desenvolvimento humano e desenvolvimento social

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    ARTIGO

    RESUMO

    O presente artigo analisa os conceitos de

    desenvolvimento, desenvolvimento social

    e desenvolvimento humano a partir da

    prpria ideia de movimento, passando pelas

    diversas formas que o desenvolvimento

    foi adquirindo no pensamento moderno e

    particularmente na escola desenvolvimentista

    latino-americana, at atingir s propostas de

    Amartya Sen que do base ao IDH, sua crtica

    e possvel superao.

    ABSTRACT

    This article analyzes the concepts of

    development, social development and

    human development from the very idea of

    movement, through the various ways that

    the development was acquired in modern

    thought and especially in Latin American

    developmental school, reaching to the

    proposed Amartya Sen that underlie the HDI,

    its criticism and possible evolution.

    PALAVRAS-CHAVE

    Desenvolvimento social, Desenvolvimento

    humano, IDH, Amartya Sen, Emancipao.

    KEYWORDS

    Social development, Human development,

    HDI, Amartya Sen, Emancipation.

    YGOR DIEGO ALVES

    Professor de Graduao / Ps UNINOVE.

    e-mail: [email protected]

    Desenvolvimento humanoe desenvolvimento social

    YGOR DIEGO ALVES, Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Social

    Human development and Social development

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    1INTRODUO

    Os conceitos de desenvolvimento humano e desenvolvimento social guardam uma

    histria de alguns sculos no ocidente, com inequvocas intenes polticas por parte de

    atores sociais especcos que iremos expor brevemente. Discutiremos algumas das dierentes

    ormas de abordar os temas que se sucederam, com direito a idas e vindas. As bases loscas

    de liberdade, e os limites que a ideologia liberal impe s construes produzidas pela

    ONU e particularmente pelo PNUD atualmente. Concluiremos com uma abordagem que

    consideramos mais realista na busca da autodeterminao.

    2 O QUE DESENVOLVIMENTO?

    A noo de desenvolvimento guarda em sua origem relao com o conceito aristotlico de

    movimento, ou seja, com a passagem da potncia ao ato. a realizao do que est em potncia,

    a construo de algo, a aprendizagem de uma lngua, a cura da enermidade, o crescimento

    de uma economia e o envelhecimento. Seu undamento seu motor, princpio e causa do

    movimento, da o teorema basilar da sica aristotlica de que tudo o que se move movido por

    alguma coisa. Modernamente, a partir do lsoo Guilherme de Ockham (ABBAGNANO, 2007)

    o movimento pode ser visto como a mudana de relao, de algo com aquilo que o circunda.

    Movimento o mesmo que mudana.

    E o que seria desenvolvimento? o movimento, como brevemente exposto acima, s

    que com uma dada direo que encaminha este algo para melhor. O signicado otimista do

    termo prprio do sc. XIX e o torna estreitamente ligado, se no sinnimo, dos conceitos

    de progresso e evoluo. O primeiro dos dois conceitos oi de vital importncia para a

    poltica e para as polticas sociais. Est inscrito na bandeira brasileira. E designa duas coisas,

    primeiramente, que algo, agora de maneira mais especca, tomado como srie de eventos, se

    desenvolva na direo desejvel. E em segundo lugar, considerando-se os acontecimentos

    histricos, eles tambm se desenvolveriam na direo do mais desejvel, realizando um

    apereioamento ou aprimoramento constante.

    Essa orma de ver a histria humana como desenvolvimento, ou progresso, alheia

    Antiguidade e Idade Mdia. Os antigos viam a histria como um processo de decadncia,a partir de uma pereio primitiva, ou idade do ouro. Ou de eventos que se repetiriam

    identicamente, de orma cclica e ilimitada. Isso muda radicalmente na modernidade, tanto

    que conorme o DICIONRIO DE CINCIAS SOCIAIS (1986), para o lsoo alemo Immanuel

    Kant: A histria da espcie humana como um todo pode ser considerada o desdobramento

    de um plano da natureza oculto para atingir um pereito estado de constituio civil para a

    sociedade. o positivismo de Augusto Comte que ir denitivamente rmar a ideia de histria

    como desenvolvimento, s que agora com um algo especco, que seria a ordem. O curso dos

    eventos histricos, da mesma orma que os naturais, constituiriam uma srie unilinear, ou seja,

    a direo do desenvolvimento, ou do progresso sempre a mesma. Nesta sria de eventos

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    histricos, cada termo do passado, presente e mesmo os que esto por ocorrer necessrio,

    no poderiam dar-se de outra orma nem ser dierentes do que so. Cada novo termo da

    srie, ou etapa de desenvolvimento, acrescenta alguma coisa de melhor. E, nalmente, odesenvolvimento inexorvel, sem volta, impossvel de ser detido, sendo qualquer retorno

    ao passado apenas aparente, enganoso, um disarce para o que realmente : uma condio

    necessria para um desenvolvimento maior.

    Uma viso dierente deste processo gradual, contnuo e integrado deendido por Comte

    pode ser encontrada na obra de Karl Marx, que via o desenvolvimento caracterizado pela

    descontinuidade e pela desarmonia, em que a mudana de um tipo de sociedade para outro,

    se desse de modo abrupto, motivado pela luta entre as classes sociais antagnicas. A ideia de

    desenvolvimento desigual (BOTTOMORE, 1996) caminha neste mesmo sentido, e signica

    que sociedades e pases desenvolvem-se segundo ritmos dierentes, porm havendo semprea possibilidade de que a vantagem de uns sobre os outros aumente, mas tambm, por ora

    destas mesmas dierenas de ritmo, os retardatrios podem alcanar e mesmo ultrapassar

    os inicialmente mais desenvolvidos. Isto possvel devido s revolues tecnolgicas que

    transormam radicalmente a base produtiva, e um pas ou regio que cou para trs, por

    exemplo, na industrializao pode passar diretamente para uma economia ps-industrial,

    baseada nas tecnologias de inormao, sem ter de passar obrigatoriamente pelo estgio

    industrial.

    A crise do conceito de desenvolvimento como progresso no tardou a aparecer. O lsoo

    Schopenhauer, j no sc. XIX, viu na histria a repetio dramtica da dor e do sorimento.Nietzsche, com a teoria do eterno retorno, mostra uma concepo do tempo como girando

    eternamente em torno de si mesmo. Os pensadores da chamada Escola de Frankurt,

    Horkheimer e Adorno (MATOS, 1993), viram o progresso no como uma evidncia histrica,

    mas como uma ideologia de dominao da classe burguesa sobre as outras. Reconhecem as

    regresses das sociedades e percebem o presente como sociedade da total administrao ou

    sociedade unidimensional, um mundo sem oposio, em que os confitos so dissimulados.

    Um totalitarismo uniormizante no qual o desenvolvimento se paga com o desaparecimento

    do sujeito autnomo. O desenvolvimento como progresso o triuno da tcnica e de sua

    racionalidade, o arquivamento do passado e apologia do presente, o que vem depois

    necessariamente melhor que aquilo que veio antes. Se a histria progresso, e necessariamente

    para algo melhor, tudo que venha contrariar a direo rumo ao desenvolvimento convertido

    em irracional e, no campo poltico, em opositor que deve ser eliminado. O movimento que

    vimos acima oi deturpado pela ideologia do progresso em also movimento. No mais

    passagem da potncia a ato, no mais ao humana com vistas realizao plena de suas

    potencialidades, mas also movimento,movimento de mercadorias em um mundo que elas

    criaram.

    O desenvolvimento como progresso, que vimos anteriormente, az parte de um contexto

    histrico e losco maior conhecido como modernidade, que costuma ser associado a termos

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    como esclarecimento, iluminismo, razo, tcnica, progresso, emancipao e secularizao,

    entre outros. tambm uma propenso a pensar a histria como um processo libertador em

    direo igualdade, raternidade, bem-estar, como exposto acima. E a crtica dos autores daEscola de Frankurt az do progresso rota de autodestruio da humanidade (HORKHEIMER,

    & ADORNO, 1983). O desenvolvimento no tem nada a ver com aumento da elicidade,

    muito pelo contrrio, isso porque o domnio do homem sobre o mundo, possibilitado pelo

    uso da razo, por meio da cincia e da tcnica, se az atravs do domnio sobre o homem

    e por meio da renncia ao instinto do prazer em nome do trabalho, da ecincia e do lucro.

    Um smbolo primeiro desta tica antinatural seria o heri grego Ulisses, da Odisseia, que para

    resistir ao canto das sereias e seus convites elicidade pede para ser atado ao mastro do navio

    depois de tapar os ouvidos de seus companheiros com cera. O heri pode ouvir o canto, mas

    atado ao mastro do navio, de modo que, quanto maior seu desejo de livrar-se das amarras, maisortemente vai se prendendo aos ns, assim como aqueles que vivem na sociedade moderna,

    sob a lgica burguesa do lucro mximo, tambm se privaro mais ortemente da elicidade

    quanto mais pelo aumento da riqueza a tiverem ao alcance da mo.

    O desenvolvimento ou progresso como ideologia indica qualquer movimento em direo

    a uma pereio desejada, ligada a valores ticos previamente denidos, e designa tambm

    o processo histrico de apereioamento geral, necessrio e irreversvel da sociedade. So,

    portanto, os valores ticos que daro a direo do desenvolvimento. Denir quais valores iro

    legitimar tal ou qual ao em nome do progresso a questo poltica crucial. Desta orma, caso

    a qualidade de vida como valor or contraposta mxima ecincia, ou a superexplorao do

    trabalho, como valores da racionalidade do lucro, o desenvolvimento pode se dar na direo

    de uma menor jornada de trabalho ou de uma valorizao maior das atividades de lazer e

    culturais.

    A ideia de desenvolvimento pode ter surgido no ocidente com o cristianismo e sua

    perspectiva escatolgica de apereioamento espiritual dada a crena na proximidade do m

    do mundo. A transormao destas convices d-se nos sc. XVI e XVII, com a nova viso

    de mundo racional e cientca de um progresso irreversvel e indenido. E agora no mais

    espiritual, mas tcnico, e uturamente tambm social, econmico, cultural, sanitrio. Porm,

    sua direo unilinear lhe dava uma viso antropocntrica da histria, ou seja, desenvolvimento

    a expanso de determinado tipo de sociedade, a ocidental, com sua mentalidade capitalista

    nascente e descobertas cientcas (DICIONRIO DE CINCIAS SOCIAIS, 1986). Levando o

    homem de menos pereito para mais pereito. Considerando-se que o homem um animal

    social, o progresso da sociedade o apereioamento do ser humano.

    A ideia de desenvolvimento como evoluo social retirada das concepes de Charles

    Darwin o considera como ora imanente das sociedades, irreversvel, que impulsiona

    certas economias e marginaliza outras. a sobrevivncia do mais orte ou melhor adaptado

    e o perecimento dos tipos menos ajustados, que garantiriam a melhora da sociedade.

    Considerando-o como evoluo, a ideia de desenvolvimento poderia libertar-se das amarras

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    morais e valorativas do conceito de progresso se zesse reerncia apenas a ndices cientcos

    e valorativamente neutros de produtividade ou rendaper capita.

    Outra maneira de tentar se livrar da carga valorativa e moral da ideia de desenvolvimento

    como progresso sua interpretao como mudana social em concepo puramente

    quantitativa. Ela designa uma dierena estrutural, institucional ou de hbitos sociais

    observadas em relao a estados anteriores de determinada sociedade. Podendo originar-se

    de mudanas nas leis, no ambiente sico, no tamanho do grupo social, em sua composio, no

    equilbrio entre as diversas partes que o compem e nos valores e signicados compartilhados.

    Uma questo importante a respeito da mudana social o problema da escala, das

    unidades a que se pode reduzir a pressuposta mudana. A alterao em um indivduo

    poderia ser o sinal de utura modicao prounda na sociedade, ou como diz Condorcet: O

    progresso est sujeito s mesmas leis gerais que podem ser observadas no desenvolvimento

    do indivduo, e realmente no mais do que a soma desse desenvolvimento realizado em

    grande nmero de indivduos reunidos na sociedade (DICIONRIO DE CINCIAS SOCIAIS,

    1986). Ou seja, o desenvolvimento seria a soma dos desenvolvimentos dos indivduos vistos

    separadamente. como se as mudanas por que passam as sociedades atravs da histria,

    prpria a cada uma delas ocorresse separadamente no comportamento de individualidades

    singulares, para que depois, de alguma orma, ossem gradativamente se consolidando em

    padres de desenvolvimento. Primeiro mudam as pessoas, e a somatria destas singulares

    transormaes vai aos poucos mudando a sociedade. Isso equivale a explicar um enmeno

    social, a mudana, por outro enmeno social, a psicologia individual, o que caracteriza umaorma de pensar reducionista, por centrar-se em um nico ator causal.

    A expresso mudana cultural trata da modicao da cultura atravs do tempo. Na

    metade do sc. XIX, pretendia explicar o caminho desde o selvagem at o civilizado. Sua

    principal tarea era descobrir as grandes leis da evoluo ou desenvolvimento social. Vericar

    como progressos culturais, como novas invenes, podiam diundir-se para sociedades

    distantes, atravs do contato e interao entre culturas dierentes e da aculturao. A mudana

    cultural pode ocorrer, por exemplo, pela urbanizao ou por uma interveno externa, que

    pode levar a uma desorganizao social com posterior reorganizao, a mudana de certas

    caractersticas da sociedade com a permanncia de outras pela resistncia.

    3 O DESENVOLVIMENTO ECONMICO, O SUBDESENVOLVIMENTO E OUTROS

    Crescimento ou desenvolvimento econmico convencionalmente medido pela renda ou

    produto nacional per capita. A teoria econmica clssica do sc. XVIII metade do sc. XIX

    baseia-se em trs atores de produo terra, trabalho e capital para gerar o produto nacional.

    Modernamente, crescimento econmico o mesmo que aumento do Produto Nacional Bruto

    per capita, seguido pela melhoria no padro de vida da populao, medido por indicadores

    relativos aos diversos aspectos da questo social e por alteraes nos undamentos da estrutura

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    econmica. Desta orma, um pas que deixa de ter uma economia baseada, principalmente, na

    agricultura de subsistncia e passa a ser uma sociedade industrializada com uma populao

    urbana, e no mais majoritariamente rural, passou por um processo de mudana social edesenvolvimento econmico.

    A ora do crescimento representada pela ormao de capital, principalmente pela

    poupana, e o aumento da populao tende a igualar o salrio de mercado ao de subsistncia

    (DICIONRIO DE CINCIAS SOCIAIS, 1986). Por outro lado, na desigualdade do poder

    de barganha entre empresas e uncionrios que a teoria marxista reerente a Karl Marx

    percebe a orma pela qual os salrios so orados para baixo at o nvel de subsistncia. Alm

    disso, todas as inovaes tecnolgicas so poupadoras de mo de obra, desempregando

    trabalhadores e criando um exrcito de reserva de desempregados e retirando ainda mais seu

    poder de negociao.

    O agente humano como promotor de desenvolvimento oi enocado no incio do sc. XX

    pelo economista J. A. Schumpeter (DICIONRIO DE CINCIAS SOCIAIS, 1986), na gura do

    empresrio capaz de perceber as potencialidades nas variaes no s da tcnica mas tambm

    da qualidade, dos mercados e das ontes de suprimento. Todos estes atores constituindo

    um conceito expandido de inovao. Estes pioneiros so sucedidos por imitadores de

    menor competncia, at que o sistema entra em superproduo e recesso, porm em um

    patamar superior de renda per capita. Poderamos dizer que nasce a o mito do empresrio

    empreendedor e promotor do crescimento. Mito este que entra em descrdito medida que

    as empresas passam a ser geridas por uma burocracia de uncionrios administradores queno motivam sua ao pela lgica do empreendedorismo, mas sim pelos interesses de sua

    prpria carreira prossional.

    O desenvolvimento econmico e social passou a ser objeto de estudo posteriormente

    Segunda Guerra Mundial, quando as proundas desigualdades entre, de um lado, os

    pases industrializados com elevados nveis de consumo e, de outro, os pases que no se

    industrializaram, so vistas como possveis e necessrias de serem superadas. Alm do aumento

    da atividade industrial e da migrao da populao do campo para as cidades, azem tambm

    parte da ideia de desenvolvimento a reduo das importaes de produtos industrializados

    e das exportaes de produtos primrios e a menor dependncia de auxlio externo. Osindicadores que para a ONU classicam os pases segundo o grau de desenvolvimento

    misturam variveis econmicas e sociais: ndice de mortalidade inantil, expectativa de vida

    mdia, grau de dependncia econmica externa, nvel de industrializao, potencial cientco

    e tecnolgico, grau de alabetizao, instruo e condies sanitrias (SANDRONI, 1999, p.

    169).

    As economias subdesenvolvidas soreriam de um dualismo sendo compostas de, ao menos,

    dois setores: um industrializado, maduro e relativamente pequeno; e outro tradicional, agrrio,

    com terra insuciente para absorver a populao e, consequentemente, um desemprego

    disarado em agricultura de subsistncia. O processo de desenvolvimento poderia ser

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    entendido como a absoro deste excesso de trabalhadores em atividades industriais de

    alta produtividade (DICIONRIO DE CINCIAS SOCIAIS, 1986). Este pensamento oi marcado

    pela ideologia do desenvolvimentismo, que identica o enmeno do desenvolvimento

    com o processo de industrializao, aumento de renda por habitante e taxa de crescimento

    da economia. Sem se preocupar com a distribuio/concentrao da renda, as desigualdades

    regionais dentro do mesmo pas, e as condies institucionais, polticas e culturais. Pode ser

    de certa orma exemplicada como a poltica de 50 anos em 5 ou a de primeiro crescer o

    bolo para depois dividir, a primeira ligada ao governo de Juscelino Kubitschek e a segunda,

    ditadura militar, durante o perodo marcado pela presena do ministro Delm Neto no Brasil.

    Quando o desenvolvimento de um pas ou regio eito s custas de seus prprios meios,

    sem depender de auxlio ou endividamento externo, chamado de desenvolvimento

    autnomo, ao mobilizar os excedentes de sua economia encaminhando-os para os setoresprioritrios, de cujo crescimento depende todo o resto (indstrias de base, transporte, energia

    etc.) (SANDRONI, 1999, p. 169). E o apereioamento coletivo, organizado e dirigido por uma

    comunidade que melhora a integrao dos grupos sociais a partir de um programa, conhecido

    como desenvolvimento comunitrio. A comunidade marcada por um sentimento interno

    de coerncia, na presena de um territrio uniorme como um novo conjunto habitacional,

    uma rua, grupo de residncias isoladas ou um bairro. Costuma demandar um local de reunies

    e atividades, ume equipe diretora e muitas vezes um lder comunitrio, com aspirao geral

    pela elevao do nvel tico, cultural e recreativo, com ns materiais muitas vezes secundrios.

    Costuma-se aceitar a ideia da promoo exgena deste tipo de desenvolvimento por entidadespblicas, ou no, dos mais diversos tipos, que ornecem recursos humanos e materiais, e uma

    vez que as comunidades sejam capazes de prosseguir nos objetivos prprios recebem no

    mximo uma superviso muito discreta (DICIONRIO DE CINCIAS SOCIAIS, 1986).

    O desenvolvimento econmico e as mudanas estruturais que acarreta acabam por estar

    dialeticamente relacionados com o desenvolvimento poltico (DICIONRIO DE CINCIAS

    SOCIAIS, 1986) na medida em que um condio do outro. A capacidade das estruturas

    governamentais em proporcionar as condies necessrias modernizao e de gerar e

    absorver mudana social e cultural, acilitar a redistribuio de poder, riqueza, prestgio,

    a reorganizao de papis sociais, tendo por consequncia o aumento da capacidade de

    inovao, de mobilizao de recurso, com coordenao de unes, representatividade

    dos cargos eletivos, descentralizao das decises e neutralidade religiosa, infuencia e

    infuenciada pelo desenvolvimento econmico.

    O crescimento econmico considerado geralmente uma condio necessria, embora

    no suciente, para o progresso social, que compreende nutrio, sade, habitao,

    educao, liberdades civis e participao poltica para uma existncia humana plena, segundo

    valores modernos. As variveis que podem delinear tradio e modernidade so o grau de

    dierenciao uncional e estrutural dos sistemas sociais, o que pode ser observado pela maior

    ou menor diviso social do trabalho, por exemplo, em uma regio ou pas, seus habitantes

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    dedicam-se em sua quase totalidade mesma atividade econmica com baixa produtividade

    e uso de tecnologia. O que poderia ser superado por uma racionalidade cientca que produza

    inovao, e que demande educao e instituies de pesquisa, com instituies polticas esociais capazes de gerar integrao entre os indivduos e grupos, juntamente com um sistema

    de normas conveis impostas e acatadas pela grande maioria, garantidoras da estabilidade

    social.

    4 DESENVOLVIMENTO E TEORIAS DA DEPENDNCIA

    Um enmeno diusionista ocorre com a revoluo das expectativas crescentes nos

    pases e regies subdesenvolvidas, que buscam adotar as ideias e modos de ser prprios da

    modernidade ocidental rica e desenvolvida, primeiramente, em uma elite modernizante. As

    mudanas sociais, quando no conseguem corresponder s esperanas, como as de consumo,

    podem gerar rustraes considerveis, com consequncias polticas srias, caso a estrutura

    poltica no esteja capacitada a adaptar a sociedade removendo as barreiras modernizao.

    Esta teoria da modernizao viria a sorer crticas, e com o lema desenvolvimento do

    subdesenvolvimento Andre Gunter Frank denunciou seu carter etnocntrico sublinhando

    que no se trata de uma situao original, de onde partiriam economias novas, ou residuais,

    mas que o subdesenvolvimento oi criado no momento em que as sociedades no europeias

    so incorporadas no mercado mundial a partir do colonialismo, nas relaes metrpole-

    satlite. Os primeiros se apropriam das riquezas dos satlites subordinados, pela troca desigual

    no comrcio, expatriao de lucros, e de juros, enriquecendo-os e empobrecendo os ltimos,

    gerando e reproduzindo subdesenvolvimento atravs do tempo, em vez de conduzir estas

    economias modernidade. Suas ormas sociais tradicionais so tambm capitalistas, pois so

    consequncia de um tipo especco de insero subordinada na economia global. Em vez

    de destruir outros modos de produo, o capitalismo em geral os conserva (ou at mesmo os

    cria), articulando-os ou combinando-os com o seu prprio uncionamento, a m de obter bens

    baratos. (BOTTOMORE, 1996, p. 198)

    As teorias do desenvolvimento sorem sua maior crtica pelo pensamento que cou

    conhecido como teorias da dependncia, que superam a viso liberal de um mundo

    dividido em naes independentes entre si e relacionadas pelo comrcio, para armarem o

    papel central da economia mundial e da diviso hierrquica do trabalho que articulam, no

    pases, mas classes sociais de localidades dierentes (SADER, 2006). Estas classes dominantes,

    tanto de pases centrais como periricos, estabelecem uma convergncia de interesses na

    busca de superlucros. So os monoplios tecnolgicos, nanceiros e comerciais, localizados

    nos pases centrais, e patrimnio de suas classes dominantes que determinam as direes do

    crescimento global. E as elites dependentes utilizam seus Estados nacionais como instrumento

    de negociao para obterem uma melhor insero na economia global. O que no leva

    reproduo dos padres de desenvolvimento dos pases centrais, mas a uma modernizao

    subordinada diviso internacional do trabalho.

    REVISTA ESPAO INTERMEDIRIO, So Paulo, v.I, n.II, p. 61-82, novembro, 2010.

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    O capital estrangeiro no seria um entrave ao desenvolvimento na interpretao de F.H.

    Cardoso e E. Faleto1, pelo menos a partir do ps-guerra. Este se volta para a internacionalizao

    do mercado interno dos pases dependentes sendo solidrios com seu crescimento. As perdasinternacionais constitudas pelas remessas de lucros, pagamentos de juros, servios tcnicos e

    royalties so compensadas pelos investimentos externos, que possibilitam o desenvolvimento

    dependente, porm com maior concentrao de riqueza e desigualdade. As elites nacionais

    podem ter o protagonismo em suas economias e, em regimes democrticos, atender

    moderadas presses sociais para participao na riqueza gerada.

    O undamento do processo de acumulao no capitalismo dependente, a busca de

    superlucros, impulsiona as burguesias periricas ao compromisso com os monoplios

    internacionais. Estes lucros extraordinrios so baseados em tecnologias estrangeiras, o que

    acarreta transerncias de riquezas ao exterior. A elevao da produtividade gerada pelas novastecnologias tende a tornar mais baratos os produtos dos pases dependentes no mercado

    internacional, aproundando, para Ruy Mauro Marini e Theotonio dos Santos (SADER, 2006), a

    deteriorao dos termos de troca e provocando crises constantes das economias exportadoras.

    A alternativa para se restabelecerem os superlucros a maior explorao da mo de obra e

    a importao de bens sunturios. Estes dois autores representam a outra vertente da teoria

    da dependncia e veem como nica orma de restabelecer os superlucros o incremento da

    explorao do trabalho nas economias dependentes via: aumento da jornada, da intensidade

    do trabalho e da qualicao do trabalhador, sem aumento equivalente da remunerao. Esta

    superexplorao do trabalho provoca a baixa constante dos salrios, o que, com a deteriorao

    dos termos de troca, restringe a demanda interna e limita a entrada de novos capitais externos.

    O crescimento exponencial da dvida externa dos pases latino-americanos seria um sintoma

    dessa descapitalizao.

    As persistentes sadas de capital e as tentativas de concili-lo com o desenvolvimento

    econmico e social conduziram exploso da infao, crise nos pagamentos internacionais

    dos pases dependentes, durante os anos 1980. As polticas neoliberais, reunidas em torno

    do que se chamou de Consenso de Washington propem a renegociao das dvidas externas

    latino-americanas, em troca da abertura comercial e nanceira, da privatizao das empresas

    estatais, adquiridas em grande parte pelo capital estrangeiro, da elevao das taxas de juros e

    desregulamentao das economias, principalmente pela exibilizaodo mercado de trabalho.

    Juntamente com a reormulao do Estado pensada sob um modelo de ecincia gerencial,

    diundida por Luiz Carlos Bresser Pereira, durante o governo FHC, no Brasil, prope-se a

    retirada do Estado da produo de bens e servios de interesse do lucro privado, chegando

    s polticas de combate excluso social. Essas polticas conduziram a proundas crises nos

    pases latino-americanos, com destaque para os governos de Alberto Fujimori, no Peru, Carlos

    Menem, na Argentina, e Gustavo Noboa Bejarano, no Equador.

    As ideias do Consenso de Washington parecem ter cado para trs na quase totalidade

    dos pases latino-americanos como alternativa para o desenvolvimento econmico, em seu

    1 Cardoso, F.H. e Faleto, E. Dependnciae desenvolvimento na Amrica Latina,

    1970.

    YGOR DIEGO ALVES, Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Social

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    lugar se armam novas perspectivas que levam em conta a emergncia do leste asitico, em

    particular da China como potncia mundial, a nanceirizao cada vez maior das economias

    e a importncia do territorialismo para as novas ormas de dominao, que incorporama biodiversidade, o petrleo e a gua (SADER, 2006). Firma-se o pensamento que busca a

    ampliao das alianas sociais e polticas, sustentculos da industrializao, para os setores

    majoritrios da populao, representados pelo mercado interno, em busca de austeridade,

    equidade via aumentos reais de salrio, crescimento e competitividade possibilitada pelo

    retorno do investimento pblico macio em educao superior, tcnica e pesquisa.

    5DESENVOLVIMENTO HUMANO E SUBDESENVOLVIMENTO SOCIAL, LIBERALISMO E

    LIBERDADE

    O conceito de desenvolvimento humano serve de base tanto para o Relatrio de

    Desenvolvimento Humano (RDH) quanto para o ndice de Desenvolvimento Humano (IDH).

    O site do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento PNUD (2010) inorma que:

    Ele parte do pressuposto de que para aerir o avano de uma populao no se deve considerar

    apenas a dimenso econmica, mas tambm outras caractersticas sociais, culturais e polticas que

    inuenciam a qualidade da vida humana.

    O ndice surge como um contraponto ao PIB per capita, ou produto interno bruto por

    habitante, considerado insuciente para medir o desenvolvimento humano, que para o

    economista indiano, radicado nos EUA, Amartya Sen deveria levar em conta tambm a

    longevidade e a educao. As trs dimenses tm o mesmo peso no ndice, que varia de 0 a 1.

    O IDH chave para o que a ONU convencionou chamar de Objetivos de Desenvolvimento do

    Milnio, para o ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), assim como do Atlas

    do Desenvolvimento Humano no Brasil.

    Porm, a denio deste conceito no eita pelo PNUD e deve ser buscado na obra de

    Amartya Sen, prmio Nobel de economia, que escreveu, entre outros, o livro Desenvolvimento

    como Liberdade. O autor oi consultor para a elaborao dos RDHs e nos agradecimentos deste

    livro reconhece a infuncia das anlises de sua esposa, E. Rothschild, a respeito de obra de

    Adam Smith, pensador com quem o autor declara ter ortes laos mesmo antes de conhecer

    os trabalhos de Rothschild. Estas inormaes acabam sendo de suma importncia para

    sabermos de que ponto de vista parte o autor ao ormular suas ideias. Para tanto, devemos

    dar incio ao estudo do autor e do IDH, no por ele mesmo, mas por sua reerncia terica

    principal, o liberalismo.

    Para termos uma noo da importncia de Adam Smith para as ideias e prticas da

    atualidade, deste autor o conceito de sociedade civil, no entanto, apenas aparentemente

    aastado do signicado que damos ao termo. Aparentemente, porque se trata da ideia de

    economia autnoma, com capacidade de se autorregular e que possui a probabilidade de se

    isolar em relao ao Estado (e poltica), modo pelo qual pode realizar seu potencial de gerar o

    REVISTA ESPAO INTERMEDIRIO, So Paulo, v.I, n.II, p. 61-82, novembro, 2010.

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    eito pelo indivduo racional, capaz de racionalizar seus desejos em busca da elicidade

    e de ser considerado responsvel por suas aes e dispensar a ao da poltica sobre seus

    negcios privados. Esta primeira ase do liberalismo, qual pertence Adam Smith e a queaparentemente Amartya Sen se identica, caracterizada pela atribuio aos indivduos

    de direitos originrios e inalienveis, ou direitos naturais, prprios do jusnaturalismo. E,

    conorme apontado acima, considera a sociedade produto de um contrato rmado entre

    indivduos livres, ou contratualismo. Combate o absolutismo estatal e a interveno do Estado

    nos assuntos individuais via diviso de poderes (ABBAGNANO, 2007). H coincidncia entre

    interesse econmico privado e pblico, pois basta o indivduo buscar conscientemente sua

    elicidade para estar tambm proporcionando elicidade aos outros.

    Modernamente, em Friedrich Von Hayek, a liberdade econmica representada pela

    liberdade de mercado e de livre iniciativa o pressuposto de qualquer outra orma deliberdade. Qualquer controle econmico que no estiver estritamente nas mos de agentes

    privados passa a ser controle dos meios para se atingirem quaisquer ns, e tambm controle

    sobre todos os ns, sobre aquilo que se deve valorizar, crer e pelo que se deve lutar. O controle

    dos meios de produo divididos entre o maior nmero de pessoas signica que ningum

    poder impor aos outros seus ns. A tutela do Estado aceitvel apenas em unes residuais,

    como o cuidado com os mais racos.

    Em Uma teoria da justia, de John Rawls, as liberdades undamentais devem ser iguais

    para todos, com distribuio de recursos aos menos avorecidos. O resultado poderia ser

    uma sociedade em que se possam escolher os prprios ns, sem pretender que tenhamuma validade universal ou eterna, com pluralismo de valores. No entanto, para realmente

    comearmos a compreender o signicado do pensamento que d origem ao IDH, na obra

    Desenvolvimento como liberdade,de Amartya Sen, undamental nos debruarmos mais um

    pouco sobre o conceito liberal de liberdade. As disputas metasicas, econmicas e polticas

    em torno da ideia de liberdade seguem trs signicaes undamentais para o termo no

    decorrer da histria do ocidente. Primeiro, liberdade como autodeterminao, ausncia de

    condies ou limites; segundo, liberdade como autodeterminao da totalidade ao qual o

    ser humano pertence; e terceiro, liberdade como possibilidade ou escolha, porm nita. Na

    primeira concepo livre aquilo que causa de si mesmo, como na denio aristotlica de

    voluntarismo, o que princpio de si mesmo, ou o homem como princpio e pai de seus atos,

    assim como de seus lhos. Para Lucrcio, a vontade o princpio de nossos atos. Importante,

    neste nosso debate, a noo dos estoicos de que s o sbio livre, so livres as coisas que

    esto em nosso poder, ou seja, os atos do homem que tem princpio no prprio homem.

    Ideias anlogas podem ser encontradas na idade mdia, como a de Livre arbtrio de Santo

    Agostinho, originando a liberdade como poder de decidir por atos opostos e de propor coisas

    dierentes. A vontade livre pode inclusive querer alguma coisa, embora a razo lhe dite outra.

    Seria o poder de impedir ou de suspender o juzo do intelecto. Para Leibniz, a substncia livre

    determina-se por si mesma, movida pelo bem, que percebido pela inteligncia. Para Kant,

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    trata-se de espontaneidade absoluta e no recebe outra determinao seno de si mesma.

    Seguem nesta mesma linha de pensamento as ideias de liberdade como autocriao do

    eu. No entanto, de outro ponto de vista, as coisas externas e no apenas as internas devemdepender de ns para que sejamos livres. Neste sentido, undamental o conhecimento das

    leis das coisas, que nos permite domin-las e assim nos tornarmos livres. Ou ento, livre

    aquele que pela prpria vontade d preerncia a um motivo mais que a outro, um motivo no

    pode ser o mais orte, independentemente da vontade. o ato ou movimento que se produz

    e reproduz continuamente, levando consigo todo mundo em que atua. Como em Sartre, que

    tambm possui uma noo de liberdade como autocausalidade, a liberdade de indivduos ou

    grupos sempre tem o potencial de limitar a liberdade de outros, o que expresso na amosa

    expresso o inerno so os outros, como a vida humana sempre social, a liberdade pode

    ser entendida, como um delicado equilbrio entre pretenses dierentes dentro da sociedade.Como apontado acima, a segunda orma de se conceber liberdade identicando-a com

    necessidade atribuda no parte, mas ao todo, no ao indivduo, mas ao absoluto, ordem

    csmica ou divina, ao Estado. Nos estoicos vistos anteriormente, liberdade autodeterminao,

    e s o sbio livre. Mas no que consiste exatamente esta sabedoria? O sbio o que vive em

    conormidade com a natureza, com a ordem do mundo, com o destino. O homem livre agindo

    segundo a ordem necessria do csmico e do divino (ABBAGNANO, 2007). Assim, apenas deus

    livre, pois s ele age sem ser obrigado por ningum. Ou, como dizia Sartre: Se deus existe,

    o homem no livre. Ser guiado pela razo ser capaz de reconhecer em si a necessidade

    divina, atravs do amor intelectual por deus. Esta caracterstica permanece no romantismo de

    Schelling e Hegel. Para o primeiro, o absoluto age por meio de cada conscincia, enquanto o

    segundo dierencia liberdade abstrata, deus, de liberdade real, o deus realmente existente, o

    Estado, a realidade da liberdade concreta. No Estado os aspectos concretos da vida, como o

    direito, a arte, o bem-estar, so objetivamente realizados. Mas no nos enganamos pensando

    que a vontade do indivduo se realiza atravs do Estado, o que ocorre justamente o contrrio,

    a vontade universal que se realiza atravs dos cidados, que so seus instrumentos. Jaspers

    une necessidade e liberdade como posso porque devo; livre o ser, o mundo, a substncia, o

    Estado, a Igreja, a totalidade que se autocria e se autodetermina.

    A terceira orma de conceber liberdade entende-a como escolha motivada ou condicionada.

    O problema estaria nas condies de se garanti-la. Livre no quem causa de si mesmo, ou

    quem se identica com a causa exterior ao indivduo, seja deus ou o Estado, mas quem possui

    determinadas possibilidades limitadas pelos modelos de vida disponveis e pela motivao

    infuenciada, como arma Plato, pelos costumes. Porm estas condies deixam uma maior

    ou menor possibilidade de escolha por parte dos indivduos. Hobbes dierencia liberdade de

    azer de liberdade de querer, no se pode no querer aquilo que se quer, mas possvel azer,

    ou no, o que se quer. Nesta mesma perspectiva, Locke v a liberdade como o ato de estar

    em condies de agir segundo a vontade. Para tanto, o homem em sociedade no deve estar

    sujeito a outro poder legislativo, ou outra lei, alm do estabelecido pelo consenso no Estado.

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    Para tanto, az-se necessria a scalizao dos cidados sobre o estabelecimento destas

    normas. O problema da liberdade torna-se um problema poltico de medida da possibilidade

    de scalizao das leis por parte dos cidados e de quanto tais leis restringem as possibilidadesde escolha dos cidados. Da mesma orma, Kant v a liberdade na capacidade de no obedecer

    a outras leis que no aquelas a que damos nossa concordncia. Para o lsoo e pedagogo

    norte-americano John Dewey, a liberdade est no controle das possibilidades uturas que se

    abrem para ns, e no no controle de nossa vontade ou motivaes.

    6 AMARTYA SEN E AS QUARENTA LIBERDADES

    A ideia de liberdade deendida por Amartya Sen mais um episdio nas controvrsias

    descritas acima. Para alar sobre liberdade e tudo aquilo ao qual o autor quer se reerir ao

    utilizar o termo, so utilizados sinnimos, neologismos e outras criativas maneiras de adjetivar,

    com o intuito, aparentemente, de reduzir muitas coisas a uma s. Liberdades reais, liberdades

    desrutadas, liberdades que desrutamos, liberdade de participar, liberdade para participar,

    liberdade de participao, liberdade humana, liberdades elementares, liberdades substantivas,

    liberdade de saciar a ome, liberdades polticas e civis, liberdade econmica, liberdade da pessoa,

    liberdade de participao poltica, liberdade dos indivduos, liberdade individual, liberdade de

    troca e transao, liberdades bsicas, liberdade de entrar em mercados, liberdade do contrato de

    trabalho, liberdade social, liberdade poltica, liberdades que as pessoas desrutam, liberdade de

    transaes econmicas, liberdades globais, liberdades instrumentais, liberdade humana em geral

    [sic], liberdade de expresso, liberdade de eleies livres, liberdade de aes, liberdades individuais

    substantivas, liberdade global da pessoa, liberdade para azer as coisas que so justamente

    valorizadas, liberdades eetivas, liberdade signifcativa, liberdades relevantes, liberdade ormal,

    liberdade de escolha, liberdade dos meios de comunicao e liberdades especfcas. Para no

    constranger mais o leitor nem o autor, quemos apenas na introduo e primeiro captulo da

    obra com as 40 espcies de liberdade acima listadas.

    No sem motivo o autor nos exora que importantssimo ver a liberdade de um modo

    mais amplo (SEN, A. p. 32). E estes 40 termos acima mostram de modo at cansativo e

    redundantemente entico que a ideia de liberdade se presta muito pouco alm daquilo

    que qualquer pessoa, com algum contato com a literatura social, reconhece comumente

    como cidadania. Porm, existe uma dierena sutil, mas politicamente da maior relevncia,

    entre tratar de cidados e tratar de pessoas. A liberdade de Amartya Sen uma liberdade

    pessoal. Algumas liberdades so velhas conhecidas da cantilena liberal, outras parecem

    surgir por adio, por exemplo, liberdades individuais mais liberdades substantivas igual

    a liberdades individuais substantivas. Outras so de dicil distino, qual seria mesmo a

    dierena entre liberdade humana e liberdade humana em geral? Algumas lembram a mais

    prounda imaginao sociolgica como liberdade para azer as coisas que so justamente

    valorizadas, ou mesmo despertam nosso humor de no muito bom gosto, como esta

    verdadeira preciosidade do esprito liberal que a liberdade de saciar a ome. Com tanta

    REVISTA ESPAO INTERMEDIRIO, So Paulo, v.I, n.II, p. 61-82, novembro, 2010.

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    nase em uma mesma ideia, era de se esperar que em algum momento, de preerncia

    acreditamos no incio de seu trabalho, Amartya Sen nos premiasse com a inormao, a

    nosso ver absolutamente relevante, do que, anal de contas, se entende por liberdade emseu texto. Ou pelo menos uma discusso do termo como zemos acima. Inelizmente, lemos

    sua obra sem saber o que a tal liberdade, to proeminentemente citada.

    O autor procura desvencilhar-se daquilo que ele denomina como sendo uma viso restrita

    de desenvolvimento, como crescimento do Produto Nacional Bruto (PNB), aumento de renda

    pessoal, industrializao, avano tecnolgico ou [sic] modernizao social2. O desenvolvimento

    deve servir para expandir as liberdades acima e, ao mesmo tempo, a liberdade impulsiona e

    condio indispensvel para o desenvolvimento. Como, por exemplo, a liberdade de participar de

    discusses e averiguaes pblicas. Ops! Mais uma. Como vimos no incio deste texto, a noo

    de desenvolvimento est intimamente relacionada com a passagem de potncia a ato, aomovimento. E o undamento do movimento e, por conseguinte, do desenvolvimento seu

    motor, seu princpio, sua causa. Para Amartya Sen, o motor do desenvolvimento (SEN, A. p. 19)

    a condio de agente livre e sustentvel. O que podemos entender desta armao, no

    contexto ideolgico do autor, parece ser a chave para compreender suas intenes. O termo

    agente prprio da losoa escolstica3 e diz respeito quilo que toma a iniciativa de uma

    ao em contraposio paciente, que o que sore a ao.

    Agente, neste contexto algum que age e ocasiona mudana e, alm disto,

    cujas realizaes podem ser julgadas de acordo com seus prprios valores e objetivos,

    independentemente de as avaliarmos ou no tambm segundo algum critrio externo (SEN,A. p. 33). Alm disso, agente uma condio, o que signica que se algum est na condio

    de agente existe uma soma de diversos antecedentes, todos necessrios, que so causa e

    conjuntamente compem esta condio. Todas as liberdades citadas acima so, em conjunto,

    causas necessrias e condicionantes do agente. Sem as liberdades no se poderia estar em

    condio de agente. exatamente o que vem em seguida na rase condio de agente livre

    e sustentvel, as liberdades so condicionantes do agente livre e do agente sustentvel. As

    liberdades que dizem respeito ao primeiro so, provavelmente, aquelas que cam no campo

    das liberdades democrticas de cunho liberal: liberdade de participar, liberdade para participar,

    liberdade de participao, liberdades polticas, liberdade de participao poltica, liberdade

    poltica, liberdade de expresso, liberdade de eleies livres, liberdade para azer as coisas que so

    justamente valorizadas , liberdade de escolha e liberdade dos meios de comunicao. De um ponto

    de vista poltico/liberal, estas liberdades em conjunto so condicionantes do agente livre.

    No entanto, vimos acima com Friedrich Von Hayek que, para os liberais mais

    undamentalistas, a liberdade econmica representada pela liberdade de mercado e de livre

    iniciativa o pressuposto de qualquer outra orma de liberdade. Ento, de se acreditar que,

    para Amartya Sen, liberdade econmica, liberdade de troca e transao, liberdade de entrar

    em mercados, liberdade do contrato de trabalho e liberdade de transaes econmicas so

    to condicionantes do agente livre quanto as liberdades polticas. E para dar autoridade

    2 Vimos acima que modernizao nose conunde com avano tecnolgico.

    3 Filosoa escolstica a losoacrist da idade mdia europeia. Liter-almente, signica losoa da escola.Neste caso, em reerncia ao scholas-ticus, proessor na escola do conventoou catedral.

    YGOR DIEGO ALVES, Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Social

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    argumentao, o brao de erro de Adam Smith invocado: Como observou Adam Smith, a

    liberdade de troca e transao ela prpria uma parte essencial das liberdades bsicas que as

    pessoas tm razo para valorizar (SEN, A. p. 21). E isso no tudo: Ser genericamente contra[destaque do autor] os mercados seria quase to estapardio quanto ser genericamente

    contra a conversa entre pessoas [destaque nosso]... trocar palavras, bens ou presentes. Ou

    seja, o Homo Sapiens to dotado de linguagem quanto de propenso a abrir uma lojinha ou

    tracar escravos. Vimos acima que as dierentes ormas de autoridade poltica, moral, relaes

    de gnero e relaes entre classes so, para Adam Smith, relacionadas com as ormas de obter

    sobrevivncia: Caa, pastoreio, agricultura e comrcio. A ltima ase identicada com a

    liberdade, ou seja, Adam Smith vtima de uma tendncia que poderamos considerar sem

    exagero como humana e demasiadamente humana, de identicar seu mundo como o melhor

    dos mundos possveis, sua orma de viver como a nica digna, sua maneira de pensar como amais correta, seus valores como sendo os valores, enm, uma maneira etnocntrica de ser no

    mundo. A conquista de riqueza mvel via mercado livra a classe dos comerciantes da tirania.

    Ento por que no dizer que a liberdade de mercado livra a humanidade, o Homo Sapiens da

    autocracia? E exatamente o que Amartya Sen az.

    o velho dogma liberal, prprio da classe comerciante inglesa do sc. XVIII, vida por saquear

    as colnias dos reinos absolutistas, que aparece trs sculos depois em Desenvolvimento como

    liberdade.De que os seres humanos vivendo em sociedade, ao buscarem seu interesse pessoal,

    promovem, alm de seus negcios, o interesse coletivo. O interesse egosta se metamoroseia

    em interesse pblico sem se submeter a ele. O indivduo supera o cidado. Por isso, em Amartya

    Sen vemos liberdades de pessoas e no cidadania.

    Mas alta um termo em nossa rase condio de agente livre e sustentvel, e justamente

    o ltimo. Se a humanidade passa por estgios de crescimento relacionados ao modo de obter

    sobrevivncia, ento no perodo regido pelo comrcio essa nova orma humana de sobreviver,

    ser sustentvel, condio. Mas nem todos so comerciantes na nova ordem. Adam Smith

    viveu os perodos iniciais da industrializao inglesa e, embora osse um estudioso totalmente

    aastado de qualquer atividade econmica real, nunca abriu uma lojinha ou tracou escravos.

    Sabia que para haver brica eram necessrios operrios. E estes trabalhadores precisam estar

    em condies de se apresentar dia aps outro em seu posto de batente. Da se pode apreender

    o porqu da liberdade de saciar a ome e do sustentvel.

    7 O NDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)

    De acordo com o que oi visto acima, o conceito de desenvolvimento humano serve de

    base tanto para o Relatrio de Desenvolvimento Humano (RDH) quanto para o ndice de

    Desenvolvimento Humano (IDH). Procura ir alm da dimenso econmica, refetindo aspectos

    sociais, culturais e polticos que infuenciam a qualidade da vida humana. Para Amartya

    Sen, a mensurao da longevidade e educao, com o mesmo peso no ndice, auxiliaria

    REVISTA ESPAO INTERMEDIRIO, So Paulo, v.I, n.II, p. 61-82, novembro, 2010.

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    a abranger a qualidade da vida humana. O IDH oi largamente incorporado em nosso pas

    em muitas iniciativas de interveno social, a partir de projetos e mesmo de polticas sociais

    que azem reerncia ao IDH ou aos Objetivos de Desenvolvimento do Milnio e ndice deDesenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), assim como do Atlas do Desenvolvimento

    Humano no Brasil.

    Os RDH esto disponveis desde o ano de 1996 e trazem, a cada edio, uma temtica

    dierente que abordada no decorrer do documento, cando o IDH propriamente dito

    reservado s pginas nais. Os temas dos RDHs vo desde Crescimento Econmico e

    Desenvolvimento Humano, no primeiro relatrio, at Mobilidade e Desenvolvimento Humano,

    da ltima edio de 2009, passando por: 1997 Desenvolvimento Humano para erradicar a

    pobreza; 1998 Padres de Consumo para o Desenvolvimento Humano; 1999 Globalizao

    com uma ace humana; 2000 Direitos humanos e desenvolvimento humano pela liberdadee solidariedade; 2001 Fazendo as novas tecnologias trabalhar para o desenvolvimento

    humano; 2002 Aproundar a democracia num mundo ragmentado; 2003 Um pacto entre

    naes para eliminar a pobreza humana; 2004 Liberdade Cultural num Mundo Diversicado;

    2005 Cooperao Internacional Numa Encruzilhada; 2006 Alm da escassez: poder,

    pobreza e a crise mundial da gua; 2007/2008 Combater a mudana do clima: Solidariedade

    Humana em um mundo dividido; 2009 Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e Desenvolvimento

    Humano. Em 2005 oi elaborado um Relatrio do Desenvolvimento Humano Brasil cujo tema

    oi Racismo, pobreza e violncia.

    Vamos tratar do RDH de 2009. Ele compe propriamente as pginas 167 a 217 e apresentado como Tendncias do IDH a partir da tabela G. As tabelas de A a F so relacionadas

    migrao. So listados 182 pases por ordem de IDH e divididos em quatro grupos. O primeiro,

    com 38 pases com IDH considerado muito elevado, se inicia com a Noruega, IDH 0,971, e

    termina com Malta, IDH 0,902. O segundo grupo dos pases de IDH elevado, onde se encontra

    o Brasil, na posio de nmero 75, possui 44 naes e se inicia com Barm, na posio 39 e

    IDH 0,895, terminando com o Lbano, IDH 0,803. O terceiro, de IDH mdio, comea na posio

    84 com Armnia, IDH 0,798, at a posio 158 com Nigria, IDH 0,511, com 74 pases no total.

    O ltimo grupo de IDH baixo tem Togo, IDH 0,499, como primeira nao, e na ltima posio

    da tabela, Nger e seu IDH 0,340. Embora os relatrios estejam disponveis anualmente, desde

    1996 so apresentados dados quinquenais desde 1980, e anuais de 2005 a 2007. O ndice

    baseado em dados sobre a esperana mdia de vida, taxa de alabetizao de adultos, taxas

    brutas combinadas de alabetizao, e em dados sobre o PIBper capita em dlares americanos

    de 2007. Na nona coluna da tabela aparecem os dados reerentes a 2006, para que na dcima

    coluna seja dada a alterao na ordem 2006-07 para se vericar se determinado pas se elevou

    ou desceu na tabela de um relatrio para outro. O Brasil, por exemplo, ocupava a posio 75

    em 2006, permanecendo na mesma posio em 2007, e o nmero correspondente de variao

    na tabela zero. O Peru ocupava a posio 83, passando para 78, o que corresponde ao

    nmero 5 na coluna de Alteraes na ordem. Existem outras trs colunas com taxas mdias

    YGOR DIEGO ALVES, Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Social

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    de crescimento anual do IDH em (%), que vo do longo prazo 1980-2007, mdio prazo 1990-

    2007 e curto prazo 2000-07. O Brasil, por exemplo, teve uma taxa mdia anual de crescimento

    do IDH em longo prazo de 0,63%, no mdio prazo a evoluo oi mais acentuada, de 0,79%.

    A tabela seguinte H traz o ndice de desenvolvimento humano de 2007 e as componentes

    que o constituem e novamente os pases so numerados de 1 a 182 com IDH crescentes. Cada

    dado desmembrado em outras sete colunas, que tratam de Esperana mdia de vida

    nascena (anos), Taxa de alabetizao de adultos (% com idades a partir de 15 anos), Taxa

    bruta combinada de escolarizao no ensino, PIB per capita (Paridade do Poder de Compra

    PPC em USD dlares americanos), ndice de esperana mdia de vida, ndice de educao,

    ndice do PIB. E uma ltima coluna com a Ordem do PIB per capita menos a ordem do IDH.

    A Esperana mdia de vida nascena o Nmero de anos que se pode esperar que um

    recm-nascido viva, caso se mantenham os padres das taxas de mortalidade especcas decada idade existentes na altura de seu nascimento (PNUD, 2009, p. 210) e no caso do pas de

    IDH mais elevado, a Noruega, este nmero de 80,5 anos. Em Nger, ltimo colocado em IDH,

    o nmero cai para 50,8 anos, mas no o menor, dado que pertence ao pas recm-invadido

    pelos EUA, o Aeganisto, 43,6 anos. Enquanto isto, no pas invasor a esperana mdia de vida

    nascena de 79,1 anos, e no Brasil, de 72,2. A Taxa de alabetizao de adultos az reerncia

    aos censos realizados entre 1999 e 2007, Cuba e as ex-repblicas comunistas da Letnia e

    Estnia possuem as taxas mais elevadas de 99,8%, para Noruega e os 14 pases de IDH mais

    elevado oi atribuda a taxa de 99,0 %. O Brasil tem taxa de 90%, mas atribuiu-se taxa de 100%

    para clculo do IDH. A Taxa bruta combinada de escolarizao no ensino "[...] um dos ndices

    usados para os clculos que resultam no IDH obtido atravs da diviso do total de matrculas,

    nos trs nveis undamentais de ensino (1, 2 e 3 graus), pela populao total entre 7 e 22

    anos". (PAIXO, 2003)

    Por isso, existem pases com esta taxa acima de 100%, pelo nmero de pessoas acima de

    22 anos matriculadas. A taxa brasileira de 87,2%, com dados provenientes do MEC 4. O PIB

    per capita ornece o valor do produto interno bruto (nos termos da paridade do poder de

    compra em dlares americanos) dividido pela populao total a meio do ano [sic]. A paridade

    do poder de compra

    Uma taxa de cmbio que d conta da variao de preos nos vrios pases, permitindo eetuar

    comparaes internacionais de produo e rendimentos reais. taxa de PPC em dlares

    americanos, (tal como usada neste Relatrio) existe um igual poder de compra com 1 dlar

    americano na economia interna e na economia dos EUA. (PNUD, 2009, p. 212)

    O PIBper capita da Noruega de 53,433 (PPC em USD), o mais alto o de Listenstaine, com

    85,382 (PPC em USD), e o menor, da Repblica Democrtica do Congo, com 298 (PPC em USD).

    O brasileiro de 9,567, abaixo da vizinha Venezuela, com 12,156. O ndice de esperana mdia

    de vida outro dos trs ndices que compem o IDH

    4 A recente mudana do ndice com-binado de escolaridade bruta, unda-

    mentalmente, residiu na alterao dabase de dados usada para sua elabo-rao. Isto , na orma anterior eramusadas inormaes produzidas pelaUnesco. Neste ano [2002, observaominha], se passou a adotar os nmerosdo MEC. Deste modo, no se tratoude uma mudana de metodologia declculo mas, sim, de uso de onte dedados. Isto ez com que o nosso pastivesse experimentado um crescimen-to to expressivo em termos do IDHem um espao to curto de tempo.(PAIXO, 2003)

    REVISTA ESPAO INTERMEDIRIO, So Paulo, v.I, n.II, p. 61-82, novembro, 2010.

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    ARTIGO

    [...] e mede os progressos relativos de um pas em termos de esperana de vida nascena. No caso

    do Brasil, com um valor observado de 70,8 anos em 2004, o ndice da esperana de vida 0,764.

    ndice da esperana de vida = 0,764 (PNUD, 2006).

    Um valor baixo de ndice de esperana mdia de vida pode estar relacionado a epidemias,

    como a da Aids na rica sub-sahariana (MENDES, 2007). Para o ano de 2007, a Noruega tem

    ndice de 0,925. O menor est no invadido Aeganisto e o maior, no Japo, 0,961. Na Amrica

    Latina, o maior ndice encontrado em Cuba e Chile, com 0,891, cando o Brasil com 0,787. O

    ndice de educao ou

    IDH Educao: indicador de nvel educacional, medido pela combinao da taxa de alabetizao

    de pessoas de 15 anos ou mais (com peso 2) e da taxa bruta de matrculas nos trs nveis de ensino

    (undamental, mdio e superior) em relao populao de 7 a 22 anos de idade (com peso 1).

    (MALI, 2008)

    A Noruega, primeira colocada no IDH, tem ndice de educao de 0,989, e o pas com menor

    ndice novamente o invadido Aeganisto, com 0,282. Na Amrica Latina, destaca-se Cuba

    com o maior ndice planetrio de 0,993, igualando-se a Austrlia, Finlndia, Nova Zelndia e

    Dinamarca, deixando muito para trs o Brasil, com seu 0,891. Finalmente o ndice do PIB, que

    abalizado no produto interno brutoper capita com PPC.

    O ndice do PIB calculado com base no PIB per capita ajustado (PPC em USD). No IDH, o rendimento

    entra como substituto de todas as dimenses do desenvolvimento humano no reetidas numa

    vida longa e saudvel e no nvel de conhecimentos. O rendimento ajustado porque, para atingir

    um nvel elevado de desenvolvimento humano, no necessrio um rendimento ilimitado. Sendo

    assim, utiliza-se o logaritmo do rendimento. No caso do Brasil, com um PIB per capita de 8.195 (PPC

    em USD) em 2004, o ndice do PIB 0,735. (PNUD, 2006)

    log (8.195) log (100)ndice do PIB = ___________________ = 0,735

    log (8.195) log (100)

    A Noruega atingiu em 2007 ndice do PIB de 1,0, juntamente com Irlanda, Sua,Luxemburgo, EUA, Listenstaine, Singapura, Hong Kong, Andorra, Brunei, Kuwait, Qatar, e

    Emirados rabes Unidos. O Brasil teve ndice do PIB de 0,761. A menor marca global cou

    por conta da Repblica Democrtica do Congo, com 0,182. H uma ltima coluna com o

    resultado da subtrao da ordem do IDH pela ordem do PIB per capita. O resultado indica se

    um determinado pas possui IDH mais ou menos elevado que a ordem do PIB, sinalizado por

    um nmero negativo ou positivo. Ou seja, o quanto as demais variveis educao e esperana

    mdia de vida podem alavancar a posio de um pas ou prejudic-la. Listenstaine com seu

    PIB per capita de 85,382 (PPC em USD) perde 18 posies quando considerados os outros

    dois ndices e cai da primeira posio do PIB para a dcima nona em IDH. O pas com maior

    YGOR DIEGO ALVES, Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Social

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    dierencial positivo na comparao do PIB com IDH Cuba, que ganha 44 posies, cando no

    quinquagsimo primeiro lugar de IDH.

    8 DESENVOLVIMENTO COMO EMANCIPAO

    Vimos acima como a ideia de desenvolvimento oi capaz de gerar todo um conhecimento

    a respeito da mudana de sociedades tradicionais para sociedades modernas. Por vezes

    entendido como modernizao, outras por progresso, evoluo, crescimento, cada qual com

    suas peculiaridades que valeram prevalncia de uma noo sobre as outras em perodos de

    tempo e em lugares dierentes. Passamos pelos dierentes conceitos possveis de liberdade

    e suas implicaes polticas para nalmente chegarmos ao Desenvolvimento como liberdade

    e suas claras limitaes. O conceito de emancipao humana nos auxiliar a perceber como

    as limitaes, prprias do ponto de vista liberal, infuenciam o prprio IDH e os demais ndices

    produzidos pelo PNUD. Renda, longevidade e educao so as trs variveis que condicionam

    o desenvolvimento humano, mas no sua emancipao. A ideia de emancipao surge no

    sc. XIX para se reerir libertao dos escravos norte-americanos e servos russos, tambm

    est presente na Revoluo Francesa, no movimento operrio e movimentos de libertao

    nacionais das colnias europeias. Vemos que em seu sentido original a libertao (liberdade)

    como emancipao vai muito alm da igualdade jurdica. O escravo liberto deixa de ter

    senhor, assume a propriedade de seu prprio corpo. O servo liberto no est mais preso

    terra. Mas assim que se veem livres so conrontados com a necessidade de sobreviver.

    Continuam presos ao reino da necessidade e no da liberdade. Esta necessidade satiseita

    ou parcialmente atendida, na condio de trabalhador livre. A liberdade do contrato de

    trabalho apregoada por Amartya Sen, com os demais pensadores liberais, , do ponto de

    vista do contratante, a liberdade de contratar e dispensar mo de obra sem se submeter a

    regras externas, a autodeterminao do capital em dispor do trabalho livremente. Do ponto

    de vista de quem possui apenas sua capacidade de trabalho para oerecer em um mercado

    livre de compra e venda de ora de trabalho assalariada, a liberdade de trabalho converte-se

    em necessidade de trabalhar. Que pode acilmente transmutar-se em obrigao de trabalhar.

    Basta lembrar que at pouco tempo atrs em nosso pas pessoas (pobres) eram presas por

    vadiagem ao se encontrarem desempregadas. Se os pobres no ossem no undo oradosa trabalhar, no haveria sentido na gura do trabalho voluntrio, que justamente aquele

    que se az por vontade prpria. Lembremos que os primeiros operrios, trabalhadores livres,

    oram as crianas do oranato, que no possuam a liberdade de se recusarem a trabalhar ou

    descumprir o contrato entre o dono da brica e o padre (GORZ, A. 2001). Poucos adultos livres

    sujeitavam-se s condies do assalariamento amplamente contrrias a autodeterminao.

    No existe liberdade de trabalho quando as outras opes para a grande maioria so o sistema

    penitencirio, manicomial e unerrio.

    A liberdade como autodeterminao humana depende de condies sociais concretas

    em um processo de superao do alheamento de suas capacidades no contexto de relaes

    REVISTA ESPAO INTERMEDIRIO, So Paulo, v.I, n.II, p. 61-82, novembro, 2010.

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