relatorio desenvolvimento humano

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Combater as alterações climáticas: Solidariedade humana num mundo dividido Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 Publicado para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) Agradecimento: A tradução e a publicação da edição portuguesa do Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 só foram possíveis graças ao apoio do IPAD

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Relatrio de Desenvolvimento Humano 2007/2008Combater as alteraes climticas: Solidariedade humana num mundo dividido

Publicado para o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

Agradecimento: A traduo e a publicao da edio portuguesa do Relatrio de Desenvolvimento Humano 2007/2008 s foram possveis graas ao apoio do IPAD

Copyright 2007 Pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento 1 UN Plaza, New York, 10017, USA Todos os direitos reservados. Nenhum excerto desta publicao poder ser reproduzido, armazenado num sistema de recuperao ou transmitido sob qualquer forma ou por qualquer meio, nomeadamente, electrnico, mecnico, tipogrco, de gravao ou outro, sem prvia permisso. Depsito Legal: 267948/07 ISBN 978-972-40-3313-6 Edies Almedina, SA Avenida Ferno de Magalhes, N. 584, 5. Andar 3000-174 Coimbra/Portugal www.almedina.net 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 Impresso pela G.C. Grca de Coimbra, Lda. A capa foi impressa em cartolina Trucard 260 grs com baixa gramagem e revestimento numa das faces, sem cloro e em conformidade com as linhas directrizes do Plano de Desenvolvimento Sustentvel da Floresta. As pginas de texto foram impressas em 80 grs Munken Lynx um papel obtido a partir de bra branqueada 30% reciclada ps-consumidor, certicado pelo Forest Stewardship Council, e sem cloro. Tanto a capa como as pginas de texto so impressas usando tintas vegetais e produzidas por meio de tecnologias compatveis com o ambiente.

30%

Cert no. SCS-COC-00648

Edio: Green Ink Inc. Capa: talking-box Design de informao: Mapping Worlds, Phoenix Design Aid e Zago Layout: G.C. Grca de Coimbra, Lda. Traduo: CEQO Traduo, Consultoria lingustica e Ensino Para uma lista de eventuais erros ou omisses encontrados posteriormente impresso, visite, por favor, o nosso website at http://hdr.undp.org

Equipa responsvel pela elaborao do Relatrio de Desenvolvimento Humano 2007/2008

Director e redactor principal:

Kevin WatkinsPesquisa e estatstica:

Cecilia Ugaz (Directora adjunta e redactora chefe), Liliana Carvajal, Daniel Coppard, Ricardo Fuentes Nieva, Amie Gaye, Wei Ha, Claes Johansson, Alison Kennedy (Chefe de Estatstica), Christopher Kuonqui, Isabel Medalho Pereira, Roshni Menon, Jonathan Morse e Papa Seck.Produo e traduo:

Carlotta Aiello e Marta JaksonaPromoo e divulgao:

Maritza Ascencios, Jean-Yves Hamel, Pedro Manuel Moreno e Marisol Sanjines (Chefe de Promoo).

O Gabinete do Relatrio de Desenvolvimento Humano (GRDH): O Relatrio de

Desenvolvimento Humano o resultado de um trabalho colectivo. Os membros da Unidade do Relatrio Nacional de Desenvolvimento Humano (RNDH) colaboram com informao detalhada e aconselhamento ao longo do processo de investigao. Do mesmo modo, ligam o Relatrio a uma rede mundial de pesquisa nos pases em vias de desenvolvimento. A equipa da RNDH composta por Sharmila Kurukulasuriya, Mary Ann Mwangi e Timothy Scott. O GRDH conta com o apoio administrativo de uma equipa constituda por Oscar Bernal, Mamaye Gebretsadik, Melissa Hernandez e Fe Juarez-Shanahan. As operaes so da responsabilidade de Sarantuya Mend.

Prefcio

O modo como actuamos hoje relativamente s alteraes climticas acarreta consequncias que perduraro um sculo ou mais. Num futuro prximo, o resultado das emisses de gases com efeito de estufa no ser reversvel. Os gases retentores de calor emitidos em 2008 iro permanecer na atmosfera at 2108, e at para alm disso. Por isso, as escolhas que actualmente fazemos no afectam apenas as nossas vidas, mas mais ainda as dos nossos lhos e netos. Isto faz das alteraes climticas um problema nico, e mais difcil do que outros desa os polticos.As alteraes climticas so um facto cient co incontestvel. No fcil de prever com preciso o impacto inerente s emisses de gases com efeito de estufa, e h muita incerteza cient ca no que respeita capacidade de previso. Mas sabemos o su ciente para reconhecer que esto em jogo srios riscos, potencialmente catastr cos, incluindo o degelo das calotes glaciares na Gronelndia e na Antrtida Ocidental (o que deixaria muitos pases submersos) e as alteraes no curso da Corrente do Golfo, signi cando alteraes climticas dramticas. A prudncia e a preocupao com o futuro dos nossos lhos e dos seus lhos exigem que actuemos agora, como forma de seguro contra possveis e signicativas perdas. O facto de no conhecermos as probabilidades de tais perdas, ou quando tero lugar, no um argumento vlido para no tornarmos medidas de precauo. Sabemos que o perigo existe. Sabemos que os danos causados pela emisso dos gases com efeito de estufa sero irreversveis por muito tempo. Sabemos que os danos aumentaro por cada dia em que no actuarmos. Mesmo que vivssemos num mundo onde todos tivessem o mesmo nvel de vida e sofressem o impacto causado pelas alteraes climticas da mesma forma, teramos, ainda assim, de agir. Se o mundo fosse um nico pas, e os seus cidados usufrussem do mesmo nvel de rendimentos, e todos estivessem mais ou menos expostos aos efeitos das alteraes climticas, a ameaa de aquecimento global podia ainda, no nal deste sculo, provocar danos substanciais ao bem-estar e prosperidade humanos. Na verdade, o mundo um lugar heterogneo: as pessoas tm diferentes nveis de rendimentos e riqueza, e as alteraes climticas iro diferenciar as regies afectadas. Para ns, esta a razo que nos deve levar a actuar rapidamente. As alteraes climticas j afectam, em todo o mundo, algumas das comunidades mais pobres e vulnerveis. Um aumento mundial de 3C na temperatura mdia nas prximas dcadas (em comparao com as temperaturas pr-industriais) resultaria numa srie de aumentos localizados que, em algumas regies, poderiam atingir duas vezes aquele valor. O efeito que as secas, as perturbaes climatricas acentuadas, as tempestades tropicais e a subida dos nveis do mar tero em extensas reas de frica, pequenos estados insulares e zonas costeiras ser sentido durante as nossas vidas. Estes efeitos, a curto prazo, podem no ser muito signi cativos em termos da totalidade do produto interno bruto (PIB) mundial. Mas para alguns dos mais pobres povos da Terra, as consequncias poderiam ser apocalpticas. A longo prazo, as alteraes climticas so uma ameaa massiva ao desenvolvimento humano e, em alguns lugares, j minam os esforos da comunidade internacional para reduzir a pobreza extrema. Con itos violentos, recursos insu cientes, falta de coordenao e polticas ine cientes continuam a atrasar o progresso do desenvolvimento, especialmente em frica. No entanto, assinalam-se avanos signi cativos em alguns pases. O Vietname, por exemplo, conseguiu reduzir os nveis de pobreza em metade e alcanou a escolaridade bsica para toda a populao, muito antes de 2015, altura para a qual se

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previa a concretizao deste objectivo. Moambique tambm conseguiu reduzir a pobreza signi cativamente e aumentou o nmero de matrculas escolares, tendo ainda reduzido as taxas de mortalidade infantil e materna. Este progresso em desenvolvimento , cada vez mais, interrompido pelas alteraes climticas. Por isso, devemos encarar a luta contra a pobreza e a luta contra os efeitos das alteraes climticas como um conjunto de esforos interrelacionados, que mutuamente se acentuam, pelo que o sucesso deve ser alcanado em ambas as frentes. O sucesso dever envolver uma grande capacidade de adaptao, pois as alteraes climticas iro ainda afectar signi cativamente os pases mais pobres, mesmo que se empreenda de imediato srios esforos para reduzir as emisses. Os pases tero que desenvolver os seus prprios planos de adaptao, mas a comunidade internacional ter de os ajudar. Como resposta ao desa o e ao pedido urgente lanado pelos lderes dos pases em vias de desenvolvimento, sobretudo na frica Subsariana, o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) iniciaram uma parceria em Nairobi, durante a ltima conveno sobre o clima, em Novembro de 2006. As duas agncias comprometeram-se a dar assistncia na reduo da vulnerabilidade e na possibilidade dos pases em vias de desenvolvimento usufrurem, amplamente, dos benefcios do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) em reas como o desenvolvimento de energias renovveis e mais limpas, resilincia s alteraes climticas e esquemas de substituio de combustveis. Ao permitir que o sistema das Naes Unidas actue prontamente em resposta s necessidades dos governos que procuram factores de impacto sobre as alteraes climticas para a tomada de decises de investimento, esta parceria constitui a prova viva da determinao das Naes Unidas em agir como um todo relativamente ao desa o que o combate s alteraes climticas. Por exemplo, podemos ajudar os pases a melhorarem as infra-estruturas existentes, de modo a que as pessoas saibam lidar com grandes inundaes e perturbaes climatricas mais frequentes e acentuadas. Tambm se podiam desenvolver colheitas mais resistentes ao clima. Embora se almeje uma adaptao, temos que comear a reduzir as emisses e a dar novos passos

rumo sua mitigao, para que as alteraes climticas irreversveis, e que j esto em curso, no sejam agravadas nas prximas dcadas. Se a mitigao no tiver incio de imediato, e se no for levada com seriedade, os custos de adaptao daqui a 20 ou 30 anos sero proibitivos para os pases mais pobres. Estabilizar as emisses de gases com efeito de estufa para limitar as alteraes climticas uma estratgia de seguro e caz para o mundo enquanto um todo, incluindo os pases mais ricos, e uma parte essencial da nossa luta global contra a pobreza e para os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio. Esta dualidade no propsito das polticas climticas devia torn-las uma prioridade para os lderes em todo o mundo. Todavia, depois de se estabelecer a necessidade de se impor limites s alteraes climticas futuras e de se ajudar os mais vulnerveis a se adaptarem a circunstncias inevitveis, necessrio prosseguir e identi car a natureza das polticas que nos ajudaro a atingir os resultados que pretendemos. Muito se pode dizer partida. Primeiro, necessrio implementar alteraes de base, dado o caminho que o mundo est a tomar. Precisamos de grandes alteraes e de polticas novas e ambiciosas. Segundo, haver custos signi cativos a curto prazo. Temos que investir na limitao das alteraes climticas. Com o tempo, haver grandes benefcios lquidos, mas de incio, tal como em qualquer investimento, devemos estar dispostos a incorrer em custos. Ser um desa o para a governao democrtica: os sistemas polticos tero de concordar em pagar os custos iniciais para, a longo prazo, colher os ganhos. A liderana necessitar de olhar para alm dos ciclos eleitorais. No estamos a ser demasiado pessimistas. Na luta contra as altas taxas de in ao do passado distante, as democracias criaram instituies, tais como bancos centrais mais autnomos, e rmaram compromissos polticos preestabelecidos que permitiram atingir uma menor taxa de in ao, apesar das tentaes a curto prazo de recorrerem imprensa escrita. O mesmo ter que acontecer com o clima e o meio ambiente: as sociedades tero de assumir pr-compromisso e renunciar a grati caes mais imediatas em prol do bem-estar futuro. Gostaramos de acrescentar que, embora a transio para energias e estilos de vida amigos do ambiente tenham custos a curto prazo, podero existir benef-

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cios econmicos para alm daquilo que j se obtm ao se estabilizar as temperaturas. Estes benefcios so, provavelmente, comprovados luz de mecanismos Keynesianos e Schumpeterianos, visto que novos incentivos para investimentos em massa estimulam a procura global e a destruio criativa leva inovao e a saltos de produtividade em variados sectores. impossvel prever quantitativamente a dimenso que estes efeitos possam ter, mas t-los em linha de conta poderia conduzir a rcios benefcio-custo mais elevados para boas polticas climticas. Na elaborao de boas polticas, necessrio levar em considerao o perigo de uma con ana excessiva nos controlos burocrticos. Embora a liderana governamental seja essencial correco da enorme exterioridade que as alteraes climticas representam, h que colocar mercados e preos em funcionamento, para que as decises sectoriais privadas possam levar, mais naturalmente, a decises ptimas de investimento e de produo. O carbono e outros gases equivalentes tm de ter um preo para que o seu uso re icta o seu verdadeiro custo social. Esta deve ser a essncia da poltica da mitigao. O mundo passou dcadas a libertar-se de restries quantitativas em vrios domnios, e no menos no que respeita ao comrcio externo. No o momento de regressar a um sistema de quotas massivas e controlos burocrticos por causa das alteraes climticas. Os objectivos referentes s emisses e e cincia energtica tm um papel de relevo, mas o sistema de tributao que nos dever permitir atingir os nossos ns mais facilmente. Torna-se assim necessrio um dilogo mais profundo do que aquele que se tem veri cado at aqui entre economistas, cientistas do clima e ambientalistas. Temos esperana

que este Relatrio de Desenvolvimento Humano contribua para esse dilogo. Os desa os polticos mais difceis relacionar-se-o com a distribuio. Embora haja potencialmente riscos de catstrofe para todos, a distribuio dos custos e benefcios a curto e mdio prazo estar longe de ser uniforme. Este desa o da distribuio torna-se particularmente difcil na medida em que aqueles que so os maiores responsveis pelo problema os pases ricos no sero os que a curto prazo mais iro sofrer. Os pobres, que no contriburam nem contribuem signi cativamente para a emisso dos gases com efeito de estufa, so os mais vulnerveis. Entretanto, vrios pases de rendimento mdio esto a tornar-se emissores de relevo, tal como se conclui fazendo-se o clculo aos valores totais atingidos pelo seu conjunto. Contudo, estes pases no tm a dvida para com o mundo pelo carbono emitido que os pases ricos tm vindo a acumular, e ainda so pequenos emissores em termos per capita. Temos que encontrar uma via tica e politicamente aceitvel que nos permita encetar caminho seguir em frente, ainda que haja grande desacordo na diviso do peso e dos benefcios a longo prazo. No devemos permitir que os desacordos com a distribuio nos impeam de prosseguir o caminho em frente, tal como no nos podemos dar ao luxo de esperar por uma certeza acerca do rumo que as alteraes climticas podero tomar antes de comear a agir. Tambm neste aspecto temos esperana que este Relatrio de Desenvolvimento Humano facilite o debate e permita que a jornada se inicie.

Kemal Dervi Administrador Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

Achim Steiner Director Executivo Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente

As recomendaes de anlise e de polticas mencionadas no Relatrio no reectem necessariamente as perspectivas do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento, ou do seu Conselho Executivo ou mesmo dos seus Estados-Membros. O Relatrio uma publicao independente sob a responsabilidade do PNUD. fruto de um esforo de cooperao por parte de uma equipa de consultores e conselheiros eminentes e da equipa do Relatrio de Desenvolvimento Humano. Kevin Watkins, Director do Gabinete do Relatrio de Desenvolvimento Humano, coordenou este grupo de trabalho.

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Agradecimentos

A elaborao deste Relatrio no teria sido possvel sem o generoso contributo das muitas pessoas e organizaes abaixo enumeradas. Dever-se-, contudo, fazer uma especial meno a Malte Meinshausen do Instituto de Potsdam para a Pesquisa sobre o Impacto Climtico (que pacientemente nos prestou um constante apoio sobre uma vasta gama de assuntos tcnicos). Muitas outras pessoas contriburam para o Relatrio quer directamente atravs de documentos de referncia, comentrios aos primeiros textos e debate de ideias, quer indirectamente atravs das pesquisas que realizaram. Os autores desejam igualmente manifestar o seu reconhecimento pelo contributo do Quarto Relatrio de Avaliao do Painel Intergovernamental para as Alteraes Climticas, o qual representa uma fonte incontornvel de evidncias cient cas, bem como pelo trabalho de Sir Nicholas Stern e do grupo de trabalho por detrs deste Relatrio sobre A Economia das Alteraes Climticas. Muitos colegas no sistema das Naes Unidas foram extremamente generosos em despender do seu tempo, partilhando connosco o seu conhecimento cient co e ideias. O grupo de trabalho do Relatrio de Desenvolvimento Humano usufruiu do precioso apoio de Kemal Dervi, Administrador do PNUD. Agradecemos a todos aqueles que estiveram directa ou indirectamente envolvidos na orientao dos nossos esforos, assumindo a sua responsabilidade individual por erros de omisso e de comisso.Meinshausen, Mark Misselhorn, Sreeja Nair, Peter Newell, Anthony Nyong, David Ockwell, Marina Olshanskaya, Victor A. Orindi, James Painter, Peter D. Pederson, Serguey Pegov, Renat Perelet, Alberto Carillo Pineda, Vicky Pope, Golam Rabbani, Atiq Rahman, Mariam Rashid, Bimal R. Regmi, Hannah Reid, J. Timmons Roberts, Greet Ruysschaert, Boshra Salem, Jrgen Schmid, Dana Schler, Rory Sullivan, Erika Trigoso Rubio, Md. Rabi Uzzaman, Giulio Volpi, Tao Wang, James Watson, Harald Winkler, Mikhail Yulkin e Yanchun Zhang. Vrias organizaes partilharam generosamente os seus dados, bem como outros materiais de pesquisa: Agncia Francesa de Desenvolvimento, Amnestia Internacional, Centro de Anlise e Informao sobre o Dixido de Carbono, Secretariado da Comunidade das Carabas, Centro de Comparaes Internacionais de Produo, Rendimento e Preos da Universidade da Pensilvnia; Iniciativas de Desenvolvimento; Departamento para o Desenvolvimento Internacional;

Contributos

Os estudos, documentos e notas de referncia foram preparados com base num vasto leque de questes temticas relacionadas com o Relatrio. Para esse m contriburam: Anu Adhikari, Mozaharul Alam, Sarder Sha qul Alam, Juan Carlos Arredondo Brun, Vicki Arroyo, Albertina Bambaige, Romina Bandura, Terry Barker, Philip Beauvais, Suruchi Bhadwal, Preety Bhandari, Isobel Birch, Maxwell Boyko , Karen OBrien, Oli Brown, Odn de Buen, Peter Chaudhry, Pedro Conceio, Pilar Cornejo, Caridad Canales Dvila, Simon D. Donner, Lin Erda, Alejandro de la Fuente, Richard Grahn, Michael Grimm, Kenneth Harttgen, Dieter Helm, Caspar Henderson, Mario Herrero, Saleemul Huq, Ninh Nguyen Huu, Joseph D. Intsiful, Katie Jenkins, Richard Jones, Ulka Kelkar, Stephan Klasen, Arnoldo Matus Kramer, Kishan Khoday, Roman Krznaric, Robin Leichenko, Anthony Leiserowitz, Junfeng Li, Yan Li, Yue Li, Peter Linguiti, Gordon MacKerron, Andrew Marquard, Ritu Mathur, Malteviii

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Instituto de Alteraes Ambientais da Universidade de Oxford; Comisso Europeia; Organizao para a Alimentao e Agricultura; Fundo para o Ambiente Global; Projecto Global IDP; Centro de Previso de Tempo e Estudos Climticos da IGAD; Instituto de Estudos de Desenvolvimento; Centro Internacional de Estudos Penitencirios; Centro de Monitorizao das Deslocaes Internas; Instituto de Pesquisa Internacional para o Clima e a Sociedade; Agncia Internacional de Energia; Instituto Internacional para o Ambiente e Desenvolvimento; Instituto Internacional de Estudos Estratgicos; Organizao Internacional do Trabalho; Fundo Monetrio Internacional; Organizao Internacional para as Migraes; Unio Internacional das Telecomunicaes; Unio Interparlamentar; Programa Conjunto das Naes Unidas sobre VIH/SIDA; Estudos de Rendimento do Luxemburgo; Macro International; Organizao de Cooperao e o Desenvolvimento Econmico, Instituto de Desenvolvimento Ultramarino; Oxfam; Centro Pew para as Alteraes Climticas; Practical Action Consulting; Instituto Internacional de Investigao para a Paz de Estocolmo; Instituto Internacional da gua de Estocolmo; Instituto Tata para a Pesquisa de Energia; Met O ce; Fundo das Naes Unidas para a Infncia; Conferncia das Naes Unidas sobre Comrcio e Desenvolvimento; Departamento dos Assuntos Econmicos e Sociais das Naes Unidas, Diviso de Estatstica e Diviso da Populao; Fundo de Desenvolvimento das Naes Unidas para a Mulher; Instituto de Estatstica da Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura; Alto Comissariado das Naes Unidas para os Refugiados; Seco dos Tratados do Gabinete das Naes Unidas para a Droga e a Criminalidade; Gabinete de Assuntos Jurdicos das Naes Unidas; Universidade de nglia Oriental; WaterAid, Banco Mundial; Organizao Mundial de Sade; Organizao Meteorolgica Mundial; Organizao Mundial do Comrcio; Organizao Mundial da Propriedade Intelectual; e o Fundo Mundial de Vida Selvagem.Painel de Consultores

Goldemberg, HRH Crown Prince Haakon, Saleem Huq, Inge Kaul, Kivutha Kibwana, Akio Morishima, Rajendra Pachauri, Jiahua Pan, Achim Steiner, HRH Princess Basma Bint Talal, Colleen Vogel, Morris A. Ward, Robert Watson, Ngaire Woods e Stephen E. Zebiak. Tambm um painel de consultores na rea das estatsticas prestou um contributo de valor inestimvel, particularmente, Tom Gri n, principal Consultor de Estatstica do Relatrio. Os membros deste painel so: Carla Abou-Zahr, Tony Atkinson, Haishan Fu, Gareth Jones, Ian D. Macredie, Anna N. Majelantle, John Male-Mukasa, Marion McEwin, Francesca Perucci, Tim Smeeding, Eric Swanson, Pervez Tahir e Michael Ward. A equipa agradece a Partha Deb, Shea Rutstein e Michael Ward, que procederam reviso e comentrio de uma anlise de risco e vulnerabilidade do GRDH, oferecendo os seus conhecimentos estatsticos.Consultas

O Relatrio bene ciou em grande medida do apoio e da orientao intelectual prestados por um painel de consultores especialistas em colaborao externa. O painel incluiu Monique Barbut, Alicia Brcena, Fatih Birol, Yvo de Boer, John R. Coomber, Mohammed T. El-Ashry, Paul Epstein, Peter T. Gilruth, Jos

Os membros da equipa do Relatrio de Desenvolvimento Humano bene ciaram individual e colectivamente de um abrangente processo de consultoria. Os participantes num debate acerca de uma Rede de Desenvolvimento Humano ofereceram profundas re exes e observaes sobre os elos de ligao entre alteraes climticas e desenvolvimento humano. A equipa do relatrio deseja tambm agradecer a Neil Adger, Keith Allott, Kristin Averyt, Armando Barrientos, Haresh Bhojwani, Paul Bledsoe, omas A. Boden, Keith Bri a, Nick Brooks, Katrina Brown, Miguel Ceara-Hatton, Fernando Caldern, Jacques Charmes, Lars Christiansen, Kirsty Clough, Stefan Dercon, Jaime de Melo, Stephen Devereux, Niky Fabiancic, Kimberley Fisher, Lawrence Flint, Claudio Forner, Jennifer Frankel-Reed, Ralph Friedlaender, Oscar Garcia, Stephen Gitonga, Heather Grady, Barbara Harris-White, Molly E. Hellmuth, John Hoddinott, Aminul Islam, Tarik-ul-Islam, Kareen Jabre, Fortunat Joos, Mamunul Khan, Karoly Kovacs, Diana Liverman, Lars Gunnar Marklund, Charles McKenzie, Gerald A. Meehl, Pierre Montagnier, Jean-Robert Moret, Koos Nee es, Iiris Niemi, Miroslav Ondras, Jonathan T. Overpeck, Vicky Pope, Will Prince, Kate Raworth, Andrew Revkin, Mary Robinson, Sherman Robinson, Rachel Slater, Leonardo Souza, Valentina Stoevska, Eric Swanson, Richard Tanner, Haiyan Teng, Jean Philippe omas, Steve Price omas, Sandy Tolan, Emmaix

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Tompkins, Emma Torres, Kevin E. Trenberth, Jessica Troni, Adriana Velasco, Marc Van Wynsberghe, Tessa Wardlaw e Richard Washington.Leitores do PNUD

Um grupo de leitores, composto por colegas do PNUD, forneceu diversos comentrios, sugestes e informaes teis durante a redaco do Relatrio. Nesse sentido, o contributo e o apoio prestados por Pedro Conceio, Charles Ian McNeil e Andrew Maskrey merecem uma especial meno. Todos eles foram generosos no tempo que dispensaram, e os seus contributos para o Relatrio foram efectivamente assinalveis. Recebemos tambm contributos de: Randa Aboul-Hosn, Amat Al-Alim Alsoswa, Barbara Barungi, Winifred Byanyima, Suely Carvalho, Tim Clairs, Niamh Collier-Smith, Rosine Coulibaly, Maxx Dilley, Philip Dobie, Bjrn Frde, Tegegnework Gettu, Yannick Glemarec, Luis Gomez-Echeverri, Rebeca Grynspan, Raquel Herrera, Gilbert Fossoun Houngbo, Peter Hunnam, Ragnhild Imerslund, Andrey Ivanov, Bruce Jenks, Michael Keating, Douglas Keh, Olav Kjorven, Pradeep Kurukulasuriya, Oksana Leshchenko, Bo Lim, Xianfu Lu, Nora Lustig, Metsi Makhetha, Ccile Molinier, David Morrison, Tanni Mukhopadhyay, B. Murali, Simon Nhongo, Macleod Nyirongo, Ha z Pasha, Stefano Pettinato, Selva Ramachandran, Marta Ruedas, Mounir Tabet, Jennifer Topping, Kori Udovicki, Louisa Vinton, Cassandra Waldon e Agostinho Zacarias.Edio, Produo e Traduo

mento. A edio tcnica e de produo foi realizada por Sue Hainsworth e Rebecca Mitchell. A capa e os separadores foram concebidos pela Talking Box, com contributos conceptuais de Martn Snchez e Ruben Salinas, com base num padro desenhado pela Grundy & Northedge em 2005. O design de informao foi realizado pela Phoenix Design Aid e a Zago; um mapa (mapa 1.1) foi desenhado pela Mapping Worlds. A Phoenix Design Aid, sob a coordenao de Lars Jrgensen, produziu tambm o layout do Relatrio. A produo, traduo, distribuio e promoo do Relatrio bene ciaram da ajuda e apoio do Gabinete de Comunicaes do PNUD, e particularmente de Maureen Lynch e Boaz Paldi. As tradues foram revistas por Iyad Abumoghli, Bill Bikales, Jean Fabre, Albric Kacou, Madi Musa, Uladzimir Shcherbau e Oscar Yujnovsky. O Relatrio tambm bene ciou com o trabalho e dedicao de Jong Hyun Jeon, Isabelle Khayat, Caitlin Lu, Emily Morse e Lucio Severo. Swetlana Goobenkova e Emma Reed prestaram um contributo valioso equipa de estatstica. Margaret Chi e Juan Arbelaez do Gabinete das Naes Unidas para os Servios e Projecto ofereceram um significativo apoio administrativo, bem como servios de gesto.

O Relatrio usufruiu do apoio e contributo de uma equipa editorial da Green Ink. Anne Moorhead prestou apoio na estrutura e apresentao do argu-

Kevin Watkins Director Relatrio de Desenvolvimento Humano 2007/2008

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ndice

Prefcio Agradecimentos

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Introduo Combater as Alteraes Climticas: Solidariedade humana num mundo dividido

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Captulo 1

O desao climtico do sculo XXI

19 24 24 26 31 31 32 34 40 40 43 44 46 47 51 52 53 53 56 58 58 59 60 64 68 71 71 75 75 78 83

1.1 As alteraes climticas e o desenvolvimento humano O retrocesso Alteraes climticas perigosas cinco pontos de viragem do desenvolvimento humano 1.2 A cincia climtica e os cenrios futuros Alteraes climticas induzidas pelo Homem Contabilidade geral do carbono stocks, uxos e sumidouros Cenrios das alteraes climticas os conhecidos, os desconhecidos que se conhecem e os incertos 1.3 Do global ao local medir as pegadas de carbono num mundo desigual Pegadas nacionais e regionais os limites da convergncia Desigualdades nas pegadas de carbono algumas pessoas deixam menos rastros do que outras 1.4 Evitar alteraes climticas perigosas um percurso sustentvel de emisses Oramento de carbono para um planeta frgil Cenrios para a segurana climtica o tempo esgota-se O custo da transio para as baixas emisses de carbono possvel investir na mitigao? 1.5 A trajectria actual caminhos para um futuro climtico insustentvel Um olhar sobre o passado o mundo a partir de 1990 Um olhar sobre o futuro presos a um percurso ascendente Factores para o aumento de emisses 1.6 Porque devemos agir para evitar as alteraes climticas perigosas A gesto climtica responsvel num mundo interdependente A justia social e a interdependncia ecolgica O processo econmico para uma aco urgente Mobilizao da aco pblica Concluso Tabela 1.1 do Apndice: Medio das pegadas de carbono em termos globais pases e regies seleccionados Captulo 2 Choques climticos: risco e vulnerabilidade num mundo desigual

2.1 Os choques climticos e as armadilhas de baixo desenvolvimento humano Desastres climticos uma tendncia crescente Risco e vulnerabilidade As armadilhas de baixo desenvolvimento humano

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Dos choques climticos de hoje s privaes de amanh as armadilhas de baixo desenvolvimento humano em aco 2.2 Um olhar sobre o futuro os velhos problemas e os novos riscos das alteraes climticas Produo agrcola e segurana alimentar Stress e escassez hdricos Aumento do nvel do mar e exposio a riscos climticos extremos Ecossistemas e biodiversidade Sade humana e fenmenos climticos extremos Concluso

88 90 90 95 98 102 105 107

Captulo 3

Evitar alteraes climticas perigosas: estratgias para mitigao

109 112 113 113 118 119 125 125 129 133 134 137 139 145 148 149 159 162

3.1 Estabelecer metas para a mitigao Oramento de carbono viver dentro dos nossos recursos ecolgicos Proliferao das metas de reduo das emisses Quatro problemas para o oramento de carbono As metas so importantes, mas os resultados tambm 3.2 Atribuir um preo ao carbono o papel dos mercados e dos governos Taxao versus limite-e-negociao limite-e-negociao lies do Regime Comunitrio de Comrcio de Emisses da Unio Europeia 3.3 O papel crucial da regulao e da aco governamental Produo de energia elctrica mudar a trajectria das emisses O sector residencial mitigao de baixo custo Padres de emisso por veculo A I&D e a disposio das tecnologias de baixas emisses de carbono 3.4 O papel decisivo da cooperao internacional Um papel alargado para as mudanas tecnolgicas e nanciamentos Reduzir a desorestao Concluso Captulo 4 Adaptao ao inevitvel: aco nacional e cooperao internacional

165 170 170 173 174 187 187 188 194 200 201 206

4.1 O desao nacional Adaptao nos pases desenvolvidos Viver com as alteraes climticas adaptao nos pases em vias de desenvolvimento Estruturao de polticas nacionais de adaptao 4.2 Cooperao internacional na adaptao s alteraes climticas O processo para a aco internacional Actual nanciamento para a adaptao demasiado pequeno, tardio e fragmentado Despertar para o desao da adaptao reforo da cooperao internacional para a adaptao Concluso Notas Bibliograa Caixas 1.1 1.2 1.3 Os efeitos de reaco podero acelerar as alteraes climticas Milhes de pessoas no tm acesso aos servios modernos de energia Os pases desenvolvidos caram aqum dos seus compromissos de Quioto

38 45 54

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1.4 1.5 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7

Gesto, tica e religio fundamentos comuns nas alteraes climticas Anlise custo-benefcio e as alteraes climticas Subnoticao de desastres climticos A indstria global de seguros reavaliao dos riscos climticos Furaco Katrina as questes scio-demogrcas de uma catstrofe Seca e insegurana alimentar em Nger Vendas de emergncia nas Honduras A inundao do sculo no Bangladesh As alteraes climticas no Malawi mais e piores As alteraes climticas e a crise hdrica da China O degelo dos glaciares e a reduo das prospeces para o desenvolvimento humano As alteraes climticas e o desenvolvimento humano no Delta do Mekong Exemplo de liderana no oramento de carbono Califrnia Metas e resultados divergem no Canad O preo das alteraes climticas no Reino Unido estabelecer um oramento de carbono A Unio Europeia metas de 2020 e estratgias para as alteraes climticas e energia Reduo da intensidade de carbono em economias de transio Energia nuclear algumas questes difceis Energia renovvel na Alemanha sucesso da tarifa de injeco Os nveis de emisses dos veculos nos Estados Unidos A expanso do leo de palma e do biocombustvel uma histria de advertncia Reforma das polticas energticas e de carvo na China Descarbonizao do crescimento na ndia Articular os mercados de carbono com os MDGs (Objectivos de Desenvolvimento do Milnio) por ODMs e o desenvolvimento sustentvel A adaptao nas ilhas char do Bangladesh Programa da Rede de Segurana da Produo na Etipia Transferncias monetrias condicionais Programa Bolsa de Famlia do Brasil Reduzir vulnerabilidades atravs da agricultura em Malawi Seguro contra riscos e adaptao Aprendizagem pela experincia em Moambique Programas de Aco Nacional para a Adaptao (NAPAs) uma abordagem limitada

61 65 77 79 81 85 87 88 93 97 99 100 116 120 121 123 124 134 136 139 144 151 152 155 179 182 183 184 185 186 191

Tabelas 1.1 1.2 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 3.1 3.2 3.3 3.4 4.1 As variaes de temperatura aumentam com os stocks de CO2 As pegadas de carbono globais, nos nveis da OCDE, exigiriam mais do que um planeta As emergncias alimentares associadas s secas e o desenvolvimento humano esto intimamente relacionados no Qunia A seca no Malawi como lutam os pobres O impacto das secas na Etipia A agricultura desempenha um papel crucial nas regies em vias de desenvolvimento O aumento dos nveis do mar provocaria elevados impactos sociais e econmicos As metas de reduo das emisses variam Propostas para o Regime Comunitrio de Comrcio de Emisses da Unio Europeia As emisses de carbono esto associadas s tecnologias das centrais de carvo A eccia da energia industrial varia bastante Estimativa do nanciamento para a adaptao multilateral 34 48 80 84 85 91 101 114 131 149 150 192

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4.2 4.3

O custo do desenvolvimento da resistncia s alteraes climticas Investir na adaptao at 2015

195 196

Figuras 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13 1.14 1.15 1.16 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 O aumento das emisses de CO2 est a agravar os stocks e a fazer subir as temperaturas A previso das temperaturas globais: trs cenrios do PIAC As emisses dos gases com efeito de estufa so dominadas pela energia e alteraes do uso do solo e silvicultura Os pases desenvolvidos predominam na estimativa das emisses cumulativas Elevada concentrao das emisses globais de CO2 Pases desenvolvidos pegadas de carbono profundas Viver sem electricidade A dependncia da biomassa permanece em muito pases Os riscos das alteraes climticas perigosas aumentam com os stocks de gases com efeito de estufa O oramento de carbono para o sculo XXI ter uma expirao a curto prazo Reduzir as emisses para metade, em 2050, poderia evitar alteraes climticas perigosas Diminuir e convergir para um futuro sustentvel Uma mitigao restrita no proporciona resultados rpidos Alguns pases desenvolvidos esto aqum das metas e compromissos de Quioto Trajectria actual: emisses de CO2 em ascenso A intensidade do carbono diminui a um ritmo demasiado lento para o corte das emisses globais Os desastres climticos afectam mais pessoas Os riscos de desastres pendem para os pases em vias de desenvolvimento Os desastres climticos propiciam a perda de bens segurados A proviso do seguro social bem maior nos pases desenvolvidos A variao dos rendimentos acompanha a variao da precipitao na Etipia As alteraes climticas iro prejudicar a agricultura nos pases em vias de desenvolvimento A reduo dos glaciares da Amrica Latina A queda da intensidade do carbono nem sempre diminui as emisses Os preos do carbono na Unio Europeia tm sido volveis O carvo determina o aumento das emisses de CO2 no sector energtico Energia Elica nos EUA a capacidade aumenta e os custos diminuem Os padres de ecincia dos combustveis nos pases ricos variam bastante A transio rpida da frota de automveis possvel Paquisto Alguns biocombustveis so mais baratos e cortam as emisses de CO2 O aumento da ecincia do carvo poderia reduzir as emisses de CO2 As orestas esto em decrscimo A adaptao constitui um bom investimento na Unio Europeia Falhas de informao climtica em frica preciso acelerar os uxos de ajuda para cumprir compromissos A ajuda capital para a frica Subsariana insuciente Os investimentos dos pases desenvolvidos abrandam os fundos internacionais de adaptao A ajuda vulnervel s alteraes climticas 32 35 40 40 41 43 44 44 46 47 49 50 51 53 56 57 75 76 78 80 91 91 98 119 130 133 135 138 142 143 149 158 172 175 190 190 192 193

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Mapas 1.1 2.1 Registo da variao global das emisses de CO2 Aridez: aumento da rea de seca em frica Contributos especiais Alteraes climticas juntos podemos vencer a batalha, Ban Ki-moon Poltica climtica enquanto poltica de desenvolvimento humano, Amartya Sen O nosso futuro comum e as alteraes climticas, Gro Harlem Bruntland As alteraes climticas enquanto questo de direitos humanos, Sheila Watt-Cloutier Nova Iorque na liderana das alteraes climticas, Michael R. Bloomberg Aco nacional para enfrentar um desao global, Luiz Incio Lula da Silva No precisamos de um apartheid na adaptao s alteraes climticas, Desmond Tutu A nossa escolha a de no ter escolha, Sunita Narain 23 28 59 82 117 141 168 189 42 92

Indicadores de desenvolvimento humanoIndicadores de desenvolvimento humano Guia do leitor e notas das tabelas Acrnimos e abreviaturas Monitorizar o desenvolvimento humano: alargar as escolhas das pessoas 1 ndice de desenvolvimento humano 1a Indicadores bsicos para outros estados-membros das Naes Unidas 2 Tendncias do ndice de desenvolvimento humano 3 Pobreza humana e de rendimentos: pases em vias de desenvolvimento 4 Pobreza humana e de rendimentos: pases da OCDE, Europa Central e de Leste e a CEI para viverem uma vida longa e saudvel 5 Tendncias demogrcas 6 Compromisso com a sade: recursos, acesso e servios 7 gua, saneamento e estado de nutrio 8 Desigualdades na sade materna e infantil 9 Principais crises e riscos de sade mundiais 10 Sobrevivncia: progressos e retrocessos adquirem conhecimento 11 Compromisso com a educao: despesa pblica 12 Alfabetizao e escolarizao 13 Tecnologia: difuso e criao terem acesso aos recursos necessrios para um nvel de vida digno 14 Desempenho econmico 15 Desigualdade em rendimentos e consumo 16 Estrutura do comrcio 17 Despesas dos pases da OCDE-CAD com a ajuda 221 223 230

231 235 236 240 243

245 249 253 257 259 263

267 271 275

279 283 287 291

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18 19 20 21

Fluxos de ajuda, capital privado e dvida Prioridades da despesa pblica Desemprego nos pases da OCDE Desemprego e trabalho do sector informal em pases que no integram a OCDE

292 296 300 301

enquanto os preservam para as geraes futuras 22 Energia e ambiente 23 Recursos energticos 24 Emisses e stocks de dixido de carbono 25 Posio dos principais tratados internacionais do ambiente protegendo a segurana pessoal 26 Refugiados e armamentos 27 Crime e justia e alcanando a igualdade para todas as mulheres e homens 28 ndice de desenvolvimento relativo ao gnero 29 Medida de participao segundo o gnero 30 Desigualdade de gnero na educao 31 Desigualdade de gnero na actividade econmica 32 Gnero, trabalho e afectao do tempo 33 Participao poltica das mulheres Instrumentos dos direitos humanos e do trabalho 34 Posio dos principais instrumentos internacionais de direitos humanos 35 Posio das convenes sobre direitos fundamentais do trabalho Nota tcnica 1 Nota tcnica 2 Denies de termos estatsticos Referncias estatsticas Classicao de pases ndice de indicadores ndice de indicadores dos Objectivos de Desenvolvimento do Milnio nas tabelas dos indicadores

304 308 312 316

320 324

328 332 336 340 344 345

349 353 357 364 366 374 376 380 385

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Sntese

Combater as alteraes climticas: solidariedade humana num mundo dividido

O progresso humano no automtico nem inevitvel. Somos actualmente con ontados com o facto de o amanh ser hoje, e colocados perante a urgncia cruel do agora. Neste enigma da vida e da histria possvel ser demasiado tarde... Podemos gritar desesperadamente para que o tempo pare, mas o tempo ensurdece a cada splica e continua a passar rapidamente. Sobre as ossadas descoradas e a mistura de restos de numerosas civilizaes est escrita uma expresso pattica: Demasiado tarde.Martin Luther King Jr. Where do we go om here: chaos or community

As palavras de Martin Luther King, proferidas num discurso sobre justia social h quatro dcadas, retm uma ressonncia poderosa. No incio do sculo XXI, tambm ns somos confrontados com a urgncia cruel de uma crise que envolve o hoje e o amanh as alteraes climticas. uma crise que ainda se pode prevenir, mas apenas por enquanto. O mundo tem menos de uma dcada para mudar o seu rumo. No h assunto que merea ateno mais urgente nem aco mais imediata. As alteraes climticas so a questo central do desenvolvimento humano para a nossa gerao. Com desenvolvimento pretende-se, em ltima anlise, expandir o potencial humano e fomentar a liberdade humana. As pessoas procuram desenvolver capacidades que as possibilitem fazer escolhas e ter uma vida que valorizem. As alteraes climticas ameaam corroer a liberdade humana e limitar o poder de escolha. Colocam em causa o princpio iluminista de que o progresso humano leva a que o futuro se a gure melhor que o passado. Os primeiros sinais de alerta so j perceptveis. Hoje, testemunhamos em primeira-mo o que pode ser o incio do maior retrocesso em desenvolvimento humano durante o nosso perodo de vida. Nos

pases em vias de desenvolvimento, entre as populaes mais pobres do mundo, milhes de pessoas so j obrigadas a lidar com os impactos das alteraes climticas. Esses impactos no captam uma ateno de destaque nos meios de comunicao mundiais enquanto eventos apocalpticos. Efectivamente, passam despercebidos nos mercados nanceiros e nos valores do PIB. Mas o crescente nmero de situaes de seca, de tempestades mais violentas, de cheias, e de stress ambiental est a travar os esforos das populaes mais pobres do mundo no sentido de construrem uma vida melhor para si e para os seus lhos. As alteraes climticas iro minar os esforos internacionais de combate pobreza. H sete anos, lderes polticos de todo o mundo reuniram-se para de nir metas que acelerassem o progresso de desenvolvimento humano. Os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio (MDGs) de niram uma nova ambio para 2015. Muito foi conquistado, apesar de vrios pases permanecerem perdidos no rumo que deveriam seguir. As alteraes climticas esto a di cultar os esforos para a concretizao da promessa de se alcanar os MDGs. Olhando para o futuro, o perigo que o mundo que estagnado para depois sofrer um retrocesso no progresso desenvolvido ao longo de

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As alteraes climticas recordam-nos vivamente aquilo que todos ns temos em comum: chama-se planeta Terra. Todas as naes e todos os povos partilham a mesma atmosfera

geraes, no s na reduo da pobreza extrema, mas tambm na sade, nutrio, educao e outras reas. O modo como o mundo lida hoje com as alteraes climticas envolve consequncias directas nas perspectivas de desenvolvimento humano para uma grande parte da humanidade. O insucesso ir consignar os 40% mais pobres da populao mundial cerca de 2.6 mil milhes de pessoas a um futuro de oportunidades diminutas. Ir exacerbar desigualdades profundas no seio dos pases e minar os esforos para construir um padro de globalizao mais inclusivo, reforando as enormes disparidades entre os que tm e os que no tm. No mundo de hoje, so os pobres que suportam o maior fardo causado pelas alteraes climticas. Amanh ser a humanidade no seu todo que enfrentar os riscos inerentes ao aquecimento global. A rpida acumulao de gases com efeito de estufa na atmosfera terrestre est a alterar signi cativamente a previso meteorolgica para as geraes futuras. Aproximamo-nos da beira do abismo, o que se traduz em eventos imprevisveis e no lineares, que podem abrir a porta a catstrofes ecolgicas como sendo, nomeadamente, o acelerado degelo das calotes glaciares que iro transformar os padres de colonizao humana e minar a viabilidade das economias nacionais. Talvez a nossa gerao no viva para ver as consequncias. Mas os nossos lhos e os seus netos no tero outra alternativa se no viver com elas. O combate pobreza e desigualdade nos dias de hoje, bem como aos riscos catastr cos do futuro, constituem um forte fundamento racional para uma aco urgente. Alguns comentadores continuam a apontar para a incerteza acerca dos resultados futuros para justi car uma resposta limitada s alteraes climticas. Esse um mau princpio. H, de facto, muitas incertezas: a cincia climtica lida com probabilidades e riscos, no com certezas. No entanto, se valorizamos o bem-estar dos nossos lhos e netos, at pequenos riscos de catstrofe merecero uma abordagem de precauo baseada em seguro. E, para alm disso, as incertezas persistiro sempre em ambas as perspectivas: os riscos podero at ser maiores do que actualmente os concebemos. As alteraes climticas exigem neste momento uma aco urgente para lidar com uma ameaa a dois grupos de eleitores com fraca voz poltica: os pobres do mundo e as geraes futuras. Elas levantam ques-

tes profundamente importantes sobre justia social, equidade e direitos humanos nos pases e em todas as geraes. No Relatrio de Desenvolvimento Humano 2007/2008 abordamos estas questes. O nosso ponto de partida a ideia de que a batalha contra as alteraes climticas pode e deve ser ganha. Ao mundo no faltam recursos nanceiros nem capacidade tecnolgica para agir. Se falharmos na resoluo do problema das alteraes climticas ser porque fomos incapazes de fomentar a vontade poltica de cooperar. Tal resultado representaria no s falta de imaginao e liderana polticas, mas seria tambm uma falha moral numa escala sem paralelo na histria. Durante o sculo XX, falhas na liderana poltica conduziram a duas guerras mundiais. Milhes de pessoas pagaram um preo muito elevado por aquilo que eram catstrofes evitveis. As perigosas alteraes climticas so a catstrofe evitvel do sculo XXI e dos sculos vindouros. As geraes futuras julgar-nos-o com rudeza por termos olhado para a evidncia das alteraes climticas, termos percebido as consequncias e termos ainda assim continuado num caminho que consignou milhes dos povos mais vulnerveis pobreza, e colocou as geraes futuras perante o risco de um desastre ecolgico.Interdependncia ecolgica

As alteraes climticas so distintas de outros problemas que assolam a humanidade e desa am-nos a pensar de modo distinto a vrios nveis. Desa am-nos, sobretudo, a re ectir sobre o que signi ca fazer parte de uma comunidade humana ecologicamente interdependente. A interdependncia ecolgica no um conceito abstracto. Actualmente vivemos num mundo dividido, a vrios nveis. Os povos esto afastados por profundos hiatos de riqueza e oportunidades. Em muitas regies, nacionalismos rivais so fonte de con ito. Demasiadas vezes, as identidades religiosas, culturais e tnicas so tratadas como fonte de cises e diferenas para com o outro. Face a todas estas distines, as alteraes climticas recordam-nos vivamente aquilo que todos ns temos em comum: chama-se planeta Terra. Todas as naes e todos os povos partilham a mesma atmosfera. E temos apenas uma. O aquecimento global a prova de que estamos a sobrecarregar a capacidade da atmosfera terrestre. Os stocks de gases com efeito de estufa que retm o calor

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na atmosfera terrestre esto a acumular-se a um nvel sem precedentes. As concentraes actuais chegaram a 380 partes por milho (ppm) de equivalente dixido de carbono (CO2e), excedendo os limites naturais dos ltimos 650,000 anos. No decurso do sculo XXI, ou talvez um pouco para alm disso, as temperaturas globais mdias podem aumentar em mais de 5- C. Se contextualizarmos esse valor, ele o equivalente alterao de temperatura desde a ltima idade do gelo uma era em que uma parte considervel da Europa e da Amrica do Norte estavam cobertas por mais de um 1 km de gelo. O limiar do perigo de alteraes climticas corresponde a um aumento de cerca de 2C. Este limiar de ne, de um modo geral, o ponto em que ser muito difcil evitar rpidos retrocessos em desenvolvimento humano e o rumo a danos ecolgicos irreversveis. Por detrs dos valores e medidas esconde-se um facto simples e avassalador. Estamos a gerir mal e imprudentemente a nossa interdependncia ecolgica. A nossa gerao est a cumular uma dvida ecolgica insustentvel, a qual ser herdada pelas geraes futuras. Estamos a perder os fundos do capital ecolgico dos nossos lhos. Alteraes climticas perigosas representaro o ajuste a um nvel insustentvel de emisso de gases com efeito de estufa. As geraes futuras no so o nico grupo de eleitores que ter de se adaptar a um problema que no criou. So as populaes pobres do mundo que iro sofrer os primeiros e mais prejudiciais impactos. As naes mais ricas e os seus cidados so responsveis pelo pesado volume de gases com efeito de estufa retidos na atmosfera terrestre. Mas os pases pobres e os seus cidados pagaro o preo mais alto pelas alteraes climticas. Por vezes esquecemo-nos da relao inversa entre responsabilidade pelas alteraes climticas e vulnerabilidade ao seu consequente impacto. O debate pblico nas naes ricas enfatiza cada vez mais a ameaa que surge com o aumento das emisses de gases com efeito de estufa por parte dos pases em vias de desenvolvimento. A ameaa real. Mas no deve obscurecer o problema subjacente. Mahatma Gandhi re ectiu certa vez sobre quantos planetas seriam precisos se a ndia seguisse os padres de industrializao da Gr-Bretanha. Somos incapazes de responder a essa questo. Contudo, calculamos neste relatrio que, se todos os povos do mundo emitissem gases com efeito

de estufa ao mesmo nvel de alguns pases industrializados, precisaramos de nove planetas. Embora os povos pobres do mundo caminhem pela Terra deixando apenas uma leve pegada de carbono, so eles que suportam o maior peso de uma gesto insustentvel da nossa interdependncia ecolgica. Nos pases ricos, lidar com as alteraes climticas tem sido, at hoje, largamente uma questo de se ajustar os termstatos, lidar com veres mais quentes e longos e com mudanas sazonais. Cidades como Londres e Los Angeles podero enfrentar o risco de inundao caso o nvel do mar suba, mas os seus habitantes esto protegidos por elaborados sistemas de defesa contra cheias. Em contraste, quando o aquecimento global altera os padres meteorolgicos no Corno de frica, isso signi ca que as colheitas sero destrudas e as pessoas passaro fome, ou que mulheres e raparigas precisaro de mais tempo para ir buscar gua. E, quaisquer que sejam os riscos que afectem as cidades nos pases ricos, hoje as verdadeiras vulnerabilidades que emergem das alteraes climticas ligadas s tempestades e cheias podem ser detectadas nas comunidades rurais junto aos deltas de grandes rios como o Ganges, o Mekong e o Nilo, e em bairros de lata urbanos que crescem por todo o mundo em vias de desenvolvimento. Os riscos emergentes e a vulnerabilidade associados s alteraes climticas so o resultado de processos fsicos. Mas so tambm consequncia de aces e decises humanas. Este outro aspecto da interdependncia ecolgica que, por vezes, esquecemos. Quando uma pessoa, numa cidade americana, liga o ar condicionado ou uma outra pessoa na Europa conduz o seu carro, as suas aces tm consequncias. Essas consequncias ligam-nas s comunidades rurais no Bangladesh, aos lavradores na Etipia e aos habitantes de bairros degradados no Haiti. Com estas conexes humanas vem uma responsabilidade moral, incluindo a responsabilidade de re ectir sobre e mudar as polticas energticas que prejudicam outros povos ou as geraes futuras.O momento para agir

Estamos a gerir mal e imprudentemente a nossa interdependncia ecolgica. A nossa gerao est a cumular uma dvida ecolgica insustentvel, a qual ser herdada pelas geraes futuras

Se o mundo agir agora ser possvel e apenas possvel manter o aumento da temperatura global do sculo XXI no limiar de 2C acima dos nveis da era pr-industrial. Para atingir esta situao no futuro ser necessrio um elevado nvel de liderana e uma cooperao internacional sem paralelos. No entan-

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A verdadeira escolha que os lderes polticos e os povos enfrentam uma escolha entre os ideais humanos universais, por um lado, e a participao na violao sistemtica e generalizada dos direitos humanos, por outro

to, as alteraes climticas so uma ameaa que nos oferece uma oportunidade. Acima de tudo, oferece a oportunidade do mundo se unir e forjar uma resposta comum a uma crise que ameaa deter o progresso. Os valores que inspiraram os responsveis pela Declarao Universal dos Direitos do Homem fornecem um ponto de referncia de relevo. Aquele documento foi a resposta ao fracasso poltico que originou o nacionalismo extremista, o fascismo e a guerra mundial. Estabeleceu um conjunto de autorizaes e direitos civis, polticos, culturais, sociais e econmicos para todos os membros da famlia humana. Os ideais que inspiraram a Declarao Universal eram vistos como um cdigo de conduta para a humanidade, que poderia evitar o desrespeito e desprezo pelos direitos humanos que originaram actos de barbrie e que ultrajaram a conscincia da humanidade. Os autores do projecto da Declarao Universal dos Direitos do Homem reportaram-se segunda guerra mundial, uma tragdia humana que j havia acontecido. A questo das alteraes climticas diferente. Elas so uma tragdia humana em curso. Permitir que essa tragdia evolua seria um fracasso poltico que iria ultrajar a conscincia da humanidade. Representaria uma violao sistemtica dos direitos humanos dos pobres e das geraes futuras, e seria um passo atrs nos valores universais. Contrariamente, prevenir alteraes climticas perigosas ofereceria a esperana para um desenvolvimento de solues multilaterais para os problemas mais abrangentes com que se depara a comunidade internacional. As alteraes climticas confrontam-nos com questes extraordinariamente complexas que incluem a cincia, a economia e as relaes internacionais. Estas questes tm de ser abordadas atravs de estratgias prticas. Contudo, importante no perder de vista as questes mais abrangentes que esto em jogo. A verdadeira escolha que os lderes polticos e os povos enfrentam uma escolha entre os ideais humanos universais, por um lado, e a participao na violao sistemtica e generalizada dos direitos humanos, por outro. O ponto de partida para evitar o perigo de alteraes climticas consiste em reconhecer trs caractersticas distintivas do problema. A primeira a fora combinada da inrcia e de resultados acumulados das alteraes climticas. Assim que emitido, o dixido de carbono (CO2) e outros gases com efeitos de estufa cam na atmosfera durante muito tempo. No

possvel premir um boto que leve o tempo para trs para que se possa diminuir os stocks. Os povos que viverem no incio do sculo XX vivero com as consequncias das nossas emisses, tal como ns vivemos as consequncias das emisses desde a revoluo industrial. Os intervalos de tempo so uma importante consequncia da inrcia nas alteraes climticas. Mesmo medidas rigorosas de mitigao no iro afectar signi cativamente mudanas da temperatura mdia at meados de 2030 e as temperaturas no atingiro o seu mximo antes de 2050. Por outras palavras, durante a primeira metade do sculo XXI o mundo em geral, e os pobres em particular, tero de viver com as alteraes climticas com que estamos j comprometidos. A natureza acumulativa das alteraes climticas tem implicaes de grande alcance. Talvez a mais importante seja a de que os ciclos de carbono no acompanham os ciclos polticos. A gerao actual de lderes polticos no pode resolver o problema climtico, porque necessrio seguir uma via sustentvel de emisses durante dcadas, no anos. Contudo, temos o poder de arrombar essa janela de oportunidade para as geraes futuras ou, pelo contrrio, de a fechar. A segunda caracterstica do desa o climtico a urgncia e um corolrio de inrcia. Em muitas outras reas de relaes internacionais, a inactividade ou os atrasos nos acordos tm custos limitados. O comrcio internacional um exemplo. Esta uma rea em que as negociaes podem ser interrompidas e reiniciadas de novo, sem prejudicar o sistema subjacente a longo prazo como testemunhado pela infeliz histria da Agenda de Desenvolvimento de Doha. No que se refere s alteraes climticas, por cada ano que demoramos a chegar a um consenso para reduzir as emisses estamos a aumentar os stocks de gases com efeito de estufa, determinando uma mais elevada temperatura para o futuro. Para continuar a analogia, nos sete anos que se seguiram ao comeo da Agenda de Desenvolvimento de Doha, os gases com efeito de estufa aumentaram cerca de 12 ppm de CO2e estes gases ainda existiro quando os ciclos de negociao do sculo XXII estiverem em progresso. No h analogias histricas bvias na urgncia do problema das alteraes climticas. Durante a Guerra Fria, grandes reservas de msseis nucleares apontadas s cidades representavam uma grave ameaa segurana da humanidade. No entanto, no fazer nada era uma estratgia para conteno dos

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riscos. O conhecimento comum da possibilidade real e assegurada de uma destruio mtua oferecia uma estabilidade perversamente previsvel. Em contraste, no fazer nada relativamente s alteraes climticas signi ca seguir o caminho da acumulao de gases com efeito de estufa e da destruio mtua e certeira do potencial de desenvolvimento humano. A terceira dimenso do desa o das alteraes climticas a sua escala global. A atmosfera da Terra no distingue os gases com efeito de estufa por pas de origem. Uma tonelada de gases com efeito de estufa emitida pela China tem o mesmo peso que uma tonelada de gases com efeito de estufa emitida pelos Estados Unidos e as emisses de um pas so o problema climtico de outro. Alm disso, nenhum pas consegue vencer a batalha contra a mudana climtica agindo sozinho. A aco colectiva no uma opo mas um imperativo. Diz-se que, quando Benjamin Franklin assinou a Declarao da Independncia em 1776, comentou: Devemos todos permanecer juntos, ou, certamente, iremos permanecer separados. No nosso mundo desigual alguns povos especialmente os mais pobres podem permanecer separados mais cedo que outros, no caso de no conseguirmos desenvolver solues comuns. Mas, em ltima anlise, esta uma crise que se pode evitar, que ameaa todos os povos e todos os pases. Tambm ns podemos escolher permanecer juntos e forjar solues comuns para um problema colectivo, ou podemos permanecer separados.Aproveitar o momento para alm de 2012

Confrontado com um problema to intimidador como a mudana climtica, o pessimismo resignado parece ser uma reaco justi cada. No entanto, o pessimismo resignado um luxo a que os pobres e as futuras geraes no se podem dar e h uma alternativa. H razo para optimismo. H cinco anos, o mundo ainda debatia se as alteraes climticas estavam a acontecer e se eram, ou no, provocadas pelo Homem. O cepticismo perante estas alteraes representava uma indstria em crescimento. Hoje, o debate terminou e o cepticismo uma perspectiva cada vez mais margem. Mais, a quarta conveno do Painel Intergovernamental para as Alteraes Climticas (PIAC) estabeleceu um profundo consenso cient co segundo o qual se assumiu que as alteraes climticas so reais e provocadas pelo Homem. Quase todos

os governos partilham desse consenso. Aps a publicao do Relatrio Stern, e Economics of Climate Change, a maior parte dos governos tambm aceita que possvel custear as solues para as alteraes climticas mais do que pagar os custos da inaco. O mpeto poltico tambm ganha ritmo. Muitos governos de niram objectivos ousados para reduzir a emisso dos gases com efeito de estufa. A mitigao das alteraes climticas est agora rmemente implementada na agenda do industrializado Grupo dos Oito (G8). E o dilogo entre os pases desenvolvidos e em vias de desenvolvimento est a fortalecer-se. Tudo isto positivo. Os resultados prticos so, porm, menos impressionantes. Apesar de os governos reconhecerem a realidade do aquecimento global, a aco poltica continua a car aqum do mnimo necessrio para solucionar o problema. O fosso entre as evidncias cient cas e a resposta poltica continua grande. No mundo desenvolvido, alguns pases tm ainda que de nir objectivos ambiciosos para reduzir as emisses. Outros de niram metas ambiciosas sem colocar em prtica as reformas energticas necessrias para as atingir. O problema mais profundo que falta ao mundo uma estrutura multilateral clara, credvel e duradoura que estabelea um percurso que evite as alteraes climticas um percurso que abarque a diviso entre os ciclos polticos e os ciclos de carbono. Quando terminar o prazo, em 2012, do actual compromisso de nido no Protocolo de Quioto, a comunidade internacional ter oportunidade de materializar essa estrutura. Ser necessria uma liderana corajosa para aproveitar essa oportunidade. No a aproveitar ir deixar o mundo no caminho das alteraes climticas. Os pases desenvolvidos tero de pegar nas rdeas da liderana. Carregam o fardo da responsabilidade histrica no que se refere s alteraes climticas. Para alm disso, tm os recursos nanceiros e a capacidade tecnolgica para iniciar uma reduo profunda e imediata das emisses. Atribuir um preo ao carbono atravs de sistemas de tributao ou de limite e negociao parecem ser um ponto de partida. Mas atribuir um preo no su ciente. O desenvolvimento de sistemas reguladores e parcerias pblicas privadas para uma transio para baixos ndices de carbono so tambm prioridades. O princpio de uma responsabilidade comum mas diferenciada um dos pilares da estrutura de Quioto no signi ca que os pases em vias de de-

Nenhum pas consegue vencer a batalha contra a mudana climtica agindo sozinho. A aco colectiva no uma opo mas um imperativo

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Os pobres e as geraes futuras no se podem dar ao luxo de aceitar a complacncia e prevaricao que continua a caracterizar as negociaes internacionais relativamente ao clima

senvolvimento no devam ajudar. A credibilidade de qualquer acordo multilateral depende da participao de importantes emissores do mundo em vias de desenvolvimento. Contudo, os princpios bsicos de equidade e o imperativo de desenvolvimento humano de expandir o acesso energia exigem que os pases em vias de desenvolvimento tenham a exibilidade necessria para efectuar a transio para baixos ndices de carbono, num ritmo consistente com as suas capacidades. A cooperao internacional desempenha um papel crtico a muitos nveis. O esforo da mitigao global sairia dramaticamente reforado se uma estrutura de Quioto ps-2012 incorporasse mecanismos para a transferncia de nanciamento e tecnologia. Estes mecanismos poderiam ajudar a remover obstculos ao desembolso clere das tecnologias com baixos ndices de carbono, para evitar alteraes climticas perigosas. A cooperao que apoia a conservao e gesto sustentvel das orestas tropicais tambm fortaleceria os esforos da mitigao. Devemos, tambm, pensar nas prioridades de adaptao. Durante muito tempo, a adaptao s alteraes climticas tem sido tratada como uma questo perifrica, em vez de parte nuclear do programa internacional para a reduo da pobreza. A mitigao um imperativo porque ir de nir perspectivas com vista a evitar alteraes climticas perigosas no futuro. Mas os pobres no podem ser deixados ao abandono com os seus prprios recursos enquanto os pases ricos protegem os seus cidados com fortalezas prova de clima. A justia social e o respeito pelos direitos humanos requerem um compromisso internacional para a adaptao.O nosso legado

A estrutura de Quioto ps-2012 ir in uenciar poderosamente as perspectivas com vista a evitar as alteraes climticas e com vista a lidar com aquelas que neste momento so inevitveis. Nessa estrutura as negociaes sero moldadas pelos governos com diferentes nveis de in uncia. Tambm se faro ouvir os interesses mais in uentes do sector colectivo. Enquanto os governos embarcam em negociaes para um Protocolo de Quioto ps-2012, importante que re ictam sobre dois grupos eleitorais que, embora tenham poder de aco limitado, tm uma reivindicao de justia social e respeito pelos direitos humanos: os pobres e as geraes futuras.

As pessoas envolvidas numa luta diria para melhorar as suas vidas, que enfrentam fome e pobreza severas, deviam ser as primeiras a receber solidariedade humana. Certamente merecem mais que lderes polticos que se renem em cimeiras internacionais, fazem eco dos grandes objectivos a atingir e, depois, minam a realizao desses mesmos objectivos ao falharem na tomada de aco contra as alteraes climticas. E os nossos lhos e os netos dos seus lhos tm o direito de nos responsabilizar seriamente quando o futuro deles e talvez a sua sobrevivncia pender por um o. Efectivamente, eles merecem mais do que uma gerao de lderes polticos que se recostam na cadeira frente ao maior desa o que a raa humana alguma vez enfrentou. Sem rodeios, os pobres e as geraes futuras no se podem dar ao luxo de aceitar a complacncia e prevaricao que continua a caracterizar as negociaes internacionais relativamente ao clima. Nem podem permitir o grande fosso existente entre o que os lderes do mundo desenvolvido dizem sobre a ameaa das alteraes climticas e o que fazem nas suas polticas energticas. H 20 anos o ambientalista brasileiro Chico Mendes morreu ao tentar defender, da destruio, a oresta tropical da Amaznia. Antes da sua morte, falou dos laos que uniam a sua luta local com o movimento global para a justia social: primeiro pensei que lutava para salvar as seringueiras, depois pensei que lutava para salvar a oresta da Amaznia. Agora sei que lutava pela humanidade. A batalha contra o perigo das alteraes climticas faz parte da luta pela humanidade. Vencer exigir mudanas profundas a vrios nveis no consumo, na produo e atribuio de um preo da energia e na cooperao internacional. Mas, sobretudo, ir requerer alteraes signi cativas no modo como ns pensamos sobre a nossa interdependncia ecolgica, justia social para os pobres, direitos humanos e direitos das geraes futuras.O desao climtico do sculo XXI

O aquecimento global j est em curso. As temperaturas mundiais aumentaram em cerca de 0.7 C desde o advento da era industrial e o ritmo de crescimento cada vez mais clere. H evidncias impressionantes que associam o aumento das temperaturas ao aumento da concentrao de gases com efeito de estufa na atmosfera terrestre. No existe uma linha bem de nida que separe alteraes climticas perigosas e seguras. Muitas das

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populaes mais pobres e dos sistemas ecolgicos mais frgeis do mundo esto j a ser forados a adaptar-se s alteraes climticas perigosas. Porm, para alm do limiar dos 2C o risco de um retrocesso no desenvolvimento humano em grande escala e de catstrofes ecolgicas irreversveis aumentar vertiginosamente. A trajectria actual levar o mundo muito para alm desse limiar. Ter 50% de probabilidades de limitar o aumento da temperatura em 2C acima dos nveis pr-industriais ir requerer a estabilizao dos gases com efeito de estufa em concentraes de cerca de 450ppm CO2e. Uma estabilizao de 550ppm CO2e elevaria a probabilidade de ultrapassar o limiar em 80%. Nas suas vidas pessoais, poucas pessoas correriam riscos desta magnitude conscientemente. Contudo, enquanto comunidade global, estamos a correr riscos muito maiores com o planeta Terra. As projeces para o sculo XXI apontam para focos potenciais de estabilizao em excesso de 750ppm CO2e, com possveis alteraes de temperatura com 5C em excesso. Os cenrios relativos temperatura no captam os potenciais impactos de desenvolvimento humano. Alteraes mdias nas temperaturas na escala projectada pelos cenrios nas trajectrias actuais iro espoletar retrocessos em larga escala no desenvolvimento humano, minando vivncias e causando deslocaes em massa. No nal do sculo XXI, o espectro de impactos ecolgicos catastr cos podero ter ultrapassado os limites do possvel para o provvel. Provas recentes sobre o colapso acelerado das calotes glaciares na Antrtida e na Gronelndia, a acidi cao dos oceanos, a reduo dos sistemas da oresta tropical e o degelo dos solos perenemente gelados do rtico tm o potencial de separadamente ou em interaco apontarem para pontos crticos. A contribuio dos pases para as emisses de gases com efeito de estufa que se acumulam na atmosfera varia muito. Representando 15 % da populao mundial, os pases ricos contam com quase metade das emisses de CO2. O grande crescimento na China e na ndia est a conduzir uma convergncia gradual em emisses totais. Contudo, a convergncia das pegadas de carbono per capita mais limitada. A pegada de carbono dos Estados Unidos cinco vezes maior do que a da China e 15 vezes mais do que a da ndia. Na Etipia, a mdia per capita da pegada 0,1 toneladas de CO2 (tCO2) em comparao com 20 toneladas no Canad.

O que que o mundo precisa de fazer para seguir uma via de emisses que evite alteraes climticas perigosas? Ns colocamos a questo baseando-nos em simulaes de modelos climticos. Estas simulaes de nem um oramento de carbono para o sculo XXI. Se tudo o resto fosse igual, os oramentos globais de carbono para as emisses relacionadas com energia chegariam a cerca de 14.5 mil milhes de toneladas (Gt) de CO2 anualmente. As emisses actuais so o dobro. A m notcia que as emisses tm tendncia a aumentar. Resultado: o oramento de carbono para o sculo XXI pode expirar em 2032. Com efeito, estamos a aumentar as dvidas ecolgicas insustentveis, relegando as geraes futuras para alteraes climticas perigosas. A anlise do oramento de carbono traz uma nova perspectiva s preocupaes sobre as quotas de emisso de gases com efeito de estufa dos pases em vias de desenvolvimento. Apesar dessa quota parecer aumentar, no dever desviar a ateno das responsabilidades subjacentes das naes mais ricas. Se cada pessoa no mundo em vias de desenvolvimento tivesse a mesma pegada de carbono que o cidado mdio tem na Alemanha ou Reino Unido, as emisses actuais seriam quatro vezes o limite de nido pela nossa via sustentvel de emisses, aumentado para nove vezes se a pegada per capita do mundo em vias de desenvolvimento chegasse aos nveis dos Estados Unidos ou Canad. Para alterar estes dados sero precisas adaptaes profundas. Se o mundo fosse um s pas, teria de reduzir as emisses de gases com efeito de estufa em 50% at 2050, tendo em conta os nveis da dcada de 1990, com redues sustentveis no nal do sculo XXI. Contudo, o mundo no um s pas. Usando pressupostos plausveis, prevemos que, para evitar alteraes climticas perigosas, ser necessrio que as naes mais ricas reduzam as sua emisses em pelo menos 80%, com redues de 30% em 2020. Emisses dos pases em vias de desenvolvimento devero ter um mximo prximo de 2020, com redues de 20% em 2050. A nossa meta de estabilizao severa mas possvel. Entre o momento actual e 2030, o custo mdio anual chegaria a 1.6% do PIB. No se trata de um investimento insigni cante. Porm, representa menos de dois teros dos gastos militares globais. Os custos de no se tomar as aces necessrias poderiam ser

No nal do sculo XXI, o espectro de impactos ecolgicos catastrcos podero ter ultrapassado os limites do possvel para o provvel

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Os padres actuais de investimento esto a formar uma infra-estrutura intensiva de carbono como fonte de energia, assumindo o carvo um papel predominante

muito maiores. Segundo o Relatrio Stern, poderiam chegar a 20% do PIB mundial, dependendo de como os custos so calculados. Ter em conta a anterior tendncia das emisses sublinha a escala do desa o que temos pela frente. As emisses de CO2 relativas a energia aumentaram drasticamente desde 1990, anos de referncia para as redues acordadas no Protocolo de Quioto. Nem todos os pases desenvolvidos rati caram os objectivos do Protocolo, o que teria reduzido as suas emisses mdias em cerca de 5%. A maioria dos que os rati caram no esto a conseguir atingir as suas metas. E os poucos que esto a conseguir alcan-las podem dizer que a sua reduo das emisses foi resultado de um compromisso poltico de mitigao das alteraes climticas. O Protocolo de Quioto no colocou restries quantitativas nas emisses dos pases em vias de desenvolvimento. Se os prximos 15 anos de emisses seguirem a tendncia dos ltimos 15, alteraes climticas perigosas tornar-se-o inevitveis. As estimativas para o uso de energia apontam precisamente nesta direco ou pior ainda. Os padres actuais de investimento esto a formar uma infra-estrutura intensiva de carbono como fonte de energia, assumindo o carvo um papel predominante. Na base das tendncias actuais e das presentes polticas, as emisses de CO2 relativas a energia podem subir mais de 50%, acima dos nveis de 2005 em 2030. Os 20 bilies de dlares americanos (US$) que se previa serem gastos entre 2004 e 2030 para dar resposta procura de energia podem colocar o mundo numa trajectria insustentvel. Em alternativa, novos investimentos podero ajudar a descarbonizar o crescimento econmico.Choques climticos: risco e vulnerabilidade num mundo desigual

Os choques climticos j fazem parte da vida dos mais pobres. Eventos como secas, cheias e tempestades so experincias terrveis para aqueles que so afectados: ameaam as suas vidas, deixando-lhes um sentimento de insegurana. Mas os choques climticos tambm corroem oportunidades a longo prazo para o desenvolvimento humano, minando a produtividade e desgastando as capacidades humanas. Os choques climticos no podero ser atribudos s alteraes climticas. Contudo, as alteraes incrementam os riscos e as vulnerabilidades que as populaes mais pobres enfrentam. Procura-se desenvolver ainda mais

os procedimentos, j de si bastante rebuscados, para se tentar lidar com estas situaes, e as populaes cam presas em espirais de crescente privao. A vulnerabilidade aos choques climticos est desigualmente distribuda. O furaco Katrina foi um poderoso sinal da fragilidade humana face mudana climtica, mesmo nos pases ricos especialmente quando os impactos interagem com a desigualdade institucionalizada. No mundo desenvolvido, a opinio pblica mostra-se cada vez mais preocupada relativamente aos riscos climticos extremos. Com cada inundao, tempestade ou onda de calor, a preocupao aumenta. No entanto, os desastres climticos esto fortemente concentrados nos pases pobres. Cerca de 262 milhes de pessoas foram anualmente afectadas por desastres climticos entre 2000 e 2004, mais de 98% nos pases em vias de desenvolvimento. Na Organizao de Cooperao e de Desenvolvimento Econmico (OCDE) uma em cada 1500 pessoas foi afectada por um desastre climtico. A proporo comparvel nos pases desenvolvidos de 1 para 19 um risco diferencial de 79. Elevados ndices de pobreza e baixos nveis de desenvolvimento humano limitam a capacidade dos agregados familiares pobres de gerirem riscos climticos. Com um acesso limitado a um seguro formal, baixos rendimentos e escassos bens, os lares pobres tm de lidar com os choques climticos sob condies restritivas. As estratgias para lidar com os riscos climticos podem reforar a privao. Para minimizar os riscos, os produtores que vivem em reas sujeitas a secas renunciam muitas vezes a produes agrcolas que poderiam resultar num aumento dos rendimentos, preferindo colheitas com retornos econmicos mais baixos mas resistentes s secas. Quando os desastres climticos ocorrem, os mais pobres so muitas vezes forados a vender bens produtivos, que teriam implicaes certas de retorno, de modo a proteger o consumo. E quando isso no su ciente, os agregados lidam com a situao de outros modos: reduzem as refeies, gastam menos em sade e tiram os lhos da escola. Estas so medidas desesperadas que podem criar ciclos de vida com desvantagens, relegando os agregados mais vulnerveis para armadilhas de baixo desenvolvimento humano. A pesquisa efectuada neste relatrio sublinha o quo incontornveis estas situaes podem ser. Se usarmos informao sobre as famlias, a um nvel micro,

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examinamos alguns dos impactos dos choques climticos nas vidas dos mais pobres a longo prazo. Na Etipia e no Qunia, dois dos pases mais propensos a secas, as crianas com 5 anos ou menos tm, respectivamente, entre 36% e 50% mais possibilidades de estarem mal nutridas se tiverem nascido em tempo de seca. Na Etipia, isso traduz-se em cerca de mais 2 milhes de crianas mal nutridas, em 2005. Na Niger, crianas com 2 anos ou menos nascidas num ano de secas tinham mais 72% de probabilidades de serem pouco desenvolvidas. E as mulheres indianas nascidas em tempo de cheias, na dcada de 1970, tm menos 19% de probabilidades de terem frequentado a escola primria. Os danos no desenvolvimento humano gerados a longo prazo pelos choques climticos so insu cientemente compreendidos. As informaes sobre os desastres relacionados com o clima, transmitidas pelos meios de comunicao, desempenham muitas vezes um papel preponderante na formao de opinio e na captao do consequente sofrimento humano. Contudo, tambm fomentam a ideia de que estas experincias vm e vo, desviando a ateno das consequncias das cheias e secas para a humanidade a longo prazo. As alteraes climticas no so anunciadas como acontecimentos apocalpticos nas vidas dos mais pobres. ainda impossvel atribuir a responsabilidade s alteraes climticas por um evento espec co. Contudo, a mudana climtica ir aumentar a vulnerabilidade das famlias mais pobres aos choques climticos e colocar uma maior presso em implementar estratgias de resoluo que, com o tempo, podero efectivamente corroer as capacidades humanas. Identi camos cinco mecanismos de transmisso essenciais, atravs dos quais as alteraes climticas se podero instalar e posteriormente inverter o desenvolvimento humano: Produo agrcola e segurana alimentar. As alteraes climticas iro afectar a pluviosidade, a temperatura e a disponibilidade de gua para a agricultura em reas vulnerveis. Por exemplo, reas afectadas pelas secas na frica Subsariana podero expandir em 60-90 milhes de hectares, com zonas ridas a sofrer perdas de US$26 mil milhes em 2060 (preos de 2003), um valor que excede o auxlio bilateral regio em 2005. Outras reas em desenvolvimento incluindo a Amrica Latina e o sul da sia vivero perdas na produo agrcola, minando-se assim os esforos para reduzir a pobreza rural. O nmero adi-

cional afectado pela subnutrio pode ascender aos 600 milhes em 2080. Crise e insegurana da gua. Padres de alterao e degelo dos glaciares iro juntar-se ao stress ecolgico, comprometendo as correntes de gua para irrigao e a colonizao humana no processo. Haver mais de 1.8 milhares de milho de pessoas num ambiente de escassez de gua em 2080. sia central, norte da China e parte norte do sul da sia enfrentam imensas vulnerabilidades associadas ao recuo dos glaciares a um ritmo de 10-15 metros por ano nos Himalaias. Sete dos grandes rios da sia tero um aumento na subida dos nveis da gua a curto prazo, seguido por um declnio, enquanto os glaciares derretem. A regio dos Andes tambm enfrenta iminentes ameaas segurana da gua com o colapso dos glaciares tropicais. Vrios pases, em regies j por si com elevados nveis de carncias hdricas, como no Mdio Oriente, podem sofrer grandes perdas de disponibilidade de gua. Subida de nvel dos oceanos e exposio a desastres climticos. O nvel dos oceanos pode subir rapidamente com a clere desintegrao das calotes glaciares. Um aumento da temperatura global de 3-4C pode resultar em 330 milhes de pessoas temporria ou permanentemente deslocadas devido s inundaes. Mais de 70 milhes no Bangladesh, 6 milhes no Baixo Egipto e 22 milhes de pessoas no Vietname podem ser afectadas. Pequenos estados insulares no Pac co e nas Carabas podem sofrer danos catastr cos. O aquecimento dos mares tambm fomentar tempestades tropicais mais intensas. Com mais de 344 milhes de pessoas actualmente expostas a ciclones tropicais, as tempestades tropicais mais intensas podem ter consequncias devastadoras para um grande grupo de pases. O milhar de milho de pessoas que actualmente vivem em bairros urbanos degradados, em frgeis encostas, ou em margens de rio sujeitas a inundaes, enfrentam vulnerabilidades acutilantes. Ecossistemas e biodiversidade. As alteraes climticas j esto a transformar os sistemas ecolgicos. Cerca de metade dos sistemas de recife de corais do mundo sofreram branqueamento como resultado do aquecimento dos mares. O aumento da acidez dos oceanos outra ameaa, a longo prazo, para os ecossistemas marinhos.

Um aumento da temperatura global de 3-4C pode resultar em 330 milhes de pessoas temporria ou permanentemente deslocadas devido s inundaes

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Evitar as ameaas sem precedentes originadas pelas perigosas alteraes climticas ir requerer um exerccio colectivo sem igual na cooperao internacional

As ecologias glaciares tambm sofreram impactos devastadores devido s alteraes climticas, especialmente na regio do rctico. Embora alguns animais e espcies de plantas se adaptem, o ritmo das alteraes climticas demasiado rpido para muitos outros: os sistemas climticos movem-se mais depressa do que podero alguma vez acompanhar. Com um aquecimento de 3C, 20-30% de espcies terrestres podem estar beira da extino. Sade humana Os pases ricos j se encontram a desenvolver sistemas de sade pblicos para lidar com os choques climticos futuros, como a onda de calor de 2003 e condies mais extremas no Vero e no Inverno. Contudo, os maiores impactos na sade sero sentidos nos pases em vias de desenvolvimento, devido aos elevados ndices de pobreza e limitada capacidade de resposta dos sistemas de sade. Doenas fatais podem estender-se num raio muito superior. Por exemplo, entre 220 e 400 milhes de pessoas podem ser expostas malria uma doena que atinge cerca de 1 milho de pessoas anualmente. J se notam nveis mais altos da febre de Dengue do que alguma vez se veri cou, especialmente na Amrica Latina e em zonas da sia oriental. As alteraes climticas podem expandir a doena. Nenhum destes cinco os condutores se desenvolver isolado. Iro interagir com processos sociais, econmicos e ecolgicos mais vastos que moldam oportunidades para o desenvolvimento humano. Inevitavelmente, a combinao precisa de mecanismos de transmisso de mudana climtica para o desenvolvimento humano ir variar de pas para pas e dentro de cada um. Permanecem grandes incertezas. O que certo que as alteraes climticas perigosas podero, sistematicamente, resultar em violentos choques no desenvolvimento humano, e em vrios pases. Em contraste com os choques econmicos que afectam o crescimento, ou a in ao, muitos dos impactos no desenvolvimento humano oportunidades perdidas na sade e na educao, diminuio do potencial produtivo e a perda de sistemas ecolgicos vitais, por exemplo sero provavelmente irreversveis.Evitar alteraes climticas perigosas: estratgias para a mitigao

Evitar as ameaas sem precedentes originadas pelas perigosas alteraes climticas ir requerer um exer-

ccio colectivo sem igual na cooperao internacional. As negociaes sobre os limites das emisses no perodo de compromisso estabelecido no protocolo de Quioto ps-2012 podem e devem enquadrar o oramento global de carbono. Contudo, uma via de emisses globais sustentvel s ter signi cado se se traduzir em estratgias nacionais prticas e oramentos nacionais de carbono. A mitigao das alteraes climticas est a transformar o modo como produzimos e usamos energia, e implicar viver dentro dos limites da sustentabilidade ecolgica. O ponto de partida para a transio para uma via de emisses sustentvel traduz-se na de nio de objectivos credveis ligados aos objectivos globais de mitigao. Estes objectivos podem fornecer a base para exerccios oramentais de carbono que ligam o presente e o futuro atravs de uma srie de planos. Contudo, os objectivos credveis tm de ser apoiados por polticas claras. O relatrio nesta rea, at ao momento, no encorajador. A maior parte dos pases desenvolvidos est a car aqum dos objectivos de nidos sob o Protocolo de Quioto. O Canad um exemplo gritante. Em alguns casos, objectivos ambiciosos Quioto-mais foram adoptados. O Reino Unido e a Europa abraaram esses objectivos. No entanto, e por diferentes razes, em princpio ambos caro aqum das metas de nidas, a menos que movam esforos rapidamente para colocar a mitigao climtica no centro das reformas das polticas energticas. Dois dos maiores pases da OCDE no esto vinculados pelos objectivos de Quioto. A Austrlia optou por uma iniciativa de voluntariado mais abrangente, que produziu resultados mistos. Os Estados Unidos no tm um objectivo federal para reduzir as emisses. Em vez disso, tm uma meta de reduo da intensidade de carbono que mede a e cincia. O problema que os ganhos da e cincia no conseguiram evitar elevados aumentos de emisses totais. Na ausncia de objectivos federais, vrios estados dos Estados Unidos de niram as suas prprias metas de mitigao. A Lei de Aquecimento Global da Califrnia de 2006 uma tentativa ousada de alinhar as metas de reduo dos gases com efeito de estufa com reformas de polticas energticas. De nir objectivos ambiciosos para a mitigao um primeiro passo importante. Transformar os objectivos em medidas politicamente mais desa ante. O primeiro passo: xar um preo para as emisses

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de carbono. Estruturas de mudana de incentivo so uma combinao vital para uma transio mais rpida rumo a um crescimento com baixos ndices de carbono. Num cenrio optimizado, o preo do carbono seria global. Isto politicamente irrealista a curto prazo porque falta ao mundo o sistema de governao necessrio. A opo mais realista ser a dos pases ricos desenvolverem estruturas de tributao do carbono. Enquanto estas estruturas evoluem, os pases em vias de desenvolvimento poderiam ser integrados com o tempo, e conforme as condies institucionais o permitissem. H dois modos de atribuir um preo ao carbono. O primeiro tributar directamente as emisses de CO2. importante notar que a tributao do carbono no implica um aumento da carga scal. As receitas podem ser usadas de modo scalmente neutral para apoiar reformas scais ambientais por exemplo, reduzindo a tributao do trabalho e do investimento. Nveis marginais de tributao iriam requerer uma adaptao luz das tendncias das emisses de gases com efeito de estufa. Uma abordagem, de modo geral, consistente com a nossa via de emisses sustentvel, iria levar introduo da tributao ao nvel de US$10-20/t CO2, com aumentos anuais de US$5-10/t CO2, at atingir um nvel de US$60- 100/t CO2. Essa abordagem iria fornecer aos investidores e mercados uma estrutura clara e previsvel para planear investimentos futuros. E iria gerar fortes incentivos para uma transio para baixos ndices de carbono. A segunda opo para xar um preo no carbono limitar e negociar. Sob um sistema de limite-e-negociao, o governo de ne um limite geral de emisses e distribui quotas de emisso negociveis, permitindo o direito de emitir uma certa quantidade. Aqueles que conseguem reduzir as emisses de modo mais barato podero vender essas quotas. Uma desvantagem provvel nesta escolha de limitar e negociar a instabilidade do preo da energia. A potencial vantagem a certeza ambiental: o limite em si um tecto quantitativo para as emisses. Dada a urgncia em atingir redues considerveis e imediatas nas emisses dos gases com efeito de estufa, programas bem elaborados de limite e negociao tm o potencial de desempenhar um papel essencial na mitigao. O Regime Comunitrio de Comrcio de Emisses (RCLE UE) o maior programa de limite-e-negociao do mundo. Apesar de muito se ter atingido, h srios problemas a ter em conta. Os limites nas

emisses foram demasiado altos, sobretudo devido ao fracasso dos estados membros da Unio Europeia em resistir aos esforos lobistas de poderosos interesses pessoais. Alguns sectores notavelmente poderosos tm lucros inesperados custa do pblico. E s uma pequena fraco das licenas do RCLE UE menos de 10% na segunda fase pode ser leiloada, privando os governos de receitas de reformas scais, abrindo a porta manipulao poltica e gerando ine cincias. Restringir a atribuio de quotas no RCLE UE, seguindo a linha do compromisso da Unio Europeia de reduzir entre 20-30% nas emisses at 2020, ajudaria a alinhar os mercados de carbono com os objectivos da mitigao. Os mercados de carbono so uma condio necessria para uma transio para uma economia com baixos ndices de carbono. Mas no so o su ciente. Os governos tm um papel crtico a desempenhar na de nio de padres reguladores e no apoio pesquisa, ao desenvolvimento e implementao de baixos nveis de carbono. No h escassez de bons exemplos. A disposio de energias renovveis est a expandir, em parte devido criao de incentivos atravs da regulamentao. Na Alemanha, a tarifa de injeco ( feed-in tari ) aumentou a quota de fornecedores renovveis na grelha nacional. Os Estados Unidos tm usado, com sucesso, incentivos scais para encorajar o desenvolvimento de uma indstria elica vibrante. Contudo, apesar do rpido crescimento