicos da cidade. E que em sua maioria, trabalhadores em barracas fixas são regulamentados enquanto os ambulantes, que não tem ponto defindido, são em sua grande maioria ilegais.

Essa conclusão é válida apenas para o centro da cidade e algumas outras áreas com comércio similar, em uma praia por exemplo esse cenário é completamente diferente.

INFOGRÁFICO

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CENÁRIOSAtravés do contato direto e convivência com nosso parceiro de projeto, Nakaren pudemos entender de maneira mais completa os fatores que envolvem seu ofício de vender mágicas. Fomos capazes com a orientação de professores e colaboradores, de isolar informações e parametros que envolvem o funcionamento do seu negócio e pudemos montar então uma matriz de definições por areas. Para tanto começamos for identificar a jornada diária de nosso parceiro.

Seu Abel (Nakaren) sai de casa por volta das 5 da manhã na Ilha do Governador em direção ao Centro. Chega na Rua Quitanda as 6:30 onde encontra a estrutura de sua barraca já montada. Uma rapaz contratado pelos feitrantes monta todas as barracas pela manhã, as desmonta pela noite e armazena em um deposito. Seu Nakarem traz de casa sua mercadoria e começa então o processo de organizá-la pela barraca. Neste período aparecem, normalmente ainda poucos clientes e próximo das 9 horas ele já está com tudo em seu devido lugar. Ele então senta em sua cadeira e espera pelos passantes interessados.

Às vezes seu Nakaren se utiliza desse tempo livre para confeccionar mágicas mais simples e repor assim seu estoque.

O almoço acontece normalmente entre 10:30 e 11:00, em uma quentinha entregue por um restaurante local.

O intervalo das 11:30 as 14:30 é normalmente o de maior movimento, sendo o fluxo de pessoas pela

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barraca praticamente constante. Esse movimento pode variar de acordo com o momento do mês ou mesmo condições do tempo.

Perto das 16:00 seu Nakaren faz um lanche. Este pode ser com uma ambulante que vende sanduíches e café na feira ou em alguma lanchonete próxima. Na volta ele se senta e aguarda novos clientes que possm surgir.

Das 17:00 em diante ele começa um processo minucioso de guardar sua mercadoria e fazer uma relação do que foi vendido e das encomendas feitas para que possa repor e trazer no dia seguinte.

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EM CAMPOTambém por conta de um briefing das aulas de projeto, toda a pesquisa em busca de um parceiro de projeto, foi feita com ambulantes do centro da cidade. Por toda área desde a Av. Presidente Vargas até a Praça XV, conversamos com diversos vendedores; Sr. Valter, vendedor de artesanato; Sr. Nakaren (nome artístico), mágico e artista de rua; Sr. Zeca, que faz e vende peças de madeira entalhadas; Sr. Manoel, vendedor de pedras semi preciosas; o casal “Sra. Maria e Sr. Dário”, vendedores de ferramentas reformadas na feira de antiguidades da Praça XV; Sr. Sérgio, vendedor de Publicações antigas; Sr. Luciano, pintor e vendedor de suas criações; Sr. Pedro, artesão de pulseiras; Sr. Roque José, repentista; Sr. Marcelo, artesão de folhas de coqueiro

Valter trabalha vendendo produtos que ele mesmo produz com arame e plástico. Seu negócio é divido com um cunhado que segundo ele ainda está ensinando a ele outros técnicas de dobrar o arame. Ele tem um ponto fixo na esquina entre a Av. Presidente Vargas com a Rua Regente Feijó.

Nakaren é o nome artístico do mágico de rua, sr. Abel. Ha 21 anos na Rua da Quitanda próximo a carioca, ele tem uma ponto de venda de produtos de mágica onde ele não apenas confecciona os produtos para vender, mas também vende os segredos agregados a esses objetos.

Zeca, como diz que é chamado pelos companheiros das barracas envolta, é entalhador e faz encomendas das mais variadas, desde brasões em madeira pintada, como escudos de time ou mensagens. Sua negócio fica na rua da Assembléia.

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Manuel vende pedras preciosas e semi-preciosas na feira de antiguidades da praça XV, tem um conhecimento extenso sobre as pedras e já trabalhou no mesmo negócio em loja de rua, mas resolveu ir para a rua por conta do alto gasto com aluguéis.

Dario é um senhor que também trabalha na feira de antiguidades da Praça XV vendendo ferramentas que ele mesmo busca na rua ou no lixo e reforma, sua mulher Maria o recentemente começou a vir ajudá-lo no trabalho.

Sérgio vende publicações antigas há anos, seu interesse por história lhe faz um jornaleiro que ‘envelheceu’ com suas peças de banca de jornal. Ele possui uma coleção, em que, vende alguns artigos para interessados, com o tempo o movimento diminui pois a história vai ficando cada vez mais ultrapassada.

Luciano pinta quadros que ele se esforça para vendê-los por um preço que cubra seus gastos.

trajeto pesquisado pelo grupo, no centro da cidade.

Possui um currículo impresso que evidencia alguns de seus projetos e qualificações, o diferenciando de um qualquer.

Pedro é artesão de pulseiras peruanas no Largo da Carioca onde agora funciona uma feirinha de artesanatos, em um que o terreno é da Prefeitura mas é mantido pela Petrobrás. Pedro tem uma barraca com diversos tipos de pulseiras trançadas com materiais naturais e o que nos chamou a atenção era que ele era o único “feirante” que fazia seus produtos.

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Nossa conversa começou quando perguntamos se ele mesmo que fazia suas pulseiras e ele disse que sim.. Logo notamos o sotaque carregado e perguntamos de onde ele era. Quando respondeu que era peruano, João contou que havia estado no país e visitado alguns lugares. Começaram então a conversar sobre as belezas e peculiaridades do Peru. A conversa se estendeu por quase vinte minutos até que Pedro nos contou que veio pro Brasil já há muito tempo, na década de 80, ainda na ditadura. Ele veio a princípio a fim de conhecer o país e acabou ficando. Disse que

já visitou muitos lugares e que conhece bem o Brasil.

Ele aprendeu seu ofício ainda no Peru, disse que lá esse tipo de artesanato é muito comum. Perguntamos qual a relação que ele tinha com seu trabalho, e ele nos contou que era como um terapia e que dava o dinheiro suficiente para que ele pudesse viver como gosta e uma vez ao ano visitar o Peru.

Como em outras feiras, não havia um dinamismo muito grande nas vendas. O vendedor simplesmente espera até que apareça um cliente interessado para então atendê-lo.

Marcelo é artesão de folhas de coqueiro na Rua da Uruguaiana, sentado em um banco sob a sombra de uma arvore. Ele tinha na sua frente um pano com algumas cestas de palha de coqueiro e um grilo, também feito de palha. Outra vez, o que chamou nossa atenção foi encontrar alguém que de fato fazia ou agregava valor ao que vendia.

Sr Valter e seus produtos expostos para venda sobre um tapete.

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Perguntamos há quanto ele fazia aquele tipo de artesanato e ele respondeu, rindo, que não fazia muito tempo não. Pensamos que fosse brincadeira, mas de fato Marcelo havia aprendido a tecer cestos há apenas dois meses. Nos disse que aprendeu com um rapaz que já faz isso há muito tempo mas que não sabe onde ele mora.

Roque José é repentista e o encontramos na Rua da Uruguaiana. Chegou com sua dupla, colocou seu microfone e começou logo a bater no pandeiro. Colocaram alguns CDs e DVDs a mostra e começaram a cantar em ritmo de embolada. Seu espetáculo consiste em um jogo de Repente onde, com rimas, a dupla faz graça de questões populares ou qualquer assunto que lhes apareça incluindo inclusive, na maioria das vezes os espectadores.

O pouco que descobrimos é que Roque aprendeu embolada com sua mãe, que faz shows regulares na Uruguaiana,

na Carioca e na Feira de Santana. Tentamos nos aproximar um pouco mas a dupla era bem timida e recatada conosco, respondendo as perguntas de forma sucinta e até mesmo evasiva. Soubemos tambem que em muitas vezes eles faziam pequenas turnês pelo interior do estado e outras regiões. Essa dificuldade de contato inicial e a imprevisibilidade das turnês nos fez relutar em trabalhor com a dupla.

Considerando todos os entrevistados, em grupo, decidimos desenvolver o projeto com o mágico Nakaren. Ele nos pareceu o mais receptivo entre os entrevistados, além de ter características incomuns para um empreendedor de rua, como; se dedicar a um único ofício por tanto tempo, vender

Sr Manuel e sua banca de pedras semi-preciosas.

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NAKAREN

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segredos, sua história de vida diferenciada e o valor que ele agregava aos produtos que vendia.

Nakaren aprendeu mágica muito novo, por volta dos 8 anos, mas somente com 17 começou a exercer mágica como um ofício, sempre alternando entre outras tarefas da sua vida, como o trabalho de entregador de pão com o pai e o serviço militar no Rio Grande do Norte.

No ano de 1972 veio para o Rio de Janeiro e conheceu o então Professor Robertini, mágico de longa carreira no Circo Nerino, com quem veio trabalhar numa loja chamada “Casa das Mágicas” no centro da cidade.

Robertini foi um mágico português que veio para o Brasil trabalhar no Circo Nerino, fundado em 1913, seu estilo peculiar de fazer mágica o fez muito famoso na época, ao invés de sisudez e glamour, Robertini era despojado e muito piadista, além de (segundo relatos) muito bonito.

Posteriormente a loja se mudou para Miguel Couto onde, segundo Nakaren, ele experienciou sua época de ouro. Cinco anos depois seu professor e amigo, Professor Robertini encerrava suas atividades como mágico e Nakaren seu sucessor mantem-se ativo no ofício da mágica até hoje.

Durante muito tempo teve a agenda lotada de shows, fez participação em programas de tv, como os da Xuxa e Angélica e realizou festas particulares frequentes. Tem até hoje o registro de todos esses eventos guardados como um tesouro.

Além desses registros, durante anos de trabalho e convívio no meio artístico, ele também conseguiu reunir uma grande coleção de itens de mágica obtidos em leilões. Diversas dessas peças ele tem em casa e não as revende em razão do seu enorme valor afetivo.

Em 1992 resolveu estabelecer um ponto de mágica no centro da cidade, uma barraquinha onde poderia continuar seu ofício de mágico. E desde então vem dividindo seu tempo entre a dedicação em confeccionar ou modernizar mágicas para o seu negócio e realizar os seus shows particulares em festas. Sempre vendendo o segredo das mágicas e pequenas gozações aos que passam por ali todos os dias.

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Na Rua da Quitanda encontrei uma barraca vazia, com itens de mágica e parei para olhar e ver se havia alguém atrás da barraca, sentado ou dormindo talvez, mas não havia. Quando busquei envolta para tentar achar o dono da barraca vejo Décio Ferret sentado na calçada convesando com um senhor, que olhou pra mim e pareceu ser o dono da barraca.

Ele se levantou, veio até a barraca e pôs uma camisa social, perguntou se eu queria alguma coisa, eu não sabia como iniciar uma conversa, pediu para ver alguma coisa legal na barraca e ele já começou a fazer mágicas muito engraçadas, com plaquinhas, depois com baralho e então perguntou ‘o que te trouxe aqui?’. Eu ri.

Eu já ia falar o que me trouxe ali, mas antes quis saber um pouco mais das mágicas dele, ele era muito ativo, começou a mostrar uma mágica após a outra, uma por sinal muito complexa com cadarços, com um texto decorado.

Ele pegou 3 cadarços, um grande, um médio e um pequeno. E ia movendo as mão conforme falava; “tem homens que são muito ricos tem muito dinheiro” e mostrava o cordão gigante, “tens homens que tem só o que precisa pra viver” e mostrou o cordão médio. “mas tem aqueles que tem muito pouco, e se acha inferior a todos os outros” e pegou o cordão menor, “mas diante dos olhos de Deus!” apontou para cima fazendo uma pausa “são todos iguais aqui na terra” e abriu a mão, todos os cordões tinham o mesmo tamanho!

Eu pedi então para comprar uma das mágicas, e ele disse que iria ensinar duas, uma de presente! Mas antes ele alertou, “você não vai querer o dinheiro de volta não né?” ele como mágico não vende materiais apenas, ele vende segredos! Segredos intangíveis, cada vez mais ele era um personagem impressionante. Provavelmente já teve clientes que não entenderam isso e se acharam enganados.

A mágica de presente que ensinou, era uma caneta que desaparecia, ele tinha um elástico preso na camisa que ele vestiu que puxava a caneta da mão dele numa velocidade que deixava o item

VISITA 1thiago macedo

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invisível, quando ensinou a mágia, enfatizou: “eu já devia estar com a camisa, mas eu vesti a camisa na sua frente!”

Ao entrar na barraca para me atender, sem me conhecer, ele já sabia que ia usar aquela mágica.

Nesse momento aproveitei para falar um pouco do projeto, que eu era um universitário da PUC, aproveitei a presença do Décio (já que ele aparece no filme “olho da rua”) comentei que o Sérgio Bloch deu uma palestra para nós e eles foram falando que eram muito amigos.

O dono da barraca tem um nome artístico de Nakaren, me contou um pouco da história dele de mágico e disse que já estava ali no mesmo ponto a 21 anos. Já fez apresentações na televisão e em peças de teatro. Na barraca haviam fotos com artistas famosos. Ele também contou seu nome verdadeiro, ‘Abel’, que inclusive não gostava do nome artístico, mas admitia que o nome lhe trouxe muita sorte.

Fez questão de entender um pouco mais do projeto e disse que não era um camelô, porque, segundo ele, a palavra é muito estigmatizada, o camelô é aquele que vende muamba, que engana os outros, vende coisas que estragam. Ele é um artista de rua.

(texto de relatório de visita, Thiago Macedo)

Nakaren preparando uma mágica na sua barraca.

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Voltamos a barraca do seu Nakaren em grupo, afim de apresentar a todos o intercessor e definir se adotaríamos esse caminho ou não. Quando chegamos ele me reconheceu; “ah você é aquele menino, estudante.”

Explicamos que havíamos visitado vários vendedores pelas ruas do centro e que gostaríamos de fazer o projeto com ele por conta das características interessantes que ele agregou ao seu trabalho e produtos.

Ele tratou tudo com muita normalidade e perguntou um pouco mais do projeto, nós explicamos que não havia certeza do produto final uma vez que ele dependia de uma observação do grupo no dia-a-dia do próprio Nakaren.

Ele começou a nos explicar um pouco da sua história e como chegou ali;

“a mágica vem desde de 1992, nunca troquei mercadoria, só coloquei mais mágicas. Me instalei nessa praça e to aqui 21 anos (...) eu cheguei no rio em 72, já tinha 20 anos que eu trabalhava no Rio. Minha agenda era 60 a 80 apresentações por mês, não parava. Era uma luta. Eu tenho tudo arquivado, desde 72 pra cá, eu tenho tudo arquivado”

Pareceu para nós que a história de vida do Nakarem é a coisa mais importante pra ele. Seu esforço juntando toda história da mágica que ele vivenciou.

“Eu monto as coisas que eu vendo, esses baralhos eu faço, a corda. Tem coisas que eu administro pro marceneiro fazer, as vezes eu compro algumas coisas, isso aqui é de Santa Cantarina, isso é importado - enquanto ia mostrando as peças na barraca. Tem coisas aqui que tem muita história. Coisas e História.”

Perguntamos para ele se já havia algum movimento de preservar ou passar adiante todo esse conhecimento que ele juntou, ele contou a história de um menino que trabalho com ele:

“Eu tentei ensinar, fiz muitos mágicos - mostra uma foto - esse menino aqui, fez muito sucesso comigo,

VISITA 2grupo

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mas não tinha tendência para ( faz um silêncio), dizia pra mim, que ‘esse aqui não é seu lugar’, não tinha condição de ficar aqui na poeira, no chão, na rua’ ficam me ofendendo dizendo ‘aqui não é meu lugar’, mas eu sô teimoso, aqui é meu lugar sim e daqui não saio, só saio quando morrer.”

Depois de alguns momentos de mais conversas ele tirou da mochila um monte de fotos e foi nos mostrando imagens do seus shows descrevendo as imagens e aproveitou para fazer a mágica dos cadarços que víamos na foto.

Ele também nos contou que aprendeu a fazer mágica com um senhor chamado Professor Robertini que tinha um lugar chamado “Casa da Mágica”, e que a barraca que ele hoje gerencia, para ele é uma continuação do trabalho do seu professor.

Depois da conversa fomos tomar um café com o Abel na rodoviária próximo a sua barraca tiramos algumas dúvidas dele sobre o nosso projeto e nos despedimos.

Placa pendurada na barraca de seu Nakaren anunciando o produto.

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Ao chegar na barraca, cumprimentei Nakaren, falei um pouco com ele e me pus a observa-lo. Neste momento ele ainda estava montando a barraca e eu fiquei em dúvida se o ajudava ou não, mas para nao influenciar muito, optei por observar pelo menos essa vez. Durante o tempo que fiquei, pude observar o movimento, que, segundo o Nakaren as vezes não há ninguém e as vezes não havia como atender todos ao mesmo tempo. Muitos pais e avós de família passaram por lá para ver suas mágicas e como era véspera de Páscoa, Nakaren usava em seu discurso o apelo ao presente para as crianças.

Além dos clientes, um promotor de eventos estava interessado em comprar um show dele, e, pareciam combinar questões de transporte e pagamento. Apos isso ele comentou comigo, que estava próximo naquele momento, sobre o preço baixo que acabou oferecendo por seus serviços.

Sempre que saía, Nakaren me avisava do que iria fazer. Me apresentou para alguns amigos, e chegou a me pedir mais informações sobre o projeto: sua metodologia, objetivos e intenções. Expliquei-lhe sobre o caráter antropológico do projeto de observar, sem que o parceiro seja obrigado a dar alguma informação sigilosa e garanti que todos os dados e informações que fossem coletadas ali, seriam mostradas a ele com total transparência. Assim, ao final, quando o projeto terminasse nós decidiríamos juntos como proceder.

Ao voltar, acostumado a observar atividades que fluiam naturalmente e com um mínimo de programação, comecei a filmar e alem de desenhar suas principais ações: Arrumar a barraca,aprensentar a mágica, ensinar a mágica e vender.

(texto de relatório de visita, Felipe Filgueiras)

VISITA 3felipe figueiras

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Cheguei à tenda de Seu Nakaren por volta das 10:00 enquanto ele ainda terminava de organizar seus produtos na barraca. Me contou que havia ido à Uruguaiana para comprar alguns materiais para preparar algumas mágicas que precisava repor em seu estoque. Disse que no dia anterior, mesmo com muita chuva, havia vendido bem. “Eu gosto de dias de chuva. Normamelmente vendo bem em dias de chuva. Não sei por que, mas é assim.”

Neste dia seu Abel estava um pouco mais calado, sério e tinha um olhar um pouco desconfiado.

Eu tentava puxar assunto e ele, sucinto, desconversava. Perguntei se estava tudo bem, se algo o incomodava, e foi aí que ele me contou que estava desconfiado da nossa presença ali com ele. Disse que não sabia direito por que queríamos trabalhar com ele e nem o que queríamos fazer. Disse que chegou a desconfiar que estivéssemos espionando suas atividades para passar para outras pessoas. Perguntei porque ele pensava isso e ele disse que “ da ultima vez, o rapaz de vocês que veio aqui fiquei por aí me filmando, vendo o que eu falava com os clientes, aí veio perguntar qual horário tinha mais movimento. Fiquei pensando que iam entregar esse material para outra pessoa” .

Com atenção, lhe expliquei ainda que não sabíamos qual resultado nosso projeto teria, mas que queríamos conviver com ele e entender o amor dele pela mágica. Disse-lhe também que submeteríamos todo o material que fosse gerado à seu respeito à sua aprovação e que ficasse à vontade para não responder perguntas que lhe parecessem desconfortáveis.

Aos poucos ele foi retomando a confiança na minha presença por ali. Conversamos sobre sua casa, sua coleção de mágicas e sua relação com os outros comerciantes daquele ponto.

Ao chegarmos no assunto da mágicas, seu Nakaren voltou a reforçar a importância de uma boa história que acompanhe o truque. Contou que já viu truques super complexos que não tinham história e por isso ficaram sem graça.

Perguntei, em outro momento, de que outras coisas seu Nakaren gostava e ele falou que gostava muito de escutar música, perguntei de que tipo e ele citou alguns cantores e compositores e completou “ Tem que ser música com história, com qualidade! Tem que te deixar emocionado, te fazer lembrar de momentos saudosos.”. Ficamos mais algum tempo conversando, ele me convidou à um café e depois fui embora.

(texto de relatório de visita,Raoni Saporetti)

VISITA 4raoni saporetti

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Essa visita teve um objetivo bem claro; acabar com possíveis mal entendidos de visitas anteriores, confirmar se estávamos realmente sendo aceitos pelo parceiro e nos assegurar de que havíamos iniciado uma relação de confiança.

Chegamos a barraca do Seu Nakaren por volta de duas horas da tarde, ele havia saído, para ir ao banco. Ao voltar ele veio até nós e começamos a conversar, do outro lado da rua.

Ainda desconfiado de nossas intenções, tivemos que novamente explicar nosso objetivos para com ele, além de acalmá-lo, afim de estabelecer uma relação de confiança cada dia maior. Fomos até a barraca, e agora mais calmo, ele foi atender um pai e seu filho que demonstravam interesse por várias mágicas. Alguns minutos depois os dois resolveram comprar duas mágicas, e no momento em que ele ia os ensinar o truque, percebemos que ele ficou desconfortável com nossa proximidade e deu apenas um papel com as instruções, os clientes pediram então para que ele fizesse uma demostração do ensinamento. Nesse momento percebemos que estávamos atrapalhando e nos afastamos.

Depois da partida dos clientes nos aproximamos novamente para nos despedirmos, pois estávamos com medo de atrapalhá-lo ainda mais, para nossa surpresa ele começou a conversar novamente, demonstrando que apesar da impressão que tivemos anteriormente, nossa presença ali não era um incomodo. Isso fez com que fossemos embora com a segurança de que fomos aceitos e havíamos iniciado uma relação de confiança.

VISITA 5joão marinho

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Após a aula de orientação de objetivo de projeto decidimos visitar o nosso parceiro novamente e conversar com ele um pouco sobre o que ele achava dos rumos do projeto se havia identificação dele com o objetivo, fomos tirar dúvidas.

Mas logo que chegamos ele já nos recebeu com um sorriso dizendo; “Caramba vocês perderam um showzão! Se estivessem aqui mais cedo...” e nos contou que nem conseguiu montar a barraca direito de tantos clientes que havia recebido hoje. Desde 7 horas da manhã não parou de receber pessoas e só conseguiu almoçar quase 13h, praticamente 3 horas além do seu horário normal.

Nós então lhe mostramos o vídeo que editamos para lhe apresentar no projeto, enquanto ele assistindo não pode deixar de comentar: “ah mas faltou o chapéu”. Mas nem o vídeo tinha terminado e já chegaram mais clientes na sua barraca, então demos licença para ele os atender e mais um casal chegou.

Os dois primeiros rapazes que chegaram eram uma dupla de mágicos mentalistas, uma classe de mágicos que fazem principalmente truques que simulam adivinhações em geral, parecendo assim que tem super-poderes mentais.

Logo ficou claro uma diferença muito grande no comportamento do Nakaren quando vendia para mágicos. Como é muito mais fácil um mágico perceber um segredo num truque ao assisti-lo, principalmente tão de perto, ele só realizava truques quando já era implícito o interesse em comprar aquele segredo.

Então pela primeira vez o vimos conversando sobre mágica sem executá-la: “Essa aqui eu vou te falar o efeito, você coloca duas cartas grandes nesse apoio, esse apoio fui eu que fiz, o público não tá vendo que cartas são, o público não precisa ver, nem você. Dá pra fazer com qualquer baralho. Então você pega duas cartas pequenas qualquer do baralho e coloca atrás das grandes, vai segurar a carta pela pontinha assim - e demonstrava apenas com gesto o movimento - e vai puxar, a carta vai sumir atrás, não tem mais carta nenhuma, entendeu?”

VISITA 6grupo

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Então deixou os dois mágicos clientes analizando a peça e começou a atender os clientes leigos, nisso se transformou totalmente, fez graça e brincou com os clientes: “Que cor você tá vendo aqui? - e mostrava um baralho cinza - Cinza? Que isso mas só tem vermelho aqui rapaz - e o baralho virou vermelho- você almoçou ? Menina leva ele pra comer um lanche!”

Nesse momento ele faz novamente algo diferente, após o casal comprar a mágica, normalmente ele chama o cliente até a parte de trás da barraca e ensina o segredo particularmente, ou então demonstra uma certa preocupação com a nossa presença, assim nos afastamos e voltamos quando ele já tenha terminado a explicação, isso se repetiu durante todas as outras visitas. Nessa visita ele ensina a mágica para o casal diretamente na nossa presença, sem nem ao menos dar tempo de sairmos, de maneira muito natural. Através dessa atitude o Nakaren demonstrou um reconhecimento da nossa intenção positiva de projeto, foi claramente um voto de confiança e um passo significante na relação de amizade.

Concluída a venda para o casal, ele volta a atenção aos dois mágicos e mais clientes vão chegando. Os dois pedem para ver um grande numero das magicas de Nakaren, sempre questionando a fabricação o uso ou a inovação por trás do truque. Por conclusão ele faz uma grande venda para o mágico mais uma encomenda e depois de atender os clientes que ficaram na barraca, que compraram gozações resolve dar uma pausa e fazer um lanche junto conosco.

No lanche conversamos descontraidamente sobre o movimento do dia; “caramba desde manhã que não pára de gente, você viu? eu sou a única barraca ali que deu movimento.” Comentamos que diferente dos outros vendedores o Nakaren se destacava por ter um ofício e não ser apenas um revendedor.

Então falamos sobre a dinâmica de criação de frase objetivo na aula mais cedo e que seu discurso durante a visita foi a base dessa decisão. Apresentamos a ele, mas ele preferiu não fazer naquele momento; “é que isso tem que ser feito devagar, e agora já preciso desmontar a barraca” .

Matéria sobre o Nakaren no Jornal.

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No caminho de volta Nakaren comentou o que havíamos percebido mais cedo, ele preferia atender leigos a mágicos profissionais. Disse que leigos gostam e acham graça de tudo, enquanto os mágico tendem a buscar só inovações, “mudernidades” a barraca já para encerrar o dia e voltamos conversando sobre a pesquisa feita sobre ele, comentamos sobre a pesquisa que fizemos do Professor Robertini, para tentar conseguir mais informações do próprio Nakaren, ele se empolgou com o assunto; “mas é mesmo? E o que vocês acharam?”. Falamos então sobre o Circo Nerino, o Picolino e a dificuldade de achar informações sobre o Drakon ao que ele respondeu: “eu tenho um amigo que sabe tudo sobre os mágicos, uma pessoa bem difícil de lidar, mas sabe toda a história. Agora o Robertini eu não conheci no circo, conheci muitos anos depois, quando eu vim pro Rio de Janeiro, trabalhei na loja dele aqui no centro, ele foi muito meu amigo também, foi meu padrinho. O nome do meu filho é em homenagem ao pai do Robertini, ele que escolheu. Ele gostava de ficar falando francês errado nos shows, falava assim; “vous avéquê, vai vê um showzê que nunca mais vai esquecê”, era muito engraçado, eu ainda falo até hoje uma coisa que ele falava que era “Alá Alá vem de lá me ajudar!” e também “Concentra Tupinambá!”, era engraçado que só, muito do meu jeito de pensar a mágica eu herdei dele.”

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BLOCH, Sérgio. Olho da Rua. [Filme-Vídeo]. Produção de Abbas Filmes Ltda, direção de Sergio Bloch. Brasil, 2000. 1 Dvd / 82 min. colorido. som.

VELHO, Gilberto. Observando o Familiar. In: NUNES, Edson de Oliveira – A Aventura Sociológica, Rio de Janeiro, Zahar, 1978.

TAMAOKI, Verônica; AVANZI, Roger. Circo Nerino. São Paulo: Conex, 2004.

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