relatorio final conferencia nacional de san

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5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional Carta Política, Manifesto, Proposições e Moções

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  • 5 Conferncia Nacional de

    Segurana Alimentare Nutricional

    Carta Poltica, Manifesto,Proposies e Moes

    dobra

    dobra

    InformaesConselho Nacional de

    Segurana Alimentar e NutricionalPalcio do Planalto, Anexo I, sala C-2A

    Braslia - DF CEP: 70.150-900Fone: (61) 3411-2747

    Email:[email protected]

    www.presidencia.gov.br/consea

  • Grupo Executivo da 5 CNSAN

    Presidenta do Conselho Nacional de SeguranaAlimentar e Nutricional

    Maria Emlia Lisboa Pacheco Titular

    Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome Secretaria Geral do Consea Nacional

    Arnoldo CamposPatrcia Gentil

    TitularSuplente

    Coordenadoras das Subcomisses da 5 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional

    Elisabetta RecineGleyse Peiter

    TitularTitular

    Representante da Mesa Diretiva Renato S. MalufNathalie Beghin

    Titulares

    Representante da Comisso de Presidentes de Conseas Estaduais

    Gil Marcos dos SantosCarvalho

    Titular

    Representante do Conselho de Segurana Alimentar e Nutricional do DF

    Bianca Lazzarini Titular

    Ministrio da Sade e Ministrio do Desenvolvimento Agrrio Representantes da Cmara Interministerial de Segurana Alimentar e Nutricional

    Michele LessaEduardo NilsonMarcelo Botton PiccinCibele Cristina Bueno de Oliveira

    TitularSuplenteTitularSuplente

    Secretaria Executiva do Consea Marcelo Silva Oliveira Gonalves Titular

    Subcomisso de Contedo e Metodologia da 5 CNSANCoordenao: Elisabetta Recine e Nathalie Beghin

    Comisso Permanente da Poltica e do SistemaNacional de Segurana Alimentar e Nutricional

    Anelise RizzoloIrio Conti

    TitularSuplente

    Comisso Permanente sobre Macrodesafios Nacionaise Internacionais

    Nathalie BeghinRenato S. Maluf

    TitularSuplente

    Comisso Permanente sobre Produo, Abastecimentoe Alimentao Adequada e Saudvel

    Christiane Gasparini CostaSilvia do Amaral Rigon

    TitularSuplente

    Comisso Permanente do Direito Humano Alimentao Adequada

    Clia Varela BezerraPaulo Matoso

    TitularSuplente

    Comisso Permanente de Segurana Alimentar eNutricional de Popuaes Negras e dos Povos e Comunidades Tradicionais

    Regina Barros Goulart NogueiraEdgard Aparecido de Moura

    TitularSuplente

    Comisso Permanente de SAN dos Povos Indgenas Daniela Sanches FroziVania Leite

    TitularSuplente

    Comisso Permanente sobre Consumo, Nutrio eEducao

    Elisabetta RecineSnia Lucena Andrade

    TitularSuplente

    Comisso de Presidentes dos Conselhos Estaduais deSegurana Alimentar e Nutricional

    Katia Cilene de MendonaAlmeidaNorma Sueli

    TitularSuplente

    Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome

    Patrcia GentilAna Flvia SouzaCarmem Priscila BocchiCybelle de Aquino Torres Alves

    TitularSuplenteTitularSuplente

    Ministrio do Desenvolvimento Agrrio Cibele Oliveira Titular

  • Ministrio das Relaes Exteriores - CGFOME Marcos Lopes TitularMinistrio da Sade Tatiane Pereira

    Michele LessaTitularSuplente

    Conab Gerciane ArajoCristiane Barbado

    TitularSuplente

    Subcomisso de Infraestrutura, Mobilizao e Comunicao da 5 CNSANCoordenao: Gleyse Peiter

    Comisso Permanente da Poltica e do SistemaNacional de Segurana Alimentar e Nutricional

    Elza Franco BragaIrio Conti

    TitularSuplente

    Comisso Permanente sobre Macrodesafios Nacionaise Internacionais

    Gleyse Maria Couto Peiter Titular

    Comisso Permanente sobre Produo, Abastecimentoe Alimentao Adequada e Saudvel

    Jaime Conrado de Oliveira Titular

    Comisso Permanente do Direito Humano Alimentao Adequada

    Aldenora Pereira da Silva Titular

    Comisso Permanente de Segurana Alimentar e Nutricional da Populao Negra e de Povos e Comunidades Tradicionais

    Edgard Aparecido de Moura Titular

    Comisso Permanente de SAN dos Povos Indgenas Antonio Ricardo Domingosda CostaSilvio Ortiz

    Titular

    SuplenteComisso Permanente sobre Consumo, Nutrio eEducao

    Ana Paula Bortoletto MartinsAna Julia Colameo

    TitularSuplente

    Comisso de Presidentes dos Conselhos Estaduais deSegurana Alimentar e Nutricional

    Gil Marcos dos Santos CarvalhoKtia Cilene de Mendona Almeida

    TitularSuplente

    Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome Carolina TerraAna Flvia Souza

    TitularSuplente

    FNDE Solange Fernandes de Freitas CastroDeborah Bosco Silva

    Titular

    SuplenteFunai Patrcia Chagas Neves

    Juan Felipe Negret ScaliaTitularSuplente

    Ministrio da Sade Ana Carolina Lucena Titular

  • Mesa Diretiva do ConseaSociedade Civil

    Aldenora PereiraAnelise RizzoloAntnio Ricardo Domingos da CostaCarlos Eduardo S. LeiteEdgard Aparecida de MouraEkaterine Valente KarageorgiadisElisabetta RecineElza BragaGil Marcos dos Santos CarvalhoMaria Emlia Lisboa PachecoMariza RiosNathalie BeghinRegina NogueiraRenato S. MalufSilvia RigonSilvio Ortiz

    GovernoArnoldo Anacleto de CamposCarmem Priscila BocchiPatricia Gentil

    Comisso de Redao da Carta PolticaAlessandra LunasAntonio Ricardo Domingos da CostaArnoldo CamposCarlos Eduardo S. LeiteCarmem Priscila BocchiChris GaspariniDaniela FroziElisabetta RecineFernando PriosteJulian PerezMarcelo PiccinMaria Emlia Lisboa PachecoMichele LessaMilton RondNaidsion BaptistaNathalie BeghinPatrcia GentilRenato Srgio Jamil MalufSandra Marli da Rocha Rodrigues

    Conselheiros - Sociedade CivilTitularesAldenora Gomes GonzalezAldenora Pereira da SilvaAlessandra da Costa LunasAllysson PaolinelliAnelise Rizzolo de Oliveira PinheiroAntonio Ricardo Domingos da CostaCarlos Eduardo Oliveira de Souza LeiteCharles ReginattoChristiane Gasparini Arajo CostaDarci FrigoDelso de Oliveira AndradeDenildo Rodrigues de MoraesEdgard Aparecido de MouraEkaterine Souza KarageorgiadisElisabetta RecineElza Maria Franco BragaGleyse Maria Couto PeiterIrio Luiz ContiJaime Conrado de OliveiraJos de Ribamar Arajo e SilvaLucas CmaraLuiz de BittencourteMarcos RochinskiMaria Alades Alves de SousaMaria Auxiliadora Cordeiro da SilvaMaria Emlia Lisboa PachecoMariza RiosNaidison de Quintella BaptistaNathalie BeghinNei Simas CustdioOldia Maria da Conceio Lyra da SilvaPaulo Srgio MatosoPedro Makumbundu KitokoRenato Srgio Jamil MalufRosane BertottiSandra Marli da Rocha RodriguesSilvia do Amaral RigonSnia Lcia Lucena de Souza de AndradeUbiraci Dantas de OliveiraWerner Fuchs

  • SuplentesAdnamar MotaAlcemi Almeida de BarrosAlessandra CardosoAlexandre Seabra ResendeAna Jlia ColameoAna Maria Bartels RezendeAna Maria SegallAna Paula Bortoletto MartinsAnderson Amaro Silva dos SantosAndr Roberto SpitzArmindo Augusto dos SantosCarlos Antnio Bonfim PereiraCarmen Helena Ferreira ForoClia Varela BezerraClaudina Libera ScapiniDaniel Carvalho de SouzaDaniela Sanches FroziEduardo Amaral BorgesFernando Ferreira CarneiroFernando Gallardo Vieira PriosteGilvan Alves da SilvaIvo da SilvaJos Carlos do Nascimento GalizaJos Rodrigues de ArajoJulian Perez CassarinoMaria Aparecida Barbosa do NascimentoMaria Josana de LimaMaria Noelci Teixeira HomeroMarilene Alves de SouzaMario Kara MoreiraMaurcio da Silva BarretoMoiss Pinto GomesOswaldo MafraRegina Barros Goulart NogueiraRenata MenascheSilvio OrtizTnia Chantel FreireTheonas Gomes PereiraVnia Lcia Ferreira LeiteWillian Clementino da Silva Matias

    Equipe de relatoria e facilitaoAlda DutraAline MartinsAna Carolina Feldenheimer da SilvaAna Maria Motta RibeiroAna Maria Thomaz Maya MartinsAna Paula de AlvarengaAndreia TorresBrbara Leone SilvaBruna SouzaCamila MaranhaCamilla Ceylo Daher NavesCarol LucenaCarolina ChagasClia VarelaCibele OliveiraClo FranaDbora Tavares de Castilho CassimiroElaine Martins PasquimElza Ferreira AlexandreEmily Cristina SantosEvelyn NeryFtima CarvalhoGabriella Cristina PieroniGiovanna Soutinho ArajoGisele MneHenrique Dantas de SantanaHisys RavellyIracema Ferreira de MouraIsabel Barcelos FerreiraJacobina Rivas CantisaniJoo RusJos Anael nevesJuci MoraisJlio AlmeidaKarina Guimares PerptuoLarissa BarrosLuciana Dalmeida Chermont KaminskiLus Fernando Iozzi BeitumLuisete Moraes BandeiraMana Ribeiro PereiraMarcia Sartori SilvaMaria AraujoMaria Fernanda Moratori AlvesMariana Barros da Nbrega GomesMarlia Barreto Meneses Pessoa LimaMilena Araguaia

  • Natalia ArajoNatalia TenutaNayara CrtesOlivia SchneiderPatrcia Miranda MenezesPaula Gabriela ChiancaPaulo MatosoPedro RomaniPollyana RodriguesPollyanna PatriotaPriscila RibeiroRenato Carvalheira do NascimentoRicardo da Silva KaminskiRita CamaraSlvio PortoSirlene BarbosaTas LopesTatiane Nunes PereiraTelma Castello BrancoThas Aurlia GarciaVanessa ManfreWanessa SpiessWelliton RezendeWilson Madeira Filho

    Relatoria final:Mariana GomesMarlia Leo coordenao

    Secretaria-Executiva do Consea NacionalSecretrio Executivo: Marcelo Silva OliveiraGonalves

    Assessoria TcnicaLuiz Antonio DombekMarina Godoi de LimaMirlane Klimach GuimaresMonica MaranhoRoberta Marins de SRocilda Santos MoreiraThais Lopes Rocha

    Assessoria AdministrativaDanielle Souza da SilvaEdna Gasparina dos SantosEliabe Kleiner do Nascimento de AndradeLeonardo Alves Costa

    Assessoria de Comunicao do ConseaNacionalCoordenadora: Michelle AndradeBeatriz Evaristo SousaCarlos Eduardo de Souza Gomes FonsecaJose Marcelo Torres BatistaLoze Aurlio de AguiarPatrcia Ferreira Barbosa de SousaPatrcia Lima NobreThiago Anderson MartinsTiago Karl Rodrigues

  • Histrico das Conferncias Nacionais de Segurana Alimentar e Nutricional

    122

    19941 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar

    e Nutricional

    Tema: Fome: uma questo nacional

    Cerca de 1,8 mil participantes na etapa nacional

    Braslia - DF

    20042 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar

    e Nutricional

    Tema: A construo da Poltica Nacional de

    Segurana Alimentar e Nutricional

    Cerca de 1,4 mil participantes na etapa nacional

    Olinda - PE

    20073 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar

    e Nutricional

    Tema: Por um desenvolvimento sustentvel, com

    soberania e segurana alimentar

    Cerca de 2 mil participantes na etapa nacional

    Fortaleza - CE

    4 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar

    2011

    e Nutricional

    Tema: Alimentao adequada e saudvel: direito

    de todos

    Cerca de 2 mil participantes na etapa nacional

    Salvador - BA

    5 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar

    2015

    e Nutricional

    Tema: Comida de verdade no campo e na cidade:

    por direitos e soberania alimentar

    Cerca de 2,1 mil participantes na etapa nacional

    Braslia-DF

  • SUMRIO

    APRESENTAO ....................................................................................................................................11

    A 5 CONFERNCIA NACIONAL DE SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL (CNSAN) .............................15

    CARTA POLTICA ......................................................................................................................................21

    EIXO TEMTICO 1 COMIDA DE VERDADE: AVANOS E OBSTCULOS PARA A CONQUISTA DA ALIMENTAO ADEQUADA E SAUDVEL E DA SOBERANIA ALIMENTAR ...................................................27

    EIXO TEMTICO 2 DINMICAS EM CURSO, ESCOLHAS ESTRATGICAS E ALCANCES DA POLTICA PBLICA NO CAMPO DA SOBERANIA E SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL ..................................................30

    EIXO TEMTICO 3: FORTALECIMENTO DO SISTEMA NACIONAL DE SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL (SISAN) .............................................................................................................................65

    MOES APROVADAS .............................................................................................................................74

    ATIVIDADES INTEGRADORAS ...................................................................................................................80

    FALAS DO BRASIL .....................................................................................................................................88

    ENCONTRO INTERNACIONAL ...................................................................................................................89

    ENCONTRO DE DELEGADOS E DELEGADAS INDGENAS .............................................................................93

    ANEXO I - REGULAMENTO APROVADO ..................................................................................................94

    ANEXO II - TEXTO INTEGRAL DAS MOES .............................................................................................102

    ANEXO III - EIXO 2 - PROPOSTAS NOVAS .................................................................................................124

    ANEXO IV - DEPOIMENTO DO AGRICULTOR AGROECOLOGISTA GELSON LUIZ DE PAULA FEITO DURANTE A 5 CONFERNCIA NACIONAL DE SAN SOBRE O PROCESSO DE CRIMINALIZAO DO PROGRAMA DE AQUISIO DE ALIMENTOS/PAA NO ANO DE 2013 ...........................................131

    ANEXO V - PROGRAMAO DO ENCONTRO INTERNACIONAL.................................................................133

    ANEXO VI - PROGRAMAO DO ENCONTRO DE DELEGADOS E DELEGADAS INDGENAS .........................134

    ANEXO VII - CARTA DA TENDA JOSU DE CASTRO ..............................................................................135

    ANEXO VIII - LISTA DE SIGLAS ..............................................................................................................138

  • 11

    APRESENTAO

    A 5 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (CNSAN), realizada de 3 a 6 de novembro de 2015, em Braslia-DF, constituiu-se em processo amplo e participativo que envolveu milhares de pessoas, reunidas em conferncias municipais, territoriais, regionais, estaduais e do Distrito Federal em todo o pas, bem como em quatro encontros temticos preparatrios.

    Da etapa nacional, participaram 2.107 pessoas com 54% de mulheres. Povos indgenas de vrias etnias, populao negra, povos tradicionais de matriz africana e povos de terreiro, povos ciganos, comunidades quilombolas e cerca de 30 identidades coletivas das comunidades tradicionais, expresso de nossa sociedade pluritnica e de nossa diversidade sociocultural, bem como as representaes dos vrios segmentos sociais urbanos e rurais, que muitas vezes vivem a situao de insegurana alimentar e nutricional, marcaram significativamente o amplo sentido das propostas da Conferncia. Destaca-se tambm a realizao do Encontro Internacional, que reuniu representantes de 30 pases de vrias regies do mundo. Em relao s Conferncias anteriores, a 5 Conferncia contou com o maior nmero de participantes internacionais.

    A 5 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional foi regida pelo lema Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar. O intuito foi sensibilizar a sociedade brasileira, ampliar a participao da juventude e democratizar os conceitos de soberania e segurana alimentar e nutricional com suas vrias dimenses social, econmica, poltica, ambiental e cultural. Como estratgia para o aprofundamento dos debates de forma participativa, a Comisso Organizadora definiu uma metodologia inovadora, que resultou na conceituao do que comida de verdade por meio da construo coletiva de um Manifesto. Outros produtos relevantes foram as Moes, a Carta Poltica da Conferncia e a Carta do Encontro Internacional, que, juntamente com as proposies, compem este Relatrio Final.

    Registramos a honrosa participao da Excelentssima Presidenta da Repblica, Dilma Rousseff, e do Presidente de Honra do Consea, Luiz Incio Lula da Silva, da Ministra do Desenvolvimento Social e Combate Fome e Secretria Geral do Consea, Tereza Campello, bem como de vrios Ministros e Ministras de Estado e outras autoridades nacionais e internacionais.

    Durante a Conferncia, a assinatura do Decreto1 de regulamentao da Norma Brasileira para Comercializao de Alimentos para Lactentes e Crianas de Primeira Infncia, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCal), prevista na Lei n 11.265, de 3 de janeiro de 2006, consagrou-se como um momento histrico para a segurana alimentar e nutricional no Brasil. Outro marco foi o anncio, pela Ministra do Desenvolvimento Social e Combate Fome, Tereza Campello, e pelo Ministro de Desenvolvimento Agrrio, Patrus Ananias, da Portaria Interministerial2 que cria o Programa Nacional de Sementes e Mudas para a Agricultura Familiar publicada no Dirio Oficial da Unio em 22 de dezembro de 2015.

    1. Decreto n 8.552, de 3 de novembro de 2015.2. Portaria Interministerial n 1, de 21 de dezembro de 2015.

  • 12

    Cabe destacar tambm a assinatura do Decreto que institui o Pacto Nacional pela Alimentao Saudvel3. Nessa perspectiva, reiteramos a importncia da proposta de lanamento do Programa Nacional de Reduo do Uso dos Agrotxicos (Pronara), presente nos debates e apoiado pela Conferncia.

    Seguiremos com forte expectativa de ter o lema e os produtos finais da Conferncia como subsdios de mobilizao e formao. Por isso, o Consea convida a todos e todas leitura e divulgao desses materiais e que seu contedo frutifique nos debates no mbito dos estados e dos municpios.

    Ademais, a formulao do 2 Plano Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Plansan) coloca-se como horizonte da agenda de soberania e segurana alimentar e nutricional, tendo como importante referncia as prioridades deliberadas na 5 Conferncia.

    Agradecemos a todos(as) participantes de governo e da sociedade civil, voluntrios(as), apoiadores(as), entidades parceiras e patrocinadores que se engajaram na realizao da 5 Conferncia e contamos com cada um para manter o compromisso de continuar apoiando e participando da grande causa: Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar.

    Maria Emlia Lisboa PachecoPresidenta do Consea

    3. Decreto n 8.553, de 4 de novembro de 2015.

  • 13

    A expresso povos e comunidades tradicionais utilizada nesse relatrio, conforme deliberao da Plenria da Conferncia, compreende as seguintes identidades4:

    1. Agricultores e agricultoras familiares2. Andirobeiras3. Apanhadores e apanhadoras de Flores Sempre Viva4. Assentados e assentadas da reforma agrria5. Benzedeiros e bezendeiras6. Caatingueiros e caatingueiras7. Caboclos e caboclas8. Caiaras9. Camponeses e camponesas10. Catadoras de Mangaba11. Cipozeiros e cipozeiras12. Comunidades de fundo e fecho de pasto13. Comunidades quilombolas14. Extrativistas15. Extrativistas marinhos e costeiros16. Faxinalenses17. Geraizeiros e geraizeiras18. Ilhus19. Jangadeiros e jangadeiras20. Marisqueiras21. Morroquianos e morroquianas22. Pantaneiros e pantaneiras23. Pescadores e pescadoras artesanais24. Pomeranos e pomeranas25. Populao atingida por barragens26. Povos Ciganos27. Povos Indgenas28. Povos tradicionais de matriz africana e povos de terreiro29. Quebradeiras de coco-de-babau30. Raizeiras e raizeiros31. Retireiros do Araguaia32. Ribeirinhos e ribeirinhas33. Sertanejos e sertanejas34. Vazanteiros e vazanteiras

    4. Esta denominao aprovada na 5 Conferncia especifica e amplia o conceito adotado pelo Consea que se baseia no Decreto n 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, o qual define povos e comunidades tradicionais como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas prprias de organizao social, que ocupam e usam territrios e recursos naturais como condio para sua reproduo cultural, social, religiosa, ancestral e econmica, utilizando conhecimentos, inovaes e prticas gerados e transmitidos por tradio.

  • 14

    Outros segmentos sociais em situao de insegurana alimentar, que se autorreferiram e reivindicam polticas especficas, so os seguintes5:

    1. Acampados e acampadas da reforma agrria2. Catadores e catadoras de materiais reciclveis3. Crianas4. Juventude negra5. Idosos e idosas6. Lsbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgneros (LGBT)7. Mulheres8. Pessoas com deficincia9. Pessoas com necessidades alimentares especiais10. Pessoas vivendo com HIV/Aids11. Populao carcerria12. Populao em situao de rua

    Pessoas com deficincia

    A Plenria da 5 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (CNSAN) aprovou que as propostas de programas e polticas contemplem sua especificidade assegurando a mobilidade e acessibilidade da pessoa com deficincia.

    5. Sempre que couber, sero mencionados explicitamente nas propostas deste Relatrio.

  • 15

    A 5 CONFERNCIA NACIONAL DE SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL (CNSAN)A Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (CNSAN) a instncia mxima do Sistema Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Sisan) e se realiza a cada 4 anos, conforme dispe a Lei n 11.346, de 15 de setembro de 2006 (Lei Orgnica de Segurana Alimentar e Nutricional Losan). A Conferncia indica as diretrizes e prioridades da Poltica e do Plano Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Plansan). A Conferncia Nacional precedida de Conferncias Municipais, Regionais ou Territoriais, Estaduais e do Distrito Federal, nas quais so eleitos(as) os(as) delegados(as) para a etapa nacional.

    De acordo com a Losan, o Consea:

    Convoca a Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional, com periodicidade no superior a quatro anos;

    Define os parmetros de composio, organizao e funcionamento da Conferncia, por meio de regulamento prprio.

    Objetivo Geral

    Ampliar e fortalecer os compromissos polticos para a promoo da soberania alimentar, garantindo a todos e todas o Direito Humano Alimentao Adequada (DHAA), assegurando a participao social e a gesto intersetorial no Sisan, na Poltica e no Plano Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional.

    Objetivos Especficos

    1. Identificar os avanos e obstculos para a efetivao do Direito Humano Alimentao Adequada e apresentar proposies para garantir, a todos e todas, comida de verdade no campo e na cidade.

    2. Avaliar, segundo a perspectiva do desenvolvimento socioambiental sustentvel, os desafios atuais da Poltica e do Plano Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional para avanar na realizao do Direito Humano Alimentao Adequada (DHAA) e na promoo da soberania alimentar em mbito nacional e internacional.

    3. Avanar no comprometimento dos trs poderes da Repblica e nas esferas municipal, estadual, distrital e nacional, e ampliar a participao e o compromisso da sociedade brasileira no processo de construo do Sisan, reafirmando o pacto social em torno do Direito Humano Alimentao Adequada e da Soberania Alimentar.

    Eixos Temticos

    Eixo 1: Comida de Verdade: avanos e obstculos para a conquista da alimentao adequada e saudvel e da soberania alimentar.Eixo 2: Dinmicas em curso, escolhas estratgicas e alcances da poltica pblica no campo da soberania e segurana alimentar e nutricional.Eixo 3: Fortalecimento do Sistema Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Sisan).

  • 16

    Diretrizes Metodolgicas do Processo da 5 CNSAN

    A Comisso Organizadora da 5 CNSAN optou pela construo de um processo metodolgico que fortalecesse a participao social e a capacidade propositiva da Conferncia, aprofundando seu papel de instncia mxima do Sisan e de revigoramento da democratizao das polticas pblicas. Dentro dos limites oramentrios e de capacidade operacional dos estados e do Distrito Federal, foi incentivada a adoo dessa metodologia em todas as etapas preparatrias e encontros.

    A Comisso Organizadora tambm estimulou que as abordagens metodolgicas atendessem s condies e caractersticas especficas de cada realidade e/ou local; contribussem para facilitar e promover o dilogo, a troca de experincias, a identificao de problemas e desafios, e a elaborao de propostas; e, dessa forma, favorecessem o dilogo aprofundado do lema e dos Eixos temticos, propiciando a reflexo sobre as polticas pblicas atuais e sobre novas abordagens e experincias para a realizao do Direito Humano Alimentao Adequada (DHAA).

    A dinmica dos debates deveria gerar oportunidades para ampliao da participao dos mais diversos setores sociais envolvidos com a SAN, principalmente os grupos populacionais em situao de maior vulnerabilidade. Assim, recomendou-se privilegiar estratgias que estimulassem os(as) participantes a expressarem suas opinies e percepes e a relatarem suas experincias e ideias.

    Durante o processo preparatrio da etapa nacional, ficou evidente que deveriam ser adotadas estratgias diferenciadas para cada Eixo Temtico. Estas estratgias esto apresentadas na introduo dos captulos a seguir.

    Para a Carta Poltica foi estabelecido um grupo de redao, composto por diferentes setores e segmentos da sociedade civil e governo que prepararam um texto base prvio ao incio da etapa nacional. Durante a Conferncia, este texto foi sendo revisto e complementado at chegar verso apresentada Plenria da Conferncia e aprovada por aclamao.

    Todas as atividades realizadas durante a Conferncia Nacional foram orientadas pelo Caderno de Debates, no qual estavam sistematizadas as ideias e propostas resultantes das etapas anteriores nacional.

    Durante a 5 CNSAN, os Eixos foram abordados na programao na seguinte sequncia: Eixo 1, Eixo 3 e ao final o Eixo 2. Considerando os produtos finais esperados para cada Eixo, a Subcomisso de Contedo e Metodologia avaliou que as reflexes seriam mais consistentes se as propostas relativas ao Eixo 2 (estratgias, polticas e programas para alcance da Comida de Verdade) fossem discutidas aps a definio coletiva do conceito de Comida de Verdade (Eixo 1) e aps o debate sobre o arcabouo institucional do Sisan (Eixo 3).

    Os trabalhos em grupo foram apoiados por um conjunto de voluntrios(as), que participaram de atividade de formao s vsperas da Conferncia para exercerem as funes de facilitao e relatoria. Este conjunto de voluntrios(as) foi extremamente diversificado, sendo integrado por pessoas de diferentes regies do Brasil, geraes e tipos de insero na agenda de segurana alimentar e nutricional (SAN). Prestaram um apoio valioso ao processo da Conferncia. Alm do apoio de voluntrios(as) previamente indicados(as), os grupos de trabalho (GTs) escolheram relatores(as) entre os(as) delegados(as) presentes, os(as) quais participaram igualmente da sistematizao dos resultados que foram apresentados nas Plenrias.

  • 17

    Os grupos de trabalho dos Eixos 1 e 3 foram formados aleatoriamente e, no Eixo 2, por livre escolha dos(as) participantes de acordo com do tema de interesse. Considerando o nmero de participantes, foi prevista a formao de 30 GTs, tomando-se o cuidado de que fossem integrados por maioria de delegados(as).

    Durante as atividades em grupo, o registro realizado pelos(as) relatores(as) voluntrios(as) e delegados(as) foi feito, inicialmente, em cartelas e cartazes, de maneira a facilitar a visualizao dinmica do que estava sendo discutido e proposto e, posteriormente, foram transcritos para arquivos digitais.

    Etapas Preparatrias

    Foram realizadas conferncias municipais, regionais, territoriais, estaduais e do Distrito Federal como etapas preparatrias da 5 Conferncia. Segundo foi apurado a partir dos relatrios enviados pelos estados e DF, 8.955 pessoas participaram das conferncias estaduais, em todo o pas.

    Quadro 1: N de participantes nas Conferncias Estaduais

    Regio Estado Conferncias Estaduais

    Norte

    Acre 600Amap 610

    Amazonas 220Par 399

    Rondnia 147Roraima 230Tocantins 326

    Nordeste

    Alagoas 168Bahia 800Cear 353

    Maranho 675Paraba 312

    Pernambuco 271Piau 217

    Rio Grande do Norte 272Sergipe 400

    Sudeste

    Esprito Santo 141Minas Gerais 500Rio de Janeiro 236

    So Paulo 175

  • 18

    Regio Estado Conferncias Estaduais

    SulParan 210

    Rio Grande do Sul 425Santa Catarina 244

    Centro-Oeste

    Distrito Federal 346Gois 204

    Mato Grosso 320Mato Grosso do Sul 154

    TOTAL GERAL 8.955Fonte: Relatrios finais enviados pelos Estados e DF ao Consea

    Encontros Temticos Preparatrios

    Aps a escolha de Braslia-DF (regio Centro-Oeste) como cidade sede para realizao da 5 Conferncia, foram programados quatro encontros temticos preparatrios, em cada uma das outras regies geogrficas do pas. Seus temas foram definidos pelas Plenrias do Consea. Estes encontros, organizados ao longo de 2015, reuniram 664 participantes, sendo 204 brasileiros (31%) e 460 brasileiras (69%), homens e mulheres do campo e da cidade, das guas e das florestas.

    Quadro 2: N de participantes nos Encontros Temticos

    Cada encontro resultou em uma Carta Poltica e em propostas para a construo de agendas participativas e compromissos que foram sistematizados no Caderno de Debate da Conferncia. Os textos completos das cartas polticas foram impressos e distribudos durante a 5 Conferncia e esto disponveis na pgina eletrnica do Consea, no seguinte endereo: www.presidencia.gov. br/consea.

    Encontros Temticos Data e Local N participantesSoberania e Segurana Alimentar e Nutricional na Amaznia Junho, Belm, PA 220

    A atuao das mulheres na construo da soberania e da segurana alimentar e nutricional Julho, Porto Alegre, RS 150

    gua, Soberania e Segurana Alimentar e Nutricional

    Setembro, em So Paulo, SP 132

    Soberania e Segurana Alimentar para Populao Negra e Povos e Comunidades Tradicionais Outubro, So Lus, MA 162

    Total 664

    http://www.presidencia.gov. br/consea

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    Participantes da 5 CNSAN

    A 5 Conferncia contou com um total de 2.107 participantes credenciados(as), sendo a maioria (54%) constituda por mulheres. Participaram um total de 1.283 delegados(as) natos(as) e estaduais/distritais, sendo 888 da sociedade civil e 395 governamentais. Dentre os(as) delegados(as) da sociedade civil, 103 eram representantes da populao negra, 55 de povos tradicionais de matriz africana/povos de terreiro, 46 de quilombolas e 45 de povos indgenas. A Conferncia contou ainda com 121 convidados(as) internacionais e 208 convidados(as) nacionais.

    Estratgia de Comunicao

    A comunicao foi um dos instrumentos estratgicos para o xito da Conferncia. Em todas as etapas, foram utilizados, o site oficial do Consea, a pgina no Facebook e o boletim eletrnico Informe Consea, enviado periodicamente para cerca de 60 mil endereos eletrnicos.

    A Assessoria de Comunicao (Ascom), responsvel pelos informativos, cobriu dez conferncias estaduais onde a presidenta do Consea esteve. Em boa parte dessas participaes, foram realizadas entrevistas para rdio, jornal e televiso. Ademais, todas as conferncias estaduais e do Distrito Federal tiveram cobertura de comunicao, seja com avisos de pauta imprensa local, seja com outras formas de divulgao, como notas no site do Consea e no boletim eletrnico antes, durante e depois do evento. A mesma estratgia foi aplicada aos quatro encontros temticos organizados pelo Consea.

    Uma das novidades desta Conferncia em relao anterior foi a criao de uma rede colaborativa de comunicadores em SAN, reunindo centenas de entidades, instituies, organizaes governamentais e no governamentais e inmeros parceiros na articulao, mobilizao e divulgao da 5 Conferncia.

    A estratgia de comunicao em redes sociais/internet foi revista e aprimorada. Nesse sentido, vlido sublinhar a reformulao do perfil do Consea no Facebook cujo alcance das publicaes saltou de aproximadamente 5 mil pessoas para cerca de meio milho. Foi produzida uma srie de 17 vdeos com o tema O que comida de verdade? feitos com a participao de conselheiros(as) da sociedade civil e do governo, que foram publicados no Facebook e no Youtube do Consea e abrangeram a heterogeneidade de vises de mundo dos(as) conselheiros(as).

    Outra inovao foi o lanamento do jogo Comida de Verdade, buscando cobrir um segmento mais jovem e masculino. Trata-se de um Quiz, que traz perguntas como Onde encontrar comida de verdade? e Qual destas opes pode contaminar alimentos, o meio ambiente e ainda causar doenas? e respostas educativas sobre consumo correto e consciente. O objetivo final causar nos jogadores um vis de resposta saudvel. O jogo est disponvel para computador, tablet ou celular por meio do link: www. consea. com. br/jogo

    Inovou-se tambm com a instalao de uma rdio local, com flashes, boletins e informes gerais sobre a programao e notas de utilidade pblica durante os dias do evento.

    Cabe destacar tambm o jornal dirio que foi confeccionado e distribudo nos quatro dias da Conferncia. O informativo de quatro pginas e tiragem de 2.000 exemplares foi distribudo

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    diariamente na entrada do Centro de Convenes e nos estandes da organizao e patrocinadores. A cada dia, o boletim trazia um contedo que abordava a programao do dia e a repercusso dos trabalhos do dia anterior.

    Outro instrumento criado para a Conferncia e distribudo para os(as) participantes foi a Revista da Conferncia, elaborada previamente, apresentando toda a trajetria de realizao da 5 Conferncia. Foram noticiados ainda a programao, os temas, a metodologia, os(as) palestrantes, a programao cultural, entre outros.

    Destaca-se a instalao de um estdio da Empresa Brasil de Comunicao (EBC), produzindo boletins de manh e tarde para emissoras pblicas de radiodifuso. Essa miniestrutura permitiu que fosse realizada uma mdia de quatro entrevistas dirias ao vivo no local do evento.

    A estratgia adotada resultou na grande cobertura de mdia, em praticamente todos os grandes veculos de comunicao, atrados especialmente pelas presenas da Presidenta da Repblica, Dilma Rousseff, e do presidente de honra do Consea, Luiz Incio Lula da Silva.

    Diante disso, avalia-se como bastante positiva a cobertura de comunicao de todo o processo da Conferncia, colocando em evidncia o evento e o tema, contribuindo para a visibilidade da agenda da soberania e da segurana alimentar e nutricional pela sociedade em geral.

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    CARTA POLTICA

    Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar

    Ns, 1.283 delegadas e delegados eleitos(as) democraticamente em conferncias municipais, regionais, estaduais e do Distrito Federal, agentes pblicos e os(as) 329 convidados(as) nacionais e internacionais presentes na 5 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional, realizada em Braslia-DF de 3 a 6 de novembro de 2015, defendemos a soberania alimentar e a efetivao do direito humano alimentao adequada e saudvel para todos os povos do mundo.

    Lembramos Josu de Castro, brasileiro, cidado do mundo, cujo enorme legado nos levou a nome-lo patrono do Conselho Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Consea). Prestamos nossa homenagem a Betinho, lder da Ao da Cidadania Contra a Fome e a Misria e pela Vida, que inspirou e mobilizou milhes de brasileiros e brasileiras.

    Com o lema Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar, destacamos as dimenses socioculturais da segurana alimentar e nutricional para aproximar a produo e o consumo de alimentos; estabelecer pontes entre o urbano e o rural; valorizar a agrobiodiversidade, os alimentos in natura e regionais, o respeito ancestralidade negra e indgena, africanidade e s tradies de todos os povos e comunidades tradicionais, o resgate das identidades, memrias e culturas alimentares prprias da populao brasileira.

    Nas ltimas dcadas, o sistema agroalimentar vem sofrendo transformaes que resultaram em modos de viver, morar, comunicar, cozinhar e se alimentar que no refletem as dinmicas ricas, diversas e vivas da sociedade. O cardpio tradicional brasileiro, representado por alimentos tais como arroz, feijo, mandioca, milho, abbora, frutas, verduras e legumes tpicos das regies brasileiras, consumidos in natura ou minimamente processados, est sendo ameaado pelo temerrio apelo publicitrio aos produtos industrializados e prontos para o consumo, com excesso de sdio, acares, gorduras, conservantes, agrotxicos, transgnicos e outros qumicos que causam danos sade. No meio urbano, em razo dos desafios de mobilidade, comer fora de casa virou uma imposio, tornando ainda mais complexo o enfrentamento dos impactos negativos dessas mudanas. Enfatizamos que, na raiz destes problemas, esto as restries aos alimentos saudveis e aos meios de produo, como terra e gua, bem como aos mercados, destacando ainda que os preos dos alimentos so o principal fator inflacionrio no Brasil, principalmente nas refeies fora do lar.

    Comida de verdade a salvaguarda da vida e do planeta, sade, justia socioambiental, direito humano. Ela comea j com o aleitamento materno e deve ser assegurada em todo o ciclo de vida. Sua plena realizao requer que os povos tenham acesso gua e possam exercer o direito soberano de produzir e consumir alimentos saudveis, variados, in natura ou minimamente processados, com preos acessveis, provenientes de sistemas socioambientalmente sustentveis, como os sistemas agroecolgicos e circuitos de comercializao direta. A sada do Brasil do Mapa Mundial da Fome da Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e a Agricultura (FAO) uma conquista histrica da sociedade e consequncia direta dos esforos do governo. Essa conquista est ancorada na deciso poltica de priorizar a soberania e a segurana alimentar e nutricional (SSAN) e o Direito Humano Alimentao Adequada (DHAA) na agenda

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    pblica, adotando programas e aes de Estado com participao social, que se expressa nos Conseas, espaos de atuao conjunta de governo e sociedade na construo do Sistema e da Poltica Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (PNSAN).

    A aprovao da Lei Orgnica de Segurana Alimentar e Nutricional (Losan), em 2006, viabilizou o engajamento e articulao dos vrios setores e esferas de governo, a adeso de todos os estados brasileiros ao Sistema Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Sisan), com decisivo apoio dos Conseas estaduais, municipais e distrital, fortalecendo a Poltica Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (PNSAN).

    Saudamos e conclamamos pela continuidade dos avanos socioeconmicos de milhes de brasileiras e brasileiros, resultados da democracia participativa que foi decisiva para a Estratgia Fome Zero e o Plano Brasil sem Misria, ampliando o acesso a alimentos e a direitos, conforme comprovam as melhorias dos indicadores sociais, nutricionais, educacionais, sanitrios, de alimentao e de renda. Estiveram direcionadas para as famlias mais pobres e vulnerabilizadas do pas as polticas pblicas de valorizao do salrio mnimo e ampliao do acesso ao trabalho, o Programa Bolsa Famlia e vrias aes nas reas da sade, nutrio e educao, entre as quais o Programa Nacional de Alimentao Escolar (PNAE).

    Um amplo leque de programas tem sido dirigido produo de alimentos de base familiar e s populaes rurais, tais como o Programa de Aquisio de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), a Poltica Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso Rural (Pnater), o Programa Brasil Quilombola e o Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais. Ampliou-se o acesso gua de qualidade, especialmente no Semirido brasileiro, com o Programa 1 Milho de Cisternas e o Programa gua para Todos, numa regio historicamente afetada pela pobreza e insegurana alimentar. A Poltica Nacional de Agroecologia e Produo Orgnica tem contribudo para transformar muitos sistemas alimentares no Brasil e ampliar a oferta de alimentos saudveis populao.

    Destacamos igualmente a consolidao do Sistema nico de Assistncia Social (Suas), a Poltica Nacional de Alimentao e Nutrio (Pnan), a Poltica Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterpicos, o Programa Mais Mdicos e as estratgias de Incentivo ao Aleitamento Materno. Fomos honrados pela Presidenta Dilma Rousseff que, na abertura da 5 CNSAN, assinou Decreto regulamentando a Lei sobre comercializao e publicidade de alimentos e produtos direcionados s crianas menores de trs anos.

    Ao mesmo tempo em que reconhecemos os avanos, nos mobilizamos para que se reafirmem compromissos, garantindo a manuteno das conquistas e sua ampliao e aperfeioando programas, pois muitos desafios persistem na realidade brasileira, ameaando a alimentao da populao e os sistemas alimentares existentes no pas, principalmente os tradicionais, integrantes do patrimnio cultural nacional. H muito a ser feito para erradicar a pobreza e enfrentar as desigualdades econmicas, sociais, de gnero, raa, etnia, entre outras. A insegurana alimentar ainda persiste entre povos indgenas, povos e comunidades tradicionais, populaes urbanas em situao de rua e misria, comunidade LGBT, pessoas com deficincia, segmentos da populao negra e, notadamente, entre mulheres arrimo de famlia. Urge denunciar o racismo institucional e superar as manifestaes de preconceito de todas as ordens, especialmente contra as pessoas em situao de vulnerabilidade.

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    O sistema alimentar brasileiro, em consonncia com tendncias globais da produo de commodities, est marcado pela hegemonia do modelo de produo patronal em grande escala de monocultivos com elevada mecanizao que massificaram o uso de agrotxicos e transgnicos, ao lado do crescente controle de mercado por parte das grandes corporaes estrangeiras. Alm de consagrar a histrica concentrao da propriedade da terra no Brasil, a lgica produtivista do mximo lucro gera graves impactos socioambientais que se expressam no desmatamento, no comprometimento da biodiversidade, da agrobiodiversidade, bem como em ameaas aos direitos conquistados na Constituio de 1988, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/00, que afeta povos indgenas e quilombolas. O modelo do agronegcio, bem como as grandes obras de infraestrutura, oprime a realizao do Direito Humano Alimentao Adequada.

    Afirmamos que o pas composto por milhes de camponeses(as), agricultores(as) familiares, povos indgenas, comunidades quilombolas, povos tradicionais de matriz africana/povos de terreiro e demais povos e comunidades tradicionais que produzem os alimentos saudveis que compem nossa dieta, respondem pela maior parcela dos empregos no meio rural e cujos sistemas produtivos e organizativos encontram-se mais adequados uma produo em base sustentvel e diversificada, embora ocupem uma rea total muito inferior quela do agronegcio e dele sofram presses permanentes.

    As mulheres do campo, da cidade, da floresta e das guas tm atuao estratgica para garantir a segurana alimentar e nutricional, pois so produtoras de alimentos. No entanto, as desigualdades de gnero persistem: ainda hoje a imensa maioria das mulheres vivencia triplas jornadas de trabalho e mulheres negras sofrem dupla discriminao, de gnero e de raa. Enfrentar essas e outras injustias requer o combate ao racismo e ao sexismo, assim como efetivar polticas especficas de educao e formao que desnaturalizem a diviso sexual do trabalho e a violncia de gnero, de modo a viabilizar a construo de novos paradigmas de responsabilidades compartilhadas entre homens e mulheres nos mbitos pblico e privado. preciso garantir que as mulheres do campo, da cidade, da floresta e das guas sejam reconhecidas como sujeitos polticos no processo de construo do desenvolvimento rural, bem como seu protagonismo na garantia da soberania e segurana alimentar e nutricional.

    Urge conquistar novos direitos e aprofundar programas e aes que viabilizem o trabalho em condies equivalentes aos homens, a construo e ampliao de equipamentos pblicos e de infraestrutura de produo que promovam as mulheres e que possibilitem a sua autonomia econmica e poltica, a incluindo abrigos e delegacias para situaes de violncia domstica, creches, lavanderias coletivas, cozinhas e restaurantes comunitrios, entre outros equipamentos. Faz-se igualmente necessrio avanar nas estratgias de ateno sade da mulher, apoiando e incentivando o aleitamento materno, orientando a introduo de alimentos para as crianas aps os seis meses de idade, garantindo a sade reprodutiva da mulher, a preveno do excesso de peso, obesidade e doenas crnicas no transmissveis.

    O Estado brasileiro deve fortalecer seu papel regulador e indutor nas esferas da produo, abastecimento, distribuio, comercializao e consumo de alimentos. So necessrias aes regulatrias que controlem a expanso dos monocultivos e a ao das transnacionais; que mantenham a moratria ao uso de sementes terminator; que garantam a observao do princpio da precauo no controle sobre liberao e comercializao de transgnicos; que adotem reas livres de transgnicos e agrotxicos; que regulem a rotulagem destes produtos, a publicidade e demais

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    prticas de mercado, visando em especial a proteo infncia. preciso readequar a legislao sanitria de alimentos de origem animal e bebidas produo artesanal, tradicional e familiar, bem como desenvolver mecanismos de taxao e regulao para indstrias de produtos ultraprocessados, de alta concentrao de sais, acares, gorduras, transgnicos e biofortificados.

    Reafirmamos a necessidade de democratizao do acesso terra e gua, fator que vulnerabiliza todos os grupos sociais do campo, por meio da garantia da funo social da terra e da instituio do limite da propriedade privada da terra. Demandamos a implementao ampla e efetiva da poltica de reforma agrria com aes enrgicas para regularizao fundiria de povos indgenas, quilombolas e povos e comunidades tradicionais, sendo fundamentais para tanto o fortalecimento do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (Incra) e da Fundao Nacional do ndio (Funai) e a garantia do direito consulta livre, prvia e informada, de acordo com o previsto na Conveno 169 da Organizao Internacional do Trabalho (OIT).

    No aceitaremos, em qualquer hiptese, reduo de direitos. Neste sentido, conclamamos o Congresso Nacional a arquivar imediatamente a PEC n 215/2000, bem como o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar improcedente a Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n 3239, dirigida contra o Decreto n 4.887/2003 e que tem por objetivo retirar o direito terra e territrio das comunidades quilombolas.

    Para alm do acesso terra, consideramos fundamental ampliar as polticas de fortalecimento da sociobiodiversidade e da agroecologia, com medidas de acesso aos mercados locais e aos meios de produo, aos bens da natureza e s sementes, alm da incorporao de princpios, mtodos e tecnologias sociais de base agroecolgica e a garantia dos direitos de agricultores(as) familiares, povos indgenas, comunidades quilombolas, povos tradicionais de matriz africana/povos de terreiro e demais povos e comunidades tradicionais ao livre uso da agrobiodiversidade. Neste sentido, destacamos entre as diversas medidas a expanso de bancos de sementes crioulas em todas as regies do pas e o reconhecimento e disseminao dos conhecimentos tradicionais associados biodiversidade. Contudo, para que se priorize este modelo de produo, preciso impedir o avano do agronegcio.

    Para tanto, faz-se necessrio manter, qualificar e ampliar programas como o Programa de Aquisio de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentao Escolar (PNAE), com valores per capita diferenciados para indgenas e quilombolas, as compras pblicas, as aes de Assistncia Tcnica e Extenso Rural (Ater) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). H que se fortalecer o Plano Nacional de Agroecologia e Produo Orgnica (Planapo) e implementar o Programa Nacional de Reduo do Uso de Agrotxicos (Pronara), como forma de estimular o processo de transio agroecolgica, ampliando e popularizando a oferta de alimentos saudveis. No abriremos mo de polticas de reduo do uso de agrotxicos e de que seja feito o monitoramento do ndice de contaminao por agrotxicos.

    Persiste o desafio de instituir uma poltica soberana de abastecimento alimentar, com democratizao dos sistemas de comercializao por meio do apoio a circuitos curtos de produo e consumo, combinados com uma poltica de agricultura urbana e periurbana alm de outras que favoream a disponibilidade e o acesso a alimentos saudveis. Componentes essenciais dessa poltica so a reestruturao das centrais de abastecimento e o fortalecimento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), acompanhados da recuperao e ampliao dos demais equipamentos pblicos estaduais, municipais e distritais de abastecimento.

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    Aes urgentes so necessrias em relao disponibilidade e ao acesso gua, devido s ameaas efetivao deste direito humano. As mudanas climticas, derivadas da ultra-explorao capitalista da natureza, geram secas e enchentes em distintos locais. Este contexto tem afetado o consumo de gua e os sistemas produtivos locais, com impactos diretos na segurana alimentar e nutricional da populao e no desenvolvimento socioeconmico de muitas regies. Aes como a construo participativa e politizada de cisternas, bem como a adoo de estratgias e tecnologias sociais voltadas para a garantia de gua para o consumo humano, servios bsicos de sade, educao e produo de alimentos saudveis podem reduzir estes impactos. Ainda preciso insistir na noo da gua como alimento e bem pblico que precisa de proteo, pois os diversos e ricos biomas e bacias hidrogrficas passam por presses e ameaas que os afetam profundamente.

    Ressaltamos a necessidade de expandir e qualificar as aes de promoo da alimentao saudvel e preveno e controle das doenas associadas m alimentao realizadas pelo setor sade. Elas englobam a ateno nutricional em todos os nveis de ateno sade, a organizao das linhas de cuidado do sobrepeso e obesidade, a ateno s pessoas com necessidades alimentares especiais, a vigilncia alimentar e nutricional e a realizao de campanhas e outras estratgias de divulgao do contedo do Guia Alimentar para a Populao Brasileira.

    As estratgias de educao alimentar e nutricional devem ser ampliadas e favorecer a aproximao das instituies de ensino e pesquisa com a sociedade por meio do dilogo de saberes e da valorizao do conhecimento tradicional. educao compete resgatar o alimento como patrimnio sociocultural, promover conscincia crtica sobre o consumo como ato poltico que influi em todo o sistema alimentar e estimular o consumo de alimentos saudveis. Para comer comida de verdade, preciso conhecer a verdade sobre a comida. Estas estratgias devem abranger todos os processos educacionais (educao bsica, profissionalizante, popular, permanente e superior), com a incluso da temtica nos currculos escolares, buscando tambm integrar ensino, pesquisa e extenso.

    Na rea internacional, faz-se necessrio que o respeito ao Direito Humano Alimentao Adequada e soberania e segurana alimentar e nutricional dos povos, assim como a participao social, sejam princpios a serem seguidos nas relaes transfronteirias, obrigaes extraterritoriais, negociaes internacionais de clima e comrcio e nos tratados bilaterais. Eles devem ser parmetros de monitoramento dos projetos de investimento de empresas estrangeiras no Brasil, assim como dos projetos de empresas brasileiras e de projetos governamentais realizados em outros pases nas reas da minerao, agronegcio e construo civil. Esses princpios no esto sendo respeitados pelo ProSavana. Ao mesmo tempo, recomendamos a continuidade do PAA-frica pelos importantes resultados conseguidos em apenas trs anos de cooperao. A poltica externa brasileira deve contar com instncias plurais e representativas anlogas ao Consea.

    A consolidao institucional do Sisan requer tornar mais efetiva a participao social, superando a fragilidade institucional e poltica dos Conseas, assegurando que sua composio traduza a pluralidade da sociedade brasileira e acolhendo suas deliberaes quanto formulao, implementao e monitoramento das polticas pblicas. Os espaos de gesto intersetorial das polticas pblicas devem ser fortalecidos para garantir a articulao entre os diversos equipamentos pblicos, sistemas e programas governamentais, com oramento especfico tripartite e mecanismos geis de financiamento. Os Conseas e demais instncias do Sisan devem promover o debate e agir sobre os conflitos de interesses, com vistas a tornar democrtica e justa a relao pblico-privada. O pas ainda carece de instrumentos de exigibilidade do Direito Humano Alimentao Adequada

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    e Saudvel que possibilitem aos(s) titulares de direito exigir sua garantia e proteo, assim como de indicadores de monitoramento do alcance dos planos, programas e aes na realizao deste direito.

    A estes desafios histricos, sobreps-se a atual conjuntura econmica e poltica que desconstri direitos dos(as) trabalhadores(as) e restringe a execuo efetiva de muitos dos programas e polticas aqui referidos. Os impactos negativos desse contexto requerem vigilncia na atuao dos Poderes Legislativo, Judicirio e Executivo. No h caminho nico para enfrentar tais desafios, sendo preciso assegurar direitos, avanar com polticas redistributivas e nos instrumentos de participao social. O povo no deve arcar com os nus da crise econmica. Assim, no iremos aceitar cortes oramentrios que afetem os programas e polticas citados. No aceitaremos reduo do oramento do Programa Bolsa Famlia.

    Samos da 5 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional ainda mais engajados na luta pela manuteno das conquistas j obtidas, para evitar retrocessos e ameaas democracia. Temos a firme convico de que as propostas oriundas da Conferncia servem ao fortalecimento da democracia brasileira e construo da justia social, estabelecendo conexes entre o campo e a cidade em defesa da comida de verdade.

    Esta carta poltica um forte chamamento sociedade, aos(s) governantes nas trs esferas da Federao, aos organismos internacionais e s organizaes e redes da sociedade civil de todos os pases para que se juntem na promoo da comida de verdade no campo e na cidade, por direitos e soberania alimentar.

    Braslia, 06 de novembro de 2015.

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    EIXO TEMTICO 1 COMIDA DE VERDADE: AVANOS E OBSTCULOS PARA A CONQUISTA DA ALIMENTAO ADEQUADA E SAUDVEL E DA SOBERANIA ALIMENTAR

    Considerando a natureza do Eixo 1, que estimulou ampla discusso sobre a agenda de Soberania e Segurana Alimentar e Nutricional, a anlise do passado e as perspectivas futuras, avaliou-se que a melhor maneira de sintetizar a diversidade de concepes sobre Comida de Verdade geradas nas etapas estaduais e municipais seria a elaborao de um Manifesto dirigido sociedade brasileira pelo conjunto de participantes da etapa nacional. Os resultados das conferncias estaduais e encontros temticos relacionados a este Eixo foram sistematizados no Caderno de Debates e orientaram os grupos que trabalharam na elaborao do manifesto.

    Durante a Conferncia Nacional, o Eixo 1 foi desenvolvido em 3 etapas: grupos de trabalho, sistematizao dos grupos de trabalho e apresentao em Plenria.

    Nos grupos de trabalho, a dinmica para elaborao do Manifesto se pautou no entendimento coletivo a respeito da natureza deste tipo de documento: um texto curto, direto e voltado para a comunicao ampla.

    O Manifesto sobre Comida de Verdade foi organizado em 3 blocos que orientaram as discusses nos grupos: (i) Histrico; (ii) Definio: O que comida de verdade? e (iii) Convite para ao.

    Para sua elaborao, os grupos de trabalho foram divididos em 3 subgrupos (etapa 1). Cada subgrupo ficou responsvel por debater e elaborar um pequeno texto sobre um dos blocos temticos apontados acima. Cada subgrupo definiu um(a) participante responsvel por registrar suas propostas, chamado(a) de guardi(o).

    Em seguida, foram formados outros subgrupos (etapa 2) com os(as) participantes que haviam discutido, na etapa anterior, cada um dos blocos do Manifesto. Os resultados das discusses anteriores eram apresentados e, medida que o dilogo evolua, se construa os primeiros rascunhos de um texto completo.

    Como etapa final (etapa 3), os subgrupos da etapa 2 apresentaram para o grupo completo as propostas de Manifesto, para que se alcanasse um consenso sobre o texto.

    Ao final, foram construdas 30 propostas de Manifesto. Para a sistematizao destas propostas, os(as) relatores(as) voluntrios(as) e relatores delegados(as) de cada um dos grupos de trabalho e outros que assim se dispuseram, fizeram um processo semelhante ao j descrito acima para a elaborao de um texto nico que expressasse a construo coletiva dos grupos de trabalho. Esta proposta do Manifesto sobre Comida de Verdade foi apresentada e aprovada por aclamao pela Plenria da 5 CNSAN.

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    MANIFESTO

    Manifesto da 5 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional Sociedade Brasileira sobre Comida de Verdade no Campo e na Cidade, por Direitos e Soberania Alimentar

    A comida de verdade salvaguarda da vida. saudvel tanto para o ser humano quanto para o planeta, contribuindo para a reduo dos efeitos das mudanas climticas. Garante os direitos humanos, o direito terra e ao territrio, a alimentao de qualidade e em quantidade adequada em todo o curso da vida. Respeita o direito das mulheres, a diversidade dos povos indgenas, comunidades quilombolas, povos tradicionais de matriz africana/ povos de terreiro, povos ciganos, povos das florestas e das guas, demais povos e comunidades tradicionais e camponeses(as), desde a produo ao consumo. Protege e promove as culturas alimentares, a sociobiodiversidade, as prticas ancestrais, o manejo das ervas e da medicina tradicional, a dimenso sagrada dos alimentos.

    Comida de verdade comea com o aleitamento materno. Comida de verdade produzida pela agricultura familiar, com base agroecolgica e com o uso de sementes crioulas e nativas. produzida por meio do manejo adequado dos recursos naturais, levando em considerao os princpios da sustentabilidade e os conhecimentos tradicionais e suas especificidades regionais. livre de agrotxicos, de transgnicos, de fertilizantes e de todos os tipos de contaminantes.

    Comida de verdade garante a soberania alimentar; protege o patrimnio cultural e gentico; reconhece a memria, a esttica, os saberes, os sabores, os fazeres e os falares, a identidade, os ritos envolvidos, as tecnologias autctones e suas inovaes. aquela que considera a gua alimento. produzida em condies dignas de trabalho. socialmente justa. Comida de verdade no est sujeita aos interesses de mercado.

    Comida de verdade caracterizada por alimentos in natura e minimamente processados em detrimento de produtos ultraprocessados. Precisa ser acessvel, fsica e financeiramente, aproximando a produo do consumo. Deve atender s necessidades alimentares especiais. Comida de verdade aquela que compartilhada com emoes e harmonia. Promove hbitos alimentares saudveis no campo, na floresta e na cidade.

    Comer um ato poltico. Comida de verdade aquela que reconhece o protagonismo da mulher, respeita os princpios da integralidade, universalidade e equidade. No mata nem por veneno nem por conflito. aquela que erradica a fome e promove alimentao saudvel, conserva a natureza, promove sade e a paz entre os povos.

    A alimentao no Brasil resultado do encontro de povos e culturas que formaram nossa nao e carrega em sua histria a dor e o sofrimento dos povos originrios e africanos escravizados, que se perpetuaram nas restries de acesso terra e aos modos de produo.

    Nos ltimos anos, registram-se grandes conquistas no mbito da Poltica Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional, com a participao dos povos e comunidades tradicionais, organizaes e movimentos sociais em sua construo e implementao orientadas pelo respeito sociobiodiversidade.

    Em 2010, foi aprovada a Emenda Constitucional n 64, na qual o Direito Humano Alimentao Adequada foi consagrado. O despertar da sociedade e do governo sobre a importncia da

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    alimentao saudvel gerou grande impacto, por meio do fortalecimento da agricultura familiar e camponesa, da priorizao das populaes mais vulnerveis e do reconhecimento da diversidade dos Povos Indgenas, Povos e Comunidades Tradicionais (Decreto n 6.040/2007), com a promoo da visibilidade da matriz produtora de alimentos na diversidade cultural e alimentar. Alm disso, houve fortalecimento do controle social; reduo da mortalidade infantil, que estava vinculada a altos ndices de desnutrio; estmulo ao consumo de alimentos in natura e reduo no consumo de produtos alimentcios ultraprocessados. Outros avanos se destacam, a exemplo da edio do Guia Alimentar para a Populao Brasileira e a reviso da Poltica Nacional de Alimentao e Nutrio (Pnan).

    Em 2014, o Brasil saiu do Mapa da Fome. Essa importante conquista resultado de intensos debates e mobilizao da sociedade civil na construo de polticas pblicas, criao e fortalecimento do Sistema Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Sisan) por meio de polticas pblicas como: Programa de Aquisio de Alimentos (PAA), Programa Nacional de Alimentao Escolar (PNAE), Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf); acesso gua (Projeto 1 Milho de Cisternas P1MC e P1+2 Uma Terra e Duas guas); e promoo da agricultura agroecolgica.

    Apesar das lutas e conquistas, ainda persistem elevada concentrao fundiria, crescimento da monocultura, liberao de transgnicos e incentivo ao uso de agrotxicos. Enfrentamos uma grave crise hdrica, bem como a expanso do consumo de produtos alimentcios ultraprocessados nas dinmicas alimentares da populao brasileira.

    Para comer uma comida de verdade, conhea a verdade sobre a comida!

    Conclamamos toda a populao brasileira a tomar conhecimento sobre Comida de Verdade e Direito Humano Alimentao Adequada! E a envolver as instituies de ensino, pesquisa e extenso, organizaes da sociedade civil, escolas pblicas e privadas como parceiros na orientao para uma produo, comercializao e consumo de uma alimentao adequada e saudvel, participando e exercendo controle, cobrana e fiscalizao social sobre as polticas pblicas de segurana alimentar e nutricional. Inspirados por uma tica alimentar, reafirmamos o valor da diversidade alimentar e cultural do pas.

    Que as trs esferas de governo garantam polticas pblicas de acesso terra, gua potvel, ao saneamento ambiental urbano e rural, s sementes crioulas e assistncia tcnica de qualidade e regularizao fundiria dos territrios indgenas, quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais, bem como dos assentamentos e territrios de identidade de cidadania; que fortaleam a agricultura familiar e camponesa e os povos e comunidades tradicionais para a produo, o consumo e a comercializao socialmente justa e sustentvel de alimentos livres de agrotxicos e aditivos qumicos e transgnicos. Alm disso, necessrio que sejam fortalecidas e ampliadas as aes de promoo e proteo da sade, especialmente a regulamentao da publicidade de alimentos, a rotulagem e o acesso informao para as pessoas com deficincia e necessidades alimentares especiais.

    Chamamos a sociedade civil e o poder pblico a celebrar os avanos no mbito da segurana alimentar e nutricional e a revitalizar a comida de verdade do Brasil para conquistar a soberania alimentar e consolidar a segurana alimentar e nutricional.

    Braslia, 06 de novembro de 2015

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    EIXO TEMTICO 2 DINMICAS EM CURSO, ESCOLHAS ESTRATGICAS E ALCANCES DA POLTICA PBLICA NO CAMPO DA SOBERANIA E SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONALNo Eixo 2, o resultado previsto para as discusses durante a Conferncia Nacional era alcanar um conjunto de propostas priorizadas a partir das 331 proposies organizadas em 9 subtemas que resultaram da sistematizao dos relatrios das conferncias estaduais e do Distrito Federal e dos encontros temticos preparatrios6. Considerando que um dos impactos pretendidos para a Conferncia era a incidncia na elaborao do 2 Plano Nacional de SAN, foi definido que todas as propostas geradas nas etapas anteriores seriam encaminhadas ao governo, mas os delegados e as delegadas deveriam indicar as prioridades.

    A metodologia de trabalho do Eixo 2 foi desenvolvida na seguinte sequncia7:

    a. Esclarecimentos sobre o processo de priorizao das propostas em Plenria e tempo para leitura prvia das propostas:

    Desde o incio da Conferncia, os delegados(as) foram incentivados a realizarem a leitura e escolha prvia das propostas que pretendiam priorizar. Tambm foi previsto um perodo mnimo durante Plenria do Eixo 2 que permitisse a leitura e identificao individual das prioridades;

    A dinmica do processo de priorizao foi apresentada em Plenria pela equipe de metodologia;

    b. Convite aos(s) participantes para manifestao de posies e defesa de propostas no microfone da Plenria:

    Durante todo o perodo de discusso e priorizao do Eixo 2, o microfone ficou aberto a intervenes para que os(as) participantes pudessem manifestar suas posies, defender prioridades etc.;

    c. Atividade de priorizao:

    A priorizao foi uma atividade realizada apenas por delegados(as).

    6. Essas propostas foram organizadas no documento Caderno de Debates distribudo aos(s) participantes antes da conferncia.7. Pela dinmica da Conferncia, este Eixo requereu adaptaes metodolgicas, de maneira a garantir tempo adequado para o processo de priorizao. Na proposta metodolgica original havia sido previsto que, nos grupos de trabalho, aps a apresentao e discusso das proposies priorizadas haveria uma etapa para identificao de propostas novas que seriam escolhidas nos grupos e depois apresentadas para apreciao da Plenria. No houve tempo suficiente para que a Plenria tomasse conhecimento e analisasse adequadamente as propostas novas. Assim, esto apresentadas no Anexo deste relatrio todas as propostas novas oriundas dos grupos.

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    Em uma rea externa ao auditrio, foram organizados 2 corredores separados onde 2 conjuntos de todas as propostas do Eixo 2 foram afixadas em painis para que os(as) delegados(as) pudessem registrar suas escolhas;

    Cada subtema do Eixo 2 foi identificado com uma cor e etiquetas coloridas relacionadas a eles foram distribudas para os delegados(as);

    Cada delegado(a) poderia escolher 4 prioridades para cada subtema e tambm havia mais 4 etiquetas que poderiam ser utilizadas em qualquer um dos subtemas (9 subtemas x 4 prioridades + 4 livres = total 40 prioridades por participante). Cada etiqueta foi contabilizada como 1 ponto;

    Foram adotados cuidados para que cada delegado(a) s pudesse participar da priorizao uma nica vez e para que o espao, onde as propostas estavam afixadas, fosse isolado para que somente delegados(as) pudessem circular;

    d. Contagem dos pontos da proposta:

    Aps o perodo de priorizao, a equipe de facilitadores(as) e relatores(as)voluntrios(as) contabilizou todos os pontos de todas as propostas;

    O ponto de corte para a priorizao foi definido como sendo 25% das propostas com maior pontuao, em cada subtema. Considerando o total original de proposies constantes no Caderno de Debates em cada subtema, obteve-se, portanto:

    Subtema N de prioridades01 Erradicao da fome e os desafios da pobreza e desigualdade social

    04

    02 Evoluo da produo agroalimentar e suas repercusses ambientais, sociais e no padro alimentar

    12

    03 Estratgias e polticas soberanas de abastecimento alimentar e as questes de SAN nos centros urbanos

    08

    04 Direito terra e ao territrio e a vulnerabilizao de grupos sociais rurais

    16

    05 Desigualdades de gnero e implicaes na produo e consumo da alimentao saudvel

    06

    06 Fatores limitantes do acesso universal gua como alimento e como recurso produtivo

    12

    07 A ateno sade e a segurana alimentar e nutricional 1008 Processos permanentes de educao alimentar e nutricional e de preservao dos conhecimentos tradicionais: pesquisa e formao nas reas de segurana alimentar e nutricional e do Direito Humano Alimentao Adequada (DHAA)

    07

    09 Atuao internacional e cooperao sul-sul a partir dos princpios e diretrizes da Poltica Nacional de SAN

    08

    Total 83 prioridades

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    e. Trabalho em grupo para apresentao e discusso das prioridades:

    As propostas que alcanaram as maiores pontuaes, conforme o critrio descrito na letra d acima, foram levadas aos grupos de trabalho;

    As propostas priorizadas, para cada subtema, foram apresentadas nos grupos de trabalho respectivos;

    Em funo de atrasos ocorridos na programao, o tempo de trabalho em grupo se reduziu e todos os grupos concordaram em validar a priorizao e dedicar o tempo restante para a construo de propostas novas.

    f. Plenria para discusso e aprovao de propostas novas:

    Houve na Plenria referente ao Eixo 2 a discusso sobre as propostas novas que surgiram nos grupos de trabalho aps o processo de priorizao, mas no puderam ser apreciadas em sua totalidade pela Plenria.8

    A seguir esto apresentadas todas as propostas, constantes do Caderno de Debates , em ordem de priorizao, estando destacadas aquelas com as maiores pontuaes para cada um dos 9 subtemas.

    Subtema 1: Erradicao da fome e os desafios da pobreza e desigualdade social (4 propostas com maiores pontuaes)

    1. Garantir, ampliar e fortalecer as aes de assistncia tcnica e extenso rural (Ater) na promoo da incluso produtiva das famlias em situao de pobreza extrema no meio rural, respeitando a forma dos saberes culturais dos povos e comunidades tradicionais. (584 pontos)

    2. Qualificar os(as) profissionais da assistncia tcnica e extenso rural, direcionando parte de seus recursos para o atendimento da agroecologia e o acesso dos(as) agricultores(as) familiares rurais, urbanos(as) e periurbanos(as), povos indgenas e povos e comunidades tradicionais, priorizando aqueles em situao de pobreza extrema. (398 pontos)

    3. Criar subsdios para produo de alimentos orgnicos e agroecolgicos, considerando toda a cadeia produtiva a fim de torn-los acessveis maioria da populao, em especial as populaes mais vulnerveis. (305 pontos)

    4. Ampliar o Pronaf Agroecologia e fortalecer e ampliar a modalidade do PAA Doao Simultnea, que garante o Direito Humano Alimentao Adequada para a populao mais vulnervel e que tem favorecido a transio agroecolgica. Garantir a proteo e produo de sementes crioulas para agricultores/as familiares. (296 pontos)

    5. Garantir polticas de fomento e fortalecimento das organizaes sociais urbanas e rurais com identificao atravs do Cadastro nico e cadastro no Sistema nico de Sade (SUS) para atendimento das populaes especficas em situaes de insegurana alimentar e nutricional, criando mecanismos e instrumentos de acesso alimentao. (244 pontos)

    8. As propostas novas esto transcritas no Anexo III deste Relatrio.

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    6. Ampliar as polticas pblicas de todas as esferas de governo s populaes que vivem na rua, sem teto e outros sem endereo fixo, contemplando o acesso alimentao adequada e garantindo o Direito Humano Alimentao Adequada. Essas populaes devem ser contempladas pelos programas socioassistenciais como o Programa Bolsa Famlia e outros instrumentos j existentes e previstos no oramento pblico. (218 pontos) 7. Divulgar a existncia e as funes dos banco de alimentos, cozinhas comunitrias, restaurantes populares, centros de referncia em segurana alimentar e nutricional, hortas e hortos escolares e comunitrios, bem como demais equipamentos sociais de SAN, propiciando o convvio, a incluso social e formao em SAN. (217 pontos)

    8. Garantir o dilogo da poltica de SAN com as polticas de promoo da igualdade racial. (181 pontos)

    9. Fortalecer o papel estratgico dos Equipamentos Pblicos de Abastecimento,Alimentao e Nutrio (Epan) restaurante popular, cozinha comunitria e banco de alimentos na garantia do acesso alimentao adequada e saudvel das populaes em situao de insegurana alimentar e nutricional. (147 pontos)

    10. Construir agroindstrias estratgicas com recursos pblicos, visando a resolver questes da vigilncia sanitria para produtos processados de origem animal, facilitando o acesso dos(as) mais vulnerveis e a otimizao dos recursos. (146 pontos)

    11. Fortalecer o Programa Bolsa Famlia como promotor do acesso alimentao, sendo necessrio reajustar esses valores para que no perca o seu poder aquisitivo e ainda articular este programa com outros que favoream a porta de sada atravs de incluso e emancipao social. (130 pontos)

    12. Ampliar e fiscalizar o Programa de Alimentao do Trabalhador (PAT) e incentivar por meio de aes de educao alimentar e nutricional a garantia da alimentao adequada e saudvel ao trabalhador e trabalhadora, respeitando as necessidades alimentares especiais e as condicionantes para os portadores de doenas crnicas no transmissveis. (126 pontos)

    13. Aprofundar o debate sobre os critrios e indicadores definidores da pobreza. O conceito de pobreza, quando aplicado realidade indgena e de outros segmentos populacionais, no pode ser resumido renda. (117 pontos)

    14. Produzir indicadores e utilizar os dados desagregados por raa/cor na formulao, implementao, monitoramento e avaliao das polticas de soberania e segurana alimentar e nutricional(SSAN). (89 pontos)

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    Subtema 2: Evoluo da produo agroalimentar e suas repercusses ambientais, sociais e no padro alimentar (12 propostas com maiores pontuaes)

    15. Implementar aes/polticas pblicas que garantam o incentivo soberania alimentar e autossuficincia da agricultura familiar e tradicional por meio da agroecologia, que contemplem sua sociobiodiversidade promovendo e valorizando a cultura e tradio alimentar, medicinal, ritualstica, com produo diversificada a partir de sementes crioulas, plantas medicinais, plantas alimentcias no convencionais (Pancs), frutferas nativas locais/ regionais (valorizao, recuperao, preservao e multiplicao). (375 pontos)

    16. Criar bancos de sementes crioulas e orgnicas e garantir o direito do plantio e replantio das sementes crioulas para atender os(as) agricultores(as) familiares, os povos indgenas, as comunidades quilombolas e outros povos e comunidades tradicionais. (223 pontos)

    17. Assegurar acesso s polticas de agroecologia, a realizao de pesquisas participativas adaptadas s necessidades locais, a formao continuada, a assistncia tcnica e extenso rural, os recursos de crdito, o fomento produo, a logstica para processamento e transporte, as tecnologias especficas e a certificao. (177 pontos)

    18. Fomentar e incentivar a transio agroecolgica, por meio de assistncia tcnica adequada agricultura familiar, com formao de quadros tcnicos compatveis, efetivos e suficientes, bem como a criao dos cargos tcnicos onde ainda no existirem. (177 pontos)

    19. Estimular, divulgar e conscientizar sobre a produo agroecolgica e comercializao em feiras locais e agroecolgicas e orientar para o consumo de alimentos livres de agrotxicos e sobre os benefcios do consumo de alimentos orgnicos. (152 pontos)

    20. Garantir o acesso gua de qualidade e segura e alimentao, preferencialmente agroecolgica/orgnica, em quantidade e variedade suficientes aos povos indgenas, quilombolas e povos e comunidades tradicionais, populaes negras e populao em situao de rua, facilitando formas de aquisio dos alimentos e da gua e incentivando o consumo de alimentos condizentes com suas culturas. (148 pontos)

    21. Garantir o acesso Declarao de Aptido ao Pronaf (DAP) por meio da descentralizao e transparncia dos procedimentos de emisso e ampliao dos rgos aptos a emitir a declarao, conferindo ateno especial incluso das mulheres. Ao mesmo tempo, preciso aprofundar o debate sobre outros instrumentos que possam substituir a DAP como pr-requisito de acesso s polticas pblicas de desenvolvimento rural. (146 pontos)

    22. Retirar as isenes de impostos aos agrotxicos e proibir o uso e a comercializao daqueles proibidos em outros pases, realizando a efetiva fiscalizao pelos rgos responsveis do uso desenfreado de agrotxicos, inclusive na Poltica de Segurana Pblica para que coba a entrada de agrotxicos ilegais no pas. (142 pontos)

    23. Consolidar a agricultura familiar, buscando investimentos que agreguem valor s pequenas produes, tornando mais eficaz o cooperativismo rural e promovendo a implementao e a modernizao da infraestrutura de apoio produo agrcola. (138 pontos)

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    24. Estabelecer parcerias intersetoriais e multiprofissionais com envolvimento de instituies de educao (Universidades, Institutos Federais, sistema S) e organizaes de fomento (Ongs, Emater, MDA, Prefeituras, instituies de Ater, Consea) para auxlio dos(as) produtores(as) rurais, capacitando-os(as) para alcanarem mercados de venda de seus produtos (exemplos de cursos tcnicos e de graduao: nutrio, assistncia social, administrao, agronomia etc.). (135 pontos)

    25. Instituir e implementar o Programa Nacional de Reduo do Uso de Agrotxicos (Pronara), com nfase no banimento de agrotxicos proibidos em outros pases. (118 pontos)

    26. Extinguir as polticas pblicas de incentivo ao plantio e consumo de sementes e produtos transgnicos e biofortificados, a fim de garantir o fortalecimento, sustentabilidade e perpetuao e consequentemente da soberania alimentar e dos produtos oriundos da agricultura familiar e tradicional. (116 pontos)

    27. Incentivar e fomentar os espaos pblicos e privados de alimentao, para que gradativamente ofeream somente alimentos agroecolgicos/orgnicos e fortaleam o comrcio local e a instituio das feiras como equipamentos de segurana alimentar e nutricional. (110 pontos)

    28. Adequar a legislao sobre a inspeo de produtos de origem animal e vegetal e a poltica tributria para que estimule a produo, industrializao e comercializao dos produtos da agricultura familiar. (88 pontos)

    29. Consolidar a legislao existente e o complexo regulatrio, com atribuies definidas nas trs esferas de governo, para a garantia, promoo, proteo e certificao orgnica da produo agroecolgica. Uma legislao norteada por nova lgica, inclusiva, solidria, que desburocratize, garanta direitos e apoio s pessoas que produzem neste modelo, extensiva s suas associaes e cooperativas, incluindo tambm pequenos(as) produtores(as) urbanos(as), que preservem e ampliem seus territrios de produo agroecolgica de alimentos, facilitando a comercializao atravs da adoo preferencial e subsidiada dos alimentos agroecolgicos nas compras de rgos governamentais. (81 pontos)

    30. Facilitar o acesso a crdito pelas cooperativas de agricultores(as) familiares. (67 pontos)

    31. Promover assistncia tcnica qualificada e permanente que trate da gesto e uso racional da gua e da interface com a segurana alimentar e nutricional, levando em conta o conhecimento dos agricultores e das agricultoras, indgenas e povos e comunidades tradicionais, no havendo hierarquia de saberes. (63 pontos)

    32. Fomentar a produo de arranjos produtivos locais de modo a contemplar e fortalecer a cadeia produtiva, considerando as boas prticas tradicionais, o conhecimento tradicional e os tratamentos de resduos. (61 pontos)

    33. Fortalecer o debate sobre o impacto do uso de agrotxicos e transgnicos (riscos, malefcios para sade e impactos ambientais e sociais de todos os tipos) entre os rgos pblicos competentes

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    (meio ambiente, sade, agricultura, educao, assistncia social) e sociedade e definir aes, visando proibio do uso de agrotxicos e transio dos sistemas de produo convencional para os sistemas agroecolgicos e orgnicos. (60 pontos)

    34. Apoiar a produo da agricultura familiar, melhorando e/ou permitindo o escoamento com a aquisio de equipamentos para melhoria das estradas, bem como a implementao da infraestrutura. (56 pontos)

    35. Adotar o sistema agroecolgico como o que melhor cuida da gua, aprimorando as polticas de crditos e seus mecanismos para favorecer a produo de alimentos saudveis, reduzindo o poder dos bancos e desburocratizando o processo como um todo. (54 pontos)

    36. Promover incentivos fiscais que favoream a produo de comida de verdade. Desenvolver mecanismos de taxao e de regulao e legislar em favor da elevao da tributao das indstrias de produtos ultraprocessados, ou que tenham alta concentrao de sais, acar e gorduras, transgnicos e biofortificados e a reverso dos incentivos fiscais concedidos comercializao de agrotxicos, Aplicar a legislao vigente como critrio para punies em relao ao uso indevido de agrotxicos, penalizando quem vender alimentos com resduos, no autorizados para a cultura ou com agrotxicos proibidos no estado ou pas. (52 pontos)

    37. Garantir polticas para jovens do campo, facilitando o acesso ao crdito para assim viabilizar a permanncia no campo, para que ele possa empreender seu pequeno negcio. (51 pontos)

    38. Criar linhas de crdito de financiamento para agricultura familiar orgnica e sustentvel. (49 pontos)

    39. Criar uma poltica nacional de facilitao do acesso do(a) produtor(a) da agricultura familiar a sementes e insumos de produo agroecolgica, com criao de bancos de sementes de bases agroecolgicas. (45 pontos)

    40. Fortalecer o Plano Nacional de Agroecologia e Produo Orgnica (Planapo) na Amaznia. (44 pontos)

    41. Reestruturar o Pronaf para se adequar s especificidades da Amaznia (dificuldade logstica como infraestrutura, transporte e comunicao, entre outros), e que responda s complexidades dos sistemas de produo, a exemplo dos sistemas agroflorestais (SAF) e outras prticas dos agroextrativistas. (43 pontos)

    42. Inserir a temtica do solo na discusso do Sisan. Diagnosticar e mapear a qualidade do solo e suas potenciais fontes poluidoras, relacionando a situao do solo com a produo de alimentos. Formular um plano de segurana do solo. (43 pontos)

    43. Incentivar o associativismo, o cooperativismo e a desburocratizao do acesso s compras governamentais. (42 pontos)

    44. Proibir a comercializao, produo e liberao dos transgnicos e agrotxicos no Brasil. (37 pontos)

    45. Tornar crime contra a sade pblica a venda ilegal de agrotxicos. (33 pontos)

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    46. Ampliar o incentivo a sistemas de coleta de resduos slidos, com aes de conscientizao para reciclagem e reaproveitamento dos resduos orgnicos na compostagem como forma de conservao do solo, gua e ambiente. (31 pontos) 47. Ampliar a Ater (Assistncia Tcnica e Extenso Rural) e recursos, com incentivo produo olercola e frutfera. (28 pontos)

    48. Adequar o Programa de Alimentao do Trabalhador (PAT) / Ministrio do Trabalho e Previdncia Social (MTE) para a incorporao das feiras agroecolgicas (vale-feira). (26 pontos)

    49. Organizar e fortalecer grupos formais e informais, associaes e cooperativas para produo agroecolgica e orgnica com assistncia tcnica qualificada e continuada, respeitando as culturas tradicionais dos povos, por meio de capacitaes, possibilitando acompanhamento tcnico e social dos rgos pblicos e no governamentais. (26 pontos)

    50. Construir unidades de armazenamento, entrepostos, cooperativas e associaes onde o pescado receba inspeo sanitria, incentivando e facilitando a implementao de feiras e locais para venda do pescado para o(a) consumidor(a) e instituies municipais, estaduais e federais. (25 pontos)

    51. Criar um marco jurdico que proteja os(as) agricultores(as) familiares de base agroecolgica. (23 pontos)

    52. Regular a influncia do agronegcio e das grandes corporaes na cadeia produtiva de alimentos. (21 pontos)

    53. Instituir um amplo programa nacional que promova a informao e a divulgao sociedade em geral e a agricultores(as) em especial, embasado em dados cientficos reconhecidos internacionalmente, do impacto sade humana e ao ambiente provocado pelo uso de agrotxicos. (20 pontos)

    54. Criar polticas de promoo do reflorestamento com frutferas em reas pblicas e reas de preservao permanente (APPs). (19 pontos)

    55. Garantir assistncia tcnica aos aquicultores e s aquicultoras familiares. (17 pontos) 56. Adaptar as regras de certificao orgnica para facilitar o acesso de agricultores(as) familiares e desenvolver aes de estmulo e sensibilizao da populao para consumo de alimentos orgnicos. (17 pontos)

    57. Rever o modelo de financiamento da produo de modo que a baixa capilaridade das grandes instituies financeiras na Amaznia no prejudique o acesso ao crdito. (16 pontos)

    58. Implementar a Poltica Nacional de Educao Ambiental e garantir recursos para o Programa Viveiros Educadores do Ministrio do Meio Ambiente (MMA), para criar e fortalecer os viveiros existentes com programas permanentes de educao ambiental, incluindo a permacultura e agroecologia no meio urbano. (16 pontos)

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    59. Estimular a participao dos(as) consumidores(as) nos processos de adequao aos mecanismos de garantia da conformidade orgnica (certificao participativa de produtos orgnicos). (13 pontos)

    60. Qualificar a cesta bsica garantindo a alimentao adequada s pessoas com necessidades alimentares especiais, priorizando alimentos orgnicos e/ou agroecolgicos. (10 pontos)

    61. Efetivar a regulamentao da produo orgnica, da Planapo e da alimentao saudvel. (9 pontos)

    62. Determinar metas para significativa diminuio de uso de agrotxicos, elaborao de regulamentao adequada a esta finalidade e fiscalizao rigorosa. (8 pontos)

    63. Orientar o(a) produtor(a), o(a) consumidor(a) e o(a) feirante em relao importncia do alimento orgnico e sem agrotxico. (5 pontos)

    Subtema 3: Estratgias e polticas soberanas de abastecimento alimentar e as questes de SAN nos centros urbanos (8 propostas com maiores pontuaes)

    64. Ampliar a oferta e o acesso aos alimentos agroecolgicos/orgnicos a preo acessvel, em quantidade e em diversidade das espcies cultivadas ou manejadas, nos diferentes espaos de comercializao, com prioridade s feiras municipais agroecolgicas de agricultores( as) familiares e tradicionais, integrando uma rede de fornecimento, capilarizando, aumentando a frequncia e a acessibilidade nas periferias e bairros; divulgando-os em feiras regionais e eventos gastronmicos (produtos e receitas) que contemplem a cultura alimentar: resgatando as nossas origens, culturas e tradies, estimulando a conscincia do(a) consumidor(a) para valorizar e consumir o alimento local/regional, produtos da poca (sazonal), in natura, com aproveitamento integral dos alimentos, diversificados, agroecolgicos/orgnicos. (325 pontos)

    65. Desenvolver um projeto intersetorial de incentivo implantao de hortas escolares, comunitrias e caseiras, articulando o urbano, periurbano e rural e oportunizando o aproveitamento de espaos disponveis pblicos e privados, para o estmulo plantao de rvores frutferas na zona urbana (ruas e praas) para uso da populao. (276 pontos)

    66. Dar continuidade compra direta da agricultura familiar, povos indgenas, comunidades quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais (povos tradicionais de matriz africana, povos de terreiro, pescadores(as) artesanais, ciganos(as), cipozeiros(as), extrativistas e negros(as)) atravs do PNAE e aumentar o percentual de compra para, no mnimo 50%, aumentando gradativamente at atingir 100% em cinco anos, sendo no mnimo 25% orgnicos e/ou agroecolgico. (269 pontos)

    67. Criar um programa especfico para que os povos tradicionais de matriz africana e povos de terreiro tenham acesso a espaos livres para auto-sustentabilidade, criao e plantio. (265 pontos)

    68. Fomentar programas governamentais de produo e compra de gneros alimentcios regionais da agricultura familiar e de assentamentos rurais e consolidar e ampliar o Programa de Aquisies de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) e de Assentamentos Rurais de forma regionalizada, como instrumento de garantia de preos justos, de acesso aos mercados institucionais. (226 pontos)

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    69. Garantir o nmero adequado de nutricionistas, tcnicos(as) de nutrio e demais profissionais da rea, no acompanhamento e no monitoramento do PNAE e dos Ncleos da Sade da Famlia (NASF). (194 pontos)

    70. Criar ou ampliar ambientes favorveis alimentao saudvel, alm das escolas, nos locais de trabalho e nos locais de lazer; espaos que possibilitem o acesso a alimentos de qualidade e que reafirmem a cultura alimentar tais como feiras livres/populares, restaurantes populares, mercados pblicos, hortas comunitrias, hortas escolares, foodtrucks (comida vendida em trailers ou veculos ambulantes), ofertar comida regional sob o aval da vigilncia sanitria, desde que esta considere a diferena de produes artesanais e industriais. (153 pontos)

    71. Reajustar anualmente o valor repassado por aluno(a) para alimentao escolar (PNAE) pela Unio desde que as outras entidades executoras municpios e estados faam a sua contrapartida. Instituir um mecanismo de adequao do per capita da alimentao escolar de acordo com as variaes de preos medidas pelos ndices oficiais de inflao. (152 pontos)

    72. Incentivar os espaos de comercializao (pequenos mercados, feiras livres, feiras agroecolgicas e outras prticas de economia popular), com subsdios dos governos no que concerne a: projetos de hortas comunitrias, apicultura, piscicultura e pequenos animais; infraestrutura, transporte e locais de realizao. (138 pontos) 73. Criar reas livres de agrotxicos nas imediaes de corpos de gua e ampliar o permetro de proibio do uso de agrotxicos em reas periurbanas, bem como a proibio da pulverizao area. (124 pontos)

    74. Aumentar